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As Entradas com Créditos no Aumento de Capital Social, ao Abrigo do Regime da

Compensação

Enquadramento

Este problema coloca-se no âmbito de dois conceitos cujo o significa importa antes de
mais aprofundar: O conceito capital social e de aumento de capital.

O conceito de capital social

O capital social consiste na cifra numérica de valor constante em dinheiro expressa em


euros correspondente ao património de constituição da empresa, isto é a soma de
todas as participações dos sócios, ou seja, os meios financeiros que constituem o
património inicial da empresa e que resultam da soma de todas as participações dos
sócios correspondem ao capital social.

 O capital social tem uma função fundacional porque tem de constar


obrigatoriamente do contrato de sociedade (salvo nas sociedade em nome
colectiva) e uma importância funcional determinando internamente a posição
dos sócios, em razão do montante das suas participações e representando
externamente a garantia dos credores (sociais).
 O capital social é o ponto de referência da situação económica da sociedade:
funciona como uma medida em relação à qual se determina se no decurso do
funcionamento da sociedade resultou um aumento ou uma diminuição do
património social.
o O capital social distingue-se do património social: o PS que está em
permanente mutação é o conjunto de direitos e vinculações da
sociedade suscetíveis de avaliação pecuniária: conjunto de elementos e
valores (incluindo créditos e dividas) utilizadas pelas entidades no
exercício da sua atividade ou sujeotos a uma gestão unitária e afetos a
determinado fim

Afirma-se que o capital social constituiu garantia dos credores:


 quando a sociedade se constitui os respetivos sócios contribuem com bens
(dinheiro ou espécie), à custa dos quais ela irá desenvolver a sua atividade e
por essa mesma razão irá num momento fundacional gastar uma parte desses
bens na sua inserção do mercando e entrada em funcionamento o que significa
que num momento inicial se vier a ter dificuldade os terceiros não encontram
no seu ativo um montante correspondente ou sequer aproximado ao do capital
social. Neste aceção o capital não garante nada aos credores, podendo
inclusivamente tê-los iludido.
 O capital social constitui garantia para os credores no sentido em que uma vez
que os sócios da sociedade só podem obter bens da sociedade por distribuição
de lucros, os credores satisfazem-se em saber que os sócios não podem retirar
licitamente bens da sociedade enquanto o ativo desta não superar a soma de
do capital social e das reservas legais (indisponíveis) e nessa medida, o
montante do CSocial garante-lhe que não pode haver distribuição de bens que
ponha em causa esse valor.

O capital é uma medida quantitativa do risco que os sócios puderam ou quiseram


tomar. O compromisso dos sócios mantém-se até que haja uma alteração do contrato
– aumento ou diminuição do capital (requer que seja publicitado)- os sócios não
podem desarriscar afetando os valores postos inicialmente obscuramente – 3ºs
necessitam de saber que houve um aumento ou diminuição do risco.

Aumento de capital

 O aumento de capital é a operação que as sociedades comerciais realizam


quando já não dispõe de capitais próprios suficientes para prosseguir a sua
atividade, em termos adequados ou se encontram em situação económica dificil
para o o fazer com os capitais que dispõe e ainda quando detendo os meios
suficiente para realizar a sua atividade, a sociedade se propõe a integrá-los no
seu capital para lhe conferir estabilidade. Pode suceder também que esteja em
causa simplesmente o aumento da dimensão da sociedade.
o Trata-se assim de uma operação normal de uma sociedade comercial que
permite dotá-la de novos meios ou de uma capacidade económica
acrescida, redimensionando-a de modo estável.

