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UM CÉREBRO TRAUMATIZADO E SUAS CONEXÕES

FABÍOLA MARIA AQUINO FONTENELE DE MELO

Resumo: O artigo discorre sobre as principais abordagens teóricas no âmbito da


saúde/doença mental, lesão cerebral e suas interseções com a psicologia. A finalidade
é descrever possíveis alterações no comportamento e nas emoções, no estudo de caso
de um paciente com traumatismo craniano, bem como avaliar, por meio do
psicodiagnóstico, as relações entre o transtorno orgânico de personalidade e
comportamento e suas possíveis sequelas. Do ponto de vista teórico, analisa-se a
separação da doença orgânica da funcional, a partir de um quadro de lesão cerebral.

Palavras-Chave: Lesão cerebral; Psicodiagnóstico; Personalidade

Abstract: The article discusses the main theoretical approaches in the health / mental
illness, brain injury and their intersection with psychology. The purpose is to describe
possible changes in behavior and emotions in the case study of a patient with head
injury, and assess, through psycho diagnostic, the relations between organic disorder of
personality and behavior and its possible sequels. From the theoretical point of view, the
brain is analyzed fragmented, separating the organic from functional disease from
context of brain injury.

Keywords: Brain injury; Psycho diagnosis; Personality

“Nosso corpo somos nós. Esta é a única realidade perceptível.”


(Theresa Berherat, 1991, p. 11)

INTRODUÇÃO

Para melhor compreensão do estudo que se segue faz-se necessário


demarcar que a Neuropsicologia tem por caráter explorar a relação que se faz presente
na atividade cerebral com o comportamento humano. A neuropsicologia também pode
ser descrida como a análise sistemática dos distúrbios de comportamento, que se
seguem a alterações da atividade cerebral normal, causadas por doenças, lesões ou
malformações (Lezak, 1995). A avaliação neuropsicológica é o exame das funções
cognitivas do indivíduo (orientação, memória, linguagem, atenção, raciocínio, etc.), a

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avaliação conta com diferentes linhas para formular a integração dos dados de um
psicodiagnóstico, e para tanto é importante considerar todas as interligações afetivos-
emocionais que se fazem presente no objeto de estudo.

Embora distintos, seria arriscado acentuar uma separação entre os processos


cerebrais e os processos psicológicos, uma vez que estes se interligam e se integram,
seja para conhecimento acerca do desenvolvimento humano, seja para estudos afins.
Considerando o acima mencionado, este presente trabalho tem por intuito elucidar um
diagnóstico de transtorno orgânico de personalidade, caracterizado por uma alteração
significativa dos modos de comportamento que eram habituais ao sujeito antes da
lesão cerebral.

De acordo com a literatura, há grandes distorções quanto às garantias de


sequelas que se seguem em decorrência do traumatismo craniano (TCE), até mesmo
em situações de perícia. Contudo, um precedente se faz presente, a de que as
sequelas do TCE, de modo geral, são irreversíveis e têm a característica de definir o
perfil de quem as possui como incapacitante. De acordo com Crespo e Mattos (1993)
muitos destes resultados são abordados por um esquema simplificado de sintomas
(cognitivos, comportamentais, somáticos, etc), podem ser interpretados por “simulação”
ou “neurose”, em exames periciais com a função de documentar a capacidade do
indivíduo traumatizado

Pela grandeza de um diagnóstico preciso e pontual quanto a real capacidade


do indivíduo, e a fim de identificar as sequelas do traumatismo craniano (TCE)
correlacionando-as às funções cognitivas e comportamentais, avalia-se a necessidade
de exames detalhados e o uso de testes neuropsicológicos na avaliação que antecede
o diagnóstico. Por vezes, as manifestações dos sintomas podem simular quadros
maníacos ou relacionar-se às sociopatias, o que levam muitos estudiosos a
investigarem a função pré-frontal em indivíduos com características anti-sociais. A
maior parte dos pacientes apresenta períodos de sintomas que refletem a
agressividade, falta de concentração e alterações de comportamento.

