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A IGREJA É SANTA E PECADORA?

O leitor Luciano nos enviou essa mensagem na semana passada:

Olá, gostaria que, se possível, me tirassem uma dúvida. Mas primeiro parabenizo pelo
site, pelas postagens que, muitas vezes, me fazem rir, ao mesmo tempo em que me
fazem aprender mais. Estou sempre visitando e hoje gostaria de fazer uma pergunta. É a
seguinte: alguns padres dizem que “a Igreja é santa e pecadora”, pois é constituída de
pecadores. Outros padres já dizem que “a Igreja é santa mas não pecadora” pois ela é o
Corpo de Cristo e não pode ter máculas… Diante disso eu queria saber, qual o correto?
Qual é a verdade?
Luciano, obrigada por nos dar uma força com suas palavras! Sobre a sua pergunta, a expressão “Igreja santa e
pecadora” não é de todo errada, mas não vale a pena usá-la, porque dá asas para as viagens dos hereges de
plantão e confunde os menos instruídos.
O principal motivo para evitarmos essa expressão é a caridade para com os irmãos que ainda engatinham no
conhecimento sobre a doutrina. Muitos, ao ouvir “Igreja santa e pecadora”, podem cair nas armadilhas
do relativismo reinante, achando que “já que a Igreja é pecadora, pode errar em seus ensinamentos, inclusive
os dogmáticos”. E isso é uma ideia extremamente torta!
É prudente evitarmos usar uma expressão que dá tanta margem pra conclusões toscas...
Para entendermos melhor essa questão de “santa e pecadora”, vamos usar a imagem de São Paulo: a Igreja é
um corpo, em que nós somos os membros e Jesus Cristo é a cabeça (Col 1,18; I Cor 12,27). Acaso em Jesus Cristo
há mancha, há pecado? Certamente que não! E é Ele quem comanda o corpo.
E em que consistem tais comandos? Na doutrina da Igreja, é claro! Os comandos enviados pela cabeça são os
ensinamentos sobre fé e moral que todos os católicos (membros do corpo) são chamados a crer e seguir. A
doutrina da Igreja, portanto, é um porto seguro, é digna de toda a nossa confiança, pois não é uma doutrina
humana; provém de Cristo.
Por isso, no Credo Niceno-constantinopolitano (aquele mais longo), rezamos “Creio na SantaIgreja
Católica Una, Santa, Católica e Apostólica”; e não “Creio na Santa Igreja Católica Una, Santa e pecadora...”.
Certo? E o Papa Paulo VI, em um documento do Concílio Vaticano II, deixou claro que a Igreja “é
indefectivelmente santa”, ou seja, a crença em sua santidade é uma coisa certa, infalível (Lumen Gentium, 39).
O problema é que nem sempre os membros do corpo obedecem adequadamente aos comandos enviados pela
cabeça. Assim, a Santa Igreja prega a caridade, o perdão, a castidade, a temperança... Mas quando seus
membros estão doentes ou feridos – com a alma ferida pelo pecado –, falham em cumprir esses "comandos".
Por isso, a Igreja é Santa, mas necessita ser sempre purificada, pois contém filhos pecadores em seu seio.
A santidade as Igreja é certa, porém, com nossos pecados, nós manchamos o corpo da Igreja. E quando um
membro vai mal, todo o corpo sofre. Da mesma forma, quando um membro está sadio – são, isto é, SANTO –
todo o corpo se beneficia disso!
Então, é fundamental que saibamos diferenciar a santidade DA Igreja (que é certa) da santidade NA Igreja (que
é pessoal e nem sempre corresponde à santidade DA Igreja). Nesse sentido, a expressão “Igreja santa e
pecadora” é uma faca de dois gumes: se, por um lado, tem seu fundo de verdade, por outro embaralha um
pouco as coisas, pois não favorece a necessária distinção.
Até onde sei, o único Papa de toda a história que se referiu à Igreja como “santa e pecadora” foi o beato João
Paulo II – e fez isso uma única vez. Já Bento XVI, sabendo bem da necessidade de colocar os pingos nos is,
sempre disse “Igreja santa e composta de pecadores”. Nota 10!
Então, esta é a expressão mais adequada: “Igreja santa e composta de pecadores”.
