Sistema Eletrônico de Potência e Otimização para Transdutores de
Ultra-Som Sintonizados
Nilson Noris Franceschetti e Julio Cezar Adamowski
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
O objetivo deste texto é descrever a proposta de estudo
e implementação de circuitos de acionamento e
controle aplicados à transdutores de ultra-som de
potência.
Introdução
O avanço tecnológico proporcionado por
pesquisas em de materiais e semicondutores de
potência permitiu um expressivo crescimento da
utilização de ultra-som de potência nos últimos anos.
Há muitas razões para que isto acontecesse, dentre as
quais a viabiliade economica, pois sistemas industriais
utilizando ultra-som de potência são muito
competitivos em termos de custo e qualidade final do
processo, quando comparado a outras técnicas nas
mais diversas áreas de aplicação.
Sua aplicação em processos industriais teve
ínicio ao final da Segunda Guerra Mundial e desde
então seu crescimento tem sido constante. No ínicio da
decada de 70 estimava-se que a venda mundial de
equipamentos utilizando ultra-som de potência
abrangia aproximadamente $100 milhoes de Dolares
por ano [1], hoje estima-se Bilhoes!
Notadamente, o ultra-som de potência é
aplicado à 5 grande áreas industriais: Cleaning
(limpeza), Solda Plástica, Solda Metálica, Soldering
(estanhagem) e Máquinas Ferramentas [2]. Pesquisas e
desenvolvimento continuam sendo realizados nas mais
diversas áreas como atomização, farmaceutica,
cristalização, entre outras como exploração espacial,
onde recentemente transdutores de potência foram
desenvolvidos pela agência espacial americana NASA
na missão de exploração de Marte, cuja finalidade éra
perfurar rochas para posterior análise [3] [4].
Diferentemente do uso de ultra-som em testes
por END (Ensaios Não Destrutível), o objeto de uma
aplicação por ultra-som de potência está exposto a uma
vibração cuja energia é suficiente para alterar
permanentemente algumas de suas características
físicas. Isto se deve-se à potência mecânica gerada
pelo dispositivo de ultra-som em contato com o
material. Dependendo da aplicação, pode-se transferir
pelo ultra-som de potência desde alguns até milhares
de Watts/cm.
Transdutores de Potência
Um parâmetro importante na definição de
transdutores de potência é a densidade de potência.
Esta definida como a potência elétrica do transdutor
dividida pela área de irradiação da superficie da
ponteira do transdutor.
Existem basicamente dois métodos de
aplicação de potência acústica em cargas. A primeira
denominada sistema de baixa intensidade, onde um ou
vários transdutores são excitados diretamente por uma
fonte de energia. Um exemplo é o sistema de cleaning,
onde um recipiente possui um ou vários transdutores
posicionados no fundo e/ou nas lateriais. Neste sistema
a densidade de potência é da ordem de 1 a 2 W por
cm2. O outro método é um sistema de potência mais
elevada, onde o transdutor utiliza um amplificador
mecânico, comumente denominado simplesmente
“horn”, que transfere a potência mecânica para o meio
físico. Assim, devido a alta intensidade de energia
empregada, um gerador elétrico de potência deve ser
utilizado na excitação do transdutor [5].
Os atuais transdutores utilizados em sistema
ultra-sônicos de potência são baseados em um
configuração onde discos cerâmicos piezoelétricos são
pré-tensionados. Nesta configuração, tipicamente 2 ou
4 elementos piezoelétricos são pressionados entre um
par de metal e a massa do transdutor. Os elementos
piezoelétricos normalmente são pré-polarizados e
feitos de tatitanto-zirconato de chumbo, o que permite
alta atividade de acoplamento, baixas perdas e alta
durabilidade.
Considerando o comprimento do material
piezoelétrico polarizado e acionando-o com uma fonte
de tensão alternada, na frequência ressonante
correspondente, as dimensões dos anéis irão sofrer
alterações em sintônia com a tensão aplicada [6].
Assim, por exemplo, um bastão que tenha
comprimento de 70mm irá vibrar na frequência
aproximada de 20kHz. Infelizmente, a capacidade de
potência destas cerâmicas é limitada, por possuirem
pobre capacidade térmica e baixa capacidade de tração
[7].
Entre as aplicações industriais de ultra-som
de potência, destacam-se às da área automotiva,
instrumentação, alimentícia, médica, textil e materiais.
Sendo em muitas destas aplicações o ultra-som de
potência a chave principal do processo. O transdutor
padrão utilizado nestes disposítivos industriais pode
ser conceitualmente dividido em dois elementos
fundamentais, o transdutor de potência,
frequentemente denominado simplesmente “horn”, e a
fonte de energia que excita o transdutor, denominado
acionador de potência..
Por sua vez, o transdutor ultra-sônico possui 3
componentes: Conversor, Booster e Sonotrode, como
observado na figura 1:

