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VIABILIDADE ECONÔMICA DE
PROJETOS MINEIROS
INTRODUÇÃO
São apresentadas, neste capítulo, as informações básicas sobre a elaboração de
projetos e as técnicas mais adequadas às avaliações econômicas.
Pretende-se que o leitor tenha noção das técnicas empregadas na elaboração e
avaliação econômica de projetos de mineração, e perceba a importância desta fase que
precede a implantação de um empreendimento mineral. No que se refere às técnicas de
elaboração de um projeto, serão abordados: aspectos gerais do projeto; engenharia de
projeto, mercado; e avaliação de custo e de receita. Essas informações servem de base à
montagem do fluxo de caixa e à avaliação econômica do empreendimento.
Os investimentos em mineração se caracterizam pela limitação de sua vida útil;
uma vez extraído todo o minério economicamente explorável existente na jazida, é
forçoso o encerramento das operações. Impõe-se, assim, que durante a vida útil da mina
o investidor receba de volta o capital aplicado, acrescido de remuneração compatível
com os riscos do negócio.
No caso da mineração, em particular, essa análise se reveste da mais alta
relevância, tendo em vista as características específicas desse tipo de empreendimento:
localização quase sempre próxima ao depósito mineral e, na maioria das
vezes, distante dos centros urbanos;
uso intensivo de capital e longo prazo de maturação;
dimensionamento e processo de beneficiamento específico para limitação na
disponibilidade do bem mineral, face ao caráter não renovável das reservas
minerais.
Esses características, inerentes ao setor mineral, fazem com que a decisão de
investir seja respaldada em análise econômica detalhada, a partir de projetos bem
elaborados, objetivando minimizar os riscos do empreendimento.
As consequências decorrentes de falhas na elaboração do projeto e em sua
avaliação econômica podem acarretar grandes prejuízos financeiros e, em alguns casos,
resultam na inviabilidade do empreendimento.
MERCADO
Em termos gerais, o objetivo do estudo de mercado relativo a um projeto é
definir, para um determinado período, quem vai comprar o produto, em que
quantidade, a qual preço, quais os concorrentes e qual a parcela do mercado que caberá
a cada concorrente.
O estudo de mercado apresenta características próprias, tais como:
especificações requeridas pelos consumidores;
análise da oferta, diante dos projetos existentes e em implementação;
demanda reprimida pela inexistência de matéria-prima no país, ou pela sua
disponibilidade insuficiente;
influência do local onde se encontra a jazida, seja pela sua posição geográfica,
sejam pelos recursos de infra-estrutura e transporte;
influência da política governamental e da legislação, sobre a comercialização
(ex. contingenciamento de preços e/ou importação), preços de venda e
utilização dos produtos minerais;
meios de transporte e custo de frete;
existência de estoques reguladores.
Trata-se, portanto, de atividade bastante especializada que exige para seu
desempenho satisfatório um perfeito conhecimento do assunto e da matéria-prima em
pauta, bem como a disponibilidade de banco de dados contendo toda a multiplicidade
de informações necessárias.
O estudo de mercado deve evidenciar a aceitabilidade dos produtos, quanto à sua
qualidade (composição química e física). Se for possível a prévia assinatura de acordos
comerciais ou mesmo de contratos a longo prazo, os preços e quantidades estarão
previamente estabelecidos, o que elimina importante parcela de incerteza do projeto.
CETEM Tratamento de Minérios – 6ª Edição 919
ENGENHARIA DO PROJETO
Refere-se à definição de premissas de projeto, elaboração de projeto conceitual,
básico, detalhamento, implantação e posta em marcha, com a participação de
engenheiros de diferentes especialidades. Aqui são feitas referências à fase técnica do
estudo, comentando-se os aspectos básicos a serem considerados quanto à engenharia,
tais como:
localização;
reservas e capacidade de produção;
ensaios e pesquisas preliminares;
seleção do processo de produção;
especificação dos equipamentos e montagens;
edificações;
projetos complementares de engenharia;
escala de produção e localização.
