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Os efeitos interpretativos na Grande Reportagem Multimídia

Marina A. Sad A. de Carvalho 2


Francisco J. P. Pimenta 3

UFJF, Juiz de Fora, MG

Resumo
O digital permitiu a união de múltiplos códigos antes separados nos meios analógicas,
promovendo o surgimento de uma Grande Reportagem Multimídia (GRM) que reúne,
na internet, texto, imagem, som, vídeo, entre outros. Ao mesmo tempo, a cultura da
convergência permitiu aos antigos consumidores participarem de maneira mais efetiva
na produção e circulação de mensagens. Neste cenário, queremos pesquisar como os
usuários se colocam diante da GRM, navegando por seus caminhos fluido, interagindo
com os códigos disponíveis e agindo de forma até a modificar a reportagem. Para isso,
aplicamos formulários nos usuários da Folha de S. Paulo e de O Tempo, com perguntas
elaboradas a partir do cruzamento dos interpretantes Emocional, Energético e Lógico de
Peirce e das seis dimensões da competência midiática, proposta por Ferrés e Piscitelli
(2015). Entre os resultados, percebemos que os múltiplos códigos despertam
sentimentos e causam um efeito de aproximação da realidade. Além disso, constatamos
que os usuários conseguem percorrer com facilidade a GRM e interagir com seus
elementos, apesar de não saberem definir como os diferentes códigos transmitem a
mensagem nem utilizarem ferramentas para se apropriar de forma mais efetiva das
reportagens.

Palavras-chave
GRM; Convergência; Competência Midiática; Efeitos interpretativos; Usuários.

Introdução

A tecnologia digital tem características próprias que permitiram aos meios se reunirem
em um mesmo suporte. No jornalismo, isso possibilitou o desenvolvimento da Grande
1
Trabalho apresentado na Sessão Temática Comunicação, Educação, Produção e Consumo do II
Congresso Internacional sobre Competência Midiática realizado na Faculdade de Comunicação da
Universidade Federal de Juiz de Fora (FACOM/UFJF) entre os dias 23 a 25 de outubro de 2017.
2
Mestranda em Comunicação, PPGCom/UFF, marina_sad@hotmail.com.
3
Doutor em Comunicação e Semiótica, UFJF, paoliello@acessa.com.
Reportagem Multimídia – GRM (LONGHI, 2014). A partir de 2012, uma quinta versão
da linguagem de programação HTML e o design responsivo possibilitaram formas
inovadoras de design, navegação e imersão do usuário, com conteúdos acessados na
rolagem da página. Passa-se a utilizar textos longos, ao contrário de especiais
multimídia com o programa Flash, quando o conteúdo era trabalhado em fragmentos,
dividido em seções. Na GRM, a navegação é mais imersiva em uma narrativa textual
mais consistente, que responde ao questionamento sobre a qualidade diante da
fragmentação dos especiais multimídia (LONGHI, 2014).

Nesse contexto do digital, Jenkins (2009) percebe consumidores que interagem e se


colocam junto dos tradicionais polos de emissão, apesar destes ainda exercerem maior
influência. Os novos consumidores são ativos, migratórios, ou seja, não mais leais a
certos meios de comunicação, conectados socialmente, barulhentos e públicos. Os
antigos receptores são agora prossumidores (FERRÉS; PISCITELLI, 2015) por também
manipularem o conteúdo.

Assim, buscaremos compreender como ocorre a interação do público como a GRM, e


qual a competência midiática (FERRÉS; PISCITELLI, 2015) dos usuários. A hipótese é
de que pode haver dificuldades de compreensão e de navegação por um caminho fluido
em reportagens que dão mais autonomia aos usuários (SANTAELLA, 2005). Queremos
saber também qual o conhecimento do internauta sobre a produção da reportagem e
como ele age sobre ela. Para isso, aplicamos formulários aos usuários que comentaram
nos posts de GRMs nas páginas do Facebook da Folha de S.Paulo e de O Tempo, ou
compartilharam essas postagens.