 O aumento de capital implica formalmente a substituição da cifra do capital por


um número de montante superior e substancialmente uma maior
responsabilidade da sociedade perante terceiros e o acréscimo dos bens que
dispõe para prosseguir a sua atividade , reforçando a sua solidez e conferindo
estabilidade aos bens que permite reunir e acrescentar aos capitais próprios da
sociedade.
Este aumento implica uma alteração ao contrato de sociedade (85º a 93º e 94º a 96º
CSC). Estes preceitos são tendencialmente aplicáveis às sociedades anónimas, cabendo
apenas verificar se eles não são afastados por normas especialmente dirigidas a esse
tipo societário:

 O aumento de capital, pela sua relevância na vida societária, implica a alteração


dos estatutos (também designados por pacto social ou contrato de sociedade),
que mais não são do que o conjunto de normas constitutivas e reguladoras das
relações entre sócios, e entre estes e a sociedade. Tal modificação obedece a
um regime específico, consagrado nos artigos 85.º e seguintes da parte geral
do C.S.C.
 O aumento de capital social pode traduzir-se num acréscimo de meios para a
sociedade (aumento por novas entradas) ou na incorporação no capital de
disponibilidade já existente na sociedade (aumento por incorporação de
reservas).
o Ao aumentar o capital social com novas entradas, estar-se-á a integrar
novos elementos no activo contabilístico do balanço, isto é, os sócios
entrarão com dinheiro ou bens e direitos penhoráveis para o
património da sociedade, o que corresponderá à emissão de novas
acções ou ao aumento do valor nominal das já existentes. Por esta
razão a doutrina classifica tais entradas como onerosas ou efectivas,
pois afectam o ratio entre activo e passivo da empresa. Existe uma
alteração patrimonial na sociedade.
o Por outro lado, o aumento por incorporação de reservas (artigo 91.ºdo
C.S.C.) apenas consiste no “transporte” de valores contabilísticos
presentes nas reservas – legais ou estatutárias -, para a conta 51 do
balanço: Capital Social. Não existe qualquer alteração patrimonial na
sociedade, os sócios não realizaram nenhuma prestação adicional, logo,
poderá denominar-se esta operação como gratuita, ou nominal.
Saliente-se que se forem utilizadas reservas legais para aumentar o
capital, há a obrigatoriedade de as reconstituir.

Deste modo concluímos que o aumento de capital, é um mecanismo que interessa


tanto a sócios como a credores:
 aos primeiros, pois reforça a possibilidade de realização do fim social, tendo
por base o interesse da sociedade;
 aos segundos, no que respeita à certeza e conservação dos seus direitos de
crédito.

As novas entradas de aumento de capital podem deste modo – tal como as obrigações
originárias e fundacionais – ser realizadas em dinheiro ou em espécie, ficando estas
últimas sujeitas às mesmas regras de avaliação e integração previstas para a
constituição da sociedade (art. 89.º, n.º 1, do CSC):

A capitalização de divida
Relativamente à natureza desta figura: a entrada com créditos sobre a sociedade é
qualificada, no ordenamento jurídico português, como uma entrada em espécie ou em
dinheiro?
Relativamente, às entradas com créditos sobre terceiros são já, de modo geral, aceites
nos vários ordenamentos jurídicos como uma entrada em espécie.
Já quanto às entradas com créditos sobre a própria sociedade, parece-nos que deveriam
qualificar-se como uma entrada em espécie, uma vez que a qualificação como entrada
em dinheiro nos parece mais duvidosa:

 esta qualificação não é assim tão clara uma vez que existirão elementos capazes
de sustentar ambas as qualificações. Para alguns, não se trataria aqui de um
aumento de capital efetivo, uma vez que a sociedade, na sua contabilidade, já
registava estes créditos no seu passivo como estando atribuídos ao pagamento
de dívidas para com os respetivos credores. Assim, tais créditos simplesmente
passariam de elemento passivo, para elemento ativo, no balanço contabilístico
da sociedade.
 No entanto, não nos parece ser de acolher este entendimento, porque, por um
lado, existe de facto um aumento de capital, uma vez que os sócios cumprem a
sua obrigação e realizam a sua entrada efetiva (que entra para o ativo da
sociedade), e por outro, tal entrada não está atribuída ao fim específico de
pagamento de dividas.

