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Tradição + Inovação

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Direito Constitucional
Obra organizada pelo Instituto IOB – São Paulo: Editora IOB, 2014. ISBN 978-85-63625-64-9

Informamos que é de inteira responsabilidade do autor a emissão dos conceitos.


Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a
prévia autorização do Instituto IOB. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na
Lei nº 9.610/1998 e punido pelo art. 184 do Código Penal.
Sumário
Capítulo 1. Princípios Fundamentais, 15
1. Princípios Fundamentais: Previsão Legal, Fundamentos
e Poderes, 15
2. Princípios Fundamentais: Objetivos e Princípios das
Relações Internacionais, 16

Capítulo 2. Teoria da Constituição, 17


1. Preâmbulo da Constituição, 17
2. Elementos da Constituição, 18
3. Teoria Geral da Constituição – Princípios
Fundamentais, 19
4. Princípios que Regem o Brasil nas Relações
Internacionais, 20
5. Fases do Constitucionalismo – Antigo – Liberal –
Social, 21
6. Fases do Constitucionalismo – Contemporâneo e do
Futuro, 22
7. Concepções de Constituição – Sociológica – Política –
Jurídica, 23
8. Teoria Geral da Constituição – Normativa – Cultural, 24
9. O Estudo da Interpretação do Direito – Princípios, 25
10. Princípios Instrumentais, 26
11. Classificação das Constituições – Conteúdo – Forma –
Origem – Estabilidade, 27
12. Classificação das Constituições – Extensão –
Finalidade – Modo de Elaboração – Ideologia, 28
13. Classificação das Constituições – Karl Loewenstein, 29
14. Classificação da Constituição Brasileira, 30
Capítulo 3. Normas Constitucionais, 31
1. Normas Constitucionais: Introdução e Peculiaridades, 31
2. Classificação das Normas Constitucionais: Conteúdo,
Finalidade e Aplicabilidade, 32
3. Classificação das Normas Constitucionais:
Aplicabilidade e Eficácia, 33
4. Classificação das Normas Constitucionais: Eficácia, 34

Capítulo 4. Reforma da Constituição, 36


1. Poder Constituinte: Considerações Gerais, 36
2. Poder Constituinte Originário: Características e
Espécies, 37
3. Poder Constituinte Originário: Limites, 38
4. Poder Constituinte Derivado Reformador:
Características, 39
5. Poder Constituinte Reformador: Limitações, 39
6. Emenda Constitucional, 40
7. Cláusulas Pétreas, 41
8. Poder Constituinte Derivado Decorrente, 42
9. Poder Constituinte Decorrente: Limitações, 43
10. Poder Constituinte no Âmbito dos Municípios, 44
11. Revisão Constitucional, 45

Capítulo 5. Direitos e Garantias Fundamentais, 47


1. Art. 5º, I, 47
2. Art. 5º, II, III e IV, 48
3. Art. 5º, V, VI, VII e VIII, 48
4. Art. 5º, IX, X e XI, 49
5. Art. 5º, XI, 50
6. Art. 5º, XII, 51
7. Art. 5º, XIII, 52
8. Art. 5º, XIV, XV, XVI, XVII e XVIII, 53
9. Art. 5º, XIX, XX, XXI, XXII e XXIII, 54
10. Art. 5º, XXIV, XXV, XXVI e XXVII, 55
11. Art. 5º, XXVIII, XXIX, XXX e XXXI, 56
12. Art. 5º, XXXII, XXXIII, XXXIV e XXXV, 57
13. Art. 5º, XXXVI, 58
14. Art. 5º, XXXVII e XXXVIII, 59
15. Art. 5º, XXXIX, 60
16. Art. 5º, XL, XLI, XLII e XLIII, 61
17. Art. 5º, XLIV e XLV, 61
18. Art. 5º, XLVI e XLVII – Individualização da Pena –
Espécies de Pena, 62
19. Art. 5º, XLVIII, XLIX, L, LI, LII – Pena – Integridade Física
e Moral – Presidiárias – Extradição do Naturalizado –
Extradição de Estrangeiro, 63
20. Art. 5º, LIII e LIV – Princípio do Juiz Natural – Princípio
do Devido Processo Legal, 64
21. Art. 5º, LV – Direito ao Contraditório e à Ampla
Defesa, 65
22. Art. 5º, LVI – Vedação às Provas Ilícitas, 66
23. Art. 5º, LVII – Presunção de Inocência, 67
24. Art. 5º, LVIII, LIX, LX e LXI – Identificação Criminal
– Ação Privada – Publicidade dos Atos Processuais –
Prisão em Flagrante ou Processual, 68
25. Art. 5º, LXII e LXIII – Comunicação da Prisão –
Informação dos Direitos do Preso, 69
26. Art. 5º, LXIV, LXV e LXVI – Identificação dos
Responsáveis pela Prisão – Relaxamento da Prisão –
Admissão de Liberdade Provisória, 70
27. Art. 5º, LXVII – Vedação à Prisão por Dívida e
Exceções, 71
28. Art. 5º, LXVIII – Habeas Corpus – Remédio
Constitucional – Concessão, 72
29. Art. 5º, LXVIII – Habeas Corpus – Utilização Restritiva, 72
30. Art. 5º, LXIX – Mandado de Segurança – Remédio
Constitucional – Concessão, 73
31. Art. 5º, LXIX – Mandato de Segurança – Prazo
Decadencial – Súmulas e Julgados, 74
32. Art. 5º, LXX – Mandado de Segurança Coletivo, 75
33. Art. 5º, LXX – Legitimidade Ativa do Mandado de
Segurança Coletivo, 76
34. Art. 5º, LXXI – Mandado de Injunção, 77
35. Art. 5º, LXXI – Aplicabilidade do Mandado de
Injunção, 78
36. Art. 5º, LXXII – Habeas Data – Hipótese de
Cabimento, 79
37. Art. 5º, LXXIII, LXXIV, LXXV, LXXVI e LXXVII – Ação
Popular – Assistência Gratuita – Erro Judiciário –
Gratuidade de HC e HD, 80
38. Art. 5º, LXXVIII – Duração Razoável do Processo, 81
39. Art. 5º, §§ 1º e 2º – Aplicabilidade das Normas
Definidoras – Eficácia Material dos Direitos
Fundamentais, 82
40. Art. 5º – Tratados e Convenções Internacionais sobre
Direitos Humanos, 83
41. Art. 5º – Tribunal Penal Internacional, 84

Capítulo 6. Direitos Sociais, 86


1. Arts. 6º e 7º – Destinatários, 86
2. Art. 7º, a Partir dos Incisos I a IV, 87
3. Art. 7º, a Partir dos Incisos IV a XI, 88
4. Art. 7º, a Partir dos Incisos XII a XXV, 89
5. Art. 7º, a Partir dos Incisos XXV a XXXIV, 90
6. Direitos Sociais – Art. 8º, I e II, 90
7. Direitos Sociais – Art. 8º, III a VI, 91
8. Direitos Sociais – Art. 8º, VII e VIII e Parágrafo Único, 92
9. Direitos Sociais – Arts. 9º, 10 e 11, 93
Capítulo 7. Nacionalidade, 95
1. Nacionalidade, 95
2. Nacionalidade Primária, 96
3. Nacionalidade Secundária, 97
4. Equiparados, 97
5. Brasileiros Natos e Naturalizados, 98
6. Perda da Nacionalidade, 99
7. Extradição – Deportação – Expulsão, 100

Capítulo 8. Direitos Políticos e Partidos Políticos, 102


1. Direitos Políticos, 102
2. Capacidade e Alistamento Eleitoral – Condições de
Elegibilidade, 103
3. Filiação Partidária – Reeleição – Idade, 104
4. Desincompatibilização, 105
5. Inelegibilidade Parental, 106
6. Militares e Hipóteses de Inelegibilidade – Ação de
Impugnação ao Mandato Eletivo e Anterioridade
Eleitoral, 107
7. Cassação, Suspensão e Perda dos Direitos Políticos, 108
8. Partidos Políticos, 109
9. Verticalização das Coligações – Fidelidade Partidária –
Personalidade Eleitoral, 110
10. Registro do Partido – Horário Eleitoral Gratuito –
Entidades Paramilitares, 111

Capítulo 9. Organização do Estado, 112


1. Competências da União – Aspectos Introdutórios, 112
2. Competência Legislativa – Competência Privada –
Requisitos para Delegação Legislativa, 114
3. Competência Privativa, 116
4. Competência Privada da União – Art. 22 da CF, 118
5. Competência Comum e Competência Concorrente, 119
6. Competência dos Estados, 120
7. Competência dos Estados e do Distrito Federal, 121
8. Distrito Federal e Municípios, 122
9. Processo Interventivo, 123
10. Pressupostos da Intervenção, 124
11. ADI Interventiva, 125
12. Requisição do STF – ADI Interventiva, 126

Capítulo 10. Servidores Públicos, 128


1. Servidores Públicos – Art. 39, 128
2. Servidores Públicos – Arts. 39, 135 e 144, § 9º, 129
3. Servidores Públicos: Subsídios, 129
4. Servidores Públicos: Art. 40 da CF – Regime de
Previdência, 130
5. Servidores Públicos: Regime Previdenciário – Parte I, 131
6. Servidores Públicos: Regime Previdenciário – Parte II, 132
7. Servidores Públicos: Reforma Previdenciária, 133
8. Servidores Públicos: Estabilidade – Parte I, 134
9. Servidores Públicos: Estabilidade – Parte II, 134

Capítulo 11. Poder Legislativo, 136


1. Poder Legislativo: Funções, 136
2. Poder Legislativo: Composição, 137
3. Poder Legislativo: Composição e Competência dos
Órgãos – Parte I, 137
4. Poder Legislativo: Composição e Competência dos
Órgãos – Parte II, 138
5. Poder Legislativo: Assembleia Legislativa, 139
6. Poder Legislativo: Quórum, Maioria Simples e
Absoluta, 140
7. Mandato Parlamentar – Regime Jurídico e
Prerrogativa, 141
8. Mandato Parlamentar – Imunidades, 141
9. Mandato Parlamentar – Imunidade Formal, 142
10. Mandato Parlamentar – Cassação e Extinção, 143
11. Mandato Parlamentar – Cassação, Extinção e
Licença, 144
12. Reuniões – Recesso e Período, 145
13. Reuniões – Mesa, Cargos, Convocação e Vedações, 145
14. Comissões – Regras e Competências, 146
15. Poder Legislativo, 147
16. Comissões – Abertura, Fatos e Poderes, 148
17. CPI – Poderes, 149
18. CPI – Fiscalização, Finalidade e Sistemas de
Controle, 150
19. Fiscalização Contábil, Financeira e Orçamentária –
Competências, 151
20. Competência e Atuação do TCU, 151
21. Composição do TCU e Requisitos dos Ministros, 152
22. Ministros: Regime Jurídico e Fiscalização Municipal, 153

Capítulo 12. Processo Legislativo, 154


1. Processo Legislativo – Introdução, 154
2. Hierarquia das Normas, 154
3. Espécies, 155
4. Devido Processo Legislativo, 156
5. Medida Provisória – Considerações Iniciais, 157
6. Medida Provisória – Matérias Vedadas, 158
7. Medida Provisória – Procedimento, 159
8. Iniciativa Popular, 160
9. Iniciativa Popular e Questões Divergentes, 161
10. Iniciativa, 162
11. Ato Deliberativo, 163
12. Da Votação, 164
13. Trâmite nas Casas Legislativas, 165
14. Emendas Parlamentares, 165
15. Deliberação Executiva, 166
16. Características do Veto, 167
17. Promulgação, 168
18. Publicação, 168

Capítulo 13. Poder Executivo, 170


1. Sistema de Governo e Eleição, 170
2. Eleições – Posse, 171
3. Posse, Vacância e Impedimento, 172
4. Vacância e Licença, 172
5. Atribuições do Presidente da República, 173
6. Responsabilização do Presidente da República, 174
7. Julgamento nos Crimes de Responsabilidade, 175
8. Imunidades, 176

Capítulo 14. Poder Judiciário, 178


1. Órgãos do Poder Judiciário, 178
2. Competências Administrativas dos Tribunais, 179
3. Competência Ordinária e Competência
Extraordinária, 180
4. O Estatuto Constitucional da Magistratura, 181
5. O Estatuto Constitucional da Magistratura – Promoção
de Entrância para Entrância, 182
6. O Estatuto Constitucional da Magistratura –
Julgamentos dos Órgãos do Poder Judiciário, 183
7. O Estatuto Constitucional da Magistratura – Atividade
Jurisdicional, 184
8. Plenário, 185
9. Quinto Constitucional, 186
10. Garantias e Vedações do Juiz, 187

Capítulo 15. Funções Essenciais à Justiça, 189


1. Ministério Público – Papel e Princípios Institucionais, 189
2. Ministério Público – Autonomia Financeira e Lei
Orçamentária, 190
3. Ministério Público – Autonomia e Composição, 190
4. Ministério Público – MPU e Procurador-Geral, 191
5. Ministério Público – Destituição, Organização da
Carreira, Garantias e Vedações, 192
6. Ministério Público – Garantias e Vedações, 193
7. Ministério Público – Funções Institucionais e
Legitimidade, 194
8. Ministério Público – Função Institucional, 194
9. Ministério Público – Atividade Jurídica, Função e
Conselho Nacional do Ministério Público, 195
10. Advocacia Pública e Procuradorias, 196
11. Defensoria Pública, 197

Capítulo 16. Defesa do Estado e das Instituições


Democráticas, 198
1. Estado de Defesa e Estado de Sítio – Causas de
Decretações, 198
2. Estado de Defesa e Estado de Sítio – Causas de
Decretações e Formalidades, 198
3. Estado de Defesa e Estado de Sítio – Prazos e Medidas
Coercitivas, 199
4. Estado de Sítio – Medidas Coercitivas e Participação
do Congresso Nacional, 200
5. Forças Armadas – Definição, Finalidade, Habeas
Corpus e Punição Disciplinar, 202
6. Forças Armadas – Disposições Aplicáveis aos Militares
– Parte I, 202
7. Forças Armadas – Disposições Aplicáveis aos Militares
– Parte II, 203
8. Segurança Pública – Art. 144 da CF/1988, 204
9. Segurança Pública – Órgãos de Segurança do Distrito
Federal, 204
10. Segurança Pública – Competência da Polícia Federal, 205
11. Segurança Pública – Competência da Polícia Militar,
Polícia Civil e Corpo de Bombeiros, 206
12. Segurança Pública – Corpo de Bombeiros e Guarda
Municipal, 206

Capítulo 17. Controle Concentrado de Constitucionalidade,


208
1. Controle Concentrado de Constitucionalidade, 208
2. Controle de Constitucionalidade – Parâmetro e
Objeto, 209
3. Formas de Inconstitucionalidade, 210
4. Formas de Controle de Constitucionalidade, 211
5. Formas de Declaração de Inconstitucionalidade, 212
6. Controle Difuso, 213
7. Controle Difuso de Constitucionalidade –
Provocação, 213
8. Objetivo da ADI e da ADC, 214
9. Ação Direta de Inconstitucionalidade – Criação e
Legitimados, 215
10. ADI – Competência e Objeto, 216
11. ADI – Aspecto Temporal e Participação do Advogado-
-Geral da União, 217
12. ADI – Procedimento, 218
13. ADO – Considerações Gerais, 219
14. Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão, 220
15. Ação Declaratória de Constitucionalidade –
Considerações Iniciais, 221
16. ADC – Aproximações com a ADI, 222
17. ADC – Requisitos Específicos, 223
18. Arguição por Descumprimento de Preceito
Fundamental – Origem, Conceito e Parâmetro, 224
19. ADPF – Objeto e Natureza Subsidiária, 225
20. ADPF – Procedimento, 225
21. Controle de Convencionalidade – Considerações
Iniciais, 226
22. Controle de Convencionalidade, 227

Gabarito, 230
Capítulo 1
Princípios Fundamentais

1. Princípios Fundamentais: Previsão Legal,


Fundamentos e Poderes

Os princípios fundamentais estão dispostos nos quatro primeiros artigos da Cons-


tituição Federal de 1988. O art. 1º elenca os fundamentos; o art. 2º, os poderes;
o art. 3º trata dos objetivos fundamentais; e o art. 4º, os princípios que regem o
Brasil em suas relações internacionais.
Apesar dos princípios fundamentais estarem regidos nos quatro primeiros arti-
gos da Carta Magna é preciso atenção, porque só se pode afirmar sobre fundamen-
tos no art. 1º, assim como só se pode afirmar que é objetivo fundamental o dispos-
to no art. 3º, da mesma forma que as relações internacionais são tratadas no art. 4º.
São cinco os fundamentos do Estado Democrático de Direito conforme dispõe
o art. 1º. Atenção para o que trata o inciso. IV: não é fundamento do Estado Bra-
sileiro o trabalho e a livre-iniciativa, mas sim o valor social agregado ao trabalho e
à livre-iniciativa. No que tange o inciso V, é importante não confundir o pluralismo
político com pluralismo partidário, este último não é fundamento do Estado, é
fundamento o pluralismo político.
É preciso ficar atento para as provas que afirmarem que o poder do povo é
exercido apenas por intermédio de representantes, porque a questão está errada.
O poder é exercido por representação, mas, também, diretamente, nos termos
da Constituição.
A Constituição apresenta as hipóteses de exercício direto do poder pelo povo
mediante a iniciativa popular de projetos de lei; plebiscitos e referendos; partici-
pação popular em órgãos que integram a estrutura dos poderes.
Os poderes da União consagrados pelo texto constitucional são apenas o Exe-
cutivo, o Legislativo e o Judiciário, ou seja, apesar de o Ministério Público possuir
uma estrutura própria de poder, ele não é um quarto poder.
16 Direito Constitucional

2. Princípios Fundamentais: Objetivos e


Princípios das Relações Internacionais
Prosseguindo na análise dos Princípios Fundamentais, o art. 3º trata especifi-
camente dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil. São eles:
I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II – garantir o desenvolvimento nacional;
III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais
e regionais;
IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,
idade e quaisquer outras formas de discriminação.
O Estado Brasileiro já admitiu em alguns casos a discriminação de caráter
positivo, medida de ação afirmativa. E uma medida que desiguala a partir de um
fator de discrímen que é aceito buscando a igualdade material. O STF já julgou
favorável a discriminação positiva como é o exemplo do sistema de cotas raciais
para ingresso nas universidades públicas, apesar de ter sido constitucional, no
texto expresso da Constituição, não se admite qualquer tipo de discriminação.
O art. 4º da Constituição Federal dispõe:
“Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacio-
nais pelos seguintes princípios:
I – independência nacional;
II – prevalência dos direitos humanos;
III – autodeterminação dos povos;
IV – não intervenção;
V – igualdade entre os Estados;
VI – defesa da paz;
VII – solução pacífica dos conflitos;
VIII – repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX – cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
X – concessão de asilo político.”
Estabelece o parágrafo único do art. 4º, CF/1988:
“A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política,
social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comu-
nidade latino-americana de nações.”
Esta comunidade latino-americana é o Mercosul.
São quatro os aspectos da integração. São eles: integração econômica, políti-
ca, social e cultural dos povos.
Capítulo 2
Teoria da Constituição

1. Preâmbulo da Constituição
Preâmbulo da Constituição – teorias da natureza jurídica do preâmbulo:
– Teoria da eficácia idêntica dos demais preceitos – A CF é formada por três
partes: a parte preambular, a parte dispositiva e a parte transitória. As
partes dispositivas e transitórias têm eficácia vinculante, de norma.
Segundo essa teoria, o preâmbulo constitucional teria eficácia normativa, as-
sim como a parte dispositiva e a parte transitória.
– Teoria da eficácia indireta: para esta teoria, o preâmbulo serve como bali-
zamento para a interpretação constitucional (Soft Law). O preâmbulo deve
ser analisado na sua estrutura e utilizado como balizamento normativo.
– Teoria da irrelevância jurídica do preâmbulo: a função do preâmbulo é
meramente sociológica, não servindo como ferramenta de interpretação
jurídica. Exemplo: expressão “sob a proteção de Deus” – utilizada por
todas as Constituições Estaduais, exceto a do Acre.
Na ADIn nº 2.076, de relatoria do Min. Carlos Velloso, o STF decidiu pela irrele-
vância jurídica do preâmbulo, adotando a tese de que não possui relevância jurídica.
A doutrina, de maneira consistente, segue a tese da eficácia indireta, de Soft
Law, o que pode ser discutido em uma prova discursiva.

Exercício
1. (Cespe – TCU – Auditor Federal de Controle Externo – 2011) A respeito da
estrutura da Constituição Federal de 1988 e das Constituições Estaduais,
julgue o item seguinte:
O preâmbulo da CF é uma norma de reprodução obrigatória nas Constitui-
ções Estaduais.
18 Direito Constitucional

2. Elementos da Constituição

Segundo a classificação de José Afonso da Silva, os elementos da Constituição são:


a) orgânicos: são as normas que regulam a organização do Estado e dos Po-
deres;
b) limitativos: são as normas que regulam os direitos e garantias fundamen-
tais, limitando a atuação dos Poderes do Estado;
c) socioideológicos: são as premissas filosóficas, sociológicas, políticas e ideo-
lógicas sobre as quais se funda a Constituição. Esses elementos refletem os obje-
tivos do constituinte;
d) de estabilização: são as normas pertinentes à defesa da Constituição, do
Estado, e das instituições democráticas;
e) formais de aplicabilidade: são as normas que disciplinam as regras de
aplicação da Constituição, como as disposições constitucionais transitórias.

Exercício
2. (TRT-23ª Região – Juiz – 2011) A respeito da classificação das constituições
e dos elementos que são revelados pela estrutura normativa da Constituição
(teoria da categoria dos elementos constitucionais), de acordo com a doutri-
na, assinale qual das alternativas abaixo contém uma afirmação falsa:
a) Elementos orgânicos são as normas que regulam a estrutura e organi-
zação do Estado e do Poder.
b) Elementos de estabilização constitucional são os que se acham con-
substanciados nas normas que estabelecem regras de aplicação das
constituições, como o preâmbulo e as disposições constitucionais tran-
sitórias.
c) Elementos limitativos correspondem às normas que consubstanciam o
elenco dos direitos democráticos e dos direitos fundamentais do ho-
mem e respectivas garantias constitucionais.
d) As constituições podem ser classificadas como materiais ou formais
(quanto ao conteúdo), escritas ou não escritas (quanto à forma) e dog-
máticas ou históricas (quanto ao modo de elaboração), dentre outras
classificações mencionadas na doutrina.
e) Elementos socioideológicos consubstanciam-se nas normas que reve-
lam o caráter de compromisso das constituições modernas entre o Es-
Direito Constitucional 19

tado individualista e o Estado Social intervencionista, como as normas


que, na Constituição da República de 1988, regulam a ordem econômi-
ca e social.

3. Teoria Geral da Constituição – Princípios


Fundamentais

Os princípios fundamentais da República Federativa do Brasil estão disciplinados


nos arts. 1º a 4º da Constituição, referindo-se às premissas embasadoras que
orientarão todo ordenamento constitucional democrático.
O modelo adotado no Brasil é o do federalismo. Considera-se um sistema de
federalismo por segregação ou desagregação aquele que surge diante da extin-
ção do estado unitário.
No art. 1º, estão catalogados os fundamentos. São eles: a soberania, a cida-
dania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre
-iniciativa e o pluralismo político.
O art. 2º dispõe sobre os Poderes da União, estabelecendo a tripartição dos
poderes que deve atuar no sistema de freios e contrapesos.
No art. 3º, temos os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil,
aqueles que devem ser perseguidos para a construção de uma sociedade livre,
justa e solidária, garantindo o desenvolvimento social, erradicando a pobreza e a
marginalização e reduzindo as desigualdades sociais e regionais.

Exercício
3. (2013 – TJ – Juiz – SC) Com base nas proposições abaixo, assinale a alterna-
tiva correta:
I. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Esta-
dos e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático
de Direito e tem como fundamentos: a soberania; a cidadania; a prevalência
dos direitos humanos; os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; o
pluralismo político.
II. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política,
social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma
comunidade latino-americana de nações.
III. Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,
20 Direito Constitucional

idade e quaisquer outras formas de discriminação; erradicar a pobreza e


a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; garantir o
desenvolvimento nacional; construir uma sociedade livre, justa e solidária.
IV. A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais
pelos seguintes princípios a independência nacional; a dignidade da pessoa
humana; a autodeterminação dos povos; a não intervenção; a igualdade
entre os Estados; a defesa da paz; a solução pacífica dos conflitos; o repúdio
ao terrorismo e ao racismo; a cooperação entre os povos para o progresso
da humanidade; a concessão de asilo político.
a) Todas as proposições estão corretas.
b) Somente as proposições I, II e III estão corretas.
c) Somente as proposições I, III e IV estão corretas.
d) Somente as proposições II e III estão corretas.
e) Somente as proposições II, III e IV estão corretas.

4. Princípios que Regem o Brasil nas Relações


Internacionais
São princípios que regem o Brasil nas suas relações internacionais: a independên-
cia nacional, a prevalência dos direitos humanos, a autodeterminação dos povos,
a não intervenção, a igualdade entre os Estados, nos termos do art. 4º, da CF.
Insta consignar que os direitos humanos localizam-se numa zona de flutuação
acima do ordenamento de cada país.
O princípio da não intervenção refere-se ao respeito das políticas internacio-
nais entre os Estados.
Quanto ao princípio da igualdade, sua observância se dará em todos os aspec-
tos, seja em âmbito econômico, ideológico ou até mesmo geográfico.
A defesa da paz, a solução pacífica dos conflitos, o repúdio ao terrorismo e ao
racismo, a cooperação entre os povos para o progresso da humanidade e a con-
cessão de asilo político, são os princípios que encerram o rol previsto no art. 4º.
De acordo com art. 14, item 2, da Declaração Universal dos Direitos Humanos,
se a perseguição for legitimamente motivada por um ato contrário aos propósitos
e princípios estabelecidos pela ONU, não haverá concessão do asilo político.
O parágrafo único do art. 4º estabelece a integração econômica, política, so-
cial e cultural da República Federativa do Brasil com os povos da América Latina,
lembrando que não haverá integração militar.
O Mercosul (Mercado Comum do Sul) pode ser citado como uma forma de
integração econômica, criado a partir do Tratado de Assunção em 1991.
Direito Constitucional 21

Exercício
4. (Cespe – 2013 – CNJ – Analista Judiciário) Acerca dos princípios fundamen-
tais da Constituição Federal de 1988, julgue o item que segue:
“A República Federativa do Brasil rege-se, nas suas relações internacionais,
pelos seguintes princípios: independência nacional; prevalência dos direitos
humanos; autodeterminação dos povos; não intervenção; igualdade entre os
Estados; defesa da paz; solução pacífica dos conflitos; repúdio ao terrorismo
e ao racismo; cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; e
concessão de asilo político.”

5. Fases do Constitucionalismo – Antigo –


Liberal – Social

Surgido após o período absolutista, o constitucionalismo tem como ideia central a


limitação do poder estatal, a partir da criação de um documento de estruturação
e organização do Estado.
As três fases do constitucionalismo compreendem: o antigo, o clássico e o
moderno.
O constitucionalismo da antiguidade durou aproximadamente até o final do
século XVIII. Seus principais documentos foram a Magna Carta Inglesa (1215), o
Petition of Rights (1628), o Habeas Corpus Act (1679) e a Bill of Rights (1689).
O constitucionalismo clássico ou liberal surgiu no final do século XVIII, a partir
da criação da Constituição Americana (1787) e da Constituição Francesa (1791),
que teve inspiração a partir da Revolução Francesa (1789).
O constitucionalismo clássico abrange a supremacia formal da Constituição.
Nesse período, ainda não se reconhece a supremacia material. O surgimento do
controle de constitucionalidade também surge nessa época nos EUA, em sua
forma difusa, diante do caso Madison x Marbury.
Já no constitucionalismo moderno ou social, surge a ideia de igualdade, estabe-
lecendo valores para além da esfera jurídica, impondo-se os valores metajurídicos.

Exercício
5. (2013 – TRT 15ª Região – Juiz do Trabalho) Uma das características do cons-
titucionalismo social é a integração de normas trabalhistas ao texto constitu-
cional. No que se refere ao Brasil, a atual Constituição não expressa que:
22 Direito Constitucional

a) É proibida a distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou


entre os profissionais respectivos.
b) A relação de emprego é protegida contra despedida arbitrária ou sem
justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização
compensatória, dentre outros direitos.
c) O seguro-desemprego é devido em caso de desemprego involuntário.
d) O direito ao fundo de garantia por tempo de serviço não é devido em
caso de pedido de demissão.
e) A garantia de salário, nunca inferior ao salário mínimo, é devido para os
empregados que percebem remuneração variável.

6. Fases do Constitucionalismo –
Contemporâneo e do Futuro

O constitucionalismo contemporâneo marca a reaproximação de valores jurídicos


e metajurídicos; fase em que se diferenciam o Estado de Direito e o Estado De-
mocrático de Direito.
Assim, argumentos meramente legalistas não seriam justificáveis para asse-
gurar valores de justiça, sendo imprescindível a Constituição para assegurar o
mínimo de garantia aos indivíduos.
Segundo os principais pensadores dessa época, os elementos essenciais de
justiça estariam consagrados numa norma hipotética fundamental, que é desem-
penhada exatamente na Constituição.
Os princípios deixam de ser meros vetores de interpretação e adquirem caráter
de norma jurídica que, por sua vez, é resultado da somatória de regras e princípios.
Outra característica do constitucionalismo contemporâneo é a filtragem cons-
titucional, ou seja, os preceitos serão interpretados à luz da Constituição Federal
que é a norma prevalente no nosso ordenamento democrático.
O Estado de Direito tipicamente legalista desaparece nesta fase, dando lugar
ao Estado Democrático de Direito, aquele que tem a missão de assegurar valores
relacionados à justiça.
O fenômeno neoconstitucionalista é sinônimo de constitucionalismo contem-
porâneo, graças à expressão chamada de vontade de Constituição, cujo docu-
mento passa a ser carta vinculadora de agentes públicos e agentes privados.
O constitucionalismo do futuro é fruto de esforços da doutrina, apresentando
definições possíveis para o que sucederá a fase em que estamos, ou seja, a do
constitucionalismo contemporâneo.
Direito Constitucional 23

Exercício
6. (2013 – MP – Promotor Substituto – PR) Qual alternativa que define de modo
mais adequado a denominação que o constitucionalismo moderno atribui
ao fenômeno pelo qual se opera a alteração do conteúdo e do alcance das
normas constitucionais pela via informal, sem alteração do texto normativo?
a) Repristinação constitucional.
b) Declaração parcial de inconstitucionalidade sem redução de texto.
c) Recepção constitucional.
d) Mutação constitucional.
e) Modulação constitucional.

7. Concepções de Constituição – Sociológica –


Política – Jurídica
As três primeiras concepções de Constituição são classificadas em concepção so-
ciológica, concepção política e concepção jurídica.
Importante frisar que cada concepção tem inspiração a partir de um autor.
A concepção sociológica tem seu principal expoente em Ferdinand Lassalle.
Para este autor, além de uma Constituição escrita ou jurídica, haveria uma Cons-
tituição real ou efetiva que corresponderia à soma dos fatores reais de poder.
Já Carl Schmitt considera a concepção política de Constituição, preservando a
existência de uma Constituição com as matérias tipicamente constitucionais, ou
seja, atribuição de direitos e deveres, organização do Estado e dos poderes, além
disso, consideraria as leis constitucionais com os demais dispositivos.
A concepção jurídica, segundo Hans Kelsen, considera o purismo conceitual
para o Direito, retirando elementos sociológicos, históricos, antropológicos e psi-
cológicos da interpretação da Ciência do Direito, visto que estes valores não for-
necem fundamento a uma Constituição.
Kelsen apresentou essa ideia de forma muito clara em sua obra Teoria Pura do
Direito, afirmando que o que oferece sustentação a uma Constituição são valores
estritamente jurídicos. Defende, ainda, que o defensor da Constituição seria o
Tribunal Constitucional.
Em suma, a concepção sociológica de Lassalle observa a soma dos fatores
reais de poder, não importando aquilo que está escrito. A concepção política
de Carl Schmitt considera a própria estrutura do Estado e seus direitos funda-
mentais, reconhecendo os demais dispositivos apenas como leis constitucionais,
enquanto Kelsen apresenta a concepção puramente jurídica desses valores.
24 Direito Constitucional

Exercício
7. (Cespe – 2013 – Polícia Federal – Delegado de Polícia) No que se refere à
Constituição Federal e ao poder constituinte originário, julgue o item subse-
quente:
“No sentido sociológico, a CF reflete a somatória dos fatores reais do poder
em uma sociedade.”

8. Teoria Geral da Constituição – Normativa –


Cultural

As concepções de Constituição são os enfoques sobre os quais ela é pensada, isto


é, sendo a Constituição um conjunto orgânico, contém regras e princípios que
disciplinam a vida em sociedade.
Atualmente, vivemos a fase conhecida como a Égide da Constituição, ou seja,
a fase contemporânea do constitucionalismo, porém, existem outras concepções
que merecem destaque e serão a seguir demonstradas.
A concepção normativa de Konrad Hesse estabelece uma contraposição ao
conceito sociológico trazido por Lassalle, reconhecendo que em algumas situa-
ções a Constituição foge à realidade, contudo, em outros casos, é perfeitamente
possível que a Constituição possa se moldar à situação real. Mas, nesse caso,
para que a Constituição apresente sua força normativa, é necessária a vontade
de Constituição, ou seja, a vontade da existência de uma Lei Maior, com a finali-
dade de assegurar direitos e garantias, definindo condutas e não apenas a mera
vontade de poder.
Já a concepção cultural designada por Peter Häberle nada mais é do que a
somatória de todas as concepções anteriores, considerando os aspectos socioló-
gicos, políticos, jurídicos e normativos.
Neste sentido, a mesma Constituição que deve ser capaz de moldar as vonta-
des de um povo deve ser passível de condicionamento.
Lembrando que, no Brasil, os doutrinadores atribuem à concepção culturalista
ao constitucionalista Meirelles Teixeira.

Exercício
8. (Cespe – 2013 – STF – Analista Judiciário) Acerca do conceito de Constitui-
ção e da interpretação das normas constitucionais, julgue o item a seguir:
Direito Constitucional 25

“Para Peter Häberle, jurista alemão cujo pensamento doutrinário tem in-
fluenciado o direito constitucional brasileiro, a constituição deve correspon-
der ao resultado, temporário e historicamente condicionado, de um proces-
so de interpretação levado adiante na esfera pública por parte dos cidadãos
e cidadãs.”

9. O Estudo da Interpretação do Direito –


Princípios

Os princípios da interpretação constitucional são:


– Princípio da Interpretação conforme a Constituição: parte da ideia de su-
premacia da Constituição perante o ordenamento jurídico, o qual deve
tirar seu fundamento e interpretado sob a ótica da Constituição.
– Princípio da Presunção da Constitucionalidade das Leis: se houver dúvida
sobre a constitucionalidade da lei, esta deve ser declarada constitucional.
– Princípio da Unidade: na interpretação da Constituição, cabe ao intérprete
harmonizar e compatibilizar abstenções e conflitos subjacentes ao pacto
fundador. A partir deste mesmo princípio, extrai-se o fato de não haver
hierarquia constitucional entre normas constitucionais, ou seja, uma nor-
ma constitucional não será mais valiosa do que a outra.
– Princípio do Efeito Integrador: trata-se de uma especificação do Princípio
da Unidade. Havendo conflitos jurídico-constitucionais, deve ser dada pri-
mazia aos critérios que favoreçam a integração política e social, a unidade,
o sistema constitucional.
– Princípio da Concordância Prática ou Harmonização: diante da colisão en-
tre normas constitucionais, cabe ao intérprete coordenar os bens jurídicos
em conflito realizando a redução proporcional de cada um deles.

Exercício
9. (Cespe – DPE/MA – Defensor Público – 2011) O art. 102, caput, da CF dispõe
que compete ao STF, precipuamente, a guarda da Constituição, o que impli-
ca dizer que essa jurisdição lhe é atribuída para impedir que se desrespeite a
Constituição como um todo, e não para com relação a ela, exercer o papel
de fiscal do poder constituinte originário, a fim de verificar se este teria, ou
não, violado os princípios de direito suprapositivo que ele próprio havia in-
cluído no texto da mesma CF.
26 Direito Constitucional

Considerando esse julgado do STF, é correto afirmar que o princípio consti-


tucional que melhor retrata o entendimento exposto é o da:
a) Simetria.
b) Conformidade funcional.
c) Unidade da Constituição.
d) Força normativa da Constituição.
e) Máxima efetividade.

10. Princípios Instrumentais

Princípio da Relatividade: não há princípio absoluto na Constituição.


– Princípio da Força Normativa da Constituição: deve-se primar por interpre-
tações que tornem suas normas mais eficazes.
– Princípio da Máxima Efetividade: os direitos fundamentais devem ser inter-
pretados de modo a conferir-lhes maior eficácia social possível.
– Princípio da Justeza ou Conformidade Funcional: cada Poder deve agir
conforme as funções que lhes foram atribuídas, sem interferir na esfera de
atribuições de outro.
– Princípio da Proporcionalidade ou Razoabilidade: subdivide-se em adequa-
ção (a medida deve ser apta a atingir o fim almejado); exigibilidade (o
meio deve ser o menos oneroso possível); e proporcionalidade em sentido
estrito (relação entre custo/benefício da medida).

Exercício
10. (Cespe – AL/ES – Procurador – 2011) No que se refere à interpretação das
normas constitucionais e ao poder constituinte originário e derivado, assina-
le a opção correta:
a) Tem-se a aplicação do denominado princípio da correção funcional
quando, por meio da interpretação de algum preceito, busca-se não
deturpar o sistema de repartição de funções entre os órgãos e pessoas
designados pela CF.
b) O poder constituinte originário, por sua própria natureza, não pode
decorrer da atuação de uma única pessoa ou de um grupo restrito de
pessoas, sem a intervenção de um órgão de representação popular.
Direito Constitucional 27

c) O poder constituinte derivado está sujeito a limitações temporais, cir-


cunstanciais e materiais, sendo que estas últimas, segundo a doutrina,
estão exaustivamente enumeradas na CF, compondo as denominadas
cláusulas pétreas.
d) De acordo com a doutrina, determinada lei que perdeu a vigência em face
da instauração de nova ordem constitucional terá sua eficácia automatica-
mente restaurada pelo advento de outra constituição, desde que com ela
compatível, por se tratar de hipótese em que se admite a repristinação.
e) O denominado método hermenêutico-concretizador não admite que o
intérprete se valha de suas pré-compreensões sobre o tema para obter
o sentido da norma.

11. Classificação das Constituições – Conteúdo –


Forma – Origem – Estabilidade

As Constituições podem ser classificadas quanto ao conteúdo, forma, origem e


estabilidade.
– Quanto ao conteúdo, a Constituição poderá ser material (são apenas as
normas tipicamente constitucionais), ou formal (são as normas que estão
agrupadas em um único documento).
– Quanto à forma, a Constituição poderá ser escrita, também chamada de
instrumental (são as constituições devidamente formalizadas, por exem-
plo, a Constituição Federal de 1988) ou não escrita, também chamada de
costumeira (é a junção de usos, costumes, jurisprudências e documentos
esparsos, não reunidos em um único documento).
– Quanto à origem, esta poderá ser promulgada (é a constituição que decor-
re de um procedimento democrático), outorgada (é fruto do autoritaris-
mo, por exemplo, a Constituição do Império), cesarista ou bonapartista (é
a constituição que tem uma falsa impressão de democracia), ou pactuada,
também chamada de dualista (decorre do acordo de dois grupos rivais).
– Quanto à estabilidade, poderá ser imutável (é a constituição que prevê
nenhuma forma de alteração), rígida (é a constituição que tem um proce-
dimento para alteração mais dificultoso), semirrígida (é a constituição que
tem um procedimento mais dificultoso para a alteração de determinadas
matérias e um procedimento mais fácil para a alteração de outras maté-
rias) e flexível (são as constituições que não possuem um procedimento
dificultoso para sua alteração).
28 Direito Constitucional

Exercício
11. (Cespe – Serpro – Analista – 2013) Á luz do direito constitucional, julgue o
item a seguir:
“Tendo em vista a possibilidade de alteração de seu texto por meio de emen-
da, a Constituição Federal de 1988 é classificada como semirrígida, apesar
de possuir um núcleo imutável, também chamado de cláusulas pétreas.”

12. Classificação das Constituições – Extensão –


Finalidade – Modo de Elaboração – Ideologia

A Constituição também é classificada quanto à extensão, à finalidade, à elabora-


ção e à ideologia.
– Quanto à extensão: Constituição sintética, também chamada de resumida
ou concisa (é aquela constituição que trata apenas de matérias óbvias, por
exemplo, a organização dos poderes), ou analítica, também chamada de
prolixa (é a constituição que abrange muitas matérias).
– Quanto à finalidade: Constituição liberal, também chamada de defensi-
va ou dirigente (é a constituição que prevê muito pouco a intervenção
do Estado), também chamada de social (prevê uma maior intervenção do
Estado).
– Quanto ao modo de elaboração: Constituição dogmática (nada mais é do
que um ato instituído para desenvolver uma nova constituição) ou histórica
(é a constituição que surge de acordo com os costumes e tradições do povo).
– Quanto à ideologia: Constituição ortodoxa (é a constituição resultante
de apenas uma vontade, sem caráter democrático) ou eclética, também
chamada de heterodoxa ou pluralista (é a constituição resultante de um
acordo de vontades, com caráter democrático).

Exercício
12. (PC/MG – Delegado de Polícia – 2011) A Constituição é um conjunto siste-
mático e orgânico de normas que visam concretizar os valores que corres-
pondem a cada tipo de estrutura social. Assim sendo, em sentido material,
pode-se conceituar um texto constitucional como:
a) Um ato unilateral do Estado, cuja fonte tem origem na sua estrutura
organizacional, no seu sistema e na sua forma de governo.
Direito Constitucional 29

b) Um conjunto normativo, que visa regular os poderes do Estado, in-


cluindo sua formação, sua titularidade, seus meios de aquisição e seu
exercício.
c) Um texto produzido exclusivamente por determinadas fontes constitu-
cionais, tendo por base preceitos legais, que lhe são anteriores.
d) Um conjunto de princípios que expressam concepções decorrentes de
valores morais, sociais, culturais e históricos, que asseguram os direitos
dos cidadãos e condicionam o exercício do poder.

13. Classificação das Constituições – Karl


Loewenstein

O critério ontológico nada mais é do que o estudo da Constituição com a vida


política do Estado e seus governantes.
De acordo com a classificação ontológica de Karl Loewenstein, uma Consti-
tuição pode ser normativa (com valor jurídico), nominal (sem valor jurídico), ou
semântica (utilizada apenas para justificar o exercício autoritário do poder).
A doutrina brasileira classifica a Constituição Federal de 1988 como uma
constituição normativa.
A constituição nominal é uma constituição que contém apenas um texto bem
intencionado, sem um caráter obrigacional, ou seja, é um texto de mera diretriz.
Já a constituição semântica é uma constituição que reflete as aspirações de
um Estado ditatorial, ou seja, primeiro se tem um Estado e depois uma Constitui-
ção que irá legitimar a vontade do Estado.

Exercício
13. (Instituto Cidades – DPE/AM – Defensor Público – 2011) A respeito do con-
ceito e da classificação da Constituição, é correto afirmar que:
a) A Constituição, na clássica definição de Lassalle, é a decisão política
fundamental de um povo, insculpida em um texto normativo que goza
de superioridade jurídica frente às demais normas constitucionais.
b) Para Carl Schimit, a Constituição é a norma jurídica fundamental do
ordenamento jurídico, servindo de fundamento de validade para as de-
mais normas jurídicas.
30 Direito Constitucional

c) No entendimento de Hans Kelsen, a Constituição é resultado das forças


reais de poder, buscando o seu fundamento de validade em uma norma
jurídica epistemológica.
d) Para Carl Schmit, não há razão para se fazer distinção entre normas
constitucionais em sentido formal e em sentido material, pois tudo o
que está na Constituição tem o mesmo status constitucional.
e) No sentido ontológico (Karl Loewenstein), a Constituição pode ser clas-
sificada em semântica, nominal e normativa. A Constituição Federal de
1988 é um exemplo de Constituição normativa.

14. Classificação da Constituição Brasileira


Com efeito, a Constituição Federal de 1988 é:
– material: por tratar, dentre outras, de normas tipicamente constitucionais;
– formal: pois todas as normas constitucionais estão formalizadas num do-
cumento uno;
– escrita: está formalizada em um texto;
– democrática: porque elaborada por uma Assembleia Nacional Constituinte;
– rígida: pois demanda procedimento de alteração qualificado;
– analítica: pois regula uma ampla gama de matérias;
– dirigente: por conter uma série de institutos e programas de governo;
– dogmática: pois foi elaborada num determinado momento histórico, a sa-
ber, a Assembleia Nacional Constituinte, o que resultou na Carta de 1988;
– eclética: por consagrar diversas ideologias;
– normativa: por ter valor jurídico.

Exercício
14. (Vunesp – TJ/SP – Advogado – 2013) Considerando a doutrina do direito
constitucional prevalente a respeito das classificações das constituições, ten-
do em vista seus variados aspectos, assinale a alternativa que apresenta clas-
sificações corretas referentes à Constituição Federal brasileira vigente:
a) Constituição rígida e ideológica.
b) Constituição analítica e formal.
c) Constituição garantida e histórica.
d) Constituição finalística e substancial.
e) Constituição dualística e super-rígida.
Capítulo 3
Normas Constitucionais

1. Normas Constitucionais: Introdução e


Peculiaridades

Normas constitucionais são normas jurídicas que são por assim dizer imperativos
categóricos de conduta. As normas jurídicas são mandamentos, prescrições de
como devem ser os comportamentos.
Todas as normas constitucionais são juridicamente obrigatórias. A Constitui-
ção não aconselha, ela impõe; é o caráter imperativo das normas constitucionais.
As normas constitucionais têm um caráter especial na ordem jurídica e possuem
quatro peculiaridades: superioridade hierárquica, linguagem aberta, conteúdo es-
pecífico e caráter político.
Superioridade hierárquica ou supremacia das Normas Constitucionais sig-
nifica que as normas constitucionais estão acima de qualquer outra norma
jurídica. Todas as normas infraconstitucionais devem respeitar as normas cons-
titucionais.
Sob o ponto de vista hierárquico normativo, as normas constitucionais são de
mesma hierarquia, ou seja, sob o ponto de vista do posicionamento no escalão
normativo da ordem jurídica, todas as normas estão no mesmo nível. Linguagem
aberta: não são todas as normas da Constituição que possuem uma linguagem
aberta. Entende-se por linguagem aberta quando o sentido da norma não está
predefinido, mas sim está aberto a constantes evoluções. Dificilmente, você irá
encontrar linguagem aberta em algum código.
Conteúdo Específico: as normas constitucionais têm um conteúdo próprio,
típico. Este conteúdo é o funcionamento dos direitos fundamentais. A Consti-
tuição é a lei que disciplina o funcionamento do poder político, estruturando o
Estado, estruturando os poderes, trazendo os princípios que regem o Estado e
que elenca os direitos fundamentais que são os limites ao próprio poder.
32 Direito Constitucional

Caráter Político: conforme dito, a Constituição é a lei que disciplina o funcio-


namento do poder político e que impõe limites ao exercício do poder político,
então, é natural que normas constitucionais tenham um elevado teor político,
tenham um acentuado caráter político porque elas estão disciplinando um fenô-
meno político.

2. Classificação das Normas Constitucionais:


Conteúdo, Finalidade e Aplicabilidade

Quanto ao Conteúdo: Formal e Material.


Quanto à Finalidade: Organização, Definidora de Direito e Programática.
Quanto à Aplicabilidade: Autoaplicáveis e Não Autoaplicáveis.
No que tange ao conteúdo, analisam-se as normas do ponto de vista formal
e material.
Norma formalmente constitucional é toda e qualquer norma inserida no texto
da Constituição, ou seja, se a norma estiver inserida no texto constitucional então
ela será formalmente constitucional.
Já norma materialmente constitucional é a norma que trata de uma matéria
que é típica de uma Constituição, mesmo que não esteja no texto constitucional.
Matérias que disciplinam o poder e os princípios e direitos fundamentais têm ca-
ráter constitucional, ainda que não estejam inseridas na Constituição.
É possível verificar na Constituição Brasileira que há a existência de normas
formal e materialmente constitucionais, como há normas apenas formalmente
materiais, que estão no texto constitucional, porém, não tratam de um tema
constitucional. Por outro lado, existem normas que definem direitos fundamentais
fora do texto constitucional, mas que tratam de temas constitucionais, sendo
assim apenas materialmente constitucionais.
Normas de organização são as que cuidam da organização do Estado e dos
poderes do Estado. São normas que repartem as competências, que disciplinam,
por exemplo, o funcionamento da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios.
Norma definidora de direito, como o próprio nome diz, define os direitos,
como o previsto nos arts. 5º e 6º da Constituição Federal de 1988.
Normas programáticas são as normas que vinculam um programa de atuação
social do Estado. Estas normas estão diretamente ligadas a direito social, a políti-
cas públicas de efetivação social.
Direito Constitucional 33

Para alcançar a definição se uma norma é autoaplicável ou não autoaplicável,


é preciso verificar se aquela norma necessita ou não de algum complemento. Este
complemento pode ser de ordem administrativa ou legislativa. Diante da necessi-
dade de um complemento, a norma será não autoaplicável.

3. Classificação das Normas Constitucionais:


Aplicabilidade e Eficácia

Segundo José Afonso da Silva, a classificação mais importante no que se refere às


normas constitucionais é quanto à sua aplicabilidade e eficácia.
Eficácia Aplicabilidade
1. Plena Imediata
2. Contida Imediata
3. Limitada Mediata
Enquanto aplicabilidade é a capacidade de utilização da norma, a eficácia é a
capacidade da norma de produzir efeitos. Todas as normas possuem eficácia, ou
seja, produzem efeitos.
A eficácia da norma pode ser dividida em dois planos: eficácia jurídica e efi-
cácia social.
A eficácia jurídica é a eficácia no plano do “dever ser”. É a capacidade que a
norma tem de dizer como deve ser determinada conduta. Toda e qualquer norma
da Constituição tem eficácia jurídica porque todas as normas contidas na Consti-
tuição são obrigatórias e devem ser cumpridas.
Já a eficácia social ou efetividade é a eficácia no plano do “ser”. No plano da
efetividade, não se discute se a norma deve ser respeitada, mas se, na prática, ela
é cumprida, isto porque todas as normas têm eficácia jurídica, mas nem todas as
normas têm eficácia social.
Conforme visto anteriormente, as normas constitucionais são divididas quan-
to à sua aplicabilidade, sendo autoaplicáveis ou não autoaplicáveis. Dentre as
normas autoaplicáveis, há uma subdivisão entre: restringíveis e não restringíveis,
senão vejamos:
Eficácia Aplicabilidade
1. Norma Autoaplicável Não Restringível 1. Plena Imediata
2. Norma Autoaplicável Restringível 2. Contida Imediata
3. Norma Não Autoaplicável 3. Limitada Mediata
34 Direito Constitucional

As normas de eficácia plena (1) e de eficácia contida (2) têm como elemento
comum a autoaplicabilidade, pelo fato de não dependerem de complemento. E
tem como ponto diferenciador, a possibilidade de sofrerem restrições, visto que as
normas de eficácia plena (1) não sofrem restrição, enquanto as normas de eficácia
contida (2) podem sofrer restrições.
Já as normas de eficácia limitada (3) e aplicabilidade mediata são normas não
autoaplicáveis, ou seja, dependem de algum tipo de complemento e, enquanto
não surgir este complemento, ela não será eficaz.

