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BELÉM
2016
Ficha Catalográfica
CDD. 700
Apresentação
Imagens, memórias e histórias particulares em torno de Belém reúnem-se
nesta publicação, 1616, idealizada para celebrar os 400 anos da capital do Pará.
Uma realização do Serviço Social do Comércio – Sesc Pará, através do Centro Cul-
tural Sesc Boulevard – CCSB, que se integra às metas do Departamento Nacional
para o quinquênio 2011–2015, convidando o público a uma reflexão sobre a cidade e
as conexões que ela estabelece no mundo contemporâneo, em um processo partici-
pativo, no qual cidadania foi traduzido como um livre exercício do olhar.
O projeto que deu origem a este livro memorial nasceu do objetivo de produ-
zir, organizar e compartilhar um repertório de imagens, testemunhos, reflexões e
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sentimentos sobre a cidade. Um projeto em artes visuais que teve na fotografia o
cerne da ação, de onde se desenvolveram palestras, relatos e debates; maratonas
fotográficas, que estimularam oficinas e vivências sob a temática “Belém, com que
olhos? Poesia, memória, cidade e patrimônio”, culminando em fotovarais para expo-
sição e circulação dos resultados.
Tudo isso envolveu um público amplo, das mais diversas ocupações – estudan-
tes, comerciários e seus dependentes –, além de convidados, entre artistas, profes-
sores, pesquisadores e fotógrafos.
Conhecer o processo de formação das imagens através da luz foi o mote para
a atividade. Porém, os participantes viveram a experiência maior de uma ação co-
letiva em torno dos bens simbólicos materiais e imateriais de Belém, às vésperas do
marco de quatro séculos de sua fundação como patrimônio urbano da Amazônia e
do Brasil.
Identificando-os e registrando sua presença no tempo, as pessoas puderam
retomar e compreender o processo histórico que levou a Coroa Portuguesa, no sé-
culo XVII, a escolher esta terra para demarcar seu domínio na parte setentrional
da América. Com essa referência, os participantes puderam visualizaros sinais das
transformações urbanas pelas quais a cidade passou e se consolidou como capital,
interpretando-os poeticamente.
Este movimento, proporcionado pelas ações do projeto, afinou-se, sobrema-
neira, a uma das diretrizes do CCSB: a de propiciar o acesso ao conhecimento e à
experimentação de formas de expressão da cultura e da arte, promovendo a educa-
ção para o patrimônio material e imaterial. Por estar localizado em um dos princi-
pais sítios históricos da cidade, a Campina, o Centro Cultural Sesc Boulevard identi-
fica-se como um agente na valorização e estímulo à preservação dos bens culturais
da área do Centro Histórico.
O livro 1616 incide sobre Belém e seus referenciais simbólicos, a partir de sua
fundação a 12 de janeiro de 1616. Porém, não há dúvida de que, ao envolver a par-
ticipação da comunidade em torno de suas atividades, o projeto provocou positi-
vamente a expressão de memórias individuais e coletivas, em forma de fotografias
e da manifestação da oralidade. Este conjunto sensório e afetivo é uma pequena e
significativa contribuição ao imaginário da cidade, que se renova e se amplia justa-
mente pela colaboração que cada cidadão é capaz de promover no seu cotidiano e
na forma como o representa ao mundo.
1616 é, assim, além de um registro, um ato de rememoração e de celebração da
cidade e de seus habitantes. Um documento que o Centro Cultural Sesc Boulevard
coloca nas mãos de seu público, desejando que estas páginas impressas também
sejam um presente a cada um que sente a experiência de viver e olhar Belém.
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Rose Silveira
Jornalista e historiadora
1 Investigações arqueológicas indicam a entrada das primeiras levas de populações indígenas na bacia
amazônica há 11 mil anos. Cf. SCHANN; GAMA; GUERRA, 2006, p. 415.
ficação depende do grau ou realce dessa funcionalidade. Quem
estuda uma planta ou um animal conhece uma espécie, mas
quem estuda um acidente geográfico nem por isso compreende
uma paisagem. Nenhum acidente geográfico explica por si só
um quadro ou panorama, nem pode ser considerado uma ex-
pressão autônoma em relação ao conjunto do qual faz parte.
