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Vida
Primeiros anos
Fiódor Dostoiévski, filho de Mikhail Dostoiévski e Maria Dostoevskaia,[15] nasceu em
Moscou no dia 30 de outubro de 1821.[1][2][3] Ao contrário de outros grandes escritores
russos da época - como Gogol, Turgueniev e Tolstoi -, seus pais não eram abastados
financeiramente:[16] seu pai era médico militar e sua mãe dona de casa - a profissão de
médico era pouca valorizada financeiramente na época -.[17] Mesmo com dificuldades
financeiras, a família possuía seis serviçais, os quais, segundo o irmão de Dostoiévski,
Andrei, serviam para manter o status social perdido da família, tendo em vista que o
pai de Dostoiévski possuía um passado relativamente nobre, passado que abandonou Pai e mãe de Dostoiévski
por vontade própria.[17]
Além da educação religiosa no cristianismo ortodoxo,[18] Dostoiévski e seus irmãos estudavam literatura e outros estudos de
[19]
humanidades desde muito cedo, sempre por influência dos pais.
Os pais de Dostoiévski morreram quando o escritor ainda era muito jovem: a mãe morreu no ano de 1836[20] e há suspeitas de que o
pai foi assassinado no início de junho de 1839 pelos próprios servos de sua propriedade rural em Daravói. A tese de assassinato é
hoje muito questionada.[21]
A partir de agosto de 1841, Dostoiévski passou a morar fora da escola de engenharia, dividindo
apartamentos com conhecidos[24] e com o irmão Andrei.[25] Nesta época escreveu - segundo
relatos de um seu conhecido com o qual dividia o apartamento - partes de duas peças românticas,
as quais não sobreviveram ao tempo e cujos títulos eram: Mary Stuart e Boris Godunov.[26]
Termina o curso de engenharia em 1843.[25]
Fiódor Dostoiévski Em 1845 começa a escrever sua primeira obra, o romance epistolar Gente Pobre,[27] trabalho que
Por Kostyantyn Trutovsky, iria fornecer-lhe êxitos da crítica literária, uma vez que Belinski, o mais influente crítico da
1847 literatura russa,[28] acreditou e fez acreditar ser Dostoiévski a mais nova revelação do cenário
literário do país: Belinski estava extasiado com o movimento realista na Europa e considerou o
romance de Dostoiévski como a primeira tentativa do gênero na Rússia.[29] O livro foi publicado no Almanaque de Petesburgo no
ano de 1846.[30]
À Gente Pobre seguiu o romance O Duplo, publicado em 1846,[31] e os seguintes contos: Senhor Prokhartchin, publicado no volume
de outubro de 1846 da revista Notas da Pátria,[32] dois contos escritos em 1846: Romance em Nove Cartas e Polzunkov,[33] A
Senhoria, escrito entre 1846-47,[34] Coração Fraco, escrito em 1848,[35] três contos escritos entre 1847-48: O Ladrão Honesto, Uma
Árvore de Natal e uma Boda, A mulher alheia e o marido debaixo da cama[36] e Noites Brancas[37] e, ainda, o conto Netochka
Nezvanova, cuja última parte foi publicada no volume de maio da Notas da pátria no ano de 1849, sem, entretanto, conter o nome de
Dostoiévski, uma vez que ele tinha sido preso em 23 de abril.[38] Estas obras não tiveram o êxito esperado e sofreram críticas muito
negativas, inclusive de Bielínski.[39]
Nesta época,[40] desde que terminou o curso na academia militar até sua prisão, Dostoiévski entrou em contato com alguns grupos da
Intelligentsia russa, sendo os principais do qual participou o Círculo Petrashevski[41] e o Círculo Palm-Durov.[42] O primeiro era
dedicado à discussão sobre literatura e humanidades em geral, centrado nas obras da biblioteca de obras proibidas de
Petrashevski,[43] obras que, segundo os registros da sociedade, Dostoiévski consultou em várias ocasiões.[44] O segundo, o Círculo
Palm-Durov, foi formado a partir do Círculo Petrashevski e servia de fachada para radicais revolucionários, incluindo
Dostoiévski,[45] o qual foi preso muito por conta de suas atividades neste círculo,[45] em que pese as acusações terem sido
direcionadas apenas ao círculo principal de Petrashevski, uma vez que o Círculo Palm-Durov não chegou a ser descoberto pelas
autoridades.[46]
Exílio na Sibéria
Por conta do processo, Dostoiévski passou oito meses na Fortaleza de São Pedro e São Paulo, onde trabalhou escrevendo várias notas
para diferentes obras.[54] As notas não sobreviveram e a única obra concluída desta época foiO Pequeno Herói.[55] Nestes oito meses
continuaram as investigações do Círculo Petrashevski, as quais foram finalizadas apenas em 17 de setembro de 1849, quando foram
enviadas ao czar, o qual ordenou a abertura de um tribunal misto (civil e militar) para julgar, sob leis militares, 28 acusados. Destes,
15, incluindo Dostoiévski, foram condenados no dia 16 de novembro à pena de morte por fuzilamento.
Após diversos recursos, Nicolau I perdoou muitos dos sentenciados à morte. Dostoiévski foi então condenado a oito anos de
trabalhos forçados, pena reduzida para quatro anos seguida de serviço militar por tempo indeterminado.[56] Mesmo assim, em 22 de
dezembro os prisioneiros foram transferidos e levados ao lugar da suposta execução, a Praça Semenovski, onde suas sentenças de
morte foram lidas publicamente.[57] Três membros do grupo - Petrashevski, Mombelli e Grigoriev - foram amarrados aos postes em
frente ao pelotão de fuzilamento. Dostoiévski era um dos três próximos [58] e neste momento de aguardo disse a Nikolai Spetchniev,
[59]
o qual se encontrava atrás: -"Nós estaremos com Cristo", o revolucionário respondeu -"Um pouco de poeira".
