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DA INCONSTITUCIONALIDADE DOS ARTIGOS 4º, INC.

I , e 5º, §2º DO
ESTATUTO DO DESARMAMENTO (LEI Nº 10.826/2003) E DO ART. 67-A DO
DECRETO Nº 5.123/2004

Henrique Viana Pereira1

Quando alguém solicita Certificado de Registro de arma de fogo ou


tenta renovar esse certificado, a Polícia Federal verifica se a pessoa já foi
condenada criminalmente, ou se está respondendo a ação penal ou, ainda, se
está envolvida em inquérito policial.

Caso positiva alguma dessas possibilidades, a solicitação ou o pedido


de renovação do Certificado de Registro recebe resposta negativa. Se o pedido
for de renovação, além do indeferimento a pessoa é comunicada para entregar
a arma ou transferi-la para alguém que tenha Certificado de registro válido.

Pretende-se verificar quais os fundamentos da postura adotada pela


Polícia Federal e se há ofensa ao princípio do estado de inocência, previsto no
art. 5º, LVII, da Constituição da República2. De acordo com esse princípio,
antes de sentença penal condenatória transitada em julgado, todos devem ser
tratados como inocentes.

1
Advogado criminalista. Doutor e Mestre em Direito pela PUC/MG. Pós-graduado em
Direito pelo CAD/UGF. Graduado pela Faculdade de Direito Milton Campos. Professor
de Direito Penal da PUC/MG e da Faculdade Novos Horizontes. Conselheiro do
Instituto de Ciências Penais (ICP).
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Art. 5º, inc. LVII, da CR/88: “ninguém será considerado culpado até o trânsito em
julgado de sentença penal condenatória”.
No Estatuto do Desarmamento (especificamente nos artigos 4º, inc. I 3,
e 5º, §2º da Lei 10.826/20034) consta que se uma pessoa estiver respondendo
a inquérito policial ou a processo criminal não poderá adquirir arma de fogo ou
renovar Certificado de Registro de Arma de Fogo.

No art. 67-A do Decreto nº 5.123/20045 há previsão de cassação da


autorização de posse e porte de arma de fogo a quem for atribuída a prática de
crime doloso. Também consta que a mencionada cassação deverá ocorrer a
partir do indiciamento do investigado no inquérito policial ou do recebimento da
denúncia ou queixa pelo juiz competente.

Ocorre que, durante todo o desenrolar processual, vigora o já


mencionado estado de inocência (art. 5º, inc. LVII, da CR/88). Então, como não
há sentença condenatória transitada em julgado, o Requerente deve ser
considerado inocente.

Ademais, o simples fato de uma pessoa responder a um inquérito ou a


ação penal não pode ser interpretado em seu prejuízo, devendo ser
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Art. 4o Para adquirir arma de fogo de uso permitido o interessado deverá, além de
declarar a efetiva necessidade, atender aos seguintes requisitos:I - comprovação de
idoneidade, com a apresentação de certidões negativas de antecedentes criminais
fornecidas pela Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral e de não estar
respondendo a inquérito policial ou a processo criminal, que poderão ser fornecidas
por meios eletrônicos; [...].
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Art. 5o O certificado de Registro de Arma de Fogo, com validade em todo o território
nacional, autoriza o seu proprietário a manter a arma de fogo exclusivamente no
interior de sua residência ou domicílio, ou dependência desses, ou, ainda, no seu local
de trabalho, desde que seja ele o titular ou o responsável legal pelo estabelecimento
ou empresa. [...] §2º Os requisitos de que tratam os incisos I, II e III do art. 4o deverão
ser comprovados periodicamente, em período não inferior a 3 (três) anos, na
conformidade do estabelecido no regulamento desta Lei, para a renovação do
Certificado de Registro de Arma de Fogo.
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Art. 67-A Serão cassadas as autorizações de posse e de porte de arma de fogo do
titular a quem seja imputada a prática de crime doloso.
§1º Nos casos previstos no caput, o proprietário deverá entregar a arma de fogo à
Polícia Federal, mediante indenização na forma do art. 68, ou providenciar sua
transferência no prazo máximo de sessenta dias, aplicando-se, ao interessado na
aquisição, as disposições do art. 4o da Lei no 10.826, de 2003.
§2º A cassação da autorização de posse ou de porte de arma de fogo será
determinada a partir do indiciamento do investigado no inquérito policial ou do
recebimento da denúncia ou queixa pelo juiz.
§3º Aplica-se o disposto neste artigo a todas as armas de fogo de propriedade do
indiciado ou acusado.
considerada primária e com bons antecedentes, conforme entendimento
contido na Súmula nº 444 do STJ6.

