A Constituição de 1891 e as todas as constituições anteriores traziam o termo “peculiar
interesse” e desde aquela época houve um debate para compreender esse termo e buscar melhor definir a competência municipal. Cretella Júnior diz que: Sabendo-se que “peculiar interesse” é predominância, prevalência, primazia e não exclusividade (porque não há assunto local que não seja ao mesmo tempo assunto geral), impõe-se a conclusão lógica e jurídica de que a competência do Município, em regular determinado assunto, é fixado pela “peculiaridade”, “singularidade”, “prevalência” ou “primazia” da matéria regulada A Constituição de 1988 inaugurou o termo “interesse local”, porém como ensina Hely Lopes Meirelles, esta nova expressão traduz a mesma ideia de “peculiar interesse”, só que o denominado “interesse local” é mais técnico e mais preciso. Sampaio Dória (referindo-se ao peculiar interesse”), ensina que peculiar não é nem pode ser equivalente a privativo, pois todo interesse local é também interesse do Estado e da União: “Peculiar não é nem pode ser equivalente a privativo. Privativo, dizem dicionários, é próprio de alguém, ou de alguma coisa, de sorte que exclui a outra da mesma generalidade, uso, direito. A diferença está na idéia de exclusão: privativo importa exclusão, e peculiar, não. A ordem pública de um Estado é seu interesse peculiar, mas é também interesse da Nação. Logo, não é privativo do Estado. Uma escola primária que certo Município abra é seu interesse peculiar, mas não exclusivo, não privativo, porque a instrução interessa a todo o País. Alguns autores, como Diomar Ackel Filho e Giovani Corralo, expõem a dificuldade de definir as competências municipais a partir da expressão “interesse local”. Para Diomar, interesse local é o que se circunscreve ao âmbito do Município, não se irradiando com a mesma intensidade além do território municipal. É o que atine ao contexto geoeconômico e social da comuna instalada na área do município, refletindo as relações que interessam predominantemente aquele meio (trânsito, diretrizes urbanísticas, limpeza pública, iluminação, serviços públicos locais, arrecadação de seus tributos...) Conceito parecido de Nelson Nery Costa. Para Andreas Krell, as Leis Orgânicas poderiam ajudar numa melhor definição de interesse local, porém os textos locais se limitaram a reproduzir o que dispõe a Constituição Federal e Estadual. Caso concreto – STF A questão das competências constitucionais é bastante presente no STF, inclusive no que toca ao presente estudo – competência municipal decorrente do interesse local. Nesse rumo, não é incomum julgamentos quanto à (in)constitucionalidade de leis que tratam de matérias afetas (a) aos estabelecimentos bancários, (b) aos estabelecimentos comerciais, (c) a certas questões ambientais, urbanísticas e de serviços cartorários, bem como as que envolvem (d) trânsito. De regra, discutem a usurpação de competência de outro ente federativo ou a violação de princípios constitucionais. - Sumula Vinculante 38: É competente o Município para fixar o horário de funcionamento de estabelecimento comercial. - O Município é competente para legislar sobre meio ambiente com União e Estado, no limite de seu interesse local e desde que tal regramento seja e harmônico com a disciplina estabelecida pelos demais entes federados (art. 24, VI, c/c 30, I e II, da CRFB). - Esta Corte possui ainda jurisprudência firmada no sentido de que compete privativamente à União legislar sobre trânsito e transporte, impossibilitados os Estados-membros e Municípios a legislar sobre a matéria enquanto não autorizados por lei complementar. - Definição do tempo máximo de espera de clientes em filas de instituições bancárias. Competência do Município para legislar. Assunto de interesse local. Competência do Município para legislar em matéria de segurança em estabelecimentos financeiros. Terminais de autoatendimento. - trata de assuntos de interesse local, entre os quais, a ordenação dos elementos que compõem a paisagem urbana, com vistas a evitar a poluição visual e bem cuidar do meio ambiente e do patrimônio da cidade. - Não vislumbro, no texto da Carta Política, a existência de obstáculo constitucional que possa inibir o exercício, pelo Município, da típica atribuição institucional que lhe pertence, fundada em título jurídico específico (CF, art. 30, I), para legislar, por autoridade própria, sobre a extensão da gratuidade do transporte público coletivo urbano às pessoas compreendidas na faixa etária entre 60 e 65 anos. - o acórdão recorrido está em harmonia com a pacífica jurisprudência do STF firmada no sentido de que o Município tem competência para legislar sobre a distância mínima entre postos de revenda de combustíveis. - Os Municípios são competentes para legislar sobre questões que respeitem a edificações ou construções realizadas no seu território, assim como sobre assuntos relacionados à exigência de equipamentos de segurança, em imóveis destinados a atendimento ao público. - A competência constitucional dos Municípios de legislar sobre interesse local não tem o alcance de estabelecer normas que a própria Constituição, na repartição das competências, atribui à União ou aos Estados. O legislador constituinte, em matéria de legislação sobre seguros, sequer conferiu competência comum ou concorrente aos Estados ou aos Municípios. - Lei municipal de Joinville, que proíbe a instalação de nova farmácia a menos de 500 metros de estabelecimento da mesma natureza. Extremo a que não pode levar a competência municipal para o zoneamento da cidade, por redundar em reserva de mercado, ainda que relativa, e, consequentemente, em afronta aos princípios da livre concorrência, da defesa do consumidor e da liberdade do exercício das atividades econômicas, que informam o modelo de ordem econômica consagrado pela Carta da República (art. 170 e parágrafo da CF). Leis de uso do capacete AL: Mata Grande, Inhapi...