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Universidade de São Paulo

Biblioteca Digital da Produção Intelectual - BDPI

Departamento de Metalúrgica e de Materiais - EP/PMT Artigos e Materiais de Revistas Científicas - EP/PMT

2010

Avaliação da resistência ao desgaste erosivo


gerado por cavitação em aços inoxidáveis
austeníticos com alto teor de nitrogênio:
estudo dos mecanismos de desgaste

Rem: Revista Escola de Minas, v.63, n.1, p.147-152, 2010


http://producao.usp.br/handle/BDPI/4462

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Dairo Hernan Mesa et al.

INOX: Engenharia de Superfície


Avaliação da resistência ao desgaste erosivo
gerado por cavitação em aços inoxidáveis
austeníticos com alto teor de nitrogênio:
estudo dos mecanismos de desgaste
Assessment of the cavitation erosion resistance in high nitrogen austenitic
stainless steels: study of the wear mechanisms

Resumo
Amostras do aço inoxidável UNS S31803, nitretadas em alta temperatura,
com 0,9 % de nitrogênio em solução sólida foram submetidas a ensaios de cavi-
tação vibratória em água destilada. As amostras foram, previamente, caracteriza-
das por meio de difração de elétrons retroespalhados, EBSD, num microscópio
eletrônico de varredura (MEV). Posteriormente, durante os ensaios de cavitação,
o dano superficial das amostras foi, periodicamente, avaliado por observação no
MEV das superfícies desgastadas. O aço austenítico convencional UNS S30403
foi usado como material de comparação. Nas primeiras etapas dos ensaios de
cavitação, ocorreu deformação plástica da superfície, que pôde ser caracterizada
como altamente heterogênea na escala do tamanho de grão. Em etapas posteriores,
ocorreu perda de massa por desprendimento de partículas de desgaste (debris),
como conseqüência de fadiga de baixo ciclo. O início do dano ocorreu tanto no
interior dos grãos como nos contornos de grão; os contornos de macla mostraram
as regiões mais suscetíveis. Os grãos com planos (101) orientados aproxima-
damente paralelos à superfície das amostras apresentaram maior resistência ao
desgaste que os grãos com outras orientações cristalográficas. A maior resistência
Dairo Hernán Mesa
ao desgaste dos grãos com textura (101) || superfície foi atribuída a uma menor
Estudante de Doutorado
tensão projetada para deformar, plasticamente, esses grãos. A diminuição da
Universidade de São Paulo-Brasil
Professor Associado, Universidade
referida tensão se dá em função das tensões impostas na superfície cavitada pela
Tecnológica de Pereira-Colômbia implosão de bolhas de vapor.
E-mail: dhmesa@usp.br. Palavras-chave: Erosão-cavitação, aços inoxidáveis de alto nitrogênio, engenharia
de contornos de grão, meso-textura.
Carlos Mario Garzón
Professor Auxiliar, Universidade Na-
cional de Colômbia, Sede Bogotá Abstract
E-mail: cmgarzono@unal.edu.co, Specimens of a UNS S31803 steel were submitted to high temperature gas
nitriding and then to vibratory pitting wear tests. Nitrided samples displayed
André Paulo Tschiptschin fully austenitic microstructures and 0.9 wt. % nitrogen contents. Prior to pitting
Professor Titular, Escola Politécnica tests, sample texture was characterized by electron backscattering diffraction,
da Universidade de São Paulo-Brasil EBSD. Later on, the samples were tested in a vibratory pit testing equipment using
E-mail: antschip@usp.br distilled water. Pitting tests were periodically interrupted to evaluate mass loss
and to characterize the surface wear by SEM observations. At earlier pit erosion,
stages intense and highly heterogeneous plastic deformation inside individual
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Avaliação da resistência ao desgaste erosivo gerado por cavitação em aços inoxidáveis austeníticos...
grains was observed. Later on, after O processo de desgaste por ca- explicar o papel da textura nesse tipo de
the incubation period, mass loss by vitação compreende várias etapas das desgaste. Uma das hipóteses de trabalho
debris detachment was observed. Initial quais a primeira delas, conhecida como é que existam orientações cristalográfi-
debris micro fracturing was addressed período de incubação, está associada à cas que favorecem um elevado consumo
to low cycle fatigue. Damage started at deformação plástica do material, com de energia de impacto, quando os grãos
both sites, inside the grains and grain formação de linhas de escorregamento se encontram orientados nessas direções.
boundaries. The twin boundaries were e pequenas crateras na superfície. Em
Em trabalhos prévios [Garzón et
the most prone to mass-loss incubation. seguida, a densidade de crateras aumen-
