PonyWang/iStockphoto.

com
O país do futebol
A Copa do Mundo desperta a paixão pelo
esporte e muda a rotina dos brasileiros.
Mas será que, enquanto vestimos a camisa,
podemos deixar a preocupação com os
problemas sociais para escanteio?

Mídia e esporte
Como a propaganda e os jornais usam os grandes eventos
esportivos para criar uma sensação de identidade nacional.

Mercado da bola
Do jogo de lazer à modalidade esportiva com regras
definidas, descubra como o esporte mais popular do mundo
se tornou um negócio lucrativo.

Carreira: Educação Física

05
Edição A profissão que se dedica a incentivar o cuidado com a saúde
física e mental, promovendo bem-estar e qualidade de vida.

Futebol feminino
Conheça algumas conquistas que garantem
Jun–2018 que a modalidade resista!
 Nesta edição

7
ENTRELINHAS
FUTEBOL, PROPAGANDA E COMPORTAMENTO SOCIAL
E x p e d i e n t e Como a propaganda e os jornais usam os grandes eventos esportivos
para criar uma sensação de identidade nacional.

9
CONTEXTO
COMO O FUTEBOL VIROU NEGÓCIO
Direção geral Do jogo de lazer à modalidade esportiva com regras bem definidas, descubra
Nicolau Arbex Sarkis como o esporte mais popular do mundo se tornou um negócio lucrativo.

12
ENTREVISTA
Gerente editorial CARREIRA: EDUCAÇÃO FÍSICA
Emilia Noriko Ohno A profissão que se dedica a incentivar o cuidado com a saúde
física e mental, promovendo bem-estar e qualidade de vida.

17
Coord. de projetos editoriais EXTRA
Marília L. dos Santos G. Ribeiro O FUTEBOL FEMININO RESISTE!
Viviane Rodrigues Nepomuceno
Editorial
Analista de projetos editoriais
Brunna Mayra Vieira da Conceição
O país do futebol

A
s guias das calçadas, as vitrines das lojas, as bandeirinhas penduradas
nos postes e as mudanças nos horários das aulas e dos expedientes
Edição / Texto
de trabalho anunciam: a Copa do Mundo chegou! De quatro em quatro
Anaiza Castellani Selingardi
anos, esse evento altera o espaço e a rotina de todos os brasileiros, que se unem
Bruno Freitas pela vitória como em nenhuma outra ocasião, nem mesmo nas eleições, quando
Cláudio Leyria precisam decidir o futuro do país.
Edilene Faria Isso demonstra a importância do futebol como elemento cultural que compõe
a identidade nacional brasileira, assim como o Carnaval (que também costuma
Érica M. Bettoni Hayashibara
parar o Brasil). Durante a celebração desse esporte, revelamos a determinação,
Thaís Inocêncio
a criatividade e a emoção que nos caracterizam como brasileiros. E, em eventos
como a Copa, temos a chance de mostrar ao mundo quem somos e de trocar
Projeto gráfico experiências com outras nações, enriquecendo nossa própria cultura.
Willyam Gonçalves No entanto, a paixão e a torcida pela seleção do “país do futebol”, em geral,
são confundidas com o patriotismo, que pode ser definido como o amor pela
pátria – termo que vai muito além desse esporte. Essa relação é histórica e remonta
Revisão
aos governos ditatoriais de Vargas e Médici, quando o futebol era utilizado como
Kemi Tanisho
ferramenta política para difundir o nacionalismo. Era comum colocar os jogadores
Márcia de Paiva Fernandes de futebol no patamar de defensores do país, misturando esses conceitos.
Além disso, ainda hoje, esse esporte é usado para entreter e, assim, pode
Diagramação ajudar a tornar a população alienada às questões fundamentais da sociedade,
Willyam Gonçalves
nos moldes da “política do pão e circo”. A diferença entre o que era praticado
na Roma Antiga e o que vemos na atualidade é a presença da mídia, que
faz com que essa alienação tenha um alcance muito maior do que quando os
Licenciamento esportes eram exibidos apenas nos estádios.
Vitor Hugo Duarte Medeiros São questões como essas, envolvendo os comportamentos sociais
relacionados ao futebol, que buscamos discutir no Leia Agora deste mês. Após
um panorama dos principais acontecimentos do mês, entenderemos de que
maneira a propaganda de futebol influencia as nossas decisões, refletiremos
sobre como essa modalidade esportiva se tornou um negócio, conheceremos
detalhes da carreira de Educação Física e seremos convidados a pensar sobre
a visibilidade do futebol feminino no Brasil. Desejamos a você uma boa leitura!
Equipe Leia Agora

