LITERATURA BRASILEIRA – QUINHENTISMO Literatura jesuítica:
São poemas e peças teatrais produzidos pelos
O Quinhentismo, fase da literatura brasileira do missionários jesuítas a fim de catequizar o índio brasileiro. século XVI, tem este nome pelo fato das manifestações literárias se iniciarem no ano de 1.500, época da José de Anchieta colonização portuguesa no Brasil. A literatura brasileira, na O padre José de Anchieta (1534-1597) foi uma das grandes verdade, ainda não tinha sua identidade, a qual foi sendo figuras do primeiro século de história do Brasil. criou o teatro formada sob a influência da literatura portuguesa e europeia brasileiro: autos para a catequese dos índios. Também fez em geral. Logo, não havia produção literária ligada poesia em latim e escreveu tratados sobre o Brasil. diretamente ao povo brasileiro, mas sim obras no Brasil que Antologia: davam significação aos europeus. No entanto, com o passar dos anos, as literaturas informativa e dos jesuítas, foi dando "Teme a Deus, juiz tremendo, lugar a denotações da visão dos artistas brasileiros. que em má hora te socorra, Na época da colonização brasileira, a Europa vivia em Jesus tão só vivendo, seu apogeu no Renascimento, o comércio se despontava, pois deu sua vida morrendo enquanto o êxodo rural provocava um surto de urbanização. para que tua morte morra." Auto de São Lourenço Enquanto o homem europeu se dividia entre a conquista material e a espiritual (Contrarreforma), o cidadão brasileiro encontrava no Quinhentismo semelhante dicotomia: a Ao Santíssimo Sacramento literatura informativa, que se voltava para assuntos de Oh que pão, oh que comida, natureza material (ouro, prata, ferro, madeira) feita através Oh que divino manjar de cartas dos viajantes ou dos cronistas e a literatura dos Se nos dá no santo altar jesuítas, que tentavam inserir a catequese. Cada dia. A carta de Pero Vaz de Caminha traz a referida dicotomia claramente expressa, pois valoriza as conquistas Filho da Virgem Maria e aventuras marítimas (literatura informativa) ao mesmo Que Deus Padre cá mandou tempo que a expansão do cristianismo (literatura jesuíta). E por nós na cruz passou A literatura dos jesuítas tinha como objetivo Crua morte. principal o da catequese. Este trabalho de catequizar norteou as produções literárias na poesia de devoção e no E para que nos conforte teatro inspirado nas passagens bíblicas. Se deixou no Sacramento José de Anchieta é o principal autor jesuíta da Para dar-nos com aumento época do Quinhentismo, viveu entre os índios, pelos quais Sua graça era chamado de piahy, que significa “supremo pajé branco”. Como podemos ver, as atividades literárias do Foi o autor da primeira gramática do tupi-guarani e também Brasil, no século XVI, estão bem longe daquilo que de várias poesias de devoção. consideramos literatura. Com exceção de alguns poemas religiosos de José de Anchieta, até hoje apreciados, todas Características da literatura brasileira do século XVI as outras obras são ou documentos informativos sobre o 1. A literatura jesuítica, representada principalmente pelas Brasil, ou instrumentos jesuíticos para a conversão do obras de José de Anchieta e Manuel da Nóbrega, é gentio. religiosa: era um dos instrumentos de que os jesuítas Foi só no século seguinte que nossa literatura se dispunham para a conversão dos índios. enriqueceu, produzindo prosadores do porte de Antônio 2. Já a literatura informativa apresenta valor documental, Vieira e poetas do gabarito de Gregório de Matos. uma vez que fornecia à metrópole dados sobre a nossa terra. QUINHENTISMO SÍNTESE: 3. No levantamento de tais dados, os autores, muitas vezes, - Denominação genérica de todas as manifestações entusiasmavam-se com os aspectos pitorescos de nossa literárias do século XVI; natureza, exaltando, por exemplo, o abacaxi, fruta - Introdução da cultura europeia em terras