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CAP.

5 · TEORIA GERAL DOS CONTRATOS 1 597

A encerrar a presente seção inaugural do capítulo, deve ficar claro


que o instituto contrato não se confunde com o instrumento contrato.
Existem i nstitutos que são instrumentalizados por contratos, mas não
assumem a feição do instituto. Podem ser citados, para ilustrar, o penhor
e a hipoteca, que não são contratos corno institutos, mas direitos reais
(art. 1 .225, VIII e IX, do CC).

5.2 P R I N C I PA I S C LAS S I F I CAÇ Õ E S CONTRATUA I S


Buscar a natureza jurídica de um determinado contrato é procurar
classificá-lo dentre as mais diversas formas e espécies possíveis (categoriza­
ção jurídica). A matéria interessa muito quando são estudados os contratos
em espécie. Diante dessa fulcral importância, serão analisadas a partir de
então, à luz da melhor doutrina, as principais classificações contratuais.

5.2.1 Quanto aos direitos e deveres das partes envolvidas


De início ressalte-se que o negócio j urídico pode ser unilateral,
bilateral ou p lurilateral . O contrato é sempre negócio jurídico bilateral
ou p lurilateral, eis que envolve pelo menos duas pessoas (alteridade).
No entanto, o contrato também pode ser classificado como unilateral,
bilateral ou plurilateral:

a) Contrato unilateral é aquele em que apenas um dos contratantes


-

assume deveres em face do outro. É o que ocorre na doação pura e


simples: há duas vontades (a do doador e a do donatário), mas do
concurso de vontades surgem deveres apenas para o doador; o dona­
tário apenas auferirá vantagens. Também são exemplos de contratos
unilaterais o mútuo (empréstimo de bem fungível para consumo) e o
comodato (empréstimo de bem infungível para uso). Percebe-se que
nos contratos unilaterais, apesar da presença de duas vontades, apenas
uma delas será devedora, não havendo contraprestação.
b) Contrato bilateral os contratantes são simultânea e reciprocamente
-

credores e devedores uns dos outros, produzindo o negócio direitos e


deveres para ambos os envolvidos, de forma proporcional. O contrato
bilateral é também denominado contrato sinalagmático, pela presença
do sinalagma, que é a proporcionalidade das prestações, eis que as
paites têm direitos e deveres entre si (relação obrigacional complexa).
Exemplos: compra e venda e locação.
c) Contrato plurilateral envolve várias pessoas, trazendo direitos e
-

deveres para todos os envolvidos, na mesma proporção. Exemplos:


seguro de vida em grupo e o consórcio.
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-

5.2.2 Quanto ao sacrifício patrimonial das partes

a) Contrato oneroso aquele que traz vantagem para ambos os contra­


-

tantes, pois estes sofrem o mencionado sacrifício patrimonial (ideia de


proveito alcançado). Ambas as partes assumem deveres obrigacionais,
havendo um direito subj etivo de exigi-lo. Há uma prestação e uma
contraprestação. Exemplo: compra e venda.
b) Contrato gratuito ou benéfico aquele que onera somente uma das
-

partes, proporcionando à outra uma vantagem sem qualquer contrapres­


tação. Deve ser observada a norma do art. 1 1 4 do CC, que enuncia a
interpretação restritiva dos negócios benéficos. Exemplo: doação pura
ou simples.

Observação - Como decorrência lógica da estrutura contratual, em regra,


o contrato oneroso é bilateral, e o gratuito é u n i lateral. Mas pode haver
exceção, como é o caso do contrato de m útuo de d i n heiro sujeito a j u ros
(mútuo feneratício) pelo qual além da obrigação de restitu i r a q u a ntia
emprestada (contrato unilateral), devem ser pagos os j u ros (contrato
oneroso).

5.2.3 Quanto ao momento do aperfeiçoamento do contrato

a) Contrato consensual aquele que tem aperfeiçoamento pela simples


-

manifestação de vontade das partes envolvidas. Exemplos: compra e


venda, a doação, a locação, o mandato, entre outros.
b) Contrato real apenas se aperfeiçoa com a entrega da coisa (traditio
-

rei), de um contratante para o outro. Exemplos: comodato, mútuo,


contrato estimatório e depósito. Nessas figuras contratuais, antes da
entrega da coisa tem-se apenas uma promessa de contratar e não um
contrato perfeito e acabado.

