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GRUPO I
PARTE A
Do alvoroço que foi na cidade cuidando que matavom o Meestre, e como aló foi Alvoro
Paaez e muitas gentes com ele.
O Page do Meestre que estava aa porta, como1 lhe disserom que fosse pela vila segundo
já era percebido2, começou d’ ir rijamente a galope em cima do cavalo em que estava,
dizendo altas vozes, braadando pela rua:
– Matom o Meestre! matom o Meestre nos Paaços da Rainha! Acorree ao Meestre que
5 matam!
E assi chegou a casa d’Alvoro Paaez3 que era dali grande espaço.
As gentes que esto ouviam, saiam aa rua veer que cousa era; e começando de falar uũs
com os outros, alvoraçavom-se nas voontades4, e começavom de tomar armas cada uũ como
melhor e mais asinha5 podia. Alvoro Paaez que estava prestes e armado com ũa coifa6 na
10 cabeça segundo usança daquel tempo, cavalgou logo a pressa em cima duũ cavalo que anos
havia que nom cavalgara; e todos seus aliados com ele, braadando a quaes quer que achava
dizendo:
– Acorramos ao Meestre, amigos, acorramos ao Meestre, ca7 filho é del-Rei dom Pedro.
E assi braadavom el e o Page indo pela rua.
15 Soarom as vozes do arroido pela cidade ouvindo todos braadar que matavom o Meestre; e
assi como viuva que rei nom tiinha, e como se lhe este ficara em logo8 de marido, se moverom
todos com mão armada, correndo a pressa pera u9 deziam que se esto fazia, por lhe darem
vida e escusar morte. Alvoro Paaez nom quedava10 d‘ ir pera alá11, braadando a todos:
– Acorramos ao Meestre, amigos, acorramos ao Meestre que matam sem por quê!
20 A gente começou de se juntar a ele, e era tanta que era estranha cousa de veer.
Nom cabiam pelas ruas principaes, e atravessavom logares escusos, desejando cada uũ de
seer o primeiro; e preguntando uũs aos outros quem matava o Meestre, nom minguava12
quem responder que o matava o Conde Joam Fernandez13, per mandado da Rainha.
Fernão Lopes, in Teresa Amado (apresentação crítica), Crónica de D. João I de Fernão Lopes
(textos escolhidos), ed. revista, Lisboa, Editorial Comunicação, 1992.
Notas:
1 2 3
como: quando; segundo já era percebido: combinado; Alvoro Paaez: burguês bastante rico, padrasto de João das
Regras, que fora chanceler-mor dos reis D. Pedro e D. Fernando; tornou-se o chefe da insurreição de 1383;
4 5 6
alvoraçavom-se nas voontades: revoltavam-se; asinha: depressa; coifa: parte da armadura que defendia a
7 8 9 10 11 12
cabeça; ca: porque; em logo: em lugar de; u: onde; nom quedava: não parava; alá: lá; nom minguava: não
13
faltava; Conde João Fernandes Andeiro: nobre galego, amante da rainha e por ela nomeado conde de Ourém.
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TESTE DE AVALIAÇÃO 2 – 10º ANO
1. Mostre que as ações do Pajem e de Álvaro Pais obedecem a um acordo prévio, justificando
com citações textuais pertinentes.
3. Explique a relação de sentido que se estabelece entre o texto e a frase que lhe serve de
título.
PARTE B
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TESTE DE AVALIAÇÃO 2 – 10º ANO
GRUPO II
Leia o texto.
25 de Abril de 1974
Na madrugada do dia 25 de abril de 1974 Lisboa assistiu a um movimento militar inusual.
Homens e veículos avançam, através da noite, pela capital do império e vão ocupando, sem
resistência visível, vários alvos estratégicos, com o objetivo de derrubar o regime vigente.
Os militares golpistas, autodenominados Movimento das Forças Armadas – MFA –, são
5 comandados, secretamente, a partir do Quartel da Pontinha, em Lisboa, por Otelo Saraiva de
Carvalho, um dos principais impulsionadores da ação.
