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E LUCID A RIO
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PALAVRAS, TERMOS, E FRASES,


QUE EM PORTUGAL ANTIGUAMENTE SE USÁRÃO,
E QUE HOJE REGULARMENTE SE IGNORÃO:
O B R A IND I S P E N S A V E L
P A R A E NTE N D E R S E M E R R. O
• O S
DOCUMENTOS MAIS RAROS, E PRECIOSOS,
O U E ENTRE Nós se co Ns e Rv À o :
PUBLICADO EM BENEFICIO DA LITTERATURA PORTUGUEZA,
E D E D I C A D O

PRINCIPE N SENHOR
P O R
F.Jo Ao U I M DE SANTA ROSA DE VITERBO,
Dos Memoré." Observantes Reformados da Real Provincia da
Conceição.
T O M O P R I M E IR O.

L IS BO A. M. D C C. XCVIII.

NA OFFICINA DE SIMÃO THADDEO FERREIRA.


Com licença da Meza do Desembargo do Paço.
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Obscurata diu populo bonus eruet, atque


Proferet in lucem speciosa vocabula rerum,
Quae priscis memorata Catonibus, atque Cetégis
Nunc situs informis premit.
Horat, Lib, II. Epist. II.
A SUA ALTEZ A R E A L

O P R INCIPE DO BRAZIL
D. JO A O
N O S S O S E N H O R.
P. A. F. P. P.

*S E N H O R.

Qu- a felicidade grande de ser Alumno de huma Corporação, que tan


to se destingue em ter a V. ALTEZA REAI, por seu Patrono, Tutel
lar, e Bemfeitor Augusto, me não obrigára forte, e suavemente a dedicar a
P. ALTEZA REAL o presente Livro: a materia, de que elle trata, o devia
levar necessariamente aos pés do Throno. A Linguagem das Nações, SERE
NISSIMO PRINCIPE, participa dos Privilegios da moeda, a quem os Su
premos Imperantes mudão , alterão , e dão o valor, com que os seus Povos,
e Vassalos a devem receber. Aqui pois se reproduzem as Palavras, Termos,
e Frases, com que o Portugal antigo ouvio fallar os seus adorados Principes,
e Monarchas, de quem P. ALTEZA REAL herdou o Sangue, e o Direito á
Coria. Compozerão-se então os Grandes do Reino, e os pequenos ao Exemplar
Solerano da Casa Real, e a todos foi commum a Lingua da Nação. O tem
po voraz, que tudo conºme , e altéra, foi antiquando aquelle Dialecto, que
á sombra das nossas Armas havia retumbado nas quatro partes do Mundo, e
tornou quasi imperceptiveis » não só os Monumentos particulares, mas ainda
os Reaes Diplomas, que entrº nós se conservão. Pedia logo a razão, e a fus
tiça, que este desencaminhado Thesouro, senão para o uso, para eternal me
moria, se restituisse aº Throno, em que antigamente, e pela maior parte lo
grou t㺠honrado nascimentº.
Mas quando tudo isto faltára, SERENISSIMO PRINCIPE, aquella
paivão imata, com que PZ ALTEZA REAL tão liberalmente favorece, esti
ma, promove, e cultiva mesmo a Litteratura Portugueza, que com o desco
primento da Veneravel Antiguidade tanto se enriquece, me levaria, como pe
la mº, a consagrar a V. ALTEZA REAL esta Collecção de Antigualhas,
C077!
com que a nossa Historia não pouco se illustra, e as Decisões justas do mes
mo Foro, (que tantas vezes pendem de avelhentados Pergaminhos, e já ca
riosos) bem póde ser que com este novo subsidio alguma vez se tornem mais
faceis, e correntes. Nisto, SENHOR, se tem occupado, e com gloria não pas
sageira, as Nações mais cultas da Europa, como a todo o mundo Litterario
está patente : nisto se occupão actualmente os Grandes Genios Portuguezes;
procurando regular o presente, e prevenir º futuro com os conhecimentos mais
interessantes do passado.
Receba, pois V. ALTEZA REAL com serena fronte a limitada Offe
renda, que em restemunho de agradecimento, e com o mais profundo respeito»
dedico, e ofereço a V. ALTEZA REAL, Ella he a primeira deste genero,
que em Portugal se publica: ao menos por este lado se faz merecedora de que
7. ALTEZA REAL a proteja, e ampare: deste modo se poderá aperfeiçoar
com o tempo, o que nella se achar diminuto, e imperfeito.

Fr. Joaquim de Santa Rosa de Viterbo.

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A DVERTENCIA
P R E LIMINA R.


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\ Econhecendo a obrigação,
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que a Natureza me
impôz, de ser util, e prestadio aos meus semelhantes,
emprendi com mais temeridade, que prudencia, a pre
sente Obra. Por largo tempo revolvi no meu animo a fua
grandeza , e reconheci mesmo, que os meus hombros não
tinhão forças para supportar o seu pezo, e nem as minhas
poucas luzes poderião elucidar o que o tempo roedor quasi
inteiramente chegou a escurecer. Chegava-fe a isto a im
possibilidade fysica, que não só moral, de ver, revol
ver, e combinar todos os nossos. Documentos: a condi
ção do meu Eftado, e Profissão, a falta de Livros, de
tempo, de saude; em huma palavra, falho de tudo: só a
vontade oficiosa, firme, e constante de servir a Nação,
me não faltava, mas antes, e sem reparar no perigo da
reputação , a que me expunha, cada vez mais, e mais
\ se incendia. Ao travez pois de difficuldades tantas, cedi
alfim, e lancei mão de hum Assumpto, que pela sua agi
gutada estatura, pela sua novidade, e pela sua impor
tancia, espero me conseguirá do Público, não só o per
dão dos innumeraveis defeitos, que ingenuamente reco
nheço, mas ainda me fará digno da sua benevolencia,
e atenção, que sinceramente lhe supplico. E esta a razão
toda, porque me não occupo com Antiloquios a Leitores
benevolos, ou malevolos, Portuguezes, ou Estrangeiros,
doutos, ou indoutos, amigos, ou inimigos, agradecidos,
ou ingratos, defamadores, e melindrosos, inpertinentes,
Tom. I. A C
II A D v e R T E N c I A
e presumidos, e nem ainda aos hypercriticos, que dema
siadamente censurão, e aos pseudo-críticos, que sem fun
damento sólido se atrevem a censurar. Se eu mesmo sou
o primeiro, que argúo, e reprehendo os defeitos do meu
Livro, e a impossíveis ninguem está obrigado: porque não
esperarei achar piedade, em quem não ignora, que sou
homem sujeito a erros, e que fiz toda a boa diligencia,
que me foi possivel, para descobrir huma veréda até hoje
desconhecida, e não trilhada? Mas a que fim dar satis
fações a quem mas não pede, ou a quem olhando com
torcidas vistas o meu trabalho, não enriquece a Nação
com as preciosidades raras do seu Thesouro ? Direi tão
sómente alguma cousa sobre a razão do Titulo, Qualida
de do objecto, Dificuldade da empreza, e fobre a Uti
lidade, que ao Público póde resultar da sua leitura.
I. A imitação do immortal du Cange, que intitulou
Glossario a sua grande Obra, que emprendeo para intel
ligencia dos Escritores da media, e infima Latinidade, pu
déra eu dar o mesmo Titulo a esta humilde Producção.
Este sería o voto do CI. Paschoal José de Mello, que no
seu Livro, em tudo singular, da Histor. do nosso Di
reito Civil Cap. 13. S. 122. eficazmente desejava hum
Glossario Portuguez, onde claramente se explicassem as |
vozes antigas, e já hoje antiquadas, com que em outro
tempo se explicárão os nossos Maiores. Neste mesmo
pensamento estaria o Author da Historia da Ordem do
Hospital, que na Prefacção da I." Parte nos tem lison
geado com a esperança de hum Trabalho, que longo tem
po ha, tem emprendido, sobre as Inquirições, e Foraes
do nosso Reino; reconhecendo alli mesmo a precisão ur
gente, em que estamos de hum Glossario, sem o qual
se não póde atinar a cada passo com o particular sentido »
que entre nós tiverão muitos Vocabulos.
Mas desconfiando, e com razão, de que esta Obra
correspondesse aquelle nobre, e pomposo Titulo, que
suppõe alguma cousa perfeita já , e consummada neste
ge
P R E L I M 1 N A R. III
genero: adoptei com preferencia o de Elucidario, que
indica tão sómente hum desejo figadal, e honesto de dar
toda a luz possivel ao que a revolução dos Seculos tor
nou grandemente escuro, exotico, e desconhecido. Des
te mesmo Título usou o Padre Bento Pereira, não só na
Obra que compôz de Theologia Moral, mas tambem
quando se propôz elucidar, e esclarecer os Termos menos
claros de hum, e outro Direito, o que nem sempre con
seguio. E/acidario se chamou igualmente a Summa de to
da a Theologia Christãa, attribuida a Santo Anselmo, em
cujo Prologo se diz = Titulus itaque Operi, si placet,
Elucidarium prefigatur; quia in eo obscuritas diversa
rum rerum elucidatur. E ele he bem certo, que por
este precioso Livro, nem todas as escuridades da Theo
logia Santa ficárão allumiadas, claras, e patentes. De
pois que o Douto Quaresmino escreveo o Elucidario da
Terra Santa, descobrítão outros não poucas noticias, e
antigualhas, que naquelle Elucidario se não encontrão.
O mesmo se verifica no presente Elucidario, que ao Pú
blico se oferece: nelle se procurou esclarecer, e interpre
tar as Palavras, Termos, e Frases, de que antigamente
usárão os Portuguezes, já fossem commuas, e geraes a
toda a Nação, já particulares, e proprias de algumas Pro
vincias, e Comarcas, que hoje formão no continente to
da a Monarchia Portugueza; mas que distancia não me
déa entre o desejo, que se emprega, e a perfeição que
se pertende ? Se hoje mesmo que a nossa Lingua chegou
água idade perfeita, e varonil, observamos alguns. Vo
cabulos, e expressões nada triviaes, que parece nascêrão,
e se arraigárão em certos Paizes: que seria naqueles tCII1
pos de barbaridade, e grosseria, em que não havia acom
modidade de Estudos públicos, e geraes, suspensão dar
mas, Livros impressos, separação total de gentes estra
nhas, e mesmo cada Povo se governava, senão por hum
Foral diftinéto, ao menos por seus usos, e costumes, que
quasi sempre discrepavão *; de seus visinhos ? Que {IC

11 V2S
IV A D v e R T E N c I A
vas logo, tão densas, e palpaveis não será forçoso dis
sipar, para chegarmos a entender tão extravagantes vo
zes, se com o presente Dialecto as conferimos ? Porém
este he o objecto , materia, ou sujeito, em que este
Elucidario se occupa. Vamos a tratá-lo com a possível
clareza, e brevidade. -

II. Dividamos, (a contentamento dos mais eruditos, )


a Lingua Portugueza em sinco idades, ou Periodos, pe
los quaes foi subindo, como por degráos, á perfeição,
em que hoje a contemplamos. Seja o primeiro até o Go
verno do Senhor Conde D. Henrique: o segundo até
El-Rei D. Diniz: o terceiro até El-Rei D. Affonso V.:
o quarto até El-Rei D. Sebastião: e finalmente o quin
to até os nossos dias, em que tem chegado á sua idade
mais florente. Porém desta não fallarei, por não ser do
objecto, que me proponho: tudo o que pertence a este
ultimo Periodo se acha em muitos, e volumosos Diccio
narios com singular erudição, e maravilhosamente illus
trado. •

- , , , , I, P E R I O D O.

Antes que El-Rei D. Afonso VI. désse com sua


filha o Reino de Portugal ao Senhor Conde D. Henri
que, fazião as terras da nossa Monarchia huma porção
mui attendivel das Hespanhas. As Leis, os costumes, a
Lingua não tinha particular diferença: seguia o acces
sorio o principal, e os membros naturalmente se confor
mavão com a sua Cabeça. Mas eis-aqui primeiro que os
Romanos, muitas, e mui diferentes Nações, por espa
ço de 2 124 annos, desde o Diluvio Universal até a guer
ra de Sagunto, que foi no de 536 da Fundação de Ro…
ma, entrárão nas Hespanhas. Depois da confusão das Lin
guas, e dispersão das Gentes, successivamente, le com
diversos fins, povoárão, ou residírão nesta Peninsula os
Celtas, os Gregos naturaes de Zacintho, os de Samos ,
os Massanenses, os Phocenses, os Rhodios, os Galatas,
…* … OS
P R E L 1 M 1 N A R. V

os Curetes, os Lacedemonios, ou Lacões, os Tyrios, ou


Phenices, os Penos, Carthaginezes, ou Africanos: de
todos estes ha memorias, além de outras Nações, que
he bem de crer aqui virião, e das quaes as noticias intei
ramente se perdêrão. Ora todas estas Nações tinhão seu
particular Idiotismo, com que se explicavão, e caracteres
proprios , com que escrevião : caracteres , que com o
tempo se fizerão communs em Hespanha, e se reduzírão
aos tres Abecedarios, Celtiberico, Turdetano, e Bastu
lo-Phenicio: de que se póde ver D. Luiz José Velasques
no Ensaio sobre os Alfabetos das letras desconhecidas,
impresso em Madrid no de 1752. Quando os Romanos
pela primeira vez chegárão á Hespanha por occasião da
guerra de Sagunto, ainda a sua Lingua estava na idade
ferrea: continuando as suas Conquistas foi subindo á de
bronze, e de prata, até que no tempo de Augusto che
gou á de ouro. E com tudo parece que desde logo, e para
celebrarem o seu Dialecto, ordenárão, que todos os ins
trumentos públicos, estipulações, e contratos fossem ex
arados na sua Lingua, sob pena de nullidade; ficando
reservada a Linguagem propria, e antiga dos Hespanhoes
para tudo o que era particular, e domestico, e ainda Re
ligioso, Civil, e Politico, quando se não quizessem ser
vir antes do Idioma Latino, como fizerão os moradores
Gregos da Cidade de Empurias 161 annos antes de Chri
sto, que sem terem deixado a sua Lingua Grega, nem
tomado a dos Hespanhoes, se sujeitárão aos costumes, á
Lingua, ás Leis, e ao Senhorio dos Romanos, como se
póde ver em Duarte Nunes do Lião. Orig. da Ling.
Port C.VI. pag. 31. ediç. 1784; a ser legitima a Ins
cripção, que alli copiou, a qual muitos Eruditos julgão
falsa, e contrafeita. - : ::

Assim continuavão as cousas, quando por morte de


O&aviano Cesar Augusto, a Lingua Latina adulterada
com innumeraveis solecismos, e barberismos de tantas,
e tão diversas Nações sujeitas a Roma, começou a *# 1T
VI A D V E R T E N C I A

hir da sua pureza, e a dividir-se em Lingua Latina, e


Romana, ou Mixta: aquella pura, e esta misturada de
expressões nada menos que Latinas: e isto principalmen
te, quando nos principios do Seculo V. as Nações Sep
temtrionaes se lançárão, como huma inundação irresisti
vel, sobre tudo o que era dos Romanos. Hespanha par
ticularmente figurou nesta desgraçada Epoca. Depois de
arruinada toda a Policia, e Cultura, os Godos finalmen
te aqui fixárão o seu domicilio, connaturalizados já com
os Póvos da sua Conquista. Estes fazendo da necessidade
virtude, adoptárão as suas Leis, e costumes, recebêrão
muitos Vocabulos do seu Dialecto, e até nos caractéres
seguírão o máo gosto dos seus Conquistadores. E eis-aqui
ficou a Lingua Hespanhola reduzida a hum mixto, onde
não sería facil, nem talvez possivel, o averiguar com cer
teza, que palavras erão Nacionaes, quaes as Gothicas, e
quaes as Alatinadas, ou propriamente Latinas. Não se es
quecênão com tudo os Hespanhoes da sua Lingua no tem
po dos Godos, supposto que a Romana se continuasse
nos Tribunaes, e Escrituras públicas. O tempo nos inve
jou Documentos Originaes, que disto nos convencessem;
porém Fr. Vicente Salgado, que com os seus laboriosos
Escritos faz honra á Nação, em as Memorias Ecclesias
ticas do Reino do Algarve ediç. de 1796 nos certifica
(Tom. I. f. 153. N. 2o) ter visto em huma Livraria da
Corte hum precioso Fuero Yuzgo escrito em vulgar, e
do tempo dos Godos. O Rei Ervígio publicou este Fue
ro Juzgo em Lingua Hespano-Gothica no de 682. Na ex
tincção dos Jesuitas se achou o dito Exemplar na sua Bi
bliotheca de Gôa, donde o trouxe a Portugal o Desem
bargador José Luiz França. Delle se fez ha poucos an
nos huma bella Edição em Madrid, em 1. Vol. de 4
. . Seguio-se em fim nos principios do VIII. Seculo a
perda de Hespanha, provocando os peccados dos seus ha
bitadores ás iras do Ceo. As vidas, as honras, as fazendas,
a liberdade, e mais que tudo a Religião Santa padecêrão
4 • SO
* P R E L I M 1 N A R. VII

sobre modo com a dominação dos Sarracenos, que sacri


ficando tudo ao seu torpe culto, ambição, e tyrannia,
o que menos perturbárão foi a linguagem do Paiz. Sabe
mos sim, que na Província de Galliza (a qual pelo IX.
Seculo se extendia até as margens do Mondego ) foi mais
curta, e mais socegada a sua residencia. Alguns instru
mentos de Doações, Compras, e Vendas, que daquel
le tempo conservamos, nos oferecem os nomes de mui
tos Mahometanos escritos em Gothico, e só com as Da
tas á Mourisca, nomeando os seus mezes em Arabigo,
e contando os annos pela Egira. De resto sabemos, que
governados os Christãos pelos seus Consules, ou Condes,
tudo o que não era público se escrevia em Lingua Tole
tana (que era mui diferente da Vasconça, e Limosina)
entretecida porém de muitos Vocabulos, que na commu
nicação dos Arabes forçosamente havia contrahido. Em
Castella, Toledo, Leão, Asturias, Estremaduras, Gal
liza, Granada, Andaluzia, Aragão, e tudo o que hoje
he Portugal, se não falou por aquelle tempo outra Lin
gua, que fosse Nacional de Hespanha. Della procedeo
a que hoje mesmo falamos. Os Vestigios da Lingua Ara
bica em Portugal já o Douto Fr. João de Sousa presen
tou á Nação no de 1789, e elles são huma terminante
prova desta verdade.
Mas agora se a inconstancia he o caracter das cou
sas dos mortaes, em quanto por huma vez não chegão a
desapparecer dos nossos sentidos; quem poderá contar nes
te dilatado Periodo os varios, e diferentes idiotismos,
com que tantas Nações, como em Hespanha residirão,
recíprocamente manifestárão os seus pensamentos? A ir
Iupção dos Barbaros seguio-se a negligencia, ou igno
tancia dos Amanuenses, que adoptárão Orthografias arbi
trafias, e mui discordantes. Chegou-se a isto o enthusias
mo dos Poetas, que fingítão vozes de sete pés, e alheias
inteiramente da perspicuidade da Lingua. Dos Claustros
Religiosos (para onde no VIII. Seculo o estrondo das

{\[
VIII A Dºv E R T E N c I A
armas fizera retirar tudo o que era Instrucção, e Disci
plina). sahírão alguns Ecclesiasticos, que nos Palacios
dos Grandes tinhão nome de Letrador, e lhes servião
de Secretarios, Clerigos, ou Capelães. Estes fazião
grangearia das suas pennas, quasi sempre as mais rudes,
e sem cultura. Carlos Magno nos fins deste Seculo trou
xe á França alguns bons Mestres de Roma, e Alfredo,
Rei de Inglaterra, que morreo no de 899, estabeleceo
Escolas públicas em Oxonia: mas esta felicidade não che
gou a Hespanha, que ainda por muitos annos continuou
a arrastar o pezado jugo do seu cativeiro. Os Documen
tos, que até os fins do Seculo XI. entre nós se exarárão,
quasi nada mais tem de Latim, que a inflexão alatinada
dos mesmos termos, com que o vulgo se exprimia. O Li
vro dos Testamentos de Lorvão, o Livro Preto de Coim
bra, o de D. Mumadoma de Guimarães, os Documen
tos de Pedroso, de Braga, e outros muitos, que nos seus
Originaes se conservão, e que neste Elucidario se accu
são, não permittem hesitar , que a Lingua Portugueza
era por este tempo o mesmo que a Hespanhola, cujos
monumentos por Yepes, Flores, Risco, e outros até ho
je publicados, nos oferecem antes huma verdadeira iden
tidade , que huma mera semelhança. E com isto nos
achamos no
- º IL P E R I o D o
* *

- Aqui principia a figurar a Lingua Portugueza sepa


rada já da Hespanhola, ou Toletana. A divisão dos Ter
ritorios, e Dominantes trazendo comsigo a divisão dos
animos, igualmente foi causa , de que tambem na lin
guagem houvesse diferença. Mas não me posso accom
modar ao que diz o Author da Hist. Geneal. da Casa Real
Portugueza, quando nos propõe casado já, e Senhor de
Portugal ao Conde D. Henrique no de Io93; pois de
huma Escritura Original de Arouca nos consta, que fo
ra feita a 2 de Agosto, E. T. CXXXII. Regnante in
To
P R E L 1 M I NA R. IX

Toleto, & Gallecia Adfonsus Rex: ó genero ejus Co


mes Raimundus dominante Colimbria , ó. Portugale.
Se pois em Agosto de 1 o94 dominava no Porto , e
Coimbra o Conde D. Raimundo, como no de 1 o93
era Senhor de Portugal o Conde D. Henrique ? Nós sa
bemos, que a 3 de Agosto de 1095 ainda governava
em Coimbra o Conde D. Raimundo, segundo a Escri
tura adduzida por Marinho na Fund e Antig. de Lisboa
da ediç. de 1753 na qual confirma Henricus designatus
Gener Regis. E se tão sómente estava apalavrado, he .
bem certo, que não estava recebido. E quando este Doc.
não seja de huma fé incontestavel: no Livro dos Testa
mentos de Santa Cruz de Coimbra se acha a Doação,
que o Conde D. Raimundo fez aos Povoadores de Mon
te-Mór, o Velho, V. Kal. Martii in E. M. C.XXXIII.
intitulando-se totius Galletiae Princeps. E se em toda a
Galliza (que então se estendia até Coimbra) domina
va D. Raimundo: menos bem se diz, que dois annos
antes governava ali o Conde D. Henrique. . ..
Como quer que seja, no de 1996 este Illustrissi
mo Tronco dos Monarcas Portuguezes havia tomado pos
se de tudo, o que se chamava Portugal, e dado a mão
de Esposo á Herdeira mais nova de Afonso VI.; e des
de então os Portuguezes começárão a distinguir-se pelo
seu Dialecto dos mais Povos de Hespanha. O seu Prin
cipe como Francez, e dos Condes de Borgonha, a pe
zar da sua liberal educação, não falaria tão corrente a
Lingua Toletana, que era o avesso da Limosina, a qual
então vogava na Corte de França: era logo forçoso, que
o Conde D. Henrique, contando já alguns 6o annos,
quando entrou em Portugal, usasse com frequencia dos
termos, e expressões do Paiz, que lhe dera o nascimen
to, e creação, e que mesmo não pronunciasse muito bem
huma Lingua, que lhe era estranha, cheia de Arabis
mos, e vozes asperas, e a que o epiglotis já naquella ida
de se não amoldaria. E então os Portuguezes, amigos
Tom. I. . B SCIIl
X A D v E R T E N c I A
sempre de novidades, e naturalmente inclinados a imitar,
até nos defeitos, os seus Principes, já por amor, já por
lisonja, e mesmo por moda, não deixarião de alterar so
bre modo a sua Lingua. Além disto, o grande número
de Francezes, não só distinctos em sangue, e que entre
nós forão Chefes de honradas Familias; mas ainda Sol
dados rasos, que em grande número acompanhárão o Con
de, no destino de guerrear contra os Mouros, e que em
Portugal se estabelecêrão; povôando ruas em Guimarães,
e muitas Aldeas, e Casaes por todo o Reino: como não
havião de alterar a Lingua dos que os recebêrão em sua
casa? E se ás gentes d'Armas, e Fidalgos, moços, pa
gens, e homens de negocio, ajuntamos os muitos Ama
nuenses, que vierão de França, depois que no Concílio #
de Leão de Io9o se mandou, que todos os Livros Ec
clesiasticos se escrevessem, ou copiassem em letra France
za; abolida por huma vez a Gothica, Lombarda, ou
Toletana, que Ulphilas, Bispo dos Godos, havia intro
duzido nesta Nação: como se não tornarião bem diffe
rentes o Idioma Hespanhol, e Portuguez?
Mas não só isto: nesta Puericia da Lingua Portu
gueza não faltárão Vocabulos da Italiana, e da Catalãa,
que aqui entrárão com as Senhoras Rainhas D. Mafal
da, e D. Dulce, ou Aldonça. Os Arcebispos, e Bispos,
ou erão Francezes de Nação, ou de Portugal passárão a
França, para se instruirem nas Sciencias, e Bellas Letras, }|

quanto o permittia a pequena luz daquelles tempos: S. Ge


raldo, D. Mauricio, D.Ugo, D. Bernardo, D.João Pe
culiar, ou Ovelheiro, e outros muitos forão deste número.
O primeiro Bispo de Lisboa por este tempo foi D. Gil
berto, Inglez de Nação, e logo depois se acha em Vi
seu D. Nicoláo, nacional de Flandes. Na companhia des
tes sabemos, que entrárão outros muitos Estrangeiros, já
Ecclesiasticos, ou Religiosos, já Seculares de todas as
condições, e ambos os sexos. Por morte de seu Marido
no de 1114, empunhava o Sceptro de Portugal a *#
P R E L 1 M 1 N A R. XI

D. Thereza, e então he que as Ordens Militares da Pa


lestina, Templarios, do Hospital, e do Santo Sepulcro
nos trouxerão muitas vozes, que nesta Occidental parte
se não usavão. Acclamado já Rei dos Portuguezes quem
d'antes o era com o nome de Principe, e mesmo de In
fante, se estabelecêrão, e espalhárão pelo Reino os Re
ligiosos de Cister, ou mais bem de Claraval, os de Pre
monstrato, e mui provavelmente os Hospitalarios de San
to Antão, instituidos junto a Vienna de França no de 1095.
Com a grande Armada do Norte, que navegando em soc
corro da Terra Santa, ajudou de caminho a conquistar
Silves, e outras Praças do Algarve no de 1 189, entrou
a Religião de Roca--Amador, que tinha por Instituto o
servir nos Hospitaes. A esta seguírão as dos Trinos, Fran
ciscanos, e Dominicos no tempo d'El-Rei D. Afonso
II., assim como a dos Carmelitas calçados no d'El-Rei
D. Afonso III. E todos estes Institutos, Originarios de
tão diversas Provincias, e Nações, forçosamente havião
de trazer comsigo algumas addições, e mudanças á Lingua
Portugueza; e isto em ehum
nha de regularidade, tempo, em que ella nada ti
consistencia. •

E que direi eu das muitas Colonias de Estrangeiros,


que pelas nossas Costas, e no Riba-Téjo introduzírão as
suas Leis, Costumes, ou Foraes, e nos deixárão huma
boa porção dos seus idiotismos? Não fallarei agora nos
Inglezes, e seus aliados, que vinhão na Esquadra de
Guilherme da Longa-Espada; muitos dos quaes, con
quistada Lisboa, fizerão seu assento na antiquissima Vil
la de Almada: El-Rei D. Afonso Henriques concedeo
as terras de Atouguia a D. Guilherme de Cornes, para
que as povoasse de Francezes, e Gallegos: a terra de Vil
la Franca de Xira deo El-Rei D. Sancho I. a D. Rau
lino, e a todos os Flandrenses presentes, e futuros, que
ali quizessem povoar, sem mais Direitos, ou Encargos,
que servirem fielmente aos Reis de Portugal. Dos primei
Ios Reinados são igualmente
• Biias Colonias, da Lourinhãa
por
+
xm A D v e R T E N c I A
por D. Jordão; de Villa-Verde junto a Lisboa por D.
Alardo, e outras. E os Judeos permittidos, e os Sarracenos
conquistados , que ainda passárão muito além deste Pe
riodo com as suas Synagogas, e Mourarias, deixarião de
influir em huma linguagem, que começava a distinguir
os Vassallos de huma nova Monarchia? Deste modo, as
sim como antigamente a Lingua Hespanhola, agora se
fez a Portugueza, como hum resumo, ou compendio de
varias Linguas ; adoptando huns vocabulos, antiquando
outros, e fazendo proprias muitas vozes, e fases de Gen
tes, talvez mais diversas no Idioma, que distantes no
Clima.
Em todo este tempo continuárão os Portuguezes nos
Instrumentos públicos hum certo romance, a que chama
vão Latim, não sendo ordinariamente outra cousa mais,
que huma algaravia, ou farragem de vozes alatinadas, e
termos vulgares, com alguma cadencia, ou inflexão La
tina; como se vê por innumeraveis exemplos deste Elu
cidario. Não negamos com tudo, que algumas Escritu
ras baixárão do Throno, escritas, ou reguladas por Can
cellarios, Escrivães, ou Amanuenses, que na infima La
tinidade se fizerão distinguir, e tambem outras, que nas
Corporações Ecclesiasticas, ou Religiosas se chegárão a
exatar. Monumentos porém em Portuguez, e Originaes
dos primeiros Reinados nós o não temos: o tempo ava
ro, e gastador os consumio: apenas a Carta de Egas Mo
niz á sua Dama, e alguns outros despedaçados restos nos
infórmão de quanto era rude, e mal polida a nossa Lin
gua. Não foi assim reinando já D. Afonso III. Então
se começava a ter notícia do Direito de Justiniano no S.
I. Instit. de Verbor. Obligationibus; e se julgou a pro
posito o lançar fóra o antigo jugo dos Romanos, escre
vendo cada Nação na sua Lingua , como já de muito
antes praticavão, e mesmo por Lei, os nossos visinhos.
Assim na Torre do Tombo, como nos Archivos do Rei
no são frequentes os Documentos públicos, tanto Reaes,
CO

+=_ -
}

P R E L I M 1 N A R. XIII

como particulares, que bem claramente nos mostrão,


como desde o meio do Seculo XIII. por diante se falla
va, e escrevia a Lingua Portugueza com bastante uni
formidade nas vozes, e expressão nos termos; com hu
ma Orthografia porém nada regular, e mais filha da ig
norancia, ou do genio, que cada hum tinha, e não da
Arte, que por aquelle tempo ainda se não praticava. O
Author do Diccion. Raison. V. Langue, diz com Ro
drigues, que a Carta mais antiga, que se acha em Lin
gua Hespanhola, foi passada no de 1243 pelo Senhor Rei
D. Fernando: e que D. Afonso, o Sábio, ordenou no
de 126o; que todos os Actos públicos se escrevessem em
Hespanhol; porém até o principio do Seculo XVI. se
achão ainda alguns em Latim; donde se vê que esta Lei
não teve desde logo toda a sua observancia. Em Portu
gal, segundo a Monarch. Lusit. L. 14 pag. 159. des
de 1246. se achão alguns Documentos em Portuguez;
mas não consta, que alguma Lei positiva firmasse este
costume, que mesmo não foi constante no tempo d'El
Rei D. Diniz. Seguio-se a este o
III. P E R I O D O.

Havia sido util a Portugal o casamento do Infante


D. Afonso em França com a Condeça de Bolonha. A
larga residencia, que naquelle Reino fizera, o instruio
a fundo na Politica dos Francezes, e não menos no bom
gosto das Artes. Voltando dalli a ser Regente, ou Wi
sitador deste Reino, em quanto por morte de D. San
cho II. não empunhou o Sceptro; em tudo procurou dar
provas do quanto havia adiantado na Sciencia de reinar;
e tanto que seu filho D. Diniz, Primogenito, e Herdei
ro da Coroa, foi capaz de instrucção, ele o proveo dos
Mestres mais habeis daquelle tempo. Não erão os Por
tuguezes desprezadores das Letras. Nas Cathedraes , e
Collegiadas mais insignes havia Mestres-Escólas, a quem
per
XIV . A D v e R T E N c I A
pertencia dar providencia sobre a instrucção da mocidade:
em alguns Mosteiros, e Conventos se ensinavão as Artes
Liberaes, e talvez a Medicina: a Logica de Pedro Julião,
natural de Lisboa , que depois foi o Papa João XXI.,
he hum Monumento bem plausivel desta verdade. Porém
os que aspiravão a maior cultura, sahião de Portugal, e
procuravão nas Universidades da Europa, alguns a liberda
de, outros a Sciencia, que ordinariamente se escondia aos
que a invejosa pobreza acabrunhava. Concordou, pois,
o Rei, e a Nação em fundarem huma Universidade, que
principiando em Lisboa no de 129o, depois de revolu
ções não pequenas, faz hoje em Coimbra a justa admi
ração de toda a Europa. Esta sem dúvida foi a Epoca
mais feliz da Literatura Portugueza; pois nella se lançá
rão os fundamentos sólidos a tudo o que havia de ser eru
dição sagrada , ou profana. Então foi que o Dialecto
Portuguez tomou posse de quasi tudo o que era Público,
e Judicial, desterrado para as Cimerias sombras o estafer
mo, ou apparentes sombras do Latim. Então foi, que o
mesmo Soberano no primeiro de Agosto de 1281 fez
passar na Lingua do Paiz a notavel Carta Circular sobre
a rectidão, e brevidade, com que os seus Ministros, e
Oficiaes de Justiça a devião fazer ás Partes, a qual se
achará, V. Pontaria. Então foi, quando as muitas Tra
ducções, que o mesmo Rei fez trabalhar dos melhores
Livros , Hespanhoes, Arabigos, e Latinos, concorrê
rão, como á porfia, para ser cultivada a elocução dos
Portuguezes. Os mesmos Estrangeiros, em fim, chama
dos para regentar as Aulas nos enriquecêrão com novos
termos, e frases, de que até hoje ficárão alguns vesti
gios. E com efeito, se exceptuamos alguns Vocabulos,
que ou de todo sé esquecêrão, ou que por diferente mo
do se pronunciárão, e escrevêrão, (muitos dos quaes se
achão em Lopes, Azurara, e outros) ingenuamente de
vemos confessar, que neste Periodo teve o Idioma Por
tuguez abrilhantados progressos, e sensíveis augmentos»
G
P R E L 1 M IN A R. | XV

e que nelle se despio dos feios barbarismos, em que d'an


tes o contemplamos. Porém foi costume naquelles dias
dobrarem o r , o f, e o s com muita frequencia, e sem
necessidade alguma , no principio , e meio das dic
ções, e o mesmo praticavão com as vogaes, quando erão
longas, no principio, meio, e fim, e a estas se seguião
outras leves diferenças da nossa Orthografia , de que
agora não tratamos. Passemos a dizer finalmente alguma
cousa do
IV P E R I o D o.
Pelo Codigo Afonsino, em que se trabalhou des
de El-Rei D. João I., e que se fez público , segundo
parece, no de 1446 se deo novo gráo de perfeição á
nossa Lingua. Sim; porque as Leis antigas se reformá
rão, não só em suas sancções, mas tambem nas suas pa
lavras, e a mui nobre Arte da Impressão, dando-lhe hum
systema fixo, e permanente, a colocou em estado; don
de lhe não foi difficultoso o chegar a ser perfeita. Ora,
que no tempo d'El-Rei D. Afonso V. chegasse a Portu
gal a noticia, e exercicio da Impressão, se faz bem cri
vel, á vista da Relação do Conde da Ericeira no Tom.
IV. da Collec. da Acad. da Hist. Portug.: nella diz, que
na Livraria do Conde do Vimieiro se achavão as Obras do
Infante D. Pedro impressas, seis annos depois que a Im
primissão foi achada em Basilea. E se ella foi achada pelos
annos de 144o, ou pouco antes, fica manifesto, ou quan
do menos muito provavel, que em vida do Infante, e
neste Reino elas se imprimírão, e antes da fatal batalha
da Alfarrobeira, em que elle desgraçadamente foi morto
no de 1449. E nem a falta de outros Impressos até o de
1489 em Lisboa, e 1494 em Leiria nos convencem do
contrario; pois segundo Terreiros, e Pando na sua Paleo
grafia da Ediçº de 1758, já no de 1474 se achão Obras
impressas em Hespanha, e a f 48 diz, que os Impresso
res escondião os nomes, e as Oficinas para venderem os
SQUIS

|
XVI A D v E R T E N C I A
seus Impressos com reputação de Mss. E porque não suc
cederia o mesmo em Portugal, onde havia o mesmo in
teresse no occultar do segredo, que o tempo fez noto
rio? Publicou-se a Impressão: e logo hum pasmoso nú
mero de exemplares de diferentes Obras em tudo unifor
mes, e mais que tudo as Ordenações do Reino, (que
depois da Impressão de 15 14, a que já outra havia pre
cedido, tiverão a ultima mão approvativa no de 1521)
abrítão caminho plano, para que Barros, Goes, e ou
tros em grande número, de que as nossas Bibliothecas nos
informão, escrevessem com estylo grave, e dicção pura;
e muito principalmente depois que El-Rei D. João III.
não tanto reformou, quanto magnificamente restituio as
Escolas geraes na Cidade de Coimbra. Com toda a lisura
reconheço, que já neste Periodo poucos termos, e pa
lavras são desconhecidas, ainda que muitas dellas, e tal
vez sem causa, andem hoje desterradas pelos confins do
Reino, e por entre os Pastores, e gentes da lavoura. Mas
para que não succeda, que abandonadas da gente corte
zã, polida, e bem falante, venhão a perecer de todo,
tornando imperceptiveis as passagens, e lugares, onde el
las se encontrão, tambem neste Elucidario se lhes deo
acolhimento, arranjadas ao lado das mais escuras, e exo
ticas, que nos restão dos tres primeiros Periodos, e que
fazem o principal objecto, em que a presente Obra se
occupa. |

III. Mas eis-aqui a dificuldade capital, e que não


concede presumir alguem chegue a evacuar todas as dú
vidas, que na Elucidação de tão avelhentadas vozes se
encontrão. Ainda ha quem mantenha , que os primiti
vos caracteres , de que os Hespanhoes usárão, ou são
Runos, ou de outras Nações, que lhe ficavão ao Orien |

te, e Meio-dia. E pelos mesmos fundamentos se ques


tiona, se o seu Dialecto veio do Norte, se dos Gregos,
e Phenicios, e outras muitas Nações, que nesta Occi
dental parte residirão. A Lingua mesma dos Romanos
de
P R E L 1 M 1 N A R. XVII

de Nacional passou a Latina, e de Latina a Barbara; e


quando das Hespanhas forão expulsos, já os seus rivaes
não entenderião a primitiva Linguagem dos seus Maio
res Assim se hião succedendo novos Dialectos aos que
successivamente morrião, e quasi me atrevo a dizer, que
os mesmos Arabes possuidores de huma Lingua viva, não
entenderião hoje a Lingua dos que nos principios do
VIII. Seculo conquistárão Hespanha : que tão fatalhe
como isto a carreira dos Seculos para tudo o que he
obra dos mortaes!... Mas deixemos impossíveis, e não
busquemos, o que o tempo arredou já dos nossos olhos:
insistamos só nos Documentos, que entre nós ficárão,
e até hoje, mesmo por acaso, se conservão. A sua intel
ligencia , confesso , não he impossível; mas será ella
cousa muito facil?
No Livrinho intitulado Origem da Lingua Por
tugueza faz Duarte Nunes do Lião particular resenha
das palavras, que de Nações diferentes ficárão em Por
tugal, não passando de 788 as que elle chama origina
riamente Portuguezas. Não me pertence contestar agora,
se a distinção, que elle faz, corresponde por todos os la
dos á verdade. Eu não me detenho a investigar, de que
Nação a palavra escura, e pouco trivial nos procedeo: pro
curo tão sómente o indagar, em que sentido antigamente
se tomou. Mas que difficuldades nisto mesmo se não em
contrão ? Quantos Vocabulos escritos com os mesmos ca
racteres, forão empregados para exprimir conceitos dia
metralmente oppostos? Vocabulos, que hoje nos susci
tão idéas nada semelhantes; e conformes ás que antiga
mente suscitárão ? Já se em nós estivera o descubrir as
etymologias primordiaes, e verdadeiras de todas as pa
lavras, teriamos concluido as maiores difficuldades, que
neste Elucidario se oferecem. Porém se dos nomes, huns
fotão impostos pelos Sábios, depois de conhecerem a
propriedade das cousas, outros provierão do acaso, ou
tros do vulgo, outros em fim da combinação de mui
Tom. I. C tOS
XVIII A D v e R T E N C I A
tos Idiomas, que no Paiz se fallárão: sendo absoluta
mente impossivel o desenvolver agora, tudo isto; igual
mente seria perder o azeite, e o trabalho insistir com per
tinacia na Origem de todas as palavras, de cuja expli
cação nos incumbimos. Occupem-se nestas cousas os ho
mens grandemente versados nos Idiomas mais antigos,
qual o Corduvez Aldrete, bem conhecido pela sua obra
Origem da Lingua Castelhana , impressa no anno de
1613 ; mas ficaremos sempre na certeza , que a pezar
da sua erudição pasmosa, talvez nos vende por demons
trações as conjecturas, e que tudo o que avançou com
attendiveis fundamentos sobre a Origem da Lingua Cas
telhana, igualmente pertence á Lingua Portugueza, que
naquelle primeiro Periodo se não distinguia, da que em
toda a Hespanha se fallava. •

E quanto me não devia retardar não ter a quem


seguir? As Nações mais cultas da Europa tem feito os
maiores esforços para elucidarem a Linguagem fugitiva
de seus antepassados. Os Glossarios de Jorge Hiernhiel
mo, Henrique Spelman, Olão Wornio, Cironio, Car
pintier, e outros assim o testificão. Mas até hoje em Por
gal, se alguem trabalhou neste assumpto, os seus Mss.
não chegárão pela estampa ás mãos de todos. Sendo
pois cousa muito facil aplanar o caminho , que outros
rompêão: que difficultoso não será descobrir passagem
ao travez de fragas, e rochedos, que ninguem trilhou,
e que horrorisão mesmo , ainda só imaginados ? Mas
isto mesmo, sem dúvida, me livrará de censuras pou
co favoraveis; sabendo todos, que Obras desta qualida
de, principiando rudes, e informes, só com repetidas
addições , e largos annos, podem vir a ser perfeitas.
Desde o VI. até o IX. Seculo não faltárão Glossarios
das vozes Latinas antiquadas : depois destes tempos os
Diccionarios de Salomão, Bispo de Constança, o de
Alfredo, o de Papías, o de Ugucio, e o de Fr. João
de Genova precedêrão ao de Fr. Ambrosio Calepino,
• + .." º que
P R E L 1 M 1 N A R. XIX

que depois de impresso humas quinhentas vezes, talvez


não escusará ainda alguma correcção. E se esta he a sor
te, e condição de todos os Diccionarios, que d'outros
se compozerão: que outra poderia ser a deste, que não
achou modelo, e conductor a quem seguir, para fazer
novas as cousas velhas , dar esplendor ás carcomidas,
luz ás tenebrosas, graça ás enxovalhadas, fé e credito
ás que passão já por duvidosas? Mas ainda assim eu de
Vo confessar, que nada do que escrevo he meu: tudo
ajuntei, mendigando de varios Mss., e Impressos, que,
como de passagem, nos deixárão a explicação de alguns
Vocabulos já então pouco sabidos, e quasi enigmaticos.
Mas sobre tudo o Real Decreto, que me patenteou os
Archivos do Reino, me proporcionou de algum modo
para tentar o presente Elucidario. A singular modestia de
alguns Amigos, que forão grande parte desta Obra com
a participação generosa dos seus descobrimentos, não per
mitte, que eu me espraie nos seus elogios, nem que ao
menos publique os seus nomes: elles não querem outro
louvor, que serem dignissimos de serem louvados... E
com todos estes subsidios, ainda não poucos Vocabulos
ficão sem explicação alguma, porque a não pude con
seguir: outros ficão em dúvida, e reservados para quem
for mais feliz na sua intelligencia; pois antes quiz pas
sar por ignorante humilde, que por lynce temerario.
A Orthografia mesmo , que em as nossas Memo
rias se encontra, quasi tão vária, como erão as pennas,
ou sizeis, que a nós as transmittítão, não era das meno
res difficuldades, que a cada passo me retardavão. Se ain
da hoje em Portugal se não concordou em hum modo fi
xo de escrever certas palavras, e bem assim como na ca
sa, onde não ha pão, todos ralhão, e nenhum tem ra
2ão, segundo vulgarmente se diz: que seria naquele tem
po barbaro, em que a ignorancia reinava com o mais in;
solente despotismo ? Neste mesmo Tratado se achará
hum grande número de palavras,
11
que parecendo signi •+
XX A D v E R T E N c I A
ficar em varios Documentos cousas mui diversas, toda a
diferença consiste em serem escritas com mais, ou me
nos, ou diferentes letras, ou na troca, valor, ou posi
ção dellas; variando a escrita á proporção da pronuncia,
ue muitas vezes discordava em cada Provincia , v. g.
S. Cibrão, S. Cipriam, S. Cibriam, S. Cidram, por
S. Cypriano: Sanboane, Sanoanne, Sanoane, S. Oan,
S. Yam, S. Yom , por S. João. Esta difficuldade po
rém eu em parte declinei, prescindindo de variações ac
cidentaes, que nada interessavão o Público, e que qual
quer mediano entendimento, ainda sem maior cultura,
facilmente chegava a decifrar. Estas as principaes dif
ficuldades : deixo outras á discrição dos prudentes , e
passo a falar da Utilidade, que deste Elucidario se póde
conseguir.
IV. Se todos os nossos trabalhos devem ser diri
gidos a utilidade pública, ou particular, não sendo cou
sa alguma digna de louvor, e gloria, a não ser util:
bém póde este Elucidario esperar alguma parte na esti
mação dos homens; sendo certo, que delle se póde es
perar algum proveito. Ninguem duvida, que a Diplo
matica se tem cultivado em Portugal : já não são de
masiadamente raros os que podem ler , e manuzear
com acerto os Monumentos da Antiguidade veneravel:
ajuntando as reflexões Nacionaes com as muitas Paleografias
dos nossos visinhos, tem-se aplanado esta vereda, que tão
escabrosa parecia. Porém vai larga distancia entre o ler
os caracteres antigos , e o entender sem erro o que
nelles se contém: a este fim se dirige o nosso Traba
lho. E esta he a grande , e geral utilidade, que delle
se póde seguir. A mesma diferença, que se dá entre
a solfa escrita, e a cantada, parece ser a mesma, que
se encontra entre o ler , e o explicar os Documentos
tão distantes dos nossos dias. O principio da erudiçãº
he a intelligencia das palavras: não póde conhece aº
cousas, quem for ignorante dos Vocabulos , que Paº
- - 3S
P R E L 1 M 1 N A R. XXI

as exprimir se adoptárão. Eu não duvido, que os mais


empenhados pelas origens , e termos do nosso Direi
to Pátrio , pelos Costumes, Leis , e Foraes dos anti
gos Portuguezes : pela Historia Ecclesiastica , e Civíl
da Monarchia Lusitana: pela Chronologia mais exacta
em muitos pontos , que os nossos Historiadores com
menos exacção nos transmittírão: pelo valor das moe
das, e medidas, que entre nós se usárão: e por mui
tas antigualhas, e anecdotas , que em outra parte se
não encontrão ; aqui tenhão com que satisfazer algu
ma parte da sua interessante paixão. Por isto não foi
debalde , e por acaso , que eu divagasse por algumas
exposições, e notícias: hum simples Glossario, e des
pido de toda a erudição, mal poderia misturar o util,
com o doce: nisto me precedêrão Grandes Homens, e
cuja imitação me seria gloriosa, quando fora mais bem
desempenhada!... •

Nem alguem me reprehenda, e acoime por des


enterrar palavras tão antigas , como se eu as propo
zesse a fim , de que sejão presentemente usadas: mui
diferente he o meu pensamento : eu as explico só,
para que se entendão os Documentos, em que elas se
encontrão. E se a Nação julgar a proposito , que al
gumas por mais simplices , expressivas, e Portugue
zas, resuscitem do esquecimento para o uso , então di
rei que profetizou Horacio, quando disse:
Multa renascentur, qua jam cecidére...
....... Vocabula, si volet urus.

Entre tanto me parece se não devem desprezar,


e ter em pouco os despedaçados restos , que daquel
le singélo tempo nos ficárão : elles são preciosas, pe
rolas , que se achão em conchas vís, e de nenhum
preço : são flores no meio das espinhas; Silenos 2 ou
figuras , que não tendo por fóra cousa que deleite 2
V1S
XXII A D v E R T E N c I A
vista, estão cheias por dentro de huma bella doutri
na , e instrucção, De outra sorte que progresso po
dem fazer com a sua leitura, os que não entenderem
os Termos, e Frases, que neles se encontrão ? Che
ga-se a isto não termos Diccionario algum , que nos
dê a significação de certos Vocabulos, que nos prin
cipios, ou talvez antes da Monarchia, se escrevião em
Latim, da mesma sorte que em vulgar v. g. Apelido,
Carritel, Capdal, Fossadeira, &c. E então seria des
perdiçar o tempo entreter-se na lição deste Elucidario ?
V. Em fim, se as Leis Divinas, e Humanas man
dão dar a cada hum, segundo as suas Obras, e á pro
porção do trabalho assim he que lhe destinão o pre
mio: não me seria mal contado, se eu esperasse alguma
retribuição, depois de tantos dispendios, e viagens, suo
res, e vigilias, com que desejei ser util aos meus Com
patriotas: porém eu, longe de pedir algum louvor, tão
sómente peço perdão dos muitos erros, e defeitos, que
todos são do entendimento, e nenhum da vontade; re
putando-me por demasiadamente pago , se, alguem me
ler sem fastio. De algumas expressões mais fortes, com
que reprehendo, e estranho os máos costumes, e abu
sos, que devião ser eliminados , ninguem julgue, que
eu desprézo as pessoas viciosas: a minha Censura se en
caminha direitamente aos vicios; guardando sempre to
da a reverencia, de que sou devedor a todas, e quaes
quer pessoas, e concluo com o Poeta:
Hunc servare modum mostri novére libelli:
Parcere personis, dicere de vitiis.
Martial. Lib. 1o. Ep. 33.
Pag. 23
X><><><><><><><><>ç
++>+++>+++XX++++++++XX++++++++XX*-+--+++>++)(X>+-+-+-+-+-+-+)(X++++>+-4-ex->
*QOCX X>Q<><><><><

E LUCID A R I
D A S

PALAVRAS, TERMOS, E FRASES,


&e. &c.
CC &c. -

A. * * •

A… alguns antigos do tandem. E isto nos violenta a crer,


A como letra numeral, a que da # assim o pronunciavão os que nos
vão o valor de 5oo: e quando so ocumentos de tão infima Latini
bre o A escrevião hum til, ou ris dade introduzião os Vocabulos, ac
co horizontal, valia 5 d)ooo. centos, e dialecto da Lingua Vul
A. Como Nota Musical, servia gar, e do Paiz. -

de levantar a voz no Canto-Chão. A. Usava-se antigamente do


Dizem que Pedro Romano fora o brado todas as vezes, que se de
primeiro, que usou das Letras do via pronunciar com a boca inteira
Alfabeto em o Canto Gregoriano, mente aberta: o que hoje supprimos
quando o veio ensinar a França, escrevendo o A singélo com assento
mandado pelo Papa Adriano I. a ins agudo, ou grave, v.g. Vou da feira:
tancias do Imperador Carlos Magno. estou aa vista: aas quaes, & c. que
Quaesquer que fossem as Notas da hoje escrevemos: á feira: á vista: ás
Musica antes, e depois de S. Gre quaes, &c. Esta Orthografia foi mui
gorio Magno , nós o ignoramos; to usada até os fins do Seculo XVI.
sabemos porém que os Gregos usá A Escrito sem aspiração, preterito
rão de sete Notas em o Canto, mui do verbo Ser, he mui frequente em
tos Seculos antes que Guido Are lugar de ba até o Seculo XIV. Que co
tino inventasse as seis, de que modes gran tempo á fosse contenda, & c.
actualmente nos servimos. Doc. da Cath. de Lamego de 1292.
.A. Nas Biblias antigas se ante A. Correspondente á preposi
punha áquellas Profecias, que só ção latina ad, he trivial em os nos
mente erão comminatorias, como v. sos monumentos, que correm des
g. na de Isaias 38. I. A. Dispone de o Seculo IX, até o XII. v. g. Hoc
domui tuae, quia morieris. - quod a sepe dictas baselicas; como se
A. Acha-se a cada passo nas Es lê no Livro de D. Mumadoma de
crituras, que conservamos exaradas Guimarães, e nos Testamentos de
em Latim até os fins do Seculo XIII. Lorvão. Em hum Doc. do Mostei
o A em lugar de E, v.g. talam, ro de S. Pedro de Cete de 985, se
4ualam º tandam: por talem, qualem, lê facimus textum escritura f… •

J}
24 A •
A
ais de Villas prenominadas, a locum pre Mosteiro de Arouca: daremos hum
dictum Sancto Salvatoris Domini mostri só , para nos não demorarmos em
Jesu Christi, Óº Sanctae Mariae semper cousa tão clara. Em huma Carta
J'irginis, & Sancti Pelagii Martyris: de Venda de lo83, assigna o Es
que est fundada eorum Vareliga vo critor na fórma que se póde ver
gabulo Sancto Petro. n. 3. da mesma Tab.
A. Por in foi muito usado nos E AÁCIMA. adv. Finalmente º por
Seculos X. e XI. Si quis autem ali fim de tudo, por ultimo, em con
quis homo venerit.... ad inrumpen clusão. Vem do Verbo Acimar, que
dum contra anc Cartula contramuda he levar huma obra ao cabo, e á
tionis, quod nos à judicio divindiga sua devida perfeição. Que como des
re non potuerimus, & c. Instrumento gran tempo 4 , fosse contenda sobre
de Commutação de certas fazendas moitas cousas antrº os Reis de Portu
entre o Abbade Vimaredo com seus gal, e a Igreja de Lamego; áácima,
Frades, e Freiras do Mosteiro Du todalas contendas , e demandas foram
plex de S. Miguel em Terra de Pai renonciadas, e cassadas pelo honrado
va, e Froila Absaloniz, e sua mulher D. Oanne, e pelo Cabidoo do dito lu
Egilo, que está Original no Mos gar de Lamego. Carta da Doação
teiro de Arouca, feito no de 989. da Igreja de Baldigem, e de outras
A. Das abbreviaturas, que os Ro muitas Mercês, que El-Rei D. Di
manos escrevião com hum unico A, niz fez ao Bispo, e Cabido de La
tratão larga , e doutamente quasi mego, em recompensa de terem ce
todos os Vocabularios: na sua Ju dido de todas as demandas, que até
risprudencia, Juntas, e # aquelle anno de 1292 havião tido
ha muitos exemplos destas Cifras. com a Coroa. Doc. de Lamego. Em
Entre nós se acha huma, que pa hum Doc. das Salzedas de 1288, se
rece escapou á sua diligencia, e he diz: E dácima de todas estas razões
a Cidade de Aravor, escrita com disserom os Cavaleiros : ide-o falar
hum A. V. Aravor. * * com D. Sancha.
A. Escrito com a figura de X, AADE. Adem , ou ganso, ave
não he cousa rara em os nossos Ar bem conhecida , assim domestica,
chivos. No de Pendorada se acha como bravia. Tres vacas com seus
huma Carta de Venda do anno de filhos, seis patas, e tres aades. Doc.
1152 , em que o Notario Ramiro de Pendorada de 1359. -

Presbytero se assignou do modo AAPORCIMA. adv. Finalmen


que se vê Tab. I. n. 1. - te, ou por fim. Et peró que vós per
Em outra , que ali se guarda alguas vezes veestes a esse preito, non
assigna o Presbytero Avías, como quizestes dáporcima estar a direito.
tambem se acha n. 2. Para cuja in Doc. da Guarda de 1298. E outro
telligencia se deve notar, que por de 13o2. Ibidem.
estes tempos contavão as sinco le AASO. Occasião, ou motivo. E
tras vogaes, e as escrevião com as nom seeredes aaso de tornarmos hi, nem
notas das dezenas, começando de dez nossas justiças, nem nossos sojeitos per
até sincoenta na fórma seguinte = outra guisa. Carta d'El-Rei D. Afon
A—X:–E-XX:– I–XXX: O–XL: so IV. para D.Jorge Bispo de Coim
V—L. Disto ha muitos exemplos no bra no de 1352. Doc. de cº?…
AB AB 25
ABADEJO. Cantharida, ou mos quaesquer passageiros; alludindo á
ca de freixo: he palavra mais Hes mulher barregãa, que não tem mari
anhola, que Portugueza. do, e por isso exposta a quem del
ABADENGO. O mesmo que a la quer abusar. E nom vos obrigam
Appresentação de huma Abbadia, ou os a povoardes a dita quebrada; por
o Direito de ser Abbade em huma que nom tem formal , e sempre assi
Igreja. Homines de ipsa Villa dederunt andou abaregada. Doc. de Grijó do
ipsam Ecclesiam in Abadengo uno Frei Sec. XV.
re, qui adjuvaret eos contra D. Pe ABARGA. Lugar de pescaria,
tro Garsie. Inquir. d'El-Rei D. Af ou mais bem artificio de vergas, e
fonso III. na Freguezia de Ervões, páos, que servia de rede, ou ar
que he da Corveira. * madilha para pescar saveis, e lam
ABANICO. O mesmo que gor preas. Sem venderem os saveis nas
ja, ou gorgueira: compunha-se de abargas, onde os pescam. Carta d'El
huma tira de garça , ou volante, Rei D. Afonso V. para a Camera
da largura de huma mão, travessa, de Santarem no de 1455. Em ou
tomada em préga. Já hoje se não tros Reaes Documentos se dizem
usa com este feitio. Marga , e Vargas semelhantes la
ABARCA. Barca. E esta abarca, ços, e redes de prender o peixe,
que colhe o sal, nom paga portagem. # já hoje em poucas partes deste
ABARCA. AS. Certa especie de eino se pratíca. Entre as franque
calçado rustico, que tambem se diz zas, e liberdades, que El-Rei D.
Alabarca. Compõe-se de huma sola, Afonso III, concedeo pelo seu Fo
e alguns pedaços de couro cru, ata ral de 1255, aos Moradores de Gaya
dos com cordeis. He muito accom defronte da Cidade do Porto , se
modado para andar por caminhos acha a seguinte: Item mando, quod
fragosos, e montes cheios de neve. piscatores de mea Villa de Gaya pes
Hesabida a razão, por que a D. San quent in maís Varguis de Furada,
cho II., e a seu filho D. Garcia III., 6° de Arinio : &º de quanto pisca
Reis de Navarra, derão a Alcunha verint in mea Varga de Furada dent
de Abarca. Não desconhecêrão os Maiordomo Vº" partem: & de quan
Hebreos este calçado, porém o usa to piscaverint in Varga de Arinío dent
vão muito mais polido, segundo Maiordomo VI." partem. Doc. da
se vê da Abarca de S. Pedro, que Cam. , do Porto. E no Foral que
ainda hoje se guarda em Roma. El-Rei D. Manoel deo á Terra de
Sobre estes modelos he que se for Paiva no de 1513 se diz = Paga-so
maís nesta Terra outro Direito no Rie
márão as Alpargartas, Apagartes;
ou Alparcas, já de linho , já de Douro, a saber: nos tres Arrinhos de
couro, de que usão algumas Reli Boyro, de Midoens, e de Douride, e
giões, senão mais reformadas, mais de todos estes Casaes levão o quarto
2LISt Cr2S. dos saveís, e das lampreas soomente»
ABAREGADA. O. Assim cha que se matão com Vargas.
márão á herdade, ou casal, em que o A este Direito, que se pagava das
Emphyteuta, ou Colono não reside, Pargas, chamárão os Francezes em
e habita ; e por conseguinte expostos Latim do Seculo XIII. Abardilla. E
os seus fructos a serem roubados de daqui PEs tomárão os Hespanhoes
Tom. I. 4S
26 AB AB
as suas Bardas , ou Bardaes , que tar: encher, fartar. E daqui: abas
propriamente são estacadas, cani tecido: cheio, farto, e bem servido
ços, ou sebes, entretecidas de de tudo o que se oppõe á miseria,
vergas, ou varas, e lhes servem de indigencia , lazeira, ou pobreza.
curraes em que hoje recolhem os Do Verbo Abastar, e seus deriva
gados, mas com que algum dia, e dos, usárão com frequencia os Por
com diferente figura , colhião os tuguezes no Seculo XIII., XIV.,
peixes. Na Baixa Latinidade se cha e XV.
mou Varcatura, Virgatura, e Val ABASTOSO. O mesmo que
catorio : a estacada feita de varas, Abastado. Doc, das Religiosas Ben
com que as margens dos rios se tas do Porto de 1286. Daqui Abas
coartavão, para que não destruis tosamente : com abundancia, com
sem os visinhos campos. Os Poetas fartura, com largueza.
Italianos chamárão Varcas, ou Var ABBADADO, ou Abbadiado.
cos a huns certos passadiços que so Parochia , que antigamente tinha
bre os rios se formavão de estacas, Prelado, ou Abbade , e que fre
vergas, e páos. Destes se servírão quentemente se chamava Mosteiro.
tambem os Portuguezes na pesca Hoje se chama Abbadia.
dos Saveis, e lampreas. ABBADADO. adject. Igreja Ab
ABARRISCO. adv. Com abun badada , a que he governada , e
dancia , com largueza , com far servida por Abbade. Mosteiro Ab
{UT2. badado.
ABARROADO. Teimoso, per ABBADAGIO. Beberete, me
tinaz, fixo no seu parecer, obstina renda , e qualquer outra refeição
do. Ant. corporal, que se extorquia dos Fre
ABASMAR. Desprezar, ter em guezes pelos Pastores das Igrejas.
pouco. He das palavras mais anti Berragia , comestiones , pastus , po
gas da Monarchia, segundo se per tationes , seu Abbadagia exigere,
suade Manoel de Faria na sua Eu quasi ex debito, non reformidant. As
rop. Portug. Porém nem todos se sim consta do Conc. Terraconense
ráõ deste parecer. Can. 1o. ap. du Fresne.
ABASTADO. O que he bastan ABBADAR. Pôr Abbade em hu
temente rico , o que tem o preci ma Igreja, ou ter Direito de o apre
so , o necessario para os usos da sentar nella. Das Inquirições d'El
vida, segundo o seu estado, e con Rei D. Affonso III. na Terra de
dição. Mirandella consta, que havendo os
ABASTAMENTÉ. Suficiente, moradores daquelle termo povoado
e abastadamente, com tudo o que esta Villa no tempo d’El-Rei D.
he preciso , e necessario. E dixe Affonso II. , e D. Sancho II. havia
per ante esses juizes, que os da Guiar em Mirandella huma Igreja de São
nom veeram abastamente com seu Pro Martinho, a qual abbadava o Rico
curador , assi como ouveram de ve homem, que da mão do Rei tinha
bir. Doc. de Aguiar da Beira de aquella terra. Depois os moradores
I 2.88. da Villa fizerão a Igreja de Santa
ABASTANÇA. Abundancia, co Marinha , mudando a Villa , e a
pia, fartura. Vem do Verbo Ahas Igreja para o lugar onde agora es
• tão 2
}
AB AB 27
tão, e por isso Ex tunc homines de como alguns destes não fossem mais
ipsa Villa abbadabant ipsam Eccle ue Diaconos , Eugenio II. , e
fiam. E quando a Villa de Miran #o IV. mandárão que só fossem
della estava em S. Martinho , o Abbades os que estivessem ordena
Arcebispo de Braga não levava mais, dos de Presbytero. No Sec. IX. se
de que a Colheita; mas depois que achão nas Cathedraes alguns Abba
a mudárão, leva a Terça. E depois des, talvez porque erão Titulares
que El-Rei encartou esta Villa, o de algumas Abbadias , que forão
Conselho Abbáda a dita Igreja de unidas ás suas Igrejas. V. Abbade
Santa Marinha. Comego. Por este mesmo tempo se
ABBADE. Deo-se o nome de começárão a dividir as rendas entre
Abbade (que segundo a sua ety a Meza Abbacial, e Conventual: a
mologia significa Pai) aos Prela prodigalidade dos Abbades occasio
dos , e Superiores dos Mosteiros, nou este abuso , que logo passou
e Congregações Religiosas, e mes ás mesmas Cathedraes. Para se dis
mo aos Pastores das Igrejas dos tinguirem dos Abbades Seculares,
Fiéis , na certeza de que huns, e he que os verdadeiros Abbades no
outros serião verdadeiros Pais de Sec.X. tomárão o Titulo de Alba
seus Subditos, e Freguezes, a quem des Regulares. Desde o Sec. IX se
procurarião todos os bens, e com derão aos Abbades, e principal
modidades, não só d’alma , mas mente aos Seculares, os nomes La
ainda do corpo , quanto as suas tinos de Praesul, Antistes, Praela
rendas o permittissem. tus , Rector, &c. E aos das Paro
Houve antigamente alguns Ab chias com muita frequencia se deo
bades Monachaes, que precedião o de Clericas ; segundo vemos pe
aos mesmos Bispos: tal foi em Es las Inquirições Peaes, e outros mui
cocia o Abbade do Mosteiro de tos Documentos.
y, fundado por S. Columbano no ABBADE. Foi nome geral, que
de 58o , a quem obedecia todo antigamente se deo a todos os Mon
aquelle Paiz, e o mesmo Bispo. ges, e Eremitas, e principalmente
O mesmo se vio em Monte Cassí aos que erão de huma veneravel
no , a cujo Abbade obedecião al ancianidade , e respeitaveis costu
guns Bispos, que tinhão jurisdic mes. Hoje mudado o nome , con
ção nos seus Diocesanos. Outros servamos o significado, substituin
Bispos houve sujeitos aos Abbades, do outro mais arrogante , e pom
mas sem jurisdicção alguma, e sa poso, e chamando Padre a todo o
grados tão sómente á petição dos Monge, Religioso, ou Clerigo.
mesmos Abbades, para darem Or ###### Fóra de Portugal se
dens Sacras aos seus Subditos, e fa chamárão Abbades os que erão Che
zerem nos Mosteiros o que he pro fes, Principaes, ou Primicerios, não
prio só da Ordem Episcopal. Nºs só em alguns Ministerios Ecclesias
fins do VIII. Sec. he que os Ec ticos, mas ainda Seculares, ou me
clefiasticos Seculares, formados em ramente Civís. Daqui Abbade dos
Collegios, ou Congregações de Artistas, Oficiaes, e Notarios: Ah
Conegos , derão o # de Ah bade dos meninos do Coro: Abbade do
bades aos seus Prelados Locaes. E
c…gº (pelo principal Sineiro)
11
/
28 AB AB
Abbade da Confraria: Abbade do Col ABBADE Bispo. Aquele que,
legio , ou Abbade do Povo , como sendo Prelado de huma Abbadiá
ainda hoje chamão os Genovezes Regular, foi elevado á Dignidade
aos seus Reitores. Episcopal, transformado o seu Mos
ABBADE dos Abbades. No Con teiro em Cabeça do Bispado , e
cilio Romano de 1 1 16 se arroga Igreja Cathedral. Tal foi entre nós
va este Titulo o Abbade de Cluni; S. Martinho, Bispo de Dume jun
porém João Caetano Cancellario dó to a Braga.
Papa o desenganou que este Titu ABBADE da Capella do Pala
lo era só proprio do Abbade do cio, ou Abbade da Curia. O Ca
Monte Cassino, como Vigario, e pellão-Mór da Casa do Rei, ou
Successor de S. Bento , e Prelado Principe.
de hum Mosteiro, onde nasceo, e ABBADE Cardeal. Assim se cha
donde dimanou a Religião Benedi mou por Privilegio Pontificio o Ab
bade de Cluni. Tambem se disse
ctina. O que se decidio naquelle
Concilio tinha já praticado S. Odi Abbade Cardeal , o que era Abba
lom, Abbade de Cluni, achando de proprio , residente , e efectivo
com verdadeiro Titulo de Abbadia
se em Cassino, onde não quiz re
ceber da mão de Theobaldo, Ab Regular, ou Secular. V. Verb. Bis
bade daquelle Mosteiro o Baculo p o Cardeal.
Pastoral , reconhecendo-o por Ah ABBADE Castrense. O Capel
bade dos Abbades , como Successor lão-Mór do Regimento. Este al
de S. Bento. Esta Prerogativa con #" vezes era Monge, e presi
cedêrão, e confirmárão muitos Sum ia aos outros Capelães, que erão
mos Pontifices aos Abbades daquel do mesmo Instituto.
le Mosteiro. Porém o de Cluni, ABBADE Commendatario.O que
chamado Poncio, vendo-se despo ### Beneficio Ecclesiasti
tCIT]

jado , e com justiça, do ambicio co, ou Regular em Commenda,


so Titulo, que tomára, se arrogou ou para comedoría; ainda que se
depois, á imitação dos Gregos de ja Religioso, ou Secular, que não
CP, o Titulo de Archi-Abbade, que póde ter bens Ecclesiasticos em Ti
he o mesmo, que Abbade Prima tulo. Procurão alguns a Origem das
rio, e Universal de todos os Mos Commendas em o Papa S. Grego
teiros, que de Cluni dependião. rio Magno, que por muitas vezes
No Bispado de Béja, em a nossa entregou as Igrejas viuvas aos Bis
Lusitania foi mui célebre o Mos os mais visinhos, em quanto não
teiro de S. Cucufate, cujas mons erão provídas de Pastores; e talvez
truosas ruinas ainda hoje se admi concedeo a sua Administração aos
rão. No de 1225 foi dado por D. Bispos desterrados, em quanto não
Martinho, Bispo de Evora aos Re podião voltar ás suas proprias Igre
ligiosos de S. Vicente de Fóra. Os jas. Disserão outros que o Papa
seus Abbades antigamente, ou al Leão IV. abríra a porta a semelhan
gum delles, se intitulava Abbade dos te abuso; concedendo Commendas
Abbades, segundo a notavel Carta, aos Bispos, e Clerigos, que aban>
e bem sabida, que começa : Abbas donárão as suas Igrejas, fugindo á
Abbatum de São Cucufato, &c. irrupção dos Serracenos, que no seu
{ÇIIl
AB AB 29
tempo destruírão, e roubárão toda por algum Prior, ou Preposito. Al
a Sicilia, e grande parte da Italia. guma vez permittião, que os Mon
Mas estas Commendas não destruião ges tivessem seu Abbade legitimo,
a Igreja de Deos; pois do primeiro, e Regular, cujo poder, authorida
e segundo Concilios de Oviedo nos de , e jurisdicção se não extendia fó
consta, que nas Igrejas, e Mostei ra do Mosteiro, e além da inspec
ros das Asturias, e Padrão se consi ção sobre a Monastica Disciplina.
gnárão largas pensões, ou comedo Grassou esta peste não só pela Eu
rias a muitos Bispos, que fugindo ropa, mas ainda por todo o Orien
aos Mouros alli se retirárão , para te, a Pezar das queixas, e reque
terem o preciso, e necessario, CIT]
rimentos dos Summos Pontifices,
quanto se não recuperavão, e refa e Bispos na presença dos Principes,
Zião as suas Cathedraes. De outra que todos se desculpavão com o es
fonte manárão os Abbades Commen Pecioso pretexto, de não poderem
datarios , que apoderando-se dos restituir inteiramente os Bens Ec
Mosteiros , os destruírão , e anni clesiasticos, sem detrimento grave
quilárão, até que o Senhor Deos da Milicia, de quem pendia a de
se compadeceo da sua Herança, fensa, e segurança dos seus Es
tados.
que tanto se achava perdida, e ul
trajada. Depois que Hespanha começou
De França nos veio todo o mal. a respirar da oppressão tão longa
A precisão, ou pretexto de defender, dos Sarracenos, se vírão fundar de
e indemnizar a Républica, deo aos novo, ou restaurar, quasi innume
Principaes Leigos os Mosteiros, e raveis, e pela maior parte, insigni
Abbadias, como em Beneficio, Com ficantes Mosteiros de Conegos, e
menda, ou Tença: o que já se pra Monges, por toda a extensão da
ticava no tempo de Carlos Magno: Lusitana Monarchia. Não saberei
e até disserão, que Carlos Marteldizer, se o zelo da Religião mul
lo fora condemnado ás eternaescham
tiplicava estes Domicilios, se a van
mas , por não impedir, mas antes gloria de celebrarem o seu nome, e
augmentar semelhante abuso. Estes proverem á subsistencia das suas Fa
Beneficios , ou Comedorias , que milias, era quem movia os seus
erão vitalicios, e quando muito até Fundadores. Podemos afirmar, que
a terceira geração, começárão, em á vista das vendas, e trocas, escam
grande parte , a serem possuidos bos; e empenhos, que deles se
como de juro , e herdade; intitu fazião, e das insupportaveis pensões
lando-se huns: Abbades-Duques, ou de Comedorias , Casamentos, fanta
tros: Abbades-Condes, cujos Titulos res, &c., que nelles se impunhão,
algumas vezes, com Direito, ou e os Naturaes , e Descendentes dos
sem elle, passárão á Casa de Fran Fundadores delles extorquião; mais
ça: donde veio chamarem-se tam erão huma especie de Morgados pa
bem Abbades alguns dos seus Mo ra usos do Seculo , que Casas de
narcas. Os poucos Monges, que or Religião para o Culto Divino: os
dinariamente vivião nos Mosteiros, antiquissimos Mosteiros da Vacari
humas vezes erão governados por ça, e Lorvão ambos forão dados á
estes Beneficiados Leigos , outras Sé de Coimbra : o primeiro pelo
Con
3o AB AB
Conde D. Raimundo no de ro94, de 15oo não ficou Mosteiro, que
e o segundo pelo Conde D. Hen tivesse algumas rendas, e carecesse
rique no de 1 Io9. Em ambas as de Abbade Commendatario.
Doações, que se guardão na Ca No feliz Reinado do Senhor Rei
thedral de Coimbra, se diz , que D. João III. se principiou a reme
cada hum destes Mosteiros, erat sub diar tamanho abuso, mas preveni
Regali, temporalique Potestate tradi do com a morte, não pode levar
tum. A mesma fortuna, e com pou ao cabo os seus intentos. D. Mi
ca diferença , acompanhava a to guel da Silva, Bispo de Viseu, e
dos os mais. Porém com o rodar dos Commendatario de Santo Thirso,
tempos se augmentárão em rendas, renunciou esta Abbadia em seu so
ou se lhe unírão os menos opulen brinho D. Antonio da Silva, com
tos; e deste modo se fizerão ainda condição de que reformaria o Mos
mais appetecidos. teiro na perfeição Monastica, o que
Nos principios da Monarchia Por logo fez; exemplo luminoso, que
tugueza fez-se indispensavel o soc logo se difundio pelos outros Mos
corro, e assistencia das Ordens Mi teiros, de sorte que no de 1 6oo já
litares, com quem repartírão a Co não havia Abbades Commendata
roa , e os Vassallos largas porções rios nos Mosteiros ; unindo-se de
de terreno , Igrejas, e Mosteiros, commum acordo os Pontifices, Bis
de que fizerão Commendas, e Prece pos, e Monarcas na extincção des
ptorias, que ficárão perpétuas, sen te abuso tão nocivo, e pegajoso.
do os serviços temporaes. Depois ABBADE dos Conardos, ou Cor
as Conquistas dos Portuguezes em nardos. Era em Roão, e outras ter
todo o Mundo fóra da Europa, e ras de França o Capataz de certa
as limitadas rendas para satisfação Sociedade, que principiando em su
dos benemeritos, forão os princi geitos prezados de agudos, e dis
paes motivos de introduzir nos Mos cretos, salgavão, e Satyrisavão joco
teiros os Abbades Commendatarios. samente tudo o que desdizia da ho
E com efeito, as Encommendas des nestidade , e bons costumes, Mas
tes Beneficios feitas por tempo li declinando logo para dicterios, e in
mitado, e a Pessoas da mesma Pro júrias as mais picantes, e atrozes,
fissão, não serião contra a razão, se virão precisados ambos os Pode
e Direito. Mas depois que o Car res a exterminar gente tão pernicio
deal de Alpedrinha chegou a ter sa, e tão ridicula, que não só per
todas as Datas dos Beneficios de turbavão a paz, e honra das Fami
Portugal, não só introduzio Abba lias, mas ainda se abalançavão a cri
des Commendatarios Vitalicios nos mes, e excessos os mais funestos,
Mosteiros a Clerigos Seculares, mas e horriveis.
ainda a muitos # , inteira ABBADE Conde. Assim se cha
mente Leigos , que só cuidavão márão alguns Abbades Regulares,
em fazer grangearia do Patrimonio que não só região os seus Mostei
do Deos Crucificado ; arruinando ros, mas tambem possuião algumas
pelos seus mais baixos alicerces a terras com obrigação de as defender
bservancia Regular , e Espirito com mão armada de toda a invasão
Monastico. Desde 14o o até o anno hostil.
AB
AB AB 31
ABBADE dos Conegos. Antes não perdeo o Direito de apresentar
que S.Theotonio pela sua humildade os Beneficiados, e Sacristão, e se
não quizesse acceitar o titulo de Ab chamar Abbade de Almacave, e pre
bade, dava-se constantemente a to ceder no Coro, e mais Afembleas
dos os Prelados Locaes, e immedia Capitulares.
tos dos Mosteiros de Conegos Re Na Praça de Guimarães se vê ho
grantes. Este Santo foi o primeiro je hum Templo , dedicado ao Pa
que em Portugal, e no Mosteiro de trão das Hespanhas, que antiga
Santa Cruz se intitulou Prior , e mente foi Collegiada. Esta se unio
não Abbade. Fóra de Portugal fo a outra mais insigne da Senhora
rão alguma vez Abbades de Cone da Oliveira , ficando o seu Abbas
gos Regrantes, Abbades meramen de Mestre-Escóla, que ainda ho
te Seculares, que precedião em tu je tem o Titulo de Abbade de San
do aos Priores Crasteiros , Preposi tiago.
tos, Presidentes , ou Vigarios, dos E finalmente os Arcebispos de
uaes pendia o governo economico Braga se intitulão Abbades de São
} Casa. Fictór , ou Victouro , que he na
ABBADE Conego. Succedia al mesma Cidade, ou seus arrabaldes,
gumas vezes unir-se a hum Cabi que hoje está unida á Camera Ar
do alguma Abbadia Regular, ou chiepiscopal; sendo em outro tem
Secular com condição de que o Ab o Mosteiro de Monges, segundo
bade ficasse do Corpo do Cabido # João de S. Thomaz ; se bem
com o Titulo da Abbadia extincta, que João de Barros na sua Geo
o qual se continuaria nos seus Suc grafia dá a entender , que no de
cessores. Entre nós não faltão ex 1165 era de Religiosas. No Livro
emplos. João Martins, neto de Mar Fidei se achão os Documentos que
tim Eycha, ultimo Rei Mouro de pertencem a este Mosteiro , que
Lamego, e que morreo Catholico; não he tão antigo , como se per
sendo Abbade da Collegiada de suadio o Author da Benedictina
Santa Maria de Almacave, quando Lusitana.
a Canonical Igreja de S. s# No Archivo da Mitra Bracarense
da mesma Cidade, de que era Prior se guarda a Bulla Original de Eu
D. Payo, se formalisou em Cathe genio III, que confirma aos Arce
dral depois de 1 145 (segundo se bispos de Braga entre os mais bens,
evidencia do Livro das Doações de expressamente nomeados, Ecclesiam
Tarouca a f. 12. Y.) passou a ser Sancti Victoris cum Villa sua , no
nela o primeiro Deão (de que nos anno de 1 148.
informa o Necrologío Lamecense a ABBADE da Escóla. O Chéfe,
2 de Março, e a 3 de Dezembro) ou Reitor da Classe , Academia,
unindo a esta Dignidade os meios ou Collegio.
fructos da sua Abbadía , que até ABBADE Leigo, ou Secular. O
hoje percebe. E supposto, que os mesmo que Abbade Commendatario.
Senhores Bispos apresentem o Vi ABBADE Magnate. São na Con
gario , Prelado, ou Reitor (pois gregação de S. Bernardo os que
todos estes nomes constão de anti
tem Territorio proprio, e separado
gos Documentos) ainda o Deão em que exercitão quasi toda a Ju
• TIS
32 AB AB
risdicção ordinaria : conhecem das ta, não adquirílão esta independen
causas Matrimoniaes, e Sacrilegios: cia dos Bispos pela sua Fundação
dão Dimissorias aos seus Subditos em lugares ermos, e deshabitados,
Seculares: põe seu Vigario Geral, e que se não provasse forão algum
&c. com tudo o mais que he da tempo da Jurisdicção de Bispado
Jurisdicção Episcopal. Taes são os algum; como succedeo na Funda
Abbades de S. Pedro das Aguias, ção de Thomar, que não foi pos
S. João de Tarouca, S. Christo sivel averiguar-se naquelle tenebro
vão de Alafões, Santa Maria de so tempo, como o Castello de Ce
Fiaens, e Santa Maria das Salzedas. ras fosse algum dia da Idanha, Lis
De tres especies de Abbades isen boa, ou Coimbra , e por conse
tos, ou Magnates tratão largamen guinte ficou. Nullius, e immediato
te os Canonistas, e do modo de á Sé Apostolica.
adquirir , e perder a sua isenção: Igualmente lhes não dimanou de
huns tem lugares isentos da Jurisdic algum Privilegio Pontificio, que os
ção dos Bispos, mas não tem autho fizesse isentos da Jurisdicção Epis
ridade alguma sobre o Clero, e o Po copal; pois disso não apparece Do
vo, e só por consequencia da isenção cumento algum Original, e incon
exercitão algum Poder sobre as pes cusso, que alegar se possa. Resta
soas do seu Territorio : outros ha SO , que , ou por contrato onero
que exercitão quasi toda a Jurisdic so com as respeitaveis Mitras , ou
ção Episcopal; salvo o que he da por huma Prescripção Legal elles
Ordem dos Bispos , Lei Diocesa adquirissem semelhante isenção.
na, ou Delegação Apostolica: ou Das Salzedas consta por Docu
tros em fim , em cujos Territorios mentos incontestaveis, que D. Men
nada tem , ou podem os Bispos, do Godiz , ou Godines, primeiro
senão como Delegados da Santa Sé. Bispo de iamego restaurado , di
Cra os Mosteiros de que se tra mittíra todos os Direitos (a) Episco
paes

(a) Não he o mesmo dimittir os Direitos Episcopaes , que algum tem obrigação de
pagar, que transferir nele a Jurisdicção Episcopal, que se expressamente se não declara,
se não julga dimittida. No Contracto, ou seja Dimissão do Bispo D. Mendo não se acha
que ele désse a Jurisdicção Episcopal aos Abbades da Salzeda : consta só, que elle exi
mio a Igreja da Salzeda, ( a qual no de 1 164 era só a do Mosteiro) de pagar a pensão dos
seis quateiros á Sé de Lamego, e tambem os outros Direitos das Mortulhas, Visitação,
Procuração, Cathedratico, &c. Porém o Bispo renunciando por aquella Escritura toda a
renda, que alli tinha, não dimittio de si huma só alma , por quem estava responsavel
a dar conta: pelos Direitos Episcopaes se entendem as rendas: pela Jurisdicção Episco
pal se entendem as almas: a Concessão expressa do primeiro , he a exclusão bem clara
do segundo.
Mas ainda quando aos Abbades da Salzeda se désse a Jurisdicção Episcopal, de ne. }

nhuma sorte se podia extender ás outras Igrejas, que se achão no Couto, porque se já
então existião , ficarão excluidas; se ao depois se erigírão, não podião alli ser contempla
das; pois expressamente se falla em huma só Igreja de presente, e nem palavra se diz
das que se fundarião para o futuro. Não negamos porém, que os Contratos onerosos, que
ao depois se seguirão, déssem aos Abbades a 3urisdicção quasi Épiscopal, sendo Senhores
no Espiritual, e Temporal dos Subditos, e Parochianos do seu Couto; porém extincta a
Jurisdicção Temporal no de 1546, em que El-Rei D. João III. mandou tomar posse del
la, por morte do ultimo Abbade perpétuo, D. Pedro de Penalva: fica lugar a dizermos,
que o Conc. Trid. Cap XI. Sess. 25. de Regularibus tirou expressamente a Jurisdicção
Episcopal a todos os Abbades, que não fossem Senhores no Espiritual, e Temporal; náo
*
AB AB 33 |
paes no Couto deste Mosteiro; re das Causas Matrimoniaes, e Sacri
cebendo em recompensa a Igreja, legios. Porém no primeiro de Ju
e Couto de Bagaúste , e dois Ca lho de 1359 demittio as ditas duas
saes em Villa Rei. O mesmo D. causas aos Abbades; recebendo em
Mendo pedio a confirmação deste satisfação a Igreja de Bretiande, e
contrato ao Papa Alexandre III., dois grandes Casaes em Ferreiros de
como se vê do Livro das Doações Tendaes; com condição expressa: que
das Salzedas a f. 12. Y. Foi isto no seria o Mosteiro restituido de todos os
anno de 1 164. O Bispo D. Diogo seus bens, se os Bispos de Lamego,
o reconheceo , e approvou no de ou os seus Conegos em algum tem
1307, e D. Rodrigo depois de re po lhe faltassem a este contrato,
nhidas contendas, só conseguio no que foi confirmado pela Sé Apos
de 1357 que os Abbades das Sal- tolica ; segundo se evidencía do
zedas não tomassem conhecimento testemunho authentico do Venera
Tom. I. ** E vel

obstantes quaesquer Privilegios, Prescripção, ou Posse, ainda Immemorial. Mas seria o


Tridentino recebido em Portugal sem distinção alguma entre o Dogma , e a Disciplina?..
Para maior clareza se note, que D. Thereza Afonso, empenhada na Fundação des
ta grande Abbadia, conseguio que El Rei D. Afonso Henriques lhe coutasse a Herda
de , ou Villa de Argeriz, demirtindo-lhe toda a Jurisdicção Real, que nella tinha; como
se vê do seu Alvará de 5 de Abril de 1 152 que ali se guarda Original. E não conten
te ainda com a Liberdade Secular, procurou tambem a Ecclesiastica. Havia em Argeriz
huma Igreja Parochial com o Titulo de S. Salvador, a qual ficava pouco a cima donde
hoje se ve o Mosteiro. O sitio inteiramente despovoado , e plantado de vinhas, se cha
ma ainda hoje Algeriz, e alli esteve o Pelourinho, todo o tempo que durou a Jurisdicção
Crvil, e Criminal nos Abbades do Mosteiro. Nesta Igreja parochiava o Presbytero Elias,
a quem O Thereza deo a sua Herdade, e Igreja de S. Silvestre de Bretiande pro cam
bia 3'tncti Salvatoris de Argeriz. Este Escambo do anno de 115; se acha no Livro das
Doações das Salzedas, a f. 68. Y. Ora eis-aqui a Igreja que D. Mendo eximie dos Di
reitos Episcopaes , que costumava receber de toda aquela Freguezia a Igreja de Lame
go. Os seus Parochianos já no de 1164 se havião mudado para a Igreja do Mosteiro:
esta era então a unica do Couto: sobre ella he logo que versou toda a força do contracto.
E destas Isenções, e Liberdades, temos nós muitos exemplos. No de 1 162 D. Odorio
Bispo de Viseu , e todo o seu Cabido , libertárão a Igreja de Muimenta dos Frades,
(que era a do Mosteiro, e ainda continuava a ser no de 1í68 antes que o Abbade Suei
ro Theodoniz o mudasse para Maceiradam) e eis-aqui a sua formalidade: Habeatis igitur
vos, é omnes vestri Successores supradictum locum de castero liberum, 2- absolutum, é
ab omni debito, ó-jure Decimarum, Mortuariorum, & Oblationum, omnino de omnibus
rasum. Verumtamen , ad excessus corrigendos, -vocati
Maceiradam. • - - à vobis, venire
+ - tenemur. Doc, de
• •

Escrevêra, Innocencio IV. ao Bispo do Porto , que visto a Rainha (e hoje Santa )
Mafalda lhe haver pedido licença para fundar em Bouças hum Mosteiro da Ordem de
Cister; elle, e o seu Cabido se concertassem com ela sobre a Visitação, e outros Be
nesses que tinha a Igreja do Porto naquelle lugar. Elles assim o fizerão no de 1249; con
cedendo, que a dita Rainha funde o Mosteiro ab omni Episcopali jure, cum sua tantum
Parochi 4, liberum, 2- exemptum, exceptuando as Causas Matrimoniaes, e usurarias, das
quaes conhecerá o Bispo, como nas mais do seu Bispado, e na fórma que os mais Bis
pos conhecem dellas nas Igrejas dos Cistercienses. Reserva tambem o Cabido os votos de
Santiago que ibidem recipere consuevit. E pela Visitação, e outras cousas Espirituaes, que
o Bispo alli faria com algum emolumento do seu trabalho, recebeo, e o Cabido o Pa
droado da Igreja de Lamas, e os Direitos do Sal de Bouças, que vier á Cidade, e ao
Couto da Cidade do Porto. Mas succedendo que a Regra , ou Instituto de Cister alli se
não guarde, ficará tudo como d'antes. Tudo isto confirmou o mesmo Innocencio IV. no
anno V11. do seu Pontificado , como consta dos Documentos de Arouca. E de tudo se
manifesta, que Direitos Episcopaes não he o mesmo que 3urisdicção Episcopal,
34 AB AB
vel D. Fr. Salvado, Bispo de La da, e pelo qual a dita jurisdicção
mego , dado em Coimbra a 9 de Episcopa novamente se confirma.
Junho de 1372, no qual reconhe No dilatado Archivo de S. João
ce que os Abbades das Salzedas de Tarouca não apparece hum só
tem jurisdicção Episcopal nos limi Documento, que falle em jurisdic
tes do seu Couto. fão quasi Episcopal no seu Couto.
Nos outros quatro Mosteiros pa Achão-se sim duas Composições
rece, que a legitima Prescripção Originaes do Mosteiro com os Bis
lhes conferio semelhante regalia; e pos de Lamego: huma com D. Men
principalmente sendo fundados em do no de 1 164, e a segunda com D.
tempo que nos respectivos Territo Vasco de Alvellos no # 1298. Pela
rios não havia , ou ao menos não primeira se terminão as questões, e
residião , Bispos proprios , e Car demandas, que o Bispo, e Cabido
deaes. D. Pedro Mendes , ou D. movêrão ao Mosteiro sobre os Di
Pedro Furtado, Bispo de Lamego, zimos, e Coimas das terras, e vi
e eleito Arcebispo de Braga, man nhas cultas, e plantadas dentro dos
dou por Authoridade_Apostolica, limites do seu Couto, (quando El
que se guardassem as Regalias, e Rei D. Afonso Henriques lho fez
Isenções do Mosteiro de S. Pedro no de 1 14o) que os Monges não
das Aguias no de 1212. Havia-se querião pagar ao dito Bispo , e
fundado este Mosteiro muitos annos sua Cathedral. Em recompensa de
antes; pois Lousada, accusando o rão os Monges ao Bispo, e seus
Livro V. d'Além Douro a f. 88 nos Clerigos tres Casaes, } medietatem
oferece a Pandulfo , Eremita . de Librorum , quos de Francia Gundi
S. Pedro das Aguias no de 987, e salvus Prior Lamecensis attulerat. E
o Author da Benedictina Lusitana o isto com tal condição, que todas
faz povoado de Monges no de as possessões do Mosteiro, quaes
991 quando não havia Bispo em quer , e em qualquer parte, que
Lamego : deste tempo lhe ficarião # estivessem, assim em campos, e em
as ditas Regalias. Como quer que vinhas, como em gados, e outros
seja, D. Payo seu Successor nesta quaesquer fructos , ficassem livres
Mitra, demittio a jurisdicção Epis de todo o Dizimo á Sé de Lame
copal no Couto deste Mosteiro, e go. Statutum est etiam , ut extra
suas dependencias no de 1219; re cautum fuum nichilacquirant, in quo
cebendo por esta demissão a terça “juris sui detrimentum patiatur Laine
parte º dos Dizimos de Ervedosa, censis Ecclesia , quod non condigna
hum Casal, e huma vinha. Foi con recompensatione reforment : nisi forte
firmado este contrato por seu Suc Episcopus illud jus suum ultrô eis re
cessor D. Pedro Annes, ou D. Pe miserit. Excommunicatum quoque ab
dro Moniz, no de 1264. D. Anto Episcopo , º ipso inconsulto , recipere
nio de Vasconcellos no de 1 697, non licebit ; sed illos tantum , quor
e D. Thomaz de Almeida no de Monasteriorum Ordinis fui consuetu
17o8 reconhecêrão , e approvárão do solet admittere : in ipsis etiam »
esta Isenção. E finalmente D. Fr. salvo jure Matricis Ecclesiae. ----

Manoel Coutinho fez novo contra Pela segunda se dá fim á contro


to no de 1741, que alli se guar
• • •
versia dos Dizimos das
* * * * "... - - -…
Alºe, de*1-3
AB. AB 35
Pinheiro , e Villa-Chãa , que os bitadores Eremitas, Clerigos, ou
Monges dizião se incluião dentro Monges nós o ignoramos ; temos
do Couto , e o Bispo, e Cabido porém a certeza da sua existencia
afirmavão o contrario; por quanto de huma Doação Original que al
a Demarcação do Couto partindo li se guarda , que diz assim: Ego
com elas , expressamente as não Infans Aldefonsus, Dux Portugalen
comprehendia. Largou o Mosteiro sis , concedo propter Nomen Domini
á Sé de Lamego a sua Aldêa do Dei Nostri, Óº propter Monio Oso
Carvalho em termo de Penella , e ris, illi Ecclesie, que seita, & co
metade da quinta da Ribeira, que gnita propalatur, Óº dignoscitur in
partia com o Cabido. E com isto locum Sancti Joannis Baptiste , qui
Nos dictus Episcopus perpetuº conce est in Territorio Vellari.e. Do ad
dimus dicto Monasterio de Tarauca ipsum Monasterium in ipso concluso
totum jus, quod babemus, Óº babere tres Casales... Ut habeant, & pos
debemus in Decimis Aldeolarum de fideant hi, qui moraturi sunt , &
}Willa Plana, & de Pinheiro predicta fuerint Clerici , aut Monachi , aut
rum, ó º ipsas Decimas a jurisdictio Deo-Wotae, qui Vita Sancta persevera
ne mostra obradimus. verint. Do ad ipsum Monasterinm San
Daqui se manifesta, # todo o cti joannis Baptistae, & c. Neminem
Direito , e toda a Jurisdicção que quidem permitto , qui ibidem vobis
estes Senhores Bispos demittírão ao aliquam conturbationem , nec in mo
Mosteiro versava sobre os Dizimos, dico, faciat, nec egº, nec ex Proge
e cousas temporaes que á sua Igre nie mea, aut extraneus, Óºc Notum
ja pertencião, e não sobre as al die, quod erit idus Augustus. E. M.
mas, ou pessoas, que dentro do C. 2XVIII., que he anno de Chris
Couto habitavão. Se pois nem os to II 3o.
Bispos, nem os Pontifices tal Ju Temos, pois, hum Mosteiro já
risdicção aos Abbades de Tarouca bem conhecido , e famoso no de
concedêrão; será preciso recorramos 1 13o, que se mudou para o lugar
á Prescripção do tempo immemo presente no de 1 14o , sendo seu
rial, e cujos principios se ignorão. Abbade João Cerita , e professan
Na verdade que os Chronistas do os seus Individuos a R# de
de Cister tratárão da Fundação des S. Bento , segundo se manifesta
te Mosteiro, huns com demasiada pela Doação do Couto , em que
negligencia , e outros a escondê havia terras, e vinhas já rotas , e
1ão com mil Anachronismos, e no plantadas, antes que aqui se esta
velas. O certo he, que os Cister belecessem os Cistercienses : por
cienses não chegárão a Tarouca an outra parte sabemos a dominante
tes de 1 139; e que antes, que El paixão dos Monges em se eximirem
Rei D. Afonso Henriques lanças da Jurisdicção dos Bispos, já no
se a primeira pedra no Mosteiro, tempo de S. Bernardo : não seria
que hoje existe, eles se recolhê logo reprehensivel o pensamento
rão no Mosteiro das Avelleiras, de que esta Isenção de Tarouca
que ficava dentro do presente Cou se procure na Immemorial da sua
to, e com o mesmo Titulo de São Origem. •

João Baptista. Se erão os seus Ha De S. Christovão de Alafões não


* E ii CS
36 AB AB
está menos escondida a Origem des do Porto Fundador deste Mosteiro
ta Isenção. Se houvessemos de sob praefati loci Fundatoris : o que se de
screver ao Author da Benedictina ve entender não tanto de ampliar
Lusitana Trat. I. Cap. VII. diria as paredes da casa, quanto de in
mos que já no de 865 era este troduzir nella a Observancia Reli
Mosteiro de Monges de S. Bento. iosa,
Porém Documentos mais chegados No de 1 161 El-Rei D. Afonso
a nós, e á verdade nos informão, Henriques, doou ao Abbade D.
que Christovão João, e sua mulher #,ea todos os seus Frades
Maria Rabaldis , das Illustres Fa qui Ordinem Sanéii Benedicti tenent,
milias de Alafões fundárão, ou res &º tenebunt o Couto da Trapa , e
taurárão este Mosteiro em terras do Paçô a que chamão o Couto de
seu Patrimonio; e que seu filho D. Sima. Estes são os dous Coutos
João Peculiar (ou Ovelheiro, como que hoje tem o Mosteiro de Ala
alguns lhe chamárão), depois de ter fões, e nos quaes os seus Abba
aprendido Humanidades no Colle des exercitão a jurisdicção Episco
gio da Sé de Coimbra , e se ter pal, sem contradição dos Bispos de
feito insigne em maiores Faculda Viseu.
des em a Universidade de París, Não negaremos que no seu Ar
aqui vivêra com alguns Conegos chivo se achão Documentos por on
Regrantes, antes de ser chamado de se manifesta, que o Abbade da
para Mestre Escóla_de Coimbra, Igrejinha (Ecclesiola) de Valladares
donde passou a ser Bispo do Por a doou , ou mais bem vendeo ao
to, e Arcebispo de Braga. O que Abbade D. Miguel, e seus Frades,
não tem dúvida he o Instrumento, pelo muito amor que lhes tinha,
que alli se guarda sem vicio, pe &º pro eo quod dedistis mihi XX, nu
lo qual consta : que no anno de mos aurcos: e que D. Odorio Bis
1 126 se vendêrão algumas fazendas o de Viseu com todo o seu Ca
em Paradella, e Valladares aos Fra ido demittio no Mosteiro todo o
des de S. Christovão , dos quais era Direito , que podião ter nos fru
Abbade D. Domingos; (pois ainda en tos, rendas, e obvenções da dita
tão os Prelados Locaes dos Agos Igreja; declarando, que fazem Car
tinhos usavão do Titulo de Ab tam Testamenti, & firmitudinis tibi
bades.) Dominico Abbati S. Christofori , &
Corria o anno de 1 138 quando omnibus Fratribus ibi commorantibus
o Principe D. Afonso Henriques de illa Ecclesiola, quae est in Villa Cau
querendo fazer Graça , e Mercê a ti vestri, nomine Valladares, in Ter
D. João Peculiar Bispo do Porto, ritorio de Lafões , pro remedio ani
fez Doação do Couto de Vallada marum nostrarum , Óº pro eo quod
res (que hoje se chama o Couto dedistis nobis hunam Luram mensa
debaixo) ao Mosteiro de S. Chris lem obtimam , apretiatam in triginta
tovão , e ao seu Prior João Ceri morabitinis: Óº etiam insuper semper
ta , que alli guardavão , e para o in anno pro Censura hunam Libram
futuro guardassem a Ordem, e Ins Gerae, per perum de Alafões. Scilicet:
tituto dos Eremitas. Neste Docu abeatis vos , Óº omnes Successores
mento Original se chama ao Bispo vestros illam Ecclesiam supra nomina
tam »
AB AB 37
tam, cum suis Prestimoniis, ó ter dos Gallegos, (que deste modo se
minis , Óº cum omnibus ejusdem Ec quizerão libertar dos grandes tribu
clesiae ex parte nostra pertinentibus, tos, e pensões, que lhe pagavão)
absque bulo impedimento liberrimam, nos não fornece a mais leve prova
dominio vestro traditam ab hac die, desta Isenção.
o usque in perpetuum. Facta Carta Tes E finalmente do Mosteiro de San
tamenti I I I.a Idus Decembris E. ta Maria de Aguiar fundado no Rei
M. C. LXIII. Assignárão, e derão no de Leão, antes que Riba-Coa
o seu consentimento dezesete Ca se unisse a Portugal, não temos
pitulares, não se achando outra Di hoje mais, que a posse, e exerci
gnidade mais que o Arcediago, cio desta Jurisdicção Episcopal nos
chamado Pelagio. Foi isto no de seus Coutos, que antigamente fo
II 55. rão largos, e populosos; mas por
-

Da outra Igreja de S. Mamede occasião das guerras, e diversidade


de Santa Cruz de Baroso se guar das Nações, de cada vez mais an
da ali huma Sentença dada # niquilados, e diminutos.
Conego Vicente Mendes, Auditor Consta do seu Archivo que esta
do Bispo D. Egas no de 1 291 ; Abbadia fora de Benedictinos fun
nella se determinou a final, que de dada na Granja da Torre , muito
Mortuariis, quae, dicto Monasterio le antes de 115o: que D. Fernando
gantur a Parochianis ipsius Ecclesiae: Rei de Leão , déra a D. Ugo,
Ecclesia Visensis habeat tertiam par Abbade de Aguiar a Granja da #2
tem : Monasterium verò aliam ter re, e a Granja de Rio-Chico, assim
tiam : Óº Ecclesia Sancti Mametis como as possuia o Conde D. Go
aliam tertiam, & c. Daqui se vê que mes, Senhor de Trastamara, com
no Mosteiro de S. Christovão de toda a Jurisdicção Civíl , e Crimi
Alafões não ha monumento , que nal, a que chamão de Soga, e Cu
prove a competencia da jurisdicção chilo foi isto no de 1 165. Apode
Episcopal aos seus Abbades: e sen rado El-Rei D. Afonso Henriques
do certo que na Cathedral de Vi das terras de Riba-Coa , e deter
seu igualmente não ha memoria, de minados os Monges de Aguiar a
que os Bispos lha cedessem : fica seguir o Instituto de Cister, lhes
manifesto, que só a Prescripção le fez Doação do Couto no de 1 174.
gitima lhes póde sufragar. Porém perdidas estas terras na des
Do famoso antigamente, mas ho graçada batalha de Badajós, con
je insignificante, Mosteiro de San tinuárão os Reis de Leão a favo
tu Maria de Fiaens em a raia de Gal recer este Mosteiro, e D. Afonso
liza, que traz a sua Origem desde Rei de Leão , e Galliza lhe deo
antes do IX. Seculo , no Bispado jure hereditario in perpetuum a Vil
de Tuy, que até o de 1381 (em la da Bouça com todos os seus ter
que se erigio a Collegiada de Va mos, e limites, e com todo o Me
lença) se estendia até ás margens ro , e Mixto Imperio no de 12 1o.
do rio Lima: se póde fazer o mes (He verdade que Carlos III., Rei
mo juizo; e principalmente porque de Hespanha os privou em os nos
o seu Archivo , muitos annos ha, sos dias de toda a Jurisdicção Civíl,
reduzido a cinzas n’huma irrupção e Criminal , que dentro * SCUL
C1
38 AB AB
Reino os Abbades de Aguiar ex Henriques, com o pretexto, de que
ercitavão, porém em quanto á qua os Portuguezes levavão no seu ex
si Episcopal nada se innovou. ercito , e como auxiliares, grande
Que nos Seculos doze , e treze número de Mouros) e forão mor
houvesse na Torre de Aguiar Ca tos na batalha de Arganhão: po
valeiros da Ordem do Hospital, rém isto livremente se diz.
parece não tem dúvida á vista dos O que mais nos violenta a esta
Monumentos , que naquelle Mos belecermos em Aguiar os Militares
teiro se conservão. Alli se vê huma de S. João , he hum Documento
sepultura com huma espada escul Original, lº ali se guarda, pe
pida na campa, e a Inscripção se lo qual Pedro Affonso, e sua mu
guinte: E. M. CC. olit D. P. Ab lher Maria Mendes fazem Doação
5as Turris Aquilaris. Á porta do Ca a este Mosteiro , e juntamente á
pitulo está outra com Bago, e ES Ordem do Hospital, de huma Her
pada, que diz: E.M. CCC III, XY. dade no termo da Guarda, junto á
Kal, januarii obiit D. S. Abbas Tur Aldêa de Carvalhal de Ceniza
ris Aquilaris. Ainda ha terceira com quae est Aldea illius jam dicti Monas
Espada, em que se lê E. M. CCC. terij Turris Aquilaris , Óº dictorum
LXXXI. obiit Domnus Dominicus Ab Fratrum Hospitalis Sancti Joannis ...
bas Abbas Turris Aquilaris. Dizer Facta Charta sub E. M. CC. LXXV.
que estes, Abbades tomátão a Insi anno Domini M. CC.XXXVII. Regnan
nia da Espada por serem Capitães te in Portugale Rege Dão Sanctio I 1.°,
Móres , Alcaides, ou Fronteiros, Episcopo Egitanensi Magistro Viu
e Senhores temporaes em algumas cencio.
Granjas do Mosteiro, não tira to Nesta mesma Casa se guarda hum
da a dúvida ; porque em outros Breve de Pio II. do anno de 1459,
Mosteiros houve estes abusos, (cu dirigido ao Abbade das Salzedas,
ja extinção foi reservada ao feliz para que una in perpetuum ao Mos
Reinado de D. Maria I.) e com teiro de Aguiar as Igrejas Parochiaes
tudo não vemos nas suas sepulturas de Villar, Almofala, Mata de Lo
a Insignia da Espada, que por si bos, e Figueira, que todas tinhão
denota Profissão Militar. sido Granjas do Mosteiro, que sus
Em hum campo junto ao Mos tentando antigamente mais de sin
teiro , para a parte do Meio-dia, coenta Monges , agora se achava
se achão muitas sepulturas com as reduzido á ultima indigencia por
suas Campas distinctas, e nellas as causa das guerras. E que a todo o
Cruzes dos Hospitalarios, (que al tempo, e hora, que ellas forem va
guns confundem com as da Ordem gando tome logo o Mosteiro pos
do Templo) e não será facil assi se, e ponha alli Religioso, ad nu
gnar a causa deste Cemiterio, sem tum amovivel, o qual exercite a Cu
dizermos, que elles vivêrão neste ra d'almas Diocesani loci (que des
Territorio. Já suspeitou alguem, de 14o3 era o Bispo de Lamego)
forão aqui sepultados os Cavallei dº cujuscumque alterius licencia mi
ros das Ordens Militares de Leão, nime requisita.
(que se achárão com o seu Rei D. Se destes Documentos se póde
Fernando contra o Rei D. Afonso deduzir algum fundamento para es

AB AB 39
ta Isenção : ou se a devemos pro se dizia aquelle, de cujo Mosteiro
curar nos calamitosos tempos, que sahírão Monges para fundar outro:
corrêrão entre a extinção dos Bis se deste segundo Mosteiro hião
pos de Caliabria, (em cuja Dio Monges fundar terceiro, ou se os
cese ficavão as terras deste Mostei do terceiro passavão a fundar o
ro) e a sua restauração por D. Fer quarto, se verificavão os sobreditos
nando II. Rei de Leão em Ciudad Titulos. Deste modo o Abbade de
Rodrigo; os mais prudentes o jul Cister era Pai do de Claraval; pois
garao. -
lhe deo os Fundadores: era avó do
ABBADE Militar. O mesmo que de Alcobaça cujos primeiros Mon
Abbade Leigo: só com a diferença, ges vierão de Claraval: e era bisa
que o Abbade Militar se obrigava vó do de Bouro, para onde se man
a defender as Igrejas, e Abbadias, dárão de Alcobaça os seus habita
ou Mosteiros, seus bens, e pessoas. dores primeiros. He pois o de Al
E para este fim se lhes concedião cobaça Pai do de Bouro , filho do
certas porções destes Beneficios, de Claraval, e neto do de Cis
Dizimos, e Padroados. Estes Mili ter , de quem o de Bouro he bis
tares , ou Defensores por occasião 716/0. • , .."

das guerras, e malicia dos tempos, ABBADE Prelado. Deste Titu


vierão a ser os mais perniciosos aos lo gozão alguns Abbades de Igre
seus Clientes, cujos bens dilapidá jas Seculares, e Parochiaes , que
rão, e por mil modos destruírão... antigamente forão Mosteiros , cu
ABBADE Mitrado. O que tem jos Abbades usavão de Habitos Epis
Privilegio, para usar de ornamen copaes nas Funções do Divino Cul
tos Pontificaes. Não se accommo to, a qual regalia elles tem con
dárão já mais os Bispos a semelhanº servado, ou talvez depois de mui
te Privilegio , mas não o podérão tos requerimentos conseguido. En
impedir. Com tudo Clemente IV. tre nós he célebre o Abbade Prela
para distinção dos Bispos nos Con do de Solhaens no Bispado do Por
cilios, ordenou, que os Abbades to , cuja Abbadia já era Mosteiro
Mitrados usassem de Mitras borda Duplex no de 905, e, perseverava
das de ouro , mas sem laminas de no de Io59, como se evidencía pe
ouro, ou prata, e isto só os que los Documentos do Censual do Por
erão isentos : os não isentos usas to III. Part. f. 96. Porém não só
sem dellas brancas, e lizas : fora Successor de Abbade Regular; tal
porém dos Congressos Synodacs as vez lhe viria este Titulo por suc
trouxessem conforme a Sé Aposto ceder na posse, e visitação da Igre
lica lhas concedesse. ja de Santa Cruz de Riba-Dou
ABBADE Pai, ou Abbade Pa ro. Esta Igreja foi antigamente
dre. Na Religião Benedictina, e Camera dos Arcebispos de Bra
mesmo na Cisterciense se usárão os ga , sem dependencia alguma
Titulos de Abbade Pai, Abbade fi dos Bispos do Porto. Eugenio III.
lho, Abbade neto, e Abbade bis lhes confirma a sua posse pela sua
neto, e Abbade avô, e Abbade bis JBulla de 1 148, que no Archivo
avô ; e isto por analogia á gera Primacial se guarda, na qual se ex
ção temporal. E assim Abbade Pai pressa esta Igreja Eccleriam # 7"/1
4o AB AB
Crucis de Riba-Dorii. Ao depois tro Confessados. Entre nós se achão
cárão os Arcebispos esta Igreja com innumeraveis Documentos até de
todas as suas Regalías, e Isenções pc pois d'El-Rei D. João I. Na Ca
la de Santiago do Castello de Neiva, thedral de Lamego ha dois Testa
e ficou Santa Cruz annexa a So mentos: he o primeiro de João Pi
lhaens. Daqui lhe proviria o serem res, que no de 1 224 deixa todos
os seus Abbades Prelados. os seus bens a Mendo Domingues,
Junto á Villa dos Arcos de Val seu Primo ; estando presente , e
devez está a Igreja Parochial de sendo testemunha João Mendes,
Sebadim, que antigamente foi Mos Capellão da Sé, e seu Abbade : o
teiro da Ordem de S. Bento, e já segundo he de João Duraens de
no tempo de João de Barros não 1316, que diz: It : mando a Pedre
tinha Monges, mas ainda se cha Annes meu Abbade XX. Soldos. It :
mava Mosteiro. No Reinado de D. mando a Pedro Gonsalves, meu Aiba
Maria I. foi restituido o seu Abba de XV. Soldos. No Mosteiro de Lor
de ao Titulo de Abbade Prelado. vão se guarda o Testamento de Mai
ABBADE Real. Assim chamá jor, viuva de João Justiz, que dei
rão, o que era investido pelo Prin xa os seus bens á Igreja de S. Pe
cipe n'huma Abbadia fundada, ou dro da Cidade de Coimbra, sendo
dotada com os bens da Coroa. Es seu Testamenteiro o Prior de San
tes davão aos Reis juramento de ta Maria, a que ella chama o seu
fidelidade , e lhes fazião homena Preposito , Abbade , ou Confessor,
gem, pagavão certas pensões, quan pois diz, que todas as cousas, que
do erão confirmados, e finalmente nomêa Donentur per manus Praeposi
erão obrigados a seguir com a sua ti mei Martini, Sanctae Mariae Prio
gente armada o Exercito Real, ris , cui mea peccata confessa sim.
quando marchava contra os seus No de 1298 M.º Affonso , Co
Inimigos. nego da Guarda, fez o seu Testa
ABBADE Segundo. O mesmo mento, em que manda, que o seu
que Prior Crasteiro , Vigario , ou corpo seja sotterrado em Cas dos Fra
Presidente , com quem o Abbade des Meores em S. Francisco. It : man
do Mosteiro reparte algumas fun do a Fr. Miguel , que é meu Abba
ções do seu Ministerio , pelo que de, dez Libras de Portugal. E cla
respeita á economia , e ordinaria ro está, que o Religioso não podia
mente o fica substituindo na sua ser Abbade com freguezes: Docu
ausencia. mento da Guarda. • -

ABBADE. O mesmo que Con Porém no de 1442 já o nome de


fessor na frase dos Antigos. Como Abbade se tinha mudado em Padre
em Hespanha se chamavão Abbades Espiritual. Pois deste anno temos
os que erão Parochos, proprios Sa em a Sé de Lamego o Testamento
cerdotes ; e Ministros da reconci de Leonor de Seixas , em que se
liação dos Fiéis, com muita razão lê: It: Rogo a Fr. Pedro, meu Pa
se nomeárão Abbades, os simplices dre Espiritual, que tenha carrego de
Confessores que mesmo não erão me buscar hum babito, em que mor
Parochos , por serem verdadeira ra , que seja velho , e que lhe dem
mente os Pais Espirituaes dos seus outro novo por elle. It: Mando a meu
Pa
AB AB 4I
Padre Espiritual Fr. Pedro, que lhe tinha hum Presbytero, ou "Capel
dem mil reais, que rogue a Deos por lão, a que hoje chamamos Cura,
mim. que era ordinariamente o Ministro
ABBADESSA Secular. Até o dos Sacramentos, e finalmente hum
meio do Seculo XIII. durárão em Sacristão , a quem estava commet
Alemanha as Abbadessas Seculares, tida a guarda, limpeza, e serven
à quem se commettia o Governo tia da Igreja , e suas alfaias. Estas
Temporal de alguma Igreja Paro Igrejas frequentemente se achão com
chial, com obrigação de presenta o titulo de Mosteiros. Na Provincia
rem ao Bispo do Lugar hum Sacer do Minho retém hoje estes Curas
dote idoneo para curar as almas. Es Primitivos o título de Abbades, ain
tas Abbadessas assistírão, ou talvez da que nem todas conservem o an
presidírão algumas vezes nas Assem tigo Presbytero, e Sacristão.
bleas Ecclesiasticas. O Veneravel Be º ABBADIA. II. O Direito (ou
da L. 3. C. 25., e L. 4. C. 23. faz talvez abuso) que os Parochos ti
menção da Abbadessa Hilda, que nhão de tomarem dos móveis do
presídio em huma destas Assem defunto o que mais lhe agradava;
bleas. No Concilio de Barconcel exceptuando só os vestidos mui pre
de em Inglaterra, no de 694, sub ciosos, # o herdeiro não era obri
screvêrão sinco destas Abbadessas. gado a demittir. Em Portugal pa
Em Portugal achamos no Seculo XII. rece, que estava de mais esta dili
algumas Senhoras distinctas, e De encia dos Parochos até o Seculo
votas, a quem se commetteo o Go XIII. , pois rarissimo he o Testa
verno, e Prelatura de certas Igre mento, que anteriormente se fizes
jas, que por isso sem grande in. se, em o qual se não deixem á Igre
propriedade chamariamos Abbadessas ja roupas, vasos, peças, cavallos,
Seculares com Freguezes , ou Paro ovelhas, &c. Porém resfriando-se a
chianos. Taes forão Maria Gonçal devoção dos Fiéis, parece subio de
ves na Igreja de Cambres, do Bis onto a desbragada ambição dos
pado de Lamego , e Goina Pires E……. Entre os Documen
na de S. Julião de Val de Cam tos da Camera de Vianna do Mi
bra do Bispado de Viseu. Vid. Deo nho se acha huma Composição en
J'ota. tre os Abbades com Cura, ou sem
ABBADIA. I. Não só se toma Cura da dita Villa, e os seus mo
pelo Mosteiro, a que preside hum radores, no litigio que pendia an
Abbade, ou Abbadessa : pela Di te o Corregedor d’entre Douro, e
gnidade Abbacial, governo, ou re Minho, sobre as camas, e roupas
gimen do Abbade: e pelo Territo de vestir, que por morte dos #
rio , que ao Mosteiro , ou Igreja guezes pertendião haver os ditos
Abbacial pertence; mas tambem pe Abbades, e o dizimo de dez hum,
la Igreja Parochial, que tinha an de todos os bens do defunto; sen
tigamente hum Cura Primitivo , a do o costume de vinte, ou de quin
que chamavão Prelado, ou Abbade, ze hum. Não está completo este
como das Inquirições d'El-Rei D. Documento, que ainda assim nos
Afonso III., e de outros Documen mostra o costume das Abbadias, que
tos claramente se vê. Este Prelado nem ao menos perdoavão ás man
Tom. I. F [4S
42 AB AB
tas velhas, e farrapos de hum de se vê que Abbarrada era vaso de
funto. Hoje passou a sordida ava qualquer materia , que não só de
reza a ser mais limpa, e asseada; barro fino, ou grosseiro. Tit. das
chupando o ouro, e prata dos her Compr. Mass. II. N. 13.
deiros, a titulo de bem d'alma, e A. B. C. Por todo o Seculo XII.,
de sufragios, que a piedade appro XIII., e XIV. se achão entre nós
va, mas que a experiencia detesta, Instrumentos innumeraveis de Con >
e abomina. tratos , Prazos, Compras, &c.,
ABBADIADO. O mesmo que partidos por A. B. C. para evitar
Abbadado. qualquer falsificação, dólo, ou frau
ABBADIM, que alguns escre de, que nelles se podesse introdu
vem Abbedim , nome de algumas zir pelos interessados na sua alte
terras, e lugares. Significa Aldêa, ração, ou mudança. O modo mais
ou lugar dos observantes. Se já no ordinario, e frequente era escrever
tempo dos Arabes lográrão este ap no mesmo pergaminho d'alt'a fun
pellido, como vindo do seu verbo do dois Instrumentos do mesmo
Abada : dar culto , ou adorar; ou theor; deixando hum espaçoso cla
se lhes ficou de algum domicilio de ro entre a ultima regra do de ci
gente Religiosa, que nelles resi ma, e a primeira do de baixo, no
disse , he o que inteiramente se qual se escrevião horizontalmente as
Ignora: letras maiusculas do A. B. C., ou
ABBARRADA. Vaso de barro, todas , ou aquellas que o compri
para beber, ou de louça da India mento da Carta permittia. Então pe
em que se mettem flores, que di lo meio destas Letras se recortava
zem vem de Arabigo Varrada: Ro o pergaminho ; ficando cada huma
sario, ou vaso, em que se põe ro das Partes com o seu Instrumento,
sas. Porém entre nós não só se to em tudo, e por tudo conformes na
mava por vaso de barro, mas tam qualidade do pergaminho, da pen
bem de prata, ou ouro. Entre os na, da tinta, testemunhas, confir
Documentos de Almacave de La mantes, cifras, e sinaes que arbi
mego se acha que o Illustrissimo trariamente alli se escrevião , ou
Bispo de Lamego D. joão comprou pintavão, e algumas vezes mesmo
Humas casas no Castello, junto á Igre se imprimiao.
ja do Salvador com seu quintal que Não poucas vezes se escrevia o
tinha huma laranjeira , por 2od)ooo Alfabeto, ou outros sinaes no meio •

réis brancos , e por huma abbarrada de duas Escrituras, exaradas não d’al
de prata dourada, que pesava sinco t'a fundo, mas sim huma depois
marcos, e por 2o réis de tostõens, moe de outra na mesma linha, e fican
da hora corrente. Feito o Instrumen do hum claro do lado direito entre
to no anno de 1515. E sendo cer ambas, no qual perpendicularmen
to, que Abbarrada he o mesmo que te se escrevião as letras, que igual
hoje chamamos Albarrada; nós sa mente se recortavao.
bemos que os Soares tem por ar O terceiro modo, ainda que me
mas em campo vermelho duas Abar nos usado, era tomar hum pergami
radas de prata , de duas azas cada nho mais, ou menos quadrado, em
huma, cheias de açucenas. Daqui que diagonalmente se escrevia o cos
{Uº
AB !
AB 43
tumado Alfabeto; ficando cada hu &º alia debet penes Abbatem, & Con
ma das Escrituras em triangulo, e ventum nominatos superius , remane
com a notavel diferença, que huma re, &c. E com efeito esta se acha
principiava pela regra mais comprida, com os tres selos pendentes.
e outra pela mais curta. Em quanto Na Camera de Aguiar da Beira,
aos sellos não havia formalidade e tambem no Mosteiro de Tarouca
certa: humas vezes se não punhão, se guarda Original a Composição
ainda mesmo sendo Pessoas , ou amigavel entre os Monges, e aquel
Corporações , que os tinhão: ou le Conselho sobre os foros, direi
tras se punhão igualmente em ca tos, e herdades, que huns, e ou
da huma das Cartas: outras em fim tros tinhão dentro do Lugar de Gra
se trocavão os sellos, declarando-se diz, julgada por Sentença de Jui
expressamente na Escritura. zes Arbitros nomeados por El-Rei,
No de 1 323 D. João Mendes, e e nella se diz : E pera esta cousa
sua mulher D. Orraca Affonso, doá seer firme , e estavil, e que nunca
rão ao Mosteiro de S. João de Ta venia em dovida: as partes sobreditas
rouca muitos Casaes, e Padroados. pelos ditos Procuradores mandarom, e
E para maior firmeza os Doantes, rogarom a mim Tabaliom sobredito,
e Donatarios mandárão, e outorgá que les fezese desta cousa dous estro
rão a Domingos Fernandes Tabel mentos partidos per A. B. C. Dos quaes
lião em Castro Rei, que lhes fi estormentos tem o dito Moesteiro huum
zesse disto dous Stromentos partidos seelado do Seelo do dito Concelio, e o
por A. B. C.... E eu sobredito Ta dito Concelio tem outro seelado do See
beliom, per mandado, e outorgamen lo do Abbade do dito Moesteiro. Fei
to das sobreditas partes, estes Stro tos os Estromentos em Gradís IX, dias
mentos partidos por A. B. C. escre andados de - Setembro. E. M. CCC.
vi, & c. XXVII. Hoje, consumidos já os sel
No mesmo Mosteiro se guarda a los , só nos restão os indicios cla
Composição , que os Bispos do ros, de que algum tempo existírão.
Porto fizerão com elle sobre os Di Estas Cartas partidas (a que tam
zimos, e Direitos Pontificaes, que bem chamárão Adentadas em razão
lhes pertencião na Igreja de Santa dos recortes de pergaminho) são
Eolalia de Penaguião : a primeira antiquissimas com o nome de Ciro
de D. Fernando, e a segunda de D. graphos, ou mais propriamente Syn
Vicente no de 1289 , cujo Instru grafos, que significavão Escritura
mento se conclue na maneira se de dois, ou em que dois escrevê
guinte: Et ut hoc robur semper ob rão, ou fizerão escrever o seu nome.
tineat firmitatis : Nos Episcopus Óº ABECEDARIO. Os Antigos lhe
Capitulum, & Abbas, & Conventus chamárão Abecturío, Abgatorio, Abe
supradicti fecimus de hoc fieri duas getorio, & c. Nada mais he que os
Kartas per Alfabetum divisas , sin primeiros Elementos, ou Letras de
pulorum nostrorum munimine robora qualquer Lingua, Gente, ou Na
zar, & Signo Martini Suarii , nos ção, a que vulgarmente chamamos
zri Episcopf, & mostra Civitatis Pu A. B. C., posto que nem sempre
blici Notarii consignatas; quarum una conste do mesmo número de Le
penés nos Episcopum, Óº Capitulum, tras,Fii
tenha a mesma ordem de2fas

44 AB AB
arranjar, e seja uniforme em o tom, bom gosto dos Romanos, assim
valor, e pronuncia. nas Letras, como na Policia, con
Como a Lingua Latina, e as que tinúa dizendo : A fala sua era mui
della procedêrão, principião o seu desviada , da que agora temos... E
Abecedario pelas F# A. B. C. assim tinhão hum Latim, que não era
D., foi mui natural, que daqui Latim, nem Lingoagem... E as Le #

procedesse, e se formasse esta pa tras erão de outra maneira, que não


lavra. Os antigos Portuguezes lhe erão Latinas, nem Gregas... Have
chamavão Alfabeto ; alludindo sem rá 5o annos , que em Italia se tor
dúvida ás duas primeiras Letras Ele nárão a inventar as Letras dos Ro
mentares dos Gregos, que são Al manos, excellentes, antigas, que ho
pha, e Beta, e correspondem ás nos ra escrevemos : e ha pouco mais de
sas A. B. Abecedarios de Letras 2o annos, que neste Reino começarão
desconhecidas, ou de Letras, que a ser.... E maravilho-me como isto
com difficuldade grande se conhe esteve encuberto tanto tempo entre
cem pelos que agora vivem , tem nós... E não sei como durou tanto o
visto o nosso Seculo em grande costume barbaro , como do tempo dos
número , a beneficio da Estampa, Godos ficara.
que ainda esperamos se augmentem Não se escondião aos Portugue
com a Paleografia Portugueza. zes as muitas Lapides Romanas,
Nos Documentos , que nos res ue ainda hoje durão, e nelas po
tão dos Seculos IX. X., e XI. se # ver a perfeição dos Abeceda
divisão as Letras Geraes de toda a rios, e caracteres Romanos; mas na
Hespanha , compostas de Roma quelles dias da ignorancia parece
nas, Gothicas, e Nacionaes, a que havia conspirado tudo a favor da
chamárão Toletanas. No Seculo XII., cegueira, e as trevas do nascimen
e mesmo pelos fins do XI. já te to prevalecião ás luzes da razão. Em
mos diferentes Abecedarios de ca graça dos curiosos ajuntaremos aqui
racteres Francezes, que desde 1o78 hum Abecedario maiusculo, extra
(e particularmente pelo Concilio de hido dos Documentos, que pelo Se
Leão de Io9o presidido pelo Car culo XIII. se exarárão no Bispado
deal Rainero , que ao depois foi de Lamego: he o da Tab. I. n. 5.
Paschoal II.) dos "Livros Ecclesias ABERREGAAR-SE. Amance
ticos passárão a quasi todas as Es bar-se, viver deshonestamente, fa
crituras daquelle tempo. Com tudo zer-se barregãa, ou concubina de
no Seculo XIII. já o bom gosto da alguem. Fernão Lourenço, Abba
Escrita começava a decahir, e prin de de Santa Maria d'Eja, no Jul
cipalmente nas Pessoas Leigas, que ado de Penafiel faz no de 1345
desde então até o tempo do Senhor uma pura Doação a vos Stevainha,
Rei D. Manoel occupárão as Escri minha Sergente, e a filhos, e filhas,
vaninhas públicas. O Doutor João que d'antre mim, e vos ouver. E de
de Barros, que nos principios do ois de nomear os bens de que lhe
Seculo XVI. trabalhava na sua Geo az Doação, continúa: Com sta con
grafia d’entre Douro, e Minho, de diçom, que se a dita Stevainha sse
pois de nos dizer , que os Godos cassar , ou aberregaar, ou maldade
se empenhárão em destruir todo o de seu Corpo fezer, que a dita Doa
fom º
AB AB 45
gom, e Mandado nom seja a ella va virum , nec roprino , nec ulla gens,
lioso. E se d'antre mim , e a dita que veniat de ipsa Abolentia. Docu
Stevainha nom ficar filhos algums, aia mento de 111 1. ap. Yepes T.VI.
as ditas herdades , e emprazamentos f. 45o.
em todo o tempo de sá vida. Docu ABONANÇAR. Fazer-se o tem
mento de Santa Clara do Porto, po bonança , fazer-se o mar de
Mass. I. dos Prazos antigos. leite, tranquillo, socegado.
ABESSO. Injúria , desordem, ABONDO. adject. Abundante,
semrazão. Non farom meis olhos tal cheio do preciso, e necessario. Do
abesso. Carta de Egas Moniz para cumento de 1392. •

a sua dama no Seculo XII. ABONDO. adv. Suficiente, bas


ABICAR. Diz-se de qualquer tante. Vem do Latino Abundè, ou
embarcação , que chega a pôr na Abundanter. Na Chronica dos Car
raia o bico , beque, ou rosto da melitas calçados, impressa em Lis
prôa. Abica á praia o desconhecido boa no de 1745, se acha a Escri
batel. Já no Seculo XV. se usava tura , que o Veneravel D. Nuno
desta palavra , e no mesmo sen Alvares Pereira fez com os Mes
tido. tres, e Oficiaes, que trabalhassem
ABILHAMENTO. Aceio , or na grande Obra do Convento do
nato , atavío , enfeite. Vem do Carmo pelos annos de 1389. Del
Francez Habilher : vestir , ornar, la consta, que aos Mestres se devia
compor, enfeitar. • dar por dia 3o réis: aos Oficiaes 13
ABOAR. Apégar, separar, di réis: e aos Serventuarios da Obra
vidir, estremar. E assi aboaram, e Io réis (que era muito abondo para
demarcaram, e amalhoaram o dito ter comprar dous alqueires de trigo, que
mo, e divisões, e demarcações, pelo naquelle tempo estava a 5 réis o al
modo de suso dito. Instrumento de queire.) He muito frequente esta
Partilhas de Termo entre Pinhel, e palavra pelo mesmo tempo.
Castello Rodrigo no de 1473. Do ABORBITAR. Apartar , não
cumento de Pinhel. estar pela promessa, ou ajuste, sa
ABOLADO. Qafado, abolido; hir-se fóra da orbita, esféra, esta
riscado , cancellado, sumido. Hu do, ou condição, que lhe perten
ma Carta de Nosso Senhor El-Rei, ce. No Concilio Toletano XVI. se
nem rasa , nem abolada, nem antre determina: Qui deinceps à fidei sua
luiada, nem em nenhua manejra cor juramento aborbitaverint , Óº adver
rumpuda. Instrumento com huma sis predictum Principem nostrum ali
Carta d'El-Rei D. Diniz, para que quid nocibilitatis agere, aut machina
os Moradores dos Coutos, e honras restuduerint, & c. V. Tom. II. Col
do Mosteiro de S. João de Tarou lect. Conc. Hisp.
ca não sejão apenados. Dada em ABOVILA. Certo panno, ou
Loimir em 19 de Junho de 13o5. droga, que se fabricava na Cidade
ABOLAR. Abolir, cancellar, de Avila em Hespanha, donde era
SUTI]IT.
trazido a Portugal: It: Corarijs pro
ABOLENTIA. O mesmo que meo Trintenario meum tabardum, man
Avolenga, ou Avoenga inf. Ego ve tum, Gardacós de Abovila clara, &º
rò non habeo filios , quia non habui Sayam, ó Caligas. te"…? de

46 AB AB
Lamego de 1288. Em hum Testa neca , quando della se arrancão as
mento de Maceiradam de 1293 le hervas, e plantas infructiferas; fa
mos o seguinte: It : mando que den zendo-a util, e fructuosa ; sendo
no primeiro anno , que eu passar, a d'antes inculta, esteril, e bravía.
todos os Monges de Maceyra senhas El-Rei D. Sancho de Leão no de
Cogulas de Sarja da Villa; por tal, 966 doou a Lorvão omnes abrutel
que m'bajam em mentes em ssas hora las , quas arrupit Gundemiro Ibem
goens , e roguem por mim ao Corpo Daudi, per ejus circuitu, ut fuerunt
de Deos, quando o na maahom teve ipsos Karvaliares, quas arrupit, Órc.
rem. E aos Leigos, ou que não são Tambem se dizia Arruptella : Sic
Clerigos, deixa no mesmo anno ipsa arruptella ab integro concedi
Senhas Sayas de Sarja da Villa. O mus. Livro dos Testamentos de
que se deve ler Sarja d'Avila; pois Lorvão.
ainda hoje he formosa a muita, e ABSCONDUDO. adv. Ás es
boa, que nesta Cidade se fabrica. condidas, furtiva, e clanculariamen
Nos Documentos deste tempo se te. Afirmando publicamente, e em ab
acha a cada passo memoria desta scondudo. Documento da Guarda de
Sarja, e pannos d'Avila, ainda que I38o.
com alguma insignificante mudança ABSTERIDADE. Austeridade,
em o nome. Tambem podemos di rigor, aspereza. -

zer
dadeque
de seria panno de Aboivil, Ci
França. •
ABUNDOSO, Abundante, far
to, cheio.
ABRAHÃO. Teiga de). Esta ABUSAO. Erro, engano, ma
era huma das diferentes Teigas, licia , máo uso de alguma cousa.
que em Portugal havia, e de que Daqui vem chamar a Orden. L. V.
se tratará. V. Teiga. Tit. III. S. III. Abusões a todos os
ABRARCA, e Avrarca. V. Abar Ritos, Ceremonias, e acções, que
C4. -

se não reduzem , e com o devido


ABREGO. A parte Meridional, modo, ao Culto, e louvor do ver
ou do Sul. Vem do Latino Africus. dadeiro Deos, nem tem connexão
Foi muito usado este termo nas De alguma, ou dependencia com o fim,
marcações , e Confrontações, que que se pertende, e a que commum
nos Seculos XV., e XVI. se fizerão. mente chamamos Superstições. Tal
Para dizerem que partia do Norte, he a Nomina, ou Amuleto da Abra
dizião: Parte do Aguião, que cor cadabra contra a Terçãá-doble: pas
responde ao Latino : ab Aquilone: sar agua por cabeça de cão , para
e para dizerem que partia do Sul: conseguir algum proveito: dar a co
Parte do Abrego, V. Aguião. mer bolo, # saber de algum fur
ABROTAL. Lugar onde se cria to , &c. Tudo isto são Abusoens,
muita abrotea. Deinde per abrotales. porque se não usa d’estas cousas co
Documento de Tarouca de 12o2. mo de meios proporcionados á con
ABRUTELLA. O mesmo que secução do que por ellas se per
Arotéa, terra, aberta de novo, des tende. •

bravada, reduzida a cultura , es ACADO. Achado , visto, ex


tando antes cheia de matos, e abro posto , dado ao manifesto. E nom
lhos. Hoje dizemos rotear huma char forom hi acados mais beens. Docu
II]CIl
AC AC 47
mento de 1418 nas Bentas do Por AÇALMAR. Guarnecer, forti
tO. ficar huma Praça, repará-la, e pro
ACAECER. Cahir em sorte, ve-la de todo o preciso para o tem
caber por herança. Documento de po da guerra. E pois a Cerca da Vil
1396. la estava bem afortelezada, e açal
ACAFELAR. Tapar huma por mada, e percebuda daquellas cousas,
ta , fresta, janella, ou outra qual que lhis comprem. Instr. de Moncor
quer abertura do muro , ou pa vo de 1 37o.
rede com pedra , e cal. Mandou aca AÇAMBARCAR , e Açambar
felar de maneira , que parecia tudo quar. Pôr travessas ásportas das ca
parede igual. Goes. P. II. C. XVIII. sas para ninguem poder nellas en
ACARAR. Olhar , respeitar, trar. Acordamos, que o Supricante hé
tratar com afabilidade , e distinc agravado per voz juizes , e Verea
ção, como respeitando a face do dores , em mandardes açambarquar»
poderoso, ou amigo. . e deixardes tanto tempo afambarqua
A CAROM. a iv. A face, á vis das as portas dos juizes, e Oficiaes
ta , junto, perto, descubertamen do Couto de Grijó. Sent. d'El-Rei
te , e sem alguma cousa posta de D. Manoel de 1513. Documento
permeio. Nos Documentos de La de Grijó.
mego de 1316 se acha esta Verba AÇAQUAL. O mesmo que Aça
no Testamento de João Durães: cal sup. Nas Cortes d'Evora de 14o8
que me tenhão dous dias por sotter se queixárão os Povos a El Rei,
rar: e que me nom metrão panno ne de que muitos mancebos pobres, e
nbum, salvo sarja branca: e que me necessarios para lavrar, e servir, com
nom ponbão tavoba na cova , e que pravão hum asno , e huma grade, e
me leixem a rosto descuberto, a carem quatro cantaros, e se mettem por aça
da terra. Parece quer dizer , que quaes; não devendo servir nisto se
sobre a sepultura nada ponhão, que não velhos de oitenta annos. Man
indique a pessoa, que alli está se da El-Rei , que os mancebos la
pultada: sentimento he este da hu vrem, e não sejam açaquaes se nom
mildade Christã. homeens de 16 annos a fundo, e ve
AÇACAL. Aguadeiro, homem, Ihos de 5o annos pera cima.
que se occupa em carretar, e tra ACCENSE. O mesmo que Ar
zer agua por dinheiro, ou de gra censio nome de homem em o Secu
Vem do arabigo Arsaca , par lo XIII., e XIV. V. Sem.
ticipio do Verbo Sacá : regar, ou ACCORRIMENTO. Soccorro,
da de beber. V. inf. Açaqual. auxilio, provimento. Pelo qual Por
ACALMAMENTO. Defensão, to podemos passar a todo o tempo pe
guarda, provimento, reparo. E não ra accorrimento, e defensom da dita
tinha o Castello de Villarinho agoa Comarca, em quanto a dita Villa for
nenhua, nem almazem, nem açalma poborada , e manteuda, como ora hé.
mento nenhum: — Podião fazer biser Carta d'El-Rei D. Fernando , fal
viço a El-Rei em defendimento, e açal lando do Porto do Pocinho , por
mamento da Cerca da dita Villa de onde se passaF" a Provincia Trans
Moncorvo. Documento de Moncorvo montana, e Terra de Miranda. Do
de 137o cumento de Moncorvo, Pºº",c
48 AC AC
ACCORRIDA...Soccorrida, au do Latino Acetrum: Vaso, ou pane
xiliada, favorecida, como se acha la de cobre , ou de outro metal.
na mesma Carta. E tambem Ap. du Cange. |

ACCORRER-SE.. Por amparar - ACIMAR. Concluir , aperfei


se, chegar-se a quem o possa de çôar huma obra , dar-lhe a ultima
fender. Pode accorrer-se esta Praça: mão, pôr-lhe o ramo, levá-la até o
póde ser municionada, e defendida. cabo. He o mesmo que Atimar, e
Accorreu-se a mim: chamou-me em ambas dos principios da nossa Mo
seu favor, implorou a minha pro narchia. -

tecçao. -
ACINTEMENTE. De proposi
ACEDARES. Especie de redes to, advertidamente, com intenção,
mal cheirosas, que apartavão a sar e só a fim de desgostar alguem.
dinha ao largo. Acedares que jazem Deste modo significa mais que Sei
jazentios ao mar : i. e. que estão tosamente : que vem do Latino Scien
junto ao mar. Nas Cortes d'Evora ter; pois muitas cousas se fazem,
de 1481 pedírão os Povos , que e podem fazer sem intenção de in
não houvesse Acedares, que afugen dignar, ou exasperar a paciencia do
iavão a sardinha dos rios, de Lisboa, nosso proximo. Daqui nasceo o no
e Setubal , e se desfizessem os Ca me Acinte : v. g. quero-lhe fazer
nejros , que apartavão os saveis do bum acinte: quer fazer isto para lhe
Douro , e outros rios , e impedião a queimar a paciencia.
navegação. El-Rei promette dar a ACISTANO. Mosteiro. Docu
isto prompto remedio. - mento de Io59. Tambem se dis
ACEDRENCHADO. Acolchoa se: Aciterio, Asisterio , e Acitano.
do Hua cocedra acedrenchada , da ACITARA. Tapete , alcatifa,
terra, nova: Sinco chimaços acedren reposteiro , panno de raz, cuber
chados, e dous barrados: hua colcha tor bordado , capa, manto de tela
franceza barrada. Instr. de Partilhas fina, e preciosa. No de 1 145 D.
de 1 359 em Pendorada. . Dordia filha de Egas Monís, e de
ACEECER. Caber, tocar, ca sua mulher D. Thereza Afonso en
hir por sorte. E aceeceu a cada huum tre outros bens, de que faz doa
dos sete erdeiros trinta, e nove livras, ção a Paço de Sousa , nomêa Una
e sete soldos, e onze dinheiros, e tres Cappa crezisca, Óº una stola de ipso
seiptimos de dinheiro. Ib. pano, ó uma acitara. No de 1147
ACEQUIA. Commummente se fez Egas Monís huma larga Doa
toma por Açude; mas propriamen ção ao mesmo Mosteiro, não só
te fallando Acequias são os lagos, de herdades , mas tambem de mó
poços, ou charcos, que fórmão os veis, dos quaes forão Uno manto de
regatos, ou pequenos rios, humas grecisco, & alio de exami tres Cap
vezes naturalmente , e outras me pas, una de ciclaton, Óº alia mud
diando a industria dos que se pro bage, & alia de uno demi; Óº una.
põe a utilidade das suas aguas. acitara de mudbage; Óº duos grecis
ACETERE. Lavatorio portatil, cos de super altare; Óº duos facerge
vaso de agua ás mãos. E dous La nes. Documento de Paço de Sousa.
vatorios, a que dizem aceteres, e do ACÓ. adv. Para cá. Documento
se bacias, e quatro peelas. Ib. Vem de Pendorada de 1326.
ACOI
AC -
AC 49
ACOIMAR. Fazer pagar o da ras, ou Casaes. Inviaster-me dizer, que
mno, que fizerão os animaes na fa avia bi peça de homeens... que vos pe
zenda alheia , castigar, censurar º diam pera acoyrelamento desa pobra viu
reprehender. tõito Casaaes, que hid, juntados com esse
ACOLCETRA. Colcha. Do La logar de Cerveira. Carta d'El-Rei D. .
tino Culcitra. Diniz de 1317 para se povoar Villa
ACONHECER. Reconhecer. Nova de Cerveira. Doc. de Lorvão.
Documento de Vairão de 1289. ACOYTAR. Cuidar, procurar.
ACONHOSCER. Conhecer, re Ap. Bergança.
conhecer, ingenuamente confessar. AÇORES. O mesmo que falcões,
Item: Aconhosco. Documento de Mas aves bem conhecidas. Dentro, e fó
seiradam de 1293. Vem do Latino ra do Reino derão os Açores o no
Agnosco. me a muitas terras, como ás Ilhas
ACONTIADO. Vassallo, que dos Açores, ao Valle de Açores jun
recebia do Rei certa quantia de to a Aguiar da Beira, á Ermida da
dinheiro, para estar prestes a ser Senhora dos Açores. Desta, que tão
ví-lo com hum número de Lanças famosa se tem feito em a nossa His
em tempo de guerra, ou qualquer toria , diremos alguma cousa, que
outra necessidade, e precisão, con escapou aos nossos Historiadores. A
cernente á Monarchia. Da quan huma legua de Celorico, caminhan
tia, que recebião, se chamárão Acon do quasi em direitura para a Guar
tiados. Vid. Vassallo, e V. Contia. da, se acha este nobre, e antigo San
ACOOIMAMENTO. V. Des tuario na Freguezia de Aldêa Rica,
afia fom. cuja Matriz mostra ser de huma mul
• •

ACOOMHAR. O mesmo qu avançada antiguidade: hoje serve de


Acoimar. Dar pena, e castigo, pro huma Igreja rural, transferido o
hibir, não conceder. Deus lho acóóm Priorado, e Igreja Parochial para a
be. Documento da Guarda de 1298. Capella da Senhora dos Açores. Es
ACOSTADO. O que anda ao ta que era de huma Estructura Go
lado de alguem. Assim forão cha thica, e de tres naves, se demolio
mados os Nobres da Casa Real por inteiramente, e se reedificou de no
andarem ao lado do Principe, que vo ha poucos annos. Nella se con
no Francez antigo se dizia: Coste. servão quatro primorosos quadros: o
ACOSTAMENTO.He o que ho I. do Apparecimento da # 2O
je chamamos Moradia, ou Ordenado rustico da Vacca : o II, do filho
uese dá aos que estão assentados por do Rei resuscitado: o III. do Açor,
Fidalgos nos # d'ElRei.Vem do que, dizem, foi occasião do Titu
antigo Francez Acoster : chegar-se lo da Senhora: e o IV. finalmente da
para alguem, ser da sua familia, ou victoria, que os Portuguezes conse
da sua parcialidade, voto, opinião. guírão dos Hespanhoes não longe
ACOSTAR.Unir-se com alguem. deste Lugar Santo : Estas pinturas
Tambem se dizia,que huma terra acos não tem mais fundamento, que a
tava com outra pelo Sul, pelo Norte,&c.; Tradição daquelles Povos. Na Ca
isto he: partia, demarcava, dividia. ella Mór, da parte do Evange
ACOYRELAMENTO. Divisão / ho, se vê hum levantado, e respei
de hum terreno em coirellas, foguei toso Tumulo, que diz o seguinte:
Tom. I. RE
5o AC AC
X REQVIEVIT. FAMVLA, tinhão os seus Religiosos hum Mos
XPI. INPACE. SVINTHI: teiro; mas adduz elle alguma prova
LIVBA. SVB MENCE. de tão extravagante pensamento?..
NOVEMBRES. , ERA. Desde os principios da Monar
D CC I III. chia Portugueza tiverão os nossos
Principes este Santuario na sua lem
. Deste Epitafio semi-barbaro se ma brança, El-Rei D. Manoel, seguin
nifesta, que no anno de Christo 666 do as pizadas de seus Maiores, no
se sepultou neste lugar Suinthiliu Foral que deo a Celoríco no de
ba serva do Senhor ; mas não se 1512, declara que a terça parte dos
segue, que fosse Religiosa em algum Montados, e Maninhos se gastará
Mosteiro , que neste sitio existis com os Cavalleiros, e Escudeiros;
se. Está demonstrado já hoje, que e que por Cavalleiros se interpreta
os Christãos, não só daquelles tem ráõ sempre os que forem feitos Ca
pos, mas ainda até o Seculo XIII., valeiros , ou Escudeiros, avidos por
cusados, solteiros, viuvos, por sua Escudeiros, (posto que entam nom te
devoção, e não perdendo de vista nham cavalos) e todos os que acompa
as obrigações, que a Lei Santa nos nbarem a Sina, e Bandeira a cavalo
impõe, tomavão os Titulos de Ser o dia, que vam com ella, huma vez
vos , e Famulos de Deos, sem Pro no anno, a Santa Maria d’Açores em
fissão alguma de Instituto Monasti Romaria. E os Oficiaes da Camera
co, ou Eremitico. Porém decidir gouviraão da dita liberdade aquelle an
agora se já no Seculo VII. havia al no, que o forem, posto que nam vam a
li algum Mosteiro, seria mais que cavalo. A tres de Maio he que se faz
temerario: o que não tem dúvida esta Romaria pela Camera de Celorí |
he, que houve tempo em que se co, e cujo dispendio não só he costea
fundou naquelle sitio huma Casa do pelas ditas Terças dos Montados,
Religiosa. As Columnas do Claus e Maninhos; mas tambem por hum
tro, e as paredes das Oficinas, que grosso Legado, que para isto deixou
em os nossos dias se descubrírão nos huma devota; não prevendo sem dú
Passaes amplissimos dos Priores, e vida, que hum concurso de vaidade,
a sua Residencia terreira , e mui glotonoria, e galhofa, para não di
antiga, não permittem que nós he zer tambem de desafios, irreligião,
sitemos em huma cousa tão clara, borracheiras, e imodestia, mal pode
e patente. Mas de que Ordem, ou rião ceder em Culto, e Veneração da
Instituto fossem os seus Habitadores, Senhora. V. V. Bodo, e V. Sina.
quando principiárão, ou se extinguí AÇOUGAGEM. Direito, que
rão, he cousa, de que os Documen se pagava de quaesquer vendas, ou
tos nos faltão: ao menos até agora não compras, não só nos lugares onde
tem apparecido por hum modo, que se vendião carnes frescas, mas ain
mereça aquella fé sólida, e imparcial, da em todo o lugar, e praça, em
que na verdadeira Historia se requer. e se vendião frutas, pão, horta
Se houveramos de sobscrever ao Au liças, peixe, panellas, &c., e por
thor da Chronica dos Eremitas de isso ás ruas dos Mercadores se cha
Santo Agostinho, diriamos, que já márão algumas vezes Acougues, no
no tempo, que diz o Epitafio, alli me que os Arabes ainda hoje dão
/ AOS
AC AC 5I
aos lugares, em que estas cousas se ata que se avenha com o Mordomo.
vendem; como vindo do Verbo Sá Tombo do Aro de Lamego de 1346.
cà que na oitava conjugação signi f. 7. W. Achacar tambem se disse,
fica comprar , feirar , e fazer ne por levantar hum falso testemunho,
gocio com compras, e vendas. Nes crime, defeito, ou infamia. Hoje
te sentido se toma Acougagem no chamamos a isto Assacar, e vem do
Foral de Monção dado por El-Rei Arabigo Xaca, que na terceira con
D. Manoel, (referindo-se a outros jugação significa: accusar, ou for
já mais antigos, que o de El-Rei mar queixa de alguem. -

D. Affonso III.) no de 15 12. Po ACHADAS. Coimas, ou penas,


rém no Foral de Pinhel, reforma ue se levão aos que fazem algum
do pelo mesmo Senhor Rei no de # , roubo , ou detrimento nos
15 1o , tendo á vista o d’El-Rei lugares, frutos, e terras, que es
D. Sancho I., declara que o Direi tão coutadas, ou são alheias; quan
to de Brancagem se chamava antiga do os Authores são achados , ou
mente Açougagem, e que se pagava descubertos na execução deste cri
me. Destas
só na Villa, e não no termo. De L.V.. it. 72.Achadas falla a Orden.
• •

clara, que por este Direito se pa


gue de cada boi , ou vacca hum # ACHADÉGO. O premio que se
real: de porco quatro ceitis: de car dá ao que achou alguma cousa. Or
neiro, ou ovelha tres ceitis: do bo den. L. V. it. 6o. .

de, ou cabra dois ceitis: e do cor - ACHADIGO. O mesmo que


deiro, ou cabrito hum ceitil. O qual Achadêgo. No Foral antigo de San
Direito se pagará daquellas reses, que tarem há hum Titulo: Do que se há
se mattarem ao talho, e d'outras nam; de dar do Achadigo da ave albea.
com tanto que os açougues. 3 em que - ACHAQUE. Assim chamamos
as ditas carnes cortarem, sejam feir hoje á indisposição, ou má disposi
tos, e repairados per Nós, ou per aquel ção do temperamento, que actual,
las pessoas , que os ditor Direitos ou habitualmente vexa, e opprime
teverem. Daqui se vê que Afou o corpo humano. Antigamente se
gagem , e Brancagem são Syno tomava por accusação , e tambem
nymos em o Foral de Pinhel, sen por condemnação, multa, ou pena. E
do mui distinctos em outros Foraes depois foi usado por motivo , cau
como se póde vêr. V. Brancagem, sa, ou pretexto: v. g. Voltou á patria
AÇOUGUI. Assim se chamárão com achaque de tomar os ares: Tomar
os lugares, onde antigamente se ven disso achaque para romper a guerra.
dião, e compravão todas, e quaes º ACHAR Famefolgada. Achar
quer mercadorias. V. Açougagem. muito que se coma, porque outros
ACREYO. Acredor. Ap. Berg. esfaimados, e gulosos o não tinhão
ACUCIAR.Dar pressa.Ap.Berg. comido. Deste modo havia estado
ACHACAR. Accusar, dar libel alli a fome folgada, e sem ter ex
lo, fazer queixa, ou denuncia con ercicio. He do Seculo XV. , ,
tra alguem. E disse, que qualquer 1. ACHATAR. Alcançar , conse
outra mulher, que no dito, mez de guir alguma cousa. Nós cobicantes
Fevereiro tanger adufe, que o Mor achatar as vossas peregalhas piado
domo a achacará, e chamará ajuizo, sar = Mais cobicantes houtorgadamen
G ii te
52 AC AC
te acbatar aos vossos desejos. Ou mais genere meo acrepantandi illos pro a
bem favorecer, patrocinar, cumprir, servicio. Documento de Pedroso.
satisfazer. Documento de Almoster Donde traremos nós a origem
de 1287. do Verbo Acrepantar? Podemos di
ACHEGAS. Não só significa os zer , I. que he o mesmo que tra
materiaes para huma obra, auxilio, tar com acrimonía , ou demasiada
ajuda, soccorro , valia; mas tam aspereza , e rigor ; procurando a
bem se disserão Achegar os Parcei sua etymologia na baixa Latinida
ros, que tinhão algumas porções de de Acrum, Acrus, ou Acrumen:
de hum Casal, cuja pensão paga sendo os máos tratamentos quem os
or junto o Cabecel, ou Pessoeiro, obrigasse aos indevidos ministerios.
# cobrado por parcellas dos Tambem II. a podiamos dedu
Achegas. Prazo de Masseiradão de zir de Acra, ou Acrus, que signi
1652. ficavão certa porção de campo, ou
ACHEGANÇAS. Pertenças, fo terreno , que os Servos , ou Es
ragens, pensões grossas, e miudas. cravos AdScripticios, como insepa
No de 1312 consignou em Presti raveis da gleba, devião plantar. E
monio, e Beneficio Vitalicio o Rei assim ob Acra, vel Acro plantando,
tor de Santo Adrião de Canas, a se diria, Acrepantar. Ou digamos
Pedro Gonçalves (2lerigo os Dizi em fim que o mesmo he Acrepan-,
mos de hum Casal, com todas ras tar, que quebrantar; sendo a ten
acheganças, tam prediaes , quam per ;ão dos seus Patrões, que não se
soaes; por ser mui natural, e mui Pa ja quebrantada a Carta de alforria,
drom da sua *# quer dizer mui OUl # , que por morte de sua
chegado em sangue, e parentesco filha lhes concedem , para nova
aos Fundadores, e Padroeiros des mente os submetterem aos rigores
ta Igreja. Documento de Bostello. do cativeiro. V. Crebrantado, e Cre
ACREPANTAR. Subjugar, brantar.
obrigar , submetter á lavoura, e a ADAIL. Oficial de guerra , a
outro qualquer serviço. De huma quem pertencia guiar, e conduzir
Doação do anno de 897 feita a São o exercito por veredas, e caminhos
Salvador de Labra (Mosteiro que occultos, e não trilhados, ensinando
estava junto á praia do mar, na lhe, e apontando, quasi mesmo com
Comarca do Porto) consta que Gon o dedo, a sua marcha. Tambem era
desindo, e sua mulher Enderquina do seu oficio governar os Almoca
Pala fundárão tres Mosteiros : São dens, e Almogaváres, e toda a ou
Miguel de Azevedo: S. Christovão tra gente, com que se fazião cor
de Sanganhedo: e S. Pedro de Di rerias nas terras do inimigo. O Of
de: os quaes derão ao Abbade D. ficio de Adail he tão antigo como
Desterigo, para nelles ser Religio o Reino , mas com outro nome.
sa D. Froilo , filha delles Funda Chamavão Zaga ao que depois cha
dores, á qual derão juntamente cem márão Adail. Entre os Venezianos
escravos, para que a servissem em ainda hoje chamão Zago ao Mes
sua vida, e por sua morte ficassem tre de Ceremonias, e que precede
forros com suas mulheres , filhos, a todos os mais. No Foral de Tho
e netos, Et non abeant licentiam ex mar de 1 162 se diz: De preda de Fos

AD AD 53
sado non detis, nisi ad Zagam duas a dente será a dita berdade vossa. Vem
partes, & vobis remaneant due. E do adv. Latino Deinceps.
na sua traducção em linguagem do ADERADO. Justo, certo, ra
Seculo XIII. se lê : E de roubo, e cionavel. Nos Documentos de Pe
de foçado non dedes senão ao Adajl as droso era frequentissima a expressão
duas partes, e a vos fiquem as duas de preço aderado. No de 1o68 ven
partes. E porque o Zaga hia sem deo Senior Gondezindiz certos bens
pre na vanguarda, parece que an a Pala Tructesendiz, e diz o Ven
tigamente se disse Gaguão : o pe dedor Acibio de ti pretio aderato,
queno atrio cuberto, ou pateo, que cº" definito quadraginta modios. No
estava diante, e á frente das casas: de 1 Io7 , e I Io8 se achão alli
e Çaguate: o presente, ou mimo, Cartas de compra, e venda, e por
que se manda a alguem, primeiro preço aderado.
que seja visitado. O primeiro Adail ADERAR. Taxar a dinheiro.
que houve em Portugal foi Diogo Ap. Berg. V. Aderado, onde se vê,
de Barros, filho de Gonçalo Nunes # nem sempre o taxado preço era
de Barros, Senhor de Castrodairo, inheiro, bastando que fosse o seu
e outras terras em tempo d'El-Rei D. equivalente.
João I. Durou este Oficio até El ADERGAR. Acertar, ou per
Rei D. João IIL : hoje está extin suadir-se de alguma cousa com gra
cto. Das ceremonias que praticavão ve fundamento.
na eleição dos Adaís. V. o Tom III. ADEXTRADO. Na baixa La
da Asia Portug, pag. 191. , e ou tinidade se disse Adextrare: por le
{IOS, var alguem á mão direita , ou por
ADEAMAR. Fazer , refazer, servir ao estribo de algum Princi
compôr, ajustar , acamar alguma cipe , Magnate , ou Prelado ; e
cousa. No Foral que o Infante D. Adextratores: os que nisto servião por
Afonso Henriques deo aos da Ci oficio. Hoje dizemos: Cavallo á des
dade de Cea, no de 1 136 se de tra; por cavallo acobertado, e que
termina, que do cavallo, ou Mou só por ostentação, e grandeza de
ro, que for achado desde o Mon estado vai na comitiva. Das cousas
dego até o cume da Serra da Es que vão de mais, ou só por recrea
trella , seja huma terça parte para ção, e alivio, dizemos, que vão
El-Rei , e a outra para aquelles Adestro. Adestrado se diz o que es
ferreiros que agucent illos maleos, Óº tá bem ensinado, exercitado, e ins
adcament illos Cadenatos, Óº quando truido em alguma arte, ou manio
Senior dederit ferrum , que faciant bra , do Verbo Adestrar : que he
ferraduras , & clavos pro ad illum. levar alguem como pela mão di
Aqui se toma malho por machado. reita no ensino de alguma Facul
JLivro dos For. Velhos. dade , ou na execução de algum
ADDITO. Adjunto , compa negocio, Nenhuma probabilidade ha,
nheiro , socio. O Chançalleiro , ou que nas faxas da nossa Monarchia,
Addito reo, lhe tirou o Sello. onde o luxo tão pouco reinava,
ADÉMÁ. AS. V. Admenas. (pois nas longas, e continuadas
ADENTE. Para o diante, des guerras nem reinar podia) andas
de hoje para todo o sempre. Dezaqui sem os soldados rasos em cavallos
ader
54 AD AD
a destra; quando perdido hum, não nadores de justiças. E que os mes
era muito facil o proverem-se logo mos Corregedores, restituidos á sua
de outro cavallo. Jurisdicção antiga não andassem mo
Era, pois, Adextrado cavallo de rosamente pelas Comarcas com suas
marca, generoso, ajaezado, exer mulheres, e filhas; por ser isto gra
citado, e *"}"R vame dos Povos, occasioens de acejtar
para a guerra.
No Foral que El-Rei D. Sancho I. peitas, fazer amizades, e corromper
deo á Villa (hoje Cidade) de Pi a justiça.
nhel no de 1 189 se diz: Homo qui Os II.º., a que os Romanos
se anafragaret suo adextrado, quam nos chamavão Prefecti Legionum na
vis habeat alium, sedeat excusato ur da mais erão, que Fronteiros Mo
que ad caput anni. No Foral que os res, ou Capitães Geraes do exer
Templarios derão em Latim á Vil cito. Estes, e principalmente nos
la de Thomar no de 1 162, tradu Reinos de Hespanha, gozavão de
zido em Portuguez nos principios huma preeminencia , e jurisdicção
do Seculo XIV., está: Se a alguum mui chegada ao Throno. -

dos Cavaleiros morrer o cavalo, e non No tempo dos Reis Godos pa


poder aver onde compre outro, nós lho rece se chamavão Tiuphados, os que
daremas : e se lho non dermor , esté depois forão Adiantados. Era o Tiu
onrradamente, atá que possa aver on fado , ou Tiufadia huma Dignida
de compre outro. Documento de Tho de , e a primeira da segunda Or
mar. E nos Foraes antigos se acha a dem, ficando na primeira os Du
cada passo, que se ao Cavalleiro mor ques, Condes, e Gardingos. Erão
rer, ou faltar o seu Adextrado, e juntamente Ministros Civís, e Mi
não poder haver outro; o Senhor litares, pois sentenciavão a final no
da terra lho dará: e em quanto lho que as Leis não tinhão ainda pre
não der, gozará em tudo os foros cavido, e fazião executar á risca o
de Cavalleiro Guizado, e expedito que elas determinavão ; não fal
ara a guerra. tando
occasiãocom
de aguerra.
sua gente d'armas em
• Aº


ADIANTADO. Havia Adianta
dos Civís, e Militares : os I.º" ADICEIRO. Tiverão o nome
erão , propriamente fallando , os de Adiceiros todos os que antiga
ue hoje chamamos Regedores da mente trabalhavão nas minas de ou
# , e os Romanos disserão: ro, que havia em todo o Riba-Té
Presides Provinci.e. El-Rei D. Af jo. Tomárão este nome da Adiça,
fonso V. supprimindo os Correge que era huma famosa mina de ou
dores , pôz nas Comarcas pessoas ro entre Almada, e Cezimbra, na
de Titulo com o nome de Adianta qual desde El-Rei D. Sancho I. até
dos , que nomeavão em seu lugar D. Manoel se continuou a extracção
Ouvidores que conhecessem das Cau do ouro com grande utilidade pú
sas. Porém o seu pomposo, e de blica. E por ser esta mina a prin
masiado estado vexava tanto os Pocipal dº Reinº » OS #
vos, que nas Cortes d'Evora de de outras menos principaes se hon
1481 eles se queixárão , e conse rárão com o nome desta. Daqui se
guí1ão , que não houvesse mais manifesta a razão com que os Mou
Adiantados, Regedores, nem Gover ros chamárão Almadam, ou c… O
>
AD AD 55
lo da mina á Villa de Almada, de Linhares ao Mosteiro de Ferreira
que se póde ver Sousa nos Vesti d'Aves, pela muita ajuda, e crian
gios da Ling. Arab. em Portug., fa que do dito Mosteiro recebêra;
e Marinho nas Antiguidades de Lis declarando que lha deixa para ad
boa. Ainda depois de descuberta judoiro dos seus vestiairos. Documen
a India , e America , continuárão to de Ferreira d'Aves. .
em Portugal as minas de ouro, pra ADMENAS. Alemedas, passeio,
ta, e outros metaes, e mineraes, de ou rua de quaesquer arvores frondo
que se póde ver o V. Tom. da Mo sas, e copadas, que sendo antiga
narch, Lusit, a f. 128. mente mui usadas de alamos , ou
Sobre a Origem deste nome Adi choupos, tomárão o nome das ar
ça , bem póde ser que venha de vores, de que ellas se fazião. No
Ades, nome de hum antigo Rei do de 976 se pôz em pública fórma
Epiro, que unicamente se occupa a Doação da Igreja de S. Romão
va em desentranhar os montes , e em Villar Telhado, feita ao Mos
cavar metaes: e como nestas minas teiro de Lorvão: Cum sua Corte, ó
morria muita gente, lhes chamárão cum suas admenas in giro , Óº suas
Ades , como Rei da morte , e da mazanarias, Óº duos cupos, Óº duas
desgraça. Com este mesmo Titulo cupas, una de XXX, quinales, Óº alio
o fingírão Deos dos Infernos, das de XX. modios, cum tota sua perfia.
riquezas, e dos mortos; porque ri Livro dos Testamentos n. 31. Es
quezas, morte, e Inferno , pro tavão pois estes passeios, ruas, ou
priamente fallando , tudo he o carreiras á roda do quintal, ou vi
II1GSITIO, venda , ficando no meio o pumar
ADIVAL. Certa medida agraria. das maceiras. O persuadir-se que as
No Seculo XIII. comprou o Mosteiro Admenas , são as ameas, que hoje
de S. João de imTarouca huma her vemos em torno dos terreiros, e pa
dade que tinhaXI. adivales in amplo, teos das casas nobres, e distinctas;
é in longo. Assim consta do seu Ar he engano, pois elas não tinhão
chivo. Esta herdade estava no Ger lugar na residencia de hum pobre
mello junto á Guarda : reinava D. Cura, e humilde Parocho do Se
Sancho I. ao tempo da compra. Es culo miseravel, em que esta pie
tes Adivaes, ou Arivaes devendo-se dosa esmola se fazia. Em muitos
regular pelas outras medidas do Documentos que fallão no Campo
Paiz, diremos, que erão Pirtegas, da Golegã, e nas ribeiras de Tor
Estims, ou Aguilhadas, que se cha res, Brescos, e outras no termo de
mátão Arvipennales , ou Agripeda Santiago de Cacem no Seculo XV.,
les, ab arvipendio, id est funiculo, e XVI. se chamão Ademas : as ter
seu pertica
bantur. , qua olim agri metie ras planas, e de veiga, ou Seara, e
V. Astil. •

mesmo quaesquer outras reduzidas


ADJUDOIRO. Ajuda, supple a cultura. Bem póde ser que cha
mento, achega. No de 1364 Fer mando-se antigamente Admenas, de
não Rodrigues Conego , e Prior pois se chamassem Ademas, e que
de Santa Maria d'Alcaçova de San este seja o verdadeiro sentido do
tarem, deixou a sua quinta da So Documento de Lorvão.
breposta , no Termo da Villa de "ADOBOIRO V. Aduboiro.
ADOO
56 1
AD AD
ADOORADO. Cheio , ou ve dos a trabalhar corporalmente nas
xado com dores, enfermidades, e obras de fortificação, como se col
molestias. E nom seja aleijado, nem lige de huma Sentença, que na Me
torvado da vista, nem da falla, nem za da Consciencia se guarda, dada
adúórado de tal door, per que seja im a favor dos da Villa de Mertola no
pedido pera nom poder servir a Or de 1442. Em algumas terras se obri
dem em Sacerdote. Constituição d'El gavão os respectivos moradores a es
Rei D. Manoel de 15 o3. Documen tes reparos; mas sendo obra gran
to de Thomar. de, e dilatada concorrião as Adúas
ADOUTAR. Adoptar, tomar co de maior distancia. No Foral de Cea
mo seu o filho de outrem, perfilhá-lo. de 1 136 se determina que cahindo
Forão entre nós antigamente mui fre o muro, o Senhor da terra aprompta
quentes estas Adopções, e principal rá Mozom, Óº Luria, Óº marra, Óº
mente para com os filhos dos Gran malios, Óº duas lavancas, Óº nos nos
des. Em o Mosteiro de Tarouca se tros corpos , Óº illo muro sedeat fa
acha a Carta , pela qual Vicente ctum. Nos Doc. de Thomar se acha
Domingues diz : Recebo, e adouto a Doação de Cabeça de Touro, e
em meu filho adoutivo , e verdadejro seus Termos, feita no de 122 1 á Or
ercl, vos Pedrãfonso, filho do mui al dem do Templo pelo Conselho da
to, e mui Nobre Senhor D. Deniz , Guarda, que todo assignou com o
Rei de Portugal, e do Algarve. An. seu Pretor , e Alvazis, e tambem
de 1304. Estevão Pires Praetor Leirenae, & Con
ADREDE. adv, Advertidamente, cilium ejusdem Villae, quistabant fa
ácinte, de proposito, com reixa ve ciendo Castellum Civitatis Guardiae,
lha, maliciosamente, e de caso pen permandatum Domini Regis. Alli mes
sado. mo se acha a Doação, que D. San
ADREGAR. Acontecer. cho II. fez aos #emplarios no de
ADTA. adv. Até. . 1244 dos Direitos Reaes de Sal
ADU. adv. Onde, para onde; vaterra, e Idanha ; exceptuando
como vindo de Adubi em Latim bar expressamente os seguintes, co
barisado, e o mais infimo. _mo quasi inalienaveis da Coroa:
ADUA, Annuduva, Anuduva, quod recipiant monetam meam : Óº
Anuduba, Annaduva, Anuda, Adu quod dent inde mihi Collectas: &º quod
ba, Adnuba, Anubda, Anupda, eant in exercitum meum, Óº in meam
Anuguera, Anudiva, e Annadua, anuduvam : Óº alia jura , secundum
(que de todos estes modos se acha quod habeo , Óº illa habere debeo in
escrito desde o IX, até o Seculo XV.) aliis Castellis, & Villis, que praedi
Certa Imposição de dinheiros para ctus Ordo Templi in Regno meo baber.
reparar, compôr, fazer de novo, Estes Direitos Reaes, que ordina
ou augmentar as cavas, torres, mu riamente se exceptuavão, e por ex
ros, castellos, fossos, e outras se ceptuados se entendião , se outra
melhantes obras militares, que se cousa se não declarava , expressou
ordenavão á defensão da terra. Tam Afonso III, no de 1259, (segun
bem algumas vezes se chamou Adúa do a Monarch. Lusit. L. XV. Cap.
por certas patrulhas, ou quadrilhas XXIV.) e são os seguintes: Anna
de gente plebea, que erão obriga dúa: Collecta: Moeda: Hoste: Apelli
• do :
AD AD. 57
do: Fossadº: justiça: Serviço: Aju Tombo escrito em pergaminho pe
da. les fins do Seculo XIII, que se guar
*

Havendo o Meirinho-Mór João da na Cathedral de Viseu a f. 42,


Rodrigues Porto-Carreiro, manda e he dirigida á Camara da mesma
do que os da Torre de Moncorvo, Cidade. Nella, diz o Rei, que pa
e seu Termo pagassem para hum ra fazer cessar as queixas do seu Po
Apartamento de Alcacere, que El vo sobre o feito } Anundivas, ou
Rei mandava fazer em Freixo de Anudivas 3 estabelece , como regra
Espada Cinta, a saber: os que ti geral, a fórma seguinte: ,
vessem de seu quantia de cem li Primô: Mando, & statuo, quod ego,
bras, quarenta soldos; e os que ti nec aliquis Successorum meorum num
yessem sincoenta libras, vinte sol quam levemus demarios, nec aliam pecu
dos Elles recorrêrão á Coroa, di niam pro anudivis pernos, nec per alium,
zendo: que pelo azo da dita adúa a nec per aliof.: .
sua Villa se pode despobrar : e que Item: Mando, & statuo, quod ho
a tal obra se póde fazer pelas Ter mines, qui morantur in hereditatibus
ças das Igrejas, que Sua Magestá alienis : Videlicet: Jugarii, ó alii
de tinha no Logo de Freixo, que ren bomines, qui, morantur in haereditati
dião annualmente quinhentas até bus alienis, de quibus dant certam por:
seiscentas libras, que sempre forão tionem Dominis suis, non vadant ad
despezas nos lavores do Castello da anudiviam. . . -* * }
dita Villa, &c. O Rei, attenden Item: Mando, quod infirmi, depaº
do ás suas justificadas razões, os exi siti, peregrini, soltarii (nisi fuerit
.mio no de 1376. { , º talis filius , qui continear caram cum
- E logo no de 1377 concedeo aó sua matre) é uxorati de ipso anno =
Conselho da Torre do Moncorvo, é omnes bomines excusati per Cartas
que para acabar com segurança, Conciliorum, secundum consuetudinem,
perfeição , e mais toste os muros, ó"forum terre: Ó homines de crea
e fortificações da sua Villa pagassem tione Regum : & omnes hominer, qui
Adia para ella, em quanto as obras morantur cum Dominis ruis : Omnes
durassem, Villa Flor, e Villa No isti tales, nec aliquis eorum, non va
va de Foz-Coa, Urros, e Maçores: dant ad anudivam.
não obstante, que aV" a de - Item : Nichil demandetur mulieri
via pagar a Castro Vicente, a se bus pro anudiva.
gunda a Trancoso, e as duas Al Item : Mando , & statuo, quod
dêas a Freixo de Espada Cinta. Doc. Serviciales, Ortalani, Óº molendarii»
da Torre. •

é?"fornarii, é amoucouvares de gana


Estas Adôas, ou como serviços, tir, non vadant ad anudivam.
ou como tributos, parece chegárão | Item: Ali omnes homines, qui suns
a ser excessivas, e a fazerem levan inservicio Dominorum suorum, de qui
tar o grito dos Povos, como se vê bus habent soldadas, aut gubernium,
da Carta d'El-Rei D. Afonso III. aut vestitum , aut aliquam partem
dada em Coimbra a 28 de Julho animalium, rerum, vel fructuum, in
de 1265, e reproduzida em as Cor quibus serviunt Dominis suis, non va
tes de Santarem de 1284 em 27 de dant ad anudivam.
Janeiro. Acha-se esta Carta em hum Item: Omnes alii hominer, qui mo
- Tom. I. f"(!!)--
58 AD :AD
rantur in locis, de quibus non iverunt tinha recebido, e esperava de receber.
ad anudivam tempore Patris mei, nec Doc. de Moncorvo. •

Avi mei, non vadant ad anudivam. º Como quer que seja, hoje cha
Item: Pauperes, quinon habent de mão Adúa no Alem-Téjo, e outras
suo, per quod vadant, & in redditiº partes, huma matilha de cães em
per quod possint vivere; ita quod non pregada em caçar coelhos, em cujo
oporteat eos vendere domum, aut vi exercicio reciprocamente se ajudão.
neam, aut baereditatem, quam babent: ADUBAR. Reparar, compôr,
propter hoc non vadant ad anudivam; fortalecer, aproveitar, guarnecer
. Item : Clerici, ó Scutiferi-Fidal terras, vinhas, casas, e #
gos non vadant ad anudivam. * . outras propriedades, e edificios. Fi
Item : Homines de Cautis , & de cando pera outras quadrellas o fazer,
Honris antiquis, Óº quas Rex fecit, e reparar outros lugares do Castello,
vel fecerit de novo , non vadant ad e adubar a barbacãa. Doc. da Torre
anudivam. \, ; de 1366. E depoes que vos eu adu
"…Item: Mando, & statuo, quodom bar as ditas casas, que vos as man
nes alii homines Regni mei, quor ego, tenhaaes nos ditos adubios , salvo de
vel. Successores mei debuerimus vocareparedes, e madeira grossa. Prazo de
ad anudivar, non vocemus eos ad nu Tarouca de 1443. -

divas, nisi tempore guerra, aut tem …ADUBAR o seu negocio. Tra
pore magnae necessitatis, Óº ad fron tar delle. Et quando venerint ad ali
tariam Regni, quod habeamus eos mul quem locum adubare suum profectum,
tum necessitate: Óº non compellantur dimittant in suis locis alios.
ire, nisi per Pretores, & alvaziles, ADUBIO. Trabalho, cavas, la
&º judices locorum ; quia inveni pro brança, estrumes, e todos os ama
in veritate, quia ita.fuit usatum tem nhos, e bemfeitorias, que são pro
pore Patris mei, & Avi mei. prias, e necessarias a huma fazen
Et proinde do vobis istam meam da, para andar sempre bem #
Cartam apertam, & mando, & c. veitada. . V. Adubar. Doc. de Ta
* Bem póde ser que do Arabigo rouca de 14o7. Tambem se disserão
Adduar, (que propriamente signifi Adubios os concertos, e reparos de
ca multidão de gente , º que vive qualquer edificio: hoje se usa pro
abarracada, e como posta á roda depriamente, quando fallamos de vi
huma Praça) se derivasse Adúa; nhas, ou campos. Tambem se cha
sendo certo que as grandes quadri márão Adubios os forros, e guarni
lhas de gente, que se empregavão ções das roupas, e vestidos.
nestes serviços, não deixarião de ADUBOIRO. Concerto, repa
viver no campo, e abarracados. No ro , bemfeitoria, e o mesmo que
de 1385 concedeo El-Rei D. João Adubio. Façades a dita casa de pe
I, aos da Torre de Moncorvo as dra, e de madeira, e ripa, e de to
Adúas de Alfandega da Fé, Cas do aduboiro , que lhe fezer mester.
tro Vicente, Mogadouro, Bempos Doc. de Tarouca de 1422. +

ta , Penas-Royas, e seus termos, ADUBOURO.V, Aduboiro. Que


para se repairar milhor a Cerca da a dita zenba com seu repairamento, e
sua Villa, e ser milhor afortelezada; adubouro de ferro, e de pedras fique
e isto pelo muito servifo , que delles ao Moestejro.” .
"AD
AD + AD 59
- ADUBUIRO. V. Aduboiro. . ! (e tambem a sua decadencia) ao es
ADUCHO. A. Testemunha ad tado. Ecclesiastico, fervêrão as re
duzida, apresentada. "… e
quisições, as demandas, as conten
ADUDO. Adido, addicionado; das na presença dos Magistrados Se
accrescentado. Vem do Latino Al culares, diante de quem não era
do Doc. de 1 292. … " " }, permittido, nem decente, litigarem
ADULTERIO. O adultro. No os Nazarenos do Senhor. Foi logo
Foral de Bragança dado por El-Rei mui posto em razão , que o Con
D. Sancho no de 1 187, e vertido cilio Carthaginense de 4o7 rogasse
em Portuguez no de 1281, se diz: ao Imperador Honorio , que lhes
Servos , , e homiziaes , e adulterior, permittisse defenderem os Ecclesias
que á vossa Villa veerem morar, ser ticos as suas causas proprias, e das
jam livres, e engeos. Doc. de Bra suas Igrejas, por meio de Advoga
gança. |- • …: dos Seculares, e bem instruidos nas
"ADUR. (Como nome substant.) Leis, é estilos forenses: a sua pe
Velhacaria, traição, engano, mal tição foi despachada como pedião,
dade. Aonde tantas virtudes moravão como se vê do Cod. Theodos. L.
adur podia nenhum cuidar. Vida d'El XVI. Tit. II. Leg. XXXVIII.…… ;
Rei D. João I. por Fernão Lopes. 1. Depois deste tempo ainda appa
Part. II. Cap. CLXXXXIII. recem na Igreja Romana Advoga
ADUR.adv. Apenas, com dif dos, ou Defensores Ecclesiasticos,
ficuldade grande, por acaso , mui mas só para as Causas Pias, como Po
raras vezes. São tantar as Penas , e bres, viuvas, Legados, Testamen
Posturas em vossos Rejnos, que adur tos , Sepulturas , &c. Porém ven
pode homem escapar, que em ellas não do-se ultrajada, e perseguida pela
cabia. Cortes de Santarem de 1468. tyrannia dos Longobardos, ella se
ADUSSIA. V. Ousia. . : amparou dos Reis de França, e Im
ADVENDIÇO. Estrangeiro, es peradores do Oceidente, tomando-os
tranho, vindo de fóra, e que não por seus Defensores, e Advogados,
pertence á mesma Nação, socieda como forão Carlos Magno, Pipino,
de , ou familia. Nasce do Latino e Henrique II., para que concluis
Adventitius. …
sem por força, o que as mais das
ADVOGADO da Igreja. O mes vezes se não remediava com Justiça.
mo, que Patrono , Protector, ou Este exemplo da Igreja Romana
Defensor da Igreja. Desde o prin seguírão muitas das suas filhas, que
cipio da Christandade houve quem respectivamente erão perseguidas, e
a perseguisse: era pois indispensa infestadas. Os mais Poderosos do
vel haver tambem quem a defen Seculo tomárão sobre si este cui
desse. Ecclesiasticos, e Seculares dado; precedendo licença dos Prin
piedosos, fielmente a servírão nes cipes. Mas estes Grandes da terra,
te emprego, que naquelles tempos e Advogados Principaes nomeavão
de angustia se não extendia ás cou outros inferiores, e subalternos mais
sas temporaes, como Direitos, Re vistos no Foro, e com menos cui
galias , Foros , Rendas, Proprie dados , que em seu nome vigiavão
dades, Isenções, &c. Mas trazen sobre a conservação das Igrejas, e
Mosteiros... • •

do a paz as gorduras do Seculo,


H ii Mul
6o AD AD
Multiplicados estes, vierão a ser Fazendo-se insupportaveis huns, e
Advogados, Pessoas Nobres, e dis outros no Concilio de Reims de
tinctas, mas não Reaes, ou mui 1 148 os sub-Advogados forão in
chegadas ao Throno. Estes devião teiramente extinctos, e os Advoga
ser eleitos na presença dos Condes, dos forão reduzidos áquella porção
e Abbades: havião de ser naturaes de mantimentos, e comedoria, que
daquelle Condado, Judicatura, ou antigamente se costumava: Decreto
Comarca, em que estivesse a Igre saudavel, que no Concilio Latera
ja, ou Igrejas, Mosteiro, ou Mos nense de 1215 se tornou a innovar.
teiros, por quem advogavão, e cu Humas vezes pedião as Igrejas
jos bens, e pessoas defendião. E estes Advogados aos Principes, ou
daqui veio o serem chamados Cau tras aos Summos Pontifices, e outras
sidicos, Tutores, Actores, Mumbur reservavão os mesmos Fundadores
dos, e Pastores Leigos: nomes todos para si , e seus Successores a Tu
originados da Defensão das Igrejas, tela, ou Advogacia dos Lugares
e proseguimento das suas Causas. Santos, e Pessoas Ecclesiasticas, ou
# as Doações, Distracções, e Religiosas, que instituião. Em Hes
Restituições, e em todas as cousas panha principalmente grassou o es
de grande pezo, que á Igreja, ou tilo de serem Advogados, ou De
Mosteiro pertencião, eles erão ou fensores os mesmos Padroeiros , e
vidos. Ao principio advogavão nos seus Descendentes , ou Naturaes.
Tribunaes dos Condes as causas Estes forão pela corrupção dos tem
da Igreja. Depois erigírão Tribu pos os inimigos capitaes, e os mais
nal proprio, em que tres vezes no cruéis, que os nossos Mosteiros, e
anno fazião Justiça ás Partes; le Igrejas podérão ter: as suas Comedo
vando por este trabalho a terça par rias , os seus Casamentos , Cavalla
te das multas, condemnações, e riar , e jantares , haverião consu
emendas. Além dos fundos, ou ter mido inteiramente o Patrimonio do
ras, que se lhes consignavão, el Crucificado, se os nossos Religio
les# romper, e desfrutar as sissimos Monarchas não houvessem
terras incultas, e bravias da Igreja. exterminado a bom tempo tão des
Sem licença, e não sendo a reque marcado abuso; declarando-se elles
rimento do Abbade não se # mesmos os Protectores Soberanos, Ad
intrometter em cousa alguma, que vogados, e Defensores das Igrejas, e
pertencesse á Cella Maior, ou prin Mosteiros. V. Verb. Defensor.
cipal Mosteiro, nem ás Cellulas, ou ADUZER , Adduzer, e Adu
Priorados, que delle estavão pen ger. Trazer alguma cousa; do La
dentes. tino Adduco. Tambem se acha na si
Fóra de Hespanha principalmen gnificação de metter, introduzir,
te, havia tambem hum grande nú pôr , investir. E renunço, e remova
mero de Vice-Advogador, Commis de mim toda a Sucessom , e possis
sarios, ou Substitutos dos Advoga som de todolos beens, e adugo-vos lo
dos Principaes , que em tudo se go em corporal possisom per aqueste
conformavão aos seus Constituintesstormento. Doc. de Tarouca de 13o4.
na destruição , e roubos das mes Aduzer he de 1289, e mui frequen
mas Igrejas, que defender devião. te no seguinte Seculo.
ADU
AD AF 6r
ADUZUDO. Trazido , condu poderia responder, fazer violencia
zido, acarretado. Doc. das Bentas ás vontades alheias com repetidas
do Porto de 133o. instancias , forcejar. Daqui. Afinco.
AFAAGAMENTOS. Encantos, AFICAR-SE. Obstinar-se, le
meiguices, afagos, doçuras, at var por teima, entrincheirar-se nos
tractivos. E os afaagamentos (deste seus proprios sentimentos, não ce
mundo) nom tirão da cobissa das cou der aos conselhos, rejeitar os pa
sas perduraveis. Doc. de Almoster receres todos, que com os proprios
pouco depois de 1287. se não conformão.
AFALAGAMENTO.OS. O mes AFLAR. He o mesmo que o
mo que Afaagamentos. Halhar dos Hespanhoes : isto he:
AFANOSO. Trabalhoso, cheio achar. No Foral d'Evora de 1 166,
de cuidados, affiicções, e penas. que El-Rei D. Afonso Henriques
Vem do Verbo Afanar : cansar-se lhe deo juntamente com os costu
muito, desvelar-se; ou ajuntar, e mes de Avila, se diz: Qui in Villa
adquirir com grande ambição , e pignos afiando , Óº fiador , Óº ad
2ITlar{UTå. montem fuerit pendrar; duplet la pen
AFFAM.Trabalho, desvélo, cui dra, et pectet LX, solidos. Livro dos
dado , mortificação , e cansaço. E Foraes Velhos.
mandamos lhes por o afam , que bi AFLIGIMENTO. Angustia, dor,
filharem em comprir este nosso testa pena, afficção. Outro ssim passam,
mento, mil libras desta moeda bran e perecem em afligimentos mui máos.
ca, que ora corre. Test. de D. Lou Doc. de Almoster de 1287.
renço Bispo de Lamego de 1393. AFOCINHAR. Cahir de nari
AFFIMENTO. Termo, limite, zes, cahir por terra, postrar-se com
visinhança, afinidade do lugar, es o pezo, abater-se, sujeitar-se a con
tremo , conjunção , terra limitrofa dições iniquas, e pouco honrosas.
a outra, sem que entre ellas medêe AFONCINHAD(). Nos Prazos
qualquer terreno, ou belga. No de do Mosteiro de Ceiça do Seculo
1176 vendeo Fuas Ermigio a me XIV., e XV. se acha entre as mais
tade do Rusão ao Mosteiro das Sal foragens : Hum Capão afoncinhado,
zedas, e diz que esta herdade par bom, e recebondo. Se querião dizer:
tia pelo brejo , et per afimentum de hum Capão grande, e bem capaz
Cotelo. Doc. das Salzedas. de se comer, e que estava no cór
AFICADAMENTE. Com gran te, e afoucinha: eu o não saberei
de teima, e obstinação, constante afirmar. Dizem se chamava Afonci
mente, com muita instancia, obsti nhado, ou mais bem Afoucinhado;
nadamente. Vem do Verbo Aficar. porque já devia ter as pennas da
AFICAMENTO. Obstinação, cauda grandes, e revoltas, e que
teima, inflexibilidade , pertinacia fazião representação de huma fouce.
de juizo, firmeza no intento, ou AFORCIAR. Violentar, forçar
resolução primeira. alguma mulher para della abusar,
AFICAR. Persuadir com mui corrompendo a sua honestidade. Et
ta força, apertar com razões, e ar qui mulier aforciar, & illa clamando
gumentos, a que de nenhuma sorte, dixerit , quod ab illo est aforciada,
ou só com difficuldade grande se &º ille negat ; det illa outorgamento
de
62 AF AF.
de tres homines tales, qualis ille fue AFRUYTIVIGAR. O mesmo
rit : ille juret cum XII. Et si non ha que Afruitenegar. Afruytiviguedes,
buerit , outorgamento., juret ipse so e chantedes esse herdamento. Doc. de
lus : Óº si non potuit jurare, peite Pendorada do Sec. XIV. -

ad illa CCC. f., & VIIº a Palacio. -- AFUMADO. Terra , ou limite


Foral de Castello Branco de 1213. afumado, isto he, roteado, redu
Doc. de Thomar. V. Cabello. … zido a cultura , aproveitado, ha
AFORAÇOM. Aforamento, Pra bitado. Em Terra de Chaves são da
zo, e tambem arrendamento. -- Coroa os Maninhos, que se rotea
AFORAR. Era antigamente Sy rem fóra dos limites, que chamão afu
nonymo de Arrendar. . . . . ? mados, das Aldêas povoadas. E des
AFORRADO. Arregaçado, en tes Maninhos se paga a oitava par
cuberto , disfarçado, como de al te dos renovos. Foral, de Chaves de
I 514. -- . .
forge, e á ligeira. … . - - -
• -

AFORRAR. Arregaçar, des A FUNDO, adv. Para baixo,


embaraçar-se para caminhar, pôr-se aguas vertentes, ao sopé; quando
á curta, aviar-se, fazer-se prestes, antigamente se fallava de terras, ou
e ligeiro. __ ! , , ### , que corrião a fundo.
AFORTELEZAR. Reparar , oje dizemos de hum sujeito per
fortalecer, augmentar nos lugares feita, e cabalmente instruido em hu
defensaveis tudo o que he obra mi ma Faculdade, ou negocio, que os
litar. Não são os Privilegiados es tem penetrado afundo, isto he; que
cusos das fintas, que os Concelhos nada tem escapado á sua penetra
lanção pera afortelezar , e garnecer ção, e conhecimento. •

os lugares. Alv. d'El-Rei D. João I, AGA. Optativo do Verbo Haver.


nas Cortes de Coimbra de 1398 pa Era mui frequente no XIII., e XIV.
ra a Camera de Moncorvo. Seculo, o dizer Aga eu, Agas tu,
A FORTELEZEMENTO. O Agamos nos, Agades vos, Agão elles :
mesmo que Afortellegamento. V. Ser a que hoje corresponde: Haja eu ,
81llº. * * . . "
Hajas tu , Hajamos nós , Hajades
AFORTELLEGAMENTO.Re vós, Hajão elles. .
aro , segurança, defensão. Pera AGA. Assim chamão os Turcos
afortellegamento da dita Villa , que aos Coroneis dos Janizaros, aos Ge
por bi será mais forte, e milhor aguar neraes, Governadores, e Capitães.
dada do que be. Doc. de Monc., de AGEGELADO, ou Gegelado, a.
1376. : Terreno algum tanto encostado, que

'ÁFOUCINHADO, V. Afinci. por meio de comaros, ou arretos he


nhado. - •

reduzido a pequenos campos, ou


AFRENTAR. Partir, confinar, leiras. Vem do Latino Agellus. E
demarcar. - -
vós devedes a dar esta arrotéa toda
AFRUITENEGAR. Afructar, agegelada apois os trez annos compridos.
reduzir a cultura, fazer, que a ter AGGRAVAR. Pedir, procurar,
ra d'antes esteril, e bravia , seja obter, conseguir, alcançar. E guar
tornada fructifera, e rendosa. Que dem-se de aggravar Privilegios, e En
vós a lavredes, e afrujteneguedes. Pra dulgencias, ou se aggravados forem,
zo de Maceiradão de 13O4. no nos housey reteer; per que podes
JC//Z
AF AG 63
sem em algum tempo hair contra o Cova junto a Lorvão de 1192 da
Estabelicimento, e áacima, ante to do por D. Sancho I. se acha : qui
dalas cousas, costume de nossa Ordem, mutaverit aquam foradizam , pecte
comé direito limpo: be que em este ar LX, solidos: Óº totum istum sir cum
tigo seja demandado o com sentimento, vozejro. E tal era a pena, que de
e a licença de cada hum Mayor: Con via pagar, o que cortasse a agoa a
vem a saber, do Bispo da terra, ou uem com ella andava regando. A
do Papa pelo bem da paz. Carta de grande falta de agoas nativas, com
Filiação de Almoster a Claravalle no que só se podião manter as hortas,
de 1287, traduzida em Portuguez tornava alli indispensaveis semelhan
do mesmo tempo. Doc. de Almoster. tes providencias. * *

. AGINHA.…adv. O mesmo que -, AGOMIA, ou Agumia. Não só


Azinha , ou Asinha : Depressa, ás dão este nome a huma especie de
vinte, sem demora, promptamente, faca, de que usão os Mouros (a
e sem embaraço. Havendo El-Rei que alguns chamão faca de fouce,
D. Diniz, mudado a Villa de San por ser torta para dentro) porém
ta Cruz do Sábor para o sitio da antigamente chamárão Agomias aos
Torre de Mem-Corvo, que antiga #"
, ou mais bem a certos vasos
mente já fora defensavel, e habi e duas azas, e boca mais larga
tado, lhe deo Foral no de 1285 : do que nos gumis se usava, e além
e para engrandecer mais esta sua no disso não tinhão bico. El-Rei D.
va. Povôação , lhe concedeo huma João I. deo por armas a Gonçalo
Feira franca annual, que começará Lourenço de Gomide, seu Escri
quinze dias antes da # e du vão da Puridade (que he o mesmo
rará outros quinze dias depois del* que primeiro , ou principal Minis
la: e isto porque os moradores não tro) Sinco gomis de ouro em campo
podião nas Feiras do mez vender o azul, e por timbre bum dos gomis
seu pam, e gados, e sas merchandias do escudo; alludindo ao Titulo, ou
tam aginha; havendo outras Feiras appelido de Gomide , e daqui a
de mez a redor da sua Villa. El #dos Agomias, ou Gomides.
Rei D. João I. no de 1395 para no - AGOMIL. (Em outros Docu.
brecer mais o lugar da Torre de mentos se chama Vomil) Especie
Mem-Corvo, lhe concede huma Fei de jarro bojudo, boca estreita, e
ra franqueada , que durará desde o bicuda : serve com prato raso para
primeiro de Maio até os quinze do dar agua ás mãos. De cobre seis ago
dito mez , com todas as honras, mys, antre saaons , e britados. Doc.
Privilegios, liberdades, e franque de Pendorada de 1359. Parece que
zas, que tem a Feira de Tranco já os Romanos usárão de vasos, que
so: com tanto, que a dita Feira no representavão os nossos Gomis. No
dito tempo não faça prejuizo 4s outras de 178o por occasião de se fazer a
. Feiras franqueadas d'arredor. E hu Casa do Despacho de traz do Al
ma destas sem dúvida sería a do tar das Almas de Almacave, se des
Azinhoso. •

cobrio hum Sepulcro Romano, es


-

AGOA Foradiça. Agoa de preza, paçoso, e abobedado de tijolo, den


com que se regão as terras , que tro do qual unicamente se achou
della precisão. No Foral de Pena hum vaso de metal amarello , do
fei

64 AG AG
feitio de gomil, cheio de cinzas, afervorar, metter animos, e calor,
e mui gastado do tempo. Os exca Daqui se disse metaforicamente Aguº
vadores, cuidando ser ouro, o que far o ferro: por afia-lo, polindo-o,
brárão, e desfizerão. V. Vomil. A e tirando-lhe a ferrugem, que o de
AGOSTIA. O. Agostinha, Agos vora , assim como a ociosidade ao
tinho, nomes de homem, e de mu preguiçoso. Daqui º •

lher bem conhecidos.


AGOTES. Certas Familias em
#6 Diligente, agil,
vigilante, attento, cuidadoso. -

os Reinos de Aragão, e Navarra, AGUGALA. Lisongeiro, adula


e Principado de Bearne, descenden dor. Ainda hoje dizemos: F. ajou
tes dos Godos, que sem mais cul jou-me; isto he, quebrou-me os ou
pa, que tyrannizarem os seus Maio vidos com lisonjas, palavras vãs, e
res antigamente aquellas Provincias, mentirosas,
são tratados com o maior desprezo, AGUIÃO Norte. Parte do Aguião:
e abatimento, assim nas materias ci parte pela parte do Norte. Vem ab
vís, como de Religião: e até di Aquilome: o Vento Norte, ou a Re
zem delles, que nascem com rabo. gião do Norte.
AGUARDAR. Cumprir á risca, AGUISADO. adject. Raciona
satisfazer inteiramente. Doc, das Ben vel, justo, honesto, conveniente.
tas do Porto de 1318. Teemos que per direito, e d’aguisado
AGUARDAR, Reservar para si. sroder tbeudos a fazer as cousas que
Doc. de Pendorada de 13co. se seguem. Carta d'El-Rei D. Af
AGUARDANTE. O que guar fonso IV, de 1352. Pedir com agui
da, e observa o ajuste, ou contra sado: he pedir com honesta causa,
to, Doc. de Vairão de 1336. honrado motivo, e justificada razão.
AGUARENTAR despezas. Cer He isto muito aguisado : he muito
cea-las, diminui-las, evitar gastos util , racionavel, honesto, e con
immoderados, vãos, perniciosos, e veniente.
superfluos; tomada a metafora dos AGUISADO, adv. De Aguisado:
vestidos, que se arredondão, se agua De proposito , acinte, advertida
rentão, e se lhe corta o superfuo, mente , com advertencia plena, e
e desnecessario. sem a mais leve sombra de inadver
AGUÇA Pressa, cuidado, dili tencia, ou ignorancia.
gencia, presteza, promptidão, fervor, AHINCO. Empenho , grande
actividade. Esto se faça com a mayor força , instancia, afinco. Vem do
aguça que se fazer poder. Carta d'El Verbo Aficar: forcejar. Ahinco: he pro
Rei D. Fernando de 1376. Doc. priamente o forcejamento, que al
de Moncorvo. Vem do Verbo Agu m faz, encostando os hombros,
far. Tambem se disse guça no mes e firmando os pés, como no arrom
mo significado. Ainda não be acaba bamento de huma porta. Difere do
da a Obra, nem bo será tam cedo; Nixo, ou forcejamento para parir» .
segundo aguça, que lhe dam, os que que este o representavão os Roma
della tem carrego. Capit. Espec. de InOS CITl trCS # no Templo
de
Bragança nas Cortes de Lisboa de Minerva, que tendo-se de joelhos,
I439° • com as mãos cruzadas, e fazendo
AGUÇAR. Dar pressa, instar, força nellas, quasi se desbruçavão;
TC
AI AJ 65
representando de algum modo os que o systema feudal se estabeleceo,
trabalhos de hum parto. erão muito usadas, e talvez ex
AIRA-FRAL. Tributo, que se orbitantes estas Ajudadeiras, Adju
pagava nos portos de França; se torios, Subsidior, Ajudas, e Soccor
era ancoragem, ou outro qualquer ros. No meio do Seculo XII. se es
pertencente ás suas alfandegas, não tabeleceo em Napoles, que só em
temos certeza. El-Rei de França man seis casos, e com grande modera
dou entregar aos Mercadores (Portu ão levassem os Prelados Ajudadei
guezes) os averes, que lhes tomárão ra, 1.° Para a sua Sagração. 2. Quan
pela renda da Aira-fral. Doc. da Ca do o Papa os chamasse a Concilio.
mera do Porto de 1487. De Aira, 3.° Quando acompanhassem o Real
Cidade de Flandes na Provincia de Exercito. 4.º Se o Rei os chamas
Artois, poderia esta renda, ou tri se á sua Corte. 5.º Quando fossem
buto tomar o nome. Tambem se cha fóra do Reino em serviço do So
márão Airais, A'reas, ou Ajrálos, berano. 6.° Finalmente; quando o
os areaes, e salinas, ou lugares on Rei se hospedasse em suas casas.
de livremente se pescava, pagando Em alguns Reinos, e Provin
huma certa renda, ou pensão. Tam cias em que mais vogárão os Feu
bem se chamavão A'reas os lugares dos, era trivial o Direito de Auxi
desoccupados, e livres onde os Mer Iio, Ajuda, ou Ajudadeira, ou Ad
cadores podião fazer os seus arma jutorio, que o Vassallo pagava ao
zens para guarda, e segurança das Principe para o aliviar de algumas
suas fazendas , e então diriamos, despezas , que era obrigado a fa
que esta renda era procedida deste zer, ou para defender as suas ter
genero de edificios, que com ella ras, e o seu Povo, ou para recu
ficavão livres , e francos. Vid. Du perar a sua liberdade, ou para man
Cange. V. Airale. ter a sua honra, e das pessoas da
AJADES"Vós. Tenhais vós. Por sua casa. Este Direito de Auxilio
quasi todo o Seculo XV. os tempos humas vezes era Legitimo; isto he:
dos Verbos, que acabavão em ais, ou mandado pela Lei, ou costume, a
em eis, terminavão em ades, ou edes. saber : 1.° Quando o Principe ar
v. g. Façais-Façades: Vendais-Venda mava Cavalleiro ao seu Primogeni
des: Apenoreis-Apenoredes : Deveis to, constituido já na idade de quin
Devedes : Nomeeis-Nomeedes: Scam ze annos. 2.° Quando casava a pri
bareis-Scambaredes: Vendereis-Vende meira Filha, depois que esta havia
redes : Pobreir-Pobredes : Pesoiais completado os sete annos, 3.° Quan
Pesoiader: Dareis-Daredes : Ajais vos do o Principe, sua mulher, ou fi
Ajades vós, & c. lhos cahírão em cativeiro, e havião
AJUDADEIRA. Este foro, ou de ser resgatados.
Pensão he frequente nos Prazos da Outras vezes este Direito era gra
Sé de Viseu : Consistia em alguma cioso, e livre, isto he; procedia de
contribuição que os Vassallos, ou mera liberalidade, não havendo Lei
Emphiteutas deverião dar ao Senho alguma, que tal mandasse; mas só
TIO * alguma despeza, que es a fim de tirar o Principe de algum
te fazia, conforme ao seu estado, vexame, necessidade, ou aperto.
e condição. Em aquelles Paizes em Além destes auxilios talvez se im
Tom. I. I Pu
66 AJ AL
punhão outros, como : para a jor ALÁ. Nesse lugar, lá. Doc, das
nada da Terra Santa : para casar a Bentas do Porto #
I 359.
irmãa do Principe : para fazer, ou re ALA. Cavalleiros da Ala. Or
parar o Castello na Raya do seu Se dem Militar instituida por El-Rei
nhorio para a segurança, ou defen D. Afonso Henriques no de 1 147.
sa da terra : e outros muitos, que ALABARAR. Queimar , con
em Portugal se não vírão, e que se sumir, perecer, denegrir, ofuscar.
podem vêr em Du Cange. V. Auxi Muitos da terra minha se me invia
lium. rom querelar, que peró alguuns ape
Em os Prazos do Mosteiro de lavam dos juizes dos Coutor, e das
Ganfei , e outros da Provincia do Honras dessa terra, que lhes nom que
Minho, se impunha alguma # riam esses dar as apelaçoens pera Mim:
são de dinheiro, ou de galinhas, e que se scondia, e alabarava bi a mha
para Ajuda do fantar d’El-Rei, quan justiça. Carta d'El-Rei D. Diniz.
do este passasse o Rio Douro. Em humDoc. de Grijó.
Tombo da Sé de Viseu escrito pe ALACIR. Vindima, ou colheita
los fins do Seculo XIII., se acha o do vinho, e azeite. He voz Arab.
Prazo de Rocas , ou Rochas em JZ. Pellacill.
terra de Sever com vários foros, e ALAHOVEINIS, Alahobeines,
foragens, das quaes são: huma Spa Alahoem, e Alaphoen. A terra de
doa de XI. costas : por Fogaça tres Alafões no Bispado de Viseu. Na
teigas de milho : de Eiradiga, e de II. P. da Bened. Lusit. Trat. I. C.
Ajudadeira tres Soldos: e Pedida, e VII. está a Doação de Sancho Or
Serviço com os de Sever, a f. 23. Y. tiz, feita no de 865, dizendo nel
- Este era hum dos Direitos insela; que seu irmão Payo Ortiz lhe
paraveis da Coroa , e de que os dera a Villa de Ortiz pro parte mea
nossos Soberanos se não esquecê de Monasterio S. Christophori de Ala
rão , para casar os filhos, ou sus foins, Ordinis Nigrorum S. Benedicti.
tentar a QUlCIT2, Quando este Documento fora legi
AJUNTADAMENTE. Junta timo, diriamos, que sobre as rui
mente, por huma vez, de hum só nas do primeiro fundou João Pecu
lanço. Milhor será servir-vos delles liar o segundo Mosteiro, e ficaria
pouco e pouco , que 4juntadamente. mos certos, que já no Seculo IX.
Doc. de Villa Real de 1446. se chamava Alafões esta porção do
AJUNTAMENTO. V. Gramai Bispado de Viseu. No de 1o7o Xi
dade. mena Garcia fez Doação a Alvito
AL. Frequentissimo nas Escritu Sandezí da oitava parte da Igreja
ras antigas, e ainda continuado nas de Santa Maria de Varzea in terri
modernas, he huma abbreviatura de torio Alaboveinis: e se moveo a is
Aliud, Al não disse: nada mais dis to pro que liberasti me de manu de
se. Ainda se usa em muitos Ada Joanne Arias, qui me volebat concu
gios v. g. Como vires a Primavera, bare sine mea voluntate. Feita a Car
assim pelo al espera. O oficial tem ta no 1.° de Maio. E. M. C. VIII.
oficio , e al, Órc. Tambem usárão Regnante Adfonsus Princeps in Gali
de al, em lugar de em, v. g. al fim: cia, in Bracara Petrus Episcopus in
por: em fim, ou finalmente. Colimbria Sisnandus Alvazir. Man
dan
AL AL 67
dante Alaboveinis Piniolo Garcias. O cima o seu nome no de ro7o: nos
Sacerdote Simdêa a escreveo; e as Doc. de Pedroso se faz menção del
signou na fórma, que se acha Tab. la em outros mais antigos: e então
1. n. 4. Assim se acha neste, e ou em menos de dez annos se fundá
tros Doc. de Arouca: do II., e III. rão Igrejas, e se mudárão inteira
modo nos de Pedroso, e do IV. em mente os nomes?..
hum de Thomar de 1 169. Credat judeus apella;
Daqui se mostra ser arbitraria a Non ego.
E# ia, que Bernardo de Brito ALARA. Abano, abanico, ou le
no II. T. da Monarch. Lusit. Cap. que com que o Acolyto axota as mos
XXVIII. quiz dar ao nome de Ala cas da cabeça, ou face do celebran
fões, dizendo , que conquistando te. Alara una de alvejei. Doc. de
El-Rei D. Fernando I., chamado o Guimarães de 959. Vem de Alare:
Magno, a Cidade de Viseu, o seu Mover o ar.
Governardor Mouro se fez Chris ALARIFE. Architeto, Mestre
tão. Então o Rei Catholico lhe con d'Obras. Ficou da Lingua Arabica.
signou terras para a sua subsisten ALBARRÃA. Chamárão se Tor
cia, entre as quaes se comprehen res Albarrãas nos principios da Mo
dião as que hoje fazem o Conce narchia aquellas em que se guarda
lho de Lafões, que tomárão este vão a bom recado os dinheiros da
nome do tal Mouro chamado Ala Coroa , que sobejavão dos gastos
hun. Não traz Brito mais fiador, que ordinarios. Havia huma em Santa
a sua palavra, e com tudo achou rem, outra em Lisboa, em Coim
sequazes dentro, e fóra do Reino. bra outra, e assim em outros luga
Mas isto parece não tem fundamen res. V. Necrol. Lam. 26. Octob. on
to; porque se de nomes que tem de se diz. Obiit Martinus Petri, di
alguma semelhança havemos de bus ctus Tritico , qui mandavit Capitulo
car as Etymologias de outros nomes; Lamecensi pro suo Anniversario me
muito antes da Conquista de Viseu, dietatem quarundam domorum , que
(que os nossos Chronicões datão no sunt sub porta Castelli, in vico pro
de Io58, e Flores demostra que foi pe, Turrem Alvarranam, &º tenet eas
no de Io57.) lemos em huma Doa Dominicus Punide incartatas. E. 1392.
ção do Mosteiro de Cete, que ho Bem póde ser se chamassem Albar
je se acha no Collegio da Graça rãas de Albarradas, pois se nestas
de Coimbra , entre outras muitas se conservão flores para o olfato,
testemunhas, que nella assignárão naquelas se guardavão moedas pre
no de 985 , Alafum Augadiz - ts. ciosas, e mui suaves para os usos
= E não parece verosimil que ha da vida, e precisões de todo o Reino.
vendo entre nós Christãos chamados ALBARRADA. Vaso de barro
Alafums no Seculo X., quasi hum com azas: parede que se faz de pe
Seculo depois tomasse aquella terra dra secca sem barro: monte de ter
o nome de hum Mouro. Além dis ra, e faxina que o inimigo vai le
to : aquella terra não estava antes vando diante de si, para se apro
sem nome: se mudou por honra do ximar á Praça , e não ser varejado
seu novo possuidor, que nos digão com a artilharia, que nella quebra
como d'antes se chamava, Vimos a a sua furia. V. Abbarrada.
I ii AL
*
68 AL AL
ALBERGAGEM. Direito que os tambem por arrendar alguma cou
Padroeiros tinhão a serem recebidos, sa, ou impôr-lhe qualquer genero
e hospedados pelos Parochos das de Censo, ou Pensão.
Igrejas, de que tinhão o Padroado. ALBERGARIA. Hospital, hos
V. Alvorizar. picio transitotio de pobres, mise
ALBERGAR. Hospedar, reco raveis, peregrinos, passageiros, es
lher, tirar da rua , dar pousada a tropeados, enfermos. E esta he a
hum amigo, passageiro, ou pere noção das Albergarias em Portugal.
grino, seja pobre, ou rico. E di A Hospitalidade para com os po
zia que as Abbadessas, que ante el bres, viandantes, e peregrinos, que
la forom eram Filhas d'algo , e que entre as Nações mais # SC

por devido , e linhagem, que aviam fez , e com razão , admirar entre
com algums Cavaleiros , e Donas, e os Hespanhoes, (se cremos a Dio
Scudeiros , que os albergavam bi , e doro) foi reputada sempre como
lhis davam de comer, cada que bi vi huma cousa do Ceo, cahida na ter
nham. Carta d'El-Rei D. Diniz de ra. A luz do Evangelho aperfeiçôou
1323. Doc, de Reciam. #
estes sentimentos da Huma
ALBERGARIA. Casa, ou edi nidade, mas começando-se já a res
ficio destinado para recolher toda a friar a Caridade desde os principios
qualidade de pessoas que fazem jor do quinto Seculo , em o nono se
nada, e precisão das commodidades vio estabelecido hum pasmoso nú
do somno, mantimentos, e descan mero de Albergarias, e outras ha
so. He o que hoje propriamente bitações cómmodas, para alivio, e
chamamos Estalagem , ou Alber soccorro dos pobres, e desvalidos.
gue, onde o dinheiro indevidamen Por toda a França, Alemanha, e
te se consome, a caridade inteira Terras do Norte não era facil achar
mente falta, e o passageiro mal ac Mosteiro de hum, e outro sexo,
commodado, e pouco satisfeito, sen que não tivesse junto a si huma ca
te cada vez mais penetrantes os tra sa destinada a hum fim de tanta mi
balhos duros da jornada. |
sericordia , e compaixão. Não foi
ALBERGARIA. Direito, que o assim em Hespanha, que opprimi
Senhorio tem de ser hospedado, re da com o pezado jugo dos Sarra
colhido , e sustentado na casa do cenos, só depois, e á proporção,
seu Vassallo , ou Emphiteuta , a ue foi despedaçando os grilhões
quem se apromptão, e á sua equi } seu longo cativeiro, he que nos
pagem, determinados mantimentos oferece huma multidão prodigiosa
em certos dias, na fórma dos Pra destas Albergarias, que destinadas
zos, Arrendamentos, ou Foraes. Es desde logo á manutenção dos po
tas Albergarias, ou Albergadas fo bres, vierão depois a fazer junta
rão demasiadamente conhecidas nes II]CIltC 2 SOTÍC # ricos.
te Reino , debaixo dos nomes de Em os nossos Mosteiros mais an
jantares , Procurações , Collectas, tigos se guardão ainda as copiosas }
Paradas, Serviços, Óºc., de que se Doações, com que os Fiéis, como
falará nos seus respectivos lugares. á porfia, os enriquecêtão. Nellas
E daqui se disse Albergar: não só declaravão, que as fazião para sus
por dar Hospicio, ou pousada; mas tento dos que alli habitassem, Cul
{Q
AL AL 69
to Divino , soccorro dos pobres, a curta vida da primeira, e o tem
recepção dos hospedes, e peregri po , em que a Portugal tornou a
nos. Mas não só nos Mosteiros: segunda , não permittem duvidar
as Albargarias se multiplicárão por mos, que a Rainha D. Thereza es
quaesquer outros lugares , e prin tabelecesse a Barca de Por Deos, e
cipalmente nas terras de algum no a Albergaria no Lugar do Moledo,
me, e junto das estradas, ainda as a da Amarante, e Canavezes.
mais ermas, e desabridas. No de 12oo Miana D. Horracha,
O Conde D. Henrique, e a Pii por authoridade , e consentimento
sima Senhora, a Rainha D. There d'El-Rei D. Sancho I., e da Rai
za, transmittírão na sua Real Pos nha D. Mafalda , e de todos os
teridade as efusões do seu coração outros seus filhos, e filhas fez Doa
enternecido, e os Vassallos se com ção a Mendo Paes, e a sua mulher
ozerão logo á imitação dos seus D. Ermesenda , da Albergaria de
#. or huma Doação feita Canaveses com todos os seus termos,
a Lorvão no de Io97 consta, que o e direitos pro remedio animae D. Re
Presbytero Pedro comprára em Pe gis Sancij &"filiae ejus supredictae Re
na-Cova humas casas para Alberga ginae , Óº etiam pro remedio anime
ria dos pobres, enfermos , e pere meae... Ut vos, Óº filii vestri, ó"
grinos. Por outro Doc, das Bentas nepotes fideliter Deo serviatis pro ani
do Porto se vê, que a Rainha D. mabus vestris, Óº nostris in ipsa Al
Thereza coutára a Gonçalo Eriz a bergaria : Videlicet : colligendo , ó"
quinta de Oseloa , e que de mão recepiendo ibi pauperes, Óº erogando
commua estabelecêrão huma Alber illis helemosinas secundum póssibilita
garia em Meigom frio, junto da mes tem vestram. Assim se lê nos Doc.
ma quinta , de cujos rendimentos de Tarouca, e se mânifesta que a
se satisfarião os encargos da dita Rainha Santa Mafalda já não podia
Albergaria. ser a Fundadora desta Albergaria,
Porém não só isto: as misericor que era velha, quando a Santa es
dias desta respeitavel Princeza avan tava quasi nos principios da sua vi
te passão : são quasi innumeraveis da. E menos podia fundar a d'Ama
os Monumentos da sua Piedade. Nãorante ; pois, segundo os Doc. de
contente com herdar os pobres de Pendorada, no # 1 192 os filhos de
Lamego em todo o rendimento do Gonçalo Mendes de Sousa, e os mais
Grande Souto de Madoens (como Herdeiros da Albergaria da Amarante,
se vê da Carta d'El-Rei D. Diniz fizerão doação della, e da sua Igreja,
na Cathedral de Lamego , datada e Beneficio a D. Toda; dando está
no de 13o I ) fez romper novas es= hum Casal á mesma Albergaria , e
tradas por cima da sua Ponte do hum Mouro para serviço da mesma.
Douro em direitura a Canaveses. Estas Albergarias, (que algumas
Não se me esconde, que a sua boa vezes não passavão de insignificantes
Nora, a Rainha D. Mafalda, e a hospicios, e que pela maior parte
sua Santa Neta Mafalda, que hoje se mantinhão das esmolas, e Lega
veneramos em Arouca, promovêrão dos dos Fiéis, e por isso com o tem
as liberalidades piedosas desta feliz po se extinguírão, ou talvez em al
Eva dos Reis de Portugal; porém guns Hospitaes pela sua tenuidade
SC
7o AL AL
incorporárão) ordinariamente forão ga por morte de seu Pai D. Luiz
Encargos, Pensões, e como Appen de Ataíde, segundo os Doc. da
dices de rendosos Morgados, cujos mesma Camera. Depois o Marquez
Administradores só com esta obri de Pombal, Sebastião José de Car
gação em boa consciencia os pos valho a conseguio, e hoje a pos
suião. E sem fallarmos agora em D. suem os seus Descendentes.
Payo Delgado , (Descendente de Nos Doc. mais antigos da Cida
D. Arnaldo de Bayão, companhei de da Guarda se faz a cada passo
ro de D. Gonçalo Mendes, o Li menção da Albergaria do Monde
dador, e que se achou na batalha # esta era a Albergaria de Ca
do Campo de Ourique) o qual deo adoudi, que já tinha muitos an
principio ao Appelido de Alber nos, quando no de 125o Salvador
garias, (com que tanto se honrão Martins, Conego da Guarda , e
Illustrissimas Casas deste Reino) pe Prior de S. João de Celorico a dôou
lo estabelecimento de huma Alber ao Mosteiro de S. João de Tarou
garia, junto á Igreja de S. Bartho ca, com a quarta parte de todos os
lomeo, na Cidade de Lisboa, a que rendimentos de Cabadoudi, e dez
vinculou grossas fazendas : no de Casaes na mesma terra, que já seu
1 178 dôou D. Bernardo Bispo de Pai havia dôado á dita Albergaria;
Coimbra a Igreja de Carvalho a Do e isto com tal condição: Ut Fratres
mingos Feirol, e a sua mulher D. Be semper provideant dictae Albergariae
lida Paes, que alli instituírão o Mor defructibus prorum decem Casalium,
gado, e Solar dos Carvalhos. Seu dumtaxat in igne, & Lectisterniis ad
filho D. Bartholomeo Domingues, opus supervenientium pauperum com
primeiro Administrador, instituio a petenter; residuo sibifructu eorundem
Albergaria, chamada hoje de San Casalium reservato. Doc. de Tarou
to Antonio do Cantaro pelos annos ca. Estes rendimentos annualmente
de 12o6; e no de 1215 lhe unio, se cobrão; mas as condições de ne
além de outras fazendas, Villa nhuma sorte se cumprem.
Maior , junto á Cercosa quem egº E para não ser infinito: El-Rei
jam olim dedi praefate Albergariae, D. Afonso III. fez Dôação á Ca
declarando que o Albergueiro, ou thedral de Lamego da Albergaria
Procurador } dita Albergaria faça, de Ponte de Lavradio Ilhamacensi,
e disponha de tudo, como melhor cum Ecclesia ipsius Albergariae , Ó
lhe parecer. E para maior firmeza, cum omnibus juribas, Ó" pertinentiis
dá todo o seu poder á Camera de suis jure baereditario in perpetuum pos
Coimbra, para que depois de sua sidendam. E isto para remissão de seus
morte institua, e ponha alli por Ad peccados, e a repetidas instancias
ministrador quem viderit magis ido de D. Pedro , Bispo de Lamego,
neum, ó" utilem de genere meo», vel a quem gosta de fazer desta Alber
tribu. ( Acha-se nos Doc. de Lor aria huma especial graça, porque
vão.) E com efeito no de 1689 ain
da a dita Camera deo Carta de Ad
}# suum posuit in voluntate,
optione_mea. Doc. de Lamego de
ministrador do Morgado, e Alber 1261. V. Verb. Alcaçarias.
garia de Carvalho a D. Jeronymo ALBORE, ou Alvore, es. Arvo
de Ataíde, Conde de Atouguia va re º arvores.
AL"
AL AL 71
ALBUFEIRA. Propriamente fal tum: alias lineas X: Casulas Silineas :
lando, he huma Lagôa formada pe X: alias Casulas XIII: V. de alchas :
las aguas do mar, que o impeto das XI. Seray (al. Feray) cardena: Se
ondas, ou do vento lança fóra dos ptima barragan: VIII. Cardena ma
limites ordinarios, e vão cobrir al raice: IX. vermelia ex ageg: XI. li
gum espaço de terra secca. Daqui se nea cardena, Óº duas planetas urtio
chamárão Albofeiras quaesquer La nes: Oracles XI. & c.
gôas, ou tanques grandes. ALCHAZAR. Ferregial, cam
ALCACER. O mesmo que Al po, ou veiga, em que se colhe fer
chazar inf. Vendião-se alcaceres espi rá, ou cevada verde para as bes
gados com cevada : e segados torna tas, a que ainda hoje no Alem-Té
rão a dar outra novidade: e dizia o jo chamão Alcacer, ou Alcacel. Nos
dono do ferregial, que era sua a no rincipios do Seculo XIII. fez D.
vidade. Foi isto no de 1535, quan endo Pires o seu Testamento, e
do Christovão Rodrigues Azinhei depois de repartir em beneficio de
ro escrevia o Compen. das Chro su'alma muitos bens, deixa ao Mos
nic. de Portugal, que alli o refere. teiro de Alcobaça, onde se manda
ALCACER. Palacio acastellado. sepultar : Alchazar illud, quod lu
Tambem se escreve Alcazar, Alca cratus sum in Saborosa. Doc. de Ta
çar, e Alcacere. Algumas vezes se rouca. Tambem se chamárão Alca
toma pelo Castello, ou Fortaleza zeres este genero de pastagens, e
de huma Praça, na qual ordinaria no singular Alcazer.
mente residia o Governador, Alcai ALCAÇARIAS. Assim se cha
de, ou Castelleiro, e mesmo o Rei, ma hoje em Lisboa o lugar onde se
o Principe, ou Monarcha. O Meiri curtem as pelles. Donde cste nome
nbo Mormandou, que pagassem... pe lhe proviesse, não he cousa averi
ra bum apartamento de Alcacere, que guada: dizem alguns, que neste si
o dito Rei mandava fazer em a Villa tio esteve antigamente o Palacio
de Freixo de Spada Cinta. Doc. de Real no tempo dos Mouros. Se at
Moncorvo de 1376. No Foral que tendemos a que esta palavra he Ara
El-Rei D. Diniz deo a Villa Real biga , diremos, que he huma casa
no de 1 283 com a Rainha Santa grande, e forte á maneira de hum
Isabel, declara que se elle, ou seus Claustro, com muitas casas, e re
Successores houverem de fazer Alca partimentos para os Mercadores alo
cer em Villa Real, devem pôr ahi Al jarem as suas fazendas, e estarem
caide , que o guarde ; mas que este com toda a segurança. Os Arabes
não tenha inspecção alguma sobre os dizem que o Imperador Cesar man
juizes, e justiças, Vozes, Coimas, dára edificar estas casas por todo o
& c. Doc. de Villa Real. Oriente, que delle tomárão o nome.
ALCHAZ, Panno, droga , ou Estas são as Albergarias, a que
tecido, que nós hoje não conhece os Arabes, e Turcos de agora cha
mos. Em huma Carta de S. Rosen mão Cam, ou Camlebam, por Fr. Pan
do # de Dume de 892 ap, Ye taleão de Aveiro no seu Itiner. Cap.
pez Tom. V. p. 424. se lê Cingulos LXXIX, descreve, e diz em summa:
auro gemmatos, duos: alios argenteos He huma casa muito grande, com
exauratos , ex quibus unum gemma mua a toda a pessoa, que nella se quer
aga

|
72 AL AL
agasalhar. Destes Cams, huns estão ALCAÇOVA: Presidio, forta
dentro das Cidades, e Lugares gran leza, Castello. Tambem se acha es
des, e são como Mosteiros, com crito Alcaceva; porém Alcaceva he:
muitas casas , e aposentos: outros Castello Velho, ou Fortaleza qua
estão ao longo dos caminhos, e si de todo arruinada.
fóra dos Povôados : estes não são ALÇA:. Recurso, appellação.,
mais, que huma casa mui grande, aggravo. Consta da Concordata d'El
de paredes altas, e fortes, por den Rei D. Sancho II. com o Arcebis
tro das quaes correm arcos mui altos, po de Braga : Et pro directis suis
em cujo vão se recolhe a gente, fi declaratis non fat alça ad Dominum
cando todo o ambito do meio des Regem. Daqui: Alçar-se: recorrer,
cuberto. Tem duas portas igualmen appellar.
te seguras, que em sendo noite se ALÇADA. O poder , que he
fechão, e só com dia claro se abrem. commettido ao Ministro de Justiça
Em cada meia jornada ha destes com mais , ou menos extensão de
Hospicios, nos quaes se recolheto pessoas, ou lugares, sobre que pó
do o caminhante de qualquer Sei de usar da Jurisdicção, que se lhe
ta, ou Nação, sem pagar cousa al commette. Estas Alçadas forão mui
guma. Em alguns dão pão, agua, frequentes, e por muito tempo usa
mel, e outras semelhantes cousas, das em Portugal, em quanto se não
tudo de graça. Nos asperissimos estabelecêrão as Casas de Relação.
areaes por onde vai a estrada de ALQAR. Appellar, aggravar,
Judéa para o Egypto ha hoje mui recorrer para algum outro Juiz: he
tas destas pousadas, onde se dá agua o mesmo, que levar, ou levantar
de graça, e quanta os passageiros a causa a hum Tribunal superior.
queirão beber, o que no tempo que Daqui derivárão alguns as Alçadas,
Maria Santissima por alli passou não que propriamente são, ou forão co
havia. Foi esta grande obra dos Cam nhecimentos, ou revisões do que os
lebãos de muitos Turcos ricos, e Juizes Ordinarios tinhão julgado;
nobres, &c. Bem poderia ser que absolvendo, ou condemnando a fi
alguma destas casas désse em Lis nal os que estavão prezos, ou cul
boa o nome ás Alcaçarias. pados.
Porém Miguel del Molino no Re ALÇAR-SE. Deixar-se. Alçar
ortorio dos Foros de Aragão, ap. se de buma demanda : não a prose
# Cange. V. Alcazaria, diz com guir, compôs-se com a parte, dei
xar-se della.
grave fundamento, que Alcaçarias
em Hespanha erão os lugares, ou ALÇAS. Gastos contingentes, e
#" ruas onde # só incertos, mas que são indispensa
podião vender , e comprar as cou veis, perdas, damnos, que ordi
sas, que lhes erão permittidas. Que nariamente se experimentão. Nas
muito logo em Lisboa houvesse Al Cortes de Lisboa de 141 o se quei
caçarias, sabendo nós, que antiga xárão os de Santarem, que o Cou
mente não faltárão alli Synagogas?.. del lhes avaliava o pão, e que no
ALCACERIA. Casa forte, Cas dito avaliamento nem lhes tirava os
tello, Casa Real, Palacio. Doc, de Ceifeiros, nem alças , nem soldadas
1229. ap. Du Cange. de manceboº» nem dizimo, nem juga
da a
AL AL 73
da, nem outras despezas. Manda El Villa Real declara El-Rei D. Af
Rei se não avalie, se não o que fi fonso III. que o Alcaide Mór do
car em salvo. Castello, que ali se deveria fazer,
ALCAIDARIA. A dignidade de fosse sempre hum-Cavalleiro Fidal
Alcaide , ou Governador de huma go, natural de Portugal, que vingas
se 5oo Soldos. E El-Rei D. Diniz
Praça, Fortaleza, ou Castello, de
Senhor, ou Presidente de huma Pro no arrendamento, que fez do Cas
vincia , e mesmo de Capitão, ou tello de Celorico de Basto a hum
Cabeça de hum exercito. Martim Annes, metteo por condi
ALCAIDARIA. Tributo , ou ção , que o Alcaide Mór do Cas
Pensão, que se costuma pagar aos tello fosse hum Cavalleiro, ou Escu
:
Alcaides; e tambem, Oficio de Al deiro Fidalgo, que fosse capaz de vin
caide, e Ministro de Justiça, que gar 5oo Soldos. Vid. Cavalleiro , e
prende os culpados, e executa as Pingar 5oo Soldos. Para cuja intelli
ordens dos Juizes , em ordem ao gencia se note : que havia Caval
bom regimen da Républica. No Fo leiros, ou Escudeiros Fidalgos, que
ral de §# , dado pelo Conde D. se intitulavão simplesmente Milites,
Henrique no de 1 1 1 1 se diz: De e havia Cavalleiros, e Escudeiros
azaria nobis Vº" partem: vobis IV", Villãos, e sem Nobreza, que se di
sine ulla alcaidaria. Livro dos Fo zião Cabalarij, ou Milites Vilani. Os
raes Velhos. Em huma Carta d'El primeiros, segundo as antigas Leis
Rei D. Affonso II. ap. Monarch. Lus. de Hespanha, e como Fidalgos de
Tom. III., se lê: Et Pretor perdet Linhagem, podião levar 5oo Soldos
ibi meam alcaidariam , Óº accipiant de qualquer, que lhes fizesse algu-
Justitiam de illo in suo corpore. ma injúria: os segundos, como gen
ALCAIDE MOR. Governador te sem Nobreza, e da sorte dos sim
de huma Praça, ou Provincia. Des plices Lavradores, ainda que tives
ta palavra Africana se fez grande sem posses, para terem cavallos, e
uso em a nossa Monarchia, appli deste modo gozarem de alguns Pri
cando-a principalmente aos que ti vilegios, e isenções; com tudo não
nhão o governo, guarda, e mando entravão na classe dos primeiros,
nos Castellos, e Terras defensaveis, que honravão os seus Solares, o que
a quem chamárão Alcaides Móres para aos Villãos se não permittia. Em at
distincção de outros, que lhes erão tenção a isto ordenou depois El-Rei
subalternos, ou que só erão juizes, D. Afonso V., que os Alcaides Mó
ou Alvazís das Cidades , e Povos. res fossem Fidalgos de Pai, e Mái,
Nascêrão com o Reino os Alcaides e que vivessem sempre nos Castel
Mores: juravão fidelidade nas mãos los; e que falecendo algum lhe suc
do Monarcha, e a mais leve omis cedesse o parente mais chegado, que
são na defensa da sua Praça se cas estivesse no Castello; e quando es
tigava como crime de lesa Mages te faltasse, se faria eleição de Al
tade. Não se dava este cargo senão caide, até que El-Rei provesse,
a pessoas de muita satisfação, hon Era permittido ao Alcaide Mór o
ra, e sangue, e alguns # re nomear, e prover hum Alcaide Me
querião, que fosse Cavalleiro Fidal nor, ou Pequeno, que como Substi
go, que vingasse 5oo Soldos. No de tuto, Capitão, ou Lugar tenente,
Tom. I. K Ser
74 | AL AL
servisse em auscncia do Alcaide Mór. manuteneat eos in bono juzgo... &º il
E daqui nascèrão os Alcaides da va li component rixas inter illos , e non
ra. Ao Alcaide Mór pertencia defen matabunt hominem sine jussu de Al
der o Castello a todo o risco, e tel caide , seu Alvazide Saraceno.
lo sempre provido de gente, armas, ALCAIDE dos Donzeis. Fidal
e munições de boca; e quando sa go, que tinha a seu cargo os Me
hia do Castello, o que nelle fica ninos Nobres , que no Palacio se
va lhe havia de fazer homenagem criavão ; castigando as suas traves
delle. Nos Foraes antigos, e outros Suras, cuidando da sua limpeza,
Monumentos se chamão Praetores em e asseio , e ensinando-lhes as boas
Latim os Alcaides Móres , e sem artes. Nas Cortes d'Evora requerê
muita impropriedade, porque se os rão os Povos a El-Rei D. João II.
Pertores Romanos presidião ás ar ue instaurasse, ou mais bem creasse
mas, e á Justiça, o mesmo prati } novo este importante Ministerio.
cavão os Alcaides Móres, se expres ALCAIDE da Honra. Assim cha
samente lhes não era prohibido; co márão em Hespanha o Magistrado,
mo no Foral de Villa Real de 1 283 que inquiria sobre os crimes, e des
fez El-Rei D. Diniz; não lhes permit turbios, em que as meretrizes erão
zindo mais, que a guarda do Castello. culpadas. Conhecia mesmo dos cri
Para sustento, e manutenção dos mes de adulterio.
Alcaides Móres se applicárão as car ALCAIDE do Navio. Governa
ceragens, as penas d'armas prohi dor , Arraes, Capitão, Capataz,
bidas, as dos que mal vivião, as ou Patrão do Navio, ou de qual
dos excommungados, forças, tabo quer outra embarcação , que anti
lagens, casas de venda; e nos lu gamente se chamavão navios , ou
gares maritimos os das barcas, e náos. No Foral de Lisboa de 1 179
navios , que se carregassem, con se acha : De navigio vero mando, ut
forme as toneladas. Além destes Di alcaide, Óº duo spadalarij, Óº unus
reitos em muitas partes tinhão gros petintal , habeant forum militum. E
sas rendas de Herdades, e de Pro no Foral que El-Rei D. Diniz deo
prios, que os Conselhos applicárão, a Villa Rei no de 1285 , se diz:
derão, e doárão ás Alcaidarias, com De navio ainda mando , que o alcai
o fim de serem mais bem defendi de, e door espadeleiros, e doos proei
dos, e resguardados de seus inimi ros, e huum petintal, hajam foro de
os. Ainda hoje se cobrão estas ren Cavaleiros. E fallando-se aqui dos
# , e outras muitas de açougagens, barcos do Téjo, e do rio Zezere,
pão, vinho , azeite, &c. sem as claramente se vê, que o Naves dos
obrigações, que lhes forão annexas. antigos são os barcos dos modernos.
ALCAIDE. Juiz do Povo, ou ALCAIDE das Sacas.O Meirinho,
Cidade no tempo dos Mouros, e ou Oficial de Justiça, que tomava
principios da nossa Monarchia. Era conhecimento dos contrabandos, e
o mesmo que Alvazil. Acha-se em li# , ou penhorava os contra
andistas.
Sandovalhum Doc. de Lorvão, (que
hoje se não acha naquelle Mostei ALCAIDES de Santa Thereza.
ro) no qual se lê: Christiani ha Assim disserão os Carmelitas Des
beant ruum comitem de sua gente, qui calços os cardumes de piolhos, que
Ila
AL AL 75
na sua imaginação, afligião só os muitas conservão ainda o distincti
pouco observantes, e relaxados. vo de Pedrinhas, sendo mui ordinario
ALCAIDE da Vara. Ministro in o fazerem-nas de páo, assim como
ferior de Justiça, esbirro, que pren os lagares do vinho; e por isso aos
de, cita, &c. de pedra disserão Lagares pedrinhos.
ÁLCALA. Certo genero de al ALCAVALA. Tributo, Siza,
faia , que hoje ignoramos. Regin e ou Direito , que os Vassallos pa
Domnae Sancia dedi omnes alcálas meas, gavão ao Patrimonio Real das fa
acitaras, Óº colchias. Poderiamos in zendas, ou gados que possuião.
ferir, que erão pannos de raz, á Alcavalas, Portagens, e Cibarias são
vista das colchas, e alcatifas, que mui frequentes nos Foraes anti
igualmente deixa a sua filha, a Rai gos. Hoje ficando a Siza em Portu
nha , e Santa D. Sancha, El-Rei gal, Pºº a Alcavala para Castella.
D. Sancho I. no seu Testamento de ALCAYOTE. A. Alcoviteiro, e
12o9 no Tom. IV. da Monarch. Lu Alcoviteira. No antigo Foral de San
sit. Alcalà em Arabico significa Cas tarem ha hum Titulo, que diz:
tello, ou Fortaleza. Nos pannos de Lei, como devem dar péa aos Alcayo
raz ainda hoje se costumão ver não tes, e alcayotas, que alcobetarem ou
só montarias, e bosques, mas tam tras molheres.
bem guerras, gente armada, Pra ALCAZAREL. O mesmo que
ças , e Castellos, que bem póde Alcacer. Em huma Epist. de Innoc.
ser fossem antigamente os princi III. entre os Concilios de Hesp.
piaes objectos, que nestes pannos T.III. p. 424, se lê: In Portugal,
se divisassem, e daqui lhes viesse in Civitate que dicitur, Estora, duos
o nome de Alcalás. alcazarel, vetus & novum, cum omni
ALCALDAMENTO. Direito, hereditate regia, é" aliis pertinentiis.
ou Tributo, que nas alfandegas se Castellum de Goluce, cum pertinentiis
pagava, quando se manifestavão as suis. Se alguem suspeitar, que estes
mercadorias prohibidas , e outras Alcazareis erão Alcafarias, ou Alqua
quaesquer, que se importavão, ou rias, não contenderemos. Porém ad
exportavão do Reino. vinhar agora, que Castello fosse o
ALCALDAR. Manifestar na Al de Goluce , e que a Cidade a de
fandega, a fim de pagar certo Tri Estóra, nos principios do Seculo
buto para o Alcaide, ou Senhor da XII., não he cousa, que possa es
terra, e mesmo para a Coroa. Nas capar á boa critica. Eu me persua
Cortes de Lisboa de 1456 concede do , que o Castello era o de Co
El-Rei D. Afonso V., que todos os ruche, e a Cidade a de Estoj, que
4ue trouxerem as suas roupas vesti sendo ruinas, e vestigios da anti
das, feitas em Castella, que alcaldem, ga, e célebre Ossónoba, no Rei
mas que não paguem Alcaldamento. no do Algarve, ainda tinha nome
ALCANAVY. Linho Canamo.de Cidade por este tempo , quan
Doc. de Moncorvo de 14o7. do os insignificantes Castellos, e
ALCANTARA. Ponte de pe os mesmos. Conselhos assim se in
dra. Depois de expulsos os Mouros titulavão. V. Cidade. -

chamárão os Portuguezes Pontes pe ALCHERIA, Alquaria, ou Al


drinhas as que erão de pedra , e queria. Fazenda do Campo, e Lavou
K ii T?
76 AL AL
ra distante, e alongada da Cidade, Gav. I. Doaç. I. E ali mesmo na
ou Povoação grande, em que ha hu Gav. IV. Doaç. II. se vê huma con
ma, ou outra casa para se recolher a firmação, e mais exacta demarcação
abegoaria. Estas Alquarias, que ainda deste Couto pelo mesmo Rei, em
hoje não perdêrão inteiramente o no Fevereiro de 1183, em que se lê:
me, se nomeárão Villas em as Escri Damus , Óº in perpetuum babendam
turas Latino-barbaras, que entre nós concedimus haereditatem, que Aicoba
se conservão. E nada mais erão, que tia dicitur, & c. Daqui se vê, que
humas quintas mais, ou menos exten foi engano o pôr Alcobaxa, que em
sas, onde os Caseiros vivião com a sua nenhum Original se encontra. Não
familia, pascendo os gados, lavrando, negamos que o piedoso Monarcha fi
e recolhendo os fructos, com que de zesse voto de edificar hum Mostei
vião responder ao Direito Senhorio. ro em louvor da Santa Virgem, e
ALCOBAXA, ou Alcobacha Vil do Instituto de Claravalle, de que
la bem conhecida em a Provincia plenissimamente estava informado,
da Estremadura, e Patriarchado de assim como das qualidades, e vir
Lisboa. Sousa não approvando, que tudes de S. Bernardo , de que já
dos rios Côa, e Baça, que nella se neste Reino havia largas, e anti
ajuntão , se lhe formasse o nome, gas noticias ; pois quando no de
diz, que Alcobaxa significa os car 1 156 entregou D. Thereza Afon
neiros, com alusão aos muitos Ou so o Mosteiro das Salzedas ao Ci
teiros, que a cercão; e que Brito rita , fazendo-lhe as mais piedosas
# as formaes palavras da violencias, para que se obrigasse
Dôação do Couto escreve Alcobaxa por voto , e Juramento a sempre
na Chronica de Cister L. III. f. 328;
conservar alli o Instituto de Cister,
mas a verdade he, que nesta Doa declarou aquelle Veneravel , que
ão , e Couto no de 1 153 diz o muitos annos havia, ele procurára
# , que faz Doação a D. Ber viesse a Portugal, (e não com as
nardo Abbade de Claravalle, e aos revelações, e prodigios que Brito
seus Frades , e Successores de illa nos reconta) a nova Reforma , que
mostra propria Hereditate, quam ba em Claravalle se professava. Assim
bemus inter illa dua Opida nominata consta de hum Instrumento Origi
Lejria , Óº Obidos sub monte Tay nal sem data , (posto que huma
cha, territorio Ulisbonensi discurenti penna mal aparada , e pouco ins
bus aquis in mare. Damus itaque vo truida, lhe pôz a Era M. C. 2. XX)
bis locum ipsum, qui Alcobacha nun ue na Salzeda se guarda Gav. I. m.
cupatur, Ó Testamentum, Óº Cau . n. 1., firmado com o Fiat Pax,
zum de eodem vobis facimus , e isto é? Eternitas, e cujas forças, por in
para honra , e gloria de Deos, e teressantes, aqui poremos: *

da Bemaventurada Virgem Maria de Ego Joannes Dei gratia, quamvis


Claravalle; sub tali Conditione, quod non meritus, vocatus Abbas ... notifi
si hunc locum per incuriam vestram, care volo, quod... Religiosa mulier,
é? absque meo Consilio, me vivente, nomine Tarafia... quamdam fui juris
desertum dimiseritis , nunquam recu baereditarem, que Salzcdas vocatur»
peraturi estis. Assim consta do seu Deo oferre studuit , ut illic Monar
Original , Caixão das tres Chaves, terium construeretur sub Nonna Almi
•• Pa
*
AL AL 77
Patris Benedicti... Porrò hec Regu natis ejusdem loci Testamentum, & Ciu
la, & Ordo Clarae-Vallis Ecclesiae, tum feceramus: ita vobis de eodem Tes
à me jam dudum a Transalpinis par tamentum, ó Cautum restituinus, &c.
tibus advectus , terras istas illustra O grande Mabillon notou de mui
bat. Quod illa mente pertractans, om suspeitosa , quando não fosse in
nibus me capit exorare precibus, qua teiramente falsa, a Carta de S. Ber
tenus relicto eo, quem tenebam loco, nardo para El-Rei D. Afonso Hen
cum Fratribus , qui mecum regulari riques, não só pela diversidade do
ter commorabantur, ad Domum prae estilo , mas tambem pela falta de
memoratam proficirci deberem. Cujus modestia , com que se ostenta fa-2
precibus tandem adquiescens, Óº in vorecido de Deos, e conseguindo
super Ortatu Regis, Óº Reginae, lo victorias contra os Mouros de San
cum illum ad regendum suscepi. Neer tarem , previstas antes que fossem
go Monastica Religio, & Cistercien alcançadas ; como se pôde vêr no
sis Ordo ab illo deperiret loco... Vo Vol. I. das Obras de S. Bern. da
to memetipsum , ac juramento cons Edic. de París de 169o. Col. 371.
tringo... Óº Kartula super Altare em as Notas a f. 91. Eu sei que
imposita, propria manu firmo. esta Carta , sem apparecer no seu
Havia dado lugar a que El-Rei Original, se acha incorporada na
desconfiasse da permanencia dos Cis Doação , que El-Rei D. João IV.
tercienses em Alcobaça, e D. The fez ao Mosteiro de Alcobaça no de
reza na Salzeda, o que elles havião 1642 ; o que parecia decidir pela
praticado em Mouraz, não longe sua authenticidade, a não sabermos,
de Toudela, no Bispado de Viseu, que em materia de facto não são
donde se ausentárão para França, irreformaveis as mesmas decisões,
sem darem satisfação alguma desta que baxão do Throno. Ao menos
partida, estando já alli estabelecidos ha bom fundamento para julgarmos,
por Doação, e Couto Real; como que Brito a interpolou em muitas
diz o mesmo Monarcha na Doação, cousas, introduzindo-lhe principal
que deste lugar fez á Sé de Viseu no mente as duas Clausulas: In cujus
de 1 152 que alli se guarda Original. duratione, &c. Et in divisione redi
Ego Alfonsus Rex Portugalensis, tuum , &c.; pois na III. Parte da
une cum uxore mea Domna Mahalda, Monarch. Lusit, que Brito não che
Regni mei Consorte, Testamentum fa gou a publicar, e que se conserva
cimus vobis Episcopo Visiensi D. Oda entre os Mss. daquelle Mosteiro,
rio, & Sedi S. Marie... de illa Her Codice 359, se acha huma nota de
mida S. Petri de Monte Mouratio, um Fr. Diogo de Castello Branco, que
de jam Testamentum, & Cautum fe tratou, e sobreviveo a Brito, pela
ceramus quibusdam Fratribus Clara qual nos desengana, que ele accres
"vallensis Cenobij. Sed quia idem Fra centára as taes palavras na dita Car
tres , in propria remeantes , eundem ta. Em huma palavra : Se El-Rei
Iocum desertum , Óº penè destitutum D. Afonso Henriques , afiançado
per incuriam dimiserant; illum inso na Profecia do Santo, se persuadí
Titudinem redigi, & elemosinam nos ra, que a duração da Corôa Por
tram destitui, Deo donante, passinon tugueza pendia de nunca se tocar
fuimus. Sicut ergo Fratribus prenomi

nas rendas de Alcobaça, não, du
V1
78 AL AL
vidaria da estabilidade dos Cisterºfundissimas muitas Medalhas, e di
cienses , Portadores de tão myste nheiros antigos, além de muitas pe
rioso Vaticinio, nem os comminaria dras, e metaes, que parecião quei
com a exclusão , e perdimento to mados com fogo de enxofre. Porém
tal do Mosteiro, e rendas de Alco o que mais nos convence de huma
baça, se huma vez, e sem licença Povoação Romana, e mui civiliza
sua , e conselho , o demittissem: da são as Inscripções, e Sepulcro,
Nunquam recuperaturi estis. que no de 178o, por occasião da la
Porém deixando estas cousas a voura , se descobrírão no Campo
quem pertencem, ajuntemos só al de Alcobaça, e no lugar, que cha
gumas antiguidades, que escapárão mão do Valado, donde forão con
a Brito Part. I. da Monarch. Lusit. duzidos ao Mosteiro, em que pre
L. III. C. XI., em que nos conser sentemente se achão, e são asse
vou as que nos Coutos daquella fa guintes: I
mosa Casa elle mesmo havia des
cuberto ; e principalmente da Ci
dade de Eborobricio, (hoje Alfei
zarão) que foi conquistada por Decio D. M.
Junio Bruto, alguns 135 annos antes D VT I A E
que o Redemptor viesse ao mundo.
Com efeito, he pasmosa a mul TAVG INI. F.
tidão de Vestigios Romanos, que A V I° E NA
nesta Região maritima desde #
Gião até a Villa de Paredes, se en S IL VANI, F.
contrão , como Urnas, Vasos Se MATRI
pulcraes, e Lacrimatorios, telhões,
telhas quebradas, escoria de ferro, P C
pedras polidas, *# e Me
dalhas , que nos violentão a crer, \,

Ser CSte # de terra mui fre Por esta Inscripção , que mostra
quentado, e assistido dos Romanos, ser do Seculo de Augusto, de bel
antes que o mar engolisse a mais, lissimos caracteres, abertos em pe
e melhor terra , e as areas acabas dra quasi silice, e mui difficultosa
sem de esterilisar este Paiz de hu de lavrar-se, e por isso ainda mais
ma producção abastada, e Ceo se admiravel o gosto, e arte, com que
reno, e não menos favoravel, e se se aplanárão as suas quatro faces;
uro para as suas embarcações, e sabemos que Aviena, filha de Sil
# Em a noite de 11 de De vano, e neta de Taugino, teve o
zembro de 1774 houve em Alco cuidado, de que se erigisse a sua
baça huma inundação pasmosa, e Mái Ducia aquella Memoria, con
nunca dos seus Habitadores lembra
sagrada aos bons Deoses, Tutelares
da: fez horrorosos estragos em ho das almas dos defuntos. E he bem
mens, animaes, paredes, Pontes, para notar, que o AV dá 3.º linha, o
e caminhos. Junto á ponte, que vai AVI da 4.", e o MA da 6.° estão li
para Leiria, que inteiramente des gados, fazendo cada huma destas syl
truio, apparecêrão em cavernas per labas hum verdadeiro monogramma.
II.
AL AL 79

II.
superficie, que vai do labio á meia
cana da base : nos lados tem dois

Genios, ou Morfeos com os olhos
M IN E R VAe
fechados, e acção de quem está
S A C R. V. M. dormindo , e como apagando hu
I N M E MOR i
ma tocha , ou brandão : em tudo
são semelhantes; e por isso se não
A M. C. A R I si representou senão a figura de hum.
face estão as nove Musas, e no
A E. G. F. QV in meio dellas Apollo, como fazendo
T I L L A E. ".". compasso no seu Coro ; mas a ca
...". NIA...".
beça infelizmente se esmigalhou por
incuria dos conductores.
A I. Musa , (começando do la
do esquerdo) he Clío, chamada a
Esta Inscripção enormissimamen Illustre por se occupar só no que
te lacerada, só nos oferece as le he objecto de fama, e gloria: es
tras, que aqui se põe, ou inteiras, tá cantando, encostada a face So
ou suppridas: foi dedicada a Miner bre a mão. A II. he Erato, ou Ama
va para memoria de Carisia, filha vel, que em lugar de outro qual
de Getulio. Por ella sabemos, que quer instrumento musico usa de huns
ali se adorava aquella Divindade páosinhos, em cada hum dos quaes
falsa, que não seria a unica, que apparecem como tres dentes. A III.
alli recebesse cultos da superstição he Thalia, assim chamada pelo gos
dos Romanos.
to, e deleitação que oferece, e tem
Porém o que nos deixa inteira huma mascara no lado esquerdo. A
mente convencidos da sua Policia, IV. Calliope, a quem deo o nome
e bom gosto he o Sepulcro , cu a suavidade da voz: como invento
ja figura se póde vêr Tab. V. n. ra do verso Heroico , tem debaixo
11. He de jaspe branco, tem no do braço as Obras de Homero. A
ve palmos de comprido, de largo V. Melpomene, que inventou a tra
tres, e de alto dois e meio. Esta gedia, se representa com a insignia
va coberto com pedras mui delga de hum cutelo. A VI. Figura he
das, e não muito unidas, e por en Apollo. A VII. Musa he Terpsico
tre ellas se tinha introduzido algu re, que está afinando o seu Orgão.
ma terra no fundo deste Jazigo, no A VIII. Polythymnia, a quem se
qual se achou huma mui grande ca attribue huma grande copia de Hym
veira, ainda com todos os dentes, nos , e Cantigas: está empunhan
e sete, ou oito mui pequenas, com do hum alaúde. A IX. he Urania,
outros ossinhos já cariosos, e meio ou Celertial, que como Inventora
desfeitos. Igualmente se achárão al da Astronomia está com hum pon
gumas agulhas de prata do compri teiro ensinando a Esfera. A X. he
mento de hum dedo indice. As Fi
Euterpe, ou Flórida, a quem se
guras, que nos oferece, todas são attribue a Comedia: como entregue
prominentes, e ainda mais que de a divertimentos, e farças, se pinta
meio relêvo ; mas todas dentro da com mascara na mão esquerda. A
Fi
8o AL AL
Figura XI, que está patente, e a recido, se verifica em Alcobaça á
XII. no lado , que está occulto, vista daquelle Sepulcro verdadeiro.
representão a Morfeo, e o Somno No mesmo sitio em fim , entre
de ferro, e sem fim. outras muitas, se achou huma Me
Outros muitos Sepulcros se tem dalha do Imperador Constantino, a
achado neste sitio em diversos tem quem dá o Titulo de Restaurador
pos; mas nenhum com o primor, dos Templos. Se daqui se póde in
e magnificencia deste, que ultima ferir alguma vantajosa circunstancia
mente se descobrio. Na Viagem de para a R#
Catholica entre os
Ambrosio de Morales da Ediçº de Habitadores daquella Costa , os
1765 se diz, que o Conde D. Fer mais prudentes o julguem, e nós
nando Ansures jaz ao lado do Evan subscreveremos á sua decisão.
gelho do Altar Mór da célebre Col E passando dos Romanos aos Go
fegiada de Hussilhos , a duas le dos teriamos alcançado com toda a
guas de Pelencia, que elle havia fun segurança os principios, e Origem
dado, em hum Sepulcro de precio do célebre Santuario da Senhora de
sa fabrica, em que se admirão vin Nazareth nos Coutos de Alcobaça,
te figuras de hum estranho primor, se já hoje não estiveramos desenga
e de mais que meio relêvo. Mora nados: que Fuas Roupinho não ex
les se persuade, que he Obra Ro istia no de 1 182, em que se fingio
mana, em que se representa o fim livre do precipicio por intercessão
da Historia dos Horacios, e Curia da Senhora: que a sua Doação he
cios, e que o Conde tendo acha huma mera fabula: que tudo quanto
do tão admiravel Jazigo, se man Brito escreveo d'El-Rei Rodrigo, e
daria sepultar nelle. Não duvida do Monge Romano, seu companhe
mos do pensamento daquelle autho ro, he huma mal tramada Novella:
risado Viajor ; mas se o de Alco que na infeliz batalha do Guadalete
baça com as suas doze Figuras o hum Africano chamado Tareko, es
não excede , ao menos lhe tirou tendeo a mão sacrilega sobre aquelle
a presumpção de ser primeiro sem Ungido do Senhor, e lhe tirou a
segundo. vida : que só no tempo d’El-Rei
poannel , que El-Rei Pyrrho tra D. Afonso IV. se começou a vene
zia no dedo fingio a livre Poesia, rar aquella Santa Imagem em hum
que representava as nove Musas, fraco alpendre , que ainda perma
e Apollo tocando huma Cithara no nece, junto á Villa da Pederneira:
meio dellas ; e isto com tal per que El-Rei D. João II. foi o que
feição da Arte, que se equivocava escapou de ser precipitado no mar
com a mesma Natureza; podendo com o mesmo cavallo, em que mon
se ir de muito longe, só para vêr tava, a não ser soccorrido pelo Al
aquella maravilha. caide Mór de Alcobaça, Nºn, de
Rex Pyrrhus digito gessisse refertur Acathem, Brito Alam , e mais bem pela in
Cujus plana novem signabat pagina Musas, tercessão da Santa Virgem, a quem
Et stans in medio Citharam tangebat Apollo: naquelle horroroso perigo se cha
Nature, non artis opus. Mirabile visu!.. mou: e que huma Devoção indiscre
Mas o que do campo da pedra do ta , e pouco honrosa á Religião.»
annel avançou o atrevimento enca que professamos, occasionou fin
gi
AL AL 8f A

gimentos tão indignos de hum His tras vezes pelos seus Colonos , e
toriador do Reino , e que haveria Caseiros, com a obrigação de cer
desfrutado as maiores venerações, tas foragens, e pensões. Sousa diz,
e applausos, a não estar conven que esta palavra vem do Arabigo Al
cido de pouco exacto, nada escru daiá que significa Povoação, ou Lu
puloso, ou demasiadamente credu gar pequeno, e que Alderis deno
lo. V. Dissert. Histor. Critica de Fi ta o lugar da debulha , ou as ei
gueiredo de 1786, e as Provas da ras, (o que propriamente convem
Fotiva Acção pelo mesmo A. de 1788. a huma Aldêa) e não approva que
ALCOFA. O alcoviteiro, ou al Bluteau a derive do Grego Aldai
coviteira , o que serve de media neim , que val o mesmo que aug
neiro , acompanha, e encobre as mentar, e accrescentar; porque nas
torpezas alheias. Aldêas crião os rusticos o gado, se
ALCORCOVA. Assim chama meão as terras , e cultivando-as,
vão no Sec. XIII. ao fosso dos val accrescentão para os Senhores dellas
lados, com que na Estremadura, os pães, os legumes, e outros fru
e Alem-Téjo tapavão os olivaes, tos da terra. Porém , a meu vêr,
vinhas, campos, e outras quaesquer quando os Arabes entrárão em Hes
fazendas. Do antiquissimo Verbo panha já nella achárão o nome de
Carcabear : abrir fossos , fazer ex Aldêa ; pois nas Leis dos Longo
cavações, ou vallas: se disse Alcor bardos se faz larga, e repetida men
f0'Uúl, -

ão de Aldios , ou Aldiões , assim


ALCOUCE. Casa em que se dão como de Aldias, ou Aldianas, que
cómmodos para lascivos commercios. erão huma especie de servos, e ser
Deriva-se do Arabico Alcoued: alco vas, restituidos já quasi á sua in
viteiro. Alcoued vem do Verbo Cada, teira liberdade, e de quem seus amos
que significa guiar , acompanhar, se intitulavão Patronos, e não Senhores.
ou entregar , acompanhando algu Estes servos vivião no campo em par
ma pessoa a outrem. } ticulares, e separadas habitações,
ALCOUCEZ, ou Alcovez. Ven ou alquarias, a que chamavão Al
to do Sul. dearicias, as quaes se vendião com
ALCOUÇO, ou Alcouso. Sul, as mesmas fazendas, e possessões,
á banda do Sül. Doc. do Sec. XIV., em que elles se mantinhão, e de
e XV. ue pagavão certas Pensões ao seu
ALDEA, e Aldeola, ou Aldééa. # Daqui, se de todo me não
Casal, quinta, herdade, Villa, ou engano, he que procedeo o nome
granja, constante de huma casa de de Aldêa, que com o tempo se to
lavoura, ou abegoaria, em que se mou em significação mais ampla,
1ecolhão os frutos do campo, (que chegando a entender-se hoje por
por isso tambem se chamou Cellei Aldêa hum Povo, pequeno sim, mas
ro) e de algumas terras, ou pro Senhor das suas casas, e fazendas.
priedades rusticas , já continuadas Com tudo não era assim nos pri
de huma certa demarcação a den meiros Seculos da nossa Monarchia:
tro, já discretas, e separadas hu então se entendia por Aldêa o que
mas das outras , fabricadas humas os Portuguezes estabelecêrão depois
vezes pelo Direito Senhorio, e ou quando entrárão no Brasil; pois se
- Tom. I. gun
82 AL AL
undo o mesmo Bluteau no Sup do Afonso Gato, e de D. Crraca Gon
plem. V. Aldêa: nas terras dos Ca falves, eu prestamento, e em dias da
rijós a cada casa , ou palhoça sua vosa vida a tansocamente, e non mais,
chamão Aldêa; e Fernão Guerreiro a nosa Aldêa de Gradiz... E á vosa
no L. IV. das cousas do Brasil, pag. morte deve esa Aldêa, que vos nós da
199, diz: Trinta e sinco casas são mor... a ficar livre, e quite, em paz,
trinta e sinco Aldêas. Ora os Por e em salvo a nós, e a dito noso Moestei
tuguezes que descobrírão o Brasil ro... E eu sobredita Sancha Fernan
no de 15oo derão os nomes ás cou des recebo da vosa mhaão Abbade Con
sas daquelle continente, segundo a vento, e Moesteiro a dita Aldeea...
linguagem da sua Pátria : e como E despos minha morte deve a ficar a
esta por todo o Seculo XV., e an dita Aldeea... Com todas sas perten
tecedentes, chamasse Aldêa a huma fas, e bemfeitorias, que eu hifezer,
só casa rural: com muita proprie é…c. Doc. de Tarouca. No de 145 1
dade se chamou no Brasil Aldêa , ainda se chama Aldêa este Casal no
ainda a huma só palhoça. Prazo, que delle se fez a Fernão
Innumeraveis Documentos cons Martins. Porém em outros Docu
pirão nesta verdade : allegaremos mentos daquelle Mosteiro se inti
hum só para exemplificar os mais. tula: Herdade, Granja, Villa, Quin
Reinando D. Sancho I. adquirio o ta, Propriedade. V. nestas palavras,
Mosteiro de Tarouca humas qua que todas são Synonymas. Em fim:
tro ou sinco peças de terra, e huns de qualquer , que vai para a sua
cazebres, e curraes, que forão de quinta, que muitas vezes está soli
Garcia Pequeno, no Lugar de Gra taria, e não tem mais Povoação que
diz : a estas insignificantes fazen a sua abegoaria, se diz com proprie
das chama Celestino III. Granja de dade : Fuão foi para a Aldêa : está
Gradiz na sua Bulla de Confirma na Aldéa : anda-se divertindo na Al
ção de 1 193. No tempo d'El-Rei D. déa: gosta muito da sua Aldéa. E is
Affonso II. nada mais adquirio aquella to não he prova; do que algum dia
Mão morta ; mas no d'El-Rei D. se tomou por Aldêa ?..
Sancho II. alguma cousa se ampliou ALE. Palavra de regosijo, con
aquelle Casal; pois, se achou_pe tentamento, e alegria. No dito logo
las Inquirições d'El-Rei D. Afon estavom jugando, e fazendo muita fes
so III, que constava de humas qua ia , e alé. -

torze Coirellas, entresachadas por ALEALDAMENTO. Juramen


outras muitas fazendas , que erão to, que se dava na Alfandega de
proprias dos moradores daquelle Po como era precisa, e necessaria pa
vo, onde não adquirírão, depois de ra os gastos de sua casa, e fami
1258 nem ao menos hum só pal lia alguma mercadoria, que se ha
mo de terra ; segundo pelo Foral via de gastar naquelle mesmo an
de Aguiar do mesmo anno lhes foi no. A isto chamavão Lealdar, e da
prohibido. Ora, este pequeno Casal qui Alealdamento. No de 1538 se pas
deo em Prestimonio o dito Mostei sou huma Real Provisão para a Ca
ro a D. Sancha Fernandez no de mera do Porto, em que se manda cum
1316, dizendo : Damos a vos D. prir á Letra a dos Alealdamentor, que
Sancha Fernandez , filha de Fernam foi geral para todas as Alfandegas.
• A

+
AL AL 83
ALEIVE. Accusação, ou teste pa, cubertor de láa, que ainda ho
munho falso. je em Hespanhol se diz Alfamar.
ALEIVE. O mesmo que Aleivo No de 1267 fez D. Thereza Pires
sia. Maldade commettida atraiçoa o seu Testamento, em que deixa á
damente, com capa, e mostras de Salzeda quatro Casaes: Et mando a
amisade. V. Omezio. mia mua, Óº unum rocinum, ó meum
ALEIVOSA. Assim chamárão, Maurum, & vasum de plata, Ó meum
como por antonomasia da maior trai lectum cum una cocedra, Óº duos chu
ção, á mulher adultera, e traido maços, Óº unum faceiróó, Óº una col
ra da fidelidade , que devia a seu cha, Óº unum alfanbar. Doc. das Sal
marido. No Livro dos Foraes Ve zedas. • •

lhos se acha o de Freixo de Spada ALFANBAREIRO. Oficial, que


Cinta por El-Rei D. Afonso Hen fabríca, e se occupa em fazer co
riques, e sua mulher a Rainha D. bertores de felpa. E fobão Annes
Mafalda no de 1 152 ; no fim do Alfanbareiro, morador em a dita Vil
qual se acha de outra mão, e como la de Santarem. Carta d'El-Rei D.
Apostilla o seguinte: Toda a mulher João I. de 1395. Doc. de Tarouca.
de Fresno, que acharem cum marido ALFANDEGA. Os Arabes, e
alieno, queymena por aleivosa, e to Orientaes lhe chamão Alfandáqua,
mem todo suo aver o Concelo pera o e he propriamente hum grande Hos
Castello: aquel, que acharem com ela picio, ou estalagem segura, onde
p. X, maraved, pera lo Castello. V. os Commerciantes Estrangeiros se
Hervoeira. recolhem com as suas mercadorias.
ALEIVOSO. O traidor, o que Nestes Lugares ordinariamente se co
faz mal sub côr, e pretexto de ami brão os Direitos Reaes: e neste sen
Sade. tido se disse em Portugal Alfande
ALELI. Flor de goivo bem co ga: huma casa pública com seu Tri
nhecida. bunal privativo para cobrar os Di
ALEVANTO. Alvoroço , mo reitos das fazendas, que entrão, ou
tim, estrondo, descomposição de sahem. Todas as Alfandegas do Rei
palavras, ralhos, disputas, conten no estão subordinadas á de Lisboa.
das. Nom facam hialevanto nenhuum, ALFANEHE. De huma herda
mais que assersegadamente demandem, de, que se vendeo no de ro48 nos
e defendam o seu Direito. Cort. de consta , que foi a preço hum ca
Santarem de 1361. vallo de trezentos soldos , Óº una
ALEVE. O mesmo, que Aleive. pelle alfanehe. Doc. de Pedroso. Em
ALEVOSO. O mesmo, que Alei Du Cange se achão Alfanegue, e Al-.
fanez: o I. em hum Doc. de 978.
voso: he mui frequente nos Docu
Lectos cum suos tapetes... Óº fate
mentos Latino-barbaros dos princi
pios da Monarchia. •

las alfanegues: e o II, em outro de


ALFAGEME. Oficial, que com 1149. Praeter fulcra serica, & coo
põe 2 ou guarnece espadas. pertorium unum de Alfanez. E não
ALFAMA. Couto, refugio, asy sabendo que qualidade de pelles es
lo. Daqui: Lugar de Alfama. Berg, tas fossem , conclue : Vox videtur
origine Arabica. Não será pois gran
diz ser: Junta de Consistorio.
ALFANBAR. Cubertor de pa de desacerto deduzirmes Afanehe da
L 11 Ara
84 AL AL
Arabico Alphenie , que val o mes gar cerrado com sebes, ou rama
mo que alvo, e do Verbo Fenique, das , onde estes animaes se reco
que significa metter na boca cousa lhem: Curral, posilga. Deriva-se
fina, ou delgada. Donde os Portu do Verbo Arabico Fazara: apertar,
uezes disserão Alfenim, não só a segurar , restringir. E daqui Alfei
# pequeno junco de assucar mui zar : o páo, que segura as armas
to alvo, e fino; mas tambem a hum da serra. Item : mandamos, que to
menino muito branco, e delicado. dollos Porcariços, que trouxerem por
Parece logo que os antigos chamá cos no campo, dem eles a seus Senho
rão pelles de Alfanez, ás que erão res ou (os) sinaes deles: e os que os
muito brancas, e finas, das quaes trouxerem no Sovral, outro si, dem
usavão para roupas de cama, e de do Alfeire recabedo, como se os trou
vestir. Os Hespanhoes chamão ho avessem no cham. E os bacoros , que
je Alfaneque a qualquer cobertor de trouxerem no Sovral, de D. cabeças,
papa, ou láa; alludindo sem dúvida se ende algums perderem, perdoenlbis
ás antigas pelles, que pela maior ende XX. cabeças: e dos outros todos
parte fizerão as suas roupas de cor dem ende recabedo a seus Senhores.
po, e cama, naquelle bom tempo, Cust. e Posturas d'Evora de 1264.
em que a parcimonia reinava, e o ALFEIREIRO. O que segura
faustoso luxo se desconhecia. Ao Al va, e mettia no Curral, ou estan
fenim chamão nas boticas Alphaenix. cia nocturna as vaccas, ou porcos.
ALFAQUEQUE , e Alfaqua Item: mandamos, que dem em Solda
que. Homem de boa verdade, des da ao Majoral das vacas , e ao Al
tinado para Resgatador de Cati feireiro, e ao Pousadejro senhas vacas
vos, ou Libertador de escravos, e paridas, e aos outros mancebos senhas
prisioneiros de guerra. Tambem se juvencas prenhes. Item mandamos, que
toma por Paisano, ou Correio. No dem em Soldada ao Alfeireiro, e ao co
Codigo Alfons. L.V. it. 49 se diz: nhecedor dos porcos : a cada hum de
Nom façam alfaqueques ssem manda les VII. marab. , e duas porcas , e
do do Corregedor, e acordo dos homens bum marrão, e VII. leitígas & c. Ibid.
bońs. ALFELOEIRO. O que fazia do
ALFAQUI. Os Arabes chamão ce de qualquer qualidade. Hoje cha
Alfaquís aos seus Sacerdotes, e Sá mamos Alféloa ao doce de assucar,
bios da Lei. ou melaço posto em ponto. Por hu- .

ALFARÁS. Cavallo generoso, ma Lei d'El-Rei D. Manoel de 1496


e exercitado na guerra. Daqui Al se determina, que não haja Alfeloej
fario: o cavallo, que anda com ar ros, e que pena haverão. Delles tra
rogancia, e desusadas altivezes.Tam ta a Orden. nova , e antiga L. V.
bem se chamárão Alfarazes os Ca tit. Io1. , ,

valleiros, destros, e bem montados. ALFENADO. Enfeitado, me


ALFEIRE. I. Rebanho, fato, lindroso , e que com desdem não
manada de qualquer especie de ga permitte que lhe toquem nos ves
do. E daqui Alfeireiro: o Pastor, tidos. Vem de Alfena, que he hu
que o guarda. ma planta de fiores mui cheirosas,
ALFEIRE II. Receptaculo de com que os Orientaes , principal
porcos, com cancellas ao redor: lu mente mulheres, e meninos, na oc
* * * Cal
AL AL 85
casião das suas Festas, untão as achão dous Oficios de Alferes: o I.
mãos, e os pés, e depois os esfre só como Oficio Palatino, ou Ho
gão com azeite, com que ficão de norario: o II. com actual exercicio.
huma côr vermelha por quinze, ou A este pertencia levar a Bandeira
vinte dias : e a isto chamão Alfe Real no Exercito, em que o mes
nar : Tingir com pós, massa, ou mo Rei se achava; mas não a po
agua das fiores de Alfena. Dos Ara dia desenrolar sem Ordem expressa
bes nos ficou esta palavra, ou mais do Monarcha ; e desenrolando-a,
bem nos derão a sua origem. todos os Alferes particulares deviáo
ALFERAZ. Vid. Alferes. Em hum soltar as suas. A occupação, e car
Instrumento escrito por D. Julião, go daquelle, que propriamente era
Cancellario d’El-Rei, no de 1195 Alferes Mór do Reino, consistia em
pelo qual consta, que o Padroado levar a Real Bandeira nas Cortes,
da Igreja de Abiúl pertence a Lor Pactos , e Juramentos dos Princi
vão , se acha entre as mais teste pes, e Soberanos : distinctivo , e
munhas.= Ts. Gundisalvs Menendi Al honra, que ainda hoje gozão. Pa
feraz. Doc. de Lorvão. rece que nos principios da Monarchia
ALFERES. Dos Arabes nos fi não havia mais que hum Alferes Mór,
cou esta palavra , que quer dizer a quem estes Ministerios, e outros
Cavalleiro. E porque a Bandeira, ou competião. Com efeito as suas Pree
Estandarte Real ordinariamente se minencias erão tantas, que reparti
entregava a hum Cavalleiro honra das depois pelos Oficios de Condes
do, generoso, e bem montado, e tavel, e Marichal vierão a formar es
que # a não largasse no fu tes dois grandes Postos.
ror da peleja, derão os Hespanhoes Dizem, que D. Fafez Luz, que
o Titulo de Alferes ao Oficial, #de França acompanhou a Portugal
a pé, ou a cavallo leva o Estandar o Conde D. Henrique, fora o seu
te, ou Pendão Real. Entre os Ro primeiro Alferes Mór. No de 1 1 12
manos havia Signiferos, Aquiliferos, entre os mais Confirmantes na Doa
e Vexilliferos , que erão mui dife ção do Couto á Sé de Braga se acha
rentes dos Antesignanos. Estes pre Pelagio Soares Alferes do Conde
cedião o Labaro, Estandartes, e Ban Pelagius Suaris , Vexillifer Comitis
deiras, empunhando hum pequeno Conf. Nos Doc. de Lamego se acha
Sceptro, ou Bastão: aquelles leva a Doação de Moçamedes pelo Infan
vão arvoradas as Aguias do Impe te D. Afonso Henriques ao seu gran
rio, e as mais Insignias de Legiões de amigo Fernão Pires : e entre os
Romanas, como diz, e mostra com de Lorvão se acha a Confirmação
belas estampas Jacob Lauro no seu dos seus quatro Coutos pelo mes
-Antique Urbis Spendor. Em Hes mo Infante: em ambas confirma Fer
panha conservando-se o Ministerio, não Cativo , Alferes no de 1 133.
mudou-se-lhe o Appellido. Não foi Fernandus Cativus Alferes. Conf.
do Latino Aquílifer, mas sim do Ara Não havia uniformidade nas as
bico Alfares, que se formou o no signaturas dos Alferes Móres por
me de Alferes , que já no Seculo aquelles tempos: humas vezesse in
XI. era demasiadamente conhecido. titulavão simplesmente Signifer ou
ALFERES Mór. Em Portugal se tras Signifer Regis, Regis Signifer,
Si
86 AL AL
Signifer Curie, Regis Vexillifer: de Hisp, Sagr. T. XXXV. f. 27, e Argo
que seria facil adduzir muitos exem te T. III. f. 418.
plos, com que se enchesse a defei ALFITRA. Hum dos quatro Tri
tuosa Lista, que o Padre Lima nos butos, que os Mouros conquista
oferece na sua Geografia Historica. dos, e ainda não convertidos, pa
Advertirei só de passagem, que ha gavão aos Reis de Portugal, que
vendo El-Rei D. Afonso Henriques era a Décima dos seus gados. Além
estabelecido Casa com todos os Of deste pagavão tambem o Azaqui,
ficios de Palacio a seu Filho o Rei que he a Décima de todos os fru
D. Sancho, alguns annos antes do ctos das terras : o Tributo de Ca
de 1 169, neste se acha, que o Pai beça, ou Pessoal que se pagava no
tinha por Alferes Mór a D. Fernan primeiro de Janeiro: e finalmente a
do Afonso , e seu filho a D. Nuno JOuarentena , que era de quarenta
Fernandes : consta da Doação que hum de tudo quanto possuião. No
ambos fizerão a D. Sancha Paes de de 1 17o El-Rei D. Afonso Henri
certas Villas em terra de Guimarães, ques , e seu filho o Rei D. San
onde os Confirmantes assignão des cho, derão Carta de Segurança aos
te modo: Mouros forros de Lisboa, Almada,
comes Velascas Curie Regis Alfonsi Dapifer.Conf. Palmela, e Alcacer do Sal, para
Fernandus Alfonsus Regis Signifer. . . Conf. que nem Christão, nem Judeo lhes
Petrus Fernandi Regis Sancis Dapifer. Conf. podesse fazer mal: e que podessem
Nuno Fernaudi ejus Signifcr. . . . . Conf.
d’entre elles eleger hum Alcaide,
Assim se lê originalmente nos Doc. que decidisse os seus negocios, e
de Lorvão, onde igualmente se con contendas; impondo-lhes os Tribu
serva a Doação de Abiúl, que a es tos annuaes: hum maravadil por Ca
te Mosteiro fizerão no de 1 175 El beça, depois que podessem ganhar
Rei D. Afonso com sua filha D. a sua vida: Alfitra: e Moque: (que,
Thereza, e o Rei D. Sancho com parece ser a quarentena) e a Dé--
sua mulher D. Dulce, com a seguin cima de todos os seus trabalhos;
te assignatura: (que era o Azaqui.) E que amanha
rião as vinhas da Coroa : e que ven
Atenendas Gensalvi Regis Sanci:Signifer, . Conf.
derião os figos, e azeite d'El-Rei
E não sendo de presumir, que El pelo preço da Villa. Esta Carta con
Rei D. Afonso não tivesse seu Al firmou depois a Rainha D. Dulce
feres: diremos, que ao mesmo tem com suas filhas a Rainha D. The
po havia dois Alferes Móres em hu reza, e a Rainha D. Sancha, e D.
ma só Corte. Sueiro, Eleito de Lisboa : (o que
ALFERENA. O Estandarte , não poderia ser antes de 1 18o.) E
ou Bandeira , que o Alferes cos finalmente a confirmou El-Rei D
tumava levar na occasião da bata Affonso II. no de 122o. Livro dos
lha, ou qualquer outra Expedição Foraes Velhos.
militar. ALFOMBRA. Tapete, alcatifa.
ALFETÉNA, Alfetna, e Alfe Os Hespanhoes pronuncião Albom
chna. Acha-se em muitas Escrituras bra.
do Seculo X., e XI. por hostilida ALFONSIS. Erão moedas de ou
de , guerra, contenda. Vid. Risco ro, prata, ou cobre: mandou-as cu
nhar
AL AL 87
nhar El-Rei D. Afonso IV., de se lê: Mandavimus iterum ut in Le
quem tomárão o nome : tinhão de gione , seu omnibus caeteris Civitati
huma parte o Escudo do Reino, e bus, Óº per omnes alfoces, habeantur
da outra a Coroa Real, e o nome judices electi, qui judicent causas to
de Afonso, por baixo, e algumas tius populi. He frequente esta voz
de cobre tinhão huma Cruz de Mal nos Doc. do Sec. X., e XI. : seria
ta. Estas valião pouco mais de hum facil derivá-la do Arabico Alhorra:
real dos que hoje correm : as de cousa livre, e sem sujeição; atten
prata valião quasi hum tostão, e ho didas as liberdades , que os habi
je o seu pezo he de quarenta réis: tantes dos Alfozes em grande parte
*

as de ouro valião pouco mais de OZ2VaO.


quinhentos réis. Batêrão-se estes Di ALFRESES. Alfaias , e móveis
nheiros Alfonsins com consentimento de huma casa. Calças, Alfreres, es
do Clero, e Povo , e valião cada pecias, bacias, agumys, e outras cou
hum doze dos que antes corrião. sas, que tragem pera si. Carta d'El
ALFORA , ou Alforra. Ferru ei para o Almoxarife do Porto,
gem que dá nas searas, e as con no sobre
de a1 352.
liberdade dos Mercadores, •

somem, e esteriliza. E que elles se


obrigavão a pagar a dita quantia em ALGÃNÁME. O principal pas
cada hum anno , ainda que succedão tor, e que toma sobre si a obriga
tempos desvairados , assi porezão de ão de conservar , e augmentar o
trovoadas, chuvas, nevoas, mangra rebanho: he superior ao Zagal, Co
mella , alfora, pulgão, bicho, & c. nhecedor, Pousadeiro, e outros infe
Prazo do Sec. XV. riores criados. Mandamos que a todo
ALFORRA. V. Alfora. los alganámes , os que com Senhores
ALFOUFE, Alfoufre, Alfovre, morarem ao rabadam , dem por Sol
e Alfouve. Assim chamavão, e ain dada XX. Cordeiras, e VIII. mara
da hoje chamão na Provincia do Mi vid: E outro si , que dem ao Conke
nho , a hum pequeno pedaço de cedor, e ou Pousadeiro, e aos outros
terra. Quatro Casaes, e hum alfoufe milhores mancebos da pousada a só es
de terra, e huma vinha , e duas lei ter , dem em Soldada VII. marav. ,
ras de lavrar pão, e hum chão. — Deº e XV. Cordeiras : e aos de só estes,
lhe hum alfouve de terra. em como poderem milhor mercar : e
ALFOZ, (e no plural Alfozes, estas Soldadas sejam em cada anno...
Alfoces , e Albobzes.) Concelho, It : mandamos , que os Algandmes re
Julgado, Commarca, Beetria, Juris cebam a seus Senhores os carnejros
dicção , ou Castello, que vivem, veudros por senhos maravidis : e os
e se governão pelo seu particular carneiros novos por XII. XII. soldos.
Foral, usos, e costumes, situados Costum. e Posturas d'Evor, de 1264.
em terras montuosas, e por isso mais no Livro dos Foraes Velhos.
livres, e isentos dos serviços, e con ALGÁRA, Algarú , Algaro,
tribuições, que respeitão a toda a Algarada. Expedição militar, com
Républica, ou Monarchia. Estes bate, conflicto, contenda, assalto,
Alfozer ordinariamente não consti briga, peleja, refrega. Dizem, que
tuiãe mais que huma Parochia. No vem do Arabico Gazúa - que he
Conc. de Leão de Io12. Can. 18. convocar gente para a guerra, que
SC
88 AL AL
se faz em defensa da Religião, a Doc. acima se tomava Algára nes
que os Sarracenos chamão Guerra te sentido, vendo que sempre se
Santa : e neste sentido correspon separa da lide, choque, ou batalha.
de á Cruzada dos Christãos. No Fo Dos cavallos, pois que os nossos
ral de Evora de 1 166 determina El tomassem aos Mouros, ou na acção
Rei D. Afonso Henriques, que om de pelejar, ou que ficassem atola
mes cavalos, qui se perdiderint in al dos nos lugares pantanosos, he que
gara, vel in lide, primus erectis cos o Rei, ou Senhorio da terra devia
sine quinta. E no de Penamacor por receber a quinta parte , depois do
El-Rei D. Sancho I. no de 1 186 se primeiro, que ficaria para quem o
lê : Milites qui fuerint in fossado, tomasse. O que não for deste pa
vel in guardia , omnes Caballos qui recer abunde no seu sentido , que
se perdiderint in algara, vel in lite, eu não contendo.
primum erectetis eos sine quinta, Óº ALGARAVIA. Cousa do Occi
postea detur nobis quinta directa. No dente, a que os Arabes chamão Al
de 12 13 derão os Templarios Fo garbía. E porque a antiga Turdeta
ral a Castello Branco, em que di nia ficava ao Occidente, lhe cha
zem: Et omnes Militer, qui fuerint márão Algarb, que nós corrupta
in fossado, vel in guardiam, omnes ca mente dizemos Algarve. E como os
valos, qui se perdiderint in algara, Sarracenos introduzírão neste Paiz,
vel in lide, primos ereccetis eos sine e nos mais de Hespanha a sua Lin
quinta, Óºpostea detis nobis quintam gua, que os Hespanhoes bem pou
directam. Assim consta do Livro dos co, e quasi nada, percebião, ficou
For. Velhos, e dos Doc. de Tho se chamando Algaravia , não só a
mar. Ainda no de 1229 nos ofe Linguagem dos Arabes, mas tam
rece Brandão no T. V. da Monarch. bem outra qualquer confusa", em
Lusit. huma Carta d'El-Rei D. Di baraçada, e quasi imperceptivel. Em
niz, em que lêmos : Omnes Milites, huma Carta de Arnaldo Arcebispo
qui fuerint in fossado, vel in guarina de Tarragona para Benedicto XII.,
de cavallos, qui se perdiderint in al então Presidente na Igreja de Deos,
gara, vel in lida, Óºc. Ap. Du Can que vem no Tom. III. dos Concil..
ge. Daqui se vê ser Algara , pro de Hesp. se diz : Plures rescientes
priamente falando, hum piquete, Orationem Dominicam, Óº scientes lo
ou partida de soldados de cavallo, qui Algaraviam, seu Sarracenicé, cºc.
que sahião a correr os campos , e ALGARISMO. O número , ou
terras dos seus inimigos. letra numeral. Vem do Grego Ari
ALGARA.Atoleiro, barranco, sor thmos, que tem a mesma significa
vedouro, paúl, concavidade subterra ção, e donde veio Arithmetica, que
nea, cova, tremedal. Os Arabes lhe he a Sciencia dos números. Todas
chamão Algar do Verbo gára: Sub as Nações tiverão desde os seus prin
mergir-se, ir ao fundo. Ainda ho cipios certos caracteres, com que fi
je chamão os Portuguezes Algares guravão os números; porém o tem
ás cortaduras dos montes, e a qual po , que tudo acaba, nos invejou
quer outra profundidade onde se pela maior parte a noticia das suas
ajuntão, e escondem as aguas. Se fórmas, e figuras. Do Grego Pi
ria facil o persuadir-mo-nos, que nos thagoras, (que aprendeo dos Per
SaS »
AL AL 89
sas, e Phenicios a estimavel Arte
de Contar , e a ensinou primeiro
que todos aos seus Compatriotas)
a tomárão depois os Europeos, que #
ainda hoje fazem uso da Taboa Py
4OO
thagorica para multiplicar, e dividir
os números com a maior facilidade, Soo -
e presteza. Porém não está decidi 6oOS
E
do qual foi a Nação, ou Genio,
que inventou o Algarismo, de que
usamos. O lêr-se da direita para a
esquerda nos faz violencia a crer
mos, que das Nações Orientaes o
trouxerão os Arabes, que alli com
merciavão, e por elles se communi
cou a todo o Occidente. Porém se
damos credito a Theophanes, Au
thor Grego, na Vida do Imperador
E #

9

#
=>
7OO
3O

4
OO

Justiniano II., por alcunha o Des


narigado, que vivia no Seculo VII.,
e na de &# Copronimo,
que imperava no meio do Sec. VIII.:
por estes tempos ainda os Arabes não
podião, nem sabião exprimir na sua
# =
5OoO

------
OOO | \,

Lingua os números do Algarismo;


e por isso in scribendis publici AEra
rij codicibus, Christianos adhiberi ro
== E
litos fuisse. Ao menos he crivel, que De qualquer modo que fosse,
desde logo o não trouxerão a Hes os Hespanhoes, abandonadas já por
panha , quando primeiramente a huma vez as letras numeraes Celti
conquistárão ; pois deixando nella bericas, Turdetanas, e Bastulo
alguns monumentos, e tantos Vo Phenicias, só tinhão conservado as
cabulos, não apparece memoria des Romanas, ainda que mui alteradas
te Algarismo. Chega-se a isto, que elas Nações do Norte, e barbari
o Algarismo Indico he mui diferen ade dos tempos , quando as No
te do Africano , como se vê pelo tas, ou Cifras do Algarismo che
acareamento da Tab. I. n. 6. gárão a esta Região Occidental. Pa
* *

Alguns se persuadírão, que dos rece que por largos tempos ellas fi
Caldeos # os Arabes o seu zerão quarentena, e só passado o
Algarismo; porém joão Pierio Va Seculo XII. Se forão introduzindo
Àeriano nos conservou os caracteres com pé tremulo nos Feitos, e Li
numeraes dos Caldeos (Lib. 37, dos vros Ecclesiasticos, Epitafios, e ou
JHieroglyficos) diametralmente oppos tros Documentos particulares; con
tos aos Arabicos, e cuja imagem tinuando sempre a conta Romana
aqui reproduzimos: *nos Autos Judiciaes, e Instrumen
*

fOS F#… Nas Taboas Astrono


Tom. I. II)1
9o AL AL
micas, que El-Rei D. Afonso, o dão Original do que se passou em
Sábio, compôz no de 124o, e se huma Assemblea de Prelados na Ci
publicárão no de 1 252 , se achão dade de Santiago (a que chamão
pela primeira vez as Cifras nume Concilio Compostellano) com esta
raes Arabicas, que só no Seculo se data: Actum in Capitulo Compostella
guinte se fizerão públicas em toda no , bora Tertie, decima Kalendarum
a Europa ; porém entre nós mui Januarii , anno Domini 1 2 42°
raras vezes se usáão. No Seculo XV. secundo , presentibus omnibus
usárão os Portuguezes das numeraes, Episcopis, & aliis Praelatis, ó Per
já Romanas, já Nacionaes, já Ara sonis iw dicto Concilio congregatis. E
bigas: No XVI, prevalecêrão entre sendo certo que isto passou no de
nós as Arabigas, de que até o pre 1292, claramente se ve, que o No
sente nos servimos. jº Peres de tario não estava corrente neste modo
Moia na sua Arithmet. prat. e espe de contar. Em Portugal ainda houve
mais tenacidade em conservar os nú
culat, diz, que os antigos Hespa
nhoes figuravão certos números, co meros Romanos, de que daremos
mo se vê Tab. I. n. 7. V. Cifras Nu aqui huma copia, ajuntando-lhe as
meraes, ou Arithmeticas. Acha-se na alterações da sua figura, e valor.
Cathedral de Lamego huma Certi
Letras do Algarismo Romano, e seu valor.
Unidade. I. II, III. IIII. V. VI, VII. VIII. IX. -

Dezena. X. XX. XXX. XL. L. LX. LXX. LXXX. XC.


Centena. C. CC. CCC. CCCC. D. DC. DCC, DCCC. DCCCC.
Milhar. M. IIM. IIIM. IIIIM. VM. VIM. VIIM. VIIIM. IXM.
De dem.XM.XXM. XXXM.XLM, LM. LXM. LXXM. LXXXM.XCM.
cent.dem.C. CC. CCC. CCCC. D. DC. DCC. DCCC. DCCCC.
º CM, GCM, CCCM CCCCM. DM. DCM. DCCM. DCCCM.
DCCCCM.
c… M. IIM IIIM IIIIM VM, VIM VIIM VIIIM IXM.
Em os principios da nossa Mo Escreveo-se XX, do modo, que
narchia subião todas as letras nu se vê Tab. I. n. 12.
meraes a milhares, pondo-lhes em Figurárão XXX, com as Notas da
cima hum l atravessado, ou huma Tab. I. n. 8. O que mais variou foi
risca com hum ponto: deste modo o número XL.; pois se acha com
- ou, —: e assim T, V, G, Cô, 5, as figuras da Tab. 2. n. 1., além de
&c. valião I doooo, 5çoooo, Iood)ooo, outras muitas menos exoticas, que
2oodoo, 5oodooo, &c. E o mes por brevidade se omittem. A ulti
mo era escrevendo-se T, 'õ, 5, &c. ma Nota, que alli se acha, he huma
O número de V. teve as dife L, e hum X ligados, (como já se
rentes fórmas , que se achão Tab. acha em hum Doc. de Pedroso cle
1. n. 9. " " 1o68) e que deo occasião a que
O número VI, se escreveo algu os menos instruidos escrevessem qua-
mas vezes com as figuras do n. 1o. renta com hum R. Igualmente as
da Tab. I. º fi
----
AL AL 9r
figuras do n. 2, da Tab, 2. (que sem creve 498 deste modo: CD. XC. IIX;
controversia são hum nexo de L, e tirando o primeiro C cem ao D:
X) forão reputadas como R, e va o primeiro X dez ao segundo C: e
lêrão no Sec. XV., e XVI. por qua os dois pontos, dois ao ultimo X.
renta. Vid. L. R., e L. X. Igualmente escreve 486 assim: CD.
O L. dos Romanos (que sempre XXC. V.I., e pela mesma razão. Em
valeo sincoenta) não ficou sem gran fim, escreve 2 dooo, e 3d)oco des
des mudanças : vejão-se algumas ta maneira: IIM., e IIIM. Tambem
Tab. 2. n. 3. nos Instrum. mais antigos se acha
Antigamente escrevêrão os nossos escrito o número de 5oo com as fig.
Maiores Io97 com as Cifras da Tab. Io II e I2 do n. 5. da Tab. 2.
2. n. 4. fig.I. e 99. com as do n. 5. Não foi menos alterado o núme
fig. 2. Tambem se acha escrito com ro M.: elle achou variedade de pen
outras muitas variações accidentaes. nas , que de mil modos o escrevê
O número LX. Se acha escrito rão : bastará , que ofereçamos 33
com as fig. 1.", e 2.° do n. 5. da Tab, 2. fig. diferentes, que assim o mos
Acha-se LXXX. com a fig. 3. do trem, na Tab. 2. n. 6. º

n. 5. da Tab. 2., que verdadiramen No Sec.XV., e XVI, prevaleceo


te são dois XX plicados, ou mais entre nós hum Algarismo diametral
bem ligados com o L. mente opposto ao Arabico , e em

Do número XC. temos algumas grande parte ao Romano, que he


variedades: a mais notavel he a da o da Tab. I. n. 11. Então era regra
Tab. 2. n. 5. fig. 4., que sendo hum geral, que todo o número que ti
X entre dois LL, tirando dez ao vesse á frente este signal º valia cen
segundo, ficão noventa: a fig.5. do to: e o número, ou números, que
mesmo n. e Tab. he hum L, e hum estivessem clausurados com este "va
X plicado. lião mil : v. g. Iº cento : T mil:
A numeral C acha-se em os nos bº quinhentos: E sinco mil, e assim
sos mais antigos Doc. com as fig. nos mais. Vid. Tab. I. n. 13. Com
tudo, e pelo mesmo tempo, se acha
6.º 7.° e 8.° do n. 5. da Tab. 2.
Em alguns Doc, do Sec.X. se signal de quinhentos não voltado
o
omitte o número D., escrevendo-se para e traz, mas sim para diante,
unicamente as centenas que se lhe v. g.V.V.º ou Vc.
seguião : o mesmo se praticou ao ALGO, I. substant. Favor, be
depois com o número M. Em hu neficio , acolhimento , mercê. No
ma Escritura de Vairão da Era de de 1291 Durão Rodrigues, e sua
998 se lê a data do modo que se mulher Maria Annes, doárão á Sal
acha Tab. 2. n. 5. fig.9. Em outra zeda todas as herdades, que na Fol
do Liv. Preto de Coimbra lêmos: gosa, e seu termo lhes bi acaeceram
Era CLI, por 115 I ; dando por ave de bona de jobão Veegas, assi em ca
riguados já , e sabidos os números sas, quomo em vinhas, quomo em oli
grandes, e redondos: costume, que veiras, quomo em outras arvores quaes
ainda hoje se pratíca, dizendo: no quer , chantadas , e por chantar...
de 7o9: no de 5o: por 1709, e 175o. pera sempre avedoiro , e posojdojro.
Santo Isidoro no Catalogo dos Reis E esto vos damos por muito d'algo,
de Hespanha, e Bispos de Toledo es e d'amor , que sempre ………. do
1} t
92 AL AL
dito Moesteiro... E outorgamos-vos to quissimo Poema da perdição de Hes
da essa bona de suso dita. Feito o Ins
panha = Po= voltos d'Algo Sayoens.
trumento per maom de Johane Ste ALGO. III. Bemfeitoria , aug
vhanis público Taballião d'El-Rei mento, utilidade, proveito, fabríco,
in Castrorrej, que foi chamado Tarou amanho. Em 1278emprasou o Mos
ca. Doc. da Salzeda. Do Testam. teiro da Salzeda hum Casal em Villa
de D. Chamôa Gomez, que alli mes Marim com obrigação de fazerdes al
mo se guarda, feito em Cidade Ro go, e melhoramento em essa nossa her
drigo no de 1258, consta deixar mui dade. E de outro Prazo de 1285 cons
recommendados os seus criados, e os ta a mesma palavra neste significado.
de sua Mái, á Abadessa d'Entre-am E fazerdes bi algo. Doc. da Salzeda.
bos-rios, para que lhes faga muito algo. ALGO. IV. Emolumento , do
ALGO. II. Este era o Magesto nativo , luvas , interesse, ganho,
so Titulo, com que antigamente se
augmento de rendas, ou pensões.
distinguião em Hespanha os Ho Perdia El-Rei grandes algos das suas
mens Nobres por geração, e mere rendas: Por hum Doc. da Camera
cimento, dos que erão plebêos, e Secular de Coimbra de 1 361 cons
sem lustre algum de acções gran ta, que o Mordomo daquella Cida >
des, e abalisados costumes, que os de prendia os Leigos, que achava |
elevasse ao de cima do pó do seu com mulheres solteiras, e levava del
nascimento, e abatida fortuna. Sen les grandes algos, para os soltar.
do todas as cousas deste mundo hum ALGO. V. Trabalho, mortifica
verdadeiro nada, sonho, e apparen ção, angustia, pena, aficção, des
cia ; neste confuso cáhos ficárão vélo. E rrecebem per hygram dan
sepultados todos aquelles, que não no ; por que lhis custam grande al
erão Algo, isto he, alguma cousa, go as lavoiras , e os rrenovos , que
que interessava grandemente a Pá am. Doc. da Cam. Secul, de Coim
tria, e a Nação. Cavaleiros, e Es bra de 136 I.
cudeiros de Geração Nobre, e bem ALGO, VI. Alguma cousa, do
regulada conducta , erão os Fidal Latino Aliquid.
os no tempo dos nossos primeiros ALGOFAR. Aljofar, pedraria
# : não havia entre elles outra fina, e miuda, da qual chamão ho
diferença , que terem, ou não te je á grossa grãos de conta, D. Me
rem alcançado já o gráo de Caval cia Rodrigues Hespanhola fez o seu
laria. Estes erão os Algos, que en Testamento no de 1258: entre muitas
tão se respeitavão, e que pelas suas cousas, que deixa ao Mosteiro da
esclarecidas acções se distinguião. Salzeda, são dous alamadraques de
Aos Descendentes , ou imitadores sirgo por a Eglesa pora orar la Cruz:
destes chamárão então Filhos d'algo, (isto he almofadas, colxins, ou ca
e hoje Fidalgos, que oxalá trouxe beceiras para a Adoração da Cruz
rão sempre na lembrança a estima em Sexta feira Santa.) E a sua fi
vel Origem do seu nome, para não lha deixa todo o seu algofar , que
declinarem já mais daquella probi som X. mil granos. Dcc. da Salze
dade, e rectidão, que devem fazer da. V. Almadraque.
o seu caracter , e se não confundi ALGUR. adv. Por alguma par S
rem com aquelles, de quem diz o anti te. Doc. de Coimbra de 13o7.
AL .
-
AL AL 93
ALHANSE. Cobra , ou tortuo buto, e hum dos quatro, que os
so a modo de cobra. Este nome de Mouros pagavão , quando estive
rão os Mouros a hum Valle de San rão em Hespanha, já vencidos, e
tarem, que fica para o Sul, e jun conquistados. Nom ponam tibi aza
to á Villa, por onde se subia, sen quia, aut alhodra , qua tibi terram
do o caminho feito em voltas para tuam tollam. Ap. Du Cange. Vid. Al
vencer a eminencia. Chamão hoje fitra.
a este Valle o Bairro de Alfange, ALHUR, adv. Em outra qual
que ainda conserva os vestigios de quer parte, ou lugar. De o por mba
Albanse, ou Alanse, com que anti alma alhur, hu elles teverem por bem.
gamente foi conhecido. Alli deixá Testam. de Mº Afonso de 1298.
rão outro nome, que ainda conser Doc. da Guarda.
vamos, que he Alhafa: medo, ou ALHUS. O mesmo que Albur.
temor. Assim chamárão ao temeroso Doc. de Vairão de 1294.
Outeiro da parte Oriental da Villa, ALIAVAS. Tributo, que entre
do qual precipitavão os malfeitores, nós se pagava para sustento das
condemnados á morte, que a encon aves, e falcões, com que as Pes
travão muito antes que chegassem sas Reaes fazião a caça. El-Rei D.
ao mais profundo do Valle. Affonso II. aliviou os Povos deste
ALHAFA. V. Albanse. tributo. El-Rei D. Sancho II. con
ALHIA. O mesmo que o Lati cordou com os Ecclesiasticos deste
no Allia , mas posto em o núme modo : Placuit insuper Domino Re
ro singular, e indiferente para si Agi , quod nec caner, nec aves mittat
gnificar cousas boas, ou más, Doa ad Monasteria. Concord. art. 7.
ções, beneficios, favores, &c. No ALIFAFE. Hoje chamão Alifafe
de 1o 74 Sendino Rodrigues, e sua a certa enfermidade, que accom
mulher Gelvira Paladiniz derão a sua mette os cavallos entre o jarrete, e
terça parte , que tinhão na Igreja o osso da perna; porém no de 1o92
de Santa Marinha de Villar de por significava o travesseiro, em que o
cos, no Bispado do Porto, a Tru rosto, ou face se levanta, ou alli
ctesindo Guterres, e a sua mulher via : quasi elevans, vel alevians fa
Gumtrode, e dizem: Damus advo ciem; como se vê da Doação, que
bis illa in ofrecione, pro baralia, que neste anno fez á Igreja de S. #
abuimus super nostra haereditate cum dro de Coimbra, Maior, viuva de
nostras gentes: & fecestes ad nos ibi João Justo: Et uno Lenzo tiraz, é
grande albia, isto he: que além de una almozala serica, Óº alifaf. Doc.
os ter favorecido, e tomado a sua de Lorvão. Os Arabes ao travessei
protecção na contenda , que hou ro , ou almofada chamão Almohha
verão sobre huma herdade, lhes ti da , que derivão de Chaddon: a fa
nhão feito outro grande número de ce; porque quando nos deitamos,
beneficios; e por tudo lhes fazem pomos a face sobre o travesseiro,
este presente, gratificação, e ofer ou almofada. V. Grizisco.
ta da dita terceira parte do Padroa ALIFASE. O mesmo que Ali
do , que tinhão naquella Igreja. fafe. Acha-se no Testam. da Rai
Doc. de Moreira. V. Baralas. nha Santa Isabel,
, ALHODERA. Especie de tri LIPHASE. O mesmo que Ali
* * Ja- |
94 AL AL
ffe. Acha-se em huma Carta de só nas Cidades , Villas, e Tcrras
S. Rosendo Bispo de Dume de 892 #
, mas ainda em Aldêas, e
que traz Yepes na Chron. de São ugares de pouca consideração, e
Bento T. V. Aliphases vulturinos V. escuro nome) as quaes forão dadas
Onde Vulturinos se não entende por a pessoas particulares em satisfação,
travesseiros de pluma; mas sim por e recompensa de seus serviços. E
cabeceiras, onde o rosto descansa quando ao depois os Monarchas Por
va; para as distinguir das outras, tuguezes as extinguírão, derão Pa
em que se punhão os joelhos. Vid. drões de Juros Reaes, que até ho
Faceiróó. je se pagão , para contracambear
ALIVAMENTO. Allivio, es os emolumentos, que nellas perdê
coante , correnteza, desembaraço. rão. Destas Aljamas se pagava a Si
Tinha determinado de fazer bum ar sa judenga , &c. As provas termi
co na assudada da Ponte da Areca, nantes disto se acharáó no I. Livra
pera alivamento da agoa. Doc. de dos Misticos da Torre do Tombo pertot.
Santarem de 1459 passado nas Cor De Aljama parece tomou o no
tes de Lisboa do mesmo anno. me Aljubarrôta; pois El-Rei D. Af
ALIVAR. Alliviar, tirar do pe fonso Henriques nas Doações de
zo, desabafar. He do Seculo XIV., Alcobaça de 1 153, e 1 183 a nomêa
e XV. Aljamaróta. (a)
ALJAMAS. Congregações, Sy ALLÓ. adv. Alli, naquele lu
nagogas , ajuntamentos , Juntas, gar, lá. E que aquello, que alló avião
assembleas, Synedrios, Concilios, de depender, que o despendessem nos
ou Convenções. Deo-se este nome oito Cubos arredor da dita Cerca. Doc.
ás patrulhas, e magotes dos Mou da Torre de Moncorvo de 1376.
ros, que ficárão no Reino, sujei ALMADRAQUE. Coxim , ou
tos ao Monarcha, e governados pe colxim , almofada, estrado, alca
lo seu respectivo Alcaide, juiz, ou tifa , ou cabeceira , que serve de
Consul. Deriva-se Aljama do Verbo genuflexorio. V. Algofar.
Arabico Hajama: pôr freio, subju ALMADRAQUE. Enxerga, en
gar, reprimir , ter como prezo, xergão , colchão cheio de lã, pa
abatido, e encerrado; pois não po lha, ou herva; manta grossa, ou al
dião sahir livremente das suas Moucatifa dobrada , sobre que alguem
rarias, e lugares consignados. Pas se deita. Sei que alguns se apegão
sou depois este nome para as Ju demasiadamente ao Arabico Alma
dearías, bairros, e habitações dos trah, para nos persuadirem que Al
Judeos, que com a solução de tri madraque nunca significou mais que
butos, vivião na Lei de Moysés, almofada ; esquecidos , de que a
mas nunca Senhores inteiramente da barbaridade , daquelles tempos não
sua liberdade. Destas Aljamas, Mou se embaraçava com propriedades, e
rarias , e Synagogas havia em Por etymologías de Vocabulos. Porém
tugal hum pasmoso número, (não se nós reflectimos, que o fasto, e
- - 2 | lu- ;

(a) Aljuba: era Vestidura Mourisca, comprida, e com mangas. Aljubas, balandráos ?
e capuzes permittiáo-se aos Mouros, que ficaráo em Portugal. Desta parece mais natura
o nome de Aljuba-rôta; assim como, não longe do Pombal, ainda hoje he célebre o
morgado da Capa-rota, e na Guarda Qapata-rôta.
AL AL 95
luxo dos Romanos se esqueeeo in cente Martins, Porcionario de La
teiramente pela grosseria , e rusti mego, e Reitor de Beldigem, no
cidade das Nações, que nesta Oc de 1288 , que diz : Primo : man
cidental parte lhes succedêrão : e do corpus meum sepeliri in Claustro
que os Mouros de todo o tempo, Canonicorum Sedis Lamecencis , &
assim como os nossos antigos Por ,mando ibi mecum leitum, Óº unam Cul
# usárão de tapetes, alca citram, Óºnnum pulvinar, ó unam
tifas; e outros quaesquer pannos de colchiam. -,

Já grossa, feitos em muitas dobras; D. Lourenço, Bispo de Lam.,


e mesmo de esteiras, estrados, es diz no seu Testam. de 1393: It :
teirões, e tabúas, em lugar dos mandamos com nosco á Igreja huma Ca
colchões, de que hoje usamos: fa ma, convem a saber : bum almadra
cilmente nos persuadiremos, que os que de franxal, e hum cabeçal, e hum
Almadraques dos antigos são os col par de lençºes, e buma colcha. Doc,
chões, ou enxergas dos modernos. de Lamego. Daqui se vê que Al
Não me servirei dos Doc. que ad madraque não he almofada , traves
duzio Du Cange no seu Glossario, seiro, ou cabeçal. Com esta mesma
JV. Almatracium, Almatracum, e Cul individuação tinhão feito o seu Tes
cita, ou Culcitra , pelos quaes se tam. Pedre-Annes Taballião de Lam.,
evidencia, que até os fins do Seculo e sua mulher Guiomar Martins no
XIV. Almadraque, Colchão, e Alca de 135 o que se mandão sepultar
tifa, ou Tapete, erão Synonymos, no Convento de S. Francisco , ao
e se tomárão indiferentemente # qual deixão senbos almadraques , e
Cama , ou Leito , em que se dor senbas cocedras , e senhos cabeçaes,
mia, e descansava; prescindindo das e senhas colchas, e dous steiroens. E
mais roupas, e peças, de que el aqui temos já huma cama mais as
le se compunha , ou talvez orna seada; pois sobre os esteirões se es
va. Nem os Monumentos, que en tendião as cocedras, ou alcatifas, So
tre nós se encontrão, se podem en bre estas os Almadraques , ou col
tender de outro modo. chôes com os seus cabeçaes , e côl-.
No Testamento de Miguel Pires, chas. Em hum Doc. das Bentas do
Conego de Lamego, se achão es . Porto de 1312, se lê: Nom tragia
tas Verbas: It : mandat unum Lectum senom esta cama: buum almadraque,
cum Calcitro, Óº pulvinari suo Dom e huma almucela , e duas colchas, e
no Alfonso , quondam, Decano. It : uum cabeçal, e quatro faceiróós 2 e
mandat Gunsalvo Joannis unum Lectum sinco lençoees, e huum almafreixe. Es
cum Culcitro, Óº pulvinari suo. It : -tá logo fóra de questão, que Al
mandat unum Lectum, é º Culcitrum, madraque era peça da cama; e não
é pulvinar, in quibus jacet, Monar sendo lançoes, nem travesseiro, ou
zerio de Salzeda. Está Original en alguma das roupas, que sobre elles
tre os Doc. da Cathedral de Lam. se punha; fica só lugar a dizermos»
feito no de ?> , e delle se mos que era colchão, ou alcatifa sobre
tra, que a Culcitra não he a almo que a mais roupa se estendia. V. Al
fada, ou travesseiro, º? dizem si mucella. Seria infinito se houvera de
gnifica o Almadraque. Nos Doc. de ajuntar todas as Verbas de Testa
Almacave se acha o Testam, de Vi mentos, e Inventarios, que cons
pi
96 AL AL
pirão nesta verdade : isto he que Sinco lançoens, e bum almafreixe. Doc.
os antigos chamárão Almadraques aos das Bent. do Porto de 1312.
colchões, e alcatifas, ou tapetes, So ALMALO. Animal grande, co
bre que se deitavão, mo cavallo, besta muar, ou jumen
No de 14o7 ainda se não tinha to, boi, vacca, &c. que por anto
esquecido o nome de Almadraque; nomasia se chamárão Animaes, e Ali
pois de hum Inventario deste anno, marias , a que os Hespanhoes an
nos Doc. de Moncorvo se lê: It : tigos chamárão Alimãna. De huma
hum almadraque de pano de linho. E Doação feita a Tarouca no Sec. XII.,
alli mesmo consta que o Mosteiro deo por re
ALMADRAQUEXA. Traves bora , e confirmação aos Doantes
seiro, ou cabeçal. It : duas almadra huma junta de touros, ou novi
quexas de pano de linbo. A demasia lhos: Pro rebora unam jugatam de
da grandeza dos travesseiros, # almalos babuimur. Doc. de Tarouca.
antigamente se usavão, pela sua lar ALMALHO. Touro, novilho,
ura representavão de algum modo bezerro, boi novo , e que ainda
# pequeno Almadraque, a que não trabalha, sujeito ao jugo. Fran
chamárão Culcitra ; e daqui Culci cisco de Sá Ecloga I. n. 25. fallan
trarum Portitores pelos Portadores, do do bezerro, já feito boi de tra
ou Aposentadores das camas : e Cul balho, diz:
citrare: por encher de pluma. E se O brincar d'antes lhe esquece:
Culciternum , como diminutivo de Não be já o que era Almalho.
Culcitra , se toma por Cossino , ou Em algumas terras de França cha
travesseiro; que muito Aldramaque mão Aumaille ao boi, ou vacca: em
xa, diminutivo de Almadraque, che todas as mais dão este nome a to
gasse a ter o mesmo nome ; pois da a casta de ovelhas.
tinha a mesma figura , e serventia ALMANDRAQUE. O mesmo
do travesseiro?... que Almadraque. Acha-se a cada pas
ALMAFARIZ. Almofariz, al so no Seculo XIII., XIV., e XV
faia domestica bem conhecida, que ALMANDRA. Por hum Doc.
em alguns Doc. se chama Ylmofa de Pedroso nos consta, que D. Egas
riz. E huum almafariz com sa maão. Erótes, habitando entre Douro, e
Doc. de Pendorada de 1359. Vouga, sahio ao encontro aos Mou
ALMAFRE. Morrião , elmo, ros, que se achavão entre Douro,
capacete de aço, ou ferro, que costu e Lima: e que expulsos estes ini
mão trazer na cabeça os homens ves migos, comprára no de 1 o53 a seu
tidos d'armas brancas. El-Rei acres Cunhado D. Froja Osorediz , e a
centou ás moradias de 65 libras, que sua mulher Adosinda, Irmã do Com
os vassallos tinhão d'antes, mais déz, prador, a Villa de Viariz: pro uno
que erão quinze dobras Mouriscas: e Kavallo roudane : avaliado em 2oo
que por esta quantia havia de ter o soldos: Óº una almandra tiraze: re
vassallo bum bom cavallo de accom putada em 5o soldos: bum escravo
metter , e Loriga com seu almafre. em 1oo soldos, e hum vaso de pra
Chron. d'El-Rei D. Pedro I. Cap. ta em 3o soldos. Parece, que Alman
XIII. dra he colcha, ou alcatifa de linho»
ALMAFREIXE. V. Almofreixe, e láa. V. Du Cange. V. Tiretanus. .
AL
AL . AL 97
ALMARGE. O mesmo que Al de castaneis, & de olivis, & de al
margem: Prado, ou rocio cheio de moniis: Ego super hoc feci facere In
erva, e pasto para gados, situado quisitionem per Abbates de Salzeda,
ao longo das Povoações, e nas mar cº de Tarouca, Óº per Judicem, Óº
gens dos rios. Tabellionem de Lameco. Et Ego visa
ALMAZEM, ou Armazem. Al Inquisitione (quae postea fuit correpta)
gumas vezes se toma pelo provimen inveni per eam quod nunquam suerent
to de guerra, como settas, metra dare Prestamerio, nec Maiordomo Al
lhas, alcatrões, polvora , balas, meitigam , nisi isto modo : Scilicet :
&c., tomando-se o conteúdo pelo Debent dare eisdem Prestamario, vel
continente. Alguns dos nossos bestej Maiordomo pro Almeitiga de qualibet
ros empregarão nelles seu almazem. vida-(manjar, ou mantimento) homi
Barros Dec. I. L. IV. nes tenuerint pro ad se, Óº non ma
ALMEITIGA. Almoço, ou le gir: Et quod de castaneis, Óº de oli
ve refeição , que se dava ao Mor vis debent mihi dare quartam partem:
domo , ou Prestamejro, que pedia, Et quod de almoniis nom debent eis ali
media, e arrecadava os Foros Reaes. quid dare, nisi de pane, Óº de cebo
Os excessos, que nisto se commet jar, & de lino (si ibi habuerint:) de
tião, obrigárão os Monarchas a pôr quibus rebus debent eis dare quartam
freio á sua cubiça. El-Rei D. Di partem.
niz na Carta de Foro, que passou Et Ego habito Consilio cum mea
a Antonio Esteves da Fogueira de Curia, supradictam Inquisitionem ju
Calvilhe, junto a Lamego, no de dicando , mandavi, Óº mando, quod
1281 expressamente diz: Et pro al homines de Lameco , ó" de suo ter
meitigo duos solidos. Em outros Doc. mino, non tenentur dare Maiordomo,
do Seculo XIV. se declara , que nec Prestameiro, nisi de quali vita te
se daria boroa ao Mordomo , para nuerint pro ad se : Et quod dent mi
não vexar os Lavradores com obri hi de olivis , Óº castaneis quartam
gação de lhe apresentarem, man partem : & quod non dent de almo
jares delicados. Porém nada de niis, nisi solummodo quartam par
clara tanto a qualidade destas Al tem de pane, & de lino, Óº de ce
meitigas , como a Sentença d'El bolas (si eas ibi habuerint.)
Rei D. Afonso III. de 1276, que Et mando, & defendo, quod meus
se acha no Tombo do Aro de La Ricus-homo , qui de me tenuerit ip
mego, feito no de 1346 , f, 23 , sam Terram de Lameco, nec aliquir
e he a seguinte: alius , qui eam de me tenuerit , nec
. Alfonsus Dei gratia Rex Portuga Maiordomi, nec Prestamerij, non pas
lie , à Algarbij, Universis prerem sent eisdem hominibus contra judicium
*em Cartam inspecturis, notum facio: supradictum. Et si contra eam voluerint
2uod Ego ad queixume, quod mibi passare , vel passaverint , tornarem
fecerunt judex, & Concilium de La me inde ad suos corpos, & haberes.
meco: dicendo, quod Prestameri, Óº Et insuper mando meo judici de La
Maiordomi ipsius Terra filiabant, Óº meco, quod non sustineat, quod Majºr
filiant sibi Almeitigas de pane, Óº de domi , nec Prestameri; faciunt ***
vino, sicut non debent: Óº quod filia dem hominibus super hoc forciam, neº
bant, & filiant sibi quartam partem gravamen, Unde aliter non sit; sin aº
Tom. I. fé##
AL
tem tornabo me pro inde ad ipsum fu tros : outros do mar Indico , que
dicem. Et mando , quod judex , Óº anda nos Gamas. -

Concilio de Lameco teneant istam Car ALMOAHEDES (que alguns


tam. Dant. Ulisbon. XI. die Junij, nomêão Almoravides): Certas Fami
Rege mandante per Curiam suam. Mar lias Africanas, que ultimamente pas
tinus Petri notavit. E. M. CCC. XIIII.
sárão a Hespanha , onde até a to
ALMEXIA. Certo signal, que tal expulsão dos Mouros se conser
El-Rei D. Afonso IV, mandou, que várão. O Rei Mouro de Sevilha fi
os Mouros trouxessem sobre os ves zera passar a Hespanha grande mul
tidos, quando não usassem dos seus tidão desta gente, que inquietou so—
proprios trages. bre modo o Reinado d’El-Rei D.
ALMEZER. Misturar, Ap. Ber Afonso VI. dando-lhe muitas bata
ALMIRANTE.
É (17]» Hoje em Por lhas, em que nem sempre os Hes
panhoes ficárão vencedores. Almoa
tugal he a segunda Pessoa depois hedes: quer dizer Unitarios; porque
do General da Armada. Dos Ami impugnando a Trindade das Divi
raes, ou Admiraes dos Mouros passou nas Pessoas , só crião, e confessa
este nome (que entre os Turcos, vão a unidade de Deos. Destes pa
e Sarracenos se dava a Senhores de
rece foi discipulo, e sequaz Miguel
terras, e Governadores de Praças) Servete, Hespanhol , que entre os
aos Sicilianos, e Genovezes, que mais erros propugnou este, em quan
com ele intitulárão os Generaes das to o Hereziarca Calvino o não fez
suas Galeras. Daqui passando ao queimar vivo na Praça de Genébra.
resto da Europa foi dado o Titulo ALMOCADEM. O que guia,
de Almirante Mór ao General da Ar ou encaminha o exercito, marchan
mada de alto bordo ; ficando o de do na sua frente. Devia ser mui prá
Simples Almirante ao General das tico , e esforçado na guerra , ter
galés. Em França se acha D. Flo perfeita noticia do Paiz, dos seus
rencio de Varennes Almirante da Real caminhos, e valles, montes, e rios,
Armada pela primeira vez no de ser muito fiel, acautelado, e expe
127o. Em Portugal se ouvio este dito. Pertencia ao Adail governar os
Titulo só no tempo d'El-Rei D. Di Almocadems. Com o fim das guerras
niz, que fez mercê delle a Micer d'Africa se acabou entre nós este
Manoel Pacanho, mas só como Al Oficio Militar, que desde a entra
mirante das galés. Depois se intro da dos Mouros em Hespanha fora
duzio o Titulo de Capitão Mór do dado aos Capitães de Infantaria.
mar, a quem a Real Esquadra em ALMOCARIA, Almoquaria,
tudo obedecia. Segundo o antigo Almocavaria. Oficio de almocreve,
uso o Almirante he Capitão geral recoveiro, que conduz cargas, ou
do mar, com mero, e mixto impe aluga bestas. No Foral de Lisboa
rio, immediato ao Rei, sem recur por El-Rei D. Afonso I. no de 1179
so, ou appellação a outra pessoa: se determina : Almoqueves, qui per
repartia as prezas maritimas, de que almocariam vixerit , facias forum
tinha a quinta parte, &c. Ha neste suum in anno. L. dos For. Velhos.
Reino dois Almirantados : hum do E alli mesmo se acha o de Coim
mar Lusitanico, que anda nos Cas bra pelo mesmo Rei, e no mesmo
- 2 El
AL AL 99
anno em que se lê: Qui equm secum, que tem a seu cargo a guarda do
aut bestias suas ad almocavariam mi rebanho. Parece se lhe deo este
serit , nullum forum de almocavaria nome por ser o seu vertido, vigi
faciat. lancia , e mais comportamento á
ALMOCAVAR. Cemeterio, Lu maneira de Almogavar. It : Manda
gar das Sepulturas. Os Mouros ain mos aos Almoucavares, e aos Maioraes
da no tempo d’El-Rei D. Pedro I. das ovelhas , que recabedem eles em
tinhão em Lisboa seu Almocavar fó guisa, que dem elas a seos donos, ou
ra da Cidade, como consta da Chro os sinaes delas : e se lhas nom derem,
nica deste Monarcha. entreguem-lhas de grandes: ergo, tan
ALMOCABEL. Almotacel, mo to lhe perdoem de D. cabeças , XX.
derador dos pezos, e preços, e me cabeças. Cust. e Posturas d'Evora de
didas dos mantimentos. Correspon 13o2. Era, pois, o Almocouvar o
de ao Edil dos Romanos, ou ao Zagal, criado do Maioral, e Supe
seu Prefectus annone. Em Portugal rior áquelle, a que os Hespanhoes
ha Almotacel Mór, que anda na Ca chamão Rabadan.
sa dos Farias: a este pertence pro ALMOFALLA. O mesmo que
ver o lugar onde estiver a Corte de Albella , ou Alfella : isto he cam
todos os mantimentos necessarios, po, ou arraial, em que por algum
mandar limpar as ruas, reparar os tempo se reside. Temos algumas
caminhos, pontes, e calçadas, e o terras deste nome. *

mais que o seu Regimento lhe pres ALMOFREIXE. Hoje dizemos


creve. Yepes T. VII. traz huma Car Almofrexe, que he huma mala gran
ta d'El-Rei D. Affonso VI. de Io81 de, saco, ou malotão, em que te
que diz : Et vestras tendas nullus leva , ou estende a cama nas jo
Alvacil , neque Almuserifus , neque nadas. Entre as insignificantes pe
Amoçabel violenter intret. ças, e trastes de que constava o re
ALMOCELLA. V. Almucella. ligiosissimo Espolio do Veneravel D.
ALMOCELLEIRO. O que faz Fr. Salvado. Bispo de Lamego, In
cubertores para camas, mantas, co ventariado no de 1 35o, e vendido
bertas , lizos, ou de felpa. Nos a leilão , se acha esta Verba : It.
Doc. de Lamego se diz Almucelleiro. Hum almofreixe velho : rematado em
ALMOCOVAR. O mesmo que seis soldos. -

Almocavar. Os Judeos, bem assim ALMOGAVAR, e Almugavar.


como os Mouros , tinhão os seus Em Hespanha forão chamados Al
jazigos , e sepulturas fóra dos lu mogavares, e Almogavres certas Com
#, e terras, em que residião. panhias de Soldados escolhidos pe
No de 152o se compoz a Came la sua animosidade , ligeireza , es
ra de Coimbra com Pedro Alvares forço , e pericia militar. Baldada
de Figueiredo, sobre a tapagem, mente procurão alguns a origem dos
que fizera aos Chãos, junto á Cer Almogavdres no tempo dos Hunos,
ca do Mosteiro de Santa Cruz, cha e outras Nações barbaras, que inun
mados Almocovar dos judeos, os quaes dárão a Hespanha , e as Gallias.
zinha comprado em Praça pública por A verdade he que dos Sarracenos,
Ordem d’El-Rei. Doc. de Coimbra. (que chamão Almogaver: ao homem
ALMOCOUVAR. O Pastor , pelejador, e guerreiro) se commu
11 Ill
I OO AL AL
nicárão aos Hespanhoes , e Portu ALMOINHA. V. Almuinha.
guezes. A sua profissão era viver ALMOQUEIRE. Almocreve, re
sempre nas armas, morando nos ma coveiro , o que trabalha com bes
tos, e brenhas a modo de foragi tas, ou as aluga. Almoqueire facia?
dos , e pelejando contínuamente unum servitium in anno. Foral de
com os Mouros, em cujas terras fa Coimbra pelo Conde D. Henrique.
zião repetidas cavalgadas, voltando ALMOQUEVES. O mesmo que
com muitos cativos, e grande co Almoqueire. V. Almocaria.
pia de gados, e mantimentos, que ALMORAVIDES.O mesmo que
erão o unico fundo das suas muni Almoabedes. • •

ções de boca. Algumas Pessoas No ALMORAVIDIS. O mesmo que


bres a quem talvez faltavão os meios Maravidís. No de 1 142 a Abbadessa
da sua subsistencia , ou por seus de Vairam vendeo á sua criada Ma
crimes, e excessos temião as devi ria Pires Deo-vota, alguns bens do
das penas, tomárão esta fórma de Mosteiro: pro illas XX." almoravi
vida, como foi o nosso Giraldo sem diles , quos misimus pro illo Cauto
pavor , bem conhecido pela faça Estes maravidís se derão a El-Rei
nhosa surpreza d'Evora no de 1166. D. Afonso I., quando fez a Mercê
Não he facil de crer o quanto es do Couto áquelle Mosteiro, que foi
ta gente era sofredora da fome, no anno antecedente de 1 141. Doc.
e do trabalho. Succedia passarem de Vairam. "
dois, e tres dias sem gostarem cou ALMOSARIFE, ou Almozari
sa alguma , e quando muito algu fe. Oficial, que cobra os Direitos
Ill2S # cruas do campo. Todo o Reaes de varios generos. Hoje se
seu trém, roupa, e armamento con diz Almoxarife. Os Arabes chamá
sistia: n’hum roupão curto, e botas rão Almoxarifes aos homens eminen
de couro mui cingidas, e apertadas; tes , honrados, e constituidos em
huma espada agudissima, penden Dignidade. E porque só estas Pes
te de hum largo thalí; huma pe soas ordinariamente são de mãos
quena lança, e dois dardos; levan limpas, e fiéis, se deo em Hespa
do aos hombros farnel para dois, ou nha , e Portugal este Titulo aos
tres dias. Nos principios da nossa # arrecadavão, e exigião sommas
Monarchia , e ainda nas guerras e tanto pezo. Antigamente se cha
d'Africa se achárão muitos destes márão Mordomos, e Prestameiros os
Soldados, de quem são vestigios os que fazião a obrigação dos Almo
Mingletes, e Hussares, que actual xarifes. -* *

mente se achão em toda a Europa. ALMOZELA. Vid. Aimucella.


ALMOGÁVRE. O mesmo que ALMUCELLA , Almuzella, e
Almogavár. • Almozela, ou Almozala, e Almo
ALMOGAVRIA. Expedição mi cella. Cobertor, coberta, ou man
ta de seda , láa, ou linho, mais,
litar, correría, entrada repentina nas
terras do inimigo, talando os cam ou menos fina , e preciosa, que
pos, cativando a gente, e rouban servia nas camas dos ricos, e po
do tudo o que póde ser util aos que bres, e sempre com o mesmo no
fazem , ou .mandão fazer estas ir
rupções. •
me. Dizem alguns, que Almucella
he diminutivo de Ahnucia , e que
31
AL AL IO I

significa huma pequena murça, ou cabham com sas molheres, os que ca


capa, para distincção das Almucias, sados forem : aos outros pobres dem
ou Cobertores, que cobrião a cabe lhe duas almocellas, e senhos cabeçaes
ça, pescoço, hombros, e quasi to órc. Foi esta Instituição confirmada
do o corpo: Vestidura, que os mes por El-Rei D. Fernando no de 135o.
mos Seculares usárão (e ainda usão); Doc. de Viseu. No de 1 1 12 D.
mas propria de gente Ecclesiastica, Unisco Eriz fez Doação ao Mos
e Religiosa, da qual ficárão só as teiro de Paço de Sousa de muitos
murças aos Conegos com hum insi bens, e além disso accrescenta: Do
gnificante Capello , e os barretes omnia mea rem movilem lectorum :
quadrados aos Clerigos, cerceado Cozodras, Óº plumazos, tapedes, é?"
já tudo o que destes barretes pen almozalas , simul Óº alifafes, man
dia para cobertura do pescoço , e teles, Óº savanas linulas, Óº lenzos,
hombros. Porém se almucia se dis palium, Óº grezisco, pelles, Óº pel
se de Amicio, ou Amictus; porque liceas , mantus superiores & c. Doc.
cobria parte do corpo, a razão es de Paço. Huma Verba do Testam.
tá mostrando, que seja diminutivo de D. Pelagio Bispo de Lamego no
de Almucella (ou Cobertor) que co de 1 246 he esta: It : Dominico Al
bre inteiramente o corpo desde a fonsi Cappam pellem, ó almucellam,
fº do pé até o mais alto da ca é pulvinar, quod tenet. Doc, de La
eça. Os nossos Documentos cons mego. Nelles se acha o Testam.
pº todos nesta verdade; pois não de Miguel Pires, Conego de La
e crivel, que deixando-se tantas mego, que diz: Ir: mandat quod
almucellas a Hospitaes, e Alberga Gunsalvus foanis det pro anima sua
rias declarando , que são para ser almuzellas, Óº feltros, que sunt in
viço das camas, todas estas roupas domibus suis. No de D. Silvestre de
fossem pequenas Murças, que além 1272 deixa-se ao Mosteiro de Ta
de não serem proprias das pessoas rouca unam colchiam, Óº unam almu
que as legavão, não podião ser zellam, Óº unum plumacium. No de
uteis para o ministerio que perten 1314. Lourenço Pires, e sua mulher
dião. No de 1349 Gonçalo Esteves Mari-Annes deixão por seu Testa
de Tavares, e sua mulher Leonor mento hum grande número de Al
Rodrigues de Vasconcellos fizerão mucellas. Primeiramente á Sé de
seu Testamento de mão commua, Lam., onde se mandão enterrar:
e nelle instituem o Morgado da Bou Senhas almucelar, e senhos chumaços,
fa, em terra de Tavares, com cer e senhas colchas brancas... It : á Al
tas Capellas na Igreja, que fizerão bergaria do Pousadouro senhas almu
edificar na sua herdade da Corga, não celas, e senhas eixadas. It : á Alber
longe de Viseu, e hum Hospital garia de Queimada huma almucela,
junto á dita Igreja, para vinte e qua e huma eixada. It : mandamos a Ma
tro pobres honrados, ou envergonha rinha johanes 5 covados de Valanci
dos, ou invalidos de honesta vida, ma, e duas almucelas. It : a jobão
e bons costumes. E aos homens, e joannes de Queimadela huma almu
molheres honrados denlbe seos alma cela a sa filha solteira. It : a Pedro
draques de lãa , e senhas colchas , e Visoto huma almucela. It : huma al
<enbos cabeçaes 2 tamanhos , em que mucela a Sancha Fernandes. E para
Il2O
I O2 AL AL
não gastarmos mais tempo em cou Nos Foraes antigos se achão al
sa tão clara no Testam. de João Du mudes de vinho , de pão , de ce
rães , que alli mesmo se guarda, vada, de mel, de manteiga, e até
achamos, que se manda enterrar na de pão cosido. No da Villa de Ba
Sé : e mando bi comigo huma almo nho em Terra de Alafões de 1 152
zela, e bum chumaço. It : mando que se determina que quando o Senhor
a minha mejadade de pano de linho, que da Villa a ella vier, de cada fogo
hisé, quo o dem á Albergaria que fez lhe devem pagar annualmente: Unum
foão Durães a mejadade: e a outra almude de pane , Óº unum de vino,
mejadade á Albergaria de cima. E ou dº duor denarios pro conducto. No de
tro si mando a essas Albergarias XL. Leiria de 1 195 se ordena que o
soldos. It : his mando duas almocellas. Melleiro det per annum almude de
Decidão os prudentes se estas Al melle. E no de Souto de Azaron em
mucellas serião pequenas murças, se Terra de Panoyas de 1 196 se diz:
cubertores de camas. Et unus Cairelis rendatis I 1.1 I. pel
ALMUDE de pão. Esta medi Ies de Conelios, dº singulos almudes
da , a que os Hebreos chamárão de pane couto centeno , Óº I, almude.
Modd , e os Arabes Almodde, pas de cevada. L. dos Foraes Velhos. .
sou aos Latinos com o nome de Mo ALMUDADA, e Almutada. O
dius. Daqui tomárão os nossos o seu mesmo que almude, ou dois alquei
Almude quasi alius modius, por cons res da medida velha.
tar de dois alqueires assim dos aridos, ALMUINHA , Almunha, Al
como dos liquidos. E com efeito o moynha, Almuia, Almuya, e Amuya.
Almude dos Arabes corresponde ho Horta fechada sobre si, terra de
je com pouca diferença ao nosso pomar, parreiras, e hortaliças, fru
alqueire ; mas a razão he, porque tos, hervas, e arvores, que servem
o nosso alqueire accrescentado con de matar a fome. Vem do Latino
tém o almude antigo, ou duas me Alimonia; mantimento, ou de Alí
didas velhas, e hum punhado; como mon : huma herva contra a fome.
declara El-Rei D. Manoel no Fo Em huma Carta d'El-Rei D. Afonso
ral da Cathedral de Lamego, que VI. de Io95 que traz Yepes T.VI. se
alli se acha no Livro Velho das Doa lê Almuniam Regis. E no I. Testamen
fões a f Io8. Que muito logo os to do mesmo Rei ap. Marten. Tom.
nossos antigos chamassem Almude I. Colect, ampliss. Col. 546. se acha
ao que nós hoje chamamos alquei Ofero illis villam unam, nomine Hu
re: quando dois alqueires do seu keka, Óº nnam almuniam, quam nos
tempo não fazião mais do que hum Latine vocamus Ortum, qui est pro
corrente em os nossos dias? Em Cas pè illam Eccleriam S. Servandi. As
tella sempre chamárão Almude de pão hortas, e pomares de Santarem jun
á meia Fanega, que constando de to á Villa se chamão Omnias: o que
quatro alqueires, claramente se mos parece corrupção de Almonias , ou
tra, que o Almude deveria constar Almunias, como antigamente se di
de dois. Em Portugal ficou o almu zião. No Foral de Thomar de 1174,
de só em os liquidos , composto, traduzido em Portuguez no Seculo
e constante de dois alqueires , ou XIV., se diz: Se alguem entrar em
dois cantaros. *
vinha, ou em almoynha d'alguem fur
ti
AL AL Io3
tivelmente de dia per razom de comer, de Lamego de 1316: Ir: mando a
ou com sa maño besta enferraem d'al meu Irmão juihão a almuinha , que
guem meter, peite V. f. Se alguem de foi de Lourenço Maquia. E não he
vinha, ou d’almaynha em regaço, ou em justo demorar-mo-nos mais em cou
taleiga, ou em cesta trouxer algua cou sa tão clara. V. Almeitiga.
sa, ou ferraem cegar , peyte buum ALMUINHEIRO , ou Almoi
maravidil. Se alguem de noite for pre nheiro. O hortelão, o que trata de
so furtivelmente em vinha, ou enfer huma horta, o que cuida, e se oc
raem, ou em almoynha peyte lx. ff e o cupa no serviço , e cultura das al
que trouxer vestido: e disto que pey muinhas. Nas Cortes de Torres ve
tar , aia o Senhor do lavor ameada dras de 1141 se queixárão os de
de : e se non ouver que peyte, pregue Coimbra, de que tendo os Almui
no na porta per huum dia, e de mays nheiros daquella Cidade certos Pri
açoute-no. E no mesmo Foral: Se al vilegios, com obrigação de carre
guen em defendimento de seu agro, ou tar toda a cal, que pera repairamen
dessa vinha, ou de ssa almoynha esbu to da Cidade , e Concelho ouver mis
lhar o danador ; peró que o danador ter, e levar as cadeas dos prezos dos
seja ferido, ou chagado, o Senhor da Corregedores: se querião alguns ex
vinha nom peite: e se o danador fê imir destes encargos, com o pretex
rir o dono , satisfacalhy, e qualquer to de serem Bérteiros: e quando para
coomba , que lhy fezer, corregalba. outras cousas os constrangião, escusa
E nos Cust. e Posturas d'Evora vão-se com o Privilegio de Hortelaaens,
de 1 3o2 se acha. It : todolos danos Manda El-Rei , que ou cumprão
das vinhas, e dos farragiães, e das com a sua obrigação, ou percão o Pri
casar, e das aziagãs, e dos valados, vilegio de Hortelão. Doc, de Coimbra.
e das amuyas, e das carreiras, e dos ALMUNIA. O mesmo que Al
alquiéés das casas, e dos alquiéés das muinha. V. Exertada.
rendas das herdades, e de todolos obrejº ALNA. Covado, medida de tres
ros, que sayem pera os serviços fa palmos, e que corresponde ao Cu
zer por seu preço talhado de cada dia, bito Menor dos Romanos. Cento e sin
ou de empreitada: sejam todos chama coenta almas de sarjas delgadas, co
dos , e julgados pelos almotacéés , e loradas d’araiz , das que chamão ra
penhorados pelos seus andadores dos sas. Doc. de Pendorada de 1359.
almotacees: e os que quiserem agra Aqui se toma a cousa mensurada
var do juizo dos almº, possam-se agra ela medida, com que se mensurou.
var a juizo dos juizes. It : manda ALODIO.
Alediar. •
# livre. Daqui
mos, que toda besta travada, ou pea
da, que entrar em almuya, ou em Or ALONGAMENTO. Demora ,
za, ou em agro albeo, que nom peyte dúvida, opposição, embaraço, re
coomba , mais correga o dano , que sistencia. Manda El-Rei D.João I.
fezer a seu dono. Nos Doc. das Sal ás Justiças do seu Reino, que cum
zedas se acha Almuya , e Almuia prão, e guardem os Privilegios, e
no de 127o: Em hum Doc. da Guar Isenções do Mosteiro de Castro de
da de 15oo : Leva o Bispo a terfa Avellans, e lhas fação cumprir, e
de todos os dizimos , tirando o dizi guardar sem outro alongamento, no
mo das almunhas. Em hum Testam. de 1384, Doc, de Bragança.
ALON
1O4 AL AL
ALONGAR. Afastar, apartar, ra. Em os Doc, de Guimarães, Arou
estender alguma cousa, ou fazella ca, Pedroso , e outros do Seculo
mais comprida, deferir para outro X., e XI. Se acha a cada passo es
tempo, demorar, dilatar. ta palavra, que nos veio dos anti
ALPARAVAZ. A aba da estei gos Gallos, os quaes chamavão Al
ra á roda do estrado, ou o panno, pes aos altos montes: nome que ao
que dos colchões para baixo cobre depois se applicou a todos, sem dif
o vão do leito. Com muitos lavores de ferença de altos, ou baixos.
ouro, e louçainhas pelos alparavazes. ALPHA. He o A primeira Le
Barros Decada III. tra do Alphabeto Grego. Em o Tes
ALPE. Travesseiro, ou cabeçal tamento Novo se chamaJesus Chris
com a sua fronha, ou almofada. Pe to Alpha , e Omega , como prin
la sua altura, e por servir a levan cipio, e fim de todas as cousas. Nas
tar a cabeça se lhe deo este nome. antigas sepulturas he facil de achar
No Testamento de D. . Mumadoma huma Cruz entre estas duas letras
}
de 959 se lê: Tonicas X. superlecti compendiosa cifra, com que os Ca
les, inter palear, & tramisirgas: XII. tholicos protestavão morrer na Fé,
ganapes: lineas C.: plumazos simili de que Jesus Christo em tudo era
ter C.: alij alpes V.: almucellas IV. verdadeiro Deos, e por tudo igual
Cinular pares: XXX. Sabanos: Óº man ao Pai Eterno: e confessando des
tos polimitos 2.: lineos numero C. On te modo, que em nada sentião com
de se vê que os Alpes dizem rela os Arrianos, de que se póde vêr a
ção aos Plumazos, que elão fronhas Hespanh. Sagr. T. XIII. Tr. XLI. Cap.
cheias de froxel, ou penna miuda. XIII. S. LXXI. , e o Thesaurus Theo
V. Du Cange Verb. Alpes. logicus: de várias Dissertações Eru
ALPENDER. O mesmo que Al ditas da Impressão de Veneza de 1762.
pendorada. No alpender, ante a porta T.I. fol. 321.
do pallatorio. Doc. de Tarouca de Porém não só nas Inscripções Se
I312. pulcraes; igualmente se acha o Al
ALPENDORADA. Alpendre, pha, e Omega á frente, e no fun
cuberto , gallilé, especie de tecto do de muitas Escrituras, que entre
sustentado, e erigido sobre colum nós se conservão nos seus Origi
nas, ou pilares. Doc. de Tarouca naes; bastará indicar duas: a I. he
de 1427. o Codicillo d'El-Rei D. Affonso
ALPES. Assim chamárão, não só Henriques de 1179 ; que se guar
os montes que separão a Italia da da na Cathedral de Viseu, que re
França, e Alemanha; mas tambem mata com o sinal da Tab. 4. n. 1.
derão este nome aos pastos do ga A II. he o Alvará de D. Fernan
do , situados entre
gares sombrios. montes, ou lu •
do Rei de Leão , pelo qual toma
debaixo da sua protecção os Mon
ALPES. Em os nossos antigos ges de Tarouca, e suas cousas, e
Doc. Se acha Alpe, e Alpes , por os exime de Portagens , e Alcava
qualquer monte, collina, ou emi las em todo o seu Reino; antes do In
nencia, que ficava levantado , e a Nomine Domini, se acha o monogra
Cavaleiro de qualquer terra , ou ma de Christus, com o Alpha, e Ome
lugar, e mesmo por qualquer altu ga da Tab. 4. n. 2. Doc. de *#
AL AL Io5
ALQUARIA. V. Alcheria, 1 18o a Rainha D. Thereza, filha
ALQUEIRE. Medida de sóli d'El-Rei D. Afonso I. diz no Fo-
dos, e liquidos bem conhecida, e ral, que deo á sua terra de Aurem:
usada neste Reino desde os seus De molinis non accipiant, nisi de XIV.
principios; porém com grande dif alqueires unum sine afrecione. Ibid. E
ferença nas Comarcas, e Conce no de Torres Novas de 1 19o determi
lhos , sendo em quasi todos ora na: De molinis non accipiant nisi XIII.
maior, ora mais pequena, até que alquejres. 1. Sine offrecione. Ib. E no
El-Rei D. Pedro I. mandou regu que D. Sancha Vermuiz deo ao Con
lar o Alqueire de todo o Reino pe celho de Font’arcada no de 1 193 se
lo de Santarem, com o que cessá determina que por Colheita darião,
rão em grande parte as diferenças. (além de outras cousas) XX, panes
El-Rei D. Manoel na reforma dos de singulos alquejres... &º de butiro
Foraes Velhos intentou reduzir to 1. alquejre. Ib. São innumeraveis os
dos os differentes Alqueires a hum Doc. deste tempo, em que se faz
só corrente, v. g. os dois de La menção de alqueire, e meio alqueire.
mego, a hum: os quatro de Mon ALQUEIRE. O mesmo que Ra
te Mór, a tres: os sinco de Coim sa, e Medida, segundo os Prazos
bra , a quatro, &c.; como consta antigos, e modernos. Porém n'al
dos seus respectivos Foraes: e com gumas partes, por ser o Alqueire
tudo ainda hoje se observão dife mais pequeno, se ficou usando sem
renças bem sensiveis com detrimen pre por alguns Senhorios da medi
to gravissimo dos Povos, que bem da da Rasa, a que chamão Medi
facilmente podia ser exterminado. da , ou Rasa velha, ou Rasão, que
Entre os Arabes se diz Alquile hu já hoje se não deveria permittir, e
ma medida , que faz hum sacco, principalmente nos contratos moder
ou seis alqueires ordinarios de Por nos; sendo utilidade pública a uni
tugal. Porém como o seu Verbo Cá formidade das medidas.
la, donde se derivou o Alquile, ou ALQUEIRE de quinze alquei
Alqueire, significa medir, ficou na res. O quarteiro por onde se #
liberdade dos Africanos , e Portu pagar a Jugada, o qual em humas
guezes regular os seus alqueires, ou partes era de quinze alqueires, em
medidas com mais, ou menos gran outras de quatorze, e em outras de
deza. Parece , que só no Seculo dezeseis, como se póde vêr. V. Quar
XII. começárão os nossos Maiores teiro. No Foral que El-Rei D. San
a usar do nome de Alqueire , que cha deo a Torres Novas no de 1 19o
até aquelle tempo fora conhecido se manda pagar a Jugada: Per al
com o de Modio. Vid. Almude, Mo queirem de XV, alqueiris per alquei
dio, e Teiga. rem de directo. L. dos Foraes Ve
No Foral de Penella , junto a lhos. E senão houve erro na copia
Coimbra, dado pelo Infante D. Af ue se lançou no dito Livro , por
fonso Henriques no de 1137 se acha: #. havemos de dizer: que alquei
Clericus, qui ibi fuerit in Ecclesia, re de XV. alqueires se toma aqui por
donet ad Episcopum , qui ibi fuerit, quarteiro, que devia constar de quin
1. pelle de janeta, & I. alqueire de ze alqueires, medidos direitamente
mel. L. dos Foraes Velhos. No de pelo alqueire aforado do Concelho.
Tom, I. O AL
1o6 AL AL
ALQUEIRE abraçado. O alquei ALQUEIRINHO pequenino.
re, que era arrasado, ou fosse com Levava meio alqueire , e hum ça
rasão, ou páo lizo, e roliço ; ou lamim escasso. Assim consta do Cen
fosse com taboa, que se lhe punha sual dos Votos da Mitra do Porto. Da
em cima , ou fosse mesmo com a qui se vê que dois Alqueirinhos pe
parte do braço , que vai desde o queninos fazião hum alqueire, e quar
cotovélo até a mão; pois de todos ta escassa dos alqueires correntes.
estes tres modos arrasavão o alquei ALQUEIRINHO raso. Levava
re antigamente. Oito alqueires de meio alqueire da medida corrente:
pam segunda, pela medida nova, abra dois
rem. fazião
Ib. hum dos que agora cor

cados hum alqueire, outronam (isto he:


quatro arrasados, e quatro acugula ALQUICÉ. Capa, com que os
dos.) Doc. de Pendorada de 142o. Mouros se costumão cobrir. He de
ALQUEIRE de braço curvado. João de Barros.
O Alqueire que se arrasava, ou apla ALQUISER. Enxerga, ou pe
nava com o cotovélo do braço, e queno enxergão , de que usão os
que pela desigualdade do mesmo Mouros. Assim o diz Fr. Luiz de
braço ficava com menos pão, do que Sousa no I. T. da Chron. de S. Do
devia. Attendendo a esta fraude, e mingos L. IV. C. V.
grave lesão mandárão alguns Foraes, ALROTAR. Desprezar com so
que se não arrasasse o pão com o bra berba , e arrogancia , presumir de
ço, e que tão sómente se lhe pu si com altivez, jactar-se, e engran
zesse huma taboa liza , que apla decer as suas cousas com orgulho,
nasse a superficie do alqueire. No e sem verdade.
que El-Rei D. Afonso I. deo a Lis ALSAR-SE , ou melhor Alçar
boa no de 1 179 se manda, que o se. Rebellar-se, levantar-se, expel
Quarteiro de pão seja de quatorze al lir o jugo da obediencia, rendimen
queires: Et metiatur sine brachio cur to, e sujeição, fazer-se livre, e in
vato, & tabula supraposita. L. dos dependente, não querer reconhecer
For. Velhos. No de 1285 deo El algum Imperio, ou Senhorio. Aquel
Rei D. Diniz Foral a Villa Rei, la Cidade se alsou: Rebellou-se, não
no Bispado da Guarda, (hoje de quiz reconhecer dependencia, ou
Castello Branco) em que diz: Se Sujeiçao. ,
ja o quarteiro de XIV, alqueires , e ALTAMIA. Almofia , ou pe
seja medido sem braço curvado, e ta #? alguidar, vaso de barro vi
voa solum posta. Doc. de Thomar. rado, e bem conhecido.
E alli mesmo se acha o Foral da ALTO , e baixo. V. Mero, e
mesma Villa de 1 162 , traduzido Mixo Imperio.
no XIV. Seculo, onde se lê: Peoms ALVAZIL , Alvazir, Alvasir,
den de raçom quanto soem dar os Peoms Alvasil , Alvacir , e Alvacil. Esta
de Cojnbra, per quartejro de XVI. al palavra , que entre os Arabes tal
quejres, sem braço, e sem tavoa. vez significa o Ministro de Estado,
ALQUEIRE cheio pequenino. o Conselheiro do Principe, e que
Levava hum alqueire, e hum çala está ao seu lado, ou que delle con
mim do alqueire grande. seguio alguma Graça, ou Mercê: se
ALQUEIRE raso. V. Raso. gundo os Monumentos, que #"
Os
AL AL 1 O7

Monarchia se conservão , he Go se Justiça: o que assim executou Re


vernador de huma, ou mais Cida cemondo , qui est Vigario de Alva
des, Presidente, ou Chefe de hu zir, Óº de Cidi Fredariz. Assim cons
ma Provincia , ou Territorio. Por ta de hum Doc. de Arouca de 1c91.
huma Doação da Igreja de Molle E se a estes ajuntarmos os Doc. de
los, no Valle de Bésteiros, feita a Pedroso hum de Io74, e outro de
Lorvão no de I Ior consta, que es 1o87, em que D. Sisnando se in
ta Igreja fora tomada aos Mouros: titula Alvacir, / e Senhor de Coimbra,
In temporibus Rex Alfonsi, & Alva e de toda a terra de Santa Maria; por
sir Domno Sernandi, Imperatore nos força havemos de confessar , que
tro. L. do Testam. de Lorvão. Erão Alvazir se toma por Governador,
logo Synonymos Alvasir, e Gover ou Presidente de huma Cidade, ou
nador, ou Imperador de Coimbra, a Territorio, e eom inspecção sobre
quem então estava sujeito o Terri as Armas, Regedor # Justiças,
torio de Viseu. No de 1o7o segun e Magistrado Supremo, que julga
do huma Doação de Arouca , go va sem appellação , nem aggravo
vernava In Colimbria Sesnandus Al pelos seus Ouvidores, ou Vigarios,
vazir. De outra, que alli mesmo e para o qual tinhão recurso as Par
se conserva, consta, que era Dux tes dos mais Tribunaes da Cidade,
in Colimbria Sesnandus Alvazir no de
e Concelho; resalvado só ao Rei o
Io85. E por outra, que se acha no Direito inalienavel de reformar em
Livro Preto da Sé de Coimbra f. 39 alguns casos menos triviaes os seus
se vê, que no de Io86 era D. Ses Juizos. E tal era o Imperador, Cou
nando Consul de Coimbra, e D. Mar sul, e Conde D. Sesnando.
tinho seu genro Proconsul. E por ALVAZIL. Juiz ordinario, e que
outra de Pedroso, que se acha em decidia as causas na primeira Ins
a Universidade de Coimbra, se vê, tancia , admittindo Appellação, e
$# fora feita no de 1o87 sendo D. aggravo nos casos, que a Lei o per
esnando Alvazir de Coimbra. mittia. Destes A/vazis ha innumera
E finalmente a grande contenda, veis Doc, do Seculo XII. , XIII.,
que os Monges de S.Pedro de Arou e XIV. Nas Cortes de Lamego de
ca tiverão com os Herdeiros da Igre 1142, (e não 1143) se diz: quan
ja de Santo Estevão de Moldes, foi do aliquis gançaverit avere alienum,
levada ante Alvazir Domno Sisnando, vadat querelosus ad Alvazil, Óº po
qui Dominus erat de ipsa terra ipsis nat querelam, & Alvazil restituatil
temporibus. E depois que as partes li suum avére. E alli mesmo Mulier,
alegárão da sua Justiça jussit Alva si fecerit malfairo viro suo cum bo
zir per manu de suo Vigario Cidi Fre mine altéro, Óº vir ejus accusaverir
dariz, quod dedissent ipsos Fratres ju eam apud Alvazil, Óº ipsi sunt boni
ramentum, sicut Lex Gotorum docet, testes; cremetur cum igne. Em a no
é, c... Deinde venit de Colimbria, Óº va Hist. da Ordem do Hospital T.
de Monte Majore de illo Senore Al I. N. 42 , e 86 se persuade o seu
vazir cumisto recapito, a saber: que A. que os Alvazís, de que os nos
n’hum dia certo , e peremptorio, sos Documentos nos informão, não
presentes os litigantes, e a Camera erão Almotacés , nem Vereadores,
de Arouca, se julgasse o que fos mas sim Juizes Ordinarios, eleitos
O ii pe
1o8 AL AL
pelos Povos, e Concelhos d’entre Governo da Républica , Estado,
elles mesmos, e segundo os seus ou Monarchia. Mas entre os Hes
Foraes : á differença dos judices, panhoes se acha com a addição de
ou judex, que sempre denota Juiz hum G , chamando Alguazil: ao
de fóra, # , e posto por El-Rei, que prende, leva á prisão, e ao pa
a pezar dos mesmos Povos, que se tibulo aos quebrantadores da Lei,
não accommodavão muito bem com aos criminosos, e condemnados pe
esta fracção dos seus Privilegios, lo Rei, ou pelos Juizes, que jul
ou Foraes. A verdade he, que os árão os pleitos. A este Ministro,
Juizes de fóra nunca se nomeárão e Oficial de Justiça chamárão no
Alvazís; porém os Juizes Ordinarios Seculo VIII. Alguacel, como consta
humas vezes se chamão Alvaziles, de huma Carta de Silo , Rei de
e outras vezes judices. Não preci Oviedo de 777, que se póde vêr em
so adduzir aqui huma grande co Sandoval. Os Portuguezes chamão
pia de Documentos, que assim o hoje a estes agarrantes, meirinhos da
convencem ; bastará lembrar só o vara , esbirros , alcaides, Algazís;
Foral de Coimbra, em que se diz: porque todos se occupão em leva
judex, & Alcaide sint vobis ex na rem á prisão, e á pena os culpados
turalibus Colimbrie. ALVEICl, ou Alveci. Certa se
ALVAZIL. Vereador da Came da branca , e mui delgada. Vester
ra. Nesta accepção he frequente, Ecclesiasticas I I I, dealbas duos, duos
desde El-Rei D. Sancho I. até El saibis, Óº unum morcum, alara una
Rei D. João I., e mesmo por qual de alvejci... tres avectos , unum de
er outro Oficial do Concelho. alveci, Óº alia tiraz. Doc. de Gui
m hum Doc. de Lorvão de 1 195 marães de 959.
sobre o Padroado da Igreja de Abiul ALVEIRO. OS. Acha-se nas Ve
pertencer áquelle Mosteiro, exara dorias dos Prazos antigos: v. g. Es
do em Coimbra, no Palacio, e na te Campo está marcado de todas as par
presença d'El-Rei D. Sancho I, de tes per alvejros. — It: mais huma ter
que forão Testemunhas, na primei ra cercada per valos, e alveiros. Per
ra Columna seus Filhos com Titu suado-me que Alveiros são seixos
lo de Reis , e na segunda alguns brancos, com que ainda hoje ve
grandes da sua Corte; se achão na mos demarcadas muitas fazendas
terceira os tres Vereadores da Cida Doc. de Grijó.
de, na fórma seguinte: ALVENDE. Alvará, Carta, Res
Ts. Stephanus Alvazir. cripto, Authoridade, Licença, Es
Ts. Rodricus Alvazir. criptura, ou Real Decreto. No de
Ts. Tellus Alvazir. . 87o Castimiro, e sua mulher Asa
Nas Cort. de Lisb. de 1352. Art. rillí, doárão á Igreja de Santo An
7. se tomão bem claramente Alva dré de Sozello (no Bispado de La
zís por Vereadores. mego), a qual eles tinhão edifica
Do Arabico Uazir, ou Uasil (o do em hum seu Casal com o dinhei
que leva alguma cousa) ajuntando ro, que pertencia aos seus herdei
lhe na composição o artigo Al, se ros: Ex epre de mostros heredes; hu
deduzio Alvasir : Pessoa, ou Mi ma herdade, quam babuimus de pres
nistro , que leva sobre si parte do suria, quam preserunt noutros Prio
pref
AL AL Io9
res cum Cornu , Óº cum Alvende de bo de 1 191, que trata da Igreja de
Rege. Doc. de Pendorada. S. Miguel de Penaguião, nas In
ALVERCA. Terra apaulada, ala quirições d'El-Rei D. Afonso III.
gadiça , pantanosa , entrecortada ALVORIZO. O mesmo, que
com charcos, e lagôas: he mais usa turbação , alvoroço , desassocego,
do em Castella , do que em Por inquietação , tumulto, revoltilho,
tugal, onde ha terras com este no levantamento , disturbio. Vem do
me, o qual lhes deo a sua qualidade. Verbo Alvoriçar, ou Alvorizar.
ALVIDRAR. Fazer composi ALUGAÇOM. Arrendamento,
ções, escolher Juizes árbitros pa aluguer, e a mesma acção de alu
ra terminar qualquer demanda, ou gar alguma cousa. •

questão. Estes antigamente se cha ALUZ. No Testam. de D. Mu


márão Arvidros , Avidores , e Com madoma de 959 entre as muitas mais
poedores. Compoer, e alvidrar. Doc. peças , # deixa para serviço dos
das Bent. do Porto de 1337. Altares do seu Mosteiro, são: Ala
ALVIDRO. Juiz árbitro, esco ra una de alvejci, velos, lineas qua
lhido a prazimento, e satisfação das tuor; frontales paleos quatuor; palas
partes, para decidir a final as suas glisissas ; duas alias palas de aluz;
contendas. Doc. das Bent. do Por quinque casula; piscinam unam; gre
to de 133o. Tambem se disse Ar ciscas tres de aluz; ... tres avectos,
vidro na mesma significação. unum de alveci, Óº alia tiraz. Doc.
ALVORIÇAR , ou Alvorizar. de Guimarães. .
Hoje se diz dos enxames das abe He cousa averiguada o quanto os
lhas, quando se levantão, e seguin antigos se não esquecêão das pel
do a Mestra, se ausentão, fugindo les, com que Deos vestio o primei
do colmeal. Antigamente segnifica ro homem. Os mais ricos, e abo
va : retirar-se , fugir , ausentar se nados, e até os mesmos Principes,
com passo ligeiro, com indignação, dellas fizerão uso. Mas a vaidade
e a seu pezar. Como o Abbade de São até abusou deste memorial da nos
Miguel de Borba de Godim esquivas sa vileza; implorando os soccorros
se huum dia peitar Colheita, e Alber da arte, # que preparasse com
gagem com boa cór, e franqueza a D. a maior destreza os despojos dos
Gomes Mendes Gedeom , por trager animaes , transformando-os em ga
muita gente em saa Campanha : di las, e ornamentos dos homens. Em
xolhe, que os Abbades nom guizavão os nossos Monumentos se encontrão
Caldeira para as Hostes, me el fora com frequencia capas, e vestidos de
nunca contente de tal uzança. Ouvin pelles, Pelliteiros, Pellitaría, pelles
do isto D. Gomes, e os que hião com de gineta, de cordeiros, &c. O que
el, creceulbe a rebentina, e nom le tudo são provas desta verdade. Do
catarão as Hordens, athá que alvori luxo, ou necessidade do Seculo pas
zou por seu mal grado , rezando a sárão as pelles a servirem de orna
maldiçon de Abirou. Entonces D. Go mento, resguardo, e #
mer, que era mui sanhudo , fijo bi dos Altares, e seus Ministros. Pa
rivar em terra aquella Igreja , que las, Casulas, frontaes se fizerão de
era de saa Avoenga, e el tomado de pelles mui-finas, e pintadas, a que
colera, &c. Doc. da Torre do Tom os Latinos chamátão Aluta. E por
que
1 IO AL AM
que de Grecia vinhão as mais ele legiados em attenção ás Amas, que
gantes , formosas, e lavradas, es criavão os filhos legitimos dos Gran
tas se chamárão Greciscas , Grecis des, forão deitados em devassa, e
sas, ou Glisissas. ultimamente abolidos por El-Rei
Erão pois as quatro Palas, de que D. Diniz no de 1 29o. Vid. Honra.
este Doc, nos informa, duas de pel AMADURAR. Moderar, refor
Ies de Grecia , e as outras duas de mar , e benignamente interpretar.
pelles ordinarias, ou do Paiz: das Pedimor-vos de Mercé, que, amadu
sinco Casúlas , huma era Piscina, rando vossa Ordenação, (de nenhum
ou Piscinia; porque nella estavão homem dar dia de mais a outro pa
debuxados, ou tecidas algumas fi ra seu serviço) que se nom entenda,
uras de peixes, (e mesmo havia salvo os Oficiaes do Concelho, e Ta
# panno chamado Peixe, como baliaens, e Escrivaens, e Pessoas Po
diz Du Cange V. Piscis; talvez por derosas , que estragam a terra com
não embeber em si facilmente a agua, Sayoria , e poderio. Doc, da Cam.
ou a lançar fóra com presteza) tres Secular do Porto de 143o.
de pelles de Grecia, e tres frontaes, AMAGO. Ameaço, comminação,
(a que os Concilios de Hespanha terror, espanto, a fim de alcançar,
chamárão Habitos, ou vestidos do Al ou extorquir alguma cousa.
tar) hum de seda branca liza, e os AMALHAR. I. Demarcar, pôr
outros dois de panno entretecido de balizas, divisões , e marcos, que
linho, e láa, a que chamavão Pan antigamente se chamavão Malhoens
no tiraz, , como derivado de Amalhar. E por
AMADIGO. Lugar, Povo, Quin onde acbassem que antigamente era de
ta, Casal, ou Herdade, que lo marcado, que { o amalhassem se o nom
grava os Privilegios de Honra, por fosse. Instr. de Partilhas de termo
nele se haver criado ao peito de al entre Pinhel, e Castello Rodrigo
guma mulher casada o filho legiti de 1473. Doc. de Pinhel.
mo de hum Rico Homem, ou Fidal AMALHAR, II. Ter como cer
go Honrado. Era este hum dos gran ta alguma cousa, depois de ter ob
des abusos, que os Fidalgos com servado os meios de a conseguir
mettião, e # se oppunha aos in Amalbar huma lebre: ter observado
teresses da Real Fazenda, Queria a sua cama , e jazigo , para a ter
hum Lavrador libertar o seu Casal, certa na occasião. Amalhar o inimi
ou Herdade : pedia a hum Fidal go: ter observado as suas tenções,
go, Senhor da Honra mais visinha e movimentos, para lhe cortar os
lhe désse hum filho a criar a sua passos, e frustrar os seus intentos.
mulher: criava-o ella em sua casa; º AMAMENTAR. Dar de mam
e por ser ama do leite deste tal fi mar. Antigamente se disse, não só
|lho, amparavão os Pais delle aquel dos animaes, mas tambem das mu
le Casal, e o honravão; e não só lheres, que davão o peito a seus
a casa do Lavrador, mas todo o Lu filhos. . . . º ,

gar, e visinhança, onde o Lavrar - AMANHAR. Compôr, reparar,


dor morava, ficava honrado, livre, assear, concertar; e fallando de ter
e isento de imposições, e tributos. ras, ou vinhas: fabricar, cavar, e
Estes Amadigos, ou Lugares Privi fazer tudo o mais que pertence á
SU12
AM AM I I I

sua cultura. Doc. das Bent. do Por AMEAÇA, Vontade, desejo,


to de 1445. ou tenção manifestada por obras,
AMANTELADO. Cercado de ou palavras, que o Vassallo , ou
fortes, e alterosos muros. Daqui Colono tinha } passar a outro Se
Desmantelado ; destruido , desbara nhor, qualquer que escolhesse, dei
tado; ambos de Amantelar, e Des xando o primeiro. Na Traducção
mantelar; fortalecer, e destruir. do Foral de Thomar de 1 1 62 se diz:
AMÁS. Ajuntamento de muitas Antre vós nom seja nenhuua ameaça: e
cousas postas em montão, ou em ri se alguum dos vossos quizer bir a outro
mas. Postos em amás. Doc, de La Senhorio, ou a outra terra, haja poder
mego. Vem do Francez Amasser. de doar, ou de vender o seu herdumen
AMATAR. I. Extinguir, extir to a quem quizer , que em eile more,
par, arrancar, tirar de huma vez, e seja nosso homem, assi come huum
fazer cessar. Per que se amate toda de vós. Esta liberdade de escolher
maneira de escandalo. Constit. do Ar Senhor se acha em muitos Foraes
cebispo de Braga D. Martinho de daquelle tempo, e ela suppõe a
1304. Doc. de Moncorvo. Condição Servil, que dos Godos her
AMATAR. II. Pagar , satisfa dárão os nossos Maiores. E por isso
zer. Se algum home, ou alguma mu não era pequeno favor o libertá-los
lher emprestarem a outro home, ou a para procurarem algum Senhor a
outra mulher, que sejam em sembra bem fazer, ou que bem lhes fizesse,
casados , maravidiz , ou deejros, ou de que ainda hoje se lembra a nos
outro aver qualquer : se uno de esse sa Ord. L. IV, tit. 3o. Deste Privile
morrer, e o demandador veer, e o de gio de procurar Protecção nos Gran
vido demandar a esse que fica vivo: des Senhores usárão não só os par
se ele, ou ela outorga, que lho deve ticulares, mas tambem Povos intei
amatar, (haja filhos, ou filhas :) se ros , e algumas Corporações : os
ja a divida conheçuda, assi como se mesmos Monarchas se fizerão então
lho provasse per homees boons : e per feudatarios á Sé Apostolica para que
esta conhecença do Padre, ou da ma ella os defendesse, e amparasse.
dre devem os filhos a pagar sua me AMEAÇAMENTO. Ameaça ,
jadade. Costum. e Posturas d'Evo comminação. Doc. de Tarouca do
ra de 1 3o2. Seculo XIV.
AMAVILMENTE. Desvelada AMENTAR, I. Voz pastoril: o
mente, com muita attenção, amor, mesmo que enfeitiçar , ou encan
e agrado. E amavilmente esguardej tar, chamando por encanto os lo
a dita Procuraçom. Doc, da Salze bos para destruir o rebanho de seu
da de 128o. visinho. Chamárão tambem os anti
AMBROÓ. Ao longo, ao com gos Amentar: quando os rebanhos
# Vem do Latino Amplus. No andão alegres, saltando, e retou
oral de Valle de Rugio em Pena çando. Parece vem do Latino Ar
guião, que se aforou para a Coroa f776f/tt1777,

no de 1233 se diz : Et vadit am AMENTAR, II. O mesmo que


bróó, per ipsa aqua, & inde per lom trazer á lembrança, ou ao entendi
bo aufesto. L. dos For. Velhos. Nos mento: quasi in mentem, seu memo
Doc. de Lamego se diz Auproom. riam revocare. Neste sentido se diz:
Não
1 I 2. AM AM
Não me amente, isto he, não fale tambem se chamárão Misericordias)
em mim: nem pela imaginação lhe fizerão os Reis algumas vezes Mer
asse o lembrar-se de mim. Ainda cê, como de rendas, e pensões sa .