Observação - Não se pode confu ndir o a perfeiçoa mento do contrato (pla­


no da val idade) com o seu cumpri mento (plano da eficácia). A compra e
venda gera efeitos a partir do momento em que as partes convencionam
sobre a coisa e o seu preço (art. 482 do CC). No caso da com pra e venda
de i móveis, o registro mantém relação com a a q uisição da propriedade do
negócio decorrente, o mesmo valendo para a trad ição nos casos envol­
vendo bens móveis. Util iza ndo a Escada Ponteana, o reg istro e a tradição
estão no plano da eficácia desse contrato. No que concerne à tradição,
é melhor d izer que está, em regra, no plano da eficácia. Isso porque, no
caso dos contratos reais, a entrega da coisa está no plano da validade.
CAP. 5 · TEORIA GERAL DOS CONTRATOS 1 599

5.2.4 Qua nto aos riscos que envolvem a prestação

a) Contrato comutativo aquele em que as partes já sabem quais são as


-

prestações, ou seja, essas são conhecidas ou pré-estimadas. A compra


e venda, por exemplo, é, em regra, um contrato comutativo, pois o
vendedor sabe qual o preço a ser pago e o comprador qual é a coisa
a ser entregue. Também é contrato comutativo o contrato de locação,
pois as partes sabem o que será cedido e qual o valor do aluguel .
b ) Contrato aleatório - a prestação d e uma das partes não é conhecida
com exatidão no momento da celebração do negócio jurídico pelo fato
de depender da sorte, da álea, que é um fator desconhecido. O Código
Civil de 2002 trata dos conh·atos aleatórios nos arts. 458 a 46 1 . Alguns
negócios são aleatórios devido à sua própria natureza, caso dos conh·atos
de seguro e de jogo e aposta. Em outros casos, contudo, o contrato é
aleatório em virtude da existência de um elemento acidental, que torna
a coisa ou o obj eto incerto quanto à sua existência ou quantidade, como
ocorre na compra e venda de uma colheita futura. O CC/2002 consagra
duas formas básicas de contratos aleatórios:
bl) Contrato aleatório emptio spei um dos contratantes toma para
-

si o risco relativo à própria existência da coisa, sendo ajustado


um determinado preço, que será devido integralmente, mesmo
que a coisa não exista no futuro, desde que não haja dolo ou
culpa da outra parte (art. 458 do CC). O risco é maior. No caso
de compra e venda, essa forma negocial pode ser denominada
venda da esperança.
b2) Contrato aleatório emptio rei speratae se o risco versar somente
-

em relação à quantidade da coisa comprada, pois foi fixado pelas


partes um mínimo como objeto do negócio (art. 459 do CC). Nes­
se contrato o risco, apesar de existente, é menor. Em casos tais,
a parte terá direito a todo o preço, desde que de sua parte não
tenha concorrido com culpa, ainda que a coisa venha a existir em
quantidade inferior à esperada. Mas, se a coisa não vier a existir,
alienação não haverá, e o alienante deverá devolver o preço recebido
(art. 459, parágrafo único, do Código Civil). Na compra e venda
trata-se da venda da esperança com coisa esperada.

5.2.5 Quanto à previsão legal

a) Contrato típico -aquele com uma prev1sao legal mínima, ou seja,


com um estatuto legal suficiente. Exemplos: compra e venda, doação,
locação, prestação de serviço, empreitada, mútuo, comodato (contratos
tipificados pelo Código Civil de 2002, objeto do presente capítulo).
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-

b) Contrato atípico não há uma previsão legal mínima, como ocon-e


-

com o contrato de garagem ou estacionamento. O art. 425 do CC


dispõe que é lícita a criação de contratos atípicos, desde que obser­
vados os preceitos gerais da codificação privada, caso dos princípios
da função social do contrato (art. 42 1 do CC) e da boa-fé obj etiva.
O dispositivo está inspirado na obra de Á lvaro Villaça Azevedo, que
buscou criar a teoria geral dos contratos atípicos.5 Na VII Jornada
de Direito Civil, evento promovido pelo Conselho da Justiça Federal
em 20 1 5, aprovou-se proposta no sentido de que, "com suporte na
liberdade contratual e, portanto, em concretização da autonomia priva­
da, as partes podem pactuar garantias contratuais atípicas" (Enunciado
n. 5 82). Assim, é plenamente possível a criação de uma modalidade
de garantia pessoal totalmente nova no sistema, inclusive congregando
elementos de outras formas de garantias já existentes.

