Sie sind auf Seite 1von 25

_________________________________________________________________________

FÓRUM BANCO DO NORDESTE DE DESENVOLVIMENTO


VII ENCONTRO REGIONAL DE ECONOMIA DA ANPEC

ÁREA I

ECONOMIA REGIONAL

ARTIGO:

A COBRANÇA PELO USO DA ÁGUA EM BACIAS


DE DOMÍNIO DA UNIÃO: O CASO DA BACIA DO
VAZA-BARRIS

AUTORES:
José Carrera Fernandez
Professor do Curso de Mestrado em Economia da Universidade Federal da Bahia e PhD*
em Economia pela The University of Chicago.

Praça 13 de Maio, 6 – Piedade


40.070-010, Salvador – BA
(71)329-4522, R. 215
<carrera@ufba.br>

Rogério Pereira
Professor e Coordenador do Curso de Economia da Faculdade de Tecnologia e Ciências
(FTC/Feira) e Mestre em Economia pela Universidade Federal da Bahia
Rua Felinto Marques Cerqueira, 952
Capuchinhos, Feira de Santana
(75) 623-3805
<profrogerio@uol.com.br>

_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________

A COBRANÇA PELO USO DA ÁGUA EM BACIAS DE DOMÍNIO


DA UNIÃO: O CASO DA BACIA DO VAZA-BARRIS

SUMÁRIO
Este trabalho aborda a questão da cobrança pelo uso da água em sistemas de
bacias hidrográficas de domínio da União, importante instrumento de gestão dos recursos
hídricos, e discute os principais aspectos teóricos e metodológicos que norteiam a formação
dos preços pelo uso da água. A cobrança pelo uso da água foi justificada como mecanismo
de racionalizar o seu uso e corrigir as externalidades no consumo e na produção, na medida
que internaliza aos custos privados os verdadeiros custos sociais. Tomando-se como
referência a metodologia de preços ótimos, determinam-se os preços pelo uso da água nas
várias modalidades previstas para a bacia hidrográfica do rio Vaza-Barris. Esta bacia foi
tomada para objeto de estudo por ser uma importante fonte de suprimento de água, capaz de
resolver os graves e constantes problemas relacionados aos racionamentos e conflitos pelo
uso da água nessa região. Tomou-se a metodologia de preços ótimos para nortear a
cobrança pelo uso da água porque esta propicia uma alocação eficiente dos recursos
hídricos na economia, tendo em vista que a diferença entre os benefícios e os custos sociais
é maximizada, ao tempo em que os impactos distributivos negativos na economia são
minimizados.
PALAVRAS-CHAVE: Cobrança pelo uso da água, bacia hidrográfica, recursos hídricos

ASBTRACT
This paper approaches the question of charging for water utilization in river
basin systems of federal government domain, one of the main instruments of water
resources management, and discuses the main theoretical and methodological aspects to
price formation for water utilization. The charging for water utilization was justified as a
mechanism to rationalize its use and to correct the externalities on consumption and
production, given that it internalizes the true social costs into private costs. Taking the
methodology of optimal prices as a reference, this paper determines the water prices for all
expected modalities of uses in the Vaza-Barris river basin. This basin was taken to study
because it is a very important source of bulk water capable to solve the constant problems
of rationing of water supply in that region. The charging for water utilization through the
optimal prices implies an efficient allocation of water resources in the economy, given that
it maximizes the difference between social benefits and costs, and minimizes the negative
effects on the economy.
KEY WORDS: Charging for water use, water basin, water resources

JEL Classification: D62, H23, Q25

_________________________________________________________________________
2
_________________________________________________________________________

1. INTRODUÇÃO

A água, apesar de estar sempre se renovando através do ciclo hidrológico, é


um recurso natural escasso, principalmente para aquelas bacias hidrográficas com altas
demandas, como é o caso da bacia do Vaza-Barris. Atualmente, a bacia apresenta balanços
hídricos críticos e já enfrenta problemas de poluição de seus recursos hídricos, mas podem
se tornar ainda piores se providências urgentes não forem tomadas, as quais também
demandam recursos públicos escassos. A conciliação de demandas cada vez maiores com a
limitada oferta dos recursos hídricos já é um problema sério na referida bacia hidrográfica,
mas que pode se agravar ainda mais se a cobrança pelo uso da água não for rapidamente
implementada.
O problema surge porque cada usuário dos recursos hídricos, ao decidir
quanto deveria consumir, não leva em consideração o efeito que suas decisões de consumo
causa aos demais usuários do sistema hídrico. Nesse sentido, as decisões individuais de
cada usuário desses recursos, ao afetar negativamente o nível de utilização dos demais,
causa um custo social que não é contabilizado aos seus custos privados de utilização da
água. Assim, objetivando tornar a alocação da água mais eficiente é que o estado, através
da instituição ou órgão gestor de recursos hídricos, pode e deve intervir na sua alocação
entre os múltiplos usuários, por meio da adoção de ações e instrumentos de gestão. Um
desses instrumentos é a cobrança pelo uso da água.
O marco legal da cobrança pelo uso dos recursos hídricos está definido pelo
Código Civil Brasileiro de 1916, pelo Código de Águas de 1934, e pelas Leis Federais n°
6.938/81, n° 9.433/97 e n° 9.984/00. O Código Civil de 1916 estabelece que o uso comum
das águas pode ser gratuito ou retribuído, conforme as leis da união, dos estados ou dos
municípios, a cuja administração pertencerem. Mais específico ainda é o Código de Águas,
que prevê a remuneração pelo uso das águas, exceto para satisfazer as primeiras
necessidades da vida, assim como obriga o poluidor a pagar o custo incorrido pelo serviço
de recuperação das águas degradadas.
Os agentes que estão obrigados a pagar são todos aqueles usuários dos
recursos hídricos sujeitos ao instrumento da outorga. Estão desobrigados do pagamento
pelo uso dos recursos hídricos os usuários de vazões consideradas insignificantes, que
também estão desobrigados de se submeterem à outorga. Assim sendo, deverão constituir o
contingente de pagadores pela utilização dos recursos hídricos: (i) as empresas e/ou os
serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário; (ii) as indústrias e
agroindústrias localizadas fora das redes públicas de distribuição de água e coleta de
esgotos; (iii) os irrigantes; (iv) os piscicultores; e (v) outros usuários não especificados mas
que dependam da outorga de direito de uso dos recursos hídricos.
Com a criação da Agência Nacional de Águas – ANA, caberá a essa agência
implementar a cobrança pelo uso da água em bacias de domínio da União, importante
instrumento econômico de gestão dos recursos hídricos1. Objetivando subsidiar os estudos

1
Foi aprovado pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, no dia 7 de junho de 2000, o projeto de
criação da ANA, autarquia autônoma, administrativa e financeiramente, que passará a desenvolver a
Política Nacional de Recursos Hídricos que, além de implementar a cobrança pelo uso dos recursos hídricos
em bacias do domínio da União, terá a incumbência de outorgar o uso dos recursos hídricos da União,
regular os serviços de água concedidos à iniciativa privada, definir as condições de operação de
reservatórios e traçar planos para minimizar os efeitos das secas e inundações, entre outras.

_________________________________________________________________________
3
_________________________________________________________________________

nessa área, este trabalho avalia os preços pelo uso da água para os múltiplos usuários do
sistema hídrico do Vaza-Barris, tomando como referência a metodologia de preços ótimos.
Essa metodologia se preocupa explicitamente com a eficiência na alocação dos recursos
hídricos entre os seus múltiplos usuários, além do que minimiza os impactos distributivos
negativos na economia.
Além dessa introdução, este trabalho contém mais seis seções. Na segunda
seção apresentam-se os principais aspectos teóricos a cerca do instrumento de cobrança
pelo uso da água, destacando-se a metodologia de preços ótimos, que servirá para nortear as
estimativas de preços pelo uso da água nas várias modalidades. A seção seguinte contém
uma caracterização geral da bacia do Vaza-Barris, objetivando estimar suas demandas,
disponibilidades e balanço hídrico. Na quarta seção avaliam-se as funções de demanda por
água e as elasticidades-preço nas várias modalidades de uso. A seção seguinte estima os
custos de gerenciamento dos recursos hídricos, visando quantificar o custo marginal de
gerenciamento, informação fundamental para definir a política de preços ótimos. Na sexta
seção são avaliados os preços ótimos pelo uso da água, objeto de estudo deste trabalho. Na
última seção apresentam-se as conclusões e considerações finais deste trabalho.

2. ASPECTOS TEÓRICOS DA COBRANÇA PELO USO DA ÁGUA


Apresentam-se a seguir os aspectos teóricos que norteiam a cobrança pelo
uso da água, partindo-se do princípio fundamental de que a água é um bem escasso, com
valor econômico, justificando assim a sua cobrança. Inicialmente, aborda-se a questão dos
objetivos da cobrança pelo uso da água. Em seguida, discute-se a base teórica dos critérios
econômicos para a valorização da água em seus múltiplos usos, visando determinar preços
ótimos para as várias modalidades de uso da água, os quais possam efetivamente gerar uma
alocação eficiente desse recurso na economia, tanto no consumo quanto na produção, com
ganhos para toda a sociedade. Finalmente, apresenta-se a metodologia de preços ótimos, a
qual servirá para nortear as estimativas elaboradas neste trabalho. Estudos anteriores
demostraram a superioridade dessa metodologia sobre as demais, principalmente por
refletir ganhos de eficiência na alocação dos recursos e equidade, ao impor custos e ônus
para todos os seus usuários, mas cobrando menos daqueles que menos condições têm de
arcar com tais custos e cobrando mais daqueles usuários mais abastados (Carrera-
Fernandez, 2000).

2.1 OBJETIVOS DA COBRANÇA PELO USO DA ÁGUA


A cobrança pelo uso da água é um dos instrumentos de gestão mais
apropriado e eficaz para induzir o uso racional dos recursos hídricos e combater o uso
perdulário da água. A cobrança pelo uso da água é uma das armas do “arsenal” econômico,
que vem reforçar uma série de outros instrumentos de ação e controle, cujo objetivo
principal é alocar eficientemente os recursos hídricos entre seus múltiplos usuários, além de
racionalizar o seu uso.
Além do mais, a cobrança pelo uso dos recursos hídricos atua como um
elemento indutor da gestão participativa, descentralizada e integrada de todos os
interessados, uma vez que os integrantes do comitê, entre outras coisas, deverão discutir os
níveis de preços, a maneira de se implementar esse instrumental, e as necessárias alterações
de rumo, quando o instrumento da cobrança estiver sendo aplicado. Adicionalmente, as
principais decisões sobre a cobrança serão tomadas no âmbito da própria bacia, com o