Ensaios e Pesquisas Preliminares
Todo projeto de engenharia mineral exige, em maior ou menor grau, uma
quantidade de ensaios e pesquisas preliminares que determinam muitas das decisões
adotadas no curso do estudo. Esses ensaios abrangem questões de natureza várias:
provas de resistência do terreno para a construção civil; investigações metalúrgicas para
o tratamento de minerais e caracterização tecnológica dos produtos, entre outras, de
acordo com a natureza do projeto.
Seleção e Prescrição do Processo de Produção
Em muitos casos, o projeto não apresenta problemas especiais quanto ao
processo ou sistema de produção. Em outros, porém, encerram complexidades e
alternativas que conviria explicar com as soluções oferecidas e relacionadas às pesquisas
feitas previamente.
A descrição do processo poderá ser facilitada com a ajuda de fluxogramas que
contribuirão para uma melhor apresentação e clareza.
Especificação de Equipamentos
Quanto aos equipamentos, é necessário distinguir as duas etapas do processo de
seleção:
escolha e especificação dos equipamentos;
seleção entre os vários equipamentos dentro do tipo escolhido, a fim de decidir
entre as propostas.
920 Capítulo 20 Viabilidade Econômica de Projetos Mineiros
outras partes do projeto. A localização ideal de uma indústria, logicamente, será a que
permita maiores lucros para o investidor.
A usina de beneficiamento do minério seria mais convenientemente localizada em
área de melhor infra-estrutura, por questões relativas à disponibilidade de combustível,
energia, hospital, escola, moradia etc. Na mineração, no entanto, a localização do
empreendimento fica condicionada ao local da jazida.
A política de isenções e benefícios fiscais em favor das diversas localizações em
estudo, o clima, a facilidade de serviços administrativos, bancários etc, são fatores que,
por maior ou menor importância, não devem ser esquecidos.
AVALIAÇÃO DE CUSTO
Os investimentos e a avaliação de custos na mineração se caracterizam pela
limitação da vida útil da mina; uma vez extraído todo minério economicamente
explotável existente, é forçoso o encerramento das operações. Impõe-se assim, que
durante a vida útil da mina, o investidor tenha ressarcido o capital aplicado, acrescido de
remuneração compatível com os riscos do empreendimento. Assim, a avaliação de custo
de uma jazida se baseia em estimativas de grandezas econômicas, a saber:
vida útil da mina, obtida com base na reserva de minério existente;
custos iniciais, vida útil dos equipamentos, instalações e substituições dos
mesmos;
custos anuais de produção, transporte, administração e comercialização;
custos para reabilitação da área lavrada, ao fim da vida útil da mina;
capital de giro;
condições de financiamentos que possam ser obtidos para a instalação inicial
da mina;
despesas de administração correspondentes ao ciclo de produção e
beneficiamento;
caminhões e outros materiais gastos, quando o transporte rodoviário da mina
ao destino for feito pelo minerador.
Custos de Administração
Os custos de administração incluem todos os salários do pessoal de engenharia e
de administração, material consumido, aluguéis de escritórios, luz, comunicações,
despesas de viagem, treinamento de pessoal e seguros. Incluem, ainda, despesas
médicas e hospitalares, de educação e de recreação do pessoal.
922 Capítulo 20 Viabilidade Econômica de Projetos Mineiros
Custos de Comercialização
Os custos de comercialização compreendem os salários do pessoal de marketing e
de vendas, despesas de viagem, despesas com propaganda e comissões de
intermediários; estas últimas costumam ser expressivas no caso das exportações.
Capital de Giro
O capital de giro pode ser uma importante parcela do capital total, necessário
para um novo projeto. É necessário estimá-lo cuidadosamente, não só calculando
sua componente inicial, como os acréscimos necessários ao longo do tempo,
principalmente quando são previstos aumentos futuros no nível das operações.
