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CONTRIBUIÇÕES DOS ABOLICIONISTAS ANDRÉ REBOUÇAS E JOAQUIM

NABUCO PARA PENSAR A EDUCAÇÃO DOS NEGROS NA SOCIEDADE


BRASILEIRA: 1871-1881

PINA, Carolina Biasi1


SILVA, Ricardo Tadeu Caires2

RESUMO: Este artigo busca refletir sobre o papel da educação dos negros no discurso
abolicionista de André Rebouças e Joaquim Nabuco entre 1871-1881. O processo de abolição
do trabalho escravo no que tange à sua forma influenciou a estrutura societária dos brasileiros.
Dentre os pilares dessa estrutura, a organização educacional, foi um dos mais afetados.
Assim, é possível encontrar relevante preocupação com a educação dos negros libertos e para
com o “povo” de forma geral, inserido no discurso dos abolicionistas. Para tanto, recorremos
à análise das principais obras relacionadas à Nabuco e Rebouças, entre estas destacamos
“Diário e notas autobiográficas” e “Agricultura Nacional. Estudos econômicos, propaganda
abolicionista e democrática” de Rebouças, “O abolicionismo”, „Campanha Abolicionista no
Recife” e “Discursos parlamentares” de Nabuco entre outras. Para tanto, encaminhamos o
artigo sob a perspectiva específica de ambos abolicionistas, identificando qual era o
direcionamento da educação “Instrução pública” na concepção de cada um. Este estudo leva
pensar a história da educação, identificando aspectos da abolição dos escravos e seu acesso a
“educação”, percebendo a importância das idéias dos dois abolicionistas, conforme um
pensamento reformista propondo idéias de progresso, afirmando a necessidade da extinção
total do cativeiro, e a instrução levada a todos os brasileiros. As idéias dos abolicionistas
trabalhadas neste artigo mostram a luta dos mesmos para que se mudasse o quadro de
desigualdade do Brasil.
PALAVARAS CHAVES: Abolicionismo. Educação. Escravidão. Cidadania. Instrução
Pública.

1. INTRODUÇÃO

O processo de abolição do trabalho escravo no que tange à sua forma influenciou a


estrutura societária dos brasileiros. Dentre os pilares dessa estrutura, a organização

1
Graduada em História, pela Universidade Estadual do Paraná -UNESPAR campus Paranavaí, no ano de 2013.
Mestranda no Programa de pós-graduação Strictu Sensu em formação docente interdisciplinar –PPIFOR na
Universidade Estadual do Paraná –UNESPAR campus Paranavaí.
2
Professor orientador Doutor em História pela Universidade Federal do Paraná, Membro do Colegiado do Curso
de História da UNESPAR campus de Paranavaí.
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educacional, eixo para o desenvolvimento do homem, enquanto ser ontológico social foi um
dos mais afetados. Assim, é possível encontrar relevante preocupação com a educação dos
negros libertos e para com o “povo” de forma geral, inserido no discurso dos abolicionistas
André Rebouças e Joaquim Nabuco. Tratam-se de intelectuais responsáveis por pensar e
reivindicar projetos voltados para a educação dos negros libertos que se tornavam
trabalhadores livres.

Um dos grandes momentos das lutas abolicionistas se encontra com a lei de número 2040,
de 28 de setembro de 1871. De acordo com Wlamyra R. de Albuquerque e Walter Fraga Filho
(2006) a lei conhecida como Lei do Ventre Livre estabelecia que todos os filhos nascidos de
escravas a partir de então seriam livres. Sua estrutura se encontrava da seguinte forma, até os
oito anos a criança nascida livre ficava sob os cuidados do senhor, após esta idade o mesmo
poderia optar entre entrega-las ao governo ou permanecer com a criança até os vinte e um
anos se utilizando da sua mão de obra. Vale lembrarmos que o contexto histórico que o Brasil
estava inserido, levou o governo imperial a realizar mudanças na mão de obra escrava, o que
resultou na Lei do Ventre Livre dentre outras. De certa forma o objetivo maior das leis
emancipacionistas era realizar a transição gradual do trabalho escravo. Porém, também
proporcionaram algum acesso a uma formação instrucional.