_________________________________________________________________________
4
_________________________________________________________________________

apoio técnico dos órgãos que compõem o sistema integrado de gerenciamento dos recursos
hídricos, razão porque o exercício da cobrança é considerado como atividade
descentralizada, por excelência.
Os principais objetivos da cobrança pelo uso dos recursos hídricos são: (i)
gerenciar a demanda, influenciando, inclusive, na decisão de localização da atividade
econômica; (ii) redistribuir de forma mais justa os custos sociais, na medida que impõe
preços diferenciados para usuários diferentes; (iii) melhorar a qualidade dos efluentes
industriais e esgotamentos sanitários lançados nos corpos de água; (iv) promover a
formação de fundos para financiar ações públicas através de projetos, obras, programas e
outros trabalhos necessários ao setor; e (v) incorporar ao planejamento global as dimensões
social e ambiental.
Em se tratando de um instrumento voltado para a gestão dos recursos
hídricos, os recursos arrecadados com a cobrança devem ser totalmente dirigidos e
aplicados em atividades do próprio setor. Transferências de recursos de uma bacia
hidrográfica para outra não deveriam ser contempladas, exceto quando houvesse
transposições de águas que justificassem tais transferências de recursos. Segundo o Art. 22
da Lei No. 9.433/97, os valores resultantes da cobrança pelo uso dos recursos hídricos serão
aplicados, prioritariamente, na região ou bacia hidrográfica em que forem arrecadados2.
Diferentemente de algumas leis estaduais, essa lei não prevê explicitamente a transferência
de recursos arrecadados com a cobrança pelo uso dos recursos hídricos para outras bacias
hidrográficas.
2.2 METODOLOGIAS ALTERNATIVAS PARA FORMAÇÃO DE PREÇOS E A
POLÍTICA DE PREÇOS ÓTIMOS PELO USO DA ÁGUA
A valorização econômica da água é um tema bastante complexo que, além
das diretrizes econômicas, envolve questões legais, institucionais, técnicas e sociais. A
questão do quanto se deve pagar pelo uso da água está intimamente relacionada ao tema da
formação de preços, importante capítulo da teoria econômica. Além da escolha do modelo
econômico mais apropriado, a tarefa de estabelecer um valor para a água requer uma
sofisticada capacidade institucional, em termos de informação, monitoramento e
implementação de políticas. Existe uma grande variedade de metodologias para formação
de valor ou preço de um bem público, como a água. Essas metodologias se fundamentam
em uma gama de diferentes teorias econômicas.
A busca da melhor metodologia para nortear a formação dos preços pelo uso
da água deve ser feita de modo a atender pelo menos quatro objetivos básicos, que são: (i)
obtenção de uma alocação eficiente dos recursos hídricos entre os múltiplos setores
usuários; (ii) internalização dos custos sociais aos custos privados; (iii) introdução do
verdadeiro custo de oportunidade da água em cada uso; e (iv) auto suficiência do sistema

2
De acordo com o seu Art. 22, os recursos da cobrança servirão para: (i) financiar estudos, programas,
projetos e obras incluídas nos Planos de Recursos Hídricos, com vistas ao monitoramento, conservação, uso
racional, controle e proteção dos recursos hídricos, superficiais e subterrâneos, além de outros programas
conjuntos entre União, Estados e Municípios, relativos ao aproveitamento múltiplo, controle, conservação e
proteção dos recursos hídricos e defesa contra eventos críticos que ofereçam perigo à saúde pública e
prejuízos econômicos ou sociais; e (ii) cobrir as despesas de implantação e custeio administrativo (tais
como, programas de estudos e pesquisas, desenvolvimento tecnológico e capacitação de recursos humanos)
de interesse dos órgãos e entidades do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Nesse
caso específico, os recursos gastos não deverão ultrapassar os 7,5% do total arrecadado.

_________________________________________________________________________
5
_________________________________________________________________________

hídrico, permitindo que o mesmo seja capaz de financiar o seu próprio plano de
investimento programado (Carrera-Fernandez e Garrido, 2001).
Uma metodologia que tem demonstrado superioridade sobre as demais e
atende a todos esses objetivos é a de preços ótimos (Carrera-Fernandez, 2000 e Carrera-
Fernandez e Garrido, 2001). Derivada a partir de um processo de otimização do bem-estar
social em second best, a metodologia de preços ótimos leva em consideração a capacidade
de pagamento dos múltiplos usuários de um sistema hídrico, ao estabelecer que os preços
pelo uso da água devem ser inversamente proporcionais às elasticidades-preços da demanda
(em valor absoluto). Dessa forma, quanto menor for a elasticidade-preço para uma
determinada modalidade de uso da água, maior deverá ser o seu preço em relação ao custo
marginal e vice-versa. Isso significa que a cobrança de preços diferenciados minimiza as
distorções no consumo e na produção, em relação aos seus níveis socialmente ótimos. Além
do mais, essa metodologia estabelece um mecanismo de correção das distorções do custo
social, de modo que as externalidades negativas impostas pelos usuários da água (tanto no
consumo, quanto na produção) são forçosamente internalizadas aos custos privados,
contribuindo assim para melhorar a alocação dos recursos hídricos entre os múltiplos
usuários do sistema.

3. CARACTERIZAÇÃO E DESCRIÇÃO DA BACIA DO VAZA BARRIS:


DEMANDAS, DISPONIBILIDADE E BALANÇO HÍDRICO
A bacia hidrográfica do rio Vaza Barris tem sua nascente localizada no
estado da Bahia, na Serra da Canabrava, no município de Uauá, e sua foz no estado de
Sergipe. A bacia do Vaza-Barris pertence a sub-bacia 50, segundo classificação do antigo
Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica – DNAEE, agora Agência Nacional de
Energia Elétrica – ANEEL. Por estar inserida nos territórios de dois estados, a gestão dos
recursos hídricos do rio Vaza-Barris é de competência da União.
No território baiano, a bacia do Vaza-Barris abrange (parcial ou totalmente)
doze municípios e abriga uma população de 297.249 habitantes, dos quais 30% estão na
zona urbana e 70% na zona rural3. Os municípios baianos que fazem parte da bacia são:
Adustina, Antas, Canudos, Coronel João Sá, Euclides da Cunha, Jeremoabo, Monte Santo,
Novo Triunfo, Paripiranga, Pedro Alexandre, Sitio do Quinto e Uaua.
No território sergipano a bacia do Vaza Barris abriga uma população de
748.365 habitantes, dos quais 80,4% estão na zona urbana e 19,6% na zona rural4. São
quatorze os municípios que integram parcial ou totalmente a bacia nesse estado, ou seja:
Aracaju, Areia Branca, Campo do Brito, Carira, Frei Paulo, Itabaiana, Itaporanga D’Ajuda,
Lagarto, Macambira, Pedra Mole, Pinhão, São Cristovão, São Domingos e Simão Dias,
todos no Estado de Sergipe.
Por apresentar irregularidade e elevada deficiência hídrica, as atividades
agrícolas nessa região ficam condicionadas aos períodos chuvosos através de cultivos
tradicionais, ou seja, feijão, milho e mandioca. A agricultura irrigada está concentrada nas
proximidades do açude de Cocorobó e em alguns trechos do rio Vaza-Barris, nos

3
Estimativas em dezembro de 1998, tomando-se por base os dados de 1991 do Plano Diretor de Recursos
Hídricos para a referida bacia hidrográfica e aplicando-se uma taxa de crescimento de 1,5% ao ano.
4
Estimativas em dezembro de 1998.

_________________________________________________________________________
6
_________________________________________________________________________

municípios de Canudos e Jeremoabo, principalmente, com cultivos de tomate, pimentão,


melão, melancia, manga, banana, entre outros5.
Todos os municípios integrantes da bacia do Vaza-Barris dispõem de
sistemas de abastecimento de água, varrição de rua e coleta de lixo nas sedes. No entanto,
nenhum município dispõe de aterro sanitário, bem como não existe coleta e tratamento de
esgotos domésticos, constituindo-se assim em vetores de poluição ambiental de grande
magnitude na região. As condições extremamente precárias de saneamento básico (lixo e
esgotamento dispostos a céu aberto), comprometem os mananciais de superfície, o que é
agravado pela inexistência, em boa parte do tempo, de vazões suficientes dos rios para
diluir a carga poluidora neles descartada. O comprometimento dos mananciais subterrâneos
pode ser ainda mais grave devido a dificuldade de reversão dos episódios de poluição,
quando estes tenham se manifestado.
A quase totalidade dos cursos de água dessa região mostra-se intermitente.
As características semi-áridas de baixa pluviosidade, vegetação tipo caatinga, solos com
baixa capacidade de retenção hídrica, altas taxas de evaporação, aliada ao fato de que a
alimentação hídrica atmosférica não ser armazenada nas bacias, definem o caráter
esporádico dos escoamentos superficiais, altamente dependentes das precipitações. O
QUADRO 3.1 mostra as vazões média, mínima e máxima em postos específicos da bacia
hidrográfica do rio Vaza-Barris.
QUADRO 3.1: VAZÕES MÉDIA, MÍNIMA E MÁXIMA NA BACIA
HIDROGRÁFICA DO RIO VAZA-BARRIS (m3/s)
MÉDIA MÍNIMA MÁXIMA
POSTO (Q90) 7 DIAS (10%) (10%)
• Canudos 1,5 0,00 209,0
• Jeremoabo 1,0 0,03 62,0

FONTE: PERH/SRH (1996)


Os principais açudes na bacia do rio Vaza-Barris são: (a) Cocorobó, no
município de Euclides da Cunha, o mais importante da região, com um volume de 2,43x108
m3, cujas finalidades de uso são o abastecimento humano, a agricultura irrigada e a
piscicultura extensiva; (b) Adustina, no município de Paripiranga, com um reservatório de
1,34x107 m3, cuja utilização principal é a piscicultura e a irrigação de várzeas; (c)
Rodeador, no município de Uauá, cujo reservatório tem capacidade para armazenar 1,2x106
m3, e tem por objetivo o abastecimento da cidade de Uauá. Já foram estudados os açudes de
Barra, Caxias e Monte Alverne, todos no município de Cícero Dantas. Os dois primeiros
tem por finalidade o abastecimento humano, a dessedentação de animais, a piscicultura e a
irrigação, enquanto que o último é destinado exclusivamente à irrigação.
O rio Vaza-Barris apresenta deflúvios mais constantes decorrente da
regularização promovida pelo açude de Cocorobó, construído pelo Departamento Nacional
de Obras Contra as Secas – DNOCS, o qual foi dimensionado para regularizar uma vazão
de 1.500 l/s com 90% de garantia. Contudo, essa vazão é quase totalmente consumida pelo
perímetro irrigado de Canudos, que atualmente irriga uma área de 1.230 hectares. Nesse
local, os dados registravam uma intermitência do curso de água, com ocorrência de vazões
nulas até vazões da ordem de 650 m3/s, indicando o potencial de enxurrada da bacia.

5
Em levantamento realizado nos perímetros irrigados de Canudos, Jeremoabo e Coronel João Sá, o Plano
Diretor dos Recursos Hídricos da Bacia do Vaza-Barris identificou e cadastrou 222 irrigantes nessa região.

