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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE CIENCIAS HUMANAS E FILOSOFIA - ICHF

CURSO DE ANTROPOLOGIA

Disciplina: Etnografia dos Conflitos

Aluno: Pedro Henrique Fonseca Ramalho Wigand.

Como atividade prática avaliativa da disciplina Etnografia Especial dos Conflitos


(UFF-2018.2) foi proposto que realizássemos uma pequena prática de observação
participante. No dia 26 de janeiro de 2018, deveríamos escolher entre dois possíveis
campos: o ato em frente ao Ministério Público do Rio de Janeiro organizado por grupos
de familiares de vítimas de violência institucional, ou observar o espaço entre as Barcas
e o Terminal de Niterói. Devido a minha impossibilidade de locomoção para o Rio
naquele dia, optei por fazer o campo em Niterói.

Às 11:11 eu encontrei meus colegas de turma em frente ao terminal das Barcas, o


que pude observar primeiramente foi a pouca movimentação no local. Morando perto dali
e estando se acostumando a ver enormes fluxos de pessoas circulando naquele local em
horários específicos, percebi que naquele momento o fluxo estava bem menor. Decidi
então fazer uma pequena descrição da disposição dos grupos que ocupavam aquele
espaço.

A primeira coisa que fiz foi contar o número de bandeiras de propaganda política
que eu via ali, eram 7 até o momento. Havia um grupo de pessoas, em sua grande maioria
mulheres negras, sentadas em alguns dos bancos que ficam em direção à bilheteria.
Aparentemente todas fazendo campanha para candidatos do PT. Já em um banco do outro
lado, mais perto da estatua de Araribóia, se encontrava um grupo que parecia ser de
pessoas em condição de rua. Eram 5 homens e uma mulher cadeirante. Ali perto deles
estavam algumas outras mulheres sentadas, também fazendo propaganda política para um
partido que não consegui identificar. Em direção a saída das Barcas havia uma banquinha
do PSOL, distribuindo panfletos e adesivos. Já na beira da avenida se encontrava o grupo
dos taxistas.
No geral, as pessoas que passavam por ali elas simplesmente estavam andando,
conversando ou sozinhas. Muito estava acontecendo, mas ao mesmo tempo nada
acontecia, as pessoas passavam apenas. Afinal, aquele era um terminal, o que se espera é
que as pessoas passem por ali, sem necessariamente criar algum vínculo com o local.
Talvez haja aí um tipo de conflito, o conflito do sujeito com o tempo. Sempre apressados,
todos andam rápido esperando chegar logo em algum lugar. Nesse fluxo de pessoas tento
encontrar algum tipo de conflito, mas nada parece ficar evidente. Dou algumas voltas,
vou até o Terminal, mas nada me chama atenção. Claro que provavelmente se fosse um
campo com maior tempo de duração muito poderia ser dito, mas pra mim, naquele
momento, nada ficou muito explicito. Volto para as Barcas e sento como se esperasse
algo acontecer.

Nesse meio tempo duas pessoas diferentes me param para pedir dinheiro, e uma
pede ajuda ao vender balas. Claro que isso também é uma marca da desigualdade, talvez
um conflito explícito da existência desses corpos (todos negros e pobres) na nossa
sociedade, mas não havia muito como analisar sobre aquilo apenas em algumas horas ali.
E então eu espero para ver se algo mais explicito acontece. E, bom, aconteceu.

Quando já estava quase sem esperanças de que fosse conseguir algum dado mais
relevante percebo um certo alvoroço na praça, quando olho para o lado vejo um carro
andando na calçada e por um momento fico sem entender o que está acontecendo.
Demoram alguns poucos segundos, mas percebo que é a Guarda Municipal. Numa atitude
um quanto que precipitada os guardas conduzem o carro no meio daquelas pessoas que
transitam por ali, e jogam o carro em direção ao grupo de pessoas em situação de rua. Os
taxistas que estavam atrás do banco em que eu estava sentado fazem questão de anunciar:
“Óh, chegou! É a dura! Por isso eu falo: corre!”, comenta um. O que me faz perceber que
essa é uma prática provavelmente cotidiana naquele espaço.