O capital de giro deve cobrir as seguintes parcelas:
estoque de minério nas minas, valorizado pelos respectivos custos de
produção e beneficiamento, não incluindo depreciação, amortização ou
exaustão em tais custos;
estoques de minério em trânsito para os mercados, valorizados pelos custos
de produção e beneficiamento, acrescidos dos tributos e do frete, inclusive o
estoque regulador no porto de embarque, no caso de exportações;
despesas de administração correspondentes ao ciclo de produção e
beneficiamento, transporte e embarque;
almoxarifados de materiais e peças sobressalentes, a preços de aquisição;
recursos financeiros disponíveis em caixa e em bancos;
custo das mercadorias vendidas a prazo;
contas a pagar, relativas aos materiais e serviços adquiridos para pagamento a
prazo.
Custos de Produção
Os custos de produção devem ser detalhadamente estimados e desdobrados em
seus principais componentes: pessoal, material, peças sobressalentes, impostos e taxas,
energia elétrica, aluguéis, serviços contratados etc. Devem também ser listados
separadamente por fase dos serviços: extração, transporte interno, beneficiamento do
minério, estocagem, manuseio e carregamento. Convém ainda separar os custos de
operação daqueles de manutenção, constituindo estes últimos parcela significativa, ao
contrário do que ocorre nas indústrias de transformação, em que tais custos são
secundários.
Os custos de pessoal devem incluir os acréscimos decorrentes da legislação
trabalhista, de responsabilidade do empregador, bem como previsões para substituições
de empregados em férias, acidentados, doentes, em repouso semanal etc. É importante
CETEM Tratamento de Minérios – 6ª Edição 923
Estimativa de Preço
O preço é, sem dúvida, o dado mais relevante em uma avaliação econômica. É, ao
mesmo tempo, a variável mais complexa de ser estimada, salvo raras exceções, como
nos casos em que a oferta é atomizada, o bem mineral é abundante e o preço praticado
no mercado já alcançou uma relativa estabilidade; exemplo: minério de ferro. Mesmo
assim, a entrada em operação de uma grande mina pode provocar desequilíbrio entre a
oferta e a demanda e, consequentemente, alteração no preço.
928 Capítulo 20 Viabilidade Econômica de Projetos Mineiros
dinheiro no tempo. A aplicação desse conceito será notada quando forem apresentadas
as técnicas de análise econômica que se baseiam no fluxo de caixa descontado e,
portanto, consideram o valor do dinheiro no tempo.
O valor do dinheiro no tempo não deve ser confundido com a inflação. Mesmo na
hipótese de inflação igual a zero, o valor do dinheiro no tempo continua existindo e deve
ser avaliado independentemente da inflação, que é o aumento no nível de preços.
A inflação deve ser considerada à parte, principalmente pelo fato de que suas taxas de
crescimento, tanto em termos pretéritos como futuros, costumam ser variáveis ao longo
do tempo. No caso do valor do dinheiro no tempo é considerada uma taxa fixa.
Tem-se, portanto:
TMRA = [(5 x 40)/5]/100 = 0,40 ou 40% a.a.
TMRB = [(5 x 70)/5]/200 = 0,35 ou 35% a.a.
De acordo com os resultados obtidos, a alternativa A se apresenta mais atrativa
que a alternativa B, pois: TMRA TMRB.
O método da TMR é derivado do método da Taxa de Retorno Contábil (TRC) que,
embora seja calculado de forma semelhante, usa a média anual dos lucros contábeis, ao
invés da média anual das entradas líquidas de caixa. A TRC, portanto, despreza o
conceito de fluxo de caixa e, por isso, é menos significativa que a TMR.
A TMR apresenta apenas uma aproximação sobre a lucratividade do projeto, não
devendo ser aplicada no processo decisório de investimentos, por apresentar falhas que
serão esclarecidas adiante, quando for feita a comparação entre os métodos e
mostradas as vantagens e desvantagens dos mesmos. A principal razão para seu
conhecimento é a facilidade de entendimento do método, servindo de introdução ao
aprendizado dos demais, que têm metodologias semelhantes.
Período de Recuperação do Investimento
O Período de Recuperação do Investimento (PRI), também conhecido como
payback, é o método utilizado para se calcular o tempo (geralmente em anos)
necessário, a partir do início da operação de um empreendimento, para que seu
investimento seja totalmente recuperado.
