Sie sind auf Seite 1von 11

David Le Breton, sociólogo, antropólogo e psicólogo: 'As condutas de risco são um

chamado à vida'1

Francês, que veio ao Brasil para uma série de palestras , afirma que o corpo é sempre político e nele se
manifestam as desigualdades sociais e de gênero

"Cresci2 em Le Mans, no Noroeste da França. Meu pai era operário e minha mãe, dona de casa. Sou casado e
não tenho filhos. Comecei a estudar o corpo porque não me sentia bem no meu próprio corpo. Dou aula na
Universidade de Estrasburgo. Vim ao Brasil pela primeira vez aos 23 anos porque queria me perder na
Amazônia."

Conte algo que não sei.


O estatuto do corpo mudou na sociedade. Hoje o corpo é percebido como um acessório da presença, é uma
matéria-prima que se molda. Há, por exemplo, um movimento que refuta a ideia de gênero. É o movimento
'Queer'. Para os adeptos desse movimento cada um pode ter o seu gênero, mesmo que ele não exista (Se a
pessoa tem, ele não existe? Há alguma referência de existência? Essência?).

É um movimento que busca maior diversidade? Que foge das dualidades?


Sim, são pessoas que não se enquadram nesse padrão de opostos com o qual convivemos. O mundo hoje não
é mais isso ou aquilo. Há múltiplas identidades; estamos em um mundo de ambivalência e heterogeneidade.
Mas o interessante é que movimentos como esse favorecem a diversidade e, ao mesmo tempo,
potencializam preconceitos. Há uma exacerbação da feminilidade e da masculinidade.

Homens e mulheres usam o corpo de forma diferente?


Sim, porque a socialização não é a mesma. A beleza e a sedução é um valor mais feminino. Há uma
desigualdade (no uso do corpo) que vem da educação. As diferenças biológicas não têm relevância.

Qual o papel do corpo na linguagem?


O corpo é o nosso enraizamento no mundo. Viver é sempre jogar seu corpo no mundo: vendo, escutando,
experimentando. Os gestos e mímicas, a maneira de se falar. É também o lugar das emoções, um instrumento
de comunicação.

No Brasil, há uma superexposição do corpo. Sabemos lidar melhor com ele do que outras
sociedades?
Sim. O Brasil tem uma cultura do litoral, do sol. E teve uma colonização portuguesa, que foi diferente da
espanhola. Permitiu a miscigenação. Percebo que há um prazer de viver no seu próprio corpo. Há homens com
barriga grande sem camisa, pessoas mais velhas com minissaia ou short.

Qual o lugar que ocupa o corpo em países em que se busca escondê-lo, como em muitos países
muçulmanos?
É um corpo reprimido, que mantém a desigualdade entre homem e mulher. O corpo é sempre político. Tem um
discurso político sobre a sociedade. O status do corpo evidencia a desigualdade de gênero e social.

Tatuagens e piercings são formas de arte ou de protesto?


Não são uma maneira de subverter os padrões sociais. São formas de personalizar, individualizar o corpo. É
são também uma forma de arte.

O jovem experimenta mais o seu corpo e o colocam em situação de risco. Por quê?

1 NOGUEIRA, Danielle. http://oglobo.globo.com/sociedade/conte-algo-que-nao-sei/david-le-breton-


sociologo-antropologo-psicologo-as-condutas-de-risco-sao-um-chamado-vida-18902734. Acesso em:
25.03.2017
2 Nascido em 1953.
O sofrimento de um jovem é um abismo, ele não consegue relativizar os fatos, como a falta do amor dos pais,
abusos sofridos na infância. Um jovem não tem o sentimento de que a morte é uma tragédia irreversível.
Acha que pode lidar com isso, não se vê como vulnerável, o que favorece as condutas de risco. Não só na
área de saúde pública como nas atividades esportivas. Ser adolescente é experimentar a vida, para o pior ou
para o melhor.

O que quer dizer com área da saúde pública?


São jovens anoréxicas, que se cortam. Elas não se enquadram em padrões sociais e usam seu corpo para
forçar a passagem, para se imporem no mundo. As condutas de risco são um chamado à vida, não são
tentativas de suicídio. São tentativas de viver, de chamar atenção pra si.

Publicações

 Body and Society, de 1985.


