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Sociedade, Meio

Ambiente e Cidadania
Juliana Hermont de Melo
Omar Lucas Perrout Fortes de Sales
Juliana Hermont de Melo
Omar Lucas Perrout Fortes de Sales

SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Belo Horizonte
Janeiro de 2016
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Grupo Ănima Educação

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empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravações ou quaisquer outros.

Edição
Grupo Ănima Educação

Vice Presidência
Arthur Sperandeo de Macedo

Coordenação de Produção
Gislene Garcia Nora de Oliveira

Ilustração e Capa
Alexandre de Souza Paz Monsserrate
Leonardo Antonio Aguiar

Equipe EaD
Conheça
a Autora
Juliana Hermont de Melo: graduada em
Direito pela Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais (2000), especialista em Bioética,
Direito e Aplicações pelo IEC-PUC-MINAS
(2002), mestre em teologia pela Faculdade
Jesuíta de Filosofia e Teologia com ênfase em
Teologia moral e bioética (2007) e doutoranda
em Medicina pela Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG). Atualmente professora
de sociologia, bioética e direitos humanos
para os cursos da área da saúde, exatas e
humanas no UNIBH. Atua, há 15 anos, como
docente, tanto na graduação quanto na pós-
graduação, principalmente na área da saúde,
sempre na interface entre direito, saúde
e bioética. Temas de pesquisa: bioética/
biodireito, tanatologia, relação profissional-
paciente, direitos humanos, sociologia e ética
em pesquisa clínica.
Conheça
o Autor
Omar Lucas Perrout Fortes de Sales: Estágio
pós-doutoral realizado junto à Universitat
de Barcelona - España, como bolsista do
Programa de Pesquisa Pós-doutoral no
Exterior da CAPES. Investigação desenvolvida
com a colaboração do filósofo Santiago
Zabala a partir do pensamento pós-metafísico
de Gianni Vattimo, com ênfase para a relação
entre hermenêutica filosófica e estética;
niilismo e ontologia da atualidade. Doutor
em Teologia Sistemática (2012) e mestre
em Teologia Moral (2007), pela Faculdade
Jesuíta de Filosofia e Teologia. Licenciatura
plena em Filosofia (2011) e bacharelado em
Filosofia (2010), pela Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais. Bacharel em
Teologia pelo Centro de Ensino Superior de
Juiz de Fora (2004). Doutorando em Filosofia
pela Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas da Universidade Federal de Minas
Gerais. Experiência nas áreas de Filosofia
Contemporânea; Hermenêutica filosófica e
estética; Teologia e Ciências da religião, com
ênfase nos seguintes temas: Pós-modernidade,
ontologia da atualidade e niilismo; estética
ontológica, arte e verdade; globalização e fé
cristã; secularização e emergência de nova
sensibilidade para o campo religioso; Filosofia
e Teologia da Libertação Latino-americana.
Experiência docente nas disciplinas Filosofia,
Razão e Modernidade; Filosofia Antropologia e
Ética; e Lógica aplicada ao Direito.
Apresentação
da disciplina
A intrínseca relação existente entre o meio ambiente, a sociedade e a
cidadania tem sido pouco explorada nos cursos de graduação e constitui
lacuna a ser preenchida no intuito de se promover a educação integral do
ser humano. Por educação integral, compreende-se a educação capaz
de incutir espírito crítico nos discentes, por meio do oferecimento de
instrumental teórico e de chaves de leitura e interpretação da realidade,
os quais sejam capazes de capacitar análise do meio em perspectiva
local e global.

Depreender as implicações da relação entre o todo (global) e as partes


(local) demanda a acuidade de se perceber a realidade como um jogo
dialético de interesses e conjecturas políticas, sociais e econômicas a
tecer o universo de sentido e racionalidade nos quais a sociedade se
encontra inserida.

Daí emana o objetivo geral que aqui se propõe, a saber, o despertar do


interesse dos discentes para as questões sócio-econômico-ambientais
a fim de possibilitar a análise crítica dos dilemas contemporâneos, em
prol da efetividade do exercício da cidadania.

O objetivo geral da disciplina contempla os três eixos fundamentais sobre


os quais discorreremos: a sociedade, o meio-ambiente e a cidadania.
Tal escolha se justifica pelo fato de evidenciar a questão ambiental
como universo que não pode ser marginalizado da discussão sobre o
exercício da cidadania hoje e de sua íntima conexão com as condições
de possibilidade de existência da sociedade e da continuidade da vida
humana. O ser cidadão pressupõe a inserção pessoal e coletiva em um
tempo histórico determinado (e circunscrito pelo meio ambiente em que
se vive) e em uma sociedade culturalmente situada (no caso, a cultura
Ocidental). Assim sendo, o conceito de meio ambiente aqui adotado
compreende não somente a já difundida perspectiva ecológica, mas
também a relacionalidade e o modus vivendi a caracterizar a interação
do ser humano com o universo à sua volta.

Nessa perspectiva, a presente disciplina apresenta-se pertinente pelo


fato de problematizar a compreensão do ser cidadão hoje e propor nova
compreensão de seu papel no mundo a partir da perspectiva plural
e globalizada a evocar novas práticas e posicionamentos perante o
meio ambiente e a sociedade compreendidos como organismos vivos
e constantemente mutantes. Aqui não se trata de promover uma cisão
ou hierarquização entre meio ambiente, sociedade e cidadania. Antes,
implica abordagem didática no intuito de se depreender e preservar as
especificidades e contemplá-las por meio da relacionalidade que as
caracteriza nesse jogo dinâmico da criação e propagação da cultura.

No intuito de se percorrer o caminho proposto algumas categorias


serão discutidas, tais como: sustentabilidade, responsabilidade social,
direitos, desigualdades, identidade e cultura. Estas categorias iluminam
o entendimento da relação entre sociedade, meio ambiente e cidadania
e se apresentam instrumental sociológico eficaz para a análise crítica e
atual da contemporaneidade.
UNIDADE 1  003
A perspectiva sociológica  004
O Surgimento da Sociologia  005
Relação entre o indivíduo e sociedade:
as teorias sociais de Marx, Durkheim e Weber  013
Relações Sociais 020

UNIDADE 2  026
Relações Sociais  027
Princípios e fundamentos da educação ambiental  029
Meio ambiente e sociedade  037
Organização, representação e participação na educação ambiental 043

UNIDADE 3  048
A globalização e as desigualdades sociais  049
O mundo globalizado e as diferenças transfiguradas
em desigualdades: vitimização  051
O consumo na sociedade globalizada  059
A possibilidade de mudança: por uma globalização humana 064

UNIDADE 4  073
A perspectiva cidadã  074
O conceito moderno de cidadania  076
Direitos e deveres do cidadão  080
A cidadania na pós-modernidade 086
UNIDADE 5  099
Direitos políticos, sociais e civis  100
Origem, delimitação e conceituação dos direitos 103
Fases ou gerações dos direitos 106
O exercício dos direitos políticos, sociais e civis na sociedade 114
Revisão119

UNIDADE 6  122
Sustentabilidade e responsabilidade social 123
Princípios fundamentais da sustentabilidade 125
Princípios fundamentais da responsabilidade social 131
A sustentabilidade como paradigma de responsabilidade social 136
Revisão143

UNIDADE 7  146
Relações Étnicoraciais 147
Identidade, cultural e etnia 149
Etinicidades brasileiras 159
Indigeneidades166
Revisão171

UNIDADE 8  173
Cultura Brasileira e Afrodescendente  174
A Presença da Cultura Afrodescendente na Constituição da Identidade 176
Racismo Científico, Racismo Institucional e Racismo Cultural 179
Racismo X Injúria Racial 186
Revisão191

REFERÊNCIAS  194
A perspectiva
sociológica
Introdução

Como passo inicial do presente estudo, propõe-se a conceituação e


compreensão do que seja a sociologia, bem como a caracterização
de sua função e relevância enquanto ciência aplicada à
problematização e à leitura dos fenômenos sociais (quer sejam
estes políticos, econômicos, e ou ambientais). Nesse intuito, importa
situar o papel da sociologia dentro do contexto de seu nascimento,
assim como as condições que propiciaram a emergência desta
nova ciência e o papel por ela desempenhado junto à sociedade.

A abordagem dos sociólogos clássicos Marx, Durkheim e Weber


• O Surgimento
faz-se necessária, uma vez que todos eles fundam a sociologia da Sociologia
clássica e marcam o pensar sociológico ocidental. As categorias • Relação entre
sociológicas desenvolvidas por tais teóricos mostram-se atuais e o indivíduo e
sociedade:
revelam-se importantes chaves de leituras para as questões postas
as teorias
pela pós-modernidade. sociais de Marx,
Durkheim e
Weber
Delimitar e distinguir os atores sociais como sujeitos pré-modernos,
• Relações Sociais
modernos e pós-modernos permite a compreensão da dinâmica de
mudança da relação do ser humano com a concepção de verdade e
de seu modo de situar-se perante a realidade. Facilita a compreensão
do impacto exercido, por exemplo, pelo anticlericalismo e pela
ciência junto à estruturação do comportamento social e às
mudanças de perspectivas e visões de mundo que gradativamente
se formavam.
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

O Surgimento
da Sociologia
A sociologia nasce na Europa, no início do século XIX, sob a
influência de grandes modificações sociais advindas do rompimento
das estruturas da sociedade medieval. A saber: o humanismo
renascentista; a emergência da sociedade capitalista; o surgimento
do cientificismo e o fortalecimento do anticlericalismo. Acrescente-
se ainda a influência das revoluções burguesas (Revolução
Francesa e Revolução Inglesa). Ambas as revoluções colocaram
a burguesia no poder da sociedade e a mantiveram nesta posição
ao longo do tempo. Em função do contexto no qual se origina, a
sociologia se trata de uma ciência da crise. A sociologia ou ciências
sociais surge como a ciência capaz de interpretar e compreender as
mudanças e as movimentações ocorridas dentro da sociedade que
se formava.
Em função do
contexto no
qual se origina,
FIGURA 1 - Os movimentos que impulsionaram a sociologia
o surgimento da sociologia se trata de
uma ciência da

Fonte: Nonaka e Takeuchi, 1997.

A seguir, explicita-se a conceituação dos movimentos que


favoreceram o nascimento da sociologia.

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unidade 1
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

O humanismo renascentista

Tal conceito designa o ressurgimento das artes e dos valores da


cultura greco-romana. O humanismo renascentista configurou-se
como a retomada do estilo clássico a buscar seu lema no filósofo
grego Protágoras, em sua célebre afirmação: o homem é a medida
de todas as coisas. Tal “mantra” humanista marca a decisiva
ruptura com o período medieval (configurado pela existência de
uma verdade absoluta e o teocentrismo) e descortina as condições
de possibilidade de irrupção da modernidade (na qual a razão
humana adquire centralidade). O ser humano passa a ser visto
como o centro da criação, dotado de liberdade e compete a este
exercer poder sobre a realidade.

O humanismo renascentista compreende o período histórico entre


os séculos XV e XVI (tempo de transição entre a Idade Média e a Tal conceito
designa o
Idade Moderna). Tal período exerce grande influência no surgimento
ressurgimento
da modernidade e, portanto, é importante dentro do contexto do das artes e
nascimento da sociologia. Além da ruptura com a visão teocêntrica dos valores da
e com a visão filosófico-medieval (a filosofia considerada serva da
cultura greco-
romana.
teologia), o humanismo implica a ruptura com o grande destaque
dado às ciências naturais e abre caminho para que outras ciências,
agora preocupadas com o ser humano, possam ser desenvolvidas.

O humanismo renascentista, desde sua origem enquanto


movimento artístico e cultural originado na cidade italiana de
Florença (séc. XV), difunde os germes da valorização da dignidade
humana (dignitas hominis) e abre brechas pelas quais toda a visão
de mundo anterior passa a ser questionada e gradativamente
suplantada por nova ordem.

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unidade 1
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

FIGURA 2 - O homem vitruviano (1490) – Leonardo da Vinci

Proletariado,
mais-valia, lucro
e jornada laboral
são exemplos
de conceitos a
Fonte: www.shutterstock.com
habitar o novo
sistema em
A valorização do homem como indivíduo dotado de liberdade
e criatividade constitui grande passo para o exercício de sua
autonomia perante o mundo não mais regido por uma ordem
natural divina, mas tecida por uma rede de relações sociais cada
vez mais complexa e evidente.

O capitalismo
O sistema capitalista surge da ruptura do sistema feudal de
produção destinada à subsistência e à troca de produtos, centrada
na figura do servo e do senhor feudal, e imprime a produção em
massa caracterizada pela consolidação da divisão do trabalho, da
produção em série e da busca de obtenção de lucro. Proletariado,
mais-valia, lucro e jornada laboral são exemplos de conceitos a
habitar o novo sistema em desenvolvimento.

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unidade 1
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Enquanto meio de estruturação e de organização da sociedade,


o capitalismo institui as classes sociais não mais regidas pela
linhagem de nascimento, mas agora definidas e reconhecidas numa
determinada classe social de acordo com sua capacidade produção
e de acumulação de riquezas.

O sistema capitalista estimula a produção, reprodução e acúmulo


de riqueza (capital) e sistematiza a forma e o modo de pensar e ser
da sociedade burguesa, movida pelo projeto burguês de estar-na-
riqueza. O projeto burguês se apresenta reacionário ao modo de ser
da monarquia (estar-na-nobreza) e do clero (estar-na-santidade). Já
que tal classe não possui linhagem real tampouco apresenta ideais
cristãos de santidade, inaugura racionalidade própria caracterizada
pela obtenção de poder econômico que não tardou em se desdobrar
em poder político, cultural e via de controle da sociedade.
Assim, a
recém-formada
A lógica capitalista de muito dinheiro retido nas mãos de poucos, sociedade
produz e reproduz a difusão de desigualdades sociais. O proletariado, burguesa
vivencia sua
grande responsável pela obtenção do lucro pela burguesia, vê-se
primeira
cada vez mais massacrado em sua dignidade. Dessa forma, inicia- grande crise:
se a luta proletária por melhores condições de trabalhos: nascem conhecida
os direitos trabalhistas.
como

Assim, a recém-formada sociedade burguesa vivencia sua primeira


grande crise: conhecida como revolução industrial. Esta abala as
estruturas da jovem sociedade ao reivindicar melhores condições
de trabalho e ao denunciar a enorme desigualdade social causada
pela forma de acumulação do sistema capitalista de produção, o
qual não privilegiava o bem-estar da classe trabalhadora.

Tal universo capitalista demanda a atenção de pensadores e


críticos, os quais logo lançam suas teorias e análises acerca do
novo cenário a se formar e a redefinir a ordem da sociedade. Dentro
deste novo arranjo/projeto social, nasce a sociologia, como ciência
crítica interpretativa dos acontecimentos, simulacros e tramas do
tecido social em andamento.

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SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

FIGURA 3 -A força do capital

Fonte: www.shutterstock.com

Revolução científica
Inaugura a ciência como o veiculador da verdade da vida humana.
Ela assume o papel de dizer o que é certo, o errado, o saudável e o
bom na vida do ser humano. Tudo passa a ter uma fórmula, uma
teoria. Desta forma, a sociedade está sempre à espera por “novos" e
“melhores” resultados advindos da ciência.

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unidade 1
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

FIGURA 4 -A nova criação

Fonte: www.shutterstock.com

O anticlericalismo
A Igreja Católica deixa de ser vista como o centro da vida e da
explicação da realidade humana para se tornar gradativamente
mais um dos componentes desta mesma realidade. Agora o ser
humano, cada vez mais senhor de sua existência, compreende
a religião e o fenômeno religioso como uma dimensão simbólica
a propor horizontes de sentido, consciente de que seu discurso
não se apresenta já pronto e inquestionável. Assim sendo, a Igreja
passa a ser questionada como fonte de poder e pesquisada como
mais um fenômeno social. Desta forma, tem início o processo de
secularização, caracterizado pela religião sofrer um processo de
dessacralização. Ou seja, torna-se mais um dos produtos da cultura,
chamada a reconhecer a existência da diversidade.

FIGURA 5 -O poder da Igreja Católica

Fonte: www.shutterstock.com

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unidade 1
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

A diversidade cultural, patrimônio comum da humanidade:

A cultura adquire formas diversas através do tempo


e do espaço. Essa diversidade se manifesta na
originalidade e na pluralidade de identidades que
caracterizam os grupos e as sociedades que compõem
a humanidade. Fonte de intercâmbios, de inovação e
de criatividade, a diversidade cultural é, para o gênero
humano, tão necessária como a diversidade biológica
para a natureza.

Nesse sentido, constitui o patrimônio comum da


humanidade e deve ser reconhecida e consolidada em
beneficio das gerações presentes e futuras. (UNESCO,
2002, p. 3).

Revoluções burguesas

As revoluções organizadas pela burguesia objetivavam a


implementação do estado burguês para defender os ideais da
nova classe, por isso rompeu com o estático sistema feudal e
proporcionou o surgimento de nova ordem organizativa tanto na
política quanto na economia. Tal mudança oportunizou a troca:

1. na política – a substituição do Absolutismo pela Monarquia


constitucional e/ou pela República. Nasce a possibilidade
dos governados exigirem contraprestações dos
governantes. Inicia-se a noção moderna de cidadania;

2. na economia – muda-se do sistema feudal de produção


para o sistema capitalista de produção.

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SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

FIGURA 6 -A liberdade guiando o povo – Eugène Delacroix

Fonte: www.shutterstock.com

FIGURA 7 -A revolução gloriosa - 1688

Fonte: www.shutterstock.com

Conceito de Sociologia

Conceito de sociologia – ciência que se dedica ao estudo do


comportamento do ser humano em sociedade e das relações e/ou
processos estabelecidos no coletivo.

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SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Relação entre o
indivíduo e sociedade:
as teorias sociais de
Marx, Durkheim
e Weber
Karl Marx
Karl Marx (1818-1883), alemão, judeu, de classe média, formado
em filosofia, história, sociologia e economia, É autor de várias obras
importantes para história da humanidade moderna. Entre elas
destacam-se: o Capital (1867) e o Manifesto Comunista (1848).

Representando o mais crítico entre os três sociólogos da sociologia


clássica positivista, Marx caracteriza-se por ser feroz opositor do
capitalismo. Em suas obras e teorias, lutou por uma sociedade
igualitária e não segmentada, ou seja, por uma sociedade não
divida ou separada em classes sociais. Marx desenvolveu conceitos
fundamentais e atuais até hoje, tais como: classes sociais,
alienação, salário e mais-valia.

Marx apresenta os seguintes conceitos fundamentais:

• Alienação: conceito chave em Marx, o qual retrata a


exploração da sociedade capitalista sob o trabalhador. O
operário encontra-se separado dos meios de produção
(matéria-prima, ferramentas e demais insumos necessários
para fazer as mercadorias e os produtos) e dos frutos de
seu trabalho. Essa separação faz com que o trabalhador
não consiga avaliar o quanto ele contribui para a produção
daquele produto e/ou mercadoria. Desta forma, o operário
ignora o quanto é importante seu trabalho na confecção
de determinado produto/mercadoria. Modernamente, esta

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SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

alienação estende-se para o consumismo inconsequente, o


não exercício da cidadania e demais formas de participação
social acrítica.

• Classes sociais: trata-se da segmentação (divisão) social


entre possuidores e não possuidores dos meios/modo
de produção (ferramentas, máquinas, trabalho humano).
Os detentores dos meios de produção são os patrões ou
capitalistas e os não detentores dos meios de produção
são os trabalhadores ou os proletariados.

• Mais-valia: lucro obtido a partir da apropriação do


trabalho (vida) do operariado, através do pagamento de
salário, o qual recebe em troca da venda/aluguel de sua
capacidade laborativa. Ou seja, a mais-valia é o ganho legal,
porém injusto do patrão sob a produção do empregado
mal remunerado. Desta forma, a mais-valia do sistema
A mais-valia
capitalista configura na menos-vida do trabalhador.
do sistema
• Salário: valor da força de trabalho considerado como
capitalista
configura na
mercadoria, a qual o capitalista pode comprar ou alugar menos-vida do
por certo tempo. As funções básicas do salário são garantir trabalhador.
condições mínimas de subsistência para o trabalhador e
sua família. Este rol compreende: alimentação, vestuário,
saúde e recuperação da força de trabalho do operário, o
item mais valorizado para sistema capitalista de produção.

O objetivo principal da sociologia marxista é propor ampla e irrestrita


revolução socioeconômica e social, tomando como principais
influências:

a. na filosofia: Hegel e o método dialético;

b. no socialismo francês do séc. XIX ou socialismo utópico:


Saint-Simon e Fourier;

c. na economia clássica: Adam Smith e David Ricardo.

A seguir explicita-se cada um dos pontos elencados.

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SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Hegel e o Método Dialético

Hegel, filósofo alemão que desenvolveu a teoria dialética, a qual


explicava o desenrolar da história humana através do embate, do
encontro, do confronto de forças opostas. Tal força, Hegel chamava
de dialética. Cada movimento continha dentro de si uma afirmação
dominante (tese), porém não era unânime. Assim sendo, a parte
social discordante fazia pressão oposta e apresentava suas contra
razões (antítese: anti + tese: oposição). Do confronto, do embate
dessas ideias contrárias dentro da sociedade, surge um acordo,
momentâneo e possível: a síntese. Este acordo não é nem a tese,
nem a antítese. Trata-se do resultado deste embate possível
naquele momento.

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unidade 1
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Marx utiliza o método dialético de Hegel para mostrar que o


capitalismo possui contradições históricas, que levariam a sua
superação por regime igualitário e democrático que seria sua
antítese: o comunismo ou socialismo científico. Assim, comunismo,
marxismo ou socialismo científico trata-se da teoria desenvolvida
por Marx como análise dialética da sociedade capitalista de seu
modo acumulatório desigual de produção.

O socialismo francês do séc. XIX ou socialismo


utópico: Saint-Simon, Fourier e Robert Owen

Os socialistas utópicos, inspirados pelos ideais dos libertários e


igualitários das revoluções burguesas, foram os primeiros críticos
às desigualdades gritantes do sistema capitalista de produção. Eles
perceberam que o sistema capitalista de produção era O marco
fundamental da
desigual, gerava injustiças e as propostas para acabar e/ou
economia clássica
diminuir as diferenças entre as classes sociais mostravam-se tem como obra
tradicional
muita ingênuas. Por isso, tais propostas receberam o nome
“A Riqueza das
de utópicas. Como exemplo dessas tentativas de diminuição Nações”, de
Adam Smith.
das diferenças tem-se a instauração de fábricas modelos
e os esforços de conscientização da classe patronal via
propaganda para diminuição dos lucros. Por sua vez, todas as
tentativas de reforma ou mudança revelaram-se fracas frente ao
poderio da racionalidade do lucro e do ganho do capital.

A economia clássica: Adam Smith e David Ricardo

O marco fundamental da economia clássica tem como obra


tradicional “A Riqueza das Nações”, de Adam Smith. Nela, o autor
estabelece as bases do liberalismo econômico e a não intervenção
do Estado na economia. Os ensinamentos do liberalismo econômico
influenciaram bastante a jovem sociedade burguesa e a forma de
se organizar do sistema capitalista de produção.

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unidade 1
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Socialismo Científico ou Marxismo

Marx desenvolve sua teoria focada na análise do trabalho, pois,


para ele, este é a expressão maior da existência humana. Através
do trabalho o ser humano transforma a natureza a sua volta, cria
a cultura e, por consequência, se transforma. Por essas razões, o
trabalho constitui-se ponto de reflexão vital dentro da sociologia
marxista. Assim sendo, Marx elabora o conceito de modo de
produção, ou seja, a forma de como a sociedade se organiza para
produzir e distribuir a riqueza dentro da sociedade. Este conceito,
junto com a forma de valorização e de remuneração do trabalho,
determina as relações de poder dentro da sociedade.

Após observar a sociedade, Marx propõe uma forma de organização


social mais justa e igualitária, que denominou de Socialismo
Científico ou Marxismo. Esta doutrina demonstrava, pela análise
dialética da realidade social, que as contradições históricas do
capitalismo levariam a sua superação por um regime igualitário e
democrático, que seria sua antítese.

Èmile Durkheim
Sociólogo, filósofo, psicólogo social e intelectual francês, Émile
Durkheim (1858-1917) juntamente com Auguste Comte são
considerados os pais do positivismo sociológico. Durkheim dedica-
se a consolidar a sociologia como matéria científica legítima dentro
da academia. Assim, dedica uma de suas “Regras do Método
Sociológico“ para estabelecer os princípios desta ciência nascente.

Objetivos principais do sociólogo Èmile Durkheim são: definir


com clareza e rigor a sociologia como ciência; e estabelecer os
princípios, limites e emancipar a sociologia das demais ciências, do
senso comum e dos “achismos”. Suas principais obras publicadas
são As regras do método sociológico(1895) e O suicídio (1897).

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unidade 1
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

O Fato Social

Os fatos sociais são as ferramentas de trabalho de Durkheim, pois


consistem nas formas de pensar, de agir e de sentir dos sujeitos
sociais. Tratam-se das chaves de leituras e de acessos à sociedade
de qualquer pesquisador ou pessoa a um grupo social.

Assim, Durkheim define os fatos sociais como “Toda ação ou


omissão capaz de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior,
que é geral na extensão de uma sociedade, com existência própria,
independente das manifestações individuais” (DURKHEIM, 1971, p.
11). São exemplos de fatos sociais: leis (escritas ou não), costumes,
regras etc.

O fato social apresenta as seguintes características:

1. Coerção social – sanção, castração e punição.


São exemplos
2. Exterioridade - independente do indivíduo. de fatos
sociais: leis
3. Generalidade – imposição geral dentro da sociedade ou na (escritas
ou não),
maioria de seus membros.

Max Weber
Max Weber (1864 – 1920) alemão, de família burguesa, sociólogo,
jurista, economista e, juntamente com Marx e Durkheim, é
considerado um dos fundadores da sociologia moderna.

As principais atuações de Weber destacam-se na construção de


duas teorias de analises sociais: tipo ideal e a teoria da dominação
das vontades.

O tipo ideal representa instrumento de análise científica, numa


construção do pensamento que permite conceituar fenômenos e
realidades sociais. Trata-se de técnica de análise e classificação
dos fenômenos sociais. Já a teoria de dominação das vontades

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unidade 1
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

mostra-se estratégia de poder dentro do grupamento social, pois é


a forma que o ator social possui para conseguir “convencer” seus
pares da legitimidade de seu interesse. Weber apresenta três tipos
legítimos de dominação da vontade: legal, tradicional e carismática.
A legal ocorre quando o sistema jurídico do Estado confere poder
para um sujeito social dominar a vontade de outro sujeito social. Na
dominação tradicional, o grupo enxerga o poder em determinado
sujeito social e o poder emana do grupo. Já na dominação
Weber
carismática, o ator aufere seu poder de sua capacidade de seduzir
apresenta
seus semelhantes. Ele convence que sua proposta é melhor, mais três tipos
sedutora que qualquer outra, e os demais o seguem por livre e legítimos de
espontânea vontade.
dominação da
vontade: legal,
tradicional e
O objetivo principal de Max Weber é compreender a força motriz
(a motivação, os desejos e anseios do indivíduo) a impulsionar as
ações do sujeito social. Interessa-lhe saber por que determinados
sujeitos, pertencentes a determinado grupamento social, agem de
modo diferente diante do mesmo fato social desencadeador. Suas
principal obra é A Ética Protestante eO Espírito do Capitalismo
(1905).

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unidade 1
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Relações Sociais
O ser humano desenvolve e organiza sua vida na pólis (cidade), em
sociedade. É na cidade que se dá a divisão de trabalhos em prol da
prestação de diversos serviços, no intuito de garantir a satisfação
das necessidades pessoais e coletivas. Seria praticamente
impossível ao mesmo sujeito plantar, colher, tecer, construir,
produzir suas próprias roupas e calçados, medicar-se, e produzir
os diversos artigos dos quais necessita. Desse modo, surge a
divisão do trabalho com a existência de diversas classes: artesãos,
agricultores, comerciantes, políticos, operários, professores, alunos
etc. Tal organização social requer a definição de leis/normas/
princípios garantidores da coexistência pacífica e harmônica
entre os indivíduos que as instituem, as reconhecem e a elas se
A sociologia
submetem.
nascente se
ocupa da
A sociologia nascente se ocupa da reflexão sobre os arranjos reflexão sobre
advindos da relação desses sujeitos em sociedade. A ela não
os arranjos
advindos da
interessa necessariamente enfocar o indivíduo, mas lançar um olhar
relação desses
sobre como os grupos e coletividades se organizam, estabelecem sujeitos em
rede de relações e ideias e constituem a sociedade propriamente sociedade.
dita. Ou, em outras palavras, o modo de ser dos sujeitos e a
implicação desse modo de ser no tecido social. Tecido composto
por redes, tramas, tensões, distorções, lutas e interconectividade.

Assim sendo, propõe-se a distinção de três tipos de sujeitos ou


atores sociais ao longo do percurso de análise crítica da sociologia.
Ainda que haja a tentação de se delimitar temporalmente a
existência de cada um deles, aqui não interessa tanto especificar o
período histórico em que cada qual se situa. Mais do que determinar
datas e delimitar períodos, importa compreender o modus vivendi
(o modo de ser, viver e pensar) desses sujeitos, aqui didaticamente
classificados como sujeito pré-moderno, sujeito moderno e sujeito
pós-moderno. Isso porque este modo de ser extrapola datações
e pode ser visto inclusive nos dias de hoje. Tal divisão presta-

20
unidade 1
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

se à distinção teórica, no intuito de possibilitar a compreensão


do conteúdo implicado. Como se constata, ao olhar a sociedade
hoje, não necessariamente se concebe um sujeito ou grupo social
pertencente exclusivamente a um determinado eixo. A mesma
amostragem social transita entre esses três grupos propostos.
Um indivíduo ou coletividade pode exercer uma ação, atitude ou
pensamento considerado pré-moderno em determinados contextos
e situações, e moderno ou pós-moderno em outros. Assim temos a
existência de uma zona de trânsito e mobilidade entre possibilidades
de ser, de configurar a riqueza e de dinamizar a vida em sociedade.

