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ANÁLISE TÉRMICA EM ESTRUTURAS DE TANQUES DE ARMAZENAMENTO

DE ETANOL EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO

Flavia Marques Antunes Fontenelle

Dissertação de Mestrado apresentada ao


Programa de Pós-graduação em Engenharia
Civil, COPPE, da Universidade Federal do Rio
de Janeiro, como parte dos requisitos necessários
à obtenção do título de Mestre em Engenharia
Civil.
Orientadores: Fernando Luiz B. Ribeiro
Alexandre Landesmann

Rio de Janeiro
Dezembro de 2012
ANÁLISE TÉRMICA EM ESTRUTURAS DE TANQUES DE ARMAZENAMENTO
DE ETANOL EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO

Flavia Marques Antunes Fontenelle

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO


LUIZ COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA
(COPPE) DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE
DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE
EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA CIVIL.

Examinada por:

________________________________________________
Prof. Fernando Luiz Bastos Ribeiro, D.Sc.

________________________________________________
Prof. Alexandre Landesmann, D.Sc.

________________________________________________
Prof. José Renato Mendes de Sousa, D.Sc.

_______________________________________________
Prof. Eduardus Aloysius Bernardus Koenders, Ph.D.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL


DEZEMBRO DE 2012
Fontenelle, Flavia Marques Antunes
Análise Térmica em Estruturas de Tanques de
Armazenamento de Etanol em Situação de Incêndio/
Flavia Marques Antunes Fontenelle. – Rio de Janeiro:
UFRJ/COPPE, 2012.
XV, 98 p.: il.; 29,7 cm.
Orientadores: Fernando Luiz Bastos Ribeiro
Alexandre Landesmann
Dissertação (mestrado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de
Engenharia Civil, 2012.
Referências Bibliográficas: p. 84-90.
1. Incêndio. 2. Mecânica de Fluidos Computacional. 3. Altas
Temperaturas. I. Ribeiro, Fernando Luiz Bastos, et al. II.
Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE, Programa
de Engenharia Civil. III. Título.

iii
Dedicatória

Ao meu marido Bruno, meu


bebê Guilherme, meus pais
Cipriano (in memoriam) e Fátima, e
minha irmã Juliana

iv
Agradecimentos

A Deus, por ter me iluminado ao longo de toda a minha trajetória acadêmica e


por ter me dado força, saúde e persistência para que eu conseguisse cumprir mais uma
etapa tão importante em minha vida.

Aos meus pais, Cipriano, in memoriam, e Fátima pelo legado e exemplos de


honra, integridade, ética, trabalho e perseverança, valores que me passaram e que
aprendi a praticar por toda minha vida. A minha irmã, Juliana, eterna companheira,
pelos momentos maravilhosos e por estar sempre comigo.

Ao meu marido, Bruno, pela compreensão e incentivo nos momentos difíceis.


Pela nossa maior obra juntos, nosso bebê Guilherme, que carrego em meu ventre e que
já tem nos ensinado tanto, desde o começo, sobre quem somos e sobre quem ainda nos
tornaremos.

Aos meus orientadores, Prof. Alexandre Landesmann e Prof. Fernando Luiz


Bastos Ribeiro, pelo grande apoio e orientação que me dedicaram durante o
desenvolvimento de cada etapa deste trabalho.

Ao colega Júlio César Silva, aluno de doutorado da COPPE, pela grande ajuda
na elaboração deste trabalho.

A Det Norske Veritas, pela oportunidade de realização deste curso de Pós-


graduação e pelo investimento em meu desenvolvimento profissional.

v
Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)

ANÁLISE TÉRMICA EM ESTRUTURAS DE TANQUES DE ARMAZENAMENTO


DE ETANOL EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO

Flavia Marques Antunes Fontenelle

Dezembro/2012

Orientadores: Fernando Luiz Bastos Ribeiro


Alexandre Landesmann

Programa: Engenharia Civil

Este trabalho apresenta o desenvolvimento de uma metodologia numérico-


computacional via mecânica computacional de fluidos (CFD – Computational Fluid
Dynamics) para avaliação da segurança estrutural de tanques metálicos de
armazenamento de etanol sob condições acidentais de incêndio, incluindo-se a eficácia
das medidas de segurança, atualmente adotadas e prescritas por norma, nos parques de
tancagem das indústrias. A análise foi realizada utilizando o programa Fire Dynamics
Simulator (FDS) do qual se obteve a temperatura na superfície adiabática dos tanques
vizinhos quando da ocorrência de incêndio em um dos tanques de armazenamento de
etanol, que compõe o parque de tancagem. Além disso, foram obtidos os níveis de
radiação emitidos durante este incêndio a fim de determinar o limite de exposição a que
os usuários que estejam na planta, e.g., brigadistas, estão sujeitos no caso de um
acidente como este. Como resultado, verificou-se que a distância de segurança entre
tanques está subdimensionada, principalmente, em regiões cuja condição de vento não
seja de calmaria. Além disso, para regiões com condição de vento igual ou superior a
5m/s, o sistema de dilúvio atrelado às distâncias recomendadas por normas, pode não
ser suficiente para evitar a propagação do incêndio, i.e., o efeito dominó.

vi
Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)

THERMAL ANALYSIS OF ETHANOL STORAGE TANKS UNDER FIRE


CONDITIONS.

Flavia Marques Antunes Fontenelle

December/2012

Advisors: Fernando Luiz Bastos Ribeiro


Alexandre Landesmann

Department: Civil Engineering

This work introduces the development of a methodology via Computational


Fluid Dynamis (CFD) in order to evaluate the structural safety of metal ethanol storage
tanks under fire conditions, including the effectiveness of security measures currently
applied and prescribed by rules, to safeguard the integrity of tank farms. The analyses
were performed using the program Fire Dynamics Simulator (FDS) from which was
obtained the adiabatic surface temperature that reaches the neighboring tanks due to fire
in one of the ethanol storage tanks. Furthermore, the radiation levels emitted during the
burning is obtained so that the limit of exposure to people who are around, e.g.,
firefighters, can be known. The results show that the safety distance between tanks has
been underpredicted, especially, at regions with some wind speed. Moreover, the
regions where the wind speed is equal or higher than 5 m/s, the deluge system
associated to the distance recommended by standards, may not be enough to prevent the
spread of fire, known as domino effect.

vii
SUMÁRIO

ÍNDICE DE FIGURAS .....................................................................................................x

ÍNDICE DE TABELAS ................................................................................................ xiii

LISTA DE SÍMBOLOS .................................................................................................xiv

CAPÍTULO 1 - Introdução ........................................................................................... 1


1.1 Motivação ..........................................................................................................1
1.2 Objetivo do trabalho ......................................................................................... 3
1.3 Estrutura da dissertação .................................................................................. 4

CAPÍTULO 2 - Revisão Bibliográfica .........................................................................5


2.1 Principais características do etanol .................................................................5
2.2 Acidentes e eventos de risco .............................................................................9
2.3 Projeto de um parque de tancagem............................................................... 13
2.4 Medidas mitigadoras/ sistema de dilúvio ...................................................... 17
2.5 Combate a incêndio de etanol ........................................................................21
2.6 Principais pesquisas e informações sobre o tema. .......................................22
2.7 Principais normas nacionais e internacionais sobre o tema........................ 24
2.8 Área vulnerável pela radiação térmica ......................................................... 26

CAPÍTULO 3 - Metodologia de Análise ....................................................................28


3.1 Mecânica dos fluidos computacional (CFD) ................................................. 28
3.2 Fire Dynamic Simulator (FDS) .......................................................................31
3.2.1 Principais características do FDS ..................................................................31
3.2.2 Modelo hidrodinâmico ................................................................................... 32
3.2.3 Modelo de combustão utilizado pelo FDS ..................................................... 35
3.2.4 Transferência de calor por radiação ............................................................. 36
3.2.5 Temperatura na superfície adiabática (AST– Adiabatic Surface
Temperature) ............................................................................................................... 36
3.2.6 Condição de contorno ..................................................................................... 38
3.2.7 Processamento em paralelo ............................................................................ 39
3.2.8 Dinâmica do sistema de dilúvio .....................................................................39
3.3 Temperatura na chapa de aço .......................................................................40
3.3.1 Transferência de calor .................................................................................... 40

viii
3.3.1.1 Radiação ...................................................................................................41
3.3.1.2 Convecção .................................................................................................42
3.3.1.3 Condução ..................................................................................................43

CAPÍTULO 4 - ESTUDO DE CASO.........................................................................46


4.1 Apresentação do estudo de caso ....................................................................46
4.2 Base para análise ............................................................................................. 47
4.2.1 Modelo geométrico .......................................................................................... 47
4.2.2 Pontos de monitoração ................................................................................... 49
4.2.2.1 Tanque alvo .............................................................................................. 49
4.2.2.2 Região entre tanques ............................................................................... 50
4.2.3 Sistema de dilúvio ........................................................................................... 51
4.2.4 Modelagem computacional ............................................................................ 53
4.2.5 Processamento em paralelo das simulações .................................................. 53
4.3 Resultados numéricos obtidos........................................................................54
4.3.1 Evolução do incêndio ...................................................................................... 54
4.3.2 Propagação de fumaça .................................................................................... 58
4.3.3 Temperatura do gás ........................................................................................ 60
4.3.4 Velocidade do fluido ....................................................................................... 66
4.3.5 Temperatura na superfície adiabática .......................................................... 68
4.3.6 Níveis de radiação ........................................................................................... 77

CAPÍTULO 5 - CONCLUSÕES GERAIS .................................................................81


5.1 Considerações finais ....................................................................................... 81
5.2 Recomendações e sugestões para trabalhos futuros ....................................82

Referências Bibliográficas ............................................................................................... 84

ANEXO A ....................................................................................................................... 91

ix
ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 2-1: Incêndios em tanques de (a) etanol e (b) gasolina. ........................................ 7

Figura 2-2 Causas de incêndio em tanques de armazenamento de produtos inflamáveis.


(GODDARD, 2011) ....................................................................................................... 10

Figura 2-3 Incêndios ocorridos no ano de 2011 e suas causas (GODDARD, 2011). .... 11

Figura 2-4: Etapas do experimento realizado, em menor escala, para representar a


formação de cargas eletrostáticas (SOBRINHO E POSSEBON, 2007). ....................... 16

Figura 3-1: Esquema da transferência de calor por radiação (COSTA, 2008). .............. 41

Figura 3-2: Esquema da determinação das temperaturas externa e interna da chapa


devido à transferência de calor entre os meios. .............................................................. 45

Figura 4-1: (a)Vista 3D do modelo e arranjo geométrico; (b) vista superior e (c) corte
lateral. ............................................................................................................................. 48

Figura 4-2: Pontos para monitoração de temperatura e radiação. .................................. 50

Figura 4-3: Pontos de monitoração do fluxo de radiação entre os tanques alvo e fonte. 51

Figura 4-4: Modelo típico de aspersor (SHEPPARD, 2002).......................................... 52

Figura 4-5: Sistema de dilúvio posicionado acima dos tanques, representado pelos
pontos em azul. ............................................................................................................... 52

Figura 4-6: Sistema de dilúvio ativado no tanque alvo e tanque fonte em chamas. ....... 52

Figura 4-7: Evolução do incêndio para o cenário 1 de calmaria, em diferentes instantes


do incêndio (chama visível a partir de 80 kW/m³). ........................................................ 56

Figura 4-8: Evolução do incêndio para o cenário 2 de calmaria, em diferentes instantes


do incêndio (chama visível a partir de 80 kW/m³). ........................................................ 56

Figura 4-9: Evolução do incêndio para o cenário 3 com vento incidente de leste, em
diferentes instantes de tempo (chama visível a partir de 80 kW/m³). ............................ 57

Figura 4-10: Evolução do incêndio para o cenário 4 com vento incidente de leste, em
diferentes instantes de tempo (chama visível a partir de 80 kW/m³).. ........................... 57

Figura 4-11: Propagação da fumaça, em diferentes instantes de tempo, para o cenário 1


de calmaria. ..................................................................................................................... 58

x
Figura 4-12: Propagação da fumaça, para o cenário 2 de calmaria. ............................... 59

Figura 4-13: Evolução da fumaça, em diferentes instantes de tempo, para o cenário 3, de


vento. .............................................................................................................................. 59

Figura 4-14: Evolução da fumaça, em diferentes instantes de tempo, para os cenário 4,


de vento. ......................................................................................................................... 60

Figura 4-15: Evolução da temperatura do gás devido ao cenário 1 de calmaria. ........... 62

Figura 4-16: Evolução da temperatura do gás devido ao cenário 2 de calmaria. ........... 62

Figura 4-17: Temperatura do gás no entorno dos tanques para os cenários 1 (a) e 2 (b).
........................................................................................................................................ 63

Figura 4-18: Evolução da temperatura do gás devido ao cenário 3, de vento. ............... 64

Figura 4-19: Evolução da temperatura do gás devido ao cenário 4, de vento. ............... 64

Figura 4-20: Temperatura do gás próxima ao tanque alvo (a) cenário 3 e (b) cenário 4
em t=229 s. ..................................................................................................................... 65

Figura 4-21: Vetores velocidade do fluido nas simulações com vento. ......................... 67

Figura 4-22: Temperatura nos 9 pontos posicionados na face do tanque alvo para as
condições do cenário 1. .................................................................................................. 68

Figura 4-23: Temperatura nos 9 pontos posicionados na face do tanque alvo para as
condições do cenário 2. .................................................................................................. 69

Figura 4-24: Temperatura nos 9 pontos posicionados na face do tanque alvo para as
condições do cenário 3. .................................................................................................. 69

Figura 4-25: Temperatura nos 9 pontos posicionados na face do tanque alvo para as
condições do cenário 4. .................................................................................................. 70

Figura 4-26: Temperatura superior a de autoignição do etanol na superfície adiabática


para as condições do cenário 1. ...................................................................................... 72

Figura 4-27: Temperatura na superfície adiabática no instante em que ocorre a maior


temperatura lida (111s) para as condições do cenário 2. ................................................ 73

Figura 4-28: Temperatura superior a de autoignição do etanol na superfície adiabática


do tanque alvo para as condições do cenário 3. .............................................................. 73

xi
Figura 4-29: Temperatura na superfície adiabática no instante em que ocorre a maior
temperatura (279ºC) lida pelos pontos de monitoração aos 141s de simulação para as
condições do cenário 4. .................................................................................................. 74

Figura 4-30: Temperatura superior a de autoignição do etanol na superfície adiabática


do tanque alvo para as condições do cenário 4. .............................................................. 74

Figura 4-31: Limites de exposição devido à radiação para as condições de simulação do


cenário 1. ........................................................................................................................ 80

Figura 4-32: Limites de exposição devido à radiação para as condições de simulação do


cenário 3. ........................................................................................................................ 80

xii
ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 2-1 Propriedades físico-químicas do etanol (BRASKEM, 2009). ........................ 8

Tabela 2-2 Informações relevantes sobre o etanol utilizadas nas simulações de incêndio.
.......................................................................................................................................... 8

Tabela 2-3 Radiação térmica e efeito correspondente (HAAG e ALE, 2005). .............. 27

Tabela 3-1 Valores do coeficiente de transferência de calor por convecção (EN 1992-1-
1:2002). ........................................................................................................................... 43

Tabela 4-1 Condição dos cenários simulados. ............................................................... 46

Tabela 4-2 Pontos de monitoração na superfície do tanque alvo. .................................. 49

Tabela 4-3 Pontos de monitoração do fluxo de radiação entre os tanques fonte e alvo,
nas simulações de incêndio. ........................................................................................... 50

Tabela 4-4 Características do sistema de dilúvio utilizado nas simulações. .................. 51

Tabela 4-5 Número de processadores utilizado por simulação e tempo total de CPU. .. 54

Tabela 4-6 Temperatura média na superfície adiabática do tanque alvo devido às


condições de cada cenário simulado............................................................................... 70

Tabela 4-7 Resultados da máxima temperatura na superfície adiabática do tanque alvo


devido às condições de cada cenário simulado. ............................................................. 71

Tabela 4-8 Temperatura na chapa de aço do tanque. ..................................................... 75

Tabela 4-9 Fluxo total de radiação para os cenários simulados. .................................... 78

xiii
LISTA DE SÍMBOLOS

Letras Romanas

c calor específico do material por unidade de massa

fb vetor de forças externas

Fi fator de vista

g vetor gravidade

h coeficiente de transferência de calor entre o líquido e o gás

hc coeficiente de transferência de calor por convecção

H entalpia

I intensidade de radiação térmica

k condutividade térmica

mb''' taxa de produção de massa

p pressão

q fluxo de calor gerado no interior do material

''
qcon fluxo de calor por condução
''
qconv fluxo de calor por convecção

''
qinc radiação incidente

''
qrad fluxo de calor por radiação

''
qtot fluxo de calor líquido total

q '' vetor fluxo de calor

q ''' taxa de liberação de calor por unidade de volume

R constante universal dos gases

xiv
Sa salinidade

t tempo

T temperatura

TAST temperatura da superfície adiabática

Tg temperatura do gás

Trad temperatura por radiação

Ts temperatura na superfície

u vetor velocidade

ug velocidade do gás

W peso molecular

Y0 fração mássica de oxigênio no ambiente

Z fração de mistura

Letras Gregas

δx δy δz volume da célula de malha

ε emissividade

κ coeficiente de absorção

ρ massa específica do material

constante de Stephan-Boltzmann

ij tensor de tensão viscosa

xv
CAPÍTULO 1 - Introdução

Por motivos econômicos, geopolíticos e ambientais, as atenções do mundo se


voltam para fontes alternativas de energia, em especial para o etanol. Tal combustível
desperta de modo crescente o interesse de pesquisadores, empresas e governos. Isso
decorre das pressões de preços e perspectivas de esgotamento das fontes não renováveis
de combustíveis fósseis, assim como de preocupações de natureza ambiental,
relacionadas à emissão de substâncias que comprometem o meio ambiente.
Paralelamente ao crescimento da utilização de etanol, surgem novos riscos e desafios do
ponto de vista de segurança contra incêndio – particularmente em termos de combate e
operações em tanques de armazenamento contendo este líquido altamente inflamável
que, inerentemente, pode causar explosões e incêndios.

1.1 Motivação

O etanol de cana é reconhecido no mundo inteiro como uma importante fonte de


energia limpa e renovável (UNICA, 2012). Enquanto o mundo busca alternativas ao
petróleo, o Brasil já utiliza etanol em larga escala há mais de 30 anos. Neste período, foi
adquirida enorme experiência na produção e uso do etanol de cana-de-açúcar. Assim,
atualmente, pode-se dizer que o Brasil é o país mais avançado, do ponto de vista
tecnológico, na produção e na utilização do etanol como combustível, com elevado
índice de excelência e competitividade, seguido pelos EUA e, em menor escala, pela
Argentina, Quênia, Malawi e outros (UNICA, 2012).