A necessidade de uma avaliação neuropsicológica acentua-se em


concordância com a existência de divisão de subgrupos, delimitados pelos tipos de
lesões: leves, médias e altas. É importante mencionar que no grupo de baixo risco, por
se tratar de lesões de mínimas proporções, os quadros podem ser considerados

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assintomáticos, uma vez que é conhecido a falta de critérios quanto aos exames
físicos, o que não assegura a inexistência de alterações cognitivo-comportamentais. Há
evidencias que mesmo em traumas, supostamente leves, como uma simples queda de
cavalo sem repercussões aparentes, em que após a liberação, por constatação de não
alterações ou riscos, percebe-se, posteriormente, o surgimento de agentes
complicadores, antes camuflados, surgidos horas, semanas e até meses após o
ocorrido.

Ainda sobre o traumatismo craniano e por ser ele gerador de seqüelas de


natureza multifacetada, e também por si enquadrar em diferentes tipos de lesões
cerebrais, é indispensável, até mesmo para fins de estudos futuros, enfatizar a
relevância da qualidade de vida pós-trauma, pois numa perspectiva psicossocial, é
inegável que o ambiente em que o indivíduo estiver exposto será determinante para
consolidação de um desenvolvimento sem conseqüências agravantes, como também
servirá como demonstrador das conseqüências geradas pelas lesões. Assim, é
possível afirmar que por meio do âmbito psicossocial si tem a percepção quanto as
alterações, pós-trauma, na personalidade, estas podem alternar ou oscilar entre 6
(seis) meses a um ano, ou talvez mais, caracterizando a gravidade e intensidade das
perturbações comportamentais e emocionais do sujeito com TCE

Por isso é importante entender todos os mecanismos envolvidos desde os


elementos constitutivos da formação cerebral até a qualificação da lesão. O crânio é
um invólucro de tecidos mais ou menos rígidos. O traumatismo craniano (TCE) é
definido como um trauma repentino que causa dano ao cérebro. Segundo Lewine
(2007), a ocorrência de um TCE pode gerar várias sequelas que incluem a dor de
cabeça, fadiga, danos na memória, déficit de concentração e atenção, mudança de
personalidade, depressão, irritabilidade, distúrbios do sono e disfunção sexual.

Através da Neuropsicologia se pode entender como são os efeitos das lesões


cerebrais sobre o comportamento. A Neuropsicologia é o estudo dos distúrbios
cognitivos e emocionais, bem como dos distúrbios de personalidade provocados por
lesões cerebrais, é também a área que realiza o estudo entre o cérebro e o
comportamento e está associada a diversas outras áreas como a Neurologia,
Psiquiatria, Psicologia, Fonoaudiologia e Linguística.

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A contribuição clínica da Neuropsicologia são as investigações das funções
cerebrais e do comportamento. Esta investigação permite uma correlação das
estruturas internas e dos processos psicológicos. Sua análise demonstra como se
realizam as sequelas das lesões cerebrais sobre o comportamento. Os objetivos da
neuropsicologia são estabelecer diagnósticos terapêuticos e cognitivos, em uma
análise minuciosa sobre os distúrbios, para melhor compreensão da lesão e de sua
consequência para o doente, além de avaliar as possibilidades de reeducação.

A avaliação Neuropsicológica segue os mesmos procedimentos do


Psicodiagnóstico, incluindo toda a bateria clássica dos testes, tanto os testes
psicométricos quanto os projetivos. A Avaliação psicológica dos quadros de transtornos
orgânicos da personalidade requer a investigação de multifatores que possam mostrar
ou caracterizar alterações estruturais e funcionais devido às lesões cerebrais. O
psicodiagnóstico aqui avalia o nível cognitivo e o mapeamento das funções mentais
como atenção, memória, percepção, bem como, as variações do perfil de
personalidade após traumatismo. Para Luria (1994), o objetivo da avaliação é localizar
os processos psicológicos em áreas limitadas do córtex. Existem exames e testes
específicos que avaliam as funções cognitivas.

O diagnóstico estabelecido após avaliação psicológica detecta perfis de


personalidade como os “transtornos orgânicos de personalidade” que são descritos
como uma personalidade com alterações do lobo frontal. Suas principais manifestações
são a perda da autocrítica e incapacidade para avaliar os próprios desempenhos. Este
tipo de lesão leva o sujeito a ter perdas nas regiões frontais, caracterizando um aspecto
inibidor da iniciativa e do entusiasmo psíquico, desinvestimento cotidiano, relativa
indiferença e distração nas atividades que desempenha.