 Assim, a entrada com créditos sobre a sociedade qualifica-se, a nosso ver, como
uma entrada em espécie, no sentido em que ambos os campos, do ativo e do
passivo da sociedade, sofrem um aumento efetivo, e não uma mera
transferência de valores de um para o outro6,o que se qualifica como um efetivo
aumento de capital da sociedade.

 Deste modo, nos termos do n.o 1 do artigo 89.o aplicam-se “(...) às entradas nos
aumentos de capital o preceituado quanto a entradas da mesma natureza na
constituição da sociedade, salvo o disposto nos números seguintes”, remetendo-
nos para o regime da obrigação de entrada para constituição de sociedade,
previsto no artigo 20.o do CSC.

As entradas em espécie podem ser constituídas por bens ou direitos. Assim, em troca
da aquisição de partes sociais o sócio obriga-se a realizar uma prestação à sociedade,
que consiste, neste caso, na entrega à sociedade de coisas ou direitos susceptíveis de
penhora. Refira-se que em ambas situações é imperativa a verificação e avaliação das
entradas por parte de um R.O.C. independente.

 A capitalização da dívida assenta no pressuposto das entradas em espécie nos


aumentos de capital. Estas entradas correspondem à transferência de valores
do passivo para a conta capital próprio, o que transforma os credores da
sociedade em sócios da mesma (se já não o forem), passando o montante das
suas participações sociais a equivaler ao crédito que detinham previamente. .
 Ao capitalizar a dívida pretende-se sanear financeiramente a sociedade, e
consequentemente, corrigir eventuais desequilíbrios patrimoniais que
ocorreram no ciclo económico desta. Deste modo, haverão activos destinados
a cobertura de dívidas que serão desafectados. A sociedade fica com mais
meios para financiar a sua actividade. O objectivo será a sua revitalização
financeira.

O aumento efetuado com o crédito sobre a sociedade corresponde a um aumento


nominal ou a um aumento efetivo:
Quando se eleva o valor da cifra estatutária referente ao capital social espera-se, de
uma perspectiva essencialmente financeira, que esse aumento corresponda a uma real
entrada de elementos patrimoniais (e.g. dinheiro ou bens imóveis) susceptíveis de
constar nas contas do activo – aumento real, ou efectivo. Porém, o capital aumentado
pode derivar da mera transferência contabilística, para o capital social, de elementos
que se encontravam já relevados noutras contas do balanço – aumento nominal.

Poder-se-á realizar, à primeira vista, que a realização das entradas com créditos sobre
a sociedade se enquadra no âmbito desta segunda modalidade. Não é líquido. Pode
ainda contar-se com uma terceira via, defendida por uma corrente da doutrina
espanhola, que defende que a operação em apreço constitui um modelo misto, entre
o aumento efectivo e nominal, o que nos parece carecer de argumentação consistente
porquanto todos os aumentos de capital terão de ser pelo menos nominais, uma vez
que a cifra do pacto social sofre impreterivelmente uma modificação.

Ora, a capitalização da dívida para aumentar o capital consubstancia uma


transformação pela qual o titular do direito de crédito perde a condição de credor,
adquirindo, em resultado desta operação, a posição jurídica inerente à qualidade de
sócio. Significa isto que a sociedade consegue substituir o financiamento por capitais
alheios, recorrendo a fundos próprios. Juridicamente, observa-se, como consequência,
a conversão de uma dívida exigível numa dívida não exigível (e presumivelmente não
reembolsável, desde que não se assista à liquidação da sociedade). Em termos
contabilísticos, o passivo exigível, que se encontra relevado numa conta do passivo,
passa a integrar os valores do capital social, referente aos capitais próprios. A
estrutura financeira da sociedade sofre uma alteração

Além disso, convém relembrar que a transformação de credores em sócios acarreta


consigo uma consequência deveras relevante, pois tal como se referiu supra, o passivo
exigível é reduzido, proporcionando maior solidez financeira à sociedade.

