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ÁREA I
ECONOMIA REGIONAL
ARTIGO:
AUTORES:
José Carrera Fernandez
Professor do Curso de Mestrado em Economia da Universidade Federal da Bahia e PhD*
em Economia pela The University of Chicago.
Rogério Pereira
Professor e Coordenador do Curso de Economia da Faculdade de Tecnologia e Ciências
(FTC/Feira) e Mestre em Economia pela Universidade Federal da Bahia
Rua Felinto Marques Cerqueira, 952
Capuchinhos, Feira de Santana
(75) 623-3805
<profrogerio@uol.com.br>
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SUMÁRIO
Este trabalho aborda a questão da cobrança pelo uso da água em sistemas de
bacias hidrográficas de domínio da União, importante instrumento de gestão dos recursos
hídricos, e discute os principais aspectos teóricos e metodológicos que norteiam a formação
dos preços pelo uso da água. A cobrança pelo uso da água foi justificada como mecanismo
de racionalizar o seu uso e corrigir as externalidades no consumo e na produção, na medida
que internaliza aos custos privados os verdadeiros custos sociais. Tomando-se como
referência a metodologia de preços ótimos, determinam-se os preços pelo uso da água nas
várias modalidades previstas para a bacia hidrográfica do rio Vaza-Barris. Esta bacia foi
tomada para objeto de estudo por ser uma importante fonte de suprimento de água, capaz de
resolver os graves e constantes problemas relacionados aos racionamentos e conflitos pelo
uso da água nessa região. Tomou-se a metodologia de preços ótimos para nortear a
cobrança pelo uso da água porque esta propicia uma alocação eficiente dos recursos
hídricos na economia, tendo em vista que a diferença entre os benefícios e os custos sociais
é maximizada, ao tempo em que os impactos distributivos negativos na economia são
minimizados.
PALAVRAS-CHAVE: Cobrança pelo uso da água, bacia hidrográfica, recursos hídricos
ASBTRACT
This paper approaches the question of charging for water utilization in river
basin systems of federal government domain, one of the main instruments of water
resources management, and discuses the main theoretical and methodological aspects to
price formation for water utilization. The charging for water utilization was justified as a
mechanism to rationalize its use and to correct the externalities on consumption and
production, given that it internalizes the true social costs into private costs. Taking the
methodology of optimal prices as a reference, this paper determines the water prices for all
expected modalities of uses in the Vaza-Barris river basin. This basin was taken to study
because it is a very important source of bulk water capable to solve the constant problems
of rationing of water supply in that region. The charging for water utilization through the
optimal prices implies an efficient allocation of water resources in the economy, given that
it maximizes the difference between social benefits and costs, and minimizes the negative
effects on the economy.
KEY WORDS: Charging for water use, water basin, water resources
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1. INTRODUÇÃO
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Foi aprovado pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, no dia 7 de junho de 2000, o projeto de
criação da ANA, autarquia autônoma, administrativa e financeiramente, que passará a desenvolver a
Política Nacional de Recursos Hídricos que, além de implementar a cobrança pelo uso dos recursos hídricos
em bacias do domínio da União, terá a incumbência de outorgar o uso dos recursos hídricos da União,
regular os serviços de água concedidos à iniciativa privada, definir as condições de operação de
reservatórios e traçar planos para minimizar os efeitos das secas e inundações, entre outras.
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nessa área, este trabalho avalia os preços pelo uso da água para os múltiplos usuários do
sistema hídrico do Vaza-Barris, tomando como referência a metodologia de preços ótimos.
Essa metodologia se preocupa explicitamente com a eficiência na alocação dos recursos
hídricos entre os seus múltiplos usuários, além do que minimiza os impactos distributivos
negativos na economia.
Além dessa introdução, este trabalho contém mais seis seções. Na segunda
seção apresentam-se os principais aspectos teóricos a cerca do instrumento de cobrança
pelo uso da água, destacando-se a metodologia de preços ótimos, que servirá para nortear as
estimativas de preços pelo uso da água nas várias modalidades. A seção seguinte contém
uma caracterização geral da bacia do Vaza-Barris, objetivando estimar suas demandas,
disponibilidades e balanço hídrico. Na quarta seção avaliam-se as funções de demanda por
água e as elasticidades-preço nas várias modalidades de uso. A seção seguinte estima os
custos de gerenciamento dos recursos hídricos, visando quantificar o custo marginal de
gerenciamento, informação fundamental para definir a política de preços ótimos. Na sexta
seção são avaliados os preços ótimos pelo uso da água, objeto de estudo deste trabalho. Na
última seção apresentam-se as conclusões e considerações finais deste trabalho.