Não se trata, somente em definir e classificar a personalidade pré-traumática,


ou criar uma nosologia psicopatológica que substituiria as classificações existentes.
Apenas se avalia as incidências psicológicas das lesões cerebrais que acarretam
danos cognitivos. Este estudo analisa a personalidade sob a influência de uma lesão.
Descreve-se como são organizados os fenômenos psíquicos e os conjuntos
significativos conscientes e inconscientes, intra e intersubjetivos, do paciente. Os
fenômenos psíquicos são descritos, a partir dos resultados avaliativos, numa descrição
semiológica, apoiada na avaliação clínica e na confrontação dos dados médicos e

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neuropsicológicos. Numa perspectiva prática, o psicodiagnóstico permite compreender
o sofrimento psíquico, possibilitando o direcionando de um trabalho psicoterapêutico.

Procura-se discorrer sobre como a neurologia e/ou as neurociências têm


proposto novas narrativas da mente humana, apontando o aporte biológico nas
descrições da vida subjetiva e da identidade. Nesse sentido, cada pessoa possui uma
estruturação cerebral específica e cada um apreende acerca de si mesmo e do mundo
de maneira individualizada.

Para compreensão do ser humano, principalmente em casos específicos


como este, uma pessoa com lesão cerebral, não se pode descartar a noção da
materialidade do corpo, nem os aspectos intrapsíquicos e suas interfaces com a
subjetividade da experiência e de tudo o que ele apreende sobre o mundo. Afinal, a
vida psíquica é esta interação entre o mundo interno e externo (eu, corpo, cérebro e
mundo).

“O cérebro é um elo na cadeia que liga o corpo ao ambiente/mundo.


Sua higidez, obviamente, é uma condição necessária à gênese e ao
equilíbrio das atividades mentais.” (Costa , 2004, p. 20).

. A obra de Philippe Pinel, em seu sistema, descreve como as doenças


psiquiátricas, no sentido de doenças orgânicas-cerebrais, expressam distúrbios nas
funções superiores do sistema nervoso central. O cérebro então é visto como a sede
da mente e a alienação mental pertence ao grupo das neuroses cerebrais. Bichat
(1801) postula o princípio básico do método anátomo-clínico, afirmando que o quadro
clínico psiquiátrico podia ser explicado pelo agente causal, descrito como a lesão
cerebral localizada.

Luria (1973), estabelece a ligação das funções psicológicas e o


funcionamento cerebral, considerando o cérebro como um sistema que regula,
armazena e associa todas as funções psíquicas complexas.

A psicopatologia se preocupa com a questão da cognição, em relação a


pacientes com lesão cerebral. Este artigo se preocupa em avaliar, a partir desta
experiência de avaliação psicológica e clínica, os fatores que influenciam ou
determinam as alterações de comportamento em indivíduos lesionados. Casos de
traumatismo craniano ocasionam danos cognitivos como distúrbios de linguagem, da
memória, do gesto, do reconhecimento de rostos, de orientação no tempo e no espaço.

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Estas alterações cognitivas interferem na forma como o indivíduo se vê e sobre seu
sentimento de identidade e de existência.

A imagem corporal, estudo acerca da experiência do corpo e da


personalidade, nos dá a noção de identidade de uma pessoa, estabelecida pela
ligação de tempo e de espaço. Cada pessoa tem o seu critério de representação de si
mesma. O espaço psíquico é que estabelece as integrações do mundo interno com o
externo. Um distúrbio cognitivo pode colocar o sujeito em situação de dependência
física, social e relação ao seu ambiente, além de estabelecer uma dependência
psíquica, o que impossibilita representar as próprias percepções e as noções de
realidade.

Desta forma, em muitos casos de lesão cerebral, o psicodiagnóstico é o meio


de acesso a este sujeito que possui suas percepções afetadas e não consegue
verbalizar sobre como vê o mundo. Essas pessoas não conseguem apoio no próprio
sistema de representações para falar de si mesmas e do mundo que as rodeia.

Sobre a análise neuropsicológica e comportamental, pacientes com lesão


cerebral manifestam grande lentidão e desorientação temporal. As perturbações
favorecem déficits na memória imediata ou na memória episódica, introduzindo uma
confusão com o tempo vivido. Todas estas alterações dificultam a capacidade de
ajustamento estrutural e funcional do organismo, com reprodução de características de
distorções da realidade.