2
// NOTÍCIAS EM FOCO Em Gaza, mulheres ocupam a linha
de frente dos protestos
Elas são milhares a ocupar o front e a defender a
causa palestina. Na Marcha do Retorno, mulheres
de Gaza, sobretudo jovens, não são maioria,
mas marcam presença. O machismo com o qual
convivem as mulheres de Gaza não parece abalar
o engajamento delas. “Quero servir de modelo
a outras mulheres”, diz Walla Abou Naji, de
28 anos. A militância da jovem Bissan também
utiliza as redes sociais para se expressar e convocar
os amigos às manifestações. “É dever de cada
palestino participar dos protestos”, reitera.
15 maio 2018 – UOL
Cresce o número de jovens entre
15 e 29 anos que não estudam nem
trabalham
Dados sobre educação da Pnad divulgados nesta
sexta mostram que, entre 2016 e 2017, o desemprego
aumentou a quantidade de jovens que não trabalham,
mas o número de pessoas nessa faixa etária que
só estudam ficou estável. Em 2017, o Brasil tinha
48,5 milhões de pessoas com idade entre 15 e 29 anos,
mas 11,1 milhões delas não trabalhavam e também
não estavam matriculadas em uma escola, faculdade,
curso técnico de nível médio ou de qualificação
profissional.
18 maio 2018 – G1
360 mil famílias não têm onde morar
na cidade de São Paulo
Pelo menos 360 mil famílias no município de São
Paulo não têm onde morar. O número corresponde
ao déficit habitacional da cidade, de acordo com
a Secretaria Municipal de Habitação. Até 2020,
a prefeitura pretende entregar 25 mil unidades
habitacionais. Levando em conta o orçamento de
R$ 580 milhões anuais para construção de moradias,
a estimativa, da própria prefeitura, é de que levará
cerca de 120 anos para zerar o atual déficit. Diante do
cenário, muitos que não conseguem comprar a casa
própria nem pagar um aluguel passaram a recorrer às
ocupações de imóveis.
6 maio 2018 – Agência Brasil
Brasil
Educação
Cultura
Internacional
Esporte
Dois em cada três brasileiros
acham que “direitos humanos
defendem mais os bandidos”
Na opinião de dois em cada três brasileiros, os
direitos humanos defendem mais os criminosos
que suas vítimas. Os dados são de uma pesquisa
inédita do instituto Ipsos, obtida pela BBC Brasil.
Embora 63% se digam genericamente “a favor”
dos direitos humanos, 21% se manifestam
contrariamente à mera existência deles. A pesquisa
também revela um desconhecimento sobre a real
aplicação dos direitos humanos no país. Enquanto
94% dos que responderam afirmaram já ter ouvido
falar sobre eles, 50% admitem que gostariam de
conhecer melhor a questão.
16 maio 2018 – BBC
Tite diz que Brasil é um dos favoritos
ao título na Rússia
O Brasil é um dos favoritos a ganhar a Copa da Rússia,
assegurou o técnico Tite, da seleção brasileira de
futebol, logo após anunciar a lista dos 23 jogadores
convocados. “O aspecto psicológico e emocional é
fundamental. São de três a sete jogos nesta Copa,
as tensões são muito fortes e tem que aguentar as
pressões. Todos aqueles que passaram [por outras
copas] vão me ajudar e ajudar a comissão técnica.”
14 maio 2018 – Agência Brasil
Caminhoneiros bloqueiam estradas,
em greve contra aumento do diesel
Caminhoneiros autônomos, que não estão ligados a
transportadoras, entraram em greve nesta segunda-
-feira (21) contra o alto custo do diesel. A paralisação
foi convocada pela Abcam (Associação Brasileira dos
Caminhoneiros). A categoria quer que o Governo
Federal corte impostos para baratear o combustível.
Há paralisação confirmada em ao menos 18 estados,
com alguns bloqueios em rodovias.
21 maio 2018 – UOL
Vale lembrar!
Concessões do governo a caminhoneiros vão
custar R$ 10 bi ao contribuinte
Leia em: <https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/05/
concessoes-do-governo-a-caminhoneiros-vao-custar-r-10-bi-
ao-contribuinte.shtml>.
3
// NOTÍCIAS EM FOCO Para especialistas, policial agiu
corretamente ao matar assaltante
Ao lado da filha, uma policial militar reagiu a um assalto
no último sábado (12) e atirou e matou um assaltante
em frente a uma escola em Suzano, na Grande São
Paulo. Depois de dar voz de assalto e atirar uma vez
– a arma dele falhou –, Elivelton Neves Moreira, 21, foi
atingido pela policial, que estava de folga e sem farda.
Três especialistas em segurança pública analisaram
o contexto de ação da cabo Kátia Sastre, 42. As
opiniões foram: “a cabo agiu de maneira correta”;
“ela expôs pessoas ao risco”; e “a policial não tinha
outra alternativa”. Na manhã de domingo, a cabo foi
homenageada pelo governador de São Paulo.
15 maio 2018 – UOL
Vale lembrar!
Homem morto por PM em frente a escola de Su-
zano foi apontado como chefe de quadrilha que
queimou aposentado em 2017, diz polícia
Leia em: <https://g1.globo.com/sp/mogi-das-cruzes-suzano/
noticia/homem-morto-por-pm-em-frente-a-escola-de-suzano-
foi-lider-de-quadrilha-que-queimou-aposentado-em-2017-diz-
policia.ghtml>.
Cineasta Roberto Farias morre no
Rio
O cineasta, produtor e distribuidor Roberto Farias
morreu nesta segunda-feira (14), aos 86 anos, no
Rio de Janeiro. O realizador de clássicos como
O assalto ao trem pagador (1962) e de várias
chanchadas estava internado no hospital Copa Star,
em Copacabana, onde fazia tratamento contra um
câncer. Em 1981, dirigiu Pra frente, Brasil, premiado
nos festivais de Berlim, Huelva e Gramado, entre
outros. O filme falava da tortura na ditadura militar.
14 maio 2018 – G1
Ainda há obras prometidas para
Copa no Brasil inacabadas
Os quatro anos que separam a Copa no Brasil do
Mundial que começa no próximo dia 14 na Rússia
não foram suficientes para terminar obras de
infraestrutura que deveriam ter sido entregues até
2014. De todas as 12 cidades-sede brasileiras, 11
têm algum projeto que chegou a ser prometido para a
Copa ainda inacabado. Apenas o Rio concluiu todas
as obras, não necessariamente dentro do prazo para
a Copa de 2014. Além disso, a cidade recebeu a
Olimpíada dois anos depois, razão pela qual muitos
projetos não foram deixados de lado – como ocorreu
em outras capitais.
23 maio 2018 – G1
Maduro vence eleição na Venezuela
marcada por denúncias de fraude
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, foi
reeleito para mais 6 anos de mandato após as
eleições deste domingo (20), que tiveram horário
ampliado, denúncias de fraude, tentativa de
boicote da oposição, abstenção de 54% e falta de
reconhecimento por grande parte da comunidade
internacional. Em segundo lugar, ficou o candidato
opositor Henri Falcón, com 1.820.552 de votos (21%).
Pouco antes do anúncio dos resultados da eleição,
Falcón declarou que não reconheceria o processo
eleitoral deste domingo e exigiu a convocação de
novas eleições.
20 maio 2018 – G1

Vencedores de todas as edições da Copa do Mundo

URUGUAI INGLATERRA BRASIL
1930, no Uruguai 1966, na Inglaterra 1994, nos Estados Unidos

ITÁLIA BRASIL FRANÇA

1934, na Itália 1970, no México 1998, na França

ITÁLIA ALEMANHA BRASIL

1938, na França 1974, na Alemanha 2002, na Coreia do Sul e no Japão

URUGUAI ARGENTINA ITÁLIA

1950, no Brasil 1978, na Argentina 2006, na Alemanha

Brasil ALEMANHA ITÁLIA ESPANHA

1954, na Suíça 1982, na Espanha 2010, na África do Sul
Educação
BRASIL ARGENTINA ALEMANHA
Cultura 1958, na Suécia 1986, no México 2014, no Brasil

Internacional BRASIL ALEMANHA

1962, no Chile 1990, na Itália
Esporte Fonte: Portal EBC
*Todas as notícias foram adaptadas e todos os sites foram acessados em 29 maio 2018.

4
 Animal rights groups condemn “inhumane”
use of bear to start Russian league match

Animal rights groups have condemned the exploitation of a bear for a third division league game in Russia. The
circus bear, called “Tim”, was trained to hand the match ball.
[...]
FIFA have denied suggestions that the bear could be used in the World Cup opening ceremony.

17 abr. 2018 – The Telegraph

The Telegraph
LONDON

Clarín
BUENOS AIRES

El argentino que puede ganarle un juicio de

100 millones de dólares a la FIFA

La FIFA acaba de recibir otro duro revés judicial en el litigio que los inventores del sistema de aerosol (vanishing
spray system). La Cámara Civil Nª 14 del Poder Judicial del Estado de Río de Janeiro rechazó la petición
de nulidad de la medida cautelar otorgada al brasileño Heine Allemagne y al argentino Pablo Silva. De esta
manera, deja vigente la medida dictada en primera instancia. Y sigue adelante el litigio por el cual los inventores
del aerosol reclaman unos 100 millones de dólares.

