Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
,
METAFISICA
(LIVRO I e LIVRO li)
Tradução direta do grego por Vincenzo CoeMO
e notas de Joaquim de Carvalho
ÉTICA A N ICÔMACO
Tradução de Leonel Vallandro e Gerd Bomheim
da versão inglesa de W. D. Ross
POÉTICA
Tradução, comentários e índices analítico e onomástico de
Eudoro de Souza
~
1984
EDITOR: VICTOR CIVITA
Tftulos originais:
Tà j.LETà Tà clluaLKà (Metafísica)
llepl. llon)TLKTj~ (Poética)
HihKà NLKOfLaxew (Ética a Nicômaco)
saber é natural; que há graus diversos de conheci- 3 Aristóteles discrimina três graus no conheci-
mento - sensação, memória, experiência, arte, mento sensível dos irracionais, que com Fonseca se
ciência - e que a verdadeira ciência é a que resulta podem designar de: ínfimo, médio e superior. O ínfi-
do conhecimento teorético, especulativo, não-prá- mo é próprio dos animais que somente vivem a
tico, cujo objeto é o saber das causas ou razão de experiência presente; o médio, dos que podem con-
ser. A ciência deste saber constitui a sabedoria ou servar a experiência passada mas não ouvem, e o
filosofia. superior, dos que ouvem, possuem memória e
2 A razão é que nem todos os animais possuem a podem ser adestrados.
4 Foi um aluno do sofista Górgias. Vid. Platão,
faculdade de conservar a experiência transata por
imagens. Górgias.
12 ARISTÓTELES
tóteles inicia a exposição das provas demonstrativas regiões onde [os homens] viviam no
do objeto do capítulo: a filosofia é o saber por exce- ócio 8 • É assim. que, em várias partes
lência, ou seja, o do conhecimento das causas.
7 Conhecer pela causa é conhecer pelo geral, isto é,
.
8 Viver no ócio significa estar aliviado de trabalho
pelo conceito e pela essência; assim, o médico, manual e de cuidados materiais e, portanto, usufruir
conhecendo a essência da doença e do medica- condições que permitam o exercício da atividade
mento, conhece a relação causal deste para aquela, intelectual, ou teorética, sem a preocupação de
e portanto a causa do restabelecimento da saúde. obter o que é essencial à vida de cada dia.
METAFlSICA- I 13
do Egito, se organizaram pela primeira bida como tendo por objeto as causas
vez as artes matemáticas, porque aí se primeiras e os princípios; de maneira
consentiu que a casta sacerdotal vives- que, como acima se notou, o empírico
se no ócio. (12) Já assinalamos na parece ser mais sabio que o ente que
Ética 9 a diferença que existe entre a unicamente possui uma sensação qual-
arte, a ciência e as outras disciplinas quer, o homem de arte 1 0 mais do que
do mesmo gênero. O motivo que nos os empíricos, o mestre-de-obras mais
leva agora a discorrer é este: que a do que o operário, e as ciências teoré-
chamada filosofia é por todos conce- ticas mais que as práticas. Que a filo-
9 Na Etica a Nicômaco, VI, 3-7, onde distingue e
sofia seja a ciência de certas causas e
caracteriza cinco "hábitos" pelos quais se pode de certos princípios é evidente.
aprender a verdade: entendimento, ciência, sabedo-
ria (filosofia), prudência e arte. 1o Fonseca trad\lz: artifex, isto é, perito.