Durante o processo abolicionista, era possível notar o posicionamento contrário a


escravidão, partindo de indivíduos de diferentes níveis sociais, como autoridades. A
denominação abolicionista ocorreu devido as mudanças na forma de se reivindicar o fim da
escravidão. Pois os abolicionistas já não mais queriam que o fim da escravidão ocorresse de
forma lenta e gradual, mas buscavam o fim total da exploração escrava. Wlamyra R. de
Albuquerque e Walter Fraga Filho (2006) afirmam que a luta abolicionista não era
homogênea, existiam posicionamentos políticos divergentes entre liberais e conservadores,
monarquistas e republicanos quanto a formas de atuação e objetivos. Muitos buscavam a
abolição realizada por via parlamentar, outros acreditavam na necessidade do envolvimento
de toda a população. Em relação aos objetivos alguns achavam que a luta abolicionista levaria
ao fim da escravidão, chegando assim ao almejado progresso do Brasil, outros esperavam que
a abolição ocorresse, mas que este negro liberto fosse substituído pelo imigrante europeu, pois
viam a escravidão e o negro como um entrave para a chegada do progresso.

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Encontramos importantes intelectuais que atuavam nos núcleos abolicionistas, como


Antônio de Castro Alves conhecido como o “poeta dos escravos”; Luiz Gama fundador de
uma caixa emancipadora, que proporcionava a compra de alforrias para os escravos, e
também em seus poemas denunciava o preconceito racial, e lutava pela educação; O
pernambucano Joaquim Nabuco, importante abolicionista autor do livro “O Abolicionismo”
publicado em Londres, no ano de 1833, que expôs em seus discursos importantes
pensamentos reformistas; e André Rebouças, objeto deste projeto, nascido na Bahia, atuou
como intelectual e educador que defendia e pensava projetos acerca da educação.

A atuação dos abolicionistas se fazia por meio de escritos em jornais, em praças e nos
parlamentos; os discursos nos permitem compreender de forma clara suas posições, em
relação a diversos aspectos que envolvem a libertação do escravo. O objetivo deste trabalho é
abordar, a educação dos negros presentes em falas dos abolicionistas André Rebouças e
Joaquim Nabuco, a partir de uma perspectiva educacional. E estes intelectuais se fazem
necessários para pensar as reformas sociais de 1871-1881, que colaboraram na reconstrução
da nação bem como de uma possível educação aos negros libertos.

2. PERSPECTIVA DO ABOLICIONISTA ANDRÉ REBOUÇAS ACERCA DA


EDUCAÇÃO DOS NEGROS NO BRASIL.

André Pinto Rebouças nascido na Bahia,em 13 de Janeiro de 1838, na cidade de


Cachoeiras atuou como intelectual e educador que defendia e pensava projetos acerca da
educação. Obteve sua formação em engenharia e lecionou na escola politécnica do Rio de
Janeiro.

A autora Maria Alice Rezende de Carvalho (1998), expõe que André Rebouças
Cursou o ensino elementar, e junto a seu irmão se preparou para concursos na área militar.

Para obtenção do título de engenheiro militar, contudo, era preciso completar


seu estudo na Escola de Aplicação da Praia Vermelha, o que fez até
dezembro de 1860. André Rebouças bacharelou-se em ciências físicas e
matemática em 7 de abril de 1859 e obteve o grau de engenheiro militar em
dezembro de 1860. Uma concluída a sua formação. André e Antônio
seguiram em sua primeira viagem à Europa, na verdade uma viagem de
estudos, que transcorreu em fevereiro de 1861 e novembro de 1862. Na