15 maio 2018 – Clarín

Todas as notícias foram adaptadas e todos os sites foram acessados em 23 maio 2018.

5
 Rovena Rosa/Agência Brasil

Busca por desaparecidos em prédio que desabou no

Largo do Paissandu, centro de São Paulo. O prédio de
26 andares desabou na madrugada de 1º de maio, após
incêndio, por volta das 3h. As informações iniciais eram
de que o fogo começou no 5º andar do prédio.
1 maio 2018 – Agência Brasil

// IMAGEM EM FOCO
6
 ENTRELINHAS

Futebol, propaganda e comportamento social

Até que ponto o esporte e a Copa do Mundo podem ser usados para criar a sensação de
uma identidade nacional?

TEXTO 01
[...]
Sete países americanos e seis nações europeias,
recém-ressurgidas dos escombros, participaram do
torneio brasileiro de 50. [...]
O Brasil e o Uruguai disputaram a final no Maracanã.
O dono da casa estreava o maior estádio do mundo.
O Brasil era uma barbada. A final era uma festa. Os
jogadores brasileiros, que vinham esmagando todos
os seus rivais de goleada em goleada, receberam,
na véspera, relógios de ouro gravados no dorso:
Aos campeões do mundo. As primeiras páginas
dos jornais já estavam impressas, já estava armado
o imenso cortejo de Carnaval que ia encabeçar os
festejos, já tinham vendido meio milhão de camisetas
com grandes letreiros que comemoravam a vitória
inevitável.
[...]
Depois do apito final, os comentaristas brasileiros
definiram a derrota como a pior tragédia da história do
Brasil [o Uruguai venceu por 2 a 1].
Eduardo Galeano. Futebol ao Sol e à sombra. Eric Nepomuceno; Maria
do Carmo Brito (Trads.). Ed. atualizada. Porto Alegre: L&PM Pocket.
02TEXTO
[...]
O torturado escuta ao fundo seus algozes vibrando
emocionados por mais um gol do Brasil. Estamos em
1970, vigora o governo de Emílio Garrastazu Médici. [...]
A desmobilização popular que teoricamente foi
articulada pelo governo Médici através da utilização
das partidas da seleção comandada por Pelé, Rivellino,
Tostão e Gérson no México foi extremamente eficiente
no que tange a silenciar qualquer articulação contra a
prisão de oposicionistas ou de pessoas inocentes. A
recepção calorosa [...] aos heróis do tricampeonato
mundial poderia ser feita até mesmo por governos
democraticamente eleitos (como aconteceu em 1994 e
2002 quando o Brasil foi tetra e pentacampeão mundial
de futebol), entretanto, a manipulação da mídia através
da censura não estaria em execução no caso de regimes
democráticos em vigor. A mordaça aplicada à imprensa
complementava o quadro de utilização do esporte mais
popular do país como uma autêntica “venda” sobre os
olhos da opinião pública nacional.
[...]
João Luís de Almeida Machado. “Futebol e política. A ditadura e a
Copa de 1970”. Planeta Educação, 14 jun. 2005. Disponível em:
<www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=392>.

03
Acesso em: 15 maio 2018.

TEXTO
[...]
No dia 27 de junho [1998], em que o Brasil venceu o Chile por 4 a 1, o tempo de notícias dedicado à Copa foi de
88% do total do noticiário, correspondendo a 26 minutos e 30 segundos, contra pouco mais de 3 minutos dedicados
a outros assuntos [...] No dia em que o Brasil venceu a semifinal contra a Holanda nos pênaltis, a diferença foi ainda
maior: dos 41 minutos e meio do total de notícias do mais famoso telejornal do país, 39 minutos foram dedicados
à cobertura do jogo e seus bastidores, configurando 94% do tempo total [...]. Os dois minutos e meio restantes do
telejornal foram dedicados à previsão do tempo. Entretanto, os jornais deste dia mostraram diversos fatos relevantes:
invasões de terra, motins em presídios, etc., que não foram sequer mencionados.
[...]
Assim, pode ser percebido que, a par da importância social da Copa do Mundo para os brasileiros, existe a
apropriação deste evento pela mídia, em especial pelo jornalismo, que, se não “inventa” este interesse social, pelo
menos o “aumenta”, com todos os meios de que dispõe, colabora para construir uma impressão de realidade que
mitifica a importância da Copa, elegendo-a como o “único” acontecimento digno de menção jornalística. [...]
Édison Gastaldo. “‘O país do futebol’ mediatizado: mídia e Copa do Mundo no Brasil”. Scielo, jul./dez. 2009.
Disponível em: <www.scielo.br/pdf/soc/n22/n22a13.pdf>. Acesso em: 15 maio 2018.