4. Classificação das Normas Constitucionais:


Eficácia

Norma de Eficácia Limitada: o art. 5º, XII, CF/1988 prescreve:


“É inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de
dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial,
nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal
ou instrução processual penal.”
Observe que a segunda parte do artigo apresenta uma ressalva à inviolabili-
dade, permitindo o acesso a essas informações desde que por ordem judicial e
nas formas da lei.
As normas de eficácia contida, também são denominadas pela doutrina de
normas de eficácia contível. O que caracteriza a norma de eficácia contida é a
possibilidade de sofrer restrições e, enquanto não sofrer restrições, a norma não
tem contenção nenhuma. Portanto, a norma pode ser contível porque ainda não
está contida.
Enquanto não há contenção ou restrição, a norma de eficácia contida funcio-
na como se fosse de eficácia plena.
Normas de Eficácia Limitada são aquelas que dependem de complementação
e estas se subdividem em: Normas de Princípio Programático e Normas de
Princípio Institutivo.
Norma de Princípio Programático veiculam direitos sociais. Está atrelada à cria-
ção e à organização de instituições e de órgãos.
Se a norma não estiver relacionada a direitos sociais então será Norma de
Princípio Institutivo.
Norma de Aplicabilidade Imediata: expressa o art. 5º, § 1º, da CF/1988, que
as normas que definem direitos e garantias fundamentais, possuem aplicação
imediata.
Direito Constitucional 35

Exercício
15. O dispositivo constitucional que afirma que “ninguém será obrigado a fazer
ou deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude de lei” é uma norma
constitucional de eficácia contida?
Capítulo 4
Reforma da Constituição

1. Poder Constituinte: Considerações Gerais

O poder constituinte está sistematizado com o ordenamento constitucional, po-


dendo ser estudado por meio de premissas objetivas e também pela perspectiva
subjetiva, ou seja, a manifestação histórica do poder constituinte.
Representa o poder constituinte a expressão da vontade de um povo o qual
cria normas constitucionais, e também as reforma.
A doutrina do poder constituinte foi pensada originariamente por Emmanuel
Joseph Sieyès, na obra O que é o terceiro Estado. Defendia na época que havia
uma divisão no ordenamento francês. Sieyès enxergou a existência de um terceiro
Estado, sendo representado pelo povo que era maioria da população. O povo
teria o poder de se autorregulamentar e de se autogerir. Na época, o povo era a
burguesia, isto é, profissionais liberais e artesãos, que faziam parte da população
que trabalhava para sustentar o Primeiro e o Segundo Estado.
Sieyès defendeu que o Terceiro Estado deveria ter o direito de se autorregula-
mentar pelo poder de elaborar uma norma constitucional, uma lei fundamental.
Por ser jusnaturalista, Sieyés sustentava limitações no exercício do Poder Cons-
tituinte, inclusive de cunho divino, porque ele era membro do clero. Atualmente,
a doutrina divide o poder constituinte em duas espécies: o originário e o derivado,
sendo o derivado dividido em reformador e decorrente.
O poder constituinte originário funda um novo estado mediante novo texto
constitucional que vai nortear as relações sociopolíticas, ideológicas de um país.
O poder constituinte derivado só existe por causa da preexistência do poder cons-
tituinte originário.
Direito Constitucional 37

Exercício
16. (FCC – 2012 – TRT 18ª Região – Juiz do Trabalho) A doutrina do poder cons-
tituinte foi elaborada na obra:
a) O Espírito das Leis, de Montesquieu.
b) O contrato social, de Jean Jacques Rousseau.
c) Leviatã, de Tomas Hobbes.
d) O que é o terceiro Estado?, de Emmanuel Joseph Sieyès.
e) Segundo Tratado sobre o Governo Civil, de John Locke.

2. Poder Constituinte Originário: Características


e Espécies

Independentemente da posição de Sieyès, a doutrina, em geral, afirma que o


poder constituinte originário é o poder de criar uma nova constituição.
Suas características são:
a) inicial: não há nenhum outro poder antes ou acima do poder constituinte
originário. Ele inicia todo o ordenamento jurídico, inaugurando a nova ordem
jurídica, rompendo com a ordem anterior;
b) autônomo: cabe apenas ao poder constituinte originário escolher a ideia de
direito que prevalecerá na Constituição;
c) incondicionado: o poder constituinte originário não está submetido a
nenhum tipo de condição formal ou material (não tem nenhuma espécie de
limitação).
Alguns doutrinadores incluem a permanência como outra característica do
poder constituinte originário, porque, além de criar uma nova constituição, conti-
nua vigendo enquanto ela estiver em vigor, pois acompanha o movimento cons-
titucional.
As espécies do poder constituinte são:
a) Poder Constituinte Histórico: trata-se do poder responsável por elaborar a
primeira Constituição do Estado;
b) Poder Constituinte Revolucionário: é aquele que surge a partir de um golpe
de estado ou de uma insurreição contra a ordem vigente;
c) Poder Constituinte Transicional: é aquele que decorre do decurso do tempo,
ocasionando mudança decorrente, pois surge em razão de uma transição natural,
independente de golpes políticos e revoluções.
38 Direito Constitucional

Exercício
17. (UFPR – 2013 – TJ/PR – Juiz) Quais são as características fundamentais do
poder constituinte originário?
a) Inicial, limitado e incondicionado.
b) Inicial, ilimitado e condicionado.
c) inicial, ilimitado e incondicionado.
d) derivado, limitado e condicionado.

3. Poder Constituinte Originário: Limites

Os limites materiais do poder constituinte originário são:


a) limites transcendentes: nascem do direito natural, dos valores éticos e da
consciência jurídica coletiva. Teria uma limitação aos valores morais, para não
buscar somente a segurança jurídica;
b) limites imanentes: são limitações ligadas à própria configuração do Estado,
à própria identidade do Estado. Não pode desconsiderar que o Estado já existia
antes do poder constituinte originário;
c) limites heterônomos: são aqueles que advêm de outros ordenamentos ju-
rídicos, principalmente do direito internacional. Hoje algumas regras de direito
internacional são fortes limitações à soberania interna do Estado. Tem uma total
relativização dos conceitos de soberania.
Mesmo tendo como uma de suas principais características a ausência de limi-
tação, há na doutrina quem contrarie isso e estabeleça limites ao poder consti-
tuinte originário nos planos moral, ideológico e internacional.

Exercício
18. (PC/MG – 2008 – Delegado de Polícia) Com base na Teoria Geral do Poder
Constituinte, podemos entender como poder institucionalizado:
a) Todo poder imposto a um grupo de indivíduos sem que se possa distin-
guir efetivamente quem o exerce.
b) Todo poder individualizado que motiva os distintos regimes políticos.
c) Todo poder que consiste em uma operação jurídica que nasce de deter-
minado fato ou fenômeno social.
d) Todo poder que emana do povo e em seu nome deve ser exercido.
Direito Constitucional 39

4. Poder Constituinte Derivado Reformador:


Características

O conceito de poder constituinte derivado reformador é o poder de alterar ou


reformar uma constituição. Suas características são:
a) derivado: deriva e nasce a partir do poder constituinte originário. Visa ade-
quar o texto constitucional à modernidade, pois não é um poder imutável, caso
não esteja diante de uma limitação de conteúdo;
b) limitado: existem limitações de ordem material, temporal, circunstancial,
explícitas e implícitas. Se não tiver essa limitação, haveria, em tese, um poder de
reforma irrestrita;
c) condicionado: deve respeitar as formalidades traçadas pela Constituição
Federal. O condicionamento diz respeito ao procedimento de alteração da Cons-
tituição, pois não pode alterá-la da maneira que bem entender.

Exercício
19. (EBSERH – 2013 – Advogado – IBFC) Assinale a alternativa incorreta:
a) Sobre as características do Poder Constituinte Originário, pode-se dizer
que ele é inicial, autônomo, limitado juridicamente, incondicionado e
soberano na tomada de suas decisões.
b) A manifestação do Poder Constituinte Reformador verifica-se através
das emendas constitucionais.
c) O Poder Constituinte derivado reformador é aquele que instaura uma
nova ordem jurídica, rompendo por completo com a ordem jurídica
precedente.
d) O Poder Constituinte derivado decorrente tem por missão estruturar a
Constituição dos Estados-membros.

5. Poder Constituinte Reformador: Limitações

As limitações ao Poder Constituinte Reformador estão dispostas no art. 60 da


Constituição Federal, sendo elas:
a) limitações temporais: visam impedir a modificação da Constituição dentro
de um determinado período de tempo, para que haja maior estabilidade do texto
constitucional;
40 Direito Constitucional

b) limitações circunstanciais: impedem a modificação da Constituição em de-


terminadas circunstâncias excepcionais, de extrema gravidade (intervenção fede-
ral, estado de defesa e estado de sítio – art. 60, § 1º, da CF);
c) limitações formais: podem ser subjetivas, se relacionadas ao sujeito que
iniciará o processo de emenda à Constituição; ou objetivas, que são limitações
ligadas ao procedimento para ser discutida e aprovada uma PEC. Quanto às limi-
tações formais subjetivas do Poder Constituinte Reformador, há que se lembrar
que não existe previsão expressa de proposta de emenda à Constituição por ini-
ciativa popular;
d) limitações materiais: impedem a alteração de determinados conteúdos con-
sagrados na Constituição Federal, chamados de cláusulas pétreas, cujo objetivo
fundamental é resguardar metas a longo prazo, pensar no futuro, para que as
pessoas não atuem somente em relação aos interesses do presente.

Exercício
20. (Funcab – 2013 – PC/ES – Escrivão de Polícia) Quanto à Constituição da Re-
pública Federativa do Brasil de 1988, pode-se afirmar:
I – Adota o princípio da hierarquia das normas, assim as leis federais têm
maior valor que as leis estaduais e estas maior valor que as leis municipais.
II – É rígida, motivo pelo qual não pode ser alterada.
III – Caso haja aprovação em plebiscito, poderá ser objeto de deliberação de
proposta de emenda tendente a abolir a forma federativa de Estado.
IV – Toda modificação constitucional, feita com desrespeito do procedimen-
to especial estabelecido ou de preceito que não possa ser objeto de emenda,
padecerá de vício de inconstitucionalidade.
Está correto o que se afirma em:
a) I, II, III e IV.
b) II e III, apenas.
c) I e IV, apenas.
d) I, apenas.
e) IV, apenas.

6. Emenda Constitucional

Não se prevê a iniciativa popular para alterar a CF via emenda constitucional. Ao


povo, a CF prevê tão somente a possibilidade de apresentação de projeto de lei
Direito Constitucional 41

por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por
cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada
um deles (art. 61, § 2º, da CF).
A CF não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, estado de
defesa ou estado de sitio.
O procedimento para alterar a CF está disposto no § 2º do art. 60. A proposta
será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos,
considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos res-
pectivos membros.
A emenda será promulgada pelas mesas da Câmara e do Senado, em sessão
conjunta, com o respectivo número de ordem. Não será objeto de deliberação a
proposta que abolir a forma federativa de Estado, voto direto, secreto, universal e
periódico, a separação dos poderes e aos direitos e garantias individuais.

Exercício
21. (FCC – 2013 – TRT 6 – Juiz do Trabalho) Em fevereiro de 2013, foi apre-
sentada Proposta de PEC à Câmara dos Deputados, objetivando modificar
“forma e os requisitos de investidura dos Ministros do STF”. Do relatório de
conferência de assinaturas, extraiu-se que referida PEC foi subscrita por 166
dos 513 Deputados Federais. Nessa hipótese, a PEC em questão:
a) Não atende à exigência constitucional relativa à apresentação de pro-
postas de emenda à Constituição por iniciativa de membros das Casas
do Congresso Nacional.
b) Possui vício de iniciativa, vez que a matéria relativa à organização do
Poder Judiciário é de iniciativa exclusiva dos órgãos daquele Poder e,
nesse caso específico, do STF.
c) Deveria iniciar seu trâmite pelo Senado Federal, uma vez que apenas
propostas de iniciativa do Presidente da República, do Supremo Tribunal
Federal e dos Tribunais Superiores têm início na Câmara dos Deputados.
d) Versa sobre matéria vedada à atuação do poder de reforma constitucio-
nal, por implicar ofensa ao princípio da separação de poderes.

7. Cláusulas Pétreas

Há três finalidades das cláusulas pétreas: a) preservar a identidade da CF; b) proteger


os princípios e institutos essenciais; e c) dar continuidade ao processo democrático.
42 Direito Constitucional

A essência está no fato de não poderem ser suprimidas ou reduzidas pela von-
tade do legislador, o que não significa que não possam ter seu alcance expandido.
Há proteção quanto às matérias, não podendo ser minimizadas, assegurando
a continuidade do processo democrático, pois não se trata de impor direitos a
gerações futuras, mas de manter direitos para a própria estabilidade do regime
democrático.
A Teoria da Dupla Revisão dispõe que há cláusulas implícitas e explícitas e defen-
de que seria possível alterar uma cláusula pétrea desde que fizesse duas alterações:
retirar o dispositivo previsto como cláusula pétrea e depois por outra EC instituir
outro dispositivo contrário. Porém, a doutrina majoritária não adota esta teoria.

Exercício
22. (MP/PR – 2013 – Promotor Substituto) Assinale a incorreta:
a) A matéria de proposta de EC rejeitada ou havida por prejudicada não
pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa.
b) A CF poderá ser emendada mediante proposta de mais da metade das
Assembleias Legislativas da Federação, manifestando-se, cada uma de-
las, pela maioria relativa de seus membros.
c) A proposta de EC será discutida e votada em cada Casa do Congresso
Nacional, em 2 turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em am-
bos, três quintos dos votos dos respectivos membros.
d) Sem que se possa rotular de interferência do Judiciário sobre a ativida-
de legislativa, é doutrinariamente admissível o controle jurisdicional da
observância de restrições que o constituinte originário impôs ao poder
constituído, no tocante à EC.
e) Ressalvadas as expressas vedações constitucionais, que proíbem a deli-
beração sobre propostas de EC que objetivem abolir a forma federativa
do Estado, o voto direto, secreto, universal e periódico, a separação de
poderes e os direitos e garantias individuais, todos os demais pontos da
CF podem ser emendados

8. Poder Constituinte Derivado Decorrente

As suas características são:


a) derivado: ele deriva, advém do poder constituinte originário (art. 11 do
ADCT);
Direito Constitucional 43

b) limitado: existem limitações de ordem material, temporal, circunstancial,


explícitas e implícitas;
c) condicionado: deve respeitar as formalidades traçadas pela Constituição
Federal.
Não há que se falar de poder constituinte no âmbito nos Municípios, pois eles
regem-se pela chamada Lei Orgânica, assim como o Distrito Federal (art. 32 da
CF), diferentemente dos Estados e da União.
Alguns doutrinadores defendem que a Lei Orgânica teria natureza jurídica
de Constituição Distrital, porque ora sofre influências da União ora dos Estados.
Nessa questão de regulação, o constituinte optou por equiparar o Distrito
Federal aos Municípios e não aos Estados, portanto, não possui Constituição,
mas Lei Orgânica.
No âmbito do Distrito Federal, a Lei Orgânica retira seu fundamento de va-
lidade diretamente da CF, o que traz o entendimento de ser possível que a Lei
Orgânica do Distrito Federal seja parâmetro de controle de constitucionalidade
no âmbito do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (art. 30 da Lei nº
9.868/99 e art. 8º, I, “n”, da Lei nº 11.697/2008).

Exercício
23. (Cespe – 2013 – TRT 10 – Técnico Judiciário) Julgue o item seguinte, relativo
à organização político-administrativa e à administração pública, consideran-
do o disposto na CF e a interpretação doutrinária sobre a matéria:
“O poder constituinte estadual classifica-se como decorrente, em virtude de
consistir em uma criação do poder constituinte originário, não gozando
de soberania, mas de autonomia.” Certa ou Errada?

9. Poder Constituinte Decorrente: Limitações

O poder decorrente é o poder constituinte dos Estados, de elaborarem sua pró-


pria Constituição, e tem como fundamento direto o art. 25, caput, da CF, e o art.
11 do ADCT.
São limitações ao poder constituinte decorrente:
a) princípios constitucionais sensíveis: previstos no art. 34, VII, da CF. O enten-
dimento da doutrina é de que seriam exemplos de cláusulas pétreas implícitas;
b) princípios constitucionais extensíveis: aqueles previstos para a União (nor-
mas de observância obrigatória) e extensíveis aos estados, podendo estar ex-
44 Direito Constitucional

pressos (por exemplo: arts. 28 e 75 da CF) ou implícitos. Tais normas gozam


de determinada importância e devem ser repetidas no âmbito das Constituições
Estaduais, expressa ou implicitamente. Como exemplo de princípios constitucio-
nais extensivos explícitos, são as normas estabelecidas nos arts. 70 e 74 da CF,
as quais, segundo o art. 75, devem ser transpostas ao âmbito estadual. E como
exemplo de princípios constitucionais implícitos é o art. 58, § 3º, da CF;
c) princípios constitucionais estabelecidos: são aqueles que trazem regras ve-
datórias (ex.: art. 19 da CF) e mandatórias (ex.: art. 37 da CF), e que defluem do
sistema constitucional adotado (ex.: respeito recíproco entre os entes da Federa-
ção, graças ao sistema federativo adotado). Serão expressos, por exemplo, nas
normas do art. 37 da CF; e implícitos os do art. 22 da CF.

Exercício
24. (TRE/PE – Analista Judiciário – 2011 – FCC) O Poder Constituinte derivado
decorrente consiste:
a) No estabelecimento da primeira Constituição de um país.
b) Na possibilidade de alterar-se o texto constitucional do país, respeitando-
-se a regulamentação especial prevista na própria Constituição Federal.
c) Na possibilidade dos Estados-membros de se auto-organizarem através
de suas Constituições Estaduais próprias, respeitando as regras limitati-
vas da Constituição Federal.
d) No estabelecimento de uma Constituição posterior de um velho país.
e) No fato de não estar sujeito a qualquer forma prefixada para manifestar
a sua vontade.

10. Poder Constituinte no Âmbito dos Municípios

Os Municípios e o Distrito Federal (segundo a maioria da doutrina) não possuem


poder constituinte. Tais entes federativos regulam-se por Lei Orgânica.
O Poder Constituinte Originário é o de 1º grau, enquanto o derivado, de 2º
grau. Indaga-se se haveria o Poder Constituinte de 3º grau, relacionado aos mu-
nicípios e ao Distrito Federal.
Assim como as Constituições Estaduais devem respeitar a Constituição Fede-
ral, as Leis Orgânicas dos municípios, embora não sejam caracterizadas como Po-
der Constituinte, devem respeito aos princípios contidos na Constituição Federal
e nas Constituições Estaduais.
Direito Constitucional 45

Parcela da doutrina defende nosso federalismo como assimétrico, pois há en-


tes federativos sem qualquer grau de vinculação, pois são autônomos, porém,
com ampla gama de poderes atribuídos à União, alguns para os Estados e ape-
nas uma pequena parcela atribuída aos Municípios, o que na prática torna os
municípios enfraquecidos na estrutura. Contudo, é pacífico que os municípios,
ainda que com pequena parcela de autonomia, são componentes da estrutura
federativa.

Exercício
25. (TJ/CE – Titular de serviços de notas e registros – 2011 – Ieses) Leia atenta-
mente as proposições abaixo e assinale a que se apresentar correta:
a) O Poder Constituinte Inicial, por romper completamente com a ordem
jurídica anterior, é ilimitado absoluto e arbitrário.
b) Acerca da história do constitucionalismo, é correto afirmar que Karl
Loewenstein identificou indícios do seu surgimento entre os hebreus
durante a Antiguidade, por ter lá encontrado certas limitações ao Poder
Político, mormente aquelas que asseguravam aos profetas a legitimida-
de para fiscalizar os atos governamentais que extrapolassem os limites
bíblicos.
c) A elaboração da Lei Orgânica, pelo Município, pode ser considerada
manifestação do poder constituinte decorrente, também conferido aos
Estados-membros da Federação.
d) O sistema constitucional vigente criou a figura do poder constituinte
derivado revisor, cuja manifestação, prevista no art. 3º, do ADCT, deve
ocorrer a cada dez anos, visando manter atual o texto da Constituição.

11. Revisão Constitucional

Trata-se do procedimento para revisão constitucional, previsto no art. 3º do ADCT.


Tal dispositivo prevê a revisão da Constituição após 5 anos de sua promulgação,
mediante votação da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional em
sessão única. O art. 3º do ADCT é norma de eficácia exaurida, com finalidade
meramente histórica no ordenamento, não podendo ser objeto de Emenda Cons-
titucional nova revisão. Há, na doutrina, quem diga que há uma terceira espécie,
de Poder Constituinte Derivado Revisor.
46 Direito Constitucional

Exercício
26. (TRT/3ª Região – Juiz – 2012 – TRT/3ª Região) Assinale a opção correta, após
a análise das afirmativas abaixo:
I – A manifestação do Poder Constituinte Reformador verifica-se por meio
das emendas constitucionais. Não será objeto de deliberação a proposta de
emenda tendente a abolir: a forma federativa de Estado, o voto direto, se-
creto, universal e periódico, a separação dos Poderes e os direitos e garantias
individuais.
II – A proposta de emenda constitucional rejeitada ou havida por prejudicada
não pode ser objeto de nova proposta de emenda.
III – A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: de um terço,
no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal,
do Presidente da República, de mais da metade das Assembleias Legislativas
das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria
absoluta de seus membros.
IV – A revisão constitucional deve ser votada pela maioria absoluta do Con-
gresso Nacional e esta revisão não pode versar sobre: a forma federativa de
Estado, o voto direto, secreto, universal e periódico, a separação dos Poderes
e os direitos e garantias individuais, também não pode substituir integral-
mente a Constituição, não pode dizer respeito a mais de um dispositivo, a
não ser que tratem de modificações correlatas e também não pode contra-
riar a forma republicana de Estado e o sistema presidencialista de governo.
Assinale a opção correta, após a análise das afirmativas abaixo:
a) Somente as afirmativas I e II estão corretas.
b) Somente as afirmativas II e III estão corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV estão corretas.
d) Somente as afirmativas I e IV estão corretas.
Capítulo 5
Direitos e Garantias
Fundamentais

1. Art. 5º, I
Verifica-se do art. 5º, caput, da CF, a importância dada pelo constituinte à igual-
dade, corolário do previsto inciso I do citado artigo, de que homens e mulheres
são iguais em direitos e obrigações.
Não há que se falar apenas em igualdade formal, mas também em igualdade
substancial. A igualdade formal consiste em tratar os iguais de maneira igual e a
igualdade substancial consiste em tratar os desiguais de maneira desigual.
Os direitos fundamentais fazem parte de uma relação verticalizada, são atri-
buídos pelo Estado aos indivíduos que se utilizam destes direitos, inclusive para se
proteger do Estado. Na década de 1950, se passou a falar na eficácia horizontal
dos direitos fundamentais, ou seja, a relação dos direitos fundamentais entre par-
ticulares. Recentemente, fala-se na eficácia diagonal dos direitos fundamentais,
pois até na relação entre particulares há desigualdade, e havendo uma equipara-
ção dos direitos fundamentais as partes se igualariam. Exemplos de aplicação da
eficácia diagonal dos direitos fundamentais podem ser vistos no âmbito do direito
laboral e do consumidor, resguardando a igualdade no seu aspecto substancial ao
tratar desigualmente os desiguais.
É possível que a legislação infraconstitucional trate sobre a igualdade de
gêneros, ou estabelecer diferenças aos gêneros, desde que respeite a CF.

Exercício
27. (Telebras – Nível Superior – 2013 – Cespe) Acerca dos princípios fundamen-
tais e dos direitos e garantias fundamentais previstos na Constituição Federal
de 1988, julgue o item seguinte:
“A proteção do mercado de trabalho da mulher por meio de incentivos es-
pecíficos a serem estabelecidos em lei constitui exceção à regra constitucio-
48 Direito Constitucional

nal que estabelece a igualdade entre homens e mulheres, sendo reconhecida


pela doutrina como norma de eficácia contida.”

2. Art. 5º, II, III e IV

Inciso II – Consagra-se neste inciso o princípio da legalidade, pela ótica do parti-


cular ou da administração pública. No âmbito da administração pública, analisa-
-se pelo princípio da supremacia do interesse público sobre o privado, ou pelo
princípio da indisponibilidade do direito público em relação ao interesse privado.
A liberdade no âmbito da administração pública deve estar dentro da lei, e dentro
da Constituição, segundo a doutrina administrativista mais contemporânea. A
legalidade no âmbito do particular é vista sob o princípio da autonomia privada,
pelo qual é possível agir desde que lei não imponha vedações.
Inciso III – Não é permitida, em hipótese alguma, a tortura (Lei nº 9.455/1997).
Quanto ao tratamento degradante ou desumano, fere o direito a viver, que en-
globa o direito de viver com dignidade. A dignidade da pessoa humana possui
caráter superior aos princípios, já que todos os outros devem seguir em conso-
nância com este.
Inciso IV – A liberdade de pensamento em si é incontrolável, porém, sua exte-
riorização é tutelada pelo Estado.

Exercício
28. (Polícia Federal – Escrivão da Polícia Federal – 2013 – Cespe) A respeito dos
direitos e garantias fundamentais, julgue o seguinte item, de acordo com as
disposições da Constituição Federal de 1988 (CF):
“Considere que a Polícia Federal tenha recebido denúncia anônima a res-
peito de suposta prática delituosa inserida em seu âmbito de investigação.
Nessa situação, o órgão não poderá investigar, visto que a CF veda expressa-
mente o anonimato e a consequente deflagração da persecução penal com
fundamento na referida denúncia anônima.”

3. Art. 5º, V, VI, VII e VIII

Inciso V – A tutela estatal indenizatória, compensatória, dá-se quando a liberdade


de manifestação violar direitos de outrem, além de assegurar o direito de respos-
ta, pelos mesmos veículos em que se deu a lesão ou agravo.
Direito Constitucional 49

Inciso VI – A liberdade de culto é apenas a forma de exteriorização da liber-


dade de crença. A liberdade de crença e liberdade de culto não são relacionadas
com a liberdade de seita, pois qualquer manifestação que se revele atentatória à
liberdade da pessoa humana ou ao meio ambiente é vedada. A doutrina costuma
apontar como seita qualquer hipótese em que haja fundamentalismo, extremis-
mo ou afronta à dignidade da pessoa humana. O Estado brasileiro é laico e não
laicista, pois deve respeitar as religiões bem como a ausência de religião. O laicis-
mo é o desprezo, a manifestação de intolerância a alguma religião.
Inciso VII – Exemplo é o serviço de capelania no exército.
Inciso VIII – O art. 15 da CF traz a possibilidade da perda dos direitos políticos. A
doutrina diverge se seria perda ou suspensão dos direitos políticos. Se constitucional,
compreende-se como perda dos direitos políticos e, se eleitoral, como suspensão.

Exercício
29. (TCE/AP – Técnico de Controle Externo – 2012 – FCC) Em relação á liberdade
de crença, estabelece a Constituição que:
a) O Estado brasileiro, por ser laico, não pode prestar assistência religiosa
em entidades de internação coletiva.
b) Uma pessoa perderá o direito caso alegue motivo de crença religiosa
para se livrar do cumprimento de obrigação a todos imposta e se opo-
nha a cumprir prestação alternativa.
c) A garantia do livre exercício dos cultos religiosos não abrange a prote-
ção do estrangeiro por motivos de segurança nacional.
d) As igrejas, para professarem seus cultos, dependem de autorização ad-
ministrativa, a qual será negada a instituições que utilizam a prática de
curandeirismo.
e) As igrejas, para serem proprietárias de bens imóveis, devem adquirir
personalidade jurídica que as equipare às fundações.

4. Art. 5º, IX, X e XI

Inciso IX – Esse dispositivo principiológico consagra a liberdade de expressão, de


forma ampla. Visa a proteção de manifestações artísticas, a proteção de mani-
festações políticas ou científicas. Não se obsta, contudo, que se possa analisar
a possibilidade de ferimento a direito material ou moral. Portanto, a tutela da
liberdade de expressão encontra limitação na tutela indenizatória.
50 Direito Constitucional

Inciso X – Segundo o Enunciado nº 531 da 6ª Jornada de Direito Civil do CJF,


a tutela da dignidade da pessoa humana na sociedade da informação inclui o
direito ao esquecimento. O direito ao esquecimento também deve ser ressalvado
em relação à honra e à dignidade do indivíduo.
A Teoria das Esferas, ou dos círculos concêntricos, com raiz no direito alemão,
defende o grau de intervenção estatal, sendo que quanto menor a esfera menos
públicas são as informações (da maior para a menor – publicidade, privacidade e
intimidade).

Exercício
30. (TRT/CE – Técnico Judiciário – 2012 – FCC) Roberto, artista plástico, retratou
em quadro a realidade de determinada comunidade carente do país. Segun-
do a Constituição Federal, Roberto poderá exibir sua obra de arte:
a) Mediante prévia autorização do poder judiciário de onde estiver locali-
zada a comunidade retratada.
b) Mediante prévio preenchimento de requerimento de inscrição de exibi-
ção no cadastro nacional de obras de arte.
c) Mediante prévia autorização do Poder Executivo de onde estiver locali-
zada a comunidade retratada.
d) Mediante prévia autorização do Poder Legislativo de onde estiver loca-
lizada a comunidade retratada.
e) Independentemente de censura e de licença da autoridade pública.

5. Art. 5º, XI

Inciso XI – A casa, por ser asilo inviolável do indivíduo, tem conceito doutrinário
amplo, pois quanto maior for sua amplitude de possibilidades, maior sua prote-
ção. O escritório de advocacia, o consultório de médico, por exemplo, nas partes
em que não forem abertos ao público, também são considerados casa. O con-
ceito de casa é para todo local que tenha caráter de descanso, de refúgio e asilo.
A proteção da casa é regra, mas existem exceções, como em situações de
desastre, prestação de socorro, flagrante delito ou determinação judicial. Entre-
tanto, na hipótese de ordem judicial, para que se possa adentrar a casa deve
ocorrer no período diurno. Os critérios para definição do que seria esse período
podem ser: cronológico (das 06:00 às 18:00); físico-astronômico auferido mete-
reologicamente (da aurora ou nascer do sol até o crepúsculo ou pôr do sol); misto
(visa conciliar os dois critérios anteriores, das 06:00 desde que o sol já tenha nas-
Direito Constitucional 51

cido e até 18:00, salvo se o sol já tiver se posto). Há decisões escassas com relação
aos critérios e a doutrina é divergente.

Exercício
31. (OAB – Exame de Ordem Unificado – 2012 – FGV) A Constituição assegura,
entre os direitos e garantias individuais, a inviolabilidade de domicílio, afir-
mando que “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo
penetrar sem o consentimento do morador” (Art. 5º, XI, da CRFB). A esse
respeito, assinale a alternativa correta:
a) O conceito de casa é abrangente e inclui quarto de hotel.
b) O conceito de casa é abrangente, mas não inclui escritório de advocacia.
c) A prisão em flagrante durante o dia é um limite a essa garantia, mas
apenas quando houver mandado judicial.
d) A prisão em quarto de hotel obedecendo a mandado judicial pode se
dar no período noturno.

6. Art. 5º, XII

O inciso XII do art. 5º da CF traz a inviolabilidade do sigilo da correspondência,


das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas.
Não se pode falar em direito absoluto nem no que diz respeito à intimidade,
privacidade, pois pode ser relativizado.
A Constituição Federal autoriza a relativização deste direito por ordem judicial,
nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal
ou instrução processual penal; determinou que a legislação infraconstitucional
deveria definir as hipóteses de exceção. A Lei nº 9.296/96 disciplina a quebra do
sigilo telefônico e telemático.
A interceptação telefônica dá-se pelo rastreamento da ligação entre dois in-
terlocutores que não sabem de sua ocorrência. A escuta telefônica ocorre entre
dois interlocutores sendo que um deles possui consciência. A mera gravação tele-
fônica, também chamada pela doutrina de gravação clandestina, ocorre quando
um interlocutor grava o outro.
A interceptação pode ser ambiental, por meio de escutas instaladas no meio
ambiente.
A escuta ambiental ocorre quando uma das pessoas presentes sabe da escuta.
Existe, ainda, a gravação ambiental, que ocorre quando uma pessoa presente
efetua a gravação do meio ambiente.
52 Direito Constitucional

O STF e o STJ, de maneira uníssona, vêm decidindo no sentido de que so-


mente os casos de interceptação telefônica e escuta telefônica são protegidos na
forma da Lei nº 9.296/1996.

Exercício
32. (MP/SP) Promotor de Justiça – 2010 – Assinale a alternativa correta em rela-
ção à interceptação de comunicações telefônicas:
a) Não será admitida se a prova puder ser feita por outros meios disponíveis.
b) Pode ser deferida para a investigação de infrações penais púnicas com,
no máximo, detenção.
c) Deve ser concluída no prazo de 10 (dez) dias prorrogável por igual
período.
d) Somente é admitida no curso de uma investigação criminal.

7. Art. 5º, XIII

O inciso XIII é classificado como norma constitucional de eficácia contida, se-


gundo a classificação de José Afonso da Silva. As normas de eficácia contida
têm aplicabilidade direta e imediata, entretanto, sua aplicabilidade não é integral,
exatamente porque se permite que a legislação infraconstitucional ou mesmo
outro dispositivo constitucional, reduza o âmbito de sua abrangência ou eficácia.
A liberdade de trabalho trazida pelo inciso XII da Constituição deve estar den-
tro da legalidade. É perfeitamente possível que, dentro deste cenário, a lei esta-
beleça restrições ou qualificações específicas. Por exemplo, para que se exerça
a profissão de advogado, o bacharel em direito deve ser aprovado no exame da
OAB. No julgamento do Recurso Extraordinário nº 603/583, o STF declarou a
constitucionalidade do exame da OAB.

Exercício
33. (TRT – Técnico Judiciário) Considere as seguintes normas constitucionais e
identifique quais são normas de eficácia limitada e quais são normas de
eficácia contida.
I – A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política,
social e cultural dos povos da América Latina, visando a formação de uma
comunidade latino-americana de nações.
II – A casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém podendo nela penetrar
Direito Constitucional 53

sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desas-


tre, para prestar socorro ou durante o dia, por determinação judicial.
III – É direito dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visam
a melhoria de sua condição social, o piso salarial proporcional à extensão e
complexidade do trabalho.
IV – É livre o exercício de qualquer trabalho ofício ou profissão, atendidas as
qualificações que a lei estabelecer.

8. Art. 5º, XIV, XV, XVI, XVII e XVIII


“XIV – é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da
fonte, quando necessário ao exercício profissional;”
Este inciso consagra o direito de informação; envolve o direito de informar e
de ser informado, bem como o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício
profissional.
“XV – é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo
qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com
seus bens;”
É possível restringir a locomoção em algumas situações, relativizando o
dispositivo: prisões, estado de defesa e estado de sítio. Estão expostas no art.
136, § 3º, I, relativizações da locomoção em território nacional.
“XVI – todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao
público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reu-
nião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio
aviso à autoridade competente;”
Esse dispositivo consagra a liberdade de reunião, distinguida da liberdade de
associação, pelo caráter da duração que se dá à união, já que a associação é algo
duradouro.
A reunião deve ser pacífica, independe de autorização, porém, não significa
que não deva haver prévio aviso à autoridade competente, a fim de garantir
outros direitos.
“XVII – é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter
paramilitar;”
“XVIII – a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas indepen-
dem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento.”

Exercício
34. (OAB – Exame de Ordem Unificado) – A Constituição declara que todos podem
54 Direito Constitucional

reunir-se em local aberto ao público. Algumas condições para que as reuniões


se realizem são as apresentadas nas alternativas a seguir, a exceção de uma:
a) Os participantes não podem portar armas.
b) A reunião seja autorizada pela autoridade competente.
c) A reunião não pode frustrar outra reunião anteriormente colocada para
o mesmo local.
d) Os participantes devem reunir-se pacificamente.

9. Art. 5º, XIX, XX, XXI, XXII e XXIII

As associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades


suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado.
É vedada a existência de associações de caráter paramilitar, ou seja, paralela
às instituições militares.
Ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado.
As entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimida-
de para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente.
O inciso XXII do art. 5º garante o direito de propriedade.
O direito de propriedade não é um direito autônomo e ilimitado. Só há direito
de propriedade se houver função social da propriedade, função promocional do
direito. A função social não deve ser observada exclusivamente como direito pri-
vado, não se trata de exceção ao direito de propriedade, mas faz parte da regra
do direito de propriedade.
O ordenamento jurídico traz parâmetros tanto para caracterização da função
social, quanto da propriedade urbana (art. 182, § 2º) quanto da rural (art. 186).

Exercício
35. (FCC – TRT-6ª Região – 2013 – Juiz do trabalho) A Constituição da República
prevê, como mecanismo atrelado ao cumprimento da função social da pro-
priedade, a:
a) Impossibilidade absoluta de desapropriação da pequena e média pro-
priedade rural, para fins de reforma agrária.
b) Desapropriação para fins de reforma agrária, mediante indenização em
títulos da dívida pública, de glebas em que localizadas culturas ilegais
de plantas psicotrópicas.
c) Instituição de imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana
Direito Constitucional 55

progressivo no tempo, sucessivamente a parcelamento ou edificação


compulsórios.
d) Usucapião de área urbana de até cinquenta hectares, por quem a pos-
sua, ininterruptamente e sem oposição, por cinco anos.
e) Requisição de propriedade particular, assegurada ao proprietário inde-
nização ulterior, se houver dano.

10. Art. 5º, XXIV, XXV, XXVI e XXVII

O inciso XXIV estabelece o procedimento para desapropriação por necessidade


ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização
em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição.
No caso de iminente perigo público, o inciso XXV dispõe que a autoridade
competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário
indenização ulterior, se houver dano.
A CF garante que a pequena propriedade rural, assim definida em lei, des-
de que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento
de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os
meios de financiar o seu desenvolvimento.
Aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodu-
ção de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar.

Exercício
36. (FCC – TJ-PE – 2012 – Analista Judiciário – Contabilidade) Lúcio, Amélia e
Tito, respectivamente, pai, mãe e filho, são lavradores na pequena Cidade
de Amambaí, Estado do Mato Grosso do Sul, e sozinhos, sem a ajuda de
funcionários, cultivam soja na sua pequena propriedade rural, assim definida
em lei. Lúcio investiu todas as suas economias pessoais na compra de uma
máquina específica para ajudar sua família na colheita da soja, acreditando
que seria farta e que a máquina lhes traria um excelente resultado econômi-
co. Porém, ocorreu uma geada que estragou toda a plantação, deixando Lú-
cio sem condições de saldar seus débitos vencidos decorrentes da atividade
produtiva, sendo processado judicialmente. Nesse caso, a referida pequena
propriedade rural:
a) Será penhorada, porém, o Juiz limitará a penhora à parte de proprieda-
de de Lúcio, pois Amélia e Tito não compraram a máquina.
b) É penhorável sempre porque deve garantir o pagamento integral das
56 Direito Constitucional

dívidas decorrentes da atividade produtiva, independentemente da


existência de outros bens.
c) Será penhorada desde que não existam outros bens penhoráveis.
d) Será penhorada, mas, segundo a Constituição Federal, o Juiz dará a
prévia oportunidade a Lucio de pagar as dívidas em trinta e seis meses
sem juros.
e) É impenhorável, em face da vedação constitucional.

11. Art. 5º, XXVIII, XXIX, XXX e XXXI

O art. 5º, XXVIII, “a”, da CF, assegura a proteção às participações individuais em


obras coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades
desportivas.
A alínea “b” garante o direito de fiscalização do aproveitamento econômico
das obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às
respectivas representações sindicais e associativas.
Tais dispositivos resguardam o direito de propriedade intelectual, pois a ativi-
dade criativa também merece proteção do nosso ordenamento.
O inciso XXIX abrange a proteção aos autores de inventos industriais, con-
ferindo privilégio temporário para sua utilização. Protege, ainda, as criações in-
dustriais, a propriedade das marcas, os nomes das empresas e outros signos
distintivos.
O direito de propriedade representa um dos exemplos mais paradigmáticos do
direito de não fazer do Estado.
O inciso XXX garante o direito de herança. Já o inciso XXXI regula a sucessão
de bens de estrangeiros situados no país, conforme a lei brasileira em benefício
do cônjuge ou dos filhos brasileiros.

Exercício
37. (FCC – 2012 – TRE – Analista Jurídico – CE) Roberval, brasileiro, ficou viúvo,
pois sua esposa Amália, holandesa e que não tinha filhos, faleceu na Escócia
durante um passeio turístico, cujo ascendente paterno, Arquimedes, reside
na Espanha e sua ascendente materna, Hilda, reside na França. Amália era
proprietária de três imóveis no Brasil e, segundo a CF, a sucessão dos seus
bens será regulada, no caso, pela lei:
a) Francesa em benefício de Roberval, pois prevalece o domicílio de Hilda.
Direito Constitucional 57

b) Holandesa em benefício de Roberval, mesmo lhe sendo mais favorável


a lei brasileira.
c) Escocesa em benefício de Roberval, pois prevalece o local do óbito.
d) Espanhola em benefício de Roberval, pois prevalece o domicílio de Ar-
quimedes.
e) Brasileira em benefício de Roberval, sempre que não lhe seja mais favo-
rável a lei pessoal de Amália.

12. Art. 5º, XXXII, XXXIII, XXXIV e XXXV

O art. 5º, XXXII, da CF dispõe sobre a defesa do consumidor, na forma da lei,


pelo Estado.
Nesse sentido, o art. 170, V, da CF, é claro ao dispor que a defesa do consu-
midor é um dos princípios que norteiam o Estado na sua atividade econômica.
O art. 48 do ADCT dispõe que o Congresso Nacional, dentro de 120 dias da
promulgação da Constituição, elaborará o Código de Defesa do Consumidor.
O inciso XXXIII estabelece que todos têm direito de receber dos órgãos públi-
cos informações de seu interesse particular, ou de interesses coletivos ou gerais,
que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas
aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.
A recusa a estas informações pelos órgãos públicos possibilita o uso do re-
médio constitucional chamado mandado de segurança; não confundir com as
hipóteses autorizadoras de habeas data.
O inciso XXXIV informa que serão assegurados a todos, independentemente
do pagamento de taxas, o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de
direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder.
A obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e
esclarecimento de situações de interesse pessoal.
O inciso XXXV informa que a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário
lesão ou ameaça a direito; esta disposição consagra o princípio da inafastabilida-
de do Poder Judiciário.

Exercício
38. (FCC – 2012 – TRE – Técnico Judiciário – PR) A Constituição da República
assegura a todos, independentemente do pagamento de taxas:
58 Direito Constitucional

a) O direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou con-


tra ilegalidade ou abuso de poder.
b) A obtenção de certidões em repartições públicas e estabelecimentos
privados, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de inte-
resse pessoal.
c) O registro civil de nascimento, a certidão de casamento e a certidão de
óbito.
d) As ações de habeas corpus, habeas data e o mandado de segurança.
e) A prestação de assistência jurídica integral pelo Estado.

13. Art. 5º, XXXVI

O inciso XXXVI do art. 5º da CF estabelece que a lei não prejudicará o direito


adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. A Lei de Introdução às Normas
do Direito Brasileiro (LINDB) traz, em seu art. 6º, as definições de cada um deles.
Direito adquirido é aquele já incorporado ao seu titular. Ato jurídico perfeito é
o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. Coisa julgada
é a decisão judicial de que não caiba recurso.

Exercício
39. (FGV – 2012 – OAB – Exame de Ordem) Durante competição esportiva (cam-
peonato estadual de futebol), o clube “A” foi punido com a perda de um
ponto em virtude de episódios de preconceito por parte de sua torcida. Com
essa decisão de primeira instância da justiça desportiva, o clube “B” foi de-
clarado campeão naquele ano.
O clube “A” apresentou recurso contra a decisão de primeira instância. An-
tes mesmo do julgamento desse recurso, distribuiu ação ordinária perante a
Justiça Estadual com o objetivo de reaver o ponto que lhe fora retirado pela
Justiça arbitral. Diante de tal situação, é correto afirmar que:
a) Como o direito brasileiro adotou o sistema de jurisdição una, tendo o
Poder Judiciário o monopólio da apreciação, com força de coisa julga-
da, de lesão ou ameaça a direito, é cabível a apreciação judicial dessa
matéria a qualquer tempo.
b) As decisões da Justiça Desportiva são inquestionáveis na via judicial,
uma vez que vige, no direito brasileiro, sistema pelo qual o Poder Judi-
Direito Constitucional 59

ciário somente pode decidir matéria para as quais não exista tribunal
administrativo específico
c) Como regra, o ordenamento vigente adota o Princípio da Inafastabili-
dade da Jurisdição (art. 5º, XXXV, da CF); todavia, as decisões da Justiça
Desportiva consubstanciam exceção a essa regra, já que são insindicá-
veis na via judicial.
d) O Poder Judiciário pode rever decisões proferidas pela Justiça Desporti-
va; ainda assim, exige-se, anteriormente ao ajuizamento da ação cabí-
vel, o esgotamento da instância administrativa, por se tratar de exceção
prevista na CF.

14. Art. 5º, XXXVII e XXXVIII

A vedação à criação de juízo ou tribunal de exceção (XXXVII) guarda relação com


o mandamento constitucional de que ninguém será processado, senão por auto-
ridade competente.
Embora os dispositivos constitucionais possuam a mesma essência, a única
diferença é que, no segundo caso, consagra-se o princípio do juiz natural.
O inciso XXXVIII do art. 5º dispõe que é reconhecida a instituição do júri, com
a organização que lhe der a lei, assegurados a plenitude de defesa, o sigilo das
votações, a soberania dos veredictos e a competência para o julgamento dos
crimes dolosos contra a vida.
Importante ressaltar que o termo plenitude de defesa compreende maior ex-
tensão do que o princípio da ampla defesa representa.
O sigilo das votações e a soberania dos vereditos estão intrinsecamente re-
lacionados, visto que ninguém terá acesso aos votos, nem verificará se os votos
foram favoráveis ou não.
Sobre a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida,
importa ressaltar o conteúdo da Súmula nº 721 do STF.
Segundo entendimento do STF, a competência constitucional do tribunal do
júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamen-
te em Constituição Estadual.
Nesse sentido, se houver, na própria Constituição Federal, foro por prerroga-
tiva de função, este foro prevalecerá sobre o tribunal do júri.
No art. 29, X, da CF, temos um exemplo de foro por prerrogativa de função, es-
tabelecendo a competência para o julgamento do prefeito pelo Tribunal de Justiça.
60 Direito Constitucional

Se o foro por prerrogativa de função for estabelecido por Constituição Esta-


dual, prevalecerá a competência para julgamento pelo tribunal do júri (Súmula nº
721 do STF).

Exercício
40. (Cespe – 2013 – Polícia Civil – Escrivão – DF) À luz da Constituição Federal de
1988, julgue o item que segue, acerca de direitos e garantias fundamentais:
“Uma lei complementar não pode subtrair da instituição do júri a competên-
cia para julgamento dos crimes dolosos contra a vida.”

15. Art. 5º, XXXIX

O inciso XXXIX, do art. 5º, da CF, informa que não há crime sem lei anterior que
o defina, nem pena sem prévia cominação legal, ou seja, trata-se do Princípio da
Legalidade.
Importa a análise conjunta com o art. 5º, II, da CF,
O primeiro enfoque deste princípio é o da autonomia privada, que possibilita
fazer tudo aquilo que a lei não proíbe.
Num segundo enfoque, vale a análise destacando a supremacia do interesse
público sobre o privado para a Administração Pública.
Assim, encontramos o Princípio da Legalidade no âmbito privado, ou seja, a
legalidade sob a ótica da administração pública e o Princípio da Legalidade Penal
que tem atuação pautada na segurança jurídica.
O termo “lei anterior que o defina” do inciso XXXIX refere-se â lei em sentido
estrito, não envolvendo resoluções, lei delegada e, sequer, medida provisória.
O Princípio da Legalidade fundamenta-se em vetores, sendo o Princípio da
Reserva Legal e o Princípio da Taxatividade.
A ideia de taxatividade considera a existência de um preceito incriminador
que norteia ou veda uma conduta, estabelecendo uma pena para determinado
comportamento, sendo necessária a clareza do legislador.

Exercício
41. (Cespe – 2013 – PRF – Polícia Rodoviária Federal) Com relação aos princí-
Direito Constitucional 61

pios, institutos e dispositivos da parte geral do Código Penal, julgue o item


seguinte:
“O princípio da legalidade é parâmetro fixador do conteúdo das normas pe-
nais incriminadoras, ou seja, os tipos penais de tal natureza somente podem
ser criados por meio de lei em sentido estrito.”

16. Art. 5º, XL, XLI, XLII e XLIII

O inciso XL do art. 5º da CF dispõe que a lei penal não retroagirá, salvo para
beneficiar o réu.
O inciso XLI estabelece que a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos
direitos e liberdades fundamentais. Dessa forma, qualquer ato atentatório aos
direitos e garantias fundamentais deve ser coibido, seja por comando legislativo,
seja por meio de atos do Poder Judiciário.
O inciso XLII informa que a prática de racismo constitui crime inafiançável e
imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei.
O inciso XLIII dispõe que a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis
de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por ele respondendo os
mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem.
Importante ressaltar que, no inciso XLIIII, a lei não fala em crimes inafiançáveis
e imprescritíveis. O examinador costuma misturar com o inciso XLII.

Exercício
42. (FCC – 2013 – Defensoria Pública – Oficial de Defensoria Pública) Nos termos
da Constituição Federal brasileira, detém as características de inafiançável e
imprescritível os crimes descritos em:
I – Tortura;
II – Terrorismo;
III – Racismo;
IV – Ação de grupos armados (civis ou militares) contra a ordem constitucio-
nal e o Estado Democrático.
Está correto apenas o que se afirma em:
a) II e III, apenas.
b) I, III e IV, apenas.
c) III e IV, apenas.
d) I e IV, apenas.
62 Direito Constitucional

e) I, II, III e IV.

17. Art. 5º, XLIV e XLV

O inciso XLIV dispõe que constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de gru-
pos armados, civis e militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.
O referido inciso trata-se de prolongamento da proibição às associações de
caráter paramilitar previsto no art. 5º, XVII, da CF, bem como o direito de reunião
pacífica e sem armas do art. 5º, XVII, da CF.
O objetivo do legislador foi evitar a formação de grupos, milícias e outros órgãos
de caráter paramilitar, que se apoiem em questões fundamentalistas, separatistas.
A Lei nº 7.170/1983 (Lei de Segurança Nacional) previu os crimes que lesam
ou expõem a perigo de lesão a integridade territorial e a soberania nacional.
Quanto ao inciso XLV, a disposição é a de que nenhuma pena passará da pes-
soa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do
perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles
executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido.

Exercício
43. (FCC – 2013 – MP – Analista – SE) Após 30 anos do cometimento de crime
praticado por grupo civil armado contra a ordem constitucional e o Estado
Democrático foram os autores finalmente identificados, tendo sido proposta
a ação penal em face dos criminosos. Nesse caso:
a) Não poderá ser decretada a prescrição, uma vez que constituiu crime
imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a
ordem constitucional e o Estado Democrático.
b) Não poderá ser decretada a prescrição, uma vez que constitui crime
imprescritível, além da tortura, a ação de grupos armados, civis ou mili-
tares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.
c) Não poderá ser decretada a prescrição, uma vez que constitui crime
imprescritível, além do terrorismo, a ação de grupos armados, civis ou
militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.
d) Poderá ser acolhida a prescrição caso esteja configurada, uma vez que,
em razão do princípio da segurança jurídica, não há crime imprescritível.
Direito Constitucional 63

18. Art. 5º, XLVI e XLVII – Individualização da Pena


– Espécies de Pena

O inciso XLVI do art. 5º da CF consagra o Princípio da Pessoalidade da Pena ao


determinar que a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras,
as seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos.
Por sua vez, o inciso XLVII dispõe que não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis.
Lembre-se de que apenas a vedação da pena de morte tem exceção, enquan-
to as outras não. É possível pena de morte no Brasil em caso de guerra declarada
pelo Presidente da República, autorizada pelo Congresso Nacional.

Exercício
44. (INSS – Perito Médico Previdenciário – 2012 – FCC) Segundo previsão expres-
sa da Constituição Federal, a pena de morte:
a) Não é admitida, em nenhuma hipótese.
b) É admitida no caso de crimes hediondos.
c) Poderá ser substituída pela pena de banimento, no caso de crimes con-
tra a segurança nacional.
d) É admitida no caso de guerra declarada.
e) É admitida desde que não cause sofrimento ao condenado.