A par das movimentações em Lisboa no 25 de abril de 1974, também no Porto os militares
tomam posições. São ocupados o Quartel-General da Região Militar do Porto, o Aeroporto de
Pedras Rubras e as instalações da RTP.
10 Aos homens da Escola Prática de Cavalaria de Santarém, comandados por Salgueiro Maia,
coube o papel mais importante: a ocupação do Terreiro do Paço e dos ministérios ali
instalados.
Mais tarde, Salgueiro Maia desloca parte das suas tropas para o Quartel do Carmo onde
está o chefe do governo, Marcelo Caetano, que acaba por se render no final do dia com
15 apenas uma exigência: entregar as responsabilidades de governação ao General António
Spínola, oficial que não pertencia ao MFA, para que “o poder não caia nas ruas”. O Presidente
do Conselho, que anos antes tinha sucedido a Salazar no poder, é transportado para a
Madeira e daí enviado para o exílio no Brasil.
Por detrás dos acontecimentos do dia 25 de abril de 1974 estão mais de 40 anos de um
20 regime autoritário, que governava em ditadura e fazia uso de todos os meios ao seu alcance
para reprimir as tentativas de transição para um estado de direito democrático.
A censura, a PIDE e a Legião e a Mocidade Portuguesas são alguns exemplos do que os
cidadãos tinham de enfrentar no seu dia a dia. Por outro lado, a pobreza, a fome e a falta de
oportunidades para um futuro melhor, frutos do isolamento a que o país estava votado há
25 décadas, provocaram um fluxo de emigração que agravava, cada vez mais, as fracas condições
da economia nacional.
Mas a gota de água que terá estado na origem da ação revolucionária dos militares que,
durante tantos anos tinham apoiado e ajudado a manter o regime, foi a Guerra Colonial em
África.
30 Internacionalmente o país era pressionado para acabar com a guerra e permitir a
autodeterminação das populações das colónias. A falta de armas nas forças portuguesas era
proporcional ao aumento de meios dos movimentos independentistas. Os soldados
portugueses morriam às centenas a milhares de quilómetros de casa.
Todos estes fatores contribuíram para um descontentamento crescente entre as forças
35 armadas, sobretudo entre os oficiais de patentes inferiores, o que levou à organização e
concretização de um golpe militar contra o regime do Estado Novo. O 25 de Abril de 1974
ficará, assim, para sempre, na história como o dia em que Portugal deu os seus primeiros
passos em direção à democracia.
In http://www.historiadeportugal.info/25-de-abril-de-1974/ (com adaptações).
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6. O segmento “por Otelo Saraiva de Carvalho” (ll. 5-6) desempenha a função sintática de
(A) sujeito.
(B) complemento oblíquo.
(C) complemento agente da passiva.
(D) complemento indireto.
7. A oração “onde está o chefe do governo, Marcelo Caetano” (ll. 13-14) classifica-se como
(A) subordinada substantiva relativa.
(B) subordinada substantiva completiva.
(C) subordinada adjetiva relativa explicativa.
(D) subordinada adjetiva relativa restritiva.
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TESTE DE AVALIAÇÃO 2 – 10º ANO
9. Explique o significado etimológico da palavra “capital” (l. 2), sabendo que a mesma provém
do étimo latino CAPITA-, que significa ‘cabeça’.
10. Identifique o antecedente retomado pelo pronome relativo em “o que levou à organização
e concretização de um golpe militar contra o regime do Estado Novo” (ll. 35-36).
GRUPO III
COTAÇÕES
GRUPO A B
I 1 2 3 4 5
20 20 20 20 30 110
II 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 50
III Item único 40
Total 200
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TESTE DE AVALIAÇÃO 2 – 10º ANO
Proposta de correção
GRUPO I
PARTE A
1. É visível, logo no início do texto, que as ações do Pajem e de Álvaro Pais são concertadas segundo um plano
prévio, como demonstra a expressão “segundo já era percebido” (ll. 1-2). Essa concertação revela-se no modo
como Álvaro Pais já estava preparado – “Alvoro Paaez que estava prestes e armado com ũa coifa na cabeça” (ll.
