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Enfim, podemos ter a partir de agora uma clareza melhor do que teremos à frente pós
eleições de 2018. Não busco aqui analisar a estrutura de programa presidencial do então
presidente eleito, Jair Messias1 Bolsonaro, em sua totalidade, mas, uma característica ideológica
crucial em seu discurso de posse em que toda sua campanha disse ser um combatente às
ideologias.
Em sua resposta, Jair Messias Bolsonaro foi enfático declarando-se segundo suas palavras:
“Não sou Caxias, mas sigo este grande herói brasileiro”, reiterando sua postura como
representante maior da Nação brasileira com a mesma carga ideológica que Luís Alves de Lima
e Silva, o Duque de Caxias, famigerado assassino de Negro Cosme, líder do quilombo Lagoa
Amarela na vila de Caxias na luta pelo fim da escravidão, tornando-se o patrono do exército
brasileiro no desmonte da rebelião escrava na Balaiada ocorrida na regência do Império
brasileiro em 1838-41, e desta forma o trata como símbolo.
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Historiador, mestrando pelo Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Socioespacial e
Regional/PPDSR da Universidade Estadual do Maranhão.
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É preciso caracterizar aqui o segundo nome de Bolsonaro, bastante enfatizado nas campanhas oficiais,
pois até então só se denominava “Jair Bolsonaro”. É essencial tomar este cuidado, pela força ideológica
a qual o direcionamento de sua campanha ter tomado uma relação profunda de adesão da camada
neopentecostal conservadora da igreja evangélica. Tanto que seu slogan “Brasil acima de tudo: Deus
acima de todos”, tanto marcado no início de seus pronunciamentos oficiais das propagandas políticas,
quanto hoje em seu discurso de vitória, está arraigada também com a passagem bíblica de João 8:32 “E
conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”, traz uma relação profunda de um modelo fascista
que sempre caracterizou regimes ditatoriais militares.
Em primeiro lugar, para definição do Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST), o Estado
brasileiro precisa reafirmar uma garantia básica de infraestrutura para a expansão territorial do
Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) para construção de novos sítios de lançamento de
foguetes, atendendo assim às tratativas dos ASTs. E esta definição de expansão do CLA trás um
conflito direto entre as comunidades quilombolas de Alcântara, uma vez que as mesmas já
sofreram deslocamentos compulsórios no início das atividades do programa espacial brasileiro
na década de 1980 e que até hoje, mesmo com a Constituição de 1988 em dar garantias
constitucionais de direito territorial, até hoje não foi constituído e o AST conduzido até o
momento pelo Estado brasileiro não trouxe nenhuma resolução deste direito territorial
quilombola. Jair Bolsonaro já apresentou antes do processo de campanha eleitoral uma
desarmonia em seu discurso, em que tratou comunidades quilombolas de maneira
desrespeitosa (tratando-os como arrobas de bois) e sem um mínimo de cuidado analítico no
princípio da antropologia social a qual as comunidades quilombolas sempre estiveram, segundo
a socióloga Lourdes Bandeira, em uma invisibilidade expropriadora.
Está bem claro os rumos que seguirão na política espacial brasileira que define um
panorama traumático quanto a Soberania dos Povos Quilombolas, Soberania Nacional com a
entrega do CLA para os interesses imperialistas dos EUA, como a manutenção da reestruturação
produtiva do capital transnacional em que podemos qualificar toda esta dinâmica geopolítica
como o geógrafo David Harvey define dentro do paradigma da “acumulação por
desapossamento”.
Uma ascensão meteórica de um candidato falastrão, mas, que, em todo seu discurso
midiático assessorado por um marketing da fake news em uma dinâmica constituída nas redes
sociais, apresentou-se dentro da aparência de um iceberg virtual em que seus eleitores são
orientados pelo discurso do senso comum pós-moderno pelo “fim das ideologias”
fundamentado pelo historiador Francis Fukuyama nos anos 1990 com o fim da Guerra Fria. Jair
Bolsonaro, idolatrado como Mito, ainda sustenta um discurso de combate anacrônico da
pregação messiânica anticomunista, ao definir-se como “escravo da constituição” de 1988, mas,
um eterno apologético da Ditadura Militar de 1964 e quiçá, restaurador da Constituição fascista
de 1967. Um político controverso, com um discurso ideológico “antissistema”, só trazem
incertezas insólitas pós-modernas para o devir de toda a sociedade brasileira que tenta
amadurecer os 30 anos da Constituição de 1988 sob uma égide sombria da restauração do Golpe
de 1964. Estamos sob o olhar do “Grande Irmão” descrito por George Orwell da obra 1984.
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Que todos os orixás protejam os quilombolas de Alcântara do deus de Bolsonaro!