7
 ENTRELINHAS
ANÁLISE
I
nfluência, persuasão e convencimento são só algumas
das características de uma propaganda considerada
eficaz pela mídia. Afinal, se um produto faz sucesso é
porque sua publicidade foi bem-feita. E quando a propaganda
afeta não só o consumo, mas também o comportamento da
sociedade? Frequentemente, o futebol é usado para isso e
de maneira muito eficiente.
Quem não gosta de ver seu time ganhar, de torcer, de
vestir a camisa e de ter aquela sensação forte de felicidade?
Ampliemos essa alegria para um sentimento nacional, no qual
um país inteiro se une para festejar o sucesso de sua seleção
de futebol. Parece contagiante!
É nesse sentido que a propaganda em tempos de
Copa do Mundo acaba “escondendo” outros sentimentos
nacionais. Ora, se a seleção for campeã, o que mais importa
para a nação naquele momento? Para analisarmos esse
comportamento, por meio dos textos apresentados, é
necessário fazer uma contextualização acerca de política,
propaganda e megaeventos esportivos.
Nem sempre o futebol exerceu essa influência no Brasil,
uma vez que, entre o fim do século XIX e o início do século XX,
esse esporte era privilégio de brancos e ricos. Os negros e os
mais pobres só começaram a ser aceitos a partir da década
de 1930, com a massificação do futebol. Sua ascensão
prosseguiu nas décadas seguintes, até culminar com um
mundial sediado no Brasil, em 1950.
Tendo em mente esse histórico, fica mais fácil entendermos
o Texto 1, fragmento de uma obra do escritor e jornalista
uruguaio Eduardo Galeano. Em um mundo pós-Segunda
Guerra Mundial, já em plena Guerra Fria, era importante
acrescentar pitadas de felicidade e satisfação aos países
participantes do torneio. O Brasil, por exemplo, estava em
uma ascensão industrial, com a importação de produtos dos
Estados Unidos em alta e um ego renovado por um time que
vencia todas as partidas. Imagine o impacto social que trariam
os jornais ao exaltarem a seleção brasileira, promovendo uma
sensação de glória e vitória na nação. Porém, na final tão
aguardada, em casa, no maior estádio do mundo, a seleção
brasileira perdeu. Todo o entusiasmo do torcedor foi convertido
em tristeza e decepção; as manchetes já não seriam positivas,
mas o assunto viveria nas rodas de conversa subsequentes.
A população teria tempo de discutir política nesses dias de
“tragédia”?
Com esse mesmo questionamento, o regime mili-
tar também se valeu da Copa do Mundo para ostentar uma
propaganda positiva em relação ao país, como explica o
Texto 2, trecho de um artigo do doutor e mestre em Educação
e historiador João Luís de Almeida Machado. “Pra frente,
Brasil” passou a ser um dos slogans do governo, e a “venda”
nos olhos da opinião pública era útil à ditadura de Médici, em
1970, pois poderia esconder as atrocidades do regime sob
a identidade nacional implementada durante o campeonato
mundial de futebol. A seleção brasileira, por sua vez, contribuiu
– mesmo que indiretamente – para essa euforia: conquistou o
tricampeonato e foi recebida como a heroína de um país que
só tinha motivos para comemorar. O autor ainda destaca que,
mesmo em regimes democráticos, a recepção calorosa dos
jogadores da seleção também é usada como “arma” pela mídia
e pela política, visto que, em tempos de tetra e pentacampeo-
nato, o único assunto “relevante” passa a ser esse.
É nesse cenário que podemos perceber como a
propaganda influencia nossas decisões, discussões e, até
mesmo, nossos comportamentos sociais, o que nos leva a
refletir sobre o Texto 3, trecho de um artigo acadêmico do
doutor em Multimeios e pós-doutor em Sociologia Édison
Gastaldo. Os números apresentados por ele mostram como
a mídia acaba dando mais destaque à competição do que
a outras notícias também relevantes. Sendo assim, aquela
sensação de que não existem outros assuntos em tempos de
Copa se confirma, pois, de fato, eles acabam não existindo.
Podemos, ainda, analisar a última Copa do Mundo,
realizada no Brasil em 2014. Apesar da propaganda positiva
em massa sobre o megaevento, a mídia mostrou o atraso
nas obras e fez críticas a construções que poderiam ser
abandonadas após o Mundial, a exemplo da Arena da
Amazônia, onde não há uma tradição em jogos de futebol.
Além disso, surgiu o movimento “Não vai ter Copa”, que,
pelas redes sociais, criticava os gastos do governo com tais
obras – sem mencionar as críticas nacionais e internacionais
à segurança e à infraestrutura turística do país. Desse modo,
podemos destacar que a propaganda negativa também pode
influenciar o comportamento da sociedade, o que se evidencia,
por exemplo, ao lembrarmos que a então presidente do Brasil,
Dilma Rousseff, foi hostilizada – por esse e por ouros motivos
– na abertura e na final dos jogos de 2014.
Cabe a nós, a partir da análise desses textos e de nossos
conhecimentos, discernirmos qual é a “boa” propaganda e qual
é a “ruim”. Ora, é errado que uma nação fique feliz, se una e
enalteça seu país? Reflita sobre isso e produza uma dissertação,
considerando os prós e contras dessa influência midiática na
população. Boa produção textual!
Editorial
8
Como o
futebol virou
negócio
O desenvolvimento da modalidade esportiva na Inglaterra atraía o
público, e ir ao estádio era uma das principais formas de lazer.
Assim, os jogadores tornaram-se “bens instrumentais”.

alphaspirit/iStockphoto.com
POR LEANDRO STEIN

Q
uando a Inglaterra se tornou o primeiro país a
adotar o regime profissional no futebol, lá em
1885, a popularização da modalidade era uma
questão-chave. O esporte, que se formalizou
nas rodas aristocráticas, especialmente entre estudantes,
rompia rapidamente barreiras sociais. A origem do futebol
como negócio nada mais era que o reflexo de um mercado
em expansão.
Voltemos aos primórdios. O “jogo de bola com o pé”,
propriamente dito, não nasceu na Inglaterra. Há ancestrais
do futebol na Grécia Antiga, no Império Romano, na
Europa Medieval, na América Pré-Colombiana e em
outros cantos onde o ser humano resolveu lançar algum
objeto esférico por diversão – ou por algo mais sério do
que isso. Os ingleses levam os créditos por terem sido
os primeiros a padronizar a modalidade.
Em outubro de 1863, a reunião de 13 senhores em
uma taberna londrina serviu para que a Football Association
fosse fundada e organizasse os nascentes clubes. Dias
também conquistou operários e
outros trabalhadores. Dentro das
políticas públicas, o esporte servia como
ferramenta à saúde física e à transmissão de
lições morais. Mas as próprias fábricas o entendiam como
uma recreação que diminuía a preocupação com motins
de funcionários.
A competitividade, entretanto, aumentou a gana dos
clubes em contar com os melhores jogadores. O norte da
Inglaterra, berço da Revolução Industrial, paulatinamente
começou a desafiar a hegemonia das equipes dos
cavalheiros de Londres. Os times eram vistos como uma
maneira de simbolizar a prosperidade de cada cidade.
As fábricas passaram a empregar operários apenas pelo
talento no futebol, com salários que pagavam por sua
produtividade em campo. Os aristocratas, por outro lado,
opunham-se à possibilidade de jogar por dinheiro e diziam
que os pagamentos “manchavam” os ideais cavalheirescos.
Autor desconhecido/Aston Villa Football Club
(Domínio público).

depois, um novo encontro levou à criação das regras do

jogo. A padronização ajudava a promover partidas entre
equipes diferentes, o que não acontecia com frequência
quando cada escola adotava o seu próprio jeito de praticar
a modalidade. A partir disso, surgiram competições, novas
equipes e novos jogadores que as defendessem e milhares
de interessados em assistir aos jogos.
Ao longo dos 20 anos seguintes, o que se viveu no
Reino Unido foi uma verdadeira revolução. O futebol
deixou de ocupar apenas os círculos da classe alta, mas O time inglês Aston Villa F.C. em foto de 1897.