# se chama Amentar, ou Emmen bidas.


tar: quando os Pastores da Igreja Amercear-se Deos de alguem: he não
rezão pelos defuntos, e se lembrão se lembrar o Senhor dos seus dile T

delles com algumas Preces, e Ora ctos, para os castigar, e tomar del
ções. E daqui les vingança, segundo todo o rigor
AMENTAS , ou Emmentas. O da sua Justiça; mas antes commutar
Salario, ou recompensa, que se dá a pena eterna em aflicções tempo -

ao Parocho por encommendar a Deos raes, e para o dizer assim, momen


as almas de alguns particulares de taneas, por efeito só da sua Miseri
funtos. Verdade he que não falta cordia sem número, e sem fim.
quem se persuada , derivar-se esta AMERGER. Mergulhar, afun
palavra Amentar do Responso Me dir, abysmar, lançar ao fundo, se
mento mei Deus , &c. por ser esta pultar , ou sofocar nas aguas. Do
Rogativa mui frequente na Comme Latino Mergo. Doc. de Tarouca do
moração dos Defuntos, e ser mui Seculo XIV.
facil derivar Mementar de Memento, AMETAL A metade de qualquer
e depois Amentar. V. Ementar , e cousa. Doc, de Paderne do Sec. XV
Ementa. . •

AMO. Ayo, Mestre, Director,


AMENTRE. adv. Em quanto. Conductor, que tem a seu cargo a
A mentre nom chegasse. boa educação, e instrucção de hum
AMERCEAR-SE. Compadecer menino nobre, e honrado. Amo de
se, usar de misericordia, e huma D. Fernando de Menezes. Doc. de Ta
nidade com alguem, não o castigar rouca de 1405. V. Criado.
segundo todo o merecimento do seu AMOS. Ambos. Nos amos : nós
crime, tratá-lo com piedade, gra ambos. ••

ça , e mercê. Como todo o Juizo AMOESTAMENTO. Admoes


humano não deva constar, ou só tação , instigação , impulso , per
de misericordia, ou só de justiça, suasão. Doc. de Tarouca do Secu
mas antes ser composto de huma, lo XIV.
e outra , para que se não conver AMOLHOAR. Dividir, ou di
ta, ou só em loucura, ou só em ty visar com marcos, ou balizas, es
rannia: se chamou em Scocia, e In tremar, demarcar. E o Prado do Ta
glaterra Amercear: o regular a pe lho, como está ora amolhoado. Tom
na ao réo legitimamente convenci bo de Castro de Avellás de 1551.
do , menos rigorosa ainda do que Vem do antigo Malhom, que signi
pedia o modo, e qualidade do dili fica marco, ou divisão. V. Amalhar.
cto; e Amereciamento: a esta mesma AMOLAR. Em hum Prazo de
condemnação, pena, ou multa assim Pendorada de 142o se diz: E dar
regulada, a qual consistindo antes des porjeira a podar, e a alçar, e amo
ordinariamente em certo número de lar quinze homeens. Em hum Mostei
animaes, pelo tempo foi reduzida ro de Benedictinos, em que ainda
a dinheiro. Destes Amerceamentos, hoje se chamão Hemas os vasos do
condemnações, ou multas, (que vinho, que antigamente se chamá
[2O
AM • AM I I3
rão Amas, não seria grande erro o AMORAR. Espantar, apartar,
suspeitar, que o serviço deste Pra fazer retirar ao longe. Nom seja ou
zo se dirigisse a compôr, e repa sado d'amorar, nem d'ameaçar as tes
rar as pipas, e toneis. Chega-se a temunhas, Carta d'El-Rei D. Diniz.
isto, que nos contornos de Pendo Doc. de Grijó. •

rada todo o vinho antigamente, e AMORIO. Benevolencia, amor,


quasi todo ainda hoje, he de em afecto, inclinação. He dos princi
barrados, que não admittem, nem ios da Monarchia,
precisão de cava : e tendo nós as AMORTIZAÇÃO. Á vista dos
videiras já podadas, e erguidas, res Doc., que abaixo se adduzem, e
ta só preparar a louça para recolher segundo o estilo , que até os fins
o vinho. E finalmente na baixa Lati do Sec. XIII. entre nós se conser
nidade se disse Amola, e Amula, por vou, parece não ser outra cousa mais
vaso de vinho, e Hama, por pi que huma acquisição, que as Mãos
pa, ou tonel. É # cousa mais fa mortas fazião de alguns Predios,
cil, que deduzir daqui Amolar, por ou Propriedades, com licença , e
compôr, e reparar as vasilhas, em authoridade expressa do Soberano:
ue o vinho se recolhesse?.. as quaes huma vez adquiridas fica
AMONTAR. Caber, importar, vão isentas de todos os encargos,
cahir, acontecer na sorte, herança, e Direitos, que d'antes pagavão á
ou legitima: hoje dizemos Montar. Coroa, ou pelo tempo adiante lhe
Amonta a Nicolau Eanes no seu ter poderião pagar , e sem obrigação
fo CCCLXXVI. livras, e VIII. sol de serem dentro de certo tempo
dos, e dous dinheiros. Doc. de Pen alheadas. Em alguns Paizes preva
dorada de 132o. leceo o costume # se pagar ao Prin
AMOR. Beneficio, favor, gra cipe a terça parte do preço , por
ça, mercê. Por este amor, que recebo que estes bens se compravão, ou
do dito Mostejro. Prazo de Salzedas em que erão avaliados, se por ou
de 1293. E era mui frequente. Em tro Titulo se adquirião.
huma Carta d'El-Rei D. Diniz de Em Portugal não achamos outra
1322 em que prohibe as Comedorías, Regra mais que a vontade do Prin
e Serviços, que alguns pertendião cipe, que humas vezes recebia mais,
ter no Mosteiro de Reciam, se lê: outras menos, e ordinariamente na
E dizem, que Abbadessas, que ouve da , segundo a sua maior, ou me
em esse Moestejro Filhas d'algo, fa nor Devoção para com as Mãos mor
zião prestança, e amor de pam, e de tas, a quem fazia livres, e isentas
vinho, e d'outras cousas aos seus pa algumas certas, e demarcadas fa
rentes , aaquelles, com que aviam o zendas. Estes bens assim amortiza
devido, e quando bi vinhão. Doc. de dos forão entre nós chamados Cou
CCl2T1. tos ; porque não só o Principe fa
AMORADO. Refugiado, au zia Doação, ou Cessão de todos os
sente, posto a monte, escondido, Direitos Reaes, que dentro delles
retirado por causa de algum crime; tinha, ou podia ter; mas ainda ir
Pelo qual a Justiça o persegue. Ain rogava , e estabelecia gravissimas
da hoje se usa deste nome, e nes penas, e multas "# que os
te sentido. V. Cadieiro. , -
quebrantasse, ou dentro deles al
Tom. I. gu
I I 4. AM AM
guma malfeitoria commettesse; dei nam , eorum precibus , adquiramus.
tando algumas vezes a sua maldi Ab hac ergo presenti die deinceps à no
ção, e imprecando os mais horri bis , sive a mostra Posteritate , qui
veis castigos corporaes, e espirituaes cumque sint , sive filii , sive filiae r
a qualquer seu Descendente, e Suc baec omnia , quae supra commemorata |

cessor no Throno , que temeraria sunt, Ecclesiae Sanctae Mariae, Óºvo


mente, e sem urgentissimas razões bis tradita Óº concessa, atque confir
os infringisse ; como seria facil de mata sint evo perheni. Si vero aliquis,
mostrar á vista das Cartas Originaes, potens, impotens, nobilis, ignobilis,
ue de hum avultado número de a genere nostro, sive extraneo descen
&# se conservão : indicaremos dens , sciensque bujus seriem Testa
algumas como de passagem. menti, contra eum temere venire tem
O Conde D. Henrique, e a Piis ptaverit, secundo, tertiove commoni
sima Rainha D. Thereza só por in tus, si non congrua satisfactione emen
tuito de Piedade, e sem outro al daverit, à Corpore, ó Sanguine Do
gum interresse, coutárão, ou amor mini sit extraneus, Óº a planta pedis
iizárão muitos bens aos Lugares Sa usque adverticem sit maledictus, Óº
rados, e Pessoas, que nelles re anathematizatus, ó cum juda, Tra
sidião. No dilatado Couto, que á ditore Domini, habeat participium. &"
Sé de Braga fizerão no de 1 1 12 pe non appareat cum justis in Resurrectio
la grande Devoção, e afecto, que ne in die judicii. Insuper pariat au
tinhão á gloriosissima Mái de Deos, ri Libras viginti. Et hoc Testamentum
Titular daquella Igreja , expressa à nobis factum, Óº in Concilio robo
mente dizem, que fazem este Cou ratum, semper sit firmum. Doc. de
to in giro undique, cum Villis, Óº Braga.
hominibus Nobis debita servitia persol Depois que ficou viuva a Rainha
ventibus: ita ut nulla bominum perso D. Thereza, continuou liberal nas
na ultra hos terminos infra subscri Mercês dos Coutos ás Mãos mortas,
ptos violenter ingredi audeat. E de mas ordinariamente com retribuições
pois da demarcação, conclue: Hoc onerosas, que as precisões do Es
itaque totum, sicut in scripto conti tado fazião indispensaveis. Basta pa
netur, ita liberè, & absolutè oferi ra exemplo o Couto, que ela con
mus, & donamus atque concedimus; cedeo ao Mosteiro de Pendorada
ut quiquid Regali fisco Villae, ó ho no de 1 123 em attenção a que Sar
mines bactenus persolverunt , ab hac racino Viegas, Padroeiro do dito
presenti die deinceps vobis D. Mau Mosteiro havia estado no seu ser }
ricio Braccarensium Archiepiscopo, ves viço por hum anno, e á sua custa,
trisque Successoribus, nec non Eccle junto a Lobeira; e lhe ter quitado
siae Sanctae Virginis Mariae, & Cle 3d)ooo soldos, que a Rainha lhe
ricis ibidem commorantibus redant, at devia, e por ter cedido metade do
que perso/vant. Hec autem prosint ad Castello de Bemviver, que della ti
indumenta, sive ad refectionem Cleri nha , e o déra a Afonso Paes; e
corum Deo servientium, & pauperum ter feito á Coroa outros muitos ser
ad eumdem locum, eleemorine causa, viços. Doc. de Pendorada.
venientium; ut dum illi corporale sub D. Afonso Henriques não só de
sidium perceperint , nos vitam ater pois de Rei, mas ainda Infante-Prin
. &#
AM AM I 15
cipe, foi liberalissimo em amortizar nat vobis, aut qui vocem illius Mo
porções do seu Estado em beneficio masterij pulsaverit, D. solidos plata,
das Mãos mortas; tendo quasi sem 6° Regiae Potestati alio tanto, Facta
pre por motivo o Amor de Deos, e K. Testamenti & c. Doc. de Arouca.
seus Santos , o remedio da ru'alma, No de 1 133 amortizou o mesmo
e a remissão dos seus peccados, e de Infante D. Afonso as terras dos qua
seus Pais. Com tudo algumas vezes tro Coutos de Lorvão, e diz: Ee
não tanto dôou, quanto vendeo es illud Cautum facio pro remedio animae
tes favores. No de 1 131 coutou o …ieae, é pro anima Patris mei D. Hen
Mosteiro de Mancellos com as terras, rici , Óº pro anima Matris meae D.
que lhe erão contiguas, recebendo Theresiae, Óº pro servitio, quod mihi
por esta Mercê zoo modios; e por fecistis, Óº facturi estir ; & etiam
attenção a Gondezendo Nunes , propterea quia dedistis mihi CXX, mo
Sueiro Pimentel, Raimundo Gar rabitinos aureos; Óº etiam dum vos vi
cia, e Pedro Nunes, que lhe tinhão :ceritis remper habeat?r memoriam mei
feito grandes serviços. Doc, d'Ama in orationibus vestris, in Missis ves
TâIltC. tris, Óº in orationibus Monachorum.
No de 1 132 * fazer Graça, e Doc. de Lorvão.
Mercê a Monio Rodrigues, e a sua Depois de pezadas contendas so
Mái Tóda Viegas, # Couto ao bre os bens de raiz , que actual
Mosteiro de Arouca, demarcando-lhe mente possuia a Sé de Viseu, ul
hum largo terreno, e diz que o faz: timamente El-Rei D. Afonso I. com
Pro remedio animae meae , Óº remis sua mulher a Rainha D. Mafalda
sione peccatorum Parentum meorum, as terminou por huma Real Carta
&º in honorem S. Salvatoris , ó S. na fórma seguinte: Ego Alfonsus Rex
Marie Virginis , & S. Petri Prin Portugalensium... assensu meo ,
ceb, Apostolorum, Óº insuper pro uno voluntaria concessione uxoris meae Re
Kaballo obtimo... A modófacio Kau ginae Mahalde facio Kartam Condona
tum illum tali modo, ut omnem rem tionis, Ó Scribtum Concessionis, Óº
illam, que ad Regem pertinet, Cal Firmitudinir Venerandae Sedi S. Ma
lumnia , Karritelum , Forradariam, riae de Viseo, e Dão Odorio, ejusdem
Regalengum dimitto, Óº dono; util Sedis Episcopo, Óº omnibus Successo
lis, qui habitaverint in Monasterium ribus ejus , de Hereditatibus emptis,
illum, habeant semper faciendi, que conquisitis , cultis, Óº incultir, do
voluerint. Et hoc facio nullius gentis mibus , vineir, quae habentur in Wi
imperio , nec suadente articulo , sed siensi termino, Óº pertinent ad praefa
propria mea voluntarem, Óº pro amo tam Sedem, Óº ad homines ipsi Sedi
recordis mei, quem erga te habeo. subjectos, Óº servientes: quascumque,
Jic ex die bodie sit firmissimum Tes scilicet, urque in bunc diem ipse Epis
zamentum illum in perpetuum. Etta copus, vel Antecessores ejus, vel Cle
mem de bodie die, vel tempore quis hoc rici ipsius Sedis, seu Laici compara
factum meum irrumpere voluerit, vel verunt, vel ganaverunt, tam ex Mi
irrumperit , tam de meis, quam de litari, quam ex Pedestri possessione.
extraneis, quisquis sit, prius excom Hoc autem facimus, tum pro remedio
municatus, & in Palatio Sathinae ba animarum nostrarum, tum pro mune
beat habitaculum; ó" insuper compo re, & pretio triginta morabitinorum,
11 {}
1 16 AM. AM
a vobis accepto. Nec est pretermitten das terras. Ainotareis o Olival. — Tra
dum , quod hec omnia vobis calum reis o Olival limpo, e amotado. Doc.
pniatifuimus, & etiam aliquantisper de Santa Cruz de Coimbra. —
retinuimus, nostra in eis jura Rega AMPROM. Adiante, em direi
lia , scilicet , exigentes. Sed ab hac tura, ao longo. Disseram que par
die neque nos , meque filius, aut ne tiam os limites entre a Villa de Mon
pos, neque aliquis ex nostra Prosapie corvo, e a de Moz pela anta ampróóm,
descendens, sit ausus Hereditates il pelo ribeiro, que vaj a soo Val dos Fer
las inquietare, conturbare, auferre, reiros, come vai per par d’aquem da
vel minuere... Si vero (quod fieri non Dona ; e desfi aas arcas de Mondego; e
licet) hoc firmitudinis scribrum , desri volvente pelo pelago do Cuqu, &c.
hujus scribti firmamentum aliquis ir Carta d'El-Rei D. Diniz de 13 ro
rumpere attentaverit, iram in presen Doc. de Moncorvo. V. Ampróóm.
ti , & maledictionem Dei Omnipo AMUYA. O mesmo, que Almui
tentis, et B. Virginis Mariae, atque om nha. :

nium Sanctorum Dei, et mostram pari ANACHORETA.Desde os prin


ter incurrat. In futuro autem cum diabu cipios da Santa Igreja houve Ana
Io, et Angelis ejus, cum juda Prodito choretas, ou Eremitas (que tambem
re, ceterisque maledictis, eternis sub ao depois se chamárão Monges, se
jaceat cruciatibus, et suppliciis. Facta gundo consta da Régra de S. Ben
Condonationis scribtura pridie Kalenda to Cap. I.), os quaes fugindo de
todo o Commercio dos homens, vi -
rum Mii E. M. & XXX. Ví. vião na solidão agreste, cubertos de
Doc. de Viseu.
pelles, sacco, ou cilicio: o pão du
El-Rei D. Sancho I, herdou com ro, e bolorento, as hervas do cam
a Coroa a Piedade dos seus Proge po, e as fontes puras lhes matavão
nitores: algumas vezes recebeo das a fome, e aliviavão a sede: desac
Mãos mortas Donativos, e Reconhe commodadas choupanas, cavernas da
cenças, mas, pelo commum, só a terra, e agulheiros das penhas, re
Religião , e Piedade o incitárão a colhião aquelas almas de quem o
coutar , e eximir os bens da Igre mundo não era digno. S. Jeronymo
ja. Não foi tão liberal El-Rei D. na Epist.22. ad Eustoch. Cap. XV, cha
Afonso II. que antes reprimio em mando a S. Paulo Author, e Mestre
grande parte as acquisições dos Lu dos Anachoretas, reconhece alli mes
gares Pios. D. Sancho II, e D. Af mo, que o Baptista foi o seu pri
fonso III, alguns bens Ecclesiasti meiro Patriarcha. Do Grego Ana
cos amortisárão; porém El-Rei D. choresis: Apartamento, fugida, re
Diniz pela sua Lei pôz fim a estas tiro: se disse Anachoreta. Se no mes
amortisações, fazendo-as rarissimas, mo deserto vivião muitos em distin
e concedendo-as só com grande cir ctas covas, ou cellinhas, então se
cunspecção, e urgente causa: o que chamava Laura. Portugal abundou
elle, e seus Augustos Successores, antigamente destes solitarios: as suas
algumas vezes praticárão. mais empinadas serranias, os seus
AMOTAR. Fazer motas, vallos, mais escabrosos rochedos , os seus
ou tapúmes, para resguardo de hu Valles mais profundos, retirados, e
ma fazenda, segundo os varios usos sombrios forão testemunhas ocula
ICS
: -

AN AN . 1 17 ,
res das suas rigorosas penitencias. del. Assim chamavão ao Capitão dos
João Cirita na Beira foi o éco dos Besteiros. Havia Anadel, e Anadel
da Serra d'Ossa no Alem-Téjo : a Mór. Vid. Amadell. -

Relação de todos occuparia dilata ANADUVA. Vid. Adúa.


dos Volumes. No de 1 142 dôou ANAFADO. Bruto, que não só
El-Rei D. Affonso Henriques a her he gordo, mas tem o pêlo igual;
dade de Tarouquella ao Meiº de assente, nedio, e luzidío.
Grijó, com obrigação de dar tudo ANAFIL. Especie de Trombeta,
o preciso para comerem, e vestirem Instrumento musico de metal, de
os tres Monges, Eremitas, ou Ana que os Mouros usão na guerra, pa
choretas, a saber: Pedro, filho do ra excitar os animos dos combatentes.
Conde Afonso, e Pedro Tição, e ANAFRAGAR. Morrer, ou por
Sueiro; os quaes renunciando todas outro qualquer modo impossibilitar
as commodidades do mundo: Vivunt se para servir. Nos Foraes antigos
in solitudine, que est in ripa fluminis · era frequente esta expressão: Homo
Arde. E o Rei ambicioso de parti qui se anafragaret suo adextrado, quam
cipar das suas Orações, se propu vis habeat alium, sedeat excusato ad
nha assistir-lhes com tudo o neces caput anni, a qual no Foral de Tho
sario; mas porque o labyrintho de mar de 1 162 traduzido no Seculo
tantos cuidados poderia occasionar XIV. corresponde a esta: E se a al
algum esquecimento, fica o Mostei guum dos Cavaleiros morrer o Cavalo,
ro de Grijó obrigado a encher a Real e non poder aver onde compre outro,
vontade pelos rendimentos de Ta & c. Doc. de Thomar.
rouquella, a qual por morte dos tres ANDAÇO. Mal contagioso, epi
Anachoretas ficaria livre á dita casa. demia, que accommette geralmente
Doc. de Grijó no L. Baio, a f 8. os homens, ou os animaes.
ANADELL. O mesmo que Ana ANDADA. Ida, viagem, pas
del: Maioral, Chéfe, Capitão dos SCIO.»
Bésteiros, Espingardeiros, e outra ANDADO. O mesmo, que pas
qualquer gente de guerra. Que den sado, ou que tinha decorrido, quan
tro do número dos Bérteiros fosse o Ana do se fallava do tempo, dias, e an
dell, e Porteiro, e Meirinho, como nos. Em o Seculo XIII., XIV., e
tinhão por Desembargo de Cortes d'El XV. era mui frequente contar os
Rei seu Pai, Art. especial das Cort. dias dos mezes até 15 andados , e
de Lisboa de 1439. Doc. de Viseu. dahi até o fim por andar: v. g. Se
ANADALLARIA.O mesmo, que te dias andados de junho, aos 7 de
Anadaria. Junho. Sete dias por andar de junho,
ANADARIA. Distrito, em que aos 23 de Junho. Quatro dias por
o Capitão dos Besteiros tinha juris andar de junho, aos 26 de Junho,
dicção, e poder em ordem aos da &c. Quatro dias por andar de Junyo.
Sua esquadra , ou companhia. Fa Doc. das Bent. do Porto de 1291.
faeer bir todolos bestejros de vossa Ana ANDADOR. A este pertencia
daria. Carta do Anadel dos Bestei guardar os prezos nas cadéas públi
ros, e seu Regimento de 1497. Doc. cas, e servir em outros ministerios
da Camera do Porto. enfadonhos do Concelho. Deste of
ANADEL, Annadem, e Anha ficio de Andoria erão isentos os fer
rei
1 18 AN AN
reiros do Felgar: isto he, os que se vare bestias suas (dos Povoadores).
occupavão em tudo o que pertencia ad fossatum Regis , det ei suum al
ás minas, e fabricas do ferro, que quejre: ad Tuden medium morab., &"
naquella terra se obrava, e produ vitam, Óº cevadam: & ad Colimbriam
zia. Os Privilegios desta Ferraría 1 marab., é º vitam, ó º cevadam : Óº
confirmou El-Rei D. Duarte por hu ad Trancosum, ó Braganciam 2 mo
ma Sentença de 1436. Doc. de rab.» Óº vitam, ó cevadam. Et non
Moncorvo. -
aprebendat eis suas terbolias, nec suam
ANDAMOS, ou Andhamos. Pas litejram sine grato suo. L. dos Fo
sagens, atravessadouros, carreiros, raes Velhos. _>

caminhos estreitos, e de pé, ata Em alguns Foraes se achão es-,


lhos. Vendemos o dito Casal com ter tas Angueiras, ou Angarias de bes
ras, devesas, carrejros, ou andbamos, tas, e bois, mas só com o nome de
entradas, e sabidas. Doc. do Sec. Serviço, que se devia prestar ao Se
XIV. # nhorio. #al he o de Font’arcada de
ANDANÇA. Felicidade, dita, 1 193. Bestiae non dentur, nisi semel. >
fortuna. He do Seculo XV. in anno: uma via sit usque Sanctarem :
ANDERE, Andrel, ou Andreu. altera ou Pereiro : Óº cetera usque
André, nome de homem. Tuj. Homines, qui bobes, aut bestias
ANDREL. V. Andere. non habuerint , faciant singulas car
ANDREU, V, Andere. reiras semel in anno, Óº non amplius.
ANDURRIAES. Lugares pú Ibidem.
blicos, e de pouco asseio, mas tri Pertendem alguns mostrar , que
lhados de muita gente. dos Arabes , Syros, ou Caldeos to
ANFESTO. Para cima, andan márão os Latinos, e Europeos as
do , hindo, ou correndo para cima. palavras Angarias , e Parangarias,
E d'i como se vai por esse rio de Coi ou Perangarias: para significarem o
ra anfesto pela vêa d’agoa, e vai to serviço, e aluguer dos animaes: o
ar no canto do conchoso, e herdade do primeiro , por caminhos direitos,
ispo. Tombo do Aro de Lam. de ou estrada Real: o segundo por ata
1346 f. 51. Y. lhos, ou caminhos transversaes, e
ANGUEIRAS. Alquilé, ou alu menos seguidos. E que depois cha
guel de bestas, ou outros quaes márão Angarias , e Parangarias : a
quer animaes de carga, e tiro. No certos Tributos, e Pensões, que com
Foral de Castello Branco de 12 13 violencia se extorquião ; dando a
se diz: Qui Cavalo alieno cavalgar: mesma origem ao \"", Angariar:
pro uno die, pectet I Carneiro: et si obrigar, ou violentar alguem a qual
magis, pectet las anguejras: pro uno. quer serviço.
die VI. denarios , et pro una nocte Mas a verdade he, que dos Per
unum solidum. No antigo Foral de sas, Inventores dos Correios, Por—
Barcellos, dado por El-Rei D. Af tas, ou Postilhões (a quem chama
fonso I. , e confirmado pelo II., se vão Angáros) nos vierão as Anguei
determina o aluguel , que se deve ras, ou Angarias: que depois ser
dar pelas bestas de serviço, na fór vírão á manifestação de mui diver
ma seguinte : Dominus , qui ipsam sos conceitos. Chamátão-se, pois,
terram de me tenuerit, et voluerit le Angarias: I. Os Lugares , mudas»
QUA
AN AN 1 19
ou Estações, em que estavão prom para honrar a memoria dos Marty
ptas as bestas de alquilé. II. O pre res. Depois muitos particulares man
ço da sua conducção. III. Quaesquer dárão nos seus Testamentos, que
encargos, ou Pensões, a que, con seus herdeiros lhes fizessem Anniver
tra a sua vontade, erão violentadas sarios, e deixárão Legados para as
as Pessoas nos seus corpos, ou fa Igrejas, e para os pobres, aos quaes
zendas. IV. Toda, e qualquer vio naquelle dia se lhe distribuião es
lencia, vexação, injúria, ou triste molas de mantimentos, e dinheiro.
za. V. As quatro Temporas do an No Sec. XII. estabeleceo o Bispo
no tambem em Alemanha se cha Bernardo hum Trintario para todos
márão Angarias; porque nestes dias os Conegos, que falecessem na sua
erão obrigados os Vassallos , Co Cathedral de # no Langue
lonos, Emfiteutas, e Feudatarios a doc: deste mesmo tempo são os An
# aos respeetivos Senhorios os niversarios em toda a Hespanha, e
eudos, Censos, e Tributos, a que Portugal.
igualmente chamavão Angarias. VI. ANNICIO , Annizio, Annun
# , chamárão Angarias em cio; Agnicio, ou Hagnicio. Assim
França, e Alemanha ao afrontoso se chamárão aquelles Instrumentos,
castigo, que aos réos dos grandes Doações, Sentenças, &c., que prin
crimes se dava: que era levarem ás cipiando por dubium quidem non est,
costas, os Nobres hum cão, e os Peões sed multis manet notissimum , &c.,
a sella de bum cavallo; e deste modo ou por outras semelhantes , nelles
andavão expostos á vergonha , de se dava relação do que tinha pas
terra em terra , de Condado em sado , ou precedido á factura dos
Condado. ditos Instrumentos. Na larga Doa
ANHOTO. A. Ronceiro , va ção, jº Gondesindo fez ao Mos
garoso , e por qualquer modo im teiro de S. Salvador de Labra no de
pedido para caminhar, e fazer via 897 , e na qual se recontão varias
gem. He de Barros. noticias, se lê: Facta Series annitio
ANINIA. Pelle Aninia: pelle de Testamento , nodum , &c. Doc. de
cordeiro, que antigamente se cha Pedroso. Na Sentença, # El-Rei
mava Aninho , e ainda hoje se diz D. Fernando deo a favor de D. Gon
Anho do Latino Agnus. O grande çalo Viegas sobre a Quinta de Via
uso, que os antigos fazião destas riz no de to57, se escreveo : Fa
pelles he manifesto. V. Alfanehe. No cta Agnitio sub die , &c., e o Rei
de Io47 se vendeo huma herdade assigna deste modo:
abaixo do Castello de Pedroso por Ego Ferdenandus Rex banc agnitio
hum cavallo de 3oo soldos: Et duos confirmo. XK Ibidem. Na Doação,
fazonzales, é uma pele aninia. Doc, Prazo , ou Concerto, que Garcia
de Pedroso. Moniz fez com os Monges de So
ANILHACAR. Prender com ani lhães no de 1959, que está no Cen
lhos. Estat, antigos da Sé da Guarda. sual do Porto se diz: Ille annizio -
ANNAL. Dia anniversario da e In hanc annitio manus meas roboro:
morte de alguem. Doc. de Pendo No de Ioy I se fez Doação da me
rada de 1344. Dizem que o Papa tade da Igreja de Santo Estevão de
Anacleto instituíra os Anniversarios Moldes ao Mosteiro de Arouca, # @
I 2. O AN AN
de se guarda : nella se referem os márão Antae ás columnas grandes,
litigios, que havião precedido , e e quadradas, que guarnecião as en
varias outras noticias desde 925 até tradas dos Templos , e Palacios:
aquele anno, e dizem os Doado bem póde ser que os monstruosos
res: Plazum , Óº annuntionem faci penedos, que estavão fronteiros de
mus, &c. Do Latino Agnitio: co algumas terras notaveis, e por entre
nhecimento, ou noticia do passado: os quaes corrião as estradas, meta
se originou esta palavra, com que foricamente se chamassem Antas,
o litigante vencido mostrava reco como que fazião Atrios , Porticos,
nhecer a obrigação , ou de pagar ou Entradas ás ditas terras. E final
alguma divida, ou de largar algu mente se os Antigos chamárão Au
ma fazenda, segundo o que no lns tes a qualquer cousa que estava na
trumento se annunciava. E a isto se frente : que muito nomeassem An
chamou tambem Recognitio. V. No tas as terras, ou penhascos, que im
ticias. •
mediatamente se encontravão antes
ANNIVERSARIA. O mesmo de chegar ao termo da Viagem,
que Anniversario: commemoração an quando esta se dirigia a hum cer
nual em dia certo. Hajão os Cone to, e determinado lugar?..
gos huum maravidil cad’anno por nos ANTANHO. Antão, nome de
saAnniversaria. Doc. de Lamego de homem.
-**•

I314. V. Mortulhas. ANTAS. O mesmo que Aras,


ANNIVERSARIO. Nos antigos sobre que os primeiros Christãos
Doc. (não declarando o Testador, queimavão as Primicias, ou sobre
ou Instituidor outra cousa) se en que os Gentios fazião os seus in .
tendia por Anniversario: huma Mis fandos Sacrificios. Destas Antas, ou
sa resada naquelle dia , ou dias, Arar , que ainda hoje existem em
que ele se mandava fazer. Assim o
demostra D. Bern. da Encarn, famoso
# número em Portugal, se pó
e vêr a Dissertação de Martinho de
Antiquario no L. Memorias , e Cla Mendonça e Pina em a Collecção da
rezas, &c. af 18., o qual se acha Academ. da Hist. Port. do ann. de
entre os seus muitos , e mui tra 1734. Tom. XIV.
balhados Ms. no Convento da Ser ANTE. Diante, perante, na
ra, junto á Cidade do Porto. V. presença. He muito usado no Se
Missa Oficiada. culo XIII., e seguintes.
ANPRÓÔM. Ao longo, adian ANTIFAAL. Livro das Antipho
te. Vai-se por riba desse rio ampróóm, nas, a que dizemos Antifonal. Duas
atá que se chega, &c. Doc. de La vestimentas perfeitas: huum antifaal
mego do Seculo XIV. V. Amproom. Doc. do Sec. XIV.
ANTA. AS. Marco, ou marcos ANTONHIO. Antonio, nome
grandes levantados ao alto, pene de homem.
días, terras, ou sitios, que ficavão ANTONHO. V. Antonbio.
na dianteira, á face, e como á fren ANTRELIAR. Escrever alguma
te de algum Castello, ou Povoação cousa entre linha, e linha, ou ré
distincta. Neste sentido dizemos ain gra, e régra, e que sem as costu
da hoje Antas de Penalva , Antas madas resalvas, póde fazer suspei
de Penadono, &c. Os Latinos cha ta de falsidade , dolo, ou fraude.- -
Da
AN AP I 2 I

Daqui Antreliado, e Antreliada, que APASQUAMENTO. O mesmo.


se encontrão em innumeraveis Doc. Doc. de Pendorada de 1295.
do Seculo XIII., e XIV. APEDRADO. A. Apedrejado,
ANTRELINHADURA. Lugar, capedrejada. Se Mouro d'alguem for
onde entre régra, e régra se escre solto, e fezer coomha, o Senhor delres
ve o que tinha naturalmente esque ponda por el , segundo a coomba que
cido. Doc. de Pendorada de 132o. fezer, ou o leyxe na maão do Moordo
ANTRELUIADO. A. Alvará, mo. O Moordomo non filhe Mouro d'al
Livro, ou Carta, que tenha entre guem, que traga prisom, ou Moura
linhas, e por isso mesmo suspeito solta, por qualquer coomba que faça:
sa. Huma Carta de nosso Senhor El Mas se o Senhor da terra, e o Conce
Rei, nem rassa, nem abolada, nem lho vir , que tal cousa fez, per que
antreluiada , nem em nenhua manej deva seer apedrada , ou quejmada,
ra corrompuda. Carta d'El-Rei D. apedrena, ou a queimem: Se tal cou
Diniz de 12o5. Doc. de Tarouca. sa fez, per que deva ser asoutada,
ANUDIVA. O mesmo que Adúa. asoutena ; e depois que for asoutada,
AONA. O mesmo que Meana. tambem o Mouro, come a Moura, de nos
F. Canonica., * a seu dono. Foral de Thomar de 1 174,
AO-SOPE. adv. Para baixo, cor traduzido no principio do Sec. XIV.
rendo ao fundo. Diz-se de huma ter APEIRO. Hoje está contrahida
ra ladeirosa, que parte ao Sope com esta palavra a significar todas as pe
alguem , ou com outra terra , isto ças do jugo , ou canga dos bois,
he, pela parte, que fica aguas ver ou vaccas; e todo o apparato da
tentes ao fundo. lavoura, e abegoaria, como carros,
APARENTALADO. Aparenta charrúas, arados, grades , Ségas,
do, conjunto, da mesma geração, &c. E daqui Apeirado: o carro, ju
ou linhagem. go, ou arado, que tem todo o appa
APARIÇO. O mesmo que Abril, relho, ou apeiragem de instrumen
ou Abrir nome proprio de homem, tos, e artificios, que lhe são dados,
ue em Latim se dizia Aprilis. para bem servirem nos respectivos
APARIÇOM. Dia da Apariçom. ministerios, não só das geiras, mas
Dia de Reis, dia da Epiphania. de todos os importantes ramos da
APARTAMENTO. Peça, quar agricultura. -

to, porção de algum edificio, lan Porém antigamente parece, que


ço, ou sala. Forão os de Moncor esta voz Apeiro se extendia a todos,
vo isentos de pagarem , e concor e quaesquer instrumentos que erão
rerem para hum Apartamento de Al # de hum caçador de coe
cacere , que El-Rei D. Fernando hos, como redes, fios, laços, ar
mandava fazer na Villa de Freixo madilhas, cães , furões, carcazes,
de Espada Cinta no de 1376. Doc. dardos , reclamos, apitos, (menos
de Moncorvo. armas de fogo ; sendo certo, que
APASCOAMENTO. Pastagem, antes dos principios do Seculo XIV.
lugar destinado para pasto dos ga não houve na Europa uso algum
dos. Em prados , e apascoamentos, da polvora no exercicio da caça.)
montados, e maninhados, serviços, e E a todo este trem de hum caçador »
maladias. Doc, da Salzeda de 1297. levado ao monte, se chamou Apeiro.
Tom. I. -
Com
I 22 AP AP
Com efeito as grandes brenhas, de de Lisboa no de 1 179 se lê: Co
e dilatados matagaes , que princi milarius, qui fuerit ad sojeiram, ó:
palmente em Traz dos Montes; Bei illuc manserit , det follem unum co
ra alta, e baixa, havia no tempo milii. L. dos For. Velhos.
dos nossos primeiros Reis, derão oc Ainda nos principios de Seculo
casião a que grande número de ho XIII. se acha no Foral, que D. Froi
mens vivessem de colher mel, e le Ermiges deo aos moradores de
matar coelhos pelos montes, cha Villa Franca de Xira: O Coelhejro,
mados por isso Coelheiros , e Mel que for 4 soieira, e bi ficar, déé de
leiros. As frequentes Pensões de cê foro buum coelho com sua pelle. E fi
ra, mel, e coelhos, ou as suas pel nalmente El-Rei D. Diniz no Fo
les, que nos Foraes antigos se en ral que deo a Villa Reino de 1285
contrão, não permittem hesitar so diz expressamente : O Coelheiro que
bre este ponto, que o reflexionado for á sua gejra, &c. Doc. de Tho
conhecimento da nossa população mar. De tudo o sobredito se infe
põe fóra da mais leve dúvida. re, ao que parece, que Apeiro são
Era principalmente de noite , que todos os artificios de caçar, e gei
os Coelheiros fazião as suas caçadas; ra o trabalho, e fadiga de caçar
e assim não passando de tres amei com elles.
joadas , ou espéras , poucas vezes APELHAÇOM. V. Apelhar.
erão obrigados a pagar do seu ma APELHAR, Appellar. E daqui
neio. Mas se erão efectivos, e atu Apelhaçom. Doc, das Bent, do Por
rados nesta occupação, indo á sua to de 1292.
Ageira , ou soteira, que era o mes APELIDO. Convocação geral,
mo, que levar para a caça todo o repentina, e clamorosa, que se faz
Apeiro de Caçador ; então ficavão de todo o Povo, Cidade, ou Vil
responsaveis de certo foro ao Senho la para sahirem de mão commua,
rio, se expressamente não erão isen e armada ao encontro dos inimigos,
tos. No de 1 1 1 1 o Conde D. Hen que se lançárão a correr a terra,
rique, com sua mulher D. Thereza, matando, roubando, cativando, ta
filha d'El-Rei D. Afonso, dizem no lando, e destruindo. Em quanto os
Foral, que dérão á Villa de Soure: Mouros não forão inteiramente que
De Montaria non dent ulla Condaria brantados, e expulsos de Portugal,
ad Alcaide, neque de caro, neque de e suas fronteiras , erão estas cor
pelle, neque de melle, vel cera. Po rerias mui frequentes, e amiuda
rém no Foral, que a mesma D.The das , assim de dia, como de noi
reza já Rainha, deo á Villa de Fer te. Para evitar em grande parte se
reira d'Aves, no de 1 126 se põe es" melhantes irrupções, igualmente per
ta Lei aos Caçadores por oficio: niciosas, que extemporaneas, e re
De venado, qui mortuofuerit in peia, pentinas; não só se postavão guar
aut in baraza, uno lombo: de porco, das , e vigias em lugares altos , e
quatuor costas: de urso, una manu: descubertos de dia ; mas tambem
&º de tres noctes in denante ad apei Escutas, (que então chamavão Seul
ro, uno conelio: Óº de mel de morada cas) e Sentinellas de noite , para
de monte, medio alqueire. No que que ao mais leve movimento, es
El-Rei D. Afonso I, deo á Cida trondo, ou arruido, · tO

* * *
OS
AP AP 123
dos a grandes vozes: Mouros na ter cho I. com a Rainha D. Dulce , ou
ra, Mouros na terra: moradores ás a Rainba D. Aldonça, e seus filhos,
armas. A este clamor se levantavão aos Povoadores desta terra ; repar
todos em massa, aquelles, que de tida em X. quairellas ou Casaes, no
algum modo podião empunhar as de 1 188. Entre os mais Privilegios,
armas; e a isto se chamava Appelli e Isenções se lê o seguinte: Num
dar a terra : e á vigorosa, e efe quam de vestra Villa faciatis Carrej
ctiva resistencia Apelido. Deste Ape ra a Senhor cum vestros corpos, nec per
Iido , pois, em que se interessava vestros haberes, nec cum vestras bes
a causa pública, e geral, nenhum tias, nec vadatis in Apelido; nisi er
era escuso, nem grande, nem pe go super vos venerint Mauros, velgens
queno , nem Peão, nem Cavalei alienas. E finalmente ficavão sujeitos
ro: todos, todos erão obrigados a a certa pena os que sem grave cau
defender a Pátria , cuja destruição sa, e advertidamente faltavão no
redundaria em damno de todos. Apelido. No Foral de Santa Cruz
No Foral, que o Conde D. Hen da Villariça por El-Rei D. Sancho
rique com sua mulher a Infante D. II. no de 1225 se diz: Et Omem de
Thereza derão aos de Freixo da Es Sancta Cruce, qui non fuerit in Ape
pada Cinta, no de Io98 se diz: lido cum suos vicinos, pectet une mo
Omnes scutarii vadant ad Apelido, cum rabitino, Et si dixer: non lo ovi; ju
opus fuerit, sed non transeant aquar ret cum duos Vicinos. Doc. de Mon
Durii, nisi cum Rege, vel cum Do corvo. No Foral de Castello Branco
mino terre, a se misso. Segundo diz de 12 13 se acha: Et qui non fuerint
Lousada, que está no L. dos Fo ad Apelido Cavaleiros , & Pedones:
1aes Velhos a f. 2 I. E no de Crasto (exceptis bis, quisunt in servicio alie
Leboreiro, que El-Rei D. Afonso no) Miles pectet LX.f.: Óº Pedon V.
I. com sua mulher a Rainha D. f ad vicinos. Nein contra isto faz,
Mafalda, filha de Amadeo Conde de o que se acha no Foral de Barquei
Moriana, reformou no de 1 144, se ros, dado por El-Rei D. Sancho II.
acha : Pedones vadant ad Fossado : em Coimbra, a 13 de Setembro,
Cavalleiros vadant ad Apelido: Villani de 1223: Non eatis in Fossato, nec
stent cum armis ad defendendum portum in Apelida ; porque este Apelido se
de Oraugo in tempore guerre. L. dos entende fóra da sua terra , e não
For. Velhos , segundo o mesmo quando a sua propria fosse appelli
Lousada. •

dada ; porque então os obrigava o


No Foral, que o Infante D. Af Direito Natural da defensão, que
fonso Henriques deo aos que ha a todos he mandada , e não pro
bitavão in Civitate Senam (que he hibida. Doc. de Thomar, e L. dos
a Villa, ou Castello de Cea) no For. Velhos. Porém não só para re
de 1 136 se diz : o Cavalleiro de bater a furia dos inimigos armados;
Cea que não tiver Aprestamo, não tambem algumas vezes se appellida
vá a algum Fossado: nisi illo de Maio, ava a terra para prender, e castigar
é… Apelido, L. dos For. Velhos. En os malfeitores nacionaes, que a in
tre os Doc., das Salzedas se acha o quietavão com os seus crimes, e ex
Foral da Folgosa , junto a Erma cessos , forças, e roubos. E final
mar, dado por El-Rei D. San mente se fazia Apellido: ad Castel
ii lum
I 24. AP AP
lum faciendum: o que mais propria quando não esteja d'antes regulada
mente era Adúa. Vid. Monarch. Lus.pela Ordenação Geral, ou Munici
L. XIII. Cap. XVII. pal. It : mandamos, que todolos Por
APELLIDO. Tambem se tomou cariços.... E todolos mancebos, que
pelos visinhos de hum Concelho. viverem aplaso in gaados, paguem eles,
APENAR. Condemnar, pôr pe a razum deste preço de suso dito. Cos
nas corporaes, fulminar castigos. O tum., e Posturas d'Evora de 13e2.
qual Prioll possa apenar nos bens, e }Y. Alfeire.
corpos. As quais penas por elle portas, APLES, ou Apres. O mesmo
seram firmes. Alvará d'El-Rei D. que o Latino Apud. E aples de vos
Afonso V. de 1476. Doc. da Cam. do preço nada ficou por dar. V. Apres.
do Porto. APODAR. Determinar o preço,
APENHAMENTO. Obrigação avaliar. It: Mais tres bestas, que fo
rigorosa de satisfazer alguma dívi rão apodadas a VIIII. VIIII, morabiti
da. Ter grandes apenhamentos : es nos. Doc. de S. Simão da Junquei
tar responsavel aos acredores em ra de 1329.
grossas quantias de dinheiro ; ou APORTILHAR. Abrir entrada,
seu equivalente. Do Sec. XIII. porta, ou brecha. Daqui Fortaleza
APENORAR. Dar em penhor, aportilhada: a que já está rota, com
hypothecar. Doc. das Bent, do Porto porta aberta, ou brecha, por onde
de 1311, e 142o. os inimigos podem entrar. He de
APERMAMENTO. Coacção, Barros. •

constrangimento, força, obrigação. APOSENTADORIA. Jurisdic


Chegão (os Demandadores, ou Ques ção propria do Oficio de Aposenta
tores) a alguuas Egrejas , e fazem dor, contribuição de camas, roupas,
hi juntar os moradores de muitas fre louças , e outros utensilios, e al
guesias per apermamentos dessas Car faias, que são indispensaveis para
tas: e depois que fazem ssas deman a hospedagem de hum Principe, ou
das, se lhi promettem pouco, doesta Grande da sua Corte, Fidalgo, Pre
nos, e dizem que por tam pouco lhes lado , Ministro, e outra qualquer
nom darom os perdoens: que como ca Pessoa Nobre , que tenha Privile
da huum mais der , que assi lhe ou gio de Aposentadoria. Na Casa Real
torgaróm os perdooens do meos, e do tem lugar distincto o Aposentador
mais: esse lhi mais nom querem daar, Mór, (que hoje anda na Casa dos
escomunga-nhos. Cortes d'Elvas de Condes de Santiago) a ele perten
1361. V. Demandador. ce o prevenir a Pousada, quando El
APÉRTO adv. Junto, chega Rei caminha , e resolver todas as
do, não longe. Doc. das Bent. do dúvidas, que nisto se podem ofe
Porto de 13o6. recer ; dispondo tudo com ordem,
APLASO. A prazer, a contenta # e medida , e guardando os
mento. Servir alguem a aplaso : he rivilegios , e Foros dos Senhores
não fazer ajuste algum, ou contra das Pousadas, e Pessoas isentas. E
to expresso sobre a quantidade, ou quando o aperto do lugar não perº
qualidade da sua Soldada, que nes mittir huma isenção total aos Pri
te caso fica reservada ao primor do vilegiados, com authoridade, e co
Amo , ou Senhor a quem serve, nhecimento do Principe, dispõe o
que
AP AP 125
que mais se conforma com a razão, mego negligentes, e remissos, e
e bem público. talvez impugnadores mesmo desta
Entre os Romanos havia o Pri Isenção, comparecessem em Lisboa
micerius mensorum, a quem perten dentro de 19 dias para darem a ra
cia dar pousada ao exercito nas cam zão de não cumprirem os seus man
panhas, medindo as jornadas, e pre dados. Doc. de Lamego.
venindo os lugares mais commodos Nos Foraes antigos tambem se
para alojar as trópas. Em Portugal faz menção de algumas pessoas, que
o Aposentador do exercito era o ôf. ficavão sentas das Aposentadorias,
ficial, que hia diante com certo nú ou Pousadas, que se costumavão dar
mero de pendões escolher, e desig aos Senhores das Terras. Em Mon
nar os arraiaes , com as commodi corvo se guardão Originaes os de
dades possíveis de aguas, palhas, Moz, e Santa Cruz : no I. dado
cevadas, lenhas, e mais forragens. por El-Rei D. Afonso Henriques
Hoje pertence este Ministerio ao com os seus Filhos , e Filhas no de
Quartel Mestre General, que he o 1 1 62 se diz : Et non dent Pousada
Furriel, ou Aposentador Maior. perforo de Molas , nec Cavaleiros,
Nas Doações dos Coutos, que os nec Viduas; nisi Pedones por manum
nossos Monarchas derão ás Igrejas, de Alcalder dent Pousada usque ter
e Mosteiros , se impunhão graves tia die. Et bomine , qui bestiam ca
multas pecuniarias, e mesmo a In valgar abuerit, non det Pousada. No
dignação Real a todo o que os que II. , por D. Sancho II., no de 1225
brantasse , tirando delles alguma se lê: Et non intret Pousada perforo
cousa , ou pousando dentro delles de Sancta Cruce, nec Cavalarius, nec
contra a vontade; e a pezar dos Do Alcaidus, neque Abates (os Clerigos
natarios. Ricos homens, Cavalei in Sacris) nisi Pedones. E finalmen
ros, e Donas (ainda mesmo sem o te El-Rei D. Fernando, em atten
afectado pretexto de serem Naturaes, ção aos grandes Serviços , que os
e Herdeiros, para se lhes dar alber de Coimbra lhe tinhão feito, con
gagem) pertendião Aposentadorias no cede no de 1373 aos moradores da
Couto da Sé de Lamego, que El sua Cerca a Isenção de Fintas, Ta
Rei D. Sancho I. lhe havia dado lhas, Peitas , Pedidos, e de hirem
no de 1 191, em o qual diz: Quae em Oste, Fossada, e Fronteira, não
cumque igitur infra cauta ista, Óº in sendo Bésteiros, ou Galeotes, ou não
fra terminos istos continentur, cauta hindo com El-Rei , e de toda a
mus, Óº cautata esse mandamus; ta obrigação de Aposentadorias. Estes,
li videlicet modo , quod nulli sit li e outros Privilegios forão mandados
citum cauta predicta violenter intra cumprir com pena de 6@ooo Soldos
re, aut contra voluntatem Episcopi, dos Reaes encoutos, pagos pelo Juiz
qui pro tempore fuerit , seu Canoni da Cidade, que os não fizesse guar
corum, intus aliquid mali facere. El dar aos Moradores da Cerca de Al
Rei D. Diniz no de 1289, no de medina. Doc. da Cam. de Coimbra.
1313, e finalmente no de 1314 pro … APOSTADO. A. Ornado, com
hibio com graves penas estas Apo posto, asseado. E que vos tenhades
sentadorias dentro do dito Couto, as casar bem feitas, e bem apostadas
e até mandou que os Juizes de La de todalas cousas, que lhis fezerem
71115
126 AP AP
mister. Prazo das Salzedas de 1363, rão exterminar dos Tribunaes as apos
e hum Doc. das Bentas do Porto tilas. Ainda hoje chamamos Apor
de 1445. Hoje dizemos Apostado: tillar: o expôr, addicionar, expla
o que está resoluto, e determina nar, interpretar algum texto , ou
do a fazer alguma cousa. sentença; alludindo sem dúvida ás
APOSTAMENTE, adv. Conve Apostillas, de que falamos; pois
nientemente , accommodadamente, com elas se davão interpretações de
com ordem , com asseio, com to verdade ao que era desbragada men
da a gravidade. Do Latino Apoi tira ; de zelo , e amor da Justiça,
te. No de 1298 contratou D. João ao que era refinado odio, e desal
Martins, Bispo da Guarda com o mada paixão. Em alguns Alvarás dos
seu Cabido sobre o lugar, e feitio nossos Monarchas se achão no fun
da sua Sepultura, e diz: que jasca do delles Apostillas : como supple
o corpo no lucelo só terra , e em ci mentos, addicções, ou interpreta
ma hua campaa bem lavrada configu ções do que acima se tinha dito.
ra de Bispo sobre quatro leoens pique E não interpréta, e addicióna a
nos, e em aquella maneira, que mais seu modo o Calumniador infame as
honesta , e apostamente se poder fa acções mais lizas, e innocentes do
zer. Doc. da Guarda. seu proximo, para o opprimir com
APOSTAR. Collocar, pôr hu a sua prepotencia , e destruir com
ma cousa junto da outra. Vem do a sua vingança?...
Latino Appono: pôr junto. No Foral que El-Rei D. Afon
APOSTILA, Apostilia, Apos so Henriques, e seus Filhos derão
tilha, e Apostelia. De todos estes a Celeirós de Panoias no de 1 16o,
modos, e com muita frequencia, se se determina, que as tres Coimas,
acha escrita esta palavra nos Foraes Homicidio, Furto, e Rauso, serião
antigos. Por ela significavão toda julgadas per directum, cº" ad Apos
a paixão desordenada , odio, vin telia non respondeatis. L. dos For.
gança, malquerença, enredo, tra Velhos. Este Direito, e esta Apos
paça, maquinações, caballas, in telia se explicão na Doação , que
trigas , rancor, ameaças. Os ho o mesmo Monarcha fez aos Frades
mens sempre forão os mesmos: não do Hospital de Jerusalem no de 1 14o,
foi huma vez só, que acostárão á e lhe confirmou no de 1 157, na qual
vara da Justiça o cutelo da vingan se ordena, que as ditas tres Coimas
ça. Testemunhas falsas achamos nós se não levem senão áquelle, que rea
em as Sagradas Letras, e nos Foraes liter, vel actualiter comiserit, Óº le
antigos notamos as graves penas, gitimè comprobari poterit ; omnibus
com que os falsos testemunhos erão aliis occasionibus , Óº cavilationibus
punidos. As Ordenações presentes remotis. Ibid. Nos Cost., e Postu
as mandão castigar , e todo o liti ras d'Evora se percebe mais clara
gante he obrigado a dar juramento mente o espirito das Apostilas; pois
de calumnia , para que se não in se diz: Se algum, ou alguma quise
troduza a mentira, e a maldade no rem demandar algum outro , ou al
Sanctuario da Justiça. Nos mesmos guma demanda de feridas : se quiser
sentimentos havião entrado os nos depois fazer a demanda a esse que o
sos Maiores , quando se propuze demandou, ante jure, que aquelo …
(2
AP AP 127
demanda , que o nom demanda per Apostolico ; não obstante o prejui
apostilha, nem por outra mal queren zo em que estava, de que o glo
fa : e entom responda elle... Se al rioso Patrão das Hespanhas fundá
guem quiser demandar a outro timen ra em sua vida a Igreja Compostel
to de carreira, ou de rompimento de lana. Em os nossos Doc. do Secu
casa: que o demandador primeiro ju lo XII., e XIII. se acha Aposteligo,
re, que esto, que elle demanda, nom e Apostolico no sentido acima expos
o demanda per apostilha. to. V. Bispo.
APOSTOLADO. OS. Juiz de APOSTOLO. O mesmo, que
legado , Commissario , mandado, Mandado, ou Enviado. E taes forão
ou enviado pelo Principe a hum cer os doze Varões, Discipulos de Chri
to negocio, ou diligencia. V. Apos sto, que este Deos-Homem mandou
tolo. Mando a todas as justiças, Com por todo o mundo a evangelizar, e
mendadores Apostolados, &c. propôr o Reino de Deos, aos que
APOSTOLAR. Prégar com es #…" observar até o fim a sua
pirito verdadeiramente Apostolico, C1.
fazer Missão, fallar ao coração, que APOSTOLO, ou Apostolico.
não só aos ouvidos, propôr com to Assim se chamou o Livro das Epis
da a eficacia as verdades sólidas do tolas de S. Paulo na frase da Igre
Evangelho de Jesus Christo. He do ja. Ao depois se chamou Pestuleiro.
Sec. XIII. APOSTOLOS. Certos Hereges,
APOSTOLICO. V. Apostoligo, e que afectando não possuir cousa al
Apostolo 2. guma neste mundo, se entregavão
APOSTOLIGO. O Summo Pon a todos os vicios. Destes falla San
tifice , Successor de S. Pedro , e to Agostinho no L. de Heres. Cap.
Vigario de Christo na terra. De XL. Outros semelhantes tornárão a
Apostolicus se disse Apostoligº, mu ser vistos no tempo de S. Bernar
dado o c em g, assim como de Ami do , que contra elles declama no
cus se disse amigo, de Laicus, lei Sermão 66. in Cantica. Nos fins do
go, de Decretum , Degredo, &c. Seculo XIII, apparecêrão outros re
Ainda que todos os Bispos forão provados Apostolos, a quem o Con
antigamente chamados Apostolicos, cilio de Herbipoli de 1287 , e o
ou porque nas suas respectivas Dio Synodo de Cicestria de 1289, man
ceses tinhão todo o poder para apas dão negar fogo, e agua, como fal
centar espiritualmente o seu Reba sos Frades , de bum Habito extrava
nho , ou porque elles erão os Fi gante, e sem regra approvada pela Se
lhos, que a Igreja Santa constituio Apostolica.
rincipes por toda a redondeza; em APOSTOLOS. Exaggerado Ti
lugar dos Apostolos, que tinhão si tulo, que se deo em Portugal aos
do os seus Pais, e Fundadores: com Padres, denominados da Compa
tudo no Concilio de Reims de Io49 nhia de Jesus. S. Francisco Xavier,
foi reservado ao Summo Pontifice, e o Padre Mestre Simão Rodrigues
por antonomasia o Titulo de Aposto de Vouzella, forão os primeiros Je
Âico ; e alli mesmo foi excommun suitas, que entrárão neste Reino
ado o Arcebispo de Santiago de no de 154o, e não admittindo os
Iliza, que se arrogava o nome de magnificos Aposentos, que El-Rei •
128 AP AP
D. João III, lhes oferecia, se forão arrecadavão as contribuições para os #
albergar no Hospital Real de todos concertos , e reparos do Templo,
os Santos, donde sahião a trabalhar e os que com Jurisdicção delegada
na Vinha do Senhor , prégando, zelavão a observancia da Lei de #
confessando, visitando enfermos, e Moysés; que por isso S. Paulo, na . N
encarcerados, e portando-se nestas, sua Epistola aos de Galacia , pro ·
e outras obras de misericordia , e testa, que he Apostolo, não institui
piedade com tal modestia, compo do pelos homens, mas sim por Jesus
sição , pobreza , humildade Reli Christo. Depois da Promulgação do
giosa , e zelo da salvação das al Evangelho, ainda os Judeos chamá
mas, que a Corte os honrou com rão Apostolos aos cobradores dos Tri
demasia, chamando-os Apostolos. Não butos, mandados pelo Patriarcha,
perdêrão os seus sequazes este hon de que se póde vêr a Jacob Gotho
roso Titulo , até que no anno de fredo um L. XIV. C. Tb. de judaeis.
1773 a instancias do Rei Christia E finalmente se chamárão Apostolos
nissimo , do Rei Catholico , do os Embaixadores, os Legados, os
Rei de Portugal, e do Rei de Na Nuncios: e até para os Athenienses
poles forão extinctos em toda a Igre os Almirantes, ou Superintenden
ja pelo Papa Clemente XIV, pe tes da Marinha.
la Bulla Dominus Noster do mez de APOUQUENTAR, Reduzir a
Julho. ouco , decahir, humilhar, abater.
APOSTOLOS. Letras Dimisso APOUSENTAMENTO. Apo
rias, que os Bispos davão aos seus sento, casa, morada. Primeiramen
Diocesanos: aos Leigos para se po te se medirão os apousentamentos da
derem ordenar no Bispado alheio, dita quinta
e aos Clerigos para ali subirem a APPELLAÇAM. Nome, que
Superior gráo, e exercitarem as Or faz distinguir huma cousa, ou pes
dens, que já tinhão recebidas. De soa da outra, v. g. huma galé sem
ois se chamárão Apostolos as Letras appellaçam. — Hum sujeito sem ap
# , ou Certidões authen pellaçam , isto he: sem nome, ou
ticas, de como se tinha appellado distinctivo, com que particularmen
dos Tribunaes Ecclesiasticos para o te seja nomeado. He de Barros.
Summo Pontifice na fórma do Di APRASMO. Vontade livre, con
reito ; declarando-se nellas a causa sentimento, intercessão, mercê, fa
da Appellação. Dos Ecclesiasticos vor. V. Prasme, e Prasmo.
passárão os Apostolos para os Tribu APRAZIVEL. Dado , ou con
naes Seculares. E finalmente do mes cedido a prazer , e consentimento
moSummo Pontifice se pedírão Apos das partes. Nom lhe seja outorgado,
tolos para o Concilio Geral futuro nem aprazivel. Doc, de Vairam de
por algumas Corporações de Fran 1297.
ça, naquelle tempo mesmo, em que APRES. Junto , perto, á mão.
respeitavão sem dolo, e com lizu Apres de mim: na minha mão, em
ra o Poder da Igreja. meu poder. Doc, de Vairam de 12 87.
APOSTOLOS. Entre os He APRESSARALGUEM Affli SS
breos, ainda antes da vinda de Chri angustiar º causar pezo, op rir…S
sto , se chamárão Apostolos os que e tudo o que he opposto a > \ |

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AP AP 129
sar alguem. He do Seculo XIII., e de Colimbria cum suis molinis , é
seguintes. aprestationibus... Cum suis vineis, Óº
APRÉSSO. Aprendido, ou sa aprestamentis. L. Preto de Coimbra.
bido. Doc. de Tarouca de 1287. Na Doação, que o Infante D. Af
APRESTAÇOENS.Tudo o que fonso Henriques fez a João Viegas
póde ser util , e prestadio para a de todos os bens, que havia con
vida , regalo, e conveniencia do fiscado a Aires Mendes, e a Pedro
homem. Nas Doações, e compras Paes Carafe, que se havião rebella
antigas de casas, propriedades, ou do , e feito fórtes no Castello de
fazendas era formulario cum quan Cea, se diz: quantas hereditates in
tum in se obtinet , Óº ad prestitum illorum voce potueris exquirere, ca
hominis est ; ou outro equivalente: sis, vineis, terris ruptis, vel inrup
e nisto se incluião entradas, e sa tis, exitus viarum, Óº serigis molina
hidas, agoas, fontes, arvoredos, rum , Óº perfias, ingressus, Óº re
montes, # , releixos, e tudo gressus, cum quantum ad illis presti
o mais que era , ou podia ser de tum fuit, Dono tibi illas pro creatio
algum interesse, ou proveito para ne, ó pro bono servitio , quod mibi
o Donatario , ou Comprador. Em fecisti, &c. Doc. de Pendorada de
huma Doação feita á Igreja de San II33.
to André de Sozelo de 87o se lê: APRESTAMADO. Assalariado,
Contestamus (ipsam hereditatem) in que tem soldo, ou mantimento cer
ipsa Ecclesia , cum quantum hominis to, e consignado em frutos, ou di
bic aprestitum est : signum, caballos, nheiros: Vogado, e aprestamado da
equas, bobes, Óº vaccas, pecora pro Abbadessa. Doc. das Bent. do Porto
mtscoa, cabras, Óº cupas, lectos, Óº de 133o.
catedras, mensas, sautos, Óº puma tafoens.
APRESTAMENTOS. V. Apres •

res, amexinares , vineules , terras


ruptar, vel barbaras, casas, lacus, APRESTAMO , ou Prestemo.
petras mobiles, vel imobiles. Et divi Consignação de certa quantia de
dit , &c. Doc. de Pendorada. Em frutos, ou dinheiros, imposta em
hum escambo, que fez o Mostei algum terreno , ou cousa rendosa,
ro de S. Miguel de Riba Paiva no e destinada para sustento, e manu
de 989 se acha, que a herdade do tenção de alguma Pessoa, ou Pes
Mosteiro estava na Sardoira per ubi soas, Obra Pia, ou util á Répu
que vobis limidavimus, vel coram tes blica. Desta prestação se communi
tibus assignavimus, scilicet, pircarias, cou algumas vezes o nome de Aprer
cannares, petras, castiniaras, puma tamo á Quinta , Propriedade , ou
res, vineas, figares, ameireares, er Casal, que está onerado com esta
vares , vel omne quanto que ivi ad Pensão. Na Jurisprudencia Eccle
prestidum hominis est ; exceptis illesiastica se chama, de muitos annos
mulinu cum sua resega de ille porto: a esta parte , Prestimonio : I. Hu
illo ale vobis concedimus. Doc. de ma porção tirada para sempre dos
Arouca. No Testamento , que D. reditos de hum Beneficio; prescin
Sesnando Conde de Coimbra fez dindo de ser applicada a pessoas
no de Io87, hindo para a guerra, Leigas, ou Ecclesiasticas, Hospi
se acha: Et medietatem de illa azenia tacs, Kºllegº, Armadas contra os
Tom. I. Im-,
I3o AP AP
Impugnadores da Santa Fé Catho chantardes , e aprofeitardes en elle.
lica, &c. II. Certa quantia de re Prazo da Salzeda de 1287.
ditos, afectados pelo Instituidor de APURAÇÃO. Acto de esco
hum Beneficio ao sustento de hum lha, e selecção entre os que são
Sacerdote, sem erecção em Titulo propostos para algum oficio, em
de Beneficio, Capella, Prebenda, prego, ou ministerio. V. Apurador.
&c., e sem sujeição ao Papa, nem APURADOR. O que se occu
ao Bispo, e para o qual só o Pa pa em alimpar as pautas, apurar,
droeiro, ou seu Delegado, podem escolher, e separar os mais dignos,
nomear. A todos estes Prestimonior e capazes para algum Emprego, ou
chamárão os Portuguezes Apresti Ministerio. Em o de 1373 se apre
mos: quasi a prestatione quotidiana, sentárão humas Provisões Reaespe
vel annua, e antigamente Apresta lo Procurador do Concelho de Coim
mos , e Prestemos , e aos que co bra a Afonso Martins Albernaz Apu
bravão os seus frutos, ou # rador então da gente de pé, e de ca
Prestameiros , do que tudo se faz vallo na dita Cidade, em occasião, que
larga menção no Tombo do Aro da estava cuidando na mesma Apuração.
Cidade de Lamego, em que El-Rei Doc. da Camera de Coimbra.
tinha muitos Aprestamos. No Foral APURAR. Alistar, arrolar, pôr
de Cea de 1 136 se determina Ca na lista, ou pauta. Que avendo de
balarius de Sena , qui non babuerit seer apurados pera serviço delrrei...
Aprestamo, non vadat in Fossadum, nam ho sejaees , senam per pessoa,
nisi illo de Mayo, Óº Apelido. L. dos que pera ello tenha minha Carta pa
Foraes Velhos. tente. Doc. da T. do T. de 1491.
No mesmo Tombo do Aro de 1346 AQO, adv. Aqui, cá, neste lu
a f. 2. se diz: O Alcaide do Castel gar. Segundo era contheudo em hum Er
lo de Lamego ha de haver em cada tromento, que nos aqó foi mostrado.
hum anno , no tempo quando malhão AQUADRELAMENTO. Rol,
os pães, de quantos Casaes El-Rei ba conta , enumeração , resultado da
no Prestemo de Magueja senhos feixes conta. E daqui Aquadrelar : Arro
de colmo , de 6 colmejros o feixe, e lar, pôr em turmas, e quadrilhas, ou
senhos feixes de gésta negral grande Vintenas. E quanto aos maravidis dir
para colmarem as casas do Castello: se (João Affonso Pimentel) que pa
Salvo de dous Casaes desse lugar, que ra milhor cobrança, elle fizera aqua
são izentos; porque são Mordomos fo drelar a terra: e que pelo dito aqua
reiros , e correm a terra por El-Rei drelamento achara, que pagando cada
em cada hum anno; e salvo dos Ca hum doze libras se cumprião os ditos
saes da Matança, que dão colmo, e 2d)coo maravidis. Então El-Rei man
não dão gésta. •

dou, que se arrecadassem pelo uso, e an


APRESURIA. V. Presuria, tigo costume. Carta d'El-Rei D.João
APRIZOAR. Prender, tirar a I., dada em Bragança em 24 de
liberdade,
em prisões. metter em ferros, pôr Janeiro de 1396, pela qual se pro

põe fazer cessar os muitos damnos,


APROFEITAR. Fazer bemfei e malfeitorias, que os Cavalleiros,
torias, aproveitar, reduzir a cul e Escudeiros fazião na Comarca
tura huma herdade, ou casal. Mais d'aquem dos Montes, sem que fossem
TC
AQ. AR 13 r
refreados , e escarmentados pelos particulares, e cada hum com o no
Meirinhos d’El-Rei. Doc. de Bra me do seu Distrito. Este Arabá Me
ança. nor era annual , e vigiava sobre a
AQUADRELAR. V. Aquadre observancia das suas Leis, e parti
lamento. culares costumes, não se extenden
AQUAECER. O mesmo que do já mais a sua Jurisdicção fóra da
acontecer, caber , vir, ou perten Villa, Termo, ou Concelho, em
cer; fallando-se de partilhas de hu que havia Synagoga , ou Synago
ma herança : Aquaeceo-lhe isto , ou gas. Tres Titulos derão os Judeos
aquillo da herança. Ainda hoje di aos seus Rabbinos, e Mestres da Lei.
Zemos: Aconteceo-lhe tal, ou tal pe O I. he Rabb, que se dava só aos
fa nas partilhas. Aquacce muitas ve lue residião fóra da Terra Santa.
zes: muitas vezes succede. Ainda se O II. era Rabbij, e o III. Rabbán,
usava no de 1407. Doc. de Mon que se davão aos residentes na Pa
COIVO. lestina. Estes terceiros não só forão
AQUECER. Succeder alguma respeitados como Doutores da Lei,
cousa, acontecer. He do Seculo XIV. mas tambem como Principes. E taes
AQUEJAR. Apressar. Aquejou forão os sete posteriores a Helael,
se a vir a Leão por haver o Reino. que delle descendião, e cujo Titu
Ap. Risco.T.XXXV. da Hesp. Sagr. lo era Rabban. Dos segundos he que
AQUEME. Governador , Re nós aqui falamos. Em tempo d'El
gente, Maioral. Entre os Judeos Rei D. Pedro I. Moysés Navarro,
era o mesmo que o seu Rabbi. Arabá Mór de Portugal, e sua mu
AQUESTE. Este. lher D. Salva instituírão hum gros
AQUJAR. Perguntar com ins so Morgado no Termo de Lisboa,
tancia, inquirir, curiosamente cujo De huma Carta d'El-Rei D. Af
he isto, ou aquilo? Cujo be este me fonso III. em Portuguez para o Con
vino? De quem he, Termo antigo, celho de Bragança, na qual se re
que ainda hoje não he inteiramen contão as usuras, enganos, e trapa
te desusado. ças dos Judeos, que nesta terra ha
AQUISTO. Isto. Tambem se via; consta, que no de 1 278, hum
acha Aquesto no mesmo sentido; po Arrabí dos judeos tomava conhecimen
rém he mais Hespanhol, que Por to das suas Causas Civís. Doc. de
tuguez. __ Bragança.
ARABÍ. Senhor , Mestre, ou ARABIADO., ou Rabiado Mór
Sábio da Lei. Vem do Hebraico dos Judeos. Dignidade, que entre
Rabbi, que se interpetra Mestre. elles correspondia a Mestrado , ou
No tempo que os Judeos erão Per Pontificado das suas Synagogas.Tam
mittidos em Portugal, tinhão elles bem se chamou Arabiado: certo Di
hum Arabí Mór, # usava do sel reito, Foro, e Tributo, que os Ju
lo das Armas do Reino, com hu deos pagavão á Coroa. Do II. Li
mas letras, que dizião: Sello do Ara vro dos Misticos a f. 196 consta,
bí Mór de Portugal. Este tinha re ue fez El-Rei Doação ao Conde
partidas as Comarcas da Monar } Abrantes das rendas , e Direi
chia por outros tantos Ouvidores, ou tos do Arabiado dos judeos.
Arabis menores , que tinhão Sellos ARADOIRA, Dia de lavoura,
R ii gei
I32 AR AR.
geira, ou vessada de hum dia. E de abegoaria, e por esta occasião
nos dareis tres aradoiras. Doc. de algum entrasse no preço desta her
Pendorada de 1317. dade insignificante, e pouco apro
ARADEGA. Vid. Areatica. veitada.
ARADOIRO. Arado, charrua, ARAL. Terra inculta reduzida a
ou ferro de arado a que chamão re cultura, roteada. V. Familiares, em
lha na Provincia dibºiº alta. As Maceiradam.
sim parece, que se collige de hu ARAMIO. Arada, ou terra, que
ma Carta de Venda, que Egas Men se lavra em hum dia. Cum aramio
des, e sua mulher fizerão ao Mos de uno jugo de bobes. Ap. Risco. T.
teiro de Tarouca no de 1 166, de XXXV. Hisp. Sagr. f. 173.
huma sua herdade, que jazia den ARAUTO. Interpetre , inter
tro do Couto do dito Mosteiro, por nuncio, que antigamente em tem
cujo preço recebêrão unum hedum, o de guerra levava recados de hum
&º unum aradoirom. Não se me es Reº ou Exercito a outro. Em Por
conde que ainda hoje chamamos tugal tem este nome o segundo Of
Aradura, e Arada, e antigamente ficial da Armaria, sendo o primei
Aradoira: ao trabalho, e acção de ro o Rei d'Armas , e o terceiro o
lavrar por hum dia , ou dar huma Passavante. Denomina-se da princi
geira com huma junta de bois : e pal Cidade do Reino, v. g. Arau
que Andar na Arada, he o mesmo to Lisboa , Arauto Silves , Arauto
que andar na lavoura, ou lavrar a Goa. Correspondia este Oficio na
terra. Igualmente na baixa Latini sua primeira accepção aos Feciaes
dade Aratoria, Araturia, Aradria, dos Romanos , e aos Caduceatores
Aratria, e Araduria, se tomavão por dos Gregos, que publicavão as pa
qualquer terra reduzida a cultura, zes, e as guerras nos exercitos.
e que se costuma lavrar , e cortar XRAVöR. Nas faldas , e ao
com arado. nascente da penhascosa, e alcanti
Com tudo, em nenhuma destas lada Marialva , onde o seu dilata
accepções se póde entender o Ara do, e rendoso Campo principia, e
doiro no presente Documento; por no sitio, em que hoje vemos o Lu
que os Monges não fizerão commu ar da Deveza , existio no tempo
tação, ou Escambo, em que dimit # Romanos a Cidade de Aravór.
tissem alguma terra lavradía. Além Os vestigios nada equivocos da so
disto, pondo-se em primeiro lugar berba, e arrogancia, ou seja gran
bum cabrito por parte do preço, a deza, daquella Nação Conquistado
outra parte não podia ser de gran ra, e polida que até os nossos dias N
de valia. E finalmente, em tempo, permanecem, são os abonados fia }
que os Monges se occupavão na la dores , que adduzimos. Fosse em
voura, e agricultura das suas ter bora esta Cidade huma Comarca,
ras, e talvez das alheias , lavran ou Districto, em que os Aravores
do, cavando, podando, segando, houvessem fixado o seu assento, e
&c. (Como dos seus mesmos Ar no sentido em que outras muitas
chivos se manifesta ) não estava fó Cidades se tomárão, como se póde
ra da razão, que fizessem arados, vêr abaixo, V. Cidade: ainda assim
e outros semelhantes instrumentos nos persuadimos, que a Capital des
tal
AR. AR. I33
ta gente não foi outra, senão a que agora serve de estalagem, se acha
existio no Lugar da Deveza. Eis huma pedra com estas bem figura
aqui os fundamentos, pelos quaes das Letras, que nos informão de
decidimos: huma Memoria , que a Cidade de
I. Aqui se achou ha mais de Ioo Aravor, ou a Clarissima Aravor de
annos huma primorosa base de Jas dicou a Jupiter Optimo Maximo.
pe branco com dois palmos, e quar Em as Notas dos Antigos se acha
ta de alto, palmo, e quarta de lar com frequencia o K por C. V. g.
go, que foi levada á residencia dos Calendis , Caput, Clarissimus, Car
Alcaides Móres daquella Villa, que tra, &c. Se achão escritos com K,
está fóra dos muros. Alli se acha ao e tambem Kimba por Cimba, Kime
presente inserida em huma parede, liarcha por Cimeliarcha: que muito
e bem conservada no quintal das aqui denote o K. Civitas , ou Cas
mesmas casas. Nella se lê, exarada tra?... eis-aqui a sua figura.
com bellissimos caracteres , a Ins
cripção seguinte:

IMP. CAE DIVITRAIA


PARTICI. F. TRAIANO

HA DRIANO. A UG

P O NT, M.A.X. TR IB
P O TE S. I. C. O S. II. III. No mesmo lugar da Deve
za se notão, e admirão dois bra
vos edificios de gosto Romano. Do
I. já se tem demolido a melhor par
CIVITAS ARAVOR te: parece jº já nos antigos tem
Pos servio de Igreja: a sua grossa
cantaria he escodada, e a suá Ar
chitetura lhe promette o triunfar dos
Seculos. A Tradição diz fora hum
grande Palacio, que se extendia pe
la planicie do campo, que lhe es
tá contiguo, e no qual se tem acha
do com que apoiar esta Tradição:
No anno do Senhor 119 foi Elio hoje chamão a esta Mole a Torre.
Adriano Augusto segunda vez Con Q II,já servio, em outro tempo de
sul, e teve por companheiro a Rusti Capella: fica defronte do I., entre
co. Parece ser deste anno apresente os quaes, só medêa hum largo ca
Inscripçãº, que lhe chama Trajano, minho: he todo de hum monstruo
# Ulpio Trajano o adoptára aná So Propianho quadrado, desempe
tes de 117, em que morreo, nado a picão, e só nas juntas ma
II. No mesmo lugar da Deveza ravilhosamente unido, ainda se con
em casa de Manoel de Moraes, que serva inteiro, e a sua porta por de
Ina--
134 AR AR
masiadamente alta , e larga , não ARBIM. Vestido rustico, gros
mantém a proporção com o resto seiro, camponez. He dos principios
do edificio. Junto delle se desco da Monarchia.
brio a II. lapide, que nos inclina ARCABOUÇO, ou Arcaboiço.
a suspeitar, que seria algum Sacel A ossada , ou Arca do peito, em
lo, ou Delubro dedicado # que se contém as partes vitaes, co
IV. Menos de hum quarto de le mo os bofes, o coração, &c. Te
gua, para o Meio-dia deste lugar nho o arcabouço sem feição. Carta
se vê huma grande, e alta Nauma d'Egas Moniz do Sec. XII.
chia, que ainda hoje chamão o La ARCER. Arder , queimar-se,
go, porque se conservava cheia de abrazar-se. Cinquy libras de cera, que
agua: poucos annos ha foi aberta, arçam. Testam, de Maceiradam de
e se vio que se fechava com huma 13o7. E ali mesmo se guarda o Tes
grande pedra quadrada, em que es tamento de Estevainha Pires, mulher
tava chumbado hum grosso argolão de Soeiro Lourenço, Cavaleiro de Pa
de bronze: hoje cultiva-se o fundo rada , e filho de D. Guilherme , no
desta Naumachia, e as suas ruinas de 1293. Nelle manda, que no dia,
nos informão dos seus fabricadores. que ella fosse passada, cantassem cer
Daqui se encaminhavão as muitas tas Missas, e fizessem Orações, até
aguas deste sitio para os usos da que fosse persoterrada , e que por
Cidade, e seu campo: o seu Aque todo este meio tempo: Arfa sobr'el
ducto já por canos mui # de la X. maravideadas de cera.
cantaria, já excavados na penha não ARDEGO. Fogoso, ardente,
permittem duvidemos de huma cou demasiadamente vivo, e esperto.
sa tão clara. •

AREATICA, Heradíga, Hei


. Não sabemos em que tempo, e radega, Eiradega, Eiradíga, e Ei
por quem foi destruida esta Cida radego. Foro, ou Pensão de frutos,
de. Dizem que D. Afonso o Ma que os Colonos pagavão ao Senho
gno a tirára do poder dos Mouros, rio da terra. Se vem de Araticam :
e lhe déra o nome de Malva, don que era o Foro que se pagava dos
de por corrupção lhe veio o de Ma Campos: se de Areaticum, por se
rialva. Porém, se por conjecturas rem frutos, que vinhão, e se pre
nos havemos de guiar , não seria paravão na eira, ou tendal, os mais
dificultoso tirarmos de Aravor a sua prudentes o julguem. Não he com
origem, corrupto em Maravor, ou tudo possivel uniformar hoje a quan
Maralvor, e finalmente em Maral tidade destas Eiradigas, que actual
va, e Marialva. O Castello presen mente se pagão nos campos de San
te he obra dos nossos Monarchas, tarem, Alcobaça, Ceiça, e outras
cujas obras parece se acabárão no de partes; variando os mesmos Foraes
1559 , segundo huma Inscripção, na qualidade das medidas, que erão
que na entrada delle se encontra. diferentes em quasi todos os Terri
Parece que no tempo dos Godos, torios. Sabemos, que ainda hoje
para o Nascente, e não longe des consta a Eiradiga de doze alquei
ta Cidade existio hum Mosteiro no res, qual he a de Santarem : a d
sitio, em que se tem desenterrado Alcobaça tem seis fangas de pão e
Columnas, vestigios de Claustros, que são vinte e quatro alqueires.,
e Oficinas. No {
AR. AR I35
No Foral, que o Mosteiro de Cei de huma carga se pagava. L. dos
ça passou aos moradores de Coles For. Velhos.
no de 1217. Se declara, que a Hei ARFECE. Vil , baixo, zote.
radega constaria de duas teigas, hu Tambem se disse Refece: por huma
ma de trigo , e outra de todo o cousa, ou pessoa de mui pouca es
pão: e hoje se pagão dois alquei timação: vem de fece, ou feze, a
res por estas duas teigas. Doc. de que na composição se lhe ajunta a
Ceiça. No de 1176 o Mosteiro de particula Ré para dobrar a signifi
Lorvão deo Foral á sua Villa de cação da vileza.
Abiul, declarando nelle, que de om ARGUEM. Alguem. E se lboar
ni labore , quod laboraverint , deci guem embargar, que lho defendam.
mam partem Domino fideliter tribuant. ARIMONO. Cadeira cuberta,
Et in areaticam unam talicam triti e fechada, a que hoje chamão Ca
ci, Óº unam quartam vini. Et in ser deirinha.
vitio unam fogazam de duobus alquei ARMAS. Havia Armas juvassi
ris tritici, Óº unum caponem. E de vas, e Armas Exposilvas: as primei
clarou El-Rei D. Manoel, que es ras erão para defender , e as se
ta Eiradiga erão tres alqueires pe gundas para ofender o inimigo.
la medida corrente. Doc. de Lorvão. ARMATOSTE. Certo engenho,
No Tombo dos Casaes, e Proprie com que antigamente, e com gran
dades, deixadas á Sé de Viseu, es de facilidade se armavão as béstas.
crito pelos fins do Seculo XIII., se As que tinhão esta armadilha se
faz menção a cada passo de Eira chamavão Bestas d'Armatoste.
digas de pão, e de vinho. ARMENTINHOS, e Armen
E finalmente no Foral, que El tyos. He palavra de Monte-alegre,
Rei D. Manoel fez passar á Villa e Barroso : diminutivo de Armen
do Botão no de 15 14 se declara o tum : propriamente significa hum
modo, e fórma como se ha de } equeno rebanho de gados, ou abe
gar a Eiradiga do vinho, dizendo: # Segundo o Foral d'El-Rei D.
depois que o vinho chegar a comple Manoel de 1515 hum Armentinho
tar oito almudes, se pagará bum: par são quatro cabeças de gado vaccum
sando dos oito almudes pagará o La f^*, ou pequeno ; ou quatro
vrador 14 meas (que são dous almu estas , ou quarenta ovelhas , ou
des menos duas meas): não chegando quarenta carneiros, ou quarenta col
a oito almudes, nada pagará0. Doc. mêas. Todo o que tiver semelhan
de Lorvão. te armentinho pagará annualmente
ARENZO. No Foral , que El tres libras de foro, (que são 18o
Rei D. Sancho I. deo aos Povoa réis da moeda corrente) por dia de
dores de Folgosinho no de 1187 S. Miguel ; o qual Foro se chama
(que he o mesmó que seu Pai ha Talha. E não tendo gados, se tiver
via dado aos de Linhares no de 1169) herdades, ou possessões, que va
se diz: Et de illa carregadura dent lhão a dita quantia, igualmente o
in portatico uno arenzo. Que moeda pagaráõ ; com declaração porém,
esta fosse, eu o não saberei dizer. que tendo bens, que valhão mais
Só se assim chamavão ao Denario, que os quatro Armentinhos , paga
que era a portagem ordinaria, que ráó mais na dita Talha; e tendo me
nOS,
136 AR AR
nos , menos pagaráõ. E se algum pentariis , octo , vel decem mari
Lavrador tomar herdade, sem que nariis , triginta Balestariis , cen
para elle passe o proveitoso Senhorio, tum , &º quater viginti remigibus,
não pagará Talha : se passar, ser &º duobus sectaneis, in qualibet ga
lhe-ha estimado; e chegando á quan learum predictarum. No de 146o
tia, pagará Talha; aliás a não pa mandou El-Rei D. Afonso V. que
gará. s o dito Senhorio pagará o Almirante do Reino não tenha Ju
sempre, ou pelo proveitoso Senhorio, risdicção alguma sobre os Alcaides,
ou pelo Direito Senhorio; segundo cada arraizes, e petintaes das galés da Cida
hum destes Senhorios, ou Dominios de do Porto, onde pertencia aos Jui
valer. Doc. de Chaves. zes Ordinarios do Concelho por an
ARO. Arco , circumferencia , tiga posse. Doc. da Camera do Porto.
contiguidades, visinhança, ou Ter ARRAIZ, Panno, peça, ou cór
mo de huma Cidade, Villa, ou Ter te bordado, ou tecido com lavores,
ra grande, que ordinariamente fica de que antigamente se usava, e ain
uasi no meio do dito Arco. Assim da hoje usa, assim nos leitos, co
# o Aro do Porto, de Lamego, mo nos vestidos. Nas casacas dos ho
de Bragança, &c. tomando-o pelas mens, e mulheres ricos, (a que cha
terras, que jazem, e Pessoas, que mavão Sayos, ou Sayas) era mui fre
habitão no seu Termo. uente o arraiz, principalmente nas
ARPENTE. V. Artil, # , barras, e carcellas. Já no
ARRABI. O mesmo, que Arabi. tempo dos Romanos forão celebra
ARRABIL. Instrumento musico das estas bordaduras , que da Ci
de cordas , e arco , semelhante a dade de Atrebáto, onde se fazião,
rabéca, e usado dos Pastores. se chamárão Vestidos Atrebatenses.
ARRAIS. Hoje entre nós val o Esta Cidade , que ficava na Flan
mesmo que Patrão de huma lancha, des sobre o rio Escarpa, e que uni
fragata, barca, ou qualquer outra da ultimamente á França no de 164o,
embarcação pequena. Os Turcos cha he hoje Cabeça da Provincia de Ar
mão Arrais ao Capitão das galés. tois, mudado o antigo nome no de
Vem do Verbo Arabico Rasa: ser Arras, igualmente deo o seu nome
eleito para Cabeça, Chéfe, Super ás Tapeçarias de lãa, ou seda, em
Intendente, ou Governador de hum que se vêm tecidas figuras de ho
Povo, Casa, ou Familia. Por hu mens, ou de animaes, fiores, plan
ma Carta de Richardo II., Rei de tas, jardins, montarias, batalhas,
Inglaterra do anno de 1386, que Paizes, campos, Villas, &c., a que
traz Rymer Tom. VII. a f. 521, se chamamos pannos de Rás, ou de
vê; que o Arrais não era o primei Arrás. No de 1316 se escreveo no
ro Oficial, ou Personagem das Reaes Testamento de João Durães esta
Galeras , pois diz, que o Rei de Verba : Item : Mando a Pedro Rial
Portugal: Mittet Domino Regi An a minha Saya do arraiz. Doc. de La
gliae decem galear, ipsius Domininos mego. Ehefrequentissimo nos Doc.
tri Domini Regis Portugaliae sumpti do Seculo XIII., e XIV.
bus, Óº expensis, bene armatis: Vi ARRAMALHAR. Bulir, estra
delicet ; de uno Patrono, tribus Al buxar, fazer violencia para escapar, º |
caldibus, sex Arraizis, duobus Car barafustar, procurar a liberdade, e
2
AR AR 137
a soltura. Arramalhar se diz pro firmão que nas orelhas se symboli
priamente do peixe, que procura za a benevolencia ; e finalmente,
desembaraçar-se das malhas da re que na céga Gentilidade forão tidas
de, em que está prezo. por Deosas as orelhas. Como quer
ARRANCADA. Assim chama # seja ; este vaidoso ornato não
vão antigamente ás Expedições Mi oi tão particular das mulheres, que
litares , que se dirigião contra os não participassem delle igualmente os
Mouros, ou outros inimigos: fos homens , de que ainda hoje não
se porque então se arrancava das ar faltão exemplos. No Testamento,
mas, ou porque á força dellas se que El-Rei D. Sancho I. fez no de
destruião, desbaratavão, e apprehen 12o9 se lê: Habeat &" meas cintas,
dião as cousas, e pessoas dos seus &º meas scarlatas, ó penas varias,
contrarios. Os Documentos Latinos Arrancanes, Óº lencios. Ap. Brand.
do Seculo XI., e XII. dizem Arran Tom. IV. Monarch. Lusit.
cata. Tambem se chamou Arranca ARRANDAR. Espalhar, divi
da, quando os inimigos erão arran dir, separar.
cados do Campo. ARRAS. V. Compra do corpo.
ARRANCANES. Arrecadas, ARRASTO. Impedimento, em
brincos, e ornamentos das orelhas. baraço, demora, tomadia, ou re
Desde quasi o principio do mundo tenção violenta de alguma pessoa,
se achão varios, e extravagantes fei ou suas cousas. Vem do Francez Ar
tios de arrecadas em todas as Na rester: lançar mão de alguem, met
ções. Ás de fórma circular chamá tello em prisão, privállo da sua li
rão os Latinos Circulos: ás da co berdade, ou do uso, posse, e do
lumna compridinha, e redonda, Ti minio das suas cousas. Na infima
tulos : ás de figura cylindrica cha Latinidade Arresta, Arrestára, Ar
márão os Gregos, Cylindros: ás que restare, Arrestatio , Arrestum , e
representavão gotas de agua pen outros seus derivados, se tomárão na
dente, Stalagmios: ás do feitio de mesma significação. Da palavra Ar
perinhas, Elenchos: ás de tres pe rest , que até os calamitosos tem
rolas a modo de tres bagas de oli pos da Républica Franceza se to
veira, ou louro, Tribaccas, &c. No mou no mesmo sentido, disserão os
Portugal antigo houve arrecadas de Desertores da Humanidade Casas de
Pensamentos, pela sua demasiada fi Arrastação , os horriveis carceres,
nura; de Bicha, pela figura de hu onde fizerão sepultar em vida , e
ma cobrinha; e de Alfinete, que se com inaudita impiedade, os Minis
mettião nos buracos das orelhas, e tros do verdadeiro Deos, depois de
se não fechavão. Os nomes, e fi lhes terem roubado os seus bens: a
guras das do nosso tempo, não ca fim (dizem elles) de acabarem alli
berião em hum só Diccionario, e os seus infelices dias. Mas quanto a
bem corpulento. maldade se engana a si mesma!. -
Advinhar agora que razão have Que incomparavelmente mais feli
ria para este geral costume, não he ces os Martyres do Senhor, do que
facil, nem permittido. Dizem huns, os tyrannos, e algozes , que os
que na ponta debaixo da orelha tem apressão a entrar naquella gloria,
a memoria o seu assento: outros af onde os prantos, as dores, e os ge
Tom. I. TIll
138 AEU AR
midos não entrão, foge a morte, a cava arranjar, armar, dispôr por or
immortalidade se logra, e eternas dem, com asseio, e methodo tudo
são as alegrias?... o que era conducente ao alojamen
No de 1455 segurou a Camera to de hum exercito ; se disse Ar
da Cidade do Porto hum mercador raíal, e Arreal. E daqui Arraiator:
de Santander, para trazer alli hum o que apparelha, dispõe, ordena,
navio carregado de ferro sem temor fórma, combína todo o Corpo Mi
de arrasto, ou reprezaría. Doc. da litar posto em campanha, o Mare
Camera do Porto. Não falta quem chal de Campo, aquelle Oficial em
se persuada que Arrasto aqui se toº fim, que os Romanos chamárão Pre
ma por barateio, rebaixa, preço in fectus Castrorum.
fimo, e quasi insignificante das mer ARREAR. Ornar, compôr, as
cadorias ; mas além do sobredito, sear. Tem a mesma origem, que
a Reprezaria, explica claramente o Arreal.
Arrasto. ARREAR-SE. Jactar-se, presu
ARRAVESAR , ou Arrevesar. mir de si, ensoberbecer-se. Do ap
Vomitar com impeto, e demasiada parato , e pompa Militar dos Ar
violencia. raiaes , ou da fastosa arrogancia
ARREDAR da fazenda, ou he dos que demasiadamente se enfeita
rança. Excluir, lançar fóra, não ad vão; parece, que metaforicamente
mittir alguem a ter parte nos bens, se disse Arrear-se, por: Jactar-se.
de que se trata. No de 1392 ven ARREDAR. O mesmo que Ar
deo Fagundo Pires huma herdade redrar as vinhas. Pagará tres geiras
em Valbom, junto de Pinhel, a D. ás vinhas: huma a legar, outra a po
Egas, Bispo de Viseu, obrigando dar, e outra arredar. V. Radar. Do
se por si, e por seu aver, a arredar Latino Rado : rapar, se disse Ra
huum seu criado, que é aalemtego: e dar , Redar, e Arredar; pois este
se o arredar nom poder, obliga-se aa serviço propriamente consiste em ra
pagar porem XX. maravidis ao Bis par, ou cortar pelas raizes as her
po. Tombo antigo da Sé de Viseu. vas, que no Verão sufocão as vi
ARREAL. Arraial, acampamen nhas, a que chamão a segunda cava.
to de hum exercito, ou de alguns ARRÉDO. Longe de nós, au
corpos de Soldados, e Milicias. No sente-se, retire-se para longe, passe
de 1 386 achando-se El-Rei D. João de largo, desappareça para sempre.
I. no Arreal de sobre Chaves, recom Arredo vá de nos o séstro augouro.
pensou os bons serviços do seu Vassal Obras de D. Franc. Man. Tuba de
lo João Rodrigues Pereira; dando Calliope.
lhe Baltar, Paço, e Penafiel de ju ARREIGADO. O que está con
ro, e berdade, com a jurisdicção Ci naturalisado, firme, fixo, estabele
vel, e Crime, mero, e mixto Impe cido em alguma Terra , Termo,
rio; resalvando só Correição, e Alça Comarca, ou Provincia, onde tem
da. Doc. da Cam. do Porto. Alguns casa , mulher, fazendas, ou Ofi
confundem Arraial, com Real, sen cios, que lhe não permittem facil
do que estas vozes nenhum parentes mente o mudar de habitação ; to
co tem. Do Verbo Arraiare, que na mada a metafora das arvores, que
decadencia da Lingua Latina signifi já prendêrão na terra, a que #
Illa
AR. AR. I39
mamos Arraigadas, ou Arreigadas º quatro, que a Coroa tinha em Ca
por terem já lançado raizes, e não nelas de Poyares do Douro, ao far
estarem expostas a mudanças , ou çante, ou bobo, chamado Bonamis,
morrêrem á força de calmas, e gea e a seu irmão Acompaniado para el
das. Mando , que o Alcaide meor da les, e seus descendentes. E por
Killa seja vesinho, ou se faça vesinho Confirmação, ou Rébora se diz: Nos
arreigado , com é de costume. Doc. mimi supranominati debemus Domino
da Cam. Secular de Coim, de 1331. nostro Regi pro roboratione unum ar
ARREIGAMENTO. Fiança, ou remedillum. Doc. da T. do T.
abono de pessoa, que estava arreiga ARRENHAMENTO, V. Arru
da na terra. Mando, que este arrei nhamento. Não dejxareis de pagar o
gamento , quando se ouver a fazer, dito foro por guerra , nem outro ca
que se faça nas naves , que esteve jão , nem per arrenhamento de tem
rem na agua, que tangerem o seu ter pos, que no dito tempo venha. Doc.
mbo de Villa Nova, ou Gaya. E este de Grijó.
arreigamento se não deve fazer naquel ARRICAVEIRO. Soldado pai
les haveres, cujos donos forem arreiga sano, rustico, e lavrador, que só
dos, por haver outros fiadores. Assim em tempo de guerra serve na guar
o determinou El-Rei D. Afonso IV. da , ou vigia das Praças, ou nas
nas Cortes de Santarem de 1369. obras, que tendem á sua defensão.
Doc. da Cam. do Porto. No de 139o se passou Carta a Dio
ARRELDE. Pezo de quatro li go Afonso, por El-Rei D. João I.,
bras de dezeseis onças cada huma, de Amadel das gentes de cavallo , e
que são quatro arrateis do pezo cor Pioens , Besteiros , e Arricavejros.
rente ; pois no tempo dos Roma Doc. da Cam. do Porto. Parece,
nos não tinha o arratel mais que que estes Arricaveiros são os Arre
doze onças , e entre os Arabes o covas de que se faz menção no Fo
arratel tinha trinta e duas onças. No ral de Soure de 1 1 1 1. por estas pala
Concilio de Leão de IOI 2 se de vras: Sculcas omnes ponamus nos in
termina, que omnes macellarii de Le tegras per totum annum, Óº vos om
gione perunumquodque annum, in tem nes arrocovas. L. dos Foraes Velhos.
pore vindemia, dent Sagioni singulos Na copia , que se acha em Tho
utres bonos, Óº singulas arrelas de suo. mar, inserta na Confirmação d'El
Não saberei dizer se estas Arrelas Rei D. Afonso II. no de 12 17 se
erão arrateis, se quatro arrateis de lê: et vos omnes arrotovas. Para me
carne de porco , que os marchan lhor intelligencia se ha de advertir,
tes devião pagar por cabeça. ue tanto no tempo d’El-Rei D.
ARREMECAO. Medida agra }, I., como no do Conde D. Hen
ria, que tinha de comprimento de rique, e dos primeiros Reis de Por
zenove palmos e meio. Doc. da Ser tugal, sempre a Terra dos Portugue
ra do Porto. zes esteva em armas, mais, ou me
ARREMEDILHO. Entremez, nos activas: e por tanto sempre nas
farça, comedia, ou representação Praças fronteiras havia sculcas, escu
jocosa. No de 1193 El-Rei D. San tas, ou sentinellas avançadas, e vi
cho I, com sua mulher, e filhos fi ias, que actualmente residião So
zerão Doação de hum Casal , dos # Sosiimuros , isto he nas Carco
"Caº 3
I4o AR AR.
vas, ou Cubos delles (que erão hu que se chama de seixo. Doc, de Bra
mas torres de meia cana , avança gança de 1551.
das no panno do muro, como ain ARRINCAR do Campo. Fa
da hoje se está vendo) e dalli po zer, que o inimigo largue o posto.
dião observar sem o mais leve em ARRINHOS, ou Arinhos. Areaes,
baraço, assim a explanada, como e enseadas, onde he facil, e copio
o fosso da muralha. No Foral, que sa a pescaria dos saveis, e lamprêas
o Infante D. Afonso Henriques deo no rio Douro. Paga-se mais outro
a Penella, junto de Coimbra no de Direito no rio Douro , a saber : nos
1 137, se distinguem as Sculcar, ou tres Arrinhos , &c. Foral d'El-Rei
Atalaias do Campo, das Vigias, ou D. Manoel dado á Terra de Paiva
Arrocovas do muro , pois diz: De no de 1513. Doc. das Salzedas. V.
illa Atalaia Rex media, Óº habitato Abarga.
res alia media: De Vigilia de muro ARROCOVA. O mesmo, que
Rex media, Óº babitatores alia me Arricaveiro.
dia. L. dos Foraes Velhos. (E no ARROINHAMENTO, V. Ar
ta de passagem o Titulo de Rei, que runhamento.
já se dava ao Infante, ou que elle ARROMPER. Romper a terra,
esperava conseguir brevemente.) cultivá-la, roteá-la, e dispô-la para
. Na baixa Latinidade se disse Ar levar copiosos frutos. Doc. das Bent.
rieribannum, e Herebannum por Ap do Porto de 1285.
pellido, citação, chamamento, ou ARROMPUDO. A. Roto, apro
convocação para a Milicia , ou ex veitado , e reduzido a cultura. E
ercito quasi bannum ad Here ; pois dos herdamentos arrompudos » e fei
Here se tomava por toda a Milicia, tos, darde-nos o terço. Doc. das Sal
expedição , exercicio, ou trabalho zedas de 1 307.
militar. Se por serem chamados os ARRUINHAMENTO. V. Ar
Lavradores, e Paisanos para alguns runbamento.
empregos, e serviços da Milicia, se ARRUNHAMENTO. Ruina,
chamárão Arricavejros , quem me destruição , calamidade de terras,
lhor o entender, que o chegue a searas, lavouras, casas, edificios,
decidir. Arricavejros. Gentes da Or que torne as propriedades menos
denança antiga. rendosas, ou inteiramente estereis,
ARRIEL. Ornato de muitos an causada pela intemperie dos Ele
neis, feitos, e tecidos de fios d’ou mentos, ou pelos homens, ou por
ro, que tomavão, e cubrião meta algum acaso não previsto. Se suce
de dos dedos. Tambem havia Ar der arrunhamento , ou algum cajão,
rieis de orelhas, que erão huns an ou caso fortuito nas ditas casas, &c.
neis de ouro grossos, e largos, que Doc. da Serra do Porto do Sec. XV.
dellas pendião, e de que os mes ARRUNHAR. Destruir , ar
mos homens usavão. ruinar , desfazer. Rebateram toda a
ARRIFE. He o que hoje cha terra de cima do poço sobre o solha
mamos Arrecife, ou Recife, que he do , como que arrumbavam o poço.
huma penha, ou fraga continuada Barr. Dec. II. L. I. C. Vl.
por mais, ou menos espaço. Esta ARRUNIADO. Destruido, ar
4 cerca de bum arrife, quer penha, ruinado. A Famula de D…J…
3
AR AS I4 I
da dôou a 6.° parte de huma her condudamente. Ás escondidas, clan
dade em Souto máo: Subtus mons Kas destinamente. No Foral antigo de
tro arruniado, discurrente rivulo Tei Santarem se acha entre os mais es
xeira , territorio Kalumbriae ... Ce te Titulo : Dos que casam ascondu
nobio S. Salvatoris de Rrogi.... ur damente com mulheres virgens, ou ve
abeant illa, tam Clerici, quam Mo huvas, V. Treusassom.
naci , qui in ipso loco habitaverint, ASCONDUDO. Clancularia
cºvitam sanctam perseveraverint.Doc. mente , sem testemunhas de vista,
de Pedroso de 1 121. clandestinamente, ás escondidas. Em
ARTEIRO. Astuto, sagaz, des pubrico , nem ascondudo. Doc. de
tro, manhoso. Faria na Europ. Por Pendorada de 1341.
tug. Part. III, p. 4. diz que D. Pe ASOBERBAR; Tratar alguem
dro Arteiro , natural de Sousa en com insolencia, soberba, e arrogan
tre Douro , e Minho, pela victo cia. Ser asoberbado: ser tratado com
ria que alcançou do Cavalleiro de arrogancia, desprezo, ou insolencia.
Orense em hum desafio, conseguio He do tempo de João de Barros.
o nome de Torrichão, reção perpe ASOLLOÇAM. Absolvição, sen
tua como os Conegos daquella Ci tença a favor do réo. Algums Tes
dade , e chamarem-se Arteiros os tamenteiros som asoltos, e sem embar
atrevidos. go da asollofam, o asolto paga as cur
ARTICE. Sagacidade , destre tas. Nas Cortes d'Evora de 1436
Z3l , astucia.
manda El-Rei, que isto se não fa
ARTIFICIO. Tudo aquillo, que a. Doc. de Santarem.
he preciso para huma vivenda , e ASPEITO. Aspecto, vulto, fa
habitação cómmoda, e reparada, e ce, cara, rosto, semblante. He do
em que a Arte prática se exercita. Sec. XV., e XVI.
E deixamos dinheiro para se fazer a ASSADO. Magusto de casta
Igreja, e Hospital, com todos os cur nhas. Na Beira ainda hoje se cha
rães, e artificios necessarios. Doc. de ma assador a hum vaso de barro,
Viseu de 1356. em que elas se assão. Por dia de
ARVIDO. Juiz árbitro , esco Natal buum assado, e huma quarta de
lhido, ou livremente acceitado pe vinho. Prazo de Pendorada de 1414.
las partes. juizes arvidos, difyndo ASSENTAMENTO. I. Assen
res, e amigavis compoomdores. Doc. to, ou Acordão, que se toma em
das Bent. do Porto de 1318. Camera , para que os Povos con
ASCITERIO. Lugar destinado corrão com alguma contribuição,
para o exercicio das virtudes, e par por authoridade, e Ordem, ou Pro
ticularmente se toma pelo Mostei visão do Soberano. No de 1439 pe
ro, ou Recolhimento de mulheres dírão os de Viseu nas Cortes de
Religiosas, Virgens, ou honestas. Lisboa, que o Senhor Rei D. Af
Do Grego ………o : que significa fonso V. lhes désse Cartas para que
o Mosteiro, se disse na infima La todos os Visienses , sem distincção
tinidade : Asceterium , Acistanum, alguma de pessoas, concorressem, e
Archisterium , Ascysterium » Acite fossem ajudadores nos reparos, que
rium, Arcisterium, Architerium, &c. pertendião fazer nas guarnições, e
ASCONDIDAMENTE, e As muros da sua Cidade, e forão res
pon
I 42 AS AS
pondidos: quanto be á Mºº para os rem as muitas obrigações, que os
assentamentos, averam reposta: man poucos Conegos não podião ordi
dem-na requerer. Doc. de Viseu. nariamente supprir; mas nunca fo
ASSENTAMENTO. II. Casas, rão 1eputados por hum só Magis
ou vivenda, com todos os edificios, trado com o Bispo : o que só he
que são proprios de hum lavrador, proprio dos Conegos. Nesta razão
ou caseiro. Nos principios da Mo de Beneficiados tiverão, e tem ain
narchia se chamava a isto AEdifica da varios nomes, que no seu fun
mentum , que depois se disse em do todos são Synonymos, v. g. Man
vulgar Edificamento no Seculo XV. sionarios, Porcionarios, Meios Porcio
Nos Prazos de Masseiradam são tri narios , Prebendarios, Meios Preben *

viaes estas palavras nos Prazos des darios , Beneficiados , Coadjutores ,


ses tempos, no sentido de Abegoa Meios Conegos , Tercenarios , Quar
rias, ou Alquarias. V. Alquaria. tanarios , Quintanarios, &c. Na Sé
ASSIDUA. V. Ausidua. Fecerunt de Coimbra forão extinctos os Assi
domum propè assiduam ipsius Eccle sios, ou Meios Conegos, e Tercenarios,
sie. Doc. de Grijó. por hum Motu proprio de Pio VI.,
ASSINAMENTO. Consignação, e em lugar destes se creou huma
nomeação, Escritura, ou Titulo de nova Ordem de Beneficios, cujos
Apresentação , ou Investidura. De Beneficiados enchessem as obriga
huma resposta, que El-Rei D. Fer ções, que aquelles recusavão cum
nando deo aos Prelados d’entre Dou prir. Foi passado em Roma no de
ro, e Minho, que amargamente se 1778 , e dado á execução por Al
lhe queixárão dos excessos, e de vará de D. Maria I. no de 178o. E
masias dos Fidalgos, que mal, e com isto se deo fim ás dilatadas De
indevidamente lhes vexavão os seusmandas, e pouco edificantes, entre
Mosteiros com o pretexto das suas os Conegos, e Assisios; pertendendo
Comeduras; consta, que, com pena estes ter voz em Cabido , e não
de perdimento dos Aprestamos, que lhes permittindo aquelles este abuso.
tinhão da Coroa, forão os ditos Fi ASSOAR. Ajuntar o povo, e fa
dalgos cohibidos dos seus excessos. zer assuada, não só para algum máo
Mando, que nom valha o assinamento fim ; mas tambem para cousas de
do prestamo dessas herdades, e possis obrigação , honra , e proveito. O
soens. Doc. de Pendorada de 1372. qual Cavalleirº logo chamou, e assoou
ASSISIO. OS. Assim se chamão suas gentes , e foi-se pera haver de
em muitas Cathedraes os Ministros descercar o Castello.
da segunda Ordem, que contínua, ASSOMADA. Lugar alto , e
e assiduamente devem assistir ao Co eminente, donde alguma cousa se
ro, e mais Oficios Divinos , sem vê. Chegaste á alta assomada , tudo
que este serviço lhes dê igualdade te pareceo nada, quanto se dalli des
alguma com os Conegos, que tem cobre. Franc. de Sá, e Miran. Sa
voz em Cabido , assento no Coro al tyr. V.
to , e estabelecida Prebenda. Estes ASSOMADO. O que he facil,
Beneficiados Subsidiarios se introe prompto a perturbar-se , irar-se,
duzírão quasi desde a restauração agastar-se , e tomar vingança com
das nossas Cathedraes para suppri paixão, e ira. Este tal he domina
do
AS AS 143
do da soberba, e arrogancia, que da a extensão do seu Imperio; cons
lhe representa estar ele acima dos tando a Geira de 288oo pés quadra
outros, e que todos são nada a res dos. Das Geiras, ou Jugos, que em
peito da sua pessoa. Portugal se praticão, reguladas pe
ASSOMAR. I. Ainda se usa na lo jugerum dos Romanos, escreveo
Provincia de Traz dos Montes por o M. R. Joaquim de Foyos huma
chegar-se a huma janella, OUl qual douta Memoria, que se poderá vêr nas
quer outro lugar, proprio para dal da Real Academia das Sciencias de
li se vêr alguma cousa. Lisboa do anno de 1795. Os Fran
ASSOMAR. II. O mesmo , que cezes adoptárão os Arpentes quadra
rommar alguma quantia de cousas, dos, que erão metade de huma Gei
ou dinheiro. ra, Romana: tinhão 12o pés de com
ASSUNAR-SE. Ajuntar-se, con prido, e 14o de largo: dois destos
gregar-se, como de assuada. It : em Arpentes fazião huma Geira, ou Cen
Aveiro nom quiserom por nós jurar: turia, que tinha 24o pés de lon
e assunou-se o Concelho, e disse-nos tal go, e 22o pés de largo. Mas não
recado: que El-Rei nom ha bi, ergo era constante esta medida em toda
huma Colheita. Inq. d'El-Rei D. Di a França, variando em Quas todas
niz. Doc, de Grijó. as Provincias daquella Nação.
ASTIL , ou Astim. Certa me Em Hespanha tiverão mais accei
dida agraria , a que hoje chamão tação os Modios, ou Minas, que erão
Estim , ou Estil, e se pratíca no propriamente as Geiras menores: es
Campo de Santarem , e suas con tas erão cubicas, e tinhão por ca
tiguidades: tem vinte e sinco pal da lado 12o pés Régios. Destas Gei
mos craveiros de largo, e de com ras se usa hoje no Campo de Coim
prido toda a extensão do Campo, bra: tem por todas as partes doze
vinha , predio , monte, ou paúl. Aguilhadas, que constando cada hu
No Campo de Coimbra usão de ma de déz pés Régios, ou tres va
Aguilhadas em lugar de Estins, que ras de craveira, vem a fazer os di
do Latino Astile, ou Hastile, (por tos 12o pés, de palmo e meio ca
se medir com huma pirtéga, ou va da hum. Hoje commummente usa
ra comprida, e bem capaz de ser mos da vara de sinco palmos cra
vir de hastea a huma lança, ou pi veiros para regular toda a dimensão
que) tomou o nome. agraria; ficando-nos a liberdade de
Todas as Nações civilisadas tive dizermos que os Astins antigos erão
rão particulares medidas, com que de 25 palmos, segundo os Estins
assignassem a cada hum sua porção daquelle tempo, ou de 15, segun
de terreno, para nelle trabalhar, e do as Aguilhadas, que ainda hoje
poder subsistir. As inundações do se praticão; se he que a Pértica,
Nilo fizerão, que os Egypcios fos ou Pirtega de París, (que consta
sem eminentes na Geometria práti de 18 pés Régios) não grassou tam
ca, com que annualmente medião bem em Portugal.
o seu Campo. Os Romanos tomá No Livro das Doações das Sal
rão delles as suas Geiras, Modios, zedas a f. 3. se faz menção de hu
ou Minas, que com diferentes no ma herdade, que tinha quinque as
mes, e medidas se praticárão em to tiles in amplo, & L. in longo. E na
II]CS
I44 AS AS
mesma f. y. se nomêa outra: In Ses Este Formulario de Asto animo no
mo de Feria secunda: Óº est haeredi sentido, que aqui se declara, mui
tas ista VIII, astís in amplo : am tas vezes no Seculo X., XI., e XII.
bas são do Seculo XII. V. Mina. foi substituido por outras palavras
ASTO. Subst. Inveja , astucia, equivalentes. No L. dos Testamen
simulação, dolo, fraude. Ap. Ber tos de Lorvão, (que já não está em
Éan{a. Alcobaça) se conserva a Doação,
ASTO. A. Sagaz , manhoso , que Oneca Lucidi, e Rodrigo Ero
que ordinariamente se toma para a tiz fizerão casto animo ao Abbade
má parte, e he o mesmo que ma Primo , e seus Frades , de certas
licioso , perverso , calumniador , herdades , que tinhão em Gonde
fraudulento , mentiroso , traidor, lim , as quaes tinhão sido de seus
invejoso , cheio de apparencias, e Avós Aloito, e Munnia, no de 985.
exterioridades de amor sincero, mas No Foral , cheio de franquezas,
guardando no coração o dolo, ain que a Rainha D. Thereza # pas
triga, e o máo animo. Daqui veio sar á Cidade de Viseu no de 1 123,
chamarem os Longobardos juramen em reconhecimento da sua fidelida
to de Asto ao que nós dizemos Ju de , e bons serviços, se diz, que
ramento de Calumnia : e Astalio: o lhe faz esta graça: Nullo me cogen
engano, ou fraudulencia. E ainda te, sed propria voluntate, atque fa"
para com os Inglezes Astale: he o na mente. Doc. de Viseu. O Infan
laço, armadilha, ratoeira, ou ce te D. Afonso Henriques alterou ain
po, com que se enganao , pren da mais o antigo protesto da sin
dem, e matão as aves, e animaes ceridade, e lisura, usando nas suas
incautos. Todas estas vozes se di Doações , e Mercês de huns ter
rivão ab Astu, id est, dolo, vel ma mos mais fortes, e expressivos. Na
Iicia, como diz Boherio in Leg. Lon Doação que fez a João Viegas no
gobard. L. I. Tit. I S.VI. de 1 133 se explica deste modo:
Porém os nossos Monumentos até Placuit mihi pro bona pace , Óº vo
o Seculo XII. constantemente usão luntate, Óº pro grato animo, ex ex
de Asto animo , por voluntate mag plantanea volumptate , ut fecere tibi
na, Óº animo volenti, isto he, co johanne Venegas, & c. Doc, de Pen
ração puro , casto, liso, sincero, dorada. Na Doação de Moçamedes,
cheio de affectos , desinteressado, que no mesmo anno fez a Fernão
e sem refolho , falacia , ou dolo. Pires expressamente diz: Et hoc.fa
Em hum Instrumento de Pendora cio, non gentis imperio, nec suadente
da de 1o62 pelo qual Fromosindo articulo, sed pro bono, Óº fideli ser
Romariguiz desherda hum filho des vitio , quod mihi fecisti , Óº facies
obediente, e tésta os seus bens aos (si Dominus tibi vitam concesserit)
que lhe tinhão sido obedientes, e &º pro amore cordis mei, quem er
submissos diz: Placuit mici asto ani
ga te habeo, Doc, de Lamego. E já
mo, Óº propria voluntate , nullum no de 1 129 na Doação, que fez a
quoque gentis imperio, nec suadentis D. Monio, e a sua Mãi D. Tóda
articulo; sed accessit mea propria vo usa da mesma frase: Pro bono ser
Juntas, ut faceremus scripturae firmi vitio, quod semper mibi fecistis , &
dadis de hereditate nostra propria, Óºc. facturi estis, (Deo auxiliante) &ºpro
} (7jJi0 *
AS AS I45
amore cordis mei, quam erga vos ha ranchos, e turmas, para qualquer
beo. Doc. de Arouca. empreza, ou negocio público; pres
Desta mesma expressão usa elle cindindo de ser para bom, ou máo
em outros muitos Documentos , e fim. Disse , que elles se asuavão em
principalmente em muitas Doações, cada buum ano por S. Johane, e es
que fez a Egas Moniz, e sua ulti colhem d'antre si huum homem boom,
ma mulher D. Thereza Afonso. Em e enviam-no ao Abbade do dito Moes
huma, que se guarda Original nas teiro , que lhe lo confirme por Juiz.
Bentas do Porto, e he de 5 de Mar Doc. de Tarouca de 1335. Hoje di
ço de 1 134, fez pintar com a pen Zemos Assuada : o ajuntamento de
na hum coração com o sinal , de gente, que alguem convoca para
que usava, que era huma Cruz na fazer mal , ou damno a alguma
fórma seguinte: pessoa.
ASUDADA. Huma grande as
suda, ou algumas continuadas, hu
mas depois d'outras, que fação re
presentação de huma só. Porem ba
no rio Douro huma arrudada, em que
ha quatro ninhor, ou canais. Foral
de S. Martinho de Mouros de 15 13.
Doc. das Salzedas.
ASUNADA. Regimento, Tro
pa, companhia de Soldados postos
em tom de marcha. Vossa terra nom
hé tam grande, que tantas asunadas,
e começos de contendas possa fazer,
Depois de acclamado Rei, usou sem gram gasto de seos averes , e cor
constantemente em quasi innumera pos , e fazendas. Cortes de Lisboa
veis Documentos da Formula: Sa de 1434. -

na mente, integro animo, que he Sy ASVANDAMENTE. Debanda


nonymo dº antigo Asto animo. damente, hum depois d'outro. Doc.
ASTREGO. Obrigação, respei de Lamego do Seculo XIII.
to, ou parentesco. Vem do Latino ATA. adv. Até. Doc. das Bent,
Adstringo. Erat de astrégo ipsius Ec do Porto de 13o7.
clesie, isto he, Natural, Herdeiro, ATABUCADO. A. Enganado,
ou Padroeiro, a quem a dita Igre embebido, fóra de si com grandes
ja era obrigada a reconhecer co esperanças, mas sem fundamento.
mo tal. V. Natural. ATABUCAR. Dementar alguem
ASTREVIMENTO. O mesmo, com enganosas promessas , para o
que atrevimento. V. Estrevimento. attrahir ao seu partido.
ASTROSO. A. Infeliz, desgra ATADO. O fio, fevra, ou ven
çado , e que nasceo em má estrel cilho, que se ata no outro para fa
la, que o vulgo se persuade influe zer huma atadura mais comprida.
em o nascimento , e successos da No Foral que El-Rei D. Afonso
vida, e que em Latim se diz Astrum. Henriques, com Mendo Moniz, e
ASUAR. Ajuntar a gente em sua mulher Christiana Gonçalves
Tom. I. T dé
146 AT AT
dérão aos Moradores de Espinho de ATALAYA. II. Chamárão-se Ata
Panoyas (hoje Termo de Villa Real) layas os homens, que vigiavão o
se impõe o Foro de tres quarteiros Campo, Fortalezas, Praças, e pre
de pão ao que lavrar com hum só sidios. E porque estas Atalayas se
boi, e ao que lavrar com dois seis embrenhavão pelos matos, e luga
quarteiros : Et unum manipulum de res ermos, de pouca frequencia, e
lino, facto de tres atados de ipso liconcurso , forão chamados Escusa
no. – Facta Carta die XI, VIII. idus dos , e os lugares desta qualidade
Kal. Julii. E. M. C. LXXXII. L. dos Escusos. Já no tempo dos Romanos
For. Velhos. Estes atados se decla se disserão Excultatores , e Sculta
rão melhor no Foral, que El-Rei tores, os que hoje chamamos Sen
D. Manoel deo aos Moradores do tinellas, como se vê na Arte Mili
Serzedinho , (a quem o Mosteiro tar de Vegecio L. II. C. XV. Daqui
de S. Pedro das Aguias havia fei traduzírão os Hespanhoes os seus
to Prazo fatiosim no de 1227, com Esculcas , que ao depois se disse
foro de seis quarteiros de pão, e bu rão Olheiros, Exploradores encober
ma mão de linho atado com tres fe tos, e Espias, que nós hoje expli
veras) dizendo : E paga mais cada camos com o dito nome de Senti
Casal hum molho de linho de tres fe nellas. Ao Adail he que pertencia
veras , e far-se-ba do grande , e do o pôr as Atalayas de dia, e as Es
piqueno. Doc. de S. Pedro das Aguias. cutas , ou Esculcas de noite. Nas
V. Manipolo. Alfonsinas Part II. T. 26. L.X. se
ATALAYA. I. Lugar alto, torre, declara o que são huns, e outros,
guarita, reducto posto em alguma na maneira seguinte : Atalayas são
eminencia , donde as Sentinellas chamados os homens , que são postos
descobrem o campo , e qualquer para guardar os exercitos de dia, ven
movimento do inimigo. Dalli se fa do os inimigos de longe , se vierem;
zem sinaes com certo número de de modo , que possão fazer sinal aos
fogos , por cuja manobra se póde seur, que se guardem, de modo, que
vir facilmente no conhecimento do não perefão: e por isto são chamados
grosso , marcha , ou retirada dos Escusados. E isto he da Arte Mili
inimigos: e sendo de dia se fazem tar, e se pratica com grande provei
os sinaes com fumos. Dos Arabes to; porque assim se vem no conheci
nos ficou esta palavra que elles pro mento de quantºs são os inimigos, que
nuncião Attalaá, derivada do Ver vam, ou vem, e que fôrma guardão
bo Tálea , que na VIII. conjuga na sua postura, investida, ou retira
ção significa vigiar, olhar ao longe, da. O mesmo se ha de julgar dos Es
descobrir com a vista. Ainda hoje se cutas, que são Guardas para de noi
conservão entre nós alguns Povos, te, &c. E daqui se manifesta, que
e sitios com o nome de Atalayas, as Atalayas erão para de dia , e as
e Sculcas por servirem antigamente Guardas , e Escutas para de noite.
de explorar desde a sua eminencia, V. Arricaveiro. No Foral de Tho
escutar, ou prever os destinos, ou mar de 1 162 , traduzido , se diz:
assaltos de quaesquer inimigos da Atalayas ponhamos nós a meyadade do
tranquillidade pública, e formados anno , e vós a meyadade. Doc. de
em campanha. Thomar. O mesmo se determina
11.O
AT AT 147
no Foral de Leiria de 1 195. L. dos quantum potueritis invenire. No anti
For. Velhos. *
go Dialecto dos Inglezes Ategar,
Hum resto das antigas Atalayas ou Hategar se dizia o ferro, ou cus
se conserva presentemente nos Fa pide da lança. Se de Ategar derivá
chos, de que usamos, e de que os rão os Hespanhoes Atareça, ficará
Republicanos Francezes tirárão a no fóra de questão o seu significado,
va maquina do Telegráfo, pela qual que parece ser o mais proprio, at
se póde vir nos conhecimentos mais tendido mesmo o contexto da Doa
importantes á conservação da Pátria. gão reSCIltC.
Ás Atalayas chamárão os Romanos - ATAUDE. Certa medida de
Speculas , porque nellas como em grãos, de que particularmente se
espelhos, se divisavão os movimen usou em Galliza, e Leão.
tos dos inimigos, e ás Vigias, Guar ATEIGAR. Estimar, ou avaliar
das, ou Sentinellas, Excubias, qua os fructos no Campo, antes de ama
si homines ex cubili surgentes ; por durarem, e se colherem; para que
que não devião , nem devem dor os Enfiteutas, ou Colonos os não
mir, nem dormitar, para encherem possão sonegar. Algumas Corpora
perfeitamente os seus deveres. :: ções conseguírão semelhante Provi
ATALAYA, III. Embarcação, de dencia , que se não casa muito bem
que usão na India, que he barco com a razão, e tem mais parentesco
de remo, e muito ligeiro. - com a vexação do Povo, do que com
ATALAYA. IV. Andar em atalaya o sincéro, e oficioso amor do Pro
de alguem : o mesmo que andar ximo. -

em busca delle , contando-lhe os ATÉM. adv. Até. E por tal con


assos, e as voltas. diçom, que nós o devemos (o bace
|

ATALAYAR. Observar, vigiar, lo) bem a lavrar , e boa vina em


como quem está de sentinella. ele chantar, atem cinqui annos. Pra
ATALAYAR-SE. Acautelar-se zo de Tarouca de 1282.
com atalayas, pôr guardas avançadas, ATEMAQUI. adv. Até aqui.
tomar todas as medidas para conser Doc. das Salzedas de 1281.
var-se indemne , sem perigo , ou ATEMPAR. Conceder tempo
Illfldº para as appellações se remetterem
ATALHADO. Confuso, per ao Juizo Superior. He termo da prá
plexo embaraçado, sem saber o que tica Forense. Atempada a Appella
ha de obrar, dizer, ou responder. fão, se o appellante for negligente a
ATANÇAS. Até. Atançás o S. levar o feito aos Superiores, na mór
Martío. " alçada, se dá o despacho ao appella
ATARÉÇA. O ferro da lança. do pelo dia de apparecer. Orden. L.
Em hum antiquissimo Doc., que III. T. 69. Cap. V.
traz Sandoval se diz: Mea divisa, ATENDER. Esperar, aguardar.
&º meos atondos , id estº, mea sella Doc. das Bent, do Porto de 133o,
Morzerzel cum suo freno , Óº mea e de Vairam de 1315. Daqui Aten
*pata, & mea cinta, ó" meas espu dudo: esperado.
/as, Óº mea atareça cum sua basta, ATENTE. O que cumpre, guar
&º alias meas espatas laboratas , Óº da, ou conserva. E qualquer de vos,
meas loricas , Óº meos elmos 2 & c. que nom cumprir este Stormento, pa
11 Ague
148 AT AT
gue á parte atente, e aguardante... ra, onde seu filho Godinho Zale
de pena, e em nome de pena, Óre. ma foi ó I. Parocho, e depois hum
ATERMAR. Assignar termo, dos doze primeiros Conegos Re
para alguma cousa se fazer, ou com grantes de Santa Cruz de Coimbra, #
prir. O mesmo que Atempar. a quem unio a sua Igreja. Dallipas
ATIMAR. O mesmo que aci sou a Bispo de Lamego , donde,
mar : concluir, executar, levar ao renunciado o Bispado, se recolheo
cabo alguma empreza, obra » ou ao Mosteiro de Grijó , e alli está
façanha. Atimar huma prasmada fa sepultado. V. Atareça.
fanha : pôr em execução , e con ATRAVESSADIÇO. A. Cousa =
cluir huma pasmosa, rara, e admi que se atravessa, entremette, e per
ravel façanha. turba a boa ordem, desinquieta, e
ATOAR. Atemorisar, espantar, embaraça a boa harmonia. Huns pen
metter medo, e terror. He do Se samentos atravessadiços , forjados a
culo XIII. -

furto da razão, logo o amor de Deos


ATOCHO. Cunha , tarraxa, os enxotava. Dialog. de Heitor Pinto.
embrulho , com que alguma cousa ATREVIMENTO. Confiança
se aperta, para ficar mais firme, e na protecção de alguem que serve
segura. Ainda diremos Atochar: por de occasião, e motivo para impu
Apertar. nemente commetter algum delicto,
ATONDO. Direito de rotear, ou insolencia. Em huma Carta Ré
romper , agricultar algum terreno gia dada ao Concelho de Viseu com
inculto, e reduzido a mato bravo, tres Capitulos Geraes das Cortes
e utilisar-se das suas producções, d'Evora no de 1442 no I. (que he
não o podendo dar, doar, trocar, sobre a Administração da Justiça)
ou vender ; sendo hum mero usu se diz, que esta se não fazia em
fructuario, e não Direito Senhorio. tal guisa, que os males, e crimes erão
Na Doação, que o Conde D. Rai muitos, e graves, e não ponidos: e o
mundo à: aos novos Povoadores de Direito se nega ao que o tem, e pe
Monte-Mór, o Velho, em Feverei de: e fazendo-se muitos furtos, e rou
ro de Io95 , se nomêa particular bor, britamento de prissoens, Filha
mente Zalema Godinho , a quem mento de pressas aas justiças, e ou
dá , e concede a Villa de Mira, tros muitos, e graves excessos, ssem
com todos os seus Termos, e hum seendo rresstidos, nem ponidos; ante
moinho, que estava junto á fonte os cometedores delles em despreçamen
de Caraboi: quae omnia usque in bo to , e conténto de justiça , e delles
diernum diem in atondo, Óº prestamo em atrevimentos de poderosos, a que
tenuit. Doc, de Santa Cruz de Coim se chegam , se despoeem cada huum
bra. Tinha, pois, o dito Zalema as dia a mais fazer, &c. B. que assim
terras de S. Thomé de Mira , só o Rei, como seu Tio, o Infante D.
para as romper, e rotear, e se apro Pedro seu Titor, e Curador, Rege
veitar dos seus fructos, das quaes dor, e Defensor por nós destes rreg
só agora, por Doação do Conde, nos, nada mais desejavão que o in
ficou logrando a Propriedade, e Se teiro comprimento da Justiça, para
nhorio. Este Zalema Godinho fun # era preciso, que todos os seus
dou a Igreja de S. Thomé de Mi ovos concorressem , e ajudassem
OS
AT AU 149
os seus Corregedores das Comar AUFESTO. Acima. O mesmo
cas, e os Juizes das Villas, e Lu que Enfesto. Nas Demarcações de
gares; não occultando os malfeito Valle de Rugio em Penaguiam,
res, e obedecendo em tudo ao que que foi aforado para a Coroa no de
for mandado pelos Ministros, e Of 1233, se diz: Et vadit ambroó per
ficiaes de Justiça. Doc. de Viseu. ipsa_aqua, &º inde pelo lombo aufes
ATUNO , e Autuno. Novida to, L. dos Foraes Velhos.
de, renovos, colheita de trigo, ce AUGADEIRO! Feixe de linho
vada, e centeio. No de 1 19o deo em rama , quando a primeira vez
El-Rei D. Sancho I. Foral á Villa se mette n'agua. De sinco augadei
de Torres novas, em que manda, ros, hum. Prazo de Maceiradam de
que o lavrador de huma junta de I547.
bois, pague seis quarteiro de pão. Et __ AUGOUAS. Aguas de regar.
tres sint quarteiri de meliori atuno, Doc. das Bent, do Porto de 1365.
quem laboraverit. Et boc est autunus: AULA. Igreja, Capella, e prin
triticum ordeum, Óº centenum. Et de cipalmente o mais interior do San
secunda , scilicet , milium, Óº paní tuario , ou Capella Mór, onde o
cum, det alios tres quarteiros, si la Patrono , ou Titular reside , e se
boraverit. Porém ainda que chegue venera, humas vezes nas suas Re
a lavrar com déz , ou vinte juntas liquias, e outras tão sómente na sua
de bois , não pagará mais que os Imagem , ou Pintura. Acha-se em os
ditos seis quarteiros. L. dos Foraes nossos Doc. do Sec. IX., X., e XI.
Velhos. AUREO. Com este nome se cu
… Em algumas partes da Beira al nhou em Roma a primeira moeda
ta ainda hoje se chamão Outonos as d'ouro no de 19o antes do Nasci
novidades, e colheitas dos ditos tres mento de Christo. O seu valor era
frutos. E nem algum se persua o mesmo, que tinhão antes as moe
da , que por serem recolhidos no das de prata, regulado pelo respe
Outono se lhes deo este nome; sen ctivo pezo, como hoje vemos nos
do certo , que quando o Outono cruzados novos de ouro , e prata
principia, já elles estão recolhidos: com o mesmo valor, e regulado o
excepto se quizerem dizer, que to pezo do ouro pelo valor da prata.
márão este appellido por se semearem Desde o principio da nossa Monar
no Outono. Mas a verdade he que chia achamos memoria de moedas
do Verbo Autumnare, que não só com o nome de Aureos: o seu va
significa furtar os frutos já maduros lor he incerto. Persuadem-se alguns,
no tempo do Outono; mas tambem: que estes Aureos são as dobras an
apanhar, e recolher os que já es tigas d’ouro, que fez lavrar El-Rei
tão sasonados no mez de Agosto, D. Sancho I. com a sua figura a ca
(a que os Francezes chamão fazer vallo, e as letras: Sancius Rex Por
o Agosto) se disse Outono. E por tugalis, e no reverso o Escudo do
colligere dicitur.Papias, Autumnare: Reino formado das sinco chagas,
isso, segundo •

com quatro estrellas nos vãos, e na


AUÇOM. Acção. Doc. das Bent. orla as letras: In nomine Patris, Óº
do Porto de 1396. Nas Ordenaç. Filii, ó Spiritus Sancti Amen. Ses
se diz Auçam. senta destes Aureos fazião hum mar
CO
AU AV
15o
co d’ouro, que valia 738o rêis, e - AVANIA. Oppressão, vexação,
por conseguinte valia cada Aureo 123 injúria, afronta. He palavra Turques
réis. O Aureo dos Romanos cons ca, mas usada dos nossos antigos.
tava de 25 Denarios , ou Dinhei AVARIA. Todo , e qualquer
ros ; porém havia outro de menos damno, que succede a hum navio,
valor, a que chamavão Aureolo. Es ou ao que nelle está carregado, e
te parece que tambem se usou em tambem os gastos, e despezas ex
Portugal. Em os Doc, de Lorvão traordinarias, e imprevistas de hu
he frequente o uso dos Aureos. No ma viagem. Tambem dizemos ho
de 123o fez este Mosteiro compo je Avaria : qualquer detrimento,
sição com D. Gil Bispo de Viseu perda, ou damno, que padeça, ou
sobre as Igrejas de S. Martinho, e possa padecer huma cousa animada,
Santa Eolalia (que são as dos Cou ou inanimada, v. g. Avaria , que
tos de Viseu) na qual o dito Bis padeça hum cavallo , hum vesti
o confessa, que são in Solidum do do, &c. Parece se disse Avaria de
# de Lorvão, e se conten Avania.
ta annualmente com tres Aureos de AVANTAMENTO. Parece que
cada huma pelas Terças, Decimas, he o mesmo, que levantamento, al
e Procuração; com pena de 5oo Au voroço, revolta. Avantamento segral.
reos, a quem for contra esta Com Doc. da Cam, do Porto de 1343.
posição. E de hum Contrato, que V. Avolvimento.
este Mosteiro fez com o Bispo, e AVAMBRAÇOS. V. Besta de
Cabido de Coimbra sobre as Colhei garrucha.
tas de certas Igrejas de Lorvão, se AVARCAS. Sandalias dos Rc
declarou, que o Aureo era de trin ligiosos de S. Francisco, que tam
ta soldos, o soldo de onze ceitis, bem se disserão Alpargatas, Alpar
e por conseguinte o Aureo de 55 réis. cas, &c. Aos Leigos do Convento
AÚSIDUA, o mesmo , que Ou de S. Francisco da Ponte de Coim
sia: Capella Mór chamada Santa por bra forão deixados déz soldos an
antonomasia , por nella residir or nualmente , e a cada hum delles,
dinariamente o Santissimo Sacra pera avarcas, no de 1356. Doc. de
mento , e nella se celebrarem os Viseu., V. Abarca.
Oficios Divinos, e as principaes AVEA. Especie de trigo, ou ce
Funções da Igreja. Mandamus cor vada , que algum dia se cultivava
pus nostrum, imo verius cadaver, se muito na Provincia do Minho , e
piliri in Ecclesia Cathedrali AEgita Beira baixa. Tem a cana mui cheia
nensi, intus in Ausidua, coram Alta de nós, e della se fazião antiga
tari Maiori; ita quod lapis de super mente fautas, ou gaitas pastorís:
ponendus sit planus, Óº equalis, quod na summidade da espiga dá hum fru
pavimentum Ecclesiae non excedat. Tes cto, que tem feição de gafanhoto,
tam. do Bispo da Guarda D. Vas com duas perninhas , dentro das
co de Alvelos, feito na sua Came l"? está o grão. Na Beira alta ain
ra de Caria da Covilhã, no de 1311, a hoje se acha nas searas outra her
Doc. da Guarda. va frumentácea, chamada Avêa, que
AUTIVO. A. Activo. a. Careça faz o pão demasiadamente amargoso,
de voz auctiva, e passiva. e que afoga o bom trigo, e *#
O
AV AV 15 1
Comem o trigo, nos d'avea, AVEENÇA, e Avença. Pacto,
Elles bebem, e homem súa, convenção , concerto , ou assento
Doe-lhes pouco a dor albea. entre partes, concordia, união. Se
Satyras de Francisco de Sá de Mi ba bi aveenças, ou Cartas, ou Com
randa n. 14. posição alguma. Avença por Ovença.
Em os Prazos de Maceiradam de V. Avença.
1532, e 162 1 se impõe a Pensão AVELANAL. Lugar, ou sitio
de sete alqueires de avéa , em Bi cheio , ou abundante de aveleiras.
duido , Concelho de Páus, junto Qui vadit de illo campo ad illum ave
ao Vouga. No de 139o pagou o hanal , Óº ad illum spadanal. Doc.
Mosteiro de Rio Tinto XII, buzeos de Masseiradam de 1 164. -

de segunda, a saber, oito d'avêa, e AVENÇA. I. O mesmo que


quatro de milho, pela medida do Cel Aveença. "
leiro do Bispo do Porto, procedidos das AVENÇA. II. O mesmo, que
Procurações, que lhe não tinhão pa Ovença , Oucença, ou Ouvença, is
go. Doc. das Bent. do Porto. to he, arrecadação, ou cobrança
AVEACO. Pão de avêa. Et ve das rendas da Coroa. Que esto fa
nit ad dictam Ecclesiam, Óº accepit ziam enganosamente, e por algo, nam
inde milium, Óº panem, sive aveácos. avendo parte na avença. Cap. Espe
AVEDOIRO. O que póde ser cial das Cortes de Santarem de 1325.
tido , e havido em termos habeis, AVENÇAR. Fazer avença, ajus
na fórma das Leis, e sem dúvida, te, pacto, ou concerto com alguem
ou embaraço algum. Todo a vos da Ordinariamente se diz que F. se
mos pera sempre avedoiro, e posoyday avençou com o Rendeiro , ou Re
ro. Instrum. das Salzedas de 1291. cebedor de alguns foros, rendas,
AVEELA. Caminho estreito, azi direitos , ou pensões ; dando-lhe
nhaga, cangosta, viella. O Eixido, huma cousa certa, e sabida, ainda
que parte com hua aveela, que vay sa que em menos quantidade, por hu
bir ante o logar de Joham Domingues, ma incerta, e duvidosa, que pode
e vem ferir ao rio. Doc. de Pendor. ria ser, ou nao ser mais.
de 1359. AVENDIÇO. O mesmo que
AVEENÇAES, Hoveençaaes, Advendiço.
Oveençaes, e Ovençaes, ou Oveen AVENHIR. Avir, compôr, con
çaaes. No antigo Foral de Santa certar com alguem. Doc. das Bent.
rem se diz , que os Ovençaes erão do Porto de 1285.
homões , que tinhão cargo de arreca AVENIDA. Estrada , ou cami
dar rendas d'El-Rei , ora suas , ora nho por onde se vai para huma Cida
de arrendamentos. Em hum Doc. da de, Villa, Castello, ou Fortaleza.
Cam. de Coimbra se chamão Oveem AVENIENCIA. V. Aveença.
faaes no de 1331. Em hum dos Ca AVER. Bens, riquezas. Soma de
pitulos Especiaes para Santarem nas aver: muitos bens, ou riquezas tem
Cortes da mesma Villa de 1325 se poraes, e da fortuna. Doc. das Bent.
diz : Quero saber porque razom le do Porto de 1 318. E era muito usa
vam os meos Aveençaes esso, que de do nestes tempos, e algumas vezes
ziades , ou se ha bi aveenfas , ou se escrevia Haver com o mesmo si
Cartas , ou Composiçom alguma. V. gnificado. •

Ovençal. |
AVES
152 AV AV
AVESSAR. Dobrar, mudar, in trouverem Coroa, e avito de Clerigo.
duzir, subornar. Nom seja ousado de Carta d'El-Rei D. Afonso IV. pa
as avessar (as testemunhas) per si, ra D. Jorge , Bispo de Coimbra,
nem per outrem. Carta d'El-Rei D. no de 13; 2. (No Testamento de
Diniz. -
D. Muma-Doma se diz Avectos, se
AVIDAS. Parece ser o mesmo gundo o Latim daquelle tempo.)
que Andas, em que os pobres erão Doc. de Coimbra.
levados á sepultura. Levarão meo cor AVIVENTAR. Avivar , fiore
po a enterrar nas avidas da Miseri recer, despertar. Os engenhos rever
cordia, como levão qualquer pobre bo decem , e se aviventão com o traba
mem. Testam. do Seculo XIV. lho. Dialogos de Heitor Pinto. Ain
AVIDOR. Medianeiro da paz da hoje se diz Deos o avivente, por
entre os litigantes , ou discordes. Deos lhe dê vida , e saude , ou
Metêrom por Juyzes arvidros, e por Deos lhe conserve a saude, e aug
avidores , e pera avir, e pera juy mente a vida.
gar, e pera compoer. Doc. de Pen AVIZAMENTO. Conselho, de
dorada de 128o. liberação, juizo, assento, modera
AVINÇA. Composição amiga ção grande nas palavras, e acções,
vel, concerto , avença. Doc. das prudencia , sisudeza. Ele do XV.
Bent. do Porto de 128o, e 1 326. Seculo.
AVINDOR. O mesmo que Avi AVIZANÇA. O mesmo que Avi
dor. Nas Cortes d'Evora de 1481 23/11/10/l! 0.

se determinou , que houvesse nas AVOAR. Fugir, desapparecer


Cidades, Villas, e Terras grandes quasi de repente. Vem do Latino
Avindores (isto he, homens respei Advolare.
taveis, e de probidade) que ape AVOENGA. Direito de succe
nas lhes constar, que alguns estão der nos bens, que forão dos Avós,
inimigos, ou discordes, eles os fa ou outros Ascendentes consangui
ção amigos, e tragão á concordia; neos quasi ab Avis, vel Atavis, ou
esperando , que por este meio se como dizemos em Portuguez Avós, e
evitaráõ muitas demandas, ferimen . Bisavós. Em Aragam chamão a isto
tos , homicídios , e outros males, bens de Avolorio : do Hespanhol
que a paixão céga do rancor, e odio Abuelo ; e para com os Longobar
naturalmente costumão produzir. dos se dizião Aviaticos, do #,
AVIR. Succeder, acontecer al Avus. Em os nossos Monumentos
Ul II]] COUS$l. desde o Seculo X. he bem conhe
AVIR-SE. Concordar-se , com cida a palavra Avoenga , ou Avo
pôr-se, ou ajustar-se com alguem, Ienga, pela qual distinguião os bens
fazer com ele avença , avençar-se herdados de seus Maiores, dos que
com elle. V. Avidor. erão adquiridos por compras , fa
AVITITADO. OS. Prazo, ou brícos , rotéas , Testamentos , ou
arrendamento de vidas. He do Sec. Doações, população, tomadías aos
XIV., e XV. Mouros, Apresúrias, ganhadías, ser
AVITO. Vestido , roupa, insi viços , agencias, bemfeitorias, e
gnias, ou distinctivo do seu respe outros quaesquer Titulos onerosos.
ctivo Estado, ou Profissão. Se nom Daqui veio o dizerem; Terra, ou
AV AV 153
ldêa da minha Avoenga: aquella que dos estes erão Ascendentes consan
tinha vindo por herança de seus guineos.
Pais, e Avós. (a) Em o Testamento de Lourenço
. No de Io85 o Famulo de Deos Pires de 1 314 se diz : It : manda
Fridixilo Egikazi fez Doação a D. mos, se alguem veer, que diga, que
Godinho Abbade de Arouca, e a nós tragemos algums herdamentos ,
seus Frades., & ad omnibus Chris tambem de nossa avoenga , come de
tianis , qui ibidem deservierint da compradia , que prove que be seu:
VIII. parte da Igreja de Santiago, mandamos que lho leixem. It : man
que herdou de seu Pai Egika Óº damos , que nom levem nenhum ber
de bisavio meo Elderigo Presbitero, damento da sa avoenga da mulher de
qui comparavit illa hereditate tota de Domingos Fernandes , e levem a sua
Sancto Jacobo de Arauka , Óº dedit de Domingos Fernandes. Doc. de La
pro illa uno Kavallo cum sella argen mego. Nem Mouros, nem Judeos
tea , &º freno argenteo, Ó" possédit podião gouvir, ou usar do Privile
eam multo tempore: Ó" postea testavit gio, ou Beneficio da Avoenga, se
inde mediatate ad S. Salvatoris de Var
gundo o Cod. Alfons. L. II. Tit. 68.
zena, Óº illa alia medietate testavit e Tit. Io7. -

ad meos avulos, nominatos Fridigilo AVOENGO. Os costumes, e


Presbiter, Ó Toderigo Presbiter, Óº acções , que praticárão os nossos
patrimeo Egika: ó Patrimeo reliquit Avós, Antepassados, ou Ascenden
mici, Óº heredibus meis.Doc. de Arou tes da nossa Familia. He do Secu
ca. E aqui temos huma herança pro lo XV. •

cedida do Pai, dos Tios, (que aqui AVOENGOS. Avós , e outros


se dizem Avulos por Avunculos) do quaesquer Ascendentes mais remo
Avô, e Bisavô; e por isso chama tos , de quem nós descendemos.
da Avoenga, ou Avolenga; pois to Tambem a estirada serie, ou com
Tom. I. V pri

(a) Do Direito de Família , que vogou entre os Godos , e que depois se espalhou
por toda a Europa, nasceo entre nós a Lei da Avoenga, da qual finalmente procedêão
os Morgados. Prescindindo agora das primeiras Leis Romanas, que só, contemplárão Pa
ra a successão nos bens da Avoenga os filhos legitimos : e dos Concubinatos , que Per
mitria a Lei Papia Popea: Justiniano (Novell.75: C. 4., e Novell. 117. C. 4.) de:
terminou que os Matrimonios se fizessem por Escrituras Dotaes,, ou perante a Igreja ;
declarando porém não serem obrigados a isto, nem as pessoas da intima plebe, nem os
Barbaros, Passallos do Imperio, entre os quaes se incluião por então os mesmos Gº
dos, que continuarão a celebrar as suas nupcias por Preçº , ou Dotº , comº se vê pelo
Codigo wisigodo, e pelo Fuero juzgo. Nas seguintes Legislações de Hespanha º cºmº
no fuero Real, admittem-se á Súccessão unicamente os filhos de Benção , e os ilegiti
mos só podem succeder sendo legitimados pelo Rei. Por esta mesma frase se explicº º
Lei do Senhor D. Afonso III. Porém o Senhor Rei D. Diniz reduzio a Lei o antigº
costume, que em Portugal havia , declarando. I. Serem filhos Naturaes os que "ººººº.
sem das Concubinas, ou Barregãs, que não tinhão impedimento para casarem cºm **
Pais dos ditos filhos. II. Que sendo peaens, os filhos. Naturaes podiãº. succeder na he
rança. III. Que sendo Cavalleiros, erão estes filhos inteiramente excluidos pelos legiti
mos, e pelos transversaes, e só podião receber por Testamento alguma cousa da Terça
paterna. Em huma palavra: os filhos Naturaes não, podendo succeder nos bens de 4…
ga, podião adquirir o Brazão da Nobreza com quebra; pois isto e º Lei Militar: porem
a Lei Civil só se lembrava para a successão nos ditos bens dos filhos de Bengº?, istº
he, dos que nascião de hum Matrimonio solemnisado na face da Igreja. K. Kerabdo.
154 AV AV
prida arvore , donde alguem pro se diz: It: mandamos aos Clerigor,
cede, se chama Avoengos pelos mui que nos disserem senhas Missas , C.
tos Avós, que desde o Chéfe, nel soldos em comer... It : mandamos por
la se recontão. A Musica, e Poe nossas Céas hum boi , e hum porco,
sia chamou hum Discreto, sem de e dous toucinhos : e mandamos que o
masiada
da discrição, os dous Avoengos coiro do boi, que o dem por vinho :
doudice, •

e dem pam , trigo, e centeo, que os


AVOENGUEIRO. O que suc avondem. Doc. de Lamego.
cede na Herança, Casal, ou Re AVONDAMENTO. Abundan
guengo por linha recta de Pai a fi cia, copia, fartura. E eu por amayor
lho , neto , bisneto, &c. No Fo avondamento de Direito. Doc. das Sal
ral, que El-Rei D. Manoel deo á zedas de 131o. Porque da nosa terra
Terra de Paiva no de 15 13 fallan nom tragem os mercadores avondamen
do das Luctuosas , e declarando os ro desto. Cort. do Porto de 1 372.
Casaes, e pessoas, que unicamen AVONDOSAMENTE. Com
te a devião pagar diz, que a Lu largueza, abundantemente, e sem
ctuosa seja a milbor joya , ou peça falta. Pedirom Vogado , que posesse
movell, que ficar aos Reguenguejros pelo Concelho avondosamente. Instru
encabeçados , que por si morárem, e mento da Villa de Moz de 1315.
morrerem por Cabeceiras dos ditos Ca AVORRECEDOIRO. Abomi
saes. Porem não se levaráõ ás molhe navel, digno de ser aborrecido, e
res, posto que por si vivão encabe detestado. •

fadas, e Reguenguejras nos ditor Ca AVUDO. A. Tido, ou havido,


saes , nem de nenhums outros herdei tida, ou havida. Doc. das Bent. do
ros, e avoenguejros dos ditos Reguem Porto de 1 3o7.
gos. Doc, das Salzedas. AXENTE. Assim chamárão a
AVOLENGA. O mesmo , que prata: Vem do Latino Argentum.
Avoenga. AXORAR. Afferrar. Termo nau
AVOLTO. A. V. Volteiro. tico antigo , de que ainda usárão
AVOLVIMENTO. Alvoroto , Fernão Mendes Pinto, e Diogo de
volta , revolta, gritaria , bulha, Couto.
turbação. No antigo Foral de San AXORCAS. Pulseiras de prata,
tarem se acha este # Como nom á maneira de argolas, que as mu
devem fazer avolvimentos em Conce lheres no Oriente , e Africa tra
lho Vogados, nem Procuradores , nem zem nos braços, e pés por cima do
outros nenhums. calcanhar. Daqui se disse Ajorcada:
AVONDANÇA. O mesmo, que a mulher muito composta , atavia
Abundancia.
da, e ornada de peças, e brincos»
AVONDAR. Satisfazer, dar com laços, e cordões de ouro, ou pra
largueza, e fartura. E dardes-mi em ta, que mais de huma vez tem si
cada huum ano colheita de pam, e de do a sua, fatal ruina. -

vino, e de carne, que avonde, huum AYRAO, ENS. Era antigamen


dia, com duas bestas, e com sex bo te hum ramo de flores de pedras fi
meens de péé no dito Casal. Doc, das nas , que no toucado das mulheres
Bentas do Porto de 1332. No Tes se punha sem correspondencia. Po
tamento de Lourenço Pires de 1314 rém nos chapeos, ou

er……… O
AZ AZ 155
homens era hum penacho de gran Mouros, como Soure no de 1 1 1 1,
des plumas, e agradaveis á vista, Thomar, no de 1 162, a Villa de
que nem sempre erão de Garça; Cêa, no de 1 136, e outras assim.
mas porque ordinariamente erão des No Foral de Soure se diz: De Aza
ta ave , se chamárão Garçotas os ria nobis Vº" partem : vobis IV.ºr,
Airoens. sine ulla Alcaidaria. E no de Tho
AZAFAMA. Tumulto de cuida mar: De Azaria, Óº de tota illa Ca
dos, e negocios, fervor, cuidado, valgada, in qua non fuerit Rex, no
pressa , diligencia. Daqui Azafa bis Vº" partem: vobis IP" partes,
mado : o que anda cheio, e desin absque ulla Alcaidaria. E na Tra
quieto com mil cuidados, e desvé dução, que deste ultimo se fez nos
los , para fazer , e concluir algu principios do Seculo XIV., lemos:»
ma obra , ou levar ao cabo algum E d'Azaria, e de toda aquela Caval
negocio. •

Sada, em que El-Rei non for, a nós


AZAGA. No L. dos Foraes Ve a quinta parte, e a vós as quatro par
lhos em a Torre do Tombo se acha ter, sem nenhuma Alcaidaria. E para
o de Soure de 1 1 1 1 , e nelle se lê: não ser infinito , no Foral de Al
De preda de Fossato non detis no canede, que ainda visinhava com
bis plusquam Vº" partem: & Azaga os Mouros, se acha: De Azarias,
duas partes : vobis remaneant duas. é º Guardias Vº" partem nobis date
Este Foral confirmou El-Rei D. Af sine ulla offretione.
fonso II. no de 1217, inserindo na He pois de saber, que nas ter
sua Confirmação a inteira copia do ras limitrofas, ou fronteiras dos
dito Foral, que se guarda no Con Mouros, não era facil, nem segu
vento de Thomar, e nella se diz: ro sahir aos montes, soutos, e de
De preda de ssato non detis nobis plus vesas, que distavão das Praças, a
quam Vº" partem , & axaga duas cortar lenhas, e madeiras para os
partes; vobis remaneant duas. Daqui usos dos Moradores; andando con
se vê que ambas estas copias estão tínuamente aquelles Barbaros corren
alteradas , e não muito conformes do o campo, e procurando cativar
com o Original , que sem dúvida os que achavão menos prevenidos,
diria ad Zagam, como se vê nos Fo e armados. Para evitar, pois, este
raes de Thomar. Era, pois, o sen perigo não sahião os Christãos a fa
tido Da preza do Fossado, isto be, zer os ditos córtes, e matadas, se
do pão , ou forragem, que vos trou não escoltados com boa Guarda Mi
xerdes da terra dos inimigos , cujas litar, a qual muitas vezes era pre
searas colherdes , ou talardes, dareis cisada a chocar com os inimigos,
ao Senhorio da Terra a V. parte: ao em quanto aquelles trabalhavão com
Zaga, ou Adail dareis duas partes: os machados, cortando , compon
e para vós ficaráõ outras duas. V. do , e apromptando as cargas, e
Adail, e Fossado. carros, que devião ser conduzidos
AZAQUI. V. Alfitra. á Praça. E como os machados se
AZARIA. De Azaria temos fre chamavão naquelle tempo Azas ,
quente menção nos Foraes antigos, ou Azzas (como hoje pronun
# forão dados áquellas terras de cião os Italianos) de que ainda fi
ensaveis, que confinavão com os cou aos Hespanhoes o nome de Ha
Vii cba,
156 AZ AZ
cha, e aos Francezes o de Hache; da com agoa do rio, e aquella tem
por isso a este serviço , que com roda pela parte de fóra, e anda com
machados se fazia, se chamou Aza agoa de ribeiro, que cahindo d'al
ria. E com efeito, fóra de Portu to na roda lhe dá o impulso. Fi
gal as matas, e devezas, em que cou-nos este nome dos Arabes, que
se cortavão lenhas, e madeiras de chamão Assanha ao moinho d’agua,
construcção , forão algumas vezes que serve para trigo. E nós hoje,
chamados Azachatorios, e Azadíos, ampliando a sua significação, cha
e nós mesmo ainda hoje chamamos mamos Azenhas não só as que moem
Achas aos pedaços de lenha fendi o pão, mas tambem as que pisão a
da ao machado. 2ZC1tOI12.

. Succedia talvez, que os Guardas Mal poderião os homens aban


da Azaria, (e o mesmo do Fossa donar as bolotas no sustento ordi
do) travavão seriamente com os nario, e substituir-lhes o pão , se
Mouros, e que estes perdião al primeiro não tivessem inventado as
guns cavallos, ou atolados nos paúis, maquinas, e artificios de preparar
alagadiços, e brejos, ou aprisiona a farinha. Moinhos de mão, e ata
dos á viva força : por isso em al fonas he bem de crer forão as pri
guns Foraes se determinava , que meiras Oficinas, que nunca já mais
não passando a tomadia de hum ca ficárão enterradas no esquecimento
vallo para cada soldado, fosse de dos mortaes ; principalmente nas
quem o tomava; mas passando do terras, em que os excessivos calo
primeiro, de todos os mais, que os res absorvem as agoas, e a irregu
inimigos perdessem, seria a quin laridade dos ventos, ou o assedio
ta parte do seu justo valor para o dos inimigos, tornão impraticavel
Senhorio da Terra. V. Algara. a serventia dos moinhos d’agoa, ou
AZEMEL. Não só significa o VCIltO.
Almocreve , que trata , e guia as Roma no maior auge de seu Es
azemolas, ou bestas de carga; mas plendor_vio muitos moinhos d’agoa
tambem se toma pelo Campo , ou no rio Tibre, a que chamárão Mo
Arrayal, Congregação, Rancho, Ajun letrinas , e Pistrinos , e depois na
tamento, multidão de gente abarraca baixa Latinidade Molas, Molendinos,
da, Cidade volante, e cujos edificios Molinas , Molinares, Molendinarios,
são tendas. Mandou Nuno Fernandes &c. Com a mesma variedade se no
a Lobo Barriga, que fosse ao Aze meavão em Hespanha os Moinhos,
mel de Abida, onde os Capitães das quando nella entrárão os Sarrace
Cabildas , e Aduares tinhão as suas nos. Estes na sua linguagem cha
tendas. Goes Chron. Part. III. C. mavão Attabunas aos moinhos, a que
XXXII. os homens, ou bestas davão o mo
AZENA, Azenia, Acenia, Ase vimento: e Azenbas aos que se mo
nha , e Assania. Moinho d’agoa, vião com agua. Daqui vio, que nos
que serve para trigo , e qualquer principios da nossa Monarchia (quan
outro genero de pão , a que cha do os Moinhos de azas, ou de ven
mamos Azenha , Azamba , Asanha, to, apenas inventados, se não pra
ou Acenha. Hoje difere do moi ticavão ainda em Portugal, ) Aze
nho : este tem rodizio , e an nha , e Moinho erão Synonymos;

pres
AZ AZ 157
prescindindo do diverso artefacto, guarda Original no Archivo da mes
com que huns, e outros erão cons ma Sé, lêmos o seguinte: In Villa
truidos.
Kova illas vineas, ó terras, que in
Os nossos mais antigos Monu Testamentis ipsius Cenobii suntº, &
mentos são abonadas testemunhas illa acenia... Óº illos molendinos de
desta verdade. No L. dos Testam. Forma , Óº alium molendinum , qui
de Lorvão n. 67, 68, e 72 se faz est super illo de Martino , &" alium
menção de Moinhos d’agoa na ribei in Anzana. No Foral de Thomar
ra de Fórma junto a Coimbra dei de 1162 se diz : Em nhas asenbas
xados, ou comprados pelo Mostei non dedes mais cá de XIIII. partes
ro no tempo do Abbade Primo , e huma , sem afreçom. Doc. de Tho
nos annos de 937, 977, e 978. E mar. No que El-Rei D. Afonso
logo em o N. 69 se acha huma cir Henriques deo a Coimbra no de
cunstanciada relação, de como es 1179, se lê Assaniar. E no que a
tes moinhos se perdêrão pela nova Rainha D. Thereza filha d'El-Rei
irrupção dos Mouros, e no tempo D. Afonso Henriques deo á Terra
que governava em Coimbra o Con de Ourem no de 1 18o se determina:
de D. Sesnando se recuperárão: acha De molinis non accipiant, nisi de XIV.
se já impressa esta relação no Por alquejres unum, sine offretione: Cam
tugal Renascido do Padre Rocha. be sint quales Justitiae, & Concilium
Em huma Escritura de Arouca de viderint pro directo: Ó si molinarius
989 se lê: Exceptis ille Mulinu cum inde aliter fecerir, ipre cum omni ha
sua resega de ille porto; illo alevo bere suo sit in potestate Domini ter
bis concedimus. rae. L. dos For. Velhos. Porém no
No de 967 Nazeron, e sua mu que El-Rei D. Sancho I. deo a Tor
lher Tortéra entre muitas, e diver res Novas no de 1 19o se diz: De
sas cousas, que doárão a Lorvão, molinis non accipiant nisi de XIII. al
foi tudo o que lhes pertencia na quejres I., sine afretione. Kahe sint
Villa de Alkapdck , e na Villa de quales justitie, & Concilium vide
Alcoirana , e na Villa de Arazedo, rint pro directo: &" si molinarius in
onde tinhão, Sesegas cum suos mo de aliter fecerit, ipse cum avere suo
linos. L. dos Testam. N. 2. E alli sit in potestate Domini terrae. Ibi
mesmo N. 2o. se acha a Doação que dem. Abusaria de todo o sofrimen
o Presbytero Vicente fez ao Abba to, se houvesse de proseguir na re
de Primo, e seus Frades no de 974 lação de semelhantes Documentos.
da sua herdade de Villa Verde, que Mas do sobredito se infere, que os
jaz Inter Vimineirola , ó Barriolo, nossos Maiores não distinguírão en
ripa rivulo Vakariza , suptus mons tre Azenhas , e Moinhos, quer fos
Buzaco, territorio Colimbriae com to sem de rodizio, quer de roda.
dos os seus edificios, vinhas, pu Resta só averiguarmos, que Cam
mares , ó Sesegas molinarum cum bas, ou Kabayas erão aquellas, que
XIII, molinos, que jam ibidem feci. Na acima ficão indicadas. Os Moleiros
Doação, ou mais bem Restauração, do nosso tempo ainda chamão Cam
que D. Gonçalo Bispo de Coim bas, ou Cambais á farinha, que faz
bra, e o seu Cabido fizerão do Mos lábios em torno da mó de baixo, e
teiro de Lorvão no de 1114, que se reconhecem mesmo a obrigação de
OS
158 AZ AZ
os fazerem com pão seu, todas as go nos principios da Monarchia,
vezes que picão as pedras: estas di em que gentes do Norte, e tantos
zem alguns, que são as antigas Cam Estrangeiros entrárão nella, se pra
bas. Mas isto não leva caminho; hu ticasse commummente a cerveja?..
ma vez estabelecido, que de 13, E finalmente Camba na infima La
ou 14 alqueires era hum in solidum tinidade nada mais significou, que
para o Moleiro: e este era propria Bassiatorum Oficina, seu locus ubi cer
mente a maquía. Outros se persua visia coquitur, Óº conficitur. Camba
dem, que estas Cambas erão Moi rius autem : Braswiator, potifex, seu
nhos de mão, a que chamão Zan cervisie confectar. E taes erão as Cam
gas, nos quaes, em contemplação bas, de que antigamente se usou,
do excessivo trabalho , as Justiças e cujas maquías devião ser regula
deverião regular a maquía. E não # das pelas Justiças, ou Concelhos.
ta mesmo quem diga, que erão Moi AZEQUIA. Preza , regadeira,
nhos pequenos , Molinheiras , ou Pi poça, tanque, onde se recolhem as
carneis (como lhe chamão na Beira aguas, para regar as terras. V. Ace
/ •

alta) que fazendo-se annualmente 4uta.


na vêa dos rios , e durando só o - AZIMELA. Macho , ou mula
tempo da seccura, se lhe deve al grande de carga, (a que antiga
terar a maquía, em attenção aos pe mente chamavão Mús , ou Múas)
rigos, trabalhos, e dispendios. que hoje dizemos Azemola , Aze
Porém, com a paz dos que melhor mala, ou Azemela. Eão as Azemo
sentirem, eu passo a dizer, que es las indispensavelmente necessarias
tas Cambas , ou Kabayas erão mui á nossa Casa Real naquelle bom,
diferentes das Zangas, e todas as e dourado tempo, em que os Prin
outras especies de moinhos, e na cipes vinhão pelo Reino, a ser tes
da mais erão que Moengas, em que temunhas das innocentes lagrimas
se preparava o trigo , e a cevada dos seus fiéis Vassallos, e castigar,
para se fazer a cerveja. Convence e reprimir os grandes, insolentes,
me primeiramente hum Documento e orgulhosos, que sem piedade al
de 1238 (apud Du Cange V. Molen guma lhas fazião derramar. Então
dinum Manuale) em que se diz: Et desconhecidas ainda felizmente as
teur ottroi en si, que quiconques d'iaux vaidosas carriagens de Seges, co
vorroit four, ou Cambe, ou Molin a ches, carrinhos, berlindas, &c., e
manonelle, faire le peust. E bem cla muito mais as cadeirinhas de mão,
ramente se manifesta , que huma ou loucuras da China , conduzidas
cousa era Camba, e outra o moinho por homens Christãos, com appa
tocado á mão. ,
rencias de brutos, e irracionaes, e
Além disto , se damos credito a que o luxo sem termo , e com ir
Bernardo de Brito T.I. da Monarch. reparavel damno, já hoje extendeo
f.71, entrando Lysias na antiga Lu aos da mais baixa condição: caval
sitania ensinou a fazer a cerveja de gavão os nossos Monarchas, e a sua
cevada, ou trigo; e deste licor usá moderada comitiva , em formosos
rão os antigos Portuguezes muito cavallos, e de marca para a guer
tempo, pelo pouco vinho, que se ra, a que chamavão Adextrados.
cultivava neste Paiz. Que muito lo Suas mulheres , e filhas usavão
• hoda
AZ AZ 159
honestissima cavalgadura de caval
ballo, qui fuit de Gundiralvo de Ro
los, generosos sim, porém mais pe
chela, quem mando Pelagio, filio de
quenos , capados, e mansos, ricaGomes Pelagii, et runcino, quifuit de
mente ajaezados, a que ehamavão Nuno Sangiz..) Et fili e meae Regi
Rocius , e depois Quartãos, Facas,
nae, D. T. mando runcinum murze
Hacanéas, por andarem de andadu lum , qui fuit D. Petri Oóriz. Et fi
ra, e tambem Palafrens, por serem lie meae Reginae D. S. rancinum ru
algumas vezes conduzidos pelo freio, zum. Episcopo Elborae runcinum de S.
e com vagaroso passo. Com isto se Acha. Sancto Georgio ruum runcinum.
compadece, que algumas vezes ca D. Petro Johanis mulam , quae fuit
valgassem em machos , e mulas, de Pelagio Lupo. Lourbano suam mu
que não erão azemolas. E finalmen lam. Decano, et Archidiacomo Ulixbo
te precisavão de Azemolas os nos nae mulam, quem defert Johanes Sua
sos Reis, não só quando hião pa ris , et mulum , qui fuit de Pelagio
ra a guerra , mas tambem quando Lupo, Petro Calvo mulum de S. Pe
vinhão a fazer Justiça pela terra, tro de Sur.
para conduzirem innumeraveis cou AZINHOSO, Lugar cheio, ou
sas, que não seria facil, nem tal abundante de azinheiros, ou en
vez possivel, acharem-se nas terras, zinheiros, que em algumas partes
quintas, e povoados, em que ordi chamão Azinheiras, Anzinheiras, e
nariamente se detinhão. •

Enzinheiras, que são huma das es


No Codicillo, que El-Rei D. Af pecies de carvalho, a que os Lati
fonso Henriques fez no de 1179, nos chamão Ilex, e he bem conhe
e que se acha na Sé de Viseu, se cida pela sua bolota mais pequena,
não faz menção alguma de Rocins, e mais doce, e que os homens co
e tão sómente diz : Et mando Mo mem com gosto , que não só os
nasterio Sanctae Crucis mille morabit. animaes. Hoje diriamos Azinhal a
mayores, &º mille mozmodir, minus hum sitio, em que houvesse copia
decem , & medium; Óº omnes Mau destas arvores , a que os Hespa
ros meos , & equos , Óº azemelas, nhoes chamão Enzimas. Na Commar
quos tempore obitus mei babuero. Po ca, e Bispado de Miranda temos
rém no Testamento , que El-Rei nós o antiquissimo Santuario da Se
D. Sancho I. fez no de 1 189, quan nhora do Asinhoso, a quem os mui
do estava de caminho para a con tos Azinheiros daquella paragem de
quista do Algarve, (que igualmen rão o nome , que depois se com
te com o seu Codicillo se guarda municou á Povôação, que em tor
em Viseu) se faz menção de Ca no delle se conserva.
vallos , Azemolas , e Rocins , pois. Averiguar porém os principios
diz: Equos, et azimelas, et loricas, desta Ermida , não he permittido
et tota arma, quae habeo, et sellas, em hum tempo, em que as antigas
et frena, et Mauros, et Mauras ju Memorias se tem consumido, e se
beo dividere inter Fratres de Elbora, pultado. Se antes que os Sarrace
et Alcazar (exceptis loriga, et lori nos inundassem a Hespanha, aqui
gone, et genoleiras, et elmo, et Spa se venerava já a Santa Mái do nos
da corporis mei, que dimitto filio meo, so Deos, eu o ignoro: persuado
qui Regnum habuerit; et excepto ca me com tudo, que a expulsão da
- quel
16o AZ AZ
queles seria a feliz Época deste faNo de 1297 o mesmo Monarcha
moso Templo da Sagrada Virgem. com a Rainha Santa Isabel, e seus
No tempo dos Reis de Leão, e de filhos , os Infantes D. Afonso, e
Galliza aqui levarião os Fiéis agra D. Constança doárão aos Templarios
decidos os seus votos , e os Arce o Padroado das Igrejas de S. Mame
bispos de Braga não se esquecerião de de Mogadouro, e de Santa Maria
de appropriarem particularmente á de Pena-Royas , com todas as suas
Mitra os grossos emolumentos, que Capellas , e Hermidas, Direitos,
a Devoção , ainda dos Povos mais e pertenças , alcançando para isto
ento de l). Martinho
distantes, lhes rendia. No de 1 1 14 o consentim
Pascoal II. confirma os antigos limi Arcebispo de Braga. Feita a Carta
tes do Arcebispado Bracarense , e em Coimbra a 25 de Maio, que se
neles inclue o Azinhoso, como se guarda em Thomar. E nem alguem
vê pelos Documentos de Braga. Des se persuada, que nesta Doação am
de este tempo até o d’El-Rei D. Di plissima se incluio a Hermida do Azi
niz , não principiou esta Roma nhoso , e que então foi quando os
gem, que já então, e com grande Templarios fizerão levantar este vas
celebridade existia : será logo pre to edificio, que ainda hoje se faz
ciso que retrocedamos a muito an distinguir; por quanto a Real Co
tes de Pascoal II. roa não dimittio senão o que lhe
No de 1285 não havia neste si pertencia, e não o que era de tem
tio mais que duas quintas , huma pos immemoraveis dos Arcebispos
chamada Azinhoso de Susão, que per de Braga.
tencia a Mogadouro, e outra Azi Isto se evidencia da Composição,
nhoso de fusão, que era do Conce que D. Vasco Fernandes, Mº da
lho de Pena Royas , e a Capella Ordem do Templo em Portugal,
da Senhora. E os 25 moradores, ou fez com o mesmo Arcebispo sobre
Povoadores da primeira quinta de a Terça Pontifical, que as Igrejas
vião pagar a El-Rei os seus Direi de Mogadouro, e Pena-Royas de
tos, na fórma dos Villares novos, que vião pagar á Mitra; assentando, que
então se povoavão. Assim consta de pela Terça, e Direitos Pontificaes,
hum Instrumento Original, que na ou Episcopaes, houvesse o Arcebis
Camera de Azinhoso se conserva, po a quinta parte dos Dizimos: que
dado em Mogadouro no ultimo de houvesse a Procuração de cada hu
Dezembro do mesmo anno, por Af ma das ditas lgrejas, quando as fos
fonso Rodrigues, Procurador, e Po se visitar : que instituisse os apre
brador d’El-Rei em terra de Bragan sentados ás ditas Igrejas pela Or
fa , e Miranda. E daqui se mani dem, ora fossem Freires, ora Se…
festa, que a Povoação de Azinho culares, sendo idoneos , os quaes
so recebeo novos augmentos no tem prestarião obediencia, e hirião aos
po d’El-Rei D. Diniz; não haven Synodos dos Arcebispos de Braga.
do até alli mais que Azinhoso de Reserva com tudo o Arcebispo D.
baixo , que estava já no limite de Martinho para si a cera, e os votos,
Pena-Royas; mas não consta do seu que das ditas Igrejas se lhe costu
Archivo, que este Rei concedesse al mavão pagar, accrescentando: Here
umas Mercês, ou Isenções aos seus mitagium tamen mostrum, quod voca
oradores. f///"
AZ AZ 16
tur Sancta Maria de Azinoso , cum fom que sejam, e a que obrigada, e
omnibus juribus, & pertinentiis suis, sobjeita, e obediente ataaqui fora, ou
nobis nichilominis reservamus. Feito devia d'obedecer, e fazemo-la Villa
o Instrumento em Santarem a 16 de sobre si.
Outubro, e novamente approvado, E queremor, e mandamos que da
e Sellado em Braga pelo mesmo Ar qui em diante nom ajam no dito Lo
cebispo a 11 de Dezembro, se acha &o, e pertenças dello, Senhorio, nem
Original no Archivo de Thomar. Poderio, nem jurdiçom, nem outro
Anno de 13o I. Era já por este tem nenhum Direito ; e que sejam bisem
po o Sanctuario do Azinhoso, Camera tos, e sobre si. E que os moradores do
dos Arcebispos de Braga , cujas ca dito Logo ajam toda jurdiçom, e emle
sas de residencia ficavão ao lado da jam juizes de seu foro em cada bum
Igreja no sitio, que ainda hoje se ano, a tempo certo, qual quiserem, e
chama o Curral do Bispo. ajam cadéa per si, e façam Procura
Achando-se El-Rei D. João I. no dores, e Vereadores, e ponham Meiri
seu Arrayal da Vallariça aos 15 de nbos, e Porteiros, e Oficiaes, quaes,
Maio de 1 386, bem perto do Azi e quantos elles entenderem , e virem
nhoso; veendo, e consirando as mui que lhe som compridoiros no dito Lo
tas Graças, e Mercês, que sempre go pera boo regimento da dita Villa,
recebêra da Rainha dos Anjos, es sem vindo a nós por outra Confirma
pecialmente depois que teve o Re fom; salvo se forem Taballiaens, que
gimento destes Reinos, e que lhe deo venham a nós por as Cartas dos Oficios.
victoria dos Hespanhoes seus inimi E os ditos juizes , que elles assi
gos: E por esto, diz, teemos encar fezerem, e emlegerem, ajam conheci
go grande de lhe darmos Graças , e mento de todolos feitos Crimes, e Ci
Louvores , quanto mais podermos: e veis de qualquer condiçom , e cama
porque a dita V. Maria nos aja sem nba, e quanta quer conthia , que se
pre em rua guarda, e encomenda, e ja. E as appellafões, e aggravos, que
rega sub seu defendimento, e rogue ao delles sabirem, (nos casos que he Di
seu Filho Bento por nor. E porem, a reito de se darem) venhão a nós , e
Jerviço seu, e louvor: de nossa livre aa norsa casa, pela guisa, que o fa
coontade, e certa sciencia, e poder ab zem, e devem fazer nas outras Vil
soluto, querendo fazer Graça, e Mer las, e Lugares, em que a furdifom
tee aa Povoa de Santa Maria do Azi em todo he nossa.
nhoso; porque be lugar mui devoto, E outro fi, queremos, e mandamos,
e de mui gram Romajen, e em que se que todos os moradores que hora bimo
faz muito serviço a Deos, e á V. Ma ram, e quiserem bi morar, e povoar, e
ria sua Madre ; e por ser milhor po butros quaesquer, que quiserem bipo
brado, e honrado o dito Lugar: vorar conthinuadamente daqui em dian
Teemos por bem, e removemolla, e te, e se assi obrigarem, sem outro en
tiramolla de jurdiçom, e subjeiçom de gano , e malicia; sejam fcusador de
Pena-Royas, e de Mogadojro, e d'ou pagar em fintas , e em talhas , nem
tras quaesquer Villas, e Lugares, e sisas, nem peitas, nem serviços , uem
julgados, cujo termo era, e roya de pedidos, nem emprestidos, que a nós
Jeer, ou de Cavalleiros, e Pessoas pri ora façam, ou ajam de fazer os Con
vadas, e de qualquer estado, e condi celhos, nem vam servir a menbüs Lu
? - Tom, I. X É4
#
162 AZ AZ
gares, per mar, nem perterra, nem nom constrangam o dito Concelho, nem
sirvam per si, nem per seos beens em moradores dell por ello.
JZéllas, nem em Roldas, nem Adúas E outro si rogamos aos Reis, que
d'outros nenhums Lugares per mar, depos nós vierem, e defendemos, e man
nem per terra das Villas dos ditos Re damos aos nossos Filhos, e Filhas her
gnos ; posto que ajam acolhimento a deiros, (se no-los Deos der) que nom
tempo de mester. * vaam contra este, em parte, nem em
E esto todo queremos, e mandamos, todo, sub pena de nossa Benção, e o
4ue valha, e tenha, e seja firme, e façam cumprir assi como dito be. E
estavil para todo sempre, pela guira» em testemunho desto, & c. Acha-se es
que dito be. E promettemos de nom ta Carta Original no Archivo da
bir contra ello, em parte, nem ento mesma Villa, confirmada expressa
do per nós, nem per outrem; nom en mente por muitos Reis, até o fe
bargando quaesquer Leis, Degredor, e liz Governo de D. Maria I. O so
Grosar, e Hopinioens, e Ordenaçoens bredito se copiou da Carta de Con
dos nossos Regnos, e Husos, e Foros, firmação d’El-Rei D. Afonso V.,
e Custumes, e Cartas, Privilegios, e onde se lançou por extenso , que
Graças , e Merces das ditas Villas, ali mesmo se conserva , e he de
1458 annos. • •

e fulgados, e Cavalleiros, e Pessoas


privadas, de qualquer estado, e con No Thesouro desta Hermida, e
difom que sejam, que ora tenham de respeitavel Igreja se guardão duas
nós, ou dos Reis, que ante nósforom, Imagens de N. Senhora da Encarna
ou veerem daqui em diante, nem outros ção, que he a sua Titular: são fei
nenhüs Direitos, que façam por nós, tas de páo, encrustado de folhas de
ou por elles, que podérem reer, ou re prata muito finas, e pregadas com
jam em contrairo desto , ou de parte brochas do mesmo metal: huma he
dello: Os quaes nós aqui todos avemos maior, e dizem a déra El-Rei D.
por expressos, e repetidos, e que nom João I.: a mais pequena terá pou
ajam aqui Lugar. E esto todo , que co mais de dois palmos e meio, e
dito be , seja firme, e estavil perato he do mesmo gosto, e pouco me
do sempre. lhor feitio: tem nas roupas diantei
Porem mandamos , que em razom ras doze escudos pequenos, tambem
dos Pedidos, que nos forom prometti de prata, e os seus campos estão em
dos jeeralmente nas Cortes, que feze branco, e lisos: dizem ser Donati
nos em Coimbra, ou forem daqui em vo da Infanta D. Maria, filha d'El
diante promettidos specialmente, como Rei D. Manoel.
dito be; que em esta parte vejam quan Até o anno de 1545 era a terra
to monta ao Concelho do dito Logo de de Miranda Comarca Ecclesiastica do
Santa Maria de Azinhoso, tanto des Arcebispado de Braga, e no Azi
contem a nós d’aquello, que devemos nhoso residião os Vigarios Geraes,
d'aver, ou ouvermos daqui em dian que pela Erecção deste Bispado no
te dos ditos Pedidos: E nós por esta dito anno ficárão extinctos. A Igre
Carta conhecemos, e confessamos, que ja Parochial presume-se principiou,
recebemos em nós. E mandamos aos com o Titulo, e Isenções de Villa
Sacadores, e Escrivaens, e outros quaes no tempo d’El-Rei D.João I. A ce
4uer » que esto tuverem de veer, que lebrada Feira nos tempos antigos,
** * @
AZ AZ 163
e já hoje de bem pouco nome, a Azoreiras, não faltão na Provincia
8 de Setembro, não apparece alli. de Traz-dos-Montes ; mas sendo
monumento algum, que nos certifi Azoreiras nome appellativo , seria
que de quem foi o Monarcha, que a bem contingente o não lhe errar o
concedeo tão livre , e franqueada; significado. Poderiamos dizer, que
mas ha todo o fundamento para nos erão matas, devezas, ou moutas,
persuadirinos, que seria El-Rei D. em que se fazia lenha; segundo o
Diniz, não só pela Tradição, mas que se disse V. Azaria. Talvez fos
ainda pelo que se disse V. Aginha. sem terras, que pagassem pensão de
O que não tem dúvida he, que el Ferro Azéro , isto he, fino, e ca
le visitou pessoalmente este Santua paz de cortar como aço, a que an
rio, e que a 7 de Fevereiro de 1287 tigamente chamavão Azáro, e ain
se achava em Miranda, onde se con da hoje os Hespanhoes dizem Azé
servão monumentos da sua presen ro. V. Ferros. E finalmente, haven
ça: e que quando no de 1319 con do ainda hoje em algumas partes
cedeo , a grande Feira á Torre de certas arvores chamadas Azéros, que
Moncorvo, já era bem notavel a do são Azereiros bravos, e mui proprios
Azinhoso. E finalmente foi esta Vil para delles se fazerem pratos, e es
la Cabeça de Condado, cujo Titu cudellas; não seria grande desacer
lo deo o Cardeal Rei a D. Nuno to suspeitar alguem, que n'hum tem
Mascarenhas. po, em que os matagaes, e arvo
AZIUMAR-SE. Azedar-se, to redos cobrião a melhor parte das ter
mar aziúme, e perder o gosto na ras do Douro, e Traz-dos-Montes,
tural, que as frutas, ou qualquer houvesse copia destas arvores, a que
manjar, ou iguaria tinhão. chamassem Azoreiras.
AZO. Occasião, motivo, tenta AZUDE. O mesmo, que açude,
ção, geito para se fazer alguma cou ou açuda , preza, mota, repreza,
sa. Era muito odioso, e azo pera en dique, que faz altear as agoas, ou
tre elles aver omizio , e mal querem para as conduzir a sitios mais altos,
fas. Sentença d'El-Rei D. Afonso que o seu alveo, ou para que de
V. de 1463 para a Camera de Mon pois abrindo-se estes receptaculos,
corvo. Pelo azo da dita adúa a sua corrão com mais violencia, e abun
Killa se pode despobrar. Carta d'El dancia. Vem do Verbo Arabico Sad
Rei D. Fernando , de 1 376. Ibi da : tapar, impedir, represar o cur
dem. V. Aaso. •

so da agoa. Os Hespanhoes tambem


AZORECHO. Azulejo. Os dous chamárão Açudes, ou Açudas a hu
Altares de fóra, com o Altar Mór, ma grande roda, com que se tira
Doc. do agoa de algum poço, ou caudalo
cubertos de bom azorecho.
Sec.XV. so rio , para regar hortas , poma
AZOREIRA. No L. dos For. res, e outros usos: o que nós hoje
Velhos se acha , como El-Rei D. dizemos Nora. No de 1259 se ven
Sancho I. afforou a sua herdade cha deo hum moinho no rio Dão, e no
mada do Cobou, que he em Pena Termo de Penalva , e a Carta de
guião, no de I2O3, e diz que a afó venda diz assim: Vendimus vobis ip
ra cum suas azoreiras. Povos, quin sum molinum , cum sua ressega, Óº
tas , e sitios de terras , chamados cum suo azude , Óº cum sua aqua,
X ii
164 AZ B
&º cum sua levada, Óº cum suas en midate, usque in perpeduum. — Prin
tradas, Óº cum suas exidas, pro pre cebs por Princeps. Doc. de Viseu. * *-*

tio, & c. Doc. de S. Christovão de E pelo contrario, não poucas vezes


Alafões. E daqui se manifesta, que se acha o P. em lugar do B., co
em hum moinho ha assento, em que mo se vê na Doação de Bagaúste,
está formado : açude , em que re # El-Rei D. Afonso Henriques
préza a agoa: agoa, que he repre ez á Cathedral de Viseu no de 1 1 64,
zada: elevada, cal, ou canal, por na qual se acha Capdali, em lugar
onde a dita agoa corre: e sem tu de Cabdali. Em hum Instrumento de
do isto não anda o moinho. Arouca de 989 se diz: Quomodo il
la optinuimus in ipsa Villa... Perubi
que illa optinuimus... Et azebimus
de vos alia haereditate. Doc. de Arouca.
B. B. por L. Em hum Instrumento
de Bairam de Io64 se lê: Sire nul
B. Como letra numeral dos an la Kabmnia (por Calumnia) & sine
tigos, valia3oo: accrescentando-lhe nullo reproberio.
hum til valia 3d)ooo. B. por S. Su jubsio de Sisnando
B. Em quanto Nota musical, sig Episcopo. Ibid.
nificava muito: ou fosse levantando, B. dobrado não se acha em os
ou abaixando, ou sustendo as vo nossos Documentos Originaes antes
zes no Canto. do Seculo XII.
B. Por V. he frequentissimo em BABILOM. Titulo de Familia.
os nossos Documentos mais antigos, O A. da Europ. Portug. Part. III.
assim Latinos, como Portuguezes. nos diz, que Ruy Gonçalves, Ca
E pelo contrario, com a mesma fre valeiro andante , discorrendo pela
quencia usárão de V, por B., de que Europa, foi ter á Babylonia. Alli
são infinitos os exemplos. tinha certo Dinasta guerra com hu
. B. Em lugar de P. se acha a ca ma sua irmã sobre feito de heran
da passo, desde o Seculo VII. até ças : o Portuguez se declarou pela
o XIII. Entre nós se achão muitos Senhora, e vencendo ao Dinasta vol
Documentos desta inversão. Na Con tou á Pátria mui rico, e com o Ti
firmação de todos os bens de raiz, tulo de Babilón. Não fico por fiador
ue El-Rei D. Afonso I. deo á Sé de Sousa; só accrescento , que em
} Viseu no de 1 15o, se diz: Si Pena-fiel, e seu Termo havia Fa
verò hoc firmitudinis scribtum, o bu milia , e não desprezivel, dos Ba
jus scribtifirmamentum... Facta Con bilbens; pois entre os Doc. de Arou
donationis scribtura.... Manu nostra ca de 1295 se acha huma Doação,
hoc scribtum subter firmamus. Em hu que diz assim: Conhecuda cousa seja
ma Doação feita ao Mosteiro de Ce a todolos prezentes, e aos que am de
te no de 985, que se acha no Col venir , que nós Fr. Martim Gil Ba
legio da Graça em Coimbra se lê: bilon, e Fr. Gonçalo Gil Babilon, Fra
Pariet ad ipso loco, quanto inde usur des da Ordem de S. Francisco ; con
padus fuerit dubladum , vel quatuor sirando o bem, e a ajuda, e a prer
dubladum, secumdum Lex dozet, Óº tança, que nós de nossa irmãa, MJór
unc factum mostrum plena aveat fir Gil Babiloa , Monja do Moesteiro
d'Arou
BA BA 165
d'Arouca sempre em nossas mesecida de junio. E. M.CCCXXXIII. Testemo
des recebemos, sem galardom, que el nias, & c.
la de nós ainda recebesse: Porem, e Note-se aqui, como de passagem,
por meor desenbargo de nossas almas, além da Devoção do Pai, e dos fi
damos , doamos , e outorgamos (por lhos, em se recolherem á Casa de
lecenfa, e por mandado de nosso Guar Deos, para fugirem das confusões
diam Fr. Gonçalo de Negrélos , que de Babylonia; a qualidade do voto
ora é Guardiam do Porto, ) aa dita da Pobreza , que Frades, e Frei
Móór Gil, nossa Irmãa, todolos ber ras naquelle tempo fazião, e pra
damentos , e posifoens, que a nós fi ticavão... V. Confessor.
carum, e devem ficar de nosso Padre, BACCALAR. Assim chamão ho
Fr. Gil Babilon , e de nossa Madre je hum pequeno povo nas margens
D. Maria Martins, em Boelhy, e em do Douro, e no Termo da Villa
seos termbos, e em sas pertenças, que de Hermamar. Baccalarías, ou Bac
a esses berdamentos em cada hum Lu calares chamárão os antigos aos Pre
gar pertencem no julgado de Penafiel, dios rusticos , ou Vassalarias, que
e metemo-la logo em pura, e em verda constavão de dez, ou doze Casaes,
deira posis som delles, que desta ora em cada hum dos quaes era servido com
deante os aja, e posuya para todo rem huma junta de bois. E se estas Bac
pre, por seos berdamentos proprios, e calarias erão cultivadas por conta dos
livres, e eisentos, com todos seos fruy Senhorios, se chamavão Baccalarías
tos, e foros, e rendas, e prestanças, Indominicadas. Baccalarios forão cha
e com todo direito, que nós bi avemos, mados, os que tinhão o Dominio util
e de direito devemos a aver: que faça destes Baccalares, que supposto fos
deller en sa vida, e en sa morte o que sem rusticos, e sujeitos ao censo,
erão com tudo mais honrados, que
lhy prouguer: Epromettemos aá boa fé,
que nunca contra esta Doaçois venha os simplices Lavradores, ou Colo
mor per nós, nem per outrem por al nos dos respectivos Casaes, e des
guma manejra de direito, ou de fei obrigados, livres, e isentos dos en
to, ou de dito; so pena de mil mara cargos servís. Não só os Principes,
vidiz, que a ella, ou quem ella esses mas tambem as Igrejas, e Mostei
herdamentos doar, ou der, ou vender, ros forão Direitos Senhorios desta
u emprazar, ou a quem sa voz for da qualidade de Predios: de quem fos
da, peite, quemquer que contra essa se este de que falamos, e que par
Doaçom tentar a passar: (o que Deos tC COII] a # , não he cousa
nom mande) a qual pena pagada, ou averiguada, mas se em cousas tão
nom, firmes, e estaves sejam todalar antigas valem conjecturas bem fun
cousas de suso ditar para todo sempre. dadas; estando o Baccalar no Ter
E que esto pois nom possa venir em du ritorio de Timiliopus, (ou Temilobos
vida, rogamos Pasqual Eannes publi como se dizia no de 1 153) e jazen
co Tabelliom d’El-Rei na Villa de Gaya, do o antiquissimo Mosteiro de Ba
e em Villa Nova de Rej, que desta Doa gaúste neste mesmo Territorio: por
fom fezesse aa dita Moor Gilbum pu ue não diremos ser este Baccalar
blico estromento em testemonio das cou } Mosteiro , cujas propriedades,
sas de suso ditas. Feito foi isto na Vil e bens de raiz se extendião mesmo
la de Gaya, XVI. dias andados do mez além Douro por Oliveira , *# CT
166 BA BA
derma até Cidadelhe ; como se vê cor se chamárão assim: á baculo quem
pela Doação, que a D. Primo, Ab gestabunt; mas parece não vão co
bade de Lorvão, fez deste Mostei herentes os Propugnadores desta Ori
ro o Servo de Deos, ou Confessor Chri gem; porque se os Lombardos con
stovão no anno de 97o, a qual re ferião o gráo de Doutor pela entrega
petio, e confirmou sua Mái D. Mun de hum Bordão, ou Bastão, ao que
na no de 973 pela alma de seu Ma tinha concluido com applauso a car
rido D. Vermudo, e pela sua : o reira dos seus Estudos; e por isso nas
que tudo se póde vêr no L. dos Tes Constituições mais antigas daUniver
tamentos de Lorvão n. 56, e 57. sidade de París se chamárão Bacilla
BACHAREL. Assim chamão nas rij à baculo, seu bacillo, quod accipie
Academias, e Universidades ao que bant Doctores: que diferença não ha
já tem o primeiro gráo, e está ini elle entre os Bachareis, que perten
ciado para ser Doutor em alguma dem as honras de Doutor, e os Dou
Faculdade, que alli se aprende. Po tores, que passárão por todos os
rém não só em as Universidades: bancos inferiores de Bacharel? Quan
tambem nas Igrejas Cathedraes, e to dista o pertender ainda, de ter
nos Mosteiros, havia Bachareis, ou já conseguido?...
Baccalarios: nome que se dava aos BACINETE. Morrião, ou cha
Conegos, e Monges mais novos, péo de ferro , ou aço para defen
e que estavão já dispostos, e como der a cabeça das armas ofensivas.
de caminho para subirem a Digni Havia Bacinetes singelos , e Bacine
dades, e Cargos mais altos nas suas tes de Camal, ou babeira, a qual era
respectivas Corporações. huma parte do Elmo do nariz para
Igualmente forão chamados Bacha baixo, que cobria a boca, a barba,
reis, ou Baccalarios, os que haven e os queixos. Havendo os Morado
do conseguido já a Ordem Militar, res da Villa de Freixo de Espada
erão ainda de pouca idade, ou não cinta mandado dizer a El-Rei D.
tinhão bastante copia de riquezas João I., que a maior parte dos ho
para terem Pendão, e Caldeira; isto mens daquella Villa, a quem lançá
he, suficiente número de Vassallos rão béesta de garrucha , e folhas, e
pagos, e municiados á sua custa, gorgilim, tinhão arneses d'homens d'ar
para poderem arvorar Bandeira so mas, a saber: Cotas, e bacinetes de
bre si nas Expedições Militares. Camal , e Laudeès , e delles peças:
Mas donde poderemos nós dedu Manda El-Rei no de 141o, que es
zir a Origem de todos estes Bacha colhão: ou ter as Cótas, ou peças com
reis?... Nada mais natural, que di bacinetes de Camaaees, ou de babeira, e
zermos , lhes proveio dos antigos com avambraços: ou ter as ditas solbar,
Baccalarios, ou Senhores das Bacca e gorgelim: qual antes quizerem ter »
larías, os quaes sendo livres, e de tal tenhão. Doc. de Freixo.
condição ingenua , não igualavão BACIO. Hoje se toma em algu
com tudo a condição dos Barões, e mas partes por vaso de contumelia,
Ricos-Homens, a quem ficavão sendo e destinado ás immundicias. Porém na
muito inferiores. Sei, que alguns Provincia de Traz-dos-Montes ain
modernos, e de grande nome, se da conserva o seu antigo significa
persuadem que os Bachareis Academi do; pois chamão Bacíos aos pratos.
Mas
BA BA 167
Mas note-se, que antigamente Ba 257, e particularmente no T. II. f.
do se tomava por todo o vaso de 7. na Carta a Vaseu Pro Colonia Pa
boca larga, como gomis, canecas, censi: fica só lugar a dizermos que
&c., e nisto se diferençavão das Ba Badajós he Fundação dos Mouros,
cías, que estas erão de mais bojo, # agradados da fertilidade, e abun
e fundas, e aquelles erão mais cha ancia dos seus Campos, é sem at
tos, e espalmados, a modo das nos tenção alguma ás divisões dos Ro
sas bandejas. Vid. Monarch. Lusit, manos, e ao seu Convento Juridi
T. V. f. 2o4. - º co de Merida, estabelecêrão alli hu
BACIRRABO. Caudatario , o ma Cidade, a que chamárão Bala
que levanta as fimbrias das vestes delaixe, que quer dizer: Paiz, ou
Pontificaes. E di como se vai do dito terra dos mantimentos ; segundo o
padrom pela almoinha , que ora traz Padre Sousa nos Vestigios da Lin
Afonso Vicente Clerigo , dito Bacir gua Arabica em Portugal da Edição
rabo do Bispo. Tombo do Aro de La de Lisboa de 1789 ; não obstante di
mego de 1346. f.5 I. Y. •
zer Brito no T.II, da Monarch. Lusit.

BACULO. Vinha, bacello. Tal L. VII. Cap. XVII, que lhe chamá
vez derivado de Bachus. V. Exudrio. rão Baled-Aix, que val tanto como
BADALHOUCE , e Badalios. Terra da vida. Com tudo o Geo
Assim se acha nomeada em os nos grafo Nubiense , ele mesmo Ara
sos mais antigos Monumentos a Ci bigo, e que compunha a sua Obra
dade de Badajós, Capital da Extre pelos fins do Seculo X, lhe dá o no
madura de Castella , e algum dia me de Balalius, e os nossos Maio.
pertencente ao Rei de Leão , nos res disserão Badalios. e , ,

confins de Portugal, sobre o Rio - Que Badajós nunca foi Episco


Guadiana, e distante tres leguas da al antes do Seculo XIII. o afirmou,
Cidade d'Elvas. Até quasi os nos # : Resende com tudo se in
sos dias reinárão os prejuizos, de clinou a que a Cadeira Episcopal,
que Badajós fora a Pax Julia , ou e antiquíssima de Pax Augusta, fu
Pax Augusta, Colonia, e Conven lia , ou Béja se mandou para Ba
to Juridico dos Romanos ; porém dajós; porém neste ponto dormitou
demonstrado já, que esta Colonia, o grande Homero, por confissão dos
e Convento Juridico existio nos Cel mesmos, que mais honra tinhão nes
ticos da Lusitania, e nunca na Be ta mudança, ou Trasladação do Ti
tica, onde está Badajós, e que he tulo. O Mestre Flores na Hesp. Sa
sem a mais leve dúvida a nossa Bé grada, tratando dos Bispos Pacen
ja , onde as Inscripções Romanas ses, ou de Béja, ingenuamente con
não permittem hesitar ainda sobre fessa , que jazendo Béja sem Ca
hum ponto, que padeceo a contro deira Episcopal, mas já em poder
versia de tantos annos: desengana dos Christãos, e Portuguezes, Af
dos já os Hespanhoes mais eruditos fonso IX. Rei de Leão, conquistou
á vista do que escrevêrão com eru pela ultima vez a Badajós do poder.
dição rara, assim: Gaspar Barreiros dos Mouros no de 1 23o: e que nes
na sua Corografia a f. 2. Óº seq., e te mesmo anno lhe deo por I. Bis
Resende no T.I. de Antiquitat. Lusit, po a D. Pedro, que arrogou a si o
da Edição de Coimbra de 179o a f Titulo de Pacense por se persuadir erº f"(1
1 68 BA BA
radamente, que algum dia estivera al ças de páo, a que os Escritores da
li, ou não muito longe, Pax Julia, quelle tempo chamárão Borda , se
ou Pax Augusta , sobre cujas ruinas undo diz Santo Isidoro nas suas
Stymologias : ao depois usárão de
levantarião os Mouros a Badajós.
BADALIOS. O mesmo, que Ba varapáos, ou varas puras, e sem fer
dathouce. ro algum, mas boleadas, e embo
BADULAQUE. O mesmo, que ladas na ponta, para evitar toda a
Bazulaque: guisado de carne, cor efusão de sangue, ainda casual: o
tada em miudos, ou de forçuras de nome destas varas era Burdo, por
carneiro , com cebola , toucinho, serem o mesmo, que Bordão: e da
azeite, &c., e bem conhecido, e qui chamátão os Hespanhoes Bofor
praticado nas Communidades Reli do a estes divertimentos, ou brin
giosas deste Reino. Entre as mais quedos. Os Portuguezes em fim ado
cousas, que o Conde Stavel D. Nuno tárão nos principios da Monarchia
Alvares Pereira dôou ao Mosteiro de o Verbo Bafordar, para significarem
Alcobaça donavit etiam grandem Cal a execução deste Festejo, que algu
deiram , in qua Castellani de famu mas vezes degenerou em combate de
latu Regis faciebant suos badulaques. masiadamente sério. V. Bufurdio.
Apud Alcobaça Illustrada penult. fol. BAILEO. Estada, palanque, ca
- Assim te ficarás para toda a vi dafalso, varanda, que se arma em
da pizando esses teus badulaques. Lei lugar alto com cordas, calabres, e
tão na sua Miscellanea. Dial. 17. madeiras , andaime , ou pequeno
BAFAGEM de vento. O asso theatro, que se fórma em lugar emi
pro do vento favoravel, e de ser nente, e que de longe se avista. He
vir, aragem propria, e accommo trivial no Seculo XV., e XVI.
dada para navegar. Alguma bafagem BAILIA. Nos Doc. do Mostei
de outro rumo. Barros usa com fre ro de Bayram de 1347 se chama Bay
quencia desta palavra. lia a Commenda de Lessa. E com et
BAFORDAR. He no jogo de feito na Ordem do Hospital, (ho
armas tirar lanças por alto, brincar je de Malta) e mesmo na do Tem
com ellas , fingir combate militar. plo (sobre cujas ruinas se levantou
Na baixa Latinidade se disse Bagor a de Christo) já desde os fins do
dare o pelejar de cavallo, quebran Seculo XII, se chamárão Baylias,
do as lanças , e fingindo pelejas, Balias, e Ballías as principaes Com
para divertir , e alegrar os circuns mendas; assim como tambem se cha
tantes. Daqui chamárão os Italianos márão Bailios, e Balios os Precepto
Bagorda aos jogos públicos, festas, res, ou Commendadores das princi
e divertimentos. Os Francezes de paes Commendas, e ás quaes estavão
duzírão o seu Bohourt, ou Behourt annexas algumas outras pouco nota
do antigo Bobordicum ; e chamárão veis, e rendosas. Tambem fóra de
Boubordeis , ao dia , em que estes Portugal se chamárão Bailias os Of
jogos, brincos, cavalhadas, ou tor ficios, e Judicaturas, assim Eccle
neios se fazião. Esta especie de re siasticas, como Seculares, e os Dis
gosijo público vogou por toda a Eu trictos, termos, ou limites, a que }
ropa, e fóra della. Ao principio pa ellas se extendião. E finalmente cha
rece, que usárão de clavas, ou ma márão Baha, ou Balio ao governo,
Oll
BA BA 169
ou administração de hum Reino. Po par : se chamou Vallada. Se retro
rém neste sentido assim Balia, co cedemos ao tempo dos Romanos,
mo Balio vem do Latino Bajulus, do e refiectimos, que os melhores Cam
qual tirão alguns com menos fun pos de Hespanha forão tributarios
damento a origem dos nossos Com áquella Nação , ou ás suas Colo
mendadores Balios, V. Balío. nias, e que na baixa Latinidade se
- BAILHEIRO. Ligeiro. Dous ba disse Balliata, ou Balagium ao Tri
teis bailheiros, Lopes Vida d’El-Rei buto, e Pensão, que se pagava de
D.João I. P. 2. C. CXXXV. tudo o que se debulha na eira;
BAJULIA. Baliado , Commen temos o maior fundamento para daqui
da, ou terra do Balío. derivarmos o seu nome. Mas para
BALASIAO, ou Baleação. Pés que he procurarmos de tão longe a
ca de balêas, ou azeite, que del Sua origem?... Nós sabemos, que
las se tira. Tam de balasione, quam
as inundações do Téjo fizerão in
de aliis causis. — It: Praeterquam de
dispensaveis os muitos reparos de
piscaría , quam vobis integrè conce
fossos, e vallas, marachões, e pe
dimus, non de balenatione, quam no
rapeitos, para evitar a destruição
deste Campo; e isto desde antes da
bis, Óº nostris Successoribus reserva
mus. Doc. de Grijó do Sec. XII., Monarchia até o presente Reinado;
e XIII. sendo de cada vez maior o detri
BALATA. Assim se chama nos mento , a pezar de não ser menor
Documentos antigos o Campo da o dispendio: digamos logo, que de
Balada , ou Vallada, que fica en Pallatum se chamou Vallada a hum
tre Santarem, e Lisboa. Sobre a Ety Campo, que tanto precisa, e abun
mología deste nome não concordão da de fossos, e vallas.
os Eruditos. Se em todo o tempo, Como quer que seja a razão do
e muito antes dos principios da nos seu nome; conquistada Lisboa por
sa Monarchia, este Campo não fo El-Rei D. Afonso Henriques, or
ra reduzido a cultura, e muito fre denou o Piedosissimo Monarcha,
quentado dos Povos pela sua tão que a Camera, e Concelho daquel
celebrada fertilidade , seria facil la Cidade repartisse annualmente o
deduzir o seu nome do Arabico Ba Campo da Vallada aos moradores do
ledon : Campo , ou terra inculta, seu Termo, que não tivessem her
como derivado do Verbo Balada: dades, a fim de alliviar a sua pobre
habitar em lugar deserto, e sem cul za, e attrahí-los a fazerem em Lis
tura. Se nos lembramos do plano, boa as suas habitações, e moradas.
e desabafado deste Campo , e o Todos os annos se fazia escrupulo
quanto elle era commodo para as sal samente a lista dos moradores po
tações, e desordenados bailes dos bres , e se lhes consignava o seu
antigos: não seria difficultoso deri quinhão para a cultura. Assim con
var o seu nome do Verbo Balare, tinuou até o Reinado de D. San
Ballare, ou Valare. Se reparamos cho II., quando os Ricos, e Pode
na sua fertilidade, e grande copia rosos, postergando os muitos De
de pão, que alli se alimpa, sécca, cretos, e prohibições sevéras dos
e recolhe : diremos que do Verbo Reis antepassados, ou por negli
Vallare: Ventilar, escriyar, ou alim gencia do Senado, ou por força da
Tom. I. Y * 31Ilº
17o BA BA
ambição, (se não foi tambem des davi. Doc. de Alcobaça. V. Balu
cuberta violencia) se apoderárão gas, e Chapins. |

inteiramente deste Campo com las BALIO. Senhor, Principe, He


timoso defraudo , e lesão enormis róe , Illustre, Nobre, Pessoa res
sima dos pobres. Tanto prevalece peitavel, condecorada com Benefi
contra a Piedade Christã a desbra cios, e distincta por merecimentos.
gada cubiça dos Poderosos!.. E então Os nossos Balios, ou Bailios nada
será possivelhum systema, que sem tem de commum com os Bajulos,
mudar a natureza dos homens, so Tutores , Pedagogos , Ayos, Guar
nhou introduzir no meio delles hudas , Curadores , ou Mestres dos fi
ma igualdade, que o mundo nun lhos dos Grandes, Principes, ou Mo
ca vio, e que só por alguns dias narchas, e me mo de outros quaes
nos principios da Christandade se quer meninos, menores, ou pupil
raticou ?.. los, nem com os Bajulos, ou Ofi
BALDOAIRO. Livro, que cons ciaes dos Mosteiros , ou Communida
ta da Ladainha dos Santos, Ora des Religiosas. Muitas, e mui dif
ções, e Preces, que se rezão, can ferentes Etymologias se tem dado á
tão, e entôão nas Ladainhas de Maio, alavra Balio; mas passando ella á
Clamores , e Procissões. Doc. de # com as Ordens Militares,
Lamego de 1455. Ainda hoje cha que nascêrão na Palestina nos prin
mão na Beira alta Baldoar ao fal cipios do Seculo XII., nada mais na
lar muito , e em voz alta: e Cra tural, como dizermos, que Balio vem
mol ás Procissões , e Rogativas , do Arabico Ualio, deduzido do Verbo
que os Povos vão fazer com os seus Ualla: constituir alguem em Digni
Parochos, e em determinados dias, dade, Principado, ou Senhorio. O
a alguns Sanctuarios, de quem os ue não tem dúvida he, que des
seus Maiores pela sua Piedade rece e o meio do Seculo XII. Balio se
bêrão grandes beneficios, e de quem tomou em várias accepções, segun
a desenvoltura, e irreligião dos pre do o uso dos tempos, e Povos, I.
sentes não vai tirar hoje senão re Se tomou por Juiz, Conservador,
levantes merecimentos dos maiores ou Védor, a quem os homens No
flagellos, e castigos. . bres de huma Provincia commettião
BALEAÇAO. V. Balasião. o cuidado das suas fazendas, ou Di
BALEGOENS. Borzeguins. Os reitos contra os que lhas pertendião
Monges de Alcobaça erão obrigados usurpar. II. O Ministro de Vene
a dar annualmente a El-Rei humas Za ? # em Constantinopla,
botas, bums Borzeguins, e bums fa e que solicitava no tempo dos Im
patos em reconhecimento do Padroa peradores Gregos tudo o que per
do Real.- El-Rei D. Afonso III. os tencia ao bem do Commercio da sua
eximio desta obrigação, como cons Républica, se chamava Balío. III.
ta do I. Livro Dourado a f. 3o por Em França tiverão o mesmo nome
estas palavras: Promitto, mando, Óº os Prétores , ou Ministros Provin
concedo, quod de caetero numquam Mo ciaes, que julgavão nas Materias da
nasterio Alcobatiae petam, nec deman Fazenda, e Coroa Real. IV. Em
dem botas, nec balegoens, nec sapa Inglaterra , quaesquer inferiores,
tor, sicut bactenus petij, ac deman ou infimos Oficiaes de Justiça.
Na
BA BA 171
Na Religião de Malta ha Balios Por hum lugar apaúlado , cuberto
Conventuaes, e Capitulares: Estes as de matagaes, charcos, ou lagôas.
sistem nos Capitulos da Ordem da IV. Pelas dórnas em que as uvas de
sua respectiva Nação : são Gram pois de pizadas estão fervendo. V.
Cruzes, e tem titulo de Senhoria: Pela jangada, que se fórma de al
aquelles são os primeiros, e prin guns páos atravessados, de que a
cipaes Conselheiros da dita Ordem. necessidade de salvar a vida algu
Em Portugal se chamárão Balios os mas vezes se serve, e outras a In
Perceptores , ou Commendadores dustria, e arte. VI. Finalmente foi
das primeiras , e principaes Com chamado Balsa o fatal Estandarte de
mendas. que usavão os Templarios nas suas
BALOUÇADOR. Cavallo des Expedições Militares contra os ini
inquieto no andar , ou que anda migos do Nome Christão. Chamou
de trote, saltando, e quasi bailan se este Estandarte Balsa bipartida,
do. Ainda hoje dizemos Baleuçar: por constar de duas côres, branca,
por sacudir, andar de galope, des e negra, sobre as quaes se divisa
assocegadamente, e com solavancos, va a Cruz vermelha, de que usa
e Balouçamento: por sacudidura, so va a Ordem. Na côr branca propu
lavanco , andadura de trote, &c. nhão a misericordia, e bom trata
de que se póde vêr Bento Pereira mento aos que se rendessem ás ar
V. Succusso com os seus derivados. mas da Cruz: na côr preta lhes di
D.Sebastião Bispo de Salamanca diz Zião, que para os obstinados, e re
no seu Chronicon, de El-Rei Ver beldes não haveria senão estrago,
mudo: (Era 827) Sed Regalia pa morte, e perdição. E finalmente na
latia , balluca , triclinia, praetoria, Cruz Vermelha denotavão, que só
quis satis pro ipsa pulcritudine valeat pelo Sangue, Lei, e Fé de Jesus
commendare. Se por estas ballucas se Christo se movião a pegar nas ar
entendessem os Picadeiros , tinha mas. A figura desta Balsa, ou Bam
mos nós a origem de Balouçador; po deira he a seguinte:
rém ainda tomando-se por salas des
tinadas a saráos de Palacio, bailes,
danças , e festins, ainda não fica
demasiadamente remota a sua ety
mologia. Em Du-Cange se acha Bal
luticiacum: por escramuça, sortida,
ou incursão de gente a cavallo, que
á redea solta , e como de galope,
fazia todo o possivel damno a seus
inimigos. * , :
BALSA, e Balça. Tem esta pa
lavra mui diversos significados. To
ma-se I, por hum basto silvado com
que se tapão quaesquer terras, ou
propriedades II. Pelos ramaes de co
ral , que a força das ondas muitas
vezes arranca do fundo do mar. III.
BA BA
BANDO. Bandeira, ou Pendão,
Sed No m i n i tue
ou qualquer especie de Insígnia, ou
Estandarte, de que usavão os que
suscitavão algum Partido, ou Sedi
ção, para alistarem debaixo delle os
seus partidistas, e socios. Daqui as
rigorosas, e innumeraveis Leis, que
prohibem semelhantes Bandos, Con

| venções, e Ajuntamentos, que arrui


não pelos mais baixos alicerces to
da a sociedade , e boa harmonia,
ue deve reinar entre os Individuos
} hum Estado, ou Monarquia.
BANDORIA. Dissensão, discor
dia, guerra, contenda, inimisade,
artido. Os hereos querem partir es
res bens, e heranças sen eixeco, e sen
bandoria, e sem outra volta. Doc. das
Bentas do Porto de 13o7.
BANDORIA. Aggravo , injus
tiça , desordem. E fazee, que seja
feito bem, e direitamente, e sem ou
tra bandoria ; em tal modo , que ar
Sayorias sejam fóra, e os ditas taba
Jioes não tenhão rasom de se a Nós so
bre esto agravarem, e o povo receba
delles servidom direitamente. Cortes
de Lisboa de 1389 nos Doc. da
Cam, do Porto.
BANDURIA. O mesmo , que
JBandoria. Pendencia, ou descompo
| sição de palavras.
BAPTISMO de fogaça. V. Va
vº BALUGAS. O mesmo, # Ba da de fogaça.
. BAQUEAR-SE. Lançar-se por
legoens, ou Borzaguins. No Foral, terra, prostrar-se diante de alguem
que El-Rei D. Afonso Henriques em sinal de reverencia, agachar-se,
deo a Celeirós de Panoias, se de coser-se com a terra para não ser
termina, que a Viuva, que quizer visto de alguem. He do Sec.XVI.
passar a segundas bodas: Det proba - BARAFUSTAR. Mover-se com
/ugas una cera, isto he, tres arra impeto para huma, e outra parte,
teis e meio de cera, segundo se de estribuxar. E no sentido moral: con
clara no antigo Censual de Lame tradizer, recalcitrar, impugnar com
go, (havendo dito antes que hu palavras soltas, livres, e desentoa
ma Cera erão tres arrateis e quar das as razões, e fundamentos da
ta.) Livro dos Foraes Velhos. An. Parte contraria , usar de termos
de 1 16o. V. Ossas. #: : • cheios
BA BA 173
cheios de indignação, e repugnan Administração de hum Territorio,
C13.
Cidade, Praça, Villa, ou Ca tel
BARALAS. Alterações, conten lo. Os Arabes pronuncião Baron, e
das, disputas, allegações, deman dizem que se deriva do Hebraico
das, descomposições de palavras, e Bar: cousa justa, pura, limpa de
algumas vezes luctas, e pancadas toda a mancha, e baixeza: que tal
2 # partido. No de 1256 ha deve ser o Baram. Antes do Sec.
vendo entre si grandes discordias IV. Baram para com os Latinos si
os Concelhos de Aguiar da Beira, gnificava homem vil, e de nenhu
e o de Cernancelhe: Subre depar ma estimação. Depois deste tempo
timento; e divisoes de nossos termos; foi tomado por todo , e qualquer
depus muitas razoes, e muitas bara homem. No Sec. VI. passou a ser
las, que ouvemos uus, e outras, de Titulo de honra , e se chamavão
nossu boom plazimento d'uum Conce Baroens, ou Faroens os que o lo
lo, e do outro, acorda-mo-nos em D. gravão. No Sec. IX, passou dos Do
Martio, Abade do Moesteiro de S. Pe mesticos, e Oficiaes dos Reis aos
dro das Aguias & c. Doc. de Aguiar Grandes da Monarchia, sem que
da Beira. por isso formasse huma particular
BARALAR, e Baraliar. Alter Ordem de Nobreza. Desde o Sec.
car, ralhar, contender, descompor XI. não só os Reis, mas tambem
se com palavras, ou tomar-se abra os Bispos, tiverão seus Baroens, que
ços. No Foral que El-Rei D. San os ajudavão na expedição dos nego
cho II. deo á Wi, de Santa Cruz cios, e decisão das causas; e por
da Villariça no de 1225 se deter isso no Sec. XI., XII., e XIII. fo
mina : Et nostros Alcaldes judicent rão grandemente respeitados, e ti
de Sol ad Sol: Et si baraliant cum dos como Principes. Os Baroens que
suor vicinos, & vener illo Alcalde, fazião homenagem immediatamen
c) dixer: Incauto vos, que non bara te á Coroa , erão os unicos, que
ledes, & non se calarent, pectet unum tinhão assento no Parlamento da
morabitinum alAlcalde. Doc. de Mon Nação, e fazião a Corte do Rei.
corvo. No Foral, que o Infante D. Em França os Principes do Sangue,
Afonso Henriques deo á Cidade de Duques, Condes, Bispos, &c. erão
Cêa no de 1 136 se diz: que se o confundidos com o nome de Barão:
criado de algum Cavallejro, baralia nome tão illustre, que algumas ve
verit com algum homem d’El-Rei, e zes se deo aos mesmos Reis; po
este arrancar aquelle, e vencer a Coi rém desde o Sec. XIV. se foi aba
ma, que lhe demanda; partiráó a tendo, e extinguindo de tal sórte
meias a dita Coima, o Cavaleiro, e que na Revolução de 179o só na
El-Rei. L. dos Foraes Velhos. Aqui casa de Montmorenei se achava o
se vê , que este baralhar appella unico, e Primeiro Barão da França.
mais em obras, do que em palavras. Daqui se vê que fóra de Portugal
} BARAM. Sujeito de bom san são mui antigos os Baroens, ou Va
gue, Nobre, Illustre, forte de ani roens, cujo nome, e distinctivo se
mo, robusto do corpo, agiganta deo aos Fidalgos, que não erão Ti
do, gentil-homem, e bem dispos tulados, mas * andavão na Cor
to, encarregado do Governo , ou te » e que pela Sua *#» e lº
\
174 BA BA
Ministerio no serviço do Principe, ratar: vozes usadas dos Italianos,
erão propriamente seus Homens, ou Francezes, e Hespanhoes; por tro- .
Moços , e Serventes Fidalgos, e da ca, permutação, e escambo de hu
primeira plana. O tempo, e os lu ma cousa por outra. Porém ás tra
gares alterárão a verdadeira noção paças, enganos, dolos, e fraudes,
dos Baroens. E sem fallarmos ago que nos contratos, e Commercio se
ra nos Baroens de Alemanha, e In praticão: Baratterias. E ao charla
glaterra, de que largamente tratá tão, embusteiro, enganador, e tra
rão Du-Cange, e outros: Os Reis pacista disserão Baratiere, e na bai
de Castella honravão com o Titulo xa Latinidade Baratator. Destes Im
de Baroens aquelles, que se avan postores tivemos nós muitos, que
tajavão na guerra; concedendo-lhes se fingírão cada hum delles outro
o Privilegio de Ricos-Homens, e Rei D. Sebastião no Marquezado
dando-lhes de juro, e herdade algu de Brandeburgo , e no tempo de
mas Terras , e Fortalezas, a que Clemente VI., fingio hum rustico
chamavão Baronías. Neste Reino he ser o Marquez Valdemaro, que mui
memoravel o Baram de Alvito, cu to antes era falecido. Com lingua
jo Titulo deo El-Rei D. Afonso V. de maldição , e blasfemia se atre
a João Fernandes da Silveira, e se veo a pronunciar o Imperador Fri
conserva em seus descendentes, e derico pelos annos de 1239 , que
modernamente o Baram de Moça Moysés, Jesus Christo , e Mafoma
medes em terra de Alafões. Com tu tres Impostores forão, que a este
do já no de 1236 D. Sancha Dias mundo vierão. Porém de hum He
fez huma Doação a D. Gil, Bis rege, Scismatico, e Atheista não he
po de Viseu, de quanto tinha em para admirar semelhante parallelo
Tavara, Termo de Francoso, e con (a) E finalmente nas Leis Alfonsi
clue a Escritura: Facta Carta sub E.
nas Part. VII. Tit. 15. L. IX. se tra
M. CCLXXIIII. Domno Sancio Rege ta dos Baratadores, e Enganadores
secundo, Barone terrae Gundisalvo Me BARAZA. Braça , medida de
nendi , Pretore Sancio Gundisalvi. dez palmos. Et remanserunt inde pro
Doc, da Cathedr. de Viseu. ad me setem barazas de magis , quam
BARATAR. O mesmo que des ante habebam. -

truir , desbaratar , á diferença de BARBA. Entre os Doc. de Pen


Baratear. dorada se achão tres Doações, ca
BARATO. (Como substantivo.) da huma de sua Leira, ou bélga de
Se toma em mui diversas significa terra, lançadas em hum só Perga
ções em os nossos antigos Docu minho depois de huma Carta de
mentos do Seculo XV., e XVI.V. Venda feita ao Abbade Vellino: hu
g. Metter a barato: não fazer caso, ma destas Doações fez a Devota Eu
desprezar. Haver por seu barato : ter genia : as outras duas são , huma
por bem. Esperar hum barato da for de Autillí, e a outra de Vellita a
tuna: esperar hum favor, ou bene Thias ambas de Vellino: In die de
ficio da# , &c. Barato, e Ba illa Sagratione, ad confirmandum Be
#28

(a) Duvida-se, e com fundamento grave , que o L. De tribus Impostoribus, que al


uns se persuadirão ser Obra do dito Imperador , seja alguma cousa mais, que huma
rºducç㺠louca de algum pedante, e desalmado farcista,
BA BA 175
medictione de tua barba. E. M. LXVII. II. antecessor immediato de D. Ugo
Foi logo esta Escritura feita no dia » I. , (que sabemos existia em 64)
em que se # a Igreja de São no mesmo dia, em que Vellino se
João de Pendorada , que Vellino fez Monge, no de 1o59. Indague
havia edificado, e da qual por to mos agora , quanto nos he possi
do o Direito era Padroeiro, e mes vel a Origem da Benção , de que
mo segundo a Disciplina daquelle aqui se faz menção ; dizendo pri
tempo, sem grande incoherencia, meiramente, e em geral, alguma
se denominava Abbade : e no dia cousa da Barba; para entendermos
tambem , em que o mesmo Velli bem a qualidade da rasura, que aos
no, deixando inteiramente o mun Monges principalmente era permit
do , entregue já esta Igreja com tida, e com tanta solemnidade aben
suas pertenças ao Abbade Exemeno, çôada.
para alli estabelecer hum Mosteiro Distinguio Deos o homem da mu
da Religião de S. Bento , tomou lher com a Insignia das barbas, que
a Cogulla de Monge, e se alistou denotão o seu sexo, e animo viril.
Solemnemente entre os primeiros Daqui vejo a estimação grande, que
alumnos daquelle novo, e Religio todas as Nações fizerão das barbas.
so Domicilio, correndo o anno de Ainda que ha presumpções, de que
Christo Io59. •

os Romanos se começárão a barbear


E de passagem se note a pouca no de 369 da fundação da sua Ci
exacção do A. da Benedict. Lusit., dade, e que só por oecasião de lu
que tratando deste Mosteiro, diz, cto, ou grave sentimento a rapa
que o Sacerdote Vellino fundára o vão: Varro afirma, que só no de
Oratorio, ou pequena Igreja do Ba 454 apparecêrão em Roma os pri
ptista no de 1o62 : e que Vellino meiros barbeiros conduzidos da Si
Fundador, e já Monge, e o Abbade cilia ; e que daquelle tempo por
Exemeno derão o Padroado deste Mos diante he que os moços começárão
teiro a Monio Viegas no de 1o72: o a exercitar as tesouras nos cabellos,
que não concorda com os Doc. Ori e as navalhas na barba; porém só
ginaes , que alli se guardão , pe desde os 2o, ou 21 annos até os
los quaes se evidencia , que esta 49 lhes era licito este aceio. O dia
Doação do Padroado foi no de 1o65, da primeira barba era para elles de
e Era de 1 1o3 : e mesmo sendo a grande festejo, e se lhes fazia hu
Igreja Sagrada pelo Bispo D. Ses ma visita de ceremonia. Em huma
nando II, no de 1o59, (cujas me caixa de ouro, ou prata mettião es
morias correm desde Io49 até 1o59, te primeiro cabello rapado , e fa
segundo o mesmo Censual do Porto zião delle hum donativo, e o of
af. 96) mal podia ser Sagrada hu ferecião a alguma das suas Divin
ma Igreja tres annos antes que fos dades falsas. Os Tartaros, e os Per
se edificada, ou inteiramente con sas, por se não conformarem no es
cluida. Temos logo a Sagração da tilo fº barbas, trazem entre si con
Igreja de Pendorada, feita pelo Bis tínuas guerras. Os Turcos com a
po D. Sesnando, não o III. (de quem cabeça rapada fazem particular apre
ha memorias certas desde 1o66 até ço # barba larga. Entre os He
Io85) mas sim por D. Sesnando breos não erão desconhecidas as na
Va
176 BA BA -
valhas de barbear, de que a Sagra mais atrozes , e da primeira cabe
da Escritura faz memoria; mas os ça, ainda só o arrancar, ou descom
Nazarenos do Senhor nunca sobre pôr hum só pêlo da barba. Mas
a cabeça as podião admittir. Todo que muito, se ainda por aquelle tem
o mais Povo de Israel fazendo del o hum só cabello da barba de D.
las algum uso, só por occasião do # de Castro na India era penhor
maior sentimento, e afficção appa bastante, e honradissimo para im
recião em público com a cara sem mensas sommas, que a Dio se en
barbas, e a cabeça rapada. Até pa viárão? Talvez que este grande Ho
ra demonstração da sua Eternidade mem se lembrasse de que no Secu
inconceptivel se representa no Apo lo XII. se achão Sellos de cera, e
calypse o Pai Eterno com respeito outras materias, nos quaes se mis
sas barbas no rosto. E daqui pare turavão algumas pontas da barba,
ce, que o demonio, como bogio, como protestando pela immudavel fir
fez que os de Chypre pintassem a meza do que na Escritura se tratava.
Venus com barbas; não sei se pa Mas prescindindo dos filhos do
ra mostrarem a antiguidade desta presente Seculo, que só tem cons
Deosa, se para nos dizerem , que tancia em serem mudaveis; appro
sem juizo, e prudencia, Venus não vando hoje, o que hontem repro
era huma Deosa , mas sim huma várão : vejamos a veréda, que se
furia. Os Egypcios nobres se dis írão os que se prezão de Filhos
tinguião pelas barbas. •

# Luz , e que fazem Profissão de


E sem fallarmos por agora nos serem como peregrinos, e estran
Godos, Gregos, e Francezes, não eiros neste mundo : fallo dos que
he facil o dizer a estima, e pun forão chamados para a sórte, ou pa
donor , que os Hespanhoes fazião ra a Casa da Senhor. Em quanto a
das barbas, e cabellos. Pareceo cou Santa Igreja não logrou a inteira paz
sa monstruosa , e inaudita, que o de Constantino, não vio singulari
nosso Rei D. Fernando fosse o pri dade alguma no exterior ornato dos
meiro que em Portugal fizesse a bar seus Ministros: toda a gloria des
ba, e cortasse o cabello. Os Portu ta Filha do Principe só no interior
guezes o imitárão desde logo na se occultava : o espirito, e a ver
tosquía da cabeça, para se não aba dade unicamente a # Por
farem tanto com as Vizeiras, Mor tando-se em tudo, e por tudo, co
riões , e Capacetes ; que por isso o mo verdadeiros servos, pobres, e
Rei de Castella, desesperado da ba humildes, nem barbas largas, nem
talha de Aljubarrota , os nomeou, cabellos ondeados nutrião a vaida
como por desprezo Chamorros, que de , e presumpção dos que a ser
quer dizer Tosquiados. Porém não to vião : a tesoura lhes compunha es
márão o seu exemplo na rasura das tas superfiuidades do corpo, que se
barbas ; pois ainda no tempo do gundo o Apostolo, mais servião ao
Senhor Rei D. Manoel se pratica homem de ignominia , do que de
vão por todas as Pessoas graves, honra, e mesmo os fazia distinguir
honradas, e de bem, ou postas em dos Sacerdotes falsos de Isidis , e
qualquer Ministerio da Républica, Serapidis, que á navalha rapavão in
e se reputava por huma injúria das teiramente o rosto, e a cabeça. Es
+ ta
BA BA 177
ta mesma Disciplina se deo por de , que neste ponto houve até o
escrito no Concilio Carth. IV. de
Seculo IX., em que subindo as na
398, em que se diz Clericus nec co valhas subtís ás cabeças dos Naza
mam nutriat, nec barbam radat. Não renos da Graça, se alterárão as Co
queria pois a Igreja, que os seus roas, e barbas fóra de Roma, on
Ministros fossem cabelludos , nem de os Summos Pontifices, e o seu
lampinhos; sendo certo, que a vir Clero as deixárão crescer moderada
tude fugio sempre de viciosos ex mente até o Seculo XIII., em que
trCITOS,
seguírão o costume da Igreja Occi
O nascimento dos Monges, e dental, que já naquelle tempo se
Anachoretas, que levárão ao maior barbeava.
auge, senão o Espirito, ao menos No Seculo X, não era cousa no
o exterior rígido, e austéro dos Ar va entregarem-se a Deos, e faze
tetas, e Therapeutas, he quem vio rem-se Monges os Seculares pondo,
pelos Mosteiros, e Ermos cabeças ou depondo as barbas , e cabellos, e
totalmente rapadas, e barbas com protestando deste modo, que para
pridas. sempre se entregavão ao serviço do
Era nos principios do Seculo VII. Senhor. Era esta huma ceremonia
quando já muitos dos Monges (que de ternura, e piedade. Posto o per
pela sua origem todos erão Leigos) tendente diante do Altar, e na pre
pelas suas virtudes, e letras tinhão sença de toda a Communidade, as
sido chamados ao serviço dos Alta Principaes Pessoas, ou os seus ami
res, e feitos Sacerdotes, e Bispos gos, e parentes, que alli se acha
presidião na Igreja, que sempre re vão, lhe hião cortando com gravi
putou por cousa torpe huma cabe dade modesta estes despojos da vai
ça inteiramente calva. Então foi dade mundana, e os hião pondo so
quando o Concilio Toletano IV. de bre o Altar, ou aos pés { alguma
63o, (oppondo-se ao erro dos Pres Santa Imagem. Á falta de huns, e
cillianistas, que fazendo huma pe outros competia esta acção ao Pre
quena rasura no mais alto da cabe lado do Mosteiro. Entre tanto can
ça , deixavão crescer todo o mais tava o Coro certos Psalmos, sendo
cabello com demasia, e nada con o primeiro : Ecce quam bonum, Óº
forme á modestia Ecclesiastica) de-- quam jucundum habitare fratres in
terminou que todo o Clero, sem unum : Sicut unguentum in capite,
distincção alguma, tosqueada a su quod descendit in barbam , , barbam
perior parte da eabeça, só na infe Aaron, &c. a que se seguião algu
rior, e pela raiz das orelhas deixas mas Preces, Versos, e Orações. Da
sem hum circulo de cabellos mais repetição, pois da barba, que nes
compridos, em modo de Coroa or te Cantico se fazia, se chamou á
bicular, e redonda , não fallando tomada do Habito Monastico Ben
da barba huma só palavra. Esta Co fão da Barba. E tambem podemos
roa, que hoje chamão Circilio, igual dizer, que chamando-se Benção, na
mente foi adoptada pelos Monges frase dos antigos, qualquer presen
Clerigos; #### COIm tudO O te, dadiva, ou oferta; com muita
resto da cabeça rapada á navalha. razão se disse Benção da Barba a Con
E daqui nasceo a grande varieda sagração solemne , que a creatura
Tom, I. Z fra
178 BA BA"
fragil faz de si, ao Creador, como ou Peregrinas, serião chamados Bar
Presente, e Oblação a mais precio barios estes Povos, que as tingião,
sa, e do seu agrado, mediante o e preparavão. Com efeito de Bar
sinal externo de depôr a barba , e baricarios , ou Tintureiros , se faz
o cabello. A esta ceremonia de cor menção in C. de excusationibus arti #
tar as barbas, para se entregar ao ficum, Óº de Palatinis Sac. Larg. E …
Divino Culto chamárão alguns Bar Mariano Scoto in tit. Magistri Of
batoria; porque Adolescentes, raden ficiorum Óº fabricae, os chama Bar
di a parentibus, Ó amicis, in Eccle barios.
siam adducebantur, recitata in eum Mas não nos apartemos da ver
finem Oratione, que extat in Libro Sa dade: os Antigos chamárão Obras
cramentorum Gregorii M. in eodem Or Barbaricas ás que erão ornadas,
dine Romano, ó" in Euchologio Grae entretecidas, e compostas de fino
corum. Ita Du-Cange. V. Barbate ouro, e com subtil, e delicado gos
ria. No Pontifical Rom. se tem con to, e Barbaricarios os que Ex au
servado até hoje o Tit. de Barba ton ro coloratis filis exprimebant bominum
denda, com a Benção, que o Bispo formas, animalium, Óº aliarum Spe
dava aos Serventes, e Ministros do cierum imitabantur subtilitate verita
Altar, na occasião, que pela pri tem, dos quaes igualmente se faz
meira vez tosquiavão a barba, V. menção in L. I. C. Tb. de Fabricen
Cabello. cib., qui cassides, Óº bucculas tegebant
. BARBARA. Terra barbara : o argento, Óº deaurabant. E daqui se
mesmo 3, que inculta 3, bravía. Dono manifesta a pouca razão com que Du
vobis illas bareditates, tam fructife Cange, e outros censurárão a sim
ras, quam barbaras. ples, mas bem ajuizada lembrança
BARBARIOS. Assim forão cha de Resende, que não afirma, nem
mados os que habitavão na Serra da decide, que da tintura dos pannos
Arrabida, e suas contiguidades, des de grãa veio o nome aos Habitan
de Setubal até a margem esquerda tes do Cabo de Espichel , antes
do Téjo. Resende no L.I. de An bem claramente protesta, que não
tiquit. Lusit. trata de fabula a opi trata de Barbaricos , ou Barbaricá
nião de Florião do Campo, que se rios; mas sim, e tão sómente dos
persuadio, a que a barbaridade des Barbarios, como os antigos Geogra
tes Povos incivís, e pouco trataveis, fos lhe chamárão.
lhes grangeou , como por antono Não he pois reservado a nós des
- masia, o distinctivo de Barbaros. cobrir novas razões, e motivos,
Porém a questão não era de Barbaros, ue a hum tal homem se occultárão.
ou Barbáricos; mas sim de Barbarios. # sabermos, que os Romanos,
Suspeitou Resende (mas não ficando e Gregos, (que a todos os que não
por fiador da sua mesma suspeita) erão # sua Lingua, e Nação cha
que talvez da muita grã, e finissi márão Barbaros) derão o nome de
ma, que naquelle Territorio se co Barbarios aos que neste canto da Lu
lhia , e com a qual se tingião de sitania residião. -

escarlate as preciosas roupas, que / BARBAS-CAANS. Assim se no


a Roma se levavão, chamadas por meão em hum Doc. de Coimbra de
isso mesmo Barbaras , Barbáricas, 1372 aquelas fortificações, *#Oº
BA BA 179
hoje dizemos Barbacãas, e erão co ma desagradavel pintura, tratando
mo humas muralhas baixas que de os de barbas de bode, e costumes fe
fendião o fosso, que ficava entre el dorentos, soberbos, ambiciosos, hypo
las, e o muro, e por isso lhe cha critas , enganadores, vaidosos, arro
márão os Latinos Antemurale. Que gantes. Porém, semelhantes pestes
rem alguns, que esse nome seja Pu não entrárão já mais em Portugal,
nico, ou Carthaginez; mas saben onde sem razão lhes chamão Barba
do nós que só na Baixa-Latinidade | tos, não trazendo eles barbas com
he que se ouvírão os nomes Barba pridas, e onde a sua modestia, e
cana , Barbicana, e Barbecenus, fi gravidade os equivóca felizmente
ca-nos lugar a suspeitarmos, que por com os Religiosos, e Monges, que
alusão ás barbas de hum velho, bran verdadeiramente servem a Deos.
cas, prominentes, e compridas, que Pelos annos de 1 1 13 começou a
defendem , e são como antemural Ordem dos Barbatos, que erão Mon
do rosto , se disserão metaforica ges de barbas crescidas, e já no de
te Barbas-caans, as obras militares, 124o tinha 16o casas. Extendeo-se
que reforçavão, e defendião os mu pelos Paizes Baixos: muitos annos
ros, que são o rosto de huma Praça. ha que se extinguio. . .
BARBATA. Jactancia de pala BARBEITO. Vallo, Comaro,
vras, proferidas com arrogancia, in que divide huma propriedade da
sultos, ou ameaços. Lançando feros, outra , e igualmente a defende. E
roncos, e barbatas. E daqui Barba d'hi se forom atravessando bums bar
tear: lançar barbatas. Parece, que beitos , que bi estavão juntos com a
se deveria dizer Bravata, como de estrada. Instrum. de Partilhas de ter
rivado do Francez Bravade. He do mo entre Pinhel, e Castello Ro
Seculo XVI. drigo de 1473.
BARBATO. Assim forão chama BARBUDA. Moeda de Portu
dos , entre os Cartuxos, e outras gal do tamanho de 8o réis, ainda
Congregações de Monges, os Lei ue mais delgada. Lavrou-a El-Rei
gos, ou Conversos, que supposto # Fernando. Tem de huma parte
erão tratados na vida , e na morte huma Cellada com huma Coroa em
como Monges, não fazião com tu cima, e o peito de malha, e á ro
do a mesma Profissão, e para dis da esta Letra: Si Dominus mihi ad
tincção , trazião a cabeça inteira jutor, non timebo: e da outra par
mente rapada, e as barbas compri te huma Cruz das da Ordem de Chri
das, que lhe derão o nome de Bar to , que toma todo o vão , e no
batos, o qual os não fez tão des meio da Cruz hum Escudete com as
Preziveis, como a ordinaria insolen quinas, e a Letra: Fernandus Rex
cia dos seus costumes. No Exordio Portugaliae. Al. Erão de prata mui
da Ordem de Cister Cap. XV. se to ligada, e valião 2o soldos, que
lê: Tuncque definierunt , Conversos erão huma libra de 96 réis dos nos
Laicos Barbatos ex Licentia Episcopi sos; ainda que outros com mais pro
*ui suscepturos , eosque in vita sua, babilidade afirmão, que não valião
&º in morte, excepto Monachatu, ur mais que 36 réis, ou 2o soldos de
temetipsos tractaturos. O Chronicon 3 dinheiros. O mesmo Rei abaixou
Laurishamense nos deixou delles hu esta moeda a 14 soldos. Chamou
Z ii SC
18o BA BA
se Barbuda , porque assim se cha- se encaminhavão desde as partes do
mavão as Celladas, ou Capacetes da- Norte á Palestina.
quelle tempo: razão por que tam-º . BARGA. Pequena casa, cuberta
bem a estas moedas chamavão Cel-, de palha , cardenha, palhoça. Ap.
ladas. A occasião, ou motivo des-, Bergança. .
te Cunho, diz Severim nas Not. de BARGUEIRO. O que fazia re
Portug., forão as Barbudas de que, des de pescar, a que chamavão Bar
vinhão armados os Estrangeiros, que gas, ou Vargas. Caldeireiros, Bar
vierão ajudallo na guerra que fez queiros, Béesteiros , & c. Doc. da
contra Castella. Tambem no Secu- Cam. do Porto de 1487. V. Vargas.
lo XIII. se chamárão Barbudas os sol- BARIM. Buril, instrumento de
dados de pé, ou de cavallo, que º Ourives. Tres escudelas de prata
usavão desta especie de armamento: chaans, com os sinaaes do dito Vasco
assim como se chamárão Lanças, aos de Sousa, feitos ao barim. Instrum.
que dellas usavão. V. g., 3oo. Bar- de Pendorada de 1359. •

budas , 3oo Lanças. E finalmente, - BAROIL. O mesmo, que varo


para com os Monges de Sublago nil. Mulher baroil. He de João de
forão chamados Barbudas os grandes Barros. _
capuzes sem cauda, que os Novi- BARRACHEL. Termo antigo
ços trazião em lugar de Escapulario. Militar. Oficial, a quem pertence
BARCA Taverneira. Aquella, buscar, prender, e levar ao seu Ge
# traz vinho , para vender, ou neral os soldados desertores, e fu
entro da qual mesmo se vende o gitivos. Na baixa Latinidade Bari
vinho, como hoje se pratíca nas ta- gildus , e Barigellus : era o Capa
bernas. It : há d'avor o seu direito das taz , Principe, ou Cabo dos agar
barcas tavermeiras. Rol dos Direitos rantes, esbirros, ou quadrilheiros.
do Mordomado Mór de Gaia, nos Doc. Os Italianos ainda hoje chamão Bar
de Grijó. gelle : e os Francezes Barisel : ao
BARCADIGA. Barcada , carga Capitão dos esbirros. Deduzem al
que huma barca póde levar de hu guns Barigildus: de Barus, ou Ba
ma vez. Deziades, que os dizimeiros ro ; porque os Barracheis no seu
levavam das barcadigas das sardinhas principio e,ão homens de condição
mais ca deviam. Capitulos Espec. das ingenua, e servião de Advoga
Cort. de Santarem. Doc. das Bent. dos, e Protectores das Igrejas, que
do Porto.
por isto lhe pagavão certo , e an
BARCIA. No tempo d’El-Rei nual estipendio. Com o rodar dos
D. Afonso Henriques chamavão os annos decahírão da sua condição, e
Portuguezes Barcias ás náos; como honra , porque se abatêrão a hum
consta da Historia da Fundação do ministerio vil, e pouco honrado.
Mosteiro de S. Vicente de fóra da BARRAGAN. Panno de came
Cidade de Lisboa: Habuitgue in Co- lão. No de 892 fez S. Rosendo hu
mitatu suo electam virorum fortium , ma Doaç., que se acha em Yepes,
manum, ... in 16o navibus, quas Bar- T. V. f. 424. na qual se diz: Sex re
cias nominamus. E daqui se manifes- rgy Cardena : VII. barregam : PIII.
ta, que erão Barcas grandes, ou Náos Cardena marayce : IX, j'ermelia ex
Pequenas estes vasos de guerra, que agºg: &c. Mas ninguem se persua
da,
BA BA 18 |
da, que esta Barregana era de pêl sobredita ; dizendo , que os Vena
los das nossas cabras, e que della rios erão os Camponezes, ou do
fazião gala os mancebos guapos, a Verbo Venari: pela muita caça que
que os Hespanhoes chamavão Bar trazião á Villa , ou do Verbo Ve
ragan ; e que estes lhe derão o no nire : pela frequencia, com que a
me pelo uso, que della fazião. Os ella vinhão tratar, e decidir os seus
Arabes , e Persas chamão Bargana negocios. Mas, isto não passa de
a hum tecido de lã, que em nada suspeita: se ella he, ou não bem
se parece com a serapilheira, que fundada, o desejamos ouvir de quem
em Hespanha se usa, feita de pêl mais fundamentalmente discorrer.
los de cabra , e que só se empre BARRAZA, e Baraza. Armadi
ga nos defuntos da Misericordia. lha de fios, ou laços, com que se
BARRAGAO, e Barragãa. Com prendião, e caçavão os animaes feros,
panheiro , companheira , assim no e montarazes. No Foral de Cêa de
bem, como no mal. Com o tempo 1 136 se diz: o que matar algum vea
prevaleceo esta voz no sentido, em do in madeiro, aut in barraza det I.
que se toma Barregão. lumbum costal. E no de Ferreira d'Aves
BARRARIOS. No Foral que de 1 1 26. De venado, qui mortuo fue
El Rei D. Sancho I. deo á Villa de rit in peia, aut in baraza uno lombo:
Penamacor no de 1199 se determi de porco IV" costas: de urso uma ma
na: Venarij, & Barrari de Penama nu. Livro dos For.Velhos. De In ba
cor habeant unum forum; exceptis do raza parece se derivou a palavra Em
mibus Regis, Óº Episcopi. L. dos Fo baraço ; alludindo ao animal, que
raes Velhos. Que Barrarios estes fos estava prezo , \e detido a seu pe
sem, eu o não sei: presumo, que zar , para diferença do que estava
Serião os que moravão dentro da Vil desembaraçado, senhor de si, e li
la, e seus arrebaldes: e que os Ve vre de qualquer impedimento, ou
narios serião os que moravão no Cam empecilho. __
po, e Termo de Penamacor. Incli BARREGAA. Concubina, man
no me a isto, porque Barroderij: se ceba , mulher que procura filhos,
disserão Barri, seu suburbij incole: ou faz diligencia para isso, fóra do
e Barriani: são Castri incole, qui in Santo Matrimonio. Os filhos assim
Castri, vel Oppidi barris mansionem gerados se chamavão filhos de Guan
habent : e finalmente Barrium sepius fa, Gança, ou Ganbadia, como es
pro muris Civitatis usurpatur. Que purios, e ilegitimos. Alguns escre
cousa logo mais natural , # SC vem Barregão , e Barregão: homem,
tem julgados pelas mesmas Leis os ou mulher amancebados. Porém an
Habitadores de hum mesmo Terri tigamente se chamavão assim o ho
torio , quer estivessem na Villa, mem, ou a mulher, que estavão no
quer no Campo?... Não se me es vigor da sua idade. Ao amanceba
conde que tambem se disse Barra mento, e concubinato, chama a nos
rius: Telonarius, qui tributa ad bar sa Orden. Barreguice, e determina
º ras, seu portas, vel cancellos Civi no Liv. V. Tit. 28. S. V. que della
tatis , vel loci exigit. Mas então, se não accuse sem dar primeiro que
quem erão os Venarios ?... Fica, rella. Das Barregaans dos Clerigos.
pois menos violenta a interpretação V. a Lei de 27 de Maio de 1454.
2ÍIl
182 BA BA
Tambem Barregão foi Appellido em palavra ainda usão em Pinhel, e
Portugal, de que hoje se não faz Riba-Côa. Os Lapidarios chamão
uso, por haver prevalecido o abu Barroco a huma perola tosca, e des
so da palavra. Gonçalo Martins Cou igual, que nem he comprida, nem
tinho teve de Aldonça Fernandes dous redonda.
filhos: e esta sua barregãa casou de BASELICA. Palacio Real, Edi
pois com foão Ferreiro. Tombo do ficio sumptuoso, público, magnifi
Aro de Lam. f. 6. Y. An. 1346. co, adornado de porticos, naves,
BARREIRAS. I. Fallando-se em tribunas, salas, varandas, e no qual
liquidos, parece ser o mesmo que os Principes, e Magistrados davão
vestiduras, pois estas são as que ca audiencia ás partes , e lhes fazião
hem das bordas, ou barreiras do va justiça. Vem do Grego Basileus, que
so, por onde elles se medem. Pa significa Rei. Roma Gentilica vio
gareis vinte almudes de vinho mole 4 por todo o seu vasto Imperio in
bica, com suas barreiras. Doc. do numeraveis Basilicas, que erão pro
Sec. XIV. priamente outros tantos Tribunaes,
BARREIRAS. II. Campo, lu ou Casas da Camera, e Chancellaria
gar, ou terreiro, divisado com têa, nos seus Conventos Juridicos, onde
ou estacada , em que os Bésteiros os Povos hião ouvir a decisão das
se devião exercitar cada Domingo: suas Causas; e mesmo cada Con
alli devião jogar á bésta o vinho, celho tinha sua particular Basilica pa
e a fruta, estando presente o Ana ra, os seus Ajuntamentos, e Acor
del dos Bésteiros do Conto para os en dãos, e na qual se julgavão a final
sinar a armar, e atirar. Mando, que as Causas menores, e que não ca
vades com os ditos béésteiros cada Do bião em Appellação. Em Roma po
mingo áás barreiras, para os insinar rém houve , entre outras , quatro
des. Regimento do Anadel dos Bés Basilicas de sumptuosidade rara, e
teiros de 1497. Doc. da Cam, do extraordinaria grandeza das quaes
Porto. Jacob Lauro (no seu Antique Ur
BARRO. Lugar pequeno, quin bis Splendor da Ediç. de Roma de 1622)
ta, Aldêa, casa de campo, ou de nos mostrou a formosa Architectura
abegoaria. Vem do Latino Barrium, em bellissimas Estampas. Diz elle,
ou Varrium. Estes mesmos galinhei que, a I. Basilica, que naquella Ca
ros vaam aos barros, e filham huum pital se admirou , fora a chamada ",

capom , ou huma galinha , ou cabri Porcia, obra de Marco Porcio Ca


to aos moradores desses barros , que tão , á custa do Público, sendo el
am de lavrar, e fazer seu provejto, le Censor. Nesta fixárão o seu Tri
e leixa de lhe pagar logo os dinhejros, bunal os Tribunos do Povo. A es
e dalbe huma talha de fuste, &c. Ca ta se seguírão: a de Paulo Emilio,
pitul. especiaes de Santarem. Doc. em que ele gastou do seu dinhei.
das Bent, do Porto. ro , pela nossa moeda , 9ood)ooo
BARROCO. OS. Penedo , ou cruzados: a de Lucio, e Cayo, e fi
penedos altos, e sobranceiros ao nalmente a de Antonino Pio. Todas
valle , ou á terra plana , e assen estas. estavão, contiguas ás Praças,
te. Daqui Barrocal: lugar cheio de e mui reparadas das inclemencias do
penedos altos, e fragosos. Desta tempo; para que os homens de ne
Or()
go
BA BA 183
gocio, que as frequentavão com li ção, que D. Mumadoma fez no de
tigios, não padecessem o mais le 959 em honra do Salvador, e da San
We # , ainda no mais des ta Virgem, e tambem dos Santos Apos
temperado Inverno.Todas estas qua tolos, muitos Santos Martyres, Con
tro Basilicas estavão sustentadas pe fessores , e Virgens, cujas Reliquias
la parte de fóra sobre grandes, mui se guardavão na Igreja do seu Mos
tas, e formosissimas columnas, e teiro de Guimarães, se lê: Quorum
delas se aproveitárão os Architectos Baselica sita est in jam dicta Villa
Christãos para a soberba fabrica dos Kimaranes , territorio Urbis Bracha
nossos mais augustos, e sumptuo re, baud procul ab Alpe Latito, inter
Sos Templos. bis alveis vehementibus Ave, & Avi
A paz de Constantino M. trou zella. Doc. de Guimar. O mesmo
xe á Igreja o nome , e o uso das dictado de Basilica lográrão pelo mes
Basilicas. Não só concedeo aquelle mo tempo, e ainda no Seculo XI.
lmperador muitas aos Bispos, para os Oratorios de Lorvão, Arouca, Pe
que as consagrassem ao Culto do droso, e outros, como se evidencía
verdadeiro Deos , e lhes servissem dos seus respectivos Documentos.
de Igrejas, onde commodamente se Porém não só os Oratorios dos
podéssem ajuntar as suas Ovelhas Monges: tambem as Capellas, ou
(razão por que Basilica ficou sendo Altares, guarnecidos de Reliquias
Synonymo de Igreja) porém elle dos Santos, que nos mesmos Ora
masmo fez edificar á sua custa, além torios se fabricavão, se dissérão Ba
de outras, a grande Basilica Latera silicas. Não precisamos de reprodu
nente, que pela sua magníficencia, zir a Epist. III, de S. Jeronymo a
e ornato, com razao se arrogou a Eliodoro, na qual chama Basilicas
Primazia de todas , e foi chamada da Igreja, aos Cubiculos, ou Orato
a Basilica Aurea. Depois desta se rios , que depois se chamárão Ca
seguírão outras de admiravel fabri pellas, e que fazião parte das mes
ca, e hoje mesmo chamamos Basi mas Igrejas : , bastará lembrar-nos
lica á Igreja Patriarchal de Lisboa. da larga Doação, que o grande Ca
Mas nem sempre a magnificencia pitão Gonçalo Mendes fez ao dito
do Templo decidio sobre o nome Mosteiro # Guimarães da sua Vil
de Basilica; pois sabemos, que bem la de Moreira, na qual estava hum
# Edificios consagrados a Mosteiro de Religiosas, intitulado
eos se chamárão Basilicas. O eru
de Santa Tecla, em o qual havia
dito Mabillon subscreve aos que af innumeraveis Reliquias , deposita
firmão, que até o VII. Seculo nun das em particulares Nichos, Altares,
ca em França se chamárão Basili Capellas, ou Cubiculos , que alli se
cas as Igrejas Cathedraes, e Paro chamão Basilicas : quorum Baselicae
chiaes: é que só as Igrejas, ou Ora fundata cernuntur in loco nuncupato
torios dos Mosteiros gozárão daquel Morariae fundo, inter bis amnes utras
le Titulo. O mesmo podemos afir que Aves, sive & inter duorum Al
mar de toda a Hespanha, onde só pes Unione, ó Cabalorum montes, su
as Igrejas Monachaes, e nenhumas burbio Bragarense, baut procul a ter
outras se chamárão Basilicas antes do mas Calidas, & deorsum Ponte la
Sec. X. No Testamento, ou Doa pidea : id est, Sanctae Tecle Virgi
nts ,
184 BA BA
nis , & Martyris Christi, cum ce oblações, que servissem para recor
teris innumerabilium Relique Marty dar a sua memoria, e interessar no
rum, Apostolorum, Pontificum, Vir livramento das penas a sua alma;
ginum , vel Confessorum : Ego Exi pois se ali nada de preço se de
cuus Famulus Christi, licet indignus, positára, baldada seria a Lei, que
Gundesalvus, & c. Anno de 983. Ibi unia, a quem culpavelmente as rou
dem. No Seculo XI. era mui usado F"
chamar Baselicas a quaesquer Igre BASILICAS. II. Este nome se
jas , fosse Parochiaes, ou Mona deo á Collecção das Constituições
chaes. Na Doação de Formosindo Imperiaes, desde o tempo de Jus
ao Sacerdote Sandila, que está Ori tiniano até o Imperador de Cons
ginal em Pendorada , se declara, tantinopla, Leão VI. cognominado
que he de Baselicas , & de omnia o Filosofo, que as fez publicar em
sua rem, a saber : das Igrejas de Lingua Grega pelos annos de 888.
S. Salvador , de S. Pedro , e Santa Era este Imperador filho de Basilio,
Christina, e todas as fazendas, que e irmão de Constantino. Todos con
tinha in Villa Rial, terridorium Ene corrêrão para esta Obra, a quem em
Agia, subtus mons Serra sicca, discor Grego chamárão Basiliaeon, por ser
rentem rivulo Sardoira, crc. Doc. de o Imperador Basilio quem della pri
Pendorada do anno de 1o61. Se meiro formou o desenho. Tambem
undo os Canones da Hybernia Cap. lhe dérão o Titulo de Exicontobiblon,
XVI., que se achão no Specilegío que quer dizer Livro dividido em
de Acberí, T., IX. f. 4o. a ninguem sessenta partes, ou Collecção de ses
era permittido o sepultar-se nas Ba senta Livros.
silicar, (a que chamavão Basilicum De tudo o sobredito se collige o
scindere) sem especial licença do Prin fundamento por que ao Santo Titu
cipe, que era o unico, que nellas lar da Igreja, ou Basilica, chamá
se podia sepultar. rão Basilecus , aos que servião nos .
BASILICAS. I. Assim chamárão Palacios dos Reis , e Imperadores
os antigos Francezes a humas Ca da terra, e tambem aos Ecclesiasti
pellinhas, ou Nichos de madeira, que cos, que nos Lugares Santos ser
costumavão pôr sobre as sepulturas vião ao Rei dº "#### »
dos Nobres, pondo-se sobre as dos ou Basilicarios: aos demandistas, vís,
plebeos unicamente hum esquife, e trapacistas, que frequentavão com
ou tumba, ou hum pequeno cuberto: sordida avareza os Tribunaes Basi
assim consta da Lei Salica Tit. 58. liciarios: e isto porque os Impera
§ III., IV., e V.: qui tumbam, aut dores Romanos , e outros Princi
porticulum super hominem mortuum ex pes, fazião erigir os seus Tribunaes
polia verit... solidos 5. Si quis vero nas Basilicas, ou Atrios dos seus Pa
Basilicam super hominem mortuum ex lacios, onde davão audiencia, e fa
poliaverit., 3o solidis culpabilis judi zião justiça, ás partes. E finalmente º
cetur. Adivinhar agora o destino des aos que andavão nos Reaes Palacios
tes alpendres, Tumbas, e Basilicas: disserão Basiledes, ou Basilicos: es
eu me não atrevo : bem póde ser tes estavão promptos a executar, o
Suspendessem nellas algumas peças, que o seu Soberano lhe determinas
ou trastes do defunto, ou algumas se, que humas vezes os constituia
SCUlS
*

BE BE 185
Embaixadores, ou Inviados, outras ferior da Justiça, Oficial da vara,
lhe commettia a decisão, e Judica bedel, porteiro da maça. Daqui se
tura de certas causas, &c. mas sem disse Bastonico: o carcere, ou rigo
re era honorífico o seu emprego. rosa prisão , por nella se guarda
BASTIAAENS. Certos lavores rem os que os Bastomarios prendião.
de figuras , levantadas em prata, Do Latino Bastum: que tambem si
ou outros metaes. Dizem que se lhes gnifica o bordão, ou bastão, he que
deo este nome , por ser o de tres esta palavra traz a sua origem. Acha
irmãos ourives, e excelentes artifi se esta palavra na Carta de Foro,
ces, que se chamavão Bastioens Qua que El-Rei D. Afonso VI. fez pas
torze taças delas douradas, e obradas sar no de Io91 para segurança dos
em bastinaens , e delas em esmaltes. Judeos , e Christãos de Leão. V.
Doc. de Pendorada de 1 359. Nes Hesp. Sagr. T. XXXV. f. 412.
te mesmo Documento se acha Bas BATALHA. Assim chamavão an
tiaaens. •

tigamente a todo o corpo de hum


BASTIDA. Era na Milicia an exercito,e constante
centro, retaguarda.de vanguarda,

tiga huma torre de madeira , que


igualava, ou excedia a altura dos BATEGA. Hoje chamão os rus
muros inimigos, para della atirarem ticos Batega de agoa: a hum gran
os Pésteiros. Tambem se chamátão de, e cerrado chuveiro, que lança
Bastidas as trincheiras, ou pallissa agoa, como se fosse a cantaros, ao
das, com que se defendião os lu que os mariantes chamão Aguaceiro.
gares, e os exercitos. E finalmen Donde esta palavra se derive não es
te forão chamadas Bastidas, não só tá averiguado. De Bateada, que he
todas as fortificações , reparos , e huma gamella de páo, com que nas
barreiras , que servião a ofender, minas se tirao os metaes , mistura
ou defender ; mas tambem se deo dos com a terra, e pedras: ou de
o mesmo nome a huma balsa , ou Batica, que na India he o nome,
jangada de muitos páos prezos, e que se dá á Bacia : ou do Arabi
ligados entre si, Mendou fazer_bu co Bateja , que significa prato co
ma Bastida. Vida d’El-Rei D. João vo, tijella, ou sopeira, á semelhan
I. Part. I. Cap. LXIV por Lopes. Hu ça de gamella: podemos suspeitar,
ma bastida de páos, a modo de jan que esta voz se transferisse para o
gada. Goes f. 7o. Os Francezes di significado presente.
zião Bastille , e he bem célebre o - BATUDO. São mui frequentes
Castello da Bastilha junto a París, nos Prazos antigos estas expressões:
que Carlos V. Rei de França man Campa tanjuda : Campa tanjuga : E
dou edificar no de 1369 para de quando havia Interdicto: Malho ran
fender a dita Cidade das invasões jugo: malho tanjudo: malho batudo ,
dos Inglezes. Constava de torres, fos é c. V. Malhos, e Tanjuga.
sos , e baluartes, e destinado de BAUILIO, e Bauilia. Commen
pois para segurar os Inconfidentes, dador, e Commenda. No de 122 r
forão quebrados os seus carceres na fez El-Rei D. Affonso II. huma De
fatal XVI.
Luiz que tirou a vida a claração com D. Mendo Gonçalves,
Revolução, •

Prior da Ordem do Hospital , so


BASTONARIO. O Ministro in bre os 14@ooo Aureos velhos , e
Tom. I. Aa 19305oo
186 BE BE
19@5oo soldos de pipinionibus , e tes Caseiros vinte maravidiz ao Prior, #
dois marcos de prata, menos onça e Conegos, que os fizerão quites,
e meia, os quaes erão dos "obooo e livres: De totas calumnias, Óºto
Aureos, que seu Pai lhe deixára em tos servitios, Óº de portadigos; (ni
Testamento: o qual dinheiro (que si merda in boca, aut reuso, aut bo
era a décima parte do Thesouro, micidium, aut furto sabido; quonodo —
que herdára) deo a guardar ao di non perca casa a romper, Óº beber
to Prior, para se dispender no Claus aquas, Óº montes, perubi potuerit.)
tro, que se havia de fazer na Sé Si autem exierimus istum plasum, é c.
de Coimbra. Por este Instrumento Doc. de Moreira. Parece quiz di
que se guarda na T. do T. o Prior zer o Direito Senhorio, que sup
se obriga a satisfazer tudo; hypo posto os ditos Caseiros cahissem em
thecando todas as rendas, que a Or alguma das 4 bem sabidas Coimar,
dem tinha no Reino, e obrigando ou delictos, de tal sórte serião cas
se a que todos os Bauilios déssem tigados, que nem se lhes arrasas
Recabedum unusquisque de sua Baui sem as casas da sua vivenda, nem
lia... de omnibus redditibus ipsarum se lhes prohibisse a Agoa, e o Fo
Bauiliarum, isto he, que entregas go; mas antes, que podessem be
sem aos Oficiaes ## o fiel Re ber, e utilisar-se das agoas, e co
cibo das rendas, que tinhão cobra lher lenhas pelos montes, e por on
do, para mais facilmente se embol de podessem, para efeito de se uti
sar o dito dinheiro. Igualmente se lisarem do fogo ; ficando em tudo
obriga o dito Prior a dar Maravi o mais sujeitos á Lei, que rigoro
dis velhos por aquelles, que se achá samente punia os taes delictos com
rão ser dos novos, e que ele já ti demolição de casa, e interdicto dos
nha despendido. E finalmente de dois elementos. Doc. de Moreira.
clara o Rei , que dos sobejos se BEEITA. Benta; nome de mu
comprem bens de raiz, para a fabri lher. Doc, de Vayram de 1289.
ca, e reparos do dito Claustro, e Sé. BEEITO. Bento : nome de ho
BAYANCA. O mesmo que bar mem. Doc, das Bentas do Porto de
ranco, cova , ou quebrada de ter 1292.
ra, a modo de vallado de ambas as BEHETRIA. Povo livre, que
partes, que quasi sempre está hu póde escolher Senhor todas as ve
mida , como preza de agoa. Como 2es que quizer. Do que erão as Be
se vay á bayanca, que chamam a pre hetrias , e os seus Privilegios , já
sa de Maria Sayda, a fundo. Doc. usados desde o principio da nossa
de Pendorada de 1298. Monarchia, e em que diferião dos
BEBER Agoas. No de 1 17o em Coutos, e honras, se póde vêr a
prazou o Mosteiro de Moreira a Paio erudita , e larga Memoria de José
Garcia, e a sua mulher Maria Ar Anastasio de Figueiredo nas Memo
gimiriz hum Casal em Villa Nova, rias da Acad. R. das Sciencias. T.I.
o qual, por morte de ambos, tor f. 98. V. Benefactorias. Tambem se
naria ao Mosteiro, que seria obri escreve Beetria, e Beatria, ou Byatria.
gado a manter, e vestir ao que fi BEIÇOAIRO, e Bençoairo. Li
casse viuvo, se no dito Casal se não vro, ou rol dos bens, que por Tes
podesse sustentar. Havião dado es tamentos, e Doações forão deixa
?
…"

BE BE 187
dos , ou por outro qualquer justo outra, e or Clerigos que as curão, e
titulo adquiridos. Doc. da Sé de La servem levão outra, com as ofertas,
mego do Seculo XIV. e mortuorios : E isto porque El Rei
BEITO. O mesmo que Bento
encartou o Concelho em todo o Rega
nome proprio. Daqui se # O lengo, que tinha em Bragança, e seus
Patronimico Beites. V. g. Stevam Bei Termos, e Lampaças; com condição,
tes. Esrevão, filho de Bento. Sec. que povoassem os Villares antigos, que
XIV. •

estavão despovoados, e que delles lhe


- BELEZA. Nome de mulher. Item: pagassem os foros
, que lhe erão de
mando a Beleza foannes V. maravidis. vidor. Porém o Concelho até este tem
Doc. da Guarda de 1 299. po (das Inquirições) os não tinha po
BELITAR. Habilitar para entrar voadº; porque as Ordens Militares,
na herança , &c. Daqui Belitação, e o Mosteiro de Avellãs lho impedião,
e Belitado. Hei os reos por belitados com o pretexto de que tinhão Direito
pera o seguimento desta causa. nos taes Filiares, e que pelo uso erão
BEMDADO. Por bem nascido, seus. E que Villar de Paradinhas fó
de familia honrada , nobre, distin ra da Coroa, & quod levabant in
cta, e mesmo de bons costumes, Nom de paradam ad Hominem Domini Re
filhará por Vassalos, salvo Fidalgos, gir , qui tabat in Alvelina , ante
e Bemdados, que o mereçam de freer. quam Willa de Bragança esset popu
Cortes de Lisboa de 1439. lata. Assim consta do extracto das
BEMFEITORIOS. O mesmo ditas Inquirições, que se guarda no
que Bemfeitorias , que o Emfiteuta Archivo da Camera Ecclesiastica de
tem obrigação de fazer. Doc. das Bragança. Alli mesmo se guarda
Bentas do Porto de 14o I. hum Livro extrahido da Torre do
BEMQUERENÇA., Afeição, Tombo no de 1485: nele se acha
amor, e boa vontade. Doc. de La o escambo, que El-Rei D. Sancho
mego do Seculo XV. I. fez com o Mosteiro de Castro de
BEMQUERENÇA. Este era o Avellãs, que lhe dimittio a sua her
nome, que primeiramente se deo á dade que tinha em Bragança cha
Killa de Bragança , por ser o mes mada a Bemquerença, e recebeo da
mo, que antes tinha o terreno, quin Coroa a Villa de S. Gião, e a Igre
ta, ou lugar, em que El-Rei D. ja de S. Mamede com seus Termos,
Sancho I. a fez de novo construir; que alli demarca, e couta, e exime
havendo dado ao Mosteito de Cas os seus habitadores de pagarem Por
tro de Avellás as Villas de Pinelo, tagem : In Civitate Bragancie , nec
e Santulhão em escambo, e troca pe in suo termino. Feita a Carta na E.
las terras, que fazem o assento, e M. CC. XXV., que he anno de
arrebaldes desta Villa. Das Inquiri Christo 1 185 , confirmando entre
fões d’El-Rei D. Afonso III, na Fre outros Pedro Fernandes, que tinha
guezia de S. Vicente de Vimioso , e a Terra de Bragança. Daqui se vê
nas da Freguezia de Santa Maria de que as testemunhas da Inquirição
Bragança consta: que o Concelho de não estavão certas da formalidade do
Bragança abada as Igrejas de Bragan contracto, e só conformão em o no
fa, e não a Coroa : E o Arcebispo deme da Herdade , que foi trocada,
Braga leva huma terça, e o Concelho e no destino da troca, que era a Fun:
Aa ii • da

*
188 BE BE
dação de huma nova Povoação, e Rea lo, (mas em quanto não temos me
lenga na Terra de Bragança. lhores fundamentos, suspendemos o
Daqui se manifesta a pouca ex nosso juiso. Entre as Cidades, Con
acção, com que se escreveo que D. celhos, ou Comarcas , que perten
Fernão Mendes de Bragança , ca cião á Chancellaria , ou Convento
sado com a Infanta D. Sancha, filha Juridico de Astorga era huma a dos
legitima do Conde D. Henrique, achan Astures Augustanos , chamada Bri
do arruinada esta Villa a reedificá gancio. Porém neste mesmo Depar
ra, e que El-Rei D. Sancho I. a tamento se não incluião os Zoelas,
fizera povoar de novo; pois do so de quem se lembrou Plinio L. IV.
bredito se collige que neste sitio C. III., e L. XIX. C. II. E o Ab
não havia Povoação alguma. E nem bade Baudrande no seu Lexicon Geo
de ter Fernão Mendes a Terra de grafico diz: Zoelae Populi Hispanie
Bragança se podia inferir, que el Terraconensis in ora Asturum , quo
le se applicasse a esta Fundação; rum Urbs Zoela. Ao lado da Epis
sendo possivel, que ele residisse tola do Altar Mór da Igreja de Cas
em outra parte, como ao depois os tro de Avellãs, em huma Lapide.
seus Duques fizerão , que ordina Romana de quatro palmos de al
riamente residião em Villa Viçosa, to, e dois e meio de largo se lê a.
e hoje praticão os nossos Titulos, Inscripção seguinte:
ue nenhum reside nas Terras, que
lhes derão. E o mesmo Fernão Men D E O
des parece mesmo, que assim o pra
ticou; applicando-se a fundar o Cas A/E R N O.º.
tello de # , de que fez Doa O R D O
ção aos Templarios no de 1 145 (que
se guarda Original em Thomar) na Z O E L A R.
qual diz: Facio Cartam Testamenti... E X V O T O.
de Castello meo, quod populavi in Ex
trematura : Óº illud Castellum voca
tur Longrovia, babetguejacentiam in Ora não he de crêr, que esta pe
Territorio Bracharensi Metropoli, in dra fosse adduzida de muitas leguas
ter illud Castellum, quod vocatur No de distancia para este sitio: portan
mam, & aliud, quod dicitur Marial to devemos presumir, que os Zoe
ba, é º fiuvium, qui vocatur Coa. V. las, de quem aqui se faz menção,
Tempreiros. habitárão não longe deste lugar. E.
Não negamos com tudo, que jun sendo certo, que na mininº
to ás margens do Rio Sábor, e não dos Hespanhoes sempre Briga signifi
muito longe de Bragança, se achão cou Cidade: fica natural se dissesse
ruinas de Povoação antiga, (que di Zelobriga, ou Celiobriga esta Cidade,
zem era a Cidade de Brigancio no ou notavel Povoação dos Zoelas: e
tempo dos Romanos, e que allinas que esta nos ofereça ainda alguns
cêrão os Santos Mădă e Pau vestigios não longe do Sábor. (a)

(4) Os Asturianos (que tomárão o nome do rio Astúra , hoje Ezla, que se mette
no Douro) se dividírão em Agustamos, e Transmontanos. No Tom. XXXVII. da Hesp.
sagr. Cap. II, se faz individual menção dos Zoelas, dizendo que, erão Astures Trans

&
BE BE 189
Como quer que seja, no tempo querença : a Villa em fim compu
dos Godos, e dos Reis de Leão nha-se dos que moravão na Cerca
a terra de Bragança foi governada por do Castello, ou nos seus arrebaldes
Condes, e outros Grandes Senho fóra da dita Cerca. Isto se eviden
res. No tempo d'El-Rei D. Afon cía , não só do escambo, de que
so Henriques não havia Povoação acima se falou, no qual se distin
alguma , que se chamasse Bragan gue o Termo , da Cidade ; mas, e
fa, onde hoje a vêmos, como bem principalmente do Foral, que logo
se collige da Doação do Couto, no de 1187 o mesmo Rei lhes deo,
que este Monarcha fez ao Mostei o qual se acha no L. dos Foraes Ve
ro de Castro de Avellás , no de lhos, e a sua Traducção do Seculo
1144; pois nomeando os seus limi XIII. se acha na Camera de Bra
tes entre o Monte Togia, e o Rio gança , em pública fórma , (mas
Sábor , se não faz menção alguma com o insanavel erro da data no de
de Bragança que hoje se acha en 1182 quando D. Sancho ainda não
tre estas duas balizas. D. Sancho
governava, nem tinha adquirido a
porém , Senhor já de Bemquerença herdade da Bemquerença) as suas for
tratou logo da projectada Colonia, maes palavras são estas:
dividindo-a entre Villa , Cidade , e Esta be a Carta de Foro, que eu
Termo. O Termo forão os antigos D. Sancho.... fago a vos pobladores
limites da Terra de Bragança, em da Cibidade de Bregança, áquelos que
que havia diferentes Julgados, ou som , e que an de veir por sempre.
Concelhos: a Cidade comprehendiaDaimos a vós, e outorgamos por fo
os pequenos Povos, e Lugares, que
ro, que todo morador da Cibidade de
pertencião á nova Camera de Bem Bregança , que fillos ouver non reia
4/1/1

montanos, e que estiverão situados á parte occidental das Asturias , perto de Galiza,
onde existio a Cidade Zoela, que lhes dê o nome no territorio, que hoje he da Dio
cese de Oviédo. Ali mesmo reproduzio huma larga Inscripção , que achada em Hespa
nha em huma taboa de cobre, foi levada a Italia, e na qual se contém duas Tesseras,
Instrumentos, ou Cartas de boa fé , e clientela , hospitalidade , protecção , e amparo ,
contratadas entre algumas Familias dos Zoelas, e outras dos Augustanos.,AI, foi estipu
lada na Cidade de Curunda no anno de Christo 27, e a II. na Cidade de Astorgº no de
151. Daqui se manifesta , que nestas duas Cidades havia Zoelas, que como estrangeiros
na terra precisavão daquella protecção, e amisade para com os naturaes do Paiz. Ora to
dos sabem, que para com os Romanos as differentes classes de Pessoas, Oficios., Mi
nisterios se chamavão ordens: v. g. a Ordem Equestre, a Ordem dos Tribunos, do Pu
blicanos, dos Artífices, dos Negociantes; é c., Parece logo, que as Famílias dos Zoelas,
que nas ditas Inscripções se nomêão , além de ºutrºs muitas? de que não temos noticia,
residirião nas Cidades dos Augustamos por occasião de Commercio, Artes, Oficios , Mi .
nisterios. He logo bem de presumir, que no Sitio º ºu Arº de Bragança existio alguma
Cidade, na qual a Ordem dos Negociantes , ou Artistas dos Zoelas , dedicárão aquela
Memoria a Plutão, que era o Deos dos Infernos, e tambem das riquezas; e por isso se
deve lêr Avernor... e não Aerno. E nem a cautela, que depois se teve em suPPrimir º
P. da II. linha, basta a persuadir-nos, que aqui se fala dº Deos Eternº em sentido Ca:
tholico; pois na Lapide se descobrem vestigios do X. ligado com o A., cousa trivial na
quele tempo, como se póde vêr V. Alcobaxº, º Carí4. E o mesmo dizemos, do II...R.
Era o Averno hum lago da Campania, junto a Baias, chamado hoje Tripergola. Os An
rigos o dedicarão a Plutão, persuadidos que elle era º Porta do Inferno , e os Poetas
o tomárão pelo mesmo Inferno: as suas exhalações sulfúreas "partão dele todas as aves,
cahindo mortas as que sobre as suas agoas chegão a vôar ; e Por issº º chamou Aver
no, isto he, sine avibni.
19o BE BE

maneiro: quer seia o filio morto, quer la era Cidade: e assim no Foral, que
vivo. E moradores de vossa Villa, que tem ella he nomeada por Cidade: e de
hi herdades ouverem, livremente as pos pois se despovoou: e quando se tornou
suyam, assi que nom seiam romerudas a redificar ficou Villa; pois desta des
em poder de Sayones, nem de juizes. truição, e reedificação nãoo.appareSabe
E barones de vossa Cibidade sirvam a ce o mais leve Doeument
quem quiserem, convem a saber, Rei, mos sim que no de 1 199, e no mez
ou Conde , ou Infançoens... Servos, de Maio já El-Rei D. Sancho I. a
e homiziaes, e adulterios, que á vos tinha hido livrar em pessoa do ataque
sa Villa veerem morar, sejam livres, com que o Rei de Leão a procurou
e engeos... Moller viuda, que com al destruir; e que no Codicillo, que
gum ome, que nom for de vossa Kil o mesmo Rei fez no de 1181 ao
Ja morador, ouver entença, em vossa partir para a Conquista do Algar
JVilla aia seu iajzio... Homeens de vossa ve (o qual se guarda na Sé de Vi
Tilla non den portage em vossa Villa, seu se lê o seguinte : Et in muros
nem em seu termino ... E se morador de Coviliana, Óº de Benquerentia, Óº
da vossa Villa , Órc. Pobradores da de Couna, dº de Coluche, LXXXXV.
vossa Villa... E se peom da vossa milia , º triginta quinque solidos,
Pilla... Nengum pobrador da Cibi Cº pipiones... Adjicio preteres , ut
dade de Bregança em todo meu Reino totum illud babere de Vimaranes, (quod
nom dia portage. Damos de mais dá tenent Priores, Ó Villanur, Óº Gon
Cibidade de Bregança , e aos pobra disalvus de Rochella de militibus, qui
dores della, todo Bregança, e Lam mihi non servierunt) & de Castello
paças, com seos terminos, &c. Des de Vermuj, & de Penafiel, Óº de Ben
te modo vai entresachando os no viver, Óº de Laioso, expendatur in
mes de Cidade, e Villa, dando gran constructione murorum , & munitio
des Privilegios a todos os morado num de Benquerentia, Óº de Covilia
res, porém mais amplos aos desta, na, Óº de Coluche, Óº de Couna.
que aos daquella. Já agora se não persuadiria Bran
dão no Tom. V. da Monarch. Lusit.
No tempo d’El-Rei D. Afonso
III, já em todos os Documentos ap L. XVI. Cap. XLVII, que nunca em
parece Bragança com o Titulo de terra de Bragança houve Herdade
Yilla, e mesmo no Foral, que el chamada a Bemquerença , e que á
le deo ás Aldêas de Bragança para mesma Villa se désse este nome. Boa
regular sómente a cobrança dos Di gente se engana.
reitos Reaes, no de 1253. De sor BEMSILHO, e Vencilho. Liga
te, que he bem para admirar, que dura , vencelho , atilho. Vem do
no Alvará d'El-Rei D. Afonso V., Latino Vincire : atar, unir, ligar,
dado na Cidade de Ceuta a 2o de apertar. Faz-se de vergas, palhas,
Fevereiro de 1464 a instancias de juncos, cordas, &c., e com ele se
D. Fernando II., Duque de Bragan atão, e segurão as cousas, que sem
ça, pelo qual faz Cidade a Villa de elle se espalharião. Hum bom feixe
Bragança com todos os Privilegios, de palha triga de tres bem silhos. Doc.
e liberdades que tem as mais Cida das Bent. do Porto de 152o. E alli
dades do Reino, se diga: ouvemos mesmo no de 15 co: Hum feixe de
certa informaçam que antigamente el palha de tres vencilhos. Estes Vence
lhos
BE : BE 19 r
/ho devão ser atados huns nos ou za dos que menos a servem, e que
tros para terem maior comprimento. mais escandalosamente vivem na Ré
Na Beira se diz ainda hoje Venci publica. Em Portugal se chamárão Be
/bo, e náo Vencelho. •

"ºficios as Mercês Reaes de algum


BENÇAO da barba, V. Barba, Reguengo, e outros quaesquer Di
BENEFACTORIAS. O mesmo, reitos, e bens da Coroa feitas a pes
que Benfeitorias. Em alguns Doc. soas leigas, e seculares. Algums Fi
de Hespanha se acha Benefactorias dalgos mandavão polos fulgador , e
por Bebetrias. Oihenart em a No Lugares, bu elles tem suas herdades
tícia de Vasconia, f. 48 diz, que Be de seus benaficios, seus mesegeiros, &c.
letrias vem de Beretiriac, que quer Doc. de Pendorada de 1385.
dizer Cidades suas, ou de seu Di BENICIO, ou Benissimo. O mes
reito. Ou tambem de Bet-iriac, que mo XV.Ab initio. Doc, de Grijó do
Sec. que •

quer dizer Cidades pequenas , e


postas em lugares baixos, e remo BENISSIMO. V. Benicio.
tos, e principalmente internadas nos BERTHOLESA. Nome de mu
montes asperos , em que se usava lher.
de Castellos para a sua defensa; fi BESTA travada. O mesmo que
cando as Povoações no recosto, ou besta peada. If : mandamos, que to
plano dos montes. E que segundo da besta travada, ou peada, que en
alguns, Castella, onde muito se trar em almuya, ou em orta, ou em
usou destas Bebetrias, tomou o no agro albeo, que nom peite cooiiiba;
me dos Castellos, que a defendião. mais corrego a dano, que fezer a seu
O particular distinctivo das Bebe dono. Posturas d'Evora de 1 318.
trias, era, mudar de Senhor, quan BESTA. Pequena máquina mili
do muito lhes aprazia. Acabárão en tar , com que se atiravão Settas. He
tre nós as Bebetrias pelos fins do Se diminutivo de Balista, que antiga
culo XVI. mente era huma máquina bellica,
BENAFICIO. Beneficio, Pres que despedia, e arremessava pedras
timonio, Mercê, tença, ou pensão mui grossas, com que se desmante
certa, annual, e vitalicia, que en lavão, e demolião os muros, e tor
tre os Romanos se dava, e estabe res. Entre os Romanos não foi ig
lecia do Erario público ao soldado norado este Marcial Instrumento, a
benemerito, e que tinha a sua pra que chamárão Balearis funda, e de
ça clara , e certidão authentica de pois Balearis machina, Baleare Ins
ter servido bem a Républica: a es trumentum, Arcus Balearis, e Balea
tes taes soldados chamavão Milites ricum Tormentum; não sei se toman
Benificiarij. Com estas mesmas con do este nome do Verbo Grego Bal
dições passárão os Beneficios do Se lo. is: atirar com força , arremeçar
culo para a Igreja, já no Pontifica com impeto; se da Baléa, ou fun
do do Papa Symacho , quando se da, de que usavão, e em que erão
principiárão os Padroados. Ao prin incomparaveis, os naturaes das Ilhas
cipio erão os Beneficios Ecclesiasticos Malhorca, e Minorca, que por esta
a justa recompensa dos bons servi prenda dos seus Habitadores se disse
ços, feitos á Igreja: hoje, por nos rão Baleares. Esta Máquina menor, ou
sos peccados! são muitas vezes a pre Arco de atirar settas, bem assim co
IllO
192 BE BE
mo a Balista, sendo susceptiveis de BESTEIROS de fraldilha:
muita perfeição, tambem o forão de BESTEIROS do mar.
outras tantas fórmas, e figuras, e por BESTEIROS do monte. V. Cod.
conseguinte de muitos nomes, que Afonsino. Nas Cortes de Lisboa de
se podem ver nos Authores , que 1498 extinguio El Rei D. Manoel
dellas tratárão, assim como das ou os Aconthiados, e Bérteiros, tanto os
tras Peças, e Armas, de que já o do Conto, como da Camara, e to
tempo nos invejou o conhecimento, dos os Oficiaes Maiores, e meno
e o uso. Os quadrellos, que as Ba res, que delles tinhão cargo; dei
listas disparavão, além das pedras, xando só os Bérteiros do monte em
erão huns garrochões, ou mui cur alguns lugares da Beira alta, Alem
tas, e grossas lanças de quatro qui Téjo, e no Reino do Algarve, com
nas, ou faces: e daqui tomárão o hum só Anadel Mór.
nome. As Bestas porém só despe BESTEIROS do conto. No de
dião settas. . . 1379 deo El-Rei D. Fernando hu
BiºSTA de garrucha. Aquella, ma Real Profissão para o Amadel, e
com que se atiravão garrochas, vi Bésteiros do conto da Cidade do Por
rotes, ou virotões, já de ferro, já to, e seu Termo, e para os de Vil
de páo, com farpas, ou sem ellas. la Nova de Gaya. E no de 138o
De huma Carta d'El-Rei D. João mandou apurar todas as vintenas dos
I. de 141 o consta, que aos de Frei homens do mar , e os Bésteiros do
xo de Espada-Cinta se mandou, que conto ; declarando , que se alguns
tivessem Bésta de garrucha, e solhas, destes, a quem se tinhão lançado ar
e gorgilim. Doc. de Freixo. V. Solhas. nezes em lugar de béstas, os não ti.
BESTA de bodoque. Aquella, vessem , tornassem a ser postos por
com que se atiravão balas de barro. Bésteiros. No de 1391 consta por
BESTA de pelouro, a Que tam huma Carta d'El-Rei D. João I.,
bem chamavão Escorpião. Com ella que no Porto não devião passar de
se atiravão balas de chumbo. 25 os Besteiros do conto , visto que
BESTEIRO. Soldado armado de alli se fazião outras apurações de bo
bésta, e que com ella peleja. Or mens de vintenas do mar, Cavalleiros,
dinariamente hervavão as settas, un piões , e arricaveiros. E finalmente
tando-as com hervas venenosas, prin no de 1 392 se passou Carta de Ana
cipalmente com o Elleboro, ou Va del das gentes de cavallo, piões, bés
ratro negro, que por isso em Por teirºs, e arricaveiros a Diogo Afonso.
tugal lhe chamão Herva-Bésteira. No Doc. da Cam. do Porto. El-Rei D.
tempo d’El-Rei D.João I. havia mui João I, eximio os moradores do Burgo
tas especies de Bérteiros : eis-aqui de Santa Clara de Coimbra de hirem
algumas. á guerra, não sendo Bésteiros de con
BESTEIROS de polé. Assim se to, ou Vintaneiros do mar. Doc. des
chamavão os que usavão de bésta, te Mosteiro.
que tinha huma roldana, a que an Chamárão-se de conto; porque usa
tigamente chamavão polé. vão de piques , ou lanças ferra
BESTEIROS da Camara. das. Levaráõ os piques de modo, que
BESTEIROS de cavallo. o conto fique direito da curva dos sol
BÉSTEIROS de garrucha. dados, que vão diante. Vasconc. Ar
te
BI BI 193
tc Militar f. 126. E tambem pode BEIÇOM. Benção. He do Secu
mos suspeitar que se disserão do con lo XIII., e XIV.
to, os que erão do número, que de º BIFFA. Retalhos de falsas laas en
via haver em cada Terra, Cidade, pedaços, similhavis a bifas, XXI. al
Villa, ou Commarca promptos, e nas. Doc. de Pendorada de 1359.
aguisados; pois só estes erão da Tró Assim foi chamado hum panno de
pa regular, e efectiva, e entravão lã, que era enfestado por ambas as
na conta , ou resenha das praças, partes. Vem de Bifax: duos habens
que compunhão os nossos Regimen obtutus; porque tambem este pan
tos naquella parte, que de bésteria no tinha duas caras.
se augmentavão. BIGUINOS, ou Beguinos. São
BESTEIROS. Gentes, que ha muitas, e mui várias as opiniões so
bitavão no Territorio de Viseu, on bre a etymologia deste nome, que
de hoje chamamos Val de Bérteiros. se deo a humas sociedades de ho
No Seculo X. , XI., e XII. temos mens, e mulheres, que talvez não
Documentos Originaes, em que se principiando com máo espirito, bre
lê: Terra de Balestariis. A causa des vemente declinárão em quasi toda a
te nome, e que Balistas fossem, as Europa para mil hypocrisias, erros,
de que eles usavão, só advinhan e fanatismos, que com razão forão
do se poderá dizer com acerto. condemnados nos ConciliosViennen
BESTERIA. Soldados armados ses, hum de 1166, e outro de 131I.
de béstas. Sabirão a escaramuçar com Huns dizem , que Begga, mulher
boa bestéria. Chron. d'El-Rei D. de approvados costumes, e irmã de
João I. Santa Brisida, instituio a Irmanda
BETAR. Matisar , fazer sahir de de humas mulheres , que em
melhor huma côr a par de outra, Flandes, Picardia, e Lorena vivião
raiar com galhardia, ficar bem, fri juntas, mas sem obrigação alguma
sar, concordar. Nos mais altos béta de votos: e que o nome da Insti
grandemente a bumildade. He de Hei tuidora passára ao Instituto. Dizem
tor Pinto. outros, que o A. destas sociedades
BEVERAGEES. O vinho, que fora Lamberto Le Begue (isto he o
cada hum tem para gastos de sua Gago), Sacerdote irreprehensivel,
casa, amanhos, culturas, lavores, do qual tomárão o nome as Begui
e adubos das suas propriedades, e nas. Nós deixando estas origens, e
fazendas. E ainda as beveragees que outras ainda mais mal fundadas, di
os homees teem pera despessa de suas zemos, que do Alemão Begger; men
cassas, e gasto de sseos beõs. Cap. digar , pedir esmola de porta em
especial das Cort. de Santarem de porta se chamárão Beguinos; pois en
1451 para a Camera de Viseu, que tre os mais absurdos não lhes falta
muito se queixou de lhes serem lo va o da ociosidade, não pondo mão
go no começo do anno varejadas to em cousa alguma, e propondo-se
das as adegas, cubas, e pipas, e lhes viver a prazer, e unicamente á custa
serem feitas outras pesquizas pe alheia. Nº de 13o2 se chamavão Be
lo Contador d’El-Rei, em feito guinos os Religiosos Leigos, ou Con
de vinhos. Doc. da Cam, de Vi versos de S. Domingos, e S. Francis
SCU. co, que se occupavão nos peditorios.
•Aca
Tom. I.
194. BI BI
Acabando de se corromper este ta a seguinte passagem : Sendo eu
modo de vida livre , inconstante, Monja professa do dito Mosteiro, e
ocioso, e sem obediencia a superior depois Canonicamente instituida por
algum, e inficionado com as abo Abbudessa delle, e regendo, e gover
minações dos Waldenses, Fraticellos, nando por muitos annos, e tempos co
Pobres da vida pobre , Apostolicos, mo Abbadessa : O Bispo D. João, que
Frades Pobres da Terceira Ordem de ora be de Viseu, me lançou violenta
S. Francisco, a sua desordenada con mente fóra do dito Mosteiro, esbulhan }
ducta foi descoberta no de 1315, e do-me, e forçando me delle, e pondo
muitos delles forão queimados pe hi Clerigos Biguinos de Villar de Fra
los Inquisidores da heretica pravi des. E eu como mulher prove, e des
dade. # em França, as suas acorrida, e nom tendo cemo requerer
casas forão applicadas, principal meu feito, nem ousando contra o Po
mente ás das Beguinas, e ás verda derio do dito Senhor , nem dos ditos
deiras Terceiras de S. Francisco. Em Clerigos , antes com vergonha, min
Hespanha conservárão por mais tem goa, e desemparo me fui por esse mun
po o bom nome, e salvárão as ap do, & c. Doc. de Reciam no Con
parencias do seu caracter. No tem vento de Santa Cruz de Lamego.
po de S. Vicente Ferrer havia alli E alli mesmo em huma resposta, que
muitos Beguinos , respeitados pela D. João da Costa, Bispo de La
sua Penitencia, e bondade de cos mego, deo á intimação, que os Pa
tumes, e ainda hoje são Synony dres Loyos lhe fizerão dos seus Pri
mos naquelle Reino De Voto, Be vilegios Apostolicos, para que lhos
guino, e Beato. •

cumprisse, e fizesse guardar no mez


Em Portugal tambem lográrão por de Agosto do mesmo anno, se lê o
bastante tempo os Beguinos, e Be seguinte: que similhantes Privilegios
guinas a estima dos Povos: Os Ere como estes Biguinos pertendião , que
mitas da Serra d'Ossa, e os Loyos, se não extendião a Reciam, mas tão
talvez forão chamados com este no somente a Villar de Frades: e que as
me , que equivalia ao de bons bo sim fallavão com os Arcebispos de Bra
mens ; porém a maldade , que se ga, e não com os Bispos de Lamego,
descobrio nos Beguinos fóra de Hes &c. Assim fallavão como por des:
panha tornou mui suspeitosos os de prezo, aquella mulher torpe, e des
Portugal , e ficou sendo nome de vergonhada , e este seu fautor es
opprobrio, como Jacobeo falso, e si candaloso, e implacavel persegui
mulado Hypocrita, o que d'antes fo dor dos Padres Loyos, de quem o
ra Titulo de Santidade, e honra. Tabelião de Lamego deo ô teste
De hum Requerimento, que a dis munho seguinte, que alli mesmo se
solutissima Clara Fernandes, per conserva. Todolos boms , que o sa
tensa Abbadessa do Mosteiro de Re bem, e nello fallão, dizem serem assim
cião, junto a Lamego, fez aos Juí lançados os ditor homens bons do di
zes desta Cidade no mez de Julho to Mostejro, por elles muj bem regi
de 1457, para que a conservassem no do, e governado no Espiritual, e Tem
dito Mosteiro, donde com muita ra poral , e tem tomado muito trabalho
zão fôra expulsa, e ao qual contra pelo reformarem. E nisto, que se faz,
toda a Justiça fôra restituida, cons não me parece, senão que tirão os An
Jos
BI BI 195
jos do Paraiso, e mettem nelle os dia Sesnando) não podião conservar com
bos: e assim se diz em esta terra por decencia os seus Prelados proprios,
muitas, e boas pessoas. Testemunhas, e residentes , pela grande destrui
& c. E eu Gil Gonçalves , Taballião ção, e despovoamento, que os ini.
por El-Rei, & c. migos alli tinhão occasionado : se
Em as Cortes d'Evora de 141 1 determinou entregar o cuidado, pro
depois que os Povos expozerão a visão, e administração destas duas
El-Rei a desolante pintura da rela Dioceses ao Bispo de Coimbra, e
xação dos Ecclesiasticos, continuão a seus Successores, em quanto el
a falar deste modo : E esto que se las não chegassem a ter Bispos Car
diz dos Creligos se deve fazer nos Fra deaes : Donec Cardinales Episcopos ba
des , Religiosos , e Religiosas , e as bere nequiverint. Acha-se esta Bul
Beguinas, que fazem conventiculos de la no L. Fidei de Braga , e no L.
fóra, e não querem tomar Ordem ap Preto de Coimbra , datada no de
provada , onde fazem obras a Deos 1 ro1. No de 1 1 16 hindo D. Ugo,
pouco aprazentes, e contra seu servi Bispo do Porto a Roma, informou
fo , e injuria sua : sejão constrangi ao mesmo Papa , que Coimbra já
das de entrarem na Ordem approva estava restituida a toda a extensão da
da, onde sob Régra sirvalo a Leos: e Sua Diocese, e levantada das suas
em maneira alguma não lhes consintão ruinas, o que não succedia ao Bispado
*aer conventiculos, e ajuntamentos sem do Porto; e que assim lhe pedia o
Regra, e Ordem approvada, e não re Territorio de Lamego ad restitutio
rão escandalo do povo: e assi cessará nis subsidium. O rontifice assim lho
quanto mal se faz, e injúria a Deos, concedeo : Donec Lameci locus , in
atéqui não castigado, nem emendado, status fui columem reductus, Cardina
per Cierigos , Frades, Religiosos, e lem recipere mereatur Episcopum. Mas
Beguinos , que mais são apparentes, chegando logo o Bispo de Coimbra
4ue existentes. B. o Rei, & c. á presença do Papa , e fazendo o
BIRRENTO. Agastado, raivo certo da menos verdadeira informa
so, enfadado. Ainda na Beira alta ção do Bispo do Porto, continuá
usão desta palavra. rão os Bispos de Coimbra na admi
BISPO Cardeal. I. Bispo pro nistração de Lamego, como cons
prio, e residente na sua Diocese, ta da Carta do mesmo Pontifice pa
com ovelhas proprias, e Territorio ra D. Bernardo Arcebispo de To
separado. Já desde o tempo de São ledo, e Primaz das Hespanhas, que
Gregorio Mag. lográrão este Titu se acha no mesmo L. Preto, e nel
lo os Bispos fixos a huma determi la permanecêrão, até que com ef
nada Igreja. O Papa Paschoal II. feito assim Lamego , como Viseu
vendo que os Territorios de Viseu, tiverão os ditos Bispos Cardeaes. Vid.
e Lamego (que sempre se havião Selvag. T.I. Instit. Edit. Venet. f.358.
conservado inconfusos, e separados BISPO Cardeal. II. Deo-se este
no tempo dos Sarracenos) a pezar Titulo ao que por especial Privile
da Conquista d'El-Rei D. Fernan gio era contado entre os Cardeaes
do, e dos Bispos, que então lhes da Igreja Romana. Tal foi o Ar
forão nomeados, (a saber, para La cebispo de Magdeburgo na Saxonia
mcgo D. Pedro , e para Viseu D. inferior, e Primaz de Alemanha.
Bb ii BIS -
196 BI BI
BISPO Cardeal. III. Assim fo Chantre o Baculo Episcopal ao me
rão chamados no Concilio Romano nino mais novo do Coro , o qual
de 1059 aquelles Bispos, a que foi immediatamente ficava governando
concedido o Direito de elegerem o o Clero até se completar o Oficio do
Pontifice Romano. seguinte dia, e neste breve tempo
BISPO Cathedral. O que residia visitava a Cathedral, e as mais Igre
na sua Sé, á diferença dos Corepisco ja da Cidade. Deste modo se pra
pos, que residião no campo , fóra ticava na Cathedral de Tours; mas
da Cidade , e tinhão a Inspecção em outras partes se elegia este Bis
das Igrejas Reaes. po Theatral em dia da Circumci
BISPÕ da Igreja Catholica. Es são , e presidia aos Oficios Divi
te dictado só se applicou dignamen nos , onde se commettião as irre
te ao Pontifice de Roma , e Suc verencias mais grosseiras, e as pro
cessor de S. Pedro, que tambem se fanidades mais horrorosas.
disse Bispo dos Bispos. Havia a Igreja Santa procurado ex
BISPO Commendatario. No tem terminar com jejuns, e Procissões as
po , que a Curia Romana esteve indignas práticas dos Gentios nas Ka
em Avinhão , he que se inverteo lendas de Janeiro; e havendo conse
a Disciplina antiquissima da Igreja guido então o que tão justamente per
Santa. Alli se descobrírão, e inven tendia, ella vio nos principios do seu
tárão novos modos de encher de Be segundo millenario , que os seus
neficios a certos Ecclesiasticos de proprios filhos a desprezavão, en
pouco proveito com detrimento ir tregando-se ás abominações mais
reparavel dos benemeritos. Quasi não feias, cubrindo-as mesmo com o es
havia Cardeal por aquelles tempos a . pecioso véo da Religião, e Pieda?
quem se não déssem em Titulo, Com de. Já no tempo do VIII. Concilio
menda, ou Administração pérpetua 2, Geral (que foi o IV. de Constanti
3 , 4, e talvez mais Bispados, de nopla no de 869) em o C. XVI.
que em Portugal não faltão exem da Versão de Anastasio, se faz men
plos: bastará reproduzir o Cardeal de ção destes Comediantes, e ridicu
Alpedrinha, que chegou a ter ao mes los, que se fingião Sacerdotes, Bis
mo tempo 2oo Beneficios grossos em pos, e Patriarchas, usando de or
diversas partes da Christandade, não namentos , e vestidos os mais ex
ficando em Portugal Mitra, Abba travagantes , fazendo escarneo , e
mettendo a jogo tudo o que era
dia, ou Priorado rendoso, de que el
le não fosse o Commendatario. O Santo, e Divino, e fazendo cou
Concilio Tridentino procurou ex sas, que nem entre os Gentios já
tirpar hum tão pernicioso abuso. mais se ouvírão. Dos Gregos pas
BISPO dos Fatuos, (ou Doudos) sou esta demencia, depois de mui
a que tambem chamárão Bispo dos tos Seculos, aos Latinos, João Be
Meninos, ou Innocentes. Em Fran Jeth, que vivia no de 1 182 no L.
ça principalmente teve principio es dos Oficios Divinos Cap. LXXII. diz
ta louca, e extravagante ceremonia. assim : A Festa dos Hypodiaconos,
Nas primeiras Vesperas dos Santos (quod vocamus Stultorum) buns a
Innocentes ao cantar-se o Y. Depo fazem na Circumcisão, outros na Epi
suit potentes de sede , & c. dava o phania, ou nas suas Outavas. Depois
do
BI BI 197
do Natal quatro grandes bailes se mo de fapatos velhos , fazendo mil
fazem na Igreja , a saber , o dos desatinos por toda a Igreja. Esta Car
Levitas , o dos Sacerdotes , o dos ta excitou os Prelados, para que lo
Meninos , e o dos Hypodiaconos, & c. go no de 1445 anathematisassem no
E logo no Cap. CXX, faz menção Concilio de Roão hum erro tão ve
da Festividade, a que chamavão Fes lho , e tão reproduzido. Tão fu
tivitar Decembrica, na qual, (á imi nestos como isto forão sempre os
tação dos Gentios, e Pagãos, que prejuizos da infancia!...
neste mez davão toda a liberdade Esta peste, como vinda da Fran
aos seus escravos , e escravas, fa # (e ainda não extincta de todo em
zendo-se todos de igual condição) nglaterra no de 153o) não podia
os Bispos, e Prelados das Igrejas não agradar aos Portuguezes: tive
se abatião ás maiores vilezas com os rão com efeito os seus Bispos Fa
seus Clerigos, e subditos, não sen tuos, e principalmente as Commu
do das menores a Eleição, e des nidades Religiosas, mas sem as in
atinos do Bispo dos Fatuos. ·
decencias ponderadas. Eu que nos
O Cardeal Pedro Capuano, Le meus primeiros annos presenciei es
gado Apostolico em França, foi o te Bispo de Theatro, não menino,
1. que fez exterminar de París tão mas Sacerdote, no primeiro de Ja
criminosas Festas. Depois que as neiro, e na solemnidade dos Reis:
prohibítão varios Concilios em Fran posso dar testemunho á verdade, co
ça, mas sem o desejado efeito; pois mo o desengano serio fez desappare
ainda no de 14o6 foi condemnado cer d’entre gente Religiosa tão des
com toda a formalidade judicial hum marcada loucura.
Clerigo (que eleito em Bispo Fa BISPO Isento. O que não reco
tuo, não quiz fazer as costumadas nhece outro algum superior no Es
despezas) a que désse o jantar do piritual, mais que o Romano Pon
costume no dia de S. Bartholomeo tifice. A estes chamárão os Gregos
Apostolo. Então a Faculdade Theo Autocephalos; por sem cabeça de si
logica de París se determinou a im mesmos. Em Portugal os Bispos do
pugnar com toda a eficacia abomi Porto , e os de Coimbra lográrão
nações tão monstruosas na Enegeli antigamente desta Isenção. No Cen
ca, que dirigio a todos os Bispos çual do Porto se acha a Bulla de
de França no de 1444, nella dizem: Paschoal II., passada em Beneven
que estes Fatuos entravão marcarados, te no de 1 1 15, pela qual confirma
e vestidos pelo modo mais descompos ao Bispo D. Ugo todos os bens tem
to, extravagante, e deshonesto ao tem poraes da sua Igreja, accrescentan
po mesmo, que se estavão fazendo os do: Ea te libertate donantes, ut nul
Oficios Divinos, dançando, e cantan líus Metropolitani ( nisi Romani Pon
do sem temor de Deos , nem vergo tificis, aut Legati, qui ab ejus late
nha dos homens : buns comião sopas, re missus fuerit) subjectioni temearis
e gorduras sobre o mesmo Altar, em obnoxius; sed remotis molestiis, Coin
que se estava celebrando o Incruento misse Ecclesiae quietus inimeneas. Os
Sacrificio: estes jogavão dados, aquel Bispos de Coimbra já logravão des
les incensavão com pratos de carne, e ta Isenção no de 1 144, no qual Lu
botelhas cheias de vinho, ou com fu cio II, pela sua Bulla, que princi
Pia
198 BI BI
pia In eminenti: confirma ao Bispo bra ; mandando-lhe , que sem des
D. Bernardo todos os bens da sua prezar mais os Mandatos Apostoli
Igreja, e além disso: Sanctorum quo cos, reconheça sem demora por seu
que Patrum vestigiis inherentis por Metropolitano ao Arcebispo de Bra
Authoridade Apostolica, prohibe que ga; sob pena de suspensão, se den
nenhum Arcebispo, ou Bispo pos tro de 4o dias, depois da sua no
sa julgar , ou excommungar, dis ticia, lhe não prestar obediencia. E
pôr, ou ordenar alguma cousa den taes forão os termos desta questão.
tro do Bispado de Coimbra: Abs BISPO Legal. O que he emi
que tuo consensu, Óº voluntate. Não nente em Letras, e virtudes, legi
podia levar com animo igual seme tima , e canonicamente eleito. S.
lhantes Isenções D. João Peculiar, Greg. VII. na Epist. 49. se lamen
ou Ovelheiro Arcebispo de Braga, e ta, que lançando os olhos por todo
Metropolitano em outro tempo des o Occidente, Septemtrião, e Meio
tas duas Dioceses : e assim haven dia, apenas se achavão alguns des
do reivindicado os Direitos Metro tes Bispos.
politicos no Bispado do Porto, on BISPO das Ordens. O Bispo
de entrou por morte de D. Ugo, e Coadjutor, e sem Territorio, que
donde foi assumpto a Braga; propoz algumas vezes tem servido aos Ar
se reivindicalos pelos termos mais cebispos, e Patriarchas para confe
indignos, incuriaes, e despoticos no rirem as Ordens aos seus subditos:
Bispado de Coimbra no tempo do a estes chamamos Bispos de Annel.
Bispo D. João Anaya; como se pó BISPO Palatino. O mesmo que
de ver na Carta que este Prelado Bispo da Capella Real, a que cha
escreveo ao Summo Pontifice, a qual mamos Capellão Mór. Os Summos
se acha no L. Preto a f. 268, e del Pontifices os concedêrão aos Reis da
la constão os inauditos desatinos da Bohemia , da Croacia , e outros,
quelle Arcebispo, que até chegou a R# que presidissem na Capella
calcar aos pés o Santissimo Sacrameneal, e tivessem a Inspecção sobre
to: por fim cedeo a Justiça á vio todos os que pertencião á Familia do
lencia. Havia o Arcebispo de Bra Palacio. Entre os Bispos Goticos,
ga, e depois Antipapa, D. Mauri que sobscrevêrão no Concilio de Ag
cio conseguido do mesmo Paschoal da, em o Languedoc, no de 556
II. huma Bulla, para que D. Ber he Petrus Episcopus de Palatio. Não
nardo Arcebispo de Toledo, e Le controverto se era Bispo da Capella
gado Apostolico não tivesse Juris Real de Alarico, se Bispo de Palen
dicção alguma em o Arcebispado, cia em Hespanha: reflectindo no ge
e Provincia de Braga; havendo-se nio dos Godos, persuado-me que
lhe queixado amargamente, de que era Bispo Palatino. Ao menos dos
houvesse tirado da sua obediencia ao Suevos estabelecidos em Braga , e
Bispo de Coimbra contra Romanae Au já Catholicos no de 5 6 1 , dizem,
thoritatis Privilegia ; como se póde fôra Capellão Mór S. Martinho Ab
ver no III. T. da Monarch. Lusit. a bade, e Bispo do Mosteiro de Du
f: 54. E logo a f. 1o5. se acha a me : e que deste exemplo tomátão
Carta , que o mesmo Pontifice es os Reis de Portugal a hum Bispo
creveo a D. Gonçalo Bispo de Coim para governar a Capella Real , e
nel
BI BI . 199
nela presidir. Em França, e Ale thedraes donde o erão. No VIII.
manha, houve Mosteiros , que ti achão-se muitos Birpos sem Titu
nhão hum Bispo Honorario , sem lo: e isto, ou porque elles o havião
Territorio algum , e destinado só renunciado, ou porque só forão or
ás Funções Episcopaes, relativas aos denados para o serviço dos Mostei
Monges. Mais que estes era S. Mar ros. Por este mesmo tempo se deo o
tinho pois juntamente era Abbade nome de Bispo, não só aos Corepis-: .
de hum Real Mosteiro, que tinha copos , mas tambem aos Sacerdotes
hum dilatado Territorio, e não só simplices, e principalmente aos que
a Familia Régia , ou a Familia dos annunciavão a palavra de Deos. Em
Servos , como Documentos apocri o IX. Se acha com frequencia: N.
fos, e corruptos nos quizerão per Kocatus Episcopus : o que designa
suadir. V. Familia. Morto o Santo va hum Bispo Eleito, mas não con
no de 58o, e passando logo a Mo firmado. Desde este tempo se cha
narchia dos Suevos aos Godos, não márão os Bispos com frequencia Vi
houve lugar, para que os Bispos de Agarios de Jesu Christo, e Apostoli
Dume fossem Bispos Palatinos. cos: Titulos, que no Sec. XIII. fo
BISPO Portatil. Os que não ti ráo reservados ao Summo Pontifice,
nhão Clero , nem Povo : estavão abrogado o de Vigario de S. Pedro
promptos para o que o Summo Pon que d'antes fazia toda a sua distincº
tifice lhes mandasse. ção. No X. finalmente muitos Bis
BISPO in Partibus. Pela irrup pos, e Sacerdotes se casárão, e fa=
ção dos Sarracenos em toda a Pa Zião mesmo galla de serem casados
lestina nos principios do Seculo XII., segundo se vê pelas suas Cartas:
passárão os Bispos ás terras dos La estes dilapidárão , e destruírão os
tinos, onde se lhes consignárão cer bens das Igrejas; dotando seus fi
tas Coadjutorias para seu sustento. lhos já com huma Igreja inteira, já
Estes eão Bispos in Partibus Infi com os Dizimos, Foros, ou Direi
delium. tos, que nella se pagavão. Não sei
BISPO. Este Titulo lográrão al se era deste número aquelle Abba
guns respeitaveis Presbyteros, que de, de que se falou V. Aberregaar,
IlUI1C2 # consagrados Bispos; ou aquelle Presbytero V. Rem: em
mas forão incumbidos de algumas Arouca Gav. III. Mass.I. se acha a
Funções, que ordinariamente erão Doação, que da oitava parte da Igre
da Competência Episcopal. Destes ja de Santiago fez aquelle Mostei
trata Mabillon in Actis SS. Benedict. ro no de 1o85 o Famulo de Deos
na Prefação á I. parte do Sec. III. Nos Fridixilo Egikaz, que a tinha her
tres primeiros Seculos da Igreja não dado de seu Pai Egika, & de bisa
se ouvio o Titulo de Bispo: no IV. vio meo Elderigo Presbytero, qui com
Sec.hum simples Sacerdote se chama paravit illa hereditate tota de Sancto
va Papa; e hum Bispo Soberano Ponti facobe de Arauka, Óº dedit pro illa
fice: Pai dos Padres & c., e se achão uno kavallo cum sella argentea, ó"
alguns que assignárão: Ego N. Epis freno argenteo & c. E não parece cri
copus. No Sec. VII, se intitulão Bis vel, se fizesse menção nestes, e
pos elles mesmos, mas ordinariamen. n'outros Documentos daquelle tem
te não declaravão as Igrejas, ou Ca po, da qualidade Sacerdotal dos
Pais,
2 OO BI BO
Pais, Avós, e Bisavós, se os fi e afronta o não ser tido por homem
lhos, netos, e bisnetos fossem de de boa fé. So pea de boa fé, aguar
cóito, que então se reputasse dam da pera mi os frruitos... Prometemos ha
nado, e prohibido. Vid. Diccionar. atender, e a guardar a boa fé. Doc.
Rais. V. Eveque. de Pendorada de 13o8, e 131o.
BISPO. Alcunha , que se dava BOAS. Bens , assim móveis co
no Seculo XII. a Pessoas não vul mo de raiz. Lhy obrigo todas mbas
gares em Portugal. Na Doação, que boas. Doc, de Pendorada de 1292.
à Rainha D. Thereza fez a Gar BOAS manhas. Boas artes, bons,
cia Garcias da Villa de Travécas approvados, e honestos costumes. He
(hoje Tragoas) no de 1 128 o no do Seculo XIV. , e ainda se acha
tario foi Pedro por alcunha o Bispo no Seculo XVI.
— Petrus cognomento Episcopus pinxi. BODALHA. Porca pequena ,
Doc. de Arouca. Na Doação, que leitoa.
El-Rei D. Afonso I. fez a Lorvão BODIVO. OS. O mesmo que
da Villa de Abiúl no de 1 175 se Bodo, os : tambem se escrevia Vodibo,
lê Fernandus Bispo ts. Doc. de Lorvão. e Vodo. Na era de M. XXXII. (que
BISPAL. O que he, ou perten he anno de Christo 994) fez hu
ce ao Bispo. Confesso, que eu tenho ma Doação ao Mosteiro de S. Sal
arrendado de D. Bartolomeu Bispo da vador de Paço de Sousa o Abbade
Guarda a sa terça. Bispal. Doc. de Randulfo, em reconhecimento, de
1331 em os de Tarouca. que sendo ele de outra terra, Tru
- BITAFE. Titulo, Rotulo, Ins ctesindo Galindiz , e sua mulher
cripção. No de 1414 El-Rei D.João Arismia o recolhêrão no Mosteiro
I. mandou dar algumas Escrituras de Palacioli, ad morandum per Regi
da Torre do Tombo ao Mosteiro la Canonica usque ad obitum meum.
da Salzeda : E foi achado bum Li E isto faz ut habeant me in mente
vro das Inquirições d'El-Rei D. Af in cera, Óº in oblationem, Óº in bo
fonso, Conde de Bolonha, que tem bum divos, Óº vestiant, Óº oruent corpus
bitafe em huma das coberturas , que meum ad sepeliendum. L. das Doaç.
diz assim: Livro das Inquirições dos
de Paço de Sousa a f. 48. Entre as
Herdamentos , e Reguengos , & c. Doações de Pendorada está a de
Doc. das Salzedas. Formosindo ao Presbytero Sandila,
BITALHA, AS., e Bitualha, as. feita no de 1o61, onde se lê: Et
Mantimentos, viveres, munições de accepimus de vobis servitio boro in
boca, aguadas, refrescos. Não seja mia vida, vestire, Óº calçar, Óºpa
recebido navio de inimigos... nem lhe ne, Óº carne, & vino: Et ad meo
sseja dado bitualha alguma... nem ovito, que me vestias bene, & aveas
lhe dem bitalhas. Cortes de Lisboa cura de mia anima, in vodivo, incê
de 1389 nos Doc. do Porto. ra, in oblata, in quantum adbueris.
BOA FE. Palavra de honra , e Érá M. LXVIIII. Faz-se indispen
de verdade, com que alguem se savel o recordar os Agåpes dos Pri
compromettia, e que caracterizava mitivos Christãos para entendermos
o sujeito de pessoa de bem: he o a fundo a qualidade , e natureza
contrario de má fé. Antigamente se destes Bodivos.
reputava pela maior pena, injúria, Nasceo com a Igreja Santa a co
mi
BO BO 2OI

miseração dos pobres. Depois da te na Igreja de Milão o uso dos


refeição Espiritual da Palavra , e Agăpes, cujo exemplo seguírão ou
Corpo do Senhor, havia particular tras Igrejas de Italia; e Santo
cuidado de exterminar a sordida ava tinho procurou logo, que tambem
#
reza , e exercitar a Caridade ofi fossem extinctos na Africa , como
ciosa. Se em todo o tempo, e nas se vê da sua Epist. XII, a Aurelio Bis
suas casas despendião os Ricos os po de Carthago, o que se concluio no
seus bens temporaes com os neces Concilio Cartag. III. Can. XXX. Mas
sitados , e aflictos ; nas Igrejas não succedeo assim ás Igrejas do Ma
mesmo havia huma Meza, para se labar, e a outras que ficão ao Nor
dar de comer aos pobres , á qual te , ou no ultimo Occidente. Da
chamavão Meza do Senhor , a fim fornada do Arcebispo de Gôa D. Alei
de provocar os Varões das riquezas xo de Menezes ás Serras do Malabar,
a que as repartissem de boa vonta para reduzir á união da Igreja Ro
de com os miseraveis, e pedintes. mana os Christãos de S. Thomé , da
Mas não só isto: na Dedicação dos Ediç. de Coimbra de 16o6 Cap. XV.
Templos particularmente, nas so se vê , que ainda hoje reinão alli
lemnidades dos Martyres, e nas Ex os Agàpes, a que elles chamão Ner
equias pelos Defuntos, se humilha cha: e he hum jantar que se dá a
vão os mais abonados a despender todos os Christãos no alpendre da
os seus bens, e comer alegremente Igreja. Os Sacerdotes tem ração do
com os pobres. Os adros, alpen brada, e o Bispo tresdobrada. Em
dres, e as mesmas Igrejas se vírão falta do Bispo, benze as mezas o
cheias destas iguarias simplices, e Sacerdote mais velho. Estes manja
frugaes, de que todos participavão, res tem-se por Sagrados. Muitos são
e que com razão se chamárão Agă dados por devoção particular, ou
pes; por serem indices, e attractivos tros das rendas, que as Igrejas tem
da Caridade mutua, e igualdade para isso. Tres dias antes da Sep
Christã, a beneficio dos necessita tuagesima jejuão Solemnemente, e
dos, e famintos. Os excessivos ban fazem Nercha em memoria dos tres
quetes, que os Gentios usavão nos dias de Jonas no ventre da balêa:
Templos das suas Divindades fal chamão a este jejum Mononoibo. Na
sas, para se excitarem a todos os vi Commemoração dos seus defuntos
cios, transformárão os Christãos em praticão o mesmo.
exercicios de Caridade, que he a Aos Inglezes novamente converti
Rainha de todas as virtudes. dos á Fé, permitte S. Greg. M. Epist.
Mas nada ha de firme nas Insti LXXVI. L. XI. , levantar cabanas»
tuições humanas: os excessos da gu e bodegas em torno das Igrejas, que
la, e da avareza, e outras desor d'antes erão Templos dos Idolos,
dens , que inficionárão os Agùpes, alli comerem religiosa , e alegre
forão a causa de que os Santos Pa IIl&IltC IlaS # dos Marty
dres , e Concilios, que primeira res, e Dedicações dos Templos as
mente os louvárão, ao depois seve carnes dos muitos bois, que d'an
ramente os prohibissem. Santo Am tes gastavão nos Infernaes Sacrificios.
brosio, que não pôde emendar ta " Em as terras, que hoje fórmão
manhos abusos, prohibio totalmen o Reino de Portugal, não ha dú
Tom. I. Cc vi
2 O2 BO BO
vida alguma, que estes Agapes se so. Em outras partes ha diversos es:
continuárão, e com a moderação tillos, Mas estas Obradas, e Emer
possivel, durante o jugo dos Sar tas , são mui diferentes dos Bodi
racenos. Mas logo á proporção, que vos , de que falamos, que só ti
elle se foi quebrando, a piedade li nhão em vista, o matar a fome aos
beral dos Antigos se foi reprodu que necessitavão deste soccorro, se
zindo , e nós temos milhares de gundo a possibilidade, ou devoção
Doações feitas ás Igrejas, e Mos do herdeiro.
teiros com a clausula expressa de Com efeito a piedade cresceo
que são igualmente destinadas pro com o estabelecimento da nossa Mo
elesmosinis pauperum. E daqui nas narchia. A Casa Real deo em to
cêrão os Bodivos, que ao depois se do o tempo os exemplos mais bri
disserão Bodos; isto he refeição, jan lhantes da compaixão com os po
tar, ou comedoria, que aos pobres bres: os vassallos se lisongeavão de
se dava pelas almas dos defuntos; imitar os seus Principes. O Juiz,
sendo certo que a esmola he quem e Irmãos de muitas fundº, C

purga das reliquias do peccado : e Confrarias se ajuntavão em certo dia


que he hum pensamento Religio do anno, e á custa do rendimento
so, e saudavel oferecer a Deos as destas Sociedades Santas, davão aos
misericordias dos pobres , para li pobres hum abastado jantar de car
|
bertar os que padecem nas expiado nes, e outras muitas cousas comes
ras chammas, Nem dos allegados tiveis, de que elles mesmos, e ou
Doc. se póde inferir outra cousa; tros seus amigos participavão. Mui
is nelles se distingue os Bodivor tos em seus Testamentos deixárão
as Ceras, e Oblações. Nas Provin grossos Legados para instituir , ou
cias do Minho , Beira, e Traz-dos manter estes Bodos. Mas tornando
Montes ainda se não esqueceo in com o tempo a degenerar em ex
teiramente a Disciplina das Ceras, cessos, El-Rei D. Manoel os pro
e Obradas, (assim chamão hoje as hibio totalmente, ainda que fos
eblações, e ofertas) pois não só sem feitos por devoção de alguns
quando morre alguem levão da ca Santos, como se póde ver na Or
sa do defunto suas ofertas de Ce den. L. V. T. 5., exceptuando só os
ra, pão, vinho, e outras cousas aos Bodos do Espirito Santo; sem dúvi
Parochos, segundo os costumes das da em attenção á sua Instituidora,
Igrejas; mas tambem durante o an que foi a Rainha Santa Isabel na
no, nos Domingos, e dias festivos sua Villa de Alanquer ; mas ainda
se oferecem por devoção picheis, estes pela sua profusão forão redu
ou frascos de vinho, e certos pães, zidos pelo mesmo Rei a duas fru
lº põe em huma toalha estendi tas, que ainda hoje se dão a quem
a sobre a sepultura do defunto, e se acha presente. Todos os fundos
huma véla accesa. Então resa o Pa dos mais Bodos tomárão para a Co
rocho hum Responso pelo tal de roa os Monarchas Portuguezes , e
funto, e faz recolher a Obrada. A os repartírão em Capellas, que dão
esta ceremonia chamão Ementar, tal em vidas,
vez por corrupção da palavra Me Sobre a Etymologia de Bodivo»
mento, com que principia o Respon ou Bodo nada temos …ig…",31
Na
BO BO 2 o3
baixa Latinidade se chamárão Boda, antes o acompanhão ; e por isso
ou Bodium as propriedades grandes mui facilmente são tomadas.
de casas, ou campos: estas erão as BOLSEIRO. Recebedor, depo
mais proprias para se lhes impôr a sitario, o que tem a bolsa, ou co
despeza dos ditos convites. Os Po fie de huma Commuidade Religio
vos Septemtrionaes fazião largos Sa sa, ou Secular. Pedro Botelho, Bol
crificios ao seu Deos Wodan como seiro de Viseu. Doc. de Maceiradão,
Presidente da guerra , dando em de 1 3o7.
honra sua liberalissimos banquetes, BOMBACHAS. Calções largos,
que por isso mesmo chamavão Bo e compridos, que se atavão por bai
danos. Se feitos Christãos, como vi xo dos joelhos: erão de seda, e se
mos acima, continuárão sem supers encorpavão com tufos, ou garam
tição no apparato destas mezas, não bazes.
seria desacerto, que dalli nos viesBONA. Bens, e fazendas, as
sem os Bodivos. Os Italianos ainda
sim móveis, como de raiz. No de
hoje chamão Brodo, e nós Brodio 129 1. Durão Rodrigues, e sua mu
ao caldo grosso , e de carnes, e lher doárão á Salzeda quanto tinhão
mesmo a hum jantar nada commum: na Folgosa, e seu Termo, a saber:
e por ventura os Bodivos não erão Todalas herdades que nos bi acaece
mais que ordinarios para os pobres?... rom de bona de Johão Weegas , assi
E finalmente se da voz Hebraica em casas , quomo em vinhas , quomo
Boddah, participio do Verbo, que em oliveiras, quomo em outras arvores
significa alegrar-se se disse Boda: quaesquer, chantadas, e por chantar...
isto he, banquete, e outras demons E outorgamos a vós toda essa bona de
trações alegres, com que se festeja suso dita. Doc. das Salzedas.
o casamento: que muito se chamas BORDEGÃO. Vil, baixo, zo
sem Bodivos as refeições, que ale te, rustico.
gravão as entranhas dos pobres, e Busto. BOSTAL. Curral de bois. V. •

necessitados?...
BODO. Vid. Bodivo. •

BOSTELLO. Pequeno bosque,


BOETA. Boceta , capsula , pi tapada, territorio, termo, ou dis
xide, arquinha, gaveta, cofre.Vem tricto. He diminutivo de Boscus, ou
do Francez Boete na mesma sig Bostus, de que muito usárão os in
nificação. De Boetas fala a Orde feriores Latinos. Ha em Portugal
naç. do Reino. L. V. T. 1o7. §. muitos sitios, e lugares de peque
XXI. no nome , que não tiverão outra
BOFORDAR. O mesmo que origem para se chamarem Bostellor.
Bafordar. - #URRRR O mesmo que
BOI As nossas Leis tem prohi Baptizar , " administrar o Sacra
bido com graves penas, que se não mento do Baptismo. Huum Cader
cacem perdizes com boi, rede, ou no de boutiçar, e de encomendar. Doc.
candeo. O artificio do Boi consiste das Bent. do Porto de 1418. •

em se cubrir o caçador com o cou BRAÇAL. Armadura, com que


ro de hum boi, representando áquel antigamente se defendião os braços.
las aves a figura daquelle animal, Escudeiros com cotas, e brafaes. Vi
de que elas se não espantão, mas da do Cc
Condestab, D. Nuno Alv: Per,
ii BRA
2O4 BR BR
BRACEIRO. O que tem muita cipalmente os Gallos Celticos, cha
força nos braços. Mancebo valente, mados Bracatos, em razão das Ce
ledo, e namorado, amador de mulhe roulas largas, e compridas, com que
res, e chegado a ellas, formoso em cobrião as partes inferiores do cor
parecer, e muito vistoso, torneador, po (se bem que outros afirmão que
e lançador a tavolado, e muito bra as Bragas dos Celticos erão propria
ceiro: cortava muito com huma espa mente huma tunica, ou roupão com
da , e remessava bem o cavallo: era # mas que não passava da
prestador, e grado. Vida d'ElRei D. rodéla do joelho.) Se os ditos Bra
Fernando. catos fundárão, e derão o nome á
BRAGAADIGA. A estimação, nossa Braga, igualmente inspirárão
ou o preço de hum Bragal. No de o gosto das ceroulas aos Povos, que
12o3 aforou El-Rei D. Sancho I. a ella pertencião , que até os nos
a sua herdade do Cobou em Pena sos dias as tem praticado.
guião com varias pensões, e entre No Seculo XI., e XII. appare
elas uma bragaadiga de carne. L. dos cem tantos Documentos, que fal
Foraes Velhos. Era pois a carne de lão em Bragaes, como se fosse moe
porco, que os enfyteutas havião de da corrente, que podem fazer dú
#" , a que se podésse comprar á vida a quem os lêr , e movê-lo a pro S
oa mente com o preço de hum Bra curar qual fosse o seu cunho, e o
gal , segundo que ordinariamente SCUl … Nas Salzedas principal
corresse. V. Bragal. mente se encontrão rimas de com
BRAGAL. Na Beira , e Traz # que Egas Moniz, e suas mu
dos-Montes ainda hoje chamão Bra heres fizerão por tantos, ou quan
gal a hum panno de linho grosso, tos Bragaes ; mas reflectindo nós,
atravessado com muitos cordões. Nos que por aquelles tempos se ven
principios da nossa Monarchia po dião, ou commutavão muitas terras,
deria ser tecido n'outra fórma; mas Herdades, e Casaes por modios, egoar
delle se faz lembrança a cada pas apoldradas , vaccas vituladas , ovº
so?, nos Foraes, Emprazamentos, lhas , mulas , cavallos , podengº; ,
Compras, e Vendas. Em hum Doc. &c. fica-nos lugar a dizermos, que
de 1 13o , que se acha no Cathal. estes Bragaes erão pannos, por cu
dos Bispos do Porto por D. Rodrigo ja estimação se compravão as cou
da Cunha da primeira Edição a f. 2o sas de que cada hum precisava. Bas
se diz: Episcopus accipiat... Sex bra tará só indicar a compra de huma
gales per unumquemque annum. No Herdade em Louredo de jusano (is
Censual da Camera Ecclesiastica de to he debaixo) que Egas Moniz ,
Lamego se declara, que hum Bra e sua mulher Maria Onoriguiz fize
gal, ou Bracale, são sete varas des rão no de 1 13o a Mendo Moniz,
te panno , que tem o mesmo no e sua mulher Goina Mendes, e o
me ; porém os Prazos antigos do preço foi huma mula avaliada in CCC.
extincto Mosteiro de Villella, se de bracales. Doc. da Salzeda.
clara , que o Bragal devia constar Ainda nos Foraes d'El-Rei D.
de oito varas. Parece, que delle, Manoel se encontra frequentemen
ou outro semelhante fizerão parti te esta palavra. No de S. Fins jun
cular uso algumas Nações, e prin to ao Paiva, dado no de 1513 fal
lan
BR BR 2o5
lando do Casal da Portella diz: Pa
mente Açougagem; e isto só na Vil
ga de pam meado 24 alqueires; e de la , e não no Termo. E por ella se
porco huma perna, e de pam com el pagará de cada boi, ou vaca hum real:
la hum alqueire , e pinta; e de brado porco 4 ceitis: do carneiro, ou ove
gal Io varas & c. Hoje em toda a iba 3 ceitis: do bode, ou cabra 2 cei
parte se pagão a dinheiro corrente tis: e do cordeiro, ou cabrito hum ceitil.
Os Bragaes que antigamente se pa O qual Direito se pagará daquellas re
gavão em panno usual. ses, que sem atarem ao talho, e d'ou
BRAGUEIRO. Em hum Docu tras nam. Nas Posturas d'Evora de
mento de Tarouca do Seculo XIV. 1318 se diz: It : esta he a Branca
se toma por Bragal, sarja, estame gem (do Açougui d'Evora) convem a
nha , ou linho grosso, e que ser saber : de Zevra VI. din.: de Vaca
via para as roupas interiores, e bai PT. dim. : de Cervo IV din.: de Ga
xas dos que professavão a Regra de mo III. din.: do Colombo do pescado do
S. Bento. Bernardo de Brito usa
peom I. dinhejro: de porco III. din.::
# dessa palavra no sentido de mantéo de carneiro II. din.: de cabra II. din.:
curto, ou pannos da honestidade, de cabron II. din.: e de todo gaado,
que não descem dos joelhos, nem que es de mama nom façam dele foro.
passão acima da cintura. Daqui se L. dos For. Velhos. Daqui se vê
disserão Bragas os taes pannos me como a Brancagem , que n'humas
nores. E allusivamente se disse Bra partes era Direito, que
se pagava
ga aquella espalmada argola, com do pão cosido, era em outras o que
# que os facinorosos se prendem; por se pagava das carnes, que no açou
que á semelhança das Bragas de pan ue se matavão.
} to, que livrão do frio as pernas de BRANCA. O mesmo que bou
huns, tambem o duro ferro cobre, ça brenha, tapada, V. Busto II.
|2 e faz esfriar as pernas dos outros. BREGEIRO. O mesmo que Bre
BRANCAGEM. No Foral, que jo. Com todos seos montados, bregei
El-Rei D. Manoel deo á Villa de
ros, e passigos. Doc. de S. Vicen
Monção no de 15 12 tendo á vista o te de Fóra de 1478.
do Conde de Bolonha, e outros mais BREJO. Lugar baixo, alagadi
antigos determina: Item: Se arreca ço, humido, pantanoso, cheio de
rá para o dito Concelho o Direito da silvas, e matagaes.
Brancagem. S. de cada formada de pam BRESFAMÍA. Palavra injurio
trigo, que se vende na praça, que re sa, blasfemia. A

ja bregado, e de callo, hum real; BREVEMENTE. Em fim, em


porque depam molete não pagaráõna huma palavra. Faço doaçom a vós de
da. Tambem pertence ao Concelho o todalas casas herdades, ... e breve
Direito da Açougagem, que he do pei menté, de todalas outras cousas, que
*, carne, frutas, panellas, &c. Po eu ej.
rém no de Pinhel, dado pelo mes BREVERIARO. Breviario. Doc,
mo Rei no de 15 1o, e reformando das Bent. do Porto de 1285.
ºs de D. Afonso I., e de D. San BREVIARIO. Livro manual,
cho I., se diz, que naquella Villa em que se contém o Oficio Divi
(hoje Cidade) sê paga o Direito da vino, que os Ecclesiasticos cada dia
rancagem , que se chamava antiga devem resar. Chamou-se Breviario
por
2o6 BR BR
por ser como huma Summa , ou e que daqui lhe procedêra o nome
Compendio dos Livros Choraes es de Comico, ou Comito. O que não
critos com grossos Caracteres, e No padece dúvida he, que no Testa
tas de Canto, v. g. Psalterio, Anti mento da Senhora D. Mumadoma
phonario , Homiliario , Capitulario, ao seu Mosteiro de Guimarães en
é, c. Nelle se achão resumidas as tre os Livros Ecclesiasticos, ou que
Lendas dos Santos, e as Homilias pertencião ás Funções da Igreja, e
dos Padres, e as mesmas Lições da Oficios Divinos se acha hum Comi
Sagrada Escritura, que antigamen to: Viginti Libros Ecclesiasticos: an
te se lião até fazer sinal quem pre tiphonarios III.: Organum: Comitum:
sidia no Côro, mas sempre até que &º Manuale: Ordinum: Psalterios II.:
a Devoção se fosse extinguindo. Passionum: Óº Precum. Doc. de Gui
Houve pois cuidado de resumir tan marães de 959.
ta Leitura, para que o Oficio Di Nos Seculos XI., e XII, se com
vino fosse de mais Espirito , que pilátão mui diferentes Breviarios
palavras, e os Monges, e Ecclesias para varias Congregações, e Igre
ticos tivessem mais tempo de ajun jas; porém no de 12 1o S. Francis
tar a vida activa á contemplativa, e co de Assís, pela devoção que ti
serem deste modo mais uteis á Igreja. nha á Igreja Romana , quiz que
Não he tão moderna , como al seus filhos não usassem de outro
guns pensão, esta palavra Breviario Breviario, que não fosse o daquel
para significar huma Summa, e Com la Igreja; exceptuando com tudo o
endio dos Oficios Divinos; pois Psalterio, que ella costumava resar;
já Luiz Pio Rei de França, chama não só para dar mais tempo aos seus
do Imperador, que reinou desde 814 Religiosos de se empregarem na sal
até 84o faz della menção em huma vação das almas; mas talvez, pre
sua Carta , como se póde ver em vendo que não tardaria muito, que
Du-Cange V. Breviarium. Depois Roma se despensaria do tal Psalte
deste tempo se acha a cada passo. rio, o qual constava de hum Mise
Porém nos Monumentos de Hespa rere nas Preces de todas as Horas;
nha, e Portugal em lugar de Bre e além disto dos Psalmos Penitenciats
viario, se acha a palavra Comes, Co com as suas Ladainhas, por obriga
men, Comicus, ou Comitus pelos Se ção depois de Matinas, e por de
culos IX., e X, que muitos se per voção depois de todas as mais Horas,
suadem ser o mesmo que Breviario, como diz João Bispo de Auranches nº
Livro que os Ecclesiasticos devião seu L. de Ojic. Ecclesiast. Este era
trazer sempre na sua companhia; o Oficio Ecclesiastico, ou Divino,
pois ainda nas Corte d'Evora de 1481 que Innocencio III. havia compºs
requerêrão os Povos a El-Rei que to, e resumido para os Capelães
os Clerigos trouxessem o Breviario da Igreja Lateranense, chamado por
sob braço. Verdade he que outros esta razão Oficium Capellare. Algunº
afirmão que este Comico, ou Comi annos depois Innocencio IV, comº
to era hum Livro dos Evangelhos, metteo a reforma deste Breviario º
Epistolas, e Profecias, que fora Fr. Haimon, Inglez de Nação, º
compilado para o Conde Echardo, Geral da Religião Serafica, que º
que fioreceo no meio do Seculo IX, , dispôz com bellissima o… e
Te
BR. BR 2o7
brevidade notavel, em comparação nonicis illum , é concedo conditione
do antigo. E logo todas as Igrejas tali: ut cum ego illum babere value
de Roma, e muitas fóra della o ado ro ad exercendum Oficium Ecclesiae
ptárão, dando-lhe o nome de Por meae , redam vobis in unoquoque anno
tiforio, que conservou até o Seculo duas libras cera, Ó" post obitús mei
XVI. por ser o mais apto , e ac clausulam, liberum illum babeant ip

commodado para acompanhar os Ec si Canonici, Sed si priusquam mors me
clesiasticos, quando fossem de via preocupet , sub regimine alicujus Or
# em, a que chamavão Porta-fóra. dinis vivere me decrevero, absque ul
BREVIARIO de Carreira. Bre lo impedimento , recipiant illum ipsi
viario pequeno , portatil, resumi Canonici. Livro Baio. Note-se I.: A
-
do , e que facilmente se póde le séria, e interessante occupação dos
var por huma jornada á diferença Conegos, e Monges de Grijó, que
de hum Breviario grande, que traz se empregavao em escrever Livros
tudo por extenso, e que está escri Ecclesiasticos. II. O espirito daquel
to com grossos caracteres. No de le tempo, em que os Clerigos Se
1217 Orraca Viegas doou ás Salze culares a cada passo deixavão as suas
das quanto tinha em S. Joaninho Parochias, e se hião sepultar nos
de Moens pela sua alma, e de seus Claustros; quando hoje tantos Re
Pais: e tambem porque os Monges gulares, e sem causa alguma, que
a fizerão sua Familiar, e lhe derão não seja a desordem das suas pai
hum Breviario de toto anno. Et pro xões, abandonados os Claustros, se
rebora unum Breviarium de Carreira vão perder inteiramente nos laby
de dia, é º de nocte. Forão pois dois rinthos do mundo. III. A necessa
Breviarios: hum grande, e volumo ria, e fatal ignorancia dos Ecclesias
so, que servia para todo o anno, ticos, Parochos, e Clerigos Secu
e outro pequeno , mas que trazia lares daquelle tempo por falta de
tudo, assim para as Matinas de noi Livros, ainda dos mais indispensa
te, como para as Horas de dia. Li veis, para cumprirem exactamente
vro das Doaç. das Salzedas a f. 122. os seus deveres: fatalidade, que en
BREVIORIO. Livro Ecclesias tre nós se encontra até os fins do
tico, Breviario grande, que não só Sec.XV., não só pela raridade dos
continha as Horas do Oficio Divi Livros, mas tambem por falta de
no; mas tambem o Directorio, Ora Mestres, e por negligencia, despre
ções, Preces, Oficio de Defuntos, zo, e froxidão dos mesmos Eccle
Ladainhas, &c., que nas Funções siasticos, e mesmo Religiosos.
Ecclesiasticas, e administração dos No Cartorio de S. Simão da Jun
Sacramentos se praticavão; e por queira, se acha huma Confirmação
conseguinte pouco portatil, e o con da sua # de Ferreiros, dada pe
trario do Breviario de Carreira. No lo Arcebispo de Braga no de 1387,
de 1 14o Pedro Páádiiz, (ou segun na qual se lê: Dispensantes cum eo
do outra letra Paladiniz) Parocho dem, quod Constitutione nostra, (qu}
de Santa Maria de Avanca, fez Doa cavetur, ut nullus ad regimen Para
ção a Grijó De illo meo Breviorio, cbialium Ecclesiarum adsumi valeaº,
quem emi justo praetio ab ipsis Eccle nisi , quod legerit , vel cantaverir,
<iole Canonicis... Dº itaque ipsis Ca saitim ad literam valeat intelligere)
{10%
2o8 BR BR.
non obstante, dictam Ecclesiam licitè quidem vetere Hispanorum Lingua Ur
obtinere, Óº retinere valeat. Daqui se bem significat, ut Arabriga, Conim
manifesta, que mandando a &# briga, Cetobriga, Lacobriga, Ó mul
tituição, que os Parochos, ao me te aliae. E este he o sentir dos Hes
nos , entendessem á letra, o que panhoes mais eruditos, que dizem
lessem , e cantassem: o Arcebispo ser esta voz Celtica, e não Gothica.
dispensou aqui, para que fosse Pa Os Francezes com Du-Cange W.
rocho, o que, nem ao menos, en Briga II., Brighbot, e Briva, afir
tendia á letra, aquillo , que havia mão , que na Lingua dos Celtas:
de lêr , e cantar. No L.I. das No Briga significava Ponte, e que por
tas do Mosteiro de Villa Boa do Bis occasião das pontes muitas *#
po, a f. 11o se acha hum Prazo, no fizerão a terminação dos seus nomes
fim do qual se diz : Testemunhas, em Briga. V. g. Augustobriga, Ja
Pedro Afonso Comego, e Gonçalo Al marobriga, & c. Não faltando quem
vares, e Rodrigo Annes, todos Cone diga entre os mesmos , que Briga
gos, e Joanne Annes, Conego Leigo, significa o monte. Eu sigo Resende.
e Martim Lopes Capellão em o dito BRISTOL. Panno fórte, e gros
Mosteiro. E eu Prior, que este Pra seiro, fabricado em Inglaterra na
zo fiz, e escrevi por minha mão, ... Cidade de Bristol sobre o rio Avon,
por quanto ao presente não havia al donde se trazia muito a Portugal.
li nenhum que soubesse escrever. Fei Nas Cortes d'Evora de 1481 reque
to no an. de 1467. E no mesmo L. rem os Povos, que se prohibão com
a f. 95. Y. se acha outro Prazo de gravissimas penas os vestidos de *
1463 , em que se nomêão alguns da , e ornamentos de ouro, e prata 4
Conegos, dizendo-se, que eles o todas as pessoas , com certas limita
outorgárão, e com suas mãos proprias {ões a respeito da Primeira Nobreza;
o rovorárão; porém não se acha nel porém que dourado, e prateado nin
le a Firma de algum, e tão sómen guem o use: que haja diferença pelos
te a do Prior. Em outros nem ao trages das pessoas : que os Nobres
menos se acha a Firma do Prior. E usem de lã fina: os Oficiaes, e Me
daqui he facil de inferir, que mui canicos de lã, grossas, burel, bristºl,
poucos sabião por então escrever, é? c. que as rameiras , e que só fa
e muitos nem lêr sabião. . zem por hum homem , não usem de
BRIGA. Na Lingua antiga dos mantilhas , que andem em corpo , º
Hespanhoes, antes que fossem con sem chapins, com véos açafroados, pá
quistados pelos Romanos se cha ra que sejão distinguidas das mulhº
mou Briga a hum ajuntamento de res honestas.
gentes, que constituião huma Ci BRITAMENTO. Arrombamen
dade com suas particulares Leis, e to, fracção, força, arrombamento.
costumes. E assim disserão Flavio Fazendo-se muitos furtos , e roubºs,
briga, Cidade de Flavio: juliobri britamentos de prisões, filhamento de
ga, Cidade de Julio : Cetobriga, presas ás justiças. Cortes d'Evora
Cidade dos grandes peixes; pois co de 1442. •

mo diz Resende de Antiq. L. IV. BRITAR Quebrar, romper, des


falando de Cetobriga: Causa nominis pedaçar, arrombar. He dos principios
a Cetis, Óº Briga orta est. Briga fi da Monarchia, e ainda se usa *#na
C1 -
BR BR 2 o9
Beira. Britar nozes, britar pinhões, em que se accende fogo. Ainda ho
& c. por quebrar a dura casca que je dizemos, que esta, ou aquella
esconde o miolo. Britar o contrato: Povoação tem tantos, ou quantos
não estar por elle, ir contra o que Fogos, isto he, casas habitadas. Era
se ajustára : Britar os ossos , que pois a quarta Coima: quebrar, ar
brállos. Britar huma porta, arrom rombar, ou entrar por violencia na
balla. A huma especie de Aguia, casa de alguem: crime horroroso,
que com o bico quebra os ossos, e o mais opposto á tranquillidade
chamão hoje Aguia-quebrantosso; mas pública; sendo a casa de cada hum
antigamente lhe chamavão Brita lugar defeso a qualquer estranho,
0ff0f.
e revestido de huma immunidade,
BRITAR Camino. Em hum Pri e asylo natural para seu dono. Que
vilegio que D. Afonso IX. Rei de muito logo este crime pela sua enor
Castella concedeo ao Mosteiro de midade fosse reservado sempre em
Val de Deos, que he nas Asturias, os nossos antigos Foraes aos Meiri
depois de nomear os termos, e ba nhos d'El-Rei para não ficar impu
lisas do Couto do Mosteiro , diz: nido?... V. Calumpnia, e Lixo em
Infra quos praedictos terminos Sagió, boca.
seu Merinus non debet intrare sine man BRIVIA. O mesmo que Biblia,
dato , aut consensu Abbatis ejusdem Sagrado Codice das Divinas Escri
Monasterij, nisi tantumodo ad istas {UT2S,
quatuor voces: videlicet: ad Latronem BRIZAR. Embalar hum meni
publicum, ad Caminum britatum, ad no. Assim o diz Bluteau. V. Briza.
aleyve , & ad mulierem forciatam. BRUGO. Lagarta, pulgão, e
Ap. Hisp. Sagr. T, XXXVIII. f. 18o. toda a qualidade de insectos , que
Ora aqui temos quatro Vozes, ou destroem as searas. Vem do Lati
Coimas, que o Rei reservava para no Bruchus. Hã nem brugo, nem ou
os seus Ministros de Justiça , que tra traça, nom lhi pode empecer. Doc.
erão: Ladrão público: Adulterio, si de Almoster, de 1287. Em algumas
nificado por Aleyve, como se dis terras de Portugal ainda hoje cha
e V. Aleivosa: e o Rouso. Mas que mão Burgo a estes insectos.
será o Camino britado, ou quebrado?... BUCELLARIO. Soldado for
Será o crime de tapar, cortar, ou te, generoso, destimido, que ti
destruir o caminho, ou estrada pú nha a seu cargo a guarda do Prin
blica : crime que tambem se acha cipe, de quem era Apanigado, e de
contemplado, e punido em a nos quem tinha o Senhorio de algumas
sa Legislação?... Eu , se alguma Terras. Dos Gregos, e #
cousa vejo , sou de parecer , que este nome, e occupação aos Visigo
aqui se não trata de caminho, mas dos, que reinárão em Hespanha como
sim de casa, ou habilitação, em que se vê das suas Leis, Liv.V. L.I.T.2.
actualmente alguem mora , e faz Erão pois Bucellarios huns Archeiros do
fogo. Do Latino Caminus, que sig Soberano, mui authorisados 2 e no
nifica o fogão, fornalha, lareira, bres, e os mesmos a que os Latinos
ou chaminé, em que o fogo se ac chamárão Latrones: isto he, guardas
cende , se disse entre nós Foguei do corpo de hum, Principe : quasi
ra,Tom.
e Fogo:
I. a casa, ou habitação, Laterones; por andarem sempre ao

$@Ul
2 IO BU BU
seu lado, e terem prato da sua me nica dos Godos, ou Lusitana, que
za; razão por que forão ditos Bu anda appensa ao III. T. da Monarch.
cellarios: á burella: pêla mantença, Lusit. Nella se reconta , como no
que recebião. Na Cidade de Lame anno de 1 14o El-Rei D. Afonso
go, e no quintal dos Duartes, jun de Portugal sahio ao encontro ao
to á Praça de cima, se acha huma Rei de Leão: e que estando acam
rande Pedra Sepulcral, em que se pados hum em frente do outro, mui.
faz menção de muitas pessoas de tas vezes sahião os soldados a escara
nomes Hespanhoes, e tambem da muçar quod populares Bufurdium dicunt.
Familia Ladronum: que parcce não BULADOR. Burlão , trapacei
seria Titulo tão injurioso, como hoje ro, enganador. Salvo se estes tºle;
se appropria a esta palavra; mas antes forem buladores, e enliçadores. Cap.
distinctivo dos Bucellarios, segundo Esp. nas Cortes de Santarem de1325.
as Leis dos que naquelle tempo se BULHOM. Medalhão de ouro,
nhoreavão a Hespanha. (1) ou prata , cunhado para memoria
BUFFOM, e Bufon. Bofarinhei de algum notavel acontecimento, e
ro, que anda com a sua tenda ás tambem por occasião de alguma par
costas, e só vende cousas miudas, ticular empreza, ou para distincção
e de pouco preço, apregoando-as de alguma sociedade, ou Familia.
diariamenre pelas ruas. Doc. de La Allude esta palavra ás Bullas, que
mego do Seculo XIV. Tambem Buf os antigos Romanos trazião ao Pei
fom se disse o homem, ou mulher to para representarem, e fazeremos
farcista , theatral, goliardo , cho tentação da Nobreza, e antiguida
carreiro. Daqui Bufonerias : chacor de da sua geração. Os que compram
rices, graças, chistes, motes, que bulboens, e moedas, e outras couras
se achão em gente de theatro. defesas sem licença d'El-Rei, Carta
BUFONA. Mulher, que tem o d'El-Rei D. Duarte de 1434. Doc.
mesmo emprego que o Bufom. Doc. de Viseu. Tambem chamárão alguns
das Salzedas de 13oo. Bulbão: ao borbulhão, ou borbutão
BUFONERIAS. V. Bufom. d'agua , que furiosamente , e em
BUFURDIO. Jogo, brinco de grande quantidade sobe, e nasce da
Cavalhadas, justas, torneos, e to terra, o que se diz Borbolhar; e to
dos os mais divertimentos, que se dos estes nomes vem do Latino Bul
fazião por gente de cavallo, e ar lire : ferver com impeto, e levan
mada levemente, só a fim de se ale tando bolhas.
grar a si, e aos circunstantes. Es BULLA. Assim chamão hoje a
ta palavra he dos principios da Mo qualquer Diploma, Carta, Breve,
narchia como se póde ver na Chro Rescrito , ou Letras Apostolicas,
CS

(*) Entre os Godos muitos ingenuos, mas pobres, se acostavão aos grandes Senhores,
de quem recebião armas , e sustento , e os acompanhavão em todas as suas Expedições
Militares. A estes se davão os nomes; já de Clientes, porque erão huma especie de Li
bertos: já de Bucellarios, pelo mantimenro, que recebião: já de Exércitaes , porque de:
vião servir na guerra: já de Leudes, porque se obrigavão a serem fiéis , e únicamente
servirem ao seu Patrono , ou Senhor, de quem tinhão recebido algum Beneficio , ou
Aprestamo. Todos estes nomes se ajuntárão depois no de Vassallo; segundo a traducçãº
# i. Fuero 3ugo fez da palavra Bucellario, que alguns dizem ser o mesmo que Ex
[#(1C II"0.
BU BU 2 || I

escritas em pergaminho, com sello pção de Bulla por Sello; pois no


pendente, em que estão as Imagens Concilio Romano de 826 falando
de S. Pedro, e S. Paulo, e o nome se das Cartas Dimissorias, diz: Me
do Pontifice reinante. Porém anti tropolitavi Bulla eas muniri oportet.
gamente tinha Bulla significação mui E até o Seculo XIII. foi constante
diversa. Os Romanos chamárão Bul a praxe de chamarem Bullas unica
la á Insignia, que trazião ao pes mente aos Sellos. Depois deste tem
coço os que entravão triunfantes em po passárão as Bullas a significar os
Roma. O mesmo nome derão ás mesmos Diplomas Pontificios, firma
Medalhas, que os Nobres trazião dos, e munidos com Sello penden
ao peito, como Emblemas, ou Ci te. E não he para esquecer , que * •

fras da sua Nobreza , ou Ministe não só os Imperadores de Constan


rio. Na decadencia do Imperio Ro tinopla, mas tambem os do Occi
uano forão geralmente chamadas dente usárão firmar os seus Diplo
R"… Bullas todas as peças de ouro, pra mas com Sellos de ouro, a que cha
ta , e outros metaes, lavrados em n á áo Bullas Aureas ; mas isto só
# fórma redonda, e oval, e que ser quando versavão sobre cousas as mais
# vião de ornamento não só aos ra relevantes, e da maior honra , e
cionaes , mas ainda ás cavalgadu interesse, como Fundações de gran
ras, escritorios, cadeiras, portas, des Mosteiros, Privilegios de #
0 0; &c., e isto por terem quasi a mes jas, Erecções de Bispados, Trata
t:# ma figura, que as Bolhas, ou Emi dos de Casamentos , Pazes, &c.
polas d'agua, a que em Latim cha Isto mesmo praticárão os Reis, e
mão Bulle. Principes da Europa, e os mesmos
E porque os Sellos ordinariamen Pontifices Romanos para com os
te se formavão redondos, ou esfe grandes Soberanos, não ficando ex
cluidos deste número os Reis de
ricos, igualmente forão chamados
Bullas. Antes de Luiz II. Rei de Portugal , como se vê das muitas
França, chamado o Gago da linha Bullas Aureas , que se guardão na
dos Carolinos (e III. do nome entre Torre do Tombo. Tambem pela
os Imperadores do Occidente) que mesma razão se achão Bullas Argen
empunhou o Sceptro desde 877 até teas, por terem os Diplomas Sellos
879 sellavão-se as Cartas Reaes com de prata. Porém as Bullas, que em to
Anneis: elle foi o I. que deo o no do o tempo vogárão forão as de cera,
me de Bulla ao Sello Real. Assim ou chumbo, e destas particularmente
continuárão seus Successores até o usárão os Successores de S. Pedro
Imperador Ottão Magno, que dei depois da paz de Constantino. E
xando o nome de Bulla , usou da nem o Cl. Pereira de Figueiredo
palavra Sello; costume que ordina teve razão para dizer no seu Com
riamente seguírão os da linha dos pendio das Epocas a f. 494, que o
Capetos, que principiárão pelos Papa João IV. fora o primeiro que
fins do Seculo X, em Hugo Cape em lugar de Cera, usou de Sello de
to, e acabárão em Luiz XVI, gui chumbo,, pois elle he constante que
lhotinado no de 1793, hoje se guardão Originaes de São
Porém nos Monumentos Ecclesias Gregorio Mag., S.Leão I. , e mesmo
ticos ainda he mais antiga a acce de S. Silvestre, com Sellos de chum
ii • bo,

••
2 1 2 BU BU
bo, e escritos em Papyro do Egy chiepiscopal: no anverso do Selle
pto. Veja-se o Methodo de Diploma tem as Cabeças de S. Pedro, e São
tica da Edição de Lisboa de 1773 a Paulo , e no reverso, só apparecem
f: 446, e Du Cange V, Bulla, onde as duas chaves, sem nome de Pa
diz que por testemunho de Domin pa algum; não só porque então o
gos # , Guarda Mór da Bi não havia canonicamente eleito; mas
bliotheca Vaticana, se guardava no tambem porque este Concílio Geral
Archivo da Cidade de Arezzo em se havia declarado Superior ao Pa
Italia huma Letra Apostolica de pa no tocante á Fé, Extirpação dº
S. Silvestre, sellada com chumbo, Scisma, e Reformação da Igreja, ar
e que outras de seus Successores se sim na Cabeça, como nos Membros.
uardavão no Archivo do Castello - Antes do VIII. Seculo era costu
# Santo Angelo : todas antes de me sobscreverem os Papas as suas
João IV. Ao principio não se im Letras de proprio punho com a sau
primia nestes chumbos, ou Bullas, dação Deus te incolumem custodial,
mais do que o nome do Papa; po-: &#c. Behe-valete, ou outras semelhan
rém no Pontificado de S. Paulo, I. tes. Mas depois deste tempo o Br
do nome, já se praticava imprimir ne-valete foi reservado unicamente
nelles, além do nome do Pontifice ás Cartas, que concedião, ou con
de hum lado, as Imagens, ou Ca firmavão Graças , Privilegios, ou
beças de S. Pedro, e S. Paulo do senções: e a estas Letras Aposto
outro lado: o que sem interrupção licas chamárão Bullas-Pancartas: nel
foi praticado até Clemente VI., que las se escrevia o Bene valete com Le
em lugar destas Imagens pôz nos tras maiusculas Romanas. Porém
Sellos dos seus Diplomás o Brazão Leão IX, foi o primeiro, que redu
da sua Familia , que constava de zio a Cifra, ou Monogramma atal
sinco rosas. (a) •º
Saudação, fazendo escrever o seu
-

Todas as Bullas dos Summos Pon nome debaixo da linha, ou diame


tifices Eleitos, mas ainda não Coroa tro do Circulo, sobre a qual se vião
dos , ou que tinhão recebido a Ben os nomes de S. Pedro, e S. Pau
ção , ou Sagração não trazem no lo ; ficando no fundo das Pan car
Sello o seu respectivo nome; e por tar o tal Circulo á direita, e o Mo
isso, chamão a estas Letras Bullas nogramma á esquerda, e no meio de
Brancas , ou Defectivas. No Archi hum, e outro, o nome por exten
vo da Mitra Bracharense, e no Ar so do Pontifice Reinante, que igual
mario da Primasia , se acha hum mente sobscrevia primeiro, que os
Rescripto do Concilio de Constan Cardeaes, v. g. Ego Innocentius, Ca
ça de 1417 , para que o Abbade tholice Ecclesiae Episcopus, subscrip
de Tibães faça restituir os bens, si. Não negaremos com tudo, que
que andavão alheados da Meza Ar este modo de saudação padeceo suas
: V3
— i

. (*) Sendo já mais antigos , que a Religião de Jesus Christo os Seltos pendentes de
Cºurbº , e outros metaes, os Pontifices Romanos os usarão com o nome de Bulla an
teº,S.doPaulo,
e
Seculo mas
VII. tão
, não se achando
sómente neles,
o nome antes Estas
do Papa. de Paulo I , ,asouImagens
Ballas selos ,dese S.chamárão
Pedro,
*#* *ilas, se erão Passadas entre a Eleição, e a Consagração; pois então não ofere
ci㺠o nome do Pºpa, mas tão só mente de hum lado as Imagens dos dois Apostoie».