A seguir, propõe-se a distinção e a abordagem das especificidades


que constituem a racionalidade própria de cada sujeito em questão.

a. Sujeito social pré-moderno: Caracterizado pela crença e


pelo apego a uma VERDADE única, objetiva, determinada.
Valoriza as tradições, a hierarquia e os costumes herdados
da comunidade. Tende a permanecer fixado no lugar
de origem e apresenta baixa mobilidade de trabalho e
social. Sujeito ou coletividade marcada pelo enraizamento
profundo a um conjunto de normas e atitudes previsíveis,
pelo fato de se manterem sempre inalteradas. Por
acreditar na verdade objetiva e por não questioná-la,
aceita resignadamente os discursos e prescrições das
autoridades consideradas baluartes da garantia do status
quo que vigora desde sempre.

b. Sujeito social moderno: Tem a marca da busca da


autonomia e da conquista da liberdade. A filosofia
racionalista propicia a esse sujeito o reconhecimento de que,
mediante o uso da razão, pode fazer escolhas e inclusive
questionar paradigmas antes inalterados. Diferente do
sujeito pré-moderno, caracterizado pela adequação de si à
norma, o sujeito moderno justamente surge no momento
em que critica os parâmetros estabelecidos e demonstra
o protagonismo do exercício da autonomia centrada na
própria razão. Assim sendo, tal sujeito vive sob o registro

21
unidade 1
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

da mudança e da impossibilidade de se permanecer fixo


no tempo e no espaço. Agora, a verdade é passageira;
uma vez que, além de poder ser questionada, precisa ser
demonstrada. A emergência do método científico, no qual
a verdade deve ser demonstrada/comprovada, favorece
a mudança de uma visão mais atrelada ao senso comum
para uma visão de mundo ligada à ciência e passa a reger a
vida desse novo sujeito social.

c. Sujeito social pós-moderno: Tal sujeito, mais do que


questionar a VERDADE ou propor verdades passageiras,
vive o espírito da existência de verdades múltiplas e
conflitantes, fruto da possibilidade de coexistência de
diversas interpretações individuais e coletivas ancoradas
na primazia da liberdade do indivíduo a posicionar-se
desde seu próprio universo de valores e de visão de mundo.
Com isso, não advoga a inexistência da verdade, mas a
possibilidade de emergência de verdades plurais fruto
da interpretação, reinterpretação e proposição de novos
horizontes de significação. As “raízes” do sujeito pós-
moderno circulam por mundos virtuais, cidades dormitório,
empregos inconstantes e racionalidades mutantes
alimentadas pela fluidez do modo de ser e de pensar, o que
dificulta defini-lo ou circunscrevê-lo dentro de determinado
padrão ou estereótipo. Dentro deste contexto, o sujeito
pós-moderno vive entre a busca de horizontes de sentido
e a crise da perda do porto seguro. Tais horizontes, ainda
que descortinados, apresentam-se sempre provisórios e
insuficientes, fato a agudizar o sentimento de angústia
característico da pós-modernidade.

22
unidade 1
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Os conceitos e teorias abordados nesta unidade visam oferecer aos

discentes instrumental crítico capaz de ser apropriado e utilizado nas mais

diversas situações e campos de atuação de cada indivíduo.

A grande contribuição da abordagem sociológica privilegiada, sobretudo

nos tempos atuais, consiste em problematizar conceitos já conhecidos

popularmente, como mais-valia, lucro e capital, e propor novos óculos

de leitura das relações sociais, tais como a concepção de um sujeito

pré-moderno, moderno e pós-moderno. Em ambos os casos, propicia-

se a capacidade de se transpor esses conceitos de um plano por vezes

considerado abstrato ou “desencarnado” para a vivência prática cotidiana.

Ao se refletir acerca do ambiente de trabalho, familiar, recreativo etc., pode-

se, com propriedade, apreender qual postura ou racionalidade garante as

relações em questão, qual tipo de poder se encontra em jogo e qual lógica

econômica-político-social rege o universo em questão.

Com isso, realiza-se a passagem de uma sociologia considerada mero

objeto teórico de estudo à sociologia como chave crítico-interpretativa

das relações humanas e dos modos de vida e organização social. Ao se

apreender de modo pertinente às questões e nuances da realidade na

qual se encontram inseridas, os sujeitos ou coletividades são munidos

de condições teórico-críticas para a proposição de novos caminhos e

reorganização dessa realidade. Trata-se, desse modo, da capacitação de

novos atores sociais conscientes da importância do protagonismo de

suas intervenções locais em prol da construção de movimentos globais.

23
unidade 1
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Revisão
Fatores propulsores da sociologia:

1. Renascimento

2. Capitalismo

3. Cientificismo

4. Anticlericalismo

5. Revoluções burguesas

Conceito de sociologia – ciência que se dedica ao estudo do


comportamento ser humano em sociedade e das relações e/ou
processos estabelecidos no coletivo.

Teorias de Marx, Durkheim e Weber

Marx – a leitura da sociedade a partir do trabalho e da economia

Durkheim – a implementação da sociologia como matéria


acadêmica e o fato social como chave da leitura da sociedade

Weber – o tipo ideal como classificação dos fenômenos sociais e


as formas de dominação da vontade

As relações sociais

Sujeito pré-moderno – vida fixa no lugar

Sujeito moderno – Impossibilidade de fixação no lugar

Sujeito pós-moderno – o não-lugar

24
unidade 1
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

CHARON, Joel M. Sociologia. 4.ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2002. p. 03-

30.

DEMO, Pedro. Introdução à sociologia: complexidade, interdisciplinaridade

e desigualdade social. São Paulo: Editora Atlas, 2002. p. 35-69.

SOBRE OS BENEFÍCIOS e malefícios do facebook. Postado por: Katia

Taleb. (6 min): son. color. Ing. Disponível em: <https://www.youtube.com/

watch?v=-3vncaiOB24>. Acesso em: 07 dez. 2015.

TEMPOS modernos. Filme. Direção: Charles Chaplin. Produção: Charles

Chaplin, Paulette Goddard, 1936DVD. 87 min.

25
unidade 1
Perspectiva
Ambiental
Introdução

A Unidade 2 traz para o centro da atenção a discussão ambiental


e convida os discentes a se debruçarem sobre uma temática
extremamente importante na atualidade, a qual vem sendo por
vezes considerada já desgastada ou demasiadamente abordada.
Aqui, reside justamente o dúplice desafio de se problematizar a
temática do meio ambiente: despertar o interesse pelo tema que,
de modo geral, as pessoas já consideram saber muito; ou já ter sido
muito discutido e, por isso, não apresentar novidades.

Considerando esse desafio, convidamos aos alunos para • Princípios e


fundamentos
despertarem sua curiosidade e atenção em prol da acolhida da da educação
discussão sobre a temática ambiental. No presente caso, trata-se ambiental
de discutir o drama do meio ambiente hoje como um problema de • Meio ambiente
todos e da necessidade da adesão pessoal em prol da garantia da e sociedade
produção, reprodução e manutenção da vida humana e de todo o • Organização,
ecossistema.
representação
e participação
na educação
No intuito de se promover tal consciência crítica, propõe-se a ambiental
abordagem de alguns conceitos fundamentais e a exposição da
interconexão/interdependência entre o ser humano, sociedade
e o meio ambiente. Para tanto, algumas noções apresentadas
na Unidade 1 serão retomadas e terão sua perspectiva prática
demonstrada enquanto caminho de leitura e de interpretação crítica
e transformadora da realidade.
A fim de se realizar um bom estudo, os discentes deverão ir além
da apropriação de conceitos e conteúdo. Assim, os alunos serão
instigados a posicionar-se como protagonistas responsáveis pela
mudança e construção de novo mundo, para garantir a possibilidade
da continuidade da vida.

Assim, demonstra-se que o problema ambiental não consiste


paralisar o consumo necessário e indispensável à vida, mas deve-
se questionar o excesso e desmedida existente na sociedade
pós-moderna consumista, pois a utilização dos recursos naturais
renováveis e não renováveis em nome da obtenção do lucro e da
manutenção do sistema capitalista a se proliferar em escala global
coloca em xeque a própria existência humana no planeta.
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Princípios e
fundamentos da
educação ambiental
Demarcar princípios e fundamentos de determinada questão
implica a exposição das bases sobre as quais se ergue o objeto de
estudo ou atenção, o qual se encontra em jogo. No presente caso,
importa delimitar os conceitos inerentes à temática da educação
ambiental, o que se propõe ao longo desta unidade.

De início, é necessário esclarecer o que aqui se compreende por


educação, a fim de que se apreenda, com profundidade, o que vem
a ser uma educação ambiental. Ao se falar de educação, tem-se em
mente os quatro pilares da educação, segundo a UNESCO (1990):

1. Aprender a conhecer.

2. Aprender a fazer.

3. Aprender a viver com os outros.

4. Aprender a ser.

A grande guinada educacional contida nestes objetivos reside no


fato de irem além da transmissão de informação ou mesmo do
simples desenvolvimento de conhecimento intelectual. Isso porque,
compreendem a formação humana e social da pessoa e pressupõem
a utilização de conhecimentos, conceitos, comportamentos, valores
e atitudes. As habilidades de criação de método de aprendizagem,
de transformar a realidade, de conviver com o outro e de mudar
atitudes de vida são metas que não se alcançam simplesmente
mediante o estudo de livros, com preocupação de domínio de
conteúdos ou de replicação de conhecimentos. Antes, exigem a
abertura a novas perspectivas pedagógicas de educação.

29
unidade 2
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Diante do exposto, a presente unidade objetiva tratar a perspectiva


ambiental no intuito de provocar mudança de comportamento e
práticas concretas de transformação e intervenção na realidade.

Entendem-se por educação ambiental os processos por


meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem
valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes
e competências voltadas para a conservação do meio
ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à
sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL,
Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999).

A Educação Ambiental mostra-se fundamental para os profissionais


da saúde do século XXI, pois o exercício profissional ético e
comprometido com a realidade e com o outro pressupõe o respeito
pelo meio ambiente. Assim, o saber dispor, com responsabilidade,
o meio ambiente, diante da realidade de interdependência de todos
os ecossistemas, significa condição de sobrevivência humana e de
todas as formas de vida.

A perspectiva ambiental consiste num modo de ver


o mundo em que se evidenciam as inter-relações
e a interdependência dos diversos elementos na
constituição e manutenção da vida. Em termos de
educação, essa perspectiva contribui para evidenciar a
necessidade de um trabalho vinculado aos princípios
da dignidade do ser humano, da participação, da
corresponsabilidade, da solidariedade e da equidade
(BRASIL, 1997, p. 18).

30
unidade 2
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

FIGURA 1 - Interdependência da vida

Fonte: www.shutterstock.com

A questão ambiental impõe-se como importante e urgente para a


sociedade, pois o futuro da vida humana e dos demais seres vivos
depende da relação intrínseca estabelecida entre a natureza e a
utilização dos recursos naturais pelo ser humano.

Tal consciência deve habitar a universidade e fomentar iniciativas


de intervenção e cuidado para com o mundo em que vivemos. A
temática do meio ambiente como tema transversal dos currículos
acadêmicos deve permear toda prática educacional.

À medida que a humanidade aumenta sua capacidade de intervir na


natureza para satisfação de suas necessidades e de seus desejos
sempre crescentes, surgem tensões conflitivas em relação ao uso
do espaço e da utilização e da distribuição dos recursos. Como
vimos, ao tratar do sujeito social pós-moderno na Unidade 1, tal
ator social tem a marca da busca desenfreada pelo lucro e pelo
prazer. Nos últimos séculos, o modelo de civilização a se impor
apresenta-se ancorado no processo de industrialização, com sua
forma típica de produção e distribuição do trabalho, a mecanização
da agricultura, o uso intensivo e extensivo de produtos agrotóxicos

31
unidade 2
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

e a saturação populacional nas cidades. Desse modo, ainda que


desordenadamente, tornaram-se hegemônicas, na civilização
ocidental, as interações e relações sociedade/natureza, tendo em
vista a adequação às exigências do mercado atrelado à racionalidade
da obtenção da mais-valia. Como consequência, a exploração dos
recursos naturais se intensifica e adquire novas características,
em função das revoluções industriais e do desenvolvimento e
aprimoramento de novas tecnologias, somadas à formação do
mercado mundial a expandir o modo de ser capitalista.

Quando se trata de problematizar a questão ambiental, nem sempre


se preocupa em se explicitar a fonte dessas questões subjacentes
ao meio ambiente, como as relações ideológicas de mercado,
grupos de interesses a serviço do mercado e da menos-vida da
sociedade e da natureza, entre outros. Passar à margem dessa
rede de situações conduz à interpretação dos principais danos
ambientais existentes como fruto de uma perversidade intrínseca
ao ser humano.

Ideologia, segundo Johnson,

É um conjunto de CRENÇAS, VALORES e ATITUDES


culturais que servem de base e, por isso, justificam
até certo ponto e tornam legítimos o status quo ou
movimentos para mudá-lo. Do ponto de vista marxista,
a maioria das ideologias reflete os interesses de
grupos dominantes, como maneira de perpetuar sua
dominação e privilégios. Este fato é especialmente
verdadeiro no caso de sistemas opressivos, que
requerem justificação detalhada para que continuem
a existir. O racismo branco, por exemplo, inclui
ideias sobre diferenças raciais que são usadas para
convalidar e defender privilégios dos brancos. Existem
ideologias semelhantes em apoio à opressão por
motivo de sexo, classe, etnia e religião(JOHNSON,
1997, p. 126).

32
unidade 2
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

FIGURA 2 - Controle do indivíduo

Fonte: www.shutterstock.com

Dignidade humana: no ocidente, o conceito de dignidade humana apoia-

se nos esforços teóricos de Kant, o qual funda a dignidade humana da

capacidade de autorrealização do ser humano através do uso da liberdade

e da racionalidade. Trata-se de qualidade intrínseca e indissociável de todo

e qualquer ser humano.

Cabe ressaltar o fato de o próprio ser humano encontrar-se


amalgamado e “enrascado” pelos fios da rede dominante de uma
cultura voltada para o lucro descomprometido com os valores
éticos e com a herança que se deixará para as próximas gerações.
Como se pode constatar, a demanda global de utilização dos
recursos naturais se origina de uma formação econômica cujo
fundamento consiste na produção e no consumo em larga escala. A
racionalidade do consumo, associada a essa formação econômica,
conduz ao processo desenfreado de apropriação e de exploração
da natureza, o qual se apresenta responsável por grande parte da
destruição dos recursos naturais (renováveis e não renováveis)
e gera demandas desnecessárias de consumo, as quais exigem,

33
unidade 2
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

para a sua própria manutenção, um crescimento exponencial de


extração e utilização dos recursos naturais existentes.

Como se pode depreender, as relações sócio-político-econômicas,


ao permitir a expansão dessa formação econômica e seu domínio,
desembocam na exploração desenfreada de recursos naturais,
especialmente pelas populações carentes de países periféricos
como o Brasil, os quais se veem às voltas com a necessidade de
exportar matéria-prima, dada sua pouca capacidade de agregar
valor industrializado à matéria-prima. No caso brasileiro, por
exemplo, se comercializa madeira da Amazônia, nem sempre de
forma legal.

FIGURA 3 - A degradação ambiental é degradação humana

Fonte: www.shutterstock.com

34
unidade 2
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Veja abaixo os Princípios da Educação Ambiental para as Sociedades

Sustentáveis e Responsabilidade:

1. é direito de todos; somos todos aprendizes e educadores;

2. deve ter como base o pensamento crítico e inovador,

promovendo a transformação da sociedade;

3. 3é individual e coletiva e tem o propósito de formar cidadãos

com consciência local e planetária;

4. não é um ato político;

5. deve envolver uma perspectiva holística, enfocando a

relação entre o ser humano, a natureza e o universo de forma

interdisciplinar;

6. deve estimular a solidariedade, a igualdade e o respeito aos

direitos humanos, valendo-se de estratégias democráticas;

7. deve tratar as questões globais críticas, suas causas e inter-

relações em uma perspectiva sistêmica, em seu contexto social

e histórico;

8. deve facilitar a cooperação mútua e equitativa nos processos

de decisão, em todos os níveis e etapas;

9. deve recuperar, reconhecer, respeitar, refletir e utilizar a história

indígena e culturas locais, assim como promover a diversidade

cultural, linguística e ecológica.

10. deve estimular e potencializar o poder das diversas populações,

promovendo oportunidades para as mudanças democráticas de

base que estimulem os setores populares da sociedade.

11. valoriza as diferentes formas de conhecimento, sendo

diversificado, acumulando e produzindo socialmente.

35
unidade 2
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

12. deve ser planejada para capacitar as pessoas a trabalharem

conflitos de maneira justa e humana;

13. deve promover a cooperação e o diálogo entre os indivíduos

e instituições com a finalidade de criar novos modos de vida,

baseados em atender às necessidades básicas de todos os

indivíduos;

14. deve integrar conhecimentos, aptidões, valores, atitudes e

ações;

15. deve ajudar a desenvolver uma consciência ética sobre todas

as formas de vida com as quais compartilhamos este planeta,

respeitar seus ciclos vitais e impor limites à exploração dessas

Uma vez estabelecida a aproximação à problemática ambiental e à


necessidade de uma educação humana transformadora em prol da
vida, cabe estabelecer o nexo entre a sociedade e o meio ambiente.
A responsabilidade para com o meio ambiente compreende ações
individuais e coletivas. Na perspectiva macro, a sociedade há de
assumir seu protagonismo nesse processo.

36
unidade 2
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Meio ambiente
e sociedade
A relação intrínseca existente entre meio ambiente e indivíduo e
entre meio ambiente e sociedade é desconsiderada todas às vezes
em que se colocam a obtenção do lucro, a ideologia do consumo
e a busca desenfreada por poder, sobrepostas à preocupação com
a garantia e manutenção da vida. Tal relação é sustentada pela
interdependência característica do ecossistema em que vivemos. A educação
ambiental
Em se tratando do meio ambiente, a interdependência designa a
fomenta as
relações de
relação de dependência mútua, em que nos ecossistemas todos os
seus elementos são interdependentes uns dos outros. A educação
ambiental fomenta as relações de interdependência entre todos os
elementos do planeta.

A preservação do meio ambiente não pode ser vista como tema


pertinente a pequeno grupo de pessoas que alertam a sociedade
para a necessidade de se preservar o maior bem da vida, fonte de
energia dos habitantes deste planeta. Preservar o meio ambiente
e reconhecê-lo como fonte de energia necessária à garantia de
todas as formas de vida implica reconhecer que esforços coletivos
comprometidos com o meio ambiente precisam ser fomentados.

37
unidade 2
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

FIGURA 4 - Energia é fonte de vida

Fonte: www.shutterstock.com

A preservação do meio ambiente requer educação ambiental


transformadora, desenvolvida e implementada por todas as
instâncias da sociedade. O aquecimento global, a crise hídrica
e o esgotamento dos recursos energéticos não renováveis são
exemplos da urgência de uma mudança radical de atitudes e de
assunção da responsabilidade pessoal e coletiva perante o mundo.

Ou mudamos ou morremos

“Hoje vivemos uma crise dos fundamentos de nossa convivência pessoal,

nacional e mundial. Se olharmos a Terra como um todo, percebemos que

quase nada funciona a contento, ela está doente e o consequentemente

o homem também. O significado de homem vem de humus=terra fértil,

ou seja, tudo está interligado e ambos estão doentes. A percepção que

temos é de que não podemos continuar nesse caminho, pois nos levará a

um abismo. Fomos tão insensatos nas últimas gerações que construímos

38
unidade 2
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

o princípio de autodestruição. Não é fantasia hollywoodiana. Temos

condições de destruir várias vezes a biosfera e impossibilitar o projeto

planetário humano. Desta vez não haverá uma arca de Noé que salve a

alguns e deixe perecer os demais. O destino da Terra e da humanidade

coincide: ou nos salvamos juntos ou sucumbimos juntos.

Agora viramos todos filósofos, pois, nos perguntamos entre estarrecidos e

perplexos: como chegamos a isso?

Como vamos sair desse impasse global? Que colaboração posso dar

como pessoa individual?

Em primeiro lugar, há de se entender o eixo estruturador de nossas

sociedades hoje mundializadas, principal responsável por esse curso

perigoso. É o tipo de economia que inventamos. A economia é fundamental,


Tudo na
pois, ela é responsável pela produção e reprodução de nossa vida. O tipo de sociedade
economia vigente se monta sobre a troca competitiva. Tudo na sociedade e na economia
e na economia se concentra na troca. A troca aqui é qualificada, é se concentra
na troca.
competitiva. Só o mais forte triunfa. Os outros ou se agregam como sócios

subalternos ou desaparecem. O resultado desta lógica da competição

de todos com todos é duplo: de um lado uma acumulação fantástica de

benefícios em poucos grupos e de outro, uma exclusão fantástica da

maioria das pessoas, dos grupos e das nações.

Atualmente, o grande crime da humanidade é o da exclusão social.

Por todas as partes reina fome crônica, aumento das doenças antes

erradicadas, depredação dos recursos limitados da natureza e um

ambiente geral de violência, de opressão e de guerra.

Mas reconheçamos: por séculos essa troca competitiva abrigava a todos,

bem ou mal, sob seu teto. Sua lógica agilizou todas as forças produtivas e

criou mil facilidades para a existência humana. Mas hoje, as virtualidades

deste tipo de economia estão se esgotando. A grande maioria dos países e

das pessoas não cabe mais sob seu teto. São excluídos ou sócios menores

e subalternos, como é o caso do Brasil. Agora esse tipo de economia

da troca competitiva se mostra altamente destrutiva, onde quer que ela

penetre e se imponha. Ela nos pode levar ao destino dos dinossauros.

39
unidade 2
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Ou mudamos ou morremos, essa é a alternativa. Onde buscar o princípio

articulador de uma outra sociabilidade, de um novo sonho para frente? Em

momentos de crise total, precisamos consultar a fonte originária de tudo,

a natureza. Que ela nos ensina? Ela nos ensina, foi o que a ciência já há

um século identificou que a lei básica do universo não é a competição que

divide e exclui, mas a cooperação que soma e inclui. Todas as energias,

todos os elementos, todos os seres vivos, desde as bactérias e vírus até

os seres mais complexos, somos inter-retro-relacionados e, por isso,

interdependentes. Uma teia de conexões nos envolve por todos os lados,

fazendo-nos seres cooperativos e solidários. Quer queiramos ou não,

pois essa é a lei do universo. Por causa desta teia chegamos até aqui e

poderemos ter futuro.

Aqui se encontra a saída para um novo sonho civilizatório e para um

futuro para as nossas sociedades: fazermos desta lei da natureza,

conscientemente, um projeto pessoal e coletivo; sermos seres

cooperativos. Ao invés de troca competitiva, em que só um ganha

devemos fortalecer a troca complementar e cooperativa, na qual todos

ganham. Importa assumir, com absoluta seriedade, o princípio do prêmio

de economia John Nesh, cuja mente brilhante foi celebrada por um não

menos brilhante filme: o princípio ganha-ganha, em que todos saem

beneficiados sem haver perdedores.

Para conviver humanamente inventamos a economia, a política, a cultura,

a ética e a religião. Mas nos últimos séculos, o fizemos sob a inspiração da

competição, que gera o individualismo. Esse tempo acabou. Agora temos

que inaugurar a inspiração da cooperação que gera a comunidade e a

participação de todos em tudo o que interessa a todos.

Tais teses e pensamentos se encontram detalhados nesse brilhante livro

de Maurício Abdalla, O princípio da cooperação. Em busca de uma nova

racionalidade.

40
unidade 2
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Se não fizermos essa conversão, preparemo-nos para o pior. Urge começar

com as revoluções moleculares. Começamos por nós mesmos, sendo

seres cooperativos, solidários, compassivos, simplesmente humanos.

Com isso definimos a direção certa. Nela há esperança e vida para nós e

para a Terra”.

(BOFF, Leonardo. Ou mudamos ou morremos. LeonardoBOFF. Disponível

em:http://www.leonardoboff.com/site/vista/outros/ou-mudamos.htm.

Acesso em: 23 dez. 2015).

Por sua vez,


A contradição presente na relação do ser humano com a natureza estes mesmos
processos
pode ser comprovada principalmente nos problemas advindos
afastam o ser
dos processos industriais desenvolvidos ao longo dos tempos. humano de
Tais processos são vistos como geradores e garantidores de uma utilização
desenvolvimento, empregos, qualidade e maior expectativa de
consciente
da natureza.
vida para o ser humano. Por sua vez, estes mesmos processos
afastam o ser humano de uma utilização consciente da natureza.
Com a revolução industrial e com a chegada da era tecnológica, a
humanidade polui o ar que respira, a água que necessita, o solo do
qual provém os alimentos, os rios, destrói florestas e os habitats
animais. Essas destruições colocam em risco a sobrevivência da
Terra e de seus habitantes.

O consumo elevado dos recursos e o processo de industrialização


seguido da emissão desenfreada de gás carbônico esgotam ao
longo do tempo os recursos da Terra, os quais levaram milhões
de anos para se formarem. Daí a ocorrência de desastres naturais
causados pela ação do ser humano no meio ambiente. A natureza
em si não é violenta, o que se assiste atualmente é a resposta do
ecossistema a todas as agressões a ele imputadas.

41
unidade 2
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

FIGURA 5 - O aquecimento global

Fonte: www.shutterstock.com

Ainda que o problema ambiental tenha se originado há tempos,


recentemente constata-se seu agravamento e urge compreender e
resolver a lição do ser humano com a natureza, para que se garanta
a continuidade da vida.

42
unidade 2
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Organização,
representação e
participação na
educação ambiental
Uma vez conscientes da situação de interdependência que nos
permeia, bem como da responsabilidade do ser humano perante
o meio à sua volta, propõe-se refletir a organização de ações e
intervenções capazes de garantir a continuidade da vida. Em
prol desse objetivo, surgem organizações civis, cooperativas,
associações de moradores de bairros, entre outras iniciativas
coletivas e solidárias. Trata-se de mobilizações e intervenções
locais para enfrentar questões ambientais globais. Algumas ações
sociais podem exemplificar esses movimentos em prol da educação
ambiental, entre as quais podemos citar:

1. Simplicidade voluntária: comunidade onde os membros


escolhem livremente viver na contramão do discurso
apregoado pela sociedade capitalista e consumista. Assim,
tais grupos apoiam suas práticas de vida no intuito de
produzirem o mínimo de lixo possível, de respeitarem o
biorritmo de seus corpos e de defenderem a biodiversidade,
as culturas e as tradições locais.

2. Coleta seletiva e reciclagem de lixo: criação e difusão


da cultura do reaproveitamento dos materiais possíveis,
redução do consumo de energia, água e demais recursos
naturais renováveis e ou não renováveis. Além de gerar
renda para associações e recicladores, fomenta a cultura de
responsabilidade ambiental tanto em perspectiva individual
quanto coletiva.

3. Hortas coletivas: permitem a melhor alimentação da


comunidade, além da otimização de espaço, recursos e
insumos.

43
unidade 2
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

FIGURA 6 - Horta coletiva

Fonte: www.shutterstock.com

4. Carona solidária: melhora o trânsito das cidades, garante


a redução do consumo de combustível, diminui a poluição/
emissão de gás carbônico e possibilita o relacionamento
entre as pessoas.

A realidade atual exige que a sociedade se organize, crie novas


iniciativas e promova ações capazes de reduzir o impacto da vida
humana sobre o meio ambiente. A comunidade acadêmica não
pode passar à margem desse apelo e pedagogicamente há de
assumir o papel de protagonista na proposição da mudança de
atitudes.

Por esse motivo, os pilares educacionais da UNESCO (aprender


a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver com os outros e
aprender a ser) implicam a mudança de hábitos e a interligação ativa
e dinâmica dos saberes. O ser humano precisa se responsabilizar
por sua vida, assim como pelas demais vidas existentes no planeta,
assumindo o seu papel nesse caleidoscópio de interdependência
que congrega todo o ecossistema.

44
unidade 2
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

A transformação da realidade global passa por mudanças de atitudes

e hábitos locais. Desse modo, iniciativas simples e individuais devem

somar-se a esforços de outras particularidades e coletividades no intuito

de se formar uma rede solidária, comprometida com práticas capazes de

promover a mudança necessária.

Desse modo, a presente unidade convida aos discentes a repensarem suas

práticas cotidianas e a assumirem o papel de agentes transformadores

de uma realidade de morte para uma realidade de vida; de um mundo do

consumo exaustivo a um mundo solidário para com todas as formas de

vida.

Essa mudança de hábito pode ocorrer mediante a adoção do consumo

consciente. A diminuição da utilização de produtos descartáveis e a

otimização do uso de utensílios domésticos, roupas, acessórios pessoais,

aparelhos eletrônicos etc. contribuem significativamente para a saúde

ambiental e o bem de todos.

45
unidade 2
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Revisão
I - Unesco: 4 pilares da educação:

1. Aprender a conhecer.

2. Aprender a fazer.

3. Aprender a viver com os outros.

4. Aprender a ser.

II - A Educação ambiental deve despertar para:

• a tomada de consciência da interdependência;

• a necessidade de mudança de atitudes e modos de pensar;

• a adesão pessoal e coletiva no intuito de garantir qualidade


de vida para todo ser humano e todo ser vivo;

III - Organização, representação e participação na educação


ambiental.

A responsabilidade com o meio ambiente implica ações de toda a


sociedade e apresenta dimensão individual e coletiva, a qual adquire
maior força e visibilidade mediante a implementação de:

• associações de bairro;

• agremiações sociais;

• cooperativas solidárias;

• participação da sociedade civil organizada.

46
unidade 2
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

AGENDA do clima. Disponível em: <http://planetasustentavel.abril.com.br/

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meio-ambiente.htm>. Acesso em: 23 dez. 2015.

47
unidade 2
A globalização e
as desigualdades
sociais
Introdução

O processo de globalização atual gera exclusão e produz novas


vítimas em escala mundial. Difunde o ideal do desenvolvimento
ao alcance de todos, ao mesmo tempo em que produz e agrava
exclusão e marginalização de indivíduos e coletividades. Globaliza o
capitalismo, sendo por ele globalizado. Na mesma medida, propaga
a racionalidade da técnica (em vias da produção em massa) em
detrimento da ética (o cuidado para com a vida) e destrói as noções
de solidariedade humana.
• O mundo
globalizado e
Desse modo, a globalização enfraquece as relações interpessoais as diferenças
e acentua as diferenças entre os povos, estigmatizando diferenças transfiguradas
em
(sejam estas de ordem política, econômica, social, cultural e ou de
desigualdades:
orientação sexual) em desigualdades (hierarquizando e valorando vitimização
as diferenças de acordo com padrões normativos da racionalidade
• O consumo
dominante). na sociedade
globalizada

Explora vida humana e exaure os recursos naturais em nome • A possibilidade


de mudança: por
do lucro e da mais-valia econômica aqui compreendida como a
uma globalização
menos-vida da classe trabalhadora. Agrava a crise ecológica por humana
extrair desordenadamente os recursos disponíveis. Ao incidir sobre
a realidade local e a periférica, a globalização vinda do Centro, dos
países dominantes, produz fragmentação no campo econômico,
ético e cultural.
Tais afirmações ancoram-se no fato de a globalização atender,
como se tem assistido, às demandas do capital e do mercado
regidos pelo motor único da mais-valia a difundir a promessa
de bem-estar e qualidade de vida para todos. Em oposição a tais
promessas, o modelo econômico vigente já apresenta sinais de
falência e o esgotamento dos recursos naturais (crise hídrica,
por exemplo) impõe limites ao processo de produção a expandir
os ideais da globalização, tais como possibilidade de consumo
acessível a todos, expansão generalizada dos benefícios oriundos
dos inventos tecnológicos e maior qualidade de vida.