A respeito do termo “antecedentes”, vale esclarecer:

São antecedentes criminais os fatos da vida passada do


acusado que o envolveram com infrações penais, em menos
de cinco anos, contados do cumprimento ou da extinção (626):
da pena, que revelam seu modo de proceder, de agir, sua
personalidade. São antecedentes criminais; se devem ser
considerados como maus, é outra coisa. (TOURINHO NETO;
FIGUEIRA JÚNIOR, 2011, p. 625-626).

Por outro lado, o entendimento que se extrai da jurisprudência dos


tribunais superiores é no sentido de que a restrição do registro - para pessoas
que respondem a inquérito ou processo - não ofende a Constituição da
República.

Atualmente, o entendimento majoritário é de que o Estatuto do


Desarmamento (Lei 10.826/2003) privilegiou a segurança pública e restringiu a
possibilidade de registro de arma às pessoas que não respondam a ação penal
e nem estejam sendo investigadas através de inquérito policial. E, apesar do
princípio da presunção de inocência, não haveria violação à Constituição da
República.

O Estatuto do Desarmamento já foi alvo de Ação Direta de


Inconstitucionalidade (STF, ADI nº 3.112/DF, decisão publicada em
26/10/2007), mas não houve discussão sobre a ofensa ao princípio do estado
de inocência causada pela restrição direcionada às pessoas que não
respondam a processo ou inquérito.

A posição majoritária na jurisprudência atual é a de que a restrição é


justificável pelo fim que se pretende alcançar com o Estatuto do
Desarmamento, não havendo desproporcionalidade ou ofensa a princípio
constitucional.

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Súmula 444 do STJ: “É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em
curso para agravar a pena-base”.
Ainda, de acordo com os tribunais superiores, as restrições são
necessárias, sendo que seu conteúdo se justifica em razão do interesse
coletivo envolvido.

Ademais, conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal no


julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3.112/DF (que discutiu a
constitucionalidade do Estatuto do Desarmamento), é permitido ao Estado
invadir a propriedade privada, em face do interesse público, inclusive
determinando entrega de arma, desde que oportunize indenização, em valor
fixado pelo Ministério da Justiça.

E, como a competência para autorizar e fiscalizar comércio, posse e


porte de material bélico é da União (art. 22, inc. XXI 7, e 448 da Constituição da
República), não há vício de competência no Estatuto do Desarmamento.

A título de exemplo, trechos de acórdão do TRF1:

[...] em se tratando da periculosidade que circunda o uso


de armas de fogo, a Lei 10.826/2003 privilegiou a segurança
pública e restringiu o porte de armas àquelas pessoas com
idoneidade moral. A presunção de idoneidade, segundo os
critérios legais, é a ausência de ação penal ou inquérito
criminal.
[...]
Por isso, incide na espécie os artigos 4º e 10 da Lei
10.826/2003 que dispõem que a existência de ação penal ou
instauração de inquérito impedem a concessão de autorização
para a aquisição e porte de armas bem como impede a
renovação da permissão anteriormente outorgada.
O art. 4º da Lei 10.826/2003 é claro: para se adquirir
arma de fogo ou uso permitido, o interessado deve comprovar
idoneidade com a apresentação de certidões de antecedentes
criminais e não estar respondendo a inquérito policial ou a
processo criminal.
Esses requisitos devem ser comprovados
periodicamente, em período não inferior a três anos. Os
mesmos requisitos são exigidos dos sócios proprietários e
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Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: [...]
XXI - normas gerais de organização, efetivos, material bélico, garantias, convocação e
mobilização das polícias militares e corpos de bombeiros militares;
8
Art. 44. O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da
Câmara dos Deputados e do Senado Federal.
diretores para fins de renovação do certificado do registro da
arma de fogo das empresas de segurança privada e transporte
de valores (art. 16 do Decreto 5.123/2004)”. (trechos do
seguinte acórdão: TRF1. 5ª Turma. Apelação em Mandado de
Segurança nº 2008.38.02.002692-8/MG. Relatora
Desembargadora Federal Selene Maria de Almeida. Publ.
29/04/2011).

