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SÍNTESE MONOGRÁFICA DE
MOÇAMBIQUE
LISBOA MCMLXXI
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ÍNDICE
Pag
II —GEOGRAFIA GERAL
a) ELEMENTO FÍSICO
1 — Generalidades ..................................................................... 17
2 —Relevo .................................................................................. 18
3 — Orla marítima ...................................................................... 20
4 — Hidrografia ......................................................................... 23
5 —Clima .............................................................................24
6 —Subsolo ................................................................................ 25
7 — Potencialidades energéticas ............................................... 26
8 —Flora ..................................................................................... 31
9 —Fauna ................................................................. :............... 32
b) ELEMENTO HUMANO
a) ADMINISTRAÇÃO CENTRAL
1 — Generalidades .......................................................................... 37
b) ADMINISTRAÇÃO PROVINCIAL
1 — Generalidades .......................................................................... 40
2—-Órgãos provinciais de Administração ........................................ 41
3 — Organização judiciária .............................................................. 44
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V —SAÚDE E ASSISTÊNCIA —ACÇÃO SOCIAL ... 61
VI —RELIGIÃO ............................................................................... 67
a) AGRICULTURA ........................................................................ 71
b) SILVICULTURA ........................................................................ 74
c) PECUÁRIA ................................................................................ 75
d) PESCA —PISCICULTURA ...................................................... 77
e) ACTIVIDADES EXTRACTIVAS .............................................. 78
VIII — INDÚSTRIA
IX —ENERGIA ............................................................................. 91
a) COMUNICAÇÕES E TRANSPORTES
1 — Rodoviários ............................................................................. 93
2 — Ferroviários ............................................................................. 97
3 — Marítimos
4 — Aéreos
b) COMÉRCIO INTERNO
c) COMÉRCIO EXTERNO
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I —RESUMO HISTÓRICO
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mostram, de certo modo, que o território onde hoje se situa a província de Moçambique tem uma
história que remonta a muitos séculos.
Quando, indo da Europa, os navegadores portugueses aportaram a Sofala, foram ali encontrar
um entreposto comercial onde os árabes negociavam com outros povos.
Pêro da Covilhã, enviado à índia por D. João II em missão de reconhecimento terrestre,
esteve em Sofala em 1489. Seria, portanto, o primeiro português a pisar locais que viriam a fazer
parte da Província.
Na sua viagem de descoberta do caminho marítimo para a índia, Vasco da Gama, após rondar
o cabo da Boa Esperança e ter aportado à terra da Boa Gente (Inhambane), fez paragem na foz do
rio dos Bons Sinais (Quelimane), tendo ancorado na ilha de Moçambique, antes de prosseguir
viagem, em 1498.
Ao dobrar do século XV Pedro Álvares Cabral contactou com Sofala.
Poucos anos depois foi visitada a actual baía de Lourenço Marques, a que se deu o nome de
Baía da Lagoa.
A ocupação de Sofala data de 1505. Mas, passados três anos, assiste-se à concentração de
todo o interesse na ilha de Moçambique, ande se inicia a construção da que viria a ser, mais tarde,
uma grande e bela fortaleza (de S. Sebastião), marco secular da presença portuguesa no Índico. A
ilha e todo o território fronteiro até Sofala passam a ficar sob* a autoridade de D. Francisco de
Almeida, vice-rei da índia.
Entretanto, António Fernandes, partindo de Sofala, inicia no ano de 1514 as primeiras
viagens pelo interior do território, em busca das minas de ouro. Contactou, então, o chefe
Monomotapa.
Entre os anos de 1530 e 1570 são criados alguns aglomerados populacionais ao longo do
Zambeze (como Sena e Tete), em Quelimane e, bem a sul, na Catembe.
Prosseguem as caminhadas para o interior, sendo de interesse salientar a de D. Gonçalo da
Silveira, missionário valoroso, por volta de 1560, e a do cientista Francisco Lacerda, nos fins do
século XVIII, na famosa viagem do Índico ao Atlântico, através da África — a viagem da
contracosta —, só mencionando os que iniciaram as suas expedições em Moçambique porque
muitos outros o fizeram partindo de Angola.
Entre 1500 e 1822 a administração exercia-se através de áreas de controle directo ou de
concessões dadas a indivíduos e companhias.
Nas últimas décadas do século XIX surge digna de menção a acção do natural de Goa,
Manuel de Sousa, apelidado de Gouveia, que teve grande influência nas áreas de Gorongosa e
Tete (a sede do actual concelho do Barué tem o nome de Vila Gouveia).
Com as viagens de penetração e da contracosta pretendia-se, além do reconhecimento do
território, salvaguardar os direitos e interesses portugueses através de uma ligação física entre
Angola e Moçambique, especialmente na fase que antecedeu a Conferência de Berlim de 1885,
durante a qual as grandes potências ditaram o destino do continente africano.
Posta em causa, pela Inglaterra, a legitimidade da presença portuguesa na região a sul de
Lourenço Marques, foi a questão decidida a favor de Portugal, em 1875, por arbitragem do
Presidente MacMahon, da República Francesa.
A ilha de Moçambique era, então, a capital da Província e aí se encontrava a sede do
Governo. Porém, tornava-se urgente, face ao interesse estrangeiro pelas regiões do sul, estender
até aí a autoridade efectiva, e, assim, em 1898, a sede do Governo é transferida para Lourenço
Marques, vindo a transformar-se, rapidamente, numa das melhores cidades do continente e num
grande centro portuário e ferroviário de projecção internacional.
Como nota final deste pequeno resumo convém, no estudo da evolução histórica face a
culturas diferentes em presença, recordar a atitude que o professor americano David Abshire
definiu nas seguintes palavras:
«... os portugueses demonstraram uma tolerância, habilidade para co-existir com os africanos
e uma especial pré-disposição para os aceitar como nenhuns outros europeus».
Tal atitude é merecedora de meditação pelos que queiram estudar a história portuguesa de
África.
Na verdade, sempre foram tomados em consideração e salvaguardados os legítimos interesses
e aspirações das populações locais. São disso prova e expressão as leis e as instruções que eram
transmitidas aos que partiam da Europa para se fixarem nos territórios descobertos.
6
Moçambique, terra portuguesa há mais de quatro séculos, é bem o resultado do que pode uma
política de contacto cultural sem preconceitos raciais, tendo como única finalidade o progresso do
território e desenvolvimento das suas populações, numa comunidade de interesses com as
restantes parcelas da Nação.
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II— GEOGRAFIA GERAL
a) ELEMENTO FÍSICO
1 — Generalidades
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Niassa, o Malawi, a Zâmbia, a Rodésia, a República da África do Sul e a Suazilândia; a
Sul, a República da África do Sul; a Leste, o Oceano Índico.