A psicopatologia, por sua vez, centra sua atenção a estas alterações, numa
investigação sobre o histórico do sujeito até o momento da lesão cerebral. São
verificados todos os estágios da relação do sujeito com a sua doença e todas as suas
consequências. Demonstra-se como se apresenta o sofrimento subjetivo como a
dificuldade de comunicação e expressão pela sequela cerebral. O Transtorno orgânico
da personalidade é caracterizado por uma alteração significativa dos modos de
comportamento que eram habituais ao sujeito antes do advento da doença; as
perturbações concernem em particular à expressão das emoções, das necessidades e
dos impulsos. O quadro clínico pode, além disto, comportar uma alteração das funções
cognitivas, do pensamento e da sexualidade.

A globalização compreensiva do sujeito é uma prática psicodiagnóstica que


combina atividades e instrumentos de diferentes linhas conceituais a fim de lidar com a

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variabilidade de manifestações do sujeito. Esta é a forma de mapear como o sujeito se
comporta e estabelece as relações com o mundo, com os objetos e consigo mesmo.

Passar pela experiência do traumatismo craniano revela a qualidade


transformadora do sujeito. Demonstra como a lesão elabora seus efeitos sobre o
psiquismo e quais as alterações significativas na identidade subjetiva. Os testes
projetivos permitem ou promovem a expressão destes aspectos por meio da projeção,
já que estes pacientes não conseguem muitas vezes verbalizar sobre estas
experiências.

O psicodiagnóstico visa privilegiar o entendimento da experiência subjetiva de


uma pessoa com lesão cerebral a fim de avaliar o impacto que os déficits cognitivos
geraram na vida psíquica. Pacientes com lesões cerebrais apresentam déficits
principalmente na memória, linguagem, senso de orientação espaço-temporal, além de
outros transtornos de comportamento, tais como impulsividade, agressividade,
passividade e lentidão.

Todavia esta sintomatologia deve ser analisada com critérios médicos e


psicológicos, pois há relatos de pessoas que sofrem traumatismo craniano,
apresentando graus variados de sintomas. Alguns apresentam durante meses e já
outros têm sintomas mais persistentes. Nos dois casos, é necessário que todas as
manifestações sejam evidenciadas por exames e testes psicológicos para que se tenha
uma noção concreta do dano.

Além dos danos psíquicos, podem apresentar prejuízos psicossociais, por


muitas vezes serem obrigados a deixar de desempenhar suas funções que antes
sabiam executar. A falta de orientação pode gerar danos irreparáveis desta natureza
pela falta de perícia clínica.

MÉTODOS

Um estudo de caso tem por função esclarecer os motivos e o interesse


particular que determina o percurso do caso e das técnicas de coleta dos dados. Por
assim dizer, o estudo de caso é a estratégia formal de pesquisa sobre uma condução
metodológica que pretende descrever um histórico de vida. Existe uma lógica e

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planejamento na estratégia em utilizar o estudo de caso. Aqui, se visa priorizar algumas
circunstâncias específicas e determinantes sobre um caso clínico.

O estudo de caso é uma investigação empírica que tem por finalidade


pesquisar o fenômeno dentro de um contexto de vida real com a intenção de lidar com
questões contextuais que engloba características de tipos de técnicas, na coleta de
seus dados, estabelecendo estratégias para a análise destes dados e informações de
acordo com abordagens teóricas específicas.

A questão específica deste caso foi caracterizada pela elaboração e definição


da hipótese diagnóstica de “Transtorno Orgânico de Personalidade” que foi
especificada pelo histórico de quadro clínico e investigação a partir de uma avaliação
psicológica

Este trabalho é um estudo de caso que inclui evidências qualitativas e


quantitativas associados aos experimentos de avaliação psicológica, a partir do
levantamento de questões pertinentes de um caso clínico com o objetivo de buscar
conclusões de psicodiagnóstico baseado nas evidências dos resultados dos testes.

Paciente encaminhado pelo Centro de Assistência Psicossocial (CAPS) para


avaliação psicológica com a finalidade de estabelecer um diagnóstico diferencial entre
Transtorno mental orgânico ou simulação.

Os instrumentos utilizados no psicodiagnóstico foram: entrevista clínica, Mini-


Exame do Estado Mental, HTP, NEUPSILIN e Método de Rorschach.