Desde o lançamento dos veículos flex no Brasil, em 2003, o uso do etanol em


substituição à gasolina evitou a adição de mais de 100 milhões de toneladas de gás
carbônico (CO2) na atmosfera. Essa quantidade equivale a, por exemplo, dois
importantes países da América do Sul - Colômbia e Peru, juntos - deixarem de emitir
CO2 por um ano. Diferentemente da gasolina e do diesel, o etanol praticamente não
contém enxofre, partículas e outros poluentes da atmosfera (UNICA, 2012).

1
No Brasil, toda a gasolina, seja ou não para uso automotivo, contém de 20% a
25% de etanol anidro (0,4% de água, em volume). O percentual exato varia, conforme
decisões políticas e econômicas governamentais. Praticamente todos os postos de
combustíveis do país oferecem etanol hidratado puro (4% de água, em volume) para
carros a álcool e modelos flex. Atualmente, quase 90% dos carros fabricados no Brasil
possuem tecnologia flex (UNICA, 2012).

Em 2007, a União Europeia estabeleceu metas para reduzir as emissões de gases


de efeito estufa em pelo menos 20% até 2020. Para se ter um impacto real sobre a
economia e atingir esta meta de emissões, é essencial introduzir uma ampla bio-
economia que inclua etanol como combustível (MUNIAIN, 2011).

Atualmente, o etanol é misturado à gasolina, ao combustível E851, bem como, ao


etanol diesel. Espera-se que, na Europa, a proporção aceitável de etanol em
combustíveis aumente para 5% a 10%, nos próximos anos (MUNIAIN, 2011).

Nos EUA, similarmente, a utilização de etanol aumentou significativamente na


última década e, atualmente, o percentual de etanol adicionado à gasolina é de 10%,
mas já se planeja aumentar para 15% (PERSSON, 2011). No Brasil, o percentual de
etanol anidro adicionado à gasolina é de 25% como estipulado pelo governo (CTBE,
2011).

A consequência do aumento do volume de etanol misturado, é que o volume de


etanol a granel transportado, manipulado e armazenado aumentará substancialmente nos
próximos anos. Ao mesmo tempo, o diâmetro e o volume dos tanques de
armazenamento também aumentarão o que fará das operações e do combate a incêndio
um grande desafio. Além disso, a experiência de combate a incêndio em tanques de
armazenamento de etanol e outros combustíveis miscíveis em água é muito limitada, e
os incêndios ocorridos resultaram no esgotamento do combustível pela queima do
inventário contido no tanque ao invés de sua extinção (PERSSON, 2011).

A cada ano, incêndios envolvendo tanques de armazenamento de produtos


inflamáveis são noticiados. A crescente demanda por etanol atrelada aos riscos inerentes
desta atividade culminou na motivação para estudar as medidas de segurança que vêm

1 Nota: E85 – Combustível composto por 85% de etanol e 15% de gasolina. A utilização dessa substância
nos automóveis contribui para reduzir o lançamento de gases poluentes na atmosfera, visto que a
combustão do E85 emite menos metano, dióxido de carbono e óxido nitroso (CERQUEIRA, 2012).

2
sendo adotadas na indústria a fim de minimizar acidentes em tanques de armazenamento
de etanol.

A revisão da literatura vigente, tratada no capítulo 2, indicou uma grande


escassez de material bibliográfico, no Brasil e no mundo, que discuta especificações e
metodologias atuais sobre a segurança nas instalações de etanol. A norma brasileira
ABNT NBR7820:1983, que trata da segurança nas instalações de produção,
armazenamento, manuseio e transporte de etanol está perto de completar 30 anos,
podendo estar obsoleta em função dos novos avanços nos quesitos de segurança contra
incêndio. Além disso, por exemplo, não se sabem quais foram os critérios adotados para
a determinação do espaçamento entre tanques nesta norma, o que pode acarretar em
distâncias conservadoras ou subdimensionadas.

Outro ponto que merece atenção é que, segundo alguns institutos de pesquisa, o
etanol vem sendo encarado e administrado de modo semelhante à gasolina. Tal atitude
representa um erro, dado que estes combustíveis apresentam propriedades químicas,
comportamento de queima, extinção, dentre outras características completamente
distintas.

1.2 Objetivo do trabalho

O objetivo do trabalho é o desenvolvimento de uma metodologia numérico-


computacional via Mecânica Computacional de Fluidos (CFD – Computational Fluid
Dynamics) para avaliação da segurança estrutural de tanques metálicos de
armazenamento de etanol sob condições acidentais de incêndio, incluindo-se a eficácia
das medidas de segurança, atualmente adotadas e prescritas por norma, nos parques de
tancagem das indústrias.

Como resultado, o trabalho poderá contribuir no âmbito técnico-profissional,


servindo de ferramenta para ratificação das recomendações normativas de proteções
passiva e ativa, atualmente utilizadas, tais como: distância entre tanques e sistema de
dilúvio, ou como alerta para sua correção e adequação. No âmbito acadêmico-científico,
servirá como instrumento para proposta de melhoria da segurança das indústrias em
geral e, sobretudo, na indústria petroquímica.

3
1.3 Estrutura da dissertação

A presente dissertação de mestrado é composta por 5 (cinco) capítulos, os quais


elucidam a metodologia de trabalho desenvolvida nesta pesquisa.

No Capítulo 2, apresenta-se a revisão bibliográfica sobre o tema, incluindo-se


uma revisão do atual conhecimento relacionado ao tema de pesquisa desta dissertação
tais como, as principais características do etanol, os acidentes envolvendo tanques de
estocagem e eventos de risco, o projeto de um parque de tancagem e as medidas
mitigadoras utilizadas na proteção dos tanques. Além disso, são também apresentados
os atuais estudos sobre o combate a incêndio de etanol, as principais pesquisas sobre o
tema e, finalmente, são apresentadas as principais normas nacionais e internacionais
relacionadas ao tema de estudo.

As principais considerações teóricas que fazem parte do universo da mecânica


dos fluidos computacional e os principais conceitos referentes ao programa
computacional FDS (Fire Dynamics Simulator), utilizado para as simulações de
incêndio do presente trabalho, estão apresentados no Capítulo 3.

No Capítulo 4, está apresentado o estudo de caso proposto, utilizado para


desenvolvimento deste trabalho, bem como os resultados obtidos de acordo com os
cenários propostos.

Finalmente, no Capítulo 5, são apresentadas as principais conclusões,


recomendações obtidas no presente trabalho e sugestões para trabalhos futuros.

4
CAPÍTULO 2 - Revisão Bibliográfica

Esse capítulo apresenta uma revisão do atual conhecimento relacionado ao tema


de pesquisa desta dissertação. Primeiramente, no item 2.1, são apresentadas as
principais características do etanol; no item 2.2, a relevância do tema estudado a partir
de uma revisão dos acidentes envolvendo tanques de estocagem e eventos de risco. O
item 2.3 aborda a projeto de parque de tancagens e o item 2.4 traz as medidas
mitigadoras utilizadas na proteção desses tanques. Os estudos sobre o combate a
incêndio de etanol estão apresentados no item 2.5 dessa dissertação, enquanto que as
principais pesquisas sobre o tema estão descritas no item 2.6. Finalmente, no item 2.7,
são apresentadas as principais normas nacionais e internacionais relacionadas ao tema
de estudo.

2.1 Principais características do etanol

Atualmente, tanto os compartimentos que armazenam etanol quanto os que


comportam combustíveis derivados de petróleo são tratados da mesma maneira no que
tange aos sistemas de proteção e combate a cenários acidentais de incêndio e ao projeto
de instalação destes tanques (MUNIAIN, 2011). No entanto, existem diferenças
significativas na solubilidade em água e no comportamento de queima desses tipos de
combustíveis que devem ser considerados com cuidado no desenvolvimento de
estratégias de combate e proteção contra incêndio. Ainda segundo MUNIAIN (2011), os
incêndios em tanques de etanol resultariam em fluxo de calor de 35 a 50% maior que o
produzido devido a um incêndio com gasolina.

PERSSON (2004), por meio de modelos computacionais, calculou o alcance da


chama da gasolina em comparação a de etanol e constatou que a primeira pode atingir
25 metros enquanto que a segunda, 40 metros. Desta forma, em poucos minutos, altas
temperaturas atingiriam os tanques vizinhos acarretando na propagação do incêndio.

O desempenho de um incêndio de etanol é diferente do apresentado pela queima


da gasolina. No interior de um tanque fechado, o etanol puro forma vapores de

5
combustível inflamável em uma faixa de temperatura entre 12 e 40ºC, enquanto que a
temperatura da gasolina deve estar abaixo de -20ºC para a formação nos limites
estequiométricos de inflamabilidade, i.e., à medida que a temperatura ultrapassa -20ºC,
rapidamente a gasolina evapora gerando assim uma mistura rica que não é facilmente
ignitada. Misturas de etanol têm uma faixa de inflamabilidade que varia do etanol puro
à gasolina, dependendo de sua composição específica. Como resultado, a possibilidade
de condições inflamáveis em um tanque de armazenamento, e, assim, o risco de ignição,
é maior para o etanol do que para a gasolina.

A Figura 2-1 ilustra o comportamento de incêndios em tanques de etanol (a) e


gasolina (b). Observa-se, que o incêndio com etanol produz baixos níveis de fumaça e
grande fluxo radiativo (alcance maior) quando comparado à gasolina e outros derivados
de petróleo, que desprendem grande quantidade de fumaça e menor fluxo radiativo e,
por conseguinte, menor alcance da chama.

6
Incêndio ocorrido em 26/07/2009. Local: Cambria, EUA (SCHILL, 2012)
(a)

Incêndio ocorrido em 28/04/2007. Local: Oklahoma, EUA (LEGETT, 2007)


(b)

Figura 2-1: Incêndios em tanques de (a) etanol e (b) gasolina.

7
O etanol, também conhecido como álcool etílico, é um líquido altamente
inflamável. Esse líquido pode acumular carga estática por fluxo ou agitação, seus
vapores são mais pesados do que o ar e podem propagar-se para longas distâncias até
fontes de ignição e inflamarem-se. Além disso, o etanol líquido, por não ser miscível em
água, é capaz de flutuar nesta, podendo deslocar-se por grandes distâncias e espalhar o
fogo. A decomposição sob altas temperaturas produz gases tóxicos. A Tabela 2-1
apresenta as propriedades físico-químicas do etanol retiradas da Ficha de Informação de
Segurança de Produto Químico (FISPQ) da empresa BRASKEM (2009). A Tabela 2-2
apresenta outras informações relevantes sobre o etanol, que são utilizadas como dado de
entrada para as simulações de incêndio.

Tabela 2-1 Propriedades físico-químicas do etanol (BRASKEM, 2009).

Aspecto
Estado físico: Líquido límpido.
Cor: Incolor
Odor: Característico
Temperaturas características
Ponto de fusão: - 114,4 ºC
Ebulição: 78,4 ºC
Características de inflamabilidade
Ponto de fulgor: 13 ºC
Temperatura de autoignição: 363 ºC
Características de explosividade
Limites de explosividade no ar
- Inferior (LIE): 3,3 %
- Superior (LSE): 19,0 %
Pressão de vapor: 40 mmHg @ 19 ºC
Massa volumétrica (densidade)
Densidade de vapor (ar = 1). 1,59
Densidade relativa (água = 1): 0,789 g/cm3 @ 20 ºC
Fórmula química: CH3CH2OH
Peso molecular: 46

Tabela 2-2 Informações relevantes sobre o etanol utilizadas nas simulações de incêndio.
Calor de combustão (kJ/kg) 26800
Calor específico (J/(kg.K)) 2840
Condutividade térmica (W/m/K) 0,18
Calor de reação (kJ/kg) 855

8
2.2 Acidentes e eventos de risco

O incêndio é um dos principais riscos associados a tanques de estocagem


contendo líquidos inflamáveis. Tanques de estocagem em refinarias e plantas químicas
contêm grandes volumes de substâncias inflamáveis e quimicamente perigosas (LIU,
2011). Normalmente, tais tanques são dispostos em grandes grupos, em local
denominado parque de tancagem, de forma que, um simples acidente envolvendo um
único tanque pode levar a sérios danos à propriedade, à vida, ao meio ambiente e, até
mesmo, à imagem da empresa, interrupção de produção e, ainda, em caso extremo, à
perda integral da instalação. Este fenômeno é conhecido, tradicionalmente, por “Efeito
Dominó”, causado pela propagação do incêndio para outros tanques que ficam
suscetíveis ao risco, se o incêndio não for extinto a tempo.

Geralmente, o incêndio ocorre devido a uma liberação acidental de um líquido


ou gás inflamável seguida de ignição. Tais liberações podem ser ocasionadas por
vazamentos em tanques, filtros, bombas ou em qualquer outro tipo de acessório ao
longo da tubulação, bem como, na própria tubulação, no interior das quais se tenha
material inflamável.

Em tanques atmosféricos, a operação automática da válvula de alívio de pressão


ou válvula de pressão e vácuo faz com que excesso de vapores no interior do tanque
sejam liberados, mas, também admite a entrada de ar externo na medida que diminui o
nível de líquido no interior do tanque, equalizando as pressões internas e externas.
Como consequência, tem-se normalmente no interior do tanque uma mistura de ar com
o vapor de álcool dentro da faixa de explosividade. Uma fonte com energia suficiente
para atingir a energia mínima de ignição provoca a explosão dessa mistura.

Foram relatados, em todo mundo desde a década de 50, cerca de 480 incêndios
em tanques de armazenamento de produtos inflamáveis e combustíveis. A maior causa
desses eventos, o que corresponde a aproximadamente 30 % das ocorrências, é
relacionada a descargas atmosférica. Uma retrospectiva dos incêndios em tanques de
armazenamento em indústrias de petróleo entre 1951 e 2003 (PERSSON e
LONNERMARK, 2004) contabilizou:

9
(a) 15 a 20 incêndios em tanques reportados a cada ano, variando de um simples
incêndio em um flange de vedação até incêndios que atingem todo o parque
de tancagem;
(b) 160 incêndios foram causados por descargas atmosféricas.

RASMUSSEN (1995) revelou que, de todas as causas naturais, descargas


atmosféricas iniciam 61% dos acidentes nas áreas de estocagem e processamento.

O estudo de CHANG e LIN (2006) avaliou 242 incêndios em tanques de


armazenamento, tendo verificado que suas causas variam, conforme apresentado na
Figura 2-2. A principal causa de incêndio ratifica a estatística dos estudos anteriores, ou
seja, são as descargas atmosféricas (33%); a segunda causa de acidentes é devido à falha
humana (25%), incluindo a falha de manutenção e operação.

Figura 2-2 Causas de incêndio em tanques de armazenamento de produtos inflamáveis.


(GODDARD, 2011)

Em 2011, pelo menos onze incêndios envolvendo tanques de armazenamento de


produtos inflamáveis e combustíveis foram registrados. Nestes acidentes, houve o
escalonamento do incêndio para outros tanques, resultando em óbitos e ferimentos
graves, além de danos materiais significativos e lucros cessantes. A Figura 2-3 apresenta
um resumo de alguns incêndios importantes em tanques de armazenamento de
combustíveis ocorridos no ano de 2011 e suas principais causas (GODDARD, 2011).

10
02/06/2011, Tanque de combustível em Pembrokeshire, UK. Causa:
07/06/2011, Refinaria em Beaumont, Texas. Causa: Manutenção
Manutenção

19/05/2011, Tanque de óleo em Kansas, EUA. Causa: descarga atmosférica 27/04/2011 Tanque de resíduos em Oklahoma, USA. Causa: descarga
atmosférica

04/04/2011, Texas, EUA. Causa: descarga atmosférica 02/04/2011, Tanque de óleo no centro de Java. Causa: desconhecida

31/03/2011, Tanque de óleo em Mississippi, EUA. Causa: Desconhecida 24/03/2011, Tanque de óleo de aviação em Miami, EUA. Causa: Falha em
uma bomba

Figura 2-3 Incêndios ocorridos no ano de 2011 e suas causas (GODDARD, 2011).

11
Os principais riscos associados aos tanques de armazenamento, que contenham
líquidos inflamáveis, são incêndio e explosão (CHANG e LIN, 2006). Incêndios ou
explosões são prováveis de ocorrer quando vapores ou líquidos são liberados em áreas
onde pode haver uma fonte de ignição, ou quando a fonte de ignição é introduzida numa
região que possa conter uma atmosfera inflamável. A dimensão do risco de incêndio ou
explosão depende da temperatura do líquido, da quantidade de superfície exposta, do
tempo de exposição, e do movimento de ar sobre a superfície.

Do ponto de vista da segurança estrutural, a explosão é, sem dúvida, o evento


que representa maior risco para os tanques adjacentes, pois a onda de choque causada
pela explosão é capaz de causar danos estruturais significativos (BAKER et al., 1982,
RUIZ et al., 1989, ISLAM et al., 1992).

Na presença de um incêndio atingindo a estrutura do reservatório, o metal sofre


uma degradação das propriedades mecânicas e, por conseguinte, há a perda de
resistência estrutural e eventual falha. Em outras situações, em que o fogo se espalha
sobre o tanque, o tanque adjacente pode estar sob o risco de falha. Os perigos
decorrentes de tal situação são devidos à radiação térmica. A transferência de calor por
radiação aquece os tanques vizinhos e resulta num aumento de temperatura não
uniforme no tanque, onde a parte voltada para o fogo está mais quente do que a parte
oposta a ela (LIU, 2011). Isto pode levar à falha devida à deformação dos tanques, pois
o módulo de elasticidade do aço (ou de outros metais) usado na construção do
reservatório é reduzido quando submetido a elevadas temperaturas, em conjunto com a
tensão, termicamente induzida, devido à contenção da expansão térmica. Uma vez que
as temperaturas atingidas em tais estruturas podem ser várias centenas de graus
centígrados, qualquer limitação à expansão térmica pode levar ao desenvolvimento de
grandes tensões de compressão. A alta suscetibilidade das estruturas de casca fina para a
deformação elástica mesmo sob tensões muito baixas, significa que este tipo de falha é
facilmente provocada. No entanto, segundo LIU (2011), não há estudos anteriores sobre
este problema.

12
2.3 Projeto de um parque de tancagem

A base de abordagem para minimizar o risco de armazenamentos sob condição


de incêndio é conceber um projeto adequado para todo o parque de tancagem com
distâncias de segurança entre tanques. A localização, no projeto, de tanques de
armazenamento deve ser selecionada com muito cuidado, de forma a garantir a vida e a
propriedade dos efeitos de um incêndio acidental em um tanque e/ ou, ainda, protegê-lo
de incêndios que possam ocorrer em outros pontos da planta de processo.

Existem várias normas e guias que apresentam a distância de segurança entre


tanques, que podem variar significativamente. Órgãos reguladores e profissionais como
o American Petroleum Institute (API), National Fire Protection Association (NFPA),
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), Centro de Processo de Segurança
Química (CCPS - Center for Chemical Process Safety), dentre outros sugeriram normas
sobre tal problema. Como exemplo, pode-se destacar a diferença importante entre a
distância recomendada pela ABNT NBR7820:1983 que é significativamente maior que
a recomendada pela norma NFPA 30:2008 que trata os líquidos inflamáveis, tal como
mostrado a seguir.