9
 Um episódio fundamental nessa história acontece em Cabe dizer que, naquele momento, embora o
1883. Até aquele ano, apenas os times londrinos haviam futebol estivesse mais bem estabelecido no Reino
conquistado a Copa da Inglaterra. Naquela temporada, Unido, ele já era global. O imperialismo britânico ajudou
todavia, os operários do Blackburn Olympic derrotaram a espalhá-lo por diferentes cantos do planeta desde o
os aristocratas do Old Etonians, ex-estudantes de uma século XIX. Marinheiros, ferroviários e estudantes foram
das instituições de ensino mais tradicionais de Londres. os principais “agentes polinizadores”. O movimento nos
Era o primeiro campeão do norte fabril, composto de demais países, contudo, seguiu uma ordem diferente.
proletários. Todos haviam arranjado emprego graças aos As competições alavancavam a popularização e o
dirigentes do clube. O processo era irreversível. marketing, mas o profissionalismo demorou um pouco
Diante dos casos crescentes de pagamentos “por mais, consolidando-se na Europa continental na década
baixo dos panos” aos jogadores, a Football Association de 1920 e na América do Sul na década de 1930.
distribuía punições. Já em 1884, 30 clubes do norte A midiatização do futebol, aliás, intensifica-se também
ameaçaram formar uma federação paralela caso a FA nos anos 1930, tempo das transmissões radiofônicas,
não mudasse sua postura. Dezoito meses depois, para dos cinejornais e da imprensa escrita especializada.
não perder seu poder, a entidade cedeu. Desde julho Essa atenção voltada para além de quem estava nas
de 1885, os jogadores começaram a ser pagos por arquibancadas, é claro, permitia a ampliação dos negócios,
seu trabalho em campo, passo fundamental para a pois aumentava o público e os próprios estádios. O futebol
organização do futebol. tornava-se ainda mais um fenômeno de massas e uma
A partir de então, criou-se uma necessidade: o futebol ferramenta política e comercial.
deixava de ser um mero passatempo e se transformava Nos anos 1950, uma época de prosperidade
em um negócio, com pessoas que dependiam dos jogos econômica, surgiram mais novidades. A televisão virava
para o seu sustento. Não por acaso, o Campeonato Inglês realidade, as competições internacionais nasciam, as
surgiu em 1888. A competição em pontos corridos era transferências de jogadores entre países cresciam. Esse
uma maneira de manter os atletas em atividade durante processo se acelerou nos anos 1970, quando o futebol
longos meses, sem deixar os clubes dependentes se fincou em mercados emergentes e a FIFA começou
do arranjo de amistosos ou vulneráveis a eliminações a explorar o tino comercial da Copa do Mundo. Nos
precoces. A liga permitia que as agremiações gerassem clubes, as camisas estampam logos de patrocinadores e
renda de maneira contínua, por meio das bilheterias, fornecedores de material esportivo. Diante da diversificação
com as multidões lotando as arquibancadas. das fontes de renda nos clubes, as bilheterias representam
O mercado do futebol cresceu pouco a pouco. Jo- uma fatia um pouco menor do bolo.
gadores tornaram-se “bens instrumentais”, comprados

Dmytro Aksonov/iStockphoto.com
e vendidos. O profissionalismo também ajudou a melho-
rar o nível do jogo, com atletas focados em se dedicar
apenas àquilo. O desenvolvimento do esporte atraía o
público, e o ato de ir ao estádio estava entre as princi-
pais formas de lazer, algo que as empresas passaram a
explorar. Associar os ídolos às marcas virou ferramenta
de marketing. Um exemplo são os cards de jogadores
famosos que vinham em maços de cigarros, a partir de
1906. Ante os estádios lotados, outro caminho logo to-
mado seriam as placas de publicidade.
Autor desconhecido/Wikimedia Commons
(Domínio público).

Se a década de 1980 arraigou a alma do negócio,

foi nos anos 1990 que as cifras realmente bateram
recordes. O planeta, afinal, entrava em um novo
momento. A globalização ignorava fronteiras. E você,
imagina algo que seja mais capaz de aproximar pessoas
do que o futebol? Isso, no fim das contas, também
garantiu um universo em expansão à mercantilização.
Propagandas entopem todas as mídias, gigantes
Card de embalagem de cigarro de 1909, com o jogador de materiais esportivos criam impérios, empresas de
R. Robertson, do time inglês St. Mirren F.C.

10

marketing promovem grandes torneios, o dinheiro da
televisão chega a quantias estratosféricas, caem limitações
às transferências de jogadores.
São as bases do “futebol moderno”. Um futebol
que se vê mais como negócio do que como jogo e
que vê os torcedores mais como consumidores do que
como apaixonados. Perde-se essência; ganha-se em
abrangência. Mas a verdade é que o esporte, por mais que
se submeta a interesses particulares, sempre precisará
responder àquilo que o público deseja. Resta saber qual
caminho tomará essa equação, entre as modificações
que se seguirão.
Leandro Stein é jornalista formado pela Escola
de Comunicações e Artes da Universidade de
São Paulo (ECA-USP) e editor da Trivela.com,
há sete anos. Contribuiu para diferentes sites
e publicações, como Placar, Revista ESPN,
Corner, Olheiros, entre outros, sempre com foco
no esporte e no universo que o circunda.
Arquivo pessoal/
Leandro Stein
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)
estabelece competências e habilidades norteadoras
do estudo dos conteúdos exigidos para o Ensino
Médio. Por meio do texto “Como o futebol virou
um negócio”, foram trabalhadas as seguintes
competências e habilidades da área de Ciências
Humanas e suas Tecnologias:
C1 – Compreender os elementos culturais que
constituem as identidades.
H3 – Associar as manifestações culturais do presente
aos seus processos históricos.
C4 – Entender as transformações técnicas e
tecnológicas e seu impacto nos processos de
produção, no desenvolvimento do conhecimento e
na vida social.
H17 – Analisar fatores que explicam o impacto das
novas tecnologias no processo de territorialização da
produção.
H19 – Reconhecer as transformações técnicas e
tecnológicas que determinam as várias formas de
uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
HA C5 – Utilizar os conhecimentos históricos para
compreender e valorizar os fundamentos da
BILI cidadania e da democracia, favorecendo uma
DA atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 – Identificar o papel dos meios de comunicação
DES na construção da vida social.
Ciências Humanas e suas Tecnologias
Geografia
TOQUE DO
ESPECIALISTA
POR JOÃO FELIPE COELHO VITERBO
Racismo e violência no futebol
C
onsiderado um importante elemento de formação da
identidade nacional, o futebol é, certamente, um fator de
reconhecimento do Brasil no exterior. O futebol mais habilidoso,
ofensivo, com dribles e outras belas jogadas – principalmente por
causa da seleção brasileira – sempre foi associado ao samba,
ao Carnaval e a outras expressões populares também bastante
reconhecidas por estrangeiros que visitam ou que até mesmo
fazem alguma rápida pesquisa sobre o nosso país.
Entretanto, como ocorre com várias outras áreas, o futebol
reflete a sociedade brasileira. O racismo, problema ainda muito
presente nos dias de hoje, marcou os primórdios da prática
desse esporte no território nacional. Para apontarmos um
exemplo disso, podemos citar Mário Filho, importante cronista
esportivo e autor do livro O negro no futebol brasileiro. Em
sua obra, o escritor mostra como os jogadores negros tinham
dificuldade de integrar os times do Rio de Janeiro entre as
décadas de 1910 e 1920.
Atualmente, o racismo ainda é presente nesse esporte,
tanto no Brasil quanto no exterior. Casos como o do goleiro
Aranha, ofendido por torcedores do time adversário, e do lateral
direito Daniel Alves, que teve uma banana atirada em sua
direção quando se preparava para uma cobrança de escanteio
na Espanha, são apenas alguns dos exemplos dessa herança
racista.
Além disso, a violência, tema de destaque no cotidiano
nacional, também envolve o futebol, principalmente devido às
brigas entre torcidas. Em 2017, por exemplo, 104 episódios de
violência estavam ligados a esse esporte no Brasil, com um total
de 11 mortes, segundo dados de uma pesquisa de mestrado da
faculdade Universo, coordenada pelo sociólogo Maurício Murad.
Não é possível dissociar esse número da violência brasileira
em um plano geral, uma vez que nosso país teve mais de
59 mil mortes por crimes violentos em 2017, de acordo com o
levantamento do Monitor da Violência.
Mesmo com essas e outras características negativas,
o futebol não deve ser visto como algo que não mereça
importância. Esse esporte, adorado por tantas pessoas no Brasil
e no mundo, pode sim ser positivo, em ações como o incentivo
à prática esportiva e a elaboração de políticas educacionais
por meio do esporte. Se bem realizadas, tais ações podem,
inclusive, contribuir para a queda do número de problemas
relacionados ao racismo e à violência no país, mesmo que
em uma menor escala. Afinal, como outros esportes, o futebol
promove, também, a unidade entre as pessoas, o respeito pelo
adversário, a saúde e o envolvimento social.
11
 E N T R E V I S TA | Hericson Costa