Evidentemente, aqui não se trata de “demonizar” a globalização. Os


recursos e possibilidades advindos pelo uso da técnica (internet,
aparelhos eletrônicos, sistema de transporte...) apresentam valor
positivo e encurtam as distâncias geográficas e/ou culturais entre
pessoas e nações. Por ser ambíguo, o processo de globalização
culmina por beneficiar os atores sociais que dispõem de poder
econômico. Isso porque, a utilização do mesmo relógio não
implica igual economia de tempo. Embora todos disponham do
mesmo tempo diário registrado em horas, o acesso a bens e
serviços depende do capital que cada qual dispõe para acessar tais
benefícios ou permanecer à sua margem.

Ao pontuar tais questões, explicita-se o lugar hermenêutico desde o


qual se lê e se interpreta o processo da globalização. A saber, o lugar
da crítica a ideologias que são cotidianamente legitimadas pelos
meios de comunicação e governos liberais. Como limite e proposta
à globalização em marcha, apresenta-se convite à construção
de outra globalização, pautada nos valores da solidariedade e da
justiça, como se verá ao longo da unidade.
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

O mundo globalizado
e as diferenças
transfiguradas
em desigualdades:
vitimização
Consideramos que a chegada do liberalismo econômico no
mundo ocidental tornou-se pedra angular da instalação e da
permanência até hoje, no século XXI, da chamada globalização,
como uma indústria de marginalização do indivíduo, da degradação
e da destruição do meio ambiente, da apropriação da terra e da No período
propriedade, de acumulação de metade do capital mundial na mão atual, as
de apenas 2% da população do globo, do aumento cada vez maior megaempresas
transnacionais
dos lucros fáceis e também do crime de usura.
não são agentes
de um ou
Globalização, espacial e conceitualmente, é o plano de atuação outro governo
estrangeiro.
do capital dominante, representado pelas megaempresas
transnacionais. Plano este a difundir os ideais do consumo e da
legitimação de determinados modos de ser e de se viver. A essas
megaempresas não interessa os que são marginalizados, banidos
e relegados, porque não interferem na cadeia ou no modo de
produção capitalista que se expande.

No período atual, as megaempresas transnacionais não são


agentes de um ou outro governo estrangeiro. Constituem-se, em
suas próprias estruturas, uma estrutura articulada de poder: o
poder de mercado, considerado por grande parte dos economistas
como o mais importante da época atual. O “quarto” de século que se
seguiu a Segunda Grande Guerra pode ser indicado como o período
do início do processo de controle da Economia Mundial. A expansão
das organizações transnacionais e a multiplicação simultânea de
governos nacionais são, de algum modo, resposta aos movimentos
de modernização social, econômica e tecnológica a que se

51
unidade 3
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

assistiram no século XX e se consolidaram no século XXI em todo


o mundo. Os progressos no campo da Economia, Tecnologia e
Administração tornaram possível uma organização funcionalmente
específica - como uma corporação ou um serviço militar - operar
em bases mundiais. Ao mesmo tempo, estas e outras conquistas
políticas, econômicas e sociais tornaram possível o exercício da
atividade política em base global, como o fez a Inglaterra no final do
século XIX, no apogeu do Império Britânico.

FIGURA 1- O mundo em suas mãos, um dos ideais da globalização

Esse desejo de
unificação e
universalismo
deixa, na história,
vestígios de
uma vocação
expansionista e
totalizante.

Fonte: Shutterstock.com

Importa ressaltar que as origens da globalização atual, em sentido


amplo, antecedem a existência do capitalismo como forma de
organização socioeconômica e do liberalismo e neoliberalismo
como estruturas políticas e econômicas. Esse desejo de
unificação e universalismo deixa, na história, vestígios de uma
vocação expansionista e totalizante. Os esforços imperialistas e
homogeneizadores da campanha Greco-helênica, a estrutura do
império romano, a cristandade pós-constantiniana, as descobertas
das grandes navegações, o processo de colonização do Novo

52
unidade 3
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Mundo, o domínio britânico do Oriente e as missões transculturais


do século XVIII e XIX são sinais do esforço de controle, centralização,
difusão de um modo de ser hegemônico e negação das diferenças
em nome da prevalência da racionalidade (como pensa, age, vê o
mundo) do dominador/conquistador.

Globalização:

A globalização do mundo expressa um novo ciclo de


expansão do capitalismo, como modo de produção
e processo civilizatório de alcance mundial. Um
processo de amplas proporções envolvendo nações e
nacionalidades, regimes políticos e projetos nacionais,
grupos e classes sociais, economias e sociedades, Na atualidade,
culturas e civilizações. Assinala a emergência da a globalização
sociedade global, como uma totalidade abrangente,
encontra-se
complexa e contraditória. Uma realidade ainda pouco
conhecida, desafiando práticas e ideais, situações indissociável
consolidadas e interpretações sedimentadas, formas do capitalismo
de pensamento e voos da imaginação. (IANNI, 2002, p. cuja expansão
11). difunde suas

Para Enrique Dussel, filósofo argentino, as raízes mais sólidas da


globalização econômica atual desenvolveram-se em solo europeu
(os chamados países de centro), e afetam de modo singular
a realidade latino-americana (entre outros países da periferia,
acompanhada pela realidade africana e asiática). Essa concepção
de globalização, como o esforço de expansão e dominação do
centro sobre a periferia, representa sua face negativa e mais
conhecida.

Na atualidade, a globalização encontra-se indissociável do


capitalismo cuja expansão difunde suas bases. A desintegração
da União Soviética, o fracasso do socialismo na Europa Oriental, o
bloqueio de Cuba, entre outros eventos que marcaram a segunda
metade do século XX, denunciam a impotência das margens diante
da força coercitiva do capitalismo e do liberalismo. Dissolvem
a esperança dos povos que não participam da pequena elite do
centro, de se libertarem de sua miséria. (DUSSEL, 2002, p.15).

53
unidade 3
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Constata-se que os anos que sucederam à década de 1990, já após


o advento da internet, continuam testemunhando essa realidade ao
lado da expansão do capitalismo e da globalização.

FIGURA 02- A internet encurta distâncias e expande o capitalismo

Fonte: Shutterstock.com

A globalização em expansão e as
desigualdades sociais
Em poucas décadas, o capitalismo estabeleceu-
se como o modo de produção global. Penetrou nos
continentes, nas culturas, em praticamente todos os
pontos do Globo, inclusive nos países que sempre
se declararam socialistas. Difundiu, criou e recriou
os espaços de desenvolvimento e de atuação da
globalização. Dussel sustenta que a Modernidade é
resultado da expansão do centro europeu, através da
conquista e colonização, e não sua causa. Do mesmo
modo, o capitalismo é o resultado e não a causa da
mundialização e da centralidade europeia. (DUSSEL,
2002, p.52-53).

O anseio de homogeneização e expansão da totalidade encontrou


no capitalismo mecanismo de propagação.

54
unidade 3
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

A economia de mercado avança com toda a força, revelando suas


inúmeras facetas: privatização das empresas visando ao lucro
e não ao bem da sociedade, abertura dos mercados, criação de
áreas de livre-comércio, mudanças na legislação trabalhista e
nas relações de trabalho. A expansão extensiva e intensiva do
capitalismo é parte do processo civilizatório que globaliza o mundo
e é por ele globalizada. A esse processo, o sociólogo Octavio Ianni
denomina civilizatório, por compor o cenário das sociedades atuais,
revelando-se a espinha dorsal do desenvolvimento dos padrões
de comportamento, do consumo, do pensar e da disseminação da
globalização. Impõe-se às culturas, expande os ideais de consumo,
marca novo modo de relação política, globalizando povos, cidades,
nações. As peculiaridades de cada cultura são lentamente
abandonadas ou recicladas e desenvolvem-se novas e mutantes
relações de produção, valores socioculturais e costumes:

Aos poucos, a comunidade é recoberta pela sociedade,


a sociabilidade baseada nas prestações pessoais,
ou na produção de valores de uso, é recoberta ou
substituída pela sociabilidade baseada no contrato,
na produção de valores de troca. Simultaneamente,
ocorre a secularização da cultura e do comportamento,
a individuação, a emergência do individualismo
possessivo e, em alguns casos, da cidadania. (IANNI,
2002, p.187).

Ao privilegiar e legitimar determinadas condutas e pensamentos,


ladrões de beleza e manifestações culturais, sociais e políticas
específicas, a globalização afeta a realidade local e muitas
vezes transfiguram/transformam/convertem as diferenças
que constituem a diversidade humana em desigualdades. Com
isso, possibilita a emergência da intolerância, de preconceitos,
xenofobias, machismos, estigmas e compromete o exercício da
cidadania centrada no ideal da dignidade humana. Estar “fora” da
lógica da globalização é ser menos cidadão, pois a cidadania, nesse
caso, é medida pela capacidade de consumo e de adequação aos
ideais globalizantes.

55
unidade 3
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

FIGURA 03 - A globalização e produção de desigualdades sociais

Fonte: Shutterstock.com

Desigualdade: diferenciação negativa de qualquer ordem, proveniente de

pessoas e/ou grupos. Essas diferenças podem ser de ordem econômica,

jurídica, social, educacional, culturais e sexuais.

Xenofobia: No sentido amplo, preconceito caracterizado pela aversão

e pela discriminação direcionadas a pessoas de outras etnias, culturas,

crenças e valores. Essa aversão pode desenvolver sentimentos de ódio

e perseguição, estimulando animosidades e violência para com o que se

classifica como diferente.

Em seu sentido mais restrito, caracteriza medo


ou aversão excessivo e descontrolado diante do
diferente, do desconhecido, de outros modos de se
interpretar a e conceber a realidade. Para o dicionário
de Sociologia, “xenofobia é o medo de estrangeiros,
sentimento este com fundamento na cultura. Tem
sido frequentemente associado à recepção hostil
dada em sociedades e comunidades a imigrantes. Em

56
unidade 3
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

alguns casos, a xenofobia tem origem em um medo


autêntico de estranhos e do desconhecido, embora,
com mais frequência, tenha uma base mais concreta,
especialmente na medida em que envolve concorrência
por empregos, ou preconceitos de natureza étnica,
racial ou religiosa. (JOHNSON, 1997, p. 255).

O segmento que mais proveito obtém da globalização é o


econômico, uma das razões pela qual o capitalismo se tornou
hegemônico e seu principal difusor. A expansão capitalista não
somente amplia os horizontes da globalização, como recria os
espaços, agrava as questões sociais, gera a degradação do meio
ambiente, provoca o surgimento de nacionalismos e regionalismos,
enquanto resistência local. O meio ambiente é visto como algo a
ser usado e explorado em nome do lucro. Preocupações no âmbito
da preservação, cuidado e valorização do meio ambiente cedem
espaço aos interesses do mercado. Por sua vez, paradoxalmente
O meio ambiente
a globalização propicia a chegada do multiculturalismo, da visão é visto como
inter e transdisciplinar, da possibilidade de diálogo entre culturas e algo a ser usado
e explorado em
encontro da diversidade. Novamente, constata-se que as mesmas
nome do lucro.
condições sob as quais se instaura a mundialização podem
constituir oportunidade de se construir positivamente algo novo.

No âmbito da economia a força da globalização


extrapola as relações imanentes e se transmuta em
razão última, em motor, um ídolo a ser cultuado.
Instaura-se novo culto, o da idolatria do capital em
que a mais-valia deve ser alcançada a qualquer custo,
mesmo que o preço seja a instauração de guerras.
Nesse sentido, a mais-valia é o fruto da lucratividade
obtida por meio da menos-vida do outro, da negação
de seus direitos e de sua dignidade. (DUSSEL, 1987,
p.143)

O acirramento das desigualdades, o sistema-mundo como


totalidade perversa, a moralidade invertida são consequências
da expansão do modelo capitalista que serve aos ideais da
globalização. Refazendo o percurso da História.

[...] talvez o problema mais grave dos fins do século XX,


que começou em 1492 [...] é justamente a distância que
aumenta cada vez mais entre a riqueza do capitalismo
central do Norte e a crescente miséria do capitalismo
periférico do Sul. (DUSSEL, 1995, p.69).

57
unidade 3
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

A globalização produz vítimas


Os vitimizados por este sistema não se constituem vítima, porque
em um dado momento assim o decidiram e relegaram a sua
dignidade, abdicando dos direitos de cidadão. Pelo contrário, antes
que pudesse requerer os direitos que lhe são devidos, viveu-se a
experiência da exclusão.

Da nossa parte, como latino-americanos, participantes


de uma comunidade de comunicação periférica - dentro
da qual a experiência da “exclusão” é um ponto de
partida (e não de chegada) cotidiano, isto é, um a priori e
não um a posteriori - nós precisamos obrigatoriamente
encontrar o enquadramento filosófico dessa nossa
experiência de miséria, de pobreza, de dificuldade
para argumentar (por falta de recursos), de ausência
de comunicação ou, pura e simplesmente, de não-
fazermos-parte dessa comunidade de comunicação
hegemônica. (DUSSEL, 2002, p.60).

FIGURA 04 - A vitimização da vida

Fonte: Shutterstock.com

58
unidade 3
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Nesse horizonte, o processo de produção e reprodução da vítima


em grande escala, desenhado já na colonização do século XVI,
globaliza-se e adquire dimensões nunca vistas. Exclui mais
da metade do planeta entre pobres, desempregados, etnias
discriminadas, mulheres (dominação erótica), crianças (no âmbito
pedagógico), trabalho escravo (dimensão política).

O consumo na
sociedade globalizada
“Como já explicitado, encontra-se em curso intenso processo de
globalização das coisas, gentes e ideias”. (IANNI, 2002, p. 13).

Tal processo configura-se como civilizatório ao intervir na realidade,


construindo ideais e padrões que difundem a mentalidade do
dominador e marginalizam o próprio das culturas conquistadas.
Daí a negação de crenças locais e a difusão dos costumes do
colonizador. Historicamente, essa é a estratégia que mantém
a hegemonia do centro, que busca transformar a periferia em
uma extensão de si, negando-a em sua alteridade única em
prol do império da totalidade a expandir e sustentar o centro.
Dialeticamente, as relações entre opressor e oprimido, assim como
a dominação versus libertação proporcionam um eixo de leitura
para a história latino-americana.

Dentre as principais noções difundidas pela globalização perversa,


percebemos a busca de uma homogeneização, algo como um
pensamento controlado e unificado. A globalização, envolvida
no empreendimento da universalização indiferenciada, bem
desenvolvida no mito do progresso, alega estar a serviço da
igualdade e da justiça. Garante minimizar as diferenças sociais,
promover a dignidade do trabalho e a educação da pessoa em todas
as instâncias. Esse pensamento único, no entanto, se contrapõe ao
múltiplo, ao diverso, enquanto abertura à alteridade típica de cada
nação.

59
unidade 3
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

O mundo como é: a globalização como perversidade

No fragmento a seguir, Milton Santos sintetiza o que se pode compreender

como a dimensão perversa da globalização:

De fato, para a grande maior parte da humanidade


a globalização está se impondo como uma fábrica
de perversidades. O desemprego crescente torna-
se crônico. A pobreza aumenta e as classes médias
perdem em qualidade de vida. O salário médio tende
a baixar. A fome e o desabrigo se generalizam em
todos os continentes. Novas enfermidades como a
AIDS se instalam e velhas doenças, supostamente
extirpadas, fazem seu retorno triunfal. A mortalidade
infantil permanece, a despeito dos processos médicos
e da informação. A educação de qualidade é cada vez
mais inacessível. Alastram-se e aprofundam-se males
espirituais e morais, como os egoísmos, os cinismos,
a corrupção. A perversidade sistêmica que está na raiz A globalização
dessa evolução negativa da humanidade tem relação não é tão global,
com a adesão desenfreada aos comportamentos
nem o local
competitivos que atualmente caracterizam as ações
hegemônicas. Todas essas mazelas são direta ou é tão singular.
indiretamente imputáveis ao presente processo de
globalização. (SANTOS, 2004, p. 19-20).

O processo de globalização atual constitui realidade complexa,


ambígua, multifacetária e polimorfa em oposição à ideia difundida
da homogeneidade e segurança advindos do pensamento único
(a globalização como totalidade em movimento). Ao mesmo
tempo em que promove integração, acentua a diversidade. Ao
lado da homogeneização, emerge e promove a fragmentação. A
globalização não é tão global, nem o local é tão singular.

Para Sidekum, na pergunta pela atuação de seus protagonistas


e da realidade desse processo em marcha, a globalização atual
se apresenta, concretamente, como fábrica de perversidades.
(SIDEKUMI, 2002, p. 190).

60
unidade 3
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Isso porque, a globalização universaliza problemas e difunde


ideologias. Constata-se que a expansão capitalista conduz à
globalização de problemas sociais. Globalizam-se o desemprego,
baixos salários, exploração, baixa qualidade de ensino, permanece
a mortalidade infantil, a violência doméstica e as classes médias
perdem qualidade de vida.

FIGURA 05 - A globalização a serviço de poucos

Fonte: Shutterstock.com

Ler a globalização atual como perversidade permite


apreender a realidade do mundo tal como se apresenta,
e não como as ideologias querem nos fazer crer que
ela seja. A democratização dos bens tecnológicos e a
melhoria dos índices indicativos do desenvolvimento
social não ocorreram: “a globalização é nova forma de
imperialismo: tudo o que menos vale fica entregue aos
países dependentes, aproveitando as vantagens que
oferecem”. (COMBLIN, 2001, p.118).

Podemos mesmo dizer que se poderia denominar com mais


propriedade de “globalitarismo” do que de globalização. Na verdade,
a globalização beneficia os detentores do capital, os quais podem
usufruir das conquistas tecnológicas, industriais, avanços na
medicina e etc.

61
unidade 3
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Negativamente, por meio e por causa do capital, desenraizam-


se povos e culturas, exilando a todos em um mundo avesso à
lei. Dissolvem-se as sociedades nacionais em uma idealizada
sociedade mundial, alterando profundamente as perspectivas
étnicas, de classes, culturais, de partidos, e de direitos. Como
se tem insistido no mesmo ritmo, globalizam-se os problemas
econômicos, políticos, as intolerâncias religiosas, preconceitos,
oferecendo-se uma cultura globalizada que nega a tradição e
a alteridade, dissolvida que é pela mentalidade da totalidade.
Concluímos que essa totalidade sincretiza, transmuta e reelabora a
realidade, como vitrine ou palco dos produtos por ela globalizados.

Também paradoxal é compreender que uma das estruturas


totalitárias da Modernidade é o fundamentalismo. A cultura
Nesse contexto,
reabre-se o
globalizada é, para Ianni, fundamentalista, excludente e autoritária: debate sobre a
“o fundamentalismo cultural é uma ideologia de exclusão coletiva, identidade da
baseada na ideia do ‘outro’ como estrangeiro, um estranho, como diversidade e a
possibilidade de
o termo xenofobia sugere, isto é, um não-cidadão”. (IANNI, 2002, p.
existência
140). do múltiplo.

As mesmas relações, processos e estruturas que expressam a


globalização como abertura, possibilidade e liberdade, produzem e
reproduzem desigualdades, tensões e contradições, e “na mesma
escala em que se desenvolvem a diversidade e a liberdade podem
desenvolver-se a desigualdade e a intolerância”. (IANNI, 2002, p. 68).

Nas grandes cidades, ao lado da diversidade e da


indiferenciação que a dissolve, multiplicam-se a
intolerância e a discriminação. A cidade apresenta a
contradição de ser o espaço da diferença, mas também
o lugar da intolerância étnica, racial, sexual e religiosa,
dentre outras. (IANNI, 2002, p. 68-69).

Nesse contexto, reabre-se o debate sobre a identidade da


diversidade e a possibilidade de existência do múltiplo. A identidade
dos povos do centro depende da afirmação de sua superioridade
frente aos povos da periferia.

62
unidade 3
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Quanto mais dominados econômica, política e culturalmente os


países periféricos forem, mais se poderá falar de uma hegemonia
do centro. Compete aos povos da periferia, por sua vez, buscarem
alternativas de luta, resistência e de garantia da dignidade que lhes
é negada.

Para Milton Santos, em contraposição à globalização, descendente,


do alto, porta-voz dos ideais do opressor, em continuidade com o O desafio
global é o da
processo de colonização iniciado há séculos, emerge a necessidade
construção da
de outra globalização, ascendente, de baixo, protagonizada pelas sociedade e dos
vítimas. (SANTOS, 2004, p.30-50). caminhos que
a preparam.

Nesse aspecto converge o pensamento de Ianni, pois, no meio da


opressão, há o desafio de dinamizar as forças sociais periféricas,
“que poderiam fazer com que se desenvolva a globalização desde
baixo”. (IANNI, 2002, p. 115).

O desafio global é o da construção da sociedade e dos caminhos que


a preparam. Para tanto, se depara com o desafio da racionalidade
capitalista difundida e com as muitas fragmentações, reflexos do
embate entre o global e o local.

63
unidade 3
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

A possibilidade de
mudança: por uma
globalização humana
Parte-se do fato de que a globalização atual, como processo
aberto a mudanças, permite a busca de construção de nova ordem
centrada na promoção da dignidade e da cidadania do ser humano.
Tal afirmação vai de encontro da visão dos que detêm o poder. A
globalização atual, guiando-se pela lógica da totalidade, empenha-
se exclusivamente na propagação de “si mesmo”. Encontra-
se em franca expansão. As nações dominantes consideram a
forma atual da globalização irreversível, caminho sem volta. Os
Estados Unidos da América há tempos difundem a ideia de que o
progresso, o bem comum e a qualidade de vida reivindicada pelas
As nações
grandes massas empobrecidas são os resultados esperados e dominantes
inevitáveis do mercado único, da moeda comum. Em tal realidade, consideram a
a racionalidade do global já se encontra em estágio de expansão
forma atual da
globalização
considerada, via de regra, sem volta. A realização da vida humana irreversível,
se vincula, ao desenvolvimento da globalização como instrumento caminho
de vida mediante melhores oportunidades de emprego, educação, sem volta.
consumo etc. Mas, o processo de expansão econômica e cultural,
efetiva e simultaneamente, produz exclusão e marginalização e não
o prometido padrão de qualidade de vida. E, no intuito de manter o
status quo, o império da totalidade, na figura dos que detêm o poder,
zela pela manutenção da ordem vigente difundindo a ideia de que
não existe possibilidade de retorno.

É divulgado que tal processo é reversível e já se veem as bases


para a irrupção do novo, nas resistências que se constituem limite à
expansão da totalidade em movimento.

Aos poucos, a gestação de nova ordem se fortalece,


ainda que quase imperceptível. O que sustenta e
difunde a novidade começa a se impor, quando o atual
ainda se apresenta dominante. (SANTOS, 2004, p.140-
141).

64
unidade 3
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Historicamente, é possível constatar que os impérios nascem,


alcançam seu auge e têm seu declínio. A falência, queda ou
declínio advém de mudanças, vislumbradas posteriormente. Os
mecanismos de contenção do novo por vezes impedem que sejam
notadas, enquanto seus alicerces serão, aos poucos, erguidos.

As bases para a edificação do novo, do descontínuo na história já se


fazem notar em atitudes de solidariedade presentes na sociedade
e nas comunidades preocupadas com a solidariedade em rede e
com a propagação de um modelo de vida sustentável a garantir a
renovação das reservas e recursos ambientais. Tal descontinuidade
histórica se rege pelo conceito de sustentabilidade, o qual comporta
o universo de mudanças de práticas, hábitos e posturas do ser
humano para com o mundo à sua volta. A concretização do novo
requer tomada de compromisso pessoal tanto em nível local
como global, para que os fundamentos já lançados cumpram seus
desígnios de aportar a mudança que se faz necessária, caso a
sociedade queira deixar uma herança possível de vida para a sua
descendência.

FIGURA 06 - Por uma globalização humana

Fonte: Shutterstock.com

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unidade 3
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Por outro lado, os que acreditam na irreversibilidade do atual


processo parecem ter sido contagiados pela racionalidade
do dominador (totalizaram-se e se limitam a reproduzir essa
totalidade), aqui considerada como irracionalidade que se impõe
como dominante. A existência da irracionalidade do sistema é
estímulo para que surjam, em oposição, outras racionalidades,
dentre as quais a possibilidade da reversibilidade do momento atual
por meio da irrupção de outra globalização, como aqui se propõe.

A possibilidade de mudança também está presente na concretude


daqueles que resistem à ideia de que o processo de globalização
atual e da expansão de sua racionalidade não pode ter seu curso
mudado. O argumento dos que a consideram irreversível parte do
pressuposto de que a promoção da vida depende de sua expansão,
o que justificaria a hegemonia da racionalidade da globalização.
Cabe questionar qual vida e de que ator social tem sido promovida:
dos que oprimem ou dos que são oprimidos?

A globalização atual só poderia e deveria se tornar hegemônica


mediante a realização digna da vida das vítimas (fome saciada,
frio aquecido, moradia digna, emprego, exercício da cidadania...).
Conquistar tal feito na América Latina e África, bem como nas
regiões em que a realidade latino-americana e africana se repete
é desafio para a vocação universalizante da globalização. Porém,
ao acentuar as desigualdades, favorecer o racismo e a xenofobia,
oferece à vida e à sua dinâmica, campo para a reação das vítimas
que se apresentam como resistência local aos impactos ditos
globais. A construção de nova ordem ocorre mediante a primazia
do local sobre a totalidade. A totalidade (global) há de se abrir à
alteridade da vítima, a partir da interpelação da própria vítima, que
acusa os desmandos do sistema e afirma a própria vida. Para a
instauração de nova ordem deve-se:

66
unidade 3
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

[...] quebrar as cadeias (o momento negativo


descrito), mas ‘desenvolver’ (libertar no sentido de dar
possibilidade positiva) a vida humana ao exigir que as
instituições, o sistema, abram novos horizontes que
transcendam à mera reprodução como repetição de
‘o Mesmo’ - e, simultaneamente, expressão e exclusão
de vítimas. Ou é, diretamente, construir efetivamente
a utopia possível, as estruturas ou instituições do
sistema onde a vítima possa viver, e ‘viver bem’ (que
é a nova ‘vida boa’); é tornar livre o escravo; é culminar
o ‘processo’ de libertação como ação que chega à
liberdade efetiva do anteriormente oprimido. É um
‘libertar para’ o novum, o êxito alcançado, a utopia
realizada. (DUSSEL, 2002, p.566).

A busca do novo, à luz dessa utopia possível, norteia a presente


reflexão, fazendo-se atuante como fio condutor a impulsionar o
percurso de superação da globalização atual. Demonstrou-se, no
percurso encetado até este ponto, que as ações, ditas globais, são
centradas maciçamente no dinheiro. Em nome do “deus dinheiro”
infinitas vidas são sacrificadas:

[...] esse novo deus do homem proclama a produção


da mais-valia como o único e o último sentido da vida
dos homens. No entanto, o capital é um deus estranho,
pois só vive à custa da vida dos homens: ele é o grande
baal da modernidade, que exige, para viver, o sacrifício
dos homens. No cerne desse sistema existe a compra
e a venda da vida, já que o homem se faz mercadoria:
ele não vale mais nada em si mesmo, só vale enquanto
produtor [...].(OLIVEIRA, 2001, p.73).

Constata-se diuturnamente na realidade, a marca dos que cultuam


o poder em detrimento do ser, da dignidade da pessoa, em uma
inversão de valores que traduz a desvalorização do humano. O ser
humano torna-se refém do capital, existência fadada ao serviço da
mais-valia. Aprisionada a essa rede de relações, a vida humana não
pode se realizar.

O encontro/confronto e a mistura de povos, etnias, culturas e


realidades plurais, proporcionam o embate de pensamentos
diversos, filosofias, crenças, modus vivendi, em detrimento da
superioridade e hegemonia do racionalismo e modelo europeu.

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unidade 3
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Daí Milton Santos falar da produção:“[...] produção de uma população


aglomerada em áreas cada vez menores, o que permite um ainda
maior dinamismo àquela mistura entre pessoas e filosofias”.
(SANTOS, 2004, p.21).

A diversidade fortalece a resistência ao alcançar alternativas


criativas de sobrevivência e luta. A densidade de grandes
aglomerados em pequenos espaços transforma a realidade ao
proporcionar a interação e troca de vivências que almejam a
irrupção do novo. Diante dessa constatação, o mundo atual requer
que as pessoas sejam, cada vez mais, abertas ao diálogo e ao
encontro e comprometidas com os ideais de sustentabilidade da
vida em todo o seu conjunto. A diversidade
fortalece a
resistência
Nessa perspectiva, ressalta-se que o papel desempenhado pela ao alcançar
manifestação da vida local é determinante. Mediante o movimento alternativas
da totalidade do mundo em direção ao lugar em que a vida criativas de
sobrevivência
se apresenta singularmente e em constante permuta, o local
e luta.
surge como o espaço no qual as experiências se entrecruzam,
a racionalidade dominante é questionada, emergem indagações
sobre o futuro e as esperanças se renovam.

No que tange ao presente pensar, a América Latina não é apenas


lugar ou instância hermenêutica. Apresenta-se como realidade
capaz de desenvolver e acolher outra globalização, alteridade
criativa que constitui resistência ao desejo de expansão da
totalidade. Enrique Dussel propõe tal conversão com pretensão
de mundialidade. Esta pretensão se nutre da resistência latino-
americana, cujo povo se une às outras vítimas mundiais da
globalização. Mediante a conscientização e a busca de defesa da
corporalidade ferida, os marginalizados clamam pela libertação “no
deserto” da exclusão do mercado, da opressão consumista e da
exploração das classes populares.

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unidade 3
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

FIGURA 07 - Memorial da América Latina (Oscar Niemeyer)

Fonte: Shutterstock.com

A globalização atual como processo aberto que pode ter seu


curso mudado, alimenta a esperança de um mundo melhor.
Quando demonstramos a reversibilidade da globalização atual,
não indicamos que esta chegará ao fim. Sustentamos que seus
objetivos podem ser outros.

A globalização atual continuará em marcha, agora comprometida


com a vida. A possibilidade de conversão do sistema somada à
resistência dinâmica das vítimas favorece o advento do novo. Situar
a resistência e os limites à globalização perversa equivale garantir
o estabelecimento do novo processo crítico de libertação. Essa é a
tarefa a ser empreendida nos dias de hoje.