C o n v e rso r
B o o ster
S o n o tro d e
C erâm ica P iezo elétric a
Figura 1: Elementos do transdutor ultrasônico: Conversor,
Booster e Sonotrode
O Sonotrodo, ou “horn” é a ponteira que
transfere a energia mecânica para as peças a serem
soldadas. O Booster é um amplificador mecânico que
casa a impedância do conversor com o Sonotrodo. O
conversor por sua vez transforma energia elétrica de
alta frequência em energia mecânica. No passado
materiais ferromagnéticos com características não
destrutivas eram usadas para este propósito. Hoje, o
efeito piezoelétrico é utilizado nesta aplicação, pois
quando submetidos a uma variação de tensão vibram
na frequência da tensão aplicada. Cerâmicas
piezoelétricas no formato de discos são usadas para
transformar a enérgia elétrica em mecânica, com
eficiência superior a 95%. Em geral a conversão ultra-
sônica utiliza uma fonte de energia elétrica para excitar
as cerâmicas numa faixa de frequência entre 20 e
40kHz.
Para assegurar a absorção das oscilações da
cerâmica pelo conversor, os três elementos são
tensionados através de um arranjo mecânico, impondo
aos discos piezoelétricos uma vibração axial quando
excitados.A frequência de ressonância do conversor, é
determinada pelo sinal elétrico alternado imposto pelo
acionador de potência, assim, a variação da frequência
deste sinal permite que o sonotrodo trabalhe na
frequência adequada, ou seja, sua frequência de
ressonância.
O acionador de potência por sua vez , deve
forncer energia elétrica na potência desejada e
frequência adequada, podendo ainda possuir um
sistema de controle para estes parâmetros, conforme
comentado adiante no texto.
O desenvolvimento de novos transdutores
para aplicações cada vez mais específicas e
sofisticadas, necessita do estudo de novos materiais e
de designs mais elaborados tanto mecânicos como
eletrônicos.
Exemplo de Aplicação
Atualmente uma grande área de aplicação de
ultra-som de potência é a soldagem de materias
termoplásticos.
Quando gera-se a junção entre materiais
através da soldagem ultra-sônica, a energia térmica
gerada é produzida através de vibrações mecânicas na
interface entre duas partes. A ferramenta que acopla as
partes a serem soldadas é o sonotrodo, esta move-se na
direção longitudinal, permanecendo as partes a serem
soldadas estáticas, ou de forma inversa,
movimentando-se as partes e deixando o sonotrodo
fixo. Em ambos os casos as peças devem estar sempre
unidas sob pressão. A ação simultânea das forças
estáticas e dinâmicas causam a fusão localizada das
partes sem o uso de materiais adicionais e sem aquecer
toda a peça.
A figura 2 apresentada abaixo, mostra um
esboço do sistema de soldagem utizando a técnica por
ultra-som.
S o n o tro d e
P eça 1
P eça 2
B a se
Figura 2: Processo de soldagem de material termoplástico
por ultra-som
Esta técnica de soldagem produz alta
temperatura na região a ser soldada. O calor gerado é
produzido pela absorção da vibração mecânica, devido
à fricção das superficies das peças. As vibrações são
introduzidas verticalmente e em um curto período de
tempo uma forte junção entre ambos os corpos é
gerada.
O pré-requisito necessário é que ambas as
peças tenham o ponto de soldagem equivalente, o que
possibilita que a qualidade das junções seja
extremamente uniforme, e a energia transmitida e
convertida em calor interno seja constante e limitada à
área de junção. Porém, de forma a garantir resultados
ótimos, recomenda-se que as áreas de junção sejam
convenientemente preparadas.
Acionador de Potência
Como já mencionado, a energia elétrica usada
pelo transdutor é gerada pelo circuito Acionador de
Potência. Este circuito tipicamente fornece alta tensão
alternada com frequência fixa de aproximadamente
de 20kHz. A amplitude do sinal e o tempo a serem
aplicados, dependem diretamente da pressão exercida
sobre as partes a serem soldadas. Evidentemente existe
um ajuste ótimo para cada aplicação, em função das
peças a serem soldadas e das especificações
necessárias de cada aplicação. Além disso, experiência
e prática no processo ajudam a se chegar à um ajuste
fino de sintonia de pressão, tempo e amplitude.
 Observa-se também que existe uma variação
da impedância acústica entre os materias que
participam do processo de soldagem no momento em
que a energia acústica é aplicada. Está pequena
variação causa alteração na frequência de ressonância,
e consequentemente gerando mais calor no transdutor,
gastando mais energia e necessitando de mais tempo
de contato que o previsto para realizar a soldagem.
Neste sentido, a utilização de sistema de controle de
tempo, frequência e amplitude é necessário para
otimizar o processo.
O processo de controle de tempo e amplitude
é facilmente realizado utilizando conceitos modernos
de controle de energia utilizado nas mais diversas
áreas de aplicação da eletrônica de potência. A
aplicação de técnicas de acionamento com modulação
D isp la y L C D
I/O
M ic ro
Te cla do C o n tro la do r
M od o A u to m átic o M od o M an u a l
Figura 3: Sistema de Acionamento e Controle para Transdutor de US de Potência.
O sistema será constituído por um
microprocessador e periféricos como teclado e display
de cristal líquido (LCD), além do sistema de potência.
A função principal do teclado será configurar os
parâmetros do sistema. Adcionalmente, pode-se optar
entre modo de controle automático, onde o sistema
ajusta automaticamente a frequência de ressonância,
ou modo manual, onde o usuário configura esta
frequência. O display apresenta em tempo real o
estado do sistema, como por exemplo, frequência de
ressonância e potência consumida. A otimização, ou
seja a procura da frequência de ressonância baseia-se
na medição de corrente e tensão requeridos pelo
transdutor em função da frequência ajustada. O
Algoritmo é do tipo “Hill Climbing”, usando a técnica
denominada MPPT (Maximum Peak Power Tracking),
que é basicamente uma rotina em tempo real que lê a
em largura de pulso (PWM), podem perfeitamente ser
utilizadas. O ajuste da frequência de trabalho pode ser
feito através de um sistema de realimentação com
algoritmo de busca da frequência de ressonância.
Evidentemente, estudos mais detalhados do
comportamente do transdutor e seus afeitos quando
aplicados estas técnicas devem ser realizados.
CONTROLADOR DE POTÊNCIA
A figura 3 abaixo, apresenta a proposta de
implementação de um sistema de acionamento e
controle aplicado a transdutores de potência. Seu
emprego pode ser realizado em diversas áreas onde o
controle da potência se se faz necessário.
F on te d e A lta Te nsã o
Tra n sdu to r U S
d e P o tê n c ia
FR
+
E letrôn ic a _
de
P o tê n c ia
I
V
tensão e a corrente no transdutor, calcula a média das
últimas leituras de potência, calcula a variação de
potência (∆Po), compara com a última variação de
potência e decide se a frequência deve ser
incrementado ou decrementado. Quando a variação de
potência for zero, a frequeência permanece em seu
valor ótimo (frequência de ressonância), pois a
máxima potência foi alcançada.
O sistema de potência é alimentado por um
fonte de alta tensão, da ordem de 300Vcc. Uma
configuração inicial, que impôe à saída os valores pré-
ajustados pelo sistema, toda vez que o mesmo for
inicializado.
A Figura 4 apresenta um maior detalhamento
da parte de potência a ser implementada:
 F on te d e A lta Tensão