brasileiras: Desconhecida na Europa, naquela época. Esse entusiasmo literatura ligada ao Brasil, mas de visões e intenções de nossos primeiros escritores, ao falarem engrandecendo europeias – espelho da Península Ibérica; nossa terra, denomina-se de ufanismo. - Europa: auge do Renascimento; cultura humanística; capitalismo mercantil; êxodo rural – surto de urbanização; Literatura informativa: - Ruptura na Igreja: reforma protestante e contrarreforma Consta de textos, desenvolvidos em prosa, pelos (inquisição); viajantes portugueses a fim de documentar a opinião do - Homem ibérico: conquista material e conquista espiritual estrangeiro sobre a terra recém-descoberta. - Carta de Pero Vaz de Caminha: primeiro documento da literatura no Brasil. A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Literatura Informativa Literatura dos Jesuítas Andam nus, sem coberta alguma Não fazem o menor caso - Os textos literários dos - Por influência da de encobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta cronistas funcionavam contrarreforma e da inocência como em mostrar o rosto. Ambos traziam os como um diário de viagens. inquisição, há produção de beiços de baixo furados e metidos neles uns ossos brancos - Época da expansão textos catequéticos. (...) ali encaixados de tal sorte que não os molesta nem os marítima: descoberta de - Melhor estética, se estorva no falar, no comer ou no beber". “terra nova”, das riquezas comparada à literatura Pero Vaz de Caminha – Carta sobre a Descoberta do Brasil naturais informativa: maior - Excesso de adjetivação preocupação com o texto. As principais obras: - Autor principal: Pero Vaz - Gênero dramático: teatro • A Carta de Pero Vaz de Caminha; de Caminha pedagógico. • História da Província de Santa Cruz, a que vulgarmente - Gênero Lírico: Devoção à chamamos Brasil - Pero de Magalhães Gândavo; Cristo. • Tratado da Terra do Brasil - Pero de Magalhães Gândavo; - Autor principal: José de • Tratados da Terra e da Gente do Brasil - Fernão Cardim; Anchieta • Tratado Descritivo do Brasil - Gabriel Soares de Souza. EXERCÍCIOS manifestação literária do Quinhentismo, movimento literário Textos para as questões 1 e 2 brasileiro do século XVI. Tendo em vista o seu teor, Terra podemos afirmar que os visitantes da Mostra do Esta terra, Senhor, me parece que, da ponta que Redescobrimento, ao se depararem com tal texto, mais contra o sul vimos até outra ponta que contra o norte conseguiriam através dele: vem, de que nós deste ponto temos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas por costa. (A) resgatar valores e conceitos sociais brasileiros. Tem, ao longo do mar, em algumas partes, grandes (B) descobrir a história brasileira pela arte. barreiras, algumas vermelhas, outras brancas; e a terra por (C) ter mais informações sobre a arte brasileira. cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta (D) ver a cultura indígena brasileira. a ponta é tudo praia redonda, muito chã e muito formosa. (E) perceber o interesse português em explorar a nova [...] terra. Nela até agora não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho BARROCO vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares, assim frios Idade Média e temperados como os de Entre-Douro e Minho. [...] Teocentrismo (complexo cultural dominado pela Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é doutrina cristã, um só Deus); graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por Deslocamento do eixo de interesses da terra para o bem das águas que tem. céu/desprezo pelos bens terrenos; (CAMINHA, Pero Vaz de. A Carta de Pero Vaz de Caminha. Rio de Janeiro: Arte adquire uma finalidade didática (ajuda a Livros de Caminha. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1943, p. 204.) compreender os postulados morais e religiosos da Idade Média); Carta de Pero Vaz Período de paixões violentas, paroxismos, A terra é mui graciosa, obscurantismo, misticismo – o que gera desequilíbrio, Tão fértil eu nunca vi. falta de medida e de comedimento; A gente vai passear, Inverossimilhança. No chão espeta um caniço, Principais manifestações: canção de gesta, cantigas, No dia seguinte nasce novelas de cavalaria Bengala de castão de oiro. Tem goiabas, melancias, Renascimento Banana que nem chuchu. Retoma os postulados da Antiguidade Clássica Quanto aos bichos, tem-nos muitos, associados ao preceito cristão. De plumagens mui vistosas. Interesses centrados na terra/apreço pelos bens da Tem macaco até demais. vida; Diamantes tem à vontade, Clareza; Esmeralda é para os trouxas. Equilíbrio; Reforçai, Senhor, a arca, Ideal de racionalidade; Cruzados não faltarão, Verossimilhança; Vossa perna encanareis, Antropocentrismo. Salvo o devido respeito. Principais manifestações: poesia épica, Ficarei muito saudoso Tragédia/comédia, poesia lírica Se for embora daqui. (MENDES, Murilo. História do Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991, p. 13.) Barroco x Renascimento O Renascimento caracterizou-se pelo racionalismo, pelo 1 . No texto de Murilo Mendes, os versos “Banana que nem equilíbrio, pela clareza e linearidade dos contornos. chuchu”, “Tem macaco até demais” e “Esmeralda é para os O Barroco tenta conciliar duas concepções de mundo trouxas” exprimem a representação literária da visão do opostas: a medieval e a renascentista. colonizador de maneira: Assim, valores como o humanismo, o gosto pelas a) séria. d) leal. coisas terrenas, as satisfações mundanas e carnais, b) irônica. e) revoltada. trazidos pelo Renascimento, fundem-se a valores c) ingênua. espirituais trazidos pela Contrarreforma, do que resulta uma forma de viver conflituosa, expressa na arte 2. Os dois textos, representantes de dois períodos literários barroca. distantes, revelam duas perspectivas diferentes. Indique: Contexto histórico a) A diferença entre o texto original e o segundo, em função Reforma Protestante de Lutero – 1517 da descrição da terra; 1547 – Contrarreforma: a) O texto de Murilo Mendes é uma paródia da Carta de o Ressurgimento da Inquisição Caminha. A carta, dirigida a el-rei, é informativa o Fundação da Companhia de Jesus e séria, o poema de Murilo é crítico e irônico. o Criação do índice de livros proibidos aos católicos
b) O período literário a que corresponde cada texto. Linguagem
b) A Carta pertence ao séc. XVI (Quinhentismo), período em A linguagem é a expressão das ideias e dos que se destacam os textos dos viajantes sentimentos humanos, assim, a linguagem barroca e jesuítas sobre a terra recém-descoberta, ao passo que exprime os sentimentos conflituosos vividos pelo Murilo Mendes é poeta da segunda fase do Modernismo. homem no século XVII. Requinte formal: vocabulário rebuscado, pois o 3. (POLI) "Duas relíquias históricas produzidas no Brasil, barroco era uma arte da aristocracia, e seu público foram trazidas para exibição na Mostra do Redescobrimento, consumidor desejava esse refinamento, porque lhe em São Paulo: o manto tupinambá e a carta de Pero Vaz de conferia status. Caminha." (Folha de São Paulo, 11 de maio de 2000.) Figuração: o texto barroco utiliza as metáforas, comparações, símbolos e alegorias e não a A carta de Pero Vaz de Caminha, sobre o achamento do objetividade. Brasil, enviada a El-Rei Dom Manuel é a principal Conflito espiritual: o homem barroco senti-se Gregório de Matos introduz em seus textos uma dilacerado e angustiado diante da alteração dos valores, manifestação nativista e inicia uma consciência crítica dividindo-se entre o mundo espiritual e o material. Essa nacional angústia é representada por figuras de linguagem como Satirizava o governador, o clero, os comerciantes, os a antítese e o paradoxo negros, mulatos... e amava as mulatas. Temas contraditórios: gosto pela confrontação Linguagem de baixo calão violenta de temas opostos como amor/dor, vida/morte, Satirizava todas as classes sociais de sua época juventude/velhice, pecado/perdão, etc. Utiliza uma linguagem cheia de termos indígenas e Efemeridade do tempo e o carpe diem: o homem africanos, de palavrões, gírias e expressões locais. barroco tem consciência de que a vida é passageira, por isso é preciso pensar na salvação espiritual. Mas, já ANTOLOGIA que a vida é passageira, sente-se, ao mesmo tempo, A Jesus Cristo Nosso Senhor um desejo de aproveitá-la. Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado, Jogo de claro/escuro: mais perceptível nas artes Da vossa alta clemência me despido; plásticas, o Barroco gosta de fundir a luz à sombra, Porque quanto mais tenho me delinquido, como uma representação do conflito resultante do Vos tenho a perdoar mais empenhado. desejo de fundir a fé à razão. Cultismo: É o jogo de palavras, o uso abusivo de Se basta a vos irar tanto pecado, metáforas e hipérboles. Corresponde ao excesso A abrandar-vos sobeja um só gemido: de detalhes das artes plásticas. Manifesta-se Que a mesma culpa, que vos há ofendido, sobretudo na poesia. Vos tem para o perdão lisonjeado. Conceptismo: É o jogo de ideias. Manifesta-se Se uma ovelha perdida e já cobrada sobretudo na prosa. Glória tal e prazer tão repentino Vos deu, como afirmais na sacra história, “Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada, espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; Cobrai-a; e não queiras, pastor divino, se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver Perder na vossa ovelha a vossa glória por falta de luz. Logo, há mister luz, há mister espelho e há mister olhos”. (Padre Vieira) Soneto Neste mundo é mais rico, o que mais rapa: Barroco no Brasil Quem mais limpo se faz, tem mais carepa: Com sua língua ao nobre o vil decepa: Bento Teixeira com o texto Prosopopeia (1601) marca o O Velhaco maior sempre tem capa. início do barroco brasileiro. 1720 - 1750 – reconhecimento tardio. Sentimento nativista – valorização da terra, aqui não Mostra o patife da nobreza o mapa: Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa; havia o luxo da corte europeia. Quem menos falar pode mais increpa Dentre os autores destacam-se Quem dinheiro tiver pode ser Papa. Na poesia: Gregório de Matos, Bento Teixeira, Botelho de Oliveira e Frei Itaparica; Na prosa: Pe. Antônio Vieira, Sebastião da Rocha Pita A flor baixa se inculca por tulipa; Bengala hoje na mão, ontem garlopa: e Nuno Marques Pereira. Mais isento se mostra, o que mais chupa. GREAGÓRIO DE MATTOS – boca do inferno Para a tropa do trapo vazo a tripa, Um dos fundadores da poesia lírica e da satírica, E mais não digo, porque a Musa topa dedicou-se aos poemas eróticos-irônicos e às sátiras, o Em apa, epa, ipa, opa, upa que o levou ao exílio. Poeta irreverente como pessoa, por chocar os valores e Sonetos a D. Ângela de Sousa Paredes a falta moral da sociedade baiana de seu tempo; Não vi em minha vida a formosura, Irreverente como poeta lírico, pois seguia e, ao mesmo Ouvia falar nela cada dia, tempo, quebrava os modelos do barroco europeu; E ouvida me incitava, e me movia Irreverente como poeta satírico, pois empregava um A querer ver tão bela arquitetura. vocabulário de baixo calão, denunciou as contradições e falsidades da sociedade, ignorando as autoridades Ontem a vi por minha desventura políticas e religiosas. Na cara, no bom ar, na galhardia De uma Mulher, que em Anjo se mentia, Poesia Lírica Gregoriana Lírica amorosa:: marcada pelo dualismo amoroso De um Sol, que se trajava em criatura. carne/espírito, que leva, normalmente, a um sentimento Me matem (disse então vendo abrasar-me) de culpa no plano espiritual. Utiliza a mulher como Se esta a cousa não é, que encarecer-me. personificação do próprio pecado, da perdição Sabia o mundo, e tanto