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unidade 3
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

O tema da globalização apresenta transdisciplinariedade a tocar diversas

áreas do saber e apresenta grande relevância no contexto de nosso estudo.

Justamente por isso, tal unidade se situa propositalmente antecedente

à discussão sobre a cidadania. De outro modo, a abordagem sobre a

globalização compreende a sociedade, o meio ambiente e a cidadania.

Há relação intrínseca entre o processo da globalização e:

a. o modo organizativo da sociedade e a racionalidade a justificar

tal modus vivendi amplamente difundido no Ocidente;

b. a devastação ambiental em detrimento da obtenção do lucro

e da produção em larga escala para atores sociais cada vez

mais ávidos pela “magia” do consumo e consequentemente

destituídos de sua liberdade de escolha perante a realidade.

Diante do exposto, pode-se facilmente compreender a relevância de se

tratar o tema da globalização e o quanto a compreensão das questões

que o permeiam possibilita o posicionamento crítico diante da realidade.

O exercício da cidadania tem início justamente na capacidade de se

posicionar perante a realidade com olhar capaz de perceber as fábulas

e ideologias que a sustentam e a tecer a complexa rede das relações

políticas, sociais e econômicas a permear a o mundo em que vivemos.

c. o modo organizativo da sociedade e a racionalidade a justificar

tal modus vivendi amplamente difundido no Ocidente;

d. a devastação ambiental em detrimento da obtenção do lucro

e da produção em larga escala para atores sociais cada vez

mais ávidos pela “magia” do consumo e consequentemente

destituídos de sua liberdade de escolha perante a realidade.

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unidade 3
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Diante do exposto, pode-se facilmente compreender a relevância de se

tratar o tema da globalização e o quanto a compreensão das questões

que o permeiam, possibilita o posicionamento crítico diante da realidade.

O exercício da cidadania tem início justamente na capacidade de se

posicionar perante a realidade com olhar capaz de perceber as fábulas

e ideologias que a sustentam e a tecer a complexa rede das relações

políticas, sociais e econômicas a permear a o mundo em que vivemos.

Revisão

- Globalização rima com desigualdade e exclusão.

- O processo de globalização difunde o capitalismo sendo simultaneamente

por ele globalizado.

- Dentro da lógica capitalista, as benesses da globalização contemplam os

detentores do capital, deixando à margem a grande maioria destituída de

poder aquisitivo.

- Positivamente, a globalização possibilita o encontro de culturas e

mentalidades; encurtam distâncias, ao reconfigurar os mercados

econômicos e a circulação de produtos. Negativamente, tem se

demonstrado fábrica de desigualdades, conflitos e xenofobias. Acirra

as diferenças características da diversidade, transfigurando-as em

desigualdades.

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unidade 3
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

- Segundo Milton Santos, pode-se conceber e interpretar o complexo

processo da globalização a partir de três perspectivas ou horizontes

conflitantes de possibilidade:

1. A globalização tal como ela realmente é (a globalização como

perversidade);

2. A globalização como o sistema dominante nos fazem crer que

ela seja (a globalização como fábula);

3. A globalização tal como pode vir-a-ser, o momento da mudança

(a possibilidade de outra globalização).

GARCÍA, C. N. Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais da

globalização. Rio de Janeiro: UFRJ, 1996.

GENTILI, P. (Org.). Globalização excludente: desigualdade, exclusão e

democracia na nova ordem mundial. 4.ed. Petrópolis: Vozes, 2002.

IANNI, O. A sociedade global. 11.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,

2003, p. 125-146 (Capítulo 7: As formas do poder global).

______. Teorias da globalização. 13.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,

2006, p. 237-256 (Capítulo 10: Sociologia da globalização).

SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência

universal. 11.ed. Rio de Janeiro: Record, 2004, p. 37-78 (Capítulo 3: Uma

globalização perversa).

______. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência

universal. 11.ed. Rio de Janeiro: Record, 2004, p. 141-174 (Capítulo 6: A

transição em marcha).

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unidade 3
A perspectiva
cidadã
Introdução

Originário na Grécia Antiga, o conceito de cidadania aplicava-se a


uma minoria da população, como homens livres, maiores de 21 anos,
nascidos na polis (cidade) e estabelecia os direitos dos indivíduos
que nas cidades viviam. As mulheres, as crianças, os escravos e os
estrangeiros, dentre outros, eram excluídos dos direitos concedidos
aos denominados cidadãos. A noção de cidadania encontrava-se
atrelada à ideia da democracia, outra grande invenção e legado da
cultura grega.

Ao longo dos tempos, reconfigurou-se o modo pelo qual se


• O conceito
compreende o que é ser cidadão, assim como o próprio conceito moderno de
de cidadania. Aqui, interessa se depreender as implicações do ser cidadania

cidadão hoje, os direitos e deveres que o exercício da cidadania • Direitos e


deveres do
demanda, os possíveis “tipos” de cidadania em jogo e como cada
cidadão
qual interage com a dinâmica da vida em sociedade na atualidade.
• A cidadania
na pós-
Para tanto, a presente unidade inicialmente explicita o conceito modernidade
de cidadania hoje no Ocidente e aborda os direitos civis, políticos
e socioeconômicos. Há de se ter claro o fato de o exercício
da cidadania além de albergar direitos, implicar também a
obrigatoriedade de deveres e, em tempos de globalização, provocar
a necessidade de se pensar a respeito da pertinência de promover a
possibilidade de difusão de uma cidadania dita global.
FIGURA 1 - Cidadãos do mundo

Fonte: Shutterstock.com

A concepção de cidadania global segue a lógica conceitual já


demonstrada e presente no processo de globalização atual. A
expansão de mercados, o maior trânsito de pessoas e de ideias,
o constante fluxo de capitais, produtos e serviços, ao mesmo
tempo em que traz à tona xenofobias e intolerâncias, deve
indicar o caminho de superação de tais negatividades mediante a
legitimidade de expansão de direitos e deveres extensivos a toda a
coletividade em esfera global.
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

O conceito moderno
de cidadania
A cidadania constitui-se elo de pertença do sujeito social com o
Estado (país) de seu nascimento. Implica o reconhecimento da
adesão do indivíduo a uma organicidade coletiva e pressupõe
vínculo político. “O estatuto de cidadão é, em consequência, o
reconhecimento oficial de integração do individuo na comunidade
A cidadania
política”. (CORTINA, 2005, p. 31) constitui-se elo
de pertença do
sujeito social
Tal conceito ainda vigente surge nas cidades-estados greco-
com o Estado
romanas. Nestes modelos de democracia, tanto a grega (país) de seu
(participativa) quanto à romana (representativa) buscavam garantir, nascimento.
dentro do possível, o ideário original do regime democrático de
governo regido pela participação popular no governo, em que o
cidadão mostra-se a pedra fundamental de todo o processo.

Essa primeira noção de cidadania aparece como a identificação


do ator social pertencer a um grupo, porém a construção da ideia
de pertença já traz em si a exclusão. O conceito de cidadania
desenvolvido no Ocidente é um conceito dialético. “A trama da
cidadania é urdida com dois tipos de fios: aproximação dos
semelhantes e separação em relação dos diferentes”. (CORTINA,
2005, p. 32)

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unidade 4
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Desta feita, por cidadania, nesta compreensão política, entende-se


todo aquele que participa da vida política no país em que nasceu.
Todavia, a compreensão dialética, ao longo do tempo, fez suas
vítimas (excluídos) dos processos, pois em todas as concepções
de cidadania sempre existiram os cidadãos de segunda categoria.
Por cidadãos de segunda categoria compreendem-se todos
aqueles que encontram dificuldade para exercer qualquer dos
direitos (direitos civis, políticos, sociais e econômicos) devido à
desigualdade em uma de suas condições, seja de raça, credo, sexo,
escolaridade, posição social, afetividade e ou condição econômica.
Como exemplos de cidadãos de segunda categoria, na antiguidade,
destacam-se os escravos e as mulheres e, atualmente, os pobres.

Cabe ressaltar, a grande distinção entre desigualdade e diferença. Cabe ressaltar,


Respeitar a diferença existente entre as pessoas implica reconhecer a grande
e acolher a individualidade e particularidades de cada um, o que se
distinção entre
desigualdade
mostra fundamental dentro de qualquer sociedade democrática. e diferença.
Já o acirramento das desigualdades trata-se de comportamento
segregatório e discriminatório, algo que deve ser veementemente
combatido.

A seguir indicamos alguns conceitos fundamentais para esta Unidade,

extraídos da Cartilha da Cidadania: a cidadania ao alcance de todos.

Disponível em: <http://www.dedihc.pr.gov.br/arquivos/File/cartilha_da_

cidadania.pdf>. Acesso em: 10.fev.2016.

Cidadania é a tomada de consciência de seus direitos, tendo como

contrapartida a realização dos deveres. Isso implica no efetivo exercício

dos direitos civis, políticos e socioeconômicos, bem como na participação

e contribuição para o bem-estar da sociedade. A cidadania deve ser

entendida como processo contínuo, uma construção coletiva, significando

a concretização dos direitos humanos.

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unidade 4
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Cidadão é todo aquele que participa, colabora e argumenta sobre as bases

do direito, ou seja, é um agente atuante que exerce seus direitos e deveres.

Ser cidadão implica em não se deixar oprimir nem subjugar, mas enfrentar

o desafio para defender e implementar seus direitos.

Direitos Humanos são valores, princípios e normas que se referem ao

respeito à vida e à dignidade. A expressão refere-se a organizações, grupos

e pessoas que atuam na defesa desse ideário. Os direitos humanos

estão consagrados em declarações, convenções e pactos internacionais,

sendo a referência maior a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

A Constituição do Brasil se compromete no artigo 1º, à prevalência dos

direitos humanos nas relações internacionais e, nos arts. 5º e seguintes,

define os direitos e garantias fundamentais. (Cartilha da Cidadania: p.06)

FIGURA 2 - Áreas de atuação da gestão de pessoas

Fonte: Shutterstock.com

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unidade 4
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Democracia

Significa governo do povo, assegurado pelo gozo dos


direitos de cidadania. Assim, quando há isonomia, ou
seja, igualdade diante da lei, há democracia. A visão
clássica de democracia é assentada nos princípios
da participação coletiva e igualdade de todos, frente
ao sistema de representação política e de igualdade
perante a lei. O art. 1º da Constituição do Brasil afirma
a democracia formalmente, definindo como seus
fundamentos a soberania, a cidadania, a dignidade da
pessoa”. (CARTILHA DA CIDADANIA: p. 6).

FIGURA 3 - Democracia para quem?

Fonte: Shutterstock.com

Fonte: Shutterstock.com

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unidade 4
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Direitos e deveres do
cidadão
Como vimos nas unidades anteriores, o mundo atual apresenta
vários desafios: a pluralidade de escolhas, a fragilidade e liquidez
dos relacionamentos humanos, a má distribuição de renda, a
poluição dos recursos naturais entre outros. Diante de tantas
questões, o exercício da cidadania não fica ileso. Assim, ser cidadão
no século XXI apresenta peculiaridades, pois está ao alcance das
mãos para aqueles com acesso à internet. O poder legislativo,
de qualquer esfera da federação, disponibiliza para o cidadão o
acompanhamento on-line de qualquer projeto de lei em tramite
na casa. O Senado, mediante cadastro simples, envia notícias
para o e-mail do interessado caso o projeto de lei sofra qualquer Diante de tantas
movimentação ou destaque. questões,
o exercício
da cidadania
Assim, o acompanhamento de qualquer matéria legislativa pode ser
não fica ileso
exercido do aconchego de casa, mas para aqueles que podem pagar
por isso. Aqui se observa os dois pontos da cidadania, os cidadãos
de primeira linha participam do processo e podem exercê-la se
quiserem, os cidadãos de segunda classe permanecem alijados
do processo. Dentro do conceito de cidadania global, o número
excluído diminui consideravelmente, pois essa perspectiva busca a
inclusão e mundo mais justo e pacífico.

Objetivos da Cidadania global: A educação para a cidadania global visa ao

empoderamento dos discentes para que estes se engajem e assumam

papéis ativos, tanto local quanto globalmente, para enfrentar e resolver

desafios globais e, por fim, contribuir de forma proativa para um mundo

mais justo, pacífico, tolerante, inclusivo, seguro e sustentável. Começando

na esfera de atuação pessoal do discente.

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unidade 4
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Habilidades e competências demandadas pela cidadania global:

1. capacidade de entendimento de múltiplos níveis de


identidade dos diversos sujeitos e do desafio de construção
de uma identidade coletiva que transcenda as diferenças
individuais culturais, religiosas, éticas ou outras (como o
sentimento de pertencer a uma humanidade comum e o
respeito pela diversidade);

2. conhecimento de questões globais e valores universais,


como justiça, igualdade, dignidade e respeito
(como compreensão do processo de globalização,
interdependência/interconectividade e dos desafios globais
que não podem ser abordados adequada ou unicamente
por Estados-nação, tendo “sustentabilidade” como o
principal conceito do futuro);

3. habilidades cognitivas para pensar de forma crítica,


sistêmica e criativa, incluindo a adoção de uma abordagem
de múltiplas perspectivas, que reconheça diferentes
dimensões, aspectos e ângulos de questões (como
habilidades de raciocínio e de resoluções de problemas,
apoiadas por uma abordagem de múltiplas perspectivas);

4. habilidades não cognitivas, incluindo habilidades sociais


empáticas de resolução de conflitos, de comunicação,
aptidões para networking e para a interação com pessoas
de diferentes contextos, origens, culturas e perspectivas
(como empatia global e sentimento de solidariedade).

“[...] capacidades comportamentais para agir de forma colaborativa


e responsável, a fim de encontrar soluções globais para desafios
globais, bem como para lutar pelo bem coletivo”. (UNESCO, 2015.
p.17.)

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unidade 4
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

FIGURA 4 - Educação para a cidadania global

Fonte: Shutterstock.com

Fonte: Shutterstock.com

Assim sendo, no intuito de finalizar esta primeira parte da unidade,


vamos aprofundar a compreensão do conceito de cidadania.

A cidadania pode compreender três tipos distintos de relação com o

Estado. Cada relação gera um grupo de direito separado de direitos:

1. Direitos civis: direitos de livre expressão, de ser informado sobre

o que está acontecendo, de reunir-se, organizar-se, locomover-

se sem restrição indevida e receber igual tratamento perante a

lei;

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SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

FIGURA 5 - Organizar manifestações populares é um direito do cidadão

Fonte: Shutterstock.com

2. Direitos políticos: que incluem o direito de votar e disputar

cargos em eleições livres; e

FIGURA 6- Votar e ser votado: exercício de cidadania

Fonte: Shutterstock.com

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unidade 4
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

3. Direitos socioeconômicos: “(...) que incluem o direito ao bem-

estar e à segurança social, a sindicalizar-se e a participar de

negociações coletivas com empregadores e mesmo o direito de

ter um emprego”. (JOHNSON, 1997, p. 34).

FIGURA 7 - O subemprego fere a dignidade do cidadão

Fonte: Shutterstock.com

Em contrapartida ao conceito tradicional de cidadania, a UNESCO


adota o conceito de cidadania global. Trata-se de perspectiva
ampliada, inclusiva e supra estatal. Nessa proposta da UNESCO, a
cidadania pressupõe compromisso como o coletivo, respeito pelo
meio ambiente, pelas comunidades e culturas locais.

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SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

FIGURA 8- Por uma cidadania ao alcance de todos

Fonte: Shutterstock.com

A cidadania global ultrapassa as amarras legais, pois, esta não


implica uma situação apenas legal, bastando o fato de se ser
pessoa, ser humano.

Como cidadão, você obtém seus direitos por meio


de um passaporte/documento nacional. Como um
cidadão global, eles são garantidos não por um Estado,
mas por meio de sua humanidade. Isso significa que
você também é responsável pelo resto da humanidade
e não apenas o Estado. (UNESCO, 2015. p.11)

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unidade 4
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

A cidadania na
pós-modernidade
O próprio caráter múltiplo e diverso da pós-modernidade possibilita
a emergência de várias facetas de posicionamento acerca da
compreensão da noção de cidadania. Não necessariamente isto
significa que uma faceta seja melhor que a outra, ou ainda, uma mais
verdadeira e outra menos verdadeira. Antes, trata-se da dinâmica
social de olhares múltiplos sobre a realidade e sobre a relação entre
o cidadão (enquanto indivíduo e coletividade) e o Estado.

O cidadão liberal Nessa


perspectiva,
O poder do governante ao longo do século XVIII sofre modificações, cabe ao Estado
pois além de perder o caráter absoluto de outrora, agora deve garantir a vida
e a propriedade
oferecer algo a seus súditos e/ou governados. Os principais teóricos
privada.
liberais desse período são: Locke, Montesquieu, Rousseau, Stuart
Mill e Kant.

O ponto principal dessa corrente reside na não intervenção ou na


intervenção mínima do Estado, haja vista respeitar dois valores
fulcrais de todo e qualquer cidadão, a saber: a liberdade e a
igualdade.

Nessa perspectiva, cabe ao Estado garantir a vida e a propriedade


privada. As demais necessidades competem ao cidadão livre e em
pleno gozo de sua liberdade se organizar da forma que melhor julgar
individualmente. Aqui está a crueldade desta proposta de cidadania,
pois as pessoas não são igualmente capazes (ou “igualmente
iguais”) e, portanto, este modelo gera muitas injustiças ao reduzir as
pessoas a meras necessidades econômicas e a direitos individuais.
Tal corrente influenciou grandemente o liberalismo econômico,
lançando as bases do que hoje se denomina capitalismo neoliberal.

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unidade 4
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

O cidadão social
Ao contrário do cidadão liberal, em que o Estado pouco intervinha,
o cidadão social é dotado de direitos coletivos, ou seja, construídos
no seio da coletividade, tais como: saúde, educação, moradia e
alimentação. São direitos que exigem postura intervencionista e
atuante do Estado. Assim, o cidadão social é aquele que tem direito
a ter direitos ofertados e garantidos pelo Estado. Como exemplo
cita-se o SUS (Serviço Único de Saúde) em que o Estado deve
garantir serviços de saúde a todos.

FIGURA 9 - Cidadania: uma construção de todos

Fonte: Shutterstock.com

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unidade 4
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

O cidadão republicano
Trata-se da participação ativa e efetiva da vida da cidade. Esta
proposta de cidadania pressupõe amadurecimento dos membros
da sociedade, no intuito de serem capazes de ir além dos interesses
privados e pensar na coletividade. Representa forma ativa de luta
dentro do regime social.

Em linhas gerais, são duas ideias básicas do


republicanismo: a primeira, a concepção antitirânica,
contrária a toda dominação, pois reivindica a liberdade
e a vida livre em um Estado livre, bem como a
defesa de certos valores cívicos como a coragem, a
honestidade, o patriotismo, a prudência, a igualdade,
o amor à justiça, a solidariedade, a nobreza, enfim, o
compromisso com a sorte dos demais. A segunda
ideia é que o republicanismo oferece novas formas de
organizar a sociedade: se apoia na responsabilidade
pública de cidadania; busca uma cidadania ativa.
Não tem a pretensão de separar o âmbito público do
privado, como difunde o liberalismo. (GORCZEVSKI,
2011, p. 57).

Tal proposta de cidadania mostra-se interessante e apresenta-se


em constante construção.

O cidadão comunitário
Nesse projeto de cidadania, o sujeito, o cidadão, só é reconhecido
e se realiza plenamente no coletivo, em comunidade. Isso porque
a concepção de cidadania necessita ser compreendia dentro do
mundo de vida e de relação do sujeito social. O todo (a comunidade,
ou o grupo étnico de pertencimento, ou grupo cultural) é superior às
partes (os indivíduos) e, portanto, é o real titular de todos os direitos.

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unidade 4
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

FIGURA 10 - Cidadania comunitária

Fonte: Shutterstock.com

Não obstante, tem-se consciência de que a constituição do


todo necessita das partes. Dai a noção de cidadão comunitário
pressupor a compreensão da dinâmica a garantir o agrupamento
da coletividade.

O que entendemos por cidadania planetária

A noção de cidadania planetária manifesta-se em diferentes expressões:

“nossa humanidade comum”, “unidade na diversidade”, “nosso futuro

comum”, “nossa pátria comum”. Cidadania planetária é uma expressão

adotada para designar um conjunto de princípios, valores, atitudes e

comportamentos que demonstram uma nova percepção da Terra como

uma única comunidade. Frequentemente associada ao “desenvolvimento

sustentável”, ela é muito mais ampla do que essa relação com a economia.

Trata-se de um ponto de referência ético indissociável da civilização

planetária e da ecologia. E, se é ético e ecológico, é também estético,

porque ética, ecologia e estética são, na verdade, inseparáveis.

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unidade 4
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

A globalização não se constitui em si mesma em um problema.

Reconhecemos que ela representa um processo de avanço sem

precedentes na história da humanidade. Assim como não existe apenas

uma forma possível de mercado, não existe uma única globalização

possível. O que mais aparece em nosso cotidiano é a globalização

hegemônica, na perspectiva capitalista. Mas há outras globalizações

possíveis. O que é problemático é a globalização competitiva em que

os interesses do mercado se sobrepõem aos interesses humanos, em

que os interesses dos povos se subordinam aos interesses corporativos

das grandes empresas transnacionais. Assim, podemos distinguir uma

globalização competitiva de uma possível globalização cooperativa

e solidária que, em outros momentos, chamamos de processo de O que mais


“planetarização”. A primeira está subordinada apenas às leis do mercado, aparece em
nosso cotidiano
e a segunda refere-se aos valores éticos e à espiritualidade humana. A
é a globalização
cidadania planetária ultrapassa a dimensão ambiental, o que implica hegemônica,
compreender que a Terra é um organismo vivo e interdependente do qual na perspectiva
fazemos parte.
capitalista.

Fonte: FAVARÃO, M. J.; MORRIS, E.; MARINE, L. (Orgs.). Educação para a

cidadania planetária: currículo intertransdisciplinar em Osasco. São Paulo:

UniFreire, 2001, p. 25. Disponível em: <http://www.paulofreire.org/images/

pdfs/educacao-para-a-cidadania-planetaria-curriculo-interdisciplinar-em-

osasco.pdf>. Acesso em: 23.Jan.2016.

A efetivação de uma cidadania planetária exige a emergência


de novo olhar conjuntural a ser lançado sobre a realidade em
perspectiva micro e macro, local e global, individual e coletiva.
Assim sendo, a força da cidadania planetária pressupõe o exercício
da cidadania individual aberta ao convívio com as diferenças e com
a multiplicidade de ideias e de ideais.

90
unidade 4
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

O conceito de cidadania planetária não duela com a mundialmente


conhecida categoria de cidadania global. Esta última, como já
visto nesta unidade, difunde-se em âmbito mundial mediante
rica reflexão produzida pela UNESCO. Já a cidadania planetária
apresenta elaboração inspirada em teóricos brasileiros como
Paulo Freire e expressa intuições a englobar dinâmica libertadora
e holística (o todo presente nas partes, a parte a conter o todo e a
relação indissociável entre as partes e o todo).

Figura 11 - A construção da cidadania implica a dinâmica


do indivíduo versus a coletividade

Fonte: Shutterstock.com

91
unidade 4
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

As cidadanias mutiladas

“O tema que me traz aqui não é um tema de minha especialidade, mas é

um tema da minha convivência”. Por isso, não me proponho a fazer uma

conferência, mas a manter uma conversa sem plano. Pretendo começar

esta conversa fazendo algumas perguntas: o que é ser um cidadão? O que

é ser um indivíduo completo, isto é, um indivíduo forte? O que é ser classe

média? Ser classe média é ser cidadão? O que é ser cidadão neste país? E

finalmente, os negros neste país são cidadãos?

Ser cidadão perdoem-me os que cultuam o direito, é ser como o estado, é

ser um indivíduo dotado de direitos que lhe permitem não só se defrontar

com o estado, mas afrontar o estado. O cidadão seria tão forte quanto o

estado. o indivíduo completo é aquele que tem a capacidade de entender o

mundo, a sua situação no mundo e que se ainda não é cidadão, sabe o que

poderiam ser os seus direitos.

É neste sentido que me pergunto se a classe média é formada de cidadãos.

Eu digo que não. Em todo caso, no Brasil não o é, porque não é preocupada

com os direitos, mas com privilégios. O processo de desnaturação da

democracia amplia a prerrogativa da classe média, ao preço de impedir

a difusão de direitos fundamentais para a totalidade da população. E o

fato de que a classe média goze de privilégios, não de direitos, que impede

aos outros brasileiros ter direitos. E é por isso que no Brasil quase não há

cidadãos. Há os que não querem ser cidadãos, que são as classes médias,

e há os que não podem ser cidadãos, que são todos os demais, a começar

pelos negros que são cidadãos. Digo-o por ciência própria. Não importa a

festa que me façam aqui ou ali, o cotidiano me indica que não sou cidadão

neste país.

92
unidade 4
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Poderíamos traçar a lista das cidadanias mutiladas neste país. Cidadania

mutilada no trabalho, através das oportunidades de ingresso negadas.

Cidadania mutilada na remuneração, melhor para uns do que para outros.

Cidadania mutilada nas oportunidades de promoção. Cidadania mutilada

também na localização dos homens, na sua moradia. Cidadania mutilada

na circulação. Esse famoso direito de ir e devir, que alguns nem imaginam

existir, mas que na realidade é tolhido para uma parte significativa da

população. Cidadania mutilada na educação. Quem por acaso passeou ou

permaneceu na maior universidade deste estado e deste país, a USP, não

tem nenhuma dúvida de que ela não é uma universidade para negros. E na

saúde também, já que tratar da saúde num país onde a medicina é elitista

e os médicos se comportam como elitistas, supõe frequentemente o apelo

às relações, aquele telefone que distingue os brasileiros entre os que têm

e os que não têm a quem pedir um pistolão. Os negros não têm sequer a

pedir para ser tratados. E o que dizer dos novos direitos, que a evolução

técnica contemporânea sugere como o direito à imagem e ao livre exercício

da individualidade? E o que dizer também do comportamento da polícia e

da justiça, que escolhem como tratar as pessoas em função do que elas

parecem ser.

Penso haver três dados centrais para entender essas questões do

preconceito, do racismo, da discriminação. O primeiro é a corporalidade,

o segundo é a individualidade e o terceiro é a questão da cidadania. São

as três questões que vão ser a base da maneira como estamos juntos,

da maneira como nos vemos juntos, da maneira como pretendemos

continuar juntos. Resumindo, a corporalidade inclui dados objetivos, a

individualidade inclui dados subjetivos e a cidadania inclui dados políticos

e propósitos jurídicos. A corporeidade nos leva a pensar na localização

(talvez pudéssemos chamar de lugaridade), a destreza de cada um de

nós, isto é, a capacidade de fazer coisas bem ou mal, muito ou pouco e as

possibilidades daí decorrentes. E aí aparece em resumo, o meu corpo, o

corpo do lugar, o corpo do mundo. Eu sou visto no meio, pelo meu corpo.

Quem sabe o preconceito não virá do exame da minha individualidade,

nem da consideração da minha da cidadania, mas da percepção da minha

corporalidade. A individualidade permita, a partir do bom senso , alcançar

certo grau de exercício da transindivilidade, e aí a consciência do outro e

93
unidade 4
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

dos outros, a consciência do mundo. E afinal a cidadania, que é o exercício

de direitos e supõe a ciência dos direitos que temos e a capacidade de

reivindicar mais. Como tudo isso está ligado ao grau de consciência,

voltamos, por conseguinte, à questão da individualidade.

Eu tinha feito a anotação seguinte: “A instrução superior não é garantia

de individualidade superior. A cidadania não é garantia de individualidade

forte, nem a individualidade forte é garantia de cidadania e liberdade, o

meu caso.” Desculpem mas estou tentando utilizar a mim mesmo como

exemplo. Tenho instrução superior, creio ser personalidade forte, mas não

sou um cidadão integral deste país. O meu caso é como o de todos os

negros deste país, exceto quando apontado como exceção. E ser apontado

como exceção, além de ser constrangedor para aquele que o é, constitui

algo de momentâneo, impermanente, resultado de uma integração casual”.

Fonte: SANTOS, Milton. As cidadanias multiladas. Site DH NET (on-line).

Disponível em:<http://www.dhnet.org.br/direitos/sos/discrim/preconceito/

ascidadaniasmultiladas.html> Acesso em: 31.jan.2016.

Questões para orientar a reflexão:

• O que Milton Santos compreende por cidadanias mutiladas?

• Quais outras cidadanias mutiladas podem ser


acrescentadas às já mencionadas?

• Você, enquanto cidadão de direitos e deveres, percebe-se


alvo de alguma dessas “mutilações”?

94
unidade 4
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

A modernidade consagrou-se como período a exaltar sobremaneira a

racionalidade humana imortalizada na clássica afirmação do filósofo

francês René Descartes: “Cogito, ergo sum” (penso, logo existo). O cogito

cartesiano pressupõe a dúvida como método de análise e caminho de

se ultrapassar evidências por vezes enganosas. O método cartesiano

possibilitou, no campo da ciência, a adoção de parâmetros aos quais se

recorrer no intuito de se demonstrar a possibilidade da verdade de modo

sistemático, organizado e verificável. No plano antropológico, a exaltação

do eu penso conduz a maior tomada de consciência de si e de consequente

afirmação da própria identidade. Daí uma grande intuição da modernidade:

a passagem de indivíduo a sujeito dá-se por meio da escolha. O ato de

discernir e eleger X em detrimento de Y confere o caráter de sujeito ao

indivíduo que exercita a sua liberdade.

Lançado no mundo, o sujeito já possui status de cidadão na medida em

que pertence a determinada sociedade, grupo, país, cultura etc. Por sua

vez, o cumprimento prático da cidadania, já inerente a tal sujeito, depende

de educação para o exercício da mesma. Nessa perspectiva, se inserem

os esforços da presente unidade, uma vez que objetiva o despertar crítico

do sujeito como aquele que se reconhece cidadão local e global e que tal

cidadania comporta direitos e deveres sociais, políticos e econômicos.

Conscientizar-se de quais são esses direitos e deveres, assim como do

que seja ser cidadão na contemporaneidade, possibilita a devida ocupação

de seu lugar no mundo e aguça a crítica para a análise e o questionamento

da realidade na qual se encontra inserido(a).

95
unidade 4
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Assim sendo, aqui reside a dimensão prática da discussão acerca da

cidadania: provocar os discentes para o reconhecimento de seu papel

perante a sociedade e de seu compromisso pessoal e coletivo para

com esta mesma sociedade e vice-versa. Em outras palavras, com

esta explanação, intenta-se despertar a consciência crítica, por vezes

marginalizada, do que seja ser cidadão hoje perante a desafiadora e

instigante síntese e integração entre a virtude da justiça e o sentimento/

vivência de pertença ao grupo e à sociedade.