É, em superfície, a segunda parcela do território nacional. Tem configuração
alongada e uma orla marítima com a extensão de 2795 kms — o que diz bem da sua
importância estratégica no Oceano Indico.
Por outro lado, a extensão da costa ganha impor tância face aos problemas
de territórios sem litoral como a Zâmbia, Malawi, Suazilândia e Rodésia.
Caracteriza-se a Província por três aspectos físicos bem definidos: zona
costeira, baixa e arenosa, aqui e além semeada de lagoas e alguns terrenos pantanosos e
dunas; zona intermédia de savana; e planalto interior — mais predominante no Norte.
De um modo geral, pode dizer-se que se sobe caminhando do mar para o
interior, como mostram os perfis altimétricos que se apresentam na pág. 19.
Em consequência, os maiores rios correm no sentido Oeste-Leste.
2 — Relevo
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3 — Orla marítima
A orla marítima debruça-se sobre o Oceano Índico na extensão de 2795 km.
Trata-se de uma costa baixa, irregular no rumo, arenosa desde a Ponta do Ouro até ao Lumbo
e mais recortada, por vezes rochosa e coralífera, daqui até à foz do rio Rovuma, na fronteira
norte.
As dunas, na Ponta do Ouro, sobem a 100 metros, baixando de altitude à medida que se
caminha para Norte. Vêm sendo fixadas com plantações de casuarinas, não só na Ponta do Ouro,
como no Bilene (Gaza) e junto de Inhambane.
De Sul para Norte encontram-se as baías de: Lourenço Marques, onde foi construído um dos
maiores e melhor apetrechados portos de África (esta baía tem 36 quilómetros de largura, desde a
Polana ao farol da ilha da Inhaca, por 52 de comprimento); Inhambane; Vilanculos, com o
arquipélago do Bazaruto fronteiro, formado por ilhas coraliárias rodeadas por águas límpidas e
formosas; Beira; as do enorme delta do rio Zambeze (portos do Chinde e Cuama); Pebane; Antó-
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nio Enes; Fernão Veloso, onde foi construído o porto de Nacala, baía magnífica e excepcional
pelas óptimas condições portuárias que oferece; Pemba ou de Porto Amélia — considerada uma
das maiores do mundo —; Mocímboa da Praia, Túnguè ou Palma, quase junto ao rio Rovuma, ,de
uma beleza de paisagem de anotar. Entre Mocímboa da Praia e Palma encontram-se muitas ilhas e
ilhotas, salientando-se as Quirimba e Ibo onde em tempos idos foram estabelecidos fortes e
fortins.
Merece referência especial a ilha de Moçambique, fronteira ao Mossuril e Lumbo.
Em certas reentrâncias da costa o mangal cobre grandes áreas, na foz dos rios, dando uma
nota característica com o seu colorido verde-escuro.
4 — Hidrografia
Todos os grandes cursos de água de Moçambique correm no sentido Oeste-Leste, desaguando
no Oceano Índico. Os maiores são rios internacionais pois vêm dos territórios vizinhos.
A propósito, tem interesse notar que o Zambeze nasce no Nordeste de Angola, atravessa esta
Província numa extensão aproximada de 200 km, marca, depois, a fronteira entre a Zâmbia e a
Rodésia, acabando por entrar em Moçambique no ponto mais ocidental, no Zumbo, para após
mais uns 900 quilómetros em território nacional desaguar num muito ramificado delta.
Os rios Maputo, Umbeluzi, Incomati e Limpopo nascem na República da África do Sul, o
Save na Rode sia e o Rovuma na Tanzânia. Cita-se ainda o rio dos Elefantes, vindo da República
da África do Sul, por nele se localizar a barragem de Massingir, embora este curso de água não
desague no mar, e o Revuè, onde se situa a barragem da Chicamba Real.
São consideradas dignas de menção as bacias do Rovuma, do Lúrio, toda ela situada em
território nacional (o rio nasce no monte Malema, tendo um curso de mais de 1000 quilómetros),
do Zambeze, do Save e do Limpopo.
Na grande maioria dos cursos de água o regime depende muito das chuvas locais. Alguns
(conhecidos localmente por mecurros), deixam mesmo de correr na época seca, embora na das
chuvas atinjam, por vezes, grande caudal, levando pontes e pontões à sua frente.
5 — Clima
A maior parte da província situa-se na zona tropical caracterizada pela sucessão das estações
pluviosa e seca.
A primeira, geralmente, vai de Novembro (com as chuvas chamadas do cajú, por ser então
que esta planta começa a frutificar), até Março, coincidindo com os meses quentes do hemisfério
sul. Os meses mais quentes e húmidos, nas zonas costeiras do centro e norte, são os de Janeiro e
Fevereiro. Mais para o interior o clima ameniza-se à medida que aumenta a altitude.
A estação seca é mais fresca e dura cinco a seis meses. Então, nas regiões mais altas, chega a
fazer frio.
A Sul, o clima (enquadra-se já na região subtropical) é influenciado pelas águas quentes da
corrente marítima do canal de Moçambique.
A pluviosidade varia da zona costeira para o interior. Começa por ser maior na primeira,
diminui numa zona intermédia para aumentar de novo nas áreas dos maciços montanhosos do
noroeste — o que permite, nos montes Namúli e Milange, por exemplo, a cultura do chá.
Há duas regiões que se salientam pela pequena quantidade de precipitação: o Noroeste do
distrito de Gaza e a parte do de Tete que circunda o vale do Zambeze. Na primeira daquelas
regiões admite-se que se possa vir a promover a criação do caraculo, tal como já acontece no
deserto de Moçâmedes em Angola.
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6 — Subsolo
Como foi referido no resumo histórico, acreditava-se ser a região de Manica muito rica
em ouro e prata. Houve mesmo autores que relacionavam a área com as lendárias minas do
rei Salomão e as terras de Ofir.
A primeira avaliação sistemática dos recursos mineiros da Província foi compilada por A.
Freire de Andrade e publicada em Lisboa em 1900, num livro hoje muito valioso.
Depois, o Instituto Imperial da Grã-Bretanha procedeu a pesquisas, no decurso dos anos
de 1911 a 1914, na área dos actuais distritos de Vila Pery e Beira.
A estes trabalhos outros se seguiram, quer directamente realizados pelos departamentos
respectivos do Estado, quer por firmas especializadas francesas, americanas e portuguesas,
mediante contratos celebrados após concursos públicos.
Com o fim de se reconhecer o subsolo, têm sido criadas brigadas de prospecção e estudo,
que vêm actuando por toda a Província.
