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Desenvolvimento

e Sustentabilidade Ambiental
CAPÍTULO 1
A QUESTÃO AMBIENTAL,
A EDUCAÇÃO E SUAS IMPLICAÇÕES:
A ÉTICA, A MORAL E A JUSTIÇA ECOLÓGICA

1.1 Contextualizando

Três temáticas fundamentam a questão ambiental e a educação: a ética,


a moral e a justiça ecológica. Neste sentido, a necessidade da abordagem de
tais conteúdos se faz eminente para que você compreenda os alicerces em que
está fundamentada a problemática ambiental, constituindo-se assim na base
para todo percurso deste livro texto.

Chamar sua atenção para esse fato é pertinente nesse momento,


pois, à medida que compreendemos o contexto dos problemas ambientais
planetários, ficamos sensíveis para assumirmos uma postura que contemple
a busca para a resolução dos mesmos.

Neste sentido, perceber a importância do conteúdo proposto para


este capítulo é ferramenta indispensável para um entendimento coerente
a respeito da disciplina Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental.

Assim, esperamos que, ao final deste capítulo, você esteja apto a:

 Descrever as questões ambientais atuais;

 Identificar como a ética, a moral e a justiça estão ligadas às questões


ambientais;

 Despertar sua responsabilidade individual para a manutenção da quali-


dade ambiental;

 Optar por ações de promoção a justiça ecológica.

Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 17


Capítulo 1

Vale salientar que muitas das questões a serem analisadas constituem


o nosso dia a dia e cada um de nós tem a responsabilidade para contribuir
na formação de uma sociedade com cidadania planetária, capaz de cooperar
para a inclusão do tema sustentabilidade no seu cotidiano.

Esperamos que esta seja mais uma experiência produtiva e enriquecedora


para você.

1.2 Conhecendo a teoria

1.2.1 A questão ambiental na atualidade

Iniciaremos nossa discussão com algumas perguntas:

REFLEXÃO
Como você visualiza a problemática ambiental
atual?

Você acha que estamos vivendo uma crise de


várias ordens (clima, valores, atitudes, etc.)?

Em caso afirmativo, como você se vê diante de


tudo isso?

Ficou inquietado com os questionamentos apresentados na reflexão?


Eles são o ponto de partida da nossa conversa. Para que você compreenda
melhor a questão ambiental, é preciso fazer uma retrospectiva dos fatos
que a cercam, bem como suas consequências para o mundo. Para facilitar
seu entendimento, vamos fazer uma retrospectiva de fatos que marcaram a
apropriação ambiental a partir da Revolução Industrial.

O começo de tudo: o crescimento pautado no consumismo

Com o advento da Revolução Industrial surge um modelo de crescimento


econômico pautado no consumismo imediatista. Esse consumo vem acarretar
um colapso nas reservas do planeta, pois, à medida que se retira do ambiente
mais do que o necessário para a sobrevivência humana, não se dá o devido
tempo para sua renovação. Infelizmente, o despertar para essa realidade
ainda é muito recente a partir da década de 1960.

18 Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental


Capítulo 1

Nesse contexto, cabe elencar fatos condicionantes para essa postura


reflexiva, responsável por uma nova visão do ambiente. Pode-se considerar
um marco nesse processo o ano de 1962, quando a jornalista Rachel Carson
publica o livro Primavera Silenciosa. Daquele momento em diante ocorrem
inúmeros encontros com a intenção de discutir a crise ambiental, bem como
medidas mitigadoras, ou seja, que minimizem os impactos das intervenções
humanas na natureza. Observe o quadro 1 e verifique os eventos ocorridos
desde a década de 1960:

ANO EVENTOS

1968 Clube de Roma - Publicação do estudo Limites do crescimento (culpava


o crescimento populacional dos países pobres e não os padrões de
consumo). Este momento foi um marco para a problemática ambiental
em nível planetário
1972 Estocolmo (Suécia) - 1ª Conferência Mundial de Meio Ambiente
Humano, cujo tema foi a poluição industrial. Nessa conferência, o
Brasil adota a seguinte postura “a poluição é o preço que se paga pelo
progresso”, ainda sobre Estocolmo: educar o cidadão para a resolução
de problemas ambientais, ou seja, Educação Ambiental (EA). Nesse
período, surge o conceito de ecodesenvolvimento, formulado pelo
economista polonês Ignacy Sachs que, anos depois, daria origem à
expressão desenvolvimento sustentável (BUARQUE, 2007).
1975 Belgrado (Iugoslávia) - Carta de Belgrado (objetivos da EA).
1977 Conferência intergovernamental sobre educação ambiental em Tibílissi
(Geórgia, ex URSS) – Tradado sobre EA.
1987 Gro-Brundtland (Ministra da Noruega) – reuniões em várias cidades
do mundo resultando no livro Nosso Futuro Comum ou Relatório de
Brundtland (conceito de desenvolvimento sustentável mais conhecido).
1992 Rio 92 - AGENDA 21, mudanças climáticas, biodiversidade.
2002 Rio+10 (Johannesburg – África do Sul): poucos avanços, pois os governos
dos países em desenvolvimento ficaram mais preocupados em aplicar o
Consenso de Washington e os programas de ajuste estrutural do FMI do
que em implementar as recomendações da Agenda 21.
2009 Cerca de 180 países se reuniram em Copenhague (Dinamarca) em
dezembro para tentar estabelecer um acordo que substituísse o
Protocolo de Kyoto, o principal instrumento da Organização das
Nações Unidas (ONU) contra a mudança climática, que expira em 2012.
Os resultados do evento foram inexpressivos.
Quadro 1: Eventos para discutir os efeitos do crescimento pautado no consumismo

Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 19


Capítulo 1

Diante desses aspectos, temas como: mudanças climáticas, aquecimento


global, escassez de recursos naturais, crise energética, desertificação, reciclagem,
entre outros relacionados ao fim, ou a modificação de determinados ciclos
da natureza permeiam as discussões nos variados níveis sociais, tendo em
vista que todos (sem exceção) já começam a sentir os efeitos da degradação
ambiental vigente.

Tratar dos temas apresentados no parágrafo anterior é destacar o


quanto as ações humanas têm impactado o ambiente, causando malefícios
a todos. Acreditamos, ainda, que tenhamos verificado como tais impactos
são provenientes da nossa cultura voltada para o consumo exacerbado, com
destaque especial para o povo do Ocidente, a partir de uma visão egocêntrica
de mundo visando a atender apenas aos interesses econômicos.

Conforme demonstrado, esse modelo de desenvolvimento, pautado no


consumismo, não atende mais a oferta de recursos do planeta. Tal fato torna
emergente uma mudança de postura, ou seja, o chamado ecodesenvolvimento,
que tem como premissa usufruir os recursos sem comprometer sua utilização
futura.

Agora, retomamos as perguntas iniciais da nossa conversa, acrescentando


mais uma: com essa leitura, você é capaz de se sentir responsável pela
problemática ambiental da atualidade?

EXPLORANDO
Caso sua resposta seja afirmativa, é hora de optar
por novas atitudes de consumo dos recursos do
planeta. Em caso negativo, sugerimos o acesso ao
endereço eletrônico http://planetasustentavel.
abril.com.br/download/stand2-painel5-agua-
por-pessoa2.pdf para verificar o consumo de
água em várias partes do mundo.

E aí, conseguiu perceber o quanto são emergentes ações que minimizem


os impactos ambientais? Neste caso, muito do que precisa ser feito faz parte
das decisões tomadas por cada indivíduo na hora do consumo.

20 Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental


Capítulo 1

1.2.2 A sustentabilidade das ações antrópicas

No item anterior, tivemos um panorama da atual situação da problemática


ambiental, trazendo os principais apontamentos que permeiam o tema. Ficou
perceptível que a ação antrópica (ação do homem) tem grande influência nos
números da devastação e que a preocupação com estas questões são oriundas
da segunda metade do século XX. Com elas, surge o desafio para a conquista
do desenvolvimento voltado para a sustentabilidade.

Assim, iniciam-se as discussões na comunidade internacional para a


divisão dos custos desse processo, que prevê nada menos que a revisão do
modelo econômico vigente alicerçado no consumismo.

Por isso, tantos encontros, seminários, congressos e acordos, conforme


elencados no item anterior, ocorreram e continuam ocorrendo visando à
solução da crise ambiental mundial. Assim, há uma difusão do discurso da
sustentabilidade, entretanto, a prática para alcançar tal premissa anda a
passos lentos, pois muito se fala e pouco se faz para alcançá-la.

A incidência dessa situação se dá em função de fatores como as


disparidades entre os países ricos e pobres e suas formas de crescimento,
bem como seus interesses individuais. “Esses interesses se manifestaram nas
dificuldades para conseguir acordos internacionais sobre os instrumentos
jurídicos para orientar a passagem para a sustentabilidade” (LEFF, 2008, p. 21).
Para que você compreenda o significado de sustentabilidade, é importante
conhecer o conceito de desenvolvimento sustentável.

CONCEITO

Desenvolvimento sustentável é um processo


que permite satisfazer as necessidades da
população atual sem comprometer a capacidade
de atender as gerações futuras (ONU,1987).

Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 21


Capítulo 1

Percebe-se aí não somente uma crise ambiental, mas, sim, uma crise
de valores, na qual ninguém quer perder sua fatia de um bolo que já está
passando do ponto e que, se não tivermos o cuidado adequado, trará efeitos
irreversíveis. Diante disso, é visível como a ação do homem tem relevância no
enfrentamento dessa questão, ou seja, a minimização da citada crise perpassa
por discussões de ordem econômica, social, ecológica, cultural e espacial.

Alex Rio Brazil

Figura 1 - Homem se apropriando dos recursos do planeta Terra.

Esse impasse pode ser entendido por duas ordens de posicionamento: um


macro, que depende das articulações internacionais provenientes dos acordos
gerados nas intensas rodadas de negociações dos grandes encontros; e outro
micro, que dependente das nossas ações individuais e cotidianas. Para ilustrar
essa afirmativa, utilizamos o jargão bastante difundido: agir local, pensar global.