O cálculo do PRI é procedido de forma simples, mediante a soma aritmética dos
fluxos de caixa líquidos no período operacional, até que o resultado seja igual ou
superior ao montante do investimento inicial. Usando-se o exemplo anterior e
procedendo-se ao cálculo de forma prática, como indicado na Tabela 2.
CETEM Tratamento de Minérios – 6ª Edição 933
t n
VAL t 0
FC t /(1 i) t [2]
onde:
t é um ponto no tempo, geralmente um ano;
n é a vida total do projeto, normalmente em anos;
i é a taxa de desconto atribuída como sendo atrativa ao projeto;
FC é o fluxo de caixa em cada ponto no tempo.
O VAL representa, portanto, a soma do valor atual de cada fluxo de caixa da
oportunidade de investimento, distribuído ao longo da vida útil do projeto. Desta forma,
o VAL mede a diferença entre os fluxos de caixa positivos e os investimentos (fluxos de
caixa negativos), todos descontados a uma determinada taxa. Ainda, com base nos
dados do exemplo anterior, a Tabela 3 exemplifica o cálculo para as alternativas A e B.
Tabela 3. Cálculos do VAL para as alternativas A e B.
Alternativa A Alternativa B
Ano FCA FVA VALA FCB FVA VALB
($u.m.) (a 10%) ($u.m.) ($u.m.) (a 10%) ($u.m.)
0 -100 1,0000 -100.00 -200 1,0000 -200.00
1 40 0,9091 36,36 70 0,9091 63,63
2 40 0,8264 33,06 70 0,8264 57,85
3 40 0,7513 30,05 70 0,7513 52,59
4 40 0,6830 27,32 70 0,6830 47,81
5 40 0,6209 24,84 70 0,6209 43,46
TOTAL 100 - 51,63 150 - 65,34
FVA (a 10%) = Fator do valor atual a uma taxa de 10% (ver Tabela A.2, no Anexo, ao final do capítulo). As notas das
tabelas apresentadas no Anexo esclarecem os conceitos de valor atual, valor futuro e séries uniformes, visando a um
melhor entendimento.
Da mesma forma que em RBC, a alternativa pode ser aceita sempre que
RBCD 1,0, devendo ser rejeitada quando RBCD 1,0. A RBCD é uma derivação da RVAL
e, como tal, a escolha entre alternativas, pelo método RBCD, é feita da mesma maneira
descrita para o método RVAL.
Valor Anual Equivalente
O Valor Anual Equivalente (VAE) consiste em converter os diversos valores dos
fluxos de caixa anuais em uma série uniforme equivalente, referente ao mesmo período
de tempo, isto é, a vida útil do empreendimento. O VAE é obtido mediante a aplicação
de uma taxa de desconto representativa do custo de capital, também conhecida como
taxa de atratividade, que servirá de base para o cálculo das séries de valores
equivalentes de cada fluxo de caixa anual. A soma dos valores de cada ano resulta em
uma série uniforme, que corresponde ao VAE. O método prático para o cálculo do VAE é
a partir do VAL. Tendo-se o VAL referente ao projeto, calcula-se o VAE de maneira
bastante simplificada, e evita-se o cálculo para cada fluxo de caixa anual. Usando-se o
exemplo anterior e considerando-se a taxa de desconto de 10%, conforme expresso na
Equação [5].
VAEA = VALA . FRC(i,n) [5]
onde: FRC(i,n) é o fator de recuperação de capital (vide a Tabela A.4) para uma
determinada taxa de desconto ( i ) e uma determinada vida útil (n).
Assim, VAEA = 51,63 u.m. X 0,2296 = 11,855 u.m.
De forma análoga: VAEB = 65,34 u.m. X 0,2296 = 15,003 u.m.
Os resultados acima indicam que ambas as alternativas podem ser aceitas, sendo
a alternativa B mais atraente que a alternativa A, por apresentar um maior VAE.