19. Art. 5º, XLVIII, XLIX, L, LI, LII – Pena –


Integridade Física e Moral – Presidiárias –
64 Direito Constitucional

Extradição do Naturalizado – Extradição


de Estrangeiro

O inciso XLVIII do art. 5º prevê que a pena será cumprida em estabelecimentos


distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado.
Esse dispositivo tem dupla conexão na CF. A ideia é de individualização da
pena. A pena deve ter a função de ressocialização. Enquanto o preso cumpre sua
dívida com a sociedade, deve haver distinção entre os presos, não misturando,
por exemplo, primários com reincidentes.
É assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral (inciso XLIX).
Às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer
com seus filhos durante o período de amamentação. Trata-se da igualdade entre
homens e mulheres, com as devidas distinções.
O inciso LI veda a extradição de brasileiro, salvo o naturalizado, em caso de cri-
me comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento
em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei.
Jamais será entregue um brasileiro nato em nosso território para que seja
julgado em outro país, exceto para o Tribunal Penal Internacional. Isso também
se estende para o brasileiro naturalizado, com as exceções previstas no artigo.
Não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião.

Exercício
45. (OAB – Exame da Ordem Unificado – 2012 – FGV) João, residente no Brasil
há cinco anos, é acusado em outro país de ter cometido crime político. Nesse
caso, o Brasil:
a) Pode conceder a extradição se João for estrangeiro.
b) Pode conceder a extradição se João for brasileiro naturalizado e tiver
cometido o crime antes da naturalização.
c) Não pode conceder a extradição, independentemente da nacionalidade
de João.
d) Não pode conceder a extradição, apenas se João for brasileiro nato.

20. Art. 5º, LIII e LIV – Princípio do Juiz Natural –


Princípio do Devido Processo Legal
Direito Constitucional 65

O Princípio do Juiz Natural consiste em ser processado e julgado por alguém


previamente investido de jurisdição, ou seja, se praticar um delito haverá um Juiz
ou Tribunal previamente designado para julgar aquele evento (art. 5º, LIII, da CF).
O devido processo legal é amplo, e alguns doutrinadores defendem que o
correto seria que ninguém seria privado da liberdade ou de seus bens sem o de-
vido procedimento legal, fazendo distinção entre processo e procedimento (art.
5º, LIV, da CF). A doutrina faz a distinção entre o devido processo legal formal e
devido processo legal substancial, em que o primeiro seria o conjunto de regras
e procedimentos. O segundo deve ser encarado graças à ótica da razoabilidade e
proporcionalidade como postulados instrumentais utilizados na interpretação da
Constituição, portanto, não basta quantos sejam conjuntos de procedimentos,
devendo ser também proporcional e razoavelmente adequado.

Exercício
46. (Vunesp – MPE-ES – 2013 – Promotor de Justiça) Assinale a alternativa cor-
reta:
a) Se houve o competente parecer do Tribunal de Contas, por se tratar
de ato político, pode ser dispensado o direito de defesa de prefeito no
julgamento de suas contas pela Câmara dos Vereadores.
b) Com base no princípio da autotutela, a anulação de ato administrativo
que haja repercutido no campo de interesses individuais pode dispensar
a observância do contraditório e da ampla defesa.
c) A denúncia genérica, que não descreve maneira adequada os fatos
imputados ao denunciado, viola o princípio do contraditório e da ampla
defesa.
d) Não é violadora do devido processo legal a sentença que condena o
réu, fundamentada exclusivamente em elementos obtidos no inquérito
policial.
e) A sustentação pelo advogado no julgamento do processo, após o voto
do relator, não afronta o devido processo legal.

21. Art. 5º, LV – Direito ao Contraditório e à


Ampla Defesa

O contraditório é o direito de ser informado dos atos processuais e a ampla defe-


66 Direito Constitucional

sa é o direito de refutar uma acusação que se reputa injusta. O contraditório é o


direito à informação e existe para quem está acusando e para quem está sendo
acusado.
O Judiciário precisa que as partes pratiquem determinados atos (contesta-
ção, réplica, comparecimento em audiência, etc.). Essas informações decorrem do
Princípio do Contraditório. A ampla defesa é somente para aquele que está sendo
demandado e para refutar uma acusação a qual está recebendo.
A cláusula do devido processo legal vale para processo civil, penal e adminis-
trativo (Súmula Vinculante nº 5 do STF – falta de defesa técnica por advogado no
processo administrativo não ofende a CF), com a materialização do contraditório
e da ampla defesa.
A doutrina distingue a cláusula do contraditório e ampla defesa substancial
que é o poder de influenciar nas decisões e o no aspecto formal é a maneira como
vai litigar e produzir as provas. Prevê o direito ao recurso e, por isso, não basta
prever (formal), é preciso que tenha uma aptidão a modificar a decisão que se
reputa injusta.

Exercício
47. (FCC – TRT/12ª Região – 2013 – Técnico Judiciário) Sobre a disciplina das
garantias processuais na CF, considere:
I – O contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes,
são assegurados aos litigantes tanto em processo judicial como em processo
administrativo.
II – São inadmissíveis no processo as provas obtidas por meios ilícitos, salvo
ratificação posterior pela autoridade judiciária competente.
III – Ninguém será processado senão pela autoridade competente.
IV – A publicidade dos atos processuais somente poderá ser restrita por lei
quando o interesse social exigir.
Está correto o que se afirma apenas em:
a) I e III.
b) II e IV.
c) I, II e III.
d) I, III e IV.
e) II, III e IV.

22. Art. 5º, LVI – Vedação às Provas Ilícitas


Direito Constitucional 67

São inadmissíveis as provas admitidas por meios ilícitos e os elementos informati-


vos colhidos também de tal forma serão considerados inadmissíveis.
A doutrina dispõe que a prova ilegal é gênero e possui duas espécies: prova
ilícita e prova ilegítima. Prova ilícita é aquela feita com inobservância ao dispositi-
vo de direito material constitucional (art. 5º, LVI, da CF). Prova ilegítima viola regra
direito processual.
A prova ilegal deve ser imediatamente desentranhada dos autos.
A Teoria dos Frutos da Árvore Envenenada dispõe que as provas ilícitas por
derivação também serão ilícitas, porém, existem exceções em relação às provas
ilícitas por derivação:
Teoria da Fonte Independente: se ficar demonstrado que o meio probató-
rio não derivou da prova ilícita; e
Teoria da Descoberta Inevitável: se ficar demonstrado que a prova derra-
deira que se questiona seria descoberta de qualquer maneira.

Exercício
48. (Consulplan – TSE – 2012 – Técnico Judiciário) Perigosa quadrilha de nar-
cotraficantes em determinada cidade brasileira planeja executar uma série
de atentados, com real possibilidade de produzir mortes entre civis, com
o intuito de espalhar pânico nesta cidade. Gasparzinho, integrante da
facção criminosa é preso e, em interrogatório por meio da técnica do afo-
gamento simulado aplicada pela autoridade policial, confessa e fornece
detalhes sobre o plano terrorista. Tal fato possibilita a ação preventiva das
forças de segurança daquela unidade da federação que, assim, conse-
guem impedir a execução dos eventos. A respeito da situação descrita, é
correto afirmar que:
a) É amparada pela supremacia do interesse público.
b) Viola o princípio da individualização da pena.
c) Ponderando os bens jurídicos em oposição, é amparada pelo princípio
da proporcionalidade.
d) Viola o devido processo legal.

23. Art. 5º, LVII – Presunção de Inocência

As prisões processuais não ofendem o postulado da presunção de inocência.


68 Direito Constitucional

Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência
enquanto não for legalmente comprovada a sua culpa (art. 8º, II, do Pacto de São
José da Costa Rica). Há grande diferença entre a consagração da presunção da
inocência para o Pacto e para a CF, pois no âmbito do Pacto a presunção dura até
a demonstração legal da culpa do agente; no âmbito da CF, a presunção dura até
o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.
Prevalece o entendimento consagrado no art. 5º, LVII, da CF, de que a presun-
ção dura até o trânsito em julgado da sentença, pois é norma mais favorável e
maior asseguradora de direitos.
A ideia de in dubio pro reo é uma decorrência desta presunção de inocência,
ou seja, desdobramento do Princípio da Presunção de Não Culpabilidade.

Exercício
49. (Cespe – 2011 – STM – Analista Judiciário) No que concerne aos princípios
constitucionais do processo penal, julgue o seguinte item:
“O princípio da presunção de inocência está expressamente previsto na CF e
estabelece que todas as pessoas são inocentes até que se prove o contrário,
razão pela qual se admite a prisão penal do réu após a produção de prova
de demonstre sua culpa.” Certo ou Errado?

24. Art. 5º, LVIII, LIX, LX e LXI – Identificação


Criminal – Ação Privada – Publicidade dos
Atos Processuais – Prisão em Flagrante ou
Processual

O inciso LVIII do art. 5º da CF diz que a regra é a não identificação criminal


daquele que já foi civilmente identificado e as hipóteses previstas estão no art. 3º
da Lei nº 12.037/2009.
O inciso LIX do art. 5º da CF dispõe que a inércia imotivada do Ministério
Público (inércia imotivada) pode desencadear uma ação subsidiária daqueles
interessados na persecução penal.
O inciso LX dispõe que os atos processuais serão públicos e, em decorrência
da publicidade, haverá uma fundamentação das decisões judiciais (decorrência
do devido processo legal). Poderá restringir a publicidade para proteger as pes-
soas envolvidas no processo e também em decorrência de ordem pública.
O inciso LXI fala da consagração das prisões processuais que exigem um co-
Direito Constitucional 69

mando judicial, salvo prisão em flagrante.

Exercício
50. (FGV – 2012 – OAB) Ticio está sendo investigado pela prática do delito de
roubo simples, tipificado no artigo 157 do CP. Concluída a investigação, o
Delegado envia os autos ao MP, a fim de que este tome as providências que
entender cabíveis. O Parquet após a análise dos autos decide pelo arquiva-
mento do feito, por falta de provas de autoria. A vítima ingressou em juízo
com uma ação penal privada subsidiária da pública, que foi rejeitada pelo
juiz da causa, que, no caso acima, agiu:
a) Erroneamente, tendo em vista a Lei processual admite a ação privada
nos crimes de ação pública quando esta não for intentada.
b) Corretamente, pois a vítima não tem legitimidade para ajuizar ação
penal privada subsidiária da pública.
c) Corretamente, já que a Lei não admite a ação penal privada subsidiária
da pública nos casos em que o MP não se mantém inerte.
d) Erroneamente, já que a Lei admite implicitamente, a ação penal privada
subsidiária da pública.

25. Art. 5º, LXII e LXIII – Comunicação da Prisão –


Informação dos Direitos do Preso

A restrição da liberdade não pode ser ocultada da família do preso; mesmo em se


tratando de estado de defesa e de sítio, exige-se essa comunicação.
O inciso LXIII trata do direito ao silêncio do preso, assegurando assistência da
família e do seu advogado, sendo o direito de não autoincriminação. Esse disposi-
tivo também vale para o âmbito das CPI: o silêncio não importa confissão (art. 186,
parágrafo único, do CPP) e nem poderá ser utilizado em desfavor do acusado.
O preso tem o direito ao “aviso de Miranda” tendo relação com o fato de
informar os seus direitos, inclusive ao direito de silêncio.
O STF decidiu que o indivíduo não pode mentir em relação à sua identidade
quando for indagado, não sendo considerado direito ao silêncio.

Exercício
70 Direito Constitucional

51. (FCC – 2012 – TRF 2ª – Analista Judiciário) Sebastião foi preso em flagrante
e levado pela autoridade policial para a Delegacia de Polícia mais próxima do
local do crime. Segundo a CF:
a) Se não houver familiar, Sebastião poderá indicar pessoa para que seja avi-
sada de sua prisão, aviso esse que será realizado pela autoridade policial
até 24 horas do crime, oficiando o juiz competente no prazo de 5 dias.
b) O juiz competente e a família apenas deverão ser avisados pela autori-
dade policial do local do crime, até 24 horas da prisão de Sebastião.
c) A família deverá ser avisada pela autoridade policial até 4 horas da pri-
são de Sebastião e o Juiz competente até 48 horas da prisão.
d) O juiz competente deverá ser avisado pela autoridade policial até 24
horas da prisão de Sebastião e a família no prazo de 48 horas.
e) A autoridade policial deve comunicar imediatamente o juiz competente
e a família do preso ou pessoa por ele indicada sobre a prisão e a dele-
gacia de policia para onde Sebastião foi levado.

26. Art. 5º, LXIV, LXV e LXVI – Identificação dos


Responsáveis pela Prisão – Relaxamento da
Prisão – Admissão de Liberdade Provisória

O preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu
interrogatório policial para evitar casos de insegurança jurídica e em decorrência
ao devido processo legal (art. 5º, LXIV, da CF).
A prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária diante
de uma hipótese de ilegalidade e afronta ao ordenamento jurídico (art. 5º, LX,
da CF).
Ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberda-
de provisória, com ou sem fiança.
As medidas cautelares são instrumentos alternativos da prisão.

Exercício
52. (FCC – 2013 – TJ/PE – Juiz) No tocante à prisão no curso do processo e me-
didas cautelares:
a) Julgar-se-á quebrada a fiança quando o acusado praticar nova infração
penal, ainda que culposa.
Direito Constitucional 71

b) Se assim recomendar a situação econômica do preso, a fiança poderá


ser aumentada, pelo Juiz, até no máximo o décuplo.
c) A proibição de ausentar-se do país será comunicada pelo Juiz às au-
toridades encarregadas de fiscalizar as saídas do território nacional,
intimando-se o indiciado ou acusado para entregar o passaporte, no
prazo de 48 horas.
d) O juiz poderá substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o
agente for maior de 75 anos.
e) A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos casos de
infração cuja pena privativa de liberdade máxima não seja superior a
4 anos.

27. Art. 5º, LXVII – Vedação à Prisão por Dívida e


Exceções

Há um conflito normativo com o art. 7º, VI, do Pacto de São José da Costa Rica, e
o artigo da CF que diz que depositário infiel poderá ser preso, pois o Tratado diz
que ninguém deve ser detido por dívidas, salvo no caso de obrigação alimentar,
estabelecendo apenas uma e não duas exceções, ou seja, não estabelece exceção
no caso do depositário infiel como dispõe a CF.
Há um julgado do STF em que se reviu o posicionamento quanto à hierarquia
de tratados em nosso ordenamento, adotando o entendimento de que, com
o advento da EC nº 45/2004, os Tratados Internacionais sobre Direitos Huma-
nos terão força constitucional quando aprovados pelo procedimento de emenda
constitucional.
Diante desse paradigma, o STF editou a Súmula Vinculante nº 25 que vedou a
prisão civil do depositário infiel em qualquer modalidade de depósito, reafirman-
do o entendimento de que será permitida a prisão apenas em caso de obrigação
alimentícia.

Exercício
53. (FCC – 2012 – TRE/SP – Analista Judiciário) Suponha que num processo judi-
cial, após a constatação do desaparecimento injustificado de bem que estava
sob a guarda de depositário judicial, o Magistrado decretou prisão civil do
depositário. Considerando a jurisprudência do STF sobre a matéria, a prisão
civil foi decretada:
72 Direito Constitucional

a) Regularmente, uma vez que a essa pena está sujeito apenas o deposi-
tário judicial e não o contratual.
b) Regularmente, uma vez que a essa pena está sujeito o depositário infiel,
qualquer que seja a modalidade do depósito.
c) Irregularmente, uma vez que a pena somente pode ser aplicada ao de-
positário infiel que assuma contratualmente o ônus da guarda do bem.
d) Irregularmente, uma vez que é ilícita a prisão civil de depositário infiel,
qualquer que seja a modalidade do depósito.
e) Irregularmente, uma vez que é inconstitucional a prisão civil por dívida,
qualquer que seja seu fundamento.

28. Art. 5º, LXVIII – Habeas Corpus – Remédio


Constitucional – Concessão
São ações denominadas remédios constitucionais, pois o HC resguarda o direito
de liberdade de locomoção por ilegalidade ou abuso de poder, sendo uma ação
tipicamente penal não obstando a utilização do Habeas Corpus em outras searas.
Há duas espécies: preventivo (indivíduo ainda não teve sua liberdade tolhida,
havendo apenas um risco e não a proibição em si) e posterior ou repressivo (efe-
tiva materialização da proibição da liberdade de locomoção).
O Habeas Corpus é disciplinado no CPP, em que o art. 648 trata das hipóteses
em que será cabível, trazendo um rol exemplificativo.
É uma ação simples e não tem forma específica, pois, em termos práticos,
muitos presos costumam manejar seu próprio Habeas Corpus para resguardar
sua liberdade.
A legitimidade ativa é ampla, inclusive o MP pode manejar Habeas Corpus em
favor do réu; e pessoa jurídica também pode ser impetrante, mas não paciente.
O STF tem o posicionamento absolutamente restritivo quanto à utilização do
Habeas Corpus apenas em situação de risco efetivo ou potencial da liberdade de
locomoção.

29. Art. 5º, LXVIII – Habeas Corpus – Utilização


Restritiva
A jurisprudência do STF aplica a restrição quanto ao uso de Habeas Corpus, não
tendo maiores dilações probatórias, ou seja, ou está presente um risco ou não,
Direito Constitucional 73

devendo estar evidente na postulação perante a autoridade judicial.


A Súmula nº 695 do STF dispõe:
“Não cabe HC se já extinta a pena privativa de liberdade.”
A Súmula nº 693 do STF diz que:
“Não cabe HC contra decisão de pena de multa ou por processo em curso
cuja pena pecuniária seja a única cominada.”
Súmula nº 690 do STF dispõe que:
“Compete originariamente ao Supremo Tribunal Federal o julgamento de Ha-
beas Corpus contra decisão de Turma Recursal de Juizados Especiais Criminais.”
A Súmula nº 694 do STF determina que:
“Não cabe Habeas Corpus contra imposição de pena de exclusão de militar ou
de perda de patente ou de função pública.”
Súmula nº 691 estabelece que:
“Não compete ao STF conhecer de Habeas Corpus impetrado contra decisão do
relator que, no Habeas Corpus requerido a Tribunal Superior, indefere a liminar.”
O julgado 99619 diz que Habeas Corpus não discute confisco criminal de bens.
O art. 142, § 2º, da CF, veda a utilização do Habeas Corpus em relação a pu-
nições disciplinares militares, mas, se houver afronta à legalidade, será autorizada
sua impetração.

Exercício
54. (Cespe – 2013 – Delegado de Polícia) No que diz respeito aos direitos funda-
mentais, julgue o item que se segue:
“Segundo o STF, caso o interessado alegue que a sentença condenatória te-
nha sido prolatada exclusivamente com fundamento em prova emprestada,
é possível a arguição de nulidade dessa decisão em sede de habeas corpus.”
Certo ou errado?

30. Art. 5º, LXIX – Mandado de Segurança –


Remédio Constitucional – Concessão

Concede-se Mandado de Segurança para proteger direito líquido e certo de-


monstrado por prova pré-constituída.
A natureza do Mandado de Segurança é subsidiária, pois será utilizado quan-
74 Direito Constitucional

do não for hipótese de Habeas Corpus ou Habeas Data. As hipóteses previstas


estão dispostas na Constituição Federal.
O Mandado de Segurança é ação de natureza tipicamente civil, embora não
obsta que se utilize na seara penal, por exemplo (Súmula Vinculante nº 14 do STF).
Pode utilizar Mandado de Segurança para trancamento de ação penal, de
inquérito policial se a pena prevista for de multa ou prestação pecuniária, já que
não cabe Habeas Corpus.
O Mandado de Segurança pode ser preventivo (quando há uma iminência do
risco do direito líquido e certo) e repressivo (quando já materializou a ofensa ao
direito líquido e certo).

Exercício
55. (Funcab – 2013 – PC/ES – Delegado de Polícia) Quanto ao Mandado de Se-
gurança Individual, marque a resposta correta:
a) É ação de rito ordinário de que se pode utilizar pessoa física, jurídica
privada, jurídica pública nacional ou estrangeira ou qualquer entidade
que tenha capacidade processual para a proteção de direito líquido
certo e incontestável, amparado por HC ou HD, ameaçado ou violado
por ato ou fato oriundo de autoridade responsável pela ilegalidade ou
abuso de poder.
b) É admitido como adequado para pleitear prestações indeterminadas,
genéricas, fungíveis ou alternativas.
c) É substitutivo de ação de cobrança.
d) A existência de recurso administrativo com efeito suspensivo não impe-
de o uso de MS contra omissão de autoridade.
e) O pedido de reconsideração na via administrativa interrompe o prazo
para o MS.

31. Art. 5º, LXIX – Mandato de Segurança – Prazo


Decadencial – Súmulas e Julgados

O prazo decadencial do Mandado de Segurança é de 120 dias (art. 23 da Lei nº


12.016/2009), contados da ciência pelo interessado do ato impugnado, sendo
prazo compatível com a urgência da medida, e, após esse prazo, nada obstará a
utilização de ações ordinárias de rito comum.
Pedido de reconsideração na via administrativa não interrompe prazo para
Direito Constitucional 75

impetrar Mandado de Segurança, de acordo com a Súmula nº 430 do STF.


Se não for possível verificar o termo inicial, não haverá como se observar o
prazo de 120 dias.
Em caso de obrigações de trato sucessivo para o STF, o prazo começa a correr
quando presente ato inequívoco que indefira a pretensão.
Se houver controvérsia sobre matéria de direito, a Súmula nº 625 do STF diz
que não impede a concessão de Mandado de Segurança.
A Súmula nº 101 do STF diz que Mandado de Segurança não substitui a Ação
Popular e a Súmula nº 266 do STF diz que não cabe Mandado de Segurança
contra lei em tese.
A Lei nº 12.016/2009 traz em seu art. 1º, § 2º, questão sobre o não cabimen-
to de Mandado de Segurança contra atos de gestão comercial praticados por
administradores de empresas públicas, sociedades de economia mista e conces-
sionárias de serviços públicos. Se ao ato couber recurso administrativo com efeito
suspensivo, não caberá Mandado de Segurança.
No caso de omissão da autoridade, não há impedimento ao uso de Mandado
de Segurança contra omissão de autoridade.
Não cabe Mandado de Segurança de decisão judicial transitada em julgado.

Exercício
56. (MP/SC – 2013 – Promotor de Justiça) Analise o enunciado da questão e
assinale certo ou errado.
“Nos termos da Lei nº 12.016/09, não cabe MS contra os atos de gestão co-
mercial, praticados pelos administradores de empresas públicas, de sociedade
de economia mista e de concessionárias de serviço público. E mais, não se
concederá MS quando se tratar de ato do qual caiba recurso administrativo
com efeito suspensivo, independentemente de caução; de decisão judicial
da qual caiba recurso com efeito suspensivo; e de decisão judicial transitada
em julgado.”

32. Art. 5º, LXX – Mandado de Segurança Coletivo

O Mandado de Segurança Coletivo é uma criação da Constituição Federal de


1988 e tem previsão no art. 5º, LXX, da CF.
O referido dispositivo informa que o Mandado de Segurança Coletivo pode
ser impetrado por partido nacional político com representação no Congresso Na-
76 Direito Constitucional

cional, organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente consti-


tuída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de
seus membros ou associados.
A Lei nº 12.016/2009 foi a responsável por regulamentar o Mandado de Se-
gurança Coletivo; dessa forma, houve um lapso temporal desde a sua previsão
na CF/1988.
Assim, esse remédio caracteriza-se como ação constitucional, de rito sumário,
visando à proteção de direito líquido e certo.
Se a lei não disser nada em contrário, aplicam-se basicamente as mesmas
disposições do Mandado de Segurança Individual.
O prazo decadencial para impetração do Mandado de Segurança Coletivo é
o mesmo utilizado para Mandado de Segurança Individual, nos termos do art. 23
da Lei nº 12.016, que será de 120 dias.

Exercício
57. (FCC – 2012 – TRT 11ª Região – Analista Judiciário) O sindicato dos meta-
lúrgicos de determinada cidade, preocupado com a saúde dos trabalhadores
sindicalizados, resolveu impetrar mandado de segurança coletivo contra ile-
galidade da autoridade pública municipal, que determinou a continuidade do
trabalho em determinada indústria da região mesmo havendo sério risco de
contaminação por gases tóxicos. O referido sindicato poderá impetrar o man-
dado de segurança coletivo em defesa dos interesses de seus membros desde
que esteja legalmente constituído e em funcionamento há, pelo menos:
a) Um ano.
b) Dois anos.
c) Três anos.
d) Quatro anos.
e) Cinco anos.

33. Art. 5º, LXX – Legitimidade Ativa do Mandado


de Segurança Coletivo

O Mandado de Segurança Coletivo (art. 5º, LXX, da CF) pode ser impetrado por
partido político com representação no Congresso, por organização sindical, enti-
dade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo
Direito Constitucional 77

menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros associados.


A representação no Congresso significa que determinado partido tenha ao
menos um parlamentar que o represente em ao menos uma das casas legisla-
tivas. A representação feita por apenas por suplente não equivale à represen-
tação válida.
O STF entende que a representação do partido político, para impetrar Manda-
do de Segurança Coletivo, deverá apenas obedecer a sua finalidade institucional
e de seus afiliados.
O Mandado de Segurança Coletivo pode ser impetrado por partido político
com representação no Congresso Nacional, na defesa de seus interesses relativos
aos seus integrantes e finalidade partidária (Lei nº 12.016/2009, art. 21).

Exercício
58. (FCC – TRE) O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado:
a) Pela da Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, no uso de suas
atribuições, visando anular ato coator de seus membros.
b) Pelo Presidente da Câmara dos Deputados e pelo Presidente da Repú-
blica, nos interesses da sociedade brasileira, nos interesses da sociedade
brasileira, visando a revogação de ordem de autoridade coatora que
tenha violado a Constituição Federal.
c) Pelo Presidente do Senado Federal e pelo Procurador-Geral da Repúbli-
ca, no exercício de suas funções, nos interesses da sociedade brasileira,
objetivando a revogação de ordem de autoridade coatora em geral.
d) Por partido político com representação no Congresso Nacional e tam-
bém por organização sindical, entidade de classe ou associação legal-
mente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em
defesa dos interesses de seus membros ou associados.
e) Pelos Presidentes dos TREs contra decisões do TST.

34. Art. 5º, LXXI – Mandado de Injunção

O art. 5º, LXXI, da CF, estabelece a possibilidade de Mandado de Injunção sempre


que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e
liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à sobe-
rania e à cidadania.
78 Direito Constitucional

Para José Afonso da Silva, existem normas de eficácia plena que possuem
aplicabilidade imediata e integral, ou seja, valem desde o momento em que são
introduzidas no ordenamento jurídico, não podendo ser restringidas por legisla-
ção infraconstitucional.
As normas de eficácia contida também valem de imediato, mas podem ter sua
abrangência reduzida por meio de lei infraconstitucional, como se vê no art. 5º,
XIII, que trata da liberdade de exercício profissional.
Já as normas de eficácia limitada dividem-se em normas de princípio progra-
mático ou institutivo.

Exercício
59. (FCC– 2011 – TRE – Analista Judiciário – PE) De acordo com a Constituição
Federal brasileira, conceder-se-á mandado de injunção:
a) Para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas data,
quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autorida-
de pública.
b) Para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do
impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades
governamentais ou de caráter público.
c) Para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo
sigiloso, judicial ou administrativo.
d) Para assegurar o conhecimento de informações relativas à terceira pes-
soa, constantes de registros ou banco de dados de entidades governa-
mentais ou de caráter público.
e) Sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exer-
cício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas ineren-
tes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.

35. Art. 5º, LXXI – Aplicabilidade do Mandado de


Injunção

Conforme disposição do art. 5º, LXXI, da CF, o Mandado de Injunção será conce-
dido sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos
direitos e liberdades.
O Mandado de Injunção surgiu para sanar as omissões legislativas, criando
regulamentação para as normas constitucionais de eficácia limitada, porém, sua
Direito Constitucional 79

própria regulamentação carece de previsão legal. Por isso, tem-se aplicado a Lei
nº 12.016/2009 (Lei do Mandado de Segurança) para concretização deste remé-
dio constitucional.
A corrente não concretista considera a decisão do Mandado de Injunção me-
ramente declaratória.
No caso da corrente concretista individual intermediária, defende que deve ser
fixado o prazo para o órgão competente criar a norma.
Para a corrente concretista individual pura, a natureza jurídica do Mandado
de Injunção é constitutiva.
A corrente concretista geral tem seus efeitos erga omnes; dessa forma, seus
efeitos são irradiados para todos os destinatários da norma omissa.

Exercício
60. (Cespe – 2011 – DPE – Defensor Público – MA) Acerca das ações constitucio-
nais, assinale a opção correta de acordo com a jurisprudência majoritária do
STF:
a) Em caso de omissão legislativa, cabe ao STF, em sede de mandado de
injunção, proferir sentença de perfil aditivo a fim de criar regulação
provisória pelo próprio Poder Judiciário.
b) Não é cabível a impetração de mandado de segurança por parlamentar
cujo objetivo seja o controle incidental de constitucionalidade
relacionado à válida elaboração das proposições normativas em curso
na respectiva casa legislativa.
c) O habeas corpus, destinado a garantir a liberdade de locomoção do
indivíduo, foi uma inovação da CF.
d) Não é cabível habeas corpus para impugnar os pressupostos da legali-
dade de punição disciplinar militar, ainda que não se questione o mérito
desta.
e) É cabível a impetração de mandado de injunção para conhecer as ra-
zões de foro íntimo que levem o juiz a declarar-se suspeito para julgar a
causa.

36. Art. 5º, LXXII – Habeas Data – Hipótese de


Cabimento
80 Direito Constitucional

O art. 5º, LXXII, da Constituição Federal, dispõe sobre a concessão de habeas data
como remédio constitucional capaz de assegurar o conhecimento de informações
relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou banco de dados de
entidades governamentais ou de caráter público.
É também previsto para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo
por processo sigiloso, judicial ou administrativo.
Inspirado no direito americano, a finalidade histórica do habeas data no Brasil
foi a de acessar os dados inerentes ao período do Regime Militar.
As hipóteses de cabimento do habeas data são taxativas e correspondem às
alíneas “a” e “b” do inciso LXXII, do art. 5º, da CF.
Além dessas duas hipóteses, há uma terceira previsão na lei regulamentadora
do habeas data, a Lei nº 9.507/1997, art. 7º.
Essa possibilidade diz respeito à anotação nos assentamentos do interessado
de contestação ou sobre dado verdadeiro justificável e que esteja sobre pendên-
cia judicial ou amigável.
Vale destacar que o habeas data possui natureza personalíssima; dessa for-
ma, o Ministério Público não tem legitimidade ativa para o manejo da figura do
habeas data.
Ponto em debate na doutrina trata-se da legitimidade superveniente dos her-
deiros, recaindo sobre sua natureza personalíssima e o STJ acenou em sentido
favorável – Habeas Data nº 147/DF.
Para o manejo de habeas data, é necessário que a petição inicial seja instruída
com a prova da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de 10
dias sem decisão.
Nesse sentido, a Súmula nº 2, do STJ, entende que não caberá habeas data
se não houver a recusa de informações por parte da autoridade administrativa.

Exercício
61. (Cespe – 2013 – Polícia Federal – Delegado de Polícia) No que se refere ao
habeas corpus, julgue o item seguinte:
“De acordo com o STJ, o habeas data é instrumento idôneo para a obtenção
de acesso aos critérios utilizados em correção de prova discursiva em concur-
sos públicos.”

37. Art. 5º, LXXIII, LXXIV, LXXV, LXXVI e LXXVII


Direito Constitucional 81

– Ação Popular – Assistência Gratuita – Erro


Judiciário – Gratuidade de HC e HD

Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato
lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o
autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência.
A ação popular está regulamentada na Lei nº 4.717/1965. Doutrinariamente,
pode ser considerada como mecanismo da soberania popular, embora não conste
expressamente da lei. Cidadão é aquele que tem em dia seus direitos políticos, ou
seja, o nacional que tem título de eleitor (conceito mais restrito). Em regra, o MP
não tem legitimidade para ingressar com ação popular, exceto nos casos em que
o autor desistir da ação.
No inciso LXXIV, temos que o Estado prestará assistência jurídica integral e
gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos.
Pelo inciso LXXV, o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim
como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença.
Pelo inciso LXXVI, são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma
da lei:
a) o registro civil de nascimento;
b) a certidão de óbito.
E, por fim, pelo inciso LXXVII, são gratuitas as ações de habeas corpus e ha-
beas data, e, na forma da lei, os atos necessários ao exercício da cidadania.

Exercício
62. (Cesgranrio – Petrobras – Advogado – 2011) A ação popular, prevista no art.
5º, LXXIII, da Constituição da República, pode ser ajuizada por (pelo):
a) Apátrida para anular ato praticado pelo Presidente da República.
b) Estrangeiro, residente no país, há pelo menos 10 anos, contra ato pra-
ticado por autarquia federal.
c) Ex-deputado federal, no gozo dos direitos políticos, para anular ato
praticado por sociedade de economia mista.
d) Associação legitimamente constituída e em funcionamento há, pelo
menos, um ano, em defesa de seus associados.
e) Ministério Público, para tutelar direitos difusos.
82 Direito Constitucional

38. Art. 5º, LXXVIII – Duração Razoável do


Processo

A todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração


do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.
A cláusula do devido processo legal acaba por tornar desnecessária a garantia
de outros princípios processuais, inclusive o da duração razoável do processo.
Contudo, este inciso foi inserido na CF pela Emenda Constitucional de 2004,
tornando-se este um princípio explícito.
Duração razoável não implica em abrir mão da qualidade na prestação jurisdi-
cional, das garantias processuais ou da publicidade dos atos processuais.
Lembrar que não é sinônimo de celeridade, embora sejam princípios interli-
gados, mas a duração razoável nunca poderá implicar em perda de qualidade.
A Corte Europeia dos Direitos do Homem fixou algumas balizas, por meio
das quais o princípio da duração razoável do processo que pode ser aferido pelo:
– comportamento das partes;
– comportamento das autoridades envolvidas no processo;
– condições de oferecer uma justiça de qualidade (aparelhamento estatal);
– complexidade da causa.
A ideia é que, ao final, o processo tenha tido uma duração razoável, e, tam-
bém, que a justiça tenha sido feita de forma qualitativa.

Exercício
63. (Cespe – TRT/10ª Região – Analista Judiciário – 2013) À luz da Constituição
Federal de 1988, julgue o item a seguir, acerca dos direitos fundamentais:
“Considere que um indivíduo tenha sido denunciado por crime contra o pa-
trimônio há mais de dez anos e que, em razão da quantidade de processos
conclusos para sentença na vara criminal do município, ainda que não tenha
havido sentença em relação ao seu caso. Essa situação retrata hipótese de
flagrante violação ao direito fundamental à duração razoável do processo,
expressamente previsto na CF.”

39. Art. 5º, §§ 1º e 2º – Aplicabilidade das Normas


Definidoras – Eficácia Material dos Direitos
Direito Constitucional 83

Fundamentais

Trabalharemos nesta unidade os §§ 1º e 2º do art. 5º da CF.


Segundo o § 1º do art. 5º, as normas definidoras dos direitos e garantias
fundamentais têm aplicação imediata.
A doutrina sempre estudou a eficácia e aplicabilidade das normas constitucio-
nais em três aspectos: eficácia plena, eficácia contida ou eficácia limitada. Atual-
mente, diz-se que esta classificação não tem mais sentido: ao se trabalhar a força
normativa da Constituição, a ideia seria a de que todas as normas constitucionais
teriam eficácia imediata, especialmente por conta deste dispositivo. Contudo, te-
mos argumentos contra este entendimento, com posição minoritária: se este dis-
positivo está num parágrafo do art. 5º da Constituição, deve se submeter ao caput.
Topologicamente, este parágrafo só diz respeito aos direitos e deveres indivi-
duais e coletivos, e não a todas as normas constitucionais. As normas programá-
ticas, por exemplo, não estariam abrangidas por este dispositivo, especialmente
os direitos sociais. Lembrar, contudo, que este não é o posicionamento prevalente
atualmente.
Já o § 2º do citado artigo garante a eficácia material dos direitos fundamen-
tais, pois eles não se esgotam naqueles expressos na Constituição Federal. O rol
de direitos fundamentais é inesgotável e em constante mutação. As característi-
cas destes direitos são: historicidade, universalidade, inalienabilidade, imprescriti-
bilidade, irrenunciabilidade e inviolabilidade.

Exercício
64. (Funcab – MP/RO – Analista – 2012) A respeito dos direitos e garantias fun-
damentais previstos na Constituição Federal, assinale a alternativa correta:
a) Devem ser interpretados restritivamente.
b) Possuem aplicação imediata, isto é, dependem de regulamentação legal.
c) Somente podem ser revogados por lei complementar.
d) Somente podem ser revogados por emenda constitucional.
e) Não excluem direitos decorrentes dos tratados internacionais em que o
Brasil seja parte.

40. Art. 5º – Tratados e Convenções Internacionais


sobre Direitos Humanos
84 Direito Constitucional

Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem apro-


vados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos
votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.
Trata-se do procedimento de aprovação das Emendas Constitucionais: vota-
ção bicameral, dupla, e a aprovação deve se dar por 3/5. Se aprovados por este
procedimento, os Tratados Internacionais de Direitos Humanos terão força de
emenda constitucional.
Historicamente, o STF sempre entendeu que os Tratados Internacionais de
Direitos Humanos tinham força de lei ordinária. Com o advento da CF/1988,
a doutrina começou a entender que, pelo § 2º do art. 5º, ampliaram-se os
direitos fundamentais para além do que está previsto no texto constitucional
(eficácia material dos direitos fundamentais). Ainda assim, o posicionamento
do STF até o ano de 2004, quando então foi aprovada a EC nº 45, que traz o
§ 3º ao art. 5º.
No julgamento do RE nº 466.343, o STF passou a entender da seguinte forma:
1) Tratado Internacional de Direitos Humanos aprovado pelo mesmo proce-
dimento de Emenda Constitucional, valerá como Emenda Constitucional (atual-
mente, a Convenção de Nova Iorque sobre as Pessoas Portadoras de Deficiência
tem essa eficácia);
2) Tratado Internacional de Direitos Humanos não aprovado pelo procedimen-
to de Emenda Constitucional tem status de norma supralegal, ou seja, está acima
da legislação ordinária e abaixo da Constituição;
3) Tratado internacional que não versa sobre direitos humanos; tem status de
lei ordinária.

Exercício
65. (FCC – DPE/AM – Defensor Público – 2013) De acordo com a jurisprudência
atualmente predominante no Supremo Tribunal Federal, um tratado inter-
nacional de direitos humanos, ratificado na forma do artigo 5º, § 2º, da
Constituição Federal, possui força normativa equivalente à de norma:
a) Formalmente constitucional.
b) Legal ordinária.
c) Legal complementar.
d) Supralegal e infraconstitucional.
e) Regulamentar.
Direito Constitucional 85

41. Art. 5º – Tribunal Penal Internacional

O art. 5º, § 4º, da CF, dispõe que o Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal
Internacional, a cuja criação tenha manifestado adesão.
O Brasil se submete ao TPI desde setembro de 2002, mas ele foi criado pelo
Estatuto de Roma, em 1998. Este tribunal julga pessoas, e nunca Estados ou or-
ganismos internacionais.
O ordenamento jurídico brasileiro apresenta algumas divergências com o TPI,
como o art. 77, I, “b”, do Estatuto de Roma que autoriza a figura da prisão per-
pétua, mas no nosso ordenamento esta espécie de pena é vedada. Mas observe
que a chamada entrega não viola a não extradição do brasileiro nato, até porque
a entrega não configura extradição.
O TPI é complementar, ou seja, só age nos casos de insuficiência ou incapaci-
dade da jurisdição do país signatário.
No art. 5º, do Estatuto de Roma, temos as competências do TPI:
– genocídio (definição: art. 6º do Estatuto);
– crimes contra a humanidade (definição: art. 7º do Estatuto);
– crime de guerra (definição: art. 8º do Estatuto);
– crimes de agressão (definição: art. 5º, II, do Estatuto).
Capítulo 6
Direitos Sociais

1. Arts. 6º e 7º – Destinatários
DIREITOS SOCIAIS
Origem: revoluções sociais que culminaram com a Constituição Mexicana de
1917, Weimar de 1919. Como se percebe, esta dimensão dos Direitos Funda-
mentais é inerente ao Constitucionalismo Social.
Esta dimensão é marcada pela busca da igualdade material e não a formal, já
consagrada na primeira dimensão, pela qual todos são iguais perante a lei sem
levar em consideração as condições fáticas, materiais, enfim, a real desigualdade
existente entre as pessoas. Caracteriza-se pelo dever de atuação do Estado para
minorar a desigualdade material, devendo este assegurar o mínimo existencial
para promoção da dignidade humana.
Conteúdo destes direitos: econômico, social e cultural. É direito a ter prestações
jurídicas ou materiais, impondo um fazer para o Estado.
NORMATIZAÇÃO DOS DIREITOS SOCIAIS NA CRFB/1988
Arts. 6º ao 11
Art. 6º Genéricos: reconhecido a todos.
Art. 7º Específicos dos trabalhadores.
Art. 8º Liberdade Sindical.
Art. 9º Direito de Greve.
Art. 10. Participação de empregados e empregadores em colegiados.
Art. 11. Direito de Representação.
DIRETOS SOCIAIS GENÉRICOS – ART. 6º
A parte final do art. 6º ao se referir “na forma desta Constituição” quis ex-
plicar que estes direitos serão especificados, principalmente, no Título VIII – Da
Ordem Social.
Direito Constitucional 87

DIREITOS DOS TRABALHADORES URBANOS E RURAIS – ART. 7º


Como todo Direito Fundamental, são voltados para proteção e promoção da
dignidade humana do trabalhador. São voltados para proteger a integridade físi-
ca, psicológica e moral do trabalhador.
INTERPRETAÇÃO: Conforme Eros Grau, não se deve interpretar o “Direito
em tiras”; logo, é importante ter em mente a necessidade de interpretar estes
direitos à luz dos princípios constitucionais, fundamentais e específicos: como a
dignidade humana (art. 1º, III); valores sociais do trabalho e da livre-iniciativa (art.
1º, IV); valorização do trabalho humano e justiça social (art. 170); busca do pleno
emprego (art. 170, VIII); primado do trabalho com base na ordem social (art. 193).
DESTINATÁRIOS: Trabalhadores urbanos e rurais são equiparados.

2. Art. 7º, a Partir dos Incisos I a IV

ANÁLISE DOS INCISOS – a análise dos incisos contará com a indicação de sua pre-
visão para o doméstico, da seguinte forma: aplicação IMEDIATA; aplicação NÃO
IMEDIATA ou NÃO POSSUI:
“I – relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa
causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória,
dentre outros direitos;” – Doméstico: aplicação NÃO IMEDIATA.
II – seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário;” – Doméstico:
aplicação NÃO IMEDIATA.
Por óbvio que a proteção é em caso de desemprego involuntário.
“III – Fundo de Garantia do Tempo de Serviço;” – Doméstico: aplicação NÃO
IMEDIATA.
“IV – salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de aten-
der a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimen-
tação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social,
com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua
vinculação para qualquer fim;” – Doméstico: aplicação IMEDIATA.
Trata-se do mínimo que se pode receber; entretanto, é importante lembrar o
Enunciado nº 6 da Súmula Vinculante do STF:
“SÚMULA VINCULANTE Nº 6: NÃO VIOLA A CONSTITUIÇÃO O ESTABELECI-
MENTO DE REMUNERAÇÃO INFERIOR AO SALÁRIO MÍNIMO PARA AS PRAÇAS
PRESTADORAS DE SERVIÇO MILITAR INICIAL.”
O salário mínimo deve ser fixado em lei: espécie normativa que fixa o valor é
lei, consequentemente, não pode ser por decreto do presidencial.
88 Direito Constitucional

Obs.: Lei nº 12.382, de 2011, foi declarada Constitucional pelo STF na ADIn
nº 4.568, mesmo tendo ela delegado ao Presidente da República a fixação do
valor do salário mínimo, isto porque esta lei estabelece a forma de calcular, mas
sem fixar o valor (usa elementos variáveis, como crescimento do PIB, etc.); caberá
ao Decreto Presidencial, aplicando a fórmula prevista, apurar e indicar o valor do
salário mínimo para aquele ano. Com isso, o STF entendeu que o decreto não
inova o ordenamento jurídico, apenas implementa a previsão legal.

3. Art. 7º, a Partir dos Incisos IV a XI

“Súmula Vinculante nº 4: Salvo nos casos previstos na Constituição, o salário


mínimo não pode ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem
de servidor público ou de empregado, nem ser substituído por decisão judicial.”
“Súmula Vinculante nº 15: O cálculo de gratificações e outras vantagens do ser-
vidor público não incide sobre o abono utilizado para se atingir o salário mínimo.”
“Súmula Vinculante nº 16: Os arts. 7º, IV, e 39, § 3º (Redação da EC nº 19/98), da
Constituição, referem-se ao total da remuneração percebida pelo servidor público.”
“V – piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho;” –
Doméstico: NÃO POSSUI.
“VI – irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo
coletivo;” – Doméstico: aplicação IMEDIATA.
“VII – garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem
remuneração variável;” – Doméstico: aplicação IMEDIATA.
“VIII – décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor
da aposentadoria;” – Doméstico: aplicação IMEDIATA.
“IX – remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;” – Doméstico:
aplicação NÃO IMEDIATA.
“Súmula nº 213: É devido o adicional de serviço noturno, ainda que sujeito o
empregado ao regime de revezamento.”
“Súmula nº 214: A duração legal da hora de serviço noturno (52 minutos e 30
segundos) constitui vantagem suplementar que não dispensa o salário adicional.”
“Súmula nº 313: Provada a identidade entre o trabalho diurno e o noturno,
é devido o adicional, quanto a este, sem a limitação do art. 73, § 3º, da Con-
solidação das Leis do Trabalho independentemente da natureza da atividade do
empregador.”
“X – proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção
dolosa; – Doméstico: aplicação IMEDIATA.
Direito Constitucional 89

“XI – participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração,


e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em
lei;” – Doméstico: NÃO POSSUI.

4. Art. 7º, a Partir dos Incisos XII a XXV

“XII – salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa ren-


da nos termos da lei;” – Doméstico: aplicação NÃO IMEDIATA.
“XIII – duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e qua-
renta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da
jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho;”- Doméstico: apli-
cação IMEDIATA.
“XIV – jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos
de revezamento, salvo negociação coletiva;” – Doméstico: NÃO POSSUI.
Também é direito inerente às condições do trabalho: visa assegurar condições
dignas para o exercício da atividade laborativa. É a chamada jornada ininterrupta
em turnos de revezamento.
“XV – repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos;” –
Doméstico: Aplicação IMEDIATA.
“XVI – remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cin-
quenta por cento à do normal;” – Doméstico: aplicação IMEDIATA.
“XVII – gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais
do que o salário normal;” – Doméstico: aplicação IMEDIATA.
“XVIII – licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a du-
ração de cento e vinte dias;” – Doméstico: aplicação IMEDIATA.
“XIX – licença-paternidade, nos termos fixados em lei;” – Doméstico: aplica-
ção IMEDIATA.
“XX – proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos espe-
cíficos, nos termos da lei;” – Doméstico: NÃO POSSUI.
“XXI – aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de
trinta dias, nos termos da lei;” – Doméstico: aplicação IMEDIATA.
“XXII – redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saú-
de, higiene e segurança;” – Doméstico: aplicação IMEDIATA.
“XXIII – adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou
perigosas, na forma da lei;” – Doméstico: NÃO POSSUI.
“XXIV – aposentadoria;” – Doméstico: aplicação IMEDIATA.
90 Direito Constitucional

5. Art. 7º, a Partir dos Incisos XXV a XXXIV

“XXV – assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5


(cinco) anos de idade em creches e pré-escolas;” – Doméstico: aplicação NÃO
IMEDIATA.
“XXVI – reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho;” –
Doméstico: aplicação IMEDIATA.
“XXVII – proteção em face da automação, na forma da lei;” – Doméstico:
NÃO POSSUI.
“XXVIII – seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem
excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou cul-
pa;” – Doméstico: aplicação NÃO IMEDIATA.
Súmula Vinculante nº 22: “A Justiça do Trabalho é competente para processar
e julgar as ações de indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes
de acidente de trabalho propostas por empregado contra empregador, inclusive
aquelas que ainda não possuíam sentença de mérito em primeiro grau quando da
promulgação da Emenda Constitucional nº 45/04.”
“XXIX – ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com
prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite
de dois anos após a extinção do contrato de trabalho;” – Doméstico: NÃO POSSUI
“XXX – proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de cri-
tério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;” – Doméstico:
aplicação IMEDIATA.
“XXXI – proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios
de admissão do trabalhador portador de deficiência;” – Doméstico: aplicação
IMEDIATA.
“XXXII – proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou
entre os profissionais respectivos;” – Doméstico: NÃO POSSUI.
“XXXIII – proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de
dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição
de aprendiz, a partir de quatorze anos;” – Doméstico: aplicação IMEDIATA.
“XXXIV – igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício
permanente e o trabalhador avulso.” – Doméstico: NÃO POSSUI.

6. Direitos Sociais – Art. 8º, I e II


O art. 8º trata da liberdade sindical, direito de greve, direito de substituição pro-
cessual, direito de participação laboral e direito de representação na empresa.
Direito Constitucional 91

A CF determina que a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fun-
dação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao Poder
Público a interferência e a intervenção na organização sindical.
Sindicato é pessoa jurídica de direito privado para representar trabalhadores e
empregadores em seus interesses.
Também é vedada pela CF a criação de mais de uma organização sindical, em
qualquer grau, representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma
base territorial, que será definida pelos trabalhadores ou empregadores interessa-
dos, não podendo ser inferior à área de um Município;
Trata-se do princípio da unicidade sindical: a liberdade sindical está limitada à
área de um município.

Exercício
66. (TRT/8ª Região – Juiz do Trabalho – 2013) A respeito das associações sindi-
cais, é correto dizer:
a) É obrigatória a participação das entidades sindicais nas negociações co-
letivas de trabalho.
b) É vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro da
candidatura a cargo de direção ou representação sindical e, se eleito,
ainda que suplente, até um ano após o final do mandato, salvo se co-
meter falta grave nos termos da lei ou por motivo de força maior.
c) Ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos ou
individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas.
d) É vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer
grau, representativa da categoria profissional ou econômica, na mesma
base territorial, que será definida livremente pelos trabalhadores ou em-
pregadores interessados.
e) A lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sin-
dicatos, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao Poder
Público a interferência e a intervenção na organização sindical.

7. Direitos Sociais – Art. 8º, III a VI

De acordo com o art. 8º, inciso III, da CF, compete ao sindicato a defesa dos
direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões
judiciais ou administrativas.
92 Direito Constitucional

Prevalece na doutrina que se trata de hipótese de legitimação extraordinária.


Observe que aqui não se consagra a legitimação extraordinária dos sindicatos
para a tutela dos direitos difusos, exatamente por serem estes dotados de alto
grau de abstratividade.
Está previsto que a assembleia geral fixará a contribuição que, em se tratan-
do de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema
confederativo da representação sindical respectiva, independentemente da con-
tribuição prevista em lei.
Temos aqui duas contribuições: a confederativa (e sobre esta é importante a
leitura da Súmula nº 666 do STF) e a sindical.
A CF garante que ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado
a sindicato. É a manifestação da liberdade de filiação (positiva) e de desfiliação
(negativa).
Ainda, é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas
de trabalho.

Exercício
67. (Cespe – CNJ – Técnico Judiciário – 2013) Com relação à classificação das
Constituições, aos direitos e garantias fundamentais e à organização políti-
co-administrativa, julgue o item a seguir:
Nas negociações coletivas de trabalho, é obrigatória a participação dos sin-
dicatos.