A dimensão transformadora do reconhecimento do ser cidadão consolida-

se por meio das ações efetivas em prol da construção de um mundo

melhor para todos os seres humanos e para todas as formas de vida.

Revisão
- Cidadania: trata-se da relação do individuo com o Estado, a qual se
configura com a materialização de direitos e deveres.

- Cidadão: sujeito (pessoa física) detentor de direitos e deveres


perante o Estado.

- Tipos de cidadania: essa variação ocorre devido a qual critério da


relação entre a pessoa e o Estado será analisado.

a) Proteção e/ou direitos oferecidos pelo Estado:

1. Cidadão Liberal;

2. Cidadão Social;

3. Cidadão Republicano;

4. Cidadão Comunitário.

96
unidade 4
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

b) Nacionalidade

1. Cidadão tradicional – conceito mais jurídico, tradicional.

2. Cidadão global - vinculado aos laços humanos e culturais.

c) Cidadania planetária – questiona o processo de globalização


mundial.

1. Cidadão planetário. – Concepção de pertença a uma


comunidade humana simultaneamente única e diversa.

CANCLINI, N. G. Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais da

globalização. 2. ed. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1996.

CORTINA, A. Cidadãos do mundo: para uma teoria da cidadania. São Paulo:

Loyola, 2005.

FREIRE, P. Seminário Regional sobre Alternativas de Alfabetização para

a América Latina e o Caribe: (1987. Brasília, DF). A alfabetização como

elemento de formação da cidadania. [S. l.], 1987.

GORCZEVSKI, C.; MARTIN, N. B. A necessária revisão do conceito de

cidadania: movimentos sociais e novos protagonistas na esfera pública

democrática. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2011. Disponível em: <www.

unisc.br/edunisc>. Acesso em: 10.fev.2016.

GUIMARÃES, M. R. Cidadãos do presente: crianças e jovens na luta pela

paz. São Paulo: Saraiva, 2002.

HERKENHOFF, J. B. ABC da cidadania. 4. ed., rev. e ampl. Vitória: SEMC,

2013.

MARTÍN, N. B. Os novos desafios da cidadania. Santa Cruz do Sul: Edunisc,

2005.

NETO, J. M. Aproximar políticos e cidadãos. São Paulo: M. Ohno, 1998.

97
unidade 4
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

OLIVEIRA, K. A. M. de; ARRUDA, M. P. de. Ações e práticas de cidadania:

desafios do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente.

Campinas: Mercado de Letras, 2011.

UNESCO. Educação para a cidadania global: preparando alunos para os

desafios do século XXI. – Brasília: UNESCO, 2015. Disponível em: Para

saber mais: http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/global-citizenship-

education. Acesso em: 11.jan.2016.

VIEIRA, L. Cidadania e globalização. 2. ed. Rio de Janeiro - São Paulo: Record,

1998.

98
unidade 4
Direitos políticos,
sociais e civis
Introdução

Como se pode imediatamente depreender do título da unidade,


abordaremos os direitos constitutivos da sociedade e de seus
membros. São eles: os direitos políticos, os direitos sociais e os
direitos civis. Quer saber do que tratam esses direitos? Embarque
na leitura e no estudo dos conteúdos trabalhados. No intuito de
demarcar a problemática pertinente à presente unidade, propõe-se
uma breve exposição histórica da questão dos direitos humanos.
Aconselha-se, após o estudo da unidade, a retomada da leitura da
introdução a fim de melhor depreender as tramas e enlaces aqui
rapidamente situados e pincelados.
• Origem,
delimitação e
Historicamente, a conquista e a manutenção de direitos humanos conceituação dos
implicam na mobilização da base da pirâmide social, a qual congrega direitos
os cidadãos mais desamparados e desprotegidos em termos de • Fases ou
acesso aos direitos. Assim sendo, as reivindicações individuais gerações dos
direitos
e coletivas (enquanto fruto de uma sociedade civil organizada)
constituem um caminho possível de alcance e de instauração
• O exercício dos
direitos políticos,
dos direitos. Daí a presença de certo caráter revolucionário da sociais e civis na
conquista dos direitos, pelo fato de estes se efetivarem mediante sociedade
a resistência das massas ao poderio do Estado, caracterizado pela • Revisão
possibilidade iminente de concretizar golpes contra a população.
Cabe ressaltar que o movimento descendente de implantação da
vontade e do poder do Estado sobre a coletividade configura-se
golpe. Já a resistência das massas e a luta da sociedade perante
à força estatal denomina-se revolução. A revolução, quando
positiva, caracteriza-se pelo comprometimento com a libertação
do ser humano e com a promoção de sua dignidade. No centro
da reivindicação individual e coletiva emerge o comprometimento
com a luta para a conquista e para a garantia de direitos humanos,
os quais serão devidamente apresentados. Aqui se compreendem
os direitos advindos como frutos de prática concreta e encarnada,
motivada pela tomada de consciência pessoal e coletiva acerca da
necessidade de mobilização em prol da promoção de vida e de bem-
estar para o ser humano e para a sociedade.No início da discussão
sobre os direitos humanos modernos, o foco da questão recai sobre
o indivíduo e a defesa de sua autonomia perante o Estado. Desse
modo, a possibilidade de vida, o direito à liberdade, o acesso à saúde
e a garantia de segurança constituíram as preocupações iniciais.

Na segunda fase de consolidação dos direitos humanos, para


além da defesa do indivíduo, percebe-se a necessidade do Estado
garantir as condições mínimas de bem-estar aos seus cidadãos, no
intuito de prevalecer a isonomia (equidade) para todos. Desta feita,
emerge a discussão sobre o papel do Estado perante à promoção
dos direitos que agora se estendem coletivamente sobre a vida em
sociedade. Nasce, assim, o Estado Social.

Diante da impossibilidade de se determinar objetivamente


os beneficiários das pretensões jurídicas esperadas a serem
legitimamente alcançadas por este rol de direitos, surgem os
direitos de terceira geração. Tais direitos referem-se às garantias
de aspectos comuns que abrangem grandes coletividades, não
somente a tocar o indivíduo ou a comunidade em que ele está
inserido. Trata-se, por exemplo, do direito de se viver num habitat
não poluído, de se ter o patrimônio artístico e cultural protegido,
dentre outros.

Já a demanda de proteção dos direitos de quarta geração emerge


da necessidade imposta pelos avanços da biotecnologia, que agora
apresentam novos temas para o debate, tais como: clonagem
terapêutica, teragia gênica, reprodução humana assistida,
transgenia, bioterrorismo e pesquisa clínica antiética. A discussão
acerca desses direitos abarca o problema da proteção do material
genético humano (e da vida em geral) e de sua devida utilização. Por
fim, em mundo globalizado e cindido pela desigualdade econômica,
os povos precisam e merecem ser protegidos da especulação
econômica. Aqui se situa a última geração dos diretos humanos
- os direitos econômicos, os quais lutam contra a especulação
devastadora do sistema capitalista.

Perdoe-nos pelo excesso de informação até aqui trazido à baila.


No texto ficará clara a relação das gerações de direitos entre si.
Afinal, a proposição de perguntas e de questões estimula muito
mais a produção de conhecimento do que a mera proposição de
respostas e de fórmulas já prontas. Essa é, inclusive, uma das
características constitutivas das ciências humanas e das ciências
sociais aplicadas.

Se por acaso ao final da leitura desta introdução você ainda tiver


dúvida sobre a importância de aprender mais sobre seus direitos,
sugerimos que realize atentamente nova leitura destes parágrafos.
Se ainda assim as dúvidas persistirem, proponha a realização de
um fórum de discussão para seu tutor ou tutora sobre o tema: qual
a importância de discutir meus direitos?
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Origem, delimitação
e conceituação dos
direitos
Duas vertentes, dentre outras que poderiam ser aqui mencionadas,
destacam-se como alicerces para o processo de construção e de
solidificação do que hoje se compreende por direitos humanos
fundamentais. A origem remota da discussão teórica dos direitos
humanos remonta positivamente à Grécia Antiga, a qual prima por
discutir temas como democracia, direitos, liberdade e cidadania.
Entretanto, no contexto grego do nascimento da Filosofia ainda
prevalece o domínio do Estado sobre o indivíduo e a manutenção
do status quo de uma sociedade configurada pela hierarquização
de classes, uma vez que ainda vigora a racionalidade machista,
escravocrata e segregacional. Tal vertente
religiosa defende
a universalidade
À luz de outra perspectiva, não menos importante, merece destaque da dignidade
a relevância da tradição judaico-cristã para a história dos direitos humana a abarcar
humanos. Tal vertente religiosa defende a universalidade da
todos os povos
e nações do
dignidade humana a abarcar todos os povos e nações do mundo.
Por meio do filho de Deus encarnado, toda a humanidade torna-
se participante da condição fraterna de filiação divina, constituída
à imagem e semelhança do seu criador. Tal visão congregacional
marca profundamente a racionalidade ocidental subjacente à
compreensão e à elaboração dos direitos humanos e confere a
perspectiva de universalidade a esses direitos.

Por direitos humanos, no sentido contemporâneo, aqui se


compreendem os direitos e as garantias extensivos a todas as
pessoas sem qualquer tipo de distinção. Trata-se de direitos
inerentes à própria condição da dignidade de ser pessoa. Justamente
por ocorrer desrespeito do humano para com o humano, faz-se
necessário a adoção de normas capazes de restaurar o equilíbrio
de forças perdido dentro da sociedade. Desse modo, os direitos

103
unidade 5
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

humanos não constituem código de leis arbitrárias e ou destinadas


a garantir privilégios de um grupo sobre outro. De outro modo,
primam por resguardar a isonomia de direitos dos indivíduos e
grupos dentro da sociedade, independente das particularidades que
nos caracterizam e nos diferenciam. Neste contexto, dois princípios
devem ser considerados conjuntamente: igualdade e equidade. A
ambos compete a missão de nortear a implantação da justiça ao
equacionar as diferenças entre as pessoas.

O processo de desenvolvimento dos direitos humanos demandou


grande esforço e reflexão e ainda se encontra em aberto. A
sociedade apresenta-se um organismo vivo, mutante e passivo de
constantes e amplas transformações. Segundo Ribeiro (2009):

consagração dos direitos humanos no ordenamento


jurídico foi fruto de uma longa evolução da sociedade,
que foi notada por filósofos e juristas, somente sendo O processo de
conquistadas garantias através de lutas e disputas
entre governantes e governados (RIBEIRO, 2009, p.29).

FIGURA 1 - A dialética tensão entre a negação dos direitos e o


direito a ter direitos

Fonte: Arquivo institucional.

104
unidade 5
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Segundo FACCHI (2011), a noção de direito é:

A primeira distinção, que parece óbvia e ainda é


prenunciadora de confusões, é aquela entre direito
em sentido subjetivo (em inglês, rigth) e direito em
sentido objetivo (Law), isto é, conjunto de normas...
Dizer que alguém tem direito significa dizer que possui
expectativas justificadas por uma regra ou por um
acordo anterior, para que alguém tenha determinado
comportamento. Em geral, ‘direito’ indica uma
pretensão de alguém com respeito a alguma coisa
– de um indivíduo em comparação a outro ou mais
indivíduos -, não uma pretensão qualquer, mas uma
pretensão justificada (FACCHI, 2011, p.14).

Assim como os valores morais, o direito é fruto do modo de


ser de uma sociedade e inevitavelmente apresenta variações
históricas, geográficas, culturais e circunstanciais. O embate
entre a objetividade da lei e as suas múltiplas possibilidades de
interpretação, constitui apenas um dos nós da questão ao se
discutir a devida aplicação dos direitos humanos. Por entrar em jogo
o problema hermenêutico de leitura, compreensão, interpretação
e aplicação de normas, o campo de aplicação do Direito exige
diálogo, tolerância e capacidade de se deixar confrontar por outros
estranhos morais.

FIGURA 2 - Ser humano: o destinatário dos direitos fundamentais

Fonte: Arquivo institucional.

105
unidade 5
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Cabe destacar o fato de que a um direito corresponde


necessariamente um dever, independente se os sujeitos envolvidos
configuram-se indivíduos, coletividades, pessoas jurídicas ou
públicas. Tal princípio categórico jurídico conjuga as duas faces de
uma mesma moeda. Não existem direitos sem deveres e vice-versa,
uma vez que na relação jurídica sempre há a dinâmica de duas
forças em tensão: autor e réu; credor e devedor; locador e locatário;
patrão e empregado. Por sua vez, ao se considerar apenas um
indivíduo, a este também recai, no uso de sua responsabilidade, o
gozo de direitos e o cumprimento de deveres. Direitos e deveres
implicam individualidades, sociedades, coletividades e, por
conseguinte, toda a humanidade, como se explicita a seguir ao se
abordar fases ou gerações dos direitos. De antemão, cabe ressaltar
que tais gerações dos direitos não são excludentes, tampouco
obedecem à determinada ordem hierárquica. Todas elas são
De antemão,
agregativas, complementares e comunicativas entre si. cabe ressaltar
que tais gerações
dos direitos não
são excludentes,
Fases ou gerações tampouco
obedecem à
dos direitos determinada
ordem

As fases ou gerações dos direitos a serem explicitadas,


seguem os esforços teóricos, já consolidados e reconhecidos
internacionalmente, do jurista italiano Norberto Bobbio1.

Direitos de primeira geração – direitos


individuais
A noção de direitos civis se difunde ao longo do século XIX no
intuito de indicar e demarcar todos os direitos que se distinguem
dos direitos políticos. Os direitos civis dizem respeito ao exercício da
autonomia no âmbito da vida privada do sujeito e, nesse momento

1. BOBBIO, N. A era dos direitos. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus Editora, 2004.

106
unidade 5
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

histórico, aglutinam a atenção em função da passagem de estados


monárquicos para estados democráticos, ou seja, a discussão dos
direitos civis coincide com o momento de expansão da democracia
pelo mundo, a possibilitar a tomada de decisão pessoal do sujeito.

Genuinamente a luta pelos direitos individuais bebe nas fontes dos


ideais motivadores da Revolução Francesa e seu emblemático lema:
“Igualdade, Fraternidade e Liberdade”. Já os filósofos contratualistas
discorriam sobre o direito à propriedade privada, sobre a força
do Estado perante os cidadãos e a razão de efetivamente se dar
o contrato social como resposta reativa dos indivíduos em defesa
de sua autonomia. O contrato social se fundia sobre a necessidade
de garantia da sobrevivência de indivíduos que, em nome de
determinadas ideologias, se submetem a um acordo coletivo em
prol do bem comum.

Historicamente já vinha sendo preparado o solo para a discussão


da conquista da autonomia (auto + nomos = o sujeito enquanto
lei/norma/princípio de si mesmo). O conceito de autonomia tão
caro à filosofia de Kant constitui um dos pilares que sustentam
os ideais da Revolução Francesa, a qual difunde seus ideais por
muitas partes do globo. No Brasil, a título de exemplo, os ideais da
Revolução Francesa se encarnam e se propagam mediante as lutas
defendidas pelo movimento denominado “Inconfidência Mineira”.

FIGURA 3 - A garantia dos direitos individuais

Fonte: Arquivo institucional.

107
unidade 5
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Os direitos civis, chamados de direitos de primeira geração,


compreendem os direitos da liberdade pessoal: o direito de
liberdade religiosa, o direito de ir e vir e o direito de liberdade
de expressão, dentre outros. Expressam a defesa do direito da
garantia da autonomia do indivíduo perante os poderes públicos e
privados e perante a sociedade. Inversamente pressupõem deveres
responsáveis pela concretização da convivência pacífica e pela
manutenção da ordem num determinado grupo ou coletividade.

FIGURA 4 - Os direitos de primeira geração: pela vida do indivíduo

Fonte: Arquivo institucional.

Os direitos de primeira geração tratam-se dos direitos e garantias


referentes à esfera individual, a qual permite cada indivíduo se
configurar tal como é, diferente dos demais. Na perspectiva
democrática, os titulares desses direitos são todas as pessoas sem
exceção. Consequentemente, isso gera a obrigação de respeito de

108
unidade 5
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

todos por estes direitos que representam direitos indivisíveis e de


observância obrigatória, responsáveis pela garantia de liberdade
dos indivíduos. Esses direitos estão capitulados no artigo 5º
da Constituição Federal de 1988 caput e em seus 78 incisos.
Como exemplo desses direitos civis têm-se: a vida, a liberdade, a
propriedade privada, a justiça e a segurança.

É importante notar o caráter programático presente nos direitos


civis, pois estes se encontram constantemente em construção.

Direitos de segunda geração: direitos


sociais
Esse conjunto de direitos remete às obrigações do Estado dentro
das áreas econômica e social para com o individuo e/ou coletividade
a fim de se promover melhorias das condições de vida e de trabalho Como exemplo
da sociedade. Liga-se ao ideal de fraternidade da Revolução desses direitos
Francesa, a encampar humanitariamente grupos de indivíduos civis têm-
se: a vida, a
agora vistos não como meras partes isoladas, mas como membros
liberdade, a
colaborativos entre si. propriedade
privada, a
Os direitos sociais estão dispostos na Constituição da República
Federativa do Brasil (CR/88) titulo II, capítulo II, nos arts. 6º ao
art. 11º2. Referem-se às questões relativas à saúde, à moradia e à
alimentação, por exemplo.

2. B
 RASIL. Constituição da República Federativa Do Brasil (1988). Promulgada em 05
de outubro de 1988. 49.ed. São Paulo: Saraiva, 2014.

109
unidade 5
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

FIGURA 5 - Os direitos de segunda geração: o ser humano em


sociedade

Fonte: Arquivo institucional.

Os direitos sociais implicam a obrigação positiva do Estado de


oferecer aos cidadãos condições dignas de vida. Nesse intuito, o
Governo mantém programas sociais e políticas públicas de saúde,
como, por exemplo, o “Bolsa Família”, “Minha Casa, Minha Vida”,
seguro desemprego e o SUS.

DIREITOS SOCIAIS

Posteriormente, foi percebido que não bastava evitar


que o Estado ofendesse as liberdades do indivíduo3,
este deveria agir de modo que direitos básicos do
indivíduo fossem respeitados e que as pessoas
não ofendessem umas às outras. Surgiram, então,
os chamados direitos de segunda geração, que
contemplam uma conduta positiva por parte do Estado.

3. Como apregoavam os direitos de primeira geração.

110
unidade 5
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Assim sendo, passou-se a exigir ação do Poder Público.


São estes os chamados direitos sociais, protegidos por
um Estado que convencionou se chamar de ‘Estado de
Bem-Estar’4 (RIBEIRO, 2009, p.21).

Algumas coletividades ainda mantêm viva sua luta pela conquista


dos direitos civis, haja vista o fato de que nem todos os grupos tem
alcançado êxito na implementação dos direitos sociais.

Direitos de terceira geração: chamados


direitos difusos ou coletivos
Tais direitos amparam uma coletividade de indivíduos imersos em
uma mesma situação espacial, política, geográfica e cultural. Desse
modo, os direitos de terceira geração não visam proteger apenas
um indivíduo isolado. Como exemplos desses direitos têm-se: o
direito de viver em um ambiente desprovido de poluição; o devido
Desse modo,
respeito e preservação do patrimônio histórico, artístico e cultural;
os direitos de
os direitos de defesa das relações de consumo, etc. terceira geração
não visam
FIGURA 6 - Os direitos de terceira geração: a luta pelos interesses proteger apenas
comuns das coletividades um indivíduo

Fonte: Arquivo institucional.

4. R
 IBEIRO, M. V. Direitos humanos e fundamentais. 2. ed. Campinas: Russell Editores,
2009, p. 21.

111
unidade 5
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Como se pode depreender, a partir do momento em que a proteção


isolada ao indivíduo demonstrou-se insuficiente, articulou-se
a criação de direitos capazes de defender as especificidades
coletivas congregadas por uma situação comum de interesse e de
autonomia.

Direitos difusos

Essa gama de direitos recebe o nome de “difusos” porque o número de

sujeitos protegidos e tutelados por esses direitos é indeterminado, pois

se refere aos beneficiários presentes e futuros. Como exemplo, temos o

Código de Defesa do Consumidor. Antes de sua criação, era corriqueiro

o fato do consumidor arcar com os danos do produto estragado ou

vencido por ele adquirido. Atualmente, nenhum consumidor assume tal

responsabilidade, pois conhece seus direitos devido à educação e à cultura Os direitos de


instaladas por esse código normativo. quarta geração
abrangem o
amplo campo
Direitos de quarta geração: direitos de da discussão
proteção ao patrimônio genético bioética e do

Os direitos de quarta geração abrangem o amplo campo


da discussão bioética e do biodireito. Ligam-se às recentes
possibilidades de manipulação genética do indivíduo, à pesquisa
para produção de alimentos transgênicos, à manipulação de
embriões e material genético da vida como um todo. Englobam
o que há de mais pungente no campo da biotecnologia e se
desenvolvem, sobretudo, a partir da manipulação do DNA quer
vegetal, quer animal, quer ainda da livre combinação entre estes.
Esta é a aqui se denomina a terceira onda de direitos5.

5. TOFFLER, A. A terceira onda. 28. ed. Rio de Janeiro, Record, 2005.

112
unidade 5
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Bioética: ramo da ética aplicada que estuda as implicações éticas do

avanço da ciência sobre a saúde humana e sobre a vida em geral.

Biodireito: ramo do direito que discute a interface entre a saúde e a sua

tradução (impacto) no âmbito jurídico.

A noção de uma quarta geração de direitos alude diretamente


aos avanços biotécnico-científicos possibilitados pelas novas
descobertas e às questões éticas que as permeiam ao se discutir a
dignidade da vida e a saúde humana em particular.

FIGURA 7 - Os direitos de quarta geração: o problema


da manipulação da vida

Fonte: Arquivo institucional.

Direitos de quinta geração: proteção


contra a manipulação econômica no
mundo globalizado

Para além da garantia de direitos individuais, coletivos e sociais,


bem como da garantia da preservação do patrimônio genético, há
de se pensar também nos direitos de uma sociedade globalizada
caracterizada pelo intenso trânsito de bens, serviços, informações,
capitais e ideais em escala dita global. Aqui afloram novas questões
de ordem econômica a incidir sobre os problemas políticos e sociais.

113
unidade 5
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

FIGURA 8 - Os direitos de quinta geração: atenção aos desafios


do mundo globalizado

Fonte: Arquivo institucional.

Em síntese: tal divisão dos direitos humanos contempla, de modo


Ademais, ainda
didático e abrangente, as diversas instâncias da vida do ser humano hoje, nem todos
em sociedade. Por sua vez, percebe-se o quanto há de se caminhar os países do
globo são
para a efetiva consolidação e realização dos direitos a todas as
signatários da
vertentes propostas. Observa-se maior alcance de realização Declaração
dos direitos humanos, no tangente aos direitos de primeira e de Universal dos
segunda geração. Isto porque, a sociedade ainda vive sob a égide Direitos Humanos
do tráfico humano, do trabalho escravo, da pedofilia, do problema
da migração, do subemprego e das várias guerras civis no mundo.
Ademais, ainda hoje, nem todos os países do globo são signatários
da Declaração Universal dos Direitos Humanos adotada em1948.

O exercício dos direitos


políticos, sociais e civis
na sociedade
O exercício dos direitos civis, políticos e sociais exige a compreensão
das características dos próprios direitos humanos, pois estes são
universais, imprescritíveis e inalienáveis. Ou seja, não podem ser

114
unidade 5
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

negociados ou renunciados de nenhuma forma ou motivo e não


perdem a validade, mesmo com o passar do tempo.

A dimensão de universalidade indica que todas as pessoas são


destinatárias diretas dos direitos humanos. Desta forma, os
direitos humanos sempre existirão para todas e quaisquer pessoas
independente da vontade e/ou desejo delas.

Exercício dos direitos civis


O exercício dos direitos civis relaciona-se com os direitos e garantias
individuais, capitulados na CR/88, 5º; tais como: a liberdade
religiosa, o direito de ir e vir, o direito ao julgamento justo, o direito à
propriedade privada, dentre outros. O objetivo desse rol de direitos
consiste em garantir e reger a vida das pessoas em sociedade e
em sua vida privada. Parte-se do princípio de que todos possuem O objetivo desse
rol de direitos
direitos, portanto todos devem respeitar o direito de todos. Assim
consiste em
sendo, a tolerância representa a base de sustentáculo para o garantir e reger a
exercício pleno dos direitos civis. vida das pessoas
em sociedade
e em sua vida
Aqui se encontram implicadas atitudes práticas como frequentar a privada.
denominação religiosa que se escolheu seguir, a profissão que se
deseja exercer, o local onde se irá passar o próximo feriado, onde se
pretende morar, com quem irá se relacionar afetivamente, etc. Tudo
isso se refere ao exercício dos direitos civis em seu dia a dia, os
quais são devidamente garantidos em nossa constituição.

FIGURA 9 - O direito de autodeterminar suas próprias escolhas

Fonte: Arquivo institucional.

115
unidade 5
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

O exercício dos direitos políticos


O exercício dos direitos políticos relaciona-se com a participação da
pessoa na vida da sociedade, ou seja, da possibilidade de participar
do poder. Aqui o cidadão pode se envolver voluntariamente, desde
a organização de passeatas para lutar por direitos até a realização
de manifestações em vias públicas, conforme previsto na própria
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, a CR/88,
XVI. Abarca também a possibilidade de se concorrer em eleições
para cargos públicos nas esferas federais, estaduais e municipais.

O exercício dos direitos políticos mostra-se assim fundamental,


pois se revela garantidor tanto dos direitos civis quanto dos
direitos sociais. Já que é por meio da política que as leis ou serão
confeccionadas ou serão forçadas a serem cumpridas, uma vez já
feitas. A atuação do sujeito social no exercício dos direitos políticos Já que é por meio
possibilita o funcionamento do Estado e da vida em sociedade. da política que
Desta feita, os direitos políticos se revelam como condição de as leis ou serão
confeccionadas
possibilidade para a materialização dos direitos civis e sociais. De
ou serão
onde se percebe o caráter complementar e não excludente dessa forçadas a serem
gama de direitos. cumpridas, uma

FIGURA 10 - O protagonismo do sujeito na ação política da


sociedade

Fonte: Arquivo institucional.

116
unidade 5
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Assim, os direitos políticos pressupõem positivamente a


possibilidade de votar e ser votado. Igualmente pressupõem
a possibilidade de se ter um Estado controlado, eficiente e
principalmente transparente, pois assim o povo pode exercer seu
papel cidadão de fiscalizar e exigir seus direitos quando algo não
estiver correto.

O exercício dos direitos sociais


Os direitos sociais relacionam-se com o mundo do trabalho e da
sobrevivência do trabalhador e de sua família. Aqui a preocupação
consiste em garantir a dignidade para o trabalhador (rural, urbano
e doméstico) e seus familiares, no tocante à vida, à moradia, à
educação, à alimentação, à cultura e ao lazer. Por esse motivo,
foi criado um leque de direitos, tais como: décimo terceiro salário,
repouso semanal remunerado, salário-família, salário mínimo, Para muitos
juristas, a vida
interjornada de trabalho, entre outros. A maioria desses direitos
representa
básicos está capitulada no artigo 7º da CR/88. o bem maior
de todo o ser
Esses direitos impactam diretamente na vida e na qualidade de
humano, daí a
importância do
vida do trabalhador. Para muitos juristas, a vida representa o bem cumprimento
maior de todo o ser humano, daí a importância do cumprimento dos
direitos sociais. Por isso, muitas prefeituras mantêm programas de
incentivo à educação como o caso das UMEIS da Prefeitura de Belo
Horizonte (MG). Nesse tipo de direito, a presença do Estado (país)
está fortemente marcada, pois ele deve diminuir as desigualdades
causadas pelo sistema capitalista de produção. Compete à
sociedade atual manter viva a luta pela conquista e implementação
dos direitos, os quais sempre dependem da mobilização e
reivindicação da sociedade civil, pois as instituições e estados,
de modo geral, primam por manter o poder adquirido ao longo do
tempo.

117
unidade 5
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

O exercício da cidadania em prol da instauração da justiça pressupõe

a tomada de consciência dos direitos e deveres enquanto indivíduo

e enquanto membro pertencente a determinado grupo social e ou

coletividade. A compreensão da distinção entre os direitos individuais e

coletivos possibilita melhor organização da vida em sociedade e fortalece

a luta coletiva contra o risco de emergência de uma sociedade coercitiva,

marcada pela negação de direitos e pela constante apologia centrada na

difusão de deveres.

O reconhecimento da autonomia do indivíduo (perante a sociedade) e da

legitimidade dos direitos dos grupos e coletividades apresenta-se como a

via de concretização da dignidade humana e da dignidade da vida como

um todo.

À título de ilustração de esforço em prol da concretização dos direitos tem-

se a existência de restaurantes populares administrados pelas prefeituras

de algumas cidades, como é o caso da cidade de Belo Horizonte (MG).

Uma vez que a alimentação é um direito de todos, os municípios se

empenham em facilitar e garantir o acesso ao alimento por um custo

menor. Na mesma perspectiva, a educação constitui direito a ser garantido

pelos governos.

118
unidade 5
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Revisão
1. Origem dos direitos humanos

a. Greco-romana: fonte da noção embrionária dos direitos


humanos.

b. Racionalidade judaico-cristã: a difundir o ideal universal de


dignidade de todos os povos destinatários da salvação.

2. Direitos humanos na modernidade

Direitos humanos modernos – nasce a ideia de direitos extensivos


a todos sem qualquer tipo de restrição ou discriminação.

3. Geração ou Fases dos direitos humanos

1° Geração – garantias individuais ou civis = a implicar o sujeito.

2° Geração – 
direitos sociais = a incidir a coletividade, grupos
sociais.

3° Geração – 
interesses difusos ou coletivos = compreendem a
sociedade, em perspectiva mais ampla, presente e
futura.

4° Geração – direitos à proteção do patrimônio genético = defende


a garantia da vida humana, vegetal e animal.

5° Geração – proteção contra a manipulação econômica no mundo


globalizado = preza pela dignidade da vida.

4. O exercício dos direitos políticos, sociais e civis na sociedade

Consiste na implementação dos direitos na vida do cidadão:

• direitos civis - vida privada;

• direitos políticos – vida pública, vida cívica;

• direitos sociais – vida laboral.

119
unidade 5
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

CULLETON, A.; BRAGATO, F. F.; FAJARDO, S. Curso de direitos humanos. São

Leopoldo: Unisinos, 2009.

DOUZINAS, C. O fim dos direitos humanos. São Leopoldo: Unisinos, 2009.

DUWORKIN, R. Os direitos levados a sério. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

FACCHI, A. Breve história dos direitos humanos. Loyola: São Paulo, 2011.

LIMA JUNIOR, J. B. (Org.). Manual de direitos humanos internacionais. São

Paulo: Loyola, 2002.