Os fundamentos das afirmações desse post nós tiramos do documento “Memória e Reconciliação: a Igreja e as
culpas do passado” (itens 3.2 e 3.3).

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Creio na Igreja santa e pecadora
Por Roque Frangiotti
Nossa profissão de fé seria mais completa e mais elucidada se rezássemos: “creio na Igreja Una,
Santa, Pecadora, Católica, Apostólica…”. Estaríamos assim abrangendo as duas dimensões, as
duas faces da Igreja: a divina e a humana, o Espírito e a carne, a carismática e a institucional, a
invisível e a visível, a profética e a organizacional, a vertical e a horizontal, a da graça e a do
pecado. Por si, é um erro considerar a questão deste ponto de vista, já que essa distinção é
convencional e fruto de certas tendências extremistas dos cristãos. Não existe uma Igreja do
Espírito e uma Igreja do homem, da carne, uma Igreja invisível e uma Igreja visível. O que existe
é a Igreja que está aí, que conhecemos, que denominamos por Católica, Apostólica.
1. A DIALÉTICA ENTRE O ESPÍRITO E A CARNE
Pretendemos comentar, neste artigo, a dialética desenvolvida entre o Espírito e a Carne, isto
é, entre o que é Santo e o que é pecado na Igreja. A Igreja não é só a obra de Cristo-Espírito,
nem só a obra dos Apóstolos, do homem. É uma obra teândrica, isto é, de Deus e do homem.
Poderíamos afirmar: a Igreja é verdadeiramente divina e verdadeiramente humana. É impossível
dividi-la em espiritual e carnal, em carismática e institucional. O que podemos destacar, com
muita clareza, são os aspectos que historicamente ganham mais realce, isto é, a ênfase, o acento
que os cristãos colocam num dos polos. Quando isso acontece, no movimento pendular, torna-se
mais visível, mais evidente, um dos aspectos, ou o divino ou o humano.
Os textos do Concílio Vaticano II foram criticados por alguns observadores não católicos por seu
cristomonismo unilateral e por não dar a devida atenção à dimensão pneumatológica. Isso
significa que o Espírito está apenas em função de Cristo, para levar à eficácia universal as
palavras e obras de Jesus-Cristo. Como uma consequência imediata, leva-nos a conceber a
doutrina e a prática da Igreja de modo unilateral, como instituição de Jesus-Cristo. Tirando todas
as consequências, chegaríamos a afirmar: o aspecto institucional da Igreja estaria em primeiro
plano, enquanto o aspecto profético e carismático ficariam em segundo lugar, não recebendo
abertura suficiente para seu desenvolvimento. Como reação, notamos que a teologia e os
movimentos eclesiais pós-conciliares destacaram expressamente a dimensão carismática da
Igreja. Por sua vez, uma concepção puramente pneumatológica, carismática, produz uma Igreja
inimiga do mundo, inimiga da organização, anti-institucional.
Parece-nos que devamos conceber as estruturas institucionais como consequências, sinais e
materializações da ação do Espírito Santo no coração dos crentes. A dimensão carismática é o
fundamento e a raiz da Igreja como instituição. Mas o monofisismo ronda a Igreja, a ponto de se
dizer dela: “A Igreja romana que se quer sinal da presença de Cristo no mundo, transformou-se
na maior administração não governamental do mundo. A Instituição-Igreja funciona segundo
protótipo da General Motors”.
Trava-se, ao largo da história, essa luta entre o Espírito e a Carne, entre a graça e o pecado,
entre o dom e a incredulidade, entre o carismático e o institucional, no seio da única Igreja. Única
porque há um só Corpo. Um prédio não é feito só de mármore, de vidraças, mas também de
barro, de reboco. A Igreja se faz na fidelidade e na infidelidade. Está por isso sempre necessitada
de revisão, de conversão, sempre necessitada de renovação. Só será perfeita, fiel em estado
escatológico, como Jerusalém celeste.
II. IGREJA: CRISE QUE O ESPÍRITO ESTABELECE NA CARNE
A Igreja sempre está ameaçada. Sempre em crise. Querer uma Igreja sem crise é afundar-se no
idealismo e na completa abstração.