9-10) – e pronto para cavalgar um cavalo “que anos havia que nom cavalgara” (ll. 10-11).
2. Perante o anúncio, em altos brados, da morte do Mestre, os populares, inicialmente, começaram a dar conta do
que se passava, com surpresa; depois, foram ficando exaltados com aquela possibilidade de assassinato e
começam a procurar armas; em seguida, juntando-se a Álvaro Pais e ao Pajem, seguem-nos como o intuito de
salvar o Mestre onde quer que ele estivesse em perigo, com a dedicação e a vontade de servir um senhor muito
amado. Reunidos em grande número, cada um queria ser o primeiro a chegar, levados todos pelo alvoroço e
pela devoção.
3. A frase que serve de título a este texto resume a extraordinária adesão do povo ao Mestre. Por um lado,
destaca a vontade de todos quererem proteger o Mestre da morte; por outro, destaca o papel que coube a
Álvaro Pais no levantamento popular. Perceciona-se, assim, a importância de D. João para a resolução da crise
instalada após a morte de D. Fernando.
4. Na narrativa, Fernão Lopes faz uso reiterado de imagens visuais e auditivas: o Pajem do Mestre “estava aa
porta” (l. 1), depois parte “rijamente a galope” (l. 2) e vai “, braadando pela rua” (l. 3). Álvaro Pais surge-nos
“prestes e armado com ũa coifa na cabeça” (ll. 9-10), cavalgando “logo a pressa em cima duũ cavalo” (l. 10). Já o
povo, ouvindo os brados, sai à rua e “começavom de tomar armas cada uũ como melhor e mais asinha podia”
(ll. 8-9). Por toda a cidade “Soarom as vozes do arroido […] ouvindo todos braadar que matavom o Meestre” (l.
15). Recorrendo a estas sensações visuais e auditivas que caracterizam as várias personagens bem como o
ambiente de revolta que gradualmente se instala na cidade, o autor pretende mostrar os obreiros desta revolta
e reforçar a ideia da rapidez e da quantidade de populares que se juntaram à causa.
PARTE B
5. Integram a poesia galaico-portuguesa as cantigas de amigo e de amor.
No que se refere às características específicas de cada uma, distinguem-se de diversas formas; no caso das
cantigas de amigo, que se desenrolam num ambiente rural e familiar, o emissor é um ser feminino – a “amiga”-,
de cariz popular e que está enamorada por um “amigo” que, por vezes, se caracteriza por faltar à verdade e por
estar ausente.
Em contrapartida, nas cantigas de amor, cujo ambiente é a corte, o emissor é um trovador – sofredor e
submisso – que se dirige a uma “senhor”, caracterizada como uma figura aristocrata, divina e praticamente
inatingível.
(105 palavras)
Grupo II
1. (B); 2. (D); 3. (C); 4. (A); 5. (D); 6. (C); 7. (D).
8. Complemento oblíquo.
9. À letra, pode dizer-se que a capital é a cabeça de um país, ou seja, a sua cidade nuclear e mais importante.
10. “um descontentamento crescente entre as forças armadas”.
Grupo III
A 25 de abril de 1974 ocorreu um golpe militar para derrubar o regime vigente em Portugal, protagonizado por
militares do Movimento das Forças Armadas que estavam sob o comando de Saraiva de Carvalho.
E, embora tenham decorrido várias operações no Porto, é em Lisboa que o movimento revolucionário toma
maiores proporções, nomeadamente através da intervenção da tropa de Cavalaria escalabitana, comandada por
Salgueiro Maia, que ocupou o Terreiro do Paço.
Depois, é também sob a alçada deste capitão que o chefe de governo, Marcelo de Caetano, se rende com a
condição de lhe suceder António Spínola.
Os principais fatores que estiveram na origem desta revolução, que abriu caminho para a democracia, foram o
regime ditatorial, a precariedade e a pobreza vividos em Portugal e, sobretudo, o descontentamento provocado
pela guerra colonial em África.
(134 palavras)
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