No caso exemplificado, ambas as alternativas tinham a mesma vida útil, o que
resultou, obviamente, em um maior VAE para a alternativa com maior VAL. No entanto,
ao se comparar alternativas com vida útil desigual, os resultados poderão se apresentar
de forma não proporcional, entre o VAL e o VAE.
Usando-se o VAE como técnica de avaliação, a alternativa pode ser aceita sempre
que o resultado for positivo e deve ser rejeitada quando o resultado for negativo.
Dentre as alternativas aceitas, a prioridade deve ser dada às alternativas com maior
VAE.
O VAE é muito útil na comparação de alternativas mutuamente excludentes, o
que o classifica como o mais adequado nos casos de substituição de equipamentos, nas
comparações entre projetos de mineração - normalmente com vida útil desigual -, ou
mesmo nas simulações dentro de um mesmo projeto de mineração, em que são
analisadas hipóteses bastante diferentes entre sí, inclusive com relação à vida útil.
CETEM Tratamento de Minérios – 6ª Edição 939
Alternativa “B”
ANO FC FVA (a 22%) VAL FVA (a 23%) VAL
($u.m.) ($u.m.) ($u.m.)
0 -200 1,0000 -200,00 1,0000 -200,00
1 70 0,8197 57,38 0,8130 56,91
2 70 0,6719 47,03 0,6610 46,27
3 70 0,5507 38,55 0,5374 37,62
4 70 0, 4514 31,60 0,4369 30,58
5 70 0,3700 25,90 0,3552 24.86
TOTAL 150 - 0,46 - -3,76
Por interpolação linear:
TIR = 22% + [ 0,46 / ( 0,46 + 3,76 ) ]% = 22,1%
A TIR é usada tanto para se conhecer a taxa de retorno esperada para uma
alternativa de investimento, como para classificar os projetos em termos de
rentabilidade; quanto maior a TIR, mais interessante é o projeto, quando analisado
940 Capítulo 20 Viabilidade Econômica de Projetos Mineiros
O Valor Atual Líquido - VAL tem a vantagem de ser o método mais apropriado
para a avaliação do valor econômico de um projeto e, por conseguinte, permite obter
um parâmetro relevante para negociação. Seu principal problema é a necessidade de
determinação prévia de uma taxa de desconto apropriada.
O método da Razão do Valor Atual Líquido - RVAL, embora também necessite da
taxa de desconto pré-determinada, tem a vantagem de permitir a comparação entre
alternativas de projetos com diferentes investimentos iniciais, por meio da medição do
VAL por unidade monetária de investimento.
A Relação Benefício-Custo Descontado - RBCD tem as mesmas características da
RBC (método simples), com a vantagem de considerar o valor do dinheiro no tempo.
942 Capítulo 20 Viabilidade Econômica de Projetos Mineiros
ESTUDO DE CASO
Este estudo propõe realizar a viabilidade econômica para implantação de uma
unidade de beneficiamento, utilizando os resíduos de extração e beneficiamento do
calcário pré-cambriano, comercialmente denominado Bege Bahia, no Município de
Ourolândia, situada no Centro-Norte do Estado da Bahia, Brasil.
O método de extração e processamento de rochas ornamentais no município de
Ourolândia gera quantidade significativa de resíduos que deverão ser processados e
utilizados como carga na produção de compostos poliméricos na indústria nacional.
No estudo de viabilidade econômica para aproveitamento dos resíduos gerados
no beneficiamento do Bege Bahia foram definidos os equipamentos principais
necessários e descritos os trabalhos a serem executados, assim como o levantamento
das condições econômicas e de infraestrutura de forma a serem obtidos os dados para a
implantação do projeto.
Foram utilizados dispositivos econômicos de avaliação de projetos tais como Taxa
Interna de Retorno (TIR), Valor Presente Líquido (VPL) e Tempo de Retorno do
Investimento (TRI).
Objetivo
O objetivo deste trabalho foi elaborar uma viabilidade econômica para a
implantação de uma unidade de beneficiamento, utilizando os resíduos de extração e
beneficiamento do calcário pré-cambriano, mármore travertino, (Bege Bahia), situada
no interior do Estado da Bahia.