A norma ABNT NBR7820:1983, que trata da segurança nas instalações de


produção, armazenamento, manuseio e transporte de etanol, determina que os tanques
devem ser situados a um espaçamento mínimo de 30 metros de qualquer fonte de
ignição, instalações industriais, depósitos em geral, tanques de armazenamento de
líquidos inflamável e/ou combustível e de qualquer rede elétrica. O espaçamento entre
os costados dos tanques não pode ser inferior a maior dimensão do maior tanque. O
espaçamento entre fileiras de tanques adjacentes não pode ser inferior a maior dimensão
do maior tanque da área, porém nunca inferior a 30 metros.

Quanto a norma NFPA 30:2008, tratando-se de etanol, a distância entre tanques


de diâmetro igual a 30 metros, não deve ser inferior à aproximadamente 5 metros.

De acordo com a Health and Safety Executive (HSE, 1998), as distâncias de


separação vão depender de vários fatores, mas principalmente da capacidade do tanque.
Pequenos tanques, geralmente são associados a pequenas e médias industrias de
processos químicos, enquanto que tanques grandes são associados às refinarias e outras

13
instalações de grande escala de armazenamento. Além disso, as distâncias de separação
não são capazes de dar a proteção total em caso de incêndio ou explosão envolvendo o
tanque, mas deve permitir tempo suficiente para que os usuários sejam evacuados, desde
que haja adequado meio de escape. As distâncias de separação também devem
possibilitar tempo suficiente para procedimentos adicionais de combate a incêndios e de
emergência a serem mobilizados.

Segundo o boletim técnico da empresa Welding Soldagens e Inspeções


(WELDING, 2010), normalmente, os parques de tancagem de álcool não obedecem à
distância mínima entre tanques, exigida por norma, e as bacias de contenção são
subdimensionadas e sem proteção.

SENGUPTA et al. (2010) pesquisou sobre a distância segura de espaçamento


entre dois tanques de armazenamento, um de gasolina e outro de Gás Natural Liquefeito
(GNL), em um parque de tancagem, e verificou que, por razões econômicas, as
distâncias mínimas especificadas por normas não garantem a segurança de tanques
durante um incêndio, visto que não levam em consideração uma série de parâmetros,
tais como: a velocidade de vento, altura da chama e espalhamento do incêndio.

A distância de separação segura é definida como aquela em que o fluxo de


radiação térmica é igual a um nível prescrito. Este nível depende do que é necessário
para conservar ou proteger (ATALLAH e ALLAN, 1971).

CROWL e LOUVAR (2002), LEES (1996), DINENNO (1995) definiram como


fluxo de calor crítico o valor de 4732 kW/m² como sendo a distância segura entre
tanques e que não se espera que o material venha a ignitar para fluxos menores. Esse
fluxo de calor corresponde à energia de radiação de um corpo negro a uma temperatura
de 260° С.

BEYLER (2004) definiu, a partir de experimentos com gasolina e GNL a


temperatura crítica no valor de 540° С. Tal temperatura seria um limiar para a segurança
dos tanques de aço na determinação de distância de segurança. Embora esta definição de
temperatura não pareça ser muito alta para deformar o tanque de aço, a questão mais
importante aqui não é a redução da resistência do aço sob a determinada temperatura,
mas as tensões provocadas pela distribuição não uniforme da temperatura no tanque de
aço que pode facilmente levar à falha catastrófica, mesmo que a temperatura máxima

14
seja muito mais baixa. O objetivo do estudo de BEYLER (2004) foi revelar e
compreender o comportamento de um tanque de aço quando exposto a um incêndio
adjacente, considerando-se as deformações térmicas do costado.

De acordo com o HSE (2009), caso a temperatura de um tanque de aço


ultrapasse 300°C, então a estrutura do tanque estará prejudicada, e este pode romper.

Conforme dados da FISPQ, apresentados na Tabela 2-1, a temperatura de


autoignição do etanol é de 363ºC. Tal temperatura corresponde ao limite mínimo em
que ocorre a combustão, independente de uma fonte de ignição, como uma chama ou
faísca; i.e., quando o simples contato do combustível (em vapor), com o comburente já
é suficiente para estabelecer a reação.

Além do risco de autoignição, ou da ignição provocada por uma fonte externa


que seja suficiente para atingir a energia mínima de ignição, há também o risco de
ignição devido à geração de cargas eletrostáticas no interior do tanque. A eletricidade
estática é um fenômeno conhecido na indústria de processos e a literatura aponta a
mesma como um fator com potencial elevado para causar acidentes com incêndios e
explosões em locais com presença de misturas explosivas de ar e vapores inflamáveis,
como é o caso do interior de um tanque de armazenamento. Para tanto, é necessário que
as cargas acumuladas sejam suficientes para gerar uma descarga com energia igual à
energia mínima de ignição da substância.

O processo de enchimento do tanque, ou seja, com a tubulação de entrada


despejando o produto em queda livre a partir do topo é um conhecido mecanismo
gerador de cargas eletrostáticas. A Figura 2-4 reproduz as etapas de um experimento
realizado, em menor escala, do exposto acima, onde em (a) é apresentado o escoamento
de líquido em queda livre sobre um container metálico (condutor de eletricidade), (b) a
medição do campo elétrico gerado pela queda do líquido mostrando variação de cargas,
(c) animação ilustrando as cargas elétricas e seu movimento na superfície do líquido.
Pode-se observar que as cargas escoam pela superfície do material metálico do
container e em (d) container de material plástico não condutor em que as cargas
permanecem no interior do container (SOBRINHO E POSSEBON, 2007).

15
(a)

(b)

Cargas elétricas

(c)

(d)

Figura 2-4: Etapas do experimento realizado, em menor escala, para representar a


formação de cargas eletrostáticas (SOBRINHO E POSSEBON, 2007).

16
A Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho
(FUNDACENTRO) preparou um relatório de análise de acidente para um sinistro
ocorrido em abril de 2007 em Araucária no Paraná, no qual a fonte de ignição foram as
cargas eletrostáticas mencionadas. Segundo informações obtidas pelos responsáveis
pela investigação do acidente, estavam sendo executadas obras na bacia de contenção de
tanques, os quais armazenavam álcool etílico, quando um desses tanques com
capacidade de 311.000 litros e contendo cerca de 10% de produto explodiu. Um
segundo tanque também veio a explodir posteriormente. Esse acidente provocou 4
mortes e 2 feridos. O primeiro tanque rompeu na base projetando-se com teto e costado,
liberando o produto incendiado que atingiu os trabalhadores vitimados. A explosão do
segundo tanque ocorreu devido ao aquecimento dos vapores em seu interior provocado
pelo incêndio no tanque próximo.

2.4 Medidas mitigadoras/ sistema de dilúvio

A mitigação das consequências de incêndio em tanques de armazenamento


representa grande preocupação no que tange a segurança nas indústrias petroquímicas e
de gás. Com o intuito de fornecer medidas de segurança, diversos sistemas de proteção
contra incêndio em instalações industriais têm sido desenvolvidos. O parque de
tancagem basicamente, conta com dois tipos de proteção contra incêndio, comumente
chamadas de proteção: ativa e passiva.

A proteção ativa contra incêndio de uma dada instalação somente é operacional


quando são acionados os elementos capazes de promover o combate ao fogo. Os
principais elementos constituintes desta proteção, para instalações não confinadas, são:

(a) Sistemas de alerta de incêndio, como sirenes;


(b) Sistemas de detecção de incêndio, como detectores de fumaça e de chamas;
(c) Agentes de combate a incêndio, como aspersores, mangueiras, caminhões-
tanque;
(d) Sistemas de fornecimento de água, como rede de hidrantes;
(e) Sistemas de combate a incêndio fixos, como canhões fixos;
(f) Sistemas de combate a incêndio móveis ou fixos com LGE (Líquido Gerador
de Espuma).

17
A proteção passiva pode ser definida como sendo um conjunto de medidas e de
critérios de projeto cuja aplicação tem a finalidade de evitar, isolar, ou retardar a ação
do fogo ou calor excessivo independentemente da ação de usuários ou equipamentos. O
sistema de proteção passiva contra incêndio pode ser definido também como sistema de
prevenção, pois considera medidas de controle e segurança que minimizem a ocorrência
de incêndio e a área de abrangência deste evento. Portanto, pode-se afirmar que a
proteção passiva possui uma grande vantagem sobre a proteção ativa, pois é menos
dependente tanto dos equipamentos quanto de fatores humanos, que são (ambos)
passíveis de falhas. Desta forma, a proteção passiva é menos vulnerável a falhas no
controle de emergência. O objetivo da aplicação da proteção passiva é proporcionar
uma maior eficiência ao combate e propagação do incêndio, eliminando diversos fatores
de contingência existentes nos sistemas ativos, que possibilitam prejuízos de grandes
proporções como perdas humanas e patrimoniais, além de exigir investimento e custo
operacional altíssimos (OLIVEIRA, 1993).

O sistema de proteção passiva pode ser utilizado em vários casos, mas o seu uso
em elementos estruturais a fim de evitar o colapso dos mesmos durante o incêndio é o
mais comum. Como exemplo de proteção passiva utilizada em parques de tancagem
está o distanciamento entre tanques que é prescrito por norma ABNT NBR7820:1983.
Pode ser necessária proteção contra incêndios, em condições de armazenamento menos
ideais, principalmente, quando se é inviável obedecer às distâncias de separação
adequadas (HSE, 2009). Medidas de proteção contra incêndio podem ser fornecidas por:

(a) - revestimentos resistentes ao fogo;


(b) - paredes corta-fogo (firewall);
(c) - sistemas de refrigeração de água;
(d) - cobertores de espuma ou sistemas de extinção.

Combinações das diferentes medidas podem ser usadas. Sistemas de proteção


contra incêndios devem ser incluídos na inspeção e cronograma de manutenção das
instalações. Testes de rotina de cortina de água e sistemas de dilúvio podem ser
necessários. A proteção de um tanque contra um incêndio adjacente depende de vários
fatores dentre eles, a distância do fogo.

A solução ótima para a proteção contra fogo é, normalmente, uma combinação


de sistema de proteção ativa e passiva. Frequentemente, a proteção passiva pode limitar

18
a área aonde o fogo irá se espalhar e, com isto pode-se “ganhar tempo” enquanto os
recursos materiais e humanos são mobilizados para o controle da emergência. Ou seja, a
proteção passiva, em função do desenvolvimento dos materiais e métodos de utilização
não leva necessariamente à substituição completa da proteção ativa, mas induz uma
racionalização e/ou otimização dos dois sistemas (HSE, 2008).

Atualmente, a cortina de água pulverizada ou sistema de dilúvio são


reconhecidos como uma técnica útil para mitigar grandes riscos industriais. Estes
combinam características atraentes, como a simplicidade, eficácia e adaptabilidade à
diferentes tipos de risco (BUCHLIN, 2003). Em caso de incêndio em reservatórios,
pulverizadores de água podem fornecer a blindagem térmica para manter a integridade
de estruturas vizinhas (LEV, 1989; NEDELKA, BAUER et al., 1992; STRACHAN e
LEV, 1989). A cortina d’água se comporta como um filtro (LENOIR e SANDERS,
1972; THOMAS, 1952) e pode permitir uma redução significativa da radiação térmica
incidente que atinge as superfícies sensíveis, tais como tanques de armazenamento de
GNL ou de produtos da indústria petroquímica.

O sistema de dilúvio pode operar orientado para baixo, e.g., posicionado na parte
frontal do tanque ou orientado para a superfície a ser blindada, a partir de uma dada
angulação. Para verificar a eficiência desses dois tipos de blindagem, BUCHLIN (2005)
realizou modelagens, experiências de laboratório e testes de campo para ambas as
configurações e, como resultado, obteve um fator de atenuação de 50-75% para a
cortina vertical, contra 90% nos casos em que é possível a sobreposição dos sprays
(BUCHLIN, 2005).

Uma vazão de 2 l/min/m² é considerada como sendo a taxa de aplicação mínima


para as superfícies do tanque expostas à radiação a partir de um incêndio em um
equipamento adjacente (HSE, 2009 e ABNT NBR 17505-7:2006).

Segundo a norma ABNT NBR17505-7:2006, quando forem utilizados


aspersores, em tanques verticais, estes devem ser distribuídos de forma a possibilitar
uma lâmina de água contínua sobre a superfície a ser resfriada, sendo permitida sua
instalação no costado do tanque, nos casos de tanques com solda de baixa resistência
entre o costado e o teto. Esta norma ainda menciona que não é considerada proteção por
aspersores a utilização de apenas um aspersor (chuveiro) no centro do teto do tanque.

19
Como já mencionado, o sistema de dilúvio é utilizado para reduzir a temperatura
do tanque e assim aumentar o tempo de resistência ao fogo até que a brigada de
incêndio comece a atuar. No entanto, o estudo realizado por PENTA (2004) revela que
os sistemas de dilúvio instalados em tanques de gás liquefeito de petróleo (GLP) não
são tão eficientes durante incêndios quanto deveriam. Sistemas de água de dilúvio são
projetados para imergir totalmente uma estrutura submetida ao fogo com fluxo contínuo
de água de resfriamento. Para que funcionem corretamente, eles devem rapidamente
inundar toda a superfície externa do tanque e mantê-la molhada até que a brigada de
incêndio chegue para debelar as chamas. As áreas que fiquem secas durante esse tempo
de chegada da brigada estarão suscetíveis à deformação e ruptura, dado que a
temperatura externa pode subir a 1093ºC em apenas 5 minutos.

De acordo com numerosos relatos, sistemas de água dilúvio tendem a deixar


muitos tanques com partes secas e, em alguns casos, eles não são totalmente ativados.
Infelizmente, tais relatos não estão limitados apenas ao mercado industrial: a
Associação Nacional de Proteção a Incêndio (NFPA - National Fire Protection
Association) obteve dados semelhantes, em um estudo realizado em 2001, que concluiu
que os aspersores em escritório não funcionam cerca de 16% do tempo.

De acordo com norma API 2218:1999 publicada pelo Instituto Americano de


Petróleo (API - American Petroleum Institute), a proteção contra fogo Fireproofing
usado concomitante com sistemas de aplicação de água fornecerá proteção até que o
sistema de água seja ativado. Além disso, este funcionará como um backup temporário
no caso de abastecimento de água interrompido ou a taxa de aplicação de água
insuficiente.

Segundo PENTA (2004) a proteção passiva contra fogo, sob a forma de


revestimento isolante, pode ser aplicada diretamente sobre o casco dos tanques de GLP.
Desta forma durante um incêndio, no caso do sistema ativo falhar, o sistema passivo
manterá fria a estrutura do reservatório, de maneira confiável, por horas a fio.

20
2.5 Combate a incêndio de etanol

Quanto ao combate a incêndio de etanol, o Instituto de Petróleo Sueco “Swedish


Petroleum Institute” em parceria com o Instituto de Pesquisa Técnica da Suécia “SP
Technical Research Institute of Sweden”, estão trabalhando no projeto nomeado
ETANKFIRE cujos objetivos são desenvolver e validar uma metodologia para proteção
contra incêndio e supressão de incêndios em tanques de armazenamento de etanol, além
de determinar o comportamento de queima do etanol.

O etanol difere da gasolina em muitos aspectos importantes. A diferença mais


significativa, em termos de supressão de incêndios, refere-se à capacidade de extinção
total do incêndio usando métodos tradicionais de combate a incêndios. As propriedades
inflamáveis e o comportamento de queima são diferentes, devendo-se levar em conta
tanto no planejamento prévio e gerenciamento de incidentes reais.

Conforme mencionado no item 2.1 desta dissertação, o desempenho de um


incêndio de etanol é diferente do apresentado pela queima da gasolina, outra diferença
importante entre esses combustíveis na perspectiva de extinção de incêndios é que o
etanol é um combustível miscível em água. Numa situação de incêndio no tanque,
significa que efeitos de diluição a partir do combate a incêndios com espuma não é um
fator para ajudar a extinguir o fogo.

Durante as últimas décadas, o SP realizou diversos testes usando metanol, etanol


e acetona como combustíveis, que fornecem importantes informações. No entanto,
existe ainda uma falta de conhecimento sobre a forma de extinguir incêndio em tanques
contendo combustíveis miscíveis em água.

Problemas relacionados ao combate a incêndios de etanol também têm sido uma


questão importante para os EUA. Em 2007, a Coligação de Resposta de Emergência de
Etanol (Ethanol Emergency Response Coalition) realizou uma série de testes de
incêndio em conformidade com a UL 162:1994 que aborda o padrão de segurança de
equipamento de espuma e concentrados líquidos. Os testes mostraram que os requisitos
da UL 162:1994 só foram cumpridos quando se utiliza uma película aquosa formadora
de espuma resistente ao álcool e Tipo II (suave) aplicação.

21
2.6 Principais pesquisas e informações sobre o tema.

Até a presente data, a deformação térmica de tanques de armazenamento, sob


condição de incêndio, é um assunto pouco estudado, pesquisas relevantes são muito
raras. As atuais normas de projeto de tanques (e.g., API 650:2007; NFPA 30:1996;
EN1993 4-2:2007) não fornecem qualquer orientação para tanques sob cenários de
incêndio.

FOSSA (2008) estudou os efeitos sobre os tanques vizinhos devido ao calor


irradiado por um incêndio em poça (pool fire) em um tanque de armazenamento de
hidrocarbonetos líquidos. Segundo o autor, tal estudo foi realizado por meio de um
modelo de chama sólida. A radiação para o ambiente é calculada com um conjunto de
correlações empíricas para os parâmetros de chama e por meio de um fator de vista
completo do modelo 3D, implementado em um código que resolve o problema do fator
de vista, também conhecido como: fator de forma ou consideração. O fator de vista tem
uma função direta na transferência de calor por radiação em relação às superfícies
infinitesimais que descrevem a fonte e as superfícies alvo. O cálculo da radiação sobre
superfícies alvo é então aplicado para avaliar a quantidade local e global de água de
resfriamento necessária para evitar que o fogo se propague para o meio vizinho.

Uma abordagem com o objetivo de avaliação quantitativa do risco causado pelo


desencadeamento do escalonamento de cenários de incêndio foi desenvolvida por
LANDUCCI et al. (2009). Modelos simplificados para a estimativa do tempo de falha
do vaso de acordo com a intensidade de radiação na casca do vaso foram obtidas
utilizando um enfoque de múltiplos níveis para a análise da falha na parede do vaso sob
condições diferentes de incêndio. Cada "tempo de falha" do vaso calculado por esta
abordagem, para um específico cenário de incêndio, foi comparado a uma referência de
tempo necessária para ação eficaz e relacionado à probabilidade de escalonamento. A
probabilidade de falha de cada vaso foi correlacionada com a probabilidade de falha de
cenários com múltiplos vasos como consequência do incêndio primário, permitindo
assim uma avaliação abrangente de cenários com efeito dominó provocado pelo fogo. A
aplicação da metodologia de análise de diversos estudos de casos permitiu a estimativa
da contribuição quantitativa do escalonamento de eventos desencadeados por incêndio
no índice de risco individual e social.

