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APOSTILA
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
ESPÍRITO SANTO
DESCREVENDO SOBRE
“ALFABETIZAÇÃO” E “LETRAMENTO”
Para Wagner (1990), quando uma minoria lingüística se vê em contato com uma
língua majoritária, dominante em determinado local, existem duas formas de manifestação
do “analfabetismo”: o “analfabetismo de opressão” ou o “analfabetismo de resistência”.
Este é uma reação de um grupo de pessoas, que recusa o processo de assimilação, ou,
ainda, de aculturação proposto. Pontuamos que esta “recusa” pode se dar do mais
consciente até o inconsciente, com o objetivo de salvaguardar a cultura de origem da parte
“mais fraca” da sociedade em questão. Nesta direção, quando ocorre esta modalidade de
“alfabetização”, a pessoa, ou o grupo, pode reivindicar o direito de aprender à escrita e a
leitura de sua própria língua, quando esta possui versão escrita; e caso esta língua não
possua escrita, o grupo, ou pessoa, torna-se “duplamente analfabeto”, pois não pode
aprender a língua que gostaria e não aprende a língua majoritária.
O QUE É LETRAMENTO?
Letramento é o estado em que vive o indivíduo que não só sabe ler e escrever, mas
exerce as práticas sociais de leitura e escrita que circulam na sociedade em que vive.
(SOARES, 2000). O termo letramento passou a ter veiculação no setor educacional há
pouco menos de vinte anos, primeiramente entre os lingüistas e estudiosos da língua
portuguesa.
No Brasil, o termo foi usado pela primeira vez por Mary Kato, em 1986, na obra "No
mundo da escrita: uma perspectiva psicolingüística". Dois anos depois, passou a
representar um referencial no discurso da educação, ao ser definido por Tfouni em
"Adultos não alfabetizados: o avesso dos avessos".
Assim como as sociedades no mundo inteiro, tornam-se cada vez mais centradas na
escrita, e com o Brasil não poderia ser diferente. E como ser alfabetizado, ou seja, saber
ler e escrever, é insuficiente para vivenciar plenamente a cultura escrita e responder às
demandas da sociedade atual, é preciso letrar-se, ou seja tornar-se um indivíduo que não
só saiba ler e escrever, mas exercer as práticas sociais de leitura e escrita que circulam na
sociedade em que vive (Soares, 2000).
[...] utiliza a escrita para escrever uma carta através de um outro indivíduo
alfabetizado, um escriba, mas é necessário enfatizar que é o próprio analfabeto que
dita o seu texto, logo ele lança mão de todos os recursos necessários da língua
para se comunicar, mesmo que tudo seja carregado de sua particularidades. Ele
demonstra com isso que conhece de alguma forma as estruturas e funções da
escrita. O mesmo faz quando pede para alguém ler alguma carta que recebeu, ou
texto que contém informações importantes para ele. (SOARES, 2003, p. 43 apud
PEIXOTO et al, 2004 ).
2) planejar suas ações visando ensinar para que serve a linguagem escrita e como o aluno
poderá utilizá-la;
6) não ser julgativo, mas desenvolver uma metodologia avaliativa com certa sensibilidade,
atentando-se para a pluralidade de vozes, a variedade de discursos e linguagens
diferentes;
A palavra analfabetismo nos é familiar, usamos essa palavra há séculos, ela já está
presente em textos do tempo em que éramos Colônia de Portugal. É um fenômeno
interessante: usamos, há séculos, o substantivo que nega (recorde a análise da palavra
analfabetismo na página 2: a(n) + alfabetismo = privação de alfabetismo), e não sentíamos
necessidade do substantivo que afirmasse: alfabetismo ou letramento. Por que só agora,
no fim do século XX, a palavra letramento se tornou necessária?
À medida que o analfabetismo vai sendo superado, que um número cada vez maior
de pessoas aprende a ler e a escrever, e à medida que, concomitantemente, a sociedade
vai se tornando cada vez mais centrada na escrita (cada vez mais grafocêntrica), um novo
fenômeno se evidencia: não basta apenas aprender a ler e a escrever. As pessoas se
alfabetizam, aprendem a ler e a escrever, mas não necessariamente incorporam a prática
da leitura e da escrita, não necessariamente adquirem competência para usar a leitura e a
escrita, para envolver-se com as práticas sociais de escrita: não lêem livros, jornais,
revistas, não sabem redigir um ofício, um requerimento, uma declaração, não sabem
preencher um formulário, sentem dificuldade para escrever um simples telegrama, uma
carta, não conseguem encontrar informações num catálogo telefônico, num contrato de
trabalho, numa conta de luz, numa bula de remédio... Esse novo fenômeno só ganha
visibilidade depois que é minimamente resolvido o problema do analfabetismo e que o
desenvolvimento social, cultural, econômico e político traz novas, intensas e variadas
práticas de leitura e de escrita, fazendo emergirem novas necessidades, além de novas
alternativas de lazer. Aflorando o novo fenômeno, foi preciso dar um nome a ele: quando
uma nova palavra surge na língua, é que um novo fenômeno surgiu e teve de ser
nomeado. Por isso, e para nomear esse novo fenômeno, surgiu a palavra letramento.
Letramento = estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva e
exerce as práticas sociais que usam a escrita.
ALFABETIZADO DO LETRADO?
Ler
Escrever
CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetizando sem o bá-bé-bi-bó-bu. São Paulo: Scipione, 1998.