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REBOUÇAS, A. Agricultura nacional: estudos econômicos.

Propaganda abolicionista
e democrática. 2 ed. Recife: FUNDAJ, Ed. Massangana, 1988.

“Estudo introdutório”, Joselice Jucá

VII: É importante relembrar que os abolicionistas brasileiros, de um modo geral,


formularam duas diferentes estratégias no combate à escravidão negra. A primeira,
através de uma campanha que favorecia a eliminação dos mecanismos legais que
sustentavam a escravidão e a segunda, a idealização de um programa de reforma social
com o objetivo de eliminar os dois outros pilares nos quais repousava a sociedade
brasileira: o latifúndio e a monocultura, de modo a permitir a implantação da
“Democracia Rural Brasileira”, termo criado pelo próprio Rebouças. (...) Ao primeiro
grupo pertenciam propagandistas como José do Patrocínio, Ferreira de Menezes (...). O
segundo grupo formado, entre outros, por Nabuco, Rebouças, Joaquim Serra, Gusmão
Lobo (...)

VIII: Suas ideias sobre a imigração, por exemplo, refletem a sua oposição à escravidão
vista dentro de um contexto muito mais amplo, o qual pressupunha evitar a
“reescravização do imigrante pelos donos da terra” (...). Neste sentido, suas propostas
nunca estiveram restritas apenas à abolição do negro escravo mas, também, envolvia a
defesa sde uma política econômica e social voltada para evitar outras formas
alternativas de escravidão, como aquela – segundo a sua visão – dos próprios
fazendeiros ao utilizarem o imigrante-colono como substituto do trabalho escravo. Em
sua visão, este deveria se tornar proprietário de sua própria terra e não um mero
cultivador da terra alheia. Para que a utopia se tornasse realidade, mister se fazia,
segundo a visão do Rebouças, implementar um programa social e econômico
direcionado para a redistribuição da terra através da eliminação da grande propriedade e
a implementação da pequena, pressupostos basilares para a implementação no país, da
sua “Democracia Rural Brasileira”.

XI: Por alguma razão incompreensível, mas possivelmente por causa do seu estilo
técnico, pesado, Agricultura Nacional nunca recebeu a atenção merecida se o
compararmos com outro importante livro contemporâneo, O Abolicionismo de Joaquim
Nabuco. Um exame dos dois livros mostra que eles são complementares porque ambos
se ocupam do mesmo tema, ou seja, do problema da abolição e da agricultura nacional,
estudados de diferentes óticas. Enquanto o de Nabuco se preocupa fundamentalmente
com a instituição da escravidão e com a abolição do homem negro, o de Rebouças
concentra a atenção sobre a mesma problemática, porém enfocando o contexto social e
econômico do país no qual persistiam a monocultura, o latifúndio e o braço escravo,
propondo através da análise exaustiva (...) dos problemas atinentes à agricultura [XII]
nacional, a implantação da “Democracia Rural Brasileira”.

XIII: Finalmente, quando as suas ideias começaram a emergir nos anos setenta na
imprensa, elas provocaram certo criticismo e até mesmo certa incompreensão quanto à
essência da sua proposta de “nacionalização do solo”. Ele teve necessidade de reafirmar
inúmeras vezes que o princípio no qual se baseava a sua proposta de “nacionalização do
solo”, não era o comunismo e sim a aplicação do imposto territorial de modo a tornar
possível a implementação de uma “democratização rural”, no Brasil. Neste particular
aspecto, ele foi explícito ao responder a uma indagação de Nabuco sobre o teor de sua
“democracia rural”: “Verás nos inúmeros artigos de jornal que não há comunismo na
minha nacionalização do solo. É pura e simplesmente democracia rural pela subdivisão
do solo acelerada pelo Imposto Territorial progressivo na razão de 1 para 2”.

XVI: É no entanto, em Agricultura Nacional, que está condensada de maneira quase


didática, os principais aspectos de sua proposta reformista. Da rápida análise de sua
forma e conteúdo acima referidos, é fácil conhecer os fundamentos teóricos nos quais
Rebouças se baseou para desenvolver o seu argumento em defesa de uma “Democracia
Rural Brasileira”: o princípio da liberdade individual e da divisão do trabalho. Derivado
do primeiro, surgiu o conceito de “livre empresa” e do “espírito de associação”,
pressupostos, segundo Rebouças, para a existência do “progresso” que ele
conceitualizava como “a transformação da atual lavoura escravagista, esterelizadora e
rotineira, em indústria agrícola livre, fertilizadora e progressita. Por outro lado, ao
analisar o conceito de “liberdade individual” vis-a-vis com o seu esquema de
“centralização agrícola”, Rebouças foi muito explícito ao expressar sua preocupação
básica que era a propósito do papel desempenhado pelo Estado na agricultura nacional.
De acordo com a sua visão, ele rejeitou qualquer tipo de interferência governamental, de
modo a evitar o que ele considerava “ideias protecionistas, regulamentistas, restritivas
ou retrógradas como ocorre com a centralização administrativa”. A intervenção do
Estado competindo com a iniciativa privada e com o espírito de livre iniciativa da vida
prática. Ele criticou amargamente a intervenção do Estado, acusando o govenro de
“governismo”, favoritismo, regulamentarismo e de todos os males que acompanham
indefectivelmente a ação governamental.