Antes do comando para o fuzilamento, entretanto, chegou uma ordem do czar para que a pena fosse comutada para prisão com
trabalhos forçados. Soube-se depois, que a ordem havia sido assinada há dias, mas que o czar exigira a falsa execução - através do
Príncipe Michkin de O Idiota, Dostoiévski oferece uma descrição desta experiência de quase morte -.[60] Dostoiévski, então, recebeu
os grilhões e partiu para a Sibéria poucos dias depois.[61] É comumente aceito e afirmado pelo próprio Dostoiévski, que após a
simulação da execução ele passou a apreciar a vida de uma maneira muito diferente da anterior, iniciando um processo de
transformação existencial, literária e política, que estaria terminada quando de seu retorno a São Petersburgo, 10 anos depois.[6]
[62][63]
Sibéria
Dostoiévski foi primeiramente enviado a uma prisão localizada em
Tobolsk, onde os presos eram redistribuidos para diversos campos de
trabalho a fim de cumprirem suas penas de trabalho forçado
(chamado sistema Katorga). Fato curioso, foi que em Tobolsk,
Dostoiévski encontrou muitos dezembristas, diversos dos quais
estavam acompanhados de suas esposas, as quais se exilavam
espontaneamente para acompanhar seus maridos. Foram elas que
forneceram a Dostoiévski, e aos outros prisioneiros recém chegados,
Prisioneiros em Katorga seus exemplares do Novo Testamento, o único livro permitido na
Por Aleksander Sochaczewski prisão.[64]
Um dos fatos que tiveram mais impacto em Dostoiévski nesta época foi descobrir que na prisão, em que pese diluídas as diferenças
de classe, os servos não aceitavam as antigas (de fora da prisão) classes superiores como camaradas, como iguais.[67] Dostoiévski
conta como os camponeses zombavam dos intelectuais por sua falta de destreza física nos trabalhos[68] e quando Dostoiévski, sem
querer, acabou se juntando a um protesto contra a má qualidade da comida da prisão, os prisioneiros não o aceitaram e o expulsaram,
, não pertencendo, assim, à manifestação.[69]
uma vez que Dostoiévski podia comprar reforço alimentar
Foi na prisão da Sibéria que Dostoiévski sofreu seu primeiro ataque de epilepsia, doença que o acompanharia pelo resto da vida e que
também atinge vários de seus personagens, como o Príncipe Míchkin de O Idiota, Kiríllov de Os Demônios e Smerdiákov de Os
Irmãos Karamazov. As cartas que Dostoiévski enviou ao irmão deixam claro que os ataques epilépticos iniciaram na Sibéria, em que
[70]
pese ele já ter apresentado problemas nervosos antes disso.
[71]
Em fevereiro de 1854, Dostoiévski deixou a prisão na Sibéria para cumprir pena de serviço militar por tempo indeterminado.
Na noite de núpcias, Dostoiévski sofreu uma violenta crise de epilepsia, quando recebeu pela
primeira o diagnóstico médico de tal doença.[79] Aproximadamente um ano depois, em meandros Maria Dostoevskaya
de janeiro de 1858, Dostoiévski entrou oficialmente com pedido de aposentadoria do exército, a (1824-1864)
fim de receber tratamento médico.
Já no início de 1859, Dostoiévski conseguiu ser dispensado do exército para tratar da saúde, sob a condição de não residir nem em
São Petersburgo, nem em Moscou. Escolheu mudar-se para Tver, meio caminho entre as duas cidades proibidas. No início de julho
[80]
de 1859 inicia sua viagem para sua nova residência.
A conversão de Dostoiévski
Por conversão de Dostoiévskientende-se a mudança radical de convicções existenciais, religiosas,
morais e políticas pelas quais passou Dostoiévski no período entre sua detenção e seu retorno a
São Petersburgo, conversão afirmada pelo próprio autor.[81]
Colocando de forma mais completa o significado da citada conversão, pode-se dizer que
Dostoiévski começou com uma crença socialista ingênua de que poderia liderar os servos como um igual - crença que sustinha antes
da condenação -, passou por uma posição de extrema repulsa em relação aos servos da prisão - causada pelo fato dos servos não o
aceitarem como igual - e chegou, finalmente, a ter fé na moral dos servos (cristianismo ortodoxo), do povo russo, não mais, porém,
como movimento político, mas como seres humanos capazes de infinito amor[83] e, como qualquer ser humano, do infinito mal.[84]
[85]
Trata-se de amor cristão, o que mostra que a conversão também foi religiosa.