As informações e os valores serão apresentados de forma resumida devido às
características do trabalho; estas foram coletadas de empresas existentes no mercado
baiano e os dados concernentes à engenharia e aspectos geológicos foram extraídos de
relatórios disponíveis nos órgãos como DNPM, IBGE, CETEM, CBPM,SIC-BA e Sindicatos.
Os dados referidos nesse relatório, inclusive os financeiros, referem-se a junho de
2014, esclarece-se que para um melhor entendimento e exatidão novos e mais
exaustivos estudos devem ser realizados.
944 Capítulo 20 Viabilidade Econômica de Projetos Mineiros
Logística do Empreendimento
Ênfase deve ser dada ao Município de Camaçari-BA, onde existe o Polo
Petroquímico da Bahia, potencial comprador do produto a ser ofertado pelo novo
empreendimento. Novos e mais detalhados estudos deverão ser elaborados para fixar a
clientela do projeto que deverá ter o preço fixado como FOB usina.
Critérios do Projeto
Considerou-se a vida útil do empreendimento em 20 anos, sem considerar valor
residual. Serão utilizado os resíduos da extração e beneficiamento do mármore Bege
Bahia, portanto sem custo de aquisição, conforme já enfatizado.
946 Capítulo 20 Viabilidade Econômica de Projetos Mineiros
Aquisição de Terreno
Será necessária uma área de aproximadamente 20 mil metros quadrados, que na
região custa aproximadamente R$200.000,00. Entretanto, o terreno poderá ser doado
pela Prefeitura.
Obras Civis
As inversões em obras civis compreendem as instalações de produçao, serviços de
apoio, vias de transporte interno, galpões, paióis.
CETEM Tratamento de Minérios – 6ª Edição 949
Fretes e Seguros
Considerou-se 2% do valor das máquinas e equipamentos para a composição do
item fretes e seguros.
Instalações e Montagens
As inversões foram estimadas em aproximadamente 4,5% do valor de máquinas e
equipamentos.
Inversões Fixas
Considerou-se um valor fixo de R$100.000,00 para fazer face às despesas
eventuais, Tabela 7.
Tabela 7. Resumo das Inversões Fixas (R$).
Descrição Investimento
Aquisição de Terreno 200.000,00
Maquinas e Equipamentos 5.450.000,00
Obras civis (galpões,oficinas,paióis...) 200.000,00
Fretes e seguro 109.000,00
Instalações e Montagem 241.000,00
Eventuais 100.000,00
TOTAL 6.300.000,00
Fonte: Elaboração dos autores
Avaliação de Custos
As informações referentes aos custos foram agrupadas em 3 setores distintos,
beneficiamento (usina), comercial e administrativo. Alguns gastos, como por exemplo, a
energia elétrica, foram considerados no todo em um só setor, por se considerar
desnecessário seu desmembramento em diversos setores.
Cálculo da Receita
Considerando-se a produção total dos moinhos de 100 t/h e o ano com 2112
horas, o que equivale a 211.200 t/a, a uma capacidade de produção de cerca de 80%,
chega-se a uma produção de 168.300 t/a.
O valor médio de venda na região onde funcionará a empresa deverá ser de
R$30,00 a tonelada, FOB usina, o que proporcionará uma RECEITA BRUTA ANUAL de
R$5.049.000,00.
Deduzindo os custos dos impostos COFINS (3%) e PIS (0,65%) sobre a receita
bruta, resulta numa RECEITA LIQUIDA de R$4.864.712,00.
950 Capítulo 20 Viabilidade Econômica de Projetos Mineiros
Custos Administrativos
Os custos relativos com as despesas de mão de obra administrativa estão
consolidados na Tabela 11. Os valores dos salários (R$) foram obtidos junto ao Sindicato
dos Mineradores de Brumado e Microrregião.