Você deve estar percebendo o quanto nossa conversa gira em torno de


uma temática, a ação antrópica como divisor de águas para a minimização
dos impactos ao meio ambiente. E que homem é esse? É o Presidente da
República, é o grande industrial, o presidente de uma transnacional, é o
proprietário de uma madeireira e é você. Ficou surpreso com a sua inclusão
no rol dos responsáveis?

Em caso afirmativo, não fique, pois é você quem elege o presidente da


república e todos os outros cargos eletivos existentes, cuja responsabilidade
é defender nossos interesses. Além disso, você consome os bens e serviços
produzidos e comercializados pelas indústrias e corporações transnacionais

22 Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental


Capítulo 1

sem nem perguntar a procedência dos insumos (matéria-prima, energia) tão


pouco as condições de trabalho daqueles que os produziram.

Continua achando que não tem nada a ver com isso? Então, responda
essa pergunta: você sabe a origem da madeira queimada para fabricar o pão
que vai para sua mesa todos os dias, ou, se os grãos constantes na sua pirâmide
alimentar, bem como a madeira dos móveis da sua casa são fruto de uma área
desmatada de forma ilegal ou subtraída de uma população tradicional?

EXPLORANDO
Acesse os artigos a seguir e reflita como a falta
de conhecimento da origem dos produtos
que consumimos pode contribuir para o caos
ambiental instalado no planeta.

Desmatamento, perda de biodiversidade e pobreza.

http://www.eco21.com.br (artigo publicado na edição 80 da revista)

2030: o ano final do Cerrado (Estudos da ONG ambientalista


Conservação Internacional Brasil indicam que o Cerrado
deverá desaparecer até 2030).

http://ambientes.ambientebrasil.com.br/florestal/artigos.html

Parece que, individualmente, não estamos isentos da responsabilidade


com o quadro crítico em que o planeta se encontra, pois o consumismo
desenfreado, ou seja, insustentável, é o grande responsável pelo mesmo. Isso
significa dizer que o modelo econômico vigente não tem permitido às reservas
naturais o tempo necessário para sua recomposição.

LEMBRETE
Lembre-se que o conceito de desenvolvimento
sustentável apresentado no Relatório de
Bruntland é bem claro, quando diz que é preciso
consumir somente o necessário para a nossa
sobrevivência, levando em considerações as
necessidades das gerações futuras.

Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 23


Capítulo 1

Os condicionantes apresentados até o momento demonstram a


necessidade de um caminho em direção a mudança. Nele, verifica-se a educação
como um fator crucial na tentativa da sensibilização dos indivíduos para a
mudança de postura, de modo que cada um se sinta responsável e mobilize
esforços para a realização de um trabalho lento e gradual de transformação,
semelhante ao das formiguinhas.

A esse respeito, Boff (2004, p.27) destaca que

Importa construir um novo ethos que permita uma nova


convivência entre os humanos com os demais seres da
comunidade biótica, planetária e cósmica; que propicie um novo
encantamento face à majestade do universo e à complexidade
das relações que sustentam todos e cada um dos seres. [...] A
casa humana hoje não é mais o estado-nação, mas a Terra como
pátria/mátria comum da humanidade.

Isso significa dizer que realmente são necessárias novas posturas de


sobrevivência, implicando em atitudes de cuidado, tendo por princípio a
atenção, o zelo e o desvelo (BOFF, 2004). Por se tratarem de posicionamentos
individuais com reflexo no coletivo, é pertinente ressaltar que o compromisso
gerado em Estocolmo em 1972 precisa ser reafirmado sempre, ou seja, a
educação ambiental permanente (seja ela formal, informal ou não formal),
pois é perceptível que, além dos interesses econômicos, estão também incluídas
questões socioculturais no contexto ambiental.

1.2.3 A educação como ferramenta para o uso sustentado do


planeta

Recapitulando nossa conversa inicial, lembra das quatro perguntas


que lhe foram feitas? Acreditamos que os dados tratados nesse capítulo
explicitam que você e eu somos tão responsáveis por cuidar do planeta
quanto os representantes políticos de países como Estados Unidos e China,
grande poluidores mundiais.

24 Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental


Capítulo 1

“Quando dizemos, por exemplo: “nós cuidamos de nossa casa”


subentendemos múltiplos atos como: preocupamo-nos com as
pessoas que nela habitam dando-lhes atenção, garantindo-lhes as
provisões e interessando-nos com o seu bem-estar. Cuidamos da aura
boa que deve inundar cada cômodo, o quarto, a sala e a cozinha.
Zelamos pelas relações de amizade com os vizinhos e de calor com
os hóspedes. Desvelamo-nos para que a casa seja um lugar de
benquerença deixando saudades quando partimos e despertando
alegria quando voltamos. Alimentamos uma atitude geral de
diligência pelo estado físico da casa, pelo terreno e pelo jardim.
Ocupamo-nos do gato e do cachorro, dos peixes e dos pássaros que
povoam nossas árvores. Tudo isso pertence à atitude do cuidado
material, pessoal, ecológico e espiritual da casa” (BOFF, 2004, p. 33).

Isso significa lembrá-lo que o ser humano é um animal racional, portanto,


desde o nascimento adquire conhecimento e discernimento do que é benéfico ou
maléfico, seja usando o senso comum ou por meio do conhecimento científico. Fica
evidente que a educação é um processo permanente, sendo importante reforçar
a significância de sua contribuição para a utilização sustentável do planeta.

DESAFIO
Visite o endereço eletrônico http://www.mma.
gov.br/ e procure no campo de pesquisa a
publicação Aqui é onde eu moro, aqui nós
vivemos: escritos para conhecer, pensar e
praticar o Município Educador Sustentável,
constantes na série desafios da educação
ambiental. Leia o conteúdo do capítulo três (O
meu e deles, o nosso e o de todos nós) e faça um
resumo crítico do mesmo.

Para que a EA ocorra a contento, é importante sempre retomar seus


objetivos e características estabelecidos na Conferência de Tbilisi (CEI, Geórgia)
realizada de 14 a 26 de outubro de 1977.

Assim, é interessante observar que, a partir de um processo onde


apreendamos como funciona o ambiente, a forma como dependemos dele,
como nossas atitudes, por mais simples que pareçam, são fornecedoras de

Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 25


Capítulo 1

impactos, encontraremos mecanismos para a promoção da sustentabilidade.


E é nessa premissa que consiste uma EA consciente, crítica e transformadora,
capaz de fomentar atitudes revolucionárias para o enfrentamento da
problemática vigente. Para reforçar seu entendimento, o esquema, a seguir,
demonstra os caminhos para a EA transformadora.

desenvolver

CONHECIMENTO VALORES
COMPREENSÃO para adquirir MENTALIDADES
HABILIDADES ATITUDES
MOTIVAÇÃO

necessários para lidar com

QUESTÕES / PROBLEMAS
AMBIENTAIS

e encontrar

SOLUÇÕES
SUSTENTÁVEIS

FIGURA 2 - Esquema para EA crítica e transformadora (DIAS, 2004, p. 100)

Diante do exposto, como fazer para conseguir o pressuposto da EA crítica


e transformadora? Primeiro, é necessário um exercício individual. Responda às
perguntas abaixo, com base no seu cotidiano:

 Ao acordar, quais são as suas primeiras atitudes?

 Quanto e como você utiliza seu tempo no banheiro?

 Que tipos de alimentos são consumidos nas suas refeições?

 Como se dá o uso de equipamentos elétricos em sua residência? Quais e


quantos existem? Qual o consumo de energia por eles dispensado?

 Quando você vai às compras, você atende às suas necessidades ou aos


desejos impostos pela indústria cultural?

 Em sua casa tem jardim? Em caso afirmativo, como ele é regado?

26 Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental


Capítulo 1

 Como é feito o descarte dos resíduos gerados em sua residência? Existe


algum tipo de separação? Qual?

 Que tipo e com que combustível é movido o transporte por você utiliza-
do? No caso de veículo próprio, como ocorre a lavagem do mesmo e em
que periodicidade?

 Quantas peças existem em seu armário, incluindo roupas e calçados?


Quais você utiliza?

 Qual a origem da água e energia elétrica que chega a sua casa, junta-
mente com os móveis, equipamentos e utensílios?

 Em seu trabalho, existem medidas para evitar o desperdício de água,


energia e papel? Você as utiliza?

 Como estas palavras REDUZIR, REUTILIZAR E RECICLAR estão empregadas


no seu cotidiano?

Então, suas respostas são satisfatórias? Viu como você é dependente dos
recursos naturais? Não se assuste, pois, assim como seu cotidiano é impactante,
também é o de muitos outros ao redor do planeta. O importante é que, a
partir de agora, você é menos um sem conhecimento e com discernimento
para realizar suas escolhas com mais cuidado e zelo com o meio ambiente.

INTERAGINDO
Entre em contato com seus colegas de turma por
meio do ambiente virtual de aprendizagem e
discuta com os mesmos os resultados encontrados
no questionário acima, levantando medidas
mitigadoras para os impactos por vocês gerados.

Toda essa discussão foi para reforçar seu entendimento de quão complexa
é a questão ambiental, envolvendo também o enfoque econômico, social,
cultural e social, necessitando reflexão individual e coletiva com a premissa de
uma mudança de postura alinhada com a ética, a moral e a justiça ecológica.

Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 27


Capítulo 1

1.2.4 A ética, a moral e a justiça ecológica como premissas para a


mudança de postura

A grande perversão do nosso tempo, muito além daquelas que são


comumente apontadas como vícios, está no papel que o consumo
veio representar na vida coletiva e na formação do caráter dos
indivíduos. [...] A moda é um desses artifícios com o qual as coisas
ficam as mesmas, embora apresentando uma transformação. A
moda é a manivela do consumo, pela criação de novos objetos que
se impõem ao indivíduo. (SANTOS, 2007, p. 47 e 49).

Acreditamos que o discurso da citação anterior ilustra bem o caminho


que pretendemos percorrer ao apresentar a ética, a moral e a justiça ecológica
como premissas para a mudança de postura. Isto não significa dizer que, a
partir de agora, você deva realizar uma mudança radical nos seus hábitos e
posturas, entretanto, é imprescindível que ela ocorra de alguma forma.