Observação - Alguns doutrinadores apontam que a expressão contratos


atípicos seria sinônima de contratos inominados, enquanto a expressão
contratos típicos seria sinônima de contratos nominados.6 Entretanto, apesar
de respeitar esse posicionamento, entendemos ser mais pertinente uti lizar
a expressão que consta da lei, qual seja, a do a rt. 425 do CC. Na verdade,
existem sim diferenças entre os conceitos expostos como sinônimos. As
expressões contratos nomínados e inominados devem ser util izadas quando
o nome da figura negocial constar ou não em lei. Por outra via, os termos
contratos típicos e atípicos servem para a pontar se o contrato tem ou não
um tratamento legal mínimo. Ilustrando, o art. 1 .0, parágrafo ú nico, da Lei
de Locação (Lei 8.245/1 99 1 ) ao prever as hipóteses de sua não aplicação,
faz menção ao contrato de garagem ou estacionamento, nos seg u intes
termos: "Conti nuam regu lados pelo Código Civil e pelas leis especiais: a)
as locações: (...) 2. das vagas a utônomas de garagem ou de espaços de
estacionamento de veículos''. Pois bem, percebe-se que o contrato de
garagem ou estacionamento é nomínado, pois o seu nome consta em lei.
Todavia, como não há u ma previsão legal mínima, trata-se de um contrato
atípico. Concluindo, o contrato em q uestão é nominado e atípico.

5.2.6 Quanto à negociação do conteúdo pelas partes. Contrato de


adesão x contrato de co nsumo

a) Contrato de adesão aquele em que uma parte, o estipulante, impõe


-

o conteúdo negocial, restando à outra parte, o aderente, duas opções:


aceitar ou não o conteúdo desse negócio. Na opinião deste autor, o

5 AZEVEDO, A lvaro Vi l laça. Teoria geral dos contratos típicos e atípicos. São Pau lo: Atlas, 2002.
6 Por todos: DINIZ, Maria Helena. Código Civil a notado. 1 5. ed. São Pau lo: Saraiva, 201 O. p. 369.
CAP. 5 • TEORIA GERAL DOS CONTRATOS 1 601
conceito deve ser visto em sentido amplo, de modo a englobar todas
as figuras negociais em que as cláusulas são preestabelecidas ou
predispostas, caso do contrato-tipo e do contrato formulário, figuras
negocias em que as cláusulas são predeterminadas até por um terceiro.
Esses contratos até são comercializados, em alguns casos. A título de
exemplo, podem ser citados os contratos de locação de imóvel vendidos
em papelarias. O Código de Defesa do Consumidor cuidou de definir
o contrato de adesão no seu art. 54: "contrato de adesão é aquele
cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou
estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços,
sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente
seu conteúdo". De toda sorte, como se verá a seguir, o contrato de
adesão não necessariamente será de consumo. Destaque-se que o
Código Civil de 2002 protege o aderente como vulnerável em dois
dispositivos, que ainda serão estudados (arts. 423 e 424).
b) Contrato paritário ou negociado aquele em que o conteúdo é ple­
-

namente discutido entre as partes, o que constitui raridade no atual


momento contratual.