952 Capítulo 20 Viabilidade Econômica de Projetos Mineiros
Custos Comerciais
Os gastos totais com salário do pessoal comercial serão de R$48.000,00 conforme
descrito na Tabela 13. Os salários foram obtidos junto ao Sindicato dos Mineradores de
Brumado e Microrregião em 2014.
Tabela 13. Lista de cargos e salários comercias.
Descrição Salário Mensal (R$) Quant. Salário Anual (R$)
Encarregado de Compras 2.000,00 1 24.000,00
Supervisor de Vendas 2.000,00 1 24.000,00
Total 2 48.000,00
Fonte: Elaboração dos autores em 2014
Capital de Giro
O capital de giro necessário foi calculado tendo por base aplicada à realidade de
uma empresa de mineração de pequeno porte com todas vendas realizadas à vista,com
capital próprio, conforme apresentado a seguir.
Necessidades ou Ativo Circulante
CAIXA MINIMO - CM: Valor necessário para custear 10 dias de produção:
CM = Custo total/264x10 = 3.187.694/264x10 = R$120.745,00.
ESTOQUES
MATERIAIS DE CONSUMO
MC. Itens de consumo (insumos, reagentes, lubrificantes, etc) necessários para
atendimento a 15 dias de produção.
MC = PCDPx15/264MC = 100.000x0,48x15/264 = R$2.727,00
Onde PCDP = Percentual do Custo Direto da Produção
PRODUTOS FINAIS
Estoques correspondente a 2% da produção anual.
PF = PT x 0,02 x 30
168.300x0,02 = 3.366x30 = R$100.980,00
PEÇAS E MATERIAIS DE REPOSIÇAO:
2% do valor das inversões em máquinas e equipamentos.
PMR = Maq e Equip x 0,02
PMR = 5.450.000x0,02 = R$109.000,00
Recursos ou Passivo Circulante
CONTAS A PAGAR - CP: Prazo de 15 dias para pagar as despesas do custo de
produção;
CP = (CT – Depr.) x 15/264
CP = (3.187.694 – 555.000) x 15 /264 = R$149.584,00
IMPOSTOS A PAGAR - IP: Prazo médio de 30 dias para pagar os impostos
incidentes sobre a receita
IP=Impostos s/ receita x 30/264
IP = 184.288 x 30 /264 = R$20.941,00
CETEM Tratamento de Minérios – 6ª Edição 955
Considerações Finais
A partir dos resultados obtidos o projeto, mostra-se viável para um valor
pretendido de venda do produto a R$30,00 por tonelada, preço FOB na usina de
beneficiamento. Existem algumas restrições quanto à demanda, que precisa ser melhor
estudada, uma vez que os mercados detectados, Polo Petroquímico de Camaçari e
Região Metropolitana de Belo Horizonte localizam-se a 416 km e 1.369 km,
respectivamente. Essas grandes distâncias, apesar do produto ser vendido FOB usina,
poderão influenciar sobremaneira na sua colocação. As estratégias de logística deverão
ser definidas com os potenciais compradores em função da distância até o
empreendimento em Ourolândia, no Estado da Bahia, sendo frete fator preponderante.
Taxa de Desconto: Considerou-se, para o calculo do Valor Presente, que o
empreendimento seja estruturado com 100% de capital próprio a um custo de 12% ao
ano.
Os principais parâmetros a partir do fluxo de caixa, com taxa de atratividade de
12% são:
TIR- Taxa Interna de Retorno : 12%
Payback - Tempo de Retorno do Capital: 7,37 ano
VPL - Valor Presente Liquido: R$334.966,78
Acrescente-se que os cálculos efetuados foram feitos considerando-se a operação
da usina a uma capacidade de 168.300 toneladas por ano, em um único turno de
produção. A capacidade instalada da usina pode atingir em caso de necessidade o
volume total de produção de 211.200 toneladas por ano em um turno. No projeto
executivo deverão também ser aproveitada a lama, resíduo das serrarias que pode ser
diretamente ensacada, eliminando-se a etapa de britagem.
958 Capítulo 20 Viabilidade Econômica de Projetos Mineiros
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