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INTRODUÇÃO
O presente trabalho debruça sobre “o salário mínimo em Moçambique face a sua polarização
que divide vários pensadores em termos de posições, uma vez que as empresas pagam
salários acima do mínimo”. A criação de um salário mínimo nacional teve como antecedente
histórico no plano New Deal, implementado pelo presidente norte-americano Franklin
Roosevelt, entre 1933-1940, no âmbito do combate à Grande Depressão. Todavia, o salário
mínimo pode servir como instrumento de política macroeconómica cuja função tem em vista
atingir determinadas finalidades. Quanto ao seu papel Pereira (2008), alega que o salário
mínimo deve estimular o consumo e a economia de forma geral e visa estimular a economia e
gerar empregos, como os programas emergentes de obras públicas, figurou também a
instituição do salário mínimo nacional naquele país.
A política de fixação do salário mínimo tem como objectivo essencial assegurar aos
trabalhadores a protecção social necessária no que respeita aos níveis mínimos admissíveis de
salários, de modo a garantir o direito de todos os trabalhadores a um salário mínimo que seja
suficiente para cobrir as mínimas condições de vida, o que não acontece em Moçambique.
Todavia, os modelos económicos simplistas de orientação neoclássica defendem que a
introdução do salário mínimo gera ineficiências resultantes da distorção do mercado de
trabalho em relação ao salário de equilíbrio, as quais conduzem ao desemprego, inflação (via
custos ou excesso de procura) e erosão do poder de compra do salário. No entanto, o salário é
apenas uma das várias remunerações realizadas pela distribuição da riqueza, além dos juros,
rendas, impostos e lucros. Os efeitos colaterais do aumento do salário mínimo constituem um
problema empírico muito difícil de medir com exactidão, o que em parte acontece porque há
muitos outros factores envolvidos na determinação do emprego, inflação e distribuição do
rendimento. Isto significa que não se pode argumentar à priori, e com base em pressupostos
simplistas, que o efeito de uma medida isolada, como o aumento do salário mínimo, será um
factor determinante para procura de emprego em Moçambique. É nesta senda que o presente
trabalho tem como objectivo geral analisar a procura do emprego em Moçambique vírus
salários mínimo, na qual foi elaborado no âmbito da Cadeira de Macroeconomia do Curso de
Licenciatura em Relações Internacionais e Diplomacia com a seguinte estrutura: capitulo 1,
antecedida pela presente introdução; De seguida, no capitulo 2 debruça sobre sete (07)
conceitos chaves: salário mínimo, trabalho, ocupação, Emprego e desemprego, mercado de
emprego; por fim iremos debruçar acerca do estudo de caso e finalmente apresentar-se-á uma
breve Conclusão e as Referencias Bibliográficas.
CAPITULO 2. DEBATE CONCEITUAL
2.1.1 Trabalho
O trabalho pode ser visto como uma actividade metódica das forças corporais e intelectuais
do homem, visando sua própria conservação e desenvolvimento e para a transformação do
mundo exterior, nesse sentido, o trabalho gera profissões e, o indivíduo desenvolve sua
profissão trabalhando (Lisa Enciclopédia Universal, 1970, p.1165).
2.1.2. Profissão
A profissão é definida como um conjunto de tarefas económica que concorrem para a mesma
finalidade e que pressupõem conhecimentos semelhantes adquiridas mediante uma
aprendizagem, destinadas a assegurar a manutenção da vida (INEFP, 2006).
2.1.3. Emprego
O emprego se define como sendo uma relação entre homens que vendem a sua força de
trabalho em troca de um valor ou remuneração e homens que compram essa força de trabalho
pagando salário. É uma espécie de contrato estável, e mais ou menos duradoura no qual o
possuidor dos meios de produção paga pelo trabalho de outros (INEFP, 2004).
2.1.5. Ocupação
A ocupação de uma pessoa é a espécie de trabalho feito por ela, independentemente do local
em que esse trabalho é realizado. Considera-se ocupação ao conjunto de expectativas que
indivíduos têm, em relação ao papel exercido por ela (Ministério do Trabalho, 2009).
2.1.6. Desemprego
O conjunto de pessoas com idade activa para trabalhar, mas que no entanto, se encontram
sem trabalho (OIT, S/D). De acordo com INEFP (2004), uma parte significativa da População
Economicamente Activa, ao não conseguir inserção no sector formal, exerce uma actividade
geradora de rendimento na economia informal. Relativamente aos níveis de qualificação e
educação, 57% da população moçambicana é analfabeta e mais de 80% da mão-de-obra não
possui nenhuma formação.
Baixo nível académico (90% tem menos de 9ª classe e apenas 1.3% tem o nível
secundário);
Baixa qualificação profissional (62% não tem nenhuma qualificação) e pouca ou
nenhuma experiência profissional, o que aliado à reduzida oferta de formação
profissional resulta numa fraca empregabilidade.