A entrevista é uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes


busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de informação, Gil (1999) . No
presente caso foi escolhida a entrevista aberta (não estruturada), cujo objetivo é
identificar aspectos da personalidade do entrevistado por meio do seu relato, haja vista,
que o objetivo da entrevista em questão é diagnóstica.

Por meio do Mini-exame do estado mental (MEEM) é possível obter


informações quantos aos aspectos cognitivos do examinando. O Mini-exame do estado
mental divide-se em sete categorias: orientação temporal, espacial, registro de dados,
atenção e cálculo, lembrança linguagem e capacidade construtiva visual.

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O Neuropsilin é um teste de Avaliação Neuropsicológica Breve, para o uso
desse instrumento deve-se levar em conta, sexo, idade, grau de escolaridades e
dominância manual, bem como o uso de drogas ilícitas ou não. O objetivo deste
instrumento é fornecer um perfil neuropsicológico. O teste avalia as funções das
seguintes áreas: orientação temporo-espacial, atenção, percepção, memória,
habilidades aritméticas, linguagem, práxias e função executiva (resolução de
problemas e fluência verbal), e possibilita verificar as funções preservadas bem como
as que apresentam prejuízos. Diante dos resultados obtidos é possível fazer uma
seleção mais precisa de testes neuropsicológicos específicos que auxiliem para uma
investigação mais profunda.

O HTP destaca-se por ser um meio de investigação psicológica que avalia


muito bem a imagem corporal e como técnica da avaliação da personalidade, com a
finalidade de revelar a síntese pessoal. Através do grafismo, pode representar e
registrar suas emoções e sentimentos. De acordo com Anzieu (1986), o desenho é
uma das melhores formas para observar a percepção, o desenvolvimento mental, bem
como aspectos cognitivos e intelectuais. Há evidências detectadas por neurologistas
que pacientes com lesões cerebrais apresentam distorções sobre a imagem e o
conceito sobre o próprio corpo e estas também são evidenciadas no teste do HTP, na
figura humana.

Segundo Adrados (1980), O Rorschach é uma técnica individual, está situado


no campo da percepção e projeção. O teste é todo sistematizado com a finalidade de
avaliar o dinamismo psíquico relativos aos seus padrões cognitivos e afetivo-
emocionais. Como método projetivo torna possível a análise de suas características de
personalidade.

Todo o procedimento foi realizado no Centro de Formação em Psicologia


Amplicada (CEFPA) da Universidade Católica de Brasília. As entrevistas tiveram
duração de aproximadamente 50 a 60 minutos, tendo na primeira entrevista a
participação de um familiar (esposa). A aplicação dos testes foi individual, e esses
foram distribuídos em 4 encontros.

O CASO

O caso do presente estudo trata-se de um jovem de 35 anos, casado, que


passou por situações de traumatismo craniano. A primeira não foi comprovada, foi

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devido à queda do cavalo; a segunda, com diagnóstico declarado, em um acidente de
moto. As duas situações podem ter agravado o quadro de lesão cerebral.

Sofreu acidente em 2003 e 2005, apresentando possíveis danos cerebrais,


mais especificamente atingindo áreas como memória, estados confusionais (como
delírios e alucinações), alterações de comportamento. O mesmo precisa de suporte
para lembrar-se de dados e de suas experiências passadas.

Foi solicitada uma avaliação psicológica para verificar justamente de que


natureza seriam estes estados confusionais e se haveria algum indicador de lesão
cerebral de acordo com as manifestações descritas.