Nasceu a Igreja de uma crise-ruptura entre o Antigo e o Novo Testamento. Seus primeiros passos
foram marcados pela crise-oposição entre os convertidos do paganismo, indicados pelas
comunidades paulinas, e os judeus convertidos, indicados pela comunidade de Jerusalém, de
Tiago e Pedro. Quando lemos Atos 4,32, onde se diz que os cristãos “eram um só coração e uma

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só alma”, imaginamos uma situação ideal, paradisíaca. Mas, continuando a leitura, encontramos
já no capítulo 6 a explosão de um conflito: “Naqueles dias, como aumentasse o número dos
discípulos, surgiram murmurações entre os helenistas contra os hebreus”. Diziam os helenistas
que, no serviço cotidiano, suas viúvas eram esquecidas ou maltratadas.
Hoje a Igreja continua em crise. É uma crise que mostra sua capacidade de sobreviver, que ajuda
aos homens a compreenderem o sentido da crise que vivem. Os movimentos contestatórios no
seio da Igreja querem tornar possível aos homens de hoje a leitura dos sinais da Igreja, visto que,
muitos dos seus símbolos, sinais, estruturas, tornaram-se opacos, ilegíveis. Com isso a Igreja vai
deixando de ter significação para o homem.
O Evangelho é sua força crítica. Uma ordem estabelecida é precisamente uma ordem que recusa
uma crise, é uma ordem estática. Portanto, a Igreja não pode atrelar-se, prender-se a uma ordem
estática, mesmo em nome das melhores intenções. Fixar-se, estabelecer-se é trair o Evangelho,
é desfigurá-lo. A Igreja se estabelece quando começa a se sobrecarregar de leis, de pequenas
tradições, de estruturas ameaçadoras para se proteger. Protegendo-se, pode-se firmar.
Firmando-se, se fixa. Fixando-se, se imobiliza. Imobilizando-se, se arcaíza.
O Espírito é fogo, é a chama sempre a iluminar o caminho dos cristãos. É o elemento crítico que
não permite a sobreposição das estruturas ao homem. O Espírito faz os cristãos ultrapassarem os
limites históricos de suas instituições para que não se petrifiquem.
Aparentemente, no dia de Pentecostes, nasceu uma comunidade religiosa entre muitas outras,
mas na realidade, tratava-se de outra coisa muito diferente, de uma humanidade radicalmente
nova, constituída por todos aqueles que reconhecem a verdade da existência, a verdade da crise
perpétua que é o ser humano.
III. IGREJA: ESPÍRITO-CARNE-ESTRUTURA
A Igreja é católica, isto é, universal, enquanto é capaz de se abrir a toda verdade, venha de onde
vier, evitando a mentalidade sectária. Contudo, esta Igreja-católica não consegue existir sem
alguma estrutura, alguma organização. Seu erro está em fazer da instituição, da organização os
traços característicos, de tal modo que impeça a aproximação dos povos, que dificulte ao homem
ser Igreja. A vida em comum não pode passar sem estruturas, mas pode-se fazer das estruturas
uma expressão da vida e da comunhão e não barreiras, empecilhos, contratestemunhos. Jesus
nunca desenhou uma maquete de Igreja, nunca traçou, em concreto e em pormenores uma regra
de vida, uma organização que fosse modelada, plasmada desde toda eternidade que deveria ser
reproduzida aqui. Aprendi, em meus tempos de catecismo, que a Igreja era uma “Sociedade
Perfeita”. Entendem-se duas coisas: ou é uma sociedade ao nível das outras tantas, com todo
aparato de burocracia, de repartições, de morosidade que entravam a vida pública, imbuída de
toda autoridade e poder ou, então, é algo cujo modelo original está no céu e o que temos aqui é a
cópia fiel e acabada do modelo celeste. Parece-me que os dois sentidos podem coexistir. Basta-
nos recordar os momentos históricos em que, assumindo o máximo de autoridade e poder,
sobrepujou os reis e imperadores, em nome do modelo celeste.