Vivemos na sociedade do consumo, representada pelos shoppings centers,


grandes redes de supermercados, de lojas de departamentos, de fast foods,
entre tantos outros símbolos da vida moderna. Some-se a isso o fato de sermos
obrigados a conviver com tais símbolos cotidianamente, especialmente por
meio dos apelos criados pelos meios de comunicação de massa em campanhas
publicitárias com tamanho requinte e qualidade, que nos seduzem ao ponto
de cairmos na tentação do consumismo.

Diante disso, são criadas ou apropriadas pelo comércio inúmeras datas


comemorativas para o aquecimento das vendas, dentre elas citamos: carnaval,
páscoa, dias das mães, dos namorados, dos pais, das crianças e, é claro, o natal
(principal fonte de lucro para o comércio).

Santos (2007) ainda reforça esse condicionante, afirmando que esta


não é simplesmente uma sociedade do consumo e, sim, do consumo que gera
desperdício. Lembra quando dissemos anteriormente que se retiram os recursos
da natureza de forma tão veloz que não se permite à mesma o tempo hábil para
a regeneração? Pois bem, um grande contribuinte para isso é o desperdício.
Gostaríamos que você retomasse ao exercício cotidiano citado anteriormente e
verificasse em que respostas o desperdício é perceptível em seu consumo diário.

Para entender melhor o pressuposto do parágrafo anterior, é interessante


destacar que existe toda uma cadeia produtiva envolvida para isso, partindo
dos insumos primários até a chegada ao consumidor final.

28 Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental


Capítulo 1

DESAFIO

Acesse o endereço eletrônico:


http://www.akatu.org.br/consumo_consciente/
dicas/agua e leia a dica Use os dois lados de
uma folha de papel. Feito isso, analise o grau de
importância desse bem para a sua sobrevivência.

É de extrema importância que você realize o desafio proposto, para uma


melhor compreensão do que estamos tentando demonstrar ao enfatizar, em diversos
momentos nesse texto, que estamos diante da sociedade do consumo alienado. Essa
afirmativa constante tem intenção de nos remeter ao fato de que muitas vezes somos
estimulados pelos apelos midiáticos para adquirirmos produtos desnecessários.

Essa aquisição, além de utilizar recursos de forma excedente, faz com


que seja gerado um número maior de resíduos no ambiente, levando a outro
problema sério, especialmente dos grandes centros urbanos: a destinação
final correta do lixo, desencadeando uma série de outros problemas, inclusive
de saúde ambiental provenientes do lixo.
CURIOSIDADE
Acompanhe de janeiro a julho de 2008 a
quantidade de lixo depositada no Aterro Sanitário
da Região Metropolitana de Natal (em toneladas):
Jan 2008: 28.702,06
Fev 2008: 26.077,42
Mar 2008: 26.462,76
Abr 2008: 27.667,42
Mai 2008: 26.142,93
Jun 2008: 25.891,40
BRASECO (2008) Jul 2008: 27.112,26

Mais uma vez, retomamos a importância do processo educativo com


vistas ao estímulo da ação antrópica, pautada na minimização da problemática
ambiental, na qual se verifique a emergência de que a sociedade atual necessita
apresentar um novo aprendizado: a reeducação para o consumo.

Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 29


Capítulo 1

Baudrillard apud Santos (2007, p. 48) contextualiza esse pressuposto,


quando afirma que:

A sociedade do consumo é também a sociedade de aprendizado do


consumo, do condicionamento social do consumo - isto é, um modo
novo e específico de socialização, em relação com a emergência de
novas forças produtivas e a reestruturação monopolística de um
sistema econômico a produtividade alta.

Fica evidente que, quando se fala em reeducação para o consumo, não


significa apresentar um modelo predefinido para tal, composto por sugestões
engessadas. Na verdade, cada um, por meio da análise prévia, é quem vai
decidir entre a necessidade para sua sobrevivência e o desejo imposto pela
mídia na hora da compra. Neste aspecto, é perceptível quão subjetiva é essa
questão, perpassando por princípios éticos e morais para nossas escolhas.

A ação baseada na ética e na moral

Ao travar um diálogo em torno da ética e moral, é preciso lembrar a


importância de pensarmos e agirmos de modo que os interesses individuais
nunca sobreponham os coletivos. Na atualidade, fica cada vez mais difícil
pautar ações seguindo esse contexto, pois vivemos num tempo de disputas e
jogo de interesses na busca da conquista e acumulação de bens e capital como
estilos de vida padrão. “O progresso econômico colocou o mundo às portas de
uma sociedade de ‘pós-escassez’, fundada em valores pós-materiais e liberada
dos constrangimentos da necessidade”(INGLEHART apud LEFF, 2008, p. 84).

Por isso, é importante frisar que esta é uma crise com características de
subjetividade, na qual os valores de cada um devem ser levados em conta para
a adoção de mudanças significativas, que reflitam na melhoria das condições
ambientais atuais. Em outras palavras, pode-se dizer que a eminência é
satisfazermos nossas necessidades, agindo de maneira a não prejudicar as dos
outros seres vivos existentes no planeta, ou seja, a cidadania planetária.

Toda a formação social e todo tipo de desenvolvimento estão


fundados num sistema de valores, em princípios que orientam
as formas de apropriação social e transformação da natureza. A
racionalidade ambiental incorpora assim as bases do equilíbrio
ecológico como norma do sistema econômico e condição de
um desenvolvimento sustentável; da mesma forma se funda
em princípios éticos (respeito e harmonia com a natureza) e
valores políticos (democracia participativa e equidade social) que

30 Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental


Capítulo 1

constituem novos fins do desenvolvimento e se entrelaçam como


normas morais nos fundamentos materiais de uma racionalidade
ambiental. (LEFF, 2008, p. 85)

Novamente retomamos o discurso da mudança de postura, atrelada ao


comportamento humano em harmonia com a natureza, ou seja, uma nova ética
traduzida em práticas sociais transformadas por meio de uma racionalidade
social e alternativa.

REFLEXÃO

Diante do exposto, surge uma pergunta que não


quer calar: como você, em suas atitudes diárias,
pode fazer para colaborar com a mudança da
realidade vigente, bem como estimular naqueles
que o (a) cercam atitudes proativas com esta
finalidade?

Nossa intenção aqui não é sugerir que você reescreva toda a sua história de
vida a partir de uma visão radical para novas posturas e, sim, que você verifique
outras possibilidades a respeito de suas escolhas de hoje em diante. Essas devem ter
em vista a premissa da adoção de valores humanistas que busquem “a integridade
humana, o sentido da vida, a solidariedade social, o reencantamento da vida e a
erotização do mundo” (LEFF, 2008, p.87). Essa afirmativa remete ao pressuposto
da cidadania, ou seja, da preocupação com outro, independente de quem ele seja.

Isso tudo nos permite afirmar ainda que, ao adotarmos posturas


humanistas, estejamos criando condições para a melhoria da qualidade de
vida associada ao consumo sustentável.

EXPLORANDO
Para aprofundar seus conhecimentos sobre
consumo sustentável acesse o link http://
ambientes.ambientebrasil.com.br/educacao/
artigos.html e pesquise o artigo Guia de boas
práticas para o consumo.

Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 31


Capítulo 1

Com a sugestão acima, encerramos nossa discussão teórica, esperando


que ela tenha contribuído para despertá-lo para ações que promovam sua
cidadania planetária. Não esqueça a máxima: agir local, pensando no global,
pois o planeta Terra é de todos os seres vivos.

No próximo capítulo, aprofundaremos essa discussão, apresentando


o conteúdo: princípios e dimensões da sustentabilidade: econômica, social,
ecológica, cultural e espacial. Até lá.

1.3 Aplicando a teoria na prática

Leia o texto a seguir:

O cotidiano de Bia

Bia é uma engenheira com 33 anos, solteira, que mora sozinha num
apartamento em uma grande metrópole e, por isso, tem acesso
a inúmeras facilidades proporcionadas pelo desenvolvimento
tecnológico.

O seu dia a dia é bastante agitado, em função das inúmeras obras


que toca na construtora em que trabalha. Isso faz com que ela
passe pouco tempo no seu lar. Apesar de todo esse movimento,
em seu apartamento de dois cômodos, ela mantém os seguintes
equipamentos: dois televisores, dois refrigeradores de ar, um
computador e um notebook (com o qual realiza seus trabalhos),
dois ventiladores, dois aparelhos de DVD, entre outros, que passam
ociosos a maior parte do tempo, em função de sua vida tumultuada.

Bia não perde uma liquidação, por achar que é uma ótima
oportunidade para adquirir utensílios que julga necessários ao seu
cotidiano. Muitos desses não chegam nem a sair das embalagens.

No seu exercício profissional, ela prima pela qualidade nos projetos


que elabora, no entanto, como trabalha em uma grande empresa,
tem que priorizar a escolha de material com menor custo. Assim,
não há nenhum tipo de preocupação com material que economize
água e energia na utilização diária.

32 Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental


Capítulo 1

Como mora só, Bia não vê necessidade de empregada doméstica,


utiliza os serviços de uma diarista. Neste sentido, quando está em
casa, ela compra comida pronta, fato que gera muito desperdício,
pois ela sempre pede comida em excesso, por medo de não saciar
sua fome.

Recentemente, com o objetivo de adquirir novos conhecimentos,


almejando garantir empregabilidade, Bia iniciou um curso de
especialização em saneamento ambiental. Neste curso, ela está
conhecendo os princípios do desenvolvimento sustentável. A partir
deles, ela pretende mudar seus hábitos pessoais e profissionais para
garantir o usufruto dos recursos pelas gerações futuras, até porque
agora ela está pensando em casar e constituir família.

Diante da problemática levantada, vamos ajudar Bia a mudar de postura


e a adotar práticas cotidianas sustentáveis.

Inicialmente, é importante propor a Bia a resolução do questionário sobre


o exercício cotidiano de nossas ações para que ela possa ter a dimensão do
quanto suas atitudes do dia a dia são insustentáveis para o futuro do planeta.

