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O alvo da críticade RaymondWilliams(1921-1988)nesteim-
portanteensaioé o modeloexplicatìvoda teoria culturalmarxista,
assentado entreasforçasprodutivas
na relaçãodeterminante e a esfera
Apesarda
regulare ratÌficaruma baseconstruídasobrea exploração.
o próprioEagletonchegaa reconhecerque o presente
discordância,
114 REV
STAUSP, n.65, p. 21ú224, narço/noio2005
SõoPoulo,
:ambém os próprios termos reÌacionados. coberta por meio de ânálise. Essa não é a
-'Superestrutura" (Überbau)
é o que tem mesma noção do termo "mediação", mas é
recebido mâis atenção. No uso comumJ o mesmo üpo de reparo na medida em que
depois de Marx, adquiriu o sentido prin- a reÌação enlre a base e a superestrutura nâo
cipal de uma "áÌea" unitária na qual todas é considerada direta, nem submetidâ, de
as atividades culturais e ideológicas pode- maneira simples e funcional, a defasagens,
riam ser situadas. Mas já em Marx, e nas dificuldades e interferências, pois por suâ
correspondências tardias de Engels e eÌÌr própria natureza essa relação não inclui a
muitos pontos da tradição maÌxista subse- reprodução direta.
qüente,foramfeitas restrições arespeito do Essas restrições ereparos são importan-
câÌáter específico de certas atividades su tes. Mas me paÌece que o que não tem sido
perestruturais. O primeiro tipo de restrição visto com igua.l cuidado é â noção estabeleci-
estava relacionado â diferenças temporais, da de "base" (Basis , Grundlage). CorTsideto
a compÌicações e a certas relações indiretas que abaseé o conceito mais impofiante a ser
ou distanciadâs. A noção mais simples de observado se quisermos entender as realida-
supefeslrutura. que ainda eslá em uso. é a des do processo cultural. Por uma questão
do reflexo, da imitação ou reprodução, de de hábito verbal, nas váÌias formulações
modo mais ou menos direto, dareaÌidade da do problema da base e da superestrutura,
bâse nâ superestrutura. E claro quecritéÌios "a base" foi considerada quase como um
positivistas de Ìeflexo e rêprodução davam objeto ou, eIn casos menos explícitos, vista
suporte a essa noção. Mas visto que essa de maneiras essencialmente unifoÌmes e,
relação não estádada em müitas âtividades no mâis das vezes, estáticas. "A base" é a
culturais reais, ou pelo menos não pode ser existência sociaÌ real do homem. A "bâse"
encontrada sem forçar ou mesmo violar o são as relações de produção reais que cor-
material ou prática em estudo, foram inÍo- respondem a fases do desenvolvimento das
d u zidas as d iferenças Ìemporais. a \ faJnosas forças produtivas materiais. "Abâse" é um
defasagens; as várias complicações técni- modo de produção num estágio particulaÌ
cas; e também os modos indiretos. Sendo de seu desenvolvimento. Nós elaboramos
assim, certos tipos de atividade dâ esfeÌa e repetimos proposições desse tipo, mas na
culturâl - a filosofia, por exemplo - pude- prática elas são muito diferentes da ênfase
ram ser colocados a uma grande distância que Marx dedica às atividades produtivas,
das atividâdes econôÌnicas primárias. Esta em paÍiculaÌ nas relaçòes estrulurais. que
foi a primeira fase de restrições à noção de constituemo fundamento de todas as outras
superestÌutura: de fato, umarestrição opera- atividades. Porque, se umestágio particulaÌ
ciona.l. A segunda fase tempaÌentescocoma de desenvolvimento dâ produção pode ser
primeira mas é mais fundamental, poi s nela descobeÌ1o e especificado pela análise, ele
o pÌocesso dâ própria relação foi examinado nunca é, na prática, uniforme ou estático.