al., 2004; Garzón et al., 2005; Garzón
Grains with (101) planes oriented near ta, formando ondulações e acúmulo de
et al., 2007], foi observado que a adição
parallel to the sample surface displayed material ao seu redor. As trincas forma-
de nitrogênio em solução sólida aos aços
higher wear resistance than grains das na superfície e dentro das crateras se
inoxidáveis UNS S30403 e UNS S31803
with other textures. This was attributed propagam juntando-se umas às outras,
melhora, acentuadamente, a resistência
to lower resolved stresses for plastic levando à formação de cavidades
à E-C, tanto em água destilada, quanto
deformation inside the grains with (101) (pites), na superfície, e desprendimento
em água de mar sintética. Por meio do
|| surface texture. de partículas de desgaste “debris”
controle do teor de nitrogênio, do tama-
[Muthukannan, 2006].
Keywords: Pit erosion, high nitrogen nho de grão e da textura, foi possível
stainless steels, grain boundary Por serem materiais resistentes a diminuir a taxa de perda de massa por
engineering, wear, meso-texture. diferentes tipos de corrosão e desgaste, E-C, em até 20 vezes, para o aço dúplex,
os aços inoxidáveis são amplamente e até 8,5 vezes, para o aço austenítico,
usados em diferentes campos indus- em comparação com materiais simples-
1. Introdução triais. Por outro lado, aços inoxidáveis mente solubilizados.
As tensões impostas pela implosão austeníticos com alto teor de nitrogênio
O objetivo desse trabalho é estudar
de bolhas de vapor, formadas no interior (HNS-Steels) apresentam uma melhora
os mecanismos de desgaste que atuam
de um fluido, danificam as superfícies substancial de resistência a vários tipos
durante o desgaste erosivo de aços
sólidas adjacentes, provocando perda de de desgaste, sendo possível vislumbrar
austeníticos de alto teor de nitrogênio,
material por mecanismos de fadiga de que tais materiais possam ser adequados
induzidos por cavitação, relacionando-
baixo ciclo, associada à intensa concen- para substituir aços inoxidáveis conven-
os com aspectos cristalográficos, como
tração de tensões na superfície [ASTM cionais em aplicações onde o desgaste
a orientação dos cristais na escala do ta-
G32/06; Bologa, 2002; Richman, 1990; erosivo por cavitação esteja presente.
manho de grão (mesotextura) e o estado
Wantang, 2001]. Uma das razões do uso dos aços ino-
de tensões no interior dos grãos.
xidáveis austeníticos deve-se ao preço,
O dano acontece quando ondas que é próximo ao dos aços inoxidáveis
de choque e microjatos gerados na convencionais e muito menor que o 2. Materiais e métodos
implosão exercem pulsos de tensões na preço das ligas à base de cobalto usadas A composição química dos aços
superfície sólida atingida, fazendo com regularmente para enfrentar esse tipo de usados nesse trabalho é apresentada na
que, nas primeiras etapas do processo, problemas. Tabela 1.
o impacto repetido das ondas de choque
O efeito benéfico da adição de
provoque deformação plástica seguida
nitrogênio na resistência à E-C de aços
por formação de trincas e remoção de inoxidáveis pode ser atribuído a: (i) 2.1 Nitretação gasosa em
material [Wantang, 2001]. aumento na resistência à deformação alta temperatura
O desgaste erosivo gerado por esse plástica, (ii) distribuição mais homo-
gênea da deformação plástica e (iii) Com o intuito de se obter uma
fenômeno é conhecido como erosão
maior consumo da energia de impacto microestrutura 100 % austenítica em
por cavitação (E-C), sendo responsável
das bolhas devido à menor energia de um aço dúplex contendo austenita e
por grandes custos de manutenção em
falha de empilhamento e à alteração dos ferrita, foi realizado um tratamento ter-
sistemas hidráulicos, tais como hélices
mecanismos de encruamento operantes moquímico de nitretação gasosa em alta
de embarcações, bombas e turbinas hi-
na superfície sólida atingida. temperatura, sob as seguintes condições:
dráulicas. Em países onde grande parte
temperatura de 1200°C, tempo de 8
da energia elétrica é gerada em usinas Embora tenha sido observado
um significativo efeito da textura e da horas e pressão de 0.9 atm. As amostras
hidrelétricas, esse problema tem mere-
distribuição de tipos de contornos de tinham formato quadrado de 20 mm x
cido uma atenção especial, uma vez que
grão na resistência à E-C [Garzón, 20 mm de lado e 1,5 mm de espessura.
há uma grande incidência de cavitação
em turbinas hidroelétricas [Gavriljuk et 2004; Garzón, 2005; Garzón, 2007], não Após a nitretação, obteve-se um
al., 1999; Mills, 1998]. existem evidências claras que permitam aço 100 % austenítico com, aproxima-