A situação política que encontrou em São Petersburgo não foi conflituosa: uma vez que
os impulsos revolucionários dos literatos e de Dostoiévski tinham como principal
finalidade a libertação dos servos da Rússia e na medida em que Alexandre II, czar que
assumiu o trono em 1855,[91] estava determinado a libertá-los, tanto aInteligência Russa
como Dostoiévski estavam favoráveis ao czar.[92] No caso de Dostoiévski, também
sabemos que sua conversão, a qual o impulssionou contrariamente ao socialismo,
tornavam o czar e sua política ainda mais simpáticos (v. seção A conversão de
Dostoiévski deste artigo). A abolição da servidão veio de direito em 16 de fevereiro de
Alexandre II, czar da Rússia
1861,[93] entretanto a trégua não durou muito, uma vez que a forma da libertação não
parecia favorecer muito os servos.[94]
Na época do retorno de Dostoiévski a São Petersburgo, isto é, no início dos ano 1860, os escritores mais aclamados eram
Tchernitchevski e Dobroliubov.[95] Ambos, assim como a maioria dos pensadores da época, acreditavam em uma ética utilitarista e
tinham uma visão inocente da ciência e do racionalismo, assim como da possibilidade deles de desvendarem e responderem, por si
mesmos, todas as questões humanas.[92]
Em 8 de julho de 1860, Mikhail, irmão de Dostoiévski, foi autorizado a publicar a revista literária Tempo (Vremia), da qual seria
editor juntamente com Dostoiévski, esta revista foi muito bem sucedida.[102] A posição política defendida pelos editores de Tempo
era a fusão mediadora de ocidentalismo e eslavofilia,[103] podendo por isso ser entendida como a principal referência de um novo
movimento no cenário literário russo, oPochvennichestvo, cujos os principais membros, além do próprio Dostoiévski, era Strakhov e
Grigoriev.[104] O movimento potchvennitchestvo acreditava que a questão mais emergencial a ser tratada pelos escritores era a
síntese cultural pacífica entre os "bem educados" e a massa russa, entre ocidentalismo e eslavofilia, e não uma revolução violenta
guiada por intelectuais educados na cultura europeia, a qual teria como finalidade impor ao povo russo um ideal de vida
iluminista.[105] Na revista Tempo, além de suas próprias ficções, Dostoiévski também publicava traduções, resenhas, comentários e
alguns estudos,[106] incluindo, p.ex., um estudo sobreEdgar Allan Poe.[107]
Desde a autorização para a publicação de Tempo, enquanto Mikhail terminava os preparos burocráticos para publicação da revista,
Dostoiévski escrevia seu primeiro romance pós-Sibéria, o romance em folhetim Humilhados e Ofendidos, o qual também foi
agraciado com grande sucesso.[6] O romance começou a ser publicado desde o primeiro volume de Tempo, em janeiro de 1861,
continuando por vários dos seus números.[102] Esse romance, segundo Joseph Frank, teria inaugurado um estilo melodramático que
Dostoiévski usaria mais tarde em suas grandes obras.[108] Segundo Frank, portanto, nesta época Dostoiévski funda o estilo[108] e o
tema[101] de suas grandes obras: a dramatização da contraposição entre liberdade e racionalidade. Neste período, Dostoiévski
, ex membro do círculoPalm-Durov.[109]
também começou a frequentar o círculo literário que se encontrava na casa de Miliukov
[110] Nesta
Em 7 de junho de 1862 partiu Dostoiévski para sua primeira viagem pela Europa (Alemanha, Bélgica, França e Inglaterra).
viagem, ele jogou roleta pela primeira vez, adquirindo um vício que o acompanharia por quase toda a vida, apesar de praticado
apenas durante viagens.[111] Também foi nesta viagem que Dostoiévski visitou o Palácio de Cristal, símbolo dos avanços
[112] Já no final de 1862, após seu retorno da
tecnológicos europeus, o qual será usado pelo autor em alguns de seus textos posteriores.
Europa, Dostoiévski publicou Uma História Desagradável e depois, como a última importante obra publicada na revista Tempo,
erão,[113] obra que retratava e comentava sua viagem à Europa do ano anterior
publicou Notas de Inverno sobre Impressões de V .[114]
Em maio de 1863 a autorização de funcionamento da revista foi cancelada pelo governo sob falsa acusação de apoio à revolta
polonesa.[115] Então, em abril de 1864, Dostoiévski e seu irmão Mikhail iniciaram a edição de uma segunda revista literária, a Época
(Epokha), seguindo a mesma orientação política e editorial que sua antecessora, a Tempo.[116] Na Época, Dostoiévski publicaria suas
Notas do Subterrâneo, dando início às suas grandes obras.[117]
Planejado inicialmente para ser um simples conto, Crime e Castigo se tornou um romance de peso, uma das obras mais importantes
do autor.[126] Seus primeiros dois capítulos foram publicados, respectivamente, nos números de janeiro e fevereiro de 1865 da revista
O Mensageiro Russo, adquirindo grande fama e muita crítica.[126] Um curioso fato, que teria aumentado em muito o interesse geral
pela obra, foi o assassinato de um agiota e seu criado visando o roubo do seu apartamento cometido por um estudante chamado A.M.
Danilov em 12 de janeiro de 1866. Este episódio era muito semelhante ao enredo do romance de Dostoiévski[127] e o sucesso dos
dois primeiros capítulos trouxe à revista O Mensageiro Russo nada menos que 500 novos assinantes.[128] Esse fato, entretanto, não
aliviou a tensão entre o escritor e seus editores, os quais continuaram demandando diversas correções dos textos apresentados por
Dostoiévski, além de apressarem constantemente a finalização do romance, recomendando a Dostoiévski, inclusive, a contratação de
uma estenógrafa para ajudá-lo com um romance que deveria ser entregue antes mesmo de Crime e Castigo, e o qual Dostoiévski nem
mesmo havia começado, o romance O Jogador . O manuscrito de O Jogador foi entregue ao editor no dia 29 de outubro de 1866,
dentro do prazo combinado, portanto.[129][130]
A contratada como estenógrafa foi Anna Grigorievna Snitkina (futura Anna Dostoievskaia)[131] com quem Dostoiévski se casou pela
segunda vez,[132] quando Anna tinha vinte anos.[133] Não devemos confundir a esposa de Dostoiévski com a também conhecida sua
Anna Korvin-Krukovskaia: esta escreveu dois textos para a revista Época sob o pseudônimo de Iury Orbelov, denominados Um
sonho e Mikhail[134] e, apesar de ter sido pedida em casamento por Dostoiévski, recusou o pedido.