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apoio técnico dos órgãos que compõem o sistema integrado de gerenciamento dos recursos
hídricos, razão porque o exercício da cobrança é considerado como atividade
descentralizada, por excelência.
Os principais objetivos da cobrança pelo uso dos recursos hídricos são: (i)
gerenciar a demanda, influenciando, inclusive, na decisão de localização da atividade
econômica; (ii) redistribuir de forma mais justa os custos sociais, na medida que impõe
preços diferenciados para usuários diferentes; (iii) melhorar a qualidade dos efluentes
industriais e esgotamentos sanitários lançados nos corpos de água; (iv) promover a
formação de fundos para financiar ações públicas através de projetos, obras, programas e
outros trabalhos necessários ao setor; e (v) incorporar ao planejamento global as dimensões
social e ambiental.
Em se tratando de um instrumento voltado para a gestão dos recursos
hídricos, os recursos arrecadados com a cobrança devem ser totalmente dirigidos e
aplicados em atividades do próprio setor. Transferências de recursos de uma bacia
hidrográfica para outra não deveriam ser contempladas, exceto quando houvesse
transposições de águas que justificassem tais transferências de recursos. Segundo o Art. 22
da Lei No. 9.433/97, os valores resultantes da cobrança pelo uso dos recursos hídricos serão
aplicados, prioritariamente, na região ou bacia hidrográfica em que forem arrecadados2.
Diferentemente de algumas leis estaduais, essa lei não prevê explicitamente a transferência
de recursos arrecadados com a cobrança pelo uso dos recursos hídricos para outras bacias
hidrográficas.
2.2 METODOLOGIAS ALTERNATIVAS PARA FORMAÇÃO DE PREÇOS E A
POLÍTICA DE PREÇOS ÓTIMOS PELO USO DA ÁGUA
A valorização econômica da água é um tema bastante complexo que, além
das diretrizes econômicas, envolve questões legais, institucionais, técnicas e sociais. A
questão do quanto se deve pagar pelo uso da água está intimamente relacionada ao tema da
formação de preços, importante capítulo da teoria econômica. Além da escolha do modelo
econômico mais apropriado, a tarefa de estabelecer um valor para a água requer uma
sofisticada capacidade institucional, em termos de informação, monitoramento e
implementação de políticas. Existe uma grande variedade de metodologias para formação
de valor ou preço de um bem público, como a água. Essas metodologias se fundamentam
em uma gama de diferentes teorias econômicas.
A busca da melhor metodologia para nortear a formação dos preços pelo uso
da água deve ser feita de modo a atender pelo menos quatro objetivos básicos, que são: (i)
obtenção de uma alocação eficiente dos recursos hídricos entre os múltiplos setores
usuários; (ii) internalização dos custos sociais aos custos privados; (iii) introdução do
verdadeiro custo de oportunidade da água em cada uso; e (iv) auto suficiência do sistema
2
De acordo com o seu Art. 22, os recursos da cobrança servirão para: (i) financiar estudos, programas,
projetos e obras incluídas nos Planos de Recursos Hídricos, com vistas ao monitoramento, conservação, uso
racional, controle e proteção dos recursos hídricos, superficiais e subterrâneos, além de outros programas
conjuntos entre União, Estados e Municípios, relativos ao aproveitamento múltiplo, controle, conservação e
proteção dos recursos hídricos e defesa contra eventos críticos que ofereçam perigo à saúde pública e
prejuízos econômicos ou sociais; e (ii) cobrir as despesas de implantação e custeio administrativo (tais
como, programas de estudos e pesquisas, desenvolvimento tecnológico e capacitação de recursos humanos)
de interesse dos órgãos e entidades do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Nesse
caso específico, os recursos gastos não deverão ultrapassar os 7,5% do total arrecadado.
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hídrico, permitindo que o mesmo seja capaz de financiar o seu próprio plano de
investimento programado (Carrera-Fernandez e Garrido, 2001).
Uma metodologia que tem demonstrado superioridade sobre as demais e
atende a todos esses objetivos é a de preços ótimos (Carrera-Fernandez, 2000 e Carrera-
Fernandez e Garrido, 2001). Derivada a partir de um processo de otimização do bem-estar
social em second best, a metodologia de preços ótimos leva em consideração a capacidade
de pagamento dos múltiplos usuários de um sistema hídrico, ao estabelecer que os preços
pelo uso da água devem ser inversamente proporcionais às elasticidades-preços da demanda
(em valor absoluto). Dessa forma, quanto menor for a elasticidade-preço para uma
determinada modalidade de uso da água, maior deverá ser o seu preço em relação ao custo
marginal e vice-versa. Isso significa que a cobrança de preços diferenciados minimiza as
distorções no consumo e na produção, em relação aos seus níveis socialmente ótimos. Além
do mais, essa metodologia estabelece um mecanismo de correção das distorções do custo
social, de modo que as externalidades negativas impostas pelos usuários da água (tanto no
consumo, quanto na produção) são forçosamente internalizadas aos custos privados,
contribuindo assim para melhorar a alocação dos recursos hídricos entre os múltiplos
usuários do sistema.
