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Por: Pierre Klossowski | Trad.

: Rodrigo Lucheta

[Comunicação apresentada por Pierre Klossowski no “7º Colóquio Filosófico Internacional de


Royaumont - Nietzsche”, ocorrido em Paris entre 4 e 8 de julho de 1964. Presidido pelo
filósofo Martial Gueroult, o colóquio contou com intervenções de Gabriel Marcel, Giorgio
Colli e Mazzino Montinari, Gianni Vattimo, Gilles Deleuze, Michel Foucault (cuja comunicação
foi publicada em português pela Princípio Editora, com tradução de Jorge Lima Barreto),
entre outros.]

ESQUECIMENTO E ANAMNESE NA EXPERÊNCIA VIVIDA DO ETERNO RETORNO DO MESMO

O pensamento do eterno retorno do Mesmo vem a Nietzsche como um brusco despertar, ao


modo de um Stimmung [do alemão: humor], de uma certa tonalidade da alma: confundido
com esse Stimmung, ele se libera como pensamento; ele guarda às vezes o caráter de uma
revelação – ou de um súbito desvelamento.

(A distinguir aqui o caráter extático dessa experiência e a noção de Anel universal que já
persegue Nietzsche em sua juventude – período helenista)

Qual é a função do esquecimento nessa revelação? E mais particularmente, o esquecimento


não é a fonte, ao mesmo tempo que a condição indispensável para que o eterno retorno se
revele e transforme imediatamente até a identidade daquele a quem ele se revela?

O esquecimento recobre o eterno devir e a absorção de todas as identidades no ser.

Não há uma antinomia implícita à experiência vivida por Nietzsche, entre o conteúdo revelado
e o ensinamento desse conteúdo (na qualidade de doutrina ética) assim formulado: aja como
se devesses reviver inumeráveis vezes e querer reviver inumeráveis vezes – pois, de uma
maneira ou de outra, te será forçoso reviver e recomeçar?

A proposição imperativa substitui o esquecimento (necessário) através do apelo à vontade (de


potência); a segunda proposição prevendo a necessidade confundida no esquecimento.

A anamnese coincide com a revelação do Retorno: como o Retorno não recolocaria o


esquecimento? Não somente aprendo que eu (Nietzsche) me encontro em regresso ao instante
crucial onde culmina a eternidade do círculo, ainda que a verdade do retorno necessário me
seja revelada; mas aprendo no mesmo instante que eu era outro que não sou agora por tê-lo
esquecido, de modo que me tornei um outro ao aprendê-lo; vou mudar e esquecer mais uma
vez que mudarei necessariamente durante uma eternidade – até que eu reaprenda novamente
essa revelação?

A questão assim colocada parece defeituosa.


A tônica deve ser posta sobre a perda da identidade dada. A “morte de Deus” (do Deus fiador
da identidade do eu responsável) abre à alma todas as suas possíveis identidades já
apreendidas nos diversos Stimmungen [humores] da alma nietzschiana; a revelação do eterno
retorno trás como necessidade as realizações sucessivas de todas as identidades possíveis:
“todos os nomes da história no fundo sou eu” (1)i – finalmente “Dioniso e o Crucificado”. A
“morte de Deus”, na obra de Nietzsche, responde a um Stimmung, da mesma maneira que o
instante extático do eterno Retorno; cf. A Gaia Ciência.

Digressão:

O eterno retorno, necessidade que é preciso querer: apenas aquele que eu sou agora pode
querer essa necessidade do meu retorno e de todos os acontecimentos que resultaram neste
que eu sou – desde que a vontade aqui suponha um sujeito; porém, esse sujeito não pode
querer-se mais tal como ele foi até então, mas quer todas as possibilidades prévias; pois
abraçando num golpe de vista a necessidade do retorno como lei universal, eu desatualizo meu
eu atual para me querer em todos os outros eus dos quais a série deve ser percorrida para que,
seguindo o movimento circular, eu re-devenha o que eu sou no instante em que descubro a lei
do eterno retorno.

