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Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Nome: Simone Ávila


Disciplina: História do Corpo
Profa.: Silvana Goellner

“Uma estética para corpos mutantes” – Edvaldo Souza Couto

O objetivo de Couto neste ensaio é defender a idéia de que a carne (o corpo) é matéria
destinada a contínuas remodelagens, que, no capitalismo avançado do corpo, tornou-se principal
objeto de consumo. Ele atinge seu objetivo ao discutir a condição espetacular do corpo na
sociedade contemporânea, enfatizando que o culto ao corpo vincula-se ao desejo de modificá-lo
a partir das mudanças que as chamadas novas tecnologias promovem na sociedade e nos
sujeitos.
Desta vez, vou dialogar com Lúcia Santaella, uma autora que muito tem contribuído no
debate a respeito da compreensão do corpo, trazendo reflexões muito interessantes e inovadoras
no que se refere à interface ser humano-máquina e discutindo temas como ciberespaço,
cibercultura e cibearte.
Começo o diálogo no ponto em que Couto afirma que “esse corpo ampliado pelas próteses
biotecnológicas intui e desenha a nossa superhumanidade, aquilo que Sibilia (2002) chama de
homem pós-orgânico e Santaella (2003) de pós-humano”.
Segundo Santaella (2003), o pós-humano se tornou voz corrente em muitas publicações e
exposições de arte, ainda que nem sempre com conotações semelhantes. Citando Hayles (1996),
a autora afirma que “o pós-humano representa a construção do corpo como parte de um circuito
integrado de informação e matéria que inclui componentes humanos e não-humanos, tanto chips
de silício quanto tecidos orgânicos, bits de informação e bits de carne e osso.” Para Repperell
(1995, citado por Santaella, 2003), realidade virtual, comunicação global, protética e
nanotecnologia, redes neurais, entre outras, são tecnologias que podem ser chamadas de pós-
humanas.
No capítulo 4 de “Corpo e comunicação” (2004), Santaella apresenta o conceito do termo
biocibernético, similar ao termo “ciborgue”, que nasceu da junção de cyb (ernetic) + org
(organism). No entanto, a inclusão do “bio” no termo cibernético apresenta, segundo a autora,
significados mais abrangentes do que “org” e acredita que “biocibernético” expõe a hibridização
do biológico e do cibernético de modo mais explícito, além de que não está culturalmente tão
sobrecarregado quanto “ciborgue”, com suas conotações triunfalistas ou sombrias do imaginário
televisivo ou fílmico.
O corpo biocibernético seria, assim, “o novo estatuto do corpo humano como fruto da
crescente ramificação em variados sistemas de extensões tecnológicas até o limiar das
perturbadoras previsões de sua simulação na vida artificial e de sua replicação resultante da
decifração do genoma” (Santaella, 2004, p. 98).
Um aspecto absolutamente interessante nos trabalhos de Santaella é a aproximação que
ela faz entre ciência e arte, que por si só não é novidade, mas COMO ela aborda esta
aproximação. Ela afirma que os artistas têm se engajado no mundo da pesquisa científica e
tecnológica muito mais para comentar sobre seus programas e estender seus potenciais do que
simples modismos, de modo que obras pioneiras neste campo podem ser vistas como uma
chave para arte do século XXI.
Ela cita os trabalhos de Christa Sommerer e Laurent Mignonneau, artistas e especialistas
em arte tecnológica, que fizeram a instalação A-Volve (1993-94), com a colaboração do biólogo
Thomas Ray, na qual são simulados os princípios da evolução natural e aleatória (seleção,
cruzamento e mutação), e de Kerel Capek, escritor checo que inventou o termo “robô” em seu
conto chamado “Opilec”, escrito em 1917, no qual um robô aparece como um humanóide
maquínico e artificial, que foi criado em grande número como fonte de trabalho barato (Santaella,
2004).
Sobre os exemplares artísticos mais prototípicos do corpo biocibernético, Santaella
destaca a obra do australiano Stelarc, um dos artistas mais conhecidos que se manifestam em
favor da projeção do corpo biológico para um novo ambiente maquinístico. Ele investe no seu
próprio corpo como se fosse uma matéria plástica, em constante metamorfose. O seu lema the
body is obsolete é levado a consequências extremas em performances como Fractal Flesh Split
Body, realizada no festival de Telepolis, em Novembro de 1995. Sterlac ligou-se a um circuito de
estimulação muscular controlado por um Mac e colocou um modelo tri dimensional do seu corpo
na Internet. Os participantes, em três locais diferentes do planeta, manipulavam o corpo de
Sterlac no seu computador ao tocarem na tela do monitor, ativando os eletrodos que o performer
tinha ajustado nos braços e uma perna
No âmbito brasileiro, Santaella destaca os trabalhos de Lygia Clark (segunda metade do
século XX) e Wagner Garcia. São estas as impressões de Suely Rolnik sobre a obra da artista:
“ desde a obra Caminhando (1963) até o final da sua vida, a investigação de Clark buscou
estratégias para desentorpecer no espectador seu corpo vibrátil, de modo que, liberto da prisão
no visível, ele pudesse inicar-se à experiência do vazio-pleno e aceder ao plano de imanência do
mundo em sua misteriosa germinação” (Rolnik, 2002, p. 182, citada por Santaella, 2003, p. 275).
Wagner Garcia tem uma obra extensa, abrangendo um leque bastante grande de relações
entre arte, ciência e tecnologia. Um dos seus projetos mais interessantes é “Amazing Amazon: o
rio pensante”, cuja “estética evolucionária migrou para a microdimensão molecular, lá onde os
desígnios da vida são gestionados” (Santaella, 2003).
Finalizo esta síntese com a seguinte citação da autora com quem aqui dialoguei: “quanto
às mazelas do pancapitalismo, não obstante elas, de fato, sejam intensas, especialmente nos
países periféricos, a revolução que estamos atravessando, sem excluir, transcende uma visão
puramente econômica, política e geopolítica. Trata-se, muito possivelmente, de uma mutação
antropológica cujas conseqüências estamos ainda longe de poder prever e que exige
perspectivas de visão advindas não só da economia política, mas também da antropologia e
biologia evolutiva” (Santaella, 2003, p. 215).

Referências bibliográficas

SANTAELLA, Lúcia. Culturas e artes do pós-humano: Da cultura das mídias à cibercultura.


São Paulo: Paulus, 2003

________________ Corpo e comunicação: sintoma da cultura. São Paulo: Paulus, 2004

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