Assim, sabe-se que existem, com maior ou menor teor, minérios de: amianto, bauxite,
bismutites, carvão, tantalites, diatomites, grafites, caulinos, lepidolites, mica, prata, crómio,
ferro, minérios radioactivos, berílios e pedras preciosas (diamantes) e semi-preciosas (águas--
marinhas e esmeraldas).
ultimamente os estudos do subsolo têm-se também concentrado na procura do petróleo,
que se crê existir, dadas as características das regiões prospectadas.
Na região de Panda existe um valioso depósito de gás natural.
Em Namapa, a norte, foi recentemente encontrado um depósito de minério de ferro em
teor e quantidade comparáveis ao de Cassinga, em Angola.
Também em Tete está reconhecida a existência de ferro, além de manganês e outros
minérios, como o carvão.
Estas circunstâncias, aliadas à da produção de energia eléctrica na .barragem de Cabora-
Bassa, de baixo custo, abrem novas perspectivas à economia de Moçambique com a
possibilidade da instalação de indústrias pesadas.
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Em anos recentes, como prova da riqueza do subsolo, têm sido autorizadas muitas
concessões de prospecção e registados muitos depósitos (claims).
7 — Potencialidades energéticas
Data do I Plano de Fomento Nacional (1953) o aproveitamento da energia do rio Revuè,
obtido através da construção da barragem do mesmo nome e da barragem Salazar (na
Chicamba Real). Esta foi recentemente alteada, tendo, também, beneficiado da implantação
de uma central de pé-de-barragem, com a qual foi substancialmente aumentada a sua
capacidade produtiva, que permitirá elevar a exportação de energia para a Rodésia. Esta
barragem assegura o abastecimento de toda a região sob a influência do Caminho de Ferro da
Beira.
O aproveitamento energético do rio Revuè foi o pri meiro empreendimento de grande
envergadura, neste sector, realizado na Província e comporta ainda a irrigação de vasta área
onde se estabeleceram conjuntos de exploração agro-pecuária, com base, especialmente, na
plantação de milho, quenafe (fibra utilizada na fabricação de sacaria), citrinos e trigo, além de
outros produtos.
A produção hidroeléctrica do Revuè, embora já de considerar, é pequena em comparação
com a que resultará do aproveitamento do rio Zambeze (que também inclui a irrigação de
milhares de hectares).
O rio Zambeze entra na Província no Zumbo a uma altitude de 300 metros e no percurso
de perto de 450 km, até Tete, desce para os 30 metros.
Na garganta de Cabora-Bassa, nome que, por vezes, também foi indicado como
Queruabassa, Carcabassa ou Cahora-bassa (a meio caminho entre Tete e o Zumbo) e, depois,
na Lupata, o rio tem desníveis acentuados.
A construção da barragem de Cabora-Bassa, no lugar do mesmo nome, foi iniciada em
1970. Nos outros locais já referidos e ainda em Mepando e Boroma, está prevista a
construção de outras barragens e centrais hidroeléctricas.
Admite-se que, na totalidade, a potência hidroeléctrica do vale do Zambeze atinja os 50
000 milhões de quilovátios/hora por ano e venha a proporcionar a energia mais barata de
África. Ela será consumida na Província e nos territórios vizinhos.
No que respeita a Cabora-Bassa, trata-se de um aproveitamento que será, pela sua
capacidade produtiva, o 4.° do mundo e o primeiro de África.
Há estudos ou projectos elaborados para aproveitamento dos rios Maputo, Lúrio, Movene
e outros, estando, nesta altura, em fase de adjudicação a construção da barragem de Massingir
no rio dos Elefantes.
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O rio Zambeze no local onde está em construção a barragem de Cabora-
Bassa
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Esta barragem completará o sistema de irrigação já implantado no rio
Limpopo, onde se construiu um açude--ponte, para represamento e derivação das águas, o
qual dá passagem a veículos automóveis e à linha do caminho de ferro que liga Lourenço
Marques a Malvérnia.
A Província possui urânio, não se prevendo, contudo, quando se poderá
contar com o seu aproveitamento, em centrais atómicas, para o fornecimento de energia.
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8 — Flora
Há duas regiões fitogeográficas bem distintas: a do sul, de reduzida
extensão, que vai até ao rio Incomati, e a das savanas, estepes e florestas.
A primeira é um prolongamento da região botânica da África Austral, na
classificação de certos geógrafos.
Na segunda, mais caracterizadamente tropical, temos a savana, com
vegetação lenhosa nos vales em galeria florestal (tipo xerófilo) e nas vertentes em povoa-
mentos arbustivos.
Na região das florestas aparecem-nos os tipos xerófilo, dos meios secos, e o
higrófilo, dos meios húmidos.
Na zona litoral marítima os mangais ocupam os lugares abrigados e os
estuários dos rios até onde chega a influência da água salgada. Há o mangal vermelho,
devido à cor vermelha do lenho, e o branco, que predomina. É utilizado para a produção
de taninos empregues na indústria de curtumes.
Nos meios de água doce a floresta toma a forma de galerias que a norte do
rio Zambeze possuem muito maior riqueza de espécies e densidade do que a Sul.
Nos pontos mais elevados das regiões montanhosas encontra-se um tipo de
floresta intermédio entre o higrófilo e o xerófilo, com predomínio do primeiro.
Barragem Salazar na Chicamba Real
9 — Fauna
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São em elevado número, e de grande beleza de plumas e outros ornamentos, as aves,
algumas de grande porte, como a águia real, pelicano, flamingo, abutres, corvos, etc.
b — ELEMENTO HUMANO
1 — Valores demográficos
A população da Província segundo os resultados provisórios do IV Recenseamento Geral,
realizado em Dezembro de 1970, é de 8 233 034 habitantes, o que repre senta um
aumento de 1 714 430 em relação ao Recenseamento de 1960 que acusou 6 518 604
habitantes.
Assim, a densidade da população vai um pouco além dos 9 habitantes por quilómetro
quadrado, sendo, portanto, superior à média do continente africano.
2 — Linguística
a) ADMINISTRAÇÃO CENTRAL
1 — Generalidades
a) os membros da Assembleia Nacional, da qual fazem parte deputados eleitos pelo círculo
de Moçambique;
b) os membros da Câmara Corporativa, da qual também fazem parte «procuradores» por
Moçambique;
c) representantes dos Conselhos Legislativos das províncias ultramarinas;
d) representantes dos corpos administrativos de cada distrito e cada província ultramarina,
não dividida em distritos.
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A Assembleia Nacional é eleita por sufrágio directo universal, sendo o território
nacional dividido, para o efeito, em círculos eleitorais. O mandato dos deputados é de 4
anos.
O Governo é constituído pelo Presidente do Conselho de Ministros, designado pelo
Presidente da República, e pelos Ministros.