E letrô nic a d e P otê n c ia

P o n te H
Q1 Q2
F req . d e R e sso n â nc ia
FR Tra n sd u to r U S
G ate D rive d e Po tê n c ia
+
_
S h u td o w n
Q3 Q4

S e n so r V
S e n so r I
G ate D rive

S h u td o w n

P roteção
S ob re-C o rren te

C o rre n te

Te n são

Figura 4: Circuito de Potência para Transdutor de US de Potência.

O cirucito é implementado por uma ponte de [6]Stewart S, Benjamin P. D., Yoseph B.C, “Modeling
transistores de potência, na configuração ponte “H”, of Horns for Sonic/Ultrasonic Applications” ,
circuitos Gate-Drives controlam o acionamento dos Transaction on IEEE Ultrasonica Symposium, 1999.
transistores, sensores de corrente e tensão fazem o
monitoramento da potência, e circuitos de proteção de [7]Michenko H., “High-Power Piezoelectric
sobre-corrente garante a segurança de operação. Transductor Desing, IEEE- IEEE Trans. On Sonics
and Ultrasonics, vol su-16, no.3-July-1969

Bibliografia Endereço para contato:

Nilson Noris Franceschetti

[1]Show A. “Industrial Applications of Ultrasound – A nfrances@usp.br
Review I-High Power Ultrasound”, IEEE Trans. On Escola Politécnica da Univ. de São Paulo, Dep. de
Sonics and Ultrasonics, vol su-22, no.2-March-1975 Eng. Mecatrônica e de Sistemas Mecânicos. Av. Prof.
Mello Moraes 2231, PMR, 05508-900, São Paulo, SP
[2]Livro: Ultrasoniconic Welding, Principles and
Applications of high-grade bonding technology,
STAPLA ultrasonics Corporation, 2002.

[3]Sherrit S, Dolgin B.P and Cohen Y.B, “Modeling

of Horns for Sonic/Ultrasonic Applications”, IEEE
Ultrasonic Symposium, 1999.

[4]Cohen Y.B et al., “ Ultrasonic/Sonic

driiling/coring(USDC) for planetary applications,
SPIE´s, March-2001.

[5]Stewart S. Stephen A.A. Mike G. Benjamin P.D.

Xiaoqi B.Z.C. and Yoseph B.C., “Novel Horn Designs
for Ultrasonic/Sonic Cleaning Welding, Soldering,
Cutting and Drilling”, Proeeceedings of the SPIE
Smart Structures Conference, vol 4701, paper 34,
USA, 2002.