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INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE SÃO LUIZ GONZAGA

Fragmentos: artigos, crônicas e ensaios. Org. Anna Olívia do Nascimento


e Maria Ivone Ávila Oliveira. São Luiz Gonzaga: Ed. À Notícia, 2017

ASPECTOS DA EVOLUÇÃO URBANA DE SÃO LUIZ GONZAGA:

uma periodização possível, e sua implicação no reconhecimento do


patrimônio

Lucas Dorneles Magnus 1

1. Introdução

O estudo histórico do planejamento urbano é recente no campo acadêmico


nacional, tendo seu primeiro grande grupo de pesquisa formado em 1992, com
enfoque para estudo do conjunto de propostas, planos e projetos urbanísticos
focado em sete capitais brasileiras (LEME, 1999). Devemos observar,
entretanto, que 89,1% dos municípios no Brasil têm população de até 50 mil
habitantes (IBGE, 2010), constituindo a maior parte das instalações de centros
urbanos, as quais ainda carecem de estudos que possam contribuir para o
papel das mesmas enquanto estruturas físicas dispostas ao desenvolvimento
das comunidades a elas pertencentes.

Uma dessas estruturas urbanas é a cidade de São Luiz Gonzaga, situada no


Rio Grande do Sul, na região das Missões. Dentro do contexto dos Conselhos
Regionais de Desenvolvimento – COREDES, a cidade situa-se no COREDE
Missões (PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO LUIZ GONZAGA - PMSLG, 2016).
São Luiz Gonzaga teve seu primeiro núcleo estabelecido pela instalação da
Redução Jesuítica Guarani, dentro do contexto dos Sete Povos da banda
oriental do Rio Uruguai, em 1678. De lá para cá, distam 339 anos de história. O
estudo da evolução desse período certamente apresenta diversas formas de
ocupação e de formação da paisagem, com a sobreposição de diversas
culturas (STELLO, 2013). No caso missioneiro, e sobretudo no caso de São Luiz
Gonzaga, é imperativa a corrida pela evolução dos estudos acerca da cidade
dentro de outros tempos que não somente aqueles jesuíticos, no intuito de
preservar o pouco que restou, não somente do período dos Sete Povos, mas
de patrimônios materiais posteriores, com ênfase para o Século XX.

Partindo dos pressupostos colocados, o presente trabalho tem o objetivo de


apresentar a caracterização dos dados históricos referentes à evolução urbana
do município de São Luiz Gonzaga, RS. O artigo busca alinhar-se à pesquisa
acerca da evolução urbana no país. A rede de pesquisas em urbanismo
encontra-se, atualmente, bem estruturada, cumprindo sua função através da
“adoção de metodologias comuns de levantamento e de sistematização do
material de pesquisa, com o intuito de avançar na reflexão teórica e
metodológica, contribuindo para o conhecimento da história do urbanismo e
do planejamento urbano no Brasil” (FERNANDES et al, 2017).

1Arquiteto e Urbanista, graduado pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul. Pesquisador nos temas: metabolismo urbano, ecologia urbana e evolução urbana.
2. Método

A metodologia predominantemente utilizada foi a análise bibliográfica sobre


trabalhos acadêmicos e documentos históricos. Fontes alternativas de
pesquisa foram utilizadas, tais como uma exposição fotográfica corrente no
Instituto Histórico Geográfico (INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE
SÃO LUIZ GONZAGA - IHGSLG, 2013). Cada fotografia analisada serviu de
base para confirmação, ou mesmo como fonte primária da informação, acerca
da existência de edificações e arruamentos em suas épocas. Outra fonte
importante de pesquisa deu-se mediante entrevistas com pesquisadores
autores de algumas das obras correntes na bibliografia, com destaque para a
historiadora Anna Nascimento.

Entrevistas e conversas com moradores locais também foram utilizadas como


base de conhecimento popular acerca da cidade, sobretudo para confirmação
de dados no período das décadas de 1970 até os dias atuais, quando há uma
lacuna de informação acerca dos limites da mancha urbana. Nas décadas de
1950 e anteriores, dados descritivos e fotos; para os dias atuais, imagens de
satélite.

Um trabalho de observação de campo, quando o autor percorreu todos os


bairros da cidade, no mês de fevereiro de 2015, com levantamento de dados e
de percepções da paisagem, também serviu de fonte de dados para análise,
configurando fonte primária de estudo.

As seções a seguir apresentam, em sequência, a estrutura urbana atual, para


contextualização do estudo de caso, trazendo percepções do autor sobre
potenciais patrimônios futuros. Após, uma seção que apresenta uma proposta
de periodização de desenvolvimento do núcleo urbano de São Luiz Gonzaga
desde a queda do sistema social das Reduções Jesuíticas Guaranis,
observando sua origem e crescimento. Ao final, algumas considerações acerca
do estudo.

3. Estrutura Urbana atual

Por meio da leitura da estrutura urbana presente, disposta no espaço


geográfico, podemos percorrer a história da cidade, partindo do presente, em
direção ao passado. A cidade está estruturada sobre um divisor de águas,
entre as bacias hidrográficas dos rios Piraju e Ximbocú, ambos afluentes do rio
Piratinim. Os corpos d’água demonstrados na figura abaixo (linhas
pontilhadas) representam afluentes desses dois rios. A escolha do sítio da
cidade segue um padrão aplicável a todas as cidades que foram reduções
jesuíticas.
Figura 1: Estrutura Urbana de São Luiz Gonzaga
Fonte: Autor, produzida a partir dos softwares Quantum GIS e Autocad.

