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Subsídio para o estudo da obra de Alberto Janes

Centro de Investigação em Artes e Comunicação da Universidade do Algarve

Jorge Manuel Neves Carrega

Resumo sical desta intérprete. Nos seus versos, o


compositor exprimiu com felicidade a sua
Alberto Janes, um dos mais populares
profunda admiração pela Diva do Fado ao
compositores portugueses dos anos 50, 60 e
atribuir o talento de Amália a uma criação
70, nasceu no dia 13 de Março de 1909, na
divina, comparável com os milagres da na-
vila alentejana de Reguengos de Monsaraz.
tureza.
Licenciado pela Faculdade de Far-
“Foi Deus, que deu luz aos olhos
mácia do Porto, regressou à sua terra natal
Perfumou as rosas
em 1934 para se estabelecer como farmacêu-
Deu ouro ao Sol e prata ao luar
tico. Incentivado pelos amigos, o músico e
Ai. . . foi Deus que me pôs no peito
compositor amador decidiu um dia deslocar-
Um rosário de penas que vou desfiando e
se a Lisboa, com o objectivo de oferecer as
choro a cantar
suas composições a Amália Rodrigues. Es-
E pôs as estrelas no céu
távamos no início dos anos 50 e Amália era
Fez o espaço sem fim
já uma artista consagrada, reconhecida inter-
Deu o luto às andorinhas
nacionalmente como a maior intérprete do
Ai. . . e deu-me esta voz a mim”
Fado.
Em 1957, Amália gravou duas
Ao chegar a casa de Amália, Janes
peças musicais da autoria de Alberto Janes,
explicou-lhe que era formado em Farmácia
nomeadamente: “As Rosas do Meu Cam-
mas escrevia canções nos tempos livres, uma
inho”e “ Fadista Louco”. Ambas revelavam
vez que a sua paixão era a música e o seu
uma clara influência da balada de Coim-
sonho era ser artista. Amália ouviu-o aten-
bra, tendo contribuído para consolidar a rep-
tamente e reconheceu-lhe um talento invul-
utação do compositor.
gar, decidindo naquele mesmo instante com-
Ao contrário de “As Rosas do Meu
prar uma das suas músicas, o célebre “Foi
Caminho”, um trabalho que se encontra hoje
Deus”, que viria a ser gravado em Lon-
um pouco esquecido, “Fadista Louco” man-
dres nas históricas sessões de Abbey Road,
teve uma considerável reputação entre o
transformando-se num êxito imediato em
público amante do fado, tendo sido gravado
1953.
por artistas de renome como Francisco José
Escrito propositadamente para
e fazendo parte do reportório ao vivo de in-
Amália Rodrigues, “Foi Deus” rapidamente
térpretes importantes como Mariza.
se tornou indissociável da personalidade mu-
2 Jorge Manuel Neves Carrega

No início da década de 1960, Al- “Vou Dar de Beber à Dor” e “É Ou Não


berto Janes continuava a escrever exclusi- É?”, Janes afirmou-se definitivamente como
vamente para Amália, sem que esta no en- um dos principais compositores amalianos,
tanto gravasse os seus trabalhos, facto que merecendo da Diva do Fado a honra de ver
ajuda a explicar o considerável número de lançado em Abril de 1970 um EP constituído
canções registadas pelo compositor na So- inteiramente por composições da sua auto-
ciedade Portuguesa de Autores que contin- ria, nomeadamente o já citado “È ou Não
uam inéditas. É” e os temas “A Rita Yé, Yé”, “ Vai de
A carreira musical de Alberto Janes Roda Agora” e “Lá na Minha Aldeia”, que
decorria sem grandes surpresas, até que em durante a década de setenta fizeram parte do
1967, Amália voltou a gravar uma obra repertório de Amália nas suas actuações ao
sua. “Um Fado Nasce”, seleccionado para vivo.
o álbum “Fados 67”, mais conhecido por A colaboração entre Amália Ro-
“Maldição”, inaugurou um extraordinário drigues e Alberto Janes continuaria no ano
período criativo na carreira de Janes, resul- seguinte com a gravação de “Oiça Lá Ó Sen-
tando numa feliz colaboração entre o com- hor Vinho”, editado em formato EP e escol-
positor e a maior intérprete da música popu- hido para dar o nome ao álbum de 1971 com
lar portuguesa. o mesmo nome, disco para o qual o compos-
Em 1968, Amália selecciona um novo itor contribuiu ainda com “Ao Poeta Pergun-
trabalho do compositor, desta vez para lançar tei” e os êxitos do ano anterior: “É Ou Não
como single. A canção intitulada “Vou Dar É “, “Vai de Roda Agora” e “Lá Na Minha
de Beber à Dor”, foi escrita como uma hom- Aldeia”.
enagem ao célebre “A Casa da Mariquin- Ao longo dos anos “Oiça Lá Ó Sen-
has” de Alfredo Marceneiro. Tal como havia hor Vinho” conquistou o estatuto de clássico
sucedido em 1952 com o célebre “Foi Deus”, da música popular portuguesa, tendo sido
foram muitos os que aconselharam Amália gravado por Mariza para o seu álbum de es-
a não gravar esta canção, mas o instinto da treia, “Fado em Mim”, produzido por Jorge
intérprete provou estar certo e “Vou Dar Fernando, um dos músicos que acompanhou
de Beber à Dor” tornou-se um dos maiores Amália na fase final da sua carreira.
sucessos da sua longa carreira, motivando a Alberto Janes faleceu no dia 21 de Out-
gravação de versões em espanhol, italiano e ubro de 1971, três meses após o lançamento
francês. do álbum “Oiça Lá Ò Senhor Vinho”, mas a
Em 1970, Amália voltou a conquistar as sua contribuição para o legado discográfico
tabelas de vendas com uma inspirada com- de Amália Rodrigues ainda não tinha termi-
posição de Alberto Janes. Desta vez seria a nado.
canção “É ou Não É?” a fazer as delicias do Em Outubro de 1972, um ano após o
público português com a sua melodia conta- desaparecimento do compositor, Amália ed-
giante e o tipo de letra bem-humorada que itou mais um trabalho de Janes. “À Janela do
caracterizou grande parte das peças musicais Meu Peito”, incluído no EP, “Cheira a Lis-
assinadas pelo compositor alentejano. boa”, é um dos mais belos fados da década
Com o êxito estrondoso dos singles de 1970.