O que se passa a seguir é um grande teatro. Os guardas saem do carro com


cassetete em mãos. Numa atitude ostensiva começam a abordar o grupo. Durante a
conversa algumas das pessoas do grupo começam a dispersar e outros permanecem
conversando com os policiais. Em poucos minutos a banca ostensiva dos policiais se
desmancha e o que parece estar acontecendo é uma conversa amistosa entre os dois lados
do conflito, inclusive com risos entre si. Um dos homens do grupo, que estava de camisa
azul, é o único que parece estar um pouco exaltado. Ele começa a apontar o dedo enquanto
fala e dois amigos o seguram e o fazem sentar num banco. Naquele momento percebo
que algumas dessas pessoas talvez estejam alcoolizadas, o que explicaria a atitude do cara
de camisa azul. Ele e um outro senhor sem camisa estavam, alguns minutos antes, se
empurrando, apontando o dedo e simulando algum tipo de discussão, mas do nada
começavam a rir e a brincadeira ficava evidente. A brincadeira era repetida o tempo todo.
Enfim, agora o grupo havia se dispersado, ficando apenas 3 conversando com os guardas
que logo em seguida se retiram também.

Assim que os guardas saem alguns dos homens voltam, inclusive um que
carregava um carrinho de supermercado. Ficam ali mais alguns minutos, conversando e
brincando e logo depois se dispersam de vez, dessa vez levando suas mochilas cheias e
até uma mala que estava ali com eles.

O que tal situação me fez refletir foi justamente sobre as diferentes formas da
ocupação do espaço. Enquanto as pessoas normalmente tomam aquele lugar apenas como
um caminho, um lugar para passar, um meio até seu destino último, aquele grupo tinha
outra apropriação. Eles eram os únicos (tirando as moças da campanha política, mas que
estavam ali trabalhando) que estavam socializando e ocupando aquela praça como um
espaço de laser, um local familiar, do cotidiano. Era como se ali eles estivessem em um
bar, numa reunião de velhos amigos. Esse tipo de ocupação era destoante de todo o resto,
acho que talvez aí se encontre um dos possíveis conflitos dessa situação. Eles estavam
tão destoando que o dispositivo da segurança pública municipal foi convocado a intervir
naquela reunião. Eles não estavam incomodando ninguém, apensar das brincadeiras de
discussão eles não estavam se agredindo, nenhum crime foi cometido, então por que a
Guarda Municipal precisaria intervir naquela situação? Ainda, intervir com uma
abordagem desnecessariamente ostensiva. Talvez esse tipo de abordagem queira dizer
muito sobre a ideia que esses guardas tenham sobre sua função, e sobre a ideia que eles
têm sobre segurança pública. De qualquer forma, não havia motivo para tal abordagem.

Claro, com isso não quero diluir todo o racismo institucionalizado, nem o recorte
de classe, afinal a maioria dos integrantes eram negros e aparentemente estavam em
situação de rua. Obviamente um grupo de pessoas brancas ocupando o local da mesma
forma não sofreria a mesma abordagem, ou melhor, sequer receberiam uma abordagem.
Mas quero apontar que eles eram os únicos que ocupavam aquele espaço daquela forma,
reforçando o contraste que esse grupo marcava naquele local, ao fazer dali um local de
relações mais intimas, de amizade e clima familiar.
Enfim, acho que poderia discorrer maiores análises sobre essa relação da
apropriação das pessoas pelos lugares públicos, principalmente se tivesse mais dados e
tempo de observação, mas pretendo aqui apresentar apenas esse breve relato, o que mais
me chamou a atenção e as minhas primeiras considerações sobre o observado, marca de
uma das minhas primeiras práticas em campo.

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