Atualmente a cidade apresenta uma estrutura viária em formato de quadrícula


xadrez, característica de cidades com origem de colonização espanhola
(SIMÕES JUNIOR, 2002). As edificações em destaque no mapa referem-se a
equipamentos industriais, concentrados ao longo da linha de trem,
equipamentos institucionais esparsos pela cidade, e edificações de valor
histórico listadas pelo Iphan, em parceria com a Universidade Regional
Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI, Campus Santo Ângelo (IPHAN,
2017). Os limites urbanos da cidade são: ao Norte, o quartel do 4º Regimento
de Cavalaria Blindado – 4º RCB; a Leste, a Zona Industrial e os Parques de
Rodeios e Centenário; e a Oeste, a rodovia RS168. Ao Sul, o limite é a rodovia
BR285, apesar de já haver pontos de transposição da mesma.

Para elaborarmos uma percepção acerca da paisagem atual em que se


encontra a região, devemos observar as diversas camadas culturais que foram
se sedimentando sobre os antigos povos nativos que aqui habitavam. Toma-
se, nesse capítulo, o ponto de vista de que a cidade contemporânea, segundo
David Harvey, deve ser entendia como um palimpsesto, onde a superposição
de camadas “não se encerra no passado e prossegue ainda no presente”
(ANDRADE JUNIOR, 2008). O presente trabalho não pretende mostrar uma
análise detalhada acerca da situação de cada edificação apontada no mapa
acima, seus valores, características e potencialidades. Busca-se, aqui, uma
reflexão sobre o significado delas na estrutura urbana global.

Vieira (2010) afirma, por meio do título de seu trabalho que “templo já não é”,
fazendo referência à ausência dos remanescentes do que foi a redução de San
Luís. Indo ao encontro dela, Stello (2013) aponta a necessidade de uma visão
acerca do patrimônio da região missioneira que vá além do período jesuítico,
passando a considerar as contribuições das colonizações portuguesa, russa,
polonesa, italiana, dentre tantas outras que aqui se instalaram.

Sobre o patrimônio em São Luiz Gonzaga, três referências atuais foram


destacadas pelo estudo. Primeiramente, o trabalho do Instituto Histórico
Geográfico de São Luiz Gonzaga - IHG, que busca a conscientização
permanente da população são-luizense acerca da importância da preservação
de bens materiais e realiza constantes pesquisas. Também há o portal da
URI/IPHAN, o qual apresenta um levantamento de todo a patrimônio material
e imaterial de todos os municípios da região das missões. Em São Luiz
Gonzaga, ele aponta diversas residências, a Vila Militar, a antiga fábrica de
óleo, igrejas e prédios comerciais (IPHAN, 2017). Esse portal é parte de um
trabalho em processo cujo resultado será um guia dos bens culturais da região,
ainda a ser elaborado. O trabalho de Stello (2013) entra como terceira fonte,
que aponta alguns itens são-luizenses como patrimônio cultural.

Para contribuição no avanço acerca desse campo, o presente trabalho


acrescentaria dois tópicos com potenciais patrimônios futuros, percebidos a
partir das pesquisas de campo do autor, e que poderiam ser objeto de estudos
aprofundados, acerca de seu valor atual e futuro para a comunidade da cidade.
São eles: as estruturas industriais e a arquitetura modernista. Retomando
Harvey, é possível
“Construir a próxima camada no palimpsesto urbano, de forma a
canalizar aspirações e necessidades futuras, sem violentar em demasia
tudo que já foi feito antes” (HARVEY, 1996, apud ANDRADE JUNIOR,
2008).

3.1. Patrimônio industrial


São Luiz Gonzaga dispõe de um grande complexo industrial, instalado
atualmente dentro da malha urbana. À época de sua construção, encontrava-
se nos limites da cidade. Braghirolli (2009) apresenta a reflexão de que o
patrimônio industrial pode ser considerado um novo paradigma a ser
explorado. Além da estação férrea, já listada pelo Iphan, existe a
potencialidade de reconhecimento de todo um sistema industrial que se
formou nas bordas da linha férrea. Na Figura 2, algumas dessas estruturas
estão demonstradas, com a presença de 4 silos graneleiros horizontais (1 e 2),
a fábrica de óleos (3), e o complexo da Coopatrigo, o qual é adjacente à
estação férrea (4) e que contém dois silos planos, e os silos verticais. Esses
últimos, constituem o principal marco da paisagem na cidade em sua metade
Leste, fabricados em 1971, em concreto armado no sistema de forma
deslizante, com 53 metros de altura cada (5). O silo da Companhia Estadual
de Silos e Armazéns – CESA (6), instalado em São Luiz, e parte desse sistema,
é o maior silo do estado, com 83.500 toneladas de capacidade (GOMES, 1981).
Figura 2: Fotos produzidas pelo autor, em São Luiz Gonzaga, entre 2016 e 2017