Bia também deve ter ciência que não se muda de um dia para outro, e que
as mudanças ocorrem de forma paulatina e pela educação ecológica. Para isso,
ela precisa se tornar uma pesquisadora constante, pois, além de consumidora
desenfreada, ela é profissional da construção civil, área extremamente
impactante e que requer medidas mitigadoras para os impactos que gera.

De acordo com Boff (2004, p. 134), essa engenheira precisa perceber que:

[...] cada pessoa precisa descobrir-se como parte do ecossistema local


e da comunidade biótica, seja em seu aspecto de natureza, seja em
sua dimensão de cultura. Precisa conhecer os irmãos e irmãs que
compartem da mesma atmosfera, da mesma paisagem, do mesmo
solo, dos mesmos mananciais, das mesmas fontes de nutrientes;
precisa conhecer o tipo de plantas, animais e microorganismos
que convivem naquele nicho ecológico comum; precisa conhecer
a história daquelas paisagens, visitar aqueles rios e montanhas,
freqüentar aquelas cascatas e cavernas; precisa conhecer a
história das populações que aí viveram sua saga e construíram seu
habitat, como trabalharam a natureza, como a conservaram ou
a depredaram, quem são seus poetas e sábios, heróis e heroínas,
santos e santas, os pais/mães fundadores de civilização local.

Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 33


Capítulo 1

É importante que Bia desenvolva e pratique a cidadania planetária capaz


de reduzir o consumo, por meio da doação dos bens em excesso que adquiriu,
bem como da vigilância para não comprar somente pelos apelos midiáticos.
Ela deve também evitar os descartáveis à medida que prioriza os reutilizáveis.
A engenheira ainda pode contribuir fazendo a separação do seu lixo, dando a
destinação correta para o mesmo, ou seja, retirando os recicláveis, separando
inclusive grandes vilões, como pilhas e baterias. Além disso, ela pode utilizar
a tecnologia a favor do ambiente por meio da busca de conhecimento sobre
formas sustentáveis de consumo e geração de energia.

É preciso destacar que não se trata de desenhar uma nova Bia, esquecendo
seu passado, ou ainda, colocá-la como vilã do planeta por causa dos seus erros.
O que importa aqui é fazer com ela perceba o quanto tem agido errado e
que ela pode corrigir esses erros a partir da adoção de novas posturas de
sobrevivência com a premissa de buscar qualidade de vida associada a modo
de vida sustentável.

Por isso, é importante que ela perceba que:

O que vale para o indivíduo vale também para a comunidade local.


Ela deve fazer o mesmo percurso da inserção no ecossistema local
e cuida do meio-ambiente; utilizar seus recursos de forma frugal,
minimizar desgastes, reciclar materiais, conservar a biodiversidade.
Deve conhecer a sua história, seus personagens principais, seu
folclore. Deve cuidar da sua cidade, de suas praças e lugares públicos,
de suas casas e escolas, de seus hospitais e igrejas, de seus teatros,
cinemas e estádios de esporte, de seus monumentos e da memória
coletiva do povo. Assim, como exemplo, escolher espécies vegetais
do ecossistema local para plantar nos parques e vias públicas, e nos
restaurantes valorizar a cozinha local e regional. (BOFF, 2004, p.136)

Mais uma vez, é preciso lembrar que Bia deve ter em mente que, para fazer
sua parte e ser uma cidadã comprometida com o mundo, é necessário o exercício
diário e a busca constante de novas informações sobre medidas mitigadoras.

Vale lembrar, ainda, que ela deve assumir o compromisso com a difusão
e intercâmbio desses novos saberes, bem como incluí-los na sua vida pessoal e
profissional. Isto significa dizer que, em termos ambientais, temos só uma vida
e o compromisso de contribuir para a salvaguarda da qualidade de todos os
seres vivos do planeta Terra, que, aliás, é apenas um.

34 Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental


Capítulo 1

1.4 Para saber mais

BARBIERE, José Carlos. Desenvolvimento e Meio Ambiente. 11. ed. Petrópolis:


Vozes, 2009.

O livro discute os seguintes questionamentos atuais: como crescer sem


poluir tanto a água, o ar e o solo? Como conciliar crescimento econômico e
melhoria do nível de vida? Como explorar os recursos naturais, sem esgotar
o planeta?

CARVALHO, Isabel Cristina M. Educação Ambiental: a formação do sujeito


ecológico. São Paulo: Cortez, 2004. 256 p.

O livro discute o conceito de sujeito ecológico, entendido como um


conjunto de crenças e valores, que serve de orientação e modelo de identificação
para a formação de identidades individuais e coletivas. A proposta educativa,
que inspira este livro, é contribuir para a formação de sujeitos capazes de
compreender o mundo e agir nele de forma crítica.

DIAS, Genebaldo Freire. Educação ambiental: princípios e práticas. 9. ed. São


Paulo: Gaia, 2004.

Este livro, um clássico de referência na literatura ambientalista brasileira,


reúne um conjunto de informações fundamentais para a promoção do processo
de Educação Ambiental.

SENAC.DN. Se cada um fizer sua parte... ecologia e cidadania. Rio de Janeiro:


Senac Nacional, 1998.

O livro traz um panorama de como a preocupação com o meio ambiente


diz respeito ao cidadão, fazendo parte do seu cotidiano e de sua condição de
agente transformador da realidade por meio de uma solidariedade planetária.

Filme: O DIA DEPOIS DE AMANHÃ. (EUA, 2004. Duração: 124 min.) Dirigido
por Roland Emmerich.Roteiro de Roland Emmerich e Jeffrey Nachmanoff.
Produção: Roland Emmerich, Ute Emmerich, Stephanie Germain, Mark
Gordon, Thomas M. Hammel, Lawrence Inglee, Kelly Van Horn, Kim H. Winther.
Distribuição: Fox Film do Brasil.

Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 35


Capítulo 1

A Terra sofre alterações climáticas que modificam drasticamente a vida da


humanidade. Com o norte se resfriando cada vez mais e passando por uma nova era
glacial, milhões de sobreviventes rumam para o sul. Porém, o paleoclimatologista
Jack Hall (Dennis Quaid) segue o caminho inverso e parte para Nova York, já que
acredita que seu filho Sam (Jake Gyllenhaal) ainda está vivo.

1.5 Relembrando

Chegamos ao final do nosso primeiro momento. Neste capítulo, você viu


a questão ambiental e sua interface com a educação na atualidade, percebendo
a importância de inserir a ética e a moral como elementos norteadores para o
alcance da justiça ecológica a fim de se atingir a cidadania planetária.

Diante disso, foi traçada uma estrutura para facilitar seu entendimento
sobe o tema, elencando procedimentos e sugestões passíveis de serem adotados
por cada um com o intuito da mudança de postura frente à maneira como é
encarado o consumo, tendo em vista que este deve primar pela sustentabilidade
da ação humana.

Desse modo, encerramos esse capítulo na esperança de ter contribuído


para sua reflexão, seguida da adoção de práticas cotidianas capazes de minimizar
impactos ao nosso planeta.

1.6 Testando os seus conhecimentos

Com o objetivo de propiciar a aplicação dos conteúdos apresentados


durante este capítulo, bem como verificar a compreensão dos mesmos, é
apresentado o presente questionamento a ser desenvolvido de acordo com a
sequência dos conteúdos.

A diretriz do desenvolvimento sustentável pressupõe uma perspectiva


ética em que o conceito de desenvolvimento econômico vem necessariamente
articulado com as dimensões sociais e ambientais. Compreender a crise
ambiental em que o planeta está imerso, implica perceber que temos
coparticipação com a mesma. Ao chegarmos nessa dimensão do saber, surge
a necessidade da concepção de novas posturas, orientadas por atitudes que
envolvam princípios éticos e morais capazes de promover a justiça ecológica.

36 Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental


Capítulo 1

Diante do exposto, é imprescindível o exercício permanente para a reflexão


das atitudes diárias. Trata-se de um processo educativo constante, onde cada
dia funciona como um treino para fazermos sempre a escolha certa de modo a
contribuirmos para a sustentabilidade do planeta pelo exercício da cidadania.

Como a educação é uma ferramenta de destaque para a ocorrência do


consumo sustentável, de modo a evitar o desperdício, diminuindo a geração
de resíduos, surge a seguinte problemática: de que forma cada um pode fazer
sua parte dentro desse processo educativo? Que atitudes podem ser tomadas
para minimizar a emissão de gases responsáveis pelo efeito estufa? O que fazer
para reduzir o consumo de energia, água e geração de resíduos na natureza?

Onde encontrar

AMBIENTE BRASIL. Guia de Boas Práticas para o Consumo Sustentável.


Disponível em: http://ambientes.ambientebrasil.com.br/educacao/artigos/
guia_de_boas_praticas_para_o_consumo_sustentavel.html?query=Dicas+de+c
onsumo+sustent%C3%A1vel. Acesso em: 22 mar. 2010.

______. 2030: o ano final do Cerrado (Estudos da ONG ambientalista Conservação


Internacional Brasil (CI-Brasil) indicam que o Cerrado deverá desaparecer
até 2030). Disponível em: http://ambientes.ambientebrasil.com.br/florestal/
artigos/2030%3A_o_ano_final_do_cerrado.html?query=desmatamento,
Acesso em: 08 mar. 2010.

BAUDRILLARD, Jean. La société de consommation. Paris: Denöel, 1970. In:


SANTOS, Milton. O Espaço do Cidadão. São Paulo: Nobel, 2007.

BOFF, Leonardo. Saber Cuidar: ética do Humano-Compaixão pela Terra.


Petrópolis: Vozes, 2004.

BRASECO INFORMA. Acompanhe de janeiro a julho de 2008 a quantidade de


lixo depositada no Aterro Sanitário da Região Metropolitana de Natal. Boletim
Braseco Informa, Natal/RN, ano 3, n. 1, 2008. Disponível em: <http://www.
braseco.com.br/2008/informativo/ano3no1.pdf>. Acesso em: 09 jan. 2010.