A Igreja está ameaçada enquanto se identifica com a lei, com as estruturas que abafam a vida e
levam ao farisaísmo. Quando se recusa a ser servidora e pobre, promotora da Liberdade. Igreja
ameaçada é a que em vez de ajudar os homens a serem livres, filhos de Deus, torna-os crianças,
assumindo todas as suas tarefas, e responsabilidades, decidindo por eles o que é ou não bom, o
que devem ou não fazer, quanto devem rezar, como e onde, quando se deve jejuar, o quanto se
deve comer num dia de jejum. Igreja insensível aos valores humanos, à liberdade, à criatividade.
Talvez seja esta a razão porque muitos falam que creem em Cristo, mas não na Igreja. Cristo é
atração, mas a Igreja é empecilho, entrave, algo ultrapassado.
É a Igreja que enfatiza mais o valor do dogma, da rubrica, tornando-se reacionária, obscurantista.
Igreja construída não pela fé que vem do “ex auditu”, mas pela espada, pelo decreto de ameaça
de condenação eterna. O Patriarca Atenágoras, de Constantinopla, dizia: “O que falta mais aos
homens da Igreja é o espírito de Cristo, a humildade, o acolhimento desinteressado, a capacidade

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de ver melhor o outro(…). Nós andamos fora da vida. Nós fizemos da Igreja uma organização
como as outras. Todas as nossas forças foram gastas para pôr essa organização em pé. E hoje
são gastas para a fazer funcionar. A Igreja caminha como uma máquina e não como uma vida”.
A Igreja não pode se reduzir aos esquemas humanos do jurisdicismo, autoritarismo. Sua fraqueza
é justamente ser uma “Sociedade perfeita”, em assemelhar-se às empresas multinacionais. Seu
alicerce não é este, mas cada homem de boa vontade. O Espírito não está nas estruturas, mas
nos corações onde inscreve a Lei Nova do Amor, da Fraternidade.
IV. ESPÍRITO: ALMA DO CORPO
Há um dizer tradicional que compara o Espírito Santo em relação à Igreja como a alma em
relação ao corpo. Não partilhamos dessa antropologia dualista, por isso é com certa dificuldade
que entendemos o que se quer dizer com esta comparação. O Espírito Santo não é apenas uma
“alma”, mas uma Pessoa coeterna, codeterminada, coparticipada com o Pai e o Filho, e a Igreja
também não é um corpo à maneira do nosso corpo. Trata-se, portanto, de uma comparação, não
de uma realidade.
Creio na Igreja enquanto é íntima comunhão do homem com Deus e dos homens entre si.
Enquanto é comunidade-fraternidade dos homens, edificada à sombra de Deus. Enquanto
encarnação de Deus no homem através de Jesus-Cristo-Filho. Enquanto atuar do Espírito que vai
penetrando toda a massa humana para formar com ela a Unidade divino-Cristo-humana.
Há uma unidade profunda, ainda que invisível, neste universo. Unidade radical que cria a
solidariedade universal de todos os seres e na qual todos os seres estão entrelaçados,
intersujeitos. “Há um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos”
(Ef 4,6).
Nosso corpo é formado de células, átomos, moléculas tão diversas quimicamente, mas produzem
essa unidade orgânica que se chama corpo. Serão as células, os átomos, as moléculas que
formam essa unidade? Não será um outro elemento, embora não mensurável, não dissecável,
mas tão real quanto as moléculas, que produz a unidade orgânica e vital? É o Espírito Santo o
“princípio vital”, princípio pessoal, unificador, corporificador da humanidade. É ele quem patrocina
aquele existir em união de amor, aquele laço unitivo, aquele vínculo fraterno do repartir no dia a
dia. “Com efeito, o corpo é um e, não obstante, tem muitos membros, mas todos os membros do
corpo, apesar de serem muitos, formam um só corpo. Assim também acontece com Cristo. Pois
fomos todos batizados num só Espírito para ser um só corpo, judeus e gregos, escravos e livres;
e todos bebemos de um só Espírito” (lCor 12,12-13).
É o Espírito Santo o gerador da unidade fundamental da Igreja. A unidade externa deveria ser o
sinal, o sacramento dessa unidade interior, profunda. O povo, só é povo quando está unido. Para
estar unido precisa do servidor da unidade, o bispo. O bispo só o é em comunhão com todos os
bispos, através do pastor comum, o papa, que é o servidor da unidade de todo o Povo de Deus.