3.2. Arquitetura residencial modernista


As imagens dispostas no mosaico da Figura 27 mostram majoritariamente
obras do arquiteto Ruy Florin, formado pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, em 1968. Apesar de ter recebido propostas para lecionar na
UFRGS, acabou permanecendo em São Luiz Gonzaga, onde fez praticamente
toda sua carreira e onde construiu quase todas as suas obras. Junto com ele,
o arquiteto Plínio Ivar da Rosa, autor do Edifício Perim (no centro e abaixo)
constituem os dois grandes arquitetos da cidade no século XX. Plínio tem
menos obras realizadas, todavia, obras muitas vezes maiores, como o prédio
acima referido. Ruy Florin, ao contrário, se destaca pelo conjunto de sua obra.
Em entrevista feita em 2016, ele afirma ter projetado mais de 3 mil edificações
em São Luiz Gonzaga. Segundo IBGE (2017), a cidade conta com pouco mais
de 15 mil habitações. Isso significaria que a cidade contém uma alta taxa de
edificações projetadas por arquitetos. E a marca dos projetos de Florin e Plínio
é o uso de arcos e formas curvas, geralmente arcos que buscam o estilo
romano. Essa marca pode ser percebida hoje em habitações autoconstruídas
na periferia, configurando o estabelecimento de uma identidade própria, que
permite ao visitante da cidade, perceber um estilo são-luizense de construir
(Florin, 2016).

O estudo das obras desses dois arquitetos e a influência deles na constituição


de uma identidade arquitetônica para a cidade mostram-se como
oportunidades de estudo e construção de valores, para que no futuro,
exemplares dessas obras não se percam.
Figura 3: Levantamento de fotos feitas pelo autor, em São Luiz Gonzaga, 2016

4. Evolução Urbana

O presente capítulo apresentará as mudanças urbanas pelas quais o núcleo


urbano de São Luiz Gonzaga passou a partir do período de expulsão dos
jesuítas, em 1768. A periodização proposta dividiu a história do núcleo urbano
conforme períodos de crescimento ou decrescimento, com forte influência de
aspectos econômico-sociais. Fatos históricos de contexto nacional também
influenciaram fortemente o desenvolvimento da cidade pelo papel que muitos
de seus personagens exerciam, seja na política, seja no exército.

4.1 Período de abandono e decadência: 1768 – 1880


Eram, pois, São Luís ou São Borja as reduções mais aproveitáveis. Nas
outras, rareava a população indígena, única que nelas existia, mas que
abandonava- as, para evitar os maus tratos dos administradores leigos
(SILVEIRA, 1979).

Segundo o inventário da missão de São Luiz, em 1768, momento de expulsão


dos jesuítas, a redução estava intacta. Não houve reação por parte dos
indígenas que ali permaneciam. Sem a presença dos jesuítas, a população
missioneira entrou em crescente decadência, sendo espoliada pelos espanhóis,
e mais tarde, pelos portugueses. A Coroa portuguesa instalou uma nova
administração para as reduções. Esse novo plano de governo se apresentou
totalmente contrário à população da cidade, que se viu desprotegida dos
espanhóis e exposta aos portugueses que ainda não possuíam condições de
garantir a segurança desses povoados. Em 1772, uma crise de estoque de
alimentos causou a saída de um grande número de famílias. Cabe lembrar que
a população ainda era, nesse tempo, totalmente indígena (NASCIMENTO,
2008).

Em 1801, o General Borges do Canto chefiou um avanço de tropas portuguesas


sobre a região, com o objetivo de manutenção dos bens que estavam sendo
saqueados. Nesse ataque, entretanto, registra-se que boa parte de bens foram
retirados. Entre 1826 e 1828, um ataque chefiado por Frutuoso Rivera (que mais
tarde seria presidente uruguaio) causou a perda dos bens que ainda
permaneciam, como sinos, gado e índios (GOMES, 1981). A cidade achou-se
praticamente abandonada, e por conta disso, serviu, durante a Revolução
Farroupilha, como abrigo para famílias que fugiam da Guerra.

Durante o Século XIX, os testemunhos de viajantes serviram com registro


histórico do processo pelo qual a cidade passava. O biólogo francês Saint
Hilaire apresenta um registro acerca de São Luiz, feito em 1822. Nesse registro,
ele ressalta as qualidades da redução em comparação com as demais da
região. Uma das poucas que utilizava pedras para as colunatas de residências,
colégio e Igreja. Algumas colunas eram constituídas em uma única peça de
rocha. Em 1858, o médico alemão Robert Avé-Lallemant registra que a redução
era a “mais notável pela abundância de ruínas”. Em 1855, Hemetério José
Velloso da Silveira, advogado radicado em Porto Alegre, visita São Luiz e
descreve a existência ainda dos altares na Igreja, com o desabamento de parte
da cobertura. Quando esse advogado retornou em 1875, registrou que da
Igreja somente restava a parede externa. O Colégio, entretanto, estava,
segundo ele, muito bem conservado (NASCIMENTO, 2008). Isso ocorreu
porque esse local abrigou todas as funções públicas da cidade ao longo do
século XIX. Foi capela com salão paroquial, destacamento policial, salão de
Júri, Câmara municipal, escola, prisões masculina e feminina e Delegacia de
polícia (SANTOS, 1987). Há registro, em Santos (1987), de que as poucas
construções novas do povoado eram pequenos casebres em paredes de pau-
a-pique e cobertura de capim.