 Antropologia do corpo e modernidade de 1990 (várias edições).
 Paixões de risco, Éditions Métailié de 1991.
 Adeus ao corpo, Editions Métailié 1999
 Adolescência em risco Caso contrário , 2002.
 comportamentos de risco, Presses Universitaires de France , 2002.
 Sinais de identidade. Tatuagens, piercings e outras marcas corporais, Métailié Publishing, 2002.
 Sociologia do corpo, Presses Universitaires de France, 2002.
 Faces, Métailié Publishing, 2003.
 Pele e Trace. Em auto-lesão, Métailié Publishing, 2003.
 Interacionismo Simbólico, Presses Universitaires de France, 2004.
 Paixões comuns. Antropologia das emoções, Pequena biblioteca Payot , 2004.
 O corpo e seus orifícios (com Colette Méchin Bianquis e Isabelle, Paris, L'Harmattan, 2004.
 Jovens em risco. Rite e passageira. (Dir.) Com Jeffrey D. e JJ Levy, University of Toronto Press. De 2005.
 Antropologia do corpo e modernidade, Presses Universitaires de France, 2005.
 Antropologia da dor, Métailié Publishing, 2006.
 O sabor do mundo. Uma antropologia dos sentidos, Métailié Publishing, 2006.
 Atraso. Adolescência e início da vida, Métailié Publishing, 2007.
 usos culturais do corpo (com Colette Méchin e Isabelle Bianquis), Paris, L'Harmattan, 1997.
 culturas adolescentes, coletivo, Paris, Autrement, 2008.
 A pele. As apostas para a sociedade (com B. Andrieu, Boetsch G., N. Pomarede, G. Vigarello), Paris, CNRS
Edição, 2008.
 antropologia sensorial, 1998
 Dicionário de adolescência e juventude, 2010
 A bela aparência, 2011.
 corpo danificado, 2013.
 Adeus ao corpo, 2013.
 Adolescência e comportamentos de risco, 2014 .
 Auto desaparecer. Uma tentação contemporânea, 2015.
 Ritos da masculinidade na adolescência, 2015.
Corpo e e adolescência, 2016.

LE BRETON, David. Por uma antropologia de las emociones. In: Revista Latinoamericana de Estudios
sobre Cuerpos, Emociones y Sociedad. Año 4, n. 10 (diciembre 2012 – marzo 2013). Argentina. p. 69-79.
Disponível em: <http://www.relaces.com.ar/index.php/relaces/issue/view/10/>. Acesso em: 28.03.2017

Por uma antropologia das emoções


David Le Breton

Argumento do texto: social, relacional (não substância), cognitiva, compartilhada grupo


a que pertence
Como sustenta o argumento?
Com que dialoga? Refração/adesão.

Resumo:

Neste texto se analisa o caráter social das emoções e a importância dos contextos
culturais nas formas de experimentar o sentir afetivamente. Os sentimentos e as
emoções não são substâncias transferíveis de um indivíduo a outro, não são somente
processos fisiológicos. São relações, e portanto produto de uma construção social e
cultura, e se materializam em um conjunto de signos que as pessoas podem demonstrar,
mesmo que não as sintam. A emoção é interpretação e se modifica e se diferencia em sua
intensidade de acordo com a singularidade de cada pessoa (biografia, psique, status
social, idade, gênero, etc.). A afetividade é o impacto de um valor pessoal diante de um
contexto e como ele é experimentado pelo sujeito.

Palavras-chave: antropologia, emoções, corpo, cultura, afetividade.

Há pessoas que nunca teriam se apaixonado se nunca tivessem ouvido falar de amor. La Rochefoucauld

