Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.
O CICLO DO CAPITAL-DINHEIRO
No primeiro capítulo de seu segundo livro, Marx retoma o ciclo do capital, abordado
no livro I, que se realiza em três estágios: primeiro, o dinheiro converte-se em mercadoria (D-
M); em segundo lugar, há o consumo produtivo das mercadorias, resultando em uma
mercadoria cujo valor supera o dos elementos que concorreram para sua produção; e, por
último, a conversão da mercadoria (acrescida de mais valor) em dinheiro.
Para que seja feita a análise das diferentes formas sob as quais o capital se apresenta,
é necessário supor que as mercadorias são vendidas pelo seu valor e que as vendas sempre
ocorrem. Com isso, inicia-se a análise do primeiro estágio, em que o capitalista se torna
comprador no mercado de trabalho e no mercado de meios de produção. A força de trabalho
adquirida é remunerada sob a forma de salário, que consiste no preço da soma de trabalho
que contém trabalho excedente.
Uma vez que este primeiro movimento (D − M <FMp ) é realizado, o valor encontra-se
na forma de capital produtivo (P), capaz de produzir valor e, além disso, mais-valor. O autor
ressalta que P = F+Mp = D, que se converteu em F e Mp. Logo, P e D possuem o mesmo valor,
apenas modos de existência diversos: valor-capital em dinheiro ou capital-dinheiro (D). Com
isso, é possível afirmar que o primeiro estágio do processo cíclico do capital consiste na
conversão de capital-dinheiro em capital produtivo. Nesse ciclo, o dinheiro aparece como o
primeiro representante do valor-capital, logo, o capital-dinheiro é a forma em que o capital é
adiantado. O capital-dinheiro desempenha funções de meio de compra e meio pagamentos
porque é dinheiro, não por ser capital. O valor-capital na condição de dinheiro, por outro lado,
apenas pode desempenhar as funções de dinheiro, e o que faz delas funções de capital é o
papel que possuem no ciclo do capital.
Ainda no capitulo 1, Marx atenta para o fato de que nem todo dinheiro é capital, assim
como nem todo processo de compra e venda consiste em capital-monetario e, portanto, nem
toda relação faz parte do processo de circulação e acumulação do capital. Segundo Marx, é
porque a relação de capital existe na circulação que ela se manifesta no processo de produção,
e não porque o dinheiro a estabelece. Assim, Marx destaca os dois erros ao observar o capital-
dinheiro:
Prosseguindo na análise dos estágios do ciclo do capital, Marx apresenta que o resultado do
primeiro estágio é a entrada no segundo, que representa o capital produtivo. Esse movimento
dá-se a partir da interrupção da circulação do capital adiantado, quando o valor-capital, ao
assumir a forma de capital produtivo, não pode mais circular, apenas ser consumido durante o
processo de trabalho. Dessa forma, interrompe-se o processo de circulação, mas mantém-se o
ciclo, passando para o processo de produção.
É importante, nesse estágio do ciclo do capital, entender que as formas de produção diferem-
se a partir da combinação de dois fatores: meios de produção e força de trabalho. A produção
sempre tem como fatores esses dois elementos, observados, nesse livro, a partir da
dissociação entre eles. Novamente, atenta-se para o fato de que a força de trabalho e os meios
de produção não são, por si só, capital. Ambos fatores apenas adquirem esta característica sob
determinadas condições, assim como no caso do capital-dinheiro.
É importante destacar a importância do mais valor nesse contexto, uma vez que as
mercadorias apenas são capital-mercadoria por serem submetidas ao processo de valorização
representado pelo produto excedente gerado pela exploração da força de trabalho. O
processo observado até aqui denomina-se processo cíclico do capital-dinheiro justamente pela
sua característica de, ao seu fim, o valor-capital se manifestar da mesma maneira em que
entrou no processo, alterando apenas a magnitude do valor adiantado.
No fim do capítulo, é dada uma visão geral do ciclo como um todo, em que apósD −
M <FMp , o processo de produção é interrompido e consomem-se os fatores de produção
(força de trabalho e meios de produção), resultando em uma nova mercadoria, acrescida de
mais-valor resultante da propriedade do capital produtivo de gerar mais valor através do
trabalho. Por fim, a mercadoria resultante desse processo converte-se em dinheiro, que
resulta na reprodução do ciclo do capital. O capital presente em todo o processo é o capital-
industrial, que assume três formas durante o ciclo: de capital-dinheiro e capital-mercadoria no
processo de circulação e de capital produtivo no processo de produção, que representam,
segundo Marx, "formas específicas de funcionamento do capital industrial, que as assume
sucessivamente" (PAG 63).
O capital industrial não apenas é o capital presente em todo o processo, mas o que
determina o caráter capitalista da produção, como único modo de existência do capitalque
tem por função não apenas apropriar-se do mais valor, mas também criá-lo. Essa função do
ciclo do capital industrial é observada no ciclo do capital-dinheiro, cujo objetivo é, segundo
Marx, "expandir valor, fazer dinheiro e acumular" (PAG 69). Por isso, conclui-se que o ciclo do
capital-dinheiro é a forma geral do ciclo do capital industrial, tendo como pressuposto o modo
de produção capitalista.