RESULTADOS

Entrevista

O examinando compareceu a todas as entrevistas, acompanhado pela esposa,


tendo sido possível, também, entrevistá-la. Idade 35 anos, natural do Maranhão,
procedente do DF há mais de 11 anos, casado, 2 filhas, ensino médio completo,
afastado pelo INSS. Observou-se a presença de grande ansiedade por parte do
casal. O paciente possui histórico de acidente na infância, ocorrido aos 5 anos de
idade, em uma queda pela qual bateu fortemente a cabeça. Em 2003, diz ter tido
um “surto”, sendo atendido pela médica da empresa onde trabalhava quem fez o
seguinte diagnóstico: “paciente com reação agitada ao estresse, seguida de
depressão e um surto esquizofrênico”. Em 2005, sofreu um grave acidente de
moto durante o percurso para o trabalho. Depois de ficar internado por alguns
meses no Hospital de Base de Brasília, foi encaminhado pelo neurologista para
tratamento psiquiátrico e depois para o CAPS, no qual faz acompanhamento
terapêutico e psiquiátrico. Relata que houve alteração no comportamento,
passou a conversar com objetos inanimados, tem problema de insônia e fortes
dores de cabeça. Informa uso de medicamentos (Haldol, Depakene e
Biperedeno). O examinando mostrou-se colaborador, com consciência de
algumas alterações, sabe que não pode ficar sem a medicação e demonstra
desejo de melhorar. O autocuidado está preservado, bom aspecto físico, discurso
um pouco lento e olhar atento, demonstrou estar ansioso (movimentos nas
mãos). A esposa informa que após o acidente de moto ele ficou muito diferente,
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apresentando-se mais nervoso e ansioso, diz que observa que depois que ele
toma a medicação sente que ele fica mais tranquilo, apesar de não ver melhora
no quadro geral.

Mini-Exame do Estado Mental

Preservada a capacidade de orientação temporal, espacial em relação a si


mesmo. A compreensão da linguagem verbal escrita e da memória episodia
apresentam-se preservadas, bem como apresenta capacidade de atenção
regular e limitação para realização de cálculos aritméticos. O escore obtido
nessa avaliação foi de 30 pontos, num total de 34. A pontuação obtida descarta
demência.

HTP

Sugere um indivíduo com fraco controle do ego associado a sentimentos de


inadequação e insegurança. Apresenta necessidade de apoio, a presença
maciça de defesas, o que indica temor de colapso do ego. Refugia-se na
fantasia, com diminuição do contato com a realidade. Demonstra um alto nível
de insegurança e pouca energia frente às pressões ambientais e nas relações
interpessoais. Apresenta dificuldade de contato com o mundo e há prejuízo no
nível de organização. Manifesta necessidade de apoio e reconhecimento no
meio familiar. Presença de sentimentos nostálgicos que dificulta a ação no
presente e futuro, gerado por bloqueio e ansiedade. Há evidência de trauma e
medo frente ao novo. Expressa imaturidade, dependência e sentimento de
inferioridade. Busca aprovação e a aceitação social. Manifesta boa aceitação de
si mesmo, apesar de revelar pouca autoestima e falta de interesse pelas
pessoas. Apresenta instabilidade emocional e perda de equilíbrio com forte
tendência à desorganização mental. Demonstra fixação emocional no passado,
com indícios de imaturidade e infantilidade. Sua percepção de mundo é vaga e
demonstra relutância em aceitar estímulos externos, seu comportamento diante
do mundo indica agressividade, culpa e vergonha. Revela sentimento iminente
de colapso da personalidade com quadros instáveis, podendo apresentar
sintomatologia crítica e crises psicopatológicas.
NEUPSILIN

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De maneira geral, o desempenho do examinado no instrumento como um todo foi
abaixo do esperado. As principais dificuldades demonstradas apareceram nas
tarefas que avaliavam a orientação têmporo-espacial e linguagem. Diferente do
seu desempenho no Mini-Exame Mental, o participante teve um desempenho
satisfatório nas tarefas que avaliavam as habilidades aritméticas. Por outro lado,
demonstrou grande dificuldade nas tarefas que envolviam memória,
especialmente, de ordenamento ascendente de dígitos, evocação tardia,
reconhecimento de faces e memória visual a curto prazo. O tempo de aplicação
foi acima do esperado para seu grupo normativo. Apresentou dificuldade para
executar a tarefa de repetição de uma sequência de dígitos, houve duas
omissões e três trocas de posição, demonstrando dificuldade de memorizar
mesmo sequências pequenas de números.

No subteste de Span auditivo de palavras e sentenças, o paciente teve


desempenho abaixo do esperado, apresentou dificuldade em toda a tarefa. Isso
pode sugerir dificuldade de concentração e dificuldade para memorizar. Na tarefa
de memória verbal episódico-semântica de evocação imediata, o resultado foi
satisfatório; porém, na evocação tardia, o desempenho do participante foi bem
abaixo do esperado, principalmente na tarefa de evocação tardia, na qual se
lembrou de apenas duas das palavras anteriormente evocadas. Na tarefa de
reconhecimento, reconheceu equivocadamente três palavras que não faziam
parte da lista, o que caracteriza falsas memórias por fazerem parte das
categorias das palavras do teste.