exagerar-me. espiritual; Lírica filosófica:: refere-se ao desconcerto do mundo e Olhos meus (disse então por defender-me) às frustrações humanas diante da realidade. São Se a beleza hei de ver para matar-me, poemas que marcam a transitoriedade da vida e do Antes, olhos, cegueis, do que eu perder-me. tempo, marcados pelo carpe diem; Lírica religiosa:: usa temas como o amor a Deus, a Desenganos da vida humana, metaforicamente culpa, o arrependimento, o pecado e o perdão, além É a vaidade, Fábio, nesta vida, das referências bíblicas. Utiliza uma linguagem culta, Rosa, que da manhã lisonjeada, com abundantes figuras de linguagem e inversões. Púrpuras mil, com ambição dourada, Airosa rompe, arrasta presumida. Poesia satírica É planta, que de abril favorecida, Conflito entre teocentrismo e antropocentrismo Por mares de soberba desatada, Aproximação e Florida galeota empavesada, conciliação de Linguagem rebuscada, Sulca ufana, navega destemida. opostos, matéria x Carpe Diem com abundância de espírito; Pecado x figuras de linguagem É nau enfim, que em breve ligeireza perdão Com presunção de Fênix generosa, Galhardias apresta, alentos preza: Gregório de Matos Padre Antônio Vieira - Poesia lírica, satírica, - Sermões; prosa Mas ser planta, ser rosa, nau vistosa religiosa, filosófica, erótica. - Texto visionário De que importa, se aguarda sem defesa - Texto irreverente e inovador. - Conceptismo explícito Penha a nau, ferro a planta, tarde a rosa? - Cultismo explícito - Defesa ao indígena - Denúncia social PADRE ANTONIO VIEIRA Vieira nasceu em Lisboa, em 1608 e morreu na EXERCÍCIOS Bahia em 1697. Veio para o Brasil em 1615, entrou na Textos para a questão I Companhia de Jesus e cedo começou a destacar-se como TEXTO VII O certo é, pátria minha, orador. Em 1641, um ano depois de Portugal libertar-se do Senhora Dona Bahia, que fostes terra de alarves, jugo espanhol, foi para Lisboa, encarregado de saudar o rei nobre e opulenta cidade, e inda os ressábios vos duram Dom João IV. Saiu -se tão bem da missão, que foi nomeado madrasta dos naturais, desse tempo e dessa idade. pelo rei orador da Corte. Impressionado com os dotes de e dos estrangeiros madre: oratória do Jesuíta e sua habilidade política, Dom João IV Haverá duzentos anos, encarregou-o de várias missões diplomáticas no exterior. Dizei-me por vida vossa nem tantos podem contar-se, Regressando a Lisboa, Vieira entregou-se à defesa dos em que fundais o ditame que éreis uma aldeia pobre cristãos novos (judeus convertidos ao Cristianismo). Em de exaltar os que aqui vêm, e hoje sois rica cidade. virtude disso, passou a ser perseguido pela Inquisição até e abater os que aqui nascem? que, em 1652, voltou para o Brasil, fixou-se no Maranhão e Então vos pisavam índios, dedicou-se à catequese; mas, em 1661, foi expulso daqui, Se o fazeis pelo interesse e vos habitavam cafres, por lutar contra a escravização dos índios. Regressou a de que os estranhos vos gabem, hoje chispais fidalguias, Portugal, mas foi novamente perseguido: às acusações isso os paisanos fariam arrojando personagens. anteriores soma-se agora a de sebastianista (prega dor da com conhecidas vantagens. crença na volta de D. Sebastião, rei português desaparecido Gregório de Matos na batalha de Alcácer-Quibir, em 1578). Vieira viaja então E suposto que os louvores para Roma, alcançando o perdão do Papa. Regressa depois Nota: entenda-se “Bahia” como em boca própria não valem, cidade. ao Brasil, onde morre em 1697. se tem força esta sentença, mor força terá a verdade. Sua produção em prosa constitui-se de: Sermões, Cartas e Obras proféticas, em que Vieira defende o sebastianismo. Vocabulário São bastante característicos, dos sermões do alarves - que ou quem é rústico, abrutado, grosseiro, Padre Vieira temas como a defesa dos índios contra a ignorante; que ou o que é tolo, parvo, estúpido. escravização, a defesa dos judeus