•4 -
BU BU 2 I3
variações accidentaes, procedidas do Cancellario da S.I.R.: o seu Momo
#
gosto dos Notarios, que o forma gramma se vê Tab.4. n.4: No de 1 135.
vão até o Seculo XV., em que ces Em Braga se conserva Original
sou este costume. Seria bem para huma Bulla de Eugenio III., pela
desejar , que entre nós se conser qual confirma á Metropolitana de
vasse alguma Bulla original do Se Braga todos os Sufragâneos, que
culo XI. , porém só em Braga se antigamente , e então mesmo lhe
achão alguns fragmentos das de Pas pertencião , segundo as Bullas de
choal II., e alguns seus Successores, Paschoal II., Calixto II., Innocen
já inlegiveis , e com os Sellos ca cio II., e Lucio II., e mesmo o Bis
hidos. Ainda assim daremos aqui hu pado de Zamora, como se havia jul
ma mostra destes Monogrammas nos gado por Sentença diffinitiva. Dada
principios, e meio do Seculo XII., em Roma, junto a S. Pedro por
remettendo os curiosos ás Collec Rolando Presbytero , Cardeal , e
ções , e Diplomaticas dos nossos Cancellario da S. R. I. no anno de
visinhos. - ----

1 153. O seu Bene-valete he da ma


Bulla de Paschoal II., pela qual neira, que se acha na Tab. 4. n. 5,
confirma aos Arcebispos de Braga E para encurtarmos leitura : no
os antigos limites da sua Igreja, Mosteiro de Tarouca está Original
assim como os tinha no tempo d'El a Bulla , ou Pan-Carta de Alexan
Rei Miro, e todos os bens, e pos dre III., pela qual toma debaixo da
sessões, que agora justamente pos sua Protecção este Mosteiro, seus
suia. Dada em Latrão por João Dia bens, e Pessoas, exime os Monges
como Cardeal , e Bibliothecario da
de pagarem Dizimos das terras, que
S. I. R. no de 1 1 14. Acha-se in
por si mesmos cultivarem, e dos ga
É º serta pelas suas formaes palavras em
dos , que criarem, &c. Dada em
outra de Innocencio IV., dada em Tours de França no de 1 163 por
Latrão em o anno XI. do seu Pon Hermano Subdiacono, e Notario da
tificado , que se guarda Original, S. I. R., da qual a Saudação he,
e com Sello pendente no armario como se vê Tab. 4. n. 6.
de Primazia : a de Paschoal II. só A nossa Hespanha, que submer
por copia supar alli se acha , com gida mesmo nas mais duras calami
o Monogramina da Tab. 4. n. 3. dades, se tinha governado no Es
Na Cathedral de Coimbra se con piritual feliz , e santamente até o
serva huma Bulla de Innocencio II., Seculo XII, sem muitos recursos a:
pela qual confirma ao Bispo D. Ber Roma, fóra dos casos raros, e da
nardo, e seus Successores todos os maior urgencia ; tinha para os or
bens, e possessões da sua Igreja: dinarios os seus Bispos, e para os
entre elles faz menção das Igrejas mais graves os seus Concilios, ou
antigamente Cathedraes de Viseu , e os seus Legados Apostolicos. Estes
Lamego , cuja Provisão lhes estava poueas vezes erão enviados de Ro
cºmmettida , e do Mosteiro de Lor ma, ordinariamente erão dos Mitra
vãº, que o Conde D. Henrique, e sua dos de Hespanha. No Archivo de
mulher a Rainha D. Thereza havião Primacial de Braga se acha extra
"adº 4 sua Igreja. Dada em Pisa hida do Regesto de Urbano II. hu
Pºr Americo, Diacono Cardeal, e ma Carta deste Pontifice para o Ar
CC
2 14 BU BU
cebispo de Tarragona, e todos os no Livro Preto daquella Sé a f 236.
mais Bispos de Hespanha, dando Deste modo se terminavão sem re
lhe parte que tinha feito Primaz cursos a Roma negocios de tanto
desta Peninsula a D. Bernardo Arce pezo ; sem que fossem necessarias
bispo de Toledo: e que a ele recor as nove Bullas, que hoje se prati
ressem todos nos casos graves; vis cão, para dar Bispo a huma Diocese.
to estarem tão distantes de Roma; Porém depois que a negra am
excepto se o negocio fosse tão gra bição dos Curialistas Romanos em
ve , e intrincado , que entre elles polgou nos metaes de ouro, e pra
se não podesse terminar. Com efei ta, que verdadeiramente nascem nes
to o Arcebispo de Toledo já dos tes Paizes, eles os quizelão redu
Antecessores de Urbano tinha o ser zir todos ao seu dominio; fazendo
Nuncio Apostolico em Hespanha; pois nos a mais-crúa guerra com Balas,
falecendo D. Paterno , Bispo de ou Bullas de chumbo, que tem feito
Coimbra no de ro87, logo o Cle vergar as nossas Estantes , depois
ro, e Povo se dividirão na Eleição de atulharem os nossos Archivos. O
do Successor; elegendo huns a Mar excesso foi tão longe, que nos che
tinho Simões Prior da Sé, que co gárão a vender infinitas Bullas fal
mo Eleito firma no Concilio de Fu sas; mettendo-nos por este modo
sellas de Io88; nomeando outros a em dúvida sobre algumas poucas ve
hum D. João, que no mesmo anno dadeiras. Alexandre III., Celestino
se achava em Monte-Mór, o Velho, III , e Innocencio III. , todos tres
onde se lhe passou Quitação de cer Pontifices Romanos, são os Garan
ta herança, de que elle era o De tes desta verdade. O I. reconheceo
positario: Facta K. W. Kal. Martij já no seu tempo muitas Bullas fal
E. M. C.XXVI. -- Qui praesentes fue sas, ou ao menos suspeitas, e indi
runt. Episcopo D. Joanne, quos vi gnas de fé, quando ellas encerrão
di, Óº confirmavi. Acha-se Original pactos illicitos, e simoniacos, e ou
entre os Doc. de Lorvão. tros indicios de supposição ; como
Neste conflicto de opiniões , e se póde ver em Mabillon De re Di
vontades o Cabido de Coimbra com plom. p. 623. E destas houve sem
approvação, e de consentimento do pre grande número, principalmen
dito D. Bernardo , que actualmente ºte no Scisma de Avinhão. O II. fez
estava presidindo no Ajuntamento dos passar no de 1195 as ordens mais
Bispos em Fusellas, elegê,ão para seu rigorosas contra os Fabricadores das
Pastor a D. Cresconio, Abbade de Bullas falsas, que em Inglateria fo
S. Bartholomeo de Tui, o qual o rão multados com penas de excom
mesmo D. Bernardo veio sagrar na munhão. O III. em fim, depois de
Sé de Coimbra , em dia da San mandar, debaixo de excommunhão
tissima Trindade do mesmo anno; a cle só reservada, que dentro de
sendo assistentes D. Edenço Bispo de vinte dias, depois da publicação das
Tui, e D. Pedro de Ourense, com as suas Letras, fossem extinctas, e sup
solemnidades costumadas, e com ap primidas todas as Bullas falsas, #
plauso mesmo do Clero, e Povo, que no seu tempo havia copioso
como tudo consta de huma Certi Sortimento , como se vê do * 1.
dão do mesmo Cabido, que se acha das suas Epistolas, (Epist. 235 da
Lui
BU BU 2 15
Ediç. de Baluz. , que passou a ser lher a Infante D. Thereza no de Io96
a Decretal do L.V. Tit. 2o. Cap. VII) se escreve a dita palavra com a va
logo na Decretal Licet de crimine riedade insinuada. L. dos Foraes
falsi, que se tirou da sua Epist. 349, Velhos.
passou a individuar as Regras, pe BURGO. Esta palavra he dos
las quaes se póde vir no conheci antigos Germanos, Cimbros, ou
mento dos muitos modos, com que Theuthoens: significava huma ca
se podião falsificar as Bullas. dêa de lugares, ou ajuntamento de
Com tudo a malicia, e ambição casas nas raias, ou fronteiras , se
fechárão sempre os ouvidos a toda guidas humas ás outras, e onde re
a Lei, Guilhelme Durando, Bispo sidião efectivas as Guardas Milita
de Mende no seu Speculum juris, res Romanas. A estas se ajuntárão
ue publicou no de 1271 , ainda muitos Nacionaes de Alemanha,
# algumas 42 regras sobre que dos taes Burgos se chamárão Bur
as Decretaes de Innocencio III., pe gunhoens, que rebellando-se em fim
las quaes se podia descobrir a falsi aos Romanos se estabelecêrão nas
dade das Bullas do seu tempo. Cer margens do Rhim , donde pene
to he logo, que continuavão as fic trárão até o mais interior da Fran
ções. Mas quantas se praticárão de ça. Nestes Burgos , que ao princi
pois, até mesmo os nossos dias?.. pio não tinhão muros, se fundárão
Com muita razão, pois, se concor com o tempo Torres, e Castellos,
dárão os nossos Monarchas , para que derão o nome a muitas Cida
que sem o Exequatur da sua Secre des, e Povoações Illustres, cujos
taria de Estado não corresse Letra Consules, Vereadores, ou Magis
alguma de Roma neste Reino. trados Supremos se chamão ainda
BURGALEZ, Moeda, que El hoje Burgamestres : quasi Magistri
Rei D. Sancho mandou fazer: ha praesidentes Burgo.
della menção no L. VIII de Odia De Alemanha passou esta voz a
na , a f. 16. Du Cange V. Burde França, que chamou Burgueses aos
galensis faz menção de huma par Moradores destes Burgos. Dalli fi
ticular moeda da Cidade de Bur nalmente passou a Portugal com o
deos, da qual a terça parte perten Conde D. Henrique, e com a mes
cia ao Bispo no de 1 186; mas de ma significação ; mas passados al
que figura , e preço ella fosse, o uns annos ficou restricta a signi
não diz. Parece que dalli nos vie # unicamente hum arrabalde, ou
rão os Burgalezes, que neste Rei lugar pequeno fundado junto de hu
no se usárão. Covasrrubias diz, que ma Cidade , ou Villa , Mosteiro,
achára em papeis antigos, que hum ou Cathedral , de quem está pen
Burgalez valia dois Pipioens, ou qua dente, ainda que algumas vezes ti
tro Mealhas. V. Pipiam. vesse Leis proprias, por que se go
BURGEL, Burgez, e Burguez. vernasse. Já vimos (V. Burgel) que
O que mora no Burgo, que algu no Foral de Constantim de Panoyas
mas vezes se tomava pela mesma o Conde D. Henrique chama Bur
Povoação, ou Villa. No Foral de gueses aos moradores daquella Po
Constantim de Panoyas, dado pe voação aberta, e que então mesmo
lo Conde D. Henrique, e sua mu se povoava, a qual por força se cha
ma
216 BU BU
maria Burgo. O mesmo Conde deo E que Burgo este fosse se declara
Foral ao Burgo de Guimarães , o no Foral que El-Rei D. Diniz, e
que se não deve entender dos que a Rainha Santa Isabel delão a Vil
moravão dentro da Villa, que elle la Nova de Gaya, passado em Lis
murou de novo ; mas sim da Po boa a 13 de Agosto de 1288; que
se acha no mesmo L. a f 73, no
voação , ou arrebalde , que se foi
ajuntando, e ficava fóra da Praça; qual se diz: Damus, Óº concedimus
pois a estas Povoações he que ain vobis Populatoribus de illo mostro lo
da hoje os Francezes chamão Baux co, qui consuevit vocari Burgum ve
burg , e antigamente Forsburg , e tus , cui imponimus de novo nomen
Forburg ; isto he, Lugar, ou Po Pilla Nova de Rei, pro Foro Forum
voação pequena , que está fóra da de Gaya, quod tale est : In primis,
grande, e principal. Destes Burgue é c. Daqui se vê que Villa Nova
ses de Guimarães se lembrou expres do Porto foi antigamente chamada
samente El-Rei D. Affonso Henri o Burgo Velho da Cidade do Porto,
ques no Foral , que deo áquella para distincção do Burgo Novo, que
Villa no de 1 158, determinando, a Rainha D. Thereza deo ao Bis
que as Herdades dos Burgueses: qui po D. Ugo.
mecum sustinuerunt male, ó penam E finalmente , como os Cister
in Vimarenes , numquam dent fossa cienses vierão de França a este Rei
dejras. L. dos Foraes Velhos. Os no , nelle promovêrão o nome de
males, penas, e afficções, que es Burgo nas Povoações, que se for
tes moradores do Burgo sofrêrão, márão junto, e á Sombra dos seus
foi quando o Rei de Leão pôz cer Mosteiros, dentro mesmo dos seus
co, e bateo esta Villa, de que lar Coutos; taes são os Burgos de Arou
zamente trata a Monarch. Lusit. ca, Lorvão, Salzedas, e Tarouca,
No L. Grande da Camera do Por que por occasião deste Lugar se cha
to a f 1. se acha o Foral, que D. ma hoje S. João do Burgo ; sendo
Ugo Bispo da mesma Cidade, deo bem para notar , que confirmando
no de 1 1 23 aos moradores do Bur Celestino III, as Bullas de seus An
go da Sé, que a Rainha D. The tecessores a favor deste Mosteiro no
reza lhe havia coutado. E ele he de 1 193, e concedendo-lhe de nc
certo , que estes Burguezes ficavão vo: que se não podesse fazer casa, ou
fóra dos muros , e Castello , que Palacio na distancia de huma legua,
os Gascões erguêrão, e dentro dos deste Mosteiro, de que podesse origi
quaes se incluia a mesma Sé. nar-se algum escandalo, ou perturbar
. No mesmo L. a f 72 se lê o Fo se a paz, e socego dos Monges : (co
ral, que El-Rei D. Afonso III. deo mo da Bulla Original , que alli se
aos moradores da sua Villa de Gaia guarda bem claramente se manifes
no de 1255. Tinha-se esta Povoa ta) a corrupção fizesse, que huma
ção reduzido a hum mui pequeno precaução tão saudavel inteiramente
lugar; por isso convida o Rei os se esquecesse!... |- - ºs
moradores de meo Burgo veteri de BURLA, e Bulra. Engano, zom
Portu a que fossem povoar a dita baria, peça, mentira, # CIl
Villa de Gaya, aos quaes dava o gano , tramoia , intriga , cabala ,
Reguengo, que alli tinha a Coroa. que o Bulrão, ou Illiciador fazhyna

BU BU 2 17
hypothéca, venda, ou dinheiro que si, e unicamente destinadas para
tomou emprestado. E daqui Bulrão: creação de gados, estrumes, e le
o Illiçador , ou Illiciador, de que nhas. E porque as manadas dos bois,
se póde ver a Orden. L. V. Tit. 65. e vaccas alli se encerravão, se dis
BUSTARIO. O mesmo que serão Bustos , pois fazião, e hoje
Busto.
mesmo fazem, o oficio de curraes.
BUSTO, I. Curral de bois, ou Em huma Doaç. de D. Vermudo III.
vaccas. Ha muitos Doc. em Hespa de Io31 se diz: Cum totis suis bus
nha do Seculo IX., que usão de tariis; dando a Bustarios o mesmo
Busto neste sentido. No Foral que significado, que a Bustos. Em ou
El-Rei D. Sancho I. deo á Covi tros Doc, daquela idade se achão
lhão no de 1 186. se determina: Qui Brauea, e Braneas, (que nós hoje
voluerint pausare cum suo ganato in dizemos Brenhas) no mesmo senti
terminos Covelianae, accipiant de illis do de Busto; mas depois forão sub
montadígum : scilicet: a grege ovium stituidas pelas palavras Prata, e Pas
IV, carneiros, Óº de busto de vacis, coa, que agora naquelas terras se
anam vacam: iste montadigo est Cou dizem Prados, e Panarcos; mas com
cilio. L. dos Foraes Velhos. Na bai alguma diferença das Bouças , que
xa Latinidade se disse Bostar, por tendo hervagens , abundão igual
curral, e tambem Bostarium, quari mente de matas ; sendo os Panas
statio boum. E daqui se disse Bus cos unicamente de hervas, e não de
to, no dito Foral; e tambem se vendo estar sempre, como as Bouças,
chama ainda hoje á immundicia dos fóra dos Povoados, e nos montes.
bois, e vaccas bosta; porque os seus BUTIRADA. Bica , bolo , ou
curraes, e ameijoadas são o depo fazedura de manteiga. V. Coóna, e
sito ordinario de semelhante mer Fazedura. -

cancia. BUZ. Beijo , osculo , sinal de


BUSTO. II. Nas Asturias, Galli reverencia, amor honesto, e corte
za, e na Provincia d’entre Douro, zia. Hoje se faz hum Buz , incli
e Minho desde o VIII. Seculo até nando alguma cousa a cabeça , e
o XII. se tomou Busto por Tapada, levando com gravidade a mão junta,
ou Bouça. São innumeraveis os Dºc. e quasi fechada perto da boca. A isto
que assim o persuadem, muitos dos allude o Adagio. Foi-se sem chuz,
quaes se podem ver nos Append dos nem buz, isto he, nem cousa algu
Tom. XXXVII., e XXXVIII, da Hesp. ma disse", nem o mais leve sinal de
Sagr. No de 965 fez El-Rei D. Af cortezia fez. . " …

fonso, o Magno, huma Doaçº am: BUZENO, Buzeo , Buuzeo,


plíssima á Sé de Oviedo, na qual Buzio. Medida de sólidos, que ain
se não esquece dos Bustos : e na que da hoje se usa entre Douro e Mi
fez ao Mosteiro dos Santos Adrião, nho , e he quasi do principio da
e Natalia no de 891 nomêa hum Monarchia. Em o L. Velho dos Obi
pasmoso número destes Bustos, que ros da Sé do Porto , e outros Doc.
não he de crer fossem outros tan antigos daquella Cidade se decla
tos curraes, ou rebanhos de gadº ra, que o Buzeno são dois alquei
vaccúm, mas sim Bouças, que são res e meio; mas hoje contém qua
fazendas de monte, fechadas sobre tro alqueires justos da medida cor
Tom. I. Ee ICIl
2 18 , 13U BU

rente : e por esta conta o Buzeno, tava o apressado, ou brevidade do


ou Buzio antigo erão sinco alqueires Canto.
dos nossos, que só fazião cada hum C. Com muita frequencia se acha
meio alqueire dos daquele tempo. mudado em G, e pelo contrario,
No de 139o pagou o Mosteiro de em Documentos desde o IX. Secu
Rio Tinto doze buzeos de segunda, oito lo até o XIV.
d'avêa, e quatro de milho pela medida C. A cada passo se acha nos an
do celleiro do Bispo, (do Porto) proce tigos Documentos substituido por
didos das Procurações, que se lhe não hum K. v. g. Karta, Kavallo, Ka
tinhão pago. Doc. das Bent, do Porto. ritel, & c. por. Carta, Cavallo, Cº
Nos Prazos do Mosteiro de Gan ritel.
fei he mui frequente esta palavra. C.. Algumas vezes se acha em
No Prazo de Lourido, que he no lugar de qu. V. g. Relinco em vez
Lugar de Tarouca da Freguezia de de Relinquo. Em huma Doação das
Cerdal, feito no de 1487, se acha Salzedas de 1339 se diz: Confesso,
a pensão seguinte: seis buzios e meio que eu abro mão, e Relhinco.
de pão meado: huma boa galinha; e C. por H, v.g. mici por mibi,
tres réis brancos, quando El-Rei pas se lê em muitos Documentos até o
sar o Doiro; e sinco de colheita, ou Seculo XIII.
visitação para o Bispo de Cepta, em C. por T., v. g. Porcio, Nuncius;
cada huum anno. por Portio, Nuntius, &c., he trivial
CIT) OS Monumentos antigos, que
I1OS TCS[2O, •

C. Substituido por Z, v. g. fit


C. dizes, Pontifizes, dozet, Inzendium,
fazentia, & c., he Orthografia do
C. Nas Cifras da antiga Arith Seculo X., XI., e se acha ainda
metica significava loo , accrescen no XII.
tando-lhe hum til, valia cem mil. . C. Delle usárão os nossos Maio
Acha-se o C. com as figuras 6, 7, res em lugar de S., v. g. carrada
e 8 da Tab. 2. n. 5., e com o valor nente, cocobrar, currador, e outras
de cem nos Doc. de Moreira, e ou semelhantes palavras, a cujo C não
tros. No de 1998 se vendeo huma ajuntavão a virgula, cifra, ou cedi
casa murea, com seu quintal em Cal lho, de que hoje usamos; e por is
dellas, junto do Rio Ave, da qual so pronunciavão sarradamente, soro
se fizerão duas Cartas, que se achão brar, surrador, & c. -

huma no anverso , e outra no re CÁ, adv. Porque. Ca nom; por


verso do mesmo pergaminho: am
bas forão escritas por Fr. Fromini
}ue I33O.
não. Doc, das Bent, do Porto
• •

mio VIII Kal. Marciaras. E.CXXXVI. . CABAÇA de vinho. Hum can


peracta milersima. No mesmo Archi taro de seis canadas, ou meio al
vo se achão as Eras M. CXXI., e mude, a que ainda hoje chamão ca
M. CXXXVII. Em todas fazem as baço na Provincia do Minho. E nos
ditas figuras exoticas do C o nú dardes huma fogaça triga, e huma ca
mero de cem. •

baça de vinho..…Prazos das Bent, do


C. Como Nota Musical, deno Porto de 1317, e 1331.
CA
CA CA 2 19
CABADURA. O mesmo que frequencia
com muita se chamão Ca
Cabedal. V. Cabo, e Capdal. No Fo baneros: os homens braceiros, e que
ral de Santa Cruz da Villariça de vivem do seu trabalho, e maneio,
1225 se determina que o Fiador, e que hoje mesmo se chamão Ca
obrigado por algum Cabedal; isto baneiros. Verdade he , que o uso
he, fazenda propria dos Mercado quasi tem mudado para as mulhe
#
res; não estando esta na sua mão, res pobres, e que vivem sem ho
não seja obrigado por ella., senão mens, aquelle nome, que era com
dentro de trinta dias: se porém el mum a ambos os sexos.
la estiver na sua mão, até que ef CABIDAL. V. Capdal.
fectivamente a entregue, poderá ser CABE. adv. Junto , perto, a
obrigado. De super cabadura, ad XXX. par. Em quanto fijo a tal Igreja no
dies. Defiadura de aver, quod deveat logo, em que ora jaz, fixou Cabé el
a dare, quando dederit , sedeat sol o seu Pendom, e nom ouzou de lidear.
tum. E fallando dos que pedem se Doc. da Fundação de S. Miguel de
guro , diz : Toto vicinº, qui pedir Lobrigos de 1 191.
de segurança cum tres vicinos , aut, CABEÇADA. AS. O mesmo,
tum uno alcalde, Óº non dederit, pee que Casal encabeçado. It : disse, que
tet V. morab. Et si transnotar, pe teem em Sagaadens os herdadores duas
ctet X, morab, qui dixer: non habeo cabeçadas de Reguengo. Inq. d'El-Rei
bomine, que me leve super cabo, det D. Diniz.
fiadores in L. morab, , asta tertium CABECEL. V. Casal encabeçado. *

diem : &" si non dederit , pectet L. CABEDAL. V. Capdal.


morah. Et postea det fiadores in CCCC. CABEDELEIRO. Aquelle, que
morab. Et si non dederit prendant il no seu contrato, ou negocio traz
los alcaldes cum rancoroso: Ó si non cabedal, ou fazenda alheia. Na Ca
fecerint cadat illos in perjurium. Es mera do Porto se acha huma Carta
ta era a segurança, # pedia o in Real de 1 379 , para que aos Cabe
diciado, ou suspeito de ladrão; por deleiros do Porto se lhes não con
que o ladrão sabido alli tem deter tassem os cabedaes alheios, para te
minada a sua pena. Tinha pois obri rem cavallos, e armas.
gação de dar fiador sobre o Cabe CABELLO. No Foral Original
dal , de que era arguido : não o da Villa de Santa Cruz da Ponte
achando, pagava 5o maravidis, &c. do Sabor, dado por El-Rei D. San
CABAES. Todo , e qualquer. cho II, no de 1225 , o qual se guar
Cabaes homo , qui intraverit in illo da na Camera de Moncorvo, se lê
termino causa male faciendi pectet Z. a seguinte passagem: Sifuerit man
modios. Foral do Souto Azaron, que cipia in capilo , aut cum touca , Óº
he em Terra de Panoias, dado por venerint rarcando per illa cal, Óº di
El-Rei D. Sancho I. no de 1 196. xerir: Folám.... (aqui se acha huma
L. dos For. Velhos. palavra em Portuguez demasiada
CABANEROS. Nas Inquir. d'El mente chulo, que corresponde ao
Rei D. Afonso II. se chama Fre Latim rem mecum violenter habuit )
guezia de Cabaneros, a que depois pro nomine salvet se cum duodecim;
se chamou de Cabanoens junto a Ovar. &º si non potuerit salvar, pectet tri
Porém nas d'El-Rei D. Afonso III. ginta morabitinos, Óº septima a Pa
Ee ii - la
22. O CA CA
Jatio. Et si non venerit rascando urque ma cousa mais dos cabellos. Em re
tertium diem , juret , sive tertium conhecimento do favor, que as Ma
exiat de calumpnia. Para intelligencia tronas Romanas derão ao Senado,
deste Foral se ha de advertir, e no" cortando os seus longos cabellos pa
tar, que havia muita diferença de ra cordas de navios , lhes erigio
huma mulher andar com touca , ou aquelle hum Templo intitulado Ve
em cabello : do primeiro modo an nus Calva. Berenice Rainha do Egy
davão as viuvas com a cabeça co pto, ficou tão contente, e satisfei
berta; assim como as casadas anda ta, quando vio a seu marido Pto
vão com ella descoberta; mas com lomeo felizmente chegado da Asia,
os cabellos atados, ou annelados: que consagrou no Templo de Ve
nus os seus formosos cabellos. Em
porém as donzellas, e solteiras, e
que ainda estavão debaixo de pátrio Roma havia huma grande arvore,
poder, e geralmente todas as que e antiquissima, em que os moços,
não erão casadas andavão com a ca e as Vestaes penduravão os primei
beça descoberta, e os cabellcs sol ros cabellos, que cortavão, chama
tos, e compridos. E destas se di da por isto Arvore Capillar. Os Gre
zia: ficar, ou estar em cabello: Re gos cortavão os cabellos aos meni
manere , aut esse in capillo. Se al nos , para os dedicarem a Apollo.
guma viuva pois de cabello curto, Antigamente , e já na Igreja San
e coberto com touca, ou alguma sol ta, com as mesmas Orações, Ce
teira em cabello comprido , e cabeça remonias, e Bençãos, com que pe
descoberta fosse violentada por al la mão do Bispo, ou Sacerdote se
gum, e ella nomeando o aggressor oferecião a Deos as primeiras bar
viesse dentro de tres dias clamando bas, a que chamavão Barbatorium
pela rua contra elle: este seria obri celebrare, se lhe dedicavão os pri
gado a defender-se desta calumnia meiros cabellos tamquam Primitie
com doze testemunhas contestes, que Juventutis : e segundo a Lei Sali
depozessem pela sua innocencia; e ca Tit. 28, e Tit. 68 na occasião da
não as adduzindo seria obrigado a Festividade Capillatoria, que se ce
pagar trinta maravidis: vinte e tres lebrava aos doze annos, costumavão
á queixosa, e os outros sete á Ca os Pais do menino dar aos outros
mera. Porém se ella se não queixas irmãos algumas dadivas. Os Chinos
se dentro dos tres dias , immedia ainda hoje estimão tanto os seus ca
tos á ofensa, ficava o aggressor li bellos, que jogaráó os seus filhos,
vre da calumnia , # simples as suas mulheres , e a sua mesma
mente, que tal não fizera. Nas Cor liberdade , mas nunca os seus ca
tes d'Evora de 1481 já estes orna belos. Os Lusitanos antigos, os
mentos da cabeça estavão alterados; Africanos, os Francezes criavão ca
pois nellas se determina: que as ra bello como as mulheres, para com
meiras, e que só fazem por hum bo isto serem tidos por Nobres, hon
mem, não usem de mantilhas: que an rados, e Illustres. Desde a primi
dem em corpo , e sem chapins , com tiva Christandade os que deixavão
véos açafroados, pera que sejam dis o mundo, depunhão jüntamente o
tinguidas das mulheres honestas. seu cabello. Até os Seculares, que
Digamos pôr esta occasião algu se fazião Confrades dos Monges para
SC
*

CA CA 22 1
{
serem participantes dos seus Benefi lando, todas as Nações fizerão es
cios Espirituaes, e Temporaes se of tima dos cabellos, e com tudo não
ferecião ao Mosteiro por hum dos faltou quem fizesse elogios á calva:
seus cabellos. No Seculo VII. se pra tal foi Synesio, Bispo de Cyrene,
ticava já esta ceremonia. Subia o como se póde ver no Tom. VI. da
pertendente descalço, e na presença Bibliot. Patrum , e Gaspar Barthio
de toda a Communidade, até junto no L, XLVI, das suas Adversarias,
do Altar: então o Abbade lhe corta Cap. XXII.
va hum só cabello, e o oferecia ao CABER. Capital, ou cabedal,
Senhor, em sinal de que elle se fa que se emprega nas bemfeitorias
zia escravo do mesmo Deos. Os Re de hum casal, casas, predio, ou
herdade. Acha-se em dois Doc. de
ligiosos ainda hoje cortão o cabel
lo, para mostrarem, que se fazem Pendorada: em hum de 128o se diz:
escravos de Jesus Christo , consa E prometerom so pea de fiaduria de
grando-lhe a sua liberdade na ob cem soldos, e de caber. Em outro de \

servancia Religiosa. 1324 se lê: Compriria, e aguarda


Os Sagrados Canones não só pro ria so pena de cem maravidis velhos,
hibem aos Clerigos o notrir cabel e caber.
los; mas ainda censurão nos Secu CABER. Verbo. Accommodar
lares o uso das guedelhas, prohi se com tudo, receber o que lhe dão.
bindo-lhes mesmo a entrada nas Igre
Vem do Latino Capio. Sse obrigou
jas, e não recebendo delles as obla
de estar, e de caber toda rrem, que
ções dentro da Missa , como de os ditos juizes arvidros julgassem,
gente profana , e em certo modo ordinhassem , Órc. Doc. da Guarda
excommungada. Vejão-se os exposi de 1289.
tores á Epist. 1. ad Corinth. 11. 14. CABERE. Sorte , quinhão. E
Os Penitentes públicos deixavão que elle teria na metade de sua mãi
criar o cabello, e a barba, mas sem — Cabere cum fratribus. Doc. das
ornato , ou composição alguma. Bent, do Porto de 1 153.
Com tudo entre os Godos erão man CABIDAR. O mesmo que Ca
2,
fº dados rapar a cabeça, por ser o ca vidar: prever, acautelar. Daqui Ca
vidado: acautelado.
bello comprido entre elles indicio de |

honra. Assim consta do Concilio Aga CABIDOS. Assim se escreve em


thense C. XV., e do Tolet. III. C.XII. hum Doc. das Bentas do Porto de
Os Longobardos adoptavão os fi 1359. Não só significa os Conegos
hos alheios , cortando-lhes alguns de huma Cătă , ou Collegia
cabellos. Esta mesma ceremonia era da, tomados collectivamente, e em
sinal de paz entre os desavindos. quanto fazem hum só corpo; mas
Com alguns cabellos cortados, e tambem antigamente se deo o no
postos sobre o Altar se confirmavão me de Cabidos aos Capitulos, ou
em lnglaterra as Doações feitas á Dietas dos Religiosos, assim Men
Igreja. Os conspiradores erão obri dicantes, como Monachaes, e nos
gados a cortarem-se reciprocamente quaes se congregavão os Prelados,
os cabellos ; porém os ladrões , e ou Cabeças dos Mosteiros, Con
outros malfeitores erão torpe, e in ventos, ou Congregações, para con
teiramente rapados. Geralmente ful sultarem, e resolvi em o que mais
COIl
22 2 CA CA
convinha ao governo, e boa admi col. Assim aos meninos do Coro,
nistração assim Espiritual , como como a todos os Commensaes, e Fa
Temporal dos seus subditos. Cha miliares de huma Cathedral , ou
mavão igualmente Cabido_ás delibe qualquer outra Corporação notavel,
rações, que os Prelados Locaes to que alli se dispunhão para o servi
mavão com os individuos das suas ço, e Ministerio dos Altares, appli
Communidades nas cousas, que a cando-se ao Canto, e primeiras Le
todos pertencião. E por isso nos tras, se deo o nome de Escóla. O Ca
Prazos antigos se diz : Convoca pitular, que tinha a inspecção geral
dos todos , e fazendo Cabido. Em sobre elles, se diria Mestre-Escola,
hum Doc, de Almoster de 1287 se ou Scholastico; porém o que os pre
lê: Vimos, e leemos em Latim o Pri sidia respectiva ao Canto, e Divi
a ilegio do Cabido Geral. Em algumas nos Oficios se disse Chantre, ou Ca
partes deste Reino ainda hoje cha biscol, como Cabeça, ou Chéfe des-
mão ás galilés, ou alpendres das ta Schola. Nas Alfonsinas de Hesp.
Igrejas Cabidos; sem dúvida, por P. I. Tit. 6. L.V., fallando dos Can
que além de outros usos, servião tores, se diz: E algumas Eglesias Ca
para os Parochianos alli fazerem as thedrales son, em que yá Cabescoles,
suas Assembleas, e Conferencias, tan que han este mesmo Oficio , que los
to pelo que respeitava á Igreja, co Chantres. E Cabiscol tanto quiere di
mo ás temporalidades da sua Fre zir, como Cabdillo de el Coro, para
guezia. - -
levantar los cantos. A 19 de Janeiro
CABIMAS. Acha-se esta palavra de 1139. D. João Arcebispo de Bra
nos Documentos de Lamego. Parece a, com licença, e consentimento
ser o mesmo que Cabimentum, que # seus Clerigos, vendeo a Pedro
vem do Francez Cabire: quod signi Spasandez , e a sua mulher Maria
ficar aliquid assumere, de quo quis se Argemeriz huma casa na Cidade de
putat rationem probe redere posse: Sic Braga. Facta K. venditionis, tempo
vocatur Commenda , quae Fratri suo ribus Infans Alfonsus , filius Comes
Ordine conceditar. Assim consta dos Enrici, Óº Reginae Tharasiae. XIIII.
Estatutos da Ordem de Malta Tit. Kal. Februarii. E. M. C. 2XX. VII.
19. S. XXII. apud Du Cange, Ego Johannes Bracarensis Arpús, in
CABISCOL. Chantre , digni meo robore , una cum Clericis meis,
dade, que n'hum Cabido, Colle in publico Concilio, manu mea roboro.
giada, ou Mosteiro tem a seu car Entre os Confirmantes se achão os
go a Prefectura, e governo do Co Arcediagos Pedro Odoriz, e Men
ro, entoação do Canto, regulamen do Ramiriz. Pedro Godinz Prior,
to, e decencia dos Divinos Ofi e Mito Cabiscol. Doc. de Thomar.
cios. Os bons Latinos lhe chamarião V. Primiclero. s" .
Chori , vel Cantorum Praefectus: na CABO. Fazer cabo : tratar com
Latinidade mais infima se disse: Ca respeito, fazer beneficio, estimar
biscolaris , Cabiscolus , Capischolus, em muito a pessoa de alguem. No
Capiscolius, Caput Scholae, Caput Scho Foral , que o Infante D. Afonso
laris , Caput Colista, & c. Os Hes Henriques deo á Villa de Guima
panhoes, e Francezes, ainda em rães , ampliando o que seus Pais
os nossos dias e chamavão Cupis lhe tinhão dado, e concedendo im
• • pu
#
CA CA 223
punidade aos matadores, e rousado 1368, pelo qual confirma aos de
res, que para esta Villa se recolhe Bragança o contrato, e avença, que
rem, com tanto, que não repitão fizerão com os Judeos, de não le
aqui os seus delictos, se diz: Pro varem estes mais, que o terço nos
inde quod vos fecistis honorem, & ca contratos usurarios. Os de Bragança
bum super me, Óºfecistis mihi servi (diz) se mi querelarom dos judeos,
cium bonum , & fidele: Et ego volo que per contrautos husureiros, e per
super vos, Óº super filios vestros, Óº mudamentos dos strumentos , des que
super omni progenia vestra , facere erão dobrados, faziam Cabeça das on
honorem , & cabo. No L. dos Fo zenas , e das crecenças ; poendo por
raes Velhos se acha datado na fór Cabo nos strumentos , que mudavam,
mas seguinte: V. K. Maij E. M. C. pera as levarem delles dobradas outra
LXVI, o que he humanachronismo vez: E que este mudamento de stru
palmar; sendo certo, que no anno mentos faziam em tal manejra per seus
de 1 158 já D. Afonso era Rei, e enganos, e per seus mudamentos, que se
não Infante , e supposto fosse já nom podia provar o primejro Cabo, que
viuvo tinha filhos, e de nada disto do começo fora feito: E que por esto fica
se lembra, lembrando-se unicamen vão pobres, e estragados. Manda o Rei:
te de favores, ajuda de custo , e que mudamento nenhum de prazo, que
grande fidelidade, com que os de primejro fosse feito, nom no fezessem
Guimarães o favorecêrão , para se per nenhuma manejra depois, pera fazer
livrar do Rei de Leão, e outras per Cabeça em outro, pera averem razom
turbações domesticas: o que só tem de levarem major conteå por guanbo,
lugar proprio na Era de 1166, que qua o terço, como dito be: convem a
he anno de Christo 1 128, em que saber : dous por tres... E que nom
ele se vio inteiramente Principe, e levassem ende majs, que o terfo da
quello, que primeiro derom de Cabo,
Senhor de todo o Reino de Portugal.
Ainda hoje dizemos fazer Cabo a como dito he. Se alguem pertender,
alguem : quando em huma Assem que no Foral da Guarda Cabo se to
bléa, ou lugar público se levantão ma por quinhão , parte, porção :
os circunstantes, e com urbanidade não contenderemos; mas saiba que
respeitosa, e afavel se dá assento as oito partes são da Coima. Vid. Sup.
ao que chegou mais tarde, ou está V. Cabadura.
menos bem accommodado. |
CABO. II. Fim, termo , limi
. CABO. I. Fazenda , riquezas, te, ou ultima baliza. Nos Foraes
cabedal. No Foral da Guarda, da do Seculo XII., e XIII. se deter
do por El-Rei D. Sancho I. no de mina a cada passo , que os mora
1199, se determina: De quolibet fur dores dos Territorios a que elles erão
to Domini furti recipiat suum Cabum, concedidas não fossem obrigados a
d9" alias PTII, partes dividar cum ju sahirem fóra dos limites do seu Con
dice per medium. L. dos For-Velhos. selho, para tratarem judicialmente
com os seus visinhos; mas sim que
Nos Seculos XIII. , e XIV. se to
mava na mesma significação. Nos na mesma divisão fossem decididas
Doc. deTarouca se acha sessenta libras as suas causas: em o de Numam
de Cabo. E nos de Bragança se acha º de 1 13o se diz: qui babuerit judi
Alvará d'El-Rei D. Afonso IV, de cium, vel junta cum bominibus defr'4

al
224 CA CA
"tra Dorium , habeant meiaidum ad CACHEIRA. Certa casta deves
portum Moestre de parte aaquende. tidura antiga.
E no da Guarda de 1 199 : Homi CACHONCEIRA. Cabelleira
nes de Guarda , qui habuerint judi de cachos, (que nada se parece com
cium, uat juntam cum bominibus de as Perucas) cabello comprido , e
aliis terris habeant illud in capite suo formado em anneis.
rum terminorum. Mas em outros Fo CACIFEIRO. O Conego, que
raes se diz , que os tenhão In Ca tem inspecção, ou administração da
bos suorum terminorum. Ainda ho Massa da Meza Capitular da Ca
je dizemos os Cabos do mundo : pe thedral de Coimbra, onde até ho
los ultimos fins da redondeza da je se conserva esta antiga palavra.
1CIT2. CACIFO. Cofre, onde se guar
CABO. III. Lugar , # cada da o dinheiro, que pertence á Mc
hum occupa, como fazendo Cabe za Capitular da Sé de Coimbra. E
ça por si mesmo. Todos em rembra, daqui se disse Cacifeiro. •

e cada huum em seu Cabo. Doc. das CACIFO. Medida de sólidos,


Bent. do Porto de 1 33o. mas irregular , segundo o Censual
CABO. IV. No Seculo XIII., e dos Votos do Porto; pois em humas
XIV. he mui trivial esta frase nos
partes levava tres galamins: em ou
Doc. de Tarouca , como de Cabo, tras , huma quarta, e meio gala
que quer dizer: com efeito, final mim, e a terça parte de meio Ça
mente, em conclusão. lamim, e tres destes Cacifos fazião
CABRÁMO. Corda, ou prisão, hum alqueire. Em outras o Cacifo
que se lança ao boi, ou bêsta da constava de huma quarta : em ou
cabeça para a mão. No de 1538 se tras sinco Cacifos fazião hum alquei
passou hum Alvará Real, para que re, e cada Cacifo levava hum çala
as pessoas, que tivessem Privilegio mim e meio, e a quinta parte de
de trazerem bois nos olivaes de meio galamim. Em outras, seis Ca
Coimbra os trouxessem acabrama cifos fazião hum alqueire; e então
dos ; ficando Coimeiros , ainda que hum Cacifo e meio erão a quarta do
andem peados, se lhe faltar o Cabrá dito alqueire. Em outras finalmen
mo. Doc, da Camera de Coimbra. te, hum alqueire constava de sete
CABRO. O mesmo, que Ca Cacifos , constando a quarta deste
brão. Do Latino Caper. E nos dareis alqueire de hum Cacifo e meio, e
mais per S. Miguel huum boo Cabro. hum quarto
Eccles. do de Cacifo.Doc, da Cam.
Porto. •

- CABRUA, e Cabruna. Toda a


pelleteria de cabra, ou bode. Pidi CADANHO. Cada hum anno,
mos a V. A., que nom dees Alvaraaes, annualmente. Doc. de Pendorada de
para poderem carregar Cabrúa. Doc. I312.
da Cam. do Porto de 1466. Ain CADAQUE. Todas as vezes que.
da hoje dizemos gado cabrum aquel Doc. de Coimbra de 1351 na Cam.
le, cujas pelles se chamavão Cabrúa, Secular. . . •

CACHADO. Escondido, cuber CADEXO. Troço de seda, ou


to, occulto. Andão nus da cinta pa de retroz.
ra cima , e para baixo cachados com CADEIXO. Livro velho, alfa
panhos de seda. Goes. 29.3. rabio.
CA
CA CA 225.
CADIEIRO. Carcereiro, o que por herança , partilha , ou sórte.
tem obrigação de guardar os pre Casal, que lhe caeu de seu padre. Doc.
zos. Nas Cortes # pedírão os de Pendorada de 1312.
de Pinhel muito encarecidamente a CAHIMENTO... Diminuição ,
El-Rei D. Afonso V, que por Mer falta , queda, desfalecimento. Re
cé, e á Onra da Morte, e Paixão de cebemos cada dia muitos agravos, com
Nosso Senhor Jesus Christo, perdoe, gram cabimento de Justiça, e em muy
e dê Carta de seguro a hum João de gram dano de nossas fazendas. Doc.
Barto, Cadieiro, a quem fugio huma da Cam, do Porto de 143o.
mulher da cadêa, (da qual fogida an CAHIZ, ou Cafiz. Medida dos
da amorado com medo de vossas fus sólidos, ou grãos. Havia Cahiz gran
tiças) allegando que o dito Basto de , ou maior : e Cabiz pequeno, ou
era homem muito fiel no seu Ofi menor: o I. constava de dezeseis al
cio , e muito util para este minis queires: (que era hum quarteiro, ou
terio, e que os prezos da Villa se quarta parte do moio ordinario, ou
ficavão guardando por adúa, o que geral, a que davão além dos quin
era mui gravoso do Conselho. E fi ze hum alqueire mais de vertedu
nalmente , que cada dia fogem pre ras) o II, constava só de oito al
$#
zos aos Cadieiros, e são-lhe relevados No de 1269 se deo huma
seus erros. B. o Rei , que aja Car entença Apostolica, por virtude de
ta , per que venha a Inquiriçom de hum Rescripto de Honorio III.,
vassa, e depois dará sobre ella o seu contra D. Durão de Córces, e Do
desembargo. Doc, de Pinhel. mingos Marcos, Barba de porco, que
. CADIMO. Assim chamão hoje tinhão feito graves damnos ao Mos
ao ladrão velho , subtil, e muito teiro de Santa Maria de Aguiar, e
exercitado nas artes, e destrezas de lhe tinhão furtado da Granja de Tu
furtar. Antigamente se chamava Ca rões 14 bois, 5 carneiros, e seis Ca
dimo: aquillo, que era público, pa fizes e meio de trigo, e centeo. Doc.
tente, e manifesto. E tambem aquel do Mosteiro de Aguiar. Desta me
le, ou aquella que usava contínua dida ainda hoje usão em Hespanha.
mente do seu Oficio. E porque es CAJOM. I. Caso, motivo, oc
tas mulheres, que assi mandamos li casião, acontecimento, successo Po
berdar, eram padeiras Cadimas, que pulou aqueste logo de grande Villa; e
continuadamente amafavom pam , e por esta Cajom, desto tempo em ca,
vendiam a Chrisptão, e a Mouro, e houve por nome Pena-Gedeom. Doc.
judeo. Carta d'El-Rei D. Afonso da Torre do Tombo de 1191, que
V. de 1455, para a Cam. de San contém a Fundação de Penaguião.
tarem. E no anno antecedente man CAJOM. II. Queda , perda ,
dou o mesmo Rei , que os Moe ruina. V. Somitimento.
deiros da Cidade do Porto não se CAJOM, Cajam, Cajão, e Ca
jão isentos dos concertos das pon jon. III. Desastre , infelicidade,
tes, e estradas públicas, chamadas Ca desgraça, infortunio. Ainda se usa
dimas. Doc. da Cam, do Porto. va desta palavra em o Seculo XVI.,
CADUU. Cada hum. Doc. das em que se tomava por injúria, af
Bent. do Porto de 133o. fronta, desar, insulto, ignominia,
CAER. Cahir , vir , acontecer opprobrio, ludibrio, vituperio,
Tom. I. Ff CA
226 CA CA
CAIREL. O Cabeça Possoeiro, CALÇADURA. Tudo o que
ou Cabecel de hum Casal, ou Coi he preciso, ou se costuma empre
réla. Havendo El-Rei D. Sancho gar no calçado do homem, ou mu
I. dado Foral ao Souto Azaron, que lher. Não pagará coura alguma o que
he em Terra de Panoias , no de comprar Calçadura pera seu uso; sal
1 196, nelle se acha repartido este vo sendo pelle inteira, ou ilhargada,
Terreno em quatro Coirélas por ou lombeiro. Foral de Monção por
outros tantos Povoadores. Et singu El-Rei D. Manoel no de 15 12 , e
las earum Coirelarum rendatis Nobis he frequentissima nos Foraes deste
PT. VI, quartarij uniuscujusque Coi Monarcha.
rele, & sedeant medietatem centeni, CALDEIRA. O Pendão , e a
4&º aliam medietatem milio, per men Caldeira erão as Insignias, e Dis
suram feriae de Constantim , que bo tinctivos dos Ricos Homens desde o
die ibi est. Et unus Cairelis rendatir tempo dos Godos até o Seculo XV.,
II, II, pelles de Comelios, & singulos em que de todo se extinguio este
almudes de pane couto centeno, Óº I # da antiga Nobreza, substi
almude de cevada. L. dos For. Ve tuido por outros, que actualmente
lhos. •

veneramos. Pelo Pendão se mostra


CALAÇA...AS. Parece ser a cos va o Poder, e Authoridade de alis
ta, ou banda de hum porco. No Fo tarem os seus vassallos para a guer
ral, que El-Rei D. Manoel deo á ra: pela Caldeira , que no mesmo
Terra de Paiva, no de 15 13, en Pendão, ou Estandartes estava pin
tre os muitos Casaes fozeiros, e tada, querião dizer, que tinhão
Reguengueiros, está hum, que pa muitos bens, munições de boca, e
ga a El-Rei, além de outros Fo dinheiros, para lhes pagar , e os
ros, dois alqueires de trigo, e tres manter. E daqui a frase guisar Cal
de milho, e Calafa, e meia de car deira: por dar mantimento aos sol
ne. E o Casal dos Moyos, entre as dados. Em as Historias de Hespa
mais pensões, paga a El-Rei huma nha, e Portugal lemos, que os Reis
Cósta , e meia de carne. Dizem al instituião os Ricos Homens dando-lhes
guns, que a Calafa, e a Costa são o Pendão, e a Caldeira; o que pa
Synonymos, e que a elles corres rece denota não pintura, mas reali
ponde hoje o Cobro, cujo nome se dade desta mysteriosa, e honrada In
dá a qualquer das peças entre os signia. Na célebre Igreja, e antiquis
presuntos, e cabeça do porco. sima, de Santa Maria de Saboroso,
CALÇA. Meia, calçado das per que hoje se acha na Freguezia de Bar
nas, e hoje bem conhecido. E bu cos, para onde o Titulo se mudou já
ma Velha, á qual as ditas Crara Fer nos fins do Seculo XIII., se encontrão
nandez, e Maria Rodrigues em tra notaveis Campas com insignias Mili
jo de homens, huma noite com huma. tares, e algumas nos mostrão Caldei
Calça d'arêa, derão tantas calçadas, ras penduradas, e suspensas de lanças,
de que , segundo fama morreo. Doc.que nas ditas Campas se achão escul
de Recião de 1458. pidas. Divo-lhe (a D. Gomes Mendes
CALÇADA. Pancada , golpe, Gedeão) que os Abbades nom guiza
ou contusão que se dá, ou faz com vão Caldeira pera as Hortes: neel fora
huma calça, ou meia.V. Calça. nunca contente de tal uzança. Funda
ção
CA
ção de Penaguião no de 1191. Doc. meadura seis fanegas de pão : na
da Torre do Tombo. •

parte mais baixa não estão fóra da


CALDO amarelo. Assim chamárão terra mais que tres palmos, e na
o que se fazia com gemmas d'ovos. mais alta pouco passão de nove.
E pagareis XX, ovos pera caldo ama Não se achão alli juntos alguns mon
relo. Prazo de 1365. tões de pedras, que nos informem
|

CALIABRIA. Quasi huma le das suas ruinas, e menos de canta


gua de Castello Melhor, entre Les taria » ( que naquella paragem se
te, e Nordeste, e já no termo de acha mui pouca, e essa de má qua
Almendra, e na Commarca de Ri lidade, e insignificante grandeza.)
ba-Coa, se achão as ruinas da fa He bem de crer, que as Povoações
mosa Cidade de Caliabria, que no mais visinhas se utilisarião della pa
tempo dos Godos foi Episcopal, e ra a construcção dos seus edificios.
nos Concilios de Toledo figurárão Neste sitio, que se faz observar de
os seus Prelados desde 62 1 até 693. larga distancia , por sua mais que
Pela irrupção dos Sarracenos cessá # elevação , e desabafados
rão os seus Prelados , e na restau Horizontes, a natureza era o prin
ração de Hespanha passou a Cadei cipal Castello, que a podia defen
ra Episcopal á Cidade-Rodrigo. Bal der : o seu terreno mui falto de
dadamente se empenhárão alguns Es aguas nativas, só lhe permittiria o
critores em levarem fóra de Portu uso das cisternas. Ainda assim não
gal a Cidade de Caliabria; porque deixou de ser povoado este tracto
além dos Povos circumvisinhos lhe de terra; pois ainda hoje se achão
chamarem ainda hoje Calabre, cor ruinas de pequenas Povoações, Abe
rupção sem dúvida do primitivo no goarias, e Casaes. No de 1767 se
me; no Archivo da Sé da Cidade descobrírão tres sepulcros em terra
Rodrigo se achão os Doc, incon de lavoura: indicavão serem de gen
testaveis do nome, e sitio desta Ci te Romana: erão fabricados de gran
dade , e principalmente em huma des, e finos tijolos, e as ossadas
Doação, que D. Fernando II., Rei mostravão ser de sujeitos de déz até
de Leão, fez áquella Cathedral no onze palmos de comprido. Nelles
de 1 171. havia algumas lnscripções sepul
Em hum angulo recto, que fór eraes, que a ignorancia, e mão gos
ma a Ribeira Aguiar, quando se to fizerão desapparecer, e roubárão
lança de Sul a Norte sobre o Rio mesmo á nossa lembrança.
Douro, se levanta hum ingreme, Quasi meia legua da foz do
e alcantilado monte , em cuja co Aguiar , e bem junto ao angulo,
rôa se admirão os notaveis muros que fórmão o Douro , e Agueda,
desta Cidade, de nove até déz pal ha hum descampado, a que chamão.
mos de largo, de pedra lousinha, Aldêa Nova, que dizem fora algum
e sem argamaço, ou outro qualquer dia huma boa Povoação. As gran
liame. Não tem fossos, torres, ou des escavações, e pedregulhaes im
baluartes: a sua figura he quasi de mensos, que ali se encontrão fór
hum circulo perfeito : todo o am temente nos convencem de alguma
bito que encerrão he hum campo, fabrica de metaes , que os Roma
que se lavra, e que levará de se nos aqui trabalhassem. Desde então
f ii pa

228 CA CA

parece ficou aqui a Lapide Sepulcral, segundo a seu Patrão. E que os tres
III de CORNEIIIA se hão de lêr
que hoje se acha na Capella do
Santo Christo, que naquelle mesmo por ET, veja-se na L. D. e E.
lugar, e de mui longos tempos se CALICE. Nascente de agua, ou
edíficóu. Na esquina do lado direi rêgo della. Ap. Bargan.
to desta Capella, e da parte de fó CALONHA. O mesmo que Ca
ra, se vê a dita Pedra, que diz o lumpnia.
seguinte: • •
CALVARIO. Moeda d’ouro ,
que fez lavrar El-Rei D. João III.
M O D E S T VS AV | R A T I F. C.º com o valor de 4oo réis. Tinha de
BE L. A N. L.X. C. O R. N I I I A. huma parte a Cruz levantada sobre
C E N S V L IA. A N. L. H. S. S. S. o Monte Calvario com a letra: In
V. T. 2. C. A V I M IV S M O DE hoc Signo vinces , e da outra o Es
ST IN V. S. PATR I. F I R M VS cudo Real coroado , e na orla es
M O D E S T I, L. I B. P. A T R O tas palavras: foan. III. Port. 6º Al.
R. D. Guin, Nada mais claro, que
Tem esta Lapide seis palmos de a origem deste nome.
comprido, e tres de alto, as letras CALUMPNIA , e Calumnia.
bem talhadas, e abertas no campo Hoje sabemos, que a Calumnia he
que fica entre as molduras da pe huma accusação falsa, e sem razão,
dra , que em tudo representa ser ou fundamento diante do Juiz, ou
mui chegada ao Seculo de Augus qualquer outro superior legitimo:
to. Se de outra parte foi trazida pa e que o juramento de Calumnia se
ra alli , ou se naquelle mesmo lu dá ao Author, para que não vexe,
gar se erigio esta memoria, só ad ou persiga ao Innocente. Porém nos
vinhando se poderá saber. O mais principios desta Monarchia não só
notavel desta Inscripção he o liga se tomava pelo que hoje dizemos
mento das letras; pois na 1º. régra Coima ; mas tambem por hum dos
se acha A/I de APTRATI em hum Direitos annexos á Coroa, que con |
monogramma, que representa hum sistia em pertencerem ao Real Fis
M, e o mesmo em AVI de AVT co as penas , ou multas de certos
MIVS da 4.º régra. E nesta mesma se crimes mais graves , e que muito
acha o L do S. V. T. L. com a mes perturbavão o socego dos Povos, e
ma figura , que nos principios da a tranquilidade da Républica. No
nossa Monarchia se dava ao L. nu ultimo de Abril de 115o El-Rei D.
meral, que pouco diferia de hum Afonso Henriques, e sua mulher a
2 do presente Algarismo. Por esta Rainha D. Mafalda , não só para
Lapide nos consta , que Modesto, remedio de suas almas, mas tam
filho de Avirato, acabada a guerra, bem pelo Dom , Caridade, ou Pre
em que havia militado, faleceo de fo de 3o maravidis, que de D. Odo
6o annos, e aqui foi sepultado com rio Bispo de Viseu, e do seu Ca
sua mulher Corneta Censulia , que bido tinhão acceitado, lhes confirmá
morreo de 5o annos de idade : e rão todos os bens, que elles, e seus
que Caio Avimio Modestino, e Firmo Antecessores tinhão adquirido, fos
Liberto de Modesto pozerão esta Me. se de Cavalleiros, ou fosse de Peões:
moria, o primeiro a seu Pai, e o accrescentando logo: Nec est preter
mit
CA CA 219
mittendum, quod bec omnia vobis ca Santa Cruz da Villariça lêmos o se
humpniati fuimus, Óº etiam aliquan guinte: Et nullo Pecto, nec nulla Ca
tiper retinuimus , nostra in eis ju lumpnia, nec intret ibi meo Meirino,
ra, Regalia scilicet , erigentes. Sed nisi judice de vestro Concilio. E lo
ab hac die, neque Nos, neque Filius, go abaixo continúa: Et omnes, qui
aut Netos.... Sit ausus haereditates de sua terra exierint cum homicidio,
illas inquietare , conturbare , & c. aut cum muliere rouzada, vel cum alia
Doc. da Sé de Viseu. Alli mesmo Calumpnia, qualibet sedeat (nisi quod
se acha original a Confirmação de non adducat mulier aliena de benedi
todos os bens, que Gonçalo Pires, ctione) sedeat defenditum per Foro de
e sua mulher Ermesenda Martins, Santa Cruce. Destas Calumpnias, cu
moradores em Viseu, havião com Coimas , que devião pagar os Au
prado , e adquirido de quaesquer thores dos crimes, e delictos fazião
pessoas, e ainda do Bispo, e Co dimissão os Reis algumas vezes, e
negos da mesma Cidade: Has verà outras as retinhão, e exceptuavão,
hereditates inquietavimus, ó" aliquam de que ha exemplos innumeraveis.
tulum retinuimur, nostra Jura, Re Na # do Couto da Barra ao
galia scilicet, in eis exigentes. Qua Mosteiro de Ceiça no de 1 175 di
propter, Órc. E daqui se manifes mitte El-Rei D. Afonso I, todos os
ta, que estas Calumpnias, ou Inquie Direitos Reaes , que alli tinha, a
tações tinhão por fim o arrecadar os saber: Herdade, Voz, e Calumpnia.
Direitos Reaes, a que estavão su E logo põe graves penas a quem
jeitas aquellas herdades. Mas comviolar aquelle Couto, ou nelle Ca
o rodar dos tempos ficárão Synonylumpniam aliquam fecerit , isto he,
mos Calumpnias , Coimar , ou mul rave crime, e daquelles em que o
tas, que pertencião ao Fisco Real; # Fisco devia ter alguma multa
No de 1 162 deo o mesmo Rei do criminoso. Doc. de Ceiça. Aqui
Foral á Villa de Moz, que alli se mesmo se guardão os Foraes, que
guarda Original, e nelle diz : E? este Mosteiro deo, hum aos Mora
nullo Pecto, nec nulla Calumpnia non dores de Colles no de 12 17, e ou
intret ibi, nec meo Merino, nec fu tro aos da Terra Nova no de 12 19.
dice, nisi totum per Judicium de Al No I. se diz: Non pectabitis vocem,
caldés. E logo falando dos furtos, nec Calumpniam, praepter 4.º : Ho
e roubos, diz: De quocumque furto micidium, Furtum, Rauxum, & il
colligat suo Domino suo Cabda}, &º Jud aliud nefandum. No II.: St ali
partat illa Calumpnia, Óº de Septi quis homicidium fecerit , aut domum
ma a Palacio, per manu de Alcaldes. vicini rui diruperit, vel stercus in os
E daqui se vê, que além de cou miserit, sive illusum fecerit, LX, sol.
sa furtada, que seu dono devia in pectet Monasterio. E finalmente na
teiramente receber, devia o ladrão Doação, que El-Rei D. Sancho I.
pagar Calumpnia, ou multa; da qual fez no de 12o7 a Martinho Salva
o rancuroso, ou queixoso devia le dor, e a sua mulher Sancha Pires,
var seis partes, ficando a septima da sua quinta de Villa Meãa, jun
ara a Camera, que então se chama to a Prime, e no Termo da Cidade
va Palacio, como representadora do de Viseu (e isto em attenção ao In
Soberano, V. Palacio. No Foral de fante, filho do Rei de Leão , eontra
túl
|
23o CA CA
rado para casar com a Rainha Santa la da Ponte , & c.: o que só que
D. Thereza, a qual eles filhão cria ria dizer, que estas Terras, e Igre
do desde menina; declara o Rei, que jas erão da Mitra, e os seus Dizi
lhes dá esta Herdade: Cum omnibus, mos, e Direituras a ella só perten
cião. E o mesmo se dizia das Ca
que in ea ad jus mostrum pertinent:
Silicet : Cum voce, Óº cum Calum maras Abbaciaes; isto he, das ren
pria » &º cum totis suis Directuris. das que pertencião á Meza Abba
Era pois a Calumpnia hum dos Di cial. O qual Casal he da Camara.
reitos Reaes, que consistia nas con Doc. de Pendorada de 1447.
demnações, ou Coimas dos que erão CAMARA de ferro. Grilhão,
culpados em certos crimes mais gra adobe, que se lança aos pés do in
"ves, segundo se continha nos res feliz, cativo, ou criminoso.
pectivos Foraes, CAMARA de artilharia. Carre
* CAMAL. V. Bacinete. ta, em que a artilharia descança, ou
. CAMALHO. O mesmo que Ca se conduz de huma, a outra parte.
mal. Ficou a Gil , pelo costume do CAMARA carrada. Desta falla
Porto , o cavallo do dito Vasco de a Orden. do Reino L. IV. Tit. 47.
Sousa, seu Padre, e huma espada, e S. I. Dizem que prometter Camara
huma lança, e huma loriga de caval carrada: he prometter huma incerta
lo, e duas falhas, e buum elmo com quantidade de arras. Porém se nós
*seu camalho , e buuus brafaaes , e attendemos á origem da Camara, e
huuns morequinrs, e humas luvas d’afo, á desta palavra carrada: será facil
e huuns coixotes, e caneleiras velhas o persuadir-nos que prometter Cama
de coiro , e buuin escudo, e fapatos ra carrada: he prometter tudo o que
de ferro buuns. Doc. de Pendorada he preciso para ornar, e paramen
de 1 359. - tar dignamente o quarto , ou casa
CAMANHO. A. Tamanho, tan de huma Senhora Nobre, distincta,
to. E os ditos fuizes hajam conheci e honrada, sem faltar cousa alguma
mento de todolos feitos crimes, e ci á precisão , decencia , e costume.
veis de qualquer condiçom , e cama V. Qarradamente. •

nha, e quanta quer conthia, que se CAMARA. Appelido em Por


ja. Carta d'El Rei D. João I. de tugal, e distinctivo de Nobreza. João
1386. filagnus.
qtiam V. Azinhoso. Vem do Latino Gonçalves Zarco, foi o primeiro que
• -

sahio em terra, quando se descobrio


CAMARA. Nos Doc. dos Mos a llha da Madeira, e logo encon
teiros, e Cathedraes se acha a cada trou com huma grande concavida
asso: Camara do Bispo: Camara do de, em que habitavão alguns lobos
Abbade: Camara do Prior, & c. Ain marinhos, a que cle chamou Ca
da hoje se chama Camara na Con mara de Lobos. Recolhido ao Rei
gregação de S. Bernardo á Ceila dos no El Rei D. João I. lhe deo o Ti
Abbades. Em todos os Bispados que tulo de Camara, que se perpetuou
se erigírão antes do Seculo XVI. ha com particular Brazão em seus Des
via certos Territorios, que se cha cendentes, que são bem conhecidos.
mavão Camera do Bispo. No de La CAMAREIRO. Oficio Monas
mego v. g. tinhão este nome Para tico , Vigario do Abbade. Era da
da do Lipo, Irovoeils, Velloso, Vil sua inspecção o vestir os Monges.
#
CAM
CA CA 231
CAMBA. Moinho pequeno, mo CAMPAYNA de SSo telha. Si
linheira, moinho de mão, picarnel. no pequeno, e manual, de que se
O mesmo que Kabe. V. Azena. usa tão sómente nas Procissões, en
CAMBAL. A farinha, que faz terros, e outras Funções Ecclesias
labío na mó debaixo. V. Agena. ticas dentro, e á roda da Igreja, á
CAMBHAR, Canbhar. Trocar. diferença dos sinos grandes, que es
Doc. das Bent. do Porto de 1295. tão fixos em lugar eminente para de
CAMBHEA: Troca, escambo, longe convocar, ou dar aviso ao
commutação. Doc. de Pendorada de Povo. Huum sino, e buuã Campaynha
I3O3. •__ A de sso telha. Doc, das Bent. do Por
CAMBUU. Escambo , troca, to de 1418.
commutação de huma cousa por ou CANADA. Passagem, ou cami
tra. Fazemos Carta de Cambúú, e de nho por entre paredes, ou lugares
.firmidoy, e de perduravil valor. Doc, ermos, e escusos. Esta não devião
das Salzedas de 1273. ter os gados pela terra de Bragan
CAMISA de Altar. Vestidura dos ça sem licença do Duque, a quem
Ministros do Altar, a que hoje cha se devia pedir, para averem Cana
mamos Alva. El-Rei D. Afonso, o da , e passada. Assim consta de hu
Magno, intitulando se Servus Chris ma sua Carta de 1457. Doc. de Bra
ti, e a Rainha D. Xemena Vernu ança.
la Christi, entre os Ornamentos do CANADELA. Medida usada no
Altar, que doárão com larga mão Seculo XIV. na Terra de Moncor
ao Mosteiro dos Santos Adrião, e vo: fazia tres quartas do alqueire,
Natalia, no de 891, depois de no que # corre, ou pouco menos;
mearem vestimentas , frontaes , pa
segundo consta do Alvará d'El-Rei
las , cassullas, accrescentão: Cami
D. Pedro I. para aquella Villa no
sar Altaris trez. Hesp. Sagr. Tom.
de 136 1; declarando, que suppos
XXXVII. f. 337, e a f. 311 se acha
to havia mandado, que fosse geral
a Doaç. de D. Afonso II., o Cas no seu Reino o alqueire de Santa
to, á Sé de Oviedo, na qual de rem : os de Moncorvo não pagassem
pois de hum grande número de cor dous alqueires de cevada , que fazião
tinas, frontaes, e outros Paramentos duas Canadelar e meia ; mas sim as
Sagrados, se accrescenta: Tunicas de seis quartas, que importavão as 2.° Ca
Altaria XIII. Foi isto no de 812. E nadelas. E que pagassem mais qua
daqui se vê, que por aquelles tem tro dinheiros velhos, como sempre
pos erão Synonymos Tunica de Al usárão; esquecidos já os dous paens,
tar, e Camisa de Altar. No Sec. se que pelos Foraes antigos tambem
inte achamos Avectos no Testam. devião pagar. El-Rei D. Manoel pe
de D. Mumadoma de Guimarães, ao lo seu Foral de 15 12 declara, que
que parece, no mesmo sentido; cha a oitava de cevada são dois alqueires
mando Habitos,
V. Avito, ou Avitos ás Alvas. da medida que ora corre; e reduz os
e Kemiro. •

pães, e dinheiros a seis réis do di


CAMISIO. Alva, vestidura Sa nheiro presente. Doc. de Moncorvo.
cerdotal. CANALEGAS. Carneiros, cam
CAMISOTE. Armadura antiga, bôas, pesqueiras em muitos Doc.
que cobria todo o corpo. do Sec. IX., X., XI, se acha esta
pa
232 | CA CA
CANHAMAÇO. Assim chama
palavra. Em hum de Oviedo (ºp.
Hesp. Sagr. T, XXXVIII. f. 281.) vão á estopa grossa do linho gale
se diz : Cum mulinis , Óº canalºgiº go, e ao panno ordinario do linho
in Cuvia flumine. Ávoz Canalºgas sub Cál1] CITO.

stituírão depois piscárias, assim nas CANISTEL. O mesmo que Ca


Asturias, como em Portugal. nistrel, canastra , ou cesto de vi
CANAMEIRO. Terra semeada mes, talas, ou juncos. Dous leitos
de linho canimo. Instrumento sobre de madeiro de companha, e duas me
a Fabrica do linho canimo de 1627. sas, e estopa, e Canistees, e penei
Doc. de Moncorvo. ras, e as séédas da porta, e dous to
CANBA. Troca. Doc. de Pen nees velhos pera pam. Doc. de Pen
dorada de 1282. dorada de 1359.
CANBHAR. O mesmo que Cam CANONICA. Assim chamavão
bbar. ao Mosteiro, em que se vivia, se
GANDEA. Assim chamárão os gundo a fórma dos Sagrados Cano
Antigos Portuguezes a toda a lam nes, ou em que vivião Conegos.
pada, ou tocha, sem diferença de No de 1 138 a Flamula de Deos Flam
arder em azeite , ou cera a sua mula Gomez doou certas herdades,
chamma. Ou do Latino Candella, (e entre elas huma, que tinha si
ou do Arabico Candil : elles deri do de sua Avó Aona Domna Flam
várão o nome Candéa , que ainda mula) Canonicae Sancti Salvatoris de
conservamos em a Procissão das Can Ecclesiola. Doc, de Grijó. Tambem
déas. Em os tempos mais chegados se disse Canonica: o estipendio con
ao nosso chamárão Candéa : ao ro signado aos Conegos para a sua sus
lo de cera , e de que nas Missas tentação. -

particulares, e usos domesticos se CANTEIRO. Assento, que se


llS3 V3 . diz malhal de pedra, ou páo, em
CANDEU. O mesmo que Can que descansão as cubas, pipas, ou
déa. Nas Inquirições d'El-Rei D. toneis. V. Encanteirado, e Gallinha
Diniz de 131 o se achou em Rio de Canteiro.
frio, Julgado de Valdevez hum Ca CANTIDADE. O mesmo que
sal, que fôra de Pedro Barva, ho qualidade , ou condição. E lhe ou
mem da Rainha D. Tareyia, o qual torgamos , que possa vender , ou ex
asinoou cada ano ao Espiral por esse cambar o Casal com pessoa de maior
Casal pera obrada, e pera Candeu dous cantidade, que elle. Prazo do Sec.XV.
mors, e meyo, e dous puçaes de vi CAPAO afoncinhado. Nos Pra
nho pela Regaenga , que faz huum zos do Mosteiro de Ceiça do Se
puçal pela de Ponte. culo XV., e XVI. se acha de Pen
CANDIEIRO. O Oficial, que são , além de outras : Hum Capão
faz candêas de cera , a que hoje afoncinhado, bom, e recebedondo.
chamamos rolo; este era differente EAPDAL, ou Cabdal. Hoje se
do Cerieiro , que fazia vélas , to toma pelos bens, e riquezas, já na
chas , e brandões. No de 1487 se turaes, já de raiz, já móveis, e se
mandão taxar as obras dos Pichelei moventes, já moraes, e de espiri
ros, Cirieiros, e Candieiros da Cida to. Porém antigamente se tomava
de do Porto. Doc. da Camera. por hum Direito Real, a que cha
Ii]2
CA •
. . CA 233
mavão Direjto de Cabeça, Censo Fis erão obrigados a este Censo, ou Ca
cal, jugada, ou Fossadeira, e tam pdal Homines Capitales: e á sua ar
bem Herdade, o qual se impunha recadação chamavão Capitum exactio»
áquella porção de terra, que cada ou exigere Capita. Delle se não es
hum possuia; e por isso se chama quecêrão os nossos Soberanos, e de
va tambem algumas vezes Canon fru pois á sua imitação os seus vassal
mentario, ou fugo de terra. Para cu los. No de 1 132 coutou o Mostei
ja intelligencia he de notar, que os ro de Arouca o Infante D. Afonso
Reis Godos conquistada a Hespa Henriques a Monio Rodrigues, fi
nha, repartírão as terras de cultura lho de D. Tóda, e a sua mulher,
entre os Godos , e Romanos, ou e diz: Amodó facio Kautum illum,
Naturaes do Paiz, debaixo dos mes tali modo, ut omnem remillam, que
mos Direitos, com que o havião ex ad Regem pertinêt, Callumnia, Kar
ecutado os Imperadores Romanos. ritellum, Fossadariam, Regalengum,
Os Lavradores se reputavão a res dimitto , Óº dono, ut illis, qui ha
peito do Fisco, como huma espe bitaverint in Monasterium illum, ha
cie de servos , especialmente nos beant semper faciendi que voluerint.
primeiros trinta annos, passados os Doc. de Arouca. No de 1 174 , de
quaes, adquirião o Titulo de Colonos pois d'El-Rei D. Afonso I. ter re
para si, e seus descendentes, e per munerado ao Bispo de Lamego a
manecião nas herdades como livres; Dimissão, que fizera dos Direitos
havendo-se chamado até então Ser Episcopaes no Mosteiro das Salze
vos Adscripticios, pela necessidade das, e seu Couto; passa a eximir
de haverem de subsistir inseparaveis de todos os Direitos Reaes os dois
da gleba. Entre os Direitos, que o Casaes, que D. Thereza Afonso.»
Fisco exigia destes Servos Fiscaes, Fundadora do dito Mosteiro, igual
assim Colonos, como Adscripticios era mente déra á Sé de Lamego : eis
o principal o de Cabeça, ou Fossadei aqui as suas palavras: Et cauto illa
ra, que se pagava de cada jugo , Casalia , atque ab omni jure Regio
ou jugada de terra , e ao qual se absolvo, videlicet, voce Cariteli, Ca
davão os mais nomes indicados aci lumnia, Capdali. E o mesmo Bispo
ma, Succedia tambem em alguns ca confessa no Instrumento da dita Di
sos ficar o Fisco por herdeiro des missão, que o Rei libertára estes
tes Colonos, ou Servos: e a esta dois Casaes: Ab omni debito Fiscali»
Herança chamavão Luctuosa , que scilicet , Cabdali, Calumpnia , voce
hoje se acha com este nome unica Cariteli , & ab omni debito Regio.
mente em alguns Foraes antigos, Doc. Orig. do Cabido de Lamego.
ou Prazos , usos , e costumes das Temos logo, que o Cabdal, ou Cap
Igrejas; mas em sentido mui dife dal de Lamego era o mesmo, que
rente das Luctuosas Fiscaes. a Fossadeira de Arouca, e hum dos
A este Capdal, ou Direito de Ca Direitos pertencentes ao Real Fis
beça chamárão na Baixa Latinidade co. Na Doação do Couto da Bar
Capagium, Capatagium, Capitagium, ra, que o mesmo Rei fez ao Mos
Capitale , Capitalitium, Capitis Cen teiro de Ceiça no de 1175 declara,
sus , Capitalitius. Census, Cavagium, que lhe dá, e concede tudo o que
Chevagium, e Caveliciam. E aos que ad Regale jus pertinet: Hereditatem.»
Tom, I. Gg scis
234 CA CA
scilicet, & vocem, ó Calumpniam. ja , ou Communidades Religiosas.
Doc. de Ceiça. E daqui se mani It : Michaeli puero de Trovoens Cap
festa , que a Herdade era Synony pam-Sagiam, Óº unum modium. Ib.
mo de Capdal. •

CAPADEIRO. Capador, o que


… No Seculo XIV., se chamava Ca tem Oficio de castrar os animaes.
bedal a Pensão, ou principal Foro,CAPEIROM. Capa grande. It :
que se pagava de hum Prazo. Dez D. Egidio Garmachiam, & Capeirom
quarteiros de pam de Cabedal. Prazo de Engres mayorem. Testam. de D.
das Bent. do Porto de 1312. De Pelagio Bispo de Lamego de 1246.
des em cada huum anno de Cabedal CAPELLA. Confundírão alguns
huum moyo de pam segunda, pela tei as Capellas com os Morgados, sen
ga do almude de Canaveses. Prazo de do cousas mui diversas. No tempo
Pendorada de 133o. De Capdal o de Guilherme , o Conquistador , se
mesmo que bens, riquezas, ou di acha entre os costumes Feudaes o
nheiro, com que hum Mercador ne Feudo por serviço Divino , isto he,
gocêa V. Cabo II, e Calumpnia. No certos bens dados, ou doados a hum
ta: Em os nossos Foraes antigos se Prior, Parocho, Mosteiro, ou Igre
mandava , que o ladrão restituisse ja pelo serviço de cantar Respon
a seu dono todo o Cabedal, que lhe sos, dizer Missas, ou repartir es
tinha furtado: e que além disso pa molas pela alma do Doador em cer
gasse tanto , ou quanto de Pena, to número, e determinado tempo.
IMulta, ou Emmenda: e nesta Pena E daqui se manifesta, que nos costu
he que o Soberano tinha a sua par mes Feudaes se não desconhecião os
te, que talvez era a setima, talvez nossos Capellães; (ainda que não fal
a oitava Coima, de que ordinaria tou já entre nós quem procurasse a
mente fazia Mercê aos Concelhos origem dos nossos Capelães nos cos
a Real Coroa. . .
tumes dos Arabes, e não sem algum
CAPPA de Engres. Capa feita fundamento) Estes bens assim dados
de panno, que se fabricava, e vi ás Mãos mortas ficavão sempre na
nha de Inglaterra a Portugal. It : sua administração, quando não fos
Michaeli Martini mulam Zamorensem » se no seu dominio, e erão sempre
& Cappam de Engres. Testam da dos adquiridos, para que se não of
Sé de Lamego de 1246. * . * . fendesse o Direito da Linhagem, ou
CAPPA-PELLE. Parece que he da Avoenga. E nisto se diferença
huma capa forrada de pelles, co vão as Capellas dos Morgados: estes
mo hoje se costuma forralla de ar se constituião nos bens da Familia:
minhos. Verdade he que João deJa aquellas nos adquiridos. Além disto,
nua diz, Capa pellis: quasipellis cum as Capellas tinhão hum destino pu
capa. It : Dominico Alfonsi Cappam ramente Ecclesiastico, e os Morga
pellem, ó almucellam, ó"pulvinar, dos hum destino meramente civíl. E
quod tenet. Testam. da Sé de La daqui vem, que nas Cortes do Rei
mego de 1 246." " no, e por aquelles tempos, os Fi

APPA-SAYA Capa fechada, dalgos fallavão em Morgados, e os


e redonda, e que imitava as abba Ecclesiasticos em Capellas. Multipli
tinas de que usão os Ecclesiasticos, cados em grande número os Mor
e quaesquer Serventuarios da Igre gados em tempo d'El-Rei D. Afon
$O
CA CA 235
so V., se entrou a pôr nos Morga jar com os Castelhanos, (diz a sua
dos alguns encargos pios, e a da Chronica) a Cidade de Lisboa se
rem-se ás Capellas Administradores obrigou por si, e por seus descen
Leigos. Para evitar esta confusão, dentes, a exterminar por huma vez
declarou El-Rei D. Manoel ser Mor muitos abusos, que ainda lhe ha
! gado, o que tendo certo Encargo, vião ficado dos Mouros, e mesmo
todo o mais rendimento he do Ad dos Gentios. E assim promettêrão de
ministrador : e ser Capella , o que não usarem mais de feitiçarias , li
tendo certo premio para o Admi gamentos , encantaçoens , védeiras,
nistrador , tudo o mais he do En carantular, sonhor , rodar , fortes,
cargo, como se diz na sua Orden. & c. E que ninguem carpisse, nem
L. II. Tit. 35. S. L. Porém isto mes bradasse sobre algum finado, posto que
mo se tornou a confundir com o no fosse Pai, ou Mãi, filho, mulher, ou
me de Vinculo, que tendo o mesmo marido; mas que trouxesse seu dó, e
efeito, e successão, comprehendia chorasse honestamente: e quem o con
huma , e outra cousa, até que as trario fizesse, pagasse certa soma de
Leis de 1769, e 177o suscitárão a dinheiro, e tivesse o defunto oito dias
diferença, regulando huma as Ca C/// C(1J'(1. - % .

pellas, e outra os Morgados. . CARCERATICA. Carruagem,


CAPELLA. Ornamentos, peças, multa que pagão os que entrão na
trastes do Altar, e tudo o que ser cadêa. No de 1 ro7 intercedêrão os
ve á Liturgia. Fez bir diante toda Monges de Paço de Sousa , para
a sua Capella. He trivial no Sec.XV.que o Meirinho do Conde D. Hen
CAPTELA, Refolho, demasia rique, que governava na Cidade |
da cautéla, dobleza de animo, se do Porto, não fizesse arrancar os
unda intenção, dólo, fraude, ma olhos a hum moço, que tinha fur
# Que elle entregue simprismente, tado humas ovelhas. Então o Pai do
e sem Captela , o pé da Cruz, que rapaz em agradecimento doou ao
tomou da Sancristia. Doc. do Secu Mosteiro certos bens de raiz. E pa
lo XV. • *
ra rebora, e confirmação da Escri
CARANTULAS. Imagens, li tura, derão os Monges ao Doador:
nhas , cifras , ou caractéres magi Unam mantam , adpretiatam in qua
cos, que na Baixa Latinidade se dis tuor modios, & septem cubitas de len
serão : Caragma, Caranisa, Carau zo, que dedimus ad illos saiones in
da , e Caraula : e o Magico, que carceratica , Óº duos modios in Saior
destes caractéres, ou Imagens usa nizio. Doc, de Pendorada...V. Ca
va foi dito Caragus , ou Carajus, thematicio. • -

isto he, Praestigiator, Sortilegus. Es CARCOVA. Porta falsa, ou ca


tes Carágos fazião os seus encantos, minho encuberto. No de 1431. em
particularmente ás sementeiras; apro prazou a Camera de Coimbra hu
veitavão-se do canto das aves para ma casa, que costumava ser Carco
os seus augouros; chamavão os de va, e azinhaga; com condição, que
monios com certas fogueiras, &c.; em tempo de guerra, fazendo pre
mas tudo isto na apparencia, e se juizo ao muro a dita casa, sejão os
gundo o prejuizo dos Povos. Ha emphyteutas obrigados a derriballa,
vendo El-Rei D. João I. de pele e abrirem a Carcova. Doc. da Cam.
Gg ii de
236 CA CA
de Coimbra, onde se faz menção tello de Caria juntamente com os de
de Corcova em outro Doc. de 1404. Trancoso, Moreira, Langobria, Nau
. CAREZA. Despeza, gasto, dis mam, Vacinata, Amindula, Penade
pendio. O Bispo os asolva ende , ou dono, Alcobria, e Semorzelli. Com
faça asolver, tem outra careza. Doc. este nome se conserva sem corrup
da Guarda de 1298. •
ção até os nossos dias. Mas onde
CARGA. Havia carga maior, o seu Castello existisse os nossos
e carga menor , e carga de carro. Historiadores o não disserão , sen
A I. he de bêsta muar, ou caval do que muito bem podião ver , e
lar, e tem déz arrobas : a II. he admirar a grandeza das suas ruinas
carga d'asno, ou jumento, e cons sobre o mais alto do monte , que
ta de sinco arrobas ; ficando duas fica sobranceiro ás terras de Mui
arrobas e meia a cada costal, (que menta da Beira , que então fazião
era o pezo de quatro alqueires de parte do seu dilatado Territorio, em
pão ; pezando cada alqueire vinte quanto pela destruição de Alman
arrateis, que fazião oitenta arrateis, çor não ficou tudo em confusão; fa
ou tres arrobas e meia) a III. em zendo nos principios da Monarchia
fim , que he de carreta, ou carro, hum Jul
deve ter vinte arrobas. Assim o de
# pertencente a Leomil,
em quanto no Seculo XIV. se não
clara El-Rei D. Manoel no Foral erigio em Concelho , e Villa por
de Monção de 1512. si. Deste modo ficou cerceado em
CARIA. Em Portugal temos al grande parte o Concelho de Ca
mas Terras com este nome: fal ria, e a sua Capital, que era o dito
# só da que pertence ao Bispa retirando-se
Castello, se começou a despovoar,
os seus moradores á som
do de Lamego. Para com os bai
xos Latinos Caria não só significa bra da paz para Lugares mais com
#
pão; mas tambem a Malatolta, ou modos, e abrigados. no Sec. XIII.
máo costume , injusta, e violenta havia Caria de fusãa, e Caria de Su
imposição de algum foro , ou tri sãa, isto he, Caria de baixo, e Ca
buto. Sousa afirma ser huma das pa ria de cima.
lavras que dos Arabes nos ficárão, Na Gav. 23 dos Doc. de Tarcuca,
e que significa: Villa, Aldêa, Po (a que chamão Inuteis) se acha hum
voação, &c., a que tambem os He Instrumento feito na Tapha a 4 de
breos chamão Quiria. Por qual des Septembro de 1284, pelo qual se
tas razões lhe proviesse o nome, eu vê, que estavão pagas as dívidas,
o não sei ; não #" porém que e satisfeitos os graves damnos, que
já no tempo dos Romanos ella foi D. Pedro Annes, e sua mulher D.
notavel, e que dominando os Go Orraca Afonso havião feito, e man
dos, talvez era huma das seis Igre dado fazer nos Lugares, e Pessoas
jas Matrizes, que formavão todo o do Concelho de Caria, que se di
Bispado de Lamego. Mas do seu vidia em tres, a saber: Caria a Ve
nome em todo este tempo nada com lha, que era o tal Castello, onde
certeza se póde afirmar. No Tes de alguns Seculos para cá, ninguem
tamento de D. Flammula de 96o, reside: Caria de Susãa, que hoje pro
que se acha no L. de D. Mumado priamente se chama Caria, e onde
ma a f 7 , se faz menção do Cas naquelle tempo estava a Jurisdicção,
G
CA CA 237
e a Cabeça do Concelho: e Caria Sarracenos havia neste Lugar Ce
de Jusãa, que hoje he a Villa da miterio , e Igreja de Catholicos.
Rua , e para onde finalmente se Mas voltando aos tempos mais an
transferio o Pelourinho, e tudo o tigos:
mais que á Capital de hum Con No de 1788 se achou nas Casas
celho pertencia. Deste modo extin do Beneficiado Lourenço Manoel de
cta a Caria Velha, a Caria de cima Almeida , e alli se conserva a se
ficou com o nome, e a Caria de bai guinte Inscripção, dedicada ao Im
ao ( que tambem se disse de jusa perador Marco Aurelio: -

no , assim como a de cima de Su


sano) com as Regalias todas, que
fazem distinguir huma Povoação, I M P.
que domina todo o Concelho.
Junto desta Villa, no Lugar de M. A.V.
Vide, e seus contornos se tem des V. M. E.
cuberto successivamente muitas In
Scripções, e Pedras Sepulcraes, que A V G. P. F.
nos fazem crer havia por estes si P. M. T. P.
tios alguma Povoação famosa no tem
o, que os Romanos dominárão em P. P. {

# , e ainda depois que nel II XX.


la entrárão as Nações Septemtrio }
naes. Brito no I. T. da Monarch. Lus.
* * *
L. III. Cap. XIV, nos conservou al * *.

gumas Inscripções , que hoje não • -


* * * *
r ,

apparecem; reformadas as Capellas *


em que diz, se achavão, e reuni
das em huma só com o Titulo de Na 2. linha se vê o AV liga
S. João, e levadas a outras partes, do em huma só nota monogram
e para mui diferentes usos as Lapi matica. No mesmo anno, e na quin
des, que nellas existião. Tambem ta da Lagôa se achou outra dedica
o A. da Chronica dos Eremitas de San da ao Imperador Antonino, o filho,
to Agostinho T.I. a f. 135, e seg. nos (ao que parece) de Septimio, que
informa de hum Epitafio, que diz, teve as rédeas do Imperio desde 2 1 1
se achou , havia mais de 2oo an até 217. Alli se conserva já muito
nos junto á Capella de S. João, e maltratada sobre a rusticidade , e
pelo qual constava , que Amanda pouca polidez, com que foi escul
Serva de Christo fallecéra em paz no pida, em hum Pedrão de huns 1o
anno do Senhor 586. O que sabemos almos de alto , levantado n’huma
he, que ha bem poucos annos se fº quadrada da mesma pedra, que
achou em huma vinha junto a esta para cima continúa em quasi huma
Capella hum grande Sepulcro , e meia cana: tudo nella está mostran
muito bem lavrado, mas liso, e sem do a decadencia das Artes, que já
campa, o qual se conserva na quin então se experimentava. He bem de
ta do Ribeiro. E de tudo se infe presumir, que por aqui corria al
re, que já antes da irrupção dos guma estrada pública, ou Via # f*
238 CA CA
litar, que de Braga se encaminha No Lugar de Vide, e no fronti
va aos Beiroens, Transcudanos, e Pe spicio da Capella do Espirito San
sures. Argote se inclinou a que de to, que antigamente se intulou de
Braga sahia pela Amarante ; mas S. Sebastião se vê huma pedra qua
não achando além desta Povoação drada , que sem dúvida servio de
outros Vestigios, e Monumentos, base , ou peanha de alguma ln
suspendeo o Juizo. Hoje porém á scripção , como a que se acha na
vista destes , e outros Documen quinta da Lagôa. Nella perfeitamen
tos poderiamos avançar , que dá te se lêm, sem dependencia de ou
Amarante se dirigia a Cidadelhe, tras, as seguintes Letras:
Povoação Romana nas faldas do Ma
rão: e daqui repartindo-se hum ra- . B O NO.
mo para a Cidade de Panayas, que R E IP.
ficava no termo presente de Villa NATO.
Real , o outro se encaminhava á
Terra de Caria, e dalli para toda a No Lugar de Prados, junto á Vil
Beira alta, e Riba Côa. Porém re la da Rúa, está a Capella de São
servando isto para outras pennas Domingos, que mostra huma Ve
mais eruditas, e felices, vejamos a neravel antiguidade: dizem que em
Inscripção, que he desta maneira: outro tempo fôra Igreja Matriz. No
seu frontispicio se vê huma pedra
mui comprida, da natureza, e fei
CONCILIO AN tio daquellas, que se erigião em Ti
TIQ.O. -
tulo na cabeceira das Sepulturas Ro
manas: he toda liza, e só na par
CAIO BAQ. te mais alta tem huma pequena tar
FoRTIS SIM O ja quadrada, aberta na mesma pe
dra, que por estar posta de lado,
CA E S. e as letras mui gastadas do tempo,
ANTONIO e resaltadas, com difficuldade gran
de se podem lêr. Não he facil ave
.…. TI.…. riguar se foi para aqui trazida de
FILIO. outra parte, se aqui mesmo se achou
na sepultura de Victor, filho de Ma
rio , que nella foi sepultado. A In
scripção he como se segue:
* … —º

BoNo
R E I. P.

NA TO.

VI
CA CA 239
lecida a Monarchia, a ninguem foi
licito em qualquer arruido, briga,
VI CT O R. ou violencia appellidar, ou chamar
M A R II. F.
por outro, que não fosse El-Rei,
como se vê da Orden. L. V. Tit. 44.
HE IC. SE: Em alguns Documentos, e Foraes
P. I A CET,
antigos a este Caritelo se chamava
simplesmente Voz , e Coima ; em
outros Indicias, em outros Mafadu
ras , como se póde ver nestas pa
lavras ; de sorte que a Voz era o
Aqui d'El-Rei , e a Coima, ou Ca
lumpnia era a pena, que correspon
dia ao delicto, de que o quereloso
se queixava, ou querelava. Assim
como se mudou no tempo dos Ro
manos o C. em qu, depois se tor
nou a mudar em C. dizendo Cari-,
tel, e em K, dizendo Karritel, e
Sei que outros muitos vestigios finalmente em g. dizendo gritar »
de Povoação Romana se tem des grito, e guarito; sendo certo, que
cuberto naquelas visinhanças; po Karistare, Karitare, e Quaritare se
rém a incuria, e máo gosto os tem tomou na Baixa Latinidade por cla
destruido. -

mar, gritar, dar vozes de aficção,


-

CARITEL, Caritelo, e Karri que ouça, ou possa ouvir todo o


telo. Assim chamavão antigamente Povo, para sahir sem demora con
ao que nós chamamos hoje querel tra o malfeitor, e pelo injustamen
la (ou como vulgarmente dizem cre te aggravado, e ofendido.
la) gritando Aqui d'El-Rei, e cla De Karritelo , e voz de Caritelo,
mando sobre alguem. De sorte que se pódem ver os Doc, sup. V. Ca
vox de Caritelo: he chamar-se a El
pdal. No Foral de Barcelos por El
Rei em alguma violencia, ou op Rei D. Afonso Henriques confir
pressão, a que alguns Foraes cha mado por El-Rei D. Afonso II. no
mão Rascar, como se póde ver V. de 1218 se diz : Non pectem Cari
Cabello. Nasceo esta palavra do Ver tel de nasum , ó" si fecerint Calum
bo quiritare, que segundo Varrão pniam in alia parte, & ipso die apre
no L. V. da Lingua Lat. : Est quiri henderint eos, pectent eam perforum
tium fidem clamando implorare, dicen sua Ville: Ó si in ipso die non apre-,
do: . Porro quirilis. Tomárão os Ro-, henderint eos, in alio nihil respondeant,
manos o nome de Quirites dos Sa L. dos For. *** Daqui se vê,
binos, seus visinhos chamados Cu que a queréla, que se seguia aº
retes da Cidade de Cures, que era Caritel, ou Aqui d'El-Rei, não pro
a sua Capital; mudado o C. em qu. cedia, sendo unicamente por tirar
Entre elles os vexados, e opprimi sangue dos narizes; e que sendo.
dos imploravão o auxilio do Povo por pizadura, ou golpe de outra
Romano; porém huma vez estabe qualquer parte do corpo , Q, *#ITA2I
24o CA CA
malfeitor ser prezo no mesmo dia, dono , é concedo vobis.... cum suo
ara ser constrangido á pena da Lei. Caritel, vel cum suo Sagione, & cum
R# Foral de Viseu por El-Rei D. omnibus suis directuris, Ó Calumnis,
Sancho I., (confirmando o que seu &º cum omni voce Regia. Ap. Hesp.
Pai lhe tinha dado) no de 1 187 se Sagr. T. XXXVIII. f. 351.
ordena que Sagion, Ó Maiordomus CARITENHO. Manual, por
non ponant Caritel , nisi cum aucto tatil, compendioso , resumido, e
re, é testibus: Et non sit illud Ca que mui facilmente se leva em hu
ritel, nisi de V. maravidis. Ibidem. ma jornada , e para fóra de casa,
Aqui se manda, que não chegan ou da Igreja. V. Breviario de Car
do a perda, damno, ou injúria do reira. Duas Vestimentas perfeitas...
quereloso a 15oo réis, não seja ad huum livro piqueno Caritenbo, huum
mittida a queréla, e nem se admit Psalteiro, & c. Doc. do Sec. XIV.
ta alguma, sem Author, e teste Tambem poderiamos avançar com
munhas; o que ainda hoje se pra algum #" que Livro Ca
tíca, sob pena de pagar da cadêa ritenbo, he Livro de Ladainhas, que
em dobro o querelante º damno, servia nos Clamores , Ladaríos, e
e as custas não provando inteira Procissões de Preces , ou Rogati
mente o delicto , de que se que vas. De Caritel seria facil o deri
relou. + … "
var Caritenho. V. Baldoarío , e La
darío.
"Na Doação da quinta de Louro • -

sa em Terra de Alafões, que El CAROAVEL. Amigo, amante,


Rei D. Sancho I. fez a D. Louren e amado. Caroavel de cheiros : ami
# Viegas, e a sua mulher D. Maior não go. de cheiros. Não me he Caroavel:
aes, (que fôra Dama do Paço) he amado de mim. He do Se
se declara, que lha dá de juro, e culo XVI. . .
herdade para sempre a elles, e a seus - CARPENTÁRIA. Assim cha
Successores: Et habeatis eam liberam mavão a Fogueira, ou Casal, que
cum voce, Óº cum calumpnia, Óº cum devia servir o Senhorio com certas
totis illis causis , quae in ea ad jus carradas de mato , lenhas, ou ma
mostrum pertinent. Doc. de Lorvão deiras. Na T. do T. se achão hu
de 1205. E aqui temos a vox , e mas Inquir., anteriores ao Reina
Coima, Synonymo de Caritello. V. do d'El-Rei D. Afonso II., sobre
Kox, e Coima. Por alguns Doc. do as Fogueiras, que na Terra de Vi
Sec. XII. se vê ser o mesmo Cari Seu erão Regaengas, Cavalerias, Ju
tel que Sayom, Meirinho, ou Offi garias, e Carpentárias. Vem de Car
cial da Vara, porque a este parti pentum. . .
cularmente pertencia prender aquel CARQUE. Materia combustivel,
les, de quem se crelava, ou con e que mui facilmente se accende,
tra os quaes se dava a voz d'El acendalhas. Assim chamavão ao que
Rei, a qual em muitos dos nossos hoje dizemos carqueja. . . .
Doc se declara unicamente pela pa CÁRREGA. #
palha, her
lavra Vox. Em huma Doação, que vanço , ou colmo palustre. V. Co • •

o Imperador de toda a Hespanha fez rofil, e . • •

á Cathedral de Oviedo do Castello CARREIRA. Peregrinação, ou


de Suelon no de 1154, se diz: Hec. Romaria. Item: a S. Maria de Ro
|- C(2*
CA CA 24 1
camador XXX. maravidiz pela minha gem
vºs, ; &por
c. ser isto gravame dos Po
• -

Carreira. Doc. da Guarda de 1298.


CARREIRA. AS. Ida , jorna CARRIL. Antigamente se to
da, caminho, viagem, que o Em mava pelo caminho, capaz de por
phiteuta, ou vassallo # » CO elle andar hum carro , donde tal
mo de pensão annual ao Senhorio; vez tomou o nome. Deste modo se
hindo, já a pé, já com a sua bês entende na Doação do Couto ao
ta, ou carro; já a lugares certos, Mosteiro de Ceiça , feita por El
já incertos, e á disposição do Di Rei D. Afonso I. no de 1 1 15 que
reito Senhorio. Era mui frequente, o demarca: Primo por portum de La
esta Foragem, ou Direitura naquel ma... deinde per illud Carril vetus,
les tempos, em que ainda não ha quod dividit inter Saicia, Óº Algizi
via Correios públicos. No Foral de di, órc. Doc. de Ceiça. Nos tem
Font’arcada de 1 193 se diz: Bestiae pos seguintes se tomou o Carril
non dentur, nisi semel in anno: una por huma quelha , cangosta, azi
via sit usque Santarém: altera ou Pe nhaga , carreiro , ou compendioso
reiro: & Cetera usque Tuy. Homi atalho, que só dá passagem á gen
nes , qui bobes , aut bestias non ha te de pé, e não aos animaes de car
buerint, faciant singular Carreiras se ga. Parte pelo rio apróó á moinhei
mel in anno, & non amplius. L. dos ra velha , e desy polo Carril, que
For. Velhos. Em hum Prazo das Sal vai ao forno telheiro e desy pela ve
zedas de 1295 são parte da Pensão: rêa, carreira a festo, e desy como se
Senhas Carreiras com os bois, e com os vay á verêa de Lagomar. Tombo de
corpos á Abbadia , pera carreyar os Castro de Avelãs de 15or. Doc. de
arcos. Os Almocreves pagavão em Bragança.
certos Lugares estes Direitos das Car CARTA de Benefactis. Instru
reiras em alguns Lugares, e lhe cha mento, pelo qual se davão, e con
mavão Almocreveria, ou Anadejra, cedião alguns bens de raiz em Be
ou Andadeira. Para que não hou neficio, utilidade, ou Prestimonio de
vesse dúvida sobre o modo de o alguem. A isto chamavão Beneface
pagar, se resolveo nos Pareceres de re, e Beneficiare, assim como ao Be
Çaragoça , (que precedêrão á Re neficio, que os Monges fazião aos
forma dos Foraes d'El-Rei D. Ma Leigos, quando os admittião a se
noel) que se pagasse como be deter rem Irmãos da sua Confraternidade,
minado em Santarem; sem embargo de e participarem de todas as Orações,
qualquer costume em contrario. Sacrificios, e boas obras, que no
CARREIRA. O mesmo que seu Mosteiro se fazião, derão o no
Carril. me de Benefacto. Entre os Doc. de
CARRIAGEM. Grande número Pedroso se acha huma Kartula Be
de carros, para conduzirem metalo nefactis , feita na Era M. 2x III.
tagem, cousas, ou pessoas, baga (que he anno de Christo 1o57) por
gem, trém. Nas Cortes d'Evora de Dona Goto a seu marido D. Pelagio,
1481 se determinou , que os Cor de huma grande Herdade abaixo
regedores , e Oficiaes das Com do Castello de Vbil, prope Litora
marcas não andassem por ellas mo maris , territorio Portugalensis com
rosamente , e com muita Carria a condição , de que ella o possui
Tom. I. T13
242 CA CA
ria em sua vida , e por sua morte bardos disserão alatinadamente Wa
passaria ao dito seu marido, ou aos dium, e Hadia , e outros pelo mes
seus descendentes. No de 1 1o5 o mo tempo, e depois pronunciárão
Mosteiro de Lorvão fez huma Car }'adium , Gadium, Gaddium, e Ga
ta de Convenção, & de Benefactis dia , ou Gadea. Daqui Gadiare:
a Garcia Sendeniz, e a sua mulher Res suas ante mortem disponere. Vel:
Elvira Godiniz, aos quaes deo a Vil Pignus dare. Gadiarius, vel Guadia:
la de Oliveira de Currellos ; com Fide-jussor. Guadium: Res in pignus
condição , que metade desta Villa data. Gadiator , Guadiator, Gadie
seria delles, que a povôarião, e a rius : Curator testamenti. Tambem
frecetarião, e a outra ametade ser na baixa Latinidade chamárão Wa
viria sempre a dito Mosteiro de Lor dium , ou Guadium ao sinal , com
vão : Et illo Monasterio , quod est que se tomava posse de alguma cou
in ipsa Villa de Currelos, sit nomina sa v. g. ao abrir a porta, cortar ra
to, ut serviat pro arbitrio ipsis Ab mos, tocar o sino, &c. No de 1233
batis Laurbano. E non damus vobis se fez huma Doação, ou mais bem
Licentiam ad aliam partem vendendi, Testamento em Latim, que se in
nec domandi, nisi ad illum Monaste titula Karta de Gadea , & firmitu
rium jam supradictum Laurbano. Fa dinis, que se acha nos Doc. de Vai
eta Carta Conventiouis notum die erit ram. V. Gadea.
Idus Novembris. E. T. C. F. III. Doc. CARTA de Ingenuidade, e de
de Lorvão. No Foral da Folgosa liberdade. Instrumento , ou Carta
por El-Rei D. Sancho I, no de 1188 de alforria, que o Senhor dá ao seu
se determina, que se algum Estran escravo. De tres maneiras davão os
geiro fizer algum damno nesta Vil Romanos Manumissão , ou Liber
la, Povoação , ou Herdade, e os dade aos seus escravos. I. Era pe.
Moradores della alli o matarem, rante o Magistrado, e se chamava
açoutarem , ou espancarem , nada Manumissio per vindictam : II. Em
mais pagarão de Coima, que hu algum banquete, que o Senhor da
ma galinha. E se for Pessoa com va aos seus amigos, e se chamava
quem os Moradores se não atre Manumissio per epistolam , & inter
vão, # esta ao Rei 5 oo sol amicos : III. finalmente por Testa
dos , e ficará por seu inimigo: Et mento , e se dizia Manumissio per
perdet suum benefactum, Doc. das testamentum. Por huma Lei de Cons
Salzedas. tantino, o Grande, de 316 se per
CARTA de Camara, Por hum mittio aos particulares o libertar os
assento de 31 de Dezembro de 15o2 seus escravos na presença do Povo,
se determina que Senhores devem e dos Bispos, ou Sacerdotes, sem
ser citados por Carta de Camera. V. os appresentarem aos Magistrados.
Ord, L. III. Tit. I. S. 19. No I. Tom. Em França se fazião os Servos In
do Repertorio das Orden. f. 129. no genuos, dando ao Rei certo dinheiº
ta H , se declara , que cousa seja ro ; e por isso se chamavão Dena
citar por Carta de Camera. riaes. Luiz, o Gordo, Rei de Fran
> CARTA de gadea. O mesmo dos ça, foi o primeiro que libertou to
os escravos do seu Reino no
que Carta de Testamento, fiança,
promessa, penhor, que os Longo de 1 13o ; pretextando, que huma
• Na
CA CA 243
Nação livre não devia ser sujeita á Lex Gotorum á servitio liberatus, du
escravatura em algum dos seus in plicia non sedeat crebrantado ; sed
dividuos ; sendo a sua verdadeira semper sit ingenuo, Óº afirmado, Óºc.
politica recobrar toda a Authorida Godinas. O notavit está escrito com o
de Real , eclipsada naquelle tem Monogramma,que sevêTab.2.n.4f3.
po pela dos Grandes, que tudo do No de 1 1 64 Thereza Affonso
minavão , e a quem por este mo deo outra semelhante Carta ao seu
do deo hum golpe mortal. A pe escravo Pedro Egas, que para ex
zar de ser confirmado este Edicto emplar copiamos aqui: In Nomi
no de 1224, e no de 1315, ainda ne Sanctae, Óº Individua Trinitatir,
houve naquelle Reino Cartas de Al Patris, & Filij, & Spiritus Sancti.
forria até o Sec. XVI. Havia Manu Amen. Incertum est tempus vite bo
missão, ou Alforria directa, ou ple minis , eo quod mortali ducimur ca
na; e indirecta, ou não plena: Nes su. Quoniam initium nascendi novi
ta reservavão os Senhores para si mus, Óº finem incertum incerto fine
alguma cousa 2 ou serviço dos es ducimus , homo enim Vanitati similis
cravos: naquella nada se reservava: factus est , Óº dies ejus sicut umbra
Antes do descobrimento de Ango pertereunt. Ea propter ego Tarásia Al
la, cujos Nacionaes sem causa fo fonsi cupiens, Óº premeditans de sa
rão sujeitos ás barbaras, e irracio luta animae meae, facio tibi Petro
naes Leis do Cativeiro, já no tem AEgeae , cognomine Sarraceno , quem
po, que ainda os Mouros estavão de Pagano jussi facere Christianum,
em Hespanha , ou talvez erão ca Kartam Ingenuitatis, ó Libertatis
tivados em Africa , havia em Por pro remedio anime mea. Et hoc sane
tugal hum grande número destes in intelligendum est , quod quandiu vi
felices, que muitas vezes erão ma xero mihi servias. Hocautem non pre
nu-missos, ou libertados pela Devo termittendum, quod si a modó semen
ção, e Piedade de seus Senhores. feceris in libera, erit liberum. Et si
Destes Escravos Mouros se faz lar quis ex semine meo hane Kartam In
ga menção no L. dos Testamentos genuitatis, Óº libertatis tibi concesse
de Lorvão n. 46 , e 47. em os annos rit, & noluerit infringere corpus tuum,
de 811 , e 984. E nos Doc. de concedat ei Deus longo tempore vivere
Tarouca (gav. 23 dos Inuteis) se super terram, Óº in futuro possideae
achão quatro Cartas de Ingenuidade: vitam aeternam. Amen. Et si aliquis
a I. he de 1 141 pela qual Aurodo venerit, tam de propinquis , quam de
na Pinioniz libertou o seu escravo, extraneis ad infringendam, Óº inruinº
chamado Pedro Mouro, sem obri pendam banc Cartam Ingenuitatis, Ór
ação de a servir em sua vida; mas corpus tuum infringere voluerit , sit
antes desde logo o faz ingenuo, e maledictus, & excommunicatus , Óº
lhe manda que sirva só a Deos, e cum fuda Traditore dampnatus : Óº
a quem bem lhe parecer; accres insuper quingentos solidos Domino Ter
centando: Et insuper conjuro vos ju re, & statum tuum in duplum redat.
dices, vel Seniores, cujus potestas est Facta Carta Ingenüitatis , Óº liber
judicandi, ut per istam Kartulam In tatis mense Aprilis: E. M. ócil. Ego
genuitatis afirmetis, Óº ejus voce ase
ratis, Ó pro nulio Titulo, que per Tarasia Alfonsi, que banc Cartam In
11 Éê
*

244 CA CA
genuitatis jussi facere , uná cum se malidades, que depois se introdu
mine, meo, tibi Petro AEgeae, cogno zírão. Os da 3." são attendiveis pa
mine Sarraceno, propriis manibus r– ra a Historia, sendo de mão anti
0 b—o—r—a—mus.
à–

ga, douta, e desapaixonada; mas


Johannes Salzedae Abbas-tr. Martinar não para decidir no Juizo contradi
ts.Petrus-ts.Egeas PresbiterNotavit. ctorio , havendo Documentos , ou
No mesmo mez, e anno deo a dúvidas bem fundadas em contrario.
mesma Thereza Afonso Carta de No de 1c38 Gumice Alba dôou ao
Alforria , e liberdade a outro seu Mosteiro da Campanhãa, (junto á
escravo chamado Fernando Egas por Cidade do Porto) certas herdades,
alcunha o Cavaleiro. Tem as mes que ella possuia, alias per series Tes
mas condições, e Formulario, que tamenti, ó" alias per conligationes
a de cima. placitas, secundum in Cartarios, Ó in
Outra semelhante Carta, e com Inventarios nostros resonant. Doc. de
as mesmas condições, deo D. The Santa Cruz de Coimbra.
reza Gonçalves em dia de Santiago CARTAYRO. Archivo , Car
Maior do anno de 12o7 á sua es torio. Doc. de Pendorada de 132o.
crava Maria Fernandes , e seus fi CARULA. Vacca loura, carou
lhos. Todas estas quatro Cartas es cha, ou escaravelho, a que os La
tão originaes, e com bellissimos ca tinos chamão Carabus. Insecto vil,
racteres do Seculo XI., e XII. e bem conhecido.
. CARTARIOS, e Chartarios. As CAS. Casa, residencia, Mostei
sim chamavão aos Livros, Tombos, ro. No de 1298 manda M.º Afon
ou Volumes, em que se conserva so, que seu corpo seja sotterrado:
vão as Doações , , e quaesquer ou Em Cas dos Frades Meores de S. Fran
tros Instrumentos públicos, a que cisco da Guarda. Doc. da Guarda.
chamavão Cartas. Tres especies ha CASADO. OS. Visinho de al
via de Cartarios: a 1.º constava dos gum povo , que nelle tinha casa,
proprios Originaes , encadernados, onde vivia. E tambem o que mo
e compostos em fórma de Livro: a rava em casa do Senhorio, de quem
2.° continha as copias authenticas, elle era emphiteuta, ou colono.
e collacionadas com os mesmos Ori CASAL encabeçado. Assim cha
ginaes , que por serem escritos á mavão ao Casal , ou Prazo fatio
f> , e por Notarios pouco ha sim, que dividido por muitos, ou
eis, poderião com o tempo vir a alguns colonos , hum só, a que
ser pouco intelligiveis: a 3.º final chamão Cabeceira , Cabeça, ou Ca
mente só nos #a Summa, e becel, he obrigado in solidum a res
Compendio dos Originaes; omittin ponder pela Pensão, e Fórcs, co
do-se muitas circunstancias , usan brando-os dos mais Pessceiros, e cn
do os Compiladores dos seus ter tregando-os ele só ao Direito Se
mos, e frases, e talvez inferindo nhorio. No Foral, que El-Rei D.
relações arbitrarias, segundo os seus Manoel deo á Terra de Paiva no
interesses, e paixões. A 1.°, e 2.º es de 1513 , fallando das Luctuosas,
pecie de Cartarios são de huma fé e declarando os Casaes, e Pessoas,
incontestavel ; não obstante , que que unicamente as devião pagar ,
os segundos careção daquellas # diz , que a Luctuosa seja a milbor
Joya,
CA CA 245
joya , ou peça movell , que ficar aos que Cavalleiros, Donas, Escudeiros,
Reguenguejros Encabeçados, que por e outros Homêes , que se chamão a
si morarem, e morrerem por Cabecei Herdeiras , e Naturaes desse Moes
ras dos ditor Casaes. Porem não se le teiro, e não vão penhorar por Ser
varáõ ás mulheres , posto que por si vifos » e Comeduras, e por Cavala
vivão encabeçadas , e Reguenguejras rias, e Casamentos, que dizião, que
nos ditos Casaes, nem de nenhuňs ou ende deviam aver, come Naturaes, e
tros herdeiros, e avoengueiros dos di Herdeiros, nom no sendo de Direito.
tos Reguengor. Doc. de Reciam.

CASAMENTO. Esta era huma CASAR , e Casares. Casal , e


das insupportaveis Pensões, que os Casaes. No de 1258 fez o seu Tes
Ricos-Homens , Ricar-Donas , Infan tamento D. Chamóa Gomez , em
fões , Cavalleiros , Escudeiros, Na ue deixa grandes bens ás Donas
turaes, ou Herdeiros annualmente ex 'da Ordem de S. Damiam de S. Fran,
torquião dos Mosteiros, de que ti cisco, assim ás de Cidade-Rcdrigo,
nhão o Padroado, ou qualquer par como d'Entre-Ambos-Rios, e tam
te delle, por fundação, compra, bem deixa ao Mosteiro da Salzeda
ou herança. A porção, que se da IX. Casáres, para que os Frades no
va aos homens , chamavão Cavala seguem em o verão. E he bém para
ria: a que recebião as mulheres se notar, que por estes tempos se fi
chamava Casamento: ou por ser des zerão muitas Doações ás Salzedas,
tinada para augmento do seu do com a condição de # os Monges
te, ou para alivio, e supportação não fossem ás segadas, ou ceifas
do seu trimonio já contrahido. dos pães, mas antes se conservasse
Com este abusivo costume se dila na Clausura do seu Mosteiro. Tal
pidárão os bens temporaes de mui he entre outras a Doação , que o
tos Mosteiros, que de todo se ex Deão de Viseu, Soeiro Paes lhe fez
tinguírão , e a mesma sorte fôra a no de 1261 de huma Herdade jun
dos mais, se os nossos Religiosis to a Pinhel, onde chamão Rocama
simos Monarchas não procurárão ex dor, declarando: Quod in recompeu
tinguir tão devorante peste. Os seus satione fructus illius Hereditatis num
piedosos Alvarás se guardão Origi quam Monachi dicti Monasterij de il
naes nos Archivos de alguns Mos lo Monasterio exeant ad metendum.
teiros. No de Tibães os d’El-Rei Porém não só nas Salzedas se guar
D. Affonso III. de 1274 de D. Di dão semelhantes Documentos: tam
niz de 1312 , e de D. Pedro de bem no Mosteiro de Tarouca, que
1366 : e deste modo o livrárão da he do mesmo Instituto, se guardão
sua total ruina. Não succedeo assim outros, que nos mostrão, como os
ao de Reciam , junto a Lamego, Religiosos Cistercienses se lembra
que hoje está incorporado no de vão por aquelles tempos de desem
Santa Cruz da mesma Cidade. Al penhar as suas Constituições, fun
li se achão tres Cartas, ou Alvarás dadas na Regra de S. Bento, e pe
d'El-Rei D. Diniz o I. de 1311, las quaes devião renunciar tudo o
o II. de 1322, e o III. de 1223, que havia de rico , e precioso , e
pelos quaes rigorosamente, e de viver unicamente = De cultu terrarum,
baixo dos seus Encoutos, prohibe de labore manuum, de nutrimento pe
Cé?--
246 CA CA
corum. Erão pois a cultura das ter facil de crer , que os abusos des
ras, o trabalho das mãos, e a guar tas sahidas darião occasião a seme
da dos rebanhos os tres fundos uni lhantes providencias , e cautelas.
cos da sua subsistencia, segundo o Hum trabalho com tudo mui pro
primordial espirito do seu Instituto. prio de gente Religiosa, e instrui
. No de 1254 fez o seu Testamen da, com utilidade grande assim do
to a Illustre Senhora Orraca Fer público, como dos seus Mosteiros,
.nandes , que vivia na sua quinta praticárão os Cistercienses, antes
de Moz, junto a Bretandi, a qual que a famosa Arte da Impressão fos- \/
fôra casada com D. João Garcia, se descuberta, e neste nosso Rei
escolhendo sepultura no Mosteiro no praticada. Não fallarei nos Ma
de Tarouca : Et mando ibi mecum nuscritos de Alcobaça, que fazem
meam mulam corporis mej, Ó meam o justo Elogío de huma occupação
azemelam , Ó meum lectum , cum Santa , e propriamente Monacal;
tota sua litejra; ita quod faciant de direi só, que no antigo L. das Doa
Culcitra , & de pulvinari facezeiros fões de Tarouca a f. 12. Y. Se acha
pro ad Monachos : Et mando etiam huma Escritura, que nos diz como
quantos Saracenos, Óº Saracenas ba Pelagio, Prior da Collegiada: S. Se
buero in morte mea (excepto duas, bastiani , uná cum Canonicis nostrir
quas dabo filiabus meis de Ordine.) derão certas Herdades ao dito Mos
E passa logo a individuar muitos teiro : Pro Biblioteca quam scripsis
bens, que deixa ao Mosteiro : ita tis nobis: tantum nobis Óº vobis pla
dumtaxat; ut Conventus sit excusatur cuit. Facta K. I I. Kal. Decembris
de Vindemia de Grangiom, & de Be E. M. C. 2XXXIII. E daqui se vê,
rufi in perpetuum. E senão bastarem que em 3o de Novembro de 1 145
as rendas de dois Casaes, e huma ainda não tinha Bispo a Collegiada
vinha , que lhes deixa para Pitan de S. Sebastião de Lamego, suppos
fa , se supra pelas rendas de Ca to tivesse Conegos, que conserva
banões , (hoje Ovar) e não bas va desde a sua primeira restauração
*# tudo isto, pelas dos Casaes do Seculo X,; e só pelo seu Prior
e Santa Cruz. E não se dando a era governada; contra o prejuizo,
Pitança , nem se escusando os Mon de que no de 1 144 fôra D. Men
ges de birem fazer a vindima áquin do creado Bispo de Lamego.
ta do Granjam , (que he defronte Concluamos com saber, como no
de Mondim) e 4 de Berufi (que ho de 15o3 El-Rei D. Manoel conce
je se chama Esbrufe, e he no Bis deo licença ao Abbade de Maceira
pado de Viseu) seus filhos se apos dão para comprar para o seu Mos
sem de tudo, até que efectivamen teiro 3ood)ooo réis de fazenda de
te se cumpra a sua ultima vontade. raiz, e certos bens em Figueiredo
Doc. de Tarouca gav. 9, m. 6. n. 1. de Cêa; por quanto o dito Abba
E quem não admira o empenho dos de lhe expozera, que de muitos an
Seculares, para que os Monges não nos até o seu tempo não tinha ha
trabalhassem corporalmente ? Sem vido alli mais que dous até 3 Mon
dúvida era , para que os encom ges, que escassamente se podião man
mendassem a Deos, escondidos, e ter, pelas rendas do dito Mosteiro re
sepultados nos seus Mosteiros. E he rem desanexadas delle : E que agora
• • • C0/72

CA *CA 247
com ajuda de Deos, elle tinha resti CASTELLATICO. Este era
tuido certos Prazos, e feito certas Of> hum dos Direitos Reaes, que se
ficinar, estando os Edificios mui dam não entendia concedido, se expres
nificador, e destruidos: E que já ti samente se não declarava. Chama
nba quatro Monges de Missa, e ou va-se Castellatico , porque era hu
tros tantos, que se vão ordenando pe ma certa contribuição, que os vas
ra ella: E que espera cheguem a do sallos annualmente pagavão para a
ze, pera os quaes não bastão as ren fabrica, ou reparação do Castello,
das do dito Mosteiro: ( o que agora ou Castellos do respectivo Territorio.
suprem com a lavoira, e criaçam de Em alguns Doc., que se guardão
gado, em que por sua industria tra fóra de Portugal se chamava este
balhão.) E porque este costume não Direito Castellorum opus, opus Cas
be dos Abbades desta Ordem em nos telli, Auxilium pro edificatione, aut
sos Regnos: Nos pedio, & c. E visto munitione Castri, Castellorum opera
por Nós, & c. Doc. de Masseiradam. tio. Nos principios da Monarchia
E eis-aqui todo o fundamento de quasi não havia Julgado, ou Con
não serem obrigados ao trabalho cor celho, que não tivesse seu Castel
poral os Monges deste Reino: não lo, em que governava, ou presidia
he outro, que o costume: talvez que hum Conde, ou Castellano, que sem
huma demasiada piedade, esperan pre era pessoa muito fiel, distincta,
çada nas suas Orações, e Santa vi e honrada, a quem se pagavão cer
da o introduzisse, e que mesmo á tos foros, e pensões, que ao de
sombra da Authoridade Real se con pois se chamárão Alcaidarias (ha
SCTV2SSC. -
vendo succedido os Alcaides Mores
CASTANHAS pizadas. Casta aos primeiros Governadores dos Cas
nhas piladas, seccas, e limpas da tellos) de que ainda hoje restão lar
casca, as quaes ordinariamente se gos, vestigios nas principaes terras
purificão com o attrito dos pés: ac do Reino Mas parece que estas Cas
ção a que na Beira chamão Riscar: tellanarías , Castellaturas , Castel
e aos fragmentos da casca, assim lerias, ou Castellanías não erão o que
interior, como exterior, que resul se chamava Castellatico , que sem
ta desta piza, se chama Risca. No dúvida era Direito Real, e afixo á
Foral de S. Martinho de Mouros de Corôa, que se pagava a dinheiro,
15 13 se determina, que os 17 Ca quando o corporal trabalho nas Obras
saes, ou Fogueiras, em que esta Ter Militares não era preciso. No de
ra está repartida , igualmente pa 1 125 a Rainha D. Thereza fez Doa
guem dous alqueires de trigo, e tres ção á Sé de Tuy do Mosteiro de
de centeo, e quatro de milho, ou pain Azar, (hoje Azere) e suas perten
fo, e quatro de Castanhas pizadas, ças, Liberurº de toto Castellatico, ó:
de tota voce Regia per infinita Secu
e escolhidas por esta medida corrente ,
e bum cocazil , ou por elle 6o réis: la Saeculorum; ita ur, ab isto die de
Seis varas de bragal de qualquer es meo jure, Óº de Regio jure Sucesso
topa grossa, ou a 1o réis por vara, rum meorum sit ablatum, ó" in do
e tres afusais de linho de 12 estrigas minio S. Mariae Tudensis Sedis fit tra
cada huum, e hum frango. Doc. das ditum , atque confirmatum. Nas In
Salzedas, •

quir, d'El-Rei D. Afonso III. Se


achou
248 CA •
CA
achou no Julgado de Penéla, que rem os Povos desta imposição cor
S. João da Queijada era Couto do vierão todos em darem á Coroa as
Hospital, e que os seus homens não Terças de todas as rendas dos Con
pagavão foro a El-Rei, mas só da celhos para as obras das Fortalezas,
vão ao Castelleiro seños ovos, ou que e muros, e ella as recebeo com es
os valese in cada mez: No Julgado te encargo , e com a condição de
da Anabrega de hum Casal na Fre não poderem ser doadas por El-Rei,
guezia de Avoin dabant vitam ad ainda que expressamente o diga,
como
Castellarium: e noJulgado de Aguiar §. II. se vê da Orden. L. II. Tit. 28.

da Penna se achou serem obrigados


os que moravão na herdade do Mon Substituindo já as Terças dos Con
te Negrello a pagar Voz ; e Coi celhos o Castellatico dos antigos, as
ma, e Vida ao Mordomo: et biebaut Igrejas de Riba-Coa, e as da Raia
ad faciendum Castellum. Donde se de Tralosmontes continuárão a pa
vê que a obrigação de manter o gar a terceira parte dos seus ren
Castelleiro não era a mesma, que a dimentos para a Coroa, na fórma,
de fazer, ou reparar o Castello. que os Romanos Pontifices havião
. . No Foral, que El-Rei D. Manoel concedido aos Reis de Hespanha:
deo ao Castello da Piconha (que já in subsidium bellorum, defensionemque
áfica dentro de Galliza , mas paga Catholicae , ac Romanae Religionis;
seus foros ao Senhor de Chaves, e como diz João Hugo Lintschotano na
pertence ao Senhorio de Monte-ale Obra : Breviarium Redituum , & c.
gre) regulando-se pelo que El-Rei Entre os Doc. da Villa de Mós se
# Sancho I. lhe havia dado , se acha a seguinte Carta d'El-Rei D.
diz: Pagaráõ todos os moradores do Afonso IV. D. Afonso pela Graça de
dito Lugar ao Alcaide, que estiver no Deos Rei de Port, a quantos esta Car
dito Castello, no fim de cada mez seu ta virem faço saber, que Pedro Dias,
pam centeo, dos que cada bum igual meu Procurador em Terra de Bragan
mente faz pera sua casa: o qual nam fa, me enviou dizer em como el filhá
pagaráõ os Clerigos , nem as pessoas ra grande afam no meu serviço: e que
que nom amassarem pam em casa com outro ssi filhára afam, e custa enfa
proveza. E morrendo algum juiz ac zimento do muro de Moós: E pedin
tual, o Alcaide leva a milhor cabeça me por mercée, que lhe desse a Ter
de gado meudo, que lhe achar, nom fa, que Fu éj da Eigreja do dito Lu
sendo porco , nem porca. Doc. de gar de Móos. E Eu vendo o qui di
Chaves. zia, e querendo-lhe fazer mercée : Te
Expulsos os Mouros, e inutili nbo por bem, que se o muro do ditc
sados os innumeraveis Castellos, cu Lugar de Móos be acabado : que el
jas ruinas ainda hoje se encontrão, tenha de mim a dita Terça da dita
foi reservado este Tributo, (de que Eigreja de Móos; e que aja em esta
nem os mesmos Monges, e Eccle guisa: que quando comprir de se adu
siasticos erão isentos, como se pó bar esse muro em alguma cousa , que
de ver na Monarch. Lusit. T. III. C. el o adube pela renda da dita Eigre
XVII.) para refazer , ou construir ja. E esto lhi faço de Graça em quan
de novo as Praças, que ficavão nas to for minha mercée. E em testemunho
fronteiras do Reino. Para se eximi desto lhi mandej dar esta minha Car
i4.
CA •
249 CA
ta. Dada em a Guarda XIX, dias de concedêrão ao Concelho desta Vil
Agosto. El-Rei o mandou. Johão Lo la as Terças, que nelle lhes per
pes a fez. Era de M. CCCLXXIII. tencião. Depois da Acclamação to

Johão Afonso.
. El-Rei a vio." mou a Coroa para si as ditas Ter
ças do Concelho ; pois de huns
No de 1295 estando em Béja El Apontamentos, que os de Freixo
Rei D. Diniz a 17 de Novembro, fizerão para requerer nas Cortes,
ouvidos os Concelhos da Torre de (cujo anno alli se não declara) se
Moncorvo, e de Villa Flor, pronun vê o II. nesta fórma: Que lhes man
ciou, e mandou que as Terças das de acabar a Igreja Matriz, que se
Igrejas de Villa Flor, e das da Tor fez com a Terça Real, que nella ti
re, se empreguem , e gastem na nha, e agora mandava arrecadar pe
Fortaleza, que actualmente andavão lo seu Almoxarife; ficando por fazer
fazendo os que da Villa de Santa Cruz o Coro, Pulpito, e remates: e o III.
da Villariça se havião mudado para a que lhes torne a fazer Mercé da Ter
Torre de Moncorvo, por ser esta Pra fa do Concelho, que os Reis passados
ça mais fronteira: e que tanto que lhe concedêrão para as obras públicar
as obras da Torre forem concluidas, delle, e que agora S.A. de Poder ab
se appliquem, e empreguem em es soluto tomára para si. Não consta
sa Fortaleza de Vila Frol atá que se ue fossem despachados : acha-se
ja feita. Assim consta da sua Carta porém huma Carta d'El-Rei D. Af
para João Fernandes, Tabelião, e fonso IV. de 1342 para o seu Al
seu Pobrador de Villa Frol, que se moxarife , e Escrivão de Bragança
guarda Original nos Doc. de Mon Pedro Domingo, na qual se con
CUIVO.» tém que os Raçoeiros da Eigreja de
El-Rei D. Affonso IV. concedeo Freixo de Spada-Cinta me inviarom
por seu Alvará ao Concelho de Bra dizer, que Eu bej de haver o Terço
gança as Terças das Igrejas do seu das rendas da dita Eigreja pera fa
Territorio pera repairamento dos mu zer o muro da dita Villa, Órc. Doc.
ros. Doc. de Bragança. de Freixo. E de tudo o sobredito
De hum Instrumento feito em se conclue , que igual destino era
Evora a 3o de Dezembro de 1452 o do Castellatico dos Antigos, que
consta , que as Terças do Conce o das Terças, assim Ecclesiasticas ,
lho de Freixo de Spada-Cinta erão como Seculares, que hoje pagão os
applicadas pelos Reis pera repairo modernos. •

do muro , e Castello da dita Villa: CASTELLAS. Moeda d’ouro,


e que El-Rei assim mandava, que ue corria no tempo, que El Rei
se fizesse. No de 1526 El-Rei D. # João I. empunhou
o Sceptro.
João III. confirma as Cartas dos Reis CASTRELLO, e Crestello. Es
antepassados, que para o dito fim tes nomes trazem a sua origem de
Tom. I. Ii Cas

* El-Rei D. Manoel declara no Foral de Moz de 15 12 : que o Terço dos Dizimos


da fomos
se Igreja sempre
de santa Maria assi
pacifica, de Moz
como sehoa recadou
somos emantigamente para Igrejas
outras muitas, º Coroa. E nessa pos
de nossos Rei

nos sem alguma contradição: É mando que assi se cumpra.. E á cerca dº Podermo ser
em alguma obrigaçam áá fabrica dº dita Igreja, por ora nam estamos em usº de sermos
obrigados: nam mandamos que se faça o contrario : porém º Arcebispo visitando, pode
nisto entender, e judicialmente declarar, o que for 3ustiça de se fazer.
25o CA , CA •

Castro, ou Crasto, que se tem equi CATHEDRADEGO. Cathcdra


vocado com Castello, que igualmen tico, que he certo Direito, censo,
te he diminutivo de Castrum. Po ou Pensão annual , que as Igrejas
rém na Architetura Militar antiga Seculares devem pagar ao seu Bis
houve nestas palavras não pouca dif po em reconhecimento da sua Su
ferença. Aos Arrayaes de todo o ex perioridade, e Prelatura, ou como
ercito com suas quatro portas cada se explicão os Sagrados Canones ,
huma em seu lado, cercados de fos in signum subjectionis: pro honore Ca
so , e vallo, se chamou Castra: a thedra: ou pro respectu Sedis. Des
hum pequeno Arrayal, e só para de a primitiva Christandade se cos
huma, ou outra Legião, ou Briga tumou esta Pensão inalienavel da
da, derão o nome de Castrum. Ora Mitra ; mas para evitar algum ex
estes pequenos Arrayaes quanto me cesso na sua cobrança, o Concilio
nos fornecidos de gente, e armas, Bracarense II. foi o primeiro , que
tanto mais se procuravão pôr em lu a reduzio a dous solidos, que os Bis
gares desabafados, e eminentes, e pos receberião de cada Igreja Paro
guarnecidos por natureza, quando chial , quando visitassem as suas
não fosse por arte : e a estes cha Dioceses, o que fazião, (ou para
márão Castrellos, ou Crestellos. Al que o fizessem) todos os annos: as
guns destes se povoárão, e ficárão sim consta do Cap. Placuit. 1. Caus.
conservando a Povôação , por ser 1o. q. 3. A este Concilio de Bra
defensavel, e servir mesmo de Ata a se seguírão, outros muitos assim
laya, Citadella, e Guarda ás campi &## , como Provinciaes, que
nas, e Lugares chãos, e abertos ás mandavão pagar esta Pensão honora
correrias dos inimigos. Com o no ria , e na quantidade acima dita,
me de Castrellos, e Crestellos ainda até que Honorio III. fez della hum
hoje temos alguns Lugares. No de Preceito a toda a Igreja in Cap. Con
988 doou Munio Gonçalves ao Mos querente. de Offic. Ordinarij ; fazen
teiro de Lorvão a sexta parte da do Synonymos o Cathedratico, e Sy
Pilla de Castrello. L. dos Testam. n. nodatico, por quanto aquella Pensão
51. Na Doação de Villa Meão,junto annúa se devia pagar em os Syno
a Prime, feita por El-Rei D. Sancho dos Diocesanos, que annualmente
I. se faz igualmente menção de outro se devião congregar.
Castrello. Doc. de Viseu. De Crestel Daqui veio , que o Cathedratico
los Vid. Diccionario de Cardoso L. C. foi chamado por muitos nomes, que
CATAR. Inquirir , procurar , alludião ao Synodo v. g. Census Sy
examinar com diligencia, exacção, nodalis, Episcopalis, & Synodalis Cen
e desvélo alguma cousa. E que nom sura, Synodus redenda, Synodalis red
sabia ende parte; mais que cataria os ditio , Synodalis reditus , Synodalis
Castorios do dito Mosteiro ; e que se consuetudo, Denarij de Synodo, De
Cartas , ou Escrituras achasse , que narij Synodales, Synodalis Parata, Sy
/has mostraria. Tombo do Aro de modale debitum, jus Synodale, Syno
Lamego de 1346 f. 22. Y. Mandou dalis Justitia , Synodales Eulogie,
catar ao Mosteiro do Sobrado o Pa Synodale servitium, ou simplesmen
dre, que nello era mais sabudo. Fun te Synodalis , e Synodalia. Porém
dação de Penaguião de 1 191. Tor quando não haja Synodo, se deve
re do Tombo. -

CO #
CA CA 25 r
cobrar esta Pensão Synodatica , não fizera da Igreja de Tentugal; com
em a visita do Bispado , mas sim a condição, de que o Bispo, ou o
fóra della , segundo a mente do Papa lhe unisse, e annexasse os Di
Concilio Trid. Cap. III. Sess. 24. E zimos: procedeo o dito Bispo (que
finalmente no Concilio Romano de se achava em Caiarte, fóra do Rei
1725 se regulou o Cathedratico, ou no em Agosto de 1288) á tal união,
Synodatico á proporção das rendas dividindo as rendas de Tentugal em
dos Beneficios, não excedendo os tres partes : a I. para a Mitra na
mais rendosos a taxa de dois soli fórma do costume : a II. para o
dos , que diz são 2o Julios , ou Mosteiro, (que pela sua muita po
2ÇOooo réis da nossa moeda. breza precisava então muito desta
Derivou-se Cathedratico á Cathedra; esmola) livre, e desembaraçada de
porque os Sacerdotes, que com o todo, e qualquer encargo: a III, em
seu Bispo compunhão o antigo Pres fim seria para o Reitor, que del
byterio, se sentavão em cadeiras bai la repararia a Igreja, e manteria a
xas, e rasas á roda da Cadeira Epis Hospitalidade, que mandão os Sagra
copal alta , sublime , preciosa, e dos Canones, e mesmo pagaria a cos
superior a todas, para que se lem tumada Procuração ao Bispo cad’anno,
brassem os Bispos, que a eminen e os mais encargos da Igreja: Tam
cia do lugar demandava o seu vi in Cera , que pro Cathedratico da
gilante cuidado, e huma mais que tur, quam in omnibus aliis. Doc. de
ordinaria virtude, e perfeição. E da Ceiça.
qui veio chamarem aos Bispados, CATHEDRATICO. Assim cha
ou Dioceses Cathedras , e ás Igre márão as Propinas, que os Bispos
davão, quando erão encathedrados,
jas Matrizes dos Bispados Cathedraes, ou enthronisados. •

que hoje dizemos Sés á Sede.


No Censual da Sé de Lamego hº lar CATHENATICIO. O mesmo
ga menção dos Cathedradegos, que que Carceratica. No Cod. Wissig. L.
as Igrejas do Bispado pagão, não PTI. Tit. 4. L. IV. se determina ,
em dinheiro, mas sim reduzidos a que se for piezo o innocente, os
Ceras. E declara o mesmo Censual Oficiaes de Justiça cathematicii no
que huma Cera são tres arrateis, e mine nihil requirant. Porém se for
quarta: e logo em outra parte diz culpado, poderáó levar hum tremis
que são tres arrateis e meio de Cera. se de mão posta , e de cada hum
Forão pois os Cathedraticos chama dos prezos. V. Carceratica.
dos Ceras; porque antigamente erão CAVADURA. Cava de huma
applicados para a cera, que ardia vinha. Vinha que seja cavadura de dés
nos Oficios Divinos das Cathedraes. homeens. Doc. de Pendorada de 1 372.
Hoje porém com a variedade dos CAVALGADA. Irrupção , ou
tempos, e divisão das rendas cedem entrada, que se fazia de viva for
unicamente estas Ceras , ou o seu ça, e com mão armada em terra de
justo valor, em utilidade dos Excel inimigos, tomando tudo o que po
lentissimos Senhores Bispos. Haven dia servir de utilidade, e proveito
do D. Aymerico Bispo de Coimbra para os que a fazião, perda, e rui
confirmado ao Mosteiro de Ceiça a na para os que a experimentavao.
Doação, que El-Rei D. Diniz lhe He deIiBarros,
ii
e outros. Nos princi
pios
252 CA CA
pios da Monarchia se dizia em La vox á Mesonada contracta est, deri
tim Cavalgata. vaturque a Latino vocabulo Mansio.
CAVALLARIA , Cavalaria, e De todas estas Cavallarias ha ain
Caballaria. Certa porção de manti da hoje em Portugal alguns vesti
mentos , fructos , ou dinheiros: gios. Das 3.° nas Moradias, (que
quinta , fazenda, ou Predio, que antigamente chamavão Acostamentos)
estava destinado á manutenção de e são o Ordenado, que se dá aos
gente Militar, e que só para a Mi que estão assentados por Fidalgos
licia, e com o intuito della se con nos Livros d’El-Rei , residindo na
cedia, ou talvez em recompensa dos Corte , ou onde ella estiver. Das
serviços feitos na paz, ou na guer 2.° se trata largamente nas Inqui
ra. Em Hespanha se concedêrão mui rições d'El-Rei D. Afonso III., e
tas , e grossas Cavallarias aos Ri d'El-Rei D. Diniz que fizerão lan
cos-Homens, as quaes erão avulta çar em devasso a muitas Honras, que
das contribuições, impostas nas Ci não erão Cavallarias perpetuas. E
dades , Lugares , ou Herdades, das 1.º ainda restão no Minho a
com que podessem sustentar com Honra de Farazão : em Traz-os
munições de boca, e guerra as res montes a de Gallegos , e na Beira
pectivas Milicias, ou número de as de Lalim , Lazarim , &c. As
soldados, com que devião servir ao quaes todas, e outras muitas tive
Monarcha, que dellas lhes havia fei rão a sua origem nas Cavallarias da
to Mercê: e a estas Cavallarias cha quelle tempo. •

mavão Honras. Para o que se ha de Porém não só a estas Cavallarias,


notar, que havia Cavallaria de Hon que vinhão immediatamente da Co
ra: Cavallaria , que se dava , como roa, ou dos Ricos Homens; tambem
de Honra: e Cavallaria de Mesnada. derão o mesmo nome a certas Pen
As 1.º davão-se unicamente aos Ri sões, a que os Herdeiros, e Natu
cos-Homens, que dellas consignavão raes dos Mosteiros pertendião ter di
alguns fructos, ou reditos aos seus reito; mas destas Cavallarias, e sua
Milites, ou Cavalleiros Fidalgos, e extinção V. Casamento.
de Linhagem, ou aos filhos destes: CAVALLARIA. Certa multa,
estas erão perpetuas , e huma vez condemnação, ou pena que paga
concedidas, se não revogavão. As vão todos aquelles, que tendo obri
2." inteiramente pendião da vonta gação de ter Cavallo de marca o não
de do Principe, e as dava a quem, apresentavão nas mostras geraes do
e pelo tempo, que muito lhe apra mez de Maio. V. Cavallo de Maio.
zia. As 3.° finalmente erão as me CAVALLARIA. AS. Terra ,
nos consideraveis de todas , por Casal, quinta , herdade, lugar,
não serem mais, que hum Presti que antigamente se concedia com
monio, ou consignação de fructos, obrigação de fornecer certo núme
ou Comedoria, que o Rei dava aos ro de cavallos para determinada ex
Nobres do seu Palacio, aos quaes pedição militar. Nas Inq d'El-Rei
chamavão Maisnadarios, ou Mesna D. Diniz se achárão: In Serém duo
darios por serem educados na Casa Casalia, Óº duas Cavalarias de Mi
Real, e terem do Soberano Mora litibus , que dant Dio Regi Cabalos
dia, a que chamavão Mesnada: que in fossado. E na Terra de V##
a- ,
CA CA 253
havia muitas com esta Pensão. Doc. tello... Et Cavaleiro de Molas stet
de Grijó. V. Fossado. pro Infanzon de totas alias terras, in
CAVALLEIRO, Cavaleiro, e judicio, et in juramento troucant su
Cavalario, ou Cabalario. Com to per illos cum duos juratores. Et Pe
da esta diferença se acha escrito es dones de Molas stent pro Cavaleiros
te nome, ao qual em os nossos an Kilanos de totas alias terras , in ju
tigos Monumentos corresponde o dicio, et in juramento troucant super
Latino Miles, ou Milites. Para cu illos cum duos juratores... Et bo
ja intelligencia se ha de notar, que minem de alia terra , qui Cavaleiro
entre nós havia Cavalleiros, ou Er de Molas descalvalgar, pectet LX, sol
cudeiros Fidalgos, que ordinariamen dos ad rancurosum... Et non dent pou
te se intitulavão Milites, sem mais sada per foro de Molas, nec Cavalei
distincção alguma: E havia Caval ros, nec Viduas, nisi Pedones perma
leiros , e Escudeiros Villãos , e sem num de Alcaldes: dent pousada usque
Nobreza, que se dizião Cabalarij, tertia die. Et home, qui hestia cava
ou Milites Vilani, Os primeiros, se lar abuerit , non det pousada. Doc.
gundo as Leis antigas de Hespanha, de Móz. E delle se collige bem
e como Fidalgos de Linhagem, po claramente , que alli só havia Ca
dião vingar Icoo, ou 5oo soldos. V. valleiros Villãos; pois nenhum ven
Kingar 5oo soldos. Os segundos co cia mais que 6o soldos. Entre os
mo gente sem Nobreza, e da sor Doc. de Thomar se acha traduzido
te dos simplices Lavradores; ainda em Portuguez do Seculo XIV. o Fo
que tivessem posses para terem ca ral, que os Templarios derão áquel
vallo , e deste modo gozarem de la nova Povoação no mesmo anno
não pequenos Privilegios, e Isen de 1 162, onde lemos o seguinte:
ções ; com tudo não entravão na &e alguum dos Cavaleiros comprar vi
Classe dos primeiros, que honravão nha ao Peom, seja livre : e se caser
os seus Solares, o que se não per com a molher do Peom, toda herdade
mittia aos segundos. Nos Foraes an que ouver seja livre. E se o Peom po
tigos se vê claramente esta diferen der seer Cavalejro , aia foro de Ca
ça. No que El-Rei D. Afonso Hen valeiro. Cavaleiros aiam sas herdades
riques, ainda Infante deo á Cidade livres. E se alguum dos Cavaleiros veer
de Cêa no de 1 136 se diz: Si Fos a Vitice , e non possa servir em Ca
sado veniat ad mostram Villam , Óº valaria, em quanto viver aia onra de
Cavaleiro, aut pedone deripaverit Ca Cavaleiro. E se o Cavaleiro morrer,
valeiro, que habeat suum spolium cum a molher que ficar feia onrada, come
suo cavalo , Óº non deinde ratione, em dias de seu marido . e nenguttin
neque quinta. L. dos Foraes Velhos, filhe esta, ou filha de outro qualquer,
E aqui se vê , que estes Cavalei por molher , sen vontade sua , e de
ros erão immediatos aos Peoens , e seos parentes. Sayom non vad seelar
conseguintemente não Fidalgos. No casa de nenhuum Cavaleiro. E se al
que El-Rei D. Afonso I. deo á Vil guum Cavaleiro fezer algua cousa der
la de Mós no de 1 162 , se deter convenhavel, venha ao Concelho , e re
mina: Sifaciatis Fossado uma vice in ia julgado direitamente... Creligos de
anno, vadant tertia parte de Cavalei Thomar aiam em todalas cotisus onrra
ror, Óº duas partes stent in illo Cas de Cavaleiros, em vynas, em terras,
62
254. CA CA
e em casas. E se a alguum dos Ca ne Regali Facienda , & Mercatores,
valeiros morrer o cavallo, Óºc. Não c) Pedones similiter.... Mandamus
he preciso grande reflexão , para etiam, ut Clerici Sanctae Mariae ha
concluirmos que aqui se trata uni beant suas hereditates atque suos Ho
camente dos Cavalleiros, Peoens, ou nores ficut Milites de Vireo eas me
JZillãos. lius habuerint : Óº ne nemo pro eis
Nos Foraes d'El-Rei D. Sancho serviat, nisi coram Altare B. W. Ma
I, que se achão no L. Velho del rie , pro nobis supradictis , Óº pro
les na Torre do Tombo , achamos omni Populo Christianissimo precer
a palavra Milites; mas nem sempre fundendo. (a) No de Penamacor de
significando Cavaleiros Fidalgos : No 1199 : Clerici de Penamacor sint li
da Covilhã de 1 186: Milites de Co beri ab omni Fisco Laicali, Óº ha
viliana sint in judicio pro Podesta beant honorem , et hereditates sicut
des, & Infancomes de Portugal. No Milites: et non respondeant, nisi per
de Bragança de 1 187: Milites qui Archidiacomum ab Hora Primae usque
Prestimonium non tenuerint , non pe ad Tertiam. No de Pena-Cova de
ctent Nuncionem : Óº qui Praestimo 1 192: Miles et sui maladi ibunt in
nium tenuerint , Óº filios babuerint, Fossadum Regis. Aqui sem dúvida
nom dent Nuncionem, neque auferant se entende Miles por Fidalgo Caval
filiis Prestimonium. No de Viseu do leiro ; pois tinha Solar Honrado, e
mesmo anno se acha Milites , Óº nelle usava de malladia , ou juris
Cavalarij sem distinctivo algum de dicção nos que lhe erão sujeitos,
Fidalgos de Linhagem; pois diz: Ca que se chamavão Malados.
valarij, & Clerici, ó Pedones, Óº No Foral , que os Templarios
Mercatores, Óº mulieres non sint cap derão a Castello-Branco no de 12 13
ti aliquo modo , neque roubati intus se lê: Duas partes de Cavaleiros va
Kiseum , neque foris... Milites, Óº dant in Fossado , et tertia pars re
Clerici, qui in Veteri Civitate de Vi maneat in Villa : et una vice faciant
sco casas habiterint, possideant eas si Fossado in anno. Et qui non fuerit ad
For

(a) A Rainha D. Thereza, querendo recompensar os bons serviços , que confessa de


ver aos de Viseu, lhes fez passar hum, Foral mui franqueado , que se guarda no Archi
vo da Sé da mesma Cidade, feito no de 1 123, o qual, tratando dos Cavalleiros , diz:
Fos, qui esti: Cives Milites istam consuetudinem firmiter dono , ó: vobis usque in per
petuum concedo : Si aliquis vestrum mortuus fuerit , é filium parvulum post se relique
rit, teneat Hereditatem suam in p ice , usque dum puer ipse crescat, é aprehendat ar
na , cum quibus Domino terre serviat. Si filium non habuerit, uxor sua , si bonam conti
nentiam in viduitate babuerit, obtinear suam hereditatem etiam, in pace. Et si aliquis Mi
les jam in senectutem devenerit; teneat suam hereditatem bene defensam in pace... Sine
aliquº Vicario... Clerici autem, qui in Civitate moraverint , eodem modo habeant suas
hereditates, per suum Clericatum , sicut & Milites per suam militiam... Ipsi Milites,
qui in Villas morant, si aliquis illorum cavallum suum perdiderit, non demandent illum
usque in plenum annum. Completo anno, si cavallum non habuerit, de sua jugada.
Destes dois Foraes se lembrou El-Rei D. Diniz na Concordata que fez com a Cathe
dral de Viseu em 2o de Agosto de 1292, que alli mesmo se guarda, e na qual Man
da , e outorga, que os Clerigos da Igreja de Santa Maria da Sé de Viseu hajão sás
herdades, e sás honras, assi com as os Cavalleiros de Viseu milbor ouverão, e nôm sir
vão por ellas a nengum, quante por razom da Cavallaria , que an a dar por Maio,
se non teverem cavallo ; mas sirvão por ellas ante Altar de Santa Mariã. Foi este
Privilegio confirmado por muitos Reis até o Senhor D. Manoel , como consta de huma
Certidão passada na Torre do Tombo no de 1538.
CA CA 255
Fossado, peite proforo V. f. profos se póde ver nos que ex professo tra
sadeira... Et qui babuerit aldêa, et tárão de Genealogias, e origens da
uno jugo de bois, et X, oves, et uno nossa Nobreza. De huma Inscrip
asino, et duos leccor, comparet cava ção, que se conservava junto á Igre
lo... Milites de Castel Branco sint in ja da Vera Cruz de Portel, onde
judicio pro Podestades , et Infanzo houve hum Convento de S. João
nes de Portugal. Clerici veró habeant de Malta , fundado por Fr. Afonso
mores Militum. Pedones sint in judi Pires Farinha no de 1268 , se diz
cio pro Cavaleiros Vilanos de altera que este Fundador, antes de entrar
terra. Doc. de Thomar. No Foral naquella Religião: Fuit Miles de uno
de Santa Cruz da Villariça por El scuto » et de uma lancea: tamen Pa
Rei D. Sancho II. no de 1225 : ter , et Avunculi ejus fuerunt Mili
Mando: qui Militem de Sancta Cru tes. Acha-se no Compendio das Chro
ce descrimaverit, pectet ei quingentos nicas de Portugal, escrito pelo Azi
soldor, medios ad Militem, er medios nheiro no de 1535 propè finem. No
ad Palatio: Et si eum occiderit pectet tempo d’El-Rei D. Afonso III, se
mile soldos... Peones, et Milites in começou a usar entre os Portugue
morte, et in firidas, et in rouso unum zes da palavra Fidalgo, ou Filho d’al
Forum habeamus in Villa. Et donno go para distinguir os Cavalleiros, e
vobis Foro , quod stet Cavaleiro de Escudeiros de Linhagem, dos que o
Sancta Cruce pro Infanzon de alias não erão. No Foral, que este Mo
terras in judicio, et in veritate, et narcha deo aos de Villa Real, se
injuramento super illos cum duos ju declara, que o Alcaide Mór do Cas
ratores. Et illos Piones de Sancta Cru tello (quando o tivessem) seria sem
ce, quod stent super illos Cavaleiros pre hum Cavalleiro Filium de algo,
}'illanos de alias terras in judicio, natural de Portugal, que vingasse
et in juramento cum duos juratores... 5oo soldos. A mesma condição pôz
Et omem de alia terra, qui Cavalario El-Rei D. Diniz no arrendamento,
Sancta Cruce descavalgar, pectet LX. que fez do Castello de Celorico de
soldos. Doc. de Moncorvo. Do so Basto a hum Martim Annes, como
bredito se collige, que nem sem se póde ver no V. T. da Monarch.
pre Miles correspondia a Cavalleiro Lus, a f. 122. V. Algo. Os Reis,
Fidalgo. Com tudo por aquelles tem e por sua commissão os Ricos-Ho
pos se achão muitas Escrituras em mens , armavão Cavalleiros com as
que se nomeão os Senhorios de al ceremonias do costume; porém El
gumas terras, ou quintas, v. g. Rei D. Diniz , vendo que os Ca
Miles de Alvelis, Miles de Tarauca, valleiros se eximião de pagar tribu
ou Cavalleiro de Roerende, Cavallei tos, e de outras contribuições pú
ro de Pumares, &c. E então era sem blicas, com detrimento grande dos
dúvida o Miles, ou Cavalleiro, pró Lavradores , tirou esta Jurisdicção
va terminante de Fidalgo de Linha aos Ricos-Homens. Em quanto os Fi
gem, ou por Mercê do Soberano. dalgos se não armavão Cavalleiros,
Porém não só o Cavalleiro Fidal servião na Milicia com o nome de
go se entendia por Miles, tambem Escudeiros, por usarem de escudos
o Escudeiro Fidalgo se dizia em La brancos, e sem empreza.
tim com a mesma palavra : como CAVALLO acontiado, e arne
S2 -
256 CA CA
sado. Soldado, ou para melhor di ma a esta Colheita, ou Tributo Ca
zer, Vassallo, que servia a El-Rei vallo de Maio. El-Rei D. Afonso
com armas, e cavallo, e arnêz, ou V. nos Capitulos Especiaes , que
escudo; vencendo quantia, ou sol fez dar á Camera de Viseu no de
do certo, e annual, v. g. 2d)ooo, 1438; diz, que El-Rei D. João I.
ou 4d)oco réis. concedeo a esta Cidade , que ne
CAVALLO de Maio. Certo Tri nhum com o pretexto de qualquer Doa
buto de humas tantas libras, ou sol fão Régia, ou Privilegio fosse escuso
dos , que em Viseu, e seus Ter de pagar no Direito , a que chamão
mos se pagava todos os annos no Cavallo de Maio, o qual desde o prin
1.º de Maio , por todos aquelles cipio do Reino houve sempre nesta Ci
Cabeças de Familia , que neste dia dade. Doc. da Cam. de Viseu.
não apresentassem cavallo de marca, Com efeito El-Rei D. Manoel
seu proprio , e capaz de servir na reformando os Foraes, que a Rai
guerra. Correspondia este Tributo nha D. Thereza, El-Rei D. Afon
á colheita, e á pena, ou multa dos so Henriques, e D. Sancho I. ha
que o não apresentavão na fórma di vião dado a Viseu, declara, que o
ta , era pagarem Cavallaria , isto Procurador da dita Cidade ha de ar
he, jogada, ou Fossadeira, da qual recadar no 1.º de Maio 4@725 réis
só erão isentos os Conegos # 3 de certos Lugares fóra do Termo
como se disse V. Cavalleiros. No de da Cidade, a que chamão Cavallo
1 1 1o fez o Conde D. Henrique de Maio. Doc. da Cam. de 1513. :
Doação a Bernardo Franco de cer E no Foral de Sabugosa, dada pe
tos Casaes, em Villa Boa de Satan lo mesmo Rei no de 1514, que se
no Bispado de Viseu, e declara, guarda em Lorvão, a quem esta
que elles sejão Libera , et ingenua Villa pertence, se diz: Tambem pa.
ab omni Jure Regali, et non des in gam os de Sabugosa em cada huum
de Jugada, nec facias Cavalariam ; anno por Direito Real 664 réis de Co
quia de te accepimus unum bonum Ca lheita, os quais se pagam por dia de
vallum , quem adduxisti de terra Mau Maio: e chama-se este Direito Caval
rorum. Deste mesmo Tributo com lo de Maio. Pagava-se este Tributo
o nome de Cavallaria se lembrou por Cabeça dos que não tinhão o
El-Rei D. Diniz, no de 1292, co dito Cavallo, e constava de 2o sol
mo consta dos Doc. da Sé de Vi dos, que era da nossa moeda 37 réis,
seu. Alli se conserva igualmente hu menos dous ceitis.
ma Carta do mesmo Rei datada em Porém não só em Viseu, em ou
131 1 , em que chama Cavallarias a tras partes deste Reino se pagava
este Tributo; declarando , que o semelhante Tributo. No Foral, que
devia pagar todo aquelle que não ti D. Sancha Vermuiz deo á Villa de
nha Cavallaria, ou era quinhoeiro nel Font’arcada no de 1193 se deter
ha, e não apresentava no 1.º de Maio mina : Qui equm babuérit defendat
cavallo capaz do Real Serviço. Doc. jugadam, Óºfaciat exercitum de Maio.
da Cam, onde se acha dada em pú L. dos For. Velhos. El-Rei D. Ma
blica fórma no de 1328. Alli mes noel reformando este Foral no de
mo, se acha huma Sentença d'El 15:14, depois de declarar, que to
Rei D.João II, de 142o, que cha do o pão , que devem pagar as 32
Cou
CA CA 257
Courellas deste Concelho, são 819 al Cavallo Raudam era Potro novo , e
queires , e quarta, e o vinho 4o9 al boçal, bravo, e por amansar ; mas
mudes, e tres quartas de almude : e os documentos daquelle tempo attri
pela Colbeita, maravidis, e outros Di buem o Raudam á côr do cavallo ?
* A • -\

reitos, 24 alqueires de pam meado, e não á sua qualidade. Em hum de


e 6o4 réis repartidos por todos, con Pendorada dei o67 se diz: Uno Kavalo
clue : Porem o que no 1.º de Maio color Raudam. E em outro do mesmo
presentar nesta Villa cavallo de mar anno: Uno Cavalo raudane.
ca não pagará direito algum. A ins CAVAM. O que não tem bois,
tancias de Diogo Lopes Pacheco, nem vaccas, e só com o trabalho da
seu Vassallo , e Senhor de Ferrejra enxada semea o seu pão. E o Ca
d'Aves , eximio El-Rei D. João I. vam pagará hum alqueire da medida
no de 1389 as Religiosas de Fer corrente , se com emxada , ou enxa
reira de pagarem jugada na sua quin dam o lavrar, ora lavre muito, ora
ta de Arrancada, Julgado de Vouga; pouco. For. de Ferreira d'Aves por
e que igualmente não fossem obri El-Rei D. Manoel no de 15 14. E
gados a mostrar Cavallo no 1º de no de 1274 em hum Prazo de São
Maio, e na fórma do estilo. Já El Jorge apar de Coimbra.
Rei D. Fernando lhes tinha con AVIDAR. Prevenir, acautelar.
cedido o mesmo Privilegio. Doc. Vem do Latino Caveo. Nunca se que
de Ferreira d'Aves. ria Cavidar.
CAVALLO Raudão, Roudão CAVIDADO. Evitado, acaute
e Raudam. Assim chamavão ao ca lado, resguardado. E por esto ope
vallo , que tinha huma côr tirante cado nom he Cavidado. Concord. d'El
a vermelho, a que os Latinos cha Rei D. João I. de 1427. Daqui Ca
mão Rubidus , # facilmente se bide: o lugar, onde os …} » C
deduzio Cavallo Ruão, que tem a outras cousas se põe a seguro do
côr vermelha , com alguma mescla pó, e do mais que os póde infi
de branca. Porém se contenderem que cionar, e destruir.
seja Alazão queimado , ou Tortado, CAVON. O mesmo que Ca
e não Ruão encendido , não conten vam. Cavon, si laboraverit triticum,
deremos. Por hum Doc. de Pedro det I. taleigam : Óº si laboraverit
so de 1o53 sabemos, que D. Egas milium , similiter. Foral de Lisboa
Erotes , habitando entre Douro, e de 1 179. L. dos For. Velhos.
Vouga, sahio ao encontro aos Mou CAUNHO, Cunho, e Conho.
ros, que se achavão entre Douro, Penedo mui grande , solitario , e
e Lima, que expulsos estes inimi redondo, que se acha no meio de
os , comprára a seu Cunhado D. hum rio. Na Villa de S. João da
roya Osórediz , e a sua mulher Pesqueira , e margens do rio Ta
Adosinda a Villa de Viariz pro uno vora se achão ainda estes nomes,
Kavallo roudane, ó" uma almandra ti que são dos principios da nossa Mo
raze. Não se me esconde, que de narchia, segundo se vê nos Doc, de
Raudum, Raudus, Rodus, e Rudus, S. Pedro das Aguias.
que na baixa Latinidade significá &##Nf6 OS. Queda, fal
rão cousa impolida , rude, imper ta, defeito, culpa. Doc. de Tarou
feita, alguem se persuadiria , que ca do Sec. XIV.
Tom, I. Kk - CAY
258 CA CA
CAYRA, e Quayra. Medida de ras fazião 3 alqueires, que hoje são
sólidos, que faz tres quartas de pão dobrados dos antigos. Da Cayra do
da medida , ou alqueire , de que sal ainda se usa na Cidade do Porto,
agora usamos. No Foral de Fragoas QAGA. O mesmo que hoje na
de 15 14 diz El-Rei D. Manoel, que Milicia a Retaguarda. Era o lugar
por costume, e posse immemorial, menos honrado, e se não dava se
se pagárão sempre neste Concelho não a #" de pouca confiden
ao Mosteiro de Arouca certas me cia no Real Exercito ; e por isso
didas de pam meado , centeo, e mi os mais honrados, e valentes hião na
Ilho , por huma medida antiga , que dianteira , a que hoje chamamos
chamão Cayra, da qual faz huma del }Yanguarda, ou Benguarda. V. Saga.
las tres quartas d'alqueire desta me ÇALAIO. Tributo, que se pa
dida ora corrente. E paga mais cada gava do pão cozido na Cidade, e
foreiro com cada huma das ditas Cay Patriarchado de Lisboa. Se os Qa
ras, huma estriga maçada , e espa loyos, ou Saloyos, que El-Rei D.
dellada d'enchemaão. Na Cidade do Affonso # deixou ficar nos
Porto se usava desta medida a que contornos de Lisboa tomárão este
alli chamavão Quaira , ou Teiga, nome de Çalá, que he a sua Ora
como consta do L. Velho dos Obi ção , que cada dia repetem sinco
tos da Sé da mesma Cidade. No Ter vezes: se de Salé, por serem des
mo de Guimarães se usava de hu ta Cidade na Provincia de Fez: ou
ma Teiga , a que chamavão Quay do Salame dos Mouros, de que des
ra, como se vê de huma Bulla de cendem : então derão os Galoyos o
Inn. III. de 1214 sobre as visita nome ao Qalayo; sendo certo, que
ções, que devião pagar aos Arce desde a conquista de Lisboa até o
bispos de Braga os Mosteiros da Cós presente, elles se occupão em for
ta, e de S. Torquato, a qual se guar necer a Corte de pão cozido. Po
da no Archivo da Mitra Bracharen rém se antes da dita conquista já
se. Daqui Quayrella. Havia Cayra, este Tributo se chamava Qaloyo; he
{2uaira , Quira, e Quiaira não só bem de crer, que elle daria o no
de sólidos, mas tambem de liqui me de Saloyo , e Saloya, áquelle,
dos. No L. das Campainhas de Gri ou se. áquella, que nisto se occupas
Doc. de Alcobaça. •

jó (dito assim, porque tem algu


mas pintadas á margem para notar ÇAQUITEIRO, ou Saquiteiro.
os Padroados das Igrejas) se faz O que tem a seu cargo o pão co
menção de Quayras de sal, e de zido para a meza do Rei. Daqui
pão, e de vinho. E a f. 3. Y. de Saquetaria: o lugar, ou despensa,
clara, que duas quairar de pão im em que este pão se guardava. As
portão pela nova 6 alqueires e meio: sim consta das Inquir. d'El-Rei D.
e tres Quairas de vinho montão 9 al Affonso III.
mudes. Era logo a Quaira de vinho ÇARRADAMENTE. Tudo em
tres almudes, e a de pão tres alquei torno de hum lugar. Foi dada a di
res e quarta. No Censual dos Votos ta terra de foro, farradamente ao di
da Mitra do Porto se declara , que to Concelho. Foral da Ervedosa de
a Cayra levava alqueire e meio de pão Bragança por El-Rei D. Manoel
da medida ora corrente: e que 2 Cay no de 1514. Isto he ; que de to
do
CA CA 259 |
do o Concelho se pagava hum de a D. Martinho sobre os Dizimos,
terminado foro; prescindindo de se e Primicias. An. de 1304. Doc. de
rem pelo tempo mais , ou menos Moncorvo. • * *

os moradores. Daqui Foro farrado: CEITA. Assim chamavão a hum


Foro certo de hum determinado Lu Tributo , que as nossas Provincias
gar. Doc. de Bragança. do Norte pagavão, para serem isen
ÇARRAR as ementas. Não pôr tos de servirem pessoalmente na Pra
algúma pessoa mais na lista , , ou ça de Ceuta, que então dizião Cei
rol. Hoje dizemos Cerrar. ta. Esta deo o nome ao dito Tri
CEA. Jantar, banquete, brodio, buto, que constava de 1o réis por
refeição liberal , e copiosa... Anti Fogo, ou Familia. Este vagárapa
gamente se tomava alguma cousa ra a Coroa por falecimento de D.
de manhã, a que chamavão Almor \
Miguel de Menezes, Marquez de
so, isto he, aliquis morrus, ou alius Villa Real. No de 1572 mandou El
31707"ftly : hum, ou outro bocado, e. Rei D. Sebastião vender os Io réis

a principal comida era huma só vez. de Serviço d'Africa aos que os de


no dia, e quasi á noite. It : Man vião pagar; com tanto, que por
damos aos Clerigos, que: nos disserem huma vez déssem 2oo réis, com o
senhas Missas C. soldos em comer... que ficavão escusos para sempre.
It : mandamos por nossas Céas bum Assim consta de huma Sentença do
boi, e bum porco , e dous toucinhos: mesmo anno, em os Doc. de Mon
E mandamos, que o coiro de boi, que corvo. . . -
o dem por vinho: e dem pão trigo, e CEITIL. Moeda de cobre, que
centeo, que os avondem. Testam. de fez lavrar El-Rei D. João I. em
1314 nos Doc. de Lamego. Ainda memoria da Cidade de Ceita, Sep
hoje nas visinhanças de Lamego se ta, ou Ceuta, que conquistou aos
chamão Cêas, o pão cozido, que Mouros. Valia a sexta parte de hum
se dá aos trabalhadores em lugar de real dos que agora usamos , , que
cêa , o qual elles costumão levar consta de seis Ceitir. Continuou es
para suas casas. No de 12 12 doá te dinheiro até El-Rei D. Sebastião,
rão ao Mosteiro de Pendorada hu e algum tempo depois em Guima
ma herdade: Ut inde habeatis bonam rães,
! |3 e outras partes do Reino,
? até {

Cenam in die Cenae Domini. E he que de todo se extinguírão. Tinha


bem certo, que neste dia, e prin esta moeda no anverso as armas de
cipalmente naquelle tempo, huma Portugal, e no reverso huma Cida
só vez se comia no dia, refeição, de ao longo da agua. Persuadírão
a que as Letras Divinas, e Huma se alguns, que se devia nomear Sei
nas chamárão Cêa. til, como derivado de Sextil, moe
CEBRADAS. Quebradas. Doc. da dos Romanos, e que fazia a
de Pendorada de 13o%. * sexta parte de hum adarme: outros,
CEEIRO. O que guarda , e que se disse Ceitil,} como Q
quem dis
apascenta os porcos, porqueiro. E sera Settil; por quanto sete moedi
mandamos, que os Cééiros, que man .nhas destas fazião hum real de co
tém os Cyoados, dem por Dizima a bre , a que chamavão óbolo, que º
peyouga do Cyoado, assi como usarom se compunha de sete Dinheiros Tor
a dar. Const. do Arcebispo de Bra nezes. Porém os nossos Ceitis não
Kk ii co
26o CE -, CE \

conhecem outra origem, que a to CENOBIOS. Monges, que vi


mada de Ceuta, nem o real de co vem no Mosteiro, que por se cha
bre, ou real branco Portuguez va mar em Grego Canobium , os seus
leo já mais sete Ceitis, mas sim, moradores se chamátão Cenobitas, e
e unicamente seis. algumas vezes Cenobios. No de 1 1 15
CELLAREIRO da Beira. Não Trasmiro, e sua mulher Fraigundia,
só entre os Monges houve sempre doárão a Lorvão, sendo Eusebio Prior,
Cellareiros, que cuidassem em tudo, huma vinha , e hum campo em
o que pertencia ao sustento dos que Rio d'asnos , e dizem, que fazem
vivião nos Mosteiros : igualmente esta Doação: Vobis Eusebio, simul
havia Cellareiros Militares, Curado que Collegio Cenobiorum vestrorum,
res, e Procuradores de todas as mu qui in vita sancta perseveraverint. L.
nições de boca , e forragens, que dos Testam. de Lorvão. N. 62.
para as Tropas se fazião: os quaes CENSO, Censura, e Censuria.
hoje são chamados Assentistas , ou Com estes termos se explicão os Di
Provedores dos Armazens. No de reitos, rendas, e Pensões que as Ca
1289 derão huns Juizes Arbitros, thedraes devião receber annualmen
nomeados por El-Rei, a Sentença te das Igrejas, e Mosteiros do Bis
definitiva sobre os Maninos entre ho pado. A isto chamárão tambem fen
Concelho de Aguiar da Beira, e o Mos tares, Colbeitas, Visitações, Prºcu
teiro de S. João de Tarouca. Nella rações, ou Paradas, (além das Ter
se acha assignado entre as mais tes fas Pontificaes , que nos Dizimos
temunhas , Fr. Giraldo Afonso Cel das Igrejas Parochiaes lhe perten
lareiro da Beira. E nem o ser com cião, e do Cathedratico, de que aci
mettida a hum Monge semelhante ma se fallou. (Dos Censores, ou Cen
Inspecção nos deve admirar ; pois sitores Romanos nos veio esta pala
o seu desembaraço , intelligencia, vra: o particular Oficio destes Ma
fidelidade, e virtude o farião acré gistrados era estimar , avaliar, e
dor das attenções do Monarcha, que pôr preço ás terras incultas, ou cul
bem sabía pertencerem os talentos tivadas, que a Républica tinha, ou
da gente Religiosa aos interesses da conquistava, e á proporção da sua
Républica, de quem a Profissão os qualidade , e rendimento, consig
não eximio, todas as vezes que a nar-lhes a Pensão, que deverião pa
utilidade pública os precisou. Que gar ao Fisco , que ordinariamente
muito logo fosse o # Fr. Ge era de 4o hum: e por isso se cha
raldo Cisterciense incumbido dos mou Censo Fiscal , ou Quarentena,
Reaes Celleiros na Provincia da Bei e ao depois se disse jugada , Ca
ra?... Por ventura não commetteo bdal, Fossadeira, &c. como se pó
o mesmo Soberano no de 1291 a de ver nos seus Lugeres.
Fr. Martinho , Monge de Alcoba A sua imitação se chamárão Cen
ça, e seu Esmoler Mór, o abrir o sos os Direitos, e contribuições, que
Paúl de Ulmar, junto a Leiria , e as Igrejas Parochiaes pagavão á #
repartí-lo pelos moradores : o que pital do Bispado; ou por contrato
assim se praticou com a maior des feito in limine fundationis, ou que
treza, igualdade, eJustiça?... Doc. ao depois se fizesse. O que não tem
de Aguiar da Beira. dúvida he, que já desde o tempo
de
CE CE 26 r
de Carlos Magno, (que fez dar acha entre os Doc. da Mitra Bra
os Dizimos ás Igrejas, para que o charense, declara, que o Parocho,
Povo ficasse inteiramente livre de que pelo tempo,for: Et ipsa Eccle
todos os mais encargos para com sia nostram Censuram nobis persolvat:
ellas, assim da Fabrica , como do }'idelicet: Unum modium de Centeno,
sustento dos Pobres, e manutenção dos &º unam Ceram, ó tertiam partem
Ministros Ecclesiasticos) os Livros Cen Mortuariorum. No de 123o D. Pe
suaes se começárão a escrever, e nel lagio, Bispo de Lamego fez Doa
les se lançárão todas as Censorías, e ção ao Mosteiro de #
Foragens, que as ditas Igrejas de De tres modios, quos debemus habe
vião pagar aos Bispos, e seus Cle re annuatim de ipso Monasterio de Cen
rigos, ou Cabidos. Destes Censuaes su. E como D. Rodrigo, Bispo da
nos restão alguns; incluidos outros mesma Cidade, ignorando esta Doa
no que hoje chamão Tombos. Huns, ção, demandasse as Religiosas: Por
e outros nada mais são que os Ti razom da Colheita desse nosso Moes
tulos das taes Censuras , Direitos, tejro; informado de que nunca a pa
ou rendas, que as respectivas Igre gárão , se partio desta Demanda,
jas, ou Mosteiros devem pagar á no de 1315. Doc. das Bentas do
Sé do Bispado. •

Porto. Aqui temos, que Censo,-he


No de 1 13o fez o Infante D. o mesmo que Colheita. Ao Mostei
Affonso Henriques Doação ao Mos ro de Arouca dimittio o mesmo Bis
teiro de S. João Baptista de Vel po D. Pelagio no de 1224 os seis
leira, (sobre cujas ruinas se levan Aureos de Censo , que este Mostei
tou o de S. João de Tarouca) de ro devia pagar á Mitra; recebendo
tres Casaes junto ao dito Mosteiro: or eles tres Casaes em Terra de
e isto não só para remedio de su'al F#. E já sobre este mesmo Cen
ma, e para remunerar os bons ser so tinha feito com o mesmo Mos
viços de Monio Osoriz; mas tam teiro outro contrato no de 12 15.
bem : Pro Censura de Hereditate de ' Doc. de Arouca. No de 1295 re
joanne Arias. Donde se manifes cebeo o Bispo, e Cabido do Por
ta , que esta Censura erão os Di to hum Casal do Mosteiro de Pen
dorada, pelo qual lhe dimittítão a
reitos , que a dita Herdade devia
Censuría, que tinhão neste Mostei
pagar ao Mosteiro. E para este não
ro, a qual consistia em 2o moyos de
ficar lezado, lhe dôou os tres Ca
saes. Doc. de Tarouca. Havendo vinho pela medida piquena (a qualfa
El-Rei D. Sancho I. doado á Sé de zia 1o moyos pela quinta : e 8 moyos
Lamego a sua Villa de Canellas em pela do Porto.) Deste vinho devia
terra de Panoyas no de 12o5; seu o Mosteiro dar annualmente duas
neto, El-Rei D. Sancho II., a cou Terças ao Bispo, e huma ao Ca
tou no de 1 225 no mez de Janei bido. Doc. de Pendorada. - …
ro, e logo em Julho do mesmo an CENSO
Censo... Fiscal. V. Capdal , e
• •

no, a instancias do Bispo de Lame


go, D Silvestre Arcebispo de Bra CEPCERIAL. Lugar cheio, ou
# neste Couto huma Igreja plantado de cinceiros, arvores bem
arochial, (que já hoje não exis conhecidas nas margens do Monde
te) e na sua Instituição , que se go. Alguns recios mandou prantar
• 6/07
262. CE CE
em vinha, e Cepcerial; tomando assi come a tum Frade : e carne, e pes
a posse delles sem titolo. Doc. da Cam. cado, cada dia duas postas, por qual
de Coimbra de 1459. dia for, e serem as postas convinha
CERA. V. Cathedradego, veiis. E pela Festa do Natal primej
CERESTIAL. Celestial , cousa ra que vem, huum furame, e huum.
do Ceo. Doc, de Pendorada de 1328. pelote d'uum arraiz, ou d’uma valen
CEREO. Cirio , véla , candêa cina..... E á manceba cad’ano huma
para arder na presença dos Altares. saya de burel; e seis molhos de linho
Do Sec. XII. ha muitas Cartas de pera seu vestir, e pera o da manceba.
Ingenuidade, ou Alforria, em que os CERUCADO. A. Cercado, ro
Manumittentes dizem: Cereum, ó". deado. A dita herdade he toda Ceru
oblatione in Domo Dei oferas, Óº ele cada pela cangosta. Doc. do Sec. XIV.
mosinas pauperibus destribuas, quan CERVIÇARIA. Abegoaria, la
tum vires abueris. E daqui se vê que voura. Duas vacas, que andavão na
os escravos nem oblações podião fa Cerviçaria de Villa Boa. Doc. das
zer , nem esmolas, por não terem Salzedas de 13 1o. . .
liberdade, nem serem Senhores de CESMEIRO. O que mede, re
cousa alguma. _ • • • "

parte, ou demarca terras incultas,


CEROME, Cerrome, e Cura e desaproveitadas. V. Sesmeiro.


me. Capote, ou capa grande, e de CESTEIRO , e Sesteiro , ou
mulher Senhora , Sobretudo , que Sextario. Medida de sólidos, e lí
cobre todos os mais vestidos. Can quidos'; mas tão diferente no pe
tem por mi | XXX. Missas pelo meu zo, ou quantidade, segundo os di
Cerome. Doc. de Maceiradão de versos Paizes, Concelhos, ou Com
x3o7. No de 13o3, D. Sancha de munidades , que he absolutamente
Sangimil, filha de Gonçalo Ean impossivel reduzilla com acerto a
nes, Lombo d'alhos, renunciou to huma geral, e determinada para to
dos os herdamentos, que tinha em das as Nações, e ainda para os di
Gondomar, a beneficio do Mostei versos Lugares de que elas se com
ro de Alafões, com obrigação de punhão. Em toda a parte significou
este lhe dar de dois em dois annos a sexta parte de huma maior, e su
Saya, Garnacha: e Cerrome de tres perior medida, v. g. a sexta parte
em tres annos de Sacaome : e de a do Congio, do Moio, &c. Porém co
manterem á maneira de Dona, e res mo estas variavão tanto, por força
são pera huma menina. Doc. de Ala havia o Sextario discrepar em mui
fões. Em Pendorada se acha hum to. Dizem, que o Sextario dos Ro
contrato , que este Mosteiro fez manos levava 2o onças de líquidos:
com Maria Estevez, e seu filho, de o dos Gregos 15 , o dos #
estes largarem certos bens á Com 13, e que entre elles o Quartario
munidade, e esta dar-lhes casa pa era a quarta parte do Sextario : o
ra morar, e reção de cada dia, e Acetabulo a oitava, e o Ciatho a duo
"vestido de cad’anno, a saber: a vós, decima. E finalmente, que entre
e a huma vossa maláda, tres paens nós consta o Sesteiro , ou Sextario
brancos de dous soldos : Sete mondas de arratel e meio de sólidos, e de
centéàs pera vós, e pera a manceba : quartilho e meio de líquidos. Na
e darem-vos raçom de vinho d'adega última Edição de Ducange V. Sex
F(1
CE /
CE 263
tarium (que diz ser o mesmo que 16 alquejres da medida que ora cor
Cestarium) achamos Documentos, re: E que o fugadeiro , que lavra
rº que nos mostrão, como em humas com dous bois, ou mais, não page se
}, partes o Sextario de azeite tinha não tres quarteiros , que fazem 12
/*
duas libras, e o de mel quatro li alquejres, a que chamão jugada in
bras, e que seis Sextarios, ou do teira. E eis-aqui temos o Sesteiro de
ze libras, fazião hum Congio: em dois alqueires.
outras fazião de hum Sextario de Pelo contrario no Foral da Pico
trigo sete pães, capazes de bem nha, dado pelo mesmo Rei no de
sustentarem hum homem toda a se 1515, se declara, que o Sesteiro de
mana , ou sete homens por hum Centeo, que os Lavradores devem pa
dia; pois constava o moio pela jus gar pelo Foral d'El-Rei D. Sancho I.,
ta medida de 17 alqueires, e con importa hum alquejre desta medida ora
seguintemente deveria manter em corrente. Doc. de Chaves. No céle
hum dia 119 homens, dando a cada bre Testamento de João Durães se
hum seu pão: e que em Inglaterra lê: It : mando hum Sesteiro de vinho
hum Sextario de trigo era a ordina aos Conigos., e Clerigos, que bebam
ria carga de hum cavallo. em dia de S. João. Doc. de Lame
Com todas estas inconciliaveis dif go de 1316, que medida esta fos
ferenças passou a nós o Sextario, se aqui se não declara: unicamen
corrompida a voz em Sesteiro , e te se poderá colligir pela modera
Cesteiro, (donde veio chamarem-se raçao, e parcimonia, com que en
Cestos, e Cesteirões certos vasos de tão se bebia. Em huma Sentença
vergas, palhas, ou cóstas, que ser do Veneravel D. Fr. Salvado, Bispo
vião nestas medidas.) Nas Posturas de Lamego de 1334, se julgou,
d'Evora de 1318 lêmos o seguinte: que o Vigario, e Raçoeiros de Al
Tal est o foro do açougui d'Evora, macave hão de receber cad’anno de
convem a saber : por Cesta de mam Deão, que pelo tempo for daquel
de verças, ou de fruta 1. mealha: de la Sé: Treze moyos, e tres quartei
Cesta de colo 1. din. : por Cesto de ros de centeo pela medida de Lamego:
rocim , ou d'asno I 1. din.: It : por e sessenta moyos de vinho em no no
bum Cesteiro de trigo bum dinheiro: vo, convem a saber: sinco quarteiros,
por carga de sal, ou de trigo : por e Sesteiro de pam de cada hum, e seis
hum Cesteiro, hum dinheiro. L. dos moyos de vinho. Doc. de Almacave.
For. Velhos. No Foral de Ferreira No Censual da Mitra Lamecense, (que
d'Aves por El-Rei D. Manoel no supposto não esteja authentico, cons
de 1514, reformando o da Rainha ta foi compilado de outros antiquis
D. Thereza de 1 126, se determina, simos , e que já não existem) se
que quem lavrar com hum só boi de declara, que hum Cesteiro de trigo
rçaria , como meio jogadeiro, pa são dous alquejres; e que hum porco
gará só meia jugada, a saber: tres de tres Sesteiros, são seis alqueires,
Sesteiros de pam terçado, trigo, cen que devia valer o tal porco. Em ou
teo, e milho: que são seis alqueires tra parte diz: que huma Tramèa de
da medida corrente : e isto pela me tres Cesteiros, he huma marrão, que
dida de Linhares, que be a mesma de valha seis alqueires de pam. Mas em
Folgosinho, pela qual bum moyo são outro lugar declara, que bum Ces
10
2 64 CE CE
to de pam cozido he alqueire e meio; recer ao Templo de Venus hum
sem dúvida, porque o Cesto ela mais precioso Césto: Quojus Dedicatione
pequeno, que-o Seiteiro. Era logo J'eneri genetrici Cestum Matrone do
entre nós o Sesteiro de pão dois, num tulerunt. Resende neste mesmo
ou hum alqueire, segundo os dif lugar se persuade, que este Césto
ferentes Lugares; e hum Serteiro de era hum precioso vestido Cestum:
vinho, hum almude, ou meio, pe pro veste preciosa; porém como en
la mesma razão. - -

tre Latinos, e Gregos Cesta, Ces


CESTO. Medida de alqueire e tus, e Ceston se achão constantemen


meio. Doc, de Lamego. V: Cesteiro. te pela faxa , ou cingidouro nup
CÉSTO. Não só era huma es cial: seguimos nesta parte a Brito
pecie de Manópla, entertecida de no T.I. da Monarch. Lus. L. IV. f.
couro crú, e guarnecida com pelo 5o5 da Edif. de Lisboa de 169o.
tas de chumbo, arma propria dos Estabelecida a Religião de Jesus
antigos Athletas, que com ela mal Christo, substituírão felizmente os
tratavão o seu "contendor; mas tam Anneis Esponsalicios a superstição dos
bem significava o Cinto 2 ou Cingi Céstos. E sem falarmos agora na
douro , que os Poetas fingírão em Disciplina deste Annel, que se fez
Venus, e Juno, para conciliarem os geral em toda a Igreja; já sendo de
amores; esta de Jupiter, e aquella ferro , para lembrança da frugali
de Marte. Entre os Gregos era o dade; já de ouro, para indicio de
Césto huma das ceremonias conju hum amor constante, e sem fezes;
gaes; cingindo o Esposo a futura já de palha , ou junco, com que
Esposa, com hum precioso cinto no em París erão recebidos na face da
dia dos seus Desposorios, em sinal Igreja, e para sua vergonha, e con
perpetuo de amor. Esta peça guar fusão , os que antes tinhão usado
davão as casadas com a maior cau das liberdades do Matrimonio: San
téla , e estimação; persuadidas, a to Isidoro no L. XX, das suas Ety
que nella consistia huma particular mol., e nº Cap. XVIII. De Divin. Of
virtude de lhes conservar o afecto fic. nos transmittio o que em Hes
marital, com que se tornarião fe panha a este respeito se praticava,
lices os seus casamentos. Entre os
a saber: que as casadas já mais em
Romanos grassou o mesmo costume. sua vida usavão de outros ameis, que
No Município de Evora nos desco não fossem os que havião recebido de
brio Resende huma próva incontes seus maridos: e que este Rito era guar
tavel desta verdade no L. singular, dado , como tão Santo, e Religiosº,
que escreveo das Antiguidades d'Evo: que seria huma grande culpa o omit
ra: he huma Inscripção, que diz, tillo ; pois tinhão para si, que este
se acha na Igreja de Santiago , a annel era bum Symbolo , em que se
qual foi exarada na base de huma significava a reciproca fé do seu Ma
Estatua, que os Eborenses levantá trimonio ; e que com ella, como com .
1ão a Julio Cesar pela Liberalidade, bum vinculo indissoluvel do amor car
e Munificencia de os fazer Munici to, e perfeito, se ligavão, e prendiãº
pes do antigo Lacio; e naquella fes os corações dos futuros Consortes.
tiva Inauguração as respeitaveis Ma Hoje se não escrupulisa sobre es:
tronas daquella Cidade forão ofe te ponto, e os sinaes do afecto se
Illu
CH CH 265
mudárão talvez para ornamentos de E dam ainda Chagom de perecer aaquel
luxo. Entre estes se distinguírão os ler , que os amão. Doc. de Almos
Relhos, de que as grandes Senho ter de 1287. He o mesmo , que
ras fizerão não pequeno uso. Cor Cajom.
respondião elles á Faxa peitoral, de CHAMADO. Convocação dos
que as filhas de Israel tanto se pre tres Estados do Reino, a que cha
zavão. E como erão apertados com mamos Cortes. No de 1398 El-Rei
huns largos fivelões de ouro , ou D. João I. em o Chamado que então
prata, cravados de pedraria, e com fez na Cidade do Porto, mandou dar
figura triangular de coração, relha, aos Procuradores da Cidade de Vi
ou ferro de arado; daqui lhes veio seu huma sua Carta , para que os
o nome de Relbos. A estes succe Coudees de Viseo não apurem, nem
dêrão os Broches, Brincos, e joias. constranjão os Oficiaes da Camera,
# E nisto veio a parar o Césto nupcial em o anno que o forem, para que
dos Antigos. sirvão, ou vão a parte alguma. Doc.
CETRA. Arma particular dos da Cam. de Viseu.
antigos Lusitanos. Assim chamavão CHAMADO. O mesmo que Apel
a hum certo genero de broquel de lido. Nas Inquir, de 1258 se achou
ferro, ou de metal, que tocando na Freguezia de Santo Tirso de
se reciprocamente, delles resultava Plazíí, que certos Casaes pagavão
hum som marcial, que não desagra Voz , e Coima , e hião ad Cha
dava a quem o ouvia. Marinho An 771ílt11/71, -

tiguidades de Lisboa. CHAMÁRO. Terceira pessoa


CEVADEIRA. Alforge, ou far do pret. do plur. do Verbo Chamar.
nel, em que se levão provisões de E assim dizião Chamáro, foro, órc.
boca em huma jornada. He do Se or chamárão, forão, Órc.
culo XV. CHAMEIRA, Mulher, que leva
CEVADEIRO. Assim chamavão o pão ao forno, e o torna a trazer
ao Fidalgo , por cuja conta corria cozido para casa. A esta pertencia
toda a cevada, que se gastava na varrer o forno, e accendêllo. Doc.
Cavalhariça Real. Este era o Ce de Palmella, que he huma Transac
vadeiro Mór. Hoje no Além-Téjo ção entre a Ordem de Santiago, e
chamão os almocreves Cevadeiro ao o Concelho de Setubal.
jumento, que vai diante da récua, CHAMENTE. Liza, clara , e
e leva provisão de cevada para as simplesmente, sem dólo, trapaça,
mais bestas. engano, refolho, odio. Ca eu nom
CHA, adv. O mesmo, que Cá, quero que os preitos andem , se nom
porque. Chamente, e per verdade. V. Pontaria.
de 1 305. Doc das Bent, do Porto

CHAMOA , e Chama. Nome


CHAAMENTE. adv. Sem dú de mulher, que em Latim se dizia
vida , certamente , com facilidade Flammula. Foi muito usado desde o
grande, e sem embaraço algum. E Sec. IX. até o XV.
por cada huma destas cousas , chaa CHAMORRO, Tosquiado. O
mente fagem seu thesouro no Ceo, Doc. nome de Chamorros derão os Caste
de Almoster de 1287. lhanos por desprezo aos Portugue
CHAGOM. Occasião , motivo. zes, resentidos da batalha de Alju
Tom, I. Ll Ill2f
2 66 CH CH
marrota, donde os poucos, que pu Princeza. Este nome se deo á Vil
dérão fugir, leváão eternos moti la de Alanquer, porque della se pa
vos de chorar. O mesmo Rei D. gava certo Tributo applicado para
João I. de Castella dizia, que não o calçado destas Reaes Pessoas. En
tivera tanto sentimento se o vencê tre os Persas, e Egypcios havia Tri
ra outra qualquer Nação do mun butos certos para quasi todos os ves
do , mas que não podia sofrer, que tidos, e ornamentos das suas Rai
assim o derrotassem huns poucos de nhas. No tempo dos Imperadores
Chamorros. Mas a verdade he, que Romanos havia certa Pensão de ou
ele não advertia , que cada hum ro para as suas Corôas. O Rei do
dos Portuguezes que o vencêrão, Congo na primeira noite dos Des
sendo hum Samsão no valor , não posorios dos seus vassallos manda
trazião com tudo o esforço nos ca medir-lhes o leito , e elles pagão
bellos, mas sim nos braços... Os hum tanto por cada palmo. A este
Hespanhoes ainda naquelle tempo Tributo chamão Pintelso, e está ap
usavão de cabello comprido , e os plicado para os Chapins da Rainha.
Portuguezes, que tambem lho fize Em Portugal começou com o Rei
rão, usavão já delle curto. V. Bar no este Tributo. Em Alcobaça se
ba, e Cabello. pagava para o calçado do Rei, co:
CHANTADORIAS. Todo o ge mo se disse V. Balegoens. No Cou
nero d'arvores que se plantão de es to da Sé de Viseu no de 125 1 se
taca, v. g.bacellos, olivaes, ou se pagavão de algumas casas ao Bis
bes fixadas na terra em que lanção po, e Cabido pares de çapatos, e
raizes. Doc. das Bent. do Porto de ainda hum só gapato, como cons
1597. Daqui Chantão , Chantado, ta do seu Tombo antigo af. 31 , e 32
Chantaduras, e todos do Verbo V. Ferraduras. Dos Tributos da Cós
Chantar. \,
ta do Malabar se pagavão á Rai
CHANTAR, Plantar de estaca. nha D. Catharina 16o?)ooo para
Em huma Doação das Salzedas de os seus Chapins, que a sua grande
1291 se diz: Todalas herdades, que piedade applicou a outros usos.
nos hj acaecerom.... assi em casas, Erão Chapins huma especie de
quomo em vinhas, quomo em oliveiras, calçado, que se equivocava com as
quomo em outras arvores quaesquer Chinellas , e Pantufos. Constava de
chantadas , e por chantar. Não ne uatro , ou sinco solas de cortiça
garemos com tudo que aqui se to #…me cubertas, e pesponta
ma Chantar por Plantar, sem dis das. Disto usavão as Senhoras , e
tincção de terem , ou não terem rai outras, que o não erão, querendo
zes as arvores que se plantão. Tam por este modo accrescentar hum co
bem nos principios da nossa Monar vado mais á sua estatura. Vem este
chia se disse metaforicamente Chan nome de Sapino, que he o pinhei
tar, por unir com afecto; e Chan ro alvar, de que em Italia se fazia
tado, por unido, e plantado no co este calçado.
ração de alguem, ou afectuosamen CHARDES. Panno tosado, ain
te unido a elle. Carta d'Egas Mo da que grosso. It : Petro criado unam
niz a sua Dama. Chalamidem de Chardes. Testam. de
CHAPINS da Rainha , ou da D. Pelagio, Bispo de Lamego
• 1296.de
CH CH 2 67
1296. Na ínfima Latinidade se cha zedas. No de 12o3, Miguel Men
márão ás cardas Chardo. Daqui pa des, e sua mulher Tóda Paes, pa
rece se disse Capa de Chardes, á que ra remedio das suas almas, deter
era tosada , á diferença de outros minárão dar a este Mosteiro huma
pannos caseiros, e nada polidos.
Pitança annual em dia de S. Mar
CHARIDADE, e Caridade. I. tinho, a saber : LXX, peixotas: C.
Este era o amoroso tratamento, que &º X panibus (ó fiant tali menta
os Antigos, e Santos Prelados da ra, idert, ut faciant V, panes ex uma
vão ás suas ovelhas, e os Chris raliga :) uma reste de allia : uno al.
tãos da Primitiva entre si usavão. queire de manteiga : C. ova. Et pose
Ainda entre nós se achão memo obitum mostrum filij nostri supradictum
rias , de como no Seculo XII. nas Censum persolvant Fratribus Salzede.
mesmas Cathedraes se praticava. Ho Et boc relinquimus eis , unde illum
je está reservado, como menos fas Censum babeant, videlicet, illud cam
tuoso , ás Congregações Religio pum, & c. L. das Doaç. a f 59. E
sas, que se chamão Observantes, ou no mesmo a f. 24. W. se acha com
da mais estreita observancia, Refor D. Elvira Egas, ou Viegas no de
madas, ou Capuchas, que nem sem 1209 dôou ás Salzedas quatro Ca
pre concordão os corações com as Saes em Breteande, para que todos
palavras. •

os annos: Ex fructu ipsorum Cara


CHARIDADE. II. Assim cha lium Diem meum Anniversarium fi
márão aos Agapes, ou caridosos ban ciat Prior Salzedae Refectorium Mo
quetes dos Christãos, a que ainda os nachorum , Óº Conversorum suficien
mais pobres, e humildes erão ad tissimè. Esta mesma Senhora deixou
mittidos, e com igualdade santa mais outros Casaes em Canellas do
liberalmente tratados. V. Bodo. Douro, junto a Lusim, applicados
CHARIDADE, ou Charidades. só para os usos da cosinha; decla
III. Este nome derão áquella Mas rando, que estarião sempre na ad
sa, que resultava das Ofertas , e ministração do Cellareiro, sem que
Doações gratuitas, que os Fiéis en os Abbades os podéssem applicar pa
tregárão aos Mosteiros, e Cathe ra outra cousa. Ib. f. 24. E a f. 31
draes, que vivião em commum (co Y, se acha como Fernão Pires, Fer
mo forão todas as de Portugal, que reiro, e sua mulher D. Agueda, dei
até o Seculo XII. se restaurárão.) xárão outra semelhante Pitança, que
Destas Liberalidades Pias algumas constava de 17 teigas de pam cosi
erão sem obrigação de Anniversa do , 2o pexotas, e dous modios de vi
rios , e só como Pitanças para a nho , no de 1227. Bem facil seria
Communidade , procedidas unicá e crermos, que semelhantes princi
mente da Charidade dos Bemfei pios teria na Sé de Lamego a Ren
tores , esperançados nas Orações, da da Charidade, que faz Massa á
e boas obras, que ali se praticas parte, e cuja #" até agora se
sem. A estas Pitanças chamavão Ca não tem averiguado. Porém sendo
ritativa. Comestiones, de que temos certo, que desde o Seculo V1., em
innumeraveis Documentos até os fins que este Bispado foi erecto, até que
do Seculo XIII. Bastará adduzir aqui elos Sarracenos foi destruido , e
hum, ou outro do Mosteiro das Sal desde o Seculo X. até que as suas
Ll ii Ren
268 CH CH
Rendas se dividírão no tempo do Petri , qui dicebatur Archidiaconus:
Bispo D. Mendo, se conservou es dº mandavit pro suo Anniversario Ca
ta Igreja Episcopal , senão sempre pitulo Lam. unam domum juxta aliam
com Bispos, sem dúvida em todo casam de Caritate.
o tempo com Prior, e Conegos, que Ainda vou suscitar a quem me
tinhão vivenda , e meza do com lhor sentir huma lembrança não mal
mum : devemos assentar , que os achada , quando mesmo não seja
Fiéis não deixarião de fazer largas verdadeira: he esta: porque não to
Doações, para Charidades, ou Pi maria esta Renda o nome dos Mon
tanças, assim ordinarias, como ex ges da Nova Reforma de Cluni, que
traordinarias dos que alli vivião: e se chamárão da Charidade, os quaes
que destas Doações se veio a com no tempo do Conde D. Henrique
pôr a Massa, ou Rendas, que cha entrárão em Portugal, e no gover
mão da Charidade. Assim he, que no de seu filho se extinguírão , e
o tempo nos invejou os Documen confiscárão, passando a outras Cor
tos incontestaveis desta verdade; po porações as suas Rendas, e os seus
rém não seria difficultoso o demons mesmos Edificios?... No III. T. da
tralla por alguns posteriores áquel Monarch. Lus. a f. 64 vemos a larga
le tempo , em que suppomos ella Doação dos piedosos Condes, pe
teve principio na Sé de Lamego. la qual se estabelecêrão em S. Pe
Nas Inquirições d'El-Rei D. Afon dro de Rates no de 1 1oo. Porém a
so III. se faz larga menção de casas, Chronica da Ordem dos Conegos Re
e terras que partião, ou confrontavão grantes nos informa, que expulsos
cum Charitate. Esta Charidade pois os Monges, passou este Mosteiro a
erão as Propriedades, que perten ser habitado por Conegos Regran
cião á dita Massa, que hoje mes tes, na fórma de huma # Real
mo ali se conserva. No de 1253 de 1 152. Sabemos, que D. Mauri
Catharina Gonçalves, viuva de João cio , Francez de Nação , e Bispo
Soeiro de Lamego , com consenti de Coimbra, antes de assumpto a
to de seus filhos, e filhas, fez Doa Braga no de 11o8 doára com o seu
ção ás Religiosas de Santa Clara, Cabido aos mesmos Monges a Igre
(que ao tempo residião na quinta da ja de Santa justa no arrabalde de
Mesquinhata, que be na Freguezia de Coimbra , para alli formarem hum
Cambres) das suas casas do Porto Hospicio , pagando sempre á Mi
Cavallar , para nellas fundarem o tra os costumados Direitos. Mas tam
seu Mosteiro; com condição , que bem aqui não permanecêrão por
se depois que nellas estivessem, as muitos annos, expulsos todos do
deixassem ; elas ficarião livres , e Reino por quererem pertinazmente
desembargadas ao Bispo , e Cabi que os Mosteiros de Portugal esti
do, de quem antes erão; porém a vessem em tudo sujeitos a Cluni,
Doadora lhas tinha commutado por e que de lá recebessem todas as in
humas vinhas em Repolos, das quaes fuencias; vindo por este modo as
huma dividitur cum Charitate. Está pessoas, e bens de hum Reino li
Orig. no Arch. da Sé. E finalmen vre , e independente a reconhecer
te em o Necrologio Lamecense a 25 superioridade, e jurísdicção em hum
de Outubro , se lê : , Obiit Joannes Estrangeiro. •

Es
CH CH 269
Esta mesma sorte, me parece, ro, Azere, Orreo, Paço de Sousa,
seria a dos Monges, que, antes da C OUltrOS, ,

Fundação do Mosteiro das Salze No Mosteiro das Salzedas se con


das, existírão no Bispado de Lame serva o curioso Ms. de Fr. Balthasar
go, abaixo da Villa da Ucanha, dos Reis, escrito no de 16 Io: o seu
no sitio que chamão a Abbadia Ve A. era antiquario intelligente, e des
lha, e no angulo, que fórma o Rio abusado : a f. 56 nos conservou o
Torno , quando se vai ajuntar com Fragmento de huma Kalenda mui
as aguas do Barosa. Este sitio cer antiga , escrita em pergaminho.
cado d'aguas, e que ainda hoje pro Nelle se achão os dias , e annos
duz immensa copia de Salgueiros, dos respectivos Obitos dos Bemfei
era o mais proprio para dar o no tores do Mosteiro das Salzedas, e
me á Salzeda , que no Latim da entre elles D. Sancha Vellasques de
quelles tempos se chama Saliceta, Gotmão , que fal. na E. M. LXY.,
que corresponde a Salicetum , ou XVIII. Kal. Jullij: e elle he bem
Salgueiral : e mesmo no Seculo X. certo que no anno de Christo 1o57
se disse Salizeta, e Salzeda. No L. ainda não tinha nascido S. Bernar
de Domna Muma-Doma af. 7. se acha do, nem D. Thereza Afonso Fun
o Testamento de sua sobrinha D. dadora dq Mosteiro, que hoje ve
Flamula , que achando-se em La mos nas Salzedas. Mas não só is
lim, e adoecendo alli se fez con to: esta insigne Fundadora, e quar
duzir ao Mosteiro de Guimarães, ta mulher de Ega Moniz, haven
onde foi feito no de 96o. Nelle do ficado viuva no de 1 145, como
dispõe da sua grossissima fazenda, consta da mesma Kalenda, só pas
que toda manda distribuir em Obras sados alguns annos he que se de
Pias, e a beneficio de su'alma , e terminou a fundar esta magnifica Ab
diz: Ad Salizete Barrantes, Mastu badia. Desde logo fez edificar hum
do : ad Peregario Moledo : ad Azerinsignificante Mosteiro, de que ho
Bretenandus: ad Orreo Villa Media je se mostrão as toscas , e pouco
na : ad Palaciolo Padule , & Pala estrondosas, ruinas dentro da gran
tio... quae in Lalim , dent illa per de Tapada , e defronte mesmo do
vacas, Óº illa alia ad D. Nuno, dent presente Mosteiro, que já ficava no
pro ea XV." bobes pro meas Missas, districto da antiquissima Villa de Ar
6° unde dent ad Lalini illas agnos geris, da qual El-Rei D. Afonso
cas. Faciant inde Ministerias ad La Henriques fez Couto á dita D. The
lini cum illo auro, cº illos Lapides, reza , Ama de seus Filhos , no de
que sunt in Salzeta, illo ornado (ex 1 152. Com efeito no L. das Doaç.
tra illa Sarta, que posui in Cruce il das Salzedas a fol. 68 se acha huma
la Sanctae Mariae.)... Omnes illos Escritura, que principia: In Dei No
meos Cartarios sunt in Salzeta : du mine. Ego Abbas Ranol , cum meos
cant eos ad Vimaranes. E eis-aqui te . Fratres , & c. He huma Carta de
mos na Salzeda hum Mosteiro com o Venda de certa Herdade, constan
Titulo de Santa Maria , e onde D. te de varias peças dentro do ter
Flamula tinha depositadas as suas Er mo, e limites da Villa de Argeris,
crituras: bem assim como já então é ad Monasterium de Argeris, a
existião os Mosteiros de Pessiguei qual elles fizerão a D. Thº… Af
QI}<
2" •

27o CH CH
fonso , por preço de 12o modios. Salzedas, e parte por Titulo, que
Aqui temos hum Mosteiro em Ar já hoje não sabemos, na Meza Ca
geris, junto do qual ficava parte da pitular de Lamego?... Se em cousas
dita Herdade : igualmente temos tão antigas, tem lugar de verdades
hum Abbade com seus Frades, e se sólidas, ainda as mesmas conjectu
rião estes os da Salzeda, residentes ras bem fundadas: ninguem nos ar
onde hoje vemos a Abbadia Velha?.. güa, se himos buscar, a Origem da
Mas seja o que for , D. The Renda da Caridade, que hoje per
reza Affonso, he certo, intentou ao manece em Lamego, na extincção
principio unicamente a Fundação de daquelles Monges, que sabemos ex
hum. Mosteiro da Ordem de S. Ben istírão neste Bispado. •

to, sem declarar o Instituto de Clu CHARIDADE. IV. O mesmo


ni , de Cister, ou de Claraval, co que Hospital, ou Albergaria, em
mo se vê da sua Doação , que se que se exercitava a Caridade sem
acha no mesmo L. f. 1. feita no de interesse , e com verdadeiro Amor
1 156. E logo a f. 3. se acha a mes de Deos para com o Proximo, já
ma Doação só com a mudança in necessitado, já enfermo. Em Lame :
Ordine Cisterciensium ; estando na go havia humas seis , ou sete Al
primeita in Ordine Sancti Benedic bergarias, e Hospital de Leprosºs, e
ti. O que não tem dúvida he, que mesmo no tempo que os Conegos
em Argeris havia hum Mosteiro da erão Regulares não deixarião de ter
Ordem de S. Bento , e que na Sal seu Hospicio, ou Hospital, segundo
zeda havia outro, que professava a a Disciplina Santa daquelle bom
mesma Régra, e que ambos forão tempo: estas casas, que por anto
extinctos, levantando-se o Mostei nomasia se chamavão Charidades, ti
ro presente sobre as ruínas dos An nhão suas rendas estabelecidas, e
tigos. Assim consta da Bulla de In separadas, de que ainda muitos Do
nocencio III, , que alli se guarda cumentos nos informão : hoje des
Original , datada no de 1 269 , e apparecêrão da nossa lembrança, e
pela qual confirma ás Salzedas to quem sabe se applicadas aos Minis
dos os bens, Possessões, e Herda tros do Santuario, pela falta, e ca
des, Censos, Rendas, e Isenções; restia dos tempos, # hoje a Mar
individuando muitas, de que ali se sa da Charidade naquella Sé?...
não achão já hoje os Titulos da sua CHARIDADE. Monges da.) V.
acquisição, e diz o mesmo Pontifi Professavão o reformado Instituto
ce: Quas Villas idem Monasterium, do Priorado de Santa Maria da Chá
antequam Cistertiensium Fratrum Ins ridade , (donde tomárão o Distin
tituta susciperet , possidebat. Vindo ctivo) fundado no de Io4o sobre
a dizer, que tinhão a Régra de São o Rio Loire, em França, e no Bis
Bento, antes que adoptassem estes pado de Auxerre. No de 1o5o foi
Monges os Institutos , ou Reforma unido ao Mosteiro de Cluni , que
de Cister. E então , que nos pro se começou a fundar no de 9 Io no
hibe o suspeitar , que na Abbadia Bispado de Macon , pela Doação,
Kelha estivessem os Monges da Cha e devoção de Guilherme , o Pio,
| ridade, cujos bens se incorporárão, Conde de Arvernia. Em Cluni guar
parte por compra no Mosteiro das davão a Régra de S. Bento, mas
Q
CH CH 271 |
o Instituto, e Constituições erão de CHARIDADE.. VII. Medida,
S. Berno , que sendo Abbade do ou ração de vinho, que aos Mon
Mosteiro de Balma, onde se guar ges se dava nas extraordinarias Pi
dava a Régra de Santo Euthicio, tanças; devia ser puro , e em do
fôra chamado para I. Abbade de Clu brada quantidade da ordinaria , e
ni. Destes Monges da Charidade, por isso lhe chamavão Magna Ca
ditos da Nova Reforma de Cluni, hou ritas. Em os nossos antigos Mos
ve em Portugal alguns Mosteiros teiros se praticou esta Charidade,
no tempo do Conde D. Henrique, que ao depois baptisáão com o no
que de França muito bem os conhe. me de Socega.
cia : permanecêrão no Governo da CHARIDADE. VIII. Ao que
Rainha D. Thereza; mas forão ex gratuitamente se dava com intuito
tinctos, assim que empunhou o Sce de piedade, e sem obrigação algu
ptro o Principe D. Afonso Henri ma da dívida , costume , ou foro
ques, que não gostava de Corpo chamavão Charidade. Taes forão,
rações existentes no seu Reino, e su ou são os Subsidios Charitativos, que
jeitas a hum Chéfe, de cuja fidelida aos Bispos, e Parochos algumas ve
de poderia duvidar com fundamento. zes se oferecê,ão, e tambem algu
CHARIDADE. Carta de...) VI. mas menos decentemente se extor
Assim chamárão á I. Instituição, ou quiraº. - - - - - - -

Plano da Reforma de Cister, com CHARIDADE. IX. O mesmo


posto por Santo Estevão Abbade des que Revora, Dom gratuito, ou Lu
te Mosteiro, e outros vinte Abba vas, que aos Doantes se davão, pa
des de S. Bento, e confirmada pe ra muitas vezes capearem com o Ti
la Sé Apostolica. Alcançou este no tulo de Doação huma verdadeira,
me a tal Instituição, ou Carta, por e rigorosa compra. As Mãos mortas
que não respirava senão amor de forão excessivas no fraudulento ma
Deos , e dos homens, e os Mos nejo destas Doações, em quanto não
teiros dos seus Professores em toda forão santamente exhibidas de adqui
a parte deliberatione Comuni, ac mu rirem bens temporaes , e avisadas
tua Caritate sancita fuerunt. Sahio á mesmo de que devião suspirar só
luz esta Carta no de 1 Io8, e en pelos Eternos. No de 1 1 19 Diogo
tão he que os Monges largárão tu Soares , e sua mulher Mayôr Nu
do o que se oppunha á pureza da nes doárão a D. Ugo , Bispo do
Santa # , como vestidos precio Porto, o seu Mosteiro de Rio-Tin
sos, leitos brandos, meza delicada, to, e isto pro Amore Dei, Óº pro Ca
ociosidade da vida , e toda a os ritate , quam accepimus a Portuga
tentação mundana, diametralmente lensi Episcopo, D. Ugoni, videlicet,
opposta á perfeição de huma gen unam mulam amarellam adpreciatam
te , que havia quebrado já com o in CCC modios. Doc, da Sé do Porto.
mundo, desenganada das suas lou CHARIDADE. (Casa da.) X.
curas, verdadeiramente morta, e se Aquella em que se guardavão com
pultada. E quem não admira os se aceio, limpeza, e cuidado as cou
gredos de Deos! O mundo não ces sas, que pertencião ao Culto Di
sava de oferecer as suas riquezas a vino, serviço dos Altares, e deto
quem tanto as desprezava!... da a Igreja. Daqui veio chamarem
- Pro
272 CH CH
Procurador da Casa da Charidade; cobra , arrenda, e faz tudo o que
aquelle , a quem este cuidado es pertence á boa administração dºs
tava commettido. bens, e rendas de seu amo. Igual
CHARIDADE das Almas. XI. mente fazia comparecer a certo dia
Anniversario que por ellas se fazia. os que não pagavão, ou por qual
CHAROM. V. A Carom. quer modo impedião os devidos fo
CHATAR. O mesmo que Aca ros, arrecadava as Coimas, fazia
tar , attender , respeitar. #. de penhoras, &c. No Julgado de Cô
Vairam de 1 3o7. ta, Bispado de Viseu, se achou que
CHAVEIRO. A. Feitor, Procu El-Rei D. Afonso II. doára esta Ter
rador, Despenseiro de huma casa re ra a D. Martim Fernandes, e que
gular, ou secular, e nem sempre se este a doára á Ordem do Hospital:
toma pelo que tem as chaves da porta. E des entom er trouxe-o sempre per
Emprazamos a vós Fr. Pedro Afon onrra, e tragem hj rseu juiz, e seu
so, Freire da Ordem de fesu Chris Chegador , e nom entra hj portejro,
to , e a Thereja Peres , vossa Cha nem Moordomo d'El-Rei. Em outra
veira , a nossa quinta da Lagôa em parte se lê que o Espital tras hj seu
Terra de Caría. Prazo de Tarouca foiz, e seu Moordomo. Donde se ma
de 1382. No de 13 15 as Donas do nifesta que Chegador , e Mordomo
Mosteiro de Ferreira d'Aves fron por aquelle tempo , e no sentido
tárão a Lourenço Annes, que mais das ditas Inquirições erão Synony- -
lhe não fizesse força no seu Mos II1OS.
teiro , pois lhe tinha já feito muito CHEGAMENTO. Citação com
desaguisado, tomando-lhe o seu gado, dia de apparecer perante as Justi
e sás patas , e britando-lhis as por ças. Todos os Chegamentos, que forem
tas do seu Moesteiro, e ferindo a sá feitos em Terra de Panoyas, serão fei
Chaveira: cá a Dona Abbadessa, que tos por mandado dos juizes de Vil
nom era no Moesteiro, nem el que nom la Real. Foral d’El-Rei D. Diniz
havia direito nenhuam no dito Moes dado a Villa Real no de 1283. No
tei. Doc. de Ferreira. Aqui se to Seculo XIV. se disse no mesmo sen
ma, Chaveira, pela Religiosa, que tido Chamar, e Chamamento,
tinha as chaves da Portaria. Em hum CHEGANÇA. O mesmo que
Doc. de Pendorada de 1339 se acha Chegamento. E entra hi o Porteiro, e
Frade-Chaveiro ; pelo que tinha as deve bi a entrar a fazer as Chegan
chaves da Clausura, ou das outras fas. E Afonso Nuniz Cavaleiro mete
Oficinas. bi Chegador, que chega os da Vila,
CHAVEIROSO. Delgado, pe e os de fóra : e o homem , que de
queno, magro, e como vulgarmen manda Chegança dá algo ao Chega
te se diz, que cabe pelo buraco da dor ; e tambem o de dentro, come o
chave. E o leitom, que pagardes, nom de fóra , que há mester a Chegança.
será chaveiroso. Tombo Velho do Inq:_Real. Doc. de Grijó.
Mosteiro de Villarinho. CHEGAR á Igreja. Fazer bem
CHEGADOR. Nas Inquirições d'alma, Missas, Oficios, esmolas,
d'El-Rei D. Diniz de 129o se en e tudo o mais que póde sufragar
contra a cada passo esta palavra no ás Almas dos Fiéis defuntos. Epe
sentido de Mordomo, ou Feitor, que fo-lhis por mercéé, que me cheguem
á
CH CH 273
á Ejgrega o mais, que poderem. Doc. tinhal, e huma chousa. Doc. de Mon
de Vairam de 1 289. corvo de 14o7.
CHEGAR áJustiça. Fazer, que CHOUSAL. O mesmo que Chou
alguem seja castigado, e punido pela sa. Não negaremos com tudo, que
Justiça, obrigar á pena da Lei. Que nos Documentos do Seculo XIV.,
nom era tbeudo a aver pena de justiça, XV. , e XVI. se toma ordinaria
nem el de Direito auçom, porque o a mente por huma herdade, que mais
ella podesse chegar. Senn. das Bent. serve para pastagem de gados, que
do Porto de 1337. •
para terra de pão, e outros fructos.
CHEGAR as testemunhas. Ad Chamão hoje na Beira a estas fazen
duzir as testemunhas em Juizo, pre das Chavascaes, e no Minho Bouças.
sentá-las ao Juiz , para serem le CHOUSURA. Parede, vailo,
gitimamente perguntadas. Que mi tapume, que fecha, separa, e di
digades, porque" non chegades as tes vide huma fazenda da outra.
temunhas. Doc. das Salzedas de CHRISTODOLINDA. Nome
I 288. de mulher, correspondente a Chris
CHIMAÇO. O mesmo que chu tovão, ou Christoval, nome de ho
maço , cabeçal, ou travesseiro de IT]CITl.
pluma, de que antigamente se usa CHUMAÇO. O mesmo que Chi
va. Quatorze cocedras, e XXX. Chi maço. Nos Doc. de Lamego se acha
maços, e XVII. colchas, e IV. almo Chumacium em Latim , e Chuinaço
cellas, e XXXXIIII, faceiroós, e I 1. em Portuguez. Mandamos os nossos
cobertores de coelho, e V. almadraques, corpos serem soterrados na Sé de La
e XXII. fronhas de faceiroós, e X, peda mego, e mandamos bi comnosco senhas
fos de panos já com lavrados pera faces. almucelas, e senhos Chumaços, e se
Doc. de Pendorada de 1359. nhas colchas brancas , e senhos moyos
CHINFRAM. Moeda Portugue de vinho, e senhos quarteiros de pão:
za, que desde 1489 ficou valendo e mandamos por quitamento de nossas
quatorze réis , segundo a determi dizimas senhos puçais de vinho, e se
nação d'El-Rei D. João II, do mes nhas teigas de pão quartado. Testam.
mo anno. Por cada Chinfram a 14 de 1314.
réis; por quanto por as ditas moedas, CHUS. adv. Mais. E nom chus.
que novamente mandamos lavrar, es Doc. de Pendorada de 129o. E se
ta he a sua verdadeira valya. Doc. vinhas fizerdes , darde-nos o quarto,
da Cam. do Porto. •

e Lagaradiga , e nom Chus. Prazo


CHISPO Çapato de mulher mui das Salzedas de 2295 , e no mes
polido, e alto, que antigamente se mo sentido se acha em hum Doc.
praticava entre as mais vaidosas, e das Bent. do Porto de 13o5. Po
menos sisudas. Hoje he o pesunho, rém os Latinos chamárão Chus , ou
ou pé do boi, vacca, ou porco. Chous, á medida de nove quartilhos,
CHOUSA. Huma fazendinha, ou pezo de oito arrateis, e tambem
| ou pequeno espaço de terra tapado ao caldeirão, ou vaso de tirar agua.
} sobre si. Vem do Latino Claudo, CIBRAAO, Cibrão, e Cibrião.
fechar, tapar, encerrar. Ainda em Cypriano, nome de homem, e com
algumas partes dizem Chouso no mes que ainda hoje nomeão a S. Cypria
mo sentido. Duas herdades, hum cor no. No de 1317 mandou El-Rei D.
Tom. I. Mm Di
274. CI CI
Diniz fazer huma Povoação junto tadas de gente, que vive em socie
ao Castello de Villa Nova de Cerdade , e subordinação ás Leis Ge
veira, e soube que bi avia peça d'ho raes do Reino , ou Provincia, or
mens, que o queriam fazer, e que pe dinariamente Assento de huma Cadei
diam pera acoirelamento dessa Pobra ra Episcopal , e que ao menos al
vinte e oito Casaaes, que hj á junta gum dia foi cingida de muros, e
dos con, esse logar de Cerveira: E a guarnecida de Castellos. E a huma
Egreia de San Cibraão com sas herda Povoação assim caracterisada , ( e
des... E sa Eigreia de San Cibraão, resuppondo sempre o Alvará do So
que aposoer aver por outra minha, que fim, , que lhe conceda os Foros,
hj á... Eu lhis dej pera acoirelamen e Regalias de Cidade) dizemos em
to desa Pobra eses vinte e oito Casaaes, Latim Urbs , Civitas, ou Oppidum.
e esa Eigreia de San Cibrão, com sas Mas não foi assim no tempo dos
herdades , que contam por dous Cas Romanos. Estes só chamavão Ur
saaes. Doc. de Lorvão. Em outros bes ás Povoações acastelladas, cin
Doc. antigos se diz Cibrião. gidas de muros, e verdadeiramente
CICLATOM, Ciclaton, Cigla defensaveis; vagando o nome Civi
ton , Ciclatum, Chigaton, Sigla tas , não só pela Capital de huma
ton , e Singlaton. Panno de seda
O Nação , ou por alguma bem nota
forte, fino, e precioso, humas ve vel porção della; mas ainda porto
zes entretecido, e outras bordado, do o seu Campo, ou Diocese; de
com ramos d’ouro, a que chama sorte porém, que esta gente, Com
mos Tissu, ou Tessúm. # pan marca, Concelho, Povo, ou Répu
no se fazião rozagantes vestidos, blica se governasse pelas suas pro
assim d'homens, como de mulhe prias Leis, Foros, ou Costumes, fi
res, com figura de tunicas, estrei cando reservadas unicamente as Ap
tos em cima , largos, e redondos pelações da maior Alçada para os
nas fimbrias, que se podião subra Conventos juridicos, a que em certo
$ar» *# chamavão Cjclas, ou Cy modo correspondem hoje as nossas
cladas. No uso dos Altares se em Relações. Bastará , d’entre motivos,
pregavão com muita Devoção se adduzir hum só exemplo, que hoje
melhantes télas, sem perigo de ar mesmo se nos patentêa sobre a Pon
rogancia, vaidade, ou soberba. En te de Chaves. He ele hum refor
tre as Doaç. de Paço de Sousa se çado Padrão em fórma Cilindrica ,
acha huma, que lhe fez Egas Mo que all foi colocado, menos ha de
niz no de 1 147, não só de herda trezentos annos, revestido, e orna
des, mas tambem de móveis, dos do com bases, capiteis, e cimalhas
quaes forão : Uno manto de Grecis de gosto moderno, que não logrou
co, Óº alio de exami: tres cappas, sem dúvida no seu nascimento. Nes
una de Ciclaron , Óº alia mudbage, te Pedrão, que tem sido a Pedra de
&º alia de uno dami: Óº uma acite escandalo, em que tropeçárão os me
ra de mudbage : & duos greciscos de lhores, e mais ajuizados Criticos,
super-Altare: Óº duos facergenes. e Antiquarios dos nossos tempos, se
CIDADE. I. Hoje chamamos Ci trasladárão quatro Epitafios , que o
dade a huma multidão de casas, dis Doutor João de Barros nos attesta
tribuidas em ruas, e praças, habi víra exarados em hum Padrão , que
---- •
Cf
CI CI: 275
estava junto nas azenhar de Pedro Gue 196... Concorrêrão logo para es
des; os quaes Epitafios elle copiou ta Ponte as dez Cidades tantos an
na sua Geografia, a que pôz a ul nos antes nomeadas, que a Ponte
tima mão no anno de 1547 , se se fizesse?... E foi cousa para se
gundo do seu mesmo Ms. se colli crer , que nem ao menos os seus
ge. Persuade-se este curioso, dou nomes merecêrão ser escritos á tes
to, e sincero Indagador, que nes ta de hum soberbo Edificio, no qual
ta grande Pedra se ajuntavão as obe hoje está, e sempre esteve, a Me
diencias, que os Povos daquellas Comº moria perduravel, de que os Aqui
marcas prestavão aos Legados dos Im flavienses, (que são os de Chaves)
peradores, que vinhão de Roma. Diz a edificárão á sua custa, e a consa
o primeiro: IMP. CAES, VESP. & c. grárão á honra, e Magestade de Ner
Segue-se outro Epitáfio no mesmo Pa va Trajano, Hespanhol de Nação ?
drão abaixo do primeiro , que diz: E pois assim forão desprezados os
CIVITATES X. & c., e continúa: que pagando para a obra, andárão
Estas Letras concluem todo o acima por tantos Seculos de rodilhas, e a
dito. E o sentido he, que estas X. Ci tombos pelas portas das asenhas,
dades aqui nomeadas, derão buma obe servindo de pousadouros a saccos
diencia ao Emperador Verpasiano , e de farinha, e canastras d'azeitona?..
aos Legados acima nomeados.. E se E ainda haverá quem nos queira ven
mostra claramente que as que aqui. der por verdade pura, huma tão in
se ebamão Cidades , não forão senão solente, e desbragada mentira?... .
certas Commarcas , ou gente de cer CIDADE. II. Na Baixa Latini
tas partes , que vivião em commum dade forão chamadas Cidades as col
antre si, debaixo de buma Governan lecções de muitos Lugares abertos,
fa... Chamavão os Antigos Cidade a que tinhão o mesmo Governo Po
huma Congregação de gente , que se litico , e Militar ; ficando para os
governava debaixo da Administração eminentes, e defensaveis o nome de
de hum Magistrado: o que agora pro Castros , e Castellos. Entre nós foi
priamente chamamos Concelho, ou jul huma destas a Cidade de Anegia,
gado, e Diocese, ou Metropole no Ec que Santo Isidoro chama Aregia, e
clesiastico. a qual, diz, Leovigildo conquistou
E de caminho se note, (para ex nos confins de Galliza. E o Chroni
terminar prejuizos tão grosseiros, com do Biclarense em o anno de 675
que destas Inscripções se originárão) faz menção dos Montes Aregenses,
que as dez Cidades, alli nomeadas, colocando-os onde hoje vemos as
não concorrêtão para as despezas da Serras de Arouca, Estendia-se o Ter
Ponte de Chaves, pois esta foi de ritorio desta Cidade, ainda no Se
dicada a Trajano, que imperou des culo XI., parte pela Diocese de La
de o anno de Christo 98 até 117. E mego, e parte pela do Porto. Já no
os tres Imperadores, alli referidos, de 922 em a Doação, que D. Or
Flavio Vespasiano , Tito Vespasiano, donho, Rei de Leão, e os Gran
e Flavio Domiciano, (cujo nome alli des da sua Corte fizerão ao Mos
se vê apagado por causa das suas teiro de Castrumire, (hoje Crestu
extraordinarias crueldades) não passá ma) em contemplação de D. Go
rão todos no seu Governo do anno de mado, Bispo
11,
de Coimbra, que #
@
276 CI CI
le se tinha recolhido , (a qual se dade de Coimbra, temos hum gran
acha no Livro Preto daquella Sé a de número, que fallão na Cidade de
f. 39) se faz menção do Porto, Caes, Santa Maria, que hoje he a Villa
ou Surgidouro da Cidade de Anegia. da Feira. Alli mesmo se achão mui
Nos Documentos de Pendorada, tos que nomêão a Cidade da Portel
Arouca, e Paço de Sousa achamos la: Discurrente rivulo Umia, ou Dis
a cada passo o nome desta Cidade, currente ribulo Ignea. Deste modo se
que, segundo os mesmos Documen disserão Cidades Monte Mór o Ve
tos, ela incluia ao Sul do Rio Dou lho, Tetroso, Alvarenga. Anafrica,
ro tudo o que fica aguas vertentes hoje Nobrega , Bagunte , Batocas,
de Serra Secca, e Montes de Arou todas tres no Arcebispado de Braga,
ca; e passando o Douro cortava pe Bemviver no B.spado o Porto, se
lo Monte de Arados , que fica so gundo os Doc. de Pendorada. En
branceiro a Pendorada, deixando á tre os quaes se acha huma Doação,
direita o Concelho de Bemviver: que Bona , e seus filhos fizerão a
daqui cortava pelo Tamega em di Munio Viegas, e sua mulher Unis
reitura a Penafiel, onde hoje a ve co no de 1c68, na qual se diz: Et
mos, incluindo-a, e o Mosteiro de post ipsas intentiuniones filarunt ipse
Paço de Sousa: e daqui tornando a Didagu, é º cedarunt illo in cateria in
* o Douro , abrangia todo o illa Cibitas Benviver, per manum de
ermo , e Terras de Arouca, fe ipse Sagione Framila. Porém no de
chando onde primeiro tinhamos co 1 123 os filhos, e netos de Monio
meçado. Nos fins do Seculo XI., Viegas , e Ermigio Viegas, Her
e por occasião de novos Governos deiros, e Pessuidores do Mosteiro de
desappareceo esta Cidade. A Igreja S. João Baptista lhe fizerão huma
de Santa Maria d'Eja no Julgado larga Doação. Hum destes era Pe
de Penafiel, parece, tomou o nome lagio Soares, casado com huma ne
e Anegia. E a mesma Igreja de ta de Monio Viegas, o qual diz:
Arouca , que no Concilio de Lu Teneo ipsum Castellum, nomine Bene
go foi huma das seis Freguezias, vivere, de illa Regina Dia Tersilla,
que unicamente se consignárão a é de illo Comite Dião Fernando. Doc.
Lamego , parece, que da mesma de Pendorada. E eis-aqui a Cidade
Cidade herdou o seu distinctivo; pois transformada n’hum Castello. No de
Segundo as variantes, que se achão 1 13o Fernão Mendes, e seus filhos
deste Concilio em o Livro Fidej de derão Foral aos Moradores de Civi
Braga, Arouca se nomêa Atavoca, tate Nomam , cognomento Monforte.
Jáuroca ; e Auraca , o que não vai E no de 1 136 o deo o Infante D.
longe de Aregia. Afonso Henriques aos que habita
CIDADE.III. Nos principios da vão in Civitate Senam, que assim cha
nossa Monarchia era trivial darem mava á Villa de Cêa. Mas isto são
os Principes, e os Vassallos o no cousas tão fóra de dúvida, que não
me de Cidade a hum Concelho, ou merecem a pena de serem documen
Julgado, que tinha por Cabeça al tadas com immensa copia de Escri
guma Villa acastellada. Nos Docu turas , que ainda se conservão em
mentos de Pedroso , que hoje se os nossos Archivos: individuaremos
achão em o Archivo da Universi algumas como de passagem. Do Ti
{Ul
CI CI . 277
tulo de Cidade que El-Rei D. San rendimentos á Cidade de Guimarães,
cho I. deo a Bragança, V. Bemque para se pagar o soldo , e a quantia
rença. No de 1 17o Pelagio Peariz, aos que a devem haver.
e sua mulher Adosinda Dias, doá ClFAR. Preparar a Náo , ou
rão a Lorvão a terça parte de huma qualquer outra embarcação, para se
vinha, no limite de Cerradello, Ter lançar ás aguas, dar-lhe créna, ca
mo de Esgueira ; e declarão , que lafeta-la, abastecê-la, arma-la. Da
esta herdade está in Civitas , quae di qui Cifado, ou Cifada, por Navios
citur Serém. E nós sabemos que Se ou embarcação prompta a pôr-se de
rém he huma Villinha, junto ao Vou verga d'alto, artilhada, abastecida,
ga, e mui Notavel, por ser das mais e de tudo o que lhe compete pre
insignificantes, que hoje se conhe parada. He termo Nautico de João de
cem, mas ainda assim tem Juiz, ca Barros, Couto, e Freire.
dêa, e pelourinho, e he cabeça de CIFRAS numeraes, ou Aritheme
hum pequeno Concelho. - Doc. de ticas. Já dellas se tratou V. Algaris
Lorvão. E alli mesmo se acha co mo: accrescentamos agora, que sendo
mo o Famulo de Deos Zoleima Gon indispensavel para os usos da vida a
çalves fez Doação de certas proprie Sciencia dos números, todas as Nações
dades á Igreja, e Mosteiro de Santo cultas usárão das letras dos respe
Isidoro de Eixo; pro tolerantia Fra ctivos Abecedarios, no exercicio da
trum, ó Monachorum, qui ibidem ba da Arithemetica, na qual as Romanas
bitantes fuerint, ó Vita Sancta per tiverão em fim o lugar primeiro em
severaverint. Declarando , que esta toda a Europa. Em Hespanha, Fran
Igreja d'Eixo ficava subtus Civitatis ça , e Alemanha se adoptárão hu
Marnelle, discurrente rivulo Vouga, mas Cifras particulares, que sendo
territorio Colimbriae. Foi isto no de originariamente Romanas, o tem
1095 ; porém no de 112 1 fizerão po, e o gosto as alterou de sorte,
Doação aos Monges, e Clerigos de que nada menos parecem, que aquil
Lorvão Pedro Paes, e Jelvira Nunes lo, que no principio forão. Vid. Di
da sua Villa de Pinheiro, que eles ction, Rais. de D. de Vaines V. Cifres,
tinhão no Territorio de Coimbra: Et e a sua Plan. 5. a f 271. do T.I. As
in confinitate Castelli Marnelis, inter Cifras Arabigas muito antes do Sec.
fluvium Vougam, Óº montem qui di XIII. erão conhecidas na Europa,
citur Meiçom frio. Ib. Temos logo mas não tiverão uso , fóra dos Li
que qualquer Concelho, e princi vros Mathematicos, e Astronomicos,
palmente tendo por Capital algum antes do Sec. XV., e a figura des
Castello, não tinha impedimento a tas Cifras só depois de 1534 se fez
ser decorado com o nome de Cidade. uniforme, sendo antes arbitrariamen
Em fim de huma Carta d'El-Rei D. te figuradas em toda a Europa. O
Fernando de 1382, a qual se guar Douto Nasarre no dilatado Prologo d
da na Camera do Porto , consta, Bibliotheca Polygrafica de Rodrigues da
como este Rei tinha arrendado to Ediç. de 1738, diz, que não só no
dos os seus Direitos, e emolumen Sec. VIII.; (segundo os Monumen
tos da Coroa de Entre Douro, e Mi tos copiados por Mabillon, e Schan
nho a João de Santarém, seu Con nato) mas já no VI., e V.Sec. (se
tador ; com obrigação de levar os gundo algumas Inscripções "#" G
278 CI CI
de Hespanha) se achão as Cifras, judiaria. A Camera assim o fez,
ou Algarismos, de que usamos. E assignando-lhe hum terreno junto á
deste mesmo parecer he tambem Go porta do Olival , onde hoje está o
dofrido, Abbade Gotuvicense na Aus Mosteiro de S. Bento , e algumas
tria Inferior, no largo apparato para casas mais nas ruas da Victoria, e
os Annaes do seu Mosteiro. E daqui S. Miguel. Então a Cinunha dos Ju
se faz menos provavel, que os Ara # seu bastante Procurador a
deos
bes as tomassem dos Indios; persua hum Ananias, para que efeituasse
dindo-se muitos com o Bispo Huet, o Prazo com a Camera , que com
que antes eles as recebêrão dos Gre efeito lho deo com Foro , e Pen
gos; e dizendo outros que dos Cel são perpétua, e annual de 2oo ma
tas, ou Scythas lhes vierão; e que ravidis velhor, de 27 soldos o mara
mesmo erão letras do Alfabeto da vidim , de Dinheiros Portugueses da
quelas Nações. Com efeito na Ins moeda antiga, que óra são chamados
cripção de Malta , que traz o Ab Alfonsins, ou de Barbudas, e de Gra
bade Guyot de Marne, se achão bem ver, Fortes, e Pilartes da moeda de
figuradas quasi todas as letras do nos Portugal, que foi feita em Lisboa, e
so Algarismo: e esta Inscripção tal na dita Cidade (do Porto) por man
vez he a mais antiga, que nos resta. dado d'El-Rei D. Fernando , convem
CIMA. Fim, termo, remate. Co a saber: Barbuda por dous soldos, e
ligante Nós pór Cima dás demandas, quatro dinheiros: e Grave por quator
é, c. Lei d'El-Rei D. Afonso II. ze dinheiros : e Pilarte por sete di
CINGEL, e Singel. Huma jun nheiros: e Forte por dous soldos dos
ta de bois. He do Sec. XVI. ditos dinheiros Alfonsins. Doc, Orig.
CINQUINHOS. Erão sinco réis dos Benedictinos do Porto. No L.
de prata. Esta moedinha fez lavrar dos Testamentos de Lorvão N. 8. se
El-Rei D. João II., e seu Succes acha huma Doação, que Abuzele
sor El-Rei D. Manoel. mam , e sua mulher Góta fizerão
CINTA. Cordão, cinta, corrêa, áquelle Mosteiro de certas Varseas
&c. com que alguem se cinge, e sobre o rio Viaster, as quaes par
aperta. Assim chamavão antigamen tião per ille Outeiro de illa Senoga.
te ao cordão com que os Ministros Nos Doc. de Lamego se acha mui
do Altar apertavão as alvas. tàS VCZCS &#*#, fallando da fu
CINTEMENTE. Scientemente, daría da Cruz da Pedra, onde ho
com advertencia , e reflexão. Com je está a Rua nova.
tanto, que elles nom leixem perder cin CIRCUNDAMENTO. Circui
temente, Óºc. Cortes de Lisboa de to, cerca, barreira, divisa, termo,
I 434. ou limite de algum Casal, campo,
CINUNA , Cinunha, Senoga, terra, propriedade, ou fazenda.
e Esnoga. Synagoga, ou Assem CIRA. Mata , brenha , lugar
bléa dos Judeos. No de 1386 El cheio de silvados, e matagaes. A
Rei D. João I. mandou á Camera direita do Téjo, e sinco leguas de
do Porto, que assignasse dentro dos Lisboa havia huma dilatada Cira,
muros daquella Cidade certo Lugar ou Mata, que El-Rei D. Sancho I.
apartado, para que os Judeos, que dôou a D. Raulino, e outros Fla
nella residião, fizessem nelle a sua mengos no de 12 oo , para ali se
> CS
CI CI 279
estabelecerem, e com as maiores fran que abundão de silvados, matas, e
quias. Parece não fizerão largos pro brenhas. Tal foi entre nós o famo
gressos, e que havendo roteado al so Mestre João , Cirita , de quem
guma pequena parte , a dimittírão Brito , Brandão , Nicoláo de Santa
á Coroa, pois no de 12o6 o mes Maria, Purificação, Cardoso, e ou
mo Rei fez Doação da sua Villa de tros nos pintárão as virtudes, ao
Killa Franca de Cira ( que hoje di travez de horriveis Anachronismos,
zem Xira) a D. Fruilla, ou Froi em que embrulhárão as suas ac
lhe Hermiges, pelos muitos servi ções, e sem nos dizerem a razão
ços , que lhe tinha feito, é quia de ser chamado, Cirita; sendo que
estis multum naturalis nostra. No de
este não era Appellido da sua Il
1228 fez esta Senhora Doação, não lustre Linhagem , mas só o dis
só de Villa Franca de Cira, mas ain tinctivo do seu Estado , e Profis
da de todos os seus muitos bens, ha são. Todos concordão, que desen
vidos , e por haver nos tres Rei ganado do mundo falso, e corrom
nos de Portugal, Leão, e Castel pido, habitou por largos annos so
la aos da Ordem do Templo, pe litario por entre montes , e roche
los muitos beneficios, que tinha re dos, e longe da communicação dos
cebido, e esperava receber: & quo homens, e que só no ultimo quar
niam ipsi me receperunt in sua Sancta tel da sua vida baixou dos desertos
Confraternitate , &" in omnibus suis a tratar com eles, para lhes inspi
bonis Orationibus. Assim se vê pelos rar a perfeição Eremitica, e Mona
Doc. de Thomar. Entre os Conci chal, em que tinha feito abalisa
lios de Hespanha por Aguirre, T. dos progressos. * * *

III. f. 168. se acha huma Escritura A I. Memoria certa, que até ho


do Mosteiro del Pino , em que se je descobrí deste célebre Reformador,
lê: Et conclude per illa Semita anti e como Prelado Geral dos Eremitas,
qua... usque Cira de Lupos, que em (que sem deixarem o seu Instituto
bom Portuguez, diriamos: até ma abraçárão a Régra de S. Bento, e
ta de Lobos. Os Hespanhoes, e mes depois sem mudarem a Régra, pas
mo os Portuguezes, ainda chamão sárão quasi todos para a Nova Re
Xara á setta; porque se costumava forma de Cister, em quanto os seus
fazer de huma mata fórte, e pene Mosteiros existírão) he a Doação
trante, a que chamamos esteva. Ora que Mendo, com seus filhos, e pa
segundo alguns Xara he palavra Ara rentes , fez ao Sacerdote feremias,
biga, que val o mesmo que Mata; e a Gonçalo Delgado, da sua Ermida
e se destes matagaes abundava na de Santa Comba, em terra de Pa
quele tempo o ### de Vil noyas, e sobre o lado esquerdo do
la Franca, que muito lhe chamas rio Corrago; com declaração, que
sem Cira, e hoje Xira, com a mu semper ibi sedeant Ermitanos, & alios,
dança de huma só letra?.. qui serviant Deo. E no fundo do Ins
CIRITA. O Solitario, Eremita, trumento, que foi feito no de 1 #33,
separado do mundo, para de todo o mesmo Doador, como seus filhos,
se entregar aos Louvores, e Culto concede , robóra , e confirma esta
de Deos, habitador dos desertos, Doação: Vobis Johani Magistri, &"
Ermos, e Charnecas, e dos lugares homini Cirita, segundo se acha no
L.
28o CI CI
L. II. de Doações de D. Afonso III, a Tarouca Boemundo, a quem succe
f: 54., & c. da Leitura antiga. Além deo Aldeberto.
disto D. Afonso Henriques , não No de 1 141 os Eremitas de San
se intitulando Infante, Principe, ou tiago de Sever no Bispado de Viseu,
Rei, mas só Filho do Conde Henrique, que o Cirita havia fundado, se uní
fez huma larga Doação do Couto rão a Tarouca, e se fizerão da sua
ao dito Jeremias, e seus companhei Filiação, doando-lhe a sua Hermi
ros, que naquella Ermida in Ordine da : ut faciatis in illa Ordinem S. Be
permanserint, que está Original em medicti. No mesmo anno, e no mez
Tarouca, datada a 24 de Abril de de Novembro, El-Rei D. Afonso
1139, e muito mais correcta do que Henriques fez Couto a esta Igreja:
se acha a sua copia na T. do T. Ecclesiae S. Jacobi de Sever, ó º ip
Daqui se infere, que o Mosteiro da sis Monachis qui ibi habitant... Óº
Ermida, a pezar de ser para Ermi omnibus aliis, qui ibi Monasticum or
tães, esteve unido por algum tem dinem in presentiarum tement, veltene
po a S. João de Tarouca, professan bunt per manus johannes Tarancensi
do a Régra de S. Bento, e não abra Abbatis. Doc. de Viseu, e Tarou
çando os Institutos de Cister; pois ca, nos quaes se não intitula Ciri
no de 1 257 ainda era da Ordem de ta o Abbade João; assim como na
S. Bento, e por fim se unio a Re Doação do Ermo de Santa Ovaya no
foyos de Basto. Mas voltando á pri Termo de Bouças , junto a Lorde
meira Doação he bem para notar, lo, no Bispado do Porto, que era
que ao Mestre João se lhe ajunte, hum Mosteiro de Eremitas , o qual
com o distinctivo Homem Cirita, is o mesmo Rei deo aos Servos de Deos,
to he, homem que tinha vivido por que vivião em Tarouca, segundo a
entre brenhas, e matos, á diferen Ordem de Cister, no de 1 144. E es
ça dos outros Eremitas, que vivião ta Doação faz per manum jobannis
em algumas Ermidas, e &## Abbatis. Já não era Cirita o que vi
Depois de transformar em Reli via na Congregação dos Monges ,
giosos Eremitas os Clerigos, que d'an ou Cenobita.
res vivião com seu Abbade em S. Chris Sendo já Abbade das Salzedas D.
tovão de Alafões, e recebidos alli no João Nunes no de 1 155 , e conti
anno seguinte de 1 138 os Monges nuando nos seguintes, entregou D.
de Cister, partio com elles para o Thereza Afonso este Mosteiro: Fo
Mosteiro, ou Eremitorio de S. João de bis Domno presenti (f. Johanni) Ab
Kellaria no de 1 139, e logo no de bati Ciritae, e a todos os seus Fra
I 14o se principiou a fundar a Abba des, que alli quizessem viver, se
dia de Tarouca , a que El-Rei D. Éundo a Regra de S. Bento. L. das
Affonso Henriques fez no mesmo an Doaf. das Salzedas f. 1. E para não
no a Doação do Couto em honra de gastarmos tempo em cousa tão cla
N. S. J. C., e de S. João Baptista, ra: no Sepulchro, em que descan
&º pro vobis Abbate Domno johanne çárão os ossos deste Veneravel em
Cirita, uma cum Fratribus vestris Re S. Christovão de Alafões, se abrio
gulam B. Benedicti tenentibus... Fa o seguinte Epitafio.
cio Cautum ad ipsum Monasterium. Era Joannes Abbas Cirit. rexit Monar
ao tempo Abbade Conventual de ferium S. Joannis , S. Christophori,
Sal
CI CL 28I
Salzede, S. Petri. Clarus vita, cla ro, e seos Successores sejam theudos
rus meritir, clarus miraculir, claret em cada ano de dar ao Convento XXXV.
in Caelis. Obiit X. Kal. Januarij. E. cafizes de trigo, e M. CC. arrobar de
M CC. II, -
vinho. Doc. de Thomar. E as ajam
E de se não chamar D. João Ci aquelles, que pelos tempos forem Cra
rita Abbade, mas sim D. João Ab vejros da dita Ordem, como cousas de
bade, Cirita, se conclue, que o Ci mera Cravaria. Const. d'El-Rei D.
rita foi Titulo , que a sua fórma Manoel de 15o3. Ibidem. Entre os
de vida lhe adquirio, e não Patro Carmelitas Calçados, Eremitas de
nymico, que por descendencia lhe Santo Agostinho, e outros se cha
viesse. (a) mão Clavarios os que tem as cha
CITARRA. AS. O mesmo que ves do Archivo , onde se guardão
Acitara. os Titulos, e preciosidades do Con
CLAMAR-SE. Chamar-se, dizer vento, e os Livros das Contas, que
se. Clamão-se homens do dito Mosteiro. lhe pertencem.
CLASTA, e Crasta. Claustro, CLAVARIA, Claveria, e Cra
sagúão , pateo interior de algum varia. Oficina, onde se guardão os
Templo, ou Hermida, ou Casa de Provimentos, preciosidades, dinhei
Oração, e Religiosa. No de 1483 ros, e depositos das Communida
emprazou a Camara de Coimbra a des grandes , e Religiosas. Tam
Hermida de Santa Comba, junto á bem a casa onde se fazem, e ajus
mesma Cidade, com sua Clasta, ca tão as ditas contas. E finalmente o
sas , e oliveiras. Doc. da mesma Oficio, dignidade, ou Ministerio
Cam. De hum Prazo de Almakave do Craveiro. V. Clavario.
consta , que fôra feito nas Crastas CLAVEIRO. V. Clavario.
desta Igreja, no de 1397. CLEAR , e Cliar. Crear, ou
CLAVARIO, Claveiro, e Cra produzir alguma cousa fysica , ou
veiro. Era propriamente hum Mor moralmente.
domo , Despenseiro, ou Porteiro CLERIGA. A Religiosa, ou
Mór, a quem estavão commettidas Monja que tem obrigação de rezar
as chaves das principaes Oficinas no Coro o Oficio Divino, e a que
da Communidade. E de Clavis se hoje chamão Corista.
disserão Claveiros, Clavarios, e de CLERIGO. I. Todo , e qual
pois Craveiros. Na Ordem de Chri quer Ministro da Igreja, iniciado,
sto era a quarta Dignidade , cujo admittido, ou assumpto, prescin
Oficio era ter as chaves do Con dindo de estar em gráo superior,
vento, quando os Cavalleiros vivião ou inferior, com tanto, que o seu
em Communidade. Agora só lhe Ministerio se ordene proxima , ou
pertence o ter huma chave do Co remotamente á celebração do Sacri
fre dos Votos. No Convento de ficio Incruento do Altar. Igualmen
Thomar continuou o mesmo Titu te se chamárão Clerigos, não só os
lo ainda entre os Freires. O Clavei que por si mesmos compunhão a Je
Tom, I. • •

[] 1'21"

(a) Os Latinos chamárão Cirita e á mulher louca , torpe , e deshonesta. A Historia


deste famoso Heremita nos informa da grande victoria, que, a fogo mesmo, conseguio de
huma tal mulher: e porque este facto lhe não daria aquelle nome de Cirita , que até á
morte conservou, e que nunca até hoje se perdeo ?...
2.82 CL CL
rarquia Ecclesiastica da Igreja San byter Primi-Clero-ts. E isto depois
ta, como são os Bispos , Sacerdotes, de confirmarem Dulcidio, Bispo de
Diaconos, e Ministros; mas ainda os Viseu , e Gundesindo Bispo de
meros Serventuarios da Igreja, e cu Coimbra : o que parece dá a en
jo Oficio não requeria Sacramento tender que esta Testemunha seria,
da Ordem, posto que algumas ve o Prior, ou Deão da Sé de Coimbra,
zes fosse exercitado por aquelles, e o Primaz do Clero daquelia Ca
que já estavão addidos á Igreja, ou thedral. Porém o mais certo he que
ainda só com Prima-Tonsura. Taes seria Chantre. V. Primicerio.
forão os Psalmistas, e Cantores, cu CLERIGO. II. Os Conegos,
jo Oficio era cantar; os Fossarios, ou Cathedraes, e principalmente os
Laborantes, Copiatas, ou Pollinctores, que vivião regularmente, e em com
que se occupavão em sepultar os mum forão chamados simplesmente
mortos; os Custodios, que guarda Clerigos, quasi até o meio do Se
vão as Igrejas, em que estavão as culo XII. Em os Doc. de Braga te
Reliquias dos Martyres ; os Cate mos a Doação do Couto, que a Rai
chistas , que ensinavão a Doutrina nha D. Thereza fez áquella Prima
Christã: os Parabolanos, que cura cial no de I I Io, e a que a mes
vão os enfermos; os Defensores das ma Senhora, e o Conde D. Hen
Igrejas pobres, e viuvas, que os li rique lhe tornárão a fazer do mes
vravão dos seus injustos oppresso mo Couto no de 1 1 12: em ambas
res: os Economos, que cuidavão das se diz, que são feitas ao Reverendissi
rendas das Igrejas; os Apocrysiarios, mo D. Mauricio, Arcebispo de Bra
ue tratavão na Aula do Impera ga, & Clericis ibi commorantibus, ou
# , Rei, ou Principe as causas ejusdem loci Clericis. Os mesmos Se
Ecclesiasticas; os Hermeneutas, ou nhores Condes doárão á Sé de Coim
Interpretes , que se occupavão em bra o Mosteiro de Lorvão no de
traduzir em várias Linguas, não só 1 Io9 , como se vê da mesma Doa
os Livros da Escritura, mas tambem ção original, e sua copia lançada
os Sermões, e Práticas dos Bispos: no L. Preto a f 53. nella dizem:
todos estes, e outros muitos, forão Considerando cognovimus necessitates
chamados Clerigos pela razão geral, Episcopi Colimbriensis, D., scilicet,
de servirem na Igreja de fesus Christo. Gundisalvi, & Clericorum ejus : &º
Porém note-se que os de Ordens, quia praedicta Sedes erat vestimentis
ou Dignidades Maiores, como Bis mudara, Óº Testamentis : misericordia
pos, Sacerdotes, e Diaconos, erão moti, visum est nobis utile esse Tes
chamados Primi-Clerici, ou Primi tamentum facere de Caenobio, quod di
Clero. Em o de 933 (como consta citur Lorubanum Sedi jam dictae San
da Doação Original de Lorvão, e ct e Mariae , Óº Episcopo jam nomi
não no de 943, como erradamen nato , & Clericis ibidem commoranti
te se copiou no L. dos Testamentos) bus... Daimus supradictam Caenobium
dôou o Serenissimo Principe D. Ra cum suis adjectionibus cunctis, que ad
miro áquelle Mosteiro duas partes illud pertinent, ... ad subventionem be
da Villa de Albalade, e metade do neficii , Óº adjutorium Episcoporum,
Lugar da Pedrulha. Entre as mais ó" Clericorum, per temporum Succes
testemunhas se acha: Fernandus Pres siones in supradicta Sede habitantium,
é?"c•,

CL CL 283
crc. Desde este tempo ficou o Mos Divino, antes mesmo de serem ini
teiro de Lorvão, (que já estava re ciados; pois no Cap. III. da sua Ré
duzido a bum Priorado , e as suas gra diz: Clerici faciant Divinum Of>
principaes rendas applicadas ao Real ficium fecundum Ordinem Sanctae Ro
Firco) muito diminuto, e por alguns mane Ecclesiae. •

Documentos nos consta , que não Porém não só por constituirem os


chegavão a déz os seus individuos, Monges huma Pôrção Illustre entre
incorporado todo o grosso dos seus a gente consagrada particularmen
rendimentos no Cabido, ou Sé de te ao Culto do Senhor , separada
Coimbra, em que o Bispo com os do mundo, e nutrida mesmo á som
seus Clerigos regularmente vivião. bra do Santuario , forão chamados
Passados alguns annos, e no de 1 1 16 Clerigos os Monges, que de sua pri
o mesmo Bispo D. Gonçalo com os meva Instituição forão Leigos, e com
seus Clerigos, teve por bem restau templados fóra do Corpo Clerical: tam
rar o Mosteiro de Lorvão, nomean bem a muitos, que pelo tempo fo
do , e instituindo por Abbade ao rão admittidos ao serviço dos Alta
Prior Eusebio , desmembrando da res, e á distribuição dos Sacramen
sua Cathedral parte das rendas, que tos, se lhes conferio de justiça a
os Condes lhe dôárão, e applican honra de Clerigos , dentro, e fóra
do-as ao dito Mosteiro, cujo Abba dos seus Mosteiros. Seja embora o
de, e seu Convento serião sempre Monge hum homem solitario , se
subditos do Bispo, e dos Conegos da parado já da communicação das gen
dita Sé, & c. E logo passa a no tes, e empregado só nos exercicios
mear por Clerigos os mesmos Cone da contemplação , e penitencia,
gos por serem Synonymos em aquel chorando de contínuo os seus pcc
le tempo : Et Episcopus cum Cleri cados, e os alheios; e isto ao mesmo
cis jam nominatis similiter ficiant. tempo, que os Clerigos devião viver
Doc. do L. Preto f: 56. X. nas Cidades, e frequencia dos Po
CLERIGO. III. O mesmo que vos , para os instruirem na pieda
Monge, ou Frade, que vive no Mos de, e lhes administrarem os Sacra
teiro, ou Convento debaixo da obe mentos , afixados mesmo a huma
diencia do seu Prelado, e destina particular Igreja, ou Lugar Santo,
do ao serviço do Coro, e mais Of em quanto o seu Bispo lhes não
ficios Divinos ; e isto ainda que a mandasse o contrario. Era logo a
nenhum gráo de Ordens estivessem vida dos Monges diametralmente
já admittidos. Por muitos Capitu opposta á vida Clerical. E por is
los de Direito, Concilios, e Escri so disse S. Jeronymo: Monachus non
turas os Monges, ou Frades se cha docentis, sed plangentis habet Oficium,
márão Clerigos, por serem parte da Alia Monachorum est causa, alia Cle
Jerarquia Ecclesiastica. Baronio em ricorum : Clerici pascunt oves , ego
o anno de Christo 398 o diz clara pascor. Huma só diferença havia
mente: Clericorum nomine etiam Mo entre elles, e era, que intervindo
machi continebantur. E no Sec. XIII. justificada causa para hum Monge
ainda o Glorioso Padre S. Francis ser ordenado, dentro de hum anno
co chama Clerigos a todos os seus se lhe conferião todas as Ordens,
Frades obrigados a rezar o Oficio na certeza, de que era dotado da
Nn ii quel
284 CL CL
queila Piedade, e Sciencia, que o ad Rainerium Conversum, como cons
Sacerdocio indispensavelmente re ta do seu Prologo , no qual diz o
queria. seu Author: Ego de Clero, tu de Mi
- Ora muitas causas havia , para licia ad Conversionem vénimus; ut in
que alguns Monges fossem admit Regulari vita, quasi in pertica, fe
tidos ao Clero: já porque os Mos deamus... Cum scribere illiterato de
teiros distavão muito das Igrejas Epis beam, non miretur aliquis Lector, si
copaes, ou Parochiaes; já por se ad aedificationem illiterati de subtili
rem os Mosteiros habitados por gran bus simplicia dicam. Eis-aqui temos
de número de Individuos. Nestes, hum verdadeiro Monge, que pro
ainda que Urbanos , determinava o metteo a conversão dos costumes,
Imperador Justiniano em a Novel. e por isso chamado Converso, como
33. Cap. II, que sejão ordenados Leigo , e não Clerigo. Em a Dea
de Sacerdotes, ou Diaconos, qua ção , que Pedro Paes, e sua mu
tro , ou sinco dos mais velhos , e lher fizerão a Lorvão em 24 de Ja
dignos do Mosteiro; para que não neiro de 112 I declatão ser o mo
sejão precisados a hirem fóra ouvir tivo della: Ut Monachi, & Clerici,
Missa, receber os Sacramentos, as per temporum Successiones in predi
sistir á Palavra de Deos, e mais Of cto Monasterio habeant eam semper
ficios Divinos, em companhia dos (a Villa de Pinheiro) hereditario ju
seus Abbades , Priores , e Anciãos, re, Óº sit illis in aliquod augmentum
que todos devião ir, e voltar em rej necessariae.
Communidade , e com silencio ao De que o Titulo de Frater, Fra
perennal retiro do seu Mosteiro. E de, ou Irmão se dava com frequen
finalmente muitos do Clero, fugin cia aos Monges não Clerigos, não
do do mundo, se fazião Monges: duvidará qualquer , que ao menos
e então estes, que forão muitos, de longe saudou os nossos Archi
por que razão perderião o nome de vos; sem que a isto se opponha o
Clerigos , cujo caracter não podião chamarem se tambem Fradºs os mes
perder?... Verdade he que não ex mos Monges admittidos a Ordens.
ercitavão as suas Ordens, senão a No de 1c63D. Egas Mendes, dôou
arbitrio dos Abbades , que na pri certos bens ao Mosteiro de Paço de
mitiva sempre forão Leigos , ainda Sousa, para remedio da su'alma: Et
que logo começárão a ser tambem pro tolerantia Fratrum, Monachorum,
dos que forão alistados na Clerical vel Sororum, Óº eleemosina pauperum.
Milicia. E daqui veio ficarem todos Doc. de Pendorada. Porém de hum
os Monges não Clerigos, com o Escambo, que o Mosteiro de Pen
simples nome de Monges, outras ve dorada fez com a Cºllegiada Regu
zes com o de Irmãos, e outras com lar de Guimarães no de 1 132, figu
o de Conversos; mas todos seguido rando nelle o Infante D. Afonso
res da mesma Régra , e Instituto. Henriques, se diz fora outorgado
O Livro, chamado das Passarinhas, com consentimento Clericorum, vel
que em o Mosteiro de Lorvão se Sororum , Óº Fratrum Sanctae Marie.
admira , e a que se deo a ultima de Vimaranes. Doc. de Pendorada.
mão no de 1 184 foi escrito, e de Estava aquelle célebre Mosteiro re
buxado por hum Monge Clerigo duzido a huma Insigne Collegiada,
01#
CL CL 285
ou Capella Real : nella havia Mon cordão as Epistolas Decretaes , os
ges Clerigos , que fazião as vezes Padres , e Concilios. A estes que
de Conegos ; e como fora Duplex assim ajuntavão o Clericato á Pro
ainda tinha algumas Religiosas, ou fissão Monachal para serviço das Igre
Sorores, que se nomêão por honra, jas, chamárão os Gregos jero-mo
primeiro que os Monges, os quaes nachi , isto he, Clerigos Monges,
aqui são tratados por Frades, ou Ir ou Ministros Sagrados , e juntamen
mãos. Mas nem sempre os Clerigos te Monges. E destes achamos me
forão nomeados em primeiro lugar morias na Restauração das Cathe
do que os Monges , ou Irmãos : a draes de Coimbra, Viseu, Lame
sinceridade não presumida só queria go, Braga, e Porto.
preferencias na Virtude , e Santi Talvez succedia, que o Bispo,
dade. e o Clero da sua Sé tomavão a re
No de 1 123 os Herdeiros do Mos solução de viverem em commum,
teiro de Pendorada dôárão huma á maneira dos Apostolos, como fi
pesqueira aos Moradores, que nel zerão Santo Eusebio na Cathedral
la se achavão, e pelo tempo vies de Vercelli, e Santo Agostinho na
sem Monaci, ó Clerici; ut nos apud de Hypponia. E deste modo se co
Deum in memoria vestrae Orationis meçou a misturar reciprocamente a
habeatis, in Sacrificiis, ó Psalmodie Profissão de Monge com o Estado
meditationibus. E quem não vê, que Clerical, e este com o Monacato,
o simples Monge não he de sua na e a ficarem habilitados para serem
tureza destinado ao Sacrificio do Bispos, assim os Clerigos, como os
Altar, e ao Canto dos Psalmos?.. Monges , como se diz em a Novel.
No de 1 1 3o o Infante D. Affonso 6. de Justiniano: Episcopus adsuma
Henriques fez Dôação de tres Ca tur, vel ex Clero , vel ex Monaste
saes ao Mosteiro de Velaria (so rio. E eis-aqui, segundo alguns,
bre o qual se fundou o de Tarou todo o fundamento de usarem ho
ca) Ut habeant , 6° possideant, qui je os Clerigos de côr preta nos ves
moraturi sunt, Óº fuerint Clerici, aut tidos, sendo esta propria, e a pri
Monachi , aut Deo Vote. Doc, de mordial dos Monges , e a rôxa,
Tarouca. ou acastanhada a particular dos Ec
CLERIGO-Monge fóra do seu clesiasticos Seculares, como diz Ba
Mosteiro. IV. A grande capacida ronio ad ann. 393. n. 48. :. Muitos
de dos Monges era causa, de que Monges forão tirados dos Mostei
os Bispos algumas vezes escolhes ros, para encherem o Lugar de Bis
sem d'entre elles os mais habeis papos: e como não depunhão o Ha
ra os Ministerios da Igreja , e os bito Monachal, que era preto , o
afixassem á sua Cathedral , ou a Clero se compunha á imitação do
outro qualquer Lugar Sagrado, ou seu Prelado. Deste tempo ficou na
Religioso Emprego. E com efeito Sé de Coimbra a mal tramada Fa
no Codice Theodosiano se acha huma bula do Bispo Negro. Este foi D.
Lei do Imperador Arcadio, que diz: Bernardo, Francez de Nação, Mon
Si quos forzè Episcopi deesse sibi Cle ge de S. Bento , e Arcediago de
ricos arbitrantur, ex Monachorum nu Braga, feito por S. Giraldo, de
mero rectiàs ordinabunt. E nisto con quem escreveo elegantemente à V1--
d•
286 CL CL
da. O Principe D. Afonso Henri andavão na casa do Parocho apren
ques, (a despeito de sua Mãi , a dendo as primeiras Letras, e o aju
Rainha D. Thereza , e de todo o davão á Missa, e nas outras func
Clero, e Povo de Coimbra , que ções Ecclesiasticas, além da limpe
postulavão para Bispo daquella Sé za, e aceio do Templo do Senhor,
o Arcediago da mesma D. Tello) o que igualmente fazião parte das
nomeou Bispo de Coimbra no de suas occupações. Estes pequenos
1 128. E como este Monge nunca Clerigos no Conc. de Merida Cap.
depôz o Habito dos Negros, como XVIII. se chamão Clerici Parochia
então chamavão aos que professavão rum. E porque os Parochos os de
a Religião de S. Bento, e os Co vião ensinar as primeiras Letras, e
negos da Sé de Coimbra vestião de bons costumes, se disserão tambem
branco , em razão das grandes so Clerici Scholares. Em os nossos anti
bre-pellizes, que então usavão: os gos Doc, se intituláão Mózinhos ,
mal-affectos dizião que tinhão na ou Monginhos , pelo particular ves
quella Sé hum Bispo Negro , para tido, ou sotana, e pela modestia,
não dizerem com maior indecencia, e gravidade, com que se portavão
e atrevimento , hum Negro Bispo. na execução de seu Ministerio. No
CLERIGO. V. O Parocho de Instrumento da União perpétua, que
huma Freguezia ; incluindo debai D. Rodrigo de Oliveira, Bispo de La
xo deste nome o de Reitor, Abba mego , fez da Igreja de S. Marti
de, Prior, Cura, Vigario, & c. Nas nho da Espiunca ao Mosteiro de
Inquirições d'El-Rei D. Afonso III. Pendorada, ficando este com obri
se acha esta palavra com muita fre gação de apresentar Vigario idoneo
quencia, assim como tambem a de aos Bispos de Lamego , para sem
Prelado, ou Presbytero, ou Sacerdo dúvida, ou embaraço algum ser ins
te , ou Pastor, denotando o Paro titudo In Vicarium perpetuum dict e
cho de huma Igreja. No de 1 2 1o Ecclesiae... qui in cadem Ecclesia die
aforou o Mosteiro da Salzeda a seis quolibet Missam celebrare, Horas Ca
Moradores a sua Granja de Maçai nonicas dicere, Óº praedictae Ecclesie
nhas, no Termo da Cidade da Guar aliis commodis intendere teneatur; qui
da com Foro de 6.º, e 1o.º de to etiam Monachinum habere secum , Óº
dos os fructos, excepto os das hor manutenere procuret ; pro quo , cum
tas, e pomares, e accrescentão: Et jam dictis , ad mayus sustentationis
nos debemus continere de Ecclesia, Óº ipsorum augmentum , ea quae ratione
de Clerico vobis, sicut quomodo debet Confessionum eidem Vicario data file-->
toto boniine Christiano , & quomodo rint... Acta fuerunt bec Santarene
fuerit directum. Et si istud non fece III. die Mensis Decembris , E. M.
rinius, vestra Decima deditis a quem CCCLX,º Doc. Orig., mas ratado,
vos volueritis. Et si ipsa Hereditate de Lamego. Desgraçados tempos,
honoraveritis uno anno cum filius, Óº em que para manter hum Parocho,
cum mulieris, donetis ea, Óº venda e hum Menino, que na Igreja o ser
tis, Óºficiat inde nobis istum forum. visse, era preciso recorrer ás Obla
L. das Doaç. das Salzedas a f. 219. fões, ou dadivas das Confirsões, que
CLERIGO. VI. Deo-se este no fizesse!.. E pois o Bispo lhe con
me aos Sacristães das Igrejas, que signa. Semelhantes rendimentos, pa
13.
• CL CL 287
ra elle, e para o dito Sacristão: fi tas da Receita, e Despeza, cujos
ca manifesto, que sem esta appli Ministerios sem alguma boa instruc
cação estes emolumentos deverião ção senão podião bem, e cabalmen
pertencer, a quem tinha, ou tives te cumprir. E na Casa Real daquel
se o Direito de apresentar, e a quem la Monarchia todos, e quaesquer
todos os fructos , e emolumentos Ministros, ainda os mais baixos, e
desta Igreja se união; só com a obri humildes forão chamados Clerigos.
gação de huma insignificante Con V. g. Clericus coquine: Clericus Ma
grua , que devia dar ao Parocho, rescalie Equorum : Clericus Nundina
o qual , sub pena de perjuro , não rum: Clericus Ferrari.e: Clericus Map
poderia pedir mais, que aquillo, que parum: Clerici Scutiferiae: Clerici Co
nesta união se acha consignado, a kete Regis, Órc.
saber: trinta libras em dinheiro, e CLERIGO, X. Este he o no
tres moios entre pão, e vinho. me , que o Apostolo S. Pedro dá
CLERIGO.VII. Até o Sec. XIII. aos Filhos da Igreja Santa na sua
se chamárão em algumas partes, e por Epist. 1.5.3.2 dando o nome de
muitas vezes Clerigos, os homens Clero a todo o Rebanho Espiritual,
grandemente versados nas Divinas, que foi chamado para a sórte ad
ou Humanas Letras: e isto, porque miravel da Graça, e Lei de Jesus
dos Clerigos particularmente se es Christo. -

perão a Literatura, e erudição, pa CLERIGO d'El-Rei, ou da Rai


ra instruirem os ignorantes, e a si nha. Em a nossa Casa Real hou
mesmos, e poderem ser o Sal da ve grande uso de Clerigos d'El Rei:
terra, e a Luz do mundo; na certe Clerigos da Rainha: Frades d'El-Rei:
za, de que a ignorancia he a Măi Frades da Rainha. Por estes se en
de todos os erros, e o Guia cégo só tendião Ecclesiasticos muito graves,
vai conduzindo ao precipicio. E as virtuosos, e Letrados, Religiosos,
sim erão Synonymos: Clerigo, dou ou Clerigos, de quem os Sobera
to, versado, instruido. V. g. Clerigo nos se servião em Ministerios de
em Direito Canonico : Muito Clerigo muita honra, e ponderação, como
na Sagrada Escritura : grandemente erão o seu Despacho , o Expediente
Clerigo nas Bellas Letras, & c. das suas Graças, e Mercés, a Escri
CLERIGO. VIII. A qualquer van nha da sua Puridade: a Nota, e
Estudante de huma Universidade, Escrita das suas Doações, & c. ain
e principalmente aos da Soborna de da mesmo quando havia Cancellarios.
Pariz se deo o nome de Clerigos, A estes succedêrão os Desembarga
por se julgarem, que já erão, ou dores , Secretarios , Chancelleres , e
virião a ser doutos, e instruidos, outros Ministros.
como devião ser os Clerigos, de cu CLERIGOS Segres. Os Cleri
ja Lingua Santa, e # deve es gos, ou Ecclesiasticos Seculares,
tar pendente a Lei do Senhor. que não vivem em Communidade,
CLERIGO. IX. Em França se e com vida Religiosa, ou Monas
chamárão Clerigos os Escrivães, Ama tica em alguma Corporação de Mãos
nuenses, Oficiaes, e Ajudantes dos Mortas. Segundo a Concordata d'El
Ministros Reaes, ou que tinhão a Rei D. Diniz estipulada no Porto
seu cargo apurarem os róes, e con no de 1292, podem os Tabeliães
fa
288 CL * CL
fazer Cartas de compra , e venda dos como Leigos, parescam perante o
dos herdamentos, que os Clerigos Se priol da eigreja d'bu som freegues
gres quizerem comprar pera si , ou ses, ou perante aquele, que cura des
pera Clerigo Segral, como si, ou pe sa eigreja , e que se rrecebam peram
ra Leigo, e non pera outrem. Doc. te ele per pallavras de presente. E es
de Lamego. se rrecebimento seia feito perante buã
CLERIGOS Solteiros, e Casa tabelion, que seia estabeleçudo em es
dos. Dos Clerigos Casados fallão mui sa freguesia pera escrever esser rre
largamente os Sagrados Canones, cebimentos; pera sse poder saber per
e os seus Commentadores, e Inter esses livros os casamentos, que foram
retes. No de 1352 fez passar El feitos em cada freeguesia , por esses
# D. Afonso IV. huma gravissi rrecebimentos feitos per esse priol, ou
ma Carta Circular , dirigida a to clerigo. E que de aqui adeante man
dos os Bispos do Reino sobre os cri dedes, que todos os rrecebimentos, que
mes, e excessos dos Ecclesiasticos, e sse fezerem em essas freeguesias, 44e
outros pontos, que respeitavão a iam feitos per esse priol, ou clerigo
tranquillidade, e reforma da Igreja, perante o tabelion dessa freeguesia, bu
e Républica. Na Camera de Coim esses casamentos forem feitos.
bra se conserva huma copia em pú No Foral, que El-Rei D. Ma
blica fórma, e supponho ser a uni noel deo á Piconha no de 15 15 se
ca que se acha fóra da Torre do declara, que os Clerigos Solteiros pa *I
Tombo, concorrendo a má vonta garáõ onze ceptiis tres vezes no an
de, com que foi ouvida, para não no, aos tempos acustumados. Por es
ser por muito tempo conservada. tes Clerigos Solteiros se entendem os
Neste Religiosissimo Alvará se pres que ainda estão de Ordens Meno
creve o modo, e formalidade, como res, e não são casados, mas o po
devem ser recebidos perante o Pa dem ser ; perdendo com tudo hu
rocho, e hum Tabellião, para que ma grande parte dos seus Privile
ao depois não possão os ditos Cle gios, ainda quando a evidente ne
rigos negar o seu Casamento, co cessidade obriga aos Senhores Bis
mo muitas vezes fazião recebendo pos, a que os admittão em Habi
se clandestinamente Clerigos, e Se to Clerical ao serviço dos Templos:
culares, sem receberem a Benção abuso que hoje se vai introduzin
do Sacerdote, e por isso diz: Tee do, que o Seculo estranha, e que
mos, que seera bem , e serviço de Poder superior poderia ter elimina
do. (a) •

deos, e nosso, e prol do nosso povoo,


que façades, e ordinhedes, que todos CILIAR. V. Clear.
aquelles (Clerigos) que forem casa CLOQUAIRES. Colheres. No
31T1

(a) Por Clerigos casados se não entendem os de Ordens Sacras, e muito menos os
Sacerdotes. El-Rei Witiza mandando, e constrangendo os Sacerdotes a que se casassem,
chamou sobre as Hespanhas a ira de Deos , fazendo-as preza, e ludibrio dos Sarracenos.
Continuou esta desordem até o Rei D. Fruela, que começou a reinar na Villa de Can
gas nas Asturias, no anno de 757, (quando ainda a Cidade de Oviedo se não tinha co
meçado a fundar. ). Este prohibio rigorosamente semelhante abuso, sem que para isso ajun
tasse algum Concilio. E o Ceo , parece, favoreceo logo com assombrosas victorias con
tra os Mouros_huma acção tão Catholica, e tão conforme á Santidade, e pureza do Sa
cerdocio. V. Hesp. Sag. T. 37.
CO • CO 289
anno de tooo Gontili, viuva, Deo coelhos. Conilarius, qui fuerit ad So
vota, dôou ao Mosteiro de Paço de jeiram , Óº illuc manserir, det fol
Sousa, entre outros bens, tres Clo lem unum Conilij. Foral de Lisboa
quaires argenteos. Doc de Paço. por El-Rei D. Afonso I, no de 1179.
- COBERTAL. Cobertor. Huum COGNOÇUDO. A. Conhecido,
Cobertal de coelho , forrado de pano ou conhecida. Doc. de Vairam de
vermelho, e huma Sarja cardea pera I3O I. , .
sobre cama. Doc. de Pendorada de COGNOSCER. Conhecer, sa
I 2 \ Q. •

ber, vir á noticia de alguem. Da


'8ôBICANTE. O que muito de qui a Formula trivial do Século XIII.
seja, cobiça, e appetece alguma Cognorcam todos. Doc. das Bent. do
cousa. Mais cobiçantes boutorgada Porto de 128o.
mente achatar aos vossos desejos. Doc. COGULLO. Medida quadrada,
de Almoster de 1287. que levava hum alqueire acogula
COBRADA de peixotas. Duas, do , e da qual ainda hoje se usa
ou hum par de pescadas. No de na Provincia do Minho. De hum
1362 emprazou o Mosteiro de Ta Prazo de Refoios de Lima de 1586
rouca o Souto da Qapata com o Fo consta ser a Pensão hum alqueire de
ro de quarto, e huma cobrada de pei trigo , medido pela medida do cogul
xotas. Doc. de Tarouca. Hoje di lo, que antes da Rasa servia.
Zem huma quebrada de pescadas. COIMA. Satisfação, multa, ou
COBRO. OS. Os Reguenguei pena , que se leva pela injustiça, in
ros do Aro de Lamego pagavão an júria, ou afronta commettida. No
nualmente ao Mordomo d'El-Rei Aro de Lamego havia o costume
certo Foro de carne de porco a que pessimo , que El-Rei D. Afonso
chamavão Cobro, e Cobros. A quan IV. extinguio, nas suas primeiras
tia, ou pezo destes Cobros não es Cortes. Quando se achava algum
tá mui facil de ser averiguada. V. homem, ou mulher mortos, sem se
Calafa. saber o aggressor: a Terra, ou Lu
COCEDRA, e Cozodra. Col gar mais visinho era obrigado a pa
chão. V. Almucella, Vem do Lati gar ao Mordomo trinta maravidis,
no Culcitra, que não significa Col ou provar quem o matou, ou por
cha , mas tão sómente Colchão. No ue causa, e de que sorte morreo.
Testamento de Pedre-Annes, e de # pena se chamava Coima. Tomb.
sua mulher Guiomar Martins se vê, do Aro de Lam. a f. 3.
que elles mandárão soterrar seus cor COIMEIRO. Humas vezes se
pos ante o Altar do Croçuficio da toma pelo que tem a seu cargo co
Igreja de S. Francisco de Lamego, brar as Coimas. No de 1391 acor
e com cada hum delles deixárão aos dou a Camera do Porto que não
Padres daquelle Convento senhos al houvesse Coimeiros na Cidade, cu
madraques, e senhas cocedras, e re jo Oficio satisfarião os Almotaceis.
nhos cabeçais, e senhas colchas, e dous Significa outras vezes o animal, que
steiroens. Doc, de Lamego de 1348. anda fazendo algum damno em a fa
Bem claramente se vê aqui a dife zenda alheia, e por isso Coimeiro;
rença de Cocedras, e Colchas. porque he occasião de seu dono pa
COELHEIRO. O Caçador de gar a Coima. Igualmente se diz Coi
Tom. I. Qo mei
29 o CO CO
meiro aquelle sujeito, que quebran ma terra fraca , e de pouca se
IThCIltC. •

ta a Postura, ou Lei, que tem anne


xa á sua fracção alguma Pena , ou COIRELEIRO , Quaireleiro,
Coima. He do Seculo XV., e XVI. e Caureleiro. Assim forão chamados
COIRAMA. Toda a especie de os homens bons do Concelho, chãos,
COUTOS. -
e abonados, que antigamente està
COIRAMA Cabruna. Pellitaria vão destinados para repartir em Ca
de cabras, ou bodes. Achão-se es saes, ou Coirelas as Terras conquis
tas palavras nos Foraes d'El-Rei D. tadas, desertas, ou bravias, aos Po
Manoel. voadores, que de novo as hião rom
COIRELLA, e Quairella. Quai per, e habitar. Nos Doc, da Guar
relaria, e Quadrela. Casal, que cons da ha larga menção destes Quairel
tava de algumas peças de terra, hu leiros. E no L. dos Docs das Salze
mas vezes Juntas, e outras separa das se achão repetidas vezes, e prin
das, mas sempre bastantes para sus cipalmente a f 118. se nomêa Pe
tentação, e mantença de hum La dro Pirez, o Quaireleiro.
vrador, e sua mulher, além dos fi COITA, e Cuyta. Necessidade,
lhos , ou serventuarios indispensa pobreza, lazeira, dôr, # , e af
veis para a lavoura. Os nossos pri ficção. Daqui Coitado, de que usa
meiros Reis , repartírão em Coire Camões, e Cuytado, de que se usa
las, ou Casaes quasi toda a Terra va no Seculo XIV. Segundo os Doc.
de Panoyas, como se vê pelo Li de Tarouca, se disse tambem pelo
vro dos Foraes Velhos. No de 1 1 6o mesmo tempo Cuytoso, e no mesmo
El-Rei D. Afonso Henriques, e sentido. Er sua mater habuit Coita,
seus filhos, aforárão Celeirós de Pa &º vendeu ipsam vineam. Doc. de
noyas, repartindo-o em oito Coirel Tarouca do Seculo XIII. El-Rei foi
las, com Foro cada huma de tres posto em tão grande Coita, que ronu
quarteiros, hum de trigo, hum de peo suas vestiduras. Lopes. Vida de
centeo, e outro de cevada, ou mi D. João I. Par II Cap. CLI. V.
lho. El-Rei D. Sancho I. no Foral Cuyta.
que deo á Folgosa, fez repartir to COITELHO. Conchoso, cerra
da a Terra em X. Quairellas , ou do , hum pequeno recinto fechado
Casaes no de 1 188. Doc. das Sal sobre si, que serve de horta, jar
zedas. E no L. das Doações deste dim, pomar, ou logradouro das ca
Mosteiro se acha af. 3. como no de sas. Mando a mba casa, e bum Coi
12o2 , Dum Bento vendeo ao Ab telho, ao Cabidoo por pitança. Tes
bade D. João Fernandes , e seus tam. de Fernam Gil , Thesoureiro
Frades, huma Herdade em Maçai da Guarda de 1299. Doc. da Guarda.
nhas, Termo da Cidade da Guar COITO. Cozido. Pam Coito:
da , a qual jazia In Quairelaria de Pão cozido. Doc, de Lamego do
Petro Petriz; ó" est quinque astiles Seculo XIV.
in amplo, Óº 2. (5o) in longo. E a COITO. O mesmo que Couto
: 1 19 se faz menção da Quairelaria Certa porção de terra #
de Martinho Mancelos, no de 12c8: por authoridade do Principe, com
e alli mesmo se acha Quadrella por certas isenções, e Privilegios; pe
Coirela. Hoje chamão Coirela a hu nas a quem o quebrantar, ás quaes
CO CO. 29 #
chamavão Encoutos , e com deter- Porém com o rodar dos annos se
minados Forós, e Pensões para o foi introduzindo o pagarem-lha ;
Direito Senhorio. As vão penhorar posto que com efeito, e pessoal
na roupa do seu corpo, e na roupa dos mente não viesse. Colheita, Comedu
seus leitos , e nas béstas do seu Coi ra, Procuração, Visitação, fantar,
to, e no seu Patrimonio, e nos Di e Parada são Synonymos, ou em
zimos, que dam á dita Igreja, pera muito pouco dā. Os Bispos as
se fazer bi o serviço de Deos, e lbis levavão, e ainda hoje levão de al
ferem , e desnúão os seus homens, e fºi Igrejas isentas , e só pelo
lhis fazem muito mal , e muita for
itulo, ou trabalho da Visitação.
fa. Carta d'El-Rei D. Diniz de El-Rei D. Diniz acceitou do Con
1 3 1 1 contra os chamados Herdeiros celho de Lamego 1oo libras cad'an
do Mosteiro de Reciam, entre os Doc. no por toda a Colheita, que o dito
deste Mosteiro. •

Concelho era obrigado a pagar, a


COLCHEIRO. Oficial que te saber: quinhentos pretos, e seis moyos
cia colchas. Em hum Prazo, que D. de vinho ; e seis moyos de grãos : e
Orraca Affonso , e D. João Men huma vacca; e tres porcos; e seis car
des, seu segundo Marido, fizerão em neiros; e quatro cabritos; e sessenta
Santa Cruz de Lumiares no de 1312, gallinhas; e trezentos ovos; e hum al
forão testemunhas , entre outros, mude de manteiga; e bum almude de
Gonçaleanes, e Fernandanes, filhos mel ; e huma teiga de sal; e huma
dos Emprasantes, e Miguel Do quarta de vinagre; e duas réstes de
mingues , Colcheiro de S. Cosmado, cebolas; e duas réstes d’alhos; e sete
Doc. de Tarouca. Esta Senhora já strigas de linho. Foi esta commuta
estava viuva de D. Pedre Anes, seu ção no de 131o, e consta do Tom
primeiro Marido, no mez de *# bo do Aro de Lamego de 1 346 a f.
to de 1286, havendo aquelle fale 1. De hum Prazo, que se acha nas
cido poucos dias antes, segundo se Bent, do Porto, feito no de 1332.
vê pela entrega da Aldeia de Val consta o destino destas Colheitas,
de Carvalho, que D. Pedro havia ou jantares , diz assim: E dardes
deixado áquelle Mosteiro. Ibidem. mi em cada huum ano Colheita de pam,
COLEIÇA, Colheita, acção de e de vino , e de carne, que avonde,
colher, ou recolher os fructos, que bum dia, com duat bestas, e com sex:
produz a terra: •
bomeens de pé no dito Casal.
COLHEICEIRO. Rendeiro, ho O Mosteiro de Ceiça, em agra
mem que cobra, recebe, e recolhe as decimento dos grandes benéficºs y

Colbeitas d'El-Rei. Doc. de Lam, do que confessava ter recebido do Ca


Sec. XIV. Hoje não havendo já es bido de Coimbra, lhe ofereceo Co
tas Colheitas com o mesmo , e an lheita na sua Igreja de Tentugal no
tigo nome , passou a desusado o de 1288, a qual consistia em apo
nome de Colheiceiro. sentarem de cama, e meza pelo seu

COLHEITA. Certo Foro , e Procurador aos Dignidades, Conegos,


pensão, que os Vassallos pagavão ao ou Porcionarios, quando por alli pas
Principe, ou Senhorio, quando es sassem. Assim se praticou, até que
te vinha á terra huma vez cad'an no de 1335 , para evitarem alguº
no, e não vindo lha não pagavão. mas desordens, convierão: que achan
* - -
Oo ii da
292 CO CO
do-se em Tentugal Dignidade , tenha Sal. Vinagre. Pousadas.
1oo soldos: Conego 5o soldor: e Ra O pão, e a cevada, e todalas outras
çoeiro 25 soldos , á custa do Mostei cousas , se darão por direita medida
ro, e huma só vez no anno. E se do de Covilham. (Huma cota á margem
losamente ali declinárão, só a fim de diz : he a medida velha , da qual
arrecadar a Colbeira: o Cabido lha fa cada tres fazem quatro da medida,
rá restituir pela fazenda, do que as que ora corre.) Neste Lugar, e seu
sign dolosamente a receber. Doc. d Termo leva o Bispo a quarta parte de
Ceiça. - • •

todolos Dizimos, de que leva a Ter


No Tombo dos fantares , que se fa nos outros Lugares , alem do com
conserva no Archivo da Sé da Guar teudo nesta Colheita.
da, se diz o seguinte: Nós D. Chri Depois passa a individuar as Co
stovão de Castro, per Mercê de Deus, lheitas , que os Bispos da Guarda
e da S. Igreja de Roma Eleito con devem ter pela Visitação nas Igre
firmado Bispo da Guarda, do Conse jas do Rodão , Idanha a velha, Ida
lho d’El Rei Nosso Senhor, Dayão de nha a nova, Marmeleiro, Salvaterra,
sua Capella, & c. Fazemos saber, a Segura , Proença , e Touro. Destes
quantos estes virem, que estas são as Lugares leva o Bispo a Terça de
Colheitas, e Procurações, que os Lu todos os Dizimos ; tirando o Dizi
gares da Ordem de Christo , abaixo mo das almunhas. Foi passado este
nomeados, são obrigados a pagar ao Instrumento á vista do Compromis
Bispo pola Visitação. Ho qual paga so , que foi feito entre o Mestre,
mento be por contrato, feito ante ho e Frades do Templo com o Bispo
Mestre, e o dito Bispo. E os Luga da Guarda ,, que naquele tempo
res são estes abaixo nomeador. E o que era , e datado na Covilhã aos 1 r
cada:
Agitehum ha de pagar, be o que se re
• - . *
de Junho de 155o, e assignado pe
lo Bispo Eleito da Guarda.
CASTELLO BRANCO. A Precação, ou Prestação Preca
ria , que as Igrejas , e Mosteiros
De trigo •
moyos. pagavão aos Principes, c aos Bis
De cevada ; moyos. pos na occasião da sua boa vinda,
De vinho 42 pucaer. e isto voluntariamente, e sem coac
De vacas 2 "U/10/10',
ção, passou com o tempo a ser hum
De porcor 2. porcos. rigoroso Direito de Colbeita, ou fan
De carneiros 6 carneiros. tar ; chamando-se Colbeiceiros : os
De galinhas 4o gallinbas. que tinhão obrigação de o cobrar.
De ovos 2co ovos. Porém no Reino de Aragão se cha
De pimenta 2. onças. mou Colhedor das Céas : certo Mi
De alhos 2 restes.
nistro, ou Oficial, a quem perten
IDe cebollas 2. rester. cia a cobrança das Céas, Albergues,
De manteiga 2. alqueires. ou Girtos , que correspondião aos
De mel 2 alqueires. nossos fantares, ou Colbeitas.
De cera 2 livrar.
COLHER-SF. Recolher-se ,
De linho 2 afusais. amparar-se , refugiar-se , valer-se.
De lenha 6 cargar, Mando , que aquelles , que se colhe
Em dinheiro 2 maravedir. rem ás Egrejas, que os non tirem en
}

4é º
CO CO. 293
de , se non comº é Direito. Concor e que não tem mais que huma al=
data d'El-Rei D. Diniz de 1 292. ma, e hum só coração, moralmen
Doc. de Lamego. •
te fallando. Em o anno de 978 Zu
COLHERES, e Colhares. São leiman Iben Lazaro, e sua mulher,
Direitos, que diversamente se pa e filhos, vendêrão hum moinho na
gão, segundo os usos, e Foraes das ribeira de Fórma ao Abbade Primo,
Terras. Em Chaves pertencem á cum Collatio vestra ; recebendo do
Coroa os Açougues , e Colbares, e Mosteiro, em preço, ou mais bem
Pessoal, e a Voz , e Coima, e Ma em troca, huma vinha em Corelhas.
ninhos, e Montados, como diz o Fo Liv. dos Testamentos de Lorvão N.
ral d'El-Rei D. Manoel de 15 14. 68. Em outros Documentos do mes
Estas Colheres em Chaves nada mais mo Livro, se nomêa o Convento,
he, que o Direito do sal: paga ou Communidade dos Monges, de
se de cada alqueire huma Colher, pois do seu Abbade, ou Prior; já
ue he hum Qalamim ; visto como Collegio, já Congregação, já Cenobio:
16 Colheres fazem hum alqueire. Na que tudo era o mesmo naquelle
Cidade do Porto, e segundo o Fo tempo barbaro, em que forão ex
ral do mesmo Rei, consiste o Di aradas aquellas mais uteis, e since
reito das Colheres em se pagar cer ras, que polidas Escrituras.
to Tributo do pão, farinha, nozes, Cöi#. Familiaridade ,
castanhas, e legumes: mas com es união, respeito, e amisade entre os
ta diferença, que entrando algum que são, ou forão Collaços; isto he:
destes sinco generos por terra, se companheiros do leite, alimentados, e
paga de quarenta hum; mas entran nutridos aos peitos da mesma mulher,
do pela foz do Douro, se paga de que he Mãi de hum , e Ama do
sessenta hum. Na Addição que a outro. Este Direito, ou Privile
este Foral se fez no de 152o se gio de Collacia concede aos Collaços
acha serem Colheres Synonymo de dos Cavalheiros, o não podêrem ser
Fangas. açoutados, nem ter pena vil, se
COLHETANO, Livro, em que gundo a nossa Ordenaç. L. V. Tit.
estão dispostas por sua ordem as I 39. "
Orações, a que chamão Collectas. • 'õoLLACIA .

O mesmo que cel


Doc. de Lam. de 1455. leiro, armazem, tulha, adega, ou
COLLAÇÃO. Nas Inquirições outro qualquer edificio, em que os
Reaes da T. do T. se chamão Col fructos, e outros quaesquer deposi
lações as Freguezias. E isto pela ra tos, ou provimentos se põe a bom
zão de viverem os Freguezes debai recado. Em huma Carta d'El-Rei
xo da particular inspecção, e cui D. Affonso VIII. Imperador de Hesp.
dado do seu respectivo Parocho, ou que traz Kepes T. V., datada no de
Pastor, que nas mesmas Inquir, se 1 146 se diz: Cum suis Solaribus, ór
chama ordinariamente Prelado. cum suis Colaeis, Óº cum suis termi
COLLAÇAO. O mesmo que nis , ubicumque sint , é c. E no T.
Collecta : Familia , Communidade, I. traz o mesmo Author huma Bul
ou Gente Religiosa, que vive, e la de Honorio III., em que se lê:
habita na Casa do Senhor, debai Ecclesias cum Decimir, Collatiis, pos
xo da obediencia de hum Prelado, sessionibus, ó aliis pertinentiis, é? e.
Os
\,
294 CO CO
Os infimos Latinos disserão Colla gueja senhos feixes de colmo, de seis
tium, ou Colacium. Colmeiros o feixe : e senhos feixes de
COLLECTA. O mesmo que gésta negral grande pera colmarem as
Colheita. El-Rei D. Afonso I. ins casas do Castello. Tomb. do Aro a f.2.
tado pelos Moradores de Melgaço, COLMELLO, V. Columello.
* lhes deo o mesmo Foral , que já COLMENEIROS. A Irmanda
tinhão os que moravão no Burgo de de dos Colmeneiros de Toledo teve prin
Riba d’Ave ; assignando-lhes os ter cipio no de 122o , approvando-a
mos do seu Concelho , assim no El-Rei D. Fernando, o Santo. Era
vos, como antigos. Nelle se diz: o seu destino perseguir os vando
2uando autem Rex vestram Villam leiros, e salteadores do Termo, e
intraverit, semel in anno, & nem am Montes de Toledo, que erão mui
plius: illi VI, denarij pro sua Colle tos, e atrevidos com o abrigo da
cta aferantur : & si vero plus in ip visinhança dos Mouros. Estes van
so anno Rex venerit, de vestro adju doleiros se chamavão Golfins, e ele
torium ei date quantum volueritis de gênão hum para seu Rei a que cha
mavão Carchena.
pane, Óº de vino, quem laboraverint, •

vel emeritis. Dado no de 1 171. L. COLODRA. Cabaça grande pa


••

dos Foraes Velhos. , . ra ter, ou medir vinho. Ainda hoje


COLLER. Arrecadar , colher. em algumas Terras de Portugal se
Disserom os oméés ca non collerom chama Colondra, e a esta especie de
os meios dos millos , que , deveram º cabaços disserão Colombros. Parece
a Coller. Doc. das Salzedas de que a Colodra levaria hum cantaro,
1276. E por estes tempos o L. ou seis canadas. Hoje na Provincia
dobrado tinha a mesma pronuncia do Minho se chama Cabaço a hum
que hoje damos ao L. e b. v. g.: meio almude , ou cantaro de seis
Moller, Vello, Millo, & c. se pronun canadas; porque dos ditos Cabaços,
ciavão Molher, Velho, Milho, & c. ou Colombros se costumão formar, e
- COLLO. Hombro, cabeça, cós aferir estas medidas. No de 123o
tas. Ao Collo: em Collo: ao hombro, se fez Doação de humas vinhas na
á cabeça, ás cóstas. Daqui Collonho, Aldêa de S. Christovão ao Mostei
ou Collonha: toda, e qualquer car ro de Santa Maria de Aguiar, jun
ga que o homem, ou mulher leva tamente cum duabus cupis quadrin
á cabeça, ou aos hombros. Todo pes gentarum Colodraram. Doc. do Mos
cado fresco, que hj veesse em navios, teiro de Aguiar. Deste modo levan
ou em béstas, ou em collos d'homens, do as duas cubas 4oo Colodras, vinha
que o levassem logo aa Praça. Cor a levar cada huma loo almudes, ou
tes de Lisboa de 1389. º 4 1 Dálf,
COLMEEIRO. O que trata de • • CófoNHA Feixe, ou carga,
Colmêas. V. Meleiro. *
que* *
homem, ou mulher leva ás cós
COLMEIRO. Pavêa, braçado, tas, ou á cabeça , á diferença das
mólho, não só de Colmo, ou pa que se conduzem em barcos, bês
lha centêa; mas tambem de palha tas, ou carros. No de 1355 conce
triga, painça, ou milha. O Alcai de El-Rei liberdade aos da Cidade
de do Castello de Lamego recebia do Porto, para que possão ir pe
todos os annos do Prestemo de Ma los caminhos de Villa Nova, ou ou
* , >"
{IOS
º

CO CO 295
tros quaesquer, que sahião ao Ca ti, e Froarengo, e alguns Grandes
minho Coimbrão, sem serem obriga do Reino : na II. outros Nobres,
dos a hirem, ou virem pelo Cami e Principaes, que com os da pri
nho de Gaya; excepto bestas carrega meira forão tambem nomeados para
das, ou homens, ou mulheres com Co esta Inquirição dos limites: e na III.
lonhas, ou outras cousas, de que El só se achão: Hordonius Confirmans. K
Rei devia ter Direito; porque estesRanimirus Confirmans. K. E por fim:
deverião sempre ir, e vir por Gaya Florentius Presbiter, ab ipsos Ponti
Doc. da Cam. do Porto. Alli se fices ordinatus, banc Columellum ma
guarda outra Provisão Real de 1368, nibus meis conscriptum. Não só de
em que se confirma a mesma liber tres columnas, mas de 4, 5, e 6 se
dade : Não levando cargas , ou fei guardão Escrituras entre nós, que
xes. Donde se manifesta, que o mes com razão se chamão Columellos, ou
mo era Colonha na primeira , º que pequenas columnas; bem assim co
Feixe na segunda. 'mo os dentes oculares, ou caninos
COLONHA-Marco de.) Na nos homens, que nos cães se cha
Cam. do Porto se acha huma Pro mão prezas, e nos cavallos colmilhos,
visão Real de 1488, pela qual se por serem compridos, e redondos,
manda , que se não peze mais o á maneira de columninha se disse
ouro, e prata, e todas as outras cou rão em Latim Colomelli, Columelli,
sas, senão pelo Marco de Colonha; e Columnelli, e Columellares. -

mais se n㺠usem, nem tenbão os pe No Testamento de D. Muma-do


zos antigor. -
na, que se acha na Collegiada de
COLONHO. O mesmo que C Guimarães, feito no de 959 se lê:
lonha. Doc. de Lamego no Tombo Item , dum inter se alternatim ipsi
do Aro. filii mei vicissim Curnellos Divisionis
COLUMELLO, Cumello, Cul confirmandos roborassent , evenit in
mello. Escritura , ou Instrumento partitione filiae meae Onece Villa nun
público , escrito por columnas, ou cupata Vimaraner... Et nos dedinus
seja no corpo, ou nas assignaturas ei pro biis Villa Turbella, quod ego
dos Confirmantes, e Testemunhas. acceperam in quinta viri mei, nec non
Dos primeiros erão os de Partilhas, &º mea , per Culmellum inter filios
ou Inventarios, nos quaes se escre meos... Inter Dorio, Óº Tamega Vil
vião, e carregavão por parcellas, e la, quae comutavi cum Veremudo Ad
em columnas os bens achados, e as fonsi, pro que accepit Villa de Por
cabeças, por que se repartião. Dos tus in Dezza , que fuit de Colmello
segundos ha innumeraveis; sendo ipsius filii mei... Accepit a me Vil
certo, que segundo a diversa qua la de Sancto Cypriano, que erat de
lidade # pessoas, que nelles # Culmellos ejusdem Nuni filii mei.
ravão, outras tantas erão as colum COMBONAS. Cambôas, artifi
nas , que nelles se fazião. Em a cio de pescar o peixe, que sobe na
Demarcação das terras, que pertencião maré, pesqueira, que se fórma na
aº Bispado de Dume, junto a Braga, cósta do mar, e bem conhecida na
feita no de 91 I , e que alli se guar Provincia do Minho. Du Cange diz,
da original, se notão tres columnas que Combona hetermo, ou limite de
de Assignantes: na I, os Bispos Naur huma fazenda; mas infelizmente os
Do
296 CO CO
Documentos que adduz, claramen COMEDORIA. O mesmo que
te nos mostrão, que Combona nada Colheita, ou fantar. Era certa Pen
mais he que pesqueira nos estuarios são, ou Foro, que os Emfyteutas,
do mar, a que chamão Esteiros. No ou Colonos, ou Diocesanos, ou Vassal
Livro Preto, e a f. 297. W. se acha los pagavão a El-Rei quando vinha
a Doação, que o Abbade Pedro fez pela terra a fazer Justiça: aos Bis
á Sé de Coimbra da Igreja de São pos quando visitavão a sua Dioce
Julião junto á Foz do Mondego, a si: e a qualquer Senhorio, que ti
qual fôra destruida pelos Sarrace nha o Dominio Directo de algumas
nos, e elle com o favor , e ajuda Terras, ou Casaes. No Foral, que
de algumas pessoas, que pelo ze o Mosteiro de S. Pedro das Aguias.
lo, e amor dé Deos para isso con fez passar no de 1269 á Villa de
corrêrão , a tinha restaurado nos Valença do Douro se manda dar:
bens, e Edificios por ordem do Con De Colbeíta ao Abbade tres teigas de
de D. Sesnando, o qual tinha fa trigo cozido, e tres peixotar, e tres
cultado assim aos Clerigos, como quartas de vinho bom , e tres teigas
aos Leigos , o edificar as Igrejas, de cevada ; e pera adubo da cozinha
e Villas : more hereditario; sicut 4 18 dinheiros. Porém no Foral que
Rege D. Fernando acceperar potesta El-Rei D. Manoel deo á mesma
tem, ac postea ah ejusdem filio Rege Villa no de 15 14 se diz: Estes 24
D. Adfonso. Entre os mais bens, que Casaes pagão cada anno tres teigas de
já tinha adquirido para a dita Igre trigo , que chamão Comedoria. Doc
ja erão IV. Combonas, huma das quaes do Mosteiro de S. Pedro das Aguias.
ficava além do Mondego da parte COMEDOURO. Capaz de se
do Meio dia, onde se chamava La comer. E daredes mais de pençom trez
vos, a qual elle tinha herdado; ex frangas em tempo, que forem Come
ceptis aliis, que jam aedificatae sunt, douros. Doc. do Sec. XIV.
que antiquitus ex ejus Testamento fue COMEDURA. O mesmo que
runt. Era então Bispo de Coimbra Comedoria. Ellis fazem muito mal,
D. Cresconio. Ora Lavos, que es e muita força por Comeduras, e Ser
tá ao meio dia do Mondego, não vifos, que dizem, que devem aver no
foi já mais limite de S. Julião da dito Mosteiro. Carta d'El-Rei D.
Figueira. Além disto, se as Combo Diniz de 131 1 nos Doc. de Recião.
nas se edificão , se herdão, e dei E ali se acha outra do mesmo Rei
xão em Testamento , ou dellas se de 1323, em que se diz: E que ago
fazem Doações, bem claro fica não ra alguns desses , que vinhão bipe
erão Termos, ou Limites de alguma nhorar por Serviços , e Comeduras,
Fazenda. e por Cavalarias, e Casamentos, que
COMBORÇA. Manceba , ou derião, que ende devião aver come Na
amiga
cubina.de homem casado, e sua con turaes, e Herdeiros, nom no sendo de
• •

Direito. V. Casamento, e Colheita.


COME. adv. Como. Doc, das COMEGOO. Comigo. Doc. das
Bent. do Porto de 133o. •

Bent. do Porto de 1285. -

COMEDIAS. Os Reis as davá COMENDADOR. I. Ao Pro


aos Militares benemeritos, como Be vedor , Director, ou Curador dos
neficios vitalicios. V. Comedoria. Hospitaes, que alguns Mosteiros,
*
e
CO CO 297
e Corporações Ecclesiasticas anti COMHA. Como.V. g. Assim a
gamente conservavão junto a si com Mãi, Comba a filha. Doc. das Bent.
particulares bens, e rendas separa do Porto de 1285, e 13o5.
das, se deo o nome de Commendador; COMICO. V. Breviario.
porque se lhe encommen davão, não COMMEOS. V. Comeyos. Seja
para os destruir, mas sim para que, escrivão , e escreva de commeos por
tirada a sua Congrua , e honesta ambalas partes.
sustentação , tudo o mais se des COMO de Cabo. V. Cabo.
pendesse em as necessidades dos en COMPANHIA dos Conegos Se
fermos, pobres, e necessitados. D. culares. Muito antes, que a Compa
Thom. da Encarn. na Hist. Eccles.
nhia denominada de Jesus, fosse vis
Lusit. Sec. XII. S. I , 2, e 4. ta em Portugal, onde entrou com
COMENDADOR. II. Não sen
honra , e acabou com ignominia:
do possivel antigamente ás Cathe já a Congregação dos Conegos Se
draes, e grandes Mosteiros defen culares de S. João Evangelista , a
der, e povoar as muitas herdades, que chamamos Loyos, havia sido in
terras, Villas, e Castellos, que lhes titulada, e já desde os seus princi
erão doadas, as encommendárão a va pios, Companhia, ou Collegio dos Cle
rias pessoas nobres para que as de rigos Seculares de S. Salvador de Vil
fendessem, e amparassem. Mas is lar de Frades: Companhia dos Homens
to foi, como dizem, metter o ga Bons , e tambem: Clerigos Biguinos
to no pombal ; porque muitos se de Villar de Frades. Assim consta
levantárão com o Senhorio destes dos Doc. de Reciam. Verdade he
bens, que pela maior parte se per que Biguinos he tomado em má par
dêrão. Os que assim erão encarre te por Clara Fernandez, dissolutis
gados da defensa, e protecção, se sima Abbadessa, e ultima do Mostei
disserão primeiramente Defensores, ro de Reciam, de que foi expulsa,
depois Comendeiros, e Comendadores. pelas suas desordens, quando foi
Até o Sec. XIV. ha memorias des dado aos ditos Padres pelo Bispo
tas Encomendas , que depois deste de Lamego, D. João de Chaves no
de 1436. V. Biguinos.
tempo inteiramente se extinguírão. •

V. Defensor. COMPANHOM. Socio , com


COMESINHO. Cousa de co panheiro 2 camarada. Cujo. Compa
mer. No de 1466 manda El-Rei, nhom fui. Doc. de Lamego de 1316.
que os Mercadores Estrangeiros não De huma Sentença de 1358, em
comprem pelas Comarcas deste Rei que se decidio, que Egas Orêz fo
no aver de pezo, nem comezinho; exce ra o Fundador do Mosteiro de Cucu
pto pescado, sal, e vinhos: nem os Na jaens, consta, que Bartholomeu Pi
zuraes possão ter com elles companhia, res, Companhom de bum dos Sobre
ou interesse. Doc, da Cam, do Porto. juizes, não acordára nisto. Doc. das
COMEYOS. Neste meio tempo, Bent. do Porto.
entre tanto. E eu em este comeyos COMPANOM. O mesmo que
nom ser poderoso de o vender. Doc. Companhom. Doc. de Vairam do Se
das Salzedas de 128o. Neste Co culo XIV.
meyos : no entanto, interinamente. COMPARAR. Comprar. Doc.
Doc. de Vairam de 1347. de Pendorada de 1278.
Tom. I. Pp COM
298 CO CO

COMPERENDINAÇÃO. Sus COMPRADIA. O mesmo que


pensão da pronuncia da Sentença, Compradéa.
por não estar ainda bem averigua COMPRIDO. Perfeito , com
da, e discutida a causa. pleto , e sem lhe faltar cousa algu
ma, Mando ao Moesteiro de Lordelo
COMPOER. Compor. Doc. das
Bent. do Porto de 1 359. de Ferreira huum Cales Sagrado , e
COMPONER. Compor, satis comprido de todo: e quem o vender,
fazer. Ibidem 13o5. ou apenhorar Deus lho acóómbe. Doc.
COMPOONDOR. O que faz da Guarda de 1298. Eu Maria Gov
as pazes entre os discordes. Juizes falve z, comprida de todo meu entem
dimente. Doc. de Maceiradam de
arvidos, difyndores, e amigavis Com
poondores. Doc, das Bent. do Porto 1 307.
COMPRIDCIRO. Convenien
de 1318. *

COMPOSIÇÃO. Assim chama te , azado, apto, geitoso, a pro


vão ás terras, ou Herdades, que ti posito. Nos inviarom pedir, que pois
nhão sido dadas, ou cedidas por a dita Villa está em tal lugar , que
amigavel composição. Na Carta de be tão compridoiro ao nosso serviço :
Aforamento, que o Mosteiro de S. que os escurassemos da dita Adúa de
Freixo. Carta d'El-Rei D. Fernan
Pedro das Aguias deo aos de Her
vedosa no de 1274 lhe assignão o do de 1 376. Doc. de Moncorvo.
Territorio: Assi como se divide com COMUNA. Assembléa , socie
a Composição, que o Mosteiro fez com de, Congregação, Communidade,
S. João da Pesqueira : e da hi como ajuntamento, companhia.V. Cinuna.
se divide pela Composição de Tresmi COMUNAL. Commum , ordi
ras contra Roris. Doc. de S. Pedro nario. He do Seculo XV., é XVI. }
das Aguias. •
CONA, Conas. Assim escrevião
COMPRA do corpo. Assim cha no Seculo XIII., e XIV. o que nós
mavão ás Arras, ou Dote , que o escrevemos deste modo : Com-a :
Marido dava á sua Esposa, e fu Com-as. ••

tura mulher. O qual herdamento a CONCEIÇÃO. Moeda d'ouro,


mhj deu Pero Peres por compra de que fez lavrar El-Rei D. João IV.
meu corpo, e por serviço, que lhi fiz. com o valor de 12@oco réis. Ti
Doc, das Bentas do Porto de 1296. nha de huma parte a Senhora da
V. Marido Conozudo. " Conceição com os Symbolos deste
COMPRADÉA, e Compradía. Mysterio nos lados, e no reverso
Mandamos se alguem veer, que diga que as Armas Reaes em cima da Cruz
nos tragentos alguns herdamentos, tam da Ordem de Christo. Lavrou-as
bem de nossa avoenga, como de com tambem de prata, e com o mesmo !
pradia, que prove, que be seu: man cunho, mas com o valor de 45o réis. }*
damos, que lho leixem. He logo Com Da parte em que estava a Senho
pradia o mesmo que compra, ou bens, ra, tinha esta letra: Tutelaris Re
que se comprárão , á diferença dos gni; da outra: Joannes IV. D. G. }
que por herança se conseguírão. Portugaliae, Óº Algarviae Rex. Dos
1)oc. de Lamego de 1314. E pe Padrões, que em todas as Terras }
lo mesmo tempo se dizia Compra Notaveis do Reino se erigírão a es
déa no mesmo sentido. - -

ta Celestial Protectora, com huma


lar
CO CO 299
larga Inscripção, não ha para que niano atalhando ás muitas fraudes,
nos lembremos; sendo cousa, que mandou que o Matrimonio se fizes
está pública , e patente aos olhos se por Escrituras dotaes, ou peran
de todos. …; ..
te a Igreja. Os Godos continuárão
|

CONCELHEIRAMENTE.Com as suas Nupcias por preço, ou do


plena advertencia, liberdade total, te. E segundo Baluz. Capitul. T. II.
a sangue frio, com socegado, ma Col. 414, e 456, e 464, se a mu
duro , e deliberado conselho. Pos lher não era dotada , ou pelo ma
to que o quereloso diga , que lhi foi rido, ou pelo # os filhos, que
feito mal ssem porque : ou de propo nascião deste Matrimonio se repu
sito, ou concelheiramente, ou em ar tavão Naturaes , e não Legitimos,
soada , nom seja prezo esse de que e as Leis não reputavão esta es
assi for querelado, salvo se mostrar posa , senão como Concubina. V.
lajdamento. Cortes d'Elvas de 1 361. Avoenga. * * *
CONCELHO. Antigamente se CONDADO. Certo Tributo, ou
tomou esta palavra no significado Reconhecença que o Emfyteuta, ou
de Synodo, Assembléa Ecclesiasti Vassallo pagava ao Senhorio jure
ca, e Concilio. Pagaredes lenha, e Dominii. Consistia ordinariamente
palha pera o Concelho, isto he, pa ou em peixe do rio , ou em caça
ra quando o Prior fosse ao Synodo, do monte, qual ao Direito Senhor
como se declara em hum Prazo do mais agradava. Nos Foraes antigos
antigo, e extincto Mosteiro de Vil he frequentissima esta Pensão do
lella de 146o entre os de Ataens Condado. No de 1 182 a instancias,
em do
ra Jovim.
Porto.Doc. do Conv. da Ser de Soeiro Viegas, Principe de La

mego , e do Bispo da mesma Ci


CONCELHO Foral, Junta da dade D. Godinho de Boa Memoria,
Camera, e homens bons do Con deo El-Rei D. Afonso Henriques
celho para fazerem, ou deliberarem Foral aos trinta Povoadores de Bal
o que se determina no seu respecti digem, com Foro á Coroa de bum
vo Foral, á diferença das Juntas, moyo de vinho, e outro de pam quar
e Chamamentos, que se fazião pa tado , hum corazil , huma gallinha,
ra outros negocios ordinarios. Ajun hum Soldo, e huma fugaça de trigo,
tados no dito logo... bonde sse faz o por cada hum dos Casaes; e todos el
Concelho Foral, specialmente pera o les juntos daráõ 1oo afuraes de li
4ue sse adeante segue. Doc. da T. nho, e roo ovos: posto tudo á cus
do T. de 1441. V. Dia de Foral. ta delles em Lamego , e medido
CONCUBINA. Não foi antiga pela Teiga, e quarta do Celleiro. E
mente tão infame este nome, como cada Casal devia pagar Condado de
hoje se considera. A Lei Papia Po monte, ó" non de rivulo. Doc. das
pêa, favorecendo a corrupção dos Salzedas. No de 134o se deo Sen
costumes, permittio os Concubina tença no Julgado de Alvarenga a
tos , sendo entre huma só mulher, favor do Mosteiro de Pendorada,
e hum homem solteiros; porque is mantendo-o na Posse de receber o
to era hum Matrimonio natural, e Direito do Condado no Monte da
não solemne, e só segundo a von Rocha, a saber: dos porcos monte
tade, e condição das pessoas: Justi zes o corazil : da corça o quarto: e
Pp ii do
3oo CO CO
do urso as mãos. Doc. de Pendora não militou já mais entre os Godos;
da. No Seculo XV. se deo Senten que algumas vezes tiverão Condes nas
ça a favor do Mosteiro de S. Pe Provincias , e nas Cidades Duques.
dro de Cete, contra os que anda Os Condes dos Germanos, que acom
vão pescando á varga no Arinho de panhavão os Grandes, e Poderosos
Roosende, que era izentamente seu, nas campanhas : e mesmo os Con
sem licença do Abbade, e sem pa des dos Romanos, que no fim do Im
garem o Condado , que sempre da erio erão talvez os Regedores Ci
qui se lhe pagou. Doc, dos Gra vís de huma Provincia, forão desco
cianos de Coimbra. No de 1513 re nhecidos desta Nação, que reputou
formou El-Rei D. Manoel o Foral, sempre os Condes, e os Duques por
que a Rainha D.Thereza havia dado juizer , e Generaes natos dos seus
á Terra de S. Martinho de Mou districtos. E daqui veio traduzir-se
ros junto a Lamego, nelle diz: que no Fuero fuzgo o Comites, e Du
no rio Douro ha huma Assudada , ces , por Senhores do Exercito , da
em que ha quatro Ninhos, ou Ca Cidade, da Terra. Porém nos Oficios
maes: e que de dois destes # Palatinos admittítão os Godos mui
todos os dias por Direito Real, dois tos Condes, v.g.:
peixes dos melhores, que sahem, Comes Cubiculariorum, o Camarei
hum de manhã, e outro á tarde, ro Mór. -

ou á noite: e a este Direito chamão Comes Notariorum, o Cancellario,


Condado. Doc. das Salzedas. . ou Chanceller.
CONDÃO. Prerogativa, excel Comes Patrimonii , o Mantieiro,
lencia, privilegio. ou Mordomo Mór.
CONDAPNAMENTO. Con Comes Scantiarum, o Copeiro Mór.
demnação, censura, desapprovação Comes Stabuli , o Conde-stable,
de alguma cousa, detrimento, que hoje Estribeiro Mór.
se faz a hum negocio pelas sinis Comes Spatariorum", seu Armige
tras informações, que delle se dão. rum, o Capitão da Guarda Real.
Se falára alguem com ele em conda Comes Thesaurorum, o Intendente
pnamento deste ,feito. Doc. de Tarou do Erario. Estes, e outros Condes
ca de 1335. •

Palatinos se achão entre os Godos


CONDARIA. O mesmo que com exercicio, e não só Titulares.
(Condado. V. Apeiro. CONDE Palatino. Achão-se al
CONDE. No Codigo Wisigo uns Documentos do Sec. XIV., e
thico se faz larga menção de Con V., pelos quaes se evidencía ha
des, e Duques; porém aquelles Bar ver entre nós Condes Palatinos. Em
baros Septemtrionaes não entendião, hum Instrumento, que da Torre do
ou tomavão cada hum destes Titu Tombo se tirou no de 1491 com
los por hum Chéfe Militar, separa a Fundação do Mosteiro de S. Salva
do inteiramente do Foro Civíl; mas dor da Torre, junto a Vianna do Mi
sim por hum Governador das Armas, nbo, consta, que no dito anno ti
e ao mesmo tempo Regedor das jus nha este Titulo o Doutor Vasco
tifas. A distincção de que o Duque Fernandez, Guarda-Mór da Torre
presidia a toda huma Provincia, o do Tombo. Doc, de Cucujaens. Re
Conde porém a huma só Cidade, sende de Antiq. L III. f. 2o2. da {

*#•
CO /CO 3oI
de Coimbra de 179o, attribue a ori Reis a quem lhes agrada: o Titu
gem dos Condes Palatinos ao Se lo está na Casa de Cadaval.
nado domestico, que o Imperador CONDESAR. Guardar. Daqui
Hadriano creou no seu Palacio, que Condessa , ou Condessilho : aquillo,
pelo acompanharem, foi dito Cesa em que alguma cousa se guarda.
ris Comitatus. E os taes Senadores CONDESSILHO. O mesmo que
Comites Palatini. Em Portugal foi Deposito , segundo Duarte Nunes
costume dar-se aos Lentes, ou Dou do Lião. s…
tores Jubilados. Entre muitos que o CONDIÇOAR. Metter, ou pôr
tiverão , foi o Doutor Rui Lopes condições em algum contracto. Em
de Carvalho, I. Fundador do Col prazamos , e Condiçoamos, Doc, de
legio de S. Pedro da Universidade Pendorada de 1314. * *

de Coimbra, e ao depois Bispo de CONDOITO. O mesmo que


Miranda. No Trid. Sert. 24. de Re Conduto; isto he, carne, ou peixe,
format. se limitão os Privilegios aos ou qualquer outro manjar, que se
Condes Palatinos. Bem póde ser, que come com pão. Doc, de Tarouca do
estes Condes Palatinos fossem crea Sec. XIV.
dos pelos Romanos Pontifices, com CONDUCTAR. Dar de comer
mais honra, que proveito. Ou tal largamente, não só pão, mas tam
vez forão chamados entre nós Con bem carnes , e outras cousas, que
des Palatinos os que residião no Real com elle se comão. No Foral das
Palacio, servindo a Magestade em Estremaduras dado por El-Rei D.
qualquer Oficio, ou Ministerio, e Fernando, o Magno, adoptado por
principalmente os que erão emi El-Rei D. Afonso Henriques , e
nentes nas Leis, e julgavão, e de confirmado por El-Rei D. Afonso
cidião na maior alçada em todas as II. de 1218 se determina , que se
causas, que ao Paço por qualquer pague a Parada ao Rei: Et cum ip
modo erão levadas. A estes chamá so Rege , vel cum Vicario suo, uma
rão Sobrejuizes, e no seu lugar suc Pice in anno currere montem; Óº quan
cedêrão os Desembargadores do Pa tumcumque invenerint , sive carner,
ço. Tambem os Escrivães da Puri sive pelles , totum erit de Rege, aut
dade se podião chamar Condes Pa de suo Vicario. Et ipsa die, quando
Iatinos; porque In specialissimo Re currerint ad montem, ipse Rex, vel
gum erant obsequio. Ficarius ejus, debet uma vice in die con
CONDE-Stable. El-Rei D. Fer ductare ipsos homines, qui cum eo cur
nando no de 1382 creou esta Di rerint ad montem. L. dos For.Velhos.
gnidade em Portugal, e o primei CONDUCTEIRO. Criado, ser
ro que a teve foi D. Alvaro Pires viçal, que está alugado com al
de Castro, Conde de Arrayolos, Se guem, e serve por preço sabido, e
nhor de Cadaval, e outras terras, soldada certa. Qui conducterio alieno
irmão da Rainha D. Ignez de Cas mactaverit : suo amo colligat homici
tro , mulher d'El-Rei D. Pedro. dio, & det VII, a Palacio: similiter
Continuou-se depois em D. Nuno de suo Ortelano , Óº de Quarteiro ,
Alvares Pereira, e seus Descenden é de suo Monleiro, Óº de suo Sola
tes. O exercicio deste Oficio, que rengo. Foral d'Evora de 1166. Liv.
entre nós cra Militar, dão hoje os dos For. Velhos.
CON
3o2 CO CO
CONDUCTEREIRO. O mes CONFESSOR. I. Assim chama
mo que Conducteiro. No Foral que os mos hoje ao Sacerdote , que tem
Templarios derão a Castello Bran faculdade para ouvir a Confissão do
co no de 12 13. lêmos o seguinte: Penitente , e dar-lhe a Absolvi
qui condúctereiro alieno matar : suo #
Sacramental dos seus peccados.
amo coligat homicidio; &" septem a 1gualmente chamamos Confessor a
Palacio. "Similiter de suo Ortelano, & hum. Santo , que depois de huma
de Quarteiro, & de suo Moleiro, Óº vida irreprehensivel, com que deo
de suo Solarengo. Doc. de Thomar. fim aos seus dias, mereceo ser es
CONDUCTO. O mesmo que crito o seu nome em o Catalogo
Condajto! Totum pannem de Heremita dos Santos. Porém antigamente ex
mandat Fratribus de Heremita pro Cen citava a palavra Confessor idéas mui
ducto, Testam, de D. Pelagio, Bis diferentes, v.g.:
po de Lamego de 1246. Este Mos CONFESSOR. II. O Martyr,
teiro, ou Convento da Hermida ficava ue até o fim da vida , e a pezar
perto de Castro-d'airo, e nas margens os tormentos, confessou constante
do Rio Paiva: he hoje Igreja Pa a Fé de Jesu Christo.
rochial, e se chama a Hermida. V. CONFESSOR. III. O que pa
Dinheirada. deceo tormentos pela Fé, suppos
CONDUCTURIA. Todos os to que ficando com vida, acabasse
manjares, mantimentos, e iguarias, em paz a carreira de seus dias.
que se comem com pão. Ainda ho CONFESSOR. IV. O Cantor,
je
achatem
no uso palavra que já se que na Igreja de Deos se occupa
estaIII.
Seculo • •

va, na entoação dos seus Louvores.


CONECER, Conhocer, Cono Este era hum gráo, ou mais bem
cer, e Cunucer. Conhecer, saber, Oficio , que na Igreja era admit
estar certo, não duvidar. Doc. das tido depois dos Ostiarios.
Bent. do Porto do Seculo XIV. Da CONFESSOR. V. O que aban
qui: Conhorção: cunufuda cousa, & c. donando as cousas do mundo , se
# CONFESSA. A Monja, ou Re recolheo no Mosteiro a fazer hu
ligiosa, que desenganada do mun ma vida mortificada , e penitente,
do se determina a passar o resto da debaixo da obediencia de hum Su
sua vida na Confissão , ou Peniten perior legitimo, até o seu ultimo
cia , como antigamente chamavão suspiro; o que sem dúvida he hum,
ao Mosteiro. No T. VT. de Yepes Martyrio, tanto mais rigoroso, quan
pag. 17. se lê o seguinte Epitafio: to mais dilatado. Nem obsta, que
In hoc recluso Lapide requiescit fa em alguns Documentos se acha Fra
mula Dei Ildontia defunta, Confessa, ter, & Confessor, ou Confrater, &"
septimo Kalendas Septembris MEra ceu Confessor ; por quanto aquelle Et,
tessima prima post millesimam. he endiádis, ou explicação mais in
CONFESSO. Mºgº Doc. de teira, e completa da palavra, e ter
Pendorada de 1 1o7. Confessor, mo precedente: além de que podião
e Confissão.
Confessos E tambem se disserão ser Frades , e Confrades sem serem
os Conversos. • •

Confessores: estes tinhão voto de es


CONFESSORA.V. Confessor III. tabilidade, o que não era indispen
Acha-se no V. Concílio Tolt. de 636. savel nos que simplesmente erão Ir
mãos,
CO CO 3O3 -
mãos , ou Frades. Na Dôação do quando já efectivamente se desap
Mosteiro de Bagaúste , junto ao propriavão das suas cousas a bene
Douro, no Territorio de Temilobos, ficio dos pobres, e obras tão pias.
não longe de Lamego , feita pelo Igualmente podemos dizer, que não
Monge Christovão ao Mosteiro de apparecendo em Lorvão vestigio al.
Lorvão, e aos que alli em vida San gum da observancia da Régra de São
na perseverassem, sendo Abbade D. Bento até º dito anno de 1o5 1, os Mon
Primo , no de 97o ; o Doante se ges daquella casa poderião adoptar
intitula Christoforus Confessor. L. dos algumas das muitas Regras, em que
Testam. de Lorvão N. 56. E logo o Voto da Pobreza não fosse tão
em o N. 57. se acha a Escritura, pe essencial, que não podéssem os Mon
la qual D. Muna, Mãi de Fr. Chris ger, e Monjas, Frades, e Freiras,
tovão faz , quanto he da sua par: administrar os seus bens, e dispôr
te, nova Dôação do dito Mosteiro delles, com licença porém do Bis
de Bagaúste, e suas pertenças, ao po, Superior, ou Prelado, em cu
Mosteiro de Lorvão: e isto para re jas mãos fazião os Votos de Obe
medio das almas dos seus defuntos: diencia, e Castidade, mas não de
Et pro memoria dominissimi mci, Do absoluta Pobreza , e de Residencia,
mini Veremudi dive memoriae , seu ou Clausura no Mosteiro. Até os fins do
é º nostra. Feita no de 973. Nella Sec. XIV. se achão repetidos factos,
confirmão entre outros grandes Se que nos certificão desta Disciplina.
nhores, El-Rei D. Sancho, e São &##
todos os Canonistas explican
Rosendo Bispo, e logo: Ego Chris do o Titulo qui Clerici, vel voventes,
toforus Confessor , quod Domina mea Cap. Consuluit, e Cap. Insinuante,
fecit , mibi placuit , Óº confirmavi. se lembrárão della. Veja-se Berardi
No mesmo Livro dos Testam. N. 6. in Jus Eccles, T.IV. Diss. II., e tam
se acha a larga Dôação que Ender bem a Hist. Eccles. Lusit. T.III, Sec.
kina Pala fez ao Abbade Primo, e XII. Diss. I. V. Babilom , e Deo
seus Frades : e isto para remedio J'ota. E finalmente de hum Instru
de su' alma, de seus Pais, e Avós, mento dado por Certidão da Tor
e tambem para conservar a peren re do Tombo, sendo o Doutor Vas
nal memoria: De viri mee piaº Me co Fernandez Conde Palatino, do Con
mori e D. Suario. Foi feita no de 976, celho d’El-Rei, Chronista, e Guarda
e entre as mais testemunhas se acha: Mór da dita Torre , no de 1491.
Teodilla Confessor de Cella Nova. Em -(o qual se acha no L. das Doaç.
o N. 37 do mesmo Livro se acha a de Cucujaens a f. 12.) consta, que
Dôação de certas vinhas em Villa o Mosteiro de S. Salvador da Tº:
Cova, que ao mesmo Mosteiro fez <re, junto á foz do Lima, fora fun
no de Io5 1. Alderano, que se in dado pelo Capitão Pelagio Vermu
titulou deste modo: Ego exiguo Con -diz, vindo com outros Capitães da
fratre, Domini servo, Ilderani Con -sua geração correr , e expulsar os
fessor. Nem destas Dôações se infe Ismaelitas da Terra d’entre Minho,
re, que estes Confessores não elão 2 e Douro, no de 1o68. Depois dis
-Monges , porque tinhão, e dispu to Ordonho Frater. Óº Confessor, e
.nhão de bens temporaes; porque da geração do Fundador, achando-o
bem se pudéráo intitular assim, ruinoso o reedificou , congregou
OIl
3O4 CO CO

Monges, e fez Sagrar a Igreja por depresso, accipere Confessionem , &


D.Jorge, Bispo de Tui no de 1972. tradere memet ipsum, corpus, Óº ani
CONFISSÃO, I. A manifesta mam meam in ipso Sancto Caenobio,
ção humilde, e pezarosa dos seus sive & tibi Patri meo Primus Abba,
peccados, que o penitente faz Pê vel Sanctae Regulae vestre, Sama men
rante o Confessor, ou Ministro da te, integroque Consilio, nequando mi
Reconciliação. Difere a Confissão da hi repentina subripiat mors. Livro dos
Exomologése: em que nesta se ma Testam. N. 49. Achão se quatro
nifestão os peccados, já sabidos por Reis confirmando nesta Dôação, que
aquelle, que os ouve, ou seja Deos, são Vermudo , Ramiro, Ordonho, e
ou seja homem: mas naquella, re Sancho. Ha fundamento de presu
ularmente fallando os ignora o mir, que este Fr. Gundesindo seria
#, que tem poder de os ao depois Bispo de Coimbra; pois
ouvir, e absolver. segundo os Dec. de Lorvão, alli
-

CONFISSÃO. II. Mausoléo , apparece hum deste nome em o de


Cenotafio, tumulo, ou sepultura de 933.
algum Martyr: o Altar, a Basilica, " CONFISSÕES. Todos, e quaes
ou Oratorio consagrados ao Culto quer emolumentos , ofertas, ou
do verdadeiro Deos. dons gratuitos, que os Sacerdotes
CONFISSÃO. III. O lugar, ca recebião por ouvirem as Confissões
sa, ou peça separada , em que as secrétas dos Penitentes, ou pelos re
Confissões auriculares dos peniten conciliarem com a Igreja, quando
fes se fazem. E como talvez as Sa a Penitencia publica, ou exomolo
cristias servião algumas vezes para gési tinha precedido na fórma dos
nellas se administrar o Sacramento §g" Canones. Pareceria incri
da Penitencia, por isso igualmente vel, a não constar por innumera
forão ditas Confissão , e Confissões. veis Documentos dentro, e fóra de
He notorio. …" Portugal , que desde o Seculo X.
CONFISS ÃO. IV. O mesmo que até o XV. chegasse a tanto a co
-Profissão , modo de vida, occupa biça dos Ecclesiasticos, que repar
-ção , como se diz in leg. 4. Cod. tissem por dinheiro, ou o seu equi
-Theod. de Maleficis : Augurum , Óº valente, os Dons de Deos, fazendo
Vatum prava Confessio. Daqui viria da Piedade grangearia sordida: e is
a chamar-se: … ___ ._ . "…
to quando já embolsados dos Dizi
CONFISSÃO. V. A Profissão Re mos de todos os fructos, não de
ligiosa, e Monachal, que devia ser fºi? sómente das Oblações dos
huma vida de lagrimas, penitencia , Fiéis. Porém tudo frisava com a ig
-e compuncção, não largando senão ºnorancia feia, que naquelle espaço
por morte o rigor; e aspereza des de barbaridade tolerou nos seus Fi
tas armas. Em o de 919 fez Dôa lhos a Igreja Santa, até que melho
ção ao Mosteiro de Lorvão de tu "res luzes do alto desterrárão tão gros
do o que tinha na Villa de Gonde seiro abuso para as cimirias sombras
lim, vel Palatio, o servo de Deos º da vergonha, e confusão. Oh! E
Gundesindo , e nella diz : Placuit haveria ainda hoje quem repetisse
<mibt proprium Votum Domino Jesu inpunemente hum erro tão infame,
: Christo voventem, peccatorum. molem e huma abominação tão digna dos
maio
CO >
CO 3o5
maiores desprezos, e castigos?..V. CONHO: V. Caunho, e Cunho.
Clerigo VI. CONJECÇÃO, Condição, clau-:
CONFISSÕES-Dar.) Á Confis sula, pretexto. V. Conveniencia. … :
são reciproca, que nas Horas Cano CONIEYTO, Authoridade, per
nicas de Prima, e Completas, e ou missão tacita, licença. Perece vir do
tras Funções Ecclesiasticas fazem os Latino Conniveo; fazer a vista gros
Clerigos, e Religiosos, chamárão sa, dar a entender que não vemos,
Confessiones dare. E isto diariamente se nem sabemos de alguma cousa. Le
pratíca entre o Celebrante da Missa,cença , e Conieyto, Doc, das Bent.',
e o Acolytho, ou Acolitos della. do Porto de 1 295. . . .

CONFISSÕES-Cumprir.) Esta CONOCENÇA. Reconhecimen


frase da nossa Ordenação L. I. Tit. to, ou Confissão. Doc. de Pendo
62. S. 41 , ou se entende do Sala rada de 13o8. -

rio, que se deixa ao Sacerdote pa CONO, Conos. Orthografia do


ra confessar : ou da Confissão § Seculo XIII., e XIV. que hoje se
cramental, que o Administrador da tornou mal sôante. Era como se dis
Capella devia fazer em certos dias: sessem : Com-o, e Com-os ; porém
ou da lembrança , rol, e aponta naquelle tempo reputavão por Eufo
mento das suas dívidas, que aquelle, nia o mudarem o m em n, e pronun
que morreo ab intestato tinha feito, ciar juntamente com ele as particu
e as quaes os seus herdeiros tem obri las, ou pronomes o , e os... …
gação de cumprir; porque he Con CONPRIDO, V. Comprido, º
.fissão ingenua da parte, ou devedor. CONQUEIRO. O que faz ti->
CONGEITO. Faculdade, licen gelas (a que chamavão Concas, ou º
a, consentimento. Cancas) e outros vasos de páo , á
|

CONHECEDOR. O que co diferença do Olleiro, que os fórma


nhece bem a qualidade, e estado de barro. No Foral, que El-Rei
de hum rebanho, ou vaccada. Es D. Affonso II, com sua mulher , e
te era inferior na Soldada ao Ra filhos deo aos Povoadores de Seba
badam. E tambem havia Conhecedor delhe no de 122o se diz : Olleiro
dos porcos. Mandamos que a todolos de III, cozeduras det duas ollas, pri
alganámes , os que com Senhores mo mam grandem, Óº aliam parvam. Con
rarem ao rabadam , dem por soldada queiro , det pro uno anno, inter con
XX, cordeiras , e VIII. marav.: E cas , & vasos , XII. Pelitarij, in
outro si , que dem ao Conhecedor , e ter duos, unum mantum de foro. L.
ou Pousadeiro , e aos outros milhores dos For. Velhos. |

mancebos da pousada a só estes, dem CONREARIA. V. Conreario. .


em soldada VII. marav., e XV, cor CONREARIO, ou Conreeiro.
deiras... It: mandamos, que dem em Conego , que entre os Regrantes
soldada ao Alfeireiro , e ao Conhece tinha a seu cargo tudo o que per
dor dos porcos : a cada hum delles tencia aos Conegos, e sua meza em
PTI, morab., e II, porcas , e bum commum. O seu Oficio, e Ofici
marrão, e VII. leitigas, e aos man na se chamava Conrearía, ou Oven
cebos da pousada dem a elles em sol fa da Conrearía, Doç. de S. Vicen
dada des i a jouso, em como o me te de fóra. …" , ! , : -

terem. Postur d'Evora de 13o2. " CONREEIRO, V. Conreario. .


Tom. I. Qg CON
396 CO. CO
QQNSCIENCIA estenduda. Lar CONTENENÇA. Cortezia ,
ga, libertina, e mui pouco escru moderação, e continencia de pala
pulosa. Tragem áá dita Cidade peça vras, e acções.
de vinhos , e os alcaldam , e desem CoNTER# OR. O mesmo que
bargam per si , e per outrem, ssol Contendor , e Reo. No Cod. Alfons.
tamente, com consciencias estendudas; L. III. Tit. 17. se trata do Author,
dizendo que som de sua colheita : e que que não compareceo ao tempo, pe
algums os tirão pera seu beber, e de ra que citou seu contentor.
pois os vendem, como se fossem de ssa CONTER. Sustentar, manter»
colheita. Carta d'El-Rei D. Pedro dar o preciso, e necessario para os
I., de 1358. Doc. da Cam, do Porto. usos da vida, segundo o estado,
CONSELA. Pixide, boceta, cau e condição das pessoas. No de 1 171
cela, pequeno cofie, ou baúzinho, renunciou Theieza Soares a maior
em que se guardava o Santissimo parte de seus bens em beneficio de
Sacramento do Altar. Huma Consela seu irmão D. Pelagio Romeu , o
pintada, em que se tem o Corpore Chri qual em agradecimento se obriga:
sti... Doc. do Sec. XIV, . Ut contineam vos, Óº darem vobis una
CONSIGUIDOIRO, O que con Maura, Óº in uno anno uno mantu,
segue, ou póde conseguir, e alcan & in aliu uma pele, Óº in altero una
çar alguma cousa. In no Nome da saia. Doc, das Bentas do Porto. No
Santa Trindade , Padre , é Filho , e de 12o1 o Abbade Tonquidi fez
Spirito Santo, Amen. Parque Deos to hum larga Dôação aos Monges de
:
do Pºderoso, Direito juiz, encomen Bostello, e nella díz, que deixa ao
deu a todolhos usantes. Poderio na ter Prior deste Mosteiro o seu Peculio:
rá , reger º poboo, a fºy fometudo, Ut me de meo proprio contineat, per
en iustifa, e en ygualdade, assy co auctoritatem Abbatis. Doc. de Bos
nig o leem em Salomom: Amade ius tello. •

tifa aqueles, que julgades terra: Pa CONTIA. Certa porção de di


rem eu Meestre Gaudin, ensenbra com nheiros , com que a generosidade
or meas Freires, encinado pela mercée dos Reis antigos honrava os seus
de Deos, enduzemos de necessidade re Nobres, e Fiéis Vassallos, que no #

mover as injurias, e as roubas do po Palacio , ou na Campanha os ser


bag, fuiiigado anos; confirantes mayit, vião. A esta Contia chamárão pri
e melhor eu saude das almas, cá em meiramente Maravidis, e era de ta
ganha, e prol das couras temporaes, manha estimação, que apenas nas
seermos consiguidoiros. Por ende en a cia hum filho a algum Fidalgo, lhe
terra sóá nosso Poderio stabeleçuda, mandava El-Rei com a Carta da
taes damos degredos, For, de Tho Contia pedir alviçaras, que ele sa
mar de 1174. __ tisfazia com a pendurar no peito da
CONSOLAÇAO. Collação, con criança, como primeira Insignia da
soada, pequena refeição, que o uso sua Nobreza. Daqui veio multipli
introduzio á noite em os dias deje carem-se as Contias sobre modo, até
jum. Doc. de Villa Real de 1529. que El-Rei D. Fernando, para evi
CONSTA , Constãa, e Costãa, tar tamanha despeza, mandou, que
Ladeira, cósta, subida. E parte do se não désse a Contia, senão ao fi
Kendaval com a cantãa do monte. lho mais velho do Fidalgo V#
<<
o;
>

CO CO 3o7
lo; e que só em caso que morres Convenção , que os de Bragança
se o mais velho, succedesse nella o tinhão feito com os Judeos daquel
mais chegado. El-Rei D. João I. la Terra , para que estes não pu
não deo Contia aos Fidalgos , mas dessem levar mais que o Terço nos
sómente Soldo, até que, seguro já Contrautos burureiros. E isto porque
no Reino , pôz de Contia a cada assim o julgárão utilidade grande da
Fidalgo mil libras, para a lança da fº/"/"4. • .

sua pessoa , e para cada hum dos Tão acautelados erão como is
que o seguião, 7oo: e que o filho. to, os nossos Augustissimos Sobe-.
não houvesse Contia, em quanto não ranos, que não permittião contratas
podésse servir; mas sempre lha as sem os seus Vassallos com aquella
sentavão mais pequena , que a do gente perfida, e refractaria. E com
Pai , para dar lugar aos accrescen efeito, que verdade pura, e since
tamentos ordinarios. Daqui se dis ra, se podia esperar de huma Nação
se Vassallo Acontiado. V. Acontiado. amaldiçôada do Ceo, desamparada
CONTINENCIA. Alimentos , de Deos , empregada só nas cou
sustento, subministração de todo o sas da terra, e inimiga capital do
preciso, e necessario, ou daquillo, Nome Christão?... Mas hoje, as
que entre as partes se ajusta. Vem sim como sempre, não era justo in
do Latino Contineo. He do Seculo volver na mesma infamia os que li
XIII., e XIV. - - -
vremente abraçárão a Lei de Jesu
CONTRA-Cyma... Para cima. Christo, e se ajuntárão de todo o
Doc. de 1445. : ; coração, e como verdadeiros Israe
CONTRADIZIMENTO. Con litas ao Povo de Deos... Sem li
tradicção Do Sec. XIII. ºs eença Real pois, não contratavão os
CONTRAFUNDO. Para bai Judeos neste Reino; isto he, os Ju
xo , ao sopé. - Doc. das. Bent. do deos, que públicamente professavão
Porto de 1445. : - * * * *
a Lei de Moysés, e como taes não
CONTRAYRO. Contrario. Doc. erão baptisados, nem filhos da Santa
de 1 318. - Igreja. No de 1422, o Ven. D. Nuno
CONTRAMUDACAO. Escam Alvares Pereira, havendo consegui
bo, troca. Doc. de Pendorada de do licença d'El-Rei, aforou a quinta
. I Io7. •

de Camarate, que era do Patrimonio


CONTRAUTO. Contrato. Doc. do seu Convento do Carmo, a Da
das Bent. do Porto de 1337. vid Gabay, judeo de Profissão. Mas
CONTRAUTO com os Judeos. ainda assim diz a Carta Régia: que
De huma Carta d'El-Rei D. Affon os Contrautos fossem chams , e sem
so III. que se guarda original em clausulas, por onde elle pudésse adqui
Portuguez, datada no de 1278, rir algum Direito, ou justiça. Doc.
entre os Doc de Bragança, se ma do Carmo Calçado de Lisboa. En
nifesta, que os Judeos desta Cida tre os Prazos de Almacave se acha
de commettião grandes usuras, e hum, feito a jzace Filo, Judeo, e
enganos nos Contrautas, que fazião a sua mulher Sol, no anno de 1418;
com os moradores della, e seu Ter e delle consta , que este Judeo mos
mo, Depois em o anno de 1368 trou huma Carta d'El-Rei, para po
El-Rei D. Afonso IV. confirmou a der contrautar com os Christãos : e
Qq ii que
3o8 CO CO •

que jurou, não em a Lei de Chri do Bispo de Lam. de 1334. Doc.


d'Almacave.
sto, mas sim em a Lei de Moysés.
Está em o Mass. 27. N. 8. CÓONA de manteiga. Bica, ou
CONVENIENCIA. Convenção, ão de manteiga, que ainda hoje
contrato, ajuste. Por hum Doc. de # muito usado na Provincia do Mi
Grijó de 1 133 Rodrigo Gonçalves, nho. Da sua figura conica, e pon
e sua mulher deixárão por sua mor tiaguda tomou este nome. No de
te todos os seus bens: Pro taleran 12õo renunciou Mendo Dias a Ma
tia Canonicorum, vel quorumlibet Or ladía , que tinha nas herdades do
dinis ibi babitantium, ó" in Vita San Mosteiro de Pedroso, com obriga
cta perseverantium: tali Convenientia; ção de lhe darem em dias de sua vi
que o sobrevivente os possuiria em da , além de outras foragens: Una
sua vida: e se algum dos seus pa spadoa, Óº uno cordeiru, Óº duos ca
rentes quizesse viver nas taes fazen seos , Óº uno ladu, Óº duos capo
das lhe seria licito ; red tali Conje nes, Óº uma códna de manteiga, ó"
decem ova. Doc. de Pedroso. Pelas
ctione, que pague annualmente o
quarto ao Mosteiro. - -
Inquiriçº d’El-Rei D. Afonso III.
CONVENTO de Frades. Ajun se achou que os Freguezes de São
tamento, Assemblea, ou Meza de Salvador de Pena-Maior , no Jul
huma Confraria, ou Irmandade Se gado de Refoyos de Riba d'Ave,
cular. No de 1 184 Pedro Agulha; pagavão ao Mosteiro de Aguas San
e Martinho Perne, dôárão a Lorvão tas annualmente dois quarteiros de
hum terrado, ou chão na Cidade de pão per pequenam, hum cabrito, hu
Coimbra : e isto foi cum Conventu 1T131 B# , Óº unam columpnam buti
Fratrum S. Juliani, º Doc. de Lor ri. Daqui se vê, que esta columna
vão. E aiii se acha outra Dôação de de manteiga era a códna , bica , ou
huns moinhos, que do Oriente par pão de manteiga cm fórma cilin
tião cum Confraria S. juliani. . . drica, ou conica, segundo o gos
CONVINHAVILMENTE. Or to, ou habilidade de quem a fazia.
dinariamente, pelo commum. Porque Nas visinhanças da Cidade do Por
he do nosso Oficio tirar as discordias to se chamou, e ainda hoje se diz,
d'antre os bomens, e formalos em paz, Fazedura de manteiga.
e assocego: consirando outro si os an COR, Vontade, graça, bom
nos como som minguador: regramos termo, humanidade. Como o Abbade
todo esto pela guisa, que se ao diam de S. Miguel de Borba de Godim ex
te segue: Quando o pão valer atá dia quivasse bum dia peitar Colheita, e
de S. Miguel de Septembro convinha Albergagem com boa côr, e franque
vilmente em Lamego a teiga mais cá za a D. Gomes Mendes Gedeom, por
meyo maravidi: que lhir dé o dito trager muita gente em saa companha.
Dayão nove mayor de centeo , e nom Fundação da Igreja de S. Miguel
de Lobrigos , passado n’hum Ins
lhis seer mais theudo esse anno a dar.
E se valer a teiga do pão atá o dito trumento de 1 191, requerido antes
dia convinbauilmente meyo maravidi, de 1 19o, por D. Martinho Pires Bis
ou meyos do dito meyo maravidí: Dar po do Porto, o qual se acha nas In
lbis os ditos XIII. moyos, e tres quar quirições d'El-Rei D. Afonso III.
teiros. Sent, do Ven. D. Fr. Salva CORBO. O mesmo que Cobro.
* . |

CO
CO CO 3o%
CORAGIOSO. Respeitavel, lar o mais a uso do nosso Couto. Não he
o, magnifico, espaçoso, obra em logo o mesmo Spadoa que Corazil;
m de hum animo liberal, e gran pois em lugar dos Corazis he que
de coração. Aprouge ao Padre Santo se estipulárão as spadoar. O certo
a tal razom, e mandou-la; com con he , que esta pensão de carne de
difom, que figesse outra Igreja mayor, porco variava muito , segundo os
e mais coragiosa ao mesmo Santo Ar usos, e contratos, e não se póde
chanjo na quel, ou altro melho para afirmar com certeza hum, pezo, e
deiro , que el trovasse na ra terra, figura delles, que fossem geraes,
e le doasse mais averes, e berdamen e costumados em todo o Reino.
tor, que a colantra avea de primeiro. . No Foral de Sabugosa, que he
Ibidem. do Mosteiro de Lorvão , onde se
CORAZIL , ou Gorazyl, ou guarda, dado por El-Rei D. Ma
Goarazel , ou Guazel , ou Cobra noel no de 15 14 se diz: Pagam mais
zil, e Corrazil. Com toda estava quaesquer moradores nos Lugares das
riedade se escrevia esta parte de Pen Sabugosas, se matarem porco macho,
são nos antigos Prazos, e Foraes. hum Guorazel , a saber: Cortado ho
Segundo as Escrituras das Salzedas porco pollo_meyo, e fendido, toma-se
de 1466, e 1481 o Corazil deve ter d'ametade daquelle porco huum pedaço
duas cóstas, da pá do porco ate a ca contra o rabº, donde tomam huma me
beça, e pezar 14 arrateis. Porém no dida de (4outo : e dali correm contra
Foral, que El Rei D. Manoel deo af, costar, ate chegarem na segunda
ao Couto das Salzedas no de 15o4, costa, contando a mendinha: e cortam
fallando dos vinte Moradores, da por aquelle direito da medida grande,
Granja Nova , diz , que além do e pequena a cordel direito: e váquillo
quarto de pão, vinho, linho; e le chamam Goarazel. A qual marca fica
gumes, pagará cada bum huma er demarcada na parede da Igreja do seu
padoa de porco, a saber, todo o quar Lugar, a que chamão S. Mamede,
to dianteiro com doze cóstas, que he (que he, hoje, e era naquelle tem
mais que quarto; e não serão obriga po, huma pequena, e insignifican
dos de darem do milhor porco, que ma te Capella, e toda a Igreja daquel
rarem, mas dalo-bão de qualquer por la Villa , em que apenas caberáó
co arrezoado : com tanto, que o dito quarenta pessoas.) E por ella man
quarto passe de 2o arrateis, e não pas damos , que todallas da Comarca se
so de 27. E quem não tiver porco pa julguem. De porca femea não se paga
gará 2o arruteis a dinheiro. Doc. da Gorazyl, que aqui chamam Goarazel,
Salzeda. Este Foral refere-se ao an nem outro foro; salvo se a porca for
tigo Prazo, que o Mosteiro fizera capada na cama ; porque se a depois
com os 21 Moradores da Granja No caparemº, não se pagará Guazel de
va no de 1295 , que alli se guar la: e da capada na cama pagaráõ co
da Original , e nelle se declara, no de porco. A Marca , e Figura,
que a Pensão seria : senhas spadoas que no cunhal direito da Capella
de porco de 12 costar, pelos corazis; de S. Mamede se acha desde o tem
e senhos cabritos vivos, e dour capoens; po do Foral, he a seguinte:
e vinte ovos; e senhas pernas de car
neiros ; e senhas soldadas de pam; e

>_
CO
bel D. Nuno Alvares Pereira havia
dado ao seu Convento do Carmo
de Lisboa, se diz, que todo o ren
dimento de tão copiosas fazendas
erão 3oo Coroas d’ouro, que são da
a saber: sinco palmos largos da par nossa moeda presente 64@8co réis;
e tal era a renda annual de huma
te de cima : quatro palmos, e tres
dedos largos pela parte debaixo: casa tão Realenga. Ainda assim era
hum palmo largo de alto. Os sin cousa, mui grandiosa para aquelle
co palmos são da parte da barri tempo: o que se manifesta bem das
ga ; ficando a parte mais curta da quarenta
dou dar
varas de linho, que man
annualmente a cada Reli
suãa. A letra A. denota a linha,
que deve separar o Corazil do pre gioso, as quaes pelo tempo adiante
SUI1tO, • " * ". " " … commutárão em quarenta vintens, pa
… CORDOAJAMENTO. Corda ra com elles melhor se governarem.
me, e todo o fio, que se emprega E daqui ficou o uso, que hoje mes
em cordas , e enxarcias de "hum mo: se conservas, de se darem só 8oo
navio, ou qualquer outra embarca réis a cada Frade para roupa de li
ção. Nom nos paguem daqui em dian nho. Doc. do Carmo Calç. de Lisboa.
te os 5o réis por quintallº de Cor A Rainha D. Isabel, mulher d'El
doajamento. Carta d'El-Rei D. Afon Rei D. Afonso V. fundou de no
so V. de 1471. Doc. da Cam, do vo o Oratorio de S. Bento de Xabre
Porto. … : * \; \, v \ \ …" º , , , , … gas, e o deo aos Padres Loyos, que
CORNU. Carta , ou Escritura, então chamavão Conegos Azuis de
* * * * * *
V. Alvende º , * ** ', S. João Evangelista, aos quaes dei
COROA. Moeda d’ouro , que xou, por sua morte 28d)ooo Coroas #

fez lavrar El-Rei D. Duarte. Ha de ouro. Arch. deste Convento, a


via Coroas Velhas, e Coroas de Fran que hoje chamão o Beato Antonio.
fa. Até o tempo d’El-Rei D. Ma º COROÇA, e Croça. Assim cha
noel" valêrão estas 216 réis ; mas mão hoje em algumas terras de Por
no seu Reinado forão reduzidas ao tugal a hum albernóz, capa, ou cas
valor de 120 réis, e assim perseve sacão de junco, ou palha. Mas an
rárão até El-Rei D.Sebastião, em tigamente se chamava Coroça o Ba
cujo tempo se acabárão." Nas Cor culo Episcopal, a que na Baixa La
tes d'Evora de 1481 "declarárão os tinidade disserão Crocia. Daqui se
Povos, que huma Coroa valia 12 o disse: Ter hum Beneficio em Coroça:
réis. E no tempo d’El-Rei D. Af Tello com Titulo Juridico, e Ca
fonso V. huma Dobra, (que erão nonico, e ser nelle collado, e ins
duas Coroas) valião 23o réis, e por tituido pelo Bispo. Beneficios Enco
conseguinte só a Coroa valeria 1 15 roçados: os que estão provídos em
réis. Tambem correo esta moeda no pessoas, que nelles forão colladas
tempo dos nossos primeiros Reis; pelo Bispo. Abbadia Encoroçada: to
mas não consta, com que preço. da aquella que he de Baculo , ou
Segundo a Bulla de João XXIII. de tem jurisdicção quasi Episcopal. V.
1413, em que confirma o amplis Orofa, onde se explica, o que quer
simo Patrimonio, que o Conde Sta dizer Beneficio Encoroçado.
Em
CO CO 3 It
Em o Testamento de D. Fr. João defender dos Corredores da terra: e
Martins, natural de Valhadolid, e para isto melhor se fazer, todos fos
Bispo da Guarda em Portugal, fei sem ajudadores, assi pelºs corpos, co
to no de 13o2, que se guarda Ori mo pelos bens, sem que nenhum far
ginal no Archivo da Sé daquella Ci se escuso, nem Beneficiados, nem Cle
dade , repetidas vezes se falla em rigos ; pois be proveito comum e jee
Croça , mas sempre no sentido de ral em que todos por Direito devem
Capa de Asperges , ou Pluvial, que servir , e pagar. E pedem mesmo a
hoje se usão para reparo, e defen S. Senhoria (parece que ainda se não
são das chuvas; ministerio, que pri usava Magestade) ajuda de custo, e
meiramente tiverão os Pluviaes, an Cartas. B. El-Rei ; que pedem com
tes que á sombra dos Altares se re acordo, e que lhe será outorgado. Cap.
colhessem. . . . Espec. desembargados para Viseu
COROSIL. Especie de hervan nas Cortes de Lisboa daquelle an
ço, caniço, colmo, ou palha, co no, e dados em Carta a 5 de Ja
mo castanhol , moliço, tabúa, & c., neiro de 144o. E nas Cortes da
que se crião na Lagôa de Parámos, Guarda de 1465 requerêrão os da
que he na terra da Feira. Hião abi Cidade de Viseu: Que S. Senhoria
colher a carrega, e o junco, e a madei lhes mandasse acabar a Cerca da Cir
ra pera cobrir as casas: e que agora dade ; que estava começada : ou que
N. e N. Levão IV, IV dinheiros de ao menós lhes mandasse fazer bum Peiº
cada feixe de carrega, e do junco, e toril diante da dita Cerca, pera am
do Corosil, dos homens, que bi colhem. paro da Cidade, que já duas, ou tres
Doc. de Grijó dos fins do Sec. XIII. vezes tinha sido queimada pelos Cor
CORPORAL da Igreja. O Cor redores de Castella, e agora se temia
po, ou Nave do Templo. Retelhem de outro semelhante trabalho. Doc. de
a Capella, e Corporal da Igreja. Doc. Viseu. *

de Pendorada de 1566. - CORREDOURO. A Ordenaç.


CORPORAL. Em alguns Doc. do Reino faz menção desta palavra
fe toma Corporal por Cemeterio, allu L. I. Tit. 68. S. 41. ••

dindo talvez á sepultura dos Corpos. CORREGER por páus, Pagar,


CORPORAVIL. Corporal. He e satisfazer o crime commettido á
do Sec. XIV. -

força de paoladas , ou golpes de


CORREDORES da terra. Sol páo , em que he multado o crimi
dados, ou Paisanos inimigos, que noso. It : Mandamos, que si molher
em tempo de guerra se lanção a fa ferir outra molher , que lho correga
zer prezas nos bens moveis, ou semo por dinheiros, se os ouver: e se non
ventes dos seus contrarios, e mesmo a ouver dinheiros, por varas. It : Man
detruir as suas searas, e lavouras, e damos outrossi, que se home ferir mo
fazerem outros damnos. No de 1439 lher , ou a molher o home , que lhe
achando-se a Cidade de Viseu de correga per dinheiros, se or ouver : e
vassa , sem portas , e sem muros; se of non ouver, o bomem correga per
determinou fazer tapar algumas ruas páus, e a molher per varas. Postu
menos necessarias, e pôr nas outras ras d'Evora de 13o2. Esta era a Fur
portas firmes, e seguras; para que ta, que assim disserão á Fuste por
em occasião de guerra se podésse ser huma pena, que se pagava #
0
312 CO CO
bordoadas, ou varancadas; isto he, reparado no Espiritual, e temporal.
golpes de páos infiexiveis , ou de O qual Mosteiro be por vós fundado,
varas, que se vergavão, ou cingião e corregido. Assim consta de huma
ás carnes. E a estes golpes chama Caita d'El-Rei D. João III. de 1529,
vão Tagantes; porque mais de hu em que se acha traduzida a d'El
ma vez talhavão, e retalhavão o cor Rei D.Afonso I., na qual em Latim
po: a esta pena corresponde hoje se diz: Fundatum atque constructum,
a dos açoutes. No Foral, que a Rai a que corresponde o fundado, e cor
nha D. Thereza, filha d’El-Rei D. regido, Doc. de Maceiradam.
Afonso Henriques, deo á sua Ter CORREGIMENTO. Restaura
ra de Aurem , no de 1 18o se de ção, concerto , reparo. Por huma
termina: Pro omnes feridas, de qui Sentença das Salzedas consta, que
bus satisfacere debet , intret in fus no de 1298 o Abbade de Guiães foi
tam, secundum Veterem Ferum Colim condemnado em déz dinheiros Por
brie, aut componat eas, cui satisfa tuguezes pera Corregimento dos gran
tere voluerit. L. dos For. Velhos. Edes damnos, que tinha causado nas
no da Atouguia, dado por D. Gui Pesqueiras, que aquelle Mosteiro
lhelmo, ou Vilhelmo de Cornes, que tinha no rio Douro. Doc, das Sal
or Concessão d’El-Rei D. Affon zedas.
a povôou no seu tempo de Fran CORREIÇÃO. Antigamente se
cezes , e Gallegos, se manda que disse Corregimento o que hoje dize
toda a mulher torpe, que sem causa mos Correição , isto he, emenda
injuriar a mulher bonesta, leve sinco Vem do Verbo Correger. Em a nos
açoutes por cima da camisa. E o bo sa Orden, se toma humas vezes por
mem, que deshonestar (isto he, in todo o excrcicio da Jurisdicção que
juriar com palavra) algum bomem de as Leis Pátrias prescrevem ao Cor
bem, ou mulher honrada X varanca regedor, como no L. I. Tit. 58: ou
das recipiat. Ibidem. Nos Estatutos tras pela extensão do Termo, que
da Confraria de Santa Maria do Cas o Principe concede a cada Corre
tello de Thomar de 1388 se lê: Se gedor , para nelle exercitar a sua
alguum Confrade ferir outro Confra Jurisdicção, Ib. § 4. Na Orden, d'El
de com spada , ou com coytello, en Rei D. Manoel L. II. Tit. 26, e em
tre em camisa em XXX. tagantes. outras partes, se toma por Devassa:
Aquel, que a seu Confrade der punha Sabendo-se isto por Correição. E o
da , ou lhe messar a barvha , entre mesmo se vê da Lei de 16o3, pa
em camisa a sinco tagantes. E se o ra que as Pessoas da Governança não
Confrade disser a outro Confrade: Vil tomem de foro as rendas do Concelho
lam: fodidincul: ou tredor: ou gafo: CORRUMPUDO.Viciado, cor
ou ladrom: ou falso: ou chamar á Con rompido. Doc, de 1292.
frada: hervoeira: ou aleivosa: ou la CORRER com alguem. Persi
dra: pague sinco soldos á Confraria, guir, vexar, seguir alguem para o
be entre a sinco tagantes. Doc. de espancar, ofender, ferir, ou mal
Thomar. •

tratar. E fizera correr com o dito Ta


CORREGER por varas. V. Cor baliom com homeens, e com armas, e
reger por páus. •
o posera fóra do dito Couto. Carta
CORREGIDO. Governado, ou d'El-Rei D. Afonso IV. de 1 326,
pe
CO CO 313
pela qual manda ir prezo com toda quintaes , hortas, e pomares. Em
a segurança á sua Real presença o o N. 1. se acha a Dôação de me
Juiz de Lumiares , que não quiz tade da Igreja de Santa Christina,
cumprir o seu Alvará, por que man que estava fundada : Secus murum
dava , que os Tabelliães de Her Civitatis Colimbrie, feita por El
mamar fossem escrever no Couto Rei D. Ramiro no de 933 ao Mos
de Lumiares , onde os não havia. teiro de Lorvão, que diz, está fun
Doc. de Tarouca. dade in finibus Galleciae : declaran
CORTE. Hoje chamamos Côr do que lha dá cum omni integrita
te não só ao lugar onde ordinaria te in ipsa córte. Em o de Iogo se
mente assiste o Rei com os Ofi dôou a Lorvão pelo Presbytero Fro
ciaes , e Ministros de sua Casa; gia a Igreja de Santa Eulalia no
mas tambem damos o nome de Cór Couto de cima , junto a Viseu,
te á mesma Real Familia. E assim cum suas cortes; entendendo por el
dizemos: Foi a Côrte para Salvater las as hortas, passaes , logradou
ra : está em Mafra : veio de Que ros, e pomares. E no de 1 1o I o
luz, & c., quando SS. Magestades, Presbytero Ermigio lhe dóou a Igre
e Altezas se mudão, permanecem, ja de Molellos com todos os seus
ou voltão daquelles lugares; porém passaes , vinhas , soutos , pomares:
a palavra Córte , Curte , ou Curto domos , cortes : aqui se toma por
se tomou antigamente em mui di curraes. Doc, Orig. de Lorvão.
verso significado. Para com os bons CORTINHA. Belga de terra,
Latinos Cors, ou Cohors : era pro ou parte do campo , repartido em
priamente hum pateo rustico, e des courélas, ou leiras mais compridas,
cuberto, cercado, e guarnecido de do que largas ; mas divididas so
curraes , mangedouras, ou cuber bre si com paredes, sébes, ou ta
tos, em que os animaes , e cria pumes. Algumas destas fazendas
ções do campo se recolhem, guar ainda hoje na Provincia do Minho
dão, multiplicão, e cevão. Na Bai conservão o nome de Cortinhas. Po
xa Latinidade Cortis , e Curtis: se rém geralmente fallando, este era
tomárão por hum Casal , Villa, o nome, que no Seculo XII. al
quinta, abegoaria, predio rustico, gumas vezes se dava aos bens de
horta , quintal, e tambem alcaria, raiz. Na Era de M. C. XLIII., ou
com todo o preciso , e necessario de M. C. XLIII., segundo outra co
para a lavoura. Tambem significá pia, mas ambas erradas; (pois no
rão o arrabalde de huma grande de 1 1o5 ainda D. Afonso Henri
Povoação: o Pavilhão, Tenda, ou ques não era nascido, e menos Rei;
Barraca do Principe, ou General do e no de 1 155 já a Rainha D. The
Exercito. E finalmente se chamou reza era de muito tempo antes fa
Córte , ou Curte o alpendre, por lecida) derão Foral aos que mora
tico, galilé, pateo cuberto, e de vão junto á Ponte do Lima, fazen
fendido das chuvas. No L. dos Ter do este Povo Villa, e dando-lhe o
ramentos de Lorvão, e nos Doc, da nome de Ponte, a Rainha D. The
quelle Mosteiro se encontra Côrte reza, e seu filho El-Rei D. Afonso.
por edificios rusticos, a que hoje Placuit, ut faciam Villam, suprano
chamamos Côrtes , e tambem por minato Ponte::: Ego Regina Tarasia,
Tom. I. Rr é?"
3 I4 CÓ CO
d)" filius meus Alfonsus Rex in hac tugal se encontra. No Livro das
Carta manus mostras roboravimus. Nes
Doaç. das Salzedas a f. 126 se acha
te Foral , que se acha inserido na como Pedro Janeiro, e sua mulher
Confirmação, que delle fez El-Rei vendêrão hum Prazo em Paredes,
D. Affonso II. no de 1217, se de junto a Lamego, com obrigação de
termina que todos os moradores da pagarem certas Direituras ao Bispo
1áó annualmente hum soldo de suas da mesma Cidade, v.g. unum arcum,
casas ; porém que suas cortinas si &º uno serreiro de castaneis, & c. O
me ratione habeant : isto he, que pa trabalho , e aperto dos arcos lhes
garáõ Fogo, mas não fugada. L. rendêrão o nome de Cóstas. Das Em
dos Foraes Velhos. |- •

barcações costeiras, isto he, que na


CORTINHA. A.S. Cortina. O vegão , e se não apartão da nossa
Altar tinha hum retabulo com suas Cósta, determina o Alvará do I. de
cortinhas. He do Sec. XIV. Julho de 1764, que se não levem
CORTINHAL. Terra lavradía, Direitos de ancoragem. No Cod. Ma
aproveitada, rota, e fructifera, mas nuel. L. W. Tit. 52. se manda, que
pouco extensa, e cercada de pare os homiziados, que forem pescadores,
des altas , a modo de horta , jar não poubão costeira fóra da cósta dos
dim, ou pomar, a que tambem an Lugares dos Coutos, em que actual
tigamente chamavão Côrte, ou Al mente se achão. Quer dizer: que
muinha. Duas herdades , bum corti não vão pescar a outro qualquer si
nbal, e buria chousa. Doc. de Mon tio , ou paragem , que nao seja a
corvo de 1407. mesma Cósta daquellas Terras, que
COSEITO. Cosido. Quatro Rôos, lhes servem de Coutos.
coseitos huums pelos outros. Doc. de COSTEIRO. OS. No Cod. 3o2,
Tarouca de 1 364. f. ult. entre os Mrs. de Alcobaça se
COSMADE , Cosmado , Cos lê a Apparição d’El-Rei D. Afon
mate , Cosmode. O mesmo que so I. aos Conegos de Santa Cruz
Cósme, nome proprio de homem. . de Coimbra, estando a Matinas em
COSTEIRA. Cósta do mar. Por a noite que se seguio á tomada de
que nom ousam de comprar pescado Ceuta ; dizendo , que por vontade |
em essa costeira, por razam da nos de Deos fora com seu filho D. Sancha
sa defeza. Carta d'El-Rei D. Fer I. ajudar a El-Rei D. João I. naquel
nando para a Camera de Coimbra la Conquista: e ditas estas palavras:
no de 1374. Hoje dizemos Cósta, a logo trasportaleceo, que não foi en
ou Costeira do monte. E porque es de mais visto, quedando costeiros to
tas são difficultosas de subir se cha dos , pasmados do que aviom visto.
mou Custoso o que era arduo, e dif Não acreditamos a noticia por ser
ficultoso, e os Hespanhoes chamá de huma Penna convencida de im
rão aos gastos, e despezas Cóstas.
Em França chamárão Cóstas dos cir
postora: mas que nos disse ella por
Costeiros?... Talvez nos quiz dizer,
}
cules, Coste circulorum, ás varas dos que ficárão profundamente inclina +1

arcos, isto he, de que elles se fa dos por temor , e respeito. E co


zem , como se póde ver em Du mo nesta acção a principal parte,
Cange V. Coste circulorum : Pen que se vê do corpo são as cóstas,
são, que em alguns Prazos de Por chamaria Corteiros os que assim
• nos
quiz
CO CO 3 15
quiz vender por inclinados, teme está diante das portas da dita casa:
rosos, e confusos. e são duas dellas grandes, que leva
COTEIRA. Parece ser pipa car rão ambas VII, moios pouco mais, ou
reira. No de 1288 fez o seu Tes menos : Convem a saber : buma IV.
tamento D. Silvestre de Lamego, moios, e outra III.
no qual entre outras cousas, que CóvÁõó.S.) S. Cucufate.
deixa á Igreja de Baldigem se faz COUCE. Polilha, carie, carun
menção de huma cuba de quinze cho , traça. Cumpria volver a dita
moios, ou alqueires de vinho: que Carta em pública fórma, cá avia me
vocatur Coteira, plena vini. Doc. de do d’agoa, ou de fogo, ou de se co
Lamego. mer de couce. Doc. da Cam. de Coim
COTRIM. Moeda de ouro , e bra de 1358.
prata , que fez lavrar El-Rei D. COUGEITO. V. Congeito. -

Afonso V., e da qual se faz men COUPSA. Cousa.Doc, de 1359.


ção nas Cortes d'Evora de 1481. COUSIMENTO.Vontade, gos
Ignoramos o seu cunho, e valor. to, prazer, despotismo, ou li#
CÓVA. Celleiro subterraneo, a dade. Item filharom a fructa a seu cou
que antigamente chamavão Silo. Os simento em quanto hy estiverom. Doc.
Mouros ainda actualmente usão des das Salzedas de 1276. •

tas Cóvas, a que chamão Atamor COUTAMENTO. Prohibições,


ras, Matamorras, e Matmorras, que defezas, isenções, feitas, e postas
são do feitio de huma cisterna, com para utilidade de alguem. Outro sy
tres, ou quatro braças d'alto, e lar usem para todo sempre dos Privilegios,
gas á proporção, e nellas conser e das Indulgencias , e das servidões
vão o trigo talvez por sinco, seis, dos Coutamentos a Nós , e dá nossa
ou mais annos , sem a mais leve Ordem de Cistel outorgados da Sée do
corrupção. E para isto depois de de Apostoligo. Doc. de Almoster de 1287.
bulhado, e bem limpo, em estan COUTEIRO dos Fogos, e Ma
do frio , o mettem na Cóva, cu çadas. Creou El-Rei D. Manoel es
brindo-o com palha, e depois com te Lugar no de 1491, nomeando a
terra. Assim nas casas , como nos Pero Brandão, Cidadão de Coim
campos elles usão destes celleiros. bra para Couteiro dos Fogos, e Ma
E parece que do tempo, que esti fadas do Rio Mondego , e Executor
verão em Lisboa serião alguns, que das penas postas pela Ordenação a es
se achárão entre o Convento de São te respeito. Mandou-lhe dar o Re
Francisco, e a Igreja dos Martyres gimento de Santarem, com faculda
da dita Cidade, quando se abrírão de de impôr as mesmas penas aos
novas ruas, e se levantou das fataes que lançarem as Maçadas para pes
ruinas , que lhe havia causado o car as lampreas, e aos que Fogos po
Grande Terremoto. Os antigos Por zerem. Doc. da Cam. de Coimbra.
tuguezes usárão igualmente destas Já no de 1464 se tinha passado Al
Côvas. Em hum Doc. do Sec. XIV., vará Régio, para se observar o an
ue se acha em S. Vicente de fó tigo costume de se não fazerem Quei
ra se lê: Ha mais a dita Capella sin madas huma legua junto ao Mon
co Cóvas de ter pão, que estão na di dego desde Coimbra até Ceira. No
ta Aldêa da Cuba , no terreiro, que de 15o4 se renovou a prohibição das
Rr ii Ma
316 CO CO
Maçadas com pena de 5dcoo réis COUTO, I. O mesmo que Co
aos transgressores, por serem cau vado. Doc. de Lam. do Sec. XIV.
sa de se entupir o rio, Ibidem. COUTO de Candêa. Era no Sec.
Estas, e outras Providencias, # XV. o que hoje dizemos Cóto de
desde os principios da Monarchia véla , e vulgarmente se diz Tôco,
se adoptáão, para impedir, que as que he a extremidade, ou resto da
arêas entupissem o alveo do rio, des véla, tocha, ou brandão, que fica
truissem a Cidade, e esterilisassem sem ser queimada.
o campo , nada , ou mui pouco COUTO. II. O mesmo que Mar
co, V. Couto III.
aproveitárão para que tão tristes, e
fataes consequencias se não viessem COUTO, III. Hoje se toma pe
finalmente a experimentar. Seria in lo districto de huma Jurisdicção par
dispensavel que todas as terras la tícular, de que o Principe fez Mer
deirosas, e que ficão aguas verten cê a certo Senhorio. Estas Jurisdic
tes para o Mondego , se não rom ções ficárão abolidas pela Lei de
pessem a ferro, e que os seus ma 1799. Antigamente se chamou Cou
tagaes se não cortassem; mas sendo to a hum Lugar , ou herdade, ou
impraticavel esta prohibição, quan porção de terreno, demarcado por
do o innumeravel Povo se não pó authoridade do Monarcha, e junta
de manter sem cultivar as terras, e mente se chamavão Coutos os Mar
descalvar os montes: baldadamente cos, e Padrões, ou Pedrões, que
se pertendeo desarear o Mondego, lhes servião de balizas. No I. Tom.
tomando não sei que medidas, das Mem de Litterat. Port, da R. Aca
que a experiencia mostrou proce dem, das Scienc, a fol.98, e no Tom. II. a
deremºtão sómente do insaciavel de fol.171 se trata larga, e eruditamente
sejo de se enriquecerem alguns pou da diferença que havia entre as Be
cos, com a ruina, e destruição de hetrias, Honras, e Coutor. Disserão-se
muitos. Felicissima, Immortal D.Ma Coutos de Caveo; para que se acautelas
ria I., tentou beneficiar os seus fiéis sem todos de entrarem violentamente
Vassallos, que desde Coimbra pa neles; damnificando-os, ou destruin
ra baixo nas margens daquele rio do-os por qualquer modo, ou as cou
tinhão seus bens. O Régio Alvará Sas, ou pessoas, que dentro delles
de 28 de Março de 1791 he hum se achavão. Daqui a frase tão vul
Documento bem luminoso desta ver gar: E quem o contrario fizer , me
dade; porém ao mesmo tempo nos pagará os meus Encoutor; isto he, a
faz ver o quanto diferem especu pena imposta ao que violava algu
lações hydraulicas de encanamen ma cousa coutada, defeza, e pro
tos práticos, e que depois de ex hibida. Ainda hoje dizemos Coutadas,
haustas sommas immensas, o rio in os Parques, ou defezas, onde se não
dignado contra estacadas , mara póde caçar sem authoridade do Prin
chões , e tapumes, continúa nas cipe, ou Senhorio. E tambem são
perdas, e inundações antigas ; já Coutados os Rios, em que se não pó
fazendo navegavel o que d'antes era de pescar, ou em certa paragem
terra firme, e constante; já tornan delles, sob certas penas, é sem as
do a consolidar em campo, o que devidas licenças. Estes Coutos forão
primeiramente fôra rio. em outro tempo mui frequentes,
• tale
CO CO 3 17
talvez na mesma Cidade, ou Vil # Sesmeiro, ou Coireleiro, homem
la (e achavão dois , tres, ou mais estinado para dar terras de Sesma
Coutos. Porém achando-se isto mui ria , e repartir as Coirélas. E que
rejudicial á boa administração da os Couyrelheiros, ou Sesmeiros o re
# , e só proprio a favorecer, conhecerão por seu visinho. Doc. de
e deixar impunidos malfeitores, la Tarouca de 1284.
drões, e assassinos, desde logo co COYTELLO. Cutélo, faca,
meçárão em grande parte a ser de ou qualquer outro instrumento cor
vassados. ### D. Sancho I. fez tante. E se alguum Confrade ferir ou
Couto á Sé de Lamego de quasi to tro Confrade com spada, ou com Coy
do o seu arrabalde no de 1191, e tello entre em camisa em XXX tagan
diz : Facio Cartam firmissimi Cauti tes, Doc. de Thomar de 1388.
Fcclesie S. Mariae , Óº S. Sebastia ÇOMICHA. V. Somicbas.
ni de Lameco , quam cautare jussi CORAME. V. Cerome, e Saya.
mus per illa Cauta: Loca in quibus RASTA. V. Clasta.
erecta sunt Cauta ista , bec sunt, CRAVADURA. Todo o gene
scilicet: Primum Cautum firmatur in ro de ferragem, e pregagem para
aqua, qui vocatur Coira: Deindeva a fabrica das náos, ou quaesquer
dit ad Pousatorium , ubi fixum est outras embarcações. Levam dizima
zertium Cautum. A Cauto isto tran da Cravadura, que bi vem pera fa
sit pervineas, Óº vadir usque ad pri zerdes vossas nados. Doc. da Cam.
mum Cautum (recepto in Cauto isto do Porto do Seculo XV.
Horto Episcopi.) Quaecumque igitur CREBRANTADO. Privado da
ànfra Cauta ista, Óº infra terminos sua liberdade, cativo, sujeito ao
istos continentur, cautamus, & fir dominio de alguem. No de 1141
missimè cautata esse mandamus, & c. Aurodona Pinioniz libertou o seu
Doc. de Lamego. Nas Inquirições escravo, chamado Pedro Mouro, e
d'El-Rei D. Afonso III, se # » que o fez ingenuo, sem obrigação de
este Couto fuit cautatum per Petrones. servir , senão a Deos, ou a quem
Além dos Coutos dos Fidalgos, e elle muito quizer; conjurando aos
Senhores , Igrejas, e Mosteiros, Juizes, e Senhores, que tem po
havia tambem Coutos do Reino , de der de julgar, para que inteiramen
que falla a Ord. Alfons. L. W. T. 61, te lhe guardem esta Carta de In
e 18o, e della se tomou o que se genuidade, e Manumissão, e por ne
diz na Filip. L. V. T. 123. Nestes nhum titulo lha quebrantem ; sen
se refugiavão alguns homiziados, do certo que : Per Lex Gotorum à
e malfeitores nos casos, em que os servitio liberatus, duplicia non sedeat
taes Coutos lhes podião valer, e re crebrantado, sed semper sit ingenuo,
sidindo nelles por certo tempo, fi &º afirmado. Doc. de Tarouca.
cavão perdoados os seus crimes. Erão CRELEGIASTICO. Ecclesias
regularmente nos Lugares que ficão tico, pessoa addida, e pertencen
na raia com Castella, v. g. Noudar, te á Igreja. Por huma sua Carta
Marvão, Pena Garcia , Sabugal, de 1372 manda El-Rei D. Fernan
Freixo
Caminha.de Spada Cinta , Maranda, do, que todos os Abbades, e Vi

garios, e outras quaesquer pessoas


COUYRELHEIRO. O mesmo Crelegiasticas de Villarinho, e Moz
cbe
318 CR CR
obedeção á Camera da Villa de banhos , ou fructos de quaesquer
Moncorvo: e isto de Poder absolu animaes, propriedades, e fazendas,
to , pelo grande deserviço , que del mas ainda os mesmos escravos, que
les tinha recebido , entregando-se, e se reputavão como animaes, e fa
emprazando-se cobardes aos Castelha zenda de seus Senhores. Na larga
aos , seos inimigos. Doc. de Mon Doação, que Adelgastro Siliz (fi
lho do Re Silo) e sua mulher fi
COIVO.
CRELIGA. AS. Assim chamá zerão ao Mosteiro de Santa Maria
rão ás Religiosas, por serem a por de Obona , que elles havião fun
ção illustre do rebanho do Senhor, dado na Diocesi de Oviedo, para
e particularmente chamadas para a que nelle se observasse sempre a Ré
sua herança. E asi a temos por boa gra de S. Bento, entre as muitas fa
Creliga , e mui auta pera ser Abba zendas, e herdades nomêão os es
dessa, V. Hist. Seraph. L. II. C. XIX. cravos, dizendo: Damus siquidem
n. 344. Em outros Doc. se diz Cre nostras Criationes, nominatas: Sadero
riga. cum filiis, Óº filiabus suis, & c., e
CRELIGO. O mesmo que Cle vão logo nomeando outros muitos.
rigo. Doc. de 1321. E declarão , que quando estes es
CREMENCIA. Clemencia, hu cravos forem chamados para o ser
manidade, compaixão. E que o Rei viço do Mosteiro, habeant portionam
devia usar de Cremencia , equidade, edendi , & bibendi , scilicet , libra
e benidade, para se evitarem bandos, una, Óº quarta milli, vel de alio se
arroidos , e dissensões , e desconcor cundo. Et portionem fava, Óº milli»
dias. Sent d'El-Rei D. Afonso V. vel de alia edulia, Óº sicerae, si po
de 1463. Doc, de Moncorvo. test esse. E concluem, que ninguem
CREMENTINAS. Assim cha tivesse poder algum neste Mostei
mavão ao Livro septimo das Decre ro, senão o Abbade, e Monges, que
taes , que contém as Epistolas de alli guardassem a Régra de S. Ben
alguns Pontifices, compiladas com to, a qual lhes derão entre os mais
outras suas pelo Papa Clemente V., Livros, que lhes dôárão, no anno
de quem tomárão o nome. Manda de 78o.
mos ds Degretaes, e Sexto, e as Cre CRIADO. Esta palavra , (que
mentinas a Gil Vasques, nosso Sobri hoje se toma por hum servo , ou
nho, para que aprenda. Test. de D. domestico assalariado para servir a
Lour. Bispo de Lam. de 1393. quem lhe paga) até os fins do Se
CRERIZIA. O Clero, ou gran culo XV. se tomava por aquelle,
de número de Clerigos. Vierão com que fôra creado na casa, ou com
muita gente , e Crerizia. Vida do panhia de alguem, sem mais sala
Condest. f.71. rio, nem obrigação de servir, se
CREUDO. Crido, firme, esta não conforme aos da sua qualidade.
bevel no conceito de quem ouve. E E assim: meu Criado: era o que eu
porque esto seya mais Creudo, e nun criei , ou mantive desde pequeno
ca possa vir em dovida. Doc. das Sal em minha casa, e debaixo da mi
zedas de 1393. nha inspecção , ou doutrina. E o
CRIAÇÃO. Nos antigos Doc. mesmo se dizia da Criada. Tibi cria
se chamava Criação, não só os re da mea Maria Petrici, Deo Vota.
Doc.
CR - CR 319
Doc. de Vairam de 1 141, Hum seu dita Igreja per vestimenta , per ca
criado , que be em Alemtego. Doc. Iez , e per Cruc, e pelas cordas dos
de Viseu de 13o2. No de 129 1 se signos. Doc. de Pendorada do Se
guio e Concelho de Trancoso cer culo XIV.
ta demanda, que tangia a todos os CRUEZA. Atrocidade, cruelda
visinhos , criados , e Naturaes da de, deshumanidade. Já se usava no
quella terra. Ibidem. E no de 1356 Sec. XIII. desta palavra , e neste
os Instituidores do Morgado da Bou sentido. .

ça em Terra de Távares, nomêão CRUZ de Limoges. No de 1298


para primeiro Administra dor delle mand a o Bispo da Guarda D.João
a Pedro Estever seu criado, e sobri Martins fazer o seu sepulcro, ou de
nho. E he cousa mui trilhada , e obra entalhada, ou pintada, ou de Li
frequente. No Cod. Manuel L. V. T. moges. Doc. da Guarda. De hum In
45. se prohibe com graves penas, ventario , que se guarda nas Ben
que os Amor não peção por causa tas do Porto consta, que no de 1418
de seus Criados , isto he, que os se achárão , entre outras insignifi
lavradores, que criavão em suas ca cantes peças , na Igreja de Santo
sas, e ao peito de suas mulheres, André de Escariz : Huum salteiro,
os filhos dos Fidalgos, e Senhores huua cadeira, e buum tribullo: huu
de terras, não pedissem pão, vinho, ma Cruz de Limogeès, & c. Limoges
vaccas, carneiros, aves, e outras cou Cidade de França, e cabeça em ou
sas, que costumavão pedir a outras tro tempo da Provincia do mesmo
pessoas, e levar, como de presen nome , foi grandemente nomeada
te, oferta, ou Fogaça aos ditos Se pela Arte de esmaltar a fogo , em
nhores na occasião, que lhes hião que os seus artifices excedião in
entregar os taes filhos, já criados. comparavelmente a todos os daquel
E taes erão muitos dos Amos, e Cria le tempo. Chamou-se pois ao Es
dos, que nos Doc, antigos se en malte, obra de Limoges, opus de Li
contrão. mogia, ou opus Lemovicium, Lemo
CRIAMENTOS. Affagos, do vicinum, e Lemoviticum, não porque
ras, meiguices. Doc. de Tarouca os de Limoges inventassem o Es
do Seculo XIV. malte, mas sim porque o chegárão
CRIANÇA. Criação , ensino, a huma rara perfeição sobre ouro,
doutrina, educação. Criança que nel prata, cobre,ose outros metae s. Dal
li erão levad os Esmaltes não só
le fez. Doc. de Vairam de 1 315.
CRIMENCO-S.) San Clemen a toda a Europa , mas ainda fóra
te. Está neste Concelho de Basto a della; mas erão só claros, e trans
Igreja de S. Crimenço , que tambem parentes, em quanto se não desco
dizem , que foi Mosteiro em outro brio o segredo de os compôr de to
das as côres. E destes Esmaltes que
tempo. _.
CROCIFICIO. Crucifixo, Ima ria o Bispo da Guarda o seu sepul
em do Redemptor na Cruz. Al cro, e constava a Cruz de Esca
#ar do Crocificio. Doc. de Lamego. riz. V. Du Cange. V. Limogia.
CROCIFIGAR. Crucificar. Da CRUZ. Supplicio de malfeitores,
qui Crocifigado com os seus derivados. ou reputados como taes , em quasi
es do
CRUC. Cruz. Meteu em posse da todas as mais célebres. NaçõIllllll
32 o CR
mundo, como Assyrios, Egypcios, mens, as flores de liz servírão logo
Persas , Hebreos, Gregos, e Ro de ornamento á Santa Cruz. Os
manos. A sua figura nem sempre venturosos, e esforçados Portugue
foi uniforme. As primeiras Cruzes zes, por mares nunca d'antes nave
forão huns madeiros direitos, e ás gados, forão descubrir junto á Ci
vezes os troncos das arvores, a que dade de Meliapor a Cruz de S. Tho.
ligavão de pés, e mãos o padecen mé, cujos remates são daquellas fio
te, como se praticou com o Mar res, que lhe derão o nome de Flo
tyr S. Sebastião. As mais usadas reteada , Florida , ou Florenciada.
constavão de dois páos: e estas erão Porém não só isto : depois que o
de tres maneiras; já com a fórma, Imperador Constantino vio no Ceo
que se acha Tab. 2. n. 8., fig. 13., o sinal vivifico da Santa Cruz, ir
a que chamão de aspa, como foi a do refragavel annuncio das suas victo
martyrio de Santo André ; já com rias, immediatamente a fez pintar
a figura de T, como a dos ladrões, nas suas Bandeiras, e nos Escudos
que forão crucificados a par de Je rasos das suas Milicias. Á sua imi
sus Christo; já em fim com a mes tação foi, que os generosos Cabos
ma figura de Tau, não cortado hori dos seus excrcitos formárão de Cru
zontalmente, mas ficando o seu pé, zes as suas Divisas. Hespanha vio co
ou hastea, hum, ou outro palmo mo os Reis de Aragão a tomárão por
superior aos braços da mesma Cruz, Insignia , e os de Leão a tomárão
deste modo: f E tal foi a do Sal por Armas. E o I. Rei de Portu
vador do mundo, em cuja summida gal, o Invictissimo, e Veneravel D.
de se pregou a Tabella, em que es Afonso Henriques, se em memo
tava escrita nas tres Linguas a fatal ria das sinco Chagas do Redemp
Inscripção, como sentença, ou cau tor, ou dos sinco Reis vencidos no
sa da sua morte. Mr. l’Abbé Chape Campo de Ourique, tomou por Ar
de Auteroche na sua Viagem á Sibe mas os sinco Escudos, ele os fez
ria, impressa em Paris no de 1768, dispôr em figura de Cruz. E sem
a f. 13. descreve o supplicio, que os falarmos agora n’huma grande par
Polacos dão aos roubadores das col te da mais esclarecida Nobreza de
mêas.Diz, que os prendem nús á arvo # e Portugal, que tomou
re mais chegada ao colmeal, onde por Brazão a mesma Cruz, já chãa,
os fazem morrer da morte mais cruel, já forenciada , já com pontas qua
abrindo-lhe o ventre pelo embigo, dradas, já redondas, já feitas em ar
e mettendo-lhe por elle os ramos, pa: desde que Portugal se separou
e vergonteas , que depois enrolão do Reino } Leão pelo casamento
á mesma arvore. Dos horriveis sup do Conde D. Henrique no de 1c95,
plicios de Cruz , que os Russos os nossos Augustissimos Soberanos
dão , até ás mesmas mulheres, se assignárão sempre em Cruz os Do
póde ver o mesmo Viajante, que cumentos, que emanavão do Thro
em bellissimas estampas os repre no, em quanto os sinaes Rodados,
SCIlf3. -

e os Sellos pendentes não mudárão


Porém transfomado já em carro a singeleza, que d'antes se pratica
triunfante da gloria de Deos o sup va. Eis-aqui alguns exemplos para
plicio mais afrontoso d'entre os ho-º satisfação dos curiosos:
A
CR
A Dôação de certos Casaes em
Villa Boa de Satan, que o Conde
D. Henrique, e sua mulher a In
fante D. Thereza fizerão a Bernar
do Franco, ou de Barcelona, no mez
de Agosto de 1 1 1o, que está ori
ginal na Sé de Viseu , conclue
deste modo : Ego Comes Henricus,
uma cum uxore mea Infante Thara
zia , tibi Bernaldo Barcilonia in hac
Carta manus mostras roboramus-H
Na Dôação do Couto da Sé de Bra
ga, que ali mesmo se conserva ori
ginal, se diz: Ego Comes Henricus,
é ego Famula Dei Tarazia banc seriem He bem de presumir, que o No
Testamenti manibus nostris r-H-o tario formaria a cercadura, e ornato
boramus. E que estes sinaes erão de sinal. Em Janeiro de 1 128 a mesma
Cruzes, e que ordinariamente erão Soberana fez Dôação do Couto ao
tantas quantas as principaes pessoas, Mosteiro de Santo Estevão de Villel
que nos Instrumentos figuravão, he la, que hoje extincto se acha incorpo
cousa tão sabida, e manifesta, que rado no da Serra do Porto, onde se
não precisa de mais larga próva. conserva o Pergaminho Original, e
No Archivo da Mitra Bracarem nelle se lê: Ego Tarasia Regina banc
se está original a Dôação , que a Kartam jussi fieri, & manu mea
Rainha D. Thereza fez á Sé de roboravi. O sinal he o da Tab. 3, n.12.
Tuy no de 1 125 do Mosteiro de Em Thomar se conservão Origi
Azere, em Valdevez, e da Igreja naes as Dôações do Castello , e
de S. Miguel de Auréga, junto a Terra de Soure, que a Rainha D.
Ponte do Lima , assignada deste Thereza fez aos. Templarios, e a
modo: Ego prepbata Regina T, banc Confirmação, ou nova Dôação, que
Donationis K. vel Testamentum propria da mesma Villa lhes fez o Infante
manu r–H–H–H—oboravi. D. Afonso Henriques. Na I., da
Menendus Proprie Aule Notator dePinsi. tada XIIII. K. April. E. M. C. LXVI.
Qui presentes fuerunt , viderunt, (anno de 1128) se acha esta Ver
é audierunt. ba: Et ego Comite Fernandus ipso do
Ego Pelagius Bracarensis Archi no, que mihi fecit Regina D. Tare
Ep-s. - - - - - - -_ Of sa, ibi ego dono, & concedo Deo, é"
Ego Infans Adfonsus, ipsius Regi Templum. Nella confirmão além de
me filius. - - - - - - Of. outros, D. Afonso, Rei de Leão,
Ego Comes Fernandus - -- Of. e o Conde Rodrigo Galiciano, e no
Ego Comes Gomes - - - Of. meio dos Confirmantes , e Teste
Ego Fernandus iõanides - - Of. munhas se acha a firma , ou sinal
Petrus-ts. Pelagius-ts. Martinus-ts. da Rainha
* *?) *
na fórma seguinte:
* ( _ ) .
No meio dos Confirmantes , e
º oº" - /
Testemunhas, se acha este sinal: º . * •

- ** * * * * * *

Tom. I. Ss +
Se
CR
confirmo. O Monogramma, que se
acha na Tab. 3. n. 15. he o sinal
da Rainha, que ali se conserva, e
parece quer dizer : Tarasia Regina
confirmo.
Finalmente D. Afonso Henriques,
per Dei clementiam Portugalensium
Princeps , dôou este Castello aos
Cavalleiros do Templo, com todos
os seus Direitos, e limites, novos,
e antigos, sem fazer menção algu
ma das primeiras Dôações de sua
Mãi, em que figurava o Conde D.
Fernando, que tanto o enfadára. E
} diz que faz esta Dôação, pro amo
Se bem conjecturo, as duas letras - re Dei, Óº pro remedio animae meae,
iniciaes querem dizer Tarasia Regi parentum meorum, Óº pro amore
na, e são do seu real punho. cordis mei , quem erga vos habeo,
No mesmo anno IV. K. Apri &º quoniam investra fraternitate, ó:
lis, fez a mesma Rainha nova Dôa beneficio omni sum frater. Facta Car
ção de Soure aos Templarios, con ta II, Idus Martii. E. T. C. 2XVII.
firmando a precedente , e demar E daqui se vê, (senão com certe
cando os limites daquella Villa, o za, com alguma probabilidade) que
que na primeira não fizera. Nella já em Março de 1 129 era falecida
confirmão D. Bernardo , Bispo de a Rainha D. Thereza.
Coimbra, o Conde Rodrigo Gali . . Feito já Principe, e Senhor abso
ciano, Pelagio Goterrez da Silva, luto do Reino de Portugal o Infan
Egas Moniz, e outros, e o Con te D. Afonso Henriques, continuou
de D. Fernando deste modo: Et ego a firmar com a Santa Cruz os Ins
Comes Fernandus donum, quod Domi trumentos Reaes, formando-a com
na mea Regina Militibus Templi do mui diferentes fórmas , e figuras.
nat , laudo , dº concedo. Nesta se Em o Mosteiro de Arouca se achão
acha o sinal , ou sello da Rainhaduas Dôações, que ele fez; huma
na fórma, (e bem para notar) que a D. Monio , e outra ao mesmo
se acha Tab. 3. n. 8. , ! D. Monio, e a sua Mái Tóda Vie
Em Maio do mesmo anno fez a gas", ambas das mesmas Herdades
mesma Rainha Dôação do Couto de Sala, e Saela no Valle de Arou
ao Mosteiro de Grijó; havendo re ca. A I, principia assim X. Sub Dei
cebido para este fim de Nuno Soa Gratia , - Óº ejus Misericordia, Ego
res: Unum caballum adpretiatum, in Infans Alfonsus, Comes Enrici filius,
D. modios. Neste Documento, que ab omni presura alienus , & Colim
alli se guarda no L. Baio ferrado, briensium, actotius Urbium Portuga
depois de confirmarem o Conde D. lensium, Dei Providentia Dominus se
Fernando, e D. Ugo Bispo do Por curus efectus, Óºc. Facta Carra Do
to, se acha esta Verba : Ego Ta mat. VIII. Idus Aprilis E. T. CLXVII.
rasia Regina banc Kartulam manu mea Egº Infans Adfonfus, secundum auto
- *
* ** … , rr
CR. CR 323 ·
ritatem Donationum Legum Romam da Villa de Muçamedes ao seu gran
rum, atque Francorum, seu Gotorum, de amigo, Fernando Pires, que se
de bac Hereditate, quam tibi Monio acha original no Archivo da # de
Roderici libera, Óº irrevocabili volun Lamego, firmada deste modo: Ego
tate concessi, Óº Cartam fieri jusri, Egregius Infans D. Alfonsus banc Car
manibus meis illam robor—"K—o. tam propria manum r-H+→oboro.
Alfonsus Presbiter notavit. O sinal se acha Tab. 3. n. 6.
Na II. feita E. M. C. 2XVII. Men Petrus Cancellarius Infantis notavit.
se Aprilis , (e na qual se diz que Entre os originaes de Pendorada
as Herdades estavão Territorio Co se acha a Dôação, que o Infante fez
timbriensis , havendo-se dito na I. a João Viegas, dos bens, e herda
que estavão Territorio Lamicensis) des, que forão confiscadas a Aires
se acha a firma da Tab. 3. n. 9. Mendes, e Pedro Paes, o Carafe,
Petrus Cancellarius Infantis scripsit. naturaes de Viseu, que havião pas
No Mosteiro das Salzedas está sado para os seus inimigos, e se
original a Dôação de Qamudaens havião feito fórtes no Castello de
junto a Lamego, que o Infante D. Cêa , e conclue : Ego Infante Dão
Afonso Henriques fez a Mendo Yldofonsi ad tibi Johanne Venegas in
Viegas, com todos os seus lugares, bane Cartam Donationis manus meas
e termos , assim como partia com R—obor—o. A firma he a da
Pena-Judéa (hoje Penajoia) Avoens, Tab. 3. n. 11.
Paço, &c. (preter illum portaticum Monendus notavit.
de ipso Portu de Çamudanes, quod non An. de 1 133.
do tibi ) E. M. C. 2 XVIII. Ego Incli Alli mesmo se conserva a Dôa
tus Infans D. Alfonsus hanc K. pro ção original, que o mesmo Princi
pria manu r o—bo 7"0.
pe dos Portuguezes fez do Reguen
Entre os Confirmantes, e Testemu go de Cornias, agoas vertentes ao
nhas se acha o sinal da Tab. 3. n. 5. Rio Paiva, no Territorio de Coim
Petrus Cancellarius Infantis notuit.
bra (porque os Bispos daquella Ci
Na Dôação dos quatro Coutos, dade administravão os Bispados de
que o mesmo Infante fez ao Mos Viseu, e Lamego): foi datada em
teiro de Lorvão , onde se guarda Maio de 1 139 , e firmada assim:
original, em Março de 1 133 se lê: Ego Alfonsus Henrici... propria ma
Ego Alfonsus jam supranominatus banc /l/, /" I—oboro.
propria manu roboro atque confirmo,
é, signum facio. A firma he a da
Tab. 3. n. I O.
Menendus Cancellarius notavit.
E logo no mesmo Instrumento se
acha esta Apostilla: Ego supradictus
E 0 || RY
Egregius Infans adjicio illud totum Re
gaendum, quod est intus in ipso Cau $? ? ! M. É
to de rivulo de Asinos. E tem o si
nal da Tab. 3. n. 14.
No mesmo anno, e no mez de
Maio fez o mesmo Infante Dôação Petrus Concellarius notuit.
-. Ss ii Na
324 CR CR
Na Dôção do Couto que El-Rei
D. Afonso Henriques fez ao Ab- -
bade João Cirita, e a seus Frades,
que no Mosteiro de S. João de Ta-
rouca guardavão a Regra de S. Ben
ro, no mez de Junho, da E. M. C.
2XXVIII. (anno de 1 14o) se acha
unicamente este sinal, entre os Con
firmantes, e Testemunhas:

Suerius notavit. An. de 1 144.


No de 1 141 o mesmo Rei fez
Dôação do Couto ao Mosteiro de
Paderne, principia: Ego Rex Alfon
sus Portugalensium Princeps , filius
Comitis Henrici, &c., e conclue: Egº
Rex Alfonsus Henrici hoc Kautum pro
pria manu confirmo, Óº ro–bo—R–o.
Entre os Confirmantes, e Testemu
nhas se vê o sinal da Tab 3. n. 13.
Doc, Original de Paderne.
No de 115o El-Rei D. Afonso
Henrique, e a Rainha D. Mafal
da confirmárão á Sé de Viseu to
dos os bens de raiz, de que actual
Petrus Cancellarius Regis notuit. mente se achava de posse, e por
No mesmo Mosteiro se acha ori qualquer justo Titulo havia adqui
ginal a Dôação do Ermo de Santa rido, e dizem : Ego Alfonsus Rex
ovaya no Bispado do Porto: Ter Portugalensis , Óº uxor mea Regina
mo de Bouças, e junto a Lorder Mabalda, manu nostra hoc scribtum
lo (o qual Ermo em outros Docu subter firmamus.
mentos se chama Mosteiro de Santa
Eulalia) feita ao de Tarouca por
El-Rei D. Afonso Henriques, que
de mão propria a roborou, e nella
se acha este sinal:
"A
*
CR CR 325
fão El-Rei D. Afonso Henriques,
e sua mulher a Rainha D. Mafal
da ao Mº do Templo Gualdim Paes
humas casas, e fazendas em Sintra
pelos muitos serviços que tinha fei
to á Coroa; com faculdade de as
dar, vender, ou trocar com quem
muito quizesse , assim em sua vi
da , como por sua morte. E como
não dispozesse dellas cousa alguma,
ficárão aos Templarios , e hoje as
tem os de Christo. E conclue: Ego
praefatus Alfonsus Portugalensium Rex,
&º uxor mea Regina Mahalda banc K.,
Magister Albertus Cancellarius notavit. quam sponte fieri jussimus propriis
E na Dôação do Couto de São manibur r obor amus. No
Pedro de Mouraz feito á mesma Sé meio das duas columnas dos Confir
pelos sobreditos Monarchas , que mantes , e Testemunhas se divisa
alli se guarda no seu original, le este sinal : ( e he o primeiro dos
mos, e achamos o seguinte: Facta deste Monarcha , que tenho visto
Firmitudine II Kalendas Octobris E. com esta figura, que ao depois se
M. C. 2 X. (anno de 1 152 ) Ego Al acha com frequencia.)
fonsus Rex Portugalensis ; quidquid
superius sonat , confirmo , f/1/1/114

propria RoBoR—o. Similiter Ego Re


gina M. confirmo.

No de 1154 os mesmos Monar


chas dôárão sinco Casaes, em Tra
Albertus Regis Cancellarius. Df vanca junto a Viseu ao Mestre Soei
Martinus Diaconus scribsit. ro Tedoniz, Professor de Medici
No mesmo anno de 1 152 (se na, (em recompensa da Cura, que riº
gundo o Documento original, que ha feito a Rodrigo Exemeniz por or
se conserva em Thomar, no qual dem Real.) Este D. Sueiro se fez
se lê: E.º M.º Cº LXXXX.) dôá Monge , e fundou hum pequeno
Mos
32 6 CR. * CR
Mosteiro na Igreja de Santa Maria la. Está confirmada com estes sinaes,
de Muimenta, que era herdade sua, entre os originaes de Thomar:
*•=… --…)
e o mesmo Rei lha coutou no de •

1161, como se vê do Real Instru O sinal rodado se póde ver Tab, 5.


mento, notado pelo Cancellario do /7. I Os •

Rei Pedro Fasion, e alli residião ain Alli mesmo se guarda no seu Ori
da no de 1 168; porém no de 1173 ginal o Privilegio da exempção de
já se tinhão mudado para Maceira todos os bens, pessoas, e Familia
dão , onde tinhão edificado de no res dos Templarios concedido por
vo o seu Mosteiro, que El-Rei cou El-Rei D. Afonso Henriques , o
tou no mesmo anno , segundo os qual diz: Ego Alfonsus .... á sumo
Originaes daquelle Mosteiro. Na Pontifice per Apostolica scripta sum
dita Dôação dos Casaes se diz: coactus, ut vobis Petro Arnaldi, Mi
Ego Alfonsus Rex, é uxor mea Re litiae Templi in his partibus Procura
gina Mahalda in banc Kartam manus tori, & Fratribur vestris, universis
mostras ad roborandum ponimus , fa vestris Cautis, & Ecclesiis, Óº Vil
cientes bec —H —signa. No meio lis, Óº bominibus, atque possessioni
dos Confirmantes, e Testemunhas bus, quascumque habetis, Óº deinceps
se achão os sinaes da Tab. 3. n. 7. habere potueritis, piam tribuam liber
Magister Albertus Cancellariur Cu tatem, atque imunitatem ; sicut in Ro
riae notavit. - -

mano Privilegio, quod ab eodem Sumo


Os mesmos Principes eximírão de Pontifice impetrasti , plenè consistit:
todos os Direitos Reaes as mui videlicet, ut vos ipsos, Óº omnes res,
tas terras, e fazendas que D. The quas sub meo Dominio habetis , pro
reza Affonso, e outros tinhão dôa videnter ab omnibus injuriis , vobis
do ás Salzedas, e os concedem a illatis, protegam, & defendam, é?"
este Mosteiro. Facta Karta mense ju etiam vobis inde Cartam propriis ma
nij per manus Petri Amareli, qui est nibus roborem, & confirmem. O Rei
scriba sub manu Alberti Magistri, assim o fez : Non April. E. M. C.
Concelarij Regis Alfonsi. In E.ºMºCº LXPT., e logo immediatamente se
2*Xº III." Entre as Testemunhas, e segue: Ego Alfonsus Portug. Rex,
Confirmantes se escreveo o seguinte: uma cum uxore mea Regina Mafalda,
Ego Alfonsus Rex roboro, & confirmo. dº filiis meis , banc K. vobis Petro
Ego Regina Maalta roboro,ó"confirmo. Arnaldi, Militiae Templi in his par
Ego Rex Santius roboro, Óº confirmo. tibus, precuratori, & vestris Fratri
Ego Regina Orraca roboro,ó confirmo. bus, tam presentibus, quam futuris,
Ego Regina Maalta, filia Alfonsi Re &º Religioso Templo Salomonis, propriis
gir, roboro, Óº confirmo.
O sinal se vê Tab. 5. n. 4. ..
·roboramus, ó hoc signum —
facimus. =J —J J •

. Petri Amareli notuit. ,

- Na Era M. C. 2 X V. (anno de Neste mesmo anno, e mez con


1157) e no mez de Julho El-Rei firma o mesmo Rei cum uxore mea
D. Afonso I. com sua mulher, e fi Regina Mahalda, á Carta de Foro,
lhos, doárão ao Mº Gualdim Paes, Isenção , ou Privilegios, que já de
e aos mais Cavalleiros do Templo muitos annos tinhão os da Ordem
oito moinhos na ribeira de Alviel do Hospital, sem que para lha con
CC
CR CR 327
ceder fosse D. Afonso Henriques se achão os mesmos riscos, o mes
obrigado com Bullas de Roma. Mas mo sinal sem diferença alguma, e
que responderemos nós á existencia pelo mesmo Cancellario.)
da Rainha D. Mafalda, que faleceo
de parto da sua filha D. Sancha a
24 de Novembro de 1 157?.....
Parece-me, que não he preciso no
tarmos de erro o L. dos Foraes Ve
lhos, onde se acha a segunda, nem
os Originaes de Thomar, onde se
lê a primeira; nem ainda começar
mos a duvidar da morte da Rainha
naquelle mesmo anno, como se per
suade o A. da Hist. da Ordem do
Hospital , impressa em Lisboa no
de 1793 §.52.: que cousa mais na
tural, que estarem já lavradas as duas
Cartas de Privilegios nas vesperas
do falecimento da Rainha, e com Magister Albertus Regalis Curia
a sua prematura morte ficar a Cor Concelarius notavit. * * *

te de lucto, parar o expediente, e Na Dôação do Couto de Mui


só passados alguns mezes , serem mºnta de Zurara, de que acima se
falou, e } em Maceiradão se con
as Cartas firmadas com o real pu SCTV2
nho , e figurado o sinal da Cruz, 2. SC Cl1Z : Ego Alfonsus Portu
}

que ainda então fazia as vezes de galentium Rex... uma cum filio meo
sello ?... Não tem succedido o mes Regº D. Janeio, & filia mea Regina
mo em os nossos dias?... Na dos ID. Tarafia, Regni mei Coheredibus...
Templarios vemos quatro riscos, que Facta Carta Cauti XV. Kal, Septem
são hum d’El-Rei D. Affonso: ou bris E. M. C. 2X. IX. (anno de 1 161)
tro de seu filho D. Sancho , e os Ego predictus Rex Alfonsus, una cum
outros dois de suas filhas mais ve Jiliis meis Rege D. Sancio, & Regina
lhas, D.Urraça, e D. Thereza, a D. Tarasia, vobis D. Suerio... banc
quem em outros Documentos cha Cartam coram idoneis Testibus roboro,
ma Consortes do seu Reino. E final é confirmo. E no meio dos Confir
mente o sello, ou sinal mostra, que mantes, e Testemunhas se acha este
o Rei já estava viuvo ; pois men sinal , pela primeira vez, que eu
cionando os filhos, se não faz nel
tenha visto, o qual he propriamente
le menção de sua Mái, contra to a Cruz dos Templarios, de cuja Or
do o estilo daquelle tempo: eis dem o mesmo Rei era Irmão , co
aqui a sua figura: mo já acima se vio na Dôação de
(E note-se, que na Dôação, que Soure, e abaixo se verá quando fal
o mesmo Rei fez do Castello de larmos das Cruzes, de que a Ordem
Cera (hoje Ceras) aos Templarios do Templo usou em Portugal.
no mez de Fevereiro de 1 159 , a
ual se conserva igualmente no seu
&## naquelle Real Convento, - - -
• •


328 CR
Petrus Salvadori. - - - Of.
"Petrus Fernandi , Regis Sancii
IDapifer. - - - - - - Of.
Jua
"…: Palascus, Curie Regis Dapi
Cy", - - - - - - OTs
Ajº
Fernandus Alfonsus Signifer. Of.
• Radan ciud.
No meio destes Confirmantes se vê
o sinal seguinte:
Oi, Regin}*Jia,
1=
A

Petrus Fasion Cancelarius Regis no


tavit.
Na Dôação do Couto de Ma
ceiradão, feita ao mesmo D. Suei
ro , e seus Frades se declarão Co
º herdeiros do Reino a D. Sancho, e a
D. Thereza, e nella se acha o mes \,

mo sinal sem diferença alguma, só


que a cercadura he liza. : __A II., que he a Dôação das tres
Achando-se El-Rei D. Afonso Villas, Golães, Gondim, e Villar,
Henriques em o mez de Setembro feita pelo mesmo Rei a D. Sancha.
nas Caldas de Alafões, alli passou Paes em terra de Guimarães, se lê:
alguns Foraes, e fez largas Dôa Ego predictus Alfonsus, Dei praemir
ções no de 1 169. Accusarei só duas, su, Portugalorum Rex, una cum filiis
que se guardão originaes, huma em meis, Rege, scilicet Sancio, & Re
à Convento de Thomar , e outra gina Tarasia, vobis jam dictae San
no Mosteiro de Lorvão. Pela I. cie Pelagii, banc Cartam Donationis,
faz Mercê aos Templarios de to guam facere precepi , coram idoneis
da a terça parte do que as Armas testibus , propria manu roboro , ó
Portuguezas conquistassem no Além confirmo. E no meio dos Confirman
Tejo; com condição, de que elles tes se vê este sinal:
gastassem em serviço da Coroa to
dos os rendimentos da dita terça,
em quanto durasse a guerra com os
Sarracenos. Facta Scriptura mense Se
í
prembris, apud Alaphoen. E. M. CC.
PTI. Ego praedictus Rex Alfonsus,
uma cum filio meo Rege Sancio, Óº
filiabus meis Regina Urraca, & Re
gina Tharasia banc K. propriis mani- …
bus roboramus.
Petrus Fasion notarius Regis. - Of.
Pa
CR 329
e da mesma mão, que exarou o Fra
gmento do Concilio Bracarense,
chamado Antiprimeiro, e a Episto
la de Aldeberto para Samério, co
II]O SC# ver nos Mss. de Alco
baça N. 113, e N. 288, e neste se
acha; além da I." Carta, outra pa
ra o Bispo Pamerio, que diz o im
postor forão alli copiadas por man
dado de D. Jorge de Mello: o que
por força havia de ser depois de
154o. Este mesmo forjador de men
tiras foi pôr huma Nota em o Co
dice do N. 353; (que he hum Li
Petrus Fasion notuit. vro composto por D. Lucas Bispo
Entre os Originaes do Mosteiro de Tui, e contém huma Chrono
de Ceiça está a Dôação do seu Coulogia dos Papas, e Imperadores até
to, feita por El-Rei D. Afonso o anno de 127o) para nos fazer
Henriques, e seu filho El-Rei D. crer, que este era o verdadeiro Lai
Sancho, e sua filha, a Rainha D. mundo. Mas o que tira toda a dú
Thereza Regni mei Cohaeredibus, no vida, he a propria confissão de Fr.
de 1 175. O sinal, ou sello he sem Bernardo de Brito, que no III. T.
diferença alguma, como os de Ma da Monarch., que ali se conserva
ceiradão, de que acima fallamos. Pe do seu proprio punho, N. 356, re
trus Fasion, Regis scriba notavit. E dondamente nos desengana L. I.
finalmente no Reinado d'El-Rei D. Cap. VIII., que o tal Juramento
Affonso I. não achei Instrumento constava de huma Chronica , que
algum legitimo , que tivesse sello algum dia estivera em Santa Cruz de
pendente, e que tivesse alguma as Coimbra. Não havendo logo em Al
signatura, ou firma, sello, ou sinal, cobaça semelhante Juramento em
que não fosse huma Cruz, quasi tempo de Brito, ali se formalisou
sempre constante de variações ; ao depois com as Notas insanaveis de
menos accidentaes. E daqui será facil falsidade, não em }" á Appa
o decidir sobre a legalidade de hum rição de Christo, de que não du
Instrumento que em Alcobaça se vidamos; mas sim em quanto á le
guarda, com o titulo de juramento gitimidade do Instrumento, a que
d'El Rei D. Afonso Henriques, data não subscrevemos; pela extravagan
do na Era de 1 152 , e com sello cia da Era , do Pergaminho , da
pendente de cera vermelha, no qual Letra, da tinta, e do sello, e pela
se vêm as armas de Portugal, cer confissão mesmo dos interessados.
cadas dos Castellos, que se lhes ac E despedindo-nos dos sellos, ou
crescentárão por occasião da con sinaes, que constantemente se pra
quista do Algarve no de 1 189. O ticárão por El-Rei D Afonso Hen
que não tem dúvida he, que a le riques; será bem para notar , que
tra, com que se escreveo este Do algumas vezes se tornavão a copiar
cumento falso he do Seculo XVI., por melhores pennas as Escrituras já
Tcm, I. Tt dé |
33o CR CR
de muitos annos feitas, e os Ama tellos (que El-Rei D.João III, re
nuenses já por ignorancia , já por duzio a sete) este mesmo foi o cu
equivocação, ou descuido trocavão nho dos selos pendentes, primei
os sinaes. Tal he a Dôação da Ida ramente de cera, e logo de chum
nha velha , e Monsanto, que El bo. E nem a perda daquelle Reino
Rei D. Afonso I. com seu filho o no de 1191 embaraçou se continuas
Rei D. Sancho, e sua filha, a Rai se a figura daquelle sello acastella
nha D. Thereza fizerão aos Tem do em alguns Documentos ; como
plarios secundo Kalendarum Decem se vê pelos Originaes de Ceiça:
bris. E. M. CC. III., a qual se tem hum de 1 195 que he a Dôação do
por Original entre os Documentos Couto da Barra: e outro de 1199
de Thomar , não sendo mais que # he o Reguengo de Migalhô.
huma pomposa copia , tirada com aremos hum , ou outro exemplo
tanta negligencia, que havendo os dos sinaes em Cruz. Em Lorvão se
Reaes Dôántes dito, que firmárão acha a Dôação da quinta de Louro
esta Carta de proprio punho, o Ama Sa em Terra de Alafões, que o di
nuense pintou entre duas grandes to Rei fez a Lourenço Viegas, e
Columnas de Confirmantes o sinal a sua mulher D. Mayor Paes, no
proprio d'El-Rei D. Sancho I. com de 1205. Nella mandou o Rei, e
os seus tres filhos; sendo certo que seus filhos fazer estes sinaes:
no de 1 165 pouco mais teria que JJ--JJ——JJ—JJ
onze annos de idade, se he certo Entre os Confirmantes, e Teste
que nasceo no de 1154. Eis-aqui o munhas.
sinal:

El-Rei D. Sancho I. continuou D. julianus Curie Cancellarius.


os sinaes rodados, de que ha innu Johannes johanis scripsit.
meraveis exemplos. Porém conclui No Cartorio da Fazenda da Uni
da a conquista do Algarve no de versidade de Coimbra se acha a Dôa
1 189 , e bordado o Escudo das Ar ção original que El-Rei D. Sancho
mas do Reino com os quatorze Cas I. com sua mulher, filhos, e filhas *
fi
CR CR 3.3 I
fizerão ao Mosteiro de S. Jorge ta apud Colimbriam VII. Kal. Maij
d’apar de Coimbra no de 119 I de in Era M.º CC.º XX, º VIIII."
toda a Décima , e qualquer outro Nos supranominari Reges, qui banc
Direito, Costume, ou Foragem que Kartam Testamenti facere jussimus,
á Coroa devesse pagar a Herdade
de Fazalamir: e isto intuitu Amorir e- "…#…=
No meio de duas # de
Dei, & B. Georgij Martiris, & Fi
lij mostri Regis D. Alfonsi , quem Confirmantes, e Testemunhas, que
Deo, ó B, Georgio super Altare ejus igualmente confirmão , se vê este
dem Martiris obtulimus... Facta Kar sinal: • * .

• • • • • •

eae Dezar Sandia


Dona, //ZZaúz:
|- • -R 647 |- * Alfoy «««

Rez Domnus

Raz
Zºr/Jozz
Xe

\,

Julianus Notarius V Regi.


Lugar do Sello K pendente. •

A linha do meio destes Circulos be vermelha.


D'El-Rei D. Afonso II. se achão o seu selo de chumbo pendente.
mui poucas assignaturas rodadas, e No de 1219, achando-se em Gui-.
em fórma de Cruz: quasi todos os marães: º 7 de Junho com sua mu
seus Instrumentos estão firmados com lher "rRainha
- t 11
D. Urraca , * # •
332 CR CR
filhos, os Infantes D. Sancho, D. istam sine sigillo, & signo. Et scien
Afonso, D. Fernando, e D. Alia dum : quod Rex Sancius habebat si
nor, confirmou ao Mosteiro de Man gillum , Óº sigillabat Frater istius
cellos a Isenção que seu Pai lhe Regis Alfonsus. A ser attendivel
concedêra de não pagar Colbeita a esta Nota , que he do tempo das
El-Rei. Acha-se esta Confirmação Inquirições d’El-Rei D. Afonso
original no Convento de S. Gonça III., Conde de Bolonha ; dire
lo da Villa de Amarante, ao qual mos, que este Monarcha , sendo
se unio aquelle Mosteiro, e a figu ainda Infante , servia de Chanceller
ra do sello pendente por fios de re Mór do Reino a 13 de Setembro de
troz de varias côres, he a seguinte: 1223; pois a este respeitavel Ofi
cio he que pertence pôr o sello a
todos os instrumentos, que emanão
do Throno.
No Foral, que este Rei fez pas
sar á Villa de Santa Cruz da Vil
lariça, junto á Ponte do Sabor, o
# se guarda original na Camera
a Torre de Moncorvo, para onde
aquella Villa se mudou, se lê: Fa
eta K. de Foro die, & quodum, quod
erit VIII. Idus junii. Era Mº CC."
LXIII. Ego Rex Santius Secundus, qui
istam Kartam jussi facere, scribere,
e legere audire, banc Kartam mani
bus meis propriis R-O-BO-R-O, &
signum 'K facio. E depois de mui
tos Confirmantes, se achão entre as
Testemunhas : Petrus Petri Maior
Portarius: Dominicus Scribanus Mayus
No reverso tem as mesmas Armas Fepositarius: Garcia Ordoniz Zequi
/(1/11/J = •

com as letras : Regis Portugalensis.


