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temas de economia aplicada 47
120 14
Milhares
Milhares
12
Carvão vegetal
100
10
80
Lenha
8
60
6
40
4
20 2
0 0
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
2008
Lenha CV
Fonte: http:/ben.epe.gov.br/.
Diversos relatórios técnicos e artigos ressaltam a per- da tessitura composta pelos fluxos monetários por
petuação do vínculo entre consumo de lenha (em sua meio dos quais se comunicam unidades de produção
forma primitiva e também como carvão) e supressão (empresas) e unidades de consumo. O interesse em
2
florestal. Apesar de este tema estar fora do escopo do empregá-la advém de sua principal característica:
texto, a investigação aqui conduzida é passo necessá- a partir dela é possível mensurar efeitos indiretos
rio para a elucidação da conexão em questão. sobre, por exemplo, a absorção social de energia, de-
sencadeados pelo aumento da demanda por um bem
Mensurar a relevância do padrão de consumo da so- de consumo (Miller; Blair, 2009; Guilhoto, 2009;
ciedade brasileira enquanto fator indutor do consumo Cavalcanti, 1997).
de lenha e carvão vegetal é o objetivo do estudo aqui
sumarizado. Para isso, são decompostas a estrutura O Balanço Energético Nacional (BEN) reporta o consu-
produtiva e a estrutura de consumo, com o auxílio de mo de lenha e carvão vegetal das unidades econômi-
técnicas da análise de insumo-produto (seção 2). Os cas (firmas, empresas, setor público e setor externo).
resultados são apresentados na terceira seção. Conectando-se esta informação com a referente à ma-
neira pela qual se relacionam os setores produtivos e
estes, por sua vez, com a demanda por bens e serviços,
2 Dados e Método
pode-se enxergar os determinantes “tecnológicos” do
emprego dos combustíveis mencionados.
2.1 Consumo Indireto
A fonte de dados para aquele primeiro aspecto são as
A análise de insumo-produto é uma ferramenta para tabelas de Recursos de Bens e Serviços e de Usos de
a compreensão da estrutura de uma economia, i.e., Bens e Serviços, ambas divulgadas pelo IBGE como
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parte das Contas Nacionais, processadas com base na por classe de renda. Morello (2010) propõe uma me-
metodologia de Guilhoto e Sesso Filho (2005). todologia simples – cujos resultados são analisados
em Morello et al. (2011) –, empregável exclusivamente
Para se ter uma apreciação precisa da potência das para o âmbito nacional, em que fica demonstrada a
decisões de consumo para estimular o setor produtivo possibilidade de repartir, pela participação na despesa
a consumir lenha é necessário enxergar a composição total em carvão e lenha, registrada nas POFs, o quan-
destas decisões no que diz respeito aos setores pro- tum agregado.
dutivos acionados – já que esses é que são as unidades
econômicas retratadas nas MIPs. A Pesquisa de Orça- Assim sendo, o consumo de lenha e carvão vegetal é
mentos Familiares (POF), realizada pelo IBGE, infor- atribuído a cada classe em proporção à sua despesa no
ma a composição da pauta de consumo das famílias energético, algo que depende, portanto, da intensidade
brasileiras, sendo a fonte de dados empregada neste com que cada classe o consome. O resultado está na
particular. tabela abaixo.
Ocorre, porém, como observado em Almeida e Gui- Tabela 1 – Consumo Direto de Carvão Vegetal e Lenha,
lhoto (2006), que os dados da POF se referem a cate- Classes de Renda
gorias de despesa que precisam ser compatibilizadas
com as categorias de produtos das MIPs. A realização Ano 2002 2008
desta tarefa foi facilitada pela gentilíssima cessão, Energético Lenha CV Lenha CV
pelos autores do artigo supracitado, da tabela de SM ≤ 2 2.212 125 1.532 109
conversão para a edição de 2002/2003 da POF. Foi 2<SM≤3 1.462 77 1.067 58
necessário, adicionalmente, atualizá-la para a edição 3<SM≤5 1.871 75 2.392 83
de 2008/2009. 5<SM≤6 500 23 886 25
Classes de 6<SM≤8 637 25 1.113 65
renda 8<SM≤10 255 27 346 42
2.1 Consumo Direto 10<SM≤15 377 30 282 72
15<SM≤20 199 15 17 30
A relação entre consumo das famílias e extração de 20<SM≤30 98 19 66 32
lenha não se processa apenas via estrutura produtiva. SM > 30 63 18 5 15
Não se pode perder de vista o consumo direto, para Consumo total 7.675 435 7.706 531
fins de cocção e aquecimento (Morello et al., 2011)
– no caso específico do carvão vegetal, o churrasco é
também uma finalidade importante (Uhlig, 2008), 3 Resultados
algo que está evidente nas matrizes do BEN.