convertidos, perseguidos ressábios - sabor; gosto que se tem depois. pela Inquisição, o incentivo à luta contra os holandeses. cafres - indivíduo de raça negra. ANTOLOGIA 1. Todas as afirmativas sobre a construção estética ou a produção textual do poema de Gregório de Matos estão SERMÃO PELO BOM SUCESSO DAS ARMAS DE adequadas, EXCETO uma. Assinale-a. PORTUGAL CONTRA AS DE HOLANDA (EXTRATO) (A) Existem antíteses, características de textos no período “Finjamos, pois (o que até fingido e imaginado faz barroco. horror) finjamos que vêm a Bahia e o resto do Brasil às (B) Há uma personificação, pois a Bahia, ser inanimado, é mãos dos Holandeses. O que é que há de suceder em tal tratada como ser vivo. caso? Entrarão por esta cidade com fúria de vencedores e (C) A ausência de métrica aproxima o poema do de hereges; não perdoarão o estado, o sexo nem a idade; Modernismo. com o fio dos mesmos alfanges medirão ao todo: chorarão (D) O eu lírico usa o vocativo, transformando a Bahia em as mulheres, vendo que não se guarda decoro a sua sua interlocutora. modéstia; chorarão os velhos, vendo que não se guarda (E) Há diferença de tratamento para os habitantes locais e cortesia as suas cãs; chorarão os nobres, vendo que não se os estrangeiros. guarda cortesia a sua qualidade; chorarão os religiosos e veneráveis sacerdotes, vendo que até as coroas sagradas 2. Considerando as características das escolas literárias no os não defendem; chorarão finalmente todos e entre todos, Brasil, pode-se afirmar que o(a) mais lastimosamente, os inocentes...” a) Arcadismo abordou temas religiosos, revelando profunda angústia existencial. SERMÃO DA SEXAGÉSIMA b) poesia romântica da 2ª fase apresentou exclusivamente “Há de formar o pregador uma só matéria, há de defini-Ia uma tendência nacionalista. para que se conheça, há de dividi-Ia para que se distinga, há c) Barroco se destacou pelo jogo de palavras e raciocínio, de prová-Ia com a escritura, há de declará-Ia com a razão, predominando a linguagem figurada. há de confirmá-Ia com o exemplo, há de ampliá-Ia com as d) Literatura Informativa tratava de textos escritos pelos causas, com os efeitos, com as circunstâncias que se hão jesuítas sobre as facilidades de conversão dos índios. de seguir, com os inconvenientes que se hão de evitar; há e) simbolista não se preocupava com a forma e seus textos de responder às dúvidas, há de satisfazer às dificuldades, são mais narrativos que poéticos. há de impugnar e refutar com toda força de eloquência a argumentos contrários, e depois disso há de colher, há de 3. Assinale a alternativa correta em relação ao Quinhentismo apertar, há brasileiro. de concluir, há de persuadir, há de acabar”. a) É um período bastante produtivo da literatura brasileira, Se o atalho não soube dos seus danos. com importantes poetas exaltando as qualidades da nova terra. O prudente varão há de ser mudo, b) É o primeiro movimento literário ocorrido no Brasil, Que é melhor neste mundo, mar de enganos, tendo como destaque o poeta Basílio da Gama. É uma Ser louco c’os demais, que só, sisudo. escola de exaltação do sentimento de brasilidade. (MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos. São Paulo: Cultrix, c) É um período em que não se pode falar numa literatura 1989. p. 253) brasileira, e sim em literatura ligada ao Brasil mas que 2) (UFRJ / 2009) O soneto de Gregório de Matos apresenta, reflete as ambições e intenções do homem europeu. em sua construção, um conflito entre o eu-lírico e o mundo. d) É composta de crônicas de viagem e de uma vasta a) Em que consiste esse conflito? produção jesuítica, com objetivos de descrever o interior do Brasil e converter índios e negros à fé católica. e) É uma fase inicial da nossa literatura, mas essencial para a formação cultural brasileira pela qualidade dos poemas e romances nela produzidos. b) Qual foi a solução proposta?