Neste contexto, a ponderação aconselha a efectuar uma interpretação flexível que


conjugue conhecimentos das áreas económica e jurídica:
 Há, então, que ir ao encontro do resultado da capitalização da dívida e
apreender quais os seus efeitos práticos na esfera da sociedade. Embora o
processo seja realizado apenas contabilisticamente, o verdadeiramente crucial
é a desafectação de elementos constantes do activo destinados à cobertura,
em concreto, dos valores que antes figuravam no passivo, conferindo à
sociedade mais recursos para a prossecução da sua actividade.

Objectivamente, passarem a existir no activo mais valores não afectos ao pagamento


de dívidas, em resultado desta operação, é equivalente a realizar uma entrada em
dinheiro ou em espécie, uma vez que de ambas as formas a ratio activo/passivo sofre
um aumento.

Em conformidade com as afirmações anteriores, a elevação do valor do capital social


por entradas efectuadas feita mediante créditos sobre a sociedade aparenta ser um
aumento efectivo.
Neste sentido também , FRANCISCO NEVES MARQUES DE CARVALHO, que defende
que este se trata de um aumento de capital efectivo pois passa a haver menos valores
no passivo da sociedade afectos ao pagamento de dívidas da mesma, sofrendo a
estrutura financeira da sociedade uma alteração substancial. Para este autor há um
“enriquecimento” efectivo da sociedade, no sentido de esta passar a dispor de mais
meios para a prossecução do seu objecto social; pois esses meios deixam de estar
afectos ao pagamento de dívidas e apenas em situação de dissolução e consequente
liquidação da sociedade passará o montante da subscrição da participação do novo
sócio a ser exigível.

Discussão sobre a natureza da capitalização

As entradas que consistem em créditos sobre a sociedade (capitalização da dívida)


parecem assim operar segundo uma lógica compensatória. I.é, o que sucede
assemelha-se a uma compensação de créditos - figura que colhe a preferência da
maior expressão da doutrina societária -, na qual a sociedade é credora da entrada
para o aumento de capital, devendo simultaneamente ao credor social uma quantia
referente à relação obrigacional previamente estabelecida. Ressalve-se que a dívida da
sociedade não se encontra teoricamente extinta, uma vez que ela subsiste na relação
com o sócio, embora não seja exigível o seu pagamento.

Ora, segundo o artigo 847.º do CC, dois sujeitos com obrigações recíprocas, que
incidam sobre bens ou serviços da mesma natureza, seja no seu todo ou apenas em
parte, podem optar pela extinção de tais obrigações, ao dispensar a outra parte de
realizar a sua prestação, compensando, assim, a dívida de um para com o outro.
 Os requisitos da compensação, estabelecidos no artigo supramencionado, são a
reciprocidade dos créditos, a fungibilidade das coisas objecto das obrigações, e
a validade, exigibilidade e exequibilidade do crédito e contra crédito.

Assim, uma vez que o socio credor da sociedade, é agora devedor da mesma, pela
obrigação de realizar a sua entrada, o mesmo poderá optar por compensar a sua
dívida, perante a sociedade, com o crédito que detém sobre esta, resultando assim na
dupla extinção das obrigações.

ALEXANDER RATHENAU refere que a compensação tem, desde logo, duas vantagens
essenciais:
 produz a extinção das obrigações dispensando a realização efectiva da
prestação devida”, pelo que a compensação funciona como “forma de
facilitação de pagamentos”
 permite que se extinga a obrigação de uma das partes, mesmo quando a
probabilidade de vir a receber o seu crédito era diminuta, por haver
insolvência da outra parte, pelo que, em última analise, a compensação atua
como garantia dos créditos.
 Porém, ao defender a conformidade deste instituto (discutível, diga-se) com a
capitalização da dívida, enfrentar-se-á uma limitação legal imposta pelo n.º 5
do artigo 27.º do C.S.C.

o Esta compensação contra legem, a realização desse tipo entrada será


nula, tendo o sócio que entregar em dinheiro o valor correspondente à
participação social adquirida (é o que resulta do n.º 3 do artigo 25.º).

