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Fundamentos da
Economia
São Paulo
Rede Internacional de Universidades Laureate
2015
Sumário
Capítulo 3: Macroeconomia---------------------------------------------------------------------- 5
Introdução------------------------------------------------------------------------------------------- 5
1. Introdução à macroeconomia----------------------------------------------------------------- 6
1.1-------------------------------------------------- Estrutura de análise macroeconômica-----6
1.2--------------------------------------------- Instrumentos de política macroeconômica--- 12
2. Contabilidade social-------------------------------------------------------------------------- 15
2.1 Medida do Produto e da Renda Nacional------------------------------------------------ 15
2.2 Teoria da Determinação da Renda-------------------------------------------------------- 19
2.3 Introdução à Teoria Monetária------------------------------------------------------------ 24
2.4------------------------------------------------------------------------------------- Inflação--- 31
Síntese--------------------------------------------------------------------------------------------- 34
Referências Bibliográficas----------------------------------------------------------------------- 35
Capítulo 3 Macroeconomia
Introdução
Neste Capítulo, você vai compreender as principais medidas de avaliação do comportamento de
uma economia como um todo, sendo capaz de distinguir os fenômenos da macroeconomia e da
microeconomia. Você será introduzido aos principais instrumentos da política macroeconômica,
o que lhe permitirá realizar análises práticas a partir desses. Também deverá ser apresentado
às medidas de mensuração da atividade econômica de um país, entendendo os agregados
que descrevem a economia através da produção e da circulação de bens, assim como o fluxo
monetário necessário para sua efetivação. Por fim, você será capaz de relacionar os efeitos da
atividade econômica e das expectativas dos agentes sobre o nível geral de preços da economia,
compreendendo as principais causas e consequências da inflação. Dessa forma, ao final deste
Capítulo, você entenderá como o contexto econômico no qual está inserido pode influenciar
tomadas de decisão no nível da organização, bem como de decisões pessoais.
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Macroeconomia
1. Introdução à macroeconomia
Você já deve ter percebido que, em determinados momentos, é muito fácil encontrar um emprego,
enquanto em outros, a oferta de vagas é reduzida. Também já deve ter notado que o seu salário,
que em um ano lhe permitia adquirir uma certa quantidade de produtos, em outro ano pode
não lhe dar a mesma capacidade de compra. Tais fenômenos moldam como você se insere nos
mercados de trabalho e de consumo de bens, ou seja, definem o contexto no qual você se insere
em um sistema econômico. E é justamente este o objetivo da macroeconomia: compreender e
descrever as condições econômicas que determinarão o comportamento dos agentes do mercado
(consumidores, investidores e firmas).
Essa breve contextualização provavelmente fez você refletir sobre as principais diferenças entre
a microeconomia e a macroeconomia. Conforme visto anteriormente, a microeconomia tem
o intuito de aprofundar as questões relativas ao comportamento dos agentes econômicos, de
modo a permitir a compreensão de como eles interagem nos mercados formando preços. Nesse
sentido, são objetos da microeconomia questões relativas às decisões de compra por parte do
consumidor, à alocação dos insumos produtivos para se ofertar uma quantidade que maximize
o lucro por parte da firma e à realização de investimentos para elevação de capacidade de
produção.
A macroeconomia tem como principal objetivo realizar uma análise ampla das condições
econômicas que moldam a tomada de decisão desses agentes do mercado. Ou seja, apresenta
os determinantes do desempenho econômico geral de uma economia.
Você já deve ter ouvido falar a respeito do Produto Interno Bruto (PIB). O PIB é a variável
comumente adotada para mensurar o crescimento econômico de um país. Mas você já parou
para refletir sobre o que essa taxa de crescimento quer dizer?
O PIB de um país mede o valor de mercado de todas as transações de bens e serviços finais de
uma economia em um determinado período do ano. Usualmente, o PIB pode ser medido por
meio de diferentes óticas:
• Ótica da renda: somatório da renda gerada pelos fatores de produção dentro do sistema
econômico, ou seja, salários, aluguéis e lucros.
Mas, afinal, se o PIB pode ser mensurado por meio dessas três óticas, estaríamos assumindo que
os valores apresentados por cada uma deveria ser equivalente? Isso seria possível? A resposta
é sim!
Para que possamos entender esse raciocínio, é importante voltarmos ao Fluxo Circular da Renda.
Conforme visto, toda a produção de bens finais é vendida no mercado de bens finais. Nesse
sentido, podemos inferir que o valor da produção de bens finais (ótica da produção) deverá ter
como contrapartida um gasto com essa produção (ótica da despesa). Ao mesmo tempo, essa
despesa só é possível de ser realizada na medida em que esses agentes receberam uma renda,
representada pela remuneração dos fatores de produção (ótica da renda) no Fluxo Circular da
Renda.
Mas qual a importância do PIB para a descrição e a análise do contexto econômico de um país?
De maneira geral, o PIB serve como uma medida de evolução do processo de satisfação das
necessidades de um país, ou seja, quando o PIB apresenta uma taxa de crescimento, isso pode
ser resultado de um maior volume de necessidades sendo satisfeitas; nesse contexto, podemos
afirmar que mais riqueza está sendo gerada nesse país. Mas para que possamos chegar a essa
conclusão, é muito importante distinguir o PIB Nominal e o PIB Real:
• PIB Nominal: medido a preços correntes. Isso significa que sua mensuração se dá por meio da
contabilização dos preços no ano corrente de análise;
• PIB Real: PIB Nominal corrigido pela inflação, sendo calculado a preços constantes. Para tanto,
deve-se fixar um ano e deflacionar os demais.
Imagine uma economia que produz apenas batatas, roupas e carros, conforme apresentado na
tabela a seguir:
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Macroeconomia
Note que o PIB Nominal saltou de $ 23,2 milhões em 2013 para $ 26,46 milhões em 2014, uma
taxa de crescimento de aproximadamente 14,05%. No entanto, será que a população sentiria
essa suposta elevação da riqueza gerada?
