Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
Resumo
O digital permitiu a união de múltiplos códigos antes separados nos meios analógicas,
promovendo o surgimento de uma Grande Reportagem Multimídia (GRM) que reúne,
na internet, texto, imagem, som, vídeo, entre outros. Ao mesmo tempo, a cultura da
convergência permitiu aos antigos consumidores participarem de maneira mais efetiva
na produção e circulação de mensagens. Neste cenário, queremos pesquisar como os
usuários se colocam diante da GRM, navegando por seus caminhos fluido, interagindo
com os códigos disponíveis e agindo de forma até a modificar a reportagem. Para isso,
aplicamos formulários nos usuários da Folha de S. Paulo e de O Tempo, com perguntas
elaboradas a partir do cruzamento dos interpretantes Emocional, Energético e Lógico de
Peirce e das seis dimensões da competência midiática, proposta por Ferrés e Piscitelli
(2015). Entre os resultados, percebemos que os múltiplos códigos despertam
sentimentos e causam um efeito de aproximação da realidade. Além disso, constatamos
que os usuários conseguem percorrer com facilidade a GRM e interagir com seus
elementos, apesar de não saberem definir como os diferentes códigos transmitem a
mensagem nem utilizarem ferramentas para se apropriar de forma mais efetiva das
reportagens.
Palavras-chave
GRM; Convergência; Competência Midiática; Efeitos interpretativos; Usuários.
Introdução
A tecnologia digital tem características próprias que permitiram aos meios se reunirem
em um mesmo suporte. No jornalismo, isso possibilitou o desenvolvimento da Grande
1
Trabalho apresentado na Sessão Temática Comunicação, Educação, Produção e Consumo do II
Congresso Internacional sobre Competência Midiática realizado na Faculdade de Comunicação da
Universidade Federal de Juiz de Fora (FACOM/UFJF) entre os dias 23 a 25 de outubro de 2017.
2
Mestranda em Comunicação, PPGCom/UFF, marina_sad@hotmail.com.
3
Doutor em Comunicação e Semiótica, UFJF, paoliello@acessa.com.
Reportagem Multimídia – GRM (LONGHI, 2014). A partir de 2012, uma quinta versão
da linguagem de programação HTML e o design responsivo possibilitaram formas
inovadoras de design, navegação e imersão do usuário, com conteúdos acessados na
rolagem da página. Passa-se a utilizar textos longos, ao contrário de especiais
multimídia com o programa Flash, quando o conteúdo era trabalhado em fragmentos,
dividido em seções. Na GRM, a navegação é mais imersiva em uma narrativa textual
mais consistente, que responde ao questionamento sobre a qualidade diante da
fragmentação dos especiais multimídia (LONGHI, 2014).
Os usuários na GRM
4
Disponível em <https://goo.gl/75r7db>. Acesso em 27 mai. 2016.
5
Disponível em: <https://goo.gl/WfavUU>, acesso em 15 out. 2017.
é o teor dos comentários e como a equipe de divulgação do TAB nas redes sociais lida
com os esses comentários de diferentes tipos.
Diferente das pesquisas anteriores, Winques (2016) observou o modo como gerações X,
Y e Z6 consumiram a reportagem O Golpe e a Ditadura7, da Folha de S.Paulo, em
grupos focais. O texto foi apontado como elemento de contextualização e racionalidade.
As gerações X e Y reclamam do excesso, sugerindo reduzir capítulos e descartar alguns
elementos. Já a geração Z não vê problemas, elogia a separação de conteúdo em
capítulos, o que ajuda na divisão do tempo de leitura, e diz guardar a matéria nos
favoritos para acessar depois.
6
Utilizando a classificação de Santos Neto e Franco (apud WINQUES, 2010), autora define que a
geração X engloba os nascidos entre 1965 e 1978, a Y, entre 1979 e 1992 e a Z, a partir de 1993.
7
Disponível em: <https://goo.gl/VQx8G1>. Acesso em 31 dez. 2016.
isso, a geração X sugere que fiquem abaixo do texto ou uma linha conecte “a palavra-
chave aos diferentes elementos multimídia relacionados ao tema” (WINQUES, 2016, p.
302). Já a geração Y disse que poderia haver um recurso de marcador, como no PDF,
para que os usuários ressaltassem o local onde pararam e interagissem com outros
elementos, sem se perderem.
Os grupos focais apontaram ainda que as telas dos celulares não são as melhores para se
percorrer a GRM, só a Z não reclamou do aparelho e diz usá-lo cotidianamente. No
celular, Z, Y e Z realizam uma leitura pingue e pongue: leem os trechos mais
interessantes e passam para os elementos visuais. Contudo, as três gerações consideram
o computador o melhor dispositivo para consumir a GRM, porque permite conforto,
visualização e imersão.
Os interpretantes e as dimensões
O nosso trabalho também quer analisar as reações dos usuários diante da GRM.
Entretanto, para isso, utilizamos o conceito de interpretante de Peirce e as dimensões da
competência midiática desenvolvidas por Ferrés e Piscitelli (2015).
8
Ver Santaella (2008), capítulo 3.
Os Processos de produção e difusão avaliam a compreensão dos usuários acerca dos
processos na produção e circulação de conteúdos da indústria de mídia, assim como
pessoal ou coletivo. Nestes dois últimos, quer saber a capacidade de trabalhar em
conjunto, transformar e produzir significados, circular conteúdo nos meios tradicionais
e redes sociais.
Resultados
Tabela 1: Cruzamento dos interpretantes emocional, energético e lógico com as dimensões da competência midiática.
Fonte: desenvolvido pelos autores.
Foi enviado um formulário do Google para usuários que comentaram nas publicações
do Facebook ou curtiram as mesmas das matérias: A Batalha de Belo Monte9, Crime
sem Castigo10, Crise da Água 11 e O Golpe e a Ditadura Militar12, da Folha, e Menino de
Abrigo13, Morte Invisível 14, Era uma vez um Pequeno Guerreiro15 e Um Adeus ao Rio
Doce16, de O Tempo. No total, retornaram 43 formulários (25 da Folha e 18 de O
Tempo), mas somente 39 (23 da Folha e 16 de O Tempo) puderam ser aproveitados.
Fora os problemas com a internet, a maioria navega com facilidade seguindo uma
ordem própria e não a proposta de capítulos, textos, e demais códigos. É o que fazem 12
respondentes da Folha e 11 de O Tempo, os quais geralmente procuram o que acham
mais interessante primeiro. Em O Tempo, os usuários dizem também seguir a intuição e
fazer um caminho buscando elementos que facilitem a compreensão.
17
Apesar disso, quatro usuários de O Tempo e três da Folha parecem ter esquecido que comentaram ou
compartilharam, pois responderam que não atuaram dessa forma.
parte deles diz que a motivação para compartilhar ou comentar foi o tema interessante
que queriam divulgar e gerar troca de ideias. Outros usuários disseram que gostam de
expor seu ponto de vista ou se identificam com o tema da reportagem e ainda que as
informações ajudam na compreensão do tema, com uma abordagem direta e acessível.
Três justificativas são de que a matéria está relacionada ao tema de estudo do usuário ou
à disciplina que ministra.
Já em O Tempo, metade dos usuários diz que o jornalismo não é neutro, que sempre há
um posicionamento. Aqueles que responderam talvez, justificaram que todo veículo
defende um ponto de vista, ainda que sutilmente. Já os que disseram não perceber um
ponto de vista, defenderam que a realidade foi mostrada como é e que a informação foi
apenas divulgada, ficando a interpretação para o leitor.
Conclusão