Os presidentes das Igrejas deveriam deixar-se guiar pelo Espírito, para que os cristãos sentissem
que é o Espírito Santo quem governa a Igreja, quem a dirige, coordena, conduz. Convém recordar
a admoestação que Pedro faz em sua primeira carta, no capítulo 5, versículo 2-3: “Apascentai o
rebanho de Deus que vos foi confiado, cuidando dele, não como por coação, mas de livre
vontade, como Deus o quer, nem por torpe ganância, mas por devoção, nem como senhores
daqueles que vos couberam por sorte, mas, antes, como modelos do rebanho”.
Os pastores têm que deixar os fiéis sentirem que o Espírito está trabalhando, agindo, vivificando.
Isso só épossível quando, conscientes, souberem-se participantes não só de tarefas secundárias,
mas participantes da indefectibilidade da fé, conforme pede o Vaticano II, na Lumen Gentium,
número 12: “Por este senso da fé, excitado e sustentado pelo Espírito da Verdade, o Povo de
Deus, (…) não já recebe a palavra de homens, mas verdadeiramente a palavra de Deus (…):
apega-se indefectivelmente à fé uma vez para sempre transmitida aos santos (…); e, com reto
juízo, penetra-a mais profundamente e mais plenamente a aplica na vida”.

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V. ESPÍRITO UNIFICADOR NA UNIÃO DA CARNE
A noção tomista de Igreja inclui, indiretamente, o Espírito Santo como princípio de unidade que
habita em Cristo e em nós, reunindo-nos com ele e nele. Todos os meios externos da graça,
sacramentos, escritura, leis, são secundários e subordinados: seu papel é simplesmente dispor
os homens para uma união interior com Deus.
No princípio deste século, Émile Mersch estabeleceu a distinção entre a Igreja como “a sociedade
dos fiéis batizados sob a direção dos seus legítimos pastores”, e o Corpo Místico, “a unidade dos
que vivem a vida de Cristo”.
Mais recentemente, Pio XII, em sua encíclica Mystici Corporis, lançada em 1943, definia a Igreja
como Corpo Místico de Cristo, identificando o Corpo Místico com a Igreja católica romana. Nela
Pio XII designa o papa e os bispos como juntas e ligamentos do corpo, e afirma que “aqueles que
exercem o sacro poder no corpo são os seus primeiros e principais membros”. O leigo apenas
“assiste a hierarquia eclesiástica na difusão do reino do divino Redentor”, ocupando lugar
honroso, embora muitas vezes humilde, na comunidade cristã.
O Concílio Vaticano II, através de sua Constituição Dogmática Lumen Gentium, enfatizou mais a
Igreja como Povo de Deus, distinguindo entre a Igreja como sociedade hierárquica e como corpo
de Cristo, afirmando que ambas se relacionam entre si de modo comparável ao com que se
relacionam entre si as naturezas humana e divina de Cristo. A estrutura da Igreja se descreve
como um instrumento que serve o Espírito de Cristo, que o vivifica construindo o seu corpo.
Tanto a figura do Corpo Místico como a do Povo de Deus destacam a relação de todos os fiéis
com o Espírito Santo. A imagem de Povo de Deus ressalta a comunhão de pessoas cada uma
das quais é individualmente livre.
A mútua união das pessoas sem prejuízo de sua distinção, é propriamente a obra do Espírito
Santo, que é no seio da Trindade uma pessoa entre as pessoas do Pai e do Filho. Em relação à
humanidade, o Espírito Santo é a pessoa divina que nos torna um só sem deixarmos de ser
muitos. A Igreja é uma pessoa (O Espírito Santo) em muitas pessoas (nós). Mas não se pode
pensar a união dos homens com Cristo, no Espírito, como uma união orgânica, nem moral, nem
ainda jurídica. Trata-se de um novo tipo de união ao nível do espírito. Não quer dizer que se trata
de uma união meramente interior. A união dos fiéis com Cristo, no Espírito, é ambas as coisas:
uma união interior santificadora que se consuma no mais íntimo do cerne pessoal, e uma união
visível, nos laços da fraternidade, da comunidade, selada pelo ministério e pelos sacramentos.