El-Rei D. Sancho II. não só usa Gonsalvus Menendi , Cancellarius
va de selo pendente, mas tambem Domini Regis.
de sinal. No L. dos Foraes Velhos Stephanus Johanis scribsit.
se acha o de Barqueiros: Facta Car O sinal do Rei he o seguinte:
ta mense Septembris. E. M. CC. LXI.
Ego D. Sancius, Rex Port. vobis Con
cilio de Barqueiros, coram meis Divi
tibus Hominibus , & meam Aulam,
hanc Cartam meis propriis manibus ro-
boro. E logo continúa : Facta Carta
apud Colimbriam XIII. die mensis Se
.ptemb., & cum meis Riquis Homini
bus D. Poncius Alfonsi, & c. E con
c!ue: Et Inquisitores viderunt Cartam
CR 333
tamentos de Lorvão, e no de Do
na Mumadoma de Guimarães. E da
qui veio chamarmos sinal á subscri
pção , ou nome de qualquer pes
soa ; sendo as ordinarias subscrip
ções dos Antigos o sinal da Cruz:
o que era huma especie de Jura
mento instrumental, á diferença do
Corporal, que se fazia tocando com
a mão a Santa Cruz. Este he o pa
recer do Doutissimo Marca. L. V.
Hist. Beneharnensis Cap. XXV. "
Mas daqui ninguem se persuada º
que os nossos primeiros Principes as"
signavão em Cruz, porque não sa
bião escrever de seu proprio pu
nho. Longe de nós tão vil, e gros
seiro pensamento. E sem nos em
baraçarmos com a Apologia de to
dos: seria cousa para se crer, que
não interrompendo, mesmo no meio
das armas, El-Rei D. Afonso Hen
riques a lição da Sagrada Biblia:
(precioso Codice, que ainda hoje
se guarda, e com o maior respei
to, á testa dos MSS. de Alcobaça)
; Deste modo he que os Monar não sabia formar o seu mesmo no
chas Portuguezes assignavão anti me? Pois teve Mestres, que o en
amente , formando com diversas sinárão a ler, e entender a Lingua
#" a Santa Cruz, ao que cha Latina, e o sentido recondito da
mavão Cruce subscribere. Desde a Escritura Santa: e não teve quem
primitiva Christandade sempre a lhe ensinasse a figurar as Letras do
Cruz nos Instrumentos públicos te A B C?... Não tinha elle muitos an
ve força de sello inviolavel. Gre nos quando, com sua irmã a Rai
gos , e Latinos usárão dellas, e os nha D. Urraca, confirmou a Dôa
Reis de Inglaterra ordinariamente ção, que sua Mãi havia feito no de
as formárão com tintas de ouro: al 1 1 12 a Gonçalo Gonçalves, de tu
gumas vezes mesmo forão exaradas do o que ella havia comprado no
com o preciosissimo sangue de Je Mosteiro do Villar, junto ao Rio
sus Christo, para maior firmeza do Februs, na Terra de Santa Maria;
que se contratava. Não negaremos segundo se vê da Escritura Origi
com tudo que muitas vezes forma #que de Pedroso passou para a
vão a Cruz, (como ainda hoje se Universidade de Coimbra. No fun
pratíca) ou outra qualquer cifra, os do della se lê: Rex Anfus Aronquio
que não sabião escrever o seu no nes, e Regina Urraka. E este era o
me; como se vê no Livro dos Tes trivial modo de confirmarem os Suc
. ."
CCS
334 CR CR
cessores, o que os seus Maiores ha menção no governo do Infante , e
vião feito , como se póde ver no se podem ver outros, que o A. da
Meth. Diplom. Cap. IX. Art. I. Reg. Historia do Hospital nos oferece
IV. f. 245. da Ediç. de Lisboa de 1773. Part. I. S. 15. Not. 7.
Porém, afirmando, que os nos Depois das Cruzes, de que usá
sos antigos Principes assignavão em rão os nossos Monarchas, seguia
Cruz, pela grande reverencia, que se o tratarmos das que usárão as
professavão a este mysterioso sinal; Ordens Militares. Mas sendo isto
ninguem se persuada, que elles se obrigação dos respectivos Chronis
occupavão em pintar as diferentes tas, como já na indicada Historia
fórmas que ficão indicadas, e ou da Ordem do Hospital, começou a
tras innumeraveis, que entre nós sefazer o seu Douto Indagador Part.
conservão: este cuidado era dos No I. § 2o: eu só direi alguma cousa
tarios, Notadores, Escribas, e ou das Cruzes dos Templarios, a que
tros Amanuenses, que ordinariamen succedêrão os de Christo, supprin
te escrevião debaixo da inspecção, do deste modo a menos exacção do
e revista de hum Principal, a que seu Chronista Fr. Bernardo da Cós
chamavão Cancellario. Este dictava as ta Freire na Historia da Militar Or
fórmulas das Cartas, e Instrumen dem de N Senhor jesus Christo, im
.tos Reaes, e regulava a fórma, e pressa em Coimbra no de 1771.
feitio das Cruzes, segundo o seu No Foral , pois, que o Mestre
gosto , e genio ; como de tudo o Gualdim Paes com os seus Frades
sobredito bem claramente se collige. derão aos habitadores da Redinha
. E de caminho se note, que este (então Rodina) no mez de Junho
Oficio de Cancellario, a que depois da Era M. C. 2XVII. (que he an
succedêrão os Chancelleres Móres do no de 1 159 ) entre os Confirman
Reino, e os Cancellarios das Uni tes , e Testemunhas se acha este
versidades, com mui diferentes Of sinal:
ficios, e Ministerios, não princi
piou no Mestre Alberto ; pois se
houveramos de dar credito ao cor
ruptor Lousada , que nos oferece
nos seus Extractos da Torre do Tom
bo, que se guardão em Braga, hu
ma Dôação feita pelo Conde D.Hen
rique, e sua mulher no de 1 1 1o,
como existente no L. V. d'Alem
Douro a f. 44: diriamos, que Gil
berto era Cancellario da Curia neste
anno. Porém abandonando patra
nhas: baste-nos saber, que na Dôa
ção original do Couto de Pendora
da, feita pela Rainha D. Thereza
no de 1 1 2 3 se lê: Menendus Can
cellarius Regime notavit. De outros
Cancellarios antes de Alberto se faz No Convento de Thomar, onde
CS
CR
este Original se conserva, ha ou
tras Cruzes antiquissimas, e bem se
melhantes a esta , e mesmo sobre
a porta do Castello de Almourol,
que pelo mesmo tempo se fundou;
mas isto não basta a persuadir-nos,
que esta fosse a Cruz vermelha,
que os Templarios trazião sobre as
vestes brancas ; e principalmente
achando nós em os marcos, que no
tempo daquelles Militares se erigí
rão , em sellos, sinaes, e pinturas
de huma veneravel Antiguidade fór
mas mui diversas de Cruzes, que
he bem de crer se lhes daria aquel
la figura, que então prevalecia. Em 18 de Junho de 1289 D. Do
Na cerca do Castello de Thomar
mingos Bispo d'Evora, e o seu Ca
ha huma porta, de que já hoje se bido fizerão amigavel composição
não faz uso : conserva o nome de
sobre os Direitos Bispaes da Igreja
Porta Sanguinis, pela razão, que to de Arens com D. Afonso Gomes,
dos sabem. Sobre ella, e da parte Meestre do que a Ordem do Temple
de dentro, se vê huma Cruz na fi ba em Portugal , e os Freires dessa
gura, que aqui vai debuxada: meesma Ordem: os quaes todos dáci
ma, a prazer d’ambalas partes, se
concordárão sobre os Dizimos ,2 e

Colheitas, e sobre a Apresentáção


do Parocho, que seria Frejre, ou
Segral jdoneo , apresentado sempre
pela Ordem. Nesta Carta original
se achão tres selos pendentes por
nastros de linho, # do mesmo
feitio, e de varias côres; o 1.º do
Bispo, o 2.° do Cabido, o 3º do
Mestre da Ordem do Templo: no
seu campo se vê hum Agnus Dei,
que com a mão direita segura hu
ma bandeira que remata em huma
No Foral que os Templarios de Cruz: e na bandeira, que se vê tre
rão a Castello Branco no de 12 13 molando, se acha outra Cruz desta
se acha a firma, ou sinal de Fr. Pe figura X" : e na circumferencia se
dro Alvitiz, Mestre do Templo em al lê: S. Preceptoris Templi in Regno
gumas
ra, he partes de Hespanha, cuja figu Portugaliae K. Todos estes tres sel
a seguinte: • •

los são de cera vermelha , e bem


conservados.
Extinctos os Templarios, e levan
tada sobre as suas ruinas a Crdem
Mi
336 CR CR
Militar de Nosso Senhor Jesus Chri ou Senhorio: onde quer que for, e
sto, parece, que desde logo não estiver , se lhe assista com todas
houve grande diferença nas Cru as rendas , e benesses , como se
zes. No de 1322 Fr. João Louren precisado a ausentar-se não fôra. Foi
ço I. Mestre desta nova Milicia, esta Carta sellada com o sello do
que principiou em 1319 , empra Mestre , que já se esmigalhou, e
zou com o seu Convento huma Her com o do Convento, que ainda se
dade, que tinhão na Ribeira da Be conserva, e ambos de cera, pen
selga a Estevão Annes, por alcu dentes por nastros de linho verme
nha o Boyeiro, e a sua mulher. Nes lho, e muito grossos. A Cruz pa
te Prazo se apensárão os sellos do rece seria
usava: he conforme
esta: á que então se •

Mestre , e do Convento : o deste


já lhe cahio, e suppomos seria o
mesmo, que abaixo vai figurado. O
do Mestre em nada difere, quan
to á Cruz; excepto que he maior,
e não tem a linha , ou cercadura
quarteada á roda dos braços, e has
tea. Eis-aqui a sua figura, a pezar
do mal tratado, que hoje se acha:

E para concluirmos já com as


Cruzes, que fazião as vezes de Si
maes; he bem para notar, que no
de 1 159 , quando já os Bispos de
Portugal usavão de selos proprios,
e pendentes, ainda se achem Do
cumentos originaes com sinaes de
Cruzes. Tal he hum de Thomar,
que nos mostra a dimissão, e re
No de 1325 o mesmo Fr. João nuncia de todos os Direitos Episco
Lourenço, Mestre da Cavallaria de paes, que D. Gilberto Bispo de Lis
N. S. J. C., de conselho, consen boa, e o seu Cabido, tinhão, ou
timento, e approvação de seus Frei podião ter, assim na Igreja de San
xes , fez hum Estatuto , para que tiago da Villa de Santarem, como
succedendo Cajom , que qualquer em todas as que os Templarios ti
membro desta Milicia, tambem Ca nhão edificado, ou edificassem pa
valeiro, come Creligo, come Confes ra o futuro dentro do Termo do
so , sendo precisado a sahir para Castello de Cera, cujo Territorio,
fóra da terra, onde tem os seus bens, ainda no de 1 159 se não tinha ave
e mantimento, com medo do Principe». riguado , se era de Lisboa, se de
Coim
CR 337
Coimbra, se da Idanha. Entre as letra Gothica-Toletana, e mandada
columnas dos Confirmantes, Robo tirar sobre os Casaes Reguengos,
rantes, e Testemunhas, se vê este e outros Direitos Reaes na Terrá
sinal: • •

de Viseu no de 1 127 por certos


Enqueredores, entre os quaes se
achou Monio Mendes: Maiordomo
d'illa regina , ó d’illo comite , qui
exquisierunt terram de Viseo perman
dado d’illa Regina , & d’illo comite .
dõnur Fernandus: se faz menção de
hum terreno, que jaz ad illas incru
ziladas de suarua, e est inde a me
dia d’illa regina. Doc. da Torre do
Tombo. -

CUBA. Não só se applicavão


antigamente as cubas , para reco
lher o vinho: tambem nellas se re
-
+
colhia o pão , e nos cubos se en
Lugar do sello K pendente. Dos cubava o vinho. Duas cubas velhas
Cruciferos, Cruzados, e varias Cru pera pam, vazias: e dous cubos pi
zes V. Du Cange V. V. Cruces, Cruce quenos , pera vinho. Inventario da
signati, Cruciferi, Cruz, Crucem as Igreja de Santo André de Escariz
J{1/770/8, •
de 1418 nas Bent, do Porto.
CRUZAMENTO da cara. Gil CUBILHEIRA , e Cuvilheira,
vaz, golpe grande na face, dado Mulher de idade, e qualidade, que
em fórma de Cruz , ou de algum tratava da limpeza, e aceio, galas,
modo atravessado. Não birá contar e perfumes dos leitos , e vestidos
em Castella ao spalheiro o cruzamen das Pessoas Reaes. Até o tempo
to da minha cara. Carta de D. Lou d'El-Rei D.João I. tinhão os Infan
renço Arcebispo de Braga, contan tes suas cubilheiras, que lhes guar
do o que lhe succedeo na batalha davão as roupas , e # prestavão
de Aljubarrota , onde hum Caste outros obsequios, que mulheres hon
lhano lhe deo hum_golpe na cara. radas honestamente podião fazer a
CRUZILADA. Encruzilhada de gente nova: então lhes derão escu
dois, tres, ou quatro caminhos, que deiros, que tivessem este cuidado.
reciprocamente se cruzão. Na Dôa Tinhão mulheres, que lhes alimpavão
ção do Couto de Argeriz (hoje Sal os vestidos, e lhos perfumavão, a que
zeda) que El-Rei D. Afonso Hen chamavão Cuvilheiras , que be tanto
riques confirmou a D. Thereza Af como Cubicularias , ou Camareiras.
fonso no de 1155, (havendo sido Chron. d'El-Rei D. João I. Este
a I. Dôação no de 1 152 ) se diz: Oficio era mui diferente do que ao
In primis in Aquilone dividit eum La depois se deo á Camareira Mór, que
mego per pelagum de Mauriano. . . . sempre he huma Dama viuva, e Ti
JDeinde ad cautum de Cruzilada de tulada. E talvez principiou em Por
Sancto Felice. Doc. das Salzedas, Em tugal ao mesmo tempo , que a de
huma Inquirição original, escrita em Camareiro
Vy Mór, de que achamos ti

no
Tom. I.
338 CR CR :
ticia no Beinado d'El-Rei D. Af a que erão infantes recem nascidos
fonso III. em foão Fernandes, Cama para o Ceo. Desde logo porém hou
reiro Mór. Porém havendo já este ve grande variedade na fórma des
Oficio Palatino em tempo dos Go ta vestidura , que antigamente se
dos, dizem alguns, que em Portu chamava Colobio, isto he, Tunica
gal pertenceo este Oficio ao Re sem mangas: humas vezes não pas
posteiro Mór, que neste Reino creou sava dos hombros, outras vezes che
El-Rei D. Afonso II, na pessoa de gava aos pés; já tinha mangas cur
Pedro Garcia. Assim como do Ca tas , já compridas em fórma de
mareiro Mór he o vestir, e despir Cruz. Tambem a Cuculla, ou Cu
a El-Rei, levantar-lhe a falda nos cullo se chamou Casula por ser co
actos de Cortes, &c.; tambem á Ca mo huma pequena casa, ou célla,
mareira Mór pertence fazer o mes que cobria todo o corpo do Mon
mo serviço á # servir-lhe de ge desde a ponta do pé até o mais
caudataria , quando Sahe de cere alto da cabeça. Assim o diz Papias
monia , &c. Esta he a maior dig Cuculla per diminutivum dicitur á Ca
nidade das Damas do Paço. sula, quasi minor cella. E logo Cu
CUBO. O mesmo que Cubello. cullus, genus vestis Monachalis, quam
He huma obra Militar, especie de capam dicimus. Porém sempre a Cu
torre, perfeitamente redonda, que culla se distinguio do Floco ; pois
antigamente se usava nas Fortale diz Clem. V. no Concilio Viennen
zas, e Praças defensaveis, princi se, que a Cuculla não tem mangas,
palmente a meia cana, que faciava á diferença do Floco , que as tem
ao longo do muro. Deo-se-lhe este largãs, e compridas.
nome pela semelhança dos Cubos CUCULLA. Casula, vestimen
de pedra , que ainda se usão nos, Sacerdotal, que no Sacrificio da
ta
moinhos de pão; ou pela figura cy Missa cobre todas as mais vestidu
lindrica, que se dava aos toneis, ou ras do Sacerdote. Antigamente não
cubos de recolher o vinho. Doc. de havia diferença entre Casulas , e
Moncorvo de 1376. -
Dalmaticas, ou Planetas, de que os
CUBO. V. Cuba. Sacerdotes, e Diaconos usavão nas
CUBIÇANTE. O que tem de funções do Altar. Da semelhança
sejo , leva em gosto , e vontade. com as Cucullas Monachaes lhes
Cubiçante satisfazer á Casa de Deos. proveio este nome. Nos Estatutos
Doc. de Maceiradão de 1476. : da Cartuxa de 1368 se nomêão com
CUCULLA, e Cucullo, ou Co frequencia Cucullas Ecclesiasticas as
gula. Vestidura Monachal com ca Casulas , e Dalmaticas quibus in
pello, e mangas, que se veste so Sacris Liturgiis utuntur Diaconi, ó.
bre as mais. Porém as dos Leigos Sacerdotes Monachi. Entre as Dôações
não tinhão mangas. Dizem que da de Paço de Sousa se acha huma de
Loba, que usárão os Sagrados Apos 1o63. De uno Libro Mistico, ó una
tolos , nasceo a Cuculla, que ao Cuculla de sirgo. O Livro Mistico
principio nada mais era que hum cer he o Missal , chamado assim por
to capello , com que os Padres do conter tudo o que pertence aos Mys
Ermo de dia, e de noite cubrião a terios, e ceremonias da Missa. V.
cabeça; alludindo nesta vestidura, Mirsal Mistico. Estava logo mui pos
TO

*
CR CR 339
to em razão, que para a celebração CUNHO. V. Cahunho, e Conho.
do Sacrificio se dôasse juntamente CUNTAS. Contas de resar, ou
huma Casúla de seda. E nem he para ornato. D. Chamoa Gomes no
de presumir , que os Santos Mon seu Testamento de 1258 deixa as
ges, que antigamente se vestião de suas Cuntas á Abbadessa d'Entre am
tunicas de pelles grosseiras, a que bos Rios. Doc. da Salzeda.
chamavão Amphimallos, tivessem Co CUNUÇUDO, e Conozudo, a.
gulas de seda, tão rara, e preciosa Conhecido , público, sabido, no
para aquelles tempos, e que hoje torio. He trivial no Seculo XIII., e
mesmo seria hum escandalo, e abo XIV. V. Marido Conozudo.
minação: só poderiamos suspeitar, CURSAVEL. Que vaga , cor
que para maior gravidade do Sacri re, e chega a muitas partes. Por
ficador, e honra do Sacrificio, ha ser moeda nobre, e rica, e mui cur
veria nas Sacristias dos Monges Co savel. Carta d'El-Rei D. João II.
gulas destinadas tão sómente para o para a Cam, do Porto , sobre as
serviço dos Altares, (onde a seda novas moedas d’ouro, e prata, que
não he # e sobre as quaes mandava lavrar no de 1489.
os Ministros Sagrados vestissem os CURTELLO. Parece ser cutel
respectivos Paramentos. As Rubri lo, ou póda de vinhas, que se faz
cas mesmo do Missal Romano ain com elle. Paga o dito Casal vinte al
da hoje mandão , que os Prelados queires de pam , e dous dias de cur
tomem as Vestiduras Santas sobre tello. Tom. de Villarinho.
as sobrepelizes, que antigamente CUSAS. Cousas, Doc. das Bent.
erão huma especie de Cogula, que do Porto de 133c.
cobria todo o corpo , e não huma CUSINA. Sobrinha. Acha-se em
gorgueira de encrespados , , que á Portuguez do Sec.XV. esta palavra
# , e Religião substituio a verdadeiramente Franceza.
vaidade louca dos nossos dias. CUSTAGEM. Custo , gasto,
CUEZA. Medida de grãos, me dispendio. No de 1447 pedírão os
nor, que o 4taúde. de Ponte do Lima os Residuos des
CUIDAÇÃO. Disvelo , cuida ta Villa, e seu Termo a El-Rei D.
do Doc. de Tarouca do Seculo XIV. Afonso V., allegando, que já ti
CUIGO. Cujo. Sentença de 141o nhão feito huma boa Igreja nova,
entre os Doç. de Ponte do Lima. e que entendião fazer d'arredor del
CUIRMAO. AA. Primo, filho la huuã booa praça , com huum cha
do irmão de seu Pai. Fr. Estevão de fariz , todo muito solemne; e porque
vide seu Cuirmão. Doc, das Salzedas a dita Egreja be de muito grande cur
de 1 31o. * tagem , &c. Doc. de Ponte do
CUMELLO. V. Columello. Lima.
CUMUNAS. O mesmo que Sy- CUSTUMAGEM, e Costuma
magogas. V. Cinuna , e Comuna. No gem. Direitos, foros, e pensões,
Cod. Alfons. L. II. Tit. 69 , e 72 se que não tinhão outra origem mais,
faz menção das Cumunas, que o costume de se pagarem , e
CUNCA. Tigella. Ainda hoje mui frequentemente contra toda a
tem uso em algumas Provincias da razão, e justiça. Nas Cortes de 1482
Monarchia. desembargou El-Rei D. João II. al
Vv. ii guns
º
". \

34 O CR , CR
guns Capitulos Especiaes aos Mo ticularmente no criminal , em que
radores de Freixo # Spada-Cinta:decidia sobre a vida, ou membros
em hum delles lhes confirma o Pri dos vassallos , desterro, ou confis
vilegio d'El-Rei D. Afonso Hen cação de todos os seus bens: e por
riques, e de outros Reis, seus Suc isso se chamava Senhor de Cutélo.
cessores, para que em nenhuma par Verdade he que não podia exorbi
tar das Leis huma vez estabelecidas
te peguem Portagem, Usagem, ou
Custümagem. E no de 1633 lhes con na sua Comarca, ou respectivo Ter
firmou El-Rei D. Filippe III. o mes ritorio; porque isto só he do Sum
mo Privilegio, de não pagarem Por mo Imperante da Républica , ou
tagem , Usagem , nem Costumagem. Nação, e nos casos, que o Domi
Doc. de Freixo. nio Alto lhe permitte. O Imperio
CUTELADA: Cutilada, golpe Mixto , ou Baixo , a que tambem
de cutélo , ou de qualquer outro chamárão jurisdicção Media , era
Instrumento cortante , ou agudo. hum Poder, que se não extendia á
Nas Posturas d'Evora de 1318 se diz: pena de sangue, e que ordinaria
It : rnandamos, que todo o corregimen mente versava tão sómente nas causas
to de ferida de cabeça, que tenha vur civís, assim, e daquelle modo, que
mo, de que jasca o home em leito, pelo Senhor do Mero Imperio, lhe era
seu corregimento be X. maravidir: fe commettido. O Magistrado deste
rida divirada de rosto XII. marav.: Imperio Mixto recebia alguns inte
Toda ferida de cabeça, que seja san resses, e gajes por administrar jus
goenta , peite VIII, mar.: Todas fe tiça ás partes. Estes dois Imperios,
ridas negras em rosto, cada huma se ou Poderes são os que hoje chama
correga per si: seu corregimento por mos Civil, e Criminal: o 1.º enten
cada huma, VIII. marav.: E se an dido pelo Baraço se extendia á pri
dar entre essas feridar negras huma são , e sequestro das temporalida
sangoenta; a sangoenta se correga, e des , até condigna satisfação dos
non as outras. It : por todas outras acrédores, ou queixosos: o 2.º re
cuteladas, ou lançadas do corpo, por presentado no Cutelo, se extendia
cada buma seu corregimento he VIII. até a mesma morte natural, ou civíl.
marav L. dos Foraes Velhos. Em Portugal não faltão exemplos
CUTELO. Na Jurisprudencia destes Senhores de Baraço, e Cu
antiga erão mui frequentes estes télo. D. Ansur (que com sua mu
termos Barafo, e Cutélo, correspon lher D. Ejeuva fundárão o Mostei
dentes a Soga, e Cuchilo, como os ro de Arouca , e o dotárão no de
Hespanhoes se explicavão. Chama 95 m declarando, que esta Villafa
vão pois Senhor de Baraço, e Cuté zia parte com o Territorio do Porto)
lo ao que tinha em algum Territo era sem dúvida Senhor de Baraço,
rio todo o Mero, e Mixto Imperio, e Cutelo no de 943 em a Cidade,
ou todo o Alto, e Baixo Imperio. O (Comarca, ou julgado) de Anegia,
Mero, ou Alto Imperio era o Poder, a quem Arouca pertencia no
ou Jurisdicção alta, e suprema pa 989 ; pois na sua presença se agi
ra obrar tudo o que fosse a benefi tou a causa do Presbytero Adulfo,
cio da Républica, e sem particu de que ele mesmo nos informa dá
lar interesse do Imperante, e par maneira seguinte:
Du
CR CR 34f
Dubium non est, sed múltis manet mento dôou ao Mosteiro certos bens:
cognitum, Ego Adulfus Presbitero pro e para confirmação desta Escritura
meo peccato, Óº insidiis diaboli, quod derão os Monges ao Dôador unam
decepit me, Óº feci homicidio de bo mantam adpreciatam in IV, modios,
mine, nomine Leo, & pectavi de il &º VII, cubitos de lenzo, que dedi
Io homicidio ad sua gente, Óº de il mus ad illos sayones in carceratica,
lo remansit super me , quod non po et duos modios in sayonizio. E tal era
tui implere : & adduxerunt me pro a fórma dos Juizes, e Magistrados
ad morte. Et veni ante Domino An daquelle tempo. Aquelles Senhores
suri Godesteiz, Óº uxori sua Eijeu das terras , Condes, ou Corregedores
va, Óº rogavi bomines bonos, ut fa de maior alfada, davão, e tiravão a
bulassent ad illo , quod misisse suo vida aos criminosos , conservavão,
ganado pro me; quia ego non habebam ou tolhião seus membros, segundo
unde implere illo , & liberasset me o seu arbitrio, e huma Dôação for
de illo homicidio, Óº dedissem ego ad çada, talvez feita ao mesmo Juiz,
ille Domino Ansuri omnia mea haere bastava a diluir a culpa. Tal foi a
ditate, ut fuisse libero de ipso homi que a desconsolada Bona fez a Mo
cidio in cunctis diebus vitae meae; si nio Viegas, e sua mulher Unisco de
cur &"fecit. Obinde ego Adulfus Pres huma herdade em Gestaçô, para
Bytero placuit mici, pro bonae pacis, ue lhe soltasse com vida a seu fi
cy voluntatis , ut darem, vel conce i\,
Diogo, que tinha commettido
derem vobis Ecclesia mea Domino An hum forçamento em casa dos Do
suri, ó uxori vestrae Eijeuva Eccle natarios , furtado muitas cousas, e
sia mea propria, vocabulo Sancto jo feito grandes malfeitorias, pelas
banne , quorum Baselica fundata est quaes estava prezo na cadêa da Ci
subtus mons Petroselo, discurrente ri dade de Bemviver, e a ponto de ser
bulo Tamica, in Villa, quor vocitant punido com pena capital por sen
Losidi , in loco praedicto in Casale, tença do mesmo D. Monio, Senhor
Quos fuit de patre meo Prudenzo, da terra ; mas a Dôação da viuva
quos edificavi deverede. Damus, & c. revogou a # , e lhe alcan
Facta Cartula , quod erit XI. Kal. çou a vida, no de 1o68, segundo
Novemb. era dcccc 2xxxt. Doc. de o Doc, Orig. de Pendorada.
Arouca Gav. 3. Mass. I. N. 1, 2, No Mosteiro de Santa Maria
e 3. d'Aguiar se conserva a Doação da
No L. das Doações de Paço de Sou Granja da Torre (que ficava já den
sa a f. 32 , se acha como o Meiri tro em Portugal, e hoje está des
nho do Conde D. Henrique na Ci povoada) e # Granja de Rio Chi
dade do Porto , chamado Afonso co, assim como as possuia o Con
Spasandiz fez prender hum moço, de D. Gomes , Senhor de Trasta
que tinha furtado humas ovelhas: mára, com toda a Jurisdicção civíl,
e por isso lhe queria arrancar os e criminal, a que chamão de Soga,
olhos, e que seu Pai as pagasse: e Cuchilo, feita por El-Rei D. Fer
por intercessão dos Monges de Pa nando de Leão no de 1165 a D.
ço foi solto, e livre, havendo pa Ugo, Abbade deste Mosteiro. Po
go a mão posta, e carceragem. En rém esta Jurisdicção já era mais an
tão o Pai do culpado em agradeci tiga nos Abbades de Aguiar; pois
f{Q
342 CR CR
no seu Claustro se encontrão asse firmou El-Rei D. João I. a permu
pulturas de tres , com espada es dação que o Bispo , e Cabido de
culpida nas campas: sinal evidente Coimbra havião feito com Martim
do seu Mero, e Mixto Imperio em Vasques da Cunha; dando aquel
algumas granjas do Mosteiro , co les os Lugares de Belmonte , e o
mo até estes nossos dias o forão de Couto de S. Romão, e recebendo
Baraço, e Cutélo na Villa da Bou deste a Villa de Arganil, e seu ter
fa, que já fica em Hespanha, on mo. Em ambos estes Territorios ti
de punhão toda a Justiça, e até a nhão huns, e outros Mero e Mixto
mesma forca. No de 1 162 já se ex Imperio , Padroados , e Direitos de
ercitava pelos Prelados desta casa Padroado, fructos, e proveitos, ren
huma Jurisdicção tão abusiva , se das, e outros Direitos. Doc. da Ca
gundo se vê das tres Inscripções se thedral de Coimbra,
pulcraes, que se podem ler. V. Ab CUVILHEIRA. V. Cubilheira,
bade Magnate. Todas tem espada, CUYTA. V. Coita.
ue nos faz crer serem os Abbades CUYTELLO. Canivete, nava
# Mosteiro Senhores Temporaes, lha de algibeira.
do Sec. XIV. Doc. de Tarouca •

Capitães Móres, Alcaides, ou Fron


teiros , dos quaes a insignia mais CUYTOSO. Coitado, mesqui
propria era a espada, como vinga nho , miseravel. Doc. de Tarouca
dores dos crimes, e delictos dos seus do Sec. XIV. -

vassallos, segundo a frase do Apos UMICHA. V. Semichar.


tolo ad Rom. 13. 14. Non enim sine ÇURAME. V. Cerome.
causa gladium portat.
Porém o tempo mostrou aos nos
sos Religiosissimos Soberanos, que
o Direito da Vida , e da Morte se D.
não devia alienar da Coroa; sendo
a saude, e indemnidade do Povo a D. Como letra numeral valia
Lei Suprema. E por isso forão coar 5oo: tendo por cima hum risco hori
tando estas Jurisdicções, reduzin zontal, tinha valor de 5Qooo.
do-as a mais estreitos limites. No D. Na musica era sinal para se
de 1 386 , e a 6 de Fevereiro achan abaixar, e deprimir a voz.
do-se El-Rei D. João I. no Arreal D. Por B, P, e Z se acha com
de sobre Chaves, fez Dôação a João frequencia nos antigos Documentos,
Rodrigues Pereira , seu vassallo, além de outras mudanças que nes
de Baltar, e Paços: e logo a 8 do ta letra se encontrão, e tambem por
mesmo mez, e anno, do }ulgadode /; v. g. Vodete.
Penafiel; e tudo isto de juro , e _ D. Por The mui frequente no
Herdade, com toda a jurisdicção Ci Seculo X. Em hum só Documento
vel, e Crime, Mero, e Mixto Impe do Mosteiro de Cete de 985 se achão
rio; reservando porém Correição, e as seguintes palavras, além de ou
Alçada: e isto pelos seus mui assi tras , que por brevidade se omit
gnalados serviços. Achão-se estes tem: Trindadis, eredidates, praeno
Alvarás Reaes no L. grande da Cam. minadas, firmidadis, Salvadoris, fun
do Porto a f 136. No de 1394 con dada , fida , perpeduidatis, pecado
res,
D DA 343
ref , excomunigadus , perpedua, du brar sempre ; posto que raras ve
bladum, noduit, por Trinitatis, & c. zes, ou nunca se verificassem as
D. Antigamente se escrevia com condições da sua origem. Na Bai
tres estrellinhas, postas em triangu xa Latinidade se chamou este Di
lo,
nestaalludindo
fórma …",ao. Delta
. . dos Gregos •
reito, ou Tributo: Dadea, Datea,
Dacia, Data, Datio 2, Dacio, Datia
D. Voltado com o meio circulo Dativa, Daticum, Dačitum, e Dacita,
para a esquerda, e atravessado por e Datiarius : o Rendeiro, ou Mor
cima com huma linha recta, deste domo, a quem pertencia a cobram
modo : G era para com os Roma ça destas Dadivas , que nada me
nos abbreviatura de Depositus , ou nos tinhão, que serem livres, vo
Deposita... - - - · - - *; luntarias, e #, e segundo o
D. Por E me parece se ha de genio , posses , e arbitrio de cada
ler nesta Inscripção em tudo gros hum , reduzidas já a huma contri
seira, que foi conduzida, não de buição sabida, forçosa, e perpetua.
muito longe, ao adro da Igreja de Nas Inquir. d'El-Rei D. Afonso II.
Penalva , onde permanece, com o de 122o se acha este Titulo: Hec
D voltado á esquerda. •

sunt Inquisitiones de Regalengir... de


Foris , & de Dadivis. Na T. do T.
DAGANHAS, Deganas, e De
D M S ganhas. Assim chamavão ás terras,
P R O C III que se havião emprazado ao Con
celho, ou tomado dos montes ma
A H I L I B I I R ninhos, e reduzido a cultura, es
tando antes desaproveitadas, incul
T A I I R V S T tas , e bravías. Em hum Escambo
A N. L. I T que o Mosteiro de Grijó fez com
o de Arouca, se diz: Quae herda
CI M P R O menta vulgariter Deganhas nuncupan
C I I I A I I PA | . tur. De Ganhadías se disse Dega
nhas , e Daganhas , e tambem no
singular Daganha, Deganha, Dega
As suas letras dizem : Diis Ma ma, & c., como por outros Doc, do
nibus Sacrum. Procetae libertae rusti mesmo Mosteiro se evidencía. No
cae, annorum quinquaginta. Item Pro de 853 os Bispos Severino, e Ariul
cetae Patrono. fo , que residião na Cidade de Ovie
DADIVAS. O mesmo que fan do , jazendo as suas Cathedraes em
tares , Colheitas, ou Paradas, que poder dos Sarracenos, entre os mui
principiando na generosa liberali tos bens, que dôárão á Sé daquel
dade dos vassallos, ou colonos pa la Cidade, foi o Mosteiro de São
ra com os seus Principes , ou Se João Baptista de Argueres, cum om
nhorios, quando em beneficio, e nibus suis deganeis , praenominatas :
utilidade delles vinhão ás suas ter Ecclesias S. Mariae de Allega, e ou
ras, ou Casaes , com o rodar do tras quatro Igrejas, cum omnibus ruir
tempo ficárão sendo hum tributo, appendiciis. E eis-aqui sinco Igrejas,
ou pensão annual, que se fazia co que se chamão Deganhas; ou por
que
344 DA DA
que as houverão de Ganbadia , ou DANAR. Causar damno, fazer
porque as fundárão em terras bra detrimento. He frequente no Secu
vias, e incultas. Hesp. Sagr. T. 37. lo XIII., e XIV.
f. 319. No Sec. XII. temos Doc., DANTE. Dada, ou datada. Dan
em que se lê Decanea no mesmo te em Santarem , Dante em Obidos,
sentido. é, c. Era o estilo das Cartas Reaes
DAMI. O mesmo que Exami. Era do Sec. XIII., e XIV., e XV.
anno de Seda, já verde, já branco, D'ANTRE. Tirado do meio del
já vermelho, ou de outra côr. Escre les , de entre os mais. D'antre el
veo-se com toda esta variedade: les. Doc. das Bentas do Porto de
Damitum, Dami, Exametum, Exa 128o. * * * *

mittum, Examitum, Xamitum, Scia DAPIFER, e Dapifero. V. Mor


mitum , Samita , Samittum , Sami domo Mór. ",

tum, Sametum, Samis, Samir, Ex DAPNADO. O mesmo que Da


aminatum, & c. E sendo de téla de nado. V. Defaleçudo.
ouro se disse: Aurisamitum. Deixa DAPNADOR. Malfeitor, o que
das outras etymologias , dizemos, por si, ou com os seus animaes faz
que esta palavra vem do Grego Ex qualquer damno nos bens, ou cou
amitos: isto he, tecido com seis li sas do seu proximo. E os dapmado
ços, assim como Monomitos : com res nom tem escarmento; e quando mui
hum só liço, Trimitos: com tres; e to be , bebem antre si buma canada
Poljmitos com muitos. E daqui os de vinho dá custa do dapnador, e nom
VerSOS - pagam outra Coima. Cap. Espec. pa
ra Viseu nas Cortes de Torres-No
Est, mibi crede, Mitos, filum: sed
vas de 1438.
fabula, Mythos. •

A Mithos, Examitum: de Mythos, DAR de avesso com alguem. Ar


Mythologia. ruiná-lo, perdê-lo, destruí-lo.
Guarte delle, que te espreita,
Entre os Doc. de Paço de Sou Por dar d'avesso comtigo.
sa se acha huma larga Dôação, que Sá de Miranda.
Egas Moniz fez áquelle Mosteiro DARDELOS. Já desde o Sec.
no de 1 145 (em que morreo) de XIII. até os fins do XV. se encon
herdades , e móveis, e destes foi tra a cada passo: Todolos , e toda
uno manto de grecisco, Ó" alio de Ex las , Dardelos , Pagardelos , & c.,
ami: tres cappas, una de ciclaton, et ajuntando-lhes na pronuncia as par
alia mudbage , et alia de uno Dami. ticulas os, e ar, que se referem ás
DAMOLHY. Damos-lhe. Doc. cousas, que ficão ditas. E sendo no
de 133o. singular se lhe ajuntão o, ou a V.
DANADO, Maltratado , perdi g. Dardela, Pagardelo, & c. Todas
do, arruinado, reduzido a miseria, as vezes, que se seguião as ditas
e pobreza. Seguindo-se daqui, serem particulas ao s , este se convertia
os lavradores , e pobradores das ter em } por causa da eufonia, ou me
ras danados, e estragados, e hérnia lhor suavidade da pronuncia.
rem, e despobrarem as ditas terras. DAVANDITO. Ante-dito, so
Carta d'El-Rei D.João I. de 1396. bredito, de que já acima se tem di
Doc. de Bragança. to, ou fallado. Outorga a vos davam
di
DA. DE 345
dito Conzelo essa vina, de susodita.
de se pagarem as Décimas ás Igre
Escambo de huma Vinha, em que jas. E por tanto manda com pena
se fundou a presente Villa de Tarou de Excommunhão, que dalli em dian
ca, no de 1273. Doc. das Salzedas. te assim se guarde, para que os
DAVANTE. Por diante, pela Ministros do Senhor, desoccupados
prôa. -
de todos os cuidados da terra, uni
DE em lugar de Et. Acha-se em camente se occupem em chamar so
hum Doc. de Pedroso de Io78, e bre os Povos as Bençãos do Ceo,
outros. . a paz, e salvação. E finalmente os
DECIMAS. Assim chamárão an Capitulares de 779, e 8or conven
tigamente aos Dizimos, que da Sy cêrão os Povos da obrigação das Dé
nagoga passárão para a Igreja. O cimas, em lugar das Oblações, que
constarem da décima parte dos fru d'antes, e desde a primitiva Chris
ctos lhes rendeo o nome de Déci tandade se praticavão. Mas esta Dis
mas , que hoje diferem dos Dizi ciplina não chegou por então até
mos, em serem estes applicados pa os ultimos fins, e balizas da Hes
ra a sustentação congrua dos Minis panha, que gemia acabrunhada pe
tros do Senhor, reparo, e construc los sequazes torpes de Mafoma. V.
ção dos Templos, e soccorro dos Igreja, e Terças Pontificaes.
pobres; e aquelas nada mais são, Nos fins do Seculo XI. he, quan
que hum Tributo, ou contribuição do os nossos Maiores forão reconhe
decumána, imposta, e arrecadada cendo a obrigação das Décimas, ou
segundo a Ordenação do Principe, Dizimos , que só no Seculo XII.
e tendo em vista os rendimentos, geralmente foi entre nós reconheci
e fundos dos vassallos. Todos sa da. Mas quem tal pensára!... com
bem o que erão as Décimas na Lei o bom uso, começou juntamente o
antiga; mas não está averiguado ain abuso. Já eu não falo do terrivel,
da o tempo certo , e difinido, CIT] e pernicioso golpe, que o Conci
que este preceito Legal passou a lio de Merida do VIII. Seculo fez
ter observancia na Lei da Graça. na Disciplina Ecclesiastica; permit
No IV., e V. Seculo havia alguns, tindo, que os Bispos chamassem os
que por devoção davão as suas Dé Parochos para os seus Cabidos, a
cimas á Casa do Senhor. Alguns quem unissem os Emolumentos das
{ Santos Padres assim o aconselhavão; suas Parochias , ficando nellas Cu
mas nenhum as propôz como Lei ras, e Vigarios de Porção Congrúa,
impreterivel ao Povo livre, e res e propriamente Mercenarios , com
gatado. No de 567 os Bispos da detrimento irreparavel das Ovelhas:
Provincia de Tours, havendo cele não fallo mesmo da Terça parte
brado Synodo, dirigírão ao Povo dos Dizimos, que os Pontifices con
huma Encyclica , exhortando o a cedêrão aos Reis de Hespanha pa
pagar as Décimas , e propondo-lhe o ra sustentarem a guerra contra os
exemplo de Abrahão. Avante passou inimigos da Fé, e da Igreja ; co
o Concilio Metisconense II. de 585 mo se disse V. Terças Pontificaes:
que no Can. V. Se queixa, de que Igualmente prescindo das muitas
quasi todos os Christãos se houves Décimas, que ás Ordens Militares
semTom.
esquecido
I. do costume antigo se concedêrão no Seculo XII., e se

Xx guin
|

346 DE DE
guintes. Este foi hum mal necessa sa, e totalmente inutil á consumma
rio, e que então produzio bellissi ção da Obra, para que o Filho de
mos efeitos. V. Abbade Commenda Deos baixou das alturas, póde ter
tario. Mas quem se poderá conter, algum apoyo nos Sagrados Codi
que não deplore as Décimas, e mais ces, no exemplo de Christo, e seus
Oblações dos Fiéis levadas tão longe Apostolos , no Direito das gen
da sua Instituição primitiva , que tes, na equidade, e na razão?...
çom elas se dotassem tantos Mos Qual delles se emprega em evan
teiros , e Beneficios simplices , e gelisar o Reino de Deos, para ser
sem Cura d'almas!... Não, já não sustentado á custa dos Fiéis?. que
he preciso procurarmos a origem dos trabalhos devorão, ou tem devorado
Beneficios simplices no que prati pela Igreja para comerem do que
cavão em França os Oficiaes despo só he devido ao Santuario?... se não
ticos de Carlos Martello , que da servem o Altar, porque hão de vi
vão Bispados, Igrejas, e Abbadias ver dos emolumentos do mesmo Al
em dotes de casamento, dispondo, tar?... se não militão para Deos, por
e despendendo todo o Patrimonio de que hão de embolsar o soldo, que
Jesus Christo, como se fossem bens só he devido aos que jurárão as suas
proprios , e profanos: o grande bandeiras, e tem legitimamente pe
Scisma do Occidente foi quem pro lejado, ou actualmente pelejão ?.
duzio a peste , e abominação dos Apascentão por ventura o Rebanho
Beneficios simplices, que a Santa de Christo , para se nutrirem do
Igreja por mais de 1àooo annos seu leite ?. Plantão a vinha da Fé,
não tinha visto , e experimentado. e dos costumes, para se alegrarem
Então foi quando o Homem inimi com a suavidade do seu vinho? Se
go, o Espirito das trévas, aprovei meão as cousas eternas, para sega
tando-se fatalmente do somno dos rem, e recolherem as cousas tem
Obreiros, sobresemeou as zizanias poraes?... Trilhão na eira, servem
por entre as searas mais puras do no Templo , para não trazerem a
Lavrador Divino. Tal Papa, ou An boca tapada?... Sim: elle he ordem
ti-Papa , e os seus Legados, para expressa do mesmo Deos, que vi
fazerem rancho, e partido, libera vão do Evangelho os que se empregão
lisavão cégamente, e sem tino Igre na promulgação, e serviço do mesmo
jas , e Dizimos , separando-os da Evangelho: mas serão deste número
Cura d'almas, e Ministerio dos Al os Beneficiados simplices, e os que
tares; e isto por hum Poder, que in quocumque statu estão desfrutan
nunca houve sobre a terra. Elles do o Patrimonio do Deos Crucifi
não tiverão pejo de estabelecer Be cado, e chupando sem pena o san
neficios sem Oficio, o que os Sagra gue dos pobres, a Redempção dos
dos Canones já mais permittírão, peccados?.. Que horrendas cousas
ficando a Porção Congrua, (e oxa temos nós visto na Casa de Deos!..
lá o fôra!) áquelles que gemem, Assim he, ninguem o póde negar,
e súão debaixo do pezo de huma já lá vai huma Epoca ainda mais
Parochia inteira. E a Religião pó desgraçada , em que estes Benefi
de ella authorisar semelhante abu cios scaccumulavão n’huma só pes
so?... Por ventura esta gente ocio soa ; chegando (por exemplo) a ter
2OO?
DE DE 347
2oo, e os mais rendosos, o Cardeal de deste abuso , de que o nosso
de Alpedrinha : mas se tanto nos Portugal não ficou isento: e isto,
prezamos hoje de verdadeiramente ao mesmo tempo, que não faltão
allumiados, porque não usamos das exemplos, de que os Sagrados Ca
luzes,
lices?..para sermos inteiramente fe

nones se cumprírão á risca , pelo
que respeita aos Dizimos, nas ter
E que dizemos nós das Décimas, ras dos Mosteiros: apontarei só dois.
:
Oblações, e Mortulhas dadas, e dôa Seja o 1.º do Mosteiro das Salze
das aos Monges , e outras Mãos. das, em cujo L. das Doaç., e a fol.
Mortas, ou por elles compradas, e 219 se acha o aforamento, que o
or outros modos adquiridas?... No Abbade D. João Fernandes, e os
Sºlº IX. he, que o grande Mabill. seus Monges fizerão aos moradores
(L. VI. de Re Diplomat.) achou os da sua Granja de Maçaínhas, jun
principios desta vulneração enorme to á Cidade da Guarda, no de 12 1o,
dos Sagrados Canones , que não com Foro de Quinto, e Décimo, (ou
cessão de clamar : Ibi dentur Deci Dizimo) de todos os fructos; exce
mae, ubi baptizantur Infantes. O tem pto das hortas , e pomares , quando
po augmentou , não extinguio se de pão os não semeassem; impondo
melhante desordem. Houve mesmo se o Mosteiro, e reconhecendo a
quem fingisse, (sem dúvida como obrigação seguinte: Et nos debemus
interessado) além de outras muitas contenére de Ecclesia, & de Clerico
Peças, a notavel Carta de S. Jero vobis ; sicut quomodo deber esse toto
uymo, que se acha no Decreto de bono Christiano , ó" quomodo fuerit
Graciano , e na qual a desbragada directum. Et si istud non fecerimus,
ambição dos corruptores lhe fez di vestra Decima deditis a quem vos vo
zer: que bem se podião deixar, e dóar lueritis. E eis-aqui temos a Demis
|

: as Décimas aos Mosteiros, ainda que são dos Dizimos (que o Mosteiro re
"3 mui ricos fossem; pois neste caso mais conhece destinados só para a ma
- se attendia á piedade dos Monges, do nutenção da Igreja , e sustento do
# que á sua pobreza. Chegou-se a is Parocho) quando da sua parte se
to serem os Bispos surprendidos, e não cumprão obrigações tão indiri
enganados pelos Monges, que se miveis, com que os Dizimos nascê
arrogavão os Dizimos das Parochiar, rão, e entre nós se introduzírão.
com o pretexto de pagarem certa Seja o 2.° do Mosteiro de São
Pensão á Mitra, chamada Redemp João de Tarouca, de cujos Origi
tio Altarium: termo de Commercio, naes Docum. se patentêa, que no
e indignissimo da Santidade Chris de 1 146 El-Rei D. Affonso Henri
tã. V. Resgate dos Altares. E estas ques, e sua mulher a Rainha D.
são as Insignias dos Monges, que São Mafalda, vendêrão a Egas Gonçal
Bernardo faz consistir no trabalho, ves, por huma mula, e bum caval
no retiro, e na voluntaria pobreza?.. lo, a Herdade de Figueiróa, ou Fi
Mas remettamos os zelosos da ver gairola , (e hoje Figueiró da Gran
dade a Mr. Nusse, que no seu Ee ja, ou Figueiró de Algodres) nas mar
clesiastico Cidadão , impresso no de gens do Mondego, e junto a Cor
1786, e principalmente na Carta VIII, ticô no Bispado de Viseu. No de
mostrou com evidencia a enormidas 1161, o mesmo Comprador, desen
Xx ii ga
348 DE • DE
ganado do mundo, dôou esta Gran gueiró d'Algodres, Diocese de Viseu,
ja ao dito Mosteiro , não só para be annexa in perpetuum ao Mosteiro
remissão das suas culpas; mas tam de S. João de Tarouca, a qual não tem
bem para que: Illi me in Oratione, mais rendimento , que o que abasta
in vita mea , atque post obitum, in para o Reitor della: e por sentirmos
memoriam, & in fraternitatem sem ser assim mais serviço de N. Senhor,
per habeant. No de 1 17o, o mesmo proveito das almas dos freguezes del
Rei, com seu filho o Rei D. Sancho, la , e descargo de nossa conscien
coutárão ao Mosteiro esta Herdade, cia: havemos por bem dar nosso con
ou Granja, que ali se intitula Vil sentimento, que a dita Igreja se ins
la, e na qual se fundou desde lo titúa daqui em diante em Abbadia, e
# huma pequena Igreja , com o Reitoria perpétua , em a qual averá
itulo de N. Senhora de Figueiró da hum Reitor, e Abbade, que tenha car
Granja. O pouco rendimento, e a rego della, e de seus freiguezes, e os
insignificante Congrúa, que o Mos cure, e lhes administre os Sacramen
teiro, ( comendo os Dizimos) da tos necessarios. O qual averá pera
va ao Parocho , occasionou o seu sua sustentação todos os Dizimos , e
melhoramento no de 155 1 , em que rendimentos, que á dita Igreja direi
o Cardeal Infante, como Commenda tamente pertencerem, e será obrigado
rario , e Administrador perpétuo do daqui em diante aos custos da visita
Mosteiro de Alcobaça, e para descar fão , e a todas as mais obrigações,
go das consciencias dos que comião or e encaregos, que ao dito Mosteiro per
ditos Dizimos, a levantou a Igreja tencião, por levar as ditar rendas...
Abbacial , applicando ao Parocho Polo que encomendamos, e rogamos ao
todos os Dizimos , para cumprir as R. Bispo de Viseu, que a crie, e ins
obrigações annexas ao seu Oficio, titúa em Reitoria , e Abbadia pela
declarando-a in solidum da Apresen maneira , e fórma declarada. E por
tação do Mosteiro, sem cujo con confiarmor do saber, Letras, suficien
sentimento não poderia ser renun cia , e são consciencia do Padre Mi
ciada. Porém no de 1559, e a tem guel Martins... o apresentamos por
o que o Mosteiro de Tarouca estava Reitor , e Abbade della... E enco
unido ao de Thomar, o mesmo Car mendamos ao dito R. Bispo, que o quei
deal Infante, obtido o consenti ra confirmar... Com os Dizimos, fru
mento d'El-Rei D. Sebastião, (co ctos, e rendimentos, que lhe a ella di
mo Governador, e Administrador per reitamente pertencem... assi, e da ma
pétuo do Mestrado de N. S. Jesu Chris neira que os até aqui ouve o dito Mos
zo) solemnemente a instituio em Ab teiro... Em Lisboa a 19 dias do mez
badia Reitoral, applicando-lhe todos de janeiro de 1559 annos. E logo
os Dizimos, fructos, e rendimen no seguinte dia do dito mez, e an
tos Ecclesiasticos, que d'antes comia no estando em Lisboa o Bispo de Vi
o dito Mosteiro. Eis aqui as forças seu, D. Gonçalo Pinheiro, confirmou
da tal Instituição: D. Henrique.... o tal Apresentado , e o collou na
A quantos esta nossa Provisão de des dita Igreja por seu verdadeiro Ab
membração, separação, e apresenta bade ; mandando ás suas Justiças,
fão virem , fazemos saber : que por que lhe déssem posse, &c. E por que
quanto a Igreja de N. Sambora de Fi razão este exemplo tão luminoso
SC
I)E DE 349
se não chega a praticar nas outras xame das ovelhas... Que se repro
annexas?... duzão aqui huns certos usos de al
Com efeito a grande multidão gumas Igrejas... Que cousa tão in
de Igrejas, que aos Mosteiros forão digna do nome Christão!... Bem
legadas, e cujas Décimas lhes forão póde ser, que a negra ambição in
unidas, he manifesta. Os Doc. in troduzisse huns: mas quem duví
contestaveis, que desde o IX. Se da , que a indigencia , e penuria
culo entre nós se conservão, assim grave dos Congruistas occasionou
o testificão. Nos vastos territorios a introducção de outros muitos?..
dos seus Coutos outras muitas se Com o rodar dos annos encareceo
fundárão. Em todas só huma insig tudo , o que se faz indispensavel
nificante porção cede em Beneficio para conservar a vida; mas as Con
do Pastor daquellas Ovelhas; como rúas se fizerão de huma natureza
já se tocou V. Censo, e se dirá V. invariavel... Daqui nasceo o não se
Mortulhas. E então, que emprego baptisarem os meninos, sem que
se destina ao grosso de tão volu os Pais não concorrão com avulta
mosas rendas?... Será levantar Edi das Ofertar , e a que talvez não
ficios tão vastos, e pomposos, que chegão as suas posses : daqui os
compitão com os maiores Palacios, Afolares, que sendo primeiramente
os que desenganados da terra , só livres, se fizerão obrigatorios: da
das suas cellinhas pobres, e cabanas qui as horriveis extorsões dos cha
deverião conquistar as moradas do mados Bens d'alma, que tanto de
Empyreo ?... Será o fabricar Igre trimento causão nas Familias; che
jas, e Templos de tão soberba Ar gando talvez a não se dar por al
chitectura, que excedão as mais fa guns dias o cadaverá sepultura, em
IT]OS2S *# ; como se o Deos,
quanto efectivamente se não paga
# que alli se adora, não fosse o mes o que o Parocho sem razão chega
mo, que nas suas annexas tão indi a pedir , e o herdeiro com justiça
gnamente se despreza, tão vilmen continúa a recusar : daqui as mul
te se trata, e dentro de tão ruino tas , e futas para qualquer obra,
sas paredes, e tão grosseiros vasos ue no Templo de Deos se haja de
se encerra?... Será talvez o repar # daqui a falta de Ornamentos,
tir algum pão com huma tanta gen e tudo o mais que a decencia re
te ociosa, e vadia, que o Estado quer no serviço dos Altares: daqui
precisava, e com melhor educação, a forçada impiedade de hum Pastor,
para o serviço do público, e da la que vendo o seu freguez em hu
voura?... Será::: . Mas nisto enten ma necessidade extrema , nem ao
dêrão os que tem a seu cargo o ci menos o póde soccorrer com huma
vilisar a Monarchia. Eu só quizera, limitada esmola: e então como po
que as Igrejas, cujos Dizimos se derá elle exercitar a hospitalidade tão
lamentão alienados , não fossem recommendada ?... Bom Deos ! E
com tanta indiferença contempla ainda não basta, que o pobre agri
das: que cessassem já por huma vez cultor se desfaça da décima parte
as sentidas queixas dos bem inten dos seus fructos: ainda ha de ficar
cionados , que não podem sofrer responsavel de maiores encargos,
o vilipendio dos pastores, e o ve para que huns arrebentem de far
tos,
35o DE DE
fartos, em quanto os outros mor sendo nella Abbade Diogo Pirez,
rem de famintos?.. -

he a seguinte:
|

Não, eu não digo por isto, que Martinho , pela Mercê de Deos,
os Monges vivão tão sómente do Arcebispo da Santa Eigreja de Bragaa
trabalho das suas mãos, de que já a todos quantos esta Carta virdes, sau
se falou V. Casar: quizera tão só de, e benção. Porque entendemos, que
mente, que os Coadjutores dos Bis sobre pagar as Dizimas, assim Pre
pos, os Curas d’almas não fossem at diaaes , como Pessoaaes ante nós era
tendidos, como os mais infimos cria contenda: stabelecemos, e mandamos,
dos: quizera que podéssem repartir que sejam pagadas de todolos fruttos
com os indigentes, com o peregri bem, e compridamente : convem a sa
no , e passageiro das migalhas da ber: dopam, e do vinho, e do linho, e
sua meza : que podéssem nas al da ferrão, e da lãa, e de todolos pa
dêas, e sendo preciso, albergarhu rimentos das ovelhas, todos fruttos das
ma pessoa de bem na sua residen abelhas, e dos moinhos, e geeralmente
cia: quizera que todos os vasos, e de todos fruttos, nom sacadas ende as
alfaias, que na Liturgia se empre despezas. Outro si das Dizimas Pes
gão , nada tivessem de ridiculo, soaaes stabelecemos, e mandamos, que
immundo, e desprezivel: quizera os mercadores, que vendem os pannos
em fim, que pois todas as precio de coór, que royam em outro tempo de
sidades da terra não pódem igualar dar huum maravidil de Leoneses, que
já mais a grandeza de hum Deos; dem hora XXXII, soldos de Portugal,
nas casas ao menos , em que elle (cá achamos, que tanto monta no ma
particularmente reside, # CUIT
ravidil dos Leoneses d'outro tempo.) E
"tas, e acanhadas que elas fossem, que os mercadores que vendem os burees,
reluzissem o asseio , a gravidade, e os picotes, e os sargees, dem XVI, sol
a ordem, e o concerto. E quando dos de Portugal. E mandamos, que os
depois de tudo isto restassem ainda ferreiros, e os alfayates, e os capatei
alguns, ou muitos Dizimos, embo ros, e os carniceiros, e os carpinteiros,
ra que cedessem para utilidade dos e os bufões, e os almocreves, e os taver
Mosteiros. Se já hoje a razão illu neiros dem VT, soldos de Portugal pelo
minada proscreveo os Dizimos Pes anno. E as tecedeiras, e as padeiras,
soaes: porque não reformará tambem 4ue cada anno usarem do seu mester,
os Reaes, ou Prediaes ?... Em gra dem V. soldos de Portugal: e se usarem
ça dos menos instruidos daremos o meio do anno, dem dous soldos e meio
aqui por extenso a Constituição, que dos sobreditor. E des abi a juso nom se
D. Martinho Arcebispo de Braga fez ram tbeudos; excepto segundo Deos, e
publicar no de 13o4 sobre o modo sua alma. E se homem for com sua bes
de se pagarem as Décimas , º assim tá duas, ou tres vezes no anno á mari
Reaes, como Pessoaes, e as Primicias. nha, ou a ºutro lugar, nom dem os VI.
Acha-se nos Doc. de Moncorvo, em soldos; mais desabiadeante deos. Man
hum Instrumento dado pelo Vigario damos, que se o marido, ou a mulher,
Geral de D. Luiz, seu Successor, e os filhos forem Cééiros, que todos se:
em 25 de Setembro de 1478, e pu Jam escurados pelo marido ; salvo se.
blicado na Igreja de Santiago da di gundo Deos, e suas almas, que dem
ta Villa, a 15 de Maio de 1479, canhocimento. Estabelecemos, e manda
f}}{J' >

-=
DE DE 351
mos, que dem pelo mú, e pela múa dez melhor poder, e segundo sá consciencia.
soldos de Portugal por cada huum del E mandamos que o dizimo se pague
les, e pelo poldro V, soldos de Portu (N.) sacadas ende as despezas. E es
'gal, e outro si pela poldra: e pelo be tas cousas stabelecemos, e declaramos,
zerro dous soldos de Portugal: e se por assi por saude dar almas daquelles, que
ventura ouverem cinquo, pague o meio as bam a dar as dizimas , come por
do bezerro. E mandamos que os Cééey aquelles que as bam de receber, per
ros, que mantém os Cyoados, dem por que se amate toda a maneira d'escan
Dizima a peyouga do Cyoado, assi co dalo , e os Creligos nom demandando
.mo usarom a dar. Estabelecemos , e mais daquello, que devem com direi
mandamos, que dos queijos dem dizimo, to; e os leigos outro si, dem os dizi
e da manteigua: e se por ventura tanto mos, e as Primicias, assi como devem.
leite nom ouverem, de que façam quei E dizemos, que nenhum nom seja ou
jos, seu dono ordinhe o gado, em tal sado de passar contra esta nossa decla
maneira , que leixe mantimento , em raçom, so pena d'escomunbom. Dante
que se possa manter a criança, e o ou em Monforte de Rio livre VIII. dias
tro dé á Eigreja; e esto de dez em dez de junho. Anno

Dominifobanis
Gunsalvus Mº CCC.ºIV.º
vidit.
dias: e este Dizimo dem desde Março
meado atá Sam Johane. Stabelecemos E por este Doc, se fará conceito
das Primicias , que todo aquelle que do que erão os Dizimos, e a quan
colher LX, oitavas de pam, ou d'ory?, to se tinha abatido, com vexame dos
ou de milho, ou de centéo, que débu Povos, a dignidade dos Ministros
ma oitava, e nom mais. E se por ven da Igreja. - -

tura nom ouverem LX, oitavas, e ou Resta só, e por occasião das Dé
verem XXX, dê meia des XXX, atá cimas, dizer alguma cousa das Com
LX, oitavas : e se ouverem XV., dé mendas, Ellas pricipiárão em Portu
quarta atá XXX, oitavas: e des ahi gal com as Ordens Militares. Os
ajuso, dê segundo Deos, e fa alma. avultados serviços, que então fize
E mandarios, que quem nom ouver se zerão á Monarchia , não se pode
nom duas vacas, e lavrar com ellar, rião executar, sem que huma boa
que nom dê o dizimo do leite dellas. parte dos Dizimos acompanhasse os
E mandamos, que se ao rendeiro forem muitos bens, que da Real Coroa en
frontar , que váá pelo leite sobredito
tão se desmembrárão. Não se esquece
gos déz dias, e nom for por elle, querião os nossos Religiosissimos Sobe
lho nom dem: e se lho nom frontarem, ranos, que plantada a Igreja Santa
filheo em outros dias o dizimo , por no regaço dos Estados, e Monar
aquelles déz dias, que já passarom. chias, os Preceitos literaes, e figu
E mandamos, que quem tever hua por rativos da Lei de Moysés , só no
ca, ou duas dé o dizimo dos leitoens espírito, e não. quanto á letra, obri
dellar des dous meses em deante. E quem gavão os Principes, e os vassallos a
ouver manadas de porcos, ou de porcas manter com decencia os Ministros
dê o dizimo delles por Sam Johane de do Deos Altissimo, erigir, e repa
junho. E das ortas, e dos nabaaes dem rar os seus Templos, e favorecer
ende o dizimo, segundo come custuma os pobres; prescindindo sempre da
rom a dar. E o que nom ouver cinquo quota parte, ou em fructos, ou em
regos, dê ende dizimo, segundo come oblações, ou em dinheiros. Igual
InéIl
352 DE DE
mente terião em vista , que só o vião concedido: a qual se acha en
Poder Temporal, passados sete Se tre os Doc. da Sé de Lamego. Da
culos de Christandade, estabeleceo qui a Realenga Dimissão , que El
a Décima parte dos fructos, para en Rei D. Manoel fez á Clerezia, e
cher aquelles tres objectos, os quaes Estado Ecclesiastico do seu Reino
satisfeitos, podião muito bem des de outro semelhante subsidio 3 co
pender o resto nas urgencias, e pre mo se vê pelos Doc. da Guarda. Da
cisões do seu Estado. Assim o fi qui em fim a Concessão de Leão X.
zerão sempre , e com beneplacito de 15 14 para que este grande Mo
mesmo dos Successores de S. Pedro. narcha podésse tirar annualmente
Daqui as Commendas velhas, que até 2o booo cruzados effectivos das ren
hoje permanecem, e as Commendas das dos Mosteiros, para com elles
Novas na Ordem de Christo, que dotar as Commendas, que bem lhe
nos principios do Seculo XVI. se parecesse: e que não chegando as
creárão. As guerras d'Africa., e o rendas dos Mosteiros, podéssein
descobrimento da India, e America teirar a dita quantia pelas rendas,
havião consumido o Real Erario: e fructos das Igrejas Parochiaes, cu
não havia fundos para tantos bene jo Padroado era da Real Coroa. No
meritos. Daqui a composição # O mesmo anno se deo á execução es
Bispo da Guarda, e alguns Cabidos ta graça pelo Nuncio Apostolico An
fizerão com El-Rei D. Afonso V. tonio Pucio, que não prefez das ren
no de 1475 sobre as quatro Déci das dos Mosteiros mais que 123)254
mas, que alguns Pontifices lhe ha cruzados. (a) No de 1315 foi a di
{2

(*) Os Mosteiros, muitos dos quaes já estavão reduzidos a Igrejas Parochiaes, são os
seguintes:
Em Lisboa. O Mosteiro de Sindim , junto a Guima
ráes, da mesma Ordem. I. P.
S. Vicente de fóra. O Mosteiro de Carrazedo no termo de
Em Braga. Barcellos, da mesma Ordem. I. P. }

O Mosteiro do Souto, junto a Guimarães,


S. Simão da Junqueira: da mesma Ordem. I. P.
S. Salvador de Palme. O Mosteiro de Adufe , junto aos muros
S. Romão de Neiva. de Braga. I. P.
Santa Maria de Carvoeiro. O Mosteiro de Villa Cova, que foi de
S. Martinho de Tibães. Freiras, I. P.
S. Martinho de Crasto. O Mosteiro de Santa Maria de Gundar,
O Mosteiro de Villa Nova de Mugem que foi de Freiras. I. P. |

(Mobia) em Terra de Nobrega. O Mosteiro da Costa, da Ordem de San


Santa Maria de Bouro. to Agostinho -

O Mosteiro de Caramos. O Mosteiro de Santa Maria de Oliveira,


O Mosteiro de Baldim. (Baldreo.) - da mesma Ordem, em terra de Barcellos.
O Mosteiro do Banho, O Mosteiro de Landim, da mesma Ordem.
O Mosteiro de Rates da Ordem de São O Mosteiro de S. Martinho , cujo Ora
Bento. Igreja Parochial. go_he S. Miguel, da mesma Ordem.
I % Mosteiro de Calvello in Terra Peneli. O Mosteiro de S. João d'Arnoya da Or
dem de S. Bento. •

O Mosteiro de Barbanis em Terra de No O Mosteiro da Fresta, em Terra de San


brega, J. P. (Hoje se diz Barbas.) ta Cruz, da Ordem de Santo Agostinho.
O Mosteiro de Rehan (parece que ha de O Mosteiro de Fiães da Ordem de Cister.
ser Requiám) em Terra de Barcellos da Or O Mosteiro de Paderne da Ordem de Santo
dem de Santo Agostinho, I. P. Agostinho,
DE DE 353
dita Bulla revogada , quanto aos não em dinheiro de contado , mas
Mosteiros ; facultando-se o tirar os em fructos : para evitar qualquer
2o?)... cruzados das Parochiaes. engano , devem ser avaliados estes
Assim se executou em Io4 Igrejas fructos pela Taxa seguinte:
do Padroado Real, a saber: 39 da
da Diocese de Braga, 7 de Coim Na Comarca da Beira, e nos Almo
bra , 4 de Viseu, 4 da Guarda, xarifados de Lamego, Viseu, e
14 de Lamego; 4 do Porto, 15 de Guarda.
Lisboa , e 13 d'Evora; resalvando
em cada huma dellas 6o cruzados Por hum alqueire de trigo - 26 rs.
de porção para cada hum dos Viga Por hum alqueire de centeio 18 rs.
rios. E como poderia succeder, que Por hum alqueire de cevada 16 rs.
o Preceptor, ou Commendador, #Por bum alqueire de milho 15 rs.
se recolher per si mesmo os fructos Por hum almude de vinho - 23 rs.
da sua porção , e satifazer ao Vi Por hum alqueire de azeite 15o rs.
gario, ou Reitor os 6o cruzados, Por hum leitão - - - 25 rs.
Tom. I. Yy Por

O Mosteiro de Val de Paraiso da Ordem O Mosteiro de Cucujães , da Ordem de


de Cister, ou de S. Bento. S. Bento.
O Mosteiro de S. Fins. O Mosteiro de Ansede, da Ordem de San
O Mosteiro de Ganfei. to Agostinho.
O Mosteiro de S. João d'Arga.
O Mosteiro de Cabanas. No Bispado de Lamego.
O Mosteiro
Ordem de Santoio. Todos estes da
de S. Bento. •
O Mosteiro da Ermida, chamado da Orá
dem de Premonstrato, ou de Santo Agosti
} O Mosteiro de Refoios de Lima, da Or nho, = Cum illi anexis de Baltar, & San
dem de Santo Agostinho. cta Maria.
O Mosteiro de Miranda , da Ordem de O Mosteiro de Santa Maria de Aguiar.
S. Bento.. O Mosteiro de S. Pedro das Aguias.
O Mosteiro de Hermello , Cisterciensis O Mosteiro de S. João de Tarouca.
Ordinis, Monachis Carente. I. P. O Mosteiro da Salzeda. Todos da Ordem
O Mosteiro de Castro de Avelás da Or de Cister.
dem de S. Bento. O Mosteito de Carchere, da Ordem de
O Mosteiro de Manzellos, da Ordem de Santo Agostinho.
Santo Agostinho.
O Mosteiro de Pombeiro da Ordem de No Bispado de Viseu.
S. Bento. O Mosteiro de Maceiradáo.
O Mosteiro de S. João de Longos Val O Mosteiro de S. Christovão de Alafões:
les da Ordem de Santo Agostinho. ambos de Cister.

No Bispado do Porto. No Bispado de Coimbra.


O Mosteiro de Roriz, da Ordem de San O Mosteiro de Folques.
to Agostinho. - O Mosteiro de S. Jorge d'apar de Coim
O Mosteiro de Grijó. bra: ambos da Ordem de Agostinho.
O Mosteiro de Moreira. O
4.
Mosteiro de Ceiça.
O Mosteiro de Bandoma da mesma Or O Mosteiro de S. Paulo, junto a Coim
, dem de Santo Agostinho. I. P. bra: ambos de Cister.
O Mosteiro de Cete, da Ordem de São
Bento. • -

No Bispado da Guarda.
O Mosteiro de Villa Boa do Bispo dicti O Mosteiro de Santa Maria da Estrella,
Ordinis Sancti Benedicti, vel alterius Ordinis. da Ordem de Cister. | *>

Deste modo se intitulão na Executorial da Bulla, cujo Notario algumas vezes se enga
nou, pondo alguns nomes proprios com menos exacção, e dando talvez a huma Ordem
o Mosteiro da outra.
354 DE
Por huma lamprea - - - 15 rs. Por frango - - - - - 7; rr
Por hum savel - - - - 2o rs. Por hum leitão - - - - 4O rf.
Por dois patos - - - - 5o rs.
Por dois frangos - - - 15 rs. No Almoxarifado de Coimbra, e Avei
Por hum cabrito, ou cordeiro 25 rs. ro, Comarca da Estremadura.
Por hum feixe de linho - 5o rs.
Por bum alqueire de legumes 31 rs. Por hum alqueire de trigo - 27 rs.
Por bum alqueire de castanhas 5 rs. Por hum alqueire de centeio - 15 rs.
Por huma canada de manteiga 6o rs. Por hum de milho — — — I 3 rr
Por huma canada de mel - 25 rs. Por hum de cevada — — — 7 rr.
Por hum arratel de cera - 3o rs. Por hum alqueire de azeite - 8o rs.
Por hum almude de vinho - 2o rs.
Na Comarca d'Entre Douro, e Minbo, Por huma lamprea - - - 15 rs.
isto be, no Almoxarifado do Por Por hum savel - - - - 2O rs.
to, Guimarães, e Fonte do Por hum frango - - - - 8 rs.
Lima. Por huma pedra de linho - 7o rs.
Por huma pedra de linho canamo 6o rs.
Por hum alqueire de trigo - 3o rs. Por hum alqueire de legumes 27 rs.
Por hum alqueire de centeio - 25 rs. Por cabrito, ou cordeiro - 27 rs.
Por hum alqueire de cevada 2o rs. Por hum pato - - - - 2o rs.
Por hum alqueire de milho - 18 rs.
Por buma pedra de linho canamo 5o rs. No Almoxarifado de Santarem.
Por bum almude de vinho - 13 rs.
Por cordeiro, ou cabrito Por hum alqueire de trigo -
- 25 rs. 25 rs.
Por hum pato - - - - 2o rs. Por hum de centeio - - - I2 rs.
Por bum frango - - - - 73 rs. Por hum de cevada - - 13 rs.
Por huma lamprea - - - 12 rs. Por hum almude de vinho - 2o rr.
Por hum savel - - - - 15 rs. Por hum alqueire de azeite - 6o rs.
Por huma canada de mel - 2o rs. Por hum cabrito, ou cordeiro 27 rs.
Por huma canada de manteiga Iors. Por hum pato - - - - 2o rs.
Por hum arratel de cera - 3o rs.
No Almoxarifado de Alemquer.
Na Comarca de Tras-os-Montes, isto
be, no Almoxarifado da Torre de Por hum alqueire de trigo - 25 rs.
Moncorvo, e Villa Real. Por hum de cevada - - - 18 rs.
Por hum de centeio - - - 12 rs.
Por hum alqueire de trigo - 2o rs. Por hum de milho - - - 12 rs.
Por hum alqueire de centeio 15 rs. Por hum tonel de vinho branco de em
Por hum de milho - - - I2 rs. barque - - - - 2d)8o o rs.
Por hum de cevada - - - I2 rs. Por hum almude de vinho tinto, que
Por hum almude de vinho - 2o rs. não he de embarque - - 35 rs.
Por hum pato - - - - 2o rs. Por hum alqueire de azeite 74 rs.
Por cordeiro, ou cabrito - 2o rs. Por cabritos , cordeiros , frangos, e
Por hum alqueire de castanhas 5 rs. patos , como nos mais Almoxari
Por huma pedra de linho canamo 5o rs. fados.
Por huma canada de mel - 2o rs.
Em
DE DE 355
Assim consta dos mesmos Origi
Em Lisboa, e seu Termo. naes, que no Archivo do Real
Por hum alqueire de trigo - 28 rs. Convento de Thomar se conservão,
Por bum de cevada - - - 2o ra com esta declaração do sobredito
Por bum almude de vinho - 4o rs. Executor, a saber: que augmentan
Por hum almude de vinho de Riba do-se os fructos , e rendimentos das
Téjo - - - - - - 5o rs. Igrejas : este augmento seria só para
Por bum alqueire de azeite - 75 rs. os Commendadores, e não para os Wi
Por hum alqueire de legumes - 28 rs. garios dellas, para os quaes se havia
Por dois frangos - - - 22 rs. separado a suficiente Congrua.
Por hum pato - - - - 3o rs. Mas he bem de notar , que a
Por hum cabrito, ou cordeiro 3o rs. mesma razão, e equidade, e a na
tureza dos mesmos fructos, estão
Na Provincia do Alemtéjo, e no Almo pedindo , que as Congruas, e seus
xarifado de Evora. augmentos fossem em fructos, e não
em dinheiro , pois variando aquel
Por hum alqueire de trigo - 2o rs. les, segundo sobe, ou desce o Ba
Por hum de cevada - - - 12 rs. rometro da Agricultura, da esterili
Por hum almude de vinho - 45 rs. dade, da importação, ou extracção,
Por bum alqueire de azeite 75 rs. delles, população, peste, guerra,
Por hum alqueire de legumes 25 rs. &c. Sempre as Congruas estarião
Por hum leitão - - - - 25 rs. . naquelle pé, que permittisse a va
Por bum cabrito, ou cordeiro 25 rs. , # dos tempos, e nunca os Pa
Por hum pato - - - - 2o rs. rochos se verião reduzidos á indi
Por hum frango - - - - 8 rs. gencia, que hoje presenciamos. Hu
ma leve reflexão sobre os preços,
No Almºxarifadº de Béja. ue da Executorial acima se mani
# , combinados com os que ho
Por hum alqueire de trigo - 18 rs. je correm, farião palpavel esta ver
Por hum de cevada - - - 1o rs. dade. Se então se comprava hum al
Por hum almude de vinho - 3o rs. queire de trigo por 2o réis; quem
Por hum alqueire de azeite - 7o rs. duvída, que a Congrua em dinhei
Por hum alqueire de legumes 18 rs. ro deveria ser hoje 3o vezes mais
Cabritos, cordeiros, e patos como em do que então era?... Vimos que el
Evora. la não passava de 6o cruzados, ou
de 24@ooo réis: dobremos estes por
No Almoxarifado de Portalegre, e El 3o, e veremos que hoje devião ser,
var, Olivença, Moura, e Serpa. 72od)ooo réis. Não se escondia isto
Por bum alqueire de trigo - 15 rs. aos nossos Augustissimos Soberanos,
Por hum de cevada - - - 8 rs. e assim conseguírão de Julio III. pa
Por hum alqueire de azeite - 65 rs. para todos os Vigarios, ou Reitores
Por bum alqueire de legumes 16 rs. das Igrejas das Commendas centum pro
Por hum leitão - , - - - 2o rs. Rectore, isto he, cem cruzados,
Por hum frango. - - - - 7 rs. ou 4odooo réis, com declaração:
Por hum pato -- - - -- 16 rs. que desta somma se não poderia dimi
Por hum cordeiro, ou cabrito 2o rs. nuir cousa alguma, por mais pia, e
Yy ii f/Wº
356 DE DE
urgente, que fosse a causa, como guer DÉCIMA Saladina. Filippe Au
ra contra os infiéis, & c. E depois gusto, Rei de França, e #
disto Paulo IV, no primeiro anno do do , Coração de Leão, Rei de In
seu Pontificado lhes concedeo, que glaterra, emprendendo a pouco fc
nas Commendas Novas, e nas quaes liz conquista da Palestina com qua
não ficárão 1oo cruzados para os si 3oo@ooo combatentes, o I. vio
Reitores, elles lhos possão estabe se obrigado a voltar a França com
lecer ; (fóra o Pé d'Altar, e mão pouca gloria , e menos dinheiro:
beijada, pelo que se entendem to o II. depois de perder a sua gen
dos os Benésses da Igreja.) Doc. te, o seu dinheiro, e a sua liber
de Thomar. dade, apenas pôde chegar elle só
Tudo isto pensárão os Prelados vivo a Inglaterra. Antes de partirem
deste Reino , quando nos Aponta ordenáão, cada hum nos seus Esta
mentos, que no de 1563 oferecêrão dos , que todos os que se não cru
a El-Rei D. Sebastião, lhe fizerão zassem fossem obrigados a pagarem
saber: Que muitas Commendas, assim o Dizimo de todos os seus bens:
das velhas, como das novas, não ti a este Tributo chamárão os nossos
nhão Vigarios , que curassem as al Maiores Décima Saladina.
mas : outras os tinhão com tão pouca DECIMENTO. Descendimen
porção, que não be possivel, nem jus to, Doc. de Lamego do Sec. XV.
to ser assim , conforme as Bullas, e DECIMENTO. Descredito, fal
obrigação das ditar Commendas. E por ta, menos cabo. Nunca faria cousa,
quanto os Commendadores se não accom que fosse em decimento de sua honra.
modarião a tirar-se-lhe já tanto por DECONSUUM. Juntamente, e
junto : para descargo das consciencias de companhia. He o contrario de
delles, e de V. A., nas que já esti Desuum. E se deconsuum nom houver
verem vagas , e forem vagando , se des filho. Doc. de Pendorada de
devem augmentar, e podendo ser, se 1328. V. Consum. Isto he : se de
jão em fructos semelhantes augmentos. entre ambos , em quanto marital
Assim consta da Collecção Original mente viverdes, não nascer algum
de Antonio Soares de Mendonça, # filho.
hoje se guarda na Torre do Tombo. DECORUDO. A. Demorado,
E eis-aqui o que me pareceo di demorada, decursa, e não seguida.
zer sobre as Décimas, e sua appli Pera nom freerem as apelações deco
cação, (em quanto Superior Poder rudas, nem as demandas perlongadas.
não regular por outro modo estas Doc. da Cam, do Porto.
contribuições Santas dos Fiéis, e DECURIA. I. Colmea, ou cor
seus vassallos.) Porém assim como tiço de abelhas. Ap. Bergança.
os enfermos se curão nos livros, e DECURIA. II. A figura de hum
morrem nos leitos; he bem de re X. No Cod. Wisig. L. VIII. Tit. 6.
cear, que estas lembranças não pas se manda, que todo o que achar
sem do papel, menos que a Omni abelhas nas suas arvores, faça nes
potente Mão toque no coração dos tas tres decurias, que vocantur ca
interessados, e os determine, a&# ractéres, E no L. X. Tit. 3. decla
zar da sua rebeldia, a darem a Ce rando , que os marcos, ou balizas
sar o que he de Cesar, e a Deos o devião ser, ou de montes de terra,
• • que
que he de Deos. . -
DE DE 357
} que propriamente são vallados , e sores dos Réos, que hoje dizemos
}*
#
\,
no Latim aggeres; ou de arcas (que Advogados. E nas Leis dos Longo
: #
são pedras , em que re esculpião gran bardos se achão os Tutores dos Or
des , e conhecidas letras) e na falta fãos com o nome de Defensores. No
dos vallados, e arcas, se devia usar de 4o7. já as Igrejas Parochiaes ti
de letras escritas nas arvores, quas nhão seus ###
, ou Advoga
notas decurias vocant E destas De
dos , mas da Ordem Ecclesiastica.
curias , ou figuras de X. se origi Neste anno se determinou em o Can.
nou o costume, que até hoje du IX, do Concilio de Carthago se pedis
ra, de fazer a demarcação de alguns sem ao Imperador Defensores dos Po
termos, e limites com o sinal da bres, que fossem eleitos pelos Bis
Cruz esculpido nas pedras fixas, e pos, e que tomassem sobre si a de
grandes.__. __ •

fensa das pessoas que vinhão, e se


DEDES. Deis, tinhaes obriga entendião debaixo do nome de Po-2
ão de dar. V. Ajades vos. Todos os bres, contra as vexações, e prepo
erbos, que nos diferentes tempos tencias dos ricos; patrocinando as
acabão hoje em eis, terminavão no suas causas , e defendendo o seu
XIII., e XIV. Seculo em edes, v. g. Direito perante os Magistrados Se
… - Amedes, alegredes, faredes, ouvire culares. E no mesmo Concilio se ex
}, des, julgaredes, & c. tendeo esta mesma supplica de De
- - -

# DEFENDIMENTO. Prohibição, fensores Seculares para tratarem , e


# defeza , encouto , embargo. Doc. proseguirem os negocios das Igre
ir. de Vairam de 131 1. jas Parochiaes contra quaesquer in
DEFENSOR. O que ampara, vasores, e perturbadores da sua Jus
protege , patrocina , defende. De tiça, como consta do Codex Canon.
fensor he nome de Oficio, e Dig Afric. Cap. XCVII. Mas isto não per
nidade, usado antigamente no Im turbava as obrigações, e a Jurisdic
perio, e na Igreja # Imperio ha ção do Defensor Ecclesiastico, a quem
via Defensores do Estado , do Públi pertencia 1.º defender a Igreja , e
co, e da Cidade. Tolnavão conheci seus Ministros de toda a vexação
mento das causas civís, e de algu injusta, que lhes era feita; e sen
mas criminaes de pouca importan do necessario , proseguilla na pre
cia. O Defensor da Cidade era o mais sença do mesmo Imperador , por
authorisado, e se chamava Syndico: meio dos Advogados Seculares. 2.°
a sua eleição era feita pelos Decu Fazer voltar aos seus Mosteiros os
riões, e Ministros do Templo, e con Monges , e ás suas Parochias os
firmado pelo Prefeito do Pretorio: Clerigos, que andavão ociosos em
protegia os Cidadãos, e os campo Constantinopla; obrigando mesmo
nezes, e decidia a final as suas con por força aos rebeldes a voltarem
tendas: tinha dois Apparitores, Mei aos seus domicilios. 3º Vigiar se
|{
rinhos, ou Oficiaes de justiça, que não commettessem injustiças , ou
executavão as suas Ordens, e Sen uaesquer excessos nos enterros dos
tenças, e atalhavão qualquer tumul #
e se cumprissem as pias
to ; prendendo , encarcerando , e intenções dos Testadores. 4.° Em
reprimindo os perturbadores do pú fim, examinar se os Clerigos assis
blico socego. Havia tambem Defen tião, como devião, aos Oficios V1
••
Di •

** ** * . . .
!
358 DE DE
vinos, a fim de que os Bispos fi tudo póde, que de Titulo passe a
zessem
II11SSOS,
multar os negligentes, e re realidade!...
- • -
*

Depois que Hespanha começou


"Ainda depois deste tempo conti a levantar-se das fataes ruinas, em
nuárão os Defensores dos Pobres , e que os Mouros a deixárão; ao pas
das Igrejas, ora Seculares, ora Ec so, que os Christãos se restabele
clesiasticos. Para as Igrejas Patriar cião, varios Mosteiros, e Igrejas se
chaes se instituírão solemnemente fundavão, e os seus Fundadores, e
os Defensores no Concilio Africano de os que delles descendião, se intitu
423 Can. 42 , cuja obrigação era a lavão Herdeiros , ou Naturaes; por
mesma, que tinhão os Defensores da que naturalmente, e por Direito de
Igreja Romana , isto he, defender Herança succedião nos emolumentos,
as causas dos pobres, orfãos, e viu que não só no Padroado de seme
vas, segurar os Direitos, e bens da lhantes Fundações. E como erão
Igreja, e fazer cumprir as ultimas" obrigados, mesmo por convenien
vontades em beneficio das pessoas. cia propria, a promovêllas, e am
miseraveis, de que se póde ver São parállas, de sorte que sempre fos
Greg. M. L. IV. Epist. 25 , e L. VII. sem de bem para melhor; algumas
Epist. 66, e L. XI. Epist. 21. São vezes tomárão o mais honrado , e
Cayo Papa instituio a S. Sebastião menos ambicioso Titulo de seus De
Defensor da Igreja; vendo o seu ze .fensores.
lo em patrocinar as suas causas, e Na Dôação que ao Mosteiro de
pessoas. Outros muitos Pontifices Guimarães fez o Capitão Gonçalo Men
enviárão ás Provincias Defensores da des, filho de Dona Muma-Doma no
Igreja, ou do Patrimonio de S. Pe de 983, pela qual lhe unio a sua
dro ; não só para defenderem os Herdade de Moreira, em que ha
bens, que se deixárão, ou deixas via o Mosteiro de Santa Tecla, se
sem á Igreja Romana , mas ainda acha huma idéa bem clara do que
para conhecerem dos recursos á Sé devião praticar estes Defensores. El
Apostolica, de que se póde ver o le pede com as maiores instancias,
mesmo S. Greg. M. L. I. Dialog. L. e implora do Ceo as mais avanta
IV. &" alibi. E o mesmo Santo Pon jadas bençãos para seus filhos, ne
tifice creou 7 Defensores Regionarios tos, e mais descendentes, que fo
nos 7 Bairros de Roma, assim co rem Defensores dos Monges, que re
mo havia 7 Diaconos, e 7 Subdia gularmente viverem, segundo o Ins
conos Regionarios. Os Romanos tituto dos Santos Padres, no Mos
elegêrão a Carlos M. para Advoga teiro que sua Mái havia fundado;
do , ou Defensor de S. Pedro contra embaraçando fortemente o escudo
os Reis Lombardos; e ainda hoje na de defensão contra todos os seus
sua Sagração toma o Imperador o impugnadores; tomando para isto
Titulo de Advogado de S. Pedro. A primeiramente conselho com os ser
Henrique VIII. de Inglaterra con vos de Deos , que alli morarem;
cedeo Leão X. o Titulo de Defen obrando tudo com o zelo do Se
sor da Fé por ter escrito contra Lu nhor, e temor de Jesus Christo: não
thero: os seus Successores ainda con tomando já mais do dito Mosteiro,
servão este Titulo. Faça-o Deos, que nem ainda o mais leve donativo;{@Il

es

DE DE 359
tando sempre promptos a defender DEFUMADURAS. Cheiros ,
os interesses daquela casa na pre perfumes, pastilhas. __
sença dos Principes, dos Juizes, e DEGRADAMENTO. Degredo,
dos Bispos: Precipimus, ut sint ip desterro, exterminio. O Infante D.
sorum Monachorum, ibidem regulari Pedro lhe perdôou o degradamento. Doc.
degentes, Óº Normam Patrum dedu da Cam. Secular de Lamego de 1352.
centes , atmodum Defensores , & in DEGREDO. I. O mesmo que De
eorum profetibus scutum defensionis creto. Antigamente appropriárão os
contra quoslibet adversantibus illis; non Jurisconsultos a palavra Degredo, ou
sibi ex ipso loco aliquid vindicantes, Decreto a tudo o que ficava julgado,
vel munusculum accipere presumentes, ou sentenciado pelo Principe, que
sed in defensione eorum in presentia havia tomado conhecimento da cau
Principum, vel judicum, seu Ponti sa. Mas depois se chamou entre nós
ficum vocem ipsius Ecclesie, vel Cul Degredo a l. Parte do Direito Ca
torum ejus , intendant. E prosegue nonico, que no Pontificado de Eu
logo imprecando as mais horriveis genio III. compilou Graciano dos
maldições a qualquer seu descen Canones dos Concilios, das Sen
dente, que tirasse qualquer cousa tenças dos Padres da Igreja, e de
desta Dôação, ou que nella presu varios Rescriptos Pontificios; ser
misse ter algum Direito ; ou que vindo-se para isto de varias Collec
ainda ao menos chegasse a dizer: ções destas Leis, porque a Igreja
Esta Herdade foi de meus Pais , de Santa se governa. Daqui Decretir
meus Avós, ou de meu Bisavó: posso ta: o Mestre, ou Doutor em Di
ter lugar a possuílla. Este era na reito Canonico , que se acha em
quelle tempo o pessimo costume que hum Documento de Lorvão, pelo
vogava ; mas D. Gonçalo o prohi qual D. Sancho I. no de 1195 con
be rigorosamente aos seus Herdei firma áquelle Mosteiro o Padroado
ros. Doc. de Guimarães. da Igreja de Abiúl, e nelle se diz:
No de 1193 o Prior da Igreja de Interim accidit , quod Magister De
Santa Maria de Monte Mór, o Velho, cretista Petrus, qui noviter venerat a
(que estava situada no cume do Mon Romana Curia, adulando, Óºpolicen
te sobranceiro á mesma Villa) cum ha do se obtimos detulisse rumores, & c.
bitatoribus ejusdem Ecclesiae, & De Daqui o Titulo, que no XIV., e
fensoribus , ac Gubernatoribus , tam XV. Seculo se fez trivial: Bacharel
Clericis, quam Laicis fez hum Es em Degredos , por Licenciado em
cambo com o Mosteiro de Ceiça : Canones. Item leixamos ao Cabido da
recebeo este a Herdade do Ogal, e nossa Se o Degredo, e o Especlo, e o
deo á Igreja tudo o que tinha na Innocencio, e o Arçadiago, e os outros
Herdade, ou Lugar da Figueira, que livros miudos, que os ponbão na Livra
está junto á dita Villa. Doc, de Cei ria pera estudarem por elles os Coni
ça. V. Herdeiro, Igreja, e Natural. gos, que quiserem estudar. Testam.
DEFENSOR. Entre os Godos de D. Lonrenço Bispo de Lamego
era hum dos tres Ministros, a quem de 1393. O Especlo era o Speculum
pertencia a cobrança, e arrecadação juris de Durando, Bispo de Men
da Fazenda Real, os quaes erão Nu de , a quem por occasião deste L.
merario, Defensor, e Vilico. chamárão o Speculador. O Arfadia
-

- 802 |
36o DE DE
go, ou era a Collecção das Decre grandemente versado na arte de fin
taes, que fez Bernardo Maior, Ar gir, falsificar, e contrafazer, que
cediago de Compostella, sendo Pon tomou o nome de Isidoro Mercador»
tifice Innocencio III., a qual se cha ou Peccador; (pois ambos lhe qua
mou a Compilação Romana; ou a no dravão) foi o Author das falsas De
va Collecção, que dellas fez Tan cretaes, que se fingírão datadas an
crédo, Arcediago de Bolonha, e sa tes do Papa S. Siricio , de quem
hio com o nome de Honorio III. temos a I. Legitima para Himerio
DEGREDO. II. Alvará, Orde Bispo de Tarragona, datada no de
nação, Decreto, ou Mandato Real, 385. Mas desta supposição se póde
Carta Régia, pela qual se deter ver, além de outros, D. Pedro Coils
mina, que se faça, ou deixe de fa tant in Epist. Rom. Pontif. T. J. in
zer alguma cousa. Daqui o Nosso Prefition. No Testam. de D. Lou
Degredo tão usado por El-Rei D. renço, Bispo de Lamego de 1393
Diniz. E esto nom tenho eu por bem, se diz: It: mandamos as Degretaes,
em elles passarem o meu Degrdo ve e Sexto, e as Crementinas a Gil Vas
lho. Carta d'El-Rei D. Diniz, pa ques nosso Sobrinho, pera que apren
ra que Cavalleiros, Donas, Escudei da. Doc. de Lamego.
ros, e outros, que se chamavão Her DEHONESTAR. Descompor
deiros, e Naturaes não fação pinho alguem com palavras, injuriállo, at
ras, ou tomadías nas cousas, ou rou frontállo. Nó de 1218 confirmou El
pas do Mosteiro de Reciam por Rei D. Afonso II, o Foral que D.
Comeduras, e Serviços, que dizem de Jordão havia dado á Villa da Lou
vem aver no dito Mosteiro. Doc.
rinhã, nelle se diz: Si aliquis de
de Reciam de 131 1. E o Degredo honestaverit aliquem, quantos deostos
Kelho, era outra Carta, ou Alvaiá, ei dixerit , tantos tres solidos cipe
que ali se conserva, de 13o I, que ctet, ó Pretori alios tantos. L. dos
já tinha decretado, o que nesta se Foraes Velhos. Em o Sec. IX., e X.
repete. se achão com frequencia os nomes
... DEGRETAES. Assim chamão Dehonestamentum, e Debonestatio, e
os Canonistas o corpo das Episto o Participio Debonestatus do Verbo
las dos Romanos Pontifices , que Debonesto.
Honorio III. fez ajuntar, e que Greg. DEITAR. Enterrar , sepultar.
IX. fez resumir em hum Volume, Mando a mha carne deitar. Doc. das
depois de muitas Collecções , que Bent. do Porto de 1285.
dellas se tinhão feito. Já no de 494 DELEXAR. Dar, conceder, ou
se chamárão Decretaes estas Episto torgar. Ap. Bergan.
las, como consta do Concilio Ro DELIZ. O mesmo que Diniz,
mano, que então se celebrou. Da nome de homem. •

authoridade destas Decretaes se pó DELONGA. Dilação, detença,


de ver a Epist. 42. do Santo Pontif. demora. He do Sec. XV.
Nicolau I., e o Concilio Rom. de 863. DEMANDADOR. Questor, ho
Cap. V., governando o mesmo Pa mem, que pede esmola para algum
pa. Mas foi desgraça, que por es Santuario , ou para outro qualquer
te mesmo tempo hum certo Monge fim honesto, e piedoso. Dizem que
Benedictino , impostor famoso , e nós, e os Prelados da nossa terra, da

\, +
17/04'
DE DE , 361
mos Cartas aos Demandadores, pera DENODADOS. Votos denodados:
demandarem pelas terras, e elles fa os que antigamente fazião os Ca
zem hj muitas burlas. Cortes d'El valeiros por galantaria, ou fanfar
vas de 1361. rice militar , que erão mais atrevi
DEMANDAR. Pedir esmola, dos, que deliberados, e prudentes.
ou fazer peditorio, com licença, e Tal foi o de Vasco Martins de Mel
authoridade pública. lo, que fez voto de prender o Rei
DEMANDAS.Peditorios, colectas, de Castella na batalha de Aljubar
ou esmolas, que se fazem para algum rota , como se diz na Chron, d'El
Santuario , ou lugar pio, e com Rei D. João I.
intuito de piedade. No de 1361 D. DENODO. Ousadia, resolução,
Durão Bispo de Lamego, desejan constancia, atrevimento.
do augmentar a Ermida de Santo DENOSTOS. O mesmo que
Estevão, (que hoje be a Senhora dos Deostos. No Fuero Juzgo o Tit. 3. do
Remedios, junto á dita Cidade) con L. XII, tem esta Rubríca : De los
cede a Fernão Martins que possa de demortos , e de las palavras odiosas.
mandar , e tirar por si , e por ou Consta de oito artigos, dos quaes
trem esmolas , e demandas por todo os seis primeiros tratão de diversos
o nosso Bispado , das quaes esmolas, nomes proferidos por despreso , e
e demandas se adubem , e refação a com mentira. V. Debonestar.
dita Ermida, e casas della, e acres DEOS: que bem!, e Deus: que
cente o mais que poder a serviço de bem! Muito embora, seja, está fei
Deos, e do dito Santo Estevão. Doc. de to, lá se avenhão, não haverá con
Lamego. tenda. E se se podiam avyr, Deos:
DEMENTRE, adv. Em quanto que bem!.. E se os nom podiam avyr,
não. Doc. de Lam. do Sec. XIV. que des ali adiante biam perante o juiz
DEMOSTRAR. Mostrar , fa da terra. Sentença d'El-Rei D. Di
zer certo , claro, e patente. Doc. niz de 1313. Doc. de Thomar. E
das Bent, do Porto de 1285. se mo quizerem quitar , pelo que de
DEMOVER. Dizer, e allegar mim ham, Deus: que bem! se nom
taes conveniencias , ou desconve sabham verdade , e pagenos. Testa
niencias , provas , e razões , que mento de Vairam de 1289.
obriguem, e quasi violentem a mu DEOSTAR. O mesmo que De
dar de parecer, e seguir a resolu honestar.
ção contraria. Tanto o demovérão... DEOSTOS. Palavras de contu
que recolheo a El-Rei na Villa: Azi melia, injúria, e afronta, segundo
nheiro, pelos annos de 1535. as pessoas, tempos, e lugares. V.
DENDE. Delles. Doc, das Bent. Dehonestar. -

do Porto de 1393. DEO-VOTA. O mesmo que Deo


DENIFICAMENTO. Damno, dicata , Deo-devota , Deo sacrata,
perda, acção de destruir, e fazer mal. Deo-dedita, Sacra Virgo, Virgo Dei,
DENIFICAR. Fazer damno, Estes erão os Titulos mais communs:
destruição, perda. Sanctimonialis feminae, quae Deo con
DENODADO. Homem denoda tinentiae, & integritatis votum vovit.
do: o mesmo que atrevido, confia Desde o principio da Christandade
do, resoluto. houve # Santa Virgens con
Tom, I. Zz S2
362 DE DE
sagradas a Deos , a quem muito sim encherem os deveres da sua Ins
livremente escolhião por Esposo, tituição. E supposto, que o voto de
renunciando a todos os appetites da castidade por aquelles tempos não
carne, para serem Santas n’alma, e fosse solemne, nem impedimento diri
no corpo. Até o IV. Seculo vivião mente do Matrimonio, assim nas Vir
estas nas suas proprias casas em com gens Ecclesiasticas, como nas Claus
panhia de seus Pais, ou parentes, traes; os Concilios daquelle tempo
e com particular habito de modes sujeitavão á Excommunhão as que
tia , e gravidade, distinguindo-se se casavão, e as Leis Imperiaes não
principalmente no exercicio das obras favorecião semelhantes ajuntamen
Santas, orações amiudadas, e fer tos ; chegando a sancir pena de
vorosas, não procurando agradar morte a qualquer , não só que fi
mais que a Deos. Chamárão se es zesse alguma violencia, mas ainda
tas Devotas, ou Deo-Votas, Virgens ao que fizesse diligencia alguma
Ecclesiasticas, ou Canonicas; porque para casar com alguma destas Vir
OS SCUlS I1OIT]CS CStalValO CSCT1tOS I1OS gens; excepto se constasse, que lhe
Livros da Igreja, e aos Bispos in fizerão violencia, e contra a sua vo
cumbia hum particular cuidado des cação para o Matrimonio, a obrigá
te Devoto Sexo femenino, a quem fal rão a entrar no Mosteiro , e pro
tando outros meios de subsistencia, fessar nelle , ou ser velada , antes
fazião prover do Patrimonio da Igre que tivesse quarenta annos de idade
ja. Destas Virgens, (que algumas Não he do meu intento descer
vezes forão oferecidas a Deos pe agora á prevaricação desta discipli
la Devoção de seus Pais na mais na , quando os barbaros pela pri
tenra idade) se devem entender mui meira vez, e depois os Africanos,
tas lapides sepulcraes, que em to transtornárão , e pela maior parte
da a Hespanha se encontrão com extinguírão, estas Deo-Votas em to
o dictado de Famula Dei, Famula da a Hespanha. Na sua restauração
Christi, Ancilla Christi, Ancilla Dei, são innumeraveis as que se encon
&c. E a estas negava o Concilio de trão em o nosso Paiz. Na larga Dôa
Illiberi a Communhão no fim da vi ção, que Dona Muma-Dona fez ao
da , se deixando a Christo, se li seu Mosteiro, nos informa, de co
gassem com hum terreno matrimo mo cabendo a sua filha Oneca a Quin
nio , a que os Padres intitulavão ta de Guimarães por morte de seu Pai
incestuoso, e adulterino, em razão do Ermigildo, se determinou a viver re
proposito, que havião adoptado, e ligiosamente, fazendo da sua casa Mos
da fé que a Deos havião promet teiro , em que vivia com outras dom
tido. zellas do seu mesmo proposito. E por
Desde o IV. Seculo se foi pro esta razão intentava sua Mãi edificar
pagando o Instituto das Virgens alli hum Mosteiro Duplex , com seu
Claustraes, que vivião em Communi Abbade, e conforme a Régra dos San
dade, retiradas do mundo, manten tos Padres. Porém D. Oneca, que
do-se do trabalho das suas mãos, vitam degebat Religionis ... idemque
fiando, cosendo, e fazendo perpé dum comume cum caeteris sibi tiruncu
tua guerra á ociosidade, á gula, ao lar commaneret , peccato impediente,
regalo, e á vãa curiosidade, para as oblita primeva conversasionis, fanctis
• J1
DE OE 363 |
# sima documenta versa est in saecularia In Nomine Domini Flammula Deo
detrimenta; (sicuti ipsa veritas ait: Vota, filia Ruderici, Óº Leodegun
# Multi sunt vocati, pauci vero electi:) dia, dum venit ad infirmitate timen
|
relictoque Monasterio, & suavi Chris do die extremo, levavit Confessionem/
V*
ti jugo , introivit juri imperio , Óº hic in Villa Lalini. Ordinavit... du
carnali desiderio. Casou-se em fim cerent eam ad locum Monasterii Vi
= com Goterres Rodrigues, e delles maranes, Óº ad Tie sua Muma-Do
houve por troca a dita Quinta de na, Deo-Vota. Dum pervenit ibidem,
Guimarães, onde fundou o celebra in ejus presentia videt se aflicta in in
do Mosteiro , que deo principio firmitate: ordinavit ad ipsa sua Tia
áquella grande Villa. E eis-aqui te omnia sua destribuere pro remedium
mos muito antes de 959 huma Re animae ejus, ó" in laicale nihil trans
ligiosa , ou Deo Vota, que instiga ferre, nisi ad Monasteria, Óº in ca
da do inimigo se casou, esqueci ptivis , Óº perigrinis , tam Villas,
da de permanecer na Religião, em quam servus, (que ei ordinamus in
que vivêra. genuare) ut sit ei adtributa licentia
Nesta Dôação, confirmada no mes restandi Villas nostras ad locis Monas
mo dia, em que a Igreja daquelle terii , vendendis Castellis nostris, ...
Mosteiro foi Sagrada com # aurum, argentum, paleum, laneum,
do Salvador , assigna deste modo vel es mostrum, quantumcumque sumur
*#
a Fundadora : Egº quidem Muma habere, & c. Doc. de Guimarães. E
eis-aqui temos duas Deo Votas hu
Dona Conversa banc Concessionem, quam
ma viuva , outra donzella, dispon
Cenobio supradicto facere libentissine
sepe procuravi, & in diem Dedica do dos seus bens, e a quem o vo
to, ou promessa de viverem consa
tionis ipsius Beatitudinis Aule manu
gradas a Deos em pureza, e casti
propria confirmavi ex Oficio Palatini.
Porém esta honradissima viuva, que dade lhes conferio aquelle distincti
aqui se chama Conversa, ou Leiga, vo, que talvez nem sempre era con
he intitulada Deo-Vota no célebre sequencia de viver no Mosteiro.
Testamento , que , a beneficio de - Com efeito desde o X. Seculo
}* su’alma, fez no de 96o sua sobri se achão entre nós, Deo-Votas, hu
nha D. Flammula. Vivia esta na sua mas que vivião nos Mosteiros, ou
JVilla , ou julgado de Lalim , junto tras em suas casas, ou Ermidas,
* ao rio Cadavo , em terra de Bouro, outras em particulares Igrejas, co
entre Regalados, e Villa Chãa. Ven mo tambem Emparedadas , obede
} do-se ás portas da morte, promet cendo aos seus respectivos Prelados;
teo ser Religiosa, ou Deo-Vota, e mas administrando, e dispondo dos
se fez logo conduzir a Guimarães, seus bens com tal desafogo, e li
onde destribuio os seus muitos bens, berdade , que até o Seculo XIII.
ouro, prata, metaes, escravos, Vil parece não # entre ellas os tres
las, e Castellos, bestas, gados, votos solemnes; ao menos o da po
joias, e pedras preciosas, e onde breza se havia inteiramente relaxa
vivia no de 968, em que confirma do. Na verdade, por estes tempos
a Dôação do Castello de S. Ma Deo-Vota não era distinctivo de Re
mede, que sua Tia fez ao Mos ligiosa professa : só nos mostra hu
teiro no dito anno. Eis-aqui as for ma mulher temente a Deos, entre
maes palavras: Zz ii gue
364 DE DE
gue á piedade, e que vivia com na, Egilo,
drudia. Tederona,
Doc. Iquila, e Anie
de Arouca. •

particular cuidado da sua salvação:


e isto em qualquer Estado; pois ve Ao Mosteiro de Pedroso fez hu
mos que solteiras, casadas, e viuvas ma notavel Dôação de tudo quan
usão do enunciado Deo Vota. V. to tinha des flumine Dorio in parte
Famula de Deos, e Emparedada.Achão illa strema, Gelovíra Deo-Vota, Pro
se por este tempo innumeraveis Es liz Fromariguiz, VII. Kal. Martij.
crituras de Dôações, escambos, com Er. Mº Cº XVI." (isto he a 26 de
pras, vendas, &c. feitas a Monges, Fevereiro de Io78.) Os Bispos que
e Monjas, e por estes a outros, já confirmão são os seguintes: -

Religiosos, ou Ecclesiasticos, já Petrus Episcopus Cadera Bragarensis Of.


seculares, que nos obrigão a con Diagus Episcopus Iriensis. - Of.
fessar hum total esquecimento , ou Alerigus Episcopus Tudensis. - Of.
não uso do voto da pobreza , que
não era reputada por essencial á Depois destes seguem-se sinco
Religião, com tanto que o Prelado Abbades com os Monges dos seus
fosse consultado, e obedecido. No respectivos Mosteiros, que aqui se
de 1367 se fez hum arrendamento chamão cada hum por si Congrega
de certos bens do Mosteiro de Pen fão: Abbates, de (pro et ) Monachi:
dorada a hum seu mesmo Monge, OrdonioEriz,cum sua CongregationeOf.
com obrigação de renda annual, que
elle devia pagar. A primeira vez, Gondisalvo Galindi, cum sua Congrega
tione. - - - - - - - Of.
que achei escrupulisar sobre este Suario Pelagiz, cum sua Congregatio
ponto foi no de 1281 que D. Vi /70, - - - - - - - - OTs
cente Bispo do Porto deo licença, Gundesindo Randulfiz, cum sua Con
para que a Prioreza de Vairão ad gregatione. - Of.
ministrasse certa Herdade, em que
succedêra huma Freira do mesmo PelagioEricicum mea Congregatione.Of.
Doc. de Pedroso.
Mosteiro, e provê-la do necessa
rio pela renda da mesma Herda Ao Mosteiro de Paço de Sousa
de; visto ser contra a Santa Régra, se fizerão duas Dôações: a 1.º no
que ella a possuisse ; e por isso a de 1 104, na qual hum dos Dôa
tinha renunciado nas mãos da Ab dores he Adosinda Deo-Vota: a 2.°
badessa. Doc. de Vairão. V. Con he de 1 146 feita por Mendo Mo
fessor. niz , e sua mulher Christina Deo
Em hum escambo, que Vimare Devota. Doc. de Paço de Sousa.
do , Abbade do Mosteiro Duplex de Ermesinda Moniz Deo-Vota fez
S. Miguel em Riba-Paiva, e não lon Dôação de certos bens ao Mostei
ge da Sardoira, fez uma com consen ro de S. João de Pendorada, e tam
sum fratribus , Óº sororibus nostris bem ao Mosteiro de S. Salvador de
no de 989 , antes dos Frades , e Lagona a 7 de Fevereiro, de 1 Io9,
Presbyteros, e immediatamente de sendo Rei D. Afonso, ó gener ejus
pois do Abbade , se achão confir Enricho Imperator Portugalense, e D.
mando com o Titulo de Deo-Vódas: Mauricio Arcebispo de Braga. Doc.
Enmilli, Etualo, e Mára, e com o de Pendorada.
Titulo de Sorores : Actina, Marti No de 1 1 1o se vendêrão "g"
2
44
DE DE 365
fazendas a D. Pala Confessa, Deo nada mais era, que huma Familiar,
Kota, como consta dos Doc. de Vai ou Terceira daquelle Mosteiro , de
rão; e nas Bentas do Porto se acha que tinha Carta de Irmandade, es
huma Carta de Venda , feita por perando ser participante de todo o
5o Almorabitiles, a Maria Gonçal bem, que alli se praticasse. V. Fa
#
ves Dºo-Wota no de 1 144, e huma miliaira.
Dôação, que no de 1 146 fez Go E que isto assim fosse, se paten
dinha Goterres a sua irmã Ermesin teia pelos Documentos de Tarou
da Goterres Deo-Vota. E disto ha quella, que hoje se achão nas Ben
Documentos innumeraveis. tas do Porto. No de 1 162 havia
D. Urraca, ou Orraca Viegas, fi Convento em Tarouquella, em que se
lha de Egas Moniz, e de D, The guardava a Régra de Santo Agostinho,
reza Affonso , viuvando do Conde e no de 1 171 D. Mendo Bispo de
D.Vasco Sanches, se entregou de Lamego, e o seu Cabido em o Syno

todo á vida Espiritual, e obras de do , que naquelle anno se fez, di


piedade. No de 1 198 dôou ao Mos mittírão todos os Direitos, que a
teiro das Salzedas seis Casaes , e sua Cathedral podia ter na lgreja
principia a Dôação deste modo: In de Tarouquella, reservando só tres
Nomine Patris, & Filii, & Spiritus aureos, que annualmente serião pa
Sancti Amen. Sciant praesentes , pa os por dia da Cadeira de S. Pe
} riterque futuri, quod ego Orraca Ve #, e o Donativo dos generoso". Po
negas Sanctimonialis sum professa, Óº rém no de 1 187 os Herdeiros des
Monacha Abbatis , Óº Monasterii de ta Igreja a dôárão a D. Urraca Vie
Salzeda in vita, Ó" in morte. Et quia gas, e ás mais Sorores, que com
illorum Monacha sum, & multa mi ela vivião no Instituto Benedictino.
bi bona fecerunt, Óº faciunt, Óº pro Mas esta Dôação parece se não ve
remedio anime meae, ó Patris, Óº rificou ; por quanto em Agosto de
Matris meae; do, Óº concedo jam di 1194 a mesma D.Urraca, (que al
cto Monasterio unam partem heredita li se chama Religiosa Mulier) con
tis meae , id est , sex Casalia, Óºc. tratou com os filhos, e netos de Ra
L. das Dôações da Salzeda a f. 93. miro Gonçalves , e D. Auroana,
Y., e a f. 122 se acha outra Dôa que estes lhe dóassem a Igreja de Ta
ção, que esta Senhora fez áquelle rouquella , para alli professar a Ré
Mosteiro de tudo quanto tinha em gra de S. Bento; ficando por sua mor
S. Joaninho de Moens, fosse Espirite ás Monjas da mesma Ordem, e em
tual, ou Temporal: e isto porque falta dellas aos Monges do mesmo Ins
tituto: e que ella D. Orraca dôasse
a fizerão sua Familiar, e participan
te de todas as boas obras, que na todos os seus muitos bens a esta Igre
quella Santa Casa se fizessem , e ja, reservando só alguns poucos para
porque lhe derão hum Breviario de delles dispor em vida, ou por sua mor
todo o anno, e de Rebora outro Bre te. Foi estipulado este contrato em
viario pequeno, e Viatorio, ou Diur o Synodo Geral da Igreja de Lamego.
no-Matineiro; e tambem pela su'al Ainda assim não consta, que D. Or
ma, e das de seus Pais. Foi isto raca professasse a Régra de S. Ben
no de 12 17. E de tudo se collige, to por então, e que cumprisse a
que esta Sanctimonial, ou Deo-Vata condição de largar os seus bens á
Igre
\

366 DE [DE
Igreja de Tarouquela; verdade he , ção, que Elvira Pires fez a seu Pri
que no de 1198 se intitula Abbades mo D. Pedro Fernandes de humas
sa na Carta de Venda, que lhe fez herdades, com obrigação de volta
o Convento da Hermida do Casal da rem por morte delle a Santa Maria
Lavandeira, junto ao Mosteiro de de Tarouquella. E além disto lhe
Tarouquella. E isto ainda mais se concede : Omne Testamentum Patris
confirma, por vermos, que no de mei, tam Ecclesiasticum , quam Je
12o1 tornárão a pactar os Herdei culare, ut emparetir illud, & tenea
ros desta Igreja com a mesma D. tis in Comenda... é… profectum illius
Orraca ; que não se observando á Testamenti habeat Sancta Maria de
risca o Instituto , que alli deixava Tarouquella, omnis, qui ibi morave
estabelecido ; elles poderião dar esta rit, five unus sit solus. Bent do Por
Igreja a outra Ordem, que mais ap to. Em huma palavra: esta Mulher
proveite. Religiosa: esta Sanctimonial, e Mon
Sahio pois D. Urraca do Mostei ja das Salzedas : esta Deo-Vota 2 e
ro de Tarouquella , e foi estabele Abbadessa de Tarouquella , e Refor
cer no Mosteiro de Tuyas o Instituto madora de Tuyas: não apparece Pro
de Cister, lançando fóra os Conegos de fessa na Religião de S. Bento antes
Santo Agostinho , a quem sua Mái de 122o, em que se fixou no Mos
D. Thereza Affonso no de 1 165 ha teiro de Tarouquella, até que foi
via confirmado a Dôação, que mui mudado com os mais para a Cida
tos annos antes lhe havia feito. O de do Porto.
tempo , que alli se demorou com Pelos Doc. de Tarouca se vê,
as Religiosas de Cister, não cons que Mendo Eritz: S. Martini de Cam
ta; o que sabemos he, que no de bres Minister, Episcopo Gaudino La
122o recebeo o Véo da mão de D. mecensi, & Parochianis concedentibur,
Pelagio Bispo de Lamego , sendo dimittio ao Mosteiro de Tarouca os
Abbadessa de Tarouquella, e que al Dizimos, que á sua Igreja perten
li occupava o mesmo lugar, quan cião em Mosteirô. Porém no de 1 197
do no de 1231 fez huma Dôação para D. Pedro Bispo da mesma Ci
áquelle Mosteiro. dade dôar a Tarouca os Dizimos da
Pela sua ausencia de Tarouquel Bugalheira , que pertencião a São
la , se acha nos Doc. de Paço de Martinho, não só houve primeiro
Sousa, que o Abbade daquelle Mos o consentimento dos Parochianos
teiro, consentindo nisto os mais Her dessa Igreja; mas principalmente o
deiros de Egas Moniz, consignou fez: Cum consensu Mariae Gonsalvi,
certos bens a Miana Doña Orracha, que preest Ecclesie S. Martini de
e a Monio Ermigiz, e a Miana Doña Cambres. E no de 1 199 já esta Pre
Tharasia, pro vestiario, pro pulmen sidente se intitula Sanctimonial em
tis, Óº pro Infirmaria. E o mesmo hum Prazo, que diz assim: In Dei
Instituto Benedictino ficou tão pou Nomine. Ego Maria Gunsalvi, San
co arraigado em Tarouquella, que ctimonialis S. Martini de Kambres,
parece foi logo aquelle Domicilio uma cum Pontifice Lamecensi, nomina
habitado por alguns poucos Mon ti Petro Menendi, ó Parochianis meis,
ges, segundo podemos colligir por tibi Stephano, é uxori tuae Gontinae
hum Doc, de 12o3: he huma Dôa Pelagii, facimus Kartam firmitudinis
de
DE DE 367
de uno campo, quem habemus in San concedimus; salvo tamen Ecclesiae nos
tto Petro de Touraes, sicut dividitur trae jure: Óº tenearis lege, qua Cle
per Eccleriam, ó alia parte per aream, rici vicinarum Ecclesiarum , Tertias
&º per viam , & c. E a Pensão foi persolventium, tenentur; Óº eidem Ec
dois soldos annuaes Domut B. Mar clesiae, in qua vivir, bene provideas,
tini. Agora pois se Deo Vota he o ó" in obita tuo de bonis tuis Testamen
mesmo, que Sanctimonialis: porque tum facias. Et numquam Fratres tui,
esta Sanctimonial , Prelada daquella qui Patroni dicuntur dictae Ecclesiae de
Igreja, não seria Deo-Vota?... Cambar, aut Successores tui, a nobis
Na Cathedral de Viseu se acha exigant, ut aliqua de genere tuo, si
hum bellissimo Pergaminho origi me beneplacito nostro, in ipsa Ecclesia
nal, partido por A. B. C. sem data, vivat, sicut Óº tu. Si autem forté ali
nem assignaturas, com Letra, Or quod istorum , que praedicta sunt,
thografia, e Latim do Seculo XII., transgressa fueris, Óº terprius monita
exarado no tempo de D. Nicoláo, resipiscere nolueris, quingentos solidos
Bispo daquella Cidade , que sendo nobis persolvas, Óº ab Ecclesia vacua
Eleito nos fins de 1 192 #a3 recedas. •

de Outubro de 12 13. Delle se póde Isti sunt fideijursores in quingentis so


vir no conhecimento que Deo-Votas, lidis: Suerius Petri Pacheka: Petrus Pe
ou Sanctimoniaes erão aquellas, a tri de Cambar : Nuno Petri de Cambar.
quem se davão os Dizimos, e Gover Et quolibet anno nobis Sacerdotem
no das Igrejas. O Leitor se não of ostendas, cui (de beneplacito nostro,
fenderá de aqui o copiarmos. c) Parochianorum) ministrandi spiri
Notum sit omnibus, quod ego Goina tualia Ecclesiae , Óº populo, potesta
Petri de Cambar, lebera, Óº sponta tem comittamus.
nca voluntate, eligo sepulturam in Ec E para concluirmos com as Deo
clesia Visiensi, & ofero me Altari B. Matas; em Pendorada se guarda hu
Firginis in manibus Domini Nicholai ma Carta sem data , mas sem dú
Episcopi, ut semper permaneam in vi vida do Seculo XIII., pela qual Me
duitate, Óº sim serviens, & vassalla lendo Abbade daquelle Mosteiro se
ejusdem loci omnibus diebus vitae ineae, queixa a M. Mestre, e Cantor da Igre
Et do , é testor ibidem unum Casa ja do Porto, de que D. Lupa Sar
le infra Villam de Cambar, illud vi razini, tendo feito Profissão no mes
delicet , in quo moratur Dia Godo; mo Mosteiro, e permanecendo al
ut memoria mei semper in eadem Eccle li 25 annos, desde que fôra entre
sia babeatur. Promitto etiam, quod in gue, ainda menina, áquella casa,
obitu meo de rebus meis, pecunia, que a sustentára, e vestira sempre:
possessione, jam dictae Visiensi Eccle agora fôra fazer nova Profissão ao
siae continentiam bonam, qualem de Mosteiro de Refoios. Pede , que
cet, habeam. disto se dê conta ao Papa, para es
Nos quoque Episcopus scilicer, Óº te mandar ao Arcebispo de Braga,
Capitulum, quia te (ut supra scrip que a faça voltar a Pendorada. Va
tum est ) sedi nostra alligasti , Óº lete. - - - |

semper obedientem fore promisisti: ti Não saberei dizer, se destas Deo


bi prafate Goine, Ecclesiam S. ju Potas seria aquella Mantellata , de
liani de Cambar , ut in ipsa vivas, que falla o Cap. Insinuante, a qual
|
368 DE DE
fizera Profissão solemne nas mãos de DERRABAR. Apanhar por de
hum Frade de Santo Agostinho da Ci traz, pela rabada. Derrabar de huma
dade de Lisboa no de 1 19o ; perSua armada algum navio manco: he tomar
do-me com tudo , que dellas são algum navio ronceiro, que ficou a
descendentes as Terceiras, as Legi traz, ou que a tempestade fez er
timas Biguinas, as Ignacias, Beatas, radío, ou dispersou. He de Barros.
ou Devotas, que sem votos solem DERRAMA. Lançamento de al
nes, mas com vestido, e exterior de gum tributo, ou contribuição repar
Penitencia, e Devoção, ainda hoje tida , ou derramada por todos. No
se distinguem. de 1356 havendo a Cidade do Por
DEPARTIÇÃO. Conversação, to prometido ao Infante D. Pedro
ou prática familiar, e tambem, au 12d)ooo libras, tomou destas por der
sencia, ou retirada. rama 1 13908; prefazendo o Con
DEPARTIDAMENTE. Com celho as 92 libras, que faltavão. Doc.
muita clareza, sem confusão algu da Cam. Secular do Porto.
ma, por partes, com boa digestão, DERRIBAMENTO. Acção de
methodo, e ordem. Segundo se na lançar por terra, derribar. Doc. de
Letra da dita Privaçom departidamen Lamego. •

te contém. Doc. de Reciam de 1436. DESACOOMHADAMENTE.


DEPARTIMENTO. Divisão, Livre, e desembaraçadamente, sem
estrema, baliza. E estas Cruzes pu coima, nem defeza alguma. Mais
semolas por marcos de departimento des penhorardes desacoombadamente, sem
ses termos duradoiros por sempre. Doc. chamamento nenhum , e vender a pe
de Aguiar de 1268. nhora sem emprazamento. Isto he,
DEPARTIMENTO, e Estre que livremente poderião ser penho
mamento. No sentido moral: sepa rados , e não seria preciso , que
ração, escolha, divisão, parcialida fossem citados para ver vender a
de , rancho. Doc, de Tarouca do enhora. Doc. de Moncorvo de 1337.
Sec. XIV.
DESAFIAÇOM. O mesmo que
DEPARTIR.I. Repartir, destri desafio. Desafiaçom, e acooimamento
buir, dividir. Daqui Departido: di ninguem o faça por deshonra que lhe
vidido, repartido. Doc, das Bent. seja feita. Cod. Alfons. L. V.
do Porto de 1338. DESAFORADO. Contrauto des
DEPARTIR.II. Praticar, ou con qforado: aquelle em que se renuncia o
versar familiarmente. foro do domicilio, ou privilegio: tam
DEPARTIR-SE.Ausentar-se, re. bem aquelle, em que hum dos contra
tirar-se, apartar-se. hentes promette dar , ou fazer al
DEPOST. Depois. Bent, do Port. guma cousa em certo lugar, e tem
Doc. de 1291. •
po sob certa pena. Cod, Alf. L. IV.
DEPRAÇA. Á vista de todos, Tit. 6., e no Philipp. L. IV. Tit. 72.
públicamente , sem refolho, pejo, DESAFORAMENTO. Assim
ou vergonha, como quem está no disserão o que se oppunha ás Leis,
meio da praça. Lopes. Vid. d'El-Rei Foros, e Regalias de algum Con
D. João I. celho , Cidade , Estado, ou Mo
DEPUS, Depois, He do Seculo narchia. Hoje se toma em outro sen
XIII, tido.
DES
DE • DE 369
º DESAGUISADO.I. adj. Malin DESCOMPENSAR. Descontar,
tencionado. |

abater, levar em conta. Mandamos


DESAGUISADO.II. subst. Sem vos, que descompensedes aaquellas pes
razão , injúria, afronta, máo tra soas , que devem dividas, e lhas re
tamento, aggravo, violencia, for cebades em contos. Carta d'El-Rei
ça. Que se nom faça desaguisado ao D. João I. para os de Silves no de
Mosteiro de Canedo. Carta d'El-Rei 1389. Doc. de Silves.
D. Diniz de 1293. Doc. do Cab. DESCONTO. Diminuição da
do Porto. De guisa, que nom rrece conta , compensação , satisfação,
bessem tanto desaguisado , nem mal penitencia. E tambem labéo, ou no
desses Clerigos. Carta d'El-Rei D. Af ta , v. g. Avaliou similhantes acções
fonso IV. de 1352. Doc, de Coimbra. por valerosas, sem o desconto de te
DESALEALDAR. Em huns merarias.
Apontamentos, que os de Freixo de DESCONTOS. Desavenças, dis
Espada Cinta mandárão pelo seu Pro cordias, dissenções.
curador ás Cortes, que então se fa DESENCERRAR as antiguida
zião, era o 6.º: Que não sejão obri des. Descubrir, elucidar, manifes
gados a desalealdar com mercadoria, tar, pôr em boa luz, aclarar o que
que pague dizima. Parece-me seria já por muito antigo, e menos usa
o mesmo, que dar ao manifesto, pa do , tinha fugido ao nosso conhe
ra pagar o tributo costumado na Al cimento. He # Seculo XVI.
fandega. Doc. de Freixo. DESFACELHA. Desfazella. Do
DESALHAR. Alienar alguns cum, de Vairão de 1287.
bens, propriedades , ou fazendas. DESFACER. O mesmo que Des
Daqui nom desalhedes, não alieneis. fazer. He do Seculo XIII.
DESAMAO. Cousa desviada, DESFALCAMENTO. Dimi
desacommodada, e que não faz con nuição.
ta, v. g. Aquelle campo fica-me mui DESFALCAR. Cercear, cortar,
to desámão... He do Sec. XV. ratear, diminuir, abater, reduzir a
DESARRO. Pobreza , aperto, menos. E se for necessario para cum
penuria, falta do preciso, e neces prir este Testamento , desfalcem do
sario para sustentar a vida. Si vene aver que eu mando dás pontes. Tes
rit mihi desarro, aut necessitate, aut tam. da Guarda de 1298.
angustia, que Abates, aut abitantes, DESFALDADO. Desfraudado,
gue ibi fuerint in oc Monasterio, que diminuto, roto, quebrado.
me colam, Óº mi faciam benè. Doc. DESFALECER. Acabar-se, ex
de Grijó do Sec. XI. tinguir-se, desapparecer. Desfaleceo
DESAPRESSAR. Alliviar, tirar isto... passados os folgados annos,
o pezo, e oppressão, que alguem vierão depois dobradas tristezas, com
fº, *# ### 3 * que muito chorárão suas desventura
tir, e perdôar alguma obrigação cus das mesquindades.
tosa, e afflictiva. V. Estaão. DESFALECIMENTO. Falta,
DESCHAMBO. Escambo, tro engano, inconveniente, falha. E o
ca, commutação. E toda via o des Concelho acha muitos desfalecimentos a
chambo valher, e teer para sempre, esto. Doc. da Camera do Porto do
Doc. de Maceiradão de 13c4.. I39O. |- * * .

Tom. I. Aaa DES


37o DE: DE •

DESFALEÇUDO. A. Terra des DESINFRALADO. Huma taça


faleçuda: Minguada, pobre, falha lavrada de bestiaaens , e dourada ,
do preciso, e necessario. Carta d'El com huum esmalte desfralado. Doc.
Rei D. Fernando de 1 372 , pela de Pendorada de 1 359. He o mes
qual dá toda a Jurisdicção das Vil mo, que Defaldado, roto, quebra
las de Moz, e Villarinho da Casti do, &c. "..

nheira á da Torre de Moncorvo, DESHI, e Desy. O H.: Desde


que lhe inviou dizer, como sendo então. Doc. das Bent. do Porto de
o seu termo mui grande no tempo, 13o7. O II.: Tambem, depois dis
que ela se fundára, então se acha to, além destas cousas. E devy,
va mui coartado, e diminuto, em avendo respeito aos inconvenientes, e
razão dos Julgados, e terras, que torvaçooens, que podiam recrecer. Doc.
os Reis lhe havião &#, da Cam. do Porto de 1487. Carta
com o que se achava de faleçuda, e se d'El-Rei D. João II. . . •

temia de graves damnos de seus ini DESIGUALLANÇA. Desigual


migos a tempo de mester. E que ago dade, diferença. He de Azinheiro.
ra mesmo tinhão sido cercados, e DESINVIOLAR. Livrar da vio
combatidos de muitas companhas del lação, tirar do estado profano, fa
les , que lhes queimárão os ar zer, que huma cousa antes poluta,
rebaldes, roubárão os gados, e fi e contaminada , e por isso inhabil
zerão outros muitos males, de que para os usos sagrados, e honestos,
ficárão mui dapnador. E com tudo seja benta, e apta para elles. He
eles defendêrão a Villa, até que os de João de Barros.
inimigos se ausentárão : e isto ao DESISTIÇÃO. Desistencia, dei
mesmo tempo , que os de Moz, xação, renuncia. Sabbão quantos es
e Villarinho se entregárão, sem se te Estromento de Desistição de tercei
rem combatidos: e o de Moz se em ra vida de Prazo virem. Doc. do Se
culo XV. • •

prazou, e deo a refenas , sem dar


conta a El-Rei a tempo que apo DESMESMADO. A. Excessivo,
desse acorrer, &c. E por isto lhe exhorbitante, desmarcado. Que lhes
pedião por mercê toda a Jurisdicção nom levassem coimas desmesmadas , e
Civel, e Crime nos ditos Lugares, pagasser coimas de vizinho a vizinho.
e Concelhos. El-Rei attendendo aos Doc. da Cam. de Coimbra de 1495.
relevantes serviços, que tinha rece DESNEFICADO. Damnificado,
com detrimento , quebrado, roto,
bido , e esperava receber dos de destruido. •

Moncorvo, e ao grande deserviço


dos ditos Lugares; de Poder abso DESNEMBRAR. Desmembrar,
luto lhos dá com seus termos, e li separar, dividir.
mites para todo sempre. DESOY. Desde hoje. Desoype
DESFEITA. Antigamente se to ra todo sempre. -

mava por Dissimulação : tomou-se DESOLTAMENTE. Desbraga


depois por arte, destreza, desculpa, damente , com demasiada liberda
e razão verdadeira, ou apparente. de, e soltura. Nom se faça tam de
Hoje quer dizer descortezia, inci soltamente , e sem piedade, como sse
vilidade, ou despreso, com que al atdá orade
Cortes fez. Doc. de
Lisboa da 1434.
T. do T. nas •

guem he tratado.
••
DES
DE DE , 371
, DESPEITAR. V. Orden. L. II. decisivo, que dirime, e acaba to
Tit. 2o. Obrar alguma cousa a pe da, e qualquer demanda, ou con
zar , e contra a vontade de al tenda. Doc. das Bent. do Porto de
guem. Daqui : a despeito: a pezar, I337. .
em que lhe peze, por mais que con - DESSFFIAR. Desafiar, provo
tradigão, ou se desgostem. - - car a duélo. Dizendo , que os desr
DESPERÇADOIRO, Vil, bai fiavam , e faziam desfiar os filhos
xo, desprezivel. As cousas desperça d'algo : e porque recrecerom muitos
doiras deste mundo assi as fagesmen omizios, e danos, e mortes. Doc. de
te desperçon. Doc. de Almoster de Pendorada de 1372.
12.87. * * * * •

DESUSODITO. Sobredito, já
DESPERÇAR. Desprezar, ter acima dito, e declarado. Doc. das
em pouco, reputar como vil, e de Bent. do Porto de 1 291. .
nenhum preço. Ib. DESSUU. Parece quer dizer:
DESPERECER. V. Desperescer. todos juntamente , e a cada hum
DESPERESCER. Faltar, mor pro rata , em hum Doc. de Tho
; rer, perder, acabar. Vem do Lati mar de 1321, se diz: Estes Comen
no Depereo. E do que queredes di dadores paguem dessuu essa Colheita
zer (ca-xi-vos chega o tempo) nom todos igualmente; tirado o Comenda
desperesça seu direito a huma parte, dor do Castello de Thomar, que de
nem
1288.4 outra.
* - - Doc. da Salzeda
i . . ( de:.. ve pagar el sob Colbeita; porque lhi.

... foi dado mais , que a nenhuum dos :


DESPERGAR. O mesmo que Out/03 . . . … __ - - …__ - 1- "I
Desperçar. E as cousas terreaes, que DESUUM, e Desum. Hum de
am em poder, bou de todo em todo as pois de outro, não simultanea, mas
despergam, bou er busam dellas bem. successivamente. Em quanto, ambos
Doc. de Almoster de 1287. desuum viverdes. Prazo de Pendora
: DESPEZO, Despendido, empre da de 1328, quer dizer: que por
gado. Rendião de 5oo até 6oo libras, morte de hum dos consortes, não
que sempre foram despezas nos lavo fique o outro lançado fóra do Pra
res do Castello da dita Villa. Doc. zo, mas que successivamente o des
de Moncorvo de 1376. frute, tenha , e possúa. . . . .
DESPOSAJAS. Desposorios. DESUM.. O mesmo que Desuum,
DESPREÇAMENTO. Vilipen He o contrario de Emsembra. No
dio , desprezo , afronta. Antes os de 1292 concede El-Rei D. Diniz
cometedores delles em desprepamento, particular açougue ao Bispo, e Ca
e contento de justiça. Cort, d'Evora bido de Lamego , , e dois moços,
de 1442. que ajudem o carniceiro. Peró em
DESPREZER-SE. Desconten tal guisa, que os tres, nem os dous
tar-se, desagradar-se. Receberej dis emsembra, nem desum, nom talhem;
so muito prazer, e contentamento: e mas hum estremadamente talhe, quan
do contrario me desprezeria muito. do quiser. Doc. de Lamego.
Carta d'El-Rei D.João III. de 1538. DESTALHO. No Inventario,
Doc. da Cam, do Porto. que se fez por morte do Veneravel
DESSESSORIO, juizo Desses D. Fr. Salvado, Bispo de Lamego
sorio : o mesmo que decisorio, ou no de 135 o se acha esta Verba: It :
Aaa ii hum
372; DE ! DE
hum destalho velho de lan. Poderia, dos costumes, estillos, ou palavras,
ser panno, com que se cubrissem que regularmente se adoptão. No
os assentos, ou bancos, ou cadei de 1445 D. João de Chaves Bis
ras; senão quizermos dizer , que era po de Lamego extinguio os O's, ou
o seu Dorsel, naquele doirado tem Convites da sua Sé, pelos grandes
po, em que a vaidosa pompa, ain abusos, que nelles se havião intro
da mesmo dentro das Igrejas, não duzido, e os substituio por certos
tinha lançado raizes tão profundas. Anniversarios. Huma das razões,
De Stallum, ou Stalus: que se to que o movêrão, foi, porque como.
ma, pelo cubiculo, cella, ou lugar, se hi juntava muita gente de desvai
onde qualquer reside, está, ou ha radas maneiras, entre as quaes erão
bita, e mesmo pela cadeira, que o vís pessoas, que depois que bebião, di
Monge , ou Conego tem no seu zião", e fazião muitas enormidades,
respectivo Coro, se poderia formar e alevantavão arruidos, e contendas,
Destalho, segundo o Dialecto Por que erão azo de se seguirem algumas
tuguez # tempo. . . . , violencias. Doc. de Lamego.
- DESTINTO. O discernimento, DESVAIRAR. Não concordar,
ou percepção, que os animaes tem julgar por diferente modo , ou
das cousas, conhecimento, e saga contra a Justiça. E se desvairavão
cidade natural, com que conhecem, na Sentença, apellavão pera El-Rei.
e buscão o que lhes convém. Hoje Carta d'El-Rei D. Afonso IV. pa
dizem Instinto, porém com menos . Ta O Concelho de Bragança de
propriedade, que Distinto, de que, I34O. " "" . - - -

usou Barros, e outros do Sec. XVI. DESVAIRO. Discordia, ou dis


º DESTRANGER: Repartir, di crepancia nos pareceres , e votos,
vidir , destribuir. Mando , que se a opinião contraria, desunião. A quem
dita Crara Martins ficar viuva depos o feito veio por desvairo , que ouve
mim , e eu nom fizer manda , nem antre o dito João Peres, e joão Lou
testamento de meos bens movees, e os renço seu Companhom. Sent. de La
nom destribuir: o que delles ficar man mego de 1366.
do, que a dita Crara Martins os des DESY. V. Desbi. -

tranga por minha alma , em Missas DETARDANÇA. Demora, va


cantar, e em trintairos, e a proves. gar. Doç. de Tarõuca do Sec. XIV.
Doc. de Refoios de Lima de 142o. DETEEDOR, O que mal, e
DESTRENGER , ou Destrin indevidamente, detém, occupa, ou
gir. Ser vontade de alguem, que Possúe alguma cousa. Demandou a
rer, ordenar, ou permittir. Daqui: estes sobreditos detéedores , e embar
Destrenga Deos, e Destringa Deos; gadores per ante Nós, pera aduzer es
por Deos permitta , queira, e orde *a Capela a seu estado. Sent. da
ne : frazes mui frequentes no Sec. Guarda de 13o2. -

XIV., e XV. No mesmo sentido DETERMINAÇÃO. Divisão,


se disse: eEncaminhe
Estrenger.Deos. V. Enca
minhar, •
partilha, ou demarcação de termos,
terras, ou limites. No de 888 (se
DESVAIRADO-A. Desordena não ha erro na data do L. dos Tes
do , confuso, perturbado, discor tam de Lorvão N. 35.) fez o Con
dante, vário, extravagante, alheio de Exemeno Didaz huma Determi
27/1
A

DE DE 373
nação sobre os limites entre as Villas animo de malfazer, devassavão tal
de Alquinicia, e Villa Cova. vez o que estava coutado ; porém
DETERMINAR. Demarcar, isto, era hum crime , que além da
dividir, levantar marcos, e balizas restituição, se punia com o desagra
para separar as fazendas, termos do do Principe, e a pena dos seus Encou
ou limites. No de 938 (Segundo o tor. No de 1 191 havia El-Rei D.
L. dos Testam. de Lorvão N. 33.) o Sancho I. feito Dôação de Couto á
Conde Exemeno Didaz fez Doação Sé de Lamego; cominando a quem
ao Abbade Mestulio , e seus Fra o quebrantasse a Maldição de Deos,
des, de huma Varzea com seu por a ira do mesmo Senhor, e do Rei de
to, sobre o rio Mondego, sicut il Portugal , ao Bispo, e Conegos 5oo
la prendidi pro mea determinatione, soldos, e o dano satisfeito em dobro;
quum determinavi inter Villa Cova, ficando o Couto sempre em seu vigor.
cy Villa, quae dicitur Lauredo, quae El-Rei D. Diniz mandou no de 1299,
est de parte Alquinitia. E por este e no de 1313 , que ninguem de
trabalho, he que tomou a dita Var vassasse este Couto. E constando-lhe,
zea com o seu barco de passagem no que os Juizes de Lamego, consen
Mondego, a que se chamava Porto. tião, e approvavão, que Ricos-Ho
DETRIMINANÇA. Determi mens, Cavalleiros, e Donas pouzas
nação, sentença, decisão. E feito o sem nelle; - allegando huns, e ou
ajuste com as partes, a detriminança tros varias mercês ; o mesmo Rei
será dos Louvados. :" " " … . mandou no de 1314, que os Im
DEVANEO. Desvanecimento, pugnadores do Conto compareces
arrogancia, fofice, apparencia. e º sem, em Lisboa) dentro de 19 dias
. DEVASSAR. Assim chamárão para se lhes deférir como fosse jus
antigamente áquella acção, que dia tiça. Com efeito, persistio o dito
metralmente se oppunha ao coutar, Couto com muitas Confirmações
defender, ou eximir algumas herda Reaes, até que governando em Por
des, Villas, Povos, casas, ou pes tugal Filippe # foi# C
soas: de sorte, # tudo o coutado inteiramente abolido. Não seria te
por Authoridade Real só podia ceder meridade grande dizer que Devas
em beneficio de alguma particular sar vem do Verbo Debarrare: Re
corporação , familia, ou individuo. pagula tollere ; isto he, tirar, lan
Pelo contrario, o que se devassava çar fóra, remover as barras, ou bar
ficava sendo público , e sem Privi reiras, sebes, portas, vallados, ou
legio algum de indemnidade; e ex cancellas, com que as Povoações,
empção. Sabendo El-Rei D. Diniz, ou fazendas se defendião , e res
que algumas Communidades, e mui guardavão ; deixando-as por este
tos Nobres do seu Reino dispotica modo patentes, e expostas a todos.
mente, e sem as devídas licenças do Daqui veio o dizer-se Mulher de
Soberano, havião feito, ou accres vassa , e Devassar-se a mulher: por
centado Honras, e Amadigos; depois aquella que se fazia pública, e de
de miudamente se informar, as fez porta aberta. Fazenda devassa: que
devassar, tornando-as ao seu antigo está exposta a quaesquer animaes,
estado. Tambem alguns particulares, que a damnifiquem. E Devasidão: o
por sua propria authoridade, e com desaforo , e petulancia , com que
al
374 DE DE
alguem se entrega sem reserva a to DEXTIO. O mesmo que Dextror.
dos os vicios , crimes, e excessos. DEXTRARIO. V. Adextrado.
Hoje dizemos Devassa :: não pela DEXTROS. V. Passais.
sentença , que se pronuncia; mas DEZÃO. V. Dozão. …
sim pela Inquirição de testemunhas DEZEMBARGOS. Destes trata
sobre algum crime, ou delicto, que a Orden. L. IV. Tit. 14. in princ.
públicamente se commetteo, ou que DEZENVESTIR. Desapossar,
se tornou público; e tambem por dimittir, tirar, ou largar a posse.
que a Devassa he o meio de se co Metemos em téénça, e corporavil pos
nhecer, e publicar o seu Author. sessom, e desenvestimonos, e envesti
DEVASSO. Deitar em devasso: mos o dito Moesteiro na dita herdade.
o mesmo que Devassar. Outro si: Doc. de Pendorada de 1341.
outorgo, e mando, que o lugar, que DEZEOUTANOS. Dezoito an
chamão Seara do Bispo, e todalas ou nos. Doc. de 128o.
tras Herdades , e Lugares dessa Ei a DHUC. Duque. O Infante vosso
greja de Lamego, que foram deitados tio, que he Dhuc della. Cap. Espec.
em devasso, pela Inquizifam, que foi para Viseu nas Cort. de Lisboa de
feita sobre las Honras, por Pedro 1439. Doc. de Viseu. . .
Martins Priol da Costa, e por Gou - DIA de Foral. Dia da Audien
falo Rodrigues Moreira , e por Do cia, em que se julgava, e dicidia,
mingos Paes de Braga, que sejam , e segundo o respectivo Foral. Feito
tornem em aquelle estado, que eram, foi na Villa da Feira , nas casas de
ante que essa Inquizifam fosse feita: Dominge Annes de cima de Villa, ú
e Eu assim os torno. Composição ami o dito juiz fazia o Concelho, e sia ou
gavel d'El-Rei D. Diniz com o vindo os preitos em dia de Foral. Doc.
Bispo, e Cabido de Lamego no de de Grijó. * . .

1292. Doc. de Lamego. … , - DIA-NOUTE. Acha-se este Ter


DEVEDRO. De tempos antigos, mo em muitas Inquirições, que se
antigamente. Doc. de Pendorada de tirárão depois de 122o ; alludindo
1285, , , , " ". . * . a hum pasmoso Eclipse, que tinha
DÉVIDA. Divida, obrigação de precedido, e que sérvio de Época
agar,
O ou satisfazer alguma cousa. por muito tempo; dizendo as tes
oc.. de 13o1. { temunhas , que tinhão tantos, ou
DEVIGINAR, Reduzir, a cultu quantos annos, quando o dia foi nou
ra as terras virgens , e infructife te; pois taes forão as trévas, que
ras, fazendo-as fructiferas, e ren o dia claro se transformou em noi
dosas. He methafora tomada da mu te escura.
lher virgem, que em quanto tal não DIA de pão por Deos, Dia de
dá fructo do seu ventre. Frater meus, todos os fiéis defuntos, em que se
qui in illa habitat , de plantatura, repartia muito pão cozido pelos po
quam ibi plantaverit, de terra etiam, bres. Pagaredes o dito foro em cada
quam deviginaverit, Vº" partem re bum anno em dia de pão por Deos.
dat ipsis Canonicis. Doc. de Grijó. Prazo do Sec. XV.
V. Eyvigar. DIA do Sermom. Assim chamá
DEUS: que bem! V. Deos: que rão a segunda feira, ou 1.° Outa
bem! va da Paschoa; porque antigamen
- [C
\
DI DI 375
te se lia neste dia o Evangelho de gularmente, ou que estava estabe
S. Math. no Cap. V., que trata do lecido mesmo por Lei, ou Assen
Sermão do Monte, que o Senhor to se vendesse pelo sabido preço de
fez aos seus Discipulos, e lhes ex hum Dinheiro. Na Baixa Latinidade se
plicou quaes erão as Bemaventuram acha Denariata, Denerata, Dinairada,
ças, que neste mundo nos prepara Denairada , Dinariata, & c. Então
vão para a felicidade sem fim. Por hu dizião : Dinheirado , ou Dinheirada
ma sentença de 1332 se julgou, que de terra , de vinha , de cera, de
os Gafos da Cidade de Viseu deverião pão , de vinho , e mesmo chama
haver annualmente vinte soldos de vão Dinheiradas a quaesquer gene
certas fazendas : e isto por dia do ros, e fazendas, peças, ou drogas,
Sermon ; convém a saber , em outro que por dinheiros se vendião. Di
dia do dia de Paschoa. Doc. da Cam. nheirada de terra, ou de vinha: era
de Viseu. huma porção de terreno, ou vinha
DIAS andados. V. Andado. go, que valia hum Dinheiro de
DIEIRO. Dinheiro. Sobre huma renda annual. Dinheirada de pã, vi
soma de dieiros, que lhi demandava. nho , cera, & c., era a quantidade
Carta d'El-Rei D. Diniz. Doc. dedestes generos, que por hum Di
Tarouca de 1282, e de Pendorada nheiro se comprava. Ainda hoje vul
de 1278. armente se diz de hum, que ven
DIETA de terra. A que se póde # vinho: F. dá boa dinheirada, isto
lavrar em hum dia com hum jugo he, faz boa medida; porque antiga
de bois, que propriamente he hu mente as havia de vinho chamadas Di
na geira. Tambem se deo o mes nheiros , ou Dinheiradas, assim co
mo nome ao caminho, ou jornada, mo tambem se vendião pães cosi
que alguem fazia por alguma ter dos , que tinhão o mesmo nome,
ra, ou paiz. " por se comprarem justamente por
DIFYNDOR. O que decide, hum Dinheiro.
resolve, determina alguma conten No de 1 152 deo El-Rei D. Af
da , causa, ou negocio duvidoso, fonso Henriques Foral á Villa do
} e intrincado. Hoje dizemos Difini Banho em Terra de Alafões,
dor. Doc. das Bentas do Porto de amor, e bom afecto, que tinha a

:

1318. D. Fernão Pires, Senhor de Ala


DIFFIR. Difinir , determinar, fões, & Princeps Curie Regis. Nel
decidir, julgar, ou acordar por sen le se determina, que quando o Se
tença. E esto prometerom, a que quer nhorio vier a esta Villa, se lhe pa
que eles naquesta demanda fezessem, gará de cada Fogo annualmente hum
diffissem. Doc. de Pendorada de 128o. almude de pão, e outro de vinho,
DIM'UNA rem. Diz-me huma e dois dinheiros pro conducto. E os
cousa. Frase do Seculo XIV. marchantes, ou carniceiros, lhe de
DIMITIÇOM. Dimissão, de vem dar hum lombo de vaca, e ou
sistencia , deixação , renúncia. Sa tro de porco, e de carneiro duas
bham quantos este Estromento de Di dinheiradas. Em hum Prazo de Pen
mitiçom virem. dorada de 1289 se lê: Detis annua
DINHEIRADA. Qualquer cou tim Refectorio Fratrum XII, denaria
sa, que valia, ou se comprava re tas panis, & sex pisces canes. Nos
Doc.
376 DI DI
Doc. das Salzedas, e Lamgo se articular cunho , e pezo , a que
faz larga menção de Dinheiradas. #
nos
chamão Medalhas, e os Latiº
da inferior idade disserão Num
- No de 136o se mandou por hu
ma: Provisão Real, que na Cidade mos da palavra Grega Nomos, que
do Porto houvesse as seguintes me significa Lei; huma vez que a moe
didas de líquidos ; Dinheiro, dois da lavrada , e estabelecida por au
Dinheiros ; almude , e meio almude. thoridade pública, firmava a igual
Ainda hoje dizemos: 5 réis de vi dade na commutação das cousas.
nbo: 1o réis de vinho, & c.; appel … Entre os Romanos se chamou
lando sobre huma medida, que con Denario huma moedinha de prata,
tém o valor de 5 , ou 1o reis, se que pezava huma Dracma, e tinha
gundo o preço do almude, quarta, de huma parte a Imagem de Jano,
canada, ou quartilho. Em hum Doc. e da outra a figura do navio, que
de Pendorada de 1347 se acha: A o levára á Italia : valia quatro Sei
cada huum Frade quatro Dinheiros de tercios , ou dez Asses , e por isso
pam : o que mui naturalmente se tinha esta marquilha X., que lhe
entende por quatro pães, cada hum deo o nome de Denario, ou equi
do valor, e pezo de hum Dinhei valente a dez. Se pois hum Dinhei
ro; não sendo muito crivel, que a ro Romano valia dez Asses, e hum
cada Monge se legassem quatro Asse valia quatro réis; fica manifes
Dinheiros, para elles mesmos os em to, que hum daquelles Denarios va
pregarem em pão, ou os commut lia quarenta réis do nosso dinheiro.
tarem para outras suas particulares Com efeito, entre tanta variedade
# V. Dinheiro, Morabi de opiniões sobre o preço porque
tinada, Soldada. . : : Jesus Christo foi vendido, a mais
. - DINHEIRO. Hoje damos este bem fundada he, que foi por 12oo
nome a toda , e qualquer moeda réis; na certeza de que cada hum
corrente, ou que algum dia servio dos trinta Argenteos, que Judas pa
na commutação das cousas, e que ctou com os Judeos, era a décima
he lavrada de ouro, prata, cobre, parte de hum Dinheiro de ouro, que
ou outro qualquer metal; prescen na Palestina se usavão, e cada hum
dindo aqui do que se chamou, ou dos quaes valia 4co réis da nossa
chama Dinheiro , como barro, pa moeda: se pois dez Argenteos fazião
pel, sola, páo, algodão, panno, hum cruzado: 3o Argenteos, ou Di
conchinhas , &c., com que varias nheiros de prata fazião sem dúvida
Nações, e por mui diferentes mo tres Dinheiros de ouro, º que he da
tivos, compravão, e vendião reci nossa moeda verdadeiramente hum
JProcamente os efeitos da sua arte, quartinho. Não negareis com tudo,
ou, industria, e as producções mes que o Denario Romano não foi in
mo da natureza. Se antes do Uni variavel no seu pezo, e valor; pois
versal Diluvio houve Dinheiro; e se houve tempo, em que chegou ava
Noé foi o primeiro, que na Italia ler 12 Asses, e tambem 16 Asses,
bateo moeda, nós agora o não dif ou 64 réis Portuguezes.
putamos: dizemos sim, que desde Geralmente falando, todas as º
os primeiros tempos Post-Diluvia Nações tiverão seus Denarios, ou Di
nos houve moedas, e dinheiros com nheiros, que sempre forão das #
{ 2S
DI DI 377
das mais baixas, e miudas. Destes, que huma Mealha se contasse por
huns erão Brancos , ou Mixtos , e meio Dinheiro , e duas Mealhas por
mal Pesantes , em razão da liga: hum ceitil. Por este modo se redu
outros erão Fortes, ou Machos, Me zírão estas moedas antigas, e miu
ros, Puros, e bem Pesantes, ou de das nos Foraes, que fez reformar.
Lei : e estes se alguem os rejeita aquelle Monarcha. No de S. Fins
va, e os não queria receber , era de Riba Paiva de 1513, poz Fer
castigado em França, com lhe pô não de Pina a declaração seguinte:
rem
braza.na testa hum delles, feito em

A moeda antiga a traz se entenda =
Por hum Dinheiro, hum ceitil; e por
Não ficou Portugal sem particu soldo
Doc. XI. ceitís; e por libra 36 réis.
das Salzedas.
lar Denario. Teve destas moedas •

desde os principios da Monarchia; DINHEIRO de S. Pedro. Assim


mas o seu valor por então não he foi chamada em Inglaterra huma
cousa averiguada. Sabemos sim, que certa moeda , que de todos os fó
era de cobre, e que antes d'El-Rei gos, sem distincção de pessoas, e
D. João I., 12 Dinheiros de Portu annualmente, pagavão os moradores
gal fazião hum soldo : e 2o soldos daquelle Reino á Sé Apostolica, a
fazião a libra mais antiga. No Cod. titulo de esmola; e por isso alguns
Emanuel. L. IV. Tit. 1. se declara o lhe chamavão Eleemosina Regis, ou
valor das libras , e outras moedas Eleemosina S. Petri. Huma parte des
antigas. Alli se diz que El-Rei D. te Tributo era para os precisos gas
Duarte mandára pagar 7oo libras tos do Summo Pontifice, e parte
por vinte réis brancos , (hum, vin para a manutenção da Igreja de
tem ) e que cada real branco valesse Santa Maria, que então se chama
bum soldo: (seis ceitís fazem hum va Schola Anglorum. Esta, que prin
real branco, que he dos que pre cipiou Esmola voluntaria, e a Titulo
sentemente correm) e que dés Pre de humilde reconhecimento , veio
tos vales sem hum real branco : e que no tempo de Innocencio III. a co
bum Preto valesse hum Dinheiro. Te brar-se á força de Excommunhões,
nos logo que hum Dinheiro valia como Tributo. Havia principiado
a X" parte de hum real. Depois esta Oferta , reinando Ina no de
disto mandou El-Rei D. Affonso V. 74o: ainda continuava no de 1 1 16,
pagar 18 Pretos por hum soldo, ou e se acabou no tempo de Henrique
real branco. E sendo o Dinheiro do VIII. Carlos M. instituio outro se
mesmo valor, que o Preto: vinhão melhante subsido no seu Reino de
tres Dinheiros a fazer hum ceitil. Es Arles. Em Polonia, e Bohemia tam
te dividia-se em seis Mealhas: e as bem se oferecia á Igreja Romana
sim vinhão duas Mealhas a fazer o Dinheiro de S. Pedro. El-Rei D.
hum Dinheiro. Mas para acabar de Afonso Henriques, desejando con
huma vez com tantas confusões, nas seguir a protecção dos Romanos
cidas de semelhantes miudezas, El Pontifices, (naquelle tempo, em
Rei D. Manoel fez extinguir os que se havião confundido tanto os
Dinheiros; mandando, que dalli em verdadeiros limites entre o Sacer
diante se chamassem ceitís; pois se docio, e o Imperio) escreveo a Ce
não diferençavão muito no valor. E lestino II, a Carta, que foi achada
Tom. I. …
Bbb 11.O
378 DI
no Registo de Lucio II., donde, Rex, qui hane K. fieri jussi, liber
por copia, foi tirada para o Archi ti animo, coram idoneis testibus pro
vo da Igreja Bracharense. Por ella pria manu confirmo.
oferece a S. Pedro quatro onças de Ego J. Brachar. Archiepiscopus. Of
ouro, por Tributo annual, por si, Ego J. Colimb, Episcopus. - Of.
e seus Successores. Para chegar á Ego P. Portug. Episcopus. - Of.
noticia de todos, e com toda a sua
pureza , a damos aqui tirada do E não faça dúvida achar-se aqui
Archivo Capitular,
cias varias N. 2. Gav. das Noti confirmando

D. João Anaya , Bispo
de Coimbra, a 13 de Dezembro de
1143, e encontrar-se naquella Ca
Oblatio Regis Portugalensis. In Re thedral huma Bulla de Lucio II.,
gesto Lucii 2.
para D. Bernardo; como occupan
Claves Regni Calorum B. Petro a do ainda aquella Mitra no de 1144;
Dño Nostro Jesu Christo concessas esse pois sabemos que o brevissimo Pon
cognoscens, ipsum Patronum, Óº Ad tificado de Celestino II., fez que
vocatum babere disposui ; ut Óº in vi todo o expediente ficasse devoluto
ta praesenti opem illius, & consilium para seu Successor; e como a Pe
in meis oportunitatibus sentiam , Óº tição, para que nenhum Arcebispo,
ad premia felicitatis aeternae , ipsius
ou Bispo podésse excommungar Dioce
sufragantibus meritis, valeam perte sano de Coimbra, sem faculdade do seu
nire. Quo cira Ego Adfonsus , Rex Bispo , fosse feita, ou nos fins do
Portugalensis Dei gratia, per manum Pontificado de Innocencio II. (que
D. G. ; Diaconi Cardinalis, Aposto já no de 1 135 lhe tinha confirma
lice Sedis Legati, Domino, ó Patri do os bens da sua Igreja) ou no
meo Papae Omagium feci. Terram er pouco tempo de Celestino: quan
go meam B. Petro, & S. Rom. Ec do chegou a Bulla , já D. Bernar
clesi e constituo sub censu annuo IV. do, ou falecendo, ou renunciando,
unciarum auri; ea videlicet conditio tinha Successor.
ne, atque tenore, ut omnes, qui Ter Porém não permaneceo este cen
ram meam post decessum meum tenue so annual, que fazia o Reino de
rint, eumdem censum annuatim B. Pe Portugal feudatario aos Successores A

tro persolvant. Et Ego tamquam pro de S. Pedro. Nos principios do Se


prius Miles B. Petri, ó Rom. Pon culo XIII., e gozando já de luzes
tificis, tam in me ipso, quam in ter mais claras, os nossos Religiosissi
ra mea , ó" in his , que ad Digni mos Soberanos, guardada toda a re
tatem , & Honorem meae Terrae at verencia para com a Sé Apostolica,
tinent, defensionem, & solatium Apos reconhecêrão a total independencia
tolice Sedis habeam, & nullam Po da sua Monarchia, e com hum es
testatem alicujus Ecclesiastici, Secu quecimento muito bem lembrado,
Iarisve Dominii, ( nisi tantum Aposto sobreestiverão para sempre na sola
/icae Sedis , vel a latere ipsius Mis ção de hum Tributo , injurioso á
si) umquam in Terra mea recipiam. Coroa , e nada preciso ás necessi
Facta Oblationis , Óº Firmitudis K. dades, e urgencias da Igreja Santa.
Idus Decembris. E. M. CLXXXI. Ego DIPTAGO. O mesmo que Di
supradictus Adfinsus, Portugalensium tago inf. Em huma Carta de S. Ro
SCIl
DI DI 379
sendo Bispo de Dume de 892 ap. Achamos , que o Vigairo, e Raçoei
Yepes T.V. se lê: Diptagos argen ros avião d'aver XIII, moyos, e tres
teos imaginatos, Óº deauratos; cali quarteiros de centéo, e LX, moyos de
ces argenteos exauratos tres. E em vinho , e a meyadade das meuças , e
outra do mesmo Santo : Ad usum das Anniversarias, e das Mandas, e
Sanctuarii, Cruces, dipragos, capas, das Direituras cada bum anno. E as
calices, ó coronas. si o julgamos por sentença , que as
DIREITURAS. A. Pensões miu ajão pera sempre. Não negaremos,
das , a que hoje chamamos Fora # neste Lugar se podem enten
gens, ou Miunças , e que o Emfi er as Direituras pelos usos, e cos
teuta costumava pagar além do Fo tumes de receberem algumas miude
ro principal, e sabído. Havia anti zas , que principiando na devoção
gamente muitos Prazos intitulados dos Fiéis se vierão depois a cobrar
de 12 foros ; porque outras tantas como obrigações indirimiveis.
erão as Pensões, que pagavão, al DIREITUREIRO. Inteiro, re
gumas das quaes, ou quasi todas, cto, imparcial, e muito amigo de
além da principal, erão insignifican fazer justiça, e dar o seu a seu do
tes, e se entendião pelo nome de no. He do Seculo XV.
IDireituras. No de 1189 D. Godi DISNEMBRANÇA. Separação,
nho, Bispo de Lamego, emprazou divisão.
:
a Pedro Janeiro hum Casal em Pa DISTINTO. Extincto, acabado,
redes, com Foro da terça parte do findo. Ficou
lecimento das ovidas
Prazodelle.
distinto por fal
* •

vinho, que nelle se produzisse, ó"


Directuras , quantas semper dedisti. DITAGOS. Róes, ou Livros en
Vendeo o mesmo Emfiteuta este Pra rolados, em que se escrevião os no
zo com authoridade do Bispo de La mes de certas pessoas, tabellas de
mego D. Pedro de boa memoria, no tres columnas, das quaes as duas
de Izo8; declarando, que além do dos lados fechavão sobre a do meio.
#
Foro, ou Pensão do vinho, paga Do Seculo passárão os Diptychos pa
ria o Comprador annualmente á Mi ra a Igreja, assim como havia pas
tra unam pernam de porco, Óº unam ta sado o nome dos Gregos para os
ligam de tritico, & duos capones, ó" Latinos. Da palavra Ptycha, que
decem ova, Óº unum arcum, Óº uno significa dobras, ou plicatúrás, se
sesteiro de castaneis, Óº non amplius. formárão Diptycha, Triptycha, Po
L. das Doaç. das Salzedas a f. 126. lyptycha; para dizerem, carta, per
E daqui se manifesta o que por Di gaminho , ou taboa de duas, de
reituras se entendia. Hum maravi tres, ou de muitas dobras. Dos pre
dim de Direitura: meio maravidim deciosos, mas profanos Diptychos, em
serviço : e quarta de maravidim de que os aviltados escravos de vergo
Permissa; e XVIII. Dinheiros de Pe nhosas paixões debuxavão os retra
dida. Doc. das Salzedas do Seculo tos dos objectos, que idolatravão,
XIII. Por Direituras huma teiga de emblemas, versos, elogios, encare
centéo, e huma de trigo, e hum sol cimentos, com que lisongeavão os
do Prazo de S. Pedro das Aguias seus amantes , não tratamos aqui.
de 1227. Em huma sentença de Al Igualmente prescindimos dos Dipty
macave do anno de 1334 se lê chor dos Consules , e outros princi
• ••
Bbb ii paes
|
38o DI
paes Magistrados , que por gran Ao Diacono pertencia recitar os
des, e preciosos donativos se cos Diptychos, assim dos mortos, como
tumavão mandar aos seus arrojados, dos vivos. Aquelles, depois de ler
e parentes, adornados com cylin os nomes dos Bispos, respondia o
dros de marfim , ouro , ou prata, povo: Gloria tibi, Domine; que era
sobre que se enrolavão as membra louvar a Deos, e confessallo admi
nas, papyros, ou lenços, em que ravel nos seus Santos. E daqui teve
se vião com letras maiusculas os no principio a Canonização, que hoje
mes dos ditos Magistrados, com se pratíca, e com que a Igreja San
delicadas cercaduras de imagens, e ta julga, e declara, que algum de
brutescos: destes se faz menção no seus filhos merece com razão entrar
L. XV. Cod. Th. de Expensis Ludor. no Catbalogo dor seus Santos ; pois
Os Diptychos Ecclesiasticos particu tambem nos Sagrados Diptychos não
larmente nos interessão. Destes huns era escrito, ou promptamente era
erão dos vivos, e outros dos mortos. riscado , o que não tinha vivido
O Cardeal Bona, Du-Cange, e ou conforme em tudo á Lei do Senhor,
tros se persuadírão, que além des e principalmente se tinha mancha
tes havia Diptychos Episcopaes, em do a sua conducta com a torpe no
que separadamente se nomeavão os ta de herege, scismatico, adultero,
Bispos, que naquella Deocese ha homicida , &c. Depois dos Bispos
vião fiorecido com alguma particular se nomeavão por sua ordem os de
nota de Santidade. Porém Selvagio mais Ecclesiasticos. Seguião-se a es
Antiquit. Christian. Institut. L. II, p. tes os Imperadores, os Reis, Prin
2. Cap. II. S. VT, se persuade estar cipes, ou Monarchas, se à sua pú
de mais esta divisão, de que os San blica , e notoria desordem os não
tos Padres não fallárão , e mesmo excluia. E finalmente se nomeavão
nenhum inconveniente se descobre em geral todos os Leigos de hum,
para não serem nomeados entre os e outro sexo; fazendo-se commemo
mortos. E finalmente os Documen ração particular dos que havião fun
tos, que pelo contrario se addu dado , dotado, ou # algum mo
zem, não são tão claros, que de do favorecido aquella Igreja , ou
cidão : só nos convencem de que Mosteiro, como no Concilio de Me
nestes Diptychos occupavão o primeiro
rida de 666: Can. XIX, expressamen
Lugar os bons Prelados, e que di te foi mandado. Nos Diptychos dos
gnamente havião apascentado aquel vivos se guardava esta ordem: pri
le Rebanho do Senhor. Não nega meiramente se nomeava o Summo
remos com tudo, que alguma vez Pontifice, o Bispo, ou Metropoli
se fazia memoria dos Pastores de tano, os quatro Patriarchas, e todo
outras Igrejas, quando o resplen o Clero: seguião-se os Imperantes,
dor das suas virtudes os fazia cla e todo o Povo ; dando-se hum lu
ros, e distinctos em toda a Chris gar distincto aos que tinhão feito
tandade. E daqui procedeo chama áquella Igreja algum particular be
rem-se estes Diptychos dos Mortos. neficio. •

Tabellar Episcopaes , Taboas Sagra De toda esta disciplina, que des


das , Taboas Misticas , ou Catalogo de os principios da Igreja religio
dos Bispos , que havião dormindo no samente se praticava, nos ficárão
Senhor. • • * * * . * • doisos
DI DI 381
dois Mementos da Missa , hum dos e outras pessoas, que nos Dipty
vivos , e outro dos mortos , para chos se escrevião, alli se achão pe
mostrarmos no 1.º a união, que temos la mesma ordem, com que no Mar
com os Successores de S. Pedro, a tirologio se recitavão os nomes dos
obediencia aos Prelados, e Princi Santos.
pes da terra, e a caridade, que nos … Jeronymo Rubeo no L. III. da Hist.
obriga a fazer oração por todos os de Ravena , sub an. 515. chegou a
Fiéis, por quem se vai a sacrificar suspeitar, que a Planeta, ou Casu
novamente o filho de Deos; e para la Sacerdotal se chamou antigamen
confessarmos no 2.º a Resurreição te Diptycho, por ter achado na Sa
das almas, que nos precedêrão com cristia Classense huma antiquissima,
o sinal da Fé, e dormem já o som na qual se achão debuxados com
no felicissimo da paz, cujas penas grande primor os nomes de muitos
desejamos não só mitigadas , mas Bispos de Ravena. Porém deveria
extinctas, para entrarem sem demo ter advertido , que naquella vesti
ra no gozo do Senhor, menta, (que he de seda entreteci
No Seculo IX, já se havia intro da com prata), igualmente se achão
duzido o costume de applicar algu Gabriel Angelus, e Michael Angelus,
mas Missas por pessoas particulares,
e ele he bem certo que nos Sagra
que para este fim davão a sua es dos Diptychos não se escrevião se
mola : nestas não se lião os Dipty não os vivos que havião de mor
chos, ou Tabellas, como nas Mis rer, e os mortos, que a seu tempo
sas Conventuaes se praticava. Mas havião de resuscitar , o que de
como nestas Leituras se consumisse nenhuma sorte podia convir aos
largo tempo , e a devoção se aca Anjos. : "… . . . .
bava talvez primeiro que a Missa, No Testamento de D. Muma-Do
deixados os Mementos dos vivos , e na de 959 se acha esta Verba: Pro
mortos para o Sacrificante ; depois ornamentis sane Altariorum Sanctorum
do Seculo X, se introduzítão os Li oferimus una Cruce de centum , &
vros dos Obitos, ou Necrologios, nos quinquaginta solidos , ex auro, Óº
quaes depois do Martyrologio se lião lapidibus ornatam ; capa deaurata,
á Prima os nomes dos Fundadores, dº lapidibus ornata, continens CCLX.
ou Bemfeitores , Confrades, e Fami solidos; ditagos de XL. solidos ; Co
liares, que naquelle dia falecêrão, ronas tres, tenentes LXX, solidos, ex
e pelos quaes se fazia oração par lapidibus ornatas; Calices duos, unum
particular, não só no Côro , mas de LX., & alium de L. solidorum;
tambem no Capitulo, naquelle pe Cruces quatuor deauratas ; ditagos;
los Conegos, e neste pelos Mon torques deauratas, Óº lapidibus orna
ges. Entre os Necrologios, que suc tos; urceolos de VIII. solidos; cande
cedêrão aos Diptychos, e que eu te labros duos ; lucernas idem ; lampa
nho folheado, se faz memoravel o das de solidis C., &c. Doc, de Gui
da Sé de Lamego, que alli se con marães.
serva , escrito em pergaminho, e DIVIDO. Parentélla. He do
copiado de outro já mui antigo no XIV., e XV. Seculo.
de 1262. Consta de hum só volu DIVISAÇOM. Separação, divi
me, e os nomes dos Bemfeitores, sa, termo , limite , partilha. E o
//}úly"
382 DI DI
marco faz móór divisaçom. Doc. de lia de 27o réis. El-Rei D. Pedro
Bragança de 15o I. I. as lavrou com valia de 147 réis,
DIVISEIRO. O que dividia, e tres quintos de hum real: tinha
compunha , departia, e julgava a cada huma quatro libras, e dois sol
final todas as causas, pleitos, e de dos. E destas havia tambem meias
mandas entre os moradores das Be dobras; pezaráõ hoje 6o réis. V. Li
hetrias. Doc. de 1352. bra. Por hum Doc. do Salvador de
DIZER aos ditos, e ás pessoas. Coimbra de 1437 consta, que a Do
Contradictar , pôr contradictas ás bra Cruzada d’ouro tinha 4 libras,
testemunhas. Disse, que queria di e valia 15 o réis brancos: e o Ma
zer aos ditos, e ás pessoas. Doc. de ravidil d’ouro tinha 5 libras, e con
Pendorada de 13o8. seguintemente valia 187 réis e meio,
DIZER-SE. Ser, chamar-se, in de seis ceitís o real. Das Castelha
titular-se. Eu como Procurador , que nas humas se chamárão da Banda,
me digo de meu neto. -
outras de D. Branca: estas erão o
DIZIMADA. A.S. Libras dizima
mesmo , que as Sevilhanas; aquel
das se chamárão aquellas, das quaes las se disserão assim, porque tinhão
déz fazião huma das antigas. Por a Insignia da Ordem da Banda, ins
huma Lei de 1399 , que se acha tituida por El-Rei D. Afonso XI.
em S. Vicente de fóra, manda El de Castella, que venceo a batalha
Rei D.João I., que as dívidas, que do Salado, por cuja occasião as la
se havião contrahido antes do São vrou com o valor de 216 réis. Es
João daquelle anno, em que elle fa tas tambem se chamárão Valedías,
ria as suas moedas novas, se pagassem, porque valião, e corrião neste Rei
dando por huma libra das velhas, déz no , mas só com o valor de 2oo
libras então correntes. E do dia de
réis, como consta de huma Carta
S. João por diante se pagassem por de venda de certos bens no de 1456,
cada libra das antigas 15 das corren cujo preço foi 12oo réis brancos,
tes. V., Libra. de 35 libras o real, que fazião seis
DÓÁS. Peças, joias, e outras Dobras de Banda da moeda d’El Rei
cousas de ornato , limpeza , e as de Castella. Acha-se nos Doc. das
seio, que fazem o enxoval de hu Dominicas de Gaia do Porto. Porém
ma Senhora. Mando, que todas mbas segundo hum Doc. de Santo Thyr
dôas, assi toucas, come algiofar, co so de 1462 esta moeda de Castella
me todas as outras dóas, se vendam, valia em Portugal 23o réis.
pera comprir delles mbas mandas , e As Mouriscas, ou Barbariscas ti
pera fazer chus prol de mba alma. nhão o mesmo valor das d’El-Rei
Testam. de D. Marinhanes, de 1273. D. Diniz, e hoje tem alguma cou
Doc. de Tarouca.
sa mais de 7oo réis, a respeito da
- -

DOBRA. Moeda de ouro, que valia do marco d’ouro. Porém se ca


antigamente correo em Portugal. da huma destas Dobras Mouriscas ti
Havia Dobras Portuguesas , Dobras nha 5 libras de 36 réis cada huma;
Castelhanas , Dobras Mouriscas , e he forçoso , digamos, que huma
Dobras Sivilhanas. As primeiras, a destas Dobras valia tão sómente 18o
que tambem chamárão Cruzadas, réis. V. Almáfre. As Sevilhanas mam
lavrou-as El-Rei D. Diniz com va
dou-as lavrar El-Rei D. Afonso,
O
DO DO 583
o Sábio, em Sevilha: tinhão de hu ta rua ; ita quod post suam morrem
ma parte El-Rei a cavallo , e com ad Canonicos redeat ipsorum Donorum
a espada na mão; na orla Dominus jus supra scriptum, Doc. de Viseu.
mihi adjutor ; de outra as Armas No de 1 171 renunciou D. Mendo
de Castella, e Leão, e a Letra Al Bispo de Lamego todos os Direi
fons. R. Castellae, ó Leg. A imita tos, que a # podia ter
ção das meias Dobras lavrou El-Rei no Mosteiro de Tarouquella, reser
D. João I, a moeda corrente de 8oo vando só tres Aureos, ó Donati.
réis , dobrando-a até 12d)3oo réis. vum Generosorum. Doc, das Bent. do
DOBRAS de Banda. V. Dobra. Porto. •

DOCTRA. De outra. Doc. das Na composição que D. Vicente


Bentas do Porto de 1 3o8. Bispo do Porto fez com o Mosteiro
DOENS, Don, Dons, Dona de S. João de Tarouca no de 1289
rios, ou Dominicaes. Assim chama sobre os Direitos Episcopaer, que lhe
vão ás Luctuosas, ou Donativos, que ertencião na Igreja de Oliveira de
os Cavalleiros , e Nobres deixavão enaguião, se acha esta clausula: Vo
ás Igrejas por sua morte, e que de lumus autem, quod si aliquo tempore
huma piedosa devoção chegárão a Nobilis homo , vel Domina ibi elege
assar a huma obrigação rigorosa. rit sepulturam , detur nobis Donum
R# de 1 194 se fez composição en pro quolibet eorumdem, Doc. de Ta
tre D. Nicoláo Bispo de Viseu, e rouca. Na Instituição, que D. Ai
o seu Cabido, estando presente D. miríco, Bispo de Coimbra, fez dos
Martinho, Arcebispo de Braga, So Raçoeiros de Abiúl no de 1293,
: bre as rendas, e bens, que já d'an se resalvárão em tudo os Direitos,
tes estavão divididas, e mesmo so que daquella Igreja se costumavão
;
bre as Luctuosas pelas seguintes pa pagar á Mitra , e particularmente
lavras : Dominicaria Clericorum , &" a Colbeita , e o Dom, ou Luctuosa.
Militum , sicut in ipsa compositione Doc. de Lorvão. No de 1243 fez
fuerunt sortíta. Clerici Ecclesiarum D. Aldára o seu Testamento , em
Episcopi dent sua Dona Episcopo. Cle que deixa ao Mosteiro de Pedroso
rici Ecclesiarum Canonicorum in mor pro suo Don. X, morabitmos. Doc. de
te sua Donaria dent Canonicis. Mili Pedroso. E para não ser infinito:
tes verö , vel Nobiles mulieres , qui no de 1338 passou o Cabido do
elegerint sepulturam in Ecclesiis Ca Porto huma Quitação geral ao Mos
nonicorum, sint Donna ipsorum Cano teiro de Vairão, *** por pa
nicorum. Si elegerint sepulturam in go, e satisfeito de todos os Doñs,
Ecclesiis , que ad neutros pertinent, que o dito Moesteiro era obrigado a
é dederint Dona : ipsa inter se sor pagar per razom de todos os Cavalei
tiantur Episcopus , Óº Canonici; ita ros, Donas, e Herdeiros, e de todo
quod babeat Episcopus duas partes, Óº los outros Fidalgos, porque o dito Moes
Canonici unam. Si elegerint sepultu teiro a nós era , e podia ser tbeudo
ram in Ecclesia Cathedrali Visensi, per razom dos Dões. Doc. de Vairão.
dividant , sicut dividunt mortuarias Em alguns Documentos se chamão
in Ecclesia ipsa: set per banc compo Doms dos Ingenuos , e vem a ser o
sitionem Canonici concedunt Episcopo mesmo , que dos Nobres, ou Gene
Nicholáo suam partem Donorum in vi rosos. Em huma Assembléa de Bis
pos
384 DI DI

pos junto a Qaragoça, que se fez rivando Domôça, não de Hebdoma


no de Io58, e se acha no III. Tom. da , mas sim de Doma.
dos Concilios de Hesp. f. 22o, se diz: DONA. Ainda sem mais addito
Donum de Ingeniatores. Conjecturou se toma por viuva no Testam. da
Du Cange, que por Ingeniatores se Rainha Santa Isabel. V. Hist. Ge
entendia o Donativo de rebus inge neal, T.I. das Prov. n. 16. f. 1 17.
nio, & industria comparatis; mas en DONADIO. Donativo, dadiva.
ganou-se ; pois se entende pelas E se obriga a tudo pelas suas arras,
Luctuosas , ou Doms dos Generosos, e donadío, e doaçom por rasom de ca
Nobres, ou Ingenuos, segundo aci samento, que lhe seu pai deu.
ma fica dito. - -
DONARIOS. V. Doems,
DOESTADOIRO. A. Afronto DONATIVOS. Ibidem. -

so, abominavel, que causa vergo DONOSO. O mesmo que Do


nha, injúria, e confusão. Desejando nairoso: galante, divertido, engra
remover a familiaridade, ou partici çado.
pação doestadoira, e avorrecedoira, DOR, e Door. Doença, enfer
a qual alguns nom booms Christaos, midade, achaque. Dizendo el teste
e Christaas nom avorressem, nem bão munha, que jazendo N. doente daquel
vergonha de fazer com os judeos, Órc. la dor, de que se morreo. — E com
Pastoral de certo Bispo do Sec. XIV. o aficamento da door , nom fui acor
DOESTO. OS. Palavra injuriosa, dada de tal cousa.
picante, afrontosa. V. Deosto. DORMYDOYRO. Dormitorio,
D'OGANO. Deste anno. Corres lugar destinado para o somno , e
ponde ao Latim de hoc anno. Doc. descanço das pessoas Religiosas,
de Vairão de 134o. V. Ogano. que vivem nos Mosteiros. Tomando
DOIRO-MÃO. Assim chamárão aos Religiosos as roupas dos dormy
á foz do Rio Douro no tempo d'El doyros. Dec. de Pendorada de 1372.
Rei D. Ramiro III. de Leão. DORNEIRA. A moenga do moi
DOMA. Semana. He abbrevia nho, em que se deita o grão, que
tura de Hebdomada. E que elles filha vai cahindo para ser moido. O ser
vão a dita parte do Castello per es antigamente quasi do feitio de hu
ta guisa : que servissem em el dour ma dorna, lhe rendeo aquelle nome.
dias da doma. Doc. de Moncorvo de DOTAMENTO. Dote de casa
II1CIltO.
1366. |

DOMAAIRO. Hebdomadario. DOURADOYRO. Firme, esta


DOMINICARIAS. V. Doens. vel, permanente. Doc. das Bent.
DOMOÇA. O mesmo que heb do Porto de 1325. -

domada , ou semana. E pagaredes DOVIDA. O mesmo que dúvi


cada domoça duas geiras , além dos da. E pera esta cousa seer firme , e
ditos foros. — Na Infima Latinidade estavil, e que nunca venia em dovi
se chamou Doma, não só a casa, ou da , rogarom a mim Tabaliom, que:
o seu tecto; mas tambem o campo, ler fezesse desta cousa dous Estromen
predio, casal, ou possessão. E as tos. Doc. de Aguiar da Beira de:
sim podemos dizer que a Pensão 1289: EDoc. de Pendorada de 1328.
das duas geiras foi posta a cada hum DOZÃO. Medida de liquidos,
dos Casaes em cada hum anno; di e muito usada no XIV., e XV. Se
CU1 *
DO • DO 385
cúlo. Tomou o nome da sua quan póde ser serião tão sómente os que
tidade ; porque era a duodecima naquela carregação lhe pertencião.
parte de hum almude , constante OZÃO, ou Dezão. A 12.° par
de 48 quartilhos: e por conseguin te de hum alqueire. Assim consta
te vinha a ser justamente huma ca do Censual dos Vot. da Mitra do Por
nada; sendo certo que 12 canadas to, af 143. Y., onde se diz: Mon
fazem hum almude. E de doze se ta em a freguesia da Igreja de La
disse Dozão. No de 1405 a Came gáres, a traz escrita, de pão terça
ra da Torre de Moncorvo mandou do 64 alqueires, menos hum Dezão :
hum seu Procurador a Santarem, que são 63 alqueires, e bonze dezaõs
hº que o Senado daquella Villa de alqueire.
he mandasse: huma terça d'arroba DU. Principe, Chéfe, Capitão.
em buma massa de ferro, e bum Do Do Latino Dux. De ti sabirá o Du,
zão, ou quarto da sua medida do vi que regerá o meo povoo de Israel.
nho , afinado todo per o afinador do DUA. V. Adua. Os Lavradores
Concelho da dita Villa de Santarem, vão sempre na dúa do muro do Por
Assim o fizerão: e a terça d'arroba to. Doc, de Grijó.
tinha VIII. marcos do dito Concelho: DUBLO. Dobro , outrô tanto
a saber : seis na massa , e dous na como o Capital. E quanto deman
argolla: e logo foi afinada. O mes darem, tanto in dubio componam. Doc.
mo se praticou com o Dozão, de das Salzedas de 1287.
clarando que em o almude ha 24 meios DUBRAR. Dar em dobro. Doc.
Dozoens. } por
esta conta se mani das Bent do Porto de 1308.
festa, que o Dozão era justamente DUCATÃO. Moeda de ouro,
huma canada. Doc. de Moncorvo. que fez lavrar El-Rei D. Sebastião,
DOZÃO. Medida de solidos, ou quando foi a Guadelupe. Em varias
grãos. Assim chamada por ser a duo partes da Europa havia moeda, a
décima parte de hum moio grande, ue o hamavão Ducado: os de Hes
ou de 6o alqueires, e conseguinte panha valião hum cruzado. O Du
mente constava de 5 alqueires. Em catão porém incluia, e excedia so
hum Doc. de Pendorada de 1 355 se bre modo a qualquer Ducado; pois
diz: quatro dozaãos do Naão Santa Ma valia hum 3o?)ooo réis , e outro
ria. Não saberei dizer se pelos quatro 4od)ooo réis. Não se tornou a lavrar
Dozaãos se entendem quatro duo mais esta moeda.
décimas partes, ou acções, que na DULCA. Dúvida. E que istu nom
quella náo tinha o defunto , cuja possa vir im dulca , e sega sempre
herança por aquella Escritura se in firme , e estavil, mandamos ende fa
ventariava, ou se erão 2o alqueires zer duas Cartas. Doc. de Aguiar da
de pão, do que nella vinha carre Beira de 1266.
gado; ou se finalmente erão 48 Di DULCE. O mesmo que Aldon
nheiros dos que naquelle tempo cor fa, nome de mulher mui usado em
rião no Delfinado em França, on os principios da nossa Monarchia.
de havia huma moeda chamada Dou DULTERIO. Adulterio, infrac
zain , a qual valia doze Dinheiros. ção da fé conjugal. Dizendo que lhi
Por esta conta quatro Dozaãos fazião fizera dulterio. # da Cam. Secu
sem falta 48 Dinheiros , que bem lar de Lamego de 1352.
Tom. I. Ccc DUM,
386 DO • DO
DUM. O mesmo que Dom. Dum á Igreja de Santo André de Sôze
Bento vendeo ao Mosteiros das Sal do, segundo o seu Original de Pen
zedas certos bens em Maçainhas jun dorada; e no de 1219 se escreveo
to á Guarda no de 12o2 , sendo com a figura de e em huma Carta
Senhor daquella Cidade o Conde do M.° do Templo, D. Pedro Al
D. Fernando, & Scritore de Conci vitiz, que se conserva na T. do T.
lio Dum Randulfo. Doc. das Salze Porém já no Foral de Coimbra de
das. O Escritor do Concelho era o 1 1 1 1 se acha algumas vezes o e
Escrivão da Camera. diptongo. E na Dôação , que ao
DURADOIRO. Firme, estavel, Mosteiro de S. Salvador de Leça fez
permanente, duravel. Doc. de 1331. Gonçalo Auroniz de huma herda
DUSSIA. V. Ousia. de em Recaredi, (a qual tinha si
DUVHIDA. Dúvida. Doc. das do de sua Mãi, e seus avós, bisa
Bent do Porto de 1295. vós, e tresavós, qui eam obtinerunt
DUUM. De hum. Doc. das Bent. antiquitus bereditaria apprehensione,
do Porto de 1 291. ex quo Christiani possederunt supradi
DUZÃO. V. Dozão. ctam patriam , para alivio da pobre
za dos Sacerdotes, e Clerigos, que
por instituição canonica # Cres
conio , Bispo de Coimbra, (que
E. igualmente era Bispo do Porto, La
mego, e Viseu) alli residião: fei
E. Como letra numeral, valia 25o. ta no III. anno do seu Pontificado,
E. Como nota musical, designa XXX. do Imperio do Rei D. Afonso
va igualdade nas vozes, ou canto,PT., e no de Christo 1o95 se acha
a firma: Cresconius AEpiscopus. Doc.
E, por I. v. g. Decembres, Noven
bres por Decembris, Novembris, seOrig. do Cabido de Coimbra. E
acha no Seculo VII. V. Açores. E supposto que Episcopus se não deva
até o Seculo XI. se disse Baselica escrever com ae, achão-se com tu
por Basilica, Veam por Viam, Me do outros Doc. do Sec. XII. , e
nerva, Magester, Sebe, Here, Na XIII. , em que assim se escreveo
vebus , Vergilius , Deana, & c. por esta palavra : o que tudo nos con
Minerva , Magister , , Sibi , Heri, vence, que os nossos Maiores não
Navibus, Virgilius, Diana, & c. ignoravão, que o e simples sup
E. por A. v. g. Condemnetus por pria muitas vezes o diptongo de ae.
Condemnatus, Ebonatus por Abonatus, O A. do Diccionar. Rais. V. Conjon
se acha com frequencia nos Doc. ction de Lettres, nos oferece huma
antigos. E pelo contrario A. por E. Plancha das Letras Conjunctas , e
E, por Ai. v. g. Esantia, por Ai monogrammaticas, e nella hum gran
fantia. •

de número de figuras do diptongo


E. por Ae. se acha em os nossos de e, que desde o tempo das moe
Documentos até o Seculo XIII., nos das Consulares, e Imperiaes se usá
quaes se não encontra o diptongo rão, (ao menos fóra de Portugal)
de ae , mas unicamente hum sim até o Seculo XII., em que appare
ples e. Com tudo no de 87o se vê ce por alguma vez o e, que ao de
o ae na Dôação, que Castemiro fez pois nos Livros impressos foi resti
-- *
tui
E
tuido ao seu antigo lugar, em que
se havia introduzido o simples e.V.
g. Sancte , Marie, Individue, Órc.
por Sanctae, Mariae, &c. -
I o V I
E. com figura de F. V. Numam. : o M. |
E. supprido, ou escrito com dois L o v I I s || '
; II, se acha com frequencia nas Ins
cripções Romanas , que entre nós ...
se conservão. Resende L. IV. de An- :
1 A 1 1 x
tiquit. nos oferece a que se achava V o T o
entre Moura, e Ficalho. Na letra
ai

D. por E, já fica outra. Agora po L A P


remos a que com bellissimos cara
cteres, e n'huma pedra fina, e qua
drada, se acha nos quintaes da re
sidencia dos Abbades de Penalva; - E. por O não he cousa rara pa
e he deste modo: ra com os antigos, v. g., Hemo, Am
- -

, , be; Memordi, Tuté 3 Rare » & c. por


Homo, Ambo, Momordi, Tutó, Ra
ró; & c., . .
RVFo FVs CE F. A . E. dobrado se acha em Medalhas,
e Inscripções antigas, como por ex
! | N N o RV M XXV emplo: Feelis, Seedes, &c. Em os
| FVs CVs. ALBINI | nossos Documentos se achão escri
tos com dois EE os nomes contra
| FILIo svo III SIBI ctos, que da Lingua Latina passá
rão á Portugueza, perdendo algu
ma letra, que estava entre duas vo
gaes; e assim disserão: Seeta de Sa
E note-se que nestas Inscripções gitta: Fee de Fides: Béesta de Ba
de Penalva os tres III valem por et. lista : e geralmente fallando , do
escrevendo-se dois II por E, e o brárão sempre o E (assim como to
terceiro por t. Já vimos Prociiiaii das as mais vogaes) todas as vezes,
por Procetae; agora vemos que Fus que o pronunciavão longo, e aber
co, filho de Albino fez levantar es to, o que hoje supprimos com as
te Sepulchro, para seu filho Rufo, sento grave, ou agudo.V. g., Pé»
e tambem para si, & sibi, . Crédor, Bérta, Sétta, Béns, &c.; •

. Não longe da Villa, de Vinhaes, - E. escrito com dois XX se acha


entre Bragança, e Chavesse conserva nos Doc, de Arouca, e Pendorada»
a Inscripção seguinte, que Lovesia V. Letra A, . . .
dedicou por voto, e com generoso ani o EDIFICAMENTO. Edificios,
mo ao Grande jupiter... º • ••
+ casas, moradas, vivenda de huma
… : --
* • • • •
- * *

quinta, granja, ou casal. Doc. de


"…, .
* * *
* *
* *
** *
*
Maceiradão do Seculo XV. . .
.
* *
. ..
*
. . *
* ** ** * *
* ,*, !
'.
EDULO, ou Edúlio. Do Latir
ne Hedus. Ou mais bem; cabriti
º Ccc ii nho
388 ED EG
nho tenro, e agradavel ao gosto, cindimos, e accommodando-nos ao
ou paladar, do Latino Hediºlus. De parecer mais seguido, e bem fun
betis dare quolibet anno pro toto ca dado , dizemos, que ella succedeo
pitali... Óº duas fogacias de cente no anno de Christo 622, e a 15 de
mo, & duas patas, Óº duos capones, julho, em que foi Lua nova. Deste
é viginti ova, Óº unum edillum, ó: dia he que os Astronomos contão a
unam freamam, ó unum medium al Hegira; porém os Turcos, e os mais
queire de manteiga. Doc. de 1294. sequazes de Mafoma, e commum
EFUSAL. O mesmo que afusal; mente os Chronólogos a contão des
certa medida , ou pezo de linho: de o dia seguinte, que foi sexta
consta de dois arrateis, pois he a feira, a 16 de Julho. Du Cange,
quarta parte da pedra do linho, que Langlet, Tósca, Flores, e outros
são oito arrateis. Quatro efusaes de nos deixárão Taboas exactissimas,
liyo. Doc. das Bent. do Porto de para reduzirmos os annos da Egíra,
13c5. O Efusal constava de doze es que verdadeiramente são Lunares,
trigas
zadas.
de linho. V. Castanhas pi aos do Nascimento de Jesu Chris
+ • •

to; mas como não seja facil ter sem


EGIRA , , ou mais bem Hegíra. pre á mão estas Taboas Chronologi
Assim se chama a Epoca , ou Era cas, daremos aqui hum methodo facil
dos Arabes, ou Mabometanos, a qual para achar de memoria a Reducção
principiou no dia, mez, e anno, certa da Hegíra ; advertindo , que
"QUIC foma fugio da Cidade de não só em os Doc. mais antigos,
Medina sua Pátria, para a Cidade que nos restão, mas ainda nos mais
de Méca-, levando comsigo hum modernos, que na Torre do Tombo
grande número de seus discipulos. se conservão, e que já o Cl. Sousa
Os Carachítas, seus parentes, e os publicou, e traduzio, sempre cor
mais poderosos, e que não podião responde o 1º anno da Egíra ao
levar em paciencia, que sobre as Anno de Christo de 622. Eis-aqui
ruinas da Idolatria levantasse Ma o Methodo: • •

foma a sua Seita, procurando-o pa Dada qualquer Hegira, accrescen


ra lhe darem a morte, occasionárão tar-lhe o número 62 1 , e a somma
esta fugida. Significa, pois, Egira, de tudo guardá-la na memoria: de
fugida, ausencia, sahida da pátria. pois ver quantas centenas comple
Os Arabes dizem Haira do Verbo tas tem a Hegira dada , e a cada
Hajara; deixar, retirar-se, repudiar, centena dar o número 3, e ver o
desamparar. João Hesroníta in Geo que sommão todos estes tres núme
grapb. Nubien. C. VIII., Scaligero, meros: nota-se depois a centena in
e outros dão outra #*# CS
completa , e se esta chegar a 33,
ta voz, que em os nossos Lo: . al unindo-lhe hum de cada: centena
gumas vezes se encontra, e cuja re completa, dar-lhe hum, se chegar
ducção aos annos de Christo he o a 66 dar-lhe dois, e se chegar a
que particularmente nos interessa. A 99 dar-lhe tres: o que feito, ver o
variedade de opiniões sobre o An # somma tudo, assim os tres da
no de Christo, mez, e dia, em os a cada centena completa , co
que esta fuga aconteceo, motivou mo o número , ou números dados
largos discursos, de que agora pres á centena incompleta : então dimi
nôo
EG EG 389
núo esta somma da que no princi na CCCCX.; a do 1.° corresponde
•.

pio guardei na memoria, e o que ao Anno de Christo Io16, segun


restar me dará o Anno de Chris do se vê pela Reducção seguinte:
to, a que corresponde a Hegira da - 4O7
da. V. g. Quero saber a que Anno 62 I
•=•
de Christo corresponde a Hegira Io28
354: accrescento-lhe 621, e sommão
12
975, estes guardo na memoria. Vc
jo depois que a Hegíra dada tem Io16
tres centenas completas, e dando a
cada huma 3 fazem 9. A Hegira in A do 2.° corresponde ao Anno do
completa passa de 33, e dando-lhe Senhor Io19 (não obstante a Re
mais dois, ainda não chega a 66: ducção, que alli mesmo se acha fei
# dar-lhe-hei pois hum, que junto ta pela Era de Hespanha, estar fa
com os ditos 9 fazem Io: estes Io lha em hum número, para ser a Era
diminuo da somma 975, que guar 1057 ; pois no L. dos Testamentos
dei na memoria , e restão 965 ; e he frequente a negligencia do Es
assim digo, que ao Anno de Chris critor , como se convence por al
to 965, corresponde a Hegira dada guns Originaes, que ainda se achão
354. em Lorvão.) Eis-aqui a demonstra
Suppunhamos , que a Hegíra he ção desta verdade: •

a de 38o: com 62 1 somma Ioo1, 4 IO


que guardo fielmente na memoria: + 621.
*=s .
vejo que na Hegira 38o ha tres cen
tenas completas; dou a cada huma Io31
I2
3, e montão 9; a centena incom *
pleta ainda com mais 3 não chega 1o19
a 99, e assim não lhe dou senão 2, • }Y. Egoa apoldrada.
que com 9 fazem 11 ; estes dimi
nuo dos Ioor , que tinha na me Em fim os Arabes começão o seu
moria, e restão 99o, que direi ser anno a 16 de Julho: consta de 12
o Anno de Christo, a que verdadei mezes; 6 dos quaes tem 3o dias,
ramente corresponde a Hegira 38o. e os outros seis 29 , alternando-se
Accrescentemos ainda hum 3.º ex hum de 3o , e outro de 29 ; exce
emplo. Temos a Hegíra 997, que pto no anno Embolismal, ou Inter
com 621 faz o número de 16 18: calar , em que o ultimo mez tam
temos 9 centenas completas , que bem consta de 3o dias. E daqui se
sommão 27, e dando mais 3 á in segue, que o anno Arabigo heme
completa sommão 3o; diminuo es nos que o nosso II, ou 1o dias;
tes de 1618, e restão 1588, # de modo, que em 33 dos nossos
he o Anno do Nascimento do C»
annos contão 34 da Hegíra, 4 dias,
demptor, a que corresponde a He e 18 horas. : : :
gíra 997. . …" - EGOA apoldrada. A que tem o
|-|-|
Na palavra Era se podem ver seu poldro, ou poldra, que actual
dois Doc. de Lorvão; hum datado mente está criando. No de 41o, se
na Era, ou Egíra CCCCVII.; outro gundo o Reino dos Árabes , e no de
Io19
39o EG EG
1o 19 segundo o dos Romanos , ven de 1 48o se diz: Doaçom de todo o
deo o Mouro Oborrós a quinta do Bo Egrejairo de Santarem , que fez D.
tão não longe de Coimbra, aos Mon Afonso Henriques á Ordem do Tem
ges de Lorvão, e o preço foi huma plo. Esta Dôação do Ecclesiastico de
Egoa apoldrada. L. dos Testamentos Santarem, feita aos Templarios em
de Lorvão N. 15. V. Era, e Egíra. Abril de 1147, se acha Original em
EGOA ferrolhada. A que anda Thomar, escrita em Guimarães, e
pastando com pêa, ou ferros nos pés. da qual entre outros forão testemu
Cada hum possa trazer huma, ou duas nhas D. João Arcebispo de Braga, e
egoas mansas, de carregua, e ferro D. Pedro Bispo do Porto, (os unicos
lhadas, e no seu. Cart. d'El-Rei D. Prelados Diocesanos, que então havia
Afonso V. para a Cam, do Porto no Reino) e nella se lê: Ego Alfon
no de 1454. , ,, , " "sus Rex , una cum uxora mea Dom
* * * *

EGOA de cavallagem. Egoa In na Mifalda, facimus Kartam Militi


fantil, egoa de Rei, egoa de mar bus Templi de omni Ecclesiastico San
ca, e destinada á criação dos caval cte Herenae , ut habeant , Ó" possi
los, que são habeis, e proprios pa deant ipsi , Óº omnes Successores eo
ra a trópa. Dizedes, que Nós mam rum jure perpetuo; ita ut, nullus Cle
damos ter Egoas de cavallagern , assi ricus in eis, vel laicus aliquid inter
aos lavradores, come aos mancebos de rogare possit. Sed si forte evenerit {
soldada. Carta d'El-Rei D. João I. ut in aliquo tempore mibi Deus sua
nos Doc. de Santarem de 14o9. pietate daret illam Civitatem, que di
EGOA Infantil. Egoa infantil, acitur Ulixbona, illi concordarentur cum
que acavalle de bom cavallo: o mes Episcopo admeum consilium. V. Tem
mo que de cavallagem, que devia preiros. . . -

ter e seis até sete palmos de alto, - Com efeito conquistada Lisboa
e ser lançada a cavallo de boa raça. no mesmo anno, e restaurada a sua
Cort d'Evora de 1481. Cathedral ; D. Gilberto , e o seu
EGREJAIRO, e Igrejairo. Tu Cabido pertendião, que os Templa
do o que pertence a hum certo nú rios lhes dimittissem todo o Egre
mero de Igrejas, ou seja o Direi jairo de Santarem, como Riº da
to de apresentar os Parochos, ou o quella Diocesi: então o el para
Privilegio de receber os Dizimos, satisfazer a todos, em Fevereiro de
ou alguma porção dos fructos. No 1159 dôou aos da Ordem do Tem
de 1324 Affonso Martins, Cavallei plo o Castello de Ceras, com todo
ro da Teixeira, fez desistencia da o seu largo Ecclesiastico, (que faz
posse da Pousa, e outros Direitos, hoje o Izento, ou Nullius de Tho
# tinha no Mosteiro de Pendora mar) e ficou o Bispo de Lisboa com
da : Salvo Testamentos, ou Egrejai as Igrejas de Santarem, menos a de
ros. Doc, de Pendorada. Aqui se fa Santiago. No mesmo mez, e anno
zem Synonymos Testamentos, e Igre o dito Bispo, e seu Cabido renun
jairos , porque das Dôações feitas ciárão a todo o Direito Episcopal,
ás Igrejas, he que deduzião os Pa que tinhão , ou podessem ter na
droeiros, o seu bom, ou máo Di dita Igreja de Santiago , e nas do
reito de dispôrem dellas a seu ar # de Ceras, excepto 5 soldos
bitrio. Em hum Doc. de Thomar annuaes pela de Santarem, e por #
4 - . • * . * (1/2
?
* - -
EG EI 39 I
# da huma das de Ceras ; se com ef EIGREGA. Igreja. Prelado da
: feito se provasse , que o Territo Eigrega de San Pedro de Castro Rei.
1# rio de Thomar algum dia perten Escambo de huma vinha, na qual
#
cesse ao Bispado de Lisboa. Assim se fundou a presente Villa de Ta
S:
consta dos Originaes de Thomar. rouca no de 1273. Doc. das Sal
!, º
No Tombo # Mosteiro de Cas zedas.
*$, !
…)"
tro de Avellás de 15 o I se toma Igre EIRADÉGA, Eiradíga, e Hei
jairo por huma pequena Igreja, Ca radêga. Certa Direitura , ou Fora
#
pella , ou Oratorio , que desde os gem, que além dos oitavos, sextos,
principios da Monarchia Lusitana Jugadas, ou outras principaes Pen
se disserão tambem Igrejó, Grejó, sões , os Emfiteutas , ou Colonos
ou Eigrejó, e para com os Latinos costumão pagar em algumas partes
Ecclesiola. Doc. de Bragança. ao Direito Senhorio. E posto que
fºr
#{
EI. Eu. Mas se ei for para Mon a Etimología desta palavra pareça
dego. Carta de Egas Moniz do Se vir de Area, ou Eira, e conseguin
culo XII. temente persuadir nos , que seria
EIBITRAR. Eibitratorio. Eibi Foro , que só dos fructos seccos,
trio. Arbitrar, arbitratorio, arbitrio, e debulhados na eira se pagava; os
com os outros seus dirivados. muitos Documentos em contrario nos
EICHAO , Eicham , Eychão, persuadem, que tambem se pagava
Ichão , e Uchão. Com toda esta Eiradiga de linho, e vinho (que em
diferença se acha escrito o nome outros se chama Lagaradiga, do la
deste Oficio da Casa Real , que gar em que o vinho se faz..) No
consistia em apromptar a tempo, e Foral da Villa do Botam de 15 14
horas tudo o que pertencia á Ucha se declara; que chegando o lavrador
ria Real , como peixes , carnes, a colher oito almudes de vinho, paga
pão, frutas, doces, &c. E o que rá hum almude de Eiradiga: não che
tinha este Oficio era com toda a pro gando a oito almudes não pagará na
priedade hum Despenseiro. V. Ucha. da. Passando porém dos oito almuder,
EIDAYA, Idanha. V. Garda. Em pagará I4 méas , que são dois almu
hum Prazo de S. Vicente de fóra de des , menos duas méas. Igualmente
129o, que he da Aldêa de Pousade, se declara ; que a Eiradiga de tri
se diz: Damos a vós D. Martim Gil, go são tres alqueires pela medida cor
e a vossso filho Martim Gil a nossa f'e/112. •

Aldeia, que be no Bispado da Eidaya, Diogo Peariz, e sua mulher D.


no termo da Villa da Guarda, a qual Exemena derão Foral aos morado
Aldeia ha nome Pousade. res de Abiúl, sem algum outro Fo
EIGO, Unicamente , excepto, ro mais , que a décima parte de
tão sómente. El-Rei D. João I. em todo o pão, vinho, linho, alhos,
huma Carta para os de Freixo de cebolas, e legumes, no de 1 167.
Espada-Cinta do anno de 14o8; de Mas passando esta Villa ao Mostei
termina, que nenhum juiz entre na ro de Lorvão, o Abbade João , e
guella Villa a conhecer de algum fei seus Frades lhe derão novo Foral
to civel , ou crime; eigo o seu juiz no de 1176, em que se determi
ordinario. Doc. de Freixo. Em outros
na: De omni labore, quod laborave
Doc. se diz Ergo, no mesmo sen rint , decimam partem Domino (ao
tido. Mos
392 EI EI
Mosteiro) fideliter tribuant. Et in EIXERRUTAMENTE, Ex:
areaticam unam talícam tritici, ó" abrupto, dispoticamente, sem causa,
unam quartam vini. Aqui se chama sem razão, ou motivo. Manda que
Areatica á Eiradéga. El-Rei D. Af entrem nas casas eixerrutamente, sem
fonso Henriques havia dôado a Lor direito. Doc. da Cam. de Lamego.
vão esta Villa no de 1 175. Doc. de de 1 352. •

Lorvão. No Foral, que o Mosteiro EIXETE. adv. Excepto , tiram


de Ceiça deo aos moradores de Col do , exceptuando , resalvando. Ei
les no de 1217 se declara , que a xete as duas servas de suso ditas. Doc.
Heiradºga constaría de duas teigas, de Tarouca de 1273.
huma de trigo, outra de todo o pão: EIXIDAS. Sahidas. Com todas as
hoje se pagão dois alqueires por es suas entradas , e eixidas. Doc. das
tas duas teigas. Doc. de Ceiça. Em Salzedas de 1279.
hum Tombo da Cathedral de Viseu EIXIDO, Exido, e Enxido, ou
dos fins do Seculo XIII. se faz men Ixudo, e Ixudeo. Com esta varie
ção a cada passo de Eiradigas de dade achamos escrita esta palavra,
pam , de vinho , e de linho. Daqui com que os nossos Maiores quize
se vê, que a Eiradiga não era hu rão significar huma fazendinha, cer
ma medida certa, e constante, mas rado , quintalsinho , hortejo , ou
sim arbitraria; segundo os afora conchouso, que está contiguo, ou
mentos, ou contratos entre os Di não longe da vivenda , e para a
reitos Senhorios , e os seus Emfi qual ha mui facil entrada, ou pas
teutas, ou Colonos. Ainda hoje nos sagem: por ficarem ordinariamente
Campos de Santarem ha Eiradiga estes pequenos predios á sahida das
de 6 fangas, ou 24 alqueires, e Ei casas , se disserão Eidos , Exitos,
radiga de tres fangas, ou 12 alquei Exídos, & c. do Verbo Exeo: sahir.
res. Em outras partes erão 6 alquei Nos Doc. de Lamego de 1416, 1418,
res, em outras 5 ou 4, ou 3, e fi 1422 , e 1444 se acha, já Eixido,
nalmente hum. V. Areatica. já Enxido. Na Provincia do Minho,
EIREL. Herdeiro. Ei por meu fi ainda hoje chamão Enxido a estes
lho João, e por eirel: e o Testamen cerrados, que ficão junto das casas,
to comprido, el filhe o al, que achar. em que morão; porém a palavra Ei
Doc. de Lamego de 1316. ". do ampliárão a todo o assento das
EIVEGER. Esmoutar , agricul casas, hortas, e quintaes, e a todo
tar, pôr toda a boa diligencia, e o recinto, que pertence a qualquer
cuidado no fabríco, e rotêa de hum vivenda. Em hum Cap. Especial da
Casal. Aa tal preito, que vó-lo chan Cam. do Porto das Cortes de Es
fedes , e eivegedes, e que façades bi
tremós de 1416 se acha escrito Ei
quanto bem poderdes fazer. Doc. de zidos , Ixudeos , e Ixudos. = Teem
Pendorada de 13o5. V. Deviginar. casas, e pardieiros, e Ixudos. Ibid.
EIXECUTOR. O que põe por EIXUQUETAR. Executar. Doc.
obra, faz, e executa alguma cou da Cam. de Coimbra de 1464.
sa, executor. Doc. de Pendorada de
1328. • • :
ELAU. Dano , perda , detri
mento, multa, ou coima. No Fo
#### Excepção. Doc, da ral, que os Templarios derão aos
Bent do Porto de 1292. * * *
Povoadores de Castello Branco se
diz:
EL EL 39;
diz : Testimonia mentirosa, & fidele formárão os Latinos da inferior #.
mentiroso peite LX. f., e VII.º a Pa de Elmus, ou Helmus, nome que
lacio, Óº duplet elau. Este Elau, que dérão a certa guarnição da cabeça,
m22
*****
ha de pagar em dobro, he sem dú de que os antigos Cavalleiros usa

vida, pertencer áquelle contra quem


vão, assim nas batalhas, como nos
jurou falso , e a quem causou altornêos, e que hoje serve de orna
gum detrimento. Isto se explica me
to, ou timbré nos Escudos das Ar
lhor á vista do Foral, que os mes
mas, com que as Familias se hon
mos tinhão dado a Thomar no de rão. Difere o Elmo do Morrião, Ce
1174, em que o Traductor diz as lada, ou Capacete; porque deste se
sim : Quem souber verdade, e a negar usou só na Infantaria. Cubria o El
na Enquisa, componha quanto fez per mo toda a cara, excepto os olhos,
der áquel, e ó Senhor da terra outro UC # huma gradizella de ferro
tanto: eja mays nunca seia recebudo escubrião os objectos. O Elmo aber
em testimoynha. E no de Ourém pe to denota linhagem antiga, o cer
la Rainha D. Thereza, filha d'El radº moderna. Do Elmo tratá larga
Rei D. Afonso I. O que sabendo a mente a Nobliarchia Portugueza, on
verdade, a negar na Inquirição, sa de se podem ver as suas diferenças.
tisfaça toda a perda, e nunca já mais EMADER. Accrescentar, ajuntar
seja testemunha. Doc. de Thomar, e alguma cousa mais ao que estava
L. dos Foraes Velhos. Na baixa La dito, ou feito. He do Seculo XV.
tinidade se disse Aalagium , e Er EMBAIR. Enganar, illudir, en
lagium : fazenda, campo, ou her cher o entendimento de alguem de
# dade, onerada com certo foro, ou falsas idéas, fazendo-lhe crer o que
pensão. Se daqui se disse Elau: a assim, não he. Daqui Embaido, en
multa, que a testemunha falsa de ganado. Embaidor, enganador. He
via pagar, outros mais prudentes o palavra antiga, mais Castelhana,
julguem. que Portugueza.
ÊLEISO. Ele mesmo. Ap. Ber EMBALLO. Agitação , movi
Éá n. mento , embate , ondulação das
ELMO. Não tinha esta palavra aguas. No de 1535 mandárão os do
no anno de Io87 a unica significa Porto dizer a El-Rei: que com o em
ção, que hoje se lhe dá no Brasão, ballo, que se fazia na foz do Douro no
ou Armería. Então significava tam tempo da pescaria das lampréas, e sa
bem hum véo, ou cubertura, com vees, se impedia a entrada do dito pes
que se defendião os Altares do pó, cado no dito rio , de que se seguia.
ou de outra qualquer cousa , que grande perda á dita Cidade. Doc. da
podésse inficionar a sua limpeza. Na Cam. do Porto.V. Ramada. |

quelle anno dôárão ao Mosteiro de EMBARBASCAR. Endoudar,


Paço de Sousa: Unum elmum labora entontecer, tirar alguem do seu si
tum pro super ipsum Altare. Doc. de zo: he metáfora do que o barbas
Paço. Da voz Anglo-Saxonica Hel co, ou cóca faz nos peixes. Barros.
me, ou da Tudesa Helm, que si- EMBARGAMENTO. Embargo,
gnificão cubertura, ou tecto; ou do impedimento, dúvida, opposição ,
verbo Helen, que significa tapar, cu embaraço. Prazo das Salzedas de
brir, ou defender com alguma cousa, I 2.77. • … . , , - -

Tom, I, "Dia EM
394 EM EM
EMBOLHAS. Terbolhas, Tre se fizerão depois de 1611. E quan
bolas, e Trebolhas. Bottas de vi do se prove o Comisso, deve o Di
nho, muito maiores que odres, fei reito Senhorio renová-lo a algum pa
tas de couro, cada huma das quaes rente do ultimo possuidor dentro de
carregava huma bêsta cavallar, ou anno, e dia.
muar, e outras havia, que levavão ÉMENTAIRO. Inventario, rol,
tres quartos de huma pipa, e só em indice, ou elencho de todas as pe
carro podião ser conduzidas. Os Re ças, que pertencem a huma heran
Jegueiros nom queriam se vendesse vi ça. Ainda hoje se diz Ementa , e
nho em tonel, nem em taalba, re lhe Ementar, o costume de encommen
ante nom desse algo: e que o aviam darem os Parochos as almas dos seus
de vender nos odres, ou nas embolhas. Freguezes defuntos por hum rol,
Cap. Espec. de Santarem. No Fo que tem na mão, para que lhes não
ral, que El-Rei D. Afonso Henri cahião da memoria os seus nomes.
ques deo a Barcellos se determina, Achou-se por Ementario, que lhe per:
como o Senhor desta terra póde usar tencião dez massucas de ferro. Doc.
das bêstas, e cavalgaduras dos seus de Moncorvo de 14o7.
moradores; acautelando porém, que EMINA, ou Hemina, I. Medi
Non aprehendat eis suas terbolias, nee da de líquidos, que constava de hu
suam liteiram, sine grato suo. L. dos ma libra. Duas Eminas fazião hum
Foraes Velhos. Em hum Doc. de Sextario : dois Sextarios huma Bili
Pendorada de 13oy se diz: Suatis bra , a que os Gregos chamão Ce
omnes utres, & trebolbar, tam Fra niz. Sinco Sextarios fazem hum qui
trum, quam Cellarii. Daqui se vê, nal, ou gomor. V. S. Isid. Cap. XXVI.
que o Convento tinha a sua adêga Etimolog. de Mensur. & Papiam L.
separada da do Cellareiro , perten Q, de Quinari. Segundo Aulo Ge
cendo a deste á Meza Abbacial. E lio a Emina dos Romanos continha
logo no de 1329 se acha outro Doc., meio quartilho. Na Religião de São
em que se lê: Cozerdes vos os odres, Bento pelo antiquissimo nome de
e as trebolas do Mosteiro, e dos Frades, Emina, ou Ema, se entende a me
tambem vos, como vosso filho, se for dida de vinho, que se dava a cada
fapateiro. Ibidem. hum dos Monges, assim ao jantar,
EMBUIZAR. Atochar , embu como á cêa , e cada huma destas
tir. Das cintas do costado meyas emi Eminas , dizem, consta de 38 on
buizadas. Barros, Doc. 2. f. 45. da ças de vinho. Mas não he assim a
primeira Edição. Col. 1. Emina dos Medicos ; porque, con
EMCOMISSADO. O que tinha forme Galeno , duas Erminas não
cahido em Comisso. V. Emcomissar. são mais que nove onças. Como quer
EMCOMISSAR. Cahir em Co que seja, depois de muitas, largas,
misso, faltando ás condições do Pra e eruditas Dissertações da Hemina do
zo, que o Emfiteuta era obrigado a vinho, e libra do pão, que S. Bento
cumprir, sub pena de o perder. Ho prescreve na Santa Régra Cap. XL.,
je se antiquou este termo da nossa para sustento diurno de cada Mon
Jurisprudencia antiga ; não se po he; ainda ficamos na dúvida sobre
dendo consolidar já mais a Dominio a quantidade desta medida. O dizer
Directo com o util nos Prazos, que que a Emina variava , segundo os
Pai
EM EM 395
Paizes, em que os Mosteiros se em-º ; em-a, ou no, na Doc, das
achavão, he o meio de conciliar as Bent. do Porto de 133o. -

opiniões todas a este respeito. Em EMPACHAR. Embaraçar , es


huma Provincia constaria a Hemina crupulisar, fazer alta, e não prose
de 4o onças, em outra de 38, em guir no seu destino. Queixárão-se
outra de 3o , de 25, e finalmente os do Porto a El-Rei nas Cortes
de 18, que fazião libra e meia, ou de Santarem de 143o , de que os
quartilho e meio: e esta talvez he Grandes , e Fidalgos da Provincia
a opinião mais bem fundada. d'Entre Douro, e Minho lhe fazião
EMINA. II. Medida de sólidos, grandes damnos, e tomadías, e pos
que teve a mesma variedade, que to que lhe seja requerido, e referta
a dos líquidos. Para com os Hebreos do, nom se empacham, e as justiças,
a Hemina, Chóa, Cotíla, ou Congio, nom som ousadas a lbos defender: e
era a oitava parte do Epbi, ou Ba por o dito azo fazem assuadas, & c.
to, (os quaes erão a décima par Doc. da Cam. do Porto. *

te do Córo, e fazião tres alqueires EMPACHO. Embargo, impe


da nossa medida.) Daqui se disse dimento , demora, embaraço. He
Eminada de terra; a que levava hu de Azinheiro pelos annos de 1535.
ma Emina de semeadura , isto he, EMPARAMENTO. Acção de
# e meia, e Eminagio, todo o amparar º amparo , Soccorro, pro
oro, e pensão, que se pagava por tecção. Doc. de Tarouca do Secu
Eminas ; o que algumas vezes se culo XIV,
praticou em Hespanha, por aquel EMPAREDADA , Emparedeaº
la parte, que confina com França, da , e Emparedenada, ou Empar
# esta medida era frequente. Em deada. Desde o Seculo XII. até o
Hespanha, segundo o Mº Bergan XV. se achão em Portugal muitas
* , huma Emina levava hum çala Emparedadas. Erão mulheres varo
mim de Toledo. nís, que desenganadas inteiramen
EMLIÇOOM, e Inliçom. Elei te do mundo, se sepultavão em vi
ção, escolha, separação de alguma da n’huma estreita cella, cuja por
cousa, ou pessoa. Sem as ditas Em ta no mesmo ponto da sua entra
liçooens. Cort. de Lisboa de 1434. da, se fechava com pedra, e cal,
E pela Inlliçom, que levem do Conce e só por morte da Inclusa se abria,
lho, ajam vossa Carta. Ib. para ser levada finalmente á sepul
EMMENTA, ou Ementa. Me tura. No lugar da porta, e ao tem
morial , ou livro, em que se põe po de a tapar, ficava só huma pe
em lembrança o que se gasta, com quenina fresta por onde se lhes mi
pra , vende , ou dispende. Parece nistrava o indispensavelmente neces
vem do Latim Memento ; pois se sario para a vida , que poucas ve
dirigem semelhantes livros, a que zes passava de pão , e agua, rece
não haja esquecimento. V. Ord. L. bião o Corpo de Christo, e falla
I. Tit. 78. S. V. vão ao seu Confessor unicamente no
EMMENTRES. O mesmo que ue respeitava á sua consciencia. E
Emmentes ; em quanto, entretanto. e se fecharem entre paredes, ou
Doc. de Lamego do Sec. XIV. emparedando-se, se chamárão Empá
EMNO Emma. O mesmo que redadas. * - -

Ddd ii Ha
396 EM EM
. . Havia-as em todo o Reino. Só ra, e onde ao tempo residião Cone
com licença dos Bispos se eximião gas Regrantes de Santo Agostinho,
.da obrigação da Missa, depois que desde o tempo do Bispo do Porto
esta foi de preceito, e se arrojavão D.Pedro Rabaldis; (como largamen
a huma tão horrorosa penitencia, te demostra o laborioso, e exactis
mas em tudo livre , e voluntaria; simo D. Bernardo da Encarnação
ou fosse para expiar as culpas com na sua Memoria, ou Descripção do
mettidas , ou fosse para conseguir Real Mosteiro de Santo Agostinho da
as altas recompensas da innocencia Serra do Porto, onde castiga a D.
castigada. Das Emparedadas de Lis Nicoláo, por haver introduzido na
boa, Santarem, e de Coimbra tratão Provisão do Bispo D. Fr. Balthasar
largamente Fr. Luiz de Sousa, D. Limpo, a lembrança das Donas de
Nicoláo de Santa Maria, Cardoso, S. Nicoláo, que ao dito Bispo nem
e outros. Em Lamego havia huma ao menos pela lembrança lhe pas
no de 1246, como consta do Tes sou) ficavão sim na Ferraria de ci
tamento do Bispo D. Pelagio, que ma, onde hoje está o Hospital da
lhe deixou dois alqueires de pão: Senhora da Silva. Doc. do Cabido
Mulieri porte Clause duos modios. No do Porto.
de 1288 havia ali mais do que hu . Do Livro Velho dos Obitos de Vi
ma; pois no seu Testamento, diz seu, a 5 de Janeiro, consta, que no
o Pórcionario da Sé de Lamego, Vi de 1313 faleceo naquella Cidade
cente Martins : Inclusis de Lameco Margarida Lourenço , que deixou
unam libram. E o que mais he, den ao Cabido seis soldos, impostos na
tro do Claustro da Sé da mesma Ci Sua casa da Ribeira , que de hu
dade houve huma Emparedada, por ma parte confrontava com a Empar
nome Margarida, Afonso, que fa deada. E esta mui provavelmente foi
leceo no de 1419, a qual deixou a contemplada em hum Testamento
ao Cabido hum calix de prata So de Masseiradão de 13o7, no qual se
bredourado, e huma pequena bacia acha esta Verba : Mando áás Con
tambem de prata, com obrigação frarias de Visco cinqui soldos , e dá
Euparedenada. •

de hum Responso diariamente, can


tado no fim # Vesperas: assim cons Pelo Testamento de Fernão Gil,
ta do L. dos Obitos, ou Diptycho de Thesouseiro da Guarda de 1299,
Lamego a 12 de Julho Commemo consta , que junto áquella Cidade
ratio Margarite Alfonsi Inclusa, seu havia duas mulheres Emparedadas,
Imparietata, in Claustro istius Jedi, , huma no Lugar , e Santuario do
cre. E. 1457. Doc. de Lamego. Mirleu, e a outra junto á Senhora
Na Cidade do Porto havia gran do Templo, pois diz: Item : áá Em
de número de Emparedeadas, como paredeada do Mirleu, huum meio mr.
as nomêa o Chantre D. Vicente Do Item: aú do Tempre, meio mr. Doc,
mingues nos seus Testamentos de da Guarda. No Testamento célebre
1312, e 1316, nos quaes lhes dei de D. Fr. João Martins, Bispo des
xá seus particulares Legados. E no ta Cidade no de 13o2 , ainda se
te se, que as Emparedeadas de São faz menção destas Emparedadas , a
Nicoláo não ficavão no sitio , em que chama Inclusas. Ibidem. .
que hoje está o Convento da Ser EMPECIMENTO. Damno, per
-* * • da,
EM EM 397 ·
da , detrimento. Doc, de Lame o quarto do melhor cabrito por sex di
go. nheiros : e que todo carniceiro, que
EMPECIVEL. Que faz mal, tever falso pezo, que peite sessenta
causa damno , e detrimento. Doc. soldos, e ponbãomo na picota: E que
de Tarouca do Sec. XIV. aquel, que inchar freama, ou outras
EMPECIVO. O mesmo que Em carner , ou poser revo no rril do ca
pecivel: do mesmo Seculo. - brito , que peite cinque soldos ; e se
EMPEÇO, I. Embaraço, contra vender porca em vez de porco , ou
dicção, ou dúvida. Doc. de Pen ovelha em vez de carneiro, que pey
dorada de 1297. te sereenta soldos , e azoutem-no pe
EMPEÇO. II. Começo, princi la Vila... E toda paadeira, que fe
pio de alguma cousa. Do Verbo zer pam, que nom seja de pezo tal,
Empeçar, que ainda se ouve algu qual os Almotacees mandarem, peyte.
ma vez na Provincia do Minho. cinque soldos, e ponhão-na na picota.
EMPENHORAMENTO. Ac Doc. de Viseu. A 28 de Abril de
ção de penhorar , - ou dar em pe 1414 se acordou na Camera do Por
nhor. Doc. de Vairão de 1294. to, que em quanto o alqueire de tri
EMPENHORAR, e Enpenho go valesse a IX, réis, dessem as pa
rar. Dar em penhor. He do Seculo deiras o pam de 4 onfas a 15 soldos;
XIII. Hoje dizemos Empenhar, ou pois vinhão a ganhar 12 réis em tei
Hypotecar. ga, pagos todos os gastos : E que o
EMPESSOAMENTO. Acção de de centeio o dessem a 1o soldos : pe
empossar, metter de posse, fazer na de que pela primeira vez pagarião
pessoeiro. Fazemos pura Doaçom, e 5o libras: pela segunda Ioo: e pe
Empessoamento: desenvestimonos do di Ja terceira serem empicotadas. Doc.
to Casal: tresmudamos, e pomos to do Porto. Tal era o zelo do bem
do em vós , e vos fazemos pessoeiro. público, em que ardião os nossos
Doc. de Pendorada de 1413. Maiores, e com que fazião que o
EMPICOTAR. Expôr á vergo Povo não fosse roubado, e des
nha , prezo nas argolas da picota truido!... \,

(hoje pelourinho) algum criminoso, EMPLAZAR. I. Emprazar, ou


ou malfeitor, que não fosse réo de fazer prazo de alguma propriedade,
maior pena , que açoutes, ou ver ou bens de raiz. # Plazo: Pra
gonha. A Camera de Viseu , em zo pelo qual o Emfiteuta se obriga
Sembra com o Cabido da dita Ci a reconhecer com alguma Pensão an
dade, estabelecêrão no de 1304 sau nual o Direito Senhorio, ficando só
daveis Posturas, a prefeitamento do com o dominio util, e fructuoso,
Povo, e para evitar os roubos dos e com obrigação de melhorar, e não
Carniceiros, Padeiras, Regateiras, e deteriorar já mais os bens emfiteu
Taverneiros : eis-aqui alguma parte ticados. Doc. do Sec. XIV. •

dellas: Que os Carniceiros dem o ar EMPLAZAR, II. Citar alguem,


ratel do porco, e do carneiro por qua para que em certo dia, e lugar com
1ro dinheiros ; e o arratel da milhor pareça perante o Juiz, ou Justiça
vaca por dous dinheiros , e da peior de maior alçada. Como antigamen
por tres mealhas; e o arratel da por te se fazião os actos judiciaes em
ca, e da ovelha por tres dinheiros; e público, e raso nas Praças, que{$

es
EM EM
* 398
vão junto ás portas das Villas, e João I. declarou, que as terras, que
Cidades se disse Emplazar, como se lavravão a 3.°, 4.°, ou 5.º po
Empraçar, e hoje dizemos Empra dião gozar da Isenção de jugada:
zar. V. Ord. L. V. Tit. 129. E a se isto fez que muitas terras empraza
melhantes Citações dizemos Empra das se mudassem para aforadas.
zamentos. Que os emplazasse º que EMPRAZAR. Não só se toma na
veessem per d'ante mim. Carta d'El significação de fazer Prazo de hu
Rei D. Diniz de 131o. Doc. das ma fazenda, ou propriedade: e na
Salzedas. -

de citar alguem , para que a dia,


EMPLUMADO. Cuberto de e lugar certo compareça perante al
penna. Nascer emplumado: he nascer gum Magistrado a dar razão das
já com discernimento, juiso, e dis queixas, crimes, ou capitulos, de
crição. E taes disse D. João II., que que he accusado ; mas tambem se
toma passivamente no sentido de fi
nascião os filhos da Casa de Villa Real.
EMPOLOS. AS. Apos-os, de car sem acção, ou movimento, en
pos-os, depois-dos. Epagaredes huns tregue vil, e fracamente á disposi
annos empolos ºutros. ção livre de seus inimigos: (assim
EMPRAZAMENTO. Todo, e como a caça fica emprazada só com
qualquer contrato. Doc. de Pendo os latidos dos cães, esperando co
ra da de 1292. De Prazo, que si varde pelo caçador.) No de 1 372
gnificava contrato, se disse Empra El-Rei D. Fernando sujeitou á Vil
zamento na mesma significação. Po la da Torre de Mom-Corvo a Vil
rém , segundo o espirito das nos la de Moz; porque se emprazou, e
sas Leis antigas, então se dizia Em deo a refenas , (aos Castelhanos)
prazamento , quando o Senhor do sem dar conta a El Rei a tempo, que
terreno dava huma parte delle a quem a podesse accorrer. Doc. de Moncorvo.
o cultivasse , recebendo certo pre EMPRIR. Encher. Vem do La
mio, ou renda annual ; transferin tim Impleo. Poema da Perda de Hes
do porém o dominio directo desta panha, que, dizem, se achára nas
porção assim emprazada no Cultiva ruinas do Castello da Lousã.
dor, ou Emfiteuta, que pelo tal Con EMQUIRIMENTO. Inquirição,
trato , Prazo , ou Emprazamento a depoimento das testemunhas. E eu
fazia inteiramente sua. Pelo contra visto o Emquirimento , e ouvidas as
rio o Foro significando primeiramen partes, &c. Carta d'El-Rei D. Di
te liberdade, significou depois a re niz de 129o nos Doc. de Tarouca.
muneração , ou premio dado por EMSEMBRA, ou Ensembra.
essa liberdade de cultivar a terra Juntamente , de commum acordo,
alheia. E daqui Aforamento: que era consentimento, e vontade. Vem do
quando o Senhor do terreno man Latino Insimul. E eu D. Diniz em
dava fabricar de 3.º, 4.°, ou 5.º dos sembra, com a Rainha D. Isabel, mba
fructos, retendo sempre o dominio molher. Doc, de Lamego de 1292.
directo. Estes Aforamentos principiá Em outros innumeraveis Documen
rão por hum anno, depois por vi tos se diz Ensembra na mesma si
da do Colono, e finalmente por tres gnificação.___
vidas, como se evidencía pelos nos EMTRUVISCADA, Entorvis
sos antigos Documentos. E# D. cada , Introviscada , e Troviscada.
Hum
EM EM 399
Hum dos Direitos Dominicaes mui ro , Principe da Terra de Lamego,
frequente nos principios da nossa com o Juiz, e Concelho de Tarou
Monarchia. Por ella era obrigado o ca, e por especial mandado d'El
Emfiteuta, Colono, ou Vassallo, não Rei D. Afonso II. , emprazárão a
só a concorrer para se apromptar o Afonso Mendes, e a seus filhos,
trovisco, que se havia de lançar no netos, e descendentes, todo o her
rio, que era o modo mais commum damento , que lhe proveio de sua
das pescarías daquelle tempo; mas mulher Arteira, e toda a mais her
tambem devia concorrer para a me dade , que elle podésse haver em
renda do Senhorio, e sua comitiva, Tarouca , com foro, e pensão an
quando fosse seu gosto occupar-se, nual de dar para o celleiro d'El
huma vez no anno , neste provei Rei: Unum modium pro trevudo, Ó
toso divertimento. Succedia depois, sedeat inde duas teigulas de tritico,
ainda que o Senhorio não fosse á &º non sedeas inde Maiordomum, nec
Emtruviscada, nem esta se fizesse, Servizalem , nec des inde Eiradiga,
que sempre o dito Foro, ou Direi nec Lagaradiga , nec ambules cum –
to se pagasse. Hoje mesmo, repro mandato in via, nec facias Ramada,
vado aquelle pernicioso modo de neque Entorviscada, nec preso non gar
pescar, até pelas Leis do Reino, des, nec alium forum facias... Et pro
ainda se não extinguio inteiramen rebora accepimus a te uno cadenado pro
te aquelle Foro; pois no Foral, que a Domino Laurentio. Doc. das Salze
El-Rei D. Manoel deo á Terra de das. Nas Inquirições d'El-Rei D.
S. Fins de Paiva no de 15 13 se Afonso III. de 1258 se acha com
acha hum Titulo, que diz assim: frequencia , que os moradores de
Titulo das galinhas da Emtruviscada, muitos Casaes , que alli individual
e vai logo ennumerando os Povos, mente se nomêão: Vadunt ad intro
cujos moradores as devião pagar, viscadam Regis. E nas d’El-Rei D.
segundo os Casaes, que trazião, e Affonso II. de 122o se acha mesmo
sommão hum pasmoso número de este foro com o nome de Intorvir
gallinhas, que hoje se pagão , e cata, a que alguns Colonos respe
que parece forão impostas antiga ctivamente erão obrigados. Quasi to
mente para merenda , ou brodio do dos os Casaes junto de rios pisco
Senhor da Terra, quando hia fazer sos tinhão esta Direitura
ao Paiva , ou ao Douro copiosas, EMVAILHAS , e Emvasilhas.
e grandes pescarías. Doc. das Sal Vasilhas, e toda a qualidade de lou
zedas. ça, para recolher os vinhos, como
João de Barros na sua Geografia, talhas, cubas, toneis, pipas, quar
nos assegura, que no Foral de hu tos, &c.
ma Aldêa do Concelho de Villa Pou EMXÁRAS. Erão matagaes, ma
ca de Aguiar, junto ao Rio Tamé tas, e desertos despovoados, e sem
ga, o qual era mui antigo, se de cultura, a que hoje dizemos char
terminava: que quando o Rico Homem necas. E as terras, que soyão jazer
for no rio fazer Troviscada, que el em montes , e emxáras , ao presente
les lhe dem huma merenda de porre todas erão lavradas. Senten, d'El-Rei
tas com vinagre, sem mais outro# D. Afonso V. de 147o. Doc. de Pi
No de 1214 D. Lourenço Soei nhel. V. Cira, …

EN,
4oo EN" EN
EN, prop. Corresponde á propo ENCAMINHAR.I. Ordenar, es:
sição Latina In. V. g. Em nosso Cou tabelecer, consignar. O dito Senhor
to: em o nosso Couto. En logo: em lhes bordenára quantos homeens, e mo
lugar. Em como: assim, e da manei lheres , e bêstas traróm, e assi lhes
ra que. Em ele : em elle, ou nelle. encaminhará tal mantimento, porque
He frequentissimo no Seculo XIII., possam soportar a custa, que lhes assy for
e XIV. # bordenada. Cortes de Lisboa de1434.
- ENADER. V. Emader. ENCAMINHAR.II. Querer, ou
ENALLENAR, Alhear, fazer permittir. E elles façam pela minha
passar huma fazenda, ou qualquer alma , assim como Deos encaminhe,
outra coufa de hum Senhorio a ou que façam pelas suas.
tro, por troca , doação , venda, ENGANTEIRADO. A. Assen
da de 1292. &c. Doc. de Pendora te, arrimado, e posto ao canto do
transacção, •

armazem, ou adêga. Dés almudes de


ENBOLLAS. Ambulas dos San vinho vermelho, lançados na cuba en
tos Oleos. Vem do Latino Ampul canteirada, e quando comprir de tes
le. Huuas embollas d'oleo de Crisma,
tar a dita cuba, que a atestades dá
Doc. das Bent. do Porto de 1418. " nossa custa. Prazo das Dominicas de
ENCABEÇADO. Casal encabe Villa Nova do Porto de 1454.
fado. V. Casal... • • ENCARAR. Pôr á vista Enca
ENCALQAR. Alcançar, ou pro raro-no en m'ha vista. Acha se em
seguir no alcance. Daqui # huma sentença de 1317, e querdi
ENCALLÇO. Alcance, segui zer: Fizerão-me o feito concluso. Doc.
mento, desejó de alcançar a quem das Bent. do Porto.
foge. Ajente de suas batalhas se soll ENCARENTAR. Encarentar of
tára no encallço dos desbaratados. Car mantimentos : faze-los caros. He dº
ta d'El-Rei D. Afonso V., para que Barros. •

fe fizesse Procissão annual, pela Vi ENCAVALGAR. Pôr-se sobran


ctoria, que elle com # D. ceiro , ou ir sobre alguma cousa,
João seu filho, alcançára do Rei de cavalgar, montar, ficar superior, º
Castella entre Qamora, e Toro a a cavalleiro. Barros.
2 de Março de 1482, datada a 11 ENCENSO. O mesmo que ren
do dito mez, e anno. Doc, do Porto. da de Censo. Ainda hoje dizem na
ENCAMINHAMENTO.I. Dote, Beira Alta: Pam de encenso. . .
estado, comportamento honrado, e ENCENSSORIA, e Encençoria.
honesto. Deixo a minha terça a mi V. Censo, Censura, e Censuria. No
nha filha , pera seu encaminhamento. Julgado de Refojos de Riba d'Ave
Ainda hoje dizemos: Deos te enca I12 # de S. Thomé se achou
minhe bem, isto he, Deos te con pelas Inquirições d'El-Rei Diniz de
ceda hum modo de vida, em que 131o, que tres Casaes erão trazidos
tenhas tudo o preciso, e necessario. por Onrra per o Espital, e per Agº
ENCAMINHAMENTO, II. In Sanctas por Entenssorias, que lhi P4
dustria, persuasão, conselho.Todo per rárom, isto he; por Censorias, que
nosso encaminhamento, que lhe trazia se obrigárão a pagar, a fim de º
mos em memoria o bem da Cidade. Doc. rem honrados, e isentos do que dº
• • / "

do Porto de 1436. vião pagar á Coroa.


EN: EN 4o E,
ENCENSURIAR.V.Incensuriar. de Guimarães Em hum Doc. de,
.
ENCERRADO. Acabado, per Pombeiro do Sec. XV. se diz: Os
feito, completo. Daqui: Encerrar a ditos reor da vom en cada buum annoy,
obra : dar-lhe a ultima mão.
ao dito S." Rei, e a Dom Abbade,
- ENCHOUVIR. V. Enxovar. Prior , e Convento do Moesteiro de.
- ENCIENTES. adv. Pouco antes. poombeiro reis moios, meopam, e meo
ENCOMUNHAS, ou Incomu vinho, oito espadoas de porquo, e de
niados. Assim chamavão aos foros, zesete varas de bragal , e outros fo
e rendas, que dos Casaes, quintas, ros , que som chamados Encomunhas,
e outras quaesquer fazendas de raiz, conteudos no registo d'El-Rei das di
ou semoventes se recebião. Estas erão tas herdades Reguengas. Acha se em
commuas entre os Colonos , e o Pendorada hum Contracto de 1 1 12 ,
Direito Senhorio, mediante a Em pelo qual se obrigão os contrahen
fiteuse 3 de sorte que o Emfiteuta, tes a pagar ao Mosteiro a 6.° par
ou Colono as não podia vender, ou te do fructo de certas herdades, e
por qualquer modo alienar, ou mal accrescentão: Si incomuniamus vobis
parar; mas antes as devia melhorar medietate in tota, quae sedeat semper
cada vez mais e mais. Daqui se dis post parte vestra, que non sedeamus
se Incommunicare : Alterum posses ausados ad alia parte vendere, nec do
sionis sua socium, Ó" participem fa mare & c., sub pena de as perderem.
cere. Em França se chamárão Paria Era pois Incomunbar: o mesmo que
#ios semelhantes bens, em cujos ren Emprazar, ou mais propriamente
dimentos erão pares, ou iguaes o aforar ; e Encomunhas, ou Incomu
Senhorio, e o Caseiro: e Pariarios: niados os foros, ou pensões, que dos
os que igualmente se utilisavão del Prazos se pagavão. - - -

les. Destes possuião não poucos D.ENCOMENDAMENTO. En


Muma-Donna, e seu filho D. Gon commendação, recommendação.Doc.
çalo Mendes. A Mái no Testamen de Tarouca do Sec. XIV. •

to, ou larga Doação, que fez ao ENCONCHOUSADO.Tapado,


seu Mosteiro, no de 959 diz: In cerrado, fechado por todas as par
comuniatus de Villa Frede, cum suas tes: diz-se de hum quintal, horta,
baereditates , terras, Óº pumares... jardim, pumar, &c. V. Conchouro»
Terras in Alavario, Óº Salinas, que Chousa, Chousal.
ibidem comparavimus in Comuniatio ENCOUTEIRO. Rendeiro, sa
nibus de Prado Alvar, per suis ter cador , que cobrava, e arrecadava
minis , cum suos homines, secumdum os Encoutos dos 5oo soldos, que Pa
in Carta resomat... Eglesias , sive gavão á Coroa os que temeraria
&º Inccmuniationes in Pena Cova... mente quebrantavão, ou de qual
}'accas quantas habemus cum bomines uer modo ofendião os Coutor, que
mostros Incomuniatos per has Villas, ella havia posto, dado, e concedi
que in isto Testamento resonant. E na do Doc. de 13oo nas Bentas do
Doação do filho ao mesmo Mostei Porto.
ro no de 983 se lê: Concedimus etiam ENCREO. Incrédulo , Judeo,
Incomuniatos nostros de Barrosas, quan herege, ou Pagão, que não, quer
tor ibidem habemus, ut serviant ad assentir, e dar crédito á Lei de Je
ipsa Casa post obitum nostrum. Doc. su Christo; o que mesmo não crê,
Tom. I. Eee — Q
462 EN, EN
o que os outros homens lhe persua do a conjectura fraca, de que al
dem, ou que elles dizem, e prati guma Povoação chamada Endovellia
cão. He do XIV., e XV. Seculo. désse o nome a Endovelíco; e mes
ENÇUJENTAR. Infecionar, mo que este fosse o Deos dos ca
manchar, encher de nodoas, ascos, minhos; se convence de que a Gen
é immundicias. Doc. de Tarouca do tilidade céga lhe dera aquelle no
Sec. XIV. me , persuadida , que elle tivesse
ENDE. Dahi. Nom sacadas ende particular virtude para arrancar, e
as despezas. Constit. do Arcebispo extrahir do corpo settas , dardos,
D. Martinho de 13o4 nos Doc. de ossos, pedras, ferros, e quaesquer
Moncorvo, e he frequentissimo em outras cousas estranhas, que nelle
outros daquelles tempos. + se aferravão, e intromettião. Porém
ENDERENÇAR. Encaminhar, sendo o Amor a Divindade mais po
dirigir, levar ao seu devido termo, derosa para arrancar os segredos do
e fim. Aquelle que faz todalas cou coração humano , não havendo já
sas, e as enderença. Doc. de Almos mais reservas entre os que muito,
ter de 1287. . e profanamente se amão: foi muito
ENDOVELICO. Depois que Re natural chamar-se Endovelíco, aquel
scnde no L. IV. Antiquit. Lusit. f. 285. le Deos, que poderosamente arran
e seg. da Edif. de Coimbra de 179o, cava os segredos mais íntimos, e os
adduzio as Inscripções, dedicadas ao mais recatados pensamentos : quasi
Deos Endovelico , que se achão no valde, aut intus avellens. Du Can
Frontispicio do Convento dos Agos ge V. Endo diz o seguinte : Vete
tinhos de Villa Viçosa, e outra que ribus Latinir Endo , vel Indu, idem
se vê no Castello da Villa do Len erat quod Intus a Graeco **ov: unde
droal , extrahidas todas das ruinas voces pler-eque V. g. Endoclusus, En
do famoso Templo, que a esta Di dofestare, Endortium , Endopetitus,
vindade falsa se erigio n’hum ou Endoriguus , & c. por Inclusus, In
teiro não longe da Villa de The festare, Initium, Impetítus, Irriguus,
renna: depois que Brito tratou lar Cyc. Digamos pois, que Endovelico
Éamente do mesmo Assumpto no I. T. era o mesmo, que Endoavellens, ou
da Monarch. Lusit. a f. 137, e seg.: Inturavellens.
nada mais resta , que assentirmos A sua primeira Estatua foi de pra
aos que dizem , fôra este Templo ta mocissa; mas roubada com todas
fundado por Maharbal, Capitão Car as mais preciosidades raras do seu
taginez, e dedicado a Cupido; pois Templo pelos soldados de Julio Ce
a figura do Idolo, com os olhos fe sar , quando conquistárão Hespa
chados, o coração na boca, e azas nha: outra de fino marmore substi
nos pés, bem claramente nos mos tuio a 1.", a qual os Christãos met
trão a natureza do amor profano, têrão ao depois no grosso da pare
que em nada repara , tudo desco de da Igreja de S. Miguel, (como
bre, e nhum instante se remonta, tendo o diabo aos pés) onde, quasi
foge, e desapparece, deixando frus em os nossos dias, foi achada, e fei
trados, e illudidos os seus devotos. ta em pedaços por gente rustica , e
Diogo Mendes de Vasconcellos, nos gue não sabía estimar esta maravilha
seus Escolios a Resende, desapprovan da Escultura , como diz a Chron.
dos
EN EN 4O3
dos Eremitas da Serra d'Ossa, por ENGEIRAS. V. Angueiras.
Fr. Henrique de Santo Antonio. T. ENGEITAMENTO. Aborreci
I. da Edif. de Lisboa de 1745. mento, abjecção, desprezo. He do
ENDURENTAR, Calejar, en Seculo XIV. - •

durecer , costamar ao sofrimento ENGENHO. Ingenuo, livre de


á dor, á pena, e ao trabalho. Doc. toda a escravidão, posto, ou con
do Seculo XIV. servado na sua liberdade. Vem do
Latino Ingenuus. •

ENDUZER. Appropriar, dar,


investir. Parece vem do Latino In ENGENHOSO. Moeda de ouro,
duo. Trasladamos, e enduzemos todo que fez lavrar El-Rei D. Sebastião
o Dereito, que a vemos em estes Lo com valor de 5oo réis. Tinha de
gares ao dito Moesteiro. Doc. de Ta huma parte a Cruz com a letra In
rouca de 1323. hoc Signo vinces, e da outra o Es
ENFENGIMENTUS. Ficções, cudo do Reino com a legenda Se
apparencias, figuras de theatro , bastianus I. Rex Portug. Chamou
sem fundo algum de realidade, e se Engenoso; porque a lavrou com
consistencia. Segundo diz o Apostolo: raro primor no de 1562 João Gon
A figura deste mundo passa , e todo çalves, natural de Guimarães, ho
lus sus enfengimentus. Doc. de Al mem de tão rara , e extraordinaria
moster de 1287. habilidade, que não sendo cultiva
ENFESTO. Acima, ou para ci do nas Sciencias, inventou máqui
ma. Foi muito usado. nas, e artefactos, que pozerão em
ENFIAR para o Juiz. I. Remet assombro os mais insignes Mathe
ter alguem prezo á presença do Juiz. maticos daquelle tempo. -

Doc. de Lamego do Seculo XV. ENIUXTE, adv. Injustamente,


ENFIAR. II. Obrigar, constran contra a razão, e justiça. Doc. de
ger. E tolhéo de nom birem ao jui Coimbra de 1375.
zo do juiz da Feira, e meteu bi seu ENLIÇOM. Escolha , eleição.
JVigario , e seu Chegador, e faz en Doc. do Porto de 1343. }

fiar os homeens, que estém a seu fui deENLE.


1291. Nelle, ou em elle. Doc.
• -

zo. L. Preto de Grijó.


ENFIAR. III. V. g. em sinco ENLHES. Nelles, ou em elles.
moios. Remetter alguem á presen Doc. de 131 1.
ça do Juiz fintado, ou condemna ENNADAR, Determinar. Ap.
do em o valor de sinco alqueires de Bergança.
pão, segundo o preço , que então ÉNOCOMENOS. Entretanto.
corria. Vid. Moio. E deve elles o Maior ENPENHORAR. V. Empenho
domo enfiar em V. moios, se nom fo rar. Doc. de 1295. .

rem rendeiros : e se forem rendeiros, ENPRIMO. adv. Primeiramente,


nom nos enfiar em V. moios, nem de antes de mais nada, primeiro que
vem a seer achacados , nem peitar tudo. Vem do Latino Imprimis. Doc.
voz, nem coimba, senom trez: Ome de Vairam de 13o6. •

zio, e Rauso, e Merda em boca. Ib. , ENQUISA. V. Exquisa.


a f. 2o. Y. Col. 1. ENRöLÃbAMENTE Á sur
ENGAFECER. Tornar-se gafo, dina", pela calada, sem rumor , ás
gafar-se , encher-se de ronha , ou escondidas. He do Seculo XVI.
gafém. Barros. •

Eee ii EN
4O4 EN EN
ENSANHAR. Enojar-se, en huma Lei. Dizendo, que nor, he tal
cher-se de sanha, e cólera. o entendimento delle: e que porem nos
ENSEJO. Occasião , motivo, pediam por mercéé , declarassemos o
força , impulso. He palavra origi dito artigo. Doc. da Cam. do Por
nariamente Portugueza. Ainda ho to de 1395.
je dizem na Beira Ensejar, por dis ENTENIDUDO. Entendido, sá
por , occasionar, preparar alguma bio, discreto, experimentado. Teve
COüS2. rom por razom os entendudor , que
ENTEJAR. Aborrecer, ter aver diserom : que moor siso era , querer
são , desapprovar. Daqui homem defender o que ha , que que
ENTEJO. Aversão , odio, des rer gaanbar o que outrem teem. Cor
afeição de alguma cousa, ou pes tes de Lisboa de 1434.
soa. Ainda Sá, e Barros usão des ENTENSSOM. O mesmo que
tas palavras, que se achão nos Doc. Entença. V. Exquisa.
de Tarouca do Seculo XIV. O vul ENTRADAS. Assim se chamão
go ainda diz: Entojo, teiró, grima, nas Inquirições Reaes de 122o as
e merancória no sentido de Entejo. limitadas pensões, que se pagavão
ENTENÇA. Demanda, causa, de alguns Casaes, em cujas rendas
questão, que se deve terminar por entravão outros Senhorios. E dalli
sentença do Magistrado, controver entrarem v. g. os Templarios, os da
sia, discordia, acção, accusação. Ordem do Hospital, & c. se disse,
De Intendere, contender, ou litigar que elles tinhão alli sua Entrada,
se disse Intentio: toda, e qualquer ou Entradas. Não se me esconde, que
acção judicial, e Intentionare: mo Du Cange V. Entrata faz a Entra
ver a alguem alguma demanda. Tam da Synonymo de Parada, ou Jau
bem se disse Intentio, (que alguns tar; porém se no Documento, em
lêrão Intemptio) por accusação, ou que se funda , assim se entende;
acção em Juiso, in Leg. 4. Cod. Th. em as Inquirições, que adduzimos
de Famosis Libellis, e n'outras Leis só no sentido proposto se podem
Imperiaes. No Foral de Bragança entender semelhantes Entradas. Vid.
de 1187, e traduzido em Portuguez Hist. da Ord. do Hospit. por Figuei
no de 1281 se diz: Mulher viúda, redo T.I. S. III, e seg.
que com algum ome, que nom for da ENTRAMEN. Entretanto. Doc.
vossa Vila morador , ouver entença, de 1292.
em vossa Vila aia sujoizio, Doc, de ENTRAMENTO. Entrada, por
Bragança. Porém no L. dos Foraes ta por onde se entra. Doc. do Secu
Velhos, onde se conserva em La lo XIV.
tim, se lê deste modo: Mulieres vi ENTRAR. Obrigar-se, compro
duae, quae cum aliquo homine, quinon metter-se. Eu prometto , e entro, que
sit vestre Ville morator, intentionem dé, e pague em cada huum anno dez
ibabuerint, in Villa vestra babeant suum libras sempre por dia de Entrudo ao
judicium. V. Intenção. Prior , e Convento de Villella. Doc.
ENTENÇAR. Mover pleitos, deste Mosteiro de 13o8.
contestar demandas. V. Entença. ENTREGADAMENTE. Fiel
* ENTENDIMENTO. Intelligen mente , sem falhas, nem diminui
cia Passiva, o verdadeiro espirito de ção alguma. E vos devedes a darfalF

es
EN EN 4O5
ras cousas bem, e entregadamente, e Damno , perda , desgraça , reixa,
nom chus. Prazo das Salzedas de 1295. dissensão, queixa, guerra, conten
ENTREGAMENTE. Inteira da. El-Rei D. Diniz fez avivar os
mente. Do Latino Integré. limites entre Moncorvo , e Moz,
ENTREMENTES. O mesmo no de 1 3o9. Para que bums, e ou
que Entramen. tros vivessem em paz, e sem eyxequo.
ENTROYDO. Entrudo, tem Doc. de Moncorvo. Nos Doc. de
po do Carnaval , que por ser en Lamego se chama Enxeco, e Eixe
trada para a Santa Quarentena se co, apena, ou multa, que algum
chamou Entroydo, quasi ab Introitu pagava por ser chegado, ou citado
Doc. de 14o2. per ante o Juiz. V. Yxeco.
EN UNO. Juntamente, de mão ENXEROUA, e Enxerca. Car
commúa , e o mesmo que Emsem ne de enxerqua a que se vende fóra
bra. Corresponde ao Latino una, ou do açougue , e a olho , ou talvez
insimul. Doc. de Bragan. de 1281. de chacina, e salmoura. No Foral
V. Pobradores. que El-Rei D. Manoel deo a Pe
ENVEREAMENTO. O mesmo nadono no de 15 12 se diz : E da
# /ereação, ou Oficio de Verea carne , que se comprar de talho, ou
or. Consta do Foral antigo de San enxerqua, não se pagará nenhum di
tarefTl. •

reito. No Foral de Nomão se diz


ENVEREAR. Exercitar Oficio, Enxerca. No de 1537 se mandou por
ou Cargo de Vereador. Ib. El-Rei D. João III, que os quatro
ENVESTIR. Vestir , revestir, Mosteiros da Cidade } Porto, São
forrar, It: mando á dita Capella bu Domingor, S. Francisco, Santa Clara,
ma vestimenta comprida, com que can e Santo Eloi, não fação cortar mais,
rem, (isto he, todos os paramen que dois bois cada semana , para
tos, que são precisos para se dizer evitar a enxerqua, e vender-se a car
a Missa) e mando pera envestir o man ne a mais da taxa. Doc. da Cam.
to (a Casula) huma peça de Sendal, do Porto.
que trago na arca. Doc. do Sec. XV. ENXIDO. V. Eixido.
ENXALÇADO. Exalçado, en ENXOVAR. Encerrar, fechar,
randecido, exaltado. Doc, de Gri levar ao curral do Concelho. Pas
jó do Sec. XIII. cam, e montem humas aldeias com as
ENXANO. Cada hum anno. outras, e nom enxovam os gaados dos
ENXARAVIA. Tambem se cha montes, nem os feiram: e se axarem
mou Polaina. Era a insignia opro o gaado em lavor , ou em lebedoiro,
briosa das alcoviteiras. Consistia n’hu que tenham guardado, que o leve da
ma Beatilha de seda vermelha , que cerca, e o enxova, e nom o feira. Doc.
trazião na cabeça, em quanto não de Arnoya de 1325. Nos Doc. de
artião para o desterro. Ord. L. V. Lamego se diz Enchouvir no mesmo
Tit. 32. S. VI. • sentido. Vem do Latino Includo.
ENXAVEGOS. Especie de re EPISTOLEIRO. V. Pestuleiro.
des, com que antigamente se pes EPITOGIO. Capote, ou capa
cava. Dellas se faz menção nas Cort. comprida, de que usavão não só os
d'Evora de 1481. Ecclesiasticos, mas tambem as mu
ENXECO, Eyxeco, e Eyxequo. lheres. Era o mesmo que Tabardo,
OUA
4o6 ER ER
ou Sobretndo, e cobria todos os mais mos, que faz o sentido Diducere
vestidos. Para com os Monges dif illam , . ficando Er em accusativo.
feria algum tanto na figura; pois Doc. de Pendorada de 13c9. Alli
verdadeiramente era capa com man mesmo se acha: Er achamos... que
gas. O Bispo de Lamego D. Pela er ouvesse; que nós hoje diriamos:
gio deixa por seu Testamento de Nós achamos, que elle houvesse , ou
1246 a Elvira Mendes, irmã do The devia ter: e aqui temos Er signifi
soureiro , sinco*# de pão, candó nós , e elle. Em outro Doc.
é unum Epitogium. Doc. de Lamego. que alli se guarda, se diz: Depois de
ER, ou Her. Pronome pessoal, comer er veo apellar outra vez. E aqui
e indeclinavel, que correspondia a está bem claro Er por elle. Em fim
Ego no singular, e tambem a Ille, na Inquirição, que El-Rei D. Di
e no plural a Nos , e Vos , e Illi. niz fez tirar no de 1314 sobre os
No Seculo XIII., e XIV. foi muito usos , costumes , e jurisdicções dos
usado. Alguma vez se acha Eres por Templarias, e sobre as preheminen
Illi, mas ordinariamente se acha in cias, que os Senhores Reis de Por
declinavel. No de 1272 conseguírão tugal tiverão sempre sobre as cou
os da Villa de Moz, que # ras, e pessoas desta Ordem, se lê:
*D. Afonso III. decidisse a contro que er (os Templarios) steverom por
versia, que havia entre elles, e os vezes em Chaves per mandado d'El
de Espada-Cinta sobre feito de pas Rei, pera defenderem a terra de Por
tagens, e limites: determina, que tugal. E nós diriamos em Latim, quod.
pastem os gados nas relvas, depois illi. Doc. da T. do T. Er por vos: v.
que nelas não houver pães. E que g. Nem er sofrades, nem vós sofraes,
se ao depois: Er lavorarem fiquem &c, V. Pontaria. Em hum Doc. de
defezas. Aqui corresponde a illas la Pendorada de 1 347 se acha er no
boraverint. Doc. de Moz. E as cou genitivo do plural: E outros er ordi
sas terreaes , que am em poder: hou nharom, & c., que diriamos em La
de todo em todo as despergam : hou tim: Et illorum aliqui, & c.
er husam dellas bem. Aqui se vê cor ERA. Os primeiros Latinos es
responder a illi. Doc. de Almoster crevêrão Aera, Era, e Ira para si
de 1287. Em huma Carta d'El-Rei gnificarem distincção de escritura,
D. Diniz de 1317 sobre a Povoação, como v. g. Capitulo, número, para
e se hia a fazer em Villa Nova grafo, ou item. Os Astronomos usa
} Cerveira, se diz: Esa Eigreia de vão de Era como Nota, ou princi
San Cibraão , que aposo er aver por pio do número , calculo, ou sup
outra minha , que bi ha. Aqui he o tação. Daqui, (e não das quatro
mesmo que Ego. E logo abaixo: Di tras iniciaes A. E. R. A., como
visade per bu, e enviade-mi dizer to designando o Reinado de Augus
do , tambem da obridaçom, come do to; ou do Tributo, ou Censo, que
escambbo, come do terminho, per hu se lhe pagava quasi ab aere, e ou
divisardes, e quanto er podem render tras semelhantes etimologias arbitra
esses meus Casaes, que derdes em cam rias, e pueris) se appropriou esta
bbo. Aqui faz as vezes de mihi. Doc. palavra aos computos dos successos
de Lorvão. Virem com sas eixadas er mais illustres , e famosos, ou que
tornarem-na (a agoa.). Aqui dire por taes forão reputados no mundo
1Il
ER. ER 4o7
O Dr.
*--* inteiro , ou em alguma particular Divisão , que se fez de todas as
3-3 *
Nação, Reino, ou Monarchia. E Provincias }
Imperio entre elle, e
*
*#* *
#***
*
* ** *
neste sentido são Synonymos Epo Marco Antonio, e Marco Lepido:
ca, e Era, pois ambos são hum pon chamada por isso a Repartição Trium
to fixo na Historia, do qual se prin viral. Assim o afirma o nosso Re
cipião a contar os successos # sende na sua Carta a Vaseo de Ae
Taes são as Eras , ou Epocas da ra Hispanor, por estas palavras: Sa
creação do Mundo , do Diluvio Uni tis manifesté adparet , incepisse (Ae
versal , da Dispersão das Gentes pe ram) eo tempore , quo ex partitione
la confusão das Linguas, a Fundação Triumvirali utraque Hesperia Octavio
dos quatro Imperios, a destruição de cessit post an. IV., quam est interfe
Troia, o principio das Olympiadas, e ctus C. Caesar. Alegres pois os Hes
outras muitas de que não tratamos, panhoes, e cheios de regosijo, por
Para não fazer mais que repetir, o lhes caber em sorte hum Principe
que disserão os homens mais Dou tão perfeito, e muito mais depois
tos, e Eruditos. ue o vírão Senhor absoluto de to
A Era de que particularmente fal } o Imperio, tiverão o justo des
dem,5 laremos será a chamada Era Hispa VálIlCC11T1CIltO CIT COI]{2T O$ SCUS $1Il
flº.""
mica, ou dos Hespanhoes , que se nos desde aquelle, em que se jul
#" acha em os nossos Documentos, e gárão tão felices , e ditosos. Fal
frrj… a qual precede 38 annos justos, e tão-nos Documentos , que nos as
Lirº completos ao Nascimento vulgar de segurem, como desde logo, e pe
rpº Jesu Christo, que foi no anno 47o9 los quatro primeiros Seculos, se pra
lvS$2 do Periodo de Juliano , segundo o ticou com frequencia o contar pela
um D: *Ystema da Real Academia da Histo Era de Cesar : desde o quarto não
: #;" ria Portugueza, sinco annos justos tem dúvida ser a unica , que por
#" antes da Era vulgar , estabelecida muitos Seculos depois se continuou,
m0 & por Dionysio, o pequeno, no an assim no Ecclesiastico, como no Ci
{'t no 47 14 do Periodo de Juliano; víl, e profano. •

*
Lº de sorte, que no presente anno de Inundadas as Hespanhas pelos
1795 , segundo a Era vulgar, são Sarracenos, continuou a Era de Ce
verdadeiramente 179o da Era Chris sar nas Escrituras dos Hespanhoes;
tã , ou do Nascimento de Jesu mas quando figuravão nellas princi
Christo. palmente os Mouros, ordinariamen
Quatro annos justos depois que te erão datadas pelos annos da Egi
Julio Cesar foi morto no s## ra, que segundo a opinião mais
no anno 467 r do Periodo de Ju bem fundada succedeo em o anno
liano, 71 1 da Fundação de Roma, de Christo 622 em a noite de 15
e 38 antes que Jesu Christo nas para 16 de Julho; e daquelle mez,
cesse de Maria Virgem feito ho e dia he que os sequazes de Ma
mem, he que principiou a Era Hes foma começão os seus annos, ou a
panhola, por occasião da notavel mu Epoca do seu Imperio. Mas he bem
dança do Governo, que naquella para notar, que os Mouros de Por
idade, tempo, e anno aconteceo tugal algumas vezes chamárão Era
nesta Peninsula ; cabendo a Octa á sua Egira. Já hoje não temos os
Viano Cesar todas as Hespanhas, na Documentos Arabigos , que Brito
\
I1OS
Ao8 ER. ER
nos accusa, como existentes em seguinte, corria já o anno 1o f9 de
Lorvão , (nem ali se descobre al Christo, segundo a Egíra; mas ain
gum vestigio, que nos persuada, a da não tinha despedido o anno de
que algum tempo existissem. ) Com ro 18, que os Hespanhoes contavão,
tudo no L. dos Testamentos do mes desde o primeiro de Janeiro.
mo Mosteiro , se achão duas Cartas Mas aqui incidentemente, e pa
de venda feitas a Lorvão, e datadas ra ajuisarmos de outros semelhantes
pela Era Mourisca. A 1º, que se Documentos , que em Lorvão se
acha no dito L. N. 9. he de huma conservão desde o tempo, que es
grande fazenda em Villela , não te Mosteiro foi de Monges; se ad
longe de Coimbra, feita pelo Mou virta, que ali se acha hum antigo,
TO # Iben Giarah Aciki ao Pergaminho, copiado *# ve
Abbade Dulcidio, e seus Frades por zes em pública fórma : delle mes
2o soldos Kazimos: E. CCCCVII, Men mo consta que não he a Carta Ori
se Ragiab. (Isto he em Maio de ginal ; mas sim hum, Relatorio,
1 o16) segundo a reducção, de que composto das forças do Original des
se tratou VA. Egíra. A 2.° se acha ta compra. Não foi isto, senão de
N. 15: he da quinta do Botam, que pois que os Sarracenos forão ulti
o Mouro Oborrós fez ao dito Mos mamente expulsos de Coimbra. En
teiro , sendo Prior Fr. Arias, que tão para memoria lhe interpolátão
lha comprou pro una equa apoldrada, varias declarações, como as seguin
Foi isto: E. CCCCX, secundum Reg tes: De predicto Mauro Aborroz (iu:
num Arabum: secundum autem Roma tempore quo Mauri Colimbriam rege
#mor. E. M. LVI. Esta não tem mez. bant.)... Et de hac venditione Car
Por ella se manifesta que foi feita tam coram idoneis testibus Ismaelitis
na Era, ou Egíra 41o, que corres (ut tune mos erat) & scribere jus
ponde ao anno de Christo 1o 19; sit, & manu propria roboravit. An
correspondendo a Era dos Romanos no (secundum Egiram Arabum) E.
ao de Io18. (Chamão-se os Hes CCCC.ºX.º: secundum Eram Romano
panhoes Romanos; porque ainda con rum, Mº Lº VI.º
servavão não só a Religião Roma Os Hespanhoes nem sempre co
na , mas tambem grande parte da meçárão as suas Eras, ou annos de
Lingua, e costumes dos Romanos, 25 de Dezembro, a que chamavão
que primeiro forão Senhores deste o Anno da Graça, ou do 1.º de Ja
aiz..) Nem deve causar dúvida o neiro, que disserão Anno da Circum
achar-se diferença em hum anno; cisão , para regularem o Anno do
porque não tendo já hoje o seu Ori Nascimento do Senhor, como fize
nal, pôde mui facilmente o Escri rão os Irlandezes, Inglezes, Alle
tor accrescentar , ou diminuir hum mães, Italianos, Chipriotas, e ou {
número em alguma das Eras; co tros. Os Francezes mesmo, que só #
mo se achão algumas outras do di no tempo de Carlos Magno adop
to Livro, cujos erros se convencem tátão o costume de Roma, ainda
por alguns Originaes , # ainda algumas vezes fazião distincção en
em Lorvão se conservão. E quando tre Amo Solar, ou Usual, e Amo
isto não fosse; diremos que era pas Lunar, principiando este no 1º de
sado o meio de Julho, e por con Março, e aquele no 1.º de Janei
fO ;
ER. ER 409
ro ; e mesmo não tiverão unifor populavit omnis populus quisquis ruam,
midade no seu computo Ecclesias vel alienam haereditatem. De ista Era
.tico; seguindo huns a Dionysio, que indenante vocaverunt illa Ecclesia San
o fixára em 25 de Março; contando cto Stephano. Correo o Pleito peran
outros do dia da Paixão, outros do te Egas Ermigiz, e ultimamente
dia de Pascoa , e outros em fim to foi levado a D. Sesnando, que man
mátão os dias da Encarnação, da Na dou ás partes fizessem certo o que
tividade de Jesus Christo , da Pai afirmavão : D. Guntina disse , que
xão , e da Pascoa , como Synony a Igreja sempre desde o seu prin
mos do 1.º de Janeiro, em quanto cipio se chamára Santo Estevão , e
Carlos IX. no de 1564 não tirou to nunca Santa Maria ; afirmando os
das as diferenças entre os seus vas Monges, que chamando-se, primei
sallos, estabelecendo por Lei a Era ro de Santa Maria , tomára depois
de janeiro ; como se póde ver em a Invocação de Santo Estevão. Ulti
Du Cange V. Annus, e Aera. Esta mamente se tratou a causa na pre
variedade de França tambem fez al sença de hum grande Concilio, pre
uns leves progressos em a nossa sidido pelo Commissario do Alva
# , além dos que se achão sir , Cidi Fredariz, VII. Idus De
em toda a Hespanha. •
cembris E. M. C. XXVIIII., e se de
".

Em Arouca temos nós huma Es cidio a favor do Mosteiro IV. No


critura Original do Seculo XI., que nas januarii E. M.CXXVIIII. Ávis
nos obriga a confessar, que naquel ta do que D. Guntina, e seus Her
le Territorio não começava o An deiros fizerão termo de aquiescer ao
no , ao menos o Ecclesiastico, em o Julgado, e nunca mais inquietar so
1.º de Janeiro. He huma grave con bre este ponto o dito Mosteiro, de
troversia sobre metade do Padroado que era Abbade D. Diogo , sub
da Igreja de Santo Estevão de Mol pena de lhe pagarem X talentos
des no termo de Arouca , que no d'ouro, e outro tanto ao Senhor da
de 925 fora deixada aos Monges, terra, e a dita ametade da tal Igre
de que então era Abbade Gundul ja em dobro , e ficar ella sempre
fo, o que agora impugnava D. Gun no Mosteiro. Fez-se este Prazo, e
tina Eriz, e os seus Herdeiros pe Annuntião 11 Nonas januarii E. M.
rante D. Sesnando Alvasir, não só C. XX. VIIII. Daqui se vê que ain
de Coimbra, mas tambem das ter da a 4 de Janeiro contavão o mes
ras de Arouca, dizendo: que esta mo anno , que corria a 7 de De
Igreja se chamára primeiro de San zembro , e que hiria terminar no
ta Maria; e que depois de muitos 1º, ou a 25 de Março, reduzido ao
annos vierão os Sarracenos, Óº ce de 1c91 do Nascimento do Senhor.
cidit ipso territorio in berematione, &" Tambem se fazem dignas de at
fuit ipsa Ecclesia destructa. At ubi tenção algumas Eras, ou Epocas,
venerunt Christiani ad populatione, res que os nossos Maiores julgárão me
taurata est ipsa Ecclesia , Óº posue recedoras de ficarem estabelecidas
runt ibi reliquias Sancta Maria , Óº nos Documentos, que transmittião
S. Stephano. Iterumque herema est in E. ás gentes vindouras. Taes são , por
MXIII. Et cum venit tempus ista po exemplo. I. A Dôação, que Afonso
pulatione, * est . in E. M. XXXVIIII. Ermigiz fez a Nuno Gomisiz de hu
Tom. I. que •

Fff - 1T14
41 o ER ER.
ma herdade em Quintella de Bayam, rém nenhum Instrumento, ou qual
em Maio E. M. CC. IIII. Civita quer memoria de huma fé indubi
te Elhora, Óº quando fuit ablata. tavel nos resta, que havendo prin
Mauris. Doc. de Lamego. II. A cipiado a sua Data por Era, con
venda de humas Pesqueiras na Con tinúe as Notas Numeraes por An
tensa , e no rio Douro, feita por no do Nascimento, antes de 1422,
Egas Affonso ao Mosteiro das Sal em que se estabeleceo por Lei, que
zedas. E, MCCXXVII. Regnante Re abandonada a Era de Cesar, se datas
ge Santio in Portugalia, quinto Reg sem todos os Instrumentos públicos
ni ejus anno incipiente, quando capta pelo Nascimento de N. Senhor Jesu
fuit Civitar Silvis, translato de Por Christo. E então diremos, que he
tugaiensi Episcopatu in Bracharensem An, do Senhor a Era de MCLII., que
Metropolim Mart. Archiepiscopo, Sede se acha no juramento d'El-Rei D.
Lamecensi vacante. Doc. das Salze Afonso Henriques?... Não nega
zedas. IlI. Em fim , nas duas Ins mos, que Morales, ignorando o va
cripções que já correm impressas, lor do X, plicado , se persuadio,
huma na Torre Quinaria , que já que em muitos Documentos de Hes
não existe, e outra na da Estrella, panha se tomava a Era de Cesaar por
que ainda permanece, se acha não Anno de Christo: depois disto Ber
só a Era de Cesar, mas tambem a ganza L. II. Cap. VIII. foi do mes
Epoca do Reinado de D. Sancho I., e mo parecer. E com efeito na Hes
a da Conquista de Coimbra por El pan. Sagr. Tom. II, pag. 34., e Tom.
Rei D. Fernando, o Magno. Verda III, pag.28o, e particularmente Tom.
de he que ambas estão erradas em XXXVIII, pag. 1., se nos oferecem
fixarem a tal Conquista no de 1o64 alguns poucos Docum. até o Sec.
estando já averiguado, que ella foi XI., que assim o persuadem: po
no de Io58. • }rém com isto se compadece , não
Alguns poucos Documentos anti se achar em Portugal Doc, algum
gos , e originariamente Portugue legitimo do Sec. XII. , em que a
zes, se achão datados pelo Anno do Era se tome por Anno do Senhor.
Senhor: alguns ha, em que se acha Nem contra isto faz a Carta de Ven
a Era de Cesar, reduzida ao Nasci da á Confraría do Mosteiro de São
mento de Christo, ou Encarnação do Pedro de Coimbra , datada Anno
Senher , rebaixando constantemente ab Incarnatione Djii Nostri jesu Chris
38 annos. Disto se poderião addu ti E. Mº Cº Lº VIIII., que he anno
zir muitas provas: bastará porém a de Christo 1 159, correspondente á
Dôação do Couto da Sé do Porto Era 1 197; pois a Era aqui bem cla
feito pela Rainha D. Thereza a D. ramente se explica pelo Anno da En
Ugo , Bispo daquella Cidade: E. carnação. - Docum. de S. Pedro de
M. C. LVIII. Anno Incarnationis Do Coimbra.
minicae M. C. XX. E aqui se vê co Depois daquelle anno de 1422 se
mo chamavão Anno da Encarnação ao achão Escrituras innumeraveis , em
Anno do Nascimento , que começa ue os Tabelliães, e Notarios con
no dia da Circumcisão ; não obs undírão a Era com o Anno, dizen
tante haver sido a Encarnação a 25 do : Era do Nascimento & c.; ou tam
de Março do anno precedente. Po bem pozerão ambas as palavras ver
da
ER ER 4 II
dadeiramente Taballioas. V. g. Na No Foral que El-Rei D. Afonso
Era do Anno do Nascimento &rc. NaHenriques deo á Villa de Moz no
IReforma , que D. João de Chaves de 1 162 , que alli se guarda Ori
deo á execução no Convento de ginal, se diz: Et nom responda sem
Thomar de 1449 sendo Bispo de . rancurosu in nulla Calumpnia ; ergo
Viseu, (havendo-se passado a Bul a furtu descuberto , Óº a rouxu, #
la para ella por Eugenio IV. no de ad omicidio. Acha-se esta palavra na
1434 , sendo Bispo de Lamego) mesma significação em alguns Doc.
se conclue o Instrumento deste mo do Seculo XIII., e XIV. em Lin
do : Datum secunda die Octobris, gua Vulgar, de que a Latina da
in Thomerii Conventu. E. MCCCCXL, quelle tempo em pouco se diferen
IX. Incarnationis Domini N. Jesu çava. ...º
Christi. ERGO. II. Mas. Manda certo
Dizer agora, se, depois de esta Testador algumas alfaias para servi
belecida a dita Lei, o Anno se con ço de huma Capella, e prohibe es
tava de 25 de Dezembro , se do treitamente, que ninguem se apos
primeiro dia de Janeiro, eu o não se dellas , Ergo, que sempre sirvão
sei. Em hum Doc. de Tarouca, (e a essa Capella. Doc. do Sec. XIV.,
outros alguns) se diz assim: Saibão ERGO. III. Pois. Se ergo os se
quantos este Instromento.... virem, melhantes costumes são causa de amor,
que no Anno do Nascimento de Nosso & c.
Senhor Jesu Christo de mil e quinhen ERIUDO. A. Levantado, ergui
tor, e noventa e seis annos, por ser do, posto a prumo. Por Padroens cer
passado dia de Natal: e Anno de mil tor , que bi forom postos , e eriudos.
e quinhentos, e noventa e sinco, por Carta d'El-Rei D. Diniz, pela qual
não ser entrado dia de janeiro , aos dá ao Mosteiro de Tarouca a Vil
la de Sande , e outros bens, pela
31 dias do mez de Dezembro, Óºc.
ERAZEGE. Herança. Vendo a terça parte da Villa de Aveiro, que
vós quanto berdamento, e erazege , e d'antes era do dito Mosteiro , no
testamento bei nesse Logo. de 13c6. Doc. de Tarouca.
ERDADOR, e Herdador. Her ERMEYRMHOS. Acordes, de
deiro , o que succede na herança hum mesmo animo, vontade, e pa
} Testamento , ou ab intestato. recer. No de 1292 se fez huma Car
He do Seculo XIII., e XIV. ta de Venda, em que se lê: F. F.

EREDORO. Homem nobre, e F. todos tres Ermeyrmbos, em renbra


distincto, que vinha na Classe dos vendemos , &c. Doc. das Bent. do
Herdeiros, ou Naturaes das Igrejas, Porto. Tambem poderião ser todo
á diferença de outros que se dizião tres Irmãos. - ",
Herdadores Vilãos. No Foral de Cas- - ERO. Campo , herdade , ou
tello Branco de 12 13 se diz: Et de qualquer propriedade, que por mar
homine, qui fuerit Gentille, aut Ere cos se divide. Qui moiom alieno_in
dºro, que non seat Meirino. Doc. de suo ero mudaret, pectet V. solidos. Fo
homar. •

ral d'Evora de 1 1 66 no L. Velho


EREO. Herdeiro. Doc. das Bent. dos Foraes. -

do Porto de 1318. ERRADA. Substant. Erata. He


ERGO, I. O mesmo que Eigo. do Seculo XV.
Fff ii ES
41 2 ES ES
ESBALHO. Esbulho, espolio, lustre, e Oficio Palatino. Não só
despojo. no tempo dos Reis Godos, tambem
ESBULADO. A. Esbulhado , em casa dos nossos Monarcas se
despojado, ou privado da posse de praticou este honroso Ministerio
alguma cousa , desapossado. Doc. Deixadas as Etimologías de Fr. Leão
de Pendorada de 1292. •

de S. Thomaz, T, II, da Bened. Lusit.,


ESBULAR. Esbulhar, privar da dizemos que do Verbo Scenken, que
posse , desappossar : Ibid. E tam para com os Allemães signigfica viº
bem: Procurar com curiosidade algu uum fundere: se formou na Baixa La
ma cousa , o que vulgarmente se tinidade, Scancio, Scancius, e Scani
diz espiolhar. Alguns dos marinheiros, cionarius, o que lança o vinho no
como elle vinha bem tratado no vesti copo, e Scancionaria, ou Scanfaria;
do , começando de o esbular , Óºe. a casa, em que se destribuia o vi
Barros. Dec. 2. f. 135. da 1. Ediç. nho no Palacio de hum #
ESCAECER. Esquecer, não fa No de 1316 ainda em Portugal ha
zer lembrança , nem apreço. Mais via estes nomes, e Oficios. Ainda.
aquellas cossas, que som de tras es hoje na Beira, e Minho se diz Es
caecenas. Doc. de Almoster de 1287. canciar, ou Escanziar , por lançar
ESCAIDO. A. Esquecido. It : vinho, e Escancão, o que o lança,
mando á Egreja de Soza, por falhas, ESCANÇARIA. V. Escanção.
e Dizimas escaidas , hum sesteiro de ESCANHO. Escano, banco, as
milho, e outro de trigo, e dous rei sento. Doc. de Pendorada de 1312.
xelos. Os Hespanhoes dizem Escae Vem do Latino Scamnum. . * .

cer, por esquecer. Tambem pode ESCAPAR. Encampar , rescinº


mos suspeitar, que Escaidas, fosse dir o contrato, ou arrendamento de
o mesmo que cabidas, decursas, ven alguma cousa, e dimittí-la na mão
cidas ; porém estas tinhão medida do que primeiro a possuía. E que
certa, e não erão objecto de Tes assim hão per renunciado, é escapado
tamento, segundo o estillo, e fra o dito Casal, nas mãos delles Senhorios:
Ze do Sec. XIV. do qual he este ESCAPULA. Astuciosa desculº
Doc. -

pa, com que alguem salva a sua


ESCAMBADOR. O que faz al palavra; e tambem o modo, e ar
gum escambo, permutação, ou tro tificio, com que alguem põe a sal
ca. Doc. das Salzedas de 1487. vo a sua pessoa. Dar escapuíla a al
ESCANBQ. O mesmo que Es guem, fazer a vista grossa, permit
cambo. •
tir que se escape. Barros. }

ESCANÇADO. Bem afortuna ESCARNECIMENTO. Mofa,


do, feliz, ditoso. E tambem em sen escarneo, zombaria. Doc. de Tarou
tido metaforico: bem reputado, vis ca do Sec. XIV. {

to com bons olhos , e sem desa ESCARNHO, Escarneo, afron


grado. " . º , ta, zombaria, força, violencia. Por
* ESCANÇÃO. O que deitava o que se temem de receberem desonrra,
vinho na copa, e a oferecia ao Prin e escarnho em sas molheres, e sas f
cipe. Nos Concilios VIII., e XIII. lhas. Doc. de Pendorada de 1372.
de Toledo se faz menção do Comes ESCARNIDO. A. Injuriado, af
Scanciarum, como de hum Varão Il frontado, escarnecido , - logrado,
• CX
ES ES 413
éxposto á irrisão, e contumelia. E ESCOLDRINHAR. Esquadri
essas molheres , que eram aas vezes nhar, investigar, procurar com di
de boo logo, " de bom lugar , e re ligencia, e exacção. He do Sec.XVI.
putação ) ficavam escarnidas. Carta ESCOLHEITA. subst. Escolha,
d'El-Rei D. Afonso IV., para D. que se faz de alguma cousa.
Jorge, Bispo de Coimbra de 1 352. ESCOLHEITO. OS. adj. Esco
Doc. de Coimbra. lhido, escolhidos. •

ESCATIMA. Apartamento, par ESCONDUDAMENTE, Áses


*
tilhas, separação. E rogo a ma ma condidas , occultamente , a furto,
3
dre , que sempre honrre , e aguarde escondidamente. Doc. de Vairam de
minha molher , e que lhy nunca bus I323º
que escatúna. Testam. de Vairam de
13O7. • •
#ScoMSA. Fallar 4 Esconsa; he
falar por sinaes, gesticulações, ad
ESCATIMAS. Regatêos, esca mánes, acenos, interjeições. Entre
ceses, menudencias impertinentes, os Mss. de Alcobaça se acha o Cod.
partilhas, divisões. E disserom, que do N. 34o, que trata dos sinaes ar
o Homem d’El-Rei he hi mui agasta bitrarios, com que os Monges se
do , e lhes fazem muitas ercatimas, hão de explicar , sem articularem
e defendem mais do monte, cá soiam. huma só palavra , e quebrantarem
Doc, de Grijó do tempo d’El-Rei o silencio, inventados antigamente
D. Diniz. - •

com mais superstição, que #


ESCATIMADO. Partido , lim cia por alguns presumidos de Silen
po , dividido , separado. No de ciarios. Desta giria, ou linguagem
13oo deixou D. Maria Soares por de mãos, dedos, e olhos particu
seu Testamento certas herdades ao larmente usárão os Benedictinos fóra
Mosteiro de Pendorada ; declaran de Portugal, e os habitadores da Car
do, que se seus filhos, e filhas con tuxa. Quem gostar destas ineptias, e
trariassem esta Deixa , houvesse o estravagancias, de que nem Jesus
Mosteiro livremente todo o Terço, e Christo, nem os seus Apostolos nos
quinto escatimado de todas as cousas, fizerão já mais algum conselho, que
que ella houvesse; assim movel, como muito menos algum preceito , veja
raiz , assim de avoenga , como de Du Cange V. Signum IX, onde acha
rá todo o Cap. XXV. de bum Mr. de
compra, ganhadea, e bemfeitoria; re
S. Victor de Pariz, por onde se pó
gundo o costume de Portugal, e Leão.
Doc, de Pendorada. de ajuisar da Escoura , que parece
ESCATIMAR. Apartar, sepa se disse de Abscondite; por ser hum
rar, dividir. modo de falar ás escondidas, e sem.
- ESCLAVAGEM. Adorno , ou movimento algum de beiços, e
adereço mulheril, a modo de ca lingua. . . … :
dêa , que as mulheres trazião ao - FSCOUSAR. Escusar. Dizem,
ºescoço, com duas, ou mais vol que são escousados de bir 4 dia : 3
tas de perolas, ou diamantes, e ESCORCHAR. Esbulhar, des
tambem de outras missangas de me pejar, esgotar ; inteiramente rou
nos preço, como granadas, ave bar. Barros. : : : :" ""
lorios , &c. Deste modo confessa ESCREPVANHINHA. Oficio
vão ser escravas da vaidade, e tal de Escrivão. -

- - … … ES
__
vez da torpeza, e da cobiça.
414 ES ES
ESCREPVANHINHA dos Ca ESNOGA. Sinagoga. Doc. de
valeiros. Era na Cidade de Viseu a Lamego. V. Cinuna.
Escrevaninha, a quem pertencia tudo o ESPAÇAR. I. Dar tempo, di
que respeitava aos que devião pagar, latar, conceder moratória. Doc. das
ou não o Cavallo de Maio, e suas de Bent do Porto de 139o. Tambem,
pendencias. V. Cavallo de Maio. Que divertir-se.
El-Rei lhe tomára os Oficios, que o ESPAÇAR. II. Dar , conceder
Concelho annualmente repartia , como espaço de * , férias , folga,
erão o fulgado dos Residuos, e a Es ou vacatura, fazer cessar do atura
crepvanbinha dos Cavaleiros. Art. Es do exercicio de algum Ministerio,
pec. das Cort, de Lisboa de 141o. para ao depois se continuar com
Doc. de Viseu. mais actividade , e fervor. No Cod.
ESCREPVER. Escrever. He tri Manuel L. I. T.I. § 4o. se diz: Ao
vial até o Sec. XVI. Regedor pertence em cada huum anno
ESCUDO. Moeda de ouro, que espaçar a casa (da Relação) no der
fez lavrar El-Rei D. Duarte; valia radeiro dia de Agosto... como a ca
9o réis. Mandou-a desfazer El-Rei sa he espaçada por dous meses seguin
D. Manoel; porque pela muita li tes , e que venhão continuar seos ofi
ga, que tinhão, erão mal recebi cios, e desembargos ao terceiro dia de
dos, principalmente dos Estrangei Novembro. Espaça-se a casa, quan
ros. Doc. de Paderne de 1457. do se dá vacancia, e allivio aos que
ESCURO de vulto. Tristonho, nella servem, e continuadamente se
carregado, negro do rosto. Doc. de occupão,
Tarouca do Sec. XIV. ESPADIM. Moeda de ouro, de
ESCUSAÇA.. Escusa. Doc, das prata , e de cobre. El-Rei D. Af
Bent. do Porto de 1324. fonso V. foi o primeiro, que os fez
ESFERA. Moeda d’ouro d'El lavrar. Erão de prata, do tamanho
Rei D. Manoel, com huma Esfera de hum meio tostão , com o valor
de huma parte , e da outra huma de 24 réis. Tinhão de huma parte
letra que dizia Mea: parece queria o Escudo do Reino com a letra Ad
dizer, que a Esfera, que El-Rei D. jutorium nostrum in Nomine Domini,
João II, lhe dera por Empreza , a e da outra huma mão com huma es
fizera elle sua com a extensão das pada nua, e a ponta para baixo, e
suas Conquistas. Tambem Afonso o nome do Rei na orla. Deo occa
de Albuquerque mandou da India sião a esta moeda a Ordem da Es
outras moedas com o nome de Es pada, que ele instituíra para a Con
feras." •

quista de Féz. Desta moeda se faz


ESGRAVIZAR. Poder contar. menção nas Cortes d'Evora de 1481.
Faria Europ. Portug- V. Mansilla. Depois El-Rei D.João II. fez lavrar
ESGUARDAMENTO. Consi Espadins de ouro com o mesmo cu
deração attenta , reflexão séria , e nho, mas com a ponta da Espada
que nada omitte. para cima, e com o valor de 3oo
# ESGUARDAR. Considerar com réis, (que El-Rei D. Manoel fez
reflexão attenta, e circunspecta. subir a 5oo réis; porém na sua Or
ESLEER. Eleger. den, da Edif. de Lisboa de 1565. L.
ESLIIDO. Escolhido, eleito. I. T. 61- se dá constantementeEsao

* * **
…º ES ES 415
Espadim o valor de 3oo réis, sen luvas, e pantoneiras; huma cinta de
do d’ouro.) Igualmente fez bater prata, e huum esquiro lavrado, Doc.
Espadins de cobre prateados com o va de Pendorada de 1359. Se de todo
lor de quatro réis. me não engano por Esquiro se en
ESPANDIDURA. Espaço, ex tende Campainha, que na Baixa La
tensão de alguma cousa, ou lugar. tinidade se disse Esquilla, Schilla,
Vem do Latino Expando. Skella, Schela, e Skilla. Não só das
ESPANDUDO. Estendido. azemolas , e bêstas de carga, mas
ESPARGELADO. OS. Derra ainda das outras cavalgaduras, era
mado, espalhado, esparzido. proprio o Esquiro, que em algumas
ESPARGELAR. Derramar, es Provincias de França se chamou Er
parzir, espalhar. quilo, Esquileto, e Esquilou. Em hu
ESPASSAR. V. Espaçar. E vós ma casa tão rica, como do tal Docu
espassadºs moito, ante de vir ad Cor mento se infere, que muito houves
te. Doc. do Sec. XIII. -
se huma campainha lavrada?... Não
ESPEITAMENTO. Oppressão, SC IllC #, que tambem por
arrasto, vexame, que a alguem se Esquiro se poderia entender a Bol
faz por occasião de ter espiado, es fa do dinheiro, e tambem a Bolça
preitado, ou maliciosamente inqui para isca , e fuzil , da palavra Es
rido as suas particulares acções. V", quéro , que em Hespanhol tem os
de Espeitar.
5. Art. VI. V. Cod. Alfons. L.II. Tit.
|- •
mesmos significados; e ainda mesmo
de Esquilar, e Esquilmo , que sig
ESPEITAR. Arrastar, vexar, nificão Tosquiar o gado, e Torquía,
opprimir; espreitando para este fim poderiamos dizer, que Esquiro erão
os passos , e acções alheias. Nas Tizouras ; porém como na mesma
Cortes de Santarem de 1361. Art. Lingua Esquila, e Esquilon se tomão
43. se diz: Se os Meirinhos, ou ou por Campainha,
nosso Esquiro. isto dizemos ser o
• -

tras justiças, fazem troncos, ou al


gumas outras prizões em algums Lo - ESQUITAR. Abater, descontar,
gares, bu as nunca ouve: e esto fa levar em conta para a paga do ca
zem maliciosamente, pera fazerem da pital, que se deve. Que esquite ca
no na terra, e pera espeitarem as gen da anno dous maravidis da dita divi
tes : Lhe digam os Logares, hu sse da de oitenta libras: e ella pagada fi
esto faz, e fará correger o mal, e o que o herdamento ao Moesteiro. Doc.
dano , e o espeitamento , que se por de Pendorada de 1295.
esta razom fez. ESQUIVAR. Afastar, pôr lon
ESPERA. O mesmo que Esfera. ge de si, não dar entrada, impedir
ESPICHO. OS. Galheta, ou pe a familiaridade , que huma pessoa
queno pichel, e qualquer vaso que poderia ter com outra. Já era usado
tenha bico. Primeiramente, achou hu no XIV. Seculo.
ma vestimenta...
estanho e dous espichos de
pera a Missa.
ESSO medés. V. Esso mesmo.
V
ESSO mesmo, adv. Isso mesmo,
ESPREGUNTAR. V. Spregun tambem, da mesma sorte, segunda
fa/". vez, assim mesmo. A qual Carta el
ESQUISA. V. Exquisa. le outorgára , e esso mesmo ora ou

ESQUIRO. Calças, canivetes, e torga.


ES
4,
416 ES ES
ESTAAO. Estãos. Estalagem, por Hospedarias, Quartos, Hºspicio>
estalagens. Mandamos, que taees pes ou Residencia, e não por Estalagens,
soas pousem nos Estados, que ha pe em que a Familia do Infante hou
lo caminho, ou na dita Cidade, e nam vesse de pagar á sua custa cama.»
nas Aldêas, e Casaaes, que estão fó C IIlCZ3l.

ra da estrada. Doc. da Cam, de ESTABELEÇUDO. A Estabe


Coimbra de 1436. No de 1461 fez lecido. Doc. das Bent do Porto de
El-Rei D. Afonso V. Mercê ao I 2 O2•
Concelho do Porto de 43d)ooo ÉSTABELEZA. Estabelecimen
réis, para # humas casas junto to, fundação de qualquer corpora
á Praça da Ribeira, para nellas fa ção , sociedade, ou obra Pública
zerem Estãos. Doc. da Cam. do Por Doc. de Tarouca do Seculo XIV.
to. O Infante D. Pedro fundou em ESTADELA. Cadeira nobre, al
Lisboa huns Estãos para agasalhar ta , e de braços. El-Rei em quanto
Embaixadores, segundo diz o Au elle esto disse , teve as mãos na es
thor das Grandezas de Lisboa ; tal radela ; dizendo, que assim era elle
vez confundindo Estãos com Pala prestes, pera despender a vida 2 e º
cios, por saber que no Rocio da corpo por honra do Reino, e defensão
mesma Cidade tiverão antigamente delle.
·os nossos Monarchas huns Paços a ESTADO. Informação , conta,
que chamavão Paços dos Estãos. Po queixa , accusação. Aquéece muitas
rém isto não tem outro Mysterio, vezes, que os Tabalioens lbis dom es
que serem fabricados, ou junto das tados de alguums bomeens boons da ter
Estalagens , ou no sitio , em que ra, de cousas, que dizem, que lhi vi
ellas antigamente existírão. Do Ver rom fazer , e dizer em sua presen
bo Estar parece se dirivaría o nome fa: pelos quais estados elles os man
Estão, por estarem sempre promp davão logo prender, sem sabendo an
tos os Estáos a receberem os hos te a verdade... E se acharem, que º
pedes. Por hum Alvará de 13 de Tabaliom dá estado nom verdadeiro,
Outubro de 1449 determinou o Se crc. Cortes do Porto de 1372. V.
nhor Rei D. Afonso V., que nos Poer em estado, e o Cod. Alfons. L.
bairros dos Senhores, que tivessem II. Tit. 81. S. 18.
Paços na Cidade de Lisboa, se fi ESTADO. OS. Oficio, ou Of
zessem Estáos, em que os seus (is ficios de Defuntos. Nos fará dizer
to he, os Familiares dos ditos Se por nossas almas trez Estados: e em
nhores) podessem pousar por seus di cada hum delles se diráõ dez Missas:
nheiros: o que he proprio das esta e daráõ de esmola, e oferta aos Fra
lagens. des por cada destes trez Estados Id)5oo
O Infante D. Henrique, Duque réis. Testam. de 1590. De Estade
de Viseu, e Senhor da Covilhãa, sen la, que era Cadeira mais alta , e
do Administrador da Ordem Militar de braços, se disse Estado ; pois
de Christo, para desapressar os Mo nellas estavão os Religiosos no seu
radores da Villa de Thomar das Apo Coro, em quanto se resava, ou can
sentadorias dos seus, mandou fazer, tava o tal Officio.
o Edificio dos Estãos. Doc de Tho ESTANHO. O subpedaneo do
mar. Aqui parece se tomão Estãos Altar , dito assim á Stando. Mandº
f0
ES ES 417
soterrar meo corpo em S. Simbom, so rio, deve ser feita, e approvada. E
a pedra, que está chus chegada ao es com muita razão ; pois huns tem
tanho. Doc. de S. Simão da Jun os dedos mais compridos do que ou
queira. tros. No Foral de Fragôas declara
ESTENDUDO.A.V. Consciencia o mesmo Rei , que cada morador
estenduda. daquella Villa paga ao Mosteiro de
ESTERE , Esterel, Esterelle, Arouca huma Cayra, e huma Estri
e Esterere. Esteril, infructifero, ga maçada, e espadellada d'enche maão.
não rendoso. He do Seculo XIV., E no de Ermamar, diz que no lu
e XV. ar da Queimada , além de outros
ESTEVA. O mesmo que Esti oros, se pagão a El-Rei noventa e
va. Inf. sinco manipollor de linho , canto cai
- ESTINS. V. Astil. ba cada huum na manilha do dedo pol
ESTILLO. Penna de ferro com legar, e do outro junto com elle. No
que antigamente se escrevia. Doc. Aro de Lamego pagavão a Estiva
de Tarouca de 1413. do linho deste modo: fazia o lavra
ESTIRAR alguem. Obrigá-lo a dor dois molhos de linho communs,
fazer alguma cousa, que de outra destes tomava o Mordomo d'El-Rei
sorte não faria. He frase do Secu o melhor , e o outro ficava ao la
lo XV. vrador. Tombo do Aro de Lamego
ESTIVA. Certa medida de li de 1346. V. Atado. " , )

nho 2 que variava segundo as ter ESTIVADAMENTE. Certa, e


ras. Ha Estiva , que he o mesmo determinadamente, pela Estiva, ou
que conta , orçamento, ou suppu medida commua, e approvada. Dar
tação: e ha Estiva, que he o con des estivadamente pela mediçom do pam
trapezo da carga do navio, que se buum moyo pela teiga da Quaira. Pra
dá a cada lado delle , para o ter zo de Pendorada de 1359.
em equilibrio. E todas estas signi ESTO. Isto. Acha-se até o Secu
ficações coincidem com a Estiva dos lo XVI. • - - -

antigos na razão de medida certa, ESTOMAGAR. Na significação


por onde o linho se pagava. Era es activa : impedir , embaraçar. Doc.
ta huma estriga, quanto bem se po de Lamego do Sec. XIV. |
dia abranger entre o dedo police, ESTORNAR. Impedir , trans
e indice. No de 1295 deo o Mos tornar. Não estornou tamanho acciden
teiro das Salzedas Carta de Afora te, o que estava capitulado, *
mento aos Moradores de Villa Chãa: ESTORVA. Embaraço, estorvo.
e depois de ennumerar varias pen Nem sereis em nosso dapno, e estorva.
sões , foros, e direituras, diz que ESTOUPERO. Escopro, ou si
pagarião Estiva de liño, como sem zel, instrumento, com que os pe
pre destes. Doc. das Salzedas. El dreiros furão as pedras. Dous picos,
Rei D. Manoel, declarando a gran e hum estoupero. Doc. do Sec. XV.
deza das estrigas , que devião pa Poderá ser , que assim se chamas
gar de Estiva os de S. Martinho de sem estes instrumentos do Latino
Mouros: manda que ellas se regu Stupro: Forçar, deflorar a Virgem.
lem pela Estiba do Concelho, que pa ESTRADA Mourisca. Nos Doc.
ra isto, com consentimento do Senho de Grijó se faz larga menção de
Tom, I. G88 pro
418 ES > ES
propriedades , e fazendas, humas não pertence á mesma Familia, ou
que ficavão da parte de cima , e parentella. Tanto da mía parte, co
outras da parte debaixo da Estrada mo da estraya. Doc. das Salzedas de
Mourisca. Nº de 1 148 Tructesindo 1287.
Mendes dôou a Grijó o que tinha ESTRALAR. Estalar. He de Bar
em Brantães, e em S. Feliz: Sub /"0f.

ter illam Stratam Mauriscam, discur ESTRAMENTO. Tudo o que


rente rivulo Cerzedo. Chamou-se Es pertence ás roupas de hum leito.
trada Mourisca, porque os Mouros Doc. de Tarouca do Seculo XIV.
a rompêrão, deixando, talvez já por ESTRANHEIRO. Estrangeiro,
invadeavel naquelle tempo, a Estra de outra Terra, ou Nação. Do La
da Romana, ou Via Militar, que sa tino Extraneus. - -

hindo de Condeixa, a Velha, atra ESTREMADAMENTE Á par


vessava o Mondego entre Pereira, te, sem companhia de outro, soli
e Coimbra; e sem passar o Eminio, tariamente, por si só. Doc. de La
ou Rio Agueda , coitava o Vouga mego de 1292. V. Desum.
não longe de Talabriga, (sobre cu ESTREMANÇA. Divisão, de
jas ruinas, ou perto dellas, se le marcação , destrinça, ou partilha.
vantou Aveiro) e daqui por entre Esta he a Carta das Estramanfas, e
Lancobriga , e o mar se dirigia a departimentos do Lugar do Couto de
Cale: assim se collige do Itenerario Figueiredo. Doc. de Maceiradam de
de Antonino, e dos seus mais fa 15OO.
mosos Commentadores. Então seria ESTREMO. Raia, baliza, con
compendiosa , apprasivel, cómmo fim, extremidade da terra, Lugar,
da, e da primeira necessidade para ou Monarchia. E os de Bragança, como
as grandes Povoações, a que dava gente simpres, e de estremo, convinhão
serventia ; porém com o rodar dos neste abuso do Mosteiro de Castro de
annos a cósta se entupio, e alteou Avelãs, que pertendia levar o Terço
por causa das arêas, e os rios esta dos bens de todos os defuntos daquel
gnados não só esterilisárão os cam la terra. Carta do Duque D. Afon
pos, mas tambem fechárão a passa so de 1452; pela qual faz extirpar
gem dos caminhos. Daqui se fez tão indigno abuso desta sua terra
indispensavela presente Estrada Mou
por ser contra a Ordenação do Rei
risca, que vai do Porto até Ague no , e toda a boa razão , que or
da, correndo por Oliveira de Aze dena fiquem as duas partes aos fi
meis, Albergaria, Vouga, &c. E lhos do defunto , e do Terço dis
o mesmo Lugar da Mourisca he hum ponha livremente a beneficio de su'al
Monumento vivo, que conserva o ma. Outro sim manda, que não se
nome da Estrada, e seus Authores. jão evitados, nem penhorados os
ESTRADO. Tribunal. E fizemos que o Abbade de Castro d'Avelãs,
vir o dito feito perante nós ao nosso como Vigario Geral do Arcebispo, ex
Estrado. Doc. de Pinhel de 1423. commungar por esta causa. E que
ESTRAGADAMENTE. Com a o Mosteiro, e seus Oficiaes não to
maior dissolução, e sem freio algum mem as cousas, e mantimentos; mas
de vergonha, temor, ou respeito. sim as paguem por seus dinheiros
ESTRAYO, A. Estranho , que á vontade de seus donos, sub gra
VCS
ES ES 4 19
ves penas. Doc, de Bragança. Mos ou Viridiaria. Destes em algumas
teiro tão avarento bem era merece partes se pagavão Dizimos (a que
dor de ser extincto, como foi, por chamavão Sacramentaes) em outras
Bulla de Paulo III. de 1545 , que se não pagava cousa alguma, assim
principia: Pro Excellenti, e na qual á Igreja, como ao Senhorio da Ter
se lê o seguinte : Monachi jam diu ra. No Foral de Corticóo (que an
4 Regularibus dicti Ordinis (Sancti tigamente se chamou Villa Boa de
Benedicti) Institutir declinarunt , ac jejúa) junto a Celorico, dado por
cum magna ofensione, Óº indignatio D. Martim Pirez, e sua mulher D.
me circumvicinorum populorum, inho Thereza Martins, no de 1216, de
neste, Óº dissolute vivunt; ita ut nul pois de fallar nos foros de pão, e
la, quod reformari debeant, spes su vinho, accrescenta: Et ex verdadu
persit. E por tanto o extingue , e ras non detis nichil. Doc. de Tho
incorpóra as suas rendas na Meza mar. Pelo contrario no Prazo do
-- Capitular de Miranda , que hoje Lugar de Arconces, termo de Ce
se acha estabelecida em Bragança. lorico feito no de 1256 pelo Mos
ESTRENGER. Conceder, que teiro das Salzedas , se estipulou,
rer , permittir. E rogo D. Meendo, que, além de outros foros, paga
{ pola fiuza que deley, que el pague mbas rião os imoradores hum quarteiro de
# dividas: que estrenga Deos, que bem pa esverdaduros. E renovando-se o mes
gue as sas dividas: isto he, permitta, mo Prazo no de 1333, se diz: Hum
conceda, ou queira Deos, que por quarteiro d'esverdados. Isto he, hum
{ este beneficio que me fizer em pa uarteiro de pão por conta das ver
3.
ar as minhas dívidas, tambem ha # , ou frutas, que colhião nas
ja quem depois de sua morte pa suas hortas, e quintaes. E note-se
gue as suas, se com elas falecer. de caminho a boa arrecadação dos
Doc. de Tarouca de 1273. Em al Monges, a respeito dos mesmos Se
guns outros Documentos se lê: Des culares. Estes fructos tambem forão
*
trenga Deos, sem dúvida no mesmo chamados Dizimos verdes , quando
sentido. •

se pagárão com os Dizimos Prediaes.


ESTREVIMENTO. Atrevimen Doc. das Salzedas.
to, ousadia, confiança. Os quaes se EVAR. Olhar, reflectir, ver com
ajuntam, e fazem gram mall per es attenção. Ap. Bergança.
trevimento das ditas armas. Cort. de EVAZOM. Desculpa, escapato
Lisboa de 1434. ria, côr, ou pretexto, com que se
ESTRUMENTO, e Sturmento. cobre, ou pertende disfarçar algu
Instrumento, Escritura Authentica, ma cousa. De hum Instrumento,
feita , ou dada em pública fórma. datado em 13 de Setembro de 1458,
Doc. das Bent. do Porto de 1285. que he do Consentimento, que deo
* ESTUGAR.
Europ. Portug. Apressar-se.
|-
Faria.•
o Bispo de Lamego , D. João da
Costa, para tornarem os Conegos
ESVERDADOS, Esverdadúros, Seculares (hoje Loios) a povoar o
? e Verdaduras. Fructos, que se re Mosteiro de Reciam , por virtude
colhem das hortas , pomares., ou de huma Carta d'El-Rei , porque
quintaes, que na baixa Latinidade mandou fossem restituidos, constão
se disserão: Verdearii, Verdegarii, varias réplicas, e tréplicas, que por
Gggii in
42 o EV EV
interessarem a nossa Historia aqui e tem hoje em dia : E huma velha
vão copiadas. Havendo o Bispo D. irmã de Alvaro Gil, Abbade , que
João da Costa dito, que D. João de foi de Barcos, á qual as ditas Clara
Chaves , seu Antecessor, sem fórma Fernandez , e Maria Rodrigues em
alguma de Direito , lançára fóra do trajo de homens , huma noite , com
seu Mosteiro as Religiosas de Reciam, huma calça de aréa derão tantas cal
o que fôra causa de ellas abusarem de fadas , de que, segundo fama, morº
seus corpos , e cansarem gravissimas reo. As quaes duas molheres o dito Se
desordens , e escandalos. Elle , para nhor Bispo por via de Visitaçom, con
dar cumprimento ás Ordens do Lega selho, nem amoestaçom nunca pode me
do á Latere D. Alvaro, Bispo de Sil ter a Regla, nem a vida de Monjas.
ves, fizera restituir ao dito Mosteiro E vendo-as incorregiveis , mandou a
a sua Abbadessa Clara Fernandez, & c. Maria Rodriguez ao Mosteiro de Ja
ó"c. -
cente da Ordem de S. Bento do Arce
- João d'Arruda , e João da Fa bispado de Braga , onde ainda agora
cha, treplicando a esta resposta do vive; e a dita Clara Fernandez nom
Senhor Bispo, dizem: Que he ver quizerom receber em Mosteiro algum
dade, que quando o Senhor Bispo de da dita Ordem, nem d'outro algum,
Kiseu veio ao dito Bispado de Lame por sua dissoluçom, e má vida: e o
go, achou em o dito Mosteiro de Re dito Senhor Bispo lhe assignou certa
ciam tres molheres , nom em habito, pensom, e mantimento, com condiçcm
trajo, estado, nem vida de Freiras, que vivesse religiosamente. E ella acei
nem de Religiosas, mas de Seculares, tou a dita Provisom; mas logo a pou
sem Régra, e Ceremonias della, a sa cos dias tornou a usar do seu costu
ber : Huma Clara Fernandez , que me, e dormir com quem lhe apprazia:
nunca soube lér, nem rezar, nem trou e especialmente com bum Guardiam de
ve habito , cogulla , nem véo preto, S. Francisco da dita Cidade, que cha
nem fizera em algum tempo Profissom; mavão Fr. Rodrigo Tourinho, ( cujo
a qual pelo Senbor da Terra (o Con filho be hum mofo, que a dita Clara
de de Marialva, que era seu Pai, Fernandez ora traz comsigo.)
e residia em Lamego) e contra sua E depois se partio da dita Cidade
vontade, foi posta em o dito Mostei para Santarem, e tomou bi marido. E,
ro em nome da Abbadessa, antes que eo vivente, leixou aquelle, e foi ca
ella fosse Monja, nem toviasse babito, sar com outro a Lisboa, chamando-se
nem fizesse Profiçom; mas assim como Leiga, e nom Freira: á qual o pri
entrou, assim viveo, sempre em habito, meiro marido demandou, e venceo por
e actos de vida Secular; dormindo car molher, e está em posse dos bens Pa
malmente com quem lhe apprazia, no trimoniacs della, como seu marido.
toriamente; especialmente com Alvaro E o dito Senhor Bispo poz suas Car
de Alvellos, de quem tinha filhos; tas de Edícto, para reformar o dito
e que usava com elle tão parceiramen Mosteiro, e nom acudio algum da di
te, como se fora sua molher: E outra ta Ordem, homem, nem molher, nem
Maria Rodrigues , que nom menos o d'outra alguma aprovada Religiom,
fazia com quem lhe apprazia, espe que para a dita Casa, e Mosteiro de
cialmente com o Abbade de Melcões, Reciam quizesse vir morar, nem man
de quem assim tinha filhos, e filhas, ter ; assi por ser muito pobre, e di
EV EX 42 f
lapidado , como por ser em máo lu todos os bens, que tinhão adquiri
gar, de montanhas, só, entre serras. do de nostras ganantias, Óº de inco
Pela qual razom o dito Senhor Bispo munaduras... quam nobis incomuna
d'acordo , e conselho de seu Cabido runt. (Isto he nos derão a meias.)
reduzio o dito Mosteiro em Igreja Se E o preço foi: Una azemila cum sua
cular, sem Cura, (em 29 de Dezembro albarda, Óº cum suo exendre, apre
de 1435, e a 3 de Janeiro de 1436 ciada in CC modios, Óº alios in au
fez Dôação do dito Mosteiro aos Co. ro, Óº in panos , é uno manto ga
neges Seculares de S.Salvador deVil tuno, apreciado in L. bragales. Doc.
lar de Frades, que hoje dizemos Loios) das Bent. do Porto.
&c. E depois foi tudo aprovado, ratifi EXERCITO de Maio. V. Ca
cado, e confirmado de certa Sciencia por vallo de Maio. •

Eugenio IV., e depois por Nicoláo V. EXERTADO. Lugar cheio de


E nom houve bi mais Freiras , nem arvores enxertadas, e fructiferas, a
mais barregans , nem outras dissolu que hoje chamamos Pomar; por nel
foens, como o dito Senhor Bispo diz, las se colherem as melhores frutas,
por dinigrar os feitos do Bispo de Wi ou pômos. No de 121 o aforou o
seu, e dar Evazom a seus feitos pro Mosteiro das Salzedas a seis mora
prios, que fez, como se todo o mun dores a sua Granja de Maçainhas,
do espanta, & c. E protestão, que não no termo da Cidade da Guarda,
querem tomar posse do dito Mosteiro com foro de V. , e Xº de quanto
da mão do Senhor Bispo, mas sim do ibi laboraveritis ; exceptis de alma
Corregedor , ou outro Ministro d'El nia, & de exertado. E ainda das hor
Rei. De tudo isto , e muito mais tas, e pomares pagarião o dito fo
ue do dito Instrumento consta, deo ro, se nelles semeassem pão. Doc.
# o Notario Apostolico , Diogo das Salzedas.
EXIDO. V. Eixido.
, ,

Lourenço, Conego em a Sé de La -

mego. Doc, de Reciam , no Con EXOUVIDO. Inteira, e final


vento de Santa Cruz da mesma Ci mente ouvido. O réo ainda por re
dade. pricar outra vez , e exouvido seer,
EXAMI. V. Dami. •

diz, per modo de Embargos: que & c.


EXAVEADURAS. V. Esverda EXQUISA, Enquisa, e Esqui
dos. No Foral de Villa Nova em ri sa. Inquirição , devassa, informa
ba do Mondego , e no termo de ção. E algumas vezes se toma pe
Folgosinho, dado por D. Guilhel lo mesmo Enqueredor, ou Testemu
mo no de 122o aos 3o Povoado nha , que á Inquirição foi presen
res desta sua herdade se diz: Ho te. No de 1 18o se terminou a de
mines de Villa Nova non dent de Ex manda , que corria entre D. João
aveaduras, nec raberiis: & postquam Bispo de Viseu, e os Herdeiros da
posuerint pedem tres vices , sit libe Herdade de Rocas, ou Rochas em
rum reliqum domino Vinee. Doc. de Terra de Sever. El-Rei D. Afon
Thomar. +
so Henriques a fez terminar por este
EXECUDOR. V. Eyxecutor. modo: Missa fuit in Exquisa: Óº om
EXENDRE. Burro, cria, ou fi nes Exquise exquisite unanimiter, Óº
lho da jumenta. Nos principios do concorditer disserunt : quod tota Vil
Seculo XII. vendêrão huns casados la de Rochas, ó omnibus Casalibus,
422 EX EX
é vineis , ó" ortis, & arboribus, que os mesmos derão a Castello
&º de tota Hereditate, que jacet in Branco, se determina: Et si bomi
ter ipsas duas aquas, hinc inde cur nes de Castelbranco babuerint judicium
rentes: medietas est Episcopi, ó Se cum homines de alia terra, non cur
dis de Viseo: Óº alia medietas est suo rat inter eos firma , sed currat per
rum Heredum. Sicut ergo Rex man esquisa, aut recto. Doc. de Thomar.
davit., & per veridicas Exquisas di No Foral de Ourem, pela Rainha
ctum fuit, divisa est ipsa Villa perme D. Thereza , no de 1 18o , se lê
dium. Deste modo ficárão seis Casaes o mesmo , que no de Thomar se
á Cathedral de Viseu, e outros seis determina, e em outros muitos da
ao Mosteiro de Sever, e a outros. Hu uelle tempo, que se achão no
jus Hereditatis Partitores fuerunt, . Velho da T. do T., que cons
Alfonsus Monachus de Silva Obscura: tantemente usão de Enquisa no sen
Soerius, Monachus Sancti Jacobi, & c. tido de Inquirição tirada por depoi
Testes hujus Divisionis omnes homines mento de testemunhas. •

ferè de Sever, Óº de Rochis: Salva No de 1281 se deo em pública


dor Petri de Sever, Petrus Vormuiz, fórma, e em vulgar, o Foral, que
Gonçalvus Menendis , Nuno Gomes, El-Rei D. Sancho I. havia dado em
tunc
. temporis Domnus de Sever, hu
• • • •
Latim a Bragança no de 1 187. E
jus rei Exquisa , Óº testis fuit. Fa nestra Traducção se diz : Efeita a
cta fuit Divisio mense Decembris. E. Carta em o mez de junio E. M.CC XX.
M. CCXVIII. Doc. de Viseu. •

(falta aqui hum V.) Quando nós /o


. No Foral, que os Templarios de breditos Reis, que esta Carta fazer
rão a Thomar no de 1 174, tradu mandamos a vós pobradores da Cibi
zido em Portuguez, se diz: Feridas dade de Bragança ante estas Esquisas
Concelhadas estas som, e nom outras: roboramos. Que presentes forom. Con
Quem demandar amigos, ou parentes, firmão alguns Grandes da Corte, e
ou armas, ou tochos, com os quaes vá Prelados do Reino , e duas teste
ferir, e feyra: Se o provar por ver munhas , que sem dúvida são as
dadeira Enquisa peite L.X. f... To Esquisas , que correspondem a Co
dalhas Entenssoens do nosso Moordomo ram infrascriptis Testibus. E de se
seiam per Enquisa daquellas cousas, fazerem as Enquisas com o exame
onde poder haver Enquisa dereita. Quem das testemunhas, viria o chamar a
souber a verdade, e a negar na En estas, Esquisas. Doc. de Bragança.
quisa , componha quanto fez perder EXTIMAR. Prover, tomar, ou
áquel, e ó Senhor da terra outro tan dar providencia. Que na Cidade de
to; e já mais nunca seia recebudo em Lisboa o extime o Corregedor: e nºs ou
testimoynha. Se alguum Vozeiro se com tros Lugares extimem os Vereadores ,
poser com o Moordomo , que lhy dé como se hão de tomar contas aos
ende algua cousa: Se provado for per Tutores dos Orfãos, sem detrimen
Enquisa , que tal be: componha, se to das suas insignificantes legitimas.
Agundo a quantidade da Cóômba , que Art. Espec. das Cort. de Lisboa de
I4 IO. •

demandar : e se nom ouver, que pey


te , em o corpo seia atormentado , e EXUDRIO. O mesmo que Ei
non seia ouvido ; salvo se der fiador xido. Gudino Guimiriz dôou a Gri
nas maaos da justiça. E no Foral, jó huma herdade em Macieira , a
qual
EX F 423
qual partia: Perillud exudrio... é…
pervenit ad illam presuriam aqua de
illo molino... Et pervenis ad illos ba
culos , qui sunt inter Travanca, Óº F.
Mazaneira... Deinde ad illa sedilia
de Molino vetero... Cum cunctis ob F. Como letra numeral valia 4o:
jectionibus suis, Doc. de Grijó. com huma risca por cima valia
EY, ou Y. Ahi, nesse lugar. 4oQ)OOO.
Mandei , que metesedes ey as Terças F. como nota musical indicava a
das Eigrejas de Vila Frol primeiramen valentia, e tesura da voz.
te: e depois que ey metesedes as TerçarF. em lugar de V, e pelo con
da Torre de Memcorvo na Fortaleza detrario, he frequente nos Monumen
*
*
Xila Frol... E que metades y as Ter tos de Hespanha , depois de do
fas das Eigrejas de Vila Frol , atá minada pelos Arabes, v. g. Refe
que essa Fortaleza seja ensimada. Car rencia , por Reverentia , Provanus,
ta d'El-Rei D. Diniz para o seu por Profanus, Devensum, por Defen
Pobrador de Villa Frol no de 1295. sum, Óºc.
Doc. de Moncorvo. F. escrito em lugar de B. não he
EYCHAM. V. Eichão. ••
cousa rara nos antigos, v. g. Bru
* EXVIÇOM, e Ibiçom. Macho, ges, por Fruges, Faro, por Barº»
. jumento, bêsta de carga. Vem de C

Iber, ou Imbrus, o macho; ou de Os Romanos antes do Imperador


Iberus , o cavallo de Hespanha. Se Claudio não tinhão esta letra, que
alguum lavrador ouver eyviçom, non elle inventou nesta fórma d., para
#*|
faça com ele foro. Foral de Thomar fazer as vezes de V., ou Digama
de 1 162. No de Cêa de 1 136, se Eolico. E assim no seu tempo se
determina, que os Olleiros: Si ibi escreveo dixit, amplia Iit, termina
. ciones babuerint , non prendant illas lit., & c. por vixit, ampliavit , ter
pro in ulla facienda. E no de Azu minavit. Depois da morte de Clau
rára da Beira de 1 1 12, pelo Con dio tornárão os Romanos a usar do
de D. Henrique, e sua mulher: Et Digama Eolico, que quasi tinha a
de ibicione, qui non torna jugada, non figura de dois Gamas pos *#
querant inde ullum servicium sene pre tos hum sobre o outro. Mas para
cio. L. dos Foraes Velhos. diferençarem os Vocabulos Latinos.
EYXECUTOR. Executor, o que dos Gregos, e se descartarem do 4 ,º
executa , e põe por obra alguma tornárão a usar do I, mas posto de
cousa. Doc. de Pendorada de 1 328. pernas acima deste modo: F., e as
EYXECO, e Eyxequo, ou En sim escrevêrão Fama, Fanum, & c.
xeco. V. Enxeco. em lugar do que antes escrevião
EYXHENTIOS. Privilegios, Phama, Phanum, & c. |

Isenções. Por razom destes eyxhenti F. em lugar de H. acha-se em


cos, e danos, e perdas, e demandar, alguns antigos Escritores, v. g. For
leixhavam d'aver os seus derreitos. deum , por Hordeum , Fircus, #
Doc. de Pendorada de 1372. Hircus, Fariolus, por Hariolus, Cre.
… -> .
Na Jurisprudencia se allegão os
\,
Textos do Digesto com dois f. jun
{QSe
424 F • FA
tos. E a razão he, porque os Gre noel de 1496. Veja-se a Memoria
gos chamavão ao Digesto Pandectas: de Figueiredo sobre a verdadeira si
e para abbreviarem este nome for gnificação , e sentido Juridico da
mavão dois Tr T, que os Amanuen alavra Façanhas , (que até o Se
ses Latinos imaginárão ser dois FF. culo XVI. frequentemente se encon
: Em os nossos Documentos do Se tra) na Collecção da Real Academia
culo XIII., XIV., e XV. he mui das Sciencias de Lisboa, Tom. I, das
trivial dobrar o F. no principio da Memor. p. 61. e seg., onde larga
dicção, v. g. feita, falecido, fo mente mostra, assim pelas Leis das
rom, Cºc, 7 Partidas , Part. III. Tit. 22. L.
A pena dos Feiticeiros, Benzedo XIV., e pela Traducção desta mesma
res, e que fazião Vigilias nas Igre Partida no mesmo Tit. e L. , (que
jas, era serem ferrados na testa com se acha na T. do T., feita no tempo
dois f., ao que parece pela sua fi d'El Rei D. Diniz ) como por Gre
gura, sendo na realidade hum só gorio Lopes célebre, e antigo Com
F., pois diz a Lei de 22 de Mar mentador das taes Partidas: que por
ço de 1449 : E seja ferrado em am Façanhas entende a nossa Ordenação,
bas as faces com o ferro, que para e todos os que a ella se referião nas
isso mandamos fazer de bum f. Mas suas Dôações, ou Instrumentos, os
esta pena se mudou da face para a Arestos , Exemplos ». Sentenças , ou
espadoa , onde pelo Assento , de Casos julgados ; sendo certo, que
26 de Fevereiro de 1523 se manda se deve julgar pelas Leis, e não pé
assinalar os ladrões, em Lisboa com los Exemplos; excepto se as taes Sen
hum L., e no Porto com hum P. tenças fossem dadas por El-Rei,
FAQANHA. Hoje se dá este no porque então devião regular os ou
me a huma acção heróica, admira tros semelhantes casos , por terem
vel, illustre, gloriosa. Mas em ou-. força de Lei ; e tambem se huma
tro sentido se toma em a Orden, do longa repetição destes Exemplos hou
Reino L. II. Tit, 25. §. 26. y C n'ou vesse estabelecido o racionavel co
tros mais antigos Documentos. Dis tume; porque então se reputava ver
serão huns, que então chamavão dadeira Lei, *Prºpriº a decidir.
Façanha ao juizo, e assento, que se FACEGERNES, ou mais bem
tomava sobre algum feito notavel, e Facergenes. V. Ciclatom. Parece »
duvidoso, que por authoridade de quem que assim chamavão aos Genuflexo
a fez, e dos que o approvárão, ficou rios, como dizendo : Facere gentá
servindo como de arésto, para se imi Porém na infima Latinidade achamºs
rar , e seguir como Lei, quando ou Facces, por Lenticula aquatica. E cº"
tra vez acontecesse : outros dizião, mo ali se tratava das Peças do Al {
que Fafanha nada mais era, que bu tar, e seu ornato, não seria temº"
ma opinião altercada, e ainda não de ridade grande , entendermos pºr
cidida : e que este era o verdadeiro Facergenes as galhetas para o vinhº,
espirito da Ordenação do Reino. e agua, de que sempre se usou "º
*Sem embargo de quaesquer Leis, Glos Sacrificio da Missa. •

sas , Ordenações , Foros , Façanhas, FACEIROA. O mesmo que F*


Opiniões de Doutores, e Capitulos de ceiró.
Cortes, cºc. Carta d'El-Rei D. Ma FACEIRÓ, Faceiroó, e Fatº
ZCI
FA FA 425
zeiro. Pequena almofada, travessei posição entre D.João Bispo da Guar
ro, ou cabeçal, em que a face se re da, e os Templarios, sobre os Di
clina. E de face se disse Faceiró. No reitos Episcopaes das Villas, e Ter
de 1 254 fez D. Orraca Fernandez mos de Niza, Alpalhão , e Mon
o seu Testamento, em que deixa tealvão, se determina: que os Com
todas as peças, roupas, e ornatos mendadores presentem annualmente
do seu leito aos Monges de Tarou ao Bispo , ou Cabido , ou a seus
ca: Ita quod , faciant de culcitra, Procuradores, sujeitos habeis, e de
é de pulvinari facezeiros pro ad Mo toda a capacidade: Qui Decimas om
machos. Doc. de Tarouca. Nom tra nes, fallas , Óº mortuaria fideliter
gia renom esta cama, & c. V. Alma exigant , colligant , Óº conservent.
draque. Nos Doc. de Lamego se Pedr’Alves traduzio o Fallas em Fa
diz Faceiró. lhas. Não negamos , que se po
FACER. O mesmo que Fazer. derião entender por Falhas: Coimas,
Fazer praço. Doc. das Bent. do Por ou Luctuosas; pois humas são a pe
to de 131 r. -
na de faltas, e outras são despojos
FACIENDA. Todo, e qualquer de falecidos. Em algumas Provin
serviço, que se haja de fazer. No cias deste Reino, hoje mesmo cha
Foral de Cea de 1 136 se ordena, mão Falhas , não ás Ementar, mas
que aos Olleiros se lhes não embar a certa esmola , que se dá ao Sa
guem as suas bestas pro in ulla fa cerdote, ou Cura por certo número
tienda. L. dos Foraes Velhos. de Padres nossos, rezados pela alma
FAÇOM. Cumprimento, feitio, de algum defunto: estas sem dúvi
execução. Se algumas custas fecerem da são as mesmas, que antigamen
per façóm de meu Testamento , man te se dirião Fallas, (V. Falimento. I)
do que as façam do meu aver. Doc. as quaes tinhão por objecto o satis
da Guarda de 1 299. fazer algumas faltas, que se hou
FADA. Mulher fanatica , que vessem commettido na solução dos
supersticiosamente pronosticava fu Dizimos, e Primicias.
turos. Tambem se tomárão as Fa FALIFA. O mesmo que Pelí
das más, por trabalhos; e as boas, ca. A Igreja de S. Bartholomeo de
por felicidades. He termo de que Coimbra pagava todos os annos á
usárão os Authores de Livros de # Abbadessa de Lorvão huma Falifa,
vallarias. Daqui Fadar, Fadado, Fa ou 15 libras por ella; contando-se
dario, e Fado. a 7oo por huma, pouco mais, ou
FALAR-SE. Aconselhar-se, to menos. Assim se lê em hum Doc.
mar informação , conferir com al de 15o7, que naquelle Mosteiro se
guem. E o juiz ficou pera falar. En COI]SCTV2,

2om disse o juiz: Eu falei-me, e fa FALIMENTO. I. Omissão, fal


lar-me-ey mais. Doc. de Pendorada ta. Doc. de Lamego. Por falimentº
de 1282. Tambem se acha no Cod. de mas Dizimas. Doc. de Grijó do
Alf. L. I. Tit. 51. §. IV. Seculo XIV.
FALLAS, ou Falhas. Os Dizi FALIMENTO. II. Morte, fale
mos miudos, que costumão andar cimento. Doc. de Moreira.
Separados dos Dizimos grossos, e a FALIMENTO. III. Peccado,
que chamão Miunças. Em huma Com culpa. Doc. de Grijó.
Tom, I. Hhh FAL
426 FA FA
FALSAR. I. Falsificar. Se alguem numerosas Familias, destribuidas pe
medidas, ou covedos falsar, peyte V. las suas Villas, e herdades. E o que
ff. Foral de Thomar de 1 174 da mais he, n'huma Dôaç. d'El-Rei
do em vulgar nos principios do Se D. Afonso, o Casto, de 812. (Ap.
culo XIV. Hesp. Sagr. T. XXXVII. f. 311.) se
FALSAR. II. Mentir, faltar ao achão Escravos Clerigos, Cantores Ec
promettido. He do Azinheiro no clesiasticos, que elle tinha compra
Seculo XVI. Hoje falsar he : dar do a varios donos , fazendo parte
em falso. destas Familias : Mancipia, id est ,
FALSAR. III. Amolgar, torcer, Clericos Sacri Cantores , e entre el
ou traspassar, v. g. Falsar huma es les nomêa Nonnello Presbytero, e Pe
pada, hum capacete, hum arnez, dro Diacono.
hum peito d'armas. Falsando-lhe hum Destes Servos huns erão Adscri
goral, que levava. Barros Dec. III. pticios, outros Colonos, e outros Fis
pag. 23o. da prim. Ediç. caes. V. Capdal. Daqui se vê a sem
FALSAR. IV. Frustrar, baldar, razão dos que disserão serem , ou
no sentido moral. V. g. Vio todos os a Familia Real , ou os Monges do
seus desenhos falsados. Mosteiro de Dume, a Familia Servo
FAMELIAIOS. Serviçaes, mo rum, que no Sec. XI. se fingio na
ços , criados , familiares. Nenhum Divisão dos Bispados , attribuida ao
destes pobres, ou fumeliaios deste Hor Rei Wamba ; pois no de 9 1 1 se
pital , possa ter barregãa. Sub pe avivárão os limites da Diocese Du
na de ser lançado fóra. Instit. das miense , cujos Diocesanos não du
Capellas da Corga, e do Morgado vidamos fossem no tempo dos Go
da Bouça , de 1356. Doc. de Vi dos Servos Fiscaes. V. Columello.
SCU. FAMILIA do Fisco. Segundo se
FAMILIA. AS. Desde o VIII. declara nos Concilios de Toledo,
até o Sec. XII, são frequentissimas erão os Servos das Igrejas , que se
estas palavras nos Doc. que em Por reputavão parte do seu Patrimonio,
tugal, e Hespanha se conservão. e estavão debaixo da protecção Real.
Por ellas se entendião os Servos, FAMILIAIRIA. Mulher Fami
que com suas mulheres , e filhos liar, e reputada, como se fosse da
moravão nas herdades, occupados mesma Congregação , ou familia.
sempre na lavoura. V. Criação. An No de 14o6 # Afonso, mui
tes que os Mouros entrassem nas to edificada do grande serviço, que
Hespanhas, as Nações Septentrio no Mosteiro de Ceiça se fazia ao
naes, á imitação dos Romanos, re Senhor, com licença de seu mari
duzírão á servidão a muitos Hes do , lhe fez Dôação de todos os
anhoes. Depois que estes come seus bens moveis, e de raiz, que
çárão a despedaçar o pezado jugo tinha em Tavarede , e outras par
dos Sarracenos, fizerão escravos hum tes ; com condição porém , que a
pasmoso número dos seus mesmos recebão por sua Familiairia, e a fa
Conquistadores. Não havia quasi ção participante de todas as boas
particular, que não tivesse alguns: obras, que aqui se fizerem; e se
os da primeira Nobreza , e parti ja sepultada com honra pelos mes
cularmente os Reis, tinhão delles mos Monges, se no seu Mºº CIC
FA FA 427
eleger sepultura.
Familiares. Doc. de Ceiça. V chamados Familiares , ou Confrades,

os que tomão sinal de habito de algu


FAMILIAIRO. Familiar , co ma Ordem, e morão em suas casas,
mensal, habitador, ou que se al sendo Senhores do seu, e não se des
berga na mesma casa, e vivenda. apossando delle em sua vida. Nos Esta
He mui frequente esta palavra no tutos de Cluni Cap. XLVIII. deter
Seculo XIV., e XV. mina S. Pedro Veneravel, que não
FAMILIARES. Assim dizemos sejão em tempo algum admittidos
hoje os que pertencem a huma Fa á Ordem semelhantes individuos,
milia, e são commensaes, e apani que se chamão Familiares , e não
guados della. Porém não era assim são Monges, nem Conversos, mas
em os Documentos Monasticos, que antes Destruidores pessimos de alguns
nos restão desde o Seculo X. até o Mosteiros ; e isto ainda que hou
XIII. Nestes se tomava quasi sem vessem de trazer á Ordem muitas
pre por aquelles Seculares , que riquezas temporaes. E a causa des
dôando todos os seus bens, ou gran te Estatuto foi: Familiarium illorum
de parte delles a algum Mosteiro, multis nota perversitas, qui nec, Deo
ou qualquer outra Casa Ecclesias servientes , nec manibus operantes,
tica, ou Religiosa ; humas vezes nec aliud utile domibus providentes, adº
se entregavão eles mesmos ao ser Agarriendum, ad detrahendum, ad dissi
viço da tal corporação, debaixo da pandum, que poterant, in quibusdane
"obediencia do seu Prelado ; outras Monasteriis alebantur, Óº vestiebantur.
| vezes ligados com o Matrimonio, Desde então cessárão em grande
ficavão em suas casas, como caseiros parte estes Familiares de portas a
colonos, ou usufructuarios dos ditos dentro; mas em todas as Religiões
Lugares Santos, que os fazião parti daquelle tempo se conservárão os
cipantes de todas as boas obras, queFamiliares de portas a fóra ; entram
nas ditas Corporações se fazião, ou do neste copioso número muitos
elo tempo se houvessem de fazer. Principes , e Monarchas, Arcebis
E… se chamárão Oblatos , Ofer pos, Bispos, e Grandes da terra,
tos , Donatos , Condonatos , Confra que não só homens, e mulheres de
des, ou Familiares , e finalmente todo o Estado, e condição. E todos
Terceiros; mas não com Régra, e estes se fazião benemeritos dos suf
Instituto de Religião approvada: o fragios, que nas respectivas Con
que se verificou tão sómente depois gregações se fazião , pelos benefi
que S. Francisco de Assis instituio, cios, e Dôações, com que elles
primeiro que todos , a Veneravel igualmente as condecoravão. Em al
Ordem III." da Penitencia. uns Mosteiros havia Missa quoti
Erão pois aquelles antigos Fami # Pro Familiaribus. Ainda ho
liares não Monges, nem Leigos, je na Religião de S. Bento se can
ou Conversos; mas sim huns conti ta pelo Acolitho entre as Preces de
nuos commensaes, se vivião nos Mos Prima : Commemoratio omnium Fra
teiros; ou parte da Familia Religio trum , Familiarium Ordinis mostri,
sa, ainda quando mesmo vivião em atque Benefactorum mostrorum: a que
SU13 CalS2, Ni. Partidas de Castella
responde quem preside: Requiescant
Part. I. Tit. 13. L. VII, se diz: São in Pace.
Hhh ii He
428 FA FA
* He tão conatural ao homem of tados por Familiares daquelle Mos
ferecer a Deos alguma parte do que teiro, a cujo Abbade obc decião, e
mais se estima, que não houve tem de quem recebião vestido, e man
po, em que este agradavel Sacrifi tença. Além destes se achavão ou
cio não tivesse uso , assim na Sy tros, que vivião sempre nos Mos
nagoga, como na Igreja. Lembra teiros com habito mui diferente dos
dos dos Samueis, e Nazarenos do Monges , e sem Profissão alguma
Senhor, oferecião os Christãos da Monachal, (e destes he que se fal
Primitiva os seus filhos, e filhas ao la nos Estatutos de Cluni.) Outros
serviço de Deos, não só aos tres, deposta a liberdade, se fazião Es
ou quatro annos da sua idade; mas cravos dos Mosteiros, ou Igrejas, com
talvez os pozerão sobre o Altar em o suas mulheres, filhos, e bens; ten
mesmo berço, poucos mezes depois do por verdadeira Nobreza, a Es
de nascidos. Daqui tomou S. Bento o cravidão de Christo: estes, ou pu
ue escreveo no Cap. LIX. da sua nhão sobre a cabeça huma moeda
# a respeito destes Oblatos; de quatro dinheiros, e logo a lan
accrescentando sómente as condições, çavão sobre o Altar; e com isto se
com que devião ser admittidos, é confessavão Escravos do Senhor, e
sobre os quaes se tem exarado tão erão chamados Servos dos quatro di
largos, e eruditos Commentarios, que nheiros : ou prendião ao pescoço a
nos dispensão de falar mais nesta corda do sino; e deste modo pro
materia. Á imitação, pois, daquel testavão serem Servos da gleba, e
les Oblatos, que inteiramente se con sem liberdade alguma. Outros em
sagravão a Deos com todas as suas fim , para se fazerem Familiares,
cousas, e vontades; apparecêrão de mas livres , e ingenuos, pagavão
pois os Familiares , de quem falla ao Mosteiro certo censo annual, que
o Conc. Later. IV. C. LVII. como de
voluntariamente se impunhão nas
ente, que não tinha mais Profis fazendas, de que havião conserva
são Religiosa , que obedecer ao do o usufructo. E todos os que se
Prelado daquelle Mosteiro, a que oferecião com a sua familia tambem
se oferecêrão , e sem cuja licença se chamárão Hospites Oblatiarii: is
não podião fazer Testamento: de to he, gente de fóra, que se ofe
vião trazer sempre sinal manifesto, ceo ao serviço de Deos, e do Mos
de que erão Oblatos , e viver com teiro. Vid. Du Cange. V. Oblati.
toda a honestidade , ou castidade Em Portugal podemos dizer af
conjugal. Antes deste Concilio, que foutamente, que não houve Mos
foi no de 12 15 nada havia de uni teiro antigo, que não tivesse mui
formidade na recepção, e conducta tos destes Familiares, Oblatos, ou
dos Oblatos: huns se oferecião com Donatos , dos quaes huns erão do
mulher, e filhos para serem admit número, que ordinariamente não pas
tidos á Profissão Monachal; promet sava de tres homens, e tres mulhe
tendo estabilidade , conversão , e res, (a que tambem chamavão Do
obediencia: outros ficavão no Secu notas , ou Oblatas) outros erão su
lo , com liberdade porém de pro pernumerarios, que erão em grande
fessarem o Monachato, se lhes bem número. Os primeiros vestião, cal
parecesse; mas todos estes erão repu çavão, e se mantinhão do Mostei
TO -
FA FA 429
ro: os segundos só erão participan Ordinis, Familiaritatem susceperune
tes dos bens Espirituaes; deixando in eodem Monasterio. Doc. de Arouca.
fºi sua morte o corpo , e alguns No L. dos Testamentos de Lor
ens temporaes ao Mosteiro. Apon vão , e no Archivo daquelle Real
taremos alguns exemplos desta dis Mosteiro são quasi innumeraveis as
ciplina. No de 1266 Thereza Nu Dôações, feitas por Seculares, que
nes deixou com o seu corpo, e por se sujeitavão aos Prelados de Lor
sua morte, todos os seus bens ha vão como Familiares, ou Donatos da
.vidos, e por haver fure hereditario Ordem , ficando em suas casas, e
ao Mosteiro de S. João de Pendo trabalhando as mesmas herdades,
rada; com obrigação de receber do que tinhão dôado; pagando em sua
Mosteiro o que bem parecer ao Ab vida certas Rações ao Mosteiro, (que
bade, para ajuda da sua sustenta então era de Monges de S. Bento)
gão. E protesta esta Devota , que no qual por sua morte erão sepul
em nenhum outro Morteiro tem feito tados , e a quem ficavão os ditos
voto , ou Profissão. Mas para que bens inteiramente livres, e desem
nenhum parente seu , ou estranho bargados. Isto mesmo se verificava
possa vir contra esta disposição, con algumas vezes nos mesmos Sacer
tinúa , dizendo : Me voveo, & of dotes, que se fazião Confrades, ou
ferro Altari Monasterii supradicti, Oblatos nos Mosteiros ; ficando até
promittens sub Regula S. Benedicti, á morte em suas casas. No de 935
permandatum Abbatis supradicti Mo Gondemíro , e sua mulher Susana
masterii, omni tempore vitae meae vi deixárão por sua morte muitos bens
tam ducere, &º preceptis ipsius Re a Lorvão, e dizem: Insuper etiam
gule nichiibominus subjacere. Doc. das promittimus Deo, Óº vobis , ut qui
Bent. do Porto. E nos Doc. de Pen.
ex nobis superstes fuerit in presenti
dorada se acha hum grande número vita Monasterium introeat, &" secun
destes Familiares, Oblatos, e Oblatas. dum Institutionem Regulae , Óº arbi
No de 1288 Garcia Soares, Ca trio vestro fuerit, vivat. E daqui se
valleiro Fidalgo, e sua mulher Ma vê, que Lorvão naquelle tempo era
ria Pires, pondo as mãos na Santa Duplex, e que lhe não desconvinha
Régra, se fizerão Familiares de Arou hum Oblato, ou Oblata dos que vi
ca, (que já então era de Religio vião de portas a dentro. No de 1o5 1
sas de Cister) para serem partici Ilderano dôou certas vinhas a Lor
pantes das boas obras, que nelle se vão, sitas em Villa Cova, e se in
fazião, e para sempre se fizessem. titula deste modo: Ego exiguo Con
Ao mesmo tempo lhe fizerão Dôa fratre, Domini servo, Ilderani Con
ção de muitas fazendas em Ribeira fessor. No de 1 1or fez o Sacerdo
Dio, e no Concelho de Cambra, as te Ermigio huma larga Dôação a
quaes o Mosteiro lhes tornou a en este Mosteiro , e accrescenta : Et
tregar , para que as desfrutassem, insuper trado corpus meum vivum, ar
em quanto fossem vivos sómente, e que mortuum advobis Dominum Euse
dizem : Volentes esse participes om bium , Óº ad Fratribus vestris, Óº
nium Beneficiorum Spiritualium, qui ad Regulam S. Benedicti servaturum.
ibidem ferent cunctis temporibus Se Outra igual formula se lê na Dôa
culorum , poritis manibus in Regula ção da quinta de Azerede, que a
CS
43 O FA FA
esta Casa fez, e pelo mesmo tem mando . ad supradictum Monasterium
po, Sendino Gondereis. E finalmen corpus meum, Óº tertiam partem de
te Payo Alvites, e sua mulher Go totam Villam de Silvares , cum per
dinha Soares emprazárão , ou mais timentiis suis, & c. Et istud facio pro
bem dôárão todos os seus bens a Lor remedio animae meae , Óº ut sim So
vão , sendo D. João Abbade, em ror eorum. E depois no de 1227 a
cujas mãos professárão ; mas com mesma D. Ousenda, e sua filha D.
condição de viverem nas suas fa Froyle Pires , dôárão a este Mos
zendas, pagando suas pensões ao teiro muitos bens, por suas mortes,
Mosteiro, a quem por morte d'am em Viseu, Silvares, e Carregoso;
bos ficarião inteiramente livres , e obrigando-se os Monges a dar-lhes
devolutas. em quanto vivas, tudo o que tinhão
Não faltárão no Mosteiro de Ma em Fagilde , e na Granja de Fel
ceiradam estes Familiares, Donatos, gosela: e a cada huma seu alqueire
ou Confrades. No de 1 182 se acha de azeite, e bum par de fapatos ta
ali a Dôação de Galdino, que he dos os annos: e a ambas 12 pescadas,
a seguinte: - e 6 queijos, e huma Sarracena (isto
Ouoniam in bac misera vita nichil he huma Moura que as servisse) e
Deo dignum putamus , nisi quod ad pitança como a hum Monge da Ccm
salutem uniuscujusque animae spectat; munidade. E a D. Froyle 1 o ovelhas,
iccirco Ego Galdinus, pro remedio ani e 6 cabras, e huma boa junta de bois,
mae meae , mando corpus meum sepe e duas vaccas, e huma porca. E des
liri in morte mea in Ecclesia & Ma tes Doc. Se acha ali huma grande
riae de Macenaria; & mando ibi me
cum medietatem mostram integram de *#orém onde mais se encontrão es
illo aral, quod ego feci in Filgusela: tes Familiares são os dois Mosteiros
&º hoc facio, ut deinpces sim filius, de Tarouca , e Salzedas. Faremos
&º Familiaris ejusdem Ecclesiae. Era menção de hum, ou outro, sendo
I. CCXX. Ego Galdinus , qui hanc impossivel o numerá-los todos. Ro
Cartam jussi facere , propria manu drigo Mendes, com consentimento
roboro. de seus filhos, deo ao Mosteiro de
- Qui presentes fuerum, Menendur - ts. Tarouca huma herdade em Coveli
Arias, qui notavit. o # Petrus - - ts. nhas no de 1237, e diz que tinha
No de 12 18 D. Ousenda Paes, feito as maiores instancias, e roga
Senhora viuva, por amor de Deos, tivas ao Abbade, e Convento: Ut
e temor do Inferno, diz: Facio Tes me reciperent pro uno de tribus Fa
tamentum de corpore meo per manu miliaribus ; ut per mandatum ipsius
D. Martini Abbatis, Óº ejus Conventus viverem, tam in victu, quam in ves
ad Monasterium S. Mariae de Macena titu; Óº tamquam Frater ipsius Mo
ria, ut semper vivam per mandatum nasterii de mandato ipsius me habe
eorum, ó ipsi post mortem meam red rem: quod factum est. L. das Doaç.
dant pro me, sicut pro unum ex illis. fol. 1.
Et si fortè aliquam in paupertatem de No de 1228 Martinho Annes,
venero, semper habeam portionem meam, e sua mulher Elvira Pires elegêrão
in victu, Óº vestitu, sicut unam ex sepultura neste Mosteiro, e lhe fi
sororibus vestris. Et port obitum meum zerão huma larga Dôação *# CIlS
FA | FA 43 I
bens moveis, e immoveis por esmo tem Deo deserviat. Ofero ibi cum eo
la pelo amor de Deos, e salvação de meam vineam , cum domibus, Ó ar
suas almas, e para serem participan boribus guir , que est in Burgo de
tes de todas as boas obras, que nesta Meigion-frio. Mando etiam ibi cum eo
Abbadia se fizessem até o fim do mun quantum contigerit ei de haereditatibus
do Então o Abbade, e os Monges meis inter fratres suos: tali conditio
vendo a devoção destes Bemfeito me mando bec, ut fructum eorum in
res, (que erão de Trancoso) os re vitam meam retineam, ó serviam Mo
cebêrão por seus Familiares, e So nasterio ut Amicus , dº Familiaris,
tios , e os fizerão participantes de &º post mortem meam libera remaneant
todas as Orações, e boas obras, que Monasterio. Si quis hoc mostrum fa
naquelle Mosteiro, e em toda a $# ctum irrumpere voluerit , (quod non
dem de Cister se fizessem. E lhe credimus) Dei, ó nostram maledi
promettêrão os bons oficios da sua ctionem incurrat : Óº insuper etiam
caridade, em qualquer situação, que Regie Potestati quingentos solidos per
delles precisassem. E para rebora lhes solvat, Óº quantum calumpniaverit,
dérão hum cavallo. Ib. f. 43. E a duplet Monasterio. Ego Baldovinus lpe
f. 54, Y. Se acha a Dôação de cer Testamentum, quod facere jussi, côn
tos bens nas Gouvêas, não longe firmo. Factum est hoc Testamentum
de Pinhel, feita a Tarouca no de E º Mº CC XXº III.", quoto XVII.
1243, pela qual consta, que o Mos Kalendas Septembris. Johannes - ts.
teiro se obrigou a amparar aos Dôan Petrus - ts. Pelagius - ts. Martinus
tes é como a seus Homens: Et insu notavit. Anno de 1185. Seria tirar
per receperunt nos pro Familiaribus sempre Estampas do mesmo molde
Ordinis , Óº fazedores, quod simus se houvera de proseguir. Direi só,
participes in omni bono, quod factum que no Mosteiro das Salzedas se
fuerit in omni loco, & pertotum Or nota igual número de Familiares. E
dinem, sicut unus suorum Fratrum. - podemos afirmar , que no Seculo
E finalmente a f. 74. se acha hum II., XIII., e XIV. toda a Nobre
Documento, que nos mostra como za daquellas visinhanças, e ainda de
Baldovino , e na fórma da Régra sete, ou oito leguas, especialmen
de S. Bento, ofereceo ao Mostei te os Parentes, Descendentes, e Con
ro de S. João de Tarouca a seu fi juntos de Egas Moniz aqui se man
lho Egas , para nelle ser Monge, dárão sepultar ; dando sempre , e
e com ele huma vinha no Burgo de deixando a esta Casa grossas fazen
Meigionfrio, e toda a legitima, que das: huns para aqui terem sepultu
por morte de seu Pai lhe coubesse; ra: outros para serem enterrados, e
fazendo-se este ao mesmo tempo Fa oficiados como os Religiosos deste
miliar do dito Mosteiro. He como Mosteiro: outros em fim para serem
se segue: Familiares delle , e participarem de
Ego Baldovinus ofero Deo, & B. todas as boas obras, que nelle, e em
Mariae, & Beato fohanni filium meum toda a Ordem se fizessem. V. Deo
Egeam, in loco, qui dicitur Sanctus Mota.
fohannes de Tarauca, in presentia D. No de 122 1 Godinha Martins
Johannis Abbatis; ut sub Regula S. deixou á Salzeda huma vinha em
Benedicti in eodem loco usque ad mor Persperiz, e tambem Invariabiliter
//14/1

\
432 FA FA
mando corpus meum sepeliri in Domo que lhes lançava o Prior, em cujas
de Salzeda; quia Abbas, Óº Conven mãos promettião no mesmo dia Obe
tus receperunt me pro una de tribus diencia, Pobreza relaxada, e castida
Familiaribus : & ideo tam corpus, de conjugal, como hoje professão as
quam quidquid habuero sine contradi Ordens Militares. E que esta Or
ctione in obitu meo mando Domui de dem fora para os Illustres, e No
Salzeda. Et ipsi Fratres tenentur fa bres, como para os primeiros Reis,
cere prome, tamquam pro uno de suis e Rainhas de Portugal, e Grandes
Fratribus. L. das Doaç. a f. 6o. Des da sua Corte, e que dois dos sin
te, e d'outros Doc, que alli se con co Reis Mouros , prisioneiros no
servão, se manifesta, que os Fami Campo de Ourique, havendo-se ba
liares do número erão seis, tres ho ptisado, forão deste número. Porém
mens, e tres mulheres; sendo in a verdade he que S. Theotonio não
numeraveis, os que tinhão ração, instituio tres Ordens distinctas, mas
quando vinhão ao Mosteiro; ou que sim tres gráos da mesma Reforma;
só participavão das boas obras; ou não sendo os que elle chama Ter
que alli se mandavão sepultar ; ou ceiros, e Terceiras, outra cousa mais
que recebião vestido, e sustento, que Irmãos, ou Familiares da Or
e sepultura, trabalhando as mesmas dem, que latissimamente se chamão
terras, que por sua morte lhe dei Conegor , e Conegas em os antigos
xavão. Em huma palavra, não ha Monumentos. O A. das Memorias
via Familiar, que não désse ao Mos para a Historia d'El-Rei D. Jcão I.
teiro mais, ou menos; e á propor faz a mesma distincção de Conegas;
ção do que dava , assim pensava mas nem hum, nem outro nos obri
receber, mas nada de graça. gão a dizer, que S. Theotonio fo
Porém não só os Monges, tam ra primeiro que S. Francisco na Ins
bem os Conegos Regrantes de Por tituição da Terceira Ordem: só nos
tugal, abundárão destes Familiares, convencem de que eles erão Fami
ou Donatos de todos os Estados, e liares da Ordem na fórma, que en
ambos os sexos. D. Nicoláo de San tão se praticava, e era corrente em
ta Maria na Chron. da Ord, dos Co toda a Monarchia.
neg. Regrantes expressamente nos af Que ?... As mesmas Ordens Mi
firma, que S. Theotonio além da pri litares não ficárão isentas dos seus
meira Ordem de Conegos Emclaus Oblatos , ou Familiares de ambos os
trados , e da segunda que dizião sexos. Bastará reproduzir agora uni
Obedienciarios, que vivião fóra do camente a dos Templarios. Desde
Claustro em quintas , Granjas, ou que esta Ordem entrou neste Rei
Igrejas annexas, ou talvez nas suas no até os fins do Sec. XIII, temos
proprias casas com licença do Prior; nós em Thomar grande copia de
reputando-se propriamente como Instrumentos, que nos informão de
Leigos, e Conversos: instituíra hu que hon e mulheres, solteiros,
ma Terceira Ordem , ou Estado de e casados se alistárão por Confrades,
Conegos, que, diz elle, chama Familiares, ou Donatos nesta Mili
vão Terceiros, e trazião por habito cia. Humas vezes são chamados Fra
hum bentinho de linho de hum pal der, outras Confrades, e outras qua
mo de largo, e tres de comprido, si Frades. Muitas Senhoras Nobres,

, …
FA | FA 433
ficando viuvas, se mettião Fradas, anciosos desejos, que o devoravão,
ou Fratrissas do Templo. Estas fa de salvar a todos, lhe subministrá
zião Prazo de alguma Fazenda da rão meios para conseguir empreza
Ordem para sua subsistencia; mas tão remontada. Depois de instituir
sempre debaixo da inspecção dos a 1.", e a 2.° Ordem com todo o
Mestres, ou Prelados, a qual não rigor da perfeição Monastica; reu
podião trocar, vender, ou de qual nindo em hum só ponto de vista,
quer modo alienar sem licença del e a Santificação propria , e o zelo
les. E por sua morte ficava esta Fa da salvação alheia: Ele se propõe
zenda livre á Ordem , como tam fazer Religiosos a todos os Fiéis. Con- -
bem a que elas ordinariamente ti vém a Sé Apostolica neste projecto,
nhão; parte, se tinhão filhos; e to e approva sem demora a Veneravel
da , se os não tinhão. Com efeito Ordem Terceira da Penitencia. Não
nenhum destes Confrades apparece ha desde logo Ecclesiastico, ou Se
alli, que não deixasse á Ordem al cular, homem , ou mulher, rico,
guma cousa para ser participante ou pobre, que sem deixar a sua ca
das suas orações, e boas obras. Osa, oficio, estado, ou condição não
Principe D. Afonso Henriques pro possa ser Terceiro de S. Francisco.
testa na Dôação de Soure de 1 129, Mas destes houve alguns ainda em
ue a faz pelo muito amor, que ti vida do Santo Patriarcha, que não
nha áquella Ordem, ó quoniam in fazendo os tres votos essenciaes, se
vestra Fraternitate, ó beneficio om vestião pobre, e religiosamente, e
ni sum Frater. Logo os vassallos se se determinavão a servir nos Con
guírão o exemplo do seu Principe. ventos, debaixo da obediencia dos
Nomearei só a Fernande Annes, e Prelados ; chamando-se Devotos ,
sua mulher D. Odrozia, os quaes Confrades , Conservos , Oblatos , e
no de 12 1 1 deixárão , por faleci Donatos. E tal foi o B. Marcio, que
mento d’ambos , metade de seus depois de acompanhar por algum
bens moveis, e de raiz, que tinhão tempo a S. Francisco, como Dona
no termo de Linbares da Serra da to , viveo alguns 6o annos como
Estrella, á Ordem do Templo com Eremita em hum Valle do Monte
tal pacto, e condição: Ut vestiant Apenino , onde faleceo com gran:
nos ambos de brunetis , aut de ver de opinião de Santidade, e obran
dis, mantos, Óº sayas, Óº calcias; do Deos por este Bom Servo gran
é º dent nobis porziones , velud aliis des maravilhas, no de 12o I , como
Fratribus, quando voluerimus; Óº re se póde ver em Waddingo T.III. f3.
cipiant nos , quasi alios Fratres; Óº # não só nos Conventos dos Re
doceant, Óº faciant nostros filios esse ligiosos, mas tambem nos Mostei
Milites, qui aucti fuerint ad facien ros de Santa Clara havia destes Obla
dum; &" dent nobis de aliis pecuniis, tos , que se occupavão nas tempo
quibus indiguerimus, &c. E taes erão ralidades das Religiosas, que nel
os Familiares dos Templarios , e o les vivião clausuradas. A estes Ter
mesmo era das outras Ordens Mili ceiros , Oblatos, ou Donatos conce
tares, que então havia. deo Urbano VIII. no de 1296, que
Appareceo finalmente no mundo podéssem commungar nos taes Mos
Tom. I. Padre S. Francisco, e os teiros todas as vezes , que o jul
o Glorioso • •
434 FA FA
gassem conveniente ; exceptuando Leis as não cohibio ; forão substi
sempre o Dia de Pascoa, em que tuidos com honra por esta qualida
devião assistir aos Oficios Divinos, de de gente , menos dispendiosa
e commungar na Igreja Parochial. dos bens da fortuna; mais interes
Porém outros Summos Pontifices lhes sada porém em tudo o que respei
concedêrão cumprir com este pre ta os emolumentos, e vantagens da
ceito nas mesmas Casas Religiosas, su'alma.
a quem servem , e nas quaes são FAMULA de Deos, ou Famu
Comensaes continuos. Daremos aqui o la de Christo. V. Famulo de Deos.
dito Breve de Urbano VIII., para FAMULO de Deos, ou Famu
que se veja, quanto diferem os Do lo de Christo. Em toda a Hespa
matos , que a louca ambição insti nha, e mesmo em Portugal, se tem
tuio , dos que o Santo Patriarca descuberto hum grande número de
lhes deixou. Acha-se em Waddin. T. Inscripções Sepulcraes, que os Chris
II. ad an. 1296. tãos lavrárão desde o IV. até os fins
do VII. Seculo, nas quaes se lê o di
IDilectis in Christo Filiabus Abbatissis, ctado de Famulo, ou Famula de Deos,
&º Conventibus Monasteriorum Or ou de Christo; sendo certo, que al
dinis S. Clare per Alemanniam guns dos que alli jazião erão casa
constitutis. dos , solteiros, viuvos, Sacerdotes
seculares, Bispos, e até meninos,
Devotionis vestre praecibus benignuum e meninas de quatro , ou menos
impertientes assensum, authoritate vobis annos; como se póde ver na Hes
praesentium indulgemus; ut Oblati Mo panha Sagr. T. XIII. Tr. XLI. Cap.
masteriorum vestrorum , qui se , ac /III. S. LXXI. Já acima, V. Aço
sua, vel maiorem partem bonoram suo res, vimos huma destas Inscripções.
rum, sine fraude, ac dolo, Monaste Resende de Antiquit. Lusit. L. IV.
riis ipsis sponte, ac libere obtulerunt, f. 263., ef. 325. da Edif. de Coim
(&º nulli aliis sub nomine, seu colo bra de 179o. nos oferece algumas:
re bujusmodi Oblatorum) possint in mas o A. da Chronica dos Eremi
eisdem Monasteriis Corporis Dominici tas de Santo Agostinho de Portu
recipere Sacramentum, quoties fuerit gal T.I. desde f 136. até 14o ajun
oportunum; praeterquam in festo Re tou hum bom número dellas; per
surrectionis Dominicae, in quo pro Di suadido erradamente, que todas as
vinis, Oficiis audiendis, é º eodem Sa vezes, que se achasse Famulo, ou
cramento recipiendo , consuevistis in Famula de Deos, ou Virgem de Chris
Parochialibus Ecclesiis convenire; di to, se devia entender Religioso, ou
ctarum Ecclesiarum Parochialium ju Religiosa, Eremita de Santo Agosti
re salvo. Datum Anagniae 3. Kalend. nho. Porém no Thesaurus Theologi
Augusti, ann. 2. cus de varias Dissertações Eruditas
Os Terceiros de S. Francisco em da Ediç. de Veneza de 1762. Tom.
toda a parte forão imitados , e os I. a f. 321. se acha huma de Fran
Familiares antigos , que com espe cisco Ântonio Zacharias: De vete
cie de Devoção, e Piedade tantos bens rum Christianarum Inscriptionum in
temporaes acarretárão ás Mãos mor rebus Theologicis usu, na qual, Cap.
tar , em quanto a Providencia das II. S. VI, estabelece como Régra:
que
FA > FA 435
que nem sempre, que acharmos nas da sua salvação, e que não tinhão o
Inscripções de Hespanha, Famulos, seu afecto nos thesouros da terra,
ou Famulas de Deos, nos queiramos antes bem os fazião depositar no
logo persuadir, que erão Religio Ceo pelas mãos dos pobres. V. Fa
• •

sos com os tres votos Solemnes, ou miliares. e º * * * * *

membros de alguma Religião ap Entre os muitos Famulos, e Fa


provada. Isto mesmo largamente con mulas de Deos , que em Lorvão se
firma no Cap. IV. S. VI., da mesma nomêão , se acha no de 984 Gun
Dissertação. E finalmente no Cap. desindo , Tegla, e seus Irmãos dôá
FTII. S. II. faz distincção entre Farão áquelle Mosteiro a Villa de Gon
mula de Deos, e Aucilla de Christo, delim, com o seu porto , e mais
ou de Deos: e diz que as Ancillas pertenças -, e dizem assim: In No
sempre forão Virgens, Religiosas, mine, Óºc. Ego Servus Dei Gunde
ou viuvas , que a Deos se consa sindus , Óº ego Famula Dei Tegla,
gravão , depois de quarenta annos & c. sendo Abbade D. Primo. L. dos
de idade , com voto de continen Testam. N. 47. Era então Familiar,
cia. E que o mesmo Titulo se deo ou Confrade Gundesindo; mas logo
ás que em casa de seus Pais fazião se resolveo a fazer-se Monge, re
Voto de Virgindade , e religiosa nunciando tudo, e ratificando a I.
mente vivião. E que nas Famular Dôação, como se vê no mesmo L.
de Deos nada disto concorria, e só N. 49. (a) na qual se achão estas
huma vida mais reformada , que a palavras: Placuit mihi proprium Vo
do commum dos Fiéis. V. Deo-Vota, tum Domino Jesu Christo voventem...
Em os Doc. de Arouca, Lorvão, accipere Confessionem, ó tradere me
e outros Mosteiros do Seculo X., metipsum, corpus, Óº animam meam
XI., e XII. he pasmoso o número in ipso Sancto Cenºbio, sive & tibi
de Famulos, e Famulas de Deos de Patrimeo Primus Abba, vel Sanctae
todos os Estados, e condições, e Regulae vestre , sana mente integro
que ninguem dirá serem gente obri que Consilio, nequando mihi repenti
gada a Religião alguma, distincta na subripiat emors. No mesmo L. N.
da Christã , que no Baptismo ha 38. se acha a Dôação de Ilderáno
vião professado. Porém elles conse de 1051, na qual o Doador se in
guírão este honroso Titulo com se titula deste modo: Ego exiguo Con
fazerem Familiares das taes Corpo fratre, Domini Servo, Ilderani Con
rações , dôando-lhe parte dos seus fessor. No de Io95 o Famulo de Deos
bens, (quando não fossem todos) e Zoleima Gonçalves fez huma Dôa
deste modo se mostravão cuidadosos ção ao Mosteiro de Eixo, como fi
Iii ii________ - C2 1. * *

(a) Na 1.folha do L. dos Testamentos se acha hum pequenº Chronicon , e lembran


çà os Abbades de Lorvão. Neile se diz, que o Abbade Primo fal, 11. Id, Aug. E. M.
XXIII, que he a 12 de Agosto de 985. E com tudo traz esta Dôação de Gündesindo
datada E. D. CCCC 2KII, que he anno de 919, 64 annos antes, e o mesmo, se acha
nas copias authenticas de Lorvão"; sem repararem , que mal podia ser Abbade no de
.985 quem o era já no de 919; e principalmente figurando nestas Dôações hum só Gun
desindo, que depois de ser Monge, talvez he o Bispo, que se acha em Brandão T. III.
da AMonarch. Escrit. 5. com a Era diminuta de MXX, sendo que tambem a de Arouca
não está certa na de M. C. XX. Deve-se consultar o Original , que se acha na Gav. 3
mass. 1. no. Archivo de Arouca, e ficarmos entendendo, que nos copistas antigos não fal.
tão erros, e que nisto não tem invéja alguma aos modernos.… ".
436 FA FA
ca dito V. Cidade. No de 1 124 o Os mesmos Necrologios das Ca
Famulo de Deos Anaia Vesturiz, e thedraes abundão de Famulos, e Fa
sua mulher Ermesenda dôárão a Lor mulas de Deos até o Seculo XVI. No
vão o Padroado da Igreja de Goes, de Lamego a 8 de Junho achamos
cuja terra elles tinhão povoado, ac Lopo Dias, Mestre Scola, no de 15 11:
crescentando : Et si Deus Omni a 9 D. Vasco Pires, Deão, no de
potens crescerit illam populationem, 141 o : e a 3o Estevão Martins, C2
quantas Ecclesias ibifuerint , sint de ellão de Avoens. A 7 de Setem
nominato Cenobio. Seria infinito se fº,
Fernão Martins, Conego, no de
houvera de proseguir. Concluo com 1413. A 18 de Outubro Maria Pi
a Dôação da Quinta de Azerede a res, mulher de Gonçalo Merca
este Mosteiro, sendo Eusebio Prior, dor, no de 14o4. A 19 de Novem
feita pelo Famulo de Deos Sendino bro Mestre Roberto, Conego, no de
Gondereis, que diz: Et insuper tra 1 192, &c. E todos estes com o Titu
do corpus meum vivum, ó mortuum lo de Famulos de Deos, e Bemfeitores.
ad Regulam S. Benedicti. No de Viseu da mesma sorte. Notarei
Em Arouca tem lugar distincto, só a 12 de Março Thereza Pires,
entre tantos Famulos, e Famulas de dita Freira, que fal. no de 1329 :
Deos, Tóda Viegas, Dona viuva, sem dúvida, que o seu comporta
que desde 1 1 14 até 1 154 em que mento lhe daria o nome de Freira;
alli se extinguírão os Monges, cons mas logrou o Titulo de Famula de
tantemente se intitula Famula de Deos no conceito dos Conegos, a
Deos , nas muitas, e largas Dôa quem deixou X. soldos annuaes pelas
ções, que fez áquele seu Mostei suas casas da Ribeira.
ro, que parece foi Duplex neste in-, FANGAS. Praça, ou lugar pú
tervallo de tempo: e que D. Tó blico, em que o pão se vendia por
da, sem fazer Profissão Monastica, huma # , que ainda hoje se
e não sendo mais que Familiar da usa, chamada Fanéga, que consta
Ordem, governava esta Casa como de quatro alqueires da medida cor
sua Padroeira. Assim se collige por rente, e que naquelle tempo se cha
muitos Documentos, e particular mava Fanga, e constava de seis al
mente pela sua ultima Dôação de queires. Em Coimbra ainda ha hu
1156, pela qual deixa toda a sua ma rua chama das Fangas, porque
grossa fazenda ao dito Mosteiro, nella, ou junto della se vendia to
assim a que herdára, como tambem do o genero de grão. Nas Cortes
Ea que comparavi, dum illi Monar do Porto de 1372 se diz : Em al
terio prefui. Deste modo morreo em guumas Villas des o pobramento da
sua casa esta insigne Bemfeitora, terra nunca ouve Fangas : e vendia
e Famula de Deos , dois annos de cada huum pam em sas casas, e pe
pois que havia estabelecido em Arou la Villa , bu sse pagava. E no de
ca as Monjas de S. Bento. E que 14o3 acordou a Cam. da mesma Ci
muito principiassem as Monjas em dade, que se vendesse huma parti
Arouca, a deligencias de huma Fa da de pam nas Fangas , pela grande
mula de Deos, quando os magnifi Jome que havia: a saber: a teiga de
cos Fundadores dos Monjes no de milho a 6o réis, que erão 28o libras
95 I , Ansur, e Ejeuva se intitulão da moeda corrente: e a teiga de tri
Famuli Dei?.. Doc, de Arouca. gº
FA FA 437
go por 4oo libras , com riza. Doc. cer , ou a calva , ou o pouco ca
da Cam. do Porto. bello de quem as usava. Hoje se
FARINHA cernida. Farinha pe chamão Favoritas as Sultanas, ou as
neirada, e limpa de todo o faréllo. particulares concubinas do Gram
Vem do Latino Secerno. No Foral Durco.
de Ferreira do Zezere de 1222, en FAVORIZAR. Dar favor, fa
tre os mais foros, devião pagar uno vorecer , soccorrer, ajudar , assim
alqueire de farína cernida, Doc. de para bem , como em máo sentido.
Thomar. FAZEDOIRO. O que he justo,
FASCES. I. Feixes, magotes, e arrasoado, que se faça. Pera fa
turmas, pelotões.Vem do Latino Fas zer , come seu Procurador , aquello
cis. Hede Azinheiro. que for fazedoiro sobresse preito. Doc.
FASCES. II. Insignia dos anti da Guarda de 1298. +

gos Magistrados Romanos, insti FAZEDOR.I. O que faz, obra,


tuida para imprimir respeito, e ter e executa qualquer cousa. V. Feri
ror no povo, já desde o tempo de das divisadas. -

Romulo. Consistia n’hum pequeno FAZEDOR. II. Feitor. Fazedor


feixe de varas, por entre as quaes do Bispo do Porto em o seu Moestei
se via sahir hum machado; dando ro de Villa Boa, e seu Procurador de
se a entender , que os infractores todas as rendas. Doe. de Pendorada
das Leis depois } açoutados com de 1445.
as varas, serião decapitados com o FAZEDURA. Bica, ou pão de
machado. Diante dos Dictadores mar manteiga. Desserom, que na Aldêa
chavão 24 executores, ou algozes, de Silva Escura ha El-Rei quatro Ca
todos com estas insignias : diante saes... e devem a dar por Paschoa 2.
dos Consules 12, dos Pretores das 2. queijos , com senhas fazeduras de
Provincias, e Proconsules 6, e dos manteiga, e com 5.5. ovos, e senhor
Pretores das Cidades 2, Era sinal da feixes de lenha pera a fogueira. Inq.
maior honra , dispedir estes Licto d'El-Rei D. Diniz. Doc. de Grijó,
res, ou mandar-lhes abater as Fas FAZENDA Real. Todo, e qual
ces na presença de alguem. uer tributo, direito, foro, ou pen
FASTA, adv. Até. Vem do Hes são, que a El-Rei se R* No
panhol Hastá. E pagares o tal dinhei Foral de Viseu por El-Rei D. San
ro fastá o fim de Setembro. Doc. da cho I. no de 1187 ampliando , e
Serra do Porto. confirmando o que seu Pai, e Avós
FAVACEIRO. Palavra, que ain lhes tinhão concedido, se lê: Mi
da se usa em Terra de Miranda, e lites, & Clerici, qui in veteri Civi
Bragança. Assim chamão ao que se tate de Viseo casas babuerint, possi
obriga a conduzir alli o peixe des deant eas sine Regali facienda : Óº
de os portos do mar, a que em ou Mercatores, & Pedones similiter. Es
tras partes dizem Picadeiro. ta exempção consta da Dôação, que
FAVOREZA. Favor, beneficio, o Conde D. Henrique, e sua Mu
mercê. lher fizerão ao Prior D. Theodonio,
FAVORITAS. Erão antigamen e seus Clerigos, que nesta Igreja
te huns canudos de cabellos, que Episcopal, vivião no de 1 1 1o; con
cahião sobre a tésta , para favore firmando-lhe o Couto, que El-Rei
438 FA FA
D. Fernando concedeo á Sé de Vi tris meritis nequfmus , valeamur ad
seu , o qual. ficava dentro do muro pisci. Hoc denique pro contestatioue
velho da Cidade, (o que se chama Omnipotemtissimae Deitatis dicirnur ,
va Cidade Velha , que alguns sem quod huic mortro facto mon erimus com
fundamento se persuadíráo ser a Ca trarii. Qtiod si forte , quod absit,
xa de Viriato.) Para desengano de contigerit ; liceat Ecclesiae Rectoribus
todos a reproduzimos aqui doTom coercere mor reverissimè, Legali Cen
bo Welho daquella Cathedral a f. sura, remoto omni blandimento. Si au
53. y. - tem alius quis libet , vir, aut femi
I In Nomine Samctae , &* Individuae ma , inde aliquid evettere , vel aufèr
Trimitatis , Patris , &* Filii, & Spi re temptaverit, mom sit ei licitum per
tur Sancti. Haec est Carta Testamen ullam arsertionem cujuscumque inge
ti , quam ego Henricus Comer, simul niosae caliditatis ; sed pro sola teme
cum uxore mea Tarasia, D. Regis Al ritate , de suis propriir facultatiùtis
fonsi filia, sana mente , & proma vo restituat ih quodruplum eidem Ecclesiae
Juntate facimus Ecclesiæ S. Mariæ omnia , quae auferre temptaverit ; &*
Episcopalis Sedis Visiensis , & ejus quamhdiu in hac pertinacia manserit ,
dem loci Clericis , ibidem commoram sit excomumicatus a societate Fidelium
tibus , de ipso Testamento , qttod D. Christiamorum. Qui in hac audatia ab
Fermandus Rex., ( cui sit beata re boc sæculo obierit, sit illi perpetua cum
quies) jam multo tempore est , quod diabulo mam rio in æterna dampnatione:
testavit, & confirmavit in tupradicta &* boc nostrum Testamentum perpe
Sede, im honore illius Virginis S. Ma tuum obtineat vigorem. - Facta Carta
riae. Testamentum illud est intus mu Testamenti , XII. Kal. Augustar. E.
rum vetus , in loco praemomiiiato in M. C. ¥. VIII. Nos supradicti Hen
ter illam viam de S. Michaele, & de ricus , &* Tarasia boc, quod prompto
illa Regaria , &* comcludit cum via amimo fieri decrevimus , in bonore S.
publica. Et boc testamus pro redemptio Mariae coram idoneis testibus propriir
?ie Parentum nostrorum , &* nostrarum manibus roboramur. Depois dos Con
amimarum ; ita ut mullus bomo habeat firmantes, e Testemunhas segue-se
potestatem , meque licentiam super il este sinal:
1or homines , qui ibi populaverint, aut
populantur , mittendi , nec movendi , Thedonius Prior.
meque alio Censu, quod Regali Domii • * • • • _ • •* aa

mio convemit , omninó ab eis inquirat.