Como já discutido, a renda gerada para as empresas por meio das vendas de bens e serviços
servirá para o pagamento dos fatores de produção (salário, aluguel e lucros), os quais retornarão
à economia por meio do consumo dos bens e serviços. As empresas que comercializam os bens
dessa economia obtiveram ganhos de receita que foram, na realidade, resultado do aumento
dos preços (observe que as quantidades produzidas nos dois anos foram iguais). Nesse sentido,
a população irá gastar mais com sua cesta de consumo. Portanto, para saber se houve algum
ganho real de bem-estar, é preciso analisar o comportamento do PIB Real, cujo ano-base será
2013. Assim, vamos calcular o PIB Real de 2014, considerando os preços estabelecidos no ano-
base.
Quando calculamos o PIB dos dois anos com os preços fixados em 2013, observamos um
resultado diferente: o crescimento do PIB no período foi nulo (0%), o que nos remete à ideia de
que a atividade econômica desse país está estagnada. Por que isso aconteceu?
A riqueza gerada por uma economia refere-se ao número de necessidades humanas que são
satisfeitas por um determinado período de tempo, dada uma certa quantidade de fatores de
produção disponíveis. A tabela mostra que, de 2013 para 2014, as quantidades produzidas
de todos os bens não sofreram alteração. Isso significa que, ao longo de um ano inteiro, essa
economia foi incapaz de elevar sua capacidade de satisfação de necessidades. Portanto, o
resultado real foi um crescimento de 0%. Assim, aquele crescimento de 14,05% deveu-se à
elevação dos preços (ler tópico 1.1.3) de 14,05%, na medida em que o PIB Real não apresentou
variação de um ano para outro.
PIB Real = [PIB Nominal/Deflator]*100, onde o deflator é o número índice de inflação (você
1.1.2 Desemprego
A taxa de desemprego de uma economia é dada pela divisão do número de desempregados pelo
total da população disponível no mercado de trabalho. De maneira geral, a Teoria Econômica
distingue o desemprego por meio de três categorias: friccional, cíclico e estrutural.
O desemprego friccional é aquele que decorre de um processo natural de busca por emprego.
Imagine que você esteja empregado em um setor comercial, mas seu sonho é trabalhar na
área financeira. Depois de finalizar o processo de qualificação na área financeira, você resolve
largar seu atual emprego para perseguir seu sonho. Enquanto não encontra um novo emprego,
sua condição é de desempregado, mas note que essa situação foi perseguida por você mesmo,
de modo que podemos classificá-la como “desemprego voluntário”. Naturalmente, esse tipo
de desemprego não tende a ser preocupante, na medida em que reflete um desejo do próprio
agente que oferta trabalho no mercado de trabalho.
Por fim, temos o desemprego estrutural, que é resultado do desenvolvimento tecnológico. Esse tipo
de desemprego surge quando uma tecnologia torna obsoleto um determinado tipo de trabalho.
Foi justamente essa a razão da redução dos empregos gerados por dois setores econômicos ao
longo das últimas décadas: automobilístico e bancário. O processo de automação em ambos os
segmentos substituiu parte expressiva da mão de obra por máquinas. No setor automobilístico, a
automação inseriu robôs na linha de montagem, causando demissões em massa nas montadoras.
Já o setor bancário reduziu a demanda por serviços na agência, o que ocasionou demissões ao
instalar caixas eletrônicos, bem como os serviços feitos via internet.
1.1.3 Inflação
A inflação se refere ao movimento de elevação dos níveis de preços gerais de uma economia.
Sua mensuração se dá através de números-índices, que lhes permitirão calcular uma variação
percentual para cada período de análise. Usualmente, os indicadores de inflação são divididos
de acordo com a cesta de bens que os constitui:
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Macroeconomia
• Índice de Preços ao Consumidor: calculados a partir de uma cesta de bens consumida pela
população. Como exemplo, é possível citar o índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do
IBGE;
• Índices de Preços ao Produtor: calculados a partir de cestas compostas por matérias- primas.
Como exemplo, é possível citar o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), da FGV.
Mas, ao analisar de uma maneira prática, como a elevação de preços tende a afetar as decisões
econômicas dos agentes de mercado?
Você está em um estágio cuja remuneração mensal é de R$ 800,00. Como você é estudioso,
mas também gosta de se divertir nas horas vagas, gasta seu salário integralmente na aquisição
de livros e com atividades de lazer, como cinema e shows. Neste primeiro ano em que esteve
empregado, a média de preço do livro era de R$ 50,00 e dos gastos relativos a cada hora de
lazer era, na média, de R$ 35,00. Dadas as suas preferências, ao final do mês você costumava
gastar seu salário comprando 9 livros (R$ 450,00) e 10 horas de lazer (R$ 350,00). Ao completar
um ano no trabalho, seu chefe lhe chamou para uma reunião e anunciou um reajuste salarial
de 5%, de modo que seu rendimento agora é de R$ 840,00. Será que você aumentou sua
capacidade de compra? Para responder a essa pergunta, não basta olhar para a forma como
seu rendimento evoluiu no ano. Você também deverá questionar a maneira como os preços dos
bens que você adquire evoluiu.
Se, por exemplo, o preço do livro foi para R$ 60,00 e o da hora de lazer foi para R$ 42,00,
note que agora você deverá adquirir menores quantidades dos dois bens: a aquisição de 9 livros
lhe custaria agora R$ 540,00, enquanto a mesma quantidade de horas de lazer lhe exigiria um
montante de R$ 420,00. Nesse sentido, para manter a mesma capacidade de compra, você
deveria estar ganhando R$ 960,00, e não R$ 840,00.