Entre estes figura o Ministro do Ultramar que, ao legislar sobre certas matérias,
deverá ouvir o Conselho Ultramarino. Este e a Câmara Corporativa, embora noutro
plano, são os dois mais importantes órgãos consultivos para as províncias.
O Conselho Ultramarino é o mais alto órgão consultivo permanente do Ministro do
Ultramar.
É composto por membros nomeados e por membros eleitos pelos Conselhos
Legislativos das províncias ultramarinas. Funciona, ainda, como tribunal constitucional,
administrativo e de conflitos de jurisdição e competência. Conta actualmente 39
membros, entre nomeados e eleitos.
A Câmara Corporativa é, também, constituída por representantes das províncias
ultramarinas.
Ora, dado que, como se viu, as províncias ultramarinas intervêm na eleição do Chefe
de Estado, elegem deputados à Assembleia Nacional e estão representadas na Câmara
Corporativa e no Conselho Ultramarino, elas participam na formulação da política
nacional.
b) ADMINISTRAÇÃO PROVINCIAL
1 — Generalidades
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A autoridade superior na Província é o Governador-Geral. É o mais alto agente e
representante do Governo da Nação Portuguesa.
Há ainda secretários provinciais em quem o Governador-Geral delega funções
executivas.
Presentemente há nove secretarias provinciais:
Secretaria-Geral;
Saúde e Assistência;
Educação;
Economia;
Obras Públicas;
Comunicações;
Terras e Povoamento;
1 — Direcções de Serviços:
— Administração Civil
— Agricultura e Florestas
— Alfândegas
— Centralização e Coordenação de Informações
— Centro de Informação e Turismo
— Economia
— Educação
— Estatística
— Fazenda e Contabilidade
— Geográficos e Cadastrais
— Geologia e Minas
— Hidráulica
— Marinha
— Obras Públicas e Transportes
— Saúde e Assistência
— Trabalho, Previdência e Acção Social (Instituto)
— Veterinária
2 — Serviços Autónomos:
— Assistência
— Portos, Caminhos de Ferro e Transportes
— Correios, Telégrafos e Telefones
— Imprensa Nacional
— Inspecção de Crédito e Seguros
Administração local
3 — Organização judiciária
Conselho Ultramarino;
Tribunal de Contas;
Tribunal Administrativo, em Lourenço Marques.
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Beira — Edifício do Tribunal
a) EDUCAÇÃO E ENSINO
Desde os contactos iniciais dos primeiros portugueses com África que a promoção da
educação tem sido considerada um dos mais importantes factores do progresso
económico e social.
Na verdade, logo após as primeiras viagens, chegam à Província os missionários para
ensinarem não só a doutrina cristã, mas também a ler, escrever e ofícios.
Os primeiros diplomas sistematizados, sobre educação, aplicáveis à Província, datam
de 1845 e 1869.
Com essa legislação criou-se. o que se poderia designar hoje por sistema de educação
rural. A evolução levou depois à existência de escolas governamentais e particulares, nas
áreas mais populosas, e de escolas missionárias nas zonas rurais.
Tal situação de dualidade veio a modificar-se, passando os progressos e livros a ser
idênticos em todos os lugares, mas adaptados uns e outros ao meio local.
A educação e ensino dependem da Direcção-Geral de Educação, no Ministério do
Ultramar, que tem como órgão de consulta um Gabinete de Estudos e Acção Educativa.
O Ministério da Educação Nacional superintende na orientação pedagógica e
científica da Universidade.
Na Província funciona a Direcção dos Serviços de Educação, dependente do
Governo-Geral através do Secretário Provincial da Educação. Nesta Direcção há ainda a
Inspecção Provincial de Educação, responsável pela qualidade do ensino.
O sistema e os meios de educação estão adaptados aos condicionalismos locais, com
especial relevo para os textos dos livros didácticos utilizados no ensino, o qual, em linhas
gerais, segue as normas aplicáveis a todo o território nacional.
As escolas primárias e postos escolares encontram-se por toda a Província. Em
Lourenço Marques, Beira, Nampula e Quelimane existem escolas especiais para
assistência a crianças deficientes.
Há escolas técnicas e (ou) liceus em todas as capitais de distrito e outras localidades,
como Namaacha, Manica, Vila Junqueiro, ilha de Moçambique, António Enes e Nacala.
Na Universidade de Lourenço Marques funcionam os cursos dos diversos ramos de
engenharia, medicina, veterinária, agronomia, economia, pedagógicas, matemática, física,
química e biológicas. Em 1970 a frequência era já de 1700 alunos.
A par das escolas mencionadas há as de treino post-primário e post-secundário
(agricultura, veterinária, artes e ofícios, enfermagem, agrimensura, técnica de rádio,
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técnica de laboratório e preparadores de farmácia, técnica radiológica e pilotagem de
aeronaves).
Funcionam, ainda, escolas do magistério primário e de regentes agrícolas, e os
Institutos Comercial, Industrial e de Serviço Social.'
Além das escolas oficiais é elevado o número de colégios particulares, alguns criados
pelas missões católicas, bem como o de escolas pertencentes às grandes empresas
industriais e agrícolas, às missões protestantes e católicas e às associações islâmicas.
Na última década tem-se assistido a um esforço no sentido de promover uma
acentuada melhoria do ensino em todos os graus (com a criação de cursos para adultos) e
de maiores facilidades para a frequência dos cursos secundário, médio e universitário,
com a concessão de bolsas de estudo, isenção de propinas, criação de lares de estudantes,
prémios pecuniários e outras formas de auxílio, como bolsas de alimentação ou
fornecimento desta pelas cantinas escolares.
Para preparação dos professores de posto escolar funcionam as escolas de Habilitação
de Professores em Manhiça, Magude, Homoíne, Dondo, Inhamizua, Vila Coutinho,
Quelimane, Alto Molócuè, Marrere, S. Pedro, Chiúre e Vila Cabral.
O seguinte quadro mostra a evolução do número de alunos nos diversos ramos de
ensino nos últimos cinco anos:
Aula numa
escola de
ensino
técnico
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Trabalhos laboratoriais no Instituto de Investigação Cientifica de Moçambique
b) CIÊNCIA E INVESTIGAÇÃO
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Imprensa: publicam-se jornais diários e semanários, revistas culturais, científicas e
de assuntos económicos e sociais, boletins, como os da Sociedade de Estudos e dos
Caminhos de Ferro, Anais de departamentos do Estado e outras publicações periódicas.
Também a Universidade de Lourenço Marques vem contribuindo, através de
publicações, conferências e congressos, para a difusão cultural.
Outros meios: são muito frequentes as manifestações artísticas, entre as quais os
concertos de música e dança, espectáculos de folclore onde predominam a marrabenta,
a qúela, o batuque e a exibição de marimbeiros; representações teatrais, quer de
amadores quer de companhias profissionais; exposições de pintura, escultura, arquitec-
tura, fotografia e cinema, além de concursos literários, alguns patrocinados pelas
Câmaras Municipais e associações recreativas.
