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Máquinas Industriais S.A. é uma empresa espanhola que se dedica à fabricação de
bens de capital industriais relativamente sofisticados. Trabalha por encomenda e segundo as
indicações específicas de cada cliente. É subsidiária de um importante grupo financeiro
espanhol, tem sua sede central em Madri e dispõe de duas fábricas, situadas uma no norte e
outra no centro da Espanha.
1. Introdução
A empresa foi fundada nas primeiras décadas deste século. Tem atualmente uma força
de trabalho de 3.500 pessoas, das quais 3.000 estão nas fábricas e 500 na administração
central. O faturamento é de 115 milhões de dólares, e sua propriedade pertence a um grande
grupo financeiro espanhol.
Até meados dos anos 80, a estratégia da empresa sempre foi muito conservadora, com
muito pouca ênfase na análise em longo prazo das mudanças do ambiente competitivo e de
sua influência na empresa. Esta, por conseguinte, teve, tradicionalmente, uma limitada
orientação estratégica e competitiva, e sua prioridade era fabricar equipamentos de qualidade
sem controlar muito os custos e os prazos de entrega (os atrasos e, portanto, as multas eram
mais do que habituais). Dava-se muito pouca atenção às questões comerciais e de marketing,
e seguia-se fabricando com os métodos tradicionais, com pouca utilização de novas
tecnologias de processo e de gestão mais avançadas.
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Caso elaborado por Joan M. Amat Salas, com a colaboração de Peres Nicolas Plans - FONTE: GOMES,
J.S.; SALAS, J.M .A Controle de GestJo - uma abordagem contex.tual e organizacional. SAo Paulo: Atlas, ed.2, 1
999.em série.”
Na opinião de um diretor: “Nos últimos anos, quisemos fazer uma importante redução
de pessoal para baixar os custos, e isso implicou o fechamento de uma fábrica no norte e a
incorporação de uma pane do pessoal desta em outras fábricas. Isso determinou que se
produzissem momentos especialmente conflitantes, que aumentasse o absenteismo que
tradicionalmente já era bastante alto e que se perdesse a motivação”. No final, fez-se uma
redução progressiva da folha de pessoal por meio de aposentadorias antecipadas e demissões
incentivadas. O que aconteceu é que as pessoas que foram incentivadas a sair eram as mais
2. Características da organização
A sociedade está estruturada em cinco subdireções gerais que dependem do
presidente, que é o diretor geral. Estas são: desenvolvimento técnico, comercial, secretaria
geral, administração e industrial. O diretor geral da empresa, de 55 anos e engenheiro
industrial, incorporou-se recentemente e veio de uma grande empresa industrial multinacional
(“embora de um setor bastante diferente”), na qual era seu diretor geral. Anteriormente, havia
sido diretor de fabricação na mesma empresa, responsabilidade que assumiu durante 12 anos.
A subdireção geral industrial responsabiliza-se pela produção (de cada uma das duas
fábricas), programação e controle e pelos serviços técnicos. Os diretores da fábrica dependem
hierarquicamente da subdireção geral industrial, embora, na prática, dependam também do
resto das subdireções gerais. Dependendo hierarquicamente de cada diretor da fábrica,
existem várias direções de departamento: compras e armazém, oficina técnica, serviços gerais,
produção, controle de qualidade, controle de projetos. administração e pessoal. O
departamento de compras e armazéns depende funcionalmente do departamento de compras
da central. O departamento de oficina técnica encarrega-se do desenvolvimento de projetos e
depende funcionalmente do departamento de desenvolvimento técnico da central. O
departamento de serviços gerais é “uma caixa de costura” que depende simultaneamente de
várias subdireções gerais e direções de departamento da central, e se encarrega do
planejamento e controle de produção, serviços de fábrica, manutenção e informática. Do
departamento de produção dependem as seções produtivas principais de eletricidade e
mecânica. Para isso, o diretor de produção tem dois adjuntos, que funcionam como staff para
coordenar as oito seções principais, cujos responsáveis dependem diretamente do mesmo.
Igualmente, do diretor de produção depende o departamento de programação da produção. O
departamento de controle de qualidade depende funcionalmente do departamento de
desenvolvimento técnico da central. O departamento de controle de projetos está formado por
vários project-managers, que se encarregam do cumprimento dos prazos, especificações
técnicas e custos dos pedidos em curso. O departamento de administração depende
funcionalmente da subdireção geral da administração da central. E o departamento de pessoal
depende funcionalmente da secretaria geral da central.