Observação - Não se pode confundir o contrato de consumo com o contrato


de adesão, conforme consta do Enunciado n. 1 7 1 do CJF/STJ, aprovado na
Ili Jornada de Direito Civil, por proposição deste a utor. Na categorização do
contrato de adesão, leva-se em conta a forma de celebração do negócio.
Por outra via, o conceito de contrato de consumo é retirado dos arts. 2.0
e 3.0 da Lei 8.078/1 990. Assim, o contrato de consumo pode ser conceituado
como sendo aquele em que alguém, um profissional, fornece um produto ou
presta serviço a um destinatário final - fático e econômico -, denominado
consumidor, mediante remuneração direta ou vantagens indiretas. Em suma,
nem todo contrato de consumo é de adesão. Ademais, nem todo contrato
de adesão é de consu mo. De i n ício, exempl ifica-se com uma situação em
que uma pessoa adquire um tapete. Ela vai até uma loja especia lizada e
discute todos os termos do contrato, barganhando o preço e impondo até
mesmo a data de entrega, celebrando para tanto um instrumento sob a
forma escrita. Essa pessoa é consu midora, uma vez que é destinatária final,
fática e econômica, do tapete; mas o contrato assu miu a forma paritária
aplicando-se todo o Cód igo Consumerista, com exceção do que consta do
seu art. 54. Partindo para outro exemplo, da situação oposta, vejamos o
caso de um contrato de franchising ou franquia. O franqueado recebe toda
a estrutura do franqueador que cede, inclusive, o direito de util ização da
marca. Observa-se que o franqueado recebe toda essa estrutura não como
destinatário final, mas para repassá-la aos consum idores finais, que irão
adquirir seus produtos ou serviços. O franqueado não é destinatário final
econômico do serviço prestado, pois dele retira o seu lucro. Desse modo,
o contrato não assume a forma de contrato de consu mo, mas, na prática,
é contrato de adesão, eis que o franqueador i mpõe todo o conteúdo do
pacto, na g rande maioria das vezes.
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5.2.7 Quanto à presença de formalidades ou solenidades


Forçoso repisar a diferenciação entre forma e solenidade. Forma é
gênero, ou sej a, qualquer formalidade, caso da forma escrita. Solenidade
é espécie, querendo significar o ato públ ico, caso da escritura pública,
lavrada no Tabelionato de Notas.7 Feito esse esclarecimento, vej amos
as quatro possibilidades de categorias:

a) Contrato formal aquele que exige qualquer formalidade, caso da


-

forma escrita. Exemplo: o contrato de fiança deve ser celebrado por


escrito (art. 8 1 9 do CC).
b) Contrato informal não exige qualquer fonnalidade, constituindo
-

regra geral pelo sistema civil brasileiro, pelo que consta do art. 1 07
do CC, que consagra o princípio da liberdade das formas. Exemplo:
prestação de serviço.
c) Contrato solene aquele que exige solenidade pública. O art. 1 08
-

do CC enuncia que a escritura pública somente é necessária para os


negócios de alienação de imóvel com valor superior a trinta vezes o
maior salário mínimo vigente no País. Ilustrando, em havendo compra
e venda de imóvel com valor superior a tal parâmetro, necessária a
escritura pública (contrato solene e formal). Se o imóvel tiver valor
inferior, dispensa-se a escritura, mas é fundamental a forma escrita,
para o registro (contrato não solene, mas formal).
d) Contrato não solene Não há necessidade de se lavrar a escritura
-

pública em Tabelionato de Notas, como no último exemplo citado.

5.2.8 Quanto à independência contratual. Os contratos coligados ou


conexos

a) Contrato principal ou independente existe por si só, não havendo


-

qualquer relação de dependência em relação ao outro pacto. Como


exemplo, pode ser citado o contrato de locação de imóvel urbano,
regido pela Lei 8.245/ 1 99 1 .
b) Contrato acessório aquele cuj a validade depende de um outro negó­
-

cio, o contrato principal. O exemplo típico é o contrato de fiança, que


depende de outro, como, por exemplo, de um contrato de locação de
imóvel urbano. Diante do princípio da gravitação jurídica, pelo qual
o acessório segue o principal, tudo o que ocorre no contrato principal

7 VENOSA, Sílvio de Salvo. Código Civil interpretado. São Pau lo: Saraiva, 201 O. p. 1 20.
CAP. 5 • TEORIA G ERAL DOS CONTRATOS 1 603
repercute no acessório. Desse modo, sendo nulo o contrato principal,
nulo será o acessório; sendo anulável o principal o mesmo ocorrerá
com o acessório; ocorrendo prescrição da dívida do contrato principal,
o contrato acessório estará extinto; e assim sucessivamente. Todavia,
deve ficar claro que o que ocorre no contrato acessório não repercute
no principal. Assim sendo, a nulidade do contrato acessório não gera
a nulidade do contrato principal; a anulabilidade do contrato acessório
não gera a nulidade relativa do principal e assim de forma sucessiva.
A conclusão é retirada do art. 1 84 do CC, segundo o qual "Respeitada
a intenção das partes, a invalidade parcial de um negócio jurídico não
o prejudicará na parte válida, se esta for separável; a invalidade da
obrigação principal implica a das obrigações acessórias, mas a destas
não induz a da obrigação principal".