_________________________________________________________________________
7
_________________________________________________________________________

A situação na bacia do rio Vaza-Barris é crítica, principalmente na região do


semi-árido. O forte período de seca verificado no biênio 97/98 afetou sobremaneira a
disponibilidade hídrica superficial da região. Apenas para se ter uma idéia, ao final do mês
de abril desse ano, portanto após o período de chuvas que praticamente não ocorreu, o
açude de Cocorobó estava com cerca de 30% de sua capacidade útil, não sendo esperada
mais nenhuma recarga, uma vez que o período de chuvas na região de Canudos já havia
passado. A essa situação juntou-se o fato de que só seriam esperadas chuvas a partir do mês
de novembro. Estabeleceram-se assim as pre-condições para conflitos de uso dos recursos
hídricos na referida bacia.
A disponibilidade hídrica da bacia hidrográfica do Vaza-Barris não tem sido
suficiente para atender a todas as demandas, de modo que o balanço hídrico (oferta versus
demanda) tem sido negativo, o que implica a necessidade de providências no campo da
gestão do uso da água. Os usuários à jusante do perímetro irrigado de Jeremoabo cobram do
DNOCS a liberação de mais água do açude para atender as demandas para irrigação. Por
outro lado, os irrigantes do perímetro irrigado de Canudos oferecem resistências a essa
idéia, e tudo isso é agravado pelo quadro de seca. Nesse sentido o DNOCS têm operado o
açude das mais diversas formas, objetivando racionar o uso da água e tentar atender pelo
menos as demandas mais prioritárias, situação essa que tem contrariado os irrigantes
localizados entre o açude e a cidade de Jeremoabo.
Os baixos índices pluviométricos e a distribuição irregular das precipitações
na zona semi-árida condicionam o uso da terra à agricultura irrigada. Ou seja, além dos
problemas constantes enfrentados pelos usuários de água dos afluentes (intermitentes) do
rio Vaza-Barris, instalou-se o conflito pelo uso da água do açude de Cocorobó. Isto
significa dizer que os problemas de conflito na bacia já chegaram à sua fonte de maior
capacidade, o que torna ainda mais grave o problema. O perímetro irrigado de Canudos,
para o qual o referido açude foi construído, possui uma área irrigada atual de 1.250 ha, com
um consumo de 1,2 l/s/ha. Em uma faixa de aproximadamente 90 km à jusante do açude até
a cidade de Jeremoabo, existem cerca de 400 ha de cultura irrigada de banana e hortaliças
os quais consomem 480 l/s e que conta com pequenos aportes de vazão que ocorrem no
trecho, além do que sobra da regularização do açude de Cocorobó, após o consumo do
perímetro irrigado de Canudos. O QUADRO 3.2 apresenta as demandas por água para
abastecimento e para irrigação no Vaza-Barris à jusante do açude de Cocorobó.
QUADRO 3.2: DEMANDAS EXISTENTES À JUSANTE DO AÇUDE DE COCOROBÓ
DEMANDA (m3/s)
LOCAL ABASTECIMENTO IRRIGAÇÃO
• Sistema de Canudos 0,009 -
• Sistema de Jeremoabo 0,033 -
• Perímetro irrigado de Canudos - 1,500
• Perímetro irrigado de Jeremoabo - 0,480
• Perímetro irrigado de Coronel João Sá - 0,007
TOTAL 0,042 1,987

FONTE: Governo do Estado da Bahia (1996)

Os balanços hídricos desconfortáveis e a degradação qualitativa das águas


superficiais e subterrâneas na bacia hidrográfica do Vaza-Barris deixam os usuários dos
recursos hídricos da região em uma posição altamente vulnerável, com capacidade limitada
para atender o crescimento de demanda. Embora o suprimento do perímetro irrigado de
Canudos esteja garantido pelo açude de Cocorobó, não existe mais espaço para expansão
_________________________________________________________________________
8
_________________________________________________________________________

desse perímetro de irrigação. Apenas o perímetro irrigado de Jeremoabo tem condições de


ser expandido, o qual está limitado ás vazões remanescentes liberadas pelo açude de
Cocorobó após os consumos de Canudos.
A maioria dos municípios nessa região é abastecida por mananciais
subterrâneos, sendo o uso destinado principalmente ao consumo humano. No entanto, cerca
de 30% dos poços servem apenas para consumo animal devido ao alto índice de salinidade.
A maioria das captações para abastecimento humano é feita através de poços profundos.
Isso se deve ao fato de grande parte da bacia estar dentro da área de semi-árido, o que
significa um parco potencial de águas superficiais. A Companhia de Engenharia Rural da
Bahia – CERB cadastrou cerca de 200 poços na região com vazões variando de 0,36 m3/h a
130 m3/h, com média de 8 m3/h. Vale ressaltar que o aqüifero da bacia de Tucano é o mais
promissor na bacia do rio Vaza-Barris em termos de potencial hidrogeológico. As altas
vazões e a boa qualidade de suas águas, as quais apresentam baixos teores de sais
dissolvidos, favorecem o uso dessas águas para abastecimento e irrigação.
Os rios que compõem a bacia do rio Vaza-Barris recebem os esgotos
domésticos das cidades localizadas em suas margens, apresentando altos índices de
contaminação bacteriológica. Tal situação agrava-se nos trechos onde o fluxo de água é
interrompido nos meses de estiagem, comprometendo assim o abastecimento humano, cuja
prioridade é, por força de lei, absoluta.
O QUADRO 3.3 mostra a demanda potencial de água para abastecimento
humano e diluição de carga orgânica potencial na bacia hidrográfica do rio Vaza-Barris, por
município no estado da Bahia. Para o cálculo das demandas por água para abastecimento
humano dos municípios, tomou-se o consumo diário médio de 120 l/pessoa/dia (média do
consumo de 150 l/pessoa/dia para a população urbana e 80 l/pessoa/dia para a população
rural). No que concerne a estimativa da demanda por água para diluição de carga orgânica
potencial (em esgotamentos sanitários), considerou-se apenas a contribuição dos
municípios que têm suas sedes municipais dentro da área da bacia, tomando-se o
coeficiente padrão de 0,04 kgDBO/dia x pessoa. A demanda potencial por água para
abastecimento da população dos municípios integrantes da bacia é de cerca de 0,413 m3/s.
Dessa forma, estima-se uma carga orgânica potencial é de cerca de 7.655 kgDBO/dia.
QUADRO 3.3: DEMANDA POR ÁGUA PARA ABASTECIMENTO E DILUIÇÃO DE CARGA
ORGÂNICA POTENCIAL POR MUNICÍPIO NA BACIA DO VAZA-BARRIS (BAHIA)
DEMANDA PARA CARGA ORGÂNICA
MUNICÍPIO POPULAÇÃO ABASTECIMENTO POTENCIAL
(m3/s) (kgDBO/dia)
Adustina* 12.196 0,017 487,84
Antas * 11.839 0,016 473,56
Canudos* 17.778 0,025 711,12
Coronel João Sá* 19.611 0,027 784,44
Euclides da Cunha 51.731 0,072 -
Jeremoabo* 34.365 0,048 1.374,60
Monte Santo 54.139 0,075 -
Novo Triunfo* 13.648 0,019 545,92
Paripiranga* 27.354 0,038 1.094,16
Pedro Alexandre* 15.625 0,022 625,00
Sitio do Quinto* 14.202 0,020 568,08
Uauá* 24.761 0,034 990,44

TOTAL 297.249 0,413 7.655,16

FONTE: A população foi estimativa com dados do IBGE (1996), adotando-se a taxa anual de crescimento de 1,5%.
* Municípios que têm suas sedes municipais dentro da área da bacia.

_________________________________________________________________________
9
_________________________________________________________________________

Segundo estudos de viabilidade para a bacia hidrográfica do rio Vaza-Barris,


elaborados pelo governo do estado de Sergipe, o município de Lagarto pode vir a ser um
polo de produção agrícola irrigada naquele estado. O projeto de irrigação do Vaza-Barris,
juntamente com a pecuária, o comércio e as indústrias de processamento de fumo,
torrefação de café e plástico, entre outras de pequeno porte, podem servir de suporte para o
desenvolvimento econômico da região. No entanto, a agricultura é o principal sustentáculo
da economia local, principalmente pela capacidade que ela tem de gerar novos empregos,
em uma conjuntura marcada pela redução nos empregos na indústria. As principais culturas
produzidas nessa área são a laranja, a mandioca, o maracujá, o fumo e a acerola, entre
outras.
O QUADRO 3.4 mostra a demanda potencial de água para abastecimento
humano e diluição de carga orgânica potencial na bacia hidrográfica do rio Vaza-Barris, por
município para o estado de Sergipe. Para cálculo das demandas por água para
abastecimento humano dos municípios, tomou-se o consumo diário médio de 120
l/pessoa/dia (média do consumo de 150 l/pessoa/dia para a população urbana e 80
l/pessoa/dia para a população rural), com exceção do município de Aracaju, para o qual
tomou-se o consumo diário médio de 200 l/pessoa/dia. Para a determinação da demanda por
água para diluição de carga orgânica potencial (em esgotamentos sanitários), considerou-se
apenas a contribuição dos municípios que têm suas sedes municipais dentro da área da
bacia, e tomou-se o coeficiente de 0,04 kgDBO/dia x pessoa. A demanda potencial por água
para abastecimento humano é da ordem de 1,45 m3/s. Estimou-se uma carga orgânica
potencial de quase 5.000 kgDBO/dia.
Segundo o Plano de Desenvolvimento de Recursos Hídricos para a bacia do
Vaza-Barris, em Sergipe, a construção do açude do Vaza-Barris, com capacidade para
armazenar um total de 9,25x107 m3 de água e uma capacidade efetiva de 7,281x107 m3,
permitirá ampliar o abastecimento urbano e industrial da região em análise, além de
permitir expandir a área irrigada em 2.500 ha. O açude do Vaza-Barris está previsto para
ser construído a 22 km ao sul do município de Itabaiana e a 24 km ao leste da cidade de
Lagarto. As demandas máximas por água desse açude estão estimadas em 3,976 m3/s, dos
quais 2,912 m3/s são para projetos de irrigação e 1,064 m3/s para abastecimento municipal e
industrial. Deve-se ressaltar que a vazão média anual para irrigação é de 1,2 m3/s.
QUADRO 3.4: DEMANDA POR ÁGUA PARA ABASTECIMENTO E DILUIÇÃO DE CARGA
ORGÂNICA POTENCIAL POR MUNICÍPIO NA BACIA DO VAZA-BARRIS (SERGIPE)
DEMANDA PARA CARGA ORGÂNICA
ABASTECIMENTO POTENCIAL
MUNICÍPIO POPULAÇÃO
(m3/s) (kgDBO/dia)
Aracaju 446.536 1,03 -
Areia Branca 11.700 0,00014 -
Campo do Brito* 14.894 0,00017 595,76
Carira 17.112 0,00020 -
Frei Paulo* 11.407 0,00013 456,28
Itabaiana 34.278 0,00040
Itaporanga D’Ajuda* 22.556 0,00026 902,24
Lagarto 80.069 0,00093 -
Macambira* 5.514 0,00006 220,56
Pedra Mole* 2.380 0,00003 95,20
Pinhão* 4.917 0,00006 196,68
São Cristovão* 52.782 0,00061 2.111,28
São Domingos* 8.604 0,00010 344,16
Simão Dias 35.733 0,00041 -

TOTAL 748.365 1,45 4.922,16

FONTE: A população foi estimada com base em dados do IBGE (1991), adotando-se a taxa de crescimento de 1,5% a.a.
* Municípios que têm suas sedes municipais dentro da área da bacia.