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Estimativas em dezembro de 1998, tomando-se por base os dados de 1991 do Plano Diretor de Recursos
Hídricos para a referida bacia hidrográfica e aplicando-se uma taxa de crescimento de 1,5% ao ano.
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Estimativas em dezembro de 1998.
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5
Em levantamento realizado nos perímetros irrigados de Canudos, Jeremoabo e Coronel João Sá, o Plano
Diretor dos Recursos Hídricos da Bacia do Vaza-Barris identificou e cadastrou 222 irrigantes nessa região.
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FONTE: A população foi estimativa com dados do IBGE (1996), adotando-se a taxa anual de crescimento de 1,5%.
* Municípios que têm suas sedes municipais dentro da área da bacia.
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FONTE: A população foi estimada com base em dados do IBGE (1991), adotando-se a taxa de crescimento de 1,5% a.a.
* Municípios que têm suas sedes municipais dentro da área da bacia.
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O QUADRO 3.5 resume as demandas totais por água nas várias modalidades
de uso para a bacia hidrográfica do Vaza-Barris, nos estados da Bahia e Sergipe. Pode-se
observar que a irrigação, com uma necessidade de água da ordem de 4,93 m3/s, é a
modalidade de uso que mais demanda água da bacia, correspondendo a cerca de 53% de
toda água da bacia. Logo a seguir vem o abastecimento humano com uma demanda de água
de 4,17 m3/s, o que representa quase 45% da demanda total de água na bacia. A carga
orgânica proveniente de esgotamentos sanitários foi estimada em 15.425,52 kgDBO/dia,
enquanto que para os sgotamentos industriais foi de 19.662,40 kgDBO/dia.
QUADRO 3.5 : DEMANDA POR ÁGUA NA BACIA DO RIO VAZA-BARRIS NAS VÁRIAS
MODALIDADE DE USO, POR ESTADO E POR TIPO DE MANANCIAL ((m3/s))
MANANCIAL SUPERFICIAL MANANCIAL SUBTERRÂNEO
PROJETO BAHIA SERGIPE BAHIA SERGIPE TOTAL
FONTE: Governo de Sergipe (1999), Governo do Estado da Bahia (1996), QUADROS 3.3 e 3.4 e cálculos no texto.
* Demanda para diluição de carga orgânica (kgDBO/dia)
** Avaliado com base no percentual de 60% da carga orgânica potencial total no Estado.
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Calculado com base no índice de 0,8 kgDBO/m3 de água consumida pela indústria (concentração média para as
atividades agroindustriais, matadouros, frigoríficos e curtumes).
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interrupção hipotética na utilização desse recurso, de modo que os usuários teriam que
buscar uma solução alternativa mais barata que cause o mesmo efeito e supra suas
necessidades de água. A quantidade, nesse caso, seria a própria demanda por água em cada
modalidade de uso. O segundo foi obtido ao se interromper, hipoteticamente, a utilização
desses recursos na referida bacia. A quantidade, nesse segundo par ordenado, será a
respectiva demanda por água em cada uso, nessa situação hipotética. Deve-se ressaltar que
preços de reserva são os elementos fundamentais para determinação das funções de
demanda “tudo ou nada” por água.
QUADRO 4.1.1: PREÇOS DE RESERVA DA ÁGUA E DEMANDAS PREVISTAS NAS
VÁRIAS MODALIDADES DE USO DA ÁGUA (BACIA DO RIO VAZA-BARRIS)
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Esses coeficientes são definidos por α = (x1pr2-x2pr1)/(pr2-pr1) e β = (x2-x1)/(pr2-pr1).
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demanda. Vale ressaltar que essas estimativas servirão para nortear a definição da política
de preços ótimos pela cobrança pelo usos dos recursos hídricos, a ser avaliada a seguir.