8. Direitos Sociais – Art. 8º, VII e VIII e Parágrafo


Único

Prevê o art. 8º, inciso VII, da CF, que o aposentado filiado tem direito a votar e ser
votado nas organizações sindicais.
É vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro da
candidatura a cargo de direção ou representação sindical e, se eleito, ainda que
suplente, até um ano após o final do mandato, salvo se cometer falta grave nos
termos da lei.
Temos aqui a chamada estabilidade provisória. Lembrar sempre que o suplen-
te também goza das mesmas benesses, e que a estabilidade ocorre a partir do
registro e não da eleição em si.
A estabilidade sindical também está prevista no art. 543 da CLT.
Direito Constitucional 93

Exercício
68. (FCC – TRT/9ª Região – Analista Judiciário – 2013) Com relação à associação
profissional ou sindical, considere:
I – É obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de
trabalho.
II – O aposentado filiado não tem direito de ser votado nas organizações
sindicais.
III – O aposentado filiado tem direito a votar nas organizações sindicais.
Segundo as normas preconizadas pela Constituição Federal brasileira, é cor-
reto o que se afirma apenas em:
a) III.
b) II e II.
c) II e III.
d) I.
e) I e III.

9. Direitos Sociais – Arts. 9º, 10 e 11

O art. 9º traz a disciplina do direito de greve, que é um direito dos trabalhadores


públicos e privados (o STF manda aplicar a Lei nº 7.783/1999 à iniciativa pública).
A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimen-
to das necessidades inadiáveis da comunidade (a Lei nº 7.783/1989, que discipli-
na o direito de greve no âmbito privado, elenca os chamados serviços essenciais).
Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei.
O direito de greve é um direito atrelado ao trabalho, porque por meio dele o
trabalhador faz valer as suas prerrogativas, a implementação de seus direitos e a
melhoria de condições.
Segundo o art. 10 da CF, é assegurada a participação dos trabalhadores e
empregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses profis-
sionais ou previdenciários sejam objeto de discussão e deliberação.
Nas empresas de mais de duzentos empregados, é assegurada a eleição de
um representante destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes o entendi-
mento direto com os empregadores.
A Convenção nº 135 da OIT traz questões que auxiliam na compreensão deste
artigo.
94 Direito Constitucional

Exercício
69. (FCC – TRT/9ª Região – Técnico Judiciário – 2013) Considere as seguintes
empresas:
I – Empresa Água Rosa Ltda.; ramo alimentício; 100 empregados;
II – Empresa Água Branca Ltda.; ramo de roupas infantis; 150 empregados;
III – Empresa Água Azul; ramo de calçados; 210 empregados;
IV – Empresa Água Cristalina; ramo de brinquedos; 250 empregados.
De acordo com a Constituição Federal, considerando somente o que está
nela previsto, é assegurada a eleição de um representante dos empregados
com a finalidade exclusiva de promover-lhes o entendimento direto com os
empregadores nas empresas indicadas em:
a) I e II, apenas.
b) III e IV, apenas.
c) II, III e IV, apenas.
d) I, II, III e IV.
e) IV, apenas.
Capítulo 7
Nacionalidade

1. Nacionalidade

O direito à nacionalidade consiste no vínculo jurídico (porque importa na atribui-


ção de direitos e deveres) e político (porque traz como consequência o direito a
participar da vida política do país) que liga o indivíduo ao Estado, fazendo dele
um componente do povo.
Existem duas espécies de nacionalidade:
a) nacionalidade originária ou primária: é aquela que resulta do nascimento.
O Estado atribui esta nacionalidade ao indivíduo num ato unilateral, isto é, inde-
pendentemente da vontade do próprio indivíduo.
Como regra, uma criança nascida no Brasil será brasileira, independentemen-
te da sua vontade. É ato estatal unilateral;
b) nacionalidade secundária ou adquirida: é aquela que decorre de uma mani-
festação conjunta de vontades. Ao indivíduo cabe demonstrar o interesse em ad-
quiri-la e ao Estado cabe decidir se aceita ou não tal indivíduo como seu nacional.
Aqui, temos necessidade de duas manifestações: uma por parte do indivíduo
que deseja ter a nacionalidade, e outra do país. Em algumas hipóteses, preenchi-
dos os requisitos, há o direito público subjetivo; em outras, é ato discricionário do
Estado. Mas sempre será um ato bilateral.
Polipátrida é aquele que possui mais de uma nacionalidade porque critérios de
soberania de cada país permitem isso.
Apátrida ou heimatlos é o indivíduo sem nacionalidade nenhuma.
Adquire-se a nacionalidade por 3 critérios:
– territorial (ius solis) – típico de países de imigração;
– sanguíneo (ius sanguinis) – típico de países de emigração;
– misto.
96 Direito Constitucional

Exercício
70. (Iades – PG/DF – Técnico Jurídico – 2011) Segundo Pontes de Miranda, na-
cionalidade é o vínculo jurídico-político que faz da pessoa um dos elementos
componentes da dimensão pessoa do Estado. Assim, uma pessoa pode ad-
quirir a nacionalidade brasileira do modo originário:
a) Somente por meio de laços de sangue (ius sanguinis).
b) Somente por meio do local do nascimento (ius solis).
c) Pelo casamento ou outro benefício legal.
d) Pela naturalização.
e) Pelo sistema misto: tanto por laços de sangue quanto pelo local do
nascimento.

2. Nacionalidade Primária
“Art. 12. São brasileiros:
I – natos:
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangei-
ros, desde que estes não estejam a serviço de seu país;
Neste dispositivo, temos consagrado o critério do ius solis.
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que
qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil. Observar que
não é necessário que ambos os pais sejam brasileiros: basta que um dos pais seja.
É o critério do ius sanguinis;
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que
sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na
República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a
maioridade, pela nacionalidade brasileira.
Temos aqui duas situações:
– ius sanguinis + registro em autoridade competente;
– nacionalidade potestativa (condicionada à vontade do indivíduo).
As alterações ocorridas neste dispositivo por meio de emendas excluíram do
nosso ordenamento jurídico a figura do apátrida, contemplada no texto original.

Exercício
71. (FCC – AL/PB – Assessor Técnico Legislativo – 2013) Marta, filha de mãe e pai
argentinos, nasceu no Brasil quando os mesmos passavam férias na cidade
Direito Constitucional 97

do Rio de Janeiro. Glaide, filha de mãe brasileira e pai americano, nasceu


em Orlando, quando a sua mãe, a serviço da República Federativa do Brasil
apresentava palestra sobre Direitos Humanos. Hernandes, filho de pai brasi-
leiro e mãe uruguaia, nasceu em Montevidéu quando seu pai, a serviço da
República Federativa do Brasil, laborava nos portos do referido local. Nestes
casos, segundo a Constituição Federal Brasileira:
a) Apenas Glaide e Hernandes são brasileiros natos.
b) Apenas Marta e Glaide são brasileiras natas.
c) Marta, Glaide e Hernandes são brasileiros natos.
d) Apenas Marta e Hernandes são brasileiros natos.
e) Apenas Glaide é brasileira nata.

3. Nacionalidade Secundária
“Art. 12. São brasileiros:
II – naturalizados:
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos
originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininter-
rupto e idoneidade moral;” (...)
A primeira parte do dispositivo trata dos originários de países que não falam a
língua portuguesa e a regulação está no art. 12 do Estatuto do Estrangeiro, onde
se encontram os requisitos para a naturalização.
Com relação aos originários de países que falam a língua portuguesa, a pró-
pria Constituição traz os requisitos: residência por um ano ininterrupto e idonei-
dade moral.
A concessão da naturalização nessas hipóteses é ato discricionário, por meio
de portaria do Ministro da Justiça.
“b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Fede-
rativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal,
desde que requeiram a nacionalidade brasileira.”
É a naturalização extraordinária ou também chamada de quinzenária. Neste
caso, uma vez preenchidos os requisitos, prevalece que há direito público subje-
tivo à naturalização.

4. Equiparados
Segundo o art. 12, § 1º, da CF, aos portugueses com residência permanente no
País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos
inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição.
98 Direito Constitucional

Referida cláusula constitucional é uma cláusula condicional, pois os portugue-


ses só terão seus direitos se os brasileiros também tiverem.
Como regra, brasileiros natos e brasileiros naturalizados são detentores das
mesmas espécies de direito, salvo as exceções que a própria Constituição Federal
definir.

Exercício
72. (TJ/SC – Juiz – 2013) Analise as proposições abaixo e assinale a alternativa
correta:
I – São brasileiros natos os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe
brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa
do Brasil e sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham
a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo,
depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira.
II – São brasileiros naturalizados os estrangeiros de qualquer nacionalidade,
residentes na República Federativa do Brasil há mais de dez anos ininterruptos
e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira.
III – Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reci-
procidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao
brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição.
IV – Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que adquirir outra
nacionalidade, salvo nos casos: de reconhecimento de nacionalidade origi-
nária pela lei estrangeira; e de imposição de naturalização, pela norma es-
trangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para
permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis.
a) Somente as proposições I, III e IV estão corretas.
b) Somente as proposições I e III estão corretas.
c) Somente as proposições II e IV estão corretas.
d) Somente as proposições I e IV estão corretas.
e) Somente as proposições III e IV estão corretas.

5. Brasileiros Natos e Naturalizados

De acordo com o art. 12, § 2º, da CF, a lei não poderá estabelecer distinção
entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos no próprio texto
constitucional.
Direito Constitucional 99

As distinções entre brasileiros natos e naturalizados trazidas pela CF podem ser


vistas no art. 12, § 3º (cargos privativos de brasileiros natos); no art. 5º, inciso LI (ex-
tradição); no art. 89, inciso VII (membros do Conselho da República); e no art. 222
(propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens).

Exercício
73. (Exame da Ordem XII – Direito Internacional) João, 29 anos de idade, brasilei-
ro naturalizado desde 1992, decidiu se candidatar, nas eleições de 2010, ao
cargo de Deputado Federal, em determinado ente federativo. Eleito, e após
ter tomado posse, foi escolhido para Presidir a Câmara dos Deputados.
Com base na hipótese acima, assinale a afirmativa correta:
a) João não poderia ter-se candidatado ao cargo de Deputado Federal,
uma vez que esse é um cargo privativo de brasileiro nato.
b) João não poderia ser Deputado Federal, mas poderia ingressar na car-
reira diplomática em que não é exigido o requisito de ser brasileiro nato.
c) João poderia ter-se candidatado ao cargo de Deputado Federal, bem
como ser eleito, entretanto, não poderia ter sido escolhido Presidente
da Câmara dos Deputados, eis que esse cargo deve ser exercido por
brasileiro nato.
d) João não poderia ter-se candidatado ao cargo de Deputado Federal,
mas poderia ter se candidatado ao cargo de Senador da República,
mesmo sendo brasileiro naturalizado.

6. Perda da Nacionalidade
A perda da nacionalidade está disposta no art. 12, § 4º, da Constituição Federal.
Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:
I – tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de ati-
vidade nociva ao interesse nacional;
A sentença judicial a que se refere o inciso I do § 4º é a sentença judicial tran-
sitada em julgado.
II – adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira;
b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro resi-
dente em estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território
ou para o exercício de direitos civis.
100 Direito Constitucional

Diferente do procedimento previsto no inciso I do § 4º (sentença transitada


em julgado), o procedimento adotado no inciso II do mesmo parágrafo é um
procedimento administrativo.
Esse procedimento administrativo é feito por um decreto do Presidente da
República (art. 28 da Lei nº 818/1949).
As hipóteses previstas nas alíneas do inciso II, § 4º do art. 12, são de perda da
nacionalidade não voluntária.

Exercício
74. (FCC – TCE/SE – Técnico de Controle Externo – 2011) Paulo, brasileiro nato,
é jogador de futebol e atua em um determinado clube da Itália. Como con-
dição de permanência no País onde atua e manutenção do exercício de sua
atividade profissional, a Itália impõe a Paulo a sua naturalização. Nesse caso,
Paulo:
a) Não terá declarada a perda da nacionalidade brasileira.
b) Terá declarada a suspensão da nacionalidade brasileira até o momento
em que ele regressar ao Brasil e optar novamente pela nacionalidade
brasileira.
c) Perderá automaticamente a nacionalidade brasileira, mas poderá solici-
tar a sua reaquisição ao Ministro da Justiça, quando retornar ao Brasil.
d) Terá declarada a perda da nacionalidade brasileira.
e) Terá declarada a suspensão da nacionalidade brasileira enquanto não
cancelar a naturalização italiana.

7. Extradição – Deportação – Expulsão


Extradição é a entrega de pessoa que praticou um crime a outro país. Existem dois
tipos de extradição: a ativa (quando o Brasil solicita a pessoa) e a passiva (quando
outro país solicita a pessoa).
Na extradição passiva, o pedido é feito ao Presidente da República que, após
recebê-lo, transmite-o para o Supremo Tribunal Federal para análise da legalidade.
É importante destacar que o Presidente da República não está vinculado à
decisão do STF.
Princípios que regem a extradição:
– Princípio da Especialidade: o estrangeiro só poderá ser julgado no país que
requereu a extradição pelo crime que o levou a ser extraditado;
Direito Constitucional 101

– Princípio da Dupla Punibilidade: o fato deve ser típico e punível em ambos


os países;
– Princípio da Retroatividade dos Tratados: o fato de haver um tratado firma-
do posteriormente à prática do delito não impedirá a extradição.
– Princípio da Comutação da Pena: se o crime for apenado por qualquer
das penas vedadas pela Constituição Federal. não haverá extradição, salvo
se houver comutação da pena. Neste sentido, versa o art. 91 da Lei nº
6.815/1980.
Já a deportação é a retirada compulsória de um estrangeiro que tenha entra-
do, ou esteja de forma irregular, no território nacional.
Expulsão é a retirada, à força, de estrangeiro que tenha praticado atos na
forma do art. 65 da Lei nº 6815/1980.
Importante destacar o entendimento do STF nas Súmulas nos 421 e 1:
“Súmula nº 421: Não impede a extradição a circunstância de ser o extraditado
casado com brasileira ou ter filho brasileiro.”
“Súmula nº 1: É vedada a expulsão de estrangeiro casado com brasileira, ou
que tenha filho brasileiro, dependente da economia paterna.”

Exercício
75. Com relação ao estado federal brasileiro, julgue o item a seguir:
São símbolos do Estado federal brasileiro a bandeira, o hino, as armas e o
selo nacionais, podendo os estados-membros, o Distrito Federal (DF) e os
municípios adotar símbolos próprios.
Capítulo 8
Direitos Políticos e
Partidos Políticos

1. Direitos Políticos

Cidadão é o nacional que está no gozo dos direitos políticos e que participe da
vida política do Estado.
Distinção entre sufrágio, voto e escrutínio:
Sufrágio é a própria essência do direito político. É o direito de participar do pro-
cesso político, de votar e ser votado. No Brasil, o sufrágio é universal e periódico.
O voto é o exercício do direito de sufrágio. São características do voto:
– direto: em regra, os representantes do povo são escolhidos de forma direta
no Brasil. A única exceção constitucional em que haverá eleição indireta
está prevista no art. 81, § 1º, da CF;
– igualdade: não existe distinção entre os votos;
– periodicidade: decorre da periodicidade das eleições;
– liberdade: o exercício do voto deve ser livre;
– personalíssimo: somente pode ser exercido diretamente pelo próprio eleitor.
Por fim, escrutínio é a maneira pela qual o voto é exercido; por exemplo, voto
fechado ou voto aberto.

Exercício
76. (TRT/8ª Região – Juiz do Trabalho – 2013) A respeito dos Direitos Políticos
previstos na Constituição da República, assinale a alternativa CORRETA:
a) O alistamento eleitoral e o voto são facultativos para os analfabetos, os
maiores de sessenta e cinco anos, e os maiores de dezesseis e menores
de dezoito anos.
Direito Constitucional 103

b) Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o perío-


do em que estiverem nas Forças Armadas, os soldados.
c) São condições de elegibilidade, na forma da lei, ser brasileiro nato, o
pleno exercício dos direitos políticos, o alistamento eleitoral, a residên-
cia na circunscrição, e a filiação partidária.
d) São inelegíveis somente os inalistáveis.
e) A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto
direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, me-
diante plebiscito, referendo e iniciativa popular.

2. Capacidade e Alistamento Eleitoral –


Condições de Elegibilidade

Existem duas formas de direitos políticos: os positivos e os negativos.


Os direitos políticos positivos nada mais são do que a participação do indiví-
duo na vida política da sociedade.
Os direitos políticos positivos se subdividem em capacidade eleitoral ativa (ca-
pacidade de votar) e capacidade eleitoral passiva (capacidade para ser votado).
Já os direitos políticos negativos são privações à participação na vida política
do Estado.
Os direitos políticos negativos se subdividem em inelegibilidade absoluta (art.
14, § 4º, da CF/1988) e inelegibilidade relativa (podem estar tanto na CF/1988
como em outras legislações infraconstitucionais).
Além da inelegibilidade absoluta e relativa, existem também a perda ou sus-
pensão dos direitos políticos.

Exercício
77. (FCC – TCE/AP – Técnico de Controle Externo – 2012) O alistamento eleitoral
é facultativo para os:
a) Estrangeiros.
b) Maiores de sessenta e cinco anos.
c) Conscritos, durante o período do serviço militar obrigatório.
d) Analfabetos.
e) Maiores de dezesseis anos e menores de vinte e um anos.
104 Direito Constitucional

3. Filiação Partidária – Reeleição – Idade

As condições da elegibilidade estão previstas no art. 14, § 3º, da Constituição


Federal.
“§ 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei:
I – a nacionalidade brasileira;
II – o pleno exercício dos direitos políticos;
III – o alistamento eleitoral;
IV – o domicílio eleitoral na circunscrição;
V – a filiação partidária;
VI – a idade mínima de:
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e
Senador;
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito
Federal;
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital,
Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz;
d) dezoito anos para Vereador.”
Neste sentido, versa o § 5º do mesmo art. 14 traz a possibilidade da reeleição:
“§ 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito
Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos
mandatos poderão ser reeleitos para um único período subsequente.”

Exercício
78. (Vunesp – TJ/RJ – Juiz – 2011) Dentre as condições de elegibilidade previstas
na Constituição Federal, encontra-se o requisito da idade para concorrer aos
cargos públicos eletivos. Nesse sentido, a idade mínima para a elegibilidade
aos cargos de Presidente da República, Governador e Deputado Estadual é,
respectivamente, de:
a) Trinta anos; vinte e um anos e dezoito anos.
b) Trinta anos; trinta anos e vinte e um anos.
c) Trinta e cinco anos; trinta anos e vinte e um anos.
d) Trinta e cinco anos; trinta e cinco anos e vinte e um anos.
Direito Constitucional 105

4. Desincompatibilização

A desincompatibilização está disposta no § 6º do art. 14 da Constituição Federal:


“§ 6º Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Go-
vernadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos
respectivos mandatos até seis meses antes do pleito.”
Quando mencionado o termo outros cargos, significa literalmente, segundo o
entendimento do Supremo Tribunal Federal, outros cargos fora daquele já ocupado
(ADI 1805 - Medida Cautelar).
É importante destacar que, caso o detentor do cargo queira tentar a reeleição,
este não precisará renunciar ao mandato.
Ainda, segundo entendimento majoritário, a necessidade de renúncia não é
aplicada aos vices de cada cargo (por exemplo, o Vice-Presidente da República), a
menos que tenha sucedido os titulares nos 6 meses anteriores ao pleito.

Exercício
79. (Cespe – TRE/MS – Técnico Judiciário – 2013) Ricardo, pai adotivo de Sérgio,
irmão de Tiago e casado com Sara, governador de estado e reeleito para
um segundo mandato, visando a candidatar-se para o mandato de senador
pelo mesmo estado, renunciou ao mandato de governador sete meses antes
das eleições legislativas, razão por que Alberto, vice-governador, assumiu o
cargo de governador.
Considerando a situação hipotética acima, assinale a opção correta e com
base no que dispõe a CF:
a) Sérgio, por não ser filho biológico de Ricardo, pode candidatar-se para
suceder seu pai no cargo de governador de estado.
b) Se eleito para o mandato de senador, Ricardo não poderá, nas eleições
seguintes, candidatar-se novamente ao cargo de governador de estado,
porque já o exerceu por dois mandatos consecutivos.
c) Ricardo ao renunciar ao mandato de governador para desincompatibi-
lizar-se, afastou a inelegibilidade relativa por motivos funcionais.
d) Alberto não poderá candidatar-se à reeleição para o cargo de governa-
dor de estado.
e) Sara, por ser mulher de Ricardo, é absolutamente inelegível para todo e
qualquer cargo político.
106 Direito Constitucional

5. Inelegibilidade Parental

A inelegibilidade parental está disposta no art. 14, § 7º, da Constituição Federal:


“Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto
direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:
(...)
§ 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os paren-
tes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da
República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito
ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo
se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.”
Embora não haja previsão legal, quando o dispositivo trata da inelegibilidade
parental do cônjuge, deve-se estender o entendimento ao companheiro, e ao
companheiro em decorrência de união homoafetiva e, em relação a parentes
consanguíneos ou afins, leva-se em consideração também os filhos de criação.
Neste sentido, versa a Súmula Vinculante nº 18:
“A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não
afasta a inelegibilidade prevista no § 7º do artigo 14 da Constituição Federal.”
A regra de inelegibilidade parental não se aplica caso o parente de uma das
pessoas citadas no § 7º do art. 14, estiver concorrendo à reeleição.

Exercício
80. (FCC – TRE/CE – Técnico Judiciário – 2012) Átila, que não é titular de man-
dato eletivo e nem é candidato à reeleição, é filho adotivo de Eulália, Gover-
nadora do Estado de São Paulo em exercício, e deseja concorrer ao cargo de
Prefeito do Município de São Paulo. Segundo a Constituição Federal, Átila,
em regra, é:
a) Elegível, desde que esteja filiado ao mesmo partido político de Eulália.
b) Elegível, desde que esteja filiado a partido político distinto de Eulália.
c) Elegível, desde que autorizado previamente pelo Tribunal Regional
Eleitoral.
d) Elegível, desde que sua candidatura seja previamente autorizada por
Eulália.
e) Inelegível.
Direito Constitucional 107

6. Militares e Hipóteses de Inelegibilidade –


Ação de Impugnação ao Mandato Eletivo e
Anterioridade Eleitoral

Prevê o art. 14, § 9º, da Constituição Federal, que lei complementar pode prever
outros casos de inexigibilidade:
“§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os pra-
zos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade
para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a norma-
lidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou
o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou
indireta.”
As hipóteses de inelegibilidade trazidas por lei complementar estão previstas
na LC nº 64/1990.
Quanto aos direitos políticos dos militares, importante o estudo do art. 14,
§ 8º, da CF:
I – se contar menos de dez anos de serviço deverá afastar-se da atividade;
II – se contar mais de dez anos de serviço será agregado pela autoridade
superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a
inatividade.
Por fim, destaca-se que o mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Jus-
tiça Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomação, instruída a ação
com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude, sendo que tra-
mitará em segredo de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se temerária
ou de manifesta má-fé.

Exercício
81. (FCC – TRF/2ª Região – Analista Judiciário – 2012) A Lei WXYZ alterou o
processo eleitoral. De acordo com a Constituição Federal brasileira de 1988,
a Lei WXYZ entrará em vigor:
a) Na data de sua publicação, mas não será aplicada para eleição que
ocorra até um ano da data de sua vigência.
b) Em um ano após a sua publicação, sendo aplicada imediatamente após
a data da sua vigência para as eleições.
c) Na data de sua publicação, sendo aplicada imediatamente após esta
data para as eleições.
108 Direito Constitucional

d) Na data de sua publicação, mas não será aplicada para eleição que
ocorra até três meses da data de sua vigência.
e) Na data de sua publicação, mas não será aplicada para eleição que
ocorra até noventa dias da data de sua vigência.

7. Cassação, Suspensão e Perda dos Direitos


Políticos

A suspensão e perda dos direitos políticos estão dispostas no art. 15 da Constitui-


ção Federal com a seguinte redação:
“Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão
só se dará nos casos de:
I – cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado; (art.
12, § 4º, I, da CF/88)
(...)
§ 4º Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:
I – tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de ati-
vidade nociva ao interesse nacional;
II – incapacidade civil absoluta;
III – condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus
efeitos;
IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa,
nos termos do art. 5º, VIII;
V – improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.”
As hipóteses previstas nos incisos I e IV do art. 15 tratam de perda dos direitos
políticos, já o disposto nos incisos II, III e V tratam de hipótese de suspensão dos
direitos políticos.

Exercício
82. (MPT – Procurador – 2013) A Constituição da República veda a cassação
de direitos políticos, porém, permite sua perda ou suspensão em algumas
hipóteses, dentre elas:
I – cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado.
II – incapacidade civil absoluta.
Direito Constitucional 109

III – condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus


efeitos.
IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa,
nos termos do art. 5º, VIII, da Constituição.
V – improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º, da Constituição.
Estão corretas:
a) Apenas as assertivas II, III e V.
b) Apenas as assertivas I, III e IV.
c) Apenas as assertivas II e V.
d) Todas as assertivas.
e) Não respondida.

8. Partidos Políticos

A Constituição Federal trata dos partidos políticos em seu art. 17, com a seguinte
redação:
“Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políti-
cos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartida-
rismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes
preceitos:
I – caráter nacional;
II – proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo
estrangeiros ou de subordinação a estes;
III – prestação de contas à Justiça Eleitoral;
IV – funcionamento parlamentar de acordo com a lei.”
É importante destacar a o disposto no art. 7º da Lei nº 9.096/1995 (Lei dos
Partidos Políticos):
“Art. 7º O partido político, após adquirir personalidade jurídica na forma da
lei civil, registra seu estatuto no Tribunal Superior Eleitoral.
§ 1º Só é admitido o registro do estatuto de partido político que tenha
caráter nacional, considerando-se como tal aquele que comprove o apoiamen-
to de eleitores correspondente a, pelo menos, meio por cento dos votos dados
na última eleição geral para a Câmara dos Deputados, não computados os
votos em branco e os nulos, distribuídos por um terço, ou mais, dos Estados,
com um mínimo de um décimo por cento do eleitorado que haja votado em
cada um deles.”
110 Direito Constitucional

Exercício
83. (MP/SC – Promotor de Justiça – 2013) Julgue o seguinte item:
Pela disciplina constitucional do Brasil, os partidos políticos somente podem
receber recursos financeiros de entidades estrangeiras se regularmente cons-
tituídos e sem pendência com a justiça eleitoral e obtiverem aprovação do
relato plano de investimento junto ao TSE.

9. Verticalização das Coligações – Fidelidade


Partidária – Personalidade Eleitoral

Dispõe o art. 17 da Constituição Federal:


“Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos,
resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo,
os direitos fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes preceitos:
(...)
§ 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura
interna, organização e funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o
regime de suas coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as
candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus
estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária.”
Outra questão é o fim da verticalização, que se deu por meio da Emenda
Constitucional nº 52/2006. Antes da referida emenda constitucional, as reu-
niões de partidos feitas no âmbito federal vinculariam nos âmbitos estadual e
distrital.
Outro ponto a ser estudado é a denominada fidelidade partidária. Uma Re-
solução do TSE exigiu a fidelidade tanto para as eleições do sistema proporcional
quanto para as eleições do sistema majoritário.

Exercício
84. (FCC – 2012 – TRE-PR – Analista Judiciário) Considere as seguintes afirma-
ções sobre as normas constitucionais relativas à criação e ao funcionamento
de partidos políticos:
I – Os partidos políticos deverão observar preceitos estabelecidos na Consti-
tuição, dentre os quais, os de possuírem caráter nacional e prestarem contas
à Justiça Eleitoral.
Direito Constitucional 111

II – Os partidos políticos têm direito a recursos do fundo partidário e acesso


gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei.
III – Embora assegure aos partidos políticos autonomia para definir sua estru-
tura interna, organização e funcionamento, a Constituição prevê que seus
estatutos devem estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária.
Está correto o que se afirma em:
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) I, II e III.

10. Registro do Partido – Horário Eleitoral


Gratuito – Entidades Paramilitares

O art. 17, §§ 3º e 4º, da Constituição Federal estabelecem:


“§ 3º Os partidos políticos têm direito a recursos do fundo partidário e acesso
gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei.
§ 4º É vedada a utilização pelos partidos políticos de organização paramilitar.”
Em relação ao § 3º, é preciso observar a chamada cláusula de barreira. O STF
vem entendendo pela inconstitucionalidade desta cláusula, pois uma vez admiti-
da pode levar à restrição de criação de partidos políticos.
Quanto ao § 4º, uma organização de caráter paramilitar seria um grupo que
tenha uma ideologia de violência institucional, no sentido de tomar o poder por
outros meios, que não os meios democráticos.

Exercício
85. (FCC – 2012 – TRE-CE – Técnico Judiciário) Determinado partido político
deseja se utilizar de organização paramilitar no combate ao nepotismo e à
corrupção, cuja utilização, segundo a Constituição Federal, é
a) Lícita, mediante prévia consulta popular através de plebiscito.
b) Lícita, mediante prévio registro no Superior Tribunal Eleitoral.
c) Lícita, mediante prévia autorização do Senado Federal.
d) Vedada.
e) Lícita, mediante prévia autorização das Forças Armadas.
Capítulo 9
Organização do Estado

1. Competências da União – Aspectos


Introdutórios

No Estado Federal, não há hierarquia entre os entes federados, um não está sub-
metido ao outro; tais entes atuam autonomamente dentro do círculo pré-traçado
pela Constituição.
Neste sentido, veja o conceito de competência de Uadi Lammêgo Bulos:
“São parcelas de poder atribuídas, pela soberania do Estado Federal, aos en-
tes políticos, permitindo-lhes tomar decisões, no exercício regular de suas ativida-
des, dentro do círculo pré-traçado pela Constituição da República.”
Tipos de competência
As competências atribuídas aos entes federados são:
a) legislativa ou normativa: possibilidade do ente estabelecer normas gerais e
abstratas cuja observância obrigatória caberá àqueles que se encontram em sua
base territorial;
b) administrativa, executiva ou material: é competência para gerir, organizar,
executar determinados negócios, serviços e tarefas. A competência tributária é
tanto legislativa – instituir o tributo – como executiva – arrecadar tributo.
DISTRIBUIÇÃO DA COMPETÊNCIA:
CRITÉRIOS UTILIZADOS
Cabe averiguar os critérios usados pelo Poder Constituinte para distribuir as
competências e, na sequência, os tipos de competência resultantes desta distri-
buição. Além do Princípio da Preponderância do Interesse, que é adotado como
diretriz na repartição das competências, a CRFB/1988 adotou 4 critérios para re-
partir a competência. São eles:
Direito Constitucional 113

1 – campos específicos de competência OU enunciação de poderes enume-


rados e poderes residuais: é a distribuição realizada de forma horizontal. Por este
critério, a Lei Maior especifica item a item os temas de determinado ente; na
sequência, aduz que os assuntos não explicitados neste rol (o resíduo) ficarão re-
servados a outro ente, tal como ocorre no sistema americano, no canadense e no
indiano. A CRFB/1888 enumerou as competências da União (arts. 21 e 22) e dos
municípios (art. 30) e deixou a competência residual para os Estados-membros
(art. 25, § 1º);
Obs.: na competência tributária, todos os entes possuem competências enu-
meradas (arts. 153, 155 e 156); entretanto, a União também possui competência
residual (art. 154, I).
2 – possibilidade de delegação: quando a Constituição adota a possibilidade
de um ente delegar a outro alguma de suas atribuições enumeradas. A CRFB
consagrou a possibilidade de delegação das competências legislativas da União
para os Estados-membros (parágrafo único do art. 22);
3 – critério da atuação comum – administrativa (vertical): por este critério,
são estabelecidas competências administrativas cuja atuação será comum a todos
entes federados, levando a uma atuação de forma vertical. Está sistematizado no
art. 23 da CRFB;
4 – critério da competência concorrente – legislativa (vertical): também gera
atuação de forma vertical dos entes federados, mas trata-se de competência le-
gislativa; por ela, há a possibilidade de normatização conjunta dos entes federa-
dos sobre determinado tema (§§ 1º, 2º, 3º e 4º do art. 24 e art. 30, II).
COMPETÊNCIAS DA UNIÃO
Quadro Comparativo:

COMPETÊNCIA:
COMPETÊNCIA
ADMINISTRATIVA,
LEGISLATIVA
MATERIAL TRIBUTÁRIA
ou
ou
NORMATIVA
EXECUTIVA
Expressa – Art. 153
Exclusiva – Art. 21 re- Privativa – Art. 22 repar-
repartição horizontal
partição horizontal tição horizontal
Residual – Art. 154, I
Comum – Art. 23 repar- Concorrente – Art. 24
Extraordinária – Art.
tição vertical repartição vertical
154, II
114 Direito Constitucional

2. Competência Legislativa – Competência


Privada – Requisitos para Delegação
Legislativa

COMPETÊNCIA LEGISLATIVA – PRIVATIVA. ART. 22 – repartição horizontal:


O art. 22 elenca a competência legislativa privativa da União. Trata-se de
um extenso e denso rol que concentra grande parte dos temas a serem legis-
lados na Federação, isto é reflexo de nosso federalismo centrípeto, formado
por segregação.
O art. 22 aduz que:
“Compete privativamente à União legislar sobre:”...
Então, cabe a seguinte pergunta: qual é a diferença entre as competências
privativas e exclusivas, já que ambos possuem o mesmo significado, aquilo que
é próprio de alguém? De acordo com José Afonso da Silva, a diferença é que as
privativas podem ser delegadas, já as exclusivas não passíveis de delegação.
O constituinte originário ao elencar as competências materiais (ou executivas)
e legislativas da União seguiu a doutrina de Silva, como se vê no art. 22 e seu
parágrafo único que permite a delegação aos Estados; já o art. 21 (rol das compe-
tências executivas da União), por não dispor sobre a possibilidade de delegação,
é uma competência exclusiva.
Diante disto, é possível pensar no seguinte esquema:

Obs.: embora o constituinte tenha seguido a doutrina de Silva nos referidos


dispositivos, ela não foi seguida em todo corpo da Constituição, como nos arts.
51 e 52 em que se fala em “privativa”, mas não há a possibilidade de delega-
ção. Enfim, não basta analisar o nome “privativa”, é necessário previsão expressa
(como do parágrafo único do art. 22) autorizando a delegação; do contrário, ela
está vedada.
Direito Constitucional 115

REQUISITOS PARA DELEGAÇÃO:


São os requisitos que estão no parágrafo único do art. 22, mas também no
art. 19, II:
1 – requisito formal: conforme o parágrafo único do art. 22, a delegação deve
ser formalizada por lei complementar;
Questão: Delegada a competência é possível retomá-la?
R.: Sim, mas observado paralelismo de formas, isto é, a retomada deve se dar
mediante outra lei complementar.
2 – requisito material: a delegação tem que ser de questões específicas das
matérias elencadas nos incisos, isto é, não pode haver delegação da matéria
completa, como delegar a competência legislativa trabalhista. Neste sentido, a
Lei Complementar nº 103 autorizou os Estados e o Distrito Federal a instituírem
o piso salarial a que se refere o inciso V do art. 7º da Constituição “para os
empregados que não tenham piso salarial definido em lei federal, convenção
ou acordo coletivo de trabalho”. Perceba delegou tema específico do Direito do
Trabalho;
Obs.: caso o Estado-membro legisle sobre tema para o qual não recebeu
delegação ou extrapole os limites da delegação recebida, haverá inconstitucio-
nalidade formal orgânica. Neste sentido, na ADIn nº 4.391, a Lei Estadual nº
5.627/2009 do Rio de Janeiro foi julgada inconstitucional por ter extrapolado os
limites concedidos pela Lei Complementar nº 103, isso porque os valores fixados
na lei estadual eram aplicáveis, inclusive, aos trabalhadores com pisos salariais
estabelecidos em lei federal, convenção ou acordo coletivo de trabalho, quando
a delegação era apenas para definir tal piso quando o mesmo não estivesse esta-
belecido naquelas tais fontes do Direito do Trabalho.
3 – requisito implícito: em decorrência do art. 19, III – que veda o tratamento
diferenciado entre entes federados – a delegação deve ser feita para todos os
Estados-membros e o Distrito Federal; assim, não é possível delegar apenas a um
determinado Estado.
Obs.: os municípios não podem receber a delegação das competências pre-
vistas no art. 22, haja vista ausência de previsão expressa no texto Constitucio-
nal; entretanto, embora o parágrafo único do referido artigo também não faça
menção ao Distrito Federal como destinatário da delegação, é pacífico que a sua
inclusão ocorre pela previsão do art. 32, § 1º, ao aduzir que:
“Ao Distrito Federal são atribuídas as competências legislativas reservadas aos
Estados e Municípios.”
116 Direito Constitucional

Exercício
86. Existe alguma possibilidade de delegação de competência da União para os
Municípios?

3. Competência Privativa

Breves comentários a alguns incisos do art. 22:


“I – direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, ae-
ronáutico, espacial e do trabalho;”
O Enunciado nº 722 da Súmula do STF define que “são da competência legis-
lativa da União a definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento
das respectivas normas de processo e julgamento”. Veja que, embora se trate de
infração político-administrativa que pode, por exemplo, levar ao impeachment
de Governadores e Prefeitos, a competência para legislar é da União.
O STF julgou inconstitucional a Lei do Estado do Rio Grande do Norte que
autorizava aos procuradores daquele Estado ter porte de arma. O STF entendeu
que apenas à União fora atribuída competência privativa para legislar sobre ma-
téria penal, assim, somente aquele ente federado poderia dispor sobre regra de
isenção de porte de arma (ADIn nos 2.729 e 3.112)
Dada a competência da União para legislar sobre Direito do Trabalho, é dela
a competência para REGULAMENTAR PROFISSÕES, sendo inconstitucionais leis
estaduais ou distritais que criem tal legislação, como no caso da regulamentação
da profissão de motobói (vide ADI nº 3.610).
Por usurpação da competência da União para legislar sobre Direito do Traba-
lho, o STF na ADI nº 3.251 julgou inconstitucional a Lei nº 1.314/2004, do Estado
de Rondônia, que impunha às empresas de construção civil, com obras no Estado,
a obrigação de fornecer leite, café e pão com manteiga aos trabalhadores que
comparecessem com antecedência mínima de quinze minutos ao seu primeiro
turno de trabalho.
Embora a competência para legislar sobre direito eleitoral seja da União, o STF
julgou ser da competência do Estado-membro legislar sobre eleição para eleger
Governador e Vice em caso de dupla vacância (no decorrer dos mandatos) – nos
moldes do § 1º do art. 81 da CRFB/1988 – conforme o Tribunal, “subsume-se
à noção de matéria político-administrativa que se acha essencialmente sujeita,
no que concerne à sua positivação formal, ao domínio institucional reservado
à atuação normativa do Estado-membro” (vide ADIn nº 1.057-MC e ADIn nº
4.298-MC).
Direito Constitucional 117

“II – desapropriação;”
Não pode lei estadual ou distrital exigir que as desapropriações sejam subme-
tidas ao Poder Legislativo por invadir a competência da União para legislar sobre
o tema, bem como a separação de poderes (vide ADIn nº 969).
“IV – águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;”
Compete à União a competência legislativa e administrativa para disciplinar e
prestar os serviços de telecomunicação e energia elétrica. Assim, não pode lei es-
tadual proibir as concessionárias de cobrar tarifa de assinatura básica de serviços
de água, luz, gás, TV a cabo. No mesmo sentido, não pode lei estadual disciplinar
acúmulo de minutos de celulares, proibição de corte de energia, etc. (vide ADIn
nos 3.343 e 4.649).
“IX – diretrizes da política nacional de transportes;”
É inconstitucional lei estadual exigir acendimento de iluminação
interna do veículo em caso de blitz (ADIn nº 3.625).
Também não pode lei estadual dispor sobre idade mínima para obter habilita-
ção para conduzir veículo automotor (ADIn nº 476).
“XI – trânsito e transporte;”
Não pode lei estadual dispor sobre o cancelamento de multas regulares aplica-
das nas estradas estaduais – inconstitucional. Esta vedação não se confunde com
a possibilidade do Estado-membro, no exercício da autotutela, anular as multas
aplicadas irregularmente (ADIn nº 2.137).

Exercício
87. Compete, privativamente, à União, legislar, dentre outras matérias, sobre:
direito civil, comercial, do trabalho, serviço postal, jazidas, minas e outros
recursos minerais, diretrizes e bases da educação nacional:
a) Por se tratar de competência privativa, exclui qualquer participação da
legislação estadual e do Distrito Federal.
b) Lei complementar pode autorizar que os Estados legislem sobre ques-
tões específicas referentes às matérias de competência privativa da
União legislar.
c) Lei complementar poderá autorizar que os Estados legislem também, só
que em matéria que seja de competência comum.
d) Lei complementar poderá autorizar que os Estados legislem sobre as
matérias de competência privativa da União, salvo com respeito à desa-
propriação.
118 Direito Constitucional

4. Competência Privada da União – Art. 22 da CF

A EC nº 69/2012 alterou a redação do inciso XVII do art. 22 e do inciso XIII do art.


21, deixando de ser competência da União (administrativa e legislativa) a organi-
zação e manutenção da Defensoria Pública do Distrito Federal.
Compare a redação antiga com a nova:
Art. 22:

ANTIGA NOVA
XVII – organização judiciária, do Mi- XVII – organização judiciária, do Mi-
nistério Público e da Defensoria Públi- nistério Público do Distrito Federal e
ca do Distrito Federal e dos Territórios, dos Territórios e da Defensoria Pública
bem como organização administrati- dos Territórios, bem como organiza-
va destes; ção administrativa destes;
Art. 21:

ANTIGA NOVA
XIII – organizar e manter o Poder Ju- XIII – organizar e manter o Poder Judi-
diciário, o Ministério Público e a De- ciário, o Ministério Público do Distrito
fensoria Pública do Distrito Federal e Federal e dos Territórios e a Defenso-
dos Territórios; ria Pública dos Territórios;

“XXVII – normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades,


para as administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, Es-
tados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para
as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173,
§ 1º, III;”
LEI NACIONAL E FEDERAL
A competência legislativa da União poderá originiar leis federais ou nacionais.
Federais são aquelas aplicáveis exclusivamente à pessoa jurídica da União, como
a lei que rege os servidores públicos federais; por isso, cada ente federado possui
sua própria lei regulando assunto. Já a nacional tem aplicabilidade para todas as
demais unidades federadas, como a disposta no inciso XXVII do art. 22 e a com-
petência legislativa concorrente do art. 24.
Neste sentido, o STF já decidiu que o art. 17, I, “b” (doação de bem imóvel)
e art. 17, II, “b” (permuta de bem móvel), 17, I, “c”, e § 1º do art. 17 aplicam-se
apenas para União, ou seja, estes dispositivos são “lei federal, já o restante da lei,
por consequência, é “lei nacional” (vide ADI nº 927-MC).
Direito Constitucional 119

Já a lei das parceiras público-privadas (11.079/2004) deixa especificadas no Capí-


tulo VI as normas que são aplicáveis à União. São “lei federal”, o restante é nacional.
COMPETÊNCIA COMUM – ADMINISTRATIVA – ART. 23
É competência administrativa (material ou executiva), estabelecida pelo cri-
tério vertical, conferida a todos estes federados para atuarem de maneira coo-
perada sobre os temas dispostos no art. 23. Embora todos possam atuar sobre
os assuntos elencados, para otimizar e organizar o exercício desta competência
caberá à União estabelecer por lei complementar normas sobre cooperação (pa-
rágrafo único do art. 23). Exemplo: Lei Complementar nº 140/2011 que “fixa
normas, nos termos dos incisos III, VI e VII do caput e do parágrafo único do art.
23 da Constituição Federal, para a cooperação entre a União, os Estados, o Dis-
trito Federal e os Municípios nas ações administrativas decorrentes do exercício
da competência comum relativas à proteção das paisagens naturais notáveis, à
proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas
e à preservação das florestas, da fauna e da flora”.

5. Competência Comum e Competência


Concorrente

COMPETÊNCIA CONCORRENTE – LEGISLATIVA – ART. 24


É uma competência legislativa (também distribuída pelo critério vertical)
que permite aos entes federados (concorretemente) legislar sobre os assuntos
indicados no art. 24. Perceba que é diferente da competência privativa da União
(art. 22); a competência concorrente já é constitucionalmente determinada a
todos os entes federados independente de delegação.
Para que haja uniformidade e para se evitar sobreposição normativa, é im-
portante entender como se dá a distribuição desta competência entre os entes
federados realizada nos parágrafos do art. 24.
Distribuição:
UNIÃO: Normas Gerais – § 1º
Norma geral: não há consenso do que é. Trata-se de tema bastante discutido
na doutrina e na jurisprudência. Existem duas correntes no Supremo Tribunal
Federal:
1ª corrente (Carlos Ayres Britto) – são aquelas que possuem aplicação unifor-
me em todo território nacional, de eficácia nacional;
2ª corrente (Carlos Velloso) – são aquelas que possuem maior grau de abstra-
ção, como os princípios.
120 Direito Constitucional

De qualquer forma, a lei nacional será o parâmetro para os demais entes fe-
derados, como o Código Tributário Nacional que delimita diversos conceitos e
procedimentos, como de imposto, taxa, obrigação tributária, os quais devem ser
observados pelas leis estaduais, municipais e distritais aos instituírem seus tributos.
ESTADOS e DISTRITO FEDERAL: COMPETÊNCIA SUPLEMENTAR
Os Estados-membros e o Distrito Federal quando elaboram suas normas ati-
nentes ao exercício da competência concorrente exercitam a chamada compe-
tência suplementar.
Obs.: embora o Distrito Federal não esteja mencionado nos parágrafos do art.
24, é pacífico que o mesmo possui esta competência em virtude da norma de
extensão do § 1º do art. 32.
A competência suplementar se divide em:
1) complementar (§ 2º): exercida quando já existe uma norma geral criada
pela União. Desta forma, ele apenas complementa algo já existente;
2) supletiva (§ 3º): se a União estiver omissa não tendo criado a norma geral,
poderá o Estado-membro (e o Distrito Federal) exercer a chamada competência
legislativa plena; significa dizer que ele poderá confeccionar a norma geral (su-
prindo a omissão da União) e a específica.

Exercício
88. Considerando a repartição de competências prevista na Constituição da Re-
pública de 1988, assinale a alternativa INCORRETA:
a) No âmbito da competência legislativa privativa da União, a delegação
de competências para os Estados-membros é mera faculdade do le-
gislador federal, não sendo obrigatória nem na hipótese de inércia do
Congresso Nacional.
b) As competências comuns repartidas entre União, Estados, Distrito Fede-
ral e Municípios são competências materiais.
c) As competências legislativas estaduais são expressamente previstas no
Texto Constitucional.
d) No âmbito da competência legislativa concorrente, a União limita-se a
editar normas gerais.

6. Competência dos Estados


COMPETÊNCIAS ESTADUAIS
Como visto, a maioria das competências estão designadas para União. Isto
decorre da formação e características do nosso federalismo, formados por segre-
gação e poder concentrado de forma centrípeta.
Direito Constitucional 121

COMPETÊNCIA RESIDUAL – RESERVADA – REMANESCENTE


Conforme foi visto, a Constituição dedica à União a maior parte das compe-
tências. No art. 30, dedica uma menor parcela aos municípios, já aos Estados-
-membros caberá aquilo que não estiver designado para aqueles dois entes fede-
rados, conforme dita o § 1º do art. 25.
É neste sentido que se diz que a competência dos Estados-membros é residual,
remanescente; afinal, o que não é competência federal ou municipal está reser-
vado ao Estado-membro. Por exemplo, o transporte interestadual é de compe-
tências da União (art. 21, XII, “e”); o urbano é municipal (interesse local – art.
30, I); e o intermunicipal, como não é expressamente indicado a nenhum deles,
é competência estadual.
Obs.: embora a principal competência dos Estados seja a residual, é importan-
te lembrar que estes entes federados também possuem competência expressa no
texto constitucional. Veja a seguir.
EXPRESSAS:
– Art. 25, caput: auto-organização.
– § 2º do art. 25: serviços de gás canalizado.
– 3 aspectos importantes para provas:
– § 3º do art. 25: criação de regiões metropolitanas.
– § 4º do art. 18: criação de municípios.

7. Competência dos Estados e do Distrito


Federal
OUTRAS COMPETÊNCIAS DOS ESTADOS
Os Estados possuem ainda a competência comum (art. 23) (administrativa), a
competência concorrente (legislativa) (art. 24), tanto complementar como suple-
tiva (§§ 2º e 3º do art. 24), pode receber delegação legislativa de temas da com-
petência privativa da União (parágrafo único do art. 22) e competência tributária
expressa (art. 155).
DISTRITO FEDERAL
Natureza jurídica do Distrito Federal: é um ente sui generis, não é Município e
nem Estado-membro, conforme já decidiu o STF. O Distrito Federal não pode ser
dividido em municípios (art. 32), as cidades satélites são em verdade descentrali-
zações administrativas, mas não políticas.
Obs.: a capital do Brasil não é o Distrito Federal, mas sim Brasília, que está
dentro do território do Distrito Federal, conforme § 1º do art. 18 da CRFB/1988.
122 Direito Constitucional

Auto-organização é realizada primeiramente com a criação da Lei Orgânica


Distrital (e não Constituição), que é votada pela Câmara Legislativa em dois
turnos com interstício mínimo de dez dias, aprovado por maioria de dois terços.
Na sequência, criam-se as leis distritais observando sua competência legislativa
(art. 32).
Observe que o STF na ADIn nº 980-DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, afirmou
que a Lei Orgânica do Distrito Federal possui natureza Constitucional, ou seja,
embora não receba a nomenclatura de Constituição, a mesma detém status de
uma de nível estadual.

8. Distrito Federal e Municípios

Em regra, são atribuídas ao Distrito Federal as mesmas competências dos Estados-


-membros e dos Municípios (§ 1º do art. 32), salvo quando a CRFB/1988 excep-
cionar expressamente, como ocorre nos incisos XIII e XIV do art. 21 e no inciso
XVII do art. 22.
MUNICÍPIOS
Primeira indagação que se coloca é: o município é ente Federativo?
1ª corrente minoritária (José Afonso da Silva): não é ente federativo.
2º corrente majoritária e STF: é ente federativo, pois conforme dispõem os
arts. 1º e o 18 da CRFB/1988 possuem autonomia igual aos demais entes.
2 – COMPETÊNCIAS MUNICIPAIS
Art. 29. Criação da Lei Orgânica.
Art. 30. Pode ser dividido em 3 grupos:
1 – LEGISLATIVA – I;
2 – SUPLEMENTAR – II;
3 – MATERIAIS – III a IX.
Inciso I: interesse local:
Dependerá da casuística do STF que define se é local ou não. Veja alguns
casos já cobrados:
1 – Conforme o Enunciado nº 645 da Súmula do STF, a fixação do horário de
funcionamento de estabelecimento comercial é de fixação municipal. Mas não
significa que o ente municipal possa determinar qualquer coisa sobre funciona-
mento comercial; por exemplo, distância mínima entre farmácias.
Obs.: horário de funcionamento da agência bancária é fixado pela União, con-
forme o Enunciado nº 19 da Súmula do STJ – porque prevalece interesse nacional.
Direito Constitucional 123

No Informativo nº 394, o STF estabeleceu que a prestação do serviço bancário


pode ser determinada pelo Município, como tempo na fila, banheiro, bebedouro,
cadeiras, portas de segurança, etc.
OUTRAS COMPETÊNCIAS:
Criar o Plano Diretor – 182, § 1º:
1 – Desapropriação: sanção urbana – art. 182, § 4º.
2 – Guarda Municipal – § 8º do art. 144.
3 – Tributária – art. 156.

Exercício
89. Sobre a competência da União, Estados e Municípios, assinale a alternativa
correta:
a) Compete privativamente à União legislar sobre: direito civil, comercial,
serviço postal e educação.
b) São da União as competências que não lhe são vedadas pela Constitui-
ção Federal.
c) Compete privativamente aos Municípios legislar sobre: assuntos de in-
teresse local e normas de proteção ao meio ambiente.
d) São dos Estados as competências remanescentes.
e) Compete concorrentemente aos Estados e à União legislar sobre: direi-
to tributário, custas e serviços forenses, responsabilidade por dano ao
meio ambiente e trânsito.