_________________________________________________________________________
10
_________________________________________________________________________

O QUADRO 3.5 resume as demandas totais por água nas várias modalidades
de uso para a bacia hidrográfica do Vaza-Barris, nos estados da Bahia e Sergipe. Pode-se
observar que a irrigação, com uma necessidade de água da ordem de 4,93 m3/s, é a
modalidade de uso que mais demanda água da bacia, correspondendo a cerca de 53% de
toda água da bacia. Logo a seguir vem o abastecimento humano com uma demanda de água
de 4,17 m3/s, o que representa quase 45% da demanda total de água na bacia. A carga
orgânica proveniente de esgotamentos sanitários foi estimada em 15.425,52 kgDBO/dia,
enquanto que para os sgotamentos industriais foi de 19.662,40 kgDBO/dia.
QUADRO 3.5 : DEMANDA POR ÁGUA NA BACIA DO RIO VAZA-BARRIS NAS VÁRIAS
MODALIDADE DE USO, POR ESTADO E POR TIPO DE MANANCIAL ((m3/s))
MANANCIAL SUPERFICIAL MANANCIAL SUBTERRÂNEO
PROJETO BAHIA SERGIPE BAHIA SERGIPE TOTAL

Abastecimento humano 1,75 1,86 0,34 0,22 4,17


Abastecimento industrial 0,12 0,14 - 0,01 0,27
Irrigação 2,02 2,91 - - 4,93
Esgotamento sanitário* 7.655,16 2.953,30** 2.848,16 1,968,90 15.425,52
Esgotamento industrial*# 8.683,60 9.676,80 610,80 691,20 19.662,40

FONTE: Governo de Sergipe (1999), Governo do Estado da Bahia (1996), QUADROS 3.3 e 3.4 e cálculos no texto.
* Demanda para diluição de carga orgânica (kgDBO/dia)
** Avaliado com base no percentual de 60% da carga orgânica potencial total no Estado.
#
Calculado com base no índice de 0,8 kgDBO/m3 de água consumida pela indústria (concentração média para as
atividades agroindustriais, matadouros, frigoríficos e curtumes).

4. AS FUNÇÕES DE DEMANDA POR ÁGUA E AS ELASTICIDADES-PREÇO


Esta seção estima as funções de demanda marshalliana (ou ordinária) por
água bruta nas várias modalidades de uso, a partir do conceito de demanda “tudo ou nada”.
A função de demanda tudo ou nada, além de não apresenta as desvantagens da demanda
contigente, pode ser facilmente ajustada através de dois pares de pontos, obtidos através da
quantificação do preço de reserva ou custo de oportunidade da água em cada uso. O preço
de reserva da água é o máximo valor que os usuários estariam dispostos a pagar e ficarem
indiferentes entre continuarem a consumir a água do manancial em questão ou buscarem
uma alternativa menos custosa que cause o mesmo efeito. Assim, a função de demanda
ordinária por água poderia ser obtida através da derivada da função de demanda tudo ou
nada (Carrera-Fernandez, 2000).
4.1 PREÇOS DE RESERVA DA ÁGUA POR MODALIDADE DE USO
De acordo com Carrera-Fernandez (2000), o preço de reserva da água em um
dado uso pode ser estimado com base nos custos adicionais de substituição por uma
solução alternativa, ao se interromper o fornecimento ou a captação de água do manancial
em questão. A substituição hipotética por uma solução alternativa objetiva revelar a
máxima disposição de pagar pelo uso da água de cada usuário. Assim, o preço de reserva da
água é o máximo valor que os usuários estariam dispostos a pagar para continuarem a
utilizar a água, capturado pelo custo adicional da solução alternativa mais barata (ou menos
cara) disponível, e permanecerem indiferentes entre essas duas soluções alternativas.
O QUADRO 4.1.1 mostra as estimativas dos preços de reserva ou custos de
oportunidade da água para cada modalidade de uso da água para cada uma das soluções
alternativas estabelecidas na bacia hidrográfica do Vaza-Barris. Essas estimativas foram
obtidas com base no referencial metodológico estabelecido em Carrera-Fernandez (2000).
O primeiro desses preços de reserva da água em cada uso foi obtido admitindo-se uma

_________________________________________________________________________
11
_________________________________________________________________________

interrupção hipotética na utilização desse recurso, de modo que os usuários teriam que
buscar uma solução alternativa mais barata que cause o mesmo efeito e supra suas
necessidades de água. A quantidade, nesse caso, seria a própria demanda por água em cada
modalidade de uso. O segundo foi obtido ao se interromper, hipoteticamente, a utilização
desses recursos na referida bacia. A quantidade, nesse segundo par ordenado, será a
respectiva demanda por água em cada uso, nessa situação hipotética. Deve-se ressaltar que
preços de reserva são os elementos fundamentais para determinação das funções de
demanda “tudo ou nada” por água.
QUADRO 4.1.1: PREÇOS DE RESERVA DA ÁGUA E DEMANDAS PREVISTAS NAS
VÁRIAS MODALIDADES DE USO DA ÁGUA (BACIA DO RIO VAZA-BARRIS)

USOS PREÇO DE RESERVA* QUANTIDADE**


pr1 pr2 x1 x2

Abastecimento humano 0,49 3,86 6,05 3,33


Abastecimento industrial 2,74 6,91 0,27 0,07
Irrigação 9,54x10-3 1,35x10-2 4,93 3,94
Diluição de esgotamentos sanitário 0,04 0,71 15.425 2.314
Diluição de efluentes industriais 0,41 2,01 19.662 4.915

FONTE: cálculos do autor.


*
Os três primeiros preços em R$/m3 e os dois últimos em R$/kgDBO.
**
As três primeiras quantidades em m3/s e as duas últimas em kgDBO/dia.

4.2 ESPECIFICAÇÃO DAS DEMANDAS E DAS ELASTICIDADES-PREÇO


As funções de demanda tudo ou nada podem ser obtidas através do
ajustamento de uma função linear que passa por dois pontos (ou seja, dois pares preço de
reserva-quantidade), os quais foram obtidos na seção anterior e estão dispostos no
QUADRO 4.1.1. O QUADRO 4.2.1 mostra esses dois pontos (preço-quantidade) para cada
modalidade de uso, assim como os respectivos coeficientes linear (α) e angular (β)6, os
quais permitem estimar as funções lineares de demanda “tudo ou nada” em cada uso.
QUADRO 4.2.1: PARES DE PREÇO* E QUANTIDADE** E OS COEFICIENTES LINEAR E
ANGULAR DA DEMANDA TUDO OU NADA
PRIMEIRO PONTO SEGUNDO PONTO COEFICIENTE
USOS
pr1 x1 pr2 x2 α β

Abastecimento humano 0,49 6,05 3,86 3,33 6,45 -0,81


Abastecimento industrial 2,74 0,27 6,91 0,07 0,40 -0,05
Irrigação 9,54x10-3 4,93 1,35x10-2 3,94 7,32 -250
Diluição de esgotamentos sanitários 0,04 15.425 0,71 2.314 16207,75 -19568,66
Diluição de efluentes industriais 0,41 19.662 2,01 4.915 23440,92 -9216,88

FONTE: QUADRO 4.1.1 e cálculos do autor.


*
Os três primeiros preços em R$/m3 e os dois últimos em R$/kgDBO.
**
As três primeiras quantidades em m3/s e as duas últimas em kgDBO/dia.
Tendo em vista que as curvas de demanda ordinária correspondem às curvas
marginais das demandas tudo ou nada, então as funções de demanda ordinária por água nas
várias modalidades de uso podem ser derivadas a partir das funções de demanda tudo ou
nada, através de um processo de derivação das mesmas (Carrera-Fernandez, 2000). O
QUADRO 4.2.2 mostra as correspondentes funções de demanda “tudo ou nada” para cada
modalidade de uso na bacia hidrográfica do Vaza-Barris, assim como as respectivas
elasticidades preço da demanda por água, avaliadas nos respectivos pontos previstos de

6
Esses coeficientes são definidos por α = (x1pr2-x2pr1)/(pr2-pr1) e β = (x2-x1)/(pr2-pr1).

_________________________________________________________________________
12
_________________________________________________________________________

demanda. Vale ressaltar que essas estimativas servirão para nortear a definição da política
de preços ótimos pela cobrança pelo usos dos recursos hídricos, a ser avaliada a seguir.
QUADRO 4.2.2: DEMANDAS POR ÁGUA NOS VÁRIOS USOS E SUAS RESPECTIVAS
ELASTICIDADES PREÇO DA DEMANDA, EM VALOR ABSOLUTO
DEMANDAS DEMANDAS
USOS ε i 
TUDO OU NADA ORDINÁRIA
Abastecimento humano xah=6,45-0,81pah xah=6,45-1,62pah 0,13
Abastecimento industrial xai=0,40-0,05pai xai=0,40-0,10pai 1,01
Irrigação xi=7,31-250pi xi=7,31-500pi 0,97
Diluição de esgotamentos sanitários xes=16207,75-19568,66pes xes=16207,75-39137,32pes 0,10
Diluição de efluentes industriais xei=23440,92-9216,88pei xei=23440,92-18433,76pei 0,38

FONTE: Cálculos com base no QUADRO 4.2.1.

5. CUSTOS DE GERENCIAMENTO DOS RECURSOS HÍDRICOS


Esta seção faz um levantamento dos investimentos e dos custos de operação
e manutenção necessários para a gestão dos recursos hídricos da bacia hidrográfica do
Vaza-Barris, os quais servirão de balizadores para a determinação do sistema de preços
ótimos pelo uso da água a ser implementado na referida bacia hidrográfica. A seguir
avaliam-se o custo total e o custo médio na atividade de gestão dos recursos hídricos na
bacia do Vaza-Barris. Em seguida, determina-se o custo marginal da água no sistema
hídrico do rio Vaza-Barris, através de duas metodologias alternativas, ou seja, o custo
marginal de longo prazo e o custo marginal de racionamento.
5.1 INVESTIMENTOS PROGRAMADOS E CUSTOS DE OPERAÇÃO E
MANUTENÇÃO NA BACIA DO VAZA-BARRIS
O QUADRO 5.1.1 contém os investimentos necessários para expansão da
oferta de água para o abastecimento público e a agricultura irrigada na área da bacia
hidrográfica do Vaza-Barris, a preços de janeiro de 2000. Tais investimentos foram
avaliados com base no Plano Diretor de Recursos Hídricos para a referida bacia, elaborado
pelo Governo do Estado da Bahia, bem como observando-se as necessidades e
potencialidades registradas no Plano de Desenvolvimento de Recursos Hídricos para a
referida bacia, elaborado pelo Governo do Estado de Sergipe. Nesse levantamento
destacam-se os os investimentos programados com projetos de ampliação de sistema de
bastecimento em sete municípios e 20 comunidades rurais, bem como a construção de
várias estruturas armazenadoras de água na bacia hidrográfica do Vaza-Barris. Os
investimentos em projetos de ampliação de sistemas de abastecimento de água foram
tomados em duas etapas. Os recursos investidos na primeira etapa, que acontecerão no
início do período de planejamento, correspondem a 80% dos recursos totais previstos. Os
outros 20% restantes, serão exigidos na segunda etapa, serão investidos na ampliação dos
respectivos sistemas, após o período de dez anos. Os custos de operação e manutenção
desses projetos foram estimados com base no percentual usual de 10% do valor atual do
investimento planejado. Os valores extraídos do Plano Diretor de Recursos Hídricos do
Governo do Estado da Bahia, por estarem referidos a preços de 1996, foram atualizados
para valores correntes de janeiro de 2000, tomando-se a taxa acumulada de inflação nesse
período, a qual foi da ordem de 45%.
Conforme pode ser observado no rol de investimentos do QUADRO 5.1.1,
os recursos necessários para implementar tais projetos estão estimados em R$

_________________________________________________________________________
13
_________________________________________________________________________

151.786.209,40 (valor presente), com custos de operação e manutenção da ordem de R$


15.178.620,94.
QUADRO 5.1.1: INVESTIMENTOS E CUSTOS DE OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO PARA
EXPANÇÃO DA OFERTA DE ÁGUA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO VAZA-BARRIS
(VALORES EM REAIS - A PREÇOS DE JANEIRO DE 2000)
INVESTIMENTO OPERAÇÃO E
PROJETOS VALOR ATUAL
1ª ETAPA 2ª ETAPA MANUT.