4.2 A carta de criação do município de São Luiz da Leal Bragança


Em 1817, uma nota do Governo Imperial cria uma Vila cujo núcleo seria o
povoado de São Luiz. A exposição instalada atualmente no IHGSLG (2013)
apresenta a Carta na íntegra e expõe uma imagem que corresponde ao que
seriam os limites municipais dessa Vila. Vieira (2010) expõe comentários feitos
pelos políticos à época, visto que a ordem dada pelo Imperador jamais foi
cumprida. Os comentários argumentam acerca da falta de pessoas
capacitadas para exercer os cargos de administração. Essa autora cita
comentários trazidos por Hemetério José Velloso da Silveira, e ressalta o fato
de que
À época ninguém falava em Alegrete, nem em Cruz Alta, nem em
Passo Fundo, nem em São Francisco de Assis. Não se cogitava a
possível existência de importantes cidades como Uruguaiana,
Livramento, Bagé e Quaraí (VIEIRA, 2010).

Povoar a região seria uma medida, segundo essa autora, estratégica do ponto
de vista de segurança, considerando as várias guerras que ocorriam no
entorno, como as recentes independências dos países vizinhos (Uruguai e
Argentina), além de uma série de guerras civis.

4.3 Emancipação e crescimento: 1880 – 1930


O povoado de São Luiz Gonzaga recebeu, em 1859, elevação à categoria de
Paróquia. O crescimento da cidade seria retomado com a compra e
distribuição de terras para formação de fazendas na região. O político Antônio
Gomes Pinheiro Machado e o General José Gomes Portinho adquiriram
fazendas ao redor da cidade. O general ali passou a residir. Essas seriam as
famílias que impulsionariam a cidade nas próximas décadas (GOMES, 1981). Em
1878, o filho de Antônio, José Gomes Pinheiro Machado, forma-se em Direito
em São Paulo e retorna para o Sul, passando a ser um dos mais ricos tropeiros
do estado e partidário da abolição da escravatura. Tornar-se-ia de grande
importância para a cidade nesse período.

Outro fator impulsionador para a cidade foi a Guerra do Paraguai, ocorrida


entre 1865 e 1870. Em 1865, o General paraguaio Estigarriba acampou com
suas tropas nas localidades das atuais cidades de Uruguaiana e São Borja.
Temendo a entrada das tropas por Porto Xavier, já Paróquia àquela época, e
que abrigava uma passagem importante para a Argentina, o General José
Gomes Portinho organiza uma divisão de cavalaria com homens da região,
lotada em São Luiz, movimentando o povoado (GOMES, 1981).

Em 1880, a Paróquia de São Luiz recebe elevação a Vila de São Luiz Gonzaga,
recebendo emancipação de Santo Ângelo. Em 1889, a saída da família real e
proclamação da República abre espaço para novos cargos nacionais. José
Gomes Pinheiro Machado torna-se, em 1891, senador da República (GOMES,
1981). Para o desenvolvimento de São Luiz, o fato é relevante tendo em vista a
proximidade que o político mantinha com sua cidade. A partir da instalação
do primeiro governo municipal, em 1896, a cidade passou a receber maior
número de edificações. O poder político do senador pode ser observado na
construção da ponte de pedra sobre o rio Piratinim, datada de 1898.

Em 1907, inicia-se, sob a articulação do Senador, a obra para a linha férrea que
chegaria até a cidade. Cinco anos antes, São Luiz havia sido elevada à condição
de cidade. Em 1912 o próprio Senador leva para a cidade o primeiro automóvel,
percorrendo os 150 quilômetros entre São Luiz Gonzaga e a cidade de
Tupanciretã em uma semana (GOMES, 1981).

Naquela época, a cidade abrigava os prédios da intendência municipal, da


igreja e da câmara de vereadores. Havia também a casa do Senador Pinheiro
Machado e a do General Salvador Ayres Pinheiro Machado, intendente do
município, o prédio do Café Central na esquina com a igreja, um cinema, a
sociedade Clube Harmonia (fundada em 1906), eventos de serenatas,
orquestras na praça, eventos de futebol no campo em frente ao Clube União,
fundado em 1910, entre outros. O claustro jesuíta ainda permanecia em pé,
servindo de delegacia de polícia e com salas da administração municipal e
judiciária. Em 1910, Pinheiro Machado inaugurou uma escola técnica agrícola,
o Aprendizado Agrícola, tornando-se referência no estado na interiorização de
profissionais agrônomos.

Em 1923, o então intendente municipal Virgílio José Corrêa encomenda do


Engenheiro Alexandre Martins da Rosa uma planta da cidade (VIEIRA, 2010).
Essa planta, retratada na Figura 4, representa principal objeto de dúvidas no
estudo acerca da estrutura urbana da cidade no início do século XX, tendo em
vista sua estrutura viária totalmente modificada em relação à situação
observada atualmente. Analisando o desenho, percebemos que o traçado
viário leva em consideração a adequação às curvas de nível, evitando ângulos
retos com relação aos grandes declives e mesmo uma possível adequação às
ruínas que ainda havia na época, criando o que poderia ser um quarteirão que
preservaria os remanescentes da redução, ou mesmo a edificação do antigo
Claustro Jesuíta. Em contraponto à antiga redução, cuja estrutura urbana
provinha das “Leyes de Índias” da Coroa Espanhola, com malha urbana
formando uma grelha ortogonal, o traçado dessa planta coincide em estrutura
com aquele utilizado no desenho de cidades portuguesas, à semelhança de
Porto Alegre, por exemplo.