mais substancialmente. Dessa abordagem Esta é, de fato, uma das proposições cen-
surgiu a noção modema de "mediação", trais do sentido da História paÌa MzìÌx: a
nâ qual â1go mais do que simples reflexo de que existem contradições profundas nas
ou reprodução - de fato algo radicalmente relações de produção e nas conseqüentes
diferente tanto de reflexo quanto de repro- relações sociais. Há por isso a possibiÌida-
dução ocorre de forma ativa. Nas últimas de contínua da variação dinâmica de tais
décadas do sécuÌo XX temos a noção de forças. Além disso, quando essas forças
"estruturas homólogâs", nas quais pode não são considerâdas, como MarÌx sempÍe as
haver semelhanças diretas ou facilmente considera. como atir idades e relaçòes es-
perceptíveis, e certamente nada que possa pecíficas de homens reais, eÌas significam
ser descito coÍno reflexo ou reprodução, â1go muito mais ativo, mâis complicado e
entre o processo superestrLrturâl e ârealidade mais contraditório do que a noção metafo-
da base, mas nas quais há uma homologia ricaÍnente desenvolvida de "base" poderiâ
essencial de estÍuturas, que pode ser des- nos permitir compreender
PE/
-^ D SooDo lo o- p A'2A. o.o moo 00 213
distribú o piano tambén é um trabalhador Ì(
ABASE
EASFORilS
PRODUTIVAS
pÍodutivo; mas provavelmente o é, uma p
vez que contribui para a realizagão d,a sl
Então temos de dizer q ue ao falarÍÌÌos dâ mais-valia. No entanto, quanto ao homem
"base" estaÍnos falando ãe um processo e que toca o piano, seja para ele mesmo ou
não de um estado. E não podemos atÍibuiÌ para outÍos, não há dúvida: ele não é de p
a esse proçesso certas propriedades fixas forma alguma um trabalhador produtivo. E
para transposição subseqüente aos proces- Então o construtor de piânos é base, mâs o p
sos variáveis da superestrutura. Muitos dos pianista é superestrutwa. Como um modo a
que procuraÌaÍn tÌansformar a proposiçào de considerar a atividade cultural, e mais d,
usual em algo mais râzoável se dedicaram especificármente a economia da atividade b
a refinar a noção de supelestrutura. Mas eu cultuÍal modeÍna, isto é sem dúvida um d
diria que cada termo da questão deve ser beco sem saída. Mas para qualquer escla- p
reavaliado em uma diÌeção específica. Nós recimento teórico é crucial reconhecer que d
temos que reavaliar "determinagão" como Marx estava fazendo a anáIise de um tipo
o estabeìecimento de limites e o exercício particúar de produção, que é a produção s
de pressóes, e não como a fixação de um capitalista de mercadorias. Em sua aniílise p
conteúdo previsto, i?refigurado e controlado. desse sistema, ele teve de dar à noção de d
Nós temos que reavaÌiar "superestrutura" "trabalho produtivo" e "forças produtivas" d
em relação a um determinado escopo de um sentido específico de lÍabalho primário s(
práticas culturais relacionadas, e não como sobre materiais de forma a pÌoduziÌ merca-
um conteúdo refletido, reproduzido ou espe- dorias. Mas essa acepção é muito restrita s
cifl camente dependente. E, principalmente, e, para efeito de análise cultural, bastante o
nós temos de reavaliar "base" não como danosa. pois se alaslou da sua noção mais
uma abstração econômica ou tecnológica ce';tÍal de fol'ças produtivas, na qua1, paÍa
fixa, mas como as atividades específicas de
homens em relações sociais e econômicas
ieais. que contêm contradiçòes e variaçòes
fundamentais, e por isso estão sempre em
estado de processo dinâmico. p
Vale a pena observar mais uma im- s
plicação que está por trás das definições rl
costumeiras. A "base" passou a incluir, I
e d e i n s t i t u i ç á o .q u e n a s f o r m u l â ç ò e so r i g i -
l^ a, dissermos que a sociedade é composta de nais de Marx eram essencialmente par'tes
um grande número de práticas que formam da superestrutura -, em todo esse conjunto
umtodo social concreto, e se dermos acada do apâÌato social, e numa área decisiva da
práticâ urn certo reconhecimento específi co, atividade e da construção políticae ideoló
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REVSÌA
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gica, se deixarmos de consideraro elemento e culturais fossem tão-somente o resultado
superestrutural, não podemos reconlìecer de manipulaçào especifica. de uma espécie
loda a realidade. Essas leis. constituiçóes. de lÌejnarnenlopúblico que pudessesersim-
teorias, ideologias, que são constantemen- plesmente elirninâdo ou reprimido, então
te consideradas naturais, ou de validade e seria muito mais fácil do quejamais foi ou
significadouniveÌsais, simplesmentedevem é, na prática, modificar ou transfomar a
servistas como aexpressão e ratificação da sociedade. Essa noção de hegemonracomo
dominação de uma determinada classe. De algo no qual a consciência de determinada
fato, a dificuldâde de revisar a fórrnula de sociedade está profundamente imersa me
base e superestrutura tem muito a ver com parece fundamental- E a hegemonia 1evâ
â percepção de muitos militântes que vântagem sobre noções genéricas de totaÌi-
l é m d e c o m b a l e r l a i s i n s t i l u i ç ó e se n o ç ò e s dade, pois ao mesmo tempo enfatiza o fato
além das batalhas econômicas - de que se da dominação.