RIBEIRO, M. V. Direitos humanos e fundamentais. 2. ed. Campinas: Russell,

2009.

Sites:

DIREITOS HUMANOS. Institucional. Disponível em: <http://www.dhnet.org.

br/>. Acesso em: 09 mar. 2016.

SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBICA.

Institucional. Disponível em: <http://www.sdh.gov.br/>. Acesso em: 09 mar.

2016.

Filmes:

A HISTÓRIA OFICIAL de Luis Puenzo. Filme. Direção: Luis Puenzo.

Produção: Marcelo Piñeyro. Argentina.1985. DVD (112 min).

ESCRITORES DA LIBERDADE. Filme. Direção: Richard LaGravenese.

Produção: Danny DeVito, Michael Shamberg, Stacey Sher. Estados Unidos.

2007. DVD (123 min).

FLOR DO DESERTO. Filme. Direção: Sherry Hormann. Produção: Peter

Herrmann. Reino Unido/ Alemanha/ Áustria. 2009. DVD (127 min).

GATTACA. Filme. Direção: Andrew Niccol. Produção: Danny DeVito.

Estados Unidos.1997. DVD (121 min).

120
unidade 5
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

INVICTUS. Filme. Direção: Clint Eastwood. Produção: Clint Eastwood, Lori

McCreary, Robert Lorenz, Mace Neufeld. Estados Unidos. 2009. DVD (115

min).

OSAMA. Filme. Direção: Siddiq Barmak. Produção: Siddiq Barmak, Julia

Fraser, Julie LeBrocquy e Makoto Ueda. Afeganistão/Países Baixos/Japão/

Irlanda/Irã. 2003. DVD (83 min).

121
unidade 5
Sustentabilidade e
responsabilidade
social
Introdução

As grandes transformações que incidem sobre os processos


de produção, ocorridas de modo exponencial na sociedade pós-
industrial, assim como a propagação desmedida do consumo,
acarretam a necessidade de se colocar em pauta a discussão sobre
o quanto se apresentam sustentáveis as práticas em voga nessa
sociedade dita global. Dito de outro modo, o quanto a atual utilização
dos recursos disponíveis, bem como as ações praticadas no campo
da economia e da ética possibilitam a garantia e a manutenção da
vida atual e a possibilidade de vida das gerações vindouras. • Princípios
fundamentais da
sustentabilidade
Assim sendo, discutir sustentabilidade e responsabilidade social
• Princípios
demanda reflexão acerca das condições de possibilidade da vida fundamentais da
no planeta. Dentre todos os seres vivos, compete ao ser humano responsabilidade
social
a responsabilidade de promover ações e intervenções capazes
de garantir a continuidade da vida inclusive de suas formas mais
• A sustentabilidade
como paradigma de
simples. Desse modo, a presente unidade percorre o caminho de responsabilidade
exposição do conceito sustentabilidade e propõe alguns princípios social
fundamentais, sobre os quais as bases teóricas e vivenciais da • Revisão
sustentabilidade devem se ancorar no intuito de se promover a
vida em todas as suas fases de desenvolvimento, reprodução e
manutenção.

Na sequência, explicita-se o tríplice pilar a congregar os princípios


éticos da responsabilidade social. A sociedade contemporânea
carece de consciência ética que norteie a revisão de seus ideais e
valores, por vezes já demasiadamente corrompidos pelas ideologias
do capitalismo e da globalização.

A presente ordem de exposição adotada objetiva demonstrar a


interconectividade entre sustentabilidade e responsabilidade social
e propõe a sustentabilidade (e seus princípios) como paradigma
da responsabilidade social e dos fundamentos de eticidade a esta
imbricados. Refletir a eticidade subjacente à responsabilidade social
à luz do tríplice pilar da eticidade alterativa, da eticidade libertadora
e da eticidade igualitária permite a instituição de horizontes críticos
e pertinentes para a condução do agir do ser humano no mundo.
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Princípios
fundamentais da
sustentabilidade
Em meio a muitas crises políticas, econômicas e ambientais
que incidem sobre a sociedade, a cada dia o jovem conceito
de sustentabilidade adquire maior pertinência e aplicabilidade.
Assustadoramente vêm sendo degradados e mutilados os espaços
e as condições necessárias à garantia da vida na Terra.

O conceito clássico de sustentabilidade remete à possibilidade de


satisfação das necessidades do presente sem o comprometimento
da existência das futuras gerações. Embora tal noção que remeta
diretamente à questão ambiental e ao consumo seja a mais
difundida, atenta-se aqui para a dimensão ampla de tal conceito, de
modo possa ser utilizado dentro do universo de outras realidades, de
forma que se pense, por exemplo, na sustentabilidade das atitudes
éticas, na sustentabilidade empresarial e na sustentabilidade social.

FIGURA 1 - Sustentabilidade: responsabilidade de todos

Fonte: Arquivo institucional.

125
unidade 6
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Dentre as possíveis conceituações de sustentabilidade, elege-se como fio

condutor da presente unidade a formulação de Leonardo Boff (2015), o

que se justificará logo em seguida:

Sustentabilidade é toda ação destinada a manter as


condições energéticas, informacionais, físico-químicas
que sustentam todos os seres, especialmente a Terra
viva, a comunidade de vida e a vida humana, visando
a sua continuidade e ainda a atender as necessidades
da geração presente e das futuras de tal forma que
o capital natural seja mantido e enriquecido em sua
capacidade de regeneração, reprodução, e coevolução
(BOFF, 2015).

O conceito clássico de sustentabilidade não demonstrava preocupação

para com as gerações futuras.

FIGURA 2 - Atitude sustentável: utilização otimizada


de energias limpas e renováveis

Fonte: Arquivo institucional.

Com tal definição, Boff amplia a compreensão do clássico conceito


de sustentabilidade apregoado pela ONU, segundo o qual o
desenvolvimento sustentável pode ser compreendido como o que

126
unidade 6
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

contempla as necessidades das gerações atuais sem comprometer


a possibilidade de existência das gerações futuras.

Ao contestar o conceito da ONU, Boff (2015) apresenta dois


contrapontos, sobre os quais se alicerçam aqui nossa compreensão
de sustentabilidade.

Esse conceito é correto, mas possui duas limitações:


é antropocêntrico (só considera o ser humano) e nada
diz sobre a comunidade de vida (outros seres vivos que
também precisam da biosfera e de sustentabilidade)
(BOFF, 2015).

As limitações conceituais apontadas por Boff demonstram a


preocupação de uma visão holística que considera a vida em todas
as suas manifestações e diversidades, desviando o foco de um
antropocentrismo fadado ao fracasso, se se considera o fato que aqui
Que essa
se depende da interdependência da vida de todo ser e ou organismo
melhora não se
que tem como casa comum esse planeta. Ao se considerar apenas restrinja apenas
o ser humano como destinatário de ações sustentáveis e como à comunidade
foco de um desenvolvimento igualmente sustentável, marginalizam- humana, mas
contemple
se as vidas das quais o ser humano depende de diversos modos,
holisticamente
a fim de garantir sua sobrevivência. A marginalização dos outros a vida em
seres vivos (compreendida como comunidade de vida) revela faceta perspectiva
planetária.
ainda egocêntrica que rege a lógica humana de exaltação de si
em detrimento do reconhecimento e da valorização da vida como
um todo, a qual deve ser mantida e enriquecida, se se considera
que os avanços científicos-tecnológicos devam ser capazes de
melhorar continuamente a qualidade de vida. Desse modo, não se
trata apenas de estatisticamente elevar em anos a expectativa de
vida da população, mas de garantir que tal vida se concretize em
condições favoráveis, dignas, renováveis e comprometidas não com
determinados grupos ou parcelas privilegiadas da população, mas
com toda a sociedade. Que essa melhora não se restrinja apenas
à comunidade humana, mas contemple holisticamente a vida em
perspectiva planetária.

127
unidade 6
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

FIGURA 3 - A sustentabilidade da vida humana demanda a


sustentabilidade de todas as formas de vida

Fonte: Arquivo institucional.

A seguir propõe-se uma relação de atitudes ou princípios aqui


considerados fundamentais enquanto efetivação de práticas
sustentáveis e vias promotoras do desenvolvimento sustentável
propriamente ditas. Tais princípios concretizam-se como
intervenções locais e globais e demandam adesão de toda a
sociedade.

a. Promover a prática de ações capazes de garantir as


condições necessárias para o surgimento da vida em
todas as suas formas e etapas. Preocupação especial
deve recair sobre a produção de energia limpa, bem como
o uso racional dos recursos naturais e energéticos. A
relação de interdependência da vida do planeta implica no
compartilhamento de informações, energias, alimentos,
elementos físicos, químicos e orgânicos, os quais uma vez
combinados e recombinados possibilitam a renovação da
vida.

b. Garantir a continuidade da vida de todos os seres vivos,


com especial preocupação voltada para aqueles já
ameaçados de extinção. Para tanto, o ser humano há de

128
unidade 6
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

ir além da exaltação de si mesmo como centro do globo


e atentar-se para sua responsabilidade perante a garantia
de todas as formas de vida do planeta. A compreensão
de uma dignidade intrínseca a todas as formas de vida, e
não somente à vida humana, em uma visão que valorize
e integre harmoniosamente a diversidade da existência
de possibilidades de modo a permitir a “re”descoberta da
importância da diversidade.

c. Considerar unitariamente o planeta Terra como um grande


organismo vivo, o qual, numa perspectiva holística, não
se resume à mera coisa disposta à vontade humana, mas
sim, casa comum/lar universal de todos os ecossistemas.
Casa esta em constante mutação, regeneração, evolução
e dinamicidade. Importante resgatar a concepção da
Terra como Pachamama (a grande mãe Terra), segundo a
concepção dos povos andinos.

d. Trazer para o centro o conceito de interdependência a


fim de se resgatar a concepção da Terra como a grande
comunidade da coexistência de todas as formas de vida.
A vida não se dá de modo solitário e independente da
realidade à sua volta. Não vivemos, con-vivemos; não
existimos, co-existimos. O menor dos microorganismos
compõe o sistema reticular de coexistência da vida.

e. Incutir no ser humano o espírito de responsabilidade


para com todo o globo. A espécie humana compreende a
manifestação de vida mais complexa e evoluída, dotada
de racionalidade, consciência ética, memória e clareza de
que constitui, como nos recorda Heidegger, um ser para
a morte, o qual deve no período de sua existência realizar
escolhas e responder por elas.

f. Sustentar a garantia e a reprodução da vida em todas as


fases de seu processo evolutivo. Garantir a existência de
alimentos, energia e condições de vida para as gerações
futuras.

129
unidade 6
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

g. Investir na pesquisa, na descoberta e no acesso de


medicamentos e vacinas necessários ao enfrentamento e
erradicação de doenças e de epidemias.

h. Adotar a sustentabilidade como prática e habilidade de se


conservar os meios necessários à reprodução e garantia
da vida. A sustentabilidade pode ser compreendida como
a capacidade de se manter a riqueza natural, possibilitando
que essa se recomponha e esteja disponível às futuras
gerações.

i. Avaliar constantemente o quanto se tem progredido a


vida, rumo à efetivação da sustentabilidade enquanto
prática ampla e integradora e critério do comprometimento
humano para com as futuras gerações.

FIGURA 4 - A responsabilidade humana para com a


sustentabilidade da vida em dimensão global

Fonte: Arquivo institucional.

Diante de todos esses princípios fundamentais da sustentabilidade


expostos acima, pode-se compreender a sustentabilidade como
atitude essencial de cuidado para consigo e para com o outro (as
instituições, a natureza, as outras formas de vida e o planeta com
um todo).

130
unidade 6
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Princípios
fundamentais da
responsabilidade social
A devida compreensão da noção de sustentabilidade implica,
para além do reconhecimento da finalidade à qual se destinam as
ações por ela propostas, no critério ético ao qual a sustentabilidade
se encontra imbricada. Trata-se aqui da atitude ética de
comprometimento e de responsabilidade social de todos e de cada
um perante o imperativo categórico de produção, reprodução e
manutenção da vida.

Trata-se de
atitude pessoal
A expressão “responsabilidade social”, como aqui se compreende, refere- e coletiva de
se à ação deliberada e autônoma de indivíduos, coletividades, associações, comprometimento
empresas e instituições de assumirem de modo consciente a habilidade
com a promoção
do bem-estar
de responder perante si e o outro (sociedade), pelas ações executadas,
de toda a
permitidas, estimuladas, facilitadas e ou financiadas. Trata-se de atitude sociedade, a qual
pessoal e coletiva de comprometimento com a promoção do bem-estar abarca todos os
indivíduos.
de toda a sociedade, a qual abarca todos os indivíduos. No intuito de

equacionar interesses públicos e privados, a sociedade elege normas e

princípios éticos em prol do todo, a fim de garantir a coexistência pacífica

e a realização de práticas voltadas para o bem-estar social. Ao se falar de

bem-estar social, aqui se defende que este se encontra indissociável do

bem-estar de todas as manifestações de vida. Assim sendo, o bem-estar

social implica no bem-estar da vida no globo e também o pressupõe. Urge

que o ser humano, ao olhar para si, seja capaz de considerar o todo no qual

faz parte e compõe solidariamente. Ao lado da ideia de interdependência,

já explicitada ao se falar da sustentabilidade, há de se pensar no

ideal de solidariedade sistêmica como condição fundamental para o

reconhecimento da dignidade da vida em todas as suas possibilidades de

manifestação e desenvolvimento.

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unidade 6
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

FIGURA 5 - A dinâmica individual e coletiva


da responsabilidade social

Fonte: Arquivo institucional.

Assim como se considerou importante a explicitação dos princípios


sobre os quais se ergue e há de se erigir a sustentabilidade, a Para tanto,
consideramos que
seguir explicitamos o tríplice pilar norteador da concretização
os fundamentos
da responsabilidade social. Para tanto, consideramos que os elencados
fundamentos elencados albergam o compromisso de eticidade albergam o
global. A palavra ética vem do grego “ethos” que significada morada,
compromisso de
eticidade global.
casa, lar. A casa dos valores, a morada das devidas atitudes a serem
assumidas pelo ser humano, o único animal dotado de escolha e
consciência do certo e do errado.

Pilar I: Eticidade alterativa, ou seja, saber cuidar eticamente


da alteridade. O conceito de alteridade, por sua vez, refere-se
ao outro, a evocar minha atitude ética de reconhecimento de
sua dignidade e respeito perante o mistério único e irredutível
de sua existência. Alteridade aberta, pois se trata de um ser
existente (existir provém do vocábulo latino ex-sistere, o qual
indica o ser lançado para fora, o que é e está aberto para o
exterior, existência na dinamicidade do ser com o outro e a
confrontar-se com a realidade que o permeia). O princípio da
eticidade alterativa revela a dinâmica relacional da existência
humana a interagir:

132
unidade 6
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

1. consigo (a autoconsciência de si, o cuidado pessoal, o uso


da liberdade...);

2. com o outro (namorado/a, amigo/a, colega de trabalho...);

3. com as instituições (família, clube, associação, partidos...);

4. com a natureza (tanto animada quanto inanimada);

5. com os objetos (uma faca não é boa ou má por si mesma,


depende de seu uso. Pode ser usada para preparar os
alimentos ou para matar alguém. Uso que implica na
liberdade, na escolha e na responsabilidade do sujeito
protagonista da ação);

6. com a transcendência (enquanto ser simbólico o ser


humano se abre, ou não, à crença do divino e de deidades).

FIGURA 6 - Abertura à alteridade

Fonte: Arquivo institucional.

133
unidade 6
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Pilar II: Eticidade libertadora, a saber, o compromisso de se


agir eticamente em prol da libertação da vida marginalizada,
vilipendiada e assassinada por meio da negação de sua
alteridade. A lógica do sistema capitalista legitima formas
socialmente e legalmente aceitas de se dizer não ao outro e a
promover cotidianamente a sua morte como contínua negação
de sua possibilidade de ser, de existir. Formas que apesar de
legais (por cumprirem a lei enquanto norma e contrato social),
apresentam-se imorais por não centrarem teleologicamente
(como o fim último) suas ações na promoção da vida e na
garantia de sua manutenção e reprodução. A realidade latino-
americana apresenta-se, por si só, alteridade negada pelo
conquistador e explorada em nome dos interesses dos povos
do centro. A lógica dominadora das grandes navegações
persiste no ideal homogeneizador da globalização que difunde
a negação de culturas e da vida local em nome da mais-valia
e da expansão dos tentáculos capitalistas, em nome dos
quais se nega o outro em suas diversas possibilidades de
manifestação, quer como ser humano, instituição, animal ou
coisa. A eticidade libertadora se preocupa com a libertação
integral do humano, da vida e de todo o planeta (nas dimensões
física, química, psíquica, afetiva, espiritual e cósmica).

FIGURA 7 - A necessidade de libertação integral da vida

Fonte: Arquivo institucional.

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unidade 6
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Pilar III: Eticidade igualitária, compreendida como a tomada


de ações e posturas em prol da concretização dos ideais de
uma mentalidade igualitária (princípio de equidade) acerca
da dignidade, dos direitos, dos deveres, do sexo, do gênero,
da orientação sexual, da etnia e das crenças. Trata-se de
postura anti-hierárquica, anti-estamental e anti-piramidal de se
colocar sob a égide do mesmo fiel da balança a possibilidade
de se conceber a humanidade e os ecossistemas como
uma rede de relações multifacetárias, porém equânimes;
diversas, porém interligadas; aparentemente desconexas,
porém interdependentes. Eticidade igualitária no intuito de se
dizimar as desigualdades, de se diminuir as diferenças e de se
promover a justiça.

FIGURA 8 - Perspectiva holística da responsabilidade social:


as partes compõem o todo e o todo compreende e interage
simultaneamente com as partes

Fonte: Arquivo institucional.

A seguir explicita-se a relação convergente entre sustentabilidade e


responsabilidade social. Para tanto, considera-se que os princípios
que ancoram a sustentabilidade como prática a ser consolidada em

135
unidade 6
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

nosso meio, apresentam-se como paradigma para o cumprimento


ético dos pilares que comportam o desafio do exercício da
responsabilidade social.

A sustentabilidade
como paradigma de
responsabilidade social
O percurso realizado até aqui ao longo desta unidade prepara
o campo para o momento do reconhecimento e da afirmação da
sustentabilidade, dentro da perspectiva ampla e holística defendida,
como parâmetro para a consolidação ética da responsabilidade
social em nosso cotidiano.

Considerar a sustentabilidade como paradigma da responsabilidade


social constitui passo necessário para se retirarem do plano
teórico as proposições de eticidade que compõem os pilares da
responsabilidade social, os quais devem ser transladados da
teoria à práxis. O momento de promoção da vida e de libertação
das “amarras” que aprisionam as possibilidades de mudança e
de conversão do sistema implica na assunção da práxis como
concretização do comprometimento ético e da adoção do cuidado,
atitude essencial e por vezes equivocadamente esquecida.

FIGURA 9 - A dimensão ética da práxis

Fonte: Arquivo institucional.

136
unidade 6
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

O imperativo da responsabilidade social deve ser situado dentro


do horizonte de um mundo que vive profunda crise ética e dos
valores de cuidado para com a vida. As raízes da atual crise ética
remetem à legitimação indevida do acúmulo excessivo do capital
nas mãos de poucos, à valorização das aparências e à exaltação
da propriedade privada como fonte de poder em detrimento da
dignidade intrínseca do ser pessoa, do ser vivo e do ser no mundo
por todos compartilhados. A esses fatores somam-se, ainda, o
afrouxamento da consciência ética agora substituída pela fluidez
e enfraquecimento das relações do ser humano entre si e com o
mundo; e o hedonismo egocêntrico que deságua na perda da
consciência da responsabilidade humana para com o futuro, ou
seja, a substituição de ações teleológicas pela busca desenfreada
de realizações fugazes e imediatistas.

O imperativo da
O esquecimento da dimensão projetual (no sentido de “lançar responsabilidade
adiante”, “projetar”) da existência humana enquanto vocação do ser
social deve ser
situado dentro do
como abertura para o futuro, para uma história contínua e sempre horizonte de um
como possibilidade de vir a ser compromete a prática de ações mundo que vive
sustentáveis como encarnação efetiva da responsabilidade social profunda crise
ética e dos valores
que contempla a vida que se encontra por vir. Por encarnação
de cuidado para
da responsabilidade social, compreende-se o momento crítico e com a vida.
pedagógico de se transpor a teoria para a prática no sentido de dar
corpo, conferir extensão e carne, tornar vivo e vivificante, efetivo e
atuante o que se apregoa teoricamente e ou discursivamente.

A prática de ações sustentáveis é fruto da encarnação efetiva da

responsabilidade social, quer pessoal, quer coletiva, porém de

responsabilidade intransferível que intima o uso consciente da autonomia.

137
unidade 6
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

FIGURA 10 - A prática de ações sustentáveis como encarnação


da responsabilidade social enquanto passagem da teoria à práxis

Fonte: Arquivo institucional.

O ser humano
O fato de a sustentabilidade se apresentar como paradigma da não pode se
responsabilidade social não significa que se trata de uma concepção abster do
ou movimento já determinado ou já dado à consciência humana de confronto
com as
uma vez por todas. As descobertas das ciências, os novos arranjos
circunstâncias
sociais, os fenômenos da natureza (como o aquecimento global) e nas quais
os novos desafios impostos pelo mundo contemporâneo exigem se encontra
que a própria noção de sustentabilidade continuamente se atualize
e se conforme (no sentido de adequação) às demandas mutantes e
desafiadoras de seu tempo.

O ser humano não pode se abster do confronto com as circunstâncias


nas quais se encontra inserido. Confronto na perspectiva positiva
de confrontar-se, colocar-se diante de, interagir, dialogar, efetivar
relação entre alteridades. Assim sendo, as circunstâncias históricas,
políticas, geográficas, econômicas e culturais se encontram em
fluxo dinâmico e contínuo de mutação, no qual se torna clara a
necessidade da sociedade ininterruptamente se voltar para a
análise sociológica, antropológica, filosófica, psicológica, dentre
outras, das questões que interpelam a contemporaneidade. Essas
circunstâncias constituem a trama de questões e problemas

138
unidade 6
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

com os quais cada pessoa há de se haver durante sua delimitada


trajetória existencial.

Desta feita, a responsabilidade social encontra-se inserida em


um contexto circunstancial do qual não pode ser simplesmente
abstraída e ou desgarrada. Considerar as circunstâncias
mencionadas possibilita conferir pertinência à concretização de
práxis comprometida simultaneamente com a realização de um
mundo melhor no tempo do hoje sem se perder de vista o horizonte
futuro e teleológico da continuidade da vida como herança
geracional.

“Teleologia” e “horizonte teleológico” aludem à finalidade última, aos fins

como propósitos maiores das ações e processos em voga. Distingue-

se de fim enquanto realização imediata, serventia e ou possibilidade de

uso. Por exemplo: tenho sede e bebo água para saciar uma necessidade

fisiológica. O ato de beber água tem um fim em si mesmo de apaziguar

minha sede e um horizonte teleológico de possibilitar que minha vida siga

por tempo indeterminado. A finalidade da faca é cortar. A faca possui um

fim em si mesma determinada pela qualidade e pela expectativa atribuída

ao seu uso. Como tal, a faca não é capaz de auto transcender-se (ir

além de si mesma, num movimento de superação das expectativas nela

depositadas). Por sua vez, o horizonte de finalidade de se preservar a água

ultrapassa o mero uso da água com a finalidade de “matar a minha sede”.

Isso porque, em última instância não se refere apenas à possibilidade da

manutenção de minha existência singular, mas teleologicamente remete

às condições de possibilidade existenciais das gerações vindouras.

139
unidade 6
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

FIGURA 11 - O encontro dialógico de alteridades como encarnação prática da busca de


instauração de um mundo melhor

Fonte: Arquivo institucional.

Por “encontro dialógico” se compreende o encontro entre alteridades a

se dar por meio do logos. Dia-logos (no grego clássico διάλογος): “através

de”, “por meio de”, “mediado” pelo logos. Logos significa “razão”, “palavra”,

“verbo”, “linguagem”. Trata-se, portanto, do encontro como passagem

e movimento de um ao outro, o qual se efetiva por meio do logos, da

linguagem. A linguagem é o modo de ser e de se dar do ser humano

perante o outro e o mundo. A linguagem distingue o ser humano dos

demais animais, uma vez que por meio dela somos capazes de conservar

e transmitir conhecimentos e experiências. Pela linguagem podemos nos

narrar historicamente. Por meio da linguagem também expressamos

imperativos éticos, afetos e proferimos escolhas.

Em tempos de globalização, de exclusão e de constante fluxo de capitais

e produtos, há de se pensar acerca da necessidade de cultivo de uma

responsabilidade social sob a óptica de contra discurso como limite aos

ditames das grandes empresas que validam as normas, o valor cambial

das moedas e o direito de utilização irrefletida e mesmo, inconsequente,

dos recursos naturais disponíveis.

140
unidade 6
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Ainda que tais proposições possam apresentar visão utópica da realidade,

faz-se necessário o resgate das utopias capazes de nutrir a busca de

construção de dias melhores, mais justos e mais fraternos. Enquanto o ser

humano se detiver na contemplação narcísica do próprio umbigo, a práxis

transformadora da realidade vigente permanecerá como ilusão ou fantasia

relegada à pequena coletividade que compreende o planeta Terra como

nossa casa comum.

As discussões englobadas pelo tema da sustentabilidade e da

responsabilidade social protagonizam a pauta das grandes convenções

e fóruns mundiais destinados aos debates acerca das condições de

possibilidade e de garantia da vida em nosso mundo, tais como as

conferências sobre o clima e o Fórum Social Mundial.

A aplicação dos conteúdos e ideais teóricos aqui expostos depende da

acuidade de se percebê-los como um convite à ação transformadora

engajada com o compromisso da propagação da vida. Engajamento este

a se dar tanto no plano individual quanto na esfera coletiva. Assim sendo,

a tomada de consciência da responsabilidade do ser humano perante

o mundo há de se dar em sintonia com o reconhecimento dos valores

característicos da sustentabilidade e orientados pelo tríplice pilar ético que

provoca a prática de ações condizentes com as necessidades trazidas à

tona pela realidade atual.

Os pilares de eticidade aqui propostos (eticidade alterativa, eticidade

libertadora e eticidade igualitária) apresentam-se como princípios

motivadores da prática concreta de nossas escolhas cotidianas. Antes

de proposições teóricas, eles constituem imperativos éticos a orientar e

iluminar nossas ações. Assim sendo, não pertencem ao campo abstrato

de elucubrações conceituais, mas ao universo concreto de exercício de

nossa autonomia frente à realidade circundante. Consequentemente, no

uso de sua liberdade, o ser humano ao se orientar pelos princípios de

eticidade, encarna no hoje de sua história a valorização da vida como valor

fundamental.

141
unidade 6
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Em termos eticamente concretos o tríplice pilar propõe:

• a valorização da diversidade da vida e a promoção das alteridades;

• ações pautadas em prol da libertação política, econômica e

social;

• a promoção da igualdade entre etnias, culturas, gêneros, etc.

O ser humano aplica tais proposições em sua vida ao dar voz aos apelos

de princípios tão necessários aos tempos atuais. Para além dos valores

subjetivos característicos de grupos e culturas, alguns valores perpassam

todos os povos e se apresentam como critérios universais. O valor da vida

como um todo (e não somente o da vida humana) deve ser efetivado como

critério ético-crítico universal de discernimento do certo e do errado e

fundamento a ordenar o agir do ser humano no mundo. Medidas simples,

desde a acolhida calorosa do outro até a elaboração de projetos acerca

de extração de recursos hídricos tendo em vista a preservação da vida

por vir, quando orientados pelos critérios de eticidade promotores da vida,

demonstram o alcance prático e viável do que aqui se propõe.

142
unidade 6
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Revisão
Sustentabilidade:

Toda ação destinada a manter as condições


energéticas, informacionais, físico-químicas que
sustentam todos os seres, especialmente a Terra
viva, a comunidade de vida e a vida humana, visando
a sua continuidade e ainda a atender as necessidades
da geração presente e das futuras de tal forma que
o capital natural seja mantido e enriquecido em sua
capacidade de regeneração, reprodução, e coevolução
(BOFF, 2015).

Alguns princípios fundamentais da sustentabilidade:

a. promover a prática de ações capazes de garantir as


condições necessárias para o surgimento da vida em todas
as suas formas e etapa;

b. garantir a continuidade da vida de todos os seres vivos, com


especial preocupação voltada para aqueles já ameaçados
de extinção;

c. considerar unitariamente o planeta Terra como um grande


organismo vivo, casa comum/lar universal de todos os
ecossistemas;

d. resgatar a concepção da Terra como a grande comunidade


da coexistência de todas as formas de vida existente no
planeta.

Responsabilidade social: configurada pelo comprometimento


pessoal e coletivo junto à tomada de atitudes a beneficiar a vida.
O ato de responder crítica e eticamente por suas ações perante as
alteridades (o outro, a natureza, o mundo...).

Atenção: há conexão intrínseca entre os princípios da


sustentabilidade e a responsabilidade social pautada em
fundamentos éticos. Utilizando i raciocínio do universo matemático,
os princípios norteadores da sustentabilidade estão para a ética

143
unidade 6
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

que rege a responsabilidade social e vice-versa. Como se pode


depreender do conteúdo teórico exposto, em termos relacionais o
contrário não pode ser desconsiderado.

BOFF, L. O despertar da águia: o dia-bólico e o sim-bólico na construção da

realidade. Petrópolis: Vozes, 1998.

BOFF, L. Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela terra. 19. ed.

Petrópolis: Vozes, 2013.

BOFF, L. Sustentabilidade e educação. Artigo de Leonardo Boff. Instituto

Humanitas Unisinos. Disponível em: <http://www.ihu.unisinos.br/

noticias/509206-sustentabilidadeeeducacao>. Acesso em: 23 fev. 2016.

LEFF, E. Epistemologia ambiental. São Paulo: Cortez, 2001.

LIXO EXTRAORDINÁRIO. Documentário. Direção: Lucy Walker; João

Jardim; Karen Harley. Produção: Angus Aynsley; Hank Levine; Peter Martin.

Brasil/Angola. 2010. DVD (99 min).

MACHADO, N. J. Educação: projetos e valores. São Paulo: Escrituras, 2000.

WARD, P. O fim da evolução: extinções em massa e a preservação da

biodiversidade. Rio de Janeiro: Campus, 1997.

MUNDO DA SUSTENTABILIDADE. Institucional. Disponível em: <http://

www.sustentabilidades.com.br/>. Acesso em: 23 fev. 2016.

REVISTA METROPOLITANA DE SUSTENTABILIDADE. Institucional.