Texto para a questão 1
A Maria dos povos, sua futura esposa Discreta, e formosíssima Maria, Enquanto estamos vendo a qualquer hora, 3) (UFRJ / 2009) O Barroco faz um uso particular de Em tuas faces a rosada Aurora, metáforas para concretizar abstrações. No texto acima, Em teus olhos e boca o Sol, e o dia: encontram-se vocábulos cujos significados constroem imagens vinculadas à travessia do eu-lírico no mundo. Retire Enquanto com gentil descortesia do texto quatro vocábulos desse campo semântico, sendo O ar, que fresco Adônis te namora, dois verbos e dois substantivos. Te espalha a rica trança voadora, Quando vem passear-te pela fria:
Goza, goza da flor da mocidade,
Que o tempo trata a toda ligeireza, E imprime em toda flor sua pisada. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Oh não aguardes, que a madura idade, Quando jovem, Antônio Vieira acreditava nas Te converta essa flor, essa beleza, palavras, especialmente nas que eram ditas com fé. No Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada. entanto, todas as palavras que ele dissera, nos púlpitos, nas MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos - Seleção de José Miguel salas de aula, nas reuniões, nas catequeses, nos Wisnik. 2a ed. São Paulo: Cultrix, [s.d.] corredores, nos ouvidos dos reis, clérigos, inquisidores, 1) (UFRJ / 2006) O primeiro verso da 3ª estrofe apresenta- duques, marqueses, ouvidores, governadores, ministros, se como consequência de um aspecto central da visão de presidentes, rainhas, príncipes, indígenas, desses milhões mundo barroca. Justifique essa afirmativa com suas próprias de palavras ditas com esforço de pensamento, poucas - ou palavras. nenhuma delas - haviam surtido efeito. O mundo continuava exatamente o de sempre. O homem, igual a si mesmo. Ana Miranda, BOCA DO INFERNO 1. "...milhões de palavras ditas com esforço de 2. (UFRJ / 2006) O poema se constrói por meio da oposição pensamento." entre dois campos semânticos, especialmente no contraste entre a primeira e a última estrofes. Explicite essa oposição Essa passagem do texto faz referência a um traço da e retire, dessas estrofes, dois vocábulos com valor linguagem barroca presente na obra de Vieira; trata-se do: substantivo – um de cada campo semântico –, identificando a) gongorismo, caracterizado pelo jogo de ideias. a que campo cada vocábulo pertence. b) cultismo, caracterizado pela exploração da sonoridade das palavras. c) cultismo, caracterizado pelo conflito entre fé e razão. d) conceptismo, caracterizado pelo vocabulário preciosista e pela exploração de aliterações. e) conceptismo, caracterizado pela exploração das relações Texto para as questão 2 lógicas, da argumentação. Segue neste soneto a máxima de bem viver que é envolver-se na confusão dos néscios para passar 2. O século XVI deve ser reconhecido, na história da melhor a vida literatura brasileira, como um período de: a) manifestações literárias voltadas basicamente para a Soneto informação sobre a colônia e para a catequese dos Carregado de mim ando no mundo, nativos. E o grande peso embarga-me as passadas, b) amadurecimento dos sentimentos nacionalistas que logo Que como ando por vias desusadas, viriam a se expressar no Romantismo. Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo. c) exaltação da cultura indígena, tema central dos poemas épicos de Basílio da Gama e Santa Rita Durão. O remédio será seguir o imundo d) esgotamento do estilo e dos temas barrocos, superados Caminho, onde dos mais vejo as pisadas, pelos ideais estéticos do Arcadismo. Que as bestas andam juntas mais ousadas, e) valorização dos textos cômicos e satíricos, em que foi Do que anda só o engenho mais profundo. mestre Gregório de Matos. Não é fácil viver entre os insanos, Erra, quem presumir que sabe tudo,