Os usuários na GRM

Como prossumidores atuam diante da GRM? Alguns pesquisadores tem tentado


desvendar isso desde o surgimento da GRM, após a divulgação da matéria Snow Fall 4,
pelo The New York Times. Canavilhas (2014) realizou uma análise de conteúdo dos
comentários desta reportagem a partir de uma observação semântica. Já Ventura e Ito
(2016) analisaram comentários no Facebook sobre reportagens da Uol TAB 5 com
características de GRM. Eles queriam descobrir se o estilo está tendo repercussão, qual

4
Disponível em <https://goo.gl/75r7db>. Acesso em 27 mai. 2016.
5
Disponível em: <https://goo.gl/WfavUU>, acesso em 15 out. 2017.
é o teor dos comentários e como a equipe de divulgação do TAB nas redes sociais lida
com os esses comentários de diferentes tipos.

Diferente das pesquisas anteriores, Winques (2016) observou o modo como gerações X,
Y e Z6 consumiram a reportagem O Golpe e a Ditadura7, da Folha de S.Paulo, em
grupos focais. O texto foi apontado como elemento de contextualização e racionalidade.
As gerações X e Y reclamam do excesso, sugerindo reduzir capítulos e descartar alguns
elementos. Já a geração Z não vê problemas, elogia a separação de conteúdo em
capítulos, o que ajuda na divisão do tempo de leitura, e diz guardar a matéria nos
favoritos para acessar depois.

Os resultados das gerações Y e Z apontam que, enquanto o texto conta a história, as


fotos trazem emoção. Os vídeos de depoimentos curtos são aprovados pela geração Z,
pois não atrapalham a leitura, enquanto as gerações X e Y relataram que “vídeos curtos
não contribuem e deixam os depoimentos soltos” (WINQUES, 2016, p. 297). As
gerações Y e Z aprovam as falas de diferentes personagens, pois optam pelos mais
interessantes, contudo, a geração X prefere menos depoimentos e mais profundidade.

Em relação às animações, a geração X considera apenas decorativa, diz que atrapalha a


leitura e não desperta a curiosidade, porém as gerações Y e Z as veem como
enriquecedoras. Quanto aos vídeos de resgate histórico, todos concordaram que foi um
dos itens que mais promoveu a imersão, assim como os áudios do mesmo estilo.

Alguns códigos, como infográficos interativos, apresentaram problema de usabilidade:


nem todos compreenderam se tratar de elemento interativo. De qualquer forma, as três
gerações consideram que o infográfico é a melhor forma de apresentar dados e tiveram
facilidade em manuseá-lo, sendo que os interativos foram elogiados principalmente
pelas gerações Y e Z. Sobre os elementos interativos, a geração X tem dificuldade e
demora na compreensão sobre a interação, já a Y age por intuição, enquanto a Z é
familiarizada e compreende rapidamente como interagir.

Principalmente as gerações X e Y reclamam que muitas vezes não há relação entre o


texto e os demais elementos e que o conteúdo ao lado direito atrapalha a leitura, por

6
Utilizando a classificação de Santos Neto e Franco (apud WINQUES, 2010), autora define que a
geração X engloba os nascidos entre 1965 e 1978, a Y, entre 1979 e 1992 e a Z, a partir de 1993.
7
Disponível em: <https://goo.gl/VQx8G1>. Acesso em 31 dez. 2016.
isso, a geração X sugere que fiquem abaixo do texto ou uma linha conecte “a palavra-
chave aos diferentes elementos multimídia relacionados ao tema” (WINQUES, 2016, p.
302). Já a geração Y disse que poderia haver um recurso de marcador, como no PDF,
para que os usuários ressaltassem o local onde pararam e interagissem com outros
elementos, sem se perderem.

As três gerações se mostram interessadas em consumir este tipo de reportagem, mas o


conteúdo não faz parte do cotidiano delas, pois nenhum participante teve contato com
uma GRM. Eles afirmaram também que acessariam GRMs sobre temas atuais,
solicitando conteúdo mais profundo e explicativo do que das notícias factuais, ou seja,
apreciam matérias que mostram diferentes ângulos e fontes, por isso, a autora defende
que há público para a GRM.

