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DRAMATURGIA LATINOAMERICANA E POLÍTICA:

PERSPECTIVAS CONTEMPORÂNEAS

Barbosa Farias, Yago; Da Silva Camuça, Nádia; Profa. Dra. Francimara Nogueira Teixeira
Yago Barbosa Farias; Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará,
killuabarbosa@gmail.com
Nádia da Silva Camuça; Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará,
nadia.silva.camuca@gmail.com
Profa. Dra. Francimara Nogueira Teixeira; Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Ceará,
franteixeira00@gmail.com

RESUMO
O seguinte artigo visa abordar as diferentes noções do político no teatro e como isso vem a reverberar
na dramaturgia latina contemporânea. A metodologia deste trabalho se deu por meio de um
levantamento bibliográfico das ideias de Hans Thies Lehmann, Walter Benjamin e Hannah Arendt.
Colocando-se a dramaturgia como importante agente mediador entre a sociedade e as distintas
questões que a permeiam, o político e suas manifestações na dramaturgia serão o eixo central da
pesquisa. Para auxiliar a compreensão dos distintos conceitos de forma prática, será realizada uma
breve análise da obra Abnegação I de Alexandre Dal Farra onde o político é explorado de acordo com
as teorias expostas.

Palavras-Chave: Dramaturgia. Político. Dialética. Interrupção. Transformação.

INTRODUÇÃO

O seguinte texto nasce da necessidade de levantamento e reconhecimento dos diversos tratamentos


do político e de suas diferentes formas de abordagem dramatúrgica. Partindo da afirmação de Hegel
(p.302 apud SZONDI, 2001. p.24) sobre a não dissociação entre forma e conteúdo, uma se moldando
a outra, torna-se óbvio o fato de que uma determinada concepção política inserida como conteúdo em
uma obra reverbera na forma por meio da qual esta virá a ser apresentada ao público.
A dialética resultante da união entre conteúdo e forma dota de historicidade a produção
dramatúrgica, uma vez que distintas questões permeiam as diferentes épocas. As diferentes questões
sociopolíticas tornam-se fundamentais, ganhando força na formulação da construção dramatúrgica
(SZONDI, 2001). Para Szondi (2001) o drama torna-se então enunciado da existência humana; sua
essência não é mais sistemática e sim histórico-filosófica. Por esse motivo tanto as transformações
ocorridas na sociedade como as diferentes concepções de política resultantes dessas mudanças são de
extrema importância para a formulação de uma dramaturgia contemporânea.
Por meio da utilização de exemplos da dramaturgia latino-americana, a pesquisa se propõe a reunir
definições que cruzem teatro e política a partir de conceitos de Hans Thies Lehmann, Hannah Arendt e
Walter Benjamin com o objetivo de procurar formas de abordagem do político na dramaturgia
contemporânea.

MATERIAL E MÉTODOS

Trata-se de uma pesquisa de levantamento bibliográfico e análise de conceitos, realizada no


Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC). No grupo de pesquisa Drama,
Dramaturgia, Cena: Questões Contemporâneas (CNPq/IFCE) foram debatidas questões relacionadas
às diferentes abordagens poéticas do político em cena sob a orientação da Profa. Dra Francimara
Teixeira. Utilizou-se Aristóteles como ponto de partida e importante eixo norteador da compreensão
de dramaturgia; seguido da leitura de diversos outros autores As principais referências bibliográficas
são: A Poética, de Aristóteles; Escritura Política no texto teatral, de Lehmann; A Condição Humana,
de Arendt; O autor como produtor, de Benjamin. A partir dessa exposição, realiza-se uma comparação
entre a Trilogia Abnegação, escrita em 2014, pelo dramaturgo Alexandre Dal Farra, com as ideias
discutidas no grupo de estudos sobre as diversas noções de político no teatro e como isso também se
dá na sociedade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Hannah Arendt em seu livro A Condição Humana (2007) apresenta três atividades fundamentais
para a condição humana: labor, trabalho e ação. Para a autora o labor corresponde ao processo
biológico sem o qual não haveria vida. O trabalho, por outro lado, corresponderia ao artificialismo
humano que viria a emprestar “certa permanência e durabilidade à futilidade da vida mortal”
(ARENDT, 2007, p.16). Correspondendo à ação a condição humana de pluralidade, sendo a condição
fundadora da própria vida política (ARENDT, 2007, p.15). A autora destaca a importância da
compreensão da ação como atividade fundadora da dimensão política do humano pelo fato de existir
individualidades e diferenças entre os diferentes membros da mesma espécie. Todos são sujeitos
únicos mesmo pertencendo a um mesmo grupo. E tanto o agir como o não-agir de um desses membros
reverbera no resto do coletivo (ARENDT, 2007, p.16). O fazer político encontra-se inerente às
complexas relações humanas do dia a dia e não necessariamente nas instituições.
Sendo a ação unidade fundamental do drama (ARISTÓTELES, 2008, p.41 ) mostra-se clara a
natureza política do fazer teatral. Além disso Lehmann (2009, p.14) destaca o fato da forma da
tragédia ter surgido em paralelo ao desenvolvimento do pensamento sobre o Direito em Atenas
durante o século V. Porém, o mesmo autor acredita no fato da arte em si não ser antes de tudo política,
mas sim outra coisa (LEHMANN, 2009).
Em seu livro Escritura Política no Texto Teatral, Lehmann (2009) define o teatro de três formas:
comportamento, situação e instituição de arte. Compreende-se o teatro como comportamento tendo em
conta a ação de assistir e representar como atos próprios do ser humano; como situação, entende-se o
teatro como uma forma de reunião, uma circunstância. E somente depois destas duas definições que o
teatro vem a se constituir como arte, sendo consequentemente transformado em instituição. Já que
Lehmann apresenta o teatro como comportamento, situação e todo agir para Hannah Arendt se faz na
esfera política, assim é possível aqui que se exponha noções do político no teatro. É a partir dessas
descrições que Lehmann aponta que o teatro não deve somente ser analisado esteticamente e
politicamente tendo como base o que se representa teatralmente, mas como o fenômeno teatral em si
se relaciona com a situação na qual representa. Porém se se deseja indagar mais profundamente sobre
como um objeto se relaciona com uma determinada situação, é preciso definir o objeto. A partir destas
constatações, surgem então as primeiras questões: O que é o político? O que seria esse teatro político?
O teórico explica que por mais que se fale de política no teatro, isto não significa necessariamente
que o teatro seja político, pois o teatro político para Lehmann deveria ir além da apreensão de temas
discutidos publicamente. O autor questiona como o teatro político é definido no mundo
contemporâneo, como sendo “somente” um discurso já reproduzido por outros mecanismos. Para ele,
representar em cena temas políticos já debatidos em outras mídias, seria repetitivo. Também indaga
sobre o papel do teatro como auxiliar à formação política das comunidades na qual está inserido,
deixando clara a sua posição sobre o assunto: “O teatro não pode ser um instituto de auxílio para a
formação política.” (LEHMANN, p.3).
O autor aponta também para os perigos de levar a política – ou a “ausência desta” - ao palco a
procura de aceitação. Para ele, o teatro político também não se define como político exatamente só por
defender um determinado posicionamento, da mesma forma também não se torna necessariamente
político ao colocar figuras oprimidas em cena. Lehmann afirma ser preciso compreender que há outros
caminhos para se alcançar o político na arte, no entanto, não esclarece muito sobre o que então seria o
político na arte. Este realiza uma constatação dupla: o político só pode aparecer indiretamente e de
forma não-traduzível. É a partir dessas afirmações que tem-se a noção que Lehmann traz a
interrupção como uma alternativa viável à não-reprodução do político. É por meio da interrupção que
o político viria a se manifestar no teatro.
Conclui-se com Lehmann que se o político é um campo de regras é apenas por meio da interrupção
e da consequente exceção que o político seria exposto. Para o autor, em um campo de regras é apenas
pela infração destas que a existência delas é exposta por não serem respeitadas. Um claro exemplo
disso viria a ser a relação milagre-natureza (LEHMANN, p. 8). Para compreender melhor a
interrupção o autor faz entrar em jogo as forças políticas compreendidas não como entidades ou
pessoas, mas como estruturas de poder: “Elas não oferecem conteúdo para uma representação que seja
política, não oferecem forma” (LEHMANN, p.9). Lehmann, propõe então uma fórmula para apreender
essas forças e executar um teatro político: a interrupção do político e sua consequente prática da
exceção, seguida da dissolução dos simulacros dramatizados. Este último passo entendido como
resultado da concepção de um espectador consciente da pessoalidade de sua moral. O autor afirma que
não há um inimigo certo ou errado, mas a um questionamento dos próprios valores; o que Lehmann
vem a chamar de vacilos morais. Porém, muitas perguntas decorrem desses apontamentos, visto que
algumas ideias que não aparecem no texto totalmente fechadas ou claras, nos remetem a suposições
interpretativas.
Lehmann prossegue explicando que ao pôr em xeque a moral do espectador, isto não só leva o
político à cena mas, ao levar o espectador a se questionar, rompe com o presente ao compartilhar com
o espectador a responsabilidade daquele momento; daquela situação teatral. Além do mais, com isso
não compromete a arte com a necessidade de formar regras ou educar. O que parece incomodar o autor
talvez seja uma formulação única e clara que se criou para fazer teatro político, dessa forma ele
investiga outras possibilidades de ser político no teatro, focando seu trabalho na produção cênica dos
anos 90 do século XX. Assim, cabe destacar que Lehmann chama atenção também para a necessidade
de reformulação da estrutura dramática, a favor de uma estrutura mais dialética com a sociedade na
qual está inserida.
Como exemplo dramatúrgico do que é exposto por Lehmann esta pesquisa recorre a uma breve
análise da primeira peça da Trilogia Abnegação, escrita pelo dramaturgo paulistano Alexandre Dal
Farra em 2014. Além de dramaturgo, diretor e escritor Alexandre Dal Farra é doutorando pelo
Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de
São Paulo.
Abnegação I nos mostra quatro personagens (Celso, Jonas, José e Paulo) reunidos debatendo sobre
um acontecimento catalogado por eles como “acidente”. Em nenhum momento da peça é explicado
exatamente o quê ocorreu de fato nesse “acidente” e de que forma este viria a repercutir na vida dos
personagens. Apenas percebe-se uma constante fricção entre distintas forças de poder sem que a causa
seja detalhada.
Dada a postura adotada por alguns personagens, como por exemplo Jonas que se encontra sobre o
efeito de drogas, assim como pelos assuntos abordados com naturalidade ao longo da conversa (um
deles envolvendo a tortura e morte de uma jovem), instala-se uma aura de corrupção imediata em
cena. Permeando os diferentes sujeitos, a corrupção parece mostrar-se unicamente no campo dos
valores. Dessa forma as figuras retratadas parecem moldar-se sobre formas próprias de criminosos;
mafiosos. Há inclusive uma menção a um partido político no começo da peça denotando um possível
envolvimento de forças políticas no “acidente”. Porém, não é provado até a realização de um suborno
por parte de José a Celso (para que este deixe de buscar os culpados do “acidente”) que as forças
políticas se mostram como responsáveis conscientes em cena.
CELSO (Mudando de ideia e estendendo o cheque ao outro.)-Eu prefiro ganhar o
que foi acordado.
JOSÉ - Não será possível.
CELSO -Por que?
JOSÉ (retira a carteira do bolso, pega o talão de cheques e rasga em pedacinhos) -
Não tenho mais cheques.
CELSO - ...você pode fazer uma transferência...
JOSÉ - O partido não faz transferência. ( DAL FARRA, 2014, Cena 1, p.34).