[134]
Após o casamento, para fugir da pressão dos credores entre outros problemas, o casal resolveu viajar pela Europa e partiram em abril
de 1867. A viagem estava programada para durar alguns meses, mas acabou durando quatro anos.[135] Eles residiram em
Dresden,[136] Genebra,[137] Vevey,[138], Milão,[139] Florença[139] e novamente em Dresden.[140] Durante a viagem, Dostoiévski
jogou muito na roleta e acabou perdendo algumas vezes o seu próprio dinheiro, assim como o de sua mulher, a qual tinha pago os
custos iniciais da viagem, uma vez que Dostoiévski estava muito endividado na época.[134] Em Geneva, no dia 5 de março de 1868,
nasceu a primeira filha do casal, Sônia[141][142][143] ou Sofia.[144][nota 4] Sônia morreu pouco tempo depois, em 12 de maio de 1868,
[138]
por causa de um gripe e foi enterrada no dia 24 de maio.
Em 26 de setembro de 1870, enquanto escrevia Os Demônios, nasceu a segunda filha do casal, Liubov, [157] e em 8 de junho de
1871,[158] com o livro ainda pela metade, Dostoiévski retornou à Rússia.[159] Na viagem de retorno apostou pela última vez na
roleta.[160] Já em São Petersburgo, onde residiu após o retorno, nasceu, no dia 16 de julho de 1871, o terceiro filho do casal,
Fiódor.[161] Procurando tranquilidade para criar os filhos, a família se mudou para Staraia na primavera de 1872.[161] Os últimos
capítulos de Os Demônios foram publicados no volume de novembro e dezembro de 1872 da revista O Mensageiro Russo, tendo sido
publicado em forma de livro no ano seguinte,[162] editorado pelo próprio Dostoiévski e sua esposa.[163]
Outra atividade editorial de Dostoiévski foi seu envolvimento com a revista russa O cidadão, da qual se tornou editor em 1 de janeiro
de 1873.[164] Nesta revista escreveu sua famosa coluna Diário de um escritor,[165] a qual se tornaria uma publicação separada.
Durante as atividades de editoração, no início de 1874, Dostoiévski começou a adoecer, início do que seria sua efisema
pulmonar,[166] deixando a edição da revista em abril[166] e partindo em junho para Bad Ems na Alemanha, visando tratamento
médico.[167] Em Diário de um escritor, encontrava o público uma síntese das posições políticas do seu tempo encarnadas em
personagens vividamente criados por Dostoiévski.[168] Nestes textos, entretanto, é possível encontrar apenas uma obra ficcional
completa, o conto Bobok.[169]
Dostoiévski retornou a Staraia já melhor de saúde no dia 1 agosto de 1873, iniciando imediatamente seus trabalhos em O
Adolescente,[170] obra que publicou na popular revista Notas da Pátria,[171] tendo a última parte do romance sido publicada no
inverno de 1875.[172] A obra não foi bem recebida nem pela crítica da época nem pela atual.[173] Nesta mesma época, mais
precisamente em 10 de agosto de 1875, nasceu o quarto filho do casal, Aleixo (em alusão Santo
a Aleixo, "o homem de Deus").[172]
A fim de gerenciar a retomada do Diário de um Escritor (de 1876 a 1877),[174] agora de forma autônoma,[175] Dostoiévski e sua
família voltaram para São Petersburgo em meados de setembro de 1875.[176] Sua nova publicação chegou a ser o periódico mais
influente até então visto na Rússia[177] e com o qual Dostoiévski alcançou uma fama nunca antes experimentada.[178] Também é
digno de nota os contos publicados neste periódico: em fevereiro de 1976 publicou O Mujique Marei,[179] em novembro de 1876
publicou Uma Criatura Gentil[180] e em abril de 1877 publicouO Sonho de um Homem Ridículo.[181] O último número de Diário de
um Escritor desta época foi publicado em dezembro de 1877.[182]
Fatos marcantes desta época foram: o atentado, em abril de 1879, contra o czar por Alexander Soloviev e[193] a participação de
Dostoiévski, entre 5 e 9 de junho de 1880,[194] na inauguração do monumento a Alexandre Pushkin em Moscou, onde proferiu um
discurso memorável sobre o destino daRússia no mundo.[191]
Após três dias de cama, porém sem dor, morreu em 28 de janeiro de 1881[4] de uma hemorragia pulmonar associada com
enfisema.[195] Uma procissão fúnebre foi organizada com representantes de diversos grupos sociais, uma grande multidão
(aproximadamente 30 000) seguiu o corpo,[196] o qual foi velado na Igreja do Espírito Santo.[197]
Obra
Influências e controvérsias
Jesus Cristo — Provavelmente a maior influência nos trabalhos de Dostoiévski foi a pessoa, o símbolo, de Cristo
tal como contado pelaBíblia e através da interpretaçãoortodoxa. Dostoiévski nunca deixou de ser cristão e teve
intenso contato com o texto bíblico na prisão, onde apenas este texto era permitido. [66] Comentando um de seus
textos, afrmou que o que ele queria dizer era a "impossibilidade de se viver sem Cristo". [199] Além do mais, muitas
de suas obras contêm reflexões sobre o cristianismo e inclusive apologia, como é o caso de O Idiota, o tipo cristão
perfeito,[200] o mito do Grande Inquisidor em Os Irmãos Karamazov, entre outros.