22
De acordo com LIU (2011), o papel da carga térmica na falha estrutural tem sido
quase ignorado na pesquisa ou práticas de desenho industrial de tanques. O referido
autor desenvolveu um estudo a fim de:

a) Revelar os padrões de distribuição térmica desenvolvido em um tanque de


óleo sob aquecimento, a partir de um incêndio em um tanque adjacente;
b) Compreender o mecanismo responsável pela deformação estrutural do
tanque e;
c) Explorar as influências de vários parâmetros térmicos e geométricos sobre a
deformação dos tanques.

Os resultados do estudo demonstram que: a maior deformação da membrana


circunferencial ocorre na região próxima à base do tanque (condição de tanque vazio) e
junto ao nível do líquido (condição cheio ou parcialmente cheio), a distribuição de
temperatura é não-uniforme ao longo da circunferência do tanque, temperaturas da
ordem de 130ºC podem provocar deformações permanentes (região não preenchida); e o
nível de líquido armazenado influencia diretamente a resistência estrutural do tanque,
sendo assim, quanto maior o nível maior a resistência. Desta forma, o estudo sugere que
o tanque seja sempre mantido cheio.

GODOY et al. (2012) desenvolveu uma modelagem computacional aplicada a


tanques de armazenamento em aço sob aquecimento induzido devido a um incêndio
adjacente. Nesta pesquisa, a modelagem é restrita ao comportamento estrutural do
tanque, com a ênfase na deformação térmica da casca. Dois tanques que se deformaram
devido a um enorme incêndio em Bayamón, Porto Rico em 2009, são examinados
minuciosamente. Para um tanque vazio, os resultados mostram que uma temperatura
relativamente baixa é suficiente para produzir a deformação estática da casca. No estado
anterior à deformação, a casca cilíndrica tem expansão térmica; estudos paramétricos
foram realizados para compreender a influência da espessura do reservatório, o nível de
fluido armazenado no tanque, a região afetada pelo incêndio na direção circunferencial
e o gradiente de temperatura ao longo da espessura. Os modos de instabilidade foram
comparados com deflexão real de tanques afetados pelo fogo. Do estudo conclui-se que
os valores de temperatura necessários para induzir a deformação são significativamente
baixos, reduzindo, assim, a temperatura crítica para valores da ordem de 100-200ºC.

23
2.7 Principais normas nacionais e internacionais sobre o tema

Além de toda a informação mencionada acima, existem numerosas normas


nacionais e internacionais que abrangem grande variedade de assuntos, tais como:
materiais, projeto da planta de armazenamento e requisitos de espaçamento entre
tanques, questões de segurança, etc., que são necessárias para os projetistas de tanques e
fabricantes. Atualmente, as normas de projeto e construção mais utilizadas pra tanques
atmosféricos são:

a) Normas Americanas

Dentre as Normas Americanas existentes, destaca-se a norma para líquidos


inflamáveis e combustíveis NFPA 30:2003, da National Fire Protection Association e a
norma para tanques de aço soldados para armazenamento de petróleo API 650:2007 do
American Petroleum Institute (API).

b) Normas Inglesas

A norma BS EN 14015:2004 apresenta especificação para o projeto e construção


de plantas de produção, com tanques de armazenamento de líquidos em aço à
temperatura ambiente e acima desta.

c) Normas Europeias

Dentre as normas europeias destacam-se as seguintes normas, no que tange


tanques de armazenamento:

EN 1993-1-6:2007 Eurocode 3: Projeto de estruturas metálicas, Parte 1-6:


apresenta regras gerais sobre resistência e estabilidade de estruturas de cobertura;

EN 1993-4-2:2007 Eurocode 3 - Projeto de estruturas metálicas, Parte 1-2:


apresenta regras gerais sobre projeto estrutural contra incêndio;

EN 1993-4-2:2007 Eurocode 3 - Projeto de estruturas metálicas, Parte 4-2:


fornece os princípios e regras de aplicação para o projeto estrutural de tanques de aço
cilíndricos verticais acima do solo, utilizados para o armazenamento de produtos
líquidos.

24
PrEN 14015-1:2000 apresenta especificação para o projeto e construção de
planta vertical, cilíndrica, enterrada, acima do nível do solo, tanques metálicos soldados
para armazenamento de líquidos a temperatura ambiente e acima desta - Parte 1:
Tanques metálicos .

d) Normas Brasileiras da ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas

ABNT NBR 17505:2006 – Armazenamento de líquidos inflamáveis e


combustíveis. Esta norma é baseada na NFPA 30:2003 e está dividida em sete partes, a
saber:

1: Disposições gerais;

2: Armazenamento em tanques e em vasos;

3: Sistemas de tubulações;

4: Armazenamento em recipientes e em tanques portáteis;

5: Operações;

6: Instalações e equipamentos elétricos;

7: Proteção contra incêndio para parques de armazenamento com tanques


estacionários;

Das partes apresentadas acima, vale ressaltar a parte 7 desta norma a qual
norteou o dimensionamento da vazão necessária para o resfriamento dos tanques
verticais atmosféricos e posicionamento do sistema de dilúvio considerado no presente
estudo.

ABNT NBR 7820:1983 apresenta considerações de seguranças serem adotadas


nas instalações de Produção, armazenamento, manuseio e transporte de etanol (álcool
etílico). Esta norma define como 30 (trinta) metros entre os costados, a distância
mínima necessária para garantir a integridade de tanques cujos diâmetros sejam
menores ou iguais a trinta metros. Para tanques com diâmetros superiores à trinta
metros, a distância entre costados deve ser tal qual o diâmetro do maior tanque.

e) Normas de empresas da indústria do petróleo

Algumas das principais empresas envolvidas com o uso ou construção de


tanques de armazenamento produzem seus próprios padrões, como as normas de

25
cobertura, e algumas destas tornaram-se influentes dentro da indústria e tem a
classificação de Normas não oficiais.

A norma Petrobras N-0270:2008 fixa as condições para o projeto mecânico de


tanque de superfície, para armazenamento de petróleo, seus derivados líquidos e outros
produtos líquidos utilizados pela PETROBRAS, tais como: álcool etílico, biodiesel,
produtos químicos, água e outros. Esta Norma complementa a API STD 650:2007. No
caso do etanol, também chamado de álcool etílico, devem-se utilizar tanques
atmosféricos de teto flutuante externo ou tanque atmosférico de teto fixo com teto
flutuante interno.

2.8 Área vulnerável pela radiação térmica

As áreas vulneráveis devido à ocorrência de incêndio em poça ficam delimitadas


pelas linhas de isofluxo térmico, correspondentes aos níveis de fluxo térmico de
interesse. Estes níveis de interesse podem ser determinados usando-se a equação de
Probit, a qual, para morte por queimadura, decorrente de incêndio em poça, é dada pela
equação 2-1 (HAAG e ALE, 2005):

Y  14,9  2,56ln(tI 4/3104 ) (Eq 2-1)

Em que:

t = tempo de exposição à radiação térmica (s)

I = intensidade de radiação térmica (W/m²)

A Tabela 2-3 mostra, para alguns níveis de efeito e tempos de exposição, os


valores de fluxo térmico correspondentes. Assim, por exemplo, a linha de isofluxo
térmico de 12,5 kW/m², correspondente à probabilidade de morte igual a 1% dos
usuários expostos por um período de 30 segundos, pode ser usada para definir o limite
da área vulnerável.

26
Tabela 2-3 Radiação térmica e efeito correspondente (HAAG e ALE, 2005).

Efeito Radiação térmica (kW/m²)


37.5
50% de letalidade
(20 s de exposição)
12.5
1% de letalidade
(30 s de exposição)
5.0
Queimaduras graves para pele
(1 minuto de exposição)

27
CAPÍTULO 3 - Metodologia de Análise

Neste capítulo estão apresentadas algumas das principais considerações teóricas


que fazem parte do universo da mecânica dos fluidos computacional, sobretudo no que
tange a simulação de incêndios, tais como: geração de malhas, métodos de discretização
e modelos de combustão. A partir desta breve descrição, são apresentados os principais
conceitos referentes ao programa computacional FDS (Fire Dynamics Simulator-
MCGRATTAN et al., 2009a), utilizado para as simulações de incêndio do presente
trabalho.

3.1 Mecânica dos fluidos computacional (CFD)

A Mecânica dos Fluidos Computacional (Computational Fluid Dynamic – CFD)


consiste na análise de sistemas envolvendo o movimento de fluidos, transferências de
calor e fenômenos associados a reações químicas através de modelagem numérica, ou
seja, recorrendo a meios computacionais para aplicar métodos numéricos e algoritmos
para resolver e analisar a física dos fluidos em movimento (MALISKA,1995).

As técnicas existentes são muito poderosas e abrangem uma vasta gama de


aplicações, tais como: aerodinâmica, hidrodinâmica, combustão, processos químicos,
engenharia biomédica, dentre outras.

Para um problema típico de hidrodinâmica, e.g., um modelo matemático é


estabelecido com base nas equações de conservação de quantidade de movimento,
massa e energia. Estas equações, quando submetidas a condições de contorno
apropriadas, representam, matematicamente, um problema particular. Para se analisarem
problemas nos quais as soluções exatas não são conhecidas, lança-se mão do uso dos
chamados métodos numéricos, através de técnicas de CFD.

Modelos de CFD funcionam através da aplicação de equações que descrevem o


movimento do fluido para um volume conhecido como domínio computacional. As
equações que regem quase todos os modelos de CFD são as equações de Navier-Stokes
(NS), que definem qualquer fluxo de fluido de única fase.

28
As equações de Navier Stokes são equações diferenciais parciais (EDP) que
descrevem a conservação de massa, momentum e energia para o escoamento de fluidos
Newtonianos. Foram denominadas assim após Claude-Louis Navier e George Gabriel
Stokes desenvolverem um conjunto de equações que descreveriam o movimento das
substâncias fluidas, tais como líquidos e gases. Tais equações permitem determinar os
campos de velocidade e de pressão no escoamento e estabelecem que mudanças no
momento e aceleração de uma partícula fluída são simplesmente o produto (resultado)
das mudanças na pressão e forças viscosas dissipativas (similar a fricção) atuando
dentro do fluido. Esta força viscosa se origina na interação molecular. Uma análise
detalhada das tendências atuais de modelagem de incêndios utilizando CFD pode ser
encontrada nos trabalhos de NOVOZHILOV (2001), como também em KUMAR e
COX (2002).

Com o propósito de aplicar as técnicas acima, o volume de fluido que está sendo
simulado é dividido em vários volumes menores ou células, que juntos formam uma
malha computacional. Assim, o modelo usa um algoritmo numérico para aplicar as
equações de NS na malha computacional e resolve as equações em instantes de tempo
consecutivos discretos.

Os modelos de CFD mais populares possuem uma interface gráfica do usuário


(GUI - Graphical User Interface) que organiza e reúne os dados de entrada de todas as
informações físicas necessárias para descrever a condição do problema que o usuário
pretende simular. A GUI também capta a resolução da malha computacional com base
no nível de detalhamento necessário (i.e., as dimensões geométricas das células) e o
tempo de simulação. Quanto mais refinada for a malha computacional, mais detalhes da
geometria serão considerados.

O modelo de CFD, então, utiliza todas as entradas para marchar as equações de


NS através da malha computacional em instantes de tempo discretos até que a
simulação seja completada. O resultado é um conjunto de dados numéricos, que
descreve a física do escoamento ao longo da geometria considerada.

Conforme mencionado acima, o maior refinamento da malha computacional


garante um maior nível de detalhamento da geometria a ser analisada. Tal procedimento
acarreta em um elevado custo computacional para processamento da simulação. Desta
forma, a computação em paralelo se torna grande aliada, por possuir potencial para

29
suprir esta demanda com um custo razoável. Neste trabalho, a implementação paralela
do modelo foi utilizada em um Cluster, onde cada nó é composto por um Core2duo
2.66GHz 1333MHz com 8GB de RAM com uma rede homogênea de 1Gbps.

Os resultados numéricos são visualizados em programas de pós-processamento


concebidos para visualizar os resultados de saída. Há certo número de variações nos
detalhes de como este processo é realizado de modelo para modelo, mas estes são os
passos gerais envolvidos na simulação de CFD.

Um dos aspectos mais importantes da modelagem de CFD é o método de


solução da turbulência. Tais modelos podem ser divididos em: equações de Navier-
Stokes com média de Reynolds (RANS - Reynolds-Averaged Navier Stokes), simulação
numérica direta (DNS – Direct Numerical Simulation) e simulação das grandes escalas
(LES - Large Eddy Simulation).

Além das considerações descritas acima, os modelos de CFD - utilizados na


engenharia de segurança contra incêndio - incluem submodelos para o cálculo da
radiação térmica e combustão.

A combustão é um dos problemas mais desafiadores da modelagem de incêndios


utilizando CFD. A abordagem mais simples é o de evitar a modelagem do processo de
combustão como tal, bastando representar a fonte de incêndio como uma fonte de calor
volumétrico. A próxima etapa da modelagem de combustão é assumir que o processo de
combustão pode ser representado por uma única reação, de um só passo de tempo. Nesta
abordagem, o combustível e o oxigênio reagem instantaneamente para criar os produtos
de combustão. O modelo de fração de mistura, comumente utilizados em modelagem de
incêndios com CFD é baseado nesta abordagem.

Um tratamento mais detalhado de combustão pode ser fornecido por um modelo


chamado Eddy Break-up, em que também é incluída a influência da turbulência na
reação química.

Com base no resumo exposto acima, o item 3.2 apresenta as particularidades do


programa FDS - que foi utilizado nas simulações desta dissertação.

30
3.2 Fire Dynamic Simulator (FDS)

Este item fornece uma breve descrição do FDS com base nas informações
apresentadas previamente e contidas nos Guias do Usuário e de Referência Técnica, que
acompanham o programa.

3.2.1 Principais características do FDS

Dentre os softwares conhecidos para simular computacionalmente um incêndio,


o mais utilizado, devido à sua precisão, é o Fire Dynamics Simulator (FDS),
desenvolvido pelo NIST (National Institute of Standards and Technology, EUA).

O FDS é um programa de CFD, que foi escrito em Fortran 90 e sua primeira


versão foi publicamente lançada em Fevereiro de 2000. Desde então, o programa tem
passado por uma série de melhorias. O presente estudo foi realizado utilizando a versão
5.5, lançada em outubro de 2010.

O programa foi desenvolvido principalmente como uma ferramenta para a


solução de problemas práticos em proteção contra incêndio, e também como uma
ferramenta para estudar os fundamentos da dinâmica do fogo e combustão.

O FDS pode ser usado para modelar os seguintes fenômenos:

a) O transporte de baixa velocidade de calor e de produtos de combustão


(principalmente fumaça);
b) A transferência de calor entre o gás e as superfícies sólidas;
c) Pirólise;
d) Desenvolvimento do incêndio;
e) Propagação das chamas;
f) Ativação de aspersores e detectores de calor;
g) Supressão de incêndio por aspersores.

O FDS é amplamente utilizado por profissionais de segurança contra incêndio.


Uma das aplicações mais importantes do programa é no projeto de sistemas de controle
de fumaça e nos estudos de ativação de aspersores. Este programa também foi utilizado
em numerosas reconstituições de incêndio, incluindo a investigação sobre o desastre das
torres gêmeas (World Trade Center) nos Estados Unidos.

31
Os resultados das simulações com FDS podem ser visualizadas utilizado o
Smokeview (SMV). Conforme MCGRATTAN et al. (2009), o SMV é um aplicativo que
produz imagens e animações dos resultados gerados pelo FDS. Este programa
acompanha o pacote de instalação do FDS disponibilizado pelo NIST e produz
resultados eficientes quanto à visualização da fumaça e do fogo, conforme os dados da
simulação do FDS. A animação produzida pelo SMV é tridimensional e demonstra todo
o modelo físico que o usuário inseriu no arquivo de entrada do FDS. Vale ressaltar, que
existem aplicações produzidas por terceiros para facilitar a entrada de dados no FDS e a
importação de arquivos de CAD. Pode-se destacar o programa Blender, que fornece
uma interface gráfica ao usuário para inserir a geometria, bem como, os dados de
entrada do FDS.

O código de programação do SMV foi escrito na linguagem C, para a


visualização dos dados, e Fortran 90, para a leitura dos dados gerados pelo FDS. O
SMV utiliza as bibliotecas gráficas OpenGL e GLUT, além das bibliotecas utilizadas
para captura de imagens, tais como a GD, PNG e JPEG. (FORNEY, 2008). É possível
visualizar no SMV tanto dados dinâmicos quanto estáticos (FORNEY, 2008).

3.2.2 Modelo hidrodinâmico

O modelo resolve numericamente uma forma das equações de Navier-Stokes


apropriado para baixa velocidade. Termicamente conduzido com um fluxo que dá
ênfase no transporte de calor e fumaça. As derivadas parciais das equações de
conservação de massa, momento e energia são aproximadas como diferenças finitas. A
radiação térmica é calculada utilizando uma técnica de volumes finitos (MCGRATTAN
et al., 2009a).

As equações de Navier-Stokes e suas aproximações encontradas em


ANDERSON et al. (1984), consideram o baixo número de Mach (valor inferior a 0.3)
das aplicações (MCGRATTAN et al., 2009a), e seguem abaixo.

Conservação de Massa


 .(  u )  mb''' (Eq 3-1)
t

32
Conservação do Movimento

( u )
 . uu  p   g  fb  . ij (Eq 3-2)
t

Conservação da Energia (entalpia)

(  H ) Dp
 . Hu   q '''  qb'''  .q ''   (Eq 3-3)
t Dt

Equação de estado para o gás ideal

 RT
p (Eq 3-4)
W

Onde ρ é a densidade, u é o vetor velocidade, mb''' é a taxa de produção de massa


devido a evaporação das gotículas e partículas, p é a pressão, g é o vetor gravidade, fb é
o vetor de forças externas (excluindo a gravidade), ij é o tensor de tensão viscosa, H é a
entalpia (função da temperatura), q ''' é a taxa de liberação de calor (Heat Release Rate -

HRR) por unidade de volume, q '' é o vetor fluxo de calor, é a taxa de dissipação, R é a

constante universal dos gases, T é a temperatura e W é a massa molecular. Pode-se


notar que este conjunto de equações diferenciais parciais consiste em seis equações e
seis incógnitas todas em função do tempo e do espaço.

Como não há solução analítica para as equações de Navier-Stokes para fluidos


turbulentos e para que a geometria dos elementos seja adaptada à malha ortogonal e
tridimensional, é utilizada uma aproximação por diferenças finitas das derivadas
parciais das equações de conservação da massa, movimento e energia e a solução é
atualizada no tempo (MCGRATTAN et al., 2009a) e para simular o comportamento da
fumaça são utilizadas partículas Lagrangeanas.

Segundo MALISKA (1995), os escoamentos de fluidos são altamente não


lineares e problemas de elasticidade não possuem termos convectivos e são parecidos
com problemas de transferência de calor. O método das diferenças finitas é comumente
aplicado em problemas de escoamento de fluidos, enquanto o método dos elementos
finitos (MEF) foi difundido na área estrutural, para problemas de elasticidade.