Projetos de ampliação de sistemas de abastecimento d’água 21.322.209,40 17.057.767,52 13.244.709,17 2.132.220,94


Sistema de irrigação do vaza-barris (sergipe) 80.000.000,00 64.000.000,00 49.693.571,33 8.000.000,00
Barragem do vaza-barris (sergipe) 50.000.000,00 50.000.000,00 - 5.000.000,00
Estruturas armazenadoras
• Poços domésticos 72.500,00 72.500,00 - 7.250,00
• Microbarragens 116.000,00 116.000,00 - 11.600,00
• Cisternas 116.000,00 116.000,00 - 11.600,00
• Barragens subterrâneas 159.500,00 159.500,00 - 15.950,00

TOTAL 151.786.209,40 131.521.767,52 62.938.280,50 15.178.620,94

FONTE: Governo do Estado da Bahia (1996) e Governo de Sergipe (1999).

O QUADRO 5.1.2 faz um levantamento dos estudos, ações e programas


previstos para a área da bacia do Vaza-Barris e os seus respectivos recursos, a preços
correntes de janeiro de 2000. O investimento total necessário para implementar tais estudos,
ações e programas está orçado em R$ 3.861.205, com custos de operação e manutenção da
ordem de R$ 3.945.450.
QUADRO 5.1.2: INVESTIMENTOS PLANEJADOS E CUSTOS ANUAIS DE OPERAÇÃO E
MANUTENÇÃO NA BACIA HIDROGRÁFICA DO VAZA-BARRIS (EM R$)
DISCRIMINAÇÃO INVESTIMENTO CUSTOS DE OPER. E
MANUT.
Antiprojetos de coleta e tratamento de esgotos urbanos 1.665.615,00 -
Plano diretor de resíduos sólidos 381.640,00 -
Estudos de préviabilidade de barragens (Vaza-Barris) 145.000,00 -
Estudos hidrológicos 429.200,00 -
Estudo geoambiental 43.500,00 -
Estudos de solos para irrigação 36.250,00 -
Enquadramento dos rios 43.500,00 -
Desenvolvimento institucional 14.500,00 -
Programa de representação e criação de comitês da água 232.000,00 -
Cadastro de fontes poluidoras 87.000,00 -
Melhoramento e manutenção da rede hidrométrica 522.000,00 159.500,00
Sistema de informação de recursos hidrícos 87.000,00 246.500,00
Monitoria dos recursos hídricos 174.000,00 87.000,00
Cadastro e controle de doenças de veiculação hídrica - 43.500,00
Programa de apoio a associações e cooperativas - 36.250,00
Disciplinamento da atividade turística - 391.500,00
Proteção de áreas florestais - 319.000,00
Disciplinamento da mineração - 261.000,00
Proteção de nascentes e veredas - 638.000,00
Controle/fiscalização do uso de agrotóxicos e fertilizantes - 261.000,00
Proteção manguezais e estuários - 464.000,00
Monitoramento da qualidade dos recursos hídricos superficiais - 304.500,00
Educação sanitária e ambiental - 435.000,00
Controle de poluição industrial difusa - 290.000,00
Manutenção, monitoramento e operação de açudes - 8.700,00

TOTAL 3.861.205,00 3.945.450,00

FONTE: Governo do Estado da Bahia (1996) e Governo de Sergipe (1999).

5.2 CUSTO DE OPERAÇÃO DO SISTEMA HÍDRICO DO VAZA-BARRIS


O QUADRO 5.2.1 contém a previsão anual de custos de operação do órgão
gestor dos recursos hídricos na bacia do Vaza-Barris, unidade marginal de gerenciamento.
Esses valores foram obtidos com base nas estimativas de custo de implantação e

_________________________________________________________________________
14
_________________________________________________________________________

funcionamento de uma hipotética Agência de Águas, bem como na previsão orçamentária


do Comitê de Bacia do Vaza-Barris.
QUADRO 5.2.1: CUSTO ANUAL OPERACIONAL DO SISTEMA HÍDRICO DO VAZA-BARRIS
DISCRIMINAÇÃO VALOR (EM R$)

• Material e equipamento 76.000,00


• Pessoal (salários e encargos) 28.800,00
• Monitoramento ambiental 58.776,00
• Monitoramento de recursos hídricos 17.580,00
• Exames laboratoriais 20.000,00
• Elaboração e publicação de relatórios e material de divulgação 42.340,00
• Transporte e diárias 12.500,00

TOTAL 255.996,00

FONTE: Cálculos no texto.


Desconsiderando-se a vazão necessária para diluição de efluentes líquidos
industriais e esgotamento sanitário despejados na área da bacia, então a demanda total por
água nas várias modalidades de uso na bacia do Vaza-Barris está ao redor de 11,25 m3/s, o
que representa um volume anual de água de 3,55x108 m3.
Estima-se que cerca de 70% do custo anual de operação da bacia
hidrográfica do Vaza-Barris (ou seja, R$ 179.197,20), corresponde a ações específicas de
melhoria e expansão da oferta dos recursos hídricos na mesma. Assim, o custo operacional
médio (ou custo unitário) de gerenciamento da bacia do Vaza-Barris, CMe, pode ser
avaliado dividindo-se esse custo pela demanda total de água nas várias modalidades
(consuntiva e não consuntiva) de uso na referida bacia (3,55x108 m3), o qual é de cerca de
R$ 5,05x10-4 por metro cúbico de água, ou R$ 0,50 por 1.000 m3 de água utilizada na bacia
do Vaza-Barris.
Por outro lado, estima-se que os 30% restantes do custo anual total de
operação da bacia do Vaza-Barris (o que corresponde a R$ 76.798,80), estão relacionados
com ações voltadas para reduzir o potencial poluidor na bacia e melhoria na qualidade de
suas águas. Assim, tomando-se a demanda total anual de carga orgânica potencial para
diluição nos mananciais da bacia hidrográfica do Vaza-Barris, a qual é de 1,28x107
kgDBO, então o custo operacional médio de gerenciamento na bacia do Vaza-Barris seria
de R$ 6,00x10-3 por kgDBO.
5.3 CUSTO TOTAL DE GERENCIAMENTO DA BACIA DO VAZA-BARRIS
O QUADRO 5.3.1 mostra o custo anual total de gerenciamento da bacia
hidrográfica do rio Vaza-Barris, o qual é a soma do custo anual de operação mais a
amortização dos investimentos e dos respectivos custos de manutenção obtidos
anteriormente (QUADROS 5.1.1. e 5.1.2). Uma inspeção desse quadro revela que o custo
anual total associado com a atividade de gerenciamento da bacia é da ordem de R$
40.217.952,90. Montante esse necessário e indispensável para o bom desempenho da
atividade de gerenciamento da bacia. A parcela referente ao custo anual de operação e
manutenção (R$ 19.380.066,94) foi obtida através da soma dos valores contidos na quinta
coluna do QUADRO 5.1.1 (R$ 15.178.620,94), terceira coluna do QUADRO 5.1.2 (R$
3.945.450,00) e última coluna do QUADRO 5.2.1 (R$ 255.996,00). A parcela
correspondente à amortização do investimento (R$ 20.837.885,96) foi obtida dividindo-se o
total do investimento (valor atual) necessário para o gerenciamento da bacia, cujos valores
constam nas segundas colunas dos QUADROS 5.1.1 (R$ 151.786.209,40) e 5.1.2 (R$
3.861.205,00), pelo fator ani = [(1+i)n −1]/i(1+i)n = 7,469444, onde i é a taxa de desconto e

_________________________________________________________________________
15
_________________________________________________________________________

n é o horizonte do projeto. Utilizou-se a taxa usual de desconto de 12% ao ano e um


horizonte de 20 anos.
QUADRO 5.3.1: CUSTOS ANUAIS DE OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO E
AMORTIZAÇÃO DO INVESTIMENTO NA BACIA DO VAZA-BARRIS (EM R$)
DISCRIMINAÇÃO VALOR

Custo de operação e manutenção 19.380.066,94


Amortização do investimento 20.837.885,96

TOTAL 40.217.952,90

FONTE: Calculado com base nos QUADROS 5.1.1, 5.1.2 e 5.2.1.


Deve-se ressaltar que o mecanismo de cobrança pelo uso da água a ser
implementado na bacia do Vaza-Barris deverá ser capaz de gerar os recursos necessários
para fazer face a todos os custos de gerenciamento da bacia. Além de ser eficiente sob o
ponto de vista distributivo, a gestão auto-sustentável dos recursos hídricos seria socialmente
justa, uma vez que caberia aos próprios usuários dos recursos hídricos da bacia do Vaza-
Barris o ônus do financiamento dos gastos efetivamente incorridos na atividade de gestão
desses recursos. Ou seja, o gerenciamento auto-sustentável dos recursos hídricos não
penalizaria os contribuintes, os quais não seriam obrigados a transferir seus recursos para os
usuários da água.
Vale lembrar que o total de recursos previstos para o gerenciamento da bacia
do Vaza-Barris (R$ 40.217.952,90), o qual inclui a amortização dos investimentos previstos
e os custos de operação e manutenção, é de fundamental importância na determinação dos
preços pelo uso da água que deverão ser praticados na referida bacia. Eesse montante anual
de recursos será utilizado quando da determinação dos preços ótimos pelo uso da água,
como condição (ou restrição) no problema de otimização (desenvolvido anteriormente),
montante esse que deverá ser efetivamente coletado dos múltiplos usuários do sistema
hídrico do Vaza-Barris.
5.4 CUSTO MARGINAL DE LONGO PRAZO DA BACIA DO VAZA-BARRIS
O custo marginal de gerenciamento está fundamentado no fato de que o
gerenciamento de recursos hídricos é uma atividade (ou indústria, no sentido mais amplo)
que produz um serviço essencial de utilidade pública, tendo em vista que a água é um
recurso econômico escasso, embora renovável.
O custo marginal de longo prazo ou average incremental cost, como também
é denominado, corresponde ao custo adicional que se incorreria ao expandir a oferta de
água na bacia hidrográfica em um metro cúbico a mais desse recurso, independentemente
do uso que se dê à água, ou o custo adicional que se seria necessário para reduzir (em uma
unidade) a carga orgânica ou concentração de poluentes nos recursos hídricos. Assim, o
custo marginal de longo prazo, CMgLP, é definido da seguinte forma:
T T
LP
CMg = [∑ (It+Ct)/(1+r) ]/[∑ xt/(1+r)t]
t
t=0 t=0
onde It é o investimento do ano t, Rt são os custos de operação e manutenção no ano t, xt é a
captação incremental de água bruta ou redução da carga orgânica potencial no ano t, r é o
custo de oportunidade do capital e T é o horizonte de planejamento. O custeio do sistema
hídrico deve incluir os custos de gestão propriamente dita, manutenção da infra-estrutura
operacional, ademais dos investimentos atuais e futuros necessários para que o sistema
opere eficientemente.