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volta, partiram como comissionados de estado brasileiro para trabalhos de


vistoria e aperfeiçoamento de alguns portos e fortificações litorâneas, tidos
como estratégicos à defesa da soberania brasileira. (CARVALHO, 1998,
p.11)

Com a conclusão do curso e sua viajem à Europa, Rebouças aperfeiçoou seus


conhecimentos. Já no Brasil, veio a se envolver em projetos diversos, como a reforma dos
portos, melhoria no sistema de abastecimentos de água e outros. Entre os projetos elaborados
por André Rebouças encontramos como característica uma nítida preocupação em pensar o
futuro da nação. Devido ao fato de ter lecionado na escola politécnica, fazia parte da equipe
de profissionais responsáveis por melhorar a capital do império. Encontramos assim um
indivíduo que vai pensar a transformação da cidade.

Rebouças via como ponto principal, o investimento em educação, para que assim a
população viesse alcançar o progresso:

Necessitamo-nos de instrução e capital. E como não é possível construir


escolas, comprar livros e pagar mestres sem capital, é preciso resolver
simultaneamente o problema do capital e o problema da instrução: não se
pode ensinar a ler quem tem fome! É preciso capital para a instrução, e
capital para a indústria.É preciso dar simultaneamente ao povo – instrução e
trabalho. Dar instrução aos brasileiros para que eles conheçam perfeitamente
toda extensão de seus direitos e de seus deveres: dar-lhes trabalho para que
eles possam ser realmente livres e independentes! Repitamos:é necessário, é
urgente, é indispensável educar esta nação para a agricultura, para o
comércio, para o trabalho em uma só palavra! Deve ser esse o principal
escopo de todo o Império. (REBOUÇAS, 1988, p.284)

Para Rebouças “O alfa de toda a Reforma é a educação” (REBOUÇAS, 1988, p.357),


em suas falas é visível que a educação se tornava essencial para a efetividade de um projeto
de desenvolvimento para a nação, incorporando todas as raças, como Rebouças afirma,
pensando os brasileiros. Por meio do ensino, da instrução que o Brasil iria alcançar a
modernidade, que muitas vezes era idealizada por Rebouças com padrões ocidentais. A sua
percepção em relação à educação era de forma prática, somente por meio desta a sociedade
atingiria qualquer ascensão social. Por exemplo, ressaltando a educação agrícola como algo
importante para as populações que se encontravam inseridas no campo.

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De acordo com Veríssimo (1939) em 1870, Rebouças se posiciona sobre iniciativa de


Visconde de Longe, que desejava fundar uma espécie de seguro de vida que tinha por
finalidade emancipar os escravos, o abolicionista ampliou a idéia redigindo um projeto de lei
para emancipação dos escravos no Brasil, onde prezava pelo aspecto de se proteger e educar
os emancipados.

A instrução é a visão que Rebouças possui de educação, a partir das possibilidades e


condições sócio-históricas do Brasil neste período. Fica claro em seus discursos, que
incorpora no seu projeto educacional as populações negras, escravos, livres e libertos,
principalmente os negros libertos, na medida em que roga “não se pode ensinar a ler quem
tem fome!” (REBOUÇAS, 1988, p.284). Ora em 1871 a 1881, período de análise do objeto,
quem mais vivia sob condições de passar fome, se não os escravos libertos? A sua condição
de fome pensada, a partir da forma inescrupulosa a qual o estado brasileiro, sob o governo de
uma burguesia agrária e escravocrata, dirigiu o processo de abolição dos escravos. Rebouças
parece ter claro em seu discurso, a percepção que o problema se concentrava, na ausência de
um projeto que incorporasse a população negra.

Ao expor a fala “dar instrução aos brasileiros” nos é perceptível que Rebouças se
tratava de um intelectual cuja concepção de nação que incorporava os negros, estava à frente
de seu tempo. Pois o cenário político agia na contra mão da sensatez proposta pelo
abolicionista.