Esta acentuação nas relações entre os fiéis e o Espírito Santo, ajuda a revivificar a espiritualidade
e a vida de oração. Dá lugar às iniciativas espontâneas suscitadas pelo Espírito Santo, que
concede a cada um como bem lhe apraz e sem consultar previamente a hierarquia; ajuda a
restaurar os inter-relacionamentos ardentes e vitais, informais, espontâneos, interpessoais, no
seio da Igreja.
É uma das realidades que exerce grande atração ao homem de hoje que sai ao encontro desta
união, deste tipo de expressão da fé. As pessoas acham o sentido para suas vidas não em
termos de instituições de grande porte que mais dão a impressão de oprimir e despersonalizar,
mas em termos informais, pessoais, comunitários.
VI. O ESPÍRITO: FORÇA RENOVADORA
Enquanto obra de Deus, a Igreja é sempre santa. Contudo, ela não é obra puramente de Deus,
vinda do céu, mas obra de Deus com os homens, teândrica. Igreja de Deus constituída por
homens, que embora purificados e renascidos no batismo, carregam a fraqueza na carne, a
opacidade nos olhos, o peso das decisões, o medo das opções comprometedoras. Frente aos
homens, a Igreja aparece muito mais como obra dos homens, isto é, o aspecto de pecado é muito
mais saliente, mais volumoso.
Há sempre uma grande tensão entre o dom de Deus e aquilo que concretamente os homens
fazem com ele. A infidelidade ao dom de Deus, a não correspondência ao apelo de Deus dirigido

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aos cristãos marca negativamente muitas páginas da história da Igreja. É isto que leva a Igreja a
viver em constante vigilância, em estado de revisão permanente, em busca de purificação.
Apesar de seus pecados, o dom de Deus persiste sempre, por razão de seu amor eterno, de sua
eterna fidelidade. “Afirmar a santidade da Igreja não é excluir o pecado dela, é proclamar a
indissolubilidade da união de Cristo com a Igreja”. Portanto, nossa confiança não se firma na
eficácia da ação do homem, mas na fidelidade de Deus que está ligado e comprometido com a
empresa humana.
A Igreja é santa primeiramente naquilo que recebeu e recebe continuamente de Deus para ser
Igreja, sacramento universal de salvação. O Espírito é aquele que nos foi dado para produzir os
frutos de santidade: “Para que nele incessantemente nos renovemos (cf. Ef 4,23), deu-nos seu
Espírito, que, sendo um só e o mesmo na Cabeça, e nos membros, de tal forma vivifica, unifica e
move todo o corpo que seu ofício pôde ser comparado pelos santos Padres com a função que
exerce o princípio da vida ou a alma no corpo humano”.
O Espírito Santo habita a Igreja que é seu templo. Por ele Cristo realiza nela as operações de
purificação, de renovação, de santificação. Talvez seja por esta razão que Charles Journet,
afirme: “A Igreja não existe sem pecadores, mas é sem pecado”. Como tal, a Igreja é sem
pecado. O pecado não pertence senão aos membros da Igreja, e, então, são infiéis e como tais
estão “fora da Igreja”. Aqui a Igreja é a “Igreja dos Santos”. Parece-nos uma visão platônica de
Igreja. A Igreja é uma realidade histórica, concreta, feita por Deus e por homens de visão curta,
de corações duros, imperfeitos. Enquanto tais não são Igrejas? Não seria melhor dizer com Karl
Rahner “Igreja santa dos pecadores”? A Igreja não existe sem pecadores.
A Igreja é Santa se a considerarmos em si mesma, em seus elementos intemporais, eternos. Os
pecadores não formam o Corpo de Cristo enquanto este significa plena comunhão de graça. Mas
a Igreja contém pecadores e é no seio dela que eles encontram o perdão, a purificação, a
santificação, a renovação, a revivificação. Por isso se marca também como Igreja Penitente. É
a Lumen Gentium quem nos autoriza esta declaração quando expressa em seu n. 8: “… a Igreja,
reunindo em seu próprio seio os pecadores, ao mesmo tempo santa e sempre na necessidade de
purificar-se, busca sem cessar a penitência e a renovação”.