Trata-se de um grande impedimento teórico a toda a problemática abordada, uma vez


que não mais será possível recorrer às entradas com créditos para financiar e
“rejuvenescer” as sociedades.

Tendo em contra esta limitação fará sentido analisar outras posições quanto à
qualificação desta entrada:

 Assim e embora a maioria da doutrina considera que estaremos aqui perante


uma compensação entre o só cio, que quer participar no aumento de capital, e
a própria sociedade, uma vez que esta qualificação se encontra expressamente
vedada por lei, cabe-nos agora analisar outras qualificações passi ́veis de
abranger este tipo de entradas em espécie.

Relativamente a outras qualificações admitidas na doutrina portuguesa, começamos


pela posição defendida por PAULO TARSO DE DOMINGUES e RAÚL VENTURA, que
sustentam a ideia de que o sócio pode realizar a entrada, num aumento de capital,
com um crédito de que é titular sobre a própria sociedade, não por via da
compensação, mas por via da confusão. Este foi o entendimento acolhido em Portugal,
como ilustra, por exemplo, o Acórdão da Relação do Porto de 18 novembro de 1997,
do relator ROGER LOPES, onde se veio a afirmar expressamente que “o aumento de
capital por entradas consistentes em créditos sobre a sociedade é li ́cito e não é um
aumento por compensação; o crédito de que a sociedade se tornou a titular extinguiu-
se por confusão”.

FRANCISCO NEVES MARQUES DE CARVALHO qualifica as entradas para o capital com


créditos sobre a sociedade, como uma novação objetiva, que consiste na extinção de
uma obrigação pela constituição de outra, uma nova obrigação, que vem substituir a
primeira. Ora, a mesma será objetiva, nos termos do artigo 857.o do CC, quando
apenas o objeto da obrigação se altera, mantendo-se o mesmo credor e o mesmo
devedor e será, assim, subjetiva quando estes dois sujeitos se alteram. Neste caso
falaremos sempre de uma novação objetiva, uma vez que os sujeitos, a sociedade e o
sócio obrigado a realizar a entrada, se mantêm.
O autor refere que a obrigação primária da sociedade73 se extingue pela constituição
de uma nova obrigação perante o credor, que realiza a sua entrada com o crédito que
detinha sobre a sociedade, estando agora a sociedade obrigada com outros deveres
perante este último, dada a sua aquisição da qualidade de sócio.
Não se considerará estarmos aqui perante uma compensação, uma vez que a di ́vida,
no fundo, não se extingue, apenas se altera, sendo tal alteração, a causa de extinção
da primeira di ́vida encontrando-se, agora, devedora de uma nova obrigação perante o
sócio, pela qualidade que este agora adquiriu.

Importa fazer ainda uma breve referência ao CIRE:

 No seguimento de todo o exposto, não poderíamos deixar de fazer referência


ao estipulado no Código de Insolvência e Recuperação de Empresas (CIRE). Ora,
o CIRE, na verdade, consagra duas normas excecionais: a alínea b) do n.o 2 do
artigo 198o e o artigo 203o, que vêm, apesar de, como referido, serem normas
excecionais, admitir a entrada com créditos como providência que poderá ser
tomada em face de um processo de insolvência. No entanto, não deixa de
qualificar a mesma como uma entrada em espécie sujeitando-a, naturalmente,
a todo o regime inerente às mesmas.

Este preceito ilustra perfeitamente a relevância prática da admissão de entradas com


compensação de créditos, no âmbito de um aumento de capital:

 A solução é, de facto, tão benéfica, que é consagrada, desde logo, nas


primeiras alíneas do n.o 2, do artigo 198.o do CIRE, relativamente às medidas a
serem incorporadas no plano de insolvência de uma sociedade comercial.
 Este aumento de capital por conversão de créditos, que permite aos credores
compensarem a sua obrigação de entrada com os créditos que detêm sobre a
sociedade, é uma solução de alta relevância prática nos tempos que correm,
que encontra a sua essência nas dificuldades de financiamento, a que as
sociedades estão, cada vez mais, sujeitas.