Disponível em: <http://www.revistaseletronicas.fmu.br/index.php/rms/

index>. Acesso em: 23 fev. 2016.

144
unidade 6
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

145
unidade 6
Relações étnico-
raciais

A temática das relações étnico-raciais tem sido frequentemente


abordada pelos mass media, visto que no mundo globalizado
cada vez mais há o confronto de povos e culturas distintas, assim
como se acirram preconceitos e desigualdades dos mais diversos
níveis, tais como: xenofobias, problemas imigratórios e ataques
terroristas.

Situar o tema das relações étnico-raciais no Brasil implica o


reconhecimento da “mistura” que caracteriza a constituição do
que hoje compreendemos como povo brasileiro e desvela as
ideologias subjacentes ao processo de colonização, de ocupação • Identidade,
cultura e etnia.
e de constituição identitária de um país marcado pela extensão
• Etnicidades
territorial de dimensões continentais.
brasileiras.
• Indigeidades.
Nesse universo multifacetário de ideias, valores e conceitos, cabe
demarcar as principais categorias que iluminam a compreensão
do tema. Assim sendo, no primeiro momento, a presente unidade
dedica-se à explicitação dos conceitos de identidade, cultura e
etnia versus etnicidade. Discernir etnia de raça permite desfazer
uma verdadeira confusão dos espíritos que fomentam a discussão
tanto no meio acadêmico como no cotidiano acerca das relações
estabelecidas pelos indivíduos.
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Uma vez lançadas as bases teóricas conceituais, propõe-se discutir


acerca do desafio da convivialidade pacífica e produtiva da rica
diversidade étnico- cultural que constitui o Brasil. Três etnicidades
principais foram eleitas para nortear a presente reflexão, a saber:
a indígena, a branca e a negra. Tal ordem contempla o processo
histórico de ocupação territorial que se efetivou de modo violento
em nosso solo. Somos a expressão étnico-cultural de diversas
violências aqui concretizadas e legitimadas desde os idos dos anos
1.500 d.C.

Por fim, a abordagem crítica do que aqui se denomina


“indigeneidades” possibilita um olhar reconciliador para com o
passado no intuito de se questionar e se estipular parâmetros
éticos comprometidos com a manutenção da diversidade que nos
caracteriza ainda hoje. Aqui recebe destaque a abordagem acerca
do rico legado indígena que compõe o DNA de nossa brasilidade.

Esperamos que você tenha a abertura crítica e curiosa para


empreender uma rica viagem pelo universo múltiplo e, por vezes,
paradoxal e provocativo de todos os encontros e desencontros
responsáveis por tudo o que hoje nos constitui nas perspectivas
identitárias, étnicas e culturais.

148
unidade 7
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Identidade, cultura e
etnia
Delimitar conceitos destinados à análise das relações humanas
constitui um exercício antropológico-sociológico de se mudar as
lentes de nossos óculos interpretativos e situar historicamente
problemas, modus vivendi e visões de mundo.

A presente exposição propõe o questionamento de alguns


conceitos que, embora já consolidados, carecem de nova aplicação
prática. Acredita-se que esse caminho possibilita uma maior
provocação para que você possa refletir sobre esses assuntos.
Você não precisa necessariamente concordar com as ideais aqui
trabalhadas. Antes importa que compreenda e seja capaz de se
posicionar criticamente perante os temas propostos, desde que
apresente uma argumentação fundamentada.

Delimitação conceitual

Identidade

149
unidade 7
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Uma rápida consulta aos dicionários de língua portuguesa conduz


à compreensão de identidade como o conjunto de características
próprias e exclusivas de uma pessoa. Essas características
são responsáveis pelo processo denominado pela psicologia
como “individuação”. Nesse processo, a constituição original e
originária do eu perante o outro possibilita as relações, uma vez
que situar-se diante de outro implica o reconhecimento de uma
diferença fundamental, sem a qual não haveria o outro, e sim uma
mera réplica e/ou extensão do próprio eu. Tal conceito remete
ainda à consciência de que o sujeito possui acerca de si mesmo
enquanto identidade pessoal e modo de se dar cotidianamente nas
relações que estabelece à sua volta. De outro modo, a identidade
pode remeter ainda a grupos e a coletividades unidos pelo
reconhecimento da mesma racionalidade que coordena e orienta
gostos e ações. Nessa linha de pensamento, pode-se considerar
“identidade” sob diversas perspectivas, tais como: identidade de
gênero, identidade cultural, identidade sexual, identidade político-
partidária, etc.

FIGURA 1 - A identidade como “marca registrada” constitutiva da


especificidade do indivíduo e das coletividades

Fonte: Arquivo Institucional.

150
unidade 7
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Uma vez que a sociedade muda constantemente, assim também


a identidade sofre contínuas mutações e construções, por meio
das quais indivíduos e grupos vão se definindo a si mesmos na
limítrofe relação e interação simbólico-existencial com outras
pessoas. Curiosamente, o indivíduo faz experiência de si mesmo,
não de modo direto, mas indiretamente ao se situar como
alvo analítico de sua própria reflexão (o que filosoficamente se
denomina “a capacidade de inflexão do sujeito”). Nessa perspectiva
hermenêutica, a construção e o reconhecimento da identidade
se fundamentam na capacidade de o sujeito situar-se perante
si mesmo enquanto caminho e processo de construção de sua
narrativa pessoal.

No plano étnico-racial, emerge a tarefa de o indivíduo voltar-se


para si enquanto coletividade e realizar uma leitura crítica da
narrativa que tece a rede das relações formativas e constitutivas
da própria identidade e da cultura, conceito que será explicado
no próximo subtópico. Em resumo, compreende-se “identidade”
como os costumes, os valores e as tradições de um povo, os quais
reforçam os laços de pertença e de unidade dos membros de uma
comunidade.

Cultura

A literatura atribui a Edward Taylor a criação do conceito de cultura


tal qual como é conhecido hoje. Taylor cunhou a cultura como o
conjunto de crenças, valores, costumes, arte, moral, leis, ou seja,
qualquer capacidade ou habilidade desenvolvida pelo indivíduo em
meio a coletividade. Assim sendo, a cultura representa todas as
atividades e/ou habilidades criadas pelos seres humanos dentro de
uma comunidade. Daí se justifica a afirmação popular, segundo a
qual “gente junta cria cultura”. Isso porque, justamente no jogo das
relações humanas é que a cultura se desenvolve, se solidifica, sofre
transformações e segue transmitida ininterruptamente.

151
unidade 7
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

A cultura representa os elos materiais e simbólicos de união


dos povos e como tal deve ser transmitida e preservada. Dessa
forma, todos os dados culturais, além de elo de inserção social,
constituem pontos de difusão e de reforço dos costumes e práticas
dos grupamentos humanos. Integrar determinada cultura significa
conhecer, reconhecer e praticar os valores, os ritos e a rede de
símbolos da coletividade. Por conseguinte, a cultura emerge como
fruto da criação humana expressa por meio de símbolos. Vale
ressaltar que o fato de ser capaz de conferir valor simbólico a
coisas, às situações e/ou às circunstâncias presentes à sua volta
compõe o rol de características fundamentais que diferenciam o
ser humano dos demais animais.

De modo mais abrangente, segundo a clássica definição da


UNESCO:

a cultura deve ser vista como um conjunto de


características espirituais, materiais, intelectuais e
emocionais diferenciadoras de uma sociedade ou de
um grupo social, e que compreende, para além da arte
e da literatura, os estilos de vida, as formas de viver
em conjunto, os sistemas de valores, as tradições e as
convicções (DECLARAÇÃO..., 2012)

Diante do exposto, compreende-se o fato de o conceito de cultura


encontrar- se imbricado à reflexão contemporânea sobre identidade,
diversidade, tolerância e diálogo. Daí o uso comum do termo como
adjetivo ao se falar de identidade cultural, diversidade cultural e
diálogo intercultural, por exemplo. No âmbito político, há amplo
consenso entre as nações de se considerar o respeito à diversidade
cultural, assim como promover o diálogo e a tolerância para com a
diversidade cultural, condição sine qua non de garantia da paz e da
segurança entre as nações do globo.

152
unidade 7
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

FIGURA 2 - “Gente junta cria cultura”.

Paralelamente
Fonte: Arquivo Institucional.
aos conceitos de
identidade e de
cultura, propõe-se
Para finalizar, é importante evidenciar o fato de a cultura assumir
refletir criticamente
uma diversidade de formas ao longo do tempo e do espaço no qual sobre a noção de
atua e se desenvolve. A pluralidade das identidades dos grupos a etnicidade.
constituir a humanidade exerce grande influência nesse processo.
Assim como na natureza, a biodiversidade deve ser preservada,
também a diversidade cultural há de ser protegida e reconhecida
como importante para o desenvolvimento das gerações futuras.

Etnicidade

Paralelamente aos conceitos de identidade e de cultura, propõe-se


refletir criticamente sobre a noção de etnicidade. Para tanto, cabe
estabelecer e demarcar a distinção aqui apregoada entre etnia e
etnicidade.

153
unidade 7
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Comumente o termo “etnia” é usado para designar grupos sociais


que apresentam características culturais e biológicas homogêneas.
Nesse horizonte, pode ser considerado equivalente à ideia de nação.
Enquanto dispõe de similaridade com o termo nação, etnia implica
a comunhão de tradições, língua, religião, história, características
Comumente o
físicas e cultura. Tal comunhão caracteriza os indivíduos como termo “etnia” é
participantes de uma comunidade de vida e de valores que se usado para designar
projetam para o futuro. Nessa digressão, há ainda a necessidade grupos sociais
que apresentam
de se distinguir o conceito de etnia do conceito de raça. O termo
características
“etnia” deriva do grego ethnikos (adjetivo de ethos) e refere-se a culturais e
povo ou à nação. Na contemporaneidade, etnia ainda preserva o biológicas
seu valor originário no sentido de descrever e qualificar um grupo
detentor de algum tipo de solidariedade. Nessa perspectiva, um
grupo étnico não se resume à mera congregação de pessoas ou de
setores populacionais, mas uma congregação de pessoas unidas
ou efetivamente relacionadas por experiências compartilhadas
(CASHMORE, 2000).

154
unidade 7
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Cabe ressaltar que o conceito de raça, dentro da história da humanidade,

serviu ao propósito de dominação entre seres humanos, “pois a raça

é fruto do poder do Estado que rejeita o princípio da igualdade entre os

cidadãos” (MAGNOLI, 2009, p.16). Assim, o conceito de raça nasce com

o objetivo de justificar a dominação do branco europeu sob os demais

povos colonizados, e, por vezes, escravizados e explorados. A ciência hoje

demonstra que não temos diferenças genotípicas justificáveis para dividir

a humanidade em raças, por isso, somos uma única espécie com várias

etnias.

Diante do exposto, consideremos a seguinte situação: no continente

africano, se fala da coexistência de várias etnias com suas tradições e

valores específicos. Por sua vez, no Brasil, paralela a tal noção de etnia

caminha a já consolidada ideia de “raça negra”, enquanto expressão

comumente utilizada para designar uma coletividade marcada por

conjunto de identidade cultural e de traços físicos mais aproximados. Pela

força histórico-cultural do uso da expressão em um Brasil marcado pela

entrada forçada de várias etnias negras (do séc. XVI ao séc. XIX – período

escravocrata), considera-se legítimo falar de uma raça negra.

Por sua vez, ao se estender o uso de raça para outros grupos sociais

percebe-se o problema contido nessa expressão, como é o caso presente

ao se empregar raça para designar o modo de ser cigano (raça cigana?).

Nesse caso, o correto é dizer etnia cigana, assim como etnias orientais e

não raças orientais, etc.

Ainda problematizando essas questões, a noção de raça se ancora em um

alicerce fundado sobre construções político-sociais e ideológicas em sua

maioria destinadas a advogar a primazia de determinada raça sobre outra

e, desse modo, justificar a dominação da raça considerada superior sobre

as demais.

155
unidade 7
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

No intuito de se escapar das amarras semânticas do conceito de raça

deveras já desgastado, opta-se por estabelecer distinção entre etnia e

espécie humana e não raça humana, conceito este mais difundido, porém

caracterizado por albergar o clássico dilema hierárquico entre “raças”.

Espécie humana, por sua vez, refere-se a todos os indivíduos dotados de

racionalidade, noção do certo e do errado e consciência de seu ser-para-a-

morte e pertencente ao mesmo conjunto, à mesma espécie. Ademais,

a ideia de espécie humana favorece a concretização prática do esforço

teórico de, em nome da adoção de práticas comprometidas com a

sustentabilidade da vida, se retirar o ser humano de sua zona de conforto

demasiadamente antropocêntrica. Assim, pode-se falar de uma espécie

humana a coexistir com a espécie animal e a espécie vegetal. Dizer raça

humana perante a espécie animal e ou vegetal fortalece o decadente

ideal de supremacia do ser humano perante os demais seres vivos.

Peter Singer, filósofo e bioeticista australiano, defende que todo animal

senciente (capaz de sentir dor) deve ter seus direitos protegidos, ou seja,

uma espécie não deve subjugar a outra como a humanidade tem feito

há séculos em relação a mamíferos e aves, por exemplo. Singer (2004)

ensina que privilegiar a spécie humana em relação às demais representa

uma discriminação injustificada e cruel.

Insiste-se que a diferença existente entre os seres humanos e os demais

seres vivos incute responsabilidade ímpar e intransferível à espécie

humana, a qual deve cuidar, zelar e promover a sustentabilidade da

continuidade da vida.

156
unidade 7
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Em torno do conceito de etnia, edificaram-se posicionamentos críticos

que argumentam que tal conceito não se apresenta devidamente

apropriado para descrever grupos humanos, pelo fato de refletir uma

noção arcaica de “raça” não existente. Nessa perspectiva divergente,

a noção de etnia comporta certa confusão e deve ser abandonada. Em

sintonia com a proposta dos professores Alfonso García Martínez e Juan

Saéz Carrera (1988), prioriza-se aqui a ideia de etnicidade em detrimento

da noção de etnia. Isto porque etnicidade pode ser caracterizada como

“o conjunto de traços físicos e mentais que caracteriza os membros de

um grupo, produto de sua herança comum e de tradições culturais que,

por sua vez, os diferenciam dos indivíduos de outros grupos” (Martinez;

Carreras, 1998). A defesa da noção de etnicidade, como aqui se propõe,

configura-se como possibilidade de crítica e de resistência aos ideais

que justificam o etnocentrismo. Para além de mera distinção teórica,

encontra-se implícita uma disputa prática que evoca a implementação de

ações comprometidas com a etnicidade de povos e nações.

FIGURA 3 - A circularidade dos conceitos: cultura, nação e


etnicidade

Fonte: Arquivo institucional.

Como se pode depreender do exposto até o momento, há grande


diversidade de racionalidades culturais, tradições e modos de
ser a interagir. Se, por um lado, a diversidade implica riqueza de
possibilidades; por outro, pode constituir fonte de conflito e de
intolerância.

157
unidade 7
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

FIGURA 4 - Todos nós pertencemos a uma única espécie, a


espécie humana que congrega rica diversidade

O complexo universo
da pós-modernidade
Fonte: Arquivo institucional.
desconcerta o
mundo de certezas
que caracterizou a
A abertura pacífica à diversidade pré-modernidade.
como grande desafio da pós-
modernidade
O complexo universo da pós-modernidade desconcerta o mundo
de certezas que caracterizou a pré-modernidade. O filósofo Hans
Blumenberg, utiliza a imagem do naufrágio para ilustrar a situação
na qual se encontra o sujeito contemporâneo. Para o autor:

O período clássico foi marcado pela experiência da


posse do porto seguro, do contato com a terra firme,
a partir da qual se olhava à distância as intempéries do
mar. A crise da modernidade diminui gradativamente
a distância entre a terra firme e o mar intempestivo.
Inicia-se o processo de dissolução da segurança de
outrora a ceder cada vez mais espaço à incerteza
(BLUMENBERG, 1985 citado por SALES, 2012, p. 27-
28).

158
unidade 7
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

A crise da modernidade conduz à instalação da incerteza


pós-moderna assinalada pela existência de multiplicidade de
interpretações conflitivas. Daí a pós-modernidade caracterizar-se
como período em que o sujeito atual encontra-se em alto-mar, agora
não mais como longínquo espectador (período clássico), mas sim
desafiado a exercer um posicionamento crítico perante o naufrágio
da própria existência. Diante desse cenário, urge construir nova nau
no intuito de se seguir adiante.

A emergência das incertezas afeta a compreensão do ser humano


acerca da realidade e reconfigura a noção de verdade. Enfraquece a
crença em uma verdade dita absoluta.

Etnicidades brasileiras
Poucos países do globo possuem composição humana tão
complexa e variada quanto o Brasil. Inicialmente, o povo brasileiro
formou-se de três grandes movimentos e encontros populacionais:

1- a presença dos índios (nativos) que aqui já habitavam;

2- o “descobrimento” e a colonização da América de onde vieram os


brancos europeus;

3- a instalação da sociedade brasileira que acarretou a vinda dos


negros africanos como mão de obra escrava para o país.

Do encontro das três etnicidades (índios, brancos e negros) formaram-se

as chamadas etnicidades híbridas, isto é, fruto da miscigenação. Assim

temos: os cafuzos (fruto da união entre negros e índios), os caboclos

(união de índios e brancos), os mulatos (resultado da mistura de negros e

brancos) e os pardos (etnicidade oriunda da mistura de brancos, negros e

índios).

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unidade 7
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

FIGURA 5 - Rostos do Brasil

Fonte: Arquivo institucional.

No Brasil, a demarcação da etnicidade da população implica a


autodeclaração do sujeito, ou seja, como este se reconhece. Desse
modo, os pesquisadores/recenseadores do censo (IBGE) perguntam
durante a visita domiciliar qual a cor da pele do entrevistado.

Pela primeira vez em 2011, o censo revelou que a população negra e


parda é maioria no país, compreende cerca de 50,7% da população.
Por sua vez, algumas pessoas acreditam que a população negra
é ainda maior, dada certa confusão presente no momento da
autodeclaração. Um entrevistado relata o diálogo que desenvolveu
com o pesquisador do censo:

160
unidade 7
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

“- Qual a sua cor?

Eu perguntei o que ele achava e ele respondeu que eu é que tinha


que responder qual cor eu preferia, respondi que preferia AZUL, ele
então mudou a pergunta…

– Qual é a sua raça?

Respondi que era negro; ele me olhou de cima abaixo e indagou:

– Mas o senhor... é branco!!!

Eu irritado respondi: Meu amigão, sei que não tem culpa, mas vou
lhe explicar uma coisa…. Sou neto de NEGRA, filho de NEGRA, irmão
de NEGRA e meu tio avó era tão PRETO que chegava a ser AZUL
(cor que tinha dito a ele que mais gostava) e você ainda acha que
sou branco”? A seguir, propõe-se uma breve abordagem acerca
das três principais etnicidades a partir das quais se originou a
população brasileira.

O índio: o primeiro habitante do Brasil


A ideia de um “descobrimento do Brasil” tem sido cada vez
mais rebatida e criticada. Os livros didáticos têm optado pela
substituição do título de “O descobrimento do Brasil” por “A chegada
dos portugueses no Brasil”. Cada vez mais tem se difundido a
consciência das ideologias de dominação e de justificativa da
colonização subjacentes à clássica noção de descobrimento.
Falar de um descobrimento pressupõe o encobrimento e a
negação da existência de povos nativos, os quais aqui habitavam
e desenvolviam valores, cultura, identidade, religiosidade e se
organizavam socialmente.

161
unidade 7
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Por ocasião da chegada dos portugueses ao Brasil, os historiadores


acreditam que existiam aqui “entre 3 milhões e 5 milhões de
índios, divididos em 1.400 tribos. Havia três grandes áreas de
concentração: litoral, bacia do Paraguai e bacia Amazônica”
(GOULART, 2016). Estima-se também que havia no Brasil cerca
de 1.000 línguas faladas pelos povos indígenas (INTRODUÇÃO...,
2016). Hoje restam apenas cerca de 150 línguas indígenas. O antigo
tupi foi uma das línguas que desapareceram por completo. Isso
porque, “em 1758, o marquês de Pombal, interessado em acabar
com o poder da Companhia de Jesus no Brasil e em aumentar o
domínio da metrópole portuguesa sobre a colônia, proibiu o ensino
e o uso do tupi” (GOULART, 2016).

Apesar de extermínio maciço da população e dos idiomas


indígenas, o legado cultural dos primeiros habitantes de nosso país
se faz presente por meio de hábitos de higiene pessoal, da culinária
marcada pela utilização do milho e da mandioca, do emprego de
inúmeras palavras de origem tupi-guarani e do manuseio de ervas e
plantas medicinais.

FIGURA 6 - O índio

Fonte: Arquivo institucional.

162
unidade 7
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Ainda nesta unidade serão oportunamente abordadas questões


mais específicas sobre estes primeiros habitantes do Brasil e
questões também relevantes para a discussão das relações étnico-
raciais em nosso país.

A chegada do branco: da colonização à


miscigenação
Tão logo os portugueses chegaram ao Brasil, iniciou-se o processo
de miscigenação, fruto do encontro sexual do homem branco com
a mulher indígena. Inclusive, logo depois da vinda dos negros para o
trabalho escravo, a miscigenação continuou por meio do encontro
do homem branco com a mulher negra. Daí se pode depreender que
as etnicidades brasileiras se constituíram a partir do predomínio
maciço do encontro do homem branco com as mulheres índias e
as mulheres negras. Justamente por dispor de lugar hierárquico
privilegiado na nova sociedade que se formava, o homem branco
podia dispor dos corpos femininos. Tem-se aí a instauração do
machismo e do sexismo no Brasil, evidentemente legitimado e
difundido por meio da propagação da racionalidade judaico-cristã.
Donde se conclui que o cromossomo Y europeu foi o grande
responsável pelo processo inicial de miscigenação no Brasil.

FIGURA 7 - Cristóvão Colombo e a “descoberta” do Novo Mundo

163
unidade 7
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Fonte: Arquivo institucional.

O negro: da escravidão à luta pela


igualdade

O Brasil amarga o fato de ter sido o último país das Américas a


decretar a abolição de seus escravos. Mesmo com a lei de 1831, a
qual proibia o tráfico de negros para o Brasil, a chegada de navios
com os futuros escravos continuou a todo o vapor, mediante o
conhecimento e a permissividade das autoridades.

Com esse gesto inaugural de impunidade, que viria a se incrustar a


posteriori na sociedade brasileira, o governo brasileiro anistiava, a
partir de 1850, os culpados pelo crime de sequestro de africanos,
fazendo vista grossa ao crime correlato de escravização de pessoas
livres. Com isso, os quase 800 mil africanos desembarcados até
1856 — e a totalidade de seus descendentes — continuaram sendo O Brasil amarga
mantidos ilegalmente na escravidão até 1888, ao mesmo tempo
o fato de ter sido
o último país das
em que aumentava o tráfico interno em direção ao Sudeste e ao Américas a decretar
Sul, que ganhavam novo dinamismo econômico em detrimento do a abolição de seus
Nordeste. Assim, boa parte das últimas gerações de seres humanos escravos.
escravizados no Brasil não era escrava de jure (FABBRI; RIBEIRO,
2016).

O Brasil foi construído e se desenvolveu (lavouras, edificações,


cidades) pelas mãos e pelo suor dos povos africanos, considerados
os braços e as pernas dos senhores de engenho. Não houve, na
época da escravidão, a preocupação para a ocupação do solo,
para os estudos/alfabetização e para as políticas de natalidade. As
próprias escolas nas fazendas de engenho eram muito precárias e
a educação formal estava acessível a uma pequena elite. Assim, o
país continental favoreceu a existência de uma leva de analfabetos,
fato que ainda persiste nos dias de hoje.

164
unidade 7
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

O Brasil, em razão de sua dimensão e da ausência de preocupação


com a reprodução biológica dos negros, foi o maior importador
de escravos das Américas. Estudos recentes estimam em quase
10 milhões o número de negros transferidos para o Novo Mundo,
entre os séculos XV e XIX. Para o Brasil teriam vindo em torno de
3.650.000 (V.V.A.A., 1988). Todo esse contingente humano viu-
se desempregado e desamparado após a abolição da escravidão
em 1888. A conquista da liberdade trouxe à tona outra questão:
liberdade para quê? Configurou-se desde aí certa liberdade para
lutar por efetiva liberdade e igualdade de direitos e de deveres
perante o Estado.

FIGURA 8 - A luta pela igualdade!

Fonte: Arquivo institucional.

A dificuldade de acesso ao ensino superior, o recebimento de


menores salários e a ocupação de postos de trabalho menos
importantes constituem a mola propulsora da ainda vigente luta
pela igualdade, mesmo após mais de um século de “libertação”.

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unidade 7
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Indigeneidades

As populações indígenas no Brasil, à época do “descobrimento”,


variavam em torno de 3 a 5 milhões de habitantes divididas em 5
grandes povos, a saber: xavantes, caraíbas, tupis, jês e guaranis.
Tais povos se encontravam distribuídos por todo o território
nacional e apresentavam existência predominantemente nômade,
migrando sempre que se tornavam escassos os recursos naturais
à sua volta. Dada à riqueza de recursos naturais e ao clima tropical
típicos do Brasil, nossos indígenas não tiveram preocupação
com o desenvolvimento de técnicas de plantio, cultivo do solo,
armazenagem de alimentos e construção de edificações dedicadas
que suportavam o frio e os abalos sísmicos (não frequentes no
Brasil). Tal foi o caso dos indígenas habitantes do Peru, nosso país
vizinho, os quais foram forçados a enfrentar o frio, terremotos e
escassez de água em determinados lugares. Tais adversidades
demandaram a criação de técnicas de irrigação, construção de
celeiros e de edificações de pedra.

FIGURA 9 – Pintura corporal, uso de diversidade de adereços e


variedade de modificações corporais constituem o modo de ser
dos índios, nossos ancestrais

Fonte: Arquivo institucional.

166
unidade 7
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

A sociedade indígena aqui no Brasil encontrava-se organizada


em torno de duas figuras de autoridade: o cacique (o chefe
administrativo e político da comunidade) e o pajé (liderança
religiosa e curandeiro da tribo). A divisão do trabalho obedecia a
questões de gênero e etárias. Às mulheres cabiam a criação dos
filhos, o plantio e o preparo dos alimentos; já aos homens recaía o
dever de caçar e de proteger a tribo. A alimentação era à base de
peixes, frutos (coletados da floresta) e agricultura de subsistência,
baseada no cultivo de mandioca e de milho.

A herança indígena brasileira


A alquimia medieval utilizava o conceito de afinidade para explicar a
atração e a fusão a se dar entre os corpos. O sociólogo Max Weber
difunde o conceito de afinidade eletiva, compreendendo afinidade
como “a força em virtude da qual duas substâncias diversas ‘se
procuram, unem-se e se encontram’ em um tipo de casamento” A cultura brasileira
atual apresenta-se
(WEBER citado por LÖWY, 2011, p. 30).
devedora do modo
de ser dos povos
A cultura brasileira atual apresenta-se devedora do modo de ser indígenas.
dos povos indígenas. Diante do exposto, cabe falar da presença
de uma afinidade eletiva entre o que somos hoje e como eram
os indígenas aqui residentes. Tal afinidade pode ser percebida na
língua por nós falada, a qual herdou várias palavras das línguas
indígenas, como por exemplo: “abacaxi”, “arapuca”, “arara”, “capim”,
“catapora”, “cipó”, “cuia”, “cumbuca”, “cupim”, “jabuti”, “jacaré”,
“jiboia”, “jururu”, “mandioca”, “mingau”, “minhoca”, “paçoca”, “peteca”,
“pindaíba”, “pipoca”, “preá”, “sarará”, “tamanduá”, “tapera”, “taquara”,
“toca”, “traíra”, “xará”. Alguns nomes de Estados e cidades também
conservam tal afinidade. Dentre as cidades tem-se: “Araçatuba” (SP),
“Araraquara” (SP), “Araguari” (MG), “Gravatá” (PE), “Gravataí” (RS).
Na culinária, a presença indígena mostra-se muito forte e marca
presença em todo o país. A mandioca é um grande exemplo dessa
herança, a qual compunha a base do cultivo agrícola e da culinária
indígena e hoje marca presença em vários pratos tradicionais
brasileiros como bolos, pães, doces,farinhas, etc. Acrescente-se
ainda o uso do milho, do guaraná e do amendoim.

167
unidade 7
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Em termos de higiene pessoal, os brasileiros herdaram dos índios o


hábito de se banharem, eventualmente mais de uma vez ao dia. Os
indígenas possuíam grande afeição para com as águas. Nadavam,
pescavam e se banhavam diariamente, comportamento tipicamente
original das populações das regiões tropicais. O encontro do índio
com o português ocasionou grande estranhamento por parte dos
índios, os quais repugnaram o odor exalado pelos corpos dos
europeus, pouco afeitos ao banho.

FIGURA 10 - A vida indígena em sintonia com a natureza

Alguns valores
indígenas hoje
carecem de ser
resgatados, como é
o caso do cuidado
do índio para com a
natureza.

Fonte: Arquivo institucional.

Alguns valores indígenas hoje carecem de ser resgatados, como


é o caso do cuidado do índio para com a natureza. Os índios não
matavam para acumular riquezas, pescavam apenas o necessário
para a subsistência, deixavam descansar o solo cultivado por anos
seguidos e confeccionavam seus cocares com penas recolhidas do
chão das florestas. Atitudes extremamente sustentáveis que hoje
devem orientar o agir do ser humano.

168
unidade 7
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

A situação do índio no Brasil de hoje


Atualmente há no Brasil somente cerca de 400 mil índios, pois a
maioria foi ao longo do tempo dizimada, escravizada e massacrada
mediante o contato com o homem branco. Grande parte dos
indígenas remanescentes integrou-se à vida atual e já incorporaram
muitos hábitos das cidades. Assim sendo, os índios sobreviventes
em sua maioria encontram-se marcados pela mescla de culturas
e já distantes de sua identidade originária. Muitos só falam o
português e vivem totalmente adaptados à vida na cidade.

FIGURA 11 - Os índios ontem e hoje

Fonte: Arquivo institucional.

Por sua vez, alguns indígenas brasileiros ainda seguem suas vidas
isolados nas entranhas da floresta amazônica e sem nenhum
contato com o mundo exterior. “Acredita-se que existam pelo
menos 77 grupos de índios isolados na parte brasileira da floresta
amazônica” (OS INDIOS..., 2016).

Infelizmente tais povoamentos encontram-se ameaçados de


extinção pela extração ilegal de madeira e pela invasão de terras
protagonizada por fazendeiros. Assim como por ocasião da
chegada dos portugueses, nos dias de hoje o contato com os
madeireiros, os fazendeiros e o turismo ilegal expõe os indígenas ao
contato com doenças para as quais seu sistema imunológico não
possui anticorpos e não foi treinado para se defender.