Exercem também acção de grande interesse, na divulgação cultural, o Núcleo de
Arte e a Academia de Música.
Os museus Álvaro de Castro (história, ciências naturais, antropologia e etnografia),
o de mineralogia e o de História, de Lourenço Marques, bem como o antropológico e
etnográfico de Nampula, são os mais bem montados.
A acção social do Estado está cometida a vários departamentos, com papel de relevo
para o Instituto do Trabalho, Previdência e Acção Social e Serviços de Saúde e
Assistência.
Também têm importância, neste sector, as missões religiosas, sobretudo, as católicas,
e em menor escala as protestantes e islâmicas, além das associações privadas.
Entre os serviços públicos votados ao bem estar, destaca-se, pela sua acção directa, a
Provedoria da Assistência Pública que mantém estabelecimentos de ensino e internatos,
concede bolsas de estudo, subsídios na doença, pensões por velhice ou por desemprego,
etc.
As cooperativas têm também serviços assistenciais bem como o Montepio de
Moçambique e as lutuosas de diversos serviços públicos. Os sindicatos e empresas con-
cedem protecção aos trabalhadores na doença e na incapacidade de trabalho, por acidente,
e aos reformados.
A melhoria das condições de habitação constitui preocupação do Estado, através dos
Fundos de Construção de Casas e das Brigadas de Melhoramentos Rurais, segundo uma
política definida através de um Gabinete de Urbanização.
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Seguem-se alguns dados sobre Saúde e Assistência (do Estado e outras entidades),
referidos a 1970 uns, e outros a 1967:
VI — RELIGIÃO
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Refere-se que Moçambique é a parcela do território nacional onde se encontra o
maior número de portugueses islamizados (cerca de um milhão).
a) AGRICULTURA
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É precisamente neste âmbito que o Instituto de Investigação Agronómica, os Serviços
de Agricultura e os Institutos do Algodão e dos Cereais vêm desenvolvendo uma acção
muito válida e construtiva não só em relação aos produtos de mercado mas também aos
de subsistência.
As cooperativas agrícolas e o reordenamento rural têm contribuído para uma
melhoria da exploração da terra— o que se reflecte, desde já, nas culturas do algodão,
chá, milho, trigo, feijão, arroz e produtos hortícolas.
Os produtos cultivados na Província podem classificar-se segundo um dos seguintes
critérios:
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Um factor benéfico na agricultura é o crédito, concedido através do Instituto de
Crédito Agrícola, a curto e médio prazos.
Entre as iniciativas de industrialização dos produtos agrícolas, merecem referência a
da mecanização do descasque da castanha de caju e a da extracção de óleo.
É interessante lembrar que alguns dos produtos agrícolas mais utilizados na
alimentação foram introduzidos em África pelos Portugueses: a cana do açúcar no séc.
XV, o milho, a mandioca e o cajueiro no séc. XVI, e o arroz no séc. XVII.
b) SILVICULTURA
c) PECUÁRIA
d) PESCA — PISCICULTURA
Apesar da grande extensão da costa, não existe ainda uma indústria de pesca que se
possa comparar à existente em Angola.
É certo que as águas próximas não são muito ricas, mas a verdade é que só
recentemente se promoveram estudos adequados sobre a riqueza piscatória, daí resul-
tando a constituição de algumas empresas de pesca e transformação do pescado.
Actualmente apenas tem alguma importância a pesca do camarão e da lagosta para
abastecimento local e exportação.
As populações do litoral dedicam-se à pesca, utilizando, para tanto, técnicas
artesanais, garantindo, assim, o abastecimento dos centros menos importantes da
província. As maiores cidades são fornecidas de peixe por pequenas traineiras já dotadas
de alguma aparelhagem apropriada.
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Em certas áreas procede-se à seca do peixe, para ser consumido mais tarde ou ser
mais facilmente transportado das regiões onde abunda para outras (este peixe é sobretudo
capturado em lagos e rios).
O Estado tem fomentado a piscicultura com o intuito de melhorar a dieta alimentar
das populações do interior da província. Ela é praticada não só em tanques artificiais
como em lagoas.
É certo que as proteínas animais se podem também obter da carne, mas a existência
de caça ou de gado está condicionada pelas disponibilidades de água e pastagens na
época seca e, ainda, pelos investimentos que a pecuária exige. Daí a preocupação com a
piscicultura, como fonte de proteínas em certas áreas.
Na Província a piscicultura assumiu resultados práticos a partir de 1952.
Presentemente existe a Estação de Piscicultura do Umbelúzi e vários postos piscícolas,
tendo em vista o povoamento de cursos de água, lagoas e represas. Os postos espalham-se
por todo o território, sendo de salientar os de Bilene, Massinga, Zavala, Muatua,
Mogovolas, Murrupula e Namaíta.
Existe também uma boa centena de albufeiras e tanques, pertencentes a particulares,
onde se criam peixes para consumo e pesca desportiva, em geral, tilápias e peixe tigre.
e) ACTIVIDADES EXTRACTIVAS
As actividades extractivas e, designadamente, as explorações mineiras, efectuam-se
desde tempos muito remotos.
Como ficou anotado, a riqueza mineira de parte do território que veio a formar a
Província— (Sofala) — era considerada fabulosa.
Assim, nos séculos XVI e XVII, houve grande interesse pela pesquisa e exploração
das riquezas mineiras locais. Depois veio o desânimo, para só nas últimas décadas, em
especial a partir de 1960, se assistir a um renovado interesse pela prospecção dos
petróleos, ouro, urânio, ferro e minérios raros.
Recentes descobertas de jazigos devem levar a um pronunciado desenvolvimento das
actividades extractivas.
Conhece-se, pois, a existência de depósitos de diamantes, amianto e manganês, junto
a Catuane, no Sul; de minérios ricos em urânio e ferro, no distrito de Tete; de minério de
ferro, no norte do distrito de Moçambique, junto do rio Lúrio (Namapa); de tantalite, con-
siderado dos maiores depósitos conhecidos, em Murrua, no Alto Molocuè; de ilmenite
(de elevado teor) nas áreas do litoral, na costa a norte da foz do rio Zambeze, entre as
praias de Moma e Pebane.
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Refinaria de petróleo na Matola
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Vista parcial da zona industrial da Matola
Os maiores investimentos têm sido efectuados nas indústrias dos óleos, cimentos,
alimentação, descasque de caju, preparação de chá, algodão e açúcar (neste sector
algumas unidades estão a sofrer beneficiações e duas novas açucareiras vieram
contribuir para o aumento substancial da exportação).