Por que isso aconteceu? Perceba que os preços das mercadorias que costuma adquirir evoluíram
em 20%, ao passo que seu rendimento cresceu apenas 5%. Essa relação entre preços e renda
determina o poder de compra do consumidor. Em processos inflacionários, os rendimentos podem
crescer em menor velocidade quando comparados à evolução dos preços, de modo que, na
prática, se observa uma menor capacidade de compra. Portanto, um dos principais resultados de
processos inflacionários pode ser a corrosão do poder de compra dos indivíduos, o que resulta
em uma redução do bem-estar.
Imagine que você atue na área de compras de insumos de uma empresa. Antes de realizar os
contratos de compra com seus principais fornecedores, é absolutamente relevante que você
avalie a proposta realizada de pagamento de acordo com a sua expectativa quanto à inflação.
Por quê?
Se você acredita que o preço do insumo que está negociando vá sofrer uma elevação de preço
de cerca de 15% em 12 meses, e o seu fornecedor está disposto a fechar o contrato a preços
presentes para pagamento em duas parcelas, uma à vista e outra ao final de 12 meses, você
tende a aceitar a proposta. Isso porque, mesmo exigindo 50% do pagamento no ato da assinatura
do contrato, ao final do período você deveria pagar 15% a mais pelo restante da compra. Logo,
as expectativas quanto à inflação são muito importantes para diversos tipos de decisões no nível
da firma.
Os ciclos que os negócios encontram têm relação direta com as fases do crescimento econômico,
ou seja, estão ligados ao comportamento do PIB Real. Mais do que isso, a fase na qual se
encontra a economia tende a “puxar e ser puxada” pelo comportamento das demais variáveis
macroeconômicas, como desemprego e inflação. Por isso, mensurar e prever de maneira correta
os ciclos econômicos nos quais as empresas se inserem é de extrema importância para a tomada
de decisão.
O comportamento do PIB Real não segue uma tendência linear de crescimento, apresentando
flutuações ao longo do tempo, o que caracteriza períodos de crescimento econômico seguidos
de estagnação e/ou recessão. Apesar das flutuações, as economias tendem a apresentar uma
tendência de crescimento entre um ciclo e outro, que representa os avanços econômicos que
temos ao longo do tempo. Dessa forma, se formos representar o fenômeno dos ciclos dos
negócios, encontraremos algo conforme se segue:
Figura 1 – Ciclos econômicos. Fonte: DORNBUSCH, R.; FISCHER, S., 1991, p. 17.
Dessa forma, saber identificar a fase do ciclo na qual se encontra o negócio é extremamente
importante tanto para os decisores quanto para os formuladores de política econômica. Em
relação a estes últimos, o diagnóstico correto permite a formulação e a implementação de
políticas macroeconômicas adequadas como forma de acentuar os resultados da economia em
fases de crescimento, bem como atenuar e combater as implicações das recessões.
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Macroeconomia
Você deve lembrar que alguns anos atrás o governo federal concedeu uma série de benefícios
fiscais, como a redução do IPI (Imposto Sobre os Produtos Industrializados) em setores que
vendiam bens de consumo duráveis, como automóveis, geladeiras e fogões. É possível que você
também já tenha percebido que, em algumas fases, o governo inicia uma série de obras de
infraestrutura.
Mas, afinal de contas, qual a relação dessas medidas com os objetivos de política econômica?
Quando o governo pretende estimular a atividade econômica por meio dos instrumentos fiscais,
tende a elevar seus gastos e reduzir os impostos, caracterizando uma política fiscal expansionista.
Voltando aos exemplos apresentados, quando o governo reduziu o IPI, permitiu que os produtos
beneficiados fossem vendidos a preços mais baixos. A redução de preço, por sua vez, eleva a
demanda por esses bens. Essa elevação da demanda dos bens exige, em contrapartida, uma
maior disponibilidade de renda para o consumo. Nesse sentido, esse tipo de medida tem maior
efeito quando conjugada a uma maior massa salarial. É justamente nesse ponto que inserimos
na análise a segunda medida apresentada: elevação dos gastos públicos. Quando o governo
executa obras de infraestrutura, gera empregos diretos e indiretos. Ao gerar emprego, eleva a
renda disponível na economia, que será gasta em bens e serviços. Dessa forma, a maneira pela
qual o governo executa seus gastos e estrutura sua forma de arrecadação determina o tipo de
política fiscal, a qual está submissa aos objetivos de desempenho econômico.
Assim, os dois principais instrumentos de Política Fiscal são a Política de Gastos e a Política
Tributária, os quais apresentam diferentes tendências para cada objetivo fiscal: expansão ou
contração da atividade econômica.
Política de
Gastos
Política Tributária
Fonte: Autor.
Para tanto, devemos nos ater aos possíveis efeitos de uma política fiscal expansionista nos cofres
públicos e na inflação.
Por outro lado, a política fiscal expansionista, ao mesmo tempo em que eleva os gastos do governo,
reduz sua arrecadação, ocasionando um déficit público. O déficit público é resultado de uma
situação em que o governo gasta mais do que arrecada. Assim como você pode eventualmente
gastar mais do que a renda que tem disponível, o governo também pode. Mas essa situação não
se sustenta no longo prazo. Nesse sentido, uma política fiscal contracionista tem como um dos
seus objetivos o ajuste das contas públicas.
Já vimos no fluxo circular da renda que toda compra de bens e serviços exige como contrapartida
um pagamento. Na medida em que temos a moeda como meio de troca, toda transação exige um
estoque de moeda para ser efetivado. É justamente nesse sentido que surge a política monetária,
que estabelece a forma de atuação do governo sobre a quantidade de moeda disponível na
economia.