Segue ementa do acórdão supramencionado:

ADMINISTRATIVO. AUTORIZAÇÃO PARA AQUISIÇÃO OU


REGISTRODE ARMA DE FOGO. EMPRESA DE VIGILÂNCIA
E SEGURANÇA. SÓCIO DIRETOR QUE RESPONDE A AÇÃO
PENAL.1. Incide na espécie os artigos 4º e 10 da Lei
10.826/2003 que dispõem que a existência de ação penal ou
instauração de inquérito impede a concessão de autorização
para a aquisição e porte de armas bem como impede a
renovação da permissão anteriormente outorgada.
2. O art. 4º da Lei 10.826/2003 é claro: para se adquirir arma
de fogo ou uso permitido o interessado deve comprovar
idoneidade com a apresentação de certidões de
antecedentes criminais e não estar respondendo a
inquérito policial ou processo criminal.
3. Esses requisitos devem ser comprovados periodicamente,
em período não inferior a três anos. Os mesmos requisitos são
exigidos dos sócios proprietários e diretores para fins de
renovação do certificado do registro da arma de fogo das
empresas de segurança privada e transporte de valores
(art. 16 de Decreto 5.123/2004). 4. Apelações do MPF e da
União providas. 5. Remessa prejudicada. (ementa do acórdão.
TRF1. 5ª Turma. Apelação em Mandado de Segurança nº
2008.38.02.002692-8/MG. Relatora Desembargadora Federal
Selene Maria de Almeida. Publ. 29/04/2011).

No mesmo sentido, o Supremo Tribunal Federal (conforme AGRSS


284/DF, Dju 30.04.1992 e MS 23.401/DF, Dju 12.04.2002) entende que a
imposição de sanção administrativa não precisa esperar o fim do processo
penal.

Portanto, apesar do poder da administração pública ser secundário,


essencialmente limitado pelo controle jurisdicional e constitucional, é possível
que o legislador crie restrições ao possuidor de arma de fogo. Isso decorre do
interesse coletivo que envolve a segurança pública.
Como a Constituição da República é o centro do ordenamento jurídico
e toda a legislação deve ser interpretada a partir dela, como condição para
aplicação das normas, entende-se que, de acordo com o princípio da
presunção de inocência (art. 5º, inc. LVII, da CR/88) não se pode restringir a
renovação de registro de arma a pessoa que não sofreu restrição judicial a
esse direito de propriedade e que deve ser tratada como inocente, até eventual
sentença condenatória transitada em julgado.

Então, o fato de "estar respondendo" a um processo não poderia


impedir renovação de registro de arma de fogo, pois deve ser considerado
inocente no processo que responde. Ocorre que esse não é o entendimento
que prevalece.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil (1988). Códigos 3 em


1 Saraiva: Penal, Processo Penal e Constituição Federal. Obra coletiva de
autoria de Editora Saraiva com colaboração de Luiz Roberto Cúria, Lívia
Céspedes, Juliana Nicoletti. 9 ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Tribunal Pleno. Ação Direta de


Inconstitucionalidade 3.112/DF. Relator: Ministro Ricardo Lewandowski, Diário
de Justiça, Brasília, 26 de outubro de 2007.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Tribunal Pleno. Mandado de Segurança


23.401/DF. Relator: Ministro Carlos Velloso, Diário de Justiça, Brasília, 12 de
abril de 2002.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Tribunal Pleno. Agravo Regimental na


Suspensão de Segurança 284/DF. Relator: Ministro Néri da Silveira, Diário de
Justiça, Brasília, 30 de abril de 1992.
DISTRITO FEDERAL. Tribunal Regional Federal da 1ª Região. 5ª Turma.
Apelação em Mandado de Segurança nº 2008.38.02.002692-8/MG. Relator:
Desembargadora Federal Selene Maria de Almeida, Diário de Justiça,
Brasília, 29 de abril de 2011.

TOURINHO NETO, Fernando da Costa; FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias.


Juizados Especiais Cíveis e Criminais: comentários à Lei 9.099/1995. 7 ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

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