Andrea Santos Pessanha (2005), autora da obra “Da Abolição da escravatura à


Abolição da Miséria: A vida e as idéias de André Rebouças” explica que Rebouças, elaborou
diversos artigos voltados para a defesa da abolição da escravatura, expondo a necessidade de
mudanças na legislatura que permitissem aos ex-escravos acesso a terra dentre outros. Para o
abolicionista a luta pela cidadania estava imbricada a luta contra a escravidão.

Para André Rebouças, a libertação escrava não colocaria o Brasil na modernização


almejada. Seria necessário garantir instrução aos libertos para que, assim, encaminhassem o
país à modernidade. Por possuir tais ideais, Rebouças veio a questionar a Lei do Ventre Livre,
acerca da educação dos ingênuos libertos pela lei, conforme segue:

Uma lei falha e manca, triste e arrastadamente executada, e mais nada! Nas
arcas do tesouro 4,000: 000$ do fundo de emancipação, por qualquer
pretexto fiscal! Quatro mil homens ainda escravos por qualquer relaxação

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administrativa! Até hoje (1874, três anos depois) nem a mínima providência
sobre a educação dos ingênuos e dos emancipados! (REBOUÇAS, 1938,
p.190).

Quando analisamos as propostas educacionais que se elaboravam nos discursos do


abolicionista Rebouças, identificamos questões crucias não só para vida dos negros, mas, para
pensar um projeto de desenvolvimento nacional. Pois pensava a instrução pública e a reforma
agrária. Para Rebouças mesmo após a abolição, era preciso que os negros tivessem subsídios
para se sustentar.

Carvalho (1998) aponta que a visita feita à Europa, a viagem à América do Norte
trouxeram grandes contribuições para o senso crítico de Rebouças. O contato com um país
que se baseava na modernização e educação, contribuiu para atuação de seus ideias e projetos
que implicava o futuro do Brasil como nação. A leitura de André Rebouças sobre o país
norte-americano,se voltava para uma sociedade sem privilégios no qual o trabalho é que
proporciona a ascensão social. Segundo ele, o Brasil deveria se voltar para esse caminho,
buscando aperfeiçoamento material, moral e principalmente o intelectual.

O abolicionista nunca deixou seu lado técnico, devido a sua formação almejava
sempre a modernização. Demonstrava em suas falas que a atenção deveria se direcionar para
o trabalho e a educação. A mudança, a libertação dos escravos e a instrução dos mesmos,
permitia o engenheiro e o abolicionista, pensar a ampliação da efetividade da educação
brasileira.

3. PERSPECTIVA DO ABOLICIONISTA JOAQUIM NABUCO ACERCA DA


EDUCAÇÃO DOS NEGROS NO BRASIL.

Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo nasceu em Recife, Pernambuco. Teve grande
participação na vida política desde sua juventude. Em todos seus mandatos, teve desde o
início a defesa ao abolicionismo, expressando em seus discursos uma infinidade de temas que
proporciona o entendimento da visão deste abolicionista sobre questões relacionadas ao seu
ideal de nação moderna.

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Em 1880, fundou no Rio de Janeiro a Sociedade Brasileira contra Escravidão


realizando a partir de então diversas ações que somado a outros fatos culminou na abolição de
1888. Uma de suas obras de grande destaque “O Abolicionismo” teve sua publicação no ano
de 1883, mostrando sua posição enquanto abolicionista em relação à escravidão. Segundo
Nabuco a emancipação era apensa a tarefa imediata do abolicionismo, existia a necessidade
de se apagar os efeitos causados pelos três séculos de vigência da escravidão:

O abolicionismo, não é só isso e não se contenta com ser advogado Ex


offício da porção da raça negra ainda escravizada; não reduz a sua missão a
promover e conseguir no mais breve prazo possível resgate dos escravos
ingênuos. Essa obra de reparação vergonha ou arrependimento, como
queiram chamar da emancipação dos atuais escravos e seus filhos é apenas a
tarefa imediata do abolicionismo. Além dessa, há outra maior a do futuro: a
de apagar todos os efeitos de um regime que, há três séculos, é uma escola
de desmoralização e inércia, de servilismo e irresponsabilidade dos senhores.
(NABUCO, 2003, p.27)