Antropologia das emoções – p. 70

As pessoas estão conectadas com o mundo por uma rede contínua de emoções. A
afetividade mobiliza as mudanças musculares e viscerais: expressões faciais, gestos,
posturas, “cores” (ficar branco, ficar vermelho de raiva). Estas expressões são
inconcebíveis fora de uma aprendizagem, fora da relação com os demais, que assim
como o indivíduo, fazem parte de uma cultura em um contexto particular.
As condições sociais de existência do sujeito se traduzem em mudanças
fisiológicas e psicológicas. A cultura afetiva impregna a relação do indivíduo com o
mundo, que se materializa em um tecido de significados e atitudes, maneiras de dizer
(tom de voz, escolha de palavras > Didi-Huberman) e de pô-la (cultura afetiva?)
fisicamente em jogo.
Trata-se de uma emanação social relacionada com circunstâncias morais
precisas e com a sensibilidade particular de cada sujeito. A expressão da emoção é
organizada e apresenta significados compartilhados com os demais (senão não seria
colocada em ato > Didi-Huberman). Ela mobiliza um vocabulário, discursos, gestos,
expressões faciais, relaciona-se com a comunicação social. Parte de uma padrão coletivo
suscetível de ser reconhecido pelos outros. A afetividade é o impacto de um valor pessoal
diante de um contexto e como ele é experimentado pelo sujeito (repetido).
O olhar antropológico recorda o caráter socialmente construído dos estados
afetivos sobre uma base biológica que nunca é um fim mas sempre matéria-prima sobre a
qual se tramam as sociedades.

Enfoque naturalista – p. 70-71: “a expressão das emoções é fisiológica e não simbólica”.

A antropologia oferece um enfoque simbólico do corpo e do rosto, enfatizando a


relatividade das emoções, que dependem das situações sociais e culturais e dos
protagonistas presentes.
No enfoque naturalista, considera-se que a emoção é biológica e faz parte do
corpo. Acredita-se que ela está “registrada” no DNA, evoluindo por meio de reações
biológicas mediante a necessidade de sobrevivência das espécies. Logo, de acordo com
determinada situação (morte, perda de status, aumento do poder, etc.), mecanismos
desencadeiam inatamente um programa de comportamento, que se manifesta sem que a
educação exerça uma influência significativa. A expressão da emoção é fisiológica e não
simbólica, sendo portanto, invariante (KEMPER, 1978). O ser humano abandona sua
condição social e se encontra reduzido à espécie.
Apesar deste enfoque abranger variadas e contraditórias perspectivas, pode-se
dizer que algumas delas ignoram o controle relativo operado pelo sujeito sobre si
mesmo: o que quer ou não deixar transparecer, simulações de emoções segundo signos
culturais postos em ato. Algumas destas perspectivas biológicas excluem ambivalências,
variações individuais (timidez, modéstia, autocontrole, ocultação), os matizes dados
pelas rugas.
Estes trabalhos percebem também o rosto de forma separada do corpo,
reduzindo a emoção que se dá por todo o corpo (cor do rosto, olhares, seleção de
palavras, entonação especial, deslocamento no espaço, movimentos das mãos, braços,
peitos,) apenas às expressões faciais, ignoram, portanto, a abundância de signos que
convergem na sensação experimentada (p. 71). Limitam-se aos padrões de análises de
rostos que supostamente “expressam” a emoção. Buscam expressões faciais que
correspondem a uma emoção, como se tratasse de um recurso finito e sem
ambiguidades, desprendido da agência dos atores (p. 72).
Estes estudos trazem soluções reducionistas, uma espécie de retrato “robô” que
depura ao extremo as emoções, tornando-as tão abstratas e “desfiguradas” ao ponto de
se desmancharem e não mais fazerem “sentido”.

A emoção não é uma substância – p. 71-72


A emoção não é uma substância, um estado fixo e imutável que se encontra da
mesma maneira e sob as mesmas circunstâncias nas pessoas. A emoção não é um objeto
que se possui.
É um matiz afetivo que se estende por todo o comportamento e que não para de
mudar em todo instante, cada vez que a relação com o mundo se transforma, que os
interlocutores mudam ou que o indivíduo modifica sua análise da situação.
A experiência afetiva nunca tem um só tom, frequentemente é mista, oscilando
de um matiz ao outro, sendo marcada pela ambivalência (ver exemplos na pg. 71). A
emoção é uma mescla difícil de compreender, cuja intensidade não deixa de mudar e de
traduzir-se mais ou menos fielmente na atitude da pessoa. As emoções mudam
constantemente dependendo da atitude do indivíduo frente a uma situação.
Fazendo da emoção uma substância biológica, os naturalistas trabalham sobre
um artefato, reduzindo a multiplicidade a um sentido comum que se encontra nos
mecanismos neurais e hormonais.
As emoções não encontram um equivalente “simbólico” fora de seu próprio
contexto social e cultural. Não há uma pessoa que “expressa” alegria, mas sim uma
pessoa alegre em determinadas circunstâncias, com seu próprio estilo, suas
ambivalências, sua singularidade. A alegria não está nesta pessoa como uma
materialidade, mas sim como uma intensidade afetiva. Neste enfoque, naturaliza-se a
emoção.