Esse desenho pode ter sido resultado do trabalho de análise do engenheiro,


mas pareceu refletir aspectos históricos de um conflito que ocorreu um século
antes, quando os portugueses iniciaram sua ocupação, e deveriam impor, à
forma urbana da redução, suas próprias características de estrutura urbana
(SIMÕES JUNIOR, 2002). Podemos apenas supor que o engenheiro não
buscava solapar a tradição espanhola de cidades com grelhas ortogonais em
nome da valorização das cidades portuguesas, mas sim trabalhar sobre
aspectos de topografia e pré-existências. Ficam, no entanto, esses
questionamentos como oportunidades para ampliação de pesquisas futuras
acerca de São Luiz Gonzaga, tendo em vista que não foi possível fazer
pesquisa detalhada sobre o engenheiro Alexandre Martins da Rosa, suas
intenções projetuais, e qual o grau de veracidade da planta apresentada. E, em
sendo verdadeira, quais seriam as razões, então, para tornar a estrutura urbana
de São Luiz Gonzaga uma estrutura ortogonal, tal como ela é hoje?

Figura 4: Planta da área urbana de São Luiz Gonzaga, em 1923, feita pelo Engenheiro
Alexandre Martins Rosa. Fonte: VIEIRA (2010)
Cabe terminar esta seção com uma citação colocada ao final do trabalho de
Vieira (2010), acerca da atuação dos intendentes de São Luiz Gonzaga na
prática da administração da cidade. Segundo ela, eles agiram com
Um discurso em prol do cuidado com os vestígios missioneiros; mas
esse discurso nem sempre significou uma ação efetiva de preservação
a ponto de ser quase que totalmente extinto o patrimônio missioneiro
originário, na medida em que as terras, terrenos e imóveis foram sendo
adquiridos. Como se constatou, novas casas e edificações foram sendo
construídas em meio às ruínas da redução de San Luís, sem o devido
cuidado, de parte de alguns, com a preservação do patrimônio, do que
pouco ou quase nada restou. Essa possibilidade, evidentemente, não
foi sequer cogitada pelos partidários do PRR, em seu afã de urbanizar
e modernizar os centros urbanos estratégicos do estado (VIEIRA,
2010).

4.4 A decadência na década de 1920 e a derrubada das oligarquias


nacionais
Esse período seria caracterizado por uma estagnação da economia e do
crescimento urbano. Ao final da década de 1920, a população, que havia
sofrido uma rápida queda, passa a crescer novamente, recebendo 4 mil novos
moradores na década de 1930.

O assassinato do Senador Pinheiro Machado, em 1915, no Rio de Janeiro,


deflagrou uma paralisação local, e causou desentendimentos entre os
administradores de São Luiz. As obras da linha férrea foram abandonadas. O
mapa apresentado por Faccio (2012) ilustra que o ramal havia sido aberto
entre Cacequi e Santa Maria, mas seu trajeto em direção ao norte parava no
primeiro município, Jaguari. O intendente Virgílio José Corrêa, eleito em 1920,
iniciava tentativas de melhoramentos. Em 1923, durante o seu governo, a
cidade passou a dispor de iluminação pública. A situação das ruas, que não
contavam com calçamento, a falta de posto de saúde ou hospital e a falta de
água encanada não foram resolvidos nessa década (GOMES, 1981). O
intendente renuncia em 1923 e, em 1924, é eleito um novo intendente, alinhado
ao governo estadual de Borges de Medeiros.

No cenário nacional, Arthur Bernardes toma posse como presidente da


República, e dois dias depois, Borges de Medeiros é reeleito pela quinta vez,
concorrendo contra Assis Brasil, da Aliança Libertadora. Inconformados com
a continuidade do poder, a oposição inicia uma revolta em 1923, que durou
cerca de dez meses, onde ocorreu a prática de degola de ambos os lados, aos
moldes da Revolta Federalista de 1893. São Luiz Gonzaga apresentou
comandantes de tropas em ambos os lados. Em outubro de 1923 a coluna de
Honório Lemes, combatendo os Chimangos, alinhados ao governo, chega de
São Borja em São Luiz Gonzaga, e monta acampamento no então Capão da
Várzea. Em 1924, é deflagrada a Revolução contra os governos situacionistas.
São Luiz Gonzaga mais uma vez exerce papel militar destacado.
A Guarnição local do exército solidarizou-se com o movimento. Forças
revolucionárias vindas de Santo Ângelo, São Borja, Uruguaiana,
Alegrete e outras localidades concentram-se em São Luiz Gonzaga,
onde é estabelecido seu Quartel general, sob comando de Luiz Carlos
Prestes (GOMES, 1981).
Por conta deste fato, São Luiz Gonzaga, foi a cidade que mais sofreu com a
revolta. Ao saírem em marcha, em outubro de 1924 as forças de Prestes, devido
à aproximação das forças adversárias, arrasaram com o comércio, levando
tudo que puderam. O padre da época, Monsenhor Wolski, reuniu-se para orar
com moradores, fazendo uma promessa, pedindo para que nenhuma batalha
ocorresse dentro da cidade. Como a Coluna partiu de São Luiz sem combates,
a promessa foi cumprida, gerando a construção, em 1926, da Gruta de Nossa
Senhora das Lourdes, uma referência geográfica e cultural da cidade,
atualmente.