Índices dos vários sectores da indústria transformadora em 1969, tomando como base
o ano de 1964 (índice 100):
Alimentação ........................................................................... 175
Bebidas (cerveja e refrigerantes) ........................................ 230
Tabaco ................................................................................. 150
Têxteis .................................................................................... 110
Calçado e vestuário ............................................................ 230
Madeiras.................................................................................. 140
Mobiliário ............................................................................. 195
Químicas .............................................................................. 230
Derivados do petróleo e carvão ............................................ 155
Produtos minerais não metálicos ...................................... 175
Metalurgia de base................................................................... 280
Produtos metálicos ................................................................. 320
Máquinas, e material eléctrico ................................................ 345
Material de transporte ............................................................ 160
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Indústrias metalúrgicas, metalomecânicas e de material eléctrico: material de
caminho de ferro, varão de ferro, pregos, rede milimétrica, louças de alumínio, em-
balagens metálicas, cabos e condutores eléctricos e montagem de rádios.
Finalmente, cita-se, ainda, as indústrias de embalagem de cartão canelado, de sacos
de papel, de calçado de borracha e de lona, de curtumes, de montagem de veículos de
carga a motor, de montagem de automóveis ligeiros, de carroçarias e atrelados, de
montagem de bicicletas com e sem motor, de tubos e mangueiras e de sacos, filmes e
folhas de plástico.
Como se verifica por este quadro, apenas o valor da produção de sisal sofreu
significativo abrandamento nos últimos anos, isto devido à quebra da cotação do produto
nos mercados internacionais.
Das restantes rubricas inscritas apenas o chá desceu ligeiramente em relação a 1968,
mas pode-se adiantar que o ano de 1970 excedeu todas as expectativas e constitui memo
o de maior produção verificado até agora.
O açúcar continua a ser a mais importante produção industrial e os investimentos
recentemente efectuados fazem supor que o ritmo ascensional continuará. O aumento de
720 mil contos, em 1967, para 894 mil, em 1969, correspondeu a uma taxa de
crescimento de 24 %.
A produção de algodão em rama tem crescido a uma taxa de cerca de 10 % ao ano.
A posição privilegiada da Província, com uma extensa orla marítima, e a
contiguidade de uma série de territórios sem outro ponto de contacto com o exterior que
não seja o território português, tem feito florescer uma série de indústrias com o acento
tónico na exportação.
A indústria de moagem e descasque de cereais constitui uma das actividades
principalmente dirigidas ao mercado interno, pois apenas uma parte da farinha de milho é
destinada à exportação. O descasque de arroz e a farinação de trigo são actividades que
contribuem para esta rubrica. O seu desenvolvimento tem sido apreciável e a produção de
1969 teve um acréscimo de aproximadamente 45 %, em relação a 1967. Para tanto, tem
contribuído, em parte, a elevação do poder de compra das populações e o maior interesse
pela exportação do milho, para a qual tem contribuído a melhoria das cotações e dos
métodos de cultivo.
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No domínio das bebidas, mais concretamente cerveja e refrigerantes, o acréscimo
verificado cifrou-se em mais de 35 %, tendo a produção passado de 268 647 contos para
365 846, no curto espaço de dois anos. Tratando-se de um bem de consumo que em boa
verdade se pode considerar supérfluo, este surto mais confirma ainda as considerações
feitas acerca do aumento do poder de compra da população da Província.
A produção de amêndoa de caju constitui actividade da maior importância e
demonstra a vantagem económica que pode advir da industrialização de um produto
primário. Têm sido instaladas na província várias unidades industriais de descasque que
guindaram esta produção a um plano muito aceitável. A castanha de caju exportada sem
qualquer preparo, a amêndoa, o óleo e os bagaços, contribuem actualmente com cerca de
um milhão de contos para a balança comercial. A amêndoa produzida passou de 173 mil
contos, em 1967, para 357 mil, em 1969, o que corresponde a um acréscimo de 100 %,
expressão não atingida por qualquer outra produção industrial.
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IX — ENERGIA
a) COMUNICAÇÕES E TRANSPORTES
1 — Rodoviários
A rede da Província, embora bastante extensa, era, até há cerca de vinte anos,
constituída por estradas de terra batida, o que acontecia, de resto, nos demais territórios
do continente. Porém, desde 1953, data em que se iniciou a execução do I Plano de
Fomento Nacional, começaram a ser construídas estradas modernas e procedeu-se à
rectificação e asfaltagem de muitos troços das já existentes, e à construção das adequadas
obras de arte. A criação da Junta Autónoma das Estradas, em 1967, veio dar novo
impulso à política rodoviária.
O III Plano de Fomento (1968-73) dedica verba apreciável a este sector — a adicionar
às anualmente incluídas nos orçamentos ordinário da Província e dos distritos.
A rede de estradas classificadas é constituída, presentemente, por 26 595 quilómetros,
dos quais 2400 são asfaltados.
No entanto, a necessidade de boas rodovias é ainda premente, não só para facilitar a
deslocação das pessoas, como também para assegurar a circulação de mercadorias nas
regiões não servidas pelo caminho de ferro, que constituem, afinal, a maior parte do
território.
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A Província é percorrida por carreiras de transportes rodoviários, quer de particulares,
quer dos Serviços de Portos, Caminhos de Ferro e Transportes. As destes últimos
complementam as ligações ferroviárias.
2 — Ferroviários
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3 —Marítimos
a. PORTOS
Lourenço Marques, Beira, Nacala e Porto Amélia são os principais portos, não só
pelo seu apetrechamento e condições naturais como pelas mercadorias manuseadas e
movimento de navios.
Embora portos secundários, também os de Inhambane, Chinde, Quelimane, António
Enes, Lumbo e ilha de Moçambique se distinguem pela carga movimentada.
Porto de Lourenço Marques: é considerado, justamente, como um dos melhores de
África. Pelas instalações e movimento é o primeiro porto português.
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Situado no estuário do Espírito Santo, abrange duas zonas distintas — a do cais do
Gorjão (junto à cidade), sobretudo para mercadorias gerais, e a da Matola, com
predominância de cargas a granel (onde se situam o cais de minérios e a estância de
madeiras, aquele com a capacidade de manuseamento de 2000 toneladas/hora de
minério).
Esplêndido porto comercial, com 2699, metros de cais acostável no total, serve um
rico «hinterland» — Suazilândia, África do Sul, Rodésia e Zâmbia.
Dispõe de uma área de armazenagem de cerca de 40 000 metros quadrados, armazéns
frigoríficos para frutas, peixe e marisco, depósitos e equipamento para carga de
combustíveis líquidos e melaços.
O apetrechamento inclui uma centena de guindastes eléctricos, alguns com grande
poder de elevação, centenas de unidades móveis (guindastes automóveis, tractores
elevadores e de manobras) e uma organização que permite a eficiente exploração de todo
o conjunto.