Similiter facere concedimus de omni , FAZENDEIRA. Qualquer foro,
quod de bodie die in antea plantare , ou pensâo , que paga ao Sephorio
aedificare , vel laborare potuerint ser o fabricador de huma herdade, ou
vienter supradictae Sedis ; tali pacto , fazenda. Qui habitaverint in domi
ut illud , quod sursum resonat , Ju bur, aut in hæreditatibus alienis , non
pradictæ Sedi possidendum permaneat. serviant, neque faciant fazemdeiram ,
_ Et hoc facimus in Nostri memoriam, misi Domitiis suis , in quorum domo ,
atque mostrorum Antecessorum, ut eo aut bæreditáte sederint. Foral de Pe
rum orationibus , atque Sanctorum pre namacor de I 199 no L. dos For.
cibus, quorum ibi Reliqui.e , & No Velhos. - * , _ *

nmina continentur , adjuti, quod nos FAZENRÖÖ. V. raare,,


FA FA 439
! # FAZER amor, e prestança. Em Anniversario , e pelo rendimento
li##
prestar, ou mais bem: fazer presen delles, o Prior Faciat Refectorium
|F" | te , e mercê. E dizem , que Abba Monachorum , Óº Conversorum sufi
## dessas , que ouve em esse Moesteiro cientissimè. Com este mesmo destino
* #
*# Filhas d'algo , faziam prestança, e deixa Gonçalo Pires de Travanca
''; amor de pam, e de vinho, e d'outras huma vinha no Rebolal a hum seu
# (aº cousas aos seus parentes, ááquelles com parente, que o Mosteiro elegerá,
que aviam o devido, e quando bi vi o qual todos os annos em dia da
nhão. Carta d'El-Rei D. Diniz de Circumcisão , da terça parte dos
1322. Doc. de Reciam. fructos desta vinha: Refectorium fa
FAZER de si comprimento de ciat illis. Doc. das Salzedas.
Direito. Estar prompto para respon FAZER rogo. Ceder a rogos,
der, e satisfazer a qualquer Libel intercessões , ou empenhos de al
lo, ou Artigos, que contra alguem guem, faltando ao cumprimento da
se ofereção. Porem vos requeiro, que Justiça por causa de particulares
nom consintais, que nenhua pessoa me respeitos. E os almotacees jurem so
force , nem esbulbe do meu Moestei bre os Santos Evangelhos, que nom fa
ro : e quem me por elle quizer de fam rogo de nenguem sobre as ditas
mandar, que me demande por bu, e penas. Doc. da Cam. de Viseu de
como deve: que eu prestes soom pera I3O4.
fazer de mim comprimento de Direi FAZER verdade. Provar em Jui
to. Doc. de Reciam de 1457. zo a sua tenção, ou o que no Li
FAZER Honra. V. Honra. bello, ou Petição se allegava. Doc.
FAZER maridança. Fazer vida de Pendorada de 1328.
maridal, portar-se como marido. He FAZONZAL. No de ro47 se
do Seculo XIII. vendeo huma herdade abaixo do
FAZER mostra. Mostrar. Pedio Castello de Pedroso : o preço foi
ao Concelho de Sortelha, que li fizes hum cavallo avaliado em 3oo sol
se mostra daquellas cousas, que o di dos: Et duos fazonzales, et una pe
to Concelho demandava... E que nós le aninia. Doc. de Pedroso. Na bai
fossemos ver, como esse Concelho fa xa Latinidade se disse Fayssia, por
zia essa mostra... E o dito Procu
feixa , e Fazoletum , por lenço de
rador mostrou primeiramente todo o alimpar o rosto. E que muito accei
herdamento... E esta mostra feita, tasse duas faixas , ou dois lenços,
é, c. Doc. de Tarouca do Sec. XIII. quem levou á conta huma pélle de
FAZER Outeiro. Fazer monta Cordeiro?..
# taria. He dos Foraes d'El-Rei D.
# FAYNGAS. O mesmo que Fan
Manoel. gas , ou Fanegas. Dominus Rex mi
}, *
FAZER prestança. O mesmo que rit suam Cartam Fernando Eanes de
Fazer amor. Galicia, ut non levaret praedictas fayn
#" FAZER Refeitorio. Dar de co gas de pane de ipsa Ecclesia: et mo
#
# 1 mer. No de 12o9 D. Elvira Vie do levat eas perforciam. Inq. d'El
gas, filha d'Egas Moniz, e de sua Rei D. Afonso III. sobre a Igreja
} } 4.º mulher D. Thereza Afonso, dei de S. Martinho de Coira, no Arce
You ás Salzedas quatro Casaes em bispado de Braga. Doc. de Thomar.
Breteande para que no dia do seu EBRE, adj. Falha, diminuta,
CCI
#
44O FE FE
cerceada, e que não tem á riscato tes estas Ferias, ou Feiras; mas de
do o pezo da Lei. Moeda febre: he pois forão frequentissimas. No Fo
o contrario de Moeda forte: aquel ral, que El-Rei D. Sancho I. deo
la falta: esta excede no pezo, ain a Souto de Panoyas no de 1 196 de
da que he em huma quantidade tal, termina, que cada huma das qua
que he menos de grão; segundo o tro Coirellas , de que esta herdade
estillo presente da casa da moeda. constava, lhe pagaria annualmente
Porém antigamente Moeda febre, era seis quarteiros, metade centêo , e
a que tinha diminuição grave no metade milho , per mensuram feriae
pezo, e por conseguinte no valor. de Constantim, que hodie ibi est. L.
E por a moeda , que era febre, lhir dos For. Velhos. Parece que esta
nom acrescentáramos nas teenças.... Feira , por mui notavel embebeo
Podendo aver os Senhores dos ditos azei em si o nome de Constantim; pois
tes de cada huum tonel duas mil li nas Inquirições d'El-Rei D. Diniz
bras, e mais desta febre moeda. Cort. de 129o no Julgado de Panoyas,
do Porto de 1372. Febre. Por fra e Freguezia de Poyares, se devas
co, ou a se acha em alguns Doc. sárão varios Casaes, e se mandou,
FEDELHO. Em algumas terras que todos fossem ao Joizo do joiz
da Provincia do Minho, fronteiras da Feira, tambem os do Spital, come
a Galliza , chamão ao turibulo Fe os outros , e entre hy o Porteiro, e
delho. E com efeito, se houvermos nom tragam by Chegador. No Foral
de attender para a qualidade do in de Melgaço por El-Rei D. Afon
censo, que hoje ordinariamente se so Henriques, de 1 171, se acha:
emprega nas Funções do Divino Si quis mercator cum traparia vene
Culto, diremos, que o nome con rit, totum trouxel, si voluerit, ven
vém por todos os lados aos fumos dat , Óº non retalu; nisi in propria
dos nossos turibulos. feria: Ó si inde aliud fecerit, inter
FEIRA. Troca. V. Feirar. judices vestre Villae, et meam Vica
FEIRA, e Feria. Congregação rium XXX, sold. redat. L. dos For.
do povo, que em algum lugar pú Velhos.
blico concorre a comprar, vender, Distinguindo entre as Feiras, que
ou comuttar o que bem lhes pare se dirivárão de Ferias , ou dias fe
ce. Hoje lhe chamamos . Mercado, riados, as quaes sempre se fazião
Feira , ou Praça. Como nas gran em algum dia solemne, em que o
des solemnidades dos Santos vacava Povo se não occupava em obras ser
o povo das obras servís, e concor vís: e Feiras, que assim fotão cha
ria aos seus Templos , ou Sepul madas de Forum ; e que propria
cros; occasionou-se daqui o nome mente erão as Nundinas dos Roma
de Feira, ou Feria , pelas cousas, nos, que se fazião de nove em no
ue alli se compravão , e vendião. ve dias não solemnes, e nas quaes
nestas Feiras assistia sempre hum se achavão Mercadores, e Compra
competente Magistrado, que fizesse dores de fóra da terra: devemos per
arrecadar os Direitos, e fazer ces suadir nos, que o Cap. I, de Feriis,
sar , ou cohibir todos os disturbios. em que estas se prohibem nos Do
Parece que no principio da nossa mingos, e Dias Santos, tarde se
Monarchia não erão muito frequen observou em Portugal, e que o uso
COIl
}

FE FE 4.4 I

= contrario o vai hoje prescrevendo. No pº , e venda, no dia do mercado.


|-+

1.º de Julho de 12o5 , em o anno que no Domingo , sub pena de


XX, do seu Reinado, deo El-Rei D. perdimento do que se comprasse , ou
Sancho I. Foral aos que havião de vendesse, não podessem os Mercadores
povoar o seu Reguengo de Villa ter as suas logeas abertas; para que
-- Nova de Familicão , e nelle diz: o Povo pudesse assistir nas Igrejas das
Mando etiam , ut faciatis feiram in suas Parochias; exceptuando em todo
JDominico die, de XV. in XV, diebus, o tempo as cousas precisas ao susten
cº" detis Portagium, quomodo dant in to. Foi dada esta Sentença, e Desem
S. Petro de Ratis. Et omnes, qui ve bargo no de 1332, como alli mes
= nerint ad illam feiram quidquid ibi mo se acha. E talvez que daqui se
fecerint de Calumpnia in illo die, non movessem os Prelados de Lamego a
sint pignorati, vel retenti, Ibidem.exhortar nas suas Constituições os
No Tombo do Aro de Lamego, Ministros de S. Magestade, a que
onde se achão as Inq. d'El-Rei D. igualmente procurem multar os in
Afonso IV. de 1346, a f. 2. se acha fractores dos Dias Santos; na cer
o Alvará seguinte: teza, que este he hum dos crimes
Dom Deniz pela graça de Deos Rei mixti fori.
de Portugal, e do Algarve. A quan Ajuntemos ainda o Alvará d'El
tos esta Carta virem faço saber, que Rei D. João I. de 14o8 , que se
o Concelho de Lamego me inviou pedir guarda Original, e com Sello pen
por mercée , que Eu mandasse fazer # , na Camera de Aguiar da
mercado cada Domingo no Castello der Beira, e diz assim: Dom Jobam po
sa Vila. E Eu querendo-lhes fazer Mer la graça de Deos, Rei de Portugal,
cée, mando, que o façam. E outorgo, e do Algarve. A vos juizes da nor
e mando, que vam a esse dia todalas sa Villa d'Aguyar da Beira, e a to
vendas a esse mercado. E mando ain dollos outros juizer, e justiças dos
da, que esse dia, em que fecerem es nossos Regnos, e a quaeesquer outros,
se mercado no dito Castello, seja cou a que esta Carta for mostrada, sau
tado, assi como sam as outras minhas de. Sabede, que o Concelho, e Homeens
Feiras, que Eu mando coutar. E em Boñs da dita Villa nos enviarom di
testemonio delo dei esta Carta ao dito zer, que por bem de huum Privilegio,
Concelho. Dante em Lisboa 6 dias de que lhes foi dado por El-Rei Dom Di
julho. El-Rei o mandou por Stevão niz, nosso Bisavôo, a que Deos per
Annes. Era de M. CCC. XXVIII. (An doe, fezerom sempre, e fazem ainda
no de Christo de 129o.) agora huma feira no dito Logo, a qual
A isto se oppoz o Bispo, e Ca se começa no Domingo primeiro de cas
bido de Lamego, dizendo ser con da huum mez, e dura tres dias; se
tra os Sagrador Canoner, e desservi gundo dizem, que no dito Privilegio
so de Deos; pelo que El-Rei D. Af mais compridamente be contheudo. E
fonso IV, mandou , que fosse transfe ora dizem, que nom embargando to
rido o mercado para a segunda feira, do esto , que o Bispo de Viseu lhes
e que se vendesse , e comprasse, mandou, e defendeo, que nom fezes
assim no Castello , como no Cou sem a dita feira ao Domingo: E que
to da Sé; salvo, que neste Couto a fezessem em quaesquer outros dias
se não fizessem Escrituras de com que quizessem : E que pôs Sentenfa
Tom. I. derº
442 FE FE
descumumbom em todos aquelles , que da Policia dos Principes da Igreja,
ao dita feira veessem ao Domingo: aliviando hoje os Povos da obriga
Pola qual cousa dizem, que nenhumas ção de não trabalharem nos Dias
gentes nom ousam a vyr aa dita fei Santos ; quando os nossos Maio
ra, nem sabem em quaees dias a el res, para não faltarem sem dúvida
la bam de vyr , nem quando sse ha na cultura dos campos, reservavão
de fazer: No que, dizem, que sse a sem escrupulo até as mesmas feiras
elles segue por ello grande perda , e para os Domingos.
dano: E que nos enviavam pedir por FEIRA. O mesmo que o Cam
AMercee, que lhes ouvessemos a ello re po, ou Praça, em que se vendião
medio qual nossa Mercée fosse. as cousas, e a Feira se fazia. No
E Nós veendo o que nos dizer, e de 1 137 Diogo Aires, entre outros
pedir enviarom, e visto por Nos o di muitos bens, dôou a Grijó huma
to Privilegio do dito nosso Bisavôo, casa: In ipsa feira Civitatir S. Ma
porque lhes deu a dita feira : E por ria, cum sua vinea, Óº cum suo for
quanto Nos avemos por bem desse nom male. E se alguem for contra isto:
fazer a dita feira ao Domingo, e de pro sola temeritate , componat ipsam
*seer guardado, como a Egreia man haereditatem duplatam, Óº insuper duas
da : Teemos por bem, e mandamos, libras auri. Doc. de Grijó. E he
que daqui endiante a dita feira se co bem de notar, que havendo entre nós
mece na primeira segunda feira de ca tantas Feiras, ou Foros, que corres
da huum més, e sse acabe aos tres dias pondião aos Foros dos Romanos,
seguintes. E porem vos mandamos, que como v. g. Forum Limicorum, onde
assy lhes comprades, e aguardedes, e não só se comprava, e vendia, e
façades comprir, e aguardar esta nos ajuntava o Povo ; mas tambem se
sa Carta, e lhes nom vades, nem con fazia audiencia , e administrava a
rentades hir contra ella em nenhuma Justiça , (que por isso ainda hoje
guisa, que seia: ca nossa Mercêé, e chamamos Forenses a todas as cau
vcontade he de se fazer pela guisa, sas do Foro, ou seja Ecclesiastico,
que dito be. Unde al nom façades. ou Secular) só a Cidade de Santa
Dante em a Cidade d'Evora XXVI. dias Maria , ou Santa Maria da Cidade
do mez d'Abril. El-Rei o mandou por (isto he, a Comarca, ou Républica
Diego Martins , Doutor em Lex , e de Santa Maria , cuja Capital no
por Vasco Gil de Pedrosso, Lecencea tempo dos Romanos foi Lancobrí
do em Lex , seus varsallos, e do seu ga) se arrogasse , como por anto
IDesembargo. Johanne Annes a fez. Era nomazia, o nome de Feira; passan
de 1446 annos. do de appellativo a nome proprio,
}Yallascus Jacobus que até hoje conserva. V. Dia de
Foral. E disto ha Doc, innumera
Legum. Doctor,
Licentiatus Legum. veis entre os de Pedroso, e de Grijó.
FEIRA franqueada. Feira fran
E daqui se manifesta a razão, e ca , que goza de certas Honras,
justiça com que os nossos Religio Privilegios, Liberdades, Isenções,
sissimos Soberanos se intitulão. Pro e Franquezas por mercê, e autho
tectores dos Sagrados Canones. Igual ridade do Principe. Os da Torre de
mente..se_note a, mais bem regula Memcorvo tendo já Carta d'El-Rei
D.
FE EE 443
D. Diniz para fazerem huma Fei razom, que era companhom, efeitu
ra na sua Villa todos os mezes; no ra do Bispo. Doc. da Guarda de 1298.
vamente allegárão, que havendo mui Hoje chamamos Creatura a hum su
tas Feiras de mez nos arredores de jeito, que assim he como feito, e
Moncorvo , elles não podião ven creado para os ditos empregos.
der o seu pam, e gador, e sas mer FEMENÇA. Dizem, que assim
chandias tam aginha: por tanto lhes se chamava antigamente a Inquiri
concede huma Feira franca annual, ção diligente , exacta , e circuns
que começará 15 dias antes da Pas pecta.
choa, e durará outros 15 dias de FENO. Agulhas de pinheiro, a
pois da Paschoa: e todos os que a que hoje vulgarmente chamamos Mo
ella vierem comprar, ou vender se liço, ou Caruma. Em hum Prazo de
rão seguros de não serem penhora Vairam de 1525 se diz: E mais pel
dos, não só na ida, e vinda; mas los Santos, e per Janeiro sseis fei
tambem oito dias antes de partirem xes de feemo, posto no dito Moestei
para a dita Feira , e nos oito dias ro: e de Loytosa cada pessoa outro tan
depois, que de lá chegarem ; ex to como de renda.
cepto por dividas, que na dita Feira FÉ-PERJURO. O que quebran
contrabirem. Foi passado este Alva ta a fé, que prometteo no juramen
rá a 2 de Novembro de 1319. Pa to. He do Sec. XV.
- rece que já não estava em uso no FERIDAS chans. He bem no
de 1395, em que El-Rei D. João tavel a nossa Jurisprudencia nos Fo
I. pera o Logar da Torre de Mem raes antigos, pelo # respeita á
corvo ser mais nobrecido, lhe conce ualidade, e quantidade das feri
de huma Feira franqueada, que prin # obrigando a pagar a coima se
cipiará no 1.º de Maio até os 15 gundo o seu número, enormidade,
do dito mez, com todas as honras, e grandeza, e não menos segundo
Privilegios, e franquezas, que tem os instrumentos, e advertencia, com
a Feira de Trancoso : com tanto, ue forão feitas. No Foral de Cas
que em quanto ella durar, não en tello Branco de 12 13 se diz: Qui
tre nella algum natural do dito Lu ferit de lancea, aut d'espada, pectet
gar, que seja malfeitor, nem ou X. f. Et si transiret ad altera par
tro nenhum que no dito Lugar, te, pectet XX. f. al raucuroso. Et qui
ou seu termo fizesse algum delicto, quebrantaverit oculum, aut brachium,
ou commettesse algum crime: E que aut dente: pro unoquoque membro pe
a dita feira no dito tempo nom faça ctet C. f. a lisiado , Óº ille l'IIº a
prejuizo ads outras feiras franqueadas Palacio. Doc. de Thomar. E he fre
d'arredor. Doc. de Moncorvo. quentissimo nos Foraes daquelle tem
FEIRAR. Trocar , commuttar. po. Igualmente se attendia ao lu
Nom devedes dar , nem doar , nem gar onde as feridas se fazião; por
vender , nem feirar, nem escambar, que sendo na Igreja, na propria Ca
sem nossa outorga. Doc. de Villella. sa, na Camera do Conselho, ou em ci
FEITURA. Assim se dizia aquel ma d’agua , hindo no mesmo barco,
le que era promovido, ou provido ou jangada , se reputavão por mais
em algum Lugar honroso, Minis raves, e enormes. No mesmo Fo
terio , Oficio , ou Emprego. Por ral de Castello Branco se diz: Qui
Kkk ii in
444 FE FE
in Concilio, aut in Casa, vel in Ec dos Foraes Velhos. No Foral deTho
clesia ferit, pertet LX. f. E no de mar de 1 174 traduzido em vulgar,
Santa Cruz da Villariça de 1225 : se declara: Feridas Concelhadas estas
De sanguine deroto, de lanza, aut de son , e non outras : quem demandar
espada, aut de cutelo, qui cum istum amigos , ou parentes , ou armas, ote
ferir, & inde non morir, pectet XXX. tochos, com os quaes va ferir, e fei
morabitinos... Quem ferir suo vicino ra: se o provar por verdadeira enqui
cum petra, aut cum fuste, pectet XX. sa, peite LX. f. Por membro talha
morabitinos, si firmarem: Et si non do peite LX. f. Por todalhas feridas,
firmarem, juret cum quinque vicinos. Si das quaes deve satisfazer , entre em
ferir cum manus , aut messar , aut fustám, segundo foro velho de Coim
cum pede, p. IV, morab, al rancuro bra: ou as compre daquel, a que de
so, si firmar. Et si non babuerit fir ve satisfazer. Doc. de Thomar.
ma, juret se quinto. Qui ferir suo vi FERIDAS consuladas. Acha-se
cino in il a fancada, Ecclesia, aut in em alguns Foraes antigos. O mes
Concilio a pregom ferido, aut in Ape mo que Feridas conciliadas.
lido, p. LX soldos , Óºc. Doc. de FERIDAS divisadas. Feridas cla
Moncorvo. Nos costumes, e Postu ras, patentes, e das quaes separa
ras d'Evora de 1 264 se lê : Se al damente correo sangue. Se algum
guem fezer feridas negras. ou chaans, fezer a outro feridas divisadas, que
non correga senon una, sobre qual po sejam sangoentas: que o fazedor, ou
zer mam o rancuroso. Erão pois as fazedores corregam a elle todas essas
Feridas Chaans: contusões lívidas, e feridas, que a ele fezerem. Posturas
cardenas , de que não corria san d'Evora de 1 264.
gue, que nellas ficava pizado , e FERIDAS negras. V. Feridas
por conseguinte as fazia negras. chans.
FERIDAS Concelhadas. O mes FERIDAS sangoentas. Aquelas
mo que Conciliadas. de que sahio , ou correo sangue.
FERIDAS Conciliadas. Feridas V. Feridas divisadas,
feitas á Scinte, com advertencia, de FERIR. Partir , demarcar , en
reixa velha, e caso pensado, e mes testar. Esta herdade, v. g. vai ferir
mo procurando favor, ajuda, e con com caminho público : vai ferir nas
selho para as fazer. No Foral, que penhas altas: vai ferir no ribeiro: no
D. Pedro Affonso , filho #### moinho, & c. He trivial nas Demar
D. Afonso Henriques , deo a Fi cações antigas.
gueiró dos Vinhos, se diz: Feridas ERMOSENTAR. Dar formo.
Conciliadas istas sunt, Óº non alias: sura, aformosear, ornar, compor,
Qui querit amicos, vel parentes, vel assear, formosear. Claramente se mos
arma, vel tochos, cum quibus vadat tra os Ourivezes nobrecerem , e fer
ferire, & percuserit: pro unam ex mosentarem muitos com seos oficios, e
quisam LX, sol, p. : si foras XXX. lavramentos de prata. Doc. da Cam.
sol.: pro membro abciso, LX, sol. p.: do Porto de 1468.
pro omnes feridas, de quibus satisfa FERRADURAS. He bem para
cere debent , intrent in fustam , se admirar, que portantos annos jazes
cumdum veterem forum Colimbriae : aut sem os Portuguezes no fatal cativeiro
comparet eas, cui satisfacere debet. L. de pagarem, principalmente a Corpora
foes
FE FE 445
pöer Ecclesiarticar , foros, foragens, spatulam, ¿º fogaciam, perro'vant pro
e Direituras , que não sei se pro illis in quolibet anno , in die S. Ste
cediáo de dispotismo, se de vicio phani WIII. rolidos in Capitulo : Sin
so regalo , se de terem em pouco, autem , in alia aie dent spatulam , ¿”
e despresarem mesmo os seus seme fogaciam. Et omnes illi , qui temen
lhantes, Não havia extravagancia , tur dare bracale , dent eadem die S.
com que o miseravel Povo náo fos Stephani W. solidor: Sin autem , alia
se onerado. Já no tempo dos Ro die dent bragale integrum. Et omney,
manos as imposiçóes destes foráo qui tementur dare fogaciam , ó gali
taes , que julgárão os Hespanhoes mam , perrolvamt ipsa die V. Stephani
por mais favoravel o pezado jugo II, solidos : Sim autem , alia die dent :
das Naçóes Barbaras, e sem cultu fogaciam , ó galinam. Et omney, qu?
ra. Depois de revoluçóes táo fa debent dare fotulares , dent die S. Ste
mosas , e tragicos successos, ainda phani II, solidor, ¿º medium: Sin au
renasceo a Monarchia Lusitana com tem , dent integros yotulares. Et qui
bastantes abusos, que os nossos Pie debent dare ferraturas , dent eas ipra
dosissimos Monarchas suave , e pau die , aut valorem earum , quomodo va
latinamente foráo reformando á fa luerit in Vireo. Et omney, qui volue
vor de seus vassallos, a quem sem rint vendere , primitis , quam aliir,
pre respeitáráo , náo como escia vendant mobis : Č” ri mor comparare
vos , mas sim como filhos. Huma moluerimur, vendant talibus , qui sint
daquellas abusivas contribuições era mostri bominer , ¿º qui nobis faciamt
a de pagarem ao Senhorio tantas, mostrum forum , ¿º qui dent mobis mor
ou quantas Ferraduras , (a que tam tram vendam , fecumdum consuetudi
bem chamaváo Ferros) e esta era a nem terrae. Et non vendant bominibtis
moeda corrente, com que em algu de Ordine , me que Militibus, mºque alii
mas partes compraváo o ju: habi Ecclesiae , praeter mostram. Et ut hoc
tandi , imposta a toda a casa , em Instrumentum per mor factum , ¿º com
que o Colono accendesse fogo, ou potitum , robur obtineat firmitatis , öº
habitasse. No de 1 1 5 1 D. Pedro in porterum non porfit in dubium re
Gonçalves , Bispo de Viseu , e o vocari: fecimus inde mor , ó" vos duay
seu Cabido deráo Carta de foro aos Cartar fieri , per alfabetum divirar,
que moraváo no Couto da Sé, que ó" mostrorum sigillorum munime robo
era dentro do muro, ou Cidade Ve ratas , quarum una est apud mor , ¿”
Jha, (como se disse V. Fazendeira) altera in Thesauro Viseny. Eccleria con
a qual he do theor seguinte , ex servata. Actum est hoc E. M. CC.
trahida do Tombo antigo a f, 3 v : LXXXIX, mense Martii, per maiitis
In Dei Nomine. Notum fit omnibus Gomecii Pelagii , Camomici Wisems., ó”
bominibur, tam presentibus, quam fu ejusdem Capituli proprii Scriptorir.
turir, quod mor P. Dei Gratia Wisem.r. Mas ninguem se persuada , que
Episcopur , ó” ejusdem Capitulum fa se pagaváo as ferraduras já feitas,
cimur fieri Cartam perpetui Fori , &º e atarracadas: pagaváo sim hum tan
firmitudinir vobis omnibus mostris ho to de ferro para ellas se fazerem ;
minibus , Commorantibus in mostro Cau como bem se collige do Foral de
to de Villa de Pireo: videlicet: Quod Cea de 1 1 36, que filiando dos Fer.
omnes 1lli , qui tenemtur dare de foro reiros diz : quando illo Senior dede
rit
446 FE FE
rit ferrum , que faciant ferraduras, FERRO maçuco. Ferro em bar
cº Clavos pro ad illum. V. Ferros. ra. He dos Foraes d'El-Rei D. Ma
Mas sempre he de notar, que não noel.
tendo os Conegos de Viseu obri FERRO moído. Ferro lavrado,
gação alguma de apresentarem Ca ferramenta, ou instrumento de fer
vallo de Maio , para gozarem das ro cortante. He frequente nos mes
Regalias , e Isenções de Cavallei mos Foraes.
ros Fidalgos ; mas tão sómente de FERRO moludo, ou Ferro mu
assistirem diante do Altar de Santa do. O mesmo que Ferro moído. E
Maria da Sé , pro Regibus Lusita chamárão-lhe assim, porque as fer
niae, Óº pro omni Populo Christianis ramentas são trabalhadas na mó,
simo precer fundendo; como se vê pe ou pedra de afiar muito bem, pri
los Foraes dos nossos primeiros Reis, meiro que hajão de servir. E por
confirmados por seus Successores: isso ainda hoje dizemos Amolar,
anda assim persistião, e já no Se por aguçar , ou afiar na mó, ou
culo XIII., na solução de hum fo outra pedra , que adelgace os ins
ro , que menos improprio se faria trumentos de cortar , dividir , ou
nas Ordens Militares , e nos que penetrar.
erão obrigados a servir na guerra FERRO mudo. O mesmo que
com armas , e cavallos. V. Caval Ferro moído.
Ieiro, e Cavallo de Maio. FERROS. Pensão, que antiga
FERRAGEM. O mesmo que mente se pagava em algumas par
Farragem, ou mais bem Ferrão: pas tes, não sempre em propria espe
to de bestas, que ordinariamente se cie , mas talvez em dinheiro cor
semeia das alimpaduras do trigo, rente, e naquela quantidade, que
centêo, ou cevada. E daqui se dis era precisa para comprar o número
se Farragem: miscelanea de muitas
de Ferros , ou Ferraduras , que o
cousas amontoadas sem methodo,Emfiteuta, ou Colono devia pagar.
nem ordem alguma. No de 1 142 V. Ferraduras. No Foral, que El
S. Paes, Deão de Viseu, empra Rei D. Sancho I. deo aos morado
zou as suas herdades das Gouvêas, res de Hermelo, e Ovelhinha, jun
termo de Pinhel, com foro de sex to á Villa d'Amarante, além de ou :
to de todos os fructos, excepto ver tros foros, devia pagar cada hum
fas, e porros, e frutas das arvores; dos Casaes VI. ferros. L. dos Fo
(mas ainda destas faciant mihi ser raes Velhos. No de 122o, e 1258
vitium.) Além disto huma Ochava se achou hum grande número de
de trigo, e outra de centeo: e que Casaes, ou Fogueiras em terra de
cada hum dos moradores, ou Em Panoyas, que pagavão ferros de fo
phiteutas, podéssem fazer a sua co: (que alguem se persuadio se
Ferr㺠de huma Ochava, e não mais: rem ferros para fogoens, ou trafo
suam ferraginem de singulis Ochavis, gueiros; mas a verdade he, que não
dº non plus. Doc. de Viseu. V. Ochava. tinhão mais destino na sua origem,
FERRAGIAL, e Ferraginal.Ter que as Ferraduras, no sentido aci
ra semeada, ou que se costuma se ma exposto.) E nas Inquirições
mear de Ferrãa, a que hoje cha Reaes daquelles annos se declara,
mão Ferregial, Doc, de 12o2. que alguns destes Casaes pagavão
CS
FE FE 447
estes Ferros a dinheiro. E o decla lamos aqui da Purgação do Ferro
rarem, que erão de foco, bem cla 4uente , e lançando chispas, que
ramente nos diz, que era Pensão, vulgarmente se # daquelas
que se pagava, pelo Fogo, que se pessoas , que pela idade, estado,
fazia. V. Fogo, e Fumagem. sexo, ou condição não podião, ou
Por occasião dos Ferros, ou Fer não costumavão entrar em Duello.
:
raduras , não será desacerto dizer Desde o VIII. até o Seculo XIII.
mos aqui alguma cousa do Ferro são infinitos os exemplos, que se re
quente, (a que chamavão Ferro cal ferem desta superstição, a que cha
do) dos Ferreiros, e Ferreiras. mavão sem razão juizo de Deos. O
S. I. E primeiramente aquelle ori Ceremonial, que nisto se observa
ginal prurído de saber o homem o va por Lei Ecclesiastica, e Civíl se
que mais se esconde ás suas vistas, reduzia ; á Confissão Sacramental,
: o lançou em mil superstições, e fa e Communhão , e rigoroso jejum
natismos, chegando para este fim a de tres dias, que devia fazer o ac
ter pacto com o mesmo demonio, cusado ; varias Preces , Bençãos,
que he o pai da mentira. Não só Orações, exorcismos, e aspersões
por entre a Gentilidade; e Paganis da parte do Sacerdote; e finalmen
mo teve uso o Ferro em braza, le te a certa figura, e pezo do ferro,
vado nas mãos, ou calcado aos pés, espaço, ou distancia, a que devia,
para se descobrir a innocencia, ou ou ser levado nas mãos, ou calca
culpa de algum accusado de crime, do aos pés; e precauções escrupulo
segundo ficava lesado, ou illeso; sas, que se devião tomar, para que
mas ainda com a Religião Santa se se não impedisse , enervasse, ou
foi introduzindo tão desmarcado abu rebatesse com algum remedio, com
so, e se manteve por dilatados an posição , ou encanto a virtude do
: nos , rebuçado sempre com appa fogo. O nosso Portugal não deixou
rencias de piedade, e maravilha; sen de ter parte neste Juizo, que o de
do unicamente a ignorancia, e sim monio inventára, que o fanatismo
pleza # tempos a quem se introduzíra , e que os Successores
póde attribuir esta louca, e supers de S. Pedro, os Principes, e Con
ticiosa esperança, de que o Gran cilios até os principios do Seculo
de Deos houvesse de alterar sem XIV. trabalhárão para exterminar da
causa as Leis Cosmologicas, que des Igreja , e da Républica._Junto ao
de o principio dos tempos estabele Sepulcro do Veneravel D. Garcia
leceo, como invariaveis á sábia, e Martins, Commendador de Lessa,
rendida natureza. O Duello, ou Des se conservou por muitos annos hum
afio, a Agua fria, e a quente, e o ferro de arado , que a mulher de
Ferro em braza, forão as provas mais hum Ferreiro levou em braza até
ordinarias , que admittião nos cri aquelle Santo Lugar sem a mais le
mes, que humanamente se não pro ve queimadura, para mostrar a sua
# vavão: e a isto chamavão Purgação innocencia no adulterio, de que fal
Canonica, ou Purgação Valgar, de samente era accusada, como se pó
que se podem ver os Canonistas in de ver no Agiolog. Lus. I de Maio.
Cap. Consuluisti, & in Cap. Ex lite Letr. g. Em Arouca , diz Brandão
ris, ó" in Cap. Dilecti. Nós só fal T.III. da Monarch. Lusit, º se con
SCI
#
448 FE FE
serva a Dôação que D. Tareja Soa Fabricadores do ferro menos attendi
res fez áquelle Mosteiro no de 1254. veis, que os Excavadores, e Obrei
E nella se faz menção , em como ros dos metaes mais preciosos, mas
desconfiando seu marido da sua ho nem sempre , e absolutamente os
nestidade, e accusando-a de adul mais precisos. Não se escondeo isto
terio , ella não permittio , que os á penetração dos nossos primeiros, e
seus Parentes, (que erão dos mais Augustissimos Soberanos: o Conce
honrados de Riba-Douro) defendes lho de Felgueiras junto a Moncor
sem a sua innocencia por desafio; vo, abundantissimo de ferro, (ain
mas antes a quiz ella mesma vin da que naquelle tempo pouco cul
dicar pelo Ferro quente na Cidade tivado) mereceo muitos, e signifi
de Braga. Então o marido admira cantes Privilegios para todos os que
do, e reconhecendo o seu erro, se alli se occupassem nas Fabricas de
lançou a seus pés, pedindo perdão; fazer ferro, e em tudo o que per
mas ella voltando-lhe as costas pa tencia á Ferraría daquella terra. De
ra sempre, e acompanhada dos seus huma Sentença d'El-Rei D. Duar
Parentes, se foi sepultar em Arouca, te de 1436 consta que os Ferreiros
para que a sua muita formosura não daquelle Concelho, (isto he, os
1epetisse occasiões á sua ruina; não que trabalhavão na extracção, e fa
obstante que já tinha tres filhas, e ctura do ferro) não devião servir os
hum filho. Outros muitos factos se encargos da Républica, nem servi
vírão dentro deste Reino, que por rem de Andadores, ou em cousa al
serem identicos não precisão ser re guma, que pertencesse ao oficio de
feridos. Accrescento só, que na Jor Andoria. Doc. da Torre de Mon
nada de D. Fr. Aleixo de Menezes corvo. Daqui se vê não ser tão des
ás Serras do Malavar L. II. Cap. IV. presivel o Oficio de Ferreiro na
se diz, que os Juramentos daquel quelles tempos de menos vaidade,
las gentes se fazem: ou mettendo a em que a utilidade pública preva
mão em huma certãa de azeite fer lecia a tudo.
vendo: ou tomando nella hum ferro em Com efeito no L. das Dôaç. das
braza: ou passando a nado algum dos Salzedas a f. 31. W. achamos , que
rios cheios de lagartos: e dizem, que Fernão Martins Ferreiro era casado
se fallão verdade , nada disto lhes com D. Agueda no de 1227, em que
faz mal : que tão enganados como dôárão áquelle Mosteiro huma vi
isto traz o demonio aquelles mise nha em Ermamar, onde chamão Val
raveis!.. de Nacar; com obrigação de os to-.
§. II. Mal se poderia sem ferro marem por seus Familiares, e os fa
passar huma vida civilisada, e pro zerem participantes de todas as boas
ver-se a Républica de tudo o que obras daquella Abbadia, e serem con
podia fazer a sua segurança, com duzidos a ella depois de defuntos pe
modidade, e sustento. Nem a Lavou los mesmos Monges, para alli os se
ra, nem a Architectura, nem a Mi pultarem. E os Dóadores, em quanto
licia , nem as outras Artes mecha vivos, darião annualmente por dia de
nicas, que tantas utilidades nos for S. Martinho huma Pitança de XVII.
necem, poderião sem ferro ter al teigas de pam cosido, XX. pescadas.»
guma perfeição. Não são logo os e dous modios de vinho, e por sua mor
f6
FE FE 4.49
… te os contemplariam do milhor modo, Até o anno de 15 17 fazião estas
que puderrem, no seu Testamento. No duas Villas hum só Concelho: El
Agiolog. Lusit. a 9 de Abril, L. c. Rei D. Manoel as dividio, assim
se faz menção do Grande Affonso como erão diferentes os Bispados.
Fernandes Barbuz, natural de Ar Assim consta pelos Doc. de Tho.
rifana de Sousa, (hoje Cidade de mar, nos quaes humas vezes se cha
Penafiel) de Illustre Prosapia, e fer ma Ferrarius, outras Faber, e ou,
reiro por oficio , que fioreceo em tras Ferreiro o dito Pedro.

Santidade, e Virtudes. Elle foi o Mas ninguem se persuada , que
Author de se encommendarem as al este Pedro Ferreiro era algum ofi
mas á noite com a campainha: ac cial mecanico: tinha aquele appe
ção piedosa, que em algumas par lido pelas razões, que hoje não sa
tes se usa, dando humas tantas ba bemos. El-Rei D. Afonso II. deo
daladas no sino. hum illustre testemunho da sua qua
§ III. Resta dizermos alguma lidade, confirmando-lhe a Dôação,
cousa sobre a razão de se dar o no que seu Pai D. Sancho I. lhe havia
me de Ferreira a algumas Povoa feito, dando-lhe de juro, e herda.
ções desta Monarchia. Que de Fer de huma grande porção de campo,
ros, Ferraduras, Fabricas de ferro, e terreno, que judicialmente lhe fez
ou Oficinas , em que elle se lavra demarcar, no sitio, que chamão os
va, a que chamavão Ferrarias, lhes Ordiaes, que parte com o termo de
proveio o nome de Ferreiras , pa Thomar : e isto em remuneração
rece incontestavel. Pelo que disser dos seus serviços. Feita a Carta em
mos de humas se poderá ajuisar das Santarém em 5 de Julho de 1 191.
outras. A Villa de Ferreira no Alem A Confirmação d’El-Rei D. Afon
Tejo entre o Torrão, e Béja, desde so está Original : não tem anno,
tempo immemorial tem por Armas, mez, ou dia: teve sello de chum
ou Brazão huma Matrona, com dois bo por cordões de seda amarella:
malhos , ou martellos de ferreiro entre os que forão presentes se achão
nas mãos. E ta insignia per si mes assignados D. Estevão Arcebispo de
ma está mostrando donde viria o Braga, Pedro Rodrigues Capellão d'El
nome a esta Povoação, notavel já Rei, Goufalo Mendes Cancellario d'El
no tempo dos Romanos, segundo Reis, D. Martinho Annes Alferes d'El
se póde colligir pelos vestigios, e Rei, D. Pedro Annes Mordomo d'El
ruinas, que junto della se encontrão. Rei, Pedro Garcia Repositario (Re
No de 1222 Pedro Ferreiro , e posteiro , ou Guarda-roupa) d'El
sua mulher Maria Vasques derão Fo Rei, Vicente Mendes Porteiro d'El
ral aos que actualmente andavão po Rei; principia deste modo:
voando huma sua Herdade nas mar Ego A. Dei Gratia Portug. Rex.
gens do rio Zezere , que vocatur Notum esse volo universis , ad quos
de novo Villa Ferreira , sem dúvida presens Scriptura pervenerit, quod Pe
para conservar o appellido de Fer trus Ferrarius fuit Homo Patris mei,
reiro. Esta Villa pertence hoje ao cº de sua creatione , & suus bales
. Bispado de Coimbra , e fica fron tarius, Óº servivit ei multum. Et si
teira a Villa Rei da outra banda do militer est meus Homo , Óº de mea
rio , e já no Bispado da Guarda. creatione, & meus balestarius , &
Tom. I. Lll J61 -
45.O FE FE
servivit mihi multum in Monte Maio nós já vimos acima, que artes de
ri. Propter quod Ego, Óº Uxor mea, 1 191 havia quem se prezava do ap
& Filii nostri, & Successores mostri pellido de Ferreiro. E nem o chamar
ipsum, Óº filios suos, Óº genus suum se Ferreira a terra , de que Rui
tenemur diligere , defendere, Ó am Pires era senhol, basta para dizer
parare. Sciendum est enim, quod pro mos, que della se intitulou de Fer
pter servicium, quod ipse fecit Patri reira; sendo certo, que já desde o
meo, ipse dedit ei Hereditatem de Or principio do Reino havia mais ter
diales, de qua ci Cartam fecit, cu ras com o nome de Ferreiras. Co
jus tenor talis est : In Dei Nomi mo quer que seja , ele he certo,
ne, &c. ue Fernão Jeremias foi hum dos
A este mesmo Pedro Ferreiro dôá # , que do Reino de Leão
ra D. Sancho I. a Herdade de Val vierão a Portugal com a Rainha D.
dorjaens, que he no termo de Tho Thereza, mulher do Conde i). Hen
mar , no de 1 19o. No de 1225 a rique, a qual o casou em Ferreira
deo o mesmo Pedro Ferreiro aos Temcom D. Maria Soares, filha de Soei
plarios. Mas não só esta : tambem ro Viegas, fundador de hum Mostei
no mesmo anno, e no mez de Maio, rinho para Eremitas, junto á Capel
ele, e sua mulher Maria Vasques, la de Santa Eufêmia, (que já no seu
e sua filha Maria , fizerão Dôação tempo era antiga) o qual sua ne
por sua morte á Ordem do Tem ta D. Maior Soares ampliou , en
plo das suas Herdades de Ordeaes, riqueceo, e finalmente transformou
e de Villa Verde ; com condição, em Mosteiro de Religiosas de São
que nunca esta fazenda se poderia Bento, como abaixo mais largamen
alienar do serviço , e propriedade te se dirá.
da dita Ordem. Além disto: Man Nas Inquirições d'El-Rei D. Af
damus ibi meliorem bestiam , quam fonso III. de 1 258 se diz: quod Fer
tunc habuerimus, et nostram loricam, reira fuit populata per Reginam D.
dº mostras caligas ferreas, Óº capel Tharasiam, matrem D. Afonsi vete
lum ferreum , Óº scutum , Óº lan ris, Regis Portugalie; et dedit popu
ceam, Óº spatam, Óº perpuntum, Óº latoribus Cartam de foro , quam ha
duas balestas de corno cum suis car bent: Quod Reges miserunt Judices in
raxos plenis de sagitis , Óº mostrum Ferreira: et quod unus de istis fudi
temptorium: Et ad sepulturam, San cibus fuit D. Froya de Vauga, et al
cte Mariae XX, morabitinos. Et quis ter fohanio de Ribeiro , & c. Estes
ex nobis in hoc saeculo remanserit, banc dois Juizes, depôz o actual Juiz,
nostram mandam compleat. Doc, de João Fernandes, que forão postos
Thomar. E tal era a inteira arma em Ferreira successivamente por El
dura de hum militar daquelle tempo. Rei D. Sancho I. E outras testemu
§. IV. Tambem Ferreira d'Aves nhas disserão, que já El Rei D. Af
no Bispado de Viseu, se faz dig fonso Henriques alli mandára serem
na de indagarmos a origem do seu Juizes Monio Mendes, e Pedro Oydiz,
nome. Esta, dizem, he o solar dos E que El-Rei D. Afonso II, igual
Ferreiras ; sendo Rui Pires, bisne mente alli mandára por seus Juizes
to de Fernão Jeremias o primeiro que a Gonçalo Moniz, a D. Pedro de Vil
usou do appellido Ferreira." Porém la, e D. Froya de Vouga, e 3… Ri
tf
FE FE 45 I
beiro: e todos estes erão mandados, mais, que promover a população,
e confirmados por Carta d'El-Rei. fazendo-a Concelho sobre si, e dan
E mesmo em huma Carta d'El-Rei do-lhe particulares Leis, porque se
D. Sancho I. se determinava: Quod governasse: o que se dizia naquel
Concilium fieret semper in Sancto An les tempos Povoar huma terra. No
drea: et defendebat Dñs Rex sub pe Foral de Aguiar da Beira, (que sa
na de quingentis solidis, quod nullus bemos ser já Concelho, com Cas
esset ausus venire, nec malefacere ip tello, e Igrejas no tempo d’El-Rei
sis suis Judicibus. E perguntados al D. Afonso Henriques, que lhe deo
guns: Quare Reges non miserunt fu Foral, confirmado por El-Rei D.
dices alios post ipsos?... Disserão: Affonso II. no de 1 22o, como se vê
Oitod per negligenciam populi, qui nom no L. dos Foraes Velhos, diz El
demandavit Judices Regi. E eis-aqui Rei D. Afonso III. no de 1258:
temos o Concelho de Ferreira d'A Do, et concedo vobis omnibus Popula
ves com juiz de fóra já desde o toribus de Aquilari de Beira, presen
principio da Monarchia, (assim co tibus, et futuris, ipsam meam Villam
mo o de Côta seu vesinho) Rega de Aquilari, cum omnibus terminis suis
lia, que deixárão perder; introdu novis, et antiquis, & c. E neste sen
zindo-se os Senhores da terra a pô tido he que a Rainha D. Thereza
rem Juizes , que nem sempre fo fez povoar a terra de Ferreira.
rão os mais proprios para felicitar o Longe daqui atrevimentos, e fic
Povo. ções poeticas, que nos propõe hu
Por este irrefragavel Documento ma notavel, e famosa Cidade no Con
se evidencía, que a Rainha D.The celho de Ferreira. Nós só no senti
reza fez povoar esta Terra, e lhe do, que ensinuamos V. Cidade, he
deo Foral. Quanto á Povoação nin que nos persuadimos seria Ferreira
guem se persuada, que Ferreira não Povoação Notavel, muito antes da
tinha Povoadores alguns nos prin Rainha D. Thereza. Não voltare
cipios do Seculo XII., e que esta mos ao tempo dos Godos, e me
va reduzida inteiramente a matagaes nos dos Romanos; pois inteiramen
bravíos, e sem cultura. Ella não fez te nos faltão os Documentos. (a)
Lll ii Pe

(4) He bem de crer, que no tempo em que Roma florecia , era frequentado, e não
inculto este montuoso , e pouco agradavel trato de terra; segundo podemos colligir das
muitas Medalhas de prata , e cobre, que neste presente anno de 1796 ali se descobrí
rão, assim dos Imperadores, como Consulares, ou das Familias Romanas: as de prata
em hum sitio entre Ferreira, e Barrellas, e as de cobre em hum Monte subranceiro ao
XValle da Ribeira, juntas com varios instrumentos de ferro , assim domesticos, como de
lavoura, ou fabris, consumidos já da ferrugem; mas que ainda nos Poderião informar do
seu uso, gosto, e feitio, se a rusticidade de quem os achou os não abandonasse , e des
truisse. Daremos tão sómente a figura de duas, que por occasião dos Jogos Equestres, ou Cer
censes forão cunhadas: no exergo da primeira se vê Lucio Julio Bursio regendo hum co
che de quatro cavallos no Circo Maximo, e huma Victoria está pondo hnma corôa so
bre o nome do Cesar: no anverso se vê o busto deste vencedor, com os symbolos de hu
ma roda, e hum tridente em honra do Deos Neptuno, que no dito Circo se adorava. No
reverso da segunda se vê igualmente a victoria, que conseguio nestes jogos Circenses Cayo
Kivio Pansa, filho de Cayo , e no anverso se acha o nome , que distinguia a sua Fa
milia, e junto do seu busto se vê hum rato morto, que se oferecia ao Deos. Apollo, a
que na Imagem do Sol se tributavão alli # adorações. Os mais intelligentes jul
garáô de outro modo: ellas são as da Tab. 5, n. 12, , e n. 13. •
452 FE FE
Pelo que se acha no T. XIX, da Her não padece a menor dúvida á vista
panh. Segr. af. 349., sabemos que dos Documentos de Lorvão , que
a Diocese de Lamego se achava re nos pintão o Bispado de Viseu por
parada de Igrejas, Clero, e Povo, então quasi hermado, e no Seculo
nos principios do Seculo X. E da XI. muitas Igrejas restituidas de no
qui inferimos, que a de Viseu des vo em terras de Apresuria, como se
fructava a mesma felicidade, achan póde ver nesta palavra. E não me
do se constantemente residentes nel nos por hum Doc. de Arouca de
la os seus Prelados desde Gundemi 1o91 se manifesta , como aquelle
ro que o era no de 905 até Iqui Territorio muitos annos depois de
la, que a governava ainda no de 925 foi destruido pelos Sarracenos,
981. Neste tempo de paz, ou ao e logo reparado pelos Christãos an
menos de tregoas, respirou a nos tes de 975 , em que novamente o
sa Christandade , reparárão-se as assolárão: e finalmente, que só no
Igrejas , e muitas se fundárão de de 1oor, he que começou cada qual
novo. Huma destas foi a de Santo a povoar a sua herdade, ou a alheia;
André no Concelho de Ferreira. visto que de muitas os donos havião
As Reliquias deste Santo que des faltado , e de quasi todas as bali
de a Cidade de Patraz na Achaia, zas se havião confundido: Populavit
(hoje Moréa quasi na boca do golfo omnis pupulus quisquis suam, vel alie
de Lepanto) forão trasladadas para nam bereditatem. Então se reparárão
Constantinopla no quarto Seculo, os Templos, e restituírão os Alta
e daqui para Amalfi em o IX., der res. Ferreira, por tão visinha, não
ramárão a devoção do Santo Apos deixaria de experimentar a mesma
tolo nesta Região Occidental. No fortuna: experimentou-a sem dúvi
de 87o achamos nós em o Mostei da, e a Igreja de Santo André foi
ro de Pendorada a Fundação da Igre reparada, quanto permittião as an
ja, e Mosteiro de Sozelo com # gustias daquele tempo; e mesmo
tulo de Santo André: depois deste
se erigírão outras neste Concelho de
tempo he frequente entre nós a me litimada fabrica , e insignificante
moria deste Santo. renda. •

Seguio-se logo no de 996 a des Assim continuavão as cousas,


truição de Almançor, que não dei quando a Rainha D. Thereza, ha
xou pedra sobre pedra nos Templos, vendo feito Mercê desta Terra a
arrasando igualmente os Lugares de Fernão Jeremias lhe passou Foral
fensaveis. E que o Castello de Fer no de 1 126; (a) dizendo que o dá
reira fosse envolvido nesta ruina, aos Homens, e Povoadores de Ferrei
7"á!

(a) Acha-se este Foral na T. do T. Maço 1. de Foraes Velhos N. 15 com a seguin


te data: facta Klá notum die , quo erit viii. K. decembris. E. I. C. 2xxiiii: que vem a
ser a 25 de Novembro de 1 136. Ora ele he incontestavel, que a Rainha D. Thereza fa
leceo no de 1 129, ou ao mais tardar, no de 1 13o: como existia logo no de 1 136 ? E
nem o prejuizo, em que se tem estado, de que este Doc, he original, póde contradiº
zer a verdade; pois basta só reflectirmos no facta escrito com dois f pequenos, para fi
carmos desenganados, de # he huma mera copia do Seculo XIII. em que só apparece pela
primeira vez semelhanre Orthografia. Então he que se copiou o dito Foral, confirmado pelo
Infante D. Afonso Henriques no dito anno de 36 ; segundo o estilo daquelle tempo,
em que se não praticaváo as formalidades do presente.
FE FE 453
ra d'Aules. Que Aules seja traduc ral, que a dita Rainha deo a Fer
ção do Latino Aler , que significa reira d'Aules hum Concerto, ou Com
ave, e que daqui lhe viesse o cha posição amigavel, que o Mestre do
mar-se hoje Ferreira d'Aves, nós o Templo D. Gualdim Paes de Mareco,
suppomos. Igualmente nos persuadi Arnaldo da Rocha, e outros seus Fra
mos, que esta ave outra nao era , des, no mez de Junho de 1 156 fi
que o Avestruz (e não Ema) com zerão com Pelagio Fernandes , e
huma ferradura no bico , que em Pelagio Pires, e com suas mulhe
Ferreira se via já antes da Rainha res, Mayor Soares, e Marinha Soa
D. Thereza. Se as Armas, ou Bra res. Por este Doc. se convence, que
zões das Familias entrárão em Por a huns, e outros pertencia a Vil
tugal com o Conde D. Henrique, la de Ferreira; pois se contratárão,
como diz Estáço no Tratado que es de que as coimas fossem a meias
creveo da sua Familia, eu o não dis entre os Templarios, e os ditos Se
puto: (a) o que se tem por averi nhores: e que todos tivessem igual
guado he, que Rui Pires de Fer dominio na Igreja, e seu Abbade,
reira, bisneto de Fernão Jeremias, á proporção, que o tinhão na Villa.
tomou por Armas em campo ver Mas parece, que não residírão aqui
de quatro faxas de ouro, e por Tim os Templarios por muitos annos, nem
bre a mesma ave com huma ferra se occupárão na restauração do Cas
dura de ouro no bico. E deste mo tello, (cuja cantaria se empregou
do ficamos em dúvida: se de ferra depois inteiramente no magestoso
dura do Avestruz, se disse Ferreira Templo de Santo André, e outros
este Concelho: ou se chamando-se já edificios) e que estabelecidos já no
d'antes Ferreira, se lhe deo por Eih Castello de Soure, fronteiro aos Mou
preza huma ave, que comendo ofer ros, trocárão com os da Ordem do
ro, (posto que o não digíra) se lhe Hospital o que tinhão em Ferreira
podia chamar Ferreira; alludindo ao d'Aves; pois não apparece dos pri
Povo, que com o mesmo nome se meiros alguma outra noticia; achan
distinguia. - do-se os segundos residentes no Lu
Se antes de 1 129 houve Templa ar de Car-Freires no tempo d'El
rios no Castello de Ferreira , assim # D. Diniz ; como se vê pelas
como os houve em Font’arcada jun Inquirições neste Concelho; e o
to ao Porto, por Dôação da Rai mesmo nome , que presentemente
nha D. Thereza , não he cousa de conserva o Lugar, bem claramente
que nos restasse alguma certeza : nos diz, que alli era a Casa dos Frei
conserva-se porém junto com o Fo res. Estes sem dúvida pertenderião
• • que

(a). Estes sinaes hereditarios de extracção, e Dignidade nada tem de commum com o
Jeroglíficos , ou Emblemas , que cada hum fantasiava para ornamento dos seus Escudos,
e que muitas vezes trasladavão ás pedras, bronzes, páos, taboas, ou Paanos por, meio
dos sizeis, agulhas, escopros, e pinceis. Ainda que os AA. não estejão acordes sobre º
tempo, e o Paiz, em que a Arte Heraldica, ou do Blasom nascesse , os que melhor
sentem a attribuem aos Francezes pelo meio do Sec. XII. E com efeito antes de 115o não
apparece hum só A., que della tratasse. Dizem , que principiando nos Torneamentos cé
lebres dos fins do Sec. X., se augmentou com as Cruzadas, e por fim se veio a com
Pletar nas Juitas, e Feitos d'Armas do Sec. XII., segundo se acha no Diccion. Raís. V.
Armoiries.
454 FE PE
que os Actos Judiciaes se fizessem tos. Proinde ego Petrus Pelagii, una
junto da sua residencia, o que não cum fratribus meis Egea, Suerio, Fer
permittio D. Sancho I., mandando, mando , Memendo, Johane, Alfonso,
que se fizessem sempre em Santo Martino, Dordia, Maria, Tarasia,
André, como cabeça do Concelho, Marina , et Maiore Pelagii, firmam
para não privar o Castello desta Re facimus dimissionis , et firmitudinis
galia. Entre os mais bens, que os Cartam vobis mostrae Karissimae Ma
Hospitalarios (hoje Maltezes), alli
tri Mayore Suerii , de quinta, scili
adquirírão, forão dois Casaes, e hum
cet, parte omnium haereditatum, que
nobis ex parte nostri Patris, et Ma
puçal de vinho, que lhes deixou D.
Martinho Paes, Bispo da Guarda, tris attinebat , et de tota Hermida
pelo Testamento, com que faleceo Sanctae Eufemiae, et de quinta parte
na Curia, no de 1 226, havendo-o medietatis aliarum haereditatum, quas
feito antes, que sahisse do Reino, cum Patre mostro adepta fuistis ; ut
no de 1225, e do qual se conser amod) in honore Dei, er Sanctae Ma
va huma imperfeita copia no Mos riae , Sanctique Benedicti ipsa praedi
teiro de Santa Eufemia. \
cta pars integra semper sub jure sit,
D. Mayor Soares, viuva já de et dominio predictae Ecclesiae Sanctae
Pelagio Fernandes, se propoz o me Eufemie , et ibi babitantium. Sed si
lhoramento deste Mosteiro. Ella co forte nos , vel aliquis nostrorum pa
mo Padroeira o povoou de Reli rentum, sive extraneorum, aliqua fue
giosas de S. Bento ; levando em rimus presumptione commoti , et il
vista o recolher se nelle com algu lam vobis, vel vestris Successoribus,
mas de suas filhas, sobrinhas, e pa aut praedictae Hermidae S. Eufemie au
rentas. No de 1 163 já alli estavão .ferre, vel in aliquo infestare, minue
Religiosas; pois neste anno trocou re, vel perturbare voluerimus, quis
ella com Maria Dias, e seus filhos quis mostrum fuerit ausus, vel ausa;
huma herdade , que estes tinhão, quantum vobis inquisierit, tantum vo
junto a Santa Eufemia, dando-lhes bis, vel vestris Successoribus, et ei
por ella outra in Duas Ecclesias, e dem Ecclesiae S. Eufemiae in duplum
continúa : Habeatis vobis illa firmi componat : e insuper, usque in septi
ter , Óº ipsas Sorores , que semper mam progeniem sit maledictus , vel
fuerint in S. Eufêmia , cunctis tem maledicta , excommunicatus , vel ex
poribus seculorum. No de 1 17o te communicata, et cum juda Traditore
mos nós hum bello Doc, que nos in Inferno perpetuas lugeat panas. Qui
faz ver a influencia desta # vero eidem Ecclesiae plus benefecerit,
no augmento deste Santo Domici plus sibi mercedis à Domino retribue
lio, e he o seguinte: tur. Facta dimissionis , et firmitudi
In Nomine Sanctae , et individuae nis Carta, mense Februarii E. M. CC.
Trinitatis Patris, et Filii, et Spiri XIII. Nos vero predicti Fratres, Pe
tus Sancti. Amen. Jure pariter cogi trus, reilicet, Pelagii, Egeas, Sue
mur, et natura dignam bone Matrir rius, Fernandus, Menendus, fobanes,
assequi voluntatem, justitiae quidem, Alfonsus, Martinus, Dordia, Mari
et rationis debitum est, illius diligen na, Maria, Tarasia, et Mayor Pe
ter afectui obedire, ex cujus sanguine, lagii, qui banc Cartam vobis, nostrae
nor constat, et origine existere procrea Matri Mayore Suerii scribere jussi
mus 2
FE EE 455
mus, coram idoneis testibus eam vo herdade a D. Godinho, Albade de
bis, et Hermidae S. Eufêmiae robora S. Pedro de Arouca, e aos seus Fra
mus, et bec sig-J—J—J—J—J— des. No de 1285, em Março, lhe
J—J—J—J—J——na facinus. fizerão outra Gonçalo Zacharias, e
Oui presentes fuerunt Veila Trastemires; e em Dezem
bro do mesmo anno lhe fez outra
Johannes Archiepiscopus Bracharen
J13 - - - - - - - - TJ.
Fridixilo Egikazi. No de Io91 se
Johannes Prior Sanctae Crucis - ts. intitula Godino Presbytero, & omni
bus Fratribus de S. Petro de Arau
Martinus Abbas Alcobaciae - - ts.
Garcia Venegas - - - - ts. ca, e no de 92 lhe vendêrão algumas
Egeas Muniz - - - - - ts.
herdades a elle, e seus Frades: Ti
Martinus Venegas - - - - rs. bi Godino Presbytero , & Fratribus
Petrus Gomez Frater - - ts. tuis. Em 1o94 o intitula Prior D.
Petrus Subdiaconus notavit. Cresconio Bispo de Coimbra, ( e
juntamente de Viseu, e Lamego)
De concerto com os bens tempo na larga Dôação, que lhe fez em
raes entrou nesta Casa a Observan Agosto do mesmo anno : Tibi Go
cia Regular. E assim já no mez de dinus Prior, & Fratribus , qui ibi
Maio do mesmo anno achamos alli Deo servierint. Porém logo no de
por Abbadessa a Maria Fernandes, 96 Fr. Sesnando o intitula Abbade
a quem Sancha Pires fez Dôação de Monges na Dôação , que fez
da sua herdade de Barreiros. E da de muitas fazendas a este Mostei
ui se vê a razão, porque em hum ro. Desde 1o98 se intitula constan
# de 146o disse Pio II., que temente Godinho Prior; sendo que
este Mosteiro á primeva ipsius fun já no de Io78 Bonimenzo Argeme
datione pro Cohabitatione unius Abba riz fez Dôação de tudo o que ti
tisse , & nonnullarum Monialium, nha em Oliveira . e Lamas: Tibi
praefati Ordinis, (S. Benedicti) fun Gudinus Abbas , vel Fratribus , qui
datum, Óº dotatum fuisse, e a pou ibi Deo servierint... ut semper ser
ca, ou nenhuma, que teve o Au viat ad tolerantiam Monacorum. Nem
thor da Benedict. Lusit. para dizer se diga , que sendo Mosteiro Du
com o vulgo, que do Barrocal se plex , forão as de Ferreira ensinar
mudárão as Religiosas para Santa as Religiosas, e não os Monges;
Eufemia de Ferreira no de Io64, em pois só no de 1 ro5 se póde infe
que principião as suas memorias; e que rir , que ali houvesse Monjas pe
no de Io91 forão daqui algumas en la Dôação de Onega Ermiges, que
sinar os estillos da Ordem ás do Mos deixa certas fazendas : Ad Fratri
teiro de Arouca; pois a Tradição do bus, vel Sororibus , que ibi fuerint.
Barrocal, (onde hoje vemos huma E o mesmo por outra da Famula
insigne G") nem apparencias de Deos Godinha, e seu filho Men
tem de verdade, e pelos Doc. Ori do no de 1 1 14. Ut deserviant ipsi
ginaes de Arouca se evidencía, que Monasterio, & ad Fratres, aut Só
muitos annos antes, e depois de rores , qui ibidem habitantes fuerint.
1o91 foi aquelle Mosteiro habitado Em ambas estas Dôações se não
or Monges. No de 1o82 fez o faz menção de Abbade, nem de Prior.
onge Cresconio Dôação de huma Na E. M. C. 2XXXVI. o Famulo
de
456 FE • FE
de Deos Pelagio Odoriz fez Dôação mais que lhes pertencia em Alma
ao Prior Godinho, e ao Mosteiro de kavi, e Lamas; e dizem que con
S. Pedro de Arouca de metade da cedem tudo isto: Nostra Matri, Óº
sua igreja de Santa Marinha de Oli filias vestras Dordia , Tarasia , Óº
veira , e de metade de huma her Mayor Pelagii. Não tem dia, mez,
dade, que tinha junto de Arouca, ou anno este Doc.; mas sem dúvi
e diz: Habeas tu Godinus Prior, vel da foi antes de 1 183, em que seu
Fratres, aut Sorores, qui ibi Deo ser filho Martinho Paes, Abbade de San
vierint in omnibus temporibus saeculo to André de Ferreira, (que depois
rum. Daqui se vê que no de 1 148 foi Bispo da Guarda) dimittio ao
ainda em Arouca residião Monges; Mosteiro de Santa Eufemia, em con
e residírão até o de 1 154, em que templação de huma sua irmã, que
D. Tóda fez delle Dôação á Abba alli era Prioreza , todos os Dizi
dessa Elvira Annes, e ás suas Reli mos das terras, que o dito Mostei
giosas. V. Firma. E por estes , e ro fizesse agricultar em toda a sua
outros Doc, se patentêa, que des Freguezia, que se extendia desde
de o meio do Seculo XI. até depois o Vouga até o Paiva. Eis aqui a Es
de 1 148 residírão Monges em Arou critura desta dimissão:
ca, e só depois que D. Tóda no de In Nomine Domini. Ego Martinus
1 154 dôou este seu Mosteiro, he Pelagii , autorilate Episcopi Viscºsis
que passou a ser de Religiosas Be Joannis, Óº Germanis meis autorizam
nedictinas, ( em quanto no de 1224 tibus, ó Parochianis, tibi Prioris e
não passárão para o Habito, e Or é. Eufêmiae, germane meae, dº Suc
dem de Cister) e que nestes ter cessoribus tuis, facio firmitudinem de
mos não era praticavel hirem as Re omnibus Decimis omnium laborum,
ligiosas de Ferreira, que ainda não quos propriis imprensis, Óº propriis bo
existião, reformar hum Mosteiro, bus adquirieritis ab ipso rivo Pavi e,
onde os Monges habitavão. No de usque Kouga , sive in terris ruptis,
1 177 era Abbadessa deste Mostei sive non ruptis; videlicet: ut ab hac
ro D. Maria Martins } como se acha die nee Ego, nec Successores mei ha
por hum Prazo, que ela com o beamus licentiam exigendi Decimas ab
Convento, e seus Herdeiros, fize habitatoribus in S. Eufêmia, de labo
*-* • •

rão de humas Casas em Celorico a ribus mantium suarum dumtaxat. Ac


Pedro Soares. •

cºpi autem a vobis propter hoc unum


Passado algum tempo, entrou D. Casale de Pelagii Froes , cum omni
Mayor a viver com tres filhas no bus suis terminis, & illud Testamen
seu Mosteiro de Santa Eufemia. tum Casalis Johannis Alfonsi. Habea
Então he que os seus filhos, e filhas, tis igitur predictas Decimas, absque
a saber: Pedro, Egas, Sueiro, Fer omni contradictione in perpetuum. In
mando Mendo, João, Afonso, Mar super etiam unam in pretium vaccam:
tinho, Maria, e Marinha, lhes di accepi. Si quis vero mostrum factum
mittírão as herdades, que tinhão em irrumpere tentaverit, à Deo sit sem
o Bispado de Lamego, que erão a per maledictur, Óº redat mile soldos.
Quinta de Maçans com suas perten E. M. CC XXV. Nos supradicti, una
ças, dois Casaes em Muimenta, dois cum nostro Concilio, autoritata Visen
em Quintella, hum no Omizio, e o Sir Episcopi.f. banc, Kartam roboramus.
Pe

FE FE 457
Petrus - ts, Menendur - ts. Sueritis si e humilis Minister, Universis, per
f.f. Diocesim nostram constitutis, salutem,
Não sabemos o anno fixo , em dº benedictionem. Karitati vestre, di
que o Mosteiro de Santa Eufemia lectissimi, significamus presentibus,
entrou a ser habitado por Monges. Monachos S. Eufêmiae de Ferraria, in
He de presumir, que por morte de Diocesi nostra positos, in aedificatione
D. Mayor, e suas filhas faria Mar sue Abbatiae, Óº presertim Ecclesiae
tinho Paes esta mudança, recolhen sua noverit aedificata (f. noviter edi
do-se igualmente neste Mosteiro, ficande) & in aliis rebus quam plu
assim como seu irmão D.João Paes rimum indigere. Vestram itaque roga
estava em Santa Cruz de Coimbra, mus attentius fraternitatem in Domi
donde sahio para I. Deão da Guar no , quatinus intuitu Dei, Óº in re
da. Por hum Doc. de 12o2 achamos missione peccatorum vestrorum de ter
que Malada, com seus filhos, e fi renis vestris rebus caducis , Óº tran
lhas vendêrão huma vinha no Lu sitoriis , praedictis karitativé porri
gar de Pinheiro: Vobis Martino Pe gendo misericorditer succurrastis. Qui
lagii, & Monachis S. Eufemie. Não cumque igitur in Ecclesia predicta de
uero decidir, se Martinho Paes ain novo edificata per se, vel per suum
} neste anno era Abbade de Santo operarium steterit, seu operarii prae
André , e Padroeiro de Santa Eufe tium dederit, aut in aliis sibi neces
mia, se aqui era Abbade, ou Mon sariis per unum diem cum bobus, vel
ge : o que se manifesta he, que carro proprio laboraverit: Nos, auto
em Março de 12o2 ainda não era itate Dei Patris Omnipotentis , Óº
Bispo da Guarda, de que só foi Elei B. Mariae semper Virginis , (ad cu
to no de 12o3. E já não parecerá jus vos opus auxiliandum humiliterro
exaggeração, que D. Vicente, seu gamus) é º Apostolorum Petri , Óº
Successor naquella Mitra, allegasse Pauli, é omnium Sanctorum, ó nos
na presença do Arcebispo de Com tri Ministerii, XXX, dis ex injin
postella em Fevereiro de 1243. que ta sibi ligitimè panitentia relaxam us.
a sua Igreja, depois da restauração, Et in bunc modum quicumque eis plus
ainda não tinha 4o annos, depois helemosinae dederit , plus ei condona
que fôra condecorada com a Ca mus. Qui autem latorem praesentium
deira Episcopal ; como se vê do in hospicio receperit, ó" ei pro posse
Processo , de que emanou a Sen auxilium dederit, similiter ei XX, dies
tença da Divisão das rendas, que absolvimus: et qui eum disturbaverit,
alli se conserva no Tit. das Sent. vel praedictis Fratribus injuriam ir
Mass. I. N. 1. rogaverit , sit maledictus , quousque
No de 1226 andavão os Monges lesis satisfaciat. Data apud Wiseum
de Santa Eufemia afadigados na ree JVII. Kalendas Octobris. E. M. CC.
dificação da sua Igreja, e nos edi X. IIII. Valeat usque ad Operis con
ficios da sua Abbadia. Os Bispos de sumationem. — Ego Martinus AEgi
Lisboa , Guarda, Lamego conspi gantensis Eps. XXX. dies eis absol
rárão com o de Viseu em ajudar a vo. — Ego Suarius Ulisbonensis Eps.
obra com os thesouros da Igreja, XXX. dies absolvo. — Ego Petrus La
como se vê pelo Alvará seguinte: mecensis Eps. XXX, dies absolvo.
Nicolaus Dei gratia Visensis Eccle No de 12o7 ainda aqui residião
Tom, I. Mmm Fra
458 FE FE
Frades com seu Prior, chamado Fr. do "Casal de Bordonhos, que he do
Lourenço, como consta de hum Es Mosteiro ; porém desde 145o até
cambo, que elles fizerão com Mi 1455 habitárão nelle os Religiosos
guel Dias, e sua mulher Serra Pi Terceiros de S. Francisco, postos al
res, largando estes toda a sua her li pelo Prelado daquella Diocese.
dade , que tinhão na Veiga junto Mas vendo aquelles Bons Padres, e
ao Mosteiro , e recebendo outras nada ambiciosos, que as Monjas ex
propriedades em Villa Boa de Sa pulsas querião viver regularinente
tan. Porém no de 12o9 já vemos nesta sua Casa, e invigorar as cau
outra vez Religiosas em Ferreira, de sas da sua expulsão; prompta, e li
que era Abbadessa D Maria Fernan vremente lha dimittírão. Novas tor
des, como se vê de hum Escambo mentas alterárão o socego das Re
feito com Gonçalo Viegas sobre os ligiosas , que por authoridade de
Casaes do Castello , e do Carva D. Alvaro Bispo de Silves, e Le
lhal. Esta mesma Abbadessa se acha gado á Latere, elegêrão por Abba
em huma Carta de Venda de cer dessa a Ignez Martins, e proseguí
tos bens , que no de 1228 João rão constantemente na demanda, até
Paes, e sua mulher fizerão ao Mos que no de 146o, e a quatro de No
teiro de Santa Eufemia. Desde es vembro, obtiverão final sentença a
te tempo continuárão aqui Religio seu favor, dada por D. Fr. Fernan
sas de S. Bento até o meio do Se do Abbade das Salzedas, e Juiz
culo XV., em que as Professoras Apostolico , e conservada em Fer
deste Instituto se esquecêrão intei reira no seu original. Desde este
ramente, (e por todo o Reino) das tempo a Virtude, e Santidade es
obrigações do seu Estado, de que tabelecêrão alli o seu domicilio, e
se póde ajuizar alguma cousa pelo abundante de bens temporaes , he
que se disse V. Evazom. A corru hum dos Mosteiros mais respeitaveis
pção dos costumes, seguio-se o des da nossa Monarchia.
prezo dos Povos, e a supressão mes Tambem a Collegiada de Santo An
mo de alguns Mosteiros. /
dré de Ferreira d'Aves deve ser con
Ficára o de Ferreira com seis, ou templada. Principiou ela com menos
sete Monjas por falecimento da Ab perfeição, e com sinco Raçoeiros go
baderra Leonor Pires Mourata, quan vernados, e sujeitos ao Abbade, tal
do D. João de Chaves , Bispo de vez antes do Bispo D. Egas, que
Viseu, lhes não permittio elegerem lhes deo particulares Estatutos. Já
Successora; mas antes as lançou fó no tempo de Fernão Jeremias se ha
ra do Mosteiro, e o reduzio a Igre vião supprimido as Duas Igrejas, de
ja , e Beneficio Secular , unido ao que ainda hoje nos resta a lembran
Mestre-Scolado; dignidade, que de ça em o Lugar assim chamado. Nos
novo instituíra na sua Cathedral. principios do Seculo XIII. se erigí
Forão largas, e renhidas as conten rão duas Igrejas ruraes , a saber:
das , que daqui se originárão. No S. Miguel de Lamas, e Forles; mas
de 1448 por administração, e car estas forão unidas á nova Collegia
go, que então havia do Mosteiro de da pelo dito Bispo D. Egas , que
Santa Eufêmia, fez o dito Bispo Pra o foi desde 1287 até 1313. Corria
Zo a Gonçalo Annes, e sua mulher o anno de 1331 , quando D. Mi
• guel
FE FE 459
guel Vivas, eleito, e confirmado Bis Por occasião de fallarmos em Lo
de Viseu , achando-se de visita po Fernandes Pacheco, notaremos
em o Castello de Ferreira a 3o de que elle era filho de João Fernan
Dezembro, deo nova fórma, e qua des Pacheco: neto de D. Afonso
si instituio de novo a presente Col Annes de Cambra , e bisneto de
legiada ; consentindo nisso os Se Fernão Rodrigues Pacheco , bem
nhores da Terra, Lopo Fernandes Pa célebre em a nossa Historia por de
checo, e sua mulher D. Maria Go fender o Castello de Celorico ao
mes Taveira. Entre outras, cousas, Conde de Bolonha por El-Rei D.
que com muita discrição, e pruden Sancho II., e que dizem foi o pri
cia então se estabelecêrão, foi: Que meiro que tomou o Appellido de Pa
os Raçoeiros podessem ser dez: e que checo. Mas, reflexionando nós, que
chegando a este número, se podessem a Mái de Fernão Rodrigues era D.
chamar Comigos , e ter Deão ; tendo Thereza Pires de Cambra, e da Fa
só Prioste, em quanto ao tal núme milia dos Cambras, famosos em ou
ro não chegarem: que estes novos Be tro tempo, e com Solar no Valle
neficiados guardem á risca , o que o de Cambra, junto ao Rio Vouga,
Bispo D. Egas havia determinado a onde havia no Seculo XII. o Appel
respeito das barbas, e Coroas: que as lido de Pacheco, não podemos sub
rendas Ecclesiasticas de todo este Con
screver aos que fazem os Pachecos
celho se repartissem em tres partes:
tão modernos. (a) •

A 1.° para o Cabido , livre de todo Já vimos V. Deo-Vota , que no


o encargo: A 2.º para o Abbade : E tempo de D. Nicoláo Bispo de Vi
a 3.° repartida entre os Beneficiadas; seu (que foi eleito no de 1193)
tirando-se destas duas partes tudo o Goina Pires de Cambra, Dona Viu
que for preciso para a fabrica, e re va; fez Dôação á Sé de Viseu de
paros da Igreja : que não venção as hum Casal, junto a Cambra: e que
suas porções, senão os que forem pre o Bispo, e Cabido lhe concedêrão
sentes, ou legitimamente impedidos por viver religiosamente na Igreja de
molestia , serviço da Igreja, ou por S. Julião de Cambra, de que ella,
mandado superior na fórma, que o Di e seus irmãos erão os Padroeiros.
reito determina. Estas, e outras mui Ora, que Goina Pires fosse da Ca
tas cousas alli estabelecidas, e ho sa dos Cambras, (hoje extinctos)
je pela malicía , e corrupção dos ninguem o póde duvidar. Ella deo
tempos inteiramente desprezadas, se Fiadores em quinhentos soldos, a
achão nesta Instituição Original, nos saber: Sueiro Pires Pacheka : Pedro
Doc. de Viseu. º . … Mmm ii - Pi

(a) Nas Sentenças, que El-Rei D. Diniz fez dar sobre as Honras , e no Tit. do
Sulgado de Sever a par de Vouga : se lê o seguinte: Em 4 freguesia de S. Maria de
Sever, o Couto, que chamam da Hermida, que he de Santiago de Tarouca. E o Cou
to , que chamam de Legiôo, que foi de Jobam de Barvudo, e óra bé de Pero Afonso.
E outro Couto, que chamam sam: Finz, que foi de Fernam Pacheco. Dizem as testemu
nhas, que os tragem per Coutos per padrooens, (isto he demarcados com grandes mar
cos de pedra) e tragem bi os Senhores seus Vigairos, e seus chegadores : e non dizem
as testemunhas, quem os coutou; nem des que tempo. E em todo o al da freguesia entra
o Moordomo. X Este , , como está. E saiba El-Rei , em que maneira som, contados , ou
quem nos coutou. E aqui, temos que já no Sec. XIII., senão sabia a origem do Couto de
3. Fins, solar sem dúvida dos Pachecos de Cambra : prova luminosa da sua antiguidade
bem notavel,
46o FE FE
Pires de Cambra : e Nuno Pires de da vez para aquelle Reino , por
Cambra, que sem dúvida erão seus haver aconselhado ao Infante D. Di
irmãos ; não só porque estes erão niz, que não beijasse a mão á Rai
os Padroeiros daquella Igreja; mas nha D. Leonor; outra vez foi cha
tambem por se intitularem como el mado por El-Rei D.João I. , e sen
la de Pires, e de Cambra. Se pois do já de 8o annos fez maravilhas
antes do Seculo XIII. já na Casa na batalha de Aljubarrota com os
dos Cambras, (da qual era a Mái seus tres filhos, D. João Fernandes
de Fernão Rodrigues) havia o Ap Pacheco, legitimo, e os dois bas
pellido de Pacheca: que muito este tardos, Lopo Fernandes, e Fernão
seu Descendente se quizesse distin Lopes; que D.João Fernandes Pa
guir com o nome de Pacheco?... checo, vendo que, a sua fidelidade
Além disto, nós sabemos, que mui não era remunerada , se passou a
tas Familias tomárão os seus Appel Castella em companhia de Egas Coe
lidos das mesmas terras , em que lho, e de João Afonso, Pimentel,
tinhão os seus solares. Pois eis-aqui levando comsigo 2oo de cavallo»
pelas Inquirições d'El-Rei D. Diniz entre parentes, amigos, e criados;
de 129o se achou no Julgado de havendo antes desbaratado inteira
Neiva , e na Freguezia de S. Mi mente a João Annes Barbuda, Ge
guel de Cepães, a herdade de Rio neral do Exercito Castelhano, que
de Moinhos, que fôra de Gonçalo, na retirada de Aljubarrota queimou
Abbade de Pachaco: se pois naquel a Cidade de Viseu, e passou á es
le tempo havia a Freguezia de Pa pada os seus habitadores: mãocom
chaco, que mui provavelmente teria munado com o Governador de Tran
este nome, já desde o Conde D. coso, e o Senhor de Linhares, e
Henrique: que nos impede o sus os Paisanos de Ferreira, matárão-lhe
peitarmos, que de Pachaco, se ori 4 booo de cavallo , e de todo os
ginaria Pacheka, e ao depois o Ap destruírão entre Valverde, e Tran
pellido de Pacheco, que os Genea coso. Com a retirada de D. João
logistas vulgares fazem oriundo dos Fernandes, passou a outros o Se
Senhores de Ferreira?... nhorio desta terra. El-Rei D. Ma
A nossa Historia nos oferece fa noel fez Marquez de Ferreira a D.
çanhosas emprezas dos Descenden Rodrigo de Mello, Conde de Ten
tes de Fernão Jeremias. Eu sómen tugal. Hoje he dos Excelentissimos
te direi, que Lopo Fernander Pache Senhores Duques do Cadaval.
co foi hum dos Cavalleiros da Ta FETOR. O mesmo que Feitor.
boa redonda, que forão despicar as Diz-se do homem, e da mulher.
Damas a Inglaterra: que seu filho FETTO. Feito, negocio, con
Diogo Lopes Pacheco foi hum dos trato. E iste fetto permaesca sempry
Conjurados, que tirárão a vida a em sua fortiliza. Doc. das Salzedas
D. Ignez de Castro, e que haven de 1 273.
do escapado ás crueldades d'El-Rei FEU. Tributo, pensão, feudo,
D. Pedro pela virtude da esmola, foro. Tiverão os Feudos o seu prin
foi chamado por El-Rei D. Fer cipio em Alemanha. Dirivou-se a
nando para se servir delle na guer palavra Feudum das letras iniciaes das
ra contra Castella. Fugindo segun seguintes palavras Fidelis. Ero. Vo
bis.
FE FI 461
bis. Domino. Vero. Meo. Pelos an FIADA. Medida , que levava
nos de 1 16o, imperando Federico meio galamim , segundo o Censual
I. , he que se reduzírão a escrito dos Vot. da Mitra do Porto. V. Trolho.
as Leis Feudaes , que até alli pen FIADURA, e Fiadoria. Fiança,
dião só da vontade de quem dava obrigação, que alguem se impõe de
os taes Feudos aos seus vassallos, responder, ou satisfazer por outro,
ou inferiores , com as condições, quando este o não faça, satisdação.
que entre si pactavão. Havia Feu Fazer fiadoria: ficar por fiador. No
dos Rectos , e Feudos Franchos: es Foral da Villa de Moz de 1 162 se
tes erão com postura; promettendo lê: Et si bomine de Molas pro quali
o vassallo ao Senhor # Ser bet fiadoria a medio anno non fuerit
viço á sua custa , e a seu manda requerido, sedeat soltum: Óº si mor
do , com certo número de cavallei tuum fuerit, sint filii, Óº uxor ejus
ros, ou homens de pé, ou outro liberi... Et homo de Molas, qui fia
qualquer, que expressamente se de dor daret , Óº contentor non li suc
terminava: aquelles erão inteiramen currer: qual fiar, tal pecte. No de
te livres, e sem postura. Ainda nos Thomar de 1 174. Qualquer fiadoria,
Paizes, em que mais cedo amanhe que alguem fezer, se a non cumprir,
ceo o Systema Feudal, não foi an segundo dereyto, peytea. No de San
tes do Sec. VII. ta Cruz da Villariça: Et si ome de
FEYRIR. Ferir. V. Feridas con Sancta Cruce pro qualibet fiadura ad
celhadas. medio anno, non requisierit, quod se
FIÃA , Fiaam , Ffia, Sfiáá, e deat soltum. Et si migratus fuerit,
Fiada. Vaso de barro, chato, e re sint filii, ó uxor sua liberi de fia
dondo, a que hoje chamão almofia. dura de benedictinos, Óº de directum
Servia antigamente para se pagar dare. De super cabadura ad XXX, dies.
certa medida de grãos, e tambem De fiadura de aver quod deveat a da
de manteiga. E na fião, que royam re, quando dederit , sedeat soltum.
a dar de XVI. em alqueire , agora Fiador de Sacramento, quando fiadu
dizem , que já he maior. Doc. de ra fiar, semper stet fiador, illa, Óº
Vairam de 1484. Em outro de 148o suos filios: &" si non habuerit filios,
se diz: Sfiaa de manteiga. Em ou qui recepirit sua bona, stet fiador sem
tro de 1492 se diz Fiaam. No de per, Doc, de Moncorvo de 1225.
153o se acha Efia. E finalmente em Em hum Doc, das Salzedas de 1288
hum de 1 535 do mesmo Mosteiro se toma Fazer fiadoria, por dar fian
se diz Fiada de manteiga. Daqui se ga, caução, ou penhor. E sobre es
manifesta, que pagandº-se em mui to faremos tal preito, e tal fiadoria,
tos Foraes, e Prazos antigos, fo e tal pea, qual quiserder.
ros, e pensões de manteiga. V. g. FIADURIA. O mesmo que Fia
hum almude , hum alqueire, ou meio doria. No mesmo Foral de Moz se
alqueire, se devia regular este, dan lê: Et si contentor abuerit, mittat il
dando 16 Fiadas, ou Fiaans a cada lum in manus, Óº exeat soltus de fia
hum alqueire; advertindo que esta duria. * -

manteiga era feita em bicas, ou bo FICY. Fique. Do Verbo Ficar.


los, que nas ditas almofias se pa Doc. das Bentas do Porto de 13o 1.
gavão. V. Códna. FIDALGO. V. Algo.
- FIEIS,
462 FI FI
FIEIS. O mesmo que Louvados, rio Mondego, e cujas ruinas a mos
ou Juizes arbitros. He do Sec XIV. A trão Povoação notavel no tempo dos
obrigação de se portarem com a maior Romanos:
fidelidade , e independencia , e a
confidencia , que delles se fazia,
lhes deo este nome. Delles se faz D E O
menção no Cod. Alf. L. I. Tit. XIII. S. M E R C V R I O
XVI
FIEIS de Deos. Assim chamavão A P O N I V S
aos montes de pedra miuda , que S O S V M V S
junto dos caminhos lançavão á mão
os passageiros. Em todo este Rei A. L. V. S.
no vemos destes pedregulhos junto
das estradas, sem que nos fique a
mais leve dúvida, que alli forão ad
vertidamente postos, e não por aca
so. Nos Prov. de Salomão XXVI.
8. achamos nós expressa menção des Restituida a paz á Igreja, pro
te abuso, quando diz: Sicut qui mit curárão os Fiéis de Jesu Christo ex
tit lapidem in acervum Mercurii: ita terminar esta superstição gentilica,
qui tribuit insepienti honorem; repu transformando-a em Religioso Cul
tando por igual loucura oferecer hu to, não dedicado ao Deos dos ca
TT13# ao Deos Mercurio, # fa minhos da terra; mas sim áquelle
zer honra a hum nescio, malvado, Bom Deos, que he o nosso cami
e sem juizo. E com efeito dos In nho segurissimo para a gloria. Le
dios, Arabes, Syrios, e Chaldeos vantárão pois junto das encruzilha
passou aos Romanos o terem por das a Cruz do Redemptor; e lem
Advogado, e guia dos caminhos esta brados das penhas do Monte Cal
Divindade falsa; pondo nas eneru vario, excitavão a memoria daquel
zilhadas a sua figura, que era hum le supplicio, e lugar, levando de
marco de pedra quadrada, sem per alguma distancia huma pedra, que
nas, nem braços, mas com duas, devotamente lançavão junto #
tres, ou quatro cabeças, segundo grado Lenho. Chegou-se a isto o
o número dos caminhos, que alli se costume dos Hebreos, e mesmo dos
ajuntavão. E daqui se originárão as Gregos, e Romanos, que apedre
pedras, ou lapides das vias Milita javão , e deixavão sepultados com
res, reproduzidas hoje sem abuso, rimas de pedras os convencidos de
e com melhor gosto, nas Estradas certos crimes , e os mais atrozes.
Reaes desta Monarchia. E que os Porém os Christãos abominando sem
Habitadores da Lusitania, naquel pre os dilictos, não aborrecião os
le tempo de cegueira adorassem a criminosos. E assim morrendo elles
Mercurio, além de outras, se vê cla no gremio da Igreja, ainda que fos
ramente pela Inscripção seguinte, sem postos na sepultura do asno, e
no lado esquerdo da Igreja de In junto dos caminhos públicos, para
fias, pequena Villa no Bispado de exemplo, e terror dos outros: a ca
Viseu, sobre a margem direita do ridade lhes ensinou a rogar, e pe
dir
FI FI 463
|
#
dir a Deos o seu descanso; desig mar, receber, conquistar. Hoje en
nando com estes montes de pedras tre nós se diz Filhamento : a honra
o lugar das suas cinzas, para assim de ser filhado, posto, escrito, to
mesmo excitar a compaixão das suas mado em o Livro da Nobreza, a
almas, na certeza de que tambem que chamão Livro dos Filhamentos,
forão Fiéis de Deos. E daqui veio em que estão assentados, e como
este nome a muitos sitios, em que, tomados a rol, os que tem foro de
algum dia ao menos, existio algum Fidalgo.
daquelles tumulos. Hoje se prati FILHAR, Tomar, receber, con
cão semelhantes memorias, junto da quistar. He do Seculo XIII., XIV.,
Cruz, que costumão levantar, on e XV. Tambem se escreveo Efilar
de matárão , ou casualmente mor no de 1 318.
reo alguma pessoa, pelo mesmo FILHAR pannos de segurança.
fim, que acima se indicou. E tam Dizia-se de huma donzella, que se
bem para sinal, ou baliza de algum fazia Religiosa; assegurando-se do
caminho , ou distancia por entre mundo com o Habito, e obras da
montes ermos , onde he facil per-. Religião, que escolhêra.
der-se o caminhante. Em hum Doc. FILO, ou Fillo. Filho. Doc. das
de Pinhel de 1473 se lê: E d'hi se Bent. do Porto de 13o6.
foram direitos aos Fieis de Deos, que – FYMENTO. V. Afimento. E des
estão no caminho, onde aparta o ca si, como se vay polo fymento acima,
minho. (a) arredor do choursal sobre la carreira,
FIELDADE. O mesmo que fi saynte da quintad aa suso. Doc. de
delidade. Doc. de Vairão de 1 343. Pendorada de 1298.
. FIGUEIRÓ. Diminutivo de fi
gueira: em Latim do Sec. XII. Fi
FINAMENTO. Falecimento,
mOrte,

gairola ; assim como de Ecclesiola FINCO. Escrito de obrigação de


dizião Grijó, ou Egrijó, Difere Fi dívida , Escritura pública , Docu
gueiró de Figueiredo : este he pro mento authentico, e innegavel. As
priamente hum lugar cheio de figuei si como acharám em hum finco, que
ras: aquelle se extende a significar Pedro Martins screveo em ssa maão
huma só figueira insignificante , e Doc. da Guarda de 1298.
pequena, FINTO. Maço, ou rol dos Do
FIHO. Filho. Doc. de 1389. cumentos, Titulos, ou Inquirições,
:# F[IR. Finar , acabar , morrer. que pertencem a hum particular Po
Vem do Latino Finire. He do Sec. vo, fazenda , ou Territorio. Nas
XIV. •

Inquir. Reaes de 122o se acha,


#
5
{ FILHADOIRO. Capaz, e dig além de outros, a seguinte Rubrí
# no de ser tomado , e recebido. V. ca : Hoc est fintum de faom , quod
Recebondo. Dam a El-Rei huum cam fecit Abbas S. Tyrsi.
: bo de pescado... qual vir o juiz, FIRMA. I. Juramento de calum
que esté filhadoiro. Doc. de Grijó. nia, e afirmação solemne, que prés
FILHAMENTO. Acção de to ta o Author, de que não conten
de
(a) Tambem forão chamados Montes-Gaudios estes montões de pedras , no meio dos
quaes arvoraváo Cruzes os Peregrinos, ou Romeiros, logo que descubrião o lugar, e termo da
sua perigrinação. V. Blut. in Suplem. Verb.: Monte-Gaudio.
464 FI FI
de em Juizo por odio , interesse, coroso, si firmar. Et si non habuerit
paixão, ou vingança; mas tão só firma, juret se quinto... Toto bomi
mente pela verdade, e justiça, bon me , qui inserrado fuerit in sua casa:
dade da causa , e sem detrimento cum armas á fortia, pectet CCC, sol
algum da sua consciencia. Daqui dos , Óº septimo a Palatio, si firma
Firmar: Jurar de calumnia antes da rent; Óº sinon, juret se quinto. Doc.
lite contestada. No Foral de Pinhel de Moncorvo. De Firma, e Firma
dado por El-Rei D. Afonso Hen tio: por subministração dos alimen
riques, e reformado por El-Rei D. tos , e de tudo o que pertence á
Sancho I. no de 1 189 se diz: Si bo meza: e tambem de Firma: por fa
mines de Pinhel habuerint judicium cum zenda arrendada com pensão de cou
homines de alia terra, non currat in sas comestiveis, e tambem a dinhei
ter illos firma , sed currat per Ex ro: não tratão os nossos Documen
quisam, aut Réto. E no de Castel tos. Veja-se du Cange V. Firma.
lo Branco de 12 13: Si homines de FIRMA. II. O mesmo Arrenda
Castel-Branco habuerint judicium cum mento. Daqui Habere, vel tenere ad
homines de alia terra, non currat in firmam: trazer arrendado.
ter eos firma ; sed currat per esqui-- FIRMA. III. O nome, ou sinal
sa, aut recto. E he frequentissimo de alguem, escrito de sua propria
nos Foraes daquelle tempo, suppri letra, ou por outro a seu rogo, e
rem o Juramento de Calumnia pe mesmo por huma pessoa pública pe
la Inquirição , ou Desafio. No de rante outras testemunhas, como se
Santa Cruz da Villariça de 1225 se praticava ordinariamente até o Se- .
diz: Ad quem demandarem , qui bo culo XIII. Chamou-se Firma, por
minem matou a traizom, lide; Ó si que fazia firme , e valioso tudo o
caer, pectet mile morabitinos: Óº si que acima ficava escrito. Desde o
non habuerit deque los pectet, faciant Seculo IX, conservamos muitos Dec.
de illo justitiam, quomodo de aleivo em que se achão certas Firmas, ou
so, Óº de traditor: Si illos pectat, sinaes exoticos; não só dos que os
exiat de Sancta Cruce pro aleive, ó" confirmavão, mas tambem dos No
de suo termino , & deribem suas ca tarios, que os escrevião. Vid. L. A.,
as ... Sed qui istam vocem deman ó" V. Alaboveinis. Accrescentaremos
fºi , primum juret cum tres pa ainda hum exemplo de Caramos, e
rentes los magis circa, qui in tota la outro de Mareira. No 1º , que
Pilla fuerint, que lo non demanda per he de Io38, firma o Notario Aires
outra malquerencia , mais que mata do modo , que se vê Tab. 3. n. 1.
dor, e feridor foi de suo parente, um No 2º, que he o mesmo Seculo, se
de moriu. Et si parentes non babue acha a Firma da Tab. 2. n. 2., que re
rit, cum tres vicinos. Et si istum non servamos para quem for mais feliz em
jurar , non respondeat illi... Quem adivinhar. No 1.º bem claramente se
ferir suo vicino cum petra , aut cum lê: Arias Presbyter notuit, começando
fuste, pectet XX, morabitinos, si fir a lêr perpendicularmente as letras. No
marem ; ó" si non firmarem , juret 2.° será talvez Sancius scripsit ?....
cum quinque vicinos. Si ferir cum ma Mas note-se, que nas Confirmações
nus , aut messar , aut cum pede, dos Privilegios Reaes se trasladavão
pectet quatuor murabitinos al ran as Firmas , que nos Originaes se
acha
FI FI 465
achavão, e pelo commum, antes do Kal. Magii) a 15 de Maio do mes
Seculo XII. não fazião mais, que mo anno; e finalmente na que ella
copiar o Primordial, e mudar-lhe a fez do Mosteiro de Arouca á Ab
Era da primeira data para a corrente. badessa D. Elvira Annes , e suas
E outras vezes punhão nos mes Religiosas a 26 de Dezembro de
mos Pergaminhos Originaes as suas
1154. Em todas se lê por diferen
Firmas os Grandes Senhores, Princi
te penna, e tinta, e no largo dos
pes , e Bispos, muitos annos de Pergaminhos: Menendus Episcopus,
pois, que havião sido exarados os ad cujus Diocesim pertinet lºcus, Of.
Autografos, em que estas posterio E elle he já hoje incontestavel, que
res Firmas se encontrão. Veja-se a D. Mendo não foi Bispo de Lame
Paleografia de Merino a f 437, e o go , senão depois de 1 145 : pois
Methodo Diplom. da Ediç. de Lisboa como confirma as duas primeiras Dôa
de 1773. Secç. I. Cap. XIII. Art. II., ções no de 1 134? B2: que as con
V. Cruz. No de 1 123 D. Ugo, firmou na mesma occasião , que,
Bispo do Porto deo Foral aos mo achando-se no Mosteiro de Arouca,
radores do Burgo da Sé, que a Rai confirmou a terceira; pois o lugar
nha D. Thereza lhe havia coutado: da Firma , a penna, a tinta, e o
acha-se no L. grande da Cam, do Por mesmo tempo assim o persuadem.
zof. 1., tirado do seu Original, on FIRMAR. Prestar juramento de
de se achavão as seguintes Firmas: calumnia. V. Firma I.
FIRMAR. Probar. He de Berg.
Ego Ugo Portugalensis Eps. roboro, ó" FIRMIDEU. Firmeza, valor de
Confirmo.
Ego fohanes Portugalensis Eps. banc hum contrato ? ou qualquer outro
Instrumento público. He do Secu
Kartam roboro, & Confirmo. lo XIII.
Ego Petrus Portugalensis Eps. 1."hanc
Kartam roboro, Óº Confirmo. FIRMIDOEM. Firmeza, valor,
ermanencia. Em os nossos antigos
Ego Petrus Portugalens, Eps. 2." hanc
Kartam roboro, Óº Confirmo.
E; } se acha a cada passo : Facta
firmitudinis Carta ; para nos dize
Ego Petrus Portugalens. Eps. 3." hanc rem que aquelle Instrumento por
Kartam roboro, Ó Confirmo.
nenhum principio seria quebranta
E não coexistindo estes Prelados, do ; mas antes permaneceria para
senão successivamente naquella Igre todo tempo firme, e valioso. Feita
ja; forçosamente havemos de dizer, a Carta da firmidoem no mez de juy
que no mesmo Pergaminho hião fir nho. Era mil , e duzentos , e duze
mando os Successores , o que D. anos. Era da Encarnaçom de Deos mil,
# Ugo , Antecessor de todos, havia e cento, e seteenta, e quatro. Eu Meestre
feito. Em Arouca se achão tres Fir Gaudin, que esta Carta fazer mandei,
f: mas do proprio punho de D. Men ensenbra com todolhos meus Freyres mo
do Bispo de Lamego, a saber: em rantes en Thomar, aos vossos filhos ,
huma Dôação, que a Senhora D. Tó e ós vossos Successores a fortelego, e
da fez á Igreja de S. Salvador d’Arou e confirmo. Foral de Thomar , tra
ca a 14 de Junho de 1 134: em outra duzido em Vulgar nos principios do
feita pela mesma Senhora ao Mos Seculo XIV., quando já fazião Sy
teiro deI.S. Pedro de Arouca (Idus nonymos a Era, e o Annº, que
Tom. - - •

Nnn sup
466 FI FI
supposto fosse da Encarnação , se o maior, ou dos maiores, que na
contava entre nós desde o 1.º de Ja quella Cidade se crião, e que na
neiro, 38 annos justos depois da quella feira se encontrão. Ao Pro
Era de Cesar. Doc. de Thomar. curador do Mosteiro pertence a es
:, , FISCO. Nos Prazos de Grijó he colha, e aos moradores dos ditos Ca
mui frequente a Pensão do Fisco. Em saes o pagállo por todo o preço, que
alguns se declara, em que deve con elle se ajustar. Para este fim ele
sistir este Fisco , como no do Ca em d'entre si dois homens, (a que
sal da Cósta, foreiro á Igreja de chamão Fisqueiros ) em cada hum
Perozinho , feito no de 1485 , no anno , para ajuntarem a contribui
qual depois da Pensão de 23 alquei ção dos outros Caseiros, com que
res de trigo, & c. se continúa: Epa deve ser pago o dito porco, que
guem o Fisco á dita Igreja, como be o vulgo se persuade sem fundamen
usso, e costume, saber; todo o pão , to algum , que antigamente nada
que se lavrar pela dita Igreja, segá mais era, que hum leitão. Porém o
lo, e malhálo; e dar huma mostèa de mesmo nome de Fisco, que só con
palha triga de trez vencilhos; e aju vém á Fazenda Real , bastava para
dar a lavar as cubas, e marquar; e os desenganar, que este serviço era
hir pelos arcos ao Douro, e os poer no cousa Regalenga , que El-Rei D.
cangueiro, cada vez , que requeridos Afonso Henriques, em contempla
forem ; e fazer º vinho da lavra da ção de D. Thereza Afonso, dôou
Igreja ; e dar cada bum anno bum ás Salzedas, com todos os mais Di
carro de esterquo no tempo de semen reitos, que neste , e n'outros Lu
teira; e pelo Natal trazerem á dita gares á Corôa pertencião; suppos
Igreja hum boo carro de lenba; e dar to, que a propriedade delles fosse
pelo anno, quando requerido for, X. dada , dôada , ou vendida por al
dias de geira. Não se me esconde, # particulares pessoas. Isto se
ue sendo esta igreja Mosteiro, ain ará mais claro pelo Documento,
} no de 1 126 alguma Dôação Beal que se acha no L. dos Doaç. das Sal
lhe daria este Fisco, que d'antes era zedas af13. Y. Por elle se ve como
da Corôa; se he, que a malicia, e No de 1 163. Pedro Viegas, com
abuso do tempo não baptisou seme authoridade d'El-Rei D. Afonso I.,
lhantes Foragens com hum nome tão vendeo a D. Thereza Affonso tudo
honrado.
o que tinha no Territorio de La

FISCO porco do.) Junto á Ci mego, e de Ermamar, a saber: em


dade de Lamego, e no dia de San Queimada, Figueira, Portello, Quin
to Estevão , he mui celebrado o tião, em Bouzoas, Penelas, Muimen
grande Porco do Fisco, que dos tre ta , Magueja , Candedo debaixo do
ze Casaes de Portello, na Fregue monte Galafura, em Valle do Conde,
zia de Cambres, se paga annual e Lamafaes, aguas vertentes para o
mente de serviço ao Mosteiro das Douro: e lhe dá em todas estas Vil
Salzedas. Outros mais porcos ceva las, herdades, ou Casaes, (que
dos se pagão áquella Religiosa Ca vendeo por 48o maravidis) todo,
sa, e pelo mesmo Titulo, mas ne e qualquer Direito, que nelles te
nhum tão famoso, como este, de nha , tam de Regali Magnificencia,
que agora tratamos, que sempre he quam ex alia quacumque mea ganan
fra-,
FI FI 467
tia, sive ex mea, vel Auroanae, uxo açoutavão-se duas vezes no dia, e
ris meae, parentela. E assina: Ego Pe huma de noite , com cordas cheias
trus Venegas, qui eam facere jussi, de nós, e armadas de pontas de fer
coram Domino meo Rege, Óº coram ro , e postrados em terra formavão
filiis ejus , vobis D. Tharesie, tota com os braços abertos a figura da
Curia teste, corroboro. Segue-se lo Cruz, e pedião misericordia. Enso
go, como Apostilla: Ego quoque Al berbecidos com a veneração dos Po
fonsus Rex Portugalensis, una cum fi vos, e misturados com os hereges
Jis meis, Rege D. Sancio, Óº Regi Beguardos, declinárão logo para mil
na D. Horroca , vobis D. Theresie, absurdos, abominações, e erros, em
eorumdem filiorum meorum nutrici, #º os Principes , e Prelados a
banc Kartam, sicut superius resonat, erro, e fogo, e á força de censu
confirmo, Óº totam baereditatem quae ras, não exterminárão da Igreja, e
in ea describitur, ab omni Regali Fis da Républica huma Seita tão abo
co, vel debito deinceps liberam esse minavel , heretica , louca , e de
concedo. E eis-aqui a origem do Por mentada. E quem diria, que estes
co do Fisco. diabolicos Flagellantes se excitavão ás
FISICO. Assim chamavão ao Me acções mais torpes, e abominaveis
dico , como por excelencia ; pois com a prevenção dos açoutes, pre
deve ser perfeito, e consummado em parando-se com a Penitencia para a
o conhecimento da natureza, come execução da culpa?... Veja-se a Hist.
çando a sua Arte , onde a Fysica dos Flagellantes por Mr. L’Abbé Boi
remata a sua. Dos Fysicos trata a leau. Cap. X., e tambem Mr. de Li
Ord. L. I. Tit. 62. S. LXV. •
gnac. De l'Homme, & de la Femme
FISQUEIRO, V. Fisco, ou Por consideres physiquement. T.I. C. V.
co do Firco. Não chegou a Portugal aquella
FITO. Marco levantado. horrivel praga dos Flagellantes, nas
FIUZA. Satisfação , confiança, cida depois da morte do Glorioso
certeza , e conhecimento do afe Santo Antonio de Lisboa, que foi
cto, e bons serviços de alguem. Por no de 1231. Chegou sim a Disci
fiuza grande, que en ele ey. Doc. da plina pública de sangue, que se pra
Guarda de 1298. ticou sem heresia no tempo da Se
FLAGELLANTES. Os que se mana Santa. Foi este Thaumaturgo
açoutavão. Dos Flagellantes se es Portuguez o Author deste sanguino
crevêrão livros inteiros. Dizem que lento Espectaculo, que executado com
certo Heremitão por nome Rainier, as devidas circunstancias foi sempre
no de 126o, em Perusa, Cidade de grande edificação.. Não negarei
de Italia, instituíra esta sanguino com tudo, que a vaidade louca de
sa Penitencia , cujos sequazes se alguns, profanando o mais sagrado,
chamavão Devotos, e ao cabeça del fez passar este costume de santo a
les o Geral da Devoção. Estendeo escandaloso, comprando a sua Per
se sobre modo esta Congregação de dição com o preço do seu vertido
Penitentes por quasi toda a Euro sangue; feitos verdadeiramente mar
pa, até o sºal, XIV. Andavão tyres do demonio. Porém a temeri
nús até a cintura , com capello na dade desasisada dos menos não deve
cabeça , e huma Cruz na mão, prejudicar á boa intenção dos mais,
Nnn ii que
468 FI FI
que compungidos de suas culpas, paciente , somitego , que usa , e
lavavão a fealdade das suas manchas pratíca o peccado infin o, ou ne
com o sangue mesmo das suas veias. fando. E se o Confrade disser a ou
Já no tempo de Santo Antonio tro Confrade: Villam: fodidincul: ou
havia a Disciplina , ou Flagellação tredor: ou gafo: ou ladrom... pague
particular, como redempção das pe 7. soldos á Confraria, he entre a V.
nas canonicas , a qual se começou tagantes. Doc. de ihomar de 1388.
a praticar, quasi com força de Lei FOGAÇA, Fogacia, e Fogaza.
no de Io56, como diz Baronio em Mais antigo, que a nossa Monar
este anno. Mas os Disciplinantes pú chia he o nome, e uso das Foga
blicos , de que fallamos , são mui fas, que erão bolas, ou pães del
diferentes, e mesmo nada tem de gados cozidos debaixo da cinza, ou
commum com os malvados Flage/ rescaldo , e por isso já no Testa
lantes, de que acima se falou. Ver mento Velho se chamavão Subcini
dade he que alguns Authores, não ricios. Entre os antigos era mui fre
distinguindo os tempos, confundí quente esta qualidade de pão, #
rão os factos, e sujeitos. No tem instantaneamente se fazia. E se del
po de S. Vicente Ferrer, e por oc le tomarião o Appellido os Fogaças
casião das suas Prégações , tomou deste Reino , que hombreão com
novos ascendentes esta Disciplina pá as Familias mais nobres, e antigas,
blica : e temendo o Grande Gerson, e trazem por armas em campo fran
que tornasse a reviver a Seita dos chado, além das sinco faxas de ou
Flagellantes, escreveo áquelle San ro, huma Fogaça de azul, gretada
to huma Carta cheia de prudencia, de prata, e por Timbre hum feixe
fervor, e zelo, acautelando-o nes de lenha ardendo ?... Hoje mesmo
te ponto , em que a Ecclesiastica fóra de Portugal se usa deste pão,
Disciplina se interessava, Porém na \e entre nós sé não tem esquecido
da havia que recear na Instituição em casa dos aldeanos, e campone
do Portuguez, e uso do Hespanhol; zes. Mas parece, que de muitos Se
pois ensinando ambos a mortificar culos a esta parte, conservado o
os corpos para resgatar as almas, nome se mudou a figura, e quali
nada se esquecião de promover a dade das Fogaças; pois vemos que
utilidade pública da Igreja Santa. são hoje bolos, ou pães levedados,
Cheios de piedade os nossos Maio de muita massa, e com varios fei
res, e bem intencionados, até se tios , cozidos no forno , como o
lembrárão nos seus Testamentos des pão ordinario: na Cidade, e Bis
tes Disciplinantes, que quasi em os pado do Porto lhe chamão Riguei
nossos dias, e não sem graves cau fas. Erão pois as Fogaças, não fo
sas, vemos extinctos ; sendo das ro, ou twibuto por habitar, ou fa
principaes a pouca devoção, e amor zer fogo no Casal, ou Herdade de
á Penitencia, que nelles se divisava. algum Senhorio; mas sim hum dos
FLORIM. V. Frolenças. O Flo chamados serviços, ou obsequios, que
rim de Aragam valia 2o Soldos no o caseiro , ou colono prestava ao
de 1439. No Cod. Alf. L. IV. Tit. 3. direito Senhor , quando a ele vi
§. II. se diz valer 7o réis. nha; como se póde ver V. Colhei
FODIDINCUL. O sodomita ta, e Soeiras.
/ Em
FI EI 469
Em muitos Foraes antigos se faz Culto. A esperança de conseguir,
menção deste serviço; mas sem de e o agradecimento por ter alcança
clararem a quantidade; declarando-se do, graças, favores, e beneficios,
em outros, ser bum, ou dois alqueires de fizerão carregar os nossos Altares
trigo, que hoje costumão pagar em grão. com variedade de Oblações, ainda
No Foral, que o Mosteiro de Lorvão mesmo comestiveis, a que chamá
deo á Villa de Abiul no de 1 176, se rão Fogaças. Entre estas se faz dis
diz : Et in servicio unam fugazam de tinguir o extravagante Bolo, ou Fo
duobus alqueiris tritici, Óº unum ca &aça na Villa do Pombal. Não fal
pononem. Doc. de Lorvão. No de tou quem dissesse , que huma D.
Coles, que he na Freguezia da Ges Maria Fogaça, poucos Seculos ha,
teira, e Reguengo da Milharada, foi a primeira , que alli ofereceó
dado pelo Mosteiro de Ceiça no de este Bolo em honra da Senhora do
1217, se manda pagar pelo S. Mi Cardal; e que do seu Appellido pas
guel hum capão , e huma Fogaça sou o nome a semelhante especie de
de dois alqueires, e pelo Natalhum ofertas. Como quer que seja, as cir
Corazil. Doc. de Ceiça. Já vimos cunstancias, que acompanhão aquel
V. Ferraduras, que os do Couto Ve la Fogafa, e que algum tempo pas
lho da Sé de Viseu devião pagar Fo Sátão por hum assombroso milagre,
gaça, e Spadoa, segundo o seu res sabemos hoje que a mysteriosa na
ectivo aforamento. De hum Prazo tureza he quem as produz, sem in
das Salzedas de 1 311 nos consta, tervenção alguma de portento. Nas
que este serviço era hum almude de Provincias da Beira não só chamão
trigo de Fogaça. (Isto he dois alquei Fogaças ás ofertas, que aos Luga
res.) Pelo contrario em muitos Pra ares Santos se dedicão; mas tam
zos de Maceiradam do Seculo XV., # derão o nome de Fogaças ás
XVI., e XVII. se declara, que a Oferteiras, que alli as conduzem.
Fogaça seja de hum alqueire. No de Poderia ser innocente, e devota es
15 14 regulou El-Rei D. Manoel o ta acção, quando meninas sem do
Foral de Serpins por hum antigo lo , e de poucos annos, singela
Contrato, que o Mosteiro de Lor mente as oferecião; mas hoje que
vão, de quem he aquella Villa, ha o desgarro, e vaidade nos vestidos,
via feito com os seus moradores, nel a desordem nos costumes, e a for
le se diz: Tambem se paga ao Mostei mosura culpada , e petulante, fa
ro pelas Outavas da Pascboa seis fo zem todo o fundo daquella ceremo
gaçar, que ham de levar seis alquei nia ; porque não seria ella inteira
res de pam (isto he cada huma seu mente abandonada por gente sisu
alqueire) tres galinhas , e tres du da, e Portugueza?... E finalmente,
zias d'ovos: o qual foro levará o juiz até o mimo de pães trigos, ou le
ao Mosteiro , quando for pela Carta ves, ovos, e assucar, ou cousas se
da Confirmação, pela qual lhe não le melhantes, que as amigas levão ás
varáõ dinheiro; e levando-lho, se lhe recém-paridas, em algumas partes
descontará á risca o ditoforo. Doc. de deste Reino se chamou Fogaça. Das
Lorvão. Kodas de Fogaça, ou dinheiros. V.
Passárão as Fogaças de foro Se Koda de Fogaça.
cular a serem oiiertas de Religioso FOGO, Tributo assim chamado,
que
47o FO FO
que pagão todos os vesinhos de Vil go, são escusos. Os filhos só tem obri
la de Chaves, e seus Termos, que gação de hum maravidt , ainda que
tiverem fazenda, ou movel, ou de repartão entre si os bens de seu Pai,
raiz, que valha vinte maravidís ve que a hum só Fogo erão obrigados.
|lhos de 27 Soldos o maravidí, (que Porém vendendo cada hum a sua par
.fazem da moeda hoje corrente 97o te, quem a comprar será obrigado na
réis, a razão de 48 réis e meio o fórma do Foral. Os Caseiros das Igre
maravidí.) Destes vinte maravidís Jas não pagaráõ das fazendas dellas;
devem todos pagar annualmente á mas sim dos bens , que tiverem pro
Corôa hum maravidí, que são 48 prios. Por cada Capella se pagará o
réis e meio. E a isto chamão Fogo, dito maravidí , quando os seus bens
ou paga dos Fogos : Paga das Pes andarem n'huma só pessoa ; mas an
soas: Paga da visinhança: e tambem dando repartidos por muitas, e sendo
Martineguas , ou Martiniegas; por tantos , que cheguem a contia do Fe
ser obrigação de se pagar por dia ral : pagará cada hum que os trou
de S. Martinho. Assim consta do xer o seu maravidi. E se estes bens
Foral de Chaves de 15 14, o qual já d'antes pagavão o dito maravida;
declara: Que não deve pagar o dito todos os herdeiros juntos igualmente o
maravidí, ou Martiniegas todo aquel paguem, e mais não. Não chegando to
Ie, que devendo-o já pagar, comprar da a fazenda aos ditos 2o maravidís,
alguma herdade, ou possessão, ou ter vista por verdadeira informação, não
fa, ou quarta parte della. Porém se se deve pagar cousa alguma. Destas
o vendedor ficar sem fazenda, que va Martiniegas são isentos os que mo
lha 97o réis, e por conseguinte des rão dentro dos muros de Chaves
obrigado da Martiniega: Então o Com por Mercê d'El-Rei D. Afonso IV.
prador , ou Compradores, repartindo de 134o.
FOGO morto. Casal de Fogo mor
entre si a dita fazenda soldo á livra, de
vem pagar a El-Rei o dito Fogo, ou to: he o que está deshabitado, re
Maravidí: o qual não são obrigados a duzido a matos, e sem cultura. (a)
pagar , ficando ao vendedor fazenda Daqui o Direito de Fogo morto. Este
por onde apague, e El-Rei o não per assiste ao colono, que havendo rotea
ca. E qualquer da Villa, ou Termo, do a terra brava, e inculta, ou que se
ou Forasteiro , que em Chaves com havia tornado a mato, cortando, e
prar fazenda , que valha os ditos 2o queimando os matagaes, espinhos,
maravidís, deve pagar o dito Fogo, e abrolhos, não póde ser expulso
ainda que aquelle, que lha vendeo to pelo direito Senhorio daquellas her
da, ou parte della, haja de pagar o dades, que com a sua industria, e
mesmo maravidá; excepto as Aldêas, despezas, reduzio a cultura, e fez
que tiverem outros Contratos, ou Afo rendosas.
ramentos da Corôa , que estes se de FOGUEIRA. Na Cidade, e Aro
vem observar. Os que herdão fazem de Lamego se chamavão Fogueiras
da, que não he obrigada ao dito Fo os Casaes, ou Reguengos, que #
Illl2|

(a Achando-se El-Rei D. Sancho II. em Castello-Branco a 1o de Março de 124o,


mandou fosse povoado todo o Territorio da Idanha Velha , que estava de foco mortuo;
sub_pena de perderem o que seu fosse -, os que o não fossem povoar, até o ultimo dia
de Maio proximo futuro. T. do Tombo.
FO FO 471
nualmente pagavão á Corôa certos la tinha feito mercê. Os Lugares,
foros, e pensões , que em outras que o pagavão constão do Livro dos
partes se chamavão Fogos, ou Fu Almoxarifados daquella Cidade. E
madégos. No Tombo do Aro de La delle se faz menção no Foral d'El
mego de 1346 a f. 22 se lê : Disse Rei D. Manoel de 1513.
o Enqueredor ao Guardião de S. Fran FOLAM. Hum tal sujeito , ou
cisco, que El-Rei tinha huma Foguei pessoa, nomeando-a pelo seu pro
ra alli a par do dito Mosteiro , ali prio nome. V. Cabello. Hoje dize
hu os Frades fezerão cavalarifas pa mos hum Foão, ou Fullano, quando
ra terem as bestas, e os bois da obra... ignoramos, ou não queremos dizer
E frontou-lhe, que lhe mostrasse co o nome, que o distingue, e faz co
nhecido. •

mo a havião... Então o Guardião


lhe mostrou huma Carta d'El-Rei FOLES zomaques. No de 986
D. Diniz de 1279, pela qual man vendêrão Segulfo Prudildi, Gutina, e
da ao Juiz de Lamego, que se o Bezeméra, a Truitesindo Osorediz, e
Reguengo, onde os Frades querião sua mulher Unisco certas fazendas em
* fazer sas Casas , não valia para a Oredi, abaixo do Castello Aviareli
!|
Corôa em cada hum anno, mais vi no Territorio do Porto: o preço
que 2o soldos , que lhe outorgas forão 12 modios: in res, in panus,
se, pera fazerem bisas Casas. E no in civara. E para confirmação , ou
mesmo Tombo a f. 14 está hum Al Rebora , entre as mais cousas, de
vará do mesmo Rei de 1281, pe rão... foles zomaques. Doc. de Pe
Jo qual concede a Antonio Esteves, droso. Nãe se me esconde que Fol
e a sua mulher Thereza Esteves a lis já no tempo dos Romanos, e
sua Fogueira de Coraciaens; com con muito tempo depois, era huma moe
dição de fazerem a cabeça da tal da de cobre, que segundo huns va
Fogueira na herdade , que elles ti lia hum real, e segundo outros ti
nhão em Calvilhi, onde se chamava nha 1o réis. Porém aqui sem dúvida
Palas , com foro annual do quarto se toma no sentido de folles, pelles,
do pam, vinho, e linho: de Almeiti ou pergaminhos, cujo número já se
ga dois soldos: de Eiradiga huma tei não póde ler neste Documento. Dos
ga de pam pela medida de Lamego: Gregos passou para os Latinos Zo
e pelo Natal hum corrazil , e buma ma, ou Soma , que já significa o
teiga de centéo, e duas teigas de car corpo humano , já o pergaminho,
tanhas seccas pela medida fugunda: Etmembrana, ou livro. Vestidos intei
vos, & Successores vestri debetis po ros, que não só forrados, de pel
pulare, Óº laborare ipsum Casale, les de raposa , de coelhos, de le
quod faciatis in Palas pro capite di bres, de ginetas, ou fuinhas, &c.
cte Fogariae : & non debetis ipsum usárão os nossos Maiores. V. Al
Casale , nec partem de eo vendere, fanehe. Em huma Dôação do mes
nec donare, nec eleemosinare, & c. mo Mosteiro de 1o 13 se diz, que
Daqui se vê que a Fogueira era Sy o motivo della fôra o ter recebido
nonymo de Casal, e Reguengo. o Dôador: Uno mantum bolpelionum,
FOGUEIRAS de S. Miguel. Di & 2 quinales de vino. Eis-aqui hum
reito Real, que no Aro de Viseu manto, ou capote de pelles de ra
{
{
se pagava á Corôa, ou a quem el pozas. No Foral de Penela junto
• • Coim a
}
472 FO a FE
Coimbra de 1 137 se diz : Clericus escrever , segundo o que então se
qui ibi fuerit in Ecclesia , donet ad praticava.
Episcopum, qui ibi fuerit, 1. pelle de FOLLE. Moeda de baixo preço.
janeta. L. dos Foraes Velhos. E nós Berganfa.
sabemos, que estas pelles erão as FONSADOL. O mesmo que Fos
nossas zabellinas daquelle tempo. No sadeira. Berg, diz, que era tributo
Foral de Santa Cruz da Villariça se para acção militar.
determina : Judex, si noluerit colli FORAGENS. Foros miudos. V.
gare directum , vel fiador super pi Direituras.
gnora : qui tenuerint, mactent illum FORAL. I. Assim forão chama
dos os particulares Codices, ou Ca
sine tota calumpuia; fóra quod pecte
dernos de Leis Municipaes de hu
mus singulas peles de cunelos, quan
ma Cidade, Villa, Concelho, ou
tos que ibi moraverint. Era isto no
de 1225. Porém já no da Villa de Julgado , e ainda dos moradores,
Moz de 1 162 se determina quasi o ou caseiros de huma quinta , ou
mesmo por estas formaes palavras: herdade. E como estas Leis, dadas
Et bominem de Molar , qui Fiadores pelo Senhorio Directo do respecti
parar pro aliqua causa, qualibet se vo Territorio, erão públicas, geraes,
deat, ad judicem: Óº illo fiador ou e impreteriveis para os individuos
torgar cum duos homines contra illum, daquella Corporação, ou Colonia,
o ille noluerit colligere: Óº super ip se chamárão Foral á Foro: ou porque
sum illum occiderint , dent singulas erão tão notorias, como o que se pas
pelles de conelios, Óº sint soltos. E sava na praça: ou porque, segundo
'ara que serião tantas pelles de coe ellas, se dicidião, e regulavão peran
} que em outros Foraes se cha te os Juizes, as causas, e acções dos
mão Folles, se o Senhor da Terra que aos ditos Foraes estavão sujeitos:
se não servisse dellas nas suas rou ou á fando; porque esta era a voz do
pas, não se praticando ainda então Imperante para com os vassallos. E
os chapéos finos?... Porém eu me finalmente, disserão alguns, que sen
inclino mais, a que os Foles zoma do o Rei Foroneo o primeiro, que de
ques, erão pergaminhos, ou mem ra Leis aos Gregos, delle tomárão o
branas, preparadas para nellas se seu nome os Foraes das terras. (a)
FO

- (a) Paschoal José de Mello no L. Singular da Hist. do Direito Civil Lusitano, Cap.
7III. S. LXXX, diz, que Fl-Rei D. Manoel para exterminar os innumeraveis litigios, que
por occasião dos Foraes antigos se suscitavão, commettêra a sua reforma a Fernão de Pi
na , o qual, peragrando todo o Reino , de algum modo os reformou. Porém que não
tomára o devído tempo para Obra de tanto pezo ; levando a mira na brevidade , para
não perder o premio, que se lhe havia consignado, se a concluisse dentro de hum certo
tempo. Veja-se a Orden, L. 2. Tit. 27, e o Cod. Emman. L. 2. Tit. 45. E conclue: Qua
re ecdem hodie lites, é contentiones suscitantur, é digna profecto bacc res est, quae ite
rum Pública Auctoritate instituatur. Verum haer Deo Curae erunt. E com efeito a precipita
áo com que Fernão de Pina se houve nesta Empreza, resumindo os ditos Foraes em 5
# , segundo o número das Provincias do Reino , foi a causa de commetter nelles
muitos , e mui grosseiros erros historicos, eu de facto; posto que no que respeita aos
Direitos Reaes se houvesse com mais exacção. Na Hist, da Ord. do Hospital P. 1. S. 64.
da Ediç. de 1793 se achará o Juizo documentado sobre as Declarações historicas, dos Fo
raes novos , por onde se convence, que Fernão de Pina errou neste ponto a cada passo.
A'quelles factos se póde ajuntar o Foral de Aguiar da Beira, no qual diz que o Mos
teiro de Tarouca tem hum Reguengo em Gradiz; constando pelas Inquirições do Conde de
FO FO 473
FORAL. II. V. Dia de Foral. FORO morto. Casal de Foro mor
FORARIAS. O mesmo que Fo to se chamava aquelle, que estava
ragens. amortizado, livre, e isento de qual
FORÇADO he. Sem dúvida al # foro, ou pensão, o qual ver
ma, certamente, assim ha de ser. adeiramente havia morrido, e es
}
Cá hé forçado , que Herodes deman pirado para o Direito Senhorio, ou
de o Menino pelo perder. Correspon por Dôação , ou compra , ou por
de a Futurum est enim. outro qualquerTitulo. No de 1 139,
FORECA. Caderno , ou Livro e no mez de Julho , D. Afonso
de lembrança. Acha-se em huma Henriques, intitulando-se Infante,
Dôação d’El-Rei D. Fernando ao e hindo de caminho para o Fossa
Mosteiro de Alcobaça. do de Ladéra, dôou, e juntamente
FORLYS. V. Frolyees. vendeo a Monio Guimariz hum Ca
FORMAL. Vivenda, casas, ou sal em Travansela, termo de Satan,
residencia de huma quinta, ou ou e diz assim : Et accepi in pretio de
tra qualquer fazenda, e casal, que te uno caballo bono , Óº uno manto.
anda emprazado. Em a Universida Habeas tu ipso Casale firmiter, & om
de de Coimbra ha dois Prazos; hum nis posteritas tua a foro morto, usque
de 1 174 , e outro de 1 189 : no in temporibus seculorum... Facta Car
1.º se diz: Excepta quintana cum suo ta Donationis, & venditionis in men
formali : no 2.° Et habet formales se julii. E. I. C. 2. XXVII. Doc. de
equaliter cum ipso vestro Casale. Nos Viseu. * |

Doc. de Vairam de 134o se acha FORREJAR. Furtar , roubar,


Formal, e Formaes no mesmo sentido. andar á pilhagem. Hoje se diz For
FõRNAÇÃ. Assim chamavão à ragear : por buscar , e conduzir o
casa da moeda, em razão da fornalha, pasto para as bestas do exercito; e
em que alli o metal se derretia. E a este pasto chamão Forragem. E
que nom podesemos lavrar mais a dita como este provimento de fenos, }
moeda, que em duas formaças, e mais lhas, cevadas, &c. com muita fre
# nom. Cort. do Porto de 1372. - quencia se fazia nas terras dos ini
FORNEZINHO. O espurio, il migos, cujos campos se procuravão
ligitimo, gerado de torpe ajunta talar, roubar, e destruir, foi mui
mento. Vem à fornicibus, in quibus to facil a translação da palavra."
scorta prostabant. Acha-se no anti FORTE. I. Moeda fórte. V. Fe
go Poema da perdição de Hespanha. bre. . ." * 1.

FORNICIO. Concubinato, for o FORTE. II. Moeda de prata


nicação. d'El-Rei D. Diniz com o valor de
FORO. O mesmo que Prazo. 4o réis, e meio Forte com o de 2 o
: Saibão quantos este Estromento de Fo réis. De huma parte tinha a Commen
|#
ro. He frequentissimo no Sec.XVI. da de Christo com o nome de Rei
V. Emprazamento. . . …" na orla, e da outra o Escudo Real
ir Tom, I. -
- • =
* * * * -
----
"Ooo
* *| * * —;
, ; COII]
= -

Bolonha, que no Concelho de Aguiar não havia mais Reguengo,


que o da Liziria, que Fer
não de Pina chama Quinta; devendo chamar Quinta ao que o dito Mosteiro tem em Gra
diz, e Reguengo ao que El-Rei, tem na Liziria; pois estes são bens, que dôou a Corôa :
e os de Gradiz forão algumas deixas por Testamentos de particulares , que não podião
Passar a constituir Reguengo, sem primeiro ser incorporados na Corôa. •• • ••
474 FO FO
com a Letra: Adjutorium nostrum in mo nome. V. Cavallaría , e Fossa
nomine Domini. El-Rei D. Fernan deira II. A Dôação, que El-Rei D.
do fez bater meios Fortes com o va Sancho I. fez a Grijó no de 1 19o
lor de 29 réis cada hum, e dois cei que se acha no fim do L. Baio fer
tís. Depois ele mesmo a rebai rado, merece ser lançada aqui por
xou a 16 réis. extenso, para intelligencia plena do
- FORTELEGAR. Dar valor, e que erão estas Terras Fossadeiras.
firmeza a huma Escritura , confir In Christi Nomine. Sciant omnes bo
mando-a, e roborando-a em públi mines , qui banc Cartam legere au
ca fórma. V. Firmidoem. dierint: Quod Ego Sanctius, Dei Gra
FORTELEZA. I. Força, vigor, tia Portugaliae, Óº Algarbi Rex, una
e firmeza de hum contrato, ou qual cum Uxore mea Regina D. Dulcia, e
quer outro público Instrumento. Doc. Filiis, Óº Filiabus meis, facio Kar
das Bent, do Porto de 1291. Em tam Donationis , & perpetuae firmi
outro de 1 3 1 1 se diz Fortelbeza; tudinis Monasterio S. Salvatoris de Ec
em outro de 1338 lêmos Furteleza: clesiola, Óº Priori ejusdem Monaste
e ambos no mesmo sentido. rii Domno Suario, & Fratribus, ibi
*_

… FORTELEZA, II. Castello, mu Deo servientibus , tam presentibus,


ro, cerca, ou Praça. E que elles fa quam futuris, de omnibus Fossadariis,
rião a dita Forteleza de pedra, e de quas Priores, & Fratres ejusdem Mo
call, ou de canto talhado, á bem vis masterii, usque ad diem banc acquire
ta de qualquer, que nossa Mercê fos re potuerunt, sive emptione, sive tes
se de o mandarmos ver. Carta d'El tamento. Mandamus igitur, & firmi
Rei D. Fernando de 1376. Doc. ter concedimus, ut eas habeant, atque
de Moncorvo. , , , ,, . possideant liberè in perpetuum ; sicut
º FORTELEZAR. O mesmo que dº caeteras baereditates, quas firmiur,
Afortelezar. * * * * * * - 1: &º liberius possident. Hoc enim faci
FORTILIZA. Fortaleza, vigor, mus pro remissione peccatorum nostro
firmeza. V. Fetto. . , : rum , Óº pro amore varsalli nostri,
…FOSTE. Vara de Ministro Real, Domni Alvari, Martini, qui in obse
ou indicativa da sua authoridade, e quio Dei, ó nostro, contra inimicos
jurisdicção. Vem do Latino Fustis. Crucis Christi apud Silvim interfectus
De hum Auto de posse dado ao está Sarracenis: & pro amore, & fideli |
Mosteiro de Castro de Avelãs no de servitio, quod Domnus Martinus Colini
1298, consta que o Porteiro do Pro briensis Episcopus , & omne genus
curador d’El-Rei foi á Igreja de São suum, Nobis devote exhibuerunt, é co
João de Frieira com seu foste, e deo tidie exbibent. Facta Karta Danationis,
posse dos Dizimos della ao Procu &º Oblationis apud Ulixbonam VI. Kal.
rador do Mosteiro. Doc. de Bragan Augusti in E.º Mº CC;º XXº VIII."
ça: V. Bastonario, e Sigillar. * … Nos supranominati Reges, quibane
FOSSADA. V. Fossado, e … :: Cartam facere jussimus, coram bonis
# FOSSADEIRA, I. Terra obriga bominibus eam Robor—J—J-J-J
da a pagar hum Tributo, a que cha --J-J—J—J——amus.
mavão Fossadeira , assim como se Addimus etiam, ut quicumque hoc
chamavão Cavallarías as que erão nostrum factum vobis integré observa
Pensionadas em o Tributo do mes verit , sit benedictus à Deo. Et qui
FO FO 475
aliterfecerit, sit maledictus, ó pre Guimarães forão isentos deste foro
dicto Monasterio D. solidos pectet, ó" pelo Infante D. Afonso Henriques
Carta in suo robore integra, & firma no Foral novo , que lhes deo, re
permaneat. formando-lhes, e ampliando o que
Mandamus igitur, ut ab hac die in seus Pais lhes tinhão dado: e isto
antea nullam bujusmodi emant baere em contemplação dos relevantes ser
ditatem. viços, que lhe tinhão feito, da sin
Oui afuerunt : gular honra com que o tinhão tra
Comes D.Mendus, Maiordomus Curie Of. tado, e das grandes perdas, e ava
Rodericus RodericiDñiRegis signifer Of. rías, que por seu respeito, e amor
D. Petrus Alfonsi. - - - - Of. havião sofrido. Portanto manda que
as herdades dos de Guimarães: num
D. johannes Fernandi DapiferRegis Of
D.Martinus Bracaren. Archiepiscop. Of. quam donent fossadeiras; escusos sem
dúvida os seus donos de hirem ao
D. Suarius Ulixbonensis Episcopus. Of. Fossado. L. das Foraes Velhos. Na
D. Johannes Visensis Episcopus. Of.
D. Pelagius Elborensis Episcopus.
fé de Lousada reproduziremos *#
Of. o Foral da Torre # Mem-Corvo, da
D. Johannes Lamecensis Episcopus. Of.
Egeas Pelagii. - - - - - ts. do por este Capitão na Era de Chris
Petrus Menendi. - - - -to 1o62, e confirmado depois pelo
- ts.
Merlinus. - - - - - -Infante D. Afonso Henriques, que,
- ts.
diz, se acha no dito L. dos Foraes
- Seguem-se em rodado, Rex Dhus f. 36 por estas formaes palavras: In
Sancius, Regina D. Dulcia, Rex D. Dei Nomine. Ego Infante D. Afon
Alfonsus , Rex D. Petrus, Rex D. so. Anriques. Placuit mibi per bonam
Henricus, Regina D. Tarasia, Regi pacem , Óº per bonam voluntatem,
na D. Sancia. (E note-se que sen quod faciam advos Bonos bomines de
do 7 as Pessoas Reaes, os sinaes Turre de Menendo Curvo ; proinde,
das Cruzes, ou Firmas são 8.) quod vos , & vestri antecessores po
julianus Notarius Curie scriprit. pulastis eam, per destructionem Cas
FOSSADEIRA. II.Tributo Real, telli Curvi , quod est super pontem
que se pagava por aquelles , que fluminis Sabor; & quod fecistis mihi
tendo obrigação de hirem ao For honorem, Óº servicium bonum de XXX.
sado huma vez no anno, com efei equis caballariis, qui mecum intrave
to não hião, applicado para as des runz Taurum, ó Villam Garriam in
pezas, que no dito Fossado se fa guerra, quam habui cum Castellanis;
zião. Deste Tributo, e tambem do &º postea defendistis tam de Comite
mesmo Fossado erão isentos por au D. Roderico, quando transivit Durium
thoridade do Principe alguns Povos, contra me, cum duobus milibus pedo
ou Concelhos, ou por estarem na nibus, ó octingentis caballariis equis,
fronteira dos inimigos, ou por terem &º trecentis armatis. Et ego volo su
feito grandes serviços á Real Corôa. per vos, & super filios vestros, 6°
No Foral de Castello-Branco de super omnem progeniem vestram, fa
1 2 13 se diz: (assim como na maior cere honorem: Autorizo vobis illum Fo
parte dos Foraes antigos) Et quinon rum , quod dedit vobis meus bisavus
fueris ad Fossado, peite proforo V.f. D. Fernandus , Princeps Hispanie º
pro fossadeira. Pelo contrario os de quandº filiavit Ancianes, é Villari
ii num »
476 FO FO

num, & totam Vallariciam, usque ad rosa, e armada, a talar, ou colher


aquas. Durii, Óº posuit ad defenden das novidades, e fructos, que os ini
dam terram de Mauris, é incursio migos havião agricultado. Para este
nes eorum D. Menendum Curvum. Et fim apoderados do campo , se en
Comes dedit vestris bisavis tale Forum, trincheiravão ligeiramente em val
de consensu, Óº voluntate ejusdem Prin los, ou fossos , contendo-se uni
cipes Fernandi: In toto Regno nompe camente na defensiva, e guardando
ctetis Portaginem, nec Homenaginum. as costas aos que se occupavão na
Et Cavalleiro, aut vassallo Infanzom, extracção dos fructos, e forragens.
aut nullo homine, qui fuerit Ingenuo, E neste sentido he, que constan
é” in Menendo Curvo venerit morare, temente se acha esta palavra em os
&º ibi domicilium aedificaverit, pectet nossos antigos Documentos, dedu
inde Fossadeira , et sua haereditate, zida talvez de Fossinagar, que pa
et suo haver sit salvus, et incolumir, ra com os Longobardos significava
&c. campo cultivado, e cheio de pastos,
Destruido o Castello de Mendo e renovos. Compunha-se este Fos
Curvo procurárão os habitadores do sado não só de Cavaleiros, Escu
dito Castello , ou Torre mudar a deiros, e tropa regular; mas tam
sua habitação para junto da Ponte bem de Peões, aldeanos, e gente
do Sabor, entre este rio, e a ribei da lavoura para colherem , e con
ra da Villariça. El-Rei D. Sanchol. duzirem a preza , ou tomadía. Os
lhes deo Foral no de 1225, e com mesmos Principes, e Bispos não ti
franquezas quasi semelhantes ás an nhão por dezar o acharem-se nes
tigas. E pelo que respeita á Fossa tas Expedições, que repentínamen
deira, diz; Et vos hominer de San te, e quasi de improviso se fazião;
cta Cruce, non faciatis Fossado, nec mas sempre naquelles mezes, em
detis Fossadeira; pro qui estis in fron que os pães estavão em ferrãa, quan
teira ; ergo si venerit Maurus, aut do não fosse maduros.
malos Christianos a la terra scorrelos a Lousada nos accusa dois Foraes:
poder, et tornent se ipso die a suas hum de Freixo de Spada-Cinta pe
Kasas. Doc. de Moncorvo. V. Fos lo Conde D. Henrique no de 1o%8:
sado. outro de Castro-Leboreiro por El
FOSSADO. Vem do Latino Fos Rei D. Afonso Henriques: no 1.º se
sa: daqui disserão os Portuguezes diz: Omnes scutarii vadant ad Appel
Fossado, ou Fossada, que não só se lido... Reliqui verö , et Villani va
toma pelos fossos, vallos, cavas, e dant ad Fossado: no 2.º se lê: Pe
outras obras, com que huma Pra domes vadant ad Fossado : Cavalleiros
ça, Fortaleza, Castello, ou arraial. vadant ad Appellido. Porém nós te
se fortifica , e resguarda; mas par mos cousas mais certas , e incon
ticularmente se tomou por huma testaveis. No Foral de Cêa pelo In
Expedição Militar , ou Cavalgada, fante D. Afonso Henriques no de
mui diferente da Oste, ou Hoste, 1 136 se determina, que o Caval
Appellido, Azaria, Fronteira, e An leiro de Cêa, que não tiver Apresta
naduva ; como se póde ver nestas mo, não vá a algum Fossado: nisi
respectivas palavras. Consistia, pois, illo de Maio, et Appellido. E alli mes
o Fortado em sahir com mão pode mo : Si Fossado veniat ad mostram
• Fil
FO FO 477
Pillam, et Cavaleiro, aut Pedone de Villa de Thomar, em que dizem:
ripaverit Cavaleiro: que habeat suum De preda de Fossado non detis nisi ad
spolium cum suo Cavalo, et non de in Zagam duas partes: vobis remaneant
de ratione, neque quinta. L. dos Fo dua. E estando bem claro, que es
raes Velhos. No de 1 1 39 fez o mes te Fossado tinha por objecto unica
mo Infante huma Dôação a Monio mente o fazer prezas; he bem para
Guimariz , como se póde ver V. notar, que o seu Traductor dissesse
Foro morto: e isto foi no mez de Ju deste modo: E de roubo, e de Foçado
lho : quando ibamus in illo Fossado de non dedes senon ao Adail as duas par
Ladera. Este mesmo Principe no Fo tes, e a vos fiquem as duas. Corria
ral, que deo á Villa de Barcellos, o mesmo anno de 1 162 , quando
regula o modo com que o Senhor D. Odorio Bispo de Viseu, de con
daquella terra poderá embargar as sentimento do Cabido , emprazou º
bestas, para ir ao Fossado, em que com foro de sexto , ó: nihil plus, º
o Rei se achava: Dominus, qui ip hum campo entre Fontello, e Gui
sam terram de me tenuerit, Óº volue marães, a Gonçalo Fernandes, pe
•| los bons serviços, que lhe tinha Ł
rit lavare bestias suas ad Fossatum Do
mini Regir, det ei suum alqueire: ad to, mandando de sua casa quem o
Tudem medium morabit., Óº vitam, acompanhasse já por tres vezes na
é º cevadam : Óº ad Colibriam unum expedição do Fossado , mandando
morabit., Óº vitam, et cevadam: et igualmente a sua besta. Acha-se no
ad Trancosum , et Bragantiam duos ombo Velho daquella Sé, e diz
morabit. et vitam , et cevadam. Et assim : In Nomini Diii. Amen. Hec
non aprehendat eis suas terbolias, nec est Carta Donationis, et firmitudinis,
suam liteiram , sine grato suo...V. quam Ego Odorius Visens. Eps, una
Embolhas. No Foral, que o mesmo. cum Petro Lombardo, S. Mariae Prio
Rei deo a Villa de Moz, no de ri, et Canonicorum consensu, feci ti
1 162, diz assim: Et si faciatis Fos bi Gonsalvo Fernandi, pro bono servi
sado una vice in anno, vadant tertia tio, quod mihi fecisti per novem an
parte de Cavaleiros , et duas partes nos , et de tua casa jussisti mecum
stent in illo, Castello. Et illa tertia, in Fossado tribus vicibus, cum bestia
qui debuerit ire in Fossado , et non tua , de illo campo, & c. No Foral
fuerit, pectet in fossadeira V, soldos, de Castello-Branco se determina:
in apreciadura de Alcaldes. Et non Damus vobis Foro , & custumes de
faciatis Fossado , nisi cum vestro Se Elbis, tam presentibus, quam futu
niore uma vice in anno; ita ut, leve ris : Ut duas partes dos Cavaleiros
tis panem calidum in alforges, et ip vadant in Fossado, & tertia pars re
so die revertatis advestrum Castellum, maneat in Villa: &º una vice faciant
Pedones, et Clerici non faciant Fossa Fossado in anno. Doc. deThomar. E fi
do. Ficava Moz na Fronteira do Rei nalmente se note, que no Foral de
no de Leão; e por isso na occasião Soure pelo Conde D. Henrique no
de guerra não se devião alongar do de 11 ti, que se acha copiado no L.
Castello , senão , quando muito, dos Foraes Velhos, se diz: De pre
por hum dia. Doc. de Moz. da de Fossato non detis nobis plurquam
No mesmo anno derão os Tem X" partem. Porém no seu Origi
plarios Foral aos moradores da sua nal, que se vê em Thomar, lemos
>
- 2S
478 FO FO
assim : De preda de Sfato non desis sa mui diversa ; porém se nós re
nobis, & c. Poderia ser oscitancia, flectimos na condição geral da Em
e descuido do Escritor : mas porque fiteuse, de que o colono corporal
não diremos nós, que falla expres mente , por si, ou por outro, ha
samente da Prezas da Searas , a bite, lavre, e approveite os bens
que o Fossado de primeira tenção emprazados, diremos que lavrar o
se derigia ?... Entre os Doc, do Mos Fosso, e lavrar o foro, são synony
teiro de Santa Maria de Aguiar se mos: tomando Fosso por campo; e
acha hum, que nos diz, como no Foro por bens aforados, ou empra
de 1222 o Concelho de Cidade-Ro zados.
drigo confirmou áquelle Mosteiro, FOYO. Demarcando El-Rei D.
a Granja da Foz de Aguiar, de que Affonso Henriques o Couto de Mui
já lhe tinha feito Dôação, prohi menta de Zurára ao Abbade D. Suei
bindo estreitamente, que ninguem ro Theodoniz no de 1161, diz, que
pescasse nas suas pesqueiras, e ac parte com Lobelhe do Mato per Fo
crescentão : Hoc donum fuit datum, gium de lupo , isto he, pelo Fojo
et ab omnibus nobis uma voce confirma do lobo. Era , e he o Fojo huma
tum, in die, quo volebamus pergere cova funda, e redonda para tomar
ad seccandos panes Sarracenorum. E lobos, e outras féras: e daqui viria
quem se persuadirá, que hum Con o nome áquelle sitio. Foi traduzi
celho em corpo hia ceifar por devo do este Doc. no de 1476 por hum
ção , ou ainda por jornal, os pães grande Gramatego , que disse Foyo
dos Sarracenos?... Hião pois de Fos * Fojo. Porém n'huma Carta d'El
sado, e quizerão obsequiar a Rai ei D. João III. que confirma este
nha do Ceo; confirmando-lhe o Couto se traduzio pela foz do lo
Donativo, que já d'antes lhe tinhão bo: o que nos desengana das pou
consagrado. cas luzes dos que manejárão em va
FOSSO. Campo , terreiro, ro rios tempos os Reaes Archivos, e
cio, paúl, que ficava junto do Mos assistírão mesmo nas Confirmações
teiro, que antigamente se chamava Geraes. Doc. de Maceiradão.
Fosso , assim como ainda hoje se Berg. FRACIADO. Franco, livre. Ap.

chama em Pinhel ao rocio da Ci


dade; talvez dito assim por ser con FRADE. Antigamente se intitu
tínuamente pizado , e foçado dos lavão muitos Seculares com este al
porcos, que na Baixa Latinidade | cunho ; ou porque havião entrado
se disserão Fossorii. Em hum Pra em alguma Religião, em que não
zo do Mosteiro de Rio Tinto, além permanecêrão; ou porque sendo me
da Pensão de colmo , palha , ester ninos andárão vestidos como Fra
quo: tinhão os Emfiteutas obrigação des, por devoção de seus Pais, o
de lavrar o fosso , e bir pelo vinho que ainda hoje com mais piedade,
alem d'Ave por seu giro, Doc. das que prudencia se pratica; ou final
Bentas do Porto de 1473. Porém mente se chamárão Frades os mes
nos Prazos de Tarouquella de 1466, mos Seculares, que vivião nos Hos
1476, e 1489 he huma parte da pitaes; ou erão Familiares, Tercei
Pensão, que os Emfiteutas lavrem ros , ou Comensaes de alguma Or
ºforo: o que parece quer dizer cou dem, ou Casa Religiosa; ou erão
• •••
FR FR 479
Irmãos de alguma Confraria; ou an Fragueiros fossem homens destina
davão com vestido particular, indi dos a procurar, cortar, e preparar
cativo de penitencia, e vida refor nos montes, e por entre as fragas,
mada. V. Frei. matos , e brenhas as madeiras de
FRADES Maiores. Parece quer construcção naval. Com efeito os
dizer Frades de S. Domingos, que seHespanhoes do Sec. XII, chamátão
chamou o Mayor Gusmão, (a pezar Fragas; ao que nós dizemos matas,
dos Bolandistas, e outros, que o ou devezar. E os nossos antigos cha
quizerão tirar desta Familia) e de márão Fragueiros aos inquietos, al
quem S. Francisco de Assis se in voraçados , ligeiros, incansaveis,
titulou sempre o Irmão Menor. Da impacientes , e amigos de andar á
qui veio a numenclatura de Frades caça pelas fragúras, e montes. Da
Maiores , e Menores , com que os qui Fragueirice: a sede insaciavel de
seus filhos se distinguírão. No de andar á caça por entre Fragas, e
1289 fez Afonso Ribeiro o seu Tes rochedos. Com tudo não impugna
tamento, em que deixa aos Frades mos os que tomarem Fregueiros, por
Meores de Coimbra. V. Libras. It : Fragateiros; pois muitos annos an
aos Frades Mayores V. Libras. Doc. tes, que os Portuguezes descubris
de Pendorada. sem a India, usavão de Fragatas,
FRAGICIA. Ruptura, ou que je ou barcos
pratícão.de remo, como #ainda ho •

bradura , succedida, ou pela rela


FRAINEZA.
xação, ou pela rasgadura do peri mingua, falta. Pobreza, penuria,

tóneo; fazendo inchação na virilha


cheia de zirbo , ou de tripas ; ou FRAISSEC). Mosteiro de Fraisseo:
fazendo cahir na bolsa dos testicu Mosteiro de Freixo, terra assim cha
los alguma, ou ambas estas cousas. mada. Mando ao Moesteiro de Frais
Parece, que della padecia certo le seo C. libras. Doc. de Almoster de
proso, e quebrado, que no de 11o7 1287. Bem podería ser este o Mos
fez huma Dôação ao Mosteiro de teiro de Freixo não longe da Ama
Paço de Sousa, em que se lê: Fa rante, incorporado hoje no de São
ciatis mibi caritate in vita mea, pro Gonçalo da mesma Villa. -
que ego sum misso in lepra, Óº infra FRAIXEL. V. Fraixel..> --
gicia. Doc. do Paço de Sousa. Vem FRANCISCO. adj. Francez, ou
do Latino Fragium: a rotura. cousa de França. Na Dôaç. do Cou
FRAGUEIRO. Oficial, que se to, que D.Afonso Henriques fez no
empregava na construcção de náos, de 1 139 ao Mosteira da Hermida, sos
ou fragatas. Item: que todos Carpin bre o rio Córgo, em terra de Panoyas,
teiros, Fragueiros, Calafates, Sser e defronte de Lobrigos, se lê: Et
radores, Fferreiros, Torneiros, Cavi inde vestitur, in Corrago ...… Óº inde
lhadores, que lhes necessarios forem, pergit per illum carreirum vetus de
pera fazimento das ditas nados, lhes illa Cumieira, ó, inde pergit per il
sejam dados , e constrangidos, que lum Palacium Franciscum... usque in
vaaom com elles servir. Carta d'El pelagº de Godim. Daqui se vê; }
Rei D. Afonso V. para a Camera no Termo de Santa Martha de Pe
do Porto nó de 1474. Tambem nos naguião havia huma casa de cam
fica lugar a suspeitarmos que estes po, a que chamavão Palacio, *
{{l 1
48o \ FR __ FR
talvez de algum dos Aventureiros veis. Daqui se disse Fiambre: o pre
Francezes , que com o Conde D. sunto que se come frio, depois de
Henrique vierão a Portugal. Doc. de cozido em vinho branco, e mesmo
Tarouca.Entre os Romanos havia hu quaesquer carnes assim comidas.
ma Insignia a que chamavão Francis FRANGOS de Souto. Erão os
ca, com figura de machadinha, que que se pagavão ao Senhorio, pelo
os Consules, juntamente com as Fas uso de algum souto, mata, ou de
ces, levavão diante de si para terror, VC72.
segurança , e honra. Desta mesma FRANXAL.V. Froixel. It : Man
Insignia usárão os Hespanhoes, mas damos comnosco á Igreja buma cama,
com o nome de Francisco , toman convem a saber: hum almadraque de
do-a dos Francezes, que forão os franxal, e bum cabeçal, e hum par
rimeiros, que usárão das Secures, de lençoes , e huma colcha. Testam.
ou Machadinhas; imitando o Diale de D. Lourenço Bispo de Lamego
cto dos Longobardos, que termi de 1393.
navão em ISC todos os nomes de FRASCARIO. Homem dado a
gentes, e Nações, v. g. os Francos, mulheres. Vem do Italiano Frasca,
Franciscos; os Gregos, Greciscos; os que he o mesmo que rama , por
Romanos , Romaniscos, &c. Tam que como ave que anda de ramo
bem se chamou Francisco, certa me em ramo, anda o lascivo, e liber
dida de pão; talvez por ser nasci tino de meretriz em meretriz. Des
cida, e usada em França. ta metafora veio o chamarem os
FRANCISCO. Nome proprio tragada, Hespanhoes Ramera: a "mulher es
e prostituida. •

de homem. Alguma vez se encontra


muito antes, que viesse ao mundo RAVEGAS. Nome de terra, a
S. Francisco de Assís, que disserão que hoje corresponde o de Fragoas;
fôra o primeiro , que estreára este assim em Besteiros, onde no de
nome, deixado o primeiro, que ti 1236 se chamava Fravegas, o que
vera de João , por haver traficado hoje dizemos Mosteiro de Fragoas;
por alguns annos em França, e sa como tambem no Couto de Fragoas
ber perfeitamente a Lingua daquel no Bispado de Lamego, que no de
le Paiz. Em hum Doc. de 1o64, 1 128 se chamava Fravegas. Doc. de
pelo qual El-Rei D. Fernando, o Maceiradão, e de Arouca.
Magno, confirma á Igreja de San FREAMA. V. Frama , Empico
tiago de Galliza a Villa da Corne tar, e Inchar freama, onde parece,
lhã, e os seus Privilegios, se acha que Freama se toma por leitão, ou
por testemunha Gonçalo Francisco leitôa.
Marques. V. T. III, das Prov. da Hist, FREI. Abbreviatura de Frade,
Genal da Casa Real af. 463. ou Frater em Latim. Em os nossos
FRAMA , e Freama. Presunto Archivos se descobrem muitos Se
de porco, ou mais bem leitão, ou lei culares solteiros, casados, e viuvos
tôa. Esta era huma das foragens, com o Titulo de Frei , de Frade,
que se acha nos Prazos de Lame ou de Frater, de que alguem po
go. A qualidade dos presuntos da deria suspeitar, que erão membros
quela terra os deveria fazer, como professos de alguma Religião ap
ainda hoje, estimados, e appeteci provada. Principiasse o nome de
Fra
FR FR 481
Fräde nos Fratres . Arvales , com mãos das Confrarías Seculares se
a Fundação de Roma : fosse em chamárão Frades, ou Frei. Nos Doc.
bora o Glorioso Patriarcha S. Ben de Lorvão g. 2. mass. 2. n. 8. está
to, o primeiro , que usasse º da certa Dôação de huns moinhos em
palavra Frei , chamando a gran Coimbra, que do Nascente partião
des vozes por Frei Mauro , ou Cum Confraria S. Juliani da mesma
Amaro , que acudisse ao menino Cidade. E logo n. 9. está a Dôação
Placido, que se havia afogado: o de hum chão, que ao Abbade de
que não tem dúvida he, que des Lorvão fizerão no de 1 184 Pedro
de a primitiva Christandade teve Agulha, e Martinho Perne: Una cum
grande uso o nome de Frater, ou Conventu Fratrum S. juliani. E eis
Irmão na Igreja Santa. Resfriada aqui temos os Irmãos da Confraría
a Caridade , se restaurou o nome intitulados Frades de S. Julião.
de Frade, ou Frei nas Communida FREIRIA. Congregação, Con
des Religiosas. E pareceo tão bem fraternidade , Confraría , Socieda
este appelido sem fausto aos que de, Ordem, Sodalicio de varias Cor
vião com desprezo as bagatellas do porações Militares: a condição, ou
#
mundo, que com elle se honrárão.
Boms homens: Devotos da vida Em
# de ser Freire em alguma
as Ordens Militares; e tambem se
paredada: Homes da vida Pobre: joan chamárão Freirías os Lugares, sitios,
nes, & c. erão os Titulos com que ruas , ou bairros , em que estes
se distinguírão em outro tempo em Freires por algum tempo residírão. E
Portugal alguns sujeitos, que fa a este Mestre de Gramatica ordenamor
zião, até no exterior, especial apre em cada hum anno outro tanto manti
ço de virtude, posto que não pro mento , como a hum Freire de sua
…"
fessassem alguma Regra, ou Insti Freiría. Const. d'El-Rei D. Manoel
@ tuto. Muitos destes vivião eremitica de 15 o3. Doc. de Thomar.
mente, e se chamavão Eremitas, ou FREIRAR-SE. Tomar o Habito
Eremitães: outros professavão a Ter em alguma Religião approvada. Di
ceira Regra de S. Francisco. E to zia-se dos homens, e das mulheres.
dos estes se intitulavão Frei, e al FREITAR. Fazer fructifero, af
gumas vezes Frade; sendo, como fruitar , reduzir a cultura , rotear.
erão, muitos delles casados. O mes Que elles por já serem velhos , não
mo succedeo antigamente com os podião freitar , nem reparar as ter
Irmãos Barbaros , Serventes, Bobul ras do dito Casal. Prazo do Sec. XV.
cos , Pastores , Conversos, e Exte FRIZANTE. Especie de moe
riores, que nos Mosteiros, com al da, cujo valor, e feitio se ignorão.
gum distinctivo de Religião, se oc Dizem ser o mesmo que Pesante. V.
cupavão na vida activa, os quaes se Perante.
achão com frequencia nomeados de FROIXEL , e Fraixel. Pluma,
Frades, ou Frei. Dos Familiares, ou ou penna miuda das aves, de que
Irmãos externos, conscriptos, Irmãos se enchem colchões, cabeçaes, ou,
Espirituaes, ou da Confraternidade. V. fronhas. No de 1272 deixa D. Al
Familiares: e tambem estes se inti dára ao Mosteiro de Tarouca o seu
tulárão Frades não poucas vezes. leito , cum una culcitra de froixel,
Concluo com dizer, que até os Ir é º cum duobus pulvinaribus de froi
Tom. I. Ppp *el,
482 FR. F{R "
xel, & cum duobus auricularibus de FRONÇA, Lenha miupa, a que
froixel, Óº cum uno almadraque, Óº hoje chamamos frança , ou rama,
cum una colchia. Doc. de Tarouca. que fica dos páos grossos, quando
Nos Doc. de Lamego do mesmo se desfalcão , aparão, ou alimpão.
tempo se diz Fraixel. Oue nós montemos na dita devessa, e
FROLENÇAS. V. Frolyees. estrume , e lenha seca, e fronça da
FROLYEES, Frolys, e Frolen madeira, que talhemos. Doc. de Pen
ças. O mesmo que Florins. Era o dorada de 1332. -

Florim moeda de ouro puro, que se FRONTA. Requirimento. Vc


começou a lavrar em Florença, oi do Verbo Frontar.
to das quaes tinhão o pezo de hu FRONTAR. Requerer , pedir
ma onça d'ouro: foi isto no de 1252. com instancia, protestar. Ainda se
Tinha de huma parte huma flôr de não esqueceo esteVerbo, e Fronta seu
liz, e da outra a Imagem de São dirivado, em osTribunaes deste Rei
João Baptista. Da Flor, e de Flo no. Efrontou-lhe, que lhe mostrasse,
rença se chamárão Florins, e não de como a havião , ou se lha dera El
Lucio Aquilio Floro, que fez cunhar Rei , ou lhe abrisse mão della pera
huma moeda com a cabeça de Au El-Rei. Tombo do Aro de Lamego
gusto no anverso, e no reverso hu de 134ó a f. 22. Y. Requeria o En
ma flôr com estas palavras: Lucius queredor ao Guardião de S. Fran
Aquilius Florus III. Vir. Em Roma, cisco da dita Cidade, que pois acha
e outras muitas Cidades, e Provin va, como no sitio do Convento
cias se lavrárão Florins ; de que se era huma Fogueira d'El-Rei , lhe
póde ver Du Cange V. Floreni, e V. mostrasse o Titulo da sua acquisi
Moneta. Em Portugal achamos Fro ção, ou lha dimittisse para a Co
lys de ouro, (pois tambem os hou rôa. Mostrou-se-lhe o Alvará d'El
ve de prata) no de 138o. Não foi Rei D. Diniz de 1279 , e findou
o seu valor uniforme em todas as a contenda sobre esta Fogueira , a
partes. O Florim de Amsterdam, e que o mesmo Rei chama Reguengo.
outras partes do Norte , são 3oo V. Catar.
réis da moeda Portugueza, fazen FRONTEIRA. Expedição mi
do dois Florins e meio huma pa litar, guerra, ou campanha, que
taca de 75o réis do nosso dinheiro. se fazia no limite , raia, ou fron
No de 147o mandou El-Rei á Ca teira de algum Reino, ou Provin
mera do Porto , que para a paga cia belligerante , e comarcáa, sem
dos 6od)ooo Frolyees se não recebão mais destino, que conter-se na de
os Anriques , novamente cunhados fensiva , e impedir que o inimigo
em Castella, que não podião valer se adiantasse fóra das suas terras,
4oo réis como os antigos. Doc, do fazendo nas alheias alguma con
Porto, onde se lê tambem Frolys, uista, roubo, ou damno. Em 3 de
e Forlys quasi pelo mesmo tempo, # de 13o? Estevão Mendes Ca
e tambem Frolenças. Dizião os Por valeiro , (por alcunha o Pichel)
tuguezes no Seculo XIII., e XIV., uerendo ir á Fronteira por serviço
e ainda depois, Frol o que nós ho } Deos , e do Rei , temendo os
je dizemos Flór, e dalli veio a pro efeitos da guerra, dôou ao Bispo,
nuncia de Frolenças, Órc. — e Sé de Viseu a sua quinta de Gui
ff14
lº R. FR 483
marantinhos em Terra de Taváres; com la ; e delle são izentos os que nella
condição , que morrendo na Fron morão, e os do Couto Velho. No Tom
teira , logo o Bispo tomasse pos bo do Mosteiro de Castro de Ave
se da dita quinta ; mas voltando, a lãs de 15o I se nomêa o Direito da
possuisse em sua vida sómente. E Fumagem : Fumadégo , e Fumadé
o Bispo , (que era D. Egas) por gos, o qual se pagava de humas
esta Esmola (assim chamavão áquel terras, e de outras não. Doc. de
la venda) lhe deo 2oo libras de di Bragança. Na Baixa Latinidade se
nheiros Portuguezes pera seu guira disse Foagium , ou Focagium: este
mento pera a Fronteira. Desde os Direito dos Fogos, ou Pessoas.
principios do Reino usárão os Por FUMIGAR. Fazer fogo, accen
tuguezes desta palavra no sentido der lume, viver de contínuo. E se
-
exposto. V. Fossadeira. Entre os mui ráõ obrigados a viver nas ditas casas,
tos, e grandes Privilegios, que El e as fumigaráõ. Prazo de 1539.
Rei D. Fernando confirmou, e de FURTELEZA. V: Forteleza.
novo concedco, aos que morassem FURTIVELMENTE. Commet
dentro da Cerca de Coimbra no de tendo furto, fazendo roubo occul
1373 foi, o de não birem em Oste, tamente , e ás escondidas. V. Al
Fossada, Fronteira, não sendo bestei muinha.
ros , ou galeotes , ou não hindo com FURUS. Foros, ou Foraes dos
El-Rei, Doc. da Cam. de Coimbra. Concelhos, Ordenações, e Regi
FRORES. Nome de mulher , mentos das Terras. E alçamolo por
que hoje diriamos Flóres. Johão Ean nos ru juiz , e por nossu Ouvidor , e
nes, e Frores Pirez ssa molher. Sen metemoli nossus furus, e nossas Car
tença da Guarda de 1298. tar , e nossus segelos em mão , e ou
FUERO, V. juzgo. torgamoli , que quant’el fezesse, ou
FUMADEGO. V. Fumagem , e mandasse, ou juigasse sobre lo depar
Ourolo. timento dos davanditos têrmos , que
FUMAGEM, e Fumadego. Cen nós ouvessemos firme , e stavy, e o
so, Tributo, ou Pensão, que o Di guardassemos por sempre. Doc. de
reito Senhorio recebia de todas as Aguiar da Beira de 1 268. V. Ba
casas dos seus vassallos, ou colo ralas.
nos; prescindindo de nellas accen FUSTA , e Fustám. Castigo,
derem fogo , ou fazerem fumo; que por authoridade pública se da
porque o commum, e regular era o va, açoutando com varas aos cri
accendê-lo. Este era o Censo a que minosos, segundo o Foral Velho de
estava alligado o jus habitandi. E Coimbra. Era a Fustám , ou fusti
por isso em alguns Doc. se chama gação menos rigorosa , que a fla
Fogaça, ou Fogo, trazendo o nome gelação: a esta muitas vezes se se
do fogo, que naquela casa se ac guia a morte: naquella se inten
cendia. Tambem se chamou Direi tava principalmente a dôr, e a ver
to de Cabeça, ou Cabeção. V. Fogo. gonha. Nas Leis Civís , Canoni
No Foral de Monção de 15 12 se cas, e Militares se applicou este
diz: tambem pertence ao Concelho castigo , segundo a qualidade das
o Direito da Fumagem: este pagaráõ culpas. Não sabemos hoje, que Fo
todos os moradores do termo desta Vil ral de Coimbra este fosse, que gros
Ppp ii SUl
484 FU FU
sura, e comprimento de varas, ou entre em fustám, segundo Foro Velho
número de golpes assignasse , co de Coimbra, ou as compre aaquel, a
mo em outros se declara. V. Tagan que deve satisfazer. Doc. de Tho
tes, e Varancadas. De Fusto , ou mar. E no de Ourém de 1 1 8o: Pro
Fustigo , se disse Fustis , e daqui omnes feridas , de quibus satisfacere
Fusta , e Fustám , para significar debet , intret in fustám , secundum
este castigo de varas, que ainda veterem forum Colimbriae , aut com
nas Religiões se pratíca , a Igre ponat eas, cui satisfacere voluerit. L.
ja Santa algumas vezes usa , , e a dos Foraes Velhos. V. Correger por
que entre os Militares succedêrão páus.
as Pranchadas. No Foral de Tho FUY. Foi , na terceira pessoa
mar de 1 174 achamos: Por todalhas do preterito do Verbo Ir. Dec. de
feridas, das quaes deve satisfazer, I3I 2.

Fim do Tomo I.

ER
E R R A T A S.

Erros. Emendas. Erros. Emendas.


Pag. Pag.
2 aquelle áquelle 197 na Enegelica n a Encyclica
não tinha não tinhão Ib. por sem cabeça por serem cabeça
de 1796 de 1786 2OO Travecas Fravecas
aSSentO 3CCCI)tO 2O I alli comerem e alli comerem
Corveira Corvaceira 2O4 porém os Prazos porém nos Prazos
Alpargartas Alpargatas 2O5 O qual Direitso e O qual Direito se
in mais Af} 177C If Ib. JC/72 (1far"Cr/2 Jc m/dfgrêI/2

Paga-se mais Ib. BRANCA BRANE A


Paga so maís
no Rie 170 rIO 2O6 nas Corte nas Côrtes
Beveragia ao8 arrombamento o 2.º está de mais
Berragia
respeitaveis respectivas 2O9 ou habilitação ou habitação
o 2.° Abbas está de mais 2.1 O á burella a bucella
A DE AMAR A DCAMAR. 22 O Barbatorium Barbatoriam
Bernardo Bermudo 222
respectiva ao Canto respectivé ao Canto
quam 22 3 na formas na fórma
quem
por Fr. que Fr. Ib. Domini furti Dominus furti
e que a Cidade e que Cidade Ib. concedidas concedidos
sub Nonna sub Norma 224 uat Juntam aut Juntam
Toudela Tondela 225 do Conselho do Concelho
Celertial * Celestial Ib. de 1269 de 1229
e as conSOITheIn e dS COI1SOII]C 226 fozeiros foreiros
e 99 com as do n.5. e 1 o99 com as do mes 227 da Cidade-Rodrigo de Cidade-Rodrigo
Ib. alli junto
mon. 4. fig. 2. alli juntos
faciunt faciant 229 aut Netos aut Nepos
OultrOS OutrO Ib. de cousa furtada da cousa furtada
JCC (1/71 3 II (1170 23o carrada çarrada
negue Amoçabel neque Almoçabel 2 3 1 pesqueiras em pesqueiras. Em
his mande lhis mandº 232 dous mors dous mrs.
Portas Póstas Ib. Flamula de Deos Famula de Deos
de nos dènos 233 No de 1 1 7 4 No de 1 164
de pão e que são de pão, que são 234 a oitava Coima a oitava : Coima
sectaneis sutaneis 23 $ Carruagem Carceragem
ás da columna ás de columna 239 Perro quirilis Porro quirites
14 1 Clark MT (1+ 10 y o ou Mr Me 10 y 24O a 15 oo réis a 25oó réis
149 seis quarteiro seis quarteiros 24 I
em certos lugares está de mais
no de 1 1 14 no de 1 1 16 Ib.
metalotagem matalotagem
quem defert - quam defert Ib. no de 1 1 1 5 no de 1 175
a Cathedral de Vi á Cathedral de Lamego 242 e afrecetarião e afructarião
Ib. ipsis Abbatis
Seu ipsíus Abbatis
166 243 Godinas Gedinus.
quem gestabunt quem gestabant
de Balalius de Badalius 244 inferindo inserindo
173 de 1 256 de 1266 245 e não vão penhorar o não vão penhorar
Ib, Montmorenei Montmorencí Ib. SC COI]SCIVaSSC SC COilSCIVASSêII]
174 D.Sebastião no D. Sebastião. No 247 e hum cocazil e hum corazil
Ib, Tit. 15. Tit. 16. 248
Anabrega Anobrega
17 $ E. M. LX. VII, E. M. LXVII. Ib. Tralosmontes Traz dos Montes
17 9 e Barbecenus e Barbacenus Ib.
E pedinme E pediu me
18o há d'avor há d'aver 25o os Castorios os Cartorios
Ib. Barqueiros Bargueiros 2$ 3 C}" non de inde c" non dê inde
184 fosse fossem 255 de Roesende de Roosende
Ib, Basilicum scindere Basilicam scindere 256 á colheita, e á pena á Colheita; e a pena
18; se acha Bastiaaens se acha Bestiaaens 257 obrigados obrigadas
137 de 1 439 de 1434 258 o nome ao Qaloyo o nome ao Calaio
Ib. de Christo 1 135 de Christo 1 137 se chamava Galoyo fe chamava Qalayo.
26o
189 dê o nome deo o nome nos seus Lugeres nos feus Lugares
1 QO no de 1 1 3 1 no de 1 1 38 262 e oblatione er oblationem
1 91 mais corrego Ib. Curame
mais correga Curame
102 Real Profissão Real Provisão 2ó 3 de purçaria de parçaría
194. De Voto , Devoto , huma Tramea huma Framèa
195 d'Evora de 1411 d'Evora de 1 431 266 de 1296 de 1246
196 Igrejas Reaes Igrejas Ruraes 267 se acha com fe acha como
197 Depois que as pro Depois as prohibirão 27 Iexhibidas inhibidas
hibirão 272 direito nenhuam direito nenhuum
E R. R. A T A S.

Erros. Emendas. Erros. Evendas.


Pag. Pga. •

274 que apoioer que a poso er 376 Não negareis Não negarei
Ibi. no de 1 147 no de 1145 394 Doc. 2. Dec 2.
Ibi. motivos muitos 4e 1 que sedeat que nem que sedeat .. que non
275 de 196. de 96 Ao3 ut tune til lt/ng
276 Tetroso Terroso 42; destes eyxhenticºs destes eyxhentios
277 V. Cifres. V. Chifres 42; Fazer praço Facer praço
28o Johannes. Tarau Johannis Taraucensis 434 nulli aliis nulli allii
C6/154 435 se acha no se acha que no
285 que nella que nelle 45 o suis carraxos suis carcaxos
292 ante ho Meffre antre hº Mestre 45 I trato de terra tracto de terra.
296 que derião que dezião Ibi, ou Cercenses ou Circenses
3o I de 1 2 13 no de 1213 453 se de ferradura se da ferradura
321 de final do final Ibi. pelas Inquirições pelas suas Inquirições
323 Monendus Menendus Ibi. com o Jerºglificos com osJeroglificos.
326 Tab. 5. n. 4. Tab. 5. n. 9. 464 de Mareira de Moreira.
*
344 A" Mitkos Aº Mifos Ibi. o mefmo Seculo do me fimo Seculo.
351 Ellas pricipiárão Ellas principiárão 467 D. Horroca D. Horraca
342 No de 23 15. No de 15 15 471 que lhe outorgasse que lho outorgasse
361 Femine Foemina Ib. Uno mantum Uno manto -

369 Desfraudado Defraudado 476 ejusdem Principes ejusdem Principis

Os de mais erros, e faltas de pontos , e virgulas, emendará º Pie Leitor.


146.1

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ELUCIDARIO
D A S

PALAVRAS, TERMOS, E FRASES,


QUE EM PORTUGAL ANTIGUAMENTE SE USÁRÃO 3

E que Hoje REGULARMENTE se I GNo RÃo.


O B R A IN D I S P E N S A V E L
PARA ENTE N DER S E M E R R. O
O S

DOCUMENTOS MAIS RAROS, E PRECIOSOS,


Q U E E N T R E N ó s s e co N se R vão:
PUBLICADO EM BENEFICIO DA LITTERATURA PORTUGUEZA,
* * E D E D I CA D O

PRINCIPEN,
Fr.
SENHOR
Joaqui» s***Rosa DE DE VITERBO,
Dos Menores Observantes Reformados da Real Provincia da
Conceição.
T O M O S E G U N D O.

L IS B O A : M. D C C. XCfX.

NA TYPO GRAPHIA R E GIA SIL VIA NA.

Com Licença da Meza do Desembargo do Paço.


Obscurata diu populo bonus eruet, atque
Proferet in lucem speciosa vocabula rerum,
21tae priscis memorata Catonibus , atque Cetégis
Nunc situs informis premit.
Hòrat, Lib. II. Epist. II.
3

ºººko) *?\go/*^$%$#\,S e fº%sº/3#\,S \;**\; \;**\,\:?


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ELUC IDA RIO D A S

PALAVRAS, TERMOS, E FRASES,


&c. &c• • &c.

G.
G. por N. foi muito asado, quan
G. Na Arithmetica dos Anti do ao N. se seguia outro G. v. g.
gos valia 4oo: plicado 4odoo. Agguilla: Aggens: Aggulus &c, por
G. na Musica denotava, que se Anguilla: Angens : Angulus &c.
devia trinar a voz; fazendo na sol G. por N. algumas vezes se usou,
fa como passos de garganta, a que quando ao dito G. se seguia N.: v.
chamamos hoje garganteyos, ou tri g. stagneus: por stanneus. Nos fins
nador. do IV. e principios do Seculo V.,
G. algumas vezes se mudou em quando já a lingua Latina havia de
B.; v. g. Fibula, que devia ser Fi cahido muito da sua pureza, e Or
gula, á figendo. tografia, o G. singelo, ou dobrado,
G. por C. he mui frequente nos ou triplicado depois de AU, indi
Antigos que escreverão Gavea, Ga cava o numero dos Augustos , ou
melus &c, por Cavea, Camelus & c. Imperadores, que actualmente go
Mas particularmente em os nossos vernavão em alguma parte do Im
Doc. do Sec. X. e XI., v. g. Vaseli perio , ou que successivamente
ga: Eglesia: vogabulo : intrinsegus: haviaõ concorrido para alguma o
excomunigadus : Katholiga : sigut : bra, ou Empresa, assim Militar ,
complaguit : &c. por Vaselica : vo como Civil. E o mesmo succedia
cabulo: Ecclesia : intrinsecus: exco nas letras P. S. D. e N. Jacob Lau
municatus : Katholica : sicut : com ro no seu formoso livro Antiquae
placuit &c. Urbis splendor, nos conservou a ins
G. por f he mui frequente no Se cripção , que se achava no Arco
culo XIII., e XIV. v. g. sega, se Triumfal de Graciano, junto á Igre
gam, gouver, vega , boge &c. por ja de S. Celso em Roma, e he a
seja, sejão, Juver , veja, hoje &c. seguinte:
*

A ii IM
4. . GA GA
IMPPP. CAESSS. DDD. NNN. GRATIANUS
VALENTINIANUS, ET. THEODOSIUS, PII. FELI
CES, ET. SEMPER. AVGGG. ARCUM. AD. CONCLV
DENDVM. OPVS, ÓE. PORTICVVM. MAX. AETERNI
NÓIS, SVI. PECVN. PROP, FIERI. ORNARIQ. IVSSERVNT.
S. P. Q. R.

Em a nossa Gazeta de 1786. N. de Arcadío no Oriente, e Hono


43. se relata, como em 28 de Se rio no Occidente, e falecido sem
ptembro do mesmo anno, se achá filhos no de 423. Podemos avan
rão em humas ruinas junto á Ci çar (com boa paz), que seria o ter
dade de Faro no Algarve, cem ceiro, Estelicon , com cuja filha
moedas de ouro, e todas do mes Maria casou Honorio, depois que
mo cunho: tinhão no anverso esta o vencêra a força d'armas; perten
legenda D. N. HONORVS. P. F. dendo elle a Coroa do Imperio. E
AVG. com o busto do Imperador, seria muito natural , que depois
coroado de diadema. Tinhão no re de ser seu sogro lhe comettesse
verso huma figura Militar com o Honorio alguma parte do governo.
Labàro na mão direita , e na es GAAÇAR. ganhar. Ant.
querda a figura da Victoria, pondo GAAÇOM. ganhão, o que ga
lhe huma coroa na cabeça, e de nha o seu jornal, trabalhador, jor
baxo do pé esquerdo a figura de naleiro. Ant.
hum cativo, e a inscripção seguin GAAINHARIA. v. Gança.
te VICTORIA, AVGGG. COMOB, GAANÇA, v. Gança.
e na árèa M. D. que querem dizer GABAMENTOS. Palavras, ou
Victoria Augustorum, ou trium Au discursos, que o amor proprio sa
gustorum: Comitiis Obduratis: Ma be tecer, e dirigir em seu abono.
gistratús Decreto. O Busto he de He do seculo XIV.
Honorío : a Figura Militar he de GADEA. Assim foi chamado o
Wallia, que empunhou o Sceptro Testamento nuncupativo, que sendo
dos Godos no de 416; e confede feito de palavra na prezença de
rado com o Imperador Honorio, testemunhas, era reduzido a Es
se propôz exterminar os Barbaros critura publica na prezença dos Ma
de toda a Hespanha em nome dos gistrados. A hum tal Testamento
Romanos. E com efeito extintos se chamou na infima Latinidade
os Wandalos Silingos, e morto A Vadium , ou Gadium. No de 1 157
thaces Rei dos Xi… , junto a fez Guilherme de Tolosa o seu
Merida, os obrigou a fugirem des Testamento , no qual se lê Gadi
baratados para Gunderíco, Rei dos um, sive Testamentum meum nuncu
Wandalos de Galiza, é por fim es pativum facio. Entre nós se acha
tabelleceo a Côrte do seu Reino Carta de Gadea. V. Karta de Gadea.
em Tolofa. Porem , que tres Au GADO do VENTO. Nos Fo
gustos fossem os que nas medalhas raes do Senhor Rei D. Manoel se
se indícão, não será facil o deci encontra com muita frequencia hum
dillo, não nos constando mais que Titulo do Gado do Vento; determi
• 'I14Il
GA GA 5
nando-se quantos dias devião pas ficação, que corrompe o estado na
sar, para se teputar perdido, e a tural do corpo, rebelde á cura, e
quem pertença. A força mesmo da que em gráo generico convem com
palavra está dizendo, que não he o gallico; ) mas tambem disserão
o mesmo Gado do Vento, que Gado Gafos: os mesmos Leprosorias, La
invento, ou achado; pois muito zaretos , e Hospitaes , em que os
gado se acha, que não anda per leprosos se curavão, ou residião.
dido. Chama-se, pois Gado do Ven Nas Inquiriçoens Reaes de 131o.
to o que sem dono , ou pastor an no Julgado da Maya, e na Fregue
da vagando de huma para outra zia de S. Vicente da Queimadella,
parte , como folha arrebatada do se mandou ficar como estava a Fer
vento , ou mudando-se como o raría, que trazião por Honrra toda
mesmo vento se muda, seguindo os Gafos d'Alfena; porque tinha si
unicamente o instinto, que o Autor do de D. João Peres da Maya. Jo
da Natureza lhe imprimio. anne Annes fez o seu Testamento
GAFARIA. AS. Hospital de no de 1377 : nelle deixa aos Ga
leprosos, lazareto. Hé pasmoso o fos de Lamego V. Soldos. No de
numero das Gafarías, que antigua 1383. Pedro Pires, meio Probenda
mente havia nete Reino. Chama do na Sé de Lamego, tambem por seu
vão-se tambem Conventos, ou Or Testamento deixa aos Gafos por
dens de S. Lazaro , que dellas era amor de Deos V. Libras. It : mando
o Tutelar, ou Patrono; pois igual aos Gafos pera sempre per as minhas
mente tinha sido leproso. Forão os herdades hum alqueire de azeite pe
nossos Maiores grandemente per ra a alampeda. E finalmente Luiz
siguidos desta ascorosa enfirmida Gonçalves, meio Conigo na mesma
de , e por isso multiplicárão tan Sé, pela sua Manda de 1428. em
to estes Domicilios da Piedade fó essôa a Gonçalo Gonçalves no
ra das Povoaçoens, onde ainda ho mprazamento, que elle trazia, da
je vemos alguns, ou quasi demo Pinha de Val de Sapos, que he dos
lidos, ou aplicados a outros usos. Gafos. Doc. de Lamego.
O perigo. de infecionar os saõs os GAIOLA. Prizão estreita. Nas
fazia alongar dos Povos. Cessou Cortes de Lisboa de 141o. se quei
uasi de todo esta horrivel enfir xárão os de Santarem , de que o
midade, depois que o panno de seu Alcaide tinha no Castello hu
linho, e o assucar refrescárão a ma torre, e dentro della huma gaio
cutis, e adoçárão o sangue, e se la, em que metia assi homens, como
abandonárão os vestidos de laã, ou molheres : o que era mui deshonesta
de pelles ao caráõ da carne. Ain cousa. Manda ElRei aprisoar as mo
da hoje dizemos Gafa, Gafeira, e lheres apartadamente sobre si.
Gafém. Das Gafarias trata a Orden. GAINHARIA. V. Gança.
do Reino L. I. tt. 62. S. 66. GALALIM. O mesmo, que ga
GAFOS. Naõ só se tomava es larim. Contando ao galalim. Hé do
ta palavra pelos que estavão actu Sec. XVI.
almente infecionados de lepra , GALAZ. Nome proprio do ho
(que he hum mal contagioso, ori mem, que hoje dizemos Gelazio.
ginado de huma depravada sangui GALLINARIO. V. Subricio.
• GAL
6 GA * GA
GALLINHA DOAÇOR, OU si o Imperador; deixando a Beti
AZOR. Era o foro de huma galli ca com 175. Cidades, e a sua Me
nha, que alguns casaes pagavão a tropole Sevilha, para o Senado, ou
ElRei, ou fosse para ralé dos seos Republica dos Romanos. Até este
açores, ou por comutação do Açor, tempo se não dava o nome de Gal
que estes casaes devião pagar a liza mais do que a huma Comarca
ElRei. E são obrigados a dar trez de Gallegos, que habitavão acima
zeigas de centeo, e senhas galinhas de Braga; tudo o mais d'antes se
de azor. Doc. de grijó. chamou Lusitania. Extendeo pois
GALLINHA DE CANTEIRO, Octaviano o nome de Galiza a to
No foro desta gallinha foi comut do o Territorio, que assignou aos
tada a obrigação , que alguns ca dous Conventos.Juridicos, a saber,
seiros tinhão de encanteirar, ou dar Braga, e Lugo, e a incorporou na
canteiros, que hoje dizemos malhaes, sua Provincia Tarraconense. Os li
para assentar as pipas, cubas, ou mites, com que estão ficou o paiz
toneis dos seos respectivos Senho denominado Galliza forão estes :
rios. Em toda a Província do Mi Da foz do Douro até finir terrae : da
nho se achão Prazos, que nos in qui até a foz do rio Nalon : e da
formão desta verdade, até os fins qui pela sua corrente até as ferrani
do Sec. XV. -

as de Chaves, e dali em direitura ao


GALIOTE. ES. O que servia rio Douro junto a Freixo de Spada
de marinheiro nas armadas Reaes. Cinta : e dali pela veia d’agoa até
Ao Anadel Mor he que pertencia o mar. O Imperador Adriano fez a
recrutar os Galiotes, os quais erão Galiza Provincia sobre si, sepa
tirados, e escolhidos das Vintenas rando-a da Tarraconense, e assig
do mar, que erão companhas de 2o nando-lhe estes limites : Da foz do
homens, cujo capataz se chamava Douro a Finir terrae : daqui 4 Cida
Pintaneiro , por ter inspecção so de de Noega: daqui ás fontes do rio
bre 2o. Cod. Alf. L. I. tt. 68. Douro nas montanhas dos Pelendones,
GALLIZA. Deixadas varias dí e por elle abaxo até o mar Com esta
visoens de Provincias, que houve Demarcação permaneceo a Provin
em Hespanha antes de O&taviano cia de Galliza até a entrada dos
Cesar Augusto, he de saber, que Barbaros, e expulsão dos Roma
este a dividio em tres Provincias, I1OS.
que forão Tarraconense , Betica , e Conquistada Galliza pelos Wan
Lusitana nas quais havia 14. juris dalos, e Suevos, logo depois de
dicçoens, Chancellarías, Conventos ju 499. se alterárão em grande parte
ridicos, ou Magistrados supremos , os limites desta Provincia , que
a que concorrião as Cidades cir principiavão na costa do mar, e não
cumvesinhas a procurar a justa de longe da prezente Villa da Pedernei
cisão nas suas causas. Na Tarraco ra: dali até Finis terrae : dali pela
nense havia 294. Cidades princi cústa até os Povos Pericos, que in
paes , e a sua Capital era Tarra cluia : e voltando dali até a Cidade
góna: na Lusitania havia 45. Cida de Leão inclusivé, abraçava Astor
des, e a sua Cabeça era Merida : ga: dali cortava o Doura, quasi pe
estas duas Provincias tomou para los mesmos limites, que hoje dividem
Por
GA GA *

Portugal de Castella: dali hia inclu do Mondego , e subindo ao cume da


ir a Idanha Velha com todo o seu ter Serra da Estrella chegava ao que ho
ritorio; e dali em direitura até o mar. je dizemos Guarda : daqui voltando
(Esta Demarcação se prova das fu em direitura a Freixo de Espada-Cin
fraganeas de Braga, e Lugo, que ta, cortava aos montes de Chaves ,
se menciónão no Concilio Lucen dividindo , e separando o Reino de
se de 569; prescindindo, se todas Leão. E taes erão as confrontaço
as sufraganeas nomeadas, ou ere ens de Galliza nos principios já da
&tas no Concilio de Lugo já d'an Sec. X." No L. dos Testam. de
tes erão Cathedraes.) E tudo o que Lorvão N. 1.º se acha a Doação,
neste longo espaço se incluia, se que ElRei D. Ramiro 2º fez áquel
disse naquelle tempo Galliza, e os le Mosteiro, no de 933 ; de me
seos Habitadores Gallegos. tade da Igreja de Santa Christina,
Arruinada , e extinta a Monar que estava fundada recus murum Ci-.
chia dos Suevos pelos annos de vitatis Conimbriae , e lha dá cum
58o. ficou Galliza com o resto de omni integritate in ipsa Corte. E de
Hespanha na fojeição dos Reis Go clara que a faz ao Abbade Mestu
dos , que não tardárã6 em alterar lio, e aos seos successores et ad
o Ecclesiastico , e Civil. No de Fratres, qui in ipso militant Monas
666. se celebrou o Concilio Emeri terio, quod fundatum est subtus mon
tense: por elle, (can. 8.) nos cons te Lauribano, in finibus Galleciae. E
ta , que já a instancias de Oron se os montes de Lorvaõ erão as
cio, Metropolitano de Merida , balizas, e rayas da Provincia de
havia Recesvindo restituido áquel Galliza , ninguem pode duvidar ,
la Capital da Lusitania as Cathe que ella se extendesse a todo o
draes, que alem Douro tinha Bra Territorio de Coimbra na margem
ga, a saber: Lamego, Viseo, Co direita do Mondego. V. Garda. De
imbra, Idanha. Desde este tempo pois deste tempo, e estabellecido
ficou sendo Galliza, unicamente o já o Reino de Portugal, voltou o
que vai desde a foz do Douro pela nome de Galliza para onde teve o
costa até Santander, pouco mais , ou nascimento, e onde em os nossos
menos: e dali pelas Montanhas , até dias se conserva.
incluir a Cidade de Leão, e cortando GALLO. Assim chamavão em
pelas agoas do rio Esla, fechava com algumas terras da Provincia do Mi
o Douro. nho a vela mais alta no meio do
Assim permanecérã6 as cousas, candieiro triangular, que se põem
até # os Sarracenos se apoderá no oficio das trévas da semana
rão de Hespanha; confundindo o Santa. Parece não tiverão nifto pen
Sagrado, e profano, em quanto samento mais alto, que alludirem
os Novos Reis das Asturias, e Leão ao Gallo, que para cantar procura
os não forão expulsando de Galli o lugar mais eminente. Huma vela
za, e das terras, que hoje fazem para o Gallo de hum arratel, e quar
huma boa parte da Monarchia Lu ta. Doc. de Ponte do Lima de 1 6oo.
sitana. Então foi quando a Provin Chamaõ a este cirio Vela Maria,
cia de Galliza, tornando a passar o e Gallo das trévas.
Douro , se extendeo até as margens GAMAR. Chamar. Nom podere
der
$ GA GA
des medir o pam , sem primeiro ga e o titulo com que os havia a Or
gnar o nosso Mordomo : e o gamaré dem tirado da Coroa. Em hum Do
des,Moreira.
quando quiserdes medir. Doc. cum. de Pendorada de 1 286. se
de • •

chama Compradéa: os bens havidos


GAMAR-SE. Ghamar-se. Em por titulo de compra: e Ganhadéa:
prazamos-vos huma bouça a qual bou os que se havião adquirido assim
ca be gamada Bouça alegre. Ibidem. por trabalho , como por outro le
GANAPÉ. Antigamente teve es gitimo, e honesto titulo. Entre os
te nome o plumaço, ou cabeçal da Doc. das Bentas do Porto se achão
cama : hoje conservado o nome de hum de 1479 , e outro de 1492,
ganapé, ou canapé, se lhe trocou o em que se faz menção de Dizimos,
uso, e o feitio, -
e Ganhadías : os 1.º são Dizimos
GANAR, Adquirir, ganhar. Da Prediaes : as 2. ** são os Dizimos
.qui: Ganado: adquirido, ganhado. Pessoaes, que então se pagavão, e
Doc. das Bent. do Pato de 1 3o5. a que hoje chamamos Maneio, por
GANÇA, Gaainharia, Gaança, serem o resultado do trabalho ma
Gainharia, Ganhadea , Ganhadia, nual, ou corporal de cada hum.
Guaanhadea, e Guança (que com Em hum Prazo de 1473., que ali
toda esta varieda se escreveo.) Inte mesmo se guarda, se diz. E nos
resse, lucro, ganho, emolumento; dareis Dizimos, e Primicia , e Ga
prescindindo de ser licito, ou illi nbad:as de leite, manteiga, madei
cito, torpe, ou honesto. Achamos ra, lenha ; quer dizer: Nos paga
com frequencia em os Docum, an reis certo foro destas quatro cou
tes do Seculo XVI. Filho, ou filha sas, que custumaes vender, e nas
de gança , gaança Óºc. O mesmo terras emprazadas se devem pro
que: Filho, ou filha de mulher tor duzir. Em hum Doc. de Pendorada
pe, e que só com o fim de ganan de 1336. se diz que dedes á Eygre
cia, e por dinheiro, ou cousa equi ja de Santa Maria a primizia , e
valente, se prostituía a quantos a dizimo dos gaados , e das gaanças.
procuravão. Tambem se chamárão Em outro de 1 292 : Et detis deci
Filhos de gança: os que o forão de mum de ganato, ó” de gaanciis.
alguma concubina teuda, e monteu GANÇAR. Ganhar, obter, al
da ; pois sempre he de presumir, cançar, conseguir. Daqui se disse
que o interesse, comodidade, ou Ganca.
emulumentos da vida , influissem GANHADEA. V. Gança.
principalmente na sua torpeza. Pe GANHADIA. V. Ganca.
las Inquir. Reaes de 129o, se achou GANHADINEIRO. Trabalha
no Julgado de Villarinho da Cas dor, jornaleiro, servisal, obreiro.
tinheira , que a Ordem do Hofpi Cod. Alf. L. 4. tt. 61. S. 16.
tal havia ganhado ali tres casaes, GANHAM. Pastor subalterno ,
que erão da Coroa, os quaes ago moco do principal pastor, azagal.
ra trazião por Honra: Forão lança V. Alganame. : : : :
dos em devasso, acrescentando-se: . GARÇOM. Moco, mancebo.
JE sobre la guaanhadéa chameos el No Cod. Alf. L. I. tt. 3o. §. 17. se
rrei; isto he : mande ElRei, que toma Garçom por mancebo desho
judicialmente se averigüe o modo, nesto, e lascivo; pois não devia o
Al
GA GA 9
Alcaide, nem feos homens entrar que naquella Primacial se acha, e
nem de dia, nem de noite em ca no qual se lê o dito Concilio de
sa de homem, nem mulher de bem, Lugo, ou parte delle; e mesmo
por dizerem, que lhe buscam bi gar do Livro Fidei, em que se copiá
çooens , e mulheres de que ajam de rão dous Fragmentos: hum com o
aver prol; ca nom he de creer, que titulo de Concilio de Lugo, e o ou
os bôos , nem as boas em suas casas tro com o nome de Itacio.
raaes cousas ajam de consentir. Ora o Fragmento do Concilo
GARDA. Assim chamavão nos assigna a Idanha os Territorios se
principios do Seculo XIII. a Ci guintes: 1.º Tota Egitunia, 2.° Me
dade , e Bispado da Guarda. Os ne. 3º Cipio. 4º Francos. O Con
principios de huma , e outro por cilio diz o mesmo , excepto que
andarem até hoje hum pouco es em lugar de Mene, e de Cipio es
curecidos, merecem ser aqui algu creve Menecipio : e o mesmo sem
ma cousa mais elucidados. A Ida diferença se acha no Itacio. Porém
nha, que os Romanos fundárão estando aquelles Codices corrup
poucos annos antes do Nascimen tissimos, e não constando já mais
to de Christo, e fizerão depois de similhantes Povoaçoens notaveis
seu Municipio , era das Cidades como deverião ser Mene, e Cipio ;
mais amplas, nobres, e opulentas ninguem me acoime se eu ler des
da Lusitania , conhecida com o te modo = Ad Egitanensem. 1.º To
nome de Egitania, Igeditania, Egi ta Egitania Municipio. 2.º Tancos.
fa, Aegita, Igedita, ou talvez Hir Desta leitura se segue termos o
cania. Dos vestigios, e Inscripço Bispado da Idanha , não só com
ens Romanas, que ainda ali per todo o Municipio Egitanense, que
manecem, largamente nos Informa fôra seu limite no tempo dos Ro
o Doutor Leal no I. t. da I." par manos ; mas tambem com o Ter
te das suas Memorias para a Histo ritorio de Abrantes , em que habi
ria Ecclesiastica do Bispado da Guar tavão os Tancos, ou Tabuccos ;
da, para onde ultimamente se mu segundo Colmenares , em os Annaes
dou a Cathedral da Idanha. Não de Espanha, e Portugal da Edic. de
ha fundamento algum , que nos 1741., e outros Indagadores, mais
persuada fosse a Idanha Bispado felices ainda , das nossas antigui
antes de 5 69., em que se suppoem dades. E que cousa mais factivel
creado no Concilio de Lugo, que em hum Codice já viciado , que
lhe deu por Bispo a Adorio , ou escrever Francos em lugar de Tan
Adoríco, que assistio no Concilio cos? E a nova Villa de Tancos, que
Pracarense II. de 572. No mesmo se levantou nas margens do Téjo
Concilio de Lugo se destinárão 12. fronteira a Punhete, não he ainda
Bispos para a Divisão dos Bispados hoje o garante desta conjectura?..
novos, e antigos, regulando-se per De hum instrumento Orig., que
seriem vetustarum Scripturarum. Es na Guarda se conserva, datado no
ta Divisão, ou Demarcação se a de 1283. , vemos, que o Bispo ,
presentou concluida, e acabada já D. Fr. João Martinz dava por ver
no dito Concilio Bracarense ; se dadeira e legitima a Divisão de
gundo se collige de hum Codice, Wamba , que hº CSCC *#
Tom. II. Q
IO GA GA
do em 4o. legoas de comprido e 2 o tes o devemos suppôr excluido ».
de largo. Abunde cada hum no principiando a Diocese Egitanen
seu sentido : os pontos cadinaes se na ultima baliza do seu termo.
desta Divisão atribuida áquelle Igualmente se não oppoem a Doa
Rei, (que, dizem, foi natural da ção do Castello de Céra feita aos
mesma Idanha) segundo o Itacio do Templarios por El-Rei D. Affon
Livro Fidei, e outros Codices, em so Henriques no de 1 159. em cu
que ella se encontra, são os se jo Territorio se estabelleceo o Nul
guintes: lius de Thomar, por se não poder
Egitania teneat de Salla usque averiguar já naquelle tempo, se
Nabam: de Sena usque Muriellam. aquelle tracto de terra pertencêra
Não sou eu tão presumido, que algum dia á Idanha, se a Coim
haja de cortar de hum golpe este bra, se a Lisboa. Ao menos no
Nó Gordio , que tão grandes ho mesmo anno de 1 159. D. Gilber
mens julgárão indissoluvel; porém to, Bispo de Lisboa, dimittio to
se no meio de tão ennoveladas tre dos os Direitos Episcopaes , que
vas até huma piquena luz he esti a sua Igreja tinha, ou podesse ter
mavel, desafogadamente direi o nas que já estavão fundadas, ou
meu sentir, sojeito a quem mais de novo se fundassem, no termo de
acertadamente discorrer. Digo pois Cêra, cujos limites erão os seguin
que os quatro pontos desta Divi tes : Quomodo dividit per flumen
são correm de Nascente a Poente, Ozenar, ubi vocatur Portum de Kar
e de Note a Sul. Que Salla ficava ris : & inde per mediam stratam
ao Nascente, e que hoje he Sar usque ad Monasterium de Murta: Óº
ça no Bispado de Coria, não lon inde per aquam de Murta , quomodo
ge da Raya, parece o mais confor descendit in Fraxineta : Óº inde ve
me á verdade. De Nabám pouca mit ad. Portum de Thomar , qui est
duvida póde haver que ficava ao in strata de Conimbria , quae vadit
Occidente da Idanha, e que era ad Santarem : Óº inde per mediam
a Cidade de Nabancia, ou o rio stratam per Portum de Ourens : &
Nabám , que depois se chamou inde per mediam stratam , quomoda
Thomar. Sena aoN* he sem con vadit per sumitatem de Beselga : Óº
troversia hoje a villa de Céa , a inde per lumbum contra Santarem,
que os nossos mais antigos Monu quo vertit aqua ad Beselga, Óº quo
mentos chamão Sena. E finalmente modo descendit ad Thomar : Óº inde
ÀMuriella he com muita probabili descendit in Ozezar: &º inde ad Por
dade o Castello de Almourol, cu tum de Karris. -

jas ruinas ainda hoje admiramos E tal era o destrito de Naban


no meio do Téjo, e não longe da cia, em que se havia fundado suc
foz do Zezere, que fazia o seu cessivamente o Castello de Cêra,
lado Meridional. -

que ultimamente se transfirio a


E nem o pertencer Cêa ao Bis Thomar , e cujas Igrejas o Bispo
pado de Coimbra, se oppoem ao de Lisboa libertára ; resalvando
nosso pensamento; pois a Divisão com tudo para a Mitra sinco sol
não declara se nella se incluia, ou dos annuaes em cada huma dellas,
não o Territorio de Sena ; mas an se judicialmente se viesse a deci
dit 2
GA GA 1r
dir, que antiguamente forão do seu rão ao nosso Continente. No de
Bispado : Eo tamen tenore, & ea 715 he que a Idanha foi reduzida
conditione : si Ecclesiae infra praedi a hum montão de pedras, consu
éios terminos de Cera construéia, ad mindo o ferro, e o fogo toda a
jus nostrum speciare noscentur, &" sua grandeza , e formosura, feri
eas ego in fudicio Ecclesiastico vin do o Pastor, e dispersadas as Ove
dicare potuero adversus illum , qui lhas. Há fundamento para crer se
mihi quaestionem agitare volutrit. A ria então o seu Prelado Aregesindo,
liter enim de praedicio censu quinque que no 693. assistio ao Concilio
solidorum ipsi Milites mihi non te XVI, de Toledo. Desde este tem
nentur in Ecclesiis haedificatif in ter po não apparece o mais leve ves
minis de Cera. tigio , ou attendivel Documento,
Porém a questão era de faêio em que nos mostre Bispo algum Titu
hum tempo, em que as luzes erão lar, ou Residente nesta Igreja. Ao
poucas , ou nenhumas : a Cathe menos ella não foi contemplada
dral Egitanense jazia inteiramente nas que se consignárão em as Astu
assollada , que não só viuva : os rias, e Galliza para sustentação
fundos mesmo das Igrejas, que os congrua dos Bispos, quando fos
Templarios edificárão, forão desde sem a Oviedo, e pelo tempo que
logo oferecidos a S. Pedro de Ro estivessem fóra do seu Rebanho.
ma Devotionis intuitu : O mesmo Chegou o Seculo IX., e o anno
Principe se declarou a favor desta de 879, em que El-Rei D. Afon
Isenção, pouco satisfeito que D. ço III. das Asturias , chamado o
Gilberto lhe invigorasse a que Magno, dorrotando os Mouros de
primeiramente havia concedido á Coimbra, Viseo, Lamego, e Cha
Ordem do Templo nas Igrejas de ves, julgou indispensavel o pôr
Santarem : muitos Pontifices ha hum forte Padrasto ás correrías,
vião confirmado este Isento : e fi que os de Alcantra, e outros que
nalmente os Bispos de Lisboa de habitavão os campos da Idanha,
cahirão na causa em juizo contra poderião fazer nesta sua bem afor
dictorio, julgando Innocencio III. tunada conquista. E reflectindo ,
no de 1216, que as Igrejas, e po que a Serra da Estrella era por si
vo de Thomar erão isentos de toda a mesma huma incontrastavel bar
jurisdicção Episcopal, e immediatos reira ; fez construir hum temero
4 Sé Apostolica: sentença que con so, e altissimo Castello, onde o
firmou Honorio III. em o I. anno terreno permittia já o ser calcado
do seu Pontificado. E então que pelo atrevido pé do inimigo fron
poderião fazer os Bispos Egita teiro; não só para rebater as suas
nenses, (já então da Guarda) ven excursoens, mas tambem para ob
do-se sem Titulos, que no meio de servar os seos passos, e destinos,
tantas trévas pudessem reivindicar e servir de Atalaya, vigía , senti
os Direitos, que nas Igrejas de nella, ou guarda aos que ao perto,
Nabám antiguamente lhes perten e ao longe pastavão os gados, e
cérão ?... Doc. de Thomar. rompião os campos. Exaqui a ra
Com isto chegou a destruição zão toda de se dar a esta fortale
funesta, que os Sarracenos trouxe za o nome de Garda , ou Warda ,
11 que
"I 2, . GA GA
que com o tempo se mudou em Quomodo currit aqua Elgiae inter
Guarda. Huma legoa quasi, ao Po Regni meum, & Regnum Legionis,
ente da Cidade , que existe , e é º intrat in Tagum: Óº ex alea par
bem a cavalleiro do lugar de Cabe te quomodo currit aqua Uzezaris, Óº
doudi , se descobrem hoje as tres similiter intrat in Tagum. E isto
ordens de muros, que cingião esta com tal condição, que apovôem,
Praça, a quem a natureza fizera ut eam omni tempore haereditario ju
inconquistavel para as armas belli re firmiter habeatis , & Mihi , é º
cas daquelle tempo. Chama-se o Filio meo , cui meam terram manda
sitio Tintinolho, e nelle se tem a bo, cum ea serviatis. Et neque Fili
chado monumentos de pedras, ou us meus, nec Filia mea, aut aliquis,
ro, e prata, que decidem pela sua licentiam habeat hoc scriptum meum
antiguidade. Celoríco, Viseo , confringendi. Faêta Carta secundo Kal.
- Trancoso, Pinhel, Caría , Pena Decemb. E. M. CC. III. (que he am
dono &c. dali se descortinavão , no de Chrifto I 1.65.) Doc. de Tho
avançando-se a sua vista a mais de mar. Não se verificou por então
2o. legoas de circumferencia. Na esta Mercê; pois não podendo os
Sagração da Igreja de Santiago em Templarios naquella occasião pre
Compostella, no anno de 899., e encher os fins, que a motivárão,
no Concilio de Oviedo de 9oo. se recahio na Coroa, até que no de
acha assignado o Conde da Idanha, 1 194. El-Rei D. Sancho I. deu
chamado Alvaro. Se este não era principio á sua População , intitu
algum Pertendente ao Condado da lando-a Cidade , e dando-a nova
Idanha , do qual conservava uni mente aos Freires do Templo, sen
camente o titulo, que terião seos do seu Mestre D. Lopo Fernan
Avôs em propriedade no tempo des, no de 1 1 97., e declarando,
dos Godos : será precizo dizer que já seu Pai em outro tempo
mos, que este Comes não era mais lha dera, afim de apovoarem: Olim
que hum Capitão General, Frontei populandam dederat. Mas agora faz
ro Mór, ou Gardingo do Castello doação desta Cidade á dita Ordem
de Garda, que por mais proximo fure hereditario in propetuum haben
á Idanha, e já no seu terreno , se dam, eo modo, quo habetis, & po
chamaria Egitanense. Destruido em sidetis caetera Castra Templi in meo
fim tudo por Almançor, não pôde Regno, quod juněium est Regnis alio
aquella Furia extinguir o nome de rum Regumi Kºpanie, e que a pos
Garda, que este arruinado Castel súão com todos os Direitos Reaes.
lo conservou ainda, por mais de E isto não só pelos grandes servi
dous Seculos. - -

ços, que elles havião feito á Co


- Já El-Rei D. Afonço Henriques roa ; mas tambem produobus Cas
expulsára os sequazes de Mafoma trir, que á vobis habemus, scilicet,
do territorio Egitanense; mas fal Mugatorio , Óº Penis Rubeis. Fafia
tavão-lhe os meios de o povoar , fuit Carta hee apud Portum Dorii,
e guarnecer. Então foi que dando X. Kal. Februarii. E. M. CC XXX. V:
emprego dingo aos Templarios , anno Regni nostri XI., & Populatione
hes fez doação da Idanha, e Mon ejusdem Civitatis anno I I 1.° D. Gon
santo por estes limites : scilicet : çalo Conigo do Porto a escreveo.
De
GA GA I3
#
Depois disto, e no de 12o6. o riam , Portucale, Colimbriam , &º.
> mesmo Rei doou aos do Templo, (Episcopalis Nominis nunc Opida )
* sendo seu mestre D. Fernando Di Kiseum, Lamecum, AEgitaniam, Bri
--
as, a Idanha Nova, a que chama toniam, cum Parrochiis suis, sive quae
Killa: Quandam Villam, quae , voca adhuc Maurorum tiranidi subjacent,
tur Egitania Nova, quam ego popu sive quae , in Christianorum jam po/>
lavi. Porém El-Rei D. Affonso II. sessione persistunt. Foi datada no de
confirmando no de 12 18. estas doa
1 138. e confirmada quasi pelas mes
çoens, a ambas as Idanhas dá tão mas formaes palavras por Lucio II.
sómente o nome de Villas. Doc. no 1. anno do seu Pontificado , e
de Thomar. tambem por Eugenio III. no de
Temos já a Cidade da Idanha co 1 148; porém com esta diferença:
meçada a levantar das ruinas no de Eidem Metropoli... vrbes redintegra
1 194., com tres annos de Popula mus: id est Astoricam, Lucum....
gão no de 1 193. , e reputada tão Egitaneam, Vizeum , & Lamecum ;
sómente Villa no de 12 18. Veja Salvis Apostolice Sedis autenticis Scri
mos agora se ainda naquelles dias pturis. Isto mesmo se acha na Bul
havia Igreja , ou Sé Episcopal na la de Eugenio III. de 1 153. que
quella Cidade. Com efeito no Ar confirma á Igreja de Braga Univer
chivo da Mitra Bracharense se a sas Episcopales Sedes , quas eadem
chão muitas Bullas do Seculo XII. Ecelesia praeteritis temportbus legiti
que tratão a Idanha só com o no mé possedisse videtur, vel quae in pre
me de Episcopal: isto he, que algum sentiarum ad eam de jure pertinere
tempo foi Assento de Bispo , ou Sé norcuntur: id est : Asturicam... Vi
Episcopal, e que se esperava mes seum, Lamecum, Egitaniam.
mo, que efetivamente, e com bre Da qui se vê que no de 1 144.
vidade, o seria. (Este mesmo dicta ainda as Igrejas de Viseo , e La
do de Igreja Episcopal deu o Con mego não tinhão Bispos, mas só
de D. Henrique no de 1 1 1o, e no conservavão o titulo de Episcopaes;
de 1 1 14 á Igreja de Viseu , e o porém no de 1 148. condecoradas
mesmo teve a de Lamego , quan já com Pastores Sagrados, se mu
do destituidas de Pastores, con dou a fraze: e a Idanha, que tal
servavão com tudo Inngnes Collegia vez não tinha mais que huma tal,
das , governadas por Priores , ou ou qual Collegiada, se nomêa tam
JDeaens.) Adduzirei só a Bulla de bem Cadeira Episcopal. Não ficará
Innocencio II., que seguindo as isto na liberdade do meu pensa
pégadas de seus Predecessores Pas mento, se refle&timos, que no de
choal , e Calixto , confirma a D. 1 199. , e por huma Bulla , que
João Ovilheiro todos os Sufraga rinc. Licet Unum, reduzio Innoc.
neos, que no tempo dos Godos, # a composição amigavel a D.
e dos Reis de Leão havia tido, e Martinho Pires Arcebispo de Braga,
diz: Eidem Bracharensi Metropoli Ga e a D. Pedro Soares Deza, Arcebis
liciam Provinciam , Óº in ea Episco po de Comportella: pactando, que o
palium Cathedrarum vrbes redintegra Bispado Egitanense, e os seus Bispos ,
mus : videlicet : Asturiam, Lucum, quando os tivesse, fossem sojeitos
Tudam, Mindunium, Valibriam, Au ãos Metropolitanos de Santiago ,
3
14. GA GA
a quem se tinha unido, ou para macôr habeant unum forum , excep
onde se tinha mudado a Metropo tis Domibus Regis, & Episcopi....
le de Merida. E nesta sojeição per E conclue :
manecêrão , até que no de 1494. Menendus Petri Praetor , qui incê
erigindo-se Lisboa em Metropoli pit populare.
tana, se lhe derão por sufragane Martinus Cresconis Archidiaconus ,
os todos os Bispados Portuguezes, qui incepit popnlare.
que antiguamente forão da Lusita Mauratum Portarius , qui incépit
nia, segundo a divisão dos Roma populare.
nos. Se pois no de 1 199. havia só Aqui se falla em Bispo , que
esperanças de haver Bispo na Idanha, ainda não havia , mas que breve
que só depois de 1 144, se intitu mente se esperava; pois se deter
la Bispado, não tendo antes mais mina por Lei o que se devia prati
que o nome de Cidade , ou Villa car, quando elle chegasse a exis
Episcopal : será precizo dizermos, tir. Igualmente achamos hum Ar
que em todo o Seculo XII. não cediago, como resto da Cathedral an
houve Bispo Egitanense, mas só tiga , em que esta Dignidade faria
huma Collegiada Episcopal. Mas on a 1.° figura na falta do proprio
de seria o assento desta Collegia Bispo, como vemos pelos Doc. de
da ?.. Braga, Coimbra, Lamego. E da
Se de todo me não engano, não qui se póde inferir , que D. Mar
foi na Idanha Velha, mas sim em tinho Cresconis era então Prelado
Penamacôr, que mais retirada dos dos Clerigos de Penamacôr, que
Mouros de Alcantra, ficava mais collegialmente vivirião, segundo
central á Diocese Egitanense; pois a disciplina , que naquelle tempo
no Foral, que D. Sancho I, lhe vogava em Portugal.
deu no mesmo anno de 1 199. , e E nem se me oponha, que este
no mez de Março, se achão as pas Foral foi dado no de 1 189., e que
sagens seguintes: nelle já confirma D. Martinbo, Bis
Clerici de Penamacór sint liberi ab po da Idanha; pois nem aquelle an
omni Fisco laicali, & habeant hono no podia ser o da sua data : nem
rem, & hareditates, sicut Milites, D. Martinho Paes foi Bispo antes de
&º non respondeant , nisi per Archi 12o2. No Livro dos Foraes velhos
diacomum ab hora Prime usque ad (que abunda de insanaveis Ana
Tertiam .... Ecclesiae de Penamacôr chronismos) he verdade, se acha da
accipiant Primicias singulas fangas tado na E. M. CC. XXVII; porém
de omni pane, & Decimam de pane, confirmando nelle D. Martinho
&º de vino, & de omnibus fruéiibus, Arcebispo de Braga, D. Martinho
&º pecoribus. Et Episcopus habeat Bispo do Porto, D. Nicolao de
tertiam partem , & Clerici tertiam Viseu, D. Pedro de Lamego, D.
partem, ó Parrochiani aliam ter Martinho da Idanha, D. Pedro de
ziam , & expendant illam per Epis Coimbra, D. Sueiro de Lisboa, e
copum, & per Clericos Ecclesiarum: D. Sueiro d'Evora: Prelados que
(isto he, com o parecer do Bispo, pela maior parte não existião nas
ou dos Parrochos, ) ubi rečium fue Igrejas mencionadas no de 1 189 ;
rit.... Venarii, ó Barrari de Pena hé forçoso dizermos, que naquel
la
GA GA 15
1a Data falta hum Decenario para E chegando á Idanha Velha diz: In
fazer 1199. E se replicarem, que primis, in Egitania veteri, ubi est
ainda neste anno tambem D. Mar Episcopalis sedes , ipsa Ecclesia sit
tinho não era Bispo Egitanense : Episcopi , Óº Capituli , & fiat ibi
responderemos, que no Original , alia Ecclesia á Templariis, quae, sit
donde se mandou a copia para a ipsorum Templariorum.E destas Igre
Torre do Tombo, era muito natu jas tería cada huma das Partes com
ral, e conforme ao que então se postas ametade. Se pois no de
praticava, que alguns annos depois 1 194. se começou a povoar de no
de datado , e quando elle já resi vo a Cidade da Idanha, e no de
disse em Penamacôr posesse a sua 125o. apparece ali a Sé Episcopal:
Firma naquelle Foral, em que os forçosamente diremos, que a Ida
Bispos Egitanenses erão contem nha Velha na sua restauração foi
Plados , e , cuja residencia ali se assento dos Bispos, antes que pa
achava por então estabelecida. V. ra a Guarda se mudafem. Mas aqui
Firma. Isto se faz palpavel vendo se suppoem duas cousas, e ambas
nós em o Foral da Garda, ou Guar falsas: A 1.º que a Idanha por en
da ( que sem controversia foi dado tão se testaurou : A 2.º que a Ca
no mesmo anno de 99.) confirman thedral Primitiva , e do tempo
do os mesmos Prelados a 27. de dos Godos, inteiramente se de
Novembro , sem que entre elles molio.
appareça D. Martinho. Mas se a E primeiramente : nem a Doa
Guarda naquelle tempo não era da ção d’El-Rei D. Afonso I., nem
Diocese Egitanense , como havia a de seu filho D. Sancho I. forão
de confirmar hum Bispo, que ain á vante, sortindo o desejado efei
da então não existia , e que só to; pois no de 1229. ainda a Ida
annos depois foi Prelado daquelle nha Velha jazia sepultada no de
Territorio, cujo Foral nem huma samparo, e solidão mais hororosa;
só palavra tem, que falle no Bis segundo vemos pelas Cortes, que
po? ... no mez de Janeiro do mesmo anno
Não se me esconde, que no Li celebrou em Coimbra D. Sancho
vro dos Direitos Ecclesiasticos de II. , a que assistio o Cardeal de
Thomar a fol. 124. se acha huma Santa Sabina, D. João Froes, que
composição, que D. Payo Gomes, as havia solicitado, e nellas falla
Mestre do Templo nos tres Reinos fez o Soberano do modo seguinte:
com D. Rodrigo Bispo da Guar Statuo , ó concedo, & mando , ut
da (era D. Rodrigo Fernandes II. civitas Egitaniensis , quae , á lon
do nome ) no mez de Abril de gissimis temporibus , cum Ecclesia
125 o , e na occasião do Capitulo Episcopali, propter hostilitatem Sar
Geral da Ordem, que em Thomar racenorum , captivata ab hostibus ,
se fazia. Versou este contrato so non potuit consurgere ; licet Pater
bre todos os Direitos Episcopaes meus, & Avi mei, clarae memoriae,
que os Bispos da Guarda tinhão ad id operam dedissent ; Populetur»
nas terras, e Igrejas, que aos Tem é º reedificetur cum omni onere suo ,
plarios pertencião naquelle Bispa tam temporalium, quam spiritualium.
do, como se póde ver V Colheita. Et concedo vobis Cancellario meo ,
+
+- - Ma
16 GA GA
AMagistro Vincencio, Ulixbonensi De inteiramente as ruinas da antiga Sé.
cano , qui ad eandem Ecclesiam es E quando os primeiros Povoadores
tis Elečius ; ut populetis illam cum ali chegassem he bem de presumir,
populo, & Clero: salvo mihi , & seria o seu principal cuidado re
successorisbus meis jure Regali. Et purgar o antigo lugar do Sacrifi
concedo omnibus , qui ibi voluerint cio, e acomodalo, segundo as an
populare vobiscum, ad onorem Dei, gtusias do tempo, restituindo-lhe
&º promocionem Ecclesiae Egitanen o 1.° Titulo de Igreja Episcopal;
sis, quod populent ibi , Óº habeant mas só em Titulo, não chegando
bonum forum , sicut habent vicinae a estado , que nella se collocasse
Populationes. a Dignidade Episcopal.
Isto mesmo repete D. Sancho No mesmo anno de 1 1 99. se ha
II. no Foral, que logo fez passar via augmentado a População no si
á Idanha Velha, no mesmo anno, tio, em que hoje vemos a Cidade
achando-se na Cidade da Guarda da Guarda , pela boa diligencia
no mez de Abril. E com tudo a Po del-Rei D. Sancho I. , mudando
pulação tantas vezes projectada , para ella o nome de Garda, ( que
ainda no de 1 24o. estava perto talvez no antigo Dialeto fosse sy
dos seus principios ; como se pó nónymo de Tintimolho.) Gastárão
de ver V. Fogo morto. Fica logo se não poucos annos em concluir
bem claro, que nos principios do as fortificaçoens daquella nova Ci
Seculo XIII. não estava a Idanha dade ; porque no de 1221. ainda
Velha povoada, e com comodida se andava fabricando o seu Castel
de bastante para ter huma nova lo , como se disse V. Adúa. Com
Cathedral; o que se não experi tudo em vida d'El-Rei D. Sancho
mentava em Penamacôr, que mais I., e com autoridade do Pappa In
a cuberto das incursoens dos Sar nocencio III., a Cadeira Episco
racenos, já nos fins do Seculo XII. pal Egitanense para ali se havia
se achava com Povo, e Clero, a quem transferido; sendo o seu primeiro
hum Arcediago presidia. Bispo D. Martinho Paes , Eleito
E nem o dictado de Igreja Epis depois do mez de Março de 22oz.
copal no de 1229, e ainda depois, . como se disse V. Ferros S. 4.
nos faz violencia para crermos , Apenas este zeloso, ou seja tur
que ali se eregio de novo alguma bulento, Prelado entrou naquella
Cathedral. Elle he sem duvida , Diocese fervêrão as discordias com
que desde o tempo dos Godos, se os Bispos de Coimbra sobre limi
conservárão , ao menos as ruinas tes de hum, e outro Bispado; sen
das Igrejas Episcopaes, ou Sés; sen do que Innocencio II. havia con
do o commum transformarem os firmado a D. Fernando no de 1 135.
Sarracenos em Mesquitas as que Castrum Sena, Óº Gaudela, cum Ce
pela sua grandeza, e formosura se lorico, Óº caeteris adjacentibus Cas
fazião mais notaveis. Mas seja que tris, atque Coloniis. E D. Sancho
na Idanha não entrassem os abo I. havia doado no de 1 186. as Igre
minaveis cultos de Mafoma : ne jas da Covilhãa ao Bispo D. Mar
nhum principio nos assiste, para tinho ; como largamente se póde
julgarmos, que se extinguissem ver no Livro Preto da Sé de Coim
bra.
GA GA 17
bra. Dizem, que por duas senten quibus nobis distritié praecepistis, ut
ças, huma de 1255, e outra de Dominum Visensem in corporalem pos
125 6. confirmadas por Alexandre sessionem Villae de Garda, causa rei
IV., se terminára esta contenda , servandae, (quia Dominus Egitanen
assim como no de 12 6o. se con sis frustratorié á votis appellaverat,)
cluío a que os Bispos da Guarda induceremus, ea, qua decuit, devo
tiverão com os de Evora pela mes tioue suscepimus , Óº ut praeceptum
ma causa; porém hum Doc. Orig. vestrum executioni mandaremus, om
da Guarda nos informa, que no de nem solicitudinem , quam potuimus,
1283. se achavão mui diminutas, adhibere curavimus. Cum igitur qua
e cerceadas as rendas daquelle Bis dam sexta feria ad supplendum man
pado ; assim pelas muitas terras , datum vertrum , cum dicio Visensi
que lhe tomárão os Bispos circum Episcopo , Óº cum Canonicis suis,
visinhos , como pelas Doaçoens multo Clericorum comitatu adhibito »
larguissimas, que os Reis havião tenderemus ; Egitanensis Episcopus,
feito ás Ordens Militares: E por cum multititudine magna, Óº forti
estas , e outras razoens, o Bispo, Clericorum, ó laicorum armatorum,
e o Cabido dão para a Fabrica a ter juxta Mondecum fluvium, extra ter
fa das Igrejas, de que erão Padroei minos Villae de Garda, nobis inermi
ros , em quanto se não julgava por bus , ut nos decebat incedere, occur
sentença as Terras , que pertencião rit. Nobis itaque ad executionem pro
a este Bispado. cedere volentibus , dičius Egitanen
Havia-se fundado a Guarda com sis, vocem extollens , ait : Ne pro
o nome de Villa de Garda, até que cedatis ; si enim processeritis ,
mudando-se para ella a Cadeira E mors, autgustus mortis vobis imi
piscopal, se chamou Cidade da Guar nebit. Et arripiens propria manu fra
da. Os Bispos de Viseo estavão num equi, Episcopi Visensis ; retro
de posse das Igrejas do seu Aro, eum dedignantissimé perpulit. Epis
assim como das do Germello, e Cas copo veró Visensi iter inceptum per
tello Mendo. Todas estas Igrejas ficere cupiente, jam dičius Egitamen
pertendia D. Martinho, residindo sis, secundo accedens, Visensem E
ainda em Penamacôr, e mesmo á piscopum per cappam , qua indutus
força d'armas quiz fazer boa a sua erat, violenter trabens, in girum con
justiça; segundo se póde colligir vertit , & invitum retró ire coegit.
deste Doc. Original, que em Vi Hoc fačio non contentus Egitanensis
SCU SC COnSC1"Va - . ad nos Executores furiosé perveniens,
. Reverendis Viris F. Portugalensi tam fortiter per fraena equorum nos
JDecano , & N. de Cito-fata Praela propulsavit , ut vestes nostrae ex san
zo, judicibus á Domino Papa datis in guine oris equorum poluerentur, Óº
causa, quae vertitur inter Virensem, equm Episcopi , Óº mostros pugno im
«9° Egitanensem Episcopos , super pié percussit, Óº ipsum Episcopum ,
Pilla de Garda. P. Dei gratia, di &º nos ab equis nostris precipitar?
<tus Abbas Monasterii S. Christopho percépit. Clerici quoque sui, ó lai
ri, & P. Praelatus Ecclesiae S. Mi ci, in nos insurgentes , pugnis nos
chaelis de Ribeira in Alafone, salu crudeliter percusserunt, Óº in antea
tem in Domino, Literas vestras , in procedere nullatenus
C
permiserunt. Nos
áutem?
1om. II.
18 GA GA
autem ad unamquamque injuriam, &" GARDA-CÓS, e Guarda-cós.
violentiam Episcopo , ó" nobis illa Véstia, roupinhas, ou casáca, que
tam , personam dicii Egitanensis, Óº apertava o corpo, e o guardava
personas tam Clericorum , quam &" Na Baixa latinidade se disse Gar
laicorum, vim nobis inferentium, & dacosium, e Wardacosia: e daqui Gar
contradiciorum, ó rebellium omnium de-corps, donde os Portuguezes to
Excomunicationis vinculo innodavimus. márão o Garda-cós. Em hum Tes
Hac itaque hoc modo fuisse perpetra tamento de Lamego de 1288. se
ta , coram Deo , Óº vobis testifica diz Item : Corariis, pro meo trinte
mur. Verumtamen vor, sicut expedi nario , meum tabardum , mantum »
re movertis, in eodem negotio proce Garda-cós de Abovíla clara, & Sa
datir. Ego Pelagius , quia sigillum yam , Óº caligas : Em outro da
proprium non habeo, sigillum Execu Guarda de 1 27o. It : manda fratri
toris mei Dñi. Abbatis apponi feci. meo mantum, ó Guarda-cós, ó le
Lugar do sello, K que já lhe cahio. &tum, in quo jaceat, cum sua liteira.
No de 1 249. e no mez de Sep GARDANTE. O que guarda ,
tembro, forão chamados os Bispos observa , e cumpre. Pague á parte
da Guarda, e de Viseu á presen gardante. Doc. de 1444.
ça do Bispo do Porto, e seu Deão, GARDINGO, I. Entre os Go
Comissarios Apostolicos por hum dos se chamavão Gardingos os fi
Breve do Papa Innocencio IV. para lhos da Primeira Nobreza, os quaes
que summariamente, e á vista da servião em Palacio, até que a ida
verdade, ouvidas as Partes, senten de , ou vacatura lhes desse lugar
ceassem, composessem, edifinissem o para o Ducado, ou Condado. Es
que lhes parecesse justo , sobre as tes na paz residião na companhia
Igrejas da Guarda , e de Castello dos Duques, e na guerra na des
Mendo, dando fim a tão prolonga tes, ou dos Condes; mas sem au
das discordias, e contendas, como toridade alguma, e só com honra.
por esta razão havião precedido. Parece que os Italianos conservão
Os Cabidos, assim de Viseu, co esta palavra, chamando Gardingo:
mo da Guarda mandárão seus Pro hum homem circunspecto, e que
curadores bastantes. Assim consta sabe regular as suas acçoens, e pa
de hum Pergaminho Original, que lavras pelo que vê nos mais per
em Viseu se guarda , sellado com feitos: E tal parecia ser o destino
os sellos dos ditos Bispos, e com dos Gardingos. V. Caet. Ceni. De An
o do Cabido do Porto por parte tiq. Eccl. Hip. t. 2. Disser. 1. cap. 2:
dos Procuradores, que não tinhão - GARDINGO. II. Guarda mór.
sello proprio ; mas della se não Ap. Merino. Porém o Fuero fuzga
collige o fim desta demanda; sa traduzio o Gardingo do Cod. Wisig.
bemos sim, que as Igrejas da Guar por Ricáme, que era immediato ao
da ficárão ao Bispo, e Cabido E Duque, e ao Conde, e superior ao
gitanense, e as de Castello Men Tyufado. Este parece ser o senti
do ao Bispo, e Cabido de Viseu, mento mais bem fundado. >

aos quaes El-Rei D. Diniz deu o - GAR DUNHA, e Gardunia.


Padroado da de S. Pedro, e da de Teixugo , animal bem conhecido.
Santa Maria no de 1292, º Em huma carta de venda de 1 126.
* *

- - - ein
GA GE 19
entrárão á conta do preço Duas pel e Geira de Vinha: esta, segundo o
les de vulpinas, ó duas de gardu Tombo de Villarinho, devia cons
nias, & duos folles de cabrones. Doc. tar de 5o, homens de cava : e a
de Pend. • •

esta chamavão Geira inteira, á dif


GARGANTON. Animal muito ferença da meia Geira , que levava
voraz, e que com a carne engole só 25. homens. Segundo o Tombo
juntamente os ossos. No Seculo antigo de Paderne huma Geira de
XIV. se chamava Garganton: o que campo devería levar 4 alqueires de
era excessivo no comer, ou beber. centeio de semeadura. V. Lavor,
quiGARITO.
Gariteiro: Casa
o que de jogo. Da No campo de Coimbra consta a
a dá. •

Geira de 6o. Aguilhadas de compri


GARNIMENTO. Guarnição. do , e 12 de largo. Em hum Doc.
flua rela muar velha sem garnimen da Graça de Coimbra de 1522. se
to, e huas estribeiras de fio. Doc. de diz, que meia Geira são seis #".
Pendorada de 1 359. lhadas. Era mui frequente nos Pra
GASVILLADO, Unido, junto zos, e Foraes antigos deixar na
asociado. Ap. Bergança. liberdade dos caseiros o pagar a

GATENHO. Infructuoso, este dinheiro as Geiras pessoaes, que


ril, de monte, ou em pouzío. A devião aos Senhorios. E por geira
cha-se nos Prazos antigos: v. g: á dita Quinta X, dias , quer LX.
Campo , metade lavradio , e metade reis, qual vós aute quizerdes. - E reis
de gatênho. Geiras, ou a 15. reis por ellas. Doc.
- GATUM. Manto gatúm : tal de Pendorada de 1477., e 1537.
vez forrado de pelles de gato V. GEIROM. O Lavrador, ou Em
Exendre. phiteuta, que paga geiras. No de
GAYOLA. No L. das Posturas 1434, confirma El-Rei D. Duarte
da Camera de Coimbra a fol. 96. se os Privilegios aos Geiroens de Gaya,
acha o Regimento de como se ha que lhe pagavão suas geiras, e ser
de ordenar a Procissão do Corpo de vião nas suas taracenas. Doc, do
Deos. Usa da palavra Gayola : que Porto. .
parece ser charola, andor, ou Ta GEITAR. I. Lançar-se, aposen
bernaculo aberto , em que hia o tar-se, fazer assento , ou residen
Santissimo Sacramento. cia. Vós vos geitades nas Cidades, e
- GAZU. Carnagem , matança , Pillas, e Lugares da dita correição,
segundo alguns. Neste sentido hé e jazedes em elles tempos perlonga
o efeito da Gazúa a qual hé : A dos. Alvará d'El-Rei D. João I. de
juntamento da Tropa, ou do Exer 1399. , para que o seu Corregedor
cito. Hoje entre os Arabes corres d'Entre Douro, e Minho visíte, an
ponde a Gazúa á nossa Cruzada : nualmente todos os lugares da sua
he o acto de convocar a gente pa Correição.Doc. daCamera do Porto.
ra a guerra, que se faz em defen GEITAR. II. Lançar, enterrar; •
<.
sa da Religião. sepultar. E mando y meu corpo, que
GE. Se. E dahi ge vai; isto he: mha filha prometeo a my semelhavel
se vai. mente se geitasse y com a filha,
GEGELADO. V. Agegelado. . Doc. de Almoster de 1287.
GEIRA. Havia Geira de campo, GÉMEA de Ctalhos
ii
de Marinha.
São
2o CE ) GI.
São 64, talhos, o que chamão hu dinariamente de prata, cravado de
ma Gêmea em hum Prazo antigo. pedras finas. Se isto não era, po
Doc. do Conv. da Serra do Porto. demos suspeitar , seria gomil , ou
GENER. Abundar , crescer, jarro de prata.
trasbordar. Que quando a auga be GERMAHO. Irmão , filho d
muita na levada, que gene hy delha... mesmo Pai , e Mãi. Partam meus •

{'tue ouvesse o lameiro hua talhadu birmabos, come germabos boos, ger
ra, per que genese by a auga mais ; mayvilmente. Doc. da Graça de Co
peró que nom faría mingua na leva imbra de 1288. *

da. Doc. de Pendorada de 13o9. GERMAIA. Irmãa. Vem do La


. GENESIM. Assim chamavão os tino Germana : Irmãa , e filha dos
Judeos, que em Portugal se per mesmos Pais.
mittião, a Cadeira, ou Aula em que GERMAYVILMENTE, Irmão
se lião , e explicavão pelos seus mente. V. Germaho. >
Rabinos os sinco Livros de Moi GERMEYDADE. Irmandade,
sés, dos quaes o primeiro era o sociedade. Vem do Latino Germa
Genesis. E para poderem ter esta nitas. E devem todos estes da Ger
Aula , ou Cadeira pagavão certo meydade a pagar as ditas quinze li
tributo, de que a Magestade não bras em cada huum anno. Doc. das
foi huma vez só que fez Mercè. A Bent. do Porto de 1317. Daqui se
Luiz Pires de Voacos fez El-Rei vê, que os filhos dos mesmos Pais ,
Padrão de 3 dooo, reis em satisfa tinhão obrigação de pagar cada
ção do Genesim da judiaria da Vil hum por si 15 libras annualmente.
la de Chaves ; como se vê do I. L.º GERMEYMENTE, Greymey
dos Misticos da T. do T. a fol. 256. mente, e Gremeymente. Irmãamen
/. Aljamas, Arabi, e Arabiado. te, em boa sociedade. Doc. de Co
GENTIL. Moeda de ouro , e imbra de 1299.
muito miuda, que de quatro espe GERMIDADE. Parentela, ir
cies fez lavrar El-Rei D. Fernan mandade. Doc. de Paço de Souza
do. A 1. que se dizia de hum pon de 1 32 I. •

to, valia 4. livras e meia, que são GIANE. João. Sangiane Baptis
162. reis : a 2.º que se dizia de ta. Doc. do Sec. XIII.
dois pontos, valia 4. livras que são GIBANETE. Jibanete, e Juba
144. reis : a 3.° valia tres livras , nete. Piqueno gibão de aço , ou
e meia, que são 126. reis : a 4." ferro. No de 1485. eximío El-Rei
tres livras, e sinco soldos, que D. João II. a dous armeiros do
são 116. reis. As livras antigas va Porto dos encargos do Concelho:
lião a 36. reis: logo estas não erão hum delles faria Gibanetes, e o ou
das antigas. •
tro Armas brancas. E de hum Acór
GEORAAL. No seu Testamen dão do mesmo anno consta mandar
to de 1287. diz D. Sancha Pires El-Rei, que em certas terras hou
Item: Mando... hum vazo de prata vesse dous Armeiros : hum de bran
a minha filha, e bum georaal de pra cas; hum Coiraceiro, e bum Alimpa
ta. Doc. de Almoster. Gorjal se dor; dando-lhe o mesmo Concelho
chamou certo ornamento , que as huma tença ; e obrigando-se o mes
Senhoras trazião ao pescoço , or mo Senhor a tomar-lhe cad’anuo eem
{ COR"
GI. GO 2|
# corpos de coiraças, e sincoenta capa vagar. E disse, que nom avia gisa
cetes com suas babeiras, cujos fiba do; porque avia d’ir con no Bispo ade
netes se obrigão a apromptar. E fi Ordiis , e nom podia ald ir por esa
nalmente no de 1487, desobriga razom. Doc. de Tarouca de 2284.
El-Rei os moradores do Porto de GOARAZEL. V. Corazil.
terem arnezes brancos compridos; bar GOIVO. Contentamento, pra
tando só o terem jubanetes, ou so zer, alegria. He do Sec. XIV.
lhas com seu capacete, e babeira : ou GOLIARDO. Assim foi chama
bacinete Francez com sua babeira, e do o Clerigo , que costumava al
faldras, e gocetes de malha : ou ar moçar, jantar , merendar , ou be
maduras brancas de braços, e pernas. ber na taverna. Cod. Alf. L. III. Tit.
Doc. do Porto. Em huma Senten 15. S. 18. Tambem lográrão o mes
ça de 1481. se lê: Fizerão Irman mo nome os que não erão Cleri
dade , e se armárão de gibanetes , gos, mas tinhão os ditos costumes,
cascos , capacetes , loudés , béstas, V. jogral, e Refião.
espadas , lanças , e outros espingar GORAZIL. V. Corazil.
dar. Doc. de Pinhel. GORGILIM. Peça d'Armas
GIBITEIRO. Oficial, que fa brancas, com que se defende o pes
zia gibanetes, giboens, e vesti coço. Na Baixa Latinidade se disse
| dos d’armas, sayas de malha &c. Gorgeria. Hoje se diz Gorjal, ou
Entre os mais Oficiaes , a cujas Gorgueira. V. Bésta de Garrucha. . .
obras manda El-Rei D. João II. GOVENCO. a. Bezerro, a, no
pôr taxa , se contão os Corrieiros, vilho. a. Et si babuero necessitatem,
Alfayates, Gibiteiros. Doc. do Cam. ut me adjuvetir de govemco, aut de
do Porto de 1487. govenca, aut de reiselos. Doc. da
.
GILLONARIO. os. No Col. Graça de Coimbra de 115o. Ain
}Visig. Liv. II. Tit. 4. l. 4. se nomeão da hoje no Minho chamão juvanca
os Gillonarior entre os Servos Fir á bezerra. |

# caes. O Fuero fuzgo traduzío Gil GOVERNADO. Apaniguado,


lonarios: los que mandan los rapazes, criado, moço , da familia. Todo o
que he o mesmo, que Alcaide de los homem, que com Senhor viver, quer
Donzeles. Porém há quem afirme, se por soldada, quer a bem fazer, se
rem Gillonariorum praefecti: os que os endo seu governado , ou andando por
nossos Maiores disserão Scançoens, seu, e com sua Filha, Irmãa, Pri
e os Italianos Gran-Bottiglieri. ma com Irmãa, segunda Irmãa , ou
GIRÃO DE TERRA. Parece com sua Madre , ou criada de seu
ser hum piqueno pedaço de terra. Senhor , ou de sua mulher, ou que
It : hum talhinho , feito como girão. tenha em sua casa , casar sem man
Doc. de Grijó do Sec. XV. V. Gi dado do Senhor, com que viver: que
7"0/72. moira porem. Cod. Alf. L. V. Tit.
- GIROM, e Jirom, ens. Aba , II. in princ..
ou roda do vestido. De hum pelote GOVERNADOR de huma Igre
singelo de giroens 2o reis. E singelo ja. Assim se chamavão os Padroei
sem giroens 15 reis. Lº Vermelho ros, e tambem os Freguezes de
d'El-Rei D. Affonso V. N. 5 I. huma Igreja; porque todos erão
– GISADO, Occasião , tempo , ouvidos em os negocios, e cousas
que
42. GR } GR
H3O4. • • • • • ***
que lhe pertencião. E tambem por
que muitas Igrejas tinhão sido Fun GRADO. II, o Premio, ou ga
daçoens dos mesmos Freguezes, lardão, que consistia n'alguma ri
ou seus Antepassados. Ainda nos ca peça, que nas justas, torneyos,
principios do Seculo XIV. ha dis ou cavalhadas se propunha, e ga
to muitos Documentos. V. Deci nhava quem nellas sahia vencedor.
mas, e Defensores, e Padrom. : Proportos grados , e empressas muy
- GOVERNALHO. O leme, com ricas pera quem mais galante viesse
que a náo, ou qualquer outra em á têa, e milbor justasse. — Venceo en
barcação se governa. Tambem o tam o grado, que foi huma rica co
governo. Vem do Latino Guberna pa. Chon. d'El-Rei D. Affonso V.
culum, Gubernicum, ou Gubernum. C. I 2. I .

GOVERNAR. Manter, susten GRADO, adj. III. Agradecido,


tar. V. Reger. Promettérão quaren do Latino Gratus. Seja grado de von
ta libras a Lº Lopes pera vogar o tade, e per obra , segundo abrange
feito : e se lhy naascesse hida pera rem suas rendas. Chron. d'El-Rei
tass d'El-Rei , que o governassem. D. Duarte. c. 4. Deve ser muito gra
Doc. de Pendorada de 1 317. do, e liberal, porque saiba bem par
GOVERNELLO. Mantimento, tir o que houver com aquelles que o
sustento , mantença. Atall prejto , houverem de ajudar, e servir. Cod.
que o dito Freire lhi desse em ssa vi Alf. L. I. Tit. 54. S. 3.
da de cada anno tres libras , gover GRAMAIDADE. O mesmo,
vello, e el servir a Ordem. Inquir. que Germeidade. E todalas cousas,
d'El-Rei D. Diniz de 13o7, na Vil que a el pertencem, ou depois perten
la, e termo de Santarem. cerem por gramaidade, por ajuntamen
GOUVECER. Gozar, aprovei to, por comprimento. Carta de Fi
tar-se, usar. Nem gouvecer d'outra liação de Almoster a Claraval no
jurdiçom senom da Igreja. Doc. de de 1287. E quer dizer,que este Mos
Paço de Souza de 1418. e 1419. teiro, com os mais de Cister, po
GOUVER. Jazer , estar, resi derião usar de todos os bens, he
dir: o mesmo que o verbo Jouver. ranças, Doaçoens, ou dotes, que
As mulheres, que neste Hospital gou ás Religiosas, Sorores, ou Irmãas per
verem , se de si abusarem, ou feze tencessem, a que chamão Gamaida
rem maldade de seus corpos, não re de : ou por compra , troca , e es
ceberáõ delle algum beneficio. Doc. de cambo, que aqui se chama Ajun
Viseu de 1356. - -tamento: ou finalmente por Legados,
-

GOUVIR. Gozar, desfrutar, Obitos, Anniversarios, ou Deixas,


utilizar-se de alguma cousa. que se dizem Cumprimento ; pela
GRACIR. Agradecer o benefi obrigação que ha de cumprirem os
cio, favor, ajuda , ou mercè que Herdeiros , ou Testamenteiros as
se tem recebido. Ant, -
ultimas vontades dos Pios Testa
GRADO, I.Satisfação, prazer, dores. Destes , e outros similhan
consentimento. Eu Vicente Domin tes Titulos se valião as Mãos Mor
gues, morador , e vizino de Torres tas para enriquecerem os seus
Pedras, de meu grado, e de mba li Mosteiros, e Corporaçoens, antes.
vre vontade. Doc. de Tarouca de que El-Rei Diniz no de 129 1. en
freas
GR GR 23
freasse a nunca saciada cubiça; e de baixo hum M: ao escudo, e
pondo em verde observancia , e F. atravessa hum arremessão, com
ampliando mesmo , as saudaveis hum pendão na ponta. A letra da
Leis de seus Augustos Predecesso orla diz: Si Dominus mihi adjutor.
res a este respeito. No reverso tem o Escudo das sinco
GRAMATEGO. Versado na Quinas, metido entre quatro Cas
Gramatica de alguma Lingua, ou tellos, com a legenda Fernandas
Dialecto, gramatico. Doc. de 1444. Rex Portug. Valião 2 1 reis dos de
GRANCHA. V. Granja. - agora de seis ceitís.
GRANJA, e Grancha. Não era GRECISCO. Bordadura precio
desconhecida em Portugal esta pa sa, que se fazia em Grecia, don
lavra , quando os Religiosos de de se levava a toda a Europa, e de
Cister entrárão neste Reino; po que muito se usou em Hespanha,
rém foi mui trivial depois que el segundo os nossos Doc. até os
les começárão a ter casaes, e ter principios do Sec. XIII. V. Damí.
ras: humas , que cultivavão elles Tambem se chamou Grecisco o pan
mesmos, e outras , que por seus no de cór-gris. V. Grizisco.
caseiros , ou colonos agricultavão. GREYMEIMENTE. V. Germei
Ou venha de Granum o nome de 7770/71 e.

Granja; porque nella se recolhem GREMEYMENTE. V. Germei


os fructos: ou do verbo Grangear; //leftte, -

não havendo na Granja outro des GRIJÓ, ou Igrejó. Assim cha


tino , que grangear em os renó mavão a huma pequena Igreja, ou
vos, e gados o preciso para a vi de poucos freguezes, ou de in
da , e tirar algum lucro, provei significantes edificios, e que em
to, ou grangearía : Innumeraveis latim se dizia Ecclesiola. Daqui
Documentos nos informão , que veio o nome ao celebrado Mostei
muitas destas Granjas não forão ro de Grijó, que principiou em
mais que insignificantes coirellas, huma limitada Igreja , e quasi in
predios, quintinhas , ou terrillas , significante Hermida. No de 1 155.
descontinuadas , e não unidas , mas D. Odorio Bispo de Viseu, com o
com sua casa, ou celleiro para reco seu Cabido, dimittio ao Mosteiro
Àber os fručios. V. Herdade. de S. Christovão de Alafoens to
GRATIR. Agradecer. Gratir dos os Direitos Episcopaes , que
vo-lo-bei. Eu volo agradecerei. Doc. elles tinhão na Grijó de Valladares,
da Cam. de Coimbra de 1324. não só pelo remedio das suas al
GRAVE. Moeda de prata pou mas; mas tambem porque o Mos
co menor que hum meio tostão. teiro lhes deu Hunam luram men
Tem no anverso hum F. antigo, salem obtimam , apretiatam triginta
(metido em hum Escudo, que re morabitinis & c. E por isto ihe di
presenta hum R. grande, ) a pri mitte esta Igrejinha, ou Grijó, cum
meira letra do nome d'El-Rei D. suis Prestimoniis, é terminis, ó:
Fernando, que a mandou lavrar : cum omnibus ejufdem Ecclesiae expar
sobre o F. tem huma coroa : de te mostra pertinentibus. E na dimis
hum, e outro lado do Escudo está são, que desta mesma Igrejinha fi
huma Cruz da Milicia de Christo, zéra primeiramente ao Mosteiro o
… -* Pa
24 GR GR
Padre Domingos, Abbade della; grossada; isto he: não raspada, ti
se intitúla igualmente Ecclesiola. rando do Pergaminho alguma, ou
Doc. de Alafoens. Em outros mui algumas palavras , e substituindo
tos se acha Ecclesiola : traduzido outras; mas antes limpa, e sãa,
em Grijó. e carecente de todo , e qualquer
GRIZISCO, e Grecisco. Vesti vicio. Doc. das Bent. do Porto de
dos roupas, cortinados, véos, e I 295.
outras quaes peças feitas de pan GROSSAMENTO. Glossa, en
no , ou seda de côr leonada , ou trelinha, ou qualquer addicção, ou
cinzenta, a que ainda hoje se cha alteração na escrita, que possa cau
ma côr gris; ou forrados, e guar sar alguma duvida, ou suspeita na
necidos de pelles de Grisés , que legitimidade da escritura. Vista a
segundo Cobarrubias son ciertos dita Carta , e como era ssãa, essem
animalejos, de cuyas pieles se suelen grossamento , nem entrelinhamento.
bazer aforros : y dieronles este nom Carra d’El-Rei D. Affonso V. de
bre por la color parda , que tienen. 1468. Doc. de Melgaço.
Mas como esta côr tem varios grá GROSSO. Moeda de prata fi
os: há gris, que declina para par na , e pura , que tinha o mesmo
do, e grisé, que he hum panno de valor, que o Real de Prata, até o
láa quasi branco , de que os rus de 1489. (Nas Cortes de Coim
ricos frequentemente usavão, e de bra de 1472. se faz menção de
que em algumas Religioens por Grossos, e meios Grossos.) Desde es
humildade se vestião. Porém o te anno se mandárão pagar os Rea
Grizisco subido era mui estimado es, e os justos a 33 reis por peça,
nos tempos antigos. No de I I I 2. sendo de seu justo pezo: e se o nom
D. Unisco Eriz doou muitas cousas forem, se desconte soldo á livra o que
ao Mosteiro de Paço de Souza, e falecer. Carta d'El-Rei D. João II.
entre ellas Palium, & Grizisco. V. ao Concelho do Porto sobre o va
Almucella. No de 1 145. D. Dordia lor das moedas de ouro, e prata,
filha de Egas Moniz, e de D. The que mandava lavrar no de 1489.
reza Affonso, sua quarta mulher, Em o Norte ainda há Grossos, que
entre outros bens, de que fez Doa he moeda baixa, e differe o seu
ção ao mesmo Mosteiro , nomêa valor, segundo as Terras. .
Uma cappa Crezisca, ó uma stola de GRUADOR. Advinho, supers
ipso pano. No mesmo anno (que foi Hespanha.
ticioso, V. O. Acha-se em Doc. de
• }
o da sua morte, ) D. Egas Moniz
fez huma larga Doação ao mesmo GRUARIA, Cazal, que paga
Mosteiro, não só de herdades, mas foro de Gruim. Disse, que há em S.
tambem de moveis, dos quaes fo Matheos huma Gruaria, Inq. d'El
rão Uno manto de Grecisco... &º duos Rei D. Diniz. V. Gruin. }

greciscos de super Altare. Doc. de GRUIN. Tromba, ou focinho


Paço de Souza. de porco, que na Baixa Latinida
GROSSADO. a. Glossado, ou de se disse Grugnum, por Onoma
entrelinhado, mettendo algumas pa topeia; pois com a tromba hé que
lavras de premeio, como se faz nas grunhe o porco. Tambem se cha
glossas. Procuraçom nom rassa, nom mou Gruim: o pão que se verte,es
* •
ou
GU 25
espalha na eira na occasião que se àe sua vida. Em outro de Lorvão
mede, e faz conduzir á tulha, ou de 1317. lemos: E dade-lho em gui
celleiro , o qual chamárão os Infi fa , que agam elles , em que gares
mos Latinos Gruinum, e Groimum; cam: isto he em que vivão, traba
porque ordinariamente o comem lhem, e se mantenhão. No de 1298.
os porcos. perdoou o Mosteiro das Salzedas
- GUAANHADEA. V. Gança. ao Abbade de Guiaens X, libras ;
- GUALTEIRA. Carapuça. Del com condição, que não consentis
la falla a Orden. L. V. Tit. 79. S. 3. se, que algum dos seus fizesse da
GUANÇA. V. Gança. no ás pesqueiras do Mosteiro : e
GUARDA-COS. V. Garda-cós, fazendo-o , o dito Abbade o quite
GUARDA-REPOSTA. O que de si , e nunca com elle guaresca em
tinha a seu cargo os doces, e pos todolos dias de sa vida , e nom ly
tères para a Mesa Real. Parece faça nenhuum bem. Doc. das Salze
corresponder ao Latino Reposita das. •

servans. No Foral de Santa Cruz da GUARECER II. Escapar, re


Villariça de 1225. se acha servin fugiar-se, amparar-se, defender-se.
do de testemunha Dominicus Scri Poserom toda sua esperança de gua
banus Maius Repositarius. ts. Doc. recer na espessura de hum monte,
de Moncôrvo. que hy tinham á cerca. Chron. d'El
: GUARECER, e Guarescer. I. Rei D. João II. c. 34. Hums es
Do primeiro usão os nossos melho caparom naquellas brenhas , outros
res Autores da Lingua Portugueza guarecerom polla ligeirice de seus ca
no sentido de convalescer , cobrar vallos. Chron. do Conde D. Duar
saude, sarar , avultar , refazer-se te de Meneses. c. 112.
de algum dano. Feridor , que logo GUARIDA , e Goarida. Fazer
guarecerão. João de Barros Dec. IV. guarida: Convier, estar na compa
da I. Ediç. fol. 1o8. E tomando a nhia de alguem. Nom fazer guari
quelle bafo, guareceria. Souza. Hist. da , nem morada com esse Stevam Do
de S. Domingos P.I. fol. 118. No ninguiz. Doc. de S. Thiago de Co
zempo que os moradores de Hespanha imbra de 1324. Manter goarida :
se hião guarecer a França. Monarch. conseguir o preciso , e necessario
Lus. Tit.I. fol.76. Não havia homem, para os usos da vida. E se alguem
que os visse, que podesse cuidar, que do meu linhajem quizer vir contra o
os Portuguezes entre elles podessem dito emprazamento, que eu a vós avía
guarecer. Lopes. Vida d’El-Rei D. feito pera manter goarida, e em es
João I. T. II. c. 34. te mundo estado sem vergonha , que
Do segundo usárão os nossos eu sem el nom podia manteer como
Maiores por : viver pessoalmente devia; dou &rc. Ib. An. de 1314. V.
em huma fazenda , donde se con Guarecer. Daqui se vê ser o mes
sigão as cousas necessarias para a mo Guarida, que Continencia.
vida, e tambem por: conviver, ou GUAZEL. V. Corazil.
ter amizade, e communicação com GUÇA. Fervor, actividade, prés
alguem. Em hum Doc. das Salze sa, diligencia. V. Aguça.
das de 1281. se diz Guarescam nel GUETE. Instrumento publico,
2a (isto he na tal fazenda) em dias pelo qual o Judeo: se desquitava
Tom. II. D de
26 GU GU
de sua mulher, se esta por hum raiva, colera. Estar indignado: o
anno permanecia no Judaismo, sem mesmo que irado, colerico, furio
querer abraçar, como seu marido, so, iracundo, e dezejoso de tomar
vingança. •

a Lei de Jesu Christo. Cod. Alf. L.


II. Tit. 72. Segundo o Direito dos GUISA. I. Modo, fórma, ma
Judeos esta Carta de Quitamento , neira. Ainda os nossos bons Auto
ou Guete dissolvia o 1.° Matrimo res se não esquecerão inteiramen
nio, e tanto a mulher; como o ma te desta palavra antiga, que cor
rido podião passar a segundas nup respondia ao Latino: ita ut : tali
cias, e ser legitima a prole, que ter : tali modo. v. g. Per tal guisa;
dellas procedesse. Esta opinião Ju de tal guisa; em guisa & c.
daica se fez depois commúa entre GUISA. II. Ordem , ou quali
os Theologos, e Canonistas; mas dade de Cavalleiros, a que chama
hoje se acha impugnada com razo vão Guisados , ou Aguisados , por
ens taes , que muitos a tem aban estarem sempre aptos, e prestes
donado , e nos Tribunaes mesmo com armas, e cavallos para a guer
pela contraria se tem decidido. Ve ra, e todo o Real serviço ; toma
ja-se o Cl. Pereira de Figueiredo em da a metafora das iguarías guisa
a Not. á Epist. I. ad Cor. 7. 15. das , que estão promptas, e dis
GUIAMENTO. servir a alguem postas a serem comidas sem demo
de guiamento , he servir-lhe de ra. E daqui se disse Guisamento:
Guia , Conduétor, Mestre, Dire todo o preparo para a celebração
&tor, guiando-o , e conduzindo-o do Santo Sacrificio do Altar, co
pelo caminho mais seguro ao fim mo paramentos , hostias , vinho,
do que se pertende. cera &c. Todolos que som escolheitos
GUIDIMTÉSTA. Assim se cha da guisa, e da ginéta em todalas Ci
mava o dilatado terreno que D. dades, Villas , e Lugares. — Esta
Sancho I. concedeo a D. Affonso meesma pena ajam aquelles, que som
Paes, Prior da Ordem do Hospital apurados da guisa , e da gineta, se
neste Reino, em 13. de Junho de nom teverem os ditos cavallos atad o
1 194, para ali fazer hum Castello, dito tempo. — Peró que estes que nom
com o nome de Belveer. Ego San som da gineta, nem da guisa , nem
cius... facio Cartam ..... Vobis D. de cada huma das Hordeens da Caval
Alfonso Pelagij, Priori Hospitalis in laria , e som acontiados pera teerem
Partibus nostris, & omnibus Fratri cavallos & c. Cod. Alf. L. IV. Tit.
bus vestri Ordinis ..... de terra , I I 8. S. 3.5. e 8.
que vocatur Guidimtesta, in qua con GUISAMENTO. O aviamento,
cedimus Vobis, ut faciatis Castellnm e preparo para qualquer cousa se
quodam , cui imponimus nomen Bel fazer. V. Guisa, e Fronteira.
veer. Doc. da T. do T. GUISAR. Apromptar, preparar.
GUINADA. Salto , investida. Do Sec. XIV.
Neste sentido usou desta palavra GUORAZEL. V. Corazil.
João de Barros. Hoje se toma por GUR. O mesmo que jur. Se
furia, ou frenesí. O que o vul quitarom de dous quazaaes, que elles
go diz: Inguinaçoens he corrupção tragyam in gur, em posse. — Tragia
de Indignaçoens: movimentos de ira, mos, e trouxemos in gur , e in por

GU HA 27
*e. Doc. da Un. de 1282. H. Suprido por F., e pelo con
GURGUZ, ES. Em huma Carta trario, foi muito usado, v. g. He
d'El-Rei D. Afonso V. para a Ca minas, Hebris : por Ferminas , Fe
mera do Porto, de 1474. se diz: bris: assim como Fedum, Fircum,
Ancoras , bombardas , polvora , Fostem
Hostem &c.
&c. por Hedum , Hircum ,
• • •

mastros , vergas , lanças d'armas ,


guarguzes , e quaesquer outras cou Antiguamente , e ainda no Se
sas , que sejam necessarias pera faculo X. se usava algumas vezes do
zimento das ditas náaos. Erão, poisH. sem ser preciso, e quasi por re
os Gorguzes: Dardos, virotoens, dundancia. v.g. Hurofručio, hinsidias
quadrellos, ou armas de arremeço, chomada &c., por : Usofručio, insi
-que se despedião, ou atiravão com dias, comoda &c.
grandes béstas , á diferença das HAZ. Batalha ordenada , exer
sétas , que se atiravão com arcos. cito posto em campo. Esta palavra
Era já ferido de huma séta, e de he mais Castelhana , que Portu
hum gorguz no rosto. — Da galé ju UlCZ3.

gavão á cerca de XC, béstas, e assi HEGIRA. V. Egíra.


com ellas, como com as lanças, e gor HEIRADEGA. V. Eiradéga.
guzes fazião assás trabalho aos nos HER. V. Er. E ora o dito Conce
sos. Chron. do Conde D. Duarte. c. lho nos her quitou a dita péa. Doc.
1 19. da Cam. de Coimbra de 135 1.
HERDADE. Esta palavra, (que
hoje se toma por huma grande, e
H. dilatada fazenda, a que os Latinos
chamavão Latifundium, tapada, ou
H . Letra numeral, valia 2oo: demarcada sobre si, ) na sua ori
sendo plicada 2ood)ooo. gem nada mais significava, que al
H. Na Musica , assim como na guns bens de raiz, vindos por he
escrita, nada mais era , que huma rança, avoenga, e successão de
nota de aspiração. Pais a filhos, ou tambem por suc
H. Em muitas Dicçoens Latinas cessão Testamentaria, em que al
se omitía, v. g. oc, une, onor &c.; uem era instituido por herdeiro.
e tambem nas Portuguezas, v. g. # desde o IX. Seculo até o
onras, oste, um, ou unm, conuçudo, XV. não significava mais, que hum
comuçuda &c., por : Honras, Hoste Casal, Quinta , Herdamento, Pre
hum, huum, conbuçudo , conhuçuda dio rústico, Villa, Granja, Celleiro,
&c. |- -

Propriedade, Aldêa, Alquarta, e to


… H. Substituido por G, se acha em da aquella fazenda, que rendía ,
hum Doc, de Céte de 985. Do ou podia render algum fruto, pa
mos domorum , cum omnibus intrise ra quem a cultivasse , ou fizesse
gus domorum, gac cum cunciis pres cultivar; prescindindo de ser a tal
.tationibus suis, -

Herdade de mais, ou menos exten


H. Antes dos artigos a. o as os, são, e não sendo da sua essencia
era mui usado no Seculo XIV. XV. o estar incluida dentro de certos
e XVI. O mesmo antes da conjun muros, marcos, ou balizas; mas
ção e. - - -
antes constando muitas vezes de
( , D ii . coi

28 HE HE
coirellas, peças, ou bélgas mui se mesmo se vê pelo Celleiro de Celo
paradas, e diversas. Isto se fará ríco, que era huma limitadissima
mais claro pelos Doc., que vou a porção daquella Terra, em quanto
produzir. Fr. Lourenço Salvador , e seu filho
-

No de 1 145. Pelagio Prior da Fr. Vicente, não fizerão Doação a


insigne Collegiada , ou Igreja Epis Tarouca no de 1244. de muitas fa
copal de S. Sebastião de Lamego, com zendas em Celoríco, e seu termo;
os seus Conegos, (pois ainda ali não com tal pacto, e condição, que os
havia Bispo, ) dérão ao Mosteiro Monges não fossem segar, vindi
de S. João de Tarouca dous peda mar, e podar á sua quinta do Gran
ços de herdade em Alvélos , em jom Tali Pačio , ut Conventus S.
Preço , e recompensa dos livros, Johanis sit excusatus de secatione to
que os Monges lhes havião copia ta, & de vindimare , Óº de putare
do Pro Biblioteca , quam scripsistis de Grangione , per fručius supradi
nobis: tantum nobis Óº vobis plaucit. éiarum haereditatum.
Fabia K. I. I. Kal. Decembris. E. M. Insistamos alguma cousa mais
C. 2. XXX. III. Lº das Doaç. de nesta Granja de Gradiz , para nos
Tarouca f. 12 y. Porém estas Ter instruirmos a fundo na qualidade
ràlas, ou insignificantes Herdades , destas Herdades. Em Tarouca mes
já no de 1 163. são chamadas Cel mo se acha hum Doc. apocrifo, e
/eiro ( porque dellas se recolhíão com mais erros , e incoherencias
alguns frutos , ) na Confirmação, do que tem de regras: chamão
que Alexandre III. fez dos bens lhe Carta de sempre, ou Prazo per
deste Mosteiro, nomeando expres petuo da dita Granja, datado no de
samente : as Granjas do Couto, de 1 189., reinando D.Sancho I. Maior
Archas, de Alvite, de Almafala, de domo ejus Dão P. johañis: Signifero
Mosteiró, do Porto , de Figueiró, e Dno. E.: Cancellario Martino V....
tambem Cellarium de Alvélos cum ter Dño A. Tenente Taraucam, Aquilar,
minis suis; como se vê da sua Bul Lamecum , ó alia Castra. Era M.
la Original, que ali se guarda. E CC. XX. VII. in Mense Martij. Ora
logo em outra de Celestino III. de o Alcaide Mór de Tarouca, Aguiar
1 193. (quando já o Mosteiro havia &c. era D. Vermudo , como se vê
adquirido muitos mais bens , e pelo L.º das Doac. do mesmo Mos
Herdades, como forão as Granjas teiro a f. 4o. Y. e ainda era no de
do Mozoeme , a de Luzellos, a de 119 1. como se vê pelos Doc. de
Palha Cão, a de Nogueira, a de Fe Lamego : no de 1 189. era Cancel
degadáfe , e a de Oliveira de Pena larío D. Julião, e o havia sido
guião , se achão nomeados os se muitos annos antes, e o foi de
guintes: Grangiam de Alvélos cum pois, segundo achamos pelos Ori
omnibus terminis suis ... Cellarium de ginaes de Viseu: O Alferes mór do
Celorico cum omnibus appendiciis suis Reino era por aquelles annos, e
... Grangiam de Gradiz cum omnibus continuou a ser, D. Pedro Afonso,
terminis suis. Eisaqui temos huma filho ilegitimo d'El-Rei D. Affon
pequena Herdade (entre as muitas so I. E finalmente no de 1 183. era
e grandes fazendas de Alvélos, ) Mordomo mór, D. Mendo Gonçalves,
nomeada já Granja , já Celleiro: eo e no de 1 191. era o Conde D. Men
da
HE HE 29
do , e logo no de 95. D. Gonçalo é habitatione, & ibi glossa verbo:
Mendes ; como se acha nas Escri In Villa ibi: Villa, id est, Domun
turas Originaes daquelle tempo, e cula , quae gratia fručiuum reponen
se póde ver mesmo na Geografia dorum parata est, Óº appellatur rus
Histor. de Lima T, I. f. 31 1. e 48 r. ticum Praedium. E neste mesmo sen
Chega-se a isto , que nesta Carta tido se toma Villa no Sagrado E
senão acha assignado morador al vangelho , e no Direito Canoni
gum de Gradiz; achando-se assig co. Porém o que tira toda a duvi
nados todos os Monges de Tarou da, hé a mesma fingida Carta, que
ca, e os moradores todos de Agoa chama Herdade, ou Casal a esta mes
JLevada , a quem derão similhante ma Villa ; comminando graves pe
Carta no de 1 197; os de Figueiró nas a qualquer Caseiro, que o ven
de Algodres, no de 1 243 ; e os desse, sem guardar as condiçoens
de Villarinho de Tarouca no de 1 136; nella conteúdas : Si aliqui ex vobis
segundo vemos no Lº das Doaç. voluerint vendere Casale, vel Here
e f. 66. Mosteiro. a f. 18. W. e f. 22, ditatem & c. E finalmente de hum
daquelle •

Suppositicio Acordão, que ali se a


Mas prescindamos da falsida cha , datado no de 1593; tiramos
de , ou supposição do Instru a certeza de que esta Villa , Her
mento: notemos só o nome de Vil dade, Casal, ou Granja não passava
Ja, que elle dá a huma fazendinha, de algumas propriedades , que em
que o Pappa, quatro annos depois, Gradiz tinha o Mosteiro de Ta
chama Granja , e que o Mosteiro rouca; pois diz:
oferece geralmente a qualquer dos Mostra-se o Abbade de S. João de
moradores de Gradiz presentes, e Tarouca no anno de 1267. dar de A
futuros, que a quizessem cultivar, foramento para sempre aos moradores
com obrigação de pagar o sexto do lugar de Gradiz para elles, e seus
do paõ, vinho , e linho. Damus vo successores, as propriedades , que
bís, bominibus de Gradiz Cartam de tinhão no dito Lugar de Monte em
illa nostra Villa, quae vocatur Gra fonte &c. (E decaminho se repare
diz & c. Não he preciso accarre na verdade , e lizura de adduzir,
tar-mos aqui milhares de Escritu como datado no de 1267. hum Do
ras Orig. e Latinas, que entre nós cumento, cuja data he no de 1 189.
se conservão , para mostrar-mos, Acha-se mesmo em Tarouca hu
que antes d'El-Rei D. Diniz nun ma Carta atribuida a El-Rei D.
ca já mais se entendeo por Villa, Affonso III., na qual se diz, que
(quando outra cousa se não supu achando-se o Rei em Obidos a 7.
nha , ou expresamente declarava) de Janeiro de 1254., o Abbade da
mais do que huma pequena Herda quelle Mosteiro se lhe fora quei
de , ou Casal composto de algu xar, de que o juiz de Trancoso por
mas peças de terra, e casa rustica, Ordem Real, lhe tomára para a Co
ou de abegoaría, para recolher os roa a Herdade de Gradiz : Et idem
frutos na Aldêa. Veja-se Estaço nas Abbas monstravit Michi suum Privile
Antig. de Portug. c. 2. n. 22. E nes gium, in quo continebatur, quoderant
ta mesma accepção se acha no Di LX. anni elapsi, quod ipsum Monas
reito Civil ex L.Plenum.12.f. de usu, terium S. johannis babuerat ipsam
Haer •
\

3o HE HE
Hereditatem de Gradis. E por tánto pignorarunt ipsum johannem Dias pra
lhe manda entregar a tal Herdade. venda de ipsa Haereditate. Et johan
E exaqui temos a Granja, constan nes Dias cum cuyta dedit Santio fo
te do Privilegio, ou Bulla de Celes banni quatuor quirelas de haereditate,
tino III., transformada em Herda pro tali, quod leixarent ipsum stare
de , sem lhe alterar a natureza de in pace. Et ipsae quirele sunt in lo
Casal , ou Predio rustico. Vejamosco, qui dicitur Maria Vilída, & In
agora que Herdade esta era , e de furcadas... Interrogatus de tempore ?
que peças constava. Nas Inquir. Dixit, quod in tempore Dii Regis
Reaes de 1258., e no Titulo de Sancij, Fratris istius Regis.
Aguiar, que se achão na T. do E tal era a Herdade, Granja, ou
T. se provou terminantemente : Pilla de Gradiz, que ainda com os
!Oue o Mosteiro de S. foão de Tarou seus foros vencidos, e não pagos,
ca comprára em Gradiz as Casas , e foi substituida por quatro coirel
Herdades , que forão de García Pe las, que hoje conservão os mes
queno, e de seus filhos , e filhas : e mos nomes, em lugares distintos,
que mesmo adquirira ali algumas ou e apenas merecem o trabalho da
tras belgas , herdades, ou courellas, cultura pela sua pequenhez, e fra
já por Testamento , já por compra ; co torrão: Courellas, que com os
mas tudo isto no Reinado d’El-Rei mais pedaços de terra, que o Mos
D. Sancho II. Tempore Diii Regis reiro adquirío até o de 1258. ( em
Sancij, Fratris istíus Regis. Não erão que foi inhibído pelo Foral de A
logo estas limitadas aquisiçoens, guiar do mesmo anno, para nada
as que fazião a Granja , ou Herda mais adquirir neste Concelho, )
de de Gradiz no de 1 193; pois se fizerão toda a Aldêa, que os Mon
sabia o modo, e o tempo em que ges, derão em Prestàmo a D. San
passárão para o dito Mosteiro. Po cha Fernandes no de 1 3 1 6., di
rém Domingos Gondofio, e joão Vi zendo: Conhoscam quantos este Stor
cente, D. Lourenço, D. Aparicio, e mento virem, e ouvirem como Nós Fr.
outros testificárão, que o Mostei Domingos Abbade , e Convento , e
ro tinha em Gradiz huma Herdade, Moesteiro de S. Johanne de Tarouca,
que lhe deixárão por Testamento; damos a Vós D. Sancha Fernandez..
mas que não sabião já, º quem lha em prestamento, e em dias da vossa vi
deixára, nem em que tempo : Di da a tansolamente , e nom mais , a
xit, quod Sančius fohannes habuit de nossa Aldêa de Gradiz , com todolos
Haereditate de Gradiz de Testamento. dereitos, que nos by avemos, e de de
Interrogatus, de tempore, & de homi reito devemos aver ... E á vossa mor
nibus , de quibus ipsum Testamen te deve essa Aldêa a ficar livre , e
tum ?. Dixit, quod nesciebat. Porém quite em paz, e em salvo a nós, e ao
todos concordárão em dizer Quod dito nosso Moesteiro ... com todas sar
johannes Dias de Gradiis morabat in pertenças, e com todas sas bemfeito
Hereditate de Sančio Johanne: Ó ipse rías... E este Prestàmo vos damos
Johannes Dias vendidit ipsam Here por moito bem , e por moita ajuda ,
ditatem, in qua morabatur, de San que vós sempre fecestes a nós , e ao
tio Johanne, sine mandato de Sančio dito nosso Moesteiro, e porque rodes
Johanne. Et foros demandarunt » & nossa Famaliára, e devedes amandar
f0f8
HE HE 31
soterrar o vosso corpo no dito nosso Mo no Mosteiro, como Direito Senho
esteiro á vossa morte. E devedes adar río, a Quinta da Lagôa, e a Aldêa
em cada huum ano por conhoeença da de Gradiz. Tornárão-se a chamar
dita Aldéea dous capoens... Feito foi Herdade estas Peças de terra em hu
o Strumento 6. dias de Março E. M." ma Carta atribuida a El-Rei D.
CCC."L." IIIIºanos. Doc.de Tarouca. João I. , de 1414 ; e Herdades no
Mas da palavra Aldêa ninguem Prazo, que o Mosteiro fez em tres
passe a inferir, que por ella se en vidas a Fernão Martins de Marial
tendia todo o Povo, ou Freguezia va no de 1436., dizendo, que lhe
de Gradiz; pois nada mais signifi emprazavão. A nossa Granja da La
ca, que as insignificantes herda góa, e todalas outras cousas, que nós
des, de que acima se fallou. Sou avemos em Gradiz, tambem pam, co
za, e Bluteau no Supl. nos dizem, mo vinho, e casas, e adégas, e foros »
que Aldêa, (ou Aldaia, segundo os e direito, e direituras... Ajades vós
Arabes,) he hum lugar tão pique as ditas couras, assi como de nós tra
no , que muitas vezes consta de zia Martim Annes , vosso Padre , e
huma só casa , como se disse V. melhor , se as vos melhor poderdes
Alquaría. E nesta persuasão esta aver... por tal preito, e condiçom,
vão os Portuguezes, que primeiro que o lavredes, e fruiteguedes as Her
povoárão no Brasil, chamando v. dades, e façades as casas de todalas
g. dez Aldéas a dez palhoças. Cha cousas , que lhes comprir ; per tal
ma-se logo neste Prestamo : Aldêa guisa, que senom perca por minga de
de Gradiz , não o Povo deste no bemfeitoria... E resalvamos pera nós
me , mas sim as casas de García a Colheita. &c. Porém na renovação
Pequeno , e seus filhos, com seus deste Prazo ao mesmo Fernão Mar
palhaes, cortes, curraes, encerra tins, e sua mulher Leonor Gomes
douros, e outros similhantes caze no de 145 1. se diz: Emprazamos a
bres , proprios de huma casa de vós todolos foros, e direitos, e direi
campo, e lavoura, e no mesmo fi turas , que nós avemos na nossa Al
tio , que ainda hoje se chama sua déa de Gradiz . . . Resalvamos para
Aldéa. Em hum Instrumento de o Mosteiro a Comedoria. It : vos em
1 288. se chama esta Aldéa: Herda prazamos a nossa Quinta da Lagôa.
mento; e nºhuma sentença de 1289. &c. Nas renovaçoens seguintes se
se chamão Herdades as coirellas, tratão estes bens de Gradiz com os
que assim o Mosteiro, como o Con nomes de Villa; Herdade; Quinta;
celho de Aguiar tinhão em Gradiz. Propriedade ; até que no de 155 1.
Este mesmo nome de Herdades deu se disse, que emprazavão o lugar de
o Abbade de Tarouca a esta Gran Gradiz; occasionando-se daqui re
ja, requerendo no de 1 329. ao Ju nhidas contendas, que só á vista
iz de Aguiar , não permittisse, dos Primitivos Documentos se de
que alguem comprasse ssás herda verião rer decidido, e terminado.
des de Gradiz , sem seu mandado , e Doc. de Tarouca. …
sen sa vontade. De huma Procuração E que a Herdade fosse muitas
de 1383. feita por Estevão García, vezes separada , e desunida , he
e sua mulher Tereja Dias, consta, cousa que não padece duvida. Em
que elles Emfiteutas renunciárão o Lº das Doaç. de Tarouca a f ; I.
32 HE HE
y. se acha o Doc. seguinte: Hec réstos sem duvida do Systema feu
est K. Venditionis , quam jus simus dal. Estes Prazos, ou Herdades
facere ego Johannes Andrías , ó" pagavão Luctuosa, por isso mesmo
uxor mea: Et ego Petrus Polagii , que erão de Vidas, e sujeitos a se
dº uxor mea, Óº Ego Gumsalvus Er rem hermados, ou povoados por mor
migij , Vobis Domno Abbati R. Óº te , dimissão, ou comisso do ac
tual emfiteuta. Em hum Doc. das
Fratribus vestris de Haereditate nos
tra, quam habemus in Cabana de Mau Bentas do Porto de 1261. se diz:
ris: in illa Cerzejra unum pedaçum : Quae es haereditas ipsius Monasterij
in Savugueiro alium pedazum : in il de hermare, ó populare. Em outro
lo Portu, qui venit de Aqua Levada de Paço de Souza de 1419. lêmos:
ad Cabanam de Mauros , aliud peda Porém o Moesteiro á d'aver as Lot
zum. Damus vobis istas Haeredita tosas per bem do ermar , e povoar.
tes... E se aliquis homo venerit... V. Loitosa, e Pobradar. +

pariamus vobis ipsam Hereditatem HERDANÇA. Herança, ou Di


duplatam ... . Facta K. E. M. C. reito de succeder nos bens tempo
2 XXXVIII. &c. No de 1 15 o. o Ab raes , sejão moveis , ou de raiz.
bade Ranol, com seus Irmãos, e ou Tambem se chamou Herdança a Ra
tros vendeo a D. Thereza Affonso {ão, Comedoría, ou Alimentos, que
huma Herdade no Termo de Arge alguem recebia , ou pertendía re
rás; declarando logo, que as pe ceber dos Mosteiros, Igrejas, ou
ças desta Herdade estavão em La Lugares Pios com o fundamento
ma Tremúa: em Villa Chãa: em Pra de que era Descendente , Natural,
dos de Rei: em Lamélas : á Fonte de ou Herdeiro dos respectivos Funda
Felmíro : e em Barrejros; como se dores. V. Herdeiros. Se algum , ou
vê do Lº das Toaç. das Salzedas a alguma quizer demandar herdança en
.f. 68. E já assima V. Fisco, se vio entrambos-Rios: que le den una axa
como El-Rei D. Afonso Henriques da , com que cave : e dem áá Dona
deu o nome de Herdade a muitas, uma pesa de lana , que fie, e senar
e mui distantes fazendas, que a raciones de borona, e da agoa quanta
dita D. Thereza Affonso comprou possam beber. Testam. de D. Chamôa
a Pedro Viegas no de 1 163. Não Gomez de 1258. Doc. das Salzedas.
lhe justo demorar-nos mais em cou HERDEIRO de mais preço.
sa tão clara. Mais nobre, distinto, e principal.
HERDADE de Hermar, e Po Manda El-Rei D. Diniz ao seu
voar: Aquella que andava por Pra Meirinho Mór na Beira, que che
zo de Vidas, e que, extincta a ulti gue ao Mosteiro de Reciam, e cha
ma, ficava devoluta ao Direito Se máde hum , ou dous desses , que se
nhorio , com autoridade plena de chamão Herdeiros de mais preço , e
a deixar pôr de monte , e tornar veede essas Cartas : e se achardes,
sem cultura , e sem Colono ( e a que esse Moesteiro he meu &c. Doc.
isto chamavão Hermar, ou Ermar) de Reciam de 2322. - ,

e tambem de a tornar a emprazar, HERDEIROS. Assim chama


aforar , ou dar de renda, e fazel vão antiguamente em Portugal os
la afumigar por Caseiro, que nel filhos, e Descendentes dos Padro
la habitasse (o que era Povoar ) : eiros, e Fundadores das Igrejas,
C
HE HE 33
e Mosteiros, de que annualmente da, ou Hermitagio de S. Maria Mág
percebião certas pensoens.V. Ca dalena que est in Castro de Boi; fá
Jamento , Defensor, Igreja , Natu cultando os Emfiteutas, para que
ral, e Decima. recebão omnes fructus, reditus, pro
- -

- HEREE. Herdeira. Cuja testa ventus, directuras, servitia, loitosas,


menteira , e beree eu sog. Doc. de &º oblationes, & ofertas, que vene
Pendorada de 1347." rint ad ditam Haeremitam, sive ad di
HERÉÉS. Herdeiros. Doc. de ctum Heremitagium. E que podes
1286. __ , . - : sem arrendar a quem muito qui
HEREO. ou Eréo. Herdeiro, zessem o dito Heremitagio. Doc. de
Doc. de 1318.…… . Vairão. No Bispado de Castello
HERMAR. No Seculo XII. Branco, ( e antiguamente da Guar
XIII. XIV. e XV. he mui frequen da ) foi celebre o Hermitagio de S.
te o verbo Hermar: por despovo Pedro da Villa Corça. No de 1388.
ar, reduzir a mato, tornar em so estando os Conegos da Guarda na
lidáo, ou não cultivar hum Casal, Igreja de Santallafonso , que era
fazenda , herdade, ou lugar. Di na mesma Cidade, onde resavão suas
zião em Latim: Heremitare. El-Rei Oras, emprazárão todos os Direi
D. Afonso III. fez Lei, para que tos, e direituras, que ao dito Ca
nenhum, que terra tivesse da Co bido pertencião na dita Hermida,
roa, nella pozesse defesa (i. h. fi ou Hermitagio. E no de 145 o. D.
**
zesse Coutada) porque faça hermar Luiz Bispo da Guarda, de acordo,
as terras das Igrejas, e Mosteiros, e consentimento do nosso honrrado Ca
ou leixem de seer por ello lavradas, bido, a quem juntamente com mosco
e aproveitadas. Cod. Alf. L. II. T.2o. pertencem a dita Ermida, bens, ren
: HERMENHO , e Herminio. das, esmollas , mealheiros, ofertas,
Dizem, que na antiga lingoagem e proventos della por posse antiga, em
de Hespanha significava: Aspero, prazáraõ , e arrendárão a Gonça
duro, intratavel. E taes erão os lo Afonso, Conego da Guarda a
Montes da Serra da Estrella, e os dita Hermida, vinhas, e bulivais, fi
da Serra de Haramenha junto á Cí Agueiredos , terras, cháos , casas , e
dade de Meidobriga, (não longe do hortas, e todalas outras cousas, com
sitio onde hoje está Marvão : ) e foro , e pensão annual de tres ar
não menos o erão os seus habita robas de cera boa , e recebouda , e
dores, em quanto se não fizerão 36. alqueires de bons, e recebondos fi
trataveis, e humanos com a com gos passados , pelo pezo , e medida
municação das gentes civilizadas , desta Cidade , e 18. libras de moeda
e polidas. antiga, ou seu justo valor, pela moe
ERMITAGIO. Hermida, San da Real, que pelos tempos correr; fi
tuario , Capella, ou Casa de Ora cando as duas partes para o Bis
ção, fundada em lugar ermo, e so po, e a terça para o Cabido. Doc.
litario, donde lhe veio o nome, e da Guarda. No de 1483. emprazou
não por ser habitada por algum E a Camera de Coimbra o Hermita
remita, ou Ermitão. No de 1285. gio, ou Hermida de S. Comba, com
emprazou o Mosteiro de Vairão sua Clasta, Casas, e Oliveiras. E já
certos Casaes, e tambem a Hermi no de 1458. havia concedido por
Tom. II. E hum
34 HE "HI
hum anno as ofertas, e fruto das sistia, pois esta Higualdaçom , os
oliveiras aos moços, que nella ti Igualdade em repartir os Criados.»
nhão Confraría , para ajuda das ou Criadas , e gente, que servia
obras, que nella se fazião. Doc, por soldada, segundo a necessida
do Cam. de, ou precisão, que delles havia.
HERVOEIRA. Mulher prosti Nesta mesma Carta Regia se de
tuida, marafona, e cuja porta es termina: que o Mosteiro desse homr
tá patente a quantos a procurão ; Fiadores ás soldadar. -

abusando de si em qualquer lugar, HIGUALDAR. Dar, e destri


mato, ou relva. Ainda hoje dize buir os Criados, segundo a neces
mos: Filho das hervas: aquelle cu sidade de cada huma Pessoa, ou
jo Pai se ignora por sua Mãi tra Corporação. V. Higualdaçom.
tar deshonestamente com muitos. HIR , ou Sahir sobre alguem.
Se nos lembramos, que as mere Tal era a expressão usada no Se
trizes costumavão albergar em suas culo XIII. e XIV. correspondente
casas os passageiros, e quantos del á do Seculo XII. Ire, seu exire su
las se querião servir; poderiamos perme, para dizerem, que devião
dizer , que Hervoeira se disse do bir , ou sabir com Cruz, e agua
Verbo Herivergare : que significa benta sobre a sepultura de alguem,
va: Hospicio excipere mansionaticum cantando, ou para cantar, algum
praebere, vel in aliqua morari domo. Responsorio, Preces, e Oraçoens.
E se o Confrade... chamar á Confra Mando, que vam sobre mi &rc. Man
da : Hervoeira : ou aleivosa : ou lado , que rayam sobre mi &rc. Doc.
dra : pague V. soldos á Confraría , de Pendorada de 1 344.
be entre a V tagantes Doc, de Tho HIRIVAR. Derribar, arrasar,
mar de 1 388. > demolir, deitar por terra. Entonces
HESTROMENTO. O mesmo D. Gomes , que era muy sonbudo ,
que Instrumento. Hé do Sec. XIV. fijo birivar em terra aquella Igreja;
HI. Ahi , nesse mesmo lugar. qua era Fundaçon de faa Avoenga, e
Doc. de 142o. el tomado de colera, & c. Fundação
HIGUALDAÇOM, e Igualda de S. Miguel de Pena-Guião de
ção. Acção de dar , e repartir os 119 1. na T. do T.
moços, e moças de serviço pelas HYCHARIA. Ucharia Real. V.
Pessoas, e Corporaçoens, que del Eichão, e Ucha. Por huma Senten
les precisavão a juizo dos Depu ça de 1479. se declara ao Rendei
tados para esta Higualdaçom. ro da Hycharia, que os que accar
Nas Salzedas se guarda huma retavão pão das suas rendas nas
Carta d'El-Rei D. João I. , em suas bestas, erão isentos de pagar
que manda ao Juiz do Couto da os ro8. reis do Foral, que só res
quelle Mosteiro, lhe dê os mance peitava aos Almocreves. Estes pois
bos, e mancebas, e servicaes; pe erão obrigados á dita pensão, des
ra que adubem, e repairem os bens tinada tambem para a Ucharía, ou
do Mosteiro ; de guisa , que o dito Despensa Real.
Mosteiro, e Convento reja dello bi HQ. He o Artigo o aspirado,
Áualdado, como cada buãs da srua HÓ, e Hós. O mesmo que Ó,
higualdaçom. Doc. de 1395. Con ou Ós. Por merenda, convite &c. No
Mos
|
HO Ho 33
Mosteiro de Grijó se davão varias mes fez á Salzeda no anno de 1263,
pitanças nos dias dos Hós, como de tudo o que tinha em Bretiandi
consta da Despesa de 1444. E mais por tal preito , que os Frades desse
darem huum hó á vespera do dito Mar menesmo lugar non seguem por ssar
tere.1384.
de Doc. de Santiago de Coimbra mãos: e o que ficar da ssegada seer

para a enfermaria : se declara, que


HOGE. Hoje. D'hoje em diante. elles não poderáó dar, vender, ou
Doc. de Vairão de 1289. emprazar estes bens a Donas, Ca
HOMAXEM. Imagem, vulto, valleiros, nem Hoomem de Rúa. Doc.
IC fratO. da Salzeda. Na sua Gramatica Por
HOMEM. I. Criado, moço, ser tugueza cap. 36. diz Ferhão de Oli
ventuario, que vive, e está pen veira, que no Mosteiro de Penha
dente por algum tempo da vonta Longa víra huma Historia geral,
de alhêa. Homem da Abbadessa: Ho trasladada , ou traduzida por man
mem do Bispo: Homem d’El-Rei: Ho dado d’El-Rei D. João I. , e que
mem de F. Criado, moço, feitor da nella achára a palavra Ruão, que
Abbadessa : do Bispo; d’El-Rei : segundo elle se persuadío, e bem,
de Fulano. Acha-se em muitos Do queria dizer Cidadão. V. Pam de
cumentos do Seculo XII. XIII. e Rúat.
XIV. •

HOMICIDIO. I. Tributo, e Pe
HOMEM. II. O mesmo que eu, na mui frequente nos Foraes anti
alguem, e cada qual. Me faça saber gos, a qual erão obrigados a pa
a gente que lá está, pera homem con gar os Povos, quando não queriáo
certar a despeza com a recepta — Que entregar para a morte o homicida,
homem nom pode ver , se nom depois que entre os seus moradores se ha
de sua vida — Maior amor nom ha, via refugiado, e acolhido.
que poer homem sua alma per seu a HOMICIDIO. II. Nas Inquir.
migo. Pina, Chron. do C.D. Duar d'El-Rei D. Afonso III, não só se
te. c. I. — Couras hiha, porque ho dá este nome á morte , que hum
mem deve trabalhar por cobrar o per particular comettia contra as Leis
dido. Ib. c. 36. Divinas, e Humanas; mas ainda
HOMEM de Rúa. O que vive a qualquer dilicto, que era sujeito
na Cidade, ou Terra grande, on a pagar Coima. V. Calumpnia, e O
de as casas estão arruadas. Esta miziero. Sunt exempti inde, nisi de
ualidade de gente, regularmente tribus calupniis; sed pro homine mor
fallando, mais rica em dinheiro , tuo, é pro rauso, Óº pro extercore
do que em Nobreza, e claros Avo in ore; de quolibet isto homicidio dant
engos, era reputada entre os Mili XXX. morabitinos veteres, &º tres
zer, ou Fidalgos, e os lavradores, Sagioni. Em huma Carta de Venda,
Peoens, e gente de campo, e or que Rodrigo Paes , e sua mulher
dinariamente erão timiveis, á pro Gontína Gonçalves fizerão, se diz:
porção da sua vida libertina, ocio Ego Gontina Gonçalviz ganavi istos
sa, e folgazãa. Os Cidadãos pre quatuor casales de viro meo Petro
sentes são os Homens de Rúa, co Menendiz (seu primeiro marido )
mo antiguamente se dizia. Em hu pro eo quod demisit me, et ut omici
ma Doação , que D. Chamôa Go dium non haberet inter gentem meam »
E ii &º
36 HO (HO
*9" suam. Doc. de Pendorada de determína : Item : Mando aos Corei
12oo. Não era morte d’homem o ror (Capellaens da Sé, ) que me vee
deixar a mulher, mas era hum cri rem fazer honra X, libras. Item: Aos
me º que merecia castigo, e a in Conigos, que me veerem fazer honra
dignação dos parentes, que o cul X. libras... Item : Mando aos Cleri
Pado remío, largando quatro ca gos de Almacave, que me veerem fa
S2CS. zer honra XL. roldor... Item: Man
HOMICIERO, V. Omiziero. do pera meu Sabbado XX, libras.Item:
HOMISEIRO, V. Omiziero. Et outras XX libras aos XXX. dias...
qui intermino de Aquilari filia aliena Item : Mando que me tenhão dous dias
rotirar extra sua voluntate , pectet a por soterrar, e dem bem de comer aos
Palacio CCC. solitos, & exeat homi que comego esteverem. Item : Mandº
feiro de suos parentes. Foral de A que ofrendem hum anno XVIII. di
guiar da Beira de 1258. na T. do T. nheiros cada dia , e candéas de minha
HONESTO. A. Acommodado, cara. Item : Mando , que ao dia do
conveniente. Procurai o lugar , que meu pa/amento quejmem duas arro
mais bonerto , e melhor pode ser, pa bas de cera. Item : Mando : que aa
ra se edificar o Moesteiro. dia do meu passamento , que cantem
HONRA. Fazer) I. Consistía a huma Missa Oficial, e quantos outros
Honra, ou Honras funeraes nos Of quizerem cantar, que cantem , e que
ficios, e Missas, Preces, e Oraço os paguem. Item : Mando C. libras pe
ens, que os vivos fazião, e ainda ra Missas cantar. V. Missa. +

hoje fazem, pelos defuntos no dia HONRA. II. Toda a razão,


da fua sepultura, ou quando se faz porque nos Prazos antigos se acau
memoria della, como he no dia 7." tellava , que nelles se não creas
(a que chamavão Sabbado, ) no 3o.º sem algums Fidalgos, ora para que
e Anniversario , e na Trasladação não ficassem honrados; levantando
mesmo dos seus ossos. Tambem se se aquelle Povo com o Titulo de
diziáo Fazer bonra: os que hião no Honra, e negando , como tal, os
acompanhamento do defunto para costumados foros ao Direito Se
a sepultura , ou lhe assistião em nhorío. V. Honras. • +

quanto o não sepultavão. It: Man HONRA. III. Com este nome
damos, que no dia da nossa sepultu se chamárão aquellas rendas , ou
ra, que os Comigos , e Coreiros, e concessoens, que o Rei fazia de
Frades de S. Francisco, e Crelgar dº cousas certas, e determinadas per
Almacave, que nos fação honra; con tencentes á Corôa, por fazer hon
vem a saber: Horas, e Missas : e que ra a quem as recebía: v.g.: as ren
os nossos Testamenteiros as paguem, das de huma Cidade, Villa , ou,
como virem, que convém. Testam. de Castello: e isto sem postura algu
D. Lourenço Bispo de Lamego de ma de serviço. Vid, a l. 2. Tit. 26.
1393. E no de Lourenço Pires, e da Parti. IV. - -

sua mulher de 1 314. se lê: It : HONRAS. Desde o tempo dos


Mandamos aos Comigos, (aquelles que Reis Godos se chamárão em Hes
forem em nossa honra) C. soldar. Doc. panha, e depois em Portugal, cer
de Lamego. E no de João Duraens tas porçoens de terreno , em que
de 1316. que ali se conserva, se Ricos Homens, e outros Principaes
Se
HO HU 37
Senhores tinhão seus Palacios, ou encerre minha hospeda, como Cleriga
Quintas com jurisdicção sobre os da Ordim. Doc. que se acha no Con
visinhos, seus Vassallos, ou Co vento da Serra do Porto.
Jonos, que como feudatarios os re HOSTE, ou Oste. Exercito pos
conhecião como a Senhores, que to em campo contra o inimigo.
tinhão obrigação de os amparar, e Daqui Hostilidade : acção violenta
defender de qualquer violencia, ou de hum inimigo posto em armas.
extorsão ; ficando deste modo as Vem do Verbo Hostire , que anti
ditas Houras, e os que nellas mo guamente significava ferir. Tambem
ravão livres, e isentos de Imposi no Seculo XIII. e XIV. se tomava
foens, ou Tributos Reaes. A Insti por : Alistamentos , recrutas de
tuição destas Honras só devia ser Militar.
Soldados , e qualquer expedição •

feita por Carta do Soberano, ou por


AMarcos, e balizas levantadas, e pos HOUSIA. V. Oussia.
tas por autoridade Real. Muitos Fi HUCHA. Arca, cofre, armario.
dalgos, e alguns que o não erão, Por constar de Escrituras, que esta
e tambem as Ordens Militares, ou vão nas Uchas do Concelho. Doc. da
AMonasticas abusárão destas Hon Cam. do Porto de 1 343. Em al
ras, e Irençoens, que só forão con gums Monumentos antigos se es
cedidas aos Cavalleiros benemeri creve Ucha. Porém ou se escreva
tos para os honrar com estes Se com H. ou com U., esta palavra se
nhorios. Vendo-se a Fazenda Real deriva , ou do Inglez Hutch, que
diminuta, e lesada com tantas Hon significa toda a qualidade de arcas:
ras, El-Rei D. Affonso II., D. ou do Francez Huche, que parti
Afonso III., e D. Diniz fizerão cularmente significa a Arca do pão.
tirar rigorosas Inquirisoens sobre V. Eicham.
o Feito das Honras, ou Onrras; exa HUCHOTE. Arquinha, pique
minando os principios , que tive no cofre, ou armario. Doc. de La
rão , e qualidade das pessoas, a mego do Seculo XIV.
quem actualmente pertencião; e á HUM. Onde. He mui frequen
maior parte dellas foi deitada em te nos Escritores do Seculo XV.
devasso. V. Devassar , e Devasso, HUMAGEM. V. Homaxem.
.Ainda hoje há réstos destas Hon HUMILDOSAMENTE. Com
ras nas de Farazáõ, Gallegos, La muita humildade , veneração , e
Jim & c., que verdadeiramente pou respeito. Humildosamente envio bei
co mais conservão, que o nome, jar as vossas mãos, e a terra d'ante
por onde antiguamente se honra vossos pés. Doc. da Salzeda de 131o.
HUMIZIA. Em hum Inventa
vão. V. Encensoría, e Incensoriar-se.
E do abuso, que os Grandes fa rio de S. Christovão de Coimbra
zião das Honras. V. Amadigo. de 1 48o. se lê : Huma humizia, e
HORDIM. V. Ordim. resenta prégos.
}
HORDINHAYRO, VOrdiayro, HUNDRADO, ou Hondrado.
HOSPEDA. O mesmo, que Es Honrado. Ap. Berg. *

posa. Peço , que no lito Mosteiro se


% -, ,
I
parece, que o mesmo se convence
pela Inscripção seguinte, que se
acha na Villa de Infias, em huma
Lapide bem lavrada, mettida vil
mente em hum pardieiro :
I. Na Arithmetica dos Antigos
Valia cento, ou cem; para com os
bons Latinos valia hum; para com M S
os nossos Maiores em o Seculo X., C V S
XI., e XII. valia mil, e o mesmo
no Seculo XV. sendo coberto com
M
}M
I. F.
# C I N
N. LX
huma linha curva , assim como
Primeiramente o fôra com huma re C I I I A
cta. V. Algarismo. |
V O R.
I. Como nota Musical denota
va, que se devia abaxar, e de pri
mir a vox; pois era abreviatura de Por ella sabemos, que Ciléa fez
jusum, que significava: para baxo. pôr esta Memoria sepulcral em bon
I. Escrito com tres XXX. V. na ra de seu marido Marcos , filho de
letra A. Marquinhos, ou Marcos pequeno.
I. Mudado em U. se acha algu Até o Seculo XVI. foi muito
mas vezes nos Monumentos, que usada a Ortografia de se escrever
nos restão do Antigo Lacio. v. g. com dous II, o plural das palavras
Maxumus, Decumus, por Maximus, que no singular terminavão em il,
JDecimus Óºc. ou im v. g. coviis, barriis, delfiis,
I. Maiusculo valia algumas ve malsiis, de coví1, barril, delfim &c.
zes por dous II, no fim das Dic E o mesmo se praticava nas pri
çoens, v.g. FrumentarI, OlearI, por meiras pessoas dos perteritos dos
Frumentarij, Olearij & c. Verbos ver, ler, crer, e outras si
I. Mais alto, que as outras le milhantes, v. g. vii, lii, crii, corrii
tras, denotava , que se havia de &c.: o que hoje se supre com hum
pronunciar longo; pois era a uni til, ou accento agudo.
ca vogal, em que se não punha I. Substituido por G. v. g. Guu
2CCCIltO. ver, Giesu, por Jouver, Jesu &c.
I. Singelo significava Primus , facilmente se encontra , desde o
Primum, ou Prima vice; mas á pro principio da Monarchia até o Se
porção que o I. se dobrava, cres culo XV.
cia mais hum numero; e principal I. Consoante, pronunciado co
mente se diante dos II.. se conti mo G. não he proprio do I. dos
nuava a palavra VIR., v. g. II vir. Latinos, que deve soar sempre co
III vir. IIII vir. IIIII vir. IIIIII vir. mo nestas dicçoens: Ira, imagem,
&c. como, depois de outros, se po intenção &c. Appareceo o 5. conso
de ver nas Memor. Ecclesiast. do Al ante, de que usamos, com a com
garve pelo Cl. Salgado, cap. 7. f. municação dos Aràbes, e á sua imi
Io7. Dous II. fazendo as vezes de tação dizemos: janella, justiça,
E, já nós vimos L.D., e L.E., e João &c.; sendo que o 5. consoan
TC
I IA 39
te dos Latinos se pronunciava á imi ao fantar dos Bispor. No de 1 116.
tação dos Gregos, como em Troia, D. Gonçalo Bispo de Coimbra,
Maio, ou nestas dicçoens Latinas: restituindo , e dotando o Mostei
JRei, Huic , Cui, em que, segundo ro de Lorvão, acrescenta: Per sin
os Antigos, o J, he consoante. gulos annos Prandium in Cenobio su
I. dos Latinos mudado em V. dos pradicto Episcopo detur, uti mos est
Cregos, e tambem pelo contrario, Episcoporum. Doc. de Coimbra. As
era frequentissimo nos Antigos Por Igrejas, que estavão anexas , ou
tuguezes; como se vê por innume erão Fundaçoens dos Mosteiros,
raveis Dicçoens, que nesta Obra ordinariamente erão isentas destes
se encontrão. fantares ; não obstante , que os
JALNE. Amarello. Vem do Fran Bispos os pertendessem, e talvez
cez jaune. Pendente de fios vermelhos, com violencia os cobrassem. Dis
e jalnes. Carta d'El-Rei D. Diniz to se queixárão amargamente os
para o Mosteiro de Castro d'Ave Monges de Lorvão dizendo : que
Jans. Doc. de Bragança. o Bispo de Coimbra D. Miguel
JAM. João. Doc. do Sec. XV. Accepit Prandium per vim de mostra
. JAMAR. Chamar, nomear por Eccleria Casalis Columbae, unde num
seu nome. Ua fila de Margarida , quam dederant. E que o Bispo D.
que jamam Luzía , que traga com Pedro II, excomungára o Cura de
elles este herdamento. Prazo do Sec. S. Cucufate Pro Prandio , que non
XIV. dedit ei , unde numquam dedérunt.
JANETA. Fuinha, ou gineta.V. Doc. de Lorvão. V. Censo, Colhei
Foles Zomaques. ta, Comedoría, Procuração, e Para

JANTAR. Certa contribuição da. Em Paço de Souza, gav. 1. m. 1.


de mantimentos, e forragens, que n. 13. se conserva a Renuncia do
as Cidades, Villas, Mosteiros, Ca jantar, ou Parada, que os Bispos
bidos, e Ordens Militares devião do Porto havião naquelle Mosteiro,
apromptar para os gastos do Sobe feita pelo Bispo D. Ugo no de
rano, e toda a comitiva dos seus, 1 1 1 6., cujo theor he o seguinte:
quando como Ministro Supremo da In Nomine Sanctae , et Individuae
Justiça, bia administralla pelo Rei Trinitatis, Patris, & Filii, ó Spi
no. Com o tempo se alterou tão ritus Sancti. Amen. Ego Ugo, gratia
saudavel costume , e as varas da dei, Ecclesiae Portugaleusis Episcopus,
Justiça passárão talvez a mãos fra amore Egeae Moniz, & Menendi Mo
cas, e venaes, com detrimento ir niz, & Ermigij Moniz, atque Uxo
reparavel da Monarchía. E os fan tum suarum Dorotheae Pelaiz, &"
tares, ou de todo se extinguirão, Guinae Meuendiz, sive Tarasiae Sua
ou passárão em Mercês de algums riz: Do, atque concedo , auctoritate
Particulares. Os Prelados Diocesa S. Dei Genetricis Marie , Sancto ,
nos quando visitavão, e os Senho &º Venerabili Altari , quod videtur
res das terras quando a ellas hião, esse constructum in honore S. Salvato
igualmente erão assistidos, e hon ris, in Villa Palacioli, ipsam Para
rados com os seus respectivos fan dam, vel fantarem, omnem que Re
tares. As Igrejas, e Mosteiros hu ctitudinem Sanctae Sedis mee; ut ab
ma só vez no anno erão obrigados bodierno die, é deinceps , nulatenus
inde
4o IA IA
ànde aliquóà temptem requirere per stabiliri minime permitto; sed israem
vim, meque exdebito, mec Ego, nec praedicto Altari S. Salvatoris persig
aliquis ex successoribus meis. Et ac no. Ego Ugo Portugalensis Eps banc
cepi de vobis proinde III.° casalia de Cartulam propriis manibus ro—SK—bo
haereditate: duos in Ceidoneses, ó" ro, Óº Libertatem jam dicti Monas
unum Trans-Dorio in Palaiones. Si terii vobis jam dictis Haeredibus prae
quis tamen , quod Ego non credo fie fati Monasterii concedo, & gratam
ri, Ego, vel aliquis ex succcessori ter confirmo. Facta Cartula Venditio
bus meis Episcopis, vel Archidiaconi nis, seu Libertatis III. idus Septem
bus, vel aliquis homo in voce nostra bris. Era T. C. 2. IIII.
hanc Cartam irrumpere tenptaverint, Ego Helias Manachus ejusdem Sanctae
pro sola presumptione , pariat illi, Sedir Portugalensis — — — — — — •

4ui vocem bujus Monasterij pulsave Ego Gonsalvus Ermigez Archidiaco


rit, D. solidos , Óº aliud tantum in //l/3 - - - - - - - - - - - - - - - df
judicatum , Óº á Liminibus Sanctae Ego Petrus Garcia Archidiaconus Of
Ecclesiae, seu Corpore , Óº Sanguine Ego Monius Garcia Archidiaconus Of
Domini Nostri Jesu Christi sit alie Pro Testibus.
nus, Óº cum diabulo, vel juda Tra Martinus-ts. Gunsalvus-ts. Petrus-ts.
ditore sit particeps, nisi dignam pae Fagildus Monachus, qui vidit.
nitentiam egerit. Aliam vero Scriptu Pelagius Monachus, qui vidir.
ram ante positam º vel post positam Rodericus Monachus, quividit.

E aº
…?
_L E/** O 5°
T
_L

C_2 ----"

PZZZIBRACTIZo…
ARA% 152ar 272 (7.»
Zeca •

No Cathalogo dos Bispos do Porto. P. JAQUETA Pequena casaca ,


II. f. 2o. da I." Ediç. Se acha outra que se vestía sobre a saia de ma
Escritura, em que se diz: Pro Para lha. Era vestido militar, de mais,
za , quod vulgo dicitur Yantar. E ou menos preço, e algumas vezes
disto se conservão entre nós innu de téla d'ouro. Antiguamente lhe
meraveis Documentos, que he su chamárão os Portuguezes Perpunto,
perfiuo reproduzir agora. e os Francezes Pourpoint , por ser
º col
IA IC 4I
acolchoado sobre algodão, ou so Jerit; vos, seu uxores vestras libere
bre muitas dobras de seda, pannos recipiamus. E a f. 23. se acha ou
desfiados, pelles de gamo, ou qual tro Prazo de huma Herdade em Vil
quer outro recheio. V. Perpunto. Na larinho de Tarouca , feito no de
Baixa Latinidade se diffe facke, 122 I. com Pensão do quinto, hu
ou facque. Deu huma lançada sobre ma teiga de trigo, e dez ovos, Et
huma jaqueta , que levava vestida. port obitum vestrum cum Decima de
Chron. d'El-Rei D. João I. toto vestro aver mobili, & immobili
JAZEDA. Estancia, ou ancora veniatis ad Sepulturam S. Joannis. Da
gem dos navios na enseada. E quan mus vobis istas haereditates , ut te
do Barros diz com a má jazéda, que meatis eas tantum in vita vestra, é"
o mar deu ao sahir ; não toma ja port vos filios vestros, & nepotes...
zêda por desembarque: só quiz di Et si Fratres laborare voluerint, pla
zer , que os mares verdes, e en cebit vobis: Óº propter alios homines
| capellados forão causa, de que a numquam dimittatis. Deste modo se
gitadas as náos, não se desembar fazia grangearía da Piedade; embol
casse com toda a commodidade, e sando não só o movel, e se mo
socego. Dec. II. f. 6. col. 4. da I. vente, mas tambem o immovel, e
Ediç. •

bens de raiz. No de 1243. se fez


JAZEDORES. Assim se chama huma Doação a este Mosteiro, na
vão os que tinhão devoção , ou qual se diz: Receperunt nós pro Fa
obrigação de serem sepultados no miliaribus Ordinis, & jazedores ,
cemiterio de S. João de Tarouca quod simus participes in omni bono,
( o qual hoje está reduzido a hum quod factum fuerit in omni loco, ó"
lameiro , e inteiramente profana per totum Ordinem , sicut unus suo
do, perto do Mosteiro.) O amiga rum Fratrum E destes fazedores há
vel invite da sepultura foi hum pie naquelle Mosteiro larga menção.
doso artificio para extrahir a subs JAZER. Estar posto, ou situa
tancia do Povo rude, e supersticio do : Estar sepultado, fazer a be
so , que se propunha escapar das rança : he na fraze da Orden. Lº
chamas, que merecião as suas cul III. T. 8o: Quando os herdeiros
pas, com tanto que dessem aos ainda não tem feito partilhas.
Monges as suas fazendas, e na º IBICIOENS. V. Eyviçom,
morte fossem sepultados junto das IBIÇOM. V. Eyviçom.
suas Abbadias. No Lº das Doaç. ICHA-CORVOS. Impostor, en
de/ie Mosteiro a f 22. W. se acha ganador , ocioso, comilão. Este
hum Prazo feito a Garcia Annes , foi o nome , que certo Bispo deu
e Affonso Fernandez com varias aos Questores , e que dos pulpitos
pensoens, e obrigação de se virem pedião esmolas; mandando em hu
sepultar a Tarouca, elles, e seus ma sua antiquissima Pastoral, que
descendentes ; trazendo sempre os Parochos não consintão, prégar
com sigo a X" parte de omni pecu nas suas Igrejas Demandadores Icha-,
nia mobili. Acrescentando: Verum si corvos ; porque não fazião mais , que
miseria humana , vel senectus , vel ajuntar trigo , milho , vinho, e ou
voluntas subito d Deo inspirata, vos tras cousas, que mais erão furtadas
ad Propositum mostrum redire compu que liberalmente oferecidas. Assim
Tom. II. o pra
42 ID * IE
o praticavão os bons Prelados; al Para intelligencia destes Idos se
-guns porém participando da preza note, que depois dos Annos do Se
detes Quefiores, lhes davão licença nhor I dooo, e tantos, se introdu
para pedirem nos seus Bispados; zirão os Meses Kalendares, e os Me
obringando os Póvos com excom ses Iduados : os primeiros erão in
munhões, para que vieffem ouvir teiros, e seguidos desde o 1.° dia
a fua prégação, ( sendo elles ho até o ultimo do mez: Os segun
mens leigos, e casados) e para se dos constavão de duas partes: a
rem absoltos (no foro exterior) de 1.° desde as Kalendas até os Idos,
certos casos Pontificaes, como in e a 2.° desde o dia dos Idos , ou
cesto, adulterio, &c. E por assim fosse a 13. ou fosse a 15..., até o
vexarem , e destruirem o Povo, fim do respectivo mez. Fez-se,
forão prohibidos com pena de pri pois esta Carta na 2.° parte do
zão, nas Cortes de Santarem de mez de Maio, ou em Maio Iduado,
I 427. , etes Ichacorvos, como se (isto he, dividindo, do verbo an
vê do Cod. Alf. L. II. T. 7.art. 55. tigo Iduare, que significava divi
V. Demandador. dir, ) e aos 17 dias antes das Ka
ICOLIMO. Economo, ou sub lendas de Junho, que vem a ser a
stituto na obrigação, que o Bene 15. de Maio , em que entrava o
ficiado tem de assistir no Coro, e mez Iduado ; e incluindo o dia 15.
aos mais Oficios Divinos. Mandaaes até o 31. inclusive, se ajustão per
pooer icolimos em os fruitos desse Be feitamente os 17 dias, que corrião
neficio; isto he, lhes consignaes antes das Kalendas de Junho. Não
certa pensão dos fructos do tal Be foi muito usado entre nós este mo
neficio. Cortes de Lisboa de 1434. do de contar : apenas se encontra
: IDOS. Acha-se em Pcndorada a hum, ou outro Documento, como
Doação Orig., que o Infante D. este, que foi datado no Anno de
Afonso Henriquez fez a João Vie 1 131. V. Du Cange V. Kalendares
gas de Hereditate mea, a qual fora Menses, e "V, Iduatus.
confiscada aos traidores, e rebeldes, JEITAR. Enterrar, sepultar.
Aires Mendes , e Pedro Paes-, por jeitem-my u aveer; isto he: sepul
alcunha o Carafe , que havião en tem-me, onde succeder , que eu
trado em a Villa de Cêa Cum morra, ou onde virem que he mais
meos inimicos , sine mea culpa, Óº conveniente. Doc. de Pendorada de
sine malefeito, qui Ego fecisset eos: 1289. V. Geitar II.
e isto Pro creatione , é pro bono - IENTO. Herdade cultivada ,
servitio, quod mihi fecisti; decla fructifera. Acha-se em Doc. do
Sec. XIV.
rando , que esta Herdade tinha •

varias peças em casas , º vinhas , … JERONZO. Parece ser o mes


moinhos, terras rotas, e por rom mo que : giro, aro, vizinhança,
per, assim dentro da Cidade de ou arredores. No de 952 doou Il
Viseo, e fora della, como em Sa dro ao Mosteiro de Lorvão muitas
tam, Aguiar da Beira , e outras fazendas, que tinha no Territorio
partes. Facta Carta Donationis, vel de Coimbra, e tambem junto, nas
Confirmationis mense Maii, XVII. Ilus vizinhanças, ou á roda do Castel
ante Kal, junias. E. M. C. 2XVIIII. lo de Lamego In jeronso ad Castel
juim
IG IG 43
jum de Lamego. L. dos Testamentos te mundo he molestada, e perse
N. 64. Se de gericontinus: o muro, guida: já Cidade inconquistavel, mu
ou a redondeza da terra : se disse rada, e defendida; porque nella vi
jeronzo: pelo circuito, ou arredo vem os Cidadãos da Patria Celes
res de algum lugar, eu verdadei tial, defendidos pelas Sagradas Es
ramente o não sei. Igualmente se crituras, sendo o mesmo Deos o
me esconde se no Seculo X. havia seu muro, e protecção, e sem que
nas visinhanças de Lamego algum as Portas do Inferno hajão de pre
Hospital, ou Albergaria, destina valecer contra ella, tem de subsis
da particularmente para os velhos tir até a consumação dos Seculos.
enfermos, a que chamárão geroco III. Por huma Diocesi, ou Collec
míum, ou gerontocomíum. E se da ção de muitas Provincias, fujeitas
qui viria jeronzo?... a hum Patriarcha, Primáz, ou Ex
-

IGAR. Igualar, hombrear, pôr archo; ou por huma só Provincia fu


se em parallelo , ou situação igu jeita a hum Metropolitano, ou Ar
al. He de Barros. cebispo; ou por huma parte da mes
º IGREJA. Em quatro sentidos ma Provincia fujeita a hum só Bisº
tomárão os nossos Maiores esta po; ou finalmente por huma pe
palavra Igreja. I. Por hum Ajunta quena porção do mesmo Bispado
mento do Povo, solemnemente con overnada por hum Parocho, ou
gregado, para tratar dos negocios # a que chamamos Parrochia,
publicos, ou fossem Sagrados, ou ou Igreja Parrochial. IV. Em fim
profanos: e neste sentido tambem se tomou Igreja por hum Edificio,
houve Igreja por entre os mesmos separado de tudo o que era inde
Gentios. II. Por huma Congrega cente, e profano, e particularmen
ção Espiritual de todos os Chris te consagrado para tributar religi
tãos, derramados por todo o mun osos Cultos ao Verdadeiro Deos.
do, e que formão a Igreja Catho E neste sentido se chamou huma
lica, ou Universal, e visivel, com tal Igreja : Casa de Deos, ou Do
huma só Fé, hum só Baptismo, mínico; porque a Divindade Sum
hum só Evangelho, huma só Ca ma, e Unica, alli reside por huma
beça, que he o Pontifice Romano, especial assistencia: Casa da Pom
Vigario de Chrifto na terra. A ba; pela simplicidade, innocencia,
Igreja nesta accepção he chamada e união, que devem diftinguir os
nos Livros Santos: já Donzella, em filhos de Deos: Oratorio; porque
razão da sua pureza: já Corpo de o seu destino he, para alli se pe
Christo; porque todos os Fiéis fa direm os favores do Ceo, e o per
zem hum perfeito Corpo, de que dão das culpas: E pelo mesmo res
JESUS Christo he a Cabeça invi peito se disse Casa de Oração. Igu
sivel: já Esposa; porque o Filho almente se lhe derão os nomes de
de Deos com ella se unio pela Fé: Templo, Barilica, Synodo, Concilio,
já Honrada Mãi ; porque a todos Conciliabulo, Conventiculo, Martirio,
nos gerou para Deos pelo Baptis Memoria, Cemeterio, ditar, Casa,
mo: já Filha; porque ella nasceo Titulo, e outros muitos que se po
do Lado aberto do mesmo Deos dem ver em Dufresne. V. Ecclesia,
Crucificado: já Viuva; porque nes e Selvagio, Antiquit. Christian. Ins
ii titut.
44 IG IG
titut. L. II, c. 1. S. r. &" seq. Com numero destas Igrejas Diocesanas;
a Christandade principiárão estes pois segundo os Fragmentos do
Eugares de Oração, mas sem aquel Concilio de Lugo de 569. , que se
la formosura, e magnificencia de achão no Livro Fidei , e que já
edificios, que só pela paz de Cons publicou o Contador de Argote no I.
tantino vierãe a conseguir. T. das Memorias para a Hist. Eccles
Não obstante , que o nome de do Arcebispado de Braga; a esta Ca
Igreja Matriz fosse dada ás que thedral só pertencião humas 27.
fundárão os Apostolos, ou os seus Igrejas Tiocesanas , das quaes I -
immediatos successores, e tambem erão Pagenses, ou Pagos, que tal
ás Cathedraes dos Metropolitanos, vez tinhão suas Anexas, ou Ruraes;
e Bispos, pelas razoens, que são pois entre ellas se contão Bragan
patentes: o tempo introduzio, cha ça, e Panayas, Povoaçoens nota
marem-se Matrízes as Igrejas Par veis no tempo dos Romanos, e que
rochiaes; não só quando chegárão não havião decahido inteiramente
a ter outras Anexas , Obedienciaes, no governo dos Suevos. (a) Á Ca
thedral do Porto 17. Igrejas, e 7
Subaláres, Sucursaes, e Dependentes; Pagos: •

mas ainda quando só tinhão algu Á de Lamego 5. Igrejas:


mas Capellas; Oratorios Ruraes, em Á de Viseu 7.: Á de Coimbra 5:
que os montanheses , e distantes Á da Idanha 2, ou 3., segundo as
recebião alguns dos Sacramentos. variantes do Concilio de Lugo.Vid.
Estas Igrejas Matrizes igualmente Garda, e a Hesp. Sagr. Tom. 4o. f.
forão chamadas Diocesanas por es 341. Depois deste tempo se mul
tarem nos limites da respectiva tiplicou maravilhosamente o Povo
Diocese : Baptismaes; porque nel de Deos, e se levantárão, como á
las se recebia ordinariamente o Sa profia, Igrejas Parochiaes, não só
cramento do Baptismo: Cardeaes ; nas grandes Cidades, mas ainda
porque erão fixas, e permanentes; nas pequenas Aldêas. E então he
e tambem Catholicas ; por estarem que se introduzio nas Hespanhas a
patentes, e abertas a todos , ho distincção de Igrejas Diocesaes , e
mens, e mulheres, (o que não ti Igrejas Ofercionaes ; ficando com o
nhão os Oratorios , ou Igrejas dos Iº nome as que se erigírão ainda
Monges , e Monjas , em que se no tempo dos Romanos, e que
não admittião pessoas de outro se sempre pertencèrão aos respectivos
xo , e mesmo se não celebrava o Bispados; e dando-se o 2.° ás que
Sacrificio da Missa, e ministrava a ao depois forão oferecidas ás Ca
Comunhão , que huns , e outras thedraes, ou pelos Reis, que as
hião receber na Igreja Parochial.)
conquistárão , ou pelos Devotos,
IMas he bem para notar, que até que as herdárão, ou pelos Funda
o meio de VI. Seculo fosse entre dores, que as erigírão, e dotárão,
nós tão limitado , e diminuto o ou por outros algums, que por
fy"0

( a ) Antiguamente se dividião as Regioens, ou Provincias em Pagos, ou Cidades:


Os Pagos , em Villas, aldêas, e lugares: de sorte que Pago se tomava por huma Ci
dade , e seu Termo, Tracto de terra , Departamento, Condado, Territorio, Comarca.
J'id. Ducange V. Pagus, e os Commentar. de Re Diplomativa de João Hervmano da Ediç.
de 1745. •
IG IG 45

trocas, ou compras as adquirírão. E zendas, ou Herdades com o mesmo
suposto que isto á primeira face nome que se dava ás Igrejas , ou
se represente huma desbragada si Mosteiros , que ali se fundárão ;
monía , e vulneração horrivel dos sendo estas Casas de Oração, o me
Sagrados Canones: o crime com nos principal, quanto ás Tempo
tudo não era tão enorme , como ralidades , que ali se contempla
parece, attendida a qualidade , e vão. E taes são as Vendas, Escam
natureza daquellas Igrejas. bos, Heranças , e tambem muitas
Para o que se há de prénotar : Doaçoens de Igrejas, e Mosteiros »
que os Reis Godos, feitos já Se que nos antigos Monumentos se
nhores de toda a Hespanha, re encontrão, que não erão outra cou
partirão as terras de cultura entre sa mais, que doar, vender, ou tro
os seus Vafallos, debaixo dos mes car a sua Herdade com todos os
mos Direitos , com que o havião Direitos Fiscaes, e de Vassallagem »
executado os Imperadores Roma denominada v. g. a Igreja de Resen
nos. Os Lavradores a respeito do de , o Mosteiro de Baiam ; porque
Fisco , se reputavão como hu nestas Herdades estavão fundados
ma especie de Servos, dos quaes aquelle Mosteiro, ou aquella Igreja,
annualmente se exigía o Censo Fis A destruição de Hespanha pelos,
cal, Conon Frumentario, ou Fossa Mouros foi causa de que muitos
tária, que conssistía em certa por abusassem desta Disciplina ; met
ção de gráõs por cada jugada, ou tendo á parte da sua Herança os
jugo de terra. Os Nobres, que Fundos, e Oblaçoens consignadas, e
receberão grandes Herdades, e por estabelecidas para manutenção dos
çoens de terreno, com obrigação Templos , dos Ministros, e dos Po
de acudirem á guerra com as suas bres: Então foi quando, á porpor
gentes , sustentadas á sua custa , ção que a Christandade se foi er
e com as muniçoens de bocca da guendo, o abuso se foi augmen
sua caldeira ( Insignia propria dos tando; dispondo cada qual das ter
Ricos-Homens , ) derão mui largas ras novamente adquiridas a seu ar
terras á cultura, destribuidas igual bitrio. Então hums trocarão em
mente pelos seus Vassallos, e com possessoens Laicais as Igrejas em
os mesmos Direitos, que os Reis. outro tempo consagradas a Deos;
Óra, para o soccorro Espiritual Alii autem é contrario in Villulis, ó"
destes Colonos , ou Collaços , ( que quibusdam Laicalibus locis novas Ec
talvez residião muitas legoas dis clesias, et Monasteriola constituentes,
tantes da Igreja Matriz, sendo tão tradiderunt illis Ecclesias olim pre
poucas em cada Bispado , como claras , &" celeberrima Monasteria
acima se vio, ) se fundava huma #"; manciparunt. Mais larga
pequena Igreja , Mosteiro , ou Ora mente se pode ver isto no Livro
torio em cada herdade destas , ou Fidei, de que esta passagem foi
em alguma sua consideravel por copiada. Com efeito, por aquel
ção: (bem assim como hoje se eri les dias se multiplicárão as Igre
# huma Capella, ou Oratorio em jas; porque náo só se reedificárão
uma grande Quinta.) Daqui veio, as que os Barbaros havião destrui
chamarem-se estes Territorios , Fa do , mas ainda os particulares le
V2Il
+ +
46. • IG 1G
vantaráõ muitas de novo de insig 87o. fizerão huma Doação de va
nificante fabrica , e pouco rendi rias fazendas a esta Igreja Mona
mento , e parece , que só a fim chal em beneficio dos seus herdei
de encapellarem os seus bens, e ros ; declarando , que lhes deixa
celebrarem o seu nome. A muitas vão a tal Igreja com todo o seu or
destas Igrejas chamárão Mosteiros, nato: a saber: Libros, Casulas, Ver
que bem poderiamos chamar Her timenta, Altaris, vel Templi, Cru
midas ; habitando nelles mui pou ces, Super-Evangelia, & Corona, ó:
cos Monges , ou talvez hum só; Calice, & Patena argentea; e além
e comendo os chamados Fundado disto : Signum, caballos, equas, bo
res, seus filhos e parentes toda a bes, ó" vaccas, pecora, promiscua.»
gordura da Igreja , ou Mosteiri cabras, ó cupas, lectos, & cathe
nho. João de Barros nas suas An dras, mensas, sautos, Óº pumares,
tig. dº Entre Douro, e Minho expres amexinares, vimeuler, terras ruptar»
samente nos informa deste costu vel barbaras , casas , lacus , petras
me, dizendo, que os Leigos vivião mobiles , vel imobiles..... Contesta
nos Mosteiros , e ali comião , e be mus ipsum, quod in Testamento reso
bião o seu, e tinhão os Frades como nat, ad ipsa Ecclesia, Óº ad propin
Capellaens , que erão então de mui quis nostris, Fratrum vel Sororum,
santa vida. E eu ( continúa ) achei Monachorum, vel Clericorum: & qui
em Pedroso Escrituras, que se par bono fuerit, & Vita Sancta perseve
tião as Igrejas more haereditario, co raverit, habeat, & possideat. Con
mo a mais fazenda : e porque os Se testamus ipsa Ecclesia cum omnia sua
nhores se logravão dos Mosteiros , e Ornamenta, é sua prestantia. E. D.
esperavão logralos, deixavão ali o seu. CCCC. PIII.
Porém não só em Pedroso : em No Livro dos Testam. de Lorvão
Paço de Sousa , Pendorada , Vai N. 21. se acha a Carta de Venda,
ram, S. Pedro de Cete, Braga , ue o Presbitero Pedro Bahalul fez
Porto, Coimbra, Lorvão, e outros ao Sacerdote Daniel da sua Igre
Archivos do Reino se achão desde ja de S. Cucufate , na Villa d'Ar
o IX. até o Seculo XII. Escrituras cos, e no Bispado de Coimbra,
innumeraveis, que nos informão de com todos os seus Titulos, e Pas
Dohçoens, Trocas, e Vendas, não só saes, Et caetera pars Reliquiarum S.
do Leigal , mas tambem do Eccle Clementi , eficum intrinsecus ipsius
siastico das Igrejas : apontarei só Ecclesie, cum Reliquiarum suis, vel
algumas para desengano dos me Ornamentis ipsius Ecclesiae ; & in
nos instruidos. Em Pendorada se Agiro de illa Ecclesiae toto suo aro. Foi
acha a Fundação da Igreja de San o preço 45. soldos Kazimos ; mas
to André de Sozêlo, feita por Cas com condição, que por morte del
timíro, e sua mulher, Asarilli , e le comprador ficaría ao Mosteiro
seus filhos, á sua propria custa, e de Lorvão. E. D. CCCC XXXI. Es
n’huma herdade, que seus antepas tas Reliquias erão Imagens, ou Re
sados havião tomado aos Mouros. tabulos, e não restos, ou despo
Aqui poserão Monges , , e no de jos da humanidade dos Santos (*)
No

.(") N; º : Suppoto que no Livro dos Testamentos se lêa #" he bem de presu
mir que no Original estaria Et cum; pois este era o Formulario aquelle tempo. 2.º Po
IG . IG 47
No de 897, fez Gundesindo hu ma antiga Igreja de Santa Eolalia:
ma amplissima Doação ao Mostei (ambos entre Vouga , e Douro )
ro Duplex de S. Salvador da Labra, e o de S. Pedro de Dide entre Dou
que estava fundado ab antiquo in ro, e Tamega : os quaes entregá
ripa maris , não longe de Matosi rão ao Abbade D. Desterígo, pa
nhos, e no qual sua filha Adosin ra que nelles fosse Religiosa sua
da se havia feito Religiosa. Entre filha Froilo, debaixo da obediencia
outros muitos bens se nomeão as da Abbadessa D. Gelvira ; dando
Igrejas de Santa Eolalia de Gon lhe cem escravos forros entre ho
demar, de S. Pedro de Kauso, e mens, e mulheres, para que a ser
a de S. Martinho de Valongo : e vissem em quanto fosse viva : E
isto ad Fratres, & Sorores, qui ibi que ficando viuvo Gundesindo, elle
sunt avitantes, ve? qui ihidem Downi e sua filha Adosinda fundárão o Mos
nus superduxerint , & in vida Sanc teiro de S. Marinha de Avintes , ao
ta perseberint , sub manus de ipse qual doárão esta mesma Villa. E
Abba, e de ipsa filia mea, jam supe que a mesma Adosinda (da herança,
rius nominatis ; protestando , que que lhe coube de sua Mai, ) fez
he a sua expressa vontade, que em doação de algumas Herdades , e
nenhum tempo, e debaixo de qual Igrejas aos Mosteiros de S. Miguel,
quer pretexto, se possão estes bens e S. Christovão, antes que fosse pa
vender, dar , doar , ou por qual ra a Labra Doc. de Pedroso. E de
quer modo alienar do dito Mostei caminho se note, que nem o A. da
ro &c. Facta series amnitio Testa Benedictina Lusit. tratando do Mos
mento nodum die erit VIIII. K. Mar teiro de Pedroso , nem Telles na
cias. Era.D.CCCC.XXXV.Nesta mes Chron. da Companhia, denominada de
ma Doação se relata , que Gunde. $#ESUS'; Par II. e no anno de 1555.
sindo era filho de Ero, e casára com entenderão o que dizia esta Escri
Enderquina Pala , filha do Capitão tura, que hoje se conserva Origi
Mendo Guterres, da qual teve estes nal em o Archivo da Univers, de
Coimbra. • •

filhos: Sueiro, Ermisinda , Adosin


da , e Froilo: e que esta nascera tão No Seculo X. continúão as mes
aleijada, e contrafeita, que se não mas Doaçoens, Compras, e Vendas das
podia assentar. O que atribuindo Igrejas, e Mosteiros; mas não lan-
seus Pais a castigo das suas cul çando ainda mão os seculares, ao
pas, libertárão seus escravos, e se que parece, dos seus Dextros , ou
parárão a 5." parte dos seus muitos Passaes , e menos das suas Congru
bens, com que fundárão, e larga as, e Oblaçoens. No de 922. D. Or
mente dotárão 3. Mosteiros nas donho, II. do nome, e I. Rei de
suas proprias terras : a saber : O Leão , achando-se na Cidade do
de S. Miguel Archanjo, e seus Porto, quiz ver a D. Gomado, que
companheiros em Azevedo , e o de havendo dimittido o Bispado de
S. Christovão, e seus companhei Coimbra, se havia feito Monge no
ros em Sanganhedo, onde havia hu antiquissimo Mosteiro de Castrº
intre , ,

demos dizer, que as Reliqmias não serião contempladas para o preço, se não pela ra
zão dos ornamentos dellas, ou engastes de grande estima, em que muito se esmeravãº
os Fieis. V. Reliquias.
48 JG IG
mire, ou Crastumia, ( a que hoje In Dei Nomine. Ego Adaulfus Prer
chamamos S. Marinha de Crestuma, ) biter: placuit mihi , nullius quoque
na margem esquerda do rio Douro. gentis imperio, nec suadente articu
Mas escusando-se o Respeitavel lo, sed propria mihi accessit volun
Prelado de sahir do seu Mosteiro, tas, ut venderem tibi Cresconio Pres
·o Rei, e a Rainha pela sua Devo biter mea Ecclesia, vocabulo Sancto
ção, e toda a sua Corte, forão em rum Virissimae, Maximae, & Julie,
barcados até Crestuma, para visita qui est fundata in Villa Laciveto,
rem o Bispo, e fazerem Oração na territorio Colimbriae, Óº meas casas,
-quelle Santo lugar, a que fizerão dº suos dextros, exitu, vel regres
Doação da Villa de Fermedo, com su: Omnia quae sursum resonat , ab
outros grandes favores, e mercês. integro concedo. Et accepi de te in
E mesmo os Condes Lucidio Vima precio alia tua Ecclesia vocabulo S.
raens, e Rodrigo Luci, e outros Fi Mariae, cum suas casas, & cum suos
dalgos , doárão a este Mosteiro passales in Villa Octíl: tantum nobis
grande numero de Villas, e Igre bene complacuit ; ita ut ab hoc die,
jas. Entre estas se contão : Santa vel tempore sit ipsa mea Ecclesia, ó"
Marinha, não longe do Porto da Ci illas meas casas, & illos dextros de
dade de Anegia: Santa Cruz de Abu juri meo abrasa , Óº in tuo dominio
il: S. foão de Ameixiedo: S. Mar sit tradita. Et qui inde minime fece
tinho de Paradella, junto ao rio Fe rit, Óº ista Carta exierit , quomodo
bros: S. Miguel de Cortegáda : S. Pe pariat illa Ecclesia dublata, & vobis
dro de Villa Chã , na Avranca : S. perpetim abitura. Faca Carta Ven
Miguel de Dezanos : Santiago junto ditionis notum die VIIII. Kal. Februa
ao rio Ver : S. Miguel de Oliveira: rii. E. D. CCCC. 2 XV. Ego Adaulfus
o antigo Mosteiro de Santa Marinha Presbiter in hanc Kartula venditionis
na margem do rio Antuãa : S. Pela manu mea Of. R. Fradila — ts. Laga
ro-ts. Maiorelle-tr.
gio de Ossella : S. João de Cepellos: gildo-ts. Gemil-ts. Octavio-ts.
Stephano-tr.Teode•

as de S. Donato , e S. foão no Porto


de Ovar: e a de S. Mamede entre Pa No de 9 3. outro Sacerdote por
ç6, e Ermogenes. E todas estas cum nome Adulfo fez Doação da Igre
suos Dextros , vel debito. E por es ja de S. foão de Losim em Riba Ta
tes Dextros se entendem os logra mèga ao Nobre Ansúr, e sua mulher
douros, ou Passaes da Igreja: e pe Ejeuva , Restauradores insignes do
lo Debito: não só o que estava con Mosteiro de S. Pedro de Arouca. Ha
signado para a Congrua sustentação via este Padre dado a morte a hum
do Parocho, (não havendo ainda en homem. Os parentes do morto o
tre nós o uso dos Dizimos ) mas prendêrão, e foi multado nºhuma
tambem o que os Freguezes destas somma tão grande por commutação
Igrejas, ou para melhor dizer, os da pena capital, que deveria pade
Colonos destas Herdades, devião cer, que não chegavão todos os seus
págar ao Direito Senhorio, em cu bens para esta solução. Nestas an
jo lugar ficava succedendo o di gustias prometteo-lhe a sua Her
to Mosteiro. dade de Losim, onde havia edificado
"Do anno de 927. temos nós em huma Igreja a S. João, se Ansúr,
Lorvão o Documento seguinte: que era o Juiz, o livrasse de per
der
IG IG 49
der a vida. Ansúr assim o fez: en e d'outtas empolgavão os Senho
tão Adúlfo cumprio a sua promes res das terras, sem mais autorida
sa; doando-lhe em recompensa a de, ou Lei, que a sua prepoten
sua Igreja , e Herdade , não só o cia. Ora estas Igrejas , assim de
que pertencia ao Ecclesiastico, mas volutas a gente secular, nada mais
tambem ao Leigal: Damus Vobis illa erão que Decime Ecclesiasticae, cae
Ecclesia ab integro, sive & illa lai tereque obventiones, que ex jure Cu
cale, in montes, in fontes, parcuis , rionibus debentur, quas ii sibi reser
padulibus, exitus, Óº regressu, quam vabant; cum Curionibus ipsis ad Di
zum ibidem ad ipsum locum ominis ad vinum persolvendum servitium, pen
prestitum est. Si quis autem ... quo siones dumtaxat annuas , de quibus
modo pariemus vobis illa Ecclesia, Óº convenerant, conferrent. Assim o diz
illa Haereditate duplata, vel triplata Dufresne V. Ecclesia. E ali mesmo
& c. Doc. de Arouca. nos oferece huma carta de Rainal
Este insoportavel abuso de dis do , Bispo de Angers, de Ioo 1.,
pôr, não só do Leigal, mas ainda em que diz: Estabellecida a Igreja,
do Ecclesiastico das Igrejas, subio e augmentada a Fé, homens cheios de
de ponto com a destruição , que Piedade , consagrárão os seus bens a
nas terras de Leão, e Portugal fez Deos , fundando Mosteiros, e dotan
Almançor nos fins do Seculo X. do-os com suas herdades, para susten
Tudo ficou na maior desordem, e to dos Clerigos , e dos Monges , ou
confusão. E quando no de Ioo 1. se Monjas, que ali servissem ao Senhor,
começou a repovoar a terra, e le e talvez os mesmos Fundadores ali
vantar as Igrejas da total ruina, em se fazião Religiosos: e deste modo a
que ficárão, cada hum cortava por maior porção dos bens temporaes se
onde lhe parecia, ou fosse a Her havia entregado aos servos de Deos.
dade sua , ou alhea , como se dis Porém levados da inveja, e da cubi
se V. Era. Então foi quando os se ça os Grandes da terra, longe de re
culares se introduzirão verdadeira
guirem o exemplo dos seus Maiores ,
mente nos bens das Igrejas , dis começarão a vender as mesmas herda
pondo de tudo a seu arbitrio. A des, assim como os Bispados aos Bis
falta , ou ausencia dos Bispos, a pos, as Abbadias aos Abbades, e os
malicia dos tempos, e a precisão mesmos Bispos , e Abbades a darem,
mesmo de reparar o Divino culto, e venderem aos seculares os bens dos
fizerão que os Reis de Leão facul Mosteiros, (isto he Igrejas) que de
rassem a todos edificar Igrejas, que verião augmentar , e não destruir.
jicassem partiveis , como outra qual Unde usque hodie mos inolevit, ut eas
4uer herança. • in haereditate habere videantur. Qua
Fóra de Hespanha grassava, ain propter Ego Raynaldus Andecavorum
da que por outros principios, a Episcopus, Ecclesias , quas quondam
mesma desordem , e os Sagrados in Episcopatu S. Mauritii habere di
Canones, que não só os Capitula noscor, anno ab Incarnatione Domini
res dos antigos Reis de França, M. I. Fratribus nostris Canonicis ,
jazião sem uso. Os Principes da ibidem Deo deservientibus , integras
vão humas Igrejas em Commenda, restituo.
outras consignavão aos Militares, Mas não he preciso sahir de º
Tom. II. G Por
5o IG IG
Portugal, para acharmos as pro to fez Flamula, filha de Honorígo,
vas desta verdade. Entre os Doc. de tudo o que tinha, tam de He
de Pedroso se acha hum Rol, ou reditate, quam de Ecclesia, na Villa
Inventario, feito no de Io 17: cons de Alquorovim; condicionando po
ta dos bens , que hum particular rém, que dividindo-se o Mostei
adquirio , tam de avolenga , quam ro, in ipsa mea ratione deservia ipsa
etiam de ganantia in riba de Vauga, baereditate. Daqui se vê que estes,
in diebus Domno Adefonso Rex, quan e outros Herdeiros tinhão raçoens
do sedia in Monte Maiore. Residin sabidas nos Mosteiros, que erão
do pois D. Afonso V. em Monte como feudatarios de gente secular.
Mór, passárão ao Patrimonio des Doc. de Pedroso. No Livro Preto
te secular muitas Villas , e Her de Coimbra a f. 297. W. se acha a
dades, e entre ellas metade do Mos Doação da Igreja de S.Julião jun
teiro de Cedarim. E tudo isto ven to á foz do Mondego, que o Ab
deo logo a D. Gonçalo , filho do bade Pedro fez áquella Sé, sendo
Conde D. Mendo Luci, que en seu Bispo D. Cresconio. Nella se
tão era o Governador desta terra, diz , que esta Igreja fora destrui
e tinha da mão do dito Rei D. Af da pelos Sarracenos, e elle Doa
fonso Regalengo, & Condadu , & dor com o favor, e ajuda de algu
Mandamento in rripa de Agata. Po mas pessoas tementes a Deos, a
rém de outro Inventario, que ali tinha restaurado nos bens, e edi
se acha , feito no de ro5o. (que ficios, por ordem mesmo do Con
he dos bens , que adquirirão D. sul D. Sesnando, que havia faculta
Gonçalo, e sua mulher D. Flamu do aos Clerigos, e Leigos o edi
la) consta , que o Mosteiro de Sa ficar as Igrejas more baereditario ,
la, e o de S. Julião , e metade do sicut á Rege Fernando acceperat po
Mosteiro de Cedarim, e metade da testatem, ac postea ab ejusdem Filio,
Igreja de Recardaens , fazião parte Rege D. Adefonso. E destas Igrejas
da Herança, que ali se inventari restauradas, e havidas por cousa de
ou, como as outras Villas, e Her herança, se faz larga menção no
dades. Livro dos Testamentos de Lorvão.
Ali mesmo se acha , a Doação, Nomearei só a de Santa Eolalia no
que Truéierindo Truéiesindes, e seu Couto de baixo, junto a Viseu, e
filho Pelagio Truéiesindiz fizerão a a de S. Miguel de Molelos, no
Pedroso do lugar de S. Mamede, Val de Besteiros: a 1.° feita no de
na qual se lê: Si peccato impedien 1o98, segundo o dito Livro N. 61.
te , per invidiam diaboli, ipsut Mo (mas segundo o Original no de
masterium Petrosi, ant illud de Villa Io9o:) a 2.° do anno 1 to I. N. 63.
Cova, partitum fuerit a Laicis: de Doou a 1." o Sacerdote Frogia,
serviant ista omnia , quae mandamus que com seu Irmão , o Presbitero
ad mostras rationes in ipsis Monaste Ero dive memoriae , a tinhão edifi
riis, servis Dei, qui ibi habitaverint. cado na sua propria herdade. E
Si vero Servi Dei in commune vixerint, assim faz Doação da dita Igreja,
communiter cuncia possideant. E logo cum suas cortes , Óº intrinsecus do
no de Io85. encontramos a Doa morum , cupos cum cibaria , cupar
ção, que a este mesmo lugar San cum vino, lecios, & cathedras, mem
Jar º
IG IG 51
sas, & quantum ad ominis apresti algum que nos convença de que em
tum est. Adjicio etiam terras ruptas, Portugal se pagavão os Dizimos,
vel inruptas , Óº vineas plantatas , como logo depois se praticou: Os
vel pro plantare , quae habeo in ipsa Testamentos, ou Doaçoens das Vil
J'illa. Et haec sunt terminationes ea las, e Herdades, que ás Igrejas,
rum & c. A 2.° deu o Presbitero Er e Mosteiros se fazião, erão os fun
migio, cum suos passalles, sicut sen dos da sua subsistencia; mas es
tentia Canonica docet, cum suos Ter tas fazendas erão agricultadas pe
tamentos, Óº cum suas udiciones, cum los respectivos servos, ou Colonos
terras ruptas , Óº inruptas , petras com as rendas, e pensoens, que se
pactavão: pensoens, e rendas, em
mobiles, vel imobiles ... vineis, po
miferis , sautis, cortes, domos, sique os seculares se nutrião ; reser
num, libros, Calicem, Vestimentum, vadas para os Pastores das Almas
atque Ornamentum Ecclesiae, cupos, as Primicias, Oblaçoens, Paffaes,
cupas Órc. E tudo isto para susten e outros benesses, de que hones
to, e vestido dos Monjes , luzes dos tamente se mantinhão , sem a os
Altares, e esmolas dos pobres. E con tentação, que os Dizimos ao de
tinúa: Et abui ipsa Ecclesia cum suas pois lhes grangeárão. Em o Con
hereditates de apresuria cum genito cilio de Leão de Io2o. Can. 2. se
res meos, nominibus Truétisindo, &" determina: que tudo o que as Igre
Aragunti, in temporibus Rex Adfon jas possuissem por Doação , ou
si & c. Conclúo com a Doação, que Testamento , e faltando estes ti
ao Mosteiro de Pendorada fizerão tulos, (muitos dos quaes os Barba
os Herdeiros da Igreja de S. Maria ros havião consumido ) por jura
de Cette, dando-lhe toda a sua Ra mento dos que servem no Altar
fão, e Testamento, que nella tinhão, das ditas Igrejas, o fiquem possu
e lhes proviera de seus Pais , e indo pereni evo. Nem se venha com
Avôs, secundum consuetudinem homi a excepção de não haverem possui
enum mostrarum terrarum, habitanti do por 3o. annos as taes Doaço
zum in possessione. E dizendo, que ens: porque se esta Prescripção se
·o Mosteiro possúa a mesma Igreja requer para o mundo, he sem du
jure haereditario, Óº more Ecclesias # injuriosa, e fraudulenta para
rico. Doc. de Pendorada de 1 1o3. Deos. Nec parent trecennium juri
- Do sobredito se manifesta, que habito , seu Testamento ; Deo enim
por todo o Seculo XI. e principios fraudem facit, qui per trecennium
do Seculo XII. as Igrejas, e Mos rem Ecclesiae rescindit. Em Narbo
teiros erão apanagens, Morgados, na, limitrofa de Hespanha, pare
ou Patrimonios de gente Leiga ; ce se observava a mesma discipli
reservada unicamente a frugal, e na; pois no seu Concilio de to5o.
limitada porção para os Cleri c. 14. se diz : Monemas , ut nullus
gos, ou Monges, que ali servião laicorum in opus suum retineat Pri
a Deos, ministravão os Sacramen mitias, neque Oblationes, neque Tri
tos, cathequizavão os rudes, in gintarios, qui retie debentura Cle
sinavão algumas letras, e curavão ricis recipi, pro fidelium defunciorum
espiritualmente os povos. Por todo orationibus; sed Clericis, qui eisdem
este tempo se não oferece Doc. Ecclesiis praesunt, utendos relinquat. E
· ·· 1R que
52 IG IG
que razaõ haveria para hum silen os quaes fóraõ novamente lidos,
cio taõ profundo sobre os Dizi e publicados na Igreja de Santia
mos, se entaõ já se praticassem ? go de Galiza aos 17 de Novembro
Reinando já no milhor de Hes do mesmo anno na presença dos
panha D. Affonso VI. começou a Condes, e Grandes, e mesmo do
respirar a Disciplina Ecclesiasti Arcebispo de Compostella, e Bis
ca no Concilio de Leaõ de Io9o. pos de Tuy, Modonhedo, Lugo
Este Monarcha, (diz o Livro Fi Ourense , e Porto , que se naõ
dei) consiguio dos Legados Aposto podéraó achar presentes em Leaó
licos se guardassem nos seus Reinos com os mais Prelados. O 1.º des
os Sagradas Canones, Porém o mal tes Canones he o seguinte:
envelhecido precisou de vagoroso In Ecclesiis Dei , Óº earum re
remedio. Continuáraõ os Seculares bus, & Mini/?ris nullus Laicus vio
na Posse das Igrejas , e Mostei lenciam aliquam facere presumat: 69"
ros, e ainda no de 1 1o9, doou o Hereditates, & Testamenta eis dem.
Senhor Conde D. Henrique á Sé Ecclesiis integre restituantur , que
de Coimbra o grande Mosteiro de injuste ab eis ablata sunt,
Lorvaõ dizendo : Damus supra Procurou-se deste modo obviar
diéium cenobium, cum suis adjectio ás exhorbitancias , animosidades,
uibus cunélis , quae ad illud perti e excessos de hum sem número de
nent , tain Ecclesiaria, quam Lai Herdeiros , que olhando para as
calia, terras, Villas, culta, Óº in Igrejas , como Patrimonio unico
culta, Óº omnia, que feripta sunt de seus Pais, naõ contentes com
in Testamentis ejusdem Cenobti prae o temporal dellas, tambem se qui
diéli, ad subventionem beneficii , & zeraó intrometter no Espiritual ;
adjutorium Episcoporum & Clerico dispondo livremente das Doaçoens,
rum , per temporum successiones in que os Fieis lhes faziaõ , ou ti
cupradicia Sede habitantium: : Eo quod nhaõ feito, e apresentando sujei
erat sub Regali, temporalique Potes tos indignos, e só com respeitos
tate traditum. Outra Doaçaõ em da carne , e sangue , para seus
tudo semilhante havia feito á mes Ministros, e talvez lançando fóra
ma Sé do Célebre Mosteiro da Va os benemeritos. Porém esta Deter
cariça, o Conde D. Raimundo, e minaçaõ Santa naõ achou ainda os
a Rainha D. Urraca no de 1c94; animos bem dispostos. Ainda con
como se vê pelos Doc. daquella tinuáraõ as heranças, e partilhas das
Cathedral. Porém logo no de 1 1 14. Igrejas, mas já com outros Titu
foi mudando a face das cousas. los mais honestos. Todos os que
Havia-se celebrado hum Concilio descendiaõ dos Fundadores , ou
em Leaõ a 18 de Outubro deste Dotadores se começáraõ a chamar
mesmo anno, a que foraó convo Padroeiros, Herdeiros, ou Naturaes.
cados todos os Bispos de Hespa O número destes era sobre tudo,
nha , a fim de estabelecerem a o que se póde imaginar : havia
az, e concordia entre a Rainha Mosteiros, e Igrejas, que che
. Urraca, e o Rei de Aragaõ. gáraó a ter 5o. 1oo. 2oo , e o
Nelle se determináraõ X. Canones Mosteiro de S. Gens de Monte
mui uteis á Disciplina da Igreja, Longo, (unido hoje á cºlsº 3.
IG IL 53
da de Guimaraens,) chegou a con IGUARDAR. V. Higualdar.
tar 273. Todos estes para reco IGUALDAR. Igualar, naõ ex
nhecimento da sua Regalia, ou cluir algum , medir a todos pela
Padroado, pertendiaõ, e por mui mesma raza. E pedirem-nos, que os
to tempo houvéraó, das Igrejas e igualdase-mos todos. Alvará de El
Mosteiros varias Pensoens, como Rei D. Joaõ I. para os de Mon
eraõ fantares, Comedorías, Casa corvo no de 1385, para que nin
mentos, Cavallarías, &c. ElRei guem seja isento das fintas , que
D. Affonfo III, começou a extin lança o Concelho.
guir taó inveterado abuso, seu Fi IGUALEZA, Igualdade. Doc.
lho, e os mais Successores na Co do Seculo XIV.
roa de todo o sepultáraõ. V. Ca IGUARIÇO. Vaqueiro, pastor
samento, e Decimas. de
- vaccas. E que andavaõ com as
IGREJA II. Tambem os pe egoar as vaccas dos nossos Iguari
# Oratorios, Hermidas, e for, e os caeus , que as guardavaõ.
apellas, em que naõ havia Cu Carta de ElRei D. Afonfo V. pa
ra d'almas, assim nas Povoaçoens, ra a Camera do Porto no de 1454.
como no deserto, e solidaó, e ain Parece se chamáraõ Iguariços, os
da fóra dos Mosteiros, e Conven moços, e criados, que eraõ re
cos, fóraó chamadas Igrejas. No partidos por Igualdaçaõ. |

de 1 121. Suario , e sua Mulher JHOM. Joaõ. Tambem se es


Eva doáraõ a Lorvaõ huma sua vi crevia fom.
nha em Telhada, junto a Coja, : JIBANETE. V. Gibanete. }
Cum sua Ecclesia , quae jacet in JIBITEIRO.V. Gibiteiro, e fu
media de illa Vinea, ó cum suo po beteiro.
mare, & cum sua proprio lagare. ILANDRA. Olanda, # de
Doc. de Lorvaõ, |
linho fino, que vem de Iolanda.
IGREJAIRO. V. Egrejaira. An Doc. do Seculo XV.
tiguamente diziaõ em Latim Eccle ILLIÇAR, e ILLICIAR. Hi
siaria, para significar o Igrejairo, potecar, vender, ou pedir empres
iº todas as Igrejas, de que se fal tado com fraude, engano, ou do
Vå. lo , como fazem os Burloens , e
IGREJÓ. V. Grijó. Illiciadores : saõ termos, de que
IGUALDAÇAO. V. Higualda usa a Orden. do Reino. Daqui:
faõ. Por hum Doc. de Ceiça de ILLIÇADOR. O que obriga a
1366, consta , que os Alvazis de dous a mefma cousa, que naõ che
Mante Mór, a Velho, se deviaõ ga para ambos: E tambem aquel
occupar no Oficio da Igualdaçaõ, le , que vende d'ante maõ paõ,
que consistia no Regulamento dos vinho, azeite, &c. recebendo o
moços, e moças de fervir; dan dinheiro, que promette pagar lo
o-os com igualdade a quem del com estes frutos, que das fuas
les precisasse ; "igualando mefmo herdades receberá, naõ tendo elle
as suas soldadas aos seus mereei
taes herdades, e fendo imagina
mentos, e providenciando , que rios, e naõ existentes os fructos
fossem bem pagas. assim vendidos. E finalmente se
IGUALDANÇA. Igualdade, chama Illiçador , o que pede di
nhei
- 54
º IM
"" ) , -
IM
nheiro emprestado de muitas par se commina, a quem a quebrantar,
tes, promettendo pagar em breve a pena de dous talentos de ouro,
tempo; e depois diz, que não tem Et a Domino , qui illa terra impe
raverit aliud tantum. Alli mesmo
por onde pague, e que o obri
guem. . - se acha a larga Doaçaõ do Rei
IMGIDO. V. Enxido. . . . D. Garcia , filho do Imperador D.
IMPERADOR. Deriva-se esta Fernando, feita no de 1o7o. a Af
palavra do Latino Imperare: man fonso Ramires, e constante de
dar. Os Romanos davão o Titulo muitas Herdades, que Garcia Mo
de Imperador a hum General do niniz, e sua mulher felvira ha
Exercito, que se havia destingui viaõ doado ao mesmo Rei no de
do na destruição dos inimigos da 1o66; declarando, que se alguem
quelle Povo (que chamava inimi temerariamente fosse contra ella.»
gos a quantos recusavão submeter além de satisfazer em dobro as
se ao pesado jugo do seu Imperio.) ditas Herdades , pagaria mais 4.
Depois foi dado pela mesma Ré libras de ouro Ad Rex , º que illo
publica a Octaviano Cefar Augufio, Regnum imperaberit. D. Sesnando,
, para denotar o Soberano, e Supre que em hum Doc. de Lorvão de
mo Poder, que lhe concedia , e Io86. se intitula Conful de Coim
nelle depositava: Verdade he que bra , e nos Doc. de Arouca se
o mesmo Titulo havia dado o Po nomêa a cada passo Alvazir, Se
vo Romano a Julio Cesar ; mas nhor, e Capitaõ: em a Doaçaõ da
delle naõ quiz usar. Continuou-se Igreja de Molellos, que o Famulo
em seus Successores, e hoje mes de Deos, o Sacerdote Ermigio fez a
mo reside no Imperador de Alema Lorvaõ no de 1 1o1, se declara, que
nha. Os Visogodos porém ampliá os Pais do Doador conquistáraó
raõ este Titulo aos seus Reis, dos Mouros esta Igreja In tempo
Principes, ou Monarchas, como ribus Rex Adfonsi, & Alvasir Dom
se vê das suas Leis L. 12. T. 2. no Sisnandi, Imperatore nostro: Re
§. 13: Titulo que os Reis das As quiescant in pace. Amen. L. dos Tes
turias, Leaõ, e Castella a si mes tam. N. 63. Em o de 1 ro9. fe fez
mos apopriáraõ como se evidencia huma Doaçaõ a Pendorada em 7.
por muitos Documentos desde D. de Fevereiro , sendo D. Mauricio
Ordonho I. até D. Afonso VII. Arcebispo de Braga , D. Affonso
Porém naõ só aos Reis, e Sum Rei, # gener ejus Enricho Impera
mos Imperantes, ou Chefes das Na tor Portugalense. Doc. de Pendora
foens se deu este Titulo; tambem da. E para encurtar leitura : no
se extendeo aos mesmos Senhores de 1 134. se terminou huma deman
das terras, Condes, Duques, Potes da entre os Mosteiros de Paço,
tades, Governadores , Presidentes, e Pedroso Ante illu Imperatore Er
ou Magifirados Supremos , que re migius Moniz, Óº alios bonos homi
gíaõ, e governavaõ as Armas, e nes, que ibi fuerunt in Civitate San
a Justiça no Territorio da sua Ju ct e Mariae. Doc. de Pedroso. Po
risdicçaõ, sem mais dependencia, .rém logo no de 1 135, o que dan
que do Rei , ou Monarcha. Em tes era Imperador apparece revesti
huma Doaçaõ de Pendorada de 87o. do só em trajes de Presidente em
- - hum
IM IM 55
hum Doc. de Paço de Souza, no ga Doaç. que fez á Sé de Lugo;
qual se diz, que D. Ermigio Mo não fendo mais que Governadora
niz praeerat Civitati Sanctae Mariae. desta Provincia. V. T. 35. da He/p,
Em fim na Doação de hum casal Sagr. f. 172, e T. 4o. f. 195.
em Travancella, que o Infante D. IMPRIMEIRAMENTE. Vem
Affonso Henriques fez a Munio do Latino Imprimis: antes de mais
Guimariz no mez deJulho de 1 139. nada, primeiro que tudo. D. San
Se determina, que todo o que con cha Pires, Mái de D. Berenguei
tra ella for Imprimis sit excomuni ra, Fundadora de Almoster, fez
catus , é postea componat tibi in o seu Testamento no de 1287, e
duplo, aut qui tua voce pulsaverit, entre as mais cousas diz : Impri
é ad illo Imperatore, qui illa terra meiramente mando , que mba filha
imperaverit, ó" alio tanto judicato. D. Beringueira faça fazer hum
Doc. do Vifeo. E taes erão os Im Moesteiro de Monjas da Ordim de
peradores daquelle tempo ou erão Cistel, ou d'outra Ordim, que seja
Reis, ou os seus Inviados , não a serviço de Deos qual mba Filha
só a huma Provincia , mas ainda tiver por bem , no meu lugar d'Al
a huma particular Cidade , Juris moster. Doc. de Almoster.
dicção, ou Destricto. V. fuga INBRICIO. No de 1 18o com
da. prou o Mosteiro de Pendorada cer
IMPERATRIZ. No de 1 1 2o. tos bens , em cujo preço entrou
D. Diogo Bispo de Leão, fez hu huma junta de bois, apreçada in
ma Doação amplissima á sua Ca tres inbricios , Óº medium. Doc. de
thedral; declarando, que a faz pe Pendorada. Não nos constando que
la sua alma, e pelas de ElRei D. Inbricio fosse moeda corrente de
Affonso &º pro anima D. Urracae metal, sabemos que na Baixa La
Hispaniae Reginae, que estava viva, tinidade chamáraõ ao cavallo de
e assina deste modo: D. Urraca Re Hespanha Imbrus, ou Imber, de
gis Alfonsi filia , Hiberiae Impera que sería facil dar o nome de In
triz. D. Afonso Henriques naõ só bricio á carga, que elle ordinaria
quando Infante, ou Principe, mas mente custumava levar. Além dis
já quando Rei dos Portuguezes, fe to sabemos , o quanto erão fre
honrava muito com ser Neto do quentes no Sec. XII, as Compras,
Imperador de He/panha: que muito e Vendas , feitas por mantimen
Sua Tia se intitulasse Imperatriz, tos, vestidos, animaes, e outras
sendo filha de Affonso VI, que se muitas cousas em propria efpecie,
disse Imperador depois da Conquis intervindo nenhum, ou pouco di
ta de Toledo no de 1o85 ? O mais nheiro; e que nos Foraes do Se
he, que intitulando-se dantes esta nhor Rei D. Manuel se faz larga
Veneravel, e piedosissima Senho mençaõ de carga maior, ou cavalº
ra Condessa de Galliza , em vida lar, e de carga menor, ou arual,
de feu primeiro Marido o Conde declarando ser a 1.° de dez arro
D. Raimundo; em 2 I. de Janeiro bas, e a 2.° de finco. E de tudo
de 1 1o7, a penas tinha ficado viu vimos a suspeitar, que os tres in
va, e vivendo ainda seu pai, se bricios e meio, ou erão 35. alquei
nomea Imperatriz le Galliza na lar res de pão, (tres cargas, e * G
56 IN IN
de bêsta cavallar) ou erão tres nheiras de Lisboa, vendendo por
cavallos e meio, reputados no va gallinhas gordas as infladas. A Ca
lor de huma junta de bois. O cer mera de Viseu rigorosamente pro
to he, que os preços presentes hibio semilhantes enganos nos lei
quasi nenhuma proporção tem ho toens, e outras carnes, no de 1304
je com o valor das cousas nos Se E aquelle, que inchar freama , ou
culos passados. V. Eyviçom, e Mo outras carnes, ou pozer sevo uo rri}
dio. -

do cabrito , que peite cinque soldos:


INCENSORIAR-SE. Obrigar e se vender porca em vez de porco,
se a pagar certa pensão, ou cen ou ovelha em vez de carneiro, que
so annual. Nas Inquir. Reaes de peyte ressenta soldos, e açoutem-no
1258. se achou, que em Quintel pela Villa. Doc. de Viseo.
la, freguezia de S. Miguel de Tay INCLUDIR. Incluir. He do
de; no Julgado de Lanhofo, 12. Codigo Alfonsino.
homens Incensoriaverunt se com Hos INDICIAS, e Indizias. Assim
pitali , & posuerunt in ip/a Villa se dizia certa pena, que pagavão,
Signum Crucis, ut defenderent se ab os que ferião, matavão, ou mal
omni jure Regali.... Et patres fui, tratavão alguma pefoa, ou a in
&º qvi nom dederunt istam censoriam juriavão com palavras torpes, des
Hospitali, nisi ut defenderent se per honestas, e affrontosas. No Foral
illam. Isto mefmo se achou em ou de Mogadouro de 1512. declara
tras partes. E exaqui a razão toda ElRei D. Manoel que as Indicias,
das innumeraveis terras , em que (a que o Foral antigo chama Vozes,
os Templarios, e os do Hospital ti e Coimas , e que agora se chamaõ
verão, e alcançárão fóros, e ren Pena de Sangue, ou Pena de Arma)
das: a sua Cruz afungetava quasi se levem segundo as Ordenaçoens,
todos os Direitos Reaes , e exi com as declaraçoens postas neste Fo
mia de graves encargos os feus habi ral. No de 145 I. forão escusos
tadores. E mesmo nas Varias Inquir. de pagar Indicias os Escudeiros de
se não duvída, que a Ordem do Bragança, que tivessem armas, e
Hospital tinha alguns Casaes fur cavallo , e morassem dentro da
tados, como se vê nas do Julgado Villa, ou do seu arrabalde; sal
de Vermuím, na freguezia de S. vo se fizerem as tais Indizias scito
Pedro de Bairro de Novaes, &c. samente, e naquelles casos, nos quaes
E nas do Julgado de Penella entre a Igreja lhes nom valería. ElRei
Lima, e Cadavo, se diz expressa D. Manoel no Foral de Bragança
mente , que tinha muitas coufas de 15 14. chama ás Indicias : Ma
Furtatar.
gaduras, e Sangue, e declara, que
INCHAR FREAMA. Havia an fenão devem levar dalli por dian
tiguamente o pessimo costume de te naquella terra. Doc. de Bragan
encher de vento os animaes, e ça. •

aves, que se expunhão á venda, INDICIOS. Nas Leis dos Go


para deste modo impôr aos simpli dos, e ainda nos principios da nos
ces, que se persuadião ser gordu sa Monarchia, não se tomavão os
ra esta artificiosa inchação: Custu Iudicios por huma leve presumpção
me que até hoje se acha nas galli contra o réo; mas sim por demons
• •tra
IN IN 57
traçoens , e provas evidentes do tos d'ElRei , com conhecimento dos
1'III16°.
Documentos, e Arestos, que se achá
- INDIO. Moeda de prata, que rão nos Archivos mais antigos deste
lavrou ElRei D. Manoel com va Reino, mandados examinar para este
lía de 33. réis , em memoria do fim pelo Senhor Rei D. Manoel ; e
descobrimento da India. Tinha de pela qual se julgou que os Cida
huma parte o Escudo Real com a dãos de Lisboa devião gozar dos
letra Primus Emanuel, e da outra Privilegios dos Infançoens: E que
a Cruz da Ordem de Chrifto com os Infançoens nada mais erão, que
a legenda: In hoc Signo vinces. os Netos dos Reis, e filhos dos In
INFANÇOM, e Infanzom. Pa fantes , Irmãos do Princepe herdei
rece deverião ter cessado todas as ro, e successor na Coroa: ou mais
contestaçoens, e dúvidas sobre o breve: os Infançoens erão sobrinhos
# erão os Infançoens , que nos do Rei, ou que foi, ou que era, ou
ocumentos de Hespanha, e Por que havia de ser. Acha-se esta Sen
tugal se offerecem , á vista da tença nos Doc. de Silves , e a
Sentença , que a 3. de Julho de transcreve Pegas Tom. 7. á Ord. L.
1486. se proferio pelo Juiz dos fei I. Tit. 91. S. 2. gloss. 4. (*)
Tom. II. H Po

. . (*) No Livro das Provisoens da Camera de Coimbra se acha a Sentença de 1486.


dirigida a D. Gonçalo de Castello Branco do Confelho d'ElRei, e Governador da Ca
sa do Civel, que está em Lisboa, e della consta se mandáraó examinar : O Archivo
da Camera de Lisboa, e Torre do Tombo, e os Cartorios de Santa Cruz, Alcobaça,
Bouro, Santo, Thyrso, Lorvaó, Odivellas, e Arouca: e que dos Instrumentos juntos
se mostrava claramente os Infançoens, que foyam de possuir a terra de Santa Maria de
Bésteiros, serem, netos de Reis, filhos dos Infantes mores, nados dopos os Princepes herdei
ros: e a estes sómente pertencer este nome, é a outras pessoas nam. Ali mefmo se guarda,
datada no de 15 1o. huma Carta Regia de Privilegios aos Cidadãos de Coimbra, entre
os quaes se especifica: que goxarião dos que em outro tempo tinhão os Infançoens, e Ri
cos-homens, debaxo dos Encoutos de 63ocó. soldos, a quem lhos infringir , os quaes co
brará o seu Almoxarife. No mefmo Livro a f. 172, se acha a Sentença de 1o. de De
zembro de 1588. pela qual o Ouvidor do Crime da Côrte da Casa da Supplicação con
firma a do Juiz do Crime de Coimbra, que absolvéra hum Cidadão do Porto, a quem
o Meirinho de Coimbra coutára huns vestidos defesos, com que o achou ; por quanto,
diz , como os ditos Cidadãos do Porto goxão de Privilegios de Infançoens, que são netos
de Reis, e por taes estaõ julgados por sentenças, que nestes Autos andão: os quaes Infan
çoens verificadamente podem trazer o que quizerem, {" gozarem tambem da superioridade
de seus Pais, e Avôs, que he serem desobrigados das Leis, que eles fazem ; e pelo con
siguinte poderem trazer todos os vestidos que quizerem , &c. Taes erão as Maximas do
tempo, que antes merecem compaixão , do que louvor. E quem fenão admira, que
em todo o Reino não appareça hoje o mais leve fumo dos Dóc., a que estas Senten
ças se referem?... Os muitos, que hoje nos restão, e de huma fé incontestavel, to
dos nos informão do contrario. Bastará reproduzir agora o mefmo Foral de Coimbra de
1 1 11. em que se diz: Infanzon non habeat in Colimbria donium, "vel vineam; nisi qui
evoluerit habitare vobiscum, ó: servire , sicutivos. E se os Infançoens podíaó fazer o
que quizessem como seus Pais, e Arvos, sem estarem sojeitos ás Leis : quem poderia CO
hibílos de terem bens em Coimbra, sem que ali residissem, e obrigallos ainda, a que
servissem a Coroa ? . - E finalmente pelo Cod. Alfonf. L. I. T. 44, § 23, e seguintes,
bem claramente se vê que os Infangoens, naó só erão inferiores aos Condes ( aos quaes
se contavão 2o. homens, ou criados montados); mas tambem aos Ricos-homens ( a
quem se contavão 12) pois a elles se contavão unicamente 7., e aos outros Cavalei
ros, e Escudeiros mais somenos 4. E estes erão os filhos, e, netos des Reis? . . Erão
logó os Infançoens, Fidalgos ; ou Cavalleiros de grande estado , mas inferiores muito
aos Rico-Honºsis. Vid. Nobiliarch. Portug, C. 7 e 1o..., onde o seu A. Prova com
muitas razoens, Leis, e Doc. a superioridade dos Ricos-homens aos Infangºens; dizendo
58 IN
Porém este exame dos Archivos, nas Leis das Partidas T. 1. P. 2.
ou foi supposto, ou perfunctorio, que são Fidalgos, mas não tidos em
ou por quem nada entendia do que conta de Grandes, ainda que d'anti
nos Pergaminhos velhos se encer ga linhagem procedidos; não podendo
rava. E como a questão he de fa usar de outro senhorio mais, que da
cto, não julgamos por irreforma quelle, que pelos Reis, ou Impera
vel o Aresto na parte que decide, dores lhes for outorgado. E segundo
o que erão entre nós os Infançoens. Miguel del Molino in Reportorio For.
Alguns se persuadírão que todos Aragon. V. Infantio , e V. Miles :
os Militares, que acompanhárão o O filho do Fidalgo era Infanção,
Infante D. Pelagio na expulsão ou fosse legitimo, ou ilegitimo,
dos Mouros, se chamárão Infan varão, ou femea. Veja-se Dufrer
coens, por se unirem ao dito In me V. Infanciones. E nem até hoje
fante: e que depois se foi conti se descobrio Doc, algum authenti
nuando este Titulo nos Fidalgos, co, e Original, que nos mostras
e Senhores de terras de menos Ju se os Infançoens superiores aos Ri
risdicção, e dominio, e em que o cos-Homens, como deverião ser, se
Poder se não igualava com a No fossem Netos dos mesmos Reis; ap
breza, e antiguidade do sangue: parecendo innumeraveis, em que
E que o mesmo era dizer então os Ricos-Homens são contemplados
Infanção, que hoje Fidalgo. Mas com preferencia grande aos Infan
contra esta Etimologia está o que goens. E finalmente dos mesmos
diz Schiltero no Gloss. Teutonico V. Privilegios, que pelos seus Foraes
Fendeo, dirivando Infancio, não do se concedérão a algumas Villas,
latino Infans, mas sim da voz Go e Cidades, para que os seus Peoens,
tica Fante, ou Fanter , quae notat (ou soldados de pé) fossem tão
Satellites, seu Famulos: E que del privilegiados como os Cavalleiros
la procede o que hoje chamamos villãos das outras terras: e os seus
Infantaria , ou soldados de pé. O Cavalleiros villãos ficassem no fo
que não tem dúvida he, que já ro de Infançoens ; como se póde
no tempo dos Godos havia Infan vêr V. Cavalleiro : evidentemente
foens, chamados então Gillonarios, se manifesta , que o Infanção era
e ao depois Donzelles: e que en muito Inferior ao Rico-Homem.
tre os Oficios Palatinos da I." Or A meu vêr, os Infançoens nada
dem havia hum, que se intitulava mais erão, que Moços Fidalgos da
Prefectus gillonariorum, a que en quelle tempo, ou para milhor di
tre nós correspondeo o Alcaide dos zer, Escudeiros Fidalgos, que ainda
Donzeis, como se póde vêr nesta trazião o Escudo em branco, e se
palavra. não tinhão distinguido por acçoens
Mas prescindindo do nome, in heroicas, que lhes houvessem gran
sistamos na qualidade destes In geado o gráo de Cavallaria , ou
fançoens. Ora, os de Portugal em o serem armados Cavalleiros. Elles
nada differião dos de Castella na erão filhos de Fidalgos Cavalleiros,
razão de Infançoens. Destes se diz e só lhes faltava o terem mereci

do,
que estesV.correspondião
Afonso aos que hoje
se forão extinguindo estes chamamos
Titulos da Nobreza Depois do Reinado de D,
Fidalgos. antiga. •
IN IN 59
do , e alcançado o Foro de seus lo , fraude, trapaça, enredo ;
Pais. V. Gardingo. •
acção injusta, extorsão, violen
O Padre Mestre Bergança diz, cia, maquinação, intriga. No de
que os Infançoens erão inferiores Io77. se doárão certos bens ao
aos da primeira Nobreza, e que, Mosteiro de Paço de Sousa, e o
segundo D. Afonso, o Sabio, erão Doador protesta, que Non sedeam
como Regedores dos lugares, e guar ausus illud Testamentum inrumpere,
das dos Cafiellos. Ainda não temos non per Potestates , non per Maio
huma diffinição perfeita deste no nos, vel Sayones, nec per inmissio
II1C. mes , aut supositas malas ; sicut in
INFANTADIGO. Terra, ou Decretis Sanctorum Canonum de ta
libus est institutum. Doc. de Pe
cousa de Infançoens. Qui fuit de droso. •

Fimára, & de Fernam Conde, & de


infantadtgo .... ganavit de Miaia INRETAR. Irritar, annular,
Goda, Óº de ip/os Condes totos, vel tornar sem força, e vigor.
de Infanfones. Doc. de Refoios do INSABIDADE. Ignorancia, es
Lima de 1 1 2 1. quecimento, falta de saber. Con
INFANTE. Tempo houve, em fessou, que com insabidade, e com
que na Religião de S. Bento se mingoa de sizo, dera huaa leira d’er
chamárão Infantes os Monges no dade a N , a qual lhi nom podia
vos, ou de poucos annos de pro dar por ser da Igreja. Doc. de
fessos, que hoje commumente se Grijó.
dizem Choristas. INSIDIOS. Insignias, Instru
INFURÇÃO. Tributo, renda, mentos, e quaesquer cousas, com
ou aluguer, que se pagava ao Se que se dava a posse, e se inves
nhorio
CaSaS. pelos que vivião nas suas tia alguem de algum Beneficio,
• • •

Prazo, Casal, &c. E eu dito No


INFUSA DE VINHO. No Fo tario lhe dei a posse da dita Igreja,
ral de Pena Cova de 1 192. se diz: per Altar, e per Ornamentos, e pa
Qui comederint in nuptiis , vel in ramentor delle , e por pão, vinho,
Missis , vel in Confrariis, dabunt calezes .... e per os outros Insidios,
Maiordomo unum panem , Óº unam per que se soeem dar semilhantes
assaturam, ó unam postam de car posses. Doc. do Sec. XV.
ne, ó unam infusam vini: & per INSIGNIOS. O mesmo que
istud, quod dederint, quidquid ca Insidios.
lumniae ibi fecerint , illi , qui ibi INSTITUIR. Ordenar, confe
comederint, liberi erunt. L. dos Fo rir, estabelecer. A cada passo se
raes velhos. V. Bodivo. Era a In encontrão Beneficios, cuja Presen
fusa, como hoje, hum vaso de tação pertence a Pessoas Leigas,
barro com igual disposição para e a Communidades; mas a Colla
servir á agoa, e ao vinho, e sem fão, ou Instituição só aos Ordina
determinada grandeza. rios pertence, attendida primeiro
INJUSTADO. Injuriado. Foral a capacidade, e suficiencia do apre
de Cernancelhe de 1 124. sentado: e a isto se chama Direito
INLLIÇOM. V. Emliçoom. de collar, ou instituir. Ainda #
INMISSÃO, e Immissão. Dô a Collação, propriamente fallan ?>
11 S
6o IN JO
só a dá o Bispo, quando o Bene nitente. Deu motivo a este nome
ficio lhe pertence ; a Instituição a vida do servo de Deos foanne
porém então a dá quando o Padroei e Pobre, que assim vivia não lon
ro, ou o que tem Direito de apre ge de S. Bento da Varzea, no
sentar lhe oferece pessoa digna districto de Villar de Frades. V. o
do tal Beneficio. Entre as mais Ceo aberto na terra L. 2. Cap. 5. -
condiçoens que os Sagrados Cano JOGRAL. Chamou-se jogra?
nes requerem nos que hão de ser o que vivia a maior parte do an
Instituidos, he a idade de 14 an no, tocando por preço varios ins
nos para os Beneficios simplices: trumentos em Festas, que não erão
(o que os Canonistas entendem principalmente Ecclesiasticas, e
hoje dos Beneficios, que depois do serviço de Deos. O Clerigo
do Tridentino se creárão , e não Stogral perdia o Privilegio Clerical,
dos que ao dito Concilio precedé # ás suas cousas, se depois
rão. Trid. Sess. XXIV. Reform. Cap. e admoestado, se não emendava:
12.) Entre os Doc. de Pendorada e sendo casado, não só quanto ás
se acha no de 1277. huma Appel cousas, mas tambem quanto á pes
lação, que o Abbade da Igreja de soa o perdia. Cod. Alf. L. III. T. 15.
Sande, no Bispado do Porto, in §. 18.
trepôz do Bispo D. Vicente, por JOGUNDO, e Jugundo. a. V.
haver Instituido na mesma Igreja Teiga. -

quenidam parvulum , johannem no JOUVAR. Estar, ou conservar


mine, medam quartum decimum annum se em algum lugar. E lhe disse: que
attingentem. Não consta que Bene jouvava ali fazendo ? & c.
ficio cra; mas por força havia de JOUVER. I. O mesmo, que
ter seu gráo de honra, utilidade, e $fouvar. -

obrigação de o servir , para delle JOUVER II. Jazer, dormir,


se poder intitular com razão Be descansar, estar sepultado. Mas
néficiado. non na Principal Capella ao pé do
INTRODIR. Introduzir, met Altar: que bi queria que jouvessem
ter por força, e com violencia. E os Abbades da Igreja, e nom outra
me introdi em o dito Mosterro ::: E Ossada, salvo de Bispo, ou Abbade,
introdindo em elle huma Crara Fer mas non del, me dos Padrons , que
mandez. Doc. de Reciam de 1457. apos el venecem; para que se acor
INTROSVISCADA.
viscada. •
V. Emtru dassem para todo sempre de onrar a
Cregezia. E que por esto nom les
JOA. Joia, prenda, brinco, ar quitava fagerem bi otra Capella com
recada, laço, e tudo o que servia Altar , donde seos corpos jouvessem.
de ornato mulheril. Fundação de S. Miguel de Lobri
JOACHINO. Nome de homem, gos de 1 191.
que hoje dizemos joaquim : era JOUVER. III. Ter ajuntamento
mui frequente no Sec. XII. carnal, ou trato deshonesto com
JOANNE. No Seculo XV, se alguma mulher: o que honestamen
dava este nome a todos aquelles, te se explica com a frase de dor
que desprezando o mundo, fazião mir com ella. Se alguum querellar
em algum lugar solitario vida pe dº outro, que ..., jouve com molher
dº Or
IR. JU 61
dº Ordem, ou que cometeo peccado de sando nas Leis em contrario. Doc.
incesto, ou forçou virgem, vu outra do Salvador de Coimbra. •

molher, que nom for virgem, ou be JUDEREGA. Tributo de 3o.


rodomitigo, ou alcoueta, ou que fe dinheiros, que os Judeos pagavão
rir, ou doestar Oficial de justiça.... por Cabeça, para lembrança, e
se for jurada a querella, e nomeadas pena de haverem vendido a Chris
testemunhas, seja preso aquel, de to por outros tantos. Tambem se
que assy for querellado; salvo se for chamou Judenga este vergonhoso
seu inimigo. Cod. Alf. L. V. T. 58. Tributo.
S-_13. __ JUGADA. He bem conhecido
IRMAO PERVINCO. Primo entre nós este Direito Real, co
em primeiro gráo, como vulgar mo se disse V. Censo, Censo Fiscal,
mente se diz, filho do Irmão do e Igreja. ElRei D. Affonso V. de
Pai. Dizia, que seu Padre era Ir clarando pela sua Lei de 148o. a
mão pervinco, e berel nos ditos beens, maneira, e modo, por que os Pri
Doc. da Salzeda de 1296. vilegiados hão de pagar as fugadas
IRMEILMENTE. Irmãomente. das terras, que lavrarem, e não fo
E que partam antre si irmeilmente, sem suas, expressamente diz: que
come iermããos. Doc. de Pendorada o I. Rei destes Reinos de gloriosa
de 1 315. •

lembrança, por hum especial Titulo


ISSECUTOR. Executor. He reservou as jugadas para si, e pa
do Seculo XIV. ra seos Successores : Mas se assim
JUBANETE. V. Gibanete. foi, ElRei D. Afonso Henriques
JUBETEIRO. Alfayate, que não fez mais que declarar , que
fazia Gibanetes. E mais propriamen este era o Direito da Soberania, que
te, o algibebe, que remenda, ou já desde o tempo dos Romanos se
compoem vestidos, ou roupas ve pagou sempre ás Primeiras Cabe
lhas, e rotas. No de 1393. pro ças dos Estados , e Monarchias.
veo a Camera do Porto o lugar de V. Cavallo de Mayo. Vimos como
-Corrector em Pere Anes juheteiro. o Conde D. Henrique doóu a Ber
JDoc. da Cam. do Porto. nardo Franco cinco casaes em Villa
JUDÉNGA. I. Siza judenga: a Boa de Satan , livres de todo o
ue pagavão os Judeos. Carta d'El Direito Real, e mesmo da fuga
# D. João II. de 1489. da; acrescentando: que se algum
JUDENGA. II. V. Segitorio. Mordomo, guarda, ou Meirinho en
JUDENGA. III. V. juderéga. trar nelles com animo de fazer mal,
JUDEOS. V. Contrauto com os e ali o matarem , Nullam inde Im
"Judeos. No de 1431. se passou perator terrae recipiat calumpniam.
. Provisão Real a Santo Samay, Ju Doc. de Pendorada.
deo, ferreiro de Coimbra, para Paga-se este Direito de cada Ju
poder fazer qualquer contrato com go de bois, com que em terra ju
Christãos , sendo perante o fuiz gadeira se lavra hum moio de tri
do lugar, que dará juramento ás Par go, ou milho. Tambem se disse
tes, (cada huma na sua Lei, ) de jugada o Tributo, que pagão cer
que no contrato não ha conloyo , ou tas terras do pão, que nellas se
º engano, ou especie de usura; dispen meão: o qual tributo se lºs; por
. 0/1
62 JU
Convenção dos Colonos, e Direito Se os tiver pagará de jugada hum Pu
nhorio. Todas estas fugadas varião çal, que he a quinta parte: a saber:
segundo as diferentes terras, em 5. almudes. E se não chegar aos 25
que se pagão. Ha jugadas de pão, almudes nada pagará; porém ainda
vinho, e linho, de que falla a Or que passe muito, não pagará mais.
den. L. II. T. 33. O mesmo he do linho: de 25. feixes,
No de 1 126. deu a Rainha D. 5. de jugada, nem mais, nem menos
Thereza Foral ao Conselho de Fer na fórma do vinho. Porém estes fei
reira de Aules (Aves) determinan xes hão de ser feitos de tres fevaras,
do , que quem lavrasse com hum segundo a usança da terra. Doc. de
só boi, desse tres sesteiros de pam Ferreira d'Aves.
terçado: a saber: trigo, centeo, e No mesmo anno reformou o di
milho: e quem lavrasse com dous bois to Rei o Foral, ou para milhor
desse tres quarteiros do mesmo pam dizer , o deo de novo a Serpins,
terçado: e isto pela medida de Li regulando-se por hum antigo Con
nhares. E se com mais bois lavrasse, trato, que este Concelho havia fei
não pagaria mais, que os ditos tres to com o Mosteiro de Lorvão, a
quarteiros. ElRei D. Manoel, re quem esta terra pertence. E depois
formando este Foral no de 15 14. de reduzir as medidas do pão em
declara: que a medida de Linhares cada hum anno a 89o. pela medi
be a mesma de Folgosinho, pela qual da de Coimbra ora corrente, e as
hum moio são 16. alqueires desta me do vinho a 3oo. almudes, conti
dida ora corrente; e portanto os tres núa: E pagará mais o dito Concelho
quarteiros são 12. alqueires, dos que assy em cada huum anno 35. feixes
presentemente se usão : Igualmente de linho, que chamão Jugadas, rre
declara, ser Jugadeiro aquelle, que partidas por todallas propriedades,
paga Jugada inteira: E quem lavrar que antigamente eram foreiras no di
com hum só boi deparçaría como meio to linho, e per cada huum delles se
Jugadeiro, pagará só meia jugada: ajunta o linho, que cada huum ha
isto he 6. alqueires, que são os tres de pagar. E sendo o Mordomo pre
sesteiros do Foral antigo. E se o do sente, e o Procurador do Concelho,
no do outro boi pagar fugada intei e o Vereador, tomará o dito Mordo
ra, não pagará nada desta parçarta; mo huma fevera do mais comprido
por dizer o Foral, que quem pagas linho, que achar, o que se entregar.
se fugada de dous bois , ainda que E o Vereador tome outra do dito li
trouxesse muitos, não pagasse mais. nho meãa. E o Procurador do Conce
E que o Seareiro , que com bois a lho tomará outra fevra do mais pi
lheios semear pam, e o colher pagará queno, que achar. E de todos tres
o quarto da Jugada , que são tres fazem hum atilho : e pela grandura
alqueires da medida corrente, ora la delle fazem bum vencelho, ou corda,
vre muito , ora pouco. E o Cavám tamanho como elle, pollo qual lhe fa
pagará hum alqueire da medida cor zem , e rrefazem 35. feixes do dito
rente, se com emxada, ou emxadam linho. O qual feixe póde o Mordomo
o lavrar, ora lavre muito, ora pou apertar com as maños, mas nam lhe
co. Declara mais: que o Quinal do ha de poer o giolho. E como assy for
Foral antigo são 25. almudes, e quem medido , os foreiros o levão ao ce
dei
JU JU 63
jeiro, como o dito pam, e vinho. Doc. bonde está o pam, que am de juga
de Lorvão. dar. Carta d'ElRei D. João I, de
JUGADA INTEIRA. V. ju 14o9. Doc. de Santarém.
gada. No Foral do Castello da Pi JUGADEIROS. Os que pagão
conha, que já fica dentro de Gal Jugada. V. fugada.
liza , mas que ainda paga certos UGARIOS, e Jugueiros. O
fóros ao Senhor da Villa de Cha mesmo. V. fulgada nova.
ves, se declara, que todo o La JUGUEIRO DO CASAL. Ca
vrador, que nesta Villa, e seu ter seiro do casal, que paga Jugada.
mo lavrar com huma junta de bois, Doc. de # de 1 312.
pagará jugada inteira, que são 48. JUIGADO. Julgado, ou Con
reis pelo maravedi, que o Foral d'El selho , que se governa pelo seu
Rei D. Sancho I. lhes mandava pa particular Foral.
gar. E estes lavradores inteiros pa JUIGAR. Julgar. Daqui Juyga
gardõ hum sesteiro de pam de cen do: Julgado. Doc. de Vairám de
I 294. •

teo segundo o mesmo Foral: o qual


resteiro importa buum alqueire destaJUIZ DO LIVRO , e do fo
medida ora corrente. Os que lavra ro. Assim chamavão antiguamente
rem com huum só boi , pagaráõ só áquelles Juizes, que decidião as
metade do dtio fóro, que são 24. reis causas assim criminaes, como ci
em dinheiro, e méo alqueire de cen vís, já pelo que estava ordenado
teo. E as veuvas , e pessoas, que no livro intitulado Fuero juzgo,
não lavrarem , pagaráó só 12 réis, que erão as leis geraes nos prin
e huma quarta de centeo. Foral d'El cipios desta Monarchia ; já pelo
Rei D. Manoel de 15 15. Doc. de respectivo Foral, que se havia da
Chaves. do a cada Cidade, Concelho, Ter
JUGADA NOVA. No Foral, ra, ou Villa, o qual como lei par
que a Rainha D. Thereza deu á ticular prevalecia á geral, no que
Cidade de Viseu no de 1 123. se expressamente determinava, ou con
faz menção de fugada nova, á dis cedia. V. juzgo. II.
tinção da fugada velha: esta havião JUIZO. Quando em os nossos
de pagar os M. lites, ou Cavalleiros, Foraes antigos se diz, v. g: Omnes
que passassem hum anno sem terem intentiones sint per inquisitionem bo
. cavallo: aquella havião de pagar norum hominum, é º non perjudicium,
os que viessem de novo povoar a este juizo he o que o Direito da
terra de Viseu. Completo anno, si Idade media chamava fuizo de Deos,
cavallum non habuerit, det sua fu v. g.: ferro quente: agoa fervendo :
gada. Et illos fugarios, qui vene juramento: desafio, Órc. Este fui
rint populare meam terram, veniant zo, pois era huma prova indirecta,
ad forum de fugada nova. Doc. de e só então admissivel, quando o
Viseo. A diferença de huma a ou facto se não podia averiguar por
tra ali se não acha; mas he crivel, Inquirição de boas testemunhas,
que a fugada nova fosse maior, que a qual era Prova direita, e segu
a fugada velha. rissima. V. Ferros § 1.3 e Prova.
JUGADAR, Medir o pão da Ju JULGADO. Nas Inquiriçoens
gada. Porque eller chegam a4s eiras» Reaes desde ElRei D. Afonso II.
até
64 JU JU
até ElRei D. Diniz fulgado (ou se achardes , que elles com seus ir
Judicatum) era Sinonymo de Con maors an todolos bees juntadamente,
celho, Terra, ou Termo, que tinha assi movis, come raiz. Doc, das
juiz, ou Alvazil com Jurisdicção Bent. do Porto de 1 312.
mais, ou menos ampla. JUR. Vem do latino Jus : o
JULGADO DO VENTO. Ju Direito. Acha-se em hum Escam
dicatura, oficio do Juiz, que to bo, que ElRei D. Diniz fez com
mava conta, e decidía sobre os ga o Mosteiro de Tarouca , a quem
dos do vento; isto he: que se acha deu a Granja da Touça, o Apresta
vão perdidos, e sem dono. Que mo de Sande, e o Padroado de Ça
mudaeus; recebendo a terça parte
ElRei lhes tomára o julgado do ven
da Villa de Aveiro, e outros bens
to. Nas Cortes de Lisboa de 141o.
se queixárão os de Visco de que no Bispado de Coimbra com toda
ElRei, contra os seos usos, e custu jurisdiçom, jur, e propriedade, que
#:es, lhes tomára os Oficios, que o nós avemos, &c. Doc. de Tarouca
Concelho annualmente repartia pelos de 13o6. O mesmo se acha em
benemeritos da Republica, pera prol, outro Doc. de Pendorada de 1 326.
e honra delles, como erão o julgado JURADIA. Oficio de Jurado.
do vento, e dos Residuos, e dos Hor Doc. do Cam. de Coimbra de 1375.
foos; e a Escrepvaninha dos Cavalei JURIO. Jeronimo. Jurio Mar
ros; e que os dera de por vida aos tinz. He do Sec. XIV.
seus Privados , e a outros Grandes JUSSAA. He o contrario de Su
da terra .. . . Pedem, que sejão res saã, Caría de Jussaã, Caría de bai
tituidos ao Concelho, e que os actuaes · xo: Caría de Susaã, Caria de ci
serventuarios não usem mais deller. ma. Doc. de Tarouca de 128. An
B2. ElRei, que já os tirára todos, tiguamente se disse fuso, abaxo:
salvo em Lisboa, e em Evora. Cap. e Suso, acima. Ainda hoje se diz
Espec. para a Camera de Viseu, fuzante, a maré, que baxa: e Mon
que ali se conservão. tante, a maré que sobe.
JULGAJUL. O que tinha Ofi JUSTA.A.S. Dezoito escudelas d’es
cio de julgar, Ministro de Justi tanho, e duas justas, e seis saleiros,
ça, Corregedor da Cidade. Era e quatorze salvinhas todas dº estanho.
Cavalleiro de bóo entendimento , e Doc. de Pendorada de 1 359. Du
teúdo com Deos, e tinha sempre na cange V. Justa. 2. diz: furta, mem
dita Cidade logo fulgajúl por ElRei, sur e liquidorum species, quasi jus
e; Regedor dos Cidadaãos maiores, e ta menfira, quantum cuique suficit
dos meores, mantéedor de dereito, e potús subministrans. Erão pois as
de Justiça. Relaç. da Tomada de Justas, de que neste lugar se faz
Lisboa por ElRei D. Affonso I. menção: Vasos, ou pequenos pi
Doc. de S. Vicente de fóra. Ti cheis, onde se lançava o vinho
nha, pois, este Cavalleiro lugar para cada hum dos convidados pa
de fulgador por ElRei. ra a mesa. Estas justas fórão igual
JUNTADAMENTEJuntamen mente de vidro, ouro, prata, &c.
te, e sem divisão. He sinonymo e não tinhão medida certa, e de
do artigo Conssúú. Tragem ambos os terminada, como hoje se experi
beers, que am, todos de conssuu.... menta nas taças , e cópos.
JUS
JU JU 65
… JUSTO. Moeda d’ouro, que fez solent homines Christiani: Ó isti com
lavrar ElRei D. João II, com o pe ponent rixas inter illos: & non ma
zo, toque, e fineza de dous cru tabunt hominem sine jussu de Alcai
zados, e valor de 8oo. réis. Ti de, seu Alvacíle saraceno; sed mons
nha de huma parte por crunho o trabunt suos fuzgos, Óº ille dicebit:
Escudo das Armas Reaes Portu Bene est: Óº matabunt culpatum.
guezas com a Coroa, em cima, e JUZGO— Fuero). Em os nossos
na orla o nome do Rei. Da outra Documentos, que precedêrão ás
parte tinha a Imagem do mesmo Cortes de Lamego de 1 142 ; se
Rei, armado com a espada na mão, achão com frequencia estes termos
assentado em hum Trono entre dous sicut lex docet: lex gotorum: liber ju
ramos de palma com a letra, º que dicii: liber judicum, e Forum judi
lhe deu o nome, fustus ut palma cum, que na lingua vulgar daquel
florebit. Carta d'ElRei D. João II. les tempos se dizia Fuero fuzgo,
ao Concelho do Porto sobre as no e nós hoje diriamos livro de jul
vas moedas d’ouro, e prata, que man gar, e decidir as causas, assim Cri
dava lavrar, no de 1489. No prin mindes, como Civís. Para intelliger
cipio do Tombo de Castro de Ave cia, pois, deste Codigo, Livro, ou
lans de 15 o I. se acha hum Moni Foro, se ha de notar, que os Go-
torio passado em Braga pelo Vi dos, gente barbara, e indomita,
gario geral na Comarca de Tralos quando entrarão no Imperio Ro
montes, pelo Arcebispo D. Jorge mano não tinhão mais Lei, que os
da Costa aos 4 de Junho do mes usos, e costumes féros, e grossei-
mo anno, para que os apegadores ros da sua Nação. Mas civilisados
digão em tudo a verdade. E o que já algum tanto com a frequencia
fazendo o contrario, incorrer nel dos conquistados, forão adoptan
la , não poderia ser absolto sem do algumas Leis do Imperio, que
primeiro pagar á Sé de Braga hum frizavão mais com o seu genio.
justo d’ouro. Doc. de Bragança. (*) ElRei Euríco, que faleceo no de
JUZGO.Justiça, perfeita obser 483. havendo expulsado os Roma
vancia das leis, igualdade, soce nos inteiramente das Hespanhas,
go, paz, e tambem a sentença, e abrogado o seu Direito Civíl ,
ou aresto, que o Juiz pronuncía. procurou logo estabelecer Leis pa
Sandoval na Chron. dos Reis das ra o bom governo dos seus Póvos,
Asturias, tratando de Favílla, que e foi o 1º que por escrito publi
reinou desde 736, até 738., repro cou algumas, como diz S. Isidoro
duz huma Carta de Alboacém, Rei na Hist. dos Reis Godos, pag. 158.
Mouro de Coimbra, em que se lê: da Ediç. de 1599. Mas estas Leis
Christiani habeant in Colimbria suum de Euríco não chegárão a fazer
Comitem de sua gente, qui manute Livro, ou Corpo de Legislação
aleat eos in bono juzgo, secumdum completa. Tambem o Rei Alaríco.
Tom. II. • * I . . I] O
-* ** *