O estilo da direção (da maior parte dos diretores) que tradicionalmente a empresa teve
é muito individualista, pouco participativo, com pouco trabalho em equipe e com ênfase na
supervisão direta e no controle informal, embora (e apesar de seu impacto ser ainda limitado),
nos últimos anos, esteja-se produzindo uma mudança progressiva impulsionada pela promoção
interna ou incorporação externa de novos responsáveis mais profissionais e participativos.
Nas fábricas, existe um nível profissional muito bom e as pessoas com maior
preparação técnica (na grande maioria, engenheiros industriais), experiência e dinamismo
costumam ocupar cargos de responsabilidade. Apesar disso, dizia um deles: “temos muito
pouca autonomia, a única coisa que podemos fazer é mudar o programa semanal das tarefas
ou submeter as pessoas aos manuais de regulamentos; o problema é que a maioria das
pessoas que estão na central desconhecem as características do processo produtivo e nos
atribuem sempre os problemas da empresa, sabemos onde estão os problemas mas não
temos poder de decisão. Na central, não nos ouvem muito e cada decisão, por mais rotineira
que seja vira uma eternidade; o pessoal nos vê como os que decidem as demissões, e tudo
isto faz com que fiquemos bastantes ‘queimados’ e que vários tenham ido embora da empresa
aproveitando as demissões incentivadas”.
De dez anos para cá, em várias ocasiões, e geralmente coincidindo com as mudanças na
direção, realizaram-se consultorias para promover novos sistemas de gestão que pelas mais
diferentes razões “nunca foram totalmente implantados”.
3. Processo de produção
Os produtos que a empresa fabrica são tecnicamente muito complexos (o que requer
bastante trabalho de engenharia na oficina técnica) e podem incluir mais de 4.000 peças
diferentes. Apesar de grande parte do custo do produto ser de materiais que se incorporam aos
equipamentos (cerca de 65%), muitos dos quais já se compram prontos para sua montagem,
cada pedido deve passar por várias seções de produção para se poder proceder a sua
transformação. Isto faz com que o custo de pessoal tenha uma grande importância no custo
final (é aproximadamente 90% do custo das seções produtivas e em torno de 30% do custo do
produto).
Cada seção e oficina solicita o material necessário para o armazém de acordo com as
listas de materiais de cada equipamento que recebe da oficina técnica.
Há uma negociação limitada com os clientes (“modificam o que têm vontade sem que
ajustemos os preços”), o que provoca dificuldades no processo de produção.
“O planejamento é um pedaço de papel que não serve para nada, temos muito pouca
participação. Os sistemas de informação estão defasados porque muita gente que o
desenhou já se foi e não puderam atualizá-los. Não servem para as oficinas porque se faz
de uma maneira muito geral e sem uma divisão detalhada (não definiram as atividades
específicas para cada equipe e as datas são fixadas sem consulta aos setores de produção
e compras). O planejamento é um instrumento burocrático a ser cumprido. Todo mundo se
queixa, mas o sistema não muda. Serve de guia durante os três primeiros dias do mês e é
só. Mensalmente, é efetuada uma revisão oficial por parte do departamento de
planejamento, a partir dos cálculos elaborados pela produção e negociados com a direção
da fábrica.
Compra-se materiais que não são urgentes ou prioritários. Atrasam os trabalhos mais
urgentes para não ficarem parados e para conseguir maior gratificação. A heterogeneidade
e o grande número das atividades fazem com que todo mundo concentre a atenção
naquelas onde se pode avançar mais rápido. Entre as seções são transferidas peças que
demoram muito a serem manipuladas, implicando em mais horas e atrasos na finalização
do produto intermediário. São pagos incentivos por trabalhos incompletos e
desnecessários. As últimas fases sempre requerem 30% a mais de horas do que o normal.
Existe uma série de dificuldades para contratação de serviços de terceiros, já que isso
provoca problemas com os sindicatos.
Sobram pessoas, mas as que existem estão mal distribuídas porque se reduziu o número
de pessoas indiscriminadamente. Existe subutilização da capacidade mas há pessoas que
estão dispersas pela empresa e. para terminar a produção, temos que recorrer muitas
vezes às horas extras e a subcontratação (o fato de as seções estarem localizadas em
diferentes edifícios implica em muita perda de tempo e faz com que tenhamos muita gente
perambulando sem ter o que fazer).
Finalmente, sempre estão dando broncas em nós da produção como se tos somos os
culpados pelo que acontece na empresa, mas isto aqui não é produção em série.”