A interrupção do espaço aparentemente criminoso por forças políticas vem a expor a corrupção de
valores de seus personagens não como um fenômeno individual, mas coletivo; político. As ações e
consequente tomada de decisões dos diferentes personagens já não dizem respeito somente a eles, mas
a toda uma comunidade. Da mesma maneira gera-se uma dissolução, seguida por uma reformulação
das perspectivas sobre as quais os acontecimentos anteriormente contados pelos personagens são
vistos. Já não são somente homens supostamente criminosos: são políticos. Dessa forma, observa-se
algumas das discussões de Lehmann: a abordagem indireta do político, a interrupção e a reformulação
de perspectivas anteriormente expostas.
Para ter-se outra abordagem do político na arte faz-se necessário trazer algumas ideias de Walter
Benjamin (1987), que no seu ensaio de 1934 O autor como produtor, chama atenção para a
necessidade de reestruturação da forma dramática, entre outros pontos. Para Benjamin, é preciso que o
autor seja consciente de sua situação como produtor e enxergue como sua obra literária dialoga com a
sociedade na qual está inserida, inclusive, como a obra se vincula às relações de produção vigentes.
O pensador alemão estava mais interessado em pensar não exatamente o que é o político na arte,
mas como as obras se relacionam com a produção de seu tempo. Neste sentido, Iná Camargo Costa, na
sua participação em curso para militantes do Movimento Sem Terra na Escola Florestan Fernandes ao
analisar o ensaio de Walter Benjamin, elucida que o teórico desejava:

Inserir a obra literária no contexto das relações sociais vivas, que são determinadas
pelas relações de produção.[...] Uma obra pode estar de acordo com elas, submeter-
se criticando, submeter-se endossando e até mesmo fazendo apologia: nestas
hipóteses ela é regressiva. Mas ela pode pretender revolucionar as relações de
produção.(COSTA, 2008)

Assim, Benjamin defende o posicionamento do artista como determinante para a tendência (força a
favor da qual a obra se coloca). Pois desse posicionamento depende completamente a percepção das
obras produzidas (BENJAMIN, 1987). Segundo ele de nada serve retratar a pobreza para logo torná-la
produto. Os autores devem posicionar-se frente às próprias obras destacando suas potencialidades não
só contemplativas, neste sentido o autor também se posiciona como autor, não somente de suas obras.
Pois, a exposição contemplativa destas, sem posicionamento aparente e sem reflexão, somente nutre o
aparelho do capital.
O teatro épico de Brecht é citado por Benjamin como exemplo de instrumento de modificação do
aparelho. Pois para Benjamin a reformulação teatral proposta por Brecht não só atravessa o conteúdo
que ele se dispõe a apresentar ao público, mas a forma como o faz. A refuncionalização entra em cena
com o teatro épico não só como meio de oposição discursiva mas como reestruturação do próprio
aparelho teatral. (BENJAMIN, 1987) É esse tipo de reestruturação que tanto Benjamin como Lehmann
demandam.

CONCLUSÃO

A presente pesquisa procurou estabelecer um mosaico de discussões acerca do teatro político, ou do


elemento político no teatro, com base em textos debatidos no grupo de estudos Drama, Dramaturgia,
Cena: Questões Contemporâneas, vinculado ao programa PIBIC, afim de provocar uma reflexão em
construção sobre arte e política.
Hannah Arendt traz a ideia de que a ação é inerente à condição do homem em sociedade, e se
enquadra na esfera pública da vida. A autora busca na origem da civilização greco romana a noção de
que a esfera pública de cada cidadão é o político, e neste sentido a ação humana é portanto política.
Além disso, dentre as três condições humanas que Arendt descreve, a ação é a única que depende da
relação com outros. Desse modo, cabe pensar a política como algo que está ligada diretamente às
ações da vida cotidiana.
Assim, a pesquisa se deteve nas ideias de Hans-Thies Lehmann e Walter Benjamin, contrapondo-os
e articulando-os. Talvez, a relação mais próxima entre ambos, mesmo com abordagens diferenciadas,
seja a necessidade que os dois apontam ao pensar em teatro político de ir além de temas políticos no
teatro ou da representação de situações políticas. Para Benjamin, o caminho para isso é claro: o teatro
épico, que também se utiliza do termo interrupção, porém, a interrupção da ação no teatro épico de
Brecht é um recurso para impedir uma ilusão do público.
Já Lehmann atenta em seu texto para que se possa refletir sobre o político no teatro não somente
pelo seu conteúdo ou por meio de formas já pré-estabelecidas do fazer teatral, e sim chamando a
atenção para uma reformulação dramática, buscando construir o conceito de interrupção do político,
na forma de abalo do que é habitual (Lehmann, 2007, p.9). Diante dos conceitos expostos,
exemplificou-se a relação destas ideias por meio da breve análise de uma obra dramática
contemporânea, a fim de traçar relações práticas sobre do tema deste artigo.

REFERÊNCIAS

ARENDT, Hannah. A condição humana. 10 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007
ARISTÓTELES, Horacio Longino. A poética. 3 ed. Lisboa: Edição da Fundação Calouste
Gulbenkian, 2008
BENJAMIN, Walter. O autor como produtor. In. Magia e técnica, arte e política. 3 ed. São Paulo:
Editora Brasiliense, 1987
COSTA, Iná Camargo. Palestra sobre o ensaio “O autor como produtor”. In: SOARES, M. ;
CEVASCO, M. E. Crítica Cultural Materialista. São Paulo: Humanitas, 2008.
DAL FARRA, Alexandre. Trilogia Abnegação. São Paulo: Mimeo, 2014
LEHMANN, Hans Thies. Interrupção. In. Escritura política no texto teatral. 1 ed. São Paulo:
Perspectiva, 2009
SZONDI, Peter. Teoria do drama moderno (1880-1950). São Paulo: Cosac & Naify Edições, 2001

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