Os grupos focais apontaram ainda que as telas dos celulares não são as melhores para se
percorrer a GRM, só a Z não reclamou do aparelho e diz usá-lo cotidianamente. No
celular, Z, Y e Z realizam uma leitura pingue e pongue: leem os trechos mais
interessantes e passam para os elementos visuais. Contudo, as três gerações consideram
o computador o melhor dispositivo para consumir a GRM, porque permite conforto,
visualização e imersão.

Os interpretantes e as dimensões

O nosso trabalho também quer analisar as reações dos usuários diante da GRM.
Entretanto, para isso, utilizamos o conceito de interpretante de Peirce e as dimensões da
competência midiática desenvolvidas por Ferrés e Piscitelli (2015).

O interpretante é o terceiro correlato do signo, a produção de uma ideia causada pelo


signo. Ele pode ser dividido em imediato, dinâmico e final, seus três aspectos ou
estágios de ocorrência (SANTAELLA, 2008). Essa divisão está baseada nas categorias
fenomenológicas de Peirce: Primeiridade (possibilidade), Secundidade
(existencialidade) e Terceiridade (leis, representação).

O interpretante imediato está relacionado a todas as possibilidades de interpretação que


um signo pode gerar. O dinâmico é existencialidade e, portanto, o efeito que o signo de
fato produziu; por causa dessa concretude, Santaella (2008) diz ser o único que trabalha
diretamente em um processo comunicativo. Por fim, o interpretante final ou normal,
como Terceiridade, é um padrão a que se quer chegar, um interpretante ideal, por isso
inalcançável.

Há uma segunda divisão dos signos, também baseada na fenomenologia: interpretantes


emocional, energético e lógico. O emocional é qualidade de sentimento, enquanto o
energético é uma ação na qual precisamos colocar alguma energia. Por fim, o lógico
está relacionado ao raciocínio ou compreensão global a partir do signo; é uma regra
geral ou um hábito de ação (SANTAELLA, 2008). Há duas interpretações para o
posicionamento dessa segunda tríade na Semiótica de Peirce8. Neste trabalho, como
tratamos de um processo de comunicação e, portanto, de um interpretante concreto,
utilizaremos o emocional, energético e lógico apenas como uma subdivisão do
dinâmico.

Já a competência midiática, para Ferrés e Piscitelli (2015) “deverá contribuir para o


desenvolvimento da autonomia pessoal de cidadãos e cidadãs, bem como o seu
compromisso social e cultural” (FERRÉS e PISCITELLI, 2015). Ela pretende, ainda,
mesclar as oportunidades da cultura participativa (JENKINS, 2009) e o crescimento da
capacidade crítica.

Para a análise da competência midiática, Ferrés e Piscitelli (2015) propõem seis


dimensões, que devem ser analisadas de forma holística, dentro das quais estão uma
série de indicadores. Estes são relacionados no âmbito da análise (interação com as
mensagens recebidas) e da expressão, (produção e divulgação das mensagens).

A dimensão da Linguagem está relacionada a forma como os usuários compreendem a


utilização de multicódigos nas mensagens e suas funções dentro delas, assim como a
capacidade de utilizar diferentes formas de expressão nas diversas situações
comunicacionais. Já a Tecnologia, quer verificar se os usuários compreendem o papel
da tecnologia na sociedade, assim como conseguem utilizá-la para produzir conteúdo
multicódigos e percorrer os ambientes hipermidiáticos. Os Processos de Interação
procuram verificar a capacidade de os usuários avaliarem seu consumo de mídia, seu
conhecimento sobre audiência e o aproveitamento do ócio midiático para aprendizagem,
a interação com as plataformas em prol da cidadania, além da capacidade de
colaboração e interação.

8
Ver Santaella (2008), capítulo 3.
Os Processos de produção e difusão avaliam a compreensão dos usuários acerca dos
processos na produção e circulação de conteúdos da indústria de mídia, assim como
pessoal ou coletivo. Nestes dois últimos, quer saber a capacidade de trabalhar em
conjunto, transformar e produzir significados, circular conteúdo nos meios tradicionais
e redes sociais.