O desempenho quanto à memória, no geral, foi abaixo do esperado para o grupo


normativo, especialmente na tarefa que envolvia memória verbal episódico-
semântica de evocação tardia e no ordenamento ascendente de dígitos.

As habilidades aritméticas mantêm-se preservadas. O desempenho do


participante nas tarefas referentes à linguagem oral e escrita foi abaixo da média.
As principais dificuldades se deram nas tarefas que envolviam compreensão,
escrita e processamento de inferências; explicou apenas uma metáfora.

O desempenho nas tarefas referentes às praxias foi de acordo com a média


esperada para o grupo. Quanto às funções executivas, o desempenho do

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participante foi inferior ao esperado. O tempo de aplicação foi de acordo com o
esperado para um indivíduo adulto com o mesmo grau de instrução.

No geral, o desempenho do participante foi inferior ao esperado para seu grupo


normativo. Os resultados indicam alteração na capacidade têmporo-espacial,
memória, dificuldade de memorização e problemas de compreensão de
linguagem verbal, escrita e processamento de inferências. Contam a seu favor a
preservação das habilidades aritméticas e da capacidade referente a praxias.

Método de Rorschach

O paciente apresenta alguns indicadores de organicidade no Rorschach como:


condições intelectuais comprometidas, controle afetivo alterado, diminuição do
interesse afetivo pelo ambiente, bem como capacidade de adaptação e reações
impulsivas. Tende a imaginar mais que agir. Estão presentes afetos de medo e
angústia, alteração no quadro orgânico, situações traumáticas. Foram
encontradas evidências de desconforto e mal estar emocional. Os indicadores
encontrados sistematizam um quadro de síndrome orgânica.

DISCUSSÃO

O Psicodiagnóstico tem a finalidade de definir um quadro clínico dentro das


especificidades diagnósticas. Através da avaliação psicológica, foram verificados déficits
de memória e alterações de comportamento e as potencialidades nos processos
psicológicos superiores. A hipótese levantada foi de lesão cerebral, a qual foi
confirmada pelos resultados dos testes psicológicos.

O histórico de alteração de humor pode ter levado o paciente ao atendimento


psiquiátrico e farmacológico, provavelmente pelos quadros de impulsividade,
irritabilidade, excitação, agressividade etc. Além destes sintomas, déficits cognitivos são
observados como padrões das manifestações de quadros de lesão cerebral.

Verifica-se que o impacto das perturbações e as múltiplas posturas e métodos


adotados no acolhimento de um caso de sujeito traumatizado são bastante variados.
Essas dificuldades geram a falta de critérios estáveis na prática clínica.

Essas descrições evidenciam a importância das avaliações neuropsicológicas


e o acompanhamento clínico destes pacientes para especificar o quadro em diagnóstico
preciso e auxiliar o estabelecimento de condutas terapêuticas.
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CONCLUSÃO

De acordo com as correlações entre a neuropsicologia e a psicopatologia, há


evidência de confusões de aspecto frontal com distorção de forma e movimento.
Sintomas frontais descrevem comportamentos impulsivos. As áreas frontais são
responsáveis pelas funções psíquicas.

Quadros mentais e comportamentais de etiologia orgânica mencionam


significativa consequência na redução das habilidades adaptativas. As deficiências em
áreas específicas são extremamente persistentes e podem perdurar por décadas. Não
há um critério universalmente aceito no que tange à gravidade da lesão em relação à
sua capacidade de recuperação.

No caso do traumatismo craniano existe uma diferença fundamental entre a


exposição e a ameaça de perturbação emocional. Estas manifestações podem
confundir o profissional numa análise clínica, porque a doença cerebral pode
manifestar-se em doença mental: “a modificação orgânica primária era desconhecida em
sua essência, mas apreensível em seus efeitos.” (Bercherie, 1980[1989], p. 95)

Os efeitos destas modificações podem ser a linha tênue entre as


manifestações de quadros psicopatológicos e podem criar “a aptidão para delirar” ou a
manifestação de situações com idéias delirantes.

O psicodiagnóstico nasce justamente da necessidade de esclarecer estes


casos que não têm forma clara de manifestações e que podem ser confundidos,
podendo estabelecer planos de intervenções inadequadas por falta de clareza sobre as
reações dos comportamentos de pessoas com lesão cerebral.

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