Com efeito, existe no País cerca de uma centena de Centros de Formação Profissional, entre
públicos e privados, dos quais aproximadamente 10% fornecem formação para o ramo
industrial, sendo que os outros, na sua grande maioria, realizam formação param o sector
terciário ou de serviços. Entretanto, segundo dados do inquérito sobre a força de trabalho,
IFTRAB (2004/05), a taxa de desemprego é mais acentuada nas províncias de Maputo
Cidade, Maputo Província, Niassa, Manica e Sofala.
O salário mínimo em Moçambique corresponde ao salário base, ou seja o valor mensal pago
ao trabalhador sem incluir outros benefícios. O salário é normalmente pago apenas em forma
de dinheiro embora a lei permita que uma parte do valor (até 25%) possa ser pago em
espécie, desde que os artigos sejam do interesse do trabalhador e assim esteja acordado.
O tempo de referência para a aplicação do salário mínimo é o mês tal como referido nos
Despachos Ministeriais que fixam salários mínimos mensais. O artigo 53, alínea c) da Lei de
Trabalho, refere que a remuneração deve ser paga em períodos certos de uma semana, de uma
quinzena ou de um mês, consoante o estabelecido no contracto individual de trabalho ou em
instrumentos de regulamentação colectiva. Para períodos inferiores a um mês, subentende-se
que o salário mínimo deve ser proporcional ao tempo despendido efectivamente no trabalho
(de acordo com artigo 55 número 1 da Lei de Trabalho). Porém, tem havido diferenças entre
as empresas no cálculo do salário mínimo diário para trabalhadores sazonais e eventuais. De
acordo com Law et al (2000:12) “algumas empresas calculam a taxa diária como o salário
mínimo mensal dividido por 24 dias; outras, divididas por 30 dias”.
O salário mínimo opera sobre a população activa com emprego formal. Dados do CEMPRE e
do IAF indicam que apenas 6% da população activa, 521.207 trabalhadores, têm emprego
formal. Dados da DNPET (de 2000), indicam que apenas um quarto da população activa com
emprego formal recebe o salário mínimo. Portanto, o salário mínimo atinge um pequeno
grupo da população activa pelo que o salário mínimo não pode ser o instrumento principal de
luta pelo desenvolvimento e contra a pobreza.
No entanto, isto não invalida o papel do salário mínimo na protecção dos rendimentos de
grupos específicos de trabalhadores. Além disso, o salário é, em muitas regiões do País, a
fonte principal de rendimento que permite financiar a actividade familiar por conta própria ou
que permite especializar a produção familiar para a segurança alimentar. Por outro lado, o
salário formal tem impacto no rendimento informal, pois este salário permite financiar tanto a
oferta como a procura informal. Isto é, o salário formal tem efeitos sinergéticos positivos para
além da do seu impacto directo na população activa com emprego formal.
De acordo com a OIT, são cinco os sistemas de determinação de salário mínimo mais
utilizados internacionalmente, nomeadamente: (i) taxa única; (ii) salário mínimo regional;
(iii) salário mínimo por ocupação ou por sector de actividade; (iv) salário mínimo juvenil e
para adultos; (v) sistemas combinados de salário mínimo.
Moçambique utiliza um sistema combinado de taxa única nacional e taxa por categoria (agro-
pecuários, operários e empregados). A aplicação do sistema de taxa única é bastante
discutível, fundamentalmente nos países em vias desenvolvimento, que são caracterizados
por assimetrias regionais e sectoriais de desenvolvimento. O estabelecimento da taxa única
nacional de salário mínimo pressupõe a existência de condições semelhantes de mão-de-obra
(em quantidade e qualidade), de níveis de desenvolvimento equilibrado entre as diferentes
regiões, e de desempenho dos sectores da economia. A realidade económica do país é
caracterizada por assimetrias regionais de desenvolvimento e heterogeneidade na evolução
dos diferentes sectores da economia. Assim, a aplicação deste sistema neste cenário pode
gerar efeitos negativos para economia e em particular para os beneficiários.
CAPITULO 2. DESEMPREGO EM MOÇAMBIQUE E SUAS CAUSAS
2.1.1. Características do Desemprego em Moçambique
Uma avaliação das características do desemprego em Moçambique tem que tomar em conta a
qualidade e a fraca abrangência dos dados existentes sobre o mercado de trabalho:
Foi provado através do último Censo que as mulheres são na sua maioria desempregadas
comparadamente com os homens, isso deve-se a factores socioculturais que inibem a própria
mulher integrar no mercado de emprego, dentre eles o índice de analfabetismo é mais alto nas
mulheres rondando nos 74,1% contra 44,6% para os homens.
A legislação laboral vigente, considera em muitos casos pouco flexível, o que torna os
mecanismos no Mercado de trabalho formal bastante moroso.