Movimentou, em 1969, cerca de 12 milhões de toneladas de carga, o dobro do
movimento de 1965.
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b. LINHAS DE NAVEGAÇÃO
Seria fastidioso e longo enumerar todas as linhas de navegação que ligam a Província
com o exterior.
Assim, limita-se a indicação às nacionais, acrescentando-se que ali aportam navios de
quase todas as origens.
As linhas nacionais dividem-se em: longo curso — ligando a Província às demais
parcelas da Nação Portuguesa, com carreiras de frequência quase semanal no que respeita
à Europa, e costeiras.
Exploram as primeiras, pelo menos com regularidade, três grandes companhias.
As carreiras de cabotagem e costeiras tocam, em geral, nos seguintes portos:
Lourenço Marques, Inhambane, Beira, Chinde, Quelimane, Pebane, Moma, António
Enes, Lumbo, Nacala, Porto Amélia, Mocímboa da Praia e Ibo. Fazem este serviço quatro
empresas de navegação.
4 — Aéreos
a. AERÓDROMOS
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b. LINHAS AÉREAS
As linhas aéreas nacionais de longo curso que, com a frequência diária, ligam a
Província a Luanda e Lisboa, são exploradas pêlos Transportes Aéreos Portugueses
(TAP).
A D. E. T. A. transporta passageiros, correio e carga, mantendo carreiras que servem
Lourenço Marques, João Belo, Inhambane, Vilanculos, Beira, Marromeu, Quelimane,
António Enes, Lumbo, Nampula, Nacala, Porto Amélia, Mocímboa da Praia, Vila Cabral,
Tete, Vila Coutinho e Milange. Também mantêm ligações regulares com países vizinhos.
A sua frota inclui aviões «Boeing-737» (a jacto), «Friendship» (a turbohélice) e de
motor convencional (de hélice).
Os passageiros transportados pela DETA passaram de 40 697, em 1962, para 60 038,
em 1965, e para mais de 120 000, em 1969.
A progressão da carga transportada acompanhou também aquele ritmo, pois de 500
toneladas, em 1962, passou para mais de 3000, em 1969.
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A rede de transportes da DETA é, de certo modo, completada pelos serviços
prestados pelas empresas de táxis-aéreos.
5 — Telecomunicações
b) COMÉRCIO INTERNO
1 — Aspectos fundamentais
O comércio interno é sempre de difícil cômputo já que não passa por quaisquer
barreiras, não estando, por isso, e no que respeita à maior parte dos produtos, sujeita à
determinação do volume e composição para efeitos estatísticos.
A estruturação do mercado interno da província assenta em três realidades
fundamentais, que se interligam :
2 — Actividade bancária
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c) COMÉRCIO EXTERNO
2 — Importação e exportação
As importações e exportações têm aumentado a ritmo bastante satisfatório,
acompanhando o desenvolvimento da província. Em 1950, o valor das importações era de
1 650 000 contos e o das exportações 1 060 000 contos, elevando-se em 1969 a,
respectivamente, 7 490 000 e 4 081 000 contos.
Foi muito forte a variação do valor das importações de 1968 para 1969 (+750 856
contos).
O estudo do quadro da página n.° 110 mostra ainda que a estrutura da importação
assenta, essencialmente, nos produtos industrializados, dos quais se salientam bens de
equipamento e de consumo e produtos alimentares.
A composição das exportações, onde predominam os produtos primários, foi a
constante do mapa da página n.° 111.
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4. Distribuição geográfica do comércio com o exterior
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5. Balança comercial e balança de pagamentos
d) TURISMO
A Província oferece condições excepcionais para o turismo interno e externo (em 1969
entraram cerca de 300 000 turistas estrangeiros). O movimento turístico é facilitado pela
existência de carreiras marítimas, de caminhos de ferro e estradas e, sobretudo, por fáceis e
cómodas comunicações aéreas.
Para melhor compreensão imagine-se uma viagem pela província, partindo do sul, ao longo
da qual seriam visitados os locais de maior interesse, especialmente os indicados a seguir.
Praia da Ponta do Ouro, junto à fronteira com a R. A. S., de extenso areal branco e macio,
águas límpidas, pousando aqui e além sobre rochas coralíferas, ideais para a prática da pesca
desportiva. A praia conta com estalagem e restaurantes e, ainda, parques turísticos com
acomodações para carros, tendas, caravanas e quartos devidamente equipados — além de salas
de jantar e de convívio e jogos.
Reserva de Caça dos Elefantes do Maputo, perto da Bela Vista, onde os animais podem ser
apreciados no seu ambiente natural (nesta matéria, no entanto, tudo é superado pelo Parque
Nacional da Gorongosa, perto da Beira, que mais adiante se referirá).
Catembe, mesmo frente a Lourenço Marques, conhecida pelos mariscos e galinha à cafreal,
tem um interessante bairro piscatório, além da praia.
Lourenço Marques, cidade bem traçada, de imponentes edifícios, com avenidas ladeadas de
acácias, jacarandás e palmeiras. Aqui depara-se com todos os atractivos de um grande centro —
cinemas, teatros, restaurantes, bibliotecas, museus, monumentos, igrejas e a praia que se estende
por quilómetros.
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Muitos são os que, vivendo no interior, vão de visita aos museus, com especial interesse
pelo de «Álvaro de Castro», rico em colecções de animais (expostos como se no meio ambiente
se encontrassem e formando cenas da selva), objectos de arte popular, máscaras e outros
motivos etnográficos, etc.
Dos monumentos é muito visitada a Fortaleza, onde está instalado o museu histórico, e, entre as
igrejas, a da Sé e a de Santo António da Polana pela modernidade da sua arquitectura.
Os alojamentos vão desde os hotéis providos de piscina e outras comodidades às pensões e
recintos para acampamento e parques de campismo.
Também são motivo de interesse o porto, pela sua importância e movimento, e algumas
unidades industriais.
Ilha da Inhaca, à entrada da baía do Espírito Santo, frequentada pelos amadores de pesca
desportiva, com o seu hotel e restaurante e pista de aterragem. A viagem por mar, desde
Lourenço Marques, faz-se em duas horas.
Namaacha, procurada, em especial, pelas populações da beira-mar, que encontram nas suas
paisagens e clima de média altitude o aliciante para umas férias bem passadas. Inclui nos seus
encantos uma vasta e repousante mata de pinheiros e uma bela cascata.
Vila Luísa, proporciona oportunidade de apreciar uma reserva de hipopótamos, no rio
Incomati.