Para que os agentes econômicos respondam de maneira desejada em cada um desses instrumentos
apresentados, o BACEN utiliza a taxa de juros como sinalizador. Por exemplo, quando há elevação
da taxa, o retorno dos títulos públicos fica mais atrativo. Os agentes econômicos compram esses
títulos, entregando ao BACEN (vendedor do título) a moeda que estava em circulação. Dessa
forma, o BACEN consegue reduzir a quantidade de moeda em circulação, o que tende a frear os
processos inflacionários.
Assim como a política fiscal, a política monetária pode ser dividida de acordo com o seu fim:
• Política monetária expansionista: redução da taxa de juros com elevação da moeda circulante
na economia.
A política externa estabelece a forma como o governo controla as variáveis relativas ao setor
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Macroeconomia
A política cambial refere-se a como o governo administra o valor da sua moeda em comparação
a outras, ou seja, sua taxa de câmbio. O valor da taxa de câmbio tem uma relação direta com
os fundamentos do mercado de câmbio, ou, em outras palavras, com a oferta e demanda por
moeda estrangeira.
• Regime de Câmbio Fixo: nesse tipo de regime, o BACEN se compromete a manter fixa a taxa de
câmbio. Para tanto, deverá utilizar as reservas internacionais para manter fixo o preço da moeda;
• Regime de Câmbio Flutuante: nesse caso, o BACEN não atua no mercado de câmbio, assim a
taxa flutua de acordo com a interação entre oferta e demanda de moeda estrangeira.
O governo também pode atuar nas relações externas por meio de políticas que visem alterar os
fluxos de mercadorias entre o seu país e os demais, ou seja, pode estabelecer instrumentos que
estimulem e/ou desincentivem importações e exportações.
Já as importações são os bens comprados por um país que foram produzidos em outro. As
políticas que visam incentivar a entrada de produtos importados em um país podem ter como
objetivo, por exemplo, a modernização de um parque fabril. Nesses casos, o governo tende
a reduzir impostos sobre os produtos importados que pretende beneficiar. No entanto, muitas
vezes a intenção do governo está no estímulo à indústria local, fazendo-lhe tomar medidas que
coíbam a entrada de importados. Como exemplo, temos a imposição de barreiras que podem ter
natureza tarifária (impostos) e quantitativas (cotas de importação).
As políticas de renda constituem-se por meio da atuação direta do governo sobre as rendas
(em especial, salários e aluguéis). O instrumento de atuação se dá através do controle e do
congelamento desses rendimentos.
Dessa forma, o estabelecimento de um salário mínimo a ser praticado em uma economia está no
âmbito da política nacional de renda. Também temos as políticas de congelamento de preços,
comumente empregadas nos planos econômicos anti-inflacionários.
Todas essas medidas, contudo, são apenas instrumentos auxiliares que dão “dicas” a respeito do
comportamento da atividade econômica. Na prática, conforme já vimos inicialmente, precisamos
entender o processo de mensuração do Produto Nacional e da Renda Nacional. Para tanto,
imaginemos uma economia que produza apenas dois tipos de bens: alimentos e vestuário, tendo
os seus resultados apresentados na tabela a seguir:
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Macroeconomia
Observe que a tabela apresentada não contempla a mensuração dos insumos intermediários.
Por exemplo, para fabricar alimentos, foi necessário utilizar sementes, defensivos, entre outros
insumos. Da mesma forma, para produzir vestuário, é necessário utilizar fibras, tecidos etc. Por
que, ao expor o processo de Mensuração do Produto e da Renda Nacional, não contabilizamos
as transações intermediárias, ou seja, as transações que se referem à compra de insumos e
que ocorrem entre empresas? A resposta para essa pergunta é muito mais simples do que se
imagina, pois o valor dessas transações já está “embutido” no preço final dos produtos vendidos
ao mercado consumidor. Nesse sentido, se contabilizássemos esse tipo de transação no produto
nacional, enfrentaríamos um problema de “dupla contagem”.
Isso quer dizer que as transações intermediárias nunca deverão ser contabilizadas? Não. Para
fazermos isso, precisamos nos ater ao processo de mensuração do Valor Adicionado, ou seja, a
discriminação do quanto cada insumo adiciona valor ao produto final.
Nessa tabela, temos discriminado o valor das vendas de cada estágio da produção (1), com os
custos inerentes a cada um (2). Como estabelecemos que a madeira é extraída diretamente da
natureza, não atribuímos custo a essa etapa. Como o corante estava estocado, também não
foi atribuído custo algum. As tintas, por sua vez, apresentam os custos de produção relativos à
compra do corante para sua fabricação, e o papel, da madeira. Assim, temos que o somatório
do valor da produção de bens é de $ 490 mil; desse valor, $ 290 mil referiram-se à aquisição de
matérias-primas, de modo que o Valor adicionado à produção totalizou $ 200 mil.
A contabilização da produção leva em consideração o valor gerado pela venda dos livros
e dos bens intermediários, os quais devem ser subtraídos. A descrição da renda estabelece
o detalhamento da remuneração em todas as atividades, as quais devem bater com o Valor
adicionado à produção de livros.
Todavia, conforme apresentado no início deste Capítulo, a identidade entre Produto Nacional
e Renda Nacional também é válida para a despesa nacional. Quando o sistema econômico é
composto de famílias, empresas, governo e também realiza transações comerciais com o cenário
externo, vamos caracterizar a despesa nacional através da soma dos gastos de cada um desses
agentes com o produto nacional:
DN = C + I + G + (X-M), onde:
C = despesas das famílias com bens de consumo; I = Despesas das empresas com investimentos;
G = gastos do governo; X = exportações e M = importações.
Até então, supomos que as famílias gastam sua renda disponível na aquisição de bens de
consumo. Mas e se elas decidirem poupar parte de sua renda para cobrir emergências que
possam surgir em algum momento futuro?