A emoção nasce da avaliação de um evento - p. 72-73

A vida afetiva corresponde a uma atividade cognitiva ligada a uma interpretação


do indivíduo da situação em que está imerso. As emoções seguem lógicas pessoais e
sociais, tendo a sua razão de ser, permitindo às vezes certo controle, ao menos um
possível jogo para adaptar-se melhor às circunstâncias. P. 72
Uma pessoa que pensa, é uma pessoa afetada. Não há processo cognitivo sem que
se ponha em marcha um jogo emocional e vice-versa. O indivíduo interpreta as situações
através de seus sistema de conhecimento e de valores. A afetividade empregada é seu
resultado. O significado conferido ao evento estabelece a emoção experimentada, isto as
propostas naturalistas não alcançam compreender. p. 72.
A emoção se inicia de um raciocínio, de uma lógica mental, de um ambiente
social, não advém da “irracionalidade” ou da “natureza”. As emoções “resultam de
processos cognitivos tão complexos como a religião, a arte ou a ciência” (AVERILL, 1980,
p. 67) p. 72.
Não somos comovidos pela liberação acidental de um processo biológico, mas
sim ante um compromisso específico em uma determinada situação que implica por
consequência uma resposta fisiológica reconhecível. De um raciocínio a outro, a emoção
muda radicalmente de forma (ex: medo – janela aberta – calma – lembra que tinha
deixado a janela fechada – medo) p. 72. A emoção é uma modalidade do sentido. p-73.

A expressão social das emoções – p. 73-74

A experiência do sujeito contém em estado latente a experiência dos membros


de sua sociedade. Para que uma emoção seja sentida, percebida e expressada pelo
indivíduo, deve pertencer a um repertório cultural do grupo a que o sujeito pertence.
Um conhecimento afetivo circula dentro das relações sociais e ensina aos atores,
segundo sua sensibilidade pessoal, as impressões e as atitudes que se impõe através das
diferentes circunstâncias de sua existência particular.
As emoções são modos de afiliação a uma comunidade social, uma forma de
reconhecer-se e de poder comunicar juntos, baixo um fundo emocional próximo. Através
dos signos, as emoções são compartilhadas com os demais e são assim vetores
essenciais da interação.
Mauss mostra como as sociedades induzem a uma “expressão obrigatória dos
sentimentos”, “conformando” o indivíduo de modo que este se porte segundo as
expectativas do grupo do qual faz parte. As manifestações de emoção são postas em ato,
variando em função da posição dos atores (gênero, idade, classe...) no núcleo social do
qual faz parte.
Para Mauss (1968-1969, p. 88), “Todas as expressões coletivas e simultâneas
com valor moral e com a força obrigada dos sentimentos do indivíduo e do grupo, são
muito mais que simples expressões, são signos de expressão assimiladas, em resumo,
uma linguagem. (...) É essencialmente um simbolismo” .
Para Durkheim, a dor não é um movimento de sensibilidade privada, devido a
uma perda cruel; é uma obrigação imposta pelo grupo. Alguém se lamenta não somente
porque está triste, mas porque tem que se lamentar. Comunicamos as emoções porque o
grupo as entendem, nos manifestamos aos demais porque temos que nos manifestar
(expectativas sociais de normalidade?).
A afetividade dos membros de uma mesma sociedade se inscreve em um sistema
aberto de significados, valores, rituais, vocabulário, etc. A emoção busca no interior
dessa trama oferecer aos atores um marco de interpretação do que experimentam e
percebem das atitudes dos demais.
Bateson (186) designa por ethos “o sistema culturalmente organizado das
emoções”. Dentro de um mesmo grupo, um repertório de sentimentos e de
comportamentos se adequa a uma situação em função do status social, idade, gênero dos
que são afetivamente tocados. Uma cultura afetiva está socialmente em marcha, apesar
dos indivíduos tratarem as emoções de forma única segundo a trajetória de suas vidas e
sua análise da situação. O indivíduo não é sua cultura, mas o que faz dela. Contudo,
apesar dos indivíduos imporem seu toque pessoal, faz as atitudes reconhecíveis.
A emoção às vezes difere daquela observada por outros ou da que o indivíduo
deseja mostrar. Ela nunca é transparente, pois está inscrita numa relação. A dramaturgia
social implica um jogo de identidade variável segundo o público; pessoas podem
controlar e disfarçar seus sentimentos ou não. As emoções às vezes traem os sujeitos
(Caiu um cisco no meu olho!).
A impossibilidade de transparência das consciências, e a necessidade de deduzir
sempre os comportamentos dos outros segundo os signos que deixa transparecer, é um
dos princípios de análise do interacionismo simbólico (LE BRETON, 2012).