Como observa Jean Brunhes, uma montanha não forma um todo
por si mesma, uma cidade não é uma unidade independente,
nem tampouco um rio é uma entidade à parte, capazes de con-
terem em si a sua própria razão de ser... (MOREIRA, 1960, p. 11-12).
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Figura 4. “Planta Geral da Cidade
do Pará em 1791”, realizada pelo
Tenente-Coronel d’Artilharia,
engenheiro Theodosio Constantino
de Chermont. Acervo: Instituto
Histórico e Geográfico do Brasil.
Fonte: Alunorte, 1995.
Figura 5. Vista de Belém de 1840. Autoria não identificada. Acervo: Biblioteca Nacional. Fonte: Fórum Landi.
2 Para maiores referências sobre o panorama como técnica e modo de ver, Cf. DUBOIS In: SAMAIN,
2005; CONCEIÇÃO, s/d; PINTURA PANORÂMICA, 2013; PANORAMA HISTORY, s/d; PANORAMA, s/d.
3 O historiador Ulpiano Meneses (1998), numa perspectiva historiográfica urbana, ao definir a cidade
como um artefato, refere-se à “coisa física, produto e vetor material da apropriação social do espaço:
segmento da natureza ao qual o homem (a sociedade) impôs forma, função e sentido”.
gens sobre Belém. A cidade e o olhar sobre ela, o imaginário que a forja, são fomen-
tados pelo viver as representações sobre a cidade edificada, a natureza controlada,
domada. Um processo fundado na cultura e na linguagem.
De onde recorro a Sandra Pesavento mais uma vez:
4 No dia 6 de outubro de 2015, o navio Haidar, transportando 5 mil bois vivos para abate na Venezuela,
afundou no porto de Vila do Conde, município de Barcarena (PA), matando 4.800 animais. Por meses, as
carcaças foram se depositando nas praias do do município, comprometendo a qualidade da água e ofe-
recendo risco à saúde da população local. Até o final de 2016, o navio permanecia submerso no Rio Pará.
requerendo padrões de consumo e de produção mais inteligentes e viáveis coleti-
vamente, proporia uma descolonização do olhar sobre os rios que banham e olham
Belém, recriando-os, como paisagem, dentro de nós.
Proponho refazer o olhar sobre a Baía do Gua jará e o Rio Guamá, e todos
os rios nas cercanias de Belém, recompondo sua presença cenográfica da capital
paraense: não apenas um veículo para ver a cidade, mas ele mesmo protagonista
iluminado em seu leito, de forma orgânica, integrada, larga e aberta ao outro que se
configura do lado oposto, nas margens, sobre suas águas, alargando a própria ideia
de cidade (Figura 6).
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Figura 6. Fotografia
de Irene Almeida
Seguindo uma sugestão de Eidorfe Moreira (1960, p. 39), seria concretizar a
geografia como poesia, considerar o espaço “como fato estético”, sujeito, portanto,
às subjetividades:
Sempre que o homem vê o mundo exterior em termos paisagís-
ticos e projeta nele a sua ação e o seu pensamento a fim de sa-
tisfazer inclinações, interesses ou curiosidades, temos Geogra-
fia – a vida considerada em relevo e extensão. Sempre que ele
incorpora esse mesmo mundo ao seu patrimônio subjetivo, re-
criando-o nos seus sonhos, sentimentos e emoções, temos Poe-
sia – a vida em função de uma sensibilidade. Se para o geógrafo
a paisagem é um campo de pesquisas e certificações sensoriais,
para o poeta ela é um estado ou vivência espiritual. Como obje-
to ou criação dos sentidos – é fato geográfico; como estado ou
forma de sensibilidade – é ato poético.