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“Tenho a janela do meu peito Um século após o nascimento de Al-


Aberta para o passado berto Janes, o legado artístico do compositor
Todo feito de fadistas e de fado! e o papel fundamental que desempenhou na
Espreita a alma na janela, carreira de Amália Rodrigues continuam em
Vai o Passado a passar, grande medida por avaliar.
Ao ver-se nela, a alma fica a chorar” Ao que tudo indica, Alberto Janes es-
Nestes versos o compositor abordou de creveu em exclusivo para Amália Rodrigues,
modo particularmente inspirado o tema da motivo pelo qual uma parte significativa
saudade, tão característico do idioma fadista. da sua obra ficou por publicar. No en-
É sabido que, pós ter atingido o estatuto tanto, a qualidade dos temas que escreveu
de vedeta, Amália adoptou como prática coloca Janes numa posição de destaque entre
comum a aquisição de pacotes de letras, os compositores portugueses da sua época,
escritas pelos seus compositores favoritos gozando ainda hoje de uma merecida rep-
para acompanharem as melodias clássicas do utação entre os intérpretes do fado.
fado. Contudo, a cantora seleccionava ape- Coincidindo com afastamento forçado
nas uma pequena parte destes versos para as de Alain Oulman, exilado em França por
suas sessões de gravação. motivos políticos, os anos de 1967 a 1971,
Foi por isso sem surpresa, que vários correspondem a um período extremamente
anos depois da morte de Janes, Amália ofer- fecundo na carreira de Janes, durante o
eceu ao público português a sua derradeira qual o músico alentejano conquistou uma
colaboração com o autor de alguns dos seus posição de destaque entre os compositores
maiores êxitos. O single “Caldeirada”, edi- amalianos.
tado em 31 de Janeiro de 1977, constitui uma Durante este período, o autor assi-
interessante composição, que poderíamos nou diversas canções de sonoridade e inspi-
classificar como o primeiro fado ecologista. ração folclórica que foram ao encontro das
Mas a influência de Alberto Janes preferências de Amália, numa fase em que
na música popular portuguesa continuaria a esta dedicou uma parte importante do seu
fazer-se sentir durante a década de 1980, trabalho à música tradicional portuguesa, ex-
sendo perceptível no trabalho de uma nova plorando com renovado interesse diferentes
geração de compositores que escreveram texturas musicais.
para Amália alguns temas bem-humorados, As melodias compostas por Alberto
claramente reminiscentes do estilo desen- Janes revelam não só um bom domínio do id-
volvido por Janes na fase final da sua ioma fadista, mas também um conhecimento
carreira. É o caso de “O Carapau e a profundo da música tradicional portuguesa.
Sardinha” de António Avelar Pinho e Nuno No entanto, foi como letrista que
Rodrigues, editado em 1980 e “O Senhor o compositor mais se destacou. Para além
Extra-Terrestre” de Carlos Paião, editado em da qualidade dos poemas dramáticos que es-
1982, sem esquecer “Perlimpimpim”, um di- creveu para fados como “Foi Deus”, “Fadista
vertido tema de 1983, composto por Carlos Louco” e “À Janela do Meu Peito”, Janes
Gonçalvez com letra da própria Amália Ro- foi o criador de alguns textos humorísticos
drigues.

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inigualáveis como; “É Ou Não É?”, “Oiça


Lá Ó Sr. Vinho” e “Caldeirada”.
Nos seus versos, para além da ca-
pacidade expressiva com que tratou os temas
clássicos do fado, Janes revelou também um
fino sentido de humor que se mantêm actual
até hoje.
Alberto Janes deixou-nos uma obra
musical que importa redescobrir na sua to-
talidade. O trabalho deste compositor consti-
tui uma parte importante do património mu-
sical português do século XX, e a colabo-
ração que manteve com Amália Rodrigues
garantiu-lhe um lugar de destaque entre os
autores da música popular portuguesa.

1 Bibliografia
AAVV, Amália: Coração Independente, Lis-
boa, Museu Colecção Berardo, 2009.

Nery, Rui Vieira, Amália Nossa - Primeira


Época de Ouro, Lisboa, edição da Tu-
galand com o Jornal Publico, 2009.

Pavão, Vítor dos Santos, Amália -Uma


Biografia, Lisboa, Editorial Presença,
2005.

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