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Tabela 1 - Composição química dos aços UNS S31803 e UNS S30403.

damente, 0,9 % em peso de nitrogênio amostras foi medida, periodicamente, após a interrupção do ensaio. As amostras
em solução sólida, com um tamanho de foram ensaiadas em água destilada a, aproximadamente, (20 ± 1,0)°C. Na Figura 1
grão de, aproximadamente, 160 μm e é mostrado um esquema do dispositivo usado nos ensaios de desgaste por cavitação.
uma forte textura (orientação cristalina
preferencial), textura (101). Após a ni-
tretação, as amostras foram recozidas a 2.3 Caracterização da microtextura e da microestrutura
1200°C por uma hora com o intuito de A microtextura das amostras foi caracterizada por difração de elétrons retro-
aliviar tensões internas. espalhados, antes de se realizarem os ensaios de cavitação. Foi usado um sistema
O aço austenítico UNS30403, no EBSD/TSL acoplado a um microscópio eletrônico de varredura Philips XL30TM.
estado solubilizado, foi usado como Foram analisadas áreas de 1,5 x 1,5 mm².
material de comparação. Durante os ensaios de cavitação, os mesmos foram periodicamente interrom-
pidos com o intuito de analisar a morfologia das superfícies erodidas. Utilizou-se
2.2 Ensaios de desgaste um microscópio eletrônico de varredura Philips XL30TMP.

Foi usado o método de cavitação O teor de nitrogênio, na superfície das amostras, foi determinado por meio de
microanálise química WDS, utilizando microssonda acoplada a um microscópio
ultra-sônica indireta, segundo a norma
Cambridge Instruments Stereoscan 440.
ASTM G32/06, que consiste em colo-
car o corpo-de-prova logo abaixo de
uma ponta vibratória. Os ensaios 3. Resultados e discussão
foram realizados num equipamento
Telsonic SG 1000, operando a 20 kHz 3.1 Nitretação
de freqüência e com uma amplitude de As Figuras 2 (a) e (b) apresentam a microestrutura do aço UNS S31803 antes
vibração de 40 μm. A perda de massa das e após os tratamentos de nitretação e recozimento. Como conseqüência da absor-

Figura 1 - Esquema do equipamento de cavitação (esquerda) e partes principais (direita).

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Avaliação da resistência ao desgaste erosivo gerado por cavitação em aços inoxidáveis austeníticos...
ção de nitrogênio, durante a nitretação,
a microestrutura do aço UNS 30803
solubilizado passa de uma mistura de,
aproximadamente, igual proporção de
fases ferrita e austenita, para uma estru-
tura 100 % austenítica, sem presença de
ferrita nem de nitretos.

