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socioambientais
RESUMO
Este trabalho teve como objetivo central realizar um estudo da percepção de pequenos
localizado na região de Ribeirão Preto, SP, fruto do processo de expansão das lavouras
de cana para produção de etanol e açúcar, em uma região nacional de alto dinamismo do
agronegócio – processo que pode comprometer os recursos naturais, esse segmento das
ABSTRACT
This work has as objective main to realize a study of the farm agriculture perception’s
of risks happened of the impacts of the sugar cane production in the Monte Alegre rural
settlement, SP, fruit of the process of expansion of sugar cane for production of ethanol
and sugar, in a national region of high dynamism of the agribusiness - process that can
to compromise the natural resources, this segment of the agricultural populations, the
Keywords: Risks. Health and environmental impacts. Sugar cane production. Social
perception.
INTRODUÇÃO
Biodiesel, biocombustível, etanol, canaviais, crise energética, dívida de carbono,
desmatamento, danos ambientais, estão na pauta dos recentes debates, entre os vários
de definições e nuances em seu em torno, as quais acabam por lhe conferir uma
as ciências ambientais e para a saúde pública, devido aos estudos sobre desastres
sociais, na qual, busca-se analisar como a sociedade os percebe e como essa percepção é
Assim, por meio das discussões de Beck (1992) sobre os problemas da sociedade
aliado à forma econômica capitalista, o conceito de risco passou a ser discutido na teoria
social. O pesquisador argumenta que os riscos têm origem em processos que não levam
(1991), define que “risco é o resultado previsto como conseqüência de nossas próprias
poluição das águas e dos solos por nitratos (advindos dos fertilizantes) e por
que nessa relação a doença é melhor entendida por procedimentos contextualistas, pois
a doença passou a ser definida como um processo de risco desencadeado pelos impactos
das poluições, pela falta de alimentos, e são considerados mais extensos nos países em
Veyret (2007:23) e Peres (2002) concluem que risco é uma construção social. Pois,
“a percepção que os autores têm de algo que representa um perigo para eles próprios,
para os outros e seus bens, contribui para construir o risco que não depende unicamente
de fatos ou processos objetivos”. Ressalta Peres (2002:135), que é “muito mais difícil
obter uma definição do que é risco por parte de uma população ‘leiga’ (cujos saberes
diferem, em sua origem e construção, daqueles dos avaliadores técnicos que trabalham o
conceito de risco)”. De acordo com Wiedermann (1993), para o homem comum, o risco
geralmente é percebido como sinônimo de perigo e sua percepção varia de acordo com
com origem no final dos 70 e início dos 80 como uma nova área de investigação dentro
do campo da análise de risco, baseada nas noções, sensações e interpretações dos
risco, nas quais, os indivíduos e seu patrimônio familiar, sócio-cultural são abstraídos
definido por Poltroniéri como risco socioambiental. Poltroniéri (1999:241) define risco
socioambiental como: “...tudo o que ocorre no meio ambiente e causa prejuízos à vida
humana, sejam prejuízos sociais, materiais, deslocamentos de população ou, até mesmo,
meio ambiente e, desta interação, resultam recursos e restrições ou riscos para os seres
humanos”. Acrescenta-se a essa definição fatores que causam prejuízos à saúde humana
forma, a sustentabilidade das gerações futuras, como por exemplo, o desgaste do solo e
sua infertilidade.
Diante desse quadro, este trabalho tem como objetivo principal realizar um estudo
cultura canavieira, com destaque aos impactos produzidos pela prática das queimadas,
socioambientais
problema social que será gerado com o fim de postos de trabalho dos cortadores de
cana.
preparação de áreas para o plantio da cana de açúcar sendo o fogo ateado para a
prática das queimadas passou a ser rotineira. Depois da queima inicial da vegetação
aproximadamente 30% da área que utilizavam para o plantio da cana. Com o advento do
intensidade o domínio das terras destinadas ao plantio da cana passou para as usinas,
principal pólo produtor de São Paulo e pioneiro no setor, varia de 36, 3%, na área de
estudo mostra que o Estado, de maneira geral, “está bem aquém do que se prevê para
2010”. Nenhuma das 33 regiões produtoras, hoje, estaria dentro da meta para 2010.