A poupança é a parcela da renda que não é gasta em consumo no período analisado, ou seja,
refere-se ao montante gerado pelo pagamento dos fatores de produção (salários, juros, aluguéis
e lucros) às famílias que não foi destinado ao consumo de bens.
S = RN – C, onde:
O investimento refere-se a toda alocação de recurso que visa aumentar a capacidade de produção
das empresas inseridas no sistema econômico. Nesse sentido, envolve a aquisição de máquinas e
equipamentos (bens de capital) e a variação de estoques de produtos não consumidos.
É importante lembrar que essa definição não contempla investimentos em aplicações financeiras,
pois esses não aumentam a capacidade física de produção das empresas. Da mesma forma, a
aquisição de maquinários usados também não deve entrar na contabilização, pois se de um lado
está elevando a capacidade de produção de quem compra, de outro, alguém está se desfazendo
desta, ou seja, alguém realizou um “desinvestimento”. Nesse caso, incorreríamos no mesmo erro
de dupla contagem discutido anteriormente.
Como todo equipamento tem uma vida útil, chega um dado momento que a empresa que o
utiliza precisa substituí-lo. Toda reposição de um maquinário já obsoleto não eleva a capacidade
de produção, mas a mantém. Nesse sentido, ao inserirmos na análise o conceito de depreciação,
cria-se uma nova medida do Produto Nacional, o Produto Nacional Líquido (PNL):
Por exemplo, imagine uma empresa brasileira que tenha uma filial localizada na França. Nesse
caso, temos um capital nacional sendo empregado em outro país, mas que pode remeter lucros
para cá. Ao mesmo tempo, temos muitas empresas estrangeiras operando em território nacional;
para fabricar os produtos, utilizam mão de obra e matéria-prima daqui, mas remetem seus lucros
para as matrizes. Por meio desses dois exemplos, podemos desenhar um fluxo de capital que
não respeita fronteiras: rendas geradas em outros países são constantemente remetidas para cá,
assim como empresas de capital estrangeiro remetem rendas geradas internamente. Delimitamos
que a diferença entre esses dois movimentos (entrada e saída de capital), que decorrem de
transferências externas, caracteriza a Renda Líquida dos Fatores Externos (RLFE):
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Macroeconomia
Vimos também que a política fiscal atua diretamente sobre esses movimentos. John Maynard
Keynes foi o principal responsável por mostrar o papel da política fiscal na condução da economia
ao pleno emprego, ou seja, a importância da política fiscal na correção das flutuações de curto
prazo do produto nacional.
Mas para que possamos entender de fato as implicações dessas medidas sobre a inflação, vamos
discorrer sobre a Teoria de Determinação da Renda tendo como ponto de partida o modelo
keynesiano básico.
Antes de detalharmos o modelo, faz-se necessário estabelecer algumas hipóteses que moldarão
as nossas variáveis de análise.
Keynes acreditava que a economia vive flutuações de curto prazo, ou seja, o nível do produto
nacional é dado em uma situação em que há desemprego e outros recursos produtivos ociosos.
Nesse sentido, discutiremos a seguir o impacto dessa suposição para o formato da curva de
oferta agregada.
A principal implicação dessa suposição refere-se ao fato de que os produtores (ofertantes) nessa
economia, ao produzirem sempre com capacidade ociosa e em um cenário de desemprego,
quando há um choque positivo de demanda, podem elevar sua produção sem haver qualquer
necessidade de elevação de preços.
Para entender o que isso quer dizer, imagine que você é um fabricante de ventiladores e que o
verão tem apresentado temperaturas muito elevadas, o que impulsiona a demanda acima da sua
expectativa. Tendo em vista que possui algumas máquinas ociosas no processo produtivo, e que
há desemprego na economia, você consegue elevar sua produção sem ter que elevar os preços
dos ventiladores.
No entanto, se essa economia alcança o pleno emprego dos recursos, torna-se impossível
aumentar a produção, mesmo com elevações no nível de preços, pois todos os insumos disponíveis
para a produção já estão devidamente alocados em estruturas produtivas.
Se formos representar a oferta agregada dessa economia, considerando os dois cenários expostos,
teremos a seguinte situação:
Figura 2 – Curva de oferta agregada. Fonte: Adaptado de LANZANA; VASCONCELLOS, 2011, p. 256.
Em um cenário de curto prazo, é bastante razoável imaginar que haja tal limite. Contudo,
quando expandimos o horizonte temporal da análise, percebemos que esse limite é possível de
ser alterado. Para que possamos compreender tal processo, voltemos ao conceito da Curva de
Possibilidades de Produção (CPP).
Por exemplo, uma elevação da produtividade em uma economia significa que, para um mesmo
nível de emprego de recursos, tem-se uma maior quantidade de bens sendo gerados. Um dos
eventos mais comuns capazes de elevar a produtividade é o progresso tecnológico.
DA = C + I + G + (X – M), onde:
Na medida em que elevações de preços reduzem o poder de compra dos agentes do sistema
econômico, dizemos que a curva de demanda agregada é negativamente inclinada:
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Macroeconomia
2.2.1.3 Equilíbrio
Como já havíamos determinado que Despesas são exatamente iguais ao Produto em uma
economia, o equilíbrio macroeconômico de curto prazo se dá no ponto em que a Demanda
Agregada se iguala à Oferta Agregada (DA = OA).
Assim, chega-se à conclusão de que, mediante cenários de desemprego, é possível elevar a renda
de equilíbrio dessa economia sem haver qualquer tipo de pressão inflacionária. Dessa forma,
conforme já discutido, para se elevar o produto sem pressões inflacionárias no longo prazo, é
imprescindível elevar a produtividade do trabalho por meio do desenvolvimento tecnológico.
Na medida em que existe governo em um sistema econômico, supomos que a renda disponível se
caracterizará como a renda livre de impostos que poderá ser destinada para aquisição de bens.