Conceito de grande importância para o D ireito Civil contempo­


râneo é o de contratos coligados, situação que, em regra, existe uma
independência entre os negócios j urídicos cujos efeitos estão interliga­
dos. Carlos Roberto Gonçalves, citando a melhor doutrina portuguesa,
conceitua-os muito bem:

"Contratos coligados são, pois, os que embora distintos, estão ligados


por uma c láusula acessória, implícita ou explícita. Ou, no dizer de
Almeida Costa, são os que se encontram l igados por um nexo ftm­
cional, podendo essa dependência ser bilateral (vende o automóvel
e a gasolina); unilateral (compra o automóvel e arrenda a garagem,
ficando o arrendamento subordinado à compra e venda); alternativa
(compra a casa na praia ou, se não for para lá transferido, loca-a
para veraneio). Mantém-se a individualidade dos contratos, mas 'as
vicissitudes de um podem influir sobre o outro"'.8

Rodrigo Xavier Leonardo apresenta interessante classificação dos


contratos em questão. Segundo o j urista, os contratos coligados em
sentido amplo dividem-se em três espécies.9 A primeira delas é a dos
contratos coligados em sentido estrito, aqueles que são unidos por algu­
ma disposição legal que determine a coligação. A segunda modalidade
é a dos contratos coligados por cláusula expressamente prevista pelos
contratantes, figura comum nos contratos construção imobiliária. Por

8 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil brasileiro. Contratos e atos unilaterais. 7. ed. São Paulo:
Saraiva, 201 O. v. 3, p. 1 1 5.
9
LEONARDO, Rodrigo Xavier. Os contratos coligados. Disponível em: <http://www.rodrigoxavier­
leonardo.eom.br/arqu ivos/20 1 503 1 91 92927.pdf>. Acesso em 1 8 de maio de 2 0 1 5 .
604 1 MANUAL DE DIREITO CIVIL · VOLUM E Ú NICO Flávio Tartuce
-

fim, há os contratos conexos, unidos por uma razão econômico-social,


modalidade mais presente na prática contratual ista. Estes últimos são
subdivididos nas redes contratuais, presentes nos contratos de consumo;
e nos contratos conexos em sentido estrito, figuras existentes naquelas
relações que não são de consumo. 1 0 O presente autor não só louva,
como segue essa divi são proposta pelo doutrinador.
Do conceito, da classificação e dos exemplos citados percebe-se
que há certa independência nos contratos coligados, mas há também
dependência justamente na união parcial, no elo que os liga. O negócio
jurídico em questão é, po1tanto, intermediário entre os contratos principais
e acessórios. Ruy Rosado de Aguiar também esclarece nesse sentido:
"Também aqui é possível que os figurantes fuj am do figurino comum
e enlacem diversas convenções singulares (ou simples) num vínculo de
dependência, acessoriedade, subordinação ou causalidade, reunindo-as ou
coligando-as de modo tal que as vicissitudes de um possam influir sobre
o outro". 1 1 Essa natureza híbrida foi reconhecida por nossos Tribunais,
inclusive pelo Superior Tribunal de Justiça. Em uma primeira situação,
o STJ entendeu que o inadimplemento de um determinado contrato pode
gerar a extinção de outro, diante de uma relação de interdependência:

"Resolução do contrato. Contratos coligados. Inadimplemento de


um deles. Celebrados dois contratos coligados, um principal e
outro secundário, o primeiro tendo por obj eto um lote com casa
de moradia, e o segundo versando sobre dois lotes contíguos, para
área de lazer, a falta de pagamento integral do preço desse segundo
contrato pode levar à sua resolução, conservando-se o principal, cuj o
preço foi integralmente pago. Recurso não conhecido" ( STJ, R Esp
3 3 7 .040/AM (200 1 009 1 740 1 ), 44 1 .929 Recurso Especial, Data da
decisão: 02.05 .2002, 4." Turma, Rei . Min. Ruy Rosado de Aguiar,
DJ 0 1 .07.2002, p. 347, RDR, vol. 27, p. 429, RJA DCOAS, vol. 43,
p. 26).