nào enfatizarmos que essas inslituiçòes e Contudo, há momentos em que ouço de-
suas ideologias têm esse caráter depen- baÍes sobre hegemoniae sinto que ela, taÍn-
dente e ratificador, e se não combatermos bém, como conceito, está Ìegredindo para
e rejeitâÌmos suâs pretensões de validade e umanoção reÌativzìmente simples, uniforme
legitimação universais, a caracteística de e estática do mesmo modo que ocorreu com
clâsse da sociedade não poderá mâÌs ser o uso vulgar de "superestrutura". De Íato
reconhecida. E esse tem sido o efeito de penso que devemos dar uma expÌicação
algumas ve6ões dâ totalidade como des- bastante completa do que é hegemonra ao
crição do processo cultural- Assim, penso nos referirÌnos a qualquer formação social
que podemos usaÌ coÌÌetamente anoção de real. Acima de tudo, temos de fomecer uma
totalidade somente quando a combinamos explicação que leve em conta os elementos
comaquele ouüo conceito marxista cnrciaÌ, de mudança reais e constarÌÌtes. Temos de
o de "hegemonia". deixar claro que a hegemonia não é algo
unívoco; que, de fato, suas próprias estru-
turas intemas são altamente complexas, e
têm de ser renovadâs, recriadas e defendidas
ACOMPLEXIDADE
DA continuamente; e que do mesmo modo elas
podem ser continuâmente desafiadas e em
HEGEMONIA cerros aspecÌos modincadas. É por isso
que ao invés de falaÌ simplesmente de "a
Uma das grandes contribuições de hegemonia", ou em "uma hegemoniâ", eu
Gramsci é que ele enfatiza a questão da proporia um modelo que permitisse a va-
hegemonia, e a compreende numa profun- riação e acontradição, comseu conjunto de
didade que considero rara. Pois hegemonia altemativas e processos de mudanga.
supõe a existênciade algo veÌdadeiramente Pois é bastante evidente em alguns dos
total, que não é meramente seçundário ou melhores estudos marxistas o fâto de que
,:
como na 7rlepçãofracade
superestrutural, eles se sentem muito mais àvontade no que
ideologia, mas que é vivido numa tal profun- podemos chamar de questões de época do
didade e satura a sociedade de tâl maneüa que em questões que podeíamos definir
que, comoGrâmsci coloca, constitui asubs- Quer dizer, geralmente
corno histórícas.