QUADRO 4.2.2: DEMANDAS POR ÁGUA NOS VÁRIOS USOS E SUAS RESPECTIVAS
ELASTICIDADES PREÇO DA DEMANDA, EM VALOR ABSOLUTO
DEMANDAS DEMANDAS
USOS ε i
TUDO OU NADA ORDINÁRIA
Abastecimento humano xah=6,45-0,81pah xah=6,45-1,62pah 0,13
Abastecimento industrial xai=0,40-0,05pai xai=0,40-0,10pai 1,01
Irrigação xi=7,31-250pi xi=7,31-500pi 0,97
Diluição de esgotamentos sanitários xes=16207,75-19568,66pes xes=16207,75-39137,32pes 0,10
Diluição de efluentes industriais xei=23440,92-9216,88pei xei=23440,92-18433,76pei 0,38
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TOTAL 255.996,00
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TOTAL 40.217.952,90
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∑jC(xj0)] (1)
TOTAL [∑ - - 1,893
(2)
Diluição de esgotamento sanitário 0,138 0,020 0,035
Diluição de efluente industrial (2) 0,845 0,205 0,285
∑jC(xj0)] (2)
TOTAL [∑ - - 0.320
(1) 3 (2)
FONTE: Cálculos no texto. NOTAS: R$/m ; R$/kgDBO.
Vale destacar que houve uma diferença significativa entre o custo marginal
de racionamento e o custo marginal de longo prazo. Enquanto que o custo marginal de
racionamento foi estimado em R$ 0,24 por metro cúbico de água, o custo marginal de
longo prazo ficou em cerca de R$ 0,16 por metro cúbico de água, o que representa uma
diferença de 50%. Já em termos de carga orgânica diluída, houve uma inversão, de modo
que o custo marginal de racionamento foi bem menor que o custo marginal de longo prazo.
Isto é, enquanto que o custo marginal de longo prazo alcançou a cifra de R$ 1,89 por
kgDBO, o custo marginal de racionamento foi de apenas R$0,05 por kgDBO,
representando cerca de 3% do custo marginal de longo prazo.
Vale ressaltar que a estimativa obtida para o custo marginal de racionamento
é superior àquela obtida com o custo marginal de longo prazo, e por isso mesmo é a
estimativa que mais se aproxima do verdadeiro custo marginal de gerenciamento. Isso se
deve ao fato do custo marginal de racionamento computar o valor da água no período em
que as múltiplas demandas por água não podem ser satisfeitas, ou seja, durante o
racionamento.
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pj* = (CMg*|εj|)/(|εj|−α), ∀j
Σjpj*xj − C = 0
onde pj* é o preço ótimo da água no uso j, a ser determinado; xj é a respectiva quantidade
de água demandada do sistema hídrico após os investimento programados terem sido feitos;
CMg* é o custo marginal de gerenciamento (de racionamento); |εj| é a elasticidade preço da
demanda por água no uso j, em valor absoluto; C é o custo total do órgão gestor no
gerenciamento dessa bacia; e α é uma constante de proporcionalidade que reflete a
diferença relativa entre benefícios e custos marginais, a ser determinada.
6.1 POLÍTICA DE PREÇOS ÓTIMOS PELO USO DA ÁGUA
As j primeiras equações pj* = (CMg*|εj|)/(|εj|−α), uma para cada uso j,
podem ser rescritas de maneira mais sugestiva, da seguinte forma (pj*−CMg*)/pj* = α/|εj|,
para todo j. Quando escritas dessa forma, elas estabelecem que o diferencial no preço da
água no uso j, em relação ao custo marginal, em termos percentuais, é inversamente
proporcional à sua elasticidade preço de demanda. A última equação, por outro lado, é a
equação de restrição que restringe o órgão gestor dos recursos hídricos a não apresentar
perdas ou ganhos financeiros no gerenciamento dos recursos hídricos da bacia.
As equações acima formam um sistema de seis equações (uma para cada uso
múltiplo da água, no total de cinco, mais a equação de restrição) e seis incógnitas (cinco
preços e a constante de proporcionalidade α), cuja solução fornece o conjunto de preços
ótimos pelo uso da água em cada uso previsto para a bacia do Vaza-Barris. É importante
lembrar que a política de preços ótimos minimiza as distorções na alocação dos recursos da
água entre seus vários usuários. Ou seja, é cobrando preços diferenciados que as distorções
na utilização dos recursos hídricos são minimizadas.
O QUADRO 6.1.1 contém os valores de todos os parâmetros necessários
para a resolução do sistema acima, os quais já foram objeto de estudo nas seções anteriores.
Na determinação dos preços ótimos pelo uso da água não se fará uso do custo marginal de
longo prazo, utilizando-se apenas o custo marginal de racionamento, por ser essa a
estimativa que mais se aproxima do verdadeiro custo marginal de gerenciamento.