VII. CONCLUSÃO
Um filho nunca poderá assumir uma atitude assim: fechar os olhos e recusar ver o cancro que
vitima sua mãe. Deve ser o primeiro a reconhecê-lo e a correr em busca de socorro. “A Santa
Mãe Igreja” é uma expressão correta se a entendermos no sentido de que somos gerados por
Deus, em Cristo, pela ação do Espírito Santo. É ele, o Espírito, que produz a uiotesía em nós,
isto é, a filiação divina. Enquanto ação do Espírito, carisma, graça derramada em nossos
corações, filiação, estamos no seio da “Igreja Santa”. Enquanto peregrinamos de estrutura em
estrutura, montamos organizações, ou quando tentamos enquadrar a ação de Deus em nossas
instituições; enquanto não nos convertermos radicalmente, vivemos na “Igreja do Pecado”, pelo
menos sujeita ao pecado. São duas Igrejas? Não. Uma única e mesma Igreja: a teândrica. Como
filhos não devemos fechar os olhos para os cancros que ameaçam nossa Mãe. Estamos sempre
em busca de remédio. A crítica positiva, a revisão constante, a busca cada vez maior de mais
intensa e profunda comunhão, poderão ser a terapia adequada.

Roque Frangiotti

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97. Como entender que a Igreja não erra? (I)
Todos os domingos, os católicos professam a sua fé "na santa Igreja Católica". Mas como
conjugar esse artigo do Credo com o fato de haver no seio da Igreja tantos membros pecadores?
Texto do episódio
Todos os domingos o católico professa sua fé dizendo crer na Igreja Una, Santa, Católica e
Apostólica, “esses quatro atributos, inseparavelmente ligados entre si, indicam traços essenciais
da Igreja e da sua missão. A Igreja não os confere a si mesma; é Cristo que, pelo Espírito Santo,
concede à sua Igreja que seja una, santa, católica e apostólica, e é ainda Ele que a chama a
realizar cada uma destas qualidades", assim ensina o Catecismo da Igreja Católica em seu
número 811.
Atualmente virou moda afirmar que a Igreja é “santa e pecadora". Esse pensamento não poderia
ser mais errôneo. A Igreja é santa e imaculada, contudo, os seus membros são
pecadores. Para explicar essa afirmação o Catecismo, por meio de um discurso do Papa Paulo
VI, diz que:
"827.A Igreja «é santa, não obstante compreender no seu seio pecadores, porque ela não possui
em si outra vida senão a da graça: é vivendo da sua vida que os seus membros se santificam; e é
subtraindo-se à sua vida que eles caem em pecado e nas desordens que impedem a irradiação
da sua santidade. É por isso que ela sofre e faz penitência por estas faltas, tendo o poder de
curar delas os seus filhos, pelo Sangue de Cristo e pelo dom do Espírito Santo»".
Assim, a Igreja é como um núcleo e cada católico é um membro que pode do núcleo aproximar-
se ou afastar-se. Ao aproximar-se da Igreja, o católico é cada vez mais santificado pela Graça
que dela emana. Da mesma forma, se livremente o católico decide afastar-se dela, por sua
própria responsabilidade, afasta-se da comunhão com o Corpo de Cristo.
A santidade da Igreja é uma realidade que pode ser observada ainda em outros aspectos. Ela
tem ainda a característica de ser infalível em matéria de fé. O próprio Cristo cuidou para que
assim fosse:
“889. Para manter a Igreja na pureza da fé transmitida pelos Apóstolos, Cristo quis conferir à sua
Igreja uma participação na sua própria infalibilidade, Ele que é a Verdade. Pelo «sentido
sobrenatural da fé», o povo de Deus «adere de modo indefectível à fé», sob a conduta do
Magistério vivo da Igreja."
Trata-se, portanto, de um rebanho que há de permanecer fiel à Igreja mesmo sob tribulações.
Não se trata de quantidade, mas sim de qualidade. De pessoas comprometidas com a fé, unidas
à vida da graça, àquela santidade e santificação promovida pela união com o Corpo de Cristo.
Estes serão os indefectíveis na fé, que responderão à pergunta: “mas, quando vier o Filho do
Homem, acaso achará fé sobre a terra?" (Lucas 18,8)

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