_________________________________________________________________________
16
_________________________________________________________________________

Ao se fazer um levantamento de todas as demandas atuais por água nos


vários usos múltiplos verificadas atualmente na bacia hidrográfica do rio Vaza-Barris
(cenário otimista), chega-se a uma vazão em torno de 3,59 m3/s (ou seja, 1,17 m3/s em
Sergipe e 2,42 m3/s na Bahia). Tomando-se por base as múltiplas demandas por água na
bacia do Vaza-Barris após a construção dos vários barramentos e estruturas armazenadoras
no estado da Bahia e da construção da barragem do Vaza-Barris, estima-se uma vazão da
ordem de 9,37 m3/s, a qual não inclui a demanda ecológica necesssária para a preservação
do próprio sistema hídrico. Pode-se observar que após a implementação de todos aqueles
investimentos relacionados nas seções anteriores, inclusive com a construção da Barragem
do Vaza-Barris, haverá um acréscimo de vazão no sistema hídrico do Vaza-Barris da ordem
de 5,78 m3/s, o que representa um volume de água de cerca de 1,82x108 m3/ano.
Vale lembrar que, do custo anual total de gerenciamento da bacia
hidrográfica do Vaza-Barris (R$ 40.217.952,90), o qual inclui os custos de operação
manutenção e investimentos necessários nos próximos 20 anos, estima-se que 70%
corresponda a obras e ações para expansão na oferta dos recursos hídricos na mesma. Isso
significa recursos anuais da ordem de R$ 28.152.567,03. Assim, dividindo-se esse custo
anual pelo acréscimo de água bruta na referida bacia (1,82x108 m3/ano), obtém-se o custo
marginal de longo prazo para a bacia hidrográfica do rio Vaza-Barris, cujo valor é R$ 0,16
por metro cúbico de água utilizada na bacia.
Conforme estimado anteriormente, apenas 30% do custo anual total de
gerenciamento da bacia hidrográfica do Vaza-Barris, o que corresponde a R$
12.065.385,87, estão relacionados com obras e ações voltadas para reduzir o potencial
poluidor, visando melhorar a qualidade de suas águas. Estima-se que a demanda para
diluição de carga orgânica (DBO) potencial nos mananciais da bacia do Vaza-Barris
poderia sofrer acréscimos de até 50% (cenário otimista), o que representaria um aumento
anual da carga orgânica da ordem de 6,40x106 kgDBO. Assim, o custo marginal de
gerenciamento de longo prazo, em termos de carga orgânica na bacia do Vaza-Barris seria
de R$ 1,89 por kgDBO.
5.5 CUSTO MARGINAL DE RACIONAMENTO DA BACIA DO VAZA-BARRIS
O conceito alternativo de custo marginal de racionamento está fundamentado
no fato de que nem sempre pode-se satisfazer a demanda por água de uma ou mais
modalidades de uso da água. Isso significa que é perfeitamente possível que a
disponibilidade hídrica em um dado instante de tempo seja insuficiente para atender a
demanda em um certo uso, o que levaria forçosamente a um racionamento na utilização de
água, de modo que o seu consumo seria compulsoriamente reduzido em relação à sua
demanda em condições normais.
Conforme estabelecido em Albouy (1983), a metodologia utilizada para
cálculo do custo marginal (de curto prazo) de gerenciamento dos recursos hídricos, CMg*,
está fundamentada no custo operacional da unidade marginal, CMe, assim como na
possibilidade de racionamento de água em certos períodos do ano (estação mais seca) em
anos normais, ou mesmo durante todo o tempo em anos atípicos.
Com base na série histórica de secas da década de 1990, pode-se estabelecer
um cenário pessimista de disponibilidade de água para a bacia do Vaza-Barris. Nesse
cenário, estimou-se que poderia haver redução do volume de água durante 12 meses a cada
período de 5 anos. Isso significa que a probabilidade de racionamento de água nesse
cenário pessimista estaria em torno de 1/5, ou seja, 20%. No cenário otimista estima-se que

_________________________________________________________________________
17
_________________________________________________________________________

haveria redução do volume de água na referida bacia durante 6 meses em um período de 10


anos, o que representaria uma probabilidade de racionamento de água da ordem de 1/20 ou
5%. Para efeito de cálculo do custo marginal de racionamento na bacia hidrográfica do rio
Vaza-Barris, toma-se a média desses dois cenários, o que significa adotar uma
probabilidade de racionamento de água de 12,5%.
Assim, denotando-se a probabilidade média de racionamento de água em
qualquer ano por P, então o custo marginal de gerenciamento (de curto prazo) pode ser
definido por:
CMg*= (1-P)CMe + PΣjC(xj0)
onde xj0 é a quantidade de água racionada no uso j, por unidade de tempo; e C(xj0) é o custo
de racionamento da água no uso j, o qual será avaliado a seguir.
É interessante observar que o custo marginal fora do racionamento é igual ao
custo operacional do sistema hídrico (CMe), o qual é, em geral, pequeno quando
comparado ao custo de racionamento. Vale a pena ressaltar ainda que essa expressão é uma
aproximação progressiva da realidade, pois à medida que a demanda do sistema vai
paulatinamente ficando crítica, demandas adicionais não se traduzem apenas em aumentos
de custos operacionais de gerenciamento, mas também as margens de reserva do sistema
como um todo tornam-se cada vez menores, aumentando consequentemente os riscos de
racionamento. Ademais, essa expressão é estável numericamente e se aproxima dos custos
de longo prazo, quando a capacidade do sistema está adaptada ao nível de utilização ótimo.
O custo associado com o racionamento de xj0 metros cúbicos de água no uso j
é avaliado com base na curva de demanda por água nesse uso, através do valor que o usuário
(ou grupo de usuários), sob racionamento, estaria disposto a pagar pelo consumo de um
metro cúbico adicional de água (ou pelo despejo de diluir 1 m3 adicional de efluentes
líquidos industriais ou esgotamentos sanitários). O custo unitário de racionamento poderá
ser estimado por:
C(xj0) = A(xj0)/xj0 = Pp(xj*-xj0)+(1-P)p(xj*)
onde p(xj*) é o valor da água fora do racionamento, p(xj*-xj0) é o valor da água no
racionamento, ambos avaliados com base na curva de demanda por água em cada uso, e P é
a probabilidade de racionamento.
A estimativa do custo marginal de racionamento para o sistema hídrico do
Vaza-Barris é feita tomando-se por base as demanda por água para irrigação, abastecimento
industrial, demandas mais sacrificadas no racionamento, bem como a demanda para
abastecimento urbano, a qual também sofrerá algum racionamento, o que de certa forma
restringirá seu consumo, mas não tão significativo quanto as modalidades de uso anteriores,
visto que a água para abastecimento humano tem prioridade sobre os demais usos. O
racionamento de água para o abastecimento industrial implicará também uma redução na
utilização da água da bacia para diluição de efluentes industriais. O racionamento de água
para abastecimento humano, por sua vez, também fará com que haja uma redução na
utilização da água para diluição de esgotamentos sanitários.
Tomando-se por base a disponibilidade hídrica na bacia do Vaza-Barris no
período mais seco do ano e as necessidades efetivas dos vários usuários da água, o custo da
água no racionamento será avaliado de acordo com a seguinte hipótese de racionamento no
consumo e das necessidades de diluição de poluentes: (i) racionamento de 30% no
abastecimento humano e, em conseqüência, redução dos esgotamentos sanitários, o que
significa reduzir o potencial de poluição e diluição de carga orgânica em 30%; (ii)
_________________________________________________________________________
18
_________________________________________________________________________

racionamento de 80% da água para irrigação; (iii) racionamento de 60% na utilização de


água para abastecimento industrial, induzindo as unidades industrias a utilizarem mais
fortemente a prática de reciclagem e reaproveitamento de suas águas, o que significa
também reduzir a diluição de efluentes industriais em 60%.
A segunda coluna do QUADRO 5.5.1 mostra as demandas por água
previstas nas várias modalidades de uso. Na terceira coluna são estimadas as quantidades
racionadas em cada uso, com base nessas hipóteses de racionamento, as quais foram
baseadas na oferta do sistema hídrico do Vaza-Barris no período mais seco do ano. A
coluna seguinte contém o consumo previsto durante o período de racionamento, o qual foi
obtido tomando-se a diferença entre a segunda e a terceira colunas. O consumo no
racionamento é importante, pois servirá de base para a avaliação do custo marginal de
racionamento, o que será feito a seguir.
Conforme detalhado anteriormente, o custo total de racionamento
corresponde à área achurada sob a curva de demanda em cada uso, a qual corresponde a
redução do bem-estar dos usuários racionados. O custo da água no racionamento está
fundamentado no preço de racionamento, o qual é obtido substituindo-se o consumo de
água durante o racionamento em cada modalidade de uso nas respectivas funções de
demandas ordinária (ou marshalliana ou walrasiana), derivadas na seção anterior (veja-se
QUADRO 5.4.2). A última coluna do QUADRO 5.5.1 mostra o preço da água no
racionamento em cada modalidade de uso, tomando-se por base os níveis de consumo no
período de racionamento, os quais, conforme mencionado anteriormente, são de
fundamental importância para avaliar o custo da água no racionamento.
QUADRO 5.5.1: DEMONSTRATIVO DO PREÇO DA ÁGUA NO RACIONAMENTO NA BACIA
DO VAZA-BARRIS
DEMANDA POR QUANTIDADE CONSUMO NO PREÇO NO
MODALIDADE DE USO ÁGUA RACIONADA RACIONAMENTO RACIONAMENTO
[xj] [xj0] [xj-xj0] [p(xj-xj0)]

Abastecimento humano 6,05(1) 1,82(1) 4,23(1) 1,370(3)


Abastecimento industrial 0,27(1) 0,16(1) 0,11(1) 2,900(3)
Irrigação 4,93(1) 3,94(1) 0,99(1) 0,013(3)

TOTAL 11,25(1) 5,92(1) 5,33(1) -

Diluição de esgotamento sanitário 15.425(2) 4.627,5(2) 10.797,5(2) 0,138(4)


Diluição de efluentes industriais 19.662(2) 11.797,2(2) 7.864,8(2) 0,845(4)

TOTAL 35.087(2) 16.424,7(2) 18.662,3(2) -

FONTE: Cálculos no texto.


(1) 3
m /s; (2)kgDBO/dia; (3)R$/m3; (4)R$/kgDBO.