No instante em que me é revelado o eterno retorno eu deixo de ser eu mesmo hic e nunc e
estou suscetível a devir inumeráveis outros, sabendo que irei esquecer essa revelação uma vez
estando fora da memória de mim mesmo; esse esquecimento forma o objeto do meu presente
querer; pois semelhante esquecimento equivalerá a uma memória fora dos meus próprios
limites: e minha consciência atual somente será restabelecida no esquecimento de minhas
outras possíveis identidades.

Qual é essa memória? O necessário movimento circular ao qual me entrego me dispensando


de mim mesmo. Se, agora, eu declaro querê-lo e que, querendo-o necessariamente, eu o
estaria re-querendo, não faço senão estender minha consciência ao movimento circular: ainda
que, identificando-me ao círculo, não saia jamais, entretanto, dessa representação a partir de
mim mesmo; de fato já não estou mais no instante em que a brusca revelação do eterno
Retorno me atingiu; para que essa revelação tenha sentido, seria preciso que eu perdesse a
consciência de mim mesmo, e que o movimento circular do retorno se confundisse com meu
inconsciente até que o movimento me tenha trazido o instante onde me foi revelada a
necessidade de percorrer toda a série de minhas possibilidades. Não me resta, por isso, senão
(re)querer-me a mim mesmo não mais como o resultado dessas possibilidades prévias,
tampouco como uma realização entre mil, mas como um momento fortuito do qual a
fortuitidade mesma implica a necessidade do retorno integral de toda a série.

Mas (re)querer-se como um momento fortuito é renunciar a ser si mesmo de uma vez por
todas: visto que não foi de uma vez por todas que renunciei e que é preciso querê-lo; e eu
mesmo não sou esse momento fortuito de uma vez por todas se é verdade que eu devo re-
querer esse momento... de uma vez por todas! A troco de nada? Quanto a mim mesmo. Nada
sendo aqui o Círculo de uma vez por todas. Seja um signo valendo para tudo o que aconteceu,
para tudo o que acontece, para tudo o que acontecerá no mundo.
Como o querer pode intervir sem o esquecimento do que agora deve ser re-querido?

Pois de fato, esse instante mesmo onde me foi revelada a necessidade do movimento circular
apresenta-se em minha vida como jamais tendo acontecido anteriormente! Foi necessária a
hohe Stimmung [do alemão: alta afetividade], a alta tonalidade da minha alma para que eu
saiba e sinta a necessidade de que todas as coisas revenham. Se eu medito essa alta tonalidade
onde se reflete repentinamente o círculo, desde que eu o admita não mais como obsessão
própria a mim, acabo por constatá-la como única apreensão válida do ser – como a única
realidade – não é possível que isso não me tenha sido revelado inumeráveis vezes sob outras
formas talvez: mas eu o esqueci, pois que está inscrito na própria essência do movimento
circular (a fim de aceder a um outro estado e ser precipitado fora de si, sob pena de que tudo
pare) que nos esqueçamos de um estado ao outro. E quando eu não esquecesse que estive
nesta vida aqui, todavia esqueci de ter sido precipitado fora de mim em uma outra vida – em
nada diferente desta aqui!

Sob pena de que tudo pare? Quer dizer que durante essa revelação brusca o movimento
pararia? O movimento circular está longe de parar, pois não pude eu mesmo, Nietzsche, me
subtrair a ele: essa revelação não me veio como uma reminiscência – nem uma experiência de
déjà-vu. Tudo pararia para mim se eu me lembrasse de uma precedente e idêntica revelação
que, no caso de eu proclamar continuamente essa necessidade do retorno, me manteria
dentro de mim mesmo como que fora da verdade que eu ensino. Por isso foi preciso que eu
esquecesse essa revelação para que ela seja verdadeira!
i (1) Cf. Carta à Burckhardt, de 06 de janeiro de 1889.

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