Ideologia e valores apontam para a competência de perceber a estruturação da realidade


pela mídia, a confiabilidade e a busca por diferentes fontes de informação, a
compreensão das mensagens subliminares, a percepção de estereótipos, as
oportunidades de manipulação e a capacidade de gerir as emoções tendo em vista os
valores transmitidos. Quer também avaliar a capacidade oferecida pelas ferramentas de
comunicação para circular valores, questionar estereótipos e, assim, promover um
comprometimento como cidadão. Por fim, a dimensão Estética questiona categorias
estéticas, assim como a capacidade de produzir mensagens com tais características ou
de se apropriar de produções artísticas para potencializar a criatividade.

Resultados

Para este trabalho, cruzamos os interpretantes emocional, energético e lógico com os


indicadores das dimensões de Ferrés e Piscitelli (2015), conforme a Tabela 1, para
verificar a situação das mentes interpretadoras diante das GRMs produzidas pela Folha
de S. Paulo e pelo jornal mineiro O Tempo.
Emocional Energético Lógico
Linguagem - Efeito na utilização de vários elementos; - Interação com os diferentes elementos;
- Transmissão da mensagem a partir de - Utilização de ferramentas para modificação
vários elementos; da reportagem.
- Tipos de interpretação a partir de vários
elementos.
Tecnologia - Facilidade na navegação com diversos
códigos;
- Percurso feito para percorrer a matéria;
- Influência da velocidade de internet na
interação com a matéria;
- Utilização de ferramentas para modificação
da reportagem.
Processos de Interação Comentário ou compartilhamento das
matérias
Processos de produção e difusão Comentário ou compartilhamento das Conhecimento sobre ferramentas e
matérias recursos financeiros para a produção da
reportagem.
Ideologia e valores Opinião ou ponto de vista do meio de
comunicação na reportagem.
Estética Emoção a partir de artes, fotos e vídeos. Qualidade das artes, fotos e vídeos.

Tabela 1: Cruzamento dos interpretantes emocional, energético e lógico com as dimensões da competência midiática.
Fonte: desenvolvido pelos autores.
Foi enviado um formulário do Google para usuários que comentaram nas publicações
do Facebook ou curtiram as mesmas das matérias: A Batalha de Belo Monte9, Crime
sem Castigo10, Crise da Água 11 e O Golpe e a Ditadura Militar12, da Folha, e Menino de
Abrigo13, Morte Invisível 14, Era uma vez um Pequeno Guerreiro15 e Um Adeus ao Rio
Doce16, de O Tempo. No total, retornaram 43 formulários (25 da Folha e 18 de O
Tempo), mas somente 39 (23 da Folha e 16 de O Tempo) puderam ser aproveitados.

Em relação ao interpretante emocional, a maioria (18 da Folha e todos de O Tempo)


afirmou que os múltiplos códigos causam emoções ou sentimentos. Na Folha, eles
disseram que trazem impacto, interesse e curiosidade, o que leva a um sentimento de
realidade, história mais completa e imersão. Já em O Tempo, outros sentimentos
também foram apontados, como tristeza, repulsa, desconforto, alegria, medo,
curiosidade etc.

Sobre os efeitos causados, muitos deles se confundem com os sentimentos, provocando


um retorno ao efeito de realidade. Na Folha, os respondentes dizem que a informação
fica mais completa e transparente, dando confiabilidade. Relatam ainda que a
reportagem fica atraente e mais didática, aumenta o interesse, chama a atenção e causa
até empolgação. Em O Tempo, os respondentes também dizem que os códigos causam
efeito informativo e facilitam a visualização, além de reterem a atenção, fazendo com
que se permaneça na página.

Sobre se cada um dos elementos transmite a mensagem de maneira diferente, na Folha,


apenas duas pessoas disseram que não, enquanto 11 afirmam que sim e dez dizem que
às vezes. Já em O Tempo, dez falam que sim e seis que às vezes, sendo que nenhuma
resposta foi negativa. Na Folha, as justificativas retomam as respostas anteriores. Os
usuários que alegaram não sentirem diferença, dizem que os diferentes códigos servem
apenas para ilustrar ou repassam a mesma informação.