Em 1930, uma nova eleição presidencial ocorreu, tendo como candidatos o


paulista Júlio Prestes de Albuquerque, defendendo Washington Luís e o
Partido Republicano, e Getúlio Vargas, com o paraibano João Pessoa como
vice-presidente, representando a Aliança Libertadora, unindo-se com Minas
Gerais, e outros estados para derrubar a hegemonia oligárquica até ali
instalada. Em ambos os lados ocorria fraude eleitoral, porém o Partido
Republicano ganhou novamente e, mais uma vez, a Aliança Libertadora
iniciaria uma revolta, dessa vez para derrubar a presidência (GOMES, 1981). O
principal comandante militar no Movimento foi o Coronel Góes Monteiro, na
época à frente do 3º Regimento de Cavalaria Independente de São Luiz
Gonzaga, tornando o quartel da cidade um centro de conspiração e reunião
entre emissários de Osvaldo Aranha, Getúlio Vargas e outros. Em 1932, a
Câmara de vereadores da cidade foi destituída e um Conselho de moradores
assumiu a administração da cidade. Depois disso, ainda duas eleições foram
feitas antes de 1938, quando Getúlio Vargas implanta o Estado Novo, e designa
prefeito o Cel. Raymundo Gomes Neto.

Como observado, muitos fatos políticos influenciaram a rotina da cidade


naquele período. A ausência do Senador Pinheiro Machado e o esquecimento
da cidade pelos governos da época teriam gerado, inclusive, um interesse das
comunas de oposição aos governos. Esses fatores causaram a estagnação da
cidade nessas duas décadas. A estrada de ferro, principal meio de crescimento
econômico da época, ainda não existia, e a escola agrícola também estava
fechada.

4.5 Crescimento industrial nos anos 1940-1970


Com a saída de Raymundo Gome Neto, por motivos de saúde, o Sr. Gustavo
Langsch assume em 1941, e a cidade retoma o crescimento reorganizando-se
administrativamente.

Em 1943 a estrada de ferro é inaugurada. A Vila Militar teve sua construção


iniciada em 1940, em estilo neocolonial, uma novidade para a arquitetura da
cidade. Ao lado da vila, a cidade já dispunha de um quartel da Brigada Militar
e de um presídio. Estradas para as diversas cidades que se formavam ao redor
se estabeleceram. O cemitério, já instalado, em período anterior, recebeu
maior infraestrutura. Em 1948, o novo prédio da prefeitura é inaugurado e a
nova igreja matriz é erguida, com início das obras em 1936, e acabamentos na
década de 1950 (GOMES, 1981).

Os relatos sobre equipamentos de lazer giram, a partir de então, em torno da


criação de diversos clubes recreativos, que abrigavam salão de festas, locais
de esporte, piscinas, áreas verdes, entre outras funções. A Sociedade Literária
Imperatriz foi fundada em 1943; O clube Caça e Pesca Santo Humberto, em
1957; A Associação Atlética Banco do Brasil – AABB, em 1964; A piscina-clube
Pinguim, em 1965; o Clube da Vila Militar – Cluvimil, em 1968; o Clube dos
Subtenentes e Sargentos, em 1970; a Sociedade Recreativa Municipal –
SOREMU –, em 1972; o Centro de Tradições Gaúchas CTG Galpão de Estância,
em 1958. O lazer dos moradores da cidade era oferecido majoritariamente por
sociedades privadas (GOMES, 1981).

Em 1945, a cidade dispunha de 145 empresas no ramo industrial (SANTOS,


1987). O período que se segue é de grande desenvolvimento nesse setor. As
empresas que merecem destaque são a fábrica de óleos, fundada em 1952,
cujas instalações, em aspecto de ruínas, ainda estão visíveis na cidade. O
Frigorífico São Luiz S.A., inaugurado em 1957, é até hoje uma das maiores
arrecadações do poder municipal em impostos. A Gráfica A Notícia,
proprietária do jornal de mesmo nome, a Cia brasileira de óleos e derivados –
COBRASOL, fundada em 1979 pelo Grupo Perim S.A. O desenvolvimento do
Sindicato Rural, fundado em 1940, levou ao desenvolvimento da Agroindústria
na cidade (SANTOS, 1987). Em 1957, é fundada a Cooperativa Tritícola
Sãoluizense – Coopatrigo. Ela reuniu na fundação 11 produtores rurais.
Atualmente contém 13 unidades de armazenamento e diversos
estabelecimentos comerciais conveniados (COOPATRIGO, 2017). Diversos
outros ramos de indústria existiam, desde olarias, fábricas de pré-fabricados
em concreto, diversas fábricas de processamento de alimentos, uma fábrica
de implementos agrícolas (tratores e plantadeiras), entre outros ramos.