Victor Hugo — Dostoiévski conhecia muito bem as obras de V itor Hugo e sua obra O Último Dia de um Condenado
à Morte teria influenciado o autor russo no seu realismo fantástico. Segundo Dostoiévski, em referencia a obra
citada, apesar de um condenado a morte não poder escrever um diário, foi exatamente este elemento fantástico
que tornou possível a descrição realista por V itor Hugo da mente de um condenado.[201]
Friedrich Schiller — Dostoiévski entrou em contato com Schiler , ainda quando jóvem quando seu pai lhe
apresentou Os Bandoleiros, e em 1840 ajudou seu irmão, Michail, a traduzir parte da mesma obra para o russo.
Esta obra teria, futuramente, grande influência emOs Irmãos Karamazov.[202]
Tolstói — Dostoiévski considerava Tolstói um grande escritor, ao ponto de desejar escrever um imenso romanceA(
vida de um grande pecador) para fazer frente a sua obra prima,Guerra e Paz.[153] Dostoiévski também debate e
critica, em Diário de um Escritor, as posições políticas de Tolstoí, assim como sua obra Anna Karenina.[203]
Dostoiévski se comparava muitas vezes com o Tlstói também no que se refere as condições financeiras: enquanto
Tolstói teria possibilidade financeira de escrever calmamente e publicar no tempo correto, Dostoiévski, ao contrário,
precisava escrever por dinheiro, deixando assim as obras menos bem acabadas. [204]
Pushkin — Um vez que Puskin tinha sido muito lido na Rússia e, por isso mesmo, muito criticado pelos
revolucionários da época de Dostoiévski, este último defendeu o poeta contra o que ele considerava a denegrição
da arte pelo utilitarismo.[205] A defesa ocorreu publicamente quando da leitura pública por Dostoiévski em Moscou
durantes os Festivais Pushkin, os quais ocorreram entre 5 e 9 de junho de 1880. [194]
Turgueniev — A controvérsia entre Dostoiévski e Turgenev não iniciou, mas ficou clara e acentuada, durante os
festivais dedicados a Pushkin, na medida em que ambos falaram publicamente e defenderam posições diferentes
em relação ao lugar do poeta na literatura russa, refletindo a contraposição mais ampla entre ocidentalismo e
eslavofilia[206]: enquanto Turgenev colocava Pushkin comoum introdutor da cultura europeia na Russia, mas que
não chegava, mesmo assim, a se comparar aos europeus. [207] Dostoiévski idolatrava Pushkin como a maior
manifestação do espírito russo, totalmente original em relação a europa. [208]
Gradovski — Gradovski, apesar de aceitar a tese dostoievskiana de que ainteligentsia russa não se aproximava
do povo para aprender com ele, mas para ensiná-lo sobre a cultura europeia, alerta que sem este aprendizado
europeu o cristianismo sozinho nunca teria libertado osservos russos (política libertária, com a qual Dostoiévski
concordava e tinha sido preso por defendê-la). Em contrapartida, Dostoiévski alegou que teriam sido muito mais os
eslavófilos que os ocidentalistas, aqueles que contribuíram com a libertação dos servos e que, caso o cristianismo
tivesse sido levado à perfeição, teria sim libertado os servos. [209]
Nikolai Gogol — Gógol é citado diversas vezes emO Idiota, sendo um de seus personagens, o Podkolióssin,
modelo para o personagem-tipo de Dostoiévski de mesmo nome. [210]
Temas
Joseph Frank considera que o tema mais característico e marcante das obras de Dostoiévski é a descrição das consequencias
psicológicas da assunção de determinadas ideias (ideologias), como é o caso, entre vários outros, do homem doente, o Homem do
Subsolo (Notas do Subterrâneo) ao assumir a ideologiadeterminista.[211]
Neste sentido ainda, no período pós-siberiano, o tema recorrente de Dostoiévski foi aquele por ele mesmo chamado de "conflito entre
ideias e coração"[212] ou entre razão e fé cristã.[213] Este tema foi nomeado por Joseph Frank de "crítica da ideologia" e explicado
como a contraposição entre as ideias europeias da época, principalmente o socialismo, e a moral cristã ortodoxa viseral do povo
russo, servos principalmente.[214] Trata-se, portanto, de tematizar sua própria conversão (v. A conversão de Dostoiévskineste mesmo
artigo). Este tema também pode ser descrito como a defesa da liberdade enquanto o bem humano supremo,[215] i.e., a contraposição
entre as leis de Cristo e as leis do ego.[216] Outro modo de denominar o mesmo tema, um modo mais sintético, é afirmar que no
período pós-sibéria, mais especificamente a partir de Notas do Subterrâneo, o tema central de Dostoiévski é a superação do
niilismo.[217]
Dostoiévski tinha por tema, diferentemente dos outros escritores que descreviam o círculo da família moldados na tradição e nas
"belas formas", o caos familiar, a humilhação, o sadismo, o masoquismo, a ganância, a doença etc.[6] Essencialmente um escritor de
mitos (e às vezes comparado por isso a Herman Melville), criou um trabalho com uma enorme vitalidade e de um poder quase
hipnótico, caracterizado por cenas febris e dramáticas, onde os personagens apresentam comportamento escandaloso, e atmosferas
explosivas, envolvidas em diálogos socráticos apaixonados, a busca deDeus, do mal e do sofrimento dos inocentes.[6]
Reinhold Niebuhr atribui a Dostoiévski um "universalimo ético" pelo qual o escritor defenderia e pregaria o destino da Rússia como
[218]
o lugar de onde partiria o reino do bem e da justiça na terra.