O QUADRO 5.5.2 contém o custo da água no racionamento em cada


modalidade de uso, bem como agregado em R$/m3 e em R$/kgDBO, tomando por base os
respectivos preços da água no racionamento, obtidos anteriormente no QUADRO 5.5.1,
bem como os respectivos preços de demanda. Conforme demonstrado anteriormente, o
custo unitário da água em cada modalidade de uso no racionamento, C(xj0), corresponde à
média ponderada dos preços de racionamento e de demanda, com base nas suas respectivas
curvas de demanda, cujos pesos de ponderação são as probabilidades de ocorrência ou não
de racionamento (P=12,5% e 1-P=87,5%).
Portanto, os custos marginais de racionamento, tanto em m3 de água captada
da bacia do Vaza-Barris, quanto em kgDBO diluído no sistema hídrico, podem ser
finalmente estimados, os quais são, respectivamente:
CMg*Água = 0,875x5,05x10-4+0,125x1,893 = R$ 0,24/m3 de água

_________________________________________________________________________
19
_________________________________________________________________________

CMg*DBO = 0,875x6,00x10-3+0,125x0,32 = R$ 0,05/kgDBO diluído


onde 0,125 e 0,875 são respectivamente as probabilidades de racionamento e não
racionamento de água; 5,05x10-4 e 6,00x10-3 são os custos operacionais médio em termos
de água bruta captada (m3) e em termos de carga orgânica (kgDBO) diluída nas águas da
bacia, respectivamente, os quais foram objeto de estimação anterior; e 1,893 e 0,32 são,
respectivamente, os somatórios dos custos de racionamento na bacia, em termos de água
captada (m3) e em termos de carga orgânica diluída (kgDBO).
QUADRO 5.5.2: DEMONSTRATIVO DO CUSTO DA ÁGUA NO RACIONAMENTO NA BACIA DO
VAZA-BARRIS (R$/m3)
PREÇO NO PREÇO DE DEMANDA CUSTO NO
MODALIDADE DE USO RACIONAMENTO [p(xj*)] RACIONAMENTO
[p(xj*-xj0)] [C(xj0)]
Abastecimento humano (1) 1,370 0,247 0.387
Abastecimento industrial (1) 2,900 1,300 1,500
Irrigação (1) 0,013 0,005 0,006

∑jC(xj0)] (1)
TOTAL [∑ - - 1,893
(2)
Diluição de esgotamento sanitário 0,138 0,020 0,035
Diluição de efluente industrial (2) 0,845 0,205 0,285

∑jC(xj0)] (2)
TOTAL [∑ - - 0.320
(1) 3 (2)
FONTE: Cálculos no texto. NOTAS: R$/m ; R$/kgDBO.
Vale destacar que houve uma diferença significativa entre o custo marginal
de racionamento e o custo marginal de longo prazo. Enquanto que o custo marginal de
racionamento foi estimado em R$ 0,24 por metro cúbico de água, o custo marginal de
longo prazo ficou em cerca de R$ 0,16 por metro cúbico de água, o que representa uma
diferença de 50%. Já em termos de carga orgânica diluída, houve uma inversão, de modo
que o custo marginal de racionamento foi bem menor que o custo marginal de longo prazo.
Isto é, enquanto que o custo marginal de longo prazo alcançou a cifra de R$ 1,89 por
kgDBO, o custo marginal de racionamento foi de apenas R$0,05 por kgDBO,
representando cerca de 3% do custo marginal de longo prazo.
Vale ressaltar que a estimativa obtida para o custo marginal de racionamento
é superior àquela obtida com o custo marginal de longo prazo, e por isso mesmo é a
estimativa que mais se aproxima do verdadeiro custo marginal de gerenciamento. Isso se
deve ao fato do custo marginal de racionamento computar o valor da água no período em
que as múltiplas demandas por água não podem ser satisfeitas, ou seja, durante o
racionamento.

6. PREÇOS ÓTIMOS PELO USO DA ÁGUA


A cobrança com base na política de preços ótimos pelo uso da água é
fundamentada de um lado no custo marginal de gerenciamento dos recursos hídricos e, do
outro, nas elasticidades preço de demanda por água nas várias modalidades de uso.
Ademais, a política de preços ótimos impõe ao órgão gestor dos recursos hídricos um
comportamento gerencial auto-sustentável, no sentido de que não hajam perdas ou ganhos
financeiros nessa atividade. Tal comportamento é introduzido através da restrição
orçamentária, na qual o órgão gestor dos recursos hídricos é condicionado a cobrir todos os
seus custos na atividade de gerenciamento da bacia.
De acordo com Carrera-Fernandez (2000), os preços ótimos pelo uso da
água na bacia hidrográfica do Vaza-Barris são determinados a partir da solução do seguinte
sistema de equações:

_________________________________________________________________________
20
_________________________________________________________________________

pj* = (CMg*|εj|)/(|εj|−α), ∀j
Σjpj*xj − C = 0
onde pj* é o preço ótimo da água no uso j, a ser determinado; xj é a respectiva quantidade
de água demandada do sistema hídrico após os investimento programados terem sido feitos;
CMg* é o custo marginal de gerenciamento (de racionamento); |εj| é a elasticidade preço da
demanda por água no uso j, em valor absoluto; C é o custo total do órgão gestor no
gerenciamento dessa bacia; e α é uma constante de proporcionalidade que reflete a
diferença relativa entre benefícios e custos marginais, a ser determinada.
6.1 POLÍTICA DE PREÇOS ÓTIMOS PELO USO DA ÁGUA
As j primeiras equações pj* = (CMg*|εj|)/(|εj|−α), uma para cada uso j,
podem ser rescritas de maneira mais sugestiva, da seguinte forma (pj*−CMg*)/pj* = α/|εj|,
para todo j. Quando escritas dessa forma, elas estabelecem que o diferencial no preço da
água no uso j, em relação ao custo marginal, em termos percentuais, é inversamente
proporcional à sua elasticidade preço de demanda. A última equação, por outro lado, é a
equação de restrição que restringe o órgão gestor dos recursos hídricos a não apresentar
perdas ou ganhos financeiros no gerenciamento dos recursos hídricos da bacia.
As equações acima formam um sistema de seis equações (uma para cada uso
múltiplo da água, no total de cinco, mais a equação de restrição) e seis incógnitas (cinco
preços e a constante de proporcionalidade α), cuja solução fornece o conjunto de preços
ótimos pelo uso da água em cada uso previsto para a bacia do Vaza-Barris. É importante
lembrar que a política de preços ótimos minimiza as distorções na alocação dos recursos da
água entre seus vários usuários. Ou seja, é cobrando preços diferenciados que as distorções
na utilização dos recursos hídricos são minimizadas.
O QUADRO 6.1.1 contém os valores de todos os parâmetros necessários
para a resolução do sistema acima, os quais já foram objeto de estudo nas seções anteriores.
Na determinação dos preços ótimos pelo uso da água não se fará uso do custo marginal de
longo prazo, utilizando-se apenas o custo marginal de racionamento, por ser essa a
estimativa que mais se aproxima do verdadeiro custo marginal de gerenciamento.
QUADRO 6.1.1: PRINCIPAIS PARÂMETROS PARA DETERMINAÇÃO DOS PREÇOS ÓTIMOS
PELO USO DA ÁGUA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO VAZA-BARRIS
USOS DEMANDA ELASTICIDADE PREÇO
8 (1)
Abastecimento humano 1,91x10 0,13
Abastecimento industrial 8,51x106 (1) 1,01
Irrigação 1,55x108 (1) 0,97
Diluição de esgotamentos sanitários 5,63x106 (2) 0,10
Diluição de efluentes industriais 7,18x106 (2) 0,38

CMgLPAGUA = R$ 0,16m3 CMgLPDILUIÇÃO=R$1,89/kgDBO


CMg*AGUA = R$ 0,24/m3 CMg*DILUIÇÃO=R$0,05/kgDBO C = R$ 40.217.952,90

FONTE: QUADROS 4.1.6.1 e 4.2.2 e cálculos no texto.


(1) 3
m /ano; (2)kgDBO/ano.
Assim, substituindo-se os valores contidos no QUADRO 6.1.1 nas cinco
equações de preço acima e substituindo-as na última (equação de restrição), donde resulta a
seguinte equação do quinto grau em α:
5.959.200 +2.062.824+36.084.000 + 28.150 + 136.420 − 40.217.952,90 = 0
(0,13-α) (1,01-α) (0,97-α) (0,10-α) (0,38-α)
Os preços ótimos são obtidos selecionando-se a menor das cinco raízes dessa equação, pois
é ela a única que gera solução com significado econômico, ou seja, com todos os preços
_________________________________________________________________________
21
_________________________________________________________________________

positivos. A menor dessas cinco raízes é α* = -0,378143129705. Assim, substituindo-a nas


equações acima, obtém-se os preços ótimos nas várias modalidades de uso da água na bacia
hidrográfica do Vaza-Barris, os quais podem ser vistos na última coluna do QUADRO
6.1.2.
O QUADRO 6.1.2 confronta os preços ótimos com outros parâmetros
obtidos anteriormente, possibilitando assim uma análise comparativa. Uma inspeção desse
quadro revela que, com exceção do preço ótimo pelo uso da água para irrigação, todos os
outros preços ótimos são menores que os correspondentes preços de demanda e se situam
abaixo dos seus respectivos preços de reserva (limite superior e inferior). Convém lembrar
que o preço de reserva indica o máximo valor que os usuários estariam dispostos a pagar
para utilizar a água desse manancial e ficarem indiferentes entre continuar a captar água
desse manancial ou buscar uma solução alternativa que produza o mesmo efeito. Isso
significa que a implementação da cobrança pelo uso da água na bacia hidrográfica do Vaza-
Barris, para ser viável, necessita restringir o preço ótimo da água na irrigação ao seu
respectivo preço de reserva (ou custo de oportunidade). Apenas no caso desse preço estar
restrito ao seu respectivo preço de reserva (limite inferior ou superior), é que a política de
preços ótimos estaria circunscrita às possibilidades financeiras de seus múltiplos usuários e,
portanto, estaria compatível com a capacidade de pagamento dos mesmos.
QUADRO 6.1.2: PREÇOS DA ÁGUA POR MODALIDADE DE USO PARA A BACIA DO VAZA-
BARRIS (EM R$/m3 E R$/kgDBO)
PREÇO DE PREÇO DE RESERVA PREÇO ÓTIMO
USOS
DEMANDA INFERIOR SUPERIOR
Abastecimento humano (1) 0,247 0,49 3,86 6,14x10-2
Abastecimento industrial (1) 1,300 2,74 6,91 1,75x10-1
Irrigação (1) 0,005 9,54x10-3 1,35x10-2 1,73x10-1 *
Diluição de esgotamentos sanitários (2) 0,020 0,04 0,71 1,05x10-2
Diluição de efluentes industriais (2) 0,205 0,41 2,01 2,51x10-2

FONTE: QUADRO 5.5.2 e cálculos no texto.


(1)
R$/m3; (2)R$/kgDBO
* valor superior ao preço de reserva (em relação ao seu nível inferior e/ou superior).

6.2 PREÇOS ÓTIMOS RESTRITOS À CAPACIDADE DE PAGAMENTO DOS


IRRIGANTES
Tendo em vista que o preço ótimo pelo uso da água para irrigação ter
excedido os limites inferiores e/ou superiores de seu respectivo preço de reserva (ou custo
de oportunidade da água nesse uso), será necessário restringir tal preço, como forma de não
extrapolar a capacidade de pagamento desses usuários. A seguir simula-se a determinação
dos preços ótimos, restringindo-se o preço ótimo pelo uso da água para irrigação ao nível
mínimo do seu preço de reserva, de modo a compatibilizar essa política de preço à
capacidade de pagamento de seus usuários.
Assim, restringindo-se o preço ótimo pelo uso da água para irrigação ao seu
respectivo preço de reserva (limite inferior), ou seja, pi* = 9,54x10-3 e substituindo-se os
valores contidos no QUADRO 6.1.1 nas equações restantes e substituindo-as na última
(equação de restrição), resulta a seguinte equação do quarto grau em α:
5.959.200 +2.062.824+ 28.150 + 136.420 − 38.739.252,90 = 0
(0,13-α) (1,01-α) (0,10-α) (0,38-α)
Os preços ótimos são obtidos selecionando-se a menor das quatro raízes dessa equação,
visto que é essa a única raiz que gera solução com significado econômico, ou seja, todos os

_________________________________________________________________________
22
_________________________________________________________________________

preços positivos. Substituindo a menor dessas raízes (α*= -0,03450106578) nas equações
de preço, obtém-se os preços ótimos com restrição pelo uso da água na bacia hidrográfica
do Vaza-Barris (QUADRO 6.1.3).
QUADRO 6.1.3: PREÇOS ÓTIMOS RESTRITOS À CAPACIDADE DE
PAGAMENTO DOS IRRIGANTES (EM R$/m3 E R$/kgDBO)
USOS PREÇO ÓTIMO PREÇO ÓTIMO
RESTRITO
Abastecimento humano (1) 6,14x10-2 1,90x10-1
Abastecimento industrial (1) 1,75x10-1 2,32x10-1
Irrigação (1) 1,73x10-1 9,54x10-3
Diluição de esgotamentos sanitários (2) 1,05x10-2 3,72x10-2
Diluição de efluentes industriais (2) 2,51x10-2 4,58x10-2

FONTE: QUADRO 6.1.2 e cálculos no texto.