A Figura 5 demonstra o crescimento da mancha urbana da cidade na década


de 1970. Para determinação desses limites, foi utilizada pesquisa de entrevistas
com uma moradora local, residente na cidade desde aquela época. O relato
mostra detalhes sobre todas as áreas da cidade, tendo em vista que essa
senhora residiu, entre os anos 1970 e 1980, na zona rural (Estação Piratini da
linha férrea) e posteriormente nas Vilas Marcos (extremo norte, a leste do
quartel) e Vila Floresta (saída da cidade para São Borja, no extremo sudoeste),
residindo atualmente no extremo leste da cidade, ao lado do Parque
Centenário. A Leste, a cidade terminava na linha de trem e cemitério. Em
relação as demais fronteiras, assumiu-se que elas estiveram condicionadas
pela topografia e, sobretudo, pelas bacias hidrográficas.

4.6 Período recente 1970 – dias atuais


Na década de 1970, a administração municipal iniciou um grande período de
demarcação de novas áreas para habitação na cidade. Santos (1987) apresenta
dados referentes à fundação de Associações de bairros em todas as áreas até
então desocupadas. O Bairro Monsenhor Wolski foi o primeiro a fundar sua
associação, em 1968. Nos dez anos subsequentes, o Bairro Raymundo Gomes
Neto, a Gruta, a recém-loteada Vila Mário e a Vila Floresta fizeram suas sedes.
O restante das áreas periféricas seguiu o mesmo padrão de rápida ocupação,
priorizando marcação de ruas e lotes, sem dispor de infraestrutura, pelo menos
completa, de saneamento e energia, em um processo que acompanhou as
tendências de mudança nos padrões de distribuição entre população urbana
e rural em nível nacional.

Da mesma forma, durante essa década ocorreu a instalação da Rodovia BR


285, que ligava as cidades de São Borja/RS a Araranguá/SC. A cidade
permaneceu em alto ritmo de crescimento econômico e populacional. Cabe
ressaltar que, enquanto os bairros antigos, já consolidados, contavam com
infraestrutura de pavimentação em blocos irregulares de basalto, os novos
loteamentos foram instalados sem infraestrutura básica. Essa característica
persiste ainda hoje em muitos bairros, conforme observação de campo feita
pelo autor. Um relatório da prefeitura de São Luiz Gonzaga datado da gestão
da prefeitura de 2001-2004, incluso em uma pasta de informações gerais
sobre o município, disponível na biblioteca municipal (BILBIOTECA
MUNICIPAL DE SÃO LUIZ GONZAGA, 2017) aponta que, no referido período,
ainda havia 5 bairros com mais de 50% do esgoto sanitário dispostos a céu
aberto, por exemplo. Ainda hoje, muitos focos de esgotos a céu aberto são
encontrados, e boa parte das ruas periféricas são constituídas com
revestimento em saibro.

Uma das medidas de ampliação do poder econômico da cidade ao longo de


meados do Século XX pode ser observada na ampliação da capacidade de
estocagem de grãos. Na década de 1960, a cidade dispunha de uma
estocagem de 277 mil toneladas, conforme Gomes (1981). Em 1978, são 322 mil
toneladas de grãos. O referido relatório da prefeitura aponta, no ano de 2000,
uma estocagem de 350 mil grãos. A cidade abriga uma das unidades de Silos
da Companhia Estadual de Silos e Armazéns – CESA. Alguns autores, como
Gomes (1981) chamam esse complexo de “o maior silo graneleiro do País”.
Algumas outras bibliografias falam em “maior silo do estado”. Uma pesquisa
comparativa sobre as capacidades de estocagem em nível de estado e país
não foi objeto de pesquisa do presente trabalho. Entretanto, cabe destacar
que, politicamente, o município, em articulação com seus vizinhos, apresentou
a poucos anos uma proposta de instalação de um Porto Seco, aproveitando a
estrutura industrial já instalada à beira da linha ferroviária (PMSLG, 2016).

Figura 5: Mancha urbana atual, sobreposta às expansões anteriores


Fonte: Autor, produzida a partir do software Quantum GIS.
A Figura 5, acima, mostra os limites urbanos atuais, levando em consideração
a análise de percepção da paisagem, realizada pelo autor, em 2016,
percorrendo os atuais limites da cidade (linha vermelha pontilhada). As leis
municipais designam ao perímetro urbano uma área muito maior. A linha preta
pontilhada refere-se ao limite em 1970 e a mancha urbana da década de 1920
está em destaque no centro.

Apesar de toda a história de sucesso econômico da cidade, algo parece dar


errado, a partir da última década do século XX, para a economia da cidade. Os
processos que levaram São Luiz Gonzaga a uma retração econômica e
populacional ainda não foram estudados de forma específica.

4.7 Uma planta da cidade de São Luiz Gonzaga


Apesar da pesquisa de campo exaustiva, com visitas ao setor de planejamento
urbano da prefeitura, responsável pela produção dos mapas da cidade, na
Biblioteca Municipal e no Instituto Histórico Geográfico - IHGSLG, não foi
possível obter uma planta da cidade de São Luiz Gonzaga que contenha
autoria e ano de produção, e que corresponda à cidade hoje produzida. Uma
planta como essa corresponderia, caso registrada, ao projeto de cidade que
tomou lugar sobre o projeto apresentado em 1923, pelo engenheiro Alexandre
Martins da Rosa. Na Biblioteca Municipal consta uma planta da cidade (Figura
18), que contém todas as ruas existentes e ainda prevê algumas pequenas
expansões. Nela, os campos de autoria e ano estão em branco, apenas consta
o nome do desenhista, Claudio, e o setor que produziu esse documento, a
Secretaria de Planejamento – SEPLAN. Fica ainda o questionamento e
necessidade de avanço no estudo da evolução urbana da cidade, no sentido
de descobrir quando esse projeto foi pensado, qual sua autoria e qual a
corrente urbanística o influenciou.