9. Processo Interventivo

Em regra, a União não intervirá nos Estados e nem no Distrito Federal, bem como
os Estados não intervirão nos Municípios.
Isso porque é preciso observar a autonomia de cada ente federativo.
Ocorre que, em algumas hipóteses excepcionais, é possível a intervenção, que
consiste em um ato político, com a finalidade de restabelecer no ente que a sofre
os valores federativos pátrios.
Faz-se necessário observar que a intervenção sempre se dá do ente maior para
o ente menor.
124 Direito Constitucional

Exercício
90. (Fepese – 2012 – DPE-SC – Defensor Público) Dentro de um estado-membro
da Federação, grupos criminosos tornam-se cada vez mais influentes. Com o
tempo, passam mesmo a controlar, na prática, vastas áreas de um município
específico. Promovem sistematicamente, então, grandes massacres, logran-
do eliminar 90% do efetivo da Guarda Municipal.
Nessa situação, seria possível, em tese:
a) Uma intervenção estadual espontânea no município, para pôr termo a
grave comprometimento da ordem pública.
b) Uma intervenção federal espontânea no estado-membro, para pôr ter-
mo a grave comprometimento da ordem pública.
c) Uma intervenção federal espontânea no município, para pôr termo a
grave comprometimento da ordem administrativa.
d) A decretação pelo Governador, do estado de defesa, afetando apenas
o município em que os massacres estivessem ocorrendo.
e) A decretação, pelo Presidente do Tribunal de Justiça, do estado de sítio,
afetando apenas o município em que os massacres estivessem ocorrendo.

10. Pressupostos da Intervenção

Conforme já estudado anteriormente, a regra é que não haja intervenção. Neste


sentido, o art. 34 da Constituição Federal dispõe que a União não intervirá nos
Estados nem no Distrito Federal, a não ser que se encaixe em uma das situações
excepcionais.
É importante observar que os incisos I, II, III e V trazem hipóteses de intervenção
espontânea.
Ademais, em caso de recusa a execução de lei federal, estar-se-á diante de uma
hipótese de ADI Interventiva. Já no caso de hipótese de recusa à ordem ou decisão
judicial, dependerá de requisição (STF, STJ ou TSE, a depender da matéria).
O inciso VII, por sua vez, trata dos princípios constitucionais sensíveis, aponta-
dos pela doutrina como cláusulas pétreas.
O art. 35 consagra a regra da não intervenção em seu caput, trazendo as
exceções em seus incisos.
Por fim, estabelece a Súmula nº 637 do STF:
“Não cabe recurso extraordinário contra acórdão de Tribunal de Justiça que
defere pedido de intervenção estadual em Município.”
Direito Constitucional 125

Exercício
91. (FCC – 2013 – TJ-PE – Juiz) O Estado não intervirá em seus Municípios, nem
a União nos Municípios localizados em Território Federal, EXCETO quando,
entre outras hipóteses:
a) O Superior Tribunal de Justiça der provimento a representação para as-
segurar a observância de princípios indicados na Constituição Estadual,
ou para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial.
b) Não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal nas ações
e serviços públicos e privados de saúde.
c) Deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por pelo menos três
anos consecutivos, a dívida fundada.
d) Não forem prestadas contas devidas, na forma da lei complementar.
e) Não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manu-
tenção e desenvolvimento do ensino.

11. ADI Interventiva

A ADI Interventiva ou Representação Interventiva encontra-se dentro do estudo


do controle concentrado de constitucionalidade das normas.
Entretanto, não se trata de um controle abstrato, uma vez que não se analisa
a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da norma, mas sim a situação de
descumprimento às ideias de soberania dos entes federativos.
A ADI Interventiva está prevista no art. 36, III, da CF.
A legitimidade ativa é concentrada na pessoa do Procurador-Geral da Repúbli-
ca, no âmbito federal, e nas mãos do Procurador-Geral de Justiça em se tratando
de intervenção do Estado nos Municípios.
Sua origem se deu na Constituição de 1934 e, apesar de extirpada da Consti-
tuição de 1937, foi restabelecida na de 1946, estando, desde então, presente em
todas as Constituições.
A ADI Interventiva possui como finalidade a resolução, em um caso concreto,
de um conflito de natureza federativa.
Em relação à competência para apreciar a questão, em se tratando de ADI
Interventiva para se proceder à intervenção federal, esta será do STF. De outra for-
ma, em se tratando de ADI Interventiva para se proceder à intervenção estadual,
a competência será do Tribunal de Justiça do Estado envolvido.
126 Direito Constitucional

Exercício
92. (Cespe – 2012 – DPE-SE – Defensor Público) Acerca da organização do Esta-
do e da intervenção na CF, assinale a opção correta:
a) Os estados-membros da Federação, além de autônomos, são sobera-
nos, possuindo direito de secessão.
b) A intervenção da União em estado, para assegurar a observância dos
chamados princípios constitucionais sensíveis, depende do provimento,
pelo STF, de representação interventiva ajuizada pelo procurador-geral
da República.
c) A União pode intervir no município que deixar de prestar as devidas
contas, na forma da lei, em caso de inércia do estado em que este se
situe.
d) O DF pode intervir nos municípios situados em seu entorno.
e) A intervenção federal decorre da hierarquia existente entre a União, os
estados, o DF e os municípios.

12. Requisição do STF – ADI Interventiva

O procedimento da ADI Interventiva vem disposto na Lei nº 12.562/2011, Regi-


mento Interno do STF, bem como os arts. 19 a 22 da Lei nº 8.038/1990.
É cabível medida liminar, cuja competência é do plenário do STF.
Julgada procedente a ADI Interventiva, o Presidente do STF imediatamente
comunicará a decisão aos órgãos do Poder Público interessados e requisitará a
intervenção do Presidente da República, o qual deverá, sob pena de crime de
responsabilidade, decretar a intervenção federal no Estado ou Distrito Federal (ou
nos Municípios situados em Territórios).
Nos casos de ADI Interventiva, o decreto poderá se limitar a suspender a
execução do ato impugnado, se esta medida bastar ao restabelecimento da
normalidade.
A decisão que julgar a ADI Interventiva é irrecorrível, salvo hipótese de embar-
gos de declaração, não comportando, ainda, ação rescisória.

Exercício
93. (Cespe – 2011 – AL-ES – Procurador) No que concerne à intervenção federal
e à intervenção dos estados nos municípios, assinale a opção correta:
Direito Constitucional 127

a) Quando a intervenção do Estado-membro no município tiver por fun-


damento a não aplicação do mínimo exigido da receita municipal na
manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços pú-
blicos de saúde, é dispensada a apreciação do decreto pela assembleia
legislativa.
b) O STF pode exercer o controle de constitucionalidade do decreto de
intervenção editado pelo governador do estado no âmbito de recur-
so extraordinário, por ser o recurso extraordinário instrumento cabível
quando há o deferimento pelo tribunal de justiça do pedido de inter-
venção estadual em município.
c) O presidente da República pode decretar de ofício a intervenção fede-
ral, nas hipóteses previstas na CF em rol exemplificativo.
d) Quando o STF julga procedente a ação direta de inconstitucionalidade
interventiva, o presidente da República tem a obrigação de decretar a
intervenção no ente federado, não lhe restando margem de discriciona-
riedade.
e) Considerando a natureza política do ato, o decreto de intervenção edi-
tado pelo presidente da República não pode ser objeto de controle de
constitucionalidade.
Capítulo 10
Servidores Públicos

1. Servidores Públicos – Art. 39


Os servidores públicos estão disciplinados nos arts. 39, 40 e 41 da Constituição
Federal de 1988. Na esfera infraconstitucional, os servidores públicos estão discipli-
nados na Lei nº 8.112/1990 – Lei dos Servidores Públicos da União. Nesta unidade de
estudo, iremos nos dedicar à análise dos servidores públicos na esfera constitucional.
Com a suspensão promovida pelo STF, voltou a vigorar a redação do antigo
caput do art. 39, CF/1988 o qual expressa:
“A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, no âmbito
de sua competência, regime jurídico único e planos de carreira para os servidores
da administração pública direta, das autarquias e das fundações públicas.”
O § 1º do art. 39 traz os critérios para a fixação dos padrões de vencimento e
dos demais componentes do sistema remuneratório e são eles:
I – a natureza, o grau de responsabilidade e a complexidade dos cargos com-
ponentes de cada carreira;
II – os requisitos para a investidura; e
III – as peculiaridades dos cargos.
O § 2º do art. 39, em sua primeira parte, determina que a União, os Estados
e o Distrito Federal manterão escolas de governo para a formação e o aperfeiçoa-
mento dos servidores públicos constituindo-se a participação nos cursos um dos
requisitos para a promoção na carreira, facultada, para isso, a celebração de con-
vênios ou contratos entre os entes federados. Apesar do texto constitucional não
impor a obrigatoriedade da manutenção de escolas de governo aos municípios, é
altamente recomendável que o façam.
A segunda parte do § 2º do art. 39 também tem sido objeto de questões de
provas no que se refere à participação desses servidores nos cursos de aperfeiçoa-
mento como requisito para sua promoção na carreira pública.
Direito Constitucional 129

2. Servidores Públicos – Arts. 39, 135 e 144, § 9º

No âmbito do direito constitucional, o dinheiro possui várias denominações tais


como: salário, provento, soldo, pensão, vencimento, subsídio.
O § 4º do art. 39 da CF/1988 define que os Membros do Poder, o Detentor de
Mandato Eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Municipais
serão remunerados exclusivamente por subsídio. É vedado a estes servidores o
acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de represen-
tação ou outra espécie remuneratória.
Sobre a espécie de remuneração, subsídio também é tratada no art. 37, X e
XI, da CF/1988. O inciso X determina que o subsídio deva ser fixado por lei espe-
cífica. Já o inciso XI estipula o teto remuneratório.
Apesar do § 4º do art. 39 da CF/1988 definir o subsídio como forma de paga-
mento dos Membros de Poder, Detentor de Mandato Eletivo, Ministros de Estado,
Secretários Estaduais e Municipais, o próprio texto constitucional traz três outras
hipóteses de pagamento por meio de subsídio.
A primeira hipótese é a constante do § 8º do próprio art. 39 da CF/1988 que
traz a possibilidade de que outros servidores públicos desde que organizados em
carreira possam ter sua remuneração fixada de acordo com o § 4º.
O art. 135 da CF/1988 também traz a possibilidade de servidores integrantes
das carreiras disciplinadas nas Seções II e III do Capítulo das Funções Essenciais à
Justiça serem remunerados na forma do art. 39, § 4º da CF/1988.
E, por último, o art. 144, § 9º, permite que a remuneração de servidores po-
liciais integrantes dos órgãos relacionados neste artigo seja fixada na forma do
§ 4º do art. 39 da CF/1988.

3. Servidores Públicos: Subsídios

Prosseguindo na análise do art. 39 da CF/1988, o § 5º determina que pode a Lei


da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios estabelecer o padrão
de remuneração de seus servidores públicos, desde que obedecendo ao disposto
no art. 37, XI, da CF/1988 que trata do teto salarial dos servidores públicos. Cada
ente da Federação será responsável pela padronização da remuneração dos ser-
vidores de sua esfera.
Os entes poderão estabelecer relação entre a maior e a menor remunera-
ção dos servidores; entretanto, não poderão realizar a vinculação de padrões
remuneratórios entre as carreiras.
130 Direito Constitucional

O § 6º dando efetividade ao Princípio da Publicidade impõe aos Poderes Exe-


cutivo, Legislativo e Judiciário que publiquem anualmente os valores do subsídio
e da remuneração dos cargos e empregos públicos.
O § 7º disciplina a aplicação de recursos orçamentários provenientes da eco-
nomia com despesas correntes em cada órgão, autarquia e fundação para a
aplicação no desenvolvimento de programas de qualidade, produtividade, treina-
mento e desenvolvimento, modernização, reaparelhamento e racionalização do
serviço público, inclusive sob a forma de adicional ou prêmio de produtividade.
São leis da União, Estados, Distrito Federal e Municípios porque todos os entes
possuem servidores próprios.
Estas leis destinarão os recursos que foram economizados por cada órgão.
Esta economia deve ser aplicada no desenvolvimento de programas de qualidade,
produtividade, treinamento e desenvolvimento, modernização, reaparelhamento
e racionalização dos serviços públicos. A questão de prova tenta pegar o aluno
dizendo que a lei será da União. Ficar atento porque a lei será de todos os entes
da Federação.
Ao esgotar a análise do art. 39 da CF/1988, é preciso ter em mente que para
a fixação do subsídio são levados em conta a responsabilidade do cargo, a com-
plexidade do cargo, as peculiaridades e os requisitos para a investidura no cargo.
Relembre também a existência das escolas de formação e aperfeiçoamento de
servidores que devem ser mantidas pela União, Estados e Distrito Federal e que,
apesar dos Municípios não serem obrigados, poderão constituí-las e que a parti-
cipação nestes cursos poderá ser requisito para a promoção na carreira. Também
foi visto na análise do art. 39 que alguns direitos do art. 7º da CF/1988 são esten-
didos aos servidores públicos.

4. Servidores Públicos: Art. 40 da CF – Regime de


Previdência

O art. 40 da Constituição trata basicamente do regime de previdência dos servi-


dores titulares de cargos efetivos, tanto no que se refere à aposentadoria quanto
no que tange à pensão por morte.
Há três tipos de regime de previdência: regime próprio, regime geral e regime
complementar. O regime próprio é o regime do servidor público ocupante de car-
go efetivo que é mantido por cada ente da Federação. O chamado regime geral
é o regime garantido aos trabalhadores que integram a estrutura da iniciativa
privada. Já o regime complementar era utilizado apenas para complementar o
regime geral, posteriormente, o regime próprio.
Direito Constitucional 131

No regime geral, há um teto que vale tanto para a contribuição quanto para
o benefício. Exemplo: se o teto é no valor de três mil reais, a contribuição e o
benefício serão sobre os três mil reais. Entretanto, se o profissional possuísse
renda mensal de vinte mil reais, e contribuía sobre o teto de três mil reais ficaria
limitado ao benefício no valor de três mil reais.
Para que este profissional percebesse um benefício no valor de vinte mil reais
quando se aposentasse, precisaria contribuir sobre os vinte mil reais, mas isto não era
possível no regime geral em razão do teto, é aí que entra o regime complementar.
Para o estudo do art. 40 da CF/1988, é importante entender que o servidor
ocupante de cargo efetivo estará regido pelo regime previdenciário próprio, en-
quanto que os ocupantes de cargo em comissão, de livre nomeação e exonera-
ção, de cargo temporário ou de emprego público, estarão regidos pelo regime
previdenciário geral, conforme consta no próprio art. 40 em seu § 13.
Prosseguindo no caput do art. 40, diz o referido:
“É assegurado o regime de previdência de caráter contributivo e solidário,
mediante contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos
e dos pensionistas.”
Esta redação inclui os servidores inativos, não antes contemplados e foi dada
pela Emenda Constitucional nº 41, de 19.12.2003; emenda esta responsável pela
reforma da previdência.

5. Servidores Públicos: Regime Previdenciário –


Parte I

Aposentadoria por invalidez permanente – a regra é uma percepção de proventos


proporcionais ao tempo de serviço, salvo se em determinados casos (acidente em
serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável) em que
os proventos são integrais.
Aposentadoria compulsória – aos 70 (setenta) anos de idade, com proventos
proporcionais ao tempo de contribuição.
Aposentadoria voluntária – só poderá requerer quem tiver 10 (dez) anos de
serviço e 5 (cinco) anos no cargo efetivo em que se dará a aposentadoria, obser-
vadas as seguintes condições:
a) proventos integrais: 60 (sessenta) anos de idade e 35 (trinta e cinco) de
contribuição, se homem, e 55 (cinquenta e cinco) anos de idade e 30 (trinta)
de contribuição, se mulher. Proventos integrais levam em conta a idade e o
tempo de contribuição;
132 Direito Constitucional

b) proventos proporcionais: 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e


60 (sessenta) anos de idade, se mulher, com proventos proporcionais ao tempo de
contribuição. Proventos proporcionais levam em conta apenas a idade.
O § 5º do art. 40 traz uma redução em 5 (cinco) anos nos requisitos de idade e
tempo de contribuição disposto no § 1º, III, “a”, para o professor que comprovar
exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educa-
ção infantil e no ensino fundamental e médio. Esta regra trazida pelo § 5º não se
aplica ao disposto no § 1º, III, “b”.

6. Servidores Públicos: Regime Previdenciário –


Parte II

Os proventos de aposentadoria e as pensões, por ocasião de sua concessão, não


poderão exceder a remuneração do respectivo servidor, no cargo efetivo em que
se deu a aposentadoria ou que serviu de referência para a concessão da pensão.
O valor da aposentadoria será utilizado como base de cálculo do valor da
remuneração que foi utilizado como base de cálculo da contribuição. Em cima de
quanto contribuiu, será calculado o valor da aposentadoria.
É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de
aposentadoria, ressalvados nos termos definidos em lei, os casos de servidores
portadores de deficiência, ou que exerçam atividade de risco, ou que exerçam
atividades que prejudiquem sua saúde ou integridade física.
Só será possível acumulação de aposentadorias no serviço público nas hipó-
teses de:
a) dois cargos de professor;
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico; e
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com
profissões regulamentadas.
A pensão por morte é um benefício previdenciário pago aos dependentes
daquele que faleceu. Se o falecido já for aposentado, o benefício é o máximo do
regime geral acrescido de 70% (setenta por cento) naquilo que exceder. Exemplo:
o servidor público recebia aposentadoria no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais),
o teto do regime geral é de R$ 3.000,00 (três mil reais), a pensão por morte será
de R$ 3.000,00 (três mil reais) + 70% (setenta por cento) do valor que exceder os
R$ 3.000,00 (três mil reais).
É assegurado o reajuste dos benefícios para preservar o valor real destes que,
com o passar do tempo, ficam defasados. Todo tempo de contribuição, seja fede-
Direito Constitucional 133

ral, estadual ou municipal, que o servidor tiver no serviço público será computado
para efeito de aposentadoria e o tempo de serviço correspondente será computa-
do para efeito de disponibilidade. A lei não pode estabelecer qualquer forma de
contagem de tempo de contribuição fictício

7. Servidores Públicos: Reforma Previdenciária

A submissão do regime próprio dos servidores tem caráter subsidiário às regras do


regime geral de previdência, ou seja, aplicam-se no que couberem as regras
do regime geral de previdência.
A reforma da previdência permitiu que se trouxesse para o regime próprio o
teto previdenciário que há no regime geral. Pode-se criar para os servidores pú-
blicos de cargo efetivo, o teto do regime geral e, obrigatoriamente, o sistema de
previdência complementar.
É possível criar a previdência complementar, desde que siga as regras da
previdência complementar do regime geral. O servidor não é obrigado a migrar
para este novo regime; se o servidor público não desejar, ele permanecerá no
regime anterior, sem teto e sem previdência complementar. Somente com a pré-
via e expressa anuência do servidor público, irá haver a sua alteração de regime
previdenciário.
A contribuição previdenciária do servidor público aposentado para aqueles
cuja aposentaria exceda o teto do benefício do regime geral, ou seja, supere o
limite máximo estabelecido para os benefícios do regime geral, bem como no
caso de beneficiário portador de doença incapacitante, somente incidirá nas par-
celas que superem o dobro do limite máximo estabelecido para os benefícios do
Regime Geral de Previdência Social.
A aposentadoria compulsória é somente aos 70 (setenta) anos, já a aposen-
tadoria voluntária por idade e tempo de contribuição é permitida ao homem que
tenha 60 (sessenta) anos de idade e 35 (trinta e cinco) anos de contribuição e,
se for professor de educação infantil e no ensino fundamental e médio, poderá
fazer jus à redução do tempo em 05 (cinco) anos. Se o servidor já preencheu os
requisitos para se aposentar, mas continua em atividade, deixará de pagar a con-
tribuição previdenciária até alcançar a aposentadoria compulsória.
Não pode haver em cada ente estatal mais de um regime próprio de servidor,
salvo os militares. Poderia ter um regime de previdência diferenciado para os
militares, como é possível para os servidores em cargo efetivo.
134 Direito Constitucional

8. Servidores Públicos: Estabilidade – Parte I

A estabilidade é uma garantia contra o desligamento arbitrário do serviço pú-


blico. É adquirida após 3 (três) anos de serviço efetivo no cargo. Enquanto não
adquirida, o servidor fica no chamado estágio probatório.
Hipóteses em que o servidor público estável perderá o cargo:
I – em virtude de sentença judicial transitada em julgado;
II – mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla defesa;
III – mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho na forma
de lei complementar, assegurada ampla defesa.
O servidor só perderá o cargo após a aquisição da estabilidade mediante:
sentença judicial transitada em julgado; processo administrativo; e avaliação pe-
riódica de desempenho na forma da lei complementar.
Existem outras situações em que o servidor estável pode perder o cargo. Um
exemplo é a necessidade de redução de despesas com pessoal, conforme dispõe
o art. 169 da CF/1988.
Para tanto, é necessário seguir as regras do mencionado artigo. Assim sendo,
primeiro deve observar as regras do § 3º que exige:
I – a redução de pelo menos vinte por cento das despesas com cargos em
comissão e funções de confiança; e
II – exonerar os servidores não estáveis.
Caso as medidas do § 3º não forem suficientes para assegurar o cumprimento
da determinação da lei complementar e, de acordo com o § 4º, poderá perder o
cargo o servidor estável, desde que por ato normativo motivado. O servidor que
perder o cargo na forma do § 4º fará jus à indenização no valor correspondente a
um mês de remuneração por ano de serviço, conforme regra do § 5º do mesmo
art. 169 da CF/1988.
Outra hipótese de perda de cargo de servidor estável prevista constitucional-
mente é a regra contida no art. 198, § 6º, que prevê aos servidores que exerçam
funções equivalentes às de agente comunitário de saúde ou de agente de com-
bate às endemias a perda do cargo em caso de descumprimento dos requisitos
específicos fixados em lei, para o seu exercício.

9. Servidores Públicos: Estabilidade – Parte II


Prosseguindo na análise do art. 41, o § 2º determina que o servidor estável que
tiver sua demissão invalidada por sentença judicial será reintegrado, enquanto o
Direito Constitucional 135

eventual ocupante da vaga, se estável, será reconduzido ao cargo de origem, sem


direito à indenização, aproveitado em outro cargo ou posto em disponibilidade
com remuneração proporcional ao tempo de serviço.
Exemplo: servidor que perdeu o cargo por condenação na esfera administra-
tiva, recorre à esfera judicial, obtendo a invalidação da sentença administrativa.
Com a invalidação da demissão obtida mediante sentença judicial, o servidor
volta ao cargo que antes ocupava. Este fenômeno de voltar ao cargo que ocupava
chama-se reintegração.
Se houver alguém ocupando o seu cargo, essa pessoa que estava na vaga, se
for estável, voltará ao seu cargo de origem, sem direito à indenização. Se não for
possível retornar ao cargo de origem, será aproveitado em outro cargo ou, se não
for possível reaproveitá-lo, será colocado em disponibilidade com remuneração
proporcional ao tempo de serviço.
O § 3º traz a hipótese de extinção do cargo ou a desnecessidade deste. Neste
caso, o servidor estável ficará em disponibilidade com remuneração proporcional
ao tempo de serviço, até que seja aproveitado em outro cargo.
Nesta hipótese, não se fala em reintegração porque reintegração pressupõe
a invalidação por decisão judicial do ato que retirou o servidor dos quadros da
administração pública.
Não basta a passagem dos três anos de serviço, é necessário ser aprovado em
uma avaliação de desempenho, para conseguir a estabilidade.
Capítulo 11
Poder Legislativo

1. Poder Legislativo: Funções

Na estrutura do Estado Constitucional, temos a consagração do modelo da tri-


partição de poderes, os três grandes poderes do Estado, que são o Executivo, o
Legislativo e o Judiciário.
A cada um desses poderes, é atribuída uma função, uma determinada atividade.
Ocorre que com a evolução das ideias no plano das ciências políticas, todos os po-
deres passaram a exercer todas as funções; com os três exercendo todas as funções,
a doutrina passou a falar em exercício de função típica e exercício de função atípica.
O Poder Legislativo tem como função típica legislar e fiscalizar e como função
atípica administrar e julgar. O processo legislativo está previsto nos arts. 59 a 69
da CF/1988. Sua função fiscalizatória ocorre no plano administrativo e financeiro.
No que tange ao processo fiscalizatório administrativo, disciplinado no art. 50,
CF/1988, ele acontece de duas formas: convocação ministerial e as Comissões
Parlamentares de Inquérito (CPI).
A fiscalização financeira realizada pelo Poder Legislativo é o controle externo
de todo o mecanismo estrutural, com auxílio do Tribunal de Contas (arts. 70 a 77
da CF/1988).
Na função atípica de julgar, o Poder Legislativo atua em casos específicos
julgando autoridades do país pela prática de crimes de responsabilidade. Exem-
plo: julgamento de impeachment é realizado pelo Senado Federal, ou seja, Poder
Legislativo exercendo função atípica de julgar.
Estas são as funções desenvolvidas pelo Poder Legislativo como atividade típi-
ca própria, legislar e fiscalizar e em caráter excepcional as funções administrativa
e julgadora.
A Constituição Federal principia o art. 44 e seguintes mencionando como
funciona a composição do Poder Legislativo em âmbito federal.
Direito Constitucional 137

2. Poder Legislativo: Composição


O art. 44 da Constituição Federal mencionou a composição do Poder Legislativo
no âmbito federal, exercido pelo Congresso Nacional, sendo composto pela Câ-
mara dos Deputados e pelo Senado Federal.
Em âmbito estadual, o Poder Legislativo é exercido pelas Assembleias Legisla-
tivas, conforme art. 27 da CF/1988. Em âmbito municipal, este poder é exercido
pela Câmara dos Vereadores, art. 29 da CF/1988. E, em âmbito distrital, o Poder
Legislativo é exercido pela Câmara Legislativa, art. 32 da CF/1988.
O Congresso Nacional é a junção da Câmara dos Deputados com o Senado
Federal; entretanto, não se confundem, pois cada qual possui suas próprias áreas
de atuação. Existem competências que são exclusivas do Congresso Nacional (arts.
48 e 49 da CF/1988), do mesmo modo que há competências exclusivas do Senado
Federal (art. 51 da CF/1988) como da Câmara dos Deputados (art. 52 da CF/1988).
A Câmara dos Deputados representa o povo, enquanto o Senado Federal
representa os Estados. Os Deputados são eleitos pelo sistema proporcional, já os
Senadores são eleitos pelo sistema majoritário.
Os Deputados são eleitos nos Estados, Distrito Federal e Territórios, enquanto
os Senadores são eleitos apenas nos Estados e no Distrito Federal.
Cada Estado e o Distrito Federal elegem entre 8 (oito) a 70 (setenta) Deputa-
dos e os Territórios elegem 4 (quatro), enquanto o número de Senadores é unifor-
me, sendo eleitos 3 (três) Senadores por Estado e Distrito Federal.
Mandato de Deputado é de 4 (quatro) anos. O mandato de senadores é de 8
(oito) anos, sendo renovado de 4 (quatro) em 4 (quatro) anos, de 1/3 (um terço)
a 2/3 (dois terços). Isto quer dizer que, em uma eleição, elege-se 1 (um) senador
e na eleição seguinte, elegem-se 2 (dois) senadores.
Deputado não é eleito com nenhum suplente, já cada senador é eleito com 2
(dois) suplentes cada.
No que tange à idade, o art. 14, § 3º, da CF/1988, estabelece como idade
mínima de 21 (vinte e um) anos para o cargo de Deputado Federal e de 35 (trinta
e cinco) anos para Senador da República.

3. Poder Legislativo: Composição e Competência


dos Órgãos – Parte I
Medida provisória de iniciativa do Presidente da República começa a tramitar na
Câmara dos Deputados. A Câmara dos Deputados tem que autorizar processo
contra o Presidente da República.
138 Direito Constitucional

Se o Presidente da República não encaminhar as contas ao Congresso Nacio-


nal, a Câmara procederá à tomada das contas.
Tudo o que envolver o aspecto financeiro entre os entes da Federação vai ser
competência do Senado Federal.
O Senado Federal é uma casa mais experiente e, sendo assim, todos os assun-
tos que exigir uma maior experiência, a competência será dele. Exemplo: compe-
tência para julgar grandes autoridades é do Senado Federal.
Todos os casos em que a nomeação para cargo depender de aprovação admi-
nistrativa vai ser de competência do Senado Federal.
As competências do Congresso Nacional estão previstas nos arts. 48 e 49 da
Constituição Federal. O art. 48 trata das competências legislativas do Congresso
Nacional, enquanto o art. 49 trata das competências administrativas.
Apenas a competência legislativa é hábil para a criação de leis. A competência
administrativa não é hábil para a criação de leis, é hábil apenas para a criação de
decretos legislativos, que são uma espécie normativa que é utilizada para mate-
rializar a competência administrativa do Congresso Nacional.
O art. 48 submete o Congresso Nacional à sanção presidencial para dispor
sobre todas as matérias de competência da União, excetuando-se o disposto nos
arts. 49, 51 e 52 porque estes artigos não geram lei. Sanção é um ato pelo qual
o Presidente da República aprova um projeto de lei; toda lei de competência da
União tem de ser submetida à sanção presidencial.
Sendo assim, o que se submete à sanção é a competência para legislar pre-
vista no art. 48 da CF/1988. As competências administrativas previstas no art. 49
não passam pela sanção presidencial.

4. Poder Legislativo: Composição e Competência


dos Órgãos – Parte II

As competências da Câmara dos Deputados estão disciplinadas no art. 51 da


CF/1988 e são elas:
a) autorizar, por 2/3 (dois terços) de seus membros, a instauração de processo
contra o Presidente e Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado (art.
51, I, da CF/1888);
b) proceder à tomada de contas do Presidente da República, quando não
apresentadas ao Congresso Nacional dentro de 60 (sessenta) dias após a abertura
da sessão legislativa (art. 51, II, da CF/1988);
c) elaborar seu regimento interno (art. 51, III, da CF/1988);
Direito Constitucional 139

d) dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação, transforma-


ção ou extinção dos cargos, empregos e funções de seus serviços, e a iniciativa de
lei para fixação da respectiva remuneração, observados os parâmetros estabeleci-
dos na lei de diretrizes orçamentárias (art. 51, IV, da CF/1988);
e) eleger membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII, da
CF/1988 (art. 51, V, da CF/1988). O Conselho da República é um órgão que auxi-
lia o Presidente da República, é um órgão consultivo. A Câmara dos Deputados e
o Senado Federal nomeiam 2 (dois) membros, cada um para compor o Conselho
da República.
Competências de fato privativas da Câmara dos Deputados são as discipli-
nadas nos incisos I e II do art. 51 da CF/1988, visto que as demais competências
disciplinadas nos incisos III, IV e V serão encontradas também na competência
do Senado Federal, no Supremo Tribunal Federal, todos os órgãos que tenham
autonomia para dispor sobre sua organização.
As competências do Senado Federal estão disciplinadas no art. 52 da CF/1988
e são elas:
a) processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes
de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da
Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos
com aqueles (art. 52, I, da CF/1988);
b) processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros
do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público,
o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da União nos crimes de
responsabilidade (art. 52, II, da CF/1988).

5. Poder Legislativo: Assembleia Legislativa


A Assembleia Legislativa está disciplinada no texto constitucional sob o art. 27. A
primeira regra a ser extraída sobre sua composição é que para cada deputado
federal haverá 3 (três) deputados estaduais. Esta regra é válida até o limite de 12
(doze) deputados federais, que gerará 36 (trinta e seis) deputados estaduais. No
caso de ultrapassar o número de 12 (doze) deputados federais, a regra muda:
para cada deputado federal acima do 12º membro, ao invés de ter 3 (três) depu-
tados estaduais, será apenas 1 (um). Exemplo: se houver 13 (treze) deputados
federais, haverá 37 (trinta e sete) deputados estaduais.
No que tange às competências da Assembleia Legislativa, a Constituição foi
sucinta e dispôs no § 3º que compete à Assembleia dispor sobre seu regimento
interno, polícia e serviços administrativos de sua secretaria, além de promover os
respectivos cargos.
140 Direito Constitucional

Em relação à Assembleia Legislativa do Distrito Federal, a Constituição discipli-


nou no art. 32, § 3º, aplicando o disposto no art. 27 da Constituição.
A respeito das Câmaras de Vereadores, a Constituição disciplinou sua com-
posição no art. 29, inciso IV, oscilando entre 9 (nove) e 55 (cinquenta e cinco)
vereadores. A proporção de vereadores está relacionada ao número de habitantes
de cada município. O número mínimo são 9 (nove) vereadores e ampliando-se
sempre de 2 (dois) em 2 (dois), isto é, 13, 15, 17, 19, 21 até 55
A Constituição não fez um detalhamento das competências da Câmara de
Vereadores, assim como ocorreu com a Assembleia Legislativa.

6. Poder Legislativo: Quórum, Maioria Simples e


Absoluta

As decisões serão tomadas por maioria dos votos, desde que presente a maioria
absoluta de seus membros.
Relembrando as diferenças entre os quóruns:
Quórum de deliberação: maioria simples, também chamada de maioria relativa,
é a maioria das pessoas presentes naquela sessão, é a maioria dos presentes no ór-
gão, enquanto a maioria absoluta é a maioria da totalidade dos membros da Casa.
Para que o Plenário do Senado instaure sessão, tem de estar presentes 41
(quarenta e um) Senadores. Se chegar no dia e estiverem presentes apenas 38
(trinta e oito) Senadores não poderá ser instaurada a sessão. Para a instauração,
é exigida a maioria absoluta.
A Câmara dos Deputados, ou o Senado Federal, e suas comissões podem con-
vocar, por exemplo, o Ministro da Educação para prestar informações a respeito
da educação no país, sobre algum incidente noticiado na mídia. O Ministro tem
que comparecer porque a ausência sem justificação adequada é crime de res-
ponsabilidade. Nos planos estadual e municipal, a regra é a mesma do art. 50 da
CF/1988, não sendo possível convocar os respectivos chefes do Poder Executivo.
A diferença entre o art. 50, caput e o § 2º está na capacidade de convocação.
No caso do § 2º, só quem pode pedir a prestação de informações por escrito são as
mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Já no art. 50, caput, quem
pode convocar são a Câmara dos Deputados, o Senado Federal e suas comissões.
A última consideração está contida no § 1º do art. 50, que traz a possibilida-
de do Ministro de Estado comparecer na Câmara dos Deputados, ou no Senado
Federal, ou em suas comissões, por sua iniciativa, para expor assunto relevante,
mediante entendimento com a mesa respectiva.
Direito Constitucional 141

7. Mandato Parlamentar – Regime Jurídico e


Prerrogativa

O regime jurídico do mandato parlamentar abrange os arts. 53 a 56 da Consti-


tuição Federal.
O art. 53 da CF/1988 apresenta as prerrogativas do mandato parlamentar. São
elas: prerrogativa de foro, imunidade, não testemunho e incorporação às forças
armadas.
A prerrogativa de foro é uma garantia que está atrelada ao processo penal.
Pessoas que possuem prerrogativa de foro respondem à ação penal perante um
tribunal de envergadura maior.
Em regra, toda e qualquer pessoa que pratica um crime responde à ação penal
perante um juiz de primeiro grau; diferente ocorre com as pessoas que possuem
prerrogativa de foro. Conforme o § 1º do art. 53, desde a expedição do diploma,
os Deputados Federais e os Senadores da República serão julgados perante o
Supremo Tribunal Federal.
A partir do instante que termina o mandato, termina a prerrogativa de foro;
nesse momento, o STF deixa de ser o órgão competente, passando a competên-
cia para o juiz de primeiro grau.
Outro aspecto importante sobre a prerrogativa de foro é relacionado à inves-
tigação criminal de Deputados Federais e Senadores da República. Caso a polícia
federal decida investigar um Deputado Federal ou um Senador, antes, ela tem de
pedir autorização para o Supremo Tribunal Federal. A ideia é que todo e qualquer
ato da persecução criminal tem que ser supervisionado pelo Supremo Tribunal
Federal.

8. Mandato Parlamentar – Imunidades

A imunidade é uma garantia ao exercício do mandato parlamentar. Existem dois


tipos de imunidades: imunidade material e imunidade formal.
A imunidade material esta relacionada à liberdade da palavra. A palavra pro-
ferida pelo parlamentar, suas opiniões e votos estão cobertos pela imunidade
parlamentar e, por isso, não irão ensejar responsabilidade civil ou penal.
Já a imunidade formal, também conhecida como imunidade processual penal,
traz algumas garantias ao parlamentar em relação à possibilidade de prisão e ao
andamento de uma ação penal.
142 Direito Constitucional

A imunidade material está prevista no caput do art. 53 da CF/1888 e expressa:


“Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer
de suas opiniões, palavras e votos.”
O STF firmou jurisprudência diferenciando o regime da imunidade parlamen-
tar dentro e fora do parlamento.
Dentro do parlamento, do Congresso Nacional, a imunidade material dos Depu-
tados e Senadores é absoluta. Tudo o que o Deputado ou Senador disser estará
coberto pela imunidade e não gerará nenhuma responsabilização civil ou penal.
O máximo que pode acontecer ao parlamentar é ter de responder a um processo
interno por quebra de decoro parlamentar. Com exceção dessa responsabilidade
interna, não há nenhuma outra responsabilização aos Deputados e Senadores.
O STF entende que, fora do parlamento, a imunidade do parlamentar é rela-
tiva; somente subsiste ao que estiver diretamente relacionado à função do par-
lamentar. Significa dizer que a imunidade material só irá subsistir naquilo que o
parlamentar falar no âmbito das críticas políticas. Se o parlamentar partir para
ofensas pessoais, aí então não estará coberto pela imunidade.

9. Mandato Parlamentar – Imunidade Formal


A Constituição Federal não proíbe a prisão de Deputado Federal e Senador, en-
tretanto, ela restringe a possibilidade de prisão, admitindo a prisão processual se
preenchidos alguns requisitos.
A casa legislativa respectiva pode resolver que a prisão não se efetue; a casa
legislativa pode mandar soltar o parlamentar.
Esta garantia constitucional da imunidade formal se aplica integralmente aos
Deputados Estaduais (art. 27, § 1º, da CF/1988) e aos Deputados Distritais (art.
32, § 3º, da CF/1988). Já os vereadores não gozam de imunidade formal. Ve-
readores são contemplados apenas com a imunidade material, sendo limitada a
circunscrição territorial do município onde exerce seu mandato.
O segundo aspecto da imunidade formal é o andamento da ação penal. A
Constituição exigia autorização da casa legislativa para processar Deputado Fede-
ral ou Senador. A partir de 2001, com o advento da Emenda nº 35, foi alterado
o regime jurídico do art. 53, dispensando a autorização da casa legislativa para
processar Deputado ou Senador.
Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido após
a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva que,
por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus
membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação.
Direito Constitucional 143

Só existe o dever de comunicar à casa respectiva e sustar o andamento da


ação penal se o fato criminoso for posterior à diplomação, assim como a iniciativa
para requerer a suspensão da ação penal é do partido político com representação
na casa, que então poderá pelo voto da maioria de seus membros, decidir pela
sustação da ação penal.

10. Mandato Parlamentar – Cassação e Extinção


Os Deputados e Senadores não podem ter contrato com pessoa que seja da
administração pública ou que preste serviço público, salvo quando o contrato
obedecer a cláusulas uniformes. Entretanto, há serviços que são básicos e que os
parlamentares também devem ter acesso, como energia elétrica, telefonia. Estes
serviços são admissíveis por serem celebrados por meio de contratos uniformes.
Aos Deputados e Senadores, é proibido aceitar ou exercer cargo, função ou
emprego remunerado, inclusive os que sejam demissíveis sem necessidade de
motivação, nas entidades constantes da alínea anterior.
Deputados e Senadores são proibidos de ser proprietários, controladores ou
diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato com pessoa ju-
rídica de direito público, ou nela exerça função remunerada. Não podem ocupar
cargo ou função demissível ad nutum nas prestadoras de serviço público. Quem
presta serviço público não pode celebrar contrato, salvo cláusula uniforme; não
pode exercer cargo, função ou emprego remunerado, inclusive os que sejam
demissíveis em caráter ad nutum”.
É vedado aos Deputados e Senadores ser titulares de mais de um cargo ou
mais de um mandato público efetivo.
A perda do mandato pode ocorrer por cassação (art. 55, § 2º) ou por extinção
(art. 55, § 3º). A cassação depende de um juízo decisório da Casa. Para o man-
dato ser cassado, o parlamentar será submetido a julgamento por seus pares, os
membros da Casa irão decidir pela cassação ou não. De outro modo, a extinção
não requer juízo decisório, depende apenas de uma mera declaração de que
ocorreu fato extintivo.
A perda do mandato, nos casos dos incisos I, II e VI, será decidida pela respec-
tiva casa legislativa do parlamentar, por voto secreto e maioria absoluta, mediante
provocação da mesa ou do partido político representado no Congresso Nacional,
assegurada a ampla defesa (art. 55, § 2º).
A perda do mandato, nos casos previstos nos incisos III a V, será declarada pela
mesa da respectiva casa legislativa, de ofício ou mediante provocação de qual-
quer de seus membros, ou de partido político com representação no Congresso
Nacional, assegurada ampla defesa (art. 55, § 3º).
144 Direito Constitucional

11. Mandato Parlamentar – Cassação, Extinção e


Licença

Hipóteses de perda do mandato dos Deputados e Senadores:


– perderá o mandato o parlamentar que infringir qualquer das proibições
estabelecidas no artigo anterior;
– caso mais frequente, situações em que o comportamento do parlamentar
for incompatível com o decoro parlamentar. É a cassação por quebra de
decoro parlamentar.
A Constituição não definiu de maneira exaustiva as causas de quebra de deco-
ro parlamentar, apenas indicou o que é quebra de decoro e autoriza o Regimento
Interno das Casas a criar novos casos; portanto, as hipóteses de quebra de decoro
parlamentar serão encontradas na Constituição Federal e no Regimento Interno.
Para a Constituição Federal, é quebra de decoro parlamentar o abuso das
prerrogativas asseguradas a membros do Congresso Nacional ou a percepção de
vantagens indevidas.
É preciso registrar que a quebra de decoro pode ficar configurada em virtude
de um fato praticado pelo Parlamentar não na condição de parlamentar, mas,
em outra condição. Entretanto, isto pode ocasionar a abertura de um processo
contra ele. Significa dizer: se um parlamentar em sua esfera privada, se envolver
em uma situação que gere constrangimento político, poderá vir a responder por
quebra de decoro.
A última hipótese de perda de mandato por cassação é a constante no inciso
VI; perderá o mandato o Deputado ou Senador que sofrer condenação criminal
em sentença transitada em julgado.
São hipóteses de cassação por extinção:
– o parlamentar que deixar de comparecer em pelo menos 1/3 (um terço)
das sessões ordinárias da Casa a que pertence, salvo se estiver de licença
ou em missão autorizada pela Casa Legislativa;
– o parlamentar que perder ou tiver suspenso seus direitos políticos. As cau-
sas de perda e suspensão dos direitos políticos estão previstas no art. 15
da Constituição.
A última hipótese de perda de mandato por extinção ocorre quando Justiça Elei-
toral decretar a perda do mandato eletivo, nos casos previstos nesta Constituição.
Causas em que o Deputado e Senador não perderão o mandato:
– não perderá o mandato o Deputado e Senador que estiverem investidos
no cargo de Ministro de Estado, Governador de Território, Secretário de
Estado, do Distrito Federal, de Território, de Prefeitura de Capital ou chefe
Direito Constitucional 145

de missão diplomática temporária. Na hipótese do Deputado ou Senador


ocupar um dos cargos do inciso I, poderá optar pela remuneração do man-
dato conforme dispõe o § 3º do art. 56;
– não perderá o mandato o Deputado e Senador que estiverem de licença
pela respectiva Casa por motivo de doença, ou para tratar, sem remunera-
ção, de interesse particular, desde que o afastamento não ultrapasse 120
(cento e vinte) dias por sessão legislativa.

12. Reuniões – Recesso e Período


A legislatura tem a duração de 4 (quatro) anos conforme art. 44, parágrafo único,
da Constituição Federal de 1988.
A sessão legislativa é dividida em dois períodos, e isto ocorre em razão do
período de recesso que se inicia no dia 17 de julho e se encerra em 1º de agosto.
Considera-se o primeiro período legislativo de 2 de fevereiro a 17 de julho e o
segundo período legislativo de 1º de agosto a 22 de dezembro.
As reuniões marcadas para essas datas serão transferidas para o primeiro dia
útil subsequente, quando recaírem em sábados, domingos ou feriados.
Não se pode interromper a sessão legislativa sem aprovar a lei de diretrizes
orçamentárias.
A Câmara dos Deputados e o Senado Federal irão se reunir em sessão conjunta
para iniciar sessão legislativa, para elaborar o regimento comum e regular a criação
de serviços comuns, para receber o compromisso do Presidente e do Vice-Presiden-
te da República e para conhecer sobre o veto do projeto de lei que ele deliberar.
O período de duração do mandato na Mesa Diretora é de 2 (dois) anos e é
vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição subsequente. A proibição
é para eleição no mesmo cargo na eleição subsequente, não impede a eleição em
outro cargo na mesa.
O Supremo Tribunal Federal entende que esta regra do § 4º do art. 57 da
CF/1988 não se aplica obrigatoriamente para os Estados e para os Municípios.
Significa dizer que os Estados em sua constituição, assim como os Municípios em
sua Lei Orgânica, podem autorizar a reeleição para o mesmo cargo na mesa.

13. Reuniões – Mesa, Cargos, Convocação e


Vedações
As Constituições anteriores a 1988 não mencionavam a Mesa do Congresso Na-
cional. Quando ocorria uma reunião do Congresso Nacional reunindo Deputados
146 Direito Constitucional

Federais e Senadores, o papel da atual Mesa Diretora era desempenhado pela


Mesa do Senado Federal. A Constituição Federal de 1988 inovou e criou a Mesa
Diretora do Congresso Nacional.
A composição da Mesa do Congresso Nacional é híbrida, isto é, é composta
de membros da Mesa da Câmara dos Deputados e membros da Mesa do Senado
Federal.
A Mesa do Congresso Nacional será presidida pelo Presidente da Mesa do Se-
nado Federal e os demais cargos serão exercidos alternadamente por ocupantes
de cargos equivalentes na Câmara e no Senado.
A Mesa terá o presidente, o vice-presidente e 4 (quatro) secretários. A alter-
nância ocorre da seguinte forma: o presidente da Mesa do Congresso é o presi-
dente da Mesa do Senado Federal. O vice-presidente da Mesa do Congresso é o
vice-presidente da Câmara dos Deputados. O primeiro secretário do Congresso é
o primeiro secretário do Senado. O segundo secretário do Congresso é o segundo
secretário da Câmara. O terceiro secretário do Congresso é o terceiro secretário
do Senado e, por fim, o quarto secretário do Congresso é o quarto secretário da
Câmara.
São competentes para promover a convocação extraordinária:
I – o Presidente do Senado Federal, em caso de decretação de estado de
defesa ou de intervenção federal, de pedido de autorização para a decreta-
ção de estado de sítio e para o compromisso e a posse do Presidente e Vice
-presidente da República;
II – pelo Presidente da República, pelos Presidentes da Câmara e do Senado,
ou a requerimento da maioria dos membros de ambas as Casas, em caso de ur-
gência ou interesse público relevante; em todas as hipóteses deste inciso com a
aprovação da maioria absoluta de cada uma das Casas do Congresso Nacional.
A convocação só pode ser feita com aprovação da maioria absoluta dos mem-
bros de ambas as Casas do Congresso Nacional.

14. Comissões – Regras e Competências

As comissões são órgãos criados para funcionalizar as atividades da Casa Legisla-


tiva e estão disciplinas no art. 58 da CF/1988.
As comissões podem ser de caráter permanente ou de caráter temporário.
São de caráter permanente as comissões que funcionam durante todo o período
de funcionamento da Casa. As comissões de caráter temporário são criadas para
situações pontuais.
Direito Constitucional 147

Um exemplo de comissão permanente presente tanto na Câmara dos Deputa-


dos quanto no Senado Federal é a Comissão de Constituição e Justiça, que opera
durante todo o funcionamento da Casa Legislativa.
Já um exemplo de comissão temporária é o caso das CPI (Comissões Parla-
mentares de Inquérito).
O art. 58 em seu § 1º traz a regra da proporcionalidade na composição de
cada Casa Legislativa. Deve ser assegurada tanto quanto possível a representa-
ção proporcional dos partidos ou dos blocos parlamentares que participam de
cada Casa. Igualmente, deve ser equilibrada a proporcionalidade entre o bloco
da chamada bancada do governo e da bancada da oposição. Exemplo: se 60%
integram a base do governo e 40% integram a base da oposição, nas comissões,
essa proporcionalidade deve ser resguardada.
O § 2º do art. 58 traz quais são as competências das comissões. O inciso I diz
que a comissão pode discutir e votar projeto de lei que dispensar na forma do
regimento a competência do Plenário, salvo se houver recurso de um décimo dos
membros da Casa.
O trâmite segue o seguinte roteiro: o Projeto de Lei é apresentado à Mesa Di-
retora que, por sua vez, encaminha à Comissão de Constituição e Justiça, depois
o projeto vai passando por diversas Comissões (Comissão de Orçamento, Comis-
são Temática) até a chegar ao Plenário, onde é submetido à votação por todos os
membros do Plenário.
Cada Comissão aprofunda o estudo do tema no âmbito de sua competência e
após a análise elabora um parecer, isto para permitir que quando o projeto chegar
ao Plenário todos os parlamentares possam ter acesso aos estudos das comissões
e possam se inteirar melhor a respeito do tema que irão votar.

15. Poder Legislativo

Comissões – Representativas e CPI


É permitida a convocação de Ministros de Estado para prestar informações
sobre assuntos inerentes a suas atribuições. Este artigo está reiterando informa-
ção que já é trabalhada no art. 50 da CF/1988; é o instrumento de convocação
ministerial. As Comissões podem convocar Ministros de Estados e outras auto-
ridades subordinadas ao Presidente para fornecerem informações; receber peti-
ções, reclamações, representações ou queixas de qualquer pessoa contra atos ou
omissões das autoridades ou entidades públicas, uma espécie de corregedoria
geral, podendo receber petições apresentando denúncias.
148 Direito Constitucional

É permitido solicitar depoimento de qualquer autoridade ou cidadão. É pre-


ciso ter atenção a este inciso. Se na prova mencionar exatamente como está no
texto legal o.k.; entretanto, na prática, não é possível solicitar o depoimento de
qualquer autoridade.
Só o Congresso Nacional entra em recesso, porém, se durante o recesso for
necessário algum encaminhamento ao Congresso Nacional, terá de ter alguém
representando a Casa. Este papel será exercido pela Comissão Representativa que
será eleita por sua Casa na última sessão ordinária do período legislativo.
As CPI são órgãos temporários que podem ser criados na Câmara dos Depu-
tados, no Senado Federal ou no Congresso Nacional. A Comissão do Congresso
Nacional é conhecida com CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito).
A CPI tem como finalidade apenas investigar o fato ou objeto de atuação da
CPI; não tem competência e nem o poder para punir ninguém. CPI não cassa
mandato. CPI não promove responsabilização de ninguém; se for o caso, enca-
minha ao Ministério Público para que este promova a responsabilização civil ou
criminal os infratores. A CPI apenas investiga.
São requisitos para instauração de CPI: requerimento de 1/3 (um terço) dos
membros, fato determinado e prazo certo de funcionamento.