A obra “Um Estadista do Império” foi publicada em 1886, sendo apresentada a vida de
seu pai o senador Nabuco de Araújo junto a uma análise de questões econômicas e sociais do
Brasil. Nabuco se tornou um dos grandes representantes do abolicionismo. Protagonizando
fatos que contribuíram na luta contra a escravidão. O abolicionista também foi representante
do país em importantes atividades diplomáticas, como o cargo de embaixador do Brasil em
Washington.

Os principais temas que envolviam o discurso de Nabuco eram o abolicionismo,


trabalho livre, democratização do solo, universalização da instrução pública e outros.
Identificamos que a liberdade de consciência permeava as falas do abolicionista, como um
aspecto importante para que o progresso ocorresse no Brasil, esta liberdade seria para Nabuco
a separação do estado sob a tutela da Igreja. Sendo a secularização um dos pilares
fundamentais para se moldar a sociedade, e para se alcançar a liberdade de consciência.

Como outros abolicionistas, Nabuco também almejava a construção de uma nação


moderna. Para ele não havia somente um atraso econômico, o moral se mostrava mais latente.
A luta deste intelectual buscava retirar o Brasil de uma status de atraso, por isto na obra “O

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abolicionismo” nos é apresentado propostas de um país modernizado, que traz a tona


discussões como sufrágio universal, mão de obra livre e a instrução pública.

O conhecimento era um degrau para que se alcançasse o sonhado objetivo da


modernização do país. Para Nabuco (2003) o conhecimento científico proporcionaria a
formação de uma opinião pública, tendo assim condições de exercer sua cidadania,
demonstrando em seus discursos a necessidade da universalização da instrução pública.

Nabuco (2003) percebia a educação para além do mundo escolar, identificava na


instrução uma ferramenta que auxiliava na construção da sociedade imperial brasileira
moderna. Devido o contexto histórico que o Brasil estava inserido, ocorreram mudanças na
força de trabalho escrava. A modificação na mão de obra exigia a modernização da sociedade
civil, e estas mudanças se relacionavam com questões educacionais da população. A instrução
pensada neste contexto envolvia o escravo liberto, pois as ações graduais voltadas para a
libertação do negro já ocorria desde 1871, com a Lei do Ventre Livre. Ou seja, com a mão de
obra livre. Nabuco travava discussões sobre a necessidade de se pensar uma instrução para
esta nova população. Escreveu ele que:

A liberdade sem o trabalho não pode salvar este país da bancarrota social da
escravidão, nem merece o nome de liberdade; é a escravidão da miséria. O
trabalho sem a instrução técnica e sem a educação moral do operário não
pode abrir um horizonte à nação brasileira. (NABUCO, [1884] 2014, p.65).

O abolicionista, pensava um projeto que envolvesse o negro, pois para ele somente a
inserção dessas populações na sociedade brasileira levaria a acabar com aspectos ocasionados
pela escravidão,era preciso ter fim, não só o cativeiro, mas apagar os efeitos produzidos pela
escravidão. Nabuco afirma que:

Quando mesmo a emancipação total fosse decretada amanhã, a liquidação


desse regime daria lugar a uma série infinita de questões, que só poderiam
ser resolvidas de acordo com os interesses vitais do país pelo mesmo espírito
de justiça e humanidade que dá vida ao abolicionismo. Depois que os
últimos escravos houverem sido arrancados ao poder sinistro que representa
para a raça negra a maldição da cor, será ainda preciso desbastar, por meio
de uma educação viril e séria, a lenta estratificação de trezentos anos de
cativeiro, isto é, de despotismo, superstição e ignorância. E enquanto a nação
não tiver consciência de que lhe é indispensável adaptar à liberdade cada um