A Compensação de Créditos nos Ordenamentos Jurídicos Europeus

Não existe, dentro dos ordenamentos jurídicos europeus vizinhos, uma posição
uniforme e assente relativamente a este assunto. As diferentes soluções legislativas
adoptadas pelos estados-membros devem-se, em grande parte, ao facto de a Directiva
comunitária do Capital não conter qualquer disposição que trate das particularidades
das diversas modalidades de aumentos de capital e, consequentemente, não
mencionar a compensação de créditos como possível financiamento da sociedade

Coexiste assim no espaço europeu dois sistemas antagónicos relativamente à


admissibilidade deste tipo de entrada concretizadas pela
 proibição expressa da compensação de créditos como entrada para o capital
de uma sociedade (vide legislações alemã e portuguesa)
 por outro lado, pela consagração legislativa deste modo de financiamento
societário – casos espanhol, italiano e francês.

Tomando como exemplo para fins de comparação o caso espanhol e alemão:


Em Espanha no artigo 151.º da Ley de las S.A. estabelece-se que o aumento de capital
social poderá realizar-se por emissão de novas acções ou pela elevação do valor
nominal das já existentes e o contravalor consistirá em entradas em dinheiro ou em
bens em espécie, onde se inclui a troca de créditos por acções.

Esta troca, denominada no ordenamento espanhol por «compensación de créditos»,


tem de obedecer aos requisitos constantes do artigo 156.º: ao tempo do aumento,
pelo menos 25 por cento dos créditos a compensar têm de ser líquidos, vencidos e
exigíveis e o vencimento dos restantes não pode ser em prazo superior a cinco anos.

Cumulativamente, terá de ser disponibilizado aos sócios um relatório do revisor de


contas, a comprovar e a avaliar os créditos em questão (artigo 144.º da Ley de las S.A.).
Observando este regime, conclui-se que a legislação espanhola optou por qualificar
este procedimento como uma compensação de créditos, embora o preceito quanto
aos requisitos seja bastante densificado e claro.

Como consequência, as regras relativas à capitalização da dívida prevêem, com


bastante restrição, a troca de créditos por acções, de modo a que não se prejudique o
interesse da sociedade e dos credores, embora se queira igualmente facilitar a vida
societária.

Saliente-se, ainda, que o artigo 159.º prevê a exclusão do direito de subscrição


preferencial, se o interesse da sociedade assim o exigir, para que não possam
subscrever-se acções com entradas em espécie, antes de todas as entradas em
dinheiro. Fica afastado o instituto do abuso de direito, por parte dos sócios.

Na Alemanha, por sua vez, o tratamento desta questão é similar ao dado em Portugal,
proibindo-se as entradas por compensação de créditos em aumentos de capital. Vai-se
mais longe, inclusivamente. De acordo com a jurisprudência alemã não são aceites as
operações pelas quais o credor realiza a sua obrigação de entrada em dinheiro para
que ulteriormente lhe seja pago o seu crédito. Em substância, observa-se uma
compensação indirecta que não opera nos mesmos termos mas cujo resultado prático
é perfeitamente idêntico. Estamos perante uma tentativa de “trancar” definitivamente
esta matéria

Quais os argumentos a favor e contra a admissibilidade deste tipo de entradas

Entre os argumento contra a admissibilidade referidos por Paulo De Tarso Domingos


encontram-se nomeadamente:
 O facto de admissibilidade deste tipo de entradas devido a falhas na lei em
assegurar de modo igualitário a efetiva realização da entrada e a constituição
dos créditos dos sócios:
 A título ilustrativo, referimos os casos de créditos que resultam de
empréstimos à sociedade e que, nesse momento, não são sujeitos a nenhuma
avaliação. Isto é, um sócio pode ter feito um empréstimo de um bem à
sociedade, que, por ser um empréstimo, não foi sujeito à avaliação por parte
do ROC e que, em momento posterior, pôde ser utilizado para efeitos de
realização da obrigação da entrada num aumento de capital, ao abrigo de uma
compensação. Neste caso, o bem, entregue a título de realização da obrigação
da entrada, deu entrada na sociedade sem a necessária avaliação, por ter sido
inicialmente um empréstimo do sócio à sociedade, não estando assim
legalmente sujeito a tal requisito.