33
A ponderação entre os efeitos difusivos – com o aprimoramento do método dos
volumes finitos (MVF), no qual as equações aproximadas são obtidas através de
balanços de conservação da propriedade envolvida no volume elementar – e
convectivos, que passaram a empregar a outras funções de interpolação para permitir o
tratamento adequado dos termos convectivos não lineares, possibilitaram um expressivo
avanço do MEF na área de escoamento de fluidos (MALISKA, 1995).

O FDS calcula equações de malha retilínea. Por conseguinte, as dimensões das


obstruções físicas (paredes, pisos, etc.), no modelo de incêndio devem estar de acordo
com o tamanho do elemento de malha subjacente. Obstruções menores que a resolução
espacial da malha são distorcidas de modo a caber na malha ou ignoradas e exibidas
como uma superfície de espessura zero.

Na prática, isso nem sempre é possível, já que algumas salas podem ser não-
retangulares, possuírem tetos inclinados, etc. Objetos que não satisfaçam a malha
retilínea podem ser representados a partir da quebra destes em numerosos pequenos
obstáculos retangulares. O resultado é uma superfície chamada de “dente de serra" ou
sawtooth que é uma característica opcional do FDS que diminui o efeito de "dente de
serra" nas superfícies e evita que vorticidade sejam geradas nos cantos. Isto atenua o
campo de escoamento na região da superfície, impedindo arrasto adicional devido aos
múltiplos cantos afiados. Este recurso foi utilizado na construção dos tanques deste
estudo.

A característica mais distintiva de qualquer modelo de CFD é o seu tratamento


de turbulência. Das três principais técnicas de resolução de turbulência, o FDS
considera apenas a simulação de grandes escalas (LES) e a simulação numérica direta
(DNS). O FDS não considera em sua solução modelos baseados na decomposição de
Reynolds (RANS).

LES é uma técnica utilizada para modelar os processos dissipativos (viscosidade,


condutividade térmica, difusividade do material) que ocorrem em escalas de
comprimento menor do que as que são explicitamente resolvidas na malha numérica.

Também é possível realizar uma simulação numérica direta (DNS) no FDS. No


entanto, simulações DNS exigem malhas numéricas muito refinadas. Devido à limitação

34
computacional, o modelo DNS não é muito utilizado para resolver problemas de grande
escala por razões práticas.

3.2.3 Modelo de combustão utilizado pelo FDS

A fim de resolver a combustão, o FDS utiliza um modelo de combustão de


fração de mistura, ou seja, é definida a fração de gás que se transforma em combustível
efetivo na reação de combustão. BUCHLER (2005) citam que utilizando este método
torna-se possível o cálculo de situações intermediárias de combustão. Tais situações são
características de incêndios reais, onde ocorrem reações de combustão incompleta. Para
aplicação computacional, o método é consideravelmente eficiente, uma vez que não é
utilizado um grande número de equações, mas apenas uma equação por caso
(BUCHLER, 2005).

A fração de mistura é uma variável escalar conservativa definida como a razão


entre a fração de massa do combustível e a fração de massa de oxigênio não
empobrecido no ar ambiente, na forma da equação 3-5:

SYF  (Y0  Y0 ) v0 M 0


Z ; S ; vF  1 (Eq 3-5)
SYFl  Y0 vF M F

Em termos práticos, a fração de mistura descreve a quantidade de combustível


gasoso dentro de uma célula da malha computacional em relação à massa total gasosa
contida naquela célula. A fração de mistura dentro de uma região rica em combustível é
igual a um e igual a zero em um volume contendo apenas ar ambiente, tipicamente
longe do incêndio. Este modelo parte do princípio que a combustão é controlada pela
taxa de mistura e que a reação ocorre instantaneamente, dando origem à expressão
"mistura queimada". Como resultado, uma vez que a combustão tenha ocorrido dentro
de uma célula da malha computacional, essa célula irá conter apenas os produtos de
combustão e resquício de combustível não queimado.

A opção padrão do FDS assume que a combustão ocorre em uma única etapa de
reação:

35
Deve-se notar que, na equação acima, o S no lado direito representa a fumaça
formada durante a reação do combustível com o oxigênio. Esta reação de única etapa
torna-se menos precisa na predição de produtos de combustão se o compartimento
incendiado for ventilado.

A reação de única etapa assume que, para cada molécula de combustível de uma
quantidade fixa de CO2, H2O e CO são produzidos e permanecem na pluma sem que
ocorra qualquer reação adicional. Para abordar a ventilação com maior precisão, uma
segunda etapa de reação é resolvida pelo FDS. Se uma quantidade suficiente de
oxigênio estiver disponível, CO2 é produzido na segunda etapa da reação.

3.2.4 Transferência de calor por radiação

A transferência de calor por radiação é incluída no modelo através da solução da


equação de transporte da radiação para um gás cinzento, resolvida através de uma
técnica similar ao método de volumes finitos (MVF), empregado para o transporte
convectivo, com aproximadamente 100 ângulos discretos. Para o cálculo dos
coeficientes de absorção κ, como uma função da fração de mistura e temperatura, é
aplicado o modelo de banda estreita RadCal, que é uma biblioteca de sub-rotinas
incorporada ao FDS a fim de fornecer as propriedades radiativas dos gases e fumaça
desenvolvida por GROSSHANDLER (1993).

Nas simulações que consideram a atuação do sistema de dilúvio, as gotículas de


água podem absorver e dispersar a radiação térmica (RAVIGURURAJAN e
BELTRAN, 1989). Os coeficientes de absorção e dispersão são baseados na teoria de
Mie (WISCOMBE,1980).

3.2.5 Temperatura na superfície adiabática (AST– Adiabatic Surface


Temperature)

O calor é transferido da chama e do gás aquecido para a superfície sólida através


do fluxo de calor por radiação e convecção. Na equação 3-6, as duas contribuições
''
compõem o fluxo de calor líquido total, qtot :

36
''
qtot  qrad
''
 qcon
''
(Eq 3-6)

O termo radiação na equação acima é a diferença entre a radiação incidente


absorvida e a radiação emitida a partir da superfície. O calor transmitido através das
superfícies é desprezado, e nenhuma consideração é dada à influência de vários
comprimentos de onda. Assim, como a absorção e a emissividade são iguais, o calor
líquido recebido pela superfície pode ser escrito na forma da equação 3-7:

''
qrad   (qinc
''
  Ts4 ) (Eq 3-7)

''
Onde qinc é a radiação incidente, σ é a constante de Stefan Boltzmann, e Ts é a
temperatura na superfície. A emissividade, ε, é a propriedade do material da superfície.
Esta pode ser medida, mas, na maioria dos casos de material estrutural expostos a
incêndio, pode ser assumido como sendo igual a 0,8 (WICKSTROM et al., 2007).

Os Incêndios são caracterizados por distribuição de temperatura não homogênea,


por isso, o fluxo de calor de radiação incidente deve incluir a contribuição da chama nas
proximidades, gases quentes, e as superfícies, caso em que a radiação incidente pode ser
escrita conforme equação 3-8, como a soma das contribuições a partir de todas as fontes
de radiação:

''
qinc    i Fi Ti 4 (Eq 3-8)

Onde εi é a emissividade da i-ésima chama ou superfície. Fi e Ti são o fator de


vista e temperatura correspondentes, respectivamente. Obter a radiação incidente
usando a equação 3-8 é em geral muito complicado de se resolver, mas os atuais
simuladores de incêndio possuem vários algoritmos de cálculo para sua solução.

A equação 3-9 apresenta o fluxo de calor convectivo que é calculado a partir da


diferença entre a temperatura do gás circundante e a temperatura da superfície.

''
qconv  hc .(Tg  Ts ) ( Eq 3-9)

Onde hc é o coeficiente de transferência de calor e Tg é a temperatura de gás


adjacente à superfície exposta.

37
Das deduções acima, tem-se a equação 3-10, em que o fluxo de calor total
líquido de uma superfície pode ser expresso como:

''
qtot   (qinc
''
  Ts4 )  h(Tg  Ts ) ( Eq 3-10)

Considerando a superfície um isolador perfeito exposto às mesmas condições de


aquecimento de uma superfície real. A temperatura da superfície passa a ser referida
como a temperatura da superfície adiabática (AST- Adiabatic Surface Temperature). O
fluxo de calor líquido total a esta superfície ideal é, por definição, zero, assim como
apresentado na equação 3-11:

 (qinc
''
  TAST
4
)  h(Tg  TAST )  0 ( Eq 3-11)

A temperatura da superfície adiabática pode ser obtida como resultado de um


modelo de incêndio como será mostrado a seguir. Esta também pode ser medida em
ensaios de incêndio ou experiências reais, utilizando um dispositivo, tal como a placa
termométrica. Num certo sentido, a temperatura da superfície adiabática é o que seria
medido por um termômetro ideal. Porque a placa termométrica é utilizada no ensaio de
resistência ao fogo (ISO 834 e EN1363-1) para controlar a temperatura do forno. Isto é,
a quantidade medida pela placa termométrica é precisamente o necessário para o cálculo
da temperatura de um elemento estrutural exposto. O erro de tal cálculo é relativamente
pequeno, dependendo da diferença entre os parâmetros de transferência de calor por
convecção e radiação da amostra e da placa termométrica.

3.2.6 Condição de contorno

A todas as superfícies sólidas são atribuídas condições de contorno térmicas,


além de informações sobre o comportamento de queima do material. A transferência de
calor e massa a partir da superfície sólida e para a superfície sólida, é tratada com
correlações empíricas (exceto quando a análise é resolvida utilizando o modelo DNS).

38
3.2.7 Processamento em paralelo

O FDS utiliza o modelo de Message Passing Interface (MPI) que viabiliza a


resolução de um caso utilizando um cluster, a partir da comunicação entre os nós.
Internamente, os nós são capazes de aproveitar sua arquitetura multicore para dividir a
tarefa em threads através do OpenMP.

A ideia principal é de que o domínio FDS é dividido malhas múltiplas, e, em


seguida, o campo de escoamento é calculado como um processo individual em cada
malha em processadores independentes. Tal modelo controla a transferência de
informação entre estes processos. Normalmente, cada malha é designada ao seu próprio
processo de MPI, embora seja possível atribuir várias malhas a um processo único.
Deste modo, grandes malhas, i.e., que possuem muitos volumes de controle podem ser
resolvidas em processadores dedicados, enquanto malhas menores podem ser agrupadas
e rodarem em um único processador.

3.2.8 Dinâmica do sistema de dilúvio

O sistema de dilúvio é formado por um conjunto de chuveiros, conhecidos como


aspersores. No programa FDS, esses aspersores, bem como uma variedade de objetos
não podem ser resolvidos através de malha numérica, portanto, são tratados como
partículas Lagrangeana que são injetadas e numericamente controladas em cada passo
de tempo durante o cálculo da simulação (MCGRATTAN, 2009).

Cada aspersor é tratado como um dispositivo pontual representado por um único


ponto dentro do domínio computacional, apresentando um conjunto de propriedades que
o tornam um detector ou um chuveiro. Para a representação de um chuveiro, este ponto
representado no domínio é a origem virtual da trajetória de todas as partículas. Na
prática, as gotículas são introduzidas no campo de fluxo de uma superfície esférica que
envolve o dispositivo pontual, cujo raio é definido pelo usuário. Há duas razões para
isso: em primeiro lugar, quando um jato de líquido emerge do orifício de descarga de
um aspersor, ele sofre um processo de atomização, i.e., as gotículas são dispersas na
fase gasosa. O processo de atomização ocorre ao longo de um determinado período de
tempo e espaço. O FDS não possui uma descrição deste processo de atomização e,
portanto, assume que as gotículas são introduzidas no campo de escoamento, após o

39
processo de atomização ter sido concluído. Em segundo lugar, a introdução de todas as
gotículas em um único ponto no espaço (e, portanto, em uma única célula
computacional) leva a grande probabilidade de instabilidades numéricas.

Ao preparar uma simulação, o usuário deve atribuir todas as propriedades do


dispositivo, de modo que, a dinâmica da pulverização de água pelo aspersor esteja
corretamente reproduzida. É trivial definir a taxa de vazão e a pressão de operação de
um nó, porém, é um pouco mais difícil saber a velocidade inicial das gotículas.

Com base em dados publicamente disponíveis referentes à norma de aspersores


(SHEPPARD, 2002), o programa FDS assume que o processo de atomização conduz a
uma distribuição do tamanho de gotas, que pode ser matematicamente descrita como
uma combinação de distribuições log-normal e de Rosin-Rammler. Sendo assim, cabe
ao usuário informar o diâmetro médio e a largura desta distribuição.

Maiores informações quanto ao tratamento dado ao transporte, distribuição de


tamanho e massa, momento e transferência de energia, aplicado a essas partículas
podem ser obtidas do manual técnico que acompanha o programa FDS.

3.3 Temperatura na chapa de aço

O programa FDS calcula a temperatura na superfície adiabática devido às


contribuições de calor por radiação e convecção, tal como apresentado no item 3.2.5.
Entretanto, essa temperatura não é a temperatura real da chapa de aço do tanque, dado
que ocorrerá a troca de calor entre a temperatura da superfície externa com o fluido
existente no interior do tanque. O subitem 3.3.1 apresenta os principais conceitos de
transferência de calor considerados no cálculo da temperatura nas faces externa e
interna do tanque, representadas pelas equações 3-16 e 3-17 apresentadas no final do
respectivo subitem.

3.3.1 Transferência de calor

A soma dos fluxos de calor de convecção e radiação, produzidos pela diferença


entre a temperatura do elemento estrutural frio e a temperatura dos gases quentes no
compartimento em chamas, descreve a ação térmica nas estruturas.

40
Independente do cenário de incêndio, a transferência de calor da atmosfera
quente para um elemento estrutural de um compartimento é governada pelas leis da
transferência de calor por convecção, radiação e condução.

Em qualquer incêndio está presente a ação combinada das três formas de


transferência de calor; entretanto, cada uma delas torna-se predominante em certo
estágio do aquecimento ou em certo local do compartimento. Os próximos subitens
apresentam tais formas de transferência de calor.

3.3.1.1 Radiação

A radiação é emitida como consequência da difusão das chamas, na maioria dos


incêndios. O calor se transfere de um corpo sob alta temperatura a outro sob baixa
temperatura, por meio da propagação de ondas eletromagnéticas.

A radiação incidente sobre a superfície não é totalmente absorvida; parte dela é


refletida devido às características do material e da superfície do elemento aquecido, tal
como esquematizado na Figura 3-1, onde parte do fluxo total de calor incidente por
radiação é absorvida enquanto que a outra parte é refletida pela superfície do sólido
(COSTA, 2008).

radiação absorvida

Figura 3-1: Esquema da transferência de calor por radiação (COSTA, 2008).

A parcela do fluxo de calor radiante absorvida pela superfície é calculada pela


equação 3.12, determinada experimentalmente por Josef Stefan (1879) e,
analiticamente, por Ludwig Boltzmann em 1884.

''
qrad   . .[(Tg  273)4  (Ts  273)4 ] (Eq 3-12)

41
Em que:

''
qrad = fluxo de calor radiante absorvido pela superfície por unidade de área;

 = emissividade resultante do elemento aquecido;

 = constante de Stephan-Boltzmann = 5,669.10-8 W/m²/ºC4;

Tg = temperatura da gás.

Ts = temperatura da superfície do elemento.

A emissividade resultante  é uma grandeza adimensional que mede a eficiência


da superfície como um irradiador. Os valores de emissividade são obtidos por meio de
ensaios e estão compreendidos no intervalo 0 <  <1.

Para um irradiador perfeito, chamado de corpo negro (black body), o valor da


emissividade resultante é 1. No incêndio, o irradiador considerado ideal são as chamas
do fogo (COSTA, 2008).

3.3.1.2 Convecção

A convecção é a forma de transferência de calor por meio da movimentação do


fluido com uma temperatura não-uniforme. No incêndio, o fluido são os gases
aquecidos presentes no ambiente. Dentro do compartimento, as massas de gases
quentes, mais leves, tendem a subir, enquanto as massas de gases frios, menos leves,
tendem a descer, devido à diferença de densidade e à ação da gravidade.

O fluxo de calor por convecção é calculado pela equação 3-13, desenvolvida por
Isaac Newton em 1701.

''
qconv  hc .(Tg  Ts ) (Eq 3-13)

Em que:

''
qconv = fluxo de calor por convecção absorvido pela superfície por unidade de área;

hc = coeficiente de transferência de calor por convecção dado pela Tabela 3-1.

42
O coeficiente hc depende da velocidade das massas de gases, da temperatura, da
natureza dos gases, do tipo e tamanho da superfície exposta ao calor. Tal valor não é de
fácil medição, é determinado empiricamente e é apropriado às curvas nominais para
modelagens numéricas, conforme apresentado na Tabela 3-1 (COSTA, 2008)..

Tabela 3-1 Valores do coeficiente de transferência de calor por convecção (EN 1992-1-
1:2002).
Superfícies do Material hc
Curva de aquecimento
elemento combustível [W/m²/ºC]
Celulósicos ISO 834:1975 25
Hidrocarbonetos Curva “H’ 50
Superfície exposta Celulósicos Incêndio externo 25
Curvas naturais (modelos
- 35
simplificados)
4*
Superfície não-exposta - 20ºC
9**
Nota: *se o efeito da radiação for considerado separadamente;
**se o efeito da radiação está incluso na convecção; nesse caso, qrad  0
''

3.3.1.3 Condução

A condução determina a velocidade do fluxo de calor dentro do material. O


fluxo de calor por condução é determinado por:

''
qcon  k.(T ) (Eq 3-14)

Em que:

''
qcon = fluxo de calor por condução do elemento por unidade de área;

k = condutividade térmica;

T= temperatura do material no ponto caracterizado pela coordenadas cartesianas


do sistema bidimensional.

A distribuição de temperatura dentro da seção do elemento para condições de


aquecimento transiente é determinada pela equação 3-15, desenvolvida por Jean
Baptiste Joseph Fourier em 1822, por observação de fenômenos (COSTA, 2008).

43
T
k . 2 (T )  q   .c. (Eq 3-15)
t

Em que:

T = temperatura do material;

q = calor gerado no interior do material, por unidade de área;

 = massa específica do material;

c = calor específico do material por unidade de massa;

t = tempo.

Normalmente, os materiais incombustíveis não geram calor e, portanto, q =0.

Na análise térmica via métodos numéricos, as reações termoquímicas e


termofísicas que liberam ou absorvem calor no interior dos materiais estruturais têm
sido consideradas indiretamente, por meio de propriedades térmicas variáveis em
função da temperatura elevada (LIE, 1992; FSD, 2002; EN 1992-1-2:2004).

A partir dos conceitos apresentados nos subitens acima, pode-se calcular a


temperatura nas faces externa e interna da chapa de aço do tanque, conforme equações
3-16 e 3-17. A Figura 3-2 ilustra o esquema do comportamento descrito em que uma
dada temperatura no meio externo incide em uma dada espessura da chapa de aço,
apresentando propriedades particulares, e troca calor com o fluido existente no meio
interno que, por conseguinte, também apresenta suas características peculiares.

44
Figura 3-2: Esquema da determinação das temperaturas externa e interna da chapa
devido à transferência de calor entre os meios.