Arquivo pessoal/Hericson
Rodrigo Medeiro de
Almeida Costa
CARREIRA:
Educação Física
Hericson Costa é personal trainer e
coach de emagrecimento e atua
com treinamento funcional e corrida
de rua. É graduado em Educação
BraunS/iStockphoto.com

Física pela Universidade do Vale do

Paraíba (Univap) e possui experiência
em treinamento de esportes como
basquete, vôlei e natação. Atualmente,
é sócio-proprietário de uma assessoria
esportiva e de um centro de
emagrecimento e performance.

12
Equipe Leia Agora: Quais devem ser os interesses
de quem pensa em cursar Educação Física? O que é
estudado durante a graduação?
O ingresso na Educação Física pode ser interessante
?
para quem tem ou teve vivências com o esporte, gosta
de relações interpessoais e deseja acolher aqueles que
necessitarão de seus conhecimentos técnicos para
a melhoria de sua condição biológica, psicológica,
social e cultural. O profissional de Educação Física
deve ser um exemplo para seus alunos e clientes,
prezando pela ética e pelos valores humanos. Durante
a graduação, estudamos todo o corpo humano e seu
funcionamento, tanto em repouso quanto em exercício,
passando pelas disciplinas de Anatomia, Biologia,
Bioquímica, Fisiologia, Biomecânica, Aprendizagem e
Desenvolvimento Motor e Psicologia. Também temos a
vivência das modalidades esportivas, visando atuar no
ensino e no aperfeiçoamento de suas técnicas, o que
torna o aprendizado mais interessante, pois é possível
associar as teorias à prática de maneira interdisciplinar.
Equipe LA: Quais são as áreas de atuação e as
principais possibilidades de especialização para
quem opta por essa carreira?
Atualmente, o profissional de Educação Física encontra
dois tipos de curso: a licenciatura, para quem deseja atuar
na área de Educação Básica, que compreende do Ensino
Infantil até o Médio; e o bacharelado, que possibilita
a atuação em clubes, academias, centros esportivos,
equipes multidisciplinares, clínicas ou quaisquer
instituições que promovam os exercícios físicos. Para as
duas áreas, existe ainda o ramo da pesquisa científica,
que garante o avanço das técnicas e o desenvolvimento
de novas metodologias para o treinamento e o ensino.
O profissional pode especializar-se em áreas voltadas à
saúde, ao esporte ou ao gerenciamento, por exemplo:
a fisiologia do exercício, a biomecânica, o marketing
esportivo, a psicomotricidade, os grupos especiais, a
gestão esportiva e muitas outras.
Equipe LA: Quando falamos em Educação Física, é
comum pensarmos primeiro em aparência corporal.
Qual é o papel do educador físico diante das
necessidades estéticas da sociedade?
Para chegarmos às necessidades estéticas,
precisamos passar por todas as ciências humanas,
portanto o profissional de Educação Física deve ter um
conhecimento multidisciplinar a fim de impedir tudo
aquilo que não é saudável para a vida do seu aluno
ou cliente. Falar em estética é pensar nos exageros
que são cometidos para alcançar o “corpo perfeito”, o
que leva a atos imediatistas e inconsequentes. É nesse
momento que as áreas de conhecimento devem ser
exploradas, sendo papel do educador físico manter
em equilíbrio as dimensões humanas (biológicas,
psicológicas, sociais e culturais) do indivíduo,
orientando-o para que suas práticas sejam saudáveis
e respeitem seu tempo de adaptação individual e suas
necessidades.
Equipe LA: Também é comum relacionarmos a
Educação Física apenas aos esportes. Qual é a
diferença entre os cursos de Educação Física e
Ciências do Esporte?
Os dois cursos são muito semelhantes, porém a gra-
duação em Ciências do Esporte aborda conteúdos
mais direcionados às áreas de gestão e marketing,
com ênfase sobre a atuação na área esportiva. Ape-
sar dessa pequena diferença, é válido informar que o
conselho regulamentador é o mesmo para os profis-
sionais formados nos dois cursos, pois ambos são da
área da saúde e estão aptos a trabalhar como téc-
nicos, instrutores e professores em clubes que têm
a missão de promover a saúde e também a prática
esportiva competitiva, participativa ou educativa.
Equipe LA: De que maneira o educador físico pode
contribuir para a melhoria da qualidade de vida da
população?
A qualidade de vida é uma percepção subjetiva de
como se está vivendo, análise que é feita por um olhar
multifatorial e passa pela avaliação da saúde física
e mental do indivíduo. Nesse caso, o profissional de
Educação Física pode proporcionar, por meio de sua
atuação, condições para a melhoria da saúde geral de
cada aluno ou cliente, levando-o a ter uma experiência
de satisfação com sua vida e suas relações interpessoais
e a alcançar sua realização pessoal, o que reflete no
meio social em que vive.
Equipe LA: Como o profissional de Educação Física
pode atuar junto a pessoas com deficiência física ou
motora?
A atuação com pessoas com deficiência também é
uma área abrangida pela Educação Física. Além do
trabalho de reabilitação do sistema neuromuscular,
13
 existe o paradesporto, ou esporte adaptado, que é a
inclusão dessas pessoas no esporte. Nesse sentido,
o profissional deve desenvolver atividades que
possibilitem a participação delas de forma integral em
determinada modalidade esportiva ou em atividades
diversas. É uma área que tem crescido, pois essas
pessoas são capazes de realizar tarefas extraordinárias,
independentemente de suas deficiências.
Equipe LA: Qual é a relação entre a Educação Física
e a área da Nutrição?
Falar em saúde é pensar em exercícios e alimentação,
portanto não é possível obter resultados satisfatórios para
a saúde ou a performance sem que essas duas áreas
caminhem juntas. Assim, desde o emagrecimento até a
melhora do rendimento esportivo, a Nutrição contribui de
maneira essencial para a Educação Física, pois não se
pode ser um atleta ótimo, por exemplo, se sua alimentação
é ruim. Nesse caso, além do profissional de Educação
Física, é necessária a presença do profissional de Nutrição
para a elaboração de um plano alimentar personalizado
para cada indivíduo.
Equipe LA: Qual é a importância da disciplina de
Educação Física no currículo escolar e como essa
área contribui para o desenvolvimento físico e mental
de crianças e jovens?
Vê-se, nos últimos anos, um decréscimo das capacidades
e habilidades físicas básicas das pessoas. Isso vem
ocorrendo devido ao grande crescimento tecnológico,
à verticalização das moradias e a fatores sociais que
impossibilitam as crianças de vivenciar atividades que exijam
de seu condicionamento físico, o que desenvolve adultos
com doenças hipocinéticas e síndromes metabólicas. Em
muitos casos, as aulas de Educação Física na escola são
FatCamera/iStockphoto.com
os únicos momentos em que essa criança pratica exercício
físico, por isso essa disciplina é tão importante para o
desenvolvimento integral do ser humano. Vale ressaltar
que todas as pessoas, na infância e na adolescência,
precisam ser colocadas em situações de natureza física e
psicológica que possibilitem a aquisição de habilidades, as
quais serão levadas para o resto da vida. Nesse contexto, a
Educação Física escolar tem um papel fundamental para o
aprendizado e o desenvolvimento psicomotor de crianças
e jovens, além de ser uma grande fonte de estímulo para a
aquisição de virtudes humanas.
Equipe LA: A Educação Física é uma área em
expansão? Quais os desafios e as perspectivas
do mercado de trabalho para os profissionais nos
próximos anos?
Sim, a área da Educação Física é um ramo em constante
crescimento e está se expandindo para bases mais
tecnológicas e interativas, buscando tirar mais pessoas do
sedentarismo. O mercado de trabalho tem se modificado
de acordo com as mudanças no perfil da sociedade, que,
em geral, tem pouco tempo para realizar suas atividades
e busca alcançar objetivos diversos. O segredo é inovar e
ter uma identidade própria de trabalho, deixando sua
característica na qualidade do serviço que realiza, sempre
com embasamento científico e muita alegria.
Equipe LA: Por que você recomendaria essa carreira?
Indico a área de Educação Física porque é uma profissão
que proporciona prazer e felicidade, primeiro para
aqueles que buscam nossos serviços e percebem que
podem ir muito além de onde pensavam que chegariam;
segundo para nós, profissionais, pois podemos vivenciar
superações e vitórias todos os dias em cada história que
vivemos com nossos alunos.
14
 PA R Ê N T E S E