16. Comissões – Abertura, Fatos e Poderes


O primeiro requisito para instauração da CPI é o requerimento de 1/3 (um terço)
dos membros da respectiva Casa. A Constituição não exigiu a maioria dos mem-
bros por um motivo: a CPI traduz um direito da minoria dos Parlamentares; a CPI
é um instrumento de fiscalização por parte da minoria.
Na maioria das vezes, o governo consegue fazer a maioria no Parlamento. É
muito difícil ter um governo em que a maioria da casa seja oposição ao governo.
Se a Constituição exigisse maioria dos membros para abertura de CPI, dificilmen-
te, seria aberta uma CPI, porque nenhum governo tem interesse em abrir CPI,
isto porque a CPI investiga situações irregulares que envolvem o governo; então,
para permitir a fiscalização por parte da oposição, a Constituição exigiu apenas
1/3 (um terço).
O segundo requisito para instauração da CPI é que o fato seja determinado,
que seja uma investigação sobre um fato específico. A CPI só pode investigar
fatos que estejam envolvidos no âmbito de atuação da competência do Poder Le-
gislativo e só podem ser objeto de investigação por uma CPI matérias que estejam
no âmbito de atuação do Poder Legislativo. Além disso, o poder de investigação
da CPI deve respeitar o sistema federativo; uma CPI no Congresso não pode in-
vestigar um fato Estadual ou Municipal.
Direito Constitucional 149

O terceiro requisito para instauração da CPI é o prazo certo. A CPI precisa ter
um prazo certo de funcionamento, pois nenhuma investigação pode ser ad ae-
ternum, visto que a investigação adentra a esfera privada da pessoa investigada e
ninguém pode ter sua privacidade devassada por tempo indeterminado.
O prazo não está definido na Constituição Federal, cabendo ao Regimento
Interno ao tratar do tema ou o ato de criação da CPI instituída. O prazo da CPI
poderá ser prorrogado desde que haja razões que justifiquem a continuidade na
investigação e respeitem o limite da legislatura mesmo porque quando se encerra
a legislatura terminam os mandatos; assim sendo, o limite da prorrogação é a
legislatura.

17. CPI – Poderes

A CPI poderá fazer aquilo que o juiz faz para formar o conjunto probatório.
A CPI não pode decretar a indisponibilidade dos patrimônios de uma pessoa.
A CPI pode determinar a condução coercitiva de testemunha. Em geral, a CPI
pode determinar apreensão de documentos; entretanto, a CPI não pode fazer
apreensão domiciliar porque a CF/1988 só autoriza a apreensão em domicílio
com autorização do juiz. A CPI pode também determinar a quebra do sigilo de
dados de ordem fiscal, bancário e telefônico. Importante entender a diferença
entre dados telefônicos de informação e dados telefônicos de comunicação.
A informação telefônica corresponde aos dados telefônicos, ou seja, a conta
telefônica, movimentação numérica. Ter acesso à conta telefônica é saber para
que números aquele telefone ligou e de que números ele recebeu chamadas.
A comunicação telefônica refere-se à conversa telefônica, ao conteúdo do
que foi falado. A Constituição só autoriza a quebra da comunicação telefônica
por ordem de autoridade judiciária e em procedimento criminal, conforme art. 5º,
XII, portanto, a CPI não pode.
Em regra, a CPI não pode determinar a prisão de alguém. Entretanto, a prisão
em flagrante pode ser decretada por qualquer pessoa, sendo assim a CPI pode
decretar a prisão em flagrante.
A Câmara dos Deputados, Senado Federal e Congresso Nacional costumam
sofrer controle pelo Supremo Tribunal Federal por via de habeas corpus e man-
dado de segurança (habeas corpus quando envolve liberdade de locomoção e o
mandado de segurança quando envolve invasão da privacidade de uma pessoa;
quando o fato não se relaciona com a investigação) quanto à atuação das CPI no
Congresso Nacional e nesse controle, o Supremo verifica se estão sendo respeita-
dos os direitos fundamentais das pessoas envolvidas.
150 Direito Constitucional

O direito ao silêncio é oponível à CPI e toda e qualquer pessoa quando for


depor na CPI, seja na condição de investigado ou apenas de testemunha, tem o
direito de permanecer em silêncio se lhe perguntarem alguma coisa que lhe in-
crimine. A testemunha só pode permanecer em silêncio se lhe for feita pergunta
que a incrimine do contrário tem o dever de responder.
Outro direito oponível à CPI é a assistência de um advogado. A CPI não pode
cercear a atuação do advogado na defesa dos interesses de seu constituinte.

18. CPI – Fiscalização, Finalidade e Sistemas de


Controle

A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da


União e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade,
legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas,
será exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo e pelo sistema
de controle interno de cada Poder.
A Constituição nos indicou que existem 2 (dois) sistemas de controle: controle
externo exercido pelo Congresso Nacional com auxílio do Tribunal de Contas da
União (arts. 71 e 73 da CF/88) e controle interno exercido por cada poder (art.
74 da CF/1988).
O Poder Legislativo faz controle externo pelo órgão legislativo auxiliado por
um órgão técnico. Nos Estados, é a Assembleia Legislativa auxiliada pelo Tribunal
de Contas do Estado que faz o controle externo e, nos municípios, o controle
externo é realizado pela Câmara dos Vereadores auxiliada pelo Tribunal de Contas
do Município.
Este modelo de controle externo realizado pelo Poder Legislativo tem origem
histórica na experiência inglesa em que o papel de fiscalizar, de fazer controle das
atividades do Executivo, coube ao Poder Legislativo para que não houvesse um
absolutismo por parte do Rei.
Toda e qualquer pessoa física ou jurídica que receber dinheiro público está
sujeita à fiscalização. No âmbito federal, se receber dinheiro público da União,
não importa se pessoa física ou jurídica, se submeterá à fiscalização, terá que
acertar as contas com o Tribunal de Contas da União (art. 70, parágrafo único,
da CF/1988).
As empresas que recebem dinheiro público também se submetem à fiscaliza-
ção, sejam elas sociedades de economia mista ou empresas privadas, se recebe-
rem dinheiro público federal também prestarão contas ao TCU.
Direito Constitucional 151

19. Fiscalização Contábil, Financeira e


Orçamentária – Competências

Tratando do controle externo, em especial da atuação do Tribunal de Contas da


União, o art. 71 da Constituição indica quais são suas competências e atribui o
controle externo ao Congresso Nacional, sendo este auxiliado pelo Tribunal de
Contas da União.
É o Congresso Nacional e não o TCU que julga as contas do Presidente da
República (art. 48, IX, da CF/1988). As contas do chefe do Poder Executivo não
são julgadas por órgão técnico, não é realizada pelo Tribunal de Contas e sim pelo
órgão político, a Câmara dos Vereados, a Assembleia Legislativa e o Congresso
Nacional. O Tribunal de Contas elabora um parecer prévio no prazo de 60 (ses-
senta) dias a contar do seu recebimento.
Em relação a estes atos de concessão de aposentadoria, reforma e pensão no
exame do inicial que concedeu o benefício, não é preciso observar o contraditório
e a ampla defesa; entretanto, ao revisar o benefício, passa a ser necessário haver
o contraditório e a ampla defesa. A Súmula Vinculante nº 03 em outras palavras
diz que as garantias do contraditório e da ampla defesa são asseguradas quando
puder resultar na anulação ou revogação de ato que beneficia o interessado.
O órgão concedeu a aposentadoria e vai registrar no Tribunal de Contas não
tendo que submeter ao contraditório e à ampla defesa. O Tribunal registrou a
aposentadoria e homologou; se quiser rever e a decisão for prejudicar a pessoa,
deverá haver o contraditório e a ampla defesa.
O Supremo Tribunal Federal, de certa forma, flexibilizou a Súmula Vinculante
nº 03 no exame da legalidade do ato inicial que concede a aposentadoria, pen-
são. O Tribunal de Contas em regra não, mas o Supremo construiu o entendi-
mento de que, se esse exame for feito depois de um período de 5 (cinco) anos,
deverá haver o contraditório e a ampla defesa. Portanto, se o Tribunal de Contas
examinar dentro de um prazo de 5 (cinco) anos, não terá de submeter ao contra-
ditório e à ampla defesa.

20. Competência e Atuação do TCU

Compete ao Tribunal de Contas o dever de prestar as informações solicitadas


pelo Congresso Nacional por qualquer de suas Casas, ou por qualquer das res-
pectivas Comissões sobre a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, ope-
racional e patrimonial e sobre resultados de auditorias e inspeções.
152 Direito Constitucional

O TCU está subordinado e vinculado ao Congresso Nacional e deve prestar


conta de suas atividades em acordo com a disposição do § 4º do art. 71. O Tri-
bunal encaminhará ao Congresso Nacional, trimestral e anualmente, relatório de
suas atividades.
Importante salientar que a competência para sustar a execução não envolve
qualquer ato. No caso de contrato, o ato de sustação será adotado diretamen-
te pelo Congresso Nacional que solicitará, de imediato, ao Poder Executivo que
tome as medidas cabíveis para normalizar a situação conforme disposição do § 1º
do próprio art. 71 da CF/1988.
Na omissão do Congresso Nacional ou do Poder Público em efetuar as me-
didas previstas no parágrafo anterior, no prazo de 90 (noventa) dias, poderá o
Tribunal de Contas da União sustar o contrato de acordo com o § 2º do art. 71.
Entretanto, o Tribunal de Contas não se manifesta se houver decisão por parte
do Congresso Nacional somente poderá adotar providência diante da omissão da
Casa Legislativa no prazo estipulado em lei.
A Comissão Orçamentária na suspeita de indícios de irregularidades na exe-
cução do orçamento solicita informações. Na omissão destas informações ou se
estas forem inconclusivas, a Comissão pede ao Tribunal de Contas para se mani-
festar. No caso do TCU concluir que aquelas contas estão irregulares, a Comissão
Orçamentária poderá propor ao Congresso Nacional a sustação daquela despesa
pública conforme dispõe o art. 72 da CF/1988.

21. Composição do TCU e Requisitos dos


Ministros

A composição do Tribunal de Contas da União está disciplinada no art. 73 da


CF/1988. O Tribunal de Contas da União é composto de 9 (nove) Ministros, sendo
6 (seis) escolhidos pelo Congresso Nacional (Poder Legislativo) e 3 (três) escolhi-
dos pelo Presidente da República (Poder Executivo) com aprovação do Senado
Federal (Poder Legislativo).
Importante relembrar que todos os cargos de indicação do Poder Executivo
que a Constituição exija aprovação do Poder Legislativo são aprovados pelo Se-
nado Federal. Os cargos que o Poder Executivo nomear politicamente que neces-
sitarem de aprovação Legislativa, a aprovação será sempre do Senado Federal.
O Tribunal de Contas da União terá sua sede no Distrito Federal, seu próprio
quadro de pessoal e jurisdição em todo o território nacional, exercendo no que
couber as atribuições do previstas no art. 96. O art. 96 da CF/1988 elenca as atri-
buições dos Tribunais do Poder Judiciário.
Direito Constitucional 153

São requisitos para nomeação no cargo de Ministro do Tribunal de Contas da


União (art. 73, § 1º, da CF/1988):
I – ser brasileiro nato ou naturalizado;
II – ter mais de 35 (trinta e cinco) e menos de 65 (sessenta e cinco) anos de
idade;
III – ter idoneidade moral e reputação ilibada;
IV – notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e financeiros ou
basta ter conhecimentos de administração pública;
V – ter mais de 10 (dez) anos de exercício de função ou de efetiva atividade
profissional que exija os conhecimentos mencionados no inciso anterior.
O § 2º do art. 73 disciplina a escolha dos Ministros que comporão o TCU:
I – 3 (três) Ministros serão escolhidos pelo Presidente da República com apro-
vação do Senado Federal, sendo obrigatoriamente: 1 (um) auditor do Tribunal; 1
(um) membro do Ministério Público do Tribunal e 1 (um) de livre nomeação;
II – 6 (seis) Ministros serão escolhidos pelo Congresso Nacional.

22. Ministros: Regime Jurídico e Fiscalização


Municipal
Os Ministros do Tribunal de Contas da União terão as mesmas garantias, prer-
rogativas, impedimentos, vencimentos e vantagens dos Ministros do Superior
Tribunal de Justiça, aplicando-lhes quanto à aposentadoria e pensão as normas
constantes do art. 40. O regime jurídico dos Ministros do TCU é basicamente o
mesmo de Ministros do STJ.
A Constituição também definiu um regime jurídico para os auditores. É o que
dispõe o § 4º do art. 73 da CF/1988.
Na estrutura interna do Tribunal de Contas, quando um Ministro se ausenta é
substituído por um auditor. O auditor quando em substituição a Ministro terá as
mesmas garantias e impedimentos do titular e, quando no exercício das demais
atribuições da judicatura, se equipara as de juiz de Tribunal Regional Federal.
A fiscalização no âmbito municipal em seu controle externo será realizada
pela Câmara de Vereadores com auxílio do Tribunal de Contas do Estado, pelo
Tribunal de Contas do Município ou pelo Tribunal de Contas dos Municípios.
Excetuando-se os Tribunais de Contas de São Paulo e Rio de Janeiro, é o
Tribunal de Contas do Estado que auxilia as Câmaras de Vereadores.
Para não sobrecarregar o Tribunal de Contas do Estado, o Estado cria outro
Tribunal Estadual sendo o Tribunal de Contas de todos os municípios do Estado
(órgão estadual).
Capítulo 12
Processo Legislativo

1. Processo Legislativo – Introdução


A vida em sociedade (entre particulares), bem como as relações entre agente
particular e agente estatal devem ser reguladas por normas de conduta, sendo
elas meramente esclarecedoras ou, então, permissivas, concessivas de direitos,
proibitivas, punitivas, dentre outras.
Ao Estado compete a atividade legislativa; primordialmente, ao Poder Legislativo.
O processo legislativo, neste diapasão, nada mais é do que a regulação da
criação de normas.
O processo legislativo compreende a elaboração de emendas à Constituição,
leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias, decretos
legislativos e resoluções.
A lei complementar que dispõe sobre a elaboração, redação, alteração e con-
solidação das leis é a Lei Complementar nº 95/1998, cujas disposições se aplicam
a todos os atos do art. 59 da CF, a medidas provisórias e, no que couber, a decre-
tos e demais atos de regulamentação expedidos pelo Poder Executivo.
Ela determina que todos os atos normativos contêm uma parte preliminar,
uma parte normativa e uma parte final. A CF, por exemplo, foi elaborada exata-
mente desta forma.
O direito ao devido processo legislativo compete à população em geral (des-
tinatário mediato) e o próprio agente que vai dar ensejo ao processo legislativo
(destinatário imediato).

2. Hierarquia das Normas


Não existe hierarquia entre lei federal (interesse geral), lei estadual (interesse regio-
nal) e lei municipal (interesse local), tendo em vista que todas essas espécies nor-
mativas retiram seu fundamento de validade diretamente da Constituição Federal.
Direito Constitucional 155

Se o confronto for entre lei ordinária e lei complementar, também não ha-
verá entre elas hierarquia, porque ambas retiram seu fundamento de validade
diretamente da Constituição Federal.
As diferenças são aquelas taxativamente previstas em lei: lei complementar
tem matéria reservada, e o quórum (lei complementar deve ser aprovada por
maioria absoluta, e lei ordinária será aprovada por maioria simples).
Lei complementar pode revogar lei complementar, mas lei ordinária não pode
revogar lei complementar, salvo se a lei for materialmente ordinária, mas formal-
mente complementar.
Finalmente, entre normas gerais e normas específicas, existe hierarquia: a nor-
ma específica deve observar os preceitos da norma geral.

Exercício
94. (FMP – PGE/AC – Procurador – 2012) Sobre as leis ordinárias e as leis com-
plementares, pode-se afirmar que:
I – Ambas têm o mesmo patamar normativo no âmbito da hierarquia das
normas no entendimento do STF.
II – Uma das diferenças relevantes diz respeito à competência temática, pois
as leis ordinárias são enumeradas na Constituição.
III – Considerando a ausência de algum(ns) parlamentares nas sessões de-
liberativas, a aprovação de uma lei complementar exige mais votos que a
aprovação de uma lei ordinária, porém, as duas prescindem de sanção ou
veto do Presidente da República.
Assim, está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s):
a) Apenas a I.
b) Apenas a I e a II.
c) Apenas a III.
d) Apenas a III.
e) Apenas a II e a III.

3. Espécies

Há três espécies de procedimentos legislativos: ordinário, sumário e especiais.


O processo legislativo ordinário é a regra, e serve de base para as demais espé-
cies de processo. Prevalece o entendimento de que o processo ordinário é aquele
destinado à elaboração e votação de leis ordinárias.
156 Direito Constitucional

O processo legislativo sumário está no art. 64, § 1º, da CF. Caracteriza-se pela
solicitação, pelo Presidente da República, urgência na apreciação dos projetos de
sua iniciativa. Se o congresso não atender a esta urgência, ocorrerá o trancamen-
to da pauta.
Procedimentos especiais são aqueles destinados especificamente a determina-
dos atos normativos, como as emendas constitucionais.
No art. 68 da CF, está prevista a lei delegada, em que o Presidente da Repúbli-
ca solicita a delegação ao Congresso Nacional para legislar.
A exorbitação dos poderes conferidos pelo Congresso ao Presidente (que são
dados por meio de resolução), poderá o Congresso sustar o ato por decreto.
É possível que a resolução autorizadora exija que o projeto seja apreciado pelo
Congresso (delegação atípica – § 3º). No § 1º do art. 68, temos as hipóteses que
não podem ser objeto de delegação.

Exercício
95. (Cespe – AL/ES – Técnico Legislativo – 2011) Assinale a opção correta:
a) A lei não precisa indicar expressamente o prazo da vacatio legis, tendo
em vista que este é igual para todas as normas, não havendo possibili-
dade de alteração desse prazo.
b) Como regra, os projetos de leis não podem sofrer emendas ou altera-
ções ao longo do processo legislativo.
c) O regime de urgência é determinado pelo presidente do Congresso
Nacional e restringe-se aos projetos de lei de grande repercussão.
d) A ementa, que é a síntese do conteúdo da lei, deve ser concebida de
modo a que, a partir de sua leitura, seja possível a rápida identificação
do tema tratado pela respectiva lei.
e) A mesma lei pode tratar de vários objetos, ainda que não haja afinida-
de, pertinência ou conexão entre eles.

4. Devido Processo Legislativo

São fases do devido processo legislativo: iniciativa (análise da competência do


agente para dar início ao processo legislativo), constitutiva (subdivide-se em deli-
beração parlamentar – discussão e votação – e deliberação executiva – sanção ou
veto) e fase complementar (formado pela promulgação e pela publicação)
Direito Constitucional 157

Prevê o art. 64 da CF que os processos legislativos deflagrados pelo Presidente


da República, do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais iniciam-se na Câmara
dos Deputados.
Há a necessidade de aprovação bicameral: uma casa analisa primeiro (casa
iniciadora) e depois envia para que a outra casa proceda à revisão (casa revisora).
Havendo emendas substanciais, o projeto retornará para a casa iniciadora.
Concluída a votação, o projeto irá para apreciação do Presidente da República.
Importante: a matéria constante de projeto de lei rejeitado somente poderá
constituir objeto de novo projeto, na mesma sessão legislativa, mediante proposta
da maioria absoluta dos membros de qualquer das Casas do Congresso Nacional.

Exercício
96. (Vunesp – TJ/SP – Advogado – 2013) Considerando o processo legislativo
pátrio, assinale a alternativa correta a respeito das leis complementares:
a) É vedada a delegação legislativa de matéria reservada à lei complementar,
mas não há impedimento que essa mesma matéria seja objeto de
medida provisória.
b) Exigem quórum de maioria absoluta de ambas as casas legislativas para
a sua aprovação, mas dispensam a sanção do chefe do executivo, uma
vez que são promulgadas pelo poder legislativo.
c) A Constituição autoriza, com base no princípio do Estado Democrático
de Direito, que qualquer matéria seja objeto de iniciativa popular de lei
complementar.
d) Sua função precípua é de complementariedade, não tendo por escopo
interpretar a Constituição ou qualquer de suas normas.

5. Medida Provisória – Considerações Iniciais

A Medida Provisória (MP) está prevista no art. 62 da CF.


Trata-se de espécie normativa criticada porque não segue o processo legislati-
vo típico, que é ato complexo e multifásico. A MP entra em validade/eficácia ime-
diatamente, e parte de ato monocrático e unilateral do Presidente da República.
Só depois, com ela já válida, é que será submetida ao devido controle.
Discute-se, inclusive, se a MP é atividade típica ou atípica do Poder Executivo,
sendo a doutrina divergente neste ponto.
158 Direito Constitucional

A EC nº 32/2001 trouxe a regulamentação da MP.


Atualmente, a MP pode ser editada por 60 (sessenta) dias, prorrogada por
mais 60 (sessenta) dias. Importante destacar que este prazo fica suspenso duran-
te o recesso legislativo, o que possibilita a vigência de uma MP por mais de 120
(cento e vinte) dias.
São requisitos cumulativos para a edição de MP a urgência e a relevância.
Estes requisitos podem ser controlados pelo Judiciário apenas nos casos de fla-
grante afronta à legalidade.

Exercício
97. (Cetro – Anvisa – Técnico Administrativo – 2013) Sobre o previsto na Cons-
tituição Federal acerca do processo legislativo, é correto afirmar que:
a) O processo legislativo resume-se na elaboração de leis ordinárias e com-
plementares.
b) Somente o Senado Federal e a Câmara dos Deputados podem propor
uma Emenda constitucional.
c) O Presidente da República pode adotar medidas provisórias, com força
de lei, em casos de relevância e urgente.
d) Entre as prerrogativas da Presidência da República está a de vetar, no
todo ou em parte, projeto de lei aprovado pelo Congresso, motivando
somente quando os vetos foram toais ou significativos.
e) As leis complementares, assim como as leis ordinárias, são aprovadas
por maioria simples dos presentes em sessão a Câmara dos Deputados.

6. Medida Provisória – Matérias Vedadas

Algumas matérias não podem ser tratadas por MP, por alguns motivos:
– o constituinte adotou uma presunção de que nestes casos não existe a
relevância e urgência;
– o constituinte exige de lei ou ato legislativo específico (matérias reservadas);
– amplitude da questão em jogo.
As matérias vedadas à MP estão no art. 62, § 1º:
I – relativa a:
a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito
eleitoral;
Direito Constitucional 159

b) direito penal (jurisprudência já admitiu MP penal para beneficiar o réu),


processual penal e processual civil;
c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a ga-
rantia de seus membros (assegura a estabilidade das instituições);
d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicio-
nais e suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3º (abertura e crédito
extraordinário);
II – que vise à detenção ou sequestro de bens, de poupança popular ou qual-
quer outro ativo financeiro;
III – reservada à lei complementar;
IV – já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e
pendente de sanção ou veto do Presidente da República.

Exercício
98. (Consulplan – Técnico Judiciário – 2012 – TSE) No fim de 2011, a presidente
da República editou medida provisória que dispõe sobre a organização e
competência das juntas eleitorais. O ato normativo aguarda ser votado no
plenário da Câmara, encontrando-se na pauta de deliberações da Comissão
Mista do Congresso. A respeito da proposta de iniciativa do Chefe do Poder
Executivo, é correto afirmar que:
a) Terá sua eficácia preservada até o eventual veto pelo Congresso Nacional.
b) Se não for apreciada em até 30 dias contados da sua publicação, entra-
rá em regime de urgência, trancando a pauta de votação do congresso
Nacional.
c) Terá sua votação iniciada em sessão conjunta do Congresso Nacional.
d) Não poderá ser submetida ao Congresso Nacional por tratar de matéria
que não pode ser objeto de medida provisória.

7. Medida Provisória – Procedimento

As Medidas Provisórias perderão eficácia desde a edição se não forem conver-


tidas em lei no prazo de 60 (sessenta) dias, prorrogável, uma vez por igual pe-
ríodo. Em caso de não conversão em lei, o Congresso disciplinará, por decreto
legislativo, as relações jurídicas delas decorrentes. Não sendo editado, as rela-
ções jurídicas constituídas e decorrentes de atos praticados durante sua vigência
conservar-se-ão por ela regidas.
160 Direito Constitucional

A partir do 45º dia, a MP entra em regime de urgência, trancando a pauta das


votações da casa em que estiver.
A casa iniciadora das MP é a Câmara.
É vedada a reedição, na mesma sessão legislativa, de MP que tenha sido
rejeitada ou que tenha perdido sua eficácia.
Aprovado projeto de lei de conversão alterando o texto original da medida
provisória, esta manter-se-á integralmente em vigor até que seja sancionado ou
vetado o projeto.

Exercício
99. (FCC – MP/SE – Analista – 2013) Suponha a edição de medida provisória al-
terando a lei de diretrizes orçamentárias. Passados 50 dias da publicação da
medida provisória, sem que tenha sido definitivamente apreciada pelo Con-
gresso Nacional, a Câmara dos Deputados determinou o sobrestamento de
todas as demais deliberações legislativas em trâmite naquela Casa até que se
ultimasse a votação da medida provisória, que acabou sendo rejeitada pela
Câmara dos Deputados 70 dias após sua publicação. Considerando o texto
constitucional, considere:
I – A medida provisória não poderia versar sobre diretrizes orçamentárias por
expressa vedação constitucional.
II – O sobrestamento das deliberações legislativas em trâmite perante a Câ-
mara dos Deputados deveria ter ocorrido após 30 dias da publicação da
medida provisória.
III – A medida provisória perdeu os efeitos após 60 dias de sua publicação,
motivo pelo qual sequer deveria ter seu mérito apreciado pela Câmara dos
Deputados.
Está correto o que se afirma APENAS em:
a) I e II.
b) II.
c) III.
d) I.
e) II e III.

8. Iniciativa Popular

A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos Deputa-
dos de projeto de lei subscrito por, no mínimo, 1% (um por cento) do eleitorado
Direito Constitucional 161

nacional, distribuído pelo menos por 5 (cinco) Estados, com não menos de 0,3%
dos eleitores de cada um deles (art. 61, § 2º).
A Lei nº 9.609/1998 e o art. 252 do Regimento Interno da Câmara trazem a
mesma determinação e outras disposições sobre a iniciativa popular.
A iniciativa popular pode ocorrer em matéria de lei ordinária ou lei comple-
mentar.
O projeto de lei de iniciativa popular deve circunscrever-se a um só assunto, e
não poderá ser rejeitado por vício de forma, mas a Câmara não está vinculada ao
projeto de lei de iniciativa popular, podendo alterá-lo ou rejeitá-lo.
As listas de assinatura serão organizadas por Município e Estado, mas pode a
sociedade civil organizar e patrocinar a coleta de assinaturas.
Cabe iniciativa popular no âmbito estadual e no âmbito municipal, mas neste
último caso o projeto deve ser subscrito por 5% do eleitorado.
É exemplo de lei de iniciativa popular a Lei nº 8.930/1994 (alteração da lei dos
crimes hediondos).

Exercício
100. (FGV – OAB Exame unificado 2 – 2011) A iniciativa popular é uma das for-
mas de exercício da soberania previstas na Constituição da República. O
projeto de lei resultante de iniciativa popular deve:
a) Ser dirigido à Mesa do Congresso Nacional.
b) Ser subscrito por, no mínimo, 2% do eleitorado nacional.
c) Ser subscrito por eleitores de cinco Estados da Federação.
d) Dispor sobre matéria de lei ordinária.

9. Iniciativa Popular e Questões Divergentes

Se uma lei tiver matéria de iniciativa reservada a determinados agentes, preva-


lecerá na doutrina e na jurisprudência que não é possível a iniciativa popular,
porque trata-se de matérias pertinentes somente ao legitimado ativo.
Em sede de emenda constitucional, no âmbito da Constituição Federal, a ini-
ciativa popular não é permitida. Mas algumas constituições estaduais permitem
este procedimento às suas leis estaduais (exemplo: Constituição do Estado de São
Paulo – 1% do eleitorado).
Com relação à ideia de iniciativa popular pela internet, observe que o re-
gimento interno da Câmara dos Deputados determina que devem constar no
162 Direito Constitucional

projeto de lei de iniciativa popular a assinatura, o nome, o endereço e os dados


identificadores do título eleitoral do percentual eleitoral. Atualmente, com base
neste dispositivo, entende-se que não é permitida a iniciativa popular via internet.

Exercício
101. (MPT – 2013 – MPT – Procurador) Sobre o processo legislativo, analise as
seguintes proposições:
I – O Presidente da República poderá convocar plebiscito para aprovação de
Proposta de Emenda à Constituição.
II – O Presidente da República, desde que autorizado pelo Congresso Nacio-
nal, poderá editar lei delegada para legislar sobre direito eleitoral.
III – A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação, ao Congresso
Nacional, de proposta de Emenda à Constituição subscrita por, no mínimo,
1% do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco estados, com
não menos de três décimos por cento de eleitores em cada um deles.
IV – A Constituição da República assegura a iniciativa popular no processo
legislativo estadual, a qual, todavia, deve ser regulamentada por lei.
Marque a alternativa CORRETA:
a) Apenas as assertivas II e III estão corretas.
b) Apenas as assertivas I e III estão corretas.
c) Apenas as assertivas II e IV estão corretas.
d) Apenas a assertiva IV está correta.

10. Iniciativa

Os dispositivos relativos à iniciativa estão espalhados pela Constituição:


Iniciativa concorrente:
– art. 61: aos membros do Poder Legislativo, ao Presidente da República, ao
Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral
da República.
– art. 60, I, II e III (emendas à Constituição);
– art. 61, § 1º, II, “d”; e arts. 60, 128, § 5º (Leis de Organização do MPU).
Iniciativa reservada ou exclusiva:
– art. 61, § 1º: iniciativa reservada do Presidente da República e, por sime-
tria, do Governador e dos Prefeitos;
Direito Constitucional 163

– art. 73: iniciativa reservada do TCU;


– arts. 96, II e 93: iniciativa reservada do Poder Judiciário;
– art. 51, IV: iniciativa reservada da Câmara dos Deputados;
– art. 52, XIII: iniciativa reservada do Senado Federal;
– art. 165, I, II e III: iniciativa reservada do Poder Executivo

Exercício
102. (FCC – 2013 – AL-PB – Analista Legislativo) Considere a seguinte situação
hipotética:
O projeto de lei “A” é de iniciativa do Presidente da República. O projeto de
lei “B” é de iniciativa do Supremo Tribunal Federal. O projeto de lei “C” é de
iniciativa do Superior Tribunal de Justiça e o projeto de lei “D” é de iniciativa
do Tribunal Superior Eleitoral. De acordo com a Constituição Federal brasilei-
ra, terão início na Câmara dos Deputados a discussão e votação dos projetos:
a) “A” e “B”, apenas.
b) “A”, “B” e “C”, apenas.
c) “B”, “C” e “D”, apenas.
d) “A”, “B”, “C” e “D”.
e) “A” e “D”, apenas.

11. Ato Deliberativo

Dentro do processo legislativo, as deliberações parlamentares correspondem às


discussões que desencadearão na votação da espécie legislativa.
Dentro do ato deliberativo, existe a etapa de discussões e votação, onde na
etapa de discussões todas as nuanças que o projeto de lei trouxer serão analisa-
das até que ele seja efetivamente levado à análise e depois a ato-contínuo para
sanção ou veto do Presidente da República.
É possível que a comissão aprove projeto de lei, desde que o regimento
interno dispense a votação no Plenário e exista recurso de 1/10 dos membros da
casa requerendo o Plenário.
No Plenário, a votação pode ser de modo ostensivo ou por processo simbó-
lico; tem a votação extensiva e processo nominal (requerida votação, quórum
especial).
No caso do voto secreto, será para eleição dos membros da Câmara diretora.
164 Direito Constitucional

Exercício
103. (Cespe – 2011 – AL/ES – Técnico Legislativo) A respeito do processo legisla-
tivo, assinale a opção correta:
a) Iniciativa de lei é a prerrogativa concedida aos parlamentares e também
a qualquer cidadão ou entidade de classe para apresentar projetos de
lei nas casas legislativas.
b) A deliberação parlamentar consiste na ampla discussão e votação sobre
a matéria do projeto de lei apresentado, que pode ser aprovado ou
rejeitado pelo Poder Legislativo.
c) O chefe do Poder Executivo analisa o projeto de lei ordinária aprovado
ou rejeitado, podendo, então, vetá-lo ou sancioná-lo.
d) A promulgação consiste em tornar pública a existência da lei aos seus
destinatários, por meio de sua inserção no Diário Oficial.
e) O processo legislativo ordinário destina-se à elaboração de leis ordiná-
rias, de leis complementares e de leis delegadas.

12. Da Votação
A votação tem o método ostensivo e o método secreto. O ostensivo subdivide-se
em: procedimento simbólico e procedimento nominal. O método secreto subdi-
vide-se em: sistema eletrônico e sistema cedular (órgãos legislativos que não têm
informatização).
O método ostensivo que envolve o procedimento simbólico (clássico) dispõe que:
quem concordar com o projeto de lei fique sentado, quem rejeitar que fique em pé.
O método ostensivo tem o procedimento nominal, vai depender dos quóruns
especiais, ou do requerimento por intermédio de um parlamentar interessado.
As leis complementares serão aprovadas por maioria absoluta (maioria dos
membros). De toda maneira, esses quóruns podem ser analisados de acordo com
o processo nominal de votação.
Além do método ostensivo tem o secreto, o qual deve observar a EC nº 76/2013
(voto aberto) que alterou apenas o art. 55, § 2º, da CF e art. 66, § 4º, da CF.

Exercício
104. (Cespe – 2012 – Analista Legislativo) No que se refere às sessões legislativas
e às sessões preparatórias, julgue o item subsequente em certo ou errado:
“A Lei de Diretrizes Orçamentárias deve ser votada em sessão legislativa
extraordinária.”
Direito Constitucional 165

13. Trâmite nas Casas Legislativas

A discussão e votação dos Projetos de Lei de iniciativa do Presidente da República,


do Supremo e dos Tribunais Superiores terão início na Câmara dos Deputados,
que funciona como Casa Iniciadora (procedimento legislativo sumário).
Há uma relativa prevalência da Casa Iniciadora sobre a Casa Revisora na hora
da análise do processo legislativo.
Havendo Medida Provisória e processo sumário nas mesmas condições, vota-
-se primeiro as questões atinentes à Medida Provisória.
O Projeto de Lei aprovado por uma Casa será revisto pela outra, em um só
turno de discussão e votação, e enviado à sanção ou promulgação se a Casa Re-
visora aprová-lo, ou será arquivado, se for rejeitado. Sendo o projeto emendado,
voltará à Casa iniciadora.
O cenário em que o Senado Federal promover alterações no Projeto Lei, se
essas emendas tiverem algum problema meramente técnico, redacional, não pre-
cisará devolver para a Casa Iniciadora, mas caso sejam emendas de arguição de
conteúdo, deverão voltar para a Casa iniciadora.

Exercício
105. (Cespe – 2013 – DP/DF – Defensor Público) Com relação ao Poder Legislati-
vo, julgue o item a seguir:
“O projeto de lei aprovado nas comissões para as quais tenha sido enviado,
na forma e prazo regimentalmente estabelecidos, deve, necessariamente,
seguir para votação no plenário da respectiva Casa legislativa, pois o modelo
constitucional brasileiro não admite a aprovação de leis por meio de órgãos
fracionários da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal.”

14. Emendas Parlamentares

As emendas parlamentares são divididas em: supressivas, aglutinativas, substitu-


tivas, modificativas, aditivas e de redação.
Supressivas: são as que mandam erradicar qualquer parte de outra proposição.
Aglutinativas: resultam da fusão de outras emendas ou destas com o texto do
projeto de lei.
Substitutivas: substituem parte de proposição alterando-a substancialmente.
166 Direito Constitucional

Modificativas: alteram a proposição sem modificação substancial.


Aditivas: são aquelas que se acrescentam à proposição do projeto de Lei.
De redação: são as emendas de técnica legislativa.
Uma espécie de emenda não anula outra espécie de emenda parlamentar.
A iniciativa reservada do Poder Executivo (art. 165 da CF) – leis de iniciativa
do Poder Executivo estabelecerão plano plurianual, diretrizes orçamentárias e or-
çamentos anuais. Existe possibilidade de emenda parlamentar em relação a este
artigo da CF.

Exercício
106. (Cespe – 2013 – TC/DF – Procurador): Com relação ao processo legislativo,
julgue o próximo item:
“Os projetos de lei de iniciativa reservada, como os que dispõem sobre a
organização dos serviços administrativos dos Tribunais Federais e do MP, não
admitem a apresentação de emenda parlamentar.”

15. Deliberação Executiva

A fase de deliberação executiva está dentro da fase constitutiva do processo le-


gislativo, que é feita de duas espécies de deliberações: parlamentares e executiva
(chega efetivamente ao chefe do poder Executivo).
O Congresso Nacional pode não concordar com o veto Presidencial, podendo
o Congresso derrubar o veto do Presidente.
A fase complementar é a análise da promulgação e publicação do Projeto de Lei.
A ideia de sanção do chefe do Executivo não é uma regra, pois não são todas
as espécies normativas que exigem sanção ou veto do chefe do Poder Executivo.
A casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de lei ao Pre-
sidente da República que, aquiescendo, o sancionará.
Se o Presidente da República ficar em silêncio quando receber o projeto de lei,
importará sanção (quem cala consente).

Exercício
107. (Cespe – 2013 – Serpro – Analista) Acerca dos Poderes Executivo e Legislati-
vo, julgue o item seguinte:
Direito Constitucional 167

“Segundo entendimento do STF, se uma comissão da Câmara dos Deputa-


dos obtiver a aprovação de projeto de lei no Congresso Nacional que seria
de iniciativa privativa do presidente da República, a sanção presidencial do
referido projeto não sanará o vício de iniciativa.”

16. Características do Veto


Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em parte, incons-
titucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou parcialmente, no
prazo de 15 (quinze) dias úteis, contados da data do recebimento. O Presidente
comunicará em 48 (quarenta e oito) horas ao Presidente do Senado Federal os
motivos do veto.
Veto político: o Presidente obsta o projeto de lei por razão de interesse público.
Veto jurídico: o Presidente considera o projeto de lei inconstitucional no todo
ou em parte (controle de constitucionalidade preventivo).
O Presidente pode vetar no todo ou em parte, ou seja, não pode vetar apenas
uma palavra ou expressão.
A CF não traz um prazo para sanção, mas somente para o veto [15 (quinze)
dias úteis]. Se o Presidente vetar, mas não explicar os motivos do veto será como
se houvesse uma sanção tácita, pois é preciso vetar e justificar as razões do seu
ato de veto.
O veto será apreciado em sessão conjunta, dentro de 30 (trinta) dias a contar
do seu recebimento, só podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos
Deputados e Senadores. A derrubada do veto será apreciada em sessão aberta.
Uma vez derrubado o veto, o Presidente da República não poderá votar
novamente.
Se o Presidente não promulgar no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, quem
o fará será o Presidente do Senado, e se esse não o fizer, será o vice-presidente
do Senado Federal.

Exercício
108. (MP/SC – 2013 – Promotor de Justiça) Analise cada um dos enunciados das
questões abaixo e assinale certo ou errado:
“Em vetando parcialmente algum projeto de lei, a Presidência não poderá,
ainda que fundamentadamente, limitar seu ato a alguma expressão ou con-
junto de palavras, devendo fazer com que abranja, ao menos, texto integral
de artigo, parágrafo, inciso ou alínea.”
168 Direito Constitucional

17. Promulgação

O ato de promulgação importa presunção de que a lei promulgada é válida, exe-


cutória e potencialmente obrigatória.
A promulgação passa por duas fases: pela sanção do Presidente da República
ou pelo veto do Presidente, mas o Congresso Nacional poderá derrubar esse veto
e projeto de lei poderá passar para fase de promulgação.
A promulgação atesta que aquele projeto de lei virou lei. O projeto vira lei
com a sanção do Presidente da República ou com a derrubada do veto, então a
Promulgação confere atestado à mais recente lei.
A presunção diante da promulgação é sempre de constitucionalidade da Lei,
ou seja, é formal e materialmente constitucional. O segundo enfoque é que se
trata de uma presunção relativa, admite-se prova em contrário, por isso, é possí-
vel exercer controle posterior de constitucionalidade.

Exercício
109. (Cespe – 2013 – MPU – Analista) Acerca do processo legislativo, julgue o
seguinte item:
“Promulgação é ato que incide sobre projeto de lei, transformando-o em lei
e certificando a inovação do ordenamento jurídico.”

18. Publicação

É o ato que dá a ciência da lei ao conhecimento de todos. Efetiva-se com a publi-


cação no Diário Oficial da União.
O art. 1º da LINDB diz que a lei começa a vigorar em todo país 45 (quarenta
e cinco) dias depois de oficialmente publicada, salvo disposições em contrário.
Não há obrigatoriedade de observância do prazo de 45 (quarenta e cinco) dias,
bastando a lei a ser promulgada determinar que entrará em vigor a partir da data
de sua publicação.
Nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira quando admitida
se inicia três meses depois de oficialmente publicada (prazo mínimo de vacatio
legis).
Se antes da lei entrar em vigor ocorrer nova publicação de seu texto destinado
à correção, o prazo desse artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr
da nova publicação.
Direito Constitucional 169

A principal finalidade da publicação é a situação de ninguém se escusar de


cumprir a lei alegando que não a conhece (art. 3º da LINDB).

Exercício
110. (FCC – 2013 – AL/RN – Analista Legislativo) Considere a seguinte situação
hipotética: A Lei W entrará em vigor no dia 09.09.2013, ou seja, 45 dias
após a sua publicação. Ocorre que, no dia 26 de agosto de 2013, houve
nova publicação do texto legal da lei W destinada à correção. Neste caso, de
acordo com a LINDB, o prazo de 45 dias:
a) Começará a correr da nova publicação.
b) Não se interromperá ou suspenderá com a nova publicação fluindo nor-
malmente.
c) Será acrescido de mais dez dias a contar do dia 26 de agosto de 2013.
d) Será contado em dobro, iniciando-se a partir do dia 26 de agosto de
2013.
e) Será acrescido de mais 15 dias a contar do dia 26 de agosto de 2013.
Capítulo 13
Poder Executivo

1. Sistema de Governo e Eleição

O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República, auxiliado pelos Minis-


tros de Estado.
Diante desse poder, permeia o Princípio da Simetria Constitucional, o qual
dispõe que determinadas normas previstas na CF devem ser observadas tanto no
âmbito das Constituições Estaduais quanto no âmbito das Leis Orgânicas.
Importante ressaltar as diferenças entre: Formas de Governo, Sistema de Go-
verno e Formas de Estado.
As Formas de Governo são: Monarquia (princípio do governo ilimitado, here-
ditariedade, concentração do poder nas mãos de poucos) e República (princípio
do governo limitado, alternância do poder e concentração do poder nas mãos de
várias pessoas).
Os Sistemas de Governo são: Presidencialismo (concentração das funções de
chefia de Estado e governo nas mãos de um único agente) e Parlamentarismo
(chefe de governo é um agente, o chefe de Estado é outro, geralmente, é o
Primeiro-ministro).
Formas de Estado: Unitário (concentração do poder essencialmente em órgão
único) e Federativo (desconcentração de poder entre mais entes federativos).

Exercício
111. (Cespe – 2013 – MS – Analista Técnico) Julgue o item seguinte:
“A acumulação das funções de chefe de Estado e de chefe de governo pelo
Presidente da República é uma das características do sistema presidencialista
de governo adotado pela República Federativa do Brasil.”
Direito Constitucional 171

2. Eleições – Posse

Eleição do Presidente da República importará a do Vice com ele registrado por


partido político, se obtiver a maioria absoluta dos votos.
Sistema Majoritário Simples: ganha quem tem mais votos.
Sistema Majoritário Absoluto: ganha quem faz 50% mais 1 dos votos pos-
síveis, e se não alcançar em 1º turno, poderá prever possibilidade em 2º turno.
Presidente e Vice tomarão posse em sessão unicameral do Congresso Nacio-
nal (art. 57, § 3º, da CF) e deverão prestar compromisso de manter, defender e
cumprir a CF, observar as leis, promover o bem geral do povo e sustentar a união,
integridade e a independência do Brasil.
Decorridos 10 (dez) dias da data para posse, se o Presidente ou o Vice, salvo
motivo de força maior, não tiver assumido, o cargo será considerado vago (pará-
grafo único, art. 78, da CF).

Exercício
112. (TJ/SC – 2013 – Juiz) Assinale a alternativa incorreta:
a) O Presidente e Vice tomarão posse em sessão do Congresso Nacional.
Se, decorridos 15 dias da data fixada para a posse, o Presidente ou o
Vice, salvo motivo de força maior, não tiverem assumido o cargo, este
será declaro vago.
b) Vagos os cargos de Presidente e Vice, far-se-á eleição 90 dias depois de
aberta a última vaga. Ocorrendo vacância nos últimos 2 anos do perío-
do presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita 30 dias depois
da última vaga pelo Congresso Nacional, na forma da lei.
c) Compete privativamente ao Presidente dispor, mediante decreto, sobre
a extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos.
d) Admitida acusação contra Presidente, por 2/3 da Câmara dos Deputa-
dos, será submetido a julgamento perante o STF, nas infrações penais
comuns, ou perante o Senado, nos crimes de responsabilidade.
e) Conselho da República é órgão superior de consulta do Presidente, e
dentre eles participam 6 cidadãos brasileiros natos, com mais de 35
anos, sendo 2 nomeados pelo Presidente, 2 eleitos pelo Senado e 2 elei-
tos pela Câmara, todos com mandato de 3 anos, vedada a recondução.
172 Direito Constitucional

3. Posse, Vacância e Impedimento

Substituirá o Presidente, no caso de impedimento, o Vice-Presidente, assim como


lhe sucederá, no caso de vacância.
O Vice-Presidente, além de outras atribuições que lhe forem conferidas por
lei complementar, auxiliará o Presidente, sempre que por ele convocado para
missões especiais.
Em caso de impedimento do Presidente e do Vice, ou vacância de ambos os
cargos, serão chamados na ordem para substituí-los os Presidentes da Câmara
dos Deputados, do Senado Federal e por último presidente do STF, os quais vão
exercer o cargo em caráter temporário.
Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente far-se-á nova eleição 90
(noventa) dias depois, se a vacância ocorrer durante os dois primeiros anos de
mandato. Nesse caso, irá realizar eleições diretas (art. 81, § 1º, da CF).
Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos, a eleição será indireta (feita pelo
Congresso Nacional), devendo ser realizada depois de 30 (trinta) dias de aberta
a última vaga.
Os eleitos vão completar o período de mandato dos seus antecessores (Man-
dato Tampão).

Exercício
113. (Cespe – 2012 – PC/CE – Inspetor de Polícia) Tendo como referência a CF,
julgue o item seguinte:
“Ocorrendo a vacância dos cargos de Presidente da República e de Vice
-Presidente da República, nos dois primeiros anos do mandato, deverá haver
eleição para ambos os cargos pelo Congresso Nacional, 90 dias depois de
aberta a última vaga.”

4. Vacância e Licença

O mandato do Presidente da República é de 4 (quatro) anos e terá início em 1º de


janeiro do ano seguinte ao da sua eleição. Terá ele 60 (sessenta) dias para assumir
o cargo.
O Presidente e o Vice não poderão, sem licença do Congresso Nacional, au-
sentar-se do país por período superior a 15 (quinze) dias, sob pena de perda do
cargo.
Direito Constitucional 173

A competência do Congresso Nacional está disposta no art. 49, III, da CF, que
autoriza o Presidente e o Vice a se ausentarem do país quando o período não
exceder 15 (quinze) dias. As competências do Senado Federal estão no art. 52
da CF.
Tal dispositivo trata-se de norma de observância obrigatória, tanto para as
Constituições Estaduais como para Leis Orgânicas dos Municípios e Distrito Federal.
Ao julgar a ADI nº 3.647, o STF determinou o dispositivo no Estado do Ma-
ranhão que tornava desnecessária a substituição do governador pelo vice se o
afastamento do Estado ou país fosse até 15 (quinze) dias, inconstitucional, pois
é caso de norma de observância obrigatória, devendo haver sim a substituição,
caso contrário o Poder Executivo ficaria acéfalo durante esse período.

Exercício
114. (FGV – 2013 – MP/MS – Analista) De acordo com a Constituição Federal, é
competência exclusiva do Congresso Nacional, autorizar o Presidente e o
Vice-Presidente da República a se ausentarem do país, quando a ausência
exceder o período de:
a) Dez dias.
b) Quinze dias.
c) Vinte dias.
d) Vinte e cinco dias.
e) Trinta dias.

5. Atribuições do Presidente da República

As atribuições do Presidente da República estão no art. 84 da Constituição Fe-


deral, sendo um rol meramente exemplificativo, pois o art. 84 da CF prevê que
caberá a ele exercer “outras atribuições previstas nesta Constituição”.
O art. 84 condensa hipóteses de chefia de Estado e de Governo.
A chefia de Governo diz respeito à análise de questões internas feitas pelo
presidente, no âmbito interno. A chefia do Estado é a maneira como o chefe
do Poder Executivo se relaciona com os organismos e outros países, comando
externo. Não há especificação sobre quando o presidente atuará como chefia de
Estado ou de Governo.
Costuma-se perguntar em provas as hipóteses de delegação contidas no pa-
rágrafo único do art. 84:
174 Direito Constitucional

“Parágrafo único. O Presidente da República poderá delegar as atribuições


mencionadas nos incisos VI, XII e XXV, primeira parte, aos Ministros de Estado, ao
Procurador-Geral da República ou ao Advogado-Geral da União, que observarão
os limites traçados nas respectivas delegações.”

Exercício
115. (TRT/11ª Região – Analista Judiciário – 2012 – FCC) É lícito ao Presidente da
República, delegar ao Ministro de Estado, a atribuição de:
a) Exercer o comando supremo das Forças Armadas, nomear os Coman-
dantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, promover seus ofi-
ciais-generais e nomeá-los para os cargos que lhes são privativos.
b) Manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representan-
tes diplomáticos e celebrar tratados, convenções e atos internacionais,
sujeitos a referendo do Congresso Nacional.
c) Dispor, mediante decreto, sobre a organização e funcionamento da
administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem
criação ou extinção de órgãos públicos, e sobre a extinção de funções
ou cargos públicos, quando vagos.

6. Responsabilização do Presidente da República

A natureza dos crimes de responsabilidade não são condutas de natureza penal,


mas sim condutas reprováveis sob o aspecto político e administrativo.
O rol das situações previstas como crimes de responsabilidades do art. 85 é
exemplificativo, cabendo complementação, o que se dá, por exemplo, pela Lei
nº 1.079/1950.
Segundo o art. 85 da CF, são crimes de responsabilidade os atos do Presidente
da República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra:
“I – a existência da União; A ideia é que nossa federação seja una, uniforme
e inseparável;
II – o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Pú-
blico e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação; vedação de que o
Presidente tente intervir nos poderes da República. O livre exercício do Ministério
Público é consagrado;
III – o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais;
IV – a segurança interna do País;
Direito Constitucional 175

V – a probidade na administração;
VI – a lei orçamentária;
VII – o cumprimento das leis e das decisões judiciais.
Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei especial, que estabelecerá
as normas de processo e julgamento.”

Exercício
116. (Sefaz/RJ – Auditor Fiscal da Receita Estadual – 2014 – FCC) Suponha que o
Presidente da República esteja obstruindo o livre exercício das atividades do
Congresso Nacional. Neste caso:
a) A União poderá sofrer intervenção federal mediante requisição do Se-
nado Federal.
b) A União poderá sofrer intervenção federal por solicitação do Congresso
Nacional.
c) O presidente da República poderá ser submetido a julgamento, perante
o Senado Federal, por crime de responsabilidade.

7. Julgamento nos Crimes de Responsabilidade

O julgamento do Presidente da República inicia-se após a admissão da acusação,


por 2/3 (dois terços) da Câmara dos Deputados, oportunidade em que será julga-
do perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante
o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade.
Para processar e julgar o presidente, é preciso autorização da Câmara dos
Deputados, prevista no art. 51, da CF.
Essa autorização tem caráter vinculativo, pois autorizado o julgamento pela
câmara, o Congresso é obrigado a processar e julgar o Presidente da República.
O Presidente ficará suspenso de suas funções:
I – nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia ou queixa-crime pelo
Supremo Tribunal Federal;
II – nos crimes de responsabilidade, após a instauração do processo pelo Se-
nado Federal.
O prazo de suspensão terá duração de até 180 (cento e oitenta) dias. Se o
julgamento não estiver concluído, cessará o afastamento do Presidente, sem pre-
juízo do regular prosseguimento do processo.
176 Direito Constitucional

A função exercida pela Câmara dos Deputados de análise de admissão da


acusação tem natureza política e não jurídica.
O Senado Federal realizará as funções de processo e de julgamento, nos ter-
mos do art. 51, I e art. 52, parágrafo único, da CF.
Admite-se a judicialização nos crimes de responsabilidade apenas no que diz
respeito a procedimento.
Pode ser impetrado mandado de segurança contra a mesa dos deputados
apontando inobservância do procedimento, por exemplo. Mérito não é possível.
Penas cabíveis em crime de responsabilidade: perda do cargo com inabilitação
de 8 (oito) anos para função pública.