(*) Rui de Pina na Chron. d'ElRei D. João II. C. 19. diz, que este Monarcha
mandára lavrar pela primeira vêz em Junho de 1485. as suas moedas d'ouro : a saber
Justos, e Espadins: as primeiras de 22. quilates, e preço de 6oo, réis: as segundas
exão em pezo, e valor metade dos 3ustos, com valor de 3oo réis ; mandando que o
marco de prata valesse dali em diante 228o. réis. W. Espadins, . . . . . .• --- :
*

*
66 JU
no de 5o6. fez huma compilação do Tit. 1. do mesmo Fuero fuzgo,
das Leis Romanas, que intitulou segundo hum Exemplar , que na
Auctoritas Altarici Regis, ou como Corte de Lisboa se conserva. (*)
vulgarmente se diz, Breviarium Ania Por este Fuero fuzgo se prohi
ni; porque Aniano as compilou por bião nos Tribunaes as Leis dos
ordem do Rei. E finalmente Theo Romanos; permittindo, e mesmo
doríco Rei de Italia , no tempo dezejando, se lessem, e estudas
que administrou as Hespanhas , sem as Leis estranhas, para eru
promulgou as suas Leis em 154. dição, e maior conhecimento das
Capitulos, a que deu o Titulo de Leis Patrias. Por este Codigo se
Edicto. Porém nenhum destes Co devião terminar todas as causas pe
digos he o Liber judicum, ou o los Juizes , a que pertencião. E
Fuero fuzgo, suposto que muitas succedendo caso, a que a Lei não
destas Leis nelle se recopilassem, tivesse providenciado, se devia rec-.
e servissem como de ensaio ao correr ao Principe, para que elle
Forum judicum , que o Rei Kin o decidisse , e o seu Aresto, ou
dasvindo acabou de escrever pela Decizão se devia logo apensar ao
primeira vez no de 643. , e que Forum judicum, para ser guardada
depois instituio seu filho Reces com força de Lei. Erão quasi in
vindo, quando no de 647., viven numera Aeis os Juizes, que os Go
do ainda seu Pai , solemnemente dos tinhão, para que as causas se
as publicou nas Cortes geraes do não demorassem. Julgavão os Du
Reino, que para este fim se con ques, os Condes, os Vigarios, os Ar
gregárão , e nas quaes o mesmo sertores da paz, os Tyuphados, os
Recesvindo com os Bispos, e Gran Millenarios, os Quinquagenarios, os
des, fez algumas Addiçoens, co Centenarios, os Decanos, os Defen
mo se convence pelo Liv. V. e IX. sores, os Numerarios, os Delega
dor
—T

(*) Na Advert: Prelim. Período 1. se disse fôra este Codice publicado, em Lingoa
Hispano-gotica pelo Rei Ervígio no de 682.: o que se deve entender do Original, es
crito em Latim no tempo deste Rei, e traduzido em Hespanhol depois do Sec. XI.,
com o Titulo de Fuero 3uxgo, que foi impresso pela primeira vêz em Madrid no de
E6oo ; havendo-se imprimido as Leis dos Wisigodos no de 1579 com o Titulo: Coditis
Legum VVisigothorum Libri XII. De fenão acharem no Fuero Juxgo muitas palavras Mou
fiscºs, que vogárão em Hespanha depois do Sec. VIII., nasceo o prejuizo, de que el
le, fôra escrito em vulgar no Sec. VII; mas a verdade he, que em Hespanha se não
acha, nem deu em vulgar.Doc. algum, antes dos fins do Sec. XII. Chega-se a isto,
que "º #º Jurgº, se achão as Leis do Codigo 17ísigotico não tanto traduzidas, quan:
to recopiladas , e algumas vezes invertidos os Titulos. Estas Leis confirmarão depois
D. Bermudo II., Rei de Leão, e Oviedo no de 982., D. Afonso V. no de Ioo3. »
D. Afonso VI., e outros, algums dos quaes lhes fizerão varias Addicçoens, e princi
Palmente os Reis, de Aragão: é mesmo em algumas copias antigasse áchão os Decre.
os do Concilio de Coyança (hoje Valença de D. João, entre Leão, e Benavente) de
Yo5º º que Aguirre se porsuadío sem fundamento fôrão escritos originariamente em Hes.
Panhol. 7: Hesp. Sagr. T. 38. 4 f. 243, & feqb. Na Recopilação das Leis de Hespanha,
# Se publicou no de 1567., dividida em IX. livros, e na qual se incorporárão as Leis
el Fuerº, que D. Afonso X.º havia promulgado, e o ordenamiento Real em tempo
àe D. Afonso XI. no de 1384. e as Leis de Toro no de 15os: tem as do Fuero 3uxgo
hum lugar distincto. Concluindo-se de tudo que o Fuero 3uxgo, que hoje temos (man
dado traduzir em Hespanhol por ElRei D. Afonso, o Sabio, ) sendo na sua Origem o
mesmo
soens, que
que ºnelle
Codice dos Vísogodos,
se encontrão, as alteraçoens
o fazem addicçoens, mudanças,
realmente distincto, • -
e supres
, - … •
JU JU 67
Aos do Rei, os Arbitros das Partes, cum Orthodoxis viris inlustris, per
e outros muitos.
fago Spiritu pleni callerectis produ
No Concilio XVI. de Toledo bio declararunt, de hereditate ad pro
procurou o Rei Flavio Egíca se pinquiº, extraneis, vel unuscujusli
recopilasse de novo este Codex Go bet personis : Ut unusquisque de re
thorum, inserindo nelle 1.° As Leis bus suis cujus libet personis cum omni
dos Reis Godos até o seu tempo. odore, Óº perpetuae firmitatem habe
2.° Os Decretos dos Concilios To re, tradere liceat : aproveitando-se
letanos. 3º As Leis Antigas, que pois desta liberdade de disporem
sem dúvida são as que os Godos dos seus bens, fazem Doação de
tomárão dos Romanos. 4.º Final todos elles por sua morte ao Mos
mente huma Collecção de Leis teiro de Lorvão no de 967. Liv.
sem Titulo algum , ou Nota do dos Testam. N. 2. Em huma Doa
seu Autor ; ainda que muitas são ção ao Mosteiro de S. Pedro de
de Kindasvindo , e de seu Filho Cete no de 985. depois das cos
Recesvindo, os que mais procurá tumadas execraçoens contra qual
rão civilizar os seus Vassallos. Mas quer, que a quebrantasse, conti
não foi esta ainda a ultima mão núa: Et super Judizes estantia, &"
que trabalhou no Forum judicum : Portivizes Ordinazio pariet ad ipso
até o de 976. lhe fizerão varias /oco , quanto inde usurpadus fuerit
adicçoens os Reis das Asturias, e dubladum , vel quatuor dubladum ,
de Leão, confirmando as Leis an secundum Lex dozet, &c. Doc. do
tigas , e promulgando outras de Collegio da Graça de Coimbra. No
novo. Nas Antiguidades de Navarra Seculo XI. ainda continuão semi
pag. 421. se diz: Cindasvinctus Rev. lhantes vestigios; mas depois que
Recesvinctus Rex. Egica Rex. Urra ElRei D. Fernando, e particular
ca Regina. Sancio Rex. Ranimirus mente o Conde D. Henrique, e
Pex. Sarracinus socius. Vigila scri a Rainha D. Thereza, derão par
ba. Garrea discipulus. Hi sunt Re ticulares Foraes a muitas Terras,
ges, qui abtaverunt Librum judi o Fuero juzgo só tinha lugar no
cum.... In tempore borum Regum, que pelas Leis Municipaes não es
atque Reginae perfectum est opus Li tava determinado. O mesmo Se
Bri bujus, discurente E. T. XIV e nhor Infante D. Affonso Henriques,
Moreto, vertendo esta passagem, feito já Princepe absoluto de todo o
diz: Estos son los Reis, que ajusta Portugal, não fazia escrupulo de
ron el Libro del Fuero juzgo. citar as Leis Romanas, e France
Este, pois era o Livro das Or zas juntamente com as Gothicas,
denaçoens daquelle tempo, segun tomando de cada huma o que mais
do o qual devião todos os Julga se conformava com o genio da Na
dores regular as suas Decizoens. ção, e variedade dos tempos. Na
Nas terras de Portugal se achão, Doação , que a 6. de Abril de
repetidos vestigios deste Fuero 1 129. fez a D. Monio das Villas
juzgo: exaqui alguns: Nezeron, , Sala, e Saela no Valle de Arouca,
e sua mulher Tortéra , em cum diz: Ego Infans Adefonsus, secumdum
primento da Lei , . Quod gloriosis auctoritatem Donationum Legum Ro
Arincipes mostri constituerunt, uma manarum, atque F{… , seu Go
11 10
68 TZ, | K
torum de hac Hereditate, quam tibi Aguias o que bem lhe parecer. Doce
Monio Roderici libera, é irrevoca de S. Pedro das Aguias. _*

bili voluntate concessi, & Cartam º IZENTIDÃO. Isenção, retiro


fieri jussi, manibus meis illam ro Demasiada izenção, ou izentidão so
bor — K– o Doc. de Arouca. beja, como diz Fr. Heitor Pinto,
Mas ainda não estava esquecido C OUltrOS.
o Livro dos juizes; pois na Doa IXUDOS, E IXUDEOS. V.
ção, que Sesnando Ramires , e Eixido. •

sua mulher Justesenda Soares fize


rão ao Arcebispo de Braga D. Pe
lagio, e ao seu Cabido, e succes
sores, da sua Villa chamada Domi K.
zi, (que d'antes se chamava Ve
denári, que dizem he o Couto de K Nem so Latinos, nem os
Dorner, hoje da Feitosa, junto a Portuguezes tinhão precisão algu
Ponte do Lima, ) no de 1 131, de ma desta Letra Grega no seu Al
pois das imprecaçoens do costume, phabeto, depois de nelle terem o
se impoem a quem for contra ella C, com que perfeitamente pronun
a obrigação de restituir quatro ve cião todas as Dicçoens do seo Idio
zes em dobro á Igreja de Braga, tismo , que pelo tempo se come
* Regiae Potestati, quod Liber ju çárão a escrever com o estrangei
dicum precepit. Doc. de Braga. No ro K. Com tudo esta nota de máo
de 1 141. ainda se faz menção da augouro se foi introduzindo em
Lei dos Godos em hum Doc. de Ta casa dos Romanos, e na Baixa, e
rouca , que se póde ver V. Cre Infima Latinidade foi usadissima,
brantado. Depois das Cortes de dos Póvos mesmo de Portugal.
Lamego, e muito principalmente K. Letra numeral , valia para
depois das de Coimbra de 12 12. com antigos 15 o , ou 151., e com
em que se estabelecérão muitas hum til era o seu valor 15 o Qbooo,
Leis geraes para toda a Monarchia, ou 15 I doooo. -

se foi esquecendo paulatinamente K. Como Nota, ou Sinal, indi


o Fuero juzgo, levantando-se so cava na Musica clamor, ou eleva
bre as suas ruinas a nossa Ordena ção da voz. +

ção presente. K. Parece que se escrevia sem


IZENTAMENTE. Dosafogada, pre que se seguia a, mas seguin
livre, e desembaraçadamente, sem do-se u se escrevia q. Porém em
a mais leve contradicção, ou dú os nossos mais antigos Monumen
vida. Em o novo Foral de Valen tos achamos escrito o K. em lu
ça do Douro de 15 14. se declara, gar de qu: v. g. Ikila, Alkinicia,
que os maninhos serão dos Povoa Arkanio, &c. por Iquila, Alquini
dores izentamente; isto he, aquel cia, Arquanio, &c.
les maninhos, que entrárão nos K. Por C. ou Ch he frequentissi
limites do seu aforamento; porque mo. V. Aravor. • •

das terras maninhas, e despovoadas, Em as nossas Escrituras mais


fóra dos ditos aforamentos , poderá antigas se achão escritas por K
fazer o Mosteiro de S. Pedro das innumeraveis Dicçoens, que os
bons
KA • KA 69
boms Latinos escrevêrão sempre não se deve pagar. Mas o que hos
com C ; na certeza, de que ne convence de serem synonymos Sy
nhúa he propria da Lingua Gre modo, e Kalendario, he hum Doc.
ga, v. g., Kautum, Karta, Ka da Universidade de 1425, que diz:
vallus, Koncha, Arauka, Egika, Pera vir ao Signado, ou Kalendario.
Almakave, Kastellum, Karitas, Ve KALENDAS. Em algums Doc,
nekas, Karitellum, Alkapdek, Val de Galliza se chamão Kalendas, os
&ovo, & c. Direitos de Portagem, e outros,
KAHE. V. Azena, que nas feiras , ou mercados se
KALENDARIO.V. Mortulhas, pagavão ao Rei, ou a quem a Co
onde se achará serem, assim a Ce roa tinha delles feito Mercê. De
ra como o Kalendario Direitos Ar serem as feiras no 1.° dia de cada
chiepiscopaes: do 1º V. Cathedra mez nasceo este nome , e neste
dego , e Cathedratico: do 2º se ven sentido. Vid. Hesp. Sagr. Tom. 4o.
tíla o que por elle se entenda. Do f. 227.
verbo Grego Kaleo, voco, disserão KARRITELLO, V. Caritel.
os Latinos Calendas o primeiro dia KARTA DE BENEFACTIS,
de cada mez, em que o Pontifice, V. Carta de Benefactis.
chamado o Povo, lhe fazia saber KARTA DE GADEA. V. Car
quantos dias mediávão entre as ta de Gadea.
Calendas, e as Noas, para que nes KAZIMOS-Soldos). Soldos Ka
tas viessem ouvir , o que ou sa zímos ; soldos de prata Kazimos;
grada, ou civilmente devião fazer. ouro Kazimo, são termos mui fre
# tal era, no seu tanto, o Espi quentes nas Escripturas, que en
rito dos Synodos Diocesanos, pa tre nós se exarárão no tempo dos
ra os quaes erão chamados todos Sarracenos, e ainda depois que do
os Curas d’almas, e aquelles a nosso Paiz fórão expulsos. Kaz{
quem pertencia a reforma, e cum mo quer dizer, puro, limpo, sem
primento da Disciplina Ecclesias fezes, ou liga: he o mesmo, que
tica. Virá a nosso Signodo, e Cal dizião em Latim: tantos, ou quan
Jandairo. Doc. de Santo Thyrso de tos soldos, ou maravidís probatas
14:12, e 1436. Em outros muitos monete. No de 893. se vendeo a
Doc., e Cartas de Collação se lê: Igreja de S. Cucufate por 45. sol
Ad nostram Synodum , cum vocatus dos Kazímos, como se disse V. Igre
fuerit, veniet. E aqui temos, não ja. No de 1o 16. vendeo a Lorvão
só o Synodo, mas tambem o Cha o Mouro Zuleimão Iben Giarah Aci
mamento, ou Convocação para elle. ki huma grande fazenda em Ville
Era pois o Direito do Synodo, ou la por 2o. soldos de argento Ka
Calendario, o mesmo que Synoda zimi. E no mesmo anno , e no
rico. De hum Letigio, que se agi mesmo sitio o Mouro Mahomat ven
tou no de 1596, (cujos Autos se deo outra ao mesmo Mosteiro por
achão no Archivo da Mitra Bra 4o. soldos de argento puro. Liv.
carense) consta se decidio: Que dos Testam. N. 9, 1o, e 21. Na
cada Pia de baptizar pagasse de Sy larga Doação, que D. Bartholo
modatico 8ooréis todas as vezes, que meu Domingues fez á Albergaria
se fizer Synºdº : e não se fazendo, do Cantaro, junto á Villa do Car
V3
7o KA KA.
valho no de 1215., se determina, como soldos primeiror, ou antigor;
que todo o que for contra ella pa pois ainda hoje dizemos Ladrão
gue em dobro todo o dano , e á cadímo, o que he primeiro, emi
Camera de Coimbra 5oo. soldos nente , antigo já neste oficio, e
probatae monete. Doc. de Lorvão, versadissimo em cometter roubos.
De sorte que roldos Kazímos quer Com tudo o dizer-se que se deve
dizer, soldos de boa Lei. E talvez escrever com d, e não z repugna
daqui se disse Cadinho, instrumen a todos os Originaes Doc. dentro,
to, ou vaso de Fundição, em que e fóra deste Reino, em que esta
se derretem, e purificão os metaes. palavra se acha: e não he de pre
Alguns lhe chamão Cadilho. sumir que todos absolutamente se
KAZMI. V. Kazimos. No de enganassem. Do verbo Cadimo bem
1o78. D. Pedro Nunes, Bispo de se poderia tirar a etimologia dos
Astorga, comprou huma herdade ladroens, que dizemos Cadímos,
nas Asturias á Illustrissima Senho mas não dos soldos, ou prata, em
ra D. Maior Froilaz , e o preço que não sabemos houvesse nos Sec.
se declara nestas palavras: Pro quo IX., X., e XI. alguma diferença
accepimus de vobis CCCII, solidos de entre nova, e velha, mas tão só
argento Kazmi , Óº uma pelle alfa mente a de ser mais , ou menos
nege nova murielike, inve/lita in pan pura, mais, ou menos trabalhada.
no Ovete verde, & panneata per cir Mas não passemos sem alguma
cuitu de grecisco, cubito, Óº palmo reflexão a respeito da Pelle, e do
a giro pedes, & ad suas mangas, Cavallo, que entrárão no preço des
&º faceras auro textas, in obtingen ta herdade. Não era certamente
tos solidos de Kazmi : Óº uno ca cousa rustica, e pastoril huma Pel
ballo amarello spina migra, cum sel le de 8oo soldos para aquelles tem
Ia sub sella, & freno, preciato in pos: era sim hum vestido novo,
centum quinquaginta solidos de ar e inteiriço, que cobria todo o cor
gento Kazmi : & uno vaso de puris po desde os hombros até os pés:
simo argento , pensante septuaginta a sua belleza , e guapíce lhe deu
quinque solidos. Assim se lê na Hesp. o nome de Alfanege. V. Alfanehe,
Sagr. T. 38. f. 89. E eis aqui te e Alfenado. Era o campo, e peça
mos soldos de prata Kazmi : soldos principal de pelles de lontras, es
de Kazmi : e vaso de prata purissi pecie de rato aquatil, e de agra
ma, que, se de todo me não en davel cheiro: forrada na parte su
gano, tudo he synonymo, e nos perior de panno verde de Oviedo,
diz que Kazmi he o mesmo, que que sería naquelle tempo de gran
Kazimo: puro, limpo, sem fezes, de estimação, e finura : desde a
ou liga. E daqui se vê, que me cintura para baixo , cousa de 4
nos bem se diz, dever-se escrever palmos, barrada de seda cór de
Kazimi, ou Kazmi com d , e não cinza, ou leonada. V. Grizisco. E
com z: isto he: Kadimos, e Kad finalmente os canhoens das mangas,
mins, adjectivos do verbo antigo abotoaduras, e dianteiras, bordadas
Arabico Cadimo, chegar antes, ser com fio d’ouro. E tal era a rosa
o primeiro, anticipar-se, &c.; e gante vestidura, que esta respeita
que tanto era dizer soldos Kazímos, vel Viuva recebeo em tão subído
pre
KE • KE 71
preço. E não faça dúvida o uso se póde ver em Du Cange. V. Xem
das pelles; pois não só nos vesti plare, em que aduz huma Escritu
dos as usavão de gatos, fuinhas, ra de Milão de 781. Mr. Bullet
martas, coelhos, raposas, cordeiros, nas Mem. sobre a Lingua Celtica.
&c; mas tambem dellas fazião pre Tom. I. P. L. c. 14, mostra, que
ciosos cobertores para os leitos. Camisa he palavra Celtica, e que
V. Chimaço, Cobertal, e Conter. significava, vestido de linho, mui
As duas sellas do cavallo amarel to antes que os Romanos passas
Jº, e de espinha, lombo, ou espinha sem os Alpes. V. Laudomanes.
fo negro, não tem outro misterio,
que ser huma das sellas a ordina
ria, (que talvez diriamos albarda)
e a outra, ou sobre sella, huma L.
cadeirinha preciosa para a Fidal
ga, (como ainda hoje se pratíca, L Em tempo dos Romanos, e
e com muita gravidade, e decen ainda hoje, como letra numeral,
cia, nos Reinos de Castella.) O valía 5o: antiguamente sendo pli
freio não duvidamos, correspondes cada tinha o valor de 5o doooo.
se a todo o mais apparelho desta L. Com esta figura 2, foi usa
cavalgadura, avaliada em 15 o sol dissimo entre nós desde o Seculo
dos; pois sabemos, que em Por IX, até o XIII., e sempre com o
tugal, e pelo mesmo tempo , se valor de 5o, sem que já mais se
usárão freios, e sellas prateadas. V. descubrisse Documento algum de
Avoenga. boa fé, em que valesse 4o. Não
KEMISO. Camisa , camisote, negamos com tudo, que já no Se
vestido immediato ao Corpo. No culo XV, ignorando-se o valor da
de Io26 vendeo Moitilli huma her quella nota arithmetica, huns lhe
dade na Terra da Feira a Octicio; derão o valor de 2o, e outros aquel
porque este o tinha resgatado, e le que a sua ignorancia lhes diéta
a sua filha Guncina , Et sakastes va: bastaráõ estes dous exemplos
nobis de barcas de Laudomanes, Óº para confirmação desta verdade :
dedistis pro nobis uno manto lobeno, No anno de 1471 se deu na Ca
é una spada, & uno Kemiso, º ó" mera Ecclesiastica de Coimbra em
tres lenzos, ó uma vaka, & tres pública fórma o Foral de Cóles,
modios de salfinto. Doc. de Pedroso. que estando no seu Original da
Faria quer que esta palavra Cami tado assim : Facta Karta sub E.
sa seja Punica: Sousa nos Vestigios M. CC. 2 V. XIII. Kal. Maii. Reg
da Lingua Arabica em Portugal, pro mante Alfonso Rege, filio Regis San
pugna que he Arabica, e que dos cii: na Copia se poz a Era M. CC.
Arabes a tomárão os Hespanhoes. XXV.; reduzindo o anno de Chris
Eu me não occupo em averiguar to 1217, em que verdadeiramente
|
o Paiz que lhe deu o nascimento: reinava D. Affonso II. , ao anno
digo só que antes da entrada dos de 1 187. em que era Rei D. San
Mouros nas Hespanhas , era co cho I., e dando só o valor de 2o
-
nhecida, e usada na Europa a pa á constante nota de 5o. Doc. de
lavra Camisia, ou Camixia; como Ceiça,
$ O -
.
72 - L = LA
O mesmo valor de 2o deu ao . . L. Fazendo as vezes de S, quando
2 quem fez a Miscellánea, que se a este se seguião os articulos or,
acha no fim do Compendio das Chro ou as, he trivial no Seculo XIII.,
nicas de Portugal desde o Conde D. e XIV. v. g. Todolos homens, toda
Henrique até ElRei D. João III., las mulheres, em lugar de: Todos,
escrito pelo Bacharel Christovão Ro os homens, todas as mulheres. *

driguez Azinheiro, no de 1535 , fal L. Dobrado, quando devia ser


lando da larga Inscripção, que se singelo, usárão os Portuguezes no
acha de traz da Igreja da Vera Seculo XV, e XVI. com muita fre
Cruz de Portel, que foi Mosteiro quencia; achando-se este Labda
da Ordem de S. João de Malta, cismo, ou Lambdacismo não só no.
começado a fundar no de 1 268 por meio, mas ainda no principio, e:
Fr. Afonso Pires Farinha, e con fim das Dicçoens , v. g. Llouren
cluido na Idade de 13o% (isto he ço, Lloureiro, Manoell, anell, & c.,
no de 1271) tres annos depois L. Dobrado por Lh foi muito.
que se lhe havia lançado a 1."pe usado no Seculo XIII, v. g., vel
dra. Exaqui as palavras que deci lo , vella, vellice, por velho , ve
dem: Era M. CCC. VI. Mense Apri lha, velhice, &c. ',

lis , Frater Alfonsus Petri Farinha Nos fins do Seculo XIII, e prin
Ordinis Hospitalis S. Johannis fe cipios do XIV. se escrevia em Por
rosolimitani, existens aetatis 2. an tugal hum h em lugar do segun
norum , incepit edificare hoc Mo do L em as Dicçoens , que aliás
masterium .... Dictus Frater Alfon se escreverião com L dobrado. V.
sus.... vixit triginta annis, Óº.... g. Eu lhi , por. Eu lli, preterito
intravit Ordinem praedictum, ó ve do verbo ler: Elbe, Lbeixou, Da
uit Mauram, ó Serpam, ó vixit quilho , Tarouquelha, Cavalharia,
ibi viginti annis, &c. Se pois de Estabelhecemos, Todalhas, Fazelho,
3o annos entrou na Ordem, e vi Delhas , Pelho, Seelho, Prelhado,
veo 2o na fronteira dos Mouros; &c: Em lugar de Elle , Lleixou,
fica manifesto, tinha 5o, quando Daquillo, Tarouquella, Cavallaria,
começou a fundar este Convento, Estabellecemos, Todallas, Fazello,
e não 2o, como, por ignorancia, Dellas, Pello, Seello, Prellado, &c.; º
. disse o A. da Miscellánea. Em a afectando deste modo a pronun
Tab. 2. n. 3. se achão I I figuras cia dos Hespanhoes, senão era mo
do L, que valia 5o; prescindindo da, e corrupção dos tempos. ,
de outras muitas, que com alguma LABORAR, ou Lavorar. La
diferença se achão em os nossos vrar, romper a terra. Dixit": quad
antigos Documentos, mas todas quando dies versa fuit in noctem,
com o valor constante de 5 o. quod ipse tangebat boves in vessada,
L. Figurado deste modo 2. se quando laborabant. Isto he: ainda
acha alguma
Romanas. V. vêz nas Inscripçoens era rapaz, e tangia os bois; como
Caliabria. •

ainda hoje se pratíca nas vessadas,


. L. Latino substituido pelo A. /. Dia-noute. |- * ,

Grego se acha em Monumentos an LACÉRA. Guarda. Ap. Berg |


tigos. . .. . LADA.A.S. No Rol dos Direi
L. eNaalegre.
alta, Musica denotava voz tos, que ha de ter o Mordomado
•• - Mór •

!
LA! "LA 7;
Mór da Terra de Gaia se lê o se» os Latinos formátão da Litaneia
guinte: It : ha d'aver o custume de dos Gregos, que propriamente si
4uantos navios entrarem pela foz do gnifica: Rogativa, súplica, depre
Doiro, e per antre amballas ladas. cação, e que ao depois se disse
I.º Preto de Grijó. Na Infima La tambem, Procissão, Preces, Ro
tinidade se disse Lada, ou Leda, gaçoens. As Ladainhas Maiores fó
por estrada , ou caminho largo; rão instituidas por S. Gregorio M.
porém aqui não se póde dizer que no dia de S. Marcos no anno de
Ladas são estradas da terra , mas 59o, para consiguir de Deos o re
sim caminhos d’agoa, por onde os medio da peste, a que chamárão
navios, ou quaesquer outras em Inguinaria , porque dava nas viri
barcaçoens, (que então indiferen lhas (e talvêz fosse prolusão do
temente se chamavão Navios) po Bubóm, Mentágra, ou Pudendágra,
dião navegar. São, pois, as La e hoje Mal Francez, que depois
das, as duas correntes do Douro, de 1493 tem consumido innumera
superior, e inferior á Cidade do veis escravos da torpeza.) As La
Porto; não só por lhe ficarem aos dainhas Menores instituio S. Mamer
lados; mas, e principalmente, por to, Bispo de Vienna de França, e
serem os caminhos, e estradas lar se fazem com o Titulo de Roga
# gas, por onde lhe vem os manti goens nos tres dias antes da Ascen
mentos, e riquezas, assim de fó são. Á imitação destas se institui
ra da barra, como de dentro della. rão outras muitas Ladainhas em di
|
//. Portelo. • -

versas partes da Christandade. No


LADAIRO. Procissão, e cla Concilio II. Brachar. C. 9. se man
mor com Ladainhas , ou Preces, dão fazer Ladainhas no principio
para consiguir o remedio em algu da Quaresma, e no XVII. Tole
ma calamidade , e aficção. Doc. tano C. 9. se mandão fazer todos
de Lamego. Parece que Ladairo se os mezes Pro statu Ecclesiae, Óº in
disse por analogia de Lada , que columitate Principum. Não fallare
na Baixa Latinidade significava Lei, mos agora dos Ladarios , Ladai
e mais bem a Purgação Canonica, nhas, ou Procissoens , que depois
e vulgar, pela qual, e segundo a se fizérão ; já para gratificar os
Lei , o accusado de algum crime beneficios recebidos; já para elo
se mostrava innocente, e sem cul giar a Santa Virgem, e outros San
pa. Nos Ladarios, ou Rogaçoens tos, compostas dos seus Titulos,
públicas, mostrando-nos a cons ou Virtudes: direi só alguma cou
ciencia todo o horror dos nossos sa dos Ladarios , que já desde o
dilictos, appellamos da Justiça de VII. Seculo se praticavão fóra de
Deos para a sua Clemencia, pela Roma, a fim de suspender a Justa
Intercessão dos seus Santos, e A vingança do Deos irado. Os nos
migos; afim de que nos purifique sos Maiores os multiplicárão sem
das nossas culpas , suspenda os número a varias Igrejas, Sanctua
seus flagellos, e nos conceda aquel rios, e Cappellas; fazendo votos,
les beneficios, e mercês, que jus que as mesmas Cameras aprovárão,
tamente lhe pedimos. Ou digamos e talvez autorizavão com a sua pre
que Ladairo vem de Litanía, que sença. Esperavão eles por este
Tom. II. I]]O
74 LA LA .
môdo serem livres dos animaes da aos pés as cousas mais sagradas?, ?
ninhos, e destemperança dos ares, Que desordens, que torpezas, que
le lhes destruírão as searas, ma dissoluçoens, que perdição do tem
tavão os gados, e afligião os Pó po, que não só das almas, se ens
VOS. - contrão em simelhantes Votos , e
Mas com que Espirito de humil Ladairos ?. He possivel, que ha
dade, e penitencia estas Procisoens, vendo concorrido a Igreja , e o
Fotos, Preces, e Clamores não fó Estado para a diminuição dos Dias
rão elles instituidos, e depois por Santos, tendo em vista a menos
longo tempo executados?. Nas La dissipação dos Póvos, e a preci
dainhas Maiores, chamadas das Cru são urgente do Comercio, e Agri
zes, todos se vestião de lucto, e cultura: se continuem ainda sime=
de negro se cobrião as Cruzes, e lhantes Votos nos dias feriados? E
os Altares , para que a saudavel isto só para utilidade de alguns
tristeza lhes recordasse o merecido Oficiaes de Justiça, que embol
castigo. Chegava-se a isto a absti são as condenaçoens iniquas dos
nencia da carne , e do vinho, que talvêz ficão trabalhando para
as lagrimas, os gemidos, e os pés manter a Républica ? E ainda, o
descalços. Em huma Carta de Car miseravel Povo ha de ser vexado
fos Mag. , que se acha no I. Tom. por faltar a hum Voto, a que pes
dos Capitulares Col. 256, diz elle soalmente senão obrigou , e que
mesmo, que por tres dias fizerão já hoje passou a ser da cousa mais
Ladainhas Dei misericordiam da pre pessima, que imaginar se póde ? »
cantes, ut nobis pacem, ó sanita Inspire Deos remedio prompto a
sem, atque victoriam, é prosperum tantos males !. Elle os faça extin
iter tribuere dignetur..... E nesta guir, e sem demora!. V. Açores:
occasião A' vino, ó" carne ordina Baldoairo, e Bodivo. -

verunt Sacerdotes nostri, qui propter LADÉRA. No mez de Julho,


infirmitatem, aut senectudinem, aut de 1 139, caminhando para o Fos
juventudinem abstinere poterant, ut sado da Ladera, fez D. Affonço Hen
abstinuissent ... &º interim quod ip riquez, intitulando-se ainda Infan
say Litanias faciebant , discalceati te , huma Doação, que se póde
ambularrent. Mas para onde se au ver V. Foro Morto, e V. Fossado.
sentou hoje a Religião, e modes Nas Inquiriçoens Reaes se faz men
tia dos que nos precêrão com o ção de huma terra chamada La
sinal da Fé?... O Herege, o Pa deya, ou Ladeia não longe da fóz
gão , e o Gentio muita razão te do Zezere. Ou digamos que a La
rião de perguntar: Onde, onde es deya era o Rabaçal, por onde a es
tará o Deos de simelhantes Chris trada se encaminhava para Além
tãos, que vão provecar as iras do tejo; pois no Liv. I. dº ElRei D.
Ceo no lugar Santo, que desalma Afonso III. a f 6. na T. do T., se
damente profanão?... E com ef acha a Doação que elle fez ás Do
feito, que Objecto mais digno do nas de Cellas a par da ponte de Coim
Pastoral zelo dos nossos Prelados, bra , (para que ellas o encomen
e mesmo dos nossos Ungidos do dassem a Deos) de toda a Deci
Senhor?... E pois assim se calcão ma, e de todo o Direito Real, #º
- El
LA LA . 7;
Elle , e seus Successores tinhão sende , e Brandão fez imprimir
.
ou podessem ter na Herdade das entre os Documentos do III. T.
mesmas Donas, no sitio da Ladeya, da Monarch. Lusit., não consta ser
que vocatur Bahazal. Escrita pelo obra daquelles tempos; mas sim
seu Capellão, Eleito de Viseu, a 1o hum Chronicón, que depois se
de Out. de 1254. Como quer que foi escrevendo, e augmentando com
seja, parece fóra de questão, que varios factos já verdadeiros, já fal
o Principe D. Afonso se hia che sos, e alguns sem mais fundamen
gando para o Campo de Ourique, to, que a Tradição devota, e inte
onde naquelle mez, e anno lançou ressada. E quem se não persuáde,
os fundamentos solidos á Monar que hum destes ultimos he a Bata
chia Lusitana. Com tudo em os lha de Ourique ?... 3.º Finalmen
nossos mesmos dias não tem fal te, ElRei D. Sebastião achando
tado quem desatinadamente impu se no campo de Ourique pouco an
gnasse a notavel, e feliz Epocha tes de 1473 foi o que reduzio a
da Batalha de Ourique dizendo, Nobre Templo a insignificante
não ter mais apoyo que a Tradição Hermida, e fez levantar o sober
Janatica dos Portuguezes, destitui bo Arco da Memoria, que ali se
+ da de toda a razão prudente, que conserva; incumbindo a Resende
não só de Documento algum Syn da Inscripção Latina, e Portugue
chrono, ou Supar, que em tal fal za, que nos seus pedestaes, ou
lasse. E eisaqui os tres principios lados devia ser exarada . como diz
deste arbitrario pensamento : 1.° o mesmo Resende ubi sup. E se
Não cabe em Juizo são , que o ria crivel, que, a ser incontesta
Princepe D. Afonso passasse o Te vel a Façanha de Ourique, tantos
jo por entre os Mouros de Abran Reis prudentes, e cordatos, e na
tes, e Torres Novas, e marchan da remissos em perpetuar as acçoens
do ao longo de Evora , e Beja, famosas, e brilhantes da Nação,
Praças temiveis naquelle tempo, deixassem estar no esquecimento
fosse arrostar 5 Reis Mouros, com a mais memoravel, que se vio nos
quem vinhão alguns 4ood) ooo com principios deste Reino?... E quem
batentes, ficando cerrado pela fren não sabe que os poucos annos d'El
.
te, pelos flancos , e retaguarda, Rei D. Sebastião lhe não permit
quasi nos fins do Alemtejo, e com tirião examinar as razoens, em que
distancia tão enorme de Coimbra, este prejuizo se fundava?... Resen
onde então residia a sua Côrte : e de sim compoz a Inscripção reco
isto com tão limitado número de mendada; mas porque não foi exa
soldados , que talvez havia too rada , nem a Portugueza, nem a
Mouros, ou mais , para hum só Latina ; pois nenhua hoje ali se
Christão : Unus enim quisque supra encontra ?... Não poderemos lo
centum hosteis advorsum se in prae go avançar , que o temor de ser
lio erat habiturus: diz Resende L. descuberta a verdade , impediría
IV. De Antiquit. Lusit. De Orich, esculpir-se o que só tinha visos
agro. -
de mentira?... Assim discorreo al
2.º Os Annaes, ou Chronicon Lu gum destemperado Critico, fazen
sitano, ou dos Godos, que cita Re do alarde, não só da sua ignoran
ii cia
76 LA LA
cia presumida, mas ainda da sua rém as Bullas de Honorio III. Ce
desafeição torpe da gente Portu lestino, Alexandre, e Urbano IV.
gueza. Responderemos pela mes os que eximem da Jurisdicção Epis
ma ordem aos seus desordenados copal, e sojeitão immediatamente
argumentos. •

á Sé Apostolica as Igrejas de todas


Em duas supposiçoens falsas se as tres Villas , ou Castellos da
funda o I.º: Suppoem , que os Ega, Redinha, e Pombal, que
Mouros, occupavão ainda no de os mesmos Templarios havião cons
1139 todas as terras, que ficão en truido. Exaqui as formaes palavras
tre o Mondego, e o Tejo: Sup dos Successores de S. Pedro : Ea
poem mesmo, que Evora, e Be propter, Dilecti in Domino filii,
ja podião cortar o passo ao Exer vestris justis postulationibus annueu
cito Portuguez, quando mesmo a tes: silvam , quam quondam Illus
retirada lhe fosse indispensavel. tris Portugalensium Regina in per
Mostraremos a falsidade de ambas: petuam elemosinam Domás vestre
comecemos pela 1.° No de 1 1 39 concessit : quam silvam cum difficulta
já todas as terras de Leiria, e Ou te maxima de Sarracenorum manibur
rém, Ega, Redinha, Soure, Pom liberantes, per vos, ó homines ves
bal, Zezere, Cardíga, Almourol, tros studiosius coluistis; ibique tres
Cera, Penella, estavão rendidas Ecclesias: Columbrensem, (em outra
ás Armas Portuguezas: logo menos Palumbare) videlicet, Rodinam, &"
bem se quer suppor, que o Vene Egam fundantes, ab omni servitio,
ravel, e Invictissimo D. Affonso &º censu liberas per XXX. annorum
Henriques sahio em tom de guer curricula , é amplius , tenuistis:
ra, desde Coimbra , e por entre }Yobis, & Domui vestrae, &c. Dis
Mouros; quando 16 legoas desta trictius inbibentes, me.... Episcopo
Cidade , dentro mesmo das suas rum aliquis, praeter Romanum Pon
terras, podia fazer os seus prepa tificem, &c. Das terras de Leiria
rativos , e recrutas; não ficando se havia apoderado o mesmo Prin
desde as margens direitas do Te cipe no de 1 135 , das de Ourém
jo até Ourique, mais que humas no de 1 136, como largamente se
33 legoas em linha recta. Indivi póde ver na Chronica dos Cone
duemos isto. |-

gos Regrantes por D. Nicolau de


No de M. C. XI. o Conde D. Santa Maria. E no de 1 137 deu


Henrique, e sua mulher derão Fo elle o Foral á Villa de Penella,
ral á Villa de Soure, que se acha que se acha no Liv. delles na Tor
no Liv. dos Foraes velhos. No de re do Tombo. Além disto : ElRei
1 128 fez Doação desta Villa a Rai D. Affonso quando no de Ioy3
nha D. Thereza aos Templarios, conquistou Sanctarém, destruio to
e não só de Soure, mas tambem dos os lugares Fortes das suas vi
de todas as terras que jazião en sinhanças; mas não consta , que
tre Coimbra, e Leiria, que esta ElRei Cyro, quando no de 1 1 1 1
vão despovoadas , mas ainda em a reconquistou fizesse levantar os
Poder dos Sarracenos. Não appa arruinados Castellos; antes bem sa
rece hoje em Thomar o Instrumen bemos pelo Archivo de Thomar,
to desta 2.° Doação: achão-se po que os Castellos de Cera, Almou
rol,
LA LA 77
rol, e Zezere forão restaurados pe conquistas ainda para o futuro. Al
lo MºD. Gualdim Paes, mudan liado com outros quatro Reis Mou
do o 1.° para Thomar, e levantan ros, ajuntou Ismario milhoens de
do os outros das ruinas no mesmo Barbaros, assim de Africa, como
+
*
lugar em que d'antes se fundárão. de toda a ulterior Hespanha, mar
Em fim, no Rego da Murta havia chando com passo vagaroso, espe
hum Mosteiro no de 1 159, como rando sem dúvida engrossar cada
consta da Doação de Cera aos Tem vez mais, e mais o seu exercito,
plarios , cujos limites são estes: para que a vingança, que se pro
2.uomodo dividit perfumen Ozezar, punha não ficasse inferior á raiva
ubi vocatur Portum de Karris : Óºque inteiramente o devorava. His
inde per mediam stratam usque ad confisus, (diz Resende) in Alphon
Monasterium de Murta: & inde per sum properabat , lentis itineribus,
aquam de Murta, quomodo descendit sed animo ad vindictam concitatissi
in Fraxineta : #" inde venit ad Por mo. Ora, as duas Praças fortes de
tum de Thomar, qui est in strata de Evora , e Beja não podião ficar
Conimbria, que vadit ad Santarem: neutraes: Ellas deverião ter feito
&º inde per mediam stratam per Por destacar aquella tropa , que não
tum de Ourens, &c. E sem refle fosse de huma necessidade extre
ctirmos agora na exacção destes ma para se conterem na defensiva.
limites, que presuppoem huma pos E então que poderião recear os
se dilatada já, e pacifica do terri destemidos Portuguezes da gente
torio de Thomar: devemos presu do campo, # , fugitiva, sem
mir , que o Mosteiro da Murta, exercicio militar, e desarmada?..
não se erigindo antes, nem domi Nem caminhando para o campo da
nando aqui os Sarracenos, foi obra Batalha, nem voltando costas aó
dos Christãos, que restabelecidos inimigo, (se a Providencia assim
já em Penella, se extendérão pelos o decretára) podião elles ser ata
Valles, e margens do Nabáõ, e cados pelas Forças que nestas duas
Zezere até as bordas do Tejo. De Cidades sem fundamento algum sé
monstrado assim , que o Principe considérão.
D. Afonso não tinha impedimen Que razão ha logo, que moti
to algum para passar em salvo as vo, para julgar imprudente, é des
aguas do Tejo : Vejamos como avisada huma acção , que ainda
igualmente o não tinha até o Cam só humanamente fallando , foi a
po de Ourique, não obstante ser mais sisuda , discreta, e honro
de Mouros aquelle paiz. sa?... E com efeito não aconselhà
Ninguem póde duvidar, que a a Prudencia , é a razão illumina
causa de Ismario, Rei da Betica, da, que o mal se corte, e atalhé
ou Andaluzia, era rigurosamente no principio , antes que com o
commum aos Mouros do Alémte tempo se faça íncuravel?. Não diz
jo: todos projectavão extinguir que se arrisque a parte, para con
por huma vez o Princepe D. Af servar o todo ?... Não dicta, que
fonso, e os seus Portuguezes, de de dous males innevitaveis, se ha
quem tinhão recebido tantos da= de escolherantes o menor?... Não
nos, e com razão temião maiores persuade em fim, que o homem se
• CIl
*--*
78 LA LA.
entregue aos maiores perigos, tra rizada, e constante, de que o Senhor
Balhos, e suores para consiguir dos Exercitos, e Dador dos Imperior
hum glorioso nome pela salvação foi o mesmo que appareccndo ao
do Povo , quando a esperança bem glorioso Chefe da Real Casa Por
fundada lhe não falta , de sahir tugueza, de cara a cara lhe segurou
com triumfo nas suas Emprezas, a victoria: dirá mesmo que na Sa
e a gloria do Senhor Deos ferve grada Biblia, (que ainda hoje se
no seu animo, sendo o motor pri guarda , e venera em Alcobaça)
meiro dos seus agigantados pas
sos?.. • • •
não estava lendo aquelle grande
Principe os maravilhosos exemplos
Ora eisaqui, o grande Affonso de Gedeão, Josaphat, e outros,
não podia ignorar ainda os mais que com hum punhado de gente
leves movimentos de seus innimi mandárão á perdição , e á morte
gos: por muitas espías encobertas inimigos sem conto do Povo de
tería alcançado os seus intentos, Deos : deste Deos, que tanto pó
o número de tropas, a qualidade de salvar com muitos, como com
dellas. E então esperaría, que o Poucos. • - -

tempo as fizesse mais exercitadas, - Mas deixemos este Impio na sua


e numerosas ?. Esperaría , que a obstinada malicia : não fallemos
guerra, se ateasse mesmo dentro ao Christão: fallemos unicamente
daquellas terras, que tão gloriosa ao homem. Sim: a multidão dos
mente havia conquistado?... Não Sarracenos era bem capaz de ris
era mais proprio de hum alentado, car da terra dos viventes sinco,
e valeroso Principe hir talar os ou seis mil homens, a não serem
campos, recolher os gados, e le Portuguezes. Que? Não diz Vige
var a todo o estrago ao paiz dos cio de Re Milit. , que a multidão
seus rivaes , do que esperar que desordenada não caminha para a
elles lhe trouxessem a casa tão victoria, mas sim para a victima?.
calamitosos danos?... Mas fosse, Se hoje mesmo » e depois de tan
fosse embora, que algum máo suc tas refórmas da Milicia Turca, e
cesso transtornasse a gloria das Africana, ainda a Disciplina Mi
suas Armas: ainda assim o mal não litar se acha distante daquelles pai
era sem remedio: retirando-se com zes: que sería naquelle tempo de
boa ordem, e combatendo outra barbaridade tanta, quando só hu
vez com mais fortuna, sempre os ma multidão gregaria, e descon
seus Estados ficavão livres da amea certada chusma fazia toda a sua
çada ruina. Não, nós não negamos, confiança? Não sabião os Portugue
que nada tinha de facil esta Em zes com quem as havião? Não pe
preza ; porém o desembaraço de lejavão pelos seus fogos, e Alta
occometter de repente, e sem ser res? Se a idêa mesmo de huma
esperado, he meio caminho feito Religião falsa tem produzido em
para a victoria. Mas para que he diversos tempos assombrossos pro
desperdiçar palavras sem precisão digios de valor: a Religião verda
alguma?... O Impugnador da Ba deira, que ardia no Coração do
talha de Ourique não tem respeito Principe, e dos Vassallos, que
algum á Tradição, e a mais auto raios de valentia não faria dispa
<
faR

LA. 793 LA
#
rar sobre os sequazes de Mafoma, sabe o Mundo Litterario que esta *
e destruidores da Religião Augus Chronica não he obra do tempo
ta de seos Pais?... E ainda se imda Batalha de Ourique : mas por
pugnará a verdade solida da Bata não ser daquelle tempo he força,
lha de Ourique com o ruinoso fun que não seja verdadeira ? .. N:
?:

damento do limitado número da Archivo da Mitra Bracharense, se
gente Portugueza ?... achão hoje varios Extractos, que
Vejamos se tem mais vigor o Lousada fez na Torre do Tombo,
2.º argumento , que se funda em encadernados em hum Vol. in fo
não termos Documento algum at lio. Nelle pag. 8. diz: No Almariº
tendivel, que em tal fallasse, mais dos Padroados se acha hum Livro,
que a Tradição devota, e interes escrito, ao que parece, ha 3oo anº
sada; e por isso nada verdadeira, nos , ou mais, no qual estão varias
e capaz de nos convencer de hum annotaçoens por modo de Chronicon;
facto, que em nenhum outro fun e parece que he o mesmo que o Chro
damento se estriba. (*) Proceda micon Lusitano. Lousada ali o trans
mos com clareza, e não se aparte creve, e se persuade que foi Obra
daqui a boa fé, e a lizura. dos antigos Chronistas, e Guar
Na verdade, causa lastima o po das daquelle Real Archivo. O'ra
bre Impugnador tão falto de lu Lousada se occupava nestes Extra
zes, como cheio de presumpção. ctos antes de 1597, como delles
Diz que o Chronicon Lusitano, mesmos se collige. Se pois aquel
ou Chronica dos Godos não he at le Chronicon tinha já huns 3oo |
tendivel neste ponto, e lhe faz a annos ou mais; forçozamente ha
censura, que a sua esquentada fan vemos de dizer, que elle fôra es
tasia lhe dictou. Assim he: bem crito antes de 1297, á vista dos
Do

(*) O CI. D. Fr. Manoel do Cenaculo, Bispo de Beja, no de 1791 fez imprimir
em Lisboa os seus Cuidados Litterarios: nelles a fol. 362 , e seguin. trata largamente da
A4ilagrosa Apparição de 3. C. ao Invictissimo Rei D. Afonso I., reproduzindo em sum
ma os Novos Testemunhos desta mesma Apparição, que o incansavel Padre Antonio Pe
reira de Figueiredo fizéra imprimir no de 1786, acrescentando-lhe alguns mais, e muitas
razoens tiradas do local do Campo de Ourique : o que tudo nos violenta a crer, que
esta victoria foi mais do Ceo, que da terra. Nenhum destes Grandes Homens duvída da
batalha; mas antes os Docum-, com que prováo a controvertida Apparição, prováo sem
replica a decantada Victoria. Porém hum, e outro fazem demasiada força no Juramento
Real da Era de 1152, que Pereira diz fôra alegado no de 1556, como existente em San
ta Cruz de Coimbra , e o Bispo accusa o mesmo Juramento , como depositado desde o
mesmo tempo da sua Data enrre os MSS. da Biblioth. Vaticana. Mas nisto ha manifesto
engano; pois a Obra Symmicta Lusitanica no vol. LI. Doc. XX, he muito moderna;
desde que se formalizou o tal Juramento para se metter no Almario das tres chaves de
Alcobaça, largo tempo houve para o inserir entre as muitas Pegas falsas, que na tal
. Bibliotheca se achão, como diz Baron. ad an. 604. Vid. Cruz.
Com isto não dizemos, que não houvesse o tal Juramento; tão sómente afirmamos,
que o Pergaminho de Alcobaça se não he apocrifo, não passa de apografo, e discordanº
te do que se conserva em S. Vicente de fóra: este foi copiado do de Santa Cruz de Coim
bra no de 1597, cujo sello pendia de Correas do mesmo pergaminho, quando o de Alco
baça pende de fios de seda vermelha. No de Alcobaça se nomeão os Bispos, que no de
1 151 existião : no de Santa Cruz se nomeão Pedro de Coimbra, e Estevão Braga:
anachronismo insanavel, e que nos mostra a supposição do Documento. Veja-se a Me
noria do taborioso Fr. 3oaquim de Santo Agostinho nas da Real Academia de 1793. Tom.
X- f. 297, no Cod. 309.
8o LÁ 1.LA
Documentos fieis, que ali se acha lium inter Paganos, & Christianos,
vão. Não foi logo a Epocha da Preside Rege Ildefonso Portugalensi
Batalha de Ourique o resultado de ex. uma parte , Óº Rege Paganorum
huma Tradição devota , e interes Examare ex altera, qui ibidem mor
sada ; pois ainda no Seculo XIII. tem fugiendo ...... evarit , in die
se não tinhão controvertido, nem Sancti jacobi Apostoli, mense Julii,
a Apparição, e Promessas de JE E. M. C. 2XXVII.
SUS Christo, nem as Pertensoens Eisaqui hum luminoso Documen
mal assombradas, e peior succedi ro, que quando não seja Synchro
das, de Castella. Escreveo-se uni no , ao menos he Supar. Elle nos
camente o que podia interessar os infórma claramente da Batalha de
vindouros com a noticia de hum Ourique, e afiança o credito de
Acontecimento, tão memoravel, e todos os nossos, e alheios Chro
honroso: Acontecimento, que até nistas, e Historiadores, assim mo
os Emulos da gloria Portugueza dernos, como antigos. Bastaría sem
senão atrevêrão a negar até o pre dúvida este Testemunho maior,
sente dia; negando só , que ali que toda a excepção para nos con
baixasse aos olhos do nosso Prin vencer de cousas tão remotas, e
cipe o Rei da gloria, Immortal, e nervando inteiramente o argumen
Invisivel. Bem sabemos nós as man to negativo. Porém acrescentemos
queiras de Gaspar Alvares Lousa outro, para que ambos tornem o
da; porém a Tradição de todos os feito de huma fé incontestavel.
lugares, de todas as Pessoas, e Em o Archivo da Mitra Bra
de todos os tempos não poderá in char. Gav. da Primazia. Mass. I.
demnizallo de qualquer nota de N. 8. se conserva huma dilatadis
menos verdadeiro?.. sima , e Original Inquirição de
|

Examinemos com tudo alguns Testemunhas , judicialmente in


dos nossos avelhentados Pergami quiridas sobre varios artigos, que
nhos, que plenamente nos infor provavão terminantemente a Pri
mem da Batalha de Ourique. Na mazia de Braga contra as tentati
Cathedral de Lamego se acha hu vas de Toledo. Muitas destas Tes
ma Kalenda, ou Martirologio, co temunhas passavão de Ioo annos,
piado, já de outro mui antigo, no outras tinhão pouco menos, e qua
de 1262. E se ao Original donde si todas condecoradas: deposerão
esta Copia se tirou , dermos ao todas a favor da Igreja de Braga.
menos 1oo de idade, retrocedere Entre estas he notavel Garcia Liu
mos sem dúvida ao anno de 1 162, freiz de Jaraz, que disse se tem
em que sería viva muita gente, brava ser de 2o annos, Tempore Bel
que se achasse, ou tivesse infor li de Aurich. Era então Arcebispo
mação perfeita da Batalha de Ou D. Estevão, que poucos mezes ha
rique. Principia logo na 1.º fol. via tomára posse daquella Mitra,
este Martirilogio por hum peque por morte de D. Pedro seu ante
no Chronicon , que até hoje não cessor, que morreo no caminho de
foi publicado, e nelle se lê o se Roma, hindo buscar o Palio. Ti
1Ilte 2
nha então Garcia Liufreiz largos
In loco, qui dicitur Oric, fuit pre Ioo annos, segundo o Depoimen
tO
LA LA 8f
.to de D. Godinho, Deão de Bra descuido cousa tão notavel. Mas
ga, que foi o 1.° que ali depôz a verdade he, que o Bom Homero
com juramento: E seria crivel que tambem algumas vezes dormíta
hum sojeito destes annos, e pe Tão longe estiverão os nossos Au
rante huma Assemblea tão venera gustissimos Soberanos de não man
vel, e conspicua, tomasse por Epo darem á Posteridade os aconteci
ca dos seus annos a Batalha de mentos de Ourique assim como
| Ourique, como cousa pública, e outros, que servião de honra ao
sabida de todos, e não fosse im Nome Portuguez, que antes bem
: pugnado de algum, se todos não o Triumfador magnifico , D. Af
estivessem persuadidos, e certos fonso I. , , estabellecido já no seu
daquella verdade?... E quantos Do Trono, e descansando por hum
cumentos destes se perderião pelo pouco á sombra das verdes Palmas,
decurso do tempo roáz, e gasta que tão gloriosamente havia con
dor?... E quantos hirião para a siguido, não perdeo tempo, em
Torre de Simancas em Castella no cometter ao Mestre Pedro Alfar
zempo dos Filippes; constando por de, Prior Crasteiro de Santa Cruz
huma Certidão da Torre do Tom de Coimbra, a Chronica do Reino
bo, que então se levárão daquel O estilo grave, elegante, puro, come
le Real Archivo nove cofres , ou que este Padre escrevia por aquel
caixoens de Livros, e Papeis da le tempo a Lingua Latina , lhe
maior estimação por antigos, ra consiguio a Provisão Real de 13
ros, e preciosos?.. de Junho de 1 145, para que co
Respondamos em fim ao 3.°, e mo Chronista Mór do Reino, es
ultimo Argumento, que para não crevesse com verdade , e pureza
accusar de negligentes aos Senhoos nomes , acçoens , e Nobreza
res Reis de Portugal, nega a pordos que o acompanhárão em Ou
tentosa expedição do Campo de rique, e n'outros feitos d’armas;
Ourique, e trata de crendeiro a declarando ali mesmo, que este
ElRei D. Sebastião. Rasguenos o Oficio andaria sempre nos Priores
véo , e substituão as luzes o lu Crasteiros, seus successores, aos
gar das trevas. Já o critico, e ju quaes consigna de estipendio an
dicioso Resende no lugar indica nual 6@ooo libras : Pensão bem:
do se fez cargo deste descuido: notavel para aquelle tempo. E pa
dizendo que até o mesmo Rei D. ra D. Pedro dar principio á sua
Sebastião se envergonhára da ne Historia , lhe deu por Adjunto a
gligencia, e incuria de seus An D. João Camello , seu Clerigo,
homem de muita verdade, e cons
tepassados: Puduit illum incuriae,
ac socordia seculi superioris. E su
ciencia, que o tinha acompanhado
posto que ali mesmo desculpe os sempre nas campanhas, e conhe
primeiros Monarcas, por occupa cia bem as Pessoas , e acçoens,
dos nas Armas, e sem cultura das que havião de entrar na Obra.
Bellas Letras: não deixa de estra Aceitou D. Pedro Officio de tan
nhar com tudo, que havendo es ta confiança, e depois o continuá
| tas renascido já por entre os Por rão seus successores, escrevendo
tuguezes, ainda assim jazesse no mui fielmente as Memorias do
Toim. II. L Rei
{
82 LA LA
Reino até 146o, em que o Prior seu tempo a famosa Arte da Im
Mór de Santa Cruz, D. João Gal pressão. E o Rei, zeloso da glo
vão, deu este Oficio a seu Irmão ria de seus Vassallos, procurou lo
D. João Galvão, com grande pezar, go Escritor habil, que fizesse le
e renitencia do Mosteiro. Os li var até os cabos do mundo os abri
vros, que já estavão compostos, lhantados feitos da Monarchia. Fez
escritos em pergaminho , e enca vir de Italia Fr. Justo Baldino,
dernados em pasta , com as Ar bem assalariado , e capaz deste
mas Reaes estampadas nella, de emprêgo, para escrever em Latim
saparecêrão daquelle Cartorio no a Historia de Portugal. Nisto se
de 15 14, e dizem os levára hum occupava, quando no de 1477 El
mancebo chamado Rui Dias de Sá Rei o nomeou Bispo de Ceuta. Mas
para os passar a bom dinheiro. falecendo o Monarcha no de 81,
Tudo isto he de D. Nicolau de e depois de alguns annos o Bis
Santa Maria, que não podia igno po, não só se perdeo o que tinha
rar as Memorias daquella Casa. composto , mas tambem os Do
(*) Razão nenhuma ha logo para cumentos, e Memorias, que por
censurar de remissos neste ponto Autoridade Real se lhe tinhão co
os Soberanos desta Monarchia até mettido. E estes são os Monar
ElRei D. Afonso V. Sabendo que chas que se não interessavão pela
nas preciosas taboas dos Coraçoens gloria da Nação?..
leaes estavão profundamente gra ElRei D. Sebastião achando-se
vadas as Acçoens de Ourique, El no Campo de Ourique aos dezoi
les as procurárão transmittir aos to annos da sua idade, não duvi
Vindouros por meio de Escritores damos seguiria o que os seus Mes
fieis , e á custa mesmo do Real tres, e Cortesáos lhe inspirassem.
Erario. E ainda se ha de taxar o Mas que luzes de Philologia não
seu descuido?.. illustravão então a Côrte dos nos
ElRei D. Afonso V. ainda pas sos Reis, em que o mesmo Re
sou avante. Havia-se publicado no sende não deixava de ter hum lu
gar

(*)_D. Nicolau está convencido de pouco fiel; arrogando-se a temeridade de tradu


zir os Documentos, e os interpretar o seu arbitrio. D. Thomaz da Encarnação na Hist.
Eceles. Lusit. T. III. C. 8. diz, que hoje se não acha naquelle Archivo esta chamada
Provisão, que na dita Chronica se acuxa L. 9. C. 9., e a reputa por apocrifa; na cer
teza 3, de que figurando nella ElRei D. Sancho, he incontestavel, que no de 1145 ain
da elle não era nascido, e mesmo se questiona se seu Pai já era casado. Igualmente
se falla neste Doc, com tanta clareza na Arte Heraldica, ou do Blazgm , cono se já
então vogasse em Portugal, # em França , havendo principiado no Sec. XI. só
no de 115o chegou a sua perfeição. Vid. Dicc. Rais. V. Armoiries. O dizer, que D.
Nicolau, ou quem lhe precedeo na composição daquella Chronica, se enganou na Era,
que, devia corresponder ao anno de 1165, como alguem se persuadio, não evacôa toda
á dúvida? Pois supposto fosse já D. Sancho capaz de figurar, erão passados 26 annos
desde a Batalha de Ourique, e muitas Acçoens dignissimas do conhecimento dos vin
douros, se haverião sepultado já com os seus A.A., para quem tanta demora seria fra
ca recompensa. Eu, se alguma cousa vejo , persuado-me antes da verdade da Era, e
reputo Por arbitrariamente interpolado o tal Doc.: bem assim como na Provisão de D.
Palthexar, Bispo do Porto, que se acha Orig. no Convento da Serra da mesma Cidade,
nº qual o dito D. Nicolau introduzio, o que o dito Bispo nunca sonhou, e o mesmo fa:
ria aqui; anticipando o uso da razão, e o mesmo nascimento a ElRei D. Sancho, e
tratando do Blazom, segundo a sua fantazia lhe dictou.
LA LA 8;
gar distincto!... Não, não appare pende de Inscripçoens modernas,
cem hoje no Arco de Ourique as que a morte de huns, e a turba
Inscripçoens que Resende afirma ção de todos não permittírão exa
composera, para ali serem grava rar: mas Batalha que até a consu
das, e das quaes a Latina se achou mação dos Seculos, nos Annaes
entre as suas Obras, e hoje a ve da fama, e por entre as Naçoens
mos no L. IV. das suas Antiguida mais remotas ha de persistir.
des. Não he preciso encampar aos LADINHO.A. Legitimo, pu
Hespanhoens o cuidado, ou a cul ro , e sem mistura. Aos Judeos,
pa de as fazerem picar , e total que não fossem os das Communas,
mente abolir. Digamos redonda prohibio ElRei D. João I. o faze
mente, que nunca chegárão a ser rem Instrumento algum, ou Carta
esculpidas. Sim: Resende compoz entre elles, e os Christãos, se não
estas Inscripçoens depois de 1573, per lingºagem ladinha Portuguez.
e fal, no de 75. O Rei embebido Cod. Affons. L. 2. Tit. 93. De co
todo na guerra d'Africa deixou mo os Tabelliaens dos fadeos hão de
de viver no de 78. Os Papeis de fazer as Escripturas. -

Resende ficárão na maior confu LADO.OS. Lombo de porco.


são: Diogo Mendes de Vasconcel Devemos a elles dar... dous meren
los, depois de immenso trabalho, dass : dous cordeiros, e X. soldos po
e por Ordem do Cardeal Rei, ha los lador. Doc. da Univ. de 128o.
via coordenado os IV. Livros de LADRÃO. V. Bucellario.
Antiguidades, e esperavão só pe LADRAR. Atroar os ouvidos,
las Reaes despezas para se darem vozear, fazer alardo, e ostenta
á estampa, em 15 de Janeiro de ção dos seus merecimentos ou ver
158o; porém a 31 do mesmo mez, dadeiros ou falsos. He de Barros.
e anno fal. o Rei, e com elle to Rui de Pina usa de Ladrar no sen
da a tranquilidade, e socego. E tido de apupar alguem. E porque
então quem pensava em gravar le a traz elles vinhão alguns outros Mou
treiros?... A sua Mái compoz Re ros, que os vinhão ladrando. Chron.
sende hum Elegante Epitafio; mas do Conde D. Duarte. C. 14.
só entre os seus Papeis foi descu LAGARADIGA. V. Eiradiga.
berto. Brito compuzera a Inscri No Foral de Thomar de 1 162 se
pção para ser gravada no Arco da diz: En Lagaradiga de vino de cin
Serra de Albardos ; mas elle se que moyos a fundo, den huum alma
queixa na primeira Edição da Chron. de : e se mais for, dê huuma quar
de Cister, que o seu Padre Ge ta, sen ofreçom, e sem jantar. Doc.
ral o não tinha feito esculpir. Não de Thomar, segundo a Traducçã
se infere logo da Inscripção não do Seculo XIV.
gravada , que a Batalha de Ouri LAGAR PEDRINHO. Lagar
que seja fingida : Batalha que a feito de Pedra, cousa mui rara no

} Prudencia sugerio, e que o valor Seculo XIV., quando os lagares,


executou : Batalha de que a Tra em que o vinho se espremia, quasi
dição constante, e os Documentos todos erão de páo. Doc. de La
mego. V. Ponte pedrinha.
incontestaveis nos informão: Bata •

lha em fim, cuja verdade não de LAGARTISAS. Huma cópato


L. ii da
84 LA LA
da dourada, lavor de lagartirar : e ver, isto he, de guerra, para de
outra cópa de noz morcada, cºm seu fensão do Reino, Fidalgos grandés
pé de prata lavrado, e obrado. Doc. ganharom nas Villas homens, de que
de Pendorada de 1359. Parece quiz fizerão Lanças : e delles se fizeram
dizer lagartixas, insectos bem co seus Mordomos, Colaços, e servido
nhecidos, e que em algumas taças res..... Nossa terçom be : que or
antigas de prata se achão lavradas Fidalgos, que Lanças tem, com que
ao buril. ham de fazer defensam a estes Rei
LAIDAMENTO. Ferida, cha nos , que devem andar vos quo, ou
ga, contusão. Que posto que alguum estar nos logares, hu vos mandarder.
querelasse d'outro, que ofertra sobre Cort. de Coimbra de 1385.
vendicta, ou revendita, ou sieguran LANCEADA. Golpe de lan
fa britada ; que nom fosse prezo o ça, lançada.
de que fosse querelado, sem mostram LANÇOOES, e Lençoes. Fal
do o quereloso laidamento, ou tanto lando-se em cousas, ou alfayas
fosse achado contra el , per que de da Igreja, se tomão por toalhas,
vesse sser prezo. Cortes d'Elvas e cortinas. Repaire a Igreja de to
de 1 361. dos ornamentos , calezes , cruzes,
LAIDAR. Ferir, espancar, fa frontaes, lançooes, pichos, tribulo,
zer chaga, ou contusão. caldeira, corporaes. Em huma visi
LAIDIDO. Deshonrado. Ap. ta do Sec. XV. Em outro Doc. do
Berg. mesmo Sec. se diz: Tres Magesta
LAIDO. Rustico , torpe , e des pintadas : buma era Imagem de
afrontado. Ih. J. Salvador, e outra de Santa Ma
LAIRA. Leira, belga, pedaço ria, e outra de Samiguel, que siam
de terra. As quaes lairas de terra cada huma dellas em senhos de tres
som na fregessia de, & c. Altares, que hi avia, que eram or
LAISCAR. Deixar. Ap. Berg. nados de seus lençoes. E as toalhas
LANÇANTE.ES. Lançando, não são peças de ornato, mas de
espargindo , derramando. E vós necessaria preparação do Altar:
lançantes bom cheiro de virtudes, se donde se vê serem cortinas, que
reis amados de Deos, e dos homens. naquelle bom tempo ordinariamen
LANÇAS. Homens de armas, te erão de linho.
a que antiguamente chamavão Ca LANIO. Cobertor, ou vestido,
valleiros. Destes escolhião os Reis, ou capa de laã. No Concílio de
Infantes, e Ricos-Homens os que Sevilha de 15 12 se usa desta pa
lhes parecião de mais valor, e con lavra neste sentido, como se pó
fiança, para os acompanharem nas de vêr em Martene T. II. da Collec
Campanhas em guarda particular fão Ampliss. Col. 14oo. Em huma
das suas Pessoas, e Pendoens; con Carta de venda de Pendorada de
signando-lhes suas tenças, capazes Io83 , se acha ser o preço Duos
de os sustentar com luzimento nalenços de XIIII. XIIII. cubitos, &
quelle posto. Tambem se chamá uno litario , adpreciado in X, quar
rão Lanças , aquelles Homens de teiros: lanio novo , ó unas brakas
Armas, que alguns Fidalgos de nobar cum sua inbragatoría, in quin
vião apromprar em tempo de mes que quarteiros: Óº uno porco, induos
Z^{2*
LA LA 3;
modios: ó" uma porca, in duor mo eo se estipulava: e a esta somma
dios: Óº duos porcalios, in tres quar de dinheiro se costumou depois
Peiros. chamar Laudemio. O Laudo tendo
LAPÉDO. Terreno penhascoso, a mesma origem , chegou a ter
ou cheio de pedras. Doc. de 1 161. diferente significado ; pois he a
Chamárão pois Lapédo á grande Sentença, ou Decisão do Juiz Are
copia de pedras, assim como dis bitro, que tambem se disse Lour
serão Arvoredo, Moreiredo, Figuei vado; não só por que deve ser de
redo, & c. pelas arvores, moreiras, louvaveis custumes; mas tambem
figueiras, &c. Em os nossos mais por que os antigos o chamárão Lau
antigos Doc. se disse Castrum de dator: á sua Sentença Laudum : e
Japoreto , o que hoje nomeamos á acção de Sentencear Laudare.
Castro Laboreiro; tomando o nome Tambem se disse Louvar: por Apro»
da pasmosa rocha , em que está var, conceder, e mui livremente
fundado: e o mesmo dizemos da consentir. Na 1.° Doação do Cas
torre de Lapella, fundada sobre tello de Soure, que a Rainha D.
huma grande penha. Do Latino Theresa fez aos Templarios em
Lapis se originou Lapedo, Lapore 19 de Março de 1 128 se acha es
so, e Lapella. V. Laudomanes. ta verba : Et ego comite Fernandus,
- LATANEO, Posto ao lado, jun ipso dono, que mihi fecit Regina D.
to, a régo. Campo Latanèo, o que Taresa, ibi ego dono , & concedo
parte a rego com outro campo: Deo, ó Templum. E logo a 29
4uasi á latere. do mesmo mez, e anno fez nova
LAUDEL. Especie de saya de Doação do mesmo Castello, e Di
malha , coberta com folhas, ou reitos Reaes; confirmando a pre
laminas de fino aço, ou coado fer cedente, e demarcando os limites
ro, que cobria o tronco do Cor de Soure, (o que na 1.° não fi
o. V. Bacinete, zera) e o Conde assigna deste
LAUDO. O mesmo, que Lau modo : Et ego Comes Fernandus do
dimio, ou Laudemio em alguns Do nam, quod Domina mea Regina Mi
cumentos fóra de Portugal. Mas litibus Templi donat, laudo, Óº con
entre nós não foi o mesmo Lau cedo. Doc. de Thomar. Na Doa
do, que Laudemio: Este he o Con ção da Hermida de Santa Comba,
sentimento, aprovação, e autori no Arcebispado de Braga, e defron
dade que o Direito Senhorio dá te de Lobrigos, feita por D. Af
para a venda, ou alienação de cou fonso Henriques, (que se não inti
}
sas, que lhe são foreiras: o que tula Rei, nem Principe, nem Infane
antiguamente se chamava Laur, ou te) a 24 de Abril de 1 139 se lê:
Laudatio; porque de algum modo Johannes sedir Bracharensis confir
se dava o louvor á tal alienação, mat, & laudat Archiepiscopus. Doc,
ou venda. E para este consenti de Tarouca. Doava-se esta Igreja,
mento se dava ao Senhorio huma ou Sanctuario a certos Heremitas:
certa somma de dinheiro , á pro razão era que o Arcebispo autori
porção do preço por que se ven zasse , e consentisse na Doação.
dia, v. g. de 1o 2o, ou 4o hum, Ali mesmo se acha hum Doc. de
ou como no contrato Emphiteuti 1294, que diz: O poymento do #
Q
86 LA LA
to da dita nossa Abbadessa, posto em eiosissimo despojo , cahio sobre
esta Carta, outorgamos, e louvamos. elles de improviso. o Conde D.
. LAUDOMANES. Em os Doc. Gonçalo Sanches com huma pode
do Sec. X, e XI. ha larga men rosa mão de gente aguerrída, e só
ção dos Normandos, Lormanos, os prisioneiros escapárão da morte.
ILeodomanos, Normanos, Lotho Pelo mesmo tempo os que d'antes
manos, ou Laudomanes, que ha moravão nos arrabaldes de Lugo,
vendo sahido de Dinamarca, de assim Seculares, como Ecclesias
pois de varias fortunas, se esta ticos, Monges da Sé, e Infançoens,
belecêrão, e derão o nome á Nor ou juizes , que tinhão os Conda
mandía. Os nossos Maiores os cha dos , Districtos, ou jurisdiçoens da
márão Gentios, ou Pagãos; por que quelle Bispado, promettérão a D.
supposto no de 9oo alguns se fi Hermenegildo, Bispo da mesma
zessem Christãos, a maior parte Cidade, que virião morar dentro
ermaneceo ainda muitos annos no della; trazendo comsigo gamatum,
# No de 961 começárão &º mostrum atonitum (*), para des
elles a infestar as cóstas de Galli te modo poderem resistir contra
za, e Portugal, cativando, des gentem Lothomanorum, ..... & Pa
truindo, e saqueando tudo. Não ganorum aciem resistentes. Doc. de
tardou muito que elles voltassem Guimaraens, e Hesp. Sagr. T, XL.
aos nossos mares com huma gros f. 493. " . "

sa armada , e saltando em terra . Depois deste tempo continuárão


ifizerão horrorosos damnos, em quan as suas piratarías, não com tropas
to S. Rozendo (que então gover de desembarque, mas só em pe
nava o Bispado de Compostella) quenos vasos, ou barcas, rouban
ajuntando hum poderoso exercito, do, e cativando o que podião ha
os não afugentou, e destruio. ver , , e admittindo resgates das
No de 968 a Senhora D. Mum pessoas que cahião nas suas mãos.
madomna doou ao seu Mosteiro Destes foráo Moitilli, e Guncína
de Guimaraens o Castello de S. Ma de quem se falou V. Kemiso.
mede, que ella fizera edificar, pa . Abraçando finalmente a Religião
ra que os moradores delle , e os de J. C., e feitos amigos os que
do seu Burgo se mettessem a co d'antes o não erão ; no de Io32
berto de tão fataes , e repetidas ajudárão os Leodomanos o Conde
incursoens. No mesmo anno abor Rodrigo Romariz na expugnação
dárão os Normanos a Galliza, e sa do Castello, Penna, ou Alpe de
queárão Compostella , havendo Lapio, onde se tinhão rebellado,
dado a morte, e derrotado o Bis e fortalecido os Vascoens de Gal
po D. Sesnando ; mas querendo liza, e donde sahião a fazer gran
embarcar-se com hum largo, e pre des danos, e malfeitorías in fias,
-
Eccle •

(*) Prometterão trazer para dentro dos muros da Cidade os seus gados , e os seus
fructos, e renovos. V. Atondo , a que podemos ajuntar a Doaç. de algumas herdades,
que no de 1999 fez D. Pedro II., Bispo de Lugo, á Condessa Elvira Suares in presta
alto, é atondo; obrigando-se ella a fabricallas, sicut bonus agricola, e dimirtillas, quan
do muito quizessem o Bispo, e o Cabido, como direito Senhorio, que erão. Hesp: sa
gr. sup. f. 193.
LA LE 87
sias, & in meskinor, de predas, &" sa vos mo Lazararedes. Cod. Alf.
disrumptiones, dº rausos, ó homi L. II. Tit. 14, § 2. @

cidios, & furtos, & eorum erat il LAZEIRA. Pobreza, desgraça,


la terra herma, & desolata. Então II] 1SC T131.
veio o Conde com todos os seus nidade, LAZER. Conjuntura, opportu
occasião. •

Baroems , & cum gens Leodomano


: rum, & cerravit illa Penna, ó pre LAZERAR. I. Causar detri
sit ea per forcia, & cremavit, Óº mento, fazer damno, ou perda, le
solavit ea. Ibi. f. 41o. zar, ofender. E fizemos nosso Tes
#*. LAVOR. Esta palavra, que vem tamenteiro , cada hum de nós , que
de Labor , tinha em outro tempo ficar, Pero Eannes Cappellão , que
mui differente significado do que nos ajude a comprir nosso Testamen
hoje tem. Tomava-se por qualquer to pelos nossos bens, e o seu não la
obra, em que os homens trabalha zére : e mandamos-lhi cada hum de
vão, fossem campos, ou Seáras , nós a nossas mortes 2 Co 2oo soldos
fossem edificios de casas, pontes, por afam, que
de Lamego de hi1314.
receberá. Testam. •

muros, ou Igrejas. Em muitos Do


cumentos do Seculo XIV. e XV. LAZERAR. II. Lacerar, que
se toma pela terra cultivada, se brar, despedaçar, romper. Vem do
menteira, seára, campo lavradio, Latino Lacero. E quem contra isto
e quaesquer outras Propriedades, for , lazerar-lhe-hão o corpo, e o
em que os Lavradores tem posto aver. Isto he : será castigado no
a sua industria, suor, e trabalho. corpo, e na fazenda.
V. Despezo. LAZERAR. III. No mesmo sen
LAVOR. O mesmo, que fructo. tido de Lazarar. E os que o assy
No Tombo velho de Paderne , a nom fizerem, os seus córpos, e os
f. 41. V., se diz, que no Circum seus averes o lazeraróm. Cod. Alf.
damento do casal da Fon e achárão L. II. Tit. 65. S. 2 I.
os apégadores XIII. geiras de her LEAL. Moeda de prata , que
dade , boas pera darem todo lavor; larvára ElRei D. João I. : tinha
a saber; centeo, e milho, e linho, de huma parte a legenda Leal de
e nabal, e que levavão 52 alqueires baxo de huma Cruz, e da outra o
de semente de centeo. E de caminho Escudo do Reino com o nome do
se note, que segundo esta decla Rei na orla. Por huma carta do
ração , leva cada geira 4 alqueires Infante D. Pedro ao Corregedor
de centeo em semeadura; pois 4 ve da Estremadura de 9 de Março de
zes 13 são 52. 1441, que se acha entre os Doc.
LAVORAR. V. Laborar. da Camera de Coimbra , consta:
LAVRADOR INTEIRO, V. que os Leaes , que seu Pai lavrára
jugada inteira. com o valor de 1o rés, elle os man
LAVRAR O FORO. V. Forro. dava valer 12 réis, para evitar se
LAVRAS. Leiras, ou terras la fundissem, ou extrabissem do Reino.
vradias, lavouras. LEALDADO. Açucar lealdado:
LAZARAR. Pagar, satisfazer. se diz o açucar macho, limpo, e
. E esto catade ora vós, que nompren bem purgado. Parece se disse as
da Eu by engano... e em outra gui sim do verbo Lealdar, que hema
+
Iliº
$3 LE LE
como Leigos.
nifestar na Alfandega lisamente, Art. II. Cod. Alf. L. II. Tit. 7,
• -

e sem refolho toda a mercadoria,


ue cada hum leva para os gastos LEGUMLHAS. Legumes. Doc.
# sua casa; mostrando que se não das Bent. do Porto de 13o2.
contrata em cousa prohibida , e LEIDEMO. Legitimo. Estabe
de contrabando. lezeu leidemo , e abastoso Procura
LEALDAMENTO, V. Aleal dor. Doc. de Pendorada de 1278.
damento. LEIGAL. Secular, laical, e o
LEALDAR. V. Lealdado, e A contrario de Ecclesiastico. Man
lealdamento. Tambem se disse Leal dou ElRei D. Diniz no de 1292,
dar, habilitar-se alguem, para lo que nem Bispos, nem outra qual
grar os Privilegios de morador, quer Pessoa da Igreja seja chama
ou Cidadão de Lisboa. Ordenaç. do da a Juizo, se não perante o seu
JReino L. II. Tit. I 1. S. 2. proprio Juiz; salvo sobre as her
LEBEDOIRO. Lenteiro, pa dades Regengas, e foreiras á Co
nasco, lugar em que reçuma a agua, rôa ; porque então devem respondea
e que nos montes he proprio a criar pelo leigal. Doc. de Lamego.
herva. V. Enxovar.. LEILAMENTO. Leilão. Sab
LECCO. Homem de pé, mo ham quantos este Estromento de ven
ço, servo, criado de servir, la dagem , e de leilamento virem. Ven
caio. A Etimologia mais adequada da de humas casas, que andárão
parece a que deriva esta palavra apregão na praça de Viseo, no
de Laquai, que na lingua Biscai de 15 o8. Doc. de Maceiradão.
nha, quer dizer: Lacaio, criado, LEIRÃO. Hilarião, nome de
ou servo. Et qui habuerit aldea, Óº homem, -

zuno jugo de bois , Óº X. oves , &º LEISAR. Deixar. Doc. de 13o1.


ano asino , Óº duos leccos comparet LEISSAR. Deixar. Doc. de Vai
rão do Seculo XIV. •

cavallo. Foral de Cast. Branco de


12 13. Doc. de Thomar. LEITARIO, V. Litario.
LEDICE. Alegria , contenta LEITE ESCURRUDO. He o
mento , prazer. Vem do Latino que na Beira alta chamão coalhada,
Laetitia. da qual já tem escorrido o soro,
LEDO. Alegre. Do Latino Lae ou parte aquea do leite : no Mi
ittf.
nho he o mesmo que nata, ou a
LEGAMEN. O legado, que se parte mais crassa do leite. It : ht:
deixou por Testamento. Ap. Berg. ma scudela de leite escurrudo, e hu
LEGAR. I. Ligar, atar, pren ma fazedura de manteiga. Doc. de
der, empar. Serom obrigados.... a Santiago de Coimbra de 1349.
hirem pelos juncos á marinha, pera LEITIGA. Leitoa. V. Alfeirei
Zegar a dita vinha. ro. Nos Prazos de Vairão de 1484,
LEGAR. II. Constranger, obri e 15 O2 , se faz larga menção de
gar, fallando-se da Lei, ou Esta Leitigas, e Leitiguas. Soiam a dar
tuto. Quando o Estatuto, ou Lei be /ei/iga, que mamasse. Ibidem.
posta per o Rei em geeral, lega per LEITIGUA. V. Leitiga.
Direito Canonico, e Civíl todalas pes LEITO DE LITEIRA. V. Li
soas de seus Regnos, assi Clerigos, teira. Doc, de 1315.
LEI
LE LI 89
LEIXAR. Deixar , permittir. a dizima dos homees , e molheres,
Nos principios, e antes da Mo que entom bi avía, e em o dicto ano
nârchia, se dizia Leixare do verbo morrerom o Priol, e o Chantre , e
ILeixo , como se vê por innume todos os Raçoeiros da Eigreja de Sam
raveis Documentos. Pedro da Almidinha de Coimbra hu
LEMENTAÇÃO. Alimentos , ums depor outros , todos em huum mez.
necessidades da vida , sustento. Doc. da mesma Collegiada de 1348,
Reservou pera sua lementação, & c. ue foi o anno da Grande peste.
Doc. do Sec. XV. LEVADOR. O que leva , ou
LENÇOES. V. Lanrooes. •

conduz os prezos. Ibidem.


LETARA. Letra. Doc. de La
mego. •
LEZER. Bonança, prosperida
de , boa fortuna. E prometemos,
LETRA CABIDOALL. Letra que sempre recebades amor do Moes
Maiuscula, de que se usa no prin teiro, asi com coita , come com le
cipio dos Livros, Tratados, ou zer. Doc., das Bent. do Porto de
Capitulos. Hoje lhe chamão Letra 13o6.
Cabídola. E no começo da dita carta LEYDIMO, Lidimo, Liidimo,
está huma Letra Cabidoall vermelha. Lydimo. Legitimo. Com toda esta
Doc. de Maceiradão de 1476. variedade se escrevia no Seculo
LETRA CHRISTENGA. A XIII. e XIV.
quella de que usão os Christãos LHE-LO, Lhi-lo , e Lhi-la.
em Portugal. ElRei D. João I. O mesmo que lho , ou lha. Dem
mandou , que nenhum Tabalião o Estormento em aquella guiza, que
Mouro fizesse Escritura pública por lhe-lo devem dar. - Querendo fa
Letra Arabiga, ou qualquer outra, zer graça, e Mercee a N., faço
( e o mesmo dos Judeos a respeito lhi-la em esta maneirá. -

da Letra Hebraica) salvo per le LIA. Linha de geração. E por


tra Christenga Portuguez ; e qual vossa morte fique esse herdamento a
quer que o contrario fizesse morresse huum provinquo da vossa lia.
porém. Cod. Alf. L. I. Tit. 16. LIAGEM. Linhagem. Doc. de
I3O I.
LETRADURA. O mesmo que • -

Litteratura. Doc. de Lamego. LIBRA. V. Livra.


LEVA. O mesmo que raça, v. LIBRADIGAS. O mesmo que
g. Potro de boa leva. Cod. Alf. L. humas tantas libras. Pera comprar
1. Tit. 71. Cap. 15. § 1. duas mill libradigas de Herdades.
LEVADA. O mesmo que Le Testam. de D. Bartolomeu Bispo
·va de presos. Carta d'ElRei D. da Guarda de 1345. ElRei D. Af
}
Manoel para a Camera do Porto fonso IV. diz expressamente, que
em 152o. . mil libradígas são mil libras ; co
LEVADIGAS. Tumores fungo mo consta de duas cartas suas co
sos, e malignos, que nascião nos piadas na Instituição da Capella
subácos , e outras partes do cor do dito Bispo. Doc. da Guarda.
po. Porque em o ano da era de 1386 E o mesmo Juizo se deve formar.
"veo a pertelencia, e a morteidade de de Maravideadas, Soldadas, Numa
dáór de levadígas per todo o mundo tas, Dinheiradas, &c.
zam grande, que nom ficou bi viva LIGEIRICES. * vaãs »
@
Tom. II.
9o LI LI
e ociosas. Doc. de Tarouca do Se &º molinos, & fornos de homines de
culo XIV. Castelbranco, sint liberi de foro. Pa
LIGIO. Homem ligio , Vassallo rece que esta bella Copia está vi
ligio , se dizia aquelle que espe ciada devendo estar no Original,
cialmente estava addido , unido, que já não existe em Thomar, Ten
e aligado ao seu Principe com par das , & molinos, como se lê em
ticular preito, e Homenagem, e outros Foraes daquelle tempo. Po
o devia servir em tudo fielmente: rém insistindo nesta lição , dire
na guerra contra todos, ainda que mos, que as Tendas se chamão aqui
fosse o mesmo Imperador, Rei, ou Lindas, ou logeas de mercadores; por
Potentado superior; excepto contra que nellas se vendem cousas agra
seu proprio Pai: na paz servia de daveis, de gosto, e mui perfeitas,
Assessor nos Tribunaes, para julgar limpas, e puras, o que tudo ex
as causas concernentes ás terras , plicavão antiguamente com a pala
e feudos do seu Senhor. Entre os vra Lindo.
Portuguezes, que nunca reconhe LINDE. Marco, baliza, ou si
cêrão em tudo o Systema Feudal, se nal estabelecido, para demarcar,
chamou Homem, ou Vassallo ligio, e dividir sem confusão as proprie
o que tinha recebido da mão do So dades, e terras. Qui moiom alieno
berano algumas terras, Castello , in suo hero mudar, pecte V. solidos,
ou Jurisdicção, por cuja Mercê lhe ó" septem a Palacio. Qui linde alie
ficava mais obrigado a servillo, no quebrantar, pecte V.f. &" reptem
assim na paz, como na guerra. a Palacio. Estas formaes palavras
LIMITADO. A. Declarado, es do dito Foral de Castello-Branco
tabelecido, ordenado. E pagareis se achão no Foral , de Evora de
a dita renda nos tempos limitados. 1 1 66, que ElRei D. Afonso Hen
LIMNAR. Umbral da porta. riques lhe deu no mesmo anno,
Do Latino Limen. em que Giraldo sem pavor a con
LIMOGES. V. Cruz de Limoges. quistou. De ambos se collige que
LIMPIDOOEM. Ornato, aceio, Moiom, e linde são synonymos.
limpeza, concerto, atavío, com LINDO. Puro, limpo, e mui
postura. Limpeza faz bem parecer perfeito. He dos principios da nos
as cousar aos que as veem, bem assi sa Monarchia.
como a portura as faz feer apostada . LINGOARAZ. Fallador impor
mente cada huma segundo sua razom tuno , e sem discrição. Doc. de
. ... nom lhes embargua a limpido Tarouca do Seculo XIV.
vem, e a postura a fortaleza, nem LINGUAINÇA, Linguiça fei
a crueldade, que devem haver. Cod. ta, ou cheia de carne de linguas,
Alf. L. I. Tit. 63. S. 19. Deste mo que parece lhe derão o nome. E
do Limpidooem denóta o preço, e huma duzia de boas linguainças de
aceio de cada peça de per si; mas porco, boas, e recebondas, pagar ao
a Postura acrescenta a ordem, pro avençal. Doc. da Univ. de 1443.
porção, e symmetria, com que del Em outro Doc. de 1491 ibidem se
das se usa para ornato. lê: E mais seis longariças per dia
LINDAS. No Foral de Castel de Natal. Aqui he de presumir,
lo-Branco de 12 13. se diz Lindas, que da figura longa, e comprida,
que
• LI -9t
LI
{
**
+

#*
que em algumas partes tem as lin corporés mei, é meam azemeiam,
guiças, se chamárão longariças. <&º meum lectum cum tota sua litei
*-*
•+
LINHADA. O mesmo que Ni ra. Testam. da Illº Snr." Orraca
| nhada. Mandastees, que todos os que
Fernandez de 1254. V. Facezeiro,
lobos matarem, ou achassem linhada e Froixel. Doc. de Tarouca. Esta"
delles , que ouvessem certa conthia. palavra mui frequente em os nos
Cort. de Santarem de 143o. sos mais antigos Documentos, vem
. LIPERA. V. Livra. *. sem dúvida de Lectarium, que na
de LIS.
13oo.O mesmo que lhes. Doc •
Baixa Latinidade nada mais era, que
Apparatus , & instrumentum lecti.
. LISIADO. Lezado, ferido, of Bastará reproduzir a Regra de S.
fendido, mutilado. Vem do Latino Fructuoso Arcebispo de Braga,
Jaesus. Et qui ferit de lancea , aut que no Cap. 4. diz: Quidquid in
d’espada, pectet X. f.: & si tran vestimentis, calceamentis, vel lecta
siret ad altera parte, pectet XX. f. riis Monachorum venustum fuerit...
al rancuroso. Et qui quebrantaverit pauperibus erogetur. E no cap. 1o
oculum , aut brachium, aut dente: tratando dos Hospedes, diz: Lec
pro unoquoque membro pectet C. f. a taria , lucerna, & stramina molia
lisiado, & ille VII." a Palacio. Fo exhibenda. Depois se disse Litario,
ral de Castello-Branco de 12 13. ou Leitario, e ultimamente Litei
Doc. de Thomar. ra, dee Leito
va variasdepeças.
Liteira, que consta •

LITARIO, ou Leitario: V. La
mio. No Doc., que ali se adduzio, LIVERDOEM. Liberdade.Doc.
onde se faz menção de porco, por de 1324. -
ca, e leitoens, não se póde tomar LIVRA, ou Libra, ou Lipera.
litario por synonymo de leito. is., Moeda de prata, que começou com
que se acha em huma Carta d' El o Reino, e com valor de 36 réis.
Rei D. Affonso III. no T. IV. da (*) Depois se lavrárão livras de
Monarch. Lusit. f. 279, significan cobre, mas de peso, e valor tão
do o leitão : gallinam , caponem, infimo , que em respeito ás anti
capritum, leitonem, &c. A meu ver, gas livras, se chamárão Livrinhas,
e se de todo me não engano, li 7oo das quaes fazião huma das
rario se toma aqui, como diminu primeiras livras: e depois 5oo das
tivo de leito; isto he hum piqueno segundas fizerão huma das primei
leito, com a sua ordinaria, e res ras. Nas Orden. dº ElRei D. Manoel
pectiva roupa. V. Liteira. •

da Ediç. de 1 539 L. IV. Tit. 1., se


LITEIRA. Assim chamavão ás acha a Declaração das livras, e d'ou
roupas , e ornatos de hum leito. tras moedas. Diz em summa: que
"Et mando ibi mecum meam mulam ElRei D. Duarte mandára , que
- M ii CTI]

• \

(*) No Cod. "Fisig. se faz larga menção de Libra d'ouro, Onça d'ouro, e Soldo
d'ouro. He certo, que estes Barbaros quando entrarão em Hespanha se regulárão pela
conta Romana, segundo aqual huma Líbra tinha 12 onças, a onça 6 solilos, e por con
siguinte a Libra continha 72 soldos. He verdade, que o ouro dos Godos cra mais bai
xo, que o dos Romanos. Tambem os Godos usárão de Tremisis, e Siliqua. Na Tra
ducção do #*# se não póde fazer grande força a respeito do valor das moedas
Wisigoticas; porém ha todo o fundamento para dizermos, que o Tremisse era a terça
parte, e a Siliqua a vigessima quarta parte de hum soldo.
92. | LI LI
em todos os Emprazamentos, ar Escudo dá nossa moeda 164 réis : a Do
rendamentos, rendas, fóros, &c. bra cruzada 18o réis: e o Marco de
que antes de 1395 se fizerão, se prata 84o réis. Porém nos Contra •

pagassem 7oo livras das de cobre tos, e Aforamentos que depois do


por huma das antigas , que erão 1.º de Janeiro de 1462 se fizes
de prata : e nos que depois deste sem, o Real branco não valeria mais,
anno se fizessem, ou renovassem, que 6 ceitís, e cada livra 2o destes
se pagarião 5oo por huma. E que Reaes , que he hoje o nosso vintem.
cada Real branco valesse hum soldo, E finalmente mandou nas Cortes
ou 1o Pretos : e cada Preto hum dº Evora do dito anno de 1473,
Dinheiro. A este respeito ficava que nenhum Escrivão , sob pena
valendo a livra, que se pagava por de perder o seu Oficio , fizesse,
7oo, 2o réis brancos : e a que se algum Contrato por livras da moeda
pagava por 5 oo , 14 réis , e dous antiga; mas que todas as Escriptu
Pretos, e 3 quartos de Preto. ras delles para serem válidas, se
Depois no de 1473 declarou fizessem por ouro , ou prata, ou
ElRei D. Afonso V. que em to Reaes de reis ceitis.
dos os Contratos feitos per livras Em alguns dos Foraes do Se
antigas, ou correntes, ou por ouro, nhor Rei D. Manoel se mandárão
ou prata, ou Reaes de tres livras, pagar as Livrar , que d'antes cor
e mea, ou por Reaes Brancos , ou rérão, a 36 réis, de 6 ceitís o real.
Maravidis, ou por outra qualquer No de Penalva diz, que esta terra
moeda até o 1º de Janeiro de 1446, fora primeiramente aforada por El
se pagassem 18 Pretos por cada Rei D. Sancho por 18o maravidís
hum Real Branco. Deste modo fi d'ouro, a saber, os 1 ao pelos Direi
cava valendo a livra (que se havia tor Reaes, e os 8o pela Colheita: que
de pagar por 7oo, ) 36 réis bran ElRei D. Afonso III., seu Irmão,
cos: e a que se havia de pagar declarára , que por cada hum dos
por 5co , 25 réis , e tres celtís. ditos maravidís se pagassem duas li
Conseguintemente ficava valendo vras e meia de moeda antiga: que El
o Marco de prata 126o : a Dobra Rei D. Diniz mandára, que cada hu
valedía, ou da Banda, e a Corôa ve ma destas livrar fosse de 2o roldos: E
lha, ou de França 2 16 réis: o Escu por este respeito vem o maravidí
do Portuguez 252 réis : e a Dobra d'ouro a valer 5 o soldos; e os 18o,
cruzada 27o réis. 45 o livras, de 2o soldos à livra:
E que nos Contratos, ou Afora e pagando-se hoje a 36 réis por hu
mentos feitos, ou innovados des ma, fazem 16d;2oo réis, a saber,
de o 1.° de Janeiro de 1453 até os 9 dooo réis, pelas rendas da ter
o 1º de Janeiro de 1462 se pa ra, em 25o livras, e os 7 d) 2oope
guem 12 Pretos por cada hum Real, las 2oo livras da Colheita. Foi da
que antes pagavão. E deste modo do no de 15 14. No da Terra de
fica valendo a livra (das de 7oo Taváres do mesmo anno, igual
por huma, ) 2.4 réis: e a de 5oo mente são reduzidas as livrar an
por huma, 17 réis, e hum Preto: tigas a 36 réis por cada huma da
a Dobra valedía, ou de Banda, e a moeda presente. Em outros se ado
Córoa velha, ou de França 144 réis: o ptou diferente reducção.
E
LI | LI 93
} É como no de 1524 já não ha Declaração sobre o preço da dita moe
via Reaes Brancos, e Pretos, porque da. No de 1428 se acha outro,
se as ditas livras mandavão pagar, Mas, 36. N. 3. com o Foro de oito
mas só Ceitis, dos quaes 12 o fa livras a 7oo por huma, e diz a
zião hum vintem: ElRei D. João cota, que são 16o réis ; dando a
III, declarou o modo como se ha cada livra 2o réis.
via de proceder nesta paga das li Livras das quaes 35 fazião huma
# vras mandando, que o nome de Di Real (e por consiguinte 7oo fazião
{ mheiro se mudasse no de Ceitil, pois 35 réis) se faz menção em hum
tinha o mesmo valor , e que por Prazo da mesma Igreja do anno
soldo, ou Real Branco se paguem de 1432. Mas. 6. N. 13. e tambem
1 1 ceitás, &c. E que a Mealha se nos Prazos do Cabbido de Lamego.
contasse por meio Dinheiro; fazendo Na Casa da Insua de Penalvá
duas Mealhas hum ceitíl: e que on se acha huma Carta de venda de
de não houvesse mais, que huma 1475 , cujo preço fórão tem réis
Mealha no fim de qualquer conta, brancos da moeda corrente de trinta »
sepagasse por ella hum centílinteiro. e cinco livras o real. Estas erão das
Até o tempo dº ElRei D. Ma ue se chamárão Livrinhas , 5odº
noel todas as contas se fazião por # quais fazião huma livra de 25
livras, posto que já as não hou réis, ou cada 25 livrinhas hum real :
vesse; assim como hoje se fazem e 7oo fazião outra de 35 réis, ou
por tantos, ou quantos Reaes, cada 35 livrinhas hum real.
posto que já os não há. Livra de Dinheiros Alfonsins. Em
Além das antigas livras de Pra hum Prazo de Almacave de 1395.
ta, que valião 36 réis, e das que Mas, 35. N. 1o. se diz, ser o Fo
ElRei D. Duarte fez lavrar no de ro de cinco livras da moeda antiga
1395 que valião 25 réis, e tres de Dinheiros Alfonsins, ou 5o livras
ceitís - se encontrão em os nossos desta moeda corrente. E logo no de
Archivos outras muitas livras de 1396. Mas, 17. N. 1o. se vê outro
cobre com diversos valores, segun com a Pensão de tres livras da moe
do a vontade dos que fazião os da antes usada, ou sinco por huma
Contratos. Exaqui algumas: desta moeda, que agora corre. DaquÉ
Livra de dez Dinheiros Pretos: se manifesta, } a moeda d'antes
e livra de Dinheiros Portuguezes pe usada não era a Livra Alfonsina pois
los annos de 136o, segundo mui esta valia 1o vezes mais, e a usa
tos Prazos de Almacave no Titu da só sinco vezes mais, que a moe
lo delles, Masso 2.°; e hum Doc. da corrente. Ou digamos, que tu
de Aguiar da Beira de 1289. E de do isto pendia dos contrahentes,
hum Prazo da mesma Collegiada de que para si mesmos erão Lei. No
1386. Mas, 1o. N. 2. se vê o Foro de 1433. se acha ali outro Prazo
de quatro livras de Dinheiros Portu Mas. 29. N. 2o. com o Foro de tres
- guezes de qualquer moeda, que cor livras da moeda antiga, ou 6o réis
rer no Reino. De outro de 14o I. brancos por ellas. E se a dita moeda
Mas, 2o. N. 16. consta ser o Foro mudar em outro valor, pagará a ref
oito livras de moeda antiga a 5oo peito da moeda , que então corria »
por huma, até que ElRei faça outra como por ElRei for ………… Q
94 - LI " - LI
** No Mosteiro das Salzedas, se que no valor das livras particular
gundo os MSS. de Fr. Balthasar dos mente se usava , a pezar da Lei
º Reis, que ali se guardão , valião geral a que nem sempre se attendia.
28 réis todas as livras, que as Es Tambem houve libras , livras,
crituras daquella casa nomeavão a ou liperas de Alfonsins brancos de
7oo por huma : e as que não ti guerra ; segundo se vê por hum
nhão esta declaração, valião da hi Doc. de Paderne do Sec. XV. pelo
… para baixo até 2o réis. Por huma qual consta: Devia o Mosteiro de
e de 1447 se vê, que huma livra Fiaens pagar ao de Paderne Ducen
da moeda antiga valía 2 o soldos: tas quinque liperas Alfonsinorum al
e n'outra de 1481 valía 2 o réis. borum de guerra. Não negamos que
Em hum Prazo de Vairão de de guerra se póde entender, não
147o se diz Tres livras , e mea, que estes Alfonsins se chamassem
, , que ora som setenta réis. Se tres, de guerra, mas sim, que esta dí
e mea são 7o : logo huma são 2o vida se contrahisse por occasião
réis. • - • •

de alguma guerra das muitas, que


Em hum Doc. de Paderne de houve naquelle tempo , e princi
1458 se declara, que : 24 livras palmente ficando Fiaens na raya
de boa moeda antiga valião 48o réis entre Portugal, e Galliza. Porém
brancos da moeda ora corrente. E o mais natural he, que havendo
por consiguinte valía cada livra 2 o estes dinheiros tomado o nome de
réis. Nos MSS. de D. Bernard. da alguns dos Affonsos, que antes do
Encarn. se acha hum grande nú Sec. XIII. reinárão em Hespanha,
mero de Doc, pelos quaes se mos ou Portugal; por occasião das guer
tra, que a livra antiga valía 2 o ras, a que por muitas vezes se vi
réis, e que sendo o soldo meia li rão precisados, se lavrassem de
vra, ele não valia mais, que 1o mais baixo metal, e mais subido
réis. Doc. da Serra do Porto. V. Cod. valor. Na Hesp. Sagr. Tom. XLI.
Alf. L. I. Tit. 45. depois, de se nomearem nos Doc.
Livra branca. Em hum Doc. da de Lugo Alfonsins brancos, Soldos
Igreja de S. João de Eyríz se faz Alfonsins, e Maravidís Alfonsins; a
menção de livras brancas no de f. 84, e no de 1 29o, se faz men
x 326: e daqui se manifesta, que ção de Soldos de moeda Alfonsina de
muito antes d'ElRei D. Duarte, prima guerra. Daqui se infere, que
nas livras se misturava estanho, tambem os haveria da segunda, ou
que lhes deu o nome de brancas. terceira guerra. E de caminho se
V. Real, e Soldo. . . •

note, que não foi de D. Afonso


_ Além disto, no Foral, que ElRei IV. que os Alfonsins, tomárão o no—
D. Manoel deu á Villa de Ermamar me ; pois já erão muito antigos
no de 15 14 se determina, que por em Portugal quando elle nasceo:
todos os Direitos Reaes desta Vil augmentou sim o valor desta moe
Ja se pagassem annualmente 1 d. 1oo da, que só neste sentido se póde
libras da moeda antiga, de quinhen chamar sua. V. Alfonsins , e Lo
-tas por huma, que fazem desta moe rigóm.
da ora corrente 25 réis, e dous cei Houve tambem livra de dez foi
tis cada livra. Tal era a variedade, dos; porque de outros tantos cons
t2
LI LÍ '95
tava : valeria hoje tres réis, e da nossa moeda, somma bem no
meio, e tres quintos de real. tavel para aquelle tempo.
Livra de dez livrinhas ; porque LIVRAMENTO. Decisão, des
de outras tantas se compunha : o pacho, acordão, resolução, respos
seu valor era meio real, e seis se ta, sentença, desembargo. Outro
timos de ceitil. Foi mui usada pe si Cartas de livramentos em todas as
los annos de 1464. •

petiçoens, e aggravos. Cod. Alf. L.


E finalmente houve livra de tres I. Tit. 5. S. 15. Doc. de 139o.
Livras, e mea; (porque cada huma LIVRAR. Acordar, decidir,
dellas incluia tres livras , e mea despachar. Doc. de 1 39o.
das livras de dez livrinhas) o seu LIVRAS de borda. Em hum
valor era real, e meio , e hum Prazo de Villella de 1478 se diz
#
f11.
, e quatro quintos de cei E nos dedes, e paguedes tres livrar

de borda a 7oo por geira, pera nor


LIVRA DE GROSSOS. Estas sa quinta do Sobrado. •

moedas erão de Flandes , e cor LIVRIDOOEM. Liberdade. Con


rião em Portugal no Sec. XVI.; tra a livridooem da Igreja. Cod.
segundo hum Livro impresso na Alf. L. II. Tit. I. Art. II.
Cidade do Porto no de 1555, que LIVRINHA. Moeda tão miuda,
trata de Arithmetica. Valia cada que 2 o , 25 , ou 36 fazião hum
huma I do 2oo réis: e hum soldo va real de seis ceitis. V. Livra.
Ilia 6o réis : e hum Grosso 5 réis : e LIVRO DOS JUIZES. V. juiz
hum Dinheiro, tanto como hum Gros do Livro, e do Foro, e juzgo II.
so: e cada Grosso tem 24 Mittas : LIVROS SANTOS. Assim se
e cada Mitta vale hum ceitil, e bum chamavão por Excelencia, não só
quarto de ceitil. A livra tem 2o sol os quatro Evangelhos; mas ainda
dos : cada soldo vale 12 Grossos, e todos os que compoem a Sagrada
1em 288 Mittar: e a livra de Gros Biblia, porque todos fórão escri
sos tem 5 d)75 o Mittas. Tudo isto tos com especial luz, e assisten
diz a fol. 4o. &º feg. cia do Espirito Santo. Unde vos man
LIVRA, ou Libra. Pezo de cé do , que perguntedes as testemuyar»
ra, ou linho, que constava de 2 juradas sobre los Santos Livros. Car
arrateis ; segundo os Prazos de ta d'ElRei D. Diniz de 1284. Doc.
Grijó de 1547, e 1556. de Tarouca.
LIVRADA. Certa somma de li LIVRUXADA. Copia, ou mul
vras. No de 1297 ElRei D. Diniz, tidão de livras, que fazião hum
a rogos de seu filho Fernão San certo número de maravidís, ou de
chez , e pelo canbho que o Mos outra moeda mais grossa. Nove ma
teiro da Salzeda fizera com elle da ravidís da moeda de Rey D. Afonso 2
Igreja de Font’arcada, que era dos ou tanta livruxada , que a valha.
Monges, pela de Tarouca: conce Doc. de Pendorada de 1 386.
de ao seu Abbade, e Convento, LIVRY. Livre, solto, desem
que possão comprar tres mil livra baraçado, posto na sua liberdade»
das d'erdamentos ; isto he 3 doooo e muito senhor de si. Doc. das
Pivras, que a serem das de 36 réis Bent, do Porto de 14O2. -

cada huma, importavão Io8d)ooo LIXO. Cousa vil, immunda, sem


pre
96 LI LI
preço, valía, ou estimação pruden lheo, hu quer que o achar, (tirado
te. Bemaventurados porém por mere que non brite sobrele portas, ou fey
cimento julgamos aquelles , que os ra alguem, ) sem coomba. Por merda
lixos deste mundo nom sujão. Doc. em boca metuda, em qualquer lugar,
de Almoster de 1287. -- Todas estas que o faça, peyte LX. f. Se alguem
cousas reputava o Apostolo ut ster ferir com armas muudas, de seu gra
cora, e as desprezava de todo o seu do, e per ira no Couto da Villa,
Coração para lucrar a JESUS Christo. peyte L.X. f. E se for fóra da Vil
LIXO EN BOCA. Esta era hu la, peyte XXX. f. Doc. de Tho
ma das injurias mais atrozes, que II1311".
antiguamente se achava, e riguro No Foral, que o Mosteiro de
samente se punía por entre os Por Lorvão deu á sua Villa de Abiúl
tuguezes. Sinco dilicros principal no de 1 175 lêmos : Non sit inter
mente se custumavão acoimar nos vos calumnia, nisi rausum , Óº bo
Foraes do Seculo XII., e XIII, a micidium, & stercus in ore, & ca
saber: Homicidio, Furto, Rapto, sa disrupta cum armis, aut cum fe
ou Violencia feita a mulher, a que ridas, aut fregerit portas, Óº intra
chamavão Rouro, Arrombamento de verit domum per vim, (in cauto Vil
portas com mão armada, e finalmen le D. solidos pectet) & furtum. O
ite Immundicia , ou esterco humano mnes istas calumnias sint pectadas
mettido realmente na boca de alguem, per forum terre Palumbaris. Porém
ou ameaçando-o féamente de palavra, no Foral, que a esta mesma terra
que lhe farião esta injuria: insolen havião dado Diogo Peaiz , e sua
cia, que ainda hoje de todo não mulher D. Eixemena no de 1 1 67
cessou por entre a gente mais vil, se diz: que por todas as Coimas
e fezes do povo. Innumeraveis são pequenas se paguem sinco soldos;
os Foraes, que nomeão, e acoi mas pelas grandes, que são: Qui
mão este dilicto, que por tão in furto, rauso, homicidio, merda in
digno, e immundo, alguns chamão bucca, Óº casa derupta: in cauto in
Nefando. Os termos, que ordina tus in Villa, sicut est Foro de ter
riamente usão, são: sterus in ore: ra, LX, sol, pectent. Doc. de Lor
merda in bucca: lixo em boca: deos vão. • •

tos, &c. No Foral de Thomar de Aos moradores de Coles deu Fo


1174, traduzido no Seculo XIV. ral o Mosteiro de Ceiça no de
se lê: Se alguem Rousso, ou Ome 1217 em que se acha esta verba:
zyo, ou romper casa com armas, ou Non pectabitis Vocem, meque Calum
com feridas , ou quebrantar portas, pniam preter IV: Homicidium, fur
ou entrar casa no Couto da Villa, tum, rauxum, é iliud aliud nefan
peyte quinhentos soldos. Se alguem dum (que he o Lixo na boca.) Doc.
rousso, ou omizyo fóra da Villa fe de Ceiça. Porém no que o mes
zer, LX, roldos peyte. Mando, que mo Mosteiro deu aos Povoadores
cada huum filhe sa molher, que aia da Terra Nova no de 1219 se acha:
recabedada, ou filha rua, que ainda Si aliquis homicidium fecerit, aut do
non foi casada, hu quer que a achar, mum vicini sui disruperit, vel ster
sem coomba. E o filho, que seu padre cus in os miserit, sive illusum fece
tem em ssa casa por seu mancebo, fi rit, (se zombar de mulher contra
Sllal.
LI LO 97
sua vontade,) sessaginta solidos pes dos Foraes velhor. No de 129;
tet Monasterio. Ibidem. deu o Mosteiro das Salzedas Carta
Em as Inquir. Reaes nas Ter de Foro aos Moradores de Villa
ras, e Julgados de Cêa, Gouvea, Chãa , aliviando-os de todas as
Viseu , &c. do anno de 1 258 se Coimas salvo d'omem morto, e rou
achou, que o Lugar, ou Freguezia so, e lixo em boca. Doc. das Salze
de S. Payo de Gouvêa era Couto do das. Pelas Inquiriçoens dº ElRei
Mosteiro dos Conegos do Santo Se D. Diniz se achou, que na Aldeya
pulchro de Agoas Santas por Doa de Quantim, que he de S. Marti
ção da Rainha D. Tereza: e que nho de Mouros, não pagavão a
D. Afonso I, lha coutára: E que ElRei Voz, nem Coomha; salvo Rous
os homens, que aqui moravão só so, e merda em boca, e homem mora
pagavão ao Rei Medietatem de bo to. Este afrontosissimo delicto, e
micidio, & de Rauro, Óº de merda mui ordinario por aquelle tempo,
in buca, vel de latrone : &" vadunt prohibío o mesmo Senhor Rei D.
in anuduvam Regis. Diniz com pena de morte , cuja
Não era fixo o número destas Lei se compilou ainda nas Orden.
Coimas: havia Foral que só punha Alfonsinas. L. V. Tit. 32. S. I. V.
duas, alguns 3, outros 4, ou 5. Calumpnia.
No antigo da Lourinhãa , confir LLI. Lhe. Doc. de 128o.
mado por ElRei D. Afonso II. no LO. Lho. Doc. de 13o 1.
de 12 18, se diz: O matador, se LOBOS. Huma das pensoens,
se poder prender, seja sepultado vi ou serviços pessoaes, que os ca
vo, e o morto lançado em cima del seiros devião pagar ao Mosteiro
le: se se não poder prender, pague de Santo Thyrso. E por geira, e
ao Pretor 3oo soldºs, e componha-se engeira, e rógos, e lobos quinze ho
com os parentes do morto. O Rousa meens de eigada na vinha da Seara.
dor seja prezo, e justiçado: se fo Doc. de S. Thyrso de 1392. Era
gir pague 3oo soldos ao Pretor, e naquelle tempo temivel o grande
avenha-se com os pais , e parentes número de lobos, principalmente
da mulher forçada, ou seduzida. O nas costas do mar, e margens dos
que furtar na casa, ou no campo, rios caudaes, devorando os gados,
ou na eira , seja logo pela 1.° vez e os mesmos pastores; e por isso
marcado na testa com hum ferro quen todos os sabbados se lhes fazia
ze: pela 2.° ponbão-lhe 2.° sinal: e montaria. Desta porém erão isen
pela 3." enforquem-no. E a 4.° Coi tos os galiotes ; salvo se tivessem
ma era sem dúvida as palavras gu gados, que então os devião hir
jas, de que nos outros Foraes se correr com os mais do Concelho,
faz menção, como postas por obra; Cod. Alf. L. I. Tit. 69. S. 4. Des
pois diz assim: Si aliquis debonnes ta montaria, pois, he que o Mos
taverit aliquem : quantos deostos ei teiro exime os seus colonos, co
dixerit, tantos tres sol, eipectet, Óº mutando-lha no fabríco da vinha
Praetori alios tantos. O mesmo se da Seara.
determina no de Villa Verde jun … LOCRÍCA. V. Logreca.
to a Lisboa, confirmado pelo mes LOCTODA. V. Loitosa. -

mo Rei, e no mesmo anno. Liv. LOGO.OS. Lugar, lugares. He


Tom. II. N fre
28 – LO LO
frequentissima esta palavra desde LOITO. Lucto, tristeza, dó.
o Seculo XIII. até o XVI. vem do Doc. de Pend. de 1 344.
Latino Locus, mudado o c em g. LOITOSA. Luctosa, Lutosa,
LOGO. I. Morada, ou residen Luctuosa, e Luytosa. Com toda
cia. Povoardes o dito Casal de fogo, esta variedade se acha escrita esta
e logo, isto he, fareis casas no di palavra, que significa certa peça,
to Casal , e nellas fareis a vossa ou pensão, que se paga por mor
morada, e residencia, vivendo nel te de alguma Pessoa, que por Di
las. Doc. das Bent. do Porto de reito, ou costume a deve , e só
I42O. entre o lucto , e funeral se paga.
Na Baixa Latinidade se disse Tempo houve em que os Vassallos
Manacia, a obrigação, que o Co d'ElRei não podião testar das suas
lono, ou Emphiteuta tinha de re Armas, e Cavallos, devendo ficar
sidir pessoalmente na possessão ao Soberano por luctuosa : e Elle
do Senhorio , e de a não poder fazia dellas Mercé ao que entrava
em algum tempo alienar, e mor a servir em lugar do que havia fal
rendo sem filhos se devolver im lecido. Tambem foi Lei antiga,
mediatamente ao Direito Senhor. e costume pagarem as viuvas luc
E isto era povoar de Fogo, e Ló tuosa , para se poderem tornar a
0, casar, como se dirá V. Orsas. Igual
LOGO. II. Reputação, honra, mente se introduzío em algumas
estima. Homem, ou mulher de bom partes, receber o Direito Senho
logo: dizião do que era estimado, rio luctuosa por morte do Emphi
honrado, e tido em boa reputa teuta, que, segundo os Doc. das
ção, e conta. V. Escarnido. Salzedas, era outro tanto como o
LOGO. III. Tenção, espirito, Foro, ou como nos Prazos se esti
vontade. E vos requeremos, que to pulava. Porém no Foral, que El
medes este feito por aquel logar, per Rei D. Manoel fez passar á Ter
que vos ElRei manda, sem máá vo ra de Paiva no de 15 13, fallando
garía , e sem máá pontaría, e que das lutosas , e declarando os Ca
o comprais assi como ElRei manda. Saes, e pessoas, que unicamente
Doc. de Moz sobre Divisoens en as devião pagar á Côroa diz: A
tre aquelle Concelho, e o da Tor lutora seja a milhor joya , ou peça
re de Moncorvo de 1 315. Ne movell, que ficar aos Reguengueiros
nhuma diferença se acha entre lo encabeçados, &c. como se póde vêr
go, e logar. V. Casal encabeçado. Esta joya, ou
LOGRAR. Utilizar-se, ou ser peça se chama sinal em hum Prazo
vir-se de alguma cousa. E os ho de Pendorada de 1364, que diz:
meens devem pacer; e lograr montes, Por colheita d'ElRei dar cinquo sol
e fontes. - Em guisa, que se logrem dos: e luytosa de cada pessoa o me
nos parcos, e nas aguas, e nos mon lhor sinal.
tes, como se sempre lograrom. Doc. Hoje permanece o antiquissimo
da Univ. de 1 294. estilo , de levarem os Senhores
LOGRECA, ou Logreia. Lu Bispos, e seus Cabidos luctuosas
crecia, nome de mulher. dos Parochos collados, ainda isen
LOGRICA. V. Logreca. tos, e tambem dos Beneficiados,
Q>
LO LO 99
e Dignidades , que tem algumas Manoel se encontra esta palavra
Igrejas anexas, e por Aprestimo; com frequencia: no de Penadono
exceptuando sempre os que por de 15 12 se diz: Não seudo pele in
Contrato, ou Privilegio se achão teira, nem ilhargada, nem lombeiro.
isentos. Consiste esta Luctuosa em LOMEAR. Nomear. Lomeou lo
algum traste mais precioso , que go testemunhas.
se lhes acha entre o espolio, ou LOMINADO. Illuminado. Hum
seja movel, ou semovente. Esta Livro lominado.
Luctuosa se introduzio em lugar da LONDOS. V. Sacarías. Talvez
JOuarta Canonica Episcopal, que já que de Landa, que na Infima Lati
hoje se não paga. Em alguns Bis nidade se tomou pela terra mani
pados, não se achando ao Defun nha, inculta, e desaproveitada, se
to cousa de preço, se leva de luc dicesse depois Londa, a fazenda,
tuosa hum marco de prata. No de ou quinta que ali se rompeo , e
1316 o Bispo de Viseu D. Mar fabricou ; e que o mesmo seríáo
tinho concedeo ao seu Cabido as Londos, que foros destas terras a
Luctuosas de todas as Igrejas, assim maninhadas. Vid. Ducange V. Lan
como levava a sua parte dos Di da , e Londa.
zimos, e dos outros Direitos, que LONGADAMENTE. Por mui
a Sé devia ter nas ditas Igrejas. to, e longo tempo. No Cod. Al
Doc. de Viseu. V. Doens. fons. L. II. Tit. 67. se ordena, que
No de 1 186 D. João Pirez, Bis os Judeos não sejão escusos de pa
po de Viseu , e o seu Cabido gar Portagem, nem avidos por Vi
cedêrão ao Mosteiro de Conegos do sinhos em alguma Villa, ainda que
Templo de Agoas Santas (pois tam morem bi longadamente.
bem assim se chamavão os Conegos LONGARIÇA.V. Linguança.
do Santo Sepulcro, ) a Terça dos LORIGA, ou Luríca. Saya de
Dizimos, que lhes pertencião na malha, vestidura militar, que fa
Igreja do Ledáário, de que a Rai bricando-se primeiramente de lo
nha Tereza lhes havia feito Doa ros, ou corrêas de couro cru, (don
ção ; reservando unicamente para de lhe veio o nome, ) de tal mo
si hum Aureo, que desta Igreja se do entretecidas, que ficavão im
lhes devia pagar annualmente pe penetraveis : ao depois, e entre
la Paschoa : e tambem a Terça dos os Portuguezes, se usárão Lorigas
Mortuorios. Cedêrão igualmente cobertas de laminas, anneis, ou
do fantar, ou Collecta, e tambem escamas de ferro, ou aço, que fa
da Lutuosa. Hoc etiam, quod a nobis zião huma boa parte das armas de
postulastis, adnectimus: ut numquam fensivas de hum completo guerrei
de vestro Sacerdote, jam dictam re ro. V. Ferros. S. 3., e Lorigom.
gente, ac tenente Ecclesiam, ó mor … LORIGOM. Saya de malha mais
zuo ibi, atque defuncto, aliquid pro ampla, mais de prova, e reforça
morturia exigamur, vel Dono. Doc. da , com o mesmo respeito á lo
de Viseu. V. Kalendario. •

riga, qual hoje vemos entre a ves


LOMBEIRO. A parte do cou tia, e a casaca. No Codicillo d'El
ro, que cobre o lombo do boi, Rei D. Sancho I. , ao partir para
ou vacca. Nos Foraes d'ElRei D. a Conquista do Algarve, e a que as
ii Sis
{
I OO LO LU
sistio D. João Pires Bispo de Vi vor afectado, e de pouca impor
seu , que delle trouxe para a sua tancia, adulação, lisonja.
Cathedral huma Copia, no de LOUVAR. I. Escolher, deputar,
1 189; se acha esta verba: Equos, nomear, pedir, tomar. E o dito
é azimelas, & loricas, Óº tota ar Priol por si, e por seu Convento,
ma, que habeo, & sellas, Óº fra louvou por seus juizes Alvidros.
na, Óº Mauros , & Mauras jubeo LOUVAR. II. V. Laudo.
LUAIRO. Kalenda, ou Marti
dividere inter Fratres de Elbora, (os
de Avís) ó de Alcazar, (os de rologio, em que todos os dias se
Palmella; ) exceptis loriga, & io declara quantos são de lua. Doc.
de Lamego. •

rigone, & genoleiras, & elmo, &º


spada corporís mei, quae dimitto Fi LUBRIGA, e Lobríga. Saia de
lio meo, qui Regnum babuerit. Doc. malha, do Latino Lorica. Tinha hu
de Viseu. Na Torre do Tombo se ma lubríga de corpo, e outras armas,
acha huma Composição entre o Có LUCELO. Pequeno sepulcro,
mendador de Mogadouro , e Pe raso, e humilde. Vem do Latino
nas-Roias, que era do Templo, e Loculus, ou Locelus. No de 1298 D.
o Commendador de Algozo, que era Fr. João Martins Bispo da Guar
do Hospital, feita no de 1239. Por da, manda, que o seu Corpo jas
ella se extinguírão todas as mal ca no lucelo só terra. Doc. da Guarda.
feitorias, questoens, e deshonras, LUCRÍCA, ou Lugríca. V. Lo
que reciprocamente se tinhão pra gréca. /

ticado ; acrescentando os Juizes LUCTOSA. V. Loitosa.


Arbitros: que o 1º desse ao 2º LUGAR CHAM. Lugar peque
233 maravidís, e tres soldos: e o no, Concelho, Julgado, Couto,
2.º desse ao 1.° 1 d) 66o maravidís, ou Povo de poucos visinhos. Aos
é duas luricas, & unum lorigom. lugares chaaons, a que Nós nom es
E tudo isto pago até o dia de S. crepvemos. Carta d'ElRei D. João
Martinho do mesmo anno; sob pe II. sobre a taxa dos Viveres, e Of
na de 5 dooo maravidís Alfonsins, ficios, de 1487. Doc. do Porto.
pagos pela Ordem do Commenda LUMIEIRA. Pequena fresta
dor, que a isto faltasse. #e deonde entra
Zurara.
a luz , setteira.
LOUDEL. O mesmo que Lau #

del. E se teverem loudel , seja da LURA. V. Rebora. I.


quelle panno, e inchimento, que prou LURIA. No Foral que o In
ver a seu dono. Cod. Alf. L. I. Tit. fante D. Afonso Henriquez deu á
71. Cap. 1. Daqui se vê que os Cidade de Céa no de 1 136 se diz :
Loudeis tambem erão acolchoa Se o muro cahir, e se houver de le
dos. •
'vantar, o Senhor da terra aprontará .
LOVISARIA. Ourivesaría, rua, Mozom, & luria, & marra, &
ou bairro dos Ourives. Morador na
malios, & duas lavancas, & nos
Lovisaria da Cidade do Porto. nostros corpos , & illo muro sedear
LOUVAMINHAR. Estar lison factum. Liv. dos Foraes Velhos.
geando de contínuo com palavri Se Mozom, será o guindaste, e Lu
nhas de afectação , e sem peso. ria, o calabre? ...
Daqui, Louvaminha, gabo, ou lou LUSCAR, Brincar, jogar, di
Ver
LU MA foi
vertir-se. Vem de ludere. Se alguns e Sangue, que antes chamavão. Ina
andão luscando, ou trebelhando, e se dicias, e nos principios do Reino"
fere algum em trebelho : penhoram Kozer, Coimas, ou Livores. Ainda
aquel, que fica saão: dizendo, que hoje se diz Maçada , huma carga
be coimeiro, ainda que seja em tre de páo, pisa, tósa. Esta pena pa
belho. Doc. da Cam. Secular de gavão d'antes os que matavão, fe
Lamego de 1436. rião, espancavão , fazião contu
LUTOSA. V. Loitosa. soens, ou nodôas, maçavão, ou
LUTUOSA. V. Loitosa. tambem injuriavão com palavras
LUYTOSA. V. Loitosa. afrontosas, torpes, indignas, e
bem capazes de tirar o sangue ás
faces de qualquer pessoa. V. In
diciar.
M. MACHOMHARÍA. Obra Mou
risca, e daquelle gosto, que usão
M. Letra Numeral valeo sem os sequazes de Mafoma. V. Dufres
pre I doooo; mas antigamente sen me V. Machomaria , e Machowneria.
do plicada, valía Iodoooo. Huum varo com lavores de colhares,
M. Na Musica dos Antigos de e d'amendoas: e outro com hum gifo
notava a moderação da voz. no meogo, e a maçaam d'obra de ma
M. No Seculo XI. se escrevia chomharía. Doc. de Pend. de 1 359,
tambem no fim das Dicçoens com MAÇUCO. V. Ferro maçuco.
huma pequena risca , e em cima MADEIRO.OS. Certa especie
della hum ponto, deste modo -> da armadilha, prohibida nos oli
M. Figurado do modo que se vaes de Alemquer, assim como va
vê Tab. 2. n. 6. f. 22. V. Numám. ras de alcapece, e cepos, com que
M. Escrevêrão frequentissima se matavão os bacaros monteses, que
mente os Portuguezes até o Secu não são enhos. Liv. vermelho d'El
lo XVI. nas Dicçoens, que ter Rei D. Afonso V. n. 4o.
minavão em aõ, v. g., Amarom, MAGACIA. Arte magica, fei
lerom, ouvirom, Taballiom, Capi tiçaria, magio.
tom, mam, cam, & c. por Amárão, MAGESTADE, e Maiestade. A
lerão, ouvirão, Capitão, Taballião, Magestade, que só he propria do
mão, cão, &c. Deos Verdadeiro, e que os Gen
MÁÁO—PARAMENTO. Mal tios reconhecêrão tambem nas suas
feitoria, destruição, damno, per Divindades falsas; com muita ra
da. E sobre outros máaos-paramen zão se dá hoje aos Deoses fortes da
tos, que me fazem sobellos meos Re terra, que reinão, e governão em
guengos, per que os homeens, que hi nome daquelle, que reside particu
4
moram som perdidosos. Carta d'El larmente no Ceo. A Devoção, e
Rei D. Diniz de 13o7. Doc. da Piedade dos nossos Maiores dava
Cam. do Porto. igualmente o nome de Magestades
MAÇADURAS. No Foral de ás Imagens dos Santos; distinguin
Bragança de 15 14 declara ElRei do especialmente com este nome
D. Manoel, que mais se não de a Veneranda Imagem do Nosso
vem levar as penas de Maçaduras, Deos Crucificado, que ornada com
Q\l
Io2 MA MA
ouro, prata, ou pedras preciosas, tos pelos primeiros: a sua Juris
trazião ao pescoço, ou sobre o pei dicção se não extendia fóra de cer
to. No seu Testamento de 1272 tas, e determinadas causas; como
deixa a Senhora Aldára Pirez aos se vê das Partidas P. II. Tit. 9.
Frades Menores de Lamego Meas L. 23. Dos primeiros se faz men
sortelas, quae sunt quatuor, &º unam ção no Concilio de Coyança, de
Magestatem, ó unum Camafeum, 1o5o (como vulgarmente se diz)
&º unam crucem de plata, quae tenet C. 7. por estas formaes palavras:
ainam petram in medio. Doc. de Ta Admonemus, ut omnes comites, sete
rouca. E no Testamento de D. Ma Maiorini Regales, populum sibi sub
rinhanes de 1 273, que ali mesmo ditum per justitiam regant. Dos se
se conserva, se diz: Mando todas gundos lêmos no Concilio de Pe
mhas Cruzes , e todas mhas Maies na-fiel de 1 3o.2 C. 13 o seguinte:
zades , e todas mhas Religas a Fr. Alcales, vel Maiorini, vel alii Rec
Lourenzo. tores Civitatum , vel aliorum loco
MAGNHO, V. Manho. rum, &c. Nas Cartas Reaes do Se
MAGNIFFESTO. Manifesto. culo XI, XII. e XIII. se achão con
Doc. da Cam. de Coimbra de 1464. firmando algumas vezes estes Maio
MAGREM. Magreira. Hia sobre rinos Móres , declarando as Pro
hum palafrem, que de fome, e mag vincias, em que exercitavão a sua
rem não podia dar passo. Jurisdicção.
MAGUER. Posto que. He do Em Portugal havia desde os prin
Seculo XII. |

cipios da Monarchia tantos Maio


MAHOM. Mão. Com mha mohom. rinos, ou Meirinhos Móres, quan
Doc. dos Bent. do Porto de 1285. tas erão as Comarcas, ou Provin
MAIESTADE. V. Magestade. cias , em que ella se dividia. O
MAIORINO. Juiz supremo do seu Oficio se exprimia pela pala
Rei, segundo os Doc. de Hespa vra Tenens, que vem de Tenemen
nha, e Portugal até o Seculo XIV. tum, que na Latinidade Infima si
Alguns confundem o Maiorino (a gnificava Territorium seu districtus
que depois correspondeo o Meiri alicujus loci. Na Doação, que El
nho Mór ) com o Mordomo Mór da Rei D. Afonso Henriquez, e seus
Casa Real , mas sem razão; pois filhos fizeráõ a D. Sancha Paes das
os seus Oficios , ou Ministerios tres Villas , Golaeus, Gondim, e
são inteiramente differentes. Havia
Pillar , em terra de Guimaraens,
Maiorinos Mores, e Menores já des no de 1 169 , entre e depois dos
de o tempo dos Gódos. A Maio mais Aulicos, que confirmão, se
ría , que elles tinhão para fazer acha : Suerius Menendi Extrematu
Justiça em algum determinado Ter ram tenens - Of. Doc. de Lorvão.
ritorio , he quem lhes deo o no Em tempo d'ElRei D. Afonso III.
me de Maiorinos. Os primeiros ti havia sete destes Tenentes, ou Mei
nhão quasi o mesmo Poder que os rinhos Móres ; como se vê, por
"Adiantados: erão póstos por ElRei, exemplo, no Foral de Aguiar da
e o seu Poder era absuluto, não Beira, dado pelo mesmo Rei no
tendo Apellação, mais que para o de 1258, no qual, depois de ha
Soberano. Os segundos erão pós verem confirmado D. Gonçalo Gar
* * *
cia,
MA MA Io3
eia, Alferes da Curia, e D. Gil Mar bres, e Fidalgos. Elles provião os
tins, Mordomo da Curia, se seguem Juizes Ordinarios das Villas , e
estes Meirinhos Mórer: Concelhos; tomavão conhecimento
Dõnus Martinus Alfonsi-tenens Bra do que nos Tribunaes se tratava;
gancia. - - - - - - - Of. e erão, com pouca diferença, hums
Dõnus Andreas Fernandi-teneus Ri Adiantados , ou Regedores da jus
pam Mini. — — — — — Of. t1ça.
Dõnus Alfonsus Lupi-tenens Sau MALÁDA.O. Escrava, serva,
sam. - - - - - - - Of. manceba, menina, criada, ou mo
Dõnus Didacus Lupi-tens Lameum ça de servir , que por condição,
- - - - - - - - of ou salario tem obrigação de se em
Dõnus Perus Pontii-tenens Bayám. pregar no obsequio, e serviço de
— — — — — — — — Of. seus Senhores, ou Amos. V. Ce
Martinus Egidii-tenens Trans. Ser rome , e Maladía. E nem devemos
ram. - - - - - - - Of. chamar-mo-nos por homem de nenguum
Gunsalvus Menendi-tenens Panayas. homem, nem a moler por malada d'o
- - - - - f = - 9f. mem nenhuum, nem de dona; ergo do
Além destes Meirinhos Mores das Abade, e do Prior , e do Conven
Provincias, Comarcas, ou Depar to ..... E a parte que destes convenen
lamentos, havia hum Meirinho Mór tes defallir, deve peitar C. maravi
de todo o Reino. O primeiro que dís velhos. Doc. da Univ. de 1279.
com este Titulo se encontra em MALADIA, e Maladya, I. Ser
Documento sem falha he D. Pedro viço, não gratuito, e pendente da
Lourenço Meirinho Mór de Portugal, vontade, e primor do Colono, ou
na Doação de Aljustrel, que El Emphiteuta; mas sim rigorosamen
Rei D. Sancho II. fez á Ordemte devído, como o de hum escra
de Santiago a 31 de Março de vo a seu Senhor; ficando este re
1235. A este se seguírão outros, ciprocamente obrigado a defender,
que no Seculo XV. consiguírão, amparar, e manter em certos Privi
e hoje conservão , o Titulo de legios, e isençoens a estes seus
Meirinhos Mores da Corte, e Reino. Servos, ou Malados. As Terras, ou
Na Geografia Historica do Padre Li Prazos, em que estes Serviços, Fó
ma T, I. Cap. 5. f. 459. se achará ros , ou Pensoens se pagavão aos
huma Lista dos que tiverão este Milites, ou Fidalgos, se chama
Oficio, de que trata a Orden. do vão Maladiar. Mas donde viria a
. Reino Liv. I. Tit. 17., e que hoje Portugal esta palavra ?... Parece
anda na Casa dos Condes de Obi não deveria ser reprehendido quem
dos. no Dialecto Anglo-Saxonico pro
Os Meirinhos Móres das Comar curasse descobrir a sua Origem:
cas, e Provincias durárão até ElRei nelle se acha Male, Mal, ou Maal,
D. Afonso V., que inteiramente que significa Pensão, Direito, Fe
os abolio, creando em seu lugar ro, ou Tributo e Man, que signi
os Corregedores, que hoje perma fica homem. Daqui se formou Maal
necem, mas sem a Jurisdicção am man, Homem sujeito a Tributo,
plissima de que os taes Meirinhos ou escravidão. E tambem daqui se
gozavão, até mesmo sobre os No disse na Baixa Latinidade Mallum,
(>
IO4 MA MA •

e Mallus, o Tribunal, ou Assem do que os Moradores do Concelhº


blea geral, e solemne dos Con de Azurara da Beira (hoje Mangoal
des, Ministros Reaes, e da Jus de ) fazião Cavalleiros aos de fóra
tiça, que duas vezes no anno de da sua terra ; fazendo-os Visinhos
cidião as causas mais graves , e com lhe darem huma pequena her
importantes dos Feudatarios, Vas dade, ou casa, ou ainda huma só
sallos, ou sujeitos a certo Senho arvore : Manda, e expressamente
rio. E porque estas Alçadas, ou prohibe: que nenhum Cavalleiro,
Juizos se fazião nos montes, ou ou outro qualquer , ali avesinhe,
collinas, se lhes deo o nome de ou possa ter Maladía, ou Commen
Mallobergium: das suas Decisoens, da, sob pena de a perder para o
e Arestos se formárão os principios Reguengo; Ordenando ao seu R
da Lei Salica. E porque não dire co-Homem, Pedro Fernander, que da
mos nós, que os obrigados ao Mal Córoa tinha aquella Terra, que as
lo se chamárão Malados, e as ter sim o faça cumprir, e guardar. Liv.
dos Foraes velhos, no fim do Foral de
ras, em que elles vivião Maladías, Azurara. •

e aos serviços, que elles forçosa


mente prestavão?... Mas eu nao MALADO. O que vive em ter
decido: os mais instruidos o jul ras de Senhorio, e sujeito a Ma
guem. V. CJóna de manteiga. No Badías, na fórma, que nesta pala
de 1297 Gil Esteves vendeo hum vra fica dito. Tambem no Seculo
Casal em Tendaes ao Mosteiro da XII. se chamárão Malados, Man
Salzeda por hum mú, em preço cebos, ou Criados de servir, os fi
de 8o libras, e de revora ceem sol lhos, que ainda estavão debaixo
dos : e do preço nimigalla ficou por do Patrio Poder; pois os serviços,
dar. E huma das Condiçoens he: e obsequios, que estes devião pres
que nenhum possa demandar no tal tar aos que lhe derão o nascimen
Casal serviço, nem geira, nem Tes to, erão de huma obrigação natu
tamento, nem maladía, nem outra ral, e impreterivel. No # de
demanda nenhua. Na Instituição do Thomar de 1 174 onde diz no La
Morgado de Medello, e Capella tim: Pro suo malado, o Tradutor
de Santa Catharina da Sé de La verteo: Por seu mancebo. Porém no
mego por D. Giraldo, Bispo d'E de Figueiró dos vinhos de 1 176
vora no de 1 317, deixa o Institui se achão as mesmas formaes pala
dor a Vasco Martins, Reitor da vras em Latim, que são as seguin
Igreja de Santiago de Beja, as suas tes: Mando, ut unurquisque accipiat
Quintas, que ali nomêa, cum suis uxorem suam, quam habet recabeda
Casalibus, Honoribus, seu Honris, dam ; vel filiam suam, que adhuc
servitiis, maladiis, parcuis, monti non fuit nupta, ubi eam invenerit,
bus, &c. Doc. de Lamego. sine pecto. Et filium, quem pater su
MALADIA. II. Qualquer Pen us in domo sua tenet pro suo malado
são, ainda bem limitada , que o accipiat eum ubique (preter, ut non
Nobre recebe de algum, ou alguns frangat supereum portas, vel percu
seus inferiores. Achando-se ElRei tiat aliquem) sine pecto. Lº dos Fo
D. Afonso Henriquez em Coim raes velhos. V. Lixo em boca. No
bra, a 11 de Julho, foi informa Foral de Pena-cova de 1 192 se diz:
Mi
MA MA io;
Miles, & sui maladi, ibunt in Fos contra a qual se alguem for seja
sadum Regis. Ibidem. excomungado, e reparado do Corpo;
Diogo Olidiz deo a Tructesin e sangue do Senhor , e maldito até
do Guterres, e a sua mulher Gun a septima geração, e ao Inferno vá
trode a porção que lhe cabia na pagar a pena com Judas, o Traidor:
Igreja de Santa Maria de Villar de e dous talentos douro : e o dano em
Porcos , do Bispado do Porto: e dobro dez centas vezes; e ao Senhor
isto Pro plagas, & feridas malas; da terra outro tanto. Et insuper ana
gue fecemus ad vestros mallados, é º
tema maranata, Óº saptuaginta, Óº
#F= non habuimus unde illas pentare. Doc.
duas maledictiones (alludindo ao que
de Moreira de 1075. Aqui se to parece, ás Maldiçoens do Cap. 28.
. ma Malado por criado. V. Malada. do Deut. contra os transgressores
MALAMENTE. Mal, e inde da Lei do Senhor.) Doc. de Vai
vidamente, com detrimento grave, rám. Por hum Instrumento de Lor
e sem razão. Por esta razom lei vão de Io86 se evidencía, que Pi
xam a terra , e se desspohra mala niolo doou áquelle Mosteiro humas
mente. Cort, de Lisboa de 1389. casas na Villa de Pena-Cova , c
Doc. da Cam. do Porto. •

huma vinha em Ribellas, que elle


MALASTANTIA. Et de Rode havia plantado, e beneficiado com
rico Nunez faciet juxta Consulium o suór do seu corpo; e isto para sus
Archiepiscopi; ita quod sit sine ma tento dos Monges, que ali mora
lastantia Tom. Regis, & sine suo rem , e de todos os Fieis , que ali
damno. Doc. de 1223. T. IV da concorrerem. E protesta, que se al
Monarch. Lusit. f. 272. Defraudo, guem for contra esta Doação, sit
}
detrimento, perda dos bens, ou Anathema in conspectti Dei Patris;
Direitos da Corôa, os quaes, não &º Sanctorum Angelorum, Óº perpe
devião ser lezados pelo máo Acor tua ulione percusus in conspectu Do
dão, Sentença, ou Taxa do Julga mini Nostri Jesu Christi, é º Sanc
torum Apostolorum ejus. Sit etiam ini
dor. Vid. Ducange V. Stantia 2 & 3.
MALDIÇOENS. He bem para conspectu S. Spiritus, & Martirum
admirar, o quanto erão temidas Christi repetita Anathema Marana
até os fins do Seculo XIV, as Mal tha, id est , duplici damnatus per
diçoens ; pois quasi todos os Ins ditione; ut, Óº de hoc Seculo, sicut
trumentos de Doaçoens, ou Tes Datan, & Abiron, vivus continuo
tamentos, que desde o Seculo VII. absorbeatur, Óº tartareas penas cum
nos ficárão, estão cheios das mais juda, Christi Traditore, pereniter
execrandas, e temiveis contra os ferat cruciatus. |- •

que forem oppostos, ou quebranta Caetano Ceni De Antiq. Eccles.


rem, o que nos taes Instrumentos Hispan. T. II. Dessert. 1. Cap. 1.
se dispoem: e de balde se escre e outros ; se persuadem, que os
verião, se ao mesmo tempo se não Reis Godos; ou lembrando-se, que
temérão. São innumeraveis as que erão Ungidos; ou que os Póvos mais
se fazem dignas de especial men facilmente se continhão com a Re
ção, como, por exemplo, a Doa ligião, que com o terror; ou que
ção, que no Seculo XII. se fez a sua intenção não passasse além
ao Mosteiro Duplex de Vairám, de huma Imprecação mais solem Il C :
Tom. II.
Io6 MA MA
ne : fórão os primeiros que nos ça de ser para o Senhor da Terra
seus Diplomas usárão das Fórmu a metade, que em Lamego levava
las: O que for contra isto, ou aqui o Mordomo dº ElRei. No que Fer
lo, &c. Seja Anathema: seja Anathe não Mendez, e seus Filhos derão
ma Maranatha: seja subvertido, ou á Cidade de Nomam , Cognomento
sepultado vivo nos Infernos com Da Monforte, no de 1 1 3o, depois de
than , e Abiron : seja separado do dizer: O homem, que deixar a sua
Corpo, e Sangue de JESUS Christo: mulher , peite hum coelho ao juiz,
seja excomungado, e devidido do Cor continua: Et si aliquis quesierit re
po, ou Congregação dos Fieis, &c. velare illa mulier ad fuum maritum :
as quaes alteradas de mil modos, quantas noctes iluc revelaverit, tan
e como dando huma especie de terror, tos CCC. sol. pectet ad suum maritum,
e firmeza ás Escripturas daquelle o ad Palacium, (Parece sem dú
tempo, e dos seguintes, fórão adop vida que este Revelare allude á Fra
tadas por toda a Nação dos Go ze da Sagrada Escriptura, na qual
dos, de quem passárão aos Fran Revelare turpitudinem, hé ajuntar
cezes, e outras gentes. Em Por se carnalmente com alguma mu
tugal permanecêrão até ElRei D. lher.) Lºdos For, velhos. No Fo
Affonso IV., ou pouco mais. ral de Mós de 1 162 por ElRei D.
MALENTRADA. Pena, ou mul Affonso I. se determina: Toto bo
ta, que o preso pagava por entrar mine de Molas, qui mulier leixar de
na cadêa, diferente da Carceragem. benedictiones, det unum denarium ad
Pague de carceragem trinta reaes judicem, Et si mulier leixaverit suo
brancos (que erão livra, e meia da marito de benedictiones, pectet CCC.
moeda antiga) e dous reaes de ma solidos : medius ad suo marito, Óº
lentrada pera aquelle que o de ferrar mediu, a Palacio. Doc. da Villa de
(lhe tirar os ferros), quando o ou Mós junto a Moncorvo. No de
verem de soltar. Cod. Alf. Lº I.Thomar de 1 174 vertido em Ro
Tit. 32. •

mance, lêmos assim: Se alguem sa


MALEZA. Fraude, malicia, tra molher en iuyzo fezer puta: a ssar
paça, conloio. No Foral de San cousas seiam em poder do Senhor da
tarém há hum Titulo Da Maleza terra. Doc. de Thomar. No de Pe
dos Vogados. namacor por D. Sancho I. no de
MALFAIRO, e Malfario. Adul I 199 está deste modo: Qui inve
terio, traição que a mulher faz a nerit uxorem suam in adulterio cog
seu marido, prostituindo-se a ou nito, relinquat eam, & habeat omnia
tro homem, peccado da carne, vio bona sua, Óº pectet judici unum de
lador da fidelidade conjugal. Em narium. Et si aliquis homo voluerit
Lamego se a mulher fazia malfairo, propter hoc ei malé facere , pectet
o marido repartia toda a sua fazen / sol. ad Concilium , & ejiciatur
da com o Mordomo d'ElRei de meio de Villa pro traditore, & VII.º pa
a meio, e a mulher ficava sem cou lacio. Lº dos For, velhos. No que
sa alguma. Tombo do Aro de La os Templarios derão a Castello
mego de 1 346 a f. 3. Isto mesmo branco no de 12 13 achamos : Et
se determina no Foral de Cernan mulier, quae leixaverit maritum suum
celhe de 1 124, só com a diferen de Benedictione pectet CCC. f., &
J’e
MA MA io3
septem a Palacio. Et qui leixaverit a quém não reflectir nas terriveis;
mulierem suam , pectet unum dena e extravagantes penas, com que
rium ad judice. Doc. de Thomar. algumas Naçoens, ainda as menos
E para não ser infinito : No de illuminadas, punírão, e ainda ho
Santa Cruz da Ponte do Sávor, por je punem , hum Crime , que só
ElRei D. Sancho II. no de 1225, tende a perturbar a República,
se determina : Hominem , qui sua arruinar as Familias, e dissolver
molier laxaverit, pectet unum dena a sociedade mais Santa , que o
rium. Et si mulier laxaverit suo vi mesmo Deos instituio no Paraizo,
ro, pectet triginta marabitinos: me JESUS Christo consagrou com humi
dios a Palatio, Óº medios a sua má Sacramento; e que bem conserva
rito. Et qui eam amparaverit a suo da poderia felicitar a todo o mun
marito , pectet decem soldos quoti do.
die... Et qui mulier aliena le MALFETRIA. Delicto, acção
varit, prendant illos ambos, Óº mi má, malfeitoria. :

tant illos a suo marito, & faciat il MALHOM. Baliza, termo, li


His inde sua voluntate. Doc. de Mon mite. Vem de Mallum, ou Mallus,
corvo. • • • |
que era o Tribunal, ou lugar do
. De toda esta variedade de Le Juizo, o qual se determinava, e
gislação antes, e depois das Cór fazia nos confins dos letigantes,
tes de Lamego , poderia alguem levantando-se para isto hum peque
suspeitar, que ali senão fizerão al no monte de terra, ou Arca, que
gumas Leis geraes , e para toda a demarcava os respectivos limites,
Monarchia sobre o Crime do Mal se no mesmo lugar não havia al
fario, que nellas se manda expiar gum monte , ou collina. V. Cabo,
com fogo: Lei, que ou não teve III., e Maladía. I. Acha-se no Fo
aceitação, nem uso, ou Lei, que ral de Cernancelhe de 15 14, e ou
nunca já mais existio, e de que trOS. -

não apparece algum vestigio mais MALHOS. Matracas. Ainda ho


que na Terra de Freixo de Espada je, vemos no Mosteiro de Alco
cinta, como se disse V. Aleivosa, baça, e nos Conventos dos Padres
(*) O castigar este delicto com Arrabidos hum grosso taboão pen
pena Capital, como hoje se deve dente , e preso, a elle hum maço
ria praticar em ambos os consor de páo, com que em algumas oc
tes, que sem dúvida contrahírão casioens se convoca a Communi
iguaes obrigaçoens á face dos Al dade para o Capitulo. No de 1353,
tares, só póde causar admiração, e no 1.° de Agosto se fez hum
* *
: * O ii Pra- .
(*) No Cod. Alf. L. V. Tit. 7., se acha a Lei de D. Afonso IV. , em que man
da: que se o adultero for Fidalgo, e tiver maravidis da Corôa, perca tudo o que del
da tiver, e quanto houver, e seja tudo daquelle a quem fez o torto, e seja desterra
do para fóra do Reino. E não querendo o injuriado os bens do adultero , sejão da Co
rôa. E não sendo Fidalgo , morra por isso mesmo. Porém ElRei D. Afonso V, decla
ra: que se Fidalgo, ou Cavalleiro dormir com mulher de outro de sua mesma quali
dade, morra sem falta. E, que se o marido perdoar, e se reconciliar com a sua mulher,
(como muito bem póde fazer) e perdoar ao adultero: este seja relevado da morte, e
degradado para Ceuta por 7 annos. O que foi contra o que d'antes se praticava , que
# morrer o adultero, a quem o marido não podia perdoar, mas t㺠sómente á suà
imulher»
1o? MA MA
Prazo no Mosteiro de Rio Tinto, a sanha de Deos, e vergonça, e mad
convocadas as Religiosas a Capi nomeada. Cod. Alf. L. V. Tit. 31.
tulo por malhos tanjidos; porque uom § 4. -

tangem sinhos, por razom do Antre MAL PECCADO! II. Interjei


dicto. Doc. dos Bent. do Porto. ção de quem nega, e juntamente
MALIOLO. Bacello, vinha no deseja v. g: Recebeste algum be
va, e de poucos annos. Os Hes neficio de Antonio ?. se responde:
panhoes dizem Majuello. Mal peccado!. nega que o tenha
MALLA-TOSTA, e Maltosta. recebido, ao mesmo tempo, que
Direito, imposição, ou Tributo, o desejava receber. E peró que an
que pagão os que embarcão vinho darom empreito com a Ygreia per des
na Cidade do Porto, que são 48 vairados juizes, malpeccado!. pela
réis por cada tonel: metade para o ssa força, nunca a voontade do passa
Bispo, e Cabido, e metade para do (defunto) ouve cabo, nem á. Doc.
ElRei. Foral d'ElRei D. Manoel. da Guarda de 1298.
D. João, III. do nome, Bispo do MALSENTIDO. Enfermo, do
Porto, lhe chama Maltosta em hu ente, molestado. E depois desto fui
ma sua Carta de 1324. que se acha eu Tabaliom a casa de N. por estar
no Cathal, dos Bispos do Porto. P. edeXVI.
cama malsentido. He do Sec. XV.
. •

II. in ejus vita. De Tolta, Toulta,


ou Tulta (que na Infima Latinida MALVESADA.O. Aquella, ou
de se chamou qualquer Tributo, aquelle, que deshonestamente vi
ou Exacção, que por força, e con via. No Foral de Cernancelhe de
tra toda a razão, e Direito se le 1 124 se diz, que a mulher do Ca
vava) disserão Tolta-Mala, ou Ma valleiro goze dos mesmos Privile
la-tolta, e depois Malla-tosta. Se gios de seu marido até se tornar
melhantes Contribuiçoens, ou Im a casar, Si illa non fuerit malvesa
postos se chamárão tambem Máos da; isto he, se viver honestamen
custumes: exacçoens injustas, perni te. Lº dos For. velhos.
ciosas, falsas, indivídas, perrimas. MAM DE LINHO Atado com
E se este Direito, que no Porto trez fevras. Mólho de linho atado
se paga, teria n'algum tempo Ori com hum vencilho feito de trez
gem mais honrosa ? . . fevras, ou pés do mesmo linho;
MALLEVA, ou Maleva. Fian ficando as Mãos, ou Molhos gran
ça. Em huma Procuração de 1293, des, se o linho for comprido, e
entre outros Poderes concede o pequenos , se o linho for curto ;
Constituinte o de Mallevar, e sa pois pelas trez fevras atadas se ha
car Maleva, ou Mallevas. Doc. das de regular o vencilho. V. jugada.
Bent. do Porto. Na Baixa Latini Em hum Prazo de S. Pedro das
dade se disse Mallevantia. Aguias de 1227 se acha entre as
MALLEVAR.
fiança. V. Malleva. Pedir, ou dar

mais Pensoens: Huma mam de li
nho, atado com tres fevras. E n’hum
MAL PECCADO. I. Por des Foral d'ElRei D. Manoel, que
graça, por nossos peccados. E por ali se conserva, lêmos : E paga
que, mal pecado, os homeens mais mais cada Casal hum mólho de linho
sooem de recear a pena temporal, que de tres fevras: e far-se-ha do gran
de ,
MA MA 1o?
de, e do peqneno. Aqui temos a de les, fazendo-lhes algumas incisoens,
claração Real de que huma Mam abrindo notas, ou prêgando nellas
hé hum Mólho. Na Terra de Vi alguns cravos. Pelas Actas do Con
seu chamão hoje Mão de linho a cilio de Lugo de 5 69 consta, que
sinco estrigas espadeladas. o Rei Theodomíro fez demarcar
MAMÓÃ. Assim chamárão me os limites dos Bispados, e Igre
taphoricamente hum pequeno mon jas pelas Villas, montes, ou Castel
te, collina, ou prominencia da ter los antigos , vel archarum confinia.
ra, de figura redonda, e com se Em hum Doc. de 76o, pouco mais,
melhanças de peito mulheril, que ou menos, se diz: Pro ut dividit
os Latinos disserão Mamma. Que cum alias Villas per petras fixas, ó
fossem na mamóa da par da carreira mamólas antiquar. No de 897, con
de sobre Anzega, que chamam Ma firma D. Afonso III. á Igreja de
móa negra. Doc. da Univ. de 1298. Lugo os seus antigos limites, quos
JE parte pela mamóa, que está a par Priores nostri interposuerunt , &
da estrada. Doc, de Pendorada de ageres terrae, sive archas, prope quos
1315. Em hum de Santo Thyrso fines fundarunt, apparuerunt antiqui
de 1289 se diz: Mamúa. Desde tus fuisse congestas, atque construc
o IX. até o Sec. XII. se escrevê tar: lapides, quos per indicia termi
rão em Portugal, e Hespanha mui norum notis evidentibus sculptor, vel
tos Doc., em que as Mamóas, ou constat fuisse fixos, &c. E disto ha
Mamúas se dizem Mamólas segun mais que muito. V. Hesp. Sag. T.
do o Latim daquelles tempos; de XL. a f. 281, e 366, e no T. XLI.
clarando-se em alguns que o mes f. 321. Ainda hoje se achão en
mo erão Mamóas que Arcas; pois tre nós alguns lugares com o no
segundo Mr. Bullet no Diccion, da me de Arcas, e nos quaes se divi
Ling. Celt. Ar, ou Hare signifíca são as Mamóas, ou montes de terra
terra, altura, collina , fastigio, em forma redonda, e acuminada. V
ponta mais elevada, montanha, ro IDecuria II. com a correcção precisa.
cha. E taes erão as Arcas, ou mon MAMPARAR. Defender, am
tes de terra , com que os nossos parar, metter a coberto, segurar
Maiores algumas vezes dividírão MAMUA. V. Mamóa.
os territorios pois tambem se achão MANAMANO. Logo , e no
divididos outras vezes por montes, mesmo ponto.
valles, fontes, lagos, e rios; por MANCEBA. I. Esta palavra,
Villas, ou Castellos antigos; por que já hoje se confundio com as
letras , ou cruzes esculpidas nas Barregaãs, e Concubinas , de que
fragas, e penhas, ou pedras nati tão largamente fallão as Orden. An
vas; por arcos, ou tumulos de tigas, e modernas, depois dos Sa
muitas pedras; por marcos levan grados Canones; não excitava an
tados, a que chamárão Coutos, ou tigamente alguma idéa de vida tor
Padroens, e nos quaes se punhão pe, e deshonesta. As muitas Car
talvez algumas letras, como hoje tas Regias, que aos Ecclesiasticos
mesmo se pratíca; e finalmente por as prohibirão, e tambem por al
arvores grossas, robustas, e anti gum tempo lhas concedêrão, sis
gas, a que chamárão Arbores fina tíño unicamente na razão de das»

cria
I IO MA MA
das, servas, ou moças de soldada, mesmo que Manceba mundanaria.
as quaes sendo menores de 5o an Das mancebas solteiras, que andam,
nos podião fundamentar alguma e devem andar na Corte, ha de levar
má suspeita de incontinencia nos (o Meirinho das cadéas, que era o
que devião ser o sal da têrra, e a seu Juiz) em cada huum sabado dous
luz do mundo. A fallar com proprie reaes brancos, porque elle ha de mau
dade, havia Manceba , , que fazia dar varrer as Audencias do Correge
as vezes de Concubina, ou Barregaã: dor, que ellas avião de varrer: e ex
e esta sempre foi prohibida: e Man to foi assi usado d'antigamente. Cod.
ceba de soldada, que não sendo de Alf. L. I. Tit. 12. S. 1.
suspeita , nunca foi negada. It : MANCEBIA. Não só se toma
Mandamos, se veer mancebo, ou man va pela multidão, copia, ou ajun
ceba, que disser que lhi nos devemos tamento de mancebos, ou moços
de sá soldada alguma cousa: que se solteiros ; mas tambem pela des
ja homem , ou mulher de boa verda honestidade de mulheres públicas,
de: mandamos, que lho paguem. Tes e impudícas. Nos Prazos de Al
tam. de Lourenço Pires de 1 314. macave em a Cidade de Lamego
Doc. de Lamego. se intitúla Mancebia, o lugar, bê
MANCEBA. II. Mulher nova, co, ou bairro, em que vivião as
moça, na idade florente. Huma mui desgraçadas vitimas da pública des
nobre dona , manceba , e de grande honestidade por todo o Seculo XV.,
bondade. Lopes Chron. d'ElRei D. que era ao sahir para o Campo do
João I. P. I. C. 35. * --3Tabolado.
- - - |

MANCEBA mundanária, ou do MANCEBO. O que está na ida


mundo. III. Mulher prostituida, e de juvenil, e não chega a 4o an
pública, meretriz, rameira. E esto nos. Mancebo valente, lédo, e na
foi feito duas , ou tres vezes , atá morado, amador de mulheres, e che
lançar fóra as mancebas mundanarias. gado a ellas, formoso em parecer, e
Lopes ib. C. 148. — Ha de trazer muito vistoso, torneador, e lançador
(o Escrivão das Malfeitorias) to a tavolado, e muito braceiro , &c.
dolos Regataaeus, e as mancebas do Lopes. º ,

mundo cortezaans em huum Livro. MANCEBO da Soldada. Cria


Cod. Alf. L. I. Tit. 15. S. 4. E do que serve por salario. Doc. da
não era então baldada esta diligen Cam. de Coimbra de 1374. E o
cia; pois segundo o mesmo Cod. mesmo da Manceba. • •

L. I. Tit. 52. §., 18. 3 C Tit. 53. MANCEBO da Pousada. Nos


§. 4. o Conde-stabel tinha de cada Custumes , e Posturas d'Evora de
huma mulher solteira da mancebia em 1264 se chamão Mancebos da Pou
cada somana doze reaes brancos. — sada os guardas, e Pastores dos
E o Marichal havia de cada huma pórcos, que erão inferiores ao Al
mulher da mancebia cada sabbado do feireiro. E aos mancebos da Pousada
ze reaes brancos. Melhores luzes de dem a eles em soldada des i a jouso,
pois cubrírão de abominação , e em como o meterem. Lº dos For. velh.
oprobrio , não só apensão , mas MANDA. No Seculo XIII. e
tambem o Oficio. V. Mundavel. XIV. era synonymo de Testamen
MANCEBA Solteira. IV. O to. Depois se tomou por tudo o
que
MA MA I I I

que o Testador manda, e determi reditas aproprietur Obedientie, seu


na, além do seu Testamento, ou Manerio, quae Pitancia dicitur.
Codicillo. Propriamente a Manda, MANGRA. Assim chamárão á
he Legado. quelle humor, e damnoso orvalho
MANDADEIRO. Mensageiro, da nevoa, que tolhe, e não deixa
sacador, inviado, moço, Procura medrar as searas. Em algumas Pro
dor. E das custas, que fezer o man vincias fóra deste Reino se livrão
dadeiro certo, que estas ditar livras deste damno, meneando suavemen
veer demandar. Doc. das Solzedas te o trigo, como faz o vento. Pa
de 1344. ra isto dous homens tomão pelas
MANDADO. O mesmo que, pontas huma corda, e caminhando
Deixa, legado, esmola. V. Aber com ella estendida na altura das
regaar. espigas , vão estas sacudindo de
MANDAMENTO. Territorio si aperniciosa mangra. Em Portu
separado, Jurisdicção, Distrito, gal, onde esta diligencia sería bem
">
Julgado, Concelho, Honra, Cou necessaria , que não só util, se
to, com seu particular Magistra acha inteiramente desprezada, não
do , e Foral. O Infante D. Affonso obstante a providente Lei , que
Henriquez em Abril de 1 139 fez geralmente a prescrevía. Foi ella
Mercê a Affonso Paes, e a sua mu passada a 12 de Fevreiro de 1564,
lher Maria Affonso do seu Reguen determinando que se monde o trigo,
go, que tinha na Villa de Cor centeo, e cevada nos mezes de Mar
nias, sicut jacet sub Mandamento de ço, Abril, e Maio; e se faça o mes
Sancto Felice, Territorio Colimbrien mo aos milhos nos tempos , que for
si, discurrentibus aquis in Pavia, sub necessario. E que se sacudão os paens
monte de Quebranzana. Doc. de Pen da agoa, e nevoa, que nelles houver
dorada. (Se então era de Coimbra cabido, com hum cordel de laã com
este Territorio , he sem dúvida, prido, da gossura de hum dedo, que
que não havia Bispo em Lamego; cada lavrador deve ter para o dito
como sem fundamento se persua fim : Ordenando mesmo, que os jui
dio alguem do contrario.) zes, e Vereadores em cada anno vão
MANDAR. Deixar algum Le ver os termos dos seus lugares anter
gado em Testamento. Doc. dos que se recolhão as novidades, e pro
Bent. do Porto de 128o. vejão sobre as ditas cousas, e bajão
MANEIRA. Em qual maneira por cada dia , quando visitarem os
quer. Em qualquer maneira. He ditos termos , até 5oo réis para seu
frase do Seculo XIII. e XIV. comer, e gasto, da parte das penas,
MANEIRO, V. Maninhadégo. por esta Carta aplicadas para o Con
MANERIA. V. Maninhadégo. celho. E o lavrador, que não observar
MANERIO. Administração, ser o disposto nesta Carta: semeando bum
ventía, ou maneio de algum Ofi moio de pão, ou mais, pagará de pe
cio, Obediençia, ou Ovença , que na quatro mil réis ; e sendo menos
tambem se disse Pitança. Em hu de moio, pagará dous mil réis : e sen
ma Doaç., feita ao Mosteiro de do seareiro, até mil réis. E das di
Grijó por huma Freira de Arouca tas penas será ametade para as des
no Sec. XII. se diz Predicta hae pezas do Concelho, e a outra para
quem
1 Ii MA MA
quem o accusar. A ociosidade , e Doaçoens, ou abusivamente, se apos
negligencia dominante, que tanto sára. Consistia, pois o Maninhadé
se lamenta em tudo o que he Ci go de Avelans em herdar o Mos
vilidade dos Concelhos, e promo teiro a terça parte de todos os bens
ção da Lavoura, fez que esta sau dos que sendo casados, chegavão
davel Ordenação não passasse do a morrer sem filhos, posto que
papel. E se alguma observancia d'antes os tivessem, se ao tempo
teve, foi temporaria. Hoje não ap da morte dos Pais, erão fallecidos.
parecem vestigios della, menos em E isto expressamente contra o Fo
a Villa de Sanceríz junto a Bragan ral de Bragança de 1 187 que diz,
ça , em cuja Camera se guardão segundo a Traducção de 1281, Da
ainda estes longos cordeis, com mos a vós, e outorgamos por Foro:
que se sacudião os paens; mas sem que todo morador da Cibidade de Bre
lembrança, ou memoria de que ti gança, qui fillos ouver , non seia
vessem algum uso. maneiro: quer feia o fillo morto, quer
MANGRAMELLA. O mesmo, vivo .... E os que molleres nom ou
que Mangra. V. Alfora. verem, nom seiam maneiros... Cre
MANHAS. Dizia-se boas , ou ligos da Cibidade de Bregança nome
más manhas , por bons ou máos seiam maneiros. No Foral de Mós
COStUlm C.S. •

de 1 162 expressamente se diz: E:


, MANHO, ou Magnho. O mes= non intret ibi Nuntio de nullo homi
mo que Maninho. Parte com monte ne, nec Manería per Foro de Molas.
manho. Doc. de 1527, •

Doc. de Mós. Porém no de Santa


º MANIFESTAR. Assim chama Cruz da Villarica de 1 225 se de
vão á Confissão Sacramental; pois termina o seguinte : Toto home,
hella manifesta o penitente ao Sa qui de Sancta Cruce fuerit, qui fi
cerdote toda a immunda lepra da lium, aut filiam non babuerit, &"fue
sua Consciencia. Tambem se es rit maneiro, det pro sua anima asta
crevia Maefestar, Meefestar, e Me medium de suo haver, ubi mandave
nefestar no sentido de confessar; rit per sua lingua. Et si sine lingua
e mesma
à Manefesto, Meefesto, e Menefesto
Confissão. • •
obierit, dent de suo haver illa quin
ta pro sua anima. Et de magis acci
MANINHADÉGO, Maninha piant suos parentes, qui magis circa
do , e Manería. Não era Foro, habuerit de ambas partes. Similiter
Tributo, ou pensão alguma, que sedeat de mulier maneira. Doc. de
se pagasse das terras maninhas, e Moncorvo. E logo no principio
desaproveitadas, bravías, e incul deste mesmo Foral se diz: Et non:
tas : Era sim hum Tributo Pessi intret ibi Nuntio, nec Manaría de nul
#mo, e mui frequente no Reino de lo homo per Fóros de Sancta Cruce.
Leão, e Terras de Bragança, e Mi E de caminho se note, que Mane
randa, e mesmo na Província de ría era synonymo de Nuntio , ou
Traz dos montes. O Mosteiro de Nucio, ou Mincio, como se dirá
Castro de Avelans não se esqueceo V. Nutio. Não longe de Bragan
delle, e talvez o ampliou, nas a havia huma grande Povoação,
muitas Cartas de Povoação, que chamada Bragadinha, cujos mora
deu a varios Lugares, de que por dores levados de hum reciproco,
C
MA MA 1 13
e implacavel odio, com inaudito havia levado Maninhadégo de hum,
furor se mattárão todos em hum que tivera filhos, mas que sem
só dia, ficando apenas alguma mu elles fallecêra, e dos quaes ficára
lher, que se pode esconder: como herdeiro: Julga, sentencêa, e de
consta das Inquiriçoens d'ElRei cide pelo seu Dezembargador: que o
D. Affonso III. ElRei D. Diniz Abbade lhe não tome a Terça dos seus
achando-se em Thomar a 9 de De bens ; visto que o tal defunto não
zembro de 1286 se propoz a res foi Maninho, pois teve filhos em al
tauração deste Povo, suprimindo gum tempo. E para quitar demandas,
lhe o antigo nome , e dando-lhe e fadigas ao deante , declara: que
de novo o de Villa Franca no Fo onde quer que o dito Mosteiro por
ral, que lhe fez passar, e no qual seus Foraes houver de haver Mani
determina , que todo o homem , ou nhadégo: que se entenda sómente da
mulher, que for maninho, possa ven quelles, que nunca filhos, nem filhas
der o seu á sua morte, a quem mui houverão; não fazendo por isso pre
to quizer. Doc. de Bragança. juizo nos ditos Maninhadº gos, nem
Á vista das isençoens de seus mas cousas contheudas em reos Fo
visinhos, clamavão os Póvos con raes. Ib. Tambem nos Doc. de
tra as extorsoens de Avelans. Não Bragança se chama a este máo Cus
se fez surdo aos seus clamores o tume: Maninhado.
1.° Duque de Braganca, e Conde MANINHO V. Maninhadégo.
de Barcellos, D. Affonso ; pois MANINHOS. Assim fórão cha
no de 1452 escreveo á Camera de mados os bens, que ficavão por
Bragança, e aos seus Termos, e morte do homem , ou mulher ca
Concelhos, mandando-lhes, que sados, que morrião sem filhos, e
mais não guardassem o depravado sem fazer Testamento, não tendo
custume , que o Mosteiro de Castro parente até o X, gráo: estes cus
de Avelans tinha introduzido de levar tumava o Almoxarife d'ElRei to
a 3.º parte dos bens de qualquer def mar para a Côroa, antes que El
funto, contra a Ordenação do Reino, Rei D. Pedro nas Cortes d'Elvas
e toda a boa razão, que ordena: fi concedesse, que no caso de algum
quem as duas partes aos filhos do def> dos conjuges morrer ab intestato,
funto: e que do Terço disponha livre e sem filhos, ou parentes, o ma
mente a beneficio da su alma. Outro rido , e a mulher reciprocamente
sim manda: que não sejão evitados, se herdassem, e não a Côroa. Cod.
nem pinhorados, os que o Abbade da Alf. L. IV. Tit. 95. +

quelle Mosteiro (como Vigario Geral MANIO. V. Maninhadégo. He


do Arcebispo) excomungar por esta synonymo de Maneiro, e Maniho:
causa. Ib. E como ainda assim não homem, ou mulher, que nunca fi
cessasem os abusos, o mesmo Prin lho, ou filha tiverão, e assim mor
cepe D. Afonso, filho do mui virtuo rêrão.
so, e victoriosissimo Rei D. Johão MANIPOLO DE LINHO. V.
ee esclarecida memoria ; Duque de Estiva. Segundo os Doc. de Ma
Bragança, e Conde de Barcellos, in ceiradão , e Foral de Figueiredo
formado, que o dito Abbade, fun de Cêa de 12o4, e outros de Vi
dado nos seus dispoticos Foraes, seu nos principios do Seculo XV,
Toin. II, P Ma
114 MA MA
Manipolo de linho era: meio feixe, ção benevola, Interjeição afecti
ou molho de linho. E segundo ou va, vehemente, agradecido, e cor
tros, era: Meia mam de Linho. V. deal dezejo, de que o Ceo pros
Mam de linho. pere , augmente , e conserve os
MANSESOR. Testamenteiro, bens, vida, e fortunas de algum
o que cumpre a ultima vontade do nosso Alliado, ou Bemfeitor. Lo
defunto. V. Masores. go dizem: Mantenha Deos, aquelles,
MANSIDADE. Mansidão. No a que som acostador, e com que vi
Cod. Alf. L. II. Tit. 94. S. 3. se vem : que nom faram qualquer coura,
determina, que suposto os Judeos que os Oficiaes da Justiça lhes man
queirão durar em sua perfia (perfi darem. Cap. Esp. para a Cidade
dia) e enduramento (dureza, obsti de Viseu nas Cort. de Lisboa de
nação ) e não queirão conhecer aspa I439.
Zavras dos Profetas, e as puridades MANTER Ospitalidade. Aga
(verdades) das Santas Escripturas; salhar, receber, e despender com
com tudo não se lhes deve negar os hospedes. E esto, e o mais que
defensão, e ajuda, e a mansidade lhi ficar pera manteerem ospitalidade;
da Piedade Christaã, quando a pedi mando , que preste pola mha alma.
7"C/72. Doc. de Tarouca de 1 35o.
MANSILLA. Ainda hoje cha MANTER Profissão. Entrar, e
mão em algumas partes ao azorra professar em alguma Religião ap
gue Mansilha, por causa da nodoa, provada. He vulgar no Seculo XIV.
ou vergão , que fazem na carne, e XV.
em que se empregão. Nem vos es MANTHER , Mantheudo..os.
garaviseis com a mansilla dos vossos Encher, cumprir, satisfazer. Epa
Marteyros: bem mostrão serem mes guados, e mantheudos todolos encar
quinhos; pois quando fagam cilada, reguos , pera que esses bens foram
som de gram companha teudos. As assinados. Cod. Alf. L. III. Tit.
sim consta de huma Carta de San IO5. S. 2.
to Antonio de Lisboa, escrita de MANTIEYRO, V. Repositario.
Tolosa a Gil Annes, Clerigo, ou MANTINENTE. O mesmo que
Cappellão da Infanta S. Sancha, Manamano. Ag. Bergan.
e na qual se asina o Santo Fr. An MANTO. O mesmo que vesti
zonio de la Vera Cruz. Hoje diria menta, ou casula. Huma vestimen
mos: Não vos desconsoleis com o fla ta nova toda perfeita com sua alva,
gello, e acoute dos vossos trabalhos, e o manto be de damasco vermelho
e afiicçoens : Elles bem mostrão se com sua estola, e manipola; e os sa
rem timidos, e cobardes; sendo cer vastros do manto, e alva são de se
to , que quando acomettem a creatu tim verde. Tomb, de Villarinho de
ra, nunca vem desacompanhados, mas 1537. V. Regaço, e Vestimenta.
sempre muitos. Daqui se manifesta MANTO Lobeno. Parece ser ca
ser pouco segura a interpretação, pa, que cobria todo o corpo, co
que Faría deu á palavra Esgravizar. mo hoje as lobas dos Ecclesiasti
MANTEES, e Mantens. Lan cos. Na Baixa Latinidade chamá
oes, toalhas. rão lobia, laubia, e lobium: ao al
MANTENHA Deos. Exclama Pendre, portico, ou galería, fecha
da
MA MA 11j
da contra todas as injurias do tem rabitimatam de piscamine, per meam
po. V. Kemiso. vineam, que vocatur de Anagaça. Doc.
MAO Siestra. Mão esquerda. de Lamego. E para encurtar lei
Vem do Latino Sinistra. tura, em hum Testamento de Vai
MÁO Ladrado. Palavras afron rám de 1 3o7 se lê Levem com meu
tosas, e de injuria, discursos in corpo quatro maravidiadígas de pam,
sensatos, e sem pezo, de gente igno e de vino, e de pescado. -

rante, louca, e vadia. Cessou máo MARAVEDINADA. Medida


ladrado, e presumpção dos que o di de grãos, de que em Portugal se
to Direito não entendião. Doc. de usou menos, do que em Castella,
Thomar do Seculo XV. e Reino de Leão: 15 Maravedina
MAQUIEIRAS. Maquias. Doc. das fazião 2oo fanégas.
de Paço de Sousa de 1376. MARAVIDIL, Maravidim, Ma
MARAVEDIADAS, Maravi rabitino, e Morabitino. Estes são
deadas, Maravídiadas, Maravidia os nomes mais ordinarios desta moe
dígas, Morabitinadas, e Moravi da, que em os nossos Documen
deadas. Assim chamavão a hum tos se encontrão. Os menos tri
Maravidil, ou Morabitino, quando, viaes são: Marabotino, Marabetino,
para chegar ao seu justo valor, se Marabocino, Marabutino, Marboti
ajuntavão tantos Dinheiros , em no, Marabatino, Marbotino, Mora
quantos o mesmo Maravidil se re betino , Morapetino, Maurobot no,
partia. Bem assim, como se hoje Morabotino, Morabidino, Morobati
em lugar de hum cruzado dissese no, e tambem Mauro, Membro, e
mos: 4 tostoens, ou 2o vintens, Almoravidil. Com toda esta varie
ou 4oo réis; pois de qualquer mo dade se escreveo o nome desta moe
do ajustariamos o valor de hum da, que segundo o Padre Mariana
cruzado. V. Dinheiradar. Achando L. de Ponder & mensur. C. 23. já
se ElRei D. Sancho II, na Cida ficou em Hespanha do tempo dos
de da Guarda a 1o de Julho de Reis Godos, e antes que nella en
124o , arrendou ao Concelho de trassem os Mouros. Descobrir a
Zaatam , (Satam) e de Rio de verdadeira Origem deste nome ,
Moinhos todas as suas Colheitas des não he cousa facil. Dizem que o
tas terras por 225 maravidis novos, grande Bocharto, versadissimo nas
vel tales morabitinatas de denariis, Linguas Orientaes morreo de hum
quae valeant Morabitinos novos in au accidente de apoplexia, quando
ro. Lº dos For. velhos. Em hum mais embebido estava na indaga
Doc. de Tarouca de 1 276 se diz: ção deste nome. Sabemos com tu
Per tal preito, que dos fruitos dessar do não ter fundamento algum os
sobreditas herdades recebades taes ma que o derivão do Botino dos Mou
ravediadas, quaes andarem na terra, ros; como se os Maravidis fossem
sem força, e sem rabia. No de 1272 Maurorum, seu Marranorum spolia
fez D. Silvestre de Lamego o seu Não ignoramos, que os Morabeti
Testamento , no qual se lê esta nos erão Póvos da Arabia da Seita
verba : It. Mando ipsi Ecclesiae de de Aly, Genro de Mafoma, cuja
Baldigem, pro meo Anniversario an Seita era opposta á de Omar. Estes
nuatim, in die S. Martini, unam Mo passárão para a Africa, e muitos
}1 2Il

1 16 MA MA
annos depois para Hespanha. E de cobre tão miudas, que só valião
destes Morabetinos se persuadem al duas Brancas, ou seis Coroados, ou
guns, que se originou o Maravedi dez Dinheirinhos (que fazem hoje
Hespanhol, que em Arabigo se 4 réis de Portugal): E que deste
diz Marabetim: E que dos Descen modo ficou sendo o Maravidil novo
dentes dos Morabitinos ainda hoje Non tam numus, quam numorum nu
se conservão alguns no Reino de merus. Mas prescindindo dos Ma
Argel, Tunes, e Tripoli, aqui ravidís de Hespanha, assim antigos,
chamão Marabutos, que professão como modernos:
as sciencias, e virtudes Moraes. Nos principios, ou talvez antes
Mas tambem será difficultoso tra mesmo da nossa Monarchia, cor
zer destes Morabitinos a Etymolo rião Maravidís d'ouro, que hoje te
gia dos nossos Maravidís; pois es rião de valor intrinseco mais de
ta Seita não passou a Hespanha 5oo réis, e se chamárão ao depois
antes de 1o85 em que o Rei de Maravidís Alfonsins, por serem do
Sevilha os chamou por auxiliares tempo d'ElRei D. Afonso I. En
contra D. Afonso VI., que então tre os Docum. das Salzedas se acha
reinava; como diz Pelagio, Bispo o Testam. de D. Mecia Rodriguez
de Oviedo, ap. Dufresne V. Almo de 1258, que entre muitas cousas
ravides , e V. Amoravii. E nem a que deixou áquelle Mosteiro, no
persuasão do Padre Risco no Tom. mêa certos Maravedís Alfonsis. Po
XXXV, da Hesp. Sagr., de que antes rém D. Sancho I., pouco depois
de Io2o se não acha em Hespa que empunhou o Sceptro, alterou
nha Doc, algum, que falle em Ma estes Maravedís d'ouro, fazendo-os
ravidís , he attendivel ; pois na lavrar justamente de 5oo réis de
Doaç. Orig. feita á Igreja, e Mos peso. Destes faz elle menção no
teiro de Santo André de Sózello, seu Codicillo de 1 188 por estas
no de 87o , a qual se guarda em palavras: Mando presertim D., mi
Pendorada, se lê: Et qui istum pla nus septem, morabitinos novos, quos
citum excesserit, pariet parte de quis habeo, Óº totas oves, & omnes por
isto placito observaverit X. bobes de cos, quos habeo in Sanctarem dare in
X, morabidinos, Óº judicato. Acha Missis cantare, & per Monasteria.
se esta verba no Compromisso, que Doc. de Viseu. Tinhão estes Ma
os filhos dos Doadores fizerão em ravidís novos de ouro de huma par
beneficio da mesma Igreja no de te a Imagem do Rei a cavallo com
874, escrevendo-o no mesmo per a espada núa na mão, e o nome
gaminho, e ao travez da Doação do Rei na orla : da outra tinhão
de seus Pais. Daqui se vê, que o Escudo Real das sinco Quinas
mais de 2oo annos antes, que os com 4 estrellas nos vãos, e na cir
Morabitinos entrassem em Hespa cumferencia as palavras In Nomini
nha , havia Moravidís nas terras, Patris, & Filii, & Spiritus Sancti.
que hoje são de Portugal. Ainda por aquelle tempo se fazia
Correndo o tempo, diz Covar uso de Maravidís Mouriscos , que
ruvias in veterum Collat. Numisma
se havião lavrado no tempo dos
tum, Cap. 1., que se deu o nome Sarracenos: e estes tinhão de hu
de Maravidil a humas moedinhas ma parte o Nome de Deos, com
al
MA MA 117
algum dos seus Atributos, e da pro Morabitino: si moneta ista frac
outra o nome do Principe , que ta fuerit , vel confusa, sit factum
reinava. Erão do tamanho de hum nostrum sine engano; tali pacto, quod
tostão, mas tão delgados, que não dicti Abbas, Óº Fratres semper suor
valião mais que o nosso meio tos Morabitinos sine perda habeant. Em
tão, segundo o seu peso. huma Constituição do Arcebispo
Em todo # tempo , e ainda de Braga D. Martinho de 13o4
no Seculo XIII. corrião Maravedís sobre o modo de se pagarem os
de prata , que ao depois se cha Dizimos, assim Reaes, como Pes
márão Maravedís velhos, a respeito soaes se diz: Outro si das D zimas
dos que depois se cunhárão com pessoaaes stabelecemos, e mandamos,
diferente valor, e feitío. Por es que os Mercadores , que vendem os
tes Maravidís de prata se fazião re pannos de cóor, que royam em outro
gularmente todos os Contratos, e tempo de dar huum maravidil de Leo
Emprazamentos, nos quaes se de meses : que dem hora 32 roldos de
clarava, se erão Maravidís Novos, Portugal ; ca. achamos , que tanto
ou Velhos. No tempo d'ElRei D. monta no Marav dil dos Leoneses d'ou
Manoel todos os Maravidís Velhos tro tempo. Doc. de Moncorvo. E
fôrão reduzidos a 27 réis da nossa eisaqui Maravidís de Leão, que cor
moeda, que ainda hoje corre; mas rião em Portugal por 32 soldos,
este valor parece não era constan quando os Portuguezes valião uni
te em todos os Documentos, que camente 27 soldos ; ou 27 réis
nos restão. No de 1288 deu ElRei brancos. (*) • -

D. Diniz Foral á Ervedosa junto No de 1389 se diz em hum Pra


a Bragança, com pensão annual a zo das Bent. do Porto : sinco Ma
cada hum dos 2o Povoadores de ravidís velhos d' Alfonsins. Em ou
hum Maravidil Velho, e huma oita tro dº Almacave de 1 394 se nomêa
va de centeo, &c. No de ElRei D. igualmente Maravidi velho. Não sa
Manoel de 15 14 dado a Bragança berei dizer se allude aos que la
se declara, que este Maravidil ve vrou ElRei D. Afonso IV., se aos
lho da Ervedosa são 27 réis. Nos que fez cunhar D. Affonso III.,
principios do Seculo XIII. hum quando fez a mudança na moeda,
Particular recebêra do Mosteiro de que consta da seguinte Carta:
S. João de Tarouca certos Maravi Dom Afonso pela graça de Deus
dís por emprestimo, e na obriga Rei de Port. e do Algarve. A vos
ção da dívida dizia, e confessava: honrrados em Christo Padres, o Arce
Debeo eis persolvere XXVII, solidos bispo , e a todos os Bispos, ou dque
les

(*) Muito antes do Senhor Rei D. Manoel se contava o Maravidil da moeda anti
ga, ou o Maravidil velho de Alfonsins por 27 réis brancos, que são os que presentemen
te usamos de seis ceitís o real. Por pensam quarenta maravedís da móeda antiga.. S, º
maravidi de XXVII. soldos; contando o Grave a XIIII, dinheiros; e ho Pilarte a VII, di
nheiros; e a Barbuda a dous soldos, e quatro dinheiros; c o Soldo de nove novos. Doc.
da Univ. de 1 399, e 1414, e o mesmo se acha em Doc. de Santo Thyrso de 1495, e
nas Bentas do Porto no de 1451. Porém no de 141 1, e 142 1 valía tão sómente_2O réis
segundo os Doc. deste ultimo Mosteiro. Na Lei de D. Affonso IV. (sobre o Serviço,
que os Judeos devião pagar á Côroa) se declara, que o maravidi são 15 soldos; Cod.
Alf. L. II. Tit. 74.5. 2. Esta variedade he , a que se propoz exterminar o sobredito
Monarcha. -
II? MA MA
jes, que em seus logares rum, e ato réis por maravidi. O mesmo se vê
dolos Ricos-homeens, e os Cabidóós, por outro de 142 1 que ali se guar
e os Vigairos, e os Abbades, e Prio da. E finalmente no de 1489 se
res, e Conventos, e aos Moesteiros, acha em outro: Hum Maravidi, ou
e Comendadores, e a todolos Alquai 27 réis por elle , ou como ElRei o
des, e Alvazís, e juizes , e Con mandar pagar. E com efeito os
celhos de todo meu Regno, saúde, e mandou pagar todos a 27 réis nos
graça. Vos bem sabedes que Eu puis Foraes, que reformou, em que de
com vosco , que quando Eu quizesse Maravidís de prata, ou velhos se fa
acrezentar a minha moeda nova, que zia menção ; exceptuando alguns
vo-lo fezese ante saber. Unde sabede, poucos, dos quaes he o Foral de
que Eu quero acrescentar essa moe Mogadouro de 15 12 em que diz:
da, e comezar-la-ei acrezentar pri Nenhums destes Foros deve pagar a
mciro dia de Abril , este primeiro Pessoa que não tiver bens de raiz
que vem. E faço-vo-lo ante saber por que valham vinte Maravidís do Fo
seerdes certos do dia , que mando ral velho, que sam da moeda hoje
acrezentar, e fazer essa moeda. E corrente 97o réis; reduzido o ma
quem quer que aduga prata, ou ou ravidi a 48 réis e meio. Porém os
tros cambios a essa minha moeda, que tiverem bens de raiz , que va
dar-li-am por lo marco de prata qua lhão de Io maravidís até vinte, não
zorze libras da minha moeda velaha: pagaráõ mais, que doze soldos, que
e os outros cambios comprar-li-os-am são vinte e hum real e meio, de seis
per aquela medes razom da prata, ceitis o Real. E os que não chegarem
e gagar-los-am logo mui bem. E man aos dez maravidís, que sam 485 réis,
do , que todo-los Taballioens de meu não pagarám tributo algum. Doc. de
Regno, que screvam esta Minha Car Mogadouro.
za em seos Registros. Unde al non MARABITINO. V. Maravidil,
façades. Dada em Liixbona VI. dias MARAVIDIM. V. Maravidil.
andados de Março. ElRei o mandou. MARCAS. Nome de mulher,
Martim Anes a fez em a Era de que corresponde a Marcos, nome
mil, e trezentos, e oito annos (An de homem. /

no de Christo 127o.) Doc. da MARÇARIA. Loja de Marça


Villa de Móz junto a Moncorvo. ría: era no Seculo XV. o que ho
Com todas estas mudanças che je dizemos: loja de Mercearia, em
gárão os Maravidís de prata até os que se vendem cousas miudas, co
fins do Seculo XV. E supposto que mo fitas, navalhas, quincalharias,
já naquelle tempo o seu valor or &c. Mercééría, he Casa, Igreja,
dinario , e commum fosse de 27 ou Hospital, onde ha Merceeiras,
réis, de seis ceitís o real, como ou Merceeiros.
dos Prazos das Salzedas, e do Cen MARCEIRAS. Tributos, ou
sual de Lamego se manifesta; ain Pensoens, que se pagão em Mar
da assim achamos , que não era ço. Ha tambem nesta Villa (de Cha
sem excepção esta regra; pois em ves) o Tributo Real das Marceiras,
hum Prazo das Bent. do Porto de que são 4Q) 14o réis, no 1.° dia de
- 14II consta, que o Maravidim va Março (e daqui tomou o nome).
lía 2 o réis: Tres maravidis, a 2o A este Foro são obrigados os Mora
do
MA MA 1 19
dores de Chaves, e os da Montanha tificado com a Benção do Sacerdote.
de Monte Negro , e os que lavrão D. Pedro Penço, e sua mulher D.
nos Reguengos , e terras foreiras, Sancha Rodriguez fizerão certo
que pagão Maravidiz. Estas Marcei Contrato no de 1272 com o Mos
ras são pelos Ioo maravidís, que se teiro da Salzeda, no qual se de
pagavão de Colheita na dita Villa. termína, que se D. Sancha filar Or
Foral d'ElRei D. Manoel de 15 14. dim, ou se casar, ou ouver Marido
Doc. de Chaves. Conuzudo, perca as fazendas, que
MARCHA de prata. O mesmo o Mosteiro lhe dá, ficando viuva,
que Marco de prata. He do Sec. e em quanto for viva.
XII. Para instrucção dos menos ver
MARCO, ou Marquo. Capaci sados em os costumes dos nossos
dade, graça, peso, talento. Os Maiores, se há de notar, que de
Oficios se devem dar a cada hum, tres modos erão os seus Contratos
segundo o marco , que tem. He do Matrimoniaes. O 1º era consagra
Sec. XV. do pela Benção do Sacerdote, na fa
MARCO de Colonha. }Z. Co ce da Igreja , e com as solemni
/onha. dades, que os seus Rituaes deter
MARCO Velho. De dous Pra minavão : aquelle Contrato assim
zos de Almacave, hum de 13 Io, roborado com a Benção , e pala
e outro de 1352 consta , que o vras do Sacerdote , e verdadeira
AMarco velho valía 27 soldos. E não mente Sacramento, se chama aqui
tendo isto proporção alguma com com toda apropriedade Casar. O
o Marco da prata , e menos do 2.º consistia meramente no Contra
ouro: seria facil o julgar que por to Matrimonial, que se fazia pú
AMarco velho se entende o Maravi blico, e notorio assim aos Paren
dil antigo de prata. tes, como aos visinhos, mas sem
MARE. Máy. Mha mare, mi lhe acrescentarem a Benção Sacer
nha mãi. dotal, nem repetirem na face da
MAREJADA. Furia, ou impe Igreja a determinação livre de vi
to do mar. Hé de Barros. verem n’huma sociedade honesta,
MARIDANÇA. Fazer maridan e inseparavel, quanto era da sua
ça : Portar-se como casado, ou ca natureza. Este Contrato se fazia
sada, cumprir exactamente as obri entre os Consortes, e entre seus
gaçoens todas, que ao Matrimonio Pais, ou Parentes, e aqui se de
estão anexas. Requereo o dito Autor clara pela frase de Marido Conozu
4 dicta Reea per vezes, que lhe fe do. Do nome, que tinhão as Máis
zesse, e faça maridança do corpo, dos filhos , que destes Matrimo
e do aver , como sua molher. Doc. nios nascião, e do modo, com que
de S. Thiago de Coimbra do Sec. podião succeder na herança de seus
XV. pais, V. Avoenga, e Concubina. O
MARIDO Conuçudo. Marido 3.º finalmente consistia no Contrato
público , e notorio, e que todos de hum Matrimonio segundo o Direi
reconhecem como tal, mas não re to natural, que só pendia da von
cebido na face da Igreja, e cujo tade séria , e livre dos mesmos
Contrato Matrimonial não foi san contrahentes, sem que "gº"… CS
12 o MA MA
besse, ou ao menos fosse pública dirá V. Recabdo. Do 3º finalmen
a sua determinação , e vontade. te falla este Documento; suppon
Estes vivião maridalmente , mas do que poderia esta Senhora ter al
sem o favor das Leis , que não gum Marido não conhecido: (o que
aprovavão estes occultos remedios se não póde entender de algum
da incontinencia , ou da paixão, amasio ; sendo das injurias mais
nem concedião communidade nos atrozes, ainda só o suspeitar, quan
bens, nem herança aos filhos, que to mais o prevenir huma vida in
destes particulares ajuntamentos continente, e libertina em huma
procedião. Entre as Pessoas mais Fidalga tão Nobre, Distincta, e
Distintas, Nobres, e talvez Reaes, Virtuosa.) E eisaqui os Matrimo
se achárão estes Matrimonios; que nios clandestinos que entre nós fan
aqui se oppoem ao Marido comuzu camente grassárão até os fins do
do; pois nelles se occultava o Ma Seculo XV. ElRei D. Afonso IV.
rido , e só por acaso se vinha a na Carta de 1 352, que fez inviar
conhecer. Estes erão os casamen a todos os Prelados Diocesanos
tos celebrados como dizião á Mor sobre a Refórma dos Ecclesiasti
ganheira, ou Morganica , e a que cos, e outros Pontos (a qual se
Benedicto XIV. prescreveo sauda acha na Synopsis Chronologica T.I.
veis condiçoens, e Regras, com f. 1o.) bem claramente nos mos
que podessem ser elevados a Ver tra este abuso, que dezeja porhi
dadeiros Sacramentos , occorrendo ma vez exterminado. Elle diz, que
aos muitos inconvenientes, a que muitos Clerigos se achavão casados,
estavao expostos. •

hums com mulheres virgens , e "º


Do 1.º destes tres Contratos tros com mulheres corruptas : e dº
fallão os nossos Foraes do Seculo depois dizião, que não erão casados:
XII. e XIII., quando chamão ao daqui se seguia, por falta de pro
Marido, ou Mulher de Benedictio va, que os filhos não ficavão legi
ne, ou de Recabedo; como se póde vêr timos, e outros muitos damnos,
V. Malfairo, e V. Recabedada; pois de que ali se faz menção. Por fan
erão recebidos solemnemente , e to lhes Ordena: Mandem, que tºr
com as ceremonias, e Bençãos, dos os Recebimentos sejão feitos pé
que a Igreja determinava. Do 2.° lo respectivo Parocho, perante hum
fallavão os mesmos Foraes, e par Taballião da mesma Freguezia, des"
ticularmente o de Cernancelhe de tinado para escrever em hum livrº
1 124; determinando , que o Ma todos os casamentos, que ali se tele
rido fique com metade dos bens brarem, para se saber depois os 4*
de sua mulher adultra, ou ella se são casados, ou não , e a condiçãº
ja , ou não seja de Benedictiones. dos contrahentes. Daqui se faz cer
Além disto, aos que ferião mulher to, que antes deste tempo, regu
alheia, que não era de Benção, ou larmente fallando, os casamentos
Recabedada, punhão só metade da senão fazião na presença do Paro
pena, que devião pagar os que fe cho, e que o mutuo consenso era toº
rião, ou afrontavão as que na fa da a substancia, e fórma do Ma
ce da Igreja, e com toda a solem trimonio na razão de Contrato.
nidade, erão recebidas; como se Não sortio, ao que parece, cº
{4
MA MA 12 f
ta Real Ordem todo o seu efeito: dião ser desherdados os filhos, que
havia lançado o máo costume rai contrahis sem Matrimonios clandesti
zes mui profundas: não se dispen nos; sendo que já então não erão
sárão ainda mais rigorosas Provi tão occultos, que o Marido não fos
dencias. Corria o anno de 1499, se conuzudo. Tal he a Protecção,
quando ElRei D. Manoel se pro que os Senhores Reis de Portugal
poz fazer cessar os horriveis in prestárão sempre ás Leis da Igreja.
convenientes, que semelhantes clan Já agora não ficará tão desauc
destinos acarretavão á Igreja , e torizada a Opinião dos Theolo
ao Estado. Por huma Lei deste gos, de que muito bem se póde
anno passada a 14 de Julho, que separar o Contrato Matrimonial do
se acha na sua Orden. de 15 14. L. Sacramento do Matrimonio : e que
7. Tit. 27, determina, e manda, hoje mesmo entre os Filhos da
que, sem excepção de pessoas, to Igreja Santa se póde dar o tal Con
dos se recebão públicamente em trato destituido do Sacramento; as
face da Igreja, e na fórma que os sim como antigamente, e permit
sagrados Canones (que tão des tindo-o mesmo as Leis Munici
prezados se achavão) santamente paes, se praticava. E com efeito,
havião decretado: que a todos os se o Sacerdote he o Ministro do Sa
Casamentos precedão os Pregoens, cramento do Matrimonio ; os Contra
que em Direito se chamão Bainos, ben es babeis , e ligitimos o Sojeito;
nas Freguezias dos Contrahentes; a acção da Benção a Materia; e as
quando o Prelado, que póde, o não Palavras, que o dito Sacerdote pro
dispense. E fazendo o contrario, fere, relativas á união , que o bo
casando-se escondidamente, por esse mem, e a mulher deveráõ guardar,
mesmo feito, assim o noivo, como verdadeiramente são a Fórma; como
a noiva percão todos os seus bens, no Seculo XIII. ensinou em París
metade para a Camera Real, e o famoso Guilherme, no Tridenti
metade para Cativos. E todos os no propugnou com admiração, e
que a semelhantes Casamentos fo aplauso o grande Melchior Cano, e
rem presentes , ou testemunhas, o Autor célebre do Traité sur le
percão do mesmo modo todos os Mariage fez quasi palpavel em os
seus bens com a mesma applica nossos dias: nós devemos confes
ção, e sejão degradados por dous sar, que hum pasmoso número de
annos para Ceuta. Mas destas pe Contratos Matrimoniaes dos antigos
nas serão isentos os que taes Ca Portuguezes não fôrão elevados,
samentos fizerem por prazer , e como dizem, á Dignidade de Sa
consentimento dos Pais , e Mãis cramentos. E nem o Concilio Trid.
dos noivos, se os tiverem; porque Sess. 24. de Reformat. Matrimon.»
nesse caso haverão somente as penas chama aos Clandestinos, Sacramen
do Direito Canonico. Seguio-se o tos, mas tão sómente Contratos.
Trid. que fez a Clandestineidade hum E nem a Religião dos nossos
Impedimento Dirimente. E como Augustissimos Soberanos, que ou
ainda houvesse refractarios: o Se fizerão passar os ditos Foraes, ou
nhor Rei D. João IV. em 13 de depois os confirmárão, e mesmo
Novembro de 165 I declarou po o grande número de Bispos, cujos
Tom. II, I1Q-º
122 MA "MA
nomes ali se encontrão, são de fez a sua mulher Maria Lourenço
tanto peso que favoreção a Opi de certos bens em Santa Comba,
nião, de que os mesmos Contrahentes e n'outras partes por compra do vos
são os verdadeiros Ministros deste so corpo: com condição expressa de
Sacramento; e que esta era a saã os possuir tão sómente em sua vi
Doutrina , seguida , e praticada da; porém casando-se os perderia
dos nossos Maiores. Pois, ou di inteiramente. Esta compra do corpo,
gamos, que semelhantes Leis uni a meu ver , era o que chamavão
camente respeitavão o Temporal, em Aragão, e outras partes, He
e os costumes inveterados, e cor rança do Marido, ou Confirmação do
rompidos do Paiz, que por mais Dote: era feita pelo Marido a sua
de quatro Seculos fóra calcado dos mulher, passada a 1.º noite de ca
sequazes torpes de Mafoma : Ou sados, e por isso se nomeou tam
confessemos, que # aquel bem Praetium Virginitatis. Para com
les tempos o Direito Canonico, os Longobardos não podia este
sejá conhecido de muitos, não era Donativo exceder a quarta parte
com tudo praticado ainda em Por dos bens do marido, que por isso
tugal, onde a ignorancia por en a chamárão tambem Quartisio , e
tão conservava dispoticamente o vulgarmente se disse Morganegiba:
seu dominio: Teremos respondido que quer dizer: Dadiva feita pela
aos que honrão os Contrahentes manhãa. E suposto, que algumas
com o singular Privilegio de se vezes se equivocasse com o Dote,
rem Dispenseiros dos Misterios de na realidade não era mais que hum
JDeos; conferindo-se a si mesmos, 3Dom gratuito, e totalmente volun
e ainda com solemnidade, e á fa tario , que só pendia do maior,
ce da Igreja , hum Sacramento. ou menor afecto do Marido. Po
Porém eu não decido : dezejára rém a condição de o perder , se
só me concordassem os sentimen outra vez chegasse a casar , era
tos, que hoje reinão, com os Do diametralmente opposta á boa ra
cumentos oppostos, que entre nós zão ; querendo o Homem já de
se conservão. • *
funto, dominar a sua viuva, que,
. E de caminho se note a Juris Segundo o Apostolo, já estava lí
prudencia daquelle tempo, ou mais bertada, e isenta da sua Lei. A
bem as convençoens, e Contratos, 2.° he huma Carta de Arras, que
que os particulares estipulavão , no de 1 19o fez D. Soeiro Viegas
diametralmente oppostos á liber a sua mulher D. Sancha Vermudes,
dade do Matrimonio, e á procrea em que lhe deixa mui grossas fa
ção dos filhos, que podião nascer Zendas, que só possuirá, senão ca
do 2.º casamento (não tendo tal Jar, ficando viuva: casando porém,
Avez nascido do 1.°) e felicitar a o Marido, e seus filhos, que delle ti
Cidade, e a República. Nem me ver, nada chegaráõ a ter, e possuir
parecem mais sisudas duas outras do que era delles ambos ; mas tudo
Doaçoens, que nas Salzedas se será dos filhos deste seu 1.º Matri
guardão. Seja a 1." (Gav. 7, mas. monio. E pelo contrario, viuvando
<I. n. 13.) a que Martim Pirez, elle dito Soeiro Viegas: se se ca
Cavalleiro de S. Miguel de Lobrigos, sar 2.° vez, nada herdaráõ os filhos,
- ! { …
• •• ----
* * que
MA MA . 12;
que houver da dita D. Sancha Ver ou trinta arrates de peso per todo
mudes, sua mulher primeira. Acha ho més de Outubro: e nom a pagando
se na Gav. 4. mas. I. n. 6. Os dentro no dito mês, a pagará de peso
IC.tos combinaráõ este facto com de cinquoenta arrates. — Meo al
a Legislação do nosso tempo. queire de manteiga, e duas freámas,
MARNEL. Campo alagadiço, ou X. f. por elas, e huum porco vi
apaúlado, e que só em pequenos vo, ou huum meo maravidí por el.
barcos, ou bateiras se póde vadear. Doc. de 1 329. — E huma leitóa,
Tal he o que hoje tem este nome ou sincoenta réis por ella. Doc. de
junto do Rio Vouga, e na estrada 1541. E do sobredito se mostra,
do Porto para Coimbra: vadeava que supposto não fosse uniforme
se em bateiras, antes que se lhe o peso da marrãa, o seu preço com
fizesse a ponte, que agora dá pas tudo bem claramente a destinguía
sagem. Daqui: da Fredma, ou leitão pequeno, a
MARNOCEIRO. Sitio apaúla que chamavão de espeto. Hoje se
do, e cuja pouca profundidade não diz Marrãa a carne fresca do por
permitte barcas de maior bojo. Nas co; prescindindo de ser macho,
Cort, de Lisboa de 1434 manda ou femea. |- •

ElRei, que não paguem dizima, MARRANO. Assim chamavão


nem redizima de peixe os que an em Portugal ao Judeo , que pro
dam em as barcas de pasageens, e fessava o Judaismo, e negava ter
:+ marnoceiros, e outras muitas pessoas, vindo o Messías. Bluteau trata lar
«que suyam de servir por galioter. gamente da Origem deste nome:
MARQUO. V. Marco, o que parece mais chegado á ver
MARRA. Margem, ou vallado dade he, que de Maranatha, que
junto do caminho. Fez pôr as par na Lingua Syriaca quer dizer veio
tes ambas na marra do caminho. Tom. o Senhor, se formou Marrano: pa
de Castro de Avellans de 155 1. lavra, a mais injuriosa para os Pro
Doc. de Bragança. fessores do Judaismo. A Doação
MARRAA. Em muitos Prazos de Aurelio, Rei de Galiza de 775,
se acha o Foro de Marrãa. Em hum que cita Mariana L. VII. de Rebus
de Almacave de 1579 se declara, Hisp. na qual se diz que o seu vio
que a Marrão era hum porco de lador sit Anathema Marrano, pre
4o arrateis. V. Subrregano. Geral cisa de ser examinada , primeiro
mente fallando, a Marrão era hu que seja admittida. No de 1487,
ma leitôa grande, que ainda não estranha ElRei á Cidade do Porto
tinha parido, mas que já não era a expulsão dos Marranos, ou Con
de espeto, ou Fredma; como se fersos, que para ella tinhão. vindo
vê pelos Doc. seguintes: Hua boa de Castella. Doc. da Cam. do Por
marrãa recebonda, ou cento, e vin to. E os que então vierão de Hes
te réis por ella. — E huma marram, panha não erão Mouros converti
ou cento, e cinquoenta réis por ella. dos , mas judeos pertinazes.
— E dous alqueires de castanhas ver MARTINEGUAS, e Martinie
des por dia de todos os Santos, e hu gas. Foro, Tributo, ou pensão,
ma marraam de trinta arratees. -- que se paga por dia de S. Martinho»
E huma marraam de vinte, e cinquo, donde tomou o nome. V. Fogo. -
Q_ii MA
I 24. MA . MA
. MASA de Ferro. O mesmo, que Munio Sandinis Parocho de Alma
Barra de ferro. No de 1292 fez o cave, juntamente com os seus Fre
Mosteiro das Salzedas hum Prazo guezes vendérão no de 1 155 cer
do Casal de Gontaens (que he na tas fazendas em Mosteiró , termo
Campiaã) com foro annual de des de Cambres, ao Mosteiro de S.
masas de ferro boas, e direitas. E João de Tarouca, e dizem: Er
com esta Pensão ha outros Prazos: pro illa Hereditate recepimus in pre
prova de que por aquelles sitios tium tres Mauros (tamtum nobis pla
se fabricava ferro ; pois pagavão cuit) & de pretio nihil apud nos
do que a terra produzia. remansit. Et si aliquis ..... redat
MASALDEMINOS. adv. Mais, Hereditatem duplatam.... Óº ad Do
Ou ÍnenOS. +
minum terrae sex mauros. Em hum
MASORES. Testamenteiros, tempo, em que a Escravatura dos
executores das Mandas, e Testa Mouros vogava tanto em Portugal,
mentos. Risco T. XXXV, da Hesp. não sería difficultoso fazer delles
Sagr. -
moeda corrente. Porém eu me per
MASSUA , ou Massuca de li suado, que estando no Original,
nho. Em os Documentos de S. Pe Morabitinos com esta, ou semelhan
dro das Aguias de 1358 he huma te abreviatura Mrºs, na Copia se
Maçadura de linho das que hoje escreveo por erro Mauros. Ou di
mesmo se praticão. gamos que estes Mouros são os
. MASSUCA de ferro. Pequena Maravidir Mouriscos, para se dif
barra de ferro, ainda não purifica ferençarem dos que então corrião
do, mas bruto , e informe. Dez já neste Paiz.
mas sucas de ferro. Inventario de MAZANARIAS. Pumares, on
Moncorvo de 14o7. Daqui ferro de particularmente se colhem ma
Maçuquo, ou Maçouquo, ou Maru çãas, e nos quaes ha grande co
co, que se acha nos Foraes d'El pia de macieiras. V. Quinal.
Rei D. Manoel por ferro grossei MAZAR. It : Mandat Priori de
ro, em massa, ou em barra. Carcari mantum de canulino . & cap
MATAÇAO. Pensão de cousa pam de grisan, Óº ciphum de Mazar.
certa, e sabida, e mesmo perpe Testam. de D. Pelagio, Bispo de
tua. V. Ord. L. II. Tit. 33. S. Io. Lamego de 1246. Dufresne in Glos
MATER-DUZ, ou Mater-dul sar. V. Mazer, ajuntou com rara
ce, ou Madre-duz. Nome proprio erudição as opinioens diversas so
de mulher, que se acha desde o bre a materia, de que erão feitos
Sec. X. até o XIII. , bem assim os celebrados Cópos de Mazar ,
como Patrebonus: nome proprio de ou Mazarínos , não se atrevendo
homem, e o seu patronímico: Pa a decidir ; mas sempre nos ofe
treboniz. rece fundamentos para julgarmos,
MATURO.A. Maduro, corda que este Cópo de D. Pelagio era
to, prudente. Que el movia esta de Madre perola, peça de grande
causa, tendo pera esto maturo Con estima para aquelle tempo.
selho. MAZCABO. Falha, detrimen
MAURO. No Lº das Doaç. de to, pena, injuria. Peite da outra
Tarouca a f 5 Y. se acha como parte, que essa Ordinhaçom guardar
7mi!
MA • ME 125
mil libras de dinheiros, em nome de MEADO. Ainda hoje se diz em
mazcabo: e toda via a /a Ordinha algumas partes Pam meado : Pam
çom seer estavil. Doc. da Guarda terçado: Pam quarteado: O 1.º he
de 1 298. •• •

metade trigo, metade centeo: O


MAZELLA. Paixão d’alma, sen 2.° consta de huma parte de tri
timento grande, vehemente, du go, outra de centeo, e outra de
ro, implacavel. Nom queiraes aazar cevada : O 3.° tem partes iguaes
tal dór a vosso padre , cá perden de trigo, centeo, cevada, e mi
do-vos assi pera sempre, teraá ma lho. Doc. de S. Pedro das Aguias
zella. Pina Chron. do Conde D. do Seculo XV. V. Medida Velha.
Duarte. C. 119. .. . MEALHA. Não era moeda cu
MAZELLAR-SE. Afligir-se , nhada de per si: era metade de hum
doer-se , contristar-se , deixar-se Dinheiro, partido com faca , te
possuir da maior dor, e sentimen soura, ou outro instrumento. De
to. Mazellando-se em seus coraçoens, ser metade do Dinheiro se disse Mea
ternárão outra vez sobre aquelles cór lha. E de Mealha se disse Mealhei
pos ro. Tambem a Mealha se chamou
drofrios. Chron. do
de Menezes. C.Conde
3o. D. Pe •

Pogeya, e Medalha. No tempo d'El


MEA. Medida de 6 quartilhos, Rei D. Manoel se extinguírão as
usada ainda hoje no Territorio de Mealhas. V. Livra, Tambem havia
Coimbra. No Foral da Villa doMealhas d’ouro , que sem dúvida
Potão de 15 14 se declara: Que re erão Medalhas, ou Moedas. V. Mos
colhendo o lavrador mais de 8 almu modís. E no Foral de Santa Cruz
.
des de vinho, pagará quatorze méas, da Villariça de 1225 se diz : Et
:
que são dous almude , menos duas qui percuserit Presbiter, pectet quin
méas. E sendo a méa de seis quar gentos soldos, & una manalia de au
tilhos, importa 84 quartilhos, que ro. Doc. de Moncorvo.
o lavrador deve pagar; dando 48 MEANA, e Miana, ou Miona.
quartilhos ao almude , que com O mesmo que Mana, Madama, e
mummente se usa em todo o Rei Madona. Dava-se este honroso Tra
no. Doc. de Lorvão. (*) tamento no Seculo XII. , e XIII.
MEA COMESSEA. Meia pre ás Senhoras de mais idade , ou
benda. Doc. de S. Pedro de Coim viuvas da primeira qualidade , e
bra de 1395. •

Nobreza, como erão D. Tereza


-
MEAÇA. Comminação, ameaça, Affonso , e sua Nora D. Sancha
ôr medo. Pedro Ponço fez meaça. Vermudes, e outras. Doc. das Sal
Bº. das Salzedas de 1288. zedas. V. Meono. •

MEADADE. Metade. Doc. de MECEDURA. Medidagem, ac


13o I. Tambem se escreve Meya ção, ou trabalho de medir. E de
dade. 7720
→ • - - -=

(*) Se no territorio de Coimbra constava a Mea de seis quartilhos por ser a meta
de da quarta de hum almude; na Província do Minho se dissé Mea, ou Meya a mº
dida de dous quartilhos, por serem meia canada. Em cada huum anno por dia d entruído
tres mêas d'azeite, ou de } em dous annos á cafra huum alqueire, e nico, qual antes os
dictos aforadores quiserem. Doc, de S. Pedro de Coimbra de 1446. Aqui bem claramente
se vê hium
ceira que adoxio
me t são
de seis quartilhos.
manteiga. Doc: —de A primeira
Pend. pessoaSendo
de 1425. huma omeya
dozãode huma
manteiga : 4 ter
canada fi
ca manifesto, que a sua meya erão dous, e não seis quartilhos. ,
126 ME ME
mecedura do cabedal, peé de porco, Cathedral de Lamego, em que de
com tres soldadas depam, ou V, sol clara, que duas medidas velhas fa
dos, se os nós ante quisermos. Doc. zem hum alqueire da medida corren
de Bostello de 1 3 1 6. te acrescentado, a saber, leva mais
MEDALHA. O mesmo que Mea hum punhado. Lºvelho das Doaç.
lha. De corio de vaca, vel de zevra, Orig. a f. 1o8. 2º Pelo contrario,
duos Denarios : de corio de cervo, no Foral de Monte Mór o Velho,
vel de gamo, III, medalias. For. da declara , que quatro alqueires da
Covilhaã de 1 186 no Lº dos For. medida velha são 3 alqueires da no
7’elhos. •

va. Doc. de Ceiça. Daqui se vê,


MEDES. Mesmo. que hum alqueire pela velha tinha
MEDESES. Mesmos. E que el tres quartas da medida corrente.
ies medeses os pagárão. Doc. das Sal 3.° No de Sabugosa se diz, que
zedas de 1 332. - este Couto paga ao Mosteiro de
MEDIDAGEM. Certo Foro , Lorvão 13o alqueires de pam ter
que os de Botão pagão ao Medidor pado, a saber, trigo, centeo, e mi
do pão, e da cevada, que no termo iho ... que fazem pela medida cor
daquella Villa se recolhe. Quando rente de Coimbra Io4 alqueires; a
os montes destes fructos passão de vendo respeito , que sinco alqueires
8 alqueires, não só pagão o Oita da dita medida de Coimbra fazem
vo, mas tambem hum alqueire de quatro da dita corrente d'agora. Doc.
cada fructo ao Medidor: não che de Lorvão. 4º No de Serpins igual
gando os montes a 8 alqueires, mente se diz, que Lorvão há de
não pagão Oitavo, nem Medidagem, haver annualmente deste Concelho
segundo o Foral de 15 14. Doc. 2 O Moios de pam, a saber, a meta
de Lorvão. - •

tle trigo, e a outra a metade de pam


MEDIDA Velha. Entre os gran meado, a saber, centeo, e milho. E
des Objectos, que deveríáo entrar declara: que o Moio aja de seer de
n’huma fundamental refórma da Ci 7uarenta, e quatro alqueires e meio,
vilidade Portugueza , devería ter desta medida de Coimbra agora cor
hum lugar distincto a escrupulosa rente ; nos quaes Moios se montão,
igualdade das medidas, que ser ao dito respeito, em cada huum an
vem de nos mostrar a multidão da no 89o da dita medida..... E pagam
quantidade discreta, assim dos fru do vinho 4oo almudes da medida ve
tos solidos, como dos liquidos. Hé /ha, que se montão nos doze Moios,
pasmosa a variedade, que tem ha e meio, que sam dous puçaes (meio
vido, e há, nesta materia , desde Moio V. Pucal.) a razam de trinta,
os principios mesmo da Monarchia; e dous almudes o Moyo. E por estes
como se póde ver V. Moio , Oita 4oo almudes pagaráõ daqui em dian
va, Quarta, Quarteiro , e Teiga. te 3oo almudes desta medida corren
Nos Foraes mesmo d'ElRei D. te: a razão de quatro, tres. Doc.
Manoel, em que se procurárão uni de Lorvão. E deste modo em ou
formar estas medidas, he bem pa tros muitos. Daqui se vê, que não
ra admirar a diversidade, que nel sendo estas medidas iguaes em to
les se encontra. Sirvão de exem da aparte; só á vista dos respecti
plo : 1.º O Foral que Elle deu á vos Foraes, Contratos, ou Empra
Z <!

ME ME 127
2amentos se pódem resolver as ques MEHEU. Meu. He do Seculo
toens, que sobre a sua quantida XIII.
de se podem suscitar, em quanto MEIADEIRO. O que tem me
por algum principio certo, e infa tade em alguma cousa. Doc. de
livel se não possão decidir. Vairám de 1333. Meiadeira : Meei
MEEFESTAR. V. Meemfestar. ra. Ibidem. •

MEEFESTO.V. Manifestar. De MEIAGOO. Meio de alguma


renda em esse logo de Paaçôo, e for cousa. A qual Procuraçom tinha hum
mal do dito casal, V. maravidis, e fello com huma Omaxem de San
meo pera o meefesto. E note-se, que ta Maria no meiagoo, Doc. do Sec.
a paga das Confissoens era parte da XIV. •

renda , que ao Direito Senhorio MEIAIDO. Raya , fronteira,


Ecclesiastico se pagava. Doc. de termo, limite, marco , divisão do
Paço de Sousa de 1425. termo. V. Cabo, III.
MEEMFESTAR. Confessar-se MEIAS VAGAS. Assim chamá
sacramentalmente. E outro si a maior rão aos fructos, que se vencião
parte dos leigos desprezavão os Sa na metade do tempo, que as Igre
cramentos dos ditos Clerigos, porque jas estavão sem Pastor, vagas, va
eram barregueeiros pubricos, e per gantes, ou em vacancia. V. Ka
dião devaçom nas Igrejas, e muitos 1endario.
delles se nom queriam meemfestar aos MAIATADE.
Bent. do Porto deMetade.
1359. Doc. das •

Clerigos. Cod. Alf. L. 5. Tit. 19.


S. I. MEIDADO.A. Dividido, de
MEESTEIRAL , e Mesteiral. meias, partido ao meio. -

Oficial mecanico. Se alguums mees MEIHOS. Metade. E a ter


teiraes querem vir morar á dita Ci ceira pessoa dar todalas cousas surtt
dade , e from compridouros em ella escritas, os meihos por Natal, e os
pelos mexteres , que am , e querem meibos por Pascoa. Doc. de Pend.
pagar o soldo, come vezinhos: esses de 1379.
meus Portageiros lho nom querem fi MEIO. Metade. Lhe deixo 4o
lhar, e levam delles Portageens, e soldos, e o meio de hum capom.
Custumageens, Doc. da Cam, do MEIOR. O mesmo que menor.
Porto de 1 361. No de 14o I acor MEOR. O mesmo que Meior.
dou a mesma Camera: que os Mes São do Sec. XIV. e XV. •

teiraes da mesma Cidade não fizes MEIRINHADO. Territorio a


sem obra alguma desde o sabbado ao que se extendia a Jurisdicção dos
Sol posto, até a segunda feira, Sol Meirinhos dº ElRei. Os Hespa
sabido: que tal era a devoção , e nhoes dizião Merindade. Vasco Pe
piedade, com que os nossos Maio res de Vallonguinho Ouvidor, em lo
res guardavão o Domingo , que go de joham Gil do Avelaal, Cor
do Sabbado da Sinagoga pas regedor, e Veedor das justiças por
sou para a Igreja na vida mesmo ElRei no Meirinhado da Beira. Doc.
dos Apostolos. E que diremos nós das Bent, do Porto de 1337. V.
agora aos que por causas de pou Maiorino.
co, ou nenhum peso trabalhão ser MEIRINHO. Juiz Real, exe
vilmente neste dia ?.. cutor das Sentenças. Dizem, que
*
OS
123 ME ME
os estabeleceo primeiro que todos da Hist. Genealog. da Casa Real) he
D. Bermudo II. o de huma Cruz de ouro com San
MEIRINHO Mór. Tanto quer to Lenho, que tinha sido da Rai
dizer, como bomem que ha maioría nha Santa Helena, Óº ducentos mem
para fazer justiça. Havia Meirinhos bros veteres aos Dominicos do Por
*Móres em algumas Cidades, Vil to: e ao Convento de S. Francis
las, ou Comarcas para fazerem Jus co da mesma Cidade cem membros
tiça, segundo o Rei lhes determi Dufresne. V. Kalendae, nos ofere
nava: e havia Meirinho Mór de to ce hum Doc. em que se lê: Et do
do o Reino. A este pertencião as nat de censum 9. demarios Pogeros,
cousas notaveis, e de grande pe ó" ad Kalendas duos membros. E
so, como prender alguns Fidalgos, quem nos diz se a abreviatura,
e homens de grande Estado, le que no Original se achava , diría
vantar forças, &c. Cod. Alf. L. I. Morabitinos, e não Membros ?..
STit. 6o. V. Maiorino. MEMORIA. Algumas vezes se
MEISOM. Casa , habitação , toma por Entendimento. Eu Louren
morada. Esta palavra ainda hoje fo Pires, e eu Marinh'Annes sa mu
se usa fóra de Portugal, donde os lher, em nosso acordo , e em nossa
Templarios a trouxerão a este Rei memoria comprida , fazemos ninhos
no. Meison do Tempre se dizia no nosso Testamento. Doc. de Lamego
Seculo XII., e XIII. a Casa, Con de 1314.
vento , ou Residencia dos Tem MEMPASTOR, e Mampastor.
plarios; como se vê por innumera Juiz, ou qualquer outro Oficial
veis Escrituras de Thomar. de Justiça, que civilmente tomava
MEITEGA. O mesmo que Al conhecimento, e decidía as Cau
meitiga. E doze almudes de vinho sas. No de 1 324 prohibio ElRei
mole aa dorna , o qual nom aveder D. Afonso IV., que o Mosteiro
de vindimar sem estar nosso homem de Castro de Avelans se intromet
presente, ao qual avedes de dar de tesse a pôr juiz , ou Mempastor
comer em quanto estever aa dita vin nas Aldêas, e lugares, em que a
dima, e pagar-lhe sua meitega. Doc. Jurisdicção Civíl pertencia a El
de Santo Thyrso de 1453. Em hum Rei. Em outro Doc. de 1 34o se
Doc. de Lugo de 1228 se lê: Re diz Mampastor. Doc. de Bragança.
zentir duobus prandiis, Óº meitega O Mampastor que o Mosteiro de
ejusdem praedicte Ecclesiae S. Mar Moreiróla punha nas Aldêas de Mon
Z1771. tesinhos , e Quintanilha conhecia
MELHOHORAR. O mesmo tambem das Causas Crimes jun
que Melhºrar. Doc. de 1389. tamente com os Juizes de Bragan
MELOR. Melhor. Doc. de 13o1. ça: O mesmo Rei fez cessar este
MELHUR. Melhor. Doc. das abuso no dito anno de 134o. Mam
Bent. do Porto de 1 338. pastor he o mesmo que Mampostei
MEMBRO, V. Maravidil. En ro, que segundo Duarte Nunez do
tre os muitos, e diversos legados, Lião na rua Orthografia, he o mes
que a Rainha Santa Mafalda dei mo que, Homem posto pela mão
xa no seu Testamento de 1256 de alguem para algum negocio
(que se acha no I. T. das Prov. E se os Mamposteiros fórão depois
pós
ME ME 129
póstos para receberem as esmolas - MENINHO. Menino. E que par
dos Cativos, e de alguns Santos, sava de dez mezes, que lhis ald nom
ou Sanctuarios : Os que punhão forom dizer Missa nenhuma, nem
dispoticamente aquelles Mosteiros boutisfar os meninhos , que, ante os
tinhão por Oficio o decidir como boutissavão traz o fogo, isto - he,
Juizes. · · · · em casa, ou mesmo junto ao fo
MENEFESTAR alguem. Ouví go, e na cozinha. Requerimento
ra sua Confissão Sacramental. Ro dos de S. Salvador de Almostér ao
Ago ao dicto Fr. Pedro. Lopes, Priol, Vigario de Abiúl y no de , 1345.
gue me menefestou, e foi meu Confes Doc. de Lorvão.….….…:. .:: .:
sor, e esta cedula screveo, que tome MENORETAS, Assim chamá
da minha alma, e da minha carne o rão as Religiosas de Santa Clara,
dicto encarrego. Doc. de Santo Thyr em attenção a que o seu Patriar
so de 1425. * .….. , , cha , e pela sua rara humildade,
MENESTERIAL.IS. Obreiro, se intitulou sempre o Menori: , e
criado, servente, Chamou-se assim mesmo 3 porque distinguindo-se
d ministerio oheundo. com o Titulo de Menores os Reli
MENFESTO. O mesmo que # de S. Francisco , as suas
Meefesto. Pós em elles entredito em eligiosas fazião timbre, do mes
tempo de grande pestenença, pola qual mo distinctivo. Doc. do Sec. XIII.
Yazom se morreram muitos homeens MENSORIO, Tudo o que he
menfesto , e sem outros Sacramen roupa, e aparelho, ou ornato de
JE77!

tos. Cod. Alf. L. II. Tit. 7. Art. 92. huma mesa, como toalhas, guar
MENGOA.
goa. ".

O mesmo que Min danapos, talheres, cópos, &c. He
.… , , •

já do Seculo X, , , , , , , , , ;
MENGOADO.A. Falho, falto, MENSURA. Medida. Doc. de
desprovido. Pola, qual razão a dita Tarouca do Seculo XIV. e º sº\".
JZilla ficou menguada de gentes , e : - MENTARIO, Inventario, di
companhas, e esteve, e está em gram visão, partilhas. No de 1 1o8 se
perigo de se perder, e despovorar, fizerão certas partilhas, e princi
Carra d'ElRei D. Fernando de pia o Instrumento: :In Dei nomine
137o. Doc. de Moncorvo. ••

Colmellum facimus, sive Mentarium.


-- MENGOAR. Diminuir, min Doc. de Pend. V. Colmello, ou Co
goar, faltar, abater. Doc. de Bai lumello,
rám de 1315. -
MENTE. Lembrança , memoria.

MENI. Baêta, ou panno, assim f00enº:


Oue me, , hajam em mente
, , , , , , , , em sas Ora • -

chamado , e de que as mulheres


do campo fazião as suas manti MENTES. Cuidado, pensamen
lhas. He ella dita noiva vertida de to, lembrança. O fuiz ouve medo,
- vestidos novos de dia de voda. s. hua e desamparou o feito des ali, e nom
mantilha de menú, e hua que . . . á meteo bi mais mentes. . , i .
de courtanai, he bua fadrilha de bres MENTES. adv. Em quanto. E
toll, Doc, de Pendorada de 148o. não o podereis vender, mentes dura
E sendo a saya de bristol, claro rem as Vidas. •

está não seria de muito preço a MENTRES. Em quanto, pelo


tmantilha de meni, V. Bristol, tempo que. Mentres a quizer comer
Tom. II. ng
13 o ME ME
nº Moesteiro. Doc, de Almostér de nero de mercadorías, que n'huma
1287. • •
feira se podem vender. V. Aginha.
MEO BRANCO. Meio Real MERENDA. Tambem a meren
Branco, ou tres Ceitís. Aja de cur da era huma foragem, que algu
tas 729 réis , e meo Branco. Doc. mas vezes pagavão os caseiros aos
de Pinhel de 1423. " Senhorios quando entravão para os
* MEOGO. O meio de
COUS2. } --
alguma Prazos , e não era o mesmo que
• -

Chavadégo. Esto vos fazemos por bu


MEONO. O mesmo que Senhor, ma maraam, e hua fogaça , e bua
Nas Inq. Reaes de 1258 se achárão quabaça de vinho de merenda, e dar
tres casaes, #
a Ordem do Hos chavadégo, e revora aos frades. Doc.
pital tinha na Freguezia de S. Mar de Paço de Sousa de 1418. V. Me
tinho de Mouros, no lugar de Por rendal II.
tugéés, (hoje Portuges) pertencen MERENDAL. I. Certo panno
tes á Commenda de Barrô, que fue baixo. Tres varas de merendal. Doc.
runt de Meono Domno Egea, V. Mea de Pendorada no de 1277.
17/1. . . - | | | < {} MERENDAL. II. Merenda ,
MEOS. O mesmo, que Meios, almoço, e qualquer refeição cor
ou metade. , que o Cazeiro pagava ao
- #
- MERCADO. Lugar destinado enhorio , ou seu Mordomo. V.
para comprar, e vender em certo Almeitiga. De cetero faciat , quod
dia. V. Feira. . . in usu est in ipsa Villa : Merendal
. * * * -

- MERCADOR. Acha-se nos Pra vero, & Eiradéganemini redat. Doc.


zos antigos de Santa Cruz de Coim de Grijó do Sec. XIII.
bra esta frase: Pagão de pensão dr MERENDAL. III. Metade de
safras, de dous em dous annos, oito hum bragal, que erão tres varas,
alqueires d'azeite belo, e recebondo, e meia. E huum merendal, que som
de mercador a mercador ; isto he: tres varas, e mea de bragal. Doc.
Capaz de com elle se commerciar, de Pend, de 1432. Algumas vezes
e vender por bom preço, com uti se tomou por merenda.
lidade de quem compra, e vende. MERO, e mixto Imperio, V.
- MERCAR. Não só se tomava Cutello.
pela commutação do preço pela cou MESA. Vara da vide. Et de ba
sa comprada; mas tambem signifi cello, ex quo fuerit de police, é
cava: Contratar, trocar, e de qual de mesa. For, de Figueiredo de Cêa
quer modo fazer veniaga, e con de 12o4 , que no Seculo XV. se
tratolicito. Damos-lhis comprido po traduzio assim : Depois que for de
der, que elles possam cambhar, e mer pulgar, e de vara. Doc. de Macei
car com nosso Senhor ElRei de Por radám.___
tugal. Instrum. de Procuraç. de 13o6 MESCÃO. O lascivo , desho
nos Doc. de Tarouca. nesto, o que se ajunta carnalmen
MERCAR mui mal. Obrar sem te. Ap. Berg.
prudencia, e sem juizo, sahir-se MESCAR. Misturar. Ainda ho
mal da empreza. Era frase do Se je dizemos Mescla, e Mesclar, por
culo XIV. Mistura, e Misturar. ,

- MERCHANDIAS. Todo o ge MESKINO.OS. Deo-se este nos


ITRC
ME ME 13t
me á Familia dos servos , que vi go, hum testeiro de messe, e hum
vião , e trabalhavão nas herdades sesteiro de milho. E no Lº das Cam
dos respectivos Senhorios. A sua painhas de Grijó se lê : Este he a
pobreza, rusticidade, e pouco lu Finto de todalas rendas , e fóros,
zimento aos olhos do mundo os carnes, dereitos, dereituras de tri
fazia pouco afortunados. V. Fami go, e messe, e milho, cevada, e vi
Ilia, e Laudománes. nho, & c. E desta ennumeração se
| MESNADA. Companhia. Ap. manifesta, que por Messe se enten
Merin. - dia o o centéu. •

MESORES. Salmoens. Ap. Berg. MESTEIRAL. V. Meesteiral.


MESQUINDADE. Infelicida MESTEIROSO. Miseravel, po
de, desgraça, infortunio. Desfale bre necessitado. E porque aquelles,
ceo isto, e passados os folgados an que emprestado tiram, ou fazem ou
nos , vierão depois dobradas triste tros contrautos , por muito mesteiro
zas , com que muito chorárão suas sos, que som ... fazem muitas con
desventuradas mesquindades. fissoens, &c. Cod. Alf. L. II. Tit.
MESSAGEM.EEMS. Recado, 96. S. 4. -

mandado , ou mais bem o que se MESTER. V. Meerteiral. E tam


faz por intervenção de algum men bem, oficio, ou occupação.
sageiro. Que nom enlegam por Bis MESTERES. V. Misteres.
po, renom aquelle , que elle nomea MESTRE. O mesmo que Con
em suas Cartas , ou faz nomear em fessor, Director, ou Padre Espi
suas messageems. Cod. Alf. L. II. ritual. No de 1 122 Goldregodo, fi
Tit. 1. Art. 28. Tambem se escre lha de Pelagio, e de Vivili Ermi
via Mesagem no sentido de recado. giz, fez Doação a D. Gaudemiro,
MESSAR. Puxar a alguem pe Abbade de Santo Thyrso, de cer
las barbas, o que era huma das ta herdade, que tinha sido de sua
injurias mais atrozes, que os Por avó Unisco Paes, e diz: Admagis
tuguezes sentião; como se vê pe trum meum dominum Gaudemirum,
lo Foral de Santa Cruz V. Firma Abbatem Monasterii Sancti Tirsi. E
I. , e Tagante. ha outros Doc. do Sec. XII. e XIII.
MESSE. O mesmo que centeio. em que se tratão os Confessores
No de 1289 se obrigou o Reitor com o titulo de Mestres, synony
de Santo Estevão a pagar ao Mos mo de Abbades.
teiro de Vairám Dous moyos de mi MESUA. V. Mesuada.
lho, e dous moyos de messe, e bum MESUADA. Escolta, comitiva,
moyo de trigo , por huma medida, acompanhamento. Tomárão a mui
que é chamada teeyga: a qual medi tos do nosso Senhorio mantimentos,
da dixe, que ºyba foo altar dessa assi pera Nós, como pera as Lanças
sha Egrega: E dixe que essa medida da nossa mesuada. Cort. de Lisboa
era huma pedra cavada: E dixe que de 1 389. •

per essa medida avyam a dar os di MESURA. I. Urbanidade, cor


tos cinquy moyos ao dito Moesteiro tesia, honra, modestia, gravida
per trevudo. Doc. de Vairám. Em de. Fernam Gil, Thesoureiro da
muitos Prazos de S. Simão da Jun Guarda , diz no seu Testamento
queira se diz: Huma teiga de tri de 1299: Mando ao Cabidoo huuma
II Cí/*
132. ME ME
cuba chea de vinho; só tal condiçom, zendo , que os Romanos se fize-º
que elles, per sa mesura, sayam so rão senhores dos metaes de ouro,
bre mim, quando ssayrem da Missa e prata, que havia nas Hespanhas:
da Prima atá os trinta dias : e pe In potestatem redegerunt metalla ar
fo dá sa mesura deles huum Coreiro, genti, & auri, que illic sunt. Aºs
que cante por mim cada dia huua Mis moedas pois desta materia chamá
sa atá os trinta dias. Doc. da Guar rão os Romanos, como por anto
da. •
nomasia, Metalla: os Arabes Me
MESURA. II. Medida, termo, thalia : os Francezes Medail: os
conta, razão. Os Qapateiros, e Ai Hespanhoes antigos Metkaes : e
fayates, e Ferreiros, e outros Mes nós Medalhas, e na Baixa Latini
teiraaes vendem sem mesura o calça dade Medalla. Alguns se persua
do, e as outras couras, por tal gui dem, que Methcaes só denotão moe
sa, que em todo continuadamente a das de prata; porém o Padre Ris
mostram gram malicia em sseos mes co no T. XXXV, da Hesp. Sagr. nos
teres. Doc. de Silves de 14O4. oferece Documento, em que se
MESURA. III. Generosidade, faz menção de Metkaes de ouro de
primor, grandeza de animo. Se o Oviedo; e assim não erão só de pra
que está em seu juizo perfeito diz ta. A huns, e outros se declarava
mal dº ElRei, por lhe não fazer jus o valor na qualidade da moeda.
tiça, pode-lhe perdoar ElRei por sua No de 1 1 14 vendêrão os Monges
mesura, se quizer, e deve-lhe outro de Lorvão huma casa, que tinhão
sy fazer direito do torto, que ouves junto á Igreja de S. Pedro, den
se recebido. Cod. Alf. L. V. Tit. 3. tro da Cidade de Coimbra, que
MESURAR. Medir, regular. lhes coube na Conquista por El
Doc. de Lamego do Seculo XV. Rei D. Fernando, que della lhes
MESURAR-SE alguem. Vir fez mercê: De mostra domo propria,
ao que he de razão, medir-se pe quam habuimus de apressuria intra
la justiça , e equidade. E daqui Colimbriam, prope Ecclesiam S. Pe
Mesura, Medida; porque inclinan tri. E o preço fôrão 4o Metheaes
do-nos diante de alguem, damos Maravidís : Pro praetio, id est X
a entender, que a nossa pessoa he methcales maravidiz. Doc. de Lor
menor do que a sua: assim como vão. No III. T. das Prov. da Hist.
descobrindo a cabeça, nos confes Geneal, da Casa Real a f. 463 &º
samos por seus escravos, que se seqt. se achão varios Doc. da Vil
não cobrião diante de seus Senho la da Cornelhaã, junto a Ponte do
res. Hé de Barros. Lima, da qual o Rei D. Ordo
METERMENTES. Advertir, nho II. fez Doação a Santiago (em
pensar, recordar, ter lembrança. satisfação dos 5oo Numos, que seu
Ap. Bergan. Pai D. Affonso III. ####
METHCAES, ou Metkaes. O ao Santo Apostolo) no de 915.
mesmo, que medalhas, moedas, Estes dinheiros pois, que n'huma
ou dinheiros de ouro , ou prata, parte se dizem quingentos auri nu
por serem os metaes mais precio mos, em outra se nomeão quingen
sos. E neste sentido falla o L. I. tos metales ex auro purissimo, e tam
dos Machabeos Cap. VIII. V. 3. di bem Meticales. Aqui senão decla
T2
ME MI 133
ra a qualidade da moeda; ficando MEYAS. Metade. Meyas de XIV.
nos lugar a suspeitarmos, que Me teigas de pam. Doc. das Salzedas
tecaes será o nome proprio da moe do Seculo XIII.
da mais grosa, e Realenga, que MEYE. Medico. Ap. Bergan.
então corria; bem assim como ho MEYO. Parece ser hum canta
je, havendo dinheiros, e moedas ro, ou meyo almude. Quatro sol
mui diversas , entendemos por dadas de pam, e hum meyo de man
Moedas as de 48oo, se outra cou teiga. Doc. das Bent. do Porto de
sa se não declara. Na larga Doaç. I 364.
que a Rainha de Hespanha D. Ur MÉZINHADOIRO, Meezinha
raca, e seu filho o Rei D. Affon doyro, Meemzinhadoiro, e Myzy
so, juntamente com o Conde D. nadoyro. He termo particular do
Henrique, e sua mulher a Infanta Mosteiro de Bostello. E parece ser
D. Tereza fizerão á Sé de Ovie foragem, ou direitura, que se pa
do, em 26 de Março de 1 1 14 (se gava para a enfermaria. E bumbra
não há erro na Data) declárão que gall de pano pelo mézinhadoiro. An
a isto se movérão porque tinhão no de 1 443. Tambem se escrevia
recebido do thesouro daquella Ca Meezinhadoyro. Pelo meezinhadoyro
thedral , e para as urgençias da huum meyo alqueire de manteyga,
crúa guerra , que o Rei de Ara huum cabrito com dous soldos de pam.
gão lhes fazia, 9 dº 27o auri puris An. de 1368. Ibid. No de 1 375 se
simi metkalia , e Iod)4oo soldos dizia Meemzinhadoiro. E no de 1 347
de purissimo argento. E o Bispo D. e 1348 se disse Myzymadoyro. No
Pelagio, para Rebora desta Doaç. ve varas de bragal pelo myzymadeyro.
deo 3oo soldos de plata laborata. MEZQUINDADE. V. Mesquin
Ap. Hesp. Sagr. T, XXXVIII. f. 1o4. dade.
He facil de julgar, que estes Me MIGALLA. V. Ni migala.
zkaes erão as moedas mais grossas MHA. Minha. He do Seculo
daquelle tempo. XIII. e XIV.
METUDO.A. Mettido, metti MHEU. Meu. Doc. de 128o.
da. Doc. de 14 18. MHUA. Mula. Mando hi a mhua
MEYA. V. Mea. do meu corpo, isto he, em que ella
MEYADADE. Metade. Achamos andava. Testam. de D. Ermengon
que o Vigario , e Raçoeiros avião ça de 1294 entre os Doc. de Pend.
d'aver XIII. moyos, e tres quartei Em outros Doc. Latinos daquelle
ros de centeo ; e LX, moyos de vi tempo se diz: mulam corporis mei.
nho , e a meyadade das meuças, e Porém nhum de Bostello de 1258
das Anniversarias , e das Mandas, se declara: Meo soprino meam mu
e das direituras, cada hum anno: E lam, in qua ego ambulo,
assi o julgamos por sentença , que MIGENCIAS. O mesmo que
as ajão pera sempre. Doc. de Al emergencias. Tirava de si toda a
macave de 1 334. posse, auçom, Padroado, com todas
* MEYAR. Levar ao meio. Que suas migencias, e circunstancias. Doc.
o que hum delles começar, que o ou do Sec. XV.
tro o possa regitir, e meyar, e acabar. MILHEU. Parece ser panno que
Doc. das Bent, do Porto de 133o. vinha de França. V. Mirleu, e Mir
\ letti.
I34 MI MI
/* •

jeus. Huum manto meu de milheu, sa do , e outro tanto de largo: leva


rado com cendal verde. Doc. de San va hum alqueire de pão de semea
dura. •

tiago de Coimbra de 1319.


MILHO NEGRO. Era o que MINCIO. V. Nuncio.
chamamos milho miudo, mas de côr MIONA. V. Meana. Miona D.
inteiramente preta: ainda se acha Elvira. Inquir. d'ElRei D. Afon
em algumas searas de mistura com so II. de 122o.
o branco , ou louro , mas nunca MIRLEU.S. Mirleo, Mirlau,
separado, como algumas vezes fi Milrreu, e Milireu. Com toda es
zerão os nossos Maiores. Excepto, ta variedade escrevêrão antigamen
quod non debetis dare tertiam partem te os Portuguezes esta palavra,
de milio nigro: Ó si milium, quod que parece nada mais significa que
ibi habueritis, fuerit totum nigrum, Francez, ou Estrangeiro, cousa
debetis inde dare tertiam partem. Doc. de França, ou Estrangeira. He sem
de S. Thiago de Coimbra de 1 28o. controversia, que estando para nas
MILHOM. Em hum Testam. de cer a nossa Monarchia vierão a Por
S. Simão da Junqueira de 1289 se tugal muitos Estrangeiros, e prin
diz: It : a Stevão Joannes de Pera cipalmente do Reino de França,
fita, ou a seos heréés, hum quartei os quaes, feita a sua veniaga, des
ro de milhom. Daqui se poderia in tino, ou emprego, retornavão ao
ferir, que já então havia em Por seu paiz; mas em quanto aqui re
tugal milho Maíz, ou grosso, a sidião precisavão de Hospitaes,
que hoje chamão naquella terra ou Albergarias, em que se reco
Milhão. Mas a verdade he, que lhesem, e tambem curassem. Ti
os Antigos punhão muitas vezes verão-nos com efeito em muitas
m sobre o o ultimo de algumas pa partes, em que até hoje permane
lavras sem necessidade alguma : ce o nome de Milheu, Mileu, ou
v. g. furiom por furio, &c. E da Mirleu. Em Coimbra, e onde ho
mesma sorte se disse ali Milbom je vemos o Collegio de S. Paulo,
por Milho, pelo qual se entendeo havia huma destas Fundaçoens,
sempre o milho branco, ou miu que principiou logo depois da Con
do , até que no Sec. XVII. hum quista daquella Cidade por D. Fer
certo Paulo de Braga o trouxe á nando, o Magno; pois já no tem
sua terra, vindo da India. Ao prin po do Conde D. Sesnando se fun
cípio, dizem, se prohibio o se dou o Mosteiro de S. Jorge d'apar
meallo, e só alguns cultivárão pou de Coimbra na Mata de Mirláos;
cos pés nas suas hortas, e jardins. segundo nos infórma D. Nicoláo
Hoje hé o mais frequente pão na de Santa Maria na Chron. dos Co
quella Provincia, e lhe chamão neg. Regr., e se póde ver tambem
Milho Zaburro, Milho grande, Mi a Monarch. Lusit. L. VIII. Cap. 4.
lho graúdo, Milho Maíz, Milhão, ou f. 12. col. 2. E he de presumir que
Milho grosso, e Milho de Maçaroca. este sitio fosse pertença do dito
MILITES. V. Caualleiro. Hospital. No de Io93, em dias de
MINA, ou Modio. Certa me D. Martinho Muniz, e de sua mulher
dida de terra, de que os antigos Elvira Sesnandiz, fez João Gunde
usavão. Tinha 12 o pés de compri sendiz huma Doação ad Aulam Sanc
ff
MÍ * MI 135
ei Salvatoris, Obedientie Vaccarize, ve antigamente Emparedadas.V. Ema
que est fundata in Colimbria Civita paredada. ,
te, jaxta illos. Mirleus qui dicuntur.
. Mas donde viria chamarem os
Doc. Orig. do Cabido de Coim Portuguezes Mirleus, aos France
bra. (*) Continuou este Hospi zes , e Estrangeiros?... Poderia
tal, ou Albergaría debaixo da Pro mos avançar, que do Alemão Mir
tecção Real entre as Igrejas do le, ou Schmirling, que significa
Salvador , e de S. Pedro, como huma especie de açor, da grande
consta de huma Sentença da Col za de hum melro, o qual se cria
legiada de S. Thyago de 1344, na Noruéga, e Suevia , e de In
em que se lê: Super decimam pos verno se acha de arribação em Por
sessionum, ó bareditatum Ospitalis, tugal, a que chamamos Esmiriº
seu Albergariae Domini Regis, site lham: nasceria o nome de Mirleu;
in Parochia predictae Ecclesiae S. Pe alludindo ao Mirle , que vindo á
tri. O Senhor Rei D. Manoel agre Primavera se torna ao seu paiz;
gou esta Casa Pia ao Hospital Real pois os que vinhão de França, e
da Cidade de Coimbra, com ou outras partes , regularmentes fal
tras semelhantes Fundaçoens. No lando, só aqui se demoravão, em
Tombo, que de todas ellas man nhão.
quanto os seus interesses os deti • • • • •

dou fazer, tem lugar distincto a


dos Mirleus : e elle se guarda no MISQUINHIDADE. O mesmo
Archivo da Univ., a que tudo fi que Mesquindade.
naimente se unio. MISSA. Deo-se este nome aná
- Em 1139 se fez Doação do Cou tigamente não só ao Incruento sa
to á Hermida de Santa Comba, jun crificio do Altar; mas tambem lº:
to ao rio Corrego, e entre os mais Ao Oficio Nocturno, e Vesperti
limites por onde este Couto par no. 2º: Aquella parte do Sacrificio,
tia, erão a Fonte do Mirleu , e o a que podião assistir os Cathecu
Palacio Francez : & inde quomodo menos, que era desde o principio
vadit ad illum fontem , qui vocatur até o Offertorio exclusive. 3º:
Mirleu, & inde pergit per illud Pa Missa dos Fiéis, que era do Of
iacium Franciscum. V. Cirita. E não fertorio inclusivé até o fim. 4º: A
parece natural, que quem deo o toda, e qualquer Oração, ou Col
nome ao Palacio, ou casa de cam lecta. 5º: Ás Liçoens, que nas
N, igualmente o desse á fonte?.. Matinas se custumavão lêr. 6º:
o Sec. XIII. se faz larga menção Festividade de algum Santo, que
nos Doc. da Cidade da Guarda de com grande concurso do Povo se
hum sitio chamado Mirleu, e ho celebrava. 7º: Á Feira, ou Mer
je Mileu, que ficava para o Nas cado , que por occasião do dito
cente, e não longe dos seus mu concurso, se fazia na solemnidade
ros: ali havia huma Albergaria do de alguns Santos. 8º: A tudo o
mesmo nome, e junto della hou que pertencia ao Oficio Divino,
3.
*___*__ • |- * * * *-* ---- *– e — - —4–

, (*) A Igreja do Salvador de Coimbra era Obodiencia, Priorado, ou pequenº Mos


reiro áa filiação do da Vaccariça , em quanto este não foi doado pelo Conde D. Rai
mundo, e a Rainha D. Urraca á Sé de Coimbra, com todos os seus bens, e Pertenº
ças no de 1994, sendo Bispo da mesma Sé D. Cresconios
136 MI MI
duas Missas de sobre Altar. E de
a que tambem chamárão Liturgia.
IDucange V. Missa, e Selvagio Anti clarava-se, que fossem das que se
qui. Christian. Institut. L. II. Cap. dizião sobre o Altar, para que se
6. S. 3. Aqui fallaremos só dos dif entendesse , serem daquellas em
ferentes nomes da Missa que em que se celebrava o Tremendo Sa
os nossos Munumentos se encon crificio, e não das que só consta
trão: º
vão de tantas, ou quantas Ora
MISSA dos pobres. Esmola , çoens, que se dizião fóra do Al
que nos adros das Igrejas entre tar, e no tempo mesmo do Sacri
elles se repartia, a fim de que en ficio ; como se dirá V. Missa de
comendassem algum defunto , ou Pater Noster: Ou daquellas, em
defuntos a Deos. Pitanças do vi que se oferecia alguma cousa pe
nho, da carne, e do pescado, que le los assistentes , e nas quae
o
s as
mesmas mulheres se diziã Cele
vam aa dicta nossa Eigreja polos par
sados, qui hisoterrarom (quando por brantes; como de huma , º que to
elles dam as Missas aos pobres) as dos os dias obradava seu Marido,
partam antre si os presentes, que lo diz S. Greg Turon. L. de Glor. Cen
go forem fazer oraçom pelo passado ferror. Cap. 65. Celebrans quotidie
sobello moymento, quando hi levarem Missarum solemnia, Óº oferens Obla
essas pitanças. Doc. de S. Pedro de tionem pro anima viri.
Coimbra de 1 348. , , e MISSA Calada. O mesmo que
MISSA de Psalterio. Certo nú Missa Baixa, e na qual supposto
mero de Psalmos, preces, e ora que assistisse algum Acolito , o
Celebrante a dizia em voz submis
çoens, que devia rezar o Capellão
todos os dias no tempo do Inter sa, e sem nota alguma Musical,
dicto; satisfazendo assim pela Mis ainda a mais simples, e plana. Era
esta Missa o contrario da Mirsa
sa de Sacrificio, que no mais tem
po devia celebrar. Capellanus, cam alta, ou Pública, que se celebrava
Interdictum fuerit, debet cotidte ip com delicado, e vagaroso canto,
sam Missam per salterium recitare. e frequencia de Ministros, assis
Doc. de S. João, de Almedina de tindo grande multidão de Povo de
1284. • * * ••
ambos os sexos, que nella ofere
MISSA de Sacrificio. O mesmo cia os seus Donativos, cantava jun
que Missa de sobre Altar. Sejam te tamente, e commungava. No mes
hudos a fazer dizer cada dia huma mo Testam. diz o Conde : E me
Missa de Sacrifficio de sobre Altar. cantem Missas Ofizeadas, e cala
Testam. do Conde de Barcellos, D. dar- |

Martim Gil de Sousa. Doc. de MISSA Cantada. O mesmo que


Santo Thyrso de 1312. … Missa particular, ou zezada; mas
MISSA de sobre Altar. Era mui com a diferença , que então se
frequente entre nós esta expressão usava de levantar o Sacerdote al
no Seculo XIII. e XIV. No Tes gum tanto a voz: Cum modico, gra
tamento de D. Pedro Conde de toque vocis flexu, non multum 4 lec
Barcellos de 135o, que se guar tione discrepans; ut pronuncianti vi
da em Tarouca se lê: Cantem no di cinior esset, quam canenti. Selvag.
to Mosteiro de cada dia para sempre ubi sup. Cap. X. S. 3. Destas Mis
S3S
|

MI • • Mi 137
sas falla S. Willelmo nas Constit. de Thomar. E não se estrañhé ó
Hirsaug. L. I. Cap. 86: Sacerdos, cantar Preces, e Oficios de Defuntos
si privatam Missam cantare voluerit, no Domingo; pois ainda o não ha
inuit Converso cum signo Crucis, quod via prohibido a Liturgía daquelle
est signum cantandae Missae. E o tempo. * , |

Concilio de Moguncia de 795. sub No precioso L.º que compoz o


Leone III., prohibio, que nenhum Grande Antiquario D. Bernardo da
Sacerdote cantasse Missa solitaria, Encarnação com o Tit. Memorias,
ou sem Acolito; pois, dizem os e Clarezas sobre as Capellas, e Le
Padres: Nullus Presbiter, ut nobis gados do Mosteiro da Serra, a f. 16.
videtur, solus Missam cantare valet c?" seqt. , mostra com evidencia:
recte. Quomodo enim dicet: Dominus que antigamente Missa cantada ,
vobiscum, vel Sursum corda admone era Missa rezada: e Missa Oficia
bit habere, & alia multa his simi da , era Missa cantada, e solemne.
lia , cum alius nemo cum eo sit?.. MISSA Oficial. O mesmo que
V. Mesura. • •

Missa Oficiada. Mando , que ao dia


MISSA Chão. Missa rezada. It : do meu passamento, que contem hu
no dia de minha sepultura cantem hu ma Missa Oficial. Hoje tem o Ti
ma Missa Oficiada, e Chãos, quan tulo de Missa in die Obitiis. Doc.
tas poderem dizer. Doc. de Grijó de Lamégo de 1316.
do Sec. XIV. MISSA Offizeada. O mesmo. V.
MISSA Oficiada, e Missa Ofi Missa calada.
cial. Assim chamavão á Missa de MISSA de Pater Noster. Certo
3Requiem, a que precedia o Oficio número de Oraçoens do Padre nos
| de Defuntos, e aqual se solemni so, que devíáo rezar os leigos, e
# zava com Ministros, Incenso , e as mulheres, que não soubessem
Canto. Doc. de Lamego de 1 364. Oficiar as Missas de sobre Altar.
Havendo os Confrades de Santa V. Missa Oficiada.
Maria do Castello de Thomar fei MISSAS dos Espritaaes. Esmo
to o seu Compromisso no de 1388, las dadas aos Hospitaes , e appli
ordenárão, que o seu Capellão Can cadas pela alma de algum, ou al
te cada dia (diga Missa rezada) guns defunctos. Ao que dizem aos
na Igreja de Santa Maria do Castel sessenta e tres artigos, que toma as
Io por todollor Confrades : E cada Ofertas , e Missas dos Espritaaes,
Domingo diga Missa Oficiada de San & c. Cod. Alf. L. II. Tit. 7. Art. 63.
1a Maria, e os Confrades oficiem a MISSAS Públicas. I. Estas erão
Missa. E os que nom souberem can as Missas, que os Bispos podião ce
tar, digam em tanto senhas Missas lebrar nos Mosteiros com toda a so
de Pater Noster: e as mulheres ou lemnidade, prégando, chrismando,
pro si, por todollos Confrades. E fal &c. e não as que nos taes Mostei
lando das Missas Oficiadas, que se ros se celebravão particularmente
havião de dizer pelas almas dos pelos Monges, com as portas da
Confrades, diz: He estas Missas Igreja abertas, e nem ainda as Mis
Oficiem-nas os Confrades : e os lei sas Conventuaes, ou do Dia, que
gos, e as mulheres digam em tanto solemnemente se cantavão. -

senhas Missas de Pater Norter. Doc. Em alguns Mosteiros se acaute


Tom. II, . S lou
138 MI MI
lou não houvesse as ditas Missas não de Pater moster, mas sim de
Públicas, para que o concurso das alguns Psalmos, Preces, e Ora
muitas gentes seculares, e do ou çoens. No de 1 173 Fernando Do
tro sexo, não inquietasse a Gente mingues fez Doação á Igreja de
Religiosa. Doc. de Grijó do Sec. S. Pedro de Coimbra de certas her
XII. dades em Almalagôez com suas
MISSAS públicas. II. Tambem searas, assim de terras de pão, co
se disserão Missas públicas as que mo de vinhas, com tal condição:
erão solemnemente cantadas por ut omnibus Presbiteris celebrent illo
muitos , e na presença de todo o die (do seu obito) Missas pro me;
povo , á diferença das que cele ó. Diaconi, & Subdiaconi, & Aco
brava hum Sacerdote, acompanha liti recitent singulas Missas pro me;
do só de hum acolito. No de 1 347 e vestidos de sobrepellizes, e com
instituio no Mosteiro de Pendora vélas nas máos sahião sobre a sua
ra huma Capella Margarida Mar sepultura; e vistão, e calcem hum
tins Bubal: e diz, que ella sabia pobre; tirando todo o poder aos Ab
muito bem , que muitos instituí bades de Lorvão de alienarem estas
rão suas Capellas, em que mandá herdades , assim como fizerão a ou
rão cantar huum Capelam de cada dia tras , que se tinhão deixado a esta
Missas rezadas : e outros er ordinha Igreja , que era do dito Mosteiro.
rom ssas Capelas em Conventos de Doc. de S. Pedro de Coimbra. E
Moesteiros , que lhys cantassem ou note-se a sem razão, com que se
zro si huma Missa de cada dia rezaimpugnava a queixa d'ElRei D.
da : E que destas Missas poucas Sancho I. 4 Sé Apostolica, funda
se cumprião; porque as ditas Mis da na dilapidação dos bens tempo
sas nom som pubricas , e cantadas raes, que não cessavão de fazer
em Pend.
de pubrico de muitºs , & c. Doc. os Abbades de Lorvão, merece

dores por tanto de serem expul


MISSAS dos Diaconos Subdia sos , e os seus Monges , deste
conos, e Acolitos. Differião das Mosteiro. (*) |

Missas dos Leigos , em constarem MISSAL Mistico. Assim cha


IT12

(*) Havendo fallado da Missa, não será desacerto dizer alguma consa da sua esmo
la, que parece foi subindo gradualmente com os generos da primeira necessidade. Se
gundo alguns Doc, de Viseu, no Sec. XII. não passava ella de hren soldo. No Sec. XIII.
chegou a dous soldos. . No de 1304 era já de tres soldos, como se vê por hum Doc da
Igreja de S. Thiago de Coimbra. No de 152o se pagava huma Missa de tres em renge,
ísto he, com Ministros Sacros, a canto de Orgão, e com assistencia da Communidade
de S., Francisco de Lamego, por 2o réis; ficando-nos lugar de prosumir, que a rezada
e de hum só, Padre seria menos de 1o réis. Consta por hum Doc. da Univ. que no de
2523 se mando" pagar a Missa a 18 réis ; pagando-se antes, a 12 réis. No Synodo de
Coimbra de 1566 se mandou que a esmola da Missa fosse de 30 réis; sendo antes de
2o réis. No de 159o por huma sua Provisão para a Misericordia de Coimbra concede
o Senhor Rei D. Manoel, que fosse de 40 réis a esmola da Missa rezada. Ibidem. Na
da disto nos póde causar admiração á vista de hum Doc. de S. Christovão de Coim
bra de, 1401, pelo qual se commutou a pensão de sete alqueires de azeite por sete livras,
cinco das quaes fazião hum real de dez soldos. V. Decimas , onde se achará a avalia
ção dos fructos no de 1515 , e combinando o tempo que passou com aquelle em que
vivemos, será facil o saber quanto, excediáo os 2, ou 3 soldos dos Antigos aos 12o réis,
que algumas Constit. Diocesanas ultimamente prescrevêráo.
MI
MI 139
mavão ao Livro, que trazia as Mis do dáquelle, que he misteiroso, e º
sas de per annum, e tudo o que recompensamento da honra aaquelle ;
pertencia á Liturgía do Altar. Ou que he muito nobre , e excellente.
tros Missaes havia, que constavão Chron. do Conde D. Pedro. C. 1.
só de alguns Oficios Divinos, Ora MISTERES. De Ministeriaes se
çoens, e Collectas, que tambem formou Misteres, que erão os Ser
se chamárão Missas, como se dis vos da gleba, escravos , ou colonos
se V. Missa. Missal de papell, rro de certas fazendas, os quaes erão
maão, mistico. - Outro Missal soo diferentes dos Servos caratos, don
mente Oraçoens. Doc. de S. Pedro de entre nós se derivárão as pala
de Coimbra de 15 14. Está bem vras Casal, e Caseiro. Dos Roma
clara a diferença de hum; e ou nos, e depois dos Godos, que dis
tro Missal. Este Missal se chama punhão das terras, e pessoas dos
em outros Doc. Livro Mistico. No vencidos, segundo a vontade do
Inventario da Igreja de Santo An seu Principe, nasceo o Poder He
dré de Escariz de 1418 se achá rí!, que os Donos exercitavão nas
rão: Duas vestimentas perfeitas: Hu terras , e pessoas , que lhes erão
ma Capa de sirgo: Gum caliz de es dadas, e repartidas; chegando mes
tanho : Hum livro Mirral Mistico. mo a serem senhores dos Córpos,
Doc. das Bent. do Porto. e Vida (e talvez das honras) des
MISSÁM. Homem, ou mulher, tes Ministeriaes, Mistéres, ou Es
que servia de correio, ou de levar cravos do torrão. Quando principiou
recados. Vem do Latino Missus. a nossa Monarchia já o Poder He
Nos tempos antigos era frequente ril se havia convertido em juris
a Pensão de serem os homens, e dicção Patrimonial, que (exceptuan
mulheres peoens obrigados a ser do as vidas, e honras) nada dife
vir de graça ao Senhor da terra ria da 1.° na escravidão de rece
nestas viagens, como se disse V. berem as Leis arbitrarias, e talvéz;
Carreira. No Foral de Cêa de 1 136 dispoticas, dos respectivos Senhorios,
se eximem as mulheres de recado Contribuiçoens , Serviços, juizos,
desta obrigação gratuita : Nulla Penas, e tudo o mais, que estes
mulier missám non faciat nullum ser Legisladores lhes impunhão; pro
»itium de Senior terrae, nisi pro suo hibindo-lhes mesmo algumas ve
precio. Lº dos For. Velhos. zes, e com graves penas, o rec
MISSAR. alguem. Dizer Missas corerem á Real Córoa. E he bem
pela alma de algum defunto. No para admirar, que ElRei D. Afon
de 1 156 fez Mendo Viegas o seu so II. longe de exterminar, pare
Testamento : nelle deixa a terça ce deo a sua approvação a seme
parte de toda a criação de animaes, lhante abuso, quando no de 12 Ir
fructos , e renóvos aos cativos; determinou com graves penas: Que
Excepto unde me missem, ó" in mor o homem livre possa viver com quem
item, &c. Doc. de Pend. lhe aprouver : excepto os que vive
MISTEIROSO. Oficial meca rem nas Herdades, e Testamentos;
nico, trabalhador rustico, obreiro. entendendo pelos que vivião nas
E porque segundo o Filosofo , o re Herdades os Escravos dos Grander
compensamento do ganho deve ser da Senhores , e pelos que vivião nos
S ii Ter
••

I4O MI MO
Testamentos, os Escravos das Igre Achardõ Santa Maria, e Jozeph, e
jas, e Mosteiros, a quem por Doa o Moço posto no presepio. Assim tra
çoens as taes terras, e Colonos duzião : Infantem positum in pre
fôrão concedidos. ElRei D. Affon repto. •

so V, mitigou as penas desta Lei, MOÇOCO._Menino, que seme


deixando-as ao arbitrio dos Julga na Igreja, ou Sacristia, e que aju
dores, em tal guisa porém, que os da ás Missas com Veste, ou Op.
forçadores da Liberdade nom fiquem pa Ecclesiastica, ou Sotana, Sa
sem pena. V. Cod. Alf. L. IV. Tit. cristão. Estes meninos como addi
2o. § 3. O tempo foi mudando os dos ao serviço da Igreja - e parti
Costumes, e os Senhores de Bara cipantes dos seus emolumentos, e
ço, e Cutelo, de Pendão, e Caldei benésses , fôrão chamados Músi.
ra, de Mero e Mixto Imperio, fô nhos, Mourinhos, Fradinhos, Mon
rão restituindo , a seu pezar , a ginhos, Monacilhos, Monachinos, !
Jurisdicção Suprema aos nossos Mo Moçocos. Em huma Doação de L4
narchas, que já com maiores luzes mego de 1253 se faz menção dº
a procurárão reunir á Real Corôa, huma vinha em Repolos, que pai.
até que pela Ordem. Manuel. L. II. tia com Herdade, Quam tenet Lelº
Tit. 46. se extinguírão totalmente rentius Ege.e., Óº Tarazias, mutuº
os Servos, ou Escravos da gléba. de Ecclesia. Doc. de Lamego. W.
MISTERIOSO. Preciso, neces Molachino, Monacbino, e Moosinhº,
sario. Adjectivo
sidade, de Mister, neces
ou precisão. MOÇOS amostradiços. Assim

chamavão os aprendizes dos Peº


MITRO. Manipolo. Duas ves cadores no de 1331.
timentas: hum manto, e alva, e mi- MOÇOS noviços, e ensinadº
tro, e stola, e cinto. Doc. de San ços. O mesmo que Moços amostrº
to Thyrso de 1415. diços. Moços noviços, e ensinadiº',
MIXTO. Pequena refeição de que nom tenham ainda pescado em "
pão, e vinho, que o Hebdoma tros logares. Doc. de S. Pedro de
dario, Ledor, e Serventes da Me Coimbra de 1 231.
sa tomavão antes, que entrassem MODIO. I. Medida agraria.V.
Mina.
a cumprir com as suas respectivas •

obrigaçoens, na Religião de S. MODIO. II. Meio almude, al


Bento, e de Cister, na fórma da queire. No Testam. de D. Pelº
Santa Regra Cap. 38. Doc. de gio, Bispo de Lamego de 1246,
Tarouca do Seculo XIV. se faz larga menção de Modios. B:
MOÇAR, e Mouçar. Pardiei mandat... Altari S. Marie de Car
ros, ou Outeirinho, que se fór cari X. libras cere per mensura"
ma dos edificios arruinados. Assim Thesauri, & XX, modios de cente"
o explica huma sentença, que se in Ponte, & XX, modios tritici já
acha no Tombo de Castro de Avel Pilla Majori ... It : joanni Petri,
lans de 15 o I. E desí a hum Mou XV. modios de pane. Petro Galleco...;
çar, quer Pardieiros, quer Outeiri IP'º modios. Stephano Godini, VIII
nho, que se chama Val de Pereiras. modios. Vicentio VIII. inodios. Mar
Doc. de Bragança. V. Modorra. tino Gunsalvi IVºr modios. Martinº
MOÇO. O mesmo, que Menino. Petri IV ºr modior. Petro Gascº "
ff0
MO |MO I4 f
modios.... Mulieri porta clause II. preço fôrão dez Modior; e isto ao
modios. Dominicae de Castello IV.ºr
mesmo tempo que já o dito Egas
modior. E são tantos os Modios, que Moniz , e sua mulher D. Dordia
a não serem alqueires, será preci havião comprado no mesmo sitio
so confessar , que deixa mais de outra Herdade, a joab, e sua mu
2odooo alqueires em Moios: o que lher julia no de Io99 por LXX.
de nenhua sorte se póde acreditar. soldos. (Ib. n. 2.) Fal. D. Tordia
MODIO. III. Persuadírão-se al antes de 1 1 16. V. fantar.
guns que houve entre nós moeda Depois disto no de 1 1 2o D. Ejege
corrente, chamada Modio, em vis va, Prolix Guedas , vendeo a D.
ta das innumeraveis Escrituras do Egas Moniz , e a sua mulher D.
Seculo XI. e XII, que de Modios Dorothea hum Casal em Esmoriz,
fazem menção; confessando ao mes junto ao Castello de Bayám por
mo tempo que lhe ignoravão o cu C. modios, que ella lhes devia de
nho, e o valor. Com efeito, se Luctuosa por seu marido Froila Vi
em toda a parte, particularmente liniz. E como não tivesse modo de
no Mosteiro das Salzedas, se acha lhos pagar, veio pedir Misericor
hum avultadissimo número de Com dia, pondo-se de joelhos, e bei
pras, que Egas Moníz, e as suas jando-lhe as mãos, e oferecendo
quatro (*) successivas mulheres lhe este Casal, que tinha sido de
fizerão, e cujo preço fôrão tantos, sua Mãi Bona Fáfias, e estava de
ou quantos Modios. Taes são, por baixo do monte Gestaçô, discurren
exemplo: A compra de huma Her te rivulo Ovil. (Gav. 7. Mass. 4. n. 6.)
dade em Paredes de S. Martinho No de 1 1 3o comprou o mesmo
de Mouros, que elle, e sua mu Egas Moniz, e sua mulher Maria
lher D. Dordia fizerão a joão So Onoriquíz outras Herdades por Bra
nílo, e sua mulher Elvira, no de gaes, como se disse V. Bragal, e
* Io5. (Gav. 4. Mass. I. n. 3.) e o outras por Modios. E•

à=

(*) He certo que no Sec. XII. coexistírão mais de hum Egas Moniz; e daqui po
dería alguem persuadir-se, que as tres mulheres antes de D. Tereza Affonso, fórão de
outros Egas. Mas esta persuasão se desvanece inteiramente á vista de que só na acquisi
ção dos # , que, sem a mais leve dúvida, fôrão do marido de D. Tereza Affonso,
os seus respectivos nomes se encontrão , e fóra das Salzedas se não achão , ou ao me
nos , sem que nos deixem bem persuadidos , que ellas de nenhum outro Egas Moniz
fôrão consortes. Em Pendorada, se acha hum Pergaminho de 1142.; que contém 2 Ins
trumentos: o 1.º he Doação da Villa de Savarigones, que Egas Moniz, e sua mulher
Gontina Ramirez fizerão, metade a S. Martinho da Espiunca , e metade a Pendorada:
C 2. º he huma Carta de meação de todos os seus bens , no caso que nenhum delles
se tornasse a casar, depois de viuvo. Estes mesmos fizerão o seu Testamento de mãe
commum no de 1163, em que libertão por sua morte todos os seus escravos Mouros »
que então forem baptizados: Et ipsa criaçom, que fuerit baptizata ad mortem nostram si:
fibera. Ainda erão vivos estes consortes no de 1174, como consta da Doação, que fi
zerão a Pedro Moniz, a quem tinhão criado, e elle os tinha servido: Pro criani: , 4
ro servicio. Mas daqui senão conclue , que Egas Moniz não tivesse quatro_mulheres:
nicamente se mostra, que Egas Moniz, senão teve companheiros na educação, e con
fiança intima do Principe, não foi com tudo singular em o nome, que tão honrosamen
te o distinguio. Doc. de Pendorada, o Nobliário do Conde D. Pedro Tit. 36. f. 187, e
seg. diz , que este honrado homem fóra casado com D. Mór Paes , filha de D. Payo
Guterresfórão
lheres da Silva, da qual
5, e que tivera
esta foi descendencia. A ser assim, diremos que as suas mº
a primeira. •
I 42 MO MO
E finalmente o mesmo D. Egas chivos todos da sua Congregação,
Moniz , e sua mulher D. Tereza falleceo no Convento da Serra do
Afonso , desde 1 134 por diante Porto , onde se guardão os seus
comprárão muitas, e diversas Her MSS.) se acha huma sobre os Mo
dades, que hoje são das Salzedas, dios das Vendas, e Compras anti
onde se guardão os Titulos, e to gas, em que o seu A. suspeita,
das se pagárão portantos, ou quan que elles erão Moedas, e não Me
tos Modios: E tudo isto parece nos didas. Com efeito, no Lº Baio fer
faz violencia, para dizermos, que - rado de Grijó (assim como em ou
os Modios erão Dinheiros daquelle tros muitos Doc.) se achão Com
tempo. Concorre para esta presum pras, e Vendas feitas sem dinhei
pção forte, o vermos ali a Carta ro, mas só pelo seu equivalente.
Original (Gav. 7. Mass. 2. n. 34.) Individuemos algumas. No de 1o87
pela qual a Rainha D.Tereza ven foi o preço de huma herdade em
deo a Igreja de Santa Leocadia de Villanes Unum scutum Franciscum in
Paços, no Concelho de Bayám, praetio defenito X, solidos, Óº X cubi
por D. modios. (*) E parece indig tus de panno antemano. Era então a
no da Magestade o vender Igrejas Terra da Feira do Territorio do Por
por alqueires de pão. to. No de 1 o9 1 se vendeo outra em
Com tudo eu me persuado, que Grijó por Duos modios milii, & unam
estes Modios erão verdadeiras mecapam nigram. No de Io98, sen
didas de pão, estimadas, e redu do ainda a Feira do Porto, vemos
zidas ao preço porque então cor o preço d’outra Unam equam pre
ria; como se disse V. Bragal. E tiatam in XXX, & V. modos, &
nem a venda da Rainha he de gran / solidos argenti. De outras cons
de força ; sabendo nós a grande ta, que se comprárão; já por hu
precisão, que ella teve de manter ma mula negra; já por huma vacca
gente de guerra , posta em cam com seu bezerro; já por hum boi;
po , que senão póde mover sem já por hum cavallo; já por X mo
largas muniçoens de bocca, entre dios in ganato: já por Unum obtimum
as quaes tem o lºo lugar pri Kaballum, é unam bonam mulam,
meiro : e isto nhum tempo , em é º sex morabitinos aureos; já por
que os Mouros cada dia talavão Duas equas bonas , ó praegnatas,
os campos, e os poucos lavrado é º XL. modios : & fuit finitus nu
res convertião os eixadoens, e ara merus CXX.fi modios; já por XIII.
dos em espadas, lanças, e capa modios in saia Francisca, & in bra
CeteS. cales VI, praetiata, & VII. braca
Não se me esconde que entre hes de panno; já por D. modios ple
as Observaçoens do Incansavel , e nos. No de 1 136, e sendo a Fei
Exactissimo D. Bernardo da Encar ra Territorio do Porto, foi o pre
nação, (Conego Regrante, que, ço de outra Unum caballum ruzuna
havendo manejado escrupulosamen cum freno. & sella. E no de 1 146
te, e com grande acerto, os Ar Unam equam bravam cum sua filia,
Ó

(*) Veja-se V. Igreja o que se deve julgar desta Venda. No de 12o8 ElRei D.
Sancho I. deo a Villa de Santa Leocadia de juro, e herdade a D. Ponço , e a sua
mulher D. Maria Martins: a Doaç. Orig. se acha nas Salzedas, G4 v. 7. Mass. 2. n. 24.
MO — MO I43
& XII, moravidis, ó unum bragal. do mais facil, e seguro de respon
No de 1 1 6o achamos ali duas Com der a tanta copia de Modios, que
pras, de huma das quaes foi o pre no Sec. XI. e XII. entre nós se
ço L. morabitinos in auro, & in ga encontrão.
nado : E o da outra Unum cabalum Porém se algum com bons fun
in L. modios , Óº tres morabitinos. damentos disser, que Modios era
E para não ser infinito no de 1 1 63 o mesmo que Morabitinos, ou Meyos
vendeo Gonçalo Garcia huma Ma Maravidis velhos, ou menores , a
rinha Vobis Praeposito Ecclesiole que chamárão Mozmodiz : e que
Dompno Petro , ó Priori dompno sendo estes Mozmodis o preço de
Godino, Óº omni Conventui canonico hum alqueire de pão : se tomava
rum de Ecclesiola ... pro pretio, o Modio, ou alqueire pelo preço,
guod a vobis accepi XIIII, modios, que ordinariamente valía : não con
vel solidos. Ib. a f. 8o. tenderemos; mas antes sería bem
Nas Bentas do Porto se acha digno dos nossos louvores, pois
huma Carta de venda de 1 124, nos esclarecia em huma cousa bas
cujo preço fôrão XIII. modios, si tantemente escura, e intrincada
cut in urum est. Em outra de 1 1 16 Ao menos, esta parece ser a ver
foi huma vacca , e hum boi, é? dadeira inteligencia da Doação do
PT. modios de pam, & vino. Em ou Mosteiro de Rio Tinto a D. Ugo,
tra de 1 122 fôrão XXX. modios ple Bispo do Porto, no de 1 1 19, que
nos. E finalmente no de 1 134 Egas se póde vêr V. Charidade. VIIII.
Monics, e sua mulher Tereza Af MODORRA, Monte de pedras
fonso, vendêrão huma herdade em miudas, ou cascalho. E des bi di
Taroukela, que lhes tinha dado o reito a hum viso levantado, pequeno,
Infante D. Afonso Anrics, e o pre onde está modorra pequena de pedras.
ço foi hum Kavallo de 25o modios, Tombo de Castro de Avelans de
e huma mula de 3oo modios. - 15 o 1. Havia, como hoje , Viros
Do sobredito se póde inferir Agrandes, e pequenos. Daqui viría
que os Modios , ou alqueires de chamar-se Modorra áquelle profun
pão erão synonymos de soldos : e do somno, especie de letargo, que
que sendo o soldo o preço regu deixa os viventes pesados como
pedras. •

lar de hum alqueire de pão, tan


to fazia dizer soldos , como Mo MOEDA. Assim chamárão o Di
dios; pois vemos, que os diferen reito de bater moeda; ou os emo
tes generos de commutaçoens erão lumentos, e pensoens, que ao Se
estimados , e reduzidos a soldos, nhor da moeda se pagavão; e tam
ou otitra moeda, que então corria. bem certa somma de dinheiro, que
Este pensamento se confirma com ou todos, ou de tantos em tantos
outra carta de venda de 1 122 no annos se pagava ao Principe, ou
mesmo Lº Baio a f. 47. Y. cujo Donatario da Côroa , pelos seus
preço foi Duos modios de triti respectivos Vassallos (ao que em
co in XIII , Óº unum mantum ag Aragão, e Cathalunha chamavão
nínum investítum in quatuor modios, Monetatico, ou Monetagio.) Não só
&º unum quarteirum de cibata in mo havia Moeda Real: tambem muitos
dium. Este , a meu ver, he o mo Baroens, Arcebispos, Bispos, Igre
J38 »
I44 MO MO
jas, e Mosteiros (ainda de Frei vou ; como se vê do Rescripto
ras) tiverão Privilegio de cunhar de Honorio III. de 23 de Dezem
moeda com particular divisa. Desde bro de 1 221, pelo qual manda aos
o IX. até os fins do Sec. XIII. fô Bispos de Astorga , e Tui fação
rão mui frequentes estas Mercês, restituir á Igreja de Braga, além
que principiando adiminuir-se no de outras cousas, Cancellaríam, Ca
Sec. XIV., presentemente se achão pellaníam, Monetam, de que o Rei
revogadas todas, e extinctas. Du a tinha despojado. Mas nada apro
cange V. Moneta nos oferece hum veitárão as diligencias do Arcebis
dilatado Cathalogo dos que anti po, e Cabido de Braga, até que
gamente em França cunhárão moe no de 1 238, e a 26 de Novem
da : e na Tab, VIII. e IX. repro bro , se concordárão em Guima
duzio a figura de muitas Medalhas, raens o Arcebispo D. Silvestre,
que nestas particulares Oficinas se e seus Conegos com o Senhor Rei
fabricárão ; sendo bem para notar D. Sancho II. ; dando este Sobe
huma dos Arcebispos de Leão com rano áquella Primacial as Igrejas
a legenda: Prima Sedes Galliarum. de Ponte do Lima , e da Tougiuba
- Em Portugal não consta fossem em terra de Faría, livres, e isen
os nossos Monarchas tão prodigos tas de todo, e qualqaer Direito
dos Direitos Magestaticos , que Real : e as suas Villas, e terras
concedessem o Privilegio de partide Pedralva, . Gouviaens, e Adaufe
cular moeda aos Grandes , e Cor (hoje Adoufe) em terra de Panoias,
poraçoens do seu Reino. Achamos as quaes manda coutar per lapides;
tão sómente, que o Senhor Infan Sicut aliud Cautum de Regno, quod
te D. Affonso Henriquez occupa melius cautatum est. E o dito Ar
do todo na guerra contra os que cebispo, e Cabido renunciárão pa
lhe disputavão o Senhorio desta ra sempre todo, e qualquer Direi
Monarchia , e querendo ter da sua to, que tinhão, ou podessem ter
parte o Arcebispo, e Clero de super Moneta, Capellanía, & Can
Braga: a 27 de Maio de 1 128 fez cellaria Domini Regis. Doc. da Mi
áquella Cathedral as mais agigan tra Brach. Outras Provas de que
tadas Mercês, entre as quaes foi os Monarchas Portuguezes não di
a da moeda por estas palavras: Et mittírão de si a Regalía de cunhar
sicut Avus meus Rex Alfonsus dedit Moeda , se podem vêr V. Adia.
adjutorium ad Ecclesiam S. Jacobi Isto mesmo se evidencía pelas
faciendam: simili modo do, atque con Côrtes de Santarem de 1427 no
cedo Sancte Mariae Brach. Monetam, art. 23. dos que se acordárão en
unde fabricetur Ecclesia .... Insuper tre ElRei D. João I., e a Clere
etiam dono , aí que concedo in Curia zia: alli reconhece o Monarcha o
mea totum illud 3 qued ad Clericale privativo poder de fazer moeda
Oficium pertinet, scilicet, Capella (consintão , ou não consintão os
níam, & Scribaníam, & caetera o Prelados, porque he bem commum)
mnia , quae ad Pontificis curam per e mudala, e por-lhe a valía, se
tinent. Era pois para a fabrica da gundo entender por utilidade pú
Sé o rendimento desta moeda, de blica, e seu serviço, e defensa da
que ElRei D. Afonso II. a pri terra, conio sempre se usou em Por
fís

MO MO 145
tugal, e toda a Europa, e onde moe o Reino. Ducange V. Moneta co
das se fazem. V. Cod. Alf. L. II. riacea.
Tit. 7. MOELHA. Moeda. E a parte,
Não sei que hoje tenhamos moe que destes convenentes defallir, deve
da alguma , distincta da do Rei peitar C. livras da moelha velha de
no , que os Arcebispos fizessem Portugal de pena. Doc. da Univ.
cunhar em Braga: e daqui se po de 128o.
deria concluir ainda, que esta moe MOGO.OS, Marco, e marcos,
da não era para ser cunhada, mas que dividem, e sepárão hum ter
sim recebida de cada Fogo, ou Ca ritorio, ou terreno dos outros. Ain
beça daquelle Arcebispado. da hoje são notaveis os Mógos de
Com efeito, na Hesp. Sagr. Tom. Anciaens. Mogo he o mesmo que
XXXV, e a f. 189 se faz menção Moiom. * *

do Privilegio, que ElRei D. Af MOIMENTO. Sepultura. Ainda


fonso concedeo aos visinhos de no de 1 354 senão enterravão indif
Segovia , eximindo-os de todo o ferentemente dentro dos Templos
tributo Real, á excepcção dos que os córpos dos defuntos , mas só
se dizião Moeda, e fantar. E no nos adros; pois neste anno se deu
de 1 135 concedeo o Imperador huma Sentença á porta da Sé de
D. Affonso á Cathedral de Leão Coimbra sobre os Moimentor. Doc.
o Dizimo da Moeda , que se fabri de Coimbra. Desde os Adros se
casse naquella Côrte: e no de 1 158 fôrão introduzindo por de traz das
deu ElRei D. Fernando II. á Igre portas, até que se mettêrão den
tro das Igrejas. •

ja de Lugo a terça parte da moe


da Real, quae in Urbe vestra Lucen MOINHEIRA, ou Molinheira.
si condita fuerit, & fabricata; de Moinho de moer pão. Parte pelo
clarando que já seu Avô D. Afon rio apróó á moinheira velha , e dest
so VI, lhe tinha feito esta Mercê. pelo carril, que vai ao forno telhei
Ib. Tom. XLI. f. 319. De qualquer ro, e desi veréa a festo. Tombo de
destes modos nos persuadimos se Castro de Avelans de 15 o 1.
ría a Moeda concedida á Igreja de MOIO de pão , ou de vinho.
Braga. •

Se em todás as medidas dos soli


MOEDA branca. Assim fôrão dos , e liquidos experimentamos
chamados os Graves, Barbudas, e hoje mesmo huma irreconciliavel
Pilartes. V. nestas palavras. Lo variedade, differindo quasi tanto,
pez. Chron. d'ElRei D. João I. como são diferentes os Territo
P. I. C. 49. rios, e Concelhos: que sería na
MOEDA de couro , ou sóla. quelles antigos dias, quando as
Nunca entre nós se fabricou. O mesmas Quintas, ou Herdades, que
prejuízo de que a houve nasceo não só as Povoaçoens de algum no
da fabula, que Comines levantou me, tinhão Leis proprias, e parti
a João Rei de França , dizendo culares medidas?... Com especiali
fizera lavrar moeda de couro com dade se verifíca isto no Moio Por
hum cravo de prata no mcio: era tuguez, que constando hoje de 6o
sim tão baixa, e ligada, que le alqueires da medida corrente, na
vantou grandes clamores em todo da mais desigual , º variante em
Tom. II. I' OS
146 MO" MO
os principios, e progressos da nos ou Io almudes, que he o mesmo.
sa Monarchia. E se de todas as Pelo contrario no Tombo do Aro da
medidas se póde afirmar isto com mesma Cidade a f. 9. Y. (feito no
verdade ; do Moio , que tambem de 1346) se diz : Hum Moyo de
se disse Modio, podemos dizer com pam da Medida Direita de Lamego,
Ducange: Quot loca, tot mensura. são quatro Moyos pela medida ju
Modius ubique receptus : si vocem gunda. Ora a medida fugunda, ou
spectes, nullibi ferè ejusdem capaci jugadeira levava quatro tantos, mais
tatis reperitur. Apontaremos algu que a Medida Direita, que era hu
mas destas diferenças : todas he ma Teiga, ou Alqueire, como se
impossivel. dirá V. Teiga: logo se o Moio ju
Sendo as medidas da Cidade de gundo constava de 64 alqueires: o
Lamego nada concordes, como se Moio da Direita de Lamego consta
dirá V. Teiga; em qualquer Povo va só de 16 alqueires. No mesmo
deste Bispado discrepava o Moio, Censual de Lamego se declara, que
assim do pão, como do vinho. Em o Moio de castanhas consta de 17 al
hum Doc. daquella Cidade de 1314 queires: E que quatro Moios Coim
se diz Mandamos ao Dayão de La brãos constão de 17o alqueires; mas
mego hum Mayo depam, e hum Moyo isto se oppoem á Declaração d'El
de vinho pela de Queimada. E no Ins Rei D. Manoel no Foral de Ser
*rumento da união da Igreja de S. pins, dizendo, que o Moio de pão
Martinho da Espiunca ao Mostei pela de Coimbra são 44 alqueires,
ro de Pendorada, por D. Rodri e meio; e o Moio de vinho 32 almu
go, Bispo de Lamego, no de 1322, des; como se disse V. Medida Ve
além de 3o livras de moeda Por lha. E então segundo o dito Cen
tugueza, devia receber o Vigario sual constaria o Moio de pão de
annualmente para a sua congrúa 42, e meio, e não de 44 e meio.
sustentação, Tres modos divisos per Nos Prazos de S. Vicente de
medium, panis, faliginir, ae milii, fóra não ha medida certa do Moio,
atque vini per mensuram de Nesprei pois era segundo se estipulava;
ra, nunc currentem: hoc modo vide já de 6o, já de 64 alqueires. E
licet: quod VI, quartarios panis re tambem ali se acha. Moio de 56
cipiat annuatim in Festo S. Michae alqueires da medida antiga, que fa
lis mensis Septembris: Óº VT. puça zem pela de agora 36 alqueires:
lia vini annuatim in Festo S. Mar Este he o Moio por onde ElRei
tini mensis Novembris , &c. Doc. D. Manoel manda pagar as Juga
de Lamego. Erão pois os 3 Moios das, e cujo quarteiro são 9 alquei
de partes iguaes de pão, e vinho: res, constando de 14 o da medida
e sendo deste seis Puçaes, ou 3o velha. V. Cod. Manuel. L. II. Tit.
almudes, vinhão a fazer 6o canta 16. S. I.
ros, ou alqueires, que era metade No Foral de Ferreira d'Aves de
dos trez Moios ; constando cada clara ElRei D. Manoel , que o
Moio de 4o alqueires. No Censual Moio deste Concelho) que he o mes
da Sé de Lamego se declara, que mo que se usa em Linhares , e
hum Moio de pam são 2o alqueires, Fulgosinho) são 16 alqueires pela
e hum Moio de vinho 2o alqueires, medida corrente. Em hum Prazo de
Ma
…" MO / MO 147
Maceiradám de 163o , que he de Molachinorum. Que Molachinos seja
humas fazendas junto a Odivellas, o mesmo que Móozinhos, e que hu
se declara , que o Moyo naquella mas vezes se dicessem assim os
terra são 64 alqueirer, e que o seu Meninos do Coro , e Sacristaens
quarteiro são 16 alqueires. (*) E com da Igreja, outras os Coreiros, ou
efeito na Beira baixa era quasi ge Capellaens, e outras os mesmos
ral, ser o Moio dos solidos de Beneficiados , que mais de huma
64 alqueires, e o dos liquidos de vêz se disserão Conegos, he cousa
32 almudes. Por huma Sentença de que parece fóra de questão. Vid.
S. Christovão de Coimbra de 1 352 Moçoco, e Molachino. Em hum Doc.
consta, que: De 24 moios de trigo de S. Christovão da mesma Cida
se devía dizimo, dous moios , hum de de 1 342 se diz: Martim Steves,
quarteiro, nove alqueires, e meio, e Moozinho da dita Eigreja. Em ou
hum punhado de trigo: De 2 1 moios tro de 1 256 ibi. se escreve : Mo
de avéa, dous moios, seis alqueires, zinus. V. Mostrar. Mas que razão
e quatro punhados de avéa: De 15 haveria, para que estes Móozinhos,
moios de milho , seis quarteiros de frequentes por todo o Reino, ti
milho : De tres quarteiros de legu vessem igualmente o nome de Mo
mes, quatro alqueires, e meio, e lachinos?. Nas Letras Pontificias
tres punhados. E tal he a variedade do Sec. XII. se tomou Molachinus,
dos Moios , segundo o que fica e nas do Sec. XIII. Meloquinus por
dito , que sería moralmente im huma moeda d’ouro , que talvêz
possivel o enumeralos todos. correspondia ao nosso Morabitino,
MOIO de terra. V. Sacco de terra. que então valería pouco mais de
MOIOM. O mesmo, que Lin 5oo réis, e bem póde ser que des
de. *
te salario bem attendivel para aquel
MOISEM. Mandado judicial, les tempos, se lhes originasse o no
citação com dia de apparecer. Doc. me. Tambem o Merceeiro, ou po
de Lamego do Seculo XV. bre, que servindo na Igreja, fºi
- MOLACHINO.OS. Nos Doc. la recebia todo, ou parte do sus
de S. João de Almedina da Cida tento, se disse na Infima Latini
de de Coimbra se faz menção da dade Monachellus , Monacholus, e
Confraria dos Molachinos: em hum Monachulus. E se daqui nascerião
de 1 286 se lê: Confraternitati Mo os Molachinos?. Visitando o Bispo
Jachinorum: em outro de 1281 se D. Jorge a Igreja do Salvador em
diz : Confratria Canonicorum , seu 15 de Septembro de 1 353 extin
ii guío

*) Deste Prazo , e de outro de 1632 consta, que entre a mais herança, UIC COUl
be a D. Catharina d'Eça , Religiosa professa no Mosteiro Cisterciense de S. oão de
Val de Madeiros, que tambem se chamou Mosteiro de Canas de Senhorim, fôrão dous
Casaes, de que se fez este Prazo pelo Mosteiro de Maceiradám , a quem o Cardeal
JRei applicou as rendas daquelle Mosteiro, quando por justificadas causa; o extinguio
no de 156o. Foi D. Catharina d'Eça filha de D. Jerônymo d'Eça, e de D. Maria Ti
ba: por morte de seus Pais repartio-se a herança entre ella, e duas Irmãas suas, am
bas Religiosas: huma D. Jeronyma, na Esperança de Lisboa: outra D. Joanna º em Lor
vão : a cada huma coube 1: 134: 66o réis de legitima. De Val de Madeiros foi D. Ca
tharina para Cellas, e dali para Lorvão, onde deixou algumas peças de estimação, e
preço, que ali se conservão, e o seu nome, ainda que não por virtude, ferá repetidº
cternamente.
148 MO MO
guío nella a Confraria dos Moozi feixe. Trez mólos de palha. Doc,
nhos, antigamente mui respeita do Sec. XV.
vel, e então já por si mesma quasi MOLURA. Orvalho copioso,
extincta, e de consentimento do e repetido, que amollece, e re
seu Cabido, a unio á Collegiada frigéra a rerra. Man'inha Deos os
da mesma Igreja, a qual adminis campos com moluras, e chuveiros. He
traría os seus Hospitaes, e Alber de Azinheiro.
garías, e cumpriría os mais Lega MONACHINO, V. Moço".
dos , &c. Assim consta da Carta Qui etiam Monachinum habere secum,
de Confirmação, expedida pelo Vi &º manutenere procuret. "Esta obri
gario Geral do Bispo D. Fernando gação se impoem ao Vigario de
em 28 de Julho de 139o que alli S. Martinho da Espiunca, quando
se guarda. Sacco 1. N. 28. esta Igreja foi unida ao Mosteiro
MOLHAMENTO. Acção de de Pendorada, no de 1322. Dot.
molhar. Assim se collige de huma de Lamego.
Sentença de 1 369 para que a Por MONDAS. Michas, pão peque
tagem de Gondemar se pagasse no no, de centeio, ou milho, e de
Porto , e não em Valbom. Doc. toda a peneira, que ainda hoje se
da Cam. do Porto. costuma dar aos pobres nas Porta
MOLINHEIRA. V. Molleira. rias das Ordens Monachaes. Sete
MOLLEIRA. Moinho de moer mondas centeas. V. Cerome.
pão, azenha, atafona. Em hum MONESTEIROL. Mosteirinho,
Assento, que a Camara de Mon Mosteiro pequeno , e que ainda
corvo tomou no de 1 298 se deter hoje se diz Mosteiró, e no Latim
mina, que nenhum visinho desta Vil Monasteriolum. Facimus Kartam de
la possa vender, nem dar, nem cam baereditate nostra propria, quam há
bhar, nem supenhorar erdamento ro bemus in Ripa Dorii, inter Mont
to, nem por arromper, nem casas, teirol, & Sancto Veriximo. Doc, de
nem vinhas , nem molleiras..... (1 Tarouca de 12 o6.
Cavalleiro , nem a Escudeiro, nem MONGE nas Cathedraes. Sen
a Dona, nem a Freire, nem a Fra do em grande número os Docu
de, nem a Crerigo, nem a Omem de mentos, em que se achão assignan
Religiom. E o que contra esto for, do, ou mencionados Monges, des
fique por aleivoso do Concelho, e per de a Restauração mesmo das nos
ca quanto ouver na Villa, e seja to sas Cathedraes, como fôrão Brá
do do Concelho: e de mais, peite C. ga, Porto, Lamego, Viseu, Coim
libras de Portugal ao Concelho, e jas bra, &c.; poderia causar dúvida,
qua XXX, dias na quadea. E esta se estes Monges erão Membros da
Postura outorgamos, e afirmamos pe respectiva Cathedral, e sojeitos
ra sempre; porque entendemos, que immediatamente aos Bispos; se
é a Serviço de Deos, e de Nosso Se com efeito elles vivião recolhidos
mhor ElRei , e a nossa prol, e dos em algum Mosteiro, obedecendº
que pus nos veerem. Doc. de Mon particularmente ao seu Abbade.Mas
COrVO. a razão de duvidar se desvanece
MÓLLO. V. Mólo. ría por si mesma, senão medissº
MÓLO.OS. Mólho, pequeno mos o que hoje se pratíca, pelº
que
MO MO I49
que antigamente se usava. Os Mon Pontifex Civitatis in Clerum elege
ges he verdade, que nascêrão pa rit, agito que Clerici runt. O Papa
ra a solidão , para as lagrimas, S. Siricio respondendo a Himerio
para a contemplação das cousas . Bispo de Tarragona no de 385.
eternas, e para o retiro total do Epist. 1. Cap. 13. diz assim: Mona
mundo falso , e corrompido, de chos, quos morum gravitas , Óº vi
quem só buscavão algum indispen tae, ac fidei institutio sancta commem
savel, e grofleiro mantimento, pe dat Clericorum Oficiis adgregari, Óº
lo suor do seu rosto , e trabalho optamus, Óº volumus. E na Epist. 2.
de suas mãos. Elles ao principio a Victricio, Bispo de Roão Cap.
não tinhão parte nas Funçoens Ec1o., escreve deste modo Innocen
clesiasticas : não foi desde logo,
cio Iº: De Monachis, qui diu mo
que alguns poucos delles fôrão or
rantes in Monasteriis, postea ad Cle
denados Sacerdotes, e Diaconos, ricatús Ordinem pervenerint, non de
para não serem os Cenobitas pre bere eos a priore proposito deviare.
cisados a sahirem aos Póvos por Correndo o tempo, em muitas
occasião de assistirem aos Divinos Cathedraes se tomou o exemplo
Oficios, e receber os Sacramentos. de Santo Eusebio Bispo de Ver
O tempo multiplicou em grande celli, e de Santo Agostinho, Bis
número estes Ministros do Altar, po de Hiponia; fazendo o Prelado,
que sendo educados, talvez desde e o seu Clero Profissão Monastica,
meninos, no centro da virtude, e ou Regular, em quanto ao desapê
Santidade, e mesmo nas melhores go das cousas do mundo, viven
Aulas de toda a Erudição, que os do em commum, sem bolsa parti
podia illustrar , e distinguir, as cular, e servindo ao mesmo tem
Leis do Imperio , que não só as po em todas as occupaçoens de
da Igreja, os acarárão aos Bispos, huma vida activa pela conserva
para que delles se servissem na ção, e augmentos da Igreja.
Instrucção, e pasto das suas Ove Se antes que os Sarracenos in
lhas, quando no Clero Secular não nundassem, e destruissem as Igre
houvesse suficiente copia de sojei jas de Portugal, e Galliza no de
tos habeis, para salgar a terra, e 716, havia, ou não Monges nas
esclarecer o mundo. Em huma Lei Cathedraes, não será facil o deci
do Imperador Arcadio, que se acha dillo : sabemos sim, que conquis
in Cod. Theodor., se diz : Si quos tada Lugo por ElRei D. Affonso,
forte Episcopi deesse sibi Clericos ar o Catholico, no de 74o, no mes
Aitrantur , ex Monachorum numero mo anno foi Odoario seu Bispo,
rectius ordinabunt. S. Basilio, Sane Metropolitano de todas as Dio
to Agostinho , Santo Epiphanio, ceses de Galliza, que então con
Paladio, e outros são deste senti seguírão o serem libertadas. Des
mento , e S. Jeronymo na Epist. de aquelle tempo fôrão os Monges
IV, se explica nestes termos: Ita parte do Clero, que ornava aquel
age, & vive in Monasterio, ut Cle la Cathedral, como se vê da Hesp.
ricus esse merearis, cum ad perfec Sagr. Tom. XL. Na larga Doaç.
zam aetatem veneris ; si tamen vita que a Rainha D. Geloira (Elvira)
comes fuerit, Óº te vel populus, vel fez á Sé de Lugo no de 1071,
de
1 5o MO MO
depois de dizer: que a Igreja de muita, e a falta de luzes, que en
Ourense até aquelle tempo sojeita tão reinava, não permittia , que
a Lugo , fôra restaurada por seu os Principes das Dioceses achas
Irmão ElRei D. Sancho, que poz sem nos Povoados suficiente co
nella por primeiro Bispo a Here pia de Obreiros: reccorrião então
donio : Que Braga, assim como aos Claustros, onde nunca faltá
Ourense, esteve até aquelle tem rão zelosos, que se interessassem
po sojeita a Lugo (da mesma sor pela causa do Senhor. Então com
te que Tuy o esteve a Iria, ou a Benção dos seos Prelados, e sem
Santiago). Que a Sé de Dume, mudarem do seu Proposito, se addíão
junto a Braga , esteve em poder ao Clero das Cathedraes, onde não
dos Bispos de Britonia, e que es achavão menos a Santidade dos
ta era Mondonhedo : Que as Sés Claustros. Ali trabalhavão com hu
Episcopaes de Coimbra, Viseu, ma mão no Edificio da Casa de
e Lamego, e outras (que não de Deos, occupando a outra no de
clara) conquistadas por seu Pai, sempenho da santificação propria,
mas in barbarico positae, não podé que o caracter de Monges lhes
rão ser ornadas com Bispos, pre impunha. E taes erão os Monges,
venindo a morte os seus dezejos: de que fallamos, e de que a nos
In tali desiderio stante obit ; mas sa Historia nos informa. V. Jan
que seu filho D. Sancho restaurou tí17".

as que pode; pondo em Braga o MONGY. Especie de Sobretu


Bispo D. Pedro, outro D. Pedro do , e com alguma semelhança de
em Lamego, Simeão em Oca, e Cogula Monachal, de que as mu
Munio em Sasamon: Et Monimium lheres usavão. De hum mongy sin
Episcopum Barduliensem in Sexamo gelo 2o réis. L. Vermelho d'ElRei
nensi (o que dá a entender que era D. Affonso V. n. 51. .
Bispo Titular, ou natural de Ba MONJA. Monica, nome de mu
dajós): Passa a individuar os bens lher. Doc. de Maceiradám do Se
doados, declarando que são pro culo XV. e XVI.
substentatione Monachorum, & Deo MONLEIRO. Molleiro, o que
militantibus sub Pontifice Domino Ves se occupa em moer o pão, e tra
trario. Ibi. f. 4 1 4. ta dos moinhos. V. Conducteiro.
Exemplos tão luminosos, e bri MONOGRAMMA. Huma só
lhantes reanimárão os Chefes, que letra, ou seja simplez, e usual,
presidião em as nossas Cathedraes, ou seja arbitraria, e artificial, com
quando o Sol da liberdade santa que se escrevia, ou hum só nome,
passou a dissipar as trevas dos Se ou mais do que hum. Entre os Ro
quazes de Mafoma. Elles vivêrão manos erão frequentissimos os Mo
com habitação, e mesa commum, em . nogrammas de huma só letra, v.g.:
quanto a relaxação do Espirito não
D. D. : Decreto Decurionum. L. A.
dividio as rendas : Os Claustros F. C.: Libenti animo faciundum cit
arruinados, que ainda vemos, e ravit. S. T. T. L.; Sit tibi terra 'e
os que nos consta existírão junto vis, &c. Do Alpha, e Ómega dos
das Sés, são abonados Padroens primeiros Christãos: do Bene vale
desta verdade. Porém a scára era te dos Romanos Pontifices, que
prin
MO MO. 15 r
principiou no Sec. IX.: e do Chris e tambem os que erão obrigados
mon, ou Monogramma nas Doaçoens a hirem á Montaria , quando da
dos nossos Maiores, V. Alpha, Bul parte d'ElRei fossem chamados.
la, e XP. Os Reis de França co Disse, que o Casal de Soutello, que
meçárão a figurar em Monogrammas ert de Pedroso , que est Montaria
os seus respectivos nomes no Sec. d'ElRei. — E hir dá entorviscada,
VII. Tambem o nexo, ou ligadu e fazem Montaria a ElRei, quando
ra de duas, ou mais letras em hu os chamarem. — E o Casal, em que
ma só figura, com que se abrevia mora este Domingos Johannes , faz
va a escripturação, v.g.: 32. por: Montaria a ElRei de foro. Inq. d'El
rum: quib. por: quibus, &c. se cha Rei D. Diniz. Doc. de Grijó.
mou Monogramma. Vid. Diccion, Rais. MONTATICO , Montadêgo,
/* Monogramme. •
e Montado. Certa Pensão, ou Tri
MONTA. I. Quinhão, sorte, buto , que se paga por pastar os
porção, que cabe a cada hum dos gados no monte de algum Conce
herdeiros. Das montas susoditas de lho, ou Senhorio. Desde os prin
vem os herdeiros a Gil... XXVIIII. cipios do Reino até os nossos dias
soldos , X dinheiros, e mealha. Doc, se tomou sempre neste significado
de Pendorada de 1 359. V. Amon esta palavra. Doc. das Salzedas ,
rar. " Bragança, Pinhel.
MOOLO. V. Molo. •

MONTA. II. Lanço, que se dá


na Praça, sobre alguma cousa, que MOOR. Mayor. Doc. de 1318.
anda a leilão. Doc. das Bent. do MOORDOMAR. Exercer as
Porto de 1338 e n'outro de Pen funcçoens de Mordomo, governar,
dorada de 1362. dispor a economia de casa, feito
MONTADEGO. V. Montatico. rizar. Doc. de 1 336, e 1347.
MONTADIGO. V. Montatico. MOQUE. V. Alfiera.
Et illo montadtgo de vicinis de Aqui MOOZINHO.OS. V. Molachino.
Ilari momtemo Cavaleiro cum suo Se MORABITINADA. V. Mara
nior, & prendant inde la tertia. Et vediadas. P

nullo ganado de Aquilari non sedeat MORADEA. Moradía, residen


montado. Foral de Aguiar da Beira cia, casaría. E relinquímos a mora
por ElRei D. Afonso III. no de déa ao dito Moesteiro. Doc. de Pen
1 258. V. Busto. dorada de 1 312, e 1313.
MONTAR. I: Darlanço na Pra MARAVEDIADA. V. Marave
ça. Doc. de 1338. diadas. Et pro robora unam maravi
MONTAR. II. Servir-se dos deada de burel. Doc. das Salzedas
montes communs para pastos, ma de 1226.
deiras, lenhas, caças. Os Homens MORDOMO da Curia. Mordo
do Bispo, e do Cabido montem, e pes mo Mór da Casa Real. Deste gran
47uem com nos Concelhos , e com nos de Titulo da Real Casa Portugue
outros homens, como sempre usarom. za já muitos escrevêrão, deixando
Doc. de Lamego de 1292. nos apenas cousa alguma, que di
MONTARIA. Casal de Monta zer se possa , além do que está
z-ia se disse aquelle cujos Colonos dito. Taes fôrão, por exemplo Gar
pagavão foro de caça do monte: cia de Resende na Chron. dº ElRei ID.
152 MO MO
ID. joão II. Cap. 123. Bluteau. "V. lacio de seus Augustissimos Pro
Mordomo Mór. Lima Geograf. Hist. genitores havia muito d'antes este
Cap. 5. f. 482. Parece nasceo este Oficio, que entre nós nem sempre
oficio com as Monarchías, e Im foi significado pelo mesmo nome,
perios. Em França desde Dagober pois indiferentemente se encon
to Iº até Luiz V., e o ultimo da trão Dapifer, Curiae Dapifer, Maior
2.° Raça foi tão ampla a Digni domus, Maiordomus Palatii, Di
dade dos Mordomos Móres, que pensator Domus Regiae, Princeps Cu
não só governavão inteiramente riae, Comes Palatii, &c. Mas no
na Real Casa , mas ainda se es te-se , que por aquelles tempos
tendia a sua inspecção fóra do Pa havia Mordomo Mor, e Mordomo
lacio a todo o governo da Mo Menor da Casa Real. Aquelle mui
narchia: Sola Regiae Dignitatis Spe tas vezes era só de Titulo, ou Hº
cie Principibus ipsis remamente. E norario, este era sempre de exer
daqui vierão os Magnificos Titu cicio, e serventia: Aquele se dis
los de Maior Domús Regie, Guber tinguia com os nomes assima di
nator Palatii, Palatii Praepositus , tos, este ordinariamente se no
Provisor Aulae Regiae, Provisor Pa meava Subdapifer, ou simplesmen
latii, Regalis Curiae Princeps, Prin te Maiordomus Curie. E isto á imi
ceps Regiminis, Comes Palatii, Co tação da Casa de França, segui
mes Domás Regiae , Dux Palatii, do se collige do Pacto da Lei Jº
Curopalata, Inlustris, &c. até que lica Tit. XI. S. 6. onde claramen
na terceira Raça decahírão em gran te se nomêa o Mordomo Mór, e º
de parte os seus Poderes, e fôrão Menor; pois diz: Si quis Maiorem,
reduzidos estes Primeiros Ministros Inferiorem, Scantionem, Maristak
do Governo, ou Vice Reis a huns me cum... furaverit, velocciderit, &c.
ros Senescaes, ou Dapiferos, fican onde pelo Inferior se entende º
do sim os Maiores Homens da Ca Mordomo Menor , e de serventia,
sa dº ElRei; mas só para ordenar, e pelo Maior, o Mordomo Mir,
o que era do seu mantimento, e e Honorario. Isto se fará mais cla
da sua Real Familia , calcular o ro , reformando de algum modo
Erario, prover, e dispor os Ofi a Lista do Padre Lima, começam
ciaes da Casa, &c. do desde o Conde D. Henrique,
Em Hespanha não foi ignorado até ElRei D. Diniz exclusive, nº
este Oficio Palatino. Dos Godos qual Periodo o considero algum
passou pelos Reis de Ovicdo, Leão, tanto diminuto.
Galliza, e Castella a Portugal. O Lista dos Mordomos Móres
Regimento, que ElRei D. Diniz
fez dar ao Mordomo Mór, nada mais desde o Conde D. Henrique até
he em substancia, que huma Tra ElRei D. Diniz.
ducção quasi literal das Partidas
P. II. Tit. 9. L. 17. Porém não te I. Gomizo Nunes do
— Couto
no de da
1112;
ve fundamento dizer-se, que o 1.° Consta da Doaç. Sé
Mordomo Mór neste Reino fôra de Braga: Ego Gomizo Nuniz Muiur
Gonçalo Rodriguez em tempo d'El domus Palacii ipsius Comitis - Of
Rei D. Afonso I., pois já no Pa II. Gonçalo Rodriguez, — Mordº
• ff0
MO MO 153
mo da Casa da Rainha em 1 1 12, de 1 136 até 1 136 são muitas as
segundo a Escritura, que Lima, Cartas, em que se encontra o Mor
depois de Brandão, nos assegura domo Mór Hermigio Moniz; notemos
conservar-se em S. Domingos de as duas seguintes. 1." A Doação
Lisboa , he mui duvidoso neste dos Coutos das quatro Villas, fei
anno; pois nem a Senhora D. Te ta a Lorvão pelo Infante D. Affon
reza se acha intitulada Rainha na so Henriquez, em Março de 1 133:
quelle anno; nem he crivel fizes nella confirma á tésta de todos os
se Doação de huma Igreja , que Palacianos deste modo : Ermigius
ella vendeo depois, como se dis Monis, Curiae Dapifer — Of. E de
se V. Modio. pois de confirmarem muitos Fidal
III. Egas Gozendes — desde 1 1 13 gos, e tambem fohannes Belidiz:
até 1 1 16. Lima. Maordomus Colimbriae, segue-se ain
IV. Gonçalo Rodrigues de Avreu. da depois de outros muitos, fo
— Diz o Padre Lima fôra Mordo hannes Mitis (filho de Mito , ou
mo Mór da Rainha D. Tereza. Mido) Curie Dupifer, sub manu
V. Monio Mendez, — Consta ser Ermigii Monionis - Of. E aqui te
Mordomo da Rainha D. Tereza , e II]OS # Mordomo menor , ou de
do Conde D. Fernando no de 1 127. serventia fazendo as vezes, e sen
J'id. Cruzilada. do Substituto do Mordomo Mor. Doc.
VI. Hermigio Moniz — Princi Orig. de Lorvão. Pelo contrario,
piou com o governo do Infante, na Doação de Moçamedes, que o
ou Principe D. Afonso Henriquez; mesmo Infante fez a Fernão Pirez
mas não em o anno de 1 128, no no mesmo anno, e no mez de Maio,
qual, e a 27 de Maio, sendo ain só depois de Egas Moniz, e Egas
da sua Mãi viva, e andando com Gozendes, e Mendo Viegas se acha
ella em guerra , fez huma larga em quarto lugar Ermigius Curie
Doação a D. Paio Arcebispo de Dapifer — Of Doc. Orig. de La
Braga, e a seus Successores, da mego. -

Jurisdicção de Braga , e dos Pa Depois de Hermigio Moniz se


droados Reaes do Arcebispado, e gue-se na Lista do Padre Lima
lhes confirma todas as Doaçoens Gonçalo Mendez de Sousa, fundan
passadas: e isto Ut tu sis adjutor do-se em huma Escritura de Ta
meus. Os grandes da sua Côrte, rouca , que Brandão ali achou ,
que prezentes fôrão , e confirmá datada no de 1 134. Mas isto he
rão, são os seguintes por sua or hum famoso engano; pois naquel
dem: Sancius Nuniz, Ermigius Mo le Mosteiro não ha Documento
miz, Garsias Suariz, Suerius Me algum , datado antes de 1 14o;
mendiz, Pelagius Ramiriz, Petrus excepto huma Doação do Infante
Petri, Ovecus Cendoniz, e Pelagius D. Afonso no de 1 13o , quando
Pinioniz. E não estando Hermigio ainda os Cistercienses não tinhão
Moniz em 1.º lugar he bem de entrado em Portugal: Ha sim hu
crer, que ainda não era Mordomo ma Escritura de 1 164 ; em que
Mór. Mas não tardou muito que se acha o dito Gonçalo de Sousa,
como abaixo se dirá. • -

o fosse, feito já Principe dos Por


fuguezes o Infante D. Affonso. Des VII. Egas Moniz — desde 1 139
Tom. II V até
154 MO MO
até 1 145 , em que faleceo a 11 nendus Alfonsi Sub-Dapifer. Of E
de Agosto. Acha-se em hum sem eisaqui Mendo Affonso servindo ef.
número de Escrituras daquelle tem fectivamente o Oficio, que Fernão
po. Só notarei a Doação do Cou Pirez tinha em Titulo, e sem exer
to ao Mosteiro de Cucujaens, que cicio. Era isto no de 1 152. Doc.
ali se conserva , (e tambem nas de Viseu.
Bentas do Porto) feita a 7 de Ju No mesmo anno de 52 deu El
lho de 1 139 pelo Infante D. Afon Rei D. Afonso Henriquez Foral
so. Entre, e antes dos mais, que d Villa do Banho pelo amor, e bom
nella confirmão, se achão Egas Mo afecto, que tinha a D. Fernão Pi
niz, Curiae Dapifer, e Fernandus rez, Senhor de Alafoens, Et Prin
Petri Maiordemus Infantis. E aqui ceps Curie Regis. Lº dos For, ve
temos Egas Moniz Mordomo Mór, lhos. No mesmo anno de 52 se
e Honorario, e Fernão Pirez de ser acha na Doação do Couto de Ar
ventia. geriz, hoje a Salzeda, Fernandu:
VIII. D. Mendo de Bragança — Cativus Curiae Dapifer Of. E no de
no de 1 146. Consta da Doação do 1 155 achamos na Doação dos Di
Couto de Reciám , que hoje se reitos Reaes em varias terras do
acha no Convento de Santa Cruz Mosteiro, que ElRei D. Afonso
de Lamego, em que se lê: Me I. fez ás Salzedas, Fernandus Cup
nendus Bragancia, Curiae Dapifer Of. tivus Dapifer Regis. — Of Doc.
IX. D. Fernando Pirez, ou D. da Salzeda. Porém no de 1 154 se
Fernando Cativo — — — — 1 147. havia posto o seu nome na Do#
Já neste anno era Fernão Pirez Mor ção Real de certos Casaes a D.
domo Mór. Acha-se na Doaç. Orig. Sueiro Tedoniz, escrevendo-se des
de todo o Ecclesiastico de Santa te modo: Ego Fernandus Petri Cº
rém feita por ElRei D. Afonso rie Dapifer. — Of. E assim com
aos Templarios naquelle anno, ser os dous nomes de Fernão Pirez,
vindo de testemunha Ferrandus Pe e Fernão Cativo se acha em mui
triz, Curiae Dapifer — ts. Doc. tas Escrituras deste tempo.
de Thomar. Na Confirmação geral X. D. Gonçalo — — — 1159.
de todos os bens, que a Sé de Vi Apparece o seu nome na Doação
seu possuia neste anno, feita por do Castello de Cera á Ordem do
ElRei D. Affonso I. , se acha o Hospital neste anno, na qual se
seu nome, immediatamente depois lê á tésta dos Confirmantes: Goh
dos sinaes do Rei, e da Rainha, salvus Curie Dapifer. — Of Doc.
Dño Fernando, Curie Regis Dapi de Thomar.
fero, hoc confirmante. Doc. de Vi XI. D. Vasco — 1 1 61. Confir
seu. E na Doação do Couto de S. ma na Doação do Couto de Mui
Pedro de Mouráz, feita á Igreja menta de Azurára da Beira, feitº
de Viseu pelo mesmo Rei, igual neste anno ao Abbade Sueiro Theo
mente se acha em primeiro lugar doniz, a qual com a precedente
depois das Magestades: se guardão em Maceiradão: nela
Fernandus Petri, Curie Dapifer se acha em primeiro lugar D. F%"|
- Of. Segue-se Petrus Pelagii Re lascus, Curiae Dapifer. — Of.
gis Vexillifer - Of. E depois Me XII. D. Gonçalo de Sousa — 1 #
4
* MO MO 155
Na Doação da Herdade de Palha Caldas de Alafoens no mez de
caau, junto á Villa de Alemquer, Septembro, fez varias Doaçoens:
feita por ElRei D. Afonso Hen foi huma a D. Sancha Paes, a qual
riquez ao Mosteiro de S. João de se acha entre os Doc. de Lorvão,
Tarouca, se acha confirmando de e na qual depois dos Sinaes do
pois do Conde Vasco, Gunsalvus Rei D. Affonso, e do Rei D. San
de Sausa Maiordomus - Of. E po cho se seguem estes confirmantes.:
demos suspeitar que o Comes Va Comes Velascus Curiae Regis D. Al
Jascus seria o Mordomo Mór, e Gon fonsi Dapifer — — — — — Of.
çalo de Sousa o Effectivo. Doc. de Fernandus Alfonsus Regis Signifer
Tarouca.
Na Doação do Mosteiro, e Cou Petrus Fernandi Regis Sancii Dapi
to de Bagaúste, feita pelo mesmo fer - - - - - - - - Of.
Rei á Sé de Lamego, e no mes Nuno Fernandi ejus Signifer - Of.
mo anno se lê: Isto mesmo se acha na Doação,
Gundiralvus de Sausa Dapifer. — que no mesmo lugar, mez, e an
ts. E na Dimissão dos Direitos no fez aos Templar os da terça par
Episcopaes, que D. Mendo, Bis te do que conquistasse no Alemtejo;
po de Lamego fez ao Mosteiro das com condição, que gastassem no ser
Salzedas no dito anno se acha: viço da Corôa todos os rendimentos,
Gundisalvus de Sausa Dapifer Re em quanto durasse a guerra com os
gir - ts. Doc. de Lamego, e das Sarracenos. Doc. de Thomar. Por
Salzedas. taIltO

XIII. Gonçalo Mendez — 1165. XIV. O Conde Vasco — no de


Neste anno, e no mez de Janeiro 1 1 69 segundo o que fica dito. Ain
fez huma Doação ao Mosteiro de da era no de 1 183 segundo Doc.
S. Salvador de Tuyas de Conegos de Viseu.
JRegrantes, D. Tereza Affonso viu XV. Pedro Fernandez — no de
va de Egas Moniz, declarando que 1 169 pelo mesmo Documento. E
JDominabatur tunc temporis Portuga tambem na Doação do Couto, que
Zi, & Colimbriae, & Olixbonae Re ElRei D. Afonso Henriquez com
gia Prolex, scilicet, Rex Aufonsus: seus Filhos, o Rei D. Sancho, e
IDispensator sua Domús Gunsalvur a Rainha D. Tereza , fizerão a
AMenendes. Doc. de Arouca. Maceiradám no de 1 173 , sendo
Depois deste tempo ElRei D. Abbade daquelle Mosteiro D. Suei
Affonso Henriquez pôz Casas a ro Tedoníz, em que se acha: Pe
seus Filhos, a saber, ao Principe trus Fernandi Maiordomus - Of.
JD. Sancho, e á Infanta D. Tereza, Em hum Doc. de 1 175 , que he
conservando aquelle o Titulo de a Doação do Couto de Ceiça, fei
Rei, e esta de Rainha. Entre os ta por ElRei D. Afonso Henri
Oficios Palatinos que lhes conce quez, e seus Filhos, a D. Paio
deo, não se omittio o de Mordo Egas Abbade daquelle Mosteiro,
mo Mór. Daqui nasceo hum gran se diz, que D. Pedro Fernandez
de número destes Titulos havendo era Regis D. Sancii Curiae Dapifer,
tres ao mesmo tempo. No de 1 1 69 e que D. Gonçalo Egas era Regi
achando-se o Rei D. Afonso nas ne D. Tharasie Dapifer.
• V ii E daqui
pa
156 MO MO
parece bem fundada a origem do ta de Lourosa em Terra de Ala
aMordomo Védor.e da Infanta, foens, por ElRei D. Sancho I. a
do Principe
que chamárão •

D. Lourenço Viegas, que se acha


XVI. O Conde D. Mendo — 1 191. em Lorvão, feita neste mesmo an
Acha-se na Doação da Herdade de no : D. Johannes Fernandiz Maiordo
Façalamí ao Mosteiro de S.Jorge mus Curiae - Of.
d'apar de Coimbra por ElRei D. - XIX. D. Gonçalo Mendes — 1210.
Sancho I. Nella se diz: Comes D. Na Doação de Villa Nova da Rai
Menendus Maiordomus Curiae - Of. nha no Val de Besteiros, feita
e Petrus Petri Dapifer Regis — Of. neste anno por ElRei D. Sancho
E aqui temos bem clara a distinc I. a Fernão Nunez D. Gunsalvas
ção de Mordomo Mór, e Menor. Es Menendiz Maiordomus Dii Regis -
te Conde D. Mendo he sem dú Of Doc. de Lorvão.
vida o que confirma na Doação do Daqui se manifesta não terem
Couto de Canas de Senhorím, que lugar por este tempo Rui, ou Re
D. Sancho I. fez a D. João Pirez, drigo Paes de Valladares, e Vascº
Bispo de Viseu, no de 1 186, des Fernandes , que Lima, seguindo
te modo Menendus Gonsalviz Dapi alguns Genealogistas, metteo na
fer Regis — Of. E no de 1 181 se Lista dos Mordomos da Casa Real.
acha no Foral, que o mesmo Rei XX. D. Martinho Fernandez -
deu a Bragança , e traduzido no 12 1 1. No ultimo de Junho deste
de 1281, em que se lê: Mem Gon mesmo anno apparece em huma
calvez Maiordomo da Côrte. - Of. Doação Real feita a Ordem Mili
XVII. Gonçalo Mendez de Sousa tar de Avís. Lima.
— 1 194. Acha-se Mordomo da Cu XXI. D. Pedro foão, ou D. Pe
ria no Foral de Belver (que d'an dro Annes (pois de ambos os mo
tes se chamava Guidimtesta) no dos quer dizer Pedro filho de João)
de 1 194. Ap. Figueiredo Hist. do Em todo o Reinado d'ElRei D.
Hospit. T, I. S. 71. f. 137. da 1.° Affonso II. apparece Mordomo da
Ediç. Tambem se diz Mordomo da Curia. Na Doação, que ElRei D.
Curia na Doação do Couto da Bar Affonso fez no de 12 18 á Sé de
ra ao Mosteiro de Ceiça no de Braga de todos os Dizimos da F
1 195. Doc. de Ceiça. E no de zenda Real, que d'antes senão cos
1196 fez D. Sancho I. Doação do tumavão pagar, se acha nomeado
Couto de Santa Maria de Neiva assim : D. Petrus fohannis Maior
ao mesmo Gonçalo Mendez, na domus Curiae - Of. Doc. de Brá
qual elle mesmo confirma, intitu ga- •

lando-se Mordomo da Curia, e João XXII. D. João Fernandez -


Fernandez se intitúla Dapifer Re 1225. No Foral de Santa Cruz da
gis. Doc. de Braga. O seu nome Villariça junto á Ponte do Sábor,
se encontra em outros muitos Do por estas palavras: D. Johanes Fer
cumentos deste anno, Doaçoens, mandi Maiordomus Curie — Of Doc.
Foraes, &c. e tambem nos annos de Moncorvo.
antecedentes, e seguintes. XXIII. D. Pedro Annes — 1229.
XVIII. D. João Fernandez — Lima.
12o5.Confirmana Doação da Quin XXIV. Rui Gomer de Briteirº
– Nos
MO MO 157
— Nos principios do Reinado d'El Grijó, esperando os Doadores,
Rei D. Affonso III. Lima. -

que os Padres daquelle Mosteiro


XXV. D. Gil Martins — 1253. os defendessem, e mantivessem,
Consta de huma Carta d'ElRei Et de Fossadeira, o de Mortalia,
para o Concelho de Mós, para in quantum potueritis, semper libe
que seja conservado nos seus an retis. Isto he: que não pagasse Luc
tigos limites, dada na Cidade da tuosa o que delles ficasse viuvo;
Guarda a 13 de Agosto Rege man pois falecidos ambos, já não preci
dante, por D. Egidium Martini Maior savão de ser livres. Nos Doc. de
domum Curie. Era M. CC. LXI. Doc. Lamego he frequente Mortalha por
de Mós. Ainda se conservava nes Luctuosa. -

te grande Ministerio no de 1258, MORTEYDADE. Mortandade.


como se vê por muitos Documen Assim chamárão, como por anto
tos; porém do Foral de Aguiar nomasia, á grande peste de 1348,
da Beira, dado neste mesmo anno que extinguio Povoaçoens inteiras.
em Guimaraens a 12 de Julho, se V. Levadígas. E pagem os seis ma
vê, que elle tinha substituto; pois ravidís, que hi montava de la mor
confirmando elle como Mordomo da teydade aa cá. Doc. de Paço de
Curia, e logo D. João Pirez de Sousa de 135 1. •

Aboím, segue-se Lupus Roderici MORTEIRO. Deu-se este no


Fice-Maiordomus. Doc, da Torre me a toda a especiaria, que se pi
do Tombo. -

za, e móe no almofariz, que em


XXVI. D. João de Aboim , ou Latim se diz Mortarium. Senhas
Avoino — 1265. Acha-se intitula calaças de porco, e morteiro, e adu
do Mordomo da Curia em huma Car bos pera as viandas. Doc. de Pom

ta d'ElRei D. Affonso deste an beiro de 1367. •

no , dada em Coimbra a 28 de MORTINDADE. O mesmo que


Julho Rege mandante, per D. Gun He Mortandade, matança, carnagem.
do Azinheiro. •

salvum Garsiae Alferaz, & per D.


johannem de Avoyno Maiordomum MORTORIO. V. Fogo morto.
Curiae, & per D. Stephanum johan MORTUARIAS. V. Mortulhar,
nis Chancellarium, ó per D. Dida MORTULHAS , Mortalhas ,
cum Lupi .... Óº per alios de Consi Murtuarios, Mortuorios, e Mor
lio suo. E. M. CCC. III. Doc. de turas. Assim chamárão a hum Di
Viseu. Ainda continuou. reito, Quod ex mortuis, seu ex de
MOREA. O mesmo que Mós cedentium Legatis, Ecclesiis, seu ea
#8/2. rum Rectoribus, & Ministris obve
MOREIREDO. Lugar cheio, nit. Na Infima Latinidade se dis
e abundante de moreiras. Doc. de se Mortalagium, Mortalitar, Mor
Almacave do Seculo XV. talia, Mortuagium, Morturium, e
# MORMULHA. Memoria. Acha Mortuarium. Chamou-se este Direi
se em Faría. to Porção Canonica, ou Quarta Fune
MORTALHAS. V. Mortulhas. ral, que ordinariamente consistia
MORTALIA. O mesmo que na quarta, terça , ou metade dos
Luctuosa, que á mortalha se seguia. bens do defunto. Havia Quarta-Fu
No de 1 158 se fez huma Doaç. a neral-Episcopal,e Quarta Funeral-Pa
7"0
158 MO MO
rochial: a 1° era de todos, e quaes fêas, suprindo largos annos de hu
quer bens deixados por Testamen ma vida innocente, reformada,
to aos Mosteiros, Igrejas, e Lu arrependida. Equivocadas deste mo
gares Pios de toda a Diocese: a do as Oblaçoens da Primitiva, que
esta já de muitos Seculos extinc mantinhão com frugalidade os Mi
ta, succedêrão as Luctuosas , que nistros do Altar, com as successi
ainda em algumas partes se pratí vas Mortalhas que fundindo vasos,
cão. A 2." que ainda hoje senão e calices de ouro puro, deixavão
esqueceo de todo , consistia em os Sacrificadores do preço mais vil,
huma parte dos bens moveis, ou e abatido: não se póde bem com
semoventes do defunto, e foi in prehender a Devoção com que os
troduzida com o pretexto de que nossos Maiores, e como á profia,
sería facil, ou possivel, que o até o Seculo XIV., prodigalizavá0
Parochiano tivesse defraudado por os seus bens; esquecidos aindada
ignorancia, ou esquecimento a sua quelles mesmos, para quem na
Igreja Parochial de alguns Dizi turalmente deverião enthesourar.
mos, ou Oblaçoens: Pro recompen Mas : a Deos graças!... Ainda a
satione subtractionis Decimarum per bom tempo rompêrão as nossas
sonalium, nec non & Oblationum... Leis os perniciosos laços das Mãº
Et posset saltem per hoc apud distric Mortas !... Dinheiros , fazendas,
tum judicem excusari: diz o Con joias, armas, roupas, cavallos, ºvê
cilio de Oxford de 1287. Can. 5 I. lhas , porcos, cubas, arcas, pãº,
Extinctos já hoje os Dizimos Pes vinho , azeite, pannas, bragues,
soaes, restão os Usos, e Costumes &c.: nada havia que podesse uti
das respectivas Parochias , que al lizar, que promptamente senão
guma vez senão conformão intei chegasse a admittir ; como por
ramente com tudo o que he razão, mil passagens desta Obra mesmo
e Justiça. se póde ver. Em os primeiros tres
Esta foi huma das mais furio Seculos da nossa Monarchia não
sas Machinas, que naquelles tem he facil achar Testamento, que
pos de barbaridade, e confusão as não comece por estes Benésses da
sestárão alguns Ecclesiasticos pa Igreja, ou de seus Ministros; de
ra destruir os Parochianos, ainda clarando-se em alguns , que são
mesmo depois de mórtos, quando Pera quitamento de suas Dizimas.
elles não deixavão de pagar á ris O pernicioso abuso de se darem,
ca os Dizimos , e Primicias em e venderem os Dizimos aos Mostei
quanto vivos. Trocando a Piedade ros naquellas Parochias , que se
em lucro , e cobrindo a propria lhes união, ou que elles mesmos
ambição com a capa da expiação edificavão: e não menos a recomº
alheia ; chegárão a persuadir aos pensa das Ordens Militares com
. Póvos menos instruidos, que as o Patrimonio do Crucificado, oc
largas esmolas , profusoens Pias , casionárão novas desordens. Os
Pastores assalariados, e nem sem
Legados , Auniversarios , e huma
grande parte das suas temporalipre assistidos de huma congrua ,
dades, deixadas a hum Lugar San e honesta sustentação , ou resus"
to, podião remittir as culpas mais citárão, ou introduzírão UrosPen
• , ""
MO MO 159
Pensoens nada favoraveis á sepul pessoaes, mandas, e Ofertas, e O
tura dos Freguezes. Daqui os in bradas: O Veneravel D. Fr. Salva
numeraveis Contratos , ou Concor do, Bispo daquella Diocese , os
dias em feito de Mortulhas, já dos compoz amigavelmente em 3o de
JBispos com os seus Cabidos, já dos Maio de 1337, declarando-se en
mesmos Bispos, e Cabidos com as di tre as mais condiçoens: Que o
tas Ordens, Mosteiros, e Conventos: Dayão, e seus successores ajão to
apontaremos alguns, sendo impos dalas Direituras, e todalas meuças,
sivel reproduzilos todos: e a Oferta, e Obladas, tambem dos
Por hum Instrumento da Sé vivos, como dos mortos, que a dita
de Lamego de 1 188. consta , Eigreja ha, e houver d'aver, & c.
que D. Godinho I. confirmou nes Doc. de Almacave.
te anno a Divisão das Rendas en Das Mortuárias se faz menção
tre a Mitra, e o Cabido, feita já em hum Contrato entre o Bispo
pelo Bispo D. Mendo: Et firmiter de Viseu, e o seu Cabido. V. Doens.
E das Mortúrias da Igreja do La
corroboravit partituram, quam Epis
copus Menendus, ejus Praecessor illis dario se veja V. Lotosa, em cujo
constituit, rcilicet, In omnibus Ec Documento se diz : Tertiam verò
cleriis tertiam partem : In Heredi Mortuariarum, quas habere potueri
patibus fidelem medietatem : In Deci tis , sive de Parrochianis vestris,
mis Parochiae ipsius Sedis duas par sive de alienis, nobis debetis persol
tes: Ó in morturiis similiter: exce vere, sicut de aliis nobis persolvun
ptis suplectilibus, & stramentis uni tur Ecclesiir.
* versis, Óº equitaturis, de quibus ju No de 1 288 doou ElRei D. Di
re nihil habere debet. Na Erecção niz ao Mosteiro de Ceiça o Pa
ou Instituição da Igreja Parochial droado da Igreja de Tentugal, com
do Couto de Canellar (que hoje não a condição , de que o Papa; ou o
existe, e parece, que nunca che Bispo de Coimbra , lhe anexasse os
gou a existir) declara D. Estevão Dizimos; aliàs que não valesse a tal
Arcebispo de Braga, que o Paro Doação. Era então Bispo D. Aime
cho lhe pagará a sua Censura, que ríco, que confirmou a Doação, e
era: Unum modium de centeno, ó" unam fez a União dos Dizimos, achando
ceram , Óº tertiam partem mortua se em remotis partibus, e no mes
riorum. Doc. de Braga de 1 225. mo anno. Datum Caiarti, & c. ins
Era então D. Paio Bispo de La tituindo em Tentugal hum Viga
mego, a quem este Couto perten rio perpetuo por morte do actual
cia. V. Censo. Correndo demanda Reitor. Qui Perpetuus Vicarius (sal
entre o Deão da Sé de Lamego, vain omnibus Pontificali Tertia, quam
e o Reitor, e Beneficiados de Al habet Episcopus) in ipsa Ecclesia ha
macave por razom das pertenças do beat tertiam partem omnium Deci
pam, e do vinho, que lhes o Dayão marum, possessionum, mortuariorum,
ha a dar, e d'outras couras, que de &º aliorum omnium bonorum, é pro
vião d'aver por meio com o dito Dayão, ventuum Ecclesiae. Habeat etiam omner
que erão estas: convem a saber: Di Oblationes, Óº omnia, que oferun
reituras, meuças, anniversarias, que tur Altari; de qua parte tertia Ec
fossem mandadas á Egreja, Dizimos clesiam manuteneat, Óº hospitalita
- tem,
16o MO MO
tem, prout jura requirunt..... Re sa (que havia sido Convento de
liquam Tertiam Decimarum, posses Eremitas de Santo Agostinho já
sionum, Óº mortuariorum , dictum d'antes de 1 14o, e a quem D. Af
Monasterium de Ceiça conver at in fonso II. havia feito a Doação do
usus suos, Óº habeat in perpetuum Couto) e isto afim de indemnizar
in salvo, absque omni onere alio. Doc. os que sem detrimento algum se
de Ceiça. chamavão lezados. A Doação des
No de 1289 D. Vicente, Bis ta Santa se acha no Censual do Por
po do Porto , e o Mosteiro de to L. I. da 3. part. que he...dos Pa
Tarouca se compozerão arespeito droador. Por este modo socegárão
dos Direitos Pontificaes da Igreja os Dominicos. Com os Francisca
de Oliveira em Penaguiám, de que nos porém ainda depois continuá
já se falou V. Censo. Nas Escritu rão as discordias. No Lº XXI, dºs
ras, que se guardão em Tarouca Originaes do Cabido. n. 1. se acha
se lê o seguinte : De Mortuariis huma Bulla de Benedicto XII, de
vero composuimus hoc modo : Quod 1338 que julga deserta a Appelli.
si aliquis rusticus, aut villanus ibi ção, que o Guardião de S. Fran
elegerit sepulturam: nihil de legatis cisco, e os seus Religiosos dº
ad eamdem Ecclesiam, seu grangiam Cidade do Porto interpozerão pº
pertinentibus, Nobis, vel Archidia ra a Curia Romana de huma Sem
cono nostro detur. Et si aliquis de tença, que o Bispo, e Cabido al
aliena Parochia ibi elegerit sepultu cançárão contra elles , para que
ram: partem legatorum quae Parochia lhes pagassem a Quarta Funeral,
illa habuerit, á qua corpus assumi e a quarta parte de todos, e quatrº
tur, Nos volumus partem nostram. quer Legados deixados em Testam"
Os PP. Sousa, e Esperança, a to. E por quanto o Procurador dºs
quelle na Chron, de S. Domingos, Appellantes não compareceo, #
este na Hist. Seraphica de Portu condemnado em 16 Florins e nº
gal , nos informão das horriveis d'ouro. Depois no de 1366 fizeñº
persiguiçoens, com que D. Pedro novo Contrato o Bispo, Cabidº,
Salvador, Bispo do Porto tratou e Convento sobre a Quarta Fumº
as duas Familias Religiosas na ral (N. 18.) mas parece que º
quella Cidade, agitado por huma lo tempo se alterou ; pois no dº
sordida ambição das Mortulhas, 1429 fez o Cabido hum Requenº
que aprehendia perder elle , e o mento (N. 5.) para que o Comº
seu Clero, em razão das sepultu vento de S. Francisco lhe pagºsº
a quarta parte de tudo o que por It"
ras, que muitos escolhião nas suas
Igrejas. Todo o Poder dos Succes tamento lhe fosse deixado. Em fim
sores de S. Pedro, e a Liberali no de 1442. (N. 6.) tornou º
dade Real dos nossos Principes contratar o Cabido com o Comº
se metteo em uso , para deixar vento sobre o mesmo assumptº
os pobres Religiosos em socego. Extinctos os Claustraes, succedº
A gloriosa Santa Mafalda se de rão os Observantes: a sua Pobre
clarou abertamente a favor dos Do za fechou a porta a todas as cº"
minicos, doando á Sé do Porto a tendas. Mas ninguem se admirº
Igreja de Santa Cruz de Riba-Les destes excessos no arrecadar º •
CS
MO - MO 161
despojos dos defuntos. Tempo hou nachorum essent participes; eorumque
ve, em que os Reitores das Igre ad id nomina in Calendario, seu Ne
jas pertendêrão arrogar-se as Mor crologio scriberentur. Dufresne. V.
tulhas dos que aspiravão á Profis Angelica Vestis. E exaqui tambem
são Monastica; dizendo, que co a Origem , que teve o costume,
momórtos já civilmente , se de de muitos Fieis (sem desprezarem
vião reputar como defuntos. Dis o lençol, com que JESU Christo
to nos informão as Bullas de Ho foi sepultado) pedirem na morte
norio III. e. Greg. IX. (ap. Du b Habito de S. Francisco, ou de ou
fresne) chamando-lhe hum Costume tro Santo Patriarcha. Os successo
detestavel, qui ali reprehendem, res de S. Pedro tem concedido va
fulminão, e proscrevem. Verdade rias Indulgencias aos que não sen
he, que muitos Canonistas, fun do talvez muito Religiosos na vi
dados no Cap. de his. 4. de sepult., da , morrem ao menos com este
destinguem entre o que na saude sinal de verdadeira Penitencia. E
perfeita procura o Habito Religio se algum abuso na materia, e fór
so, e o que na doença grave, e ma destes Habitos, e seu preço,
luctando já com a morte, se faz se chegou a introduzir ; isto de
conduzir com os seus bens ao Mos nenhum modo póde empécer á in
teiro: Este, e não aquelle, di tenção pia de quem os busca, nem
zem, não ser livre da Quarta Fu áliberal condescendencia com que
neral. E nem este he hum caso a Igreja Santa os approva. Mas
methafisico; pois antigamente ha tornando ás Mortulhas:
via huma especie de Monges, que No Archivo da Mitra Bracaren
se intitulavão Monachi ad succurren se, Tit. Dos Censos, e Direitos Ec
dum , que achando-se nos fins da clesiasticos, Mass. 1. N. 12. se acha
vida , e artigo de morte (prece a copia de huma Procuração do
dendo o consentimento de suas mu meio do Seculo XV. para se com
lheres se erão casados) se fazião por a Clerezia do Arcebispado so
levar ao Mosteiro , e ali vestião bre os Direitos Archiepiscopaes, que
o Habito Monachal, para soccor de tempos antigos se pagavão, a
rerem á su'alma, fazendo-se parti saber, Votos, ou Vodos de pam, e
cipantes das oraçoens, e sufragios vinho, Mortuorios, Colheitas, Pro
dos Monges, e ficando obrigados curaçoens, Redisimas de arrendamen
á Profissão Religiosa , se vinhão tos, Dizimos, Meias-Vagas, Luc
depois a convalecer. E este era o tuosas, Bragal, Cera, Morturas,
Festido, ou Habito Angelico, com Mandas, Kalendario. Pelos Mortuo
que já desde o VIII. Seculo se rios: podemos entender a Quarta
costumárão sepultar aquelles secu Funeral; pelas Morturas:, as obra
lares, que interessavão pela remis das; pelas Mandas: os particulares
são das penas temporaes, que de Legados. Mas que diremos nós
pois da morte os aguardavão: An ser o Kalendario ?... Diremos ser hu
gelicum Habitum sumere dicebantur ma Pensão, que os Parochos paga
morituri laici, qui, prius quam vi vão no 1.° dia de todos os meses,
ta excederent, Monachicis indumentis quando vinhão á conferencia, que
indui postulabant; ut orationum Mo então se fazia na presença do #{\º
Tom. II,
162 MO MO
lado, Ut de suo Ministerio, & re los Capellaens da dita Igreja, e Mos
Iigiosa conversatione, atque de bis , ges do Mosteiro , se quizerem vir
que in eorum Parochiis accidunt, ser (sendo primeiro avisados) no dia da
monem haberent ?... Seria algum sepultura, nove dia, mez : e anno,
Donativo, que por obrigação mes Doc. de Bragança. *- - -

mo lhe pagavão as Confrarias?.. - De toda esta Disciplina unica


Seria alguma Custumagem, que se mente restão as Obradas, e os par
pagasse no 1.° de Janeiro, que em ticulares Uros das Igrejas , que,
huma Carta de Rogerio, Rei de sendo racionaveis , como he de
Sicilia de 1 137 se chama Kalenda presumir, se devem manter, e comº
tico?. Nada mais era, senão o que servar. Mas sería bem para dese:
fica dito V. Kalendario... , , , jar, que a subsistentia congria,
Em huma Sentença de 1454 da dos Ministros tivesse outras fin
da pelo Dezembargador do Princepe cas, que não fossem os Funerais,
D. Afonso, Duque de Bragança, e os Lutos, e as Mortalhas : que 4
Conde de Barcellos se declara, que administração dos Sacramentos nãº
o Mosteiro de Castro de Avellans tivesse ainda a mais leve sombrº
em aquellas Igrejas em que tinha de Symonía: e que o Enterro dos
Tertias Mortuorum; sobre que sem nossos Irmãos defuntos não decli
pre fórão , e são grandes debates, nasse para suspeitas de avareza!…
esteja pelo Aresto seguinte: Man E ainda senão tapão as boccas dos
do , difiro, e decraro, que tôdos, e que fallão maldades!... Ainda se
quaesquer Freguezes das Igrejas ane ha de presumir, que o mesmo Pas
xas ao dito Mosteiro, que sem Tes tor se interessa na morte do Re:
famento fallecerem , seus herdeiros banho!... Sagrados Dizimos, pá
destribúão seus bens, como quiserem, ra onde vos auzentastes?... Wºk
e por bem tiverem, segundo, a dispo tai, voltai á Primitiva, e logo ccº
sição do Direito commum : E mor sará a calumniosa maxima Tulu"
rendo com Testamento, inteiramente de lana, nihil de anima, que sendº
se cumpra. E se bens , ou meveis, a penas de algum, a malicia sº"
ou dinheiros por sua alma deixar sem tino a quer aplicar a todos. _.
outra declaração: seus herdeiros, ou MOSEGADO. Hoje na Beira
testamenteiros possão livremente gas dizem pão mossegado, aquele º
iar as duas partes no que virem, que que á mão se tirou alguma Pº
be utilidade dos ditos finados. A ter quena parte: e mosseco, a dita Pº"
fa parte porém (attendendo, a que ção, assim tirada. Antigamente º
o Mosteiro persi, e seus Cappellaeus estendia o mossegado a tudo o lºº
lhes dá a Cura, insina, administra padecia alguma falta já nas extrº
os Sacramentos, e tem com elles ou midades, á diferença do esfarrº
tros trabalhos) a devem dispender pado, cuja rasgadura chegava º
em Missas (que he Obraçom, e Sa interior de qualquer peça. Liº"
crificio mais preçado, louvado, acep mosegado , e esfarrapado a lugar"
to a Deos polar almas de todos, Ex Doc. de Santo Thyrso de 1438.
cellente sobre os outros todos) as MOSEQNINS, ou Mosequinº
4uaes mandaráõ dizer na Igreja, on Borzeguins. V. Camalho.
de jouver o finado: e seráõ ditas pe MOSTEA. Carro, carrada. E
44
*
*MO MO 163
as mostèas da palha , como sempre na Serra, ou só, ou com algum,
as astes. Prazo das Salzedas de 1295. ou alguns poucos companheiros,
Em outros muitos Prazos se decla era o que bastava , para que se
ra, que as Mostèas são feixes de desse o nome de Mosteiro á sua
palha, de mais, ou menos venci brusca, e tenebrosa cova, em que
|lhos." • -

o desprezo do mundo reluzía , e


- MOSTEIRO. V. Monesteirol. a commodidade propria senão bus
MOSTEIRO. I. Todos hoje sa cava. Passárão os fervores primei
bem , o que he Mosteiro. Mas re ros: e nestes mesmos sitios, ou
flectindo sobre os nossos mais an perto delles, se fundárão talvez
tigos Documentos, se nos ofere outros mais amplos, e numerosos
ce logo á vista tão desmarcado Domicilios, alguns dos quais che
número de Mosteiros, que nos vio gárão aos nossos dias, havendo ca
lentão a crer, que elles não erão minhado outros á região do esque
da qualidade dos que hoje se pra cimento. Bem facil seria hum di
ticão. Cassiano Collat. 18. Cap. 16. latado Indece de todos; mas o tem
bem claramente nos informa, que po, e a occasião o não permittem.
a Cella de qualquer Monge parti MOSTEIRO. II. Assim chamá
cular era hum Mosteiro: Monasteria rão antigamente ás Igrejas Cathe
dicebantur. Celle , in quibus unicus draes; ou porque efectivamente
.- degit Monachus. E esta era adife fôrão servidas pelos Monges, co
# rença entre o Mosteiro, e o Ceno mo em Alemanha principalmente
5 bio: neste habitavão muitos, na se praticou; ou porque nellas vi
quelle hum só: Verdade he que vião alguns Monges, juntamente
pelo tempo tambem os Cenobios se com os Conegos, como se disse
|
disserão Mosteiros, como se vê do V. Monge nas Cathedraes; ou final
Conc. Rom. de 826. C. 27. Não nos mente , porque nellas vivião os
deve logo admirar huma multidão Conegos não menos regularmente,
assimigrande de Mosteiros. Huma ue os Monges.
choupana entretecida depáos, e MôsfÉíRó III. Igreja Paro
cuberta de ramas fazia naquelle chial, e Matriz. Multiplicado o
tempo a figura propria de hum Povo de Deos, deixárão os Bispos
Mosteiro. O trabalho das mãos, e de serem consultados para os Ma
as hervas, ou frutas do mato man trimonios dos Fieis : passou esta
tinhão felizmente o seu Habitador: inspecção aos respectivos Parochos.
e então que muito se repetissem Mas crescendo em grande número
a cada passo semelhantes. Habita os Parrochianos foi preciso cortar
çoens?... Ainda depois que os Mos algumas porçoens da Freguezia
teiros constárão de mais Indivi Primordial, que erão governadas
duos., nunca foi excessivo o seu por hum só Sacerdote, ou Cappellão,
número: a soberba, e arrogancia ao mesmo tempo que as Matrizes
dos grandes Palacios nada tinhão tinhão copioso número de Minis
de commum com os Claustros Pe tros, já Monges, já Clerigos, Dia
ligiosos, onde só vivião homens, conos, e Presbyteros, que ministra
enterrados primeiro, que defuntos. vão os Sacramentos, e vivião col
Hum Ermitão mesmo embrenhado legialmente nas mesmas Igrejas,
-> *,

X ii que
164 MO ! MO
que por isso fôrão chamadas Mos ro, Igreja, e Oficinas erão com
teiros, ou Igrejas Monastereaes. Nes muas aos Monges, e Monjas. Pe
tas he que o Conc. de Roam de ro72. lo contrario: grossas, e altas pa
C. 14. manda receber o Sacramen redes separavão , até mesmo da
to do Matrimonio: Nuptiae non in vista, as duas Familias, que se
occulto fiant, neque post prandium; algumas vezes não tinhão mais su
sed sponsus, & sponsa jejuni a Sa perior, que bum Abbade, ou Abba
cerdote jejuno in Mouasterio benedi dessa , ordinariamente cada huma
Cál##1/7". das Communidades tinha seu Che
MOSTEIRO de Herdeiros. As fe, e na Igreja, ou Oratorio das
sim erão quasi todos os que no Monjas só os que servião no Al
Sec. XI. se fundárão. Junto de hu tar, ou conferião os Sacramentos
ma pequena Igreja , ou Oratorio erão permittidos ; não se conce
se fabricavão casas, e aposentos, dendo já mais ás Monjas o entrar
em que vivião os Fundadores com na Igreja , e Mosteiro dos Mon
as suas Familias, e depois delles Jes. |

succedião nesta herança seus pa MOSTEIROS Livres, ou isen


rentes, e herdeiros; com condi tos. V. Abbade Isento.
ção, que dessem certas esmolas, MOSTEIROS Reaes. Os que
e agasalhos aos pobres , e peri só pendião do Principe, ou Mo
grinos, e aos Monges, Sacerdo narcha. Destes, e outros trata Du
tes, ou Devotas, que vivessem cange V. Monasterium.
naquelle lugar, a que mais bem MOSTIL. Parece ser Oficial
chamariamos antes Morgado, ou mecanico , que depois se disse
Capella, que Mosteiro. V. Combonas. Mester, e Mister. No Foral de Cêa
- MOSTEIROS. Assim chamárão de 1 136, depois de se determi
os arcos, abobedas, ou pequenas nar, que senão embarguem as bês
Capellas pela parte exterior das tas aos olleiros pro in nulla facitº
Igrejas, em que antigamente se da , i continúa : Numquam in sená
Pultavão os córpos dos defuntos. prendant mostil. Lº dos Foraes Ve
MOSTEIROS Capitaes. Erão lhos.
os que tinhão outros debaixo da MOSTRAR. I. Explicar algº
sua obediencia. Taes erão entre ma cousa, que estava escura, ou
nós Pombeiro, Tibaens, Vacari menos clara.
ça, &c. - - - | MOSTRAR. II. Insinar, ins"
, , MOSTEIROS Canonicaes. A truir, améstrar. E na verdade º
quelles, em que vivião Conegos Mestre he quem patentêa, e mos
egrantes , ou Regulares com a tra aos seus discipulos, e ouvinº
mesma Obediencia, Clausura, e tes o que d'antes se lhes escondia,
perfeição, que os Monges. . . e occultava. Martim Martins, quº
MOSTEIROS Duplices. Hou mostra os Moozinhos. Doc. da Grã
ve muitos em Portugal, ainda de ça de Coimbra de 13 ro. V. Mº
pois, que no Conc. Niceno II. C. fos amostradiços, e Molachinos.
2o. fôrão prohibidos. Mas ninguem MOTA, Toma-se hoje por açu"
se persuada, que não havendo tan de, ou levada de agoa , que º
ta malicia naquelle tempo, o Co fórma de torroens, fachinas, º

pe
MO MO 165
pedras. Antigamente se tomava ção, acção de medir. Cod. Alf. L.
pelos muros, torres, fossos, ou II. Tit. 74. § 3. e 5. -

cavas, que defendião, e mesmo MOYADOR. O que mede me


formoseavão huma Casa de campo, didor.
§. 31.
Cod. Alf. L. II. Tit. 59.

*
e qne por erma, e solitaria neces
sitava de ser guarnecida a modo MOYER. Mulher. +

de Castello , ou Fortaleza. Em MOYO. V. Moio. }

huma Doação de Vairão de 128o MOZMODIS. Moeda, que cor


se diz De uma casa cum sua mota. ria nos principios deste Reino,
MOUIMENTO. V. Moimento. e parece que erão meios Maravi
MOURISCO — Arratel.) Ti dís , ou Maravidir Menores. No
nha 32 onças. V. Arrelde. No Cod. Codicillo, ou Manda dº ElRei D.
326 dos MSS. de Alcobaça, f. 353 Affonso Henriquez, que se acha
se acha huma larga Doaç. d'ElRei Orig. no Cabido de Viseu, feita
D. Diniz ao Mosteiro de Odivel em Fevreiro de 1 179, dispoem o
las, com condição de haver ali Monarcha a beneficio da su’alma
sempre 5 Capellaens, Frades de de 22 dooo Maravidís, que tinha
Alcobaça, aos quaes se darião por em Santa Cruz de Coimbra. De
dia tres arrateis de carne pelo arra pois de varios legados aos Pobres,
tel Mourisco de Lisboa. Datada no ao Hospital novo de Guimaraens,
de 1318. Erão pois 12 arrates, ao do Porto, e Lisboa, a Mos
segundo o peso de que hoje usa teiros, Igrejas, e até 3 dooo Ma
{ mos. Por huma Doaç. de Oviedo ravidís á Ponte do Douro (para se
de 1 1 14 ; consta, que a Rainha fazer, ou conservar) continúa: In
D. Urraca, e o Senhor Conde D. primis Hospitali Iberosolimitano VIII.
Heurique recebêrão daquella Ca mozmodis , , & CCCC." marcas ar
thedral Metkaes , e soldos magno genti , minus viginti quatuor , pro
pondere Maurisco. Era logo o peso quibus damus CLXII. Morabitinos,
Mourisco diferente do que usavão «9" VI. Morabitinos mayores. Monas
os Nacionaes de Hespanha. V. Me terio . S. Crucis mille Morabitinos
thcaes. . mayores, ó mille mozmodis, minus
MOURISCOS. Mariana tradu decem , & medium. Daqui se vê,
zindo a Carta do Papa João VIII. que havia Maravidís maiores , e
para ElRei D. Afonso, o Magno, Menores, ou Meios Maravidis : e
diz assim : Não deixeis de inviar estes deverião ser os Mozmodís,
nos algums proveitosos, e boms Mou de que aqui se faz menção. No
. riscos com suas armas , e cavallos, Codicilio d'ElRei D. Sancho I.
aos quaes os Hespanhoes chamão Ca de 1 189, que igualmente ali se
vallos Alfarazes. Erão logo os Mou conserva, se vê, que havendo le
riscos , ou Alfarázes soldados de gado 13 do 135 Maravidís , e meio
Cavallo , bem fornecidos de ar a beneficio dos Cativos; vai logo
mas, e muito exercitados na guer deixando a varias Igrejas muitos
ra contra os Mouros. V. Alfarás. Mozmodis, que ali se escrevem com
MOVIL, Movis. Movel, mo esta abreviatura m">, e diz: Istã
veis. Doc. de 1 336. m"z superfiui (qui sunt V CC. II.
MOYAÇOM. Medida, medi mºz, Óº nonaginta septem mealia au
ri)
I66 MO MU
ri) dentur pontibus in Regno meo. filhos. Cavalgaduras apparatosas,
De tudo se conclue, que os Moz e ajaezadas de mulas, facas, haca
modís, ou erão Maravidís menores, néas , rocins, que não fossem de
ou Meios Maravidís. V. Maravidil.
marca , quartaos de França, Flan
Entre os Orientaes, e Africanos dres, Alemanha, Urcos de Inglatera,
ainda hoje corre huma moeda , a Escocia, Irlauda , não consumião
que chamão Mahmudí; he de ouro, o seu dinheiro , nem gastavão o
e prata: a de ouro tem o mesmo genero da primeira necessidade,
valor do nosso quartinho de 12 oo não só para a manutenção da Ca
réis: a de prata he do tamanho, vallaria regular, mas ainda para
e valor dos nossos vintens de pra o sustento de tantos individuos,
ta. Mas não he de crer, que este que gemem nos duros ferros da
seja o valor dos nossos Mozmodís, penuria, e da lazeira. Os Prela
nem que com elles tenhão algum dos, e Pessoas condecoradas, os
parentesco. , Fidalgos, os Ecclesiasticos, e os
MOZOM. Moitom, guindaste, Monges fôrão os primeiros a quem
madeiro alto, e grosso, que ser os nossos Monarchas facultárão o
via para guindar pedras. Na Infi andarem em béstas muares com freio,
ma Latinidade Mozolus rotae, era e sellas. Mas esta Prohibição tão
o mesmo que Truncus : os Italia antiga, como o mesmo Reino, º
nos ainda hoje dizem Mozzolo, e da qual se seguião utilidades gan
os Francezes Moieul. V. Luria.
des, acabou nas Côrtes de Thº
MU, ou Muu. Mulo, macho, mar de 1581 em que os Póvº
ou mulato, animal quadrupede, e consiguírão d'ElRei D. Filippel
bem conhecido. Mando que hum mú, de Portugal, o servirem-se livre
do qual preço da compra foi de vin mente de quaesquer cavalgaduras,
te maravidís, de vinte sete soldos que cada hum tivesse.
o maravidá, & c. Doc. de Almos MULATO. Macho asneiro, fi
tér de 1287. O mesmo se vê por lho de cavallo, e burra. Por hº
outro das Salzedas de 1279, em ma Lei de 1538 se determinavº»
que se escreve Muu. -
que nenhuma pessoa dº Entre Do"
MUDAMENTO. Alteração, ro, e Minho podesse criar maiº
troca, mudança. V. Cabo. II. |
que hum mulato para seu serviº;
MUDBAGE. Tela, ou droga sob pena de humanno de degredº
preciosa, de que se usava nas ves para hum dos Coutos fóra da di
timentas, e cápas da Igreja. V. ta Comarca, e de perdimento dos
-Acitara. * , -

Mulatos, que criasse, metade Pºº


MULA do corpo de alguem. V. ra quem o accusasse , e a outrº
Mbua. -

para a Camera de S. Magestadº


MULAS. Sempre será louvavel Tudo ficou revogado nas Côrtº
a moderação, e severidade de cos de Thomar. --… "
tumes dos nossos Maiores , que MULTIPRICAÇOMMultipli.
longe do fausto, ostentação, e lu ção, multidão , copia. -

xo , com pouco se contentavão, MUNDAVEL, Mundano, Sº


poupando os seus Patrimonios, e guidor, e amante dos torpes dº
deixando largos thesouros a seus leites, e carnaes. Como em aº
guns
MU MU 167
guns Foraes antigos se mandasse, Musaría tudo o que erão Oficios,
que os Clerigos, e Frades pagas Missas, e Oraçoens pelos defun
sem. Portagem ; Passagem, e Custu tos; pois nem tudo isto era reza
*magem , assim como pagavão os do em voz submissa, sendo a maior
Judeos, e mancehas solteiras munda parte, cantador, ou entoado em
vees: ElRei D. Duarte por honra voz alta, e sonóra. …, , , ,, , ,
da Santa Igreja, e porque devem fer MUSITAÇOM, Voz baixa, con
honrados, e liberdados; mandou fusa, e por entre dentes. Doc. de
pagassem como ós outros Chris Tarouca do Seculo XIV, … :
tãos, e D. Affonso V. o confirmou.
Cod. Alf. L. I. Tit. 21. º ,
MUZLEMO. Rustico, barba
MUNGA. Monja, Religiosa, ro, incivíl. . . . .. • > .….:

Freira. Doc. de 128o. . . . * *


• ** * * * * * *

- MURADOURO.OS. Tapígo,
muro, parede; vallo, comàro. As --
- [ …
quaes herdades com seus muradouros, * * "> ! } @

arri como fazem muradas , vos em }

prazamos. - - - - .… N - Letra Numeral valía 9o ou


… MURCEIRO. Oficial, que faz mais bem 9oo: sendo plicada va
murças de Conegos. Doc. de La lía 9 dooo, º , • •

mego do Seculo XV. … N. Na Musica dos antigos de


MUSARIA. Tudo o que per notava, que onde estivesse o si
tence a Bens d’alma, e Anniver nal desta letra se devia attender
sarios. ElRei D. Affonso II, pro muito , e reparar no canto. -

hibio, que as Religioens compras N. Ehum L. nas Sentenças dos


sem bens de raiz sem licença. da antigos ICº mostravão, que não
Corôá; salvo que as possam comprar estava o dilicto plenamente pro
per musaría, e vutras maneiras sem vado : servia de huma Interlocu
pecado. Cod. Alf. L. II. Tit. 2. toria, que por extenso dizia Non
art. 2. Sem nos lembrar-mos ago liquet. , e que se devia proceder
ra que do Latino Musso, ou Mus a nova Inquirição. … * *

sito, ou do Italiano Musar, que N. Tantas vezes se repetia, quan


he estar resmoneando, ou fallando tas erão as pessoas, que por elle
baixo, e por entre os dentes (não se denotavão. V. L. G. •

obstante que os Sabios da Crusca ex N. Figurado como H. V. Nu


pliquem Musar em sentido mui dir mám. * - º
verso) poderião os Portuguezes N. Já desde o VIII, Seculo se
chamar Musaría a tudo o que erão começou a escrever em lugar do
rezas, oraçoens, e Missas caladar: nome proprio da pessoa ; escre
parece mais natural, que de Mus vendo-se d'antes ille, ou illa, co
sa, ou Muza, que na infima La mo dizendo: aquelle, ou aquella,
tinidade significou a murça , ou cujo nome se ignora, ou que por
} particular habito, com que não só certas razoens aqui senao escreve.
os Conegos, mas ainda todos os No Pacto da Lei Salica Tit. 53. se
Ecclesiasticos devião entrar, e ser usa de Nestigantio, ou Nertigam
vir na Casa do Senhor, se dicesse tius; suprindo com esta palavra o
Il Q
I68 NA • NA
nome proprio; o que nós fazembs . 2 NABULO. O mesmo que Na
com estes termos: Fulano, hum tal, bám. Ou mais bem o fréte que se
paga nas barcas. de passagem.V.
hum certo. Dizem algunsiyge não Nabám. , …fico º • • • • • •

sem fundamento, que o N. neste


sentido hé-abreviatura de En, ou - NAÇOENS de legumes. Todi
Na, que queria dizer Senhor, ou a casta de legumes... v. g. Favas,
Senhora para com as Gentes, que feijoens, hervilhas, &c. Doc. de
antigamente ficavão nas abas dos Tarouca do Seculo XIV. . . .
Perineos, vág. Em Antonio : Na NADIVA. Nascida, natural,
Sophia: Senhor Antonio, Senho Pedra nadiva, a que ali mesmo,
ra Sophia; e que pelo rodar dos onde se acha, foi creada, ou pro
annos, suprimidos o E, e o A, duzida, á diferença da que já foi
ficou unicamente o N. para deno cortada , ou conduzida de outrº
tar o nome occulto."" lugar. Como vai ferir em huma pt
NABAM. Este Direito, que pa dra nadiva, que está á quem do Riº
gão os pescadores nos outros *Balsamam, T. do Aro de Lamegº,
tos, e que hé de cada navio, lan de 1 346. f. 51. … º
cha, ou outra qualquer embarca NAMORADO. Afavel, engº
ção hum peixe; não pagão os pes çado, cheio de humanidade, rº"
cadores da Cidade do Porto, de bador dos coraçoens, e que pelo
pois do Foral d'ElRei D. Manoel, seu bom termo provóca os outrºs
como delle se manifesta. Porém a ter-lhe afeição. D'ElRei D.Fer
antigamente o pagavão com o no nando diz o Azinheiro : Era muitº
me de Nabulo ; ; como consta da desposto, e muiformoso, e manhº",
Doação d'ElRei D. Ordonho II. e muito namorado, e mui agaia"
ao Bispo D. Gomado (que renun dor. . -- & : ; — ) . .

ciada à Mitra de Coimbra, se ha NAMORADOS. Ala dos Nunº


via recolhido ao Mosteiro de Cres dos, Companhia, ou Sociedade dº
túma, junto ao Porto) em o anno Fidalgos Portuguezes, Aventuitº
de 922 : acha-se no Lº Preto de ros, e Andantes, que na Batalº
Coimbra a f. 39., e diz: "T'edit ip de Aljubarrota se levantou ; º
se Rex, & ipsi Comites Nabulum, mando por Distinctivo huma Bº
&º Portaticum de Dorio in die Sab deira verde, que simbolisava cº"
bati, de Portu de Aljuvirio, ó per os seus pensamentos , cheios de
totos illos portus usque: in illa foce esperanças, que consistião em dº
de Dorio, ubi cadit in mare. -- E lhe fenderem sempre honradamentº º
fazemos Mercê do nosso Direito do posto, que na campanha se lhes
Nabão, e Malatosta, que os barcos confiasse. Ao mesmo tempo se }
de fóra pagão quando vem pescar aos vantou a Companhia, ou Batalhº
mares, e rio da dita Villa (de Vian dos da Madre Silva, cujo Titulº
na). Carta d'ElRei D. Afonso V. designava o seu entendimento, º
porque faz Conde de Vianna de discrição em Feitos Militares.Aº
Caminha ao Capitão, e Governa bas estas Sociedades (a que algº
dor d’Alcacer em Africa, D. Duar sem razão chamárão Ordens Mili"
te de Meneses no de 146o. •

res) acabárão com os seus mesmº


NABO. O mesmo que Nabám. Instituidores. Hum Cavallcirº *
I.
Consta do mesmo Foral.
NA NA 169
1.° está sepultado no Convento de conhosco, que recebi muito bem, e
Corpus Christi em Villa Nova do muyta ajuda do Moesteiro, e por bem
Porto: outro da 2.° em o Conven que d'i recebi, e por Natureza, que
to de S. Francisco de Alemquer: hy hey. Em outro de 1 3 1 6: E es
as Inscripçoens , que se gravárão ta Doaçom fazemos por Naturança,
nas respectivas campas, nos in e por bó3 divido, e por muyto bem,
formão do quanto elles se preza é por muyta ajuda que nós sempre do
vão dos nomes, que honradamen dito Moesteiro recebemos. V. Natural.
#
te os distinguião. NATURAL. O filho, ou Des
>
NARACHARIA. Laranjal, po cendente dos Padroeiros das Igre
mar de larangeiras, que em algu jas, ou Mosteiros, que como taes
mas partes dizem Laranjué, Unam se aproveitavão dos bens, que seus
Jeiram haereditatis juxta vallum cor Pais , e antepassados havião dei

tinae ipsius Ecclesiae , & juxta na xado aos ditos Lugares. E por isto
* racharíam , que est ibi plantata. tinhão ali Comedoría certa, ou de
# Doc. da Univ. de 1262. E note terminada ração. V. Comedoría. E
se o prejuizo vulgar , de que só º dito Lourenço Annes disse, que el
dobrado o Cabo da Boa Esperança, le era Natural do dito Moesteiro, e
veio á nossa terra a fruta de es que estava em posse de Comer: e que
pinho ; pois quando cá chegárão a ellas não queria fazer, nem fize
,••
as laranjas da China, já contavão ra força nenhua , mais que porque
muitos centos d'annos os Laran lhe nom querião dar de Comer; pero
jués em Portugal. V, Virgeu. lho ante pedira que el viera ao dito
NATURA, Naturança, Natu Moesteiro; e que tomara Vianda pe
#
reza. Assim chamavão o Direito, ra si , e pera sa gente , assi como
que algum tinha de ser Natural, ElRei mandava. E que se lhe dizião,
ou Herdeiro em alguma Igreja, Mos que el nom era Natural , que el se
teiro, ou lugar Pio, e tambem a faria Natural por ElRei , ou pelo
Ração de alimentos, ou Dinheiro, Meirinho , quando lhi mister fosse:
que por este mesmo Direito lhe e que de todo estava em posse, e que
pertencia. Testamentos, e Naturas. assi o provaria.... Porém as Donas
Doc. das Bent. do Porto de 13o6. protestavão , que lhes fazia força,
E no de 1 311 mandou ElRei D. Di per que nom era Natural, nem Her
niz, que Ricos-Homens, Ricas deiro, nem estava em Posse. E de
Donas, Infançoens, &c. não fossem tudo pedírão hum Instrumento, que
desmesuradamente comer as Naturas, foi feito no I de Dezembro de
e albergar no Moesteiro de Vairám. 1315. Doc. do Mosteiro de Fer
Doc. do mesmo Mosteiro. Segundo reira d'Aves. V. Chaveiro, e Her
outro Doc. das Bent. do Porto, Mar deiros.
:| tim Fernandez da Coynha renunciou NATURANÇA. V. Natura.
a Natura, Comedoria, Casamento, NATUREZA. I. O mesmo, que
Cavalaria , e outro qualquer Direi Natura. •

to, que podesse ter no Moesteiro de NATUREZA. II. Terra, onde


Tarouquella. An. de 1 337. Entre os alguem nasceo, patria. Tornou pe
Doc. de Pendorada se achão dous: ra a sua natureza, isto he, para
hum de 131 o em que se lê: Re a sua patria. Hé de Barros. ?
Tom. II. Y NAS
17o NA NE
NASCER hida. Sobrevir neces como dos animaes. No de 1153
sidade, ou occasião de hir a algu contratou hum filho com sua Mái
ma parte. E se lhy nascesse hida pe viuva de partirem tudo o que che
ra Cass d'ElRei. Doc. de Pendor. gassem a ganhar, e adquirir sic
de 1317. , de pane, quomodo vino: sic de nei
. NAUMAM. V.. Numám. xencia, que ibi nascer, &c. Doc.
NAVAGEM, e Navegajem. O das Bent. do Porto.
frete da embarcação , o salario, NELLO. Nisso, no tal nego
que se dá na barca da passagem. cio. E o que nello obrares, haverei
De hum Arrendamento da Camera por bem. •

de Mem-Corvo de 138o consta, que NEMBRAR. Recordar, lem


o arrendatario devia ter a Nava brar, trazer á memoria. E que se
gem do Porto do Pocinho. Da mes nembre de quanto lhi eu fizi. Doc,
ma palavra usa ElRei D. Diniz da Guarda de 1298. Daqui: Nem
em huma Carta para a mesma Ca bro, Nembra, Nembrança: lembro,
mera de 1 289 , fallando na dita lembra, lembrança, &c. que são
barca. No de 1396 ElRei D. João mui… frequentes no Seculo XIll.,
I., seguindo as pégadas dos Reis, e XIV.
que lhe precedêrão, julgou, que MEMBRO, Membro. Estava
as Barcas, e Navegajens do Douro, muito doente, e tinha tolhidos todº
desde o Porto Velho té defronte do os membros.
Prédo, pertencião ao Concelho de Mem NEMIGALHA , e Nimigala,
Corvo; não obstante a Petição do ou Nemigalla. Absolutamente na
Procurador da sua Real Fazenda. da, nem a mais leve cousa, ou
Doc. de Moncorvo. -
como ainda hoje se diz: Nem mi
NAVAS. Campos rasos, cerca galha. Cavaleiros, que desseus 40°
dos de bosques. Bem célebres são nõres armas , ou cavalos , ou muu!
as Navas de Tolosa pela Batalha, toverem , á sua morte non den endº
que nellas deo, e insigne Victo nemigalla a seus Senõres. For, de
ria , que dos Mouros consiguio, Bragança de 1 187 traduzido nº
ElRei D. Affonso VIII. de Castel de 1281. Doc. de Bragança. E dº
la no de 1 2 12, attribuida princi preço a nós nom ficou nimigala "
palmente á Santa Virgem , cujo dovido por dar. Carta de venda das
Retrato tremolava nas Bandeiras Salzedas de 1299. Pelas Inquir:
dos Catholicos, que em agrade d'ElRei D. Diniz de 1288 Se
cimento lhe consagrárão a absti achou no Julgado dos Arcos de
nencia da carne em os Sabbados, que Valdevez, e na Freguezia de San
se tinha deixado já de observar em ta Christina, que lRei tinha nº
toda a Hespanha. lugar de Torneiros hum meio C*
NAVEGAJEM. V. Navagem. sal, e a Ordem do Hospital outrº
deNEGAMENTO. Negação. Doc. meio : e que os moradores destº
Tarouca de 14co. •

costumavão d'antes dar XII, fór"


NEHUA. . Nenhua. Doc. das a ElRei; mas passando-se ao dº
Bent. do Porto de 128o. Ordem hermarom o d'ElRei, e nãº
NEIXENÇA. Producçoens, fru lhe davão agora nemigalha.
tos, e renóvos, assim das terras, NEM pela ventura. He frazº
do
• • Y

NE , … |- NO 171.
do Seculo XIV., e vale o mesmo entregou á Parte o Instrumento,
que, Para que não succeda. em que a tal fórmula se encontra.
NEMU. Nenhum. Doc. de 131 r. Então (como hoje) succedia mui
, NEVES. Nome de mulher. Ne tas vezes projetar-se huma Doa
"ves dos Santos. -

ção, Testamento, &c. e disto fa


NIMIGALA. V. Nemigalha. zer-se huma minuta, ou talvez la
NIU. Nenhum. Doc, das Bent. vrar-se a Carta depois de madu
do Porto de 1 3 1 1. ras reflexoens, e não se entregar
NOANE. João. Sendo a todo tes por então ao Donatario , e nem
temunhas presentes N. e N., e Noa se lhe pórem as assignaturas, sel
me Dominguez. •
los, &c. Isto propriamente era o
NODUM, Notum , Noctum, Actum ; porém se já , com todas
Noto. Em os Doc. que nos restão as formalidades do tempo se dava
até o meio do Sec. XIII. se achão. a Escritura , com toda a proprie
com frequencia estas formulas. v. dade se dizia : Notum, Nodum,
g. : Noctum die VII. Kal. Februa Actum, &c. E finalmente, se o Ins
rias, em 959; Nodum die , quod trumento se projectou, e escreveo
erit IIIº ante Kal. Augustas , em no mesmo tempo, ou dia, foi es
1o62; Noto die IV. Kal. Januarii, tillo dizer-se : Datum, é º actum.
em 1 1 14; Facta K. de Foro notum Vid. Ducange Hevmani, Montig
die , & quodum , quod erit VIII. not, e a Hesp. Sagr, em muitos
Idus junii, em 1225 , &c.: e se lugares, mas particularmente Tom.
ría facil persuadir-se alguem, que XXXIV. C. 16. f. 276. Entre nós
á imitação dos Póvos Septemtrio he bem célebre a Doação que o
naes, Germanos, Gallos, e Ara Presbitero Ariano fez a Lorvão
bes (os quaes contavão os dias (Gav. 2. mass. 4. n. 29.) da Igre
pelas noites) datavão algumas ve ja de S. Bartholomeu no arravalde
zes os nossos Maiores os seus Ins de Coimbra (a qual já d'antes era
trumentos ; se com o Notum não do dito Mosteiro) com todos os
escrevêrão juntamente o die, que seus ornamentos, id est, Crucem,
nos não deixa ainda só o suspei calicem argenteum, ó quinque sinos,
tar, que entre nós grassasse aquel dº omni ornamento Altaris, IV." ca
le costume. Era pois o Notum, sullas sericas , & vestimenta linea,
Noto, &c. o mesmo que ao de &º duas azituras: libros, videlicet,
pois se exprimio com o Datum, ó Brebrario, Psalterio, & aliis li
Dante, Dado, &c. que nem sem bris, vasculo argenteo. Adicio etiam
pre denotava o dia, em que a Doa domos cum casas, Óº palumbare, Óº
ção, Compra, Sentença, Concer intrinsecus earum uno torculare, cu
to, &c. se ajustou, conferio, re bar cum vino, Óº cibaria, letos, ca
solveo, decidio, ou minutou , se thedras, mensas cum ornamento suo,
expresamente se não declara, v. g. conkas, mensorios, Óº uno mortario
Datum, é actum, ou Actum, ó: lo, & omnia vasa, Et iterum ofero
| datum, die, &c., mas sim, e tão equas, & kaballos, mulas, & asi
sómente que naquelle dia se deu nos, sellas, fraenos , "pora*, *pa
á execução, se publicou, manifes tas, ó scutos, lanceas, balestas,
tou , e disso se lavrou , deu, e sagittas ( e tal era o armazem de
Y ii hum
a 72 NO NO
hum Ecclesiastico naquella frontei nifesta. E finalmente se tornou a
ra dos Mouros) archas, vineas, po dar, e confirmar pessoalmente na
miferas, &c. E conclue : F. Car Cidade de Coimbra. Facta est hec
tulla Testamenti Kal. januarii E. I. Carta Testamenti , é confirmata,
C. XVII. Ego Arianus Presbiter in atque super Altare supranominatº
hac Carta Testamenti, quod fieri jus Ecclesiae utriusque manu oblata, die
si, manu mea roboro, ó baec signa IV. Kal. Augusti. E. M. C. XVII.
facio X E tal era o Noto dos Antigos, que
Haec sunt testemoniarum nbmina appellava só no tempo, ou dia,
tarum. Godesteus feremias — — ts. em que o Instrumento consiguia
E depois de hum largo espaço, toda a sua validade, e de parti
em que se havião de pôr os no cular, e mero projecto passava a
mes das mais testemunhas (que ser público, e notorio. E quantos
nunca se pozerão ) se lê no fundo Doc. Orig. se achão já do Sec. IX.
deste Pergaminho Original: em que expressamente se diz, que
Tructesindus Presbiter scripsit. depois de notados, ou minutados
Mas que razão haveria para se por hum fôrão trasladados por ot
não concluir esta bellissima minu tro?. V. Noticias , e Hesp. Sagr.
ta, e projecto de Doação?. Se al Tom. XL. f. 384. •

guma cousa vejo, a razão está pa NOJO. Dano, perda, malfeito


tente. No I de Janeiro de 1 1o9 ria, detrimento, embaraço. Com
se lavrou este Doc., em que o intençom de lhes fazer nojo, e dº
Doante manifestou o seu dezejo, honra, em lhes britarem boa vez:
esperando algum tempo mais op nhança, que antre elles avia de ari
portuno para se dar em pública com elles montarem , e vezinharem.
fórma ; mas como logo corresse Doc. de Pinhel de 143o. E se um
noticia que o senhor Conde D. fizer nojo a outros Casaes. For, de
Henrique , e sua mulher tinhão Monção de 15 12.
projectado dar, e doar este Mos NOMEADA. Moeda de pratº,
teiro á Sé de Coimbra, como fi que fizerão lavrar ElRei D. João
nalmente, e com a maior solemni I, e seu filho D. Duarte. Era do
dade fizerão no mesmo anno a 29. tamanho do nosso Meio tostão:
de Julho, não curou mais o bom tinha no anverso a Cruz de S.Jor
Ariano de aperfeiçoar a sua Car ge, com a Legenda: Dominus *
ta, fazendo-a pública, e notoria, jutor fortis, Ignora-se o seu justº
e roborada com o número de tes valor. •

temunhas, que então se praticava. NONCA. Nunca. Doc. de Vai


E que a mesma Doação dos Senho rão de 1315. , , . .

res Condes (que se acha Orig. na NÓS ÉlRei fazemos saber, E*


Sé de Coimbra Gav, 8. R. 1. mass. ta fórmula, de que se usou anti
2. n. 15., e por copia no Lº Pre gamente, teve fim no de 1524 cm
to a f 53 ) fosse primeiro minu que ElRei D. João III, com º
tada , e passados alguns tempos do seu Conselho assentou, 49°
dada solemnemente, e confirmada nos Alvarás, Leis, &c., ou selº
na presença de toda a Côrte na Ci assignados por Sua Magestadº !
dade de Viseu, della mesmo se ma eu pelos seus Oficiaes, senão º
çTC
NO
NU 17;
crevão as ditas palavras, mas sim Daqui: Pam anneveado, quando de
estas: Eu ElRei Faço saber. E des nove alqueires se paga hum. Doc.
te Assento se passou Provisão a de Lamego do Seculo XIV.
16 de Junho do mesmo anno; co NOVELLEIRO. Ramo verde,
mo se diz na Chron. do mesmo vergontèa, renôvo , que nasce do
Senhor Rei P, I. Cap. 48. pé, ou tronco da arvore. E que os
NOSCO. O mesmo que Commos seus azameis cortavão os novelleiros
eo. Do Latino Nobiscam. móvos dos castinheiros dos ditos sou
- NOTICIA. O mesmo que Co tos; porque lhes era milhor de fen
nhecença, ou Reconhecença dos der , e adduzião ende o que se pa
: Prazos. Doc. de Thomar. gavão, e o al leixavão em perdiçom.
NOTICIAS. Assim se chamá T. do Aro de Lamego de 1346.
rão aquellas Cartas, ou Instrumen f. # y. •

tos, que principiavão pela narra NOVENA. V. Nóvea.


tiva de factos, que havião prece NOVENAS. As nonas partes
dido, como se disse V. Annicio. de qualquer cousa. Carta Real de
Do Sec. IX. X. XI. e XII. se con
134o. Doc. de Bragança.
servão entre nós grande número NOVOS. O mesmo que renó
destas Peças, que principiando an vos, fructos, novidades. Não po
tes do Sec. VI, desde o IX, se dem vender seus novos. Carta d'El
equivocárão com as Doaçoens. As Rei D. João I. de 14o4. Doc. de
Noticias, que nestes Doc. se exa Pinhel. __
ravão, ou erão públicas, ou parti NUÇÃO. O mesmo que assen
culares: as primeiras como escri so, vontade , arbitrio , querer,
tas na presença de Bispos, Juizes, beneplacito, consentimento. Vem
&c., são de huma fé incontesta do Latino Ad nutum. O qual poe
{ vel: as segundas como de particu mos em a dita Igreja per Prior , é
lares , e talvez muitos annos de Rector, com entenção, que elle seja
pois, que passárão as cousas, não revogavel a nosso talante, e mução.
deixão de estar sojeitas a alguns Doc. do Sec. XIV.
erros de facto, por ignorancia, ou NUCIO, V. Nuncio.
equivocação dos que as fazião. Mas NUCION. Renuncia de todo,
note-se, que algumas vezes se fa e qualquer direito. Ego Menendus
!
zião as Doaçoens verbalmente mui Gontemeríz feci Cartam de Nucion,
}
tos, ou alguns annos antes das & firmitudinis Monasterio S. Johan
#
taes Noticias , que as reduzião a nis de Colimbria, ó omnibus Cleri
escrito: e daqui vinha firmalas com cis ibidem in perpetuum commoranti
duas Eras: a 1.° do tempo, em que bus, de illa vinea, & c. Doc, de S.
a Doação se fizera: e a 2.° do anno, João de Almedina, que no de # 18o
em que ultimamente se escrevera: se chamava Mosteiro. ••

esta sempre he certa:a outra póde ser NUDUVA, Nudova, e Nodo


falsa. Vid. Diccion. Raif. V. Notices.. va. Consta das Inq. d'ElRei D.
NÓVEA, e Novêna. A nona Diniz de 129o. V. Adúa.
parte , ou de nove partes huma. NUMAM. Villa bem conheci
Acha-se com frequencia, e ainda da, e notavel no Bispado de La
nas Côrtes de Lisboa de 1455. mego, e sobre a margem *#
*- - - à
f
}

174 NU NU
da do rio Douro. Não se póde Rei D. Diniz conservando-lhe o
dúvidar, que já no tempo dos Ro nome de Monforte, como Synomy
manos foi Praça defensavel, e hum mo de Numam). Facta Carta VIII.
dos seus grandes Presidios. . As julii E. M. C. LXVIII. Regnante
muitas medalhas de ouro , prata, Rege Alfonso in Legione, ó in to
e cobre, que no seu Castello, e ta Strematura. Imperante Portugal
contiguidades se tem achado, comInfante D. Alfonso. Archiepiscopo in
as Efigies dos Imperadores Ro Brachara D. Pelagio, Potestas in Bra
manos, e com outros simbolos, e gancia, é º Lampasas Fernandus Mem
cunhos daquelle tempo, assim o diz. Lº dos Foraes Velhos. No
persuadem. Mas daqui se não se de 1 145 o mesmo D. Fernão Men
gue que esta fosse a decantada dez havendo povoado o Castello
Numancia, que ficava junto a So de Langrovia , que estava entre
ria, onde hoje vemos sobre o Dou Marialba, e Nomám, o doou aos
ro a Ponte de Garai, e no terri Templarios, como se dirá V. Tem
torio de Zamora, que tambem nos preiros. Por todo este tempo, a
principios do Seculo XII. foi cha saber, antes de 1 1 3o até depois
mada Numancia; como está demons de 1 145, era Numám, Penadonº,
trado pelo Mº Flores no T. VII. Langroiva, Marialba , e todas as
da Hesp. Sagr. tr. 19. n. 24. e no mais Igrejas entre Tavora, e Côa,
T. XIV. tr. 54. Cap. I. n. 5. O no do Arcebispado de Braga; como
me, com que os Romanos a dis da sobredita Doação de Fernão
tinguírão, nós verdadeiramente o Mendes, e da Monarch. Lusit. T.
não sabemos; mas se Numancia, ou }''. f. 174. claramente se manifesta.
Naumám na Lingua primitiva dos A falta de Bispos em Lamego, e
Respanhoes queria dizer Cidade, Viseu occasionarião huma tal ex
ou Povoação fortissima , edificada tensão de limites, e diametralmen
sobre escarpadas rochas , podemos te opposta ás demarcaçoens anti
avançar, que desde aquelle tem gas. Até os fins do Século XIII.
po conservaría esta Fortaleza o no se acha constantemente intitulada
me de Numão. No de 96o. erão Nomám , a contar-mos do Seculo
Castellos Langobria, e Naumám, XII. Depois, transferida a Villa
assim como Penadedono, Semorzelli, para o lugar de Freixo, se come
e outras , nomeadas no Testam, çou a chamar Freixo de Nemám; to-,
de D. Flammula, que se acha no mando por Armas huma mão es
L.º de D. Mummadomna de Guima tendida ao alto, debaixo de humº.
raeus a f, 7. Com a revolução dos Côroa Imperial, entre hum N e
tempos parece que esta parte da hum. E, que quer dizer Nemâm
Estremadura se despovoou, e que Mas este Escudo d'Armas parece
D. Fernão Mendez de Bragança, demasiadamente novo , e pueril,
Genro da Rainha D. Tereza, a e só alusivo ao presente nome; º
fez povoar de novo. Com efeito isto ao mesmo tempo, que seven"
no de 1 13o elle, e seus filhos de tila ainda, com que letras se hº
rão Foral aos Povoadores de Civi de escrever, se Naumám, se N*
tate Nomam, cognomento Monforte. mám, se Nomám, ou se finalmen",
(Este Foral confirmou depois El te Nemam, a quem nada favor"
ÇCII!
NU NU 175
cem os antigos Documentos. El Coimbra, que depois se fundou
Rei D. Manoel reformou-lhe o seu no lugar, em que hoje a vemos.
Antigo Foral, que diz fóra dado Vindo do Castello para a Villa
por ElRei D. Afonso III., mas se achão em huma fraga os carac
isto he hum dos erros historicos teres da Tab. 3. n. 4.
de Fernam de Pina, como se dis A sua intelligencia chama pelas
se V. Foraes. attençoens dos mais eruditos: eu
O seu antiquissimo Castello se subscreverei ao seu voto.
acha pela maior parte arruinado. NUMATAS. V. Dinheiradas ;
Sahindo delle para a Villa pela pois são synonimos, e se tomão,
porta, que fica ao Poente, se vê ou pelo mesmo Dinheiro, que em
huma pedra inserida no muro , e Latim se diz Numus ; ou pelo seu
á mão direita, que diz: (Tab. 3. valor ; ou pela mesma cousa em
n. 3.) Incepit tarrem in E. M. CC. propria especie, que com elle se
XXVII. Porém o que a mandou comprava. Et dedisti mihi pro robo
fazer, ou o Architeto, que a fez, ra duas numatas vini. Isto he, tan
ou principiou a fazer no de 1 189, to vinho, quanto se comprava com
não declara esta Lapide, na qual dous Dinheiros, ou Numos. Doc.
se acha o N. Grego Etrusco com a de Tarouca de 1234. -

figura de H: o E. com fórma de NUNCÁS.adv. Nunca. Que el


F., e tambem o M., he do Abe le nuncás consentirá em tal cousa.
cedario antigo dos Latinos. " NUNCIO. O mesmo que Luc
. Ao entrar pela porta travessa, .tuosa. No Foral de Bragança de
que está ao Norte da Igreja Ma 1 187 se diz: Milites, qui Prestimo
triz da Villa de Numam, se acha nium non tenuerint, non pectent nun
huma pedra quadrada, que tem no cionem : & qui Prestimonium tenue
alto huma pia de agoa benta, e á rint, & filios habuerint, non dent
frente, não muito bem polida, a nuncionem, meque auferant filiis Pres
Inscripção seguinte: timonium, &c. E na Copia auten
tica dada em vulgar no de 1281
TI. CL A DIUS se lê: Cavaleiro, que hi aprestamo
nom tover , nom peyte Luitosa : E
SANCIVS. E Q_
quem aprestamo tover , e filhos ou
CHOR. T.IT. LV "ver, nom peyte Luitosa, nem tolliam
S ITA NO RVM
a seus filhcs o aprestamo. V. Loito
DIS. DE A BVS Q_ sa. No Concilio de Leão de 1o2o.
C O NIV M B R I C.
S. L. M. C. 26. se acha o seguinte: Si Mi
Iles verb in Legione in solo alterius
casam babuerit, bis in anno eat cum
Parece ser huma Memoria, que domino soli adjunctam; ita dico, uë
Tito Cladio Sanches, Cavalleiro eodem die ad domum suam possit re
da Cohorte Ticia dos Lusitanos, verti : & habeat dominum qualem
consagrou aos Deoses, e Deosas cumque voluerit, é faciat de domo
de Condexa, a Velha, cujas ruinas sua , sicut super scriptum est , ó"
-se achão junto a Condexa, a Nova, ulli domino non det Nutio. Nenhum
e da qual passou o nome para a fundamento podião ter os Addicio
figº
176 NU O
nadores de Dufresne, para suspeita zes, v. g. Plodo, clostrum, cola:
rem que por este Nutio, ou Nu por: Plaudo, claustrum, cauda.
eio se entenderia a noite, vindo a O. Por E igualmente foi usado
dizer , que o Vassallo não tinha na Latinidade ferrea , e infima:
obrigação de acompanhar de noi v.g.: vorsus, vester, servos, vul
te o seu Senhor; pois do sobredi gos:
vulgus.por: versus, vester, fervus, •

to se collige que em Hespanha


chamavão Nuncio á Luctuosa. E com O. Algumas vezes se escreveo
efeito o Padre Mestre Risco no T. por I. v. g. Olli, por, illi.
XXXV, da Hesp. Sagr, lê: "Nec ulli O. Por U foi usadissimo dos an
domino non det Nuntium.… E final tigos, v.g.: Nuncopatur, johemus,
mente, no Foral de Santa Cruz consol, pecodibus, colpa, &c, por,
da Villariça de 1 225 se acha: Et Nuncupatur, Jubemus, consul, pé
non intret ibi Nuntio, nec, Manária cudibus, culpa, &c.
de nullo homo perforos de Sancta :: O Substituido por U se acha
Cruce. Doc. de Moncorvo. O mes em muitos dos nossos mais anti
mo se determina fio Foral da Vil gos Documentos, v. g: Pumares,
la de Móz, como se disse V. "Ma Aulino, cuntra, &c, por, punk
minhadego. Donde se vê, que os de res; molino, contra, &c.
Santa Cruz, e Móz estavão isen …O. Escrito deste modo XXXX,
tos de Luctuosas, e Manarías. • •
A ou deste XL. V. L. A., e L. V.
r = -. - - - * *
|- *

* * * *
O Beberete, merenda, convi
-


te, que se dava nas Cathedraes,



Collegiadas, e Mosteiros em cada

hum dos sete dias antes do Nasci
mento do Filho de Deos; princi
piando nas primeiras Vesperas da
O. Como letra numeral tinha Festa da Expectação, que também
valor de 1 1 : 'plicada valía 11 doooo. foi chamada a Festa do O. E por
* O. Na Musica dos antigos era que nestes sete dias se cantão as
sinal de se abrir inteiramente a sete Antiphonas, que todas prin
bocca,
no O. cuja figura se representava
{
cipião por O.º, como suspirandº

já afectuosamente pela vinda do


O. Preposto ao nome proprio Redemptor; do O.º das Antiphº
hé, para com os de Hibernia, hum nas passou o nome para os convi
distinctivo de Nobreza, e denota tes, e merendas, os quaes tendº
hum descendente, ou aliado a hu mui devotos, e honradissimos prin
ma certa, e Illustre Familia. v. g. cipios, com a malicia dos tempº
O — Coster O — Brien, &c. vierão a declinar para intoleraves
O. Por A foi muito usado dos abusos, que a vigilancia dos Pre.
nossos Maiores , v. g. amarom, lados procurou reformar, mas só
lerom, ouvirom, cajom, liçom, ca eficazmente, quando de todo se
pitom, enliçom, &c. por: amaram, vierão a extinguir. Se com a Festº
leram, ouviram,
pitam, cajam, liçam, ca º principiárão os taes convites eu º
enliçam, &c. •

não sei: consta sim, que ella foi


O. Por Au se acha algumas ve instituida no X. Conc. Tolet. de 656,
go
O OB 177
governando a Igreja de Toledo o & c. Doc. de Lamego, e se acha
Bispo Eugenio, e confirmada por por extenso na Memor. Chronolog.
Santo Ildefonso , seu Successor. dos Prelados de Lamego da Ediç. de
De Toledo passou esta Festa a 1789. f. 76. No de 15 18 convie
Portugal, e a toda a Igreja. Po rão os da Camara de Freixo de
rém dos Convites , ou Pitanças a Espada-Cinta com os tres Raçoei
penas hoje restão memorias entre ros da Collegiada daquella Villa,
as Communidades, que vivem no que o O' de vinhos, e fruta, que
Claustro , e que mais tenacidade se dava ao Povo, se desse á Fa
mostrão em conservar as antigua brica da Igreja por estar muito po
lhas da Primitiva. Na Sé de La bre , reduzindo-o annualmente a
mego os commuttou o Veneravel 5oo réis.
D.João de Chaves, Bispo daquel OANE, e Oanes. Assim escre
la Diocese, em certos Anniversa vião antigamente o nome de João.
rios no de 1445 dizendo: D'anti V. Sayoane.
&amente tagora foi custume em esta OANNES. Dizem ser hum Mons
nossa Sé, e Cathedral de se faze tro meio homem , e meio peixe,
rem, e darem sete Os, ou convites que antigamente foi visto no Egip
por sete dias antes da Festa do Na to: que pela manhaã sahia do Mar
tal ao Cabido , e Clerezia da dita Vermelho, e andava nos contornos
Sé, de vinhos brancos, e vermelhos, da Cidade de Babilonia , e pela
e frutas, e especias, e confeitos, e tarde se restituia ao mar: que en
Zamaras, e passas: cada hum segun sinava aos que o hião ouvir todo
do mais avondosamente podia. E co o genero de Sciencias, e Artes,
mo se bi juntava muita gente de des e principalmente os segredos mais
"vairadas maneiras , entre as quaer reconditos dellas: que fôrão cha
erão vís pessoas, que depois que be mados Annedotes (de que Oannes
: hião, dizião, e fazião muitas enor he abreviatura) dos quaes em 4oo
midades, e alevantavão arruidos, e annos fôrão vistos quatro. Porém
contendas, que erão azo de se segui Hornio he de opinião , que cada
rem algumas violencias : E querendo hum destes Oannes não era mais
Nós a isto prover, e remediar; Or que hum demonio, mostrando no
denamos , e estabelecemos deste dia que insinava huma notavel erudi
para todo o sempre, que os sete Os, ção, e prudencia, para grangear
} eu convites não se dem daqui adian veneraçoens, e manter aquelles
te , e se mudem : E Nós assim os Póvos na Idolatria, venerando-o
: mudamos em o que se segue: convem como Deos, debaixo dos nomes
a saber : Que por o dito O”, ou de Dagon , e Adargad.
convite, que pertence a Nós e á di OB. O mesmo que Ou. Que de
ta nossa Igreja de Lamego , faze des a mim , ob d má geraçom. . . . .
mos hum Obito ao dito Cabido: que Se vos , ob obtrem per vos lavrar»
em o dia de Santa Maria, que vem ob morar essa herdade , e nom for
ºito dias antes do Natal, digão bu meu homem, ob de meos filhos, ficar
ma Missa cantada de Requiem por a mim esse herdamento livre. Doc.
as almas dos Bispos de Lamego , e do Sec. XIV.
hajão por o dito Obito sinco livras, OBA,AS. sº… , opa, So tal
Tom. II.
178 OB OB
tana, vestidura solta, e comprida, fessor) e a Martinho Pirez seu
que os Ministros do Altar, e Ser- sobrinho, e afilhado, a qual por
ventes da Igreja, ou Mosteiro tra- morte d’ambos ficaria livre ad0k
zem sobre outros vestidos que vem dientia de Conduitaria de Pendor
justos ao corpo. Entre as mais da. Doc. de 1 189. •

cousas, que a Famula de Deos Vi- OBEDIENCIAL. I. O que ti


vila deu no de Ioro para serviço, nha a seu cargo alguma Owença,
e ornato da Igreja do Mosteiro de ou Oficina , que tambem se cha
Villella, que seu marido Fromari- mou Obediencia, como, v.g., Pro
go Espazandes havia fundado, se curação, Sacristia, Enfermaria,
contão Kazulas duas de sirgo: ora- &c.
Ies tres : Obas fervorum. libros Ec- OBEDIENCIAL. II. Entre os
clesiasticos, &c. Sei, que na Infi- Conegos Regrantes era o que es
ma Latinidade Oba, Hova, Hoba, tava fóra do Mosteiro com licenº
Hobuna, Aba, Haba, Huba , &c. ga do seu Prelado.
se tomárão pelo casal, ou peque- OBEDIENCIAL. III. O que
na quinta, constante de casa, e antigamente repartia aos Conegºs,
campo, em que huma familia rus- que assistião no Coro ás Matinas,
tica se mantinha; dirivando-se do o dinheiro, que então se lhes di
Alemão Haab, Possessão, bens, va. Ao que Innoc. III. chama 0:
ou herdade : ou da voz Saxonica diencial, chamão outros Destribui
Haabam , Ter ou possuir ; como dor do Coro.
diz, e prova Ducange nestas Pa- OBEDIENCIAS. Assim chama
lavras. Porém como nesta Doação vão na Religião de S. Bento os
se acha o p. mudado em b. v. g. Mosteirinhos, Granjas, ou peque
Nuncubato por Nuncupato, &c.; por- nos Priorados.
que não # que Obas se es- ... OBIDENTE, e Obydiinte. Obe
creveo de
depois porseOpas ? E com
nomearem efeito, diente.
as casulas, de 1385,Doc. das Bent... do Porto
e 142o. •

e manipulos para o Sacrificio: que OBJECÇOENS. Tudo o que


cousa mais natural, que haver so- são pertenças, ou dependencias
brepelizes para os servos, ou aco- de huma herdade , ou lhe dizem
litos, que nelle ministrassem ?... respeito. Nos Doc. antigos se de
Alguem disse que estas Obas, erão claravão humas vezes por Adjun:
Kasos; porém depois de se have- goens, outras por Objecçoens, W |
rem nomeado nesta larga Doação Exudrio.
sinos, cruzes, coroas , calix: que OBLADAGENS. Ofertas que
Kasos serião os que por Obas se os Fieis levavão á Igreja em cerº |
designavão?... Doc. da Serra do tos dias do anno, e que cedião º
Porto. • utilidade, e proveito dos seus M.
, OBEDEENÇA.Obediencia.Doc, nistros. Obladagens de pam, e º
de 14 18. nho, e outras oferendas de dia º
OBEDIENCIA. O mesmo que mnium Sanctorum, & Omninm D:
Ovença. Elvira Mendes, Prioreza, functorum. Doc. de S. Pedro de
da Espiunca doou huma herdade a Coimbra de 1455.
João Guilherme, seu Abbade (Con- OBLATOS. V. *OBLl
#
OB OC 179
OBLIDAR. Obrigar. Doc. de te Persolvant semper Oblationes cum
Vairám de 1 3 1 1. candela, & vino. Doc. de Lamego.
OBLIGAÇOM.Obrigação.Doc. E estas são as Obradas, que ainda
das Bent. do Porto de 1285. Da hoje se praticão; oferecendo nel
qui: Sobligaçom, Debaixo de obri las pão, vinho, e cêra, ou algu
ação. Doc. 1327. ma cousa destas.
OBLIGAMENTO. Obrigação. OBRADEIRA.A.S. Assim cha
Doc. de Vairám de 1322. márão antigamente os ferros de fa
OBLIGAR. Obrigar. Doc. de zer hostias; pois nelles se prepa
I393. rava a Oblata da Missa. E ainda
OBRA. O mesmo, que até, ou as nossas Obréas alludem ao ins
pouco mais ou menos, quando se trumento, com que se fazião. Em
falla de hum número indetermina hum Doc. de Santiago de Coim
do, e que se não sabe ao certo, bra de 1 48o se diz Obradeiras.
v.g.: Obra de doze legoas, até do OBRIDAÇOM. Obrigação.Doc.
ze legoas, ou doze legoas, pou de Vairám de 1 323. •

co mais, ou menos. Hé de Barros. OBRIDAR. Obrigar. E nós so


OBRAÇOM. I. Missa, Sacrifi breditos obridamos quanto avemos.
cio do Altar, Oblação. V. Mor Doc. das Salzedas de 1 322, e de
: tulhas. Vairám de 1323.
OBRAÇOMENS. II. Ofereci OBRIGAMENTO. Obrigação.
mento , oferta de alguma cousa Doc. de 131o, e 133o.
profana. Os devedores sejam theudos OBSIA, Osea, Ossia, Ossiia,
de pagar esso, que deverem , como Oussida, e Oussiia. Não só se deu
se essas Obraçooens, e consinaçooens algum destes nomes, e outros se
nom fossem feitas. Cod. Alf. L. IV. melhantes, á Capella Mór de hum
Tit. 1. S. 23. Templo; mas ainda a qualquer Ca
OBRADÃÇÃO, e Obradaçoens. pella , ou Altar; segundo varios
Erão termos mui usados nos Se Doc. do Sec. XV. V. Ousia.
culos XIV. e XV., e ainda hoje OBTRO. Outro. E ao Senhor da
não esquecidos ; pois se chamão terra pague obtro tanto.
Obradas, ou Oblatas as Ofertas, OBTURGAR. Outorgar, con
que se fazem pelas almas dos de ceder, convir. •

funtos. OBYDIINTE. V. Obidente.