tância e o limite do senso comum pâÌa muitas são muito melhores ao dislinguirem as
pessoas sob sua influência e corresponde à caÌacteÌísticas gerais de diferentes épocâs
realidade da experiência social muito mais da sociedade, como entre o feudalismo e a
claÌamente do que quaisquer noções deri- eraburguesa, do que quando distinguem as
vadas da fórmula de base e superestrutura. diferentes fases da sociedade burguesa, eos
Pois se a ideologia fosse meramente um momentos diferenciados no interior dessas
conjunto imposto e abslralo de noções. se fases: aquele processo histórico reaÌ que
nossas idéias, suposições e hábitos políticos exige uma precisão e delicâdeza de aná1ise
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muito maior do que ajá conhecida análise de signif,cados e valores que, vividos como
épocas, preocupada com as carracteísticas práticas, parecem se confirmar uns aos
gerais e deÌineamentos abraiÌgentes. ouúos. constituindo assim o que a maioria
O modelo teórico com o qual tenho das pessoas na sociedade considera ser o
tentado trabalhar é o seguinteì dìria. em sentido da realidade, uma realidade abso-
primeiÌo lugar, que em qualquer sociedâde luta porque vivida, e é muito difícil, para a
e em qualquer período há um sistema cen- maioria das pessoas, iÍ além dessa realidade
fal de práticas, significâdos e valores, que em muitos setores de suas vidas. Mas este
podemos definir propÌiâmente como doIni- não é (a não ser no caso de um momento
nantes e efeúvos. Isso não implica nenhum de análise absÍata) em nenhum sentido
juízo de vâlor sobre tal sistema. Tudo o que um sistema estático. Pelo contriirio. nós só
queÍo dizer é que ele é centrâl. De fato, eu podemos entender uma cultura dominante
o def,niria como um sistema corporativo, o e efeúvâ se entendermos o processo social
que poderia causar confusão, pois Grarnsci do qual ela depende: o processo de rncor-
usa "corporação" para definiÌ aquilo que é poração. Os modos de incorporação têm
subordinado em oposição aos elementos grande significado social. As instituições
genér:icos e dominantês da hegemonia. De educacionais são geralmente os agentes
qualquer modo, o que tenho eln mente é o principais na tÌansmissão de uma cultura
sistema de significados e valores centÌal, efetiva e dominaÌte, e esta é, em nossos
efetivo e dominante, que não é meramente dias, uma atividade de grande importância,
abstrato, mas oÌganizado e vivido. É por isso tanto econômica quânto cultuÍal; de fato,
que a hegemonia não deve ser entendida no é as duas coisas ao mesmo tempo. Além
nível da mera opinião ou manipulação. Ela disso, num nível filosófico, no verdadeiÌo
é um corpo completo de práticas e expecta- nível da teoria e no nível da história das
tivas; implica nossas demandas de energia, viárias práticas, há um processo que chamo
nosso entendimento comum da natuleza do de tradíção seletivat aq]dilo que, no inte-
homem e de seu mundo. É um coniunto de rior dos temos de uma cultura dominante
e efetiva, é sempre transmitido como "a
tradição", "o passado importante". Mas o
principal é sempre a seleção, o modo pelo
qual, de um vasto campo de possibilidades
do passado e do presentê, certos significados
epráticas são enfatizados e outros negligen-
ciados e excluídos. Ainda mais importante,
alguns desses significados e prálicas sào
reinterpretados, diluídos, ou colocados
em formas que apóiam ou ao menos não
contradizem outÌos elementos intrínsecos
à cultura dominânte e efetiva. Os processos
educacionais; os processos mais amplos
de treinâÌnento no interior de instituições
como a fâÍru'lia; as definições práÌicas e a
organização do trabalho; a tradição seleúva
no nível intelectual e teórico: todas essas
forças estáo envol!idas na elaboraçào e re-
elaboração contínuas da cultuÍa dominante
efetiva, e sua realidade, como experiência,
como algo construído em nossa vivência,
depende de1as. Se o que aprendemos fosse
meramente ideologia imposta, ou tÌatasse