Exercício
117. (TCE/RS – Oficial de Controle Externo – 2013 – Cespe) A respeito da organi-
zação dos poderes da República Federativa do Brasil, julgue o próximo item:
Se o Presidente da República atentar contra decisões judiciais poderá ser
julgado pelo Supremo Tribunal Federal, exigida a prévia autorização de dois
terços dos membros da Câmara dos Deputados.

8. Imunidades

As imunidades visam assegurar o bom desempenho de suas funções:


– manter a estabilidade;
– evitar eventuais perseguições políticas;
– manter o chefe do Poder Executivo no devido comando.
Atos em razão do exercício de suas funções, não há que se falar em imunida-
de penal relativa.
Essa imunidade é apenas para questões penais, não abarcando sanções civis,
políticas, tributárias ou administrativas.
Essas imunidades se aplicam para Governadores de Estado ou Prefeitos?
Na ADI nº 978, o STF entendeu que não se adéquam ao princípio da simetria.
O argumento do STF é que se trata de norma de natureza processual, situação
do art. 22, I, da CF.
As imunidades não se estendem ao Vice-Presidente da República, segundo
entendimento majoritário da doutrina.
Direito Constitucional 177

Exercício
118. (TRT/5ª Região – Juiz do Trabalho – 2013 – Cespe) Acerca do Poder Executi-
vo, assinale a opção correta:
a) Estados e municípios podem legislar sobre a relação de emprego de
trabalhadores domésticos, dado que a matéria é de competência con-
corrente dos três entes federativos.
b) No presidencialismo adotado no Brasil, sistema de governo previsto na
CF, a chefia de Estado e a chefia de governo não coincidem.
c) Emenda constitucional introduziu na CF previsão de edição, pelo pre-
sidente da República, de decretos autônomos que disponham sobre a
criação ou a extinção de cargos e órgãos públicos.
d) Conforme previsto na CF, a responsabilidade penal do presidente da Re-
pública é relativa, já que ele não pode ser responsabilizado penalmente,
na vigência do seu mandato, por atos estranhos ao exercício de suas
funções.
e) Em caso de relevância e urgência, pode o presidente da República editar
medida provisória para regulamentar matéria relacionada a direitos e
deveres dos juízes do trabalho.
Capítulo 14
Poder Judiciário

1. Órgãos do Poder Judiciário

“Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário:


I – o Supremo Tribunal Federal;
I – o Conselho Nacional de Justiça; (Incluído pela Emenda Constitucional nº
45, de 2004)
II – o Superior Tribunal de Justiça;
III – os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais;
IV – os Tribunais e Juízes do Trabalho;
V – os Tribunais e Juízes Eleitorais;
VI – os Tribunais e Juízes Militares;
VII – os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios.
§ 1º O Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional de Justiça e os Tribu-
nais Superiores têm sede na Capital Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional
nº 45, de 2004)
§ 2º O Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superiores têm jurisdição em
todo o território nacional.”
O CNJ é órgão de controle da atuação administrativa e financeira do Poder
Judiciário, e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes.
Sua inserção era discutida antes do advento da CF/1988.
Os primeiros movimentos em prol da reforma judiciária datam de 1992.
Alguns editais de concurso dispensam tópico especial ao CNJ.
O CNJ tem atribuições administrativas, tornando-o diferente de demais ór-
gãos do Poder Judiciário.
Além desse controle, o CNJ tem poder disciplinar de julgar seus membros.
Direito Constitucional 179

Órgãos do Poder Judiciário:


1º grau:
– juiz de direito; juiz federal; juiz eleitoral; juiz do trabalho; e juiz militar.
Decisão do STM comporta recurso para o STF; decisão do TJM comporta re-
curso para o STJ ou STF.
No grau máximo da hierarquia judiciária, está o STF.

Exercício
119. (Depen – Especialista – 2013 – Cespe) A propósito do Poder Judiciário, julgue
o próximo item:
Apesar de competir ao Conselho Nacional de Justiça o controle da atuação
administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deve-
res funcionais dos juízes, o texto constitucional não reconhece esse órgão
como integrante do Poder Judiciário.

2. Competências Administrativas dos Tribunais

Compete privativamente:
I – aos tribunais:
a) eleger seus órgãos diretivos e elaborar seus regimentos internos, com ob-
servância das normas de processo e das garantias processuais das partes, dispon-
do sobre a competência e o funcionamento dos respectivos órgãos jurisdicionais
e administrativos;
b) organizar suas secretarias e serviços auxiliares e os dos juízos que lhes forem
vinculados, velando pelo exercício da atividade correcional respectiva;
c) prover, na forma prevista nesta Constituição, os cargos de juiz de carreira
da respectiva jurisdição;
d) propor a criação de novas varas judiciárias;
e) prover, por concurso público de provas, ou de provas e títulos, obedecido o
disposto no art. 169, parágrafo único, os cargos necessários à administração da
Justiça, exceto os de confiança assim definidos em lei;
f) conceder licença, férias e outros afastamentos a seus membros e aos juízes
e servidores que lhes forem imediatamente vinculados;
II – ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos Tribunais de
Justiça propor ao Poder Legislativo respectivo, observado o disposto no art. 169:
180 Direito Constitucional

a) a alteração do número de membros dos tribunais inferiores;


b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos seus serviços auxilia-
res e dos juízos que lhes forem vinculados, bem como a fixação do subsídio de
seus membros e dos juízes, inclusive dos tribunais inferiores, onde houver;
c) a criação ou extinção dos tribunais inferiores;
d) a alteração da organização e da divisão judiciárias;
III – aos Tribunais de Justiça julgar os juízes estaduais e do Distrito Federal e
Territórios, bem como os membros do Ministério Público, nos crimes comuns e de
responsabilidade, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral.

Exercício
120. (TRT/17ª Região – Técnico Judiciário – Cespe – 2013) Com relação ao Su-
premo Tribunal Federal (STF) e às ouvidorias de justiça, julgue o item que se
segue:
A Constituição Federal determina a criação, por iniciativa dos tribunais de
todo o país, de ouvidorias de justiça com competência para receber reclama-
ções e denúncias de qualquer pessoa interessada, desde que dirigida contra
órgãos ou serviços auxiliares do Poder Judiciário, excluídos os juízes indivi-
dualmente considerados.

3. Competência Ordinária e Competência


Extraordinária
Segundo o art. 92 da CF, são órgãos do Poder Judiciário: o Supremo Tribunal Fe-
deral, o Conselho Nacional de Justiça, o Superior Tribunal de Justiça, os Tribunais
Regionais Federais e os Juízes Federais.
O STF, o CNJ e os Tribunais Superiores têm sede na Capital Federal, sendo que
o STF e os Tribunais Superiores possuem jurisdição em todo o território nacional.
O STF e o STJ são chamados de Tribunais de superposição, e sua função pre-
cípua é a de uniformizar o entendimento existente (o STF relativamente questões
constitucionais e o STJ relativamente a questões de natureza federal). Não se fala
em terceiro grau de jurisdição, mas apenas duplo grau, com a finalidade de uni-
formização de entendimentos.
Ainda, o STF e o STJ também agem com competência originária, o que se
demonstra pela análise dos arts. 102 e 105 da CF.
Questão recentemente decidida pelo STF diz respeito à objetivação do recurso
extraordinário, eis que estamos em um novo momento para o Poder Judiciário,
Direito Constitucional 181

dentro da ordem do neoconstitucionalismo. Gilmar Mendes, em sua doutrina,


traz as atribuições contemporâneas do Judiciário nessa nova fase de prevalência
do Poder Judiciário em relação aos demais Poderes. Essas atribuições são: defesa
dos direitos fundamentais, defesa da força normativa da Constituição, autogo-
verno dos Tribunais (art. 96 da CF), resolução de conflitos entre os demais Poderes
e legislação (ou ativismo) judicial.

Exercício
121. (TJ – PE – Analista Judiciário – 2012) A causa decidida, em última instância,
pelo Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco, quando a decisão recor-
rida contrariar lei federal, será julgada pelo:
a) Supremo Tribunal Federal em recurso extraordinário.
b) Superior Tribunal de Justiça em recurso ordinário.
c) Superior Tribunal de Justiça em recurso especial.
d) Supremo Tribunal Federal em recurso ordinário.
e) Tribunal Regional Federal competente.

4. O Estatuto Constitucional da Magistratura


O Estatuto Constitucional da Magistratura tem previsão no art. 93 da CF.
A Lei deve ser complementar e de iniciativa exclusiva do STF. Trata-se do con-
junto normativo acerca das principais questões da magistratura. Existe a Lei Orgâ-
nica da Magistratura Nacional nº 35/1979, a chamada Loman. A Lei foi editada
na égide da Constituição de 1967. A doutrina critica a ausência de uma nova lei
com as diretrizes da CF/1988.
A Emenda Constitucional nº 45/2004 alterou incisos consagrados no art. 93
da Constituição.
Entende-se que a Loman foi recepcionada pela CF e que vigerá até nova lei
complementar que regule a magistratura seja editada.
Dispõe o inciso I do art. 93 da Constituição que o:
“I – ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de juiz substituto, mediante
concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados
do Brasil em todas as fases, exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos
de atividade jurídica e obedecendo-se, nas nomeações, à ordem de classificação.”
A classe inicial é a do juiz substituto e o ingresso na carreira deve ser realizado
mediante concurso público de provas e títulos, com a participação da OAB em
todas as fases.
182 Direito Constitucional

A Resolução do CNJ nº 75/2009 dispõe sobre como devem ser o concurso


público. Deve ser realizado em cinco etapas: uma prova objetiva (eliminatória
e classificatória); duas provas escritas (eliminatórias e classificatórias); investi-
gação social, de vida pregressa, sanidade física e mental e exame psicotécni-
co (eliminatórios); prova oral (eliminatória e qualificatória); avaliação de títulos
(classificatório).
A atividade jurídica deve ser de no mínimo 3 (três) anos, pelos critérios dados
pelo art. 59 da Resolução nº 75/2009 do CNJ.

Exercício
122. (MS – Analista Técnico – 2013 – Cespe) Com base nas normas constitucio-
nais relativas ao Poder Judiciário, julgue o item a seguir:
Lei complementar, de iniciativa do Conselho Nacional de Justiça, disporá
sobre o Estatuto da Magistratura.

5. O Estatuto Constitucional da Magistratura –


Promoção de Entrância para Entrância

Prevê o inciso II do art. 93 da CF que a promoção de entrância para entrância dos


juízes será, alternadamente, por antiguidade e merecimento.
Instância é promoção vertical e entrância é promoção horizontal do juiz em
divisões administrativas das comarcas por critérios de número de habitantes, de
número de processos.
O acesso aos tribunais de segundo grau far-se-á por antiguidade e mereci-
mento, alternadamente, apurados na última ou única entrância.
O subsídio dos Ministros dos Tribunais Superiores corresponderá a 95% (no-
venta e cinco por cento) do subsídio mensal fixado para os Ministros do Supremo
Tribunal Federal e os subsídios dos demais magistrados serão fixados em lei e
escalonados, em nível federal e estadual, conforme as respectivas categorias da
estrutura judiciária nacional, não podendo a diferença entre uma e outra ser su-
perior a 105 (dez por cento) ou inferior a 5% (cinco por cento), nem exceder a
95% (noventa e cinco por cento) do subsídio mensal dos Ministros dos Tribunais
Superiores, obedecido, em qualquer caso, o disposto nos arts. 37, XI, e 39, § 4º.
A aposentadoria dos magistrados e a pensão de seus dependentes observarão
o disposto no art. 40.
O juiz titular residirá na respectiva comarca, salvo autorização do tribunal.
Direito Constitucional 183

Exercício
123. (Vunesp – TJ-SP – 2013 – Juiz) A promoção na carreira da magistratura, de
entrância para entrância, alternadamente, por antiguidade e merecimento,
nos termos do inciso II, e alíneas, do art. 93 da Constituição Federal:
a) Está escorada em dispositivos autoaplicáveis, pois a exigência de edição
de lei complementar para estabelecer o Estatuto da Magistratura não
impede a imediata utilização dos preceitos constitucionais básicos que
regem o Poder Judiciário e a magistratura.
b) Está escorada em dispositivos que reclamam a obediência à Lei Orgâni-
ca da Magistratura, LOMAN, para que tenham eficácia imediata.
c) Esses dispositivos referem-se aos critérios de promoção e de remoção
dos Juízes Estaduais.
d) Esses dispositivos referem-se aos critérios de promoção e de remoção
dos Juízes Federais.

6. O Estatuto Constitucional da Magistratura –


Julgamentos dos Órgãos do Poder Judiciário

Determina o art. 93 da Constituição Federal que “todos os julgamentos dos ór-


gãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob
pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às
próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a
preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o
interesse público à informação;” ...
A previsão de julgamentos públicos não obsta o segredo de justiça para prote-
ger, em determinados casos, o direito à intimidade. A obrigatoriedade de funda-
mentação das decisões serve para controle interno do Poder Judiciário e controle
externo pelos outros poderes.
As decisões administrativas dos tribunais serão motivadas e, em sessão pública,
sendo as disciplinares tomadas pelo voto da maioria absoluta de seus membros;
Nos tribunais com número superior a 25 (vinte e cinco) julgadores, poderá
ser constituído órgão especial, com o mínimo de onze e o máximo de vinte e
cinco membros, para o exercício das atribuições administrativas e jurisdicionais
delegadas da competência do tribunal pleno, provendo-se metade das vagas por
antiguidade e a outra metade por eleição pelo tribunal pleno.”
184 Direito Constitucional

Exercício
124. (Cespe – TRT/8ª Região – 2013 – Técnico Judiciário) Assinale a opção correta
a respeito do Poder Judiciário:
a) Salvo autorização do CNJ, o juiz titular terá de residir na respectiva co-
marca.
b) Deverão ser motivadas e tomadas em sessão pública as decisões admi-
nistrativas dos tribunais, sendo as disciplinares tomadas pelo voto da
maioria absoluta de seus membros.
c) Os servidores dos tribunais receberão delegação para a prática de atos
de mero expediente, contudo, referidas práticas só possuirão caráter
decisório se a delegação for expressa nesse sentido.
d) A CF estabelece que as custas e emolumentos serão destinados ao custeio
dos serviços afetos às atividades da administração pública em geral.
e) O CNJ é um órgão de natureza judicial, com sede na capital federal e
jurisdição em todo o território nacional.

7. O Estatuto Constitucional da Magistratura –


Atividade Jurisdicional
A atividade jurisdicional será ininterrupta, sendo vedadas férias coletivas nos
juízos e tribunais de segundo grau, funcionando, nos dias em que não houver
expediente forense normal, juízes em plantão permanente. Trata-se do Princípio
da Ininterruptibilidade da Jurisdição.
O fim das férias coletivas foi determinado com a finalidade de promover o
aumento da produtividade, com o funcionamento constante do Judiciário, oca-
sionando uma prestação mais célere e efetiva.
O número de juízes na unidade jurisdicional será proporcional à efetiva de-
manda judicial e à respectiva população.
Os servidores receberão delegação para a prática de atos de administração e
atos de mero expediente sem caráter decisório.
A distribuição de processos será imediata, em todos os graus de jurisdição.

Exercício
125. (TJ/SP – Advogado – 2013 – Vunesp) A Constituição da República estabelece
que Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá so-
bre o Estatuto da Magistratura, observado, entre outros princípios, o seguinte:
Direito Constitucional 185

a) É vedada a delegação aos servidores do Judiciário a prática de quais-


quer atos de administração nos tribunais e nos cartórios de primeira
instância.
b) Não será promovido o juiz que, injustificadamente, retiver autos em seu
poder além do prazo legal, não podendo devolvê-los ao cartório sem o
devido despacho ou decisão.
c) Nos tribunais com número superior a vinte e cinco julgadores, poderá
ser constituído órgão especial, com o mínimo de onze e o máximo de
vinte membros, para o exercício das atribuições administrativas e juris-
dicionais delegadas da competência do tribunal pleno.
d) As decisões administrativas dos tribunais serão motivadas e em sessão
secreta, sendo as disciplinares tomadas pelo voto da maioria absoluta
de seus membros.
e) É obrigatória a promoção do juiz que figure por três vezes consecutivas
ou quatro alternadas em lista de merecimento.

8. Plenário

O art. 97 da Constituição Federal trata da cláusula de Plenário.


O órgão especial a que se refere o art. 97 é o relacionado no art. 93, IX, da
CF, mas a cláusula de reserva de Plenário é aplicável na hipótese de haver ou não
o órgão especial.
Para se declarar constitucionalidade, não há que se falar na cláusula de reserva
de plenário, isso se deve ao postulado normativo da presunção de constituciona-
lidade das Leis e atos normativos.
Na hipótese de controle concentrado, há previsão da cláusula nas Leis nos
9.868/99 e 9.882/99 e, para o controle difuso, a previsão é a do art. 97 da CF.
O posicionamento majoritário da doutrina é de que o Pleno ou Órgão Espe-
cial deverá se restringir a apreciar a lei ou ato normativo que foi levantado pelas
câmaras ou turmas.
Entretanto, nem sempre a cláusula de reserva de plenário deverá ser observa-
da. Há hipóteses de não recepção, há situações em que o Pleno ou Órgão Especial
já tenha se manifestado pela constitucionalidade da questão e, ainda, o STF pode
já ter consolidado posicionamento a respeito do assunto. Por fim, foi editada a
Súmula Vinculante nº 97 a fim de prevenir a não suscitação da cláusula de reserva
de plenário.
186 Direito Constitucional

Exercício
126. Considere as seguintes assertivas sobre o Poder Judiciário, de acordo com a
Constituição Federal de 1988:
I – Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos mem-
bros do respectivo Órgão Especial poderão os tribunais declarar a inconstitu-
cionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público.
II – O ato de disponibilidade do magistrado, por interesse público, fundar-
-se-á em decisão por voto da maioria absoluta do respectivo tribunal ou do
Conselho Nacional de Justiça, assegurada ampla defesa.
III – Lei Ordinária, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o
Estatuto da Magistratura, observados os princípios estabelecidos na Consti-
tuição Federal de 1988.
Está correto o que se afirma em:
a) I e II, apenas.
b) I, II e III.
c) II e III, apenas.
d) I e III, apenas.
e) II, apenas.

9. Quinto Constitucional
O quinto constitucional está consagrado no art. 94 da Constituição Federal. No
âmbito da Justiça do Trabalho, está previsto nos arts. 111-A e 115, I, da CF.
A regra do quinto constitucional, no âmbito do STJ, apesar de ter essa deno-
minação, é de 1/3 (um terço) da composição, nos termos do art. 104, parágrafo
único, II, da CF.
Os membros do Ministério Público e da advocacia, com prazo superior a 10
(dez) anos de carreira, poderão compor o quinto constitucional. Cada classe or-
ganizará uma lista sêxtupla, a qual será encaminhada para o Tribunal, que enca-
minhará para o Presidente da República uma lista tríplice.

Exercício
127. (TJ/SC – Juiz – 2013) Observadas as proposições a seguir expostas, assinale a
alternativa correta:
I – Na apuração de antiguidade, o tribunal somente poderá recusar o juiz
mais antigo pelo voto fundamentado de três quintos de seus membros,
Direito Constitucional 187

conforme procedimento próprio, e assegurada ampla defesa, repetindo-


-se a votação até fixar-se a indicação.
II – O ato de remoção, disponibilidade e aposentadoria do magistrado, por
interesse público, fundar-se-á em decisão por voto da maioria absoluta do
respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada ampla
defesa.
III – Nos tribunais com número superior a vinte e cinco julgadores, poderá
ser constituído órgão especial, com o mínimo de onze e o máximo de vinte e
cinco membros, para o exercício das atribuições administrativas e jurisdicio-
nais delegadas da competência do tribunal pleno, provendo-se metade das
vagas por merecimento e a outra metade por eleição pelo tribunal pleno.
IV – Um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais
dos Estados, e do Distrito Federal e Territórios será composto de membros
do Ministério Público, com mais de dez anos de carreira, e de advogados de
notório saber jurídico e de reputação ilibada, com mais de dez anos de efetiva
atividade profissional, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representa-
ção das respectivas classes.
a) Somente as proposições I, II e IV estão corretas.
b) Somente as proposições I e IV estão corretas.
c) Somente as proposições II e IV estão corretas.
d) Somente as proposições II e III estão corretas.
e) Somente as proposições I, III e IV estão corretas.

10. Garantias e Vedações do Juiz

As garantias e as vedações ao juiz visam a assegurar a estabilidade da instituição


do Poder Judiciário. Não pertencem ao indivíduo, mas ao cargo que ocupa e es-
tão previstas no art. 95 da Constituição Federal.
Os juízes gozam das seguintes garantias:
I – vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após 2 (dois) anos
de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do
tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença judicial
transitada em julgado;
II – inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na forma do art.
93, VIII, da CF;
III – irredutibilidade de subsídio.
188 Direito Constitucional

As vedações estão previstas no parágrafo único do art. 95:


I – exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma
de magistério;
II – receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo;
III – dedicar-se à atividade político-partidária;
IV – receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas
físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei;
V – exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorri-
dos 3 (três) anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração.

Exercício
128. (TCE/AP – Analista de controle externo – 2012 – FCC) Os juízes federais:
a) Julgam as causas em que a União é interessada na condição de autora,
ré, assistente ou oponente, inclusive as de falência e de acidentes de
trabalho.
b) Gozam das garantias da estabilidade, inamovibilidade e irredutibilidade
de subsídio, após um ano de efetivo exercício.
c) Podem exercer advocacia no juízo do qual tenham se afastado em virtude
de aposentadoria, desde que decorridos três anos do afastamento.
d) Julgam os mandados de segurança contra ato de Ministro de Estado e
dos Tribunais de Contas da União.
e) Podem exercer atividade político-partidária, nas hipóteses previstas
em lei.
Capítulo 15
Funções Essenciais à
Justiça

1. Ministério Público – Papel e Princípios


Institucionais

O Ministério Público é uma instituição que tem uma formatação bem peculiar
no nosso sistema Constitucional, porque se apresenta quase como se fosse um
quarto poder.
O Ministério Público possui basicamente as funções de promover a tutela dos
interesses indisponíveis da coletividade, deve zelar pela preservação dos direitos
fundamentais e os interesses públicos como a proteção ao meio ambiente, a
proteção ao patrimônio público, além disso, tem o papel de fiscalizar a atuação
dos demais poderes, verificando se os demais poderes estão cumprindo com os
parâmetros de legalidade.
Os Princípios da Unidade e Indivisibilidade passam pela compreensão de que
o Ministério Público é uma coisa só. Apesar de se falar em algumas divisões no
âmbito do Ministério Público, é importante que se compreenda essa instituição
como uma coisa só, o Ministério Público tem unidade, ele atua como um todo.
Deve haver uma coerência na atuação do Ministério Público; pode até aconte-
cer no plano interno de se verificar divergências dentro da instituição, mas o Mi-
nistério Público se apresenta perante a sociedade, perante os demais poderes com
uma postura única, decidida, coerente porque o Ministério Público, o seu conjunto
de órgãos representa uma coisa só, dotada de unidade e de indivisibilidade.
O terceiro e mais relevante princípio institucional é o da independência funcio-
nal. É este princípio que irá desgarrar o Ministério Público das demais estruturas
do poder. Historicamente, o Ministério Público estava atrelado ao Poder Público,
na Constituição de 1988. Isso não existe mais, ele passou a ser formatado pela
Constituição de 1988 como uma instituição dotada de independência funcional.
Significa dizer que a atuação do Ministério Público não passa pelo crivo do Poder
190 Direito Constitucional

Executivo, do Poder Legislativo, e nem mesmo do Poder Judiciário, ele tem total
autonomia para tomar as suas decisões. Ainda que sofra pressão do Poder Execu-
tivo, o Ministério Público tem independência funcional.

2. Ministério Público – Autonomia Financeira e


Lei Orçamentária

O Ministério Público tem autonomia funcional e administrativa, podendo, dentro


dos limites orçamentários, propor ao Poder Legislativo a criação e extinção de
seus cargos e serviços auxiliares, provendo-os por concurso público.
O Ministério Público não é poder, mas foi dito que ele possui fisionomia típi-
ca de poder e este é um dos dispositivos que permite confirmar esta afirmativa
porque o Ministério Público, assim como os Poderes Executivo, Legislativo e Ju-
diciário, possui autonomia financeira e a capacidade de definir como irá gerir os
seus recursos.
O orçamento é elaborado dentro dos limites da Lei de Diretrizes Orçamen-
tárias. O orçamento do Estado é um só e tem de ser dividido entre o Poder
Legislativo, Executivo, Judiciário e Ministério Público. É o Poder Legislativo que
elabora a lei orçamentária, mas a iniciativa do projeto de lei é do Poder Executivo.
É o Executivo que tem a iniciativa do projeto em razão de ser o responsável em
administrar o dinheiro público.
Para preservar a autonomia, a Constituição Federal estabelece que cabe ao
Ministério Público elaborar uma proposta orçamentária e encaminhar ao Poder
Executivo. O Executivo por sua vez insere esta proposta dentro do projeto de lei e
este segue para o Poder Legislativo que irá fazer a Lei Orçamentária.
Se o Ministério Público encaminhar uma proposta que extrapole os limites da
Lei de Diretrizes Orçamentárias, o Poder Executivo irá ajustá-la para que se adé-
que aos limites impostos pela lei.

3. Ministério Público – Autonomia e Composição


O Ministério Público tem um prazo para encaminhar sua proposta ao Poder
Executivo para que este insira no projeto de lei. Se, chegado o prazo, o Ministério
Público ainda não tiver encaminhado sua proposta orçamentária, será repetida a
proposta do exercício financeiro em curso.
Elaborada a Lei de Diretrizes Orçamentárias, se o Ministério Público desejar
criar uma despesa nova, terá de anular uma despesa antiga, ou seja, trocar as des-
Direito Constitucional 191

pesas. Em regra, o Ministério Público não pode criar uma despesa que não tenha
compatibilidade com a Lei de Diretrizes. Porém, existe uma exceção, o Ministério
Público pode durante o exercício gerar uma despesa excedente a LDO se houver
autorização mediante abertura de um crédito novo (art. 127, § 6º, da CF/1988).
A Lei de Diretrizes Orçamentárias é elaborada dentro de previsões de arreca-
dação. Entretanto, se o Estado consegue arrecadar além do que estava previsto,
gerando assim mais receita, possibilitando assim a abertura de um crédito novo.
O Ministério Público apesar de ter como Princípios a Unidade e a Indivisibilida-
de possui uma divisão interna que é formada por um conjunto de órgãos.
O Ministério Público abrange:
I – o Ministério Público da União, que compreende:
a) o Ministério Público Federal;
b) o Ministério Público do Trabalho;
c) o Ministério Público Militar; e
d) o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios; e
II – os Ministérios Públicos dos Estados.
Importante observar que o custeio do Ministério Público do Distrito Federal e
Territórios são de competência do Ministério Público da União.

4. Ministério Público – MPU e Procurador-Geral


Requisitos para ser Procurador-Geral da República: deve ser membro da carreira.
Deve ainda ter mais de 35 (trinta e cinco) anos. A escolha do Procurador-Geral da
República é feita mediante a indicação do Presidente da República com aprovação
do Senado Federal pelo voto da maioria absoluta do Senado Federal.
É importante recordar que todos os cargos de alto escalão que dependem
de nomeação política e aprovação legislativa, a aprovação é feita pelo Senado
Federal.
O chefe do MPU (Ministério Público da União) é eleito para um mandato de 2
(dois) anos, sendo permitida a recondução. Pode ocorrer algum incidente durante
esses 2 (dois) anos que venha a provocar a destituição do Procurador-Geral da
República. Esta destituição é de iniciativa do Presidente da República e deverá ser
precedida de autorização por maioria absoluta do Senado Federal.
Os Ministérios Públicos dos Estados e do Distrito Federal elegem o seu Procu-
rador-Geral de Justiça pela formação de uma lista tríplice. Esta lista é designada
pelos próprios membros do Ministério Público daquele Estado que indicam três
membros integrantes da carreira, na forma da lei respectiva.
192 Direito Constitucional

O Procurador-Geral de Justiça será nomeado pelo Chefe do Poder Executivo.


Nos Estados da Federação, a nomeação é feita pelo Governador do respectivo
Estado; já no caso do Distrito Federal, por ser integrante da estrutura do MPU,
a nomeação é feita pelo Presidente da República. O mandato é de 2 (dois) anos
permitida uma recondução.
A forma como será feita a lista tríplice é disciplinada por lei estadual, portanto,
cada Estado terá sua própria forma de escolha. Relevante observar que, para a
nomeação do Chefe do MPE (Ministério Público do Estado), a Constituição Fede-
ral não exigiu aprovação da Assembleia Legislativa.

5. Ministério Público – Destituição, Organização


da Carreira, Garantias e Vedações
Prosseguindo no estudo da função de Procurador-Geral de Justiça, foi visto que
este será nomeado pelo Chefe do Poder Executivo para um mandato de 2 (dois)
anos permitida uma recondução.
Importante relembrar também que para a nomeação do Chefe do MPE (Mi-
nistério Público do Estado) a Constituição Federal não exigiu aprovação da As-
sembleia Legislativa.
Apesar da Constituição não ter exigido aprovação da Assembleia Legislativa
para a escolha do Procurador-Geral do Estado, o mesmo não ocorre para a des-
tituição do cargo. Somente poderá o Procurador-Geral do Estado ser destituído
por deliberação da maioria absoluta do Poder Legislativo, na forma da lei com-
plementar respectiva.
O § 5º do art. 128 traz os aspectos da organização da carreira no Ministério
Público. A iniciativa de lei sobre a organização do Ministério Público é facultada
ao Procurador-Geral.
Ao consultar o art. 61, § 1º, II, “d”, da Constituição, verá que o texto mencio-
na que a lei que dispõe sobre normas gerais de organização do Ministério Público
da União e dos Estados é de iniciativa privativa do Presidente da República.
Assim sendo, ambas as afirmativas são verdadeiras, tanto que o Procurador-
-Geral tem iniciativa facultada, bem como compete privativamente ao Presidente
da República a iniciativa de lei que verse sobre a organização do Ministério Público.
As garantias dos membros do Ministério Público, igualmente as vedações, são
bem próximas àquelas estabelecidas aos membros do Poder Judiciário.
A primeira garantia dos membros do Ministério Público é a vitaliciedade. Após
2 (dois) anos de exercício no cargo, não poderá perder o cargo senão por senten-
ça judicial transitada em julgado.
Direito Constitucional 193

A próxima garantia é a inamovibilidade, proteção contra remoções indeseja-


das. O servidor do Ministério Público não será transferido de maneira imotivada.
Somente será transferido por motivo de interesse público, mediante decisão do
órgão colegiado competente do Ministério Público, pelo voto da maioria absoluta
de seus membros, assegurada a ampla defesa.

6. Ministério Público – Garantias e Vedações


A terceira garantia assegurada aos membros do Ministério Público é a irreduti-
bilidade remuneratória. Esta é uma garantia geral do servidor público. O nome
dado à remuneração do servidor do Ministério Público é subsídio. O subsídio tem
uma fórmula remuneratória que é uma parcela única, vedado qualquer tipo de
adicional, abono ou gratificação.
Vedações:
a) receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorários, percenta-
gens ou custas processuais; e
b) exercer a advocacia;
Aplica-se aos membros do Ministério Público o disposto no art. 95, parágrafo
único, V. Este artigo mencionado na alínea “b” traz a regra da quarentena da ad-
vocacia para os juízes que se aposentam. O art. 95, parágrafo único, V, determina
que o juiz ao deixar o cargo fica impedido de advogar durante 3 (três) anos, no
âmbito da área que atuou.
Existe uma situação excepcional de membros do Ministério Público que po-
dem advogar. A Constituição no Ato das Disposições Transitórias, no art. 29, § 3º,
traz uma regra que permitia aos membros integrantes do Ministério Público, an-
tes da promulgação da Constituição de 1988, que optassem pelo regime anterior,
exercerem a advocacia.
É vedado aos membros do Ministério Público participar de sociedade comer-
cial, na forma da lei. A lei é que disciplina a forma de participação. A proibição
não é total; é proibição na forma da lei.
É proibido aos membros do Ministério Público exercer, ainda que em disponi-
bilidade, qualquer outra função pública, salvo uma de magistério.
É vedado ao membro do Ministério Público exercer atividade político-partidá-
ria. Se o membro do MP quiser adentrar na atividade político-partidária tem que
se desligar do serviço público, seja pelo pedido de exoneração, seja pela aposen-
tadoria. Entretanto, aqueles membros que já integravam os quadros do Ministério
Público, antes da promulgação da Constituição de 1988 e optaram pelo regime
anterior, podem exercer atividade político-partidária sem se desligarem, bastam
tirar uma licença.
194 Direito Constitucional

Ainda, é vedado aos membros do Ministério Público receber, a qualquer título


ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou pri-
vadas, ressalvadas as exceções previstas em lei. A lei pode criar exceções, tais como
a possibilidade dos membros do Ministério Público receberem auxílio-moradia.

7. Ministério Público – Funções Institucionais e


Legitimidade
A primeira atribuição é:
– promover, privativamente, a ação penal, na forma da lei. A ação penal
pública é de titularidade privativa do Ministério Público;
– fiscalizar os demais poderes da República. Cumpre a ele zelar pelo efetivo
respeito dos poderes públicos aos direitos assegurados nesta Constituição,
para isso pode adotar as medidas necessárias;
– promover a proteção dos direitos difusos, abrangendo o meio ambiente,
o consumidor, o patrimônio público, direitos coletivos e para tanto po-
dendo instaurar procedimento investigatório civil, o chamado inquérito
civil. Deste procedimento investigatório, o Ministério Público pode extrair
a necessidade de promover a Ação Civil Pública;
– promover a Ação de Inconstitucionalidade e a Ação Interventiva. Além
do Ministério Público, somente quem possui legitimidade para a propo-
situra de Ação de Inconstitucionalidade e Representação Interventiva é o
Procurador-Geral da República.
Compete ao Ministério Público defender judicialmente os direitos e interesses
das populações indígenas. A legitimidade do MP para ingressar com ações em
defesa dos interesses dos índios, não exclui a legitimidade dos próprios índios, de
suas comunidades e organizações no ingresso em juízo, conforme dispõe o art.
232 da CF/1988. Nas situações em que os próprios índios, suas comunidades ou
organizações ingressarem em juízo, o Ministério Público irá intervir no processo
como fiscal, irá atuar em todos os atos do processo.
O Ministério Público tem competência para instaurar procedimentos admi-
nistrativos e pode expedir notificações que entenda necessárias para instruir o
próprio procedimento.

8. Ministério Público – Função Institucional


A próxima função institucional do Ministério Público é a de exercer o controle
externo da atividade policial.
Direito Constitucional 195

O Ministério Público pode requisitar diligências investigatórias e a instauração


de inquérito policial.
É permitido ao Ministério Público que lhe sejam atribuídas outras funções,
desde que compatíveis com sua finalidade. Entretanto, a Constituição vedou a
representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas.
Não é o Ministério Público que vai atuar defendendo os interesses das entida-
des públicas, isto é função da Advocacia-Geral da União após a promulgação da
Constituição Federal de 1988. O Ministério Público irá apenas fiscalizar a atuação
do Poder Executivo.
Só podem exercer as funções do Ministério Público os integrantes da carreira
e, salvo por autorização do chefe da instituição, deverão residir na comarca da
respectiva lotação. Se houver autorização do chefe do Ministério Público, o mem-
bro do MP poderá residir em outra comarca.
O ingresso na carreira do Ministério Público é feito mediante concurso público
de provas e títulos. Determina ainda a participação da Ordem dos Advogados do
Brasil em todas as fases do concurso e exige do bacharel em direito com no mí-
nimo 3 (três) anos de atividade jurídica, observando-se, nas nomeações, a ordem
de classificação.

9. Ministério Público – Atividade Jurídica,


Função e Conselho Nacional do Ministério
Público
São exigidos 3 (três) anos de prática jurídica para os candidatos ao ingresso na
carreira do Ministério Público.
É aplicado ao Ministério Público, no que couber, o disposto no art. 93 da
CF/1988. Este art. 93 trata do Estatuto Constitucional da Magistratura.
Aos membros do Ministério Público junto aos Tribunais de Conta, aplicam-se
as disposições desta seção pertinentes a direitos, vedações e forma de investidu-
ra. Importante ter em mente que o Tribunal de Contas é um órgão especial e que
não deve ser confundido com o Ministério Público comum.
O Conselho Nacional do Ministério Público é composto de 14 (catorze) mem-
bros nomeados pelo Presidente da República e aprovados por maioria absoluta
do Senado Federal, para o mandato de 2 (dois) anos, admitida uma recondução.
Dentre os 14 (catorze) membros, serão:
– 1 (um) Procurador-Geral da República que será o presidente do conselho
(art. 130-A, I, da CF/1988);
196 Direito Constitucional

– 4 (quatro) membros do Ministério Público da União, um de cada segui-


mento (MPF/MPT/MPM MPDFT), indicados pelo Ministério Público da
União (art. 130-A, II, da CF/1988);
– 3 (três) membros do Ministério Público dos Estados, indicados pelo Minis-
tério Público (art. 130-A, III, da CF/1988);
– 2 (dois) juízes, sendo um indicado pelo Supremo Tribunal Federal e outro
pelo Superior Tribunal de Justiça (art. 130-A, IV, da CF/1988);
– 2 (dois) advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advo-
gados do Brasil (art. 130-A, V, da CF/1988); e
– 2 (dois) cidadãos, sendo um indicado pela Câmara dos Deputados e outro
pelo Senado Federal (art. 130-A, VI da CF/1988).
O Presidente do Conselho Federal da OAB oficia junto ao Conselho Nacional
de Justiça; apesar de não ser membro do Conselho atua junto conforme disciplina
o § 4º do art. 130-A.

10. Advocacia Pública e Procuradorias


A advocacia pública consiste na atividade de advocacia relacionada à defesa de
entidades públicas. É o órgão responsável pela defesa jurídica das Entidades Pú-
blicas diante das demandas judiciais em que seja parte. O advogado público, além
de promover a defesa, realiza a assistência jurídica seja no plano Federal, Estadual
ou Municipal.
A Advocacia-Geral da União é a instituição que diretamente ou por inter-
médio de órgão vinculado representa a União, judicial ou extrajudicialmente. A
Advocacia da União propriamente dita atua no âmbito da administração direta.
Já a Procuradoria-Geral da União atua no âmbito da administração indireta (au-
tarquias, sociedades de economia mista). Exemplo: Procuradoria-Geral do INSS.
O Advogado-Geral da União não precisa integrar a carreira da Advocacia da
União e, segundo, não tem que ser aprovado pelo Poder Legislativo na figura do
Senado Federal.
Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal estão organizados em car-
reira. O ingresso na carreira será mediante aprovação em concurso de provas e
títulos. Terceira informação consiste na participação da OAB em todas as etapas
do concurso. E, por último, informa que os Procuradores dos Estados exercem a
representação judicial e consultoria jurídica dos Estados.
A Constituição não fez menção sob a designação do Procurador-Geral do Es-
tado, mas, no âmbito estadual, nas Constituições e nas Leis, estabelece que seja
de livre nomeação pelo Governador do Estado.
Direito Constitucional 197

11. Defensoria Pública

O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus


atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei.
A Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado,
incumbindo-lhe a orientação e a defesa em todos os graus, dos necessitados, na
forma do art. 5º, LXXIV.
A Defensoria Pública é a instituição que promove a orientação jurídica e a
defesa dessas pessoas necessitadas.
O ingresso na Defensoria Pública será mediante aprovação em concurso públi-
co de provas e títulos. Aos defensores públicos, será garantida a inamovibilidade
e vedado o exercício da advocacia fora das atribuições institucionais.
A vedação imposta comporta uma exceção. Os membros que já integravam os
quadros da Defensoria Pública, antes da promulgação da Constituição Federal de
1988 e optaram pelo regime anterior, poderão exercer a advocacia fora das suas
atribuições institucionais.
Com o advento da Emenda Constitucional nº 69, houve a alteração dos inci-
sos XII e XIII do art. 21 separando o Distrito Federal dos Territórios e passando a
Defensoria Pública do Distrito Federal a integrar o próprio Distrito Federal e não
mais a União. Atualmente, não há nenhum Território, mas, se, porventura, algum
for criado, a Defensoria Pública do respectivo será mantida pela União.
Alguns Estados brasileiros demoraram em criar as Defensorias Públicas, ainda
que já estivesse prevista desde a promulgação da Constituição Federal de 1988.
Os Estados substituíam esta ausência da Defensoria Pública criando modelos
paliativos; muitas vezes, firmavam por via de lei convênios com a Ordem dos Ad-
vogados do Brasil estabelecendo que as atribuições da Defensoria Pública fossem
exercidas por defensores dativos indicados pela OAB. Os advogados eram desig-
nados e o Estado repassava a verba para a OAB.
Capítulo 16
Defesa do Estado e das
Instituições Democráticas

1. Estado de Defesa e Estado de Sítio – Causas


de Decretações
A Defesa dos Estados e das Instituições Democráticas estão previstas nos arts. 136
a 141 da Constituição Federal de 1988.
O Estado de Defesa e o Estado de Sítio são situações excepcionais que se ado-
tam nos casos de crises constitucionais. Exemplo: a restrição de direitos.
O Estado de Sítio é instaurado em situações graves de grandes proporções e,
por isso, sua permanência pode ser prolongada por mais tempo.
Para a decretação do Estado de Sítio, o Presidente da República pede autori-
zação ao Congresso Nacional.
São 2 (duas) as causas que decretam o Estado de Defesa e 4 (quatro) são as
causas que decretam o Estado de Sítio.
O art. 136 da Constituição Federal exige para a decretação do Estado de
Defesa: grave e iminente instabilidade institucional e calamidade de grandes pro-
porções na natureza.
O art. 137 traz os casos que permitem ao Presidente da República, com au-
torização do Congresso Nacional, decretar o Estado de Sítio. São eles: comoção
grave de repercussão nacional; ineficácia do Estado de Defesa; Estado de Guerra;
e agressão armada estrangeira.

2. Estado de Defesa e Estado de Sítio – Causas


de Decretações e Formalidades
Prosseguindo na análise das causas de decretação de Estado de Sítio, a primeira
causa permissiva para a decretação do Estado de Sítio é a ineficácia de uma me-
dida adotada no Estado de Defesa.
Direito Constitucional 199

A segunda causa que possibilita a decretação do Estado de Sítio é o Estado


de Guerra.
A terceira hipótese para a decretação o Estado de Sítio é a agressão armada
estrangeira, situação inclusive que autoriza a decretação de guerra.
Dentre as causas, deve se concentrar em apenas três: grave e iminente insta-
bilidade institucional; calamidade de grandes proporções na natureza; e comoção
grave de repercussão nacional.
Para identificar se é Estado de Defesa ou Estado de Sítio, conforme já visto
anteriormente, as causas mais graves exigem providências mais graves, portanto,
tudo que tiver natureza mais gravosa será causa de decretação de Estado de Sí-
tio. Exemplo: repercussão nacional demonstra algo de maior repercussão, sendo
assim, é causa de decretação de Estado de Sítio.
As formalidades para decretação do Estado de Defesa estão disciplinadas no
art. 136 da CF/1988. O Presidente da República, ouvidos o Conselho da República
e o Conselho de Defesa Nacional, decreta o Estado de Defesa em local restrito e
determinado. Continua o art. 136, § 4º, decretado o Estado de Defesa ou sua
prorrogação, dentro de 24 (vinte e quatro) horas, submeterá o ato com a respec-
tiva justificação ao Congresso Nacional, que decidirá por maioria absoluta.
As formalidades para a decretação do Estado de Sítio estão expressas no art.
137 da CF/1988. O Presidente da República, ouvidos o Conselho da República e o
Conselho de Defesa Nacional, solicitará ao Congresso Nacional autorização para
decretar o Estado de Sítio.
Segundo dispõe o § 1º do art. 136, o decreto que instituir o Estado de Defesa
deverá determinar o tempo de sua duração e especificar quais as áreas a serem
abrangidas e indicará nos termos e limites da lei, as medidas coercitivas a vigorarem.
O decreto que institui o Estado de Sítio, previsto no art. 138 da CF/1988, exige
a indicação da duração do tempo, quais as medidas coercitivas a serem adotadas
e, depois de publicada, o Presidente indicará quais as áreas abrangidas e quem
será o executor das medidas.

3. Estado de Defesa e Estado de Sítio – Prazos e


Medidas Coercitivas

Prosseguindo no estudo do Estado de Defesa e do Estado de Sítio, a Constituição


definiu os prazos de duração da medida excepcional.
Determina o art. 136, § 2º, da CF/88 que o tempo de duração do Estado de
Defesa não será superior a 30 (trinta) dias, podendo ser prorrogado uma única
200 Direito Constitucional

vez, por igual período, se persistirem as razões que justificaram a sua decretação.
Portanto, o Estado de Defesa pode ser decretado 30 + 30 dias.
Estabelece o art. 138, § 1º, da CF/88 que o Estado de Sítio, no caso do art.
137, I, não poderá ser decretado por mais de 30 (trinta) dias, nem prorrogado, de
cada vez, por prazo superior.
No caso previsto no art. 137, II, o Estado de Sítio poderá, nos casos de agres-
são armada ou guerra, ser decretado por 30 + 30 + 30 + 30 + 30 ou até mesmo
por prazo indeterminado. O Estado de Sítio por ser mais grave tem prazo de
duração maior.
São medidas coercitivas do Estado de Defesa, conforme art. 126, § 1º:
I – restrição aos direitos de:
a) reunião, ainda que exercido no seio das associações;
b) sigilo de correspondência;
c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica; e
II – ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na hipótese de
calamidade pública, respondendo a União pelos danos e custos decorrentes.
O art. 136, § 3º, I, traz também uma medida coercitiva do Estado de Defesa, a
chamada prisão por crime contra o Estado. Este dispositivo disciplina que a prisão
por crime contra o Estado, determinada pelo executor da medida, será por este
comunicada imediatamente ao juiz competente, que relaxará se não for legal, e
facultará ao preso requerer o exame de corpo de delito à autoridade policial.
Inciso II – a comunicação será acompanhada de declaração, pela autoridade,
do estado físico e mental do detido no momento de sua autuação.
Inciso III – a prisão ou detenção de qualquer pessoa não poderá ser superior
a 10 (dez) dias, salvo quando autorizada pelo Poder Judiciário. Poderá exceder os
10 (dez) dias de prisão desde que autorizado pelo Poder Judiciário.
O inciso IV veda a incomunicabilidade do preso. Significa dizer que o preso
pode ter comunicação, inclusive com seu advogado.

4. Estado de Sítio – Medidas Coercitivas e


Participação do Congresso Nacional

As medidas coercitivas aplicadas na vigência do Estado de Sítio estão dispostas no


art. 139 da Constituição Federal e expressa:
“Na vigência do Estado de Sítio decretado com fundamento no art. 137, I, só
poderão ser tomadas contra as pessoas as seguintes medidas.”
Direito Constitucional 201

O art. 137, I, apresenta dois casos em que o Estado de Sítio pode ser decretado:
I – comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que com-
provem a ineficácia de medida tomada durante o Estado de Defesa.
Na decretação do Estado de Sítio em razão das causas expressas no art. 137,
I, poderão ser tomadas as seguintes medidas coercitivas:
I – obrigação de permanência em localidade determinada;
II – detenção em edifício não prisional;
III – restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das co-
municações, à prestação de informações e à liberdade de imprensa, radiodifusão
e televisão, na forma da lei. O parágrafo único do art. 139 traz uma exceção ao
inciso III, expressando que não se inclui nas restrições previstas neste inciso, o
pronunciamento de parlamentar liberado pela mesa respectiva;
IV – suspensão da liberdade de reunião;
V – busca e apreensão em domicílio;
VI – intervenção nas empresas de serviços públicos;
VII – requisição de bens.
Nos casos previstos no art. 137, II, guerra ou agressão estrangeira, a priori,
a Constituição não proibiu nenhuma medida coercitiva, podendo, portanto, se
tomar qualquer medida que seja necessária.
Retornando ao estudo do Estado de Defesa, o art. 136, § 4º, determina que,
decretado o Estado de Defesa ou sua prorrogação, o Presidente da República,
dentro de 24 (vinte e quatro) horas, submeterá o ato e a justificativa ao Congres-
so Nacional, que decidirá por maioria absoluta.
O § 5º traz a hipótese de o Congresso Nacional estar em recesso, caso em que
será convocado extraordinariamente, no prazo de 5 (cinco) dias.
O § 6º disciplina que o Congresso Nacional apreciará o decreto dentro de 10
(dez) dias constados de seu recebimento, devendo continuar funcionando en-
quanto vigorar o Estado de Defesa.
Por último, o § 7º determina que, rejeitado o decreto, cessa imediatamente o
Estado de Defesa.
O Congresso que funciona durante todo o período em que estiver decretado
o Estado de Sítio vai nomear uma Comissão por via de sua Mesa Diretora; Comis-
são esta composta por 5 (cinco) membros para acompanhar e fiscalizar o Estado
de Defesa e o Estado de Sítio (art. 140 da CF/1988).
Cessado o Estado de Defesa ou cessado o Estado de Sítio, cessam os seus
efeitos e não ficam livres de responsabilização os agentes ou executores que por-
ventura praticaram ilícitos (art. 141 da CF/1988).
202 Direito Constitucional

O parágrafo único do art. 141 traz uma espécie de prestação de contas do


Presidente da República ao Congresso Nacional, indicando quais foram as medi-
das adotadas, as restrições, a relação nominal das pessoas atingidas e a justifica-
tiva das providências adotadas.

5. Forças Armadas – Definição, Finalidade,


Habeas Corpus e Punição Disciplinar
Dando sequência no estudo, veja o que indica o caput do art. 142 da Constitui-
ção Federal:
“As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáu-
tica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na
hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República,
e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por
iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.”
A finalidade das Forças Armadas dentro do sistema constitucional é: defesa da
Pátria, garantia dos Poderes Constitucionais e garantia da defesa da Lei e da Ordem.
A organização, o funcionamento e a utilização das Forças Armadas são esta-
belecidos por Lei Complementar conforme § 1º do art. 142.
O § 2º traz aspecto importante nas provas de concursos públicos. Disciplina
que não caberá habeas corpus em relação a punições disciplinares militares. A
punição disciplinar militar não deve ser discutida no Poder Judiciário por possuir
uma sistemática própria, uma sistemática baseada na hierarquia e na disciplina.
Não se pode discutir o mérito da punição militar. Exemplo: se o sujeito deve ou
não ficar preso. Entretanto, é possível discutir os vícios de legalidade, ou vícios de
competência. Exemplo: se está preso por mais tempo que o permitido.
A Constituição, no § 3º do art. 142, traz uma série de disposições que se des-
tinam aos membros das Forças Armadas; entretanto, as disposições dispostas no
texto constitucional são meramente exemplificativas, não excluindo a possibilidade
de a lei trazer outras disposições para os militares. Portanto, além das punições
previstas na Constituição Federal, existem outras fixadas em lei.