Nesse sentido:
Yd = Y – T, onde
Dado que existe um nível de consumo de sobrevivência, supõe-se que há uma parcela do
consumo que será independente do nível de renda disponível, a qual chamaremos de “consumo
autônomo”. Por outro lado, ao assumir a existência de poupança na economia, supomos que
nem todo acréscimo de renda é gasto integralmente em consumo. Surge então o conceito de
Propensão Marginal a Consumir, o que nos permite chegar à seguinte função de consumo
agregado:
C = a + bYd, onde:
Como estabelecemos a existência de poupança por parte dos agentes econômicos, vamos
precisar conceituar a poupança agregada: montante da renda nacional disponível que não foi
gasto em consumo. Reflete, portanto, o consumo abdicado no presente para poder ser efetivado
no futuro.
S = Yd - C, onde
Da mesma forma que para montar a função de consumo tivemos que estabelecer um coeficiente
no qual cada renda gerada se traduzia em consumo (propensão marginal a consumir), precisamos
adotar o mesmo procedimento para a poupança. Como a renda disponível ou é gasta em
consumo ou é poupada para consumo futuro, temos que a propensão marginal a poupar é:
S = Yd – (a + bYd)
S = Yd – a - bYd
Vamos entender essa relação entre propensão marginal a poupar e consumir através de um
exemplo prático. Diversos estudos apontam que países menos desenvolvidos tendem a apresentar
menores níveis de propensão marginal a poupar. Isso ocorre, pois a renda gerada neles é menor
do que em países desenvolvidos. Nesse sentido, as pessoas não têm um hábito de formação de
poupança.
Imaginemos que no Brasil, em média, a cada R$ 100 de renda gerada, R$ 15 são poupados e o
restante, R$ 85,00, são gastos. Nesse sentido, 15% da renda gerada se transforma em poupança,
ao passo que 85% é gasta no consumo de bens. Logo, a propensão marginal a consumir é igual
a 0,85, ao passo que a propensão marginal a poupar é igual a 0,15.
Por fim, vamos discorrer sobre o investimento agregado, caracterizado por um estoque
de capital que é revertido na aquisição de bens que sejam capazes de elevar a capacidade
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Macroeconomia
de produção das firmas. Como o investimento agregado é resultado da decisão das firmas,
independe do nível de renda disponível. Seus determinantes referem-se à rentabilidade esperada
com a aquisição do ativo e à taxa de juros do mercado.
• Se a taxa de juros superar a rentabilidade, significa que o custo será maior do que o retorno,
logo, não investe;
• Se a taxa de juros foi inferior à rentabilidade, significa que o custo é menor do que o retorno,
compensando investir.
[...] As comunidades têm negociado entre si desde, pelo menos, a última Idade Glacial.
Temos provas de que caçadores de mamutes das estepes russas obtiveram em troca
conchas mediterrâneas, o mesmo acontecendo com os caçadores do Cro-Magnon dos
vales centrais da França. De fato, nas charnecas da Pomerânia, no Nordeste da Alemanha,
arqueólogos encontraram uma caixa de carvalho repleta com os restos de suas alças de
couro originais, na qual havia uma adaga, uma cabeça de foice e uma agulha, tudo
de fabricação da Idade do Bronze. De acordo com as conjecturas dos especialistas, era
muito provável que isso fosse o mostruário de um protótipo de vendedor ambulante, um
representante itinerante que recolhia encomendas para a produção especializada de sua
comunidade. (HEILBRONER, 1980, p. 39).
Por meio desse processo de evolução, define-se que a moeda deve cumprir três funções básicas:
1. Meio de troca: permite que as trocas ocorram de maneira ágil dentro de um sistema econômico.
Foi justamente o desenvolvimento dessa função da moeda que permitiu a especialização e a
divisão do trabalho.
2. Unidade de conta: permite que se comparem os valores das mercadorias, tendo uma base
monetária comum. O desenvolvimento dessa função permite que a moeda seja utilizada para
fins puramente contábeis.
A unidade monetária de cada país é definida por lei. No Brasil, temos o Real, representado
simbolicamente por “R$”; nos Estados Unidos, o dólar (US$); na Inglaterra, a Libra Esterlina (£)
etc.
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Macroeconomia
O Papel Moeda em Poder do Público (PMPP) é definido como o montante de dinheiro que
está disponível ao setor privado não bancário e que pode ser convertido imediatamente em
transações (mais elevado grau de liquidez¹). Se somá-los ao dinheiro que está no caixa dos
bancos, chegamos ao montante de Papel Moeda Emitido (PME).
O Banco Central (BACEN) obriga os bancos comerciais a manterem uma reserva de moeda no
próprio Banco Central, dando origem à nossa Base Monetária:
Você deve estar se perguntando onde entra na contabilização do estoque de moeda o dinheiro
que não está no caixa dos bancos, ou que não está em circulação na economia. Seria esse o
caso do dinheiro aplicado em títulos financeiros? Dado que aplicações financeiras não têm o
mesmo grau de liquidez do papel moeda, criam-se diferentes agregados monetários, ordenados
de acordo com o grau de liquidez (onde M1 tem o maior grau de liquidez, e M4 o menor):
¹ Entende-se por liquidez a capacidade de conversão de um ativo em seu sentido mais comum: papel moeda e moeda escritural. Quanto maior o grau
de liquidez, mais facilmente se converte o ativo em dinheiro. Quanto menor o grau de liquidez, mais difícil será realizar a conversão.
Apesar do monopólio na emissão de moeda por parte do BACEN, os bancos comerciais atuam
ativamente na criação de moeda em um sistema econômico. Para que possamos compreender
como isso ocorre, é importante entender alguns mecanismos de atuação dos bancos.