1 1
Texterna  (qtot
''
(  )  TAST )
h1  (TAST  h1 )(TAST  h1 )
2

(Eq 3-16)

1
Tint erna  qtot
''
 Tf (Eq 3-17)
h2

Em que:

h1 = coeficiente de transferência de calor do fluido

h2 = coeficiente de transferência de calor do aço

T f = temperatura do fluido

TAST = temperatura da superfície adiabática (saída do FDS)

45
CAPÍTULO 4 - ESTUDO DE CASO

4.1 Apresentação do estudo de caso

Neste capítulo, apresenta-se um estudo de caso proposto referente a um parque


de tancagem hipotético em que se pretende verificar os efeitos de um incêndio originado
em um tanque totalmente preenchido com etanol nos tanques vizinhos, além da
possibilidade de propagação deste incêndio para os demais tanques, o que é conhecido
por efeito dominó. As propriedades físico-químicas do etanol utilizadas como dado de
entrada para o FDS estão apresentadas na Tabela 2-1 e Tabela 2-2 deste trabalho.

Sendo assim, foram simulados quatro cenários de incêndio utilizando o


programa FDS, conforme indicado na Tabela 4-1 e descrito a seguir. Considerou-se
como temperatura ambiente da região estudada o valor de 20ºC.

Tabela 4-1 Condição dos cenários simulados.


Cenário Vento Atuação do sistema de dilúvio nos tanques
1 Não Não
2 Não Sim
3 Sim Não
4 Sim Sim

O cenário de incêndio 1 considera a condição de calmaria como predominante


na região no momento do incêndio, i.e., condições atmosféricas destituídas de vento ou
de qualquer outro movimento do ar. Além disso, quando da ocorrência do incêndio, o
sistema de resfriamento por dilúvio não é acionado, o que representa uma possível falha
ou mesmo sua inexistência. O segundo cenário de incêndio, visa verificar a influência
do sistema de resfriamento por dilúvio nos efeitos do incêndio, principalmente, no
tanque alvo. Neste cenário é considerada a condição de calmaria a fim de confrontar o
resultado ao obtido no cenário 1. O terceiro cenário proposto tem como objetivo
verificar a influência do vento nos resultados de incêndio no tanque alvo. Para tal, foi
considerada a direção de vento proveniente da direção leste, que representa uma direção
crítica, por direcionar o incêndio contra o tanque alvo com velocidade de vento de 5

46
m/s. Tal velocidade foi selecionada por representar uma velocidade moderada que
estaria entre uma condição de calmaria e uma mais extrema. Neste cenário, quando da
ocorrência do incêndio, o sistema de resfriamento por dilúvio não é acionado.
Finalmente, no cenário 4, o sistema de dilúvio é acionado - tal como no cenário 2 –
porém, considera-se a contribuição do vento utilizada no cenário 3.

A partir das simulações descritas acima, espera-se concluir se a distância mínima


de segurança entre tanques é capaz de garantir isoladamente, a integridade dos demais
tanques do parque de tancagem ou se esta distância deve estar atrelada a outra forma de
proteção ativa como o sistema de dilúvio ou, ainda, se ambas as medidas de segurança
não garantem a segurança do parque de tancagem, podendo assim desencadear o tão
temido efeito dominó.

4.2 Base para análise

4.2.1 Modelo geométrico

Um modelo geométrico tridimensional é ilustrado na Figura 4-1, que consiste de


dois tanques cilíndricos e verticais com 30 metros de diâmetro e 10 metros de altura,
estando seus costados separados de 30 metros, conforme prescrito pela norma ABNT
NBR 7820:1983. Considerou-se que ambos os tanques são constituídos de aço, com
0,01 m de espessura e não apresentam proteção passiva. O tanque alvo é dotado de teto
flutuante enquanto que o tanque fonte está desprovido de teto, assumindo-se que este foi
destruído quando da deflagração do incêndio.

47
Tanque alvo = A
Tanque fonte = F
A
F

(a)

A F

(b)

30 m
A F

(c)

Figura 4-1: (a)Vista 3D do modelo e arranjo geométrico; (b) vista superior e (c)
corte lateral.

48
4.2.2 Pontos de monitoração

4.2.2.1 Tanque alvo

Pontos de monitoração foram posicionados, a fim de, aferir a temperatura e


radiação que incidem na superfície do tanque alvo, bem como, verificar os níveis de
radiação a que os usuários estão sujeitos na região compreendida entre os tanques. A
quantidade de pontos de monitoração foi determinada de modo que o tempo
computacional demandado para o processamento das simulações não as tornassem
inviáveis de serem completadas, dada a grande quantidade de elementos de malha que
as tornam por si só, simulações bastante lentas. Desta forma, os pontos de monitoração
foram posicionados conforme apresentado a seguir.

Na superfície do tanque alvo, nove pontos de monitoramento foram distribuídos


verticalmente, de forma equidistante, na face voltada para o incêndio. Esses pontos
foram posicionados com o intuito de se obter os maiores valores de temperatura e
radiação. O posicionamento destes está detalhado na Tabela 4-2 e ilustrado na Figura
4-2.

Tabela 4-2 Pontos de monitoração na superfície do tanque alvo.

Ponto monitorado Coordenada (m)


1 (15, 15, 1)
2 (15, 15, 2)
3 (15, 15, 3)
4 (15, 15, 4)
5 (15, 15, 5)
6 (15, 15, 6)
7 (15, 15, 7)
8 (15, 15, 8)
9 (15, 15, 9)

49
A

Região Monitorada

9
z

y
x
1

Figura 4-2: Pontos para monitoração de temperatura e radiação.

4.2.2.2 Região entre tanques

A análise entre tanques tem por objetivo verificar o nível de radiação ao qual, os
usuários presentes no parque de tancagem estão sujeitos em caso de incêndio, bem
como, a viabilidade da equipe de combate a incêndio em se aproximar do tanque em
chamas com segurança. Para tal, foram posicionados nove pontos de monitoração
equidistantes de 3 metros entre o tanque fonte e o tanque alvo, a uma elevação de 1.75
m, que corresponde à altura média do ser humano (IBGE, 2009). A Tabela 4-3
apresenta a posição destes que são indicados na Figura 4-3.

Tabela 4-3 Pontos de monitoração do fluxo de radiação entre os tanques fonte e alvo,
nas simulações de incêndio.

Ponto monitorado Coordenada (m)


10 (18, 15, 1.75)
11 (21, 15, 1.75)
12 (24, 15, 1.75)
13 (27, 15, 1.75)
14 (30, 15, 1.75)
15 (33, 15, 1.75)
16 (36, 15, 1.75)
17 (39, 15, 1.75)
18 (42, 15, 1.75)

50
(A) (F)
Região
Monitorada
10 18

Figura 4-3: Pontos de monitoração do fluxo de radiação entre os tanques alvo e fonte.

4.2.3 Sistema de dilúvio

O sistema de dilúvio considerado nos cenários 2 e 4 foi posicionado no entorno


dos tanques e seus aspersores foram espaçados de 1 metro. Tal configuração está de
acordo com as exigências da norma ABNT NBR 17505-7:2006 e, segundo esta, garante
que todo o costado do tanque seja resfriado, contribuindo assim para o aumento do
tempo de resistência ao fogo do tanque, até que a brigada de incêndio seja mobilizada e
direcionada para a extinção deste.

Na presente análise, considerou-se que o sistema de dilúvio dos tanques é


acionado automaticamente após 30 segundos do início do incêndio no tanque fonte e
uma vazão de 2 l/min de água é liberada pelos aspersores, tal como definido pela ABNT
NBR 17505-7:2006. As principais características dos aspersores estão apresentadas na
Tabela 4-4 e foram obtidos de SHEPPARD (2002), além, também, de dados sugeridos
pelo FDS (MCGRATTAN et al., 2009). A Figura 4-4 apresenta um modelo típico de
aspersor.

Tabela 4-4 Características do sistema de dilúvio utilizado nas simulações.

Características dos aspersores Valores


Velocidade de saída do fluxo 10 m/s
Ângulo de saída 0º – 60º
Diâmetro do bocal 750 μm
Orientação (0, 0, -1)

51
Defletor

Braço de armação

Orifício

Figura 4-4: Modelo típico de aspersor (SHEPPARD, 2002).

A Figura 4-5 ilustra os aspersores adicionados à geometria apresentada no item


4.2.1 deste trabalho, representados em azul apenas para fins de visualização.

Sistema de dilúvio
A
F

Figura 4-5: Sistema de dilúvio posicionado acima dos tanques, representado


pelos pontos em azul.

Assumiu-se que o sistema de diluvio nos tanques alvo e fonte operam


plenamente após 30 segundos do início do incêndio, tendo sido, o sistema de dilúvio do
tanque fonte, dimensionado de tal forma que suporta a carga térmica provocada pelo
incêndio. A Figura 4-6 ilustra esta hipótese, considerada nas simulações com o FDS.

Figura 4-6: Sistema de dilúvio ativado no tanque alvo e tanque fonte em chamas.

52
4.2.4 Modelagem computacional

Uma única malha computacional estruturada e uniforme foi considerada para os


quatro cenários de incêndio. Esta malha foi refinada de 0,25m x 0,25m x 0,25m em todo
o domínio computacional, que apresenta as seguintes dimensões: 90m x 30m x 30m.
Desta forma, o número de elementos de malha é da ordem de 5milhões, o que demanda
alto custo computacional para que a simulação seja concluída. Tal quantidade de
elementos se deve ao tamanho do modelo geométrico considerado e ao grau de
refinamento desejado para que os resultados sejam o mais preciso possível, evitado,
assim, oscilações numéricas.

Vale ressaltar que o domínio computacional considerado não foi expandido para
além dos limites dos tanques, principalmente nos cenários de vento, devido a análise
estar focada na região central do tanque alvo, na face voltada para a região do incêndio,
regiões distantes de pelo menos 15 metros da fronteira. Além disso, considerou-se a
fronteira como open boundaries no FDS, o que representa o livre fluxo do fluido.

O fim da simulação foi considerado quando se atingiu o regime estacionário da


simulação, isto é, quando o incêndio atinge sua fase de desenvolvimento total.

4.2.5 Processamento em paralelo das simulações

Devido ao elevado tempo computacional necessário para resolver as simulações


de incêndio, considerou-se a utilização da computação paralela, i.e., o uso simultâneo de
mais de um processador para executar um programa em um tempo menor. Sendo assim,
a malha dos cenários de incêndio foi dividida em malhas menores, conforme
apresentado na Tabela 4-5.

Outro ponto que vale destacar, é que o gerenciamento da quantidade de


subdivisões por processo foi atrelada a quantidade de núcleos disponíveis por máquina
na ocasião da simulação destes cenários. A Tabela 4-5 também apresenta o tempo de
CPU total por cenário e o respectivo tempo de simulação. Observa-se pelo tempo total
de CPU dos cenários 3 e 4, que apesar da duração de simulação ser semelhante, o
parâmetro de ventilação tem grande influencia no aumento do tempo computacional
necessário para concluir a simulação, se comparados aos cenários 1 e 2.

53
Verifica-se, nos cenários 2 e 4, que mesmo contando com o mesmo número de
processadores rodando em paralelo, o tempo de CPU é oito vezes maior, quando a
condição de vento é considerada. Isso se deve, pois, um maior número de variáveis que
representam a ventilação passam a ser resolvidas em cada um dos 5 milhões de volumes
de controle considerados. Ao passo que, o tempo de processamento das simulações que
consideram a atuação do sistema de dilúvio, apesar de também apresentarem aumento
do tempo de processamento, não é significativamente representativo. Esta diferença se
explica pelo cálculo das equações, referentes ao dilúvio, serem resolvidas localmente,
nos volumes de controle localizados no entorno dos tanques, onde estão posicionados os
aspersores, e não em todo o domínio computacional tal como presenciado na condição
de vento.

Tabela 4-5 Número de processadores utilizado por simulação e tempo total de CPU.

Número do Nº de processadores Tempo de Tempo total de


cenário utilizados simulação (s) CPU (h)
1 8 241.00 41.66
2 8 241.02 50.43
3 24 241.00 115.43
4 8 241.06 417.97

4.3 Resultados numéricos obtidos

A seguir são apresentados os principais resultados para os cenários ora


definidos, tais como: desenvolvimento do incêndio e fumaça gerada, a velocidade do
fluído (apenas para os cenários com vento), a temperatura do gás, a temperatura na
superfície adiabática do tanque alvo e, finalmente, a radiação no tanque alvo e na região
compreendida entre os tanques alvo e fonte.

4.3.1 Evolução do incêndio

A Figura 4-7 e Figura 4-8 apresentam para diferentes instantes de tempo a


evolução do incêndio no tanque fonte para os cenários 1 e 2, respectivamente. Verifica-
se que em ambos os cenários a chama sobe verticalmente, sem qualquer deslocamento
horizontal devido à ausência de vento, atingindo uma altura superior a 20 metros
quando o incêndio atinge o estado estacionário. Outro ponto que vale ressaltar é que em

54
menos de 10 segundo da ignição ocorre o flashover, que por definição representa: “uma
fase transitória do desenvolvimento do incêndio em compartimento durante o qual as
superfícies expostas à radiação térmica atingem a sua temperatura de ignição mais ou
menos simultaneamente. Sendo assim, o fogo se propaga rapidamente por todo o
espaço, culminando na participação de todo o compartimento" (NFPA 921, 2004). No
caso proposto, o flashover (inflamação generalizada) representa o ponto onde todo o
combustível pode entrar em combustão, assumindo-se que o incêndio está “fora de
controle”.

Comparando-se os cenários 1 e 2, verifica-se que o comportamento da chama no


centro do tanque apresenta comportamento semelhante em ambos cenários. Tal
comportamento se deve ao grande diâmetro do tanque, que não é totalmente coberto
pela ação dos aspersores, que atuam apenas no contorno destes, objetivando o
resfriamento de seus costados.

A evolução do incêndio para os cenários 3 e 4, para diferentes instantes de


tempo, é ilustrada na Figura 4-9 e Figura 4-10, respectivamente. Ambos cenários
consideram o efeito do campo de vento, sendo o cenário 3 desprovido do sistema
dilúvio e o cenário 4 com o acionamento deste. Verifica-se nos dois cenários, que a
chama é deslocada em aproximadamente 5 metros pelo campo de vento no sentido do
tanque alvo e alcançando, ainda assim, uma altura superior a 20 metros quando o
incêndio atinge o estado estacionário. Na Figura 4-10, observa-se que com a ativação
dos aspersores, tal como a chama, as gotículas de água provenientes dos aspersores são
deslocadas pela ação do campo de vento.

Quanto ao flashover desses cenários, verifica-se que este ocorre quase que
instantaneamente, em menos de 5 segundos do início do incêndio. Essa ação mais
rápida, se comparada aos cenários 1 e 2, se deve a contribuição da ação do vento que
favorece a queima do combustível.

55
t=0s t=1s (ignição do combustível)

t=3s t=4s

t=7s t=8s (flashover)

t=13s t=34s

t=46s t=53s
Figura 4-7: Evolução do incêndio para o cenário 1 de calmaria, em diferentes
instantes do incêndio (chama visível a partir de 80 kW/m³).

t=34s t=46s

t=53s

Figura 4-8: Evolução do incêndio para o cenário 2 de calmaria, em diferentes


instantes do incêndio (chama visível a partir de 80 kW/m³).

56
t=0s t=1s (ignição do combustível)

t=3s t=4s (flashover)

t=7s t=8s

t=13s
t=34s

t=46s t=53s
Figura 4-9: Evolução do incêndio para o cenário 3 com vento incidente de leste,
em diferentes instantes de tempo (chama visível a partir de 80 kW/m³).

t=34s t=46s

t=53s
Figura 4-10: Evolução do incêndio para o cenário 4 com vento incidente de
leste, em diferentes instantes de tempo (chama visível a partir de 80 kW/m³)..

57
4.3.2 Propagação de fumaça

Analogamente ao desenvolvimento da chama ocorre a propagação da fumaça


pela formação de monóxido de carbono (CO) proveniente da combustão incompleta. Os
resultados dos cenários 1 e 2 estão ilustrados na Figura 4-11 e Figura 4-12,
respectivamente. Observa-se que em ambos cenários, a fumaça não se dispersa devido à
ausência de vento, ficando restrita a região do incêndio. Em contra partida, para os
cenários com vento incidindo de leste e 5m/s, representados pelos cenários 3 e 4, a
fumaça se dispersa na direção do tanque alvo pela contribuição do campo de vento, tal
como apresentado na Figura 4-13 e Figura 4-14.

t=1s t=3s

t=4s t=7s

t=8s (flashover) t=13s

t=34s t=46s

t=53s
Figura 4-11: Propagação da fumaça, em diferentes instantes de tempo, para o
cenário 1 de calmaria.

58
t=34s t=46s

t=53s
Figura 4-12: Propagação da fumaça, para o cenário 2 de calmaria.

t=1s t=3s

t=4s t=7s

t=8s t=13s

t=34s t=46s

t=53s
Figura 4-13: Evolução da fumaça, em diferentes instantes de tempo, para o
cenário 3, de vento.

59
t=34s t=46s

t=53s
Figura 4-14: Evolução da fumaça, em diferentes instantes de tempo, para os
cenário 4, de vento.

4.3.3 Temperatura do gás

O aquecimento do gás devido ao incêndio no tanque fonte - em diferentes


instantes de tempo - para os quatro cenários simulados, está apresentado da Figura 4-15
a Figura 4-20.

A Figura 4-15 ilustra o resultado do cenário 1, em que se pode observar que a


temperatura da chama atinge 1500ºC, porém, não oferece grande contribuição para o
aumento da temperatura do gás no entorno do tanque fonte. Além disso, o acionamento
do sistema de dilúvio, no cenário 2, não reduz significativamente a temperatura da
chama no tanque fonte, sobretudo na região central do tanque, a qual não é resfriada
pelos aspersores, conforme apresentado na Figura 4-16. Vale ressaltar que apesar do
sistema de dilúvio estar ativado nos dois tanques, a figura não os mostra, tal como na
Figura 4-12, apenas para fins de visualização do resultado.

A Figura 4-17 (a) ilustra que a de temperatura do gás no entorno do costado do


tanque alvo, para o cenário 1 em 150 segundos de simulação, é de aproximadamente
28ºC. Com o acionamento do dilúvio no cenário 2, esta temperatura é reduzida para
23ºC. Entretanto, outro comportamento observado merece destaque, a temperatura
próxima ao costado do tanque fonte é ligeiramente maior para o cenário 2. A Figura
4-17 (b), ilustra um leve acréscimo, de aproximadamente 2 a 3ºC na temperatura
estimada para entorno do tanque fonte. Tal comportamento é devido à parte líquida que
escorre a temperatura mais alta, contribuindo assim para a troca térmica com o ar mais
60
“frio” da região, o que contribui para a elevação de temperatura próxima a este, o que
não é, portanto, verificado no caso sem dilúvio, pois, a chama é direcionada livremente
para cima.