A quantidade de lenha necessária para suprir R$1,00
A questão está em como distribuir o quantum ener- gasto em consumo de bens e serviços mostra-se
gético atribuído, por esta fonte de dados, ao “setor cadente com o nível de renda, como o gráfico deixa
residencial” a grupos populacionais que se dividem claro.
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Gráfico 2 – Consumo Indireto de Lenha Acionado por R$1,00 Gasto por Cada Classe de Renda
(normalizado pela média), 2002 e 2008
1,4
1,2
1
0,8
0,6
0,4
0,2
0
2002 2008
Do que se pode concluir que a importância, em termos Há um “efeito de escala” provocado pelo notável cres-
de consumo indireto de lenha, da unidade monetária cimento, com a renda, da despesa per capita em con-
gasta, é tão menor quanto maior é a renda familiar sumo (Gráfico 3). Algo que vai no mesmo sentido das
evidências reveladas por Bôa Nova (1985, cap. VII),
mensal. Porém, esta menor intensidade-lenha do pa-
para o consumo de energia no Brasil e do padrão de-
drão de consumo das classes mais abastadas é mais tectado por Seroa da Motta (2002) para o consumo de
do que compensada pela escala de seu consumo (veja água e de serviços de esgoto (uma medida de impacto
Gráficos 4 e 5). sobre os recursos hídricos).
Gráfico 3 – Intensidade-Lenha das Classes x Despesa Anual em Consumo Per Capita (R$), 2002 e 2008
1,4 35
Intensidade-lenha normalizada
Milhares
1,2 30
Despesa anual per capita
1 25
0,8 20
0,6 15
0,4 10
0,2 5
0 -
2002 2008 Despesa per capita 2002 Despesa per capita 2008
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Conclusivamente, mesmo que alguns produtos de alta De fato, para 2002, tem-se um gráfico (6) equivalen-
intensidade em lenha, como automóveis, especialmen- te a uma curva de Kuznets ambiental (Stern, 2003;
te (consultar o apêndice), se tornem mais relevantes Seroa da Motta, 2002) invertida: o consumo de
no padrão de consumo com o crescimento da renda, o lenha per capita é maior para as classes mais inferio-
efeito escala se revela a força predominante por trás res e mais superiores, enquanto as classes intermedi-
da correlação positiva entre renda e consumo per ca- árias se mantêm no menor nível.
pita indireto de lenha.
Em 2008, mesmo sendo o panorama um tanto mais
Daí porque a inclusão do consumo direto – aquele complicado, o consumo de lenha per capita apresenta
atribuído, no BEN, ao setor residencial – tem o efeito uma tendência que vai na mesma direção da renda
de criar uma relação não monotônica com a renda. (Gráfico 7).
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A desigualdade de renda tem como reflexo a concen- evidências trazidas a tona, especialmente naquilo em
tração, nas mãos de poucos, da despesa em bens e que a associação referida se confunde com o tema do
serviço. No Brasil atual, esta se revela o determinante bem-estar individual. É claro que, para isso, tem peso
principal da dependência, por parte de indivíduos per- preponderante o fato de o País possuir a única indús-
tencentes aos mais altos estratos de renda, de lenha tria siderúrgica a carvão vegetal do mundo.
enquanto fonte de energia para a estrutura produtiva
do País. Da composição de decisões tecnológicas e perfis
de consumo emerge, como síntese, a percepção
A associação entre avanço no processo de desenvol- de que, em fins da primeira década do século 21,
vimento e descolamento da economia de uma base a lenha continua imprescindível para a sociedade
assentada em biomassa florestal é refutada pelas brasileira.
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ensinado as técnicas que emprego neste artigo.
VITAL, M. H. F.; Pinto, M. A. C. Condições para a sustentabilidade
da produção de carvão vegetal para fabricação de ferro-gusa no 2 Quanto a isso, consultar: Zakia et al. (1993) e Ramos et al. (2008a e
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