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dos aparelhos do seu organismo de que a escravidão se apropriou, a obra


desta irá por diante mesmo quando não haja mais escravos (NABUCO,
2003. p.28)

Para Nabuco a libertação dos escravos era importante na luta abolicionista, porém não
era o fim, e sim o começo para se pensar um projeto de formação do país em novos moldes.
Somente a libertação não iria retirar as desigualdades e mesmo os preconceitos gerados por
três séculos de permanência da escravidão. Sendo necessário se pensar a inclusão do ex-
escravo como elemento social, direcionando a país a modernização.

É preciso muito mais do que as esmolas dos compassivos, ou a generosidade


do senhor, para fazer desse novo cidadão uma unidade, digna de concorrer,
ainda mesmo infinitesimalmente, para a formação de uma nacionalidade
americana. (NABUCO, 2003. p.172)

Em ambos os pensamentos de Rebouças e Nabuco acerca do abolicionismo,


encontramos o argumento de que a libertação era necessária, mas não seria capaz de levar o
país a progresso. Ambos identificavam que sem os devidos estímulos aos ex-escravos não era
possível o tornar cidadão. Era preciso pensar as reformas modificando o entendimento desde
os escravos aos senhores, sendo necessária a educação, que atuaria auxiliando para formar na
mente dos indivíduos uma nova estrutura social brasileira.

Mesmo tendo um pensamento reformista, vale lembrar que Nabuco não desejava o fim
da escravidão de forma radical e sim gradual, pacífica de acordo com as leis, e as reformas
sociais pensadas pelo abolicionista também deveriam também ocorrer por meio destas.

A autora Izabel Andrade Marson (2008) na obra “Política, história e método em


Joaquim Nabuco: tessituras da revolução e da escravidão” nos expõe que o abolicionista não
almejava uma abolição que envolvesse soluções rápidas ou mesmo extremas, ao contrário
desejava que o processo de abolição ocorresse de acordo com a ordem, para ele os direitos
sociais seriam conquistados mediante a lei:

O abolicionismo propôs uma intervenção ponderada e pacífica no tempo e


lugar adequados: um projeto de emancipação do monopólio do cativeiro,
uma "segunda independência" do país a ser realizada por um partido político
no âmbito do Parlamento e por meio de leis. (MARSON, 2008 p.111)

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Nabuco deixa explícito em suas falas à necessidade de se construir um Brasil


modernizado, e nesta construção o negro se fazia presente, sendo necessária a extinção total
do cativeiro, somada a um projeto de inserção que retirasse os efeitos da escravidão. Nabuco
se preocupava com o fato do negro vir a ser liberto, e se tornar um indivíduo excluído. Desta
forma identificava na reforma política o caminho para a real cidadania, e nesta se destaca
educação, sendo um dos elementos que auxiliavam na construção da sociedade imperial
brasileira, levando o negro a se tornar cidadão.

4.CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao analisarmos nomes de destaque do período imperial, André Rebouças e Joaquim


Nabuco. Identificamos intelectuais que almejavam mudanças para questões sociais,
econômicas e políticas do Brasil, buscando uma real cidadania, sem distinção entre brancos e
negros. Os dois abolicionistas aqui trabalhados deixam claro em seus discursos o desejo de
mudanças, tendo este artigo atribuindo destaque para questões educacionais, à instrução dos
escravos na perspectiva dos abolicionistas.

Entre os diversos acontecimentos do período imperial, identificamos nos discursos de


Rebouças e Nabuco a latência quanto à modernização do Brasil, expondo assim a necessidade
da educação ser visionada como algo fundamental, pois por meio desta ocorreria à
transformação do negro liberto em um profissional com qualificação, se tornando um cidadão
brasileiro, por meio da “instrução pública”. O que se identifica nos discursos de ambos
abolicionistas, é a busca em transformar o negro liberto em um indivíduo instruído, se
preparando para o progresso do país, propondo direitos de cidadania, e ações que mudassem o
quadro da desigualdade social do país.