6. Forças Armadas – Disposições Aplicáveis aos


Militares – Parte I
Seguindo a unidade de estudo anterior, são apresentados os incisos do art. 142,
§ 3º, que trazem as disposições constitucionais pertinentes aos militares.
Direito Constitucional 203

O inciso I atribui ao Presidente da República a competência para conferir as


patentes e as prerrogativas, direitos e deveres a elas inerentes, aos militares e as-
seguradas em plenitude aos oficiais da ativa, da reserva ou reformados.
O inciso II dispõe que o militar que tomar posse em cargo ou emprego público
civil permanente, será transferido para a reserva, nos termos da lei.
O inciso III expressa que o militar que tomar posse em cargo, emprego ou
função pública civil, de caráter temporário e não eletivo, ainda que seja na admi-
nistração indireta, ficará agregado ao respectivo quadro. Estar agregado é estar
em uma situação intermediária entre a atividade e a inatividade (reserva). O indi-
víduo continua vinculado à corporação, mas fica fora de suas atividades, ou seja,
integrará os quadros da corporação, mas fora de serviço.
Passados 2 (dois) anos de afastamento, contínuos ou não, o militar agregado
será transferido para a reserva.
Ao tratar dos direitos políticos dos militares, o art. 14, § 8º, dispõe que o mi-
litar que for eleito para mandato eletivo passa automaticamente para a reserva.
São vedadas ao militar a sindicalização e a greve. Greve de militar é inconsti-
tucional.
É proibido ao militar filiar-se a partido político enquanto ativo. Ao militar na
reserva é permitida a filiação partidária.
O oficial só perderá o posto e a patente se for julgado indigno do oficialato ou
com ele incompatível, por decisão de tribunal militar de caráter permanente, em
tempo de paz, ou de tribunal especial, em tempo de guerra.
O militar que for condenado criminalmente com pena privativa de liberdade
superior a 2 (dois) anos por sentença transitada em julgado será submetido ao
julgamento previsto no inciso anterior.

7. Forças Armadas – Disposições Aplicáveis aos


Militares – Parte II
O art. 7º elenca os direitos sociais dos trabalhadores urbanos e rurais. Os incisos
mencionados no art. 142, § 3º, VIII, são referentes a: 13º salário, salário-família,
direito a férias remuneradas com adicional de 1/3, licença-maternidade e licença
-paternidade e assistência gratuita aos filhos em creche e pré-escola até 5 (cinco)
anos de idade.
O salário mínimo não é garantido aos militares e, de acordo com a Súmula
Vinculante nº 6 do STF, o estabelecimento de remuneração inferior ao salário mí-
nimo para os praças, prestadores de serviço militar inicial, não viola a Constituição
da República.
204 Direito Constitucional

Os incisos XI, XIII, XIV e XV do art. 37 da CF/1988, mencionados no art. 142,


§ 3º, VIII, tratam respectivamente do teto remuneratório, da proibição de vincular
ou equiparar remunerações, da proibição de computar os acréscimos remunera-
tórios, da irredutibilidade de subsídios, das prerrogativas e de outras situações es-
peciais dos militares, consideradas as peculiaridades de suas atividades, inclusive
aquelas cumpridas por força de compromissos internacionais e de guerra.
O art. 143 da CF/1988 determina que o serviço militar seja obrigatório nos
termos da lei.
As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do serviço militar obrigatório em
tempo de paz, sujeitos, porém, a outros encargos que a lei atribuir.
É atribuído serviço alternativo aos alistados que, em tempo de paz, alegarem
imperativo de consciência, seja por crença religiosa ou convicção filosófica ou
política para se eximirem de atividades de caráter essencialmente militar.
Ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou convicção
filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos
imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa fixada em lei.

8. Segurança Pública – Art. 144 da CF/1988


A segurança pública está regida no art. 144 da Constituição Federal e é dever do
Estado, direito e responsabilidade de todos. A Segurança Pública tem por finalidade
a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.
A segurança pública será exercida pelos seguintes órgãos:
I – polícia federal;
II – polícia rodoviária federal;
III – polícia ferroviária federal denominadas Polícias da União;
IV – polícias civis; e
V – polícias militares e corpo de bombeiros militares denominadas Polícias do
Estado.
Os órgãos de segurança pública estão determinados na Constituição; não
sendo possível, na própria Constituição Estadual ou por Lei Estadual, criar um
novo órgão de segurança pública.

9. Segurança Pública – Órgãos de Segurança do


Distrito Federal
As polícias da União são regulamentadas pela União, e as polícias dos estados
são reguladas pelos Estados. A União, por sua vez, também irá legislar sobre es-
Direito Constitucional 205

tes órgãos estaduais, mas não de maneira detalhada. A União trará um aspecto
geral criando um padrão nacional, para evitar, por exemplo, que se tenha um
regramento de polícia civil completamente diferente de um Estado para outro.
Os Estados deverão respeitar os parâmetros instituídos pela Constituição Federal
quando forem tratar da matéria.
Sobre as funções da polícia, é preciso conhecer os dois tipos de atividade
de policiamento: policiamento preventivo ou ostensivo e policiamento judiciário
ou investigativo. O policiamento preventivo ou ostensivo visa evitar a prática da
infração penal, enquanto o policiamento judiciário ou investigativo visa apurar e
punir a conduta criminosa praticada.
No plano Federal, a polícia federal pratica tanto o policiamento ostensivo
quanto o policiamento investigativo. Já a polícia rodoviária federal e a polícia
ferroviária federal exercem tão somente o policiamento ostensivo. Portanto, no
âmbito da União, a única polícia que exerce a função de polícia judiciária ou in-
vestigativa é a polícia federal.
No plano Estadual, a polícia civil pratica o policiamento investigativo, en-
quanto a polícia militar exerce o policiamento ostensivo. Além das atribuições
definidas em lei, o corpo de bombeiros militar está relacionado às atividades de
defesa civil.

10. Segurança Pública – Competência da Polícia


Federal

Na sequência do estudo sobre segurança pública, dispõe o art. 144, § 1º, da


Constituição Federal que a Polícia Federal será instituída por Lei Ordinária como
órgão permanente. Será organizada e mantida pela União e estruturado em
carreira.
São competências da Polícia Federal disciplinada nos incisos do art. 144, § 1º:
I – apurar infrações penais contra a ordem política e social; apurar infrações
em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas Entidades
Autárquicas e Empresas Públicas; infrações cuja prática tenha repercussão in-
terestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser
em lei;
II – prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o con-
trabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos
públicos nas respectivas áreas de competência.
206 Direito Constitucional

11. Segurança Pública – Competência da Polícia


Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros
Prosseguindo no estudo das competências da polícia federal, diz o inciso II:
“prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o con-
trabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos
públicos nas respectivas áreas de competência.”
O inciso expressa que a atuação da polícia federal nos crimes de tráfico de
drogas, no contrabando e no descaminho, não exclui a atuação de outros órgãos.
O inciso III atribui à polícia federal exercer as funções de polícia marítima,
aeroportuária e de fronteira.
O inciso IV, conforme visto anteriormente, a polícia federal exerce com exclu-
sividade, as funções de polícia judiciária da União.
O § 2º do art. 144 da Constituição trata das competências da polícia rodoviá-
ria federal; será instituída por Lei Ordinária como órgão permanente. Será organi-
zada e mantida pela União e estruturado em carreira. À polícia rodoviária federal
é atribuído o patrulhamento ostensivo das rodovias federais.
O § 3º do art. 144 da Constituição trata das competências da polícia ferro-
viária federal; e igualmente ao disposto no parágrafo anterior, será instituída por
Lei Ordinária, como órgão permanente, será organizada e mantida pela União e
estruturada em carreira. À polícia ferroviária federal compete o patrulhamento
ostensivo das ferrovias federais.
O § 4º do art. 144 da Constituição traz como competência da polícia civil,
ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração
de infrações penais, exceto as militares. O próprio § 4º determina ainda que a
polícia civil seja dirigida por delegados de polícia. O cargo de delegado de polícia
é um cargo de carreira e tecnicamente as atividades inerentes ao cargo somente
podem ser executadas pelo próprio delegado.
O § 5º atribui às polícias militares a função de polícia ostensiva e a preserva-
ção da ordem pública, e aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições
definidas em lei, a execução de atividades de defesa civil.

12. Segurança Pública – Corpo de Bombeiros e


Guarda Municipal
Prosseguindo na análise das competências, o § 6º do art. 144 dispõe que as
policias militares e corpo de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do
Direito Constitucional 207

Exército, subordinam-se, juntamente com as policias civis, aos Governadores dos


Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
No caso específico do Distrito Federal, apesar dos três órgãos de segurança
pública estadual serem mantidos pela União, eles integram a estrutura do Poder
Executivo Estadual, ficando subordinados aos Governadores de Estado conforme
autoriza o art. 32, § 4º, da CF/1988.
O § 7º do art. 144 da Constituição determina que a organização e funciona-
mento dos órgãos responsáveis pela segurança pública serão disciplinados por
lei. Os órgãos da União serão disciplinados por lei federal. Em relação aos órgãos
dos Estados, uma lei federal edita normas gerais e os Estados suplementam a
legislação.
O § 8º do art. 144 permite aos municípios constituírem guardas municipais
destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a
lei. As guardas municipais não funcionam como órgãos de segurança pública. So-
mente são órgãos de segurança pública: polícia federal, polícia rodoviária federal,
polícia ferroviária federal, polícia civil, polícia militar e corpo de bombeiros militar.
A guarda municipal não atua na proteção da incolumidade das pessoas, na
preservação da ordem pública. A guarda municipal é voltada exclusivamente à
proteção do patrimônio público.
O § 9º do art. 144 da Constituição estabelece aos servidores policiais inte-
grantes dos órgãos relacionados neste artigo a forma de remuneração de subsídio
conforme dispõe o art. 39, § 4º da CF/1988.
Capítulo 17
Controle Concentrado de
Constitucionalidade

1. Controle Concentrado de Constitucionalidade

A supremacia material da Constituição relaciona-se ao conteúdo, isto é, decorre


do fato de estabelecer a Constituição os fundamentos do Estado, a atribuição
de competências aos Poderes Públicos, bem como a asseguramento dos direitos
fundamentais.
Não por acaso, estas três matérias são chamadas “matérias constitucionais”
propriamente ditas (ou matérias tipicamente constitucionais): estrutura de Esta-
do, organização dos Poderes e direitos fundamentais. Toda Constituição possui
supremacia material, seja ela rígida, semirrígida ou flexível.
Já a supremacia formal da Constituição está ligada à forma, a procedimen-
to. Somente as Constituições rígidas possuem supremacia formal (Constituições
rígidas são aquelas que demandam dificuldade para sua alteração. Não à toa, o
procedimento de elaboração de lei ordinária/lei complementar é muito menos
dificultoso que um procedimento de Emenda Constitucional).
Enfim, em razão dessa supremacia da Constituição (notadamente a forma),
existe o controle de constitucionalidade.
O controle de constitucionalidade nada mais é do que uma moldagem de
todo o ordenamento jurídico a uma lei fundamental (Constituição Federal).
Com base nisso, a doutrina costuma apontar três critérios para se tratar do
controle de constitucionalidade. São eles:
– Constituição com supremacia formal;
– a Constituição deve ser compreendida como norma jurídica fundamental;
– tenha um órgão competente para fazer o controle de constitucionalidade.
Direito Constitucional 209

Exercício
129. (Cespe – MPU – Técnico Administrativo – 2013) No que se refere à Consti-
tuição Federal, julgue o item a seguir:
“Todas as normas presentes na Constituição Federal, independentemente
de seu conteúdo, possuem supremacia em relação à lei ordinária, por serem
formalmente constitucionais.”

2. Controle de Constitucionalidade – Parâmetro


e Objeto
O parâmetro para controle de constitucionalidade é a Constituição Federal/Trata-
dos Internacionais que versem sobre direitos humanos aprovados conforme o art.
5º, § 3º, da Constituição Federal. É totalmente diferente do objeto do controle de
constitucionalidade, que é o ato que será submetido a controle.
A Constituição Federal é composta por três partes: preâmbulo, parte disposi-
tiva e parte transitória.
Segundo o STF, embora a Constituição seja dividida em três partes, apenas o
preâmbulo não pode ser utilizado como parâmetro.
É importante destacar que os Tratados Internacionais que versem sobre direi-
tos humanos, mas não tenham sido aprovados pelo procedimento de Emenda
Constitucional, valerão como norma supralegal, ou seja, estarão abaixo da Cons-
tituição Federal, mas acima do Ordenamento Jurídico.
O parâmetro também pode ser um princípio constitucional, pois este é uma
espécie normativa.
Ainda, da mesma forma que os princípios constitucionais, os princípios implíci-
tos também podem servir como parâmetros para controle de constitucionalidade.
Outro ponto a ser destacado é que o parâmetro nem sempre é manifestação
do poder constituinte originário, pois também poderá ser do poder constituinte
reformador.

Exercício
130. (Cespe – TCU – Auditor Federal de Controle Externo – 2011) A respeito da
estrutura da Constituição Federal de 1988 e das Constituições Estaduais,
julgue o item seguinte:
“O preâmbulo da Constituição Federal é uma norma de reprodução obriga-
tória nas Constituições Estaduais.”
210 Direito Constitucional

3. Formas de Inconstitucionalidade

Quanto ao tipo de conduta praticada pelo poder público, a inconstitucionali-


dade pode ser por:
– ação (positiva ou por atuação): ocorre quando o poder público pratica
um ato;
– omissão: pode ser total ou parcial e ocorre quando o poder público deixa
de praticar determinado ato ou o pratica de forma incompleta.
Quanto à norma constitucional ofendida, a inconstitucionalidade pode ser:
– formal (nomodinâmica): é a inobservância do procedimento. Pode ser ob-
jetiva (efetivamente ao procedimento) e subjetiva (não respeitou o sujeito
para a prática do ato; por exemplo, iniciativa reservada ao Presidente da
República);
– material (nomoestática): desrespeita-se uma norma constitucional de pa-
râmetro para controle de constitucionalidade.
Quanto à extensão, a inconstitucionalidade pode ser:
– total: quando toda uma lei, ou todo o artigo de uma lei é inconstitucional;
– parcial: quando apenas parte de lei, ou parte de dispositivo é inconstitu-
cional.
Quanto ao momento, a inconstitucionalidade pode ser:
– originária: é a norma que é inconstitucional desde o começo;
– superveniente (não recepção): o parâmetro é posterior ao objeto, ou seja,
primeiro se tem a lei e depois se tem o parâmetro.
Quanto ao prisma de apuração, a inconstitucionalidade pode ser:
– direta (ou antecedente): quando a norma ofende diretamente o texto
constitucional;
– indireta: subdivide-se em consequente (quando há mais de uma norma
que ofende a Constituição, por exemplo, quando existe uma lei que de-
pende de um decreto, se a lei for inconstitucional, por consequência, o
decreto também será) ou reflexa (quando, por exemplo, existe uma lei e
um decreto que regulamentam esta lei. A lei em si não é inconstitucional,
mas o decreto sim).

Exercício
131. (Cespe – DPE/DF – Defensor Público – 2013) Acerca do controle de constitu-
cionalidade, julgue o item seguinte:
Direito Constitucional 211

“Caso o Presidente da República exerça decreto regulamentar que contrarie


lei a que pretenda dar fiel execução, tal decreto será, ao mesmo tempo,
ilegal e inconstitucional, configurando-se a inconstitucionalidade direta, en-
sejadora do ajuizamento de ADI perante o STF.”

4. Formas de Controle de Constitucionalidade


Quanto à competência jurisdicional (tal forma de controle somente se aplica
ao Poder Judiciário), o controle pode ser:
– difuso também chamado de Sistema Americano de Controle: surgiu no
ordenamento jurídico pela Constituição de 1891. Pode ser realizado por
qualquer autoridade jurisdicional;
– coletivo também chamado de Concentrado ou Sistema Austríaco: só pode
ser realizado pelo Supremo Tribunal Federal, se for o parâmetro a Consti-
tuição Federal, ou pelos Tribunais de Justiça dos Estados, se forem parâme-
tros as Constituições Estaduais.
Quanto à finalidade do controle este pode ser:
– concreto também chamado de Incidental ou por via de Defesa: está efeti-
vamente se trabalhando com um caso concreto;
– abstrato também chamado Principal ou por Via de Ação: está apenas se
questionando uma inconstitucionalidade ou a declaração de constitu-
cionalidade.
É importante destacar que, no Brasil, todo controle difuso é concreto e todo
controle concentrado é abstrato, salvo no caso de ADI Interventiva, que se trata
de controle concentrado e concreto.
Quanto ao momento, o controle pode ser:
– preventivo: quando a lei ou ato normativo ainda não adentrou no ordena-
mento jurídico. É feito pelo Presidente da República, pelas Comissões de
Constituição e Justiça, excepcionalmente, pelo Poder Judiciário quando
for impetrado Mandado de Segurança por Parlamentar;
– repressivo: quando a lei ou ato normativo efetivamente adentrou no or-
denamento jurídico. É feito pelo Poder Judiciário, pelo Poder Executivo
quando se nega a cumprir lei que entende ser inconstitucional.

Exercício
132. (Cespe – DPE/DF – Defensor Público – 2013) Acerca do controle de constitu-
cionalidade, julgue o item seguinte:
212 Direito Constitucional

“Embora a regra geral do controle de constitucionalidade brasileiro seja


o controle judicial repressivo, admite-se o controle político repressivo, por
exemplo, quando o Congresso Nacional susta atos normativos do Poder Exe-
cutivo que exorbitem os limites da delegação legislativa.”

5. Formas de Declaração de
Inconstitucionalidade

Quanto ao aspecto objetivo: consiste na eficácia da decisão no mundo jurídico


entre as partes (inter partes) e quanto ao aspecto subjetivo, quais são as partes
envolvidas.
Quanto ao aspecto temporal, importa saber qual a validade, qual será a
abrangência da lei ou ato normativo declarado inconstitucional.
Existem três teorias. São elas:
– teoria dos atos inexistentes: é o entendimento minoritário. É a teoria que
entende que a lei ou ato normativo declarado inconstitucional nunca exis-
tiu, nunca chegou a adentrar no ordenamento jurídico;
– teoria do ato nulo: é o entendimento majoritário. A decisão teria natureza
de ato declaratório, e como regra valeria o efeito ex tunc;
– teoria do ato anulável: é um entendimento que começa a ganhar espaço.
Defende a modulação de uma lei ou ato normativo declarado inconsti-
tucional. De acordo com essa teoria, os efeitos da lei ou ato normativo
seriam ex nunc.
Quanto à extensão da declaração esta pode ser com redução total de textos,
com redução parcial de texto ou sem redução de texto.

Exercício
133. (Cespe – Polícia Federal – Delegado de Polícia – 2013) Considerando o con-
trole de constitucionalidade no ordenamento pátrio, julgue o item a seguir:
“Na ação direta de inconstitucionalidade ajuizada perante o STF, apesar de
lhe ser aplicável o princípio da congruência ou da adstrição ao pedido, ad-
mite-se a declaração de inconstitucionalidade de uma norma que não tenha
sido objeto do pedido, na hipótese configurada da denominada inconstitu-
cionalidade por arrastamento.”
Direito Constitucional 213

6. Controle Difuso

O controle difuso de constitucionalidade teve origem no caso “Marbury versus


Madison”, julgado em 1803 pela Suprema Corte Norte-americana. Tal controle
foi introduzido no Brasil em 1891, pela primeira Constituição Republicana.
Com efeito, o controle difuso é aquele que, quanto à competência, pode ser
exercido por qualquer órgão do Poder Judiciário.
Não se confunde com o controle concreto, que é aquele em que a provocação
do Poder Judiciário se dá a partir de um caso concreto.
Quando se está no controle difuso, não se está trabalhando a constitucionali-
dade como via principal, mas, sim, como via incidental.
No controle concreto, a questão constitucional é trazida a juízo por meio de
um processo constitucional subjetivo, cuja finalidade principal será a proteção
de direitos subjetivos. Assim, no controle concreto, o pedido será a proteção de
um direito subjetivo.
A declaração de inconstitucionalidade não constará do pedido, mas será
apenas a causa de pedir: para que o direito seja declarado, é necessária decla-
ração incidental de inconstitucionalidade. Por consequência, o dispositivo da
decisão não declarará a inconstitucionalidade (é questão incidental que estará
tratada na fundamentação da decisão).
No Brasil, todo controle difuso é concreto. Não existe controle difuso abstrato
no Brasil.

Exercício
134. (Cespe – DPE/DF – Defensor Público – 2013) Acerca do controle de constitu-
cionalidade, julgue o item seguinte:
“Embora o sistema brasileiro não admita ADI contra lei municipal, é cabível
contra essa lei o controle difuso de constitucionalidade, assim como o con-
trole por meio de arguição de descumprimento de preceito fundamental.”

7. Controle Difuso de Constitucionalidade –


Provocação

A fiscalização incidental de constitucionalidade, no Brasil, pode ser provocada e


suscitada pelo autor (na inicial de qualquer ação, seja ela civil, penal, eleitoral,
214 Direito Constitucional

trabalhista, coletiva, mandado de segurança, habeas corpus, habeas data, ação


popular, mandado de injunção e ação civil pública), pelo réu (nos atos de resposta
e nas ações incidentais), por terceiros intervenientes (litisconsortes e assistentes),
pelo Ministério Público e por Juiz ou Tribunal de ofício.
É importante destacar a Súmula nº 347 do Supremo Tribunal Federal que traz
a seguinte redação:
“O Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode apreciar a cons-
titucionalidade das leis e dos atos do poder público.”

Exercício
135. (FCC – TRT/20ª Região – Analista Judiciário – 2011) O controle difuso de
constitucionalidade é verificado quando:
a) A Câmara dos Deputados desaprova emenda constitucional que altera
Cláusula Pétrea.
b) O legitimado para julgar for apenas a Corte Especial do Superior Tribu-
nal de Justiça.
c) Se reconhece o seu exercício a todos os membros do Poder Judiciário.
d) O Senado Federal desaprova projeto de lei tendente a revogar Cláusula
Pétrea.
e) O chefe do Poder Executivo veta lei que viola as disposições constitu-
cionais.

8. Objetivo da ADI e da ADC

A reserva de plenário é exigência feita somente no âmbito dos Tribunais.


No âmbito do controle concentrado, também vige a cláusula de reserva de
Plenário.
Pela “cláusula de reserva de Plenário”, resguarda-se determinadas compe-
tências ao Plenário (Pleno) do Tribunal (ou ao “Órgão Especial”, caso o Tribunal
tenha mais de vinte e cinco membros, conforme o art. 93, XI, da CF), e não a seus
órgãos fracionários, como turmas ou câmaras.
De acordo com o STF, a inobservância da cláusula gera nulidade absoluta da
decisão, caso em que os autos serão devolvidos para que sejam analisados pelo
Pleno/Órgão Especial.
Direito Constitucional 215

Neste sentido, versa a Súmula Vinculante nº 10:


“Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão
fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucio-
nalidade de lei ou ato normativo do poder público, afasta sua incidência, no todo
ou em parte.”

Exercício
136. (FCC – TRE/SP – Analista Judiciário – 2012) De acordo com o texto da Cons-
tituição da República e com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal,
em matéria de controle de constitucionalidade é correto afirmar:
a) Viola a cláusula de reserva de plenário a decisão de órgão fracionário de
tribunal que, embora não declare expressamente a inconstituciona-
lidade de lei ou ato normativo do poder público, afasta sua incidência,
no todo ou em parte.
b) A cláusula de reserva de plenário não se aplica aos processos de com-
petência da Justiça do Trabalho e da Justiça Eleitoral.
c) Aos magistrados dos juizados especiais é vedado o exercício do controle
incidental de constitucionalidade de leis e atos normativos.
d) As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Fe-
deral, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declara-
tórias de constitucionalidade, produzem eficácia contra todos e efeito
vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário, mas
não vinculam a atuação da administração pública.
e) Compete ao Supremo Tribunal Federal julgar as ações declaratórias de
constitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual.

9. Ação Direta de Inconstitucionalidade –


Criação e Legitimados

A ação direta de inconstitucionalidade foi criada pela Emenda nº 16/1965 à Cons-


tituição de 1946, como uma representação de inconstitucionalidade feita pelo
Procurador-Geral da República e encaminhada para julgamento ao Supremo Tri-
bunal Federal.
O rol dos legitimados ativos para propositura da Ação Direita de Inconstitu-
cionalidade (ADI) está no art. 103 da CF. O rol previsto neste artigo é taxativo, ou
seja, somente quem estiver neste rol poderá propor a ADI.
216 Direito Constitucional

A doutrina e a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal costumam fazer


uma distinção entre dois tipos de legitimados ativos, a saber, os legitimados uni-
versais e os legitimados especiais.
Os legitimados universais são aqueles que não precisam demonstrar qualquer
pertinência temática. É o caso do Presidente da República, do Procurador-Geral
da República, da Mesa da Câmara dos Deputados, da Mesa do Senado Federal,
do partido político com representação no Congresso Nacional, bem como do
Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil.
Já os legitimados especiais são aqueles que necessitam provar pertinência te-
mática, se entendendo por tal o nexo de causalidade entre o interesse que o
legitimado ativo representa e o objetivo questionado. É o caso do Governador do
Estado ou do Distrito Federal, da Mesa da Assembleia Legislativa, da confedera-
ção sindical, bem como da entidade de âmbito nacional.

Exercício
137. (Vunesp – TJ/SP – Advogado – 2013) No que tange ao controle de consti-
tucionalidade no direito brasileiro, a pertinência temática é pressuposto da
legitimidade ativa para a propositura das ações em controle concentrado de
constitucionalidade, sendo, consequentemente, exigida para, entre outros,
os seguintes legitimados:
a) Confederação Sindical e Mesa da Câmara Legislativa.
b) Mesa da Assembleia Legislativa e Partidos políticos.
c) Conselho Federal da OAB e Governador do Estado.
d) Presidente da República e Mesa da Câmara dos Deputados.
e) Mesa do Senado Federal e Entidade de classe de âmbito nacional.

10. ADI – Competência e Objeto

A competência para julgamento de ADI será do STF, se o parâmetro for a Consti-


tuição Federal, e dos Tribunais de Justiça, se o parâmetro for Constituição Estadual.
O objeto da ADI será a lei ou ato normativo federal ou estadual (o ato norma-
tivo tem de ser geral e abstrato, embora, em termos práticos, o STF também te-
nha admitido como objeto leis de efeitos concretos, que não aquelas com forma
de lei, mas conteúdo de ato administrativo).
Soma-se a isso a informação de que a violação causada pela lei ou ato norma-
tivo deve ser direta à Constituição.
Direito Constitucional 217

Neste diapasão, uma discussão importante diz respeito à possibilidade de lei/


ato normativo do Distrito Federal ser objeto de controle de constitucionalidade.
O Distrito Federal é um ente sui generis da Federação, pois tem competências
atribuídas aos Estados e aos Municípios (art. 32, § 1º, da CF).
Ademais, o STF tem entendimentos acerca do que não admite como objeto
de ADI, a saber, atos tipicamente regulamentares, normas constitucionais origi-
nárias, bem como leis revogadas ou que já perderam seus efeitos (decreto do
Presidente da República somente pode ser objeto de ADI se ele tratar diretamente
de um assunto ligado à Constituição. Se ele regulamentar lei, essa lei é interposta
entre o decreto e a Constituição, de forma que ele não poderá ser objeto de ADI).

Exercício
138. (Cesgranrio – Petrobras – Advogado – 2011) Uma lei do Distrito Federal foi
sancionada, promulgada e publicada em julho de 2011, mas só entrará em
vigor em 180 dias a partir da data da publicação.
Essa lei será objeto de:
a) Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) desde que haja controvérsia
judicial relevante.
b) Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) se for materialmente estadual.
c) Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) se for materialmente
estadual.
d) Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) desde que haja contro-
vérsia judicial relevante.
e) Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) se for
materialmente estadual.

11. ADI – Aspecto Temporal e Participação do


Advogado-Geral da União

Para que um objeto seja alvo de ação direita de inconstitucionalidade, deverá ser
ele posterior ao parâmetro constitucional, seja tal parâmetro a própria Constitui-
ção, uma Emenda Constitucional ou Tratado Internacional aprovado na forma do
art. 5º, § 3º, da CF.
O Advogado-Geral da União deve ser citado para defender a constituciona-
lidade do ato impugnado, na ação direta de inconstitucionalidade. O AGU age,
portanto, como um defensor da constitucionalidade da norma, salvo se o Su-
218 Direito Constitucional

premo Tribunal Federal já houver considerado a tese jurídica inconstitucional em


outra oportunidade, ou se o ato questionado contraria a interesse da União.

Exercício
139. (FCC – Sefaz/RJ – Auditor Fiscal da Receita Estadual – 2014) Suponha que
o Advogado-Geral da União proponha ação direta de inconstitucionalidade
(ADIn) perante o Supremo Tribunal Federal (STF) para questionar a consti-
tucionalidade de três artigos de lei estadual do Rio de Janeiro em face da
Constituição da República. Conforme a disciplina constitucional a respeito
do controle de constitucionalidade concentrado:
a) O Advogado-Geral da União não possui legitimidade para propor ADIn.
b) O STF deve remeter os autos do processo para julgamento pelo Tribunal
de Justiça do Rio de Janeiro.
c) Não se pode propor ADIn para questionar apenas parte de lei.
d) O STF deve converter a ADIn em recurso extraordinário para que seja
viável analisar o pedido da ação.
e) Lei estadual não pode ser objeto de ADI.

12. ADI – Procedimento

Em relação ao procedimento, há impossibilidade de desistência de ação direta de


inconstitucionalidade protocolada. Isso ocorre por se tratar de processo constitu-
cional objeto. A impossibilidade de desistência está consagrada no art. 5º da Lei
nº 9.868/1999.
Não é possível a intervenção de terceiros, conforme o art. 7º da Lei nº
9.868/1999, por se tratar de processo constitucional objetivo. Todavia, é possível,
considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, a
figura do Amicus Curiae (Amigo da Corte), consoante o § 2º do mesmo art. 7º.
Seja na medida cautelar ou na decisão definitiva, a eficácia da decisão é erga
omnes e tem efeito vinculante. Agora, a medida cautelar na ADI tem efeito ex
nunc, salvo se o Tribunal entender que deve conceder eficácia retroativa.
A repristinação, como regra, é vedada em nosso ordenamento, por força do
art. 2º, § 3º, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.
Todavia, no caso de ADI, a concessão de medida cautelar torna aplicável a
legislação anterior acaso existente, salvo expressa manifestação em sentido con-
trário. Eis o teor do § 2º do art. 11 da Lei nº 9.868/99.
Direito Constitucional 219

Julgada improcedente a ação direta de inconstitucionalidade, será julgada,


também, improcedente eventual ação declaratória de constitucionalidade ajuiza-
da contra o mesmo ato.
Agora, julgada improcedente a ação direta de inconstitucionalidade, o STF
declarará a constitucionalidade do ato questionado, inclusive julgado procedente
eventual ação declaratória de constitucionalidade ajuizada contra o mesmo artigo
(art. 24 da Lei nº 9.868/1999).

Exercício
140. (Cespe – STF – Analista Judiciário – 2013) Acerca do sistema brasileiro de
controle de constitucionalidade, julgue o item que se segue:
“Ao julgar procedente uma ação direta de inconstitucionalidade, o STF po-
derá, por maioria de dois terços de seus membros, realizar a modulação dos
efeitos da declaração de inconstitucionalidade.”

13. ADO – Considerações Gerais

A ação direta de inconstitucionalidade por omissão trata-se de inovação criada no


ordenamento jurídico brasileiro, trazida pela Constituição Federal de 1988, por
influência da Constituição Portuguesa de 1976.
A ADO confere efetividade à norma constitucional de eficácia limitada, cuja
regulamentação infraconstitucional não tenha sido realizada, ou seja, é o instru-
mento utilizado para sanar as chamadas omissões legislativas inconstitucionais.
A inconstitucionalidade pode ser por ação ou atividade, quando há uma prá-
tica deliberada de uma lei ou ato normativo que cause ofensa ao texto constitu-
cional ou por omissão na ausência da prática de ato que prejudique a implemen-
tação de um direito.
Uma das classificações mais tradicionais acerca das normas constitucionais é a
de José Afonso da Silva, com inspiração no Direito Italiano.
Segundo o autor, existem três espécies de normas constitucionais: as normas
de eficácia plena, ou seja, de aplicabilidade imediata; as normas de eficácia conti-
da, valendo a partir do advento da Constituição, porém, essas normas podem ser
reduzidas por legislação infraconstitucional; e as normas aplicabilidade limitada
que podem ser de princípio institutivo ou programático, não sendo válidas a partir
da criação do ordenamento constitucional. Embora consagradas em seu texto,
essas normas são passíveis de implementação, seja por políticas públicas ou por
comando legislativo.
220 Direito Constitucional

A omissão que será combatida pela ADO pode ser total, quando a indevida
abstenção é total ou parcial, quando o silêncio do Poder Público ocorre apenas
em parte.
Tal como a ADI, a ADC e a ADPF trata-se de processo constitucional objetivo.
A ADO não tem o condão de assegurar direitos subjetivos das partes, mas a cria-
ção da norma mediante controle abstrato.
Vale destacar que essa omissão legislativa deve ser considerada em sentido
amplo, servindo não apenas em caso de omissão de lei, mas em caso de omissão
oriunda do Poder Executivo ou do Poder Judiciário.

14. Ação Direta de Inconstitucionalidade por


Omissão

A ação direta de inconstitucionalidade por omissão possui o mesmo rol de legi-


timados que a ação direta de inconstitucionalidade, conforme determina a Lei
nº 9.868/1999.
De acordo com entendimento extraído do art. 103, § 3º, da Constituição
Federal, diferentemente da ADI e ADO, não será exigível a manifestação do Ad-
vogado-Geral da União.
Vale destacar que muitas considerações em torno da ação direta de inconsti-
tucionalidade por omissão foram inspiradas na Lei nº 12.063/2009, que acresceu
alguns dispositivos na Lei nº 9.868/1999.
Em caso de omissão normativa da Constituição Federal, a competência para
apreciação da ADO será do Supremo Tribunal Federal.
Se essa omissão normativa ocorrer no âmbito das Constituições Estaduais, a
competência para processar e julgar originariamente a ação direta de inconstitu-
cionalidade por omissão será do Tribunal de Justiça.
Segundo a classificação de José Afonso da Silva, somente as normas cons-
titucionais de eficácia limitada servem como parâmetro para a ação direta de
inconstitucionalidade por omissão.
Uma vez proposta a ADO, não haverá possibilidade de desistência, da mesma
forma com que ocorre com a previsão da ADI, nos termos do art. 12-D, da Lei nº
9.868/1999.
Quanto à decisão e aos efeitos da ADO, após declarada a inconstitucionali-
dade por omissão de medida para tornar efetiva norma constitucional, será dada
ciência ao poder competente para a adoção das providências necessárias.
Direito Constitucional 221

Exercício
141. (Cespe – 2012 – AGU – Advogado) Com relação à ADI e à ADO, julgue o
item a seguir:
“O atual posicionamento do STF admite a fungibilidade entre a ADI e a ADO.”

15. Ação Declaratória de Constitucionalidade –


Considerações Iniciais

A ADC foi inserida no ordenamento pátrio pela Emenda Constitucional nº 3/1993


que, por sua vez, acrescentou ao art. 102, o § 2º, bem como deu nova redação
ao art. 102, I, “a”, da Constituição Federal.
Antes da padronização realizada pelo STF, a ação declaratória de constitucio-
nalidade era conhecida como ADECon.
A ADC é cabível em lei ou ato normativo federal.
Conforme art. 24 da Lei nº 9.868/1999, assim que proclamada a constitucio-
nalidade, a ADC julgada procedente terá o mesmo efeito que uma ADI julgada
improcedente, ou seja, haverá o acolhimento de que a lei ou ato normativo são
constitucionais.
A ação declaratória de constitucionalidade sofreu questionamentos por não
ser preciso uma ação para declarar a constitucionalidade da norma, já que todas
as normas possuem presunção de constitucionalidade desde seu advento.
Todavia, as alegações apresentadas sobre a inconstitucionalidade da Emenda
que originou a ADC foram afastadas pelo Supremo Tribunal Federal.

Exercício
142. (FCC – 2013 – TRT 9ª Região – Analista Judiciário) No tocante à ação decla-
ratória de constitucionalidade, considere:
I – Pode ser proposta por Confederação Sindical ou entidade de classe ou de
âmbito nacional.
II – O Procurador-Geral da República e a Mesa da Câmara dos Deputados
têm legitimidade ativa para sua propositura.
III – Tem a finalidade principal de transformar a presunção relativa de consti-
tucionalidade em presunção absoluta, em razão dos seus efeitos vinculantes.
IV – Pode ter como objeto a lei ou ato normativo federal ou estadual que se
pretenda declarar constitucional.
222 Direito Constitucional

Está correto apenas o que se afirma em:


a) I, II e IV.
b) I e III.
c) II e III.
d) I, II e III.
e) III e IV.

16. ADC – Aproximações com a ADI


A ADC será utilizada para confirmar a constitucionalidade de lei ou ato normativo
federal. Essa ação mantém alguns pontos de aproximação com a ação direta de
inconstitucionalidade.
Vale frisar que o art. 13, da Lei nº 9.868/1999, que previa um rol menor do
que o previsto na Constituição, foi tacitamente revogado.
Caberá ao Supremo Tribunal Federal a competência para apreciação da ADC.
Lembrando que, em âmbito dos Estados, não se prevê a ação declaratória de
constitucionalidade.
Questão polêmica é trazida quanto ao objeto atacado pela ADC, devendo
prevalecer que seu objeto é lei ou ato normativo federal, não considerando lei ou
ato normativo estadual.
Essa ofensa deve ser direta ao âmbito da Constituição Federal, da mesma for-
ma que, para a ação direta de constitucionalidade, deve ser geral e em abstrato.
Para que um objeto seja alvo de ADC, deverá ser posterior ao parâmetro
constitucional, seja ele a própria Constituição, uma Emenda Constitucional ou
um Tratado Internacional que verse sobre Direitos Humanos aprovados na forma
do art. 5º, § 3º, da CF.

Exercício
143. (FCC – 2013 – PGE – Analista de Procuradoria – BA) As decisões definitivas
de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas in-
constitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produ-
zirão eficácia contra:
a) Todos e efeito vinculante, apenas em relação aos órgãos do Poder Judi-
ciário e à Administração Pública direta e indireta federal.
b) Todos, mas sem efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do
Poder Judiciário e à Administração Pública direta e indireta, nas esferas
federal, estadual e municipal.
Direito Constitucional 223

c) Todos e efeito vinculante, relativamente apenas aos demais órgãos do


Poder Judiciário.
d) Todos e efeito vinculante, relativamente apenas aos órgãos da Adminis-
tração Pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal.
e) Todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Ju-
diciário e à Administração Pública direta e indireta, nas esferas federal,
estadual e municipal.

17. ADC – Requisitos Específicos


Embora a ADC e a ADI mantenham pontos em comum, alguns requisitos são
específicos para a propositura da ação declaratória de constitucionalidade.
Neste sentido, a demonstração de controvérsia judicial relevante surge como
elemento fundamental, nos termos do art. 14, III, da Lei nº 9.868/1999.
Essa controvérsia deve ser concretizada, ou seja, o objeto deve estar em dis-
cussão no âmbito do Poder Judiciário, não basta que seja uma discussão me-
ramente doutrinária. Para tanto, a petição inicial deverá ser instruída com cer-
tidões, para efeito de amostragem, considerando dezenas, centenas de ações
sobre aquele tema em todo país.
O Advogado-Geral da União não será citado para defender a constitucionali-
dade da norma questionada via ação declaratória de constitucionalidade.
Segundo o art. 21, caput, da Lei nº 9.868/1999, o STF, por decisão da maioria
absoluta de seus membros, poderá deferir pedido de medida cautelar na ADC.
Assim, demonstrada a controvérsia relevante, os juízes e Tribunais deverão
suspender o julgamento dos processos que envolvam a aplicação da lei ou do ato
normativo, objeto da ação até seu julgamento definitivo.

Exercício
144. (FCC – 2013 – TRT – Analista Judiciário) Sobre a ação declaratória de cons-
titucionalidade, cuja competência para julgamento é do Supremo Tribunal
Federal, é incorreto afirmar:
a) É requisito da peça inicial, dentre outros, a demonstração da existência
da controvérsia judicial relevante sobre a aplicação da disposição objeto da
ação declaratória.
b) A declaração de constitucionalidade dar-se-á pelo quorum da maioria ab-
soluta dos onze Ministros do Supremo Tribunal Federal, respeitado o quo-
rum, mínimo, de oito Ministros para instalação da sessão de julgamento.
224 Direito Constitucional

c) O Supremo Tribunal Federal, por decisão de pelo menos um terço de


seus membros, poderá deferir pedido de medida cautelar na ação de-
claratória de constitucionalidade.
d) Se o Relator considerar inepta a peça inicial e indeferi-la liminarmente,
caberá agravo contra esta decisão.
e) Não é admitida a desistência da ação declaratória de constitucionalidade
após o seu ajuizamento e, também, a intervenção de terceiros.

18. Arguição por Descumprimento de Preceito


Fundamental – Origem, Conceito e Parâmetro
A Arguição por Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) será apreciada
perante o Supremo Tribunal Federal, nos termos do art. 102, § 1º, da Constitui-
ção Federal.
A ADPF representa inovação trazida pelo ordenamento jurídico constitucional
de 1988. Além de previsão na Carta Magna, a Lei nº 9.882/1999 regulamenta
especificamente essa matéria.
Esse instrumento não deve ser considerado como uma ação de inconstitucio-
nalidade propriamente dita, sua utilização se dá diante de descumprimento de
preceito fundamental.
Neste caso, cumpre salientar que, descumprimento pode caracterizar questões
de ordem mais abrangentes que a inconstitucionalidade, como a não recepção.
Embora toda inconstitucionalidade viole um preceito fundamental, a violação
de preceito fundamental pode caracterizar aspectos mais amplos do que a in-
constitucionalidade propriamente dita.
O parâmetro para a Arguição por Descumprimento de Preceito Fundamental
não é a Constituição, mas um preceito fundamental consagrado pelo ordena-
mento constitucional, podendo o objeto ser anterior ao parâmetro.
Vale destacar que nem a Constituição Federal, nem a Lei nº 9.882/1999, que
disciplina a ADPF, definem o conceito de preceito fundamental.
Constituem alguns exemplos considerados como preceitos fundamentais pela
doutrina as cláusulas pétreas, os princípios fundamentais da República Federativa
do Brasil, os direitos e garantias fundamentais entre outros.

Exercício
145. (Cespe – 2013 – PC – Delegado de Polícia – BA) A respeito do controle de
constitucionalidade, julgue o item que se segue:
Direito Constitucional 225

“Prefeito municipal é parte legítima para ingressar com arguição de descum-


primento de preceito fundamental perante o Supremo Tribunal Federal.”

19. ADPF – Objeto e Natureza Subsidiária

A respeito da Arguição por Descumprimento de Preceito Fundamental, sua na-


tureza é subsidiária, visto que somente será utilizada se não for o caso de outra
medida, como a ADI, a ADC ou uma reclamação constitucional.
Conforme previsto no art. 4º, § 1º, da Lei nº 9.882/1999, não será admitida a
ADPF quando houver qualquer outro meio eficaz de sanar a lesividade.
Quanto ao objeto da ADPF, poderá ser lei ou ato normativo federal, estadual
ou municipal.
Enquanto a ação declaratória constitucional somente é cabível de lei ou ato
normativo federal, a ADPF é cabível de lei ou ato normativo federal, estadual ou
municipal.
Atualmente, não existe a figura da ADPF em âmbito estadual, concentrando-
-se apenas na esfera federal.
São atos possíveis da ADPF, atos normativos, Emenda Constitucional, lei or-
dinária, lei delegada, lei complementar, medida provisória, resolução, decretos
legislativos, entre outros.
Dessa forma, pode ser objeto da ADPF, em regra, qualquer ato do poder pú-
blico, não cabendo contra atos de particulares, seja ele anterior ou posterior à
Constituição.

Exercício
146. (Cespe – 2013 – STF – Analista Judiciário) Acerca do sistema brasileiro de
controle de constitucionalidade, julgue o item que se segue:
“A arguição de descumprimento de preceito fundamental é instrumento de
controle concentrado de constitucionalidade que possui caráter subsidiário
ou residual, só podendo ser utilizada quando não houver qualquer outro
meio capaz de sanar a lesividade.”

20. ADPF – Procedimento

Em regra, o controle de uma lei ou ato normativo municipal é realizado pelo


Tribunal de Justiça.
226 Direito Constitucional

Entretanto, em duas hipóteses, uma lei ou ato normativo municipal poderá


ter sua constitucionalidade apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, sendo por
ADPF ou via recurso extraordinário.
Nesse caso, surge a necessidade de controle de constitucionalidade diante da
violação de norma constitucional de observância obrigatória.
A liminar em sede de ADPF dependerá de decisão da maioria absoluta dos
membros do STF e poderá consistir na determinação de que juízes e tribunais
suspendam o andamento do processo ou os efeitos das decisões judiciais.
A doutrina faz duas classificações sobre ADPF: a primeira, diz respeito ao caput
do art. 1º, da Lei nº 9.882/99, chamada de ADPF autônoma ou direta; na segunda
classificação doutrinária, temos a chamada ADPF incidental, prevista no § 1º, do
art. 1º da mesma lei, exigindo-se a comprovação de controvérsia judicial relevante
nos mesmos moldes da ação declaratória de constitucionalidade.
A decisão sobre a arguição somente será tomada se presentes na sessão, pelo
menos, 2/3 (dois terços) dos Ministros, nos termos da Lei nº 9.882/1999.
Julgada a ação, se fará a comunicação às autoridades ou órgãos responsáveis
pela prática dos atos questionados, fixando-se as condições e o modo de inter-
pretação e aplicação do preceito fundamental.
O STF, por maioria de 2/3 (dois terços) de seus membros, poderá modular os
efeitos da declaração, que, em regra, terá efeito ex tunc, desde que haja razões
de segurança jurídica ou interesse social.
O art. 4º, da Lei nº 9.882/1999, estabelece a possibilidade de indeferimento
da liminar pelo relator, quando não for o caso de ADPF, faltar alguns requisitos
previsto em lei ou for inepta.

Exercício
147. (Cespe – 2012 – AGU – Advogado) Julgue o item que se segue com base
na legislação de regência e na jurisprudência acerca das ações diretas no
controle concentrado de constitucionalidade ajuizadas perante o STF:
“Ao contrário da ADC, a ADPF não exige a demonstração de controvérsia
judicial relevante.”

21. Controle de Convencionalidade –


Considerações Iniciais

O controle de convencionalidade propicia um debate multidisciplinar, podendo


ter incidência em provas de Direitos Humanos e Direito Internacional.
Direito Constitucional 227

No âmbito do Direito Internacional, os Direitos Humanos sempre ficam numa


zona de flutuação e são captados pelo ordenamento interno, respeitadas as ca-
racterísticas próprias desse ordenamento.
Com o advento da EC nº 45/2004, houve a inserção do § 3º, ao art. 5º, da
Constituição Federal, equiparando os tratados e convenções internacionais, sobre
direitos humanos, às emendas constitucionais.
O RE nº 466.343, de relatoria do Ministro Gilmar Mendes, em que estava
em discussão a prisão civil do depositário infiel, enquanto o art. 5º, LXVII, da CF,
consagrava essa possibilidade, o Pacto San José da Costa Rica, vedava a prisão.
Nesse caso, o que estava em pauta era questão sobre a hierarquia dos trata-
dos internacionais.
Surge então a tríplice hierarquia dos tratados internacionais que versem sobre
Direitos Humanos e que tenham sido aprovados na forma do art. 5º, § 3º, da CF,
valendo como emenda constitucional.
Já os tratados internacionais que versem sobre Direitos Humanos e não te-
nham sido aprovados pelo procedimento previsto na forma do art. 5º, § 3º, da
CF, valerão como norma supralegal.

Exercício
148. (FCC – 2013 – DPE – Defensor Público – AM) De acordo com a jurispru-
dência atualmente predominante no Supremo Tribunal Federal, um tratado
internacional de Direitos Humanos, ratificado na forma do art. 5º, § 2º, da
Constituição Federal, possui força normativa equivalente à de norma:
a) Formalmente constitucional.
b) Legal ordinária.
c) Legal complementar.
d) Supralegal e infraconstitucional.
e) Regulamentar.

22. Controle de Convencionalidade

Segundo a tese do controle de convencionalidade, é possível que as leis e atos


normativos se moldem aos tratados de direitos internacionais.
No controle de constitucionalidade, o referencial será a parte dispositiva da
Constituição, as emendas constitucionais e os tratados aprovados na forma do
art. 5º, § 3º, da CF.
228 Direito Constitucional

Já no controle de convencionalidade, os elementos referenciais serão os tra-


tados internacionais que versem sobre os Direitos Humanos que tenham sido
aprovados na forma do art. 5º, § 3º, da CF.
Ainda, os tratados que versem sobre Direitos Humanos e que não tenham
sido aprovados conforme o art. 5º, § 3º, da CF, visto que são considerados pela
doutrina como materialmente constitucionais e os demais tratados comuns que
não versam sobre Direitos Humanos.
Segundo Valerio Mazzuolli, as espécies de controle de convencionalidade
dividem-se em: controle concentrado de convencionalidade, controle difuso de
convencionalidade e controle de supralegalidade.
Vale destacar que mesmo os tratados comuns possuem posição hierárquica
superior à legislação infraconstitucional; esses tratados estarão sujeitos ao con-
trole de supralegalidade.
Direito Constitucional 229

Anotações
230 Direito Constitucional

Gabarito

1. Errada. 29. Letra B.


2. Letra B. 30. Letra E.
3. Letra D. 31. Letra A.
4. Correta. 32. Letra A.
5. Letra D. 33. Eficácia limitada – incisos I e III.
6. Letra D. Eficácia contida – incisos II e IV.
7. Correta. 34. Letra B.
8. Correta. 35. Letra C.
9. Letra C. 36. Letra E.
10. Letra A. 37. Letra E.
11. Errado. 38. Letra A.
12. Letra D. 39. Letra D.
13. Letra E. 40. Correta.
14. Letra B. 41. Correta.
15. Falso. 42. Letra C.
16. Letra D. 43. Letra A.
17. Letra C. 44. Letra D.
18. Letra C. 45. Letra C.
19. Letra C. 46. Letra C.
20. Letra E. 47. Letra A.
21. Letra A. 48. Letra D.
22. Letra E. 49. Errado.
23. Correta. 50. Letra C.
24. Letra C. 51. Letra E.
25. Letra B. 52. Letra E.
26. Letra D. 53. Letra D.
27. Errado. 54. Errado.
28. Errado. 55. Letra D.
Direito Constitucional 231

56. Certo. 91. Letra E.


57. Letra A. 92. Letra B.
58. Letra D. 93. Letra D.
59. Letra E. 94. Letra A.
60. Letra A. 95. Letra D.
61. Incorreta. 96. Letra D.
62. Letra C. 97. Letra C.
63. Certa. 98. Letra D.
64. Letra E. 99. Letra D.
65. Letra D. 100. Letra C.
66. Letra E. 101. Letra D.
67. Correta. 102. Letra D.
68. Letra E. 103. Letra B.
69. Letra B. 104. Errada.
70. Letra E. 105. Errado.
71. Letra C.
106. Errada.
72. Letra E.
107. Correto.
73. Letra C.
108. Correto.
74. Letra A.
109. Errado.
75. Correto.
110. Letra A.
76. Letra E.
111. Correto.
77. Letra D.
112. Letra A.
78. Letra C.
113. Errado.
79. Letra C.
114. Letra B.
80. Letra E.
115. Letra C.
81. Letra A.
82. Letra D. 116. Letra C.
83. Errada. 117. Incorreto.
84. Letra E. 118. Letra D.
85. Letra D. 119. Incorreto.
86. Sim, prevista no inciso III do § 4º 120. Incorreto.
do art. 154, regulamentada pela 121. Letra C.
Lei Federal nº 11.250/2005, que 122. Falso.
permite que os Municípios rece- 123. Letra A.
bam a delegação para fiscalizar e 124. Letra B.
cobrar (mas não a de instituir) o 125. Letra B.
ITR (Imposto Territorial Rural). 126. Letra A.
87. Letra B. 127. Letra C.
88. Letra C. 128. Letra C.
89. Letra D. 129. Correta.
90. Letra B. 130. Errado.
232 Direito Constitucional

131. Incorreta. 140. Correto.


132. Correta. 141. Correta.
133. Correta. 142. Letra D.
134. Correta. 143. Letra E.
135. Letra C. 144. Letra C.
136. Letra A. 145. Incorreta.
137. Letra A. 146. Correta.
138. Letra B. 147. Incorreta.
139. Letra A. 148. Letra D.

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