Sie sind auf Seite 1von 6

Direito das Obrigações I

2.º ano A 24 de Novembro de 2009

Pronuncie-se, de forma fundamentada, sobre uma das


seguintes questões, não podendo ultrapassar 20 linhas. (cotação: 4
val.)

1. Tendo presente o sentido de relação obrigacional complexa, dê a


noção de obrigação, e diga se um contrato de mútuo é uma obrigação.

2. Comente a seguinte afirmação: “A existência de obrigações naturais


demonstra a correcção da teoria do débito e da respondência”.

II

António é muito supersticioso e está convencido de que vai ganhar a lotaria


do Natal.

Hoje, ao passar diante do stand de automóveis de Becas, vê um magnífico (e


caríssimo) D. Elvira, pelo qual se apaixona. António, que precisava de trocar de
automóvel, entra no stand e combina com Becas o seguinte: até ao dia 6 de Janeiro
adquirirá ou o referido D. Elvira ou um dos Toyota Yaris, em segunda mão,
existentes no stand. Caso António opte pelo Toyota, deslocar-se-á ao stand com
Carlos, o seu mecânico e também conhecido de Becas, que indicará qual o melhor
dos Toyotas Yaris com quilómetros até 60 mil. Esse será o carro que António
levará, podendo o preço ser aumentado ou reduzido até 10% do preço marcado em
24 de Novembro, de acordo com a apreciação de Carlos.

Calculando que António não iria ganhar a lotaria, Becas vendeu o D. Elvira.
Ademais, atendendo a que, por um lado, os Toyotas sofreram uma inesperada e
significativa apreciação no mercado, e, por outro, que um dos Toyotas que se
encontra no stand é substancialmente melhor do que os outros, Becas põe em
circulação o Toyota melhor, de modo a que este ultrapasse os 60 mil quilómetros –
o que Becas conseguiu.

António não ganha a lotaria do Natal e vem a saber que, entretanto, Carlos
morreu. António, no dia 2 de Janeiro, apresenta-se no stand com Diogo, mecânico
da sua confiança, pretendendo adquirir o Toyota que Diogo vier a indicar.
Direito das Obrigações I
2.º ano A 24 de Novembro de 2009
a) Qualifique a(s) obrigação(ões) de António e de Bento atendendo ao
critério alternativa/com faculdade alternativa/simples (cotação: 4 val.)

b) Pode Becas opor-se a que Diogo escolha o Toyota? (cotação: 4 val.)

c) Admitindo que Diogo pode escolher o Toyota e que o comportamento de


Becas entre 24 de Novembro e 2 de Janeiro se tornou conhecido, pode
Diogo escolher o Toyota melhor, com mais de 60 mil quilómetros?
(cotação: 8 val.)
Direito das Obrigações I
2.º ano A 24 de Novembro de 2009

Pronuncie-se, de forma fundamentada, sobre uma das


seguintes questões, não podendo ultrapassar 20 linhas. (cotação: 4
val.)

1. Tendo presente o sentido de relação obrigacional complexa,


dê a noção de obrigação, e diga se um contrato de mútuo é uma
obrigação.

Obrigação é uma relação específica entre duas pessoas, pela qual


uma delas (o devedor) deve conceder à outra (o credor) uma vantagem
(isto é, um interesse ou uma realidade protegida pelo Direito). A obrigação
é uma relação complexa, abrangendo um dever/direito principal,
deveres/direitos secundários e deveres/direitos acessórios.
O mútuo não é uma obrigação. É, sim, um facto jurídico. Mais
exactamente um negócio jurídico. O mútuo é fonte de obrigações, mas
não é, em si, uma obrigação.

2. Comente a seguinte afirmação: “A existência de obrigações


naturais demonstra a correcção da teoria do débito e da
respondência”.

A afirmação é incorrecta. Com efeito, as obrigações naturais são


verdadeiras obrigações (cfr. art. 404.º), apenas com a particularidade de o
seu regime não admitir a exigibilidade judicial. Ora, isso significa que há
obrigações sem respondência – o que contraria a tese dualista do débito e
respondência.
Por outras palavras: a obrigação não pressupõe a respondência,
apesar de, por norma, a ter. Pelo que as obrigações naturais, per se, não
confirmam nem infirmam a correcção da teoria do débito e da
respondência.

II

a) Qualifique a(s) obrigação(ões) de António e de Bento atendendo


ao critério alternativa/com faculdade alternativa/simples (cotação:
4 val.)
Direito das Obrigações I
2.º ano A 24 de Novembro de 2009

a) Entre António e Bento existe uma obrigação alternativa, pois as


partes combinaram um par de direito de crédito/dever de prestar com
objectos diferentes (o D. Elvira e um Toyota Yaris), com a particularidade
de o cumprimento de uma única dessas prestações, que António
escolheria, extinguir a obrigação.