Esse rio que não nos sabe, pois flui sem protocolos, nem plantas, mapas, foto-
grafias, vídeos, nem literatura, sabemos dele pela experiência dos afetos e das flutua-
ções. Rio de palavras, de imagens, de sons e sensações. Que se inscreve na memória
e inaugura, todos os dias, experiências de viver e coabitar entre mundos. Rio das
profundidades inscritas no espaço-tempo: “A cidade é sempre um lugar no tempo, na
medida em que é um espaço com reconhecimento e significação estabelecidos na
temporalidade” (PESAVENTO, 2007). Rio que, feito a imagem construída por Fernando
Pessoa na ribeira de sua poesia, já nem importa que não se conforme entre suas mar-
gens: “... do seu curso me fio/Porque, se o vi ou não vi/Ele passa e eu confio”.
Fotografias Escritas
[...] Se preferis encontrar a cidade pelo mar, o cenário oferece outros ângulos. A
marcha vagarosa do navio vos permite apreciar demoradamente o espetáculo de
entrada no vale amazônico por uma de suas portas: a do rio Pará (p. 34).
A pequena embarcação procurava, a custo, caminhos por entre o costado dos grandes
e poderosos navios e vapores que formam a flotilha comercial do primeiro da Ama-
zônia. De outro lado, víamos a cidade afastar-se de nós, envolvida pela auréola da luz
elétrica, que semeava de tons fantásticos a casaria e os edifícios públicos, engrande-
cendo o tamanho e a forma de uma das mais importantes capitais da América do Sul.
A grande cidade ainda não dormia: ouviam-se ao longe o rodar das carruagens de
luxo, o apito e o cornetim dos trâmueis, o silvo de uma locomotiva de estrada de
ferro, os sinais de vapores que chamavam passageiros, orquestras e vozes do popu-
lacho no cais (p. 28).
O Ver-o-Peso manchado de velas de todas as cores, com suas grandes barcaças que
trazem, dos mais diversos pontos do Estado, peixes e frutas para a vida da cidade.
No fundo, a Praça do Mercado com o Palácio do Governo e a Prefeitura Municipal,
edifícios soberbos, pesados, falando do passado. Uma vez, chegando a Belém, en-
contrei pintadas de branco todas as estátuas, elas que são de bronze.
- Brevemente derrubaremos todas essas casas para construir uma praça moderna.
A praça que ele tanto parecia odiar é vizinha ao Ver-o-Peso: casas de azulejos azuis
ou amarelos, sacadas de ferro, sobradões coloniais que constituem um dos mais
belos recantos de Belém, a praça do Mercado (p. 218).
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TOCANTINS, Leandro. Santa Maria do Belém do Grão-Pará. Rio de Janeiro: Editora Civilização Bra-
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Maratonistas
Adeleaide Araujo | 2011
55
L. M. Cascon | 2012
Leidiane Leal | 2012
111
Te Ribeiro | 2012
Teonila Lima | 2014
133
Tonico | 2011
Valério Silveira — Mosqueiro | 2012
135
Wr Vieira | 2012
143
Coordenação Editorial
Paula Sampaio
Revisão de Provas
Rose Silveira
Logomarca
Bruno Cantuária
Designer
Márcio Alvarenga
Catalogação
Cleidiomar Oliveira
Palestrantes
Elna Trindade, Ernani Chaves, Jorane Castro, Mariano Klautau Filho e Michel Pinho.
Colaboradores
Adriana Lima, Ana Paula Correa, Bruno Cantuária, Carol Abreu, Claudia Aline, Carlos
Souza, Dayane Eguchi, Debb Cabral, Edinaldo Alves, Eliane Costa, Edeilson Cordovil, Edgar
Augusto, Edson Viana, Esther Elgraby, Evila Nascimento, Larissa Cavalcante, Larissa Saud,
Luis Low, Juan Pablo, Joice Ribeiro, José Maria Vilhena, João Evangelista, Ylen Brito,
Márcio Campos, Marcos Campelo, Natália Costa, Natércia Souza, Otoniel Ribeiro, Pablo
Dias, Pedro Júnior, Tayná Cardel, Ravy Bassalo, Rui Lima, Rosaleta Dias e Rose Mafra
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