Quando você realiza um depósito em conta corrente, o dinheiro depositado não fica parado,
pois o banco sabe que as pessoas não costumam resgatá-lo integralmente em poucas horas ou
dias. Nesse sentido, o banco pega o seu depósito e o transforma em crédito para outra pessoa,
por meio de linhas de empréstimo. Mas essa conversão não se dá em seu valor integral, pois o
banco sabe que, apesar de não resgatar integralmente o dinheiro, os saques ocorrem ao longo
de um determinado período. Nesse sentido, eles mantêm uma parcela do depósito em cofres.
Esse valor guardado deverá ser revertido para as operações de caixa dos bancos comerciais, e
é definido como o somatório das reservas técnicas, compulsórias e voluntárias junto ao BACEN.
Para ilustrar esse efeito de criação de moeda, imaginemos um depósito inicial de $ 100,00 em
uma economia cuja porcentagem de reserva dos bancos comerciais sobre os depósitos à vista é
de 20%. Isso significa que desse depósito inicial de $ 100,00, $ 20,00 ficam em poder do banco
e os $ 80,00 restantes viram empréstimo. Quem tomou esses $ 80,00 emprestados realiza algum
pagamento que tende a virar um novo depósito, o que, por sua vez, gera um novo empréstimo,
conforme apresentado na tabela a seguir:
Pelos dados apresentados, observa-se que, com uma necessidade de reserva de 20%, a cada $
100,00 depositados, geram-se $ 500,00 em circulação. Assim, é possível descrever esse efeito
multiplicador da moeda como:
m = 1/r, onde:
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Macroeconomia
m = M/B, onde:
M = saldo dos meios de pagamentos (moeda em poder do público + saldo dos depósitos à
vista).
B = saldo da base monetária (saldo da moeda em poder público + total das reservas bancárias).
Resta-nos, portanto, entender, o que leva as pessoas a reterem moeda, ou seja, manter a moeda
em mãos sem aplicá-la em algum título financeiro que lhe renda alguma remuneração (juros).
Como os compulsórios foram utilizados para fazer face aos efeitos no Brasil,
da crise internacional de 2008 (Crise do Subprime)?
A demanda por moeda se constitui como o estoque de moeda que não está em poder das
instituições financeiras, ou seja, o que está nas mãos do público ou nos depósitos à vista em
bancos.
a) Necessidade de realizar transações: as transações do dia a dia, como gastos com alimentação,
locomoção, lazer etc. Quanto maior a renda, maior tende a ser o volume retido de moeda;
b) Precaução: muitas pessoas e empresas retêm uma certa quantia de dinheiro para cobrir
despesas imprevistas que podem vir a surgir, como um pneu furado, atraso no recebimento de
algum valor devido etc. A demanda por moeda por precaução também tem relação positiva com
o nível de renda;
Assim como já vimos que a inflação pode corroer o poder de compra da população, ela tem
um papel relevante nas decisões relativas a investimentos. Nesse caso, é de suma importância
distinguir a taxa de juros nominal da taxa de juros real.
• Taxa de juros nominal: “[...] mede o preço pago ao poupador por suas decisões de poupar,
ou seja, de transferir o consumo presente para o consumo futuro.” (VASCONCELLOS; GARCIA,
1998, p. 143).
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Macroeconomia
• Taxa de juros real: “[...] mede o retorno de uma aplicação em termos de quantidades de bens,
isto é, já descontada a taxa de inflação.” (VASCONCELLOS; GARCIA, 1998, p. 143).
Para entender de maneira clara os dois conceitos, imaginemos um mês que apresentou uma
inflação de 1,2%. Nesse mesmo mês, a taxa de juros nominal foi de 10%. Qual deverá ser a taxa
real de inflação?
Para realizar esse cálculo, precisamos estabelecer a fórmula da taxa de juros real:
r = [(1+i)/(1+π)] – 1, onde:
i = 0,1; π = 0,012
Aplicando a fórmula:
r = [(1+0,1)/(1+0,012)] – 1
r = (1,1/1,012) – 1
r = 0,087
Na medida em que toda transação que compõe o lado real da economia exige uma contrapartida
monetária, chega-se à conclusão de que o produto nacional precisa ter uma correspondência
com o total de meios de pagamento da economia. Por que não afirmamos de uma vez que eles
precisam se igualar?
Porque a moeda não fica parada. Uma mesma unidade monetária pode ser a base de mais de
uma transação. Imagine que você saque uma parcela do seu salário e vá realizar compras. O
dinheiro que você utiliza servirá como troco de alguma outra venda. Esse troco será utilizado em
outra transação, e assim por diante. Então, para que se possa estabelecer essa correspondência,
faz-se necessária a elucidação de mais um termo: velocidade-renda da moeda.
Seu cálculo é dado por meio da divisão do PIB nominal pelo saldo dos meios de pagamento (M):
V = PIB nominal/M
Agora, sim, é possível realizar a ligação entre os lados real e monetário de uma economia,
equação construída no âmbito da Teoria Quantitativa da Moeda:
MV = Py, onde
Finalmente estamos aptos a entender como a alteração da oferta de moeda pode impactar a
atividade econômica e a inflação em uma economia. Para tanto, vamos entender o impacto de
uma política monetária mediante dois cenários: pleno emprego e desemprego.
Cenário de pleno emprego: quando há pleno emprego, expansões da demanda agregada não
são acompanhadas pela elevação da oferta no curto prazo, o que se traduz em inflação. Nesse
sentido, quando há inflação, em termos de política monetária, o desejo do Banco Central se
traduz no combate da inflação. Para tanto, ele deverá reduzir o estoque de moeda disponível
como forma de desacelerar o processo inflacionário.
M V P y
=
(queda) (constante) (queda) (constante)
Fonte: VASCONCELLOS; GARCIA (1998).
M V P y
=
(aumenta 10%) (constante) (constante) (aumenta 10%)
Fonte: VASCONCELLOS; GARCIA (1998).