9 Disponível em: <https://goo.gl/rQehXz>. Acesso em 31 dez. 2016


10 Disponível em: <https://goo.gl/bhzwNV>. Acesso em 31 dez. 2016.
11 Disponível em: <https://goo.gl/nmhgbu>. Acesso em 31 dez. 2016.
12 Disponível em: <https://goo.gl/4UXCq6>. Acesso em 31 dez. 2016.
13 Disponível em: <https://goo.gl/k0JoJr>. Acesso em 31 dez. 2016.
14 Disponível em: <https://goo.gl/kuDFH4>. Acesso em 31 dez. 2016.
15 Disponível em: <https://goo.gl/u0LFYp>. Acesso em 31 dez. 2016.
16 Disponível em: <https://goo.gl/CHHq3s>. Acesso em 31 dez. 2016.
Em O Tempo, os que dizem sim repetem algumas das explicações dos leitores da Folha
e acrescentam: o gráfico aprofunda a informação de um texto, as imagens despertam
mais sentimentos, já os infográficos e vídeos, geram uma reflexão mais profunda; o
visual impacta e a música comove. Os que responderam às vezes relatam que vídeos e
fotos tornam a matéria mais tendenciosa; pode ser até um atrativo, mas também poluir a
matéria ou torná-la cansativa e que os códigos modificam o tempo de leitura, sem, no
entanto, expressar se isso é bom ou ruim.

No interpretante energético, perguntamos aos usuários se eles conseguiam interagir com


os elementos quando solicitado, ao que a maioria de ambas as publicações respondeu
que sim, apenas três da Folha e dois de O Tempo disseram que não. Na Folha, os
comentários apontaram que as interações são lógicas e intuitivas e que, como os
elementos são essenciais, precisam ser de fácil interação. Os 14 leitores de O Tempo
que conseguem interagir, concordam que a interação é bem intuitiva.

A navegação também não é dificuldade para a maioria: na Folha, apenas três


responderam que talvez tenham dificuldade e somente um diz não ter facilidade,
enquanto, em O Tempo, apenas dois talvez não consigam navegar, sendo que o restante
não possui dificuldade alguma. O que pode atrapalhar a navegação é a velocidade da
internet. Apenas quatro usuários da Folha e dois de O Tempo disseram que não se
sentem incomodados com isso. Em geral, os leitores preferem nem acessar ou desistem
da leitura, caso a internet seja lenta.

Fora os problemas com a internet, a maioria navega com facilidade seguindo uma
ordem própria e não a proposta de capítulos, textos, e demais códigos. É o que fazem 12
respondentes da Folha e 11 de O Tempo, os quais geralmente procuram o que acham
mais interessante primeiro. Em O Tempo, os usuários dizem também seguir a intuição e
fazer um caminho buscando elementos que facilitem a compreensão.

Como os formulários foram enviados para usuários que compartilharam a matéria no


Facebook ou fizeram comentários em postagens sobe as reportagens, todos praticaram
esses atos17. Apesar disso, ninguém utilizou ferramentas para modificar a reportagem,
como o Photoshop para a construção de memes a partir de imagens da matéria. A maior

17
Apesar disso, quatro usuários de O Tempo e três da Folha parecem ter esquecido que comentaram ou
compartilharam, pois responderam que não atuaram dessa forma.
parte deles diz que a motivação para compartilhar ou comentar foi o tema interessante
que queriam divulgar e gerar troca de ideias. Outros usuários disseram que gostam de
expor seu ponto de vista ou se identificam com o tema da reportagem e ainda que as
informações ajudam na compreensão do tema, com uma abordagem direta e acessível.
Três justificativas são de que a matéria está relacionada ao tema de estudo do usuário ou
à disciplina que ministra.