 Apesar de a questão não relevar tanto quando se tratam de entradas em


dinheiro, as entradas em espécie, na qual se englobam as entradas com
créditos, estão sujeitas a vários requisitos legais já suprarreferidos, destacando-
se, aqui, a avaliação do ROC independente (que assegura que o bem vale
efetivamente tanto, ou mais, do que o valor nominal da participação a ser
adquirida pelo sócio). Ora, no momento em que um sócio empresta de livre
vontade um bem, diga-se, cede um crédito, à sociedade, tal bem já não será
obrigatoriamente alvo de uma avaliação para aferir o seu valor. Isto leva a que,
no momento em que se constitui o crédito, não se consiga apurar devidamente
qual o seu valor real, ficando o mesmo registado pelo valor nominal, o que
poderá, mais tarde, levar a que a sociedade e, consequentemente, os credores
da mesma, saiam prejudicados, devido ao facto de tal crédito estar registado
como um ativo da sociedade, que serve como garantia para os credores, mas
que, na realidade, não existe, ou existe, mas representa um valor
significativamente inferior àquele pelo qual “deu entrada” na sociedade.

 Esta situação poderá levar a que um sócio possa, através do mecanismo da


compensação, entrar num determinado aumento de capital, compensando a
sua entrada com um crédito que tenha previamente cedido à sociedade que,
na verdade, poderá nem sequer cobrir o valor nominal exigido. Aqui sim,
poderia concluir-se que estaríamos perante uma situação em que se estaria,
simultaneamente, a beneficiar o sócio que entrega o crédito, e a desproteger
os restantes sócios e credores da sociedade.

A este respeito, PAULO DE TARSO DOMINGUES entende ainda que a satisfação dos
interesses dos credores sociais pode estar ameaçada no caso de um sócio ter uma dívida
de entrada que será posteriormente extinta pelo seu direito de crédito sobre a
sociedade (e.g. relativo a um fornecimento de mercadoria), mediante compensação: a
compensação pode dar origem a situações em que a extinção das obrigações dos sócios
é privilegiada, por tais obrigações serem preferenciais às dos credores sociais:

 Vejamos, se um sócio, que é simultaneamente credor da sociedade, decide, em


momento posterior ao da constituição de tal crédito, participar num aumento
de capital da sociedade, compensando a sua obrigação de entrada com o
crédito que detém sobre a sua credora, a sociedade, estará a extinguir-se a
dívida de um sócio, em detrimento dos credores sociais, uma vez que o
cumprimento da obrigação lhes seria mais vantajoso.

A favor da admissibilidade:
 PAULO DE TARSO DOMINGUES relativamente ao facto de a posição de terceiros
não ficar prejudicada com esta solução, uma vez que o sócio detentor de um
crédito sobre a sociedade tem o poder de exigir o pagamento do tal crédito,
implicando assim uma forçosa diminuição do património social, acompanhada
do inerente prejuízo para credores terceiros. No entanto, se este crédito for
entregue, a título de entrada, à sociedade, o mesmo é transformado em capital
social (que aumenta) não afetando assim, antes pelo contrário, o património
social e a posição de credores terceiros, uma vez que o sócio deixa de poder
exigir o seu pagamento, a partir do momento em que realiza a entrada.