QUADRO 6.1.1: PRINCIPAIS PARÂMETROS PARA DETERMINAÇÃO DOS PREÇOS ÓTIMOS
PELO USO DA ÁGUA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO VAZA-BARRIS
USOS DEMANDA ELASTICIDADE PREÇO
8 (1)
Abastecimento humano 1,91x10 0,13
Abastecimento industrial 8,51x106 (1) 1,01
Irrigação 1,55x108 (1) 0,97
Diluição de esgotamentos sanitários 5,63x106 (2) 0,10
Diluição de efluentes industriais 7,18x106 (2) 0,38
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preços positivos. Substituindo a menor dessas raízes (α*= -0,03450106578) nas equações
de preço, obtém-se os preços ótimos com restrição pelo uso da água na bacia hidrográfica
do Vaza-Barris (QUADRO 6.1.3).
QUADRO 6.1.3: PREÇOS ÓTIMOS RESTRITOS À CAPACIDADE DE
PAGAMENTO DOS IRRIGANTES (EM R$/m3 E R$/kgDBO)
USOS PREÇO ÓTIMO PREÇO ÓTIMO
RESTRITO
Abastecimento humano (1) 6,14x10-2 1,90x10-1
Abastecimento industrial (1) 1,75x10-1 2,32x10-1
Irrigação (1) 1,73x10-1 9,54x10-3
Diluição de esgotamentos sanitários (2) 1,05x10-2 3,72x10-2
Diluição de efluentes industriais (2) 2,51x10-2 4,58x10-2
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nos primeiros anos de implementação da cobrança pelo uso da água. Admitindo-se uma
política explícita do governo no sentido de subsidiar parte dos custos de gerenciamento da
bacia, então os preços ótimos pelo uso da água na bacia hidrográfica do Vaza-Barris podem
ser determinados a partir da solução do seguinte sistema de equações:
pj* = (CMg|εj|)/(|εj|−α), ∀j
Σjpj*xj − (1−β)C = 0
onde β é a proporção do custo anual de gerenciamento subsidiado pelo governo, ou seja, é o
valor que os múltiplos usuários do sistema hídrico deixam de pagar.
O QUADRO 6.3.1 sumaria a estrutura de preços ótimo com subsídio,
permitindo assim verificar o impacto dos dessa política de subsídio sobre nos preços ótimos
pelo uso da água em cada modalidade de uso, à medida em que se expande o nível de
subsídio do governo para os usuários dos recursos hídricos na bacia hidrográfica do Vaza-
Barris, o qual varia de 20 até 60% do custo anual de gerenciamento.
QUADRO 6.3.1: PREÇOS ÓTIMOS PELA UTILIZAÇÃO DA ÁGUA COM SUBSÍDIO POR
MODALIDADE DE USO PARA A BACIA DO VAZA-BARRIS (EM R$/m3 OU R$/kgDBO)
SUBSÍDIO DO GOVERNO
USOS 20% 40% 50% 60%
(1) -1 -1 -2
Abastecimento humano 1,48x10 1,07x10 8,72x10 6,71x10-2
Abastecimento industrial (1) 2,22x10-1 2,07x10-1 1,96x10-1 1,80x10-1
Irrigação (1) 9,54x10-3 9,54x10-3 9,54x10-3 9,54x10-3
Diluição de esgotamentos sanitários (2) 2,77x10-2 1,92x10-2 1,52x10-2 1,15x10-2
Diluição de efluentes industriais (2) 4,13x10-2 3,52x10-2 3,13x10-2 2,66x10-2
hídricos. Além do mais, a cobrança pelo uso da água baseada nos preços ótimos internaliza,
aos custos privados, as externalidades negativas que as decisões individuais causam aos
demais usuários do sistema hídrico.
Deve-se ressaltar que a política de preços ótimos limita a cobrança pelo uso
dos recursos hídricos em cada modalidade ao seu respectivo preço de reserva (ou custo de
oportunidade) da água nesse uso. Isso garante, portanto, que os preços ótimos se situem
efetivamente dentro da capacidade de pagamento de seus usuários. A propósito, a política
de preços ótimos, restringiu o preço ótimo pelo uso da água para irrigação ao seu preço de
reserva. De fato, essa restrição garantiu aos irrigantes um preço compatível com a
capacidade de pagamento dos mesmos.
Espera-se que este estudo possa servir para orientar os futuros estudos nessa
área e subsidiar a recém criada Agência Nacional de Águas, a qual caberá implementar esse
importante instrumento de política, contribuindo assim para aprimorar o gerenciamento dos
recursos hídricos no país.
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