Segundo Pangara, (2010), muitas políticas tentam diminuir a taxa natural do desemprego
reduzindo o desemprego fraccional, mas outras que tentam melhorar a situação do
desempregado podem acabar por aumentar este tipo de desemprego. Ora vejamos:
Políticas activas: englobam uma série de acções que tendem a reduzir o nível de
desemprego, geralmente actuando sobre o contingente de trabalhadores, tais como:
formação profissional, intermediação, apoio aos micro e pequenas empreendimentos,
subsídios à contratação de uma determinada população alvo, criação de empregos
pelo sector publico;
Os custos salariais;
Os outros custos com pessoal (incluindo despesas do empregador em segurança social
e outros custos não monetários relacionados com o factor trabalho);
Custos de outros factores de produção (Pember & Dupré, 1997:6).
Por outro lado, as empresas mais produtivas tendem a possuir uma força de trabalho mais
qualificada, estável e produtiva, pelo que também têm interesse em investir nessa força de
trabalho, mantê-la e desenvolvê-la. É, pois, bem possível que as empresas mais produtivas
paguem salários bem acima do mínimo.
Adopção de uma solução intermédia em que se incorre num dos dois inconvenientes
anteriores. Destas três opções, recomenda-se a adopção da segunda que atende as empresas
de menor capacidade pelo receio de provocar falência das empresas marginais. Este receio
resulta da constatação de existência de um número cada vez maior de empresas que não têm
conseguido honrar o pagamento de salários aos seus trabalhadores, em tempo útil, e
acumulando dívidas enormes com salários em atraso (Idem:9).
Portanto, as empresas mais produtivas tendem a pagar salários mais altos, negociados
colectivamente ao nível empresarial. Como o salário mínimo se destina a proteger grupos
mais desfavorecidos de trabalhadores, os mais bem pagos não são o alvo principal da política
de salário mínimo. Para quantificar o impacto da política do salário mínimo sobre o emprego,
seria necessário uma série longa de dados agregados ou desagregados em Moçambique (por
sectores, empresa, etc.) sobre o emprego cobrindo preferencialmente dois períodos (antes e
depois da introdução do salário mínimo).
CONCLUSÃO
Recomendações quanto ao salário mínimo
Primeiro, é necessário definir qual é o papel do salário mínimo. Em muitos países, o salário
mínimo protege grupos marginais de trabalhadores: não qualificados, com emprego sazonal
ou eventual, em sectores de muito baixa produtividade. Em Moçambique, no entanto, 25% da
força de trabalho com emprego formal é abrangida pelo salário mínimo. É importante
determinar por que é que a proporção de trabalhadores com salário mínimo é tão alta e em
que sectores isso acontece.
Dados disponíveis e obtidos para este estudo mostram que há sectores onde o salário mínimo
praticado é superior ao salário mínimo oficial. Muitos destes sectores ajustam os seus salários
mínimos à taxas inferiores ao do salário mínimo oficial, de tal modo que o salário mínimo
oficial e o praticado tendem a convergir.
Assim, o sistema de taxa única não é o mais adequado nem para os trabalhadores nem para a
economia. Sugere-se a fixação do salário mínimo com base em sectores, dado que este
possibilita a minimização do risco da redução do nível de emprego pelo aumento do salário
mínimo para além da capacidade de pagamento das empresas, e sem a respectiva
compensação no aumento da produtividade dos trabalhadores. Este sistema procura pelo
menos fixar um salário que tem em conta o estágio de desenvolvimento, a tendência de
evolução de um determinado no sector e acautela a questão de intensidade de uso de factor
trabalho.
Deste modo, este sistema consegue acomodar mais facilmente as preocupações e dificuldades
das empresas, bem como as preocupações dos seus trabalhadores. Assim, recomenda-se que
se estuda a forma de operacionalização deste sistema incluindo a definição dos sectores tendo
em contas as características das actividades e da disponibilidade de informação.
Considerações finais
A compreensão da problemática do desemprego em Moçambique, envolve uma avaliação do
conceito teórico e da validade das políticas para a redução do desemprego. As causas do
desemprego no país, podem ser vistas de duas facetas: numa perspectiva de evolução
histórica e económica do país e numa perspectiva actual, evidenciando as causas gerais.
Uma das características importantes de Moçambique é que uma larga parte da força do
trabalho encontrar-se no sector informal, que se caracteriza por providenciar rendimentos
baixos aos seus trabalhadores e muitas vezes instáveis. INFOR (2004: 75) defende que 75,2%
do total da força de trabalho encontra-se no sector informal, com maior concertação na região
Centro (80,8%) e na zona rural (86,9%), sendo as províncias de Zambézia (80,5%) e Gaza
(83,6%) as que apresentam maior percentagem e a cidade de Maputo (20,6%) como a
provincial com menor percentagem. Como os trabalhadores moçambicanos não recebem
nenhum subsídio do Governo quando desempregados, não se pode dar ao luxo ficar parado,
por isso sempre desempenham algum tipo de actividade, mesmo informal, mas declara-se
como empregados, assim a medida padrão do desemprego acaba por subestimar a verdadeira
extensão da sua falta de oportunidade em satisfazer as suas necessidades.
Como solução, propõe-se uma nova medida de cálculo do desemprego, que considere os
trabalhadores que auferem rendimentos inferiores ao salário mínimo como desempregados, o
que estaria mais em consonância com os dados de incidência da pobreza no país.
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