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1 Introdução
O modelo de Kuramoto [1] foi, originalmente, proposto em 1975 para estudar o fenômeno
coletivo da sincronização. Em seu modelo, Y. Kuramoto descreve a evolução temporal das fases
de N-osciladores por meio de um conjunto de equações diferenciais acopladas que, sob certas
condições, conduzem espontâneamente os osciladores a compartilharem da mesma frequência,
apesar das diferenças entre as frequências naturais de cada oscilador. Sistemas que apresentam
padrões de sincronização são estudados em diferentes áreas como Biologia, Quı́mica, Fı́sica e
Ciências Sociais [2].
Embora a formulação de Kuramoto seja um modelo simples e analiticamente tratável [1, 2],
suas propriedades estão longe de serem consideradas triviais. Neste trabalho, um formalismo
de escala é usado para caracterizar o nı́vel de sincronização do modelo conforme algumas
alterações são impostas na variabilidade da distribuição das frequências naturais. A técnica
de escala representa uma tentativa de caracterização universal para o cenário de transição do
estado não sincronizado para o estado sincronizado no modelo de Kuramoto, para determinada
distribuição das frequências naturais dos N-osciladores.
2 Metodologia
O modelo de Kuramoto [1] descreve uma rede completa de N-osciladores de fases por meio
do seguinte sistema de equações diferenciais:
N
˙ KX
θi = ωi + sen(θi − θj ), i = 1, 2, . . . , N. (1)
N j=1
onde, θi e ωi são as fases e as frequências naturais, respectivamente, dos osciladores e, K ≥ 0
é o fator de acoplamento. As fases iniciais e as frequências naturais de cada oscilador de ı́ndice
i são escolhidas aleatoriamente. No caso particular deste trabalho, as fases, θi , são unifor-
memente distribuı́das e as frequências naturais, ωi , são definidas de acordo com uma função
densidade de probabilidade g(ω) dada pela função normal,
(ω − µ)2
!
1
g(ω) = √ exp − , (2)
σ 2π 2σ 2
onde ∆(t) pode ser entendida como uma amplitude coletiva e ψ como a fase de sincronização
no plano complexo.
É conhecido que com o aumento do fator de acoplamento, K, o modelo sofre uma transição
de fase de um estado não sincronizado ∆ ≈ 0, para o estado sincronizado ∆ > 0. O ponto
crı́tico que marca a transição de fase foi estudado por Kuramoto no limite N → ∞, para uma
distribuição unimodal e simétrica das frequências naturais. Neste caso uma transição de fase
contı́nua ocorre em,
2
Kc = , (4)
πg(ω̂)
em que ω̂ é o centro da distribuição g(ω). Perceba que a transição de fase crı́tica, Kc , depende
da distribuição g e, consequentemente, de seus√parâmetros. Para o caso da distribuição normal
(Equação 2) tem-se para µ = 0 que, Kc = 2σ 2π/π.
3 Resultados e Discussão
As simulações numéricas desenvolvidas neste trabalho baseiam-se na solução da Equação 1
e na obtenção do parâmetro ∆ obtido pela expressão:
v
u 2 2
1 u N N
u X X
∆(t) = t cosθj + senθj . (5)
N j=1 j=1
Na Figura 1 a) são mostrados os resultados para ∆ Vs. K obtido após a solução numérica
da Equação 1 para N = 5000 osciladores com frequências naturais escolhidas a partir da
distribuição normal (Equação 2) com µ = 0 e diferentes valores para as variâncias.
Percebe-se da Figura 1 a) que, conforme se aumenta os valores da variância, σ, há um
deslocamento da transição de fase crı́tica, Kc . Logo, aplicando a transformação K → (K −Kc )
leva à coalecência dos pontos de transição. Note, ainda, que o ponto em que cada curva começa
a saturar (crossover), denominado por Kx , desloca-se conforme a alteração de σ. Portanto, de
acordo com a Figura 1 a) podemos assumir três hipóteses de escala:
a) b)
Figura 1: (a) Parâmetro de ordem, ∆, como função do fator de acoplamento,K, para diversos valores
de variância, σ usadas na distribuição normal das frequências naturais no modelo de Kuramoto. (b)
Após uma análise de escala adequada todas as curvas colidem em uma única curva universal.
∆(K, σ) ≈ (K − Kc )β ; (6)
Kx ≈ σ z ≈ Kcz , (8)
onde foi usado a relação (4) para trabalhar as suposições apenas em termos do parâmetro crı́tico.
Os parâmetros, α, β e z não são independentes e, em geral, funções de escala que seguem
as três hipóteses citadas anteriormente estão associadas pela seguinte relação [3, 4]:
∆(K, σ) K − Kc
=F , (9)
∆sat (K, σ) Kx
logo,
α
z= + 1, (11)
β
Veja na Figura 1 b) como todas as curvas da Figura 1 a) agrupam-se em uma única curva
após atuação da escala. De fato, isso significa que o parâmetro de ordem do modelo de Kura-
moto sob a influência de uma distribuição normal é um parâmetro que pode ser escalado em
uma curva universal conforme a Figura 1 b).
4 Conclusões
Neste trabalho investigou-se o modelo de Kuramoto com distribuição normal (unimodal e
simétrica) para as frequências naturais. O parâmetro de ordem, que mede o nı́vel de sincro-
nização do sistema, foi caracterizado por meio de funções de escala. Em particular, dada a
distribuição normal das frequências naturais observou-se um deslocamento exclusivamente em
relação ao eixo das abscissas para diferentes valores da variância. Assim, a partir de uma relação
analı́tica da região próxima ao ponto crı́tico do fator de acoplamento, Kc , hipóteses de escalas
foram sugeridas e, posteriormente, confirmadas pelo colapso das curvas simuladas (veja Figura
1 b). Portanto, a transição do estado não sincronizado para o estado sincronizado, no estudo
realizado, segue uma mesma classe de universalidade. Para estudos posteriores, sugere-se o
estudo de modelos de sincronização cujo parâmetro de ordem não sature na mesma posição em
relação ao eixo das ordenadas. Neste caso exige-se um estudo mais detalhado sobre as hipóteses
de escala.
Referências
[1] KURAMOTO, Y. International Symposium on Mathematical Problems in Theoretical
Physics, edited by H. Araki, Lecture Notes in Physics No. 30 (Springer, New York, 1975, p.
420).
[2] STROGATZ, S. H.; From Kuramoto to Crawford: exploring the onset of synchroni-
zation in populations of coupled oscillators. Physica D: Nonlinear Phenomena., 143(1-4),
1-20, 2000.
[4] LEONEL E. D. Corrugated waveguide under scaling investigation. Phys. Rev. Letter,
16; 98(11), p.114102, 2007.
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