Em complementação ao princípio da liberdade individual, Rebouças também


defendia, como vimos, a “divisão do trabalho” revelando, à maneira de outros de sua
geração, forte influência de Adam Smith. A concentração do trabalho em mãos de
poucos, deveria ser evitada de acordo com o seu sistema de centralização: “em uma
indústria qualquer, encarrega-se cada agente de produção a executar o menor número de
operações que é possível”. Este postulado era uma das fundamentações na qual
Rebouças construiu sua teoria da “Democracia Rural Brasileira”.

“Agricultura Nacional Estudos Econômicos – Introdução”

3: Nos Estados Unidos, na República-modelo, há um tipo de centralização agrícola,


digno de especial estudo. É assim descrito em um dos seus admiráveis periódicos,
dedicados à Indústria Agrícola: “Em grande número dos Estados da confederação
americana, os agricultura se constituíram em associações ou companhias, com o nome
de grangearias. A primeira [4] destas associações foi fundada nos Estados Unidos em
1867, os quais hoje contam 20000 com 1.311.226 associados. (...) Os seus fins são
variadíssimos, e transcendem desde a comunidade dos mais simples trabalhos até aos
cometimentos mais grandiosos. Assim é que muitas delas tem estabelecido bancos de
crédito agrícloa, fábricas suas para constuir máquinas e instrumentos rurais, armazens
para os ter em depósitos, estabelecimentos para industrializar em grande os produtos
rurais, exportar e equipar navios à sua custa. É o trabalho agrícola arcando com os
pequenos capitais associados, não contra os grandes capitais, mas contra a mesquinha e
dura condição dos pequenos proprietários rurais. Diz-se que isto é uma nação na nação
(...) É bem evidente que o sistema dos engenhos centrais e das fazendas centrais se pode
aplciar a todos os grandes produtos da agricultura nacional: ao algodão, ao fumo, ao
cacau, ou a qualquer outro. Para o algodão, por exemplo, o engenho central se limitaria
a receber o algodão em caroço dos lavradores circunvizinhos, os faria, com as melhores
máquinas e pelos mais aperfeiçoados processo, todas as operações, desde descaroças,
até prensar e enfardar, para envia-los aos mercados exportadores nas melhores
condições de venda.

Para o fumo a fazenda central receberia a folha ainda verde dos lavradores
circunvizinhos, e faria, com as malhores máquinas e pelos melhores processos
conhecidos, todas as operações de preparação do fumo para os diferentes usos, a que
fosse destinado, de modo a obter sempre o máximo preço nos mercados consumidores
ou de exportação. Nesta especialidade, aliás tão simples, ainda está tudo por fazer no
Brasil.

Para o cacau a fazenda receberia os frutos dos agricultures circunvizinhos e daria


às sementes o melhore preparo e o melhor condicionamento para ser exportado para os
mercados da Europa e dos Estados Unidos.

(...) No intuito de obter maior simplicidade e rapidez na exposiçaõ


denominaremos neste escrito – “princípio de centralização agrícola” ou “princípio de
centralização aplicado às indústrias agrícola, pastoril e extrativa” – o princípio em
virtude do qual toda a indústria agrícola ou extrativa é dividida em duas partes:

- A primeira, reunindo todas as operações em contato imediato com o solo ou


com a terra;

- A segunda, concentrando, em estabelecimeentos especiais dotados com as


melhores condições técnicas e econômicas todas as operações necessárias para preparar
os produtos, objetidos na primeira operação, para a exportação ou para o consumo
imediato.

Sob este ponto de vista, mais vasto e mais compreensivo, o princíipo daa
centralização agrícola pode ser aplicado a todos os artigos de exportação do Brasil.
Assim a indústria pastoril terá também fazendas centrais, que comprarão o gado em pé
aos criadores, e farão sobre ele todas as operações necessárias para obter a carne, o
couro e todos os produtos conexos, nas melhores condições de venda no interior ou nos
mercados estrangeiros.
[6] Com o desenvolvimento progressivo da nação brasileira, o princípio da
centralização agrícola se transformará em princípio de centralização industrial: isto é,
de cada engenho central, de cada fazenda central, nascerá uma fábrica central. (...) A
fábrica central brasileira enviará para a Europa e para os Estados Unidos o produto
agrícola pronto para ser imediatamente consumido. (...)

[assim o café será exportado em pó ou extrato, o açúcar será enviado sempre


refinado, o algodão fiado e tecido, o fumo será remetido em charutos, cigarros e rapé, o
cacau em chocolate ou em pó]

408-409: Disse Montesquieu: “Les pays ne sont pas cultivés en raison de leur fertilité,
mais en raison de leur liberté ». (…)

Se fossem necessárias provas para demonstrar esse grande pensamento do


sublime publicista; se todos os países do mundo não confirmassem o axioma de que a
sua cultura não é a proporcional à sua fertilidade, mas sim à soma das instituições
livres, de que realmente gozam; bastaria para convencer aos mais emprerrados o
exemplo da Inglaterra e dos Estados Unidos, os países mais livres e os de melhor
agricultura de todo o mundo!

[409] São portanto, reformas sociais, econômicas e financeiras, ditadas pelo


mais puro espírito de Liberdade e de Progresso, os únicos agentes capazes de fundar
sobre sólidas bases a prosperidade da Agricultura Nacional.

Esta é a nossa última palavra, essa é a conclusão destes imperfeitos estudos


sobre o máximo problema da atualidade.

André Rebouças

Rio, 30 de Julho de 1873(5)

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