BUARQUE, Cristovam Buarque. Outras intervenções. In: NASCIMENTO, Elimar


Pinheiro do; VIANNA, João Nildo (org.). Dilemas e desafios do desenvolvimento
sustentável no Brasil. Rio de Janeiro: Garamond, 2007.

Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 37


Capítulo 1

DIAS, Genebaldo Freire. Educação ambiental: princípios e práticas. 9. ed. São


Paulo: Gaia, 2004.

COMÉRCIO comemora aumento de 11% no número de vendas no Natal.


Disponível em: http://videos.r7.com/comercio-comemora-aumento-de-11-no-
numero-de-vendas-no-natal/idmedia/bd3163a7df9b5352830a7091be946dee.
html, Acesso em: 09 jan. 2010.

INGLEHART, R. El cambio cultural en las sociedades industriales avanzadas.


Madri: Siglo XXI, 1991. In: LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade,
racionalidade, complexidade, poder. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

INSTITUTO Akatu pelo consumo conciente. Use os dois lados de uma folha de
papel. Disponível em: http://www.akatu.net/consumo_consciente/dicas/agua/
use-os-dois-lados-de-uma-folha-de-papel. Acesso em: 22 mar. 2010

LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade,


poder. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Relatório da Comissão Mundial


sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento: Nosso Futuro Comum. Oslo:
COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO (CMMAD),
1987. Disponível em: http://translate.google.com.br/translate?hl=pt-BR&sl
=en&tl=pt&u=http%3A%2F%2Fwww.un-documents.net%2Fwced-ocf.htm.
Acesso em: 16 mar. 2010.

PARE o mundo que eu quero descer. Consumo de água de uma família de


classe média. Disponível em: <http://pareomundo.spaceblog.com.br/r14734/
Consumo-Consciente-dicas/>. Acesso em: 09 jan. 2010.

REVISTA Eco 21. Desmatamento, perda de biodiversidade e pobreza. Disponível


em: http://www.eco21.com.br/home/index.asp. Acesso em: 08 mar. 2010

SANTOS, Milton. O Espaço do Cidadão. São Paulo: Nobel, 2007.

SÉRIE desafios da educação ambiental. Disponível em: http://www.mma.gov.


br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=20&idConteudo=4393&
idMenu=2304. Acesso em: 09 jan. 2010.

38 Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental


CAPÍTULO 2
PRINCÍPIOS E DIMENSÕES DA
SUSTENTABILIDADE: ECONÔMICA, SOCIAL,
ECOLÓGICA, CULTURAL E ESPACIAL

2.1 Contextualizando

No capítulo anterior, tivemos a dimensão do quanto às ações humanas são


impactantes ao bom funcionamento do planeta Terra. Vimos também que essa
situação é passível de ser minimizada, desde que cada um se comprometa em
fazer sua parte para a promoção da justiça ecológica. Portanto, é imprescindível
confirmar que esse processo diário de mudança de hábitos degradantes faz
parte da reeducação do ser humano para uma cidadania planetária.

Neste capítulo, daremos continuidade à discussão da disciplina


Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental, apresentando os princípios e
dimensões da sustentabilidade: econômica, social, ecológica, cultural e espacial.
Com esse conteúdo, será possível verificar que falar de sustentabilidade implica
em trazer o contexto multidisciplinar necessário para uma apreensão coerente da
mesma, por meio dos cinco pilares aqui apresentados. Desse modo, sistematizar
ações pautadas nos princípios e dimensões apresentados no presente capítulo será
mais uma ferramenta para garantir o difundido desenvolvimento sustentável.

É importante que, ao final desse capítulo, você esteja apto a:

 Descrever os princípios norteadores da sustentabilidade ambiental;


 Identificar a importância de cada princípio norteador da sustentabilida-
de ambiental, bem como sua inter-relação.
 Descrever a dimensão dos princípios norteadores da sustentabilidade;
 Verificar a aplicabilidade de tais princípios no exercício profissional, ado-
tando medidas mitigadoras e de compensação ambiental.

Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 39


Capítulo 2

Esperamos que você aproveite ao máximo os conteúdos discutidos neste


capítulo e tenha um bom estudo!

2.2 Conhecendo a teoria

2.2.1 A sustentabilidade econômica

Iniciamos nossa discussão trazendo à luz o princípio de maior conflito


conceitual quando se fala em sustentabilidade, pois pensá-la atendendo aos
interesses econômicos requer visualizá-la do ponto de vista da acumulação
de riquezas de forma justa e igualitária. Quando se fala em economia, logo
se remete a sua mola propulsora, o consumo, pois é ele quem a movimenta e
alimenta seu crescimento.

Ao tratar dessa temática no capítulo anterior, ficou perceptível como a


humanidade tem se comportado diante do consumo e como os apelos midiáticos
têm se mostrado verdadeiramente sedutores, ao ponto de transformar os
desejos em necessidades básicas à sobrevivência humana.

A esse respeito, Leff (2008, p.42-43) afirma que “a convulsão dos


fundamentos que sustentam hoje a ordem econômica dominante nos
coloca diante do desafio de transformar, a partir de suas bases, o paradigma
insustentável da economia.”

Em outras palavras, Leff (2008) critica a forma como o consumo tem


direcionado a economia, por meio da busca incessante pela acumulação
do capital privado.

Isso se deve ao fato de que, ao longo de sua evolução, a humanidade


passou a querer suprir mais do que sua necessidade de sobrevivência, pois,
à medida que foram surgindo os avanços tecnológicos, outros objetivos
passaram a ser perseguidos. Temas como espiritualidade longevidade, prazer,
conforto, beleza e convivência são alvo das aspirações humanas.

Novamente vem à tona a dicotomia necessidade versus desejo. E é aí


que entra em pauta o modelo econômico vigente, ou seja, o capitalismo, cujo
crescimento está alicerçado nos pilares do consumo.

40 Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental


Capítulo 2

SAIBA QUE

O Capitalismo é um modo de produção pelo


qual a economia se dá em unidades chamadas
empresas, que são de propriedade privada,
embora algumas possam ter o governo como
proprietário (SINGER, 1998).

Em linhas gerais, esta é a forma de organização das atividades produtivas


(econômicas) da sociedade baseada no princípio de que os indivíduos podem
exercer domínio sobre os recursos, com o intuito de transformá-los em bens e
serviços, agregando sempre um novo valor. Essa ação se perpetua por meio de
uma cadeia, cujo eixo norteador é o acúmulo privado de capital, justificado na
máxima do crescimento econômico.

Essa forma de quantificação de crescimento (centrado na produção)


gera uma necessidade que deve ser atendida por todos nós: achar um ponto
de equilíbrio para tal, de modo que todos possam usufruir dos benefícios
intrínsecos ao crescimento.

Boff (2004, p. 17) confronta esse condicionante quando afirma que “o


projeto de crescimento material ilimitado, mundialmente integrado, sacrifica
2/3 da humanidade, extenua recursos da Terra e compromete o futuro das
gerações vindouras.” Isto significa dizer que a prioridade está na apropriação
dos indivíduos sobre todas as coisas detentoras de valor, para um posterior
acúmulo de capital, seguindo os pressupostos do neoliberalismo.

Neoliberalismo: intervenção artificial do Estado no plano jurídico e


econômico, sendo este efeito apenas transitório, ou seja, o mercado
é quem orienta o rumo das decisões de governo (SINGER, 1998).

Infelizmente, o objeto da apropriação humana é o Planeta Terra, e


esta ocorre de forma desigual, ou seja, uns se tornam cada vez mais ricos em
detrimento de outros cada vez mais pobres (Quadro 1). Essa máxima ainda
ocorre em um sistema competitivo gerador de exclusão e individualismo.

Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 41


Capítulo 2

CONSUMO (DO TOTAL 20% DA POPULAÇÃO 20% DA POPULAÇÃO


OFERECIDO) MAIS RICA MAIS POBRE

 Carne e peixe 45% menos de 5%

 Energia 58% menos de 4%

 Linhas telefônicas 74% 1,5%

 Papel 84% 1,1%

 Veículos 87% menos de 1%


Quadro 1 - Balança de consumo entre ricos e pobres (PNUD, 2003)

Os dados apresentados no quadro 1 elucidam o que estamos tentando


abordar ao afirmar que o modelo econômico atual aponta para o crescimento e
não para o desenvolvimento como premissa para o alcance da sustentabilidade.
Neste caso, reforçamos a conceituação que vem sendo trabalhada desde o
início deste livro texto de que sustentabilidade significa consumir hoje, sem
comprometer os recursos para o amanhã.

Neste sentido, é importante destacar que, para atingir a sustentabilidade


econômica, é imprescindível a igualdade na distribuição dos recursos. A esse
respeito é válido mencionar alguns preceitos da Agenda 21, fruto da Rio-92
(citada no capítulo anterior), que traz como principais pontos a erradicação da
pobreza, a proteção aos recursos naturais e mudança de modos de produção
e hábitos de consumo.

Adotar esses pontos significa rever a estrutura econômica vigente, ou


seja, uma sociedade onde todos os seus membros estivessem em situação de
igualdade. Para isso ocorrer, seria necessário o estímulo e a cooperação entre
os participantes da atividade econômica (SINGER, 2002).

Ao apresentar essa afirmativa, Singer evidencia o quanto é urgente para


a humanidade pensar em um sistema econômico alternativo ao capitalismo,
em função das desigualdades sociais que o mesmo gera, uma vez que o
acúmulo de riqueza é a sua principal meta.

42 Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental


Capítulo 2

SAIBA QUE
Para ilustrar essa afirmativa, mencionamos o
exemplo do Banco Comunitário da localidade de
Palmas, existente na periferia de Fortaleza – CE.
Trata-se de um serviço financeiro, de natureza
comunitária, que tem por base os princípios da
Economia Solidária e que oferece à população
de baixa renda da citada localidade quatro
serviços: fundo de crédito solidário, moeda
social circulante local, feiras de produtores
locais e capacitação em Economia Solidária. Esta
iniciativa é uma referência para a América Latina.
Além disso, ganhou o Prêmio Finep de Inovação
na categoria tecnologia social no ano de 2008 e
tem contribuído para a melhoria da qualidade de
vida dos 30.000 cidadãos que ali residem.