filipefrazao/iStockphoto.com

Orgulho de ser brasileiro

Po r B r u n o Fr e i t a s

De quatro em quatro anos, a atenção dos brasileiros é direcionada à Copa do Mundo. Nos
dias que antecedem essa competição e durante os jogos do Brasil, a sensação que temos é que
o “país do futebol” realmente paralisa suas atividades para acompanhar a seleção canarinho
em campo. O patriotismo do brasileiro fica evidente nesse período, podendo ser percebido
nas mudanças de comportamento dos torcedores, que, sozinhos ou reunidos, preparam-se para
os jogos de diversas maneiras: enfeitando ruas, praças, comércios, prédios públicos e privados,
colecionando figurinhas e utilizando camisetas e acessórios verdes e amarelos.
É nesse clima de festa que milhões de torcedores deixam suas diferenças e desavenças de lado
para reforçar a dimensão da torcida da seleção pentacampeã, mostrando para todo o mundo a alegria,
a energia e o amor do povo brasileiro por seus heróis de chuteiras e por seu país. Quem é que não se
lembra da Copa do Mundo de 1994, realizada nos Estados Unidos, e da de 2002, que aconteceu no
Japão e na Coreia do Sul, quando vencemos essa disputa? Nesses dois momentos mais recentes da
história do nosso futebol, certamente, sentíamos muito orgulho de sermos brasileiros.
Em 2014, quando sediamos o evento, acreditávamos que comemoraríamos o nosso sexto título
em grande estilo, mas vimos esse sonho ir por água abaixo quando sofremos uma amarga derrota
contra os alemães, deixando de lado todo o nosso patriotismo. Contudo, nada como uma nova Copa
do Mundo e uma seleção de ponta para resgatar esse sentimento. Mas, afinal de contas, o que é ser
patriota? Segundo o dicionário Houaiss, esse adjetivo é usado para se referir àquele “que ama a pátria
e a ela presta serviços”. Além disso, podemos acrescentar a essa definição o fato de que ser patriota
é defender o nosso país e ter orgulho dos nossos símbolos e raízes, algo que não é limitado apenas
ao contexto do futebol.
E por que esse sentimento de patriotismo parece existir apenas durante os jogos esportivos,
principalmente os da Copa do Mundo? Um dos fatores é que, no dia a dia, faltam motivos para que
nós possamos sentir orgulho de sermos brasileiros. Hoje em dia, a história da nossa pátria, mais do
nunca, está sendo marcada por cenas de violência e intolerância em diferentes esferas, somadas às
crises política e financeira e, acima de tudo, às denúncias de corrupção, que parecem não ter fim.
Agora, esperamos ansiosos pela atuação do Brasil na Rússia para, quem sabe, trazer às terras
tupiniquins a taça do hexacampeonato. Esse título certamente resgataria o nosso patriotismo em
um ano em que também somos convocados a entrar em campo, mas no jogo eleitoral. Nesse
contexto, a disputa, em vez de unir, vai nos separar em grupos, nos quais o debate de ideias
e o voto de confiança em algumas pessoas definirão, no mínimo pelos próximos quatro anos,
o orgulho de ser brasileiro.