Culturas afetivas – p. 74-75

As diferenças das culturas afetivas se caracterizam pela existência de emoções


ou sentimentos que não são facilmente traduzidos a outros idiomas. A fidelidade dos
significados afetivos depende de manter o termo vernáculo ou recorrer a paráfrase para
descrever com matizes e precisão.
Cada estado afetivo depende de um conjunto de significados e de valores
contextuais e do qual não pode se desprender sem perder seu sentido. Uma cultura
afetiva forma um tecido apertado na qual cada emoção está colocada em perspectiva
dentro de um conjunto.
Falar de emoções em termos absolutos (raiva, amor, vergonha, etc.) implica
cometer uma forma mais ou menos sensível de etnocentrismo postulando
implicitamente comum a culturas diferentes. Dever-se-ia colocar entre aspas cada uso
de um termo emocional para traduzir o que se entende por ele dentro de um ethos
específico (ex: ethos do antropólogo).
Se trata de evitar naturalizar as emoções traduzindo-as de uma cultura para
outra sem preocupações. Não se pode compreender o complexo movimento da emoção
sem coloca-la em contato direto com uma situação específica, com a forma com a qual
uma cultura afetiva própria de um grupo se mescla diretamente com o tecido social.
As particularidades sociais e culturais rechaçam a existência de um repertório
afetivo universal, defendido pelos naturalistas segundo sua crença na “biologicidade” da
emoção.

Exemplos:

-Leff (1977, p. 322): depressão – equivalências semânticas na família indo-europeia não


funcionam na língua chinesa, na língua yoruba e outras línguas de sciedades não-
ocidentais.
-Leff (1977, p. 301): em algumas línguas africanas uma mesma palavra significa estar
triste ou enojado.
-Doi (1988): amae, amanzuru. Sentimento de dependência agradável/doce do outro,
depender do amor do outro. Amae introduz um calor reconfortante, uma doce
intimidade que torna menos nítida uma dependência pessoal e relações assimétricas
fortemente presentes na cultura japonesa. Amanzuru designa contentar-se, submeter-se
a uma situação, convencer-se de algo. O tom afetivo predileto nas relações díspares se
encontra em amae, contudo as circunstâncias fazem impossível esse sentimento, então
contenta-se com amanzuru. Os japoneses pensam que o uso das palavras podem esfriar
a atmosfera, diferentemente dos estadunidenses, que se sentem mais encorajados e
tranquilos com este tipo de comunicação. No Japão, esta questão está relacionada ao
amae, posto que as pessoas próximas não necessitam de palavras para expressar seus
sentimentos.
-Henry (1936, p. 255): Kaingang - To nu, dimensão de perigo imediato. Que se enoje, que
cometa um assassinato. Relação entre nojo e passar ideia de perigo (?).
-Bateson e Mead (1942, p. 191): em Bali, relação entre medo e sonho. Ao sentir medo,
durma. O sonho é capaz de controlar o sentimento de medo.