Em outro caso envolvendo contratos coligados, o mesmo Tribunal


Superior entendeu que o contrato de trabalho entre clube e atleta pro­
fissional seria o negócio principal, sendo o contrato de exploração de
imagem o negócio jurídico acessório. Essa interpretação foi importante

10 LEONARDO, Rodrigo Xavier. Os contratos col igados. Disponível em http://www.rodrigoxavierle­


ona rdo.com.br/arquivos/20 1 503 1 91 92927.pdf. Acesso em 1 8 de maio de 20 1 5.
1 1 AGUIAR, Ruy Rosado de. Extinção dos contratos por incumprimento do devedor (Resolução). Rio
de Janeiro: Aide, 1 991 . p. 37.
CAP. 5 · TEORIA GERAL DOS CONTRATOS 1 605
para fixar a competência para apreciar a lide envolvendo o pacto, no
caso da Justiça do Trabalho:
"Conflito de competência. Clube esportivo. Jogador de futebol.
Contrato de trabalho. Contrato de imagem. Celebrados contratos coli­
gados, para prestação de serviço como atleta e para uso da imagem,
o contrato principal é o de trabalho, portanto, a demanda surgida
entre as partes deve ser resolvida na Justiça do Trabalho. Conflito
conhecido e declarada a competência da Justiça Trabalhista" (STJ,
CC 3 4 . 5 04/SP (200200 1 30906), 490 . 3 3 9 Conflito de Competência,
Data da decisão: 1 2.03 .2003 , 2." Seção, Rei. Min. Nancy Andrighi,
Rei. p/ acórdão Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJ 1 6.06.2003, p . 256,
RDDP, vol. 5 , p. 2 1 1 , RDR, vol. 27, p. 252).

Do ano de 20 1 4 merece ser destacado julgamento do mesmo Tri­


bunal da Cidadania, concluindo que, "no caso, há um elo direto nas
obrigações pactuadas, cuj os efeitos são totalmente interligados, havendo
uma relação concertada entre a empresa de telefonia e a prestadora do
' Disk Amizade ' no tocante à disponibi lização e cobrança dos serviços,
sendo coligadas economicamente, integrantes de um mesmo e único
negócio por ação conjunta, havendo conexão e entrelaçamento de suas
relações j urídicas. ( . . . ) . Nesse passo e em uma perspectiva funcional dos
contratos, deve-se ter em conta que a invalidade da obrigação principal
não apenas contamina o contrato acessório (CC, art. 1 84), estendendo­
-se, também, aos contratos coligados, intennediário entre os contratos
principais e acessórios, pelos quais a resolução de um influenciará di­
retamente na existência do outro" (STJ, REsp 1 . 1 4 1 .985/PR, 4.ª Turma,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j . 1 1 .02.20 1 4, DJe 07.04.20 1 4) .
P ara encerrar o estudo d o tema, entre o s civilistas d a nova gera­
ção, Carlos Nelson Konder procura relacionar a realidade dos contratos
coligados ou conexos à função social e à causa do contrato. São suas
palavras : "O conceito de contratos conexos é bastante abrangente e pode
ser descrito - mas não definido - pela util ização de uma p luralidade
de negócios para a realização de uma mesma operação econômica". 12
Ensina o j ovem doutrinador fluminense que na Itália util iza-se a expres­
são coligação contratual; na França, grupos de contratos; na Argentina,
redes contratuais, conceito desenvolvido por Ricardo Lorenzetti. Como
se nota, no Direito Comparado segue-se uma classificação diversa da­
quela apresentada por Rodrigo Xavier Leonardo e seguida por este autor.

12
KONDER, Carlos Nelson. Contratos conexos. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p. 275-277.
606 1 MANUAL DE DIREITO CIVI L · VOLUM E Ú N ICO Flávio Tartuce
-

De toda sorte, conclui-se que os contratos col igados ou conexos


constituem real idade de grande importância atual para a teoria geral dos
contratos. A demonstrar a importância do tema, na V Jornada de Direito
Civil aprovou-se o seguinte enunciado : "Os contratos coligados devem
ser interpretados segundo os critérios hermenêuticos do Código Civil,
em especial dos arts. 1 1 2 e 1 1 3 , considerada a sua conexão funcional"
(Enunciado n. 42 1 ).