15
 Mosaico MOSTRA
• A G E N D A •
Zhozhe/iStockphoto.com

Cultural
SOB OS GRITOS DA TORCIDA
Grandes eventos esportivos são elementos normalmente
utilizados nos projetos de propaganda governamental, pois
funcionam como um veículo de mensagens do governo,
sempre em busca de aprovação popular (seja em um
regime ditatorial ou não). O cinema brasileiro tem dois
exemplos destacados que mostram bem essa relação
entre Copa do Mundo e ditadura, mais precisamente
na Copa de 1970, quando o Brasil conquistou seu
tricampeonato. O primeiro filme é Pra frente, Brasil
(1982), escrito e dirigido por Roberto Farias, que
mostra o que acontecia nos porões da ditadura
enquanto o público vibrava com cada partida vencida
Football Parade
Até 15 de julho
ONDE: São Paulo (SP).
Evento ao ar livre que comemora os 70 anos
do Sindicato de Atletas de São Paulo, com
70 esculturas de bolas pintadas por artistas
selecionados, expostas nas principais ruas,
avenidas, praças e locais de grande circulação
da capital paulista, durante a Copa do Mundo.
INFO: <www.footballparade.com>.
ON-LINE
A História da Camisa Canarinho
Permanente
ONDE: Internet.
A plataforma Google Arts & Culture disponibiliza
uma exposição de slides que conta a trajetória
do uniforme da seleção brasileira de futebol e
mostra como o amarelo-ouro passou a vestir
o Brasil. Fotos raras e históricas enriquecem a
apresentação.
INFO: <https://artsandculture.google.com/exhibit/

pela Seleção Brasileira no México. O filme foi um dos VAKCCiIxN2jqKQ>.

primeiros a retratar a repressão da ditadura militar HISTÓRIA

brasileira, que vigorou entre 1964 e 1985. Reginaldo
Faria é Jofre, um pacato cidadão que, ao ser visto
com um militante de esquerda, é considerado um
“subversivo” e submetido a sessões de tortura. Sua
agonia é abafada pelos gritos dos brasileiros a cada gol
do Brasil. O outro filme é O ano em que meus pais saíram
de férias (2006), escrito e dirigido por Cao Hamburger. O
menino Mauro (Michel Joelsas), de 12 anos, é um fã de futebol
que está curtindo a Copa de 1970. De repente, seus pais “tiram
Museu da Seleção Brasileira
Permanente
ONDE: Rio de Janeiro (RJ).
A Confederação Brasileira de Futebol, com
sede no Rio de Janeiro, mantém um museu
que conta toda a história da participação da
seleção brasileira nas copas, com imagens,
camisas, troféus e tecnologias que permitem a
interatividade do visitante com o tema.
INFO: <https://museuselecaobrasileira.com.br/>.

férias”. Na verdade, eles são militantes de esquerda e precisam

fugir. A preocupação do menino com os pais é desviada quando ele
acompanha as jogadas heroicas da seleção brasileira durante a Copa.

POLÍTICA,
PROPINA e
MARACANÃ FUTEBOL

Maracanã. Direção: Sebastián Bednarik Jamil Chade. Política, propina e futebol

e Andrés Varela. Uruguai, 2014.
Cinedocumentário conduzido por
imagens históricas recentemente
descobertas que mostram a campanha
da seleção do Uruguai, que acabou
vencendo a Copa do Mundo de 1950,
no Brasil, derrotando a equipe da casa
por 2 a 1, no Maracanã.
futebol. Do outro lado: a Rússia gay que não
Rio de Janeiro: Objetiva, 2015. pode sair do armário
Documentário do UOL em quatro
O jornalista Jamil Chade destrincha
capítulos sobre a proibição de
diversos episódios de corrupção na FIFA,
manifestação pública de afetividade
que movimentou pelo menos 150 milhões
homossexual. O documentário levanta a
de dólares em propinas e subornos,
questão: é seguro para um homossexual
inclusive abordando a Copa do Brasil, em
ir à Copa da Rússia este ano?
2014, e a da Rússia, neste ano.
Acesse: <www.uol/copadomundo/especiais/
do-outro-lado.htm>.

16

EXTRA!
Por Roberta Nina Cardoso
O futebol feminino
resiste!
A primeira partida oficial de futebol feminino comemorou 120 anos em 2015, e,
desde que o jogo começou a ser praticado por mulheres, as opiniões divergem.
Mesmo depois de tanto caminho percorrido e tantas barreiras vencidas, ainda há
quem diga que mulher não serve para jogar futebol, que o jogo delas é lento e que
não atrai público e patrocínio.
O primeiro jogo de mulheres reconhecido pela FIFA aconteceu em 1895 e foi
organizado por Nettie Honeyball, fundadora do British Ladies Football Club, time que
representava o norte da Inglaterra e que goleou a seleção do sul por 7 a 1. A partida
aconteceu no Crouch End Athletic, em Londres, e, segundo o jornal The Guardian,
atraiu 10 mil curiosos, entusiastas, jornalistas e críticos. As mulheres não tinham
experiência nenhuma no esporte e entraram em campo uniformizadas com blusas,
chapéus e calças muito largas amarradas abaixo do joelho. A roupa da ocasião foi
tratada como uma evolução, afinal, elas só usavam saias longas em competições.
“Devo dizer que a impressão que a partida dessa tarde me deixou foi a de um belo
espetáculo”, afirmou um jornalista do The Guardian. O jornal de Manchester também
apoiou a prática feminina: “não há nenhuma razão para que as mulheres não abracem
esse esporte como um novo e saudável entretenimento”. Já as críticas do Bristol
Mercury and Daily Post reverberaram intolerância e preconceito: “nos alegramos que
as mulheres não saibam jogar futebol, e, mesmo que fossem capazes, esse esporte
sempre será inadequado ao seu sexo”.
No Brasil, registros indicam que o futebol feminino chegou por volta da década
de 1920 e seguiu até os anos 1940 sendo praticado apenas como lazer, em eventos
beneficentes e espetáculos que atraíam grande quantidade de público. Em 1941,
o então presidente Getúlio Vargas proibiu as mulheres de praticarem futebol, entre
outros esportes. O impedimento seguiu com o golpe militar de 1964, e, somente nos
anos 1980, a prática foi reconhecida oficialmente.
O preconceito e a proibição atrasaram a evolução do futebol feminino no Brasil, que
ainda sofre com a falta de apoio, investimento, visibilidade e desenvolvimento. Grandes
clubes não investem na modalidade alegando não haver retorno, patrocinadores não
investem dinheiro alegando não haver visibilidade, o público não assiste às partidas
porque não há exposição, e, assim, nessa toada, a modalidade feminina não ganha o
mesmo apoio que a masculina.
Em junho do ano que vem, vai acontecer, na França, a 8ª edição da Copa do
Mundo Feminina de Futebol. Pouco se ouve falar sobre o torneio, as jogadoras ou a
seleção brasileira e muitos acreditam que as grandes craques atuam somente fora
do país. Mas quase ninguém sabe que, por aqui, também acontece Campeonato
Brasileiro, Paulista e até mesmo Libertadores Feminino. E aí, vocês conhecem as
nossas atletas? São informados sobre os jogos femininos? Já assistiram a algum?
É preciso ampliar o espaço da mídia para falar sobre futebol feminino, incentivar
as mulheres a ocupar os campos e capacitá-las a treinar equipes, apitar jogos e
dirigir clubes, tirando-as de vez dessa invisibilidade que dura anos. Algumas coisas já
melhoraram, mas as mulheres ainda precisam provar para a sociedade que o futebol
feminino pode ser verdadeiramente apreciado.
17