Da comédia social ao teatro – p. 75-77

A cultura afetiva é um manual a sua disposição, uma sugestão de como


responder a circunstâncias particulares, contudo não se impõe como uma fatalidade
mecânica, pois há um espaço de negociação entre os atores e a situação específica,
inclusive para estratégias de simulação. P. 75
As situações sociais abundam em pequenas ou grandes discrepâncias, entre o
que o indivíduo sente (ou não) e o que deseja a dar a entender aos outros (ver filme
sozinho, ver filme acompanhado/ não sentir nada e pelas expectativas sociais
demonstrar determinada emoção para se encaixar, não ser “patologizado”). As
habilidades sociológicas do indivíduo incluem um controle relativo da cultura
emocional, do quer mostrar de si mesmo. P. 75
Mediante o controle da imagem de si mesmo alguém pode tentar cuidar dos
demais, fazendo com que eles não sofram; manipular segundo um objetivo; tratar de
preservar sua autoestima, etc. Ao mostrar os signos visíveis de uma emoção que não
sente, ou ocultando habilmente seus sentimentos, uma pessoa constrói de si mesma um
personagem, responde as expectativas de seu público ou mostra a identidade que deseja
obter. A expressão do sentimento varia em função das audiências e dos temas
(HOCHSCHILD, 1979; LE BRETON, 2008). A teatralidade está na vida social. A aparência
é a cena sugerida pelo indivíduo comum à leitura de seus pares. P. 75
A arte do ator explora este depósito de signos, realiza um jogo de leitura que
mostra o estado moral de seu personagem. A inteligibilidade do que é mostrado implica
o significado do que é posto em cena. O corpo se faz relato, porta o significado junto com
a palavra. P. 76
A cena teatral funciona como um laboratório cultural, onde as emoções
ordinárias revelam sua contingência social e se dão a ver por meio de sinais físicos que o
público reconhece imediatamente com significado (LE BRETON, 2005). O ator dissipa
sua persona em seu personagem. Ele interpreta os sinais que estabelecem a
inteligibilidade de seu papel. P. 76
Ele introduz uma distância entre as emoções (no texto está pasiones...?)
solicitadas pelo seu papel e as suas, trabalha como um artesão sobre seu corpo para
rechaçar sua afetividade pessoal em prol das emoções do seu personagem. P. 76
A transmutação é possível porque as emoções (pasiones???) não são erigidas na
natureza mas são produtos de uma construção social e cultural, e se expressam em um
conjunto de signos que as pessoas têm a possibilidades de empregar, inclusive se não as
sentem. P. 76
O ator elabora uma emoção, se ajusta para entrar na afetividade de seu
personagem: gestos, movimentos, voz. Stanislavski (1966) atribui ao ator a tarefa de se
despojar da sua afetividade pessoal para assumir a do personagem. Esta capacidade de
desprender-se de seus próprios sentimentos e de mudar através do uso adequado dos
signos, fazem seu trabalho e talento. P. 76
O ator parece um “atleta afetivo” (Artaud, 1964:195) que empreende o esforço
de mudar radicalmente a psicologia do seu personagem cena após cena. Não se trata de
reproduzir um texto, mas sim de encarná-lo, de levá-lo a vida diante do público. Seu
profissionalismo é em grande medida a habilidade de mover-se dentro dos códigos de
expressão próprios de seu público. P. 76
A duplicidade é a condição mesma da arte do ator (pode declarar seu amor por
um colega em cena mesmo o odiando). Diderot (1967) conecta a sua maneira a cena
social à cena do teatro por meio da mesma ficção ativa dos signos: a cortesã que não
sente nada, mas se joga em seus braços; um sedutor ante uma mulher que não o atrai,
mas que deseja enganar. Diderot tem razão ao denunciar a artificialidade da
sensibilidade como um princípio da performance. p. 77
O ator é um inventor de emoções que não existem em estado bruto, mas que
modela com seu próprio talento jogando com signos expressivos socialmente
reconhecíveis. O ator nos recorda que a emoção, diferentemente do que os naturalistas
dizem, é convencional e que sua expressão é um conjunto de signos, inclusive quando se
trata da sinceridade ardente. (LE BRETON, 2005). P. 77

A emoção é uma relação – p. 77

Os sentimentos e as emoções não são substâncias transferíveis nem de um


indivíduo nem de um grupo a outro, não são apenas processos fisiológicos. Apesar das
semelhanças biológicas (aparato vocal, estrutura muscular e nervosa), elas não
prenunciam de nenhum maneira os usos (culturais) que esta estrutura possibilita.
De uma sociedade a outra, as pessoas sentem afetivamente os acontecimentos
através dos repertórios culturais (compartilhados e individuais) diferenciados que são
às vezes similares, mas não idênticos.
A emoção é interpretação, expressão, significação, relação, regulação de um
intercâmbio; se modifica de acordo com o público, o contexto, se diferencia em sua
intensidade, e inclusive em suas manifestações, de acordo com a singularidade de cada
pessoa.
A emoção não é uma natureza descritível, mas é contextual e dependente do
ator.
http://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2016/06/9-palavras-para-
sentimentos-que-voce-nem-sabia-que-existem.htm

Das könnte Ihnen auch gefallen