Praias: do Bilene, contando com duas magníficas lagoas, uma de água doce (Lagoa Azul) e
outra de água salgada (S. Martinho); Sepúlveda, junto de João Belo; e do Chongoene. Todas
com hotéis, motéis, e parques e recintos para acampamento.
Vale do Limpopo, com as suas aldeias, igrejas, campos de cultura e a grandiosa ponte-
açude, dotado com uma boa pousada e algumas pensões.
Reservas de caça do Pafúri, onde se pode encontrar, praticamente, toda a fauna da Província
e organizar safaris.
Zavala, com as suas praias e os seus marimbeiros, dançarinos e bailarinas, que oferecem um
espectáculo único no seu género.
Praias de Inharrime, Inhambane, da Barra, de Vilan culos e do arquipélago de Bazaruto. Este
tem como principal atracção a ilha de Santa Carolina, provida de hotel, apartamentos e
condições excepcionais para repouso e pesca desportiva; a ilha tem 2 quilómetros de compri-
mento, na maior extensão, e poucas centenas de metros de largura, sendo conhecida, nos meios
turísticos, pelo nome de «Ilha do Paraíso»; é famosa pela sua vegetação, limpidez das águas que
a circundam e clima.
Beira, o segundo centro urbano da Província. Os maiores atractivos concentram-se nas suas
praias, com o grande acampamento e motel Estoril (no Macúti), a região industrial, que vai até
ao Dondo, a vinte e poucos quilómetros, além da própria cidade, com os seus edifícios, campos
desportivos, cinemas e teatros, restaurantes, hotéis e pensões.
Vila Pery, capital do distrito do mesmo nome, tendo perto a barragem da Chicamba Real, e
mais além Manica e depois a Penha Longa, magnífica região montanhosa e de florestas que
lembram a Europa Central.
Parque Nacional da Gorongosa, a cerca de 100 quilómetros, por estrada, e a um quarto de
hora de voo, da Beira, é um dos mais belos recantos da Província. Depois do Kruger Park, na
África do Sul, e do Parque de Serengeti, no Quénia, a Gorongoza possui a maior colecção de
animais selvagens.
Ali vivem em completa liberdade e sob protecção, leões, elefantes, búfalos, bois-cavalos,
hipopótamos, zebras, impalas, gazelas e outros antílopes, hienas, jacarés, leopardos,
rinocerontes e muitos mais animais de menor porte, e imensas espécies de aves e répteis. Possui
acomodações confortáveis e um restaurante.
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Coutadas do Kanga NTole, Inhamacala e Catulane, onde se organizam caçadas, não sendo
raro serem abatidos troféus de grande valor cinegético. Situam-se nos tandos (planícies).
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Tete, a uns 600 quilómetros da foz do rio Zambeze, em cuja margem direita se ergue,
apresenta aos visitantes reminiscências das antigas expedições para o interior. Merece uma
visita a Missão de Boroma, com a sua igreja votada a S. José.
Outros pontos de interesse, no jornadear para o norte, seriam a cidade de Quelimane, à beira
dos maiores palmares do Mundo — com a praia de Zalala — e a região do chá (Milange e o
Gúruè) pelo insólito da paisagem das plantações, jardim imenso e verdejante, salpicado, aqui e
além, de árvores.
Ilha de Moçambique, com a fortaleza de S. Sebastião, o palácio de S. Paulo, a capela, a
mesquita, o seu «velho» hospital e outros edifícios, e a sua vida tão característica.
A fortaleza foi construída com pedras levadas da Europa, como lastro dos navios, no século
XVI.
A pousada, a piscina, a praia e os recantos típicos aliam-se à beleza da mescla humana e ao
garrido da vestimenta das mulheres.
Nampula e Vila Cabral, cidades jovens, constituem pólos de atracção, .sobretudo a primeira,
com as suas piscinas, lago artificial para desportos náuticos, museu, zona industrial, cinemas e
clubes desportivos.
Praias do Mossuril, de Porto Amélia, de Mocímboa da Praia e de Palma, verdadeiras
maravilhas da Natureza, com amplos areais, bancos coralíferos e águas de uma extraordinária
limpidez.
Ilha do Ibo, com a sua fortaleza e seus monumentos históricos, e trajos característicos.
E, assim, se teria percorrido quase seis mil quilómetros!...
Praia da Beira
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XI —FINANÇAS PÚBLICAS
O saldo de 452 521 contos com que se encerraram as contas públicas da Província, em 1969,
foi superior ao do ano anterior em 138 434 contos.
Este saldo resultou de um excesso das receitas ordinárias sobre as despesas da mesma
natureza pois em relação às extraordinárias houve completo equilíbrio.
É de registar que enquanto as receitas aumentaram de 13,7%, as despesas tiveram um
acréscimo de 12,4%.
Tal acréscimo na taxa de variação da receita total mantém, salutarmente, a tendência
iniciada nos anos anteriores, facto que se assinala, dada a sua importância para um tipo de
economia, como é a da Província, por vezes sujeita a acentuadas flutuações conjunturais.
Para uma mais completa identificação das diversas componentes que integram os capítulos da
receita, transcreve-se .na página 123 o quadro de variações entre 1968 e 1969. Por ele se
verifica terem sido os impostos directos, as indústrias em regime tributário especial e a
consignação de receitas, os capítulos que, em valor absoluto, mais contribuiram para tal
acréscimo.
A participação crescente dos impostos directos nó somatório das receitas ordinárias, que se
elevou de 13,6% para 15,6%, entre 1966 e 1968, passou para 16,9% em 1969. Como é evidente,
no mesmo período, ocorreu um movimento inverso em relação aos impostos indirectos —
13,4% em 1968 para 12,5% em 1969.
A progressiva redução dos direitos de importação sobre as mercadorias nacionais ou
nacionalizadas está na origem daquela evolução.
A expansão das despesas da Província continua a ser um facto saliente que bem atesta a
intenção de a ver dotada com meios infraestruturais indispensáveis ao seu desenvolvimento
económico, e a um mais eficaz funcionamento dos Serviços.
O montante global das despesas atingiu, no ano de 1969, a cifra de 8 115 290 contos,
portanto mais 894 594 contos que no anterior, o que corresponde a um acréscimo de 12,4%,
conforme se verifica no quadro da página 124.
Os Serviços de Fomento detêm a maior participação, com uma percentagem de 47%, logo
seguidos da rubrica Administração Geral e Fiscalização, com 15,2%, Defesa Nacional, 14,1%,
e Encargos Gerais, 13,3%.
Em relação ao ano anterior, e em valores absolutos, os capítulos com maior participação na
taxa de acréscimo verificada foram:
Serviços de Fomento, mais 303 169 contos; Encargos Gerais, mais 247 703 contos; e
Administração Geral e Fiscalização, mais 95 468 contos.
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XII —PLANOS DE FOMENTO
FIM
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