OBRADAR. O mesmo, que Of. OBYNTE. Obediente. Doc. das
ferecer. Obradar hum difunto, Offere Bent, do Porto de 1296.
cer alguma cousa ao Altar, e Mi OCHAVA. A oitava parte de
nistros do Senhor para que roguem qualquer cousa, peso, ou medida:
a Deos pela sua alma. em alguns Foraes se chama Oitava.
OBRADAS. O mesmo que Obla ElRei D. Manoel reformando os
das, ou Ofertas, que durante o an de Mem-Corvo, Villa Flor, Freixo,
no, se fazião pela alma de algum Moz, &c. declara, que cada huma
defunto. No seu Testamento de das Ochavas, ou Oitavas de cevada.»
1272 manda D. Silvestre, que cm que estes Póvos devião dar annual
todos os Domingos, e Festas Prin mente, e por cabeça, ao Senho
cipaes do anno seguinte á sua mor rio da terra, são dous alqueires
Z ii da
18o OC OC
da medida corrente. E deste modo vas, ou Colheres senão use mais por
sabemos, que o Moio antigo da liberdade da dita Villa. Doc. de Tran
quellas terras constava de 16 al coso. E no Foral de Pinhel, que
queires, que repartidos por 8 vem o mesmo Rei igualmente reformou
dous a cada hum. O contrario se no mesmo anno, se declara, que
achou na Terra de Bragança, em pelo Foral d'ElRei D. Sancho I.
que o Moyo sendo de 32 alqueires fôra dado á dita Villa o Terço das
ficava sendo a Ochava de 4 alquei Portagens della ; porém ElRei D.
res da medida corrente. Assim cons Manoel lhe faz agora Mercê do Di
ta da Sentença do Dezembargo a reito das Ochavas das cousas que se
favor do Cabido de Miranda , e vendem nesta Villa por alqueire, ºu
contra os de Val-de Prado , que almude : o qual Direito pertencia é
não querião pagar os 4 alqueires, Corôa: ficando em pé o dito Terço das
a que se reduzio a Oitava do Moyo, Portagens. Doc. de Pinhel. Porém
antigo, que elles tinhão obrigação de hoje segundo a Lei de 4 de Fe
pagar pelo seu Foral ao Mosteiro devreiro de 1773 fôrão isentas de
Castro de Avellans, em cujos Direi Portagem , e de todos os outros
tos o Cabido succedéra; não obstan Direitos todas as especies de grãos,
te a opposição dos Reos, que pro de legumes, farinhas, louças, cal,
testavão não pagar mais, que dous tijolo, telha, madeira, pedras, e
alqueires de trigo pela dita Ocha mós de moinhos produzidas, e fº
va. Doc. de Bragança. Segundo os bricadas no Reino. E assim cessá
Prazos das Salzedas de 1474, e rão inteiramente as ditas Ochavas,
1481 a Ochava de trigo erão dous ou Colheres no que respeita a estes
alqueires e meio ; por quanto o generos , que sendo da primeirº
Moio da terra constava de 2o alquei necessidade ao pobre, e ao rico,
res: e meia Ochava erão 5 quartas. em toda aparte devem ser livres
Daqui se manifesta, que sendo a de Tributo.
Ochava a oitava parte do Moyo, OCHAVILLA. O mesmo que
onde este fosse de 4o alqueires, Ochava.
aquella sería de sinco ; e onde a OCIENTE. Desde o Sec. XII.
quelle fosse de 64 esta sería de 8 até o XVI. são innumeraveis os
alqueires. Doc. que nomeão as quatro partes
Porém não só nos grãos havia do mundo com os nomes seguintes:
Ochavas , tambem nos dinheiros, Levante, ou Soão, o Nascente. Abre
e outros quaesquer Direitos as ha go, Vendaval, ou Alcouço, o Sul
via; e então se chamárão algumas Aguiom, ou Aquilom, o Norte. Trá
vezes Colheres. No Foral de Tran vesia, e Ociente, o Poente.
coso, reformado por ElRei D. Ma OCRES, Ocrez, Ocles, Uclés.
noel no de 15 1o se diz Posto que Convento célebre da Ordem Mili
agora se deixassem de pagar as Co tar de Santiago da Espada, cujº
lheres, que antigamente se pagavão Cavalleiros se disserão Spatariti.
nesta Villa , depois que se tirou a Foi instituida esta Milicia por El
Passagem ; por ellas pagará a dita Rei D. Fernando no 1º de Agos"
JVilla ás Pessoas, que ouverem a Por to de 1 17o, e lhe deu por assen
tagem della I2O réis. E das Ocha to o Convento de Caceres, fron"
tCl
OF OG 18I
teiro dos Sarracenos, que o mes ral da Covilhãa de 1 188 De Aza
mo Rei havia fundado no de 1 169. rias , Óº de guardiis V. partem no
No de 1 171 se transformou em Con bis date, sine ulla ofrecione. Lº dos
vento da mesma Ordem o grande For. Velhos. No Foral de Thomar
Hospital de S. Marcos de Leão, de 1 174 se lê Dos moinhos non fi
fundado, e dotado, junto á Pon lhem se non de XIIII. alqueires huum,
te do rio Vernesga, pela Infanta sem ofreçom. Doc. de Thomar.
D. Sancha, Irmãa do Imperador Isto mesmo se determina no Fo
D. Affonso no de 1 156. Foi o seu ral de Ourem de 1 18o. De moli
primeiro Mestre D. Pedro Fernan nis non accipiant nisi de XIV. alquei
des de Fuencalada. Desta Milicia, res unum, sine ofrecione. E logo
além de outros muitos , se póde depois Si autem Maiordomus veljus
ver a Hesp. Sagr. Tom. XXXV. f. titia hoc meum factum irrumperit
236. e seg. e Tom. XLI. no Prol. pro ofrecione , aut amore alicujus :
Em hum Doc. das Bent. do Porto ipse, res ejus sint in potestate
de 1 272 se diz Ocres , hoje dize Domini Terrae. Lº dos For. Velhos.
mos Ucler. E finalmente querendo os Templa
OCTURIDADE. Autoridade. rios restaurare, atque populare Cas
Doc. de Pendorada de 1292. tel branco lhe derão Foral no de
ODOR. Suavidade, cheiro. Do 12 13 em que dizem De Azarias,
Latino Odor. /* 6 de guardias quintam partem no
OFREÇOM, e Oferçom. Pei bis date, sine ulla Ofretione. Doc.
tas, luvas, serviços, presentes, de Thomar. -

regalos, jantares, comedorías, e OFFRENDAR. I. O mesmo


outras cousas, que para remir al que Obradar. Vem de Ofero. |

gum vexame, se oferecião ao Al OFFRENDAR. II. Dar offertas


caide, ou Senhor da Terra, ou a pela alma de algum defunto. It Man
seus Oficiaes, e Ministros. E por do que ofrendem hum anno XVIII.
isso em alguns Foraes se chama dinheiros cada dia, e candéar de mi
Alcaidaria. No Foral de Thomar nha casa. Doc. de Lamego de 1316.
de 1 162, traduzido nos principios OGANO. Vem do Latino Hoe
do Seculo XIV. se diz: O juiz, e anno. E que quando bi chegárão Oga
o Alcaide seiam a vos postos sem afre no queimar , e roubar a dita aldea
çom..... Em nhas arenhas non dedes as Companhas de D. Henrique de Cas
mais ca de XIIII. partes huma, sen tella. Doc. de Moncorvo de 1 37o.
ofreçom..... En Lagaridiga de vi Na Provincia do Minho ainda ho
no , de cinque moyos a fundo, den je dizem Oroanno para significarem
buum almude: e se mais for, dê huu o anno passado ; mas parece que
ma quarta, sem afreçom, e sem jan este não he o sentido de Ogano.
tar. E já tinha dito no princípio OITAVA. V. Ochava.
E d'Azaria, e de toda aquella Ca OITAVEIROS. Os que são obri
valgada, em que ElRei non for, a ados a pagar de oito hum.
vós a quinta parte, e a vós as qua OITUBRO. Era mui frequente
tro partes, sem nemhuma Alcaidaria. até o Seculo XIII. pôrem aos me
Doc. de Thomar. Porém esta Al ninos o nome dos mezes. Daqui
caidaria se chama Ofreçom no Fo D. janeiro, D. Fevreiro, D. Abril,
Agos
182 OL "OM
Agosto, &c. No de 13o I comprou fonso, concedêrão a Maria Mar
D. Egas, Bispo de Viseu, muitas tins todo o Herdamento que fôra
Propriedades no termo de Pinhel, de seu marido (e que elles lhe
que constão do Tombo Velho daquel tinhão tomado por razom do Ome
la Cathedral, e nelle a f. 6. se acha zio, que elle havia feito) com fo
entre as mais testemunhas Oitubro ro perpetuo de huma livra de 20
Beetis isto he, Oitubro filho de soldos. Doc. de Tarouca. Em todos
Beito, ou Bento. os nossos Foraes antigos era o
OLALHA, e Olhalha. Eulalia, Omizio huma das Coimas, que
nome de mulher. nunca se omittia. Do que aleivo
OLGA. Leira, belga, coirella, samente tirou a vida ao seu pro
capaz de produzir linho canimo. ximo V. Firmar. No Aro de La
Ainda hoje senão esqueceo este mego era costume, que achando
nome nas visinhanças, e mesmo se homem, ou mulher mortos, sem
na Villa de Moncorvo , onde já se saber o agressor: a Terra, ou
era usado no Seculo XV. lugar mais vizinho, era obrigado
OLIVAS. Azeitonas de olivei a pagar de Coima ao Mordomo
ra. Hoje dizemos azeitoua, quan trinta maravidís, ou provar quem
do este fructo he bastante, e des o mattou, ou porque modo, e de
tinado para delle se fazer azeite; que sorte morreo. ElRei D. Af
quando porém se curtem para a fonso IV. abolio este costume nas
mesa, conservão o nome de azei suas primeiras Côrtes. Assim cons
tonas. E que cavedes, e abrades, e ta do Tombo do Aro de 1346. f. 3.
amotedes as ditas oliveiras ... e que Y. No Foral de Bragança de 1187
sacodades , e façades as olivas, que se diz (na Traducção) se o morá
Deus hi der no chaaom... E que de dor da vossa Villa matar a outrº,
des a mim a meyatade das ditas oli que nom for de vossa Villa, nompº)
vas, e que me dedes de cada pazom te por el ne migalla : e se matar º
huum alqueire dazeite feito no lagar de fóra ao da vossa Villa, peyte pºr
de melhoria. Doc. de S. Christovão el CCC. s.soldos.... A Rouso, ou 4
de Coimbra de 1 362. Omezio, e a Furto vaya ElRei, istº
OLIVELAR. Aplanar, pôr a he, são d'ElRei estas tres Co
nivél. Elle mandará emmadeirar, e mas. Doc. de Bragança.
olivelar a Capella. OMICIDIO, e Omizío. V.H.
OLMAFI. Marfim. Huma cruz micidio. -

de prata, com hum Crucifixo de Ol OMICIO, V. Omezio.


mafi. OMIZIAM. Adversario inimigo.
OMAXEM. O mesmo, que Ima V. Omiziero. Mandou ElRei D.
Ageth. / •

Diniz, que se algum, a fim dº


OMEZIO. Homecidio, morte mattar, deshonrar, ou fazer mal,
de homem, ou mulher, feita por entrasse na casa de alguem, ou º
autoridade propria, injusta, vio accomettesse no caminho : e º
lenta , e severamente prohibida, agressor fosse morto, chagadº,
e castigada por todas as Leis. No ou deshonrado, ou qualquer dº
de 13 13 D. João Mendes de Ber que com elles fôrão; não seja aque:
redo, e sua mulher D. Orraca Af le que se defender, nem aqueles,
que
OM OM 18;
que com elle estiverem, Omiziám meziam. V. Zegonía. No Foral de
daquelles , que o cometterem , nem Moz de 1 162 se lê: Et qui in tera
dos que com elle forem, nem de seu mino de Molas filia aliena rouxaverit
linhagem delles. E todo homem, que extra sua voluntate, pectet CCC. sol
contra esto veer pera acooimar , ou dos ad rancurosum, ó exeat Omizie
fazer vindita, que moira porém. Cod. ro. Doc. de Móz. E no de Santa
Alf. L. IV. Tit. 73. S. I. •
Cruz da Villarica: Et qui in termi
OMIZIERO, Homiciero, Ho no de Sancta Cruce filia alena ra
meziám, Homizial, Homicidána, puerit , extra sua voluntate , quod
e Homicida. De todos estes no pectet XXX, morabitinos: medios a
mes, e outros seus dirivados, já Palatio, ó medios al rancurosu, Óº
escritos com aspiração, já sem el exiat homiciero. Doc. de Moncor
la, fazem larga menção os nossos vo. E no de Castello-Branco: Si ali
Foraes do Seculo XII. e XIII; quis homo filiam alienam raperet ex
entendendo por elles hum mata tra suam voluntatem: donet eam ad
dor, que dispoticamente, sem jus suos parentes , é pectet illis CCC.
tiça, ou á traição, matára algum marabitinos , & septem a Palacio:
homem, ou mulher. E como es dº insuper sedeat homicida. Doc. de
tes homicidas, além de outras pe Thomar. , * •

nas pecuniarias, e alguma vez de OMIZIO. I. Maleficio, ou cri


Talião, erão lançados fóra das Ter me, que merece morte, desterro,
ras, em que cometterão o dilicto, açoutes, multa grave, perdimento
como aleivosos, e traidores, e ca de bens, ou outras semelhantes
pitaes inimigos dos Parentes do penas corporaes , ou pecuniarias.
morto; não faltárão outros crimes, E por nom fazerem alguum engano
sem serem de morte , em que o esses omiziados, defendemos, que do
culpado subia a pena de homici dia que os omizios forem feitos em
da, sahindo da sua patria, e vi diante, nom possam esses omiziados
vendo toda a vida como desterra vender, nem enalhear seus beens; sal
do. No Foral de Penamacor de 1 199 vo per nossa licença. Cod. Alf. L.
se determina: que se alguem qui 5. Tit. 61. S. 18. . . •

zer fazer mal ao Marido, que cas OMIZIO. II. ElRei D. Afonso
tigar a sua mulher adultera, na IV. por huma Lei tirou o máo cos
fórma que no mesmo Foral se pres tume, que d'antes havia, de cada
creve, Pectet V. sol. ad Concilium, hum acoimar morte, e deshonra de
é ejiciatur de villa pro traditore : seus parentes , do que se seguião
se alguem pozer as mãos violen chagas, mortes, e deshonras aos
tas em mulher casada, e recebida que nos taes omizios vivião. Por
na face da Igreja , pague-lhe 6o tanto manda, que se guarde o Di
soldos, Et sit inimicus de suis Pa reito commum, e que os culpados
rentibus. No Foral que ElRei D. sejão castigados pelas Justiças, e
. Affonso I, deu ás Extremaduras, segundo as Leis, e não por auto
e que D. Afonso II, confirmou no ridade particular. E quanto aos de
de 12 18 se manda sahir da Terra safios, ou retos, o que até alli se
como Homicida o que diz palavras praticou entre os Fidalgos era: que
da maior afronta, e lhe chama Ho por deshonra, que hum fizesse ao
O1
184 OM ON
outro, de que lhe demandava cor sejão; pois já muito tempo antes
regimento, nom pagava mais que 5oo do seu Reinado senão praticavão,
soldos. Quanto a isto manda, que por serem contra todo o Direito:
se pague a pena á proporção da e manda, que todo o que se achar
culpa, e segundo por Justiça for agravado, e ofendido reccorra a
julgado. Depois disto se queixá Elle, ou ás suas Justiças pela sa
rão os Fidalgos ao mesmo Rei, tisfação condigna. E só permitte
de que lhes tolhesse com pena de o custume de o marido mattar o adul
morte o costume que elles d'anti tero, e a sua mulher, que com ele
gamente tiverão de acoimar pelas achar. Cod. Alf. L. 5. Tit. 53.
mortes, e deshonras, que aos seus per tot.
parentes se fazião , e lhe pedião OMNIA. Todas as cousas, to
revogasse esta Lei , o que Elle da huma herdade, ou fazenda, em
não quiz fazer por ser muito justa, que se crião , e produzem todos
e necessaria pera bem de seus Vassal os fructos. Munio Rooriguiz doou
los, e honra de Deos. E por tanto certos bens em Almofála ao Mos
manda, que se hum Fidalgo mat teiro de Tarouca no de 1 168 pa
tar a outro Fidalgo, Pai, ou Mai, ra remedio da su'alma. E acrescen
ou Irmão, ou outra pessoa, porque ta: Similiter & corpus meum do vº
elle, segundo costume antigo, po bis, ut semper servitium Dei faciam
dia acoimar: ou se algum Fidalgo vohircum. Quod si aliquando suadente
laidar outro Fidalgo , ou lhe cortar diabulo, deceptus fuero, ó"fugerº de
braço, ou perua, ou lhe tolher outro domo vestra, numquam mihi detis de
membro, ou lhe fezer outra muy gran ista omnia nichil in perpetuum; #4
de deshonra, ou gram vilta, que se Ilibera, & integra sit de S. Johanne.
ja mais receada, e de maior vergon Doc. de Tarouca. Gav. 3. m. 2.
ça , que cada huma destas cousas: n. 13. E note-se a Estabilidade des
Se o Fidalgo acoimar por cada huma te Converso... Em Santarém cha
destas couras, que moira porém, co mão-se Omnias as hortas, e poma
mo na dita Lei be contheudo, &c. res da sua Ribeira, onde tudo se
E se o Fidalgo tomar por si vin acha, assim frutas, como horta
dita de outro homem que não seja liças.
Fidalgo: se omatar, que moira po ONCO. Lugar escuro, escuso,
rém: e se laidar, ou tolher membro, e retirado , angra defendida com
ou fezer outra desboura que seja igual, altos montes, e roubada, ou qua
ou maior que nenhua destas , seja si encuberta aos olhos dos inimi
desterrado para sempre. E senom gos. He de João de Barros.
matar, nem laidar, & c. pague tu ONIÃO. V. União.
do em dobro, e perca todo o di ONJUDO. Convém este nome
reito, que contra a outra parte ti a todo o Christão; pois verdadei
ver. Finalmente ElRei D. Affonso
ramente são ungidos com a Graça
V. extingue por huma vez seme do Senhor, que no Baptismo rece
lhantes coimas , ou acooimamentos, bêrão. Acha-se no Poema da Per
desafiaçooens, Emendas, e Vinditas Hespanha ap. Faría.
entre todos os seus Vassallos de da de
ONRRA.V. Honras. Direitos,
qualquer estado, ou condição, que e foragens, que se pagavão de hum
$lº
ON OR. 18;
Casal, que tinha os Privilegios, extinguio o Mosteiro de Religio
e Regalias de Honra. E ora xe-lhy sas de S. Bernardo , cujo Titulo
quitava do dito Casal pera sempre; era S. João de Val de Madeiros, e
salvando da Onrra; isto he, reser applicou as suas rendas, e encar
vava para si o foro, que pela Hon gos ao Mosteiro de Masseiradão,
ra, ou por ser Honrado o Casal e diz : Considerando Nós, que este
lhe pertencia. Doc. de Pendorada Mosteiro tem tão pouca renda, que
de 13oo. V. Pobramento. com ella se não póde sustentar em ne
ONRADO. — Casal.) V. Hon nhum modo, para nelle poder haver
ras, e Onra. as Religiosas, que convem para Con
ONZENAR. Comerciar, contra vento, e para se fazerem os Oficios
tar com demasiados lucros, que Divinos, como be razã ; e assi as
realmente são onzenas. Doc. de necessidades , que as que nelle ora
Lamego do Seculo XV. estão padecem , assi no que cumpre
OOYTE. Hontem.Doc. de 1743. á sua sustentação, como á Clausura,
ORAÇOEIRO. Livro, que só que convem a Religiosas ; por não
trata, ou contém Oraçoens. Doc. haver no dito Mosteiro nenhuas Offi
de Lamego de 1455. cinas, nem cérca, nem outras casas
ORACULO. Oratorio, Capel necessarias; nem renda, de que se pos
la, pequena Igreja, ou lugar de são ordenar: Pero que nos pareceo, &c.
Oração. No de 12o3 vendeo o Mos Doc. de Masseiradão.
teiro de Santa Marinha da Cósta ORDIAYRO. Ordinario. Doc.
de Guimaraens o Oraculo de S. João. de 1 288. Em outro de 133 o se diz:
Doc. do Most. de Bostello. E des Hordinhayro. Bent. do Porto.
tas vendas de Igrejas, e Mostei ORDIM. Religião, Ordem re
ros há entre nós innumeraveis Doc. gular. Doc. de 1292. E no de 133o
desde o Sec. IX. até o XIII. V. se acha Hordim no mesmo sentido
Igreja. de Ordem. Bent. do Porto.
ORDENAMENTO. Mandado, ORDINAR. Determinar, dis
Ordem, Preceito, Ordenação, Es pôr, ordenar alguma cousa, que se
tatuto, Lei. Doc. de Tarouca do deva fazer, ou mandar que se faça.
Seculo XIV. Doc. de 1 292.
ORDENANÇA. Decreto, Or ORDINHADO. Ordenado,Cle
dem, Lei, Estatuto, ou Preceito rigo de ordens Sacras, ou Menores.
do legitimo Superior, assim Tem Ordinhados de ordees SSagras, e door
poral, como Espiritual. E que ella dees Meores. Carta d'ElRei D. Af
queria estar, e fazer por qualquer fonso IV. de 1352. Doc. de Coim-
Ordenança, e Mandamento, que lhe bra.
mór ordenasse-mos , e mandasse-mor. ORDO. Cevada. Vem do Lati
Doc. de Reciám de 1436. no Ordeum. De hum Prazo das Sal
ORDENAR, Pôr em ordem, zedas de 1278 consta, ser o Foro do
reformar, viver com decencia, e quinto, e hum alqueire d'ordo por Ei
sem desordens, consiguir o pre radiga, e hum quarto de corazil; além
ciso, e necessario para os usos da de outras direituras, e pensoens.
vida, segundo o respectivo Esta ORELHAS. Não foi ignorada,
do. No de 15 6o o Cardeal Rei e sem uso, entre os Portuguezes a *
Tom. II. Aa pe
186 OR * OR>
pena de Orelhas cortadas; mas antes o pudessem jurar. Este costumê lhes
em alguns Foraes, e Cartas Regias proveio dos Romanos , entre os
se faz della menção. Os ladroens, quaes levava o Autor ao Réo peran
que segundo as diferentes Leis do te o Juiz, pegando-lhe pela ore
Territorio, já erão privado da vida; lha, se elle não queria hir por sua
já marcados na testa; já lanhados livre vontade. De huma pedra pre
com açoutes, e desterrados: não ti ciosa, em que estava esculpida hu
verão algumas vezes por hum dos ma mão apertando huma orelha;
menores castigos o ficarem sem ore com huma Inscripção que dizia Me
lhas. No Foral de Santa Cruz da mor esto faz menção Revardo ad Leg
Villariça se lê:De furto descuberto det XII. Tabul. Cap. 5. Ainda hoje se
a suo dono toto suo haver dupplato, puxa pelas orelhas aos meninos para
&º novenas partiant cum Palatio: Óº se lembrarem das cousas: résto sem
prendant illos alcaldes las orelias. Et dúvida da superstição dos Gregos,
si allia vice furtaverit, matent illum. e Romanos, que assim o praticavão
Em hum Assento, ou Determinação em obsequio da Deosa Memoria, a
Regia de 22 de Fevreiro de 1499 se quem as orelhas erão consagradas:
determinou, que toda, e qualquer Mas que razão haveria para deso
pessoa, que fosse tomada, cortan relhar os criminosos?... He bem
do, ou desatando bolsa: ora na bolsa plausivel a opinião de que os deso
se achasse dinheiro, ora não: se fosse relhados, ou cujas orelhas até á raiz
peão fosse açoutado , e desorelhado, se fendêrão são inhabeis para a ge
&c. V. Orden. L. V. Tit. 6o. S. I 1. ração; porque junto dellas corre hu
A pena de Orelhas cortadas, ou ma vêa, que depois de cortada faz
fendidas foi muito usada nas Leis ao homem impotente. E querendo
dos Antigos, e principalmente con se exterminar da República homens
tra os roubadores dos Templos, e tão scelerados, e facinorosos, até
cousas sagradas (e estes tambem al se proveo a que delles não ficasse
gumas vezes erão castrados.) S.Luiz mais geração, que algum dia resus
Rei de França mandou, que todo, citasse os delictos de seus pais.Com
e qualquer ladrão, pela 1.° vez fosse tudo a razão obvia parece consistir
desorelhado: pela 2.° lhe cortassem na infamia, fealdade, e torpeza de
hum pé e pela 3." o enforcassem. huma pessoa sem orelhas. E por is
Ainda no Seculo XVI. se praticava so quando os Romanos se querião
naquelle Reino esta pena, que fóra vingar das injurias dos Grandes,
delle se extendia a outros dilictos, hião-se ás suas Estatuas, e lhes cor
e nem sempre dos mais graves. Foi tavão as orelhas, como diz juvenal
tempo, em que os Francezes, e ou Satira VIII. fizerão á de Galba, que
"tros Póvos pegavão da orelha ás não só lhe cortárão as orelhas, mas
testemunhas, e assim as levavão a tambem lhe quebrárão os narizes:
“darem o seu depoimento na presen Galbam auriculis, masoque carentem.
*ça dos Juizes. Igualmente puxavão ORGE. Cevada. V. Ordo, e Or
pelas orelhas, e davão bofetadas go. Tambem se escreveo Orgbo, e
aos meninos, para que sendo já cres Orio em muitos Doc. do Sec. XIV.,
e XV.
"cidos se lembrassem do que passou •

diante delles, e sendo, necessario, ORGO. O mesmo que Ordo.


• Au •
OR. | OS 182
Augaem a cortinha da horta com ella suspeitar com algum fundamento,
(isto hé com a dita agua) e orgo, persuadir-se. Sabemos pelas Cortes
e linho : e com escudela no tempo do d'Evora de 14o8 que os Póvos con
veeraão. vierão em que a Moeda de trez livras,
ORIGINARIO. Escravo, ser e mea se desfizesse, e se convertesse
vo, e de condição não livre. Assim em Cruzados de 35 soldos, do qual Em
se declara no Direito Canoníco, na prestido osmaram, que ficaria (tira
C. 32. antes da q. 1. e q. 4. •

das as despezas) doze contos pouco


ORIO. O mesmo que Ordo. Doc mais, ou menor. Doc. da Cam. do
de Lamego. Porto de 14o8. Em huma Inquiri
ORISES, e Orices. Prateiros, e ção d'ElRei D. Diniz de 1284 se
Ourivezes. Ap. Bergan. achou na Commenda de Rio Frio
ORIVAL. O mesmo que Olival. que a mesma Ordem tinha y de mais o
OROÇA, ou Coroça. Então se dereito, que y auya Orraca johannis,
dizia Beneficio em Oroça, ou em Co qne lho canbhou o Espital por outro: e
roça, ou Beneficio encoroçado, quan osmam (as testemunhas) que ha ain
do se appresentava huma pessoa pa da y o quinhom de dona Ousenda, que
ra Parocho de huma Igreja , e se foy safreira. — Osmava que foi destes
confirmava nella; ficando o Apre III. Reys a cá. Inq. d'ElRei D. Af
sentante, ou Padroeiro, comendo fonso III..
inteiramente a renda. E disse: que OSAS, Ozas, Oças, e Ossas. Na
nom recebia a dita Aprezentaçom, e Baixa Latinidade se disse Ossa,
Confirmaçom por nenhuma specie de si Ora, Hosa, Hossa, Houcia, Heuse,
monia, que fizesse, comettesse, nem Hosella, &c. na significação de Ti
esperasse de fazer, nem para reer Oro biale, Crurale, e Caliga, isto he, cal
fa de nenhua pessoa. Doc. de S. Vi çado, e cubertura dos pés, ou das
cente de fóra. pernas, como são gapatos, chinel
ORRA. O mesmo que Hora, las, meias, botas, polainas, bor
Doc. das Bent. do Porto de 142o. zaguins, botins, &c. Francezes,
ORRETA.Valle profundo entre Italianos, Alemaens, Inglezes, Hes
montes, e com mui estreita mar panhoes usárão desta palavra, e to
gem , que apenas admitte poucas dos no mesmo sentido. João de Ja
fiadas de oliveiras, ou outras arvo núa diz: Osa quoddam genus calcea
menti, ó dicitur ab os , ossis; quod
res. Esta palavra antiga ainda hoje
tem uso em Traz dos Montes. primo de coriis boum os e factae runt,
ORTAR. Cultivar com diligen &º quamvis nunc ex alio genere fiant,
cia, methodo, e ordem, como se pristinum tamen nomen retinent. S.
-#
pratíca nas hortas. He de Barros. Izidoro L. 19. Cap. 24, de Calcea
ÓS, Óo. O mesmo que Aos, e Ao. mentis, se persuadio, que Ossas ab
He do Seculo XIII. e XIV. osso (f. osse) primum factas, e que
OSAR. Usar. Daqui ose, osem, dali nasceo o nome, que no seu tem
e osassem, por use, usem, e usar po ainda conservavão. Seja embora
sem. Mando que osem deste herdamen certo, ou não seja, que os antigos
fo en sa vida. -
fabricassem de ossos os saltos, ou
OSMAR. Sommar, calcular, or palmilhas dos gapatos, e chinellas;
çar, e tambem julgar, ter para si, mas que necessidade temos nós de
Aa ii bus
188 I OS OS
buscar de tão longe a origem das ou a mulher ao marido pagavão O3
Ossas ?... Elle he certo, que já no sas: tambem o Senhorio da terra se
tempo dos Romanos se chamou Or arrogava não poucas vezes o mesmo
culo, Donatio propter nuptias, quam Direito, sem dúvida por haver da
solet sponsus , interveniente osculo, do licença para as bodas. Nas Inqui
daresponsae, ut habetur in L. 5. Cod. riçoens d'ElRei D. Afonso III. se
Th. de Sponsal. E S. Greg. Turon, de achou, que as Viuvas do Castello
Pitis Patrum Cap. 2o., se explica de Lamego, casando-se sem pri
deste modo: Denique data sponsae an meiro se haverem com o Mordomo
nulo, porrigit osculum, prebet calcea d'ElRei, lhe pagavão Ossas; que
mentum , celebrat *pousalium diem constavão de sinco véllor de lãa.
festum. Era pois o Orculo o prelimi Mas por hum Doc. da Camera de
nar do calçado, que por esta razão Lamego de 1436 se vê alterada es
algumas vezes se chamou Orcleia, ta Pensão; pois delle consta, que
Oscleum, e Oselium. E então porque não se avindo antes a Viuva com
não diremos, que de Orculum, es o Mordomo, levava este sinco mara
ta Doação Nupcial, nascêrão as Os vidír velhor de vinte e rete soldor: e re
sas, que os Esposos davão a suas te soldos o marido, por Ossas. ElRei
mulheres, como Preço da Virginda D. Affonso IV. eximio no mesmo
de, sendo nas primeiras.bodas: ou anno deste foro as Viuvas, que ca
que as Viuvas pagavão aos seus no sassem passado anno, e dia. Mais
vos Esposos, em sinal de que o seu franca havia andado a Rainha D.
Matrimonio era visto com indiferen Tereza no Foral, que déra aos de
ça, sem Bençãos do Sacerdote, cele Viseu no de 1 123 pelo qual os exi
brado de noite, sem concurso dos ami me de qualquer contribuição, por
gos, e dito mesmo Matrimonio re occasião de casamento: Si aliquam
quentado ?... V. Ducange. V. Ma uxorem ducere voluerit aliquis, nul
ritagia Recalefacta. Iam afrecionem redat. Doc, de Viseu
No Foral das Estremaduras (que V. Balugas, e Ofreçom.
são Pesqueira, Penella, Paredes, Nas Côrtes d'Elvas de 1361 man
Souto, Linhares, Anciaens, a que dou ElRei D. Pedro I. guardar o
já ElRei D. Fernando o Magno ha que já alguns seus Antecessores ti
via dado hum só Foral, que ElRei nhão determinado a respeito das
D. Afonso I. de Portugal reformou, Piuvas, que se casarão dentro de an
e D. Afonso II. confirmou no de mo, e dia; isto he, que não fossem
12 18 e se acha no Lº dos Foraes infamadas, nem os que com ellas
Velhos) se determina: Si aliqua mu casassem, nem os Seus Mordomos
lier acceperit virum, meliorem qui fue levassem dellas qualquer contia de
rit in Villa, dabit ei pro Osas V. soli dinheiros Cod. Alf. L. IV. Tit. 17.
dos: & si minor fuerit, minus dabit. No Espelho de casados. P. IV. f. 68.
Ainda nas Inq. d'ElRei D. Affonso da Ediç. de 154o se diz, que, até
III. de 1258 se achou, que as Viu o tempo dº ElRei D. Fernando não ca
vas da Villa de Paredes dant Osas, savão as Viuvas sem licença d'ElRei,
s, quinque solidos, si accipiunt ma e só por Privilegio se concedia a al
7"1f0f'.
gum lugar, que podes tem casar, pe
Mas não só o marido á mulher, gando buma libra de céra: o que se
CIl
OS OS 189
+

'.»
entende casando-se dentro d'anno, Acerat morem, ut nemo sine ejus per
e dia. missu uxorem duceret, ut ipse in omni
! #
Do sobredito se collige, que não bus nuptiis prégustator esset. E este
º foi o nosso Paiz inteiramente livre Desertor da Humanidade talvez o
de hum costume barbaro, que anti tomaria de algumas Naçoens, não
gamente fundio por toda a Europa: menos barbaras do que elle , as
Costume pessimo , a que depois quaes antes de casarem suas filhas
chamárão Marcheta , Marcheto, e as oferecião ao Rei, para que usas
Marketta. Comistía elle na préliba se dellas, como de cousa, que in
ção da vassalla em a primeira noite teiramente lhe pertencia. Veja-se
das suas bodas, e antes que se ajun Polydoro Virgilio L. 1. de Rer. in
tasse com seu marido: Pensão, ou vent. p. 18. |

Tributo, que o despotico Senhor Este Oprobrio da Honestidade


da terra impunemente, e mesmo por pública, diametralmente opposto
hum caracter do seu abusivo Poder, á liberdade do Matrimouio, e que
se arrogava. Na Inglaterra só teve reduzido a dinheiro, ainda em os
isto lugar nas que erão de condição nossos dias se praticava em alguns
servil; na Escocia porém se exten Territorios da Flandres, Frisia, e
dia a Nobres, servas, e mecanicas: Alemanha , se chamou em Italia
as Nobres se resgatavão desta infa Cazzagio, e na França Cullage, ou
mia, pagando huma, ou duas, e se Culliage, e aqui, mais que em ou
|
erão filhas dos Condes, doze vac tra parte, lançou raizes tão profun
#
cas, e huns tantos soldos: as ser das, que apesar de mil Ordenaçoens
vas, ou Mecanicas, pagavão certos Reaes, e Aréstos do Parlamento,
dinheiros, que segundo alguns erão ainda no Seculo XV. se praticava
meia Marcha de prata, que deu o deshonestidade tão fêa, e o Direi
nome á Marcheta. Outros porém lhe to barbaro da Marketta, ou Cullage
dão outro principio, e fazem a Martalvez chegou até a Revolução de
cheta Synonymo de Cavallagem. Tal 1789. Ali, Bispos, Cabidos, Mos
he entre outros Skenéu in Regiam teiros, e os mesmos Parochos, em
Majestatem L. 4. Cap. 31. onde diz: qualidade de Baroens, que não só os
March equm significat, prisca Scoto Grandes Senhores, tiverão vassal
rum lingua. Hinc deducta metaphora las, que sem primeiro pagarem tão
ab equitando, Marcheta mulieris, di indigna Pensão, ou em dinheiro,
citur Virginalis pudicitiae prima viola ou em propria especie, não podião
tio, quae ab Evéno Rege, Dominis ca fazer vida com seus maridos. Boerio
pitaliburfuit impie permissa, de omni Decis. 297, n. 7. nos informa de hum
bus novis nuptis , prima nuptiarum Processo, que por Appellação so
nocte. Sed &ºpie á Malcolmo III, su bíra do Tribunal do Arcebispo de
blata fuit, & in hoc Capite certo vac Bruges, em que era A. certo Cura,
carum número, Óº quasi pretio redi que pertendia haver a primeira noi
mitur. Porém não foi o Rei Evéno te das casadas, segundo o costume
o Inventor malvado deste costume: de seus antecessores: a sua Appel
ao Impio Maximiano Galerio o atri lação foi rejeitada com indignação,
bue Lactancio L. de Mort. Persecu e desprezo: o Costume perrimo intei
tor, n. 38: Postremo, bunc jam indu ramente abolido, e o escandaloso
Pa
19o OS" OU
Parocho condenado nas custas. E na fórma assima dita, he de algum
o que mais he para admirar, dizem peso; porque ainda não sendo isto
os mesmos Escritores Francezes: mais, que hum rumor vulgar, e in
Promulgando S. Luiz tão santas, e subsistente, conto de velhas, ou
tão saudaveis Leis, e exterminan patranha de ociosos: bem podia ser,
do tantos abusos, nem huma só pa que elle exigisse algum Tributo pa
lavra disse contra hum tal excesso ra facultar os casamentos; e daqui
de corrupção, que no seu tempo originar-se a fabula, que ali se re
vogava, e que elle não podia igno conta. Mas seja, seja embora, que
rar, por ser então bem geral, e com elle abusasse do seu Poder: nunca
HlUIT]. • |

o seu máo exemplo, como de hum


Em Portugal, a Deos graças! não particular, podia empécer á hones
ignoramos que houve Senhores des tidade carecteristica de huma Nação
poticos, e absolutos nos seus Cou inteira. E finalmente a mesma Fabu
tos, e Honras, e sem cuja licença os la, ou seja Tradição, que represen
seus Vassallos, ou Servºs da Gleba, ta aquelle Regulo desbragadamente
senão podião casar , sob pena de lascivo, igualmente o pinta por Au
perderem as casas, e terras, que toridade Real assassinado. E de tu
para sua subsistencia lhes havião do concluimos, que o devorante fo
consignado : Tal foi, segundo a go da torpeza, que, mesmo por
Benedict. Lusit. , o Fundador do Autoridade Pública, abrazou anti
Mosteiro de Santa Maria de Car gamente os nossos Visinhos, nunca
voeiro, que no seu Couto usava des já mais se ateou entre os honrados
te Poder, e cujo Abbade ainda hoje Portuguezes.
conserva alguns vestigios da antiga OSPITAÇOM. Obrigação de dar
escravatura; mas não consta, que Pousada, ou Aposentadoria aos Fidal
algum dia se propassassem os limi gos, Menistros, ou Pessoas públi
tes, que a Religião, e a mesma cas, que andão no Real Serviço. Di
Natureza prescrevem na conjunção zião os Ecclesiasticos, que qual
legitima do homem, e da mulher. quer herdade, sendo antes livre, e
De résto, o exigir-se alguma con isenta de toda a Servidão Real, hu
tribuição, ou Marketta para se ef ma vez deixada á Igreja, a tolhião,
feituarem as bodas, parece senão e esbulhavão de todo o Privilegio de
póde negar , á vista dos Foraes, e liberdade, e a tornavão á ospitaçom,
Documentos acima reproduzidos, e servido0em, que usam nas possissoens
a que se deve ajuntar o disposto no dos villãoos, e homeens refeces; igua
Foral de Santa Cruz da Villariça lando a Eygreja de Deos aas pessoas,
que he o seguinte: In Sancta Cruce que nom ham honra, e aos homeens de
non dent Osas, nec Lutosa. E nem a servidiçom. Cod. Alf. L. II. Tit. 2.
Tradição, que dura nas margens do Art. 7.
rio Lima; dizendo, que hum Flo OU. O mesmo que Ao. Das quaes
rentim Barreto, Senhor absoluto da una dey ós juizes, e ou Conzelo, e
Freguesia de Cardiellos, e Funda outra dey ou Prelado. Doc. das Sal
dor da Torre, que hoje mesmo se zedas de 1 273.
"conserva com o nome de Torre de D. OU. Onde. Doc. das Bent. do
Sapo, extorquia dos seus Vassallos Porto de 13c5.
recém casados a infernal Marketta OU
OU OU 19 r
OUCIDENTE. Occidente. Par OUSIA, e Ousya. A Capella
se pello Oucidente. -
Mór de huma Igreja, ou Cathedral,
OUCIENTE. O mesmo que Oc que por antonomasia se chama San
cidente. -

ta. Vem do Grego Osios. Nos Doc.


OUREVYZEIRO.Ourives. Duas de Lamego se chama Oussia a Ca
tendas em as quaes lavram os judeus pella Mór da Sé. Na Instituição da
Ourevyzeiros. Doc. de S. Thiago Collegiada de Ferreira d'Avez de
de Coimbra do Sec. XV. 1331 se diz, que todos os Raçoeiros
OURIENTE. Oriente, a Parte digão em sobrepelizas as Matinhas no
donde o Sol nasce. He frequente no Coro , ou na Ouya antre o Altar
Sec. XVI. •
Maior, e todalas outras oras canoni
OUROLO, e Hourolo, Aro, ou cas: e nenhum Raçoeiro, nem outro
circuito de huma demarcação, den Crerigo, nom diga hi liçom, nem ca
tro da qual se achão Emphiteutas, pitúle, nem Abbade d'y, sem sobrepe
Lavradores , Colonos, e outros liza; só pena de perderem os Benefi
quaesquer moradores, obrigados a cios. Doc. de Viseu. V. Ausillua, e
certo tributo, ou serviço, ou isen Bluf. V. Oussia.
tos delle. Em Bragança ainda hoje OUTÃA. A parte que fica a pru
se usa dizer-se Ourolo, ou Hourolo mo sobre a perna do animal. Huma
da Cidade, e he mui frequente nos perna de porco com sua outãa; isto
Documentos do Mosteiro de Castro he, perna, e presunto. Doc. de Pen
de Avellans do Seculo XV. Em hum dorada de 1398. Ainda hoje dize
de 15oo se diz, que elle tinha meta mos Outãa de huma parede, a que
de da Dizimaría do Ourolo de Alfayãa, fica a prumo por algum dos seus
e de todos os moradores do dito lugar, lados. , º "; } , A

e que igualmente lhe pagavão por OUTÁÁS. Oitavas. Seis ontáás


cabeça, de Fumadégo X. nóvos, e hum de pam. Doc. de Pendorada de 1 317.
velho, que são por esta moeda presente V. Ochava. . *

JKIV, pretos; isto he, dez réis dos OUTORGADAMENTE. Com


nóvos, e hum Real dos velhos, que prompto, e feliz despacho de con
valía 14 Pretos. Doc. de Bragança. cessão, consentimento, e outorga.
Na Baixa Latinidade se disse Oreil Mais cobiçantes outorgadamente acha
lum. • • -

tar aos vossos dezejos, Doc, de Al


- - -

OUS. O mesmo que Aos. Doc. moster de 1 287. * -- ,


de Pendorada de 1287. . . OVE. Preterito do verbo Haver.
OUSAMENTO. Ousadia, con Eu ove, Eu tive: Eu overa, Eu ti
vera. Doc. de 1336. . . •

fiança, atrevimento. Se algum por


seu ousamento. - Ousamento louco - OVELHUM. Rebanho de ove
Ousamento sandeu. Cod. Alf. L. II. lhas. E todo o gado Vacúm, e Ove
Tit. 65. § 2o, e Tit. 94. S. 11. lhúm. Sentença de Pinhel de 1481.
OUSANÇA. O mesmo que Ou OVENÇA, e Oveença. Oficina
samento. Nós com toda a ousança po destinada para os particulares usos
demos dizer , &c. E elles com ou de huma casa. No de 1372 se quei
sança remeterom ao inimigo. xárão os Prelados d’ Entre Douro,
OUSECRAR. Obsecrar, pedir, e Minho a ElRei D. Fernando de
rogar. Do Latino Obsecro. que os Fidalgos, não querendo pou
* *
S41"
192 OU OU
sar nos Paços, e Hospedarias, co timento, approvação, segundo 6
mo costumavão, quando hião co que hoje se entende por esta pala
mer aos Mosteiros as suas Comedu vra. Mas antigamente teve segui
ras; Vam pousar nas Clastas, e Ca ficação mui diversa: Humas vezes
meras dos Prelados, e nas Oveenças valía tanto, como Autorizar alguem
dos Conventos com seus cavallos , e para succeder na herança: Outras sig
com as molheres do segre (meretri nificava: Deixar em Testamento al
zes) e com outras companhas. Doc. guma cousa. E esta mesma cousa
de Pendorada. No de 1414 empra deixada se chamava Outorgamentº.
zou este Mosteiro, sendo Perpetuo Porém nos Foraes do Seculo XII, e
Administrador delle D. Manoel Lou XIII. e que até o Seculo XIV, se
renço, Bispo de Mayorgas , certos traduzírão em Portuguez, se deter
bens que pertencião á Oveença da mina: Que o forçador de mulherse
vestiaría. Ibidem. V. Avença. salve com Outorgamento de doze hº
- OVEENÇA. O mesmo que O mens: e que não o podendo fazer,
vença. pague CCC. soldos á parte queixº
OVENÇAL. O que tem a seu Sa: Et ille cum XII. homines non é
cargo os mantimentos, despensas, potuerit delindare, pectet CCC. soldº,
e cozinhas de huma grande Casa, Foral de Móz de 1 162. Daqui se
ou Corporação, Despenseiro, Pro vê que este Outorgamento era o mes:
visor, Inspector, ou Védor de tu mo que juramento, Inquirição; Prº;
do o que pertence á Ucharía. Na va judicial, e autentica. No Foral
mesma queixa, continuárão os Pre das Estremaduras se ordena, que
lados, de que se falou V. Ovença: todo o homem, ou mulher, que
Kam aos Moesteiros, e Egrejas, e disser palavras injuriosas a outrem,
britão as portar dellas, e das clastas, Et non potuit outorgar cum Inquisiliº .
e das adegas, e metem os cavallos em ne, pectet XXX. solidos. E bem claro
ellas antre as cubas dos vinhos, e bri está que este Outorgar era o mesmº
tam as Cameras dos Prelados, e dos que Provar, ou que não cometico
Ovençaaes , em que teem os manty o dilicto, ou que era verdade º
mentos, per que se ham de manteer, que disse do queixoso.
e tomam o que se pagam, sem conto, OUTREGA. Paixão; ou impe
e sem recado, e nom comem pelo De to de presente, novo, e repenti
gredo, que foi ordinhado pelos Reis, no, sem advertencia plena do que
que ante nós forom. Ibidem. Diogo se faz, e executa. E se em outrega,
Lourenço, Alvazil dos Ovençaes de sem conselho, e per ventura, que hº
Coimbra, e Ouvidor dos Geraes. Doc. acaeça alguem ferir: nom peitentm#
da Cam. de Coimbra de 1378. V. galha. Foral de Villa Rei dado por
Aveençaes. ElRei D. Diniz no de 1285. Doc.
OÚSÁM. Atrevimento, inso de Thomar. #

lencia, desaforo. Vem do Latino OUVO.OS. Ovo, Ovos. Acha


Audeo. • • • • -

se em Documentos do Sec. XV, º


OUTEIRO, V. Fazer outeiro. XVI. * * * * * * • *

OUTORGAMENTO. Consen

-- - - - - -
- - - - PA I93
no Reinado de D. Diniz Lourenço
Escolla. Depois se lhe mudou o no
me de Páaceiro para Veador Mór
P. das obras. Hoje se intitula Provedor
das obras. Anda nos Condes de
P. Na Arithmetica dos Antigos Soure. . . - •

valía 4oo; não obstante que Baro PAADINHAMENTE. V. Pala


nio diga, que só tinha valor de 7. dinamente. E outorgarom, que a par
E nem o Epitafio de foão Bispo de te , que contra esto veer paadinha
Nepi , que se acha em Roma na mente, ou arcondudamente , que lhe
Igreja de S. Sabbas, favorece a sua nom seja outorgado. Doc. do Sec.
opinião; pois aquelle Prelado não XIV. * - - -

falleceo no de 77o , mas sim no PAATEIRA, Pádeira, a mulher


de 1 1 1 1, segundo o valor das le aue coze, ou vende o pão cozido.
tras, que nelle se encontrão, que A paateiras, e carniceiros. Doc. de
supposto algumas sejão Gregas, o Santo Thyrso de 13oo.
seu valor he o das Latinas, que lhe PÁÁTEIRO. Bodegueiro , ta
correspondem. V. Alaboveinis , e berneiro, e que na praça, ou á por
Dufresne L. P: o P. plicado valía ta de casa tem algumas cousas ve
--
4ood)ooo. naes, e comestiveis. Não devião os
- P. Denotava antigamente no Alcaides de Coimbra levar de Car
Canto pressão, ou precisão da voz. ceragem mais que sinco soldos, ainda
P. Por B. he frequentissimo em que sejam algumas persoar, assi co
os nossos mais antigos Documen mo Paateiros, ou Porteiros, ou Car
tos, v. g. Optulit, apsolutum, ap niceiros, que os juizes ; ou Almota
sens, pleps, puplicur, por, Obtulit, céés mandam prender por escarmen
absolutum, absens, plebs, publicus. tor, ou castigos d'alguuns erros pe
P. Redundante antes de T. e V. quenos, e ligeiros, ou por negrigen
se acha muitas vezes nos Documen tes, e perguiçosos. Doc. da Cam. de
tos assim vulgares, como Latinos. Coimbra de 1361. Bluteau diz que
v. g. Escrepver, Escripvão, Escrep Páteiro, hé o que guarda os patos:
vaninha, obptinet, subptus, tempta e que tambem se diz por desprezo
re, &c. •

de algum Frade Leigo. Não con


P. Substituido por B. e pelo con tradigo o 1º, mas nego o segundo;
trario, he trivial nos antigos, que pois nas Religioens mais reforma
davão quasi a mesma pronuncia a das Páteiro , he o nome do Des
ambas estas letras. V. L. B. penseiro, que deve estar prompto,
PAACEIRO Mór. Intendente, e patente para ministrar tudo o que
Veador, ou Védor, Curador, Ins for necessario para o sustento dos
. pector das obras, e fabricas, que Religiosos. E parece vem do Lati
se fazião , ou precisavão fazer-se no Pateo; pois assim na Religião,
nos Paços, ou Casas Reaes, e mes como no Seculo devião estar pa
mo em qualquer parte do Reino, tentes.
sendo por conta da Real Corôa. PACATO. Satisfeito, pagado,
Este Oficio, que he bem crivel ou applacado, sem ira, brando,
principiaría com o Reino , tinha P acifico. V. Pagado.
Bb PA

Tom. II.
194 PA PA
PACÍDO. Campo pacido: o mes os bens, que tinha em S. Martinh
mo que campo cuja hervagem já de Angueira de Miranda, e em Fran
está comida pelos animaes, pasta ça, e Aveléda de Bragança, com to
do, comido, pellado, e que já não dos os seus Fóras, e padeliças, &c.
tem para os gados pasto algum. a Estevão Pirez de Bragança, pa
Doc. de Bragança do Seculo XIV. ra este se pagar do que os Monges
PACIGO. Campo, releixo, mon lhe devião. Doc. dos Figueiredos de
te, prado, em que os gados tem Bragança. |

o seu pasto, e mantença, lugar dis PADROEIRO. Assim se chama


tinado á pastagem dos animaes. va em Direito ao que forrava, ef
Doc. de Lamego de 148o. zia liberto algum seu servo, ou
PACIGOO. O mesmo que Pací escravo: hoje se diz Patrono. Cod.
go. Em humas Inquir. d'ElRei D. Alf. L. IV. Tit. 7o. S. 7.
Diniz de 1 284 se achou na Com PADROM. Padroeiro. Não só
menda de Rio Frio, que no lugar se diz hoje do Santo Tutellar, e
de Camouços se introduzio a Ordem Patrono de hum lugar de Piedade,
do Hospital em hum herdamento, ou Santuario; mas tambem se diss
E esse herdamento nom era partido, se do que tinha Direito de apre
e ajudavam-se dele todos de lenha, e sentar o Parocho, ou Beneficiados.
de pacigó0 de gaados, e de castanhas, Da qual Igreja eu sóón Natural Pa:
e de lavoira, e das outras couras que drom, e Herdeiro, e Governador, º
aviam mester em esse logar. E ensar em posse de presentar Clerigo a elli.
rarom-no por do Espital. Epos y o Es Doc. de Pendorada de 1303.
pital sa cruz, &c. T. do T. PADRONADIGA. Dote , ou
… PAÇO. Assim chamavão no Se herança, que vinha da parte do pai,
culo XIII. ao Cartorio de hum Ta a qual os filhos com difficuldade
ballião público; porque então es grande vendião, por serem bensde
crevião só nos Paços do Concelho. E Avoenga. Exceptis uma leira de cint"
isto mesmo se praticava em Lisboa, de padronadiga de uxor mea. Cariº
onde havia os Paços dos Escrivaeus. de Venda de 1 159 nas Bent do
PADECIMENTO. Aficção,dor, Porto.
angustia, injuria, afronta. Cada dia PADROOM.ENS. Marco, ou
padecemos tanta afriçom nos córpos, marcos de pedras altas, e corpº
averes, e Honras, como se fossemos lentas, quaes ainda hoje vemos nº
na mayor guerra do mundo: e esto pe antigos Coutos. Nas Inq. Reaes se
las Terras, e furdiçoens, que som faz larga menção destes Padro0em;
dadas aos Fidalgos, de que sentimos e nas que se escrevêrão em Latim
estes padecimentos. Cort. de Lisboa se acha, já Padrones, já Petronº.
de 1434. -

PAFO. O mesmo que Paragrafi.


PADELIÇAS. Pastos, ou luga PAGA dos Fógos. V. Fogo.
res destinados á pastagem dos ani PAGA das Pessoas. V. Fogo.
maes. Na Infima Latinidade se dis PAGA da Visinhança. V. Fogº
serão Paduentiae do verbo Paduire, PAGADO.A.: Pacifico, socegº
pastar. No de 1356 deu o Mostei do , em paz, sem dúvida, ou comº
ro de S. Martinho da Castanheira tradicção alguma. No de 1098 º
(hoje do Lago) por 15 annos todos doou a Pendorada huma herdade
CIll
PA PA 195
em Anriade: e dizem os Doadores No Foral de Santa Cruz da Villa
que ElRei D. Afonso VI. e o seu riça de 1 225 se diz: Et non detis
Alvasir D. Sesnando, que governa mibi, nec ad Progenie meae, nec ad
va em Lamego, com conhecimento nullo homine pro homicidio, nisi sep
da causa a tinhão dado, e adjudi tima ad Paladino, per Concilio, Óº
cado a seus Avós, que no seu tem per manum de judice. Doc. de Mon
po a tiverão pagada. E que ao de corvo. E aqui falla ElRei D. San
pois nos dias de Martinho Moniz, cho II. No da Villa de Móz de
e de Egas Ermiges, e do Conde 1 1 62 diz ElRei D. Afonso I: Et
Raimundo, igualmente a tiverão non detis Mihi, nec ad Progeniae meae,
pagada , e assim a davão ao dito nec ad nullo homine pro homicidio,
Mosteiro. Doc. de Pendorada. Ira nisi septima parte de CCC. soldos,
do, ou pagado se acha com frequen in apreciadura per Concilio, & per
cia no Sec. XIII. e XIV. Do Lati manum de Alcaldes ....... Et Pala
no Placatus se disse pagado o que cio del Senor de Molas habeat Calum
vinha, ou estava em paz, e bom nia , quomodo de Vicino. Doc. de
dia, e sem a mais leve sombra de Móz. O mesmo se determina no
indignação, ira, ou furor. de Aguiar da Beira de 1258, acres
PAGADOIRO. Que se ha de centando , que quem ferir o seu
pagar. Doc. de Vairão de 1333. visinho pague 6o soldos ao Con
PAGAR-SE de alguma cousa. celho, & septima a Palatio pro ma
Agradar-se della. Quando se paga nu de judice. E fallando de hum
vam; isto he, quando muito que homicidio, diz : Et Palatium Re
rião, e lhe agradava. Doc. da Cam. gis , vel Episcopus habeaut calump
de Coimbra de 1 352. V. Novelleiro. nia. T. do T.
PALACIO, Pallacio, e Paladi PALACIO. II. Convento, Ca
no I. Quasi não ha Foral antigo, sa, Mosteiro, Vivenda Religiosa.
em que senão encontre muitas ve No de 1 272 deixou D. Aldára qua
zes esta vóz Palacio. Assim chama tro aneis, huma Magestade, bum Ca
vão o que nós hoje dizemos Casa maféo , e huma Cruz de prata com
da Camara , onde os Juizes com huma pedra preciosa no meio , aos
os seus Oficiaes fazem publicamen Frades Menores de Lamego. Et
te Justiça ás partes. Todas estas mando , quod si per istas sortelas
Casas participavão do Palacio do non potuerint facere unum Palacium
Rei; já pela observancia da Lei, in Lameco, quod compleat eis D. Ora
que emanára do Trono; já porque cha Fernandiz, per quod faciant eis
ali se pagavão as Coimas, e pe Palacium : & accipiat pro se sorte
nas, que pertencião á Corôa; e fi las. Doc. de Tarouca. V. Magesta
nalméte porque as Insignias Reaes, de. Daqui se vê, que ainda no de
que nellas se divisavão, as fazião 1272 se conservavão os Religiosos
verdadeiramente Palacios. Porém de S. Francisco no Retiro de Fafel,
nem sempre as Coimas que ao Pa e no sitio, que ainda hoje se cha
lacio se pagavão, erão para a Co ma o Campo dos Frades ; mas pro
rôa , pois muitas vezes erão para curando já a visinhança da Cidade:
algumas Pessoas, ou Corporaçoens mudança de tão pouco custo, que
a quem o Monarca as havia doado. quatro anneis bastavão a fazer-lhe
Bb ii hum
196 PA PA
hum Convento no conceito da Tes diz ainda hoje sola atanada. Item:
tadora. Porém, ou os anneis erão Mando a meu Irmão juibão .... o
de muito preço , ou o Convento meu Palame da Ribeira. Doc. de La
sería de insignificante custo. Como mego de 1316.
quer que seja, he sem dúvida que Na Baixa Latinidade Pelamen,
os Frades Menores já no de 1279 era o mesmo que Lignum decorti
se tinhão mudado para o lugar, catum. Chamárão-se pois Palames,
que hoje mesmo occupão , e que ou Pelames aquellas oficinas, em
já naquelle anno se trabalhava em que a casca de certas arvores faz
concluir o seu Religioso Domici huma grande, ou a maior parte no
lio. V. Fogueira. curtúme de toda a Pellitaría. Tam
PALACIO. III. Antigamente se bem qualquer destas Fábricas se
deu este nome não só á casa , ou chamou Pelanus , e pela mesma
residencia do Rei, mas tambem á razão.
casa de qualquer Vassallo , com PALHADIÇA. Palha. Huum fei
tanto que fosse Nobre e honrado. xhe de palhadiça triga. Doc. de Pa
JZ. Bulla , e Francisco. Em huma ço de Sousa de 1418.
Doaç., que o Rei D. Fernando PALHATORIO. O mesmo que
fez á Sê de Oviedo no de Io36 Pallatorio. Nos estanhos, ante a por
se diz: Si homo habitans in baeridi ta do Palhatorio. Doc. de Pendor.
tate S. Salvatorir.... Cum armis, de 1 312.
vel fine armir introierit in Palatium PALLANQUE. Termo da For
Regis, vel in Palatium alicujus ho tificação antiga. Estacada, ou pa
minis, aut in Villam sigillatam, seu lissada, com que se cingía o cam
in aliquem locum, in quo sigillum fue po da batalha. Na Chronica d'El
rit poritum, e nada tirar, não seja Rei D. Duarte, e nos que escre
punído ; se porém tomar alguma vêrão do sitio de Tangere, se usa
cousa, a pague em dobro, e nada com frequencia desta palavra. E no
mais. Ap. Hesp. Sagr. T, XXXVIII. Cod. Alf. L. V. o Tit. 86. hé: Doper
f. 35 I. •

dom, que ElRei Duarte fez aos que


PALADINAMENTE. Clara forom a Tanger, e esteverom no pal
mente, em público. Vem do La lanque atad o recolhimento do Ifante
tino Palam. Dom Henrriqui.
PALADINO, Familiar, usado, Na Chron. dº ElRei D. Afonso V.
claro, commum. Daqui Roman pa por Rui de Pina C. 54. se toma o
ladino, lingua vulgar do Paiz. Hé Palanque por aproxes, obras avan
mais Hespanhol , que Portuguez. çadas, ou reductos, em que se
X. Palacio. poem, e asséstão as maquinas pa
PALAME. Oficina, ou fabrica ra bater huma Praça.
de gurrar, preparar, e curtir cou PALLATORIO. Casa destinada
ros. Em Lamego ainda hoje cha para nella se tratarem negocios pú
mão os Palames ao sitio, onde es blicos, locutorio, ou parlatorio,
tas Oficinas existírão, assim como onde publicamente se falla. No Mor
em outras partes do Reino. Em al teiro de S. Johanne de Tarouca, no
guns Doc. se chamão estas Fabri curral ant’a porta do Pallatorio , e
cas Casas da Tanaría. E daqui se o carvalho pequeno, estando bi Ste
"C/1###
PA PA 197
:
vam Martins, Juiz por ElRei. Doc. entre as mais iguarías se lhe impoem
de Tarouca de 1347. a obrigação de lhe darem pam de
PALMEIRO; ou Palmeirim. Pe rúa, que bem claramente se colli
rigrino, ou estrangeiro , que na ge ser distincto, e mais mimoso,
infima Latinidade se disse Palma do que o pão caseiro, e ordinario
rius, Palmatus, ou Palmaris. E da dos pobres Emphiteutas, e Colo
qui nasceo chamar-se Palmar, o que nos. No de 12 14 o Prior do Mos
era peregrino, estrangeiro , e de teiro de Roriz emprazou huma Her
fóra do Paiz. De trazerem os Pe dade em Canavezes, e entre outras
regrinos da Terra Santa hum ramo cousas diz: Et insuper ad Collectam
de palma, quando se recolhião á in unoquoque anno detis unam pernam
sua Patria, em sinal de terem aca de ariete, & sex panes de rúa, &º
bado a sua Peregrinação, ou Ro uno almude de vino. Lº das Doaç.
maria , se lhes grangeou o nome das Salzedas a f. 29. E note-se a
de Palmeiros. No Porto, e Lisboa mortificação dos Religiosos daquel
havia Hospitaes dos Palmeiros, on le tempo!... V. Homem de rúa, e
de se recolhião os peregrinos. Parada. _ ,
PAM. Nos Prazos, e Foraes an PANARIAS. Celleiros, tulhas,
tigos he frequente a expressão de:casas destinadas para se recolher o
Pam meado: Pam terçado: Pam quar pão, tercenas, ou taracenas, como
teado. V. Meado. Mas notesse, que ainda hoje se dizem em Lisboa se
nos Foraes d'ElRei D. Manoel or melhantes edificios. Casas das Pa
dinariamente se chama Terçado o narías
Bragançadosdeditos lugares. Sent. de
1455. • • •

que consta de trigo , centeio, e


milho, sendo em terras, que havia PANASCAES. Campos cheios
mais milho branco, ou miudo (pois de herva, e que senão lavrão. Quo
então ainda o matz não era conhe modo dividit perpanarcales. Doc. de
cido em Portugal) e menos ceva Tarouca de 12 o 2. Ainda hoje na
das, como erão Viseu, Coimbra, &c. Provincia do Minho se chamão Pa
PAM meado. Era segundo se nascos semelhantes campos, tapa
estipulava. Paguem em cada huum das, ou lameiros.
PANHO.
anno por raçom , e eyradéga huum dorada Panno. Doc. de Pen
de 1 3 1 2. •

moyo de pam meado, por esta medi


da nova, que ora corre : a meatade PANNOS Ordinhados. Habito,
trigo, e a meatade segunda, (cen e vestido proprio do Estado Eccle
teio) milho, ou cevada, qual Deus siastico, Clerical, ou Regular. De
der no dicto casal. Doc. de S. Chris
vedes amoestar os Beneficiados, e os
tovão de Coimbra de 1 37o. V. que som ordinhados d'oordêes Sagras,
Meado, e Pam. que tragam pannos ordinhados. Carta
PAM de rúa, Pão alvo, e de tri d'ElRei D. Afonso IV. de 1352.
go, e de que usa a gente mais ri Doc. de Coimbra.
ca, e delicada. Em alguns Prazos PAPEL. Ainda que hoje sabem
das Salzedas se declara, o que os todos o que he Papel, nem todos
Emphiteutas devem pôr na mesa sabem a origem, e variedade, que
ao Padre Cellareiro, quando huma teve este Depositario fiel das pala
vez no anno fôr a suas casas. E vras antigas, de que tratamos. Em
gra
198 PA PA
graça pois dos menos instruidos, Nilo , e do Eufrates, e tambem
diremos alguma cousa deste Succer junto a hum lago da Syria. Tem
sor honrado dos Pergaminhos , os esta planta até sete covados de al
quaes havendo principiado já d'an tura, e consta de humas 2o tuni
tes de Ptolemeu Filadelfo (que re cas humas sobre outras, das quaes,
cebeo do Summo Pontifice da Sy tiradas com destreza, e preparadas
nagoga Eleazaro II. a Versão Gre segundo a arte, se fazia huma mãº
ga dos 72 Interpretes, escrita em de papel, mais, ou menos fino, e
membranas, e com letras d’ouro, branco, segundo as tunicas se che
segundo Josepho de Antiq. L. XII. gavão mais ou menos ao interior
C. 2.) de Eumenes II. Rei de Per do Papiro, sendo as mais chega
gamo (hoje Natolia) que come das ao tronco as mais brancas, e
çou a reinar no de 197 antes de lizas. Estas folhas, ou tunicas de
Christo, recebêrão tal perfeição, Papiro erão molhadas com oleo de
que se arrogárão o nome da sua Cédro para ficarem incorruptiveis:
Capital. Delles usárão os nossos o seu comprimento não tinha pon
Maiores, em quanto o Papel não to fixo: as mais largas não exce
foi entre elles bem conhecido, e dião dous pés: nelle se escrevião
vulgar. os Diplomas até o VII. Seculo. Na
... Das muitas , e mui difetentes entrada que os Francezes Republi:
materias, em que antigamente se canos fizerão em Milão no de 1796
escreveo, a mais celebrada, e fa tirárão da Biblioteca Ambroziana
mosa foi a do Papiro, donde veio hum precioso MSS.tº deste Papi.
o nome de Papel a toda, e qual ro, que então contava huns 1100
quer materia , em que ao depois annos de antiguidade: foi escrito
se escreveo, e que tinha alguma por Rufino sobre as Antiguidadº
semelhança com o tal Papiro, v. g., de Josefo no VII. Seculo. Deste
pannos de linho, algodão, ou seda , Papiro havia 8 especies, segundº
farrapos, folhas, carcas, cortiças, Plin. Histor. L. VI. C. 22., das quaes
ou entrecarcos de algumas arvores, se póde ver o Coment. de Henrique
e tambem alga marinha (a que os Salmuth ao Tratado, que Pancirº
Nossos chamão Séba, ou Butilhão) lo compoz de Charta Tit. 13, º
da qual são duas Bullas , que se particularmente a Enciclop. V. Pº
achão na Cathedral de Girona, hu pier.
ma do Papa Formoso de 891, e No Sec. IX. se vio entre os Gre
outra do Anti-Papa Romano de gos o Papel de algodão, seja quº
895. A bondade, e copia do Pa elles o inventassem, ou que dº
piro atrahio asi o nome de Carta, Chinos o recebessem. Do Sec.XI.
que havendo nascido em Carto, Ci se achão em Napoles, Sicilia, º
dade de Tyro, onde se preparavão Veneza muitos Doc, neste Papel,
têas de linho, e algodão para nel que no Sec. XII, passou á Italia,
las se escrever; se chamou depois onde no Sec. XIII. se fez commum,
Carta, ou Charta o mesmo Papiro, e delle he hum Fragmento, escritº
ou Papel do Egipto, que se fazia do proprio punho do nosso Gloriº
de huma especie de casca, ou ar Santo Antonio, que como preciosº
busto, que nasce pelas margens do Reliquia se guarda no Hospitiu º
Sáti
PA PA I99
5anto Christo da Fraga, no Bispa troucerão do Oriente o Papel a
do de Viseu, e junto á Senhora Hespanha, e que dali se extendeo
da Lapa. por toda a Europa. Este parece ser
O Papel de linho, ou de farra o modo mais facil de conciliar vo
pos, a que chamão Papel de Chife, tos tão diferentes sobre a Origem,
e que hoje se pratíca em toda a ou Introducção do nosso Papel, que
Europa, na carreira de poucos Se segundo a Hist. da China, ali foi
culos nos escondeo inteiramente a inventado de farrapos no anno de
sua origem. Mr. Ray poem a in 95 da Era Christãa. A que fim nos
venção do Papel, de que nos ser cansamos em procurar entre nós a
vimos, no de 147o, em que dous origem deste Papel?.. Que mais
homens chamados Antonio, e Mi tem fabricallo de farrapos de li
guel o levárão de Galiza a Basi nho, que de algodão ? Se do 2.°
...! léa, donde se extendeo por toda usárão os Gregos: que muito des
---- a Alemanha. Mas nisto há o mais de o mesmo tempo fosse o 1.º usa

a 7 - …"
grosseiro engano; sendo certo, que do entre os Latinos?... O A. do
existem Papeis muito mais antigos Diction, Raisoné V. Papier diz se
que este tempo, e bastava reflec acha hum Doc. neste Papel do an
tir que o Catholicon de Jacobo de no 1239. ElRei D. Afonso, o Sa
Janua foi impresso em Papel na bio, que faleceo no de 1284 nos
Cidade de Moguncia no de 146o. infórma, que Das Escripturas, hu
No Archivo do Bispo de Norvvich mas se fazião em Pergaminho de cou
ha hum Registo de Testamentos ro, e outras em Pergaminho de pan
do nosso Papel, que principia no no. No tempo do Senhor Rei D.
de 137o. O grande Mabillon hé de Diniz era já bem conhecido o Pa
parecer, que já no Sec. XII. havia pel em Portugal; pois no Tombo
noticia, e uso do nosso Papel em velho de S. Simão da Junqueira
toda a Europa; porém Montfocon, L. V. f. 76. se acha huma Provi
afirmando, que elle comecára no zão Real em papel do anno de
Oriente, quasi pelo IX. Seculo, 13 15 , e do mesmo Reinado se
atesta, que nem em França, nem achão outros semelhantes Docu
por toda a Italia se acha vestigio mentos. Na III." Partida Tit. 18. Lei
algum delle antes de 1279, e des J7, foi traduzido Pergaminho de
te sentimento são muitos Eruditos. pannos, em Pulgaminho de papel. Na
Mr. Mafei (Hist. Diplomat. Sec Lei do Senhor Rei D. Diniz de
gão 3.) tem para si, que o nosso 13o5 se manda que os Tabelliaens
Papel se descobrio em Italia , e escrevão as Notas em livro de papel.
diz que a Escritura mais antiga , No de 1297 já em Portugal havia
que encontrára em Papel era do Papel. V, Pragamyo, e Papillo.
anno de 1367. Mas contra isto es Daqui hé facil de inferir , que
tá Mr. Prideaux, que diz víra hum. já no Sec. XII. haveria nesta Re
Registo de algumas Actas de João gião Occidental noticia do Papel,
Granden, Prior de Eli, feito em de que agora nos servimos: ao me
Papel no de 132o. Este mesmo A. nos a Academia de Barcelona nos
na Hist. dos fudeos T, II, p. 435. assegura, que a Concordia entre El
se persuade , que os Sarracenos Rei D. Afonso IX., e D. Affon
+
so,
2 OO PA PA
so, filho de D. Raymundo Beren era permittido ao Senhor da Terra
guer no de 1 178 hé, em Papel, persiguir o seu Vassallo fóra do
semelhante ao nosso. E nem a fal
seu proprio Territorio, prendello,
ta de Documentos, que entre nós e reconduzillo: o que mais era da
se conservem, hé de tanto peso, condição de escravos, que de Vas
que nos obrigue a sentir o contra sallos. Neste Reino pelo contrario,
rio ; pois ou seja que a limitada era permittido , por quasi todos
copia", ou subido preço de hum os Foraes antigos, sahir o Povoa
genero, importado de Climas tão dor, ou Colono do seu Paiz, e pas
remotos, e que ainda entre nós se sar ao serviço do Senhor, que bem
não fabricava, desde logo o não lhe parecesse, sem por isso incor
fez vulgar: ou seja, que delle se rer em alguma pena : sirvão de
não usava fóra das cartas missivas, exemplo os Foraes de Móz, e o
e cousas de menos importancia; de Aguiar da Beira : No 1.º que
reservados os Pergaminhos para tu he de 1 162 se diz : Et toto homine
do o que era Público, e Judicial, de Mollas , qui se tornar ad alium
ou que muito importava se conser seniorem, ut ei benefaciat: sua casa,
vasse em materia mais firme , e cº sua haereditate, &º uxor, ó fi
permanente: ou fosse, que o tem lii sint soluti, & liberi per Foro de
po roedor os consumisse já; ven Mollas. No 2º que he de 1 258 se
do nós que 2, 3, ou 4 Seculos de determina o mesmo com pouca dif
vórão, e consomem muitos Papeis, ferença: Et toto bomine de Aquila
que talvez pela perfeição , com ri, qui se tornar ad alium seniore,
que ao depois se fabricárão, deve qui benefecit ; suas casas, & suas
rião ser de huma consistencia maishaereditates , Óº uxor sua , & filii
duravel : por qualquer destas ra sui sint liberi, Óº soluti pro foro
zoens, senão fôrão todas, nenhu de Aquilari. Et do vobis foro, qui
ma admiração nos deve causar, não non habeatis alium seniore , nisi ad
termos hoje monumentos vivos do Regem, aut a raio filio, aut qui vos
1.° Papel. Concilio ambos quesieritis. T. do T.
PAPILLO. Papel de linho, ou Houve sim entre nós o Foro da
farrapos. Scripta em polgaminho de Parada que consistia em terem os
papillo. Doc. da Univ. de 1288. Vassallos, Emphiteutas, ou Colo
V. Papel. E note-se que não será nos (e mesmo os Parochos Ruraes,
facil achar-se entre nós Doc, mais e Mosteiros a respeito dos seus
antigo, que nos informe do papel Bispos) preparado, e prompto tan
de Chife; a não ser certo, que al to, ou quanto de mantimentos, ou
gumas das Inquir. d'ElRei D. Af dinheiros para mantença, e apo
fonso III, fôrão originalmente es sentadoría dos seus respectivos Se
critas em papel. nhores , e sua comitiva. A esta
PÁRA-BÉM-MENTES. Atton contribuição, se apropriárão varios
de bem , e repára. E no plural: nomes como fôrão: Jantar, Comedá
Paráde-bem-mentes, Attendei bem, ra, Comedoria, Collecta, Colheita,
e repara1. Fida, e no Ecclesiastico tambem
PARADA. Fóra de Portugal ha algumas vezes Visitação, Procura
via Direito de Parada , pelo qual $ão, Censo, Direito Pontifical, No

&c.
PA PA. 2of
No Foral, que ElRei D. Afonso via na Igreja Parochial de Santa
:
Henriquez deu á Villa de Anciães, Maria da Campanhãa ; recebendo
se manda pagar annualmente por por ella certos casaes. Doc. do
cada morador dous paeus , hum de Cabido do Porto. E da que havia
trigo, e outro de centeio, e hum al dimittido ao Mosteiro de Paço de
mude de vinho", e outro de cevada. Sousa no de 1 1 16. V. fantar. ·
ElRei D. Manoel no de 15 1o de PÁRA-MENTES, e Paráde
clara, que os almudes são alqueires mentes. O mesmo que Para-bem
desta medida ora corrente: é «que os mentes. Ambos estes Termos cor
paens sejão taes, que de hum alquei respondem aos Latinos Ecce, at
re se fação quinze; sem os morado tendite, & videte, e no singular
res pagarem outras Paradas, e Di Respice, attende, vide. Exaqui al
reitos. E no Foral da Pesqueira do guns exemplos: Paráde-mentes, que
mesmo anno, declara o mesmo Rei, eu enviarei a vós os Profetas — Pa
4ue pelos dous paens , que segundo ráde-mentes, que vossa casa será de
o Foral antigo se pagavão, re pagar zerta — Paráde-mentes, que este he
sem agora, ou os ditor dous paens de º Cordeiro , que tira os peccados do
mundo — Eu vos digo, que parédes
hum alqueire, que fizesse quinze paens,
ou quatro réis por elles , que erão mentes na terra, cá os agros som bran
parte da Parada. E de caminho se cos - Ora pára-mentes , que tu es
note , que no de 15 1o estava o são — Paráde-mentes , que nós hi
alqueire de pão cozido, segundo mos a ferusalem. He do Sec. XIII.
esta reducção, a 30 réis: E como XIV. e XV. •

estaria em grão?... Por huma sua PARAMENTO. Obra, acção,


Carta de 129 1 declara ElRei D. comportamento; prescindindo de
Diniz, que as terras do Couto de ser bom, ou máo. Considerando os
S. Pedro das Aguias, e a Granja máos paramentos, que me fazem so
de S. João da Pesqueira, que o In bre os meus Reguengos. Carta Re
fante D. Affonso havia # áquel gía do Sec. XIV.
le Mosteiro , são isentas de pagar PARAMO. V. Paranho. .
Parada. Doc. de S. Pedro das A PARANÇA. I. Protecção, am
uias. Os onze Casaes da Dezejo paro, defensão, ajuda. Senhor, nos
sa, além dos mais Fóros, devião por boa parança, e honra de nós, e
pagar a este Mosteiro hum soldo do nosso Moesteiro, recebemos a mui
de Parada. E os sete casaes da Nobre Infanta D. Branca, vossa fi
Balsa o mesmo. Ib. No Foral de lha, por Senhor de nos. Doc. de
Móz se lê o seguinte: En Parada Lorvão de 1277.
una Octava de cevada, & duos panes PARANÇA II. Situação, ter
de tritico ad Senior. E no de Santa mo, estado. Há boa , ou ma pa
Cruz da Villariça: De anno in an rança, segundo que o negocio es
num quando venerit noster Senior ad tá bem, ou mal parado, isto he,
mostram Villam, demus in sua Para segundo o que prudencialmente se
da duos panes, & singulas Octavas julga do seu bom , ou máo fim,
de Zevada, Óº unum denarium. D. com relação aos bons, ou máos
Ugo, Bispo do Porto, no de 112o caminhos por onde elle vai con
dimirtio a Parada, que se lhe de duzido. E se pela #… por máá
Tom. II. pa
2 O2, PA PA
parança, ou por outra perlonga. Doc. &c. Morrendo algum destes, não
das Salzedas de 129o. tem o que fica vivo , ou os her
PARANHO. Honra , Couto, deiros do defunto, obrigação de
Amparo, ou Isento. Alguns fazem manterem o Contrato de Pargaria;
Honras ali hu crião os filhos d'Algo excepto se a dita herdade estives
em esta guiza: Emparom o Amo em se já lavrada, a vinha podada, &
quanto hé vivo , e desque os Amor porque então o devião manter os
som mortos, emparom o lugar, pon # por aquelle anno sómen
do-lhe o nome Paranho, isto be, em te. Pelo contrario, se o Contrato
parado, ou defendido por Honra. Al fosse por to annos, ou mais, esti
guns lugares conservão entre nós vão obrigados os herdeiros, por
o nome de Paranhos, que sem dú que já o Contrato tinha passado
vida lhes proveio deste costume. a infitiotico. Cod. Alf. L. IV. Tit. 76.
Inq. d'ElRei D. Diniz. No Cod. Alf. PARCIONEIRO. Complice,
Tit. 65. S. 1o. se diz Paramo , o parcial , que tem parte em algº
que neste lugar se diz Paranho. ma cousa, ou acção.
PARAR. Pagar. Nas Inquiriç. PARDO. No Foral que ElRei
d'ElRei D. Diniz de 129o no Jul D. Affonso I. deu a Baldigem no
gado de Neiva se achou, que al de 1 182 , e copiado em públicº
umas herdades, e quintãas pararom fórma no de 1293 se diz: Et D.
ao Spital rendas de dinheiras; e per minur non faciat contra voluntáttm
deles encençoria. ruam pardum. Doc, das Salzedas.
PARAR-MENTES. Reflectir, Que Pardo este fosse, que o Sc.
lançar a sua confiança, esperançar nhor da Terra de Baldigem ní0
se. Temendo o dia da minha morte, e deveria fazer contra a vontade dos
parando-mentes na Piedade de JESU seus Povoadores, eu o não sei,
Christo. He do 1.º Testam. da Lembrame que no Original pode
Rainha Santa Izabel. -

ria estar Parcum, ou Pradum, ou


PARAVISO. Cantava-se anti Prandium, que por oscitancia dº
gamente o In Paradisum, &c. em escriptor se copiou Pardum. E quan
certo lugar junto ao Cemeterio, do esta suspeita passasse a real
em que os Fieis se sepultavão, e dade, diriamos, que por Part"
não á entrada da porta principal se entendia o Parcum publicum, que
da Igreja, dentro da qual hoje se na Baixa Latinidade significava º
enterrão: e a isto dizião Fazer o Curral do Concelho; pois neste Pºr
Paraviso, alludindo ao dito Res } público se encerravão os g"
ponsorio. In loco ubi paravisus fieri os daninhos, para levar as Coimº
consuevit. Doc. de S. Thiago de de seus donos. E bem podião º
Coimbra de 13o3. -
de Baldigem perdoar-se reciprocº
PARAVOA, Palavra. E mando, mente huma pena, que podia ck.
que seja creudo per ssa simpriz pa= gar a todos. Se era Pradum: dire
ravoa. Doc. da Guarda de 1298. mos, que não devia o Senhor f*
PARCEIRO. Em a nossa Le zer alguma Tapada, Defeza, º
gislação se deu este nome, assim Coutada para si, sem o Consen"
ao que dá, como ao que recebe mento do Povo em cujo detrime"
alguma herdade de meas, 3º. 4º, to por força havia de redundati
pois
}

PA PA 2O3
pois tanta mais terra lhes coutas E tambem algumas pequenas Pen
sem, menos lhes ficava livre , e soens, reconhecimentos, e luvas,
desembargada para as suas pasta que se impoem nos Arrendamen
gens, e lavoura. E mesmo estas tos, Prazos, e Contratos. No de
Coutadas são prohibidas em outros 951 fez Ansur Goesteíz, e sua mu
Foraes daquelle tempo. E finalmen lher huma grande Doação ao Mos
te se era Prandium, synonymo de teiro de Arouca, que elles havião
jantar, ou Parada: quiz o Sobe fundado, e poem graves penas a
rano aliviar este Povo daquelle Tri quem for contra ella , como pa
buto ; deixando na sua vontade gálla quatro vezes em dobro, dous
aprontarem alguma cousa para man talentos d’ouro, e o julgado, & c. as
timento do Senhorio, ou não lhe quaes pagaria a quem fielmente a
dar cousa alguma por obrigação, observasse. Et pariet illo pario post
ou Lei, que a isso os constran parte de isto, qui Testamentum ob
CSSC. servaverit. Doc. de Arouca.
PAREDE. Francez. Taipa en PÁRIO, ou Parèo. Parelha. Jo
tretecida de pedras, e tijólos, quear, ou correr o Pário, ou Pa
antigamente se usava. Parece que rèo, Hé de Barros, e outros.
dos Francezes nos veio este modo PARTICIMEIRO. Participan
de fabricar, que em Coimbra prin te, quinhoeiro, socio, companhei
cipalmente consiguio o nome de ro. E praz-nos, que se alguns qui
Parede Francez , como se vê por zerem dar , ou doar , ou mandar
muitos Doc. do Sec. XIV. A dita dar dos seus bens pera sustentação,
casa , asi como parte de sima do ou governação da dita Capella : nas
sobrado pela parede Francez do fun Missas, e Oraçoens sejão particimei
do do sotom. Doc. de S. Thiago ros; segundo a parte que a eller acon
de Coimbra de 1 324. tecer. Escriptura do Dote da Ca
PAREDEIRO. Pardieiro, ca pella de Santa Maria do Thesou
sa derribada , e posta já em rui ro na Sé de Lamego por D. Fr.
na, deserta, inhabitada. Doc. das Vasco de Alvellos, Bispo da Guar
Salzedas de 1296. - da no de 13o2.
PARIMENTOS. Criaçoens, PARTIÇOM. Partilha. Doc. de
I 2.95. •

partos, crias. Mandou o Arcebis


po de Braga D. Martinho, no de PARTIJA. Partida , número,
1304 que se pagasse Dizimo do multidão. Veerão a nós Fr. João Lou
pam, e do vinho, e do linho, e da renço, mui gram partija dos Freires
ferrám, e da lãa, e de todolos pa da nossa Ordem. Doc. de Thomar
rimentos das ovelhas. Doc. de Mon de 1 321. •

COIVO. PARTIR. Separar, remover,


PÁRIO. Pena estipulada de par apartar. Partio-os a Santa Igreja,
te a parte, multa convencional. isto hé, apartou-os. Daqui
Daqui se disserão Párias , certas PARTIR-SE. I. Separar-se, que
contribuiçoens, que no ajuste de brar a sociedade, remover o afec
pazes ficão pagando os vencidos, to. Fóra o povo amoestado , que se
em reconhecimento do Senhorio, partisse de alguns peccados, e dana
ou por Tributo de Vassallagem: dos costumes. •

Cc ii PAR **
→=m==LLAAA
}

2O4 PA PA
PARTIR-SE. II. Deixar-se, le mente se chama Dextros, ou Pas
vantar mão, alçar-se, ceder da cau saes. E o de Valhadolid do anno
sa, e qualquer acção della. E elles de 1 144 diz, que estes Dextros,
partirom-se de toda a demanda contra ou Passaes se extendião até trinta
elle. Doc. de Pendorada de 1 315. passos geometricos em torno das Igre
PASSADA. I. Permissão tacita, jas ; e que de dentro delles não
passe, connivencia, disfarce. E que podião ser tirados os criminosos;
el dá pasada por algo aos que ven como se havia determinado já no
dem, que vendam pela Villa. Doc. Concilio de Coyança. Assim cons
da Cam. de Coimbra de 1 331. ta do Lº Preto de Coimbra, a f
PASSADA. II. Passo, ou pas 259, 26o, e 285. Porém isto se
sal, que constava de quatro palmos entendia das Igrejas Ruraes, ou
largos. Em hum Prazo de S. Vi pequenas; porque os Dextror, ou
cente de fóra do Sec. XVI, se achou Passaes das Igrejas Maiores , ou
que cada hum de dous astins de Cathedraes passavão de 3o passos,
terra no campo da Golegãa Tem E ainda (senão ha erro) no Con
de largo 5 varas cada hum : e por cilio de Oviedo de 1 1 15 se assig
outra medida , seis Passadas cada nárão 7o Passos para o lugar do
hum : que hé o que costumão os la azílo. •

vradores. V. Passal. Mas não obstante a designação


PASSADA. III. Licença, e per Canonica dos Passaes, ou Dextros,
missão para passar por alguma par privilegiados com Immunidade Ec
te: V. Canada. , !
clesiastica; ficava reservado á de
PASSAES. Recinto, conchouso, voção dos Fundadores, ou Dotam
ou terra hortada junto das Igrejas tes extender mais estes logradou
Parochiaes, que servia para hortas, ros, em utilidade, e beneficio das
pomares, e logradouro aos Paro Igrejas, e Mosteiros. Na largº
chos, e Ministros do Templo. Es Doaç., que os Fundadores de Arou
tas Cêrcas erão antigamente mais ca fizerão a este Mosteiro no de
estreitas, e se chamavão Dextros. 95 1 se diz: Concedimus nos famulº
No de 1 1o I doou a Lorvão o Sa Dei, Ansur, & Ejeuva ad ipsum
cerdote Ermigio a Igreja de S. Mi Locum Sanctum, atque Sancto Altarº
guel de Mollelos, cum suos passal jam supra nominato XII." passales prº
les , sicut sententia Canonica docet. corpora sepeliendo, & 2 XXIIº passalº
Lº dos Testam. de Lorvão. N. 63. pro tolerantia Fratrum. Doc. de A.
A D. Ugo, Bispo do Porto, fez rouca. Erão, pois 12 Passaes, 0"
Doação o Infante D. Affonso Hen Passos para Cemeterio, e 72 pºr
riquez da Igreja de Santo Tyrso ra os Frades haverem das suas mãos
de Meinedo, que ainda se chama vestido, e mantimento. No de 1104
va Mosteiro, porque o fôra, no de os Famulos de Deos, Nuno Soares,
1 131 , cum terminis, & passalibus Sueiro Soares, Pelagio Soares; P.
suis, qui pertinent ad servitium ip dro Soares, Ero Soares, Maior
sius Monasterii, é º ad Clericos ejus. Soares, Adosinda Soares, Ermº
Doc. do Cabido do Porto. O Con sinda Soares, Tóda Soares, e Sºk
cilio Compostellano declara, que vador Soares, filhos todos de Jurº
Sacrarium Ecclesiae he o que vulgar ro Fromariguiz , e por
+

*# InêIl
PA PA 2o;

mento , e aprovação de sua mãi e não os havendo, ficaría ao Mos


JD. Elvira Nunez , doárão varios teiro. E para estes seus Descenden
casaes ao Mosteiro de Grijó, pa tes lhes consignão seraginta passal
ra sustento de todos os que ali mo les in giro , que era huma boa quin
rarem , ou sejão Presbiteros , ou ta; tendo o passo Geometrico 2
Monjes, ou Diaconos, ou Conegos, pés e meio Portuguezes, que são
ou Devotas, qui justitiam fecerint, 3 palmos e meio de craveira. E
«2- in vita sancta perseveraverint. dos Passos, a que se extendia a
Igualmente confirmão ipsos passa Immunidade se chamárão Passaes.
les , quos Pater moster fecit ad ip Os Adros succedêrão aos antigos
sum Monasterium. Lº das Doaç. de Dextros, e Passaes, e ainda hoje
Grijó f. 9. Y. E a f 53 se acha devem sufragar aos delinquentes
como Sueiro Fromariguiz doou a em os crimes não exceptuados;
Grijó LX, passalles no mesmo dia, mas não as Fazendas, ou Quintas,
mez, e anno que D. Cresconio, que hoje impropriamente logrão o
Bispo de Coimbra (que então ad nome de Passaes.
ministrava o Bispado do Porto) PASSAL. Nas mediçoens anti
veio dedicar a sua Igreja, e con gas se usa com frequencia de Pas
clue o Instrumento : Factum est sal no sentido de Passo; mas a quan
Hoc Testamentum in die Dedicationis tidade certa destes Passaes nós a
supradictae Ecclesiae S. Salvatoris V. não sabemos. No de Io92 se ven
JNonas Octobrir in E." M.° C.° XXX"I".
deo huma herdade em Nogueira,
in magno Concilio virorum, ac mu junto a Pedroso, no territorio do
Jierum, qui ad gaudium Dedicationis Porto, a qual tinha XX, passalles
convenerunt. Estes Passaes são o que in longo, & tredecim in amplo, mi
hoje dizemos Cércas ; pois sabe nus cubito, & palmo. Doc. de Gri
mos, que os Mosteiros se achavão jó. Daqui se vê, que o Passalti
senhores de outros bens, terras, nha mais de 4 palmos, e muito
e herdades. mais de hum covado. Em hum mui
- Muzára , e Zamóra , havendo antigo Doc. de S. Simão da Jun
fundado o Mosteiro de S. Pedro queira se diz, que huma herdade
de Cete , o dotárão no de 882 tinha in longo XLVIIII, passales, Óº
dando-lhe, além dos Dextros, duo in amplo VIIII. passales, & III, cu
decim passales pro corpora tumulan bitus. E se hum Passal, ou Passo
dum, ó septuaginta, Óº duos adto era maior, que tres covados, ou
lerandum fratrum, adque indigentium. 9 palmos; não podia ser o Passo
Doc. Orig. no Collegio da Graça geometrico , de que hoje usamos.
de Coimbra. Erão por todos 84 Em hum Doc. de Grijó de 1 Io1,
passos em giro da Igreja, e Mos se declara, fôra igualado o Passo
teiro. V. Passal. com o covado, Et unicuique passali
| cubitum unum posuimus. E se o co
No de 937 justa, e seus fi
lhos doárão a Lorvão tudo o que vado era de tres palmos, de ou
tinhão em Souzellas ; excepto a tros tantos era o Passal. No T.
Igreja de Santiago, com todo o XXXVII, da Hesp. Sagr. a f 329,
seu Ornato, na qual serião Paro em huma Doaç. de 995, se decla
chos os seus sobrinhos, e netos: ra, que os Passos concedidos erão
- • de
2o6 PA PA +

de 12 palmos cada hum. Tão va res; pois não fôra sua tenção quí
rio como isto era o Passo daquel tar mais do que a elle pertencia:
les tempos. declarando , que lhas devião pa
PASSAGEM. I. Certa Pensão gar, quer o Infante fosse com El
mui frequente nos Prazos da Pro Rei seu Pai, quer fosse pelas di
vincia do Minho, e terra da Fei tas Comarcas sem elle. Doc, da
ra, desde o Sec. XIII. até o XVI; Torre do Tombo.
a qual os Emphiteutas pagavão PASSAGEM. II. Direito, que
quando ElRei passava o Douro, pagavão os que passavão por algu
huma só vez no anno; porque se ma Terra, a quem este tal Direi
mais vezes o passasse, já de segun to se concedia. Os excessivos abu
da. Pensão não erão responsaveis. sos que nisto se comettião, fôrío
E de Passagem, quando ElRei pas occasião de que semelhantes Pas
sar á quem Doiro, huma vez no an sagens inreiramente se abolissem.
no, hum maravidi. Prazos de Vai V. Pena de Sangue.
rám de 1 484, e 15o7. V. Buzeno. PASSAGEM — Santa.) Assim
Algumas vezes fazia esta Passa chamárão nos principios do Seculo
gem o Infante, ou Principe, her XIII, á mais piedosa, que pruden:
deiro da Corôa, e então só rece te Expedição , que se meditava
bia metade da dita Pensão. E pa para restaurar os lugares Santos,
gareis pasagem d'ElRei dez réis, e que huns demasiadamente Devotºs
do Principee cinquo. Doc. de Paço aprovavão, e outros hum pouco pº
de Sousa de 1529. - E cinquo sol liticos contradizião. No de 13130
dos pasando ElRei a augoa do Doiro, Vigario Geral de D. Fr. Estevão,
e pasando o Infante herdeiro , dous Bispo do Porto, impoz gravespe
soldos, e meio. Doc. da Univ. de nas aos que se havião com pouca
1474. No de 141 o dirigio ElRei fidelidade nas esmolas promettidas,
D. João I. huma carta a todos os ou já tiradas, para a Santa Pariá
Corregedores, Meirinhos, e Jus gem, e contra os que andavão dº
tiças # Reinos, dizendo-lhes, zendo, que esta Passagem era fal
que o Infante D. Duarte, seu fi sa, ou fantastica: O que tudo em
lho, lhe dissera que os Ifantes Er contra a Bulla Exurgat Deus, e
deiros , que ante elle forom aviam Mandado certo do Papa Clem. W.
outro tanto, como a meatade das co Doc. das Bent. do Porto.
lheitas, que ElRei tinha de haver PASSAMENTO. Fallecimento,
dos Mestrados de Christo, Santia morte, passagem desta vida mor
go, e Aviz, e no Priorado do Spri tal para outra feliz, ou desgraçãº
ital, e dos Prelados, Mosteiros, da, que não tem de acabar eterna
e Igrejas, quando hião pelas Co mente. V. Missa Oficial.
marcas delles, ou passavão o rio PASSARA. Perdiz. Comforo 4
Douro para a Comarca d’entreDou hum par de passâras. Prazo de S.
ro, e Minho, e o rio Roxho para Pedro das Aguias de 1444.
a Comarca d’entre Tejo, e Odiana. PASSO. adv. Baixo, em voz
O Rei assim lho concedeo , não submissa, brandamente. E lheliº
obstante , que Elle tinha quitado se passo, que se fosse. He do tem
as Colheitas da Corôa aos ditos Mes po do Azinheiro,
trados, Priorado, e Commendado PA
PA • PE 207
PATINA. Patena. Em hum an v. g.: Peça ha , muito tempo ha.
tiquíssimo Inventario da Igreja de Peça de Conigos, de gente, muitos
Castelloens se lê: Hum Calez de Conegos, muita gente. Doc. de
chumbo com sa patina , que era co Lamego do Sec. XIII. e XIV. .
seita com linha. Que linha fosse es PECCAR. Pagar , satisfazer.
ta, com que a patena estava cosi Ego peccavi pro Stephano Reimondo
da , eu o não sei : persuadome, Miles quinquaginta morabitinos per
que seria alguma bolsa , em que unum equm. Doc. da Univ. de 1 245.
andava, ou que estaria presa ao PECENO.A. Pequeno, peque
pé do caliz com algum cordão de na. E ei muy gram vergunha , de
linhas, onde andava, como cosida, que tam pecena manda faço; mas pe
fóra do Sacrificio do Altar. ró, nom me porría culpa quem ma
PAXOEIRO. Livro, em que se fazenda soubesse. Doc. de Vairám
achão escritas, ou estampadas as de 1289. • •

Paixoens, que escrevêrão os qua PECHOSO. He mais Hespa


tro Evangelistas. Doc. de Lamego nhola, que Portugueza esta pala
de 1455. -
vra. Ou venha de Pecho, que não
PAY dos Meninos. Deo-se este só segnifica o Peito, mas tambem
nome por huma Provisão Real de o Tributo: ou venha de Pecha, que
1535 a hum Oficial mecanico da he a falta, ou defeito, que des
Cidade do Porto, que tería cuida lustra a conducta, ou nascimento
do de olhar pelos Engeitados, que de algum: ella se acha em alguns
apparecessem naquelle destricto, Escritos, já por sojeito de gran
e os devia levar, ao Juiz dos Or espeitos, ou mammas; já pelo
fãos. Doc. da Cam. do Porto. que costuma pôr tachas, ou axes
PAY dos Velhacos. Era hum Ma nos procedimentos , e geraçoens
gistrado da Cidade de Lisboa, dos outros; e já pelo que está so
que tinha inspecção sobre os mo jeito a muitos, e grandes Tribu
os vádíos, que hião ter áquella tos. E daqui se vê, que nada tem
# , aos quaes devia prover de commum com Pichoso, que pa
de Amos, ou oficios. O mesmo ra nós he o impertinente , miga
se mandou praticar na Cidade do lheiro, e rabugento, que tudo cen
Porto por hum Cidadão, a quem sura, e em tudo repara.
ElRei mandava dar certo manti PECTAR. Pagar. Nada mais
mento, como consta de huma Pro frequente no Seculo XII. XIII. e
visão Real de 1535. Toc. da Cam. XIV. V. Peitar.
do Porto. - PEDIÇÃO. Acção de pedir, pe
PEA. Pena. Doc. de 1 318. tição. Hé do Sec. XIV. e XV.
PEAR. Castigar, obrigar á pe PEDIDA. I. O mesmo que Pe
na da Lei. Peando aquelles, que fe dido, finta , que se lança por ca
zerem o contrairo , se ende forem beça. He huma especie de Tribu
peadoiros. Cod. Alf. L. II. Tit. 1. to, imposição, ou contribuição,
Art. 17. . . . •

que os Senhores de Terras arreca


PEADOIRO. Digno, merece davão dos seus Vassallos, debaixo
dor de pena, e castigo. V. Pear. do especioso Titulo de cousa pe
PEÇA. Muito de alguma cousa. dida. O lançar Pedidas, ou Pedidos,
•• • Pei
2o8 PE" PE
Peitas, ou Emprestimos pertence só Peendeçal que foi do Papa Bonifati",
mente ao Rei, e Supremo Senhor da Ordem dos Pregadores , que se
na fórma da Orden. L. II. Tit. 49. passou á Ordem dos Negrados. Doc.
. PEDIDA do Mordomo. II. Dif de S. Pedro de Coimbra de 1337.
feria do Pedido, em que este era PEENDENÇA. Condenação,
do Senhorio , e aquella ficava re multa, penitencia, ou satisfação,
servada só ao Porteiro, Mordomo, que se fazia por dinheiro. Em a
ou cobrador dos fóros. E para que qual carta se continha , que Eu vº:
não succedesse, que a negra am dera os dinheiros das Peendenças des
bição destes os levasse a pedir ex se logar pera ajuda de hum relogio.
orbitancias, ou a esperança de Doc. de Vianna do Seculo XV.
serem tratados com brandura, e PEGEADOURO. O pejadouro
amor não obrigasse os Emfiteutas do moinho d’agoa, lugar, e arti
ou Colonos aprometter-lhes exces ficio, com que ella se lhe tira.
sivas luvas : em alguns Foraes se PEGORAR. Peyorar, pôr-se
estabeleceo o quanto huns podião em peyor estado. Doc. das Bent,
pedir, e os outros prometter. Tal do Porto de 1389.
foi o de Nogueira de Penaguiám PEGUIAL. V. Pegulhal.
por ElRei D. Afonso III, no de PEGULHAL. Hoje damos este
125 1 que determina , que Pedro nome a hum rebanho, récua, ou
Afonso, e seus successores no do multidão grande de alguma cousa.
minio util deste Casal , Det pro Não era assim antigamente, quan
Pedida de Maiordomo unam cestenam do propriamente segnificava o Pas
plenam de ceraseis, & aliam de fa tor, ou pegureiro, que guardava
bis : & debet dare Maiordomo pro ovelhas. Em huma Inquirição, que
Promissa IVºr solidos; si fecerit ei se tirou em Braga, e se conserva
amorem Maiordomus. Lº dos For. no Archivo da Mitra, se intitula
Velhos. {
D. João Pegulal, o que commum

PEDIDA. III. Assim chamárão mente se nomêa D. João Peculiar,


á licença, que o Senhorio, ou seu ou Peculial , e mesmo em outros
Mordomo dava, para os Colonos, Doc. de Braga se diz Pegulhal, que
ou Emphiteutas fazerem algum ser alguns disserão ser o mesmo que
viço, v. g. vindimar, segar, ma Peculio. Porém sendo certo, que
lhar, &c. It : mando, que os em des Documentos mais chegados ao tem
te herdamento : e cando ouverem de po da sua vida, e governo, assim
segar, que o vão pedir ao Priol; e no Porto, como em Braga, cons:
por Pedida dem ende dous pretos. No tantemente o nomeão D. joão Ovº
Tombo de S. Simão da Junqueira lheiro ; fica-nos lugar para dizer,
se declara, que por Pedida de rega que Pegulhal, ou Pegulal he syno
se davão 2 roldos. -

nymo de Ovelheiro, e por cons:


PEDRA de birullo. Pedra pre guinte, guarda ou Pastor de ovº
ciosa , chamada Berillo. Doc. de lhas, que no Latim daquelles tem
Santo Thyrso de 1438. •
pos dizião Peculialis. Advinhar #
PEDRINHO.A. Feito, ou feira a razão, e motivo, porque dei
ta de Pedrº V, Lagar pedrinho.
xados os Patronimicos da sua lº
PEENDEÇAL. V. Pendental. lustre Familia, tomou o distinctº
V0
PE PE 2o9
vo de Pegulhal, ou Ovilheiro, nós Egas Moniz, e sua mulher D. Do
o deixamos para quem presumindo rothéa no de 1 1 2 1 vendêrão cer
de mistico , o representar Pastor tos bens a Sarracino Osoriz, e a
das Ovelhas de JESUS Christo, sua mulher Ermesinda Trastami
&c ; mas neste sentido todos os riz por 5o modios, que pelos ven
mais Prelados podião tomar o mes dedores havião satisfeito, e real
II1O I1OT1C,
mente pago. Pro que peitastes pro
PEIA. O mesmo que Pea. V. me a Comite Domuo Fernando quin
Barraza. quaginta modios de peitu. Doc. de
PEITA. Tudo o que se dá pa Pendorada.
"ra corromper a Justiça, a virtude, PEIXE Escolar. Talvez se lhe
a verdade, e boa fé de alguem. Se desse este nome , por ser o que
gundo a Orden. do Reino L. V. Tit. os Estudantes das Escolas meno
71. S. 2: Peita promettida, aceita res ordinariamente compravão, e
da, e não recebida, basta para fa consumião. E assim Peixe escolar
zer perder o Oficio, e pagar o tres parece ser o mesmo que peixe miu
dobro para a Corôa. E o julgador, do, e de pouco preço, a que tam
que a receber perde para adita Corôa bem chamárão de caçoaría. O Mei
todos os seus bens , e o Oficio que rinho da Côrte não devia levar
d'ElRei tiver. E passando a peita cousa alguma de linguados , e ser
de cruzado, ou sua valía, além das monetes, e peixe escolar, e lampréas.
* * ****
sobreditas penas , he condenado a Cod. Alf. L. I. Tit. I I. S. 7. Di
perpetuo degredo para o Brasil. E zem alguns, que o Escolar tem se
sendo a peita de valia de dous mar melhanças de pescada, com o cor
cos de prata, tem pena de morte. po mais redondo, e salpicado de
PEITAR, Pectar, Preitar, e pintas.
Pettar. Satisfazer, pagar. He do PEIXOTAS. Pescadas. V. Co
Seculo XIII. e XIV. brada. |

PEITORIL. Obra de Fortifica PELAGO. Qualquer ribeiro, rio,


ção militar, platafórma, parapei riacho, lagôa, açude, lago, po"
to, meia-lua, qualquer corpo avan ço, tanque, e qualquer ajuntamen
çado fôra dos muros, e sobre o to, ou rêgo de agua. Desde o Se
campo, donde podem ser incom culo XI. se tomou Pelagus neste
modados os inimigos, e defender-se sentido em os nossos Doc., e quan
os sitiados. Em as Cort. da Guarda do já nos fins do Seculo XIII. se
de 1465 pedírão os da Cidade de traduzirão em vulgar, ou de novo
Viseu a Sua Magestade , que ao se escrevêrão outros até o Seculo
menos lhes mandasse fazer hum pei XV., se disse Pégo no mesmo sen
toril diante da Cérca, pera amparo tido. No Foral de Moz de 1 162,
da Cidade, que já duas, ou tres ve se demarcão os limites daquelle
zes tinha sido queimada pelos Corre Concelho entre o de Moncorvo
dores de Castella. Doc. da Cam. de Per lo Porto da Figueira... ... &"
Viseu. inde au Pelagu du Cucu, Óº inde en
PEITU. Foro, pensão, paga, na serra du Cubu , aquar vertenter
dívida, que se deve satisfazer, e contra Siladi. E no de Santa Cruz
pagar , o que se chamava Peitar. da Villariça, para onde a Villa de
Tom. II. Dd Mem
2 IO PE PE
Mem-corvo se havia mudado no de tre , façamos com elle tregoas athé
1225 se referem os mesmos limi S. Miguel de Setembro, que vem, e
tes com estas palavras: Per ad La apanharemos então nossas novidades,
gona de Molas , é per Pelago de e depois guerrearemos com eller athé
Cucho. Porém no de 1471 haven que os deitemos fóra da terra. Doc,
do-se restituido já a Villa de Mon da Cam. de Tavira do Sec. XIV.
corvo no seu primeiro sitio, e ex PELITARIA. Toda a qualidade
tinguido a de Santa Cruz, alter de pelles para calçado, vestidos,
cárão , os dous Concelhos sobre a forros, guarniçoens, ou regallo.
divisão dos limites, e levado o Fei He do Seculo XIV. XV. e XVI.
to a ElRei D. Affonso IV, Elle PELLE. V. Alfanehe, e Aninia.
difinio por Sentença, que os taes PELOTE. Capa forrada de pel
limites corrião Por Sango de Móos, les, á diferença da que não em
e dali pelo Pégo do Cuco, e dali, pe forrada. Destas cápas usávão ho
la Serra de Gouvêa. Doc. de Mon mens , e mulheres. No de 1314
corvo. No 1º dos taes Foraes se Lourenço Pirez, e sua mulher Ma
diz: Nullus habeat defensa, nec mon rinh’Annes fizerão o seu Testamen
te, & non prato, nec pelago, que to de mão commua. O marido diz:
sunt de Concilio. E no 2.º: Pelago, Mando o meu pelote, e a minha cº
nec monte, nee rivulo non sedeat de pa a João Joannes de Queimadela.
feso in Sancta Cruce, neque in suis E a mulher: Mando o meu pelote,
perminis. E no de Aguiar da Bei a quem cante Missas por mandadº dº
rá de 1258 : Et dono vobis , quod Cappellão. Doc. de Lamego.
non habeat nulla defensa , mec nullo PELTRE. Arame, latão. Man
monte, nec nullo pelago, nisi de to dou ElRei D. João I, que nin:
to Concilio. Doc. da T. do T. guem regeitasse moeda alguma,
PELHOS. O mesmo que Pelos, crunhada do seu crunho; salvo se por
Ou Por-or. evidente experiencia se mostrar,
PELICEIRO, Peliteiro, e Pe que he feita de ferro, ou depelirº,
literio. O que curtía, preparava, ou d'outro desvairado metal, de 44°
compunha, ou vendia pelles, a que se nom acustuma fazer moeda nestes
hoje chamamos Curridor , Tosa Reinos. Cod. Alf. L. IV. Tit. 69, § 1.
dor, Qurrador, &c. Na Baixa La PENA de Sangue. Esta Pena se
tinidade se disse Pelliciarius, Pel acha em quasi todos os Foraes ºn
liparius, Pellissarius, Pellizarius, tigos, e nos dº ElRei D. Manoel
&c. O grande uso, que os nossos Era a condenação , multa 2.0"
Maiores fizerão das pelles, não coima, que se impunha áquelles,
tanto para ornato , quanto para que espancavão, ferião, ou matº
vestido, que defendesse o corpo, vão alguma pessoa, ainda que san
já em outra parte fica notado. gue não corresse da ferida, º
PELLACILL. V. Alacir. Dice contusão : e tambem se extendº
rão os Mouros : Somos já á cerca aos que dizião palavras deshones
do mez de julho , em que avemos tas, e injuriosas a seu proximº,
apanhar nossos pains , e mais vence com as quaes lhe fazião vir o san
chegando o tempo do pellacill. E pois gue ás faces, ou como vulgarmºn"
que asi somos maltratados do Mes te se diz, lhe fazião a cara ·
• *. * …
• • (1.

* * *
PE PE 2 II

lha. V. Indicias, e Zegonia. Refor minhados, privados das suas fazem


mando ElRei D. Manoel o Foral das. Manda ElRei , que a Ré não
de Freixo de Espada-Cinta no de leve Parragem, nem Portagem, se
15 12 diz assim: A Pena de sangue, não dos que passassem de Portugal
que constava do Foral antigo (era o para Castella , ou de Castella para
d'ElRei D. Afonso I.) se prohibe Portugal com algumas mercancías :
neste; excepto nos seguintes casos: O Oue não leve a Pena de sangue, pois
que ferir , ou mattar o seu vezinho não tem para isso Titulo : E que os
correndo a tras delle , e mattando-o dous alqueires de cevada se vendão,
em sua casa, pagará quinhentos réis, e ponha o dinheiro em deposito, até
e outro tanto o que ferir mulher sua, que pela factura dos Nóvos Foraes
ou alhea: E quem mattar homem, ou se veja, se as taes medidas lhe per
Clerigo de Ordens Sacras pagará no tencem, ou não. Doc. de Freixo de
vecentos réis: E o fuiz, que os jul Espada-Cinta. No Foral de Moga
gar levará a septima parte. E por douro de 15 12 diz ElRei D. Ma
todalas outras penas de sangue con noel : A Pena de sangue, ou Pena
theudas no dito Foral senão pagará d’arma, a que antigamente chamavão
mais, que duzentos réis, de qualquer Indicia, e que o Foral Velho (d'El
maneira que sangue tirar. E não se Rei D. Affonso III.) explica por
tirando sangue, senão pagará nada. Kozes, e Coimar, se levará segunda
As armas seráõ para o juiz, só no a fórma da Ordenação, com algumas
caso que se tomem no arruido, e de declaraçoens neste Foral postas, &c.
outra sorte não. E já por huma sua Doc. de Mogadouro.
Sentença de 1597 havia declarado PENADO. Ser penado, ser mul
o mesmo Rei, que D. Mecía de tado, castigado, e sojeito á pe
Mello não tinha Direito algum pa na. Doc. de Lamego do Seculo XV.
ra levar a Pena de sangue, e outros PENADOIRO. O mesmo que
Direitos em Freixo, e seu Termo; Peadoiro. V. Penar.
por quanto a Mercê, que ElRei PENAR. O mesmo que Pear.
D. Afonso V. e Elle mesmo fize Fazendo fazer emmenda dos dapnos,
rão a seu marido Vasco Fernandez e dos tortos, penando os que fezerem
de S. Payo, erão tão sómente por o contrario , assy como forem pena
sua vida, e senão extendião á Viu doiros. Cod. Alf. L. II. Tit. 1. Art. 5.
va. Isto mesmo se manifesta por PENAVEL. Digno de pena, e
} outra Sentença do mesmo Monar castigo. - -

cha de 15 o3 contra a mesma Viu PENAVELL. Penal, que im


va, que não tendo Foral para le poem algum castigo, multa, ou
{
var os excessivos Tributos, que cos pena. E porque a Vossa Lei penavell
tumava: por sua propria autorida nom parece, que se entendia, &c.
de levava de todo o passageiro, Cort. de Lisboa de 1434.
que atravessava por Freixo, seu PENDENÇAL. Penitenciario,
arrabalde, ou termo, 48 réis por Confessor destinado para absolver
maravidí: e dous alqueires de ce das culpas mais graves, que como
vada de cada morador : e a Pena taes são reservadas aos Prelados.
de sangue. E que os passageiros re Nas Côrtes d'Evora de 1447 se
véis em pagar, erão, por desenca queixárão amargamente os de Pon
- Dd ii {C
2 T2, PE PE
te do Lima do Arcebispo D. Fer rada. Doc. de S. Christovão de
nando a ElRei D. Affonso V. di Coimbra de 1457. — E mais quin
zendo, que tinha mandado, que só ze paes cozidos; e que cada pam seja
dando cada hum trez réis, e por ca de quarta de farinha, peneyrada por
da vez, absolvesse o Prior daquella a peneira dº antemaom. Doc. de S.
Pilla os seos freguezes de certos ca Thiago de Coimbra de 1509.
sos : e não os dando, que fossem a PENELLA. Esta palavra hedi
Braga ao seu Pendençal. Já se acom minutivo de Peña, Penna, ou Pe
modavão os de Ponte, se os tres nha, que na Baixa Latinidade si.
réis fossem para as obras da sua gnificava o cabeço, outeiro, mon
Igreja ; mas o Arcebispo dizia que te, ou rochedo, em que antigº
erão para a que entendia fazer no mente se fundárão os Castellos,
Azinhozo. E além disso, parecia Praças, e Defensoens, muitas das
lhes ser dano das suas conscien quaes chegárão, e permanecem em
cias o darem dinheiro pelos Sacra os nossos dias. Observou Camden,
mentos. Doc, de Ponte do Lima. que para com os Septemtrionaes
PENDENÇAS. Multas Eccle Pena, significa as summidades, ou
siasticas, em que se commutavão cabeços mais altos das montanhas:
as penitencias, que se devião pe e que esta voz era dos antigos Gal
las culpas. V. Peendenças. los, que della derivárão Apeninº,
º PENDESSA. Penitencia, satis Além disto Péla, e Pélum se dis
fação, que cada hum dá ao Senhor serão por Castello, ou Fortaleza,
Deos pelas suas culpas. It : a San a que os Inglezes ainda hoje chá
iiago 1. mez. It : a Rocamador 3. mão Pile, ou Pille. E daqui veio,
mezes. It: á Córte de Roma, em fa que os nossos Maiores ás Peñar,
zer pendessa 1. anno. Est. antig. de ou Penhas grandes, espaçosas, e
S. Christovão de Coimbra de 1285. bem capazes para alcacere, torres,
PENDOENÇAS. Penitencias, muros, fossos, cavas, alojamen
acçoens, mostras, e sinaes de ver tos, habitaçoens, e nas quaes se
dadeiro arrependimento sobre as podião recolher muitos individuºs
culpas, e peccados que se tem com petrechos, e muniçoens de
commettido. Cheguemo-nos a Deos bocca, e guerra, chamárão Peña,
perpendoenças. Chron. d'ElRei D. ou Castellos, v.g. Pena-Cova, F*
João I. P. 1.", • -

na-García, Pena-Verde, Penas-jurº


PENEFICAR. Pôr penas, cas tas, Penas-Royas, Pena-de-Dunº,
tigar. Doc. de Caría do Seculo XVI. &c, que todas fôrão Castellos dº
PENEIRA d’antemaom. Era a consideração. Pelo contrario, hunº
que hoje se diz peneira fina, ou de Castellejos insignificantes, e dº
sêda, pela qual só passa a flor da a penas servião de recolher nellº
farinha, á diferença da peneira de alguns viveres, e resistir a poucº
cabellos, ou rala, por onde passão salteadores, que se lançavão aro"
talvez os mesmos farellos. Dez bar os campos, e que estavão comº
paaes feitos de dous alqueires de fa truidos sobre algumas Peñas altas,
rynha, por velha, peneirada por pe mas nada espaçosas para admit"
neira dantemam. - Sinco delles levem rem a defensão propria de hu"
huum alqueire de farinha, bem penei Castello, com a regularidade P"
* pria
PE PE 2. I ;
pria daquelle tempo: se chamárão voaçoens, e Casaes de menos im
Penellar. Tal foi a Villa de Penel portancia.
la não longe de Coimbra. Os Mou PENSAMENTOS. Arrecadas
ros havião demollido o pequeno com filagrana de ouro. Fôrão an
Reducto, ou Castelejo, que ali tigamente mui usadas em Portugal.
havia. O Conde, e Consul de Coim PENSAR dos pobres. Ter cui
bra D. Sesnando o mandou refazer: dado delles, vestilos, sustental
os Mouros o tornárão a destruir. los, favorecellos. Doc. de Pendora
ElRei D. Afonso Henriquez se da de 1 344. * 3

gunda vez o levantou das ruinas: PENSO. Pensamento. He do


terceira vez o demollírão os Sarra Seculo XV. . * * *

cenos. Então D. Sancho I. no de PENSOSO. Taciturno, carrega


1187, a fortificou com larga mão, do, pensativo, e que mesmo no
e hoje conservando o nome de Pe exterior mostra, que algum objec
mella, he huma Villa com seu Cas to grande occupa, e entretem, os
tello, e altos muros bem notavel, seus pensamentos. Nunca mais foi
e attendivel, que mereceo ser Ca alegre, e sempre andou retraido, ma
beça de Condado, cujo Titulo deu ginativo, e pensoso. Pina. Chron.
ElRei D. Affonso V. a seu sobri dº ElRei D. Afonso V, c. 212.
nho D. Affonsó de Vasconcellos,

PENTES Láares, e Pentées Láa
e Meneses. : ) . . . . - - - - - - - res. Pelo seu Testamento de 1335
No de 96o fez o seu Testamen D. Orraca Fernandez , Senhora
to D. Flammula, sobrinha da Con mui Illustre, deixa a sua sobrinha
deça D. Mumma-domna, em que Senhorinha, entre outras cousas,
deixa a sua alma por herdeira da Huuns Pentães ladres , e quatro li
sua muita fazenda, que toda man bras pera ajuda do seu Casamento.
da repartir em Obras Pias, Et in Doc. de Tarouca.
Em Pendorada
Iaicale nihil transferre, e diz: Or se faz menção de Pentés láares
dinamus nostros Castellos esse Tran
quasi pelo mesmo tempo. Mas que
coro, Moraria, Langrovia, Nau traste, movel, ou peça serião es
mám, Vacinata, Amindula, Pena tes Pentées láares ?... Serião Pentes
de Dono, Alcobria, Semorzelli, Ca de subido preço para ornamento,
ría, cum alias penellas, Óº popula da cabeça?... Serião Pendentes Reaes
turas, quae sunt in ipsa Stremadura: para enfeite das orelhas?... Em
omnia vendere, & pro remedio ani huma carta de Carlos V. Rei de
mae mee, captivos, Óº peregrinos, França de 1367 sobre a fórma dos
é Monasteria destribuere in ipsa vestidos se lê: Item : quod non au
Terra. Doc. de Guimaraens. E bem deant portare mochas , vel manicas
claro fica, que Penellas, ou Penas pentes, latiores trium digitorum. Ap.
pequenas, he diminutivo de Peñas, Dufresne V. Pentes. E Lar sabe
ou Penhas grandes, em que os di mos, que foi o nome de hum Rei.
tos Castellos estavão fundados. Id. V. Lar. Mas isto não passa de
Estes como notaveis os nomêa ex huma leve conjectura.
pressamente Castellos: e as Penel PER. Por. Per uu, por onde.
las, que não figuravão tanto, as Doc. de 129 1.
ajunta, e confunde com outras Po PERABOLA. O mesmo que
Pa
2I4 PE PE
Para voa. Doc. de Pendorada de que derão a Valença do Douro em
I 28o. hum Aforamento do Mosteiro de
PERANGARIAS. V. Angueiras. S. Pedro das Aguias, que a fez
PERAVAA. Palavra. As ditas povoar de novo no de 1269, re
paravaas (nenhuma cousa adduda , partindo-a em 24 Casaes, ou Cou
nem removida) torneis em pública rellas. A horrivel epidemía, e mor
fórma. Doc. de Pendorada de 13 1 1. tandade, que havia devorado os
PERCALÇAR.Alcançar alguem seus habitadores, lhe grangeou a
em contas, conseguir algum emo quelle nome fatal, e de máo au
lumento, ganho, luvas. Ataa que gouro , que ainda hoje lhe não
lhis pagassemos oito mil, e tantas ficaría improprio , attendendo ao
libras, que nos percalçarom nos Con pouco saudavel do seu clima, a
ros, que lhe eramos devedor. Cort. quem só por antifrasilhe convém
de Lisboa de 1389. Doc. da Cam. o de Valença. - - -

do Porto. - - . . . . PERFECTAR. Aproveitar, ser


PERCALÇAR Direito. Consi util, e prestadío. Assi das cousar
guir que se lhes faça Justiça com mavis, combe non movir, e de toda
igualdade, e rectidão. E os sempre las cousas, que perfectam a homem,
zer nom podem percalçar direito com Doc. de Tarouca de 1261.
os que mais entendem. Cort. de San PERFEITAÇÃO. Melhoría, uti
tarem de 143o. -
lidade, proveito. U virem por bem,
PERCALÇO. Emolumento, ou e entenderem que he perfeitação, e
gages,
ficio, ouque se tirão de algum Of salvamento das almas. Doc. da Guar
Emprêgo. •

da de 1298. |

- PERCIÇOEIRO. Livro, que ; PERFIA.A.S. I. Assim se chá


contém o que se diz, canta, ou mava tudo o que podia ser de pres
reza nas Procissoens. Doc. de La timo, utilidade, ou proveito para
mego de 1455. - alguem. V. Adménas. No de 1133
PERDIDOSO, O que fica com usa desta palavra o Infante D. Af
perda, lezado, falho, defraudado. fonso Henriquez na Doação, que
E os Senhores delas ficavam mui per fez a João Viegas de tudo o que
didozos, e estremadamente por a ma fôra de Aires Mendes, e Pedrº
leza da moeda. Cort. do Porto de Paes, que tinhão sido confiscadº
1372. V. Mááo-paramento. por traidores, e diz que lhe dá
PERDOANÇA. Perdam. Da per tudo: casas, vinhas, terras, as"
doança geral dada em Santarem por sentos de moinhos, entradas, º
ElRei D. Afonso V, no de 1444. sahidas, Et perfias, cum quantum
PERDUDO.A. Perdido, gasto, ad illis prestitum fuit. Parece que
dessipado, consumido. Doc, de Mon Perfias he corrupção de Profectus,
corvo de 1 372. -
derivado de Proficio, e que se ex
PERECIMENTO. Falta, ex tende a tudo o que póde ser util
tincção, ausencia. De que se segue ao homem.
grande perecimento de justiça, e dap PERFIA.A.S. II. Tambem se f0
no ao vosso Povoo. Cort. de Lisboa mou por Profía, teima, contendº,
de 1434. erra, pertinacia.
PERENCIA. Este foi o nome, PERGAMILHEIRO. Oficial,
que
PE PE 2 15
que prepara, compoem, ou vende /ogares, e fóros, e direitos, e dí
pergaminhos. Doc. de Almacave reituras, e mediçoens, e serviços,
do Seculo XV. e trabutos, e colheitas, que tinha
PERIGUADO.A.Posto a perigo, em Trancoso, e seu termo; receben
exposto a padecer algum detrimen do todos os Direitos Reaes , que o
to, ou dano. E esto faço ao dito dito Gonçalo Vasquez tinha, e re
Moesteiro ... pera nom reer a mha cebia do Mosteiro em Terra de Her
alma periguada. Doc. do Sec. XIII. mamar, e Toens. Doc. de Tarouca.
... PERLEUDO.A. Acabado de PFRNA. Pé, ou tronco da ar
ler , inteiramente lido, ou lida. vore. Non cortardes pahoos per per
Doc. de 1 33o. . •
na. Doc. de Bostello de 1443.
PERLONGA. O mesmo, que PERNADA. Golpe, que se dá
Delonga, isto he, maliciosa, e com o pé para traz, couce, armas
fraudulenta demora. V. Parança. de que principalmente usão as bês
PERLONGANÇA. O mesmo tas. O cavallo sentindo-se da ferida,
começou a lançar perhadas, e bullir
que Perlonga. V. Pontaría. . .
PERLONGAR. Dilatar, dife comsigo. Zurára. Chron. do Conde
rir, demorar. . . . "" . D. Pedro. L. II. c. 11.
•• •
, ,,
PERMEDIDA, Permidiva, e PERÓ, Posto que, ainda que,
Perniviva. Assim chamavão ao pri Nom lhis querem dar scripturas ne
meiro savel, ou lamprêa, que sa uhuar, peró lhes frontem, que: as
hia no rio Tamega, e tambem no dem. Doc. de Pendorada de 1372,
Douro, a qual se pagava em to PEROOM. V. Amprom. E des i
das as pesqueiras , que erão do pelo lombo a peroom, agoas verten
Mosteiro de Pendorada: e o que tes, &c. Parece quer dizer: E da
a sonegava, sendo-lhe provado, li pelo lombo adiante. : :
pagava huma vacca tenreira por el PERPUNTO. Capa Militar,
la : e esta lampréa chamám perme ou Porpoem, quod loricae superindue
dida. Doc. do Sec. XV. — E dar batur. Na Baixa Latinidade se dis
der permidiva o primeiro savel, e se Jacke, Jacque, e Jaquetus. V.
Alampréa, que rabir ua dita pesquei Ferros. S. 3. o Testamento de Pe
ra, como he de huso da ribeira do dro Ferreiro de 1225.
Tamega. Doc. de 1433. Ib. — E PERSEMELHANTE, Igual
dardes a primeira lampréa ao Moes mente, do mesmo modo, fórma,
teiro , que Deus bi der a cal lan ou maneira. Trazer aa Côrte algu
préa chamom Perniviva. Anno de ma pessoa, on pessoas, persemelhan
1423. Ib. V. Primariças. te moradores em a dita terra. Cod.
PERMUDAÇOM. Permutação, Alf. L. I. Tit. 5. §.3. -

escambo, troca. No de 1 399 con PERSIGAL. Pocilga, cortêlho,


firma ElRei D. João I. o Instru encerradouro de porcos, e tambem
mento de Permudaçom, pelo qual o a vara , ou manada delles. Doc.
Mosteiro de S. foão de Tarouca da de Alcobaça. Daqui vem a palavra
va a Gonçalo Vasquez Coutinho , e Persígo, mui freqüente na Provin
a sua mulher Leonor Gonçalvez, to cia do Minho , pela qual enten
das as Granjar, e caraes, e casar, dem a carne de porco já cozida,
e vinhas, e conchousos, e exidos, e ou assada, e a ponto de se comer
QO II}
2 16 PE PE
com o pão. Na Beira alta , cor manho dos tostoens velhos, e que
rompendo-lhe mais a sua origem, nos ficára do tempo dos Mouros;
chamão a isto Apeguilho, e á acção mas a verdade he, que não sabe
de comer a dita carne com o pão mos o seu metal, feitio, peso, e
dizem Apeguilhar. valor.
PERSOLVER. Pagar inteira PESANTE adj. Pesaroso, tris
mente , e á risca. E persolverdes en te, aflito, pouco satisfeito. ElRei
de a nós em cada huum anno in dia era pesante, porque Alvaro Gil lhe
de Sam Martinho VII. livrar de diey não vinha obedecer. Hé do Azinheirº.
ros Portugueses. Doc. de S. Thia PESCADO Real. Assim chamá
go de Coimbra de 1276. rão ao Solho; não tanto pela excel
PERTEECIMENTOS. Perten lencia, e bondade deste corpulen
ças. Doc, de 13o8. " to peixe, quanto porque em todas
PERTENZA. Pertença, tudo as pesqueiras que pertencião áCo
o que pertence a hum casal, fa rôa no Douro , e Tejo, sempre
zenda, ou herdade. Damos a vós, elle era reservado para a mesa Real.
e a isa Eigrega esses Casaes com suas Reservando pera nós pescado Real,
entradas, e com suas exídar, e com saindo nas pescadorias. Doc, de Pen
todas as suas pertenzas, & c. Doc. dorada de 1 329.
das Salzedas de 1273. PESCOTAS, Pessotas, Peixho
PERTIGUEIRO, V. Defensor. tas Pisotas, Piscescanes, ou Pis
Alferes, Justiça. . •

ceskanes. Pescadas, segundo va:


PERVENCER. Quebrar, des rios Doc. do Sec. XIII, e XIV,
-
ordenar, destruir, anullar, sub PESSOA. Dignidade, ou Pré
Verter. bendado de huma Cathedral, que
PERVINCO, e Provinco. O tem alguma preheminencia no Ch0
Parente mais chegado. E se nom ro, ou Capitulo, como Deão, Mes.
ouverdes fillo , fique a huum vosso tre-Escolla, Thesoureiro, Chante,
pervinco. Prazo das Salzedas de &c. Nos Documentos Latinos se
1293. Tambem se entendia por diz Personatus, ou Persona, o que
Pervinco, o Sobrinho, que ficava está condecorado com alguma des:
sendo Irmão Provinco de seu Pri tas Dignidades, e Personatus (subs
mo, e cujos Pais erão Irmãos. Di tantivo) o mesmo Beneficio, ou
zia, que seu Padre era Irmão Per Dignidade. Fóra de Portugal tam:
vinco, e here? nos ditos beens. Doc. bem se chamárão Pessôas, os que
das Salzedas de 1296. tinhão BeneficiosEcclesiasticos com
PÉS. Peixe. Os Hespanhoes es faculdade de os fazerem servir por
crevem Pez no mesmo sentido. outros assalariados, ficando a renº
PESA. Peso. Meiba livra de ce da para os Pessôas. Na Inglaterra
ra pela pesa nova. Doc. de Pendo os Parrochos principalmente fôríº
gº de 1368. Ainda se acha no chamados Pessôas, por serem º
ec. XV. Beneficiados mais uteis, e respº
PESANTE. Pezante, ou Peso. taveis dos Póvos. No Concilio dº
Moeda de que se faz menção nas Tarragona se tomão os Benefiti"
Escrituras mais antigas deste Rei Pessoaes em outro sentido. Achº
no: dizem que era de prata do ta se entre os Conc. de Hesp, Tom. "
Af: 524
PE PE 217
f: 524. e diz: Personatus, sive Per bido lha faça restituir pela fazenda
sonalia beneficia ideo nuncupata sunt, do que assim dolosamente a procurar.
non ut in perpetuum beneficia rema Doc. de Ceiça.
merent, sed ad vitam aliquarum per PESSOADEGO. Direito, que
somarum Ecclesiasticarum dumtaxat algum tem de ser Pessoeiro , ou
instituerentur. Da-se pois aqui o Cabecel de hum Prazo. Doc. de
nome de Beneficio Pessoal ao que Pendorada de 1 35o. +

he temporario, e instituido só pa PESSOADIGO. O mesmo. E


ra utilidade de huma particular pes tomou o Pessoadigo em ry, e ficou
soa, que o devia servir, e desfru teuda a responder, e pagar todollos .
tar. Foi celebrado no de 1591. Ha fóros, e direitos. Doc. de Pendo
vendo o Cabido de Coimbra an rada de 1335.
Or-: * nuído , e confirmado sem a mais PESSOARIA. Todas as acçoens,
*?rtê-li leve dúvida a anexação da Igreja que o Cabeça de hum casal exer
Tejº, de Tentugal, e seus Dizimos ao cita por força do Direito util,
ar? 17* Mosteiro de Ceiça, feita pelo Bis que nelle tem. Doc. de Pendorada
} # po D. Aimerico no de 1288; D. de 1 35o.
João Romeu, Abbade daquelle PESSOALVELMENTE. Pes
Mosteiro, em reconhecimento de soalmente.
tão generosa liberalidade, deter PESSOEIRA. A pessoa que es
minou com os seus Monges mos tá em huma Vida das de hum Pra
trarem-se agradecidos no mesmo zo. Doc. de Pendorada de 1341.
anno de 1 288 ; fazendo-lhe esta PESSOEIRO. Cabeça de hum
Offerta, a saber, Quod si Persona, Prazo, ou Casal, Cabecel, que
Canonicus , vel Perçonarius per Ec recebe as rendas, e porçoens dos
cleriam mostram Sanctae Mariae de seus consortes para as entregar
Tentugal transitum fecerit, vel fece por junto, e inteiramente ao Se
rint; Vicarius, Capellanus, seu Pro nhorio. Doc. das Bent. do Porto
curator, qui ibi pro tempore fuerit, de 13oo, e de Lamego do Secu
teneatureos, justa possibilitatem Ec lo XV. •

clesiae , semel in anno in necessariis PESTELENÇA, Pestenença, e


providére. Mas recrescendo depois Pestencia. Peste, epidemía, mor
varias dúvidas, e contendas sobre tandade. Como por rrazom da pes
a cobrança desta Colheita, se vie telença, que se seguio, muitos mor
rão a compor o Cabido, e o Mos rérão. Carta d'ElRei D. Affonso
teiro a 7 de Junho de 1 335, sendo para os de Moncorvo no de 135o.
Bispo de Coimbra D. João, na PESTENCIA. V. Pestelença.
fórma seguinte: Achando-se em Ten PESTENENÇA.O mesmo, que
tugal Pessôa, Comigo, ou Raçoeiro Pestelença.
de Coimbra, tenha á custa do Mos PESTRUMEIRO, Prestumei
teiro huma vez no anno , Colheita ro, Prostumeiro, e Pustumeiro. O
certa, a saber, a Pessôa cem sol ultimo, o derradeiro, o que ficar
dos , o Comigo sincoenta soldos, o Ra para o fim. He frequentissima es
çoeiro vinte e sinco soldos. E provan ta palavra desde o Seculo XIII,
do-se que para ali declinárão só a fim até o XVI.
de arrecadarem esta Colheita, o Ca PESTULEIRO. Livro, que con
Tom. II. Ee tém
2 18 PE PI
tém as Epistolas do Missal, e que por bem, que a Villa de Val de
o Subdiacono deve cantar per an Prados tivesse Forca , Picota, e
num. Doc. de Lamego de 1455. Tronco, sem por isto viliar, e der
PESUME. Peso, carga. Doc. de honrar a Villa de Bragança; pois
Tarouca do Seculo XIV. os moradores daquella erão isen
PETEGAR. Cortar de rijo com tos, e Villa sobre si. Doc. de Br
hum machado. Doc. de Lamego gança. V. Empicotar.
do Seculo XIV. PILARTE. Moeda que antigº
PETINTAL. Carpinteiro da Ri mente correo em Portugal. Tam
beira, Calefate, fabricador de to bem se disse Pilastre, Pilhastre, º
do o genero de embarcaçoens. V. Pillastre.
Arrais, e Alcaide do navio. No Fo PINAÇA. Embarcação de peque
ral, que D. Froila Ermiges deu no fuste , de véla , e remo, não
aos moradores de Villa Franca de muito segura , mas ligeira. Nº
Xira no Seculo XIII. se diz: Huum de 1326 se passou hum Alvará
petintal, e dous spitaleiros, e dous Real ao Almoxarife d' Aveiro, pa
ploeiros , mando que hajam foro de ra que os baixeis , e pinafas , que
Cavaleiro. Doc. de Thomar. ali carregavão, não pagassem diz!
PETTAR. V. Peitar. ma, mas só treze soldos, e oito #
PEVIDE da candêa. Assim cha nheiros, em quanto não mandasse º
mavão ao que hoje dizemos mur contrario. Doc. da Cam. do Por
rão. Daqui, espevitar o candieiro, to, onde se acha outro de 149
isto he, tirar-lhe a pivíde. Hé de que falla em Pinaças, e no mesmº
Barros. -

sentido. Dizem que de serem de


PEYOUGA. Pé de porco, a que pinho, lhe proviera o nome.
ainda hoje chamão Chispo. Const. PINDRA. Penhor. He freque
do Arcebispo D. Martinho, que man tissima esta palavra nos Foraes dº
da aos Guarda-porcos dem por Di Seculo XII, e XIII. assim comº
zima a Peyouga do Cyoado, no de Bindrar, no sentido de penhorar
13o4. Doc. de Moncorvo. Pastará hum só exemplo, onde º
PI, PI. Em alguns Prazos se podião reproduzir, até mesmo ahºr
acha a Pensão de gallinhas, que recer, e nausear. No Foral de C#
não digão pi , pi, nem fação quo, tello-Branco de 12 13 se lê: #
quo, isto he, que nem sejão fran qui in Villa pignos affiando find",
as, nem andem chocas. •

& ad montem fuerit pindrar; duplº


PICOTA: Pelourinho com suas la pindra, ó pectet LX, solidos, º
cadêas, e argolas, onde os crimi septem a Palacio. Doc. de Thoma"
nosos erão expostos á vergonha. PINDRAR. V. Pindra.
Era a Picota sinal de Jurisdicção. PINGOS. V. Piúgos.
As paateiras, e candieiras, carnicei PINTA. Medida de liquidos,
ros, regateiras, &c. que defrauda a que os Francezes ainda hoje."
rem o peso, pela 3.° vez, que fo mão Pinte. Em Portugal tamb"
rem culpados nos seus oficios, foi medida de solidos; pois nº
devem ser póstos na picota. Cod. Foral da Terra de Paiva por ER"
Alf. L. I. Tit. 28. No de 1496 D. Manoel no de 15 13, extrahidº
Julgou ElRei D. João II, e teve em pública fórma da T. do "…
C
PI PL 2 19
de 1745 se acha com frequencia PITANCEIRO. O que recebe
Alqueire, e Pinta, e Alqueires, e as rendas do Convento, para as
Pintas. E se estas Pintas serão quar destribuir , segundo os costumes
tas?... Doc. das Salzedas. A Pin da Ordem, a todos os Individuos
ta dos liquidos constava de 3 quar della. Ho Senhor Meestre estabeleça
tilhos, e 2 Pintas fazião huma meia bum Iconimo, ou Pitanceiro do dito
quarta de almude, a qual era de Convento, o qual fielmente cobre, e
seis quartilhos, e lhe chamavão receba todalas rendas, ao dito Con
Meia. Duas meyas, e pinta d'azeite: vento pertencentes. Estat. de Calatra
ou de dous em dous annos á gafra cin va traduzidos em Portuguez no de
co meias: que erão 3o quartilhos, 15oo. Doc. de Thomar.
que fazem hum cantaro, e meia PIUGAS, Çapatos. Doc. do Se
quarta. Doc. do Salvador de Coim culo XIV.
bra de 143o. PIUGOS. Paredes feitas de pe
PIPA de moiaçom. Devia levar dra miuda, e em sosso. Campo ta
27 almudes. Huma pipa de vinho pado por valos , e piugos antigos
branco de moiaçom, que leve XXVII. Em alguns Doc. se diz Pingos: o
almudes, portado em paz, e em sal que parece ser erro. •

vo na aldêa de Pedourído. Doc. de PLACENÇA. Beneplacito, von


Paço de Sousa de 1418. - Huma tade, agrado. Doc. de 1 338.
pipa de moiaçom d’entrada. Ib. An. PLACIMENTO. Prazimento,
de 1 419. •
approvação, beneplacito, consen
PIPIAM. Moeda tão miuda , timento, e apresentação. Et Eccle
que, segundo Covarruv. de Veter. sia de vestra Villa intret ibi Cleri
numismat. Hispan. c. 5. n. 5. valía cus per vestrum placimento, ó per
duas Mealhas, assim como o Bur placimento Domini de Villa. Foral
galez valía dous Pipioens. No Co de Cortiçó, não longe de Celorico
dicillo dº ElRei D. Sancho I. se de 1 2 1 6. Doc. de Thomar.
diz: De denariis que sunt in S. Cru PLACITO. I. Prazo, e qualquer
ce dentur pauperibus CCC. solidi. Et outro genero
trumento de Contrato, ou Ins
público. •

in muros de Coveliana... 85 od)o35


solidos, ó pipiones. Doc. de Viseu. PLACITO. II. Termo da anti
X. Bemquerença.
PISSOTAS. Pescadas.
ga J# era o mesmo,
Inquir. que Tribunal da justiça. Tambem
Reaes de 1258. significava as cousas, que se tra
PITANÇA. V. Charidade. III. tavão em Juizo.
De Pietas se disse Pitança, que era PLACITO. III. Pacto, condi
hum prato, além da ração ordina ção, ou promessa. •

ria : hoje chamão Antipasto, An PLACITO. IV. Quando no


tèa, Antevém, Prato do meio, &c. Conc. de Merida de 666 se man
Nos antigos Lºº dos Obitos se da, que na sua Sagração o Bispo
achão os dias de Pitança notados faça o Placito, quer dizer, Protes
á margem com algum destes bre to de viver bem, e castamente.
ves: D. pi, ou D. pit., ou D. piei. PLACITOS. Se disserão os A
Tambem se disse Pitança a mesma phorismos dos Medicos, e as Senten
. Oficina, ou Oficio de Pitanceiro. fas dos Philosophor.
- -
" …
+
. Ee ii PLA
22 O PL * PO
PLAZO. I. Escritura de Doa PLOEIRO, V. Proeiro.
ção ou Contrato, com certas con PLOMO. Chumbo. Do Latino
diçoens, á satisfação, prazer, e Plumbum. Se alguum, ou alguma ton
agrado d’ambas as partes. Os Ne tra este feito quiseer viir, mando,
tos, e Descendentes de Heronio que page cem morabitinos, antes que
Alvitís fizerão tal Ovença, ou Pla plomo por oiro respondão. Responder
zo com D. Pedro, Bispo do Porto, chumbo por ouro, se póde tomar em
sobre o Mosteiro de S. Pedro de . 2 sentidos : ou que serão açouta
Sesmondi: dão-lhe o dito Mostei dos com plumbatas, ou azorraguts
ro; porém Facimus vobis ipsum Pla de chumbo, se promptamente não
zum, ut recognºscatis nos , é º nos pagarem os ditos Ioo maravidis,
fram Progeniem pro Hereditarios in segundo o Adagio: Qui non bula
vestra Sede, & habeamus ibi ratio in aere, luat in corpore : Ou, que
nem, Óº adjuvetis unumquemque nos não pagando nesta vida, hirião be
trum ad salutem , Óº ad infirmita ber chumbo derretido, cujo ardor
tem. Et si aliquis nostrum in aliqua (ao menos virtualmente) atormen
miseria devenerit, quod habeamus in tará sem fim os condenados no In
vobis refugium, é º adjutorium: & ferno. Doc, do Sec. XIII.
tali pacto, quod iftud Monasterium PLOUVER. O mesmo , que
plantetis, é? haedificetis, & semper Aprouver, ou Proguer. Agradar-se
in eo benefaciatis. Damus vobis prae de alguma cousa, satisfazer-se de:
fatum Monasterium per ubi illum, la. Vem do Latino Placet. Doc.
& c. Doc. do Cab. do Porto. V. de Vairám de 1328.
Annicio, e Igreja. PLUMAZO. Travesseiro cheio
PLAZO. II. Escrito, ou Obri de pluma. Unofeltro, uno plumaz",
gação de dívida. E se alguem veer, e uma cocedra. Doc. de Pendoradº
que disser, que nós temos delle Pla de 1 156.
zo, e disser, que he pagado, e for POBLA, Poblança, e Povoam
homem de boa verdade, ou mulher: ça. Povoação, casas, e vivendas,
mandamos que lho dem. E se disser em que alguns morão, e residem,
que lhi nós devemos alguma cousa : com semelhança de Povo, ou maio,
mandamos , que lha paguem. Doc. ou mais pequeno.Nas Inquirir dE}
de Lamego de 1314. Rei D. Diniz de 1 284 se achou
PLEITO. No Fuero juzgo se em huma Herdade Reguenga dº
toma Pleito por concordia ; hoje Commenda de Rio Frio, que nek
porém nada mais opposto a ella, la fizerão poblas, e chantadorías, º
que o Pleito. ElRei D. Pedro I. casas, e vinhas, e non servem º
de Portugal mandou, que os Le Rei. Igualmente se achou, que hum
trados , e Procuradores aprendes Herdamento de Revordãos era pºr
sem outros Oficios, com que po tido, e nessa parte fez o Epiliº
dessem ganhar a vida, para fazer Poboança, que constava só de hº
parar o processo infinito do plei ma casa. E acrescentárão as testº
to immortal. Mathias, Rei de Un munhas, que se lembravão de nº
gria, com pregão público mandou, morar y nenguum por do Espital: º
que todos os Letrados do Foro pobrarom-no des pouco dácá.
sahissem do seu Reino , e logo |
POBLADORES. V. *#
este ficou em paz, e socegado.
PO PO 22 I

POBLANÇA. O mesmo, que Martim Gil meo marido. Doc. da


Póvoa, ou Pobla. Graça de Coimbra de 1268.
POBOAÇOM. Direito Real, e POBRADAR. Povoar. E disse,
Dominical , que talvez he o fus que quando o casal do dito logo va
habitandi. E disserom, que teem El Ágava, que o via dar per o Moestei
Rei por enganado; porque nom leva ro de Igrejóó a pobradar. Naquelle
as meyas das dereituras da carne, tempo em que os Senhorios con
e da luitosa, e da Poboaçom , assi solidavão o Dominio Directo com
como a meyadade do herdamento. Inq. o util , he que elles usavão do
d'ElRei D. Diniz. Doc. de Grijó. abusivo Direito de Pobrar, e Er
BOBRA. I. O mesmo, que Po mar , quando o casal vagava por
hla , ou Póvoa. ElRei D. Diniz morte, ou dimissão do que o pos
deu Foral no de 1288 aos 2o Po suía. Humas vezes o deixavão es
bradores da sua Pobra do lugar da tar de fogo morto, e em pousío, ou
Ervedosa, com seus termos, a sa tras o davão a quem muito que
ber, como parte com a Veréa Velha, rião : o 1.° era Ermar: o 2.º Po
que se vem de Penas-Juntas , &c. brar. V. Herdade de hermar, e po
Doc. de Bragança. No de 1323 (U0/1/",

mandou o mesmo Rei , que por POBRADOR d'ElRei. Magis


Compra, ou Escambo se houves trado , Ministro, ou Procurador
sem quatro Aldeias para a sua Po d'ElRei, que tinha inspecção so
bra de Panayas , que já outra vez bre o reparo dos Lugares fortes,
foi começada, ou para a sua Pobra e sobre a população; e particular
de Villa Real, que já D. Afonso mente na Provincia de Traz dos
III. começára a povoar. Por efei Montes, que desde os principios
to desta Ordem fizerão os Com da nossa Monarchia estava sobre
missarios hum Escambo com o Ab modo inculta, e despovoada. Des
bade, e Convento de Refoyos de de ElRei D. Sancho I. até D. Af
Basto , pelo qual derão ao dito fonso IV. foi comettido este Mi
Mosteiro 52 maravideadas (pois ou nisterio a Pessoas de muita satis
tro tanto rendimento annual cedê fação , e inteireza. No Reinado
rão para a dita Pobra) contando o de D. Affonso III. se trabalhou
moio de pão, pela medida de Pa nisto com mais ardor: no Foral,
noyas, a maravidil o moio: e dous que Elle deu a Mogadouro expres
quarteiros pela medida da Quaira samente distingue entre Villares
(que era a medida velha, e de Gui velhos , que já d'antigamente fô
maraens) a maravidil; sendo cer rão, e estavão povoados, e Villa
to, que os dous quarteiros da Quai res móvos , que nos seus dias se
ra fazião hum moio de Panoyar. E havião povoado ; prescindindo se
note-se que huma Maravideada era n'alguma hera havião, ou não ha
hum Maravidil, feito, e composto vião sido povoados; pois então se
de outros dinheiros mais miudos. achárão de fogo morto, ermos, e
JD. da T. do T. sem gente. E destes Villares indi
POBRA. II. Tambem se disse vidualmente se lembra ElRei D.
Pobra por propria. De mea pobra Manoel no Foral daquella Villa
voluntate feci mea manda per ante de 15 12 Já vimos , V, Azinhosº.
ÇQº
222 PO PO
como Affonso Rodriguez era Pro Do , & concedo vºbis populatoribus
curador, e Pobrador d'ElRei em Ter de Aquilari de Beira presentibus &
ra de Bragança , e de Miranda no futuris ipsam meam Villam de Aqui
de 1285. Entre os Doc. de Mon lari, cum omnibus terminis suis w
corvo se acha huma carta d'ElRei vis, & antiquis... pro vestro here
D Diniz de 1295, que principia ditamento. E aqui temos morado
assim : Dom Deniz pela graça de res futuros, que se chamão Pobrá
Deos Rei de Portugal, e do Algar dores como os presentes. O da Vil
·ve. A vós fobão Fernandes, Tabal la de Móz principia assim: In nº
liam, e meu Pobrador de Villa Frol, mine, &c. Ego Rex Alfonsus dº,
saude. Sabede, &c. Nos Doc. de c)º concedo a vobis Concilio de Molus
Móz se conserva huma Carta d'El ad popular illo Castello, qui ibijas,
Rei D. Affonso IV. de 1 335 a fa per Foro de Salamanca; ut illos bo
vor de Pedro Dias Procurador d'El mines, qui ibi populaverint, habean:
Rei em Terra de Bragança, occupa fóros bonos, &c. O de Santa Cruz
do no refazimento dos muros da da Villariça de 1225 : In Nomine...
quella Villa ; como se disse V. Ego Rex Sancius secundus Portuga
Castellatico. E de tudo se collige, lensis. Vobis homines de Sancta Cri
que estes Pobradores erão mais, ce, qui ibidem populatores estis pºr
que Caseiros, ou Colonos. mandatum meum morandi , five qui
POBRADORES, ou Poblado venerint ad populandum. Facio volis
Kartulam, &c. E finalmente no de
res. Não só se chamárão assim os
Caseiros, ou Colonos, que mora Bragança de 1 187 traduzido no
vão em algum Reguengo foreiro de 1 281 : En Nome de Deus. Amen.
á Corôa ; não só os que primeiro Esta be Carta de Foro, que Eu D.
povoárão alguma Villa, Castello, Sancho , per la graça de Deus Rei
ou Terra notavel : mas ainda os de Portugal, em buno com mia mº
que depois vierão residir, e habi lher a Reinha D. Doce... Fagº 4
tar na mesma terra, sojeitos ás vos pobladores da Cibidade de Brá
Leis Municipaes, ou Foral, que gança, áquelos que som, e que "
se havia dado desde o principio de veir por sempre. Damos, &c. Doc,
civíl da tal Povoação. E deste mo de Bragança. E ali mesmo: Damº
do todos os Habitantes erão Po de mais á Cibidade de Bragança, º
bradores; não só porque delles se aos pobradores della todo Bragança,
compunha a Povoação, mas tam e Lampaças com seus terminos, 4"
bem porque havião succedido nas o aiam , e o possoyam por sempre
Leis, Privilegios, e Isençoens dos Doc. de Bragança, e Moncorvº
primeiros, a quem elles fôrão con POBRAMENTO. Tempo, ou
cedidos. Nos Doc. daquelle tem Epocha em que huma Terra, L*
po se nomêão Populator; Populato gar, Cidade, ou Villa se começº"
res; qui venistir populare, &c. No a povoar. Consta da seguinte C…
Foral de Aguiar da Beira de 1258 ta, que por ser rara, e preciosº,
se lê: In Christi nomine, &- ejus aqui damos por extenso: Dom Dº"
Gratia. Quoniam labilis ... Hinc estº niz pela graça de Deos Rei de ""
quod Ego Alfonsus Dei gratia Rex tugal, e do Algarve. A quantos "
Portugali.e., & Comes Bolonensis... Carta virem faço saber: Que {} #
PO PO 223
Eu fezesse mhas Côrtes, de Couse Acha-se este Doc, no Cartorio
/ho, e doutorgamento do Arcebispo, dos Illustres Figueiredos de Bra
e dos Bispos, e dos Prelados, e dos gança, que comprárão a maior par
Ricos-Homees, e dos Filhos d'algo de te dos bens, que pertencião em
meu Reino: Outorgarom-mi, que Eu Portugal ao Mosteiro de S. Mar
podesse mandar enquerer todolos lo tinho da Castinheira, que já fica
gares hu me faziam Onrras, e nos dentro do Reino de Leão. E por
quaes Eu perdia meus Direitos. Eu ella se manifesta , que ainda no
fiz fazer esta Inquisiçom geeralmen de 1291 era Affonso Rodriguez
te per todo meu Reino pelo Priol da Pobrador d'ElRei , que a qui se
Cósta, e per Gonçalo Rodriguiz Mo diz Procurador. Igualmente se vê,
reira Cavaleiro, e per Domingos Paes que Pobramento se póde entender,
/ogado em Bragaa: pela qual Enqui e talvez á letra, pelo Foral, ou
siçom achei, que o Abbade do Moes Carta de Povoação, que se costu
reiro de S. Martino da Castinheira mava dar ás Terras, que ou se
fazia Onrra, e Onrrava sas herda conquistavão, ou de novo se po
des, que avia em Bragança, e em seus voavão. V. Pobradores.
termos. E como quer que Eu achas POBRAR , Pobrado, despo

// =
se per essa Inquiriçom , que mi foi brar, despobrado. Povoar, povoa
julgada, que valesse, que mbas nom do, despovoar, despovoado. Doc.
deviam y a fazer: Mando, e outor de Moncorvo de 1 37o.
go que esse Abbade aia sas herda POÇAL. V. Pugal.
der, que ora á, e que deve aver (se POÇIMA. Finalmente, por fim.
gundo a Composiçom que é feita antre E quem quer que queira viir contris
mim e el: Da qual Composiçom el to, peite mil maravidiís, e aa po
tem ende de mim huma mha Carta) gíma valla sempre a ella esta mba
assi Onrradas, como as ouve do Po Carta saylada dº meu sayelo. Doc.
bramento da terra, e como a Carta, de Tarouca de 1261. V. Aá porcíma.
e o Foro de Bragança manda. E quan PODEIDOIRO. Apto, bom,
to é á Inquisiçom , nom lhi empees e capaz de podar as videiras. Dous
ca, quanto é sobre das Onrras, que coitellos boos, podeidoiros. Doc. de
deve aaver pelo Foro de Bragança, e Pendorada do Sec. XIV.
do Pobramento dela. E mando a Af PODERIO. Poder, Jurisdicção,
fonso Rodriguez , meu Procurador, faculdade, autoridade, licença. E
e aos outros, que depos el veberem, tambem a Posse de alguma cousa.
que lhis aguardem , e façam aguar No Cod. Alfonsino L. III. Tit. 92 :
dar tod’esto, assi como desuso dito é, Da execuçam, que sse faz pelo Por
Unde al nom façam. Em testemunio teiro perpoderío desseu Oficio. Acha
d’esto dei ende a esse Abbade esta se nos Doc. de Lamego de 1424,
mha Carta. Dada em Coimbra tres e 1436 : Este mesmo poderío tenha
dias de Fevreiro. ElRei o mandou per o Guardiam, qualquer que for , em
sa Côrte. Francisque-Anes a fez. Era no meu finamento. E no Foral de
de mil trezentos e vinte e nove annos. Thomar de 1 174 : Por ende em a
(de Christo 1291.) terra soó nosso Poderío stabeleçuda,
taes damos degredos : se alguem rous
Lugar do X Sello pendente. so, &c. Doc. de Thomar.
PO
224 PO PO
PODEROSO — ser.) Poder fa tates nuncupati apud Hispanos Primi
zer isto, ou aquillo. Nom seermos res, isto he, os Principaes, os mais
poderosos de levar, &c., isto he, Nobres, e Illustres. Não negamos,
não poderemos levar. Doc. de Pend. que erão Personagens bem distin.
de 1 313. tas; mas reflectindo na Etimolo
PODESTADES. Milites de Cas gia do nome, que indíca Poder,
telbranco sint in Juditio pro Podes não de qualquer modo ; mas sim
tades , & Infanzones de Portugal. quasi absoluto, independente, e
For de Castello-Branco de 12 13, mesmo hum Poder como por anto
segundo a Copia de Thomar. Isto nomasia ; bem podemos avançar,
mesmo, e pelas formaes palavras que erão Ministros Supremos, assim
se determina no Foral da Covilhãa, no Militar, como no Civil, que pre
por ElRei D. Sancho no de 1 186. sidião nas Provincias, ou Comar
Lº dos Foraes Velhos. Segundo es cas, e que em razão do seu Mi
tes Doc., vemos que hum Podes nisterio, e como Vicarios do Prin
tade, ou Potestade precedia ao In cipe , precedião em Portugal aos
fanção ; mas não he facil decidir Infançoens. E assim em os nossos
com segurança que Potestades erão Documentos , achando-se algum
estas de Portugal. Nós sabemos que Potestade confirmando, se deve en
este nome vem do Latino Potestas, tender pelo que tinha o Governo,
que na Baixa Latinidade teve mui ou Senhorio da Terra da mão, e
diversas accepçoens, significando: em nome do Principe. Poder-lhe
já o Rei, o Principe, ou Magis hia-mos chamar, Alcaides Múres,
trado Supremo; já a Honra, o Of Pretores, Prepositos, Tenentes, Mais
ficio, ou a Preeminencia do Julgarinos, Adiantados. V. Maiorino. Em
dor ; já o Senhor, e Dominante alguns Documentos se chamão Pri
de alguma Terra; já os Primeiros cipes estes Potestades das terras. Na
Ministros, ou Desembargadores, Doação da Hermida, e Couto de Ja
que na maior alçada dicidião as ta Comba do rio Corrègo pelo Prin
causas; já o Destricto, ou Terri cipe D. Afonso Henriquez a Fr.
torio de algum Concelho, ou Jul Jeremías, e seus companheiros no
gado. E finalmente em França, e de 1 1 39, se acha esta assignatura:
Italia fôrão chamados Potestades os Ego Veta Menendi Princeps de Pá.
Magistrados Supremos, que as Ci noyas — — — — — — — J.
dades livres elegião, e chamavão Doc. de Tarouca. No Lº das Douf
de fóra do seu gremio, e bem as das Salzedas a f 86. se achão duas
salariados , e assistidos de Juris Cartas de venda : pela primeirº,
consultos, Oficiaes, e Serventes. D. Sueiro Viegas, e sua mulher
Tinhão inspecção na guerra, e na Sancha Vermuíz com seus filhos,
paz, e o seu governo não passava e filhas, vendêrão á Salzeda huma
de hum anno. O Inviado de Ge vinha junto á Granja do Moçúlº
nova em Constantinopola, ainda Facta Carta E. M. CC. XXV, Ill
hoje conserva ali o Titulo de Po Non, Octobris, Regnante Rege Diº
testade. Porém Morales in Eulogium Sancio, anno Regni ejus II., & º
f. 316, contando sobre os Monu Lamecensi Sede presidente Doño Gº
mentos mais antigos, diz: Potes dino, Domino verò Terra existe"
Dño •
PO •
PO 225
Dño Suerio Venegas. Pela segunda está suscitando a idêa de hum Po
consta, que Affonso Reimondo, e der Coercitivo, e tendente á exe
seus Irmãos vendérão ao mesmo cução das Leis, assim da Milicia,
Mosteiro huma vinha em Valongo como da República : o que era
junto á sua Granja do Moçulo mais proprio dos Meirinhos Mores,
E. M. CC. XXVI, Rege Sancio Reg ou Corregedores, e Tenentes daquel
mante, anno Regni ejus recundo (com le tempo, que dos Ricos-Homens.
pleto) Principe Lameci existente Sue No Foral de Numão por D. Fer
rio Yeegas, Episcopo Gaudino. E aqui não Mendez no de 1 13o se acha
temos o Senhor da Terra, ou Poter a sua firma nesta fórma: Potestas in
tade com o nome de Principe. Em Bragancia, ó Lampasas, Fernandus
huma Doação de Pedroso de Io77 Mendiz. Lº dos For. Velhos. No
se lê: Non sedeam aurus illud Testa magnifico Privilegio de Couto , e
mentum inrrumpere, non per Potesta Isenção , que ElRei D. Afonso
fes , non per Maiorinos , vel Saio Henriquez concedeo á Ordem do
nes... nec per tnmustoner, aut supo Hospital, sendo seu Mº D. Rai
sitas malas; sicut in Decretis Sanc mundo, se manda, que a nenhum
forum Canonum de talibus est insti Ministro, Maior, ou Menor, nem
tutum. V. Inmissão. ao mesmo Rei, respondão as Pes
Na Doação do Couto de S. Pe soas, que a esta Ordem perten
dro de Mouráz á Sé de Viseu, cem, naquellas cousas, que são
por ElRei D. Afonso Henriquez, do Real Fisco, nec Comitibus, nec
no de 1 152, segue-se immediata Potestatibus, nec Infanzionibus, ne
mente ao sinal da Rainha: Monio que Archiepiscopis, &c. E aqui te
Menendi Provinciarum Visiensis, ó: mos os Potestades entre os Condes,
.Senae judex, & justitia - - Of. e Infançoens, occupando , ao que
Doc. de Viseu. E na Doaç. do parece, o lugar que devião ter os
Couto a Masseiradám pelo mesmo Ricos-Homens.
Rei no de 1 173 se acha : Comes POER. Pôr. E no preterito Pu
Fernandus tenens Terram Visei, ó" gy, Eu púz. Doc. de 1 312.
2urarae - Of. Doc. de Masseira POER contra alguem. Dar li
dám. E finalmente na Doaç. da bello, requerer, allegar contra el
Herdade de Travanca, que o mes le. Quando o devedor quiser poer con
mo Rei fez ao Bispo D. João Pi tra o crédor. Cod. Alf. L. 3, Tir
IO I. S. 3. • •

rez no de 1 183, já Viseu era go


vernado por outro; pois ali se en POER em estado. Escrever ,
contra Pedro Rodriguez nesta fôr apontar, ou formar accusação, quei
ma: Ego Petrus Roderici Terrae Vi xa , ou summario contra alguem.
sei Presidens — Of. Não se me No Cod. Manuel L. I. Tit. 6o. $.
esconde, que por Potestades sería 71. se diz: Item os tabaliaens ham
facil entender os Ricos-Homens, que de poer em estado, quando os julga
precedião immediatamente aos In dores nom procederem contra os que
fançoens; como se disse V. Infan alevantarem
tado. •
volta em juizo. V. Es

çom ; pois erão Senhores de Ter


ras, e do Conselho do Rei; po POGEYA. V. Mealha.
rém a Potestade heinnegavel, que POIX. Depois, para o futuro.
Tom. II. Ff E
226 PO + PO
E que esto poix non vina em dovida, ta a derribar, e perder o seu con- º
nós de rusoditos encomendamos ende a trario. Ainda hoje se diz: Trazer
seer fectas duas Cartas por A. B. C. alguem de ponta , por , velo com
departidas. Doc. das Salzedas de máos olhos, vexallo, persiguillo
I 273. em toda a occasião, que se offe
POLHA. Gallinha. V. Maestro. rece, e que ainda mesmo se bus
PONER. Pôr. Vem do Latino ca. Carta d'ElRei D. Diniz de
Pono.1 3o6.
de Eu pono, Eu ponho. Doc. 1281 , copiada no mesmo anno

da sua data nos Doc. da Villa de


PONTARIA. Odio, trapaça, Móz, e que por inedita aqui vái
enredo, que leva a mira, e apon- lançada por extenso:

Dom Denis pela graça de Deos Rei de Portugal, e do Algarve. A to


dolos Alcaides, e Comendadores, e Meirinos, e Alvaziis, e juizes, e fur
tiças de meu Reino, saude. Sabede, que Eu som certo, que vos nom faze
des justiça , assi como devedes , e os de mais por quem se nom faz. E
porque vós Alcaides, e per vós outros, per quem se deve a fazer, que le
vades ende algo: Porque vos Eu mando su pena dos corpos , e de quanto
avedes, que justiça que a façades, e a comprades de guisa, que nom men
gue ende em nengua cousa ; cá bem crede , que aquel que Eu souber de
vós, que a nom faz, nem na compre, assi como deve, que Eu o matarei
por ende, ou lhi farei dar aquella pena meesma, que ouvesse receber aquel,
em quem menguar a justiça ; cá bem sabedes vós, cá pera esto me fez a
mim Deos Rei pera fazer fustiça, e pera fazela fazer em todo meu Rei
mo: de guisa que cada uum aja aquello, que deve aaver : e Eu pera esto
vos meto em meu logar pera fazerdes justiça, e pera comprila; de guisa,
porque per medo, nem per meaça, nem per afreçom, nem por outra cousa
nenhuma nom se perca minha justiça , e que cada huum aja seu dereito. {
E por esto sede certos, que Eu de todo em todo quero saber per Inquisiçoens,
> que mandarei fazer, aquelles per que a justiça mengua , e as cousas em
que se nom compre, nem se faz, e farei y tal escar mento em aquelles per
que menguar, que serom eixempro pera todo o mundo. E mando a tododos
Taballioens de meu Reino, su pena dos córpos , que escrevão todalas cou
sds, em que se nom fezer justiça, e aquelles per quem menguar ; de gui
sa, que quando Eu for na terra , · ou mandar sobr’esto fazer Inquiriçom,
que o possa todo saber. Item vos mando , que em os preitos , que perante
vós veerem, nom sofrades que nenguum y faça perlongança, senom aquella
que for de dereito: nem er sofrades aos Avogados, que fação esta ponta
ria, nem esta burla, nem que se fação em os preitos: mais sem outra pon
taria, e sem outra perlonga, fazede que cada huum aja todo o seu derei
to, e nenguum mom perca seu dereito per pontaria; cá Eu nom quero que
os preitos andem , se nom chamente, e per verdade. E mando a este meu
homem, portador desta carta, que a faça leer em cada una Villa, e em ca
da logar, e no Concelho apregoado. E mando aos Taballioens, que registem
tºf
PO PO 227
esta Carta, per tal, que sea pera sempre, e que a léam cada doma huma
vez em o Concelho. Dada ea Beja 1.° dia de Agosto. ElRei o mandou. Ai
ras Martins a fez en Era M. CCC. XIX. V. Vogaría,

PONTE do Douro. Achão-se para dezejar, que esta Ponte, oc


não poucos instrumentos do Secu casião de tantos contos de velhas,
lo XII, e XIII, que fallão nesta novelleiros, e ociosos, fosse re--
Ponte, hoje de muitos ignorada, produzida em lugar mais commodo,
e que até se atrevem a quererem unindo as Reaes Estradas, que
persuadir aos simplices a impossi # immortal gloria de D. Maria
bilidade da sua existencia. Existío .° se abrírão em os nossos dias!..
pois esta Ponte por baixo , e na Antigamente vinha a Estrada de
direitura de Barró, onde hoje se Canaveses á Ponte do Douro, e por
chama o Bernaldo: ali se vem e ad ella se encaminhava em direitura
mirão ainda grandes porçoens del para Lamego. . • |

la nos pedestaes dos arcos , que PONTE pedrinha. Ha entre nós


podem convencer a quem obstina hum grande número de sitios, que
damente a queira impugnar. Igno conservão este nome , originado
T3-SC # se fabricou, e tam de haver algum dia nelles alguma
bem quando se demolio; verdade ponte de pedra, que ainda talvez
he, que a miudeza das pedras não se conserve; sendo muito commum,
permittía duração larga sobre hum e frequente o serem as pontes de
Rio assim precipitado, e caudalo páo, principalmente nos rios me
so. Ao menos estamos certos, que nos cabedaes. Daqui se vê como
não foi a gloriosa Rainha Santa andou avisado João Duraens em
Mafalda, Restauradora do Mosteiro fazer pôr no seu Testamento esta
de Arouca, quem a fez construir; verba : Item, mando ás Pontes de
pois já no de 1 179 seu Avô ElRei Covellas, e de Balsamom trez libras,
D. Afonso Henriquez deixou pa para quando cortarem a madeira. Doc.
?
ra ella 3d)ooo maravidís: Et dedi de Lamego de 1316.
jam Abbati, & Fratribus S. fohan POO. Arêa fina, que se lança
nis de Tarouca III mor. quos mando na escrita para enxugar a tinta. Em
dari ponti Dorii. V. Mozmodir. Pa cada huum dia bem cedo pola manhãa
rece, que esta Ponte existia no de vaa correger as ditas mesas, e ban
12o5, quando D. Sancha Vermudes, cos de seus bancaaes, e campainha,
mulher de D. Sueiro Viegas, fez e buceta de póo, e tinta , como he
o seu Testamento , no qual diz, de costume. Cod. Alf. L. I. Tit. 18.
que tem huma herdade , á Ponte (que he do Porteiro da Relação.)
do Douro , da qual se podem fazer PÓOS. Especiarías, adubos,
trez Casaes. Doc. da Salzeda Gav, tempêros. E porque se hum dia fim
4. mass. I. n. 21. E no Lº das gio que se queria partir, porque lhe
Doaç. da mesma Casa a f. 24 se não davão póos pera a cozinha, de
acha a Doaç., que ella fez no de rão-lhe mil livras d'Afonsys. Doc.
12 16 ao Mosteiro de Paço de Sou da Cam, do Porto de 1436.
sa, de tudo o que tinha em Barró, POR. Consentir, outorgar, de
e junto á Ponte do Douro. Sería bem clarar, dizer. E porerom, outrº sis
Ff ii * #3"
A

228 PO PO
as ditas partes , que qualquer del POR ende. I. O mesmo que
las, que contra esto fosse, pagasse Porém. Acha-se nos mesmos Do
CUlIT1CIltOS,
4 parte teente, &c. Doc. do Sec. •

XV. — Convêm, poem , e promet POR ende. II. Por tanto, por
te, que nunca birá contra elle. quanto, á vista do que, por esta
POR em pés. Mostrar ser ver razão, por isto, por esta causa.
dade, e ter fundamento o que se Por ende, nós feitas as amoestaçoens
conta, diz, ou alega. E que o que do Direito. Doc. de Lamego de
riam poer em pées. Doc. de Tarou 1337. Vem do Latino Proinde.
ca de 1279. Esta fraze ainda ho PORLLAS. O mesmo, que P
je se usa no mesmo sentido. las, ou Por-as. Doc. das Bent, do
POR testaçoens. Fazer seques Porto de 142o.
tro. Doc. de Lamego do Sec. XV. PORQUAL guisa se quer que
PORA. O mesmo, que Para. Por qualquer maneira que seja. Dot.
Doc. das Salzedas de 1 276. do Sec. XIV.
PORCALHO. Leitão, porco PORQUE. Razão, causa, mo
pequeno. V. Lanio. tivo. Cod. Alf. L. V. Tit. 32., que
PORCARIÇO. O guarda, ou he: Do que mata, ou fere alguém
pastor de pórcos. V. Alfeire. sem porque.
POR cima. Acabar, findar, con PORRADA. Assim chamário
cluir, pôr fim, termo, e remate. qualquer guisado , em que entra
Cobiçante nós pôr cima aas demandas, vão alhos porros. V. Porretas. Ho
e que por aquesto hajão fim , qual je nas Provincias se diz vulgar
devão: estabelescemos, que se algum mente: Porrada d’agoa, de vinhº,
trouxer a nosso fuizo áquel com quem de leite, &c. quando algum liqui
houve demanda depois da Sentença de do , ou licor se bebe, ou toma
nossos juizes , &c. Lei d'ElRei em mais que ordinaria quantidade.
D. Affonso II. * * * "… - Porrada de leite, e de pam compúr
PORCO de dez covados. Era ros. Doc. de Pombeiro de 1367.
o que valía dez covados de bragal, PORREGER. Offerecer, apre
ou seis alqueires de trigo. Assim sentar. Vem do Latino Porrigº,
o explica o Censual de Lamego. Faço meu Procurador a F com poder
PÓRCO de hum lenço. % que de citar ... artigoos porreger, te:
valía7 varas.
de hum bragal
Ib. , que constava temunhas nomear. Doc. do Sec.XVI

PORRETAS. Alhos porros, cº


PORCO de trez sesteiros. O joguisado, caldo, ou sellada se
mesmo que de dez covados. Ib. E chamou na Baixa Latinidade Por
daqui se vê que o festeiro, segun rata, ou Porrecta. Poirata, ou Pºr
do este Censual, era de dóus alquei reta, he guisado de celgas, a que
res; pois trez vezes dous fazião os Latinos chamárão Beta; mascº
os seis alqueires de trigo, que ta não se come curtida com vinº
valía o de dez covados. gre. V. Emtruviscada.
PORÉM. Por isto, por este PORRINA. Porrinha, cachº
motivo, por esta causa, ou razão. porra pequena , clava, ou mº
Acha-se nos Doc. Reaes desde o de astèa curta, defeza, e prohi.
Sec. XIII. até o XVI. - bida. Do Capitão João cº…
4
PO PO 2 29
da Porrinha faz menção Manoel aquella Fortaleza tinha, Zurara,
Thomaz na sua Insulana. Deo-se Chron, do Conde D. Pedro. L. I.
lhe aquelle appellido; porque qual - C. 58.
outro Hercules, trazia sempre esta \,
PORTADIGO, e Portatico. I.
arma para castigar sumariamente Portagem , Direito Real, que se
os malfeitores. De prova cum scu pagava das fazendas, e viveres que
to, & cum lancea, ille qui cecidit, entravão nas Cidades, Villas, Jul
donet II. fol., Óº de porrina I. sol. gados, ou Coutos, que tinhão Ju
Foral de Penella junto a Coimbra risdicçoens sobre si, e que ali se
de 1 1 37. Lº dos For. Velhos. vendião. E não he justo confun
PORTA garrada. He o mesmo dir-mos a Portagem com a Passa
que Camara carrada., ou sarrada. gem; pois a 1.° he só das cousas,
Prometter Porta, ou Camara car que se trazem a vender: a 2.° dos
rada nada mais era , que deixar, que passão, ou atravessão pela Ter
dar, ou doar tudo o que se achas ra com algumas mercadorías, ain
se das portas a dentro, sem excep da que não entrem á Praça. E es
tuar cousa alguma por mais rica, te Direito se chamou tambem Pe
ou preciosa que fosse, e sem dar dagio quasi á pedibus; pois só cal
partilhas a outra qualquer pessoa, cando a terra de certo Senhorio
nem se poder contender sobre is se pagava. Vi Pena de Sangue. Des
to com a Viuva, ou cabeça do casal. de o principio da Monarchia mui
Esta quantia incerra, e que talvez tas Terras fôrão isentas de paga
excedia muito o terço dos bens do rem Portagem em todo o Reino,
doante, ou defunto, he o que hoje sendo o seu respectivo Foral dado
prohibe a Ord. L. IV. Tit. 47. in pelo Rei: outras só fôrão liberta
princ. Item: a Sol Steves, minha Or das dentro dos seus Territorios,
peda, a Camara sarrada, como fee, em que alguma Corporação , ou
com aquellas courrar , que hy seem particular Senhorio dominava. Bas
em Santarem , rem outra sra parti taráõ para exemplo Bragança , e
lha: e nom lhy vaam sobre ella. Doc. Thomar. No Foral da 1.º por El
de Bostello de 1 329. — Eleixo á Rei D. Sancho se diz: Nengum po
dita Catalina todallas alfayas, e jooas, brador da Cibidade de Braganca eu
que forem achadas na dita cassa, com todo meu Regno nom dia Portage.
todas suas portas carradas, com to No da 2.º pelos Templarios se lê:
do o que nellas achado for á ora de Non dedes Portagem, nem alcavála,
minha morte. Doc. de S. Christo nem de comer ás guardas da Cidade,
vão de Coimbra de 1454. ou da porta. Nos Foraes dº ElRei
PORTA de traição. Porta fal D. Manoel se procurou uniformar
sa, escusa, que nas Praças defen o Direito das Portagens ; porém
saveis se pratíca, e cujo particu antigamente variava quasi tanto,
lar uso he em tempo de guerra, como os mesmos Foraes, em que
sahindo, recolhendo-se, ou fugin elle se continha. No de Santa Cruz
do por ella os sitiados, e venci da Villariça por ElRei D. Sancho
dos. Nom ouvéram acordo de se re II. se ordena : De toto Portadígo,
colher ao Cartello, e des y fugir lo qui venerit a Sancta Cruce, ubi pou
go per huma porta de traição, que sada prenderit, prendar sua tercia.
De
23o PO PO
De cavalos, & de mulos singulos sol De asno VI, denarios. De boi VT. de
dor. De bobe, Óº de asino tres dena narios. De carneiro tres medalias. De
rios. No de Aguiar da Beira de carrega de Peom , unum denarium.
1258: Et de Portadígo de pam, & De Mauro, qui vendiderint in mer
de vino, de la carrega tres mealias. cado, unum f. De Mauro, qui se
Et de cavalo, & de mulo , quilo redimerit, decima. De Mauro, que
vendiderit, unum solitum. Et de bo talia (que se ajusta, compoem, faz
ve, & de asino sex denarios. De car avença) cum suo Domino, a decima.
neiro, aut de cabra, aut de porco De coiro de vaca, & dezevra, duos
tres mealias. Et de toto Portadígo, denarios. De coiro de cervo, & de
qui a Aguilar venerit, aprhendat suo gamo tres medalias. De carrega de
hospite la tertia. Doc. da T. do T. cera V. f. De carrega de azeite,
PORTADIGO. II. O mesmo 7. f. Iste Portagem eit de bomines
que laudemio. Si quis hereditatem foras Villam: tertia de suo hospite,
suam vendere voluerit , vendat suo dº duas partes Magistri, & Fratrum.
vicino; tali videlicet pacto; ut forum Doc. de Thomar.
Domino suo tribuat: Óº decima pre POR tal. Para que. Acha-se
tii venditor Domino terrae tribuat in nos Doc. de Tarouca do Sec. XVI.
Portadigo. Foral de Abiúl de 1 176 PORTALECER. Subir ao cu
nos Doc. de Lorvão. •
me da montanha, apparecer no mais
PORTAGEM. Direito bem co alto da portella, ou garganta de
nhecido. V. Portadígo. I. Daremos hum monte, donde se descobrem
aqui por notavel a do Foral de as faldas da Serra, achar-se quasi
Castello-Branco, estabelecida pe de repente em alguma parte sem
los Templarios no de 12 13. De ser esperado. Mas Deos quiz, que
Portagem: foro de trosel: De colo o Conde portalecesse naquella hora on
de pano de lino, vel de lana, unum de o tinhão, pelo qual em breve foi
solidum. Detrosel de lana, unum f. leixado dos imigos. Zurara, Chron.
De trosel de fustaaens V. f. De tro do Conde D. Pedro L. II. c. 18.
sel de panos de cóor, V. f. De car PORTATICO. O mesmo que
rega de pescado, huum f. De carre Portadígo. Por ser bem notavel o
Ága de asno, VI. demarios. De carre Alvará dº ElRei de Leão D. Fer
ga de Christianos de conelios, V. f. nando II., que se guarda Origi
De carrega de Mauros de conelios nal em Tarouca , datado no de
unum marabitinum. Portagem de ca 1279, se reproduzio aqui. Depois
valo , que vendiderint in azougue, do monograma, que se deu V. Al
unum solidum. De mulo, unum f. pha, prossegue:

In Dei Nomine. Ego Rex Domnus Fernandus, uma cum filio meo Rege
Alfonso, Óº uxore mea Regina Tharasia, notum facio universis de Regno
meo, ad quos hec Carta pervenerit, quod recipio in Comendam meam, é
defensionem totam Caram Sancti Johannis de Taroca, & Fratres univer
sos, qui ibi sunt, cum omnibus directuris suis, & pertinentiis, cum tota
suo ganato, & laboribus, quos nunc habent, vel suit habituri: & comem
do hoc totum vobis bonis Vassallis meis, Ó amicis, toti Concilio de Ci
vitate Rodrici, ó caeteris de meo Regno. Libero etiam homines, & equi
f ($
PO * PO 23 I
taturar de Portatico toto , &• Pedagio ; quod de cætero recuri eamt , &•
redeant , quacumque parte ire mercatum , &* redire voluerint per meum'
IRegnum. Hanc autem Donationem facio $. 3obammi de Tarauca, &- umiver
sis suis Fratribus , tam presentibu* , quam futuris , . pro remedio amimae
meæ, &* parentum meorum , & de rogatu Curiae meae , pro Dei servicio, .
quod Deo faciunt ; unde me participem deridero promereri. : Quicumque igi
tur de toto meo Regno Caram suam violenter intraverit, vel gamatum pren
diderit , vel in aliquo Fratres ipsius Monasterii infertaverit , seu de suis
hominibus , vel Equitaturis Pedagium acceperit , vel ob aliquam vocem,
excepto debito proprio , ipror disturbaverit , infidelis meus , &• imimicus
erit: quantum acceperit , eis reddet im decuplum , &* Regiae J^oci mille au
-reor persolvet in paenam maledictus. Facta Karta apud Civitatem Roderici,
: ' memre Decembris , sub Era M.* CC.* XVII.* Regmamte Rege D. Fermando
.Legiome, Gallecia, Arturiis , &*: Extremadura. Ego Rex Dommur Ferman
dur, cum filio meo Rege Alfonso , &* uxore mea Regima Tharasia hoc Scrip
tum roboro , &* Confirmo. ' ' • .. -

Petrus S. Compostellanæ Ecclesiae Ermegotus Comes Urgellemsir, Regis


Arp? - - - - - - - ' Jf. f. Maiordomus - - - - - of
johammes Legionemsir Epy - Qf. Samtiur im Extremadura, Regis Ara
3fobames Lucensis Ep? — Qf. gomum germamus - - - -
Rodericur Ovetensis Epj - Jf. J^elarcus Comes in Limia — —
J/italis Salamantinus Ep; 3f. Gomes Come* im Tramrtamaro —
Eernandur Artoricem rir Ep? 3f. Gum salvus Comes in Arturiis -
Eertrandus Tudem ris Ep;
-Alfonsur Auriensis Ep? —
IRabimatur Mimdoniensis Ep;
Petrur Civitatemisis Epf- -
J/acat Cauriensis Ep?

{ No meio

3f. Fermandus Pomtii Comes — —
3f. Didacur Exemeniz in Legione
3f. Guterrius Roderici in Bemavento
Qf. Ordomiu* Garriae im Vilar-Pando
3f. Feruandus Guterris Sigmifer -

dar a frigmatura r re acha o Leâo rapante muito hem deli


meado , demtro de bum grande circulo , em cuja orla re lé :
1
SiGNUM FERNANDI Regis HispANiARUM.
}
EGO BERNARDUS REGIS NOTARIUS, PER MANUM
P. DE LOR CANCELLARII, SCRIPSI, ET — of.

PORTAR. Levar, conduzir por VI. denarior. De arino, &c. Foral


agua a hum certo , e determina- de M6z de 1 1 62.
do porto. Este vinbo dardes portado PORTEIRO. V. Principe III.
ao Seixo de rio Maau. Doc. de PORTELLA. V. Porto.
Pago de Sousa de 1419- W. Pipa PORTELO. Portella, porto, en
de moiagom. trada por terra, estrada real , ca
PORTAZEM. O mesmo que minhoípúblico. It : o Moordomo Mûr,
- Portadigo. Et de carrega de bestia que a Terra de Gaya trouver renda
* cavalar, aut muar demt in Portazem da , ha d'aver as Portageât de quan
£0
232 PO" PO
no veber pelo portelo de Gaya. De Daqui os Pórtos reccos, e os Pir
sorte, que Portelo, he entrada por tos molhados, por onde entrão por
terra, e Lada, he entrada por agua. terra, e por mar as mercadorías,
JY. Lada, e Porto. que pagão Direitos. Nos Coutos
PORTO de Gaya. A Cidade do de Alcobaça chamão Porto á entra
Porto. Em hum Doc. de 1 153 se da , ou portal de huma fazenda,
nomêa D.Pedro, Bispo Portus Gaye. Para com os Hespanhoes, e Fran
E em outros daquelle tempo se cezes se dizem Pórtos as entradas,
acha o mesmo. E isto. só bastaría e sahidas dos caminhos, e verê
para desvanecer as aerêas conjectu das, que cortão os mais altos mon
"ras dos que não approvão que o res, como são os Prinêos, os Al
nome de Portugal nascesse de Por pes, e outros. Sendo Portella di
tus-Cale , sonhando não sei que minutivo de Porto, bem se deixa
Porto de Gallos, ou Grayos, e não
ver, que he huma porta, caminho,
reparando, que já no Concilio Il ou estrada mais pequena , estrei
leberitano se reconheceo este Trac ta, e acanhada, por onde se pa>
to de terra com o nome de Portu sa, ou passava de hum lugar a Ou
tro. - •• •

cale, de que mudado o c em g nas


ceo Portugal. - - - PORTUGUEZ. Moeda de ol
PORTO, e Portella. Sendo in ro, que começou no Reinado d'E:
numeraveis os sitios, que entre Rei D. João II. ElRei D. Manoel
nós se encontrão com os nomes a fez lavrar de ouro finissimo, º
appellativos de Porto, e de Por com o valor de 4dooo. Tinhíº
tella, v.g.: Porto de Móz, Porto estes Portuguezes de huma parte º
de Carne, Porto do Cepo, Porto Ca Cruz da Ordem de Christo com º
valleiro, Porto de Orango, Portella letra: In hoc signo vinces; da outrº
das Cabras, Portella de Vico, &c. o Escudo Real coroado com asle
e isto já desde o Seculo X; fica tras seguintes: Primus Emanuel R.
lugar a indagarmos, que entendê P. A. C. V. A. D. G.; e outrole
rão os nossos Mayores por Porto, treiro que diz: C. C. N.E.A.P.
e Portella. Com efeito, por esta ue são os Titulos, que aquelº
voz Porto nada mais significárão # tomou, a saber Rex Portugº
que, porta, entrada, garganta do liae, & Algarbii, citra, ó ultº
monte, ou passagem; já do mar, Africam, Dominus Guinee : e º
ou rio para a terra ; já de huma nhor do Comercio, Conquista, e Nº
terra para a outra , atravessando vegação da Ethiopia, Asia, Per"
alguma eminencia, ou cêrro, que India. Lavrou-os támbem ElRei"
serve como de muro, ou divisão. João III. com o mesmo valor, º
Tambem chamárão Porto, não só com o peso de dez oitavas, menº
o váo de hum rio caudaloso, on hum quarto: agora, pela bondadº
de se passa em barca ; mas tam do ouro, valerião dobrado. O mº"
bem o de qualquer ribeiro, onde mo Senhor Rei D. Manoel batº
se passa, ou a pé, ou em carro, Portuguezes de prata com o valor
ou em bêsta, ou em poldras, ou de 4oo réis; meios Portuguezes, º
em ponte; sendo da razão do Por quartos de Portuguezes com os "º"
to o dar passagem , ou entrada. mos cunhos, e letras. Destes"
fil
PO PO 233
tuguèzes nascêrão os cruzados, que POSTURA. II. V. Limpidooem,
hoje chamamos velhos, que são de POVORAR, Povorado, Des
D. João IV. e D. Pedro II. povorar , Despovorado. Povoar,
POSIÇÃO. Postura, ou acção povoado, despovoar, despovoa
de pôr. Outorgárão a posição do sel do. Carta d'ElRei D. Afonso V.
lo, isto he, convierão em que se de 1457. Doc. de Moncorvo.
- pozesse o sello, POVRAMENTO. Acção de po
POSIÇOENS. Nos Autos.Judi voar. Des o povramento, desde o
ciaes he o mesmo , que Artigos, XV.
tempo que se povoou. He do Sec. •

Proposiçoens, ou Provarás , que a


Parte se offerece a provar, a bem POURA. Pura, sincéra, sim
da sua Justiça. Vem do Latino Po ples. Sabham quantos este stromento
sitio. Acha-se com frequencia no de poura Doaçom, Óºc. |

Sec. XIV, e XV. V. Poymento. POVRAR. Povoar, rotear, cul


POSSANÇA, e Pusança. I. Po tivar. Doc. de Bragança do Sec.
sibilidade, forças, poder. Doc. de XIV.
S. Pedro das Aguias de 1497. POUSA. Estancia, residencia,
POSSANÇA II. Não só signi aposentadoría, em que o cobrador
fica o poder, força, e orgulho; dos fóros Reaes devia pousar, es
mas tambem a Posse, ou acto de tar, ou residir, e receber todo,
possuir alguma cousa, ou seja tem ou parte do seu mantimento. Per
poral, ou do Espirito, v. g., Por guntados os homens mais vedros, on
sança de bens, e terras: Possança de havia de haver pousa o prestamei
de saude: Possança de juizo : Pos ro da terra ? se achou, que elle
sança de virtudes, &c. não devia de pousar na granga do
POSSAR. Entrar á posse, apos Moesteiro de Sam Oane da Pendora
# sar-se. Farfa, e Nunes.
POSY. Preterito do verbo Por:
da, e nem deve bi a filhar condoyto.

# Doc. de Pend. de 1285. V. Egre


Eu puz. E meu sinal em elas pory, em jairo, e Pousada. Nas Inq. Reaes
testimoiu. Doc. das Salzed. de 1273. he frequente dizer-se que os bo
POSTA. V. Pousada. mens, ou casaes de alguma Terra
POSTAR. Compor, fabricar, erão Pausa do Mordomo, ou do Pres
reparar. v. g. Postar o casal: Pos tameiro, e que elles, ou nelles cos
tar a quintãa: Portar as casas, &c. tumavão pousar, e receber o sus
JZ Apostamente. •

tento, v. g., na freguesia de S. Pe


POSTO. Ponto, mira. Poz o dro do Valle de Santo Estevão de
posto em Aabú, e passou-lhe o bra Chaves pausabat prestamarius, Óº
ço com hum virotão pelas canas , e dabant ei de tota Villa cevadam ad
pelo musgo, de guisa que lho pregou comedendum. Em huma Carta Real
pelas costas. Zurara, Chron. do de 129o se diz Poussa de Ricomé,
Conde D. Pedro. L. I. c. 68.
pu de Moordomo no mesmo sentido
POSTURA. I. Assento, Con de Pausa. •

trato, Lei, Ordenação. E se o mo POUSADA. O mesmo que Apo


vel nom avondar, vendedel a raiz, sentadoría, V. Albergaría. II. Et
como manda a Pma ostura. Doc, do (non) donent Pousada pro foro de A
Sec. XIV.
- •

*
***
* * ** *
- - 4: 2 -
- -
*
quilari in casa de Cavaleiro, mec de
* * *

*--
* • •

: Tom. II. Gg }'#--


234 PO PO
Fiduas , nec de Clericos , nisi pro jas, e Mosteiros se póde ver o
manu de judice in casa de peones. Cod. Alfonsino. L. II. Tit. 14. Por
Foral de Aguiar da Beira de 1258. huma sua Provisão de 23 de Julho
Este penoso Tributo de que os de 1299 prohibio ElRei D. Di
Cavalleiros, Viuvas, e Clerigos niz as pousadias nos Mosteiros de
por este, e outros muitos Foraes, Donas d’Ordem, e as extorsoens,
são escuzos; he sem dúvida o que que lhes fazião os Fidalgos; co
em muitas Cartas, ou Documen mo estava mandado já pelo Papa,
tos de Hespanha se intitúla Posta, e com pena de excomunhão. Doc,
e se de todo me não engano, se das Bent. do Porto.
faz delle menção no Foral de San POUSADOURO. Lugar, que
ta Cruz da Villariça por estas fór ficava no fim, e termo de alguma
maes palavras: Cavalario (isto he subida, onde naturalmente descan
Cavalleiro Peam) qui suo cavalo de sa, e depoem o seu peso, ou car
cela morir, aut mulier obierit, aut ga o caminhante, ou jornaleiro.
alia duxerit , non faciat posta, nec He usadissima esta palavra já dan
|fazendeira usque anno. Mulier orfa tes do principio da nossa Monar
na non faciat posta, nec fazendeira, chia. Daqui Pousa-foles, Pousa-ti
usque habeat virum. Mulier vidua non gas, &c. E no Latim daquelle tem
faciat posta , nec fazendeira; ergo po se dizia Pausatorium.
si habuerit filium in sua casa de quin POUSENTADOR. Aposenta
decim annos... Qui de posta fuerint dor, assentista. No de 1388 man
de dare, & ipsum, qui eum occide dou ElRei D. João I. debaixo dos
rint, nom det nihil. E logo declara seus Encoutos de 6 dooo soldos,
serem isentos de darem Pousada que senão desse Aposentadoria na
os Cavalleiros Fidalgos, os Alcai judiaría nova do Porto; salvo pelº
des, e os Ecclesiasticos. Doc. de Pousentador dº ElRei quando ahi esti
Moncorvo. • .

ver. Doc. da Cam. do Porto.


POUSADEA. O mesmo, que POYAR. Subir, trepar, fazer
Pousadía. V. Trcuras rom. poyo, ou escalão de alguma cou
POUSADEIRO. I. Assentista, sa para tomar hum posto, ou li
o que prepara a pousada, ou faz gar mais eminente. Cortavam brá
aposentadoría. E Martim Vasquez por , e mãos a todos aquelles, 4"
Pousadeiro do Conde. Test. do Con viam travar nas bordas pera pºr
de D. Pedro de 135 o. Doc. de Ta acima das gallés. Zurara, Chron.
TOU C3l. do Conde D. Pedro L. I. c. 8c.
POUSADEIRO. II. Era hum POYMENTO. Posição, postº
dos zagaes do rebanho , que pa ra, acção de pôr alguma cous"
rece tinha a seu cargo prever o Doc. das Bent. do Porto de 1389,
lugar mais commodo para as amei POYO. Na Baixa Latinidade se
joadas: abaixo delle havia outros disse Podium, o monte, outeirº,
Pastores mais pequenos, e de me ou collina mais alta, e acuminadº
nos soldada. V. Alfeireiro. Daqui veio o nome, que ain"
POUSADIAS.V. Aposentadorias. hoje se conserva em alguns mº"
Das Pousadías, e comedorías, que tes deste Reino, como em Lamº"
os Fidalgos pertendião nas Igre go, em Aguiar da Beira,
*_* .
&Com
º
PR PR 235
Com alusão á eminencia de hum De praça. Cod. Alf. L. IV. Tit.
monte, se chamou Poya o pão mais 7o. § 1. .
alto, e crescido, que antigamen PRACEBO. Assim chamavão
te (e hoje mesmo, mas não sem antigamente o Oficio de Defuntos,
abuso) se pagava ao Senhorio dos cuja primeira Antiphona de Ves
fórnos, em que são obrigados a peras principia Placebo Domino. No
cozer o seu pão os moradores do de 1298 Gonçalo Annes, e sua
lugar. Depois se deu o nome de mulher doárão certas fazendas ao
Poya a hum bolo de trigo bem Mosteiro de S. Christovão de Ala
feito, e formoso. E esta foi a o foens, com obrigação de lhes di
rigem de se chamar Payo ao Ante Zerem annualmente em dia de S.
Refeitorio na Religião de S. Ber Martinho Hum Pracébo, e duas Mis
nardo, e S. Domingos (lugar, que sas de sobre Altar por suas almas,
em outras Religioens se chama e daquelles , de quem elles houverão
casa do Deprofundir, por nella se os ditos bens, e heranças. Doc. de
rezar este Psalmo , antes que se Alafoens.
entre para o Refeitorio): E isto PRAGAMYO. Pergaminho. E
porque ali se ajuntão os Religio farão hum rool de pragamyo de coiro.
sos para hirem tomar a refeição, Doc. das Salzedas de 1297.
que antigamente se dizia: Tomar, PRASMAR. Vituperar, arguir,
ou Partir o pam. estranhar , criticar, reprehender,
PRAÇA. De praça.adv.) Públi abominar. Daqui., Prasmado, a.
ca, e claramente, á vista. Tinhão al Prasmada façanha, feito acção abo
zuns de praça, e outros caladamente: minavel. Poema da Perda de Hespa
quer dizer: Tinhão alguns solda nha. Tambem se escrevia Prazmar
dos á vista, e patentes, e outros no mesmo sentido.
occultos, e escondidos. S. Dar pra PRAS-ME. Subst. Consentimen
fa, aceitar o combate, sahir a cam to, beneplacito, despacho, por
po. A defesa d'armas, e homens, taria. Visto hum nosso Prar-me, por
que tendes be nada, em comparaçam Nós assinado, pelo qual nos prouve,
dos que vem sobre vos , se cuidaes se assi era, como elle dizia, fazer
dar-lhe praça. Pina Chron. d'ElRei lhe Mercê da dita Capella. Carta
D. Affonso V. c. 1o8. S. Pôr a pra d'ElRei D. Manoel. ….

ça a alguem, Pelejar, combater com PRASMO. Nota, mancha, cul


elle. Nuno Alveres ... aguardou até pa, defeito, censura, vituperio.
meio dia se vinhão os Castelhanos pa Nem podia alguum em elle poer pras
ra lhe poer apraça. Lopes, Chron. mo, que não fosse avido por malicio
d'ElRei D. João I. P.I. c. 83. so. Chron. MSS. dº ElRei D. João
§. Ter praça , o mesmo que ter I. P. 2. c. 193. Pina, Chron. d'El
campo, isto he, Dar campo, lugar, Rei D. João II. c. 66. > ",

ou praça para duéllo. Chegou bum PRAZENTEIRO. Festivo, en


Cavalleiro a requerer ao Conde, que açado, alegre, e que causa pra
lhe tevesse praça com outro Cavallei # # e He do Sec. XV.
ro, com quem era desafiado. Zurara, PRAZENTIM. INS. Mercadores
Chron. do Conde D. Pedro. L. II.Prazentins, o mesmo que Estran
c. 22. S. Em praça, o mesmo que geiros. E os Mercadores Prazentins
Gg ii @J’
2 26 PR ! PR
estantes em a dita Cidade .…. porque PRAZO. I. V. Emprazamento.
os ditos Mercadores Estrangeiros nom PRAZO. II. Obrigação, qual
podem retalhar paunos, nem comprar quer Escritura, concerto, ajuste.
nenhuńs averes fóra da dita Cidade V. Plazo II. E a ssa para voa sin
de Lisboa, salvo fruita, ou vinhos, plez, ou daquel, que este prazo pºr
ou sal. Cod. Alf. L. IV. Tit. 4. S. 1o. el mostrar, deve seer creuda sem ou
PRAZIDA. Dobras de Prazída tro juramento , e sem outro provo,
parece serem as que vinhão a este Doc. de Santo Thyrso de 1325.
Reino pelo trafico dos Mercadores PRECEITO. Instrumento de
Prazentins ; se he que não tomá Privilegio.
rão o nome de alguma Cidade, PRECEPTOR. Antigamente se
ou Reino de Africa, em que ellas dava este nome aos Mestres das
se fizessem. Zurara, na Chron. do Ordens Militares, assim aos Pri
Conde D. Pedro c. 8o, havendo di marios , a que chamavão Gram
to, que tomada Ceuta no Agosto Mestres, como aos secundarios, ou
de 1415, logo no mesmo mez, de subalternos, que simplesmente se
1419 a cercárão, e combatérão ri dizião Mestres. Vem do Latino Pré
jamente os Mouros, que longe de cipio, mandar com imperio aos que
a retomarem, fôrão desbaratados. lhe são inferiores: e como os Dis
Neste cêrco, diz elle, vendeo-se cipulos são desta natureza a respei
a galinha a 80 réis, e a canada to de seus Mestres , com termo
de vinho a 40 réis, sendo naquel mais afavel, e menos imperioso
le tempo o valor da Corôa Velha fôrão estes Preceptores Maiores chº
do cunho de França de 9o , ou mados Mestres. Em huma Escri
1oo réis, e as Valedías (que, diz, ptura de Thomar de 1229 lêmos:
erão moeda Mourisca) de 8o, ou Ego Frater Stephanus de Belmonte in
9o réis. E esta era a moeda d’ouro istis tribus Regnis, Portugalia, L*
que mais corria nestes Reinos; por gionis, atque Castellae, Preceptor,
que sempre no tempo dos Reis pas cum nostris Fratribus, &c. Porém
rador traficavão os Mouros nestes Rei de outra de 1 19o pela qual se ven
nos, comprando todos os annos a fru deo huma casa fóra do muro dº
ta do Algarve, a qual não pagavão Thomar Vobis Domno Magistro Guk
senão com ouro. A maior parte da dino, & D. Lupo Preceptori de Thº
quellas Dobras erão feitas em Tunes, mar, & omnibus Fratribus Templº,
e tinhão 13 quilates, e terço de pe é, c.; bem claramente se distinguº
so. Outras Dobras trazião aquelles entre o Mestre, e o Commendadºr.
Infieis, a saber: . Dobras de Prazí Mas note-se , que o Titulo dº
da , e de Sagilmença (Cidade do Gram. Mestre só era proprio dº
Reino de Féz) e de Marrocos, de que residia Ultra-mar. Com tudº,
que este Reino foi assás fornído. V. por urbanidade, e cortesaníactº"
Gorôa, e Dabra...: " "; , bem se dava algumas vezes º
- PRAZMO, I. Consentimento, Mestres dos tres Reinos, de Fº"
licença, approvação. Tinhão já o tugal, Leão, e Castella, que?"
prazmo da Camêra. * . priamente erão huns Commenda"
PRAZMO.
Prasmo . II. O mesmo ºque

res Móres. Porém estabelecidº
. ;
este Mestrado nas tres N…
PR PR 237
ficou sempre em Portugal hum Com cluio entre as Commendas de Mo
mendar Mór de todo o Reino, que gadouro, e Penas Royas, que erão
Presidia , e era superior a todos dos Templarios, e a de Algoso,
os Commendadores particulares. ue era da Ordem do Hospital
No de 12o8 se intitula D. João (hoje Malta.) V, a sua Hist, por
Dominguez Commendator Templi to Figueiredo
1.Ediç. T.I.S. 229. f. 4o9. da - •

tius Portugalis no Foral, que deu


no mesmo anno aos dez Povoado Em huma Doação , que no de
res do Carvalhal de Cera. Doc. de 1242 fizerão aos Templarios D.
Thomar. Este mesmo Commendador Pedro Martins , e sua mulher D.
>
Mór se intitulava algumas vezes Sancha Martinz, Confrades da sua
simplesmente Commendador. No Fo Ordem , se achão estas palavras:
ral de Castello Branco (talvez de 2um ista Carta fuit facta, erat Ma
1215 pois a copia que o data no gister per gratia Dei in tres Reynos
de 12 13 se convence de falsa á de Hispania, D. Martim Martiniz
-- vista da Real Doação desta Terra de Ordine de pauper Cavallaria de
no de 12 14; sendo certo, que não Templo de Salomom. Doc. de Tho
darião Foral a huma Terra , que mar. Porém no mesmo anno, e no
não era sua) depois de D. Fr. Pe mez de Septembro, se fez huma
dro Alvitiz Dei miseratione Magis Composição na Cidade do Porto
ter Militie Templi in quiburdam par entre os mesmos Templarios, e
fibus Vspaniae, immediatamente se D. Pedro I., Bispo da Guarda, so
segue:
bre os Direitos Episcopaes de Cas

Comendator Fr. Arnaldus Salamo tello Branco, e outras Terras da


mis — — — •

quelle Bispado , a qual se acha


Frater Strus (f Petrus) Pelaiz Co em Thomar , e nella assigna jo
mendator de Castel-branco- Of. hannes Scriptor , Magister Templi.
Fr. D. Examenus Comendator Tho E que Mestre do Templo em Portu
marii — — — — — — — gal podia ser este D. João Escri

E não dizendo Fr. Arnaldo donde tor, sendo D. Martinho Martinz


era Commendador , e confirmando Mestre nos tres Reinos?... Nada
em 2º lugar depois do Mº, nos mais era, que o Commendador Mór
obriga a dizer , que era Commen de Portugal, que já se intitulava
dador de todo o Portugal. Preceptor, já Mestre, já Commen
* Em huma Doação magnifica, que dador , á imitação de outros Rei
D. Fruilla, ou Froile Ermigez fez nos, em que havia estes Precepto
aos Templarios no de 1 239 se lê: res, ou Commendadores Móres, dis
Dono, & ofero Deo, ó: vobis Gui tinctos dos Ministros; Preceptores,
lhermo Fulconis , Praeceptori Domo Procuradores, e Mestres Provinciaes,
rum Militiae Templi in tribus Regnis como se intitulavão os Prelados
Hispaniae. Doc. de Thomar; Porém Maiores daquella Ordem, a respei
no mesmo anno, e a 22 de Julho, to do Gram-Mestre, que residia na
era Commendador da Ordem do Tem Palestina. - - -

plo em Portugal D. Pedro Costém; Com tudo os Commendadores


como consta da Composição, que das Casas só se achão nomeados
neste dia, mez, e anno se con por Commendador, ou Preceptor,
des
238 PR PR
desde o principio dos Templarios PREITAR. Pagar, pôr, satis
neste Reino, e particularmente no fazer, com direito, e Justiça. Cºm
tempo do Senhor Rei D. Manoel, maravidis lhe preitem. Doc. de La
em que já todos os Commendado mego de 1298. Ainda hoje dizem
res se dizião Preceptores , e as vulgarmente: Ha me de prantar ir
Commendas Praeceptorías , assim to, ou aquillo: Eu lho farei prantar,
na Ordem de Christo , como na &c. O que he corrupção do verbº
de Santo Antão, e outras. Destes Preitar.
falla jacob de Vitriaco in Hist. Hie PREITEGAR. Fazer ajuste,pac
rosol. c. 65. quando diz: Pari mo to, ou concerto. Hé huma das nos
do summo , ó principali Magistro sas palavras mais antigas. Comº
Hospitalis S. Joannis Procuratores tambem:
Domorum , quos Preceptores nomi PREITEJAR. O mesmo que
nant , certam pecuniaº summam sin Preitegar. +

gulis annis transmittunt. PREITEJAMENTO. Capitula


PRECTO. Pleito, litigio, de ção, ajuste, concerto. Que fizer"
manda, contenda. Doc, das Bent. com os Castellãos algum preitejamº
do Porto de 128o. to, que rezoado fosse. E que seg"
PRECUDIR. Açoutar, bater, do a preitezía, que pedissem, afim
castigar, ferir, desbaratar. Prou lhe responderia Lopes, Chron d'El
gue aaquelle Senhor, que hé Prince Rei D. João I. P.I. c. 158.
pe das hostes, e vencedor das bata PREITEZIA, ou Preitesia. O
lhas, que o Anjo da morte precudir mesmo. Que esta nova, e grandº
se asperamente a multidão daquelle guerra não se avia de partir por *
povo. Lopes, Chron, d'ElRei D. vença, e preitezia, mas por ferº*
João I, P.I. c. 149. pargimento de Sangue. Lopes, "
PRÉÉGAR. O mesmo que Pré sup. c. 141. — E se alguum dem"
gar. Por tanto sem maravilha preê dar mais em juizo, ou receber pºr
gamos a vossa bemaventurada devo preitesia, ou por outra qualquer%"
çom. Doc. de Almoster de 1287. ra que seja, mais que o que he th"
PREGAR. Rogar, pedir, su do, ou devido, perca o que assº é
plicar com grande empenho, e ef mandar, ou receber. Cod. Alf 1.
ficacia. Vem do Latino Precari, IV. Tit. 1. S. 26. .

mudado o c em g. Prégando-lhe, PREITO, I. O mesmo, que Pleiº


que le mandasse absolviçom pera el, to, demanda, contenda. Doc.dº
e pera todos d’aquel peccado; cd era Bent. do Porto de 1288.
Rico-home, e nom podea leixar as sas PREITO. II. Ajuste, conve"
terras, que havea com assás fadiga ção, contrato, composição de P**
populadas ; nem andar com todo seu é amigavel. Doc. dás Bent, do Fº"
Pendom, e atalha (Batalha) a Ro to de 1359. V. Pleito.
ma, Instr. de 1191, que contém a PREITO, e Homenagem. 0,
Fundação de S. Miguel de Lobri Antigos disserão em Latim ".
os em Penaguião. T. do T. gium servitium. Os que fazião eSTÊ
PREGARETAS. Assim chamá serviço, ou este Preito, e Homº,
rão ás Religiosas de S. Domingos, gem, se chamavão Ligios, e tinhãº
que instituio a Ordem dos Pregador. obrigação de servir o seu S… fl4
1
PR PR 239
não só na guerra, mas tambem na ou mais Coadjutores, que igual
paz, assistindo nos Tribunaes, co mente logravão o Titulo de Prior;
mo Assessores para julgarem, e de como se vio no Mosteiro de S.
cidirem os Pleitos, e Litigios. Dionysio dos Prados, junto a Pa
PREMA. Vexame , angustia, rís, ainda no de 1 362, Vid. Du
dôr, trabalho, aficção, pena. Vem cange. V. Prior. Pelo contrario no
do Latino Premo. He do Sec. XV. célebre Mosteiro de Guimaraens
V. Quadrella. havia o Abbade Pedro, e o Prepo
PREMITIMENTO. Permissão, sito do mesmo nome: aquelle go
faculdade, licença. Doc. de 1385. vernava, e tinha a inspecção ge
PREPOSITO. Primeiro Prela ral não só daquella grande Casa,
do, e como Geral em hum só Mos mas tambem de outras muitas, on
teiro , e todas as suas Granjas, de havia Clerigos, Monges, e De
Igrejas, e Residencias. Tal era o votas , que lhe estavão sojeitas:
Preposito de Grijó, quando ainda este presidia unicamente nos actos
não estava unido a Santa Cruz de daquella Communidade. Doc, de
Coimbra, e havendo ali Prior do Guim. de Io43, Io47, e Io5o.
Mosteiro, e Prior Crasteiro, segun PREREGALHAS. Súplicas, pe
do muitos Doc. do seu Archivo : tiçoens, requerimentos, instancias.
daremos hum só do Lº Baio a f Nós cobiçantes achatar as vossas pre
2o. no qual se achão as Firmas se regalhas piadosas. Doc. de Almos
guintes: Petrus Praepositar. — Of. ter de 1287. V. Achatar.
Tructesindus Prior. — Of Didacus PRESAR. V. Preforer.
Sacrista. — Of Petrus Precentor. PRESORES. Deu-se este nome
— Of Menendus Claustralis Prior. aos que antigamente reconquista
— Not. & Of Por este Doc, que vão as terras, de que os Mouros
he do Sec. XII, se convence a se havião apoderado. A este con
magnificencia do Mosteiro de Gri quistar com mão armada chamavão
jó, e a multidão copiosa dos seus Presar, ou fazer presa nos objec
individuos; pois só nos Mosteiros tos da conquista. E os que assim
deste caracter he , que além do entravão á posse, ficavão senhores
Abbade (que aqui se chama Prepo absolutos de tudo o que á força
.rito) havia hum Prior Mór, ou d’armas havião tomado, sem res
Mestre Prior, que na ausencia do peito algum aos possuidores anti
Abbade governava em tudo, den gos, ou seus descendentes; dan
tro, e fóra da Casa. A este Prior do-lhe a Posse, e a Propriedade
Mór estava subordinado o Prior o Direito da Guerra. V. Alvende, e
Claustral, ou Crasteiro (a que tam Presuria. Fundata in Villa Sonozelo,
bem chamárão Sub-Prior, ou Prior de Presores de ipsa Villa. Doc. de
do Claustro) cuja inspecção senão Pend. de 87o.
extendia fóra do Mosteiro. Tal PRESTAMEIRO.I.Antigamen
vez succedia , pela extraordinaria te se disse Prestameiro, o que tinha
grandeza das Communidades, que alguns bens da Real Corôa, consig
o Prior Crasteiro não podia acudir nados para a sua congrua Susten
a tudo: os Abbades então lhe no tação, ou parte della, V. Apresta
meavão hum, dous, tres, quatro, mo, e Aprestaçoens. No Foral de
Bra
24o PR. PR.

Bragança de 1187, se diz: Cavala PRESTAMENTO. V. Apru.


fa7710.
rio , que hi Aprestamo nom tover,
nom peite Luitosa. E quem Apresta PRESTAMO. V. Aprestamo. ()
motover, e filhos ouver, nom peite PRESTANÇA. Fazer prestança,
Luitosa , nem tolliam a seus fillos o e amor. V. Fazer amor. No de 1295
Aprestamo. Donde se vê, que tam Fr. Martim Gil Babilon, e Fr. Gon
bem os Cavalleiros de Bragança, falo. Gil Babilon, Frades de S. Fra
tendo Aprestamos , se chamarião circo no Convento do Porto, com li
Prestameiros. Hoje se chama Pres cença do seu Guardiam, fizerão hu:
zameiro, o que logra huma Pensão ma larga Doação da legitima, que
Prestimonial (Prestimonio, ou A lhes pertencia de seus Pais Fr. Gil
prestimo) tirada para sempre dos Babilon, e D. Maria Martins, re
reditos de algum Beneficio, humas sidentes no Julgado de Penafiel,
vezes com obrigação de rezar o a sua Irmãa Móor Gil Babilôa, Mon
Oficio Divino , outras sem ella, ja de Arouca, em attenção ao mui.
e com faculdade para se desfruc to bem, ajuda, e prestança, que dek
tarem in quocumque statu. Mas sem Ia tinhão recebido. Doc. de Arouca.
pre ha de ser tirada, ou reserva PRESTARIO, V. Aprestamo.
PRESTE. Sacerdote. He con
da esta porção com autoridade, tracção de Presbiter. •

ou pelo mesmo Instituidor, ou Pa


droeiro, que nisto não está sujei PRESTES. O mesmo que Prett.
to ao Bispo, nem ao mesmo Papa. PRESTIMO.O mesmo que Pre
PRESTAMEIRO.II. Mordomo, 1477107710. :
ou Rendeiro, que cobrava os fó PRESTIMONIO. Esta palavra
ros, e pensoens dos Aprestamos. se fez hoje inteiramente Ecclesias
V. Almeitiga. tica: he huma porção dos reditos
. de
*— _ ===-=- |- - –=•
e •

(*) Não padece dúvida, que o Prestamo fosse synonimo de Atondo, e verdadeirº
mente huma consignação vitalicia, não só de alguma pensão em dinheiro, certa, º*
bida; mas tambem de qualquer fazenda, cujos frutos, e rendimentos, agricultados º
lo mesmo Prestameiro, cedião em sua utilidade, e proveito; reconhecendo ao mesmº
tempo o Direito Senhório com alguma foragem. Na Casa de Penacha, que he nº º
pado de Lugo, se achou hum Doc. Orig. do I de Maio de 867: por elle consta, dº
Sabarico, ultimo Bispo
da a sua Diocese de Dume
destruida, junto aos
e assolada pelosmuros de Braga,
Sarracenos (o vendo esta pouco
que seria Cidade,
antesº "
do
Reinado de D. Afonso o Grande) se dirigio a Flaviano, Bispo de Lugo, e lhe pcdº
a graça de conceder-lhe em Prestamo para seu vestido, e sustento as Igrejas, que *
tião no Condado de Montenegro, desde o rio Eume até o rio Euve, e desde o nati"
to do rio Minho até a costa do mar; condicçionando, que as possuiría só pelo temº
que for do agrado de Flaviano: e que este, ou seus Successores as poderáó reassumir
quando muito lhes parecer, sem estrépito algum de Juizo, e sem que alguma presº"?
#ir todos
de 3o , ou mais annos lhes sirva de embaraço. E o mesmo Sabaríco se # {
os annos á Cathedral de Lugo na Solemnissima Festa da Assumpção de N.
Senhora com o Clero, e Povo daquellas Igrejas; levando a Reconhecença de cem º
gros, e assistindo devotamente com cirios, e oblaçoens a mesma Festa. Fez pois Sabari
co o seu assento no lugar chamado Mindunicto, que hoje se diz Mondonhedo. E exa
qui a verdadeira Origem deste Bispado, e não a que com menos exacção, alguns Autº:
res nos transmittírão. Hesp. Sagr. Tom. XL. in Fláviano. No Tom. XVIII, se acha"
2 Escrituras d'ElRei D. Affonso III. dirigidas a Sabarico, Bispo de Mondonhedo, *.*
S. Rozendo, que presidio na mesma Igreja: dellas igualmente consta, que Sabarico "
gio nºhuma irrupção de Sarracenos (muito depois que havião entrado em Portugal
levando o Titulo do Bispado de Dume a Mondonhedo.

|
PR PR. 24 I

de hum Beneficio, que se confere dade, e arrojado nos braços da po


a hum Ecclesiastico, ou leigo in breza : e não menos, lembrado,
quocumque statu. Differe da Pensão, que delle tinha recebido noventá
Tença, ou Cavalleirato; porque es maravidís, que mandou para a Igre
tes são em vidas, e o Prestimonio ja de Santa Maria de Trancoso, que
he para sempre; e por isso vem de novo se edificava, e que empre
hoje debaixo do nome de Benefi gou em comprar algumas herda
cio. V. Aprestamo. Antigamente des; e outras cousas de utilidade
porém , se chamou Prestimonio a para a Cathedral de Viseu, a quem
Pensão diaria, ou annual, tempo igualmente tinha deixado huma her
raria, ou vitalicia, não só na Igre dade em Silvares para seu Anniver
ja, mas tambem no Seculo. E não sario: De consentimento do Prior
só tudo aquilo, que se concedia da Sé Pedro Lombardo, e de to
para sustento , e decente uso da dos os Conegos, o admittio a hu
pessoa, se chamava Prestimonio, ou ma Conesía ; dando-lhe em Presti
Aprestamo; mas tambem as Igrejas, monio o Couto de Mouraz, com a sua
terras, e lugares, consignados pa Igreja ; ajuntando-lhe ainda as Vil
ra esta contribuição, tiverão o mes las, de S. Miguel, de Castello, e
mo nome. Porém estes Prestimonios
Cernada com o seu Couto, e com to
dos Antigos acabavão com a Pes das as suas pertenças , em quanto
soa. No de 1 169 ElRei D. Affon fosse vivo : e que por sua morte,
so Henriquez fez restituir a Lor quanto se lhe achasse (por qual
vão a Villa de Serpins, que Gon quer modo licito que o adquirisse)
çalo Moniz lhe doára no de 961, ficasse á Igreja de Viseu por sua
porém destruida pelos Sarracenos; alma. Foi isto no de 1 171. Doc.
o mesmo Rei a tinha recuperado, de Viseu. No Archivo de Arouca
e feito Mercê della a hum seu Ca Gav. 1. mas. 5. n. 35. se acha hu
valleiro , chamado Pelagio Alvi ma Constituição de D. Martinho
tes, ou Pelagio Mossellião, In Pres Arcebispo de Braga de 1296, pa
timonium, ad populandum, Óº adri ra que toda a Igreja, cujo rendimen
bi prestandum, com obrigação po to não exceder o de 8o libras de Di
rém de a deixar por sua morte ao nheiros Portuguezes, não possa ser
dito Mosteiro : o que nem elle, onerada com Prestimonio; para que
nem sua mulher, e filhos executá os Parochos possão exercitar a Hos
rão: Manda por tanto o Piedoso pitalidade, ó tempora!. O mores!.
Monarcha, que por morte dos fi Rendendo huma Igreja , segundo
lhos de Pelagio fique livre ao Mos as livras daquelle tempo , 1328
teiro sine ulio herede. Doc. de Lor réis, não erão escusos os Parochos
vão. Vendo D. Godinho, Bispo de da Hospitalidade : E que diremos
Viseu, que Domingos Annes Rux hoje?. Frugalidade, e moderação
verda, estava já entrado na velhi dos Portugnezes para onde vos
ce, sem Beneficio Ecclesiastico , ausentastes!.
e sem retribuição alguma daquel PRESTUMEIRO. V. Pestru
les, a quem muí fielmente havia meiro.
servido: e outro sim, reconhecen PRESURIA, e Apresuria. L
do-o por hum sujeito cheio de Pie Conquista, ou reivindicação feita
Tom. II. -
Hh GOI}
242 PR PR
com mão armada, da qual usárão erão comettidas. Tinha inspecção
os nossos Maiores, quando come não só no Militar , mas tambem
cárão a tomar por forças as terras, no Criminal, e Civíl , se expres
e possessoens, de que os Sarrace samente lhe não era prohibido.
nos havião despojado a seus avós. Podia nomear hum Alcaide menor,
E o Direito da Conquista lhas ad que actualmente residisse no Cas
judicava, ainda que por Avoenga, tello, ou Praça, de que havia fei
ou Herança lhes não pertencessem. to Omenagem, com obrigação de
V. Alvende, e Presores. Na Doa nelle effectivamente residir. Em a
ção que o Presbitero Ermigio fez Doação da Herdade de Travanca
a Lorvão da Igreja de Mollelos, por ElRei D. Afonso I. a D. João
com todas as suas terras, Testa Pirez, Bispo de Viseu, no de 1 183
mentos, e passaes, no de 11 o I , se acha Velascus Pelais, Praetor Co
diz: Et abui ipsa Ecclesia cum suas Iimbriae — ts. Doc. de Viseu. E
baereditates de apresuria, cum geni no Foral de Castello Branco, da
tores meos, nominibus Tructesindo, do pelos Templarios se achão o
dº Aragunti , in temporibus , &c. Pretor, e o Alcaide menor daquella
Lº dos Testam. de Lorvão N. 63. Praça, na fórma seguinte
V. Methcaes. (*) D. Strus (f. Petrus) Albo, Pre
PRESURIA. II. Preza d’agoa, tor de Castel-branco. — afuit. D.
açude, mota, levada. V. Exudrio. Stephanus Alcaide de Castel-branco.
PRETOR. Alcaide Mór, e Se — afuit, V. Alcaide Mór.
nhor absoluto das Terras, que lhe PREZ, I. Preço, ou estimação
de

(*) Em os Doc, da Infima Latinidade, que em Portugal, e Hespanha se conservão,


datados até o Sec. XII, são mui frequentes os verbos Aprendo , Prendo, Prehendo, e
Preso, com os seus tempos, e dirivados. v. g. Prendi, Presi, Presinius, Preserunt, A
prendinius, Prenderunt, Presura, Pressura, Presuria, Presores, &c. E supposto que al
umas vezes se devão entender das herdades, terras, Villas, ou Lugares, que á força
#s se tomarão: o mais frequentc, he entenderem-se da posse, que dellas se tomou;
ou fosse por autoridade propria, quando ellas se achavão reduzidas a fogo morto, incol
tas, desaproveitadas, e sem actual possuidor; ou por Autoridade, e Mercê do Sobera
no, ou de quem nellas tinha o direito Senhorio, e já reconquístadas, alguem se ofe
recia a povoalas, e reduzillas a cultura. E quando desta Licença, ou Mercê se passavão
Letras Patentes, e autenticas se dizia, que se tomavão cum cornu, ó alvende. V. Al
evende, Cornu , e Laudonianes. Por hum Doc. de Lugo de 74% nos consta, que Aloito,
e sua mulher. Ika doárão á sua Igreja de Santa Comba , que acabavão de fundar , o
Quinto de toda a sua herdade , quam de manu ipsius Pontificis (Odoario) per presura
accºperat. No de 832 fez Doação D. Afonso, o Casto, a Adulfo, Bispo de Lugo, das
Cidades de Braga, e Ourense, com os seus territorios, Igrejas, e Mosteiros; visto se
não poderem ainda restituir ao seu antigo estado; com declaração, que cessando a de
solação, e, miseria, em que os Pºgãos as deixarão, tornarião as cousas ao que primei
ro fôrão. O mesmo Rei confirma esta Doação no de 835 ao Bispo Froilan , dizendo,
que supposto Braga estivesse povoada (mas não tanto que podesse ter já Metropolitano,
e por isso transferio esta Dignidade para Lugo no de 841 ); os Clerigos, Monges, e
Povo paguem á Sé de Lugo tudo o que de Direito devem pagar, ainda daquelas ter
ras, quas de exqualido primitus prehenderunt, egessierunt (ganhárão ) vel aduc cum Deo
juvantine ºrchendere, vel egissire potuerint. Na Escritura da Fundação, e Dote do Mos
teiro de Santa Maria de Barrato nas margens do rio Minho, e no Bispado de Lugo, da
E. D. CCCXX, que he anno de Christo 842 se diz, que nos lugares ermos, e incul
tos, que D. Senhorinho tinha tomado, squalidavit (roteou, alimpou os matagaes ) é fr
cit vineas, é casas multas. E bem claro está, que estas tomadias , e outras muitas,
não fôrão feitas com mão armada. V. Hesp. Sagr. Tom, XL. f. 353.379. e 381.
,--- ---…" PR. PR 24;
de alguma cousa. Doc. do Seculo meçou a dar este honroso Titulo,
XIII. •

que depois se extendeo a todos os


PREZ. II. Agilidade, presteza, Reis, e Potestados, que não re
desembaraço, resolução, capaci conhecem superior na terra, e que
dade, prestimo. Ajuntou a symil são Chefes, ou Principaes dos seus
AMouros de cavallo, em que avia fa Inferiores, e Vassallos. O 1º que
ma de préz , e de honra. Zurara, entre os Portuguezes, e á imita
Chron.
c. 38. do Conde D. Pedro L. II. ção dos Reis das Asturias, e Leão,
• • •

se intitulou Principe foi o Senhor


PRIGOM de Deos. Prisão de D. Afonso Henriquez. Desde o
Deos. Desta expressão Catholica mez de Março de 1 129 se achão
usárão os Antigos Portuguezes, muitos Doc., que nos informão
para dizerem , que jazião postra desta verdade, que se podem ver
dos no leito da sua dôr, e presos V. Cruz, aos quaes ajustaremos
com a enfermidade, que o Senhor agora a Doação, que o mesmo Se
Deos fóra servido mandar-lhes, e nhor fez a D. Mendo Moniz, e a
de que só pola morte esperavão sua mulher Goina Mendez, a qual
livrar-se. Eu fobão Duraens, jazem se acha em Paço de Sousa Gav. 1.
do na prigom de Deos, faço em esta mas. 1. N. 6., datada no de 1 13o,
guira minha manda. Doc. de Lame que diz assim In Nomine, &c. Ego
go de 1316. . Egregius Infans Alfonsus, Gloriosis
PRIMARIÇAS. As primeiras simi Hispaniae Regis nepos, & Con
lamprêas , que se pescavão. Nas sulis D. Henrici, & Reginae Thara
Inq. Reaes se achou que na Aldêa siae filius, Dei vero Providentia to
de Sever de Pessegueiro de Vouga tius Portugalensis Provinciae Prin
tinha a Ordem do Spital hum ca ceps, &c. Porém achando-se em
sal, que pagava a terça do que outros incontestaveis Monumentos
matasse no Rio, e as primariças, com os Titulos, já de Infante, já
que á adar a el Rei , e rousso , e de Filho do Conde D. Henrique , e
omezio, e merda em boca. Doc. da da Rainha D. Thereza, já de Rei,
T. do T. -

já de Capitão, ou Duque dos Portu


PRIMEIRA Feria. Domingo guezes: bem facil he de ver, que
PRIMICERIO. Segundo a L. todos estes Titulos erão Synoni
VII. tit. 6. da 1." Partida ,? tanto
mos, e que nada mais significa
quer dizer em Latim, , como Pri vão, que hum Soberano, ou Monar:
meiro no Choro , ou em começar os cha absoluto, e Independente, antes
Cantos, e mandar, e ordenar aos ou mesmo que nas Côrtes de Lamego
rros como cantem, e andem honesta fosse com a maior solemnidade re
mente nas procissoens. Segundo esta conhecido, e acclamado por Monar
difinição os nossos Chantres são os ca, e Rei dos Portuguezes. E que ?
antigos Primicerios, ou Primicleros, Elle havia succedido n’hum Reino,
segundo se acha em muitos Doc. que já em tempo de sua Mãi se
desde o VIII. até o Sec. XII. reconhecia independente, e nomea
PRINCIPE. I. De Primum ca va como tal em muitos dos nossos
put se disse Princeps, e Principe. Documentos : que muito logo se
Aos Imperadores de Roma se co intitulasse Principe: Titulo, que
Hh ii abran
%

244 PR PR
abrangia a superioridade toda, que que no de 1433. se verificou no
considerar se póde em quem era o Infante D. Affonso, filho d'ElRei
Soberano de toda a Monarchia Lu D. Duarte, jurado então Successor
sitana?... No Livro dos Documentos da Corôa. Hoje entre nós #
confirmador da Mitra Bracharense N. Principe o Primogenito do Rei,
4. se acha a Doação magnifica da herdeiro immediato na Successão
Rainha D. Thereza á Sé de Tui do Reino. •

no de 1 125, e nella se diz: Con PRINDIPE da Curia. II. Mor


cedo etiam vobis , Óº Ecclesiae Tu domo Mór. V. Mordomo da Curia,
dennsis Sedis in perpetuum ; ut pa PRINCIPE de algum Territo
nis, vinum, cibaria, animalia, Óº ves rio, Comarca, ou Lugar. III. O
timenta (sive ea ex donatione, sive mesmo, que Rico-homem, Potestadº,
praetio, adquirieritis, vel de labore Maiorino, ou Tenente. V. Podestade.
vestro habueritis) libere, & absque No Instrumento da Dimissão, e
pedagio deferantur pertotum Regnum Renuncia dos Direitos Episcopatº
Portugaliae ad Ecclesiam S. Mariae no Mosteiro, e Couto das Salze
Tudensis sedir. E na Doação do das , feita por D. Mendo, Bispo
Mosteiro de Azere á mesma Sé, e de Lamego no de 1 164, se acha:
no mesmo anno, que se acha no Ego Suerius Viegas, Princeps Lamé
dito L." N. 5., depois de dizer a ci, & Filius D. Tharasie, prºprir
Piadosa Soberana, que lho doava manibus roboro banc Cartam. Doc.
com a Igreja de S. Cosme , e S. de Lamego. ElRei D. Sancho I.
Damião, com o seu Couto, e her com seus filhos, e filhas derão car
dades, continúa : Habeatis vos E ta de Povoação, no de 1202, a D.
piscopus D. Adefonsus , Óº Ecclesia Gonçalo, Prior da Igreja de Auf
Tudensis , & Successores Vestri li di, (f. Ansede) & c eteris Fratriº
berum de toto Castellatico, e de to bus ibi commorantibus, para os Mo
ta voce Regia per infinita secula sae radores do Reguengo da Cedº"
rulorum ; ita ut ab isto die de meo (hoje Cederma) e nella se achº
jure, & de Regio jure successorum estes confirmantes
meorum sit ablatum , Óº in dominio Ego D. Pontius Alfonsi, qui tú"
S. Marie Tudensis Sedis sit tradi temporis eram Princeps em Pena:
tum, atque confirmatum. E para não guiam, & in Godim, vidi, ó "
abusarmos da paciencia do Leitor firmavi. • +

em cousa tão clara: No Foral de Ego Gonsalus johannis, qui ti"


Penella junto a Coimbra dado pe temporis eram super-justitia in Bº
lo Infante D. Afonso Henriquez am, & in Pena-Guiam, ó in Gº
no de 1 137 se diz : De illa ata dim, vidi, Óº confirmavi. {

laia, Rex media, & habitatores alia Ego Gonsalus Didaci, qui t"
eram judex ipsius terre, viúi º…
media: De Vigilia de muro, Rex me confirmavi. •

dia , & habitatores alia media. V.


- Johannes johannis Portariu: Dñt
Arricaveiro. E que Rei sería este,
senão o mesmo Infante , que ou Regis vidi, o confirmavi. Lºº
tras vezes se nomêa Principe ? Foraes Velhos. E aqui temos hum
Rico-homem, hum Sobre-juif, buf!
Depois deste tempo jazeo em juiz Ordinario, e o Mordomº# 0ll.
Portugal o Titulo de Principe, até Míº
PR PR 245
Saccador dos Direitos, e rendas da PROE. Utilidade, convenien.
Corôa, que naquelle tempo se cha cia, proveito. Mia proe. Doc. de
mava Porteiro. No de 12oo deu El Pend. de 1289.
Rei D. Sancho I. carta de Foral PROHE. O mesmo que Proe.
aos XI. Povoadores de Abaças, em E consirante prohe de mha alma. Doc,
terra de Panoyas. Nelle se acha da Graça de Coimbra de 1288.
entre os confirmantes: D. Pelagius PROEIRO, e Ploeiro. Arrais,
de Sandi, Princeps de Panonia. Lº homem pratico em governar as em
dos Foraes Velhos. barcaçoens, dirigindo a proa com
º PRIVIDAS. Particulares. De segurança, e destreza ao lugar
pois que ElRei mandou nas Côr destinado.
Petintal.
V. Alcaide do navio, e •

tes d'Elvas de 1361 que os seus


Almoxarifes não fizessem Reguem PROFEITAMENTO. Interes
gos das herdades, que a Corôa che se, utilidade, proveito. Cá enten
gava a possuir pela satisfação , e do, que será a meu serviço mais, e
paga das suas dividas; accrescenta: a profeitamento da Terra. Carta d'El
Cá esto nom avemos por herdades do Rei D. Diniz de 1 295. Doc. de
nosso Rreguengo , e que huse em el Moncorvo. :

las, como antes royam d'0/er, quan PROFEITANÇA,AS Proveito.


do eram de pessoas prividar. os. Doc. de 1295. E fazede-a mo
PRIUL. Prior. Doc. de 1278. rar a taaes homeer, que seja a pro
PROCURAÇAO. V. Colheita. feitança d’ssa nossa cassa. Prazo de
Segundo huma Bulla de Innocen Tarouca de 1 3o8.
cio IV. de 1 254 , não devião os PROFEITO. Proveito. Doc. de
* *< **

Arcebispos de Braga, quando visi 1285.


tassem a sua Diocese, levar mais PROL. O mesmo, que Proe.
do que hum marco de prata de Pro PROL-FAÇA; Termo, com que
curação, e Colheita. Doc. da Mitra antigamente se davão os parabens
Bracarense. E note-se, que antes de alguma felicidade, ou ventura.
da Lei de 2o de Novembro de Não quiz dar-lhe então o Prol-faça,
1539, o marco de prata não amoe por o saber em segredo: agora o fa
dada, sendo de XI. dinheiros, va o , por ser cousa pruvica. -

lía 3d).34o réis: por esta Lei ficou PROMESSA. Certa Pensão ar
valendo 24oo. Hoje o marco de bitraria, que o Colono, ou Em
prata de XI. dinheiros (que he a fiteuta promettia dar ao Mordomo,
Lei da moeda) vale 6 doooo réis; se este a favorecesse. Era propria
e sendo de X. dinheiros, e 6 grãos mente huma Ofreção , ou Luvas.
(que he a Lei dos Ourives da pra V. Offreção, e Pedida do Mordomo.
ta) vale 5 do 6oo réis : e isto pela PROMETEMENTO. Promessa
Lei de 4 de Agosto de 1 688. de fazer alguma cousa. Doc. das
PROCURADOR. Dizia-se i Bent. do Pórto de 14o2. .*

ualmente do homem, e da mulher PROMISSA, Premizia, Promis


no Sec. XIII. sia, Promicia, e Promisa. Assim
PROCURATORIO. Livro da escrevião o que nós hoje dizemos
Procuradoría. Doc. de Penadono Primicia, que com o Dizimos se
do Sec. XV. paga á Igreja, segundo o costu
• me » ;
246 PR PR
me, e respectivas Constituiçoens PROVA. Purgação Canonica, os
de cada Bispado. E huum quartº Pulgar. V. Ferros. S. I. Esta devia
de maravidi de promissa - Pro li fazer o que estava indiciado de al
gum crime. No de Io83, se fez
no, & promissa. — Detis eiradá huma Carta de Venda ao Mostei
gam, lagaradígam, promissam, Pê
iitam Domini Regis. Doc. de Pend. ro de Pendorada: o preço da her
de 13o6, 1 329, 1295 , e 1.335. dade comprada foi: tres quarteiros
Premizia em hum de 1336. Ibid.» de milho, huma capa de burel,
Promissia em 1438 ; Promicia em hum cabrito, e o que o vendedor
14:14; e Promisa em 133o. Ibidem. tinha pago por castrar hum criadº
PROMOVEDOR., Promotor , do Mosteiro; mas o principal foi
que applíca, Zéla, e procura o cum huma Prova, que elle tinha obri
primento da Justiça nos Auditorios gação de fazer, e os Monges º
Ecclesiasticos. Per mingoa de pro perdoárão: é dimiristis mi unaprº
movedores da Justiça , que bi nom va, quam debebam facere. E no de
avia, que rrefretassem o dereito da 1 127 houverão outra herdade, com
justiça. Carta d'ElRei D. Afon prada com a remissão da Prové,
so IV. Doc. de Coimbra de 1 352. que outro criminoso era obrigadº
PROPRIOS. Assim chamavão a fazer: Unam provam, quam debe
a certas rendas dos Direitos Reaes bam facere. Doc. de Pend. V. jui
no Algarve. Tinha vontade de reque zo. (*)
rer pera ti Villa Real, e os Proprios PROVENÇA. Provincia, *Re
do Algarve. Pina, Chron. do C. gião, Clima, Diocese. He do Secº
D. Duarte de Meneses, c. 7. XIV.
PROSTIMEIRA. Fim, remate. PROVENÇA. O mesmo que
ultima sorte desta vida mortal. Co Providencia. Estava conforme com º
mo esta cuitada gente nom sabe a Provença de Teos.
má prostimeira , que tem aparelha PROVENDA. Em hum Doc.
da. Zurara, Chron. do Conde D. de Grijó, que contem os Direitº
Pedro. L. I. c. 62. do Mordonado Mór da Terra dº
PROSTUMEIRO. V. Prestru Gaya, se diz: It : ha d'aver "
meiro. Car
-*

(*) Entre a diversidade de Provas, que antigamente se praticavão, tinha hum lugar
da Caldeira, que consistia em metter o accusado o braço inteiramentº nú em1.
distincto a

huma caldeira de agua fervendo; e demorando-se algum tanto logo lhe cobrião º "º
sellando a ligadura. E se depois de hum certo tempo não apparecia sinal de queimadº,
tinhã
dava-se por innocente o accusado ; assim como apparecendo vestigios do fogo # de
por convencido. No de 986 se decidio a final a contenda entre D. Pelagio ?
Lugo, e D. Pedro, Bispo de Iria sobre certas pessoas, que o de Lugo dizia {ôrão d'anº
tes tributarias á sua Igreja: o que D. Pedro confessava não saber. Depois de lºtº avê
riguaçoens reduzio-se a causa a prova, ou pena da Caldeira, na qual mettéráo ºs #
• C
duas pessoas, huma de cada partido, e sahio a Sentença contra . Pelagio, que º
3 rdeconvencido,
Fevreiro de dizendo: De huma
995 se deu me dato judicio,nahanº
Sentença agnitionem
Cidade de Lugoveram
contraesse prófitror.
Isófredº? e sua
mulher Igilo, accusados de furto. Mandou-se primeiramente que se purgassem deste cº"
me, mettendo-se até o pescoço nas agoas do rio Minho. E não bastando esta fºrº" pº
ra que elles confessassem a verdade, se lhes impôz a pena da Caldeira, e lºº as em"
polas, e queimaduras os fizerão confessar, dizendo : In peccato nostro exivit." panº
i stulata super nos. V. Hesp. Sagr. T. XL. f. 148, 15o, e 226. A remissão destas "
"vás veio finalmente a comprar-se, como dos exemplos assima se manifesta,
PS • 247
\ PR.
### Carregaães, dos navios, que esteve PROVICO. Público, claro, ma
#### rem na provenda. Chamarião Pro nifesto, á vista de todos.
"… venda, ao lugar, tempo, ou acção, : PROVINCIA. I. Antigamente
#
12 ****
•• • •••
em que o navio está á carga, ou se tomou por hum Territorio, Des
…º provendo-se de mantimentos, ou trito de huma Cidade , ou Villa
0;# reparando-se, e compondo-se , do Notavel, Julgado, Conselho, Cor
}; # que lhe he preciso, e necessario? reição. v. g. Provincia de Lamego,
* #: PROVEZA. Pobreza, falta, de Braga, do Porto, de Guimaraes,
-- # mingoa, indigencia, lazeira. To de Viseu, de Céa, de Coimbra, de
.….!!!
dos os moradores da Piconha são Santa Maria (hoje a Feira) de Li
$0 # obrigados a pagar no fim de cada nhares, de Castello branco, &c. Nes
"…
cu: *
mez ao Alcaide , que estiver no tas Provincias, ou Comarcas pu
e ºs}: seu Castello , hum pão centeio, nhão os Reis hum seu Ministro
#### dos que cada hum igualmente faz de maior alçada chamado Maiori
## ! para sua casa, O qual não pagaráõ no, ou Juiz do Rei, ou Sobre-jus
:#
os Clerigos, nem as pessoas, que não tiça , ou Vigario , ou Presidente,
amassarem pam com proveza. Foral &c... V. Podestades, e Principe III.
sí, dº PROVINCIA. II. No XV. Se
d'ElRei D. Manoel de 15 15. Doc.
O fiº de Chaves. | culo se deu o nome de Provincia
n, º PROUGUER. Ter por bem, a qualquer Hermida , Oratorio,
V2" |
1 …"
ser contente, agradar-se de algu Capella, ou Recolhimento, e Hos
ma cousa.
Este he hum dos ver picio religioso, em que vivia al
For: , bos irregulares. No Indicativo di gum, ou alguns homens, ou mu
## remos: Me praz, te praz, lhe paz, lheres, que fazião voto de Profissão.
no Preterito perfeito: Me prugue, Estas Provincias erão isentas de pa
*;
| rº: ou me prougue, te prougue, lhe prou garem Portagem pelos Foraes d'El
gue, &c. O Honrado Baram, e Sa Rei D. Manoel. •

ges D. Gonçalo Steves Dayão de La PROVINCO. Parentella, linha



|| 5*
/*
mego, e o Vigario, e Raçoeiros d'Al gem, geração. E se alguem do meu
1 (5.
**
macave, tendo grossas demandas, por provinco, ou de estranio, esta mha
*

Cl 1" razom das partenças do pam, e do manda britar. Doc. de Pend. de


, "º
"; º vinho, e das direituras, meuças, an 1285.
niversarias, que fossem mandadas á PROVISO. Palavra de impro
Egreja, dizimos pessoaes, mandas, perio. O mesmo # mofino, per
e Ofertas, e Obladas, ou Obradas: verso, maldito, destinado para o
Tiverão por bem d'esquivar todo esto Inferno.
pera sempre, e aveerom-se pela gui PRUVICO.A. Publico, notorio.
sa, que se segue: Que o Dayão lhi sabido. V. Prol-faça.
prugue, e praz, &c. Item: prougue PSALTEIRO Galego. Livro pe
aos ditos Vigario, e Raçoeiros, &c. queno, ou manual, que continha
Doc. de Almacave de 1337. Faça os Psalmos de David. Nas Provin
des della o que vos prouguer. Doc. cias do Minho, Beira alta, e Tras
de Lamego de 1298. Cá assy aprou dos Montes se chamão Gallegas as
gy a vós, e a nós. Doc. das Salze cousas fracas, pequenas, ou Pou- .
das de 1 273. co aproveitadas, v. g., gados, li
PROVICAR. Publicar. nhos, fructos, &c. Da mesma sor
f@
248 PU PU
te disserão antigamente. Psalteiro cumentos se chama Moio de vinhº,
e se diz constar de 8 almudes. Mas
galego, o que era de caractéresmiu
dos , e nada magestoso. Aquella se o Moio se contava de 16 alquei
antipatía das Naçoens limitrofas, res: que muito fosse Moio hum P
e que repetidas vezes se tem com gal, que em oito almudes de vi
batido , fez que os Portuguezes nho , conta 16 cantaros, ou al
olhassem com indifrença, ou me queires? Daqui veio, que nos di
nos afecto, para as cousas de Gal tos Foraes já se diz constar o Pu
liza , como não frizando com os fal de cinco almudes; já de oito,
seus genios briosos, e altivos. Sin como no de Serpins ; já de 8 e
co Psalteiros galegos boos. Doc. de meio; já de nove ; governão-se,
Santo Thyrso de 1438. V. Terra como parece, pelo respectivo Mui,
Galega. … . que na Terra se praticava. No de
PUSTUMEIRO.V. Pestrumeiro. Font’arcada de 15 14 havendo dito,
PUBREGO.A. Público. He mui que toda esta Terra está repartida
frequente o uso destas Dicçoens em 32 Courellas, cada huma das
desde o Sec. XIII. até o XVI. quaesha de pagar annualmente hum
PUÇAL. He antiquissima em Moio de pam quarteado , a saber,
Hespanha esta vóz Pugal, ou Po Trigo, centeo, cevada, milho, em:
fal por certa medida de vinho. tro Moio de vinho: continúa: Epºr
Desde o Seculo X. se acha em os Sentença se declarou, que cada huma
nossos Documentos, bem assim co Teiga , das que fazião hum Maiº
mo o Quinal, que constava sempre i (que constava de 64 Teigas) por ti:
de sinco Puçaes. Em huma Doaç. da déz dellas se pagassem oito ak
de D. Fernando, Conde de Cas queires desta medida corrente: Epor
tella, de 934, que traz Kepes na esta conta montão as 64 Teigas 51
Chron. de S. Bento neste anno, e a alqueires, e quarta. E o Moio do Wi
f. 31. do Apend. se diz : Cum suis nbo importará 25 almudes, e meiº,
JVillis ad suas alfozes pertinentibus e oitava de almude desta medida tºrº
per omnes domos singulos poçales de rente. E por este modo importa ºpum
vino. Nos Foraes do Senhor Rei de Font’arcada 819 alqueires, e quar
D. Manoel, interpretando, e re ta: e o vinho 4o9 almudes, e trº
duzindo os Puçaes, e Quinaes, que quartas de almude,
constavão dos Foraes antigos, se Daqui se manifesta que o Miº
declara, ser o Quinal de 25 almu do vinho de Font’arcada constavº
des (que he a Pipa regular) e o dos mesmos alqueires, que o Miº
Puçal de sinco almudes, como se do pam , e que vinha a ser com
vê no de Cernancelhe, Ferreira pouca diferença hum Quinal de 0.
d'Aves, e outros. Porém esta re tras Terras; ficando o seu Paí"
ducção não foi geralmente unifor com pouco mais de 5 almudes. Mº
me ; pendendo o Puçal da quali quanto seria o Puçal, onde oM…
dade do Moyo , que na terra cor fosse de doze alqueires?... Sem dº
ría," e sendo este tão vario como vida deveria ser a quinta parte; º
já V. Moyo fica insinuado, forço por consiguinte neste Maio, redº
samente havia de variar a quanti zido á medida do alqueire corrº"
dade do Pugal, que em alguns Do te , deveriamos ter hum *# C
PU PU 249
de Pugal. Não decído; mas os cês fensas, e culpas, que contra o
tos, de que ainda hoje se usa nas Bom Deos se comettérão. Doc. de
vindimas, chamados Poceiros, ou Tarouca do Sec. XIV.
Puceiros, e que se contárão sempre PUNGIR. Penetrar, afiigir, pi
por hum almude, estando cheios; car, mover, incitar. E sendo jád
*******= *|
não deixão de nos inclinar a pre b Ifante pungido de seu dezejo. Pi
sumir-mos, de que em algumas na , Chron, d'ElRei D. Duarte.
terras constasse de hum almude o C. I 2.
seu Puçal. V. Moio, Quinal, e Ven PURGAMILHEIRO. Homem,
dima. - - -

cujo oficio, e occupação he com


PUDADUYRA. Podadura, dia pôr, ou vender pergaminhos. Doc.
de póda, geira que se dava no de Almacave do Sec. XV.
serviço de podar as vinhas. Et post PURIDADE. Segredo intimo
istos tres annos vos debetis venire ad de alguma pessoa, principalmente
geiram, videlicet , cum pudaduyra Real. Escrivão da Puridade era an
ad vineas podandum , Óº erigere, tigamente o Oficio de apurar Pa
Doc. da Univ. do Sec. XIII. peis da Casa Real , e correspon
PUGNAR. Castigar, do Lati dia ao que em tempo dos Roma
no Punio. Que as justiças o pug nos chamavão Conde dos Notarios.
nam , como acharem que he direito.. Punha as vistas nos Alvarás, e ti
Cod. Alf. L. V. Tit. 34. § 1o. nha em seu poder o molde, ou chan
PULGAMINHO. Pergaminho. cella da Firma do Soberano: instru
Doc. da Cam. de Coimbra de 1324. mento introduzido por ElRei D.
PULGECO.A., Público, públi João II, para não pararem os des
ca. Parte com via pulgeca. Doc. de pachos no tempo da sua doença
S. Pedro de Coimbra de 1 34o. Pois que eu já sei a tua puridade.
PULVEGO.A., Público, paten Zurara Chron. do C. D. Pedro. c.
te, manifesto. Doc. das Salzedas 5 I."- E quando alguuns se quize
de 1 285. rem acostar a elles (aos Conselhei
PULVIGO. O mesmo que Pul ros d'ElRei) por saberem as puri
vego. E das outras partes pelas vias dades nossas, que as saibão mui bem.
pulvigas. Prazo das Salzedas de euçarrar, e guardar , que as não
I3 IO. descubram, e revelen, Cod. Alf. L.
- -

PUNAR, e Punhar. Fazer to I. Tit. 59. S. 3, e 4. No de 1 666


do o esforço, e toda a boa dili se imprimio em Lisboa em 4º o
gencia para concluir alguma cou Epitome da Excellencias da Dignida
sa. E esto punade ora vós de fazer... de do Ministro da Puridade: seu A. . .
E vós, tanto que esto for feito, pu Fr. Francisco do Santissimo Sacra
mento. •

mhade logo de cambbardes esses ca


saaes. Carta d'ElRei D. Diniz de PUSANÇA: V. Posoança.
1317. Doc. de Lorvão. •

PUZAL. O mesmo que Pugal.


PUNGIMENTO. Compunção, He do Sec. XII. e XIII.
pesar, dôr, e sentimento das of

• Tom. II.
Hi Q.
25o QA QA
de fazer em sa quadrella; ficando
para outras quadrellas reparar ou
tros lugares do Castello. Senten
Q. ça de Moncorvo de 1366. K. 4
quadrellar, e Aquadrellamento.
Q. Em quanto letra numeralva
te 5oo: com til
QUADRELLA. Por casal. V.
Cwirella, º
lía antigamen
valía 5ood) ooo. -
QUADRELLA do muro. Re
Q. Não se usava delle como si partição, ou certo espaço de mu
nal em a Musica dos antigos, por ro, cuja vigía, e defensa, estava
senão poder separar do V. comettida a determinada gente na
Q_ Fazendo as vezes de C, e K, occasião de guerra. Doc. de Pend
e pelo contrario, he frequentissi de 1 379.
mo em os nossos mais antigos QUAEES, e Quejandas. Seendo
Documentos. sobrello certificado ao Senhor Rei
QAMPA, Qampaa, Qampam, quaees, e quejandas som, Ell torna
e Quampa, 9*** Quampãa, rá a ello. Cort. de Lisboa de 1434.
e Quampam. Com toda esta varie Quer dizer: Quaes, e de que natu
reza, e em que númerosão. V. Que
dade se acha escrita esta palavra, jendas. •

que significa hum pequeno sino,


é propriamente huma campainha. QUAER, o Qaer. Cahir, in
Havia Qampa de Sotelha : Quam correr, ficar sojeito, ou responsa
paa de Commungar, isto he, de le vel. E por nom qaer nas peas, e nas
var o Santissimo aos enfermos : maldiçoens. Doc. de Pend. de 1289.
{2ampam de alçar, que era a cam QUAIRA. V. Cayra.
painha, que se tocava á elevação QUAIRELLA. V. Coirella.
da Hostia. -
QUAIRELARIA. V. Coirella.
QUABEÇA. Cabeço, colina, QUAIRELEIRO, V. Coireleiro.
cabeça, monte levantado, supere QUAMANHO.A. Qual, quan
minente , e a cavalleiro da cam to, quão grande. Quamanho qui
pina. O herdamento, que nos ave nhom, qual quinhão, Doc. de Vai
mos , como parte pela Quabeça de rão de 1277. Quamanho, por quan-
Kalença, e per a Quareira do Tou to, Doc. de Tarouca do Sec. XIV.
ro, e pela Quabeça da Zevreira. Doc, Vem do Latino: Quam magnus.
de Tarouca de 1 278. QUARAMOLLOS. O mesmo
QUADRAR. Pertencer. Ap. Ber que hoje dizemos Carámos , Mos
gança. teiro bem notavel, que foi da Con
QUADRATOS. V. Regaço, gregação de Santa Cruz de Cone
QUADRELLA. Quadrilha, vin gos Regrantes, entre a Villa de
tena. Sendo alguns visinhos da Vil Amarante , e Pombeiro. No de
la da Torre de Moncorvo obriga 1493, Diogo Lopes, Capellão da.
dos para ajudarem a fazer os mu Rainha , Priol de Quaramollos, e
ros da dita Villa, e alimpar a car Commisario da Madre Santa Cruza
cova della: elles com prema do Cor da nas Comarcar d antre Douro , e
regedor , filhárão apartadamente hu Minho , vendeo humas casas na
ma pefa do dito muro, que elles hão Cidade do Porto, que á dita Cru
|- Z3l
QU QU 251
rada pertencião. Doc. da Cam, do II. no de 1223 se diz: Habete tei
Porto. gam, & quartam, qualem semper
QUAREIRA. O mesmo que car habuistis. Ib. ElRei D. Afonso III.
reira, ou caminho, que não admit aforou a Herdade do Mirão (hoje
te mais que hum carro. V. Qua Mourão) com fóro annual de dous
beça. moios de vinho, e hum de pão
QUARIZILL. V. Corazil, on quartado per teigam de quartis. Ib.
de se notou, que esta pensão va Foi isto no de 125 1: e no de 1255
riava quanto á sua grandeza , e aforou o mesmo Rei a Herdade
peso, e não era uniforme em to do Remesal (que tambem he em
dos os lugares da Monarchia. Por Penaguião) e na Carta deste afo
a festa de Sam Migell cada huum del ramento , assim como em outras
les dem a mim huum pam de dous muitas, se faz menção de Teiga de
alqueires, e hum capom. e por o Na quartas , e de quarta de quartas,
tal huum quarizill de porco; ou ga que são synonimos, e nada mais
linha, que o valha: ou tres dinhei nos representão, que huma medi
ros. Prazo da Univ. de 1 1 63, fei da, ou se chamasse Teiga, ou Quar
to na cabeça das Kalendas de No ta , pela qual se medía a quarta
vembro, e vertido em Portuguez parte de hum quarteiro de Moio,
no de 1 385. E huma gallinha não prescindindo da quantidade deste,
podia igualar o Corazil, v. g. que como assima fica insinuado. Ib.
a Lorvão se pagava. QUARTA de vinho. Esta me
QUARTA de pam. Assim cha dida, com que hoje se mede a quar
mão hoje a quarta parte de hum ta parte de hum almude, constan
alqueire; mas não he esta a quar te de doze canadas , seguio anti
ta, que nos antigos Foraes se en gamente a mesma Ordem , que a
contra. Nelles a quarta era com quarta do pam, a respeito do Moio.
respeito ao Moio , e ao quarteiro Sinco quartas de vinho devia pa
do Moio, v.g. sendo o Moio de 64 gar cada hum dos Casaes encabe
alqueires , a sua quarta era o que çados de Valença do Douro, por
dizião quarteiro , ou a sua quarta Carta de Aforamento de 1 269.
parte, que constava de 16 alqueiº ElRei D. Manoel em o novo Fo
res : e a quarta do quarteiro erão ral de Valença de 15 14 declara,
4 alqueires. E com esta proporção que a quarta de vinho he hum alquei
se deve julgar dos diferentes Moios re de seis canadas, cantaro, ou meio
segundo as terras, v. g. sendo elle almude, menos hum quartilho. Doc.
de 32 alqueires, a sua quarta se de S. Pedro das Aguias. Isto mes
rão 8 alqueires, e a quarta do seu mo se declara no Foral do Botám
quarteiro serão dous alqueires, &c. do mesmo anno. Doc. de Lorvão.
No Foral de Ourém de 1 18o fal E daqui se vê, que o Moio de vi
lando-se da Jugada, se determina, nho nestas terras constava de 8 al
que todo o pão Recipiant per quar mudes com pouca diferença, do
tam de quatuor alqueires cum rasu qual dous almudes fazião o quar
ra: & quarta sit de XVI. alqueires. teiro, e hum cantaro a quarta do
Lº dos For. Velhos. No Foral de dito quarteiro. V. Puçal. Pelo con
Barqueiros por ElRei D. Sancho trario na Cidade do Porto era o
Hi ii Moid
252 QU QU
Mayo de 24 almudes: º quarteiro de QUARTEIRO. II. Cousa paga
seis, e a quarta de tres cautºrº", aos quarteis, ou em diferentes
Assim se collige do Foral dadº á tempos, assim como erão diversas
Terra de Paiva por ElRei D. Ma em especie as pensoens.», que se
pagavão. No Foral de Valençº do
noel no de 15 13 , pois falandº
da Portagem, que hão de Pºgºr pouro, dado pelo Mosteiro de S.
os barcos, que pelo Douro leva Pedro das Aguias no de 1269 se
rem vinho á Cidade do Porto, diz: diz: que os 24 Casaes, ou Courel
Da maior barca, que por bi Parº"? las pagarião de foro cada hum sincº
quarteiros, a saber, sinco teigas de
se levar vinho, tres quartas de vi trigo: sinco de centeo : e sinco de
nho, pela medida , que se pagº "º
Porto das ditas quartas. E da meãº, cevada: e sinco quartas de vinho: º
tres almudes do dito vinho. E da mais o Dizimo inteiro. Daqui se vê, que
piquena barca, ou batell, que assi le os cinco quarteiros são as cincoes
parvinho, huma quarta de vinho, pela pecies de pensoens, que como por
dita quarta do Porto Subindo pois parcellas, e aos quarteis, se pagar
radualmente, se vê, que huma vão ao Mosteiro, além de outros
quarta do Porto fóros. E por isto lhes devião os
duas quartas trez,erão trez ,cantarºs:
almude ou seis Monges dar Clerigo, que lhes ad
cantaros: e finalmente trez, quar ministrasse os Sacramentos em San
tas nove cantaros, ou quatro almu ta Maria de Rio-Torto , trez vezes
des, e meio , que era a quarta no anno, e lhes dicesse Missa de quiu
parte , ou quarteiro de hum Moio; ze em quinze dias. ElRei D. Ma
constando este de 18 almudes Pe noel declarou em o novo Foral,
la medida, que agora corre. que as Teigas são alqueires desta me
QUARTANO, Quarteira, e dida ora corrente. Doc. de S. Pedro
Quarteirão. Hé a 4." parte do quar das Aguias.
teiro, o qual he a 4." Parte do QUARTEIRO. III. Huma vez
Moio. E assim huma vez conclui concluido, e averiguado de quan
do de quantos alqueires he o Moio, tas teigas, ou alqueires he o Moiº:
sabemos de quantos consta o quar fica manifesto de quantos consta º
teiro. E sabendo nós de quantos quarteiro, que he a quarta parte
consta o quarteiro, igualmente sa do Moio, assim como o sesteirº
bemos de quantos he o quartano; era a sexta parte. No Lº Pretº de
pois he a 4.º parte do quarteiro, Grijó se lê o seguinte: It: Diffe
v. g., sendo o Moio de 64 alquei rom, que dº Escopaaes, e da Egreja
res: he o quarteiro de 16 , e o dam detalhamento VII, moios, e meiº
quartano de 4. a ElRei; e som ende VI, quarteirº"
QUARTARIO.V. Ouarteiro. I. de trigo , e tres moios de milho, º
OUARTEIRO. I. O Colono, trez de messe. Daqui se vê, quº
ou Emphiteuta, arrendatario, ou sendo os moios 7 e meio , a º"
caseiro, que vive, e trabalha em ber, tres de milho, e tres de cenº
terras, de que não tem o Direi teio,
to Senhorio , e das quaes paga fazião os seis quarteiros
o moio, e meio, de
que"ºfal
quartas, ou quarteiros de pão, e vi tava ; dando 4 quarteiros, a huml
nho, ou de algum destes generos. moio, e 2 a meio moio. Nº# T3
V. Conducteiro, e Conductereiro.
QU QU 253
ral de Baldigem por ElRei D. Af 165 alqueires de vinho, que com
fonso Henriquez no de 1 182 se as 135 de pão fazem ao justo as
diz, que cada hum dos trinta Po 3oo medidas. Doc. de Alafoens.
voadores Det unoquoque anuo unum Em os nossos Documentos são fre
modium panis quartatum: quartarium quentissimos os quarteiros ; mas
aritici: ó" quartarium ordei: ó" quar variando sempre, á proporção do
rarium milii : Óº quartarium cente Moio. No Foral de Lisboa de 1 179
ni. E eisaqui os 4 quarteiros fazen se determina, que o quarteiro seja
do o Moyo de paõ, que annualmen de 14 alqueires, e que seja medi
te se pagava , sem nos dizer a o, sem ser rasado, e sem cogúlo
quantidade certa de que o Moio de Et metiatur sine brachio carvato, &º
Baldigem se compunha. Por huma tabula supra posita. Lº dos Foraes
Carta de Aforamento de 1227 pa Velhos. No da Atouguía se deter
gavão os do Sarzedinho ao Mos mina, que igualmente seja de 14
teiro das Aguias seis quarteiros de alqueires. No de Ourém de 1 189
pam terçado (trigo, centeio, e ce se declara ser o quarteiro de 16
vada ). ElRei D. Manoel declara alqueires, como se disse V. Quar
no Foral de Valença, que por es ta de pam. No de Pena-Cova de
tes seis quarteiros se pagão hoje vin 1 192 se diz: Quartarius rit de XVI.
ze e quatro Teigas da medida antiga, alqueiris. E para encurtar leitura:
a qual faz bum alqueire desta medi no de Thomar de 1 162 : Peoms
da corrente, menor huma quarta ca den de raçom quanto soem dar os Peomy
da teiga. E por consiguinte o quar de Coimbra per quarteiro de XVI. al
teiro dº hoje são tres alqueires, que queires, ren braço, e sentavoa. Doc.
multiplicados por seis fazem 18 da de Thomar. Egas Gozendes com
medida presente ; constando pela seus filhos , e filhas deu Foral á
antiga de 4 alqueires, e fazendo Villa de Cernancelhe no de 1 124,
os seis quarteiros 24 teigas , ou reinando em Portugal a Infante D.
alqueires, que fazião Moio, e meio; Thereza; impondo de fóro a todo
pois era o Moio de 16 alqueires. Doc. o que tiver hum, ou muitos bois
de S. Pedro das Aguias. hum quarteiro de pam, a saber, hu
Em hum Prazo do Mosteiro de ma teiga de trigo, e trez de segun
S. Christovão de Alafoens de 1 296 da pela medida do Concelho. Ora a
se faz menção de huma Composi teiga então constava de 4 alquei
ção amigavel, que o dito Mostei res naquelle Concelho, no qual,
ro fez com D. Sancha Martins, e reduzida a tres ainda hoje pagão
della consta , que nove quarteiros 12 alqueires: logo naquelle tem
de pam, e onze Puçaes de vinho fa po era o quarteiro de 16 alqueirer,
zião sinco Moior , metade de pam, L.º dos For. Velhos.
e metade de vinho, e fazendo toda Nos Prazos de Ceiça se acha
a Pensão 3oo alqueires entre pão, hum , feito no de 1447 a Vasco
e vinho. Demos a cada quarteiro do Porto, morador em Monte Mór,
de pão 15 alqueires: teremos em o Velho, de todas as aguilhadas, e
nove quarteiros 135 alqueires: de geiras de terra, que o Mosteiro ti
mos agora a cada Puçal 7 almudes, nha no campo daquella Villa, com
e meio, ou 15 cantaros: teremos foro annual de Tres quarterior, e
J'62J"
254 QU QU
sesteiro de pam, a saber, vinte of QUARTO de vinho. He huma
to alqueires de trigo , quatorze de canada, segundo o Foral da Villa
cevada, e quatorze de milho o que do Castinheiro de 15 14 que diz:
tudo faz 56 medidas. E tirando *E os dous quartos de vinho, que se
dellas trez quarteiros cada hum de pagavão por Janeiro, são oito quar
16 alqueires (pois ali he o moio tilhos. Doc. de S. Pedro das Aguias.
de 64) restão 8 alqueires, que erão Porém segundo a declaração, que
o sesteiro, ou a sexta parte de 48 se acha no Censual da Sé de La
alqueires, que se montão nos trez mego, Hum quarto de vinho são 8
quarteiros. canadas; pois diz, que seis quartor
De huma Transacção entre o de vinho são quatro almudes, que cons
Mosteiro de Pendorada, e Mendo tão de 48 canadas : em 48 ha seis
Dias, consta, que este ficou com vezes 8: logo o quarto de vinho
o uso fruto de certas herdades, e he a oitava parte dos 4 almudes,
com obrigação de dar cada anno que são as ditas 6 canadas.
aos Monges hum quarteiro de trigo, QUARTORIO. Parece ser o
e trez quarteiros de cevada, e hum mesmo que quartario. No Foral,
Moio de milho & est totum triginta, que o Mosteiro de Maceiradám
é duas quartas. Doc. de Pend. de deu aos Povoadores da sua Gran
12oo. E aqui se declara que a ja de Figueiredo de Céa no de
quarta era de 4 alqueires (como se I2O4 se lê: Quarta vini de duobus
disse V. Quarta de pam) pois em quartoriis. No Seculo XV. se tirá
dous Moios de 64 alqueires cada rão em pública fórma duas copias
hum, ha 8 quarteiros de 16 alquei traduzidas deste Foral: em huma
res, e 32 quartas, de 4 alqueires se lê: Quarta de dous quartoens, e
cada huma, que justamente fazem na outra : Quarta de vinho de dour
128 alqueires , de que os ditos quarteiros. Ambas ellas abundão de
dous moios constavão. Por hum erros, e os mais grosseiros, e bem
Doc. de Silves de 1 398 nos cons póde ser que este seja hum dos
ta a seguinte passagem: Dizem que não menos attendiveis. Doc. de
os jugadeiros, quando am de tirar Maceiradão. E porque não serião
ssas jugadas, que o quarteiro, que estes quartorios: o mesmo que quar
am de levar á de reer de XIV. al tos?... V. Quarto de vinho.
queires pela rrassoira, segundo o Fo QUASA. Casa. E des hy a suso,
ral da dita Cidade: E que ora levam como se vay áá quasa da Viziboba,
o quarteiro de XVI. alqueirer, me e comoho vay á carreira do Sabugal.
dido o alqueire abraçado. (isto he Doc. de Tarouca de 1278. +

acugulado). Com toda esta varie QUASAL. Casal. Doc. de 1421.


dade se usou desta medida. QUATRO vintens. Moeda de
QUARTO de Cruzado. Moeda prata , que fez lavrar ElRei D.
d'ouro do tamanho de hum vintem João III., e tambem D. Filippe I.
em prata , e com o valor de Ioo de Portugal: tem de huma parte
réis. Lavrou-a ElRei D. Manoel, a Corôa, e debaixo della o nome
e a trazia na bolsa em grande quan do Rei, e mais abaixo o número
tidade para a dar de esmola aos de LXXX. O Senhor D. Antonio,
pobres. . intitulando-se Rei de Portugal fez
la
QU QU 255
lavrar moeda de prata de 8o réis; dita quebrada. Doc. de Pend. de
porém de menos peso, que a an 1418, e 1427. - E que ponha no
tiga. Tinha de huma parte o Es dito casal, e quebrada hua mea du
cudo do Reino com Corôa cerra zea de huliveiras. Doc. de Bostel
da, e estas letras na orla A. I. D. lo de 1482. |

G. R. Portug, & Algarb: no rever QUEBRAR. Cobrar, reivindi


so tinha a Espada de Santiago em car, adquirir, alcançar.
figura de Cruz, com a letra In QUEENDAS. O 1.º dia de ca
boc signo vinces. Igualmente fez la da mez. V. Caendas. E em cada huum
vrar moeda de cobre , com valor anno por foro dous alqueires de tri
de quatro réis, e com os mesmos goliupho, e senhos capoens, e dez
cunhos, que a sua de 8o réis. ovos cada huum de vós pelas queen
QUEBRADA. I. Enseada, qual das de janeiro. Doc. da Univ. de
quer reconcavo, ou córte, que o 12 66.
mar faz pela terra dentro, e onde QUE JANDO. Qual, assim co
podem jazer alguns navios de mais, mo, da mesma sorte, modo, e ma
ou menos toneladas. Nom possam neira que. A ElRei D. Afonso II.
sfer tomados em todolos pórtos , e denunciou João Annes, que o Prior,
abras, e quebradas, e ancoraçaoens e Beneficiados da Collegiada de
de cada huum dos ditos Regnos, e S. Bartholomeu de Coimbra tinhão
Senhorios. Cort. de Lisboa de 1389. hum olival além do Mondego, e
Doc. da Cam. do Porto. ; defronte da Cidade, que havia tres
QUEBRADA. II. Propriedade, annos estava inculto: que pedia
ou terra pequena , insignificante por pena se desse a elle denuncian
casal. -

te. O Rei assim lho concedeo,


QUEBRADA. III. Soldada de para que o houvesse, quejando elles
pão, que constava de dous paens ho havion ; com obrigação de lhes
por dia. dar a pensão, que os Homens bons
QUEBRADA. IV. O nome de arbitrassem. Doc. Orig. da dita Col
Ouebrada só convinha ás terras la leg. do princ. do Sec. XIII.
deirosas , e penduradas sobre os QUEJENDAS, e Quijando. Foi
profundos valles , sobre os rios, muito usada esta frase: Tal, e qui
ou sobre o mar, cujas agoas ora jando, para dizerem, Tal, e qual
as engolião, ora as areavão, e en v. g.: deixo-lhe o meu pelote tal equi
chião de lodo. Nas margens do jando se achar no meu fallecimento:
Douro chamão a estas pequenas deixo-lhe huma saya tal , e quijan
terras, e pouco firmes, Caboucor. da, & c. Hoje se diz vulgarmente:
Na Provincia do Minho se diz ho F. he hum tal , equijendo , notan
je Quebrada, quando algum como do-o de vil, e mal procedido, fal
ro, ou terra levantada, amolecen so, ingrato, &c. Com obrigação de
do com as agoas, se desaba, e cor dar ao Abbade ... hum capom , e
re ao fundo. A nossa quebrada, que seis ovos, e quatro rigueifaz, reaes
trouve Ghurgo Velho ... que amore quejendas as a mim dam de serviço.
des per vossas pessoas, que fumegue. Test. de D. Orraca Fernandez de
1335. Doc. de Tarouca. •

— Huum maravidi por dous congros,


que o dito Moesteiro avia d'aver da QUEIMAMENTO. Queimadu
raz
156 QU QU
ra, abrasamento. Doc. de Tarou dezeja, o que livremente, e sem
ca do Seculo XIV. contradição alguma quer , e está
|

QUEIXO.Queijo. Doc. de Pend. prompto para fazer, ou cumprir


de 1 312. \, alguma cousa. Doc. das Bent. do
QUEIXUME. I. Indignação , Porto de 1 343. Querente acrescen
queixa, demonstração rigurosa da tamento áá geraçom do Senhor. Doc.
sua pouca satisfação pela desobe de Maceiradám de 1476. , ,

diencia, ou fraco serviço de alguem. QUERENTE paz. O que se


Unde aliter non faciatis; sim autem porta como pacato, e pacifico, o
tornabo me advos, Óº habebo de vo que não faz por quebrantar o con
bis queixume. Carta d'ElRei D. Di trato, ou ajuste, o que não liti
niz de 1279. Doc, das Bent. do ga, nem inquita a outra parte. E
Porto. - º
de mais peite á parte querente paz;
-

QUEIXUME. II. Querela judi mil livras. Doc. de Pend. de 1 312.


cial, queixa, que se faz perante E he mui frequente por aquelles
o Juiz, que deve ser assignada pe tempos. - . -

la parte, que a der, e pelo mes QUERIMA. V. Querimonia.


mo Juiz , que a não deve tomar QUERIMONIA. Queixa, que
sem conhecer muito bem o quere rella, ou Crélla, que do Juiz in
loso, ou as testemunhas, que elle ferior se interpoem para o supe
oferece para provar o delicto, de rior, ou para o Soberano. Em mui
que faz queixa. Hoje dizem Cré tos Foraes se faz menção destas
ja, e Crelar. No Foral de Thomar Querellas. Porém no de Villa Boa
de 1 174 se diz:… Se alguem se quei de jejúa, dado por D. Martinho
xar em Concelho d'algua cousa ; peró Pirez no de 1254 se prohibem dis
que o Moordomo, e a justiça seiam poticamente por estas palavras :
presentes: o Moordomo non filhe aquel Qui fuerit cum querimonia de suo
queixume por voz ; salvo se aquel, vicino a Rege, Óº non quesierit re
que o queixume fezer, disser ao Moor cipere judicium de vestros juratos,
domo : Dou a ty este queixume por p. X, mrs., Óº exeat de Villa, &"
voz. Doc, de Thomar traduzido remameat haereditate in manu de ver
do Latim, nos principios do Sec. tro Concilio. Doc. de Thomar. No
XIV, • |
Foral de Castello Branco se falla
- QUEQUER. Tudo o que, Cor da Queríma, que se havia de fa
responde ao Latino Quidquid. Doc. zer ao Mestre do Templo, ou ao
das Bent. do Porto de 1288. Senhor da terra. Parece que são
QUER. O mesmo que ou Pa synonimos Querimónia, ou Querí
gará hum leitom, quer cem réis por ma, e Rancúra; a pezar de dize
elle. - Mando a N. dous maravi rem alguns, que esta era na pri
dís, quer huma pipa , que tem em meira instancia , e aquella na 2.°
casa. Doc. do Sec. XIV. V. Tre Das Querímas são descendentes os
medal. -
nossos Agravos. •

QUERA. Queira. Doc. de 13os. QUIAIRA. O mesmo , que


- QUERENTE. Que quer, tem Quaira. •

vontade, e dezejo, e mesmo faz QUIJANDO. V. Quejendas.


diligencia para conseguir o que QUINAL. Sabemos hoje que
O
• QU
QU 25%
o número de sinco Puçaês, que são por D. Saucho I. no de f 195 se
25 almudes. V. Puçal. Mas que lê: Laborator sine equo det de uno
medida, dobrada cinco vezes, sig= quoque bobe unum sextarium, medium
nificasse antigamente, eu o não tritici; ó" medium secundae: postquam
sei; pois quando fossem já então habuerit quinque Quinales de vino,
cinco Puçaer, igualmente não sabe det unum puzal. Lº dos Foraes Ve
mos de quantos cantaros, ou almu lhos. •

des o Puçal se compunha. Na Doa E exaqui temos em o nosso Paiz


ção, que o Presbitero Juliano fez já desde o IX. Seculo o uso dos
ao Mosteiro de Lorvão no de 976 !Ouinaes, medidas certas de vinho.
de huma herdade em Villar Telha Vimos huma Cuba de 3o Quinaes,
do, e de quanto tinha na Villa de e outra de 4o. Recordemos embo
Aranodiz, e na Villa de Figueira, ra a Cuba de Hermelio, junto a An=
exceptúa a Igreja de S. Romão na sede, que dizem levava perto de
mesma Villa # Filiar-Telhado, cum 4o pipas, e de que falla a Coro
sua corte , é cum suas adménns in grafia Port. T, I. f. 42o: mas po
giro, ó" suas mazahárias, ó alias demos nós combinar hum tempo
mazanárias in Valle-Covo , Óº duor de cativeiro, guerras, e angustias,
cupos, ó duas cupas, uma de XXX. com tanta magnificencia devasilhas
quinales, Ó" alio de XX modios, cum para vinho no Mosteiro de Lor
tota sua perfia, pro ad unus de ge vão?... Vasilhas de 3o , e 4o pi
mere meo, si fuerit Clericus, qui in pas, que a penas hoje, e na mais
vita sua illa Ecclesia obtineat , é º profunda paz, se encontrão, e ad
post obitum illius tid Monasterium jam mirão por entre os vinhagos do
grupradictum revertat , cum omnibus Alto Douro? . . Além disto, os 3 ocº
prestationibus suis, Lº dos Testam. quinaes, de que a 3.° Doação nos in
de Lorvão N. 31. Os Famulos de fórma, não fazião mais que 8 to
Peos , Bahri, e Tranquilli doárão neis; dando a cada tonel 37 qui
a Lorvão no de 98o huma herda naes, e meio. He verdade, que a
de em Taveiro, e duas Igrejas, hu Doação réza de 12 vinhas ; mas
ma de S. Miguel, e S. Pedro em 3oo pipas de vinho precisão de
Tentugal, e outra de Santa Eula hum terreno mui dilatado, e 8 to
lia na Villa de Arquianio, e tam neis de 37 pipas, e meia cada hum,
bem Concedinhus tupo de X, modios , he cousa tão rara, que para se acre
&º cupa de X, quinales in quem ipso ditar precisa de mais prova , que
fructu se coleat , Óº pro memoriam a analogia do Quinal moderno pa
uostra deserviat. Ih. N. 67. Em hu ra o antigo. Antes bem, se o pas
ma Carta do anno de 855, que se sado se ha de regular pelo presen
acha na Marca Hispan. Col. 788. se te, tão longe estarião os 8 toneis
diz: Et de alaude dono in Villd Tau de levarem cada hum 37 pipas, e
riniano casas IIII, é º curte, ó borº meia, que não deverião levar por
tos VI, & vinear XII, ó" vinum, cabeça mais que 3o almudes, ou
qui inde exibit quinaler CCC, ó" sunt duas pipas; pois no Foral de Mon
tonai VIII. Ap. Dufresne V. Qui ção de 15 12 declara ElRei D. Ma
nalis. E no Foral de Leiría por El noel, que a verdadeira Tonellada,
Rei D. Affonso I , e confirmado ou Tonel de vinbo , deve constar de
Tom. II. Kk 59
258 QU | QU
5o almudes, e a Pipa de 25 almu QUINTÃA, e Quintana. O mesa
des. E mesmo segundo a Lei da mo que quinta. Doc. das Bent. do
carregação cada Tonellada he opezo Porto de 1396.
de 2 doooo livras, ou arrateis , que UINTO, V. Terço, e Quinto,
corresponde exactamente a duas pi QUIRA. O mesmo que Quaira.
pas. E de tudo se conclue , que QUIRATE. Quilate. Huua Cruz
suposto desde os principios da nos d'ouro de XXI", quirates. •

sa Monarchia fosse o Quinal o nú QUITAMENTO. Quitação, es


mero de sinco Puçães: no Seculo crito, ou bilhete, por onde cons
IX.X. e XI. nós ignoramos a me ta a satisfação da dívida, ou qual
dida certa, que dobrada sinco ve quer outra obrigação. Por quita
zes, fazia o Quinal; não sendo mento das ditas libras. Doc. das
persuazivel de algum modo, que Salzedas de 1298. - -

então fosse de 25 almudes. , QUITANÇA. Quitação, reci


- QUINDENIO. Certa quantia bo, paga, descarga. E tambem,
de dinheiro, que de 15 em 15 an quita, ou perdão. -

nos se pagava a Roma das Igrejas QUITAR. Abater, perdoar, di


anexas aos Conventos dos Religio mittir. E quitamos-lhes, e fazemos
sos. Tambem a Universidade de lhes graça, e esmola de todolos di
Coimbra o paga das rendas, que reitos, que Nós, e a dita nossa E
os Pontifices lhe anexárão. . . . . greja de Lamego aviamos d'aver da
... QUINHENTOS réis. Moeda dita Egreja de Reciám. Carta de
deste nome, e valor, que correo D. João de Chaves, Bispo de La
neste Reino. Tres mil, e quinhen mego, de 1436. Doc. de Reciám.
tos réis, que receberom em sete pe Daqui, Dar quitação, absolver, e
ças de quinhentos réis, moeda corren livrar de qualquer obrigação, e fi
te de Portugal. Doc, de S. João de car quite, e livre della , aquelle
Eyriz de 1558. a quem se dá, ou passa. -

... QUINHOEIRO. O que tem QUITEMENTE, Livremente,


parte, ou quinhão em alguma cou sem embaraço, dúvida, ou conten
sa. V. Particimeiro. E seermos qui da. Doc. da Caun. de Coimbra de
nboeiros de seus merecimentos. Doc. I35 I. - -

de Reciám de 1436. QUITY. Livre, desembaraça


QUINTA, Medida assim cha do, solto. Doc. das Bent. do Por
mada, que levava outro tanto mais, to de 14o2. •

que a medida pequena. Assim cons QUOMA. O mesmo que Quo


ta de huma Transacção entre o Bis mo. Quoma de fóros, quoma de fo
po, e Cabido do Porto, e o Mos reiros, quoma de Padroadigur, quo
teiro de Pendorada no de 1295 : ma d'onrras, quoma de Coutos, &c.
os primeiros renunciárão a Censo Inq. R. de 1258. +

ría , que tinhão no casal da con QUOMO. Como , tanto, da


tenda, que erão 2o moyos de vi mesma sorte. Assi em casas, quomº
nho pela medida pequena, que fa em vinhas, quomo en oliveiras. Doc.
zião tomoyos pela Quinta , e 8 das Salzedas de 1291.
moyos pela do Porto, a qual o Mos - QUÓQUÓ. V. Pepi,
teiro lhes devia annualmente pa
gar, Doc. de Pend.
R • R 259
É. M. CCC. XLV. Porém antes de
14oo senão acha entre nós Doc:
algum Original, em que o R. fi
R. gurasse por 4o. Depois deste tem
po, e perdido já o bom gosto da
R. Como letra numeral, valía letra Franceza , Escriptores iner
antigamente 8oo : com til valía tes, e pouco habeis, começárão a
8od)ooo. pintar o XL dos antigos com as
R. Na Musica dos antigos de notas da Tab. 2. n. 2. f. 1., e 2.,
notava rectidão, e firmeza da voz. que propriamente nada mais são,
R. Desde o Seculo XIII, até o que hum X , e hum L : e como
XVI. delle usárão os nossos Maio pelo mesmo tempo se introduzis
res, dobrando-o no principio das se o formar o R maiusculo do mo-,
Dicçoens, e no meio dellas, on do que vemos Tab. 2. n. 7. f. 25.,
de não era preciso; cahindo no er não foi dificultoso dar ao R gran
ro, a que os Gregos chamão Ro de o valor de 4o. Mas disto já em
catizein, que he huma impertinen outra parte largamente se tratou:
te , e escusada repetição do R: hum só exemplo, d'entre muitos
v. g.: rrasa, rrecorrer, rrefretar, que se achão em Thomar, nota
rreceber,
ro, &c. honrra,
" honrrado, genr remos aqui. Havendo ElRei D.
- •

Sancho I. doado a D. Fruilla Her


R. Singello, quando devia ser miges Villa Franca de Xira no de
dobrado, he frequente pelo mes 12o6; no Original de Thomar (a
mo tempo, v. g., Careira, tera, &c. quem ella a doou no de 1228)
por Carreira, terra, &c. •

se figura a Era do modo, que ve


R. Com esta figura B. se acha mos Tab. 2. n. 1. f. 48. Pedrº Al
na margem dos antigos MSS. , e vez Secco vindo reformar o Archi
denota, que ali falta alguma cou vo daquelle Convento, por Pro
sa, que se deve procurar, ou pa visão dº ElRei D. Sebastião de
ra suprir o sentido da Oração, ou 156o , trouxe de caminho varias
para intelligencia mais clara do que copias da Torre do Tombo: entre
se diz. Significa Require, ou Re ellas se acha a desta Doação com
quirendum: e algumas vezes inse esta figura: E M. CC. X. IIII: o
rido no texto por amanuenses pou que demostra, que a sobredita no
co advertidos, e menos intelligen ta do Original nada mais he que
tes, causou não pequenos embara hum X, e hum L ligados, e com
ços, e talvez deixou a passagem valor de 4o. Porém o Célebre A
do Autor inteiramente escura , e manuense foão de Penhafiel, nomea
sem sentido. do por huma Apostílla do mesmo
R. Desde os principios do Se Soberano de 1568, para escrever
culo XV. se adoptou em Portugal de letra redonda os livros de Tho
como nota de 4o a letra R. Em mar da leitura nova , tendo em
hum Livro da T. do T., copiado vista os sobreditos Original , e
em tempo d'ElRei D. Duarte, se Cópia, julgou que por 4o devía
escreveo Era de mill, III” R V, an pôr hum R, e assim escreveo a data
nos , estando no Original antigo daquella Doação. E. M. CC. R. IIII;
Kk ii ÇOff
26o RA RA
conformando-se com o abusivo es Lobo rabás. Do Latino: Lupus ra
tillo do seu tempo, que só a igno pax.
rancia havia introduzido , e que RABEL, Rebel, Rabil, e Ar
antes do quinto decimo Seculo, rabil. V. Arrabil.
nunca já mais fôra praticado. No RABIADO Mór. V. Arabiado,
Archivo de Santa Cruz de Coim e Arabi. -

RABIAVEL. Em hum Instru


bra se guardão Originaes, assim
o Foral da Herdade de S. Virissi mento de Partilhas de 1359 lêmos
mo na Alhada, como o de Anto esta verba: Humas Dagrataees em
zede, e tambem as suas copias do Jinguaigem, e huum rabiavel, e huume
Seculo XV: A data do I." na co seisto todo em pergaminho , e huum
quinto, e huum seitimo em papel. Doc
pia se pôz assim: E."M"CC" R. A de Pendorada: E seria este Rabia
do 2º copiárão: Era M." CC." RºI.";
sendo que nos seus Originaes se vel alguma Prática criminal, ou
acha a nota de quarenta , que se Alfarrabio, por onde os Rabulas,
vê na Tab. 2. n. 1. f. 54. V. Ade e Advogados daquelle tempo se
rado. governavão no seu Oficio, que era
RABALHA, Rabhalva, Rra mais de razoens vãas, que de so
balva, e Rabehabra. No Sec. XIV. lidas razoens?..
corria na Cidade do Porto a me RABOLARIA. Palanfrorio, pa
dida de liquidos, e sólidos, ou lavrada, trevoada de vozes, sem
quarta Rabalva, que tomou o no substancia alguma de razão, e fun
me da freguezia de Ramalde, don damento. He de Barros.
de era propria. Era alguma cousa RABUDOS. Já conta alguns Se
mais diminuta, que a Quarta no culos o prejuizo louco, com que
'va, que na Cidade se usava, an o vulgo Portuguez chama aos Cas
tes que ella fosse ali admittida; telhanos Rabudos, como se nasces
não obstante, que algumas vezes sem com hum grande, e vergonho
se mandárão igualar estas medidas. so rabo. Mas não ha que admirar
E por isso nos Emprasamentos nisto; pois todas as Naçoens con
quasi sempre se estipulava fossem finantes, entre quem houve guer
as pensoens pela Quarta nova do ras, odios, invejas, &c. se cus
Porto, que havia precedido á Ra tumão reciprocamente injuriar com
balva. Huum moyo de vinho, feito anexins, e apódos, ou bem , ou
por quarta nova dº ante a rabalha. mal fundados. E se os Portuguezes
— Seis quartas de vinho, feitas per chamão aos Hespanhoes Rabudos,
quarta nova do Porto d'ante a rra estes os tratão de Judios. Os Fran
balva. - Do vinho dade estivada cezes tambem chamão aos Inglezes
mente huum resteiro de vinho ... e Rabudos ; e isto tomado de huma
sser pela quarta do Porto, que ora palavra equivoca, que assim como
anda dereyta rabbalva. - Dous pu significa Bizarro, guapo, e bem ali
çaes de vinho, feitos per quarta de nhado, igualmente quer dizer Ra
reita do Porto d'ante a rabehabra. budo. He verdade, que de algumas
Doc. de Bostello do Sec. XIV. Naçoens, e Familias se conta, que
RABÁS. Arrebatador, ladrão, nellas nascem alguns, ou todos
o que leva por força, e arrebata. com rabo, ou maior, ou mais pe
que
RA RA 261
queno. Dizem que na Ilha Formosa sa. O 2º fundamento, e que assim
ha huns homens silvestres com hu se póde chamar , foi : que esta
ma excrecencia no fundo do espi Rainha introduzio em Portugal as
nhaço, a modo de rabete: vivem Cottas de rabo, ou Caudatas, de que
no campo, e são mui daninhos aos usavão antigamente as maiores Se
moradores da Cidade; porque em nhoras, e Princezas. E a frugali
apanhando algum delles, o despe dade Portugueza , estranhando o
dação: Que nos montes da Ilha de traje , deu o Titulo de Rabuda á
Bornéo ha huma casta de gente, que introductora delle. E daqui por des
toda nasce Rabuda : E segundo a preso se atribuio aos &#
Relação de Pedro Martir, na ter o mesmo titulo. V. Agotes.
ra chamada Insignanim , ha gente RAÇAM. I. Hoje se toma pela
com rabo, não flexivel, como o porção, que a cada hum se dá pa
dos animaes, mas tão duro, e te ra o seu sustento, e usos da vida
zo, que senão assentão, senão em em huma Communidade , Colle
bancos furados: e para se assenta gio, Familia, navio, exercito, &c.
rem no chão, mandão fazer bura Outras Raçoens havia nos princi
cos na terra, em que mettem o ra pios do Reino, e hoje mesmo con
bo. Mas confessando ingenuamen tinúão a pagar-se daquellas terras,
te que ha monstros; nós sempre que ou são Reguengas , ou por
diremos, que não havendo emba Doaçoens, e outros Titulos, pas
raço, a sábia Natureza procede in sárão da Real Corôa, assim a par
variavel em seguir as Leis Cosmo ticulares, como a Communidades,
logicas, que recebeo do seu Au Cabidos, e Mosteiros. Todos os
tor, e pelas quaes o Racional não Direitos Reaes, e particularmente
deve nascer rabudo. as fugadas, erão chamadas Raçoens,
Dous fundamentos tiverão os e cada huma dellas se dizia no sin
Portuguezes para chamarem aos gular fus, Res, Ditio, Dominium,
Castelhanos Rabudos. O 1.º foi a Bona, Facultas. O mesmo nome de
baléla que correo, de que a Rai Raçoens conservão ainda hoje estes
nha D. Brites , Mái dº ElRei D. Fóros, ou jugadas, que em humas
Diniz, e Descendente por sua Mai partes são de quarto , em outras
da casa de Gusmão (que dizião de quinto, de sexto, de oitavo,
tivera alguns filhos com rabo) de quarteiro, &c. V. jugada. No
nascera com cauda. E subio tanto Foral de Leiria de 1 142 diz El
de ponto tão grosseiro prejuizo, Rei D. Affonso I. : Miles , qui
que das choupanas entrou pelos non fuerit per naturam, si perdide
Palacios, e ElRei D. Sebastião no rit equum , stet in foro Militis per
1.º de Agosto de 15 69 fez abrir duos annos; deinde, si non babuerit,
todas as sepulturas dos Reis, que detrationem. Lº dos Foraes Velhos.
estão no Mosteiro de Alcobaça, Erão pois os Cavalleiros Peoens, as
com o pretexto de ver o estado sim como os Fidalgos, isentos de
dos seus córpos; mas na verdade Ração, ou jugada, em quanto ti
só a fim de fazer examinar no da nhão cavallo, e o podião manter
Rainha D. Brites a tal suspeita, para o Real Serviço. No de Tho
que se achou ser inteiramente fal mar de 1 162 se determina: Se al
|- guum
262 RA
guum dos Cavalleiros comprar vinha que numquam perdant ruas casas,
ao Peom, seja livre: e se casar com nec suas rationes. Et quando trans
a molher do Peom, toda herdade, que migraverint, suos haberes bereditent
ouver seia livre. E se o Peom poder suos parentes , qui circa magis ba
seer Cavalleiro , aia foro de Cavallei buerint: é º ubi mandaverint suos ha
ro. Cavalleiros aiam sas herdades li beres cum suas linguas, ibi prestent.
vres. E se alguum dos Cavalleiros Et si sine lingua obierit, suos filios
veer a vilice, e non possa servir em baereditent, aut suor parentes magir
Cavallaria: em quanto viver aia Onr circam , Óº dent illa tertia parte pro
ra de Cavalleiro. E se o Cavalleiro sua alma. Doc. de Moncorvo. No
morrer; a molher que ficar, seja Onr ta os filhos dos Clerigos habilita
rada , come em dias de seu marido: dos para herdeiros, quando o cri
e nenguum filhe esta, ou filha dº outro me dos Pais senão reputava tão gra
qualquer por molher, sem vontade sua, ve naquelle Paiz, como a Legis
e de seus parentes... E se a alguum lação presente o considéra.
dos Cavalleiros morrer o Cavallo, e RAÇAM._III. Assim chamavão
non poder aver onde compre outro, nos Seculos X, XI, e XII. á par
nós lho daremos : e se lho non der te, sorte » ou quinhão da herança,
mos, esté onrradamente, atá que pos que a cada hum dos Naturaes, ou
sa aver, onde compre outro... Peoms Herdeiros cabia nas Igrejas, Mos
den de Raçom quanto soem dar os teiros, Hermidas, Oratorios, ou
Peoms de Coimbra per quarteiro de outros lugares Pios, como Hospi
XVI. alqueires , sen braço, e sem ta taes, Albergarias, &c. Estas Ra
voa: De vino, e de linho den a oita goens se augmentavão, e beneficia
va parte: De madeira, que tragam vão algumas vezes com novas, e
pera vender, den a oitava parte. Em mais avultadas Doaçoens dos mes
Lagaradiga de vino, &c. Doc. de mos Herdeiros, que nisto mesmo
Thomar. E no Foral da mesma Vil tinhão seus temporaes interesses;
la de 1 174 se lê: jugadas seiam per crescendo as Comedorías, Casa
Quarteiro de XVI. alqueires, per al mentos, &c. á proporção que os
queire de dereito. Ibidem. Era logo primeiros fundos se augmentavão.
a jugada synonimo de Raçam. Succedia porém algumas vezes, que
RAÇAM. II. Porção, ou Con os Doantes senão propunhão aug
grua , que se dava aos Beneficia mentar, senão aquella Porção, que
dos, e Ministros da Igreja, ou fos nos ditos Mosteiros, ou lugares
se em destribuiçoens quotidianas, Pios lhes cabia. E neste caso as
a que chamavão Diario ; ou fosse outras Raçoens em nada ficavão mais
cada mez, a que chamavão Men avultadas, e crescidas. No de 1o81
sura; ou finalmente por anno, co Tructesindo Tructesindez - e seu
mo hoje mesmo se pratíca; consig filho Pelagio Tructesindiz doárão
nando-lhes certa quantidade de fru
certos bens ao Mosteiro de Pedro-,
tos, dízimos, ou dinheiros. No so, de quem erão Herdeiros, edi
Foral de Santa Cruz de 1225 se zem: Si peccato impediente, per in
acha: Clericos qui suas casas habue vidiam diabuli, ipsut Monasterium
rint, Óº rationes tenuerint; si non Petrosi, aut illud de Villa-Cova par
Jecerint porque suos Ordines perdant : titum fuerit a laicis: deserviant ist4
omnia,
RA RA 263
omnia, quar mandamus, º ad nostrar punhão fogo, e derribarião o Con
Rationes in ipsis Monasteriis servir vento. O Prior assim o fez, mas o
Dei , qui ibi habitaverint. Si verà Prégador escondeo-se, e não teve
Servi Dei in commune vixerint, com perigo. Pina, Chron, d'ElRei D.
muniter cuncta possideant. Doe. de Affonso V. c. 25. Já naquelle tem
Pedroso. No de 1o85 Flamula, fi po erão os Barbeiros Censores dos
lha de Honerígo , fez Doação à Sermoens. . . ; " ": , , ,

Pedroso tam de haereditate; quam RAIZ. O mesmo que bens de


de Ecclesia na Villa de Alquorovím ; raiz. Doc. das Bent. do Porto de
declarando logo, que dividindo 1 33o. . . . * … . | , !
se as rendas do Mosteiro, in ipsa RAIZES. O mesmo que Raiz.
mea Ratione deservia ipía haeredita Leixo todos meus beens , movis, e
te. Ibidem. . . . …..." : -º- ,
raizes. , .
• • • * # •

RADAR, ou Rodar a vinha. O RALLAN. O mesmo que Real,


mesmo, que Redrar, ou Redar, is moeda. Cento , e vinte réis em di
to he, dar-lhe segunda cava. Da nbeiro, de seis seitís o rallan, como
reis hum dia á vinha a cavar, e ou ElRei mandar. Doc. do Sec. XIV.
tro a rradar , e a vidrar (em al RAMADA, ou Ramata. Pesca
guns Prazos se diz Vidar), Anti ría, que se fazia com ramos, lan
gamente Redrar, era Defender: e çando grande copia delles nos mais
# Defensa. E como esta ca profundos póÇos; para que o pei
va-se dirige a chegar a terra ao xe subindo das lapas, e raízes se
pé das videiras para as defender acolhesse a elles. Era mui frequen
do Sol, por isso lhe chamárão Re te este serviço dos Colonos para comi
drar, e Redra. - - os Senhorios das terras. O tempo,
RAGURA. V. Rancoura, , , . que aperfeiçoou a arte de pescar;
RAYVA. Infamia, aleive, no igualmente consumio o uso das
ta, labéo. Este Frade alguma coura Ramadas. V. Emtruviscada. •

tem sintida porque nos poem esta ray RANCOROSO. V. Rancuroso.


va. São palavras do barbeiro con RANCOURA. Querella ; ou
tra o Prégador Fr. Vasco da Alla queixa judicialmente, e contra al
gôa, que rogado para aplacar o Po guem dada perante o Juiz. V. Quei
vo de Lisboa em hum Sermão na açúme. No Foral de Thomar de 1 174
Igreja de S. Domingos: elle, que se diz: Se alguem de casa doutro, ou
era todo da parte da Viuva d'El de fóra, cousa perforssa filhar , e
Rei D. Duarte, entrou em gran seu Senhor veer com rancourd ao En
des declamaçoens contra o Povo, commendador , ou ao Alcaide , ou
que não queria , que ella tivesse ás justiças ; ou ao Moordomo , en,
o Governo do Reino; tratando-os dobro componha. Doc. de Thomar.
de desobedientes, ingratos, e trai No de 12o4 o Mosteiro de Ma
dores, igualando-os aos Framen ceiradão deu Foral aos morado
gos de Bruges, que quizerão mat res da sua Granja de Figueiredo
tar ao seu Duque. Felippe. Com de Céa : não existe o Original,
isto se irritárão todos, e fôrão ao mas sim huma copia collacionada
Convento dizer ao Prior, que po com o que tinhão os moradores da
zesse fóra o Prégador, senão que dita Granja, mandada publicar #O
264 RA. RA
lo Juiz de Céa no de 1476, e nel vingança da sua propria injuria,
la se diz: Et vicinum, qui raguram ou que como tal se considéra. O
fecerit foras, & noluerit dare direc lesado, queixoso, ofendido, agra
tum, &c. E nada mais diz senão, vado. Nada mais frequente nos
que qualquer dos moradores, que Foraes antigos. No de Santa Cruz
se for querellar fóra desta Granja, se diz: Et qui in termino de Sancta
e não quizer pagar a coima , ou Cruce filia aliena rapuerit, extra saa
pena , que por isso mesmo devia voluntate, quod pectet XXX. mora
incorrer, pagasse por cada vez bitinos , medios a Palatio, & me
meio bragal para o Senhorio da ter dios al rancurosa... Et qui omem de
ra. De sorte que Ragura he o mes Sancta Cruce prisierit in presione,
mo, que Rancura, ou Rancºura, quodpectet XXX. morabitinos al ram
mudado o c em g. Mas vejamos coroso, & septimo a Palatio... Ad
como traduzio hum grande Mestre judicem nulli respondent nadi sine
de Viseu este Foral no de 1483, rancoroso. Doc. de Moncorvo. E
cuja Tradução foi dada em públi no da Villa de Móz: Et qui in ter
ca fórma: diz assim : E qualquer mino de Molas filia aliena rouxave
vezinho , que fizer regada fóra da rit, extra sua voluntate, pectet CCC.
regadura, que for bordenada, e não soldos ad rancurosum, ó exeat omi
quiser dar o direito , pague buums ziero... Et bominem de alia terra,
meios bragaaes. - Risum teneatis qui Cavalleiro de Molas descavalgar,
amici. Outra copia do mesmo tem pectet LX, soldos ad rancuroritm#Eê
po, mas não autentica, traduzio qui hominem de Molas preferit in pre
assim: E o Villädo, ou Villão, que sione, pectet CCC. soldos a rancuru
força fizer fóra, e nom quiser cavi su... Et qui vicino occiderit , ó" in
dar , peyte meio bragall. Doc. de sua casa fugerit, qui post illum in
Maceiradam, que nos desenganão traverit , & in sua casa illum ma
bem da ignorancia daquelles tem tar, pectet CQC. soldos a rancururu...
pos, e de que as agoas, tanto Et qui mulier aliena percurserit, pec
mais longe dos seus nascentes, tet XXX, roldos a suo murido :
quanto mais turbas, e nocivas. non responda sem rancururu, &c. E
RANCURA. O mesmo que Ran no de Castello Branco: Et qui ferit
coura. Acha-se nos Foraes antigos, de lancea, aut d'espada, pectet X.
c no mesmo sentido. f: Et si transiret ad altera parte,
RANCURAR-SE. Queixar-se pectet XX. f. al rancuroso. Doc. de
perante o Juiz de alguma violen Thomar.
cia, injuria, ou afronta, que se RANCURUSU. V. Rancuroso.
lhe fez, ou a cousa, e pessoa da RANHOADA. Fressura. De Pe
sua obrigação. Tanto á parte, que dida huma ranhoada de carneiro, com
se rancurar em dobro componha. Doc. duas soldadas de pam , ou seis sol
de Pend. de 1 292. dor, se os nós quiser-hos. Doc, de
º RANCUROSO.A. O homem, Bostello de 1316. -

ou mulher , que querella de al RASA antiga. No Lº I. de Var


guem, e que na presença do Juiz Prazos do Conv. da Serra a f 140
manifesta, e quer provar o crime se acha hum de Tarouquella de
alheio, e Procura a satisfação, e 1576 com Pensão de 26 alqueireº
• • de
• *

RA RA 265 |
de trigo medido pela rara antiga. T III, p. 324. E note-se que o
E rendo caso, que não haja medida violatores virginum, he diffinição de
da rara antiga, e não se poder medir Rausatores. No Foral da Lourinhãa
por ella : então elles cazeiros paga de 12 18 se determina : O rousador
ráõ pela medida nova, ao respeito da seja prezo , e justiçado : se fogir,
medida da rara antiga , que vem a pague CCC. soldos ao Pretor, e ave
dizer: 3o alqueires, e meio de tri nha-se com os Pais, ou parentes da
go da medida da rasa nova. E por mulher. Lº dos Foraes Velhos. Em
esta conta excedia a Rasa antiga é o antiquissimo Poema da Perda de
Medida nova em hum falamim , e Hespanha, cujos fragmentos nos
botelho, e meio, com insignificante conservou Faría , se chama a D.
diferença. Rodrigo Rouçom, como Forçador
RASCAM. Escudeiro, pagem, da Cava (huma das grandes Novel
moço grave de acompanhar na ca las, em que abunda a Historia do
sa dos Grandes. Ant. nosso Paiz.)
RASCAR. Dar vozes, clamar O Rouçom da Cava emprio de tal
sobre alguem, gritar Aqui d'ElRei sanha. •

RAUSAR, Rauxar, Rousar,


contra elle. V. Cabello, e Caritel.
RASCOA. Criada grave, aya e Roixar. Forçar mulher, corrom
de Senhoras. Ant. pela por força, fazer-lhe violen
RASO... Humilde, pobre, aba cia, gozar della contra a sua von
tido, despojado dos bens da for tade, furtalla da casa de seus Pais,
tuna, sem distinção, e Nobreza. ou parentes com o danado fim de
Ant. •
abusar da sua honestidade. V. Ho
º RASO. Medida, ou alqueire, miseiro , e Rancuroso. Do Latino
que, segundo o Censual dos vot. do Rapere se disse Rausar. V. Omi
ziero.
Porto, leva tres quartas do alquei
recorrente, menos meio galamim. RAUSO, Rauxo, Rosse, Ro
RAUDAO, Roudão, e Rodá xo, Rouso, Rousso, Rouxo. As
no. Côr de rosa. V. Cavallo Rau sim chamárão, não só o roubo de
dão. alguma filha , que vive com seus
RAUSADOR , Rousador , e Pais, Curadores, ou Parentes, e
Rouçom. Com este oprobrioso ti que violentamente he conduzida de
tulo se notava, e já desde o VIII. hum lugar a outro á vontade , e
Seculo, o que roubava filhas alheias, disposição do roubador lascivo;
e honestas, para abusar com vio mas tambem á violencia , que se
lencia da sua honestidade, o que fazia a qualquer mulher, ou fosse
as forçava, e oprimia contra a sua solteira , ou casada, ou viuva,
livre vontade. V. Rauso. Em o Sy que sem ser furtada, era violen
nod. Compostell. de I I I 4 can. 19. se tamente, e contra sua vontade, of
diz: Ab hora nona Sabbathi usque in fendida; como se dirá V. Scola, e
feriam secundam hora prima, nullus se disse V. Aforciar. Yepes na
Sayo habeat licentiam pignorandi, ni Chron. de S. Bent. T. V. pag. 439.
si homicidas, latrones, fcilicet viola nos oferece huma Doaç. d'ElRei
tores virginum per vim, raus atores, Bremudo de 997, que diz: Et in
é?"proditores. Entre os Conc. de Hesp. super intra pros dextros non habeane
. Tom. II. Ll li
266 RA RA
licentiam ingrediendi in eis, non Sa para a Corôa , e a outra metade
giones de Rege, non de Pontifice ... in ipsa haereditate remaneat. Este
non pro homicidio, non pro rauso, grande Privilegio confirmou depois
nec pro ulla culpa, & c. E no Conc. o mesmo Monarcha, com sua mu
de Coyança , do meio do Seculo lher, e filhos no de 1 157 a instan
XI. cap. 8: Mandamus, ut in Le cias do mesmo D. Raimundo Mes
gione, & in suis terminis, Ó in tre do Veneravel Templo de jerusa
Gallecia, & in Asturiis, ó" in Por lem, e do Prior Pelagio. Lº dos For.
tugale tale sit judicium semper, qua Velhos. Em Thomar se conserva
je est constitutum in decretis Adel no seu Original hum semelhante,
fonsi Regis pro homicidio , Rauso, e quasi identico Privilegio de Ex
pro Sayone, aut pro omnibus calum empção de todos os bens , Pes
niis suis. Em hum Diploma d'El soas, e Familiares dos Templa
Rei D. Affonso VI. de Io94 se rios, concedido pelo mesmo Rei,
lê: Taliter, ut non in istas haeredi com sua Mulher , e Filhos no de
tates Merino , neque Saione , meque 1 157, e firmado, ou expedido no
pro Rosse, neque pro omecidio, & c. de 1 158 (como se disse V. Cruz)
Ap. Marten. T, I. ampliss. Collect. e sendo obrigado por Bulla Ponti
col. 548. ficia, que havia consiguido Pedro
No de 1 14o ElRei D. Affonso Arnaldo, Procurador da Ordem do
Henriquez fez huma larga Doa Templo nestas partes , a conce
ção, em honra de Deos, e de to der-lhes tão ampla, e exhorbitan
dos os Santos, e particularmente te liberdade. Différe alguma cousa
de S. João Baptista, Patrono do o Original de Thomar da Copia
Hospital de Jerusalem, a D. Rai que Figueiredo nos deu na Hist. do
mundo, Procurador dos Santos Po Hosp. §.52. T.I. f. 1o4. tirada do
bres de Jerusalem , e a D. Aires Livro dos Mestrados. Em quanto ao
Prior dos Frades de Portugal, e Gal Rauso dispoem o seguinte: Sivero
liza. Livra, couta, e exime de to aliquis vestrorum hominum, in aliis
dos os encargos, direitos, e Por vestris haereditatibus , extra Cautos
tagens todos os seus bens presen vestros morans, furtum fecerit, vel
tes, e futuros, e a todas as pes bomines occiderit, aut raptum comi
soas, que nelles morão, assim nas serit (e eisaqui o Rauso, Rapto,
herdades, e Coutos, como nas Igre ou Rapina das mulheres) o legiti
jas, e tudo absolve de todo o Tri me convictus fuerit , omnibus aliis
buto , e Direito Real. Porém se exactionibus remotis, juxta possibi
algum destes cometter Furto, Ho litatem suam componat ; ita quod ca
micido , vel Rapina mulierum (que sam non perdat: é de hiis, quae pre
Rausum dicitur) qualquer que al dicta compositione persolverit, medie
guma destas tres cousas realiter, tatem Michi, vel meo Successori re
vel actualiter comiserit, & legitime dat; medietas verò in ipsa heredita
comprobari potuerit , omnibus aliis te remameat. Finalmente no Foral
occasionibus, & cavilationibus remo de Villa Verde junto a Lisboa de
tis , juxta possibilitatem suam com 12 18 se determina, que o mata
ponat; ita quod causam non perdat. dor pague mil soldos, e não os
E metade desta composição seja tendo seja enforcado, e o mesmo
SC
RA RE 267
seja de Roxo: dimidium Pretori, si os XXIV, marcos de prata por DC,
. dare non potuerit, suspendatur. L." livras, a XXV. livras o marco: fo
dos For. Velhos. (*) ram vendudos por CXX. livras or
RAUSSO. Tambem se tomou XXX. escudos: as dez Frolenças por
pela multa, condenação, ou pe XXX. livras: os dous rayaaees d'ou
na, que as Leis impunhão ao for ro por seis livras. Doc. de Pend.
çador de mulher. Nas Inq. R. de de 1 355.
1258 se achou que a Ordem do RAZ. Cabeça, cabeceira. Ap.
Hospital tinha na freguezia de San Bergança.
ta Cruz da Maya 6 casaes , que RAZA, e Serrão. Propriedades
lhe havia empenhado Fr. Adrião, de raza, e serrão se dizem aquellas
o qual foi ter a hum moinho, Óº terras, das quaes se paga foro hum
forciavit ibi unam mulierem : e o anno sim, e outro não. Ant.
Rico-homem , que então tinha a RAZOAR. Referir, contar, re
Maya, demandabat ei Raussum. E produzir , relatar alguma cousa.
para satisfação daquelle crime fez Razoadas todas por miudo , conta
o dito empenho. das todas singularmente, sobre si,
RAY'A. Rainha. com distinção, e por miudo.
RAYAAEES. O mesmo que REAL. Moeda d’ouro, prata,
JReaes de mais , ou menos ceitís. e cobre. O Real d’ouro he dos
Z. Real. Doc. de 1339. principios deste Reino, assim co
RAYAL dº ouro. Valía tres li mo a Mealha douro. V. Mealha, e
vras das antigas. Foram avaluados Rayal d’ouro. E dizem se lhe deu
Ll ii CS

(*) Em feito de Rousso, ou forçamento de mulher, e segundo a Lei d'ElRei D.


Afonso IV: tanto que se a mulher queixar, ou querellar de algum , que jaz com ella
por força, a Justiça a deve tirar do poder de seu Pai, e pôlã em casa de hum ho
mem bom, ou em casa de hum dos Juizes. E se alguma mulher forçarem em povoa
de , deve querellar, dando grandes vozes, e dizendo: Vedes que me fazem: hindo por
trez, rúas; e fazendo-o assim, será a querella valedoira: e deve nomear o que a forçou
r seu nomé. E se alguma mulher forçarem em deserto, deve, fazer os, cinco sinaes,
para que seja válida a dita querella; os quaes compridos, e acabados está º corpº, em
perigo, e faltando algum delles a querellº be nenhua , e º prefo deve ser solº. E ºs
cinco sinaes são os seguintes : 1.º Na ora que o homem della, travar, deve dar gran
des vozes, e brados, dizendo: Vedes que me fez. Foam ; nomeando-o por seu nome. 2º De
ve ser toda carpida 3.º Deve vir pelo caminho dando grandes vozes , queixandº-º 4º
1º, e ao 2.°, e ao 3.°, e aos outros todos que achar: Vedes que ### Foam. 4º Deve
vir á Villa sem tardamento nenhum. 5.º finalmente : Deve hir á Justiç4, e não entrar
em outra casa, senão direitamente bir-se á 3ustiça. E faltando alguma cousa destas nãº
se lhe admittia a crélla. ElRei D. Pedro declarou, que para a mulher se dizer forçada,
deve logo partir do feito, e do lugar, onde lhe fazem a força º bradando º que, Fºº"
jouvera com ela per força. E que na Villa senão julgava a mulher for ada , salvo se
a tiverem em lugar, que não possa bradar; porém sabindo do lugar, deve-se lºgº,ºr.
pir, e bradar, e bir-se logo geitar á # , e fazer o mais que he costume do Reinº
em estes casos. É depois ElRei D. Afonso V. declarou, que todo o homem de qualquer ºs
rado, on condição, que por força dormir com mulher casada, virgem, ou ºitº" ? 1*
bonestamente vivesse, morra por isso mesmo , sem que nenhum Privilégio pessoal o releve
de semelhante pena, e tambem"todos os que para isso dessem ajuda, ou fontelhº; E 4"º"?
obstante o forçador casasse com a virgem, ou viuva forçada », n㺠deixaria de ser punido
de morte, como se nunca houvesse casado. E isto se entende das que verdadeiramente fô
rão forçadas, não dando ao feito algum consentimento voluptariº» ainda que depois do
feito consumado, nelle consintão, ou dem qualquer prazimento 3. Porquê istº lº? livra
V. Tit. 6.daPer
oL.forçador pena; salvo se ElRei por especial graça lha quizer perdoar, Cod. Alf.
ditatot. •
A─º

268 RE RE
este nome por nelle se achar o tanho. Os que se batêrão antes de
Real Escudo das Armas Portugue 1446, valião I o ceitis , e tres.
zas. E que muito os houvesse em quartos de ceitil: Os que se lavrá
Portugal, havendo-os em França, rão até o de 1453 , valião hum
em Sicilia, e outras partes?.. O real, e dous ceitis, e dous quin
Real de prata lavrou-o ElRei D. tos de ceitil: Os que ao depois
João I., sempre com o mesmo pre se lavrárão até o de 1462, valião
ço, mas cada vez menor no peso. hum real, hum ceitil, e hum quin
Seus Successores os continuárão até to de ceitil: E finalmente os que
ElRei D. Manoel, em cujo tempo se lavrárão desde então , valem
havia Reaes de prata com o valor seis ceitis, e este he o valor do
de 2o réis, e outros valião 3o réis. presente real. Porém nos Contra
ElRei D. João III. continuou os tos de compras, vendas, obitos,
Reaes de prata, mas com o valor &c., os contratantes se fazião hu
de 4o réis: Tinhão os mesmos cu ma Lei particular sobre o valor
nhos, que as suas moedas de 8o do Real , e assim como algumas
réis, mudado sómente o 8o em 4o. vezes declarão, que o Real valía 35
Lavrou tambem esta moeda ElRei livras; dizem outras, que o Real
D. João IV, e he o meio tostão, que constaría de sinco ceitis.
ao presente corre. Na Camera do O Real Preto, chamado assim por
Porto se conserva huma Carta d'El ser de puro cobre, fez lavrar El
Rei D. João II. sobre o valor das Rei D. Duarte: déz destes Pretos
moedas d’ouro, e prata, que manda fazião hum Real branco. E daqui
va lavrar no de 1 489, e pela qual vem que nos Prazos de Almacave,
manda, que o Real de prata fosse e outros, já nos principios do Se
de 2o réis, e o meio Real de 1o réis. culo XVI, se faz larga menção de
E que em cada marco de prata haja Real de dez Pretos. Valia cada hum
I 14 péças dos ditos Reaes , e 228 pouco mais de hum ceitil; porém
dos ditos meios Reaes : E que fosse os que se lavrárão no de 1473 va
o preço do marco de prata I Q)28o lião sómente tres quintos de cei
réis , que he o preço de seis cruza til. Para evitar tanta confusão, des
dos. Tambem havia Reaes antes d'El de ElRei D. João II. até ElRei
Rei D. Afonso V., hum dos quaes D. João III. se lavrárão os Reaes
fazia o valor de 3 livras, e meia Pretos de seis ceitis. Tinhão de hu
das antigas, que sendo de 36 réis, ma parte hum R debaixo de huma
valía o dito Real 126 réis. E des Corôa , e da outra o Escudo do
te Real se faz expressa menção em Reino , com o nome do Rei na
huma Carta de compra do Cabido orla. Desta moeda lavrou tambem
de Lamego pelos annos de 1454. Meios Reaes, ElRei D. Sebastião,
V. Livra. com valía de tres ceitis : tinhão
Dos Reaes de cobre huns se cha de huma parte hum S coroado,
márão Brancos, e outros Pretos. Os que queria dizer Sebastianus : da
Primeiros fez lavrar ElRei D. Duar outra hum R entre dous pontos no
te, e D. Affonso V., e se disse alto, e a letra Sebastianus I." (*)
rão brancos, pela muita liga de es REAL, e meio. Moeda dº El
Rei

("O Pelo Cod. Alf. L. I/. Tít. 1. S. 63. se vê, que ElRei D. Duarte mandou se
|
RE RE 269
Rei D. Sebastião: valía nove cei a causa impulsiva. E nas Cartas de
f1S. |

liberdade, isenção, venda, ou es


REAL. O mesmo que Exercito, cambo não poucas vezes fazia par
ou Arraial, em que está o Rei, te do preço, ainda que nem sem
ou o General, ou a Bandeira, e pre se expressasse. E com efeito
Estandarte Real. a Formula Roboro, Óº confirmo, que
REAL branco. Continha déz poucas vezes se omittía, era con
reaes pretos, a que chamavão Reaes sequencia de se ter recebido algu
piquenos. Assim consta de hum Doc. ma cousa, que precedia, acompa
de Bostello de 1425 , e outro da nhava, ou seguia a confirmação do
Uuiv. de 15oo. Em hum Doc. de que se doava, vendia, escamba
Santo Thyrso de 1419 se diz Mil, va, &c. Consistia a Rebora em cou
e duzentos reaes brancos, de dez reaaes sas de pouco valor a respeito do
cada huum. Cada hum destes Reaes que rezava a Escritura: humas es
valía tres libras e meia. Cod. Alf. póras, huns çapatos, huns bezerros,
L. IV. Tit. T. S. 56. hum capote, huma saya, hum podem
REBENTINA. Ira, furor, rai go, humas luvas, ou guantes, hum
va, cólera, desesperação. Ouvindo cavallo, hum baile , huma canada de
esto D. Gomez , e os que bião com vinho, huns tantos soldos, ou mara
el, creceo-lhe a rebentina, e nom le: vidiz, huma vacca, hum porco, & .
catárão as Hordens. Fundação da roboravão , e confirmaAão cousas
Igreja de S. Miguel de Penaguião de grande preço. No de 1234 ven
de 1 19 I. deo Diogo Rodriguez a seu so
REBENTINHA. O mesmo que brinho huma herdade , que tinha
Rebentina. *
em Loimir circa locum, ubi vocatur
REBOLARIA. Pompa viciosa, Albergaría. Et dedisti mihi pro re
ornato escandaloso. He do Seculo bora duas numatas vini. Lº das Doaç.
XV. de Tarouca f. 38. E de outra Escri
REBOLLO, ou Repollo. Fei tura de Doação que ali mesmo se
xe, mólho, ou braçado de lenha. acha a f 5 6. W. consta , que Pro
Ap. Bergança. Rebora unam jugatam de almalos ba
REBORA, ou Róbora, Révo buimus. E a f. 5. W. se vê a Doa
ra, e Rrévora, Reboração, e Re ção dos Dizimos da Bugalheira,
voração. I. Com toda esta varieda que o Bispo de Lamego fez ao
de se acha escrita esta palavra. Por Mosteiro de Tarouca; precedendo
ella se entendia o presente, lu o consentimento, e autoridade não
vas, saguate, donativo, offreção, só dos Freguezes de Cambres, mas
ou mimo , que além do preço se particularmente de Maria Gonçal
dava nas compras, e vendas, tro vez, Que preest Ecclesiae Sancti Mar
cas, escambos, e tambem nas Doa tini de Cambres. E conclue : Et Ego
çoens a costumava dar o Donata Episcopus recepi tres morabitinos pro
rio ao Doante. Humas vezes erão robora. Facta K, &c. No de 12 17
estas Reborar, ou Donativos a cau D. Orraca Viegas fez huma Doa
sa total das Doaçoens, outras só ção ás Salzedas, que está lançada
I1O

pagassem vinte brancos por huma libra, e hum branco por hum soldo, e bum preto por uum
dinheiro ; valendo déz Pretos hum Real branco como ora valem.
27o RE RE
no Lº dellas a f. 122, a qual ra Odorio, Bispo de Viseu, com o
tificou depois, Et pro robora unum Cabido eximírão ao depois esta
Breviarium de carreira de dia, Óº Igreja dos Diteitos , que nella se
de nocte. Rebora de hum cadeado, pagavão á Mitra; não só dizem,
se póde ver V. Emtruviscada. Re que a isso se movêrão Pro remedio
bora de hum pouco de burel. V. animarum nostrarum ; mas tambem
Moravideada. Da Reboração. V. Ar Pro eo , quod dedistis nobis hunam
remedilho. A Monio Gonçalvez doou luram mensalem obtimam , apretia
o Infante D. Affonso Henriquez a tam triginta morabitinis. Doc. de
Villa de Parada, sobre o Douro, Alafoens. De sorte, que esta pe
e no Territorio de Lamego , no ça, ou aparelho de mesa, foi quem
de 1 1 3o. Et in revoratione uno cor grandemente influio na Doação.
reiom, Óº uno potengo, Óº unas lu Mas disto ha infinito em os nossos
vas. Doc. de Arouca. No de 1 139 Documentos, muitos dos quaes
fez o mesmo Infante Carta de Doacolligio o A. das Observ. de Diplom.
ção, e juntamente de venda a Mu Portug. P. 1. Observ. 4. f. 98. Ho
nio Guimariz , de hum casal em je se pratícão em algumas das nos
Travancella, Et accepi in pretio de sas Provincias os Alborques entre
te uno Caballo bono, Óº uno manto... os que comprão, e vendem, e os
Facta Carta Donationis, Óº venditio que servem de testemunhas: con
nis, &c. Doc. de Viseu. E eisaqui sistem em pagar algum dos con
o Donativo promovendo a Doação. tratantes (que ordinariamente he
Sendo já Rei o mesmo Senhor, o comprador) huma vez de vinho
doou á Sé de Viseu o Couto de para cada hum dos presentes. E
Mouraz, com a Consorte do seu Rei com esta alegre ceremonia dão por
no a Rainha D. Mafalda no de 1 152, feito, e solemnizado o contracto,
Pro remedio animarum nostrarum, ó: de sorte que já o vendedor não
parentum mostrorum, Óº ut memoria póde variar, ainda que lhe ofere
mostri apud eandem Sedem habeatur ção maior preço. Parece ser isto o
sempiterna. E tal he o principal résto,unico das antigas Révoras.
motivo desta Doação; porém não REBORA, Róbora, e Révora.
so isto, alguma cousa mais os mo II. Idade capaz da razão, tempo
veo: Dedistis etiam nobis unam mu de hum pupíllo sahir de tutorías,
lam in sexaginta morabitinis adpre e de se governar por si mesmo,
ciatam, nec non & quinquaginta mo adquiridas já aquellas forças, e
rabitinos. Ibidem. V. Charidade IX. luzes, que são indispensaveis pa
Havendo o Sacerdote Domingos ra dirigir com sagacidade, e pru
doado ao Mosteiro de S. Christo dencia as suas acçoens. Treze, 14,
vão de Alafoens a Igreja de Val ou 15 annos alguma vez se julgá
ladares, que ficava dentro do seu rão bastantes , para adquirir esta
Couto, Pro charitate, & vinculo Rébora, ou força do corpo, e Espi
dilectionis não negou o mais, que rito; porém as Leis, que se fun
a isto o movêra , pois continúa: dão no que commummente succe
Et pro eo, quod dedistis mihi XX. de, e não em factos particulares,
numos aureos, quia tantum mibi, &" estabelecêrão mais largo espaço,
vobis bene complacuit. E quando D. para que o homem , e a mulher
po
\ •

RE RE 271
podessem viver sem Guardas, e de chamar succesivamente para a
Tutores, como capazes de admi Corôa ao seu filho mais velho D.
nistrarem por si as suas casas, ren Afonso, D. Pedro o segundo, e
das, e Morgados. No Testamen D. Fernando o mais novo de todos
to, com que faleceo ElRei D. Af os filhos, e filhas (pois ainda não
fonso II, de 1 221, depois de dei tinhão nascido da Rainha D. Dul
xar o Reino aos seus filhos legiti ce, D. Henrique, D. Raimundo,
mos, principiando do mais velho, D. Mafalda, D. Branca, e D. Be
continúa : Et si filium masculum non rengaria, e D. Constança, a mais
habuero de Regina D. Urraca : filia velha de todos , havia falecido
mea Infans D. Lianor, quam de ipsa quasi no berço) acrescenta: Man
Regina habeo, habeat Regnum. Et si do preterea, ut si (qnod Deus aver
in tempore mortis mee, filius meus, tat) omnes filii mei fuerint defuncti
&º filia, qui, vel que debuerit habere sine semine: Filia mea Maior, Re
Regnum, non babuerit roboram: sit gina D. Tharasia Regnum obtineat.
ipse, vel ipsa, Óº Regnum in potes Et si ipsa sine semine obierit, filia
tate Vassallorum meorum, quousque mea Maior D. Sancia habeat Regnum.
habeat roboram. E se quando Eu ... Hoc iterum in praeceptis adjungo,
morrer (continúa o Real Testa quod nemo illorum, qui filium meum
mento) o meu filho, ou filha, que Regnantem in tutela babuerint, mit
me suceder no Reino, tiver idade tat manum , vel expendat illos 2X.
competente: mando a todos os meus morabitinos, qui sunt in turibus Co
Ricos-Homens , que lhes entre limbriae, vel illos X quisunt in El
guem os meus Castellos, como os bora; sed servent illos usque ad tem
entregarião a Mim : Et si roboram pus illud, quo filius meus fuerit adul
non babuerint : mando quod Magis tus, Óº capax rationis. Interim vero
ter Templi, & Prior Hospitalis, te defendant Regnum cum reditibus ter
meant eis in custodia suum habére, rarum. Doc. de Viseu. E se já nas
quousque habeant roboram. Et si ali Côrtes de Lamego se tinha regu
quis illorum roboram habuerit : man lado a successão da Corôa , que
do habeat suum habére in pace. T. necessidade havia de a estabelecer
do T. Gav. 16. Maço 1. N. 17. por huma Lei Testamentária ?..
Com este mesmo espirito foi Na Instituição das Capellas da
regulado o Testamento, ou mais Córga , e do Morgado da Bouça
bem Codicillo, d'ElRei D. San no de 1 356 se lê: Porém se ber
cho I, quando no de 1 188 se pre dar mulher, por não haver varão:
arava a ultimar em pessoa a con tanto que o houver legitimo, de re
quista do Algarve (o que efeituou vora de XV. annos, aja o dito Mor
no anno seguinte) pois diz: Ad gado. Doc. de Viseu. |

jicio adhec, quod ubicumque contin RÉBORA, III. Confirmação ,


gat me mori, vel (quod absit) ali outorga. Ducat Fernandum Johan
quod incurrere infortunium, quod li nis cum uxore sua ad reboram istius
bertatem corporis mei impediat, Óºc. Karte. Doc. de Santo Thyrso de
(o que dá a entender, que a mor I 24O.
te , ou cativeiro o podia colher RÉBORA, ou Révora compri
fóra do seu Palacio): Nelle depois da. Quando outra cousa senãocla

de
272 RE RE
clara, he o tempo da puberdade; percusserit, pectet ei LX, sol.: Ee
que nas femeas he aos 12, e nos si non habuerit Recabdum , pectet
varoens aos 14 annos. Cod. Alf. L. XXX, & sit inimicus de suis pa
IV. Tit. 38. S. 4, e Tit. Io7. S. 11. rentibus, & VII. Palacio. Lº dos
REBORAR, Rrevorar, e Ro For. Velhos. Estes Matrimonios as
borar. Firmar de novo, confirmar sim solemnisados se chamavão de
por hum Instrumento público, o Benedictione , ou ad Benedictiones
que já se tinha dito, feito, ou pac V. Malfairo, e Marido Conuzudo.
tado por huma Escritura particu No For. de Aguiar da Beira de
lar, ou só de palavra. Começárão 1 258 ainda lemos: Et toto bomine
com os Godos semelhantes rebora de Aquilari, qui babuerit mulier ad
coens, de que hoje restão as Con Benedictionem, ó leixaverit illam,
firmaçoens Geraes, pelo que respei pectet ad judicem unum denarium.
ta aos bens, que emanárão da Co Et si mulier ad suum maridum lei
rôa; extinctas já desde o XIV. Se xaverit, qui habuerit ad Benedictio
culo as particulares Confirmaçoens, nem , pectet trecentos solitos, medios
que nos antigos pergaminhos se a Palacio, & medios a suo marido.
encontrão. V. Bebora. I. Doc. da T. do T.
REÇAGA. Assim dizião anti RECABEDADA. Mulher rece
gamente ao que nós hoje dizemos bida na face da Igreja, e com to
Retaguarda de hum Exercito , Ba das as solemnidades, que os Di
talhão, ou Armada. freitos prescrevem, e determinão.
RECABDAR , e Recabedar. Nos For. antigos tambem se cha
Ainda que o geral significado de ma Mulher das Bençãos, para dif
Recabdar seja , Receber alguma ferença da que as não tinha , e
cousa ; como vindo de Recaptare, que privadamente, e só em occul
ou Recaudare, que na Infima Lati to, se havia recebido. No For. de
nidade se tomárão por, Cobrar, e Thomar de 1 174 se diz: Mando,
ter a bom recado os dinheiros, que cada huum filhe sa molher, que
ou rendas, que se havião recebi aia recabedada , ou filha sua , que
do : desde o Seculo XII, foi entre
ainda non foy casada, bu quer que a
nós adoptada esta palavra , para achar, sem coomba. Doc. de Tho
igualmente significar a acção de mar. V. Malado.
receber solemnemente , e á face RECABEDAR. V. Recabdar.
da Igreja , a huma mulher para RECABEDO. I. O mesmo que
Consorte, e Contoral; santifican Recabdo ; he frequente no Seculo
do o seu legitimo Contrato com o XII.
Grande Sacramento , que JESUS RECABEDO. II. Instrumento,
Christo instituio para tornar San ou Escriptura de Recabédo, era o
to o Matrimonio. V. Marido Co mesmo que Escritura de Arras,
muzudo. -
que se fazia a huma Esposa, que
RECABDO. Recebimento so com toda a solemnidade se espe
lemne, em face da Igreja, e na rava receber. Tal he huma assim
fórma dos Sagrados Canones, san intitulada, e escrita em Portuguez
tificado com abenção do Sacerdo no de 127o, pela qual hum ma
te. Qui mulierem alienam de recabdo rido consigna a sua mulher futura
A CCT
- RE RE 27;
certos casaes em Terra de Alafoens. sem os Commendadores responsa
Doc. das Bent. do Porto. veis de darem hum exacto Recibo
RECABEDO. III. Recibo, es dos seus rendimentos aos Minis
crito, bilhete, ou quitação, pela tros, e Cobradores Reaes, para
qual se declara ter-se recebido al saberem como havião de ajustar
uma somma , de que o devedor as respectivas parcellas com o re
#" desobrigado. Na Latinidade cebido Capital, quando fosse preci
infima se disse Recautum. Livro do so servirem-se dos bens hipoteca
JRecabédo, era propriamente o Li dos ? Aos seus Dizimeiros da Ci
vro da receita, e pelo qual se ma dade do Porto passou huma Qui
nifestava o quanto se havia recebi tação ElRei D. Afonso III. no
do, e o que ainda ficava em aber de 1253, na qual diz, que elles
to. No de 122 I fez ElRei D. Af tinhão dado Compotum, ó recabe
fonso II. huma Declaração com dum: Óº inventum fuit, quod expen
D. Mendo Gonçalvez , Prior do derunt, &c. E cisaqui as verdadei
FHospital em Portugal, sobre os ras contas com Receita, e Despeza.
14à coo Aureos velhos, e 19 de 5oo Doc. do Porto. -

soldos de pipinionibus, e 2 marcos de RECABITO. O mesmo que Re


prata, menos onça, e meia (os quaes cabdo. Sec. XII. •

erão dos 2od)ooo Aureos , ou a RECAPITO. Recado, que se


decima do thesouro, que seu Pai manda por algum mensageiro. Ain
lhe deixára em Testamento). Este da hoje he usado dos Italianos no ,
dinheiro déra o Rei a guardar ao mesmo significado. He do Sec. XI.
dito Prior, para se despender no RECCORREIÇÃO, Recurri
-

Claustro , que se havia de fazer ção, Recorricio, ou Recurrentia.


na Sé de Coimbra. Por este Ins O mesmo que Parochia , ou Fre
trumento, que se guarda na Tor guezia, a que tambem chamavão
re do Tombo, se obriga o Prior Collação. Entre os Doc, da Colle
a satisfazer tudo ; hipotecando, giada de S. Christovão da Cidade
até a real entrega, todas as ren de Coimbra se acha hum Escam
das, que a sua Ordem tinha neste bo, que D. Pedro, Prior da Her
Reino , e mandando , que todos mida de D. Roberto, junto ao Pai
os Commendadores dessem Reca va, e os seus Frades, fizerão com
bedum, unurquisque de sua Bauilia, Pedro Julião, ao qual derão humas
Hominibus meis, de omnibus reditibus casas, que elles tinhão dentro de
ipsarum Bauiliarum. E mesmo se Coimbra, In recurritione S. Xpofo
obriga o dito Prior a dar Maravi ri. Sunt isti termini earum. In Orien
diz velhos (que valião mais) por te domus tua. In Occidente domus,
aquelles, que se achárão serem dos que fuit de Egêa Moniz de Ortigo
nóvos, e que o mesmo Prior já ti sa. In Aquilone atrium. In Africo do
nha despendido. E finalmente de mus de Fernando Martini. Damus &"
clara o Rei, que dos sobejos se concedimus tibi ipsas domos pro aliis
comprem bens de raiz para a fa domibus, quas nobis dedisti in eadem
brica do dito Claustro, e Sé. Se Colatione, &c. Era o mez de Agos
ois as Commendas estavão obri to de 1196. Em hum Doc. da U
gadas á Dívida: que muito ficas niv. de 1 165 se diz: In recurren
Tom. II. Mm º tia
274 RE RE
tia S. Christophori. Em outro de mentos, discursos. Doc. das Bent,
x 1 69: In recurricio S. Crucis. Em do Porto de 1324.
outro de 1275 : In recurrentia S. RECONECER. Reconhecer.
Bartolomei. E finalmente: In recur Doc. de 1 3o I. -

rectione, &c. In reccorrectione se lê RECONHECENÇA. O mes


em hum Doc. de Lorvão de 1 18o.
mo que reconhecimento, memoria,
RECEANÇA, Susto, medo, re agradecimento , lembrança de al
ceio, temor. Ou hã receança deles, gum favor, ou beneficio recebido.
por os quaes o derecto presume, que Antigamente se chamou Reconhe
1ã compridamente non farã derecto, cença, a Pensão, ou Tributo, que
come os estranhos, è que non bã lo se pagava aos Bispos, e seus Ca
gar as ditas razoens. Cort. de Lis bidos daquellas Igrejas , a quem
boa art. 7, em que ElRei D. Af elles tinhão libertado, e eximido
fonso IV. no de 1 352 deixa de pôr de pagarem a Terça Pontifical, que
juizes de fóra, e concede aos Pó de Direito se devia pagar. V. Ter
vos o continuar com os seus Jui ças Pontificaes. No de 1 152 D. João
zes Ordinarios , segundo os seus Anaia, Bispo de Coimbra, de con
antigos usos, e Foraes. sentimento do seu Cabido , con
RECEBEDO. Recibo, resalva, firma a D. Pedro Gavino , e a sua
ou quitação. Et mando quod reci mulher D. Ero Nunez a Doação,
piant recebedum de omnibus Servitia e liberdade da Terça Pontifical, que
libus, ó Maiordomis meis, Óº qui da Igreja de Sazes lhes tinha fei
tent omnes ex parte mea. Testam. to; mas com tal preito, e condi
de D. Pelagio, Bispo de Lamego, ção, que querendo-a testar a qual
de 1246 , que mandando dar re quer Mosteiro, ou Convento, que
salva, e perdão de tudo o que se não fosse a sua Cathedral , sem
lhe devía , não quiz ficar devendo contradicção alguma lhe pagarião
aos seus familiares, e criados cou a dita Terça na fórma dos Sagra
sa alguma. Doc. de Lamego. dos Canones. Facta Condonationis
RECENDER. Descender. Se Carta, & firmitudinis. VII. Kal. Sept.
guindo as pegadas daquelles, de quem E. M. C. L.X. Doc. de Lorvão. No
recendia. de 1231 D. Pedro Soares, Bispo
RECHANO. Huma pequena da mesma Diocese, se compoz com
planicie no meio de huma portel o mesmo Mosteiro, sobre a Reco
la, ou viso. E des i ao Rechano, nhecença, que havião de ter á Mi
ou Viso, onde se fazem os dous ca tra as Igrejas de Botão, Cacía, S.
minhos. Tombo de Castro d'Ave Martinho do Campo, Figueira, e Ser
lans de 15 o I. Doc. de Bragança. pins, que erão de Lorvão. Ib. D.
REÇOAR. Livrar do cativeiro, Pedro Gonçalvez, Bispo de Viseu,
resgatar. Doc. das Bent, do Porto no de 1 253 fez Concordata com
de 1278. a Abbadessa, e Mosteiro sobredi
REÇOENS. Resgates, livra to sobre o que a Igreja de Trei
mentos de cativeiro. He contrac xedo devia pagar de Reconhecença,
ção de Redempçoens, ou Redemp á Cathedral, de quem havia rece
Z10fley. bido a Mercê de ser isenta da Ter
REÇOENS. Razoens, razoa ça Pontifical. Ib. Era pois a Reco
mhe
RE RE 275
nhecença hum dos Direitos inalie Rei D. Fernando de 138o. Doc.
naveis do Direito Senhorío, que de Moncorvo.
na Baixa Latinidade se disse Re RECUDIR. II. Tornar a acu
cognitio. Não havia com tudo uni dir, voltar para alguma parte. O
formidade na quantidade, e quali lhavão onde sahião, e onde havião de
dade desta Pensão, que só pen recudir. V. do Condestab. D. Nu
dião da vontade dos estipulantes; no Alv. Pereira.
sendo humas vezes em dinheiro, REDERAR. V. Radar. Dardes
outras em fructos, e outras em ser X. homeens a rederar em S. Nomede.
viços. Hoje se confunde este Di Doc. de Pend. de 1429. — Dez
reito Dominical com o Laudemio; homens para redrar no mez de Mayo.
sendo que a diferença he bem sen Doc. de Bostello de 1378. Em
sivel. V. Laudo. outros Doc. se diz Arrendar no
- RECONTAMENTO. Rella mesmo sentido.
ção, narração, exposição circums RECURÇÃO. Limite, termo,
tanciada de qualquer cousa. Doc. freguesia, territorio. Em Latim
da Cam. de Coimbra de 1464. Recurtio. V. Reccorreição.
- º RECROBAR, Plantar, cultivar, REDAR. V. Radar.
refazer , aproveitar. Tal preito a REDIMIMENTO. Redempção,
vós damos esse nosso erdamento, que resgate, satisfação. No de 1287
o recrobedes bem em vinhas , em ar D. Fruili Fernandez, em redimimen
vores, e naquellar cousas, que forem to de seus peccados, doou ao Mos
a profeito d'esse nosso eralamento. Pra teiro das Salzedas o seu herdamen
zo de Tarouca de 1 3o%. to de Poyares. Doc. das Salzedas.
RECTIDÃO, e Rectidoens.As REFACIMENTO. Fabrica,con
sim chamárão a tudo o que por certo, reparos. Et ipsam decimam
Direito erão pertenças de huma de Villa sedeat in refacimento de ip
herdade ou casal. Villas ... cum sa Ecclesia. For, de Cortiçô de
omnes suas rectitudines. — Villa Bar 12 16. Doc. de Thomar.
riolor.... et omnem meam rectitudi REFAZIMENTO. V. Refaci
nem de ipsa quintana. Doc. de Paço mento. Tambem se tornou por com
de Sousa de 1 146, e 1 1 65. pensação, e satisfação, que se da
RECTOR. Reitor. Doc. de va ao que nas partilhas, ou qual
1418. quer contrato ficava lesado, dimi
RECUDAR. Recusar, negar nuto, ou mal servido. E porque na
se á petição de alguem. Recudades dita cuzinha, casa, e quintãa ficava
dar a mim este Castello. Monarch. melhoría ao dito Moesteiro; em refa
Lusit. T. V. L. XVI. c. 56. zimento, &c. Doe. de Paço de Sou
RECUDIR. I. Sahir, vir a ser sa do Sec. XIII.
para o futuro. O que ouver contia REFECE. I. V. Arfece.
de quinhentas libras, atáá mil e qui REFECE. II. Tambem se cha
nhentas, aja potro de dous annos, e uou refece a moeda baixa no me
des i a cima : tal que, segundo comu tal, e no valor. E mudando-se, ou
mal entender dos homens, del recudi fazendo-se a dicta moeda mais refe
rá cavallo recebondo , segundo a con ce, que lhe dem, e paguem o ver
tia daquelle que o tiver. Carta d'El dadeiro valor de como ora corre, Doc.
Mm ii do
276 RE RE
do Salvador de Coimbra de 1422. REFERTO. Embaraço, conten
Zender a refece: comprar as merca da, repugnancia, ou contradicção
dorias mui refeces: he o mesmo que de obras , ou palavras. Ajades os
comprar, e vender por hum preço detos bens pacificamente, e sem re
muito vil, e baixo. Cod. Alf. L. ferto. Doc. de Pend, de 1 35o.
IV. Tit. 2. S. 4, e Tit, 4 § 1. REFERTORIO. Refeitorio,
REFERTA. Porfia de palavras, casa em que os Religiosos se ajun
repugnancia, contenda. He de Bar tão a tomar a refeição corporal. E
ros. Sem outra referta, nem escura, tambem se chamava Refeitorio a
que a ello ponha. Prazo da Guarda mesma refeição, que ali se toma
de 145o. va. Doc. de Vairão do Sec. XIV.
REFERTAR, I. Disputar, ar REFIÃO. O que pubricamente
guir, repugnar, profiar, contender tem manceba na mancebia pera a em
com palavras. Daqui Referto, Re parar, e defender por o guainho eli
ferta, &c. Hoje dizemos Refertar, cito , que della leva. Não goza do
lançar na cara os beneficios, que Privilegio Clerical o Clerigo casa
alguem fez , como vituperando a do (não só na pessoa, mas nem ainda
ingratidão de quem os recebeo. nas cousas) que fôr: 1º Carniceiro,
REFERTAR, II. Impugnar, mattando, esfolando, cortando &c.
não querer, pôr demanda, defen 2.º Tavermeiro , se vende publica
der, contrariar, impedir. Disse, mente o vinho na taverna, ou o es
que lho refortarom os lavradores do cança aos bebedores. 3.º Refião. 4.°
dito logo, atá que lhes nom fezesse jogral. Vid. Jogral. 5.º Tregeita
certo como os deviom d'aver. - E que dor, que os Hespanhoes dizem Tru
o dito Moesteiro refertára os ditos am, e nós comediante, bobo, far
dereitor. -

cista, representante, que por di


REFERTADAMENTE. Com nheiro faz ajuntamento do povo.
repugnancia , renitencia, de má 6.º Goliardo. V. nesta palavra. 7."
vontade. •

Bufam, que traz almareo, ou arque


REFERTEIRA, Assim chamão ta ao collo com tenda de marçaria pe
ainda hoje em algumas partes á ra vender. Cod. Alf. L. III. Tit. 15.
ue he desdenhosa, e esquiva. §. 17. e 18. Hoje dizemos Rafião,
REFERTEIRAMENTE. O mes ou Rufião o que serve de alcovitei
mo que Refertadamente. Queixando ro, e patrocina as meretrizes.
se os Ecclesiasticos de que as Jus REFRETAR, ou Rrefretar. O
tiças lhes não davão obreiros, e mes mesmo que Refertar, contender,
teiraaes, e mancebos, e mancebas, e promover, e procurar a decisão ul
outras pessoas, que os servissem, tima das causas, segundo o verda
concluião: E se acontecia, que com deiro espirito das Leis. Nom avia
grande aficamento lhos dessem, da hi promovedores, que rrefretassem o
vamlhos tarde, e referteiramente, e dereito da justiça. Carta d'ElRei
postumeiramente, que aos outros. Cod. D. Affonso IV. de 1 352. Doc. da
Cam. de Coimbra.
Alf. L. II. Tit. 5. art. 9. |

REFERTEIRO. Chamavão an REGA. Instituto, Regra. Mandou


tigamente, ao que senão conven ao Moesteiro de Banho, que era da
cia da razão, teimoso, pertinaz. Rega de Santagostinho da sobrepeliza,
RE RE 277
REGAÇO.OS. Assim chamavão Com este nome se distinguio, des
áquelles pedaços, ou tiras de se de os Reis das Asturias até ó pre
da, ou de outra droga, que se co sente, toda aquella terra, que fazia
sião por diante, e por de traz das parte do Patrimonio Real. Passan
alvas, de que se usa no Sacrificio do á Corôa , ou por direito da guer
do Altar. E porque estes pedaços ra, ou confiscaçaõ, herança, es
erão quadrados, lhes chamárão Qua cambo &c. ficava retendo o nome
dratos. Igualmente se costumavão . de Reguengo, como cousa afecta ao
ornar as mangas das mesmas alvas Real Throno; e os que nella po
com huns como manguitos, a que voavão, e residião , ficavão res
chamavão Maniquetes, ou Bocaes ; ponsaveis das jugadas, e outros fo
como se vê nas mui antigas, que ros, em que pelo seu Foral, Car
tem os bocaes das mangas cuber ta de Povoaçaõ, ou Prazo se havião
tos de rendas até o cotovello. Em compromettido. De muitos destes
hum Doc. do Mosteiro de Cras Reguengos fizerão Mercês os nossos
to, hoje extincto, se lê, como Augustissimos Soberanos; dotan
em huma vizita de 1499, se man do, e enriquecendo Igrejas, Mos
dárão pôr na Sactistia Dous man teiros, e os seus fieis Vassallos;
fos ... com seus manipolos , e esto mas nos que actualmente estão na
Iar, e regaços, e bocaes pera as al Corôa, nem Clerigos, nem Or
vas delles. Em Santa Cruz de Coim dens, Mosteiros, Fidalgos, ou Ca
bra se guarda a planeta , e alva, valleiros, podem haver, ou ganhar
com que os Martires de Marrocos porção alguma: e isto já desde os
dizião Missa : na dita alva se achão principios do Reino, como se vê
os taes Regaços, ou Quadratos, e pelo Cod. Afonf. L. II. Tit. 1o. Com
nas bocas das mangas os taes Ma tudo os Cistercienses parece forão
niquetes, ou Bocaes, não inteiros, dispensados nesta Lei, ao menos
e de modo, que rodeem o braço, em huma grande parte do seu ri
mas só como tiras , ou canhoens gor; pois no L. das Doaç. das Sal
pela parte de cima. ElRei D.João zedas a f 92. Y. se acha que No
V. mandou usar destes Regaços, e de 12oo. fizerão os Monges daquel
Maniquetes nas alvas de Mafra, e le Mosteiro hum Manifesto, em que
da Patriarcal. declarárão, que supposto tinhão algu
REGAENDO. V. Regaengo. No mas terras Reguengueiras, e foreiras
de 1 133 coutou o Infante D. Af a ElRei, igualmente possuião outras,
fonso Henriquez as quatro Villas que o não erão. E se succedia remo
ao Mosteiro de Lorvão, a saber, verem o foro das primeiras, fielmen
o Mosteiro de Sperandei com a te o impunhão nas segundas. Daqui
Villa do mesmo nome, Sabugosa, veio, (a pezar de mil informaçoens
Treixedo, e Midoens. No fim da sinistras ) concederem os nossos Mo
quella Doação se acha esta Apos narchas aos de Cister, o terem terras
tilla: Ego supradictus Egregius In dentro dos Reguengos; pagando dellas
fans, adjicio illud totum Regaendum, inteiramente os Direitos, e foros Rea
quod est intus in ipso Cauto de Ri es. V. Reguengo. No de 1199. El
bulo de Arinos. X Doc. de Lorvão. Rei D. Sancho Iº com seus filhos,
REGAENGO , e Regalengo. e filhas, fez Doação do "…
- !
278 RE RE
de Migalhó a Mendo Gonçalves , Donatarios tudo o que no objecto
jure haereditario in perpetuum, e com das Doaçoens era Regalia , Real,
licença de fazer delle, o que bem Regalengo, ou Reguengo. V. Calump
lhe parecer, e o dar , vender, ou nia. No de 1 124. D. Affonso VII.
doar a quem muito quizer. E isto Rei dº Hespanha, fez huma Confir
pro Deo, Óº pro bono servicio, quod mação (ap. Dufresne V. Cotus ) em
nobis, & filiae nostre Reginae D. Tha que diz: Ofero, & confirmo, & con
rasiaefecistis, Óº facitis.... Óº de cedo omnia, quaecumque sint, sive de
dimus vobis ipsam haereditatem pro Regalengo, sive de Condado, sive mag
umo bono equo , quem Nobis dedistis. na, sive parva infra cautos, quos Pro
Et nos dedimus illum ad Vassallum avus meus possuit. Pelos Doc. de Pe
mostrum D. Fernandum Fernandiz. droso sabemos , que pelos annos
Doc. de Ceiça, a quem o Donata de 1o 13. D. Gonçalo, filho do Con
rio doou este Reguengo. V. Rebo de Mendo Luci, comprou muitos
ra. Em hum Doc. de Pendorada se bens de raiz nas visinhanças dA
diz Regaengo no de 1 315.; e Rega gueda, estando ElRei D. Afonso
lengo em muitos outros , de que IV. de Leão em Monte Mór ; sen
prescindimos. (*) do o dito D. Gonçalo Capitão, e
REGALENGO , e Reguengo. Governador daquella terra , e ten
Não só se tomárão estas vozes pa do da mão do dito Monarcha Re
ra designar as terras, ou lugares, galengo, & Condadu, & Mandamen
que erão do Patrimonio Real, co to in rripa d'Agata , isto he, ( se
mo por innumeraveis Documentos alguma cousa vejo): Tinha naquel
se poderia mostrar ; mas tambem le Territorio os Direitos Reaes ,
se empregárão para explicar os Fo que era o Regalengo: o governo das
ros, Direitos, ou Regalías, que armas, que era o Condado: e a ins
em qualquer Territorio, Cidade, pecção, e Regimento da Justiça,
Villa, ou Couto pertencião á Co notado no Mandamento ; pois era
rôa. Daqui veio, que no grande dos Vigarios, ou Mandados pelo So
numero de Doaçoens, que os nos berano, e alí fazia as suas vezes.
sos Monarchas antigamente fizerão REGALINDO. O mesmo que
de juro, e berdade, se acha , pelo Reguengo. -

commum, esta Formula: Com tudo o REGARDAR. Voltar os olhos,


que a Nós pertence , ou com tudo o olhar para traz. S. Pedro regardou
que pertence ao Direito Real, ou com por de traz , e vio hum discipulo ?
tudo o que se achar, que Nós abi te que muito amava JESUS.
mos Cºc, pela qual se manifestava, REGEDENTE. O que reside,
que tiravão de si, e punhão nos assiste , móra, ou está de assento
CIT1

(*) ElRei D. Manoel, renovando as prohibiçoens dos seus Augustos Predecesso


res, para que nenhuma pessoa, de qualquer condição que fosse, possa ter bens nos Re
guengos; declara, qne se as Maõs mortas os possuirão pacificamente aé. 2o de Setembro
de 1447, livremente os possúão dali em diantc; pagando, ou deixando de pagar, os
Tributos, e foros á Real Coróa; segundo que naquelle tempo pagavão , ou deixavão
de pagar : e que não possão ser demandados com o fundamento de comprarem sem li
cença, ou Por estarem no Reguengo. Igualmente declara, que não são bens de Reguem
go os que a Real Corôa adquirio, por qualquer titulo que fôsse, desde ElRei D. Pedrº
Iº até o presente: e que não são Reguingueiros os que nellcs morão. F. Cod. A4anuel.
L. II. Tit. 7.. 8. e 32.
RE RE 279
em alguma parte. Sessenta covados é ef11 COnlInUlIm.

de arraiz branco , repartidos pelos REGUARDA. Era o que hoje


Frades de Missa, regedentes no dito dizemos Retaguarda, que he o ul
*Mosteiro , que a dita Capella canta timo esquadrão na batalha. Nella
rem, pera seu vestir. Doc. de Viseu costumavão pôr os soldados, de
de 1 35 6. quem se fazia menos confidencia.
- REGER. Manter, sustentar, Entre os grandes Privilegios que
prestar alimentos, assim na saude, ElRei D. Diniz concedeo aos Ca
como na enfermidade. Huma Senho valleiros da Villa de Aljazur no
ra chamada Queixa-Perra , doou a Alemtejo foi, que nunca na Oste ti
Lorvão muitos bens em Abrantes vessem o lugar da Reguarda , por
no de 1 176, e diz: Do vobis baec ser o menos perigoso.V. Qaga. De
&#2nia , ut regatis, et induatis cor vemos de bordenar bem nossa avan
pºr meum omnibus diebus vitae meae. guarda, e reguarda. Cod. Alf. L. I.
*Xoc. de Lorvão. Tit. 51. S. 8.
REGINAL. Original, exemplar REGUEIFEIRAS. Amassadei
de escritura, feito pelo mesmo No ras, mulheres , que antiguamente
tario, ou Escrivão, e dado a huma se occupavão em amassar, e cozer
das partes, que nella figurão como o pão para a Casa, e Familia Re
contratantes, e interessadas, fir al. Estas, e as pessoas de outros
inado com os sêlos, ou sinais, se semelhantes Oficios, não tinhão
gundo os lugares, tempos, e cos Esposoiros, isto he, Casamento, ou
tumes. Pagou com outro reginal qua ajuda de custo para casar. L. Wer
renta libras. Doc. da Univers. de melho dº ElRei D. Afonso V. N. 34.
1 3 66. V. Rigueifa.
REGRA. No Sec. IX. e X. se REGUENGO. V. Regaengo.
deu o nome de Regra a hum Mos Nenhua Mão morta pode ter bens
teiro; porque nelle se vivia regu em Reguengo, ainda que pague o
larmente, guardando, ou a Regra, devido foro, por ser contra o Di
e Instituto de hum Santo Patriar reito commum , e particular deste
cha, ou a Regra dos Santos Padres, Reino; segundo o que se acordou
e assim dizião: Regra de S. Pedro: entre ElRei D. João Iº, e a Cle
Regra de S. Feliz: Regra de S. Vi resia nas Cortes de Santarem de 1427.
cente : Regra de Santo Orencio & c. art. 3o., que se acha no Cod. Alf.
JZ Hesp. Sagr. T, XXXIV. f. 262. L. II. Tit. 7. Os eruditos julgem da
REGUADEIRO. Arrecadador, fé, que merece o Documento das
recebedor, Oficial da arrecadação Salzedas, que V. Regaengo se ad
de alguns Direitos Reaes. Os Por duzio , á vista desta Concordata.
reiros , e Sacadores , e Reguadeiros REIMBRAR. Lembrar. Daqui
das Portagens da Riba de Doiro, e Reimbrança, Recordação,lembrança.
outros Lugares, os penhoram , e cos REITOR. Juiz Arbitro. Rex
irangem Portageens, e Custumagees, itaque, auditis utrorumque rationi
come Leigos. Doc. de Pend. de 1 385. hus, praecepit., ut inter Martinum
REGUANTE. ES. Regrante. es, Gallecum , & ipsos Canonicos essent
fallando-se dos Conegos Regran {"CCtt)/"ÉJ'. •

*
tes, e que vivem nos Mosteiros, RELANPADO. Aliviado, abo
lido,
28o RE RE
lido, relaxado, relevado, extincto. Senhoríos, que tem Relégo. Dos
Seria proveito áá vossa terra taaer Relégos , e como se devem vender
degredos serem relanpados. Cort. de os vinhos d'ElRei, durando o tem
Lisboa de 1434. po delles, V Cod. Manuel. L.II. Tit.34.
-

RELEGADO. I. Pegado, pre RELEGO. II. Relêvo, obra que


so, unido, aferrado. Vem do La se levanta na materia, em que fica
tino Religatus. Não tem em ellas he lavrada. Huums castiçaes de prata,
ranças , que os tenhaõ relegados , e dourados , lavrados de sinzel de meio
de ligeiro se vão, quando lhes praz. relégo.
Doc. da Cam. do Porto de 1439. RELEU. Acrescimo, résto, so
V. Velegado, que he synonimo de bejo. Vem do Latino Reliquum. Os
Relegado. Hespanhoes ainda dizem Relieve,
e no plural Relieves. •

RELEGADO. II. Vinho Relega


do , o que se vende no Relégo. V. RELHINQUIR. Deixar, dimit
Relégo. •

tir, abrir mão de alguma cousa.