A Figura 4-18 ilustrada a propagação do aquecimento do gás ao longo do tempo,


para as condições de simulação do cenário 3. Observa-se que a temperatura da chama
também atinge 1500ºC e, devido ao campo de vento, a chama é deslocada no sentido do
tanque alvo facilitando o aquecimento do ar na região próxima. Pela Figura 4-20 (a),
observa-se que a temperatura do gás próxima ao tanque alvo é de aproximadamente
70ºC.

A Figura 4-19 apesenta o resultado para o cenário 4, tal como apresentado para o
cenário 2, i.e., não é mostrada a atuação do sistema de diluvio para fins de visualização
da redução da temperatura do gás apesar de estar operante durante a simulação.
Observa-se que o acionamento do dilúvio no tanque fonte reduz a temperatura do gás no
entorno do costado do tanque alvo, como pode ser constatado na Figura 4-20 (b), na
qual em 229 segundos de simulação, a temperatura próxima ao tanque alvo não
ultrapassa 35ºC enquanto que na ausência do sistema de dilúvio esta chega à 70ºC.
Entretanto, este não reduz significativamente a temperatura da chama no tanque fonte.
Assim como observado no cenário 2, a temperatura do gás próximo ao costado do
tanque fonte é maior, em aproximadamente 20ºC, que a obtida para os casos sem
dilúvio. Neste caso, além do calor carreado pelas partículas liberadas pelos aspersores, a
ação do campo de vento direciona a pluma de temperatura para uma elevação mais
baixa, favorecendo o incremento de temperatura para a troca térmica com o ar mais
“frio” da região, o que acarreta na elevação de temperatura próxima ao tanque fonte.
Esse efeito é, portanto, menos representativo no cenário sem dilúvio, pois, apesar do
campo de vento tender a baixar a chama na direção do piso, não há a contribuição das
partículas liberadas pelos aspersores que trazem grande quantidade de líquido aquecido.

61
Tg (ºC)

t=6s

t=13s

t=36s

t=57s

t=185s
Figura 4-15: Evolução da temperatura do gás devido ao cenário 1 de calmaria.
Tg (ºC)

t=36s

t=57s

t=185s

Figura 4-16: Evolução da temperatura do gás devido ao cenário 2 de calmaria.

62
Temperatura do gás de aproximadamente 27ºC

Tg (ºC)

Sem acionamento do dilúvio


(a)

Temperatura do gás elevada de 2 a 3ºC.

Com acionamento do dilúvio


(b)
Figura 4-17: Temperatura do gás no entorno dos tanques para os cenários 1 (a) e 2 (b).

63
Tg (ºC)

t=4s

t=6s

t=13s

t=57s

t=185s
Figura 4-18: Evolução da temperatura do gás devido ao cenário 3, de vento.
Tg (ºC)

t=57s

t=185s

Figura 4-19: Evolução da temperatura do gás devido ao cenário 4, de vento.

64
Temperatura do gás de aproximadamente 70ºC

Tg (ºC)

Sem acionamento do dilúvio


(a)

Temperatura do gás reduzida


Temperatura acrescida de 20ºC
para aproximadamente 30ºC

Com acionamento do dilúvio


(b)
Figura 4-20: Temperatura do gás próxima ao tanque alvo (a) cenário 3 e (b) cenário 4
em t=229 s.

65
4.3.4 Velocidade do fluido

A velocidade do fluido foi verificada para os cenários que consideram o efeito


de campo de vento, em diferentes instantes de tempo.

A Figura 4-21 (a) apresenta a velocidade do fluido após 3 segundos do início da


simulação. Observa-se a incidência dos vetores de 5m/s pelo lado direito da figura,
condizentes com a direção e velocidade de vento definida para a simulação e a saída de
vetores de mesma direção e intensidade pela face oposta. Em um instante de tempo mais
avançado, e.g., 180s constata-se em (b) uma região de recirculação próxima ao tanque
fonte. A recirculação ocorre devido à barreira que o tanque representa para o fluxo do
campo de vento, gerando assim uma zona de baixa pressão que por empuxo é
direcionada à região da chama, propiciando a queima de mais combustível. Em (c) é
ilustrada a velocidade do fluido para o cenário 4, no qual o dilúvio é ativado. Observa-
se que neste caso a velocidade do fluido, próximo ao tanque fonte é maior se comparada
ao cenário 3, devido à contribuição da velocidade das partículas além do campo de
vento na velocidade total indicada.

66
Vel
(m/s)
t= 3s (a)

Campo de vento estabilizado Região de menor velocidade

t= 180s – sem dilúvio (b)

Contribuição da velocidade das partículas no


aumento de velocidade da região.

t=180 – com dilúvio (c)

Figura 4-21: Vetores velocidade do fluido nas simulações com vento.

67
4.3.5 Temperatura na superfície adiabática

A temperatura na superfície adiabática foi estimada para os quatro cenários,


apresentados na Tabela 4-1, a partir da leitura dos pontos de monitoração posicionados
na face do tanque alvo, conforme apresentado previamente, no item 4.2.2.1 deste
trabalho.

Os resultados gráficos de temperatura em função do tempo, para cada cenário


simulado, estão apresentado da Figura 4-22 a Figura 4-25. Observa-se que por volta de
90 segundos o incêndio se estabiliza.

A Tabela 4-6 apresenta os valores médios de temperatura na superfície


adiabática na face do tanque alvo enquanto que na Tabela 4-7 está apresentado os
valores máximos de temperatura na superfície adiabática do tanque alvo, que foram
utilizados na análise deste trabalho.

Condição de calmaria e sem atuação do dilúvio


600
560
520
480
T1
440
Temperatura (ºC)

400 T2
360 T3
320
280 T4
240 T5
200
T6
160
120 T7
80 T8
40
0 T9
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240
Tempo de simulação (s)
Figura 4-22: Temperatura nos 9 pontos posicionados na face do tanque alvo para as
condições do cenário 1.

68
600
Condição de calmaria com atuação do dilúvio
560
520
480 T1
440
Temperatura (ºC)

400 T2
360
T3
320
280 T4
240
200 T5
160 T6
120
80 T7
40 T8
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 T9
Tempo de simulação (s)
Figura 4-23: Temperatura nos 9 pontos posicionados na face do tanque alvo para as
condições do cenário 2.

600
Vento de 5m/s e sem atuação do dilúvio
560
520
480
440 T1
Temperatura (ºC)

400 T2
360
T3
320
280 T4
240 T5
200
T6
160
120 T7
80 T8
40
0 T9
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240
Tempo de simulação (s)

Figura 4-24: Temperatura nos 9 pontos posicionados na face do tanque alvo para as
condições do cenário 3.

69
Vento de 5m/s e atuação do dilúvio
600
560
520
480 T1
440 T2
Temperatura (ºC)

400
360 T3
320 T4
280
240 T5
200 T6
160
120 T7
80 T8
40
T9
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240
Tempo de simulação (s)
Figura 4-25: Temperatura nos 9 pontos posicionados na face do tanque alvo para as
condições do cenário 4.

Tabela 4-6 Temperatura média na superfície adiabática do tanque alvo devido às


condições de cada cenário simulado.

Ponto Máxima temperatura (ºC)


monitorado Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3 Cenário 4
1 119,32 34,22 394,03 146,78
2 178,99 50,95 412,23 152,49
3 268,18 83,32 443,25 165,72
4 354,58 122,68 485,83 188,02
5 401,43 147,99 520,43 208,86
6 393,77 144,73 534,15 217,67
7 348,56 122,06 533,65 216,87
8 328,90 100,32 529,24 213,02
9 319,46 87,80 525,22 206,03

70
Tabela 4-7 Resultados da máxima temperatura na superfície adiabática do tanque alvo
devido às condições de cada cenário simulado.

Ponto Máxima temperatura (ºC)


monitorado Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3 Cenário 4
1 189,60 45,36 493,59 189,90
2 226,27 59,62 512,95 206,05
3 299,76 96,29 527,34 211,63
4 382,26 137,33 542,46 238,70
5 432,50 163,56 576,17 260,02
6 428,67 162,72 583,81 268,96
7 389,24 143,46 587,26 279,21
8 377,81 123,54 577,05 264,88
9 363,75 115,25 584,18 255,71

Pelos resultados acima apresentados e os do item 4.3.3, fica evidente que o


aquecimento do tanque se dá apenas pela contribuição da radiação e não pela convecção
devido à transferência de calor pela temperatura do gás. Outro ponto importante é que
as maiores temperaturas são obtidas nos pontos intermediários do tanque alvo em todos
os cenários simulados, sendo mais evidenciado nas simulações de calmaria. Tal
comportamento deve-se a condição de contorno no topo do tanque, que por estar em
contato com o ar dissipa o calor mais facilmente que a região de pontos inferiores em
contato com o aço, resultando na redução de temperatura, além disso, o ângulo de
incidência da radiação pode provocar esta diferença de temperatura. Nos cenários de
vento, a chama é deslocada horizontalmente e o ângulo de incidência da radiação é
modificado. Entretanto, verifica-se pela Tabela 4-6 que o ponto mais extremo também
apresenta temperatura menor ratificando o efeito da condição de contorno apontada para
o cenário de calmaria.

A Figura 4-26 e Figura 4-27 apresentam o perfil de temperatura na superfície


adiabática do tanque alvo para os cenários 1 e 2, respectivamente. Observa-se pela
Figura 4-26 que grande parte da face voltada para o incêndio apresenta temperatura
superior a 363ºC, temperatura de autoignição do etanol, enquanto que, na Figura 4-27 –
devido ao resfriamento provocado pelo sistema de dilúvio - a temperatura máxima

71
aferida na face do tanque alvo fica em torno de 163ºC e ocorre aos 111 segundos de
simulação.

A Figura 4-28 e Figura 4-29 apresentam o perfil de temperatura na superfície


adiabática do tanque alvo para os cenários 3 e 4, respectivamente. A Figura 4-28 ilustra
que praticamente toda a face voltada para o incêndio apresenta temperatura superior a
363ºC, enquanto que, na Figura 4-29 a máxima temperatura fica em torno de 279ºC,
pela ação dos aspersores, e ocorre aos 141 segundos de simulação. Entretanto, fixando a
temperatura máxima em 363ºC, para o cenário em que o dilúvio é acionado, e
analisando as demais partes do costado pelo perfil de temperatura plotado graficamente,
observa-se pela Figura 4-30 que uma pequena região da face do tanque alvo apresenta
temperatura superior a 363ºC aos 86 segundos de simulação e que não é aferida pelos
pontos de monitoração. Desta forma, verifica-se que os tanques vizinhos estão
suscetíveis, mesmo com a atuação do sistema de dilúvio, sob ação do campo de vento.

c
Figura 4-26: Temperatura superior a de autoignição do etanol na superfície adiabática
para as condições do cenário 1.

72
Figura 4-27: Temperatura na superfície adiabática no instante em que ocorre a maior
temperatura lida (111s) para as condições do cenário 2.

Figura 4-28: Temperatura superior a de autoignição do etanol na superfície adiabática


do tanque alvo para as condições do cenário 3.

73
Figura 4-29: Temperatura na superfície adiabática no instante em que ocorre a maior
temperatura (279ºC) lida pelos pontos de monitoração aos 141s de simulação para as
condições do cenário 4.

Temperatura de autoignição do etanol

Figura 4-30: Temperatura superior a de autoignição do etanol na superfície adiabática


do tanque alvo para as condições do cenário 4.

74
Entretanto, a temperatura na superfície adiabática na face do tanque alvo não é a
temperatura da chapa de aço, pois, ao incidir na face do tanque, ocorre a transferência
de calor entre a chapa de aço e o fluido existente no interior deste, que pode ser: o ar no
caso de tanque totalmente ou parcialmente vazio ou, ainda, líquido, que neste caso trata-
se de etanol.

Sendo assim, calculou-se a temperatura nas duas faces da chapa de aço do


tanque, em regime estacionário, conforme tratado no item 3.3. Observou-se que a
temperatura na chapa é cerca de 70% e 40% da TAST para as condições de tanque cheio
e vazio/parcialmente vazio, respectivamente. Considerou-se o valor do coeficiente de
transferência de calor por convecção (h) igual a: (i) 20 para a superfície externa do
tanque e (ii) 2 e 10 (KREITH, 2000) para a superfície interna ao tanque em contato com
ar e etanol, respectivamente. A Tabela 4-8 apresenta os valores máximos de temperatura
na chapa de aço calculados para cada um dos cenários simulados, considerando duas
condições; o tanque alvo cheio de etanol e o tanque parcialmente cheio com ar e etanol.
Para tal, empregaram-se os valores de TAST obtidos na análise de CFD, apresentados na
Tabela 4-7 desta dissertação. A memória com os cálculos está incluída no anexo desta
dissertação.

Tabela 4-8 Temperatura na chapa de aço do tanque.

Máxima temperatura (ºC)


Ponto TAST
Tanque cheio de Tanque parcialmente
monitorado (Tabela 4-7)
etanol cheio com ar
Cenário 1 432,50 135,38 311,15
Cenário 2 163,56 23,15 35,31
Cenário 3 587,26 272,76 485,19
Cenário 4 279,21 45,39 123,60

Os resultados de temperatura na chapa de aço foram confrontados aos critérios


de temperatura máxima recomendada pelas referências apresentados no capítulo 2 dessa
dissertação e, observou-se que:

a) Pelo critério de temperatura de autoignição apresentado na FISPQ


(BRASKEM, 2009), verifica-se que para as condições do cenário 3, com o

75
tanque alvo parcialmente cheio de etanol e ar, a temperatura na chapa
apresentada na Tabela 4-8 supera o valor de autoignição do etanol que é de
363ºC. Desta forma, a existência de uma mistura nos limites
estequiométricos de inflamabilidade no interior do tanque poderia ignitar
instantaneamente e provocar o incêndio deste e potencializar de outros
tanques vizinhos, que estejam a 30 metros do tanque fonte. Vale ressaltar,
que o valor de TAST responsável pelo aquecimento do tanque a esta
temperatura crítica é obtido em aproximadamente 3 minutos do início do
incêndio, como apresentado na Figura 4-24, o que demandaria uma ação
imediata da brigada, a fim de extinguir o incêndio no tanque fonte. Verifica-
se, ainda, que a ação do vento potencializa o efeito do incêndio sobre o
tanque alvo se comparado aos resultados obtidos para a condição de
calmaria. Vale ressaltar, que essa discrepância tende a ser mais significativa
quanto maior for a velocidade de vento durante o incêndio, i.e., para
velocidades de vento superiores a simulada (5m/s). Os demais cenários
simulados, independentemente da condição de preenchimento do tanque,
apresentam temperatura abaixo da temperatura de autoignição do etanol, não
oferendo risco de incêndio.
b) Pelo critério HSE (2008) que estipula o valor máximo de 300ºC como a
temperatura que o tanque de aço pode atingir, a fim de evitar o
comprometimento de sua estrutura e possível rompimento, observa-se pela
Tabela 4-8, que valores acima deste critério são atingidos para as condições
dos cenários 1 e 3, parcialmente cheio de etanol e desprovido do sistema de
dilúvio. O cenário 1 atinge a TAST necessária para aquecer o tanque alvo ao
valor de temperatura da Tabela 4-8 em 5 minutos de simulação enquanto que
o cenário 3, em 3 minutos.
c) A temperatura crítica determinada por BEYLER (2004) cujo valor é de
540ºC, não acarretaria problemas de segurança para os tanques nas
condições simuladas. É esperado que em condições mais severas de vento,
i.e., para velocidade de vento superior a 5 m/s que a temperatura do aço
venha a se aproximar deste limite, devido ao predomínio do campo de vento
sobre a direção e inclinação da chama sob o tanque alvo.
d) Dos valores apresentados na Tabela 4-8, verifica-se que todas as
temperaturas obtidas excedem o ponto de fulgor do etanol, que é responsável

76
pela formação de vapores inflamáveis. Tal formação torna os tanques
suscetíveis a um incêndio caso expostos a uma fonte de ignição, como por
exemplo: chama, descarga atmosférica ou mesmo, devido a existência de
carga eletrostática, como mencionado no item 2.3 desta dissertação.

4.3.6 Níveis de radiação

O fluxo de radiação foi lido pelos pontos de monitoração apresentados na Tabela


4-2 e na Tabela 4-3.

Na Tabela 4-9 estão apresentados os valores máximos de radiação lidos nos


pontos de monitoração para os quatro cenários simulados e descritos no item 4.1 desta
dissertação.

Ressalta-se que, se durante o incêndio, o tanque fonte for desprovido do sistema


de dilúvio devido à ação do fogo, os níveis de radiação para os cenários 2 e 4,
apresentados na Tabela 4-9, não serão válidos. Desta forma, estima-se que os novos
níveis de radiação devem ficar entre os obtidos para os cenários sem atuação do dilúvio
e com a atuação deste, de acordo com a condição de vento considerada. A região entre
os tanques alvo e fonte, principalmente próxima ao tanque fonte, deve apresentar
valores de radiação semelhantes aos do cenário sem atuação do dilúvio. Contudo, essa
condição não foi simulada no presente estudo.

77
Tabela 4-9 Fluxo total de radiação para os cenários simulados.
Resultados de radiação (kW/m²)
Cenário com vento
Ponto de monitoração Cenários de calmaria incidindo de leste com
5m/s
Com Vento sem Vento com
Sem dilúvio
Pontos nº Localização dilúvio dilúvio dilúvio
(cenário 1)
(cenário 2) (cenário 3) (cenário 4)
1 2,47 0,16 19,73 3,26
2 3,47 0,32 21,05 3,49
3 6,12 0,72 23,21 3,89
4 10,74 1,39 26,84 4,59
5 Tanque alvo 14,32 1,91 30,48 5,36
6 14,14 1,85 32,14 5,83
7 11,30 1,51 31,87 5,94
8 9,39 1,23 31,26 5,97
9 8,21 1,06 31,07 6,09
10 4,09 0,72 27,19 5,38
11 4,68 0,86 32,46 7,12
12 5,81 1,14 39,59 9,55
13 Entre tanques 6,81 1,56 47,86 12,49
14 7,26 1,91 53,13 15,09
alvo e fonte
15 5,27 1,74 51,26 16,36
16 3,15 1,03 42,27 15,44
17 1,98 0,73 31,25 13,55
18 0,55 0,44 14,43 7,21

Confrontando os resultados acima apresentados, para a radiação no tanque alvo


com o valor de radiação prescrito por CROWL e LOUVAR (2002) de 4732 kW/m²
como sendo a distância segura entre tanques, verifica-se que para as condições
simuladas, a distância de 30 metros entre costados não representa riscos em caso de
incêndio em um tanque vizinho. Entretanto, o mesmo não é ratificado quando se avalia
a segurança dos tanques com base nos resultados de temperatura e critérios de avaliação
utilizados. Vale ressaltar, que tal valor de radiação determinado pode ser considerado
muito abrangente e, por conseguinte, superestimado dado que este valor é generalista no

78
que tange o tipo de combustível considerado não considerando assim as particularidades
físico-químicas inerentes de cada composto químico.