169
unidade 7
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

A vida indígena segue ameaçada, apesar da existência de legislação


protetiva e de órgãos como a FUNAI (Fundação Nacional do Índio).
Há de se resgatar o imperativo ético do cuidado para com a vida
como norteador de práticas e ações comprometidas com nossos
ancestrais. Um país sem respeito à sua história e sem valorização
de sua memória demonstra a carência de uma educação eficiente
na difusão de valores críticos capazes de limitar a expansão da
lógica capitalista a negar a vida em detrimento do lucro.

Desvendar as matrizes originárias do que somos hoje e nos constitui

em termos de etnicidade, cultura e demais identidades possibilita a

autocompreensão da complexa e rica mistura que nos caracteriza. Na

prática, provoca as etnicidades brasileiras de hoje a lançarem novo olhar

sobre as danças, músicas, festas, comidas, religiosidades e práticas de

expressão e de adornos corporais.

FIGURA 12 - As diversas etnicidades e faces culturais a compor


um único país

Fonte: Arquivo institucional.

170
unidade 7
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

A possibilidade de abertura à convivência harmoniosa com a

diversidade implica necessariamente o reconhecimento de uma herança

identitária comum a todas as etnicidades hoje existentes no Brasil.

Tal reconhecimento pode ser a base para a superação de estigmas e

de preconceitos a apregoar, ainda hoje, a supremacia de determinada

etnicidade sobre outra. Tal afirmação também se aplica ao campo das

artes, da cultura, da culinária, etc. Vale ressaltar que muitas práticas e

hábitos agora considerados marginais, se considerada a cultura dominante

como referência, já foram um dia expressões humanas majoritárias/

aceitas e hoje circulam no âmago do DNA constitutivo de todo o povo

brasileiro.

Revisão
Conceitos fundamentais:

• identidade: os costumes, os valores e as tradições de um


povo, os quais reforçam os laços de pertença e de unidade dos
membros de uma comunidade;

• cultura: elos de pertença de um povo expressos por meio de


símbolos e de representações sociais;

• etnicidade: o conjunto de traços físicos e mentais que


caracteriza os membros de um grupo, produto de sua herança
comum e de tradições culturais que, por sua vez, o diferencia
dos indivíduos de outros grupos.

Etnicidades originárias do povo brasileiro:

• o indígena;

• o branco;

• o negro.

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unidade 7
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Indigeneidades:

• as populações indígenas, na época do descobrimento,


variavam em torno de 3 a 5 milhões de habitantes divididas
em 5 grandes povos: xavantes, caraíbas, tupis, jês e
guaranis distribuídos por todo o território nacional;

• legado transmitido: afinidade eletiva presente na língua, na


cultura, nos hábitos e costumes e na culinária.

BARBUJANI, G. A invenção das raças. São Paulo: Contexto, 2007.

CARVALHO, J. J. Inclusão étnica e racial no Brasil: a questão das cotas no

ensino superior. São Paulo: Attar Editorial, 2005.

FLORESTAN, F. A integração do negro na sociedade de classes. São Paulo:

Ática, 1978.

SOARES, S.; OSÓRIO, R. G.; JACCOUD, L. As políticas públicas e a

desigualdade racial no Brasil: 120 anos após a abolição. Brasília: IPEA,

2008.

OBAMA, B. A audácia da esperança. São Paulo: Larousse do Brasil, 2007.

ORTIZ, R. Cultura brasileira e identidade nacional. São Paulo: Brasiliense:

1994.

ZARUR, G. de C. L. A utopia brasileira: povo e elite. Brasília: Abaré/Flasco,

2003.

172
unidade 7
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

173
unidade 8
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Cultura
Brasileira e
Afrodescendente

Introdução
• A Presença
da Cultura
Os caminhos de construção da identidade e da alteridade (o “eu” afrodescendente
perante o “outro”) no contexto histórico-político-social brasileiro na Constituição
da Identidade
apresentam-se bastante complexos e orientados para gerar e para Brasileira
legitimar desigualdades.
• Racismo
Científico,
No intuito de se compreender de modo crítico a exclusão das Racismo
Institucional e
etnicidades afrodescendentes e os esforços de homogeneização, Racismo Cultural
ou segregação étnico- cultural-racial, faz-se necessário situar essas
• Racismo x
questões junto ao seu processo constitutivo. Injúria Racial
• Revisão
Para início de conversa, algumas delimitações teóricas se
apresentam necessárias. O conceito de “raça” encontra-se deveras
inadequado, como já se tem insistido. Os avanços da biologia
demonstraram que as diferenças genotípicas não permitem que
se fale de diversidade de raças. Há na verdade uma única raça, a
raça humana, a qual aqui se opta por nomear de espécie humana,
já que se intenta um distanciamento concreto do radical a remeter
ao racismo (raça). Por sua vez, esta unidade, destinada a discutir a
questão da etnicidades negras no Brasil, reconhece e não se opõe
ao uso do termo “raça” para referir-se às etnicidades africanas
(comumente nomeada como raça negra). Isso porque, em nosso
país constitui motivo de orgulho o uso da expressão “raça negra”
no intuito de se caracterizar pertença a uma identidade específica
quando para se referir aos cidadãos de origens afrodescendentes. O

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unidade 8
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

uso corrente da junção destas duas palavras (“raça” + “negra”) pelos


próprios afrodescendentes no esforço de narrarem a si mesmos
enquanto cultura, religiosidade e identidade conferiu sentido
positivo à expressão e valor semântico desprovido de preconceitos,
ou prejuízos para a compreensão do que constitui ser negro no
Brasil. A expressão “raça negra” evoca a afirmação positiva de uma
identidade na luta ininterrupta por respeito e reconhecimento.

Ao se falar de “etnicidades afrodescendentes”, utiliza-se o plural


pelo fato de terem desembarcado no Brasil negros oriundos de
diversas regiões da África. Todos pertencentes à mesma espécie,
a espécie humana, porém distintos entre si por alguns atributos
físico-biológicos, pelos costumes e pela cultura.

Diante do exposto, a presente viagem tem início com a afirmação


da presença da cultura afrodescendente na constituição da
identidade brasileira. Em seguida, problematiza-se a reação
da etnicidade dominante perante os afrodescendentes e a
consequente propagação do racismo. Conceituar o racismo e as
subdivisões mais conhecidas como o racismo científico, o racismo
institucional e o racismo cultural permitem a realização de uma
crítica sistemática à realidade ainda presente nos dias de hoje. Por
fim, delimita-se a distinção entre racismo e injúria racial, no dúplice
intuito de se denunciar problema persistente e de se educar para a
superação de preconceitos e de discriminações.

175
unidade 8
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

A Presença da Cultura
Afrodescendente
na Constituição da
Identidade Brasileira
Os povos indígenas foram os habitantes nativos e originários das
terras do pau-brasil, e os europeus desbravaram os mares e aqui
chegaram para colonizar, cristianizar e dominar.

Os negros, capturados e vendidos como animais, foram trazidos


pela força coercitiva do branco e aqui chegaram para serem
escravizados. As etnicidades procedentes do continente africano
logo se tornaram as mãos e os pés dos senhores de engenho e a
força motora da extração de pedras preciosas e da construção de
vias e cidades do Brasil colônia.

Dos navios negreiros às senzalas; das senzalas à casa grande; da


casa grande à senzala; da casa grande e da senzala para todas as
partes do Brasil.

Nesse trânsito marcado por exploração, a negação da dignidade e


a negação de direitos, deu-se o encontro do negro com o branco e
com índio. Mistura e miscigenação de identidades, culturas, valores
e etnicidades que configuraram a constituição do povo brasileiro.

O universo de valores, de crenças e de identidades dos grupos


populacionais advindos da África, como: religiosidade (candomblé,
umbanda, sincretismo), capoeira, músicas (afoxé, samba), danças,
etc. adentraram as entranhas do que culminou por constituir a
miscigeneidade do DNA da identidade brasileira.

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SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Para saber mais acerca da presença da cultura afrodescendente junto à

formação e constituição da cultura brasileira consulte: MATTOS, R. A. de.

História e cultura afro-brasileira. 2. ed. São Paulo: Editora Contexto, 2009.

Como reação negativa ao encontro com as etnicidades afrodescendentes,

afloraram e se enraizaram preconceitos e discriminações em terras

brasileiras. Acirraram-se desigualdades e hierarquização de etnicidades

e modos de ser. Consolidaram-se formas dominadoras de garantia da

primazia de determinados grupos sobre outros e da manutenção do

status quo da sociedade recém-esboçada e ainda por ser definida e

desenhada. Historicamente, acumulou-se um débito impagável para com

as etinicidades africanas e o país amarga até hoje o fato de ser a última

nação latino- americana a dar cabo da escravidão.

FIGURA 01 - Abolição? No Brasil?

Fonte: Arquivo institucional.

Ainda que oficialmente a escravidão tenha sido abolida no Brasil


em 1888, até hoje as etnicidades afrodescendentes carecem
de real garantia de direitos e de condições igualitárias de acesso
à educação, aos postos de trabalho e ao reconhecimento de sua
dignidade perante a sociedade.

177
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SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Pelo fato de ainda hoje constituir dilema a tecer a rede de relações


sociais no Brasil, esta unidade opta por dar maior ênfase à questão
da negação da alteridade encarnada em nosso meio mediante a
degradação e redução da dignidade do outro pelo simples dado de
uma diferença de pigmentação da pele.

Lançar luzes sobre as relações de conflito existentes entre as


etnicidades branca e afrodescendente não significa aqui reduzir
o valor da riqueza emergente do legado das etnicidades africanas
a percorrer as veias do Brasil. Antes, implica trazer à tona um
problema que carece de ser devidamente situado e superado, se se
pensa em uma educação comprometida com a práxis de libertação
e de transformação da sociedade, bem como com a formação da
consciência crítica e cidadã.

Em memória à escravidão, ao comércio transatlântico de escravos e à luta

pelo reconhecimento da igualdade e da dignidade entre os seres humanos,

a Organização das Nações Unidas (2011) propôs a Década Internacional

dos Povos Afrodescendentes: “Povos afrodescendentes: reconhecimento,

justiça e desenvolvimento” (2015-2024).

Ao declarar esta Década, a comunidade internacional


reconhece que os povos afrodescendentes
representam um grupo distinto cujos direitos humanos
precisam ser promovidos e protegidos. Cerca de
200 milhões de pessoas autoidentificadas como
afrodescendentes vivem nas Américas. Muitos outros
milhões vivem em outras partes do mundo, fora do
continente africano (ONU, 2011).

A difundida atitude de marginalização e de diminuição do negro como ser

humano convencionou-se chamar de “racismo”. O termo “racismo” origina-

se de raça enquanto categoria utilizada até recentemente para designar as

diferenças biológicas, étnicas e culturais entre povos. A compreensão do

que se define como racismo possibilita a demarcação da situação ainda


vivenciada hoje. Nesse intuito, propõe-se a conceituação de racismo e

apresenta-se uma subdivisão do racismo já bastante consolidada no meio

acadêmico.

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unidade 8
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Racismo Científico,
Racismo Institucional e
Racismo Cultural
O racismo (ou discriminação racial) pode ser classificado como
o resultado de diferentes teorias pseudocientíficas (regadas por
ideologias não comprovadas), as quais afirmam a existência de
diversas “raças” a compor a espécie humana e as classificam em
vistas do estabelecimento de uma determinada ordem hierárquica
a satisfazer os ditames da ideologia dominante, a qual determina
o que há de ser considerado como paradigma dentro de uma
sociedade.

Por racismo compreende-se a atitude ou ação do indivíduo ao afirmar a

superioridade moral, intelectual ou biológica da etnicidade à qual pertence

sobre as demais etnicidades em jogo. O racismo tem

profundas raízes cultivadas no colonialismo e na


escravidão, e se nutre diariamente com o medo, a
pobreza e a violência. São raízes que se infiltram de
forma agressiva em cada aspecto da vida – desde
o acesso à educação e alimentos até a integridade
física e a participação nas decisões que afetam
fundamentalmente a vida de cada pessoa (ONU, 2011).

O racismo sofrido pelos negros no Brasil vem sendo praticado desde


a chegada forçada das etnicidades afrodescendentes em nosso
país, já que aqui aportaram para serem escravizados. Assim sendo,
a escravidão negra constitui a mais extrema das manifestações de
opressão racial ao longo da história brasileira.

A profunda desigualdade racial entre negros e brancos em


praticamente todas as esferas sociais brasileiras é fruto de mais
de quinhentos anos de opressão e/ou discriminação racial contra

179
unidade 8
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

os negros, algo que não somente os conservadores brasileiros, mas


uma parte significativa dos progressistas recusam-se a admitir.

Assim, a discriminação racial e seus efeitos nefastos construíram


dois tipos de cidadania neste país, a negra e a branca (SALES, 2015,
p. 13).

A não admissão da existência do racismo ou da discriminação


racial no Brasil conduz à inconteste ideologia da democracia racial,
já consolidada no imaginário da população brasileira. Tal ideologia
baseia-se na crença segundo a qual o Brasil não vivencia o racismo
e a discriminação racial já manifestados em outros países, como
nos Estados Unidos. Camufla a relação de poder existente entre a
população considerada branca e a população considerada

negra. A tese de fundo aqui é a seguinte: “não há racismo no Brasil,


pois todos somos mestiços”. Com essa atitude, tende a tornar
natural e legitimar o lugar de subordinação ocupado pelos negros
e pelos indígenas na sociedade. Com essa transfiguração da
realidade emerge a consequente afirmação a apregoar o fato de no
Brasil o racismo e as desigualdades sociais parecerem não existir,
ou mesmo não existirem e, desse modo, não carece de debate, de
discussão e de criminalização.

Dentre as práticas e manifestações racistas presentes à nossa volta


propõe-se a abordagem de três já amplamente debatidas, a saber:
o racismo científico, o racismo institucional e o racismo cultural –
explicitados a seguir.

a) Racismo científico

O racismo científico afirma a superioridade biológica do branco


sobre as demais etnicidades. O fundamento de tal ideologia
ancora-se na ideia de que a civilização ocidental reconhece como
valor paradigmático os atributos físicos, culturais e os valores
identitários do colonizador branco enquanto derivados – fruto –

180
unidade 8
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

de uma (pretensa) superioridade biológica. Nesse caso, o racismo


se configura como a redução da dimensão cultural do humano
ao âmbito biológico. Reduzir o cultural ao biológico pressupõe
a subordinação da cultura aos caracteres genéticos e configura
a busca de se justificar determinado dado social como inerente
e advindo de uma característica natural. Tal racismo apresenta-
se, desse modo, visão retrógada e determinista a excluir o fato
do constante processo de produção cultural e de transformação
das sociedades.O racismo científico defende, desde diversas
perspectivas, a existência de uma “raça” cuja capacidade psicológica
e intelectual a ser tomada como válida para cada indivíduo e toda a
sociedade encontra-se determinada pelo caráter biológico ou físico.
Em síntese, configuram-se “racismo científico” os sistemas de
crenças que advogam a separação dos indivíduos baseando-se na
herança genética, ou outras em características físicas. Um exemplo
de racismo científico pode ser identificado no texto a seguir: “Em
um salão de beleza no Distrito Federal, mulher não quis ser atendida
por uma manicure negra e disse que não queria ser tocada por
uma ‘raça ruim’; a PM foi acionada e a mulher presa por racismo”
(INSTITUTO HUMANITAS UNISINOS, 2016). Tal fato, ocorrido em
2014, choca pela violência presente até os dias de hoje.

A reportagem completa pode ser lida no site do Instituto Unisinos. O link se

encontra na bibliografia deste livro.

b) Racismo institucional

O papel do Estado perante a configuração e reconfiguração dos


arranjos e rearranjos sociais deve ser evidenciado, sobretudo
quando se pensa acerca do papel do Estado perante os recém-
libertos negros, abandonados à própria sorte sem escolaridade e
sem qualificação profissional. Por vezes, as pessoas ainda

não dão conta da dimensão objetiva que representou


a presença do Estado na configuração sociorracial

181
unidade 8
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

da força de trabalho no momento da transição do


trabalho escravo para o trabalho livre, nem da ausência
de qualquer política pública voltada à população ex-
escrava para integrá-la ao novo sistema produtivo. Daí
poder afirmar que a presença do Estado foi decisiva na
configuração de uma sociedade livre que se funda com
profunda exclusão de alguns de seus segmentos, em
especial da população negra (SILVÉRIO, 2002, p. 225).

Nesse horizonte, o racismo instituído no Brasil apresenta também


configuração institucional quando o Estado apoia e legitima
historicamente a discriminação e o preconceito para com as
etnicidades dos grupos considerados inferiores. Ainda que tal
discriminação e preconceito se apresentem implicitamente
mediante a forma de conivência ou de omissão, a responsabilidade
do Estado não pode ser minimizada ou mesmo esquecida.

FIGURA 02 - A mão “invisível” do Estado e a legitimação do


racismo

Fonte: Arquivo institucional.

Com o objetivo de sanar ou, ao menos, de equacionar essas


responsabilidades não assumidas devidamente, tem-se implantado
no Brasil políticas públicas de ações afirmativas destinadas a corrigir
um longo percurso de desigualdades e mesmo desvantagens

182
unidade 8
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

impostas a um ou mais grupos de etnicidades perante o poderio


do Estado que permite ou possibilita a discriminação, e mesmo
também comete preconceito. Diante do reconhecimento dessa falta
e da existência de um débito para com determinadas populações,
propõe-se a implementação de políticas públicas destinadas a
romper o círculo de perpetuação de desigualdades, este garantido
pela continuidade de princípios considerados universais e
imbricados às classes dominantes, detentoras do poder, da verdade
e do capital.

Ainda que tais princípios sejam considerados universais, acabam


por favorecer apenas determinada parcela da sociedade justamente
por operar de modo desigual e discriminatório. Por exemplo, tem-se
a atitude de empresas e organizações que colocam como critério
para seleção ter boa aparência e raramente culminam por contratar
negros.

Na contemporaneidade, dentre as políticas públicas de ações


afirmativas podem ser citadas:

• as políticas de acesso de estudantes afrodescendentes nas


universidades públicas;

• a recomposição da matriz curricular de determinados


cursos e disciplinas agora a contemplar a história e a
cultura afrodescendente e afro-brasileira;

• a prática de educação contra o preconceito racista nas


instituições de ensino voltadas para a Educação Básica e
para o Ensino Médio, amparada pela Lei Federal 10639/03;

• o amparo legal, econômico e garantia de preservação das


comunidades reconhecidas como remanescentes de povos
quilombolas.

Tais políticas mencionadas acima intentam equacionar e reverter as


desigualdades instituídas e cometidas em diversos campos sociais
ao longo dos tempos.

183
unidade 8
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

c) Racismo cultural

O racismo cultural caracteriza as atitudes referentes às concepções


que consideram certa superioridade de cunho histórico-cultural de
um grupo em detrimento de outros, não no tangente aos aspectos
biológicos, mas baseada em traços culturais subvalorizados pelo
grupo dominante. Trata-se de elementos que desagradam o gosto
visual, tais como: indumentária, acessórios, ritos de passagem,
adesões religiosas, a utilização do espaço público, hábitos
alimentares e de higiene pessoal, etc. Considerar tais gostos ou
identificações culturais como de menor valor, ou efetivamente
desqualificadas, reforça o abismo já existente entre o universo do
dominador e o do dominado.

O racismo construído sobre as diferenças biológicas e em uma


suposta superioridade genética de umas etnicidades sobre outras
tem aos poucos se deslocado para o campo cultural. As recentes
descobertas no campo da genética possibilitaram a compreensão
de que todos os seres humanos compartilham do mesmo padrão
genético. Assim sendo, as diferenças são de caráter fenotípico, ou
externo, caracterizadas pelas variações desenvolvidas e adaptadas
ao longo dos tempos. Dessa lógica advém a ideia de “segregação
étnica”.

Como se pode depreender, o racismo cultural, ou racismo sem


“raça”, consiste em se considerar a impossibilidade da convivência
harmoniosa no mesmo território de sujeitos sociais diversos, pelo
fato de se eleger determinada noção de identidade cultural como
autêntica e preferencial. Trata-se de argumentação carente de
argumentos plausíveis, como se existissem identidades ou modos
de ser mais civilizados, mais aceitos ou mais aceitáveis que
outros. Trata-se aqui de racismo perversamente implícito e não
demonstrado de modo direto.

Dentro dessa dinâmica, a maioria das pessoas nega o racismo por


vezes recorrente em suas atitudes e posicionamentos.

184
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SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

De modo bastante direto, o racismo cultural deságua na ideologia da


impossibilidade de se conviver no mesmo território com indivíduos
considerados “bárbaros”, ou filosoficamente o “não-ser”. Essa
atitude dualista de contraposição entre grupos sociais que tenciona
o confronto entre o “nós” e o “eles”, em que o “nós” apresenta-se
superior, desemboca na base fundamental para a construção do
que aqui se expõe como racismo cultural. E aquilo que constitui
as diferenças culturais entre tais grupos são transfiguradas
constantemente em desigualdades.

Veja alguns exemplos de frases ditas por vezes a nossa volta que

encarnam o racismo cultural. Elas sempre se iniciam com o mantra: “Não

sou racista, mas...

... você viu o cabelo pixaim dela?”

... cabelo bom é cabelo liso”.

... como nasceu um bebê branco daquele casal?”

... pessoas brancas podem vestir qualquer cor de roupa”.

... não namoro caras morenos”.

... bem que fulano nasceu com um pezinho na África”.

O bordão “não sou racista, mas...” demonstra o quanto o brasileiro tem

vergonha de ter preconceito ou de assumir o próprio preconceito.

Como atitude que aponta o caminho de superação do racismo


cultural emerge a necessidade de se refletir profundamente e
com o auxílio das diversas áreas do saber sobre como nós nos
situamos cotidianamente perante os outros. Em outras palavras,
em que medida tudo aquilo que constitui o que sou abre passagem
para a concretização do racismo cultural. Há de se insistir
continuadamente na valorização dos direitos fundamentais de todo
ser humano independente de sua etnicidade, cultura, religião, etc.

185
unidade 8
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Não basta negar o “racismo nosso de cada dia”, mas sim importa
praticar atitudes de respeito e de reconhecimento positivo da
diversidade de crenças, traços particulares e de manifestações
culturais.

Racismo x Injúria Racial


No Brasil, a primeira regulamentação sobre preconceito racial
acontece somente em 3 de julho de 1951 na Lei Afonso Arinos1.
Cabe ressaltar que desde o Império esse assunto passa
despercebido pelo arcabouço jurídico brasileiro. Desta feita, a Lei
Afonso Arinos mostra-se de grande importância, pois representa o
primeiro marco legal sobre a discriminação racial no país.

Todavia, a lei supramencionada estipulava penas leves, pois as


condutas delitivas resumiam-se em contravenções penais (crime
de menor potencial ofensivo), que recebiam uma punição leve (a
pena máxima cominada era de três meses de detenção).

Assim, apesar da nobre iniciativa, a Lei Arinos mostrou-se ineficaz


para práticas preconceituosas e discriminativas dentro da
sociedade brasileira.

a) Racismo

O crime de racismo, previsto na Lei n. 7.716/1989 (legislação


especial), refere-se à conduta discriminatória dirigida a determinado
grupo ou coletividade. Assim, no crime de racismo o agente (autor da
conduta delitiva) impede dolosamente o exercício de direito líquido
e certo de uma pessoa, devido a motivações preconceituosas e
discriminativas. O impedimento tem como base questões de ordem
étnica (raça), cor, religião, nacionalidade e/ou origem.

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SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

FIGURA 05 - Chega de racismo!

Fonte: Arquivo institucional.

Esse crime é de previsão constitucional, estabelecido na


Constituição Federal, no artigo 5º, inciso XLII. Trata-se de crime
imprescritível, inafiançável e de ação pública incondicionada. Deve-
se ressaltar que o crime de racismo só ocorre quando as ofensas
atingirem toda uma etnia, religião ou origem, ou seja, não há como
determinar o número de vítimas (polo passivo da ação).

Exemplos:

• não permitir a entrada de negros em determinado


estabelecimento comercial;

• negar emprego a descendentes de indígenas e de negros.

b) Injúria racial ou injúria qualificada

A injúria racial ou qualificada encontra previsão legal no artigo 140,

187
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SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

parágrafo 3º, do Código Penal, que estabelece a pena de reclusão


de um a três anos e multa, além da pena correspondente à violência
para quem cometê-la.

Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade


ou o decoro: Pena - detenção, de um a seis meses,
ou multa. § 3º Se a injúria consiste na utilização de
elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem
ou a condição de pessoa idosa ou portadora de
deficiência: Pena - reclusão de um a três anos e multa
(BRASIL, 1940).

Injuriar alguém significa ofender a dignidade, a honra e/ou o decoro


de determinada pessoa, utilizando, para tal ação, elementos de
cor, etnia (raça), religião, origem ou condição de pessoa idosa ou
portadora de deficiência.

Desta forma, o crime de injúria associa-se ao uso de palavras


depreciativas referentes à etnia ou cor com a intenção de agredir, de
depreciar, a honra da vítima.

FIGURA 04 - O desafio do respeito às diferenças e da


convivialidade

Fonte: Arquivo institucional.

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SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Diferente do crime de racismo, a ação penal aplicável da injúria


racial está condicionada à representação do ofendido e possui
prescrição e o acusado pode ser solto mediante o pagamento de
fiança.

Exemplos:

• Episódio do goleiro Aranha, jogador do Santos, time de


futebol paulista. Sobre esse caso, acesse: AZEVEDO, L.
Quatro são indiciados por injúria racial no caso do goleiro
Aranha. Estadão. Disponível em: <http://esportes.estadao.
com.br/noticias/futebol,quatro-sao-indiciados-por-injuria-
racial-no-caso-do-goleiro-aranha,1568504>. Data de
acesso: 13 abr. 2016.

Apresentadora do tempo do Jornal Nacional, da TV Globo, Maria


Júlia Coutinho foi ofendida por internautas pelo Facebook. Para
entender o caso, leia: MP pede rigor em investigação sobre caso de
injúria racial contra Maria Júlia Coutinho. Diário Gaúcho. Disponível
em: <http://diariogaucho.clicrbs.com.br/rs/entretenimento/
noticia/2015/07/mp-pede-rigor-em-investigacao-sobre-caso-de-
injuria-racial-contra-maria-julia-coutinho-4794999.html>. Acesso
em: 14 abr. 2016.

Ideologia do branqueamento

Conjunto de ideias que defendiam a miscigenação, com o objetivo de,

por intermédio dos casamentos interraciais, transformar o Brasil em um

país branco e, consequentemente, promover um processo de extinção da

raça negra. Esta ideologia teve grande aceitação pelas elites brasileiras,

de 1870 a 1930. Transformar o Brasil, que era negro e mestiço, em um

país branco foi um projeto implementado seriamente pelos cientistas e

políticos daquela época (ROCHA, 2006, p. 27).

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SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Trata-se de ideologia, sustentada no imaginário segregacional, segundo a

qual existe uma “raça” ou gene superior, tese aqui já bastante rebatida.

FIGURA 05 - A ideologia “eugênica” brasileira

Fonte: Arquivo institucional.

O título desta unidade propõe a discussão acerca da “Cultura brasileira e

afrodescendente”. Dentre as possíveis abordagens que aqui se poderia

eleger, optou-se por privilegiar a discussão acerca da problemática

em torno das relações de preconceito e de discriminação advindas do

processo de formação da identidade multifacetária brasileira. Ao se passar

à margem de questões de cunho culinário, musical, artístico (por vezes

mais caracterizadas como culturais), propõe-se o resgate da noção de

cultura. Daí explicitou-se o que de mais tenso e conflitivo surgiu, como algo

cultivado e transmitido, desde um encontro propiciado por circunstâncias

coercitivas e não respeitosas à liberdade dos afrodescendentes.

Evidentemente, o intercâmbio das ideias, dos costumes e do idioma deu-

se de modo a incorporar e a entretecer experiências e vivências das partes

190
unidade 8
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

envoltas. Por sua vez, ao se trazer à baila questões como racismo e injúria

racial, propõe-se a reflexão acerca de situações que envolvem o campo

da ética e das relações humanas, o campo dos direitos e dos deveres e,

portanto, que congregam instâncias evocativas de posicionamento crítico

e de ações práticas.

No campo da dimensão prática do uso da liberdade e da responsabilidade

humana é que se comprova a aplicação efetiva de tudo o que teoricamente

foi tratado e inclusive exemplificado por meio de casos que demonstram

a dimensão das questões em jogo. O devido conhecimento conceitual, as

noções (ainda que preliminares) da legislação e a compreensão da gama

de questões éticas antropológicas e culturais implicadas, possibilita a

tomada de postura consciente diante da realidade.

Revisão
Racismo: por “racismo” compreende-se a atitude ou ação do
indivíduo ao afirmar a superioridade moral, intelectual ou biológica
da etnicidade à qual pertence sobre as demais etnicidades em jogo.

O não racismo brasileiro: a não admissão da existência do racismo


ou da discriminação racial no Brasil conduz à inconteste ideologia
da democracia racial, já consolidada no imaginário da população
brasileira.

Racismo científico: sistemas de crenças que advogam a separação


dos indivíduos, baseando-se na herança genética ou outras
características físicas.

Racismo institucional: trata-se do apoio do Estado à discriminação


e ao preconceito para com as etnicidades dos grupos considerados
inferiores.

191
unidade 8
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Racismo cultural: concepções que consideram certa superioridade


de cunho histórico-cultural de um grupo em detrimento de outros,
não no tangente a aspectos biológicos, mas baseada em traços
culturais subvalorizados pelo grupo dominante.

Crime de racismo: previsto na Lei n. 7.716/1989 (legislação


especial), refere-se à conduta discriminatória dirigida a determinado
grupo ou coletividade. O impedimento terá como base questões de
ordem étnica (raça), cor, religião, nacionalidade e/ou origem.

Injúria racial ou injúria qualificada: encontra previsão legal no


artigo 140, parágrafo 3º, do Código Penal, que estabelece a pena de
reclusão de um a três anos e multa, além da pena correspondente à
violência, para quem cometê-la.

Ideologia do branqueamento: conjunto de ideias que defendem


a miscigenação, com o objetivo de, por intermédio dos
casamentos interraciais, transformar o Brasil em um país branco
e, consequentemente, promover um processo de extinção da raça
negra.

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unidade 8
SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

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Columbus, Michael Barnathan, Michael Radcliffe. Estados Unidos, Índia,

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MISSISSIPI em Chamas. Filme. Direção: Alan Parker. Produção: Robert F.

Colesberry, Frederick Zollo. Estados Unidos. 1989. DVD (128 min).

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