Apesar de iniciativas como a do Banco Palmas já se apresentarem como


uma realidade na busca por alternativas tecnológicas sociais, a humanidade
ainda não conseguiu implantar mecanismos dessa natureza de forma global.
Isso tem estimulado as pressões populares para um reposicionamento de
governos e empresas frente aos problemas ambientais.

Como reflexo disso, percebe-se um cuidado maior nas decisões tomadas,


tendo em vista o fato de esta poder ser avaliada e divulgada pelo prisma da
sustentabilidade, especialmente a partir dos mecanismos do Protocolo de Kyoto.

Conforme informação tratada no capítulo 1 deste livro-texto, você pôde


verificar que o protocolo de Kyoto foi gerado a partir da preocupação da
comunidade internacional como os rumos da intervenção humana no clima,
especialmente com relação às emissões de gases poluentes. Neste sentido,
criou-se o mercado de créditos de carbono ou redução simplificada dos gases
que provocam o efeito estufa por meio da certificação. Para tal, a bolsa
do clima foi criada nos Estados Unidos, com a finalidade de intermediar as
negociações desse Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).

Fica evidente que essas ações são fruto da participação social ativa. Entretanto,
tais avanços poderiam ser bem maiores, caso o controle e a participação social dos
cidadãos ocorresse com maior expressividade nos países em desenvolvimento.

Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 43


Capítulo 2

2.2.2 A sustentabilidade social

Retomando o capítulo anterior, trazemos a constatação de que vivemos


em uma sociedade marcada por estereótipos e desejos de consumo implantados
pela indústria cultural. Surge, assim, uma homogeneização dos desejos e
atitudes nas relações sociais, marcada pelo estímulo ao individualismo seguido
da competição desmedida, onde nem sempre se pode ter o que se quer.

EXPLORANDO
Ilustrando esse caso, temos a revista Forbes,
que publica anualmente a lista das pessoas
mais ricas do mundo. Se você acessar o site
http://www.forbes.com/lists/ e buscar por
Billionares poderá encontrará esse ranking.

Esses aspectos de homogeneização são marcantes para instauração do


quadro de desigualdades sociais vigentes no planeta, oriundas da concentração
de renda gerada pelo propósito da acumulação de capital. Essa retórica faz com
que se criem verdadeiros bolsões de pobreza, onde reina a fome e a miséria
absoluta de um lado e, do outro, acúmulo de riqueza gerando ostentação e luxo.

REFLEXÃO
Como falar em sustentabilidade diante dos
aspectos elencados acima, marcando a divisão do
planeta em dois mundos: um, em que os indivíduos
não podem sequer ser considerados cidadãos,
uma vez que lhes é negado todas as condições
de sobrevivência; e outro tão individualista ao
ponto de possuir um par de sapato para cada
peça de roupa existente no roupeiro?

Para clarear seu entendimento, pense no catador de lixo que tem seu
sustento a partir da colheita dos resíduos gerados por nós e depositados em
um lixão. De repente, esse indivíduo se depara com a construção de um aterro
sanitário (melhor forma de destinação final do lixo), que acabará com o lixão. Será
que esse cidadão apresenta condições de discernir sobre a importância da obra?

44 Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental


Capítulo 2

Provavelmente, o caso não é apenas se é necessário que ele retire as


sobras de um lixão para sobreviver, obviamente o sistema não favoreceu ao
mesmo acesso à educação, garantindo-lhe empregabilidade. Ele significa ainda
afirmar que, para o mesmo, é melhor que o lixo continue sendo destinado de
forma errônea, pois, se não mais ali existir, seu sustento ficará comprometido.

Novamente, fica evidente a complexidade do termo sustentabilidade,


bem como os encaminhamentos que ele suscita dada a sua característica
multidisciplinar. Para ilustrar essa proposição, vamos mencionar a abordagem
apresentada por Leff apud Leff (2008, p. 58), quando diz que:

Hoje o número de pobres é maior do que nunca antes na história


da humanidade, e a pobreza extrema avassala mais de um bilhão
de habitantes do planeta. Este estado de pobreza ampliada e
generalizada não pode ser atribuído às taxas de fertilidade dos
pobres, às suas formas irracionais de reprodução e à sua resistência
a integrar-se ao desenvolvimento. Hoje, a pobreza é resultado
de uma cadeia causal e de um círculo vicioso de desenvolvimento
perverso-degradação ambiental-pobreza, induzido pelo caráter
ecodestrutivo e excludente do sistema econômico dominante.

DESAFIO
Para uma melhor compreensão do discurso
acima, bem como prosseguimento ao conteúdo
aqui exposto, sugerimos que você visite a
biblioteca do campus Salgado Filho e pesquise
no documento Síntese de indicadores sociais
1998 do IBGE, dados sobre: educação, nível
de renda, taxa de desemprego de sua cidade.
Acrescentamos que será produtivo se você
realizar uma análise comparativa dos dados,
considerando a realidade das regiões mais
abastadas com as menos favorecidas.

As informações tratadas até o momento demonstram que pensar em


desenvolvimento sustentável implica considerar os aspectos que permitam a
formatação de uma sociedade justa e igualitária.

Com essa visão voltada para a racionalidade social no ano 2000, 189
países se comprometeram com a Declaração do Milênio (veja o quadro 2), fato
que demonstra a necessidade urgente de se alcançar a sustentabilidade social,

Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 45


Capítulo 2

ou seja, democratizar o acesso à informação e ao conhecimento como forma


de promover a qualidade de vida dos indivíduos. Além disso, é fundamental
a criação de mecanismos que possibilitem a participação e o controle social.

1 – erradicar a extrema pobreza 2 – atingir o ensino básico


e fome; universal;

3 – promover a igualdade de 4 – reduzir a mortalidade infantil;


gênero e a autonomia das
mulheres;

5 – melhorar a saúde materna; 6 – combater o HIV/AIDS, a


malária e outras doenças;

7 – garantir a sustentabilidade 8 – estabelecer parceria mundial


ambiental; para o desenvolvimento.
Quadro 2 - Metas da Declaração do Milênio (CAMARGO, 2010)

Isso somente será possível à medida que for incorporado um novo olhar para
o sistema produtivo, por meio de propostas que contemplem o desenvolvimento
social. Ele deve observar, em sua pauta, propostas que contemplem o
aproveitamento total dos recursos como forma de fazer frente aos impactos
gerados pelo desemprego. Tal premissa só será possível quando houver integração
dos projetos produtivos das comunidades tradicionais, sejam elas rurais, indígenas
ou urbanas. Os eixos norteadores dessa ação deverão ser a descentralização das
tomadas de decisão a partir de uma política de incentivo a autogestão. (LEFF, 2008)

Diante dessa explanação, a palavra de ordem se chama ‘planejamento’,


ou seja, conhecer a realidade de cada localidade para propor estratégias de
atuação com foco na resolução dos problemas.

Vale salientar que planejar o desenvolvimento social requer um olhar para


os ecossistemas nos quais se está inserido, levando sempre em consideração o
manejo das atividades produtivas.

2.2.3 A sustentabilidade ecológica

Acreditamos que, com o avanço do conteúdo, você esteja percebendo que


a sustentabilidade não é um tema que deva ser tratado apenas nas discussões
teóricas ou restritas aos ambientalistas. Aliás, com os desdobramentos
apresentados por essa temática, cada indivíduo deve ser um ambientalista
nato, diante do propósito da conservação das espécies do planeta.

46 Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental


Capítulo 2

Diante disso, é importante ressaltar que falar em sustentabilidade significa pensar


nela incluindo o ponto de vista ecológico. Para tal, é fundamental perceber como se
processa a vida sob todos os aspectos, reconhecendo sua importância e o significado
de cada ser, bem como nossa responsabilidade para a manutenção da mesma.

REFLEXÃO
“É injusto e imoral tentar fugir às conseqüências
dos próprios atos. É justo que a pessoa que come
em demasia se sinta mal e jejue. É injusto que quem
cede aos próprios apetites fuja às conseqüências
tomando tônicos e outros remédios. É ainda mais
injusto que uma pessoa ceda à próprias paixões
animalescas e fuja às conseqüências dos próprios
atos”. (Mahatma Gandhi).

Diante do pensamento acima, como se pode mensurar a


responsabilização do ser humano para o alcance da sustentabilidade
ecológica e manutenção da vida?

Para complementar seu entendimento da discussão que estamos


iniciando, destacamos o posicionamento de Boff (2004, p. 133) ao mencionar
a emergência do cuidado com o nosso único planeta:

Cuidado todo especial merece nosso planeta Terra. Temos unicamente


ele para viver e morar. É um sistema de sistemas e superorganismo de
complexo equilíbrio, urdido ao longo de milhões e milhões de anos.
Por causa do assalto predador do processo industrialista dos últimos
séculos este equilíbrio está prestes a romper-se em cadeia. Desde o
começo da industrialização, no século XVIII, a população mundial
cresceu 8 vezes, consumindo mais e mais recursos naturais; somente
a produção, baseada na exploração da natureza, cresceu mais de cem
vezes. O agravamento deste quadro com a mundialização do acelerado
processo produtivo faz aumentar a ameaça e, conseqüentemente, a
necessidade de um cuidado especial com o futuro da Terra.

Será que estamos numa encruzilhada? O método atual de apropriação da


natureza coloca em risco as condições físicas de vida no planeta? Perguntamos,
ainda, como impor limites ao crescimento, atendendo todas as circunstâncias
(energia, alimentos, moradia, água, etc.) que esta demanda implica?

Os questionamentos acima servem de alerta para a seguinte situação:


estamos na era do conhecimento e o avanço tecnológico tem proporcionado a

Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 47


Capítulo 2

criação de mecanismos que contribuem para intervenções menos impactantes


no ambiente, que são, em alguns momentos, negligenciadas em função dos
custos de implantação ou manutenção, ou, até mesmo, por falha do sistema,
quando as agências reguladoras não realizam a fiscalização necessária.