No que tange o limite de exposição em caso de incêndio, observa-se que para o


cenário 1 de calmaria, o limite de 5kW/m² é excedido a 12 metros de distância do
tanque alvo. Desta forma, uma pessoa exposta por mais de 1 minuto a esse nível de
radiação estaria sujeita a queimaduras graves. A Figura 4-31 ilustra a região
comprometida pela radiação acima de 5 kW/m².

Para o cenário com vento, observa-se que o limite de exposição de 5kW/m² é


violado para qualquer posição compreendida entre os tanques. Desta forma, uma pessoa
exposta por mais de 1 minuto a esse nível de radiação estaria sujeita a queimaduras
graves. Ressalta-se ainda a criticidade verificada para o cenário com vento e sem dilúvio
que apresenta uma ampla região vulnerável, compreendida a 9 metros de distância de
ambos os tanques, cujo fluxo de radiação supera 37.5 kW/m², como mostrado na Figura
4-32. Tal nível de radiação correspondente à probabilidade de morte igual a 90% dos
usuários expostas por um período de 30 segundos. Ainda para o mesmo cenário, a
região de 9 metros próxima a ambos os tanques, apresenta nível de radiação superior a
12.5 kW/m², o que não evita a ocorrência de fatalidades, dada a probabilidade de 1% em
caso de exposição igual a 30 segundos.

79
Figura 4-31: Limites de exposição devido à radiação para as condições de simulação do
cenário 1.

Figura 4-32: Limites de exposição devido à radiação para as condições de simulação do


cenário 3.

80
CAPÍTULO 5 - CONCLUSÕES GERAIS

5.1 Considerações finais

O incêndio é um dos maiores riscos associados a tanques de armazenamento


contendo produtos inflamáveis. Estes tanques são geralmente espaçados e em grandes
grupos, de modo que na ocorrência de incêndio, tanques adjacentes são susceptíveis a
danos levando a propagação do incêndio devido ao efeito dominó. A instalação desses
tanques a uma distância segura que considere o tipo de combustível armazenado, as
condições de vento predominantes na região e as medidas de proteção existentes são de
extrema importância para o projeto de segurança de uma instalação. Conforme
apresentado nas referências bibliográficas, existe uma grande escassez de material
bibliográfico, no Brasil e no mundo, que discuta especificações e metodologias atuais
sobre a segurança nas instalações de etanol. A norma brasileira ABNT NBR7820:1983 -
que trata da segurança nas instalações de produção, armazenamento, manuseio e
transporte de etanol, pode estar obsoleta, em função dos novos avanços ocorridos ao
longo dos 30 anos que se passaram desde a sua última atualização. Além disso, os
limites determinados pelos estudos realizados e devidamente explicitados no capítulo 2
deste trabalho, quanto aos valores máximos e seguros de temperatura para o tanque e
combustível armazenado são discrepantes e não permitem a efetiva especificação de
critérios. Tal discrepância pode ser atribuída à falta de informação quanto ao
combustível admitido na determinação de tal temperatura ou, ainda, sobre quais
critérios foram considerados na determinação de tal valor.

A partir dos resultados numéricos obtidos, para as simulações realizadas, as


seguintes conclusões podem ser apontadas:

a) Pode-se concluir que a distância de 30 metros entre costados dos tanques,


com 30 metros de diâmetro contendo etanol, só se torna segura quando o
sistema de dilúvio é acionado em até 30 segundos do início do incêndio, não
havendo qualquer falha espúria para seu pleno funcionamento, os tanques
estão totalmente cheios, livres de qualquer fonte de ignição e fontes

81
geradoras de cargas eletrostáticas. Os demais cenários de incêndio violam
pelo menos um dos critérios apresentados no capítulo 2.
b) Nos cenários de calmaria sem dilúvio, o limite de exposição de 5 kW/m² -
que acarreta queimaduras graves em caso de exposição superior a 60
segundos - é excedido 12 metros do tanque alvo, já nos cenário sob
influência do vento, independentemente da atuação do dilúvio, tal limite é
violado para qualquer distância considerada entre os tanques.
c) Além disso, o limite de exposição em condição de vento com ou sem
acionamento do sistema de dilúvio é extremo, pois, ultrapassa 12,5 e 37,5
kW/m², podendo levar a morte dos usuários que estejam no entorno do
tanque em chamas.
d) Verifica-se que os tanques devem ser mantidos cheios, devido a melhor troca
térmica entre a chapa e o líquido, durante um incêndio. Tal conclusão ratifica
um dos pontos levantados por LIU (2011) em sua tese, de que para a
segurança dos tanques, estes devem ser mantidos cheios, mesmo que com
água.

Com base nas conclusões obtidas e visando garantir a segurança dos parques de
tancagem de etanol, e de outros combustíveis inflamáveis, recomendações e sugestões
para trabalhos futuros são apresentadas a seguir.

5.2 Recomendações e sugestões para trabalhos futuros

Durante a realização deste trabalho foi possível identificar alguns estudos


complementares que podem ser abordados em pesquisas futuras, entre eles destacam-se:

 Estudo paramétrico com diferentes velocidades de vento, altura dos tanques,


vazões de aspersores e tipo de combustível.
 Análise termo estrutural a partir da utilização dos dados térmicos provenientes
das simulações com CFD para verificar o comportamento estrutural do tanque
sob altas temperaturas;
 Verificação da distância segura entre tanques considerando outros combustíveis,
e.g., gasolina, nafta, GLP, etc.;

82
 Verificar a eficiência da adição de proteção passiva fireproofing no que tange o
aumento do tempo de resistência ao fogo e distância entre tanques, pela redução
de temperatura que atinge o costado;
 Obter resultados experimentais que possam melhor avaliar a resposta obtida
pelos modelos numéricos.
 Estudo probabilístico para a determinação da distância segura, levando em conta
a frequência anual de velocidades e direções de vento da região geográfica de
interesse.

83
Referências Bibliográficas

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instalações de rodução, armazenamento, manuseio e transporte de etanol (álcool
etílico)- Procedimento”, Rio de Janeiro.

ABNT NBR 17505:2006 - Associação Brasileira de Normas Técnicas –


“Armazenamento de líquidos inflamáveis e combustíveis”, Rio de Janeiro.

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ATALLAH, S., ALLAN, D. S.,1971, "Safe separation distances from liquid fuel fires",
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BEYLER, C. L., 2004, "Industrial fire protection engineering", Fire Technology, v.40,
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BRASKEM, 2009, “Ficha de Informação de Segurança de Produto Químico – FISPQ”,


Álcool etílico, 3 ed., Triunfo, RS.

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1176, 1986.

90
ANEXO A

Cenário 1- Cálculo da temperatura do aço considerando o tanque cheio de etanol.

Tast (ºC) = 432,50 ε= 0,8 h1 (W/m²K) = 20 espe (m) = 0,01


Tf (ºC) = 20 σ (W/m²K4)= 5,67E-08 h2 (W/m²K) = 10 k (W/(mK) = 50

Passo R1 (Conv) R1 (Rad) R1 (Conv +Rad) R2 (cond) R3 (Conv) Rtotal q" total T1 (ºC) T2 (ºC) Tast/T2
1 0,05 0,26 0,31 0,00020 0,10 0,41 1004,56 120,66 120,46 3,59
2 0,05 0,21 0,26 0,00020 0,10 0,36 1135,97 133,82 133,60 3,24
3 0,05 0,21 0,26 0,00020 0,10 0,36 1151,72 135,40 135,17 3,20
4 0,05 0,21 0,26 0,00020 0,10 0,36 1153,59 135,59 135,36 3,20
5 0,05 0,21 0,26 0,00020 0,10 0,36 1153,81 135,61 135,38 3,19
6 0,05 0,21 0,26 0,00020 0,10 0,36 1153,84 135,61 135,38 3,19
7 0,05 0,21 0,26 0,00020 0,10 0,36 1153,84 135,61 135,38 3,19
8 0,05 0,21 0,26 0,00020 0,10 0,36 1153,84 135,61 135,38 3,19
9 0,05 0,21 0,26 0,00020 0,10 0,36 1153,84 135,61 135,38 3,19
10 0,05 0,21 0,26 0,00020 0,10 0,36 1153,84 135,61 135,38 3,19

91
Cenário 1- Cálculo da temperatura do aço considerando o tanque parcialmente cheio com ar.

Tast (ºC) = 432,50 ε= 0,8 h1 (W/m²K) = 20 espe (m) = 0,01


Tf (ºC) = 20 σ (W/m²K4)= 5,67E-08 h2 (W/m²K) = 2 k (W/(mK) = 50

Passo R1 (Conv) R1 (Rad) R1 (Conv +Rad) R2 (cond) R3 (Conv) Rtotal q" total T1 (ºC) T2 (ºC) Tast/T2
1 0,05 0,26 0,31 0,00020 0,50 0,81 508,86 274,53 274,43 1,58
2 0,05 0,17 0,22 0,00020 0,50 0,72 575,60 307,91 307,80 1,41
3 0,05 0,16 0,21 0,00020 0,50 0,71 581,71 310,97 310,86 1,39
4 0,05 0,16 0,21 0,00020 0,50 0,71 582,25 311,24 311,12 1,39
5 0,05 0,16 0,21 0,00020 0,50 0,71 582,30 311,26 311,15 1,39
6 0,05 0,16 0,21 0,00020 0,50 0,71 582,30 311,27 311,15 1,39
7 0,05 0,16 0,21 0,00020 0,50 0,71 582,30 311,27 311,15 1,39
8 0,05 0,16 0,21 0,00020 0,50 0,71 582,30 311,27 311,15 1,39
9 0,05 0,16 0,21 0,00020 0,50 0,71 582,30 311,27 311,15 1,39
10 0,05 0,16 0,21 0,00020 0,50 0,71 582,30 311,27 311,15 1,39

92
Cenário 2- Cálculo da temperatura do aço considerando o tanque cheio de etanol.

Tast (ºC) = 163,56 ε= 0,8 h1 (W/m²K) = 20 espe (m) = 0,01


Tf (ºC) = 20 σ (W/m²K4)= 5,67E-08 h2 (W/m²K) = 10 k (W/(mK) = 50

Passo R1 (Conv) R1 (Rad) R1 (Conv +Rad) R2 (cond) R3 (Conv) Rtotal q" total T1 (ºC) T2 (ºC) Tast/T2
1 0,05 4,49 4,54 0,00020 0,10 4,64 30,96 23,10 23,10 7,08
2 0,05 4,41 4,46 0,00020 0,10 4,56 31,47 23,15 23,15 7,07
3 0,05 4,41 4,46 0,00020 0,10 4,56 31,48 23,15 23,15 7,07
4 0,05 4,41 4,46 0,00020 0,10 4,56 31,48 23,15 23,15 7,07
5 0,05 4,41 4,46 0,00020 0,10 4,56 31,48 23,15 23,15 7,07
6 0,05 4,41 4,46 0,00020 0,10 4,56 31,48 23,15 23,15 7,07
7 0,05 4,41 4,46 0,00020 0,10 4,56 31,48 23,15 23,15 7,07
8 0,05 4,41 4,46 0,00020 0,10 4,56 31,48 23,15 23,15 7,07
9 0,05 4,41 4,46 0,00020 0,10 4,56 31,48 23,15 23,15 7,07
10 0,05 4,41 4,46 0,00020 0,10 4,56 31,48 23,15 23,15 7,07

93
Cenário 2- Cálculo da temperatura do aço considerando o tanque parcialmente cheio com ar.

Tast (ºC) = 163,56 ε= 0,8 h1 (W/m²K) = 20 espe (m) = 0,01


Tf (ºC) = 20 σ (W/m²K4)= 5,67E-08 h2 (W/m²K) = 2 k (W/(mK) = 50

Passo R1 (Conv) R1 (Rad) R1 (Conv +Rad) R2 (cond) R3 (Conv) Rtotal q" total T1 (ºC) T2 (ºC) Tast/T2
1 0,05 4,49 4,54 0,00020 0,50 5,04 28,50 34,26 34,25 4,78
2 0,05 4,16 4,21 0,00020 0,50 4,71 30,47 35,24 35,24 4,64
3 0,05 4,14 4,19 0,00020 0,50 4,69 30,61 35,31 35,30 4,63
4 0,05 4,14 4,19 0,00020 0,50 4,69 30,62 35,32 35,31 4,63
5 0,05 4,14 4,19 0,00020 0,50 4,69 30,62 35,32 35,31 4,63
6 0,05 4,14 4,19 0,00020 0,50 4,69 30,62 35,32 35,31 4,63
7 0,05 4,14 4,19 0,00020 0,50 4,69 30,62 35,32 35,31 4,63
8 0,05 4,14 4,19 0,00020 0,50 4,69 30,62 35,32 35,31 4,63
9 0,05 4,14 4,19 0,00020 0,50 4,69 30,62 35,32 35,31 4,63
10 0,05 4,14 4,19 0,00020 0,50 4,69 30,62 35,32 35,31 4,63

94
Cenário 3- Cálculo da temperatura do aço considerando o tanque cheio de etanol.

Tast (ºC) = 587,26 ε= 0,8 h1 (W/m²K) = 20 espe (m) = 0,01


Tf (ºC) = 20 σ (W/m²K4)= 5,67E-08 h2 (W/m²K) = 10 k (W/(mK) = 50

Passo R1 (Conv) R1 (Rad) R1 (Conv +Rad) R2 (cond) R3 (Conv) Rtotal q" total T1 (ºC) T2 (ºC) Tast/T2
1 0,05 0,11 0,16 0,00020 0,10 0,26 2220,54 242,50 242,05 2,43
2 0,05 0,08 0,13 0,00020 0,10 0,23 2496,90 270,19 269,69 2,18
3 0,05 0,07 0,12 0,00020 0,10 0,22 2524,60 272,96 272,46 2,16
4 0,05 0,07 0,12 0,00020 0,10 0,22 2527,31 273,24 272,73 2,15
5 0,05 0,07 0,12 0,00020 0,10 0,22 2527,57 273,26 272,76 2,15
6 0,05 0,07 0,12 0,00020 0,10 0,22 2527,60 273,27 272,76 2,15
7 0,05 0,07 0,12 0,00020 0,10 0,22 2527,60 273,27 272,76 2,15
8 0,05 0,07 0,12 0,00020 0,10 0,22 2527,60 273,27 272,76 2,15
9 0,05 0,07 0,12 0,00020 0,10 0,22 2527,60 273,27 272,76 2,15
10 0,05 0,07 0,12 0,00020 0,10 0,22 2527,60 273,27 272,76 2,15

95
Cenário 3- Cálculo da temperatura do aço considerando o tanque parcialmente cheio com ar.

Tast (ºC) = 587,26 ε= 0,8 h1 (W/m²K) = 20 espe (m) = 0,01


Tf (ºC) = 20 σ (W/m²K4)= 5,67E-08 h2 (W/m²K) = 2 k (W/(mK) = 50

Passo R1 (Conv) R1 (Rad) R1 (Conv +Rad) R2 (cond) R3 (Conv) Rtotal q" total T1 (ºC) T2 (ºC) Tast/T2
1 0,05 0,11 0,16 0,00020 0,50 0,66 865,44 452,89 452,72 1,30
2 0,05 0,06 0,11 0,00020 0,50 0,61 927,54 483,95 483,77 1,21
3 0,05 0,06 0,11 0,00020 0,50 0,61 930,25 485,31 485,13 1,21
4 0,05 0,06 0,11 0,00020 0,50 0,61 930,37 485,37 485,18 1,21
5 0,05 0,06 0,11 0,00020 0,50 0,61 930,37 485,37 485,19 1,21
6 0,05 0,06 0,11 0,00020 0,50 0,61 930,37 485,37 485,19 1,21
7 0,05 0,06 0,11 0,00020 0,50 0,61 930,37 485,37 485,19 1,21
8 0,05 0,06 0,11 0,00020 0,50 0,61 930,37 485,37 485,19 1,21
9 0,05 0,06 0,11 0,00020 0,50 0,61 930,37 485,37 485,19 1,21
10 0,05 0,06 0,11 0,00020 0,50 0,61 930,37 485,37 485,19 1,21

96
Cenário 4- Cálculo da temperatura do aço considerando o tanque cheio de etanol.

Tast (ºC) = 279,21 ε= 0,8 h1 (W/m²K) = 20 espe (m) = 0,01


Tf (ºC) = 20 σ (W/m²K4)= 5,67E-08 h2 (W/m²K) = 10 k (W/(mK) = 50

Passo R1 (Conv) R1 (Rad) R1 (Conv +Rad) R2 (cond) R3 (Conv) Rtotal q" total T1 (ºC) T2 (ºC) Tast/T2
1 0,05 0,94 0,99 0,00020 0,10 1,10 236,70 43,72 43,67 6,39
2 0,05 0,88 0,93 0,00020 0,10 1,03 252,78 45,33 45,28 6,17
3 0,05 0,87 0,92 0,00020 0,10 1,02 253,86 45,44 45,39 6,15
4 0,05 0,87 0,92 0,00020 0,10 1,02 253,94 45,44 45,39 6,15
5 0,05 0,87 0,92 0,00020 0,10 1,02 253,94 45,45 45,39 6,15
6 0,05 0,87 0,92 0,00020 0,10 1,02 253,94 45,45 45,39 6,15
7 0,05 0,87 0,92 0,00020 0,10 1,02 253,94 45,45 45,39 6,15
8 0,05 0,87 0,92 0,00020 0,10 1,02 253,94 45,45 45,39 6,15
9 0,05 0,87 0,92 0,00020 0,10 1,02 253,94 45,45 45,39 6,15
10 0,05 0,87 0,92 0,00020 0,10 1,02 253,94 45,45 45,39 6,15

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Cenário 4- Cálculo da temperatura do aço considerando o tanque parcialmente cheio com ar.

Tast (ºC) = 279,21 ε= 0,8 h1 (W/m²K) = 20 espe (m) = 0,01


Tf (ºC) = 20 σ (W/m²K4)= 5,67E-08 h2 (W/m²K) = 2 k (W/(mK) = 50

Passo R1 (Conv) R1 (Rad) R1 (Conv +Rad) R2 (cond) R3 (Conv) Rtotal q" total T1 (ºC) T2 (ºC) Tast/T2
1 0,05 0,94 0,99 0,00020 0,50 1,50 173,38 106,72 106,69 2,62
2 0,05 0,73 0,78 0,00020 0,50 1,28 202,20 121,14 121,10 2,31
3 0,05 0,71 0,76 0,00020 0,50 1,26 206,47 123,27 123,23 2,27
4 0,05 0,70 0,75 0,00020 0,50 1,25 207,09 123,58 123,54 2,26
5 0,05 0,70 0,75 0,00020 0,50 1,25 207,18 123,63 123,59 2,26
6 0,05 0,70 0,75 0,00020 0,50 1,25 207,19 123,64 123,59 2,26
7 0,05 0,70 0,75 0,00020 0,50 1,25 207,19 123,64 123,60 2,26
8 0,05 0,70 0,75 0,00020 0,50 1,25 207,19 123,64 123,60 2,26
9 0,05 0,70 0,75 0,00020 0,50 1,25 207,19 123,64 123,60 2,26
10 0,05 0,70 0,75 0,00020 0,50 1,25 207,19 123,64 123,60 2,26

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