Estilo e estética
Ao contrário do estilo utilizado na prosa da época, Dostoiévski não se fixava muito em uma descrição fotográfica dos personagens e
do âmbiente em que estavam, concentrando-se mais no enredo. Este fato teria contribuído, segundo Joseph Frank, para a má recepção
por parte da crítica da época de muitos textos de Dostoiévski.[219] Este estilo - grande atenção para os elementos do enredo em prol
da descrição fotográfica - utilizou Dostoiévski em todos os seus grandes romances, fato que trouxe uma certa homogeneidade
estilística a estas obras. Os elementos comuns foram enumeradas por Joseph Frank da seguinte maneira: a) um enredo de ação
extremamente rápido e condensado - muitos elementos ocorrendo em um breve espaço de tempo -; b) viradas inesperdas e abruptas;
c) personagens que são caracterizados mais pelos seus diálogos que pelas suas descrições fotográficas; e d) clímax ocorrendo entre
diversas cenas tumultuosas.[220]
Estudiosos como Mikhail Bakhtin têm caracterizado o trabalho de Dostoiévski como diferente de outros romancistas, ele parece não
aspirar por uma visão única e vai além da descrição sob diferentes ângulos, caracterizando-o como romance polifônico. Dostoiévski
engenhou romances cheios de força dramática em que os personagens e os opostos pontos de vista são realizados livremente, em
violenta dinâmica.[221]
Em relação ao narrador, segundo Joseph Frank, a partir de Crime e Castigo Dostoiévski acentua uma tradição provinda de Jane
Austen de aproximar o ponto de vista do narrador ao ponto de vista do personagem principal, inclusive com técnicas de mudanças de
tempo, retratação de memórias do personagem, entre outras.[222] Este estilo seria continuado por Henry James, Joseph Conrad,
Virginia Woolf e James Joyce, estes dois últimos inaugurando a técnica dofluxo de consciência.[222]
O próprio Dostoiévski chama seu estilo de realismo fantástico (não confundir com o movimento literário sul americano), indicando
que suas obras dramatizam aspectos da realidade, a fim de, no presente, retratar o passado e as possibilidades futuras. É o caso do
Homem do Subsolo: fantástico porque improvável do exato modo como descrito, real porque possível, e, sobretudo real-fantástico
porque consequência do processo histórico de ocidentalização da Rússia e projeção no futuro na medida em que profetiza um tipo
Rebocadores do Volga. [223]
existencial. Estas explicações de Dostoiévski são fornecidas, sobretudo, quando de sua análise da pintura
Personagens-tipo
É do próprio Dostoiévski a afirmação do uso de personagens-tipo como estratégia literária: no início da quarta parte de O Idiota, em
uma meta narrativa pelo autor mesmo designada de "crítica jornalística",[225] ele cita o tipo Podkolióssin como um dos mais difíceis
de serem retratados na literatura.[226] Os personagens-tipo encontrados nas obras de Dostoiévski são:
O tipo Dom Quixote é para Dostoiévski o mais perfeito exemplo moral de cristão.[229] Uma tal comparação entre Dom Quixote e
Cristo não ocorre pela primeira vez com Dostoiévski: também Kierkegaard, Turgueniev, o próprio Cervantes com Dom Quixote,
Charles Dickens com Pickwick, e Voltaire com Pangloss estabeleceram tais paralelos.[230][229][231] Diferentemente do que ocorre
com Dom Quixote, Sr. Pickwick e Pangloss, entretanto, Dostoiévski não utiliza a comédia para conseguir a identificação do leitor
com seu personagem, ele utiliza a idiotia ou inocência: oPríncipe Michkin é um inocente idiota.[231]
Tipo Cleópatra.
São cínicos e libertinos. Neste tipo enquadram-se Cleópatra (Notas do Subterrâneo), Svidrigáilov (Crime e Castigo), Fiódor
Karamazov (Irmãos Karamazov), Stavroguin (Os Demônios), Príncipe Valkorski(Humilhados e Ofendidos).[232][233] O tipo
Cleópatra ilustra o sadismo amoroso e erótico.[234]
Tipo Niilista
Neste tipo são retratados principalmente jovens com ideias europeias revolucionárias, possuindo como princípio máximo de ação o
interesse próprio - princípio sistematizado sob o título de Utilitarismo -.[237] Exemplos são: a) em O Idiota temos Antíp Burdóvskii,
Vladmímir Doktorénko, Keller e Ippolít Tieriéntiev.[210]
Tipo Podkolióssin
Neste tipo enquadram-se as pessoas absolutamente comuns. Dostoiévski reconhece como antecessores deste tipo tanto Podkolióssin
de Gogol como Georges Dandin de Molière. Em O Idiota são exemplos deste tipos os personagens: Varvára Ardaliónovna Ptítsina,
Sr. Ptítsin e Gavrìl Ardaliónovitch.[210]
Posição política
Niilismo
No final de 1962 a posição de Dostoiévski, e de sua revista Tempo, por conta dos constantes ataques aos radicais niilistas, já fora
entendida por um colaborador, Pomialovski, como reacionária. A esta "acusação" que teria respond
ido Dostoiévski, segundo tradução
de Joseph Frank: -"O nosso jornal é reacionário? Não, nem mesmo aos olhos de nossos inimigos." Frank afirma, entretanto, que a
posição de Dostoiévski não pode ser entendida como reacionária, na medida em que continuava confrontando o governo.[238] Na
mesma época, 1962-1963 a revista literária O Contemporâneo afirmava que Tempo padecia por não escolher posição.[239] No
entanto,mesmo nesta época a opinião geral não podia deixar de reconhecer que Dostoiévski era progressista, principalmente quando
se olhava obras comoRecordações da Casa dos Mortos.[240]
Segundo Joseph Frank, pode-se dizer que a matriz teórica dos niilistas russos era uma mistura de: utilitarismo inglês, socialismo
utópico frances, ateísmo feuerbachniano, materialismo mecânicista e determinismo.[93] A esse movimento se contrapôs Dostoiévski
desde seu retorno da Sibéria até seu último romance, Os Irmãos Karamazov: a estratégia artística usada por Dostoiévski em Notas do
Subterrâneo, Crime e Castigo e Os Demônios para combater o niilismo foi a apresentação de como absurda era a vida de personagens
[241] (v. Frank[242])
que defendiam as teses niilistas do ponto de visa moral e psicológico.