Ambos os abolicionistas, demonstravam em suas falas e discursos que a atenção


deveria se direcionar para o trabalho, mas em especial para a educação. Ou seja, os
intelectuais argumentavam que a libertação dos escravos era necessária, porém identificavam
nesta algo vazio que não chegaria aos objetivos de modernização e progresso do país, era
preciso proporcionar a inserção dos negros libertos como cidadãos. Sendo assim visionavam
no âmbito educacional um aspecto para formar na mente dos brasileiros uma nova estrutura
social do país, sendo um estimulo para levar este indivíduo a se tornar cidadão.

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Identificamos em Nabuco e Rebouças suas relações com o contexto imperial,


visualizando a ligação dos intelectuais abolicionistas com a educação, buscamos expor o que
estes diziam sobre o âmbito educacional ou “instrução universal”. Ambos os autores
demonstravam que a educação era a alavanca que levaria ao progresso da população
Brasileira, pensavam a efetividade da educação. De modo geral, a educação “instrução
universal” para os negros libertos ou mesmo para as crianças não antecipa mudanças radicais
para a condição do ex-escravo, que muitas vezes continuava envolvido com o trabalho
agrícola. Em seus discursos tanto Nabuco, quanto Rebouças destacavam pensamentos
identificados como modernistas para o país, tendo a libertação somada a reformas sociais,
como a educação, garantindo aspectos para a cidadania.

5. REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, WlamyraR. de; FILHO, Walter Fraga. O fim da escravidão e o pós-


abolição. In:______. Uma história do negro no Brasil. Brasília: Fundação Cultural
Palmares, 2006. p.173-199.
CARVALHO, José Murilo de (org.). José do Patrocínio: A campanha Abolicionista. Rio de
Janeiro: FBN, 1996.
CARVALHO, M. A. R. O quinto século: André Rebouças e a construção do Brasil. Rio de
Janeiro: Revan, 1998.
FONSECA, Marcus Vinícius. Pretos, pardos, crioulos e cabras nas escolas minerais do século
XIX. In: ROMÃO, Jeruse (Org.). História da educação do negro e outras histórias.
Secretaria de educação continuada, alfabetização e diversidade. Brasília: Ministério da
educação, 2005, p. 93-116.
MARSON, I. A. Política, história e método em Joaquim Nabuco: tessituras da revolução e da
escravidão. Uberlândia: Editora da UFU, 2008

NABUCO, Joaquim. Campanha Abolicionista no Recife. Eleições de 1884. Brasília: Edições


do Senado Federal, vol. 59,
2005.
______ .Discursos Parlamentares:1879‐1888.Série Perfis Parlamentares, 26. Brasília:
Câmara dos Deputados, 1983. Disponível em:
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Acesso em 16 nov. 2014.
_________. O Abolicionismo. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2003

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PESSANHA, Andrea Santos. Da abolição da escravidão à abolição da miséria. Rio de


Janeiro, Quarte, 2005.
REBOUÇAS, André. Diário e notas autobiográficas. Livraria José Olympio, 1938.
___.Agricultura nacional. Estudos econômicos, propaganda abolicionista e democrática.
Set. de 1874 a set. de 1883. A J, Lamourex & Co., 2ª Ed.,fac-simile. Fundação Joaquim
Nabuco, Massangana, Recife, 1988.
___.Abolição Imediata e sem indenização. Pamphleto N.1. Rio de Janeiro: TypoCentral, de
Evaristo R. da Costa – Travessia.
SILVA, S. M. G. dos.André Rebouças e seu Tempo. Petrópolis: Vozes, 1985.

VERÍSSIMO, J. I. André Rebouças através de sua auto-biografia. Rio de Janeiro:


Documentos Brasileiros, 1939.

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