O único dado que pode ser observado decorre de que, na análise das imagens
da cidade, na década de 1940, já se encontram ruas de malha ortogonal
demarcadas e não ocupadas, indicando que uma planta prevendo expansões,
teria sido feita, entre as décadas de 1920 e 1940, como alternativa à planta de
1923.

4.8 Considerações finais acerca do capítulo


A sobreposição de todos os limites urbanos permitiu o confronto de
informações, muitas vezes incompletas pelas fontes de dados, confirmando
dúvidas a ampliando o horizonte de informações geográficas e morfológicas
acerca das características urbanas da cidade. Foi possível perceber que,
quando da chegada dos portugueses, em meados do século XIX, para ocupar
definitivamente São Luiz Gonzaga, pode ter havido a conformação de uma
malha urbana própria, cujo desenho acabou solapado pela não aceitação dele
na cidade, que permaneceu com uma grelha ortogonal de ruas, na medida em
que ela passou a crescer, na década de 1930. Morfologicamente, podemos
classificar o processo de crescimento da cidade como do tipo radial. A análise
até então apresentada não mostrou a presença dos distritos ainda
pertencentes ao município, uma vez que era necessário o recorte geográfico
para uma análise mais acurada relativa à estrutura urbana em si.
Gráfico 1: Evolução da população urbana de São Luiz Gonzaga
Fonte: Adaptado de Nascimento (1983); Gomes (1981); Santos (1987) e IBGE (2017)

40,000
Evolução da população urbana 33564
30,000
de São Luiz Gonzaga: 27,500
30,508

20,000

7,618
10,000 6,182
2,922 3,473 3,500 2,350
446 300 5,000

0
1687 1702 1732 1768 1801 1827 1859 1922 1930 1966 1992 2010

O gráfico acima pode ser tomado com um resumo da história contada ao longo
do texto. Com uma fundação em 1687, a redução passou um período de
crescimento populacional e econômico, até encontrar a crise e o colapso
decorrentes do tratado de Madri. Em 1801, ainda havia moradores que, porém,
foram expulsos pelos sistemáticos ataques às cidades jesuíticas, restando
apenas ruínas e cerca de 300 habitantes. Então, o crescimento reinicia, até o
auge do período de comando da família Pinheiro Machado. As revoltas dos
anos 1920 fazem decair novamente a cidade, que retoma crescimento após
1930, entrando em uma exponencial socioeconômica, em consonância com o
contexto mundial. E, a partir de 1992, a cidade sofre uma leve queda
populacional.

5 Conclusão

O presente trabalho apresentou uma análise dos aspectos históricos e de


evolução urbana da cidade de São Luiz Gonzaga, utilizando a reconstrução
espacial sobre mapas de satélite atuais como ferramenta para ancorar o
passado no presente, haja vista a significativa perda que os habitantes locais
sofreram ao longo de sua história com relação ao seu patrimônio edificado e
urbano.

Não foi possível, mediante os registros históricos analisados, concluir com


exatidão acerca da forma e área ocupadas pela mancha urbana de São Luiz
Gonzaga, seja em seu período jesuítico, seja em seu período do início do Século
XX. Entretanto, as análises apresentadas contribuem para o processo de
identificação das bases históricas da cidade, por meio de uma primeira
tentativa de reconstrução das narrativas perdidas pelo tempo e
desenvolvimento.

A localização exata e as dimensões perfeitas de todo o conjunto jesuítico do


“Povo de San Luís” necessitam de pesquisa mais embasada, com maior apoio,
incentivo e tempo. Da mesma forma, o estudo do histórico de planejamento
da cidade, com o aprofundamento acerca da planta da cidade em 1923, e da
contraposição da mesma face a um suposto projeto posterior são
necessidades de ampliação deste trabalho.

A historiadora Anna Olívia do Nascimento (2017) afirmou que há fortes indícios


de que a estratégia adotada pela prefeitura, na década de 1930, foi de
simplesmente seguir o traçado jesuítico. O historiador Anderson Iura Amaral
Schmitz, membro do IHGSLG, presente na entrevista, apresentou, como fato
novo, a possibilidade de que a implantação da política do Estado Novo, que
visava a construção de uma identidade nacional nova, a partir do que se
denominava a “destruição do velho”, possa ter vindo a solapar o projeto de
1923, juntamente com a estrutura ainda preservada do Colégio Jesuíta.

Se os remanescentes da redução jesuítica não podem ser aproveitados pela


população são-luizense, haja vista a inexistência deles, a cidade necessita, pois,
de novas referências, espaciais ou físicas, que alimentem o imaginário de um
senso de pertencimento e da percepção dos processos históricos envolvidos
na formação identitária de São Luiz Gonzaga. A cidade, que tanto se orgulha
de seu patrimônio cultural imaterial, das artes e da música missioneira, poderia
buscar novos cenários para que esses e outros patrimônios possam ser
valorizados, ou se desenvolverem.

O presente trabalho contribui, sobretudo, com uma tentativa de


“espacialização da história”, possibilitando a conexão dos habitantes de São
Luiz Gonzaga com seu passado.

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