Isso significa reforçar o conteúdo visto no capítulo anterior dessa


disciplina, pois toda a ação antrópica desencadeia um impacto no ambiente.
A partir desse pressuposto, é necessário adotar medidas capazes de mitigá-lo.
Para isso, é importante que, em cada intervenção, se verifique os cuidados
necessários, bem como as formas de compensação para danos inevitáveis.

Assim, é preciso compreender os atributos e a definição de parâmetros


de valoração dos impactos ambientais originados nas intervenções ambientais.
Estes podem ser entendidos pelo disposto no quadro 3:

ATRIBUTOS PARÂMETROS DE VALORAÇÃO

 Caráter: expressa a alteração ou Benéfico: quando for positivo


modificação gerada por uma ação. Adverso: quando for negativo.

 Magnitude: extensão do impacto num dado Pequena, média, grande.


componente do fator ambiental afetado.

 Importância: o quanto cada impacto é Não significativa, moderada,


relevante na sua relação de interferência significativa.
com o meio ambiente ou quando compa-
rado com outros impactos.

 Duração: tempo de permanência do Curta, média, longa.


impacto depois da ação que o gerou

 Ordem: relação entre a ação e o impacto. Direta, indireta.

 Reversibilidade: delimita a possibilidade de Reversível, irreversível.


retorno ou não ao estado original com o
fim de determinada intervenção ambiental.

 Temporalidade: interinidade da interven- Temporário, cíclico, permanente.


ção ambiental.

 Escala: grandeza do impacto com relação à Local, regional.


área de abrangência.
Quadro 3 - Conceituação dos atributos e definição dos parâmetros de valoração dos impactos ambientais (TAVARES, 2008)

Estes elementos são indispensáveis para a definição de medidas


mitigadoras e compensatórias, ou seja, de formas para atenuar e/ou minimizar
os impactos da intervenção humana em determinado fator ambiental.

48 Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental


Capítulo 2

Um instrumento que deve ser levado em consideração no atendimento à


valoração dos impactos ambientais é o documento Cuidado do planeta Terra
(veja o quadro 4). Tal mecanismo é uma estratégia elaborada pelo Programa
das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNU-MA), o Fundo Mundial para
a Natureza (WWF) e União Internacional para a Conservação da Natureza
(UICN), cujos princípios fundamentam-se no cuidado. (BOFF, 2004).

1 – Construir uma 2 – Respeitar e cuidar 3 – Melhorar a


sociedade da comunidade dos qualidade da vida
sustentável. seres vivos. humana.

4 – Conservar a 5 – Permanecer nos 6 – Modificar atitudes e


vitalidade e a limites de capacidade práticas pessoais.
diversidade do de suporte do
planeta Terra. planeta Terra.

7 – Permitir que as 8 – Gerar uma estrutura 9 – Construir uma


comunidades cuidem nacional para inte- aliança global.
do seu próprio meio grar desenvolvimen-
ambiente. to e conservação.
Quadro 4 – Estratégias de cuidado com o planeta Terra (BOFF, 2004, p. 134)

Fica evidente que as estratégias estão postas à mesa, sendo preciso,


portanto, compromisso político, uma tarefa extremamente complexa dada a
necessidade de fixar limites em nível planetário. Incluir a política nesse diálogo
traz a necessidade de pensar fator cultural de cada povo e sua influência em
esfera global.

2.2.4 A sustentabilidade cultural

Vivemos no mundo dos modismos arraigados por conceitos estereotipados


de feio e belo, de divisão em seres com inteligência superior e inferior e
tantas outras subjetividades criadas para afirmar o poder do capitalismo. Essas
características tornaram-se mais evidentes com o advento da globalização
impulsionada pelo desenvolvimento tecnológico, favorecendo a igualdade de
costumes, hábitos e atitudes, entre outras.

Evidenciar um estilo de vida padronizado leva à desconsideração dos


saberes e manifestações tradicionais do conteúdo local, por serem percebidos
como arcaicos e rudimentares, não atendendo a necessidade de produção
massificada. Assim, gera-se uma construção de desigualdades e pobreza.

Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 49


Capítulo 2

Esta destruição da base dos recursos do planeta e seu impacto nos


valores culturais e humanos gerou a necessidade de orientar as
formas de desenvolvimento para eliminar a pobreza crítica e passar
da sobrevivência á melhoria da qualidade de vida. (LEFF, 2008, p. 90)

Esse raciocínio demonstra que, felizmente, o modo de apropriação da


cultura, por muito tempo pregado como o ideal, tem sido negado a fim de
atender aos princípios da sustentabilidade.

Essa preocupação tem sido percebida pela forma que o estilo de vida
adotado por personagens, como Madre Tereza de Calcutá e Mahatma Gandhi,
tem estimulado a adoção de comportamentos baseados no cuidado do outro.

BIOGRAFIA

Madre Tereza de Calcutá (910-1997), à esquerda,


foi uma missionária católica albanesa, nascida
na República da Macedônia e naturalizada
indiana, beatificada pela Igreja Católica.

Mahatma Gandhi (1869 – 1948), à direita, foi


um líder político e espiritual da Índia. Soube
utilizar-se engenhosamente de toda a tradição
para reerguer o orgulho de sua gente, abalada
pela dominação e deu muito que pensar àqueles
que se consideravam “superiores” e, por isso,
dominavam.

Esse pressuposto do cuidado sugere a adoção de estratégias de


desenvolvimento, que priorizem os saberes tradicionais de manejo, ou seja, a
valorização do local em detrimento do global. Surge, assim, a necessidade de
valorização das identidades nacionais, por meio da afirmação de sua cultura e
conhecimento acumulado ao longo da evolução humana.

Cabe ainda considerar, nesse aspecto, a sabedoria de povos tradicionais, como


camponeses e indígenas, bem como o patrimônio cultural (material e imaterial)
constituído na formação dos povos. Como exemplo de patrimônio material e
imaterial, podemos citar a arquitetura e a gastronomia local, respectivamente.

50 Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental


Capítulo 2

É válido destacar o raciocínio apresentado por Leff (2008, p.93), quando


afirma que “a ética ambiental vincula a conservação da diversidade biológica do
planeta ao respeito à heterogeneidade étnica e cultural da espécie humana.”
Levantar essa questão implica no reconhecimento do espaço individual e
coletivo e uma apropriação coerente do mesmo.

2.2.5 A sustentabilidade espacial

No decorrer deste capítulo trouxemos a discussão da sustentabilidade


por meio dos princípios e dimensões que a cercam. Incluso neles, está à defesa
da sustentabilidade espacial por aqueles que estudam e debatem o tema.

Falar em sustentabilidade espacial significa elencar fatos como


concentração populacional, densidade demográfica, urbanização. A esse
respeito Leff (2008, p. 340) diz que “o lugar é o locus das demandas e das
reivindicações das pessoas pela degradação ambiental, assim como suas
capacidades de reconstruir seus mundos de vida”.

REFLEXÃO

Você já parou para pensar no percentual de


urbanização planetária? Quais a condições de
vida das grandes metrópoles?

Quando trazemos elementos que sugerem a reflexão sobre qualidade de vida


para a discussão, temos a intenção de fazê-lo compreender o quanto a concentração
populacional em torno das grandes cidades tem contribuído para o caos ambiental.
Problemas como: poluição atmosférica, contaminação do lençol freático, consumo
excessivo de água, geração de resíduos, precariedade dos assentamentos humanos,
segregação socioespacial, entre outros, são mais acentuados nos centros urbanos.

Como forma de ilustrar esse discurso, apresentamos a verticalização de


cidades litorâneas em função da especulação imobiliária, em alguns momentos,
em outros, pelo déficit habitacional. Essas edificações têm ocasionado o
surgimento de ilhas de calor, provocadas pelo aumento da temperatura.

Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 51


Capítulo 2

Jeff Belmonter

Figura 1 - Verticalização nas Praias do Leblon e Ipanema, no Rio de Janeiro.

Além disso, podemos acrescentar ainda a ocorrência de sobrecarga nos


sistemas de abastecimento de água e energia, bem como no esgotamento
sanitário, como consequência da urbanização crescente nessas áreas,
localizadas especialmente em regiões metropolitanas.

Imbuídas do desejo de melhores condições de vida, por meio do alcance


do emprego ideal, as pessoas se inserem no contexto das grandes cidades,
pois são elas que apresentam as melhores oportunidades. Entretanto, o que
se observa são fatos como: o aumento da periferia nas regiões metropolitanas
e o empobrecimento da população em função da oferta precária de trabalho.

Tratar dessas questões significa considerar que o processo de


urbanização traz consigo a necessidade do planejamento para atender as
demandas dos assentamentos humanos, que se instalam nas metrópoles e
em seu entorno. “No mundo de hoje, cada vez mais pessoas se reúnem em
áreas mais reduzidas, como se o hábitat humano minguasse. Isso permite
experimentar, através do espaço, o fato da escassez.” (SANTOS, 2007, p. 80).

Dessa forma, é imprescindível mitigar os efeitos desse aglomerado


populacional por meio de iniciativas que considerem aspectos como:
possibilidades de fixação das comunidades tradicionais em suas regiões de
origem, garantido a elas condições de sobrevivência; democratização do
espaço para o assentamento humano, oferecendo condições necessárias
de educação, moradia, mobilidade, transporte, saúde e segurança;
tratamento adequado e técnico para abastecimento de água, energia,

52 Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental


Capítulo 2

destinação dos resíduos sólidos, qualidade do ar, distribuição racional dos


equipamentos públicos, acessibilidade e inúmeros outros, menos óbvios,
porém não menos importantes.

Sendo assim, as informações apresentadas neste capítulo evidenciam a


necessidade de pensar sobre a sustentabilidade de forma prática e em todas
as dimensões da intervenção humana no ambiente.

Vale salientar que é imprescindível considerar os princípios norteadores


para tal pressuposto: econômico, social, ecológico, cultural e espacial. Pensar
e agir usando como fundamento essa premissa é uma maneira de garantir o
alcance do desenvolvimento sustentável.