A incerteza de António quanto ao resultado da lotaria, conjugado com a


sua necessidade de trocar de carro e com o deslumbramento causado
pelo D. Elvira evidenciam que pretendia abranger na obrigação ambos os
objectos – e não apenas um (qual?), com a faculdade de o trocar no
momento do cumprimento.

b) Pode Becas opor-se a que Diogo escolha o Toyota? (cotação: 4


val.)

b) Sim. António, de acordo com o que havia sido combinado, escolheu,


entre as 2 prestações em alternativa, a prestação relativa ao Toyota Yaris.
Tratava-se de uma prestação relativa a uma coisa genérica "um
(qualquer) Toyota Yaris", dentre os que B tinha em stand. As partes
combinaram que a obrigação seria determinada por Carlos (quer quanto
ao objecto, quer quanto à contraprestação pecuniária). Carlos, tendo
morrido, não pode determinar a prestação.
As partes não estipularam para a eventualidade de o terceiro escolhido
(Carlos) não poder determinar a prestação. O art. 400.º, n.º 2, estabelece
que "se a determinação não puder ser feita (...), sê-lo-á pelo tribunal, sem
prejuízo do disposto acerca das obrigações genéricas e alternativas."
Nesta matéria, nada no regime das obrigações genéricas resolve a
questão, pelo que as partes terão de recorrer ao Tribunal (art. 1429.º, n.º
1, do Código de Processo Civil) para determinar o objecto da prestação (ou
pôr-se de acordo - seja quanto à pessoa que irá determiná-la, seja,
directamente, quanto à prestação).

c) Admitindo que Diogo pode escolher o Toyota e que o


comportamento de Becas entre 24 de Novembro e 2 de Janeiro se
tornou conhecido, pode Diogo escolher o Toyota melhor, com mais
de 60 mil quilómetros? (cotação: 8 val.)
Direito das Obrigações I
2.º ano A 24 de Novembro de 2009
Relativamente à obrigação de entregar o Toyota, as partes
estabeleceram os critérios da determinação do objecto, a utilizar pelo
terceiro: (1) "o melhor" Toyota, (2) com menos de 60 mil quilómetros. São
critérios que favorecem o comprador. Ou seja, o comprador quis assegurar
que o Toyota com que iria ficar era, no universo dos Toyotas em segunda
mão existentes no stand, o melhor. Integrando-se no conceito de melhor,
ainda que de modo autónomo, a circunstância de não ter muita
quilometragem.

O comportamento de Becas correspondeu a uma manipulação deste


critério, colocando deliberadamente fora do âmbito dos carros "elegíveis"
pelo terceiro o melhor dos Toyotas. Importa saber se este comportamento
é lícito e, não o sendo, quais as consequências.

A obrigação é uma realidade jurídica complexa. O direito de crédito e o


dever de prestar não esgotam o conteúdo da obrigação. Becas era o
devedor da obrigação de entrega de um carro a determinar por terceiro.
Relativamente à escolha do terceiro, Becas encontra-se numa situação de
sujeição. No entanto, a composição concreta do universo dos Toyotas
elegíveis, em certa medida, depende do comportamento de Becas. Becas
pode, por exemplo, colocar automóveis em circulação, de modo a que
ultrapassem os 60 mil quilómetros, pode comprar mais Toyotas, pode
vender Toyotas, pode permitir que clientes experimentem Toyotas, pode
mandar reparar Toyotas... são tudo factos possíveis e, alguns, implicados
na actividade normal de um stand de automóveis. Com efeito, sem
indicações complementares (isto é, sem contra-partidas de António), não é
exigível que, de 24 de Novembro a 6 de Janeiro, o stand de Becas fique
paralisado, no que toca aos Toyotas Yaris, em atenção ao negócio que
António e Becas celebraram.
Do que se trata, pois, é de determinar se o comportamento de Becas
(colocar o Toyota melhor em circulação com o objectivo de o excluir do
universo dos Toyotas elegíveis para venda pelo preço já grosso modo
determinado em 24 de Novembro) é aceitável perante os deveres
acessórios de Becas (art. 762.º, n.º 2).
O comportamento de Becas viola deveres acessórios (deveres de
lealdade) abrangidos pela obrigação de entregar a António o melhor
Toyota Yaris determinado por um terceiro de entre os Toyotas com menos
de 60 mil quilómetros. Com efeito, a boa fé exige que as partes não
frustrem as legítimas expectativas da outra parte no cumprimento do
negócio. Ora, se, como se disse, não era exigível que o stand parasse
entre dia 24 de Novembro e dia 6 de Janeiro, também não é correcto
admitir a manipulação, por uma das partes da composição do universo dos
Direito das Obrigações I
2.º ano A 24 de Novembro de 2009
veículos elegíveis, com o único fito de obter mais lucro do que aquele que
corresponde à palavra que já se empenhou. Um homem normal, colocado
na situação de António, acreditaria que Becas não adoptaria
comportamentos dirigidos a manipular, sem desfavor de António, o
universo dos Toyotas Yaris.
Por outro lado, também o princípio da primazia da materialidade
subjacente foi violado por Becas. Com efeito, ao alterar as “regras do
jogo”, colocando carros fora do universo dos carros elegíveis movido por
objectivos contrários à economia contratual, Becas está a contribuir para a
não satisfação do interesse do credor – em vez de colaborar na satisfação
desse interesse, como deveria.
A consequência da violação de deveres acessórios é a responsabilidade
civil (obrigacional) – art. 798.º e seguintes. E não a possibilidade de Diogo
escolher um Toyota fora dos critérios estabelecidos pelas partes.

Das könnte Ihnen auch gefallen