(1)
R$/m3; (2)R$/kgDBO
Vale ressaltar que na medida que o preço pelo uso da água para irrigação
fica restrito a seu preço de reserva (limite inferior), os preços ótimos dos outros usos (não
restritos) sofreram um aumento proporcional, de modo a manter a receita proveniente da
cobrança inalterada. Esse resultado já era esperado, visto que a perda de receita proveniente
da redução do preço pelo uso da água na irrigação terá que ser compensada com um
aumento de receita nos outros usos.
Especificamente, ao se restringir tais preços ao seus respectivos preços de
reserva, o preço ótimo pelo uso da água no abastecimento humano aumentou de R$
6,14x10-2 para R$ 1,90x10-1, ou seja, sofreu um aumento de quase 68% em relação à
situação sem restrição. No abastecimento industrial, o preço ótimo aumentou de R$
1,75x10-1 para R$ 2,32x10-1, o que representa um aumento de 32,6%. O fato do preço ótimo
para o abastecimento humano ter aumentado mais do que para o abastecimento industrial já
era esperado, uma vez que a elasticidade preço da demanda por água para abastecimento
humano é menor que a respectiva elasticidade para abastecimento industrial.
No que se refere à utilização da água para diluição de efluentes industriais, o
aumento de preço foi de R$ 2,51x10-2 para R$ 4,58x10-2 (o que significa um aumento de
82,5%), enquanto que para a diluição de esgotamentos sanitários o preço ótimo aumentou
de R$ 1,05x10-2 para R$ 3,72x10-2 (aumento de 154%). Esses resultados permitem constatar
que o aumento no preço ótimo pelo uso da água, ao se restringir o preço pela utilização da
água em outra modalidade de uso, é inversamente proporcional à magnitude (em valor
absoluto)da elasticidade preço da demanda. Desse modo, quanto maior for a elasticidade
preço da demanda por água em certa modalidade de uso (em valor absoluto), menor será o
aumento no preço ótimo e vice-versa.
É exatamente a possibilidade de estabelecer uma política de subsídio
cruzado, ou seja, cobrando mais dos usuários com mais condições de pagar e cobrando
menos daqueles usuários que menos podem, que as distorções na utilização dos recursos
hídricos será minimizada, com ganhos para toda a sociedade.
6.3 PREÇOS ÓTIMOS COM SUBSÍDIOS
Em virtude do grande volume de recursos programado para a atividade de
gerenciamento da bacia do Vaza-Barris (recursos esses que dão conta da amortização do
investimento e dos custos de manutenção e operação do sistema hídrico), seria importante
saber como ficariam os preços ótimos pelo uso da água caso o governo resolvesse cobrir
parte desses custos. Vale ressaltar que essa possibilidade é bastante factível, principalmente

_________________________________________________________________________
23
_________________________________________________________________________

nos primeiros anos de implementação da cobrança pelo uso da água. Admitindo-se uma
política explícita do governo no sentido de subsidiar parte dos custos de gerenciamento da
bacia, então os preços ótimos pelo uso da água na bacia hidrográfica do Vaza-Barris podem
ser determinados a partir da solução do seguinte sistema de equações:
pj* = (CMg|εj|)/(|εj|−α), ∀j
Σjpj*xj − (1−β)C = 0
onde β é a proporção do custo anual de gerenciamento subsidiado pelo governo, ou seja, é o
valor que os múltiplos usuários do sistema hídrico deixam de pagar.
O QUADRO 6.3.1 sumaria a estrutura de preços ótimo com subsídio,
permitindo assim verificar o impacto dos dessa política de subsídio sobre nos preços ótimos
pelo uso da água em cada modalidade de uso, à medida em que se expande o nível de
subsídio do governo para os usuários dos recursos hídricos na bacia hidrográfica do Vaza-
Barris, o qual varia de 20 até 60% do custo anual de gerenciamento.
QUADRO 6.3.1: PREÇOS ÓTIMOS PELA UTILIZAÇÃO DA ÁGUA COM SUBSÍDIO POR
MODALIDADE DE USO PARA A BACIA DO VAZA-BARRIS (EM R$/m3 OU R$/kgDBO)
SUBSÍDIO DO GOVERNO
USOS 20% 40% 50% 60%
(1) -1 -1 -2
Abastecimento humano 1,48x10 1,07x10 8,72x10 6,71x10-2
Abastecimento industrial (1) 2,22x10-1 2,07x10-1 1,96x10-1 1,80x10-1
Irrigação (1) 9,54x10-3 9,54x10-3 9,54x10-3 9,54x10-3
Diluição de esgotamentos sanitários (2) 2,77x10-2 1,92x10-2 1,52x10-2 1,15x10-2
Diluição de efluentes industriais (2) 4,13x10-2 3,52x10-2 3,13x10-2 2,66x10-2

FONTE: cálculos no texto.


(1)
R$/m3; (2)R$/kgDBO.

7. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS


Conforme ficou demonstrado ao longo deste texto, a cobrança pelo uso da
água de mananciais é justificada sempre que o balanço hídrico de uma bacia hidrográfica se
torne crítico ou quando os níveis de poluentes diluídos podem comprometer a sua
qualidade. A cobrança pelo uso da água deve ser implementada antes mesmo que o referido
balanço hídrico ou o nível de qualidade da água se tornem críticos. O principal objetivo da
cobrança pelo uso da água é garantir aos usuários de mananciais um uso eficiente desse
recurso. Nesse sentido, a cobrança pelo uso da água funciona também como um elemento
educativo, que combate eficazmente o desperdício e garante um padrão aceitável de
preservação da água.
Atribuir um valor econômico à água não é tarefa fácil, tendo em vista que
esta pode ser utilizada em uma gama de diferentes usos, como bem de consumo final ou
como insumo na produção industrial ou doméstica, incluída ai a diluição de poluentes.
Quantificar o valor da poluição que um agente econômico causa aos recursos hídricos é
uma das tarefas mais difíceis. Isso porque a avaliação dos impactos negativos aos recursos
hídricos e a estimativa dos custos sociais gerados à toda a sociedade dependem, entre
outros fatores, da temporalidade e da intensidade dos danos causados a esses recursos,
principalmente se estes afetam as gerações futuras.
A metodologia utilizada neste estudo superou a impossibilidade de se obter
diretamente as funções de demanda ordinária por água em cada uso. A escolha da
metodologia de preços ótimos teve por objetivo garantir uma alocação eficiente dos
recursos hídricos entre os seus múltiplos usuários. Isso porque os preços pelo uso da água
foram obtidos de modo a minimizar os impactos negativos na economia, além é claro de
garantir a própria sustentabilidade financeira da instituição ou órgão gestor dos recursos
_________________________________________________________________________
24
_________________________________________________________________________

hídricos. Além do mais, a cobrança pelo uso da água baseada nos preços ótimos internaliza,
aos custos privados, as externalidades negativas que as decisões individuais causam aos
demais usuários do sistema hídrico.
Deve-se ressaltar que a política de preços ótimos limita a cobrança pelo uso
dos recursos hídricos em cada modalidade ao seu respectivo preço de reserva (ou custo de
oportunidade) da água nesse uso. Isso garante, portanto, que os preços ótimos se situem
efetivamente dentro da capacidade de pagamento de seus usuários. A propósito, a política
de preços ótimos, restringiu o preço ótimo pelo uso da água para irrigação ao seu preço de
reserva. De fato, essa restrição garantiu aos irrigantes um preço compatível com a
capacidade de pagamento dos mesmos.
Espera-se que este estudo possa servir para orientar os futuros estudos nessa
área e subsidiar a recém criada Agência Nacional de Águas, a qual caberá implementar esse
importante instrumento de política, contribuindo assim para aprimorar o gerenciamento dos
recursos hídricos no país.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
ALBOUY, Yves. Analisis de costos marginales y deseño de tarifas de eletricidade y agua:
notas de metodologia. Washington D. C: BID, 1983.
BAUMOL, W; BRADFORD, D. Optimal departures from marginal cost pricing. American
Economic Review, v. 60, 1970.
CARRERA-FERNANDEZ, José. Cobrança e preços ótimos pelo uso e poluição das águas de
mananciais. Revista Econômica do Nordeste, v. 28, n. 3, p. 249-277, 1997.
CARRERA-FERNANDEZ, José. Cobrança pelo uso da água em sistemas de bacias hidrográficas: o
caso da bacia do rio Pirapama em Pernambuco. Economia Aplicada, v.4, n.3, 2000.
CARRERA-FERNANDEZ, José. O custo social da energia elétrica: uma análise a partir da bacia
hidrográfica do rio São Francisco. São Paulo: Economia Aplicada, v.5, n.4, 2001.
CARRERA-FERNANDEZ, José; GARRIDO, Raymundo-José. O instrumento de cobrança pelo uso
da água em bacias hidrográficas: teorias e metodologias. Economia, v.2, n.2, 2001.
COASE, Ronald. The problem of social cost. Jornal of Law and Economics, 1960.
FUNDAP – Fundação do Desenvolvimento Administrativo. Cobrança pelo uso da água. Relatório
Preliminar. São Paulo: FUNDAP/DAEE, 1991.
FUNDAP – Fundação do Desenvolvimento Administrativo. Cobrança do uso da água – subsídios
para a implantação. Relatório Final. São Paulo: Convênio DAEE/FUNDAP, 1993.
GARRIDO, Raymundo-José; CARRERA-FERNANDEZ, José. Metodología para la determinación
de los precios óptimos y cobro por el uso y contaminación de las cuencas de Paraguaçu e
Itapicuru (Brasil). In: Delgado, C. D; Alberich, M. V. E. (eds) Contribuciones al manejo de
los recursos hídricos en America Latina. Mexico: Universidad Autónoma del Estado de
México, 1997.
GOVERNO DE SERGIPE. The study on water resources development in the State of Sergipe,
Brazil. Sergipe: Secretaria de Estado do Planejamento e da Ciência e Tecnologia, 1999.
GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA. Plano Diretor de Recursos Hídricos - Bacias dos Rios
Vaza-Barris e Real. Salvador: SRH/BA, 1996.
LAYARD, P. R. G; WALTERS, A. A. Microeconomic theory, Mac Grow Hill, 1978.
LYPSEI, R. G; LANCASTER, K. J. The general theory of the second best. Review of Economic
Studies, v. 24, p. 11-32, 1956-7.
MAS-COLELL, Andreu; WHINSTON, M. D; GREEN, J. R. Microeconomic Theory. New York:
Oxford University Press, 1995.
VARIAN, Hal R. Microeconomic Analysis. New York: Norton Company Inc, 1978.

_________________________________________________________________________
25

Das könnte Ihnen auch gefallen