apenas dos significados e práticas isoláveis
de hegemonia, embora toda a proposta de maÍxista a litelatura eÍâ vlstâ como umâ
Gramsci fosse a de ver e criaÌ, por meio atividade importante, até mesmo cÌucial'
da orgânização, uma hegemonia PÌoletiífia o Estado soviético é muito mais arguto na
que sena capaz de aÍrreaçaÍ a hegemonia investigação de áreas nas quais versões
prática cultural algumas delas são muìt\ ignoÌado por algum tempo' com a condição
que nos é dado reco- \, depermanecer altemativo Quando setorna
importantes- Eu diria
nhecê-las baseando-nos nesta proposição: explicitamente de oposição' com ceÍeza e
nenlÌum modo de produção,logo, nenhuma abordado ou atacado'
sociedade ou ordem social, e, portanto' Estou dizendo então que, em relâção ao
nenhuma cultura dominante, na realidade âmbito total dapráticahumanaemqualquer
exaure o ârnbito total da prática, energia época, o modo dominante é uma seleção e
e intenção humanas (este âmbito não é organização conscientes_ Ao menos em sua
o inventáJio de umâ "natureza humana" forma acabada, é consciente Mas existem
original mas, pelo contrário, refere-se ao sempre fontes de práticas humanas rears
extraoÌdinário campo de variações, na prá- que são negligenciadas ou excluídas' Eelas
tica e na imaginâção, que os seres humânos podem ser diferentes em essência dos inte-
têm e já demonstraram ter capacidade de resses articulados e emdesenvolvimento de
fazer). De fato me Parece que essa ênfase umâ classe ascendente Podem incÌuir' por
não é meramente uma proposição negativa' exemplo' uma foÍma diferente de perceber
que nos permite daÌ conta de ceÍas coisas os outros, em relacionamentos pessoais
que acontecem fora do modo dominante imediâtos' ou novas percepções de materiais
- pelo contriírio, é inerente aos modos de e de meios' na arte e na ciênciâ' e dentro
2 O píesenle
enso d
o é onreÍloí dominação que eles façam uma seleção de certos limites essâs novâs percepções
do Unioo
d sso!Çôo Sovéíco
(N.
r) entre as práticas humanâs reais e possíveis podem ser praticadas' As relações entre os
220 2005
morçolmoÌo
USBSôoPo!o, n 65,P.21A'224,
REVISTA
específicas como práticas, mas não podem
ser sepaÌadas do processo social geral. De
fato, um modo de demonstrar isso é dizer
e i n s i s t i r n o f a t o d e q u e a l i t e r a t u r an à o s e
limita a operar em nenhum dos setoÌes que
tenho buscado descreverneste modelo. Se-
ria fácil dizer, e no fim das contas trata se de
umaÌetóricausual, que a literatura opera no
setor cultural emergente, que representa os
novos sentimentos, significados e vâlores.
Podemos nos convencer dis so teoricaÌnente,
por aÌgumentação abstÌatâ, mas quando
lemos bastanteliteratura, edemodoextensi-
vo, semo comodismo de chamaÌLiteraturâ
somente aquilo que já seÌecionamos e que
incorpora certos significados
e valores numa
determinada escala de intensidade, somos
obrigados a reconhecer que o ato de escre-
ver, as práticas do discurso nâ escrita e na
faÌa, a composição de romances e poemas
e peças e teorias, toda essa atividade tem
lugar ern todas as áÌeas da cultura.
A liteÍatura não surge, de modo algum,
dois tipos de fonte - ã clasa€ emergenÌe. as somente no setor emetgente, e tal fato é, na
práticas excluíd.as peta cultura dominante ou verdade, muito raÌo. Grande parte do que é
as no\ âs práücas mais genéricas não são escrito é residual, e isso é profundânente
necessemamente contraditóúâs. AÌgumas verdadeiro pârâ muito da literatura inglesa
vezes podeú sermuiÌopóKimas-e a prática da última metade do século XX. Alguns de
política dep€nde muiro dãs relações entre seus significados e valores fundamentais
elas. Mas culturaìmente e como problema pertenceram às conquistas cultuÌais de es-
teórico essas iíreâs podem ser vistas como tágios sociais de umpassado distante. Esse
distintas. fato, e os hábitos mentais que ele suslenta,
Agora- se voltarmos à questão cultural é tão difundido que, pâÌamuitos, os terÌnos
em sua forma mais usual - quais sào as "literatura"e "o passado" possuem ceÍa
relações ent e aÍte e sociedade. literâtura e identidade, o que os leva a dizer que hoje
sociedade? - à luz da quesrão precedente, em dia não há literatura: todâ a glória do
lemos de dizer. em primeúo lugaÌ. que náo passado se foi- No entanto gÍande pârte do
existem Íeìacões entre arÌe e sociedâde num que é escdto, em qualq uer período, incÌuin-
nível absüato-A literaruracomo prática está do o nosso, é uma forma de contribuição à
presente desde a origem da sociedade. De cultura dominante efetiva- De fato, muitas
fato, até que ela e todas zrsoutras práticas das qualidades específicas da literatura
esteJarÌrpresentes- uma sociedãde não pode sua capacidade de incorporaÌ, encenzìÌ e
ser considemda completarnente formada. desempenìar cetos significados e valores,
Ijrna sociedade não pode ser totalmente ou de criaÌ de maneira única e singular o
ânalisada sem que se incl ua cada uma de suas que seÌiam em outÌos casos simplesmente
práticas. Mas se ênfatizarmos esse aspecto, verdâdes gerais contribuem para que ela
teremos de enfatizar ouúo coÌÌespondente: preencha essa função efetiva com graìnde
não podemos separar literatura e aÌte de poder À literatuta, é claro, devemos adicio-
outros tipos de p.ática social. de modo a naÌ as artes visuais e a música, e eÌn nossa
submetê-las a leis disrintas e especiajs. própria sociedade as artes poderosas do
Elas devem possuia cerÌas caracteísticas filrrre e da difusão televisiva e radiofônica.
RFV
SïAUS| SooPoulo,
n.65,p.21Cr224,
'ÌìoÍço/moto
2005 221
Mas o ponto teórico geral deve ficaÌ claro.
Se estamos investigando as ÌeÌações entre
literatura e sociedade, não podemos sepa-
rar essa prática de um conjunto arÌtertor de
ouftas práticas, e tampouco podemos, ao
identificarmos uma determinada prática,
relacioná-la de forma uniforme, estática
e não-histórica a alguma formação social
abstrata. As artes da escrita, da cr:iação e âs
artes performaúvas, no seu vasto âmbito,
são partes do processo cultural em todas as
formas e nos diferentes setores que estou
procuaando descrever. Elâs contribuem à
cultura dominante efetiva e são uma artl_
culação central da mesma. Absorvem sig-
nificados e va.lores residuais. os quais nem
todos são incorporados, apesaÍ de muitos o
serem. Elas também expressam de mÉrneira
significatiwa algumas práticas e significâdos
erneÍgentes- ainda que alguns deles sejam
eventualmente incorporâdos, âo atingiÌ as
pessoas e emocioná-las. Isso foi muito evi-
dente na década de 60, em algumas das artes
performativas emeÍgentes, que a cultuÍa
dominaÌìte identificou e buscou transfoÍmaÍ.
Nesse processo, é claro, a própria cultura
dominante se modifica- não n a sua form ação
central, mas em muitas das suas caÍacte- quase todas as fomas contemporâneas
rísticas aÍticuladas. Mas, numa sociedade de teoria crítica são teorias do consumo.
moderna que de fato quer continuar a ser Quer dizeÌ, elas estão preocupadas com o
dominante e ser efetivaÍnente reconhecida entendimento de um objeto de modo que
como central em Ìodas as nossas principaìs ele possa ser consumido coreta e lucrati-
atividades e interesses, as mudanças sempre vamente. O estágio primitivo da teoria de
ocorrem dessa maneirâ. consumo foi a teoria do "gosto", na qual a
ligação entre teoria e prática estava explí-
cita na metiífora- Do gosto surgiu a noção
mais elevada de "sensibilidade", na qual o
TE()RIA
CRITICA (ONSUMO
COM() consumo pela sensibilidade de trabalhos
elevados ou inspirados era considelâdo
obras de arte possam ser compreendidas e linguagem da obra de arte como objeto se
descritas. Eu não acho que essa deva ser â tornou então mais explícita. "Que efeito
principal utilidade da teoria cultural, mas esta obra (o poema como era comumente
vaÌnos nos âter a isso por um momento. definido) produz em mim?" Ou, como se
O que me paÌece muito evidente é que dilia futuramente numa área muito Ínais