 Outro motivo, de carácter contabilístico, que sustenta a posição da


admissibilidade da compensação de créditos, prende-se com a desafectação de
elementos do activo que antes se encontravam destinados à cobertura de
valores do passivo, libertando mais recursos para a prossecução do objecto
social. Deste modo, existem mais elementos patrimoniais susceptíveis de
realizar o pagamento de dívidas, constituindo estes a verdadeira garantia dos
credores, ao contrário do capital social, que, como atrás se mencionou, apenas
consubstancia uma cifra estatutária de indisponibilidade aos sócios.
 Por fim, tendo em conta as dificuldades financeiras e os constrangimentos
económicos enfrentados ao longo desta última década, são necessárias soluções
cada vez mais céleres e práticas, capazes de assegurar às sociedades uma
resposta rápida à s alterações de circunstâncias, que se apresentam nestes
tempos de grande instabilidade:
o A consagrada liberdade na forma de levar a cabo os fins imediato e
mediato da sociedade (e nos meios a seguir para alcançá-los) deveria
possibilitar a existência de recursos suplementares, como é o caso da
compensação de créditos (se for considerada a denominação
apropriada).
o Sendo indiscutível a tendência para a flexibilização e desburocratização
do comércio jurídico, reveste-se de enorme importância continuar a
nortear o direito societário pelo princípio da autonomia privada

 A proibição do n.o 5 do artigo 27.o, acaba por paralisar a sociedade em tempos


de crise, ao retirar-lhe um possi ́vel meio de financiamento, capaz de solucionar
os problemas não só da sociedade, como também dos seus só cios e/ou credores.
Posição adotada
Após análise do tema das entradas com créditos para os aumentos de capital social,
chegámos às seguintes conclusões:

 Tais entradas devem ser qualificadas como entradas em espécie, à luz do direito
português, sujeitas a todo o regime legalmente estabelecido para as mesmas,
nomeadamente à avaliação do ROC que assegura o valor real dos créditos.
 Analisado o tratamento dado à figura da entrada com compensação de créditos,
nos diferentes ordenamentos jurídicos europeus, chegámos à conclusão de que
o legislador português não terá sido muito feliz ao vedar o recurso às mesmas,
no n.o 5 do artigo 27.o do CSC, uma vez que tal figura acaba por auxiliar a
sociedade relativamente à necessidade de financiamento, e, simultaneamente,
assegurar a posição e interesses dos seus sócios e credores.
 Assim, uma vez analisadas as qualificações propostas pela doutrina portuguesa
para a entrada com créditos sobre a sociedade, a nossa posição assenta na
qualificação desta figura como uma compensação, uma vez que se extinguem
ambas as obrigações, a da sociedade e a do sócio, satisfazendo o interesse de
ambas as partes e cumprindo, assim, todos os pressupostos legalmente
estabelecidos para a sua operabilidade.
 Esta solução revela alta praticabilidade para situações como a da insolvência das
sociedades, sendo que tal instituto já se encontra expressamente admitido no
CIRE, podendo vir agora a ser reforçado com a proposta de lei para criação do
regime jurídico da conversão de créditos em capital, no âmbito do “Programa
Capitalizar”.
 Dado o exposto, apesar da entrada com compensação de créditos sobre a
sociedade ser já admitida no âmbito de uma situação de insolvência das
sociedades, procurámos, ao longo deste trabalho, reforçar a ideia de que existe
uma necessidade premente de admissão desta figura, e de lhe dar o devido
tratamento na lei, também num plano preventivo de tais situações, podendo
servir como um instrumento de elevada praticabilidade, capaz de manter a
estabilidade
 Contudo, importa precisar que o instituto da compensação de créditos como
possível meio para realizar o contravalor efectivo dos aumentos de capital não
deve ser objecto de uma análise em abstracto, pelo que apenas a ponderação
incidente sobre o caso concreto poderá aferir da bondade ou perversidade desta
figura, o que nos leva a considerar que o princípio da liberdade de estipulação
contratual - inerente à autonomia privada -, deve impor que se aceite este modo
de financiamento da sociedade, pois com a sua proibição estar-se-á a “liquidar”
a priori uma solução provavelmente benéfica para todos os interessados (a
sociedade, os sócios e credores).

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