Meio Ambiente mostraram que 46% da área colhida na região era de cana crua. As
2014, não deve mais haver queimas em áreas mecanizáveis. Em 2007, só 40,7% da cana
(52,3%) e Franca (58,4%), mas há áreas com índices inferiores, como Araraquara
(36,3%), Barretos (38,1%) e Jaboticabal (41%). Isto se explica em parte pelo fato de que
da colheita, além de ser a maior geradora do valor da produção e deter a maior área
agrícola do Estado.
uma alteração irreversível no ciclo das chuvas. No solo, o fogo altera as suas
herbicida, para o controle de pragas e de plantas invasoras, sendo que esta prática,
solo, responsável por sua fertilidade. (Adital, 2007). Verifica-se também o aumento do
aquecimento na superfície, pela maior absorção da radiação solar, fato causado não só
pela perda da cobertura vegetal, mas também pela cor que fica na terra.
que até a década de 1970 tinha 22% de cobertura florestal ativa, sendo que com o
estimulo do Proalcool essa área foi reduzida para menos de 3% nos dias atuais. (Adital,
2007).
reproduzirem.
da produção de cana sobre os trabalhadores que são pagos por produtividade. Muito
deles têm morrido de exaustão. Freitas (2005) observou num período de dois anos (1999
Previdência Oficial. A distribuição geográfica estadual paulista indicou que as áreas que
oeste paulista. Além de alterar o perfil de produção agrícola do Oeste do Estado esta
uma intensificação do ritmo de trabalho, tal como acontece em outras áreas do estado de
São Paulo.
A fuligem da cana penetra pela pele do trabalhador e pela respiração circulando
inalada pelos trabalhadores pode estar associada aos casos de mortes por problemas
cardíacos.
doentes, pois respiram as partículas finas e ultrafinas provenientes das queimadas, que
dessas moléstias, e a população normalmente tem que arcar com o custo dos
Piracicaba, SP, afirma que o risco relativo de internações por doenças respiratórias em
poluentes. Os resultados de sua pesquisa apontam que o efeito foi 3.5 vezes maior no
degradação ambiental causados pela monocultura da cana de açúcar, via setor sucro-
maneira como a realidade seria pesquisada (Borges, 2002). Optou-se pelo estudo de
caso, enfatizando o modo de ocupação sócio-econômica dos lotes que produzem cana.
percebidos.
RESULTADOS
Observa-se, também, que entre os produtores 32,4 % acham que a entrada da cultura da
cana foi “ótima”, para sua atual situação socioeconômica, 13,4% acham que foi “boa” .
entendimento, pois, se trata de uma produção que foge da subsistência, com pequenos
excedentes, e passa para uma produção de lucro. Pois, a cana-de-açúcar dá mais lucro
que qualquer outra cultura, na região. E ainda, as usinas fazem todo o trabalho de
informações que a produção de cana nos moldes convencionais (com uso intensivo de
Os dados também apontam para o destacado percentual dos que afirmam não
Contra o atingindo aqueles animais que não conseguem fugir do círculo de fogo. Para a
ocupação de terras. A explicação é que a produção orgânica cria um cenário atípico nos
canaviaias com a colheita natural do produto, sem a queima, e como manejo sustentável
preocupante percentual daqueles que acham que não traz males à saúde (37.4%).
O solo um dos recursos naturais mais afetados por ações antrópicas, em geral,
seus efeitos podem ser muito nocivos, uma vez que o solo é um compartimento
(Brasil, 1983).
ainda vermes, protozoários, minhocas, térmitas, entre outros. A grande maioria destes
Contudo, observa-se, também, o significante percentual dos que a vêem como uma
causa de dano à saúde, repetindo-se a mesma situação da questão referente aos impactos
no solo.
Por outro lado, 97.5% afirmam que é vantajoso plantar cana. E, sabe-se que,
Alegre, o próprio ITESP já afirmava que era “o primeiro assentamento do Estado com
produção agrícola voltada para o lucro”. Sabe-se também que os assentados do Monte
“nome sujo na praça”. “Com a cana tudo mudou: limpei meu nome, paguei minhas
entrevistados que plantam cana reconhecem que a queimada polui o ar. O interessante é
CONCLUSÕES
Assim, confirma-se aqui que risco é uma construção social, uma vez que, mesmo
diante de fatos/impactos, muitos deles visíveis e passíveis de serem sentidos, como a
fumaça das queimadas e a dificuldade de respiração, os entrevistados não os percebem
como riscos. Pois, não os reconhecem como danoso ou como alo relevante. Aposta-se
aqui na falta de conhecimento/informação sobre as agressões à saúde e ao ambiente que
esses impactos podem causar – mesmo muitos deles estarem ligados à experiência diária
e de vida, visto que, mais da metade dos entrevistados afirmarem não saber se a
produção convencional causa danos à saúde humana.
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