“ [...] não vão para aprender com o povo, mas para intruí-los, instruí-los
arrogantemente, com desprezo: um passatempo puramente aristocrático. ”
—Dostoiévski. [245]
Nacionalismo e imperialismo
Embora criticasse a servidão, Dostoiévski era cético quanto à criação de uma Constituição, acreditando ser um conceito não
relacionado à história da Rússia. Ele descreveu isso como um mero "governo de cavalheiros" e acreditava que "uma Constituição
simplesmente escravizaria o povo". Ele defendeu mudanças sociais, por exemplo, o fim do sistema feudal e enfraquecimento das
divisões entre o campesinato e as classes abastadas. Seu ideal era uma Rússia utópica e cristianizada, de forma que "se todos fossem
giria ... Se fossem cristãos, tudo se resolveria".[246]
cristãos ativos, nenhum questionamento social sur
Dostoiévski acreditava no povo russo. Era nacionalista uma vez que, para ele, a palavra nova adviria da Rússia para o mundo.[247]
Neste sentido, era contra os defensores da independência cultural da Ucrânia), em outras palavras, era imperialista[248] e apoiava o
czar (apesar de sempre ter sido a favor da liberação dosservos, v. seção acima Detenção, julgamento e falsa execução).[249]
O seu nacionalismo não o torna apenas contrário à causa ucraniana, mas, também, contrário a qualquer causa que, em sua
perspectiva, possa ser contra a nação imperial russa, como é o caso da causa judaica.[250] Sua posição em relação aos judeus não foi
sempre contrária: a revista Tempo, da qual era editor, defendeu mais de uma vez a causa judaica em nome do amor cristão.[251] Esta
dicotomia volta a se repetir em um artigo publicado em Diários de um Escritor no mês demarço de 1877, uma vez que, Dostoiévski,
ao mesmo tempo que considerava os judeus como "um estado dentro do estado" e, portanto, prejudicial à nação russa,[252] defendia a
extensção total ds direitos civis para eles.[253]
Sua alternativa à estruturação racional da sociedade, ao niilismo, é a sociedade construída a partir do amor entre os seres humanos, o
amor cristão (o cristianismo que estaria enraizado no povo russo, i.e. o ortodoxo).[254] Ou ainda, como resumiria Josef Bohatec:
, que era, em todo caso, um imperialismo.[255]
Dostoiévski defendia um imperialismo do amor
Conservadorismo
O local de melhor apreensão da posição política de Dostoiévski é o mito O Grande Inquisidor (parte da obra Os Irmãos Karamazov),
onde o escritor se coloca, ao mesmo tempo, contra as ideias socialistas, mais especificamente contra o socialismo científico (posição
que o fez ser visto como conservador)[256], e contra a Igreja Católica, entendendo que ambos são frutos do niilismo i.e., do
iluminismo europeu (v. também ocidentalismo).[257] Dostoiévski representa o niilismo socialista e católico através da imágem da
terceira Tentação de Cristo, uma vez que ambos estariam atrás deo poder mundano em troca do pão diário.[258] O que não significa,
em hipótese alguma, que Dostoiévski era contra a igualdade social, lembrando que ele foi inclusive preso por defendê-la (v. neste
artigo a seção Exílio na Sibéria): ele era contra uma igualdade social construída a partir do racionalismo europeu: para ele, a fonte
moral da igualdade já se encontrava na Rússia antes mesmo do iluminismo, i.e. no cristianismo ortodoxo.[259] Dostoiévski parece
mesmo nunca ter largado o sonho dos socialistas utópicos ao qual se identificou quando jóvem, como é possível conferir em O Sonho
de um Homem Ridículo.[260]
“
“ Quando se tornaram criminosos, inventaram a justiça e promulgaram para si
mesmos códigos a fim de mantê-la, e para a execução dos códigos, usavam a
guilhotina. ”
—Dostoiévski.[261]
Influência
Literatura
Sobre Dostoiévski, James Joyce escreveu que "...é o homem que mais que qualquer outro, criou a
prosa moderna, e intensificou-a para o que é no momento atual. Foi o seu poder explosivo que
quebrou o romance vitoriano...".[262]
Na visão do crítico literário Otto Maria Carpeaux: "Dostoiévski é, se não o maior, decerto o mais
poderoso escritor do século 19; ou do século 20, pois a sua obra constitui o marco entre dois
séculos da literatura. Literariamente, tudo o que é pré-dostoievskiano é pré-histórico; ninguém
[263]
escapa à sua influência subjugadora, nem sequer os mais contrários".
