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Totem e Tabu
Qual a relação desse momento edípico com o desamparo? Por que essa passagem não é
simples?
52) Os impulsos de amor e ódio incestuosos não podem ser aceitos. Esses impulsos, dar-
se-á conta a criança, são perigosos e podados pelo adulto.
53) A criança que havia desenvolvido um sistema de alerta frente a um perigo, a angústia
sinal; sente medo frente a um perigo instintual.
54) A criança que a essa altura já desenvolveu um sistema de emitir um sinal de angústia
diante do perigo, sente medo diante da castração e repreensão de seus impulsos. A
intensidade dessa angústia fará com que tenha que fugir dela. Diversas rotas de fuga
são possíveis e levam de uma forma ou de outra à negação da castração.
55) O conceito chave, então, é a angústia sentida diante da castração. Mas porque a
angústia de castração é tão importante?
56) Aqui chegamos no tempo do desamparo.
57) 1) sistema de proteção; 2) Perda da onipotência; 3) medo de castração e perda do
amor do objeto.
58) Até então a criança era auto-erótica, sua sexualidade estava muito protegida do
princípio de realidade. A proteção frente ao desamparo da vida era garantida pela
presença dos pais. E a criança reinava numa onipotência narcísica de que tudo estaria a
seu alcance.
59) Essa proteção, essa satisfação autoerótica, e o narcisismo, proviam o indivíduo de um
sentimento de onipotência que era fácil lidar com o desamparo.
60) O sentimento principal no Édipo, no fundo, é o de desamparo, manifestado como afeto
de angústia.
61) A incapacidade de lidar com a angústia vai levar a uma série de formas de evitá-las.
62) É a incapacidade de se quebrar a onipotência.
63) Mas, mas, aí está o problema. Fugir do desamparo e da angústia gera perdas de si
mesmo. Partes do ego.
64) Tudo aquilo que foi negado deixa de ser utilizado positivamente e, além disso, retorna
na forma de sintomas e de traços de caráter esquisitos.
65) A quebra da onipotência causa desamparo. O desamparo causa angústia, a angústia
causa a repressão e esta o sintoma.
66) A onipotência impede o indivíduo de acessar sua potência.
67) O Édipo é um limitador. É o limitador. A criança é colocada no lugar dela. A criança tem
que aceitar ficar de fora, excluída de uma relação.
68) É a instalação do princípio de realidade e da contenção da ambivalência.
69) A criança perde a Onipotência. Um ego frágil não suporta ser castrado. Limitado.
70) A castração, o Édipo coloca o indivíduo em seu lugar. Um ser limitado. Mas isso é só o
começo.
71) Aqui há um encruzilhada. Diante do desamparo eminente, o ego dá um sinal de alerta
e a pessoa tem, então, dois caminhos: fugir, enfrentar. O alerta é a angústia, a fuga são
as defesas onipotentes e narcísicas, o enfrentamento é aceitar a própria fragilidade.
72) É a resposta diante da angústia frente ao desamparo que vai definir nossa saúde
mental.
73) A importância do conceito de desamparo em Freud marca uma nova era na psicanálise
Freudiana e pós Freudiana.
74) Isso porque a angústia, conceito mais intimamente ligado ao desamparo, não ocupava
um lugar de destaque na obra de Freud, ou melhor, ela tinha destaque, mas era menos
importante, não era central.
75) Pro Freud, a angústia era manifestação de descarga de um cúmulo de libido. Na
primeira teoria da angústia de Freud, essa era consequência da repressão. Depois que
a ideia era reprimida, a libido a ela ligada escapava na forma de ansiedade.
76) Eis que o ponto central da psicanálise desloca da sexualidade para a elaboração da
onipotência. A angústia passa a ser o ponto central e a teoria das relações de objeto
invade o campo freudiano.
77) O ponto central agora é o afeto e não uma energia sexual.
78) A ansiedade é uma reação ao perigo. A criança aprende que um objeto pode pôr termo
ao perigo. O medo se desloca da situação econômica para temer a perda do objeto. É a
ausência do objeto que constitui o perigo.
90) Segundo Freud, o ser humano tem ainda que lidar com duas situações que causam
profundo desamparo.
91) A impotência frente as forças da natureza.
92) A morte.
93) Esses são o último golpe na onipotência humana, e, segundo Freud, o ser humano
recorrerá, novamente, a sua onipotência e à criação de um ser onipotente que pode e
controla tudo.
A clínica