2.3 Aplicando a teoria na prática

Venha para Natal: a cidade sustentável

O turismo é a principal atividade econômica da cidade do Natal, responsável pela


geração de divisas, bem como de ocupação e renda. Sendo um dos principais
destinos de sol e mar do Brasil, a prefeitura local realiza constantemente
investimentos em divulgação do destino.

Neste sentido, para convencer os turistas, que buscam sol, praias, dunas e
emoções, de que Natal é o melhor lugar para passar suas férias a Secretaria de
Turismo do Município decide produzir um clipe sobre os atrativos locais.

Tal peça publicitária será veiculada em horário nobre das principais emissoras de
TV aberta do país, para o público do principal centro emissor de turistas para a
cidade: São Paulo e região metropolitana.

Assim, são contratados os serviços de uma agência de publicidade para


realizar tal tarefa. Como o slogan da cidade é ser uma cidade sustentável, é
imprescindível que esta intervenção ocorra atendendo os princípios e dimensões
da sustentabilidade. Outro detalhe da atividade é a exigência de uma ação
interdisciplinar entre profissionais de turismo, comunicação e gestão ambiental.

Diante da problemática apresentada, quais fatores nortearão essa


produção audiovisual?

Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 53


Capítulo 2

Para responder a esse questionamento, devem-se considerar os princípios


e dimensões da sustentabilidade ambiental como fatores norteadores para a
gravação do vídeo, requerendo dos profissionais envolvidos a adoção de uma
consciência representada por ações práticas.

É sabido que toda intervenção no ambiente provoca impacto. Seguir


o modelo apresentado no quadro 4, que trata do consumo de água virtual,
ou seja, da quantidade de água utilizada direta ou indiretamente na
produção de algo é uma ferramenta para mitigar o consumo de água na
produção do vídeo.

32 litros 140 litros 10 litros 2.000


É a quantidade de Microchip Xícara de Folha de litros
água usada, direta (2 g) café papel A4 Camiseta de
ou indiretamente, na (125 ml) (80 g/m2) algodão
produção de algo. (250 g)

Veja quantos litros de


água virtual existem em
cada produto.

200 litros 135 litros 2.325 720 litros 8.000


Copo de Ovo litros Carne suína litros
Em produtos leite (200 ml) (40 g) Carne bovina (150 g) Par de
de origem (150 g) sapatos de
animal, a couro
maior parte da
água virtual
tem origem
na produção
da ração que
alimenta a
criação
Quadro 5 – Consumo de água virtual (ALMANAQUE ABRIL, 2010)

A equipe também pode aplicar esse modelo aos demais insumos


utilizados no trabalho, como combustível, fitas de vídeo, bateria, entre outros.
Os dados provenientes desse levantamento do consumo provocado podem ser
utilizados para a realização de medidas mitigadoras do impacto causado.

54 Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental


Capítulo 2

O grupo atuante na execução da tarefa proposta deve considerar o


seguinte discurso de Boff (2004, p. 95):

Pelo cuidado não vemos a natureza e tudo que nela existe como
objetos. A relação não é sujeito-objeto, mas sujeito-sujeito.
Experimentamos os seres como sujeitos, como valores, como símbolos
que remetem a uma Realidade frontal. A natureza não é muda. Fala
e evoca. Emite mensagens de grandeza, beleza, perplexidade e força.
O ser humano pode escutar e interpretar esses sinais. Coloca-se ao pé
das coisas, junto delas e a elas sente-se unido. Não existe, co-existe
com todos os outros. A relação não é de domínio sobre, mas de con-
vivência. Não é pura intervenção, mas inter-ação e comunhão.

Dessa forma, todos os profissionais envolvidos no processo devem primar


pela manutenção do equilíbrio, por meio de atitudes proativas de cuidado com
a natureza, baseando-se na contabilidade ambiental que considera impacto x
mitigação do impacto.

Cuidar das coisas implica ter intimidade, senti-las dentro, acolhê-las,


respeitá-las, dar-lhes sossego e repouso. Cuidar é entrar em sintonia
com, auscutar-lhes o ritmo e afinar-se com ele. A razão analítico-
instrumental abre caminho para a razão cordial, o esprit de finesse,
o espírito de delicadeza, o sentimento profundo. (BOFF, 2004, p. 96).

Sendo a atividade turística pautada no uso do patrimônio (natural e


cultural) de uma localidade, além de incutir ações mitigadoras dos impactos
causados na gravação do material publicitário, deve-se utilizá-lo para transmitir
a mensagem da conservação dos recursos. Isso significa demonstrar, no clipe,
atitudes estimulantes para a prática sustentável do turismo junto àqueles
potenciais visitantes do destino.

Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 55


Capítulo 2

2.4 Para saber mais

AZEVEDO, Júlia; IRVING, Marta de Azevedo. Turismo: o desafio da


sustentabilidade. São Paulo: Futura, 2002.

Neste livro são analisados o potencial do turismo e os desafios, que terão


de ser enfrentados para atingir a sustentabilidade, garantindo três objetivos:
satisfazer o turista, preservar o meio ambiente e assegurar a qualidade de vida
da comunidade que reside no destino turístico.

BANCO DO NORDESTE. Manual de impactos ambientais: orientações sobre os


aspectos ambientais de atividade produtivas. Fortaleza: Banco do Nordeste, 1999.

Destinado a facilitar o trabalho de pequenos, médios e grandes


empreendedores, ele contribui para capacitar elaboradores de projetos,
analistas de crédito de entidades financiadoras e demais profissionais
envolvidos com a atividade produtiva e suas implicações na conservação
ambiental.

FONSECA, Igor Ferraz da; BURSZTYN, Marcel. A banalização da sustentabilidade:


reflexões sobre governança ambiental em escala local. Soc. estado, Brasília, v.
24, n. 1, abr. 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0102-69922009000100003&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 21
jan. 2010. doi: 10.1590/S0102-69922009000100003.

O objetivo deste estudo é demonstrar como os quesitos considerados


necessários para uma boa governança são produzidos e reproduzidos ao longo
do tempo.

http://www.cidades.gov.br/conselho-das-cidades/conferencias-das-cidades/4a-
conferencia-das-cidades.

Com a criação do Ministério das Cidades em 2003, o Brasil passou a ter um


instrumento de participação e controle social que direciona o nosso destino: a
Conferência das Cidades, incluindo temáticas como o orçamento participativo.
Acesse e descubra maiores informações.

PORTILHO, Fátima. Sustentabilidade Ambiental, Consumo e Cidadania. São


Paulo: Cortez Editora, 2005.

56 Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental


Capítulo 2

O livro contribui certamente para aprofundar o conhecimento sobre um


processo que opera na intersecção entre a vida pública e privada, e, assim,
a questão ambiental pode ser colocada num lugar onde as preocupações
privadas e as questões públicas se encontram.

2.5 Relembrando

Caracterizar as relações humano-natureza de forma justa e igualitária na


distribuição dos recursos é considerar que toda e qualquer intervenção pode
provocar impacto no ambiente. Neste caso, é preciso a adoção de medidas
mitigadoras e compensatórias aliadas à implantação de tecnologias limpas,
visando à equidade no usufruto dos recursos.

Neste sentido, o desenvolvimento tecnológico deve levar em conta


as particularidades de cada povo, evitando a homogeneização de hábitos,
costumes e atitudes. Este fato leva à proposição de valorização das identidades
nacionais por meio da afirmação de sua cultura e conhecimento, garantindo a
manutenção das técnicas tradicionais de produção e manejo.

Esta garantia favorece a fixação dessas comunidades em seu local de


origem, minimizando os efeitos ocasionados pelos grandes assentamentos
humanos existentes nas regiões metropolitanas, que são fortes contribuintes
para a instalação do caos ambiental vivido hoje.

Em suma, não se pode pensar/agir de forma sustentável sem conceber


os princípios econômicos, sociais, ecológicos, culturais e espaciais, bem
como a dimensão da importância que os mesmos apresentam para a
qualidade ambiental.

2.6 Testando os seus conhecimentos

Nos dias atuais, as novas tecnologias se desenvolvem de forma


acelerada, assumindo papel importante na dinâmica do cotidiano das pessoas
e da economia mundial. Escolher uma profissão requer de cada indivíduo
apropriar-se dos conhecimentos que o cercam, assim como a melhor forma de
utilizar a tecnologia para realizar suas atividades profissionais.

Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 57


Capítulo 2

A emergência da adoção dos princípios que norteiam a sustentabilidade


faz com que cada profissional escolha técnicas de exercício da profissão que
contemplem o uso de tecnologias limpas como forma de mitigar e compensar
os efeitos de suas atividades no ambiente.

Desse modo, como o processo de formação profissional deve contemplar


conteúdos que fundamentem essa premissa, estimulando a adoção de práticas
cotidianas sustentáveis?

Onde encontrar

ASSOCIAÇÃO de Amigos e Moradores de Boa Viagem. Especulação: limite das


edificações já. Disponível em: http://www.amabv.hpg.ig.com.br/especulacao.html.
Acesso em: 29 jun. 2010

BOFF, Leonardo. Saber Cuidar: Ética do Humano-Compaixão pela Terra.


Petrópolis: Vozes, 2004.

CAMARGO, Paulo de. 8 jeitos de mudar o mundo: nós podemos. Disponível


em: http://www.facaparte.org.br/new/download/Livro%20Objetivo%201%20
-%20Fome.pdf. Acesso em: 24 fev. 2010.

LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade,


poder. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

______. Pobreza, gestión participativa de los recursos naturales y desarrollo


sustentable em lãs comunidades rurales. Una visión desde América Latina.
Ecologia Política, n. 8, Barcelona: Icaria, 1994. In: LEFF, Enrique. Saber ambiental:
sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO. RELATÓRIO


DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2003. New York, USA: PNUD, 2003. Anual.
ISBN 978-8730-08-X.

SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. 7.ed. São Paulo: EDUSP, 2007.

SINGER, Paul. Introdução à economia solidária. São Paulo: Fundação Perseu


Abramo, 2002.

______. O que é economia. 2. ed. ver. ampl. São Paulo: Contexto, 1998.

58 Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

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