Monumento a Dostoiévski em
Filosofia Moscou
Existencialismo francês
Nietzsche
Friedrich Nietzsche referiu-se a Dostoiévski como "o único psicólogo, diga-se de passagem, do qual tive algo a aprender: ele está
entre os mais belos golpes de sorte de minha vida, mais até do queStendhal."[272]. Um ano antes de sofrer seu colapso mental (1888),
Nietzsche escreveu: “Conheço apenas um único psicólogo que viveu num mundo onde o Cristianismo é possível, onde um Cristo
pode surgir a qualquer instante… É Dostoievski. Ele adivinhou Cristo: e ele permaneceu sobretudo instintivamente protegido de se
representar esse tipo com a vulgaridade de umRenan.”[273][274]
Psicanálise
Dostoiévski também foi uma grande influência no trabalho de Sigmund Freud, que considerava Os Irmãos Karamazov como o
melhor romance da história.[275] Tal influência, inclusive, é fortemente ressaltada por Ernest Jones, psicanalista biógrafo oficial de
Freud.[276]
“ Ele o matou e eu o incentivei a fazer isso. Quem não deseja a morte do seu próprio
pai?. ”
—Dostoiévski.[277]
Religião
Dostoiévski também tem exercido grande influência no Cristianismo, incluindo Igreja
Ortodoxa Russa, Igreja Católica e Igreja Anglicana. O Papa Francisco ressaltou que as
pessoas devem "ler e reler Dostoiévski",[269] e a encíclica papal Lumen fidei, de 2013,
incorpora trechos de O Idiota escolhidos pelo Papa Bento XVI, a saber: "Na sua obra O
Idiota, Fiódor Mikhailovich Dostoiévski faz o protagonista - o príncipe Myskin - dizer, à
vista do quadro de Cristo morto no sepulcro, pintado por Hans Holbein o Jovem: Cristo morto no sepulcropor Hans
[278] O quatro de que trata o Holbein, o Jovem
'Aquele quadro poderia mesmo fazer perder a fé a alguém.'."
Papa Francisco é aquele intitulado Cristo morto no sepulcro de Hans Holbein, trata-se
de imagem de cristo morto, morto com um mortal, apodrecendo.
“ Êsse quadro... êsse quadro só serve para fazer muita gente perder a fé.
”
—Dostoiévski[279]
Outros
Albert Einstein escreveu: "Dostoiévski oferece-me mais do que qualquer cientista, mais do que Gauss" ("o mais influente dos
[280]
matemáticos"), descrevendo também o russo como "grande escritor religioso" que explora "o mistério da existência espiritual".
Obras literárias
São muitas as obras cinematográficas influenciadas diretamente por Dostoiévski, i.e. adaptadas de suas obras, chegando algumas
listas a falar em números como 124 filmes produzidos em 31 países diferentes.[292] As obras influenciadas indiretamente são
impossíveis de serem calculadas. Abaixo encontram-se algumas obras adaptadas diretamente de Dostoiévski a título exemplificativo:
Lista de obras
Romances
1864 — Notas do Subterrâneo (Записки из подполья)
1846 — Gente Pobre (Бедные люди)
1866 — Crime e Castigo (Преступление и
1846 — O Duplo (Двойник. Петербургская поэма) наказание)
1848 — Noites Brancas (Белые ночи) 1867 — O Jogador (Игрок)
1849 — Netochka Nezvanova (Неточка Незванова) 1869 — O Idiota (Идиот)
1861 — Humilhados e Ofendidos(Униженные и 1870 — O Eterno Marido (Вечный муж)
оскорбленные)
1872 — Os Demônios (Бесы)
1862 — Recordações da Casa dos Mortos(Записки
из мертвого дома) 1875 — O Adolescente (Подросток)
1881 — Os Irmãos Karamazov (Братья Карамазовы)
Não-ficção
1863 — Notas de Inverno sobre Impressões de Verão (Зимние заметки о летних впечатлениях)
1873–1878 — Diário de um Escritor (Дневник писателя)
Notas
1. em russo: Фёдор Миха́ йлович Достое́ вский, Fyodor Mikháylovich Dostoyévsky; AFI: [ˈfʲodər mʲɪˈxajləvʲɪtɕ
dəstɐˈjɛfskʲɪj] . A falta de critérios mais definidos para atransliteração do alfabeto cirílico para o latino no idioma
português faz com que diversas variantes da grafia do nome possam ser utilizadas: além de Fiodor Dostoiévski,
pode-se encontrar, também, a versão anglicizada Fyodor Dostoievsky, e híbridos como Dostoiévsky. Para
maiores informações sobre transliteração, ver tambémRomanização do russo. No sistema de WP:RUSSO, seu
nome completo seria transliteradoFiódor Mikháilovitch Dostoévski, mas aqui seu sobrenome será escrito
Dostoiévski, em consistência com a forma mais frequentemente adotada pela mídia lusófona.
2. Todas as datas deste artigo referem-se aocalendário juliano.
3. Segundo a Encyclopædia Britannica h( ttps://www.britannica.com/biography/Fyodor-Dostoyevsky), a qual oferece
ambas as datas, uma outra notação seria: (11 de novembro de 1821 — 09 de fevereiro de 1881) (Morson, 2017)
4. O nome Sofia é antiga forma familiar do nomeSônia, segundo Paulo Bezerra em sua tradução de Crime e Castigo
(pag.35)
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Documentos
Papa Francisco. «Carta encíclica Lumen Fidei». Pdf. (em português). Cópia arquivada em 11 de julho de 2017
Sítios virtuais
Em português
Em outras línguas
Ligações externas
Sociedades e organizações
Dostoevsky.org (em inglês) Sociedade Internacional Dostoiévski.
Dmd.spb.ru (em russo) Museu Dostoiévski.
Dostojewskij-gesellschaft.de(em alemão) Sociedade alemã Dostoiévski
Bibliografia on-line
Dostoevsky Research Station(em inglês) Página com pesquisas sobre Dostoiévski.
FedorDostoevsky.ru (em russo) . Página com conteúdo amplo.
ilibrary.ru (em russo) Textos completos de obras de Dostoiévski.
magister.msk.ru (em russo) Textos completos de obras de Dostoiévski.
rvb.ru (em russo) Textos completos de obras de Dostoiévski.
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