CAPÍTULO 11 11
Ora, visto andarmos à procura desta lhemos por ela própria, e tendo em
ciência, devemos examinar de que cau- vista o saber, é mais filosofia do que a
sas e de que princípios a filosofia é a que escolhemos em virtude dos resulta-
ciência. Se considerarmos as opiniões dos; e uma [ciência] mais elevada é
que existem acerca do filósofo, talvez o mais filosofia do que uma subordi-
problema se nos manifeste com maior nada, pois não convém que o filósofo
clareza. (2) Nós admitimos, antes de receba leis, mas que as dê, e que não ·
mais, que o filósofo conhece, na medi- obedeça ele a outro, mas a ele quem é
menos sábio. (4) Tais e tantas são,
da do possível, todas as coisas, embora
pois, as opiniões que temos sobre a
não possua a ciência de ·cada uma filosofia e os filósofos. E quanto a
delas por si. Em seguida, quem consiga estes, o conhecimento de todas as coi-
conhecer as coisas dificeis e que o sas encontra-se necessariamente na-
homem não pode facilmente atingir, quele que, em maior grau, possui a
esse também consideramos filósofo ciência universal, porque ele conhece,
(porque o conhecimento sensível é de certa maneira, todos os [indivi-
comum a todos, e por isso fácil e não- duais] sujeitos 1 2 • No entanto, é sobre-
científico). Além disto, quem conhece
as causas com mais exatidão, e é mais 1 2 Tradução literal, que o comum dos tradutores
CAPíTuLo 11r,
É pois manifesto que a ciência a causas; tal exame será portanto útil ao
adquirir é a das causas primeiras (pois nosso estudo, porque ou descobri-
dizemos que conhecemos cada coisa remos uma outra espécie de causas, ou
somente quando julgamos conhecer a daremos mais crédito às que acabamos
sua primeira causa) 2 2; ora, causa diz- de enumerar. A maior parte dos pri-
se em quatro sentidos: no primeiro, meiros filósofos considerou como prin-
entendemos por causa a substância e a cípios de todas as coisas unicamente
qüididade 23 (o "porquê" reconduz-se os que são da natureza da matéria. E
pois à noção última, e o primeiro "por- aquilo de que todos os seres são consti-
quê" é causa e princípio); a segunda tuídos, e de que primeiro se geram, e
[causa] é a matéria e o sujeito; a ter- em que por fim se dissolvem, enquanto
ceira é a de onde [vem] o início do a substância subsiste, mudando-se uni-
movimento; a quarta [causa] , que se camente as suas de~erminações, tal é,
opÕe à precedente, é o "fim para que" e para eles, o elemento e o princípit> dos
o bem (porque este é, com efeito, o fim seres. (3) Por isso, opinam que nada se
de toda a geração e movimento). Já gera e nada se destrói, como se tal
estudamos suficientemente estes prin- natureza subsistisse indefinidamente,
cípios na Física 2 4 ; todavia queremos da mesma maneira que não afirmamos
aqui associar-nos aos que, antes de que Sócrates é gerado, em sentido
nós, se aplicaram ao estudo dos seres e absoluto, quando ele se torna belo ou
filosofaram sobre a verdade. (2) É, músico, nem que ele morre quando
com efeito, evidente que eles também perde estas qualidades, porque o sujei-
falam em certos princípios e em certas to, o próprio Sócrates, permanece; e
assim quanto às outras coisas, porque
2 1 Este capítulo
tem por objeto a indicação dos deve haver uma natureza qualquer, ou
quatro sentidos em que Aristóteles toma a palavra
causa - material, eficiente, formal e final - e a mais do que uma2 5 , donde as outras
referência histórica das opiniões dos pré-socráticos derivem, mas conservando-se ela inal-
acerca da causa material. terada. (4) Quanto ao número e à natu-
2 2 São várias as dificuldades
destes parênteses e é
copiosa a bibliografia que lhes respeita~ Primeira reza destes princípios 2 6 , nem todos
causa deve entender-se em sentido relativo, isto é, pensam da mesma maneira. Tales 2 7 , o
da causa que importa ao conhecimento próprio da
coisa, e não no sentido absoluto, porque se assim
fundador de tal filosofia 2s, djz ser a
não fosse o conhecimento de cada coisa exigiria o água (é por isto que ele declarou tam-
conhecimento do objeto formal da metafisica. Vid. bém que a terra assenta sobre a água),
Cotle I, pp. 34-41.
2 3
Literalmente: qual era o ser. Equivale ao sentido levado sem dúvida a esta concepção
próprio de cada coisa enquanto pensada em si por observar que o alimento de todas
mesma, e que é designado pela defmição essencial.
Fonseca traduz por: Quidditatem rei. · 2 5 Isto é, uma natureza, que seja una, ou múltipÍa.
2 • Especialmente, no liv. 11, caps. 3 e 7. Hamelin 2 6 Isto é, princípios materiais fundamentais. · .
considera este parágrafo como resumo do que Aris- 2 7 É o fundador da Escola Jônica; natural de Mile-
tóteles desenvolvera na Fís., 11, 3. (Vid. Aristote, to, viveu entre 650-550 a.C.
Physique li. Trad. e/ commentaire (-Paris, 2. • ed. 2 8 Isto é, da filosofia que confere significação
193l)p. 101. ontológica substantiva a elementos naturais.