2.4 Inflação
A inflação é a elevação generalizada dos preços dos bens em uma economia. Quando existente
em níveis elevados e por longos períodos de tempo, constitui-se numa ameaça ao valor real da
moeda. Mas seus efeitos vão muito além do que foi discutido até aqui. E o diagnóstico correto de
suas causas é a base para a condução de políticas fiscais e monetárias assertivas. Este Capítulo,
portanto, tem o intuito de aprofundar as causas e os efeitos de processos inflacionários na
economia.
Em linhas gerais, a literatura econômica aponta para três principais causas de processos
inflacionários: excesso de demanda, elevação de custos e tendência inercial de elevação de
preços.
Segundo o fundamento de mercado para que haja elevações nos preços dos bens, qualquer nível
de preço que estabeleça uma procura maior que a oferta, ou seja, qualquer nível de preço que
esteja abaixo do preço de equilíbrio, tende a puxar os preços para cima. Mas esse evento se
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Macroeconomia
Quando a economia está aquecida, o consumo costuma ser a variável que responde mais
facilmente a esse cenário. Nesse sentido, a demanda agregada tende a deslocar-se positivamente
em uma velocidade mais rápida do que a oferta agregada. Isso ocorre, pois a elevação da
oferta agregada exige a realização de investimentos, que costumam ter um prazo maior para
efetivação. O raciocínio é simples: para comprar, basta ter o rendimento à disposição. Para se
realizar o investimento, mesmo com o recurso financeiro em mãos, é necessário um período de
tempo para que a decisão se transforme em uma maior capacidade de produção.
Isso posto, em cenários de crescimento econômico, quando o consumo cresce a taxas mais
aceleradas do que os investimentos, há uma tendência natural para processos inflacionários.
Nesses casos, a forma mais prudente de controle são desestímulos à demanda agregada, os
quais ocorrem por meio de políticas monetária e/ou fiscal restritivas.
As empresas tendem a repassar elevações de seus custos de produção ao preço que praticam
nos mercados. Nesse sentido, qualquer elevação de custo pode se traduzir em inflação. E quanto
mais essencial for o insumo para diferentes cadeias produtivas, maior tende a ser a pressão
inflacionária.
Por exemplo, qual dos choques apresentados a seguir tende a causar maior pressão inflacionária?
Imaginemos que as plantações de laranja na Flórida sejam afetadas severamente pelos furacões
em uma determinada safra, o que fará com que o preço da laranja no mercado internacional
sofra pressões positivas. Essa elevação do preço da laranja irá alterar os custos de produção
da indústria de suco de laranja. No entanto, na economia como um todo, na medida em que o
extrato/suco de laranja não é um insumo essencial, a maioria das cadeias produtivas não sofre
impactos diretos desse aumento.
Contudo, quando os países da OPEP decidem elevar os preços do petróleo de maneira artificial,
o impacto inflacionário é muito maior. Isso ocorre, pois o petróleo é matéria-prima essencial
para uma grande quantidade de cadeias produtivas. Mas, sobretudo, o principal impacto para a
economia ocorre por alterar os preços dos combustíveis. Como a distribuição de bens depende
do deslocamento dos produtos, qualquer aumento no preço do petróleo tende a reverberar como
pressão nos custos relativos à logística, gerando pressões inflacionárias significativas.
Mas um dos exemplos mais discutidos a respeito da inflação de custos refere-se aos impactos de
elevações do salário mínimo. Quando as elevações do salário mínimo superam os ganhos de
produtividade da mão de obra, há uma tendência para instauração de processos inflacionários.
Naturalmente, na medida em que grande parte dos fenômenos causadores de inflação de custos
não é tipicamente econômica, seu combate por meio de política econômica é mais complicado.
Como remediar os efeitos de desastres naturais? Como lidar com decisões que foram tomadas
em um âmbito político?
Nessas situações, o governo costuma atuar por meio das políticas de renda, fixando/congelando
os preços. Mas essas medidas não se sustentam no longo prazo, podendo, inclusive, acentuar
a inflação quando retiradas. Foi o que aconteceu em alguns planos econômicos de combate à
inflação.
O combate a esse tipo de inflação também é bastante complicado, na medida em que deve
atacar as expectativas dos agentes econômicos. Enquanto os agentes não tiverem segurança de
que o poder de compra estará assegurado, haverá repasses contínuos das expectativas elevadas
de inflação para o preço do bem.
VOCÊ O CONHECE?
Você já deve ter ouvido falar a respeito do processo inflacionário que foi resolvido com
a implementação do Plano Real. Mas quais foram as razões de tamanho sucesso?
Muitos autores argumentam que o sucesso do plano estava no diagnóstico correto das
causas da inflação, o que permitiu a configuração de um rol de medidas certeiras.
Segue uma análise de Luque e Vasconcellos (2011) a respeito do sucesso do Plano Real:
33
Síntese
Macroeconomia
Síntese
Neste Capítulo, você entrou em contato com as principais variáveis e problemas da macroeconomia.
Ao aprofundar os tópicos, entendeu como o governo costuma combater os efeitos danosos de cada
etapa dos ciclos econômicos.
Percebeu que nem sempre se deve procurar estimular a economia, principalmente quando esta
enfrenta um processo inflacionário. Por isso, enfrentamos tantas dificuldades no nosso atual cenário
econômico: como conjugar o combate à inflação com a atividade econômica desaquecida, na
medida em que políticas anti-inflacionárias tendem a desaquecer a atividade econômica?
Apesar de algumas dúvidas perdurarem, você com certeza está mais preparado para analisar o
cenário da tomada de decisões, podendo diminuir o risco inerente a cada uma delas.
TROSTER, R. L. Moeda e bancos. In: PINHO, D. B.; VASCONCELLOS, M. A. S.; TONETO JR., R.
(Org). Introdução à Economia. São Paulo: Saraiva, 2011.
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