5.2.9 Quanto ao momento do cumprimento

a) Contrato instantâneo ou de execução imediata aquele que tem


-

aperfeiçoamento e cumprimento de imediato, caso de uma compra e


venda à vista.
b) Contrato de execução diferida tem o cumprimento previsto de uma
-

vez só no futuro. Exemplo: compra e venda pactuada com pagamento


por cheque pré ou pós-datado.
c) Contrato de execução continuada ou de trato sucessivo tem o -

cumprimento previsto de forma sucessiva ou periódica no tempo. É o


caso de uma compra e venda cuj o pagamento deva ser feito por meio
de boleto bancário, com periodicidade mensal, quinzenal, bimestral,
trimestral ou qualquer outra forma sucessiva. Exemplos: locação e
financiamentos em geral.

5.2.1 O Quanto à pessoa lidade

a) Contratos pessoal, personalíssimos ou intuitu personae aqueles em -

que a pessoa do contratante é elemento determinante de sua conclusão.


Tal contrato não pode ser transmitido por ato inter vivos ou mortis
causa, ou seja, pelo falecimento da parte. Exemplo: contrato de fiança,
uma vez que a condição de fiador não se transmite aos herdeiros,
mas somente as obrigações vencidas e não pagas enquanto era vivo
o fiador e até os limites da herança (art. 836 do CC).
b) Contrato impessoal aquele em que a pessoa do contratante não é
-

juridicamente relevante para a conclusão do negócio. Exemplo: compra


e venda, hipótese em que a causa do contrato está relacionada com
a transmissão do domínio.

5 .2. 1 1 Quanto à definitividade do negócio

a) Contrato preliminar ou pré-contrato (pactum de contrahendo) negócio -

que tende à celebração de outro no futuro. Exemplo: compromisso


CAP. 5 · TEORIA GERAL DOS CONTRATOS 1 607

de compra e venda de imóvel. O instituto está tratado entre os arts.


462 e 466 do CC, merecendo estudo detalhado mais à frente.
b) Contrato definitivo não têm qualquer dependência futura, no aspecto
-

temporal. Exemplo: compra e venda de um imóvel.

5.3 P R I N C Í P I O S CONTRATUAIS N O C Ó D I G O C I V I L D E 2002

5.3.1 Primeiras palavras


É notório que os princípios assumem um papel de grande importância
na atual codificação privada material brasileira. Atualmente, é até comum
afirmar que o Código Civil de 2002 é um Código de Princípios, tão
grande a sua presença na codificação vigente. O mesmo pode ser dito
em relação ao Novo Código de Processo Civil, que valoriza princípios
como a dignidade da pessoa humana e a boa-fé objetiva processual.
Além disso, não se pode esquecer da grande importância assumida pelos
princípios constitucionais em nosso ordenamento jurídico, nos termos
do que prega a escola do Direito Civil Constitucional, capitaneada por
Gustavo Tepedino, Luiz Edson Fachin, Paulo Lôbo, entre outros.
Nesse sentido, repise-se que os princípios são regramentos básicos
aplicáveis a um determinado instituto j urídico, no caso em questão, aos
contratos. Os principias são abstraídos das normas, dos costumes, da
doutrina, da juri sprudência e de aspectos políticos, econômicos e sociais.
Os princípios podem estar expressos na norma, mas não necessariamente.
Mencione-se o princípio da função social dos contratos, que é expresso
no Código Civil (arts. 42 1 e 2.03 5 , parágrafo único), mas implícito ao
Código de Defesa do Consumidor e à C LT, normas que protegem o
vulnerável da relação contratual. No caso da Lei 8.078/ 1 990, a função
social dos contratos pode ser retirada de vários dos seus dispositivos,
caso dos arts. 46, 47, 5 1 , 52, 5 3 , entre outros.
Não se pode esquecer da grande importância do Código de Defesa
do Consumidor para os contratos, uma vez que a grande maioria dos
negócios j urídicos patrimoniais é de consumo, e está enquadrada nos
a1is. 2.º e 3 .º da Lei 8 .0781 1 990. I sso j ustifica a busca do diálogo das
fontes entre o Código Civil e o Código de Defesa do Consumidor no
que tange aos contratos.
Por esse caminho metodológico e científico, é possível aplicar a
determinado contrato tanto o CDC quanto o CC ao mesmo tempo, desde
que isso não prejudique o consumidor vulnerável. Desse modo, é de
se concordar plenamente com a apregoada aproximação principiológica

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