RELEGAGEM. Certa pensão, Confesso, que eu abro mão, e relhin
ou foro, que se pagava do vinho, co. Doc. da Salzeda de 1339.
que se vendia por algum particu RELHIQUIMENTO.Dimissão,
lar no tempo, que durava o Rele renuncia , deixação. Este Relhiqui
go: era de Io até 15. soldos por mento faço ao Abbade da Salzeda.
tonel. Doc. da Cam. Secul, de Co Doc. da Salzeda de 1 339. Vem de
imbra de 1361. Em Silves se paga Relinquo.
va de Relegagem, de carga cavalar RELHO. O fecho, ou fivelão,
hum almude , e da asnal meio al com que antigamente se apertavão
mude. Doc. de Silves de 1398. os preciosos cintos das Senhoras
RELEGO. I. Parece ser con Portuguezas. O serem de figura tri
tracção, ou abreviatura de Rega angular, e quasi da feição das re
iengo. Na baixa Latinidade se dis lhas, que ainda hoje na Provincia
se Reletum, e Bannum vini. He hum do Minho estão em uso , deu o
Direito, com que o Soberano, ou nome a este ornamento do cinto,
o seu Donatario, podem livremen ou faixa peitoral.
+

te vender o vinho , que nos seus RELIGAS. O mesmo que Reli


Reguengos , ou jugadas, ou Coutos quias dos Santos. Mando as minhas
se cria : e isto em certos mezes, religas a minha filha D. Berengueira."
e por tantos dias, nos quaes se não Doc. de Almoster de 1287.
póde vender impunemente outro RELINQUIR. Deixar , abrir
qualquer; segundo que nos respec mão, dimittir. Quito-me, e relinquo
tivos Foraes, ou Mercês se deter me de todo meu quinhom. Doc. de
mina. Daqui nasceo chamar-se igual Pend. de 129 1.
mente Relégo, o lagar, tulha, adê RELIQUIAS. Ainda que os Gen
ga; celleiro, em que o tal vinho tios chamárão Reliquias a todo hum
se faz, e se recolhe, e mesmo em corpo defunto, os Christãos derão
que outros fructos do Reguengo se este nome não só a hum corpo in
depositão. Tambem se disse Rele teiro de algum Santo , mas ainda
gueiro , ou Relegueira, o homem , a todos, e quaesquer despojos da
ou mulher, que cóbra as rendas dos humanidade daquelles , que
* * -
# Ulº
RE RE 281
duvída a Igreja Santa reinarem com luce clara, ó gloriae perfusi, quo
Christo; como erão cinzas, ossos, rum baselica dinoscitur fundata esse
vestidos , ou qualquer particula in Villa Arauca, subtus mons Fuste,
delles, e mesmo todas as cousas & Serra-rica , discurrente rebulum
inanimadas, que immediatamente Alarda , Óº territorio Portugale...
tocárão os seus corpos , ou forão aedificamus ibidem Ecclesiam... vo
instrumentos do seu martirio , e cabulo SS. Apostolorum Petri, ó Pau
aspergidas com o seu precioso san li, & SS. Cosmae, é º Damiani, Óº
gue. Este Culto relativo, e que ver aliis Reliquiis, que ibidem reconditae
dadeiramente se dirige a Deos , sunt &c. Doc. de Arouca. Na Doa
que he maravilhoso nos seus san ção amplissima da Senhora D. Mu
tos, principiou com a Igreja, e no mma-Domna ao seu Mosteiro de
Concilio de Nicéa de 787. se diz, Guimaraens não podião faltar as
que Deos nos deixou as Reliquias Reliquias, em cuja honra ella se
dos Santos, como Fontes saudaveis fazia no de 959; pois diz: Domi
donde não cessão de manar de con nis Invictissimis, ac Triumfătoribur
tinuo os mais avantajados benefi gloriosis, Sancti Salvatoris, Sanctae
cios para o Povo resgatado. E com que Genetricis Mariae semper Virgi
efeito esta veneração, que sempre nis: prius in Ecclesia positos Sanctor
na Christandade se deu ás Reliqui Apostolos Petrus, ó Andreas, fa
as dos Santos , alguma vez se es cobus, & Joannes, Philippus, ó Bar
tendeo ás mesmas flores, que ha tholomeus, Thomas, Óº Matheus, Ja
vião ornado os seus Altares, e se cobus, & Tadeus, Simon, Óº Judas
pulturas, em quanto obrárão, pe Cananeus, cum Glorioso ultimo Pau
la fé dos crentes, assombrosas ma lo, dogmate egregie celesti Curia su
ravilhas, como diz S. Aug. L. XXII. blimatus. Pontificum etenim Christi,
de Civit. Dei. Cidades, e Provin Cleti, Cipriani, Martini, Christofo
cias se julgárão bem defendidas, ri, cum comitibus Torquati, Saturni
e seguras de seus inimigos, só por ni, Augustini; atque his, felici mar
terem em si as Reliquias de alguns tirio consecratos , nonnulli confessio
Santos. Sem ellas ainda hoje se não ne floribus ornatos, Sanctis Dei Mar
pódem consagrar os Altares. Mas tiribus Acycli, Romani, Valeriani,
não ha palavras , que bem possão Facundi , & Primitivi, justi, o Pas
dizer a piedade, a ternura, a de toris, Adriani, juliani, Sebastiani,
voção , com que os nossos Maio Gregorii, Felicis, Tirsi , cum socios
res veneravão as Reliquias, com sacro cruore perfuros: Beatissimarum
que os Mosteiros antigamente se Dei Virginum, Eulaliae, Leocadiae,
fundavão , e as largas Doaçoens, Christinae, Victoriae, Basilicae, Na
que em honra sua se fazião. thaliae, juste, & Rufina, Agnetis,
No de 95 I. os Famulos de Deos &º Emerentianae, cum caeteris Virgi
Ansur Goesteiz, e sua mulher E nibus thalamo Christi sociatas, Óº ejus
jeuva, fizerão herdeiro do seu gros Genetrici adnexas , quorum Baselica
so patrimonio o Mosteiro , que sita est in jam dicta Villa Vimara
elles havião edificado na Villa de nes & c. Doc. de Guimaraens. E que
Arouca , e dizem assim: A Domi de todos estes Santos, assim como
mis invictissimis, actriunfatoribus, do Salvador, e de Sua Mái Santis
Tom. II. * Nn sima
* * =_+

282 RE RE
sima, houvesse Reliquias em Gui je he do Mosteiro de Santo Thyr
maraens, se convence pela Doa so ) feita por ElRei D. Afonso
ção, que D. Gonçalo, filho da Fun Henriques no de 1 145 ao Mostei
dadora, fez áquella grande Casa no ro de S. Miguel de Riba Paiva (que
de 983 ; dando-lhe huma herdade já era Mosteiro Duplex no de 989)
na Ribeira do Avizella , em que e no qual era Prelado D. Fr. Ro
havia hum Mosteiro de Santa Te berto, e diz: Ego Alfons us... fa
cla, e nelle innumeraveis Reliquias: cio K. donationis, Óº firmitudinis ti
Dominis Invictissimis... quorum Ba bi Rouberto , Óº consociis tuis ejus
felicáê fundatae cernuntur in loco nun dem Cenobii, & S. Mariae semper
tupato Morariae fundo, ... idest San Firginis, & B. Archangeli Michae
cte Tecle Virginis, & Martiris Chris lis, quorum Reliquiae in eádem Here
ti , cum caeteris innumerabilium Re mita habentur, que est in ripa Pa
Iiquiae Martirum, Apostolorum, Pon vie, de hereditate mea propria, quam
tificum, Virginum, & Confessorum... habeo in Heremita in S. fohanne de
Ego exicuus Famulus Christi , licet foze de Dorio... propter quod a vobis
indignus, Gundesalvus... laetus ofe nullum accepi praetium, nisi in remis
ro, atque concedo.... Domui Sanctae sione omnium peccatorum meorum. O
Mariae Virginis, ó Genetricis Domi não receber cousa alguma por esta
ni nostri, & Salvatorem Dominum Doação, foi dizer, que a roborou de
mostrum, cum Apostolis, Martiribus, graça: Ego Alfonsus Portugalensium
Firginum, ó Confessorum, quorum Rex propriis manibus robor ——o;
in Cenobio Wiinarames sunt reconditae porém que Reliquias de S. Miguel
Reliquiae , pro remedio anime me e Archanjo serião, as que ali se guar
cre. Ibidem, "No L. dos Testamentos davão? Seria o seu Altar, o seu Re
de Lorvão N. 6o. se acha huma lar
trato, a sua Imagem º Seria; po
guissima Doação , que a Senhora rém o grande Mabillon nas Actas
Inderquina Palla fez áquelle Mos dos SS. Benedict. Sec. 3, part. 1. f.
teiro, no de 96 1., das Villas de 87. c. 3. nos informa das Reliquias
Sperandei, Villa Nova, Savugosa, do Archanjo S. Miguel, que do Mon
Ferrouho, Lourosa , &c. e princi te Gargáno, onde se dignou appa
pia: Hob ouorem Däi Nostri fESU recer nos fins do Seculo V., forão
Christi, Óº Sanctorum Gloriosissimo levadas ao monte Tumba, segundo
rum Martirum S. Mametis, & cate hum Anonimo, que escreveo antes
va Sanctorum pignora; qui in eodem do Seculo X., e erão: Partein sciiiz
Joco runt recondita , in loco nomina cet rubei pallioli, quod ipse memo
to Urbauensi Cenobio.... In primir: randus Archangelus in monte Gargano
Killa Spera in Deo, ubi recondite sunt supra Altare, quod ipse manu sua
Reliquiae sub Aula S. Salvatoris , & construxeral, posuit, Óº partem sci
omnes Sancti Apostoli, sive Reliquia licet marmoris, supra quod stetit, cu
rum S. Mariae semper Virgo perma jus ibidem usque nunc superextantiu
mens, cum suas Virgines; (havia ali eodem vestigia. Alguma reliquia pois
hum Mosteiro á#) ipsa Vil deste Altar, ou do penhasco, sobre
Ja, cum omnes adjacentiis & c. que o Santo Archanjo foi visto no
__ Em Arouca se acha a Doação da "Gargáno, ou da Mole de Adriano enº
fermida de S. João da Foz (que ho JRoma, viria parar em Riba-Paiva e
- - -- \ …
*
|-
e
RE RE 28;
e estas serião as Reliquias de S. Mi duzir as Santas Reliquias em cha
guel, que alli se conservavão; não rólas, e andores, e tambem as Ima
se podendo verificar outras em hum gens dos Santos, para ajuntar di
Espirito , e substancia pura, em nheiros, com que se edificassem
quem se não póde achar a mais le de novo, ou reparassem as Casas
ve sombra de materia. de Deos , ou se aliviasse a ex
. . Desde o VII. Seculo, e por hum tremosa pobreza de seus Ministros:
excesso de piedade, que não por foi cousa que virão sem grande es
desprezo, quando os Ecclesiasti candalo os Seculos passados ; e
cos, e Monges de França não po mesmo o levar as Reliquias Sagra
dião conseguir justiça das vexações, das aos Lugares , que ás Igrejas,
que lhes fazião os Grandes do Rei ou Mosteiros se davão, ou doavão,
no, e ás suas Igrejas, e Mostei como para tomarem posse delles.
ros, depositavão no pavimento das E que muito, se nos Exercitos, e
Igrejas, e na mesma terra as Reli Campanhas se achavão as Reliquias
quias, e as Imagens dos Santos, dos Santos como fiadores, e garan
e até a mesma Cruz do Redemp tes da victoria ?... E finalmente
tor, cercando-as, e cubrindo-as de tempo houve, em que nas Oitavas
espinhos, e abrolhos, tapando as das Rogaçoens levava cada Igreja
mesmas portas dos Templos com as suas Reliquias com Procissão so
matagáes espinhosos, para que des lemne a hum determinado lugar,
te modo provocassem a indignação em que se expunhão todas juntas,
dos homens contra os agressores para sinal de boa paz, e união en
injustos: e só depois que as inju tre os moradores das respectivas
rias, e malfeitorías se reparavão, Parochias , que alli se reconcilia
se abrião as portas, se levantavão as vão de todas as suas desavenças,
Reliquias, e Imagens, se purifica rescindião-se as demandas, sepul
vão os Templos, se tornavão a en tavão-se as discordias, e agrade
toar os Psalmos, e continuar as cendo ás Reliquias de seus Patro
Funcções Sagradas, que durando as nos prazer
de tanto abem, voltavão cheios
suas casas. •

violencias, estavão como interdi


ctas, e suspensas. Ultimamente se RELIQUIMENTO. V. Relhi
extinguio semelhante abuso em hum quimento.
Concilio de Leão de França pelos RELLEMBRANÇA. Lembran
fins do Seculo XIII. e no Pontifi ça, recordação, memoria. Em rel
cado de Gregorio X. Mas não só lembrança da causa, por que se adi
isto: avante passou a devoção das ta sollepnjdade faz. Carta d'ElRei
Reliquias. > D. Afonso V. (para que se fizesse
Dellas se servirão os Monges, Procissão annual pela victoria, que
levando-as com grande pompa ás a 2 de Março de 1482. alcançou do
granjas, e predios dos Mosteiros, Rej de Castella entre Samóra, e Tó
para extreminar os roubadores ini ro, com o Principe D. João seu fi
quos: verdade he que para este fim lho) datada a I 1. do dito mez, e
usavão igualmente de certas Pre anno. Doc. da Cam. Secular do
ces, e Proclamaçoens dentro mes Porto. . • , º

mo do Sacrificio da Missa. Con REM. Absolutamente nada, cou


*
Nn ii S2
284 RE RE
sa nenhuma. Esta era a significa REMOELA. Acinte, pirraça,
ção deste vocabulo nos Doc., do desfeita. Ant.
Seculo XII. XIII., e XIV. á imi REMOVIMENTO. Traspasso,
tação do Rien, que ainda hoje usão trasféga, passagem. Oito tonees, e
os Francezes no mesmo sentido. tres pipas ficaram pera removimento»
Porém no Seculo XI., e ainda de e ajuda da venda do vinho, que era
pois se tomou por, Fazenda, e to pera vender. Doc. de Pend. de 1359
dos os bens móveis, ou de raiz, RENDA TALHADA. O mes
que alguem tinha , ou podia ter. mo que renda certa, e determina
No de 1o61, reinando D. Fernan da. Per renda talhada vós recebede a
do, o Magno, fez o Presbitero Fro dita renda, e atenda-se a postura co
mosindo Romariguiz Doação ao Sa mo be posta. Doc. de Pend. de 13o 1.
cerdote Saudila, seu filho, de Base RENDAR. Pagar rendas, e pen
licas, & de omnia sua rem: &"fuit soens. Acha-se com frequencia »
ipso Fromorindo Presbitero Fraigeni Rendades, e no Latim, Rendatir no
di, & Berbadi, & ex venerabilibus Sec. XII., XIII., e XIV.
parentibus suis, Óºganavit., & com RENDER. Pagar. Atá que ren
paravit ereditates pro pretio, & Scri damos a vós a dita parte das erda
turas in Villa Rial, terridorium E des dobradas. Doc. da Un. de 1323.
negia, subtus mons Serra-sicca, dir RENEMBRANÇA. V. Rellem
correntem rivulo Sardoira fiumen Du brança.
rio. E as Igrejas que lhe doou se RENEMBRAR. Trazer á me
intitulavão, S. Salvador, S. Pedro, moria, lembrar, recordar. "
e Santa Christina. E logo no de RENGA, Fiada, corrente, fi
1o62, fez Doação de quanto tinha leira, carreira. Renga de casas, Ren
a seus filhos , que erão : Sandíla ga de arvores , he trivial nos Pra
Presbitero, e Camariz, e Eugenia, zos antigos. Daqui Em rengue, Em
e Fromarigo, e Eudo, e Lovegildo, fileira.
e outro Sandila; havendo desherda RENOVOS. Não só chamárão
do a seu filho Fernando por lhe ser Renovos, ou Nóvos aos fructos em
desobediente: pro quo exivit meo fi propria especie : tambem se deu
lio Fernando de meo praecepto, exhae este nome á Pensão annual de hum
redavi eum de tota mea rem. Doc. de Prazo, ainda que fosse estipulada
Pend. E aqui temos este Veneravel a dinheiro. No de 1 344. Martim
Sacerdote comprando fazendas, hér Gil, Cavalleiro de Résende, por ou
dando, e desherdando seus filhos, torgamento de sua mulher Cons
que não podemos crer, fossem de tança Airas, emprazou a Domin
danado coito. gos Viegas a parte, que tinha na
REMAESCER. Ficar, restar. Quinta # Ruvhaes, que he no Jul
Vem do Latino Remaneo. Doc. de gado de Ferreiros, com foro an
I312. nual, Renóvo colheito por dia de San
REMASSAR. O mesmo que Re
3mãeyter. •
ta Maria d'Agosto, dez livrar. Doc.
de Salzedas.
REMIMENTO, e Rimimen RENHUÇAR. O mesmo que
to. Remissão , resgate, perdão. Renunçar. Relinquímus , e renbuçaº
Doc. de Pend. de 1286, e 1336. mos quanto direito nós haviamos. Doc.
de
RE RE 285
de Arnoia de 1299. Petrus Petri Maior Portarius.
RENUNÇAR. Renunciar, lar Dominicus
f1f4/11/f.
Scribanus Maius Repo•

gar, dimittir de si. Eu Polinhairo


Steves renunço o foro , que me nom Garcia Ordoniz Zequitarius.
possa a el chamar. Doc. de Mon Doc. de Moncorvo. Tambem me
corvo de 1 337. não posso acommodar, a que hum
REPEENDIMENTO, Satis Oficio de tanta importancia não
fação, paga , recompensa. Dou a principiasse com a Real Casa Por
Maria Carvalho a minha leira d'oli tugueza. No Codicillo d'ElRei D.
val, em rrepeendimento dos peccados Sancho Iº de 1 188, que se acha
do meu filho. Doc. de S. Christovão na Cathedral de Viseu, se escre
de Coimbra de 1348. Vem do La veo esta verba : Totum repositum ,
tino Rependo. tam pãnus , quam vasa argentea, Óº
REPOSTE. O mesmo, que Re scutellas , Óº culiares , & quidquid
posito , e tambem as peças, e al in Reposito est , &º pãnos quos habeo
faias , que nelle se guardavão. De in Santia Cruce taliados , Óº per ta
todo o movel , que lhe foi leixado , liare, dent per Albergarias pauperes
tomou para si a Capella, e Reposte. mei Regni. Et hoc totum fiat perma
Pina, Chron. d'ElRei D. Afonso nus Uxoris meae Reginae D. Dulciae,
Vº c. 4. & D: johannis Vissiensis Episcopi ,
REPOSTEIRO, ou Reposita & Abbatis Alcobatiae, & Prioris S.
rio Mór. I. Este he hum dos gran Crucis, & Comitis D. Martini Gon
des Oficios da Real Casa Portu salvi, & D. Petri Alfonsi. Ora aquí
gueza, que hoje anda na dos Mar temos o Reposito, e os objectos,
quezes de Castello Melhor. As suas que nelle se guardavão. Temos a
obrigaçoens são notorias. Os seus Oficina , que deu o nome ao Ofi
Privilegios constão da Orden. do cio: e não haveria Oficial digno,
Reino L. III. Tit. 4. Antes que hou que nelle se occupasse?..
vesse Camareiros Móres, os Repos REPOSTEIRO II. Entre os
teiros Móres exercitavão as suas func Monges era o mesmo que Vestia
oens. Brandão se persuade, que rio. Oito moaos de linho aos frades,
lRei D. Affonso IIº creára este e huma maão ó Reposteiro. Doc. de
Oficio; pois só no de 12 17. achá Bostello de 1 4c9. •

ra pela primeira vez a Pedro Gar REPOSTEIRO 3. O mesmo


cia com o titulo de Reposteiro Mór. que Thesoureiro; segundo se col
O Padre Lima na sua Geogr. Hist. lige do Cod. Alf. L. II. Tit. 43.
c. 7. f. 5o2. nos oferece o seu Ca REPREHENDIMENTO. Re
thalogo, passando do dito Pedro prehensão.
Garcia a Pedro Annes, em tempo REPRENDOIRO. A. Repre
dº ElRei D. Afonso III.º; mas a hensivel,digno de reprehensão. Não
verdade he , que outros Reposteiros podemos dizer cousa , qne elles jul
Móres se encontrão, que ali se não guem reprendoira. Lopes, Chron.
achão. Sirva de exemplo o Foral dº ElRei D. João I. P.I. c. 32.
de Santa Cruz da Villariça por El REQUEIXADA. Acanhada, es
Rei D. Sancho IIº no de 1225. e treita, opprimida, e tambem des
no qual são testemunhas: povoada. Dizem, que a terra do di
*Q
286 RE RE
to logo he requeixada por tal guifa, (que na Infima Latinidade se di
que non ha hi homeè, que aia terra, zia Redemptio Altarium ) todas as
que avonde huma junta de bois a la vezes, que nellas entrava a servir
vrar... A minha terra fica por esta de novo Parocho Monge; ou fos
rrazom mays requeixada para os meos se quando pela primeira vez os
foros, e direitos. Doc. da Cam. se Mosteiros as entravão a parochi
cular de Lamego de 1352. ar ; ou quando por ausencia, re
REQUEIXARIA. O que per moção, dimissão, ou morte de 1°
tence a queijos, e lacticínios. Ho Parocho, succedia outro Monge no
meens de todolos Oficios., asy como seu lugar. Este Resgate (que tam
de mantearía , copa , reposte , re bem se chamou Redemptio Ecelesia
queixaría , erquitaría , e de forno rum ) foi declarado simoniaco no
<? c. L. Vermelho d'ElRei D. Af Concilio de Clermont, a que assis
fonso V. N. 34. tio o Papa Urbano II. no de Io95,
REQUESTA. I. Peleja, bulha, acrescentando-se porém: Salvo uti
refrega, desafio , contenda. Naõ que Episcoporum censu annuo, quem
ficou bem daquella requesta , porque exiirdem Altaribus habere soliti sunt.
ficou ferido em muitas partes do cor Este Censo Synodal, ou Cathedratico,
po. Vem de Requestar, no mesmo era annual, e nada tinha de simo
sentido. •
niaco. Porém fóra deste Cathedra
REQUESTA. II. Pertensão. Ant. tico, e para se utilizarem do pro
Daqui Requestar, que ainda hoje hibido Resgate, muitos Bispos pro
tem uso no sentido de pertender, curárão illudir o Can. do Concilio,
fazer diligencia para conseguir, ou impondo aos ditos Curas das Igre
alcançar v. g. hum Posto, cargo, jas dos Mosteiros certa pensão,
oficio, fazenda, mulher &c. ou Censo annual, que fosse equi
REQUISIR. Rogar, pedir, so valente ao dito Resgate. Este abu
licitar com instancia. Vem do La so porém , condenou Paschoal II.
tino Requiro. Em hum Doc. da como simoniaco , vergonhoso, e
Cam. do Porto de 1353. se lê : abominavel; substituindo (para ti
Requisimos-vos. rar todo o equivoco ) salvo utique
RESAIU. Rocío. Quomodo va thedratico.
Episcoporum Synodali Censu. V. Ca

dit pelo resaiu. Doc. de Tarouca de


I2O3. RESPONSOM. I. Contribui
RESCAMBO, e Rescambho. ção, subsidio, córa, talha, finta,
Permutação, escambo, traia. Doc. redito, censo, foro, conhecença ,
dos Bent. do Porto de 1479. pensão certa , tributo , e toda a
RESGATE dos Altares. Era qualidade de desembolso, que por
certa , e determinada pensão, que obrigação se faz, e com que o vas
os Mosteiros pagavão aos. Bispos sallo, emphiteuta , ou colono res
todas as vezes, que aos Monges ponde ao Soberano, ou direito Se
se davão; ou doavão algumas Igre nhorio. E dem em cada hum anna
jas Parochiaes ( que então se cha 2d)5oo libras de Responsom ao Con
mavão Altares ) e principalmente vento. Doc. de Thomar de 1321.
quando erão doadas por pessoas Pagam mui grandes responsoóes , e
seculares. Pagava-se este Resgate, outros trabutos pera a guerra do Turz.
<? • C0.
RE RE 287
co. Carta dº ElRei D. Affonso V. que fazem às Filhos-dalgo, e Caval
de 147 1. Doc. da Cam. do Porto. leiros huum ao outro por Córte acu
RESPONSOM. II. Resposta. sando-o de treiçom , que faz contra
Aquesta responsom louvam os Prela ElRei , ou contra seu Real Estado.
dos art. 9. Cod. Alf. L. II. Do Latino Referre, se disse Réto;
Tit., 2.e outorgam. •

pois se recontava a cousa , dizen


RESSTIDO, e Presstido. Re do a maneira como a fez Cod. Alf.
sistido, contrariado, rebatido. Ssem L. III. Tit. 63. in princ. E no S. 13.
reendo rresstidos, nem ponidos. Cort. ib. se prohibe retar alguem fora de
d'Evora de 1442. caso de Traição contra Pessoa Re
RETEAR. Encurralar, retirar, al, ou seu Estado, approvado pe
obrigar a recolher. Por força de seu lo Soberano ; por ser o contrario
sangue empuxárêo os imigos, até que damno dos boms , deserviço de Deos,
os fizerão retear naquelle pequeno re e do Rei, e detrimento destes Reinos.
canto, que he o Reguo de Grada. Zu RETRAER. Arremedar, repre
rara, Cron. do C.D.Pedro L.I. c. 12. sentar. He do Azinheiro.
RETO, Repte, ou Repto. I. RETRAUTAR. Retratar, des
Nasceo este vocabulo de Retare, fazer o ajuste, rescindir o contra
Rettare, Rectare, Reptare, ou Ar to. Doc. de 1337.
retare, que para com os antigos RETROITAR. Contrariar, con
Hespanhoes se tomava por accu tradizer, impugnar, tornar ao prin
sar algum Cavalleiro , ou pessoa cipio , e averiguar a causa com a
nobre de traição, ou aleivosia. E maior exacção, e pelos seus prin
como os que assim erão accusados cipios. Quero o terlado do dito pro
ordinariamente provocavão os seus cesso, e da dita sentença, pera aver
accusadores ao desafio, para se pur conselho, pera retroitar, e empunar,
garem de semelhantes crimes, e os e poer meo dereito contra todo.
mais afrontosos; passou o nome da REVEL. Rebelde, contumaz,
Accusação á Prova , que se ofere desprezador do legitimo mandado.
cia para mostrar a falsidade da cul Sobre feito das Dizimas non mante
pa. Daqui veio chamar-se ao Duel rei os reveis , que as non dem : e
lo, ou Desafio , Reto, Repte, ou prar-mi, que os Bispor, e outros Pre
Repto ; e Reptado , ou Retado , ao lados usem de saa jurisdiçam contra
desafiado para mostrar em singular os reveis. Concordata d'ElRei D.
combate a verdade , ou º calumnia Diniz de 1292. -

da sua accusação V. Orden. L. V. Tit. REVELAR Mulher. Conhecel


43. S. 1. Óº in pr. Hoje são prohi la carnalmente. V. Malfairo.
bidos semelhantes duellos - pelas REVERENÇA. Reverencia.
Leis da Igreja, e do Estado; mas Doc. de 14 18. :
antiguamenre nao só erão permit REVERSO. A. se disse daquel
tidos, mas ainda por muitos Fo le, ou daquella, que postergando
raes erão mandados, para mostrar os sentimentos da honestidade, e
a innocencia na traição, e aleivo da virtude, se abandonou aos vi
sia , e qualquer outro crime, que cios da carne corrompida, e a tu
se oppunha, e objectava. V. Firma I. do o que se oppoem á rectidão, e
* RETO, II. He hum acusamento, bons costumes. E sendº faro , que
• Efiá!
288 RE RI
esta Margarida seja desmanchada , mentos frequentissimamente se en
e reversa , que nom faça feitos de contrão. v. g. Ripa Minej, Ripa Do
bova molher &c. Doc. de S. Pedro rij, Ripa Paviae, Ripa Limiae & c. ou
de Coimbra de 1529. Riba Téjo, Riba Douro, Riba Paiva.
REVESES. adv. Alternativa Riba Côa , Riba de Visella , Riba
mente, óra hum, óra outro. Have d'Ave, Riba de Mouro &c.; pois
mos por bem , que nós presentemos á naquelle tempo a Ripa , ou Riba ,
dita Igreja a reveses; nós huma vez, não só significava a ribanceira, mar
e vós outra. E or Sebcessores presen gem , visinhança , ou bordas de
tem aas dicias Igrejas a revezes. D. algum rio; mas ainda todas as ter
da Univ. de 1438. ras, que ficavão superiores, e agoas
REVORA. V. Rebora. vertentes para o mesmo rio. De
REVORA, Dar por de revora, Riba nasceo o Arribar de huma em
Declarar judicialmente, que algu barcação , tomando terra , e vol
ma pessoa he pubere, e de idade tando, ou arripiando a carreira pa
competente para exercer os actos ra a margem do rio , ou praia do
legitimos. Pero Martins , juiz de mar , que ficavão mais altas , que
Felgueiras deu a dita Aldonça Este o nivel das agoas, quasi ad ripam
vaes (que emprazava certos bens ) inflectendo. No de 1o7o. fez El-Rei
por de revora. Doc. de Arnoia de de Galiza, e Portugal D. García
1288. Quando eu era menina, e sen huma larga Doação de muitas her
revora. Doc. de S. Pedro de Coim dades , e Mosteiros no Territorio
bra de 1 31o. do Porto, e em Riba Douro, ó"
REVORAR. V. Reborar. jacent ipsas Villas territorio Portuga
REX. O mesmo que Rei. Lhe le, ripa Durio. E todas estas Villas
confirmamos todalar graças... dadas, estavão distantes das correntes do
outorgadas, e confirmadas por or Rex, Douro, e muitas dellas estavão in
que ante nós forom. + +
ripa flumen Ave. Donde se vê que
. REYGNO. Reino. - Doc. das para ser Riba basta que a terra fi
Bent. do Porto de 1288. que superior ao rio , ou tambem
REZAR Sentença. Proferir, dar, ao mar. Foi feita esta Doação a
pronunciar, escrever Sentença. E 2o de Maio do dito anno. Doc. de
visto por mim todo, pronunciei , e Pendor. Na Doação notavel, que
no feito dei, e rezei sentença em scrip Gonderindo fez no de 897. ao Mos
tos, que tal he: Ó c. Doc. da Univ. teiro de S. Salvador de Labra, que
de 1455. | •
desde os tempos antigos estava
RIBA. as, ou Rribas, Ribada. fundado in ripa Maris, se faz men
as. Assim chamão os nosos bons ção se Sever, Varzea de Carvoeiro,
Auctores a hum outeirinho, ou col Bigas, e Esmoriz, que estavão em
lina, ou terra levantada, que es Riba Vouga. Doc. de Pedroso. Mas
tá eminente, e sobranceira a hum não he justo deter-nos em cousa
rio, caminho, povoação &c. Mas tão clara. E o peor que hé: Estes
este não foi o sentido , em que J'inteneiros lanfam dinheiros aos la
desde o VIII. Seculo até o XV, vradores, que moram nas rribas dos
os nossos Maiores tomárão a Riba, rrios. Cort. d'Elvas de 1 361.
ou Ripa, que em os nossos Docu- - RIBAR. Derribar, lançar por
terra »
RI RI 289 |
terra, demolir. Lhas mandou ribar, turias nascêrão os Ricos-Homens,
(as casas) sentindo como a Cidade Titulos da Primeira Nobreza, as
antre sy não havia mister trafego sim pela sua geração, como pela
d'outra gente, salvo daquelles, que sua probidade, e zelo do bem pú
vivem por seus misteres, e mercado blico, mantido, e conservado pe
rías. Doc. da Cam. secular do Por las riquezas, que lhes derão o dis
to de 1436. Derribar as casas foi tinctivo de Ricos. Mestres de Cam
antigamente, e n'algumas terras, po, e Generaes na Guerra, só el
huma das penas do homicida. V. les podião levantar gente d’armas,
Firma. I. e sustentala ; não reconhecendo
RIBAS, e Arribas. O mesmo que mais superioridade, que a do mes
Arriba, ou acima. Estas terras ri mo Rei, de quem havião recebido
bas scritas. — Segundo arribas fica o Titulo, e as Baronías, ou Senho
dito. ríos, com que podessem sustenta
RIBEIRADAS. Ainda hoje tem lo. V. Caldeira. Erão os Ricos-Ho
uso. Correntes, espadanas, golfa mens do Conselho d'ElRei, e com
das de sangue, que correm de al o seu voto, e parecer se fazião as
guma ferida, golpe, veia rota, ou cousas de mais importancia, assim
chaga. As ribeiradas do meu gilvás na guerra, como na paz: podião
já são vedadas. Carta de D. Lou ajudar com os seus vassallos os Reis
renço Arcebispo de Braga, ap. Fa estranhos, quando no Reino não
ría. - -
era precisa a sua assistencia. Não
RICO-HOMEM. Depois de tinhão obrigação de se acharem na
tantas , e tão largas exposiçoens guerra, senão quando o mesmo Rei
do que erão antigamente os Ricos hia em pessoa. Os seus vassallos lo
Homens, só resta dizer em breve, gravão dos mais exhorbitantes Pri
o que mais verdadeiro nos parece. vilegios, principalmente em favor
Da voz Ric, propria dos Septem da agricultura: suas mulheresse no
meavão Ricas-Donas, e logravão pre
trionaes, tomárão os Alemaens Riik,
os Francezes Riche, e os Hespa heminencias de Condeças, e Barone
nhoes Rico, para significarem hum zas: e os seus filhos se alguma vez
homem cheio de riquezas, grosso se nomeárão Infantes, erão comum
em cabedaes, e abundante em pos mente nomeados Infançoens. Forão
sessoens. Nas Alfonsinas P. IV. Tit. notados os Ricos-Homens com varios
25. leg. X se diz: Ricos omes, se Titulos honorificos, como Princi
gund costumbre de Espanha son lla pes, Condes, Baroens, Maiorinos, Po
mados los que en las otras tierras di destades, Tenentes, &c. como se pó
zen Condes, o Barones. E como Ba de ver nestas palavras. Assim con
rones fosse o mesmo, que Boni ho tinuárão neste Reino até que de to
mines ; sobre a Bondade se acres do se extinguírão, succedendo em
centárão as riquezas, para que co seu lugar os Titulos modernos.
mo Boms-homens, e Ricos, pudes Aos dez Casaes, que fazião todo
sem com a 1.° governar direitamen o Concelho de Barqueiros, na mar
te a República, e com as 2.º man gem direita do Douro, deu Foral
ter huma boa porção de tropas pa ElRei D. Sancho II. no de 1223.
ra aguerra. Com os Reis das As Facta Carta mense Septembris E. M.
Tom. II. Oo CC.
29o. RI" RI"
CC. LXI. Ego D. Sancius Rex. Port. dietntem panis de rigaço, é "tertiam
vobis Concilio de Burqueiros, coram de vino. An. de 1281, -
meis Divitibus-Hominibus, & meam RIGO. A. Rijo, forte, segu
Aulam , banc Cartam meis propriis ro. E que as fechaduras das portas
manibus roboro. E depois de confir erão fortes, e rigas, e que por isso
marem D. Estevão Arcebispo de nom as poderom britar. .

Braga, D. Pedro de Coimbra, D. RIGUEIFA, Pão de trigo feita


Gil de Viseu, e D. Pelagió de La em rosca, ou de fórma orbicular,
mego, continúa: Facta Carta apud a que ainda em algumas terras da
Colimbriam, XIII. die mensis Septem Provincia do Minho chamão Foga
bris, Óº cum meis Riquis-Hominibus. ça. Prazo das Salzedas de 1313:
D. Poncius Alfonsi - Of. &c. Et In RIMAR. Ficar melhor, ser de
quisitores viderunt Cartam istam si cente, e honesto. Cá mais rimaría
ne Sigillo, & Signo. Et sciendum, ao Fidalgo comprar 1o gibanetes pera
quod Rex Santius habebat Sigillum, quando comprisse, que depender quan
c)º sigillabat frater istius Regis Al to háa em louçaynhas. Cort. de Lis
fonsus. L. dos For. Velhos. Deste boa de 1459. ºs

Doc. ainda que pouco legal, se col RIPRICAP. Replicar. Doc. de


lige, que por aquelles tempos os I 292.
Ricos-Homens se denominavão assim RIQUIOVA. Nas Inquirições.
das Riquezas; pois Dives nunca se de 1 259 se achou, que os homens
tomou por Bom, ou Bondoso, senão da Freguezia de S. João de Ervões
quando se lhe ajunta a qualidade, (que he da Comenda da Corvacei
em que o sojeito abunda, v. g. Di ra), costumavão hir ad trovisca
ves in Misericordia, Dives in fusti dam, é ad riquiovam, Óº pousabant
cia, Dives in Sciencia, Diver in Bo ibi Riquihomines, qui tenebant ter
nitate, &c. A data da Carta d'El ram. Já vimos V. Emtruviscada, o
Rei D. Afonso III. que fica V. A 1.º serviço, que os de Ervões pres
dúa, he deste modo: Dat, Santa tavão aos Tenentes da terra, ou Ri
rên, XXVII. die Januarii, quando cos-Homens; mas qual sería o da Ri
Domnus Rex fecit ibi Cartam suam su quiova?... Eu o não sei, a não di
per Mandato Dăi Pape, quod rece zermos, que por elle se entendia
pit Rege Mandante per suor Ricos-Ho tudo, o que era pertencente á ba
mines, Óº per alios de Consilio suo, gagem, e aposentadoria daquelles
quibus comisit factum correccionis. Senhores, que ali se detinhão, e
Donde se patentêa serem os Ricos de cujo Titulo se formou este vo
Homens do Conselho d'ElRei, Du cabulo, que principiando talvez em
rárão até ElRei D. Manoel. Riquioma, se mudou pela enfonía
RIGAÇO. Do Latino Rigo.as, em Riquiova.
regar, parece se disse na Provin ROBORA. V. Rebora. -- -
cia do Minho pão de rigaço, aquelle ROCA - Amador , ou Reca-A
que se colhia nas terras regadías, mador, e Rocamador, ou Reca
como são pela maior parte as da mador. A Religião, Instituto, ou
quelle paiz. Em hum Doc. do Mos Congregação Hospitalaria de Roca
teiro de Cete , que hoje se acha Amador, que foi mui célebre anti
na Graça de Coimbra, se diz: Me gamente em Portugal. Santo Ama
- dor,
RO RO 29r
dor, que na Primitiva Igreja fiore Chaves, Lamego, &c. Guardavão
ceo em França na Provincia de Nar a Regra de Santo Agostinho, e fo
bona, passando o ultimo quartel rão mui attendidos, e respeitados
da vida n’hum altissimo rochedo, dos Povos, em quanto miseravel
apartado do Comercio dos mortaes, mente não decahírão da primitiva
foi a causa, e origem deste nome. observancia ; porém tratando mais
A sua sepultura, que no de 1 1 66 dos seus interesses, que da fiel ad
se descubrio com o seu corpo, não ministração dos Hospitaes, ElRei
longe desta rocha, foi hum manan D. Affonso V. por authoridade de
cial de maravilhas, e portentos, Pio II., fez Comenda da Ordem de
que attrahio peregrinos, e romei Santiago a Igreja de Sora, que se
ros, ainda dos paizes mais remo intitulava Santa Maria da Roca de
tos. Alli se erigio logo huma Igre Amador, e se extinguio este já in
ja com o Titulo de Santa Maria util Instituto. Foi tão mal cheiro
de Roca-Amador, e junto della hum so o fim desres Hospitalarios, que
famoso Hospital para soccorro, e a Rainha D. Leonor, mulher d'El
amparo dos pobres, e enfermos, Rei D. João II., fundando o Hos
que erão servidos por Varões cheios pital das Caldas, declarou, era sua
de misericordia, e piedade. Os am vontade expressa, que nunca fosse
plissimos legados, esmolas, e of administrado por Frades. Com tudo
S;
fertas, que a este Lugar santo se o foi ao depois pelos Padres Loios,
fazião, lisongeando a negra ambi como outros muitos do Reino; at
ção dos Abbades, em cujo destri tendendo os nossos Monarchas an
to ficava, não fôrão bastantes a ti tes á grande virtude, desinteresse,
rallo da humilde fabrica, em que e caridade desta Congregação, que
a primeira Devoção o construíra. então se fazia admirar, que á rela
Dalli se extendeo este piedoso Ins xação, crimes, e excessos, com
tituto por muitas Provincias da Eu que outros Regulares se vierão a
ropa, intitulando-se os seus alum extinguir. .
nos Eremitas de Nossa Senhora da Ro Em quanto as Virtudes solidas,
ca de Amador. Era b seu Espirito o e as Letras se achárão nos Eremi
serviço dos Hospitaes. Em compa tas de Rocamador, não he facil de
nhia da Armada do Norte, que no explicar a Devoção liberal, com
de 1 189 ajudou ElRei D. Sancho I. ue os nossos Principes, e os seus
na conquista de Silves, e outras vassallos enchêrão de temporalida
praças do Algarve, entrou esta Re des as suas casas, e Hospitaes. Não
ligião em Portugal. No de 1193 só lhes doavão, e testavão copio
lhes fez o dito Monarcha Doação sos bens; muitos houve que deixá
da Villa de Sosa (que hoje se acha rão particulares mandas, a quem
coberta de arêas) junto ao mar, fosse por elles em romaria a Santa
e não longe da presente Cidade de Maria de Rocamador, assim como
Aveiro. Nella estabelecêrão a sua outros mandavão ir a Santiago,
Capital, donde se difundírão logo ou a Roma. ElRei D. Affonso II.
pelos Hospitaes de Lisboa, Porto, no seu Testamento de 122 1 se lem
Coimbra, Santarém, Leiria, Tor bra de Santa Maria de Rocamador.
res Vedras, Guimarães, Braga, Nas Inquirições d'ElRei D. Afon
Oo ii SO
292 RO RO
so III. se acha hum pasmoso nú Navarra, e junto delle hum Hospí
mero de terras, que pertencião a tal tão célebre, assim pelas rendas,
Rocamador. No Testamento ultimo como pela batalha, que alli derão
da Rainha Santa Isabel não esque os Mouros ao Conde Rolando?...
ceo Recamador no de 1 327. Pedro Por outra parte sabemos, que os
Annes, e sua mulher, moradores Portuguezes, á imitação dos seus
no Castello de Lamego, deixão pe Monarchas, não estancárão a sua de
lo seu Testamento de 1 348 mui voção dentro do seu paiz. ElRei
tos bens, e fazendas á Sacristia do D. Afonso Henriques a extendeo
Convento de S. Francisco daquel primeiramente a Claraval, e a Ro
la Cidade: entre elles duas vinhas ma, e finalmente no seu Codicillo
em Paredes: huma partia com vi de 1 179 (que se guarda na Cathe
nhas do Morgado, que fez o Bispo dral de Viseu) a fez passar com li
D. Giraldo, que foi d'Evora, que ora beralidade Real ao Hospital mes
he de Martim Vasco das Leis: e a mo da Cidade Santa de Jerusalem.
outra era hu chamão a de Roca-Ama ElRei D. Affonso II. deixou no seu
dor. Doc. de Lamego. He bem de Testamento Ioo maravidis a Alber
presumir, que os bens, e posses garía de Fonte-Rabía, &c. Que mui
sões de Rocamador, que por todo o to logo se não esquecessem outros
Reino se encontrão em os nossos do grande Hospital de Navarra?...
Documentos se unirião aos Hospi ROCINAL. Carga Rocinal, car
taes, que nos respectivos Territo a de rocim, ou cavallo pequeno,
rios se achavão. e desmedrado. Nos Foraes antigos
ROÇAS , e Roças-Valles. A se distinguem expressamente as Car
chão-se nas Inquirições geraes, que gas dos machos, e cavallos, das dos
por ordem dos Soberanos, e em di rocins, e asnos, sendo a portagem
versos tempos se tirárão, hum gran dos primeiros quasi sempre dobra
de numero de casaes, que erão de da da dos segundos. Nas Posturas
Santa Maria de Roças, assim como d'Evora de 128o se diz: Por certo
erão outros das Ordens Militares, de rocim, ou d'asno II. dinheiros...
do Templo, e do Hospital. No Testa It. por carrega de pescado de cavallo
mento da Rainha Santa de 1 327 se PT. din., e de asno III. dinheiros. L.
nomêa o Hospital de Roças-Valles. dos For. Velhos. De Carga rocinal.
Eu sei, que em Arouca se achão Doc. do Porto de 1 39o.
Doc. do Seculo XIII., que fallão na RODADO. Assim chamavão ao
Albergaria de Roçar, que estava na alqueire raso, ou arrasado. No Cen
Serra da Freita, e nos de Braga se sual dos Votos do Porto a f. 14 Y.,
faz menção de outra do mesmo no tratando da Freguezia de Alfena,
me na estrada de Braga para Bra diz o seguinte: It. O Cafal de Ri
gança: E quem nos dirá se ellas fo boiro possue-o Luís Fernandes: paga
rão, ou não dedicadas em honra de de Voto 4 cairas de pão meado: e el
Santa Maria de Roças-Valles, que le diz, que são quatro rodados, isto
hoje dizemos de Roncesvalhes, e he, quatro alqueires arrasados, co
naquelles tempos tão famosa pelo mo se convence por outros Docu
Mosteiro de Conegos Regrantes, II1CIltOS, *

fundado por ElRei D. Sancho de RODEIRA. Caminho por onde


vão
RO RO 293
vão carros. E desi a huma Rodeira racol. Ainda hoje se pratíca, prin
velha, até huma portelazinha, ou vi cipalmente em algumas Cidades de
so. Doc. de Bragança de 15 o 1. Hespanha. Em outras terras tornou
ROGADOR. Advogada, me se o Rolete em cabeça rapada.
dianeira, intercessora. No Seculo ROLHO. Rodella do joelho. De
XIV. e XV. se tomavão em ambos papatos de molheres atee cerqua do Ro
os generos, masculino, e feminino lho d'altura, com boa sola, e víra se
muitos nomes, que vinhão de ver pagará do par 45 réis. L. Vermelho
bos, v. g. Servidor, Procurador, Re d'ElRei D. Affonso V. N. 51.
demptor, Requeredor, Governador , RÓOS. Roes. Quatr. Roos cosei
&c. Entregamos nossas almas a Deos, tos huums pelos outros. Doc. de Ta
e a Santa Maria Rogador dos pecca rouca de 1 364.
dores. Doc. de Viseu de 1356. ROSA. Acha-se em os nossos
ROGINAL. Original, Escriptu Doc. Dominga da Rosa, e Dominga
ra autographa, e da primeira mão, da Rosa aurea. A 1." he a Dominga
e que não teve exemplar algum, a inf. Oct. da Ascensão; porque nes
quem seguisse. Tambem se diz da te dia celébra o Summo Pontifice
Pintura, &c. em Santa Maria, a Rotunda, e no
ROGO. OS. Assim se chamão Sermão se falla da Vinda do Espi
no For, das Salzedas a geira, ou rito Santo, deitando-se ao mesmo
geiras, que os moradores do Cou tempo desde o mais alto do Tem
to são obrigados a dar ao Mostei plo grande número de rosas, com
ro. E para estas duas geiras, a que a figura do mesmo Espirito Santo:
chamão de Rogo, recebem moços, e costume, que com outras circuns
moças, ainda que sejão pequenos, co tancias, alusivas ao Misterio, diz
mo forem para vindimar, ou apanhar Du Cange, V. Nebula 2, até o seu
azeite, ou cafanha. Ainda hoje di tempo se observava em algumas
zem alli: tantos, ou quantos Ro Igrejas de França. A 2.° he a Do
gos por geiras Doc. das Salzedas minga 4.° da Quaresma, dita Laeta
de 15 o 4. No Prazo de Villa-chãa re; e nella costumárão sempre os
de 1295 se impoem a todos os Fo Summos Pontifices, depois de In
gos em cada hum anno dous dias de nocencio IV., benzer huma rosa
Rogo, ou dous Soldos, qual nós qui de ouro, que oferecem a algum
zermos. Ibidem. E daqui se vê, que grande Principe, que se ache em
o salario de hum jornaleiro daquel Roma, ou mandalla a algum Im
le tempo era dous réis, menos hum perador, Rei, Potentado, ou Re
ceitil, pois cada soldo valia 1 1 cei pública, em sinal de benevolencia,
e gratidão. •

tis, segundo a declaração dos For.


d'ElRei D. Manoel. ROTÉLA. Rompimento, for
ROLETE. Era antigamente as ça, rotura, violência. No For, de
tranças de cabello, que as mulhe Linhares da Serra da Estrella, por
res acumulavão no alto da cabeça, ElRei D. Afonso Henriques, no
e a que Tertuliano chama Turritum de 1 169 se lê: De rotéla de sua ca
verticem, por terem semelhança de sa cum lanzas, & scutos, de sua por
torre. Outros lhe chamavão Spirae, ta a dentro,
For. Velhos. pe&iet CCC. soldos. L. dos
• • •

por serem enrolados a modo de ca


RO
294 RO
ROTORIA. AS. Rompimento cat mulier aliena, qui beneditiones
terra, agricultando-a, desbravan habeat cum suo marito. Doc. de Moz
do-a, fazendo-a levar frutos, e re E no de Santa Cruz da Villariça
nóvos, o que antigamente, e ain de 1225 : Et omnes, qui de sua ter
da hoje em algumas partes, cha ra exierint cum homicidio, aut cum
mavão Rotéa, ou Arrotéa do verbo muliere rouzada, vel cum alia calum
Romper, ou Arromper. pnia qualibet sedeat. (nisi quod non ad
, ROTULO. Rôlo de pergami ducat mulier aliena de benedictione),
nho, ou de outra qualquer mate cy" tornet se ad Seniore de Sancta Cru
ria, em que se escrevião os livros, ce, & sedeat soltum, & defenditum:
e que se enrolava sobre hum cilin per foro de Sancta Cruce. Doc. de
dro. E a este modo de escrever di Moncorvo. No de Aguiar da Bei
Zião: E/crever em bandeira. Fuit de ra de 125 8: Et hominer, qui de sua
monfiratus Rotulus de corio, qui erat terra exierint cum homicidio , aut cum
inter multas Cartar, cujus Rotuli te muliere rousada, vel cum alia calum
nor talis est, &c. E nelle estava es pnia qualibet sedeat (nisi qui non ad
crita a larga Divisão das rendas en ducat mulier aliena de benediciione),
tre o Bispo, e Cabido de Viseu. c) tornet se a Señor de Aquilari, ó"
Tombo Velho daquella Cathedral. sedeat solto, Óº defeso per foro de A
ROTURA. AS. O mesmo que quilari. Doc. da T. do T. V. Rauro.
Rotoria. Gozavão pois de immunidade
ROUBA. Roubo, furto, defrau no crime de Rauso, apresentando
dação dos bens alheios. Doc. de se aos Senhoríos daquellas Terras,
Vairám de 1 3o4. cujos For. lha concedião, assim co

ROUBADIAS. O mesmo qu mo no do Homicidio; exceptuando


Roubas. sempre o Adulterio, ou violencia
ROUÇOM. V. Rausador. feita á mulher casada, e que so

ROUSADA, Rouxada, e Rou lemnemente estava recebida. E


zada. Assim chamavão á mulher for quando se diz: o que sabir da sua
çada, cuja honestidade contra o seu terra com mulher rousada , não he
querer , e a pezar da sua reniten dizer, que a mulher sahio na com
cia, foi violada, e ofendida, e panhia do agressor; mas sim, que
tambem á que era furtada para o este sahio culpado no delicto de
mesmo fim; ainda que o Rapto, ou rousar a mulher, e que esta seja a
Rouso alguma vez não fosse mais verdadeira intelligencia da palavra
que de seducção. Em muitos Foraes Rousada se manifestou do facto de
antigos se permittia defeza, e im Maria-Rousada de Bemfica, a cujo
munidade deste delicto, com tanto marido fez dar a morte ElRei D.
que a mulher não fosse casada. No Pedro I., apenas soube que a for
de Moz de 1 162: Et homines, qui çára, antes que com ella se casas
de terra sua exierint cum homicidio, se, como Lopes, e Nunes, nos in
aut cum muliere rouxada, aut cum formão.
servitute , vel cum alia calumpnia ROUSADOR. V. Rausador.
qualque sedeat, tornet se ad Concilio ROUSAR. V. Rausar. ". .

ROUSO. V.V.Rauso.
de Molas, ó sedeat solto, & defen - ROUSSO. Rauso.
:

-

dudu per foro de Molas. Et non du




ROU
RU º =S 295
#
* ROUXADA. V. Rotirada. … º " S. por C, e pelo contrario, he
:Moi ROUZADA. V. Rousada. mui frequente em os nossos mais
ROUXO. V. Rauso, antigos Documentos. . .
\# - -

# !!!!!f. - ROXO. V. Rauso. S. Mudado em T se acha em al


## ...RUÃO, V. Homem de rua, e Pão guns Latinos, v. g. Mertare por
#### de rua. Mersare, Pultare por Pulsare.
### - RUNNEMTO. Roedura, acção S. Em lugar de R, igualmente
%) de roer, devorar, e consumir roen foi usado, v. g. As e por Are, La
///, do. Per verlhice, perfogo, ou per run ses por Lares.
# nemto de mures, ou per outro acaecimen S. Acha-se escrito com a figura
D@ R to, e cajom. Doc. de Pend. de 1 342. 9. da Tab. II., n. 8, com a qual
da B: RUXOXO. Voz, com que ain se escrevião algumas vezes assim o
lid #; da hoje se enxotão as aves. No hião º , como o z, ib. f. 6, e 1o.
álf {{f} elles de cá enxotados de geyto, que S. Suprimido nos finaes dos no
film esperassem outro Ruxóxó, Carta do mes proprios, terminando em u ,
# a). Arcebispo D. Lourenço depois da ou o os que devião terminar em
#),
batalha de Aljubarrota, e fallando us, era frequentissimo no Sec. IX.,
na derrota dos Castelhanos. X., e XI.; v. g. Gundulfu, Alvaro,
lari, º
rº #
Trasimondo, Tramondu, Arguiru, Ve
. R#
la/co, Flasnu, Loderigu, Gudesteu,
Uniº:
Gudinu , Igu, Artrulfu, Guntinu,
entil;
S. Gualamiro, &c. por Gundulfus, Al
varus, Trasimondur, Tramondur, &c.
Terrº;
sºmº
S Letra Numeral dos Antigos va SA, ou Ssa, e Sas, ou Ssas. Sua,
lia 7, ou mais bem 7o ; com til e suas. Acha-se este pronome no
# valia 7od)ooo. singular, e plural com muita fre
id:#;
º S. Depois das letras numeraes quencia já desde os principios da
#{ valia metade mais do número pre nossa Monarchia até o Sec.XV. Á
#! cedente. Daqui veio escrever-se imitação dos Romanos, que pri
Seflertium (que valia duas peque meiramente disserão sa, e sas, e
nas livras e meia da moeda Roma ao depois sua, e suas, dizião os
na) com dous LL, e hum S, e Portuguezes sa , ou ssa herdade,
hum risco transversal, como se vê sar, ou ssas herdades, e hoje fita,
Tab. II, n. 8, f. 12, que querião ou suas herdades.
dizer: Duae librae Óº semi. Os Ama SAA. O mesmo, que som, voz,
nuenses transformárão os dous LL estrondo. Chamados a Capitulo per
na figura de hum HS'; porém o S saã de campaã tanjuda. >

ordinariamente tinha a fórma que SABADO, e Sabbado. Assim


vêmos Tab. II., n. 8, f. 1 1. E de chamárão ao dia septimo, em que
caminho se note, que havia Sefier se fazem honras, e exequias aos
cio grande, e pequeno: este valia da defuntos, alludindo sem dúvida ao
nossa moeda 2 o réis, aquelle mil descanso, e refrigerio, que espe
vintens, que são 2o doooo réis. ravão conseguir pelas orações, e
S. Na Musica dos antigos era o Sacrificios, que então se mandavão
mesmo que sursum, e denotava, celebrar. Daqui fazer o Sabado; por
que devia subir o canto.

fazer as Exequias a hum defunto
I1O
296 SA SA
no dia septimo. Doc. de Pend. de terra , ou lugar. Eramos requerido
1344. It. Mando pera meu Sabbado dos nossos naturaes, e d'outros estran
vinte libras. 'Doc. de Lamego de geiros que lhes ouvessemos de dar ra
I 316. •

ca de pam, e de gaados pera fóra dos


SABATADOS, ou Insabbatta nossos Regnos. Cod. Alf. L. V. Tit.
dos. Assim forão chamados em Hes 48. S. 3.
panha certos hereges, sequazes dos SACADA. AS. I. Do antiquissi
Waldenses, ou Pobres de Lugduno, mo verbo Sacar, que significa ti
não por allusão ao Sabbado, mas rar alguma cousa para fóra do lu
sim ao Sabbáto, que era calçado gar, em que está, dizemos ainda
dos pés, ou fossem sóccos, ou ça hoje Saca, que he acção de levar
patos. E como o seu distinctivo era qualquer mercancía, ou genero de
certo sinal a modo de corôa, que huma para outra parte, v. g. a faca
imprimião a ferro no couro do di do trigo, do azeite, do arroz, dor
to calçado, daqui se lhes originou negros, e tambem das mentirar, no
o nome. No Concilio de Tarrago sentido moral. Porém os nossos
na de 1 242, e já nas Constitui Maiores disserão Sacada, ou Saca
ções de D. Pedro I. Rei de Ara das, as mesmas contribuições, fin
gão de 1 197 se faz menção destes tas, fóros, rendas, ou tributos, e
Sabatados. -

ainda agora dizemos Sacador o que


SABEDORMENTE. Sábia, e se occupa nesta cobrança. Teveron
polidamente. Era de graciosa pala per bem de alançarem finta, e sacada
vra, e homem que fallava sabedor pelo termho da Villa de Viseu no de
mente. Zurara, Chron. do Conde 1336, em que casou com D. Constan
D. Pedro, L. I. c. 12. fa o Infante D. Pedro. Doc. de Ma
SABENÇA. Sabiduria. E isto por ceiradão. -

Conselho da sabença de nosso Senhor. SACADA II. Certo Direito,


Doc. de Almoster de 1287. que pagavão os que tiravão para
SABENTE. Sabedor, certo , fóra do Reino quaesquer generos,
sciente. Façam-no logo sabente per ou mercadorias. Em algumas par
suas Cartas. Cod. Af. L. II., Tit. 57, tes era a obrigação de metterem
S. 2. huma carga para poderem tirar ou
SABER dasno. Nome proprio tra: em outras havia outros costu
de homem. Em huma Carta de ven mes, que se mandão guardar nas
da de certos bens em Trancoso no Côrtes de Coimbra de 1385.
de 1173 se acha, que o pregoei SACADAS. Na Cidade, e ter
ro, ou porteiro se chamava Sapien ra de Bragança se chamão Sacadas
*ia asina. E a esta se segue outra os 2 doooo maravidís antigos, que
do mesmo anno, na qual depois constão dos For, dados ás aldêas
dos Juizes, assina: Preco Saber das do seu termo. ElRei D. João jul
no. O que se vê ser o seu nome gou por Sentença de 1433, que os
proprio, e não alcunho, pois não que morassem dentro dos muros
apparece sinal disso. L. das Doaç. de Bragança não erão obrigados a
de Tarouca, f. 49. Y. pagar Sacadas, pois só erão impos
SACA. Dar saca, dar licença pa tas aos que morassem nas aldêas.
ra tirar alguma cousa para fóra da ElRei D. Manoel pelo novo *#C
SA SA 297
de 1514. declara, que estes mara de Lisboa franca, e livre de sacar
vidís antigos erão de 27 soldos ca as de algums direitos de pequena com
da hum , e que fazem ao todo dição, que os Reis em ella havião, de
97 à 2oo. da moeda corrente de 6. guisa que todos vivessem sem refezes
certís o real. Estes maravidís pois, sogeiçoens, usando livremente do que
ou Sacadas, se cobrão em duas pa houvessem... Estonce lhes quitou estes
gas, e se lanção tanto ao rico , co custumes, e direitos, que haviam em
mo ao pobre das ditas Aldêas; não uzança de pagar. s. Relego, fugadas
sendo escusos, se não os que não de pam , e de vinho, Mordomado, e
tiverem fazenda, que valha 1 àreis Anadarías, Açougagem, Selario, Mea
(não entrando nesta conta a casa, lharía, Londos, Alcavala. E que todo
em que morão, e a roupa de ves los vezinhos da Cidade , e seu termo
tir, e da cama. ) Não são escusos, não pagassem nenhum direito de toda
porém os que morando na Cidade, las º mercadorias , que levassem , ou
ou seu arrabalde, ou fóra da terra trouxessem, assi pera seus mantimen
de Bragança, tiverem nas suas Al tos, como pera vender. E desto lhe
dêas bens de raiz, que valhão mil mandou fazer escrituras as mais for
reis. Destas Sacadas são izentos to tes & c. Ibidem c. 154.
dos os lugares, aldêas, casaes, e SACCO de terra. Terra, que le
herdades das Igrejas, ou Mostei va seis alqueires de semeadura, que
ros, e todos os Reguengos, e ter fazem na Estremadura, e Beira al
ras Reguengueiras, que pagão fo ta hum sacco de pão. Para isto se
ro á Corôa. E tambem os morado ha de notar, que na Estremadura,
res de Agro-Cham por Privilegio an e principalmente nas Ribeiras do
tigo, e consentimento da Cidade, Tejo, chamão Moio de terra, áquel
e termo, em remuneração dos gran la porção de campo , ou liziria ,
des serviços, que em tempo de suas que leva moio, e meio de semea
necessidades, e aperturas lhe fize dura, que são 9o alqueires, ou 15
rão. Tudo consta do dito Foral nos saccos, de seis alqueires cada hum.
Doc. de Bragança. |
He pois Moio de terra, a que leva
SACADORES. V. Sanboaneiros. 9o alqueires, e sacco de terra , a
SACARIA. Estratagema de hum XV", parte desta terra, que não le
bom General, que faz pôr em ar va mais, que seis alqueires de se
mas, e sahir a campo a sua gente, meadura. -

fingindo que o inimigo os vem ata SAÇOM, Sazom, Sazão, Se


car nos arraiaes. E de tirar, ou pu zão, e Çazom. Humas vezes se to
xar as Tropas para fóra dos seus mava por occasião, tempo proprio,
quarteis se disse Sacaría. De huma e opportuno, e outras pelo tempo
sacaría, que Nuno Alvares fez pera de hum anno inteiro. Devees podar,
provar os seus de que esforço erão. Lo amurgulhar, cavar, e enpaar a vinha,
pes,
I. Chron.
c. 91. . . d'ElRei
. . D. João I. P. e o olival lavrallo, e abrillo, e amo

tallo, e stercallo de dous em dous an


SACARIAS. Imposiçoens, que nos; segundo husso, e custume da di
do Povo se arrecadavão para a Co ta Cidade, e nos tempos, e rações con
rôa. ElRei D. João I, protestou, vinhavees. Doc. de S. Christovão
que seu dezejo era fazer a Cidade de Coimbra de 1 392. — Repairem
Tom. II. - Pp a di
298 SÁ SA
dicta vinha em cada huum anno de to SACRILEGIO. OS. Assim se;
dos seus boons adubíos, e corregimen chamavão no Sec. XIV., e XV, as
tos, a seus tempos, e sazooens. Doc. multas, e penas pecuniarias dos ex
do Salvador da mesma Cidade de comungados. Daqui Levar Sacri
1445. No de 1222 se diz em hum legios, e Pagar Sacrilegios, expres
Doc. da dita Collegiada de S.Chris sões mui treviaes daquelles tempos,
tovão, que querendo-se ausentar o Nas Côrtes de Santarém de 1413
Emphyteuta, deixe o seu casal en requerião os póvos contra os Pre
tregue a quem trate delle, e pague lados, que davão Sacrilegios a seus
o foro , com tanto que elle torne criados; pedindo, que os Sacrile
usque ad tres rezoones ad vestrum ca gios não fossem punidos senão com
sale. Et si relinqueritis casale, é?" nou penas saudaveis, e espirituaes, e
laboraveritis illud urque ad tres se não pecuniarias, cuja cobrança, e
zones, ad quartam perdatis vestram arrecadação commettião aos da sua
facturam. E na Carta de Povoação familia, para satisfação de seus sa
da herdade do Rio-Seco se estipu larios; e elles commettião insolen
lou, que ausentando-se algum dos cias, e demazias com detrimento
Povoadores entregue o seu casal ao grande, e irreparavel dos culpados,
seu visinho, que fará o costumado ção. que a dinheiro remião a sua vexa r

foro, e que o colono volte ad suum


casale ad tres annor. Et si aliquis re SAGAÇARIA. Sagacidade, ar
/iquerit ruum casale, ó" non labora dís, e traças executadas com mui
verit illud duos annos, in tertio per ta destreza, juizo, e finura. Ne
dat suam facturam. E por estes dous nbum avisamento antigo podia ser i=
Documentos se vê, que Sezão he Águal ás suas sagaçarias deste novo
o mesmo que anno. De Qazom no Guerreiro. Lopes, Vid. de D. João I.
mesmo sentido. V. Olivas. Do Fran
P. II. cap. 192. Do Latino Sagi
cez Saison (que val o mesmo que re, que he ter bom faro, e sentir
Tempo, ou Estação do tempo) disse muito , se disse: Sagaz, e Saga
rão os Portuguezes Saçom, e tam faria. - -

bem Sazonar, ou Sazoar com os seus SAGEIRA. Sabedoria. Ant.


derivados. Grã razom, muito tempo. SAGES, Prudente, sábio, ho
SACRAMENTAES. Conjurado nesto, virtuoso. Como fosse deman
res Sacramentaes, erão doze homens, da antre o honrado Baroni, e Sager,
que nos Juizos Feudaes antigamen D. Gonçalo Steves, Dayão de Lamé
te juravão com o litigante, que go da huma parte, e o Vigairo, e os
crião, e tinhão para si ser verdade Raçoeiros d'Almacave da outra. Doc.
o que o litigante afirmava com ju de Lamego de 1 337: #

ramento. Este mesmo número de SAGESMENTE. Destramente,


Conjuradores se requeria em muitos sabiamente, com juizo, tino, e a
dos nossos Foraes antigos, para cordo. Assi as fagesmente desperçom.
que o Forçador da mulher, que se Doc. de Almoster de 1287. V. Des
queixava, fosse livre da pena da perçadoiro. - •

Lei, jurando elles a favor, e pela SAGION, ou Sagião. V. Sayom.


innocencia do inclamado réo. V. SAHIMENTO, ou Saimento I.
Aforciar, Cabello, e Rousada.
"… *
Fim, sahida, expedição, ou #
Cill
SA
SA 299
clusão final. Diz ElRei, que ao tem ros, que depois da conquista ain
po do Saimento lhes dará livramento. da aqui se conservárão. Huns, e
Côrtes de Lisboa de 1434. outros se baptizavão com a maior
SAHIMENTO II. Exequias so solemnidade em Sabbado Santo, ob
lemnes, Oficio geral, sahida pú servando-se escrupulosamente os
blica, e funebre das pessoas enoja Ritos, e Ceremonias da Igreja Ro
das, ou mais bem: Procissão que mana. Nas Cidades principalmente
sahía da Igreja, em que se acaba se repetia todos os annos esta fun
vão de fazer as Exequias de algu ção augusta. Principiava ella na III.
ma Personagem, e na qual todos Dominga da Quaresma, sahindo o
mostravão no vaso, e burel o seu Clero da respectiva Igreja, e tam
sentimento, rogando juntamente a bem o Povo, ordenado em Procis
Deos pela Alma do defunto. Na são até o Baptisterio, edificio no
Chron. d'ElRei D. Afonso V., c. 9, bre, e primoroso, contiguo ao Tem
se faz menção do Saimento pela Al plo, que tambem se dizia Fonte,
ma d'ElRei D. Duarte, em que os ou Fontes, (que nas Igrejas mais
bureis, e lutos, lagrimas, e tristeza notaveis costumavão ser nativas, e
de todos mostravão o amor, que lhe nas quaes a delicadeza, e estructu
tinhão, e o desamparo, em que fi ra excedião talvez a preciosidade
cavão. Já desde o Sec. XIII. se da materia). Alli se fazia o pri
acha com frequencia esta palavra, meiro Escrutinio dos Competentes,
que foi muito usada até os fins do que devião ser baptizados: toma
Sec. XVI. dos a rol, e examinados sobre o
SAHINTE. V. Saynte. Cathecismo da Religião, a que as
SAHIR sobre as Fontes. Em piravão, se lhes fazião os exorcis
hum Testamento de Santiago de mos, e insuflações, e com isto se
concluía o acto. •

Coimbra de 1 331 se deixão certos


legados áquelles que veerem aas Ves Outro grande Escrutinio se fa
peras em cada huum dia, desque co zia na mesma fórma, e lugar na
meçam a sahir sobre-las fontes atá quarta feira depois da Dominga
sesta feira d'ante Dominica in albis: IV. da Quaresma: hum Acolito fa
e sairem sobre-las fontes , e diserem zia as vezes de Notario, escrevem
sobre mba sepultura huum responso... do os nomes, que no Baptismo ha
Pero no anno, em que eu morrer, non vião de tomar estes Competentes, ou
devem a reer tehudos (os Beneficia Escolhidos : separados os homens
dos, e Clerigos da dita Collegia das mulheres, erão examinados so
da) de dizer o dito Responso, nem bre a renuncia de Satanás, e sobre
sabir sobre-las fontes, quanto be por a Fé de Jesu-Christo: fazia-se so
minha razom; mas só a primeira Qua bre elles o sinal da Cruz: mettia
resma, que veer despos da era, em se-lhes o sal na boca: repetião-se
que eu deste mundo sahir. He sem os exorcismos, e feitas as mais ce
controversia, que ainda no Seculo remonias erão introduzidos na Ca
XIV. havia entre nós hum grande sa do Senhor. Em algumas Igrejas
número de Cathecumenos, não só se repetião estes Escrutinios por 7
dos Hebreos, que em Portugal se vezes em 7 dias distinctos. E final
permittião, mas tambem dos Mou mente no Sabbado de Alleluia erão
Pp ii bap
3OO SA SA
baptizados, havendo-se benzido as dio de Vert, Bona, Mayer, Duccan
Fontes com a solemnidade, de que ge V. Fons Consecratus, e outros. E
ainda o Missal Romano nos in note-se, que as palavras: Em cada
fórma. Buum dia des que começam a sahir
Porém como não só os Cathe sobrelas fontes, não dizem, que to
cumenos, e Adultos, mas tambem dos os dias continuadamente de
os nascidos naquelle anno de pais vião sahir; mas tão sómente, que
Catholicos se costumavão baptizar nos dias que sahissem, devião re
pela Pascoa (quando algum perigo Zal".

de vida não obrigasse a baptizallos SAIMENTO V. Sahimento II.


antes) não se podendo facilmente SAINHO. Vestidura antiga de
e com solemnidade grande, confe mulher, e diminutivo de Sayo, do
rir o Baptismo a tantos no mesmo qual usavão as mulheres nobres, e
dia; extendião-se as Sabidas, ou as plebêas. Os casacões, sobretudor,
Procissões sobre as Fontes até a sex albernozes , roupões, saltimbarcas,
ta feira antes da Domin. in albis. E e finalmente os bajús são restos dos
como para os Baptisterios, em que Sayos, cujos-diversos talhes já ho
estavão as Fontes, ou Pias de bapti je nada nos interessão, variando
zar, se passava pelo Claustro, Ce tudo, e seguindo a moda, que pa
meterio, ou Gallilé, em que ainda ra ser adoptavel deve acrescentar
naquelle tempo erão sepultados os o gosto, e diminuir o gasto. Tam
que não erão Bispos, ou Fundado bem os homens usavão antigamen
res, rezavão-se alguns Responsos te de Sayos, ou Sayas. Do Latino
sobre as sepulturas de Bemfeitores Sagum, que era vestidura militar,
particulares, não só por caridade, curta, quadrada, de panno baixo,
mas tambem de rigorosa justiça, e grosseiro, e com abas, ou quar
como era o contemplado na presen tos, se disse Sayo, e Saya. O Sai
te Verba. Succedendo porém não nho porém nada mais era, que hum
haver Cathecumenos, sempre estas gibão redondo, e sem abas. De hum
"Sabidas se praticavão; bem assim Mongy singelo 2o reis, D'bum fai
como hoje se benze a Fonte Baptis nho de mulher de qualquer pano I o
mal no Sabbado Santo, ainda não ha reis. L. Vermelho d'ElRei D. Af
Mendo quem naquelle dia seja bap fonso V. N. 5 I. -

tizado. E nem a preposição sobre SAIONIZIO. Estipendio, ou


póde fazer dúvida, sendo certo, gajes, que se davão aos alcaides,
que as ditas Fontes ficavão muito esbirros, algozes, ou agarrantes,
mais baixas, que o pavimento, e e que hoje se chama salario de mãº
para ellas se descia por mais, ou posta. Não só se pagava a estes mi
menos degráos de pedra : e por nistros, e executores da Justiça º
disso na Ordem Romana havia parti pena de carceragem por levarem os
culares Orações, que se recitavão, criminosos ao carcere; mas ainda
assim no Descensus ad Fontem, co a de mão posta pelos prenderem »
mo no Ascensus Fontis. Vejão-se os e maniatarem. Et duos modios in fatº"
que tratão da Explicação Literal, nizio. Doc. de Paço de Sousa de
e Historica das Ceremonias Eccle 11o3. De Saijom se disse Saioniziº.
siasticas, como Durando, D. Clau SAL. Sahir deste mundo, mºrº
TCTs
SA . 3.O I
rer. Vem de salir, sahir. E se se Rainha D. Leonor sabendo que o
Paay Martinz ante sal , ca eu per Conde D. João Fernandez Andeiro
morte; isto he, morrer primeiro do era morto no seu mesmo Palaçio pe
que eu. Doc. de Pend, de 1292. las razões, que todos sabem, disse:
- SAL finto. Sal coalhado, á dif O matáram bem sei porque; mas eu
ferença do que o não era. V. Ke prometto a Deos, que me vá de ma
miro. nhãa a S. Francisco, e que mande hi
- SALTEAR. Antigamenteera sy fazer huma fogueira, e bi farei taes
nonimo de guerrear. E assim no salvas , quaes nunca molher fez por
tempo de Viriato era o mesmo que estas cousas. Lopes, Chron. d'ElRei
Fronteiro esta palavra Latro, e não D. João I. P.I. c. 11. . . .
salteador, ou ladrão infame. Daqui SALVAGINA. Carne de vea
vemos, que em Hespanha houve ção, e montanheza, qual he a dos
nobre Familia dos Ladrões, como se porcos, veados, &c. Nem se entem
vê em Porcio Latro, e na Inscrip da outro Cy em judeos, que andarem?
ção, que se acha no Quintal dos pelos montes comprando mel, ou cera,
Duartes de Lamego, junto á Praça ou peles de coelho , ou salvagina, ou
de cima, em que se faz menção da adubando roupas, ou as fazendo. Cod.
Pamilia dos Ladrões , e de outras Alf. L. II. Tit. 67. § 2.
pessoas de nomes Hespanhoes. V. SALVAL. Savel, Doc. de Pend.
Bucellario. de 1298. |

SALTEIROS. Psalterios. Man SALVANTE: Salvo, excepto,


do resar sobre mim dous Salteiros.
tão sómente. Sem pagando outro tre
Testamento de Maceiradão de
buto, salvante como sempre antiga
1 331. Não só os 15 o Psalmos de mente royam de pagar. Doc. de La
IDavid forão chamados Psalterio; mego de 1436.
tambem se deo este nome aos 7 SALVAR. Em os nossos Foraes
Psalmos Penitenciaes com as suas do Sec. XI., XII., e XIII. he fre
Ladainhas. Igualmente se chamou quentissima a voz Salvar, por fa
Psalterio o Rosario de MARIA, que zer alguem prova legitima, e le
consta de 15 o Saudações Angeli gal, mas peremptoria, e summaria,
cas. V. Ducange, V. Psalterium. De da sua innocencia em algum crime,
qual destes 3 Psalterios se deva en ou delicto, de que era accusado.
tender a ultima vontade do Testa Daqui se disse Salva, o livramen
dor, eu o não sei decidir. to, que o R. havia conseguido,
SALTO. Cerro, terra levanta ou pertendia conseguir, contrariam
da, outeiro, collina, bosque, fio do com testemunhas legaes , e
resta, lugar eminente, cheio de maiores, que toda a excepção, o
arvoredo, e pastagens, mato fe libello, ou accusação do A: Sal
chado , brenha. Tomárão o salto, vantes as testemunhas, que depu
hum pouco ante manhãa, Zurara 3 nhão, e juravão a favor do accusa
Chron. do Conde D. Pedro. L. I do: e Salvado, o denominado Réo,
C. 39. •

que provava a sua innocencia com


SALVA. I. V. Salvar. taes testemunhos, que fazião des
- SALVA. AS II. O mesmo que apparecer toda, e qualquer accusa
Purgação Canonica. V. Ferros. A ção, que contra elle se "# O
3 O2 SA SA
do em Juízo. V. Cabello, e Afor remos, que elle tinha recuperado
ciar. O número das testemunhas era a saude depois de alguma enfermi
maior.» ou menor, segundo era dade , e que por isso se nomêa
mais, ou menos nobre o accusado, Sandeto , quasi sanitatem adeptus ?
que, se com ellas não salvava a Diremos, que por usar de chinel
sua reputação, ficava sujeito á pe las, ou sandalias nas Funções Pon
na da Lei. Os Inglezes chamavão tificaes, se diz Sandeto, quasi san
a isto jurada. Os Ricos-homens, seus daligerulus ?... Diremos, que repu
filhos, e netos não erão obrigados tando-se cada dia morto á imita
a fazer Salva, livrando-se por In ção do Apostolo, quiz dizer, que
quirição de testemunhas. Na defe era Sandeto, como quem já em si
za dos Infanções só podião salvar, trazia a mortalha para o seu enter
jurar , ou servir de testemunhas ro, quasi sandalium portans ? Dire
dous Cavalleiros Fidalgos, segun mos, que Sandeto he o mesmo que
do alguns Foraes de Hespanha, e Sandono, especie de barca, que ser
Portugal. . ve de ponte, por onde todos pas
SAMBARCO, ou #"> são; alludindo ao cap. 2, do L. IV.
Çapato, ou chichello velho. Ant., dos Reis, em que Eliseu chama a
e ainda usado no Seculo XVI. Elias, Currus Israel, Óº Auriga ejus;
SAM OANE, ou Sam One, ou sendo da obrigação de hum bom
Sanhoane. S. João. Acha-se em mui Prelado, não só o governar, e di
tos Documentos do Seculo XIII., rigir os seus subditos; mas ainda
XIV., e XV., e ainda hoje ha ter levallos no seu regaço, e aos hom
ras, Igrejas, e Hermidas, a que bros , por amor, e paciencia ?..
chamão Sanhoane. V. Sayoane. Diremos em fim, que Saudeto he o
SANCRESCHÃO. O mesmo que mesmo que sendeiro, ou jumento;
Sacristão. intitulando-se deste modo, e por
SANDALIAS. Assim chamárão humildade, e tendo em vista a ex
antigamente ao calçado das mu pressão do Real Profeta : Ego ut
lheres Senhoras; alludindo sem dú jumentum sum apud te?... Mas nada
vida ás sandalias de Judith , que disto seja: que os mais bem ins
arrebatárão os olhos de Holofer truídos nos queirão dizer, que dis
IlCS.
se D. Diogo, quando se intitulou
SANDETO. Entre os mais Bis Sandeto.
pos, que confirmárão no de 959 SANGALHA. Medida Sangalha,
a célebre Doação da Senhora D. era de solidos, e liquidos.
Mummadomna ao seu Mosteiro do SANGALHO. Medida de pão,
Salvador de Guimarães, foi o Bis que consta de 5 galamins, segundo
po Diogo, que assignou deste mo os Doc. da Serra, e de Grijó.
do: SANDIA. Desacisada , louca,
Sub aminiculo Creatoris Didacus e sem tino. Nom permandamento de
Episcopus , virque sandetus — Of. sua Lei, mas de huma randía prerun
X. Doc. de Guimarães. O que es= fam. Pina, Chron, d'ElRei D. Du
te Prelado quiz dizer, chamando arte, c. 3 I.
se Sandeto, só advinhando se po SANGUILEISSIA. V. Sanguile
derá dizer sem perigo de errar. Di xia. No de 12 1 1 o Abbade Melen
do
SA SA 3O5
do deo aos seus Frades hum casal no Bispado de Viseu, determinou,
pro sua Conduitaría. E os Frades fi que as Religiosas delle, ainda mes
gerão entre si este ajuste : Ut ea mo na saude, fossem sangradas de
sanguileirsía de sex in sex ebdomadas, 6 em 6 mezes. Hoje se abandonou
quandocumque dederint ad Abatem, esta disciplina; sabendo-se por ex
zel Priorem, ó faciant illi carita periencia, que a sangria, ás vezes dá
tem de illud, quod in Obedientiam saude, ás vezes matta, e que fóra de
(na Celleiraría) habuerit, &c. Doc. huma precisão urgente, nada mais
de Pendorada. seria, que temeridade, e loucura..
SANGUILEIXADO. O que es SANHOANEIRAS. Rendas,
tá sangrado. O que for doente, e o foros, pensoens, que se pagão pe
sanguileixado aja dos Sabados ; nom lo S. João. Talhe o de 6 d) 666 reis
no fazendo maliciosamente. It, o san que pagão os moradores de Monte ne
guileixado folge tres dias, e aga to gro, em terra de Chaves: e isto pe
do seu beneficio. Estat. ant. de S. las 2oo livras, que lhes forão repar
Christovão de Coimbra de 1285. tidas das 4oo porque a dita Villa, e
E daqui se vê o costume geral de terra forão aforadas. E as outras 2OO
usarem da sangria fóra da doença. ficárão lançadas aos moradores da Vil
SANGUILEXADOR. Sangra la, e Valle: mas os Reis lhas perdoá
dor. Johannes sanguilexador — ts. rão, em quanto sua mercê for. Foral
Doc. da Universidade de 1 174. de 15 14. nos Doc. de Chaves.
- SANGUILEXIA. No de 1 155. SANHOANEIROS. Erão os Por
hum Abbade de Pedroso fez Doa teiros , ou Sacadores , que algumas
ção aos seus Monges de todas as Corporaçoens, ou grandes Senho
herdades, que o Mosteiro tinha em res conseguião d'ElRei para lhes
Viseu, Alafoens, Val de Cambra, arrecadar os seus fructos, foros, e
e Vouga pera Vestiaria, Conduturía, rendas; mas devião-se abrigar pri
Infirmaría , Sanguilexía, e Pitança. meiro os que os pedião a pagar, e
Doc. de Pedroso. Por Sanguilexia se satisfazer ás partes todo o dano,
entende a sangria, e tambem a Ofi que os ditos Porteiros sem raciona
cina, em que os Monges se sangra vel causa lhes fizessem. Cod. Alf. L.
vão , e eom tanta freguencia, que III. Tit. I o I. S. I.
nas Constit. antigas de Pombeiro se SANOMEDE. S. Mamede. Doc.
mandavão sangrar todos de dous em de 1425.
dous mezes: não sei se para abater SANTA MARIA ALTA. Com
e macerar o corpo, se para preven este nome designavão o dia 15 de
ção contra as enfermidades a que es Agosto. O pintar-se a Soberana Mái
tá sugeita huma vida poltraã, e se de Deos subindo aos Ceos, e como
dentaria. E para as despesas desta ausentando-se de nós neste insig
Oficina, se aplicárão tambem os ne dia da sua Assumpção, occasio
rendimentos daquellas herdades; e nou este nome. Por este dia de San
principalmente sendo então mui ta Maria alta, que ora passou. Doc.
crescido ali o numero dos Monges, de Santo Thyrso de 1415.
que expulsos de Lorvão se havião SANTA Passagem. V. Passagem.
retirado áquelle Mosteiro. Tambem SANTARIÇO. Santo Ericio.
o Fundador do Mosteiro do Tojal, Doc. de 1312. * * * * **

* SAN
3O4 SA SA
SANTELLO. Especie de rede res abastantes. Cod. Alf. L. III. Tit.
de pescar peixes. Algums deitam em I 2.6. S. 4.
rios nom cabedaaes covoens, e massas, SATISDAR. Dar fiança, ou cau
e santellos, e armazellos, e tesoens, e ção. No Cod. Alfons. L. III. Tit. 25.
tarrafas pera seus mantimentos. Cort. SATISFAZIMENTO. Cumpri
de Lisboa de 1434. mento , satisfação. Cod. Alf. L. II.
SANTOANNE. I. S. João. Tit. 1. art.36, , , -

SANTOANE. II. Parece ser pa SAVASCHAAO. Nome de ho


no, ou droga. Deixo a N.sete cova mem, que hoje dizemos Sebastião.
dos de Santoane pera hum vestido. De Doc. do Seculo XIII. It. Aconhosco
ser esta droga mui leve, fresca, e me, que devo a Savaschaão Dominguer
pouco encorpada, he de presumir JTII. libras e XIII, soldor. Testamen
lhe veria o nome de S. João. pois só to de Estevainha Pires mulher de
era propria do tempo quente, e cal Sueiro Lourenço, Cavalleiro de Para
moso, qual costuma ser no mez de da, e filho de D.Guilherme de 1293.
Junho. •
Doc.de Maceiradão.Em hum Doc.de
SARGENTAS, e Sargetas. Val Thomar de 13oo, se diz Savaschão.
los, canaes, sangradouros, riguei SAXIDAS. Sahidas. Com todas as
ras, ou fossos, que se fazem para suas entradas , e saxídas. Doc. do
enxugar as terras, e dar vasão ás Sec. XV.
agoas encharcadas. Esta palavra SAYA. Este nome, que hoje se
mui antiga ainda hoje não he intei apropría á vestidura da mulher ho
ramente desusada. Vem do Latino nesta da cintura para baixo, signifi
Serviens; porque estas Vallas dão cava antigamente a capa, sayo, ou
serventia, ou servem de aproveitar Roupão do secular, e a Tunica, ou
as terras, que por apaúladas fica Habito do Religioso, ou Monge.

rião infructiferas. * ;
No de 1316. deixa João Duraens no
SARRADO. Cerrado, inteiro, seu Testamento. A Pedro Rial a sua
completo, e sem diminuição algu saya do arrais: e a saya do veram, e º
ma. V. Qarradamente. Se pela ventura Çoramevelho a Martim Esteves. Doc.
ElRei nom vier 6 Doiro, que nom leve de Lamego. Mando a todolos Frades
as Coleytas, nom darem, se nom XIII. do dito Moesteiro ( de Maceiradão)
maravidis , menos quarta: e se ElRei que lhis dem pelo meu aver senhas say
Ievar as Coleytas, seerem XII. maravi as. Doc. do dito Mosteiro de 1 3o7.
dis farrados. Doc. da Graça de Co SAYBO de cubeiro. Cheiro des
imbra de 1326. agradavel, e peior gosto, que con
SARRAO. V. Raza, e sarrão. trahe o vinho lançado em huma cu
SARTAL. Cordão, ou fio de pe ba, que não anda bem limpa. E a
rolas. It : Dexo uno fartal al Rei de dita cuba, que lha traguam bem la
Castella. Testamento de D. Mecia vada, e nom tenha nenhuum saybo de
Rodrigues Hespanhola de 1258. cubeiro.
imbra dePrazo de Santiago de Co
15 1 3. •

Doc. das Salzedas.


SATISDAÇÃO. O mesmo que SAYLAR. Sellar, confirmar, ro
fiança , ou caução. Dando primeira boral com sello. Saylei, sellei, fir
mente o vencedor da dita sentença satis mei com sello. Doc. dar Bent." dº
dação soblene com penhores, ou fiado Porto de 1 28o. -- _>

SAY
SA. SA 5os
SAYLO. Sello. Ibidem. diz Ducange. V. Saiones. Com ef.
SAYNTE. Sahindo, na occasião feito não longe da Cidade de Za
de sahir. Saynte das Matynhas , e mora, no Reino de Leão, ha hum.
saynte de Missa de Terça, e saynte paiz, a que chamão Tierra de Saya
das Vesperar, que digamos cantado ex go, cujos habitantes se vestem de
1
te pt.: Inveni dd. (David ) servum hum panno mui grosso, e vil, a
meum & c. Testam. de D. Fr. João que chamão Sayal, e daqui se dis
Martins, Bispo da Guarda, de 1298. se Sayaguéz, o homem rustico, e
Doc. da Guarda. grosseiro. Porém antes he de pre
SAYOADO, e Ssayoado. Cou sumir, que da vestidura dos Sayões
sa de Sayão, Oficial infimo, e exe viesse o nome á Terra de Sayago,
?•} cutor de Justiça. E esse Moordomado e não que ella o désse aos Sayões,
do Srayoado há as chegas, e vozes, e sendo certo que estes já tinhão o
coimas , e entregas. Dom. da Cam. mesmo nome em tempo dos Lon
secular de Lamego de 1436. gobardos. Em o antiquissimo Poe
SAYOANE. S. João. Doc. de ma da Perda de Hespanha, de que
1278. V. Sam Oane. Faria , e outros se lembrárão, lê
SAYOM. Em os nossos mais an mos do modo seguinte :
. tigos Documentos, e nos de toda O gazu, e assalto, que os da aleivoria
a Hespanha, e mesmo já desde o
tempo dos Godos, se usou com fre Tramárão, poz voltos de algo Sayones.
quencia da palavra Sayão até o Se Tambem havia Sayom militar, a
culo XV, por algoz, verdugo, exe que igualmente chamavão Cliente ,
cutor da Justiça, cortando, dece ou Bucellario; porque acompanhava
pando, açoutando , enforcando, na milicia algum Poderoso, a quem
queimando , afligindo, e matando havia tomado por seu Patrono. V.
de mil modos os criminosos, pertur Bucellario. /

badores da República, e despreza SAYONARIA, Sayonía, Sayo


dores das suas leis. E como nestes nizio, Sayonicio, Sayoaría, e Sagio-
ministerios só gente vil, baixa, zo nía. Oficio de Sayão. E tambem, in
te, e reféce se empregava, igual solencia dispotismo, desaforo. V.
mente foi chamado Sayão, o inso Carceratica.
lente, petulante, e disposto a com SAYORIA. Violencia, extorsão,
metter insultos, com desattenção, injustiça, dispotismo, insolencia,
orgulho, e desaforo. A origem des desaforo. E tambem o Oficio de
te nome (que corresponde ao La Sayão. Pera que se evite a mui grande
tino Penator, ou Tortor) parece se sayoría. Cort. de Santarem de 1468.
não deve tomar com Santo Isidoro SCAAN. Na baixa Latinidade se
L. XIV. Orig. ab exigendo, em at disse Scandalium, e Escandaleum por
tenção a que o Sayão devia estar huma certa vasilha , que constava
sempre prompto para exigir o di de 15 medidas, cada huma das quaes
nheiro, ou as penas dos devedores, pesava duas libras, e 12 onças. Da
ou culpados; sendo mais provavel, qui desserão os Francezes Scandal,
e talvez mais certa, a opinião da ou Escandau, e os Portuguezes Sca
quelles, que a deduzem á Sayo, am, variando porém alguma cousa
vel Sago, ipsorum veste propria, como nas libras, e onças, segundo as ter
Tom. II. S] SaS,
3 o6 SC SC
sas. Ha pois todo o fundamento pa Scala, não só ao estribo para mon
radizer-mos, que a Scaan Portugue tar a cavallo; mas tambem derão o
za levava hum almude da medida nome de Scala á campainha, ou pe
corrente, que consta de 4 quartas, queno sino. V. Esquiro. •

cada huma de 12 quartilhos; pois SCALLADORES de casas. Os


em alguns Documentos se acha ex que á escala vista, com força , e
presamente hum almude de mantei violencia entrão nas casas , comet
ga, em outros huma quarta, em ou tendo, ou com annimo de cometter»
tros hum alqueire. Em dous Doc. do algum maleficio, com injuria, afron
Sec. XIII. do Mosteiro das Salzedas tal, ou lesão dos seus moradores.
se falla em Scaan. No 1. se diz: Huã Não só a Milicia para conquistar
scaan de manteiga. No 2. E quarta de Praças, tambem a maldade usa de
huma scaan de manteiga. escalladas para cometter os crimes
SCALA. Entre os Doc. de Gui mais atrozes, entre os quais foi
maraens se acha o Testamento de D.
sempre reputado o entrar por for
Mummadomna de 959, em que se lê: ça na casa alheia, e sem vontade,
In refertorio: Vasculos, archas, cum ou consentimento livre de seu do
cas, scalas duas interrotomas (i.e. in no. Os Corregedores devem fazer
ferrasiles, coelatar, vel incisas ) &º prender os criminosos de graves
palmares. Forão muitas, e varias as excessos , como treedores , e aleivo
accepçoens de Scala na Infima Lati sos , ereges , e sodomitas, falsarios
nidade. 1.º significou a forca (sinal de moedas , teedores de caminhos, ou
de jurisdicção suprema ) em cuja roubadores dº estradas, ou ladroens pu
escada erão expostos á vergonha pu blicos, ou forçadores de molheres, ou
blica os que tinhão crimes graves, matadores de homens sem porque, ou
mas não que merecessem a pena ca scalladores de casas , e outros seme
pital. 2.° a rua, bairro, ou quadri lhantes. Cod. Alf. L. I. Tit. 23. §.57.
Iha de huma Povoação, ou Cidade. SCALIDO. Sitio, ou lugar, em
3° O prato da balança. 4.º a tum que desagúa o canal do moinho.
ba, ou esquife, que tinha alguma Ap. Berg.
semelhança com a escada. 5.º O lu SCANÇÃO, V. Escanção.
gar, ordem, ou assento, que cada SCANCARÍA. V. Escanção.
hum deve ter : e daqui se disse: SCANCIONARIA. O mesmo
sentar-se á escada. 6º O Esquadrão ue Scançaría.
turma, companhia de gente militar. SCITOSAMENTE. Advertida
7° Huma medida agraria. 8º O mente, a sangue frio, com conhe
porto, a que as embarcaçoens arri cimento claro. Vem do Latino Sci
bão, e daqui fazer escala, por ar enter. Salvo se fizerem as tais indi
ribar a hum porto. Porém neste Doc. zias scitosamente. Doc. de Bragan
não significa mais, que taça, va ça de 145 1. V. Acintemente.
so, ou cópo. Erão pois, duas pre SCOLA. No Foral, que o In
ciosas taças lavradas ao buril, de fante D. Afonso Henriquez deu 4
obra peregrina, e estrangeira, que Cidade de Céa no de 1 136. se lê: Mu
a Nobre Fundadora dava para o ser Lier, aut mancipia , que non faciat
viço do Refeitorio do seu Mostei nullo viro super illas , non pedones »
ro. V. Palmeiro. Tambem chamárão nou Cavalleiros, non de Scola; nisi prº
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J}{0
SC SC 3o7
suo grato: & si culpam fecerit , ve-º criavão na Familia dos seús Bispos,
niat ad Concilium. L. dos For. velhos. instruindo-se na Doutrina, Cere
Depois de nomeados os Peoens, e mohias, e Canto da Igreja, ainda
Cavalleiros, fica-nos lugar de inqui hoje no Pontifical Romano se dá o
rir, que gente era, a que se chama nome de Schola. Estes erão os mu
va da Scola; pois não erão meninos, sicos, e cantores nas funçoens E
que já se houvessem entregado ás piscopaes. Havia tambem Scolas Mo
desordens da luxuria, e capazes de nasticas , e outras muitas, de que
violentar a qualquer mulher; nem se pode ver Ducange. V. Scolae, e de
tão pouco em Cêa terra bravía, e que agora não precisamos de fallar,
de montanha, se havião estabele pois tambem dellas não falla o pre
cido Escolas, em que mancebos já sente Foral. Isto supposto, a for
crescidos se aplicassem a maiores nicação simples, e sem violencia,
estudos; jazendo então o nosso Por que aqui tão liberalmente se per
tugal nas trevas da ignorancia mais mitte, he bem certo se não exten
profunda, e sendo a mais ordinaria dia á Scola dos Monges, que sempre
occupação o exercicio da guerra. se reputárão, e então muito mais,
Ora nós sabemos, que já desde o separados do mundo : e por outra
tempo dos Cesares, as Côrtes dos parte se manifesta, que estes Sco
Reis, e Principes se chamárão Es lares, de que o Foral nos informa,
colas; porque nellas se aprendia tu erão superiores em gráu de honra
do o que havia de civilidade, e po aos mesmos Cavalleiros de Cêa. E
licia : e todos os que ao Palacio rão pois logo , ou os da Familia,
pertencião, se chamavão da Scola. Companhia, ou Córte do Principe, que
No Foral, que o Conde D. Hen segundo os costumes daquelle tem
rique, e a Senhora D. Thereza de po, teria muitas occasioens de es
rão a Soure no de I I I I, depois de tar em Cêa; ou as gentes, que en
nelle confirmarem estes Soberanos , tão acompanhavão em grande nu
e tambem D. Gonçalo Bispo de Coim mero as Alçadas dos Ministros da
bra, Pedro Corrêa, Egas Moniz, e Justiça ; ou finalmente os mesmos
outros Grandes Senhores, seguem Ecclesiasticos, que por aquelle tem
se os Concelhos de Monte mór, e po vivião, como se não houvessem
de Soure, & Scola Comitis. Doc. de promettido a Deos o serem puros,
Thomar. E no que estes mesmos e castos. E a toda esta gente da Er
Senhores derão a Coimbra no mes eola, assim como aos Cavalleiros, e
mo anno se lê: Qui praesentes fue Peoens, era promettido o tratar des
runt : Omnis Scola Comitis, Óº omne honestamente com mulheres, e man
Concilium de Colimbria. Doc. do Ca cebas, com tanto que ellas livremen
bido da mesma Cidade. te consentissem, e se lhes não fizesse
Dos Palacios passou o nome a violencia alguma contra a sua vontade.
todos os Magistrados, Ricos-Homens, Os mesmos Povos enutridos entre .
Maiorinos & c. que se suppunhão mais os Sequazes de Mafoma, parece se
bem instruidos , e educados nas não escandalisavão dos Clerigos te
Côrtes, e debaixo da inspecção dos <rem filhos.V.Reçam II, e Aberregaar.
Principes. E finalmente a todos os E para me não dilatar em huma
Ecclesiasticos, que antigamente se cousa tão frequente naquelles dias
** ** QQ ii de
3o8 SC. SC*
de barbaridade , e cegueira , comº soltura das paixoens dorordenadas he o
clúo com dizer , que só o Adulte caracter do homem!... Dementados!
rio , o Rapto, a Força, ou violencia infelices , e que já tendes naufra
erão castigados; não havendo por gado na Fé! Dizei-me : se a con
então penas em uso contra os que junção do homem com a mulher he
voluntariamente se amigavão, fosse de Direito natural : a mesma rasão
com matrimonio, ou sem elle. Bas illuminada não está dictando, que
tará reproduzir como de passagem, esta se regôle , segundo as leis,
o Foral de Santa Cruz da Villariça que a decencia prescreve, que a so
de 1 225, no qual se vê a praxe, e ciedade requer, e que toda a bem
disciplina daquelle tempo. Diz as ordenada Republica chegou a esta
sim: Et qui filia aliena levaverit... belecer?... Mas para que he cantar
&º ilía non fuerit de sua voluntate, ad a surdos, ou mostrar a cegos os a
ducant illam ad medianedo: Ó si fue brilhantados raios?... Depois da re
rit ad suos parentes, pe&iet CCC. soldos, volução de tantos annos, e Secu
é º exiat inimicus. Et qui mulier aliena los, em que os Habitadores do nos
levarit, prendant illos ambor, & mit so paiz viverão de mistura com os
tant illos a suo marito, Óº faciat illis Mahomeranos, que muito perdes
inde sua voluntate. Mancipia, quae fue sem em grande parte o horror, que
rit pedida, é º rogada , & altero se acompanha as acçoens deshonestas?
trameter, &º levaverit illa persua vo Não succedeo o mesmo ao Povo de
Juntatê, non coligant illa suos paren Deos: Comixti sunt inter gentes, ó:
tes, sine plaser de lo Esposo. Etsi co dedicerunt opera evrum?... E doen
lerent, pe&ient CCC. soldos, & septi tão grave, e tão dilatada, podia-se
mu a Palatio, e exiat inimicos. Doc. curar humanamente em poucos di
de Moncorvo. Daqui se vê, que só as ?... Apparece de repente o Sol
o Adulterio experimentava a espada no meio da mais tenebrosa noite?..
da lei, e não o Consentimento livre, Não vai progressivamente a luz dis
ou para casar , ou para viver em sipando as ennoveladas trevas ?..
•• • • * • • •

mancebía. ………… … : :: : Pois da mesma sorte a nossa Legis


- “Mas nem daqui se podem valer, lação precisou de largos annos, pa
e apoiar os libertinos torpes, e ani ra chegar á perfeição, em que ho
maes immundos, que como deses je a vemos , e se ainda prescinde
perados se entregão hoje a tudo o desses ajuntamentos simpleces,e que
que he luxuria, e devasidão; cor não inquietão os Povos: não appro
<rompendo com suas obras, e pala va com tudo, mas antes rigorosa
vras as almas de carne, e sangue; mente castiga, os Herejes da Fé,
fazendo dos Membros de J. C. e da razão, que afirmão ser licito}
membros da meretriz; exhortan o que o mesmo Autor da natureza
do-se mutuamente a não deixar tem declarado ser torpe, e desho
prado, nem floresta, em que o nesto. , , , .……. " " …
- *\
…o:
bruto da sua torpeza não passee ; * SCÓLFITO. Varoscolfito, que
"esquecidos de que os seus corpos tem algum lavor, ou scultura Ant.
são Templos do Espirito Santo, e SCOLHEITA. Escolha. V. Jos
* * *
"atrevendo-se a dizer contra a Fé, e tegar. * * * * * * * # : ~
"contra
&#3 |
a razão # a liberdade; e º SCOLHENÇA Escolha. P?
2
** #">
SC •

SE 309
da Cam, secular do Porto de r343; }a-Cara-se acha hum 4 fol. 94,
. SCOMUNGADOIRO. Mere '. feito no de 1536, a 26 de Qu
qedor, e digno de ser excomunga tubro pelo Prior Crasteiro, e Co
do Cometeo sacrilegia, e he sacrile negos, dizendo que estava a Sé-Fa
go, e comungadoiro. Doc, da Univ. gante. E com efeito, estava o Mos
de 1445. - - ! teiro vago, porque era falecido o
{ SCONDONDU,US.Escondido, Bispo de Safim, D. joão Sutil 3 no
sonegado. Per que soubessemos bem, Abril do mesmo anno, e se não ha
e dereitamente os vossos Regaengos, e via provido de Prior. E ou fosse
ºs vossos Foreiros per todo termo de por isto, ou porque este Mosteiro
Kouga, os quaes som scondondus, e en tem jurisdicção, quasi Episcopal no
halheados, e malparados. Inq, d'El seu Izento , estava, vaga a Sé de
Pei D. Diniz, Doc, de Grijó, -- -- Grijó. Em Santa Cruz de Coimbra
- SCULCA. V. Arricaveiro, e Ata se acha See Vaguante no de 1541,
laya II. - - - : : : : :: ……… segundo hum Doc. da Unv. A mes
. SECUNDA, ou Segunda. Assim ma razão de Grijó militava em San
chamárão ao milho, e painço, por tº QRiº, , ,,, , ,, . .
serem a 2. especie do pão, sendo a ; SEE. Está. Terceira pessoa do in
1.° o trigo, cevada, e centeio. V. A dicativo do verbo Seer, que igual
tuno. Seis quarteiros de pam secunda. mente faz no inperativo Segaa, se
Doc. das Bentas do Porto de 1246. ja eu. * . * . * … …,
Nos Doc. de S. Pedro das Aguias há º SEEDA. Assento, banco, lugar,
larga menção de Teigas de segunda; posto, e tambem estada, ou jazida,
e de Moinho alveiro, e segundeira, E os que tinhão arrendados os açougues
ainda no de 1616. * # : ; ; , ), º alqueiavão essas reedas a pessoas asi
s : SEARA. Não só se tomou por nadas, e nom deixavam by outrem reer,
huma terra de pão, ou de vinha; se nom esses, a que as alqueiavam...
mas tambem por toda, e qualquer E quanto da reeda nom dem nada. Cap,
propriedade, fazenda, ou perten Espec. de Santarem..…… # > −s,
ça de herdade. Duos molendinos (qui SEELO DAS TAVOAS, Ha
molendini runt reara nostri Monaste vendo ElRei D. Diniz terminado as
rii) devetis preparare, & adubare; contendas, entre D. Orraca Afon
taliter, quod posint molere, é º totace so, (sua meia irmáã) e seu genrº,
veira nostri Monasterii deber esse si>
sobre os bens que havião sido de Pee
me maquia. Doc. da Univ. de 1285. dre-Annes seu \marido, já defunto}
SEDENHO. Cilicio de sedas as: todos os Documentos , e razoens)
peras, duras, e mortificantes. Foi que sobre este negocio se havião
achado que morreo virgem, e com hum processado, mandquiseelar do teu-se
sedenho cinto à carão da carne. Pína, elo das itavoas, e guardar. Doce de
Chron. do C, D, Duart. de Meneses Tarouca de 133#, ºvo e; e , 8 :
-C. II,2, … ::… ….…… :o) - 2:22, …irrº SEENDA. Pode duvidar-se, se
SEDERENTO A Séquioso,se. esta palavra vem da Larina Sedes ,
iosa. E ai… …º tro o ofi ºs habitação, casa, ou assento, se de
. SÉ-VAGANTE. No Mosteiro de demita, atalho, verêda, ou caminho
ijó se dizia Sé Vagante, quando estreito, quasi-semi-iter. Na Relaçãº,
não havia Prior. No T, IIc dos Prazºs ou seja Chronica, da tomada de Lisboa
<\'\{\
* por
3 Io SE SE
por ElRei D. Afonso Henriques, Coimbra a f 96. se achão estes dous
que se guarda em S. Vicente de fó termos judenga, e Segitorio, cuja in
ra, se diz, que o Cabido, e todo o telligencia pende das suas formaes
Clero, disserão a huma voz, que palavras, que são estas: Os ferrei- .
ElRei havia conquistado aquella ros, e serralheiros da Cidade, e termo
terra aos Mouros com ajuda deIDeos, ham de dar o Segitorio bem concertado,
e deu voz , seenda, e morada da San e huma bandeira, e bam de bir a pola
ta Egreja. Parece quizerão dizer , Judenga, e elles ficam a traz do Segito
que estando, havia muitos annos, arre rio em percissão. No de 15 17. se es
dada daquella terra , acantonada , e creveo este Doc. em que parece se
muda a Fé de Jesus Christo, e a voz toma o Segitorio por huma figura ar
do seu Evangelho tão sonóra, e grave, mada de settas ( quando não fosse o
que havia retumbado nos cabos da ter andor de S.Sebastião, a quem pelas
ra; agora exalçou sobre aquella Cidade settas darião aquelle nome) e a Ju
a sua voz de magnificencia, adquirio denga era sem duvida dança de Ju
nome, titulo , esplendor , e respeito; deos, ou a figura da Santa Judith,
não só por entre os Christãos , que a mui propria do Misterio.
professavão, mas tambem dos Sarra SEGLAAES , Segraaes, e Sse
cenos, que então, e depois ali se ba graaes. O mesmo que seculares.
vião de converter : que o mesmo Rei Doc. de 1 3o7. e 1 33o.
abrio caminho plano as conquistas, que SEGUNDEIRO. Moinho, que
a Lei Santa dali havia de fazer entre moía centeio, e milho. Huma casa
as gentes mais distantes do aprisco do com dous moinhos, hum alveiro, ou
Redemptor: E que finalmente ali esta tro segundeiro. V. Secunda.
beleceo o Assento, e Morada da Re SEGURAR o rosto. Levantar a
Iigião verdadeira; fundando repetidos cabeça, fitar os olhos, e por-se em
Templos de huma gloria sempiterna so accção, de quem escuta, e attende
bre os destroços, e ruinas do Alcorão em silencio, com gravidade, e res
torpe de Mafoma. O Hespanhol diz peito. Os Cidadaoms enleados de sua
Senda, por entrada, ou caminho. proposiçãn, sabendo que era homem
SEENTE. Sendo, estando, o que de autorydade, cessáram de suas pra
está em alguma parte , o que está ticas , em que estavam, e seguráram
presente. Seente hipresentes D. João os rostos, e as vontades pera o ouvir.
Peres d'Alprăm Dayam, Maçam Paes Chron. dº ElRei D. Duarte c. 5o.
. Chantre, Mº Martinho & c. Doc. da SEIDAS, ou Sseidas. Sahidas.
Cam. secular de Viseu de 13o4. Doc. de 1338.
SEER. Ser, ou estar sentado. SELHOS. A.S. O mesmo que
Scendo, ou estando, isto he, sentado, Senhos, e Senhas.
ou em pé. Doc. das Bent. do Port. de SELLADA. Portella, lugar mais
1318, e no Cod. Alf. L. III. Tit. 53. baixo, e abatido de huma serra, ou
. 5- -

eminencia, por onde corre a estra


s SEGAA. V. Séé. da, e se passa de huma a outra par
SEGUNDA. V. Secunda. . . te. De terem estes sitios alguma se
SEGITORIO. No Regimento melhança com as sellas ordinarias,
da Procissão do Corpo de Deos, que que entre os arçoens são abatidas,
se acha no L. das Posturas da Cam, de se disserão Selladas. Mandou, que º
|-
*
agu
SE SE 31 I
aguardassem em huma sellada, que se ginal da Camara de Viseu. E por es
ali faz. Chron. do C. de D. Pedro tes, e outros muitos Doc. somos
L.I. c. 5o. • •

precisados a dizer, que Sem, ou O


SELLO DO JUIZ. Mandado, sémera o mesmo, que Senso, ou Sen
ordem, ou bilhete citatorio do Juiz, tido. Em hum Doc. de Santiago de
firmado de seu proprio punho, ou Cacém de 15oo. acho João Acenso,
sinal. Em alguns Foraes se chama sobrenome mui frequente naquella
Sinal, ou Signal do juiz. No de Viseu Villa, e por aquelle tempo. O que
de 1 187. se diz: Cavallarii, & Cle não tem duvida he, que antigamen
rici, ó Pedones, & mercatores, ó" te foi muito usado entre os homens
mulieres non sint capti aliquo modo, o nome de Accense, e depois Assen
meque roubati intus Viseum, meque fo sio. E bem pode ser, que daqui se
ris; sed si aliquam fecerint calumpni contrahisse o Sensu , Acensu, Sem,
am, detur sigillum judicis, & ve e Orém.
niant ad Concilium , & judicentur á SEMEAVEL. Semelhante. Doc.
Bonis hominibus. L. dos For. velhos. do Seculo XIII.
No de Evora de 1 1 66: Qui non fue SEMEDEIRO. Carreiro, atalho,
rit a signal de judice, Óº pignos sacu caminho estreito, e compendioso,
diret ad saiom, pectet C. fol. adjudice. mas só para gente de pé. Et fert ad
Ibidem. No de Abiul de 1 176: ju semedeiro velo. Doc. de Tarouca de
dex honorem debitum habeat , cº" suum 124o. Vem do Latino. Semi-iter.
signum stabile sit. Doc. de Lorvão. Tambem se acha Semideiro.
M. Sigillar. SEMEL. Descendencia, poste
SEM. O mesmo que não. Tirou ridade, filhos, netos, &c. vem do
ruas testemunhas nesta Cidade , sem Latino Semen. Elle declarava, que
declarando , onde queria fazer sua mancando semél no postrimeiroPadrom,
prova. nom era contente , que ouvesse nella
SÉM. Sobrenome, titulo, ou al outro Padrom, que o Bispo. Fundação
cunha de familia, que se acha com de Penaguião de 1 191. nos Doc. da
frequencia desde o Sec. XIV. até o Tor. do T.
XVI; ficando-nos a duvida do que SEMELHAR. Parecer, repre
se entendia por Sem, ou Orém nos sentar. Doc. de Pend. de 1322. Da
Doc. seguintes: Em huma Provisão qui Semelhavel, parcido, represen
d'ElRei D. Afonso IV, dirigida a tado, semelhante.
Pero do Sem, se acha elle assigna SEMELHAVE. Semelhante, pa
do no fim della, e por este modo: recido Doc. de S. Christovão de
Petrus de Sensu vidit. Em 15. de No Coimbra de 1 315.
vembro de 1438. fez dar ElRei D. SEMENÇAR. Ponderar com in
Afonso V. do L. das Hordenaçoens da enho, e subtileza.
Chancellaria, aos da Cidade de Vi SEMENTAR. Semear, e afru
seu, o Cap. 19. das Cortes de San tar huma terra, ou casal. E que vós
tarem de 1434. pelo Doutor joham adubedes , e aproveitedes, e semente
d'Orem, do seu Conselho, e seu Chan des as herdades do dito casal, e alque
celler Módr, que asigna deste modo: evedes: e me darédes de renda em cada
Johañes de Sensu, Legum Dočior. huum anno seis quarteiros depam mea
Assim consta por hum Doc, Ori do, ametade trigo, e ametade
* *
"… 6
•4

312 SE SE
de XIV, alqueires o quarteiro. Doc. de &º successores vestri, secundum quod
Tarouca de 1443. potueritis: E por morte d’ambos, fi
SEMICHAS, e Ssomichas. Hu caráõ livres ao Mosteiro, Ad tole
ma canada mais em almude. Seis al rantiam Fratrum cujuscumque Ordi
mudes de vinho molle á bica do lagar nis fuerint, Deo servientes , in San
com suas ssomtchas. — Oito almudes éiam Vitam perseverantes.E depois das
de vinho com suas semichas. Prazos imprecaçoens mais horriveis con
de Vairám de 1528. e 153o. tra os refractarios, concluem : Et
SEMIDEIRO. V. Semedeiro. insuper redat ipsis Senioribus Loci duo
SEMPLE. Sempre. Doc. das Sal auri talenta, ó D. modios, & Regiae
zedas de 1287. Potestati aliud tantum, ó"judicatum.
SEMPREMENTE. Simplesméte. Já, V.Passaes, vimos como este Mos
SENHOR. He mui frequente no teiro não só era de Conegos, e Mon
femenino até o Sec. XVI. Presente ges, mas ainda Duplez, segundo a
mim Vaasco Lourenço , Tabaliom da disciplina daquelle tempo. Isto se
confirma pela Doação de certas fa
dita Senhor Rainha na dita Villa.
SENHORES, ou Seniores. De zendas em Nogueira, que D. El
pois de se haver tratado com tanta vira Nunes fez a Grijó no de 1 133,
erudição do Titulo de Dom, não só e no 1. de Fevereiro ; declarando
por Blut. nesta palavra; mas prin que este Mosteiro estava fundado
cipalmente pelo A. das Memorias Territorio Portugalensi, Terra Civita
para a Historia d'ElRei D. João I.: tis S. Mariae, e que dellas se utili
pareceria quasi impossivel descobrir zassem os que ali a Deos servissem,
alguma cousa a este respeito, que a saber Presbiteri, Monachi, Diaco
até hoje não fosse vista, e exami ni, Clerici, Fratres, Deo-Vota. E a
nada. Com tudo nos Doc. de Grijó todos estes se dava o tratamento de
se achão não poucos , que dão o Dom debaixo do titulo de Senhor.
tratamento de Senhores , ou Senio SENHORIZAR. Fazer Senhor,
res aos Conegos, e Monges, que dar o governo, e poder a alguem.
ali vivião. E sendo certo, que Se Senhorizar seos parentes, e collacía,
nhores corresponde ao Latino Domi isto he, dar o seu poder aos seus
ni, se manifesta, que o Dom presen parentes, e aos que forão seus col
te, que se dá aos Conegos Regran laços, e criados com elle desde me
tes, he abreviatura do Senhor anti ninos. Doc. do Seculo XV.
go, com que os nossos Maiores os SENHOS. AS. Seus, ou suas, ou
distinguião. VTerço, e Quinto. Ago cada hum seu, ou sua. Vem do La
ra ajuntarei somente , que no de tino Singuli, v. g. senhos colmeiros,
To81 Egas Fruilaz ( ou Forjaz) e senhas vaccas , cada hum seu col
sua mulher Gudina Paes , deixarão meiro, cada hum sua vacca. V. Chu
por sua morte a Grijó certos bens maço.
em Nogueira, os quaes elles des SENOGA. V. Cinuna. -

frutarião em sua vida, como colo SENOS, AS.O mesmo que Senhos
nos, ou caseiros, pagando as suas e Senhas. {
pensoens, e não os podendo de SENRA. Chamárão os nossos.
qualquer modo alienar , acrescen antigos Seára, não só aos paens,
tando: Et nós habeatis ad honorem, vós, que estavão semeados, ou …? C
SE SE 313 |
de serem colhidos ; mas ainda ao grados, e principalmente do Santo
terreno habil para nelle serem seme Sepulcro, gasalhado, segurança,
ados. Nos Doc. mais antigos de La e amparo dos peregrinos , que á
mego se chama Senra do Bispo , o Cidade de Jerusalem se encami
que hoje se chama a Rua da seára, nhavão , fosse instituida a Ordem
porque antes que os Bispos de La chamada do Santo Sepulcro , com
mego a fizessem povoar ( como se posta de Cavalleiros, e Conegos,
diz nas Inquir. Reaes dº ElRei D. Af estes para os Divinos Oficios, a
fonso III. ) nada mais era, que hum quelles para as armas, quando a ne
campo raso, e mui proprio, e ca cessidade o pedia: que esta Ordem
paz de nelle se fazer seára de pão. se distinguia da dos Templarios, Hos
No de 933. doou ElRei D. Rami pitalarios, Teutonicos, e de S. Laza
ro II, a Lorvão duas partes da Vil ro : que principiasse já naquelle
la de Alvalat, Óº de sua senra (isto tempo , que os Sarracenos ganhá
he, do seu campo ) ut sit pro sur rão a Cidade Santa aos Imperado
tentatione vestra, seu hospitum paupe res da Grecia: E que os dous pri
rum, Óº perigrinorum, Óº propter re meiros Reis de Jerusalem (conquis
medium animarum nortrarum. L. dos tada no de Io99 ) Gotfredo, e Bal
Testam. N.3. Nas Copias autenticas duino, lhes concedessem largos Pri
de Lorvão se diz Serra, estando no vilegios, de que nos informão os
Original Senra, que he contracção indicados Autores, e outros, que
de Senara, ou Senaria. |
elles nos accusão: o que mais inte
SENTIDO. Sentimento, dor, ressa a nossa Historia são os Doc.
aficçã. E tambem o mesmo que incontestaveis, anedoctos, e mes
Malsentido. Doc. do Sec. XV. mo por acaso descubertos, que nos
SEPOSIÇAO. Empenho, ou su mostrão esta Ordem companheira
plica para conseguir alguma cou das do Templo, e Hospital na en
sa justa , ou injusta. V. Inmissão, trada, que fizerão em a nossa Mo
e Supositas. narchia , que sem duvida foi nos
SEPULCRO. Assim chamárão ultimos annos da Piedosissima Rai
á Ordem Militar, e Canonica do San nha D. Thereza, e por conseguin
to Sepulcro , que antigamente foi te antes de 1 129, ou II 3o , em que
vista, e recebida em Portugal. E ella falleceo.
como em alguns dos nossos Docu Esta Soberana , pois, fez Doa
mentos, e principalmente nas In ção aos Conegos da Ordem do
quiriçoens Reaes, se achão mui Sepulcro do Senhar, das Villas, de
tas terras, Igrejas, Villas, e Ca S. Payo de Gouvêa (hoje S. Payo da
saes, que se diz erão do Sepulcro; Serra) da qual fez Couto á mesma
não serei digno de censura se de Ordem ElRei D. Affonso Henri
pois de tantos, que desta Ordem ques: da do Ladairo (que lhes cou
tratárão, eu disser tambem, como tou ElRei D. Sancho I.) e mui pro
de passagem , alguma cousa para vavelmente da de Paços de Penalva,
instrucção dos presentes , e vin e outras Mercês, que o tempo nos
douros. invejou. Assim consta das Inquir.
Nenhuma duvida se nos ofere que no de 1258. fez tirar ElRei D.
ce, que para guarda dos LugaresSa Affonso III. nas Terras,
• T e Julgados
de
Tom. II.
314 SE SE
de Cêa, Gouvêa, e Viseu. O exem f. 1. No de 1 13o, havia naquelle
plo dos Principes foi logo seguido Mosteiro Conegos com o seu Prior;
dos vassallos, e assim por Doações, como se vê pelo contrato, ou con
e Compras chegou a ter a Ordem do venção, que no mesmo anno se fez
Sepulchro largas fazendas em Gou entre D. Ugo, Bispo do Porto, e o
vêa, Satam, Penalva &c., e mes Prior, e Clerigos de Santa Maria de
mo algumas Igrejas, e outros be Agoas Santas , sobre o fantar, ou
nesses , que das mesmas Inquiri Parada, que aquella Igreja, ou Mos
!coens claramente se colligem. (*) teiro lhe devia pagar ; de que se
Introduzidos assim neste Reino pode ver o Catalogo dos Bispos do
os Conegos do Sepulcro (pois dos Ca Porto Part. II. Cap. 1. Se pois antes
valleiros da mesma Ordem não te de 1 129 havia em Portugal Cone
mos hum só Documento ao menos, gos do Sepulcro : e no de 1 1 3o não
que nos persuada nelle a sua exis existião ainda em Aguas Santas :
tencia) não se estabelecerão desde será preciso nos digão , onde era
logo no Mosteiro Canonical de Agoas a sua residencia. E como por hu
Santas; mas sim em Villa Nova de ma parte se não descubra lugar al
Penalva, que por isto se disse Vil gum fóra de Penalva: e por outra
la Nova do Sepulcro. Ficava ella so se achem ali, e na Torre do Tom
branceira, e na margem do rio d'Om, bo indicios, e provas , que desde
na Freguezia de Trancozello (a logo ali residirão: forçozo he con
nexa hoje á do Castello de Penal fessarmos, que ali foi a 1.° Casa,
va) onde permanece a Igreja, que que entre nós occupárão.
mostra a mais avançada antiguida Porém depois de alguns annos,
de, e os vestigios bem claros do e talvez já no Reinado de D. San
Convento, em huma grande quin cho I. , , elles se estabelecerão no
ta, pertença da Comenda de Cezu Mosteiro de Aguas Santas. Assim
res, e onde até os nossos dias se consta da Escritura original de Vi
tem conservado sem interrupção al seu, de que se fez menção V. Loi
guma o nome de Mosteiro. Mas in tosa, e cujo final, por interessan
dividuemos isto. Prescindindo de te, aqui reproduzimos:
quem fosse o Fundador, ou Res Facta Carta mense Octobris E.° M."
taurador do Mosteiro de AguasSan CC.º XX.º IIII.º
tas: he certo que elle existia com Qui presentes fuerunt, & viderunt:
moradores no de 1 12o ; pois he Ego Johanes Visensis Episcopus Of.
hum dos expresamente nomeados Ego Fernandus Prior Of
na Bulla de Calixto II. deste anno, Ego Gunsalvus Cantor Of
e aos quaes se manda, que obede Ego Pelagius Presbiter 2f
gão, e paguem os Direitos á Cathedral Et omnes caeteri confirmant.
do Porto; como se lê no seu Censual Ego Egeas Prior de Aquis Sanctis Of
Ego
(*) . No de 1 123 doou D. Emisu Trastemeriz (que se chama exigui, indign4 F#
mula Dei), ao Mosteiro de Pendorada certas herdades, que ganhára, com seu marido D
D.
Egas Mendes; eceptis inde illa, que testavimus a Sancto Sepulcro. Doc, de Pend. Era
viuva naquelle tempo esta Serva de Deus : estando ainda com seu marido fizeráo de }
mão commum Doação de huma herdade aos Conegos do Santo Sepulcro: e porque nãº
seria antes
Thereza parade inrroduzir-mos
112o?... Não esperemos
a Ordem dologo pelos ultimos
Sepulcro annos da Senhora Rainha D.
nesta Monarchia. •
SE SE 31j
EgoTempli.
Fernandus Monacus , Canonicus
• Of foi taxado na forma seguinte:
It: Mõn de Aquis Sanctis. CCCC;
Et caeteri Canonici Templi confirmant. livras: é pro eis, que habet in Dio
Existião pois, em Agoas Santas ceri Visensi. CC. XXXVII. It : Colle
no de 1 186 os Conegos do Santo gium dicti Monasterii. C.
Sepulcro, que aqui se intitulão do Ora, pelo Mosteiro se entende a
Templo; pois nelle he que se guar Collegiada de Agoas Santas, onde os
da o Sepulcro do Senhor, para cujo Conegos vivião em commum. V.
serviço elles forão instituidos, e Mosteiro. Pelo que tinha no Bispa
só de secundario, como dizem, he do de Viseu se entende tudo o que
que nesta Ordem entrárão os Ca pertencia ao Mosteiro de Villa Nova
valleiros. O contrario disto se vio de Penalva, em quanto não foi uni
na dos Templarios, que destinados do, e mudado para o de Aguas San
para guerrear os inimigos da Cruz, tas. E finalmente pelo Collegio se
e não tendo mais que algums Frei entende o Mosteiro, ou Recolhimen
res Sacerdotes para serviço , uso, to das Conegas. V. Du-Cange V.
e administração das cousas Santas, Collegium. E que tambem por aquel
elles se chamão Guardar, e Defen les tempos se chamassem Collegios
sores do Sepulcro do Senhor, na Doa os Mosteiros de Santa Clara, cons
ção do Ecclesiastico de Santarem, ta do Himno, que se canta nas Lau
que ElRei D. Afonso I, lhes fez des do seu Oficio. Custos Sacrarum
no de 1 147 por estas palavras: Ego Kirginum, Omni uirtute praevia, Du
Alfonsus ... incipiens iter meum ad cis ad Sponsum Dominum Puellarum
illud Castellum , quod dicitur Santa Collegia. O tempo, que tudo acaba,
rem... Votum vovi, quod si Deus... illud e apouca afeição a Prelados Estran
mibi atribueret, omne Ecclesiasticum geiros, extinguirão este Mostei
darem Deo, Óº Militibus Fratribus ro, e o seu Collegio; e unido tu
Templi Salomonis, constitutis in Ihe do , pelos fins do Seculo XV; ou
rusalem pro defensione Sancti Sepul mais bem no de 15 5 1 , á Ordem de
cri, quorum pars mecum erat in eodem Malta, se levantou sobre as ruinas
comitatu. Doc. de Thomar. de AguasSantas huma boaCommen
Estabelecidos os Conegos da Or da com 4 Beneficios simplices ,
dem do Sepulcro do Senhor no Mostei ue o Commendador aprezenta.
ro de Aguas Santas , o seu Prior SEQUER. adv. Ainda. Apare
era sempre da Apresentação Real, lhado a ser enfinado, se quer de mo
e a Collação do Bispo do Porto, ço de hum anno. Pina, Chron. do C.
até que no de 1 309 se verificou a D. Duarte. c. 1.
Dimissão, que ElRei D. Affonso SER-PODEROSO. V. Poderoso,
III. havia feito deste Padroado no SERGENTA. Criada, moça de
Prior Mór, do que a Ordem do Sepul servir. V. Sergente. Johana Martins,
cro havia em Hespanha. Já então ha sergenta que foi d'Affonso Domingues
via junto deste Mosteiro Parochial Doc. do Salvador de Coimbra de
hum Recolhimento ou Mosteiro de I396.
Conegas do mesmo Instituto; pois SERGENTE. O moço, ou mo
no de 1312 havendo-se concedido ça de servir, criado, ou criada, mi
hum subsidio a ElRei D. Diniz , nistro , servente, assalariado , e
Rr íi promp
316 SE SE
prompto para todo o serviço de Leigos , com habito Religioso, e
seu amo. V. Scola. No de 1385. o Refeitorio commum, contra a sua
Senhor Rei D. João I. Regedor, e priméva instituição. Nas Consti
Defensor dos Reinos de Portugal, tuiçoens de Thomar de 1326.se diz:
e do Algarve mandou, que os La Ordenamos , e estabelecemos, e outor
vradores, sergentes, e moradores dos gamos, que pera todo sempre haja na
Coutos, e herdades dos Mosteiros de dita nossa Ordem 86 Freires, ao me
Santa Cruz, Santa Clara, Lorvão , nor, como dito be. Dos quaes rejão 71
Semide , e outros dos Mosteiros , e Freires Cavalleiros , guisados de ca
Igrejas da Cidade, e termo de Coim valos, e armas, e os outros (que erão
bra, em quanto durar a guerra, vel 15) serem Clerigos, e Sergentes. E
Iem, rondem, e paguem para fintas, daqui se vê que os Sergentes já por
talhas , e pedidos, pera repairamen estes tempos, em que sobre as rui
to, e afortelezemento da Cidade; não nas da Ordem do Templo principi
obstante os seus Privilegios, que não ou a de Christo, lato-modo se cha
devem ter lugar neste tempo de meste mavão Freires, por terem ração, e
res. Doc. da Cam. Secular de Coim Habito differente dos seculares.
bra. V. Aberregaar. Doc. de Thomar.
SERGENTES. Primeiramente SERIGA. V. Sessega.
Criados, depois Leigos nas Ordens SERNA. Herdade, que se se
Militares, do Templo, de Calatrava, mêa, e tributo , que se paga para
de Avis, e finalmente na de Christo. ella ser cultivada. (V. Senrra.) Ap
No principio erão hums moços, e Bergança.
criados fieis, que servião os Caval SERRA. O mesmo que Serna.
leiros dentro, e fóra dos Conven He do Sec. VIII. IX. e X.
tos, preparavão-lhes as armas, ves SERVIÇAL. Lavrador, mordo
tião-lhas, cuidavão dos cavallos mo, caseiro, homem do campo , e
&c., e estando em casa, cuidavão que trata da abegoaría. E geralmen
do serviço, limpeza, e asseio del te fallando, todo o homem, que ser
la. Havia Sergentes do numero, e via, como criado, ou moço. Servi
outros supernumerarios. Estes não çal, que foi de D. Berengueira. Doc.
erão contemplados, se não confor das Salzedas de 131o. Serviçaes de
me ao ajuste, que se lhes fazia. A Ceuta, os que erão obrigados a hi
quelles tinhão alguma leve distinc rem servir a Ceuta. Doc. do Porto
ção dos meramente seculares: ves do Seculo XV.V. Cerviçaria. Man
tião humildemente , e muitas ve do que o meu serviçal, que tem trin
zes dos vestidos velhos de seus a ta e sete moios de pam, com este re
mos: tinhão sua ração certa, mas novo d'ora. Doc. da Guarda de 1299
frugal: criados em fim de gente Re SERVIÇO, I. Esta palavra an
ligiosa. Com a revolução dos tem tigamente se tomava em muitas,
pos, secularização dos Cavallei e mui varias significaçoens. Hu
ros, e repetidas Reformas, que mas vezes era huma Pensão sabida
com menos prudencia quizerão fa de dinheiro, ou frutos: outras erão
zer dos Freires Monges, passárão os cerras geiras, ou dias de pessoa:
Sergentes a pertender o predicamen tambem se tomava por jantar, cêa,
to de Donatos, e finalmente o de ou refeição honesta, que o …

SE SE 317
lo, colono, ou emphiteuta devia E fazerães a nós serviço. No de 1142.
ministrar em certas occasioens ao S. Paes, Deão de Viseu, deu Fo
Direito Senhorio. Igualmente cha ral aos que povoassem as suas her
márão Serviço ao saguate, presen dades das Gouvêas, e seu termo,
te, e obsequio, que o Direito Se junto a Pinhel com foro do sexto
nhorio esperava da generosidade, de todo o fruto ( além das oitavas
e primor dos seus colonos, que do trigo, e centeio) excepto verças,
tendo obrigação de fazer-lhe este e porros, e frutas das arvores; mas
mimo, não erão com tudo obriga ainda destas, Faciant mihi servitium.
dos em certa quantidade, ou qua Tombo velho da Sé de Viseu a f 9.
lidade da cousa , que havião de Y. E nota o Deão no de 1 142. Em
mandar. E finalmente não só dos fim, nos Doc. de Reciám de 1323.
Mosteiros 3, Igrejas,7 Casaes.2 Cou se lê em huma Carta d'ElRei D.
ros, Reguengos, Prazos, e Conce Diniz : E que agora algums desses,
lhos se pagava Serviço ao Princi qui vinhão bi penhorar por Serviços,
pe, ou Senhorio ; mas ainda os e Comeduras, e por Cavallarias, e Ca
Naturaes, e Herdeiros das Igrejas, e samentos, que dizião, que ende de
Mosteiros levavão delles, ou mais viam aver, come Naturais, e Herdei
bem extorquião , Serviços , Caval ros, non no sendo de dereito. V. Di
reituras. •

larías, Casamentos &c. Desde o tem


pos dos Godos, e Longobardos se SERVIÇO. II. Não se declaran
praticárão estes Serviços, mas com do nos Prazos antigos a qualidade,
o nome de Preces, ou Rogos, Pre e quantidade do Serviço, v. g. dous
cartas , ou Precaturas; pois come frangos, hum carneiro &c.: Cons
çando como por urbanidade, e fa tava o Serviço de hum alqueire de tri
vor, quasi deprecando, passárão de go, e bum de cevada, e huma galli
pois a ser rigorosos tributos, colec nha. Acha-se esta declaração em
çoens, ou exacçoens insoporta hum Doc. de Grijó de 1587.
veis. No 898. doou o Sacerdote Is SERVIÇO. III. Geralmente fal
mael ao Mosteiro de Lorvão a sua lando , por Serviço se entendia o
Villa da Murcella com a sua Igre donativo, obsequio, presente. Os
ja de S. Martinho, e tambem Vil Corregedores não devem receber
larinho, com as suas Igrejas de S. Serviços de pessoa alguma, excepto
Jorge, e Santo Estevão cum suos de seus parentes , caseiros , e fa
dextros , Óº cum suos servitios. Lº miliares; e ainda destes não deve
dos Testament. N. 44. Segundo os passar o serviço de huma marrãa, ou
Doc. da Salzeda , devendo os de de hum carneiro, e mais nom. Vid.
Cimbres pagar annualmente áquel Cod. Alf. L. I. Tit. 23. S. 49. e o Filip.
le Mosteiro hum dia de trabalho, L. II. Tit. 59. in princ.
a que chamão serviço ; hoje pagão SERVIÇO IV. Entre os muitos,
por elle 6 reis, e quatro ceitís; pois e determinados serviços se fazem
tal era o salario de hum jornalei notaveis 1º O serviço do Pasquo
ro naquelle tempo. Em hum Prazo ello, que se pagava pela Paschoa.
do dito Mosteiro de 1263. se diz: 2º O serviço do Penticoste, que se
Et debetis facere servitium D. Abbati pagava pelo Espirito Santo. A sua
pro posse vestro. Em outro de 1278: natureza consta deste Doc. de Pa
$Q
318 SE SE
ço de Sousa de 1529: E treze ho não fazem aproveitar, e valer. Aos
meens sabudos pera qualquer serviço, Almoxarifes pertence hoje seme
que os nós quisermos... E os serviços lhante inspecção, segundo a Orden.
do Pasquoello, que befogaça de al do Reino L. IV. Tit. 43. Antigamen
queire e meyo de trigo, e bum cabrito, te erão Sesmeiros, os que ElRei
e oito bilhós. E os serviços do Penti destinava, para darem as ditas pro
coste, que befogaça dº alqueire e meyo priedades de Semaría, outras vezes
de trigo. permittia aos Concelhos o nomea
SERVIÇO Sanhoaneiro. V. Sa los.. A origem deste nome parece
mboaneiras. Cá era neta do Chantre D. que se deve procurar em Sesma (ho
Gonçalo Mendez de Lamego : e que je Sesmo) que era a sexta parte de
era custume entre os Filhos-dalgo, que qualquer cousa. E como estas ter
filho, ou neto de Clerigo nom á porque ras se costumavão dar com foro ,
erde Serviços Sanhoaneiros. Doc. de e pensão de sexto, ou de seis hum ,
Pend. de 1 333. daqui se disse facilmente sesmaría,
SESEGA. V. Sessega. Em muitos e sesmeiro; e tambem sesmo, sitio,
Doc. do Sec. XIV. se tomava por termo, ou limite, em que se achão
assento, ou terrado, não só de qual estas terras, assim dadas de sesma
quer edificio, mas tambem das ar ría. Na certeza de que não será de
vores. No de 1 275 se venderão 9 sagradavel aos zelosos do bem pu
castanheiros, cum suas sesegas. Doc. blico , vamos reproduzir algumas
de Arnoia. A Provisoens Reaes a favor da lavou
SESERIGO. Assento, planicie, ra, a quem sempre respeitavão as
e o mesmo, que Sessega. V. Tem sesmarías; não só para que o tem
preiros , em D. Gualdim,
• po inteiramente as não consumma;

SESMARIA. Assim chamárão a mas tambem para que se lembre o


datas das terras, casaes, ou pardi empenho dos nossos Fidelissimos
eiros, que estão em ruina, e des Soberanos pela felicidade dos seus
aproveitados, e que os seus Direi Póvos. (*)
tos Senhorios, depois de avisados
No
(*) ElRei D. Fernando considerando como por todas as partes do Reino havia des
falecimento de mantimento de trigo, e de cevada, de que antre todalas Terras, e Provinci
as do mundo, era d'antes mui abastado ; e que o seu preço tinha subido tanto, que os
seus Vassallos não podião haver estas cousas sem mui grande desbarato do que ham: o que
tudo nascia de as terras, vinhas, e olivaes se não agricultarem como devião: fez a San
tissima Lei das Sesmarias, em que muito favorece os Lavradores, e obriga os ociosos,
e vagabundos, Ermitaens, e pedintes, que podem trabalhar , a tomar oficio de pro
veito, ou servir por seus justos salarios a quem delles precisar. Igualmente determina
que ninguem tenha rebanhos de gados senão para as suas lavouras, e não para vende
rem os estercos, como fazião alguns, que não erão Lavradores. ElRei D. João I. não obs
tante 2 que de algum modo favoreceo os pedintes, confirmou com tudo as Sesmarias. Cod.
Alf. L. IV. Tít. 81. per tot. Neste mesmo Liv. Tit. 29. e S. 1o. 13. e 18. se determina: que
os Lavradores, que lavrarem, devem ter mancebos, e serviçºes da mesma sorte que os Ca
valeiros; Escudeiros, e Cidadãos honrados: que sendo os # velhos, e doentes que se
não possão servir, se lhes não tire o filho, que segundo todo o direito, e razão os deve
servir, e amparar. E finalmente: Praxa ElRei, que a cada hum Lavrador leixem hum filho
que o ajude, e lho não costranguam, que sirva com outrem, ainda que seja na guerra. Na
mesma Ord. L.I. se favorece repetidas vezes a preciosa, e inocente lavoura: No Tit. 23.
.S. 16... e 17. se recomenda muito aos Corregedores das Comarcas, fação como as herda
des sejão lavradas, e as vinhas adubadas, como achar que he utilidade da terra, e faça
ter;bois aquelles: que os poderem ter , e servir com amos os que são capazes para isso,
SE SE 319
No L. dos Registos da Camara de Pinhel T. r. e af: 234. Y. se acha a seguinte:
D. foão por graça de Deos Rei de Portugal, e dos Algarves, Senhor de
Ceuta: A vós fuizer, Vreadores, Procurador, e Homens-boms da nossa
Killa de Pinhel, e a outros quaesquer Oficiaes, a que disto o conhecimento per
tencer, por qualquer guisa que seja , a que esta Carta for mostrada, saude.
Sabede, que vimos a Enformaçom, que nos enviastes, em que era contbeudo,
antre outras couras: Que em essa Villa, e arrebalde , e termo della, bavia,
e há muitos pardieiros, e cortinhais, que há grandes tempos , e annos, que
nom som, e nom forom aproveitados : e isto por serem d’Ordens, e de outras
#
pessoas, que os não querião, nem querem # pela qual causa os vezi
nhos de junto com elles recebião perda , e dano: E que outro si, antre as vi
nhas do sesmo dessa Villa , e termo havia, e há algumas terras, que já em
outro tempo forom vinhas, as quais havia 2o., 3o, e 45 annos, e mais, que nom
fo
e não tem tanto de seu, que devão ser escusos: e que fação inquirir as causas porque se
despovôão as terras, e o melhor modo como se podem povoar, e fazelo assim cumprir.
E no Tit. 24. S. 11. se ordena , que na residencia dos Corregedores se inquira, se elles
forão negligentes em promover a Povoação, e Agricultura. No Tit. 1o. Havendo-se dito
que os Vereadores ponhão vereação sobre os mesteiraes, e jornaleiros, e mancebos, e mance
has de servir, e sobre tudo o que se compra, e vende : exceptúa logo pam, e vinho, e
guandos, que os Lavradores bam de sua colheita, e criança, que cada hum pode vender aa sua
vontade. Isto mesmo determinou ElRei D. João III. para animar a Agricultura. E final
mente no Alvará de 21 de Fevereiro de 1765, se declara, que os frutos do Lavrador não es
º tão sojeitos à taxa. No Tit. 63. se declara, como os Lavradores são para manter a terra, e
os Nobres para defendella. E finalmente nos Tit. 68. e 69. repetidas vezes declara ElRei,
que não devem ser Bésteiros do Conto os que forem Lavradores, ainda só com huma junta
de bois, e ainda que usem de algum Oficio, com tanto que deste não usem a maior parte
do anno: e que se algums destes forem recrutados sejão logo riscados do Livro. Eu abusaria
de todo o sofrimento se agora referisse as Sabias Providencias, e dominante paixão, que os
Monarchas Portuguezes mostrarão sempre pela Agricultura do seu Paiz, e o quanto esti
marão, e favorecêrão as gentes do campo; não ignorando ser este o nervo , ou móla
Real, que dá vigor ao Estado, e faz ricas, e florentes as familias. Veja-se entre as Mem.
de Literat. Port. da Acad. Real. Tom. II. f. 3. a que serve para a Hist. da Agricultura em Por
tugal, e nella se acharáó as provas mais decisivas desta verdade. Oxalá fizera ella a impressão
forte que devera nos que devião exterminar a ociosidade, promover a Lavoura, e impe
dir, que tão grossas quantias desembolsadas nos deixassem pobres, para enriqnecer-mos
talvez os nossos inimigos? A Filippe III. representou a Camara de Thomar entre outras
coufas: Que os campos do Reino vão areados, e não lhes acodindo a agoa a seus tempos, como
ordinariamente acontece por nossos peccados, não dão nada ; e padece todos os annos o Reino fo
me, que se remedea com o pão, que vem de França , e outrás partes; a troco do qual levão
deste Reino mais de 5cc3cco,cruzados, que he hum tributo necessario, que se não pode escusar
Assim consta do seu Archivo. Mas se já naquelle tempo remedeavão os Portuguezes o
mal da fome a tanto custo: hoje, que a vida inutil, ociosa, e folgazáa tomou posse até
dos mesmos camponezes, que desembolso não será preciso, sendo hums 3o tantos mais
caro o pão, que não era no tempo dos Filippes ?..
Em huma palavra: até no Conc. de Oviedo de 1 1 15. logrou particular distincção a in
nocente Agricultura; pois no 1. dos 3. Capitulos, de que elle consta, se determina: Que
ninguem faça penhora em bois, quer sejão mansos, quer bravos: e quem o contrario fizer, seja
maldito, e excomungado, e tenha 15. annos de penitencia publica. Foi este Conc, celebrado
para reparar as desordens , que as guerras havião introduzido em toda a Hespanha, sen
do as capitaes o desprezo da lavoura, os furtos, e a f{### das Igrejas. Tudo isto se
propoz reparar a Rainha D. Urraca, que com seus filhos, e filhas confirmarão os De
cretos deste Concilio, e os jurárão, e fizerão jurar a todos os Ecclesiasticos, e Secula
res do seu Reino. O mesmo fizerão suas Irmãas, a saber, a Infanta D. Eivira, com todos
os seus filhos, e filhas, e vassallos; e rambem no mesmo anno de 1 115 Infanta D. Ta
rasia cum omnibus filiis, ó: filiabus suis ... juraverunt , é confirmaverunt (Pois já era
falecido o Senhor Conde D. Henrique.) É depois no de 112ó o Infante º Afonso de
Portugal, com todos os seus vassallos confirmárão esta Constituição, e quizerão que se
guardasse até o fim do mundo. Hisp. Sagr. Tom, XXXVIII. f. 257.
}}
32o SE SE
foram, nem sam aproveitadas; pela qual causa eram os montes , e matos em
ellas tão grandes, que se emcolhião em elles os porcos, e ursos, e outras ali
marias muitas, ás quaes ás vezes punhão fogo : em tal guisa, qne as outras
vinhas oredor recebião grande perda ; em tanto, que por razom das alimarias,
e fogo, e gente pouca, e as alimarias muitas, e os montes grandes, estavão em
ponto de nom terem vinhas : Pola qual causa nos inviavades pedir por Mercê,
que vos dessemos lugar , e licença, que pode redes dar os ditos pardieiros, e
Portinhais, e terras, que nom som aproveitadas, de Sesmaría ha algumas pes
soas, que as aproveitassem ; segundo mais compridamente em vossa Emforma
gom era contheudo.
O qual visto por Nós, qnerendo fazer. Graça, e Mercè ao Concelho, por
prol comunal, e bem da terra: Avemos por bem, e damos-vos licença, e logar,
que deis, e possais dar os ditos pardieiros, e cortinhais, e terras a quaes
quer pessoas , que vo-las pedirem, e tomarem de Sesmaría; com tanto que seus
donos sejão primeiro requeridos , que as aproveitem, desde o dia que o Recri
mento lhe for feito atá hum anno. E nom as adubando, nem as aproveitando
atá o dito anno : Entom aquelle, que esse Concelho ahi poser por Sesmeiro as
possa dar com acordo dos Homens-bons dessa Villa a quaesquer pessoas como
dito he. E a si mesmo aquelles, a que forem dadas as ditar peças as aproveitem,
e adubem. E fazendo-o assim , mandamos , que as ajão livremente sem outra
contenda, pera elles , e para seus herdeiros , e successores : E nom o fazendo
assim lhe rejão tiradas, e dadas a outrem, que as adubem, e aproveitem; per
guisa, que as ditar possessoens sejam aproveitadas, e melhoradas.
E por esta Carta vos damos poder, que possais poer hum homem bom em
essa Villa , e termº, que seja Sesmeiro, e aja o dito encarrego , o qual seja
ydoneo, e pertencente pera esto fazer , e requerer; segundo elle vir que será
mais em prol da terra. E em testemunho desto vos mandamos dar esta Carta.
Dante em a Cidade de Lisboa 13 dias do mez de Outubro. ElRei o mandou por
$foão Gonçalvez, e por Rui Fernandes , seus Vassallor, e do seu Dezembargo.
Lourenço Annes a fºz de 1475 annos. Esta Carta confirmárão ElRei D. Mano
el no de 1496, e ElRei D. João III. no de 1535.
Em huma folha avulsa do Cartorio da Villa de Móz junto a Carviçaes
se acha outra do theor seguinte:
OM Philippe por graça de Deos Rei de Portugal, e dos Algarves, d'a
quem, e d'alem mar, em Africa Senhor de Guiné & c. Faço saber a vós
Corregedor da Comarca da Villa da Torre de Moncorvo, que tanto que esta vos
for dada, vos informeis particularmente das terras , que em cada hum dos lu
gares da dita Comarca estão devolutas, sem se cultivarem , e aproveitarem;
assi das que fºrem dos Concelhos , como das pessoas particulares ; declarando
as causas, porque os ditas terras se não cultivão, e a calidade, e bondade, e
grandeza dellas : e juntamente vos informeis do remedio, que podem ter pera
se cultivarem, e darem fruto, e das que são necessarias assi pera o pasto dos
gados, como pera os estrumes de cada lugar: E das rendas, que tem cada Lu
gar, Cameras, e Concelhos delles, e como se despendem, e garião: E que obras
publicar faltão pera fazer, e são necessarias, assi de pontes, fontes, calçadas,
chafarizes, casas dos Concelhos, cadéas, açougues, e outras similhantes nos
ditos Lugares. -

E pera estas Informaçoens vos comunicareis, e aconselhareis, assi com os


Oficiaes das Cameras, como com outras pessoas, que vos parecer, que são das
milhor entendidas, e zelosas do bem comum dos ditor Lugares, e dentro de bum
mez do dia, que receberdes esta Carta (de que dareis Certidão ao Correio, que
vo-la entregar) me inviareis estas Informaçoens; porque cumpre assi muito a
7716/8
SE SE 321
"neu serviço; e não o cumprindo assi vo-lo estranharei, como a ele convem. Ela
Rei Nosso Senhor o mandou pelos Doutores Antonio Cabral, e Francisco Vas
Pinto, ambos do seu Conselho , e seus Dezembargadores do Paço, Miguel de
Azevedo a fez em Lisboa a 2o de Outubro de 1619. joão da Costa a fez es
C}">Utºy". Antonio Cabral. Francisco Vas Pinto.

No L. do Resisto da Camera da e mui ladeirosas se cubrão de pi


Jorre de Moncorvo, a f. 182. Y. se nheiros , olivaes, matas , e arvo
acha huma Provisão d'ElRei D. redos, segundo a qualidade de ca
João IV., para que o Corregedor da huma, para que forneção com
de Moncorvo faça reduzir a cultu abundancia lenhas , estrumes , e
ra as terras incultas, e herdades de madeiras; desoccupando outras, que
sertas, e os maninhos, que houver podião interessar mais os nossos
nos lugares da sua Correição: e tu celleiros, e adegas. E se ainda as
do na forma da Provisão, que so sim os inconvenientes não cessa
bre as mesmas. Sementeiras se pas rem de todo , a pezar mesmo da
sou em 26 de Novembro de 625. abertura das barras, e encanamen
Dada em Lisboa a 3o de Janeiro de to dos rios; tenhamos em vista ,
1643. E diz huma nota á margem: que este mal só no fim do mundo
Estas Provizoens fizerão perder a bar póde ter remedio, quando inteira
ra do Porto. Arrojado pensamento, mente se confundir este globo ter
e mais filho da ignorancia, que da raqueo. Entre tanto sigamos a ra
prudencia ?.. { zão, que nos dita: Do mal o menos,
. Com efeito, se temendo, que e deixemos que a Natureza prosi
as aguas levem arêas ás praias do ga nas suas revoluçoens do costu
mar, se não devem romper as ter me , fazendo com o tempo , ora
ras, que são aptas, e proprias pa terras do mar, e ora mar das mes
ra a lavoura , sería preciso, que mas terras ; segundo attésta Ovi
nem ainda as mesmas planicies se dio, que sucedia já no seu tempo:
cultivassem ; pois ainda essas não }'idi ego, quod fuerat quondam soli
estão isentas, de que algumas inun dissima tellus,
daçoens, ou trovoadas as precipi Esse fretum : tidi fictas ex aquore terras.
tem nos rios. Nem todas, pois, se SESMEIRO, V. Sesmaría, e Coi
devem deixar a monte, e sem cul releiro.
tura. Que utilidade se póde seguir SESMO. Termo, sitio, ou limi
de revolver as terras ladeirosas, e te, em que ha Sesmarías. E da hi
de nenhum , ou mui pouco suco ; per a Granja , e Ervar-tenras , com
areando os bellos prados, e dila seu sesmo. E parte com outras aldéas,
tadas campinas, que poderião en e sesmo dellas. Sentença de Pinhel
cher de pão a todo o Reino ?. Não, contra os de Trancoso sobre os
nós quando dizemos, que se apro pastos, no de 143o. Tambem po
veitem as terras incultas, e que po demos entender por Sesmo, as ter
dião ser rendosas, não queremos ras abertas, desaproveitadas, e bal
occasionar mais dano, que provei días, que supposto não estivessem
to: dizemos sim, que as menos ex dadas, erão proprias para se da
postas a serem levadas pelas aguas, rem de Sesmaría. V. Sesmaría.
se cultivem : e as dependuradas, SESMO da Segunda feira.
Tom. II. Ss SES
322 SE SE
SESMO da Terça feira. te a Lorvão Villa Verde, junto ao
SESMO da Quarta feira. Busaco , com todos os seus edifi
SESMO da Quinta feira. cios, vinhas, e pomares, & sere
SESMO da Sexta feira. gas molinarum, cum VIII. molinos ,
SESMO do Sabbado. Nos Doc. que jam ibidem feci. L. dos Testam.
de Pinhel, Guarda, Trancoso, Sal de Lorvão N. 2o. Na Doação, que
zedas, e Tarouca se achão com fre o Infante D. Affonso Henriquez fez
quencia todos estes Sermos, de que a João Viegas, pela criação, e boms
agora, só para exemplo, nomeare serviços, que lhe tinha feito, de to
mos alguns. No de 1 1 94 certos ho da a herança , que fôra de Aires
mens de Trancoso venderão huma Mendes, e Pedro Paes, que se ti
herdade ao Mosteiro de Maceira nhão rebellado á Coroa , e se ti
dám por Ico soldos, e dizem: Nos nhão apoderado com os inimigos
homines de Trancosi, de sermo de Sab della da Villa de Cêa; se declara,
bato & c. Doc. de Tarouca. No de que esta herança jazia dentro , e
12o2 comprou o Mosteiro das Sal fóra da Cidade de Viseu, em Sa
zedas huma herdade em Maçainhas, tan, Aguiar da Beira & c. o que tudo
junto á Guarda , a qual estava In dá, com casas, vinhas, terras, exi
sesmo de feria sexta. L. das Doaç. tus viarum, dº sírigir molinarum, &º
das Salzedas a f. 1 18. E a f. 3. Y. perfias, ingressus, é regressus & c.
se faz menção de outra herdade , Doc. de Pendorada de 1 133. No de
que jazia In sesmo de feria secunda. 1259 se vendeo hum moinho no
&c. Mas que razão haveria, para rio Dáo, e diz assim a carta: Vendi
nomear estes Sesmos com os dias da mus ipsum molinum, cum sua resse
semana?... Seria porque em cada ga, Óº cum suo azude, Óº cum sua
hum delles respectivamente se de agua, Óº cum sua levada, Óº cum suas
rão antigamente estas proprieda entradas , & cum suas exidas , pro
des, e terras de Sesmaría ?.. pretio & c. Doc. do Mosteiro de A
SESMO. Sexto, foro de seis hum. lafoens. Em hum Doc. de Tarouca
Huma vinha, que chamãm de sermo, de 1335 se diz: Se se queixarem da
isto he, que paga ração de sexto. sessega do lagar; que o ponham no seu y
SESSEGA. Assento, lugar, ou hu o quiserem poer. De hum Prazo de
sólo, em que alguma cousa se edi S. Pedro das Aguias, consta, que
fíca, v. g. casa, moinho, lagar, ta o Mosteiro em prazou no de 1473
naría &c. Em alguns dos nossos no termo da Villa do Castinheiro,
Documentos Latino-barbaros se diz Huma sessega , com foro de trez ar
Seríga, ou Serúa. Na Doação, que ratei de céra, e hum bom carneiro.
ElRei D. Ordonho II. fez no de SESTO. Para com os Italianos
922 ao Mosteiro de Crestúma, jun significa compasso, ou outra qual
to á Cidade do Porto, em attenção quer medida. Daqui Assestar, pôr
ao Bispo D. Gomado , que ali se por medida, bornear, fazer ponta
tinha feito Eremita, se diz que o ría. Nas mediçoens antigas dos nos
mesmo Bispo comprára Sexuam mo sos Prazos se acha com frequencia:
linarum in rivulo Umiae. L. Preto de
E daqui vai a sésto, isto he, vai a
Coimbra a f. 39. No de 974 o Sa compasso, á corda, vara, ou medida.
cerdote Vicente doou por sua mor SESTEIRO, V. Cesteiro. Hato
do
SE SI 323
do o fundamento para dizermos , do não passavão de meio alqueire
que o Sesteiro erão dous alqueires, as verteduras do quarteiro. Mas is
ou duas teigas da medida antiga ; to não succedia no Sexteiro, a que
pois além do que se disse V. Cestei se não costumava dar cousa algu
ro, no Foral de Louredo, termo de ma de verteduras.
Pena-cova, dado pelo Mosteiro de SEYAAMENTO. Exequias, fu
Lorvão no de 1 154, se lê o seguin neral. V. Sahimento.
te: In Eiradega unum sextarium, una SFIAÁ. V. Fiad.
taleiga de tritico, Óº unam de milio. SI assi. Estar presente. Eo Al
De vino unum sextarium, desquando moxarife frontou, que non veera, ca
habuerit tres quinales. Doc. de Lor fora enbargado em Cuvillaã, hu o El
vão. Era pois o Sesteiro de pão duas Rei mandára, que fosse si assi, e que
teigas, huma de trigo, e outra de fora y naquel dia, Doc. de Tarouca
milho. E o Sesteiro de vinho igual de 1279. Tambem podemos dizer
mente deveria constar de dous can que Si assi, vale o mesmo que, des
taros, ou alqueires. te, ou daquelle modo , assim, ou
SESUA. V. Sersega. assim ; correspondendo ao Latim
SETEMBRO. Nome de homem. sic, vel sic, hoc, velillo modo.
Setembro Paes. Doc. de Tarouca de SIBANA. AS. Barraca, choupa
1 284. na, tenda de campo, palhoça, ca
SEXCENTA mil libras.Sexcen bana. Em hum Tombo de Grijó de
tas mil libras. Doc. das Bent. do 1598 se diz: Atravessando pera o
Porto de 1285. monte, que fica á banda do mar, pe
SEXTEIRO Era a 6º parte de ra onde hoje chamão o Coteiro das Si
hum moio, segundo toda a diffe banas, por respeito de antigamente a
rença, ou numero de medidas, de ver naquelle lugar cabanas de impe
que elle constava, v.g. se consta didos de peste.
va de 12 alqueires, era o Sexteiro SIEDA. Assento , cadeira , se
de dous: se de 3o, era de 5 alquei de , ou Tribunal do Juiz. O juiz;
res, e sendo de 6o , constava de na sieda. Hoje vulgarmente se diz:
1o. V. Sesteiro. Huum moio, e sextei O juiz na séda, quando está no seu
ro de pam meado , convem a saber , Tribunal, fazendo justiça ás partes.
trinta e seis alqueires de trigo
«> , e SIGILLAR. Sellar, pôr o sello
trinta e seis alqueires de cevada. Doc. em alguma cousa. Antigamente se
de S. Pedro de Coimbra de 1436. chamava Sigillar, o penhorar, ou
Erão por todos 77 alqueires , de tomar alguma cousa por penhor de
que tirados Io (que era o Sexteiro) alguma divida , ou crime; porque
ficavão 62 : destes fazião os 6o o deste acto de Penhora se passava
moio regular, e os dous, ou qua instrumento , em que se punha a
tro meios, que ficavão erão as ver firma, sinal, ou sello do Juiz. Sa
teduras, que se costumavão dar a gion non eat domum alicujus sigilla
cada quarteiro, ou 16 alqueires. E re: sed si aliquis fecerit aliquod illi
como em algumas partes estas ver citum, veniat in Concilium, Óº judi
teduras erão de alqueire por quar cetur recte. Foral de Soure de I I I I.
teiro, ficava alli sendo o moio de no L. dos Foraes Velhos. Nos Fo
64 alqueires: ficando de 62 quan raes de Thomar, traduzidos em Por
Ss ii tul
3 24 SI SI
tuguez nos fins do Seculo XIII, ou iz, ou algum outro Oficial a Ban
principios do XIV. se lê no 1.° deira Real a certa Hermida , ou
que he 1 162: Sayom non vaa seelar Templo, para memoria, e agrade
casa de nenhuum cavaleiro. E no 2.° cimento de algum beneficio em fei
que he de 1 174: A casa dº alguem to d'armas, que do Ceo tenhão re
non seja reelada; se ante non for cha cebido. Não duvidamos da genero
mado a dereito. Doc. de Thomar (*) sa piedade dos 1.º que instituirão
SIGO. O mesmo, que comsigo: as Sinas, e menos ainda da dos
vem do Latino Secum. Defendia Monarchas, que n' outro tempo as
mais no mesmo casal duas mulhe approvárão: mas sendo ellas hoje o
res, que tinhão rigo dous filhos lavra Theatro da devassidão, e desor
dores. Inquir. d'ElRei D. Diniz de dem ; já que não são reformadas,
1 284. quem negará , que devem ser ex
SINA. Estandarte , Bandeira : tintas; para que nem os Concelhos
vem do Latino Signum , Insignia e Póvos sejão gravados, nem a Re
Militar, a que os soldados devião ligião padeça tantos insultos?... Na
seguir. Conserva-se hoje o nome Camara de Coimbra se conserva o
de Sina nos Bôdos , Cavalhadas, Alvará Real de 1464, para que os
ou sejão Romarias, que algumas Ca moradores daquella Cidade pudes
maras do Reino costumão fazer em sem acompanhar na vespera, e dia
algum dia do anno; levando o Ju de S. João a Sina em bêstas mua
TCS

(.*) A significação de Sigillar pende de fabermos, que cousa era o Sello, ou Sinal
do Paix, ou do Alcaide. Dizem alguns, que era hum ramo , varinha, ou palha, que
o Oficial de Jultiça entregava diante de testemunhas áquelle, a quem o Juiz chamava
a juizo , ou fazia penhorar. E que o ramo , que ainda hoje trazem os Porteiros nas
Execuçoens , e a mesma palavra Arrentatar , são vestigios do antigo ramo , que
era o Sinal, ou Sello do Juiz, com que a pessoa , a casa, ou bens de alguem assim
moveis, como de raiz, erão socrestados, embargados, ou dados á penhora. Porém no
Cod. }^tisig. L. II. Tit. 1. temos a Lei 18. com esta rubríca: De his, qui admioniti Judi
cis "Pistol, º vel sigillo ad judicium venire contemnunt. E as palavras da Lei são às se
g"intes: ºu lex cui ah aliquo fuerit interpellatus , adversarium querellantis amnionisione
tinius epístole, "vel Sigilli ad judicium venire compellat ; sub ea uidelicet ratione, ut corant
ingenuis Personis is, qui a judice missus extiterit, ei, qui ad caussam dicendam compellitur,
ºfera epistolam, vel Sigillum. Daqui se vê , que as Citaçoens para qualquer acto judi
Sial devião ser precedidas de huma Carta, ou Sello do Juiz (segundo traduzio o Fuero
3u380). Para isto melhor se entender, he de notar, que por aquelles tempos poucos Jui
zes sabi㺠escrever: os que sabião pegar na penna escrevião hum mandado de Citação,
que se dizia Carta : os que não sabião escrever entregavão huma Crux, Cifra , Sinal,
ou grifo árbitrario, que nada dizia, mas que era reconhecido, tido, e havido por seu
si;al; feito com_penna, ou impresso com sinete. E este era o Sinal , ou Sello com que o
A4ordono, Sayão, ou Porteiro hião Sigillar, isto he citar, ou penhorar.
Na Orden. Af. L. III. Tir, 1. se nomeão 4 modos de fazer citar. O 1. he por palha,
o 2. por Porteiro, o 3. por Tahallião, e o 4. por Editos. O 1. modo só era concedido an
11gamente aos Regedores da Casa da Justiça, e do Civel, e ao Chanceiler Mór, e isto
Pela sua Dignidade, e preeminencia. Igualmente se concedia ao Corregedor da Corte,
Pelas suas muitas occupaçoens. Devia ser feita eta Citação por palha ao Reo perante
duas testemunhas, ou ao menos huma; pois de outra sorte senão poderia accusar a re
Velia dº Reo, que não compareceo ao termo, para que foi citado. E o Corregedor da
Corte devia dar a palha ao que por ella quizesse citar até certo termo, e quantia. Fid.
Cod. Alf. L. J. Tit. 19. S. 1. e Tit. 72. S. 12. Esta palha citatoria tambem foi dita Sinal; pois
nº mesma Orden. L. III. Tit. 64. S. 1o. se diz : Nem mandem citar , nem dem poder para
*Itár por Carta, nem Porteiro, nem por outro sinal pera chamar outra pessoa a 3uizo. E de
tudo o sobredito se deve concluir, o que devemos entender por Sigillar, e Sinal do Juize
SI SI 225
res; não obstante a Ordenação em Sino d'Ooraçom. No mesmo Cod. L.
contrario. V. Açores. II. Tit. 1o2. De como as portas das
, SINAL. Peça, traste movel, ou Mourarias devem sseer carradas ao
semovente. Mando mecum unum si ssino da Trindade. E daqui se mani
mal, quod meliorem babuerimus. Doc. festa , que assim os Judeos, como
das Bent. do Porto de 12 15. E dar os Mouros vivião em ruas, e bair
des de loitosa o milhor sinal, que hou ros separados, e fechados sobre si,
verdes. Prazo de Pend. de 14o4. Por e que logo ás Ave Marias devião
Colheita d'ElRei dar cinquo soldos, e estar nelles sob pena de serem ri
juytosa de cada pessoa o melhor sinal. gurosamente castigados.
Prazo de 1 384. Ibidem. SINQUINHO. Moeda de prata,
SINAL do Juiz. V. Sello do fu que fizerão lavrar ElRei D. João II.
iz. No Foral de Thomar de 1 174. D. Manoel, e D. João IV: valia 5.
se diz: Sinal d'Alcaide, ou juiz reis. O d'ElRei D. Manoel tinha
com testimonyo seja teudo. E no de de huma parte os cinco Escudos do
Castello Branco se lê: Et quinon Reino em Cruz com a letra: Ema
fuerit a sinal de judice, & pinos sa nuel P. R. & Al , da outra huma
cudir ad sayam, pectet unum f. a Malta com a mesma letra.
Judici. Doc. de Thomar. V. Sigillar. SIPRES. O mesmo, que Simplez.
SINALPENDE. Medida agraria SISA Judenga. A que os Judeos
de 12 o pés em quadro. V. Astil, e pagavão. No de 1489 ElRei D.
Mina. João II. fez Mercê a Affonso Lei
SINGRANTE. fá aconteceo a te da renda da Portagem, e sisa fu
cada huum dos sobreditos vossos vas denga, serviço novo, e velho dos Ju
sallos vender o moyo de sal a vinte deos , e foros de casas, e caracº , e
libras singrante, tirado de todos cus de quaes quer outros Direitos, que
tos. Cod. Alf. L. II. Tit. 59. S. 31. tivesse dos lugares, e Beatrías de
Parece quer dizer, simplesmente, Meijam-frio, Villa Marim, &c. O
ou sobre si. tributo da Sisa introduzio em Cas
SINO de colher. V. Sino de cor tella ElRei D. Sancho no de 1295,
rer. Depois do Sino de colher , até e dali passou a Portugal.
a manhãa clara devião estar fecha SISOO. Juizo, entendimento,
das as tavernas. Cod. Alf. L. I. Tit. razão perfeita. Doc. de 13o I.
62. S. 12. SYHA, ou Ssyha. Estava. He a
SINO de correr. He o derradei terceira pessoa do preterito do Indi
ro sino, que se tange depois do Si cativo do verbo Seer. Doc. de 1289.
no da Oração. Ib. S. 14. SYNADO. A. Asinado com o
SINO d' Oraçom. Assim chama nome , ou firma de alguem. Doc.
vão o sinal, que ao anoitecer se da das Bent. do Porto de 1 418.
va para rezar as trez Ave Marias SÓ. O mesmo que Sob, isto he,
da Saudação Angelica. No Cod. Al debaixo. So pena, sob pena, deba
fonsino L. II. Tit. 78. se trata Da pe xo, ou com obrigação de ficar So
pena que averám os judeos, sse forem jeito á pena. Doc. de 1336.
achados fora da judaria despois do SOAO. O Nascente do Sol, a
ssino dooracom. parte que fica para o Nascente ; as
- SINO da Trindade. O mesmo que sim como a Travesía, o Poente, ou
a par
226 SO SO
a parte que fica para o Poente. São to de vontade. Doc. de Tarouca do
termos mui frequentes nos antigos Seculo XIV.
Prazos, e Tombos. V. Abrego. SOBEJO, adv.Cousa por de maiº,
SOAR. O mesmo que Solar, não e bem escusada. Parece-me sobejo ,
em quanto he lugar, ou Edificio , pedir homem, o que tem. He do Azi
ou Torre, ou Castello, em que te nheiro.
ve o seu principio alguma Familia SOBEMENDA. Salvo o vosso
Nobre, e bem conhecida; mas sim dictame , á vossa satisfação, sem
em quanto nos mostra algum Ter prejuízo de quem melhor sentir
ritorio, Couto, ou Concelho, onde al Corresponde ao Latino. Sub correc
guem exercita a Jurisdicção, ou po tione Óºc. -

der , que o Soberano lhe concede SOBERBOSAMENTE. Com


sobre os que vivem naquelle des tom , e ár de soberba , com arro
tricto com Leis, Costumes, e res gancia , e presumpção.
petivos Foraes. Na Composição,que SOBLIGAÇOM. Debaxo de o
ElRei D. Diniz fez com D. Egas, brigação. Doc. de 1 322.
Bispo de Viseu, no de 1292, além SOBRANSARIA. Soberba, ar
de outras Mercês, concede o Mo rogancia , palavras , e acçoens de
narcha á Igreja de Viseu o Couto do desprezo, e insulto. Como foi per
Soar , que fôra devassado. E tam doado, logo veio á Cidade do Porto,
bem, que os seus homens, que mo asobrevando com outros homens des
ravão nas Aldeas de Pinhel, Tran padar, fazendo suas sobransarías ao
coso, e Castel-mendo sejão teudos, dito Egas Gonçalves. Doc. da Cam
e manteudos aos foros, e custumes des do Porto de 1439.
sas Villas : e nom feiam tenudos de SOBRE-JUIZES. Assim chama
servir a outrim, senom ao Senhor, em vão aos Magistrados,que decidião as
cujo soar servirem; segundo como man causas na maior alçada, e ultima
dão os Foros , e os custumes antigos instancia; e isto em todas as ter
dessas Villas. Doc. de Viseu. V. Solar.
ras, e Comarcas, a que pelos Reis
SOBEGEDOM. Excesso, dema erão mandados. O mesmo nome de
sia.Doc. de Tarouca do Seculo XIV. Sobre-juizes estava declarando a sua
V. Sobegidom. Jurisdicção, e poder. A estes suc
SOBEGIDOM. Transgressão, cedêrão os Corregedores , e Des
excesso, exhorbitancia, culpa, frac embargadores dos Aggravos. El
ção. No de 133o. se deu huma Sen Rei D. João III. pela sua Ordem.
tença contra D. Guiomar de Berredo, de 9 de Julho de 1529. extinguio
filha de João Mendes de Briteiros, por os Sobre-juizes da Casa do Civel,
ter feito sobegidom contra o Degredo mandando que os Desembargadores
no Mosteiro de Vairam, e seu Couto; dos Aggravos conhecessem tambem
hindo abi pouzar, e comer. Foi diri das Appellações , que até então
gida ao Homem d'ElRei, e Fazedor de privativamente a elles pertencião.
suas entregas Doc. de Vairão. SOBRELHAS. Sobre-as. Cor
SOBEJO. adject. Caprichoso, responde ao Latim Super illas.
pertinaz, e amigo de seguir em Doc. das Bent. do Porto de 1318.
tudo os seus gostos, e desordena SOBREPUJAMENTO. Exces
dos apetites. Nom ser sobejo, e mui so, transporte, extase, demazía. Qu
#1'04"
SO SO 227
tros andavam tam vivos, e espertos todos: he o Prazo do Casal da Las
no combate, que lhes parecia, que que gèa, em que se diz: E de foro...
riam voar ; sentindo hum sobrepuja hum leitom com suas Soeiras , a sa
mento de ledice , qual em suas vidas ber, fogaça , e cabaça de vinho. E
nunca teverom : e estes eram os que note-se, que á proporção, que se
naquelle dia aviam d'acabar. Chron. multiplicavão os leitões, carneiros,
do C. D. Pedro. L. I. c. 79. &c. assim se repetião estas Soeiras,
SOBRESEER. Sobreestar, es como se vê do mesmo Tombo, v.g.:
perar , deter-se , parar. Nom era trez leitoens , trez Soeiras : quatro
grande inconveniente sobreserdes nisto carneiros , cada hum com suas Soei
Auum pouco. Pina, Chron. d'ElRei ras, & c. •

D. Duarte. c. 2. SOESTABELEÇUDO. Substa


SOBRESEVER. O mesmo que belecido. Doc. de 1 337.
*Sobre reer. E porem ante de darem a SOFFRAGAYA-Igreja.) Sufra
dita embaixada sobre revéram de indus ganea , dependente , annexa. Ey
tria muitos dias. Pina, Chron. d'El greyas sofragayas de Santo Tisso.
Rei D. João II. c. 66. Doc, deste Mosteiro do Sec. XV.
SOBRE-TAL. Finalmente, em SOFORAR. Tocar, tanger,
conclusão. Sobre-tal, diziam elles, fustigar, picar com a espora. So
viesse agora tempo de viagem caa nós forando a mulla por detrás , pera se
ºs leixariamos ficar em seu medo. Zu tornar á fgreja.
rara, Chron. do C. D. Pedro. L. SOFRER-SE. Ter paciencia,
I. c. 73. não levar a mal , não executar o
SOBRINO. A. Sobrinho, sobri que cada hum tinha determinado,
nha. Doc. de 1 3o6. suspender a execução , cessar do
=
SOCOLHEDOR. O substituto que já tinha principiado. Pedindo
do Coleitor. Socolhedor da Camara me Mercéé, que Eu, que me sofres
do Papa no Arcebispado de Braga, Doc. se, em quanto me prouguesse, da quel
de Pombeiro de 139 1. lo que fôra deitado em devasso. Car
.•
SOCRESTAÇOM. Sequestro. ta d'ElRei D. Diniz de 13o7. Doc.
Doc. de 14O2. da Cam. do Porto.
SOEIRAS. He Termo frequen SOIEIRA , e Sojeira. Oficio,
tissimo nos antigos Prazos da Pro lavor, e occupação do caçador de
vincia do Minho: hum leitão; hum coelhos, a que nós hoje chamamos
carneiro, & c. com suas Soeiras. São Espéra. V. Apeiro.
pois Soeiras o mesmo, que Costu SOL. adv. Sómente , ainda só,
mes, ou Costumeiras, e vem do La tão sómente, ao menos. Vem do
tino Soleo-es , e mesmo do Portu Latino Solum. Quem esta Carta quej
guez Sóe, Sofa & c. Em alguns Pra ra britar, ou sol tentar; quanto de
zos se declara, em que estas Soei mandar, tanto em dobro couponha. Doc.
ras devião consistir, que era: hu de Tarouca de 1312.
ma cabaça de vinho, e hum pão al SOLAIRO. Salario. Eu teudo sóó
vo, ou fogaça. No Tombo do Mos a pagar vo-las despesas, e o solairo,
teiro de Villarinho (que hoje pára que deverdes dáver. Doc, de Tarou
em S. Vicente de fóra) ha muitos ca de 1284.
destes exemplos: bastará hum por SOLAM. Prazer, allívio, con
SO
….


328 | SO SO …
solação, refrigerio. Vem do Lati cienda, nisi a Domino de solar. Doc.
no Solatium. *
de Thomar.
SOLLAMENTE. Sómente, só, SOLAREGO , Solarengo, So
unicamente, tão sómente. Haja as lariego, e Solariengo. O que vive
rendas do meu casal de Lourosa em no solar de alguem , isto he, na
sa vida tam sollamente. Doc. do Al sua herdade, cazal, ou fazenda,
moster de 1287. |
como seu caseiro, lavrador, servi
SOLAR. Não se toma aqui So çal, colono, &c. V. Conducteiro 2
lar por Solar grande, Solar conheci e Conductereiro.
do , Solar com jurisdicção, ou sim SOLAROSO. A. Que consola,
plesmente Solar, em quanto deno que dá prazer, allívio, refrigerio.
ta origem, ou berço de alguma II V. Solaz.
lustre Familia (de que se póde vêr SOLAZ. O que favorece, e aju
Plut. V. Solar de Fidalgo.) Toma da o seu proximo, o que se empe
se no sentido, em que os antigos nha em lhe dar consolação, e allí
Foraes o tomavão, a saber, por vio. Doc. de Tarouca do Seculo
quintas, fazendas, casaes , herda XIV. Vem do Latino Solor, ou So
des, e outras quaesquer terras de lator.
lavoura, onde o seu dono tinha al SOLDADA. AS. O fôro de hum,
guns homens assalariados, ou a bem ou mais soldos, ou o que se com
fazer , que se empregavão na sua pra com hum, ou certa quantia de
cultura ; e isto, ainda que o Se soldos; como se disse V. Dinhei
nhor das taes propriedades, e abe rada, Livrada , e Maravediadas. D.
goarías fosse de mais dinheiro, que Godinha Fernandes vendeo a Da
Nobreza. E neste sentido se disse niel Alvuraz, e a Mido Olidiz hu
Solar de Solum, que significa a ter ma sua herdade, que tinha em Mos
ra, chão, ou assento, em que al teiró, junto a Sande, a qual tinha
guem está, reside, mora, trabalha, sido de D. Emiso. O preço foi hum
e se sustenta. No Foral de Aguiar porco de sinco modios , hum carneiro
da Beira de 1258 se lê : Et homi grande , e quatro cordeiros , quinze
nes de Aquilari, qui homines tenuerint capoens , e trinta e duas fogazas , e
in suas hereditates , aut in ruos ro duas soldadas de pimenta , isto he,
lares , &º non fuerit ibi suo Senior, a que se comprava então por dous
veniat ad sinal de Judice, & det fia soldos. Doc. de Tarouca de 1 125,
dor á venida de suo Senior, ó"fuciat, quando ainda os Cistercienses não
quod mandarent. Et calumpnia qua havião entrado em Portugal ; mas
Iibet fecerit , sedeat de suo Senior, vindo ao depois a comprar, e pos
&º septima a Palatio. Et non serviat suir estas terras de Mosteiró, lhe
ad nullo homine, nisi a suo Senior, in vierão á mão os Titulos, por onde
cujus solar sederit. Doc. da T. do os Doantes, ou Vendedores as pos
T. Isto mesmo se lê pelas mesmas suião. No Foral de Lisboa de 1 179,
palavras no Foral da Villa de Moz lêmos assim : Mercatores naturales
de 1 1 62. E no de Castello Branco File , qui soldadam dare voluerint,
se diz: Qui habuerit vassallos in suo recipiatur ab eis : si autem soldadam
solar, aut in sua hereditate, non ser dare noluerint , dent portaginem. L.
ziat ad altero bominem de tota sua fa dos Foraes Velhos. No Aforamen
tO
*

SO SO 329
to de Villa-Chãa de 1295, se man tros soldos de cobre, que valião
da pagar ao Mosteiro das Salzedas hum real, e dous septimos de real,
por cada lavrador : Senhas soldadas e se dizião Soldos de 24 livrinhas.
de pam, e senhos bragaes de VIII. va Depois se lavrárão outros, que va
ras, ou IX, soldos, e senhos quartei lião dous quintos, e hum vigessimo
ros de castanhas seccas. Doc. das de real, e se dizião Soldos de sete
Salzedas. — No vosso Foro era con livrinhas. Para dar fim a tanta va
tehudo , que mercadores naturaes da riedade , declarou Fernão de Pina
Killa pagassem bum soldo ; e se per em muitos dos Foraes d'ElRei D.
ventura soldada dar nom quiserem , Manoel (como he no de S. Fins
dem Portagem: e que ora peró paga de Paiva de 15 13) que se enten
vam o soldo, nom deixavom de levar da : Por hum Dinheiro, hum ceitil:
delles Portagem. Cap. Espec. de San E por Soldo, onze ceitis: E por li
tarém, que explicão a fundo o Fo vra trinta e seis reis. V. Livra. Em
ral de Lisboa. O Tributo da Solda hum Doc. de Bostello de 1 467 se
da , ou Soldo era imposto por Fogo: lê: Dez soldos de boa moeda antiga,
de sorte, que quem tinha duas ca a saber , setecentas por huma , que
sas habitaveis, pagava dous soldos. montam dez reis. E daqui se mos
Na Carta de Povoação dada por D. tra, que então valia o Soldo hum
João, Bispo de Viseu, e pelo seu real.
Cabido aos que povoassem de ca SOLDO á livra. Frase prover
sas o seu campo do Soar, se diz: bial. He o mesmo que réctamente,
Si quis de ibi morantibus duas casas á risca , com a mais escrupulosa
ibi habuerit - duos persolvat solidos. igualdade, até o ultimo real, e pro
Doc. da Cath. de Viseu de 1 187. porcionadamente aos bens de cada
SOLDO. Antes já da nossa Mo hum. Esta parece ser a verdadeira
narchia achamos em os Doc. de intelligencia de muitos Foraes d'El
Portugal frequente menção de hu Rei D. Manoel, em que esta ex
ma moeda , a que chamavão Soli pressão se encontra. No da Villa de
dus, que depois disserão Soldo. Já no Mont’alegre de 15 15 se declara,
tempo dos Romanos se usou moe que os desta Villa pagaráõ4d).85|o,
da d'ouro com este nome, que lhe pelos 1oo maravidís velhos, que
proveio da sua bondade, e solidez; devião pagar. Porém das terras , e
pois valia tanto como pesava. Qua Aldéas da dita Villa (a que chamão.
si todas as Nações da Europa usá Terra de Barroso, que havião de pa
rão , e usão de Soldos ; mas com gar 8oo maravidís) devem pagar bo
diferente valor, e peso. Entre nós je 38Q)85 o réis da moeda corrente,
os houve de ouro, prata, e cobre. repartidos soldo á livra por todos os
Dizem que os de ouro valião 32o, moradores, segundo os bens, e fazem
e os de prata 1o réis. Os de cobre das , que houverem , assim moveir,
durárão até ElRei D. João II. ha como de raís, e gados; excepto algu
vendo-se os de ouro, e prata ex mas Aldéas, que por antiga Composi
tinguido antes. Valia cada hum dosgão pagão seu foro cerrado. Doc. de
de cobre I o ceitis, e quatro quinChaves. He pois o sentido: que
tos de ceitil, e 2o delles fazião se reparte este fôro com tal exac
huma libra de 36 réis. Houve ou ção, que se contemplão
• f os bens até
Q
Tom. II.
33 O SO SO
o ultimo Soldo, ou livra, para que Soldos?. Serião pannos assim cha
cada hum pague á proporção do mados, que ao depois se disserão
que tiver. Solias ?. Serião trez pares de çapa
SOLHAS. Armadura defensiva tos, que tambem se chamárão Sol
dos Antigos , especie de cóta, leas, e ao depois Solas?..
guarnecida com laminas de aço, ou SOLORGIAM. Cirurgião. Di
ferro, quasi da feição das Solhas, zees, que os Alveitares sejam exami
que no mar se pescão. E daqui nados assi como sam os Fisicos, e So
lhe veio o nome. Havendo-se man lorgiaeens ; porque muitos máus Al
dado, que os moradores de Freixo veitares matam as béstas, que podiam
de Espada-cinta tivessem Bérta de guarecer. Doc. de Santarém de 1436.
garrucha, e Solhas, e Gorgilim; el SOLTEIRAMENTE. Livre, li
les respondêrão, que tinhão Arneses geira, e desembaraçadamente, sem
d'homens d'armas , a saber, Cotas, e algum empecilho, carga, ou peso.
Bacinetes de camal, e Laudeis, e del O Mosteiro de Pendorada fez hum
les peças. Então ElRei D. João I. Escambo de certas herdades no de
no de 141o lhes deo a escolher: 1 1 65 ; não ficando a outra parte com
ou ter Cótas, ou peças com Bacinetes mais obrigação em sua vida, Nisi
de camais, ou de babejra, e com avam in anno tres vias mesuratas , soltei
braços: ou ter as ditas Solhas, e Gor ramente, cum una lancea in sua má
gilim: qual antes quizerem ter , tal nu. Doc. de Pend. V. Carreira.
tenhão. Doc. de Freixo de Espada SOMICHAS. V. Semichar. As
cinta. Explicadas nos respectivos sim chamavão ás verteduras do vi
lugares estas palavras, já hoje pe nho mole, medido á bica do lagar,
Ia maior parte desconhecidas; res que era huma canada mais em al
ta advertir, que de Ante, ou Avan mude.
te , e de braços se formou Avam SOMITIMENTO. Inspiração
braços , certa porção de Cóta, ou malvada, astucia perniciosa, per
Peça, ou Laudel, com que os bra verso conselho, que dolosamente,
ços se defendião dos golpes, e lan e como ás escondidas, se introduz
çadas. nos coraçoens danados. Vem do La
SOLIA. Certo panno, ou dro tino Submitto. E porque muitas ve
ga , de que pelos annos de 13oo zes por somitimento do Inimigo das
se vestião em Portugal Senhoras almas dos Servos de Deos, vem a ca
Nobres, e distinctas. jom aquelles, que a Deos servem. Doc.
SOLIAS. Solas, çapatos, qual de Thomar de 1 326.
quer calçado dos pés. Ap. Bergan SOO. Sou. He a primeira pes
fa. V. Solica. soa do presente do Indicativo do
SOLICA. AS. Em hum Doc. de verbo Seer. E por que Eu ende assi
Grijó se lê: Quando aliqui istorum soo certo. Carta d ElRei D. Diniz
(dos Padroeiros) volebant nubere fi de 1 318. Doc. das Salzedas.
Jios , vel filias veniebant ad dictam SOPAS. Refeição commua, e
Ecclefiam (era a de Silvade ) & di ordinaria no Refeitorio das Com
ctus Rector dabat illis sex solicas, munidades Religiosas, comida fru
&º panem, & auxilium ad ipsos nu gal , moderado banquete. Manda
bendos. E que serião Solicas ? Serião mos que todalas cousas , que lhis fo
*
T04/1
SO SO 331
-rom mandadas pola alma dos Passa persticiosa, para curar algumas en
dos , pera Pitanças, pera Sopas, que fermidades , ou livrar de alguma
ayam livres, e sem outro embargo. Car doença, ou maleficio. D. Chamôa
ta do Bispo de Lamego D. Affon Gomes, natural de Castella, man
so das Asturias, sobre as Offertas da no seu Testamento de 1258,
das Salzedas no de 13o6. Doc. das que as suas sortelas das vertudes as
Salz. gardem pora as enfermas. Doc. das
SOPE'. Ao sopé , para baixo, Salzedas. Os Hespanhoes ainda ho
ao fundo. Aut. je chamão ao anel Sortija.
SOPONTADURA. Pontinhos, SOSANO. Desembaraço, reso
que se poem debaixo de algumas le lução. Ap. Berg.
tras, ou palavras, para sinal, que SOSTIMENTO. Fundo, cabe
estão de mais. Doc. de Pend. de dal , soportamento, soccorro pre
I 32 O. ciso, e indispensavel para alguma
SORREIÇOM. Subrepção, ac cousa se manter, e levar ao perten
-ção de procurar alguma cousa com dido fim. Nas Côrtes de Braga de
narraçoens, ou exposiçoens falsas. 1 387 se concedêrão sisas dobradas,
-Contra a qual excepcom, e artigos de pera sostimento da guerra , que en
Sorreiçom, e Orreiçom, o dito N. veo tão havia com Hespanha ElRei de
com huums artigos de Verificaçom. Portugal D. João I.
Doc. do Sec. XV. SOTAL. Com tanto, debaixo
SORTEGAMENTO. O resulta de tal &c. Doc. de 1 3o I.
do das sortes, que se lançárão, o SOTERNOCAMENTE. ElRei
sorteamento. E a petiçom, e demar de Castella , com gram cobiça , so
camento , e sortegamento, nós o ha termocamente, os quer sobjugar a si,
vemos por firme. Doc. de Vairám do e tiralos da liverdom, e izençom, que
Sec. XIII. houverom, des o tempo que nossos Avós
SORTEGAR. Deitar sortes, os ganhorom aos Mouros. Cort. de
sortear. Damos poder a Margarita Coimbra de 1385. Parece que de
Kiegas, nossa Companhóa, Monja do Soterraneo, Soterranho, ou Soterre
dito Mosteiro pera partir, e marcar, nho (que he cousa escondida, e oc
e sortegar, e scolheita receber, e dar culta debaixo da terra) se disse So
sem malicia, e sem engano. Ib. termocamente, isto he, ás escondi
SORTELAS. Aneis, que ser das, com dadivas, e promessas oc
vião de ornar os dedos. He pala cultas. Pois esta era huma das ma
vra mais Hespanhola, que Portu quinas , com que ElRei D. João
gueza. Os nossos Maiores disserão de Castella , queria subjugar a si
*Sortelhas, e ainda hoje dizemos Sor o Reino de Portugal, corrompendo
telha huma Villa na Comarca de os Grandes, e Alcaides, ou Gover
Castello-Branco, sem dúvida, por nadores das Praças.
que hum anel são as suas armas pre SOTERRAÇOM. Funeral, en
sentes, havendo sido antigamente terro, acção de metter debaixo da
huma meia Lua. •

terra. Devo ao Moesteiro de Sanhoane


SORTELAS das vertudes. Aneis, dez libras, que me emprestarom pera
em cujas pedras se julgava consis minha soterraçom. Doc. de Tarouca
tir alguma virtude natural, ou su de 1335.
Tt ii • SQ
332 SO SP
SOTERRAMENTO. O mesmo, tempo foi consultado com prefe
que Soterraçom. Mando a todolos Cle rencia pelos Canonistas.
rigos , que forem a meu soterramen SPEITAMENTO. De Speitar,
to. Doc. de Maceiradão de 1 3o7. accusar falsamente, se disse Speita
SOTERRAR. Por , esconder, mento , por accusação falsa, e ca
sepultar debaixo da terra. Manda lumniosa. E sobre prisom, e speita
mos nosso corpo ser soterrado ante o mento, que fizera ao dito seu Padre.
Altar de S. Lourenço. Testam. de D. Doc. de Tarouca. Carta d'ElRei
Lourenço, Bispo de Lamego, de D. Diniz de 1 286.
I 3.93. SPEITANTE. O mesmo que
SOTO. Debaixo. O que todo nes Spectante. Doc. de 1 358.
ia guisa le mandava em pena de seu SPEITAR. V. Speitamento.
peccado, e soto sua bençon. Fundaç. SPERSAMENTE. Expressamen
da Igreja de S. Miguel de Lobrigos te. Doc. de 1 318.
de 1 1 91, na T. do Tombo. SPITALEIRO. O mesmo que
SOTTERRAR. O mesmo que Spadaleiro , ou Espadeleiro. V. Al
Soterrar. caide do navio, e Proeiro.
SOUSASOR. Successor. Doc. PREGUNTAR , e Espregun
de 1 305. tar. Inquirir, perguntar. Fomos en
SPADALEIRO. Remeiro. V. querer per cada Freguezia em no ter
Alcaide do navio, e Proeiro. mo de Vouga bem, e dereitamente: e
SPADANAL. Lugar, ou terra cada huum daqueles, que espregunta
apaúlada , onde nasce muita spa mos in puridade, forom spreguutador
dana, especie de tabúa. V. Avela sobre os Santos Evangelhos. Inq. d El
nal. Rei D. Diniz. Doc. de Grijó.
SPADOA. I. V. Corazil. De hum SPREMUNTAR. V. Spregun
Prazo das Salzedas de 1 296, cons tar. E todos estes homeès boór, que
ta ser a Pensão huma spadoa de por nós spremuntamos , som os mais an
co com 12 costas por Natal, e huma cidãos, que nós achamos : e todos fo
framèa, e 12 varas de bragal. rom perguntados , e conjurados sobre
SPADOA. II. Entrecosto de por los Santos Evangelhos. Inq. d'ElRei
co. Era como se estipulava: de 7, D. Diniz nos Doc. de Grijó.
de 8, de 9, de Io, de 11, ou de STA. Esta. Sta terra, esta terra.
12 costas , ou costellas. E outras Doc. das Bent. do Porto de 1322.
vezes era huma spadoa com todas sas STADA. Assento, cadeira, ban
costas. Assim consta de muitos Pra co. E o recebeo em irmão, e em Cano
zos, e arrendamentos do Sec. XIII., migo da diéia Egreja , e assinou-lhe
XIV., e XV. stada em Coro, e logo em Cabido. Doc.
SPARGELAR. V. Espargelar. do Salvador de Coimbra de 1331.
SPECTANTE. O que tinha im STADO. O mesmo que Estado.
petrado Letras Apostolicas expec Tambem podemos dizer se chamá
tativas. Doc. de 1 369. rão Stados, ou Estados os Roes, ou
SPECULO. He o Speculum juris Protocolos, em que os Termos, ou
de Durando, Bispo de Mende, que Assentos das Querellas, ou Denún
teve o sobre-nome de Speculador por cias se escrevião. V. Ord. Af. Liv
causa deste Livro, que por muito I. Tit. 23. STA
ST SU 333
STALA. Presepio, curral, es muzelam, & unum plumacium. Doc.
trebaría , córte, casa baixa , hu de Lamego.
milde, e não asseada. Vem do La STEDE. Esteve , preterito do
tino Stabulum. Sigamos a virtude pe verbo Star, ou Estar. Veo per ante
lo amor daquelle que nasceo na stala mi per seu Procurador , e stede per
pobre 3. e humildemente.? antre anima tres dias. Carta d'ElRei D. Diniz
lias bravas, com a fimpres innocencia de 1 286. Doc. de Tarouca.
da pequenice do manso cordeiro. Da STEVADAME de vinho. Esti
qui poderiamos , sem injúria, de va, ou medida certa de vinho. V.
rivar o nome ás nossas estalagens, Estiva.
que não sendo ordinariamente, que STEVADAMENTE , Stivada
huns vís, e immundos curraes, esta mente, e Estivadamente. Por medi
lão os corpos , e as bolsas dos po da certa, á risca, nem mais, nem
bres, e fatigados passageiros. E menos. E dardes stevadamente de vi
que ninguem ponha remedio eficaz nho cinquo puçaaes. Doc. de Pend., e
a tanto mal!.. V. Blut. V. Esta Bostello do Sec. XIV.
lagem. STEVAINHA. O mesmo que
STALLO. O mesmo que Stada. Steveinha.
Pose , e induse ao dito recebente na STEVEINHA. Nome de mulher,
posse per assynamento de stallo. — que em Latim se diz Stephania. Doc.
E per as synamento de stallo no Coro, de 1 336.
come Raçoeiro prebendado. Doc. de STO. Isto. Doc. das Bent. do
S. Pedro de Coimbra de 1368, e Porto de 1 336.
1395. Em outro de 1418. ib. se diz STRANHAR. Alienar, passar
Seeda. Llhe synou logo reeda em Co aos estranhos, e fóra da avoenga,
7"0. ou familia qualquer propriedade,
STANÇA. Instancia. Pedir com ou fazenda. Doc. de Arnoia de 1 341.
grande, e mayor, e muy mayor stan No Latim do Sec. XI., e XII. se di
ca os Apostolos. Doc. das Bent, do Zia Straniare.
Porto de 1 393. STUDO. Estudo. Doc. de 1285.
STAR. Subst. Na baixa Latini STYL, e Estil. O mesmo que
dade se disse Stare, Estare, e Star Artil. Cod. Alf. L. II. Tit. 7.art. 4 r.
rum, pela residencia, vivenda, ha SUBFREGANHO, e Sufrega
bitação, ou casa, em que alguem nho. Suffraganeo, o que estava su
estava , ou residia. Igualmente se jeito, e dependente de alguem. Dis
tomava pelo Hospicio, ou Hospeda se hoje dos Bispos , e Bispados,
ría, em que os hospedes, ou pas das Igrejas, e dos Clerigos. Anti
sageiros se albergavão, e recolhião. gamente se dizia de qualquer ter
No Testam. de D. Silvestre de 1 272 ra, ou Povo , que estava no tem
se toma por Hospedaría , pois diz: poral sujeito a outro. E por nons
Primô mando corpus meum repeliri in serem soieitos, nem sofreganhos d'Al
Monasterio S. Joannis de Tharauca, godres. Doc. de Tarouca de 1335
cºmando ibi mecum in ipso die sepul Subfreganho. Em hum Doc. de Pend.
rurae meae unam pitantiam. It : man de 1415. •

do Stari ipsius Monasterij IV mo SUBRICIO. Acha-se esta pala


rab., Óº unam colchiam, ó unam al vra na larga Doação, que a Rainha
334 SU SU
D. Thereza fez á Sé de Tuy, sen e immediatamente abaixo dos Ri
do seu Bispo D. Afonso , no de cor-Homens.
1 125 (Arch. da Mitra Bracar. no Resta-nos fallar dos 3.", que
L. dos Doc, confirmados N. 4.) na dizemos serem os Infançoens, que
qual se lê: Incauto etiam vobis, Óº como filhos dos grandes Fidalgos,
cunctis successoribus vestris , villam já desde o tempo dos Godos, se
de Sancto Petro de Turri ; ita quod costumavão crear em Palacio, de
nullus Comes, vel Subricius, aut Gal baixo da inspecção de hum Oficial
linarius, vel cujuscumque Dignitatis Palatino, a que chamavão Praefectus
Homo , sive ex parte Regia, sive ex Gillonariorum , segundo consta do
ali qua alia, audeat in ipsam Villam, Forum judicum, e diz Caetano Cenê
.aut in terminos ejus intrare, sive pi no II. T. de Antiquit. Eccles. Hisp.
gnorare, vel aliquid inde auferre si cap. 2. que correspondia ao que
me mandato vestro. Aqui se nos of os Hespanhoes ao depois disserão
ferecem trez Titulos de Nobreza, Alcalde de los Donzeles. V. Alcaide
que com respectiva graduação se dos Donzeis. E se estes mancebos
vão seguindo abaixo do Throno, a Fidalgos , ou Infançoens, como se
saber: os Condes, Ricos-Homens, ou disse V. Infançom, erão chamados
Baroens , que erão immediatos á Gillonarios, que muito neste Doc.,
Magestade, e se denotão pela pa que se conserva original , se cha
lavra Comes: os Fidalgos de conheci mem Gallinarios?... Não temos nós
do solar , e antiga linhagem , que innumeraveis palavras ainda mais
estavão no primeiro degráo abaixo corruptas naquelles tempos, em que
dos Ricos-Homens, e outros de gran o nosso Dialecto nada tinha de re
de Solar, ou 1."Nobreza ; e por gular, e consistente ?... Equiçá se
isso se nomêão aqui com a voz Sub D. Mendo, o Notario da Rainha,
ricius ( que sôa Subrikius): e fi sem grande alteração de letras, e
nalmente se nomêão os Infançoens com hum descuido muito cuidado,
pelo termo extravagante de Galli quiz chamar Galinheiros, ou Papa
narius. Dos 1.º parece não ha ra gallinhas a estes Infançoens, que co
zão alguma para duvidar. Dos 2." mo rapazes , e amigos do ventre,
poderia lembrar, que havendo-se vexarião com requisiçoens de grande
chamado Subregulos, os Mórdomos cópia de gallinhas os colonos, e
Móres da 1.º Raça dos Reis de vassallos das suas terras ?. Nós sa
França, pelo seu exhorbitante Po bemos a extremosa paixão, que na
der; pois erão com pouca diferen quelle tempo havia por este prato:
ça huns Vice-Reis: e chamando-se nada mais frequente em as Paradas,
igualmente em Inglaterra Subregu fantares , Procuraçoens , Colheitas,
los, os antigos Duques, Condes, órc. Mas não queiramos presumir
e Barões : podia lembrar, digo, isto de gente séria : insistamos,
que taes erão os Subricios do pre que com hum lapso de penna, ou
sente Documento. Mas esta origem descuido do Notario, se escreveo
se não póde verificar aqui, vendo Gallinarius por Gillonarius , e lem
nós, que ao Subricio precede o Con bremo-nos , que o Bom Homero
de. E assim dizemos, que era Fi tambem dormítta,
dalgo da 1.º Nobreza não Titulada, Contra este sentimento está Du
Can
SU SU 335
Cange V. Gillonarius, que diz ser Dignidade, vel cujuscumque Digni
Oficio Palatino para com os Wi tatis homo: não posso convir, que
sogodos, e lhe parece corresponde este seja o caracter de hum creador,
ao que lança vinho no Real cópo, ou tratante de gallinhas. Porém to
ou que trata da Botelhería da Real mando Gallinario pelo Aposentador,
Meza , a que os nossos Maiores Uchão, Trinchante, Mordomo, Vé
chamavão Escanção. Gillonarius, Of dor, ou por outro Real Ministro,
ficium palatinum apud Wisigothos, idem a quem pertencesse a provisão do
videtur qui apud nos Buticularius. E Palacio , de que as gallinhas não
passa logo a reprovar a conjectura fazião a menor parcella, não con
do P. Pantino , qui Gillonarios pue tenderemos. Mas não dicta a Pru
rorum fuisse praefectos contendit, quod, dencia, deixar o quasi certo, por
ut ait , apud Wisigothos gielen, sit aquillo , que só apparencias tem
lascivire, quod proprium est ejus aeta de verdadeiro. Vid. Barro , onde
}?SC0?,| fis: unde giel, lascivus. Porém não se achará hum Doc. terminante a
se apoyando Du Cange em outro favor desta opinião, que cada qual
fundamento mais que hum videtur, póde seguir sem nota de temera
e havendo dito no § immediato, rio; referindo-se principalmente ao
que Gillomichael, he o mesmo, que vel aliquid inde auferre. •

Puer Michaelis : por confissão do SUBRREGANO, e Suriegano.


mesmo Author, podemos afirmar, Casal, ou Prazo, que paga leitão,
que Gillonario era o mesmo que Me marrão, côbro, ou espadoa de por
nino , Moço , ou Mancebo , que no co. Vem de Surex , que na Baixa
Real Palacio se criava , e que ao Latinidade era o mesmo, que Por
depois, ainda mesmo por honra, cellus. Nas Inquiriç. Reaes de 1 258
conservava este grande distincti se achou no Concelho de Celori
vo, synonimo de Infanção. co de Basto, e na freguezia de São
* Não se me esconde com tudo Martinho de Val de Boiro hum Ca
haja quem defenda, se deve tomar sal, que costumava dar Directuras,
no sentido literal, e obvio a pala sicut aliud Casale forarium : Óº de
vra Gallinarius, por Gallinberio, que magis debet esse Surrieganus, e se
trata , cuida, vende , ou procura undo outra lição Subrreganus.
gallinhas; pois neste sentido a to SUDEIRO. Toalha , ou lenço
márão os bons Latinos. E como a de alímpar o suor. Vem do Latino
Rainha, assim como em outras ve Sudarium , mudado o a em e. Em
zes , se dilatou naquella occasião huma Carta de Venda de 1 195 se
por muitos dias em Tuy, donde o deo para Confirmação , ou Rebora:
Couto de S. Pedro da Torre dista Unum Sudeirum , Óº duas paduas.
va pouco; não foi mal lembrado, Doc. da Un. de Coimbra. V. Re
o prohibir, que ninguem dalli to bora.
masse cousa alguma sem licença, SUEIRAS. Certas pedras pre
ou mandado de Direito Senhorio. ciosas, talvez safiras. Na vida an
Não nego a força do argumento; tiga da Rainha Santa Izabel se lê:
mas como os inhibidos de entrar nes Os milhores pannor , apostados com
te Couto, ou delle tirar alguma muito aljafar , pedras ricas, penas »
cousa, são homens constituidos em que vivendo com ElRei seu maridº
7J2S
336 SU SU
vestira : e havia huma mui formosa, Author. Contestamus cum suo orna
e de gram valia, cuberta das mais ri mento Eccle/iae libros , casular, ves
éY2J J'1/6'17"(!f. timenta Altaris , vel Templi , Cru
SUEYRAS. O mesmo que Suei ces, Super-Evangelia, Óº corona, Óº
ras. E a mha selha das sueiras. Tes calice, & patena argentea. Doc. de
tam. de D. Ermengonça de 1294 Pend. de 87o.
em Pend. E note-se o faustoso luxo SUPER-SARRACES. Entre os
de pedras preciosas, com que as mes varios Oficios, que pelos annos de
mas sellas se ornavão. Porém á vis Io22 havia no Mosteiro dos Santos
ta de cavallos com sellas, e freios Facundo, e Primitivo era hum, a
de prata, não he tanto para estra que chamavão Super-Sarraces, isto
nhar se empregassem as sueyras na he, inspector dos escravos , mo
sella , que conduzia huma tão Il ços, e cativos, que por serem Sar
lustre Senhora. V. Avoenga. racenos, se disserão Sarraces; as
SUFREGANHO. V. Subfrega sim como havia outro que se intitu
nho. lava Super-Villas , que era o mes
SUMMARIO. OS. Macho, mu mo, que Feitor. Hisp. Sagr. T.XXXV.
lo , azemala, bêsta de carga. Et f23.
XV. summarios oneratos auro, Óº XX. SUPER-VILLAS. V. Super-Sar
7"/1C6'4',
dextrarios. V. Adextrado. Do Grego
Sagma , ou Sagniarium , pêso, ou SUPOSITAS. Trapaças, enre
carga, se disse na infima Latinida dos , falsidades, enganos, maqui
de Summare, carregar bêstas, ju naçoens, intrigas. V. Inmissão.
mentos, cavallos, mulos, &c., e SUPRESITO. Tudo o que são
Summarius, a mesma bêsta de carga. pertenças de huma herança. Ap.
SUPER-ALTARE , ou sobre Berg.
Altar. Acha-se em alguns dos nos SUSO. V. jussãa.
sos mais antigos Documentos , já SUXAR. Dispensar, abrandar,
no sentido de Pedra d'Ara, ou Al remittir. Doc. de Tarouca do Secu
tar portatil; já como docel, pá lo XIV.
lio, ou sobre-Cco, com que algum SYNODATICO. V. Cathedrati
Altar se cobria, e ornava. co. De hum letígio que se agitou
SUPER-EVANGELIA. Capa no de 1596, cujos Autos se guar
preciosa , com que os Sagrados dão no Archivo Brachar., consta,
Evangelhos, ou mais bem o Codi que cada Pia de baptisar deve pa
ce, em que elles estavão escritos, gar de Synodatico 8oo reis todas as
e a que hoje chamamos Missal, se vezes, que se fizer Synodo, e não
compunha , e ornava, em venera se fazendo, não se devem pagar.
ção, e honra do Sagrado Texto.
Não só de custosas télas, até mes
mo de laminas de ouro, ou prata,
e algumas vezes cravadas de finas
pedras, se cobrião as pastas destes
Sagrados Livros; testificando com
demonstrações de tanto preço o res
Peito , que se consagrava ao seu
TA 332
que elles fizerão das montanhas das
Alpuxarras, que repartírão em on
ze Taás, que erão, como Cabeças
T. de Partido , Julgados, ou Conce
lhos, governados por hum Chefe,
T Letra numeral, valia antiga ou Xeque, e todos sujeitos a hum
mente 1 6o, e com til 16od). só Rei, ou Principe, a quem pa
T. Na Musica dos Antigos de ão os devidos Direitos, e Tributos,
notava a morosidade, ou detenção TABALHIOM. Tabellião. Doc.
do Canto. de 1 295.
T. Em os nossos mais antigos TABALLIADEGO. Oficio de
Documentos reteve constantemente Tabellião. O Chanceller nom dará Car
o valor de mil ; prescindindo das ta a nenhuum de Taballiadégo. Cod.
accidentaes figuras, com que se es Alf. L. I. Tit. 2. § 12.
crevia (não obstante dizer fero TABOAS. Alludindo ás Taboar
nimo Blanca na Hist. de Aragão, que enceradas, ou engessadas, em que os
nos Instrum. de Aragão, e Navar Antigos escrevião com estilo, ou
ra, achando-se o T com dous pon ponteiro de ferro, se chamarão de
tos em cima, algumas vezes valia pois Taboas todas, e quaesquer Es
só 9 co: opinião, que Morales in crituras exaradas em páo, metaes,
Corduba f. 1 o, e o A. da Hist. Pi pedras, pannos, pergaminhos, pal
mateure, não deixárão de seguir, es mas, juncos, papíros, e toda a ma
te a f. 269..) V. Algarismo. teria bem disposta para nella se im
T. Posto immediatamente ao no primir, gtavar, ou escrever algu
me de hum soldado, era sinal de ma Escritura. De Taboas neste sen
não ter morrido na guerra; dando tido se faz menção em hum Doc.
a entender, que Deos (em Grego de Tarouca, que he huma Traduc
Theos) o tinha conservado : e isto ção em Portuguez da Regra de São
ao mesmo tempo, que o T era si Bento feita nos principios do Se
nal de morte, como inicial de Thana culo XIV.
thos, que em Grego significa morte. TAES, e quijendas, ou quijan
T. Substituido por D. V. L. D. das, V. Quejendas.
Mas tambem algumas vezes occu TAGANTE. Golpe de açoute,
pava o T o lugar do D. v. g. At ou azorrague, que corta, e retalha
ventus por Adventus, &c. a carne, e por isso se disse Tagan
T. Mudado em C, e pelo contra te, isto he, Talhante. Aquel, que
rio , he frequentissimo nos Doc. a seu Confrade der punhada , ou lhe
Barbaro-Latinos, que entre nós se messar a barvha, entre em camisa a
conservão. V. L. C. P. tagantes. Doc. de Thomar de
T. Fazendo as vezes de S. V. L.S.
1388. V. Hervoeira.
TA, ou TAA. Assim chamárão TAGAR. Cortar, ferir. Ap. Berg.
os Mouros a cada huma das Cabil TAGRA. Medida de vinho, seis
das , ou Almohellas , compostas de das quaes fazião meio almude Coim
muitos Aduares, em que repartião brão, que he, hum cantaro de 24
algumas porções grandes de terra. quartilhos. Era pois a Tagra huma
E tal foi em Hespanha a Divisão, taça, que levava huma canada de
Tom. II. V V1
338 TA TA
vinho. E esta era a ração delle, que zendo-lhe: Sabede que os juizes, Ve
D. Affonso Sanches mandava dar readores, e Homens-Boms dos Conce
diariamente ás Religiosas de Villa lhos dessas Comarcas me enviarom di
do Conde, de que era o Fundador, zer... que como por rrazom da pes
e Dotador magnifico. telença , que s'y seguio , muitos que
TALAN, Talante , Talhante, morreram en ella, leixarom em seos Tes
e Talente. Gosto, desejo, prazer, tamentos herdades, e vinhas, e outras
vontade. Bem sabedes como era meu possissoens aás Eigrejas, e Moesteiros,
talan de fazer huma Pobra a par do e Ordeens, e leixom os que agora mor
meu Castello de Cerveira. Carta d'El rem: pelas quaes herdades, dizem, que
Rei D. Diniz para se povoar Vil soyão de pagar aquelles, cujas eram,
la Nova de Cerveira. Doc. de Lor sendo vivos , em fintas, e em talhas
vão de 1 317. Por usarem delles a seu com os Concelhos, e faziam a mim ser
Iivre talante. Vida d'ElRei D.João viço de cavallos, e armas. E que ago
I. Eí, D. Berengueira de meu querer, ra as Eigrejas, e Moesteiros, e Or
a bom talhante. Doc. de Almoster. deens, que as apoderarom, e apodéram,
Talente se acha com frequencia pe dizem, que nom am por que paguem por
lo mesmo tempo. ellas : E quem os por alguma rrazom
TALANTE. V. Talan. . quiser demandar, pera que os ditos beens
TALAZIA. Talha, em que es sejam obrigados, que os demandem per
tava o vinho, que se vendia aquar ante os juizes da Eigreja. E enviarom
tilhado. Doc. de Lamego do Secu me sobre esto pedir Mercé. E Eu veem
lo XIV. do o que me pediam: Tenho por bem, e
TALENTE. O mesmo que Talan. mando-vos , que constrangades esses,
TALENTOSO. A. Alegre, de que asi as ditas herdades cobrarom, que
zejoso, satisfeito, contente. Alvo paguem como pagavam os donos dellas,
ro Paez, muito talentoso de ver tal seendo vivos, em aquellas cousas, que
feito acabado. Chron. d'ElRei D. som prol da terra , e nos encarregor |
João I. P.I. c. 9. rrea.aes, e nos que sempre custumarom
TALHA. Contribuição, collec Unde al & c. Doc. de Moncorvo. V.
ta, exacção, que se lança por ca Ordem. L. II. Tit. 59. In princ.
beça, e na qual todos são cortados, TALHA de fuste. Pedaço de páo,
segundo os seus respectivos cabe taboinha, caváco, ou ramo, no qual,
daes , e haveres. Vem do antigo diagonalmente cortado em duas par
Verbo Taleo, talhar , cortar, re tes, em cada huma dellas se escre
partir hum todo em limitadas por vião, ou imprimião algumas letras,
ções. E taes são as Talhas, ou fintas, ou sinaes , que declaravão a divi
de huma certa, e determinada som da , ou a sua paga; ficando huma
ma, que se lanção , e repartem a em poder do acrédor, e outra em
hum Povo , Concelho , Cidade, poder do devedor, que lhes servião,
Provincia, ou Reino. V. Armenti ou de obrigação de divida, ou de
nhos. No de 135 o escreveo ElRei quitação della. Do Latino Talea,
D. Affonso IV. a Vasco Gomes, seu ou Talia, que significa, ramo cor
Corregedor aaquem dos Montes, e tado, disserão os Francezes Taille,
todo-los outros , que depois hi forem os Inglezes Taley, e os Portuguezes
por Corregedores, ou Meirinhos, di Talha de fuste, isto he, redºsº; OUl

3) S
TA TA 339
lasca de páo. V. Du Cange V: Ta tuphir. L. dos For-Velhos. Era pois,
lea , e V. Tallia 8. E nom lhis pa o Talho dos peixes o mesmo que ho
gam os dinheiros, e dam-lhis senhas je o Talho das carnes, isto he, o ce
talhas de fuste, e que passa por huum po, ou banco , ou barraca, onde o
anno, e por tres, que nom podem aver peixe se vendia, ou fosse inteiro,
delles nenhuma cousa. Cap. Espec. de ou em pósta. E de cada hum destes
Santarem de 1 325. V. Barro. Talhos se pagava de fôro ao direito
TALHADOR. Cutello, faca. V. Senhorio hum moio depam, que aqui
}Yendima. se declara ser de 32 alqueires; ex
TALHADURA d’agua. Porção ceptuando com tudo a venda dos
d'agua, talho, medida rustica das peixes atuns, que aqui se chamão
aguas, pela qual se entende huma Tuphos do Latino Thunnus, por quan
vêa d'agua, bastante a regar, ou to estes se não vendião nos Talhos;
limar hum prado, campo, ou lamei sendo reservados ao Real Fisco.
ro. Achamos nós Omeens boons jura TALIGA, Thaliga, e Taleiga.
dos, que er ouvesse ó lameiro hua ta Até hoje permanece o nome de Ta
lhadura. Doc. de Pend. de 1 3o9. leiga, principalmente na Provincia
TALHAMENTO. Talha, taxa, da Beira: huma Taleiga são alli qua
repartição. Daõ de talhamento VII. tro alqueires rasados, que fazem
moios, isto he, 7 moios repartidos tres acugulados. E esta he a medi
por talha, segundo os bens de ca da, que hoje se pratíca na Provin
da hum. cia do Minho, onde a tres alquei
TALHANTE. V. Talan. res de sal acugulados chamão Tei
TALHAR. I. Não só se toma ga. Porém não sendo a Teigula, ou
va antigamente por cortar, separar, Teiga dos antigos huma medida cer
ou dividir alguma cousa; mas tam ta, e geral, senão para hum par
bem por tomar o caminho direito, ticular territorio, celleiro, ou Se
cortando sem rodeio de huma par nhorio ; daqui nascia haver Teigas
te a outra. E des hi direito, talham de quatro alqueires, de tres, de dous,
do aos Barreiros. Doc. de Bragança e ordinariamente de hum só alqueire
de 15 5 1. No de 12o 3 se deixou ao Mostei
TALHAR. II. Taxar , ajustar, ro das Salzedas huma Pitança de 14o
repartir. Talhar soldada com alguem, paens, declarando-se, que de cada
he ajustar-se com elle sobre a quan Taliga se farião 5 paens. E daqui
tia da soldada. Levem com rigo os mes se infere bem, que ella seria de trez
teiraes, e talhem com elles a dita em quartas da medida corrente, que fa
preitada. L. Vermelho d'ElRei D. Zião hum alqueire daquelle tempo.
Affonso V. N. 7. V. Charidade III. No de 1 227 se dei
TALHO de peixes. No Foral, xou para aquelle Mosteiro outra se
que D. Willelmo de Cornes deo aos melhante Pitança em dia de S. Mar
Francezes, e Gallegos, que povoá tinho, que constava de dous modios
rão a Atouguia, no tempo d'ElRei de vinho, 2o peixotas, & XXVII."
D. Afonso Henriques, se diz: que taligas de farina in pane cocto. Liv
dos peixes do mar se pague de uno das Doaç. das Salzedas f. 31. V. Pa
quoque talio unum modium de XXXII. ra o vinho, e peixe se proporcionar
alqueiris; exceptis illis, qui vocantur com o pão, havemos de dizer, que
-
VV ii Ca
34O TA TA
cada Taliga era hum alqueire. Ain serão alguns dos nossos Escritores:
da hoje dizem Taleigo (diminutivo //id. Sousa. V. Tamarma.
de Taleiga) hum sacco de dous al TAMBEIRA, e Tameira. A ma
queires, e Taleiga de azeite, dous drinha dos Esposados no dia das
cantaros de azeite da medida de suas bodas. Esta palavra ainda tem
Lisboa. V. Teiga. algum uso na Provincia da Beira,
TALINTOSA. Dizião os anti e se acha no mesmo sentido no Tom
gos a mulher diligente, e cuidado bo do Aro de Lamego de 1346. V.
sa na boa economia, e administra Tamo.
ção da sua casa. E huma mulher TAMBEM. Tanto, assim. Tam
desta qualidade não só he mulher bem da nossa parte , come da estra
de talento; mas ainda o seu preço nha. Doc. de Vairám de 1312.
não poderia ser menos que hum TAMBO. V. Tamo.
grande número de talentos. E da TAMBO. Banco-, meza baixa,
qui me persuado a chamárão Talin escabêlo. Comer em tambo, o mesmo
tosa, por Talentosa. que comer em terra, ou debaixo da
TAMALAVEZ. adv. Algum tan meza: ceremonia, que nas Commu
to, alguma cousa, de algum modo. nidades Religiosas, já desde a sua
Não he esta pedra tam splendida, e origem se praticou.
fransparente como vidro, mas algum TAMEIRA.V. Tambeira, e Tamo.
tanto densa, e na cór dava huma ap Doc. de Lamego.
parencia de madre perola; porque ti TAMO. Celebridade, festa , e
nha tamalavez de azulado. Duarte regozijo, que os noivos fazem no
Nun. do Lião na Descrip, do Reino dia das suas bodas. Vem de Thala
de Port. c. 23. Falla da pedra Obsi mus, o leito nupcial. De todas as
diana, de que Plinio faz menção, bodas, que algum dia se celebra
a qual tinha semelhanças de vidro, vão em Lamego, e em todo o seu
nascia em Portugal , e della se fa Julgado no mez de Fevereiro (se
Zião baixellas. O mesmo A. afirma nellas se tangia adufe) tinha o Mór
víra desta pedra huma panella bem domo d'ElRei a melhor Fogaça que
figurada, e outros pequenos vazos vinha ao Tamo; se o tangião sem o man
lacrimatorios em hum sepulcro Ro dado do Mordomo, e nom se avindo an
mano , que nos seus dias se des te com ell. E se lhi nom quizer dar a mi
cobrio em Lisboa , junto ao Con lhor Fogaça, o Mordomo por si o pi
vento de Santa Clara. nhorará pera Direito perante o juiz:
TAMANHAM. Tamanho, tão E o noivo, e a noiva juraráõ qual foi
grande. Ainda hoje he usado com a milhor Fogaça, que hi veo ao Tamo,
desprezo , fallando-se de hum ho e essa lhe daráõ. Tombo do Aro de
mem, mui grande de corpo, e pe Lamego de 1346 a f. 7. Y. Em quan
queno de espirito. to ao tocar o adufe. V. Achacar. Mas
TAMARMA. Assim chamão ain que razão haveria , para só neste
da hoje huma fonte na Villa de San mez ser prohibido o tocar adufe ?..
tarem. Os Mouros lhe pozerão es TAMPELO. Mando á Confraria
te nome, que quer dizer agua de do Tampelo dez libras. Doc. de Al
tamaras, ou agua doce, e não aguas moster de 1287. Quiz dizer D. San
amargosas , como erradamente dis cha Pires (Mãi de D. "…sº »
UlIl
TA TA 34. E
Fundadora deste Mosteiro) de cu TAPAGEM. O mesmo que Ta
jo Testamento he esta verba, que padura. Doc. de Lamego do Sec. XV.
deixava dez libras aos Confrades, TAPIGOOS. Tomadías, qne se
ou Terceiros da Ordem dos Templa fazem nas terras do Concelho. No
rios , que se chamavão do Templo. de 1375 se tomou posse do lugar
,-#
V. Temple, Tempre, e Tempreiros. de Cernade por parte d'ElRei a 14.
TANGER. Pertencer, tocar, ser de Junho, e se nomeárão logo Ju
da sua particular inspecção, e cui rados com alçada de 6o soldos, e
dado. Salvo de todas aquellas cousas, conhecimento dos estímos, e tapígoos;
que ataá qui tangiam especialmente nós, prendendo os malfeitores, e remetten
fy
e nossa Eigreja. Doc. de Lamego de do-os para o Castello de Coimbra. Doc.
I 292. — Se succeder, que estes beens da Cam. Secular de Coimbra.
tangam & c. Doc. das Bent, do Por TARDAM. O vagaroso, remis
to de 1337. __ so , frouxo , descuidado, inerte,
TANGOMAO. Desta palavra, preguiçoso.
que usa a Ordeu. L.I, Tit. 16. § 6., TARDINHEIRAMENTE. Va
tem sido a interpretação mui vária, garosamente. Doc, de Tarouca dos
e discordante. Os que dizem, que princ. do Sec. XIV.
Tangomão he o que foge, e deixa TARDINHEIRO. Remisso ,
a sua pátria , e morre fóra della, frouxo , vagaroso. Nem nos fagem
ou por suas culpas, ou por seus par tardinheiros pora queréllas, e cubiçal
ticulares interesses, tocárão sem dú las. Doc. de Almoster de 1287.
vida no verdadeiro espirito da Lei; TARECENA. AS. Não só se deo
pois se a sentença pronunciada con antigamente o nome de Tarecena,
tra os bens do Tangomão ha de subir Taracena, Tercena, ou Tercenas ao
á presença d'ElRei, para se dicidir Arsenal , em que se construião, e
se elles pertencem, ou não ao Real guardavão os armamentos navaes,
Fisco; fica manifesto, que o dono e tudo o que era pertença da mari
morreo ausente , e fugitivo. Não nha: igualmente se chamárão assim
negaremos com tudo, que havendo os almazens , e arsenaes, ou par
passado esta palavra de Guiné a ques , em que no interior da Mo
Portugal; particularmente se enten narchia se fazião largos depositos
de dos que fogem, e morrem por de muniçoens de guerra. No de 1488
toda a Guiné, e Cafraria. ElRei D. João II. fez prover, e re
TANJUDA, e Tanjuga. Dizião parar as Fronteiras (não obstante
A canpaa tanjuga, a toque de sino. que tinha paz com Castella) assim
Doc. das Bent. do Porto de 142o. de muros, e torres, como de muni
Campa tanjuda , he frequentissimo çoens, e abastecimentos de artelha
nos Prazos antigos dos Mosteiros, rias , polvora , salitre, armas, al
e Cabidos. V. Batudo. mazens ; para o que mandou fazer
TANJUGA. V. Tanjuda. em todas as fortalezas novos apou
TAPADURA. Vallado, valla, sentamentos, e casas deputadas pa
sebe, parede, tapúme, e qualquer ra isso. Epera repairo, e acalmamen
outro resguardo dos campos, quin to das ditas artelharías, na Comarca
+as, ou fazendas, segundo o costu da Beira mandou novamente fazer a
me da terra. Doc. de Bragança do {Tarecena da Villa de Pinhel, em que
Sec. XIV. (1J
242 TA TE
as ditas cousas estavão em deposito; Acha-se tambem na Ord. L. II. Tie:
e abastança. Chron, d'ElRei D. João 5. S 3.
II. c. 3o. • TEEDOR das estradas, e cami
TAREIJA. Thareza, nome de nhos. O ladrão público , que com
mulher. Doc. de 13oo. mão armada, e violentamente, oc
TAUSA. O mesmo que Talha. cupa, tem, e embarga estes luga
Não paguem em fintas , ou tausas. res, roubando os passageiros: este
Carta d'ElRei D. João I. de 1427. não goza da immunidade da Igre
Doc. da Cam. de Viseu. ja, assim como nem o incendiario
_TAUSAÇOM, ou Tousaçom. das searas, nem o que insidiosamen
Taxa, que se põe, e determina so te, e de preposito, e só a fim de
bre o preço , ou valor de alguma injuriar, commette algum delicto.
cousa. Doc. de Ceiça do Sec. XIV. Cod. Alf. L. II. Tit. 8. § 6.
- TAUSAR , e Tousar. Taxar, TEEYA. Tinha, preter. do ver
pôr taxa ás mercadorias, aos man bo Teer.
timentos, ao tempo, aos gastos, TEIA. No Foral de Figueiró dos
aos louvores, ás palavras &c. Doc. vinhos, dado por D. Pedro Affon
de Ceiça. Daqui se disse: Eu tau so, filho d'ElRei D. Afonso Hen
so, ou Touso, eu ponho taxa &c. riques no de 1 176 , fallando das
TOUSAÇOM. V. Tausaçom. divisoens pela parte, que demarca
TOUSAR. V. Taurar. com o Pedrogão, diz: Quomodo ve
TAXAÇAO. Certo Direito, que nit pela teia de Monasterio de Agia,
se paga aos Ministros, que mane &º venit ds cabeças de Nadavis. & c.
jão a Real Fazenda. He de Barros. L. dos For. Velhos. E aqui temos
TAXADOR. O que põe a taxa o Mosteiro da Aguia, de que os nos
a qualquer cousa, que se vende, sos Escritores guardárão até hoje o
arrenda, ou aluga; e isto com obri mais alto silencio. Mas que Teia
gação de lhe pôr o justo preço. Não seria aquella, que de Figueiró dos
obstante a Cidade do Porto haver vinhos o separava?. Poderiamos di
destinado sitio, em que as meretri zer, que por Teia se entende aqui
zes vivessem separadas, no de 1402; o muro , parede , vallado , cava,
por ordem Régia de 1585 se man sebe, estacada , ou qualquer outro
da assignar-lhes bairro separado; tapume, com que a cêrca deste Mos
nomeando-se Taxadores para o alu teiro se defendia; pois ainda hoje
guer das casas , que serão obrigados se chama Teia o frontal, ou reparo
a despejar os mesmos donos ; não en de madeira, com que nas justas,
trando homem com armas no mesmo touros, e cavalhadas se fechão os
bairro ; nem tendo as mesmas mulhe campos , e terreiros em que ellas
res comsigo meninas, que passem de se executão. Se dissermos, que de
sete annos , ainda que sejão suas fi Teda se disse Teia; isto he, pinhal,
lhas. Doc. da Cam. do Porto. ou matta de pinheiros bravos des
TÉDO. O mesmo que Teudo, tinados para o fogo, depois de fei
obrigado. Faría. ros em rachas, não seria desatten
TEEDOR. O que actualmente divel esta lembrança. E finalmente
tem , e possue. Meu irmão, teedor se de Telia, que na baixa Latini
desta Carta. Doc. de Pend. de 1291. dade era o mesmo, que Modus agri>
aut,
TE TE 343
aut vine é , se chamou Teia alguma ga sêxta, Teiga direita, Teiga do Cel
belga de campo, ou leira de vinha, leiro, Teiga do jugundo, Teiga ja
que fosse do dito Mosteiro, teria Agunda, Teiga fugadeira, Teiga, Coim
mos dado fim ás nossas conjecturas, brãa, Teiga de Ponte, Teiga da terra
promptos a dimittillas, quando a de Lamego & c. Humas ainda não fa
verdade se manifeste, ou o mais che zião hum alqueire da medida, que
gado a ella se descubra. hoje corre, outras pouco mais fa
TEGELADA, e Teghelada. De zem; humas constavão de hum al
mui diferentes Tigeladas se trata na queire , outras de dous, outras de
Arte de Cozinha; mas nenhuma del dous e meio, outras de tres, outras
las se parece com as que antigamen de quatro , e alguma havia , que
te usou a frugalidade Portugueza; constava de cinco. Individuaremos
pois em humas se lançava vinho isto com alguns exemplos, para que
branco, em outras leite, em outras cada hum consulte , e combine os
ovos, em outras codeas de pão &c. respectivos Foraes, Prazos, e cos
O que parece não ter dúvida he, tumes, e não queira medir tudo por
que de serem feitas em tigelas gran huma rasoura.
des, se originou o nome de Tege Da Teiga de Abrahão falla a Or
lada, que humas vezes se dava ao den. L. II. Tit. 33. E já ElRei D.
Senhorio de Entrada no Prazo, ou Affonso Henriques a nomêa no Fo
arrendamento; outras erão do Mór ral, que deo aos moradores de An
domo por Pedida. Deu dentrada hua cião, Rabaçal, e Penela, a qual se
teghelada, e com o vinho branco pera chamou assim de hum certo homem
ela. Doc. de Paço de Sousa de 1418. chamado Abrahão , que della pri
— Dedes por Pedida do Mordomo hua meiramente usou. Assim o diz o
fogassa d'uum alqueire de farina, e Padre Bento Pereira in Elucid, n.
huum frangoom, e hua tegelada. Doc. 1968, in Apend., onde dizendo,
de S. Pedro de Coimbra do Sec. que a Teiga do Alemtéjo constava de
XIV. — Em cima de Maio huum al dous modios, que fazem hum al
queire de farinha amasada, com huma queire; não explica de quantos cons
tegelada, e com cinco ovos, e a dita tava a dita Teiga de Abrahão ; mas
nós sabemos, que ella constando
tegelada freer de codeas , de Pedida.
Doc. de Santiago de Coimbra de antigamente de quatro alqueires,
I 349. faz hoje cinco rasados, que actual
TEGEREMO. O dia trigessimo. mente se pagão á Universidade de
No dia do tegeremo VI. alqueires de Coimbra.
trigo amarado a XXX. reis o alquei Nas Inquirições d'ElRei D. Af
re. Doc. da Un. de 1458. fonso III., e no Tombo do Aro, e
TEIGA. Se em todas as medi outros Documentos de Lamego, se
das, de que os nossos Maiores usá encontrão com frequencia Teiga da
rão, particularmente na Teiga se ob Terra de Lamego, Teiga do fogun
serva huma variedade tão notavel, do , do jugundo , e Teiga fagunda
| que quasi podemos afirmar serem Não saberei dizer, se de algum ho
tantas, e tão diferentes as Teigas, mem chamado fogundo ella tomou
como erão as terras. Elle havia Teio nome: eu me inclino antes, a que
ga de Abrahão, Teiga Reguenga, Tei afim chamassem a Teiga jugadeira º
que
344 TE TE
que foi a mais usada, e pela qual que se guarda na Serra do Porto de
se costumavão pagar as fugadas. Es 15 6 1 consta a seguinte verba: Dis
ta constava de quatro alqueires, e se mais ella Testadora, que ella deve
a 6 Teigas fazião hum moio de 64 a Antonio seu filho , e lhe deixa por
alqueires. Esta Teiga fugadeira tam seu fallecimento huma teiga de pão, a
bem foi chamada do Celleiro : por saber, dous alqueires de centeo, e dous
que no Celleiro Real por ella se de trigo. Era logo a Teiga de 4 al
pagava. Mas isto não era uniforme queires.
em todas as terras; pois no Tom Huma grande variedade de Teigas,
bo do Aro de Lamego, a f. 7. Y., que no tempo d'ElRei D. Manoel
se diz: Seis quarteiros de centeo pe corrião, forão reduzidas cada huma
la medida fugunda fazem seis teigas a hum alqueire da medida corrente
pela medida da terra de Lamego, e a em muitos dos Foraes, que no seu
f. 9. V. Hum moio de pam da medi tempo se reformárão. Taes forão,
da direita de Lamego são quatro moios por exemplo, o de Valença do Dou
pela medida fagunda. Ora sendo o ro, o da Villa do Castinheiro , que
quarteiro de quatro alqueires, e fa são do Mosteiro de S. Pedro das
zendo seis quarteiros 24 alqueires: Aguias; segundo consta do seu Ar
fica manifesto que a Teiga da Terra chivo, e outros. Porém não foi as
de Lamego constava igualmente de sim nos de Alcobaça, onde as Tei
quatro; pois tambem o moio de La gas se pagão em humas partes por
mego era de 16 alqueires (cujo mais de hum alqueire, e em outras
quarteiro são quatro) sendo o do fo por menos. E tambem no Foral do
gundo de 64: e por conseguinte, I Mosteiro das Salzedas se declara,
moio do fugundo (segundo o que que dous alqueires e meio de trigo se
em outras partes se praticava) in paguem pelas duas Teigas, que d'an
cluia em si quatro moios da medida tes se pagavão. E deste modo fica
direita da terra de Lamego. Em al mos entendendo , que alli a Teiga
guns Doc. desta Cidade se acha, constava de cinco quartas. Doc. das
que huma Teiga, das que algum dia Salzedas. No Foral, que ElRei D.
se usavão naquella terra, faz hoje Sancho II. deo em Setembro de
hum alqueire menos hum falamim. Em 1 223 aos I O Casaes, que fazião a
huma sentença, dada pelos Viga Villa, ou Concelho de Barqueiros,
rios Geraes de Braga no de 1486 se diz: Habete teigam, & quartam,
a favor do Mosteiro de Roriz, da qualem semper habuistis, L. dos Fo
Ordem de Santo Agostinho, se jul raes Velhos. Prova terminante, que
gou (feita a conta pelo Contador) era medida particular daquella ter
que 3o Teigas de Pensões decursas ra. No de 1284 se tirou hum Ins
importavão justamente 12o alquei trumento em Ponte do Lima, que
res. Doc. da Univ. de Coimbra. E se acha na Torre do T. no L. II. das
por elle se vê, que foi reputada a Inq. d'ElRei D. Afonso III. a f 65.
Teiga a quatro alqueires. Isto mes pelo qual consta , que atestando-se
mo se convence por huma senten a medida velha de Ponte com a medi
ça do Mosteiro de Moreira de 15o2 da Regaenga de Óan Payo de forlla
pela qual foi reduzida a Teiga a 4 (Jolda) achárão que fazião dez e
alqueires. E de hum Testamento, fez teygas Regaengas cinque teygas.»
62
TE
TE 345
e almude pela medida velha de Ponte. que sempre" derom. Doc. de Bostel
Daqui se vê, que a Teiga de Ponte lo de 1 347. -

do Lima constava de trez alqueires, TEIGA de Martim Gonçalves,


e quarta, e pouco mais; constando Dedes a nós por pam, e por vinho qua
a Reguaenga , ou Regaenga de hum tro moyos, e sser pela teyga de Mar
só alqueire. tim Gonçalvez: e o cabedal reer ter
No de 1295 foi julgado por sen zo de centeo, e d'orgo, e as duas par
tença, que os moradores de Soutel tes de mila , feitos em celeyro. Doce
Io pagassem a jugada ao Mosteiro das Bent. do Porto de 1 329.
das Salzedas pela Teiga Direita. TEIGA quinta. Desta ha frequen
Doc. das Salzedas. Logo havia ou te menção nos Doc. de Pend. do
tra, por onde pagavão, e que não Sec. XIV. Huum sesteiro de trigo pe
era direita. De hum Prazo de Pend. la talíga da quinta. Ibid. An. de 1 3o2.
consta, que no de 1 33o havia Tei E alli mesmo no de 1 3 1 2 se acha
ga do almude de Canavezes. V. Cabe a Teiga da sérta , que sem dúvida
dal , e Capdal. De hum Prazo de he a sexta. E levardes o pam ao rio,
Vairám de 144o, consta, que huma e dardelo pela talíga da resta.
Teiga erão quatro alqueires pela me TEIGA rasoira. Huma teiga de
dida nova da Cidade do Porto. E milho raroira. — Sete quarteiros de
finalmente acha-se nos Prazos das milho feitos per teyga rasoyra. Doc.
Bentas do Porto de 1487 , 1498, de Bostello de 1 368, e 1444.
e outros, e por este tempo, a Pen Á vista da variedade tanta, que
são da Teiga sexta, que talvez se antigamente houve na Teiga, e que
ria a sexta parte de hum moio de 24 hoje em grande parte observamos
alqueires. extincta ; seria bem para desejar,
TEIGA. Ainda se fazem atten que huma uniformidade das medi
diveis as Teigas seguintes : Teiga das: se adoptasse, e estabelecesse
de Scrivam. — Huum moyo de milho em toda a Monarchia. A razão, a.
feito per rabalva, e teiga de scrivam. justiça , e a mesma utilidade dos
Doc. de Bostello de 1 337. Teiga de Povos o estão requerendo ; a fim
Scrivánios. An de 1 3 14. Ibid.—Tei de que o pretexto da maior, ou me
ga de Serivanina. An. de 1 3o%. Ibid. nor medida não possa embaraçar a
— Teiga de Screveninha, Ibid. An, de taxa , porque os fructos deverião,
1412. — Teiga de Screpvaninha, Ib. correr, fóra já da mão do lavrador
1 399. — Teiga de Scrivaninha. — Do Por este modo, se pòría termo á
ze quarteiros de milho, feitos tres al desbragada ambição dos rendeiros,
mudes de trigo, teiga de scrivaninha. atravessadores, e ragatoens, e o mi
Ibid. An. de 14o9. Era logo esta servel Povo não seria precisado a
Teiga de Escrivão de seis alqueires; pagar pelo mesmo exhorbitante pre
pois constava de trez almudes, ca ço a medida grande, e a pequena.
da hum dos quaes são dous alquei #TEIGULA. O mesmo que Ta
*
TCS. - " . liga , e Teiga. He mui frequente
TEIGA de Gonçalo Velho do o nome Teigula nos Doc. de Lame
Paço. De cabedal V. quarteiros de mi go. No Testamento de Vicente Mar
lo feitos, e huu sesteiro de trigo pe tins, Porcionario de Lamego , e
la teyga de Gonçalo Veelo do Paaço, Reitor, de Baldigem de 1288, se
- Tom. II. Xx CS
346 TE TE
escreve com esta abreviatura: tl. v. forão dos Templarios; querendo o
g : Leprosis de Lameco unam tl, de Pontifice dispôr delles a seu arbi
iritico... ó unam tl, de centeno (&º trio, e protestando o Rei, que só
zl, tunc temporis ambulabat per unam á Real Coroa pertencião pelo Di
Jiberam.) Item: Dominico Martini... reito reversivo; não existindo já mais
sex quartenarios de centeno, Óº tres a intenção, causa, e motivo, por
zlas de tritico. Doc. de Almacave. que della se havião desmembrado,
TEIXE. Peça brinco , ou dixe e porque os seus vassallos lhos ha
de ouro, ou prata, de que antiga vião legado, ou concedido: fez o
mente se usava, e cujo feitio hoje Soberano tirar huma larguissima In
se ignora. quirição (que se guarda original na
TEMENTE. Que teme. Doc. de Torre do T.) sobre os usos, costu
Pend. de 1 286. -

mes, e jurisdiçoens dos Templarior,


TEMPAM. Tempo. O qual stro e sobre as Preheminencias, que os Se
mento fora feito por N., que no dito nhores Reis de Portugal tiverão sem
tempam era Tabaliom. Doc. do Sec. pre sobre esta Ordem. Os Inquiri
XIV. •

dores forão João Paes de Soure, em


TEMPERAMENTO. Tempe Coimbra, e em Castello Branco Ai
rança , medida , ordem , modera res Pires Almoxarife (que ali se
ção, relêgo. E os Poderosos não te diz Tribunus de Castel-Branco.) Nel
rião Almotaçaría, nem temperamento la depozerão muitas testemunhas em
nenhum : e vendo que o Direito quer summa: que sempre ouvirão dizer, e
sempre a prol comunal, Óre. Carta fóra, e era fama, e crença na terra:
do Infante D. Pedro de 135 1. Doc. que tendo o Conde D. Henrique guerra
de Bragança. -com os Mouros, os Freires Temprei
TEMPLE, e Tempre. Assim he rios vierão a elle, e pedirão-lhe por
chamada a Ordem dos Templarios Mercé, que os admittisse no seu ser
em hum Doc. das Bentas do Porto viço, e que lhes desse com que se po
de 1 295 , e n'outro da Guarda de dessem sustentar, e fazer guerra aos
1298. V. Tempreiros. inimigos do nome Christão. Outras po
TEMPO de mestéres. Tempo de rém disserão , que não sabião se os
aperto , necessidade, guerra. V. Tempreiros forão do Conde; concor
Sergente. dárão porém todas , em que elles fi
TEMPRE. V. Temple. zerão a mesma Petição a ElRei D.
TEMPREIROS, ou Templeiros. Afonso I., e que delle, e de seus Suc
Assim chamárão os Templarios, Pro cessores recebérão os Templeiros, co
fessores de huma Ordem Militar, mo em guarda, e deposito as rendar,
que a piedade levantou, o zelo da e fructos de muitos Lugares, Villas,
Religião entre nós introduzio, a e Castellos, que pertencião á Casa dos
Real Beneficencia maravilhosamen Reis, para os despenderem unicamen
te engrandeceo , e a relaxação in te no seu serviço, como sempre tinhão
crivel, que de seus alumnos se di praticado, hindo ao Algarve, a Cha
zia, em toda a Igreja exterminou. ves, e outras partes da fronteira com
No de 1 314, e fervendo já as con suas pessoas , armas , e cavallor, e
testaçoens entre ElRei D. Diniz, e tudo , e sempre á sua propria curta;
Clemente V. sobre os bens , que como ellas mesmo tinhão visto. Mas
SC
TE TE 347
se o Conde morreo no de 1 1 14, e a tras Mestres Provinciaes, a respeito
Ordem dos Templarios principiou na do Gram-Mestre, que residia na Pa
Palestina no de 1 1 18: onde fallarião lestina, em quanto dalli não forão
os Templarios com o Conde D.Hen expulsos. Igualmente se deve notar,
rique?... Em quanto aos bens dos que assim como os Prelados maio
Templarios, nem todos forão con res algumas vezes se chamão Pre
: cedidos com limitaçoens tão aper ceptores, tambem os Commendado
cadas : mas em fim era Inquirição res particulares, que residião nas
em que os Commissarios talvez se Casas , Hospicios , ou pequenos
persuadírão que o Rei tinha em Conventos, que a Ordem tinha nas
penho. E pois se nos ofereceo fal Cidades, Villas, ou Castellos, e
lar agora dos Templarios, de quem mesmo nas Aldêas, para alli reco
Brandão , Ferreira, e Costa se pro lherem os frutos, e promoverem a
puzerão escrever a Origem, e as Me população, e a agricultura, repeti
morias; espero me não seja mal con das vezes são chamados Mestres: ou
tado, se regulando-me pelos Origi porque esta seja a palavra Portugue
naes de Thomar, eu aclare algumas za, que corresponde á Latina Pre
cousas duvidosas, explique as con ceptores: ou porque a lisonja dos que
fusas, reproduza as omittidas, e dependião, e a vaidade dos que man
verifique as datas, em hum Catalo davão, fossem pouco avaros neste
go mais exacto de seus Mestres ; não honroso tratamento: ou finalmente,
me obrigando com tudo a respon porque havendo alguns renunciado
der por huma Historia circunstan a Preceptoría de toda a Nação, ain
ciada, e completa dos Templarios, da o Titulo de Mestre não ficava im
# que não seria possivel, nem mes proprio das suas pessoas. O que ad
mo propria deste lugar, prompto a vertido, vamos reproduzir, o que o
sobscrever a quem melhor sentir. Doutor Pedralves Secco fez escrever
* pelos annos de 15 68 no I. T. das Es
Catalogo dos Mestres, e Principaes Che crituras de Thomar L. I. f. 5., tratan
fes, que a Militar Ordem do Templo do da origem, e nascimento dos Tem
teve em Portugal, desde a sua en plarios, diz assim: Depois que El
r. trada neste Reino, até que nel Rei D. Affonso VI, casou sua filha com
/e se extinguio. o Conde D.Henrique, sempre (os Tem
plarios) forão em sua ajuda, os quaes
I. D. Guilherme Ricardo, antes de nunca desamparárão depois de sua mor
1 128. Para nos descartarmos de milte o Rei D. Afonso, seu Primogeni
incoherencias, e se desvanecerem al to ... E a primeira Doação lhes fez a
guns apparentes anachronismos, se Rainha D. Tareja, Mãi do dito Senhor
deve ter presente o que se disse V. Rei D. Afonso, depois do falecimento
Preceptor, onde se mostrou, que os do Conde D. Anrique, seu primeiro ma
maiores Prelados, primeiros, e prin rido, sendo já casada com o Con
cipaes Cabeças desta Ordem em Por de D. Fernando, e sendo o dito Rei
tugal, humas vezes se intitulavão seu filho, a esse tempo, chamado Prin
Preceptores , outras Commendadores cipe.dos Portuguezes. A qual Rai
Mores, outras Mestres, outras Pro nha fez Doação dá dita Ordem do Tem
curadores , outras Ministros, e ou plo, com ºutorga do dito Conde seu rz
ma
• 11
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348 TE TE
rido do Castello de Soure. E sabendo o tate Bracara; tali modo, & tali pa
dito Principe seu filho, que ella fize cto: ut, si illud Castellum ante mor
ra a dita Doação, pertendendo elle o te mostra dederimur, nullis de mostrir
Senhorio da terra ser seu , e não da inimicis in eo recipiant. Et si ibi in
dita sua Mãi : por lhe não pare traverit, mittant eum foras: sic, qui
cer razão dar desgosto aos Religio nulla contraria inde nobis exeat.
sos da dita Ordem (a que tanta obri Não se me esconde, que entre o
gação tinha ) em hir direitamente Concilio de Troya, e a data da Doa
contra a dita Doação, e a revogar: ção de Soure mediárão dous mezes,
tornou a fazer outra Doação, em seu tempo bastante para chegar a Por
nome, do mesmo Castello aos Religio tugal a noticia do novo Instituto,
for da dita Ordem... Fez mais Doa e do quanto podia ser util a huma
fão a dita Rainha aa mesma Ordem Monarchia, que sobre as ruinas dos
da terra deserta, e despovoada entre Agarenos se fundava ; porém da
Coimbra, e Leiria, onde fundárão os mesma Apostilla se convence, que
Castellos de Pombal, Ega, e Redi a 19 de Abril, não foi feita a dita
nha, e as Igrejas, que alli tiverão; Doação , mas sim ratificada: e se
como se disse V. Ladéra. então se ratificou, he bem de crêr,
Prescindindo do prejuizo, em que estava feita d'antes, o tempo sim,
Pedralves estava sobre o tempo da que nós não sabemos, mas antes,
vinda dos Templarios; não reparan que chegasse o resultado do dito
do ao menos, que a virem no tem Concilio. Além disto, sendo Soure
po do Conde, se lhes deveria ter huma Praça de tanta importancia,
feito alguma Doação Real antes de e na fronteira dos Mouros, e de que
1 128: passamos a dizer, que sup o Conde D. Fernando tinha o go
posto no Concilio de Troyes, ou Troya verno, a Rainha lhes não concede
de Champanha de França, celebrado desde já a posse real, e actual, mas
a 14 de Janeiro de 1 128 recebessem antes declara : Que se d'antes da sua
osTemplarios de Honorio II. a Conº morte lha entregar, nunca dentro del
firmação do seu Instituto, a Regra, la recebão algum de seus inimigos (co
e a fórma do Habito, e que desde mo então chamava a seu filho, e aos
então se difundissem por todo o da sua parcialidade.) E que razão
Occidente, recebendo como á pro haveria para desde logo não doar
fia, favores, e mercês dos Princi este Castello aos Cavalleiros do Tem
pes, e dos seus vassallos: daqui se plo, senão o vêr, que elles erão hu
não prova, que algum, ou alguns ma gente estrangeira, sem Regu
annos antes , elles não estivessem lamento formal, e que ainda não
em Portugal. Insistamos desde lo havião conseguido huma approvação
go na 1° das Doaçoens de Soure solemne?... E que motivo haveria
(de que já se fallou V. Cruz) e no para dalli a dez dias (isto he a 29
temos esta Apostilla , que parece de Abril do mesmo anno) lhes fa
nos mostra já a Ordem do Templo zer segunda Doação solemne, ab
com Casa, ou Residencia na Cidade soluta, e sem restricção alguma,
de Braga em 19 de Abril do dito an de todos os Direitos Reaes de Sou
no : Et hanc Cartam fuit roborata in re, demarcando-lhe miudamente os
manu D. Raimundi Bernardi in Civi seus largos limites, senão a certe
Z3l
TE TE 349
za de que já o seu Instituto era Re Casa, e Convento mui notavel por
gular, e tinha as approvaçoens de Doaçoens, e Compras, que em Tho
Successor de S. Pedro ?... De tudo mar se conservão.
isto se convence, que antes deste Na cópia de Pedr’alves não appa
Concilio, e por conseguinte antes rece vestigio de quem recebesse pa
já de 1 128 entre nós havia Templa ra a Ordem a Doação da Rainha;
rios: e mesmo, que residião em Bra porém n'outras mais antigas , que
ga, onde D. Raimundo, aceitan alli se achão, se lê o seguinte:
do-a para a Ordem , chegou a ro Guilhermus P. Templi in istis par
horar a primeira Doação de Soure. tibus recepi Cartam.
Porém da Casa de Braga fallaremos E este dizemos que foi o 1.° Mes
ainda no 2.° Mestre: vamos agora tre em Portugal antes de 1 126. E
aproveitar o que o mesmo Pedral note-se de caminho, que nem to
ves Secco fez lançar no I. T. das Es das as Doaçoens, e Instrumentos
crit. Part. II. T. do Porto. Alli nos públicos dos Templarios, erão en
conservou huma larga Memoria das tão assignados pelos Mestres. Co
Doaçoens, que se fizerão á Casa do mo a Ordem era a que figurava, não
Templo de Font’arcada de Penafiel. julgárão indispensavel naquelle tem
Por ella consta, que a Rainha D. po de mais candura, e menos for
Thereza doára aos do Templo de Sa malidades , que os Prelados assi
Ilomão a Villa de Font’arcada com to gnassem sempre em os taes Docu
dos os seus termos , e beneficios. Im mentos. Confirma-se o Mestrado de
mediatamente se seguem 18 Doa D. Guilherme Ricardo por huma
çoens de particulares, que deixárão Doação original que se acha na Tor
muitos bens á Ordem do Templo, re do Tombo Gav. 7. Maç.3. N. 9., e
os quaes bens pertencem hoje a es copiada no L. dos Mestrados a f 38.
ta Commenda de Font’arcada; po y: he da metade da quinta de Vil
rém como nestes summarios senão la Nova , que Affonso Annes fez
copiárão os dias, mezes, e annos; Deo , & Fratribus Militize Templi,
ficamos duvidando se a Doação da no caso que morresse sine haerede
Rainha he a 1", se alguma das ou bone, & legitima mulieris. Não tem
tras. Mas o que não padece dúvi data alguma, e se parece com as de
da he, que a Rainha fez esta Doa Font’arcada , de que acima se fal
ção antes, que seu filho lhe con lou. No fundo della se acha esta
testasse o Dominio de Portugal; verba : Hoc donum recepit Magister
pois não consta, que elle fizesse es Donus Ricardus. E não faça dúvida
ta Doação de novo , nem ainda a o nomear-se ora Guilherme, ora Ri
confirmasse: sinal evidente, de que cardo ; pois assim o praticavão os
sempre a reputou legitima , como Binomios. O tempo de todo o seu go
feita por huma Soberana independeu verno he segredo inscrutavel por
te de todo o Portugal. Ora, esta So falta de Documentos: podemos affir
berania não teve lugar depois de mar, que não passaria dos princi
1 126 por diante, pelas causas, e pios do anno de 1 128. Depois de D.
disturbios, que os nossos Historia Guilherme Ricardo seguio-se :
dores referem: logo antes de 1 126 II.D.Raimundo Bernardo no de 1 128.
foi feita a Doação de Font’arcada, Deste 2.° Mestre ninguem até hoje
SC
35o TE TE
se lembrou; mas he sem controver K. funii E. M. C. 2 X. Doc. de Tho--
sia, que no de 1 128 elle occupava mar. No de 1 148 se concordárão o
este Ministerio, tendo já Casa em Mestre Gualdim Paes , e Godinho
Braga a sua Ordem. Nós já vimos, Godins sobre a herdade de Bauça
que alli roborou, e aceitou a Real Mala , sita na ribeira do Aliste;
Doação de Soure de 19 de Março afirmando o Mestre Gualdim que el
do dito anno (sem que obste o não la sempre fôra de Domo Templi, que
se dizer , que elle era Mestre , e est in Bracharensi Civitate. Feita no
Mestre do Templo; pois havendo-se mez de Junho in Era M. C. 2XX..."
feito a Doação á sua Ordem, e di PT. (No tempo d'ElRei D. Manoel,
ctando-se a Apostilla por gente cu em que o Pergaminho estaria mais
rial, não se julgou precisa a decla bem conservado se copiou a Era
ração de huma cousa , que todos 1 186.) E diz a Escritura: Super hoc
sabião, e ninguem duvidava) veja convenerunt in Bracharensi Capitulo.
mos agora , como já os Templarios E feita huma Inquirição por homens
residião em Braga; prenotando, que bons, e que tinhão razão de sabe
elles costumavão residir nas Terras, rem a verdade, a prazimento das
que se lhe tinhão doado , ou por partes , foi a herdade julgada ao
qualquer outro Titulo adquirido, e Mestre Galdino, e á Casa do Templo,
segundo a cópia dos rendimentos, a quem o Contendor fez liberal Doa
ou a precisão de promover a popu ção de qualquer Direito, que nella
lação, e a lavoura, assim era o nú tivesse. E conclue: Ego Godinus Go
mero dos Frades, que alli residião. diniz hoc scriptum tibi Fratri foba
Em todas estas Casas tinhão seu ni , qui praedictam Domum Templi
Oratorio, e Cappellão, e tomavão custodis, Óº regis, propria manu ro
por seus Familiares os que fazião boro. De Fr. João ter as chaves, e
alguma Doação , ou Beneficio á sua estar governando a Casa, onde se
Ordem. Tal foi, por exemplo, Ai fez Capitulo da Ordem , e se de
res Dias, e sua mulher Maria Men terminou se fizesse Inquirição, não
des, que no de 12o I fizerão huma se infere, que o Mestre Galdim não
grande Doação a Fr. João Domin fosse Commendador della : só nos
gues, que com quatro Frades mais persuade, que feito o Capitulo, o
residia no Castello de Almoriol, os Commendador Galdim se ausentou,
quaes os recebêrão por seus Fami e passado algum tempo, que era in
liares : Et sint nobircum in mostra Ora dispensavel para se fazer a indaga
tione, & in Domibus Templi. V. Fa ção precisa , Fr. João recebeo a
miliares. E desta qualidade era a Ca Doação, que o Godinho fez áquel
sa, que os do Templo desde logo la Casa. E eis-aqui temos, por estes
tiverão em Braga. Annalizemos is dous Originaes de Thomar, Casa,
to. No de 1 152 Ejeuva Aires, e e Hospital dos Templarios em Braga,
seus filhos vendêrão Vobis feroso que agora não duvidamos serem ha
Timitani Templi Militibus , Pelagio bitaçoens differentes, posto que ad
Gontimiris, Óº Martino Pelagii huma ministradas pelos mesmos donos.
herdade , que elles rinhão In Civi Pelos Doc. de Thomar extrahidos
tate Bracara, circa illum vestrum pu da T. do T., sabemos que no de
teum de Hospitali... Facta Carta II. 1 145 (E. M. C. LXXXIII.) e no
IIIC/4
TE TE 35 t
mez de Agosto, D.João Ovilheiro, do o dito Hospital com muitas herdaº
Arcebispo de Braga, com o seu Cle des, e fazendas, que os de Braga lo
ro, ou Cabido, approvando, e con go depois da sua morte lhe havião usur
sentindo ElRei D. Affonso Henri pado. Manda ElRei, que tudo se
ques, confirmárão, e mesmo de no ja tornado áquelle estado, em que
vo concedêrão Domno Suerio, Mi o Fundador o deixára á hora da sua
litie Templi Domini Ministro , nec morte ; e que os Templarios usem des
non & vestris Fratribus, ejusdem Pro tas rendas, e as dispendão em servi
fessionis Militibus o Hospital, que ço da sua Ordem.
seu Antecessor D. Payo de boa me E aqui temos o Hospital, de cu
- moria, havia fundado, e dotado em jo poço acima se faz menção: Hos
Braga, para uso dos pobres, e mi pital, que D. Payo fundára, duran
seraveis, e para remissão das suas te o seu longo Pontificado; mas
* culpas, e de seus Pais, e paren Hospital , que nada nos obriga a
tes, e do qual em sua vida havia crêr , que antes de 1 128 houvesse
feito Doação á Ordem do Templo. E doado aos Templarios; sabendo nós
não só confirmão a Doação do dito que ainda sobreviveo huns 8, ou 9.
Hospital; mas ainda lhe dão, e doão annos ; e sendo mais natural, que
metade dos seus Dizimos de todas nos fins da sua vida fizesse esta Doa
as rendas, e dos ferros, que tinhão ção , que talvez por impugnada,
dentro, e fóra da Cidade de Bra precisou ser feita de novo, e confir
ga. V. Ferros. Entre os mais, que mada pelo Soberano, como acima fica
nesta Escritura confirmão , he D. dito. Igualmente se manifesta, que
Pedro Pitoens, em outro tempo Bra o Hospital não era a Casa, ou Resi
charae Prior, tunc Portugalensis Ele dencia, que os Templarios tinhão
ctus. Esta Confirmação, e Doação, em Braga antes de 1 126. Não será
não só foi confirmada por ElRei D. desacerto grande publicar aqui por
Afonso I.; mas ainda por sua Car inteiro huma Escritura, que no Ar
ta passada no de 1 146 lhe dá ex chivo da Mitra Bracharense, e no
presso consentimento , e declara: L. dos Doc, confirmados N. 6. se acha;
Que o Arcebispo D. Payo havia dota diz assim:

In nomine Patris, & Filii, & Spiritus Sancti Amen. Ego Alfonsus,
Egregii Comitis Enrrici, e Egregiae Reginae Tarasiae filius, & Alfonsi Obº
rimi Regis nepos , S. Mariae Bracharensi, & tibi Archiepiscopo D. Pela
gio, tuis que Successoribus in perpetuum promoveudis , nec non Clericis ibi
dem commorantibus : Concedo quod omnes haereditates S. Mariae Bracharen
sis, ubicumque sint , cautatae sint , sive cum servis, sive cum junioribus,
sive cum ingenuis, qui ad Regem pertinent: Et sicut Avus meus Rex Alfon
sus dedit adjutorium ad Eccleriam S. Jacobi faciendam, simili modo do, at
que concedo S. Maria Bracharensi Monetam, unde fabricetur Ecclesia. Ee
Ecclesiae Regales, quae sunt Parochiales, sint sub manu Pontificis, Óº nul
Jus laicus in eis habeat potestatem. Monasteria Regalia dent tibi tantum,
quantum dederunt Praedecessoribus tuis. Insuper etiam dono , atque concedo
in Curia mea totum illud quod ad Clericale Oficium pertinet, scilicet , Ca
º pellantam , & Scribaníam, ó caetera omnia, que ad Pontificis curam per
ti
.
552 TE TE r ^
*}iient. Et }m manu tua , &- im mahu Succefrorùm tuorum , qui me dilexe:
*rimt , totum meum, Concilium comitto. Et im Civitate tua Bracbar. nullam
potestatem habeant praeter voluntatem ttiam , e praeter volt;mtatem $uccesso
rum tuorum. Et quando habuero Portugalem rem terram adquisitam , Civita
tem tuam , &* Sedem tuam , &* ea quæ ad eam pertimemt , tibi , tuis que Suc
cerroribus in pace dimittam , sime aliqua comtroversia. Et de rebus Ecclesiae
8. Marie Bracharensis, sive de rebus tuir, sive de rebus $uccessorum tuorum
michil vmquam requiram , aut per me, aut per meo r J^icarios, sime volunta
te ttta , aut sime voluptate $uccessorum tuorutt!. Et hæc doma facio S. Ma
riæ Bracharem ri , &> tibi, tuisque Successoribus , & Clericir tuis , pro ami
ma Patris mei , &• pro remedio animæ meæ , &* ut tu sir adjutor meur. Et
si aliqui r homo, aut ego, aut propincur meus, aut extrameu r , hoc nostrum
domum violare , attt irrumpere temptaverit , à Deo sit excommunicatur , &*
cum juda Dominii Traditore habeat participium , &* habeat partem cum dia
bulo , &* angelis ejus , &* imsuper incurrat iram iprius Reginæ S. Mariae.
Facta fuit K. VI. Kal. junii. E. M. C. LX. VI. Ego Aifon rus Infans boc
?Testamentum mamu mea roboro. Qut præ remter fuerunt : *
• . Petrus — ts. Pelagiur - tr. Suerius — tr.
- I. Co/. 3. Col. -

Pelagius Arp'us Brachar. — .yf. Petrur Archidiacoitus - - - .jf.


Samcius Numiz , - - - - .9f. Gomizo Archid'mus - - - .3f.
Ermigiur Momiz - - - - .Jf. Midus Archid'mus - - - - .qf.
~Garrias $uariz — — — — .3f. Romamus Ramiriz - - - .Jf.
$uerius Memendiz - — — .Jf. 4. Col.
- 2. Col. Pelagiur Ramiriz - — — .3f.
Magister Bernaldus - - - .yf. Petrur Petri - - - - - - .yf.
Petrus Prior - - - - - .3f. Ovecus Cemdomiz — — — — .3f.
Midus Praecentor - - - - .Jf. Pelagius Pimiomiz - - - - .Jf.
7°etrus Sancrista - - - - .Jf.
Numo Goteriz. — — — — . .9f. Petrus Levita notavit.
- -
-* - -

Por esta Escritura ficamos enten- conseguido : e finalmente, que na


dendo, que a 27 de Maio de 1 1 28 2. columna, e antes da I.* Digni
ainda o Infamte D. Affom ro não esta dade da Sé , qual era o sobredito
va absoluto Senhor de Portugal: D. Pedro Pitoens , se acha confir
que actualmente andava guerrean mando o Mestre D. Rai/mtimdo Ber
do os partidistas, e fautores de sua nardo, usando tão sómente do .?
IMái, da qual aqui se não lembra: nome, como entäo (e hoje mesmo)
que huma Doagáo tão Realenga le se praticava. Sem dúvida, que o ser
vava por objecto, ter o Arcebispo, Chefe de huma Corporagâo , que
e os seus Diocesanos a seu favor: com tanta honra , e utilidade nas
que os bens das Igrejas Bracaren cia , o faria digno de assignar en
ses se achaváo empregados no ser tre os Grandes da Corte, e as Di
vigo- do Principe, que protesta di gnidades da Sé. E pois temos o
mittillos em paz, quando a tivesse Meytre dos Templarios em Braga, a
• .
tC[m
TE TE 353
tempo que todas as cousas andavão como Prelado maior delle. Acha-se
turbadas, e antes da Doação do este Doc. Orig. na Torre do T. Gav.
Hospital: que dúvida póde haver, 7. Maç. 1o. N. 6., e copiado no L.
que alli tinhão Casa para residir an dos Mestrados f. 137. (*) Conquis
tes de 1 128, e que effectivamente, tada Santarém no de 1 147, e aos 15
e neste anno alli residia o Mestre de Março, logo no mesmo anno, e
D. Raimundo Bernardo, que até pe no mez de Abril pôz o Rei em exe
lo nome se inculca Francez, e sem cução o voto, que tinha feito de dar
pre Estrangeiro?.. todo o Ecclesiastico daquella Villa aos
III. D. Pedro Froilaz, em Setem Templarios, parte dos quaes o acom
; bro de 1 14o. Deste Mestre, ou Pro panhárão naquella grande, e arris
curador do Templo nos dá noticia o A. cada expedição. A Doação original
da Hist. da Ordem do Hospital da se acha em Thomar: eis-aqui o mais
Ediç. de 1793. § 1.3. #
interessante della.
IV. D. Ugo de Martonio, ou Mar In Nomine... Ego Alfonsus supra
toniense 1 143. Por huma Doação, que nominatus Rex , uma cum uxore mea
por sua morte, e na E.M. C. 2XXXI. Domna Mifalda, facimus Kartam su
fizerão á Ordem do Templo Mendo pradictis Militibus Templi de omni Ec
Moniz, e Christina Gonçalves , clesiastico Sanctae Herene, ut habeant,
consta, que Fr. Ugo de Martonio era ó" possideant ipsi , Óº omnes Succes
- Mestre, ou Procurador dos Templa sores eorum jure perpetuo; ita ut nul
riosTom.
neste
II. Reino; pois a recebeo, lus Clericus
• Yy in eis, vel laicus aliquid
in

- (*) No seu tempo , como no de 1 145 , Fernão Mendez de Bragança, e sua mulher
a Infante D. Sancha, filha legitima do Conde D. Henrique, doarão á Ordem do Templo
o seu Castello de Langroiva. Este Doc. por importante, e raro em a nossa Historia, ti
rado do seu Oríginal daremos aqui por extenso:
In Nonin e Sancte, Z. Individi e Trinitatis Patris , videlicet , & Filii, & Spiritus
Sancti, Ego Fernandus Menendix , una cum uxore mea Infante D. Sancia , é filiis meis,
nulla necessitate compulsus, sed sana, atque libera voluntate, videns istius mundi divirias
cito labentes: Placuit mibi, ut de istis rebus transitoriis aliquid in servi:io Dei expenderem.
Quapropter, ego Fernandus, una cum conjuge mea, ó: filiis meis, cum filio Regis Portu
galensis D. Alfonsi, pro remedio anime mex, & parentum meorum, facio Cartam Testamen.
ii, ó firmitatis illis Militibus, qui Templo Jerusalem Deo serviunt, de Castello meo, quod
populavi, in Extrematura: é, illud Castellum vocatur Langrovia, habet?ue jacentiam in Ter
ritorio Bracharensi Metropoli , inter illul Castellun , qāod voc 1tur Nomam , ó aliud ,
quod dicitur Marialba, ó-fluvium, qui vocatur Coa. Do, atque concedo hoc Castellum su
pradictis Militibus, eorumque Successortbus, per suos terminos antiquos, cum omnibus , que
ad me pertinent. Habeant illum jure perpetuo. Quod si aliquis venerit , vel, venero, é hoc
factum meum frangere temptaverir: In primis, sit excommunicatus, é cuni Juda, Traditore
Donini, habet: participationen. Insºp r, quantum quesierit, inpda"um resti tiere cogatur, é
Pegie Potestati duo auri talenta : %. Carta ista semper habeat firmitatem. Facta series Tes
tamenti IIII. Id. Gunii. E. M. C. LXXX. iii. Ego Fernandus Menendix, um i cum supradicta
conjuge mea, % filiis meis, hane K. Testamenti propriis manibus roboravim… I $

Johannes, Brácarens. Arp us - Of. , Egeas Munix, Curic Dápifer - Of. Fernandus Capti
rvus - Of. Alvarus Petri, Regis signifer -.2f. Menendus Moniz - Of. Gonsalvo Roderi
ri - of Godinus Presbiter notuit. Doc. de Thomar. Na Confirmação de todas as Doaçoens
de Terras, Villas, e Castellos, que Urbano III. deo á Ordem dos Templarios, nomêa,
como as mais principaes: o Pombal, que havião edificado na Terra Deserta, e na Marca
dos Sarracenos, Thomar, Ozezar, e Almourol, a Cardiga, a Pinheira , a Casa d'Evo
ra, a Casa de Sintra, a Casa de Lisboa , a de Leiria, a de Rodrigo, a de Santarém,
a terra Deserta da Penna, ubi oppidum, ad illius terre custodiam , construxistis , Soure,
a Casa da Ega, Langroiva, e Mogadouro , que por Doação dos Vassallos vierão á Orº
dem, e todas as mais Terras, e Casas, que elles possuião naquelle anno de 1186.
354
•* . • *
TE TE
interrogare porrit. Sed si forte evene culdubio credatis, mor Fratres Militiæ,
rit, ut im aliquo tempore mihi Deus Templi cum Ulixbomensi Epircopo, con
sua Pietate daret illam Civitatem , quae silio Regis , ut rupra refert , comcor
dicitur Ulixbomia , illi concordaremtur diam quaesi r.re ; sed ipse moluit. Tume
cum Epircopo ad meum comrilium. $i Rex com.rilio suo praerentiam Domini
quis autem hoc domum mostrum irrum Papæ Eugenii mor , una cum Episco
pere temptaverit , mom rit ei licitum po , petere jus rit. Ad quem cum adve
per ullam a r.rertionem. Et ri contra missemus , &* im conspectu ejus adsta
dicere hoc eis vo/uerit aliquis, â com remur ; ita inter mor , & illum decre
sortio $anctæ Ecclesiae sit separatur, vit, ut im Re.rcripti r continetur.
&• im bonis jherura/em mom comircea Por este Memorial, que ao Sum
tur. Facta Karta men re Aprilis. E. mo Pontifice se offereceo , e pelos
M. C. L. XXX. J^. Ego Alfom tu* rupe sinaes claros de andar appenso , se
rius Rex nominatus , pariter cum com convence ser este o proprio Origi
jttge mea Domma Mifalda , qui Kar nal, que andou nos Autos, que se
tam facere jurrimur, cum mamibus mor processáráo entre o Bispo de Lis
tris coram idomei r testibus rovoravi boa , e os Templarios , sobre , e
mus , &> signum fecimus. ——II—— por causa das Igrejas de Thomar,
5fohammer Archiep'us - - - t r.. e Santarém , como abaixo se tocará.
Petrus Portugalem ris Epp* - t r. No de 1 1 5 3 (E. M. C. LX. I. )
Petruj Prior J^imarem riy. — - ' ty. se vendeo â Casa do Templo em Bra
Ferramdus Petriz, Curiæ Dapifer tr. ga huma herdade na Ribeira do
Memendus Alfonsus - - - - tr. Aliste , onde se chama J^illar, sendo
Memendus Moniz — — — — t.r. IMestre da Milicia do Templo D. Ugo.
ÂMocellus Venegar, - - - - t s. No de I 1 5 4 se acabou de edifi
Gualterus Burgundiensi* — - t r. car a Igreja de Santa Maria da Al
Ugo Martomiensis , Frater Temp/i cagòva de Santarém por mandado
tunc temporis in his partibus Kartu do Mertre D. Ugo, que he bem de
1am recepit. - presumir entregaria o cuidado , e
Mememdur jurru Prioris im Vimara superintendencia desta Obra a Fr.
mir Kartulam motuit. - Pedro Armaldo, logo que o Rei lhes
No fundo deste Documento, e doou o Ecclesiastico desta Villa.
com letra daquelle tempo-, porém Assim consta da Inscripςâo , que
mais miuda, e a tinta mais preta , depois da morte de D. Ugo , eºde
se lé a verba seguinte : D. Pedro Arnaldo se mandou exarar
INos autem , Summe Pater , pro naquella Igreja , e diz assim:
ANNO AB INCARNATIONE M. C. L. IV. AB URBE ISTA CAPTA VII.
REGNANTE D. ALFONSO REGE COMITIS HENRICI FILIO , ET
UXORE EJUS REGINA MAHALDA: HAEC ECCLESIA FUNDATA EST
IN {HONOREM S. MARIÆ VIRGINIS, MATRIS CHRISTI, A MILI
TIBUS TEMPLI HIEROSOLOMITANI, JUSSU MAGISTRI UGONIS:
PETRO ARNALDO AEDIFICII CURAM GERENTE.

ANIMÆ EORUM REQUIESCANT IN PACE. AMEN.


-.« Em Agosto de 1 155 (E. M. C. 2X. III.) se vendeo huma herdade
- mâ
TE TE 355
na Terra da Feira á Ordem do Tem fundação da Igreja de Santa Maria
plo, sendo Mestre D. Ugo. A Car de Alcaçòva por mandado do Mes
ta se acha em Thomar, e diz assim tre D. Ugo. E como Commendador,
no seu Original: •
foi honrado com o título de Mestre
In Christi Nomine. Haec est Carta (que então erão synonimos) rece
venditionis, Óº firmitudinis, quam ego bendo naquella Casa muitos Con
-Egeas Suariz facio vobis Magister Do frades , Familiares , ou Terceiros,
mino Ugo, & Fratres vestros de illo que fizerão desde logo largas Doa
Templo, per bona pacis, Óº voluntas, çoens áquella Commenda, algumas
de Hereditate mea propria, quam ha das quaes se achão na Torre do T.
beo in Villa Laurosa , in loco noncu Gav. VII. Maç. XI. No de 1 157 (E.
pato Baocho, subtus mons Sauto Ro M. XC. V.) se intitula Procurador
tundo, discurrente Rivulo Maior, Cas do Templo em huma Doação, que no
tello Sanctae Mariae, Territorio Por mez de Abril se fez á sua Ordem.
tugal &c. O preço forão 23 mara O mesmo Titulo conserva no gran
vidís d'ouro. de Privilegio de Isenção das pessoas,
Estas são as Memorias, que acha e bens dos Templarios deste Rei
mos de D. Ugo , Francez de Na no, concedido por ElRei D. Affon
ção. Não negamos, que D. Sueiro so Henriques, e sua mulher, a Rai
era Ministro da Ordem do Templo em nha D. Mafalda, no de 1 1 57; co
1 145, como se disse no III. Mes mo se póde vêr sup. V. Cruz, e V.
tre ; porém daqui não se segue, Rauro. Em 5 de Abril de 1 158 es
que D. Ugo não fosse ao mesmo tava sendo Mestre, ou Procurador
tempo Mestre, só em Portugal, co da Ordem do Templo entre nós, e na
mo se verá no V. Mestre. E note Hespanha D. Pedro Arnaldo, como
se, que este D. Sueiro, Portuguez se vê na Hist. de Malta por Figuei
de Nação , segundo o seu nome, redo da Ediç, de 18oo P.I. § 57; mas
foi, ao que parece, o 1.° Ministro só em Titulo, havendo renunciado
da Ordem do Templo nos tres Reinos de o Cargo no de 1 157. Depois deste
espanha, como depois se praticou: tempo acha-se confirmado no Foral
e talvez que em reverencia deste da Redinha de 1 159 só com o no
Prelado Geral das Hespanhas, senão me de Fr. Arnaldo. Tambem no 1.°
quizesse D.Ugo intitular, mais que de Abril de 1 185 (E.M.CC. XXIII)
Freire do Hospital, como fica mos Sancha Viegas, e seus filhos, ven
trado ; a pezar das arbitrarias Có dêrão a Petrus Arnaldo , Freire do
pias de Thomar, que por Frater sub Templo hum Casal no Territorio de
stituírão Procurator. E esta he a raBraga, nas faldas do monte Ferro
zão, porque não pômos como IV. cau, ribeiras do Cadavo; segundo
Mestre de Portugal a D. Sueiro; dei a Carta original, que em Thomar
xando toda a liberdade a quem sen se conserva. Se não mostrarem, que
tir o contrario. este Fr. Pedro Arnaldo he diverso,
V. D. Pedro Arnaldo em 1 157. D. do que se acha Mestre no de 1157
Pedro Arnaldo, Portuguez, e na he forçoso negarmos, que elle mor
tural de Santarém, parece, que des resse na tomada de Alcacere do Sal»
de 1 147 foi Commendador naquel no de 1 158.
la Villa, onde foi encarregado da VI. D. Gualdim Paes. Desde Ju
Yy ii lho
356 TE TE
1ho de 1 157. Deste Mestre temos ministrador da Ordem de Christo)
nós hum precioso Monumento á en fez conduzir para alli do Castello
trada do Oratorio (hoje Capella de Almourol. Foi exarada em mar
Mór do Convento de Thomar) e more branco , no de 1 17o , e nos
sobre a porta da Sacristia velha. He informa das principaes acçoens de
huma Inscripção de letras maiuscu D. Gualdim até aquelle anno. Es
las Romanas, mas entrelaçadas, que crupulosamente copiada , diz as
o Infante D. Henrique (sendo Ad S1IT] ,
ERA. M. CC.VIII. MAGISTER GALDINUS NOBILIS SI
QUIDEM GENERE, BRACARÁ ORIUNDUS EXTITIT:
TEMPORE AUTEM ALFONSI ILLUSTRISSIMI PORTU
GALIS REGIS, HIC SAECULAREM ABNEGANS MILI
TIAM , IN BREVI, UT LUCIFER, EMICUIT; NAM
TEMPLI MILES GEROSOLIMAM PETIIT, IBIQUE PER
QUINQUENIUM NON INHERMEM VITAM DUXIT:
CUM MAGISTRO ENIM SUO, CUM FRATRIBUSQUE
PLERISQUE PRAELIIS CONTRA MEGIPTI, ET SURIAE
INSURREXIT REGEM. CUMQUE ASCALONA CAPE
RETUR, PRESTÓ FUIT IN ANTIOCHIA, PERGENS
SEPE CONTRA , SULDAN DETIONE DIMICAVIT.
POST QUINQUENIUM AD PRAEFACTUM, QUI EUM
EDUCAVERAT, ET MILITEM FECERAT, REVERSUS
|
EST, PERGENS, FACTUS DOMUS TEMPLI PORTUGA
LIS PROCURATOR, HOC CONSTRUXIT CASTRUM,
PALUMBAR, THOMAR, UZEZAR, ET HOC, QUOD
DICITUR ALMOURIOL, ET EIDANIAM, ET MON
TEM SANCTUM.

Foi D. Gualdim Paes de Mare onde se achou em grandes feitos


cos natural de Amares (que antiga d'armas ao lado do seu Gram-Mes
mente se chamava Marecos) junto a tre contra os Reis da Siria , e o
Braga. Nesta Cidade se mostra a Soldão do Egypto. Passados cinco
rua de D. Gualdim, onde se crê es annos , que alli residio , voltou a
taria a Casa da Ordem do Templo, di Portugal, e he tradição constante
versa do Hospital, de que acima se trouxera comsigo a mão direita de
fallou. Sahio á luz do mundo, se S. Gregorio Nazianzeno , que em
gundo dizem, no de 1 1 18. Forão Thomar se guarda incorrupta , as
seus Pais Payo Ramirez, e D. Gon sim como o resto do corpo se guar
trode, pessoas da primeira Nobre da em Roma com igual incorrupção.
za daquelle tempo. No de 1 139 foi Logo depois que chegou ao Rei
armado Cavalleiro no Campo de no, foi feito Commendador, ou Mes
Ourique por ElRei D. Afonso Hen tre da Casa , que a Ordem tinha em
riques, em cuja companhia se criá Braga, onde se achava no de 1 148,
ra. Alistado pouco depois na Ordem como se disse no 2.° Mestre. Co
do Templo , passou á Palestina, mo a Commendador, ou Mestre da sua
par
TE TE 357
particular Commenda, lhe doou El ritús Sancti, Amen. Hec est Pax, &º
Rei D. Affonso I. as casas, e fazen Concordia, quam ego Alfonsur, Dei
das de Sintra no de 1 1 52. V. Cruz. gratia, Portugalensium Rex, Comitis
Corria o anno de 1 156 (E.M. C. Henrici, & Reginae Tharasiae filius,
LXIV.) quando, ainda como Mes magni quoque Regis Alfonsi nepos,
tre Commendador , figurou no con unä cum filiis meis, facio inter Epis
certo , e composição , que já fica copum Ulisbonensem, & Fratres Mi
JZ. Ferros. S. 3. lites Templi Hierosolimitani, pro amo
Em Julho de 1 157, he pela pri re Dei, &" remissione peccatorum meo
meira vez, que D. Gualdim Paes rum, meorumque Parentum. Do, ó"
apparece Mestre absoluto da Ordem concedo Deo, & Militibus Templi il
do Templo em Portugal na Doação lud Castrum, quod dicitur Cera, pro
Régia, que a este Mestre, e á sua Ecclesiis illis de Santarem, quas eis
Ordem se fez de oito moinhos na prius dederam ; preter Ecclesiam S.
ribeira de Alviela ; declarando-se, Jacobi. Do, & concedo illud Castrum,
que metade do seu rendimento seria quomodo dividit... Do illis illud Car
para a Coroa. V. Cruz. tellum , ut habeant haereditario jure
No de 1 159 , e no mez de Feve ad populandum ; fed ut homines ultra
reiro, doou aos Templarios ElRei fiumen Mondecum urque ad Tagum,
D. Afonso Henriques o Castello de in meis populationibus habitantes, fi
Céra , com todos os seus termos, me mea pontanea voluntate, ad inha
para que o povoassem : e isto em bitandum illo non recipiant. Et si ali
recompensa do Ecclesiastico de San quis ex interdictis hominibus ibi vene
tarém , que lhes tinha dado antes rit, Fratribus ignorantibus, non im
de conquistar Lisboa: mas como D. putetur inde aliqua occasio super Fra
Gilberto , 1.° Bispo daquella res tres ; sed mox, eo cognito, foras ex
taurada Cidade, levasse a mal que pelli cogatur. Habitatores etiam ipsius
os Cavalleiros do Templo fossem Castri jure, & moribus de Santarem
Senhores das Igrejas, que sem dú utantur. Ego Alfonsus... facio Kar
vida alguma forão antigamente da tam firmitudinis supradictis Militibus
sua Diocese, moveo sobre isto gran Christi de illo Castro , quod dicitur
des demandas, que forão levadas a Cera, cum terminis supranominatis,
Roma , e que só tiverão fim por cum toto mostro jure , ut habeant il
então, doando o Rei aos do Tem lud ipsi, & omnes Successores eorum
plo a terra Nullius de Cera (hoje jure perpetuo... Facta Karta mense
de Thomar) e cedendo o Bispo to Februario. E. M. C. L.X. VII. & c. En
do, e qualquer Direito, que elle, tre os Confirmantes (dos quaes são
e seus Successores tinhão, ou po D. João Arcebispo de Braga, D. Pe
dessem ter nas Igrejas , fundadas dro Bispo do Porto, D. Mendo de La
já , ou que pelo tempo se fundas mego , D. Gilberto de Lisboa, e D.
sem naquelle vasto Territorio, co Odorio de Vizeu) e as Testemunhas,
mo se disse V. Cruz, e V. Garda. huma das quaes he Martinus Muniz
A Doação Real está concebida nos Conimbriae. Princeps, se vê hum Si
seguintes termos: nal rodado, em tudo semelhante ao
In Nomine Sanctae & Individuae
que se acha no Privilegio da Ex
Trinitatis, Patris, & Filii, ó Spi empção do anno de 1157. V. Cruz.
No
358 º TE TE
No fundo delle se lê: Magister Al cleriam S. Jacobi, quam suprà nomi
bertus , Regalis Curiae Cancellarius, navimus... Facta firmitudinis Kar
'notavit. Magister Gualdinus Portu ta, mense Februario. Era M. C. L.X.
gal”. tunc temporis, apud Colimbriam /TI. Petrus Silva notuit.
recepit Kartam. -
Frater Gualdinus Magister Portu
* Feita assim a Concordia da parte galº, apud Ulixbonam Kartam recepit.
do Rei, logo no mesmo mez, e Lugar do Sêllo K pendente, que
anno D. Gilberto, por consentimen já lhe cahio.
to, e approvação de todos os seus Não obstante esta dimissão de
onegos, renunciou, e dimittio to D. Gilberto , alguns de seus Suc
dos os Direitos Episcopaes, que ti cessores tentárão, mas debalde, su
nha, ou podesse ter, assim na Igre jeitar a si as Igrejas de Thomar,
ja de Santiago, fundada na planicie, que erão do termo de Ceras, de ca
rechão, ou assento do arrabalde da Vil da huma das quaes só annualmente
Ja de Santarem, como em todas as se devem á Mitra cinco soldos, co
outras, que os Templarios achas mo por final Sentença Apostolica
sem edificadas , ou elles de novo foi decidido. Os mesmos cinco sol
edificassem , ou tivessem edificado dos reservou o mesmo D. Gilberto
já dentro do termo de Cêra. V. em cada hum anno na Igreja de
"Cruz , e Garda. Eis-aqui algumas Santiago de Santarém , que desde
passagens da Escritura original, logo foi curada por hum Sacerdo
de quem já vimos a firma V. Cruz. te Freire da Ordem , a quem pri
- In Nomine... Ego Guilibertus, meiramente chamárão Capellão , e
"Ulixbonensis Ep's... facio Kartam fir depois Prior , que era como Bispo
mitudinis Deo, & Militibus Chris desta Igreja, primeiramente Colle
ti de illa Ecclesia S. Jacobi de Santa giada insigne, e finalmente Com
rem, que est in suburbio de reserigo, menda, creada no de 1585.
cum omni Parrochia rua, liberam ab No mez de Junho deste mesmo
omni Episcopali debito. Et ego , ó" anno de 1 159. (E. M. C. 2XVII.)
Successores mei non habeamus potesta o Mestre Gualdim, juntamente com
tem aliquam perturbandi in aliquo, os seus Frades, deo Foral aos mo
"vel diminuendi Eccleriam illam ; sed radores da Redinha Hominibus in Ro
tantum exsolvamus illi Ecclesiae Epis dina habitantibus ; mandando, que
copale debitum, quando, Óº ad quod à as Coimas se pagassem per Forum
praedictis Militibus invitati fueri terrae Palumbarii: o que dá occasião
mus... Addo etiam, & indissolubili para julgarmos; ou que os Templa
pqcto firmo, ó scripto roboro de om rios já tinhão dado naquelle anno
nibus aliis Ecclesiis, quas haedificave Carta de Fôro ao Pombal; ou que
runt à Portu de Thomar... Do, &" este era o que o Conde D. Henri
concedo omnes illas supradictas Eccle que, com sua mulher, havião dado
sias Fratribus Templi fherosolimita no de 1 1 1 1 á Villa de Soure, a quem
ni, ab omni Episcopali debito liberar, naquelle
do Pombal. tempo pertencia a terra

jure perpetuo. Et hoc facio pro illis


Ecclesiis de Santarem, quas eis Rex Apossados os Templarios do Ter
dederat , & Ego concesseram, ó: ritorio de Cêras, procurárão logo }
"une mibi ipsi reliquit ; excepto Ec hum sitio accommodado para nelle
i.
CS
TE TE 359
estabelecerem a Capital da sua Or go no 1º de Março de 1 16o se lan
dem nesta Monarchia, e o achárão çárão os fundamentos ao temeroso
no lado esquerdo do rio Thomar, e Castello de Thomar sobre hum al
sobre as ruinas, já quasi imperce to, e escarpado cerro, á parte Oc
ptiveis, da famosa Nabancia. Alli cidental do Convento, e sobre o
fundárão a 1.° Igreja com o Titu lado direito do rio Thomar , que
lo de Santa Maria do Olival, onde dando-lhe por então o nome, com
era Tradição existíra antigamente que os Mouros o tinhão baptisado,
hum Mosteiro, e immediato a ella por ser rio de agua doce, e clara;
fundárão o seu principal Convento, se contentou depois com o de Na
que existio até que forão extinctos. bão, alludindo á Cidade, que anti
E como a Ordem de Christo prin gamente banhára. E daqui se póde
cipiou em Castro Marim, foi esta vêr o fundamento, com que alguns
Casa, por deserta, arruinada, e a se persuadírão, que de S. Thomaz
Igreja reduzida a Parochial, cura de Cantuaria nascêra o nome de Tho
da por Vigario, Freire da Ordem. mar; padecendo aquelle Santo no
Porém ao mesmo tempo , que le de 1 171, e principiando o Castel
vantavão Casa, e Templo para os lo de Thomar 11 annos antes, de
exercicios da Religião, procurárão que he, além de outros mais anti
levantar hum Castello para defen gos Documentos, exhuberante pro
sa da terra, e exercicio Militar. E va a Inscripção seguinte, que se vê
como o de Céra já então pouco mais ao lado direito da porta principal da
tinha que o nome (pois hoje nem Igreja daquelle Convento, e sobre
o sitio se mostra com certeza) lo o tabolleiro das escadas, diz assim:
E. M. C. L.X. VIII : R E G NANTE : A L F O NSO
I L LV S T R ISS I M O : REGE PORTUGALIS
M A GIS TER GAL D INVS : PORTVGALENSIUM
MILITUM TEMPLI : CUM FRATRIBUS SUIS
PRIMO DIE MARC[I : CEPIT' : EDIFICARE
HoC: CASTELLUM:NOMINE THOMAR. ÓtiobpRERATUS
REX: OBTULIT DEO: ET: MILITIBUS TEMPLI:

. E. M. C.C. XXVIII. III. NO NAS JULII


VENIT REX DE MARROQUIS DUCENS CCCC.
J
MILIA EQUITUM ET : QUINGENTA MILIA : PE
DITUM : ET O BS E D IT CASTRUM : IS
TUD : PER SE X D IES: E T D E L E VIT
QUANTUM : EXTRA MURUM : IN
VENIT . CASTELLUM: ET PREFATUS MAGIS
PER: CUM FRATRIBUS SUIS LILERAVIT :
DEUS DE MANIBUS SUIS: IPSE : REX: REMEA
4 VIT IN PATRIA SUA : CUM ; INNUMERA
BILI: DETRIMENTO : HOMINUM : ET BESTIARUM.
:
Ao mesmo tempo que corrião as obras do Castello de Thomar se deo
• prin
36o TE TE
principio á Villa do mesmo nome, dicti Templi discreto Procuratori; ó:
que já no de 1 1 62 se achava com vobis Fratri Garciae Romeo, in Cam
hum bom número de Povoadores, pis , c in Castella Militum predi
a quem o Mestre Gualdim com os ctorum Ministro; &º vobis Fratri Gual
seus Frades deo Foral, que outra dino, in Portugalia rerum Templi Pro
vez ampliou com as formalidades curatori, vestrisque Successoribus in
daquelle tempo no de 1 174. " futurum promovendis: Facio Scriptum,
No de 1 165 doou ElRei D. Af dº Pactum Donationis , Óº firmitu
fonso Henriques aos Templarios, dinis de omni tertia parte, quam per
seu Mestre em Portugal D. Gualdim, Dei gratiam acquirere , Óº populare
a Idanha velha, e Monsanto, como potuero aflumine Tago, & ultra; tá
se disse V. Garda. Na Idanha se li conditione, ut quicquid vobis modº
havia promovido a população, e os do , c amodo sum daturus , expen
muros no de 1 17o; porém destrui datis in servitio Dei, & meo, Óºfi
do tudo pelos Mouros, ElRei D. lii, & totius Progeniei meae, usque
Sancho a tornou a dar aos Templa dum guerra Sarracenorum cum Chris
rios no de 1 197. Em Monsato po tianis duraverit; ita videlicet, ut de
rém forão mais bem succedidos; rebus , quas urque modo volis dede
pois restabelecêrão o bravo Castel ram, nichil in his expendatur, sed
lo, que ainda conserva o nome de totum ad utilitatem Templi Herosoli
D. Gualdim Paes. (*) mitani custodiatur, Óº conservetur.
No mez de Setembro de 1 169 Illud verö , quod modo vobis do, º
achava-se ElRei D. Afonso Henri daturus sum, in servitio Dei, é me",
ques em Alafoens, como se disse ó filiorum meorum in Regno Portu
K. Cruz: alli fez algumas Doaçoens galiae volo expendi, urque dum durave
aos Templarios: foi huma dellas a rit guerra Sarracenorum. Preter he:
terça parte de tudo o que conquis omnia, do vobis etiam Domum de El
tasse no Além-téjo , e he a se bora , quam olim dederam Magistrº
guinte: Galdino & c. •

In Nomine Patris, & Filii, & Spi E eis-aqui temos trez Mestres:
ritús Sancti. Amen. Fida memori.e hum Geral nas partes d’aquem mar
custos est Scriptura: hec enim anti com o Titulo de Procurador: outro
qua innovat , nova confirmat, confir em Terra de Campos, e em Castellain
mata conservat, conservata, ne pos titulado Ministro : e outro em fim
terorum notitie oblivioni tradantur, como Mestre da Nação Portugueza,
representat. Idcircô ego Alfonsus , como D. Gualdim, que aqui acha
Dei gratia, Portug. Rex, Deo, &" mos igualmente como synonimo de
Mi'itibus, qui dicuntur de Templo Sa Procurador.
Ionionis, tam praesentibus, quam fu No mesmo anno, e no mez de
turis, Óº vobis Fratri Gaufrido Ful Outubro, e ainda nas mesmas Cal
cherii, citra mare totius Militiae prae das de Alafoens, o sobredito Mo
T131 -
–=+

(*) Até o anno de 1 17o se conservarão em Monsanto os Templarios, se undo a Inseri


pção de Almourol, que hoje se conserva no Convento de Thomar; mas parece que logº
volton para a Coroa; pois em Abril de 1174. (E.M. CC. XII.) ElRei D. Afonso I, eom
seu filho o Rei D. Sancho, e sua filha a Rainha D. Thereza, achando-se em Coimbrº •
derão Foral aos moradores daquelle Castello, concedendo-lhes grandes Privilegios. L. dos
Foraes Velhos.
TE TE 36r
narcha com seu filho o Rei D. San Terra, e Castello de Pombal. Quan
cho, e suas filhas a Rainha D. Ur do no de 1 19o o Rei de Marrocos
raca, e a Rainha D. Thereza, doá veio com extraordinario poder sitiar
rão aos do Templo, sendo seu Mes debalde o Castello de Thomar com
tre D. Gualdim o Castello da Car 4ood)ooo de cavallo, e 5ood)ooo
díga, e o Castello de Thomar, que de pé, o Mestre D. Gualdim se
os mesmos Templarios havião edi achava dentro daquella Praça, e ás
ficado no Territorio de Céra, e o suas oraçoens, valor, e prudencia
Castello do Zezere, cujas demarca militar, se deveo em grande par
çoens são as seguintes: te a victoria de hum tal inimigo.
In primis per fozem de Beselga; Em Setembro do mesmo anno (E.
&º inde per ipsam stratam, que vo M. CC. XXVIII. ) Pedro Cativo,
catur de Penella usque ad Alfeigedoe; e seus filhos vendêrão por quatro
é º inde per medium cacumen de monte maravidis huma casa , que tinhão
Tancos, quomodo vertuntur aquae con in Castello Thomar, extra murum,
tra Ozezar ; Óº inde quomodo ferit in loco , qui dicitur Varsena... vo
in pelago de Almeirol; &º inde perme bis D. Martino Fromarici, & omni
dium Tagum usque ad fozem de Oze bus Fratribus Templi, sub potestate
#
zar; Óº per medium de Ozezar usque Domni Magistri Galdini. Doc. de
ad fozem de Thomar; Óº inde per Tho Thomar. Cheio em fim de obras
{{;
à
mar, quomodo vadit ad fozem de Be boas dormio em paz a 13 de Outu
A
{'#
selga , unde primô fecimus inchoatio bro de 1 195 , e foi sepultado na
{#
nem. Confirmão nesta Doação D. Igreja de Santa Maria dos Olivaes
#
João Arcebispo de Braga, D. Pedro em respeitavel jazigo , que em os
{tºr
Eispo do Porto, e D. Gonçalo de Viseu. nossos dias se desfez , recolhidas
} Restabelecido, e povoado o Cas as cinzas de hum tão grande Mes-"
|} }
tello do Zezere, o Mestre D. Gual tre em huma pequena arca de pe
} dim lhe deo Foral no de 1 174. Fi dra , onde actualmente se conser
cava este Castello (que o tempo vão. E de caminho se note a pou
º
desbaratou) ao Poente, e na mar ca razão , que os nossos Escrito
lº gem direita do Zezere, em frente res tiverão para o fazerem Author
//* de Punhete: o sitio nada tinha de dos Castellos de Penamacôr, e da
#
accommodado para huma Povoação Idanha a Nova, que ElRei D. San
sofrivel. As Igrejas deste Territo cho fez povoar, e fortalecer, e não
rio do Zezere, com a sua Matriz os Templarios, no tempo deste seu
primordial, que he a Igreja de Pay Mestre em Portugal. V. Garda.
Pele, são, como as de Thomar isen Mas contra o que acabamos de
tas de toda a Jurisdicção Episco dizer parece estar o Foral de Va
pal, e immediatas á Sé Apostolica. lhelhas dado por ElRei D. Sancho
O Castello de Almourol, que I. e seus filhos no de 1 188; decla
havia figurado já no tempo dos Ro rando nelle, que tinha dado esta Vil
manos, foi levantado das suas rui la de juro, e herdade ao Mestre D.
nas por D. Gualdim no de 1 17o, e Gomes, e aos seus Frades do Tem
no mesmo anno deo Foral aos seus plo , que alli residião. L. dos Fo
Povoadores, e no de 1 176 igual raes velhos. Que Mestre, pois, seria
mente deo Carta de Foro aos da este já no tempo de D. Sancho "; * *
C
fIom. II.
362 º TE *TE
Se de todo me não engano, era D. /ha, e no de 1199 lhe doou a granº
Gomes Ramirez, que depois foi Mes de Herdade da Açafa, que he hoje
tre do Templo em todo o Portugal, a Villa, e termo do Rodão de hu
como abaixo se verá, e que d'an ma, e outra parte do Téjo; decla
tes foi chamado Mestre do Templo rando, se move a fazer aos Tem
em Valhelhas, por ser o Commenda larios esta Mercê, pelo Amor de
dor, Preludo, ou Chefe da Casa, ou # , e pelos muitos serviços, que
Residencia, que a Ordem alli teve: delles tinha recebido , e tambem
o que bastava para lhe conferir o pelas Igrejas do Mogadouro, e Pe
Titulo de Mestre ; como fica pre nas-Royas, quas nobis dedistis bene
notado , e veremos ainda no de paratas de omnibus, quae pertinent aº
12 17. Esta mesma resposta se de Ecclesiasticum Officium, para que el
ve dar ao Aforamento Orig. de hu les as povôem, e affórem, como bem
ma herdade em Thomar, no sitio lhes parecer ; mas com a condição
chamado Curraes das egoas , feito seguinte: vos verò Nos, & cunctos,
no de 1 184 a Salvador Penisio, e qui de genere mostro nobis in Regna
a sua mulher Maria Pires, a Pela successerint , quamdocumque volueri
gio Mouro, e a sua mulher Comba mus , tamquam Reger, ó Dominos
Gonçalves, o qual se acha na T. vestros in ipso loco recipiatis. Os dous
do T., e princ.: Ego Magister Gar Castellos de Mougadouro, e Penas
sia, unâ cum fratribus meis... e con Royas já os Templarios havião ce
clúe : Ego Magister domnus Garsia dido á Coroa no de 1 197: agora lhe
confirmo; pois sendo D.Garcia Com cedêrão igualmente as Igrejas.
mendador de Thomar, não lhe era Em o Necrologio de Santa Cruz
improprio o Titulo de Mestre por de Coimbra se diz falecêra este Mes
urbanidade, e costume. tre em Fevereiro de 1198, o que he
VII. D. Lopo Fernandez em 1197. inteiramente falso; pois morreo em
No de 1 19o era D. Lopo Commen Agosto de 1 1 99 ao lado d'ElRei
dador de Thomar, como consta da D. Sancho I. , pelejando valerosa
Carta de Compra de huma casa fóra mente na entrada que o Rei fez
do muro de Thomar. Vendêrão-na neste anno pelas terras de Leão.
Duran , e D. Mendo vobis Domno O seu corpo foi conduzido á Igre
Magistro Galdino, & D. Lupo, Prae ja de Santa Maria dos Olivaes, on
ceptori de Tomar , Óº omnibus Fra de lhe derão honrosa sepultura, em
tribus Templi... Facta Carta mense cuja campa se lia o que acabamos
Januarii E. M. CC. XX. VIII. Porém de escrever. (*)
no de 1 197 já era Mestre do Templo VIII. D. Fernando Dias em 12o6.
em Portugal; pois neste anno lhe Neste anno X. Kal. Februarii, se
fez D. Sancho I., a quem foi mui acha intitulado Mestre do Templo em
aceito, Doação nova da Idanha ve Portugal na Doação, que ElRei D.
+
San

(*) Na Escritura de Compra de huma Herdade na Lousía , e no termo de Thomar,


feita na E. M. CC XXXVIII. (que he anno de Christo 12oo) depois de D. Thomaz Pres
bitero, se vê como testemunha, Magister Frater D. Petrus Nunis - ts. Mas daqui se não
evidencía, que D. Pedro Nunes fosse Mestre do Templo em Portugal. Poderia ser algum
particular Commendador, ou ainda Mestre em alguma Faculdade. E com efeito o modo,
e lugar, em que o vemos assignado, não permitte, que nós o coloquemos entre os Mes
• •

ires 3 de quem agora tecemos o Catalogo.


TE TE 363
Sancho lhe fez, e aos seus Frades Cardosa, com toda a sua povoação;
da Idanha, a Nova, que o mesmo fóros, e direitos, e metade das
Rei havia feito povoar. E no mez Igrejas , que no seu termo tinha
de Abril deste mesmo anno fez edificado, e edificasse para a futu
composição com o Bispo de Coim ro: metade de tudo isto em sua vi
bra sobre certas dependencias das da, e a outra metade por sua mor
Igrejas da Ega, Redinha, e Pombal. te; protestando, que havendo elle
Dizem morrêra de peste no mez de de tomar Estado Religioso, toma
Agosto deste mesmo anno. ria o da Ordem do Templo, e que
IX. D. foão Domingues em 12o8. em todo o caso se lhe daria sepul
Em huma Carta de Fôro, que deo tura entre os Templarios: e que nem
aos dez Povoadores do Carvalhal elle, nem seus descendentes admit
de Cêra na Era M. CC. X. VI. se in tirião em algum tempo outros Re
titúla Commendator Templi totius Por ligiosos em Villa Franca. Feita a
tugalir. E se este Commendador Carta E. M. CC. XVII., que he an
Mór seria propriamente Mestre do no de Christo 12o9 , e não 12o7
Templo, se Lugar-tenente de D. Go como dizem as cópias de Thomar.
mes Ramires?... Em 1 177 era sim Até o anno de 1 212 se achão mui
ples Preceptor da Ballía de Thomar; tas Doaçoens, que se fizerão á Or
pois na E. M. CC. XV. Pero Baragão, dem sendo elle Mestre. Morreo a
e sua mulher Sancha Soares vendê 2o de Julho do dito anno na esca
rão aos Freires de Thomar, e ao la da Fortaleza de Ubeda.
seu Commendador João Domingues, a XI. D. Pedro Alvitis em 12 14. Te
{ quinta parte, que tinhão no Poço, mos deste Mestre em algumas partes
W e Salinas de Rio mayor. O qual Poço de Hespanha hum exhuberante tes
partia pelo Oriente com Albergaria temunho em os Documentos deTho
do Rei, pelo Occidente com D. mar. He o 1.° a magnifica Doação
Pardo, e o Hospital, do Norte ti da herdade de Cardosa, sobre cuja
nha Marinas de Espitalle, e do Sul arruinada Capital fundárão os Tem
Marinas de D. Pardo. Que tão an plarios huma Fortaleza, e Povoação
tigas como isto são as Marinhas, notavel, a quem desde logo pose
ou Salinas de Rio Mayor, que pa rão o nome da Castello Branco, per
rece já forão em outro tempo mais suadidos sem dúvida , mas errada
notaveis. Doc. Orig. de Thomar. mente , que as grandes ruinas da
X. D. Gomes Ramires em 12 1o. O Cardosa erão as de Cattaleucos, Ci
Douto Campomanes nas suas Dissert. dade, de que faz menção Ptolomeo;
Hist. da Ordem, e Cavallaria dos Tem pois ainda que Cattaleucos, palavra
plarios , impressas em Madrid em Grega, signifique ad albos, não po
1 147 a f 262, e 263 nos informa, dia existir algum dia na Cardosa,
que D. Gomes Ramires fóra Mestre que ficava entre Téjo , e Douro,
dos trez Reinos, pelos annos de 1 2 1o, devendo para ser a de Ptolomeo,
e 12 12: o que não tem dúvida he, ficar entre Téjo, e Guadiana. A
que Fernando Sanches doou aos Doação pois, foi feita no de 1214
Templarios, sendo seu Mestre em (E. M. CC. L. II.) por ElRei D. Af
Portugal D. Gomes Ramires , meta fonso II. com sua mulher a Rainha
de da Herdade de Villa Franca da D. Urraca, e seus filhos Infantibus.
Zz ii D.
364 TE TE
D. Santio, & D. Alfonso , & filia Apenas os Templarios conseguí
mostra Infante D. Aliomore ; demar rão tão agigantada Doação, procu
cando-lhe os limites com toda a ex
rárão, que a Sé Apostolica lha con
acção, e declarando, que a fazem firmasse para mais firmeza, segun
Causa Dei, & amore, quem erga Do do os prejuizos daquelle tempo.
mum Templi, & Magistrum, Óº Fra Confirmou-lha Innocencio III. no
tres ejus habemus, Óº ut in orationi anno XVII. do seu Pontificado,
bus, & beneficiis eorum partem habea que foi no de 12 15; dizendo na sua
mus; reservando para si unicamen Bulla , que os Templarios tinhão
te a Colheita, que bem lhe parecer,construido, e fundado na fronteira
quando naquella Terra o Monar dos Mouros huma Villa, e Forta
cha se achar ; escrita, e roborada leza, a que vulgarmente chamavão
com o Real Sêllo de chumbo na Co Castello-Branco chamando-s este
; e si
vilhãa, e no 1º de Novembro do tio antes a Cardosa. V. o Mestre XXIII.
dito anno. Entre os mais que forão Porém o Pontifice referio o que se
presentes, se achou D. Estevão Ar-. lhe narrou, e não o que realmen
cebispo de Braga. Os Prelados que te passava; pois nem a Villa, nem
confirmão são : D. Martinho Bispo a Fortaleza podião em tão poucos
do Porto, D. Bartholomeu de Viseu, mezes ter sahido muito dos alicer
D. Pelagio de Lamego, D. Martinho ces. Isto se manifesta pelo mesmo
da Guarda, D. Pedro de Coimbra, D. Foral, que os do Templo derão a
Sueyro de Lisboa , D. Sueyro d'Evo Castello-Branco , e segundo a có
ra. Segue-se depois destes sem con pia de Thomar, diz assim:
firmar Petrus Alvitis, Magister Tem In Nomine Sanctae , dº Individuae
pli in quibusdam partibus Kipaniae. Trinitatis Patris, & Filii, & Spiri
E logo immediatamente: Symeon tur Sancti. Amen. Ego Magister Mi
Meuendi, Commendator Templi in Por litie Templi Petrus Alviti, cum om
tugalia - Of. E note-se de passa ni Conventu Portugalis, volumus res
gem, que a data deste Documento taurare, atque populare Castel-bran
senão póde anticipar ao dito anno; co. Damus vobis Foro , & curtumes
pois havendo falecido nelle, e no de Elbis... Ego Frater Petrus Alvi
1.º de Fevereiro D. Fernando Ray ti, Dei miseratione, Magister Mili
mundo Bispo de Viseu, segundo o tiae Templi in quibusdam partibits Yr
Necrologio antigo daquella Cathe paniae , una cum omni Conventu nos
dral; só podia ter lugar D. Bar Portugalis , hane Cartam confir
tholomeu seu Successor nos fins do tro
mamus ; ut semper nos habeamus do
mesmo anno. Igualmente se faz re minium, ó omnes Ecclesias istius Vil
paravel o Titulo de Simeão Men lae. Et quicumque Cartam istam fre
des, Commendador do Templo em Por gerit, á Summo Deo sit maledictur.
tugal, e não em todo o Portugal; Facta mense Octobris sub Era M. CC.
deixando-nos duvidosos, se seria o L. I.
Mestre da Ordem neste Reino, Lu Magister D. Petrus Alvitis - Of.
gar-tenente , e como Provincial, a Commendator Fr. Arnaldus Sala
respeito de Pedro Alvites, Mestre monis — — — — — — — Of.
Geral em algumas partes, ou Reinos Seguem-se outros muitos Confir
de Hespanha. mantes, e entre elles os Commen
da
TE TE 365
S*
dadores de Thomar, e de Castel M. CC. XVI, que he anno de Chris
},
lo-Branco. (E daqui me persuado, to 1 178, em que era Mestre D.Gual
que Fr. Arnaldo Salamão, por isso dim Paes. E nem ainda plicando o
* mesmo que não declara donde era X, se salva o Anachronismo; pois
Commendador, ou Preceptor, era Mer no de 12o8 achamos que não era
tre, e Lugar-tenente de D. Pedro Al Mestre D. Pedro Alvitez. Eu não
vitis, com o qual immediatamente achei o Original, que me parece
confirma.) O sinal deste Foral com estaria datado deste modo E. M. CC.
o nome de Pedro Alvitis se achará LVI., que he anno de Christo 1218.
V. Cruz. Resta só averiguarmos a Esta Albergaria não teve efeito;
sua verdadeira data, que não póde como se vê pela Doação de Pedro
ser 12 13 a que corresponde a Era Ferreiro, e sua mulher Maria Vas
125 1 ; porque se a Doação de Car ques, feita á Ordem do Templo no
dosa foi feita no de 12 14: como po de 1 232 sendo Mestre nos trez Rei
deria receber as leis destes novos nos Fr. Estevão de Belmonte. Nella
Senhorios no de 12 13 ?... Não he confessão, que da mão da Ordem,
primeiro o adquirir, que o aforar?. tinhão a terra da Ceiceira, e della
Pelas memorias deThomar nos cons lhe fazem Doação , e de tudo o
<ta, que o seu Original foi mostra mais, que nella tinhão adquirido,
do a ElRei D. Afonso IV, pelo Es e augmentado; com condição, que
crivão de Castello-Branco, e se o que ficar viuvo receba o # da
gundo hum Doc. da T. do T. foi Ordem. Neste mesmo anno, e mez,
dado no de 12 14. Quando a sua ver deo Foral á Proença a Velha com os
* *

… --
/** dadeira data não seja posterior, fi fóros, e costumes da Idanha nova:
ca manifesto se não póde mais an forão testemunhas D. Martinho Bis
ticipar. po da Guarda, D. Bartholomeu de
No de 1218 (E.M. CC. LVI.) Viseu, D. Pedro de Coimbra, e D.
e no mez de Abril lhe confirmou Pelagio de Lamego; sendo Mórdo
ElRei D. Afonso II. as Doaçoens mo de Casa de rege D. Pedro An
das duas Idanhas. No mesmo anno nes. D. da T. do T.
se intitúla Mestre do Templo nas par Os moradores do Termo da Vil
tes de Portugal, Leão, e Castella na la do Touro junto á Guarda, que erão
Doação, que com os seus Frades de sesmo de feria secunda , & defe
fez a Pelagio Farpado , e a todos ria tertia , Óº de feria quarta doá
os seus descendentes, do Lugar darão aos Templarios, sendo seu Mes
Ceiceira, com a condição de alli tre D. Pedro Alvitiz, e no de 1 22o,
fundar huma Albergaria, para nel o Padroado de todas as suas Igrejas,
la servir a Deos, recolhendo, e hos e os dizimos de todas as suas herda
pedando a todos os passageiros, fos des. E logo no mesmo anno, e no
sem pobres, ou ricos; e mesmo que 1.º de Dezembro, por authoridade,
o Donatario, e seus Successores fi e consentimento d'ElRei D. Affon
cassem vassallos da dita Ordem, e so II. , e do Concelho da Guarda
sob seu poder, e termo; e que não derão os mesmos Templarios Fo
podesse este lugar vir a outro al ral, á Villa do Touro, e seu ter
gum Senhorio. Nas cópias de Tho mo. Parece, não era muito corrente
mar se acha a data nesta fórma: E. naquellas terras, e por aquelles tem
POS »
366 TE TE
pos, pagar os Dizimos ás Igrejas; sabendo nós hoje porque modo a
pois neste Foral se acautéla que de dimittírão. Este memoravel Edificio
todas as suas herdades tenhão os mo pelo seu gosto, e Architetura se ex
radores a quinta parte, e o Senho tinguio de todo nesta ultima reedi
rio a sexta: Et vos detis ad nos de ficação, que depois de 177o se tem
cimam de pane, & de vino, Óº de continuado ; não restando outros
lino, & de criancia de ganatos ad San Monumentos da antiga , que duas
cta Ecclesia: o que pareceria super pedras, postas sem ordem , nem
fluo, se os Dizimos já então se prati tino da parte de fóra da parede da
cassem com rigor em todo o Reino. Capella Mór, do lado do Evange
Em Maio de 122 I, e a tempo, que lho, e agora ultimamente cubertas
andavão fazendo o Castello daGuar de cal, as quaes juntas dizem as
S1II] *
da fez Doação o Concelho desta
Cidade aos Templarios, sendo seu | E. I. M. 1 CC. | 2. || V. 1 MAGISTRO. I
Mestre D. Pedro Alvitiz, da grande ] MENDO. 1 CONSTRUCTA 1 FUIT. 1
herdade de Cabeça de Touro; com l ISTA. 1 ECCLESIA. 1
condição , que na Campanha hiria
a bandeira dos Templarios junta com Eu não descubro outro mysterio
a do dito Concelho. Depois deste tem do Mestrado deste D. Mendo, que
po renunciou D. Pedro o Mestrado; ser Commendador de Celorico ; se
pois na Doação do Padroado da Igre gundo o que acima já por vezes
ja de Soure, que ElRei D. Sancho fica notado. E se o Mestre Mendo
II. fez á Ordem , achando-se em seria o Architeto , ou Mestre da
Lisboa em Maio da E. M. CC. LXI. obra?..
(de Christo 1223) se diz, que el E pois nos achamos nesta Villa:
le faz esta Doação pro Amore Dei, cujas Armas são: em huma parte do
dº Beate Virginis Mariae, & pro ro Escudo, huma aguia voando sobre
gatu, Óº amore D. Petri Alviti, quou hum Castello com huma truta agar
dam Magistri Templi. Em alguns ou rada nas unhas, e da outra huma
tros Documentos se intitúla D. Pe meia lua com cinco estrellas; allu
dro Alvitiz Procurator Militiae Tem dindo, não só á truta, que huma
pli in quiburdam partibus Expaniae. aguia deixou cahir no Castello,
Acha-se ainda intitulado Mestre, quando ElRei D. Afonso III. o ti
ou Mestre do Templo no de 1 226, nha sitiado , e D. Fernão Rodri
e 1227 ; mas daqui se não segue, ues Pacheco, natural de Ferreira
que actualmente o fosse ; bastava d'Aves, o defendia (o qual a man
que o tivesse lido, para se lhe dar dou de refresco ao Rei, que logo
trado.cortesanía o Titulo do Mes fez levantar o cerco , persuadido
por • -

que os do Castello tinhão muni


No tempo deste Mestre apparece çoens de boca, e de regalo) mas
D. Mendo com o mesmo distincti tambem ao nome de Celorico, que
vo em huma Inscripção da Villa de quer dizer Rico-Ceo; convindo-lhe
Celorico. Achava-se ella no fron de justiça este formoso nome, pe
tispicio da Igreja de S. Martinho, la bondade de seus ares, alegria
que os Templarios, ou fundárão, das suas vistas, fertilidade, e abun
ou restabelecêrão, no de 1217; não dancia de seus frutos, e hum ag=
gre
TE TE 367
gregado feliz de todas as bemaven lebrou em Castello-Branco; sendo
ças da terra, que só pódem ser ef Mestre do Templo nos mesmos trez
feito de hum Ceo muito bom, be Reinos D. Martinho Sanches: e isto
nigno, temperado, e creador. E não só pelos muitos beneficios, que
deste modo o seu nome vem a ser dos Templarios tinha recebido , e
a sua mais propria , completa , e esperava receber; mas tambem por
adequada diffinição. Porém no Foral que ipsi me receperunt in sua Sancta
do Castello do Zezere, dado pelo Confraternitate , & in omnibus suis
Mestre Gualdim, e seus Frades no bonis orationibus. Parece renunciou
de 1 174 (Era Mº CC." XII.º anno se logo depois o Mestrado. Na Doa
cundo a constructi Opidi populatione) ção, que a Rainha Santa Mafalda
que em Thomar se acha no seu Ori fez aos Templarios, de tudo o que
ginal, entre as mais testemunhas tinha em Bretiandi, junto a Lame
se achão : go, no de 123o (E.M. CC.2XVIII)
Petrus Ciluricu — — — — tr. se acha entre os mais que assinão
Johannes Ciluricu - - - ts.
D. Martinus Sanches Frater Templi.
Não ha razão para duvidarmos Dizem falecêra no de 1 234.
que este Ciluricu fosse a terra don XIV. D. Estevão de Bel-monte,
de Pedro, e João fossem naturaes: Mestre nos trez Reinos em 1229.
o que sendo assim, as Armas, e o Assim se vê por hum Documento
Brazão presente não são prova ter original, feito em Junho deste an
minante, de que os antigos a dis no , em que elle se intitula Ego
tinguissem com o nome de Celorico. Frater Stephanus de Bel-monte, in ir
XII. D. Pedro Annes em 1223. Ap tis tribus Regnis, Portugaliae, Le
parece a sua unica memoria na Con gionis , atque Castellae, Preceptor,
cordata, que os do Mogadouro fi cum nostris Fratribus & c. E no Ar
zerão com este Mestre do Templo em chivo de Thomar ha grande núme
Portugal, em Julho da E. M. CC. ro de Escrituras, que nos assegu
LXI., sobre os dizimos, que de rão o seu Mestrado nos trez Rei
vião pagar do pão, vinho, linho, nos até o de 1 232. No de 1 23o (E.
e criaçoens de gados. D. de Thomar. M. CC.2XVIII.) D. Egidio, ou Gil,
XIII. D. Martim Sanches, Mestre Bispo de Viseu, e o seu Cabido
dos trez Reinos em 1228. Neste an fizerão Composição com D. Estevão
no (E. M. CC. LXVI.) D. Fruilla de Bel-monte Grãa-Mestre dos Tem
Hermiges, ou D. Froile Hermiges, plarios em Portugal, Leão, e Cas
fez huma amplissima Doação á Or tella , pela qual ficou ao Bispo a
dem do Templo, não só da Villa de Jurisdicção de collar o Abbade de
Killa Franca de Cira, ou Xira, que Santiago de Trancoso: tambem se
ElRei D. Sancho I. lhe havia dado compuzerão sobre os Dizimos das
no de 12 o6, e ElRei D. Afonso terras que a sua Ordem tinha na
II. confirmado no de 12 18; mas ain quella Villa, e seu termo. Doc. de
da de todos os seus muitos bens, Viseu. D. Poncio Affonso , e sua
havidos, e por haver nos trez Rei mulher D. Maior Martins, derão a
nos , de Portugal, Leão, e Cas Fr. Estevão de Bel-monte, Mestre nos
tella; achando-se presente ao Ca trez Reinos de Hespanha, e aos Frei
Pitulo Geral, que neste anno se ce res da Ordem do Templo, a sua Al
ber
368 "TE TE
bergaria, que tinhão em o Pinhei Royas, que era dos Templarios,
ro, e a sua Aldêa, ou Villa chama e a de Algoso, que era da Ordem
da Aldêa Nova, com todos os seus do Hospital. V. a sua Hist. por Fi
termos, direitos, e pertenças, no gueiredo T.I. § 229. f. 4o9. da I."
mez de Agosto, de 1232 (E.M." Ediç.
CC"2XX.) Doc. Orig. da T. do XVI. D. Rodrigo Dias (segundo
T. Gav. 7. Maç. 9. N. 29. Não sa Figueiredo na Hist. do Hospital P. II.
bemos o tempo, que continuou ain § 43.) era Mestre do Templo em
da no seu Mestrado. I 24.2.
XV. D. Guilherme Fulcom, Mes XVII. D. João Escriptor em 1242.
tre nos trez Reinos , acha-se em Na Composição, que os Templarios
1239. Não só em hum Prazo, mas fizerão com o Bispo da Guarda so
tambem na Doação magnifica, que bre os Direitos Episcopaes de Cas
JD. Fruilla Ermiges, Dona Viuva, e tello-Branco, e outras terras , na
Familiar do Templo, fez a esta Or Cidade do Porto , e estando pre
dem, achando-se no Convento de sente D. Pedro Salvador, Bispo da
Font’arcada do Bispado do Porto, mesma Cidade: e pela qual se dão
em Junho de 1239 (E. M. CC. ao Bispo da Guarda humas suficien
LXXVII.) na qual se achão estas tes, e honradas casas na Villa de
palavras: Dono, & ofero Deo, Óº Castello-Branco, e tambem na Vil
vobis Guilhermo Fulconis, Praeceptori la de Rodão, para nellas recolher
Domorum Militiae Templi in tribus as suas rendas, e Procuraçoens: fei
Regnis Hispaniae & c. Já esta Senho ta em Setembro de 1242 (E. M. |

ra havia doado á Ordem do Tem CC. LXXX.) se acha esta assigna


plo todos os seus bens no de 1228, tura: Johannes Scriptor Magister Tem
como acima fica dito: agora fican pli
do herdeira universal de sua Mái, Não se descobre em Thomar ou
segunda vez torna a doar muitas tro algum Documento, que nos in
terras, herdades, e Igrejas á dita forme deste Mestre. Não se me es
Ordem, assim no Bispado de Coim conde com tudo, que bem poderia
bra, como de Lamego (em que no ser Commissario , ou Lugar-Tenente
mêa Thoutam de Suso, e Thoutam de em Portugal, ou de D. Guilherme
Juso, e a Faya, em Caría) e no Ar Fulcom, ou de D. Martim Martins.
cebispado de Braga ; e mesmo em V. Preceptor.
terra de Bragança, Montenegro, e XVIII. D. Martim Martins, Mes
Ledra. E isto faz por su'alma, e tre nos trez Reinos em 1242; se
pelas almas de seus Pais, marido, gundo consta pela Doação, que nes .:
e filho. te anno (E.M. CC. LXXX, ) fize
No de 1239, e a 22 de Julho, rão á Ordem do Templo D. Pedro
era D. Guilherme Fulcom Mestre Martins, e sua mulher D. Sancha
nos trez Reinos, e Commendador da Martins (a qual se manda sepultar
Ordem do Templo em Portugal D. Pe em Santa Maria de Thomar) de cer
dro Costem; como consta da Com tas fazendas, que tinhão no termo
posição , que neste dia , mez, e de Santarém, e de Monte-Mor, o
anno se concluio entre as Commen Novo, e nella dizem, que D. Pe
das , de Mogadouro , e Penas trus Martins, & D. Sancia Martini
• Jilfit
TE TE 369
runt Confreires de Ordine, &" pauper mereceo ser Mestre do Templo aos
Cavalaria de Templo Salomom. E con 35 annos da sua idade. Acha-se o
clúe: Qum ista Carta fuit facta, erat seu nome em muitos outros Docu
Magister per gratia Dei in tres Re mentos, e huma Inscripção, que se
gnos de Hispania D. Martim Martins lê sobre a porta do Castello da Ida
de Ordine de pauper Cavallaria de nha Velha nos dá noticia deste Mes
Templo de Salomom. Era D. Martim [TC.

Martins de nobilissima Familia, co XIX. D. Pedro Gomes , Mestre


mo filho de D. Martim Pires da nos tres Reinos em 1247. Acha-se
Maya, e de D. Thereza Martins, na Torre do Tombo, e no L. dos
sobrinha do Arcebispo de Braga D. Mestrados a f 36. a cópia de huma
Estevão Soares, a qual foi ama de Carta , pela qual D. Maria Paes
leite d'ElRei D. Sancho II. (*) Por doou á Ordem do Templo tudo o
esta razão D. Martim Martins he que tinha em a Villa de Trancoso;
chamado Colaço do Rei em a Doa feita no mez de Junho da Era 1285:
ção, que este fez á Ordem, achan Regnante Rege S. secundo in Port.,
do-se em Coimbra a 16 de Dezem Procuratore ejus fratre A. Bononień
bro de 1244 (E. M. CC. LXXXII.) Comiti. E no fim della se diz: Nos
de todos os Direitos Reaes, que se frater P. Gomecii , Militie Templi
podião alienar da Coroa, e que a in tribus Regnis Hispaniae Magister,
esta pertencião na Idanha, e em Sal de consensu fratrum nostrorum damus,
vaterra do Extremo; dizendo que is &º concedimus D. Mariae victum, é º
to faz Pro remedio amimae meae, vestitum in tota vita sua , sicut uni
pro amore D. Martini, mei Collacii, de fratrissibus Templi. No Mosteiro
Magistri Ordinis Templi in tribus Re de Santa Eufemia de Ferreira d'Aves
gnis Yspanie. Sendo D. Martim o se conserva Original huma Carta
Primogenito da sua casa, renunciou de venda de huma herdade em o ter
tudo para se fazer Templario , e mo da Villa de Paredes, que Mar
Tom. II. Aaa ti

(*) Os Pais de D. Martim Martins forão D. Martinho Fernandes, e D. Estevainha


Soares :
o erro dos nossos, Geneologistas se deve emendar pela seguinte Escritura , que
se acha no L. antigo das Doaç. de Taronca a f. 28.
In Christi Nonine. Ego D. Stephania Suariz, non immemor illius Dominici Precepti:
Date elemosinam , & ecce omnia munda sunt vobis : Amore Dei, ó… Beatissim c V. Ma
ric, omniumque Sanctorum : fácio Kartam Donationis, é perpetuc firmitudinis vobis D.
Petro, Abbati S. Johannis de Tarauca , omnibusque Fratribus ejusdem loci, tam presenti
bus, quam futuris, de hereditate mea propria, quam habeo in termino de Fravegas, in lo
co, qüi dicirur. S. Martini de Alhaes. Hanc autêm hereditatem adquisivit ibi meus Domnus
Marinus Fernandi, uma mecum , a D. Alfonso Rege Portug., Regis Sancii filio. Do, & con
redo firmiter Monas erio S. Johannis jam dictam hereditatem, cum omnibus suis terminis, cul
tis, incultis, ó cum omnibus habitatoribus , ó villulis suis, Hoc vero facio pro animabus
mostris (que ainda estavão unidas aos corpos) videlicet: D. Martini Fernandi, 29 mea,
atque Regis D. Alfonsi, ó. Regin e D. Urracc , & pro incolumitate Infantis D. Santii
alumpni mei. Preterea Ego D. Ásephania Suárix d predicto Abbate D. Petro, é á preno
minato Monasterio recipio pro robora fructum hereditatis suc, quan habent in Villa de Frá
"vegas (Fragoas) ut temeam illum in vita mea. Et, quod maius est, concesserunt mihi, é
D. Martino Fernandi plenarium Oficium , ó partem omnium Orationum, é benefíciorum
suorum, atque annuarium anniversarium, Si quis igitur ex meis, vel extraneis bunc factum
mostrum contradicere voluerit, Dei maledictionem, &- meam incurrat, & quantum quesierit,
in duplum vobis componat, é Domino terre quingentos aureos pectet. Fact4. K. iiiense 3a
muario Eº Mº CCº 21º Ego D. Stephania Suárix coram idoneis testibus hane K. meis manibus
robor—o. Ero - ts. Alfonsus - ts, Johannes Petrus - ts. Johannes notuit.
37o TE TE
tinho Pires, e sua mulher Marinha Rodrigo, Bispo da Guarda, e a Ordem
Paes fizerão a Pedre-Annes, e a sua do Templo , sendo seu Mestre nos
mulher Maria Ermiges, em Novem tres Reinos D. Payo Gomes , a qual
bro de 1246 (E. M. CC. 2 XXX. IV) se acha no L. dos Direitor Ecclesias
Regnante Rege Sancio, Alfonso Comes ticos a f. 124. No de 1252 se fez
Boloniae Visitator de Portugalia. Da outra Concordata entre o Concelho
qui he facil de inferir , que tanto da Villa do Pombal, e Fr. Payo Pi
D. Maria Paes, como D. Marinha res Praeceptor de Palumbar, sobre os
Paes erão irmãs de D. Martinho Dizimos, mortuorios, serviço das
Paes Bispo da Guarda, filhos todos Igrejas ruraes &c., sendo Mestre
de D. Mayor Soares (como se dis do Templo nos tres Reinos D. Payº
se V. Ferros. § 4.) principal Fun Gomes. No de 1 253 já tinha renun
dadora do dito Mosteiro: e que D. ciado a Dignidade de Mestre, efei
Maria Paes ficando viuva se metteo to Cavalleiro particular, era Comº
Fratrissa do Templo; senão he, que mendador de Castello-Branco, se
na cópia da Torre do T. se leo Ma gundo a Escritura original, que se
ria por Marina. vê em Thomar, e traz Fr. Francis
Em 28 de Agosto de 1248 se com co Brandão no T. V. da Monarch. Lí
pozerão os Templarios com D. Egas, sit. L. XVI. Cap. 22. Nella se acha
Bispo Eleito de Coimbra, e o seu Ca nomeado D. Gonçalo Fernandes,
bido sobre os Direitos Episcopaes Commendador-Mór em Portugal, Di
da Igreja de Soure. Na Escritura gnidade , que já alguns havião ti:
se diz, que D. Pedro Gomes era Mes do, como D. João Rodrigues, D.
tre nos tres Reinos , e que em Por Simeão, e outros.
tugal era por então seu Lugar-tenen XXI. D. Martinho Nunes, Mes.
te D. Lourenço Mendes , Commenda tre nos tres Reinos em 1253. Ap
dor de Thomar. Na de 125 o celebrou parece a sua primeira memoria em
Capitulo Geral na Cidade da Guar hum Prazo, que fez a D. Gil, e º
da , e teve por Successor: sua mulher D. Maria Annes na ex
XX. D. Payo Gomes, Mestre nos pedição do Capitulo Geral, celebrá
tres Reinos em 125o. Neste anno do em Castello-Branco, em Maio,
se fez huma Composição entre D. da E. M. CC. XC.I. (*) Do seu
Mes
-*

(*) Em 2o de Maio de 1254 (E.M. CC. XC. 11.) fez huma amigavel Composição com
D. Egas Mendes, Bispo de Lamego, e o seu Cabido sobre os Direitos Episcopaes # Igre
jas que pertencião a Longroiva, e a Mêda: por ella fica o Commendadór de Longroiva ob"
ado a dar annualmente aos Bispos de Lamego na Mêda X moios de centeio, à eigados?"
a medida dº terra : e X, moios de vinho no lagar , sendo cada moio de XVII, quartº
E quando o Bispo, huma vez no anno visitar estas Igrejas, deverá receber do dito Comº
mendador esta Procuração: VI, quarteiros de trigo cozido, e VI, quarteiros em grão: º Kl.
puçaes de vinho: e hum porco de hum maravidim vclho: e dous carneiros bons : e IV, cabritºs:
e dous leitoens: e XIX, galinhas: e L. ovos: com huma onça de pimenta: e duas restes de alhos:
e dous braços de cebolas: e duas cargas cavallares de lenha : e outras duas de palha: sal, e º
magre quanto baste: e XIII. onças de cert. E isto não só na Mêda, mas tambem outra º
melhante Procuração em Longroiva; e deste modo renuncião a todo, e qualquer Direitº,
que a Igreja Cathedral podesse ter nas Igrejas da Mêda, e de Longroiva: Salva tamien 3"
risdictione, quam de jure debet Episcopus in Scculares exercere. E as Partes se obrigárão aº
cumprirem assim ; sob pena de mil marcos de prata; plazo isto in suo robore <valituro til
chilominus. E disto se fizerão duas Cartas partidas por ABC, e selladas com os sellos, dº
Bispo, do Mestre, e do Cabide. Doc. de Thomar.
TE TE 371
Mestrado nos tres Reinos ha muitos Paixão, sobre humas fazendas em
Documentos até o anno de 1265; Casével: a 2.° em Maio do mes
mas não temos algum authentico, mo anno, sobre os Direitos Epis
que lhe dê por Successor a D. Vas copaes da Santarém.
termo de Igreja do Pinheiro em

co Lourenço.
. XXII. D. Gonçalo Martins, Mes XXIII. D. João Annes em 1271.
tre em Portugal em 1265. Por au Acha-se (na T. do T. Gav. 6, maç.
thoridade, e consentimento do Ca 1o. N. 23) huma sua Carta com
pitulo Geral, celebrado em Castel sello pendente, em que se diz ser
lo-Branco, concede elle a D. The Lugar-tenente do Mestre do Ultramar
reza Affonso de Mello a Aldéa da da Ordem do Templo, dada no Ca
Sardaça, em termo de Folgosinho, pitulo Geral de Zamora a 27 de
para que a desfrute em dias de sua Março do mesmo anno, e pela qual
vida; com condição, que ella pague confirma aos Povoadores de Man
ao Commendador de Ferreira (d'Aves) carche, vel Castel-branco de Mancar
annualmente 25 libras no 1.° de chino, todos os bons foros, e cos
Maio. E a dita D. Thereza deve dar tumes de Elvas, que erão o Foral
á Ordem hum Casal em Mello, e que os Templarios lhe havião dado.
outros bens, á Ordem do Templo: Parece que Mancarche precedeo ao
e por sua morte deve ficar a dita Al nome de Cardosa, que tinha o si
dêa, com todas as suas bemfeitorias, tio, onde aquella Villa se fundou.
aos Templarios livre, e desembar XXIV. D. Beltram de Valverde.
gadamente. Feita a Carta E. M. CCC. em 1272. Brandão em a Monarch.
III. apud Castellum blancum. E no L. XV. T. IV, nos oferece huma Es
Capitulo Geral, que alli mesmo se critura , pela qual consta , que a
celebrou no de 1266 (E.M. CCC. Ordem do Templo em Portugal con
IIII.) a 24 de Maio, emprazou o cedêra a D. Sancha Pires, e a sua
Mestre D. Gonçalo Martins, e seus filha D. Berengueira a Villa do Ro
Frades, a D. Diogo Lopes, e a sua dam para a desfrutarem em sua vi
mulher D. Urraca Affonso (Confrei da; havendo a dita D. Sancha doa
res d'Ordim, e sepultura) muitas fa do muitas fazendas aos Templarios,
zendas no Marmeleiro, no Rechoso, sendo seu Mestre D. Beltram de Val
em Avelans, em Freixo, nas Antas de verde. Tanto este Emprazamento,
Penadono, e outras partes; com con como a Outorga , que D. Beren
dição, que por morte d’ambos fique gueira Arias, filha de D. Sancha,
todo o movel, e raiz, com todas e Rui Garcia de Pavha, seu mari
as suas bemfeitorias á Ordem , á do , lhe derão , tem a data na E.
qual os ditos Confrades já efectiva M. CCC. X. Mas parece, que esta
mente fazem entrega de huma lar boa harmonia entre os Templarios,
ga porção de bens em Alpedrinha, e D. Sancha Pires Freira do Tem
Castello Novo, e na Torre d'Arriza plo no de 1 272, não foi permanen
do , com todos os seus direitos, e te; pois do Testamento desta, que
pertenças, e Padroados de Igrejas. se guarda Original em Almoster L.
No de 1 268 fez duas Concordatas II. dos Pergaminhos f. 51. consta a
com o Bispo de Lisboa, D. Mat verba seguinte, segundo se copiou
theus: a 1.° em Thomar em o dia da no de 1 682 : Item ; mando aos Tem
Aaaii pla
#

372 TE TE
plarios hum vaso de prata, o qual no faleceo a 23 de Maio do anno de
meyo a minha filha: e hum georaal de 1288; como constava do seu Epi
prata: e eu lhos deixaria, se non fos tafio na Igreja de Santa Maria de
se, que estes nou fizeram contra mim, Thomar, ou dos Olivaes. Foi o ul
assim como non deveram. Em alguns timo Mestre, que governou ao mesmo
Doc. da T. do T. se lê Fr. Beltram tempo os tres Reinos de Portugal,
de Pedra-Verde, que parece deve ser Leão, e Castella.
Penna-Verde , pois ambos estes lu XXVI. D.Afonso Gomes, Mestre
gares de Val-Verde, e Penna-Ver em Portugal em 1289. Em 18 de Ju
de, fazião naquelle tempo huma só nho da E. M. CCC. XXVII. D. Do
freguezia do Bispado de Viseu. mingos jardo , Bispo d'Evora, e o
XXV. D.João Fernandes, Mestre seu Cabido fizerão Composição ami
nos tres Reinos no de 1283. Assim gavel sobre os Direitos Bispaes da
consta de hum Privilegio de D. Af Igreja de Arens, com D. Afonso Go
fonso, Rei de Castella, a quem es mes, Meestre do que a Ordem do Tem
te Mestre servio com os Templarios ple ha em Portugal, e os Freires des
de Portugal; havendo-se os de Hes sa meesma Ordem & c. V. Cruz. Ain
panha posto da parte de seu filho da se acha o seu nome em outros
D. Sancho, que o havia deposto do Documentos de 12 9o.
Throno. Nesta Escritura diz o Rei XXVII. D. Lourenço Martins era
D. Afonso, que Gomes Garcia, Com Mestre no de 129 1. Assim se ma
mendador, era Lugar-tenente do Mes nifesta da Composição , que os
tre, nas cousas, que o Templo tinha Templarios de Portugal fizerão por
em Castella , e em Leão , e que D. authoridade deste seu Mestre ,
João Fernandes era Lugar-tenente do com D. Aimiríco, Bispo de Coimbra,
Mestre Maior nas cousas, que a Ca sobre a Procuração da Igreja de Pa
vallaria do Templo tinha em Castel ços, em 5 de Abril da E. M. CCC.
la, Leão , e Portugal. E daqui se XXIX. No de 1 293, e no mez de
manifesta, que todos os Mestres, Junho apparece o Mestre D. Lou
assim de Portugal, como dos trez renço Martins na Instituição da Ca
Reinos, nada mais erão, que huns pella, chamada dos Tamaraes (por
meros Commissarios immediatos , ou que neste Lugar principalmente a
mediatos do Gram-Mestre Ultra-Ma dotou com muitas fazendas D. Mar
rino , ou que fóra de Hespanha resi tim Gil, Amo do Infante D. Afon
dia. Em os annos de 1 283, e 1 285 so , e Mórdomo da Rainha Santa
parece estava fóra deste Reino; pois Izabel) e fixada na Bailía de San
se acha D. Gonçalo Gonçalves, Com ta Maria de Thomar, dita hoje dos
mendador Mór de Portugal, e Lugar Olivaes , onde então permanecia o
tenente do Mestre da Cavallaria do Convento da Ordem, e a sua Ca
Templo em Portugal, segundo os pital. Esta Capella tem hoje o Ti
Doc. da T. do T. Havendo feito em tulo de S. Bartholomeu ; sendo a
Castello-Branco huma Concordata tenção do Instituidor, que se inti
com D. Fr. João, Bispo da Guarda, tulasse de S. Martinho. D. Lourenço
sobre os Direitos Episcopaes de renunciou logo depois o Mestrado:
Nisa, Alpalhão , e Montealvão, feito Commendador de Santarém,
em 16 de Maio da E.M.CCCXXV., faleceo no 1.° de Maio de 1 3o8.
XXVIII.
TE |- TE 373
XXVIII. D. Vasco Fernandes, ulti duas costumadas columnas, huma
mo Mestre em Portugal em 1295. dos Grandes do Reino, e outra dos
Já em Abril deste anno se acha o Prelados, mas não confirmando, for
nome deste Mestre do Templo em malidade, que já se hia esquecen
huma Composição, que a Ordem do. Os Prelados são os mesmos de
fez com os Conegos da Sé de Coim 1297 só com a diferença de já ser
bra, sobre as Comedurías, que a es D. João Bispo de Silves. Esta Igre
tes se devião dar , quando (duas ja de Portalegre unio perpétuamen
vezes no anno) passassem pela Vil te D. Bartholomeu Bispo da Guarda,
la de Soure, aos quaes o Commen á Mesa do Mestre da Ordem de
dador as devia apromptar na fór Christo, que então era D. Martim
ma, que então se ajustou. Em 1296 Gonçalves , a 7 de Setembro de
fez outra Composição com D. Fr. 1 332 : e no mesmo dia se terminá
João Martins, Bispo da Guarda. Nes rão por Juizes arbitros, e sem fór
te mesmo anno lhe doárão, e á sua ma, nem figura de juizo, as muitas
Ordem ElRei D. Diniz, e a Rai demandas, e controversias, que es
nha Santa Izabel humas casas, que candalosamente corrião entre a Igre
tinhão junto á porta da Villa do Sa ja da Guarda, e a Ordem de Chris
bugal : e no de 97 lhe doárão os to por occasião das Igrejas , que
Padroados de Mogadouro, e Penas esta Ordem tem naquelle Bispado.
Royas, como se disse V. Azinhoso; Continuão as Memorias de D.
sendo Confirmantes os Prelados se Vasco, pois no de 1 3o3 os mesmos
guintes: D. Martinho Arcebispo de Reis fizerão Doação á Ordem do
Braga, D. João Bispo de Lisboa, D. Castello de Pena-Garcia , e no de
Sancho do Porto, D. Vasco de Lame 13o6 lhe derão o Padroado da Igre
go, D. Egas de Viseu, D. Fr. João ja de Alvayazere, e a Villa de Ferrei
da Guarda, D. Pedro de Coimbra, D. ra do Zezere no Bispado de Coim
Fernão Martins d'Evora, e a Igreja bra, e a Villa de Villa Rei, que lhe
de Silves vaga. . . . fica fronteira , e já no Bispado da
No de 1299, e a 27 de Novem Guarda, pelas quaes a Ordem lar
bro os mesmos Soberanos, queren gou á Coroa outros bens. (*) Nes
do remunerar aos Templarios os seus te mesmo anno , e a 15 de Abril,
muitos, e grandes serviços, e sen se achavão os Bispos de Portugal,
do seu Mestre em Portugal D. Vasco e Hespanha congregados em Sala
Fernandes, lhes doárão todo o Pa manca, e presididos de D. Gonça
droado , e Direito de apresentar, lo, Arcebispo de Toledo, para in
que tinhão na Igreja de Santa Ma quirirem das horriveis culpas, que
ria , a Grande , de Portalegre , e a malicia excogitou em França (mas
de todas suas Capellas. Nesta Car que se não verificárão em Hespa
ta feita em Portalegre se achão as nha , e Portugal) contra os Tem
pla
(*) ElRei D. Diniz havia dado Foral a Villa Rei a 19 de Setembro de 1285, e nel
le se nomeão sem confirmarem: D. Tello Arcebispo de Braga , D. Vicente Bispo do Porto,
1). Anrique de Coimbra, D. Fr. João da Guarda, D. atheus de Viseu, D. Bartholomeu
de Silves, D. Domingos Annes d'Evora, as Igrejas de Lisboa, e Lamego vagas. Os bens,
cue os Templarios dimittírão á Coroa , forão: a Liziria dos Freires junto a Santarém, a
Portagem de Coimbra, e o Padroado da Igreja de Santiago de Trancoso; declarando, que
se dava o Espiritual pelo Espiritual, e º Temporal pelo Temporal,
374 TE TE
plarios, que ultimamente forão ex bal, Ega, Redinha, que são na
tinctos no de 1 312 , e ao mesmo Estremadura, e Bispado de Coim
tempo acabou o Mestrado de D.Vas bra, e tambem as Idanhas nova, e
co, que faleceo no de 1323, Com velha, Salvaterra, Segúra, Proen
mendador de Monte-alvão, e Professo ça, e o Rosmaninhal, que são no
na Ordem de Christo. -

Bispado da Guarda. Nesta Carta


Extinctos os Templarios de facto diz o Soberano: que a Ordem de Chris
por Clemente V. no Concilio Vie to se tinha feito em Reformação da Or
nense, que encarregado do exame dem do Templo, que se desfez. Igual
da causa, julgou, se devia abster de mente fez restituir á Ordem de
proferir nella Seutença formal diffini Christo as duas Igrejas de Soure,
tiva; ficárão os seus bens, e ren e Pombal, que na extincção dos
das á disposição da Sé Apostolica. Templarios havia applicado ao seu
Não se acaommodou a isso ElRei Estudo, ou Universidade, que em
D. Diniz, que os pertendia incor Lisboa, e no de 129o havia insti
porar na Coroa; visto cessar o fim tuido. Deste modo sobre as ruinas
principal da sua alheação: o Papa do Templo se levantou a especiosa
pelo contrario os queria applicar á Fabrica da Ordem de Christo (distin
Ordem do Hospital, e ainda dispôr ctivo , com que desde logo forão
delles a seu arbitrio ; como se vê algumas vezes honrados os Templa
pela Doação da Villa de Thomar rios) em virtude de hum Breve de
feita ao Cardeal Bertrando. Depois João XXII., expedido em Avinhão,
de largas contestaçoens se decidio a 14 de Março de 1319. As Prero
pela Reforma, ou Instituição de hu gativas, e Excellencias desta Mili
ma nova Ordem Militar, intitulada cia demandão larga historia : ella
Ordem da Milicia de Nosso Senhor je tem achado, e achará ainda pennas
sus Christo, cujo Patrimonio fossem mais felices.
todos os bens, e efeitos, que d'an TEMPTAÇOM. O mesmo que
tes possuia a Ordem do Templo. Tentaçom. +

Conveio nisto o Monarcha Portu TENARIA. V. Palame.


guez, e logo no mesmo anno, achan TENÇA. O Direito de ter, e
do-se em Leiria a 4 de Junho: ven possuir. E por esta Doação vos da
do que o Procurador da sua Coroa, mos logo a posse , e tença dos ditor
havendo intentado demanda contra moinhos, que façades delles o que vos
os Templarios, nas vesperas quasi aprouver. Doc. de Lamego de 14o3.
da sua triste ruina , ao tempo que TENÇOM. Contenda, arroido,
o Mestre, e os outros Freires, que briga, revolta. Segundo a Lei de
podião mostrar a sua Justiça, ou se D. Afonso IV. qualquer que levan
ausentárão do Reino, ou não forão, tar volta, ou tençom per qualquer ma
nem procurárão ser ouvidos: e as neira em Concelho, ou per ante as jus
sim conseguíra Sentenças, como tiças, ou contra ellas : que as jus
quiz, e contra toda a razão, e jus tiças o matem porém , e nom lhe re
tiça: levado por hum zelo da recti cebam outra razom & c. Cod. Alf.
dão mais pura, fez restituir á no L. V. Tit. Io4. § 1.
va Ordem de Christo as Villas, Cas TENCEIRO. Recebedor das
tellos, e Lugares de Soure, Pom rendas do Concelho. Neste sentido
SC
TE TE : 375
se toma esta palavra em huma Sen nas estradas para interceptar, e com
tença da Camera de Ponte do Li prar por menos as mercadorias, e
ma de 141o. Nella se diz tambem, viveres , para ao depois os mono
que quatro alqueires da medida velha, poliar, ou vender por mais alto pre
ou de S. Giraldo, se tornavão em tres ço. E todos aquelles, que teverem os
alqueires da medida corrente. caminhos pera comprar as vendas, que
TENDER. Entender, trabalhar, veerem pera a Vila, peitem sessenta
occupar-se. E porque ElRei nosso Se soldos. Acordão da Camera de Vi
nhor me manda tender nesta Enquiri seu de 1 3o4.
çom, nom posso leixar de tender nella. TERBOLIAS. V. Embolhas.
TENDER SE. Extender-se, alar TERÇARIA. AS. Deposito, re
gar-se, apossar se de mais terreno, fens, segurança do contracto. De
do que o direito permitte. Mandou, estar na mão , tutella, ou casa de
que nom se tenderem mais pelo termo hum terceiro , que não he nenhum
de Silva-Escura, de que se tenderom dos contractantes, se disse Terça
atá qui. Doc. de S.Thyrso de 1 316. ría. E assy, os ditos Ifantes fossem
TENTAÇOM. Intento, deter postos em Terçaría na Villa de Mou
minação, vontade. E pola soo tem ra, em poder da dita Ifante D. Bria
taçom seja maldio. Doc. de Vairão tiz , na qual estivessem atee serem
do Sec. XIV. perfeitamente casados. Chron. d'El
TENTAMENTO. Tentação, Rei D. Affonso V. c. I o 6.
determinação mostrada no exterior, TERÇAS Pontificaes. Para intei
e começada já de algum modo a pôr ro conhecimento das Terças Ponti
em execução. E se alguem quizer viir ficaes he necessario ter presente a
contra este feito, nom lhe seja consen origem , e divisão das rendas Ec
tido; mais roomente polo foo tentamen clesiasticas. Desde a Primitiva Igre
to, quanto quizer, tanto vos en dublo ja tiverão os Bispos a seu cargo,
compona. Esta tentação coincide com por si, e seus Diaconos, as Obla
a intenção , demanda, ou letigio. çoens, e quaesquer outros emulu
Punha-se pois, nos antigos Instru mentos, que em toda a sua Dioce
mentos a Pena convencional, paga se se fazião á Igreja ; com obriga
pela parte, que judicialmente pro ção porém de attender com elles á
curasse ir contra o estipulado, da sustentação frugal, e honesta do seu
do, doado, ou por outro qualquer Clero, ao reparo dos Templos, e
modo entre as partes contractantes ao soccorro dos pobres, e necessi
estabelecido. tados. Dizem, que já no tempo de
TEPÉS. Aferrado ao seu dicta S. Silvestre , e de S. Simpliciano
me, teimoso, contumaz. Ant. Papas, e finalmente em o Concilio
TER em mente. Lembrar-se de Romano de 493 sub Gelasio, se re
alguma pessoa, ou cousa, tê-la pre partírão todas as Oblaçoens, e ren
sente na lembrança, não se esque das Ecclesiasticas em quatro par
- cer della. Corresponde ao Latino tes ; cedendo huma para a Mesa
In mente habere. Que me ajam em Pontifical, e as outras tres com os
mente em sas Oraçoeens. Doc. de Pen destinos acima ditos. Porém esta
dorada de 1 315. quadripartida divisão parece não foi

TER os caminhos. Atravessar-se practicada por então nestes *# IlS
376 TE TE
fins da Igreja Occidental; pois no Estas Terças pois, chamadas Pon
Concilio de Orleaeus de 5 II c. 5 : no tificaes, e que das Parochiaes de to
Toletano IX. c. 6. e no XVI. c. 5: e no do o Bispado se pagão hoje, ou á
de Merida de 666 c. 14. se acha o Mitra, ou ao Cabido ; ainda da
contrario. No de Tarragona de 5 16 quellas, que os Monges, ou ou
c. 8. se alega a Tradição antiga de tras Corporaçoens Religiosas fize
receberem os Bispos as Terças de to rão edificar dentro dos seus Coutos,
dos os frutos , com a obrigação e Isentos (ficando para os Fundado
de repararem as Igrejas. E finalmen res as duas partes de todos os Di
te no Bracarense II. de 5 6 1. c. 7. se zimos) nunca já mais perdêrão as
determina, que das rendar Ecclesias obrigaçoens inseparaveis da sua na
ticas se fação tres Porçoens iguaes: tureza. E seria bem para desejar,
huma para os Bispos : outra para os senão perdesse de vista entre huns,
Clerigos: e a 3." para a Fabrica, lu e outros a quarta parte dos pobres,
zes, e alampadas da Igreja, da qual de que sem demasiado roubo não
parte o Arcipreste, ou Arcediago, que podem ser defraudados. Algumas
a administrar, dará contas ao Bispo. vezes vinhão estas Terças Pontifi
Desde este tempo se descartárão os caes debaixo do nome de Censo, ou
Bispos das Terças da Fabrica, e fi Censoria. V. Censo.
cárão recebendo as Terças que erão TERÇAS Reaes. He hum Di
proprias da Mesa Pontifical. reito inseparavel da Magestade, que
- Introduzidos em fim os Dizimos, se paga aos Reis de Portugal de
que havião succedido ás Oblaçoens todas as rendas dos Concelhos do
dos fiéis, e com o mesmo destino; Reino, das quaes a terça parte he
as Terças Pontificaes ficárão no mes para a Coroa. Estas Terças forão
mo estado; contribuindo cada Igre dadas patrioticamente pelos Povos,
ja das Parochias com a terça par para que os Monarchas as dispen
te delles para a Cathedral, e fican dessem na construcção, ou reparo
do as duas partes á disposição dos dos muros, e fortalezas, que podião
Abbades, e Pastores, que deverião assegurar a tranquilidade, o soce
reparar os Templos, e soccorrer os go, e a independencia da Nação:
pobres. o que elles paternalmente execu
No Foral, que ElRei D. Sancho tárão. A inspecção destas Terças não
I. deo a Penamacôr no de 12 o9 (e pertence hoje ao Provedor Mor del
tambem nos de Proença, a Velha, las , de quem falla a Orden. L. I.
e Salvaterra do Estremo) se mandão Tit. 62. § 72 ; mas sim ao Védor da
pagar os Dizimos, e Primicias a to Fazenda da repartição do Reino :
das as Igrejas, das quaes o Bispo nem podem ser doadas por ElRei,
teria huma Terça parte : os Cleri posto que expressamente o diga;
gos, ou Parochos a outra terça; e segundo a mesma Orden. Liv. II. Tit.
a terceira ficaria aos respectivos Pa 28. § 2. Mas ninguem se persuada,
rochianos, ou Freguezes para a gas que dos Borgonhoens em França , ou •

tarem onde fosse necessario, e pre dos Wisigodos em Italia (que senho
ciso, como Ornamentos, Livros, reados daquellas Terras, as repar
Fabrica; segundo o parecer do Bispo, tírão em tres partes, duas para os
e seus Parochos. V. Garda. vencedores, e huma para os venci
dos,
TE TE 377
dos , da qual ainda estes pagavão prescripti Monasterii , suis antiquir
huma certa pensão, ou Terragio ao determinatam terminis. L. Baio f. 25.
Real Fisco) nascêrão as Reaes Ter E a f. 3o. W. se acha, como no de
ças em Portugal. Esta Monarchia 1 15o Sueiro Soares doou ao Prior
se fundou não sobre hum Povo es D. Tructesindo, e aos mais Cone
cravo, e sujeito ao cativeiro; mas gos de Grijó muitas fazendas, e por
antes foi obra de huma gente li sua morte tudo o que se achasse
vre, e que com o seu forte, e va pertencer-lhe : si absque legitimo se
leroso braço expulsou do seu Paiz mine mortuus fuero. Si verò filium ex
os possuidores intrusos, que sem legitima uxore, unum, vel duos, vel
mais Titulo , que não fosse o da usque quinque filios habuero : aequa
tyrannia , e prepotencia, o domi lem vobis partem unius filii concedo.
navão. Quod si amplius quinque filios mihi
Além destas Terças, méramente Deus dederit ; quintam partem vobir
seculares , tambem aos Reis de concedo integram. Et hoc facio pro re
Hespanha, e Portugal concedêrão medio animae meae, Óº ut me vos ad
antigamente os Romanos Pontifices juvetis, Óº manuteneatis, in quantum
(e ultimamente Gregorio IX, a D. justitia, cºratio populaverit. E logo
Affonso X, o Sábio) as Terças de to no mesmo anno Gonçalo Paes doou
dos os bens Ecclesiasticos, que es todos os seus bens á Canonica (Mos
tavão applicadas ás Fabricas das teiro de Conegos) de Grijo, Tali
Igrejas , para manterem a guerra pacto, Óº convenientia: quod si semen
contra os Mouros, e outros inimi habuero, ad unum, vel duos, mediam
gos do nome Christão. Mas desta partem uno filio facio : duobus, ter
Concessão nem sempre se aprovei tiam : tribus verà, quartam: Sivero
tárão os nossos piedosissimos Mo plus, quintam mando praedicto loco S.
narchas : deixando ao patriotismo Salvatoris; caetera autem filiis meis.
dos seus Ecclesiasticos o subminis Quod si ego absque legitimo filio, vel
trar semelhantes auxilios, quando filia mortuus fuero; omnia mea reci
a causa assim o persuadia , e de piant Canonici praescripti. Et si ex con
mandava. V. Castellatico. cubina mei filii fuerint; fiat illis, pro
TERCER. Terceiro. Doc. de ut viderint ipsi Canonici , Óº secun
Pendorada de 1 292. dum bonitas seminis postulaverit a f.
TERÇO, e quinto. Se em al Ioo. Y. E note-se o uso das Con
guns dos nossos Doc., particular cubinas , ou não Recabedadas por
mente nos de Grijó, se acha com aquelle tempo, que sendo permit
frequencia a disposição da Terça, tidas para remediar a incontinen
e Quinta parte da herança a beneficio cia, os seus filhos não erão admit
das almas dos pios Testadores ; e tidos por justiça ao beneficio da he
isto ainda que tivessem filhos de rança. V. Marido conoçudo, e Avoen
mulher legitima, e forçosos herdei ga. O Rei Chindasvindo no Cod.
ros. No de 1 1 38 Mendo Affonso }Visig. L. IV. Tit. 5. determinou, que
doou áquelle Mosteiro o Terço de o Pai podesse dispôr do Terço para
toda a herdade, que elle tinha en algum filho, ou filha, e do Quin
tre Arcuzello, e Valladares per ubi to para Obras pias, e do mais não
22/am potuerint
Tom. II. invenire Seniores ipsius podesse Bbb
- •
dispôr, salvo por certas
• C2\]
378 TE TE
causas de desherdação. ElRei D. la sua má qualidade, nem ao me-.
Affonso II. no seu Testamento dis nos produzião hervas, silvas, arbus
pôz só do Terço: o que depois de tos, ou matos.
muitos annos ficou servindo de Lei; TERRA Chaan. Aldêa, ou po
se he que esta não nasceo dos Arabes, voação pequena, que não he cabe
que igualmente podião dispôr só da ça de Concelho, nem tem muros,
terça parte dos seus bens. A disposi torres, ou Castellos. Ainda hoje ve
ção do Terço, e Quinto que princi mos, que antigamente todas as po
piou com oReino, ainda se continuou voaçoens defensaveis não erão na
entre nós até o meio do Sec. XIV., planura dos campos, mas sim no
segundo muitos Doc., e principal cume, ou recosto dos montes, ou
mente de Bostello, e Pendorada. O collinas. Homeens de pee scudados se
Terço só podia ser da ganhadéa, ou lançam nas matas, e continuadamente
compradéa , que nós hoje dizemos andam valdos pela terra , comendo o
bens adquiridos: o Quinto porém era alheo pelas terras chaans , forçando
dos bens da Avoenga, ou herdados: muitas moças virgens, e fazendo ou
e isto segundo o costume de Portugal, tros muitos males. Cod. Alf. L.V.
e Leão. O Sábio A. das Observaç. Tit. 96. § 1.
de Diplom. Portug, P.I. Observ. 7. f. TERRA Gallega, ou Gualega.
1o8. faz vêr claramente, que a nos Com o mesmo espirito, com que se
sa legislação antiga exhorbitava da disse Psalterio Galego , se chamou
do Codigo Wisigothico pelo que Terra Gallega , a que não era de
respeita ao Terço, e Quinto da he campo fertil, e rendoso; mas sim
rança, e mostra, como por degráos, de charneca, delgada, e não mui
a origem , que tiverão as nossas to rendosa.V. Ademêa, que era iden
Leis, que hoje permittem o dis tica á terra de que fallamos. Da ter
pôr tão sómente do Terço por qual ra gualega, de seis buum: e das ter
quer titulo, ainda mesmo havendo rar do bairro , ho quinto. Doc. do
herdeiros forçados. Salvador de Coimbra de 1495. To
TERMINOS. Termos, limites, dallas terras gallegas, que nom sejam
confrontaçoens, balizas. Doc. das dadas a Cabeças dos outros casaes, as
Bent. do Porto de 1285. adugades a fructo. Doc. de S. Pedro
TERRA. Segundo a Partida IV. de Coimbra de 129o. -

L. II. Tit. 25. as rendas, que o Rei TERRA dos Pagons. Assim cha
concedia aos Grandes, e Cavallei mavão os nossos Maiores as terras,
ros em certos lugares, mas sem pos que os Mouros occupavão, quer fos
tura de algum serviço, se chamavão sem ao Norte, quer ao Meio dia,
Terra, e daqui se disse Senhor de ou para a parte do Nascente. Men
Terras. do Bernardo , e sua mulher Godi
TERRA Calva. No Sec. XIII. nha Paes doárão ao Mosteiro de
se chamavão Terras Calvas, as que Santa Cruz de Coimbra certos bens,
já estavão limpas de mato, rotas, e as trez partes da Igreja de Santa
e lavradas. Doc. de Tarouca. De Maria de Alkarovim: com condição,
pois se applicárão estes termos, não que se morrer alem Douro, até a Ter
ás terras fructiferas ; mas sim aos ra dos Pagons , será sepultado no
montes ermos, e bravios, e que pe Claustro daquelle Mosteiro, a quem
- QS
TE TE 379
os seus parentes daráó a melhor pe algumas vezes Quarentena.Ainda hos
ça , que então se lhe achar. Doc. je em algumas partes deste Reino
de Pedroso. Daqui se vê, que este se não esqueceo de todo a palavra
Cavalleiro morava entre Douro e Terradégo.
Minho, em que já não havia Mou TERRADEGO. II. Esta pala
ros no de 1 1 39 , e no mez de Ju vra na significação de Laudemio se
lho, em que fez esta Doação, as introduzio nos Prazos de Coimbra
sim como os não havia entre Dou depois de 15o3 ; pois antes deste
ro e Mondego: e que entendeo por anno se não acha tomada pela par
Terra de Pagons a que ficava desde te da venda, ou preço, que se de
Soure, e Leiria para o Téjo, e Gua via dar ao Direito Senhorio. Em
diana, que naquelle mez, e anno hum Prazo de S. Christovão de
se hião a conquistar, e onde elle Coimbra de 1 29o se determina, que
talvez chegaria a morrer. E note querendo o Emphyteuta vender o
se a Devoção dos antigos Portugue Casal, de venda, quam feceritis, de
zes, ainda na liberdade das armas, tis dictae Ecclesia nortrae , sicut alii
que querião esperar a Resurreição mostri homines de Bruscos. Em mui
Geral á sombra , e na companhia tos Prazos do Sec. XIII., e XIV.
dos que então mais se distinguião se impõe o Laudemio já da 4.", já
na virtude. Tal foi o Capitão Suei da 5.", já da 6.", já da 7.° parte do
ro Telles, que estando a partir pa preço , porque se vendia o feitio,
rº huma Expedição Militar em a Ter ou bemfeitoria, que agora dizemos
r 1 de Campos, fez huma mui larga o dominio util, sem que já mais an
Doação ao Mosteiro de Pedroso no tes do dito anno se fallasse em Ter
de 1 131 : declarando logo, que se radégo por Laudemio, o que depois
nella morresse, os Monges fossem he frequentissimo.
conduzir o seu cadaver , e no seu TERRADEGUEIRO. Assim
Mosteiro o sepultassem. Si contige chamão na Cathedral de Coimbra
rit me mori in hac via, in qua Dom ao Conego, que recebe os Laude
mus meus Alfontus Rex jubet ire, sci mios, pertencentes ao seu Cabido.
licet ad Campus: eatis prome, ó se Os quaes Laudemios se chamão al
peliatis corpus meum in Monasterio. li Terradégo. .
Doc. de Pedroso. E eis aqui o In TERRADIGO. Renda, ou pen
fante, ou Principe D. Afonso Henri são annual, que se pagava por vi
z intitulado Rei, 8 annos antes ver, e cultivar em terra alheia. Era
da batalha de Ourique. segundo se estipulava: já de 4.",
TERRADEGO. I. Laudemio, já de 5.°, já de 6.°, ou menos ain
ou certa parte do preço, ou estima da. E dardes a nós a meya da dizima
ção da cousa vendida, que paga o por terradigo de todo fruyto, que Deus
Foreiro , quando com licença , e y der. Doc. de S. Christovão de
consentimento do Direito Senhorio Coimbra de 1 276.
a vende, troca, dá, ou alheia. Se TERRADO. Certo foro , que
gundo o Direito commum he a quin se paga aos Bispos de Coimbra,
quagesima parte: em Portugal, não de todas, e quaesquer proprieda
se estipulando o contrario, he a qua des, que naquelle Bispado se ven
dragesima, que por isso lhe chamão derem; não podendo Tabellião al
*
• • • Bbb ii gum
38o TE TE
gum fazer Carta de venda, que vá os Livros dos Testamentos de Lor
Iida seja, sem que nella vá inser vão, e Santa Cruz de Coimbra são
to o bilhete do Bispo , pelo qual exhuberante prova) mas tambem se
dá licença , e conste, que se pa disse Testamento, o Direito de her
gou o Terrado; sob pena de perdi dar, ou succeder, naquelles rudes,
mento dos seus Oficios, fazendo o e calamitosos tempos, em que o Do
contrario. Assim foi determinadote das Igrejas, e Mosteiros era pro
por hum Alvará de 16o5 confirma priamente o morgado, e apanagem dor
do ultimamente em 3o de Junho de Descendentes do Fundador, ou Dota
1785. dor. Elles, como Herdeiros, e Na
TERRADORO. Theodoro, no turaes vinhão requerer annualmen
me de homem. E seendo a todo tes te Casamentos, fantares, Cavallarias,
temunhas presentes , Terradoro Gon Pitanças , Raçoens & c. a que cha
{alves, & c. mavão Testamento. Pedindo ende ser
TERRATORIO. Territorio. viço, e geiras, e Testamento. Carta
Doc. da Cam. Secular de Coimbra d'ElRei D. Diniz para o Tabellião
de 1354. de Lamego, e a favor do Mostei
TERREO. Terrado, terra livre, ro da Salzeda. Doc. da Salzeda. Gil
inculta, baldia. Doc. de 13o4. Esteves vendeo hum Casal em Ten
TERSOL. Toalha, e propria daes ao Mosteiro da Salzeda no de
mente manustergio do Altar , que 1279, com condição, que ninguem
serve para alimpar os dedos do Sa possa demandar no tal Casal servi
cerdote ao Lavabo. Vem do Latino go, nem geira, nem Testamento, nem
Tergo. Prepara-se o terrol em o canto Maladía, nem outra demanda nenhua.
do Altar, e fas-ce o lavatorio: e lim Doc. da Salzeda. •

pos os dedos do Sacerdote , dece-se o TESTAMENTO. II. Direito de


terrol pera baixo. successão, ou de avoenga. Na Ins
TESTAÇOENS. V. Pôr testa tituição de huma Capella de S. Si
062770". • º
mão da Junqueira , do Sec. XIII:
TESTAÇOM. Tambem se dis manda o Testador, que nenhum dos
se Pôr testaçom, por Embargar. Doc. seus filhos , ou filhas, descenden
de Pendorada de 1315, e de Paço te, ou conjuncto, Habeat in dictir
de Sousa de 1415. Tambem se to possessionibus jus aliquod, quod vul
mou a Testaçom por coima, postu go appellatur Testamentum. -
ra, ou comminação de pagar tanto, TESTAMENTO. III. Este no
ou quanto de encoutos a quem fi me se deo não só a qualquer Doa
zer o contrario. Doc. da Universida ção ; mas tambem aos Instrumên
de de 1 318. { tos, ou Cartas de Privilegios, im
TESTAMENTO. I. Não só se munidades, isençoens, de venda;
tomava esta palavra pela Doação dote , manumissão, ou liberdade:
feita aos Mosteiros , Igrejas, ou e algumas vezes se chamárão Tes
Lugares Pios, por serem feitas a mentos as Noticias, as Leis, Esta
Deos, e de sua natureza: irrevoga tutos, ou Decretos Ecclesiasticos.
veis (de que entre nós se conser TESTAMENTO. OS. IV. Cer
va hum pasmoso : número desde o ta, e determinada pensão de fru
IX. Seculo até o XIV., e de que ctos, ou dinheiros, que só das ter
ras»
TE TE 381
ras, e propriedades das Igrejas, e cedido a sua Profissão Monastica.
Mosteiros annualmente se pagava Porém entre nós ha bom número
aos que erão seus Herdeiros, ou Na destes Testamentos, que se não po
turaes. V. Misteres. E leixo-vos por dem atribuir senão á relaxação do
eisentos , e por forros os ditos erda minante, e esquecimento total do
mentos de todo testamento, e de todo Estado Monastico, e suas Leis, que
outro serviço. Quiz dizer que as Mãos só no Sec. XIII. começárão a prati
mortas nada tinhão nestas fazen car-se, ou reviver em Portugal.
das. Doc. de Pendorada de 1314. TESTAO. O mesmo que Tostão.
— Desiste da porre da Pousa , que Sobre a origem do nome desta moe
avia no Couto dese Moerteiro, e de to da são tantos os pareceres, quan
dolos dereitos, que lhy aqueecerom de tas as cabeças. Huns dizem , que
parte de sa Maire ; salvo testamen os Gregos do Peloponeso cunhárão
tos, ou egrejairos, que hy á Ib. An. huma moeda do pezo, e valor do
de 1324. Por sentença do Meirinho nosso Tostão , com o symbolo de
Mór d'Entre Douro e Minho foi hum cágado, que em Latim se diz
hum Escudeiro obrigado a desistir Testudo: e que daqui se originou o
do Direito de povoar, e hermar hum nome. Dizem outros, que de gra
Casal de Pendorada, e levar delle varem os Romanos em certas moe
geira; reservando-lhe só os dez sol das as cabeças dos seus Pontifices,
dos do testamento, que nelle tinha: Imperadores, e outros, que as man
e que só no caso de o não povoar o davão cunhar, lhes veio pelo no
Mosteiro, elle o poderia fazer pe me de Testa chamarem-se Testoens
ra receber o seu testamento, e de ou as nossas moedas, que quasi, e pe
tra sorte o não povoasse. Ib. An. la maior parte, correspondem ao va
de 1324. V. Egrejairo. lor intrinseco daquellas, que em
TESTAMENTO do Monge. prata se lavrárão; como se vê das
Ainda que por muitas Leis não po innumeraveis, que ultimamente se
dessem os Monges fazer Testamen tem colligido. Dizem alguns, que
to (como se póde vêr em Mabill. do Teste dos Francezes veio o no
de Re Diplom. L.I. c. 2. n. 1o.) nós me dos Testoens &c. Como quer
achamos muitos Testamentos de Ab que seja , elles são muito antigos
bader, e Abbadessar, e mesmo de Mon fóra de Portugal, e delles em equi
ges, e Monjas particulares. No Cod. voco se disse aquelle adagio: Tes
Theod. Lib. V. Tit. 3. l. I. se autho tudines vincunt sapientium , Óº vir
rizão os Testamentos dos Monges por t1ttê177.
que elles herdavão , e tambem se TESTEIRA. Divisão , termo,
herdava delles; podendo dispôr de fronteira, limite, ponta de terra ,
huns bens, que elles não podião que está a partir com outra sua li
verdadeiramente possuir, como cou mitrofa. E nas sas testeiras dos seus
sa propria. Os Testamentos dos Ab maninhados. Carta d'ElRei D. Di
bades, e Abbadessas ordinamente erão niz nos Doc. da Salzeda. No de
Legados de esmolas pecuniarias : se 1289 se deo huma sentença porJui
algumas vezes fallavão em bens de zes arbitros, entre o Concelho de
raiz , erão propriamente Confirma Aguiar da Beira, e o Mosteiro de
foens das Doaçoens, que havião pre S. João de Tarouca, sobre as ter
raS »
382 TE TI
ras, e propriedades, que ambos ti TIIMENTO. Obrigação, foro,
nhão no Lugar de Gradiz. E se jul direito, ou pensão de alguma cou
gou, que cada hum possuisse aquel sa. Tiimento de carreira, obrigação
las glebas de terra , que antes de de fazer tantos, ou quantos cami
déz annos rompia, e affructava nas nhos, ou viagens. V. Apostila , e
suas respectivas testeiras. Doc. de Carreira.
Aguiar da Beira. Mandou ElRei D. TINALHA. Tina, vasilha com
Diniz no de 1 292. Que cada hum arcos, e aduelas, a modo de dor
possa comprar em sas testeiras. Doc. na , ou pequena cuba. Serve prin
de Lamego. cipalmente para recolher, condu
TESTEIRO, e Testeiru. O mes zir, e pisar as uvas, e guardar ain
mo que Testeira. Doc. da Salzeda da o mesmo vinho. Vendimus eis
de 12 13. unam adegau cum V. cupis , & una
TESTEIROS.Testadas, ou con tinalia. Doc. de Tarouca de 1228.
frontaçoens de huma fazenda , ou Em outros Doc. deste tempo se
casal. Derom o dito casal com todos chama Tina , como ainda hoje se
seus testeiros, e serviços, tambem de chama na Beira alta, reservado pa
Senhorio, come de outro direito; tam ra a Provincia do Minho o nome
bem Onras, come maninhos rrotos, e de Tinalha.
por romper. Doc. de Pendorada de TINHA. O mesmo que Tinalba.
I322. Mando a cuba, em que ora séé o vi
TESTEMOIO. Instrumento da nho, e duas tinhas das chus someos ,
do em pública fórma. E de todas es a Vasque Stevez. Doc. de Tarouca
tas cousas o dito N. pedio a mim Ta de 1335.
baliom hum testemoio. TINTINI. Certo jôgo. Pelo Al
TESTEMONIO. Testemunho. vará de 8 de Julho de 152 1 se de
Doc. do Sec. XIV. termina, que qualquer homem, ou
TESTEMOYO. O mesmo que moço, que dentro do Paço, ou va
Testemonio randa delle, fosse achado jogando o
TETOR. O mesmo que Tutor: Tintini, pagasse da cadêa 3oo réis
diz-se do homem, e da mulher. O para o Meirinho do Paço, e homens
seu oficio he attender a tudo, o que da guarda delle. Cod. Emanuel. L.
póde interessar o seu pupilo. Tetor, }” Tit. 48. na Rúbrica. Porém na
e Curador do dito Senhor Rei D. Af Ediç de 1665 unicamente se lê na
fonso V, Art. Esp. das Cortes de Epigrafe deste Tit. Como sam de
Lisboa de 1439. Doc. de Viseu. fesas as cartas, e dados. •

TEUDO. Obrigado, constran TIRAMENTO. Arrecadação de


gido. He do Sec. XIII., e XIV. alguma finta , imposição , tributo.
TEYO. Tio, Irmão do Pai, ou Se não houve fielmente no tiramento dºs
Mãi. Giralde Anes, meu teyo. Doc. Pedidor. Cortes da Guarda de 1 465
de Pendorada de 1289. nos Cap. Espec. de Viseu.
TIA. Pret, do verbo Ter. Tinha,TIRAZ. Certo panno de linho
havia, possuia. E por el foi dito, que
com alguns ramos, ou feitios, co
el tia hum Casal &"c, mo as talagaxas. E talvez que se
XV.TIGELO. Tijolo. He do Sec. dissesse Tiraz, alludindo ao Tirio,

ou purpura, em que os tâCS T2 IITOS


SC
TI TO 38;
se usavão. Et uno pano tiraze , que ta de Barbosa, que pertendia ter no
dent ad Quintila. Doc. de Guima Couto, que está junto ao Mostei
rães de 96o. V. Alifafe. ro de Paço de Sousa, Mladia , e To
TIRUDO. A. Obrigado a fazer madía, o Direito de pobrar, e hermar,
alguma cousa. Doc. das Bent do Geiras pera a sua quinta, Sanboanei
Porto de 1 3 1o. V. Teudo. ra, Dia, e Carreira pera mandar on
TITULEIRO. Título, Inscri de quizer. Doc. da Cam. do Porto.
pção, Epitafio. No meo moimento TOMAMENTO. Tomada , ac
ponbão bum tituleiro escripto, que di ção de tomar. Carta d'ElRei D.João
ga: Aqui jaz & c. II. de 1491, pela qual confirma ao

TOALHETE. Guardanapo. Doc. Senhor D. Jorge, Duque de Coim


de Tarouca do Sec. XIV. bra, seu filho, huma Carta de acei
TODOLHOS. Todos. Doc. de tamento por elle feito, em que se
I3 II. continha a Eleição, e tomamento, que
-

TOJEIRO. O que conduz lenha delle fizerão para seu Senhor, a Vil
para os fornos. Sendo esta ordina la, e Beatria de Canavezes, o Cou
riamente de tôjo em Santarém , e to de Tuyas, as Honras de Loure
outras partes, deo o nome aos seus do, e Gallegos, Paços de Gayol
conductores. E os Tojeiros, que acar lo, Gontingem, e Santº Isidro. L.
retão a lenha pera os fornos, sem os II. dos Misticos da Torre do T. f. 88.
quaes se nom pode manter essa Villa TOMBORO. No dialeto da Ter
<rc. Carta d'ElRei D. Fernando de ra de Bragança era antigamente o
1372 para os de Santarém. mesmo que Comoro. No Tombo do
TOLER. O mesmo que Tolher, Mosteiro de Castro de Avelans de
embaraçar, tirar, impedir. He fre 15 o I se acha esta verba: Até o mar
quentissimo no Sec. XIII. , e se co no Comoro da Veiga, ou Tomboro,
guintes. • -
segundo sua lingoagem. Já em 1457
TOMADAS. Não tanto as cou se acha alli a mesma palavra. Doc.
sas, que se tomão, quanto o Direi de Bragança.
to, que alguem tem de tomar algu TONELLADA. No Foral de
mas cousa. Salvo se alguns teem di Monção de 15 12 se declara, que a
reito d'averem algumas tomadas , ou verdadeira Tonellada são 5o almudes
Comedorías. Cod. Alf. Tit. 7. Art. 8. de vinho, os quaes devia levar hum
TOMADIA. I. Preza , roubo, tonel, e a pipa 25 almudes.
despojo, que se faz á força, e com TORCER. Dia de torcer, dia de
as armas em punho. Em saltos, e to trabalho, ou geira, que se emprega
madías de escravos. Barros Dec. I. f. va em amanhar as videiras, as quaes
17. da 1.° Ediç. ". . - se costumão gemer, ou torcer, para
TOMADIA. II. Direito de to que a vara, que chamão do vinho,
mar mantimentos, roupas, &c. sem fique logo nos primeiros olhos da
pagar a seus donos cousa alguma, vide. Nos Prazos do extincto Mos
que abusivamente se praticava en teiro de Villarinho se acha com fre
tre os Senhorios, e os seus vassal quencia: Pagaredes tanto depam, e
los, ou colonos. No de 1395 se deo dia de torcer. Doc. da Serra do Porto.
Sentença na maior alçada contraJoão TORMENTA. Affiicção, pena,
Rodrigues Pereira, Senhor da Quin dor , angustia. Diz huma regra de
Di
384 TO TO
Direito, que gram torto seria, se aos TORNAMENTO.Tornada, vol
atormentados tormenta ades remos... ta. Doc. de Tarouca do Sec. XIV,
Assi que lhe he tormenta emaduda. TORNAR. Voltar-se contra al
Doc. da Cam. do Porto de 14o8. guem, indignar-se. Ap. Berg.
TORNADIÇO. Nome injurio TORNAR-HI. Tomar vingança
so, que se dava aoJudeo, ou qual por suas proprias mãos, usar de hu
uer Gentio, ou Infiel, que volta ma rigorosa justiça , adoptar pro
va da Religião Catholica á sua an videncias fortes, castigar com as
tiga crença, ou pelo contrario. No pereza, e sem dó dos insolentes,
L. de Foraes, e costumes de Béja e culpados. Eram em ponto de tor
lha huma Lei, que diz assim: Cos nar hi; porque vyam que esses máaos
tume he, que quem chamar Tornadiço feitos nom