No interpretante lógico, perguntamos a opinião dos internautas sobre a qualidade das


artes, fotos e vídeos. Na Folha, 13 avaliam como ótimos, nove como bons e um como
regular, resultado próximo de O Tempo, em que oito consideram ótimos, sete bons e um
regular. No entanto, em ambos os jornais, a maioria dos respondentes não sabe sobre o
tempo e dinheiro gasto nem sobre as ferramentas utilizadas na construção desse e de
outros códigos. Somente oito da Folha e cinco de O Tempo responderam que possuem
alguma noção sobre o assunto. Alguns dos 15 respondentes da Folha e 11 de O Tempo,
que dizem não ter conhecimento sobre o assunto, comentam que imaginam ter sido
gastos muito dinheiro e tempo, mas não sabem quanto.

Sobre as opiniões e pontos de vista defendidos nas matérias estudadas, 12 respondentes


da Folha reconhecem que existiram, cinco disseram que não e seis que talvez. Em O
Tempo, sete responderam que sim, enquanto outros sete pensam que talvez e somente
dois disseram não haver. Na Folha, quem reconheceu a presença de um ponto de vista,
alegou que todo discurso carrega uma ideologia. Quem respondeu talvez, justificou que,
em alguns momentos, transparece uma interpretação. Os que responderam não,
alegaram que as reportagens apresentam dois lados e trazem visões diferentes.

Já em O Tempo, metade dos usuários diz que o jornalismo não é neutro, que sempre há
um posicionamento. Aqueles que responderam talvez, justificaram que todo veículo
defende um ponto de vista, ainda que sutilmente. Já os que disseram não perceber um
ponto de vista, defenderam que a realidade foi mostrada como é e que a informação foi
apenas divulgada, ficando a interpretação para o leitor.

Conclusão

Na era da convergência, em que os antigos consumidores passam a ser mais ativos,


relatamos algumas pesquisas que buscaram perceber o comportamento dos usuários
diante da GRM. No nosso caso, a partir do cruzamento dos interpretantes emocional
energético e lógico de Peirce com as seis dimensões da competência midiática de Ferrés
e Piscitelli (2015) observamos que, em relação ao interpretante lógico, na dimensão
estética, a maioria dos usuários conseguiu perceber os sentimentos despertados pelos
múltiplos códigos. A dimensão da Linguagem e da Estética acabaram se misturando
quando os respondentes descreveram os efeitos causados pelos múltiplos códigos a
partir de sentimentos. Os usuários comentaram ainda que a matéria se torna mais
completa e didática, permitindo um maior conhecimento sobre o assunto tratado.
Contudo, houve dificuldade para definir a forma como os diferentes elementos
transmitem a mensagem de maneira diversa, sem que se percebesse uma unanimidade
nas opiniões dos usuários. De forma geral, em alguns momentos, ocorreu uma certa
aproximação dos resultados de Winques (2015): imagens comovem, vídeos promovem
imersão e infográficos organizam as informações.

Em relação ao interpretante energético, na dimensão da Linguagem, não houve grandes


dificuldades de interação. Na Tecnologia, nossa hipótese de que a navegação poderia ser
difícil parece ter sido refutada, pois a maioria relatou facilidade, até mesmo realizando
um caminho próprio a partir dos elementos considerados mais interessantes. Sobre o
compartilhamento das reportagens ou a escrita de comentários, mesclando Processos de
interação e de produção e difusão, todos efetuaram, mas sem utilizar nenhuma
ferramenta (dimensão da tecnologia), perdendo a oportunidade de agregar a visão
pessoal também nesse aspecto.

Sobre o interpretante lógico, na dimensão Estética, todos souberam de alguma forma


avaliar as artes, fotos e vídeos da matéria, mesmo que a opção “não sei dizer” estivesse
disponível no formulário e ainda que essa avaliação tenha sido superficial. Contudo,
poucos sabem como esses e outros códigos da reportagem foram produzidos, além do
tempo e dinheiro gastos na construção da matéria (Processos de produção e difusão).
Mas quando a questão se refere à Ideologia, a maioria parece perceber que as
publicações utilizam os códigos de forma a defender um posicionamento, ainda que não
explicitamente.
Referências

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dimensões e indicadores. Tradução: Amanda Cadinelli, Amanda Cordeiro Padilha e
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mídia, cultura e tecnologia, Porto Alegre, v. 21, n. 3, p. 897-917, setembro/dezembro,
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