3.2 Evolução do desgaste


Figura 2 - Micrografias do aço UNS 30803 a) como recebido e b) após nitretação e recozimento.
por cavitação
Nas micrografias da Figura 3 (a)
Os mecanismos de des-
- (c), é possível observar os diferentes
gaste, que atuam durante a
estágios de cavitação e identificar me-
E-C, no aço UNS S31803,
canismos de desgaste atuantes durante
podem ser mais bem visua-
um ensaio de E-C no aço UNS S31803.
lizados através da seqüência
Na Figura 3 (a), verifica-se, para de micrografias apresentadas
as primeiras 4 horas de ensaio, a pre- na Figura 4 (a) até (c). Nessas
sença de degraus de escorregamento, micrografias, obtidas na região
verificam-se, também, evidências de assinalada com o retângulo
que os contornos de grão e particular- na Figura 3 (b), é possível
mente os contornos de macla são locais observar as mudanças sofridas
preferenciais para o início do dano. Na pela superfície do material
Figura 3 (b), para 25 horas de ensaio submetido à E-C, causadas
de E-C, observa-se como os contornos pelos diferentes mecanismos
de macla, identificados na Figura 3 (a), que causam o dano e a remo-
continuam sendo os locais mais danifica- ção das partículas de desgaste.
dos na superfície exposta. Nessa Figura,
também é possível se ver que há grãos e Na Figura 4 (a), para 4 h
contornos de grão mais resistentes, que, de ensaio de E-C, verificam-
diferentemente dos contornos de macla, se a presença de linhas de
se apresentam mais conservados. Já na escorregamento e pequenas
Figura 3 (c), verifica-se a presença de crateras típicas do período
dano generalizado, embora se observem de incubação. Nessa Figura,
alguns grãos com vestígios da superfície também é possível observar
original, ainda não erodida, para 49 h evidências de que o início do
de ensaio. dano ocorre nos contornos de
grão e, preferencialmente, nos
Os mecanismos que conferem alta contornos de macla. Nesse
resistência à E-C ao aço com nitrogê- estágio, a perda de massa não
nio são baseados no fato de que esse é mensurável.
material apresenta uma elevada taxa
de encruamento, o que faz com que os Na Figura 4 (b), para
mecanismos responsáveis pela remoção 25 h de ensaio de E-C, as
de material sejam retardados [Liu et al., maclas continuam sendo os
2003]. Isso se deve à diminuição da locais mais danificados e, nas
energia de falha de empilhamento, e, crateras nucleiam trincas que
também, à presença de nitrogênio em dão início à formação de pites,
solução sólida [Garzón et al., 2004]. Em associados à perda de massa Figura 3 - Micrografias após E-C do aço UNS S31803
decorrência, a tenacidade do material mensurável. Nessa Figura, em diferentes tempos de ensaio de E-C, a) 4h, b) 25 h
aumenta e a superfície é capaz de amor- observam-se, também, que e c) 49 h.
tecer, pelo menos nos estágios iniciais, as linhas de escorregamento,
localizadas no interior dos forma, tanto as trincas, quanto as crate-
as ondas de choque provenientes do ras (pites), competem com os contornos
colapso das bolhas e dos microjatos de grãos, são locais favoráveis para a nu-
de grão e contornos de macla para a
cavitação [Garzón et al., 2004]. cleação e crescimento do dano. Dessa
remoção de material.
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Dairo Hernan Mesa et al.
No estágio final, para 49 h de en- Figura 6 (a), para um tempo
saio de E-C, Figura 4 (c), a superfície de cavitação de 16 horas, e,
de desgaste encontra-se completamente na Figura 6 (c), um mapa
danificada. Nesse estágio, a perda de contendo somente os grãos
da família (101) // superfície,
massa do material passa a ser constante.
predominante no material.
As variações de perda de massa, Na Figura 6 (a), observa-
tanto no aço UNS S31803, quanto no aço se que a grande maioria dos
UNS S30403, são mostradas na Figura 5. grãos apresenta uma orien-
As curvas da Figura 5 confirmam tação cristalográfica (101)
o fato de que o aço contendo nitrogênio // superfície, o que pode ser
apresenta uma maior resistência à E-C. verificado na Figura 6 (c).
Na Figura 6 (b), observa-se Figura 4 - Seqüência de micrografias apresentando a
Note que o início do dano para o aço evolução e os mecanismos de dano por E-C em um aço
com alto nitrogênio é de, aproximada- que os grãos (101) // superfí- UNS S30803 nitretado em alta temperatura.
mente, 20 horas, enquanto o do aço UNS cie, têm um comportamento
S30403 acontece nos primeiros minutos. diferenciado frente ao des-
O tempo para que ocorra uma perda de gaste, apresentando-se mais
massa de 2,5 mg para o aço UNS31803 conservados do que grãos que
com nitrogênio é de 64 horas, enquanto apresentam outros tipos de
que para o aço UNS S30403 sem nitro- orientação cristalina.
gênio é de somente 6,5 horas de ensaio, A alta resistência ao des-
cerca de 10 vezes maior. gaste dos grãos (101), como
Uma possível explicação para a hipótese, pode ser atribuída
heterogeneidade do desgaste, na escala à forma como as tensões,
do tamanho de grão, é a diferença de provenientes das ondas de
orientação cristalina dos grãos na super- choque durante a implosão
fície do material, bem como a diferença de bolhas de cavitação, atin-
dos estados de tensões impostos pela gem esses grãos. Para tais
implosão das bolhas em cada grão. orientações, possivelmente, a Figura 5 - Perda de massa em função do tempo de ensaio
tensão projetada crítica, para por E-C nos aços UNS S31803 e UNS S30403.
A Figura 6(a) apresenta o mapa a deformação, seja atingida
EBSD da área estudada. Nesse mapa, várias horas depois, do que
cada cor indica a orientação cristalina sejam de compressão uniaxial, paralela
para grãos com outras orientações. Uma
dos grãos, segundo a Figura de pólo à direção de laminação.
forma de verificar esse comportamento
inversa (código de cores do triângulo é analisar a variação do fator de Schmid O modelo de Schmid, aplicado ao
inserido na mesma Figura). nos grãos da região cavitada, supondo caso de um monocristal, prevê deforma-
Na Figura 6 (b) é apresentada a que as tensões que atuam na superfície ção plástica, caso a tensão, numa deter-
micrografia MEV, da mesma área da do material, durante o processo de E-C, minada orientação cristalina, atinja um

Figura 6 - Resultados EBSD e MEV do aço UNS S31803.

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valor crítico, porém levando em conta a • A distribuição do dano por E-C, no
deformação dos seus vizinhos. A tensão aço UNS S31803, é heterogênea,
necessária para provocar deformação é sendo que os grãos com planos
conhecida como tensão de cisalhamento (101) paralelos à superfície são os
projetada ou tensão de cisalhamento que apresentam melhor desempenho
crítica projetada. No caso de materiais frente a esse tipo de desgaste.
policristalinos, o fato de essa tensão atin-
gir um valor crítico, não é suficiente para • O início do dano, no aço UNS
iniciar a deformação de um grão, pois os S31803 nitretado, ocorre para tem-
grãos vizinhos, orientados desfavoravel- pos, aproximadamente, 10 vezes
mente, impõem restrições à deformação. mais longos que para o aço UNS
Então, a condição necessária, porém 30403, utilizado como comparação.
não suficiente, para que um grão sofra Adicionalmente, o aço com nitrogê-
deformação plástica é que a tensão de nio apresenta uma taxa de perda de
cisalhamento crítica seja atingida. De massa por E-C muito menor que a
qualquer forma, grãos que atingem mais exibida pelo material de compara- Figura 7 - Variação do fator de Schmid.
rapidamente a tensão crítica projetada ção.
terão mais chance de se deformar antes • Grãos com fator de Schmid menor GARZÓN, C.M., TSCHIPTSCHIN, A.P.
do que aqueles que ainda não a tenham são mais resistentes à E-C, já que Patent BR200504885-A, International
alcançado, embora seja uma deformação patent classification, c23c-014/14, 26
a tensão resolvida crítica, para a
localizada [Padilha A, 2000]. junho de 2007.
ocorrência de deformação plástica,
GAVRILJUK, V.G., BERNS, H. High Ni-
O mapa que mostra a variação do tarda mais em ser atingida.
trogen Steels. Berlin: Springer-Verlag,
fator de Schmid, no aço nitretado, na 1999. 378 p.
mesma área analisada na Figura 6, é LIU, W., ZHENG, Y.G., LIU, C.S., YAO,
apresentado na Figura 7. 5. Agradecimentos Z.M.., W. Ke. Cavitation erosion be-
Comparando a Figura 7 com a • À Universidade Tecnológica de Pereira- havior of Cr-Mn-N stainless steels in
Figura 6 (a), observa-se que a grande Colômbia e ao grupo de pesquisa comparison with 0Cr13Ni5Mo stain-
maioria de grãos (101) apresenta um em Materiales de Ingeniería (GIMI- less steel. Wear 254, p. 713-722, 2003.
fator de Schmid menor que grãos com UTP). MILLS, D., KNUTSEN, R. An investiga-
tion of the tribological behaviour of a
outros tipos de orientação. • Ao grupo de pesquisa em Materiais high-nitrogen Cr-Mn austenitic stain-
Segundo a teoria de Schmid, grãos para aplicações avançadas da PMT- less steel. The parameter influence
com um alto fator de Schmid estão pres- USP - São Paulo -Brasil. on the superficial layer in cavitation
tes a deformar, já que a tensão resolvida • À COLCIENCIAS - Colômbia, destruction. In the annals of university
crítica, para a ocorrência da deformação LASPAU e à CAPES pelo apoio “Dunarea de Jos”, Fascicle VIII, 2002
plástica, é atingida mais rapidamente. MUTHUKANNAN, D. Cavitation erosion
para realizar estudos de Doutorado
Isto explica o comportamento dos grãos resistance of AISI 420 martensitic
na USP - São Paulo - Brasil.
com orientação (101), obtido para o stainless steel laser-clad with nickel
material UNS S31803. aluminide intermetallic composites
and matrix composites with TiC
6. Referências biblio- reinforcement. Surface & coatings
4. Conclusões gráficas Techhnology, 2006.
ASTM G32/06. Standard test method PADILHA A. F. Materiais de engenharia:
• Por meio do tratamento de nitretação microestrutura, propriedades. São
for cavitation erosion using vibra-
gasosa, em alta temperatura, foi pos- Paulo: Ed HEMUS, 2000. v. 01, 343 p.
tory apparatus. Copyright© ASTM
sível transformar o aço UNS S31803 International, 100 Barr Harbor Drive, RICHMAN, R.H. Correlation of cavita-
de estrutura inicial duplex (austenita PO Box C700, West Conshohocken, tion erosion behavior with mechanical
+ ferrita) em um aço 100% austenítico PA 19428-2959, United States. 2006. properties of metals. Wear 140, Issue
com forte textura (101) // superfície. GARZÓN, C.M., DOS SANTOS, J.F., 1, p. 63-82, 1990.
TSCHIPTSCHIN, A.P. Materials WANTANG, Fu. Resistance of high nitro-
• O dano por cavitação iniciou nas
Science and Engineering-A 382. p. gen austenitic steel to cavitation ero-
linhas de escorregamento e nos
378 - 386. 2004. sion. Wear, v. 249, Issue 9, p. 788-791,
contornos de grão, preferencialmente
GARZÓN, C.M., DOS SANTOS, J.F., September 2001.
nos contornos de macla, o que indica
THOMAS, H., TSCHIPTSCHIN, A.P. Artigo recebido em 27/07/2009 e
que estes são os locais da superfície
Wear 259. p. 145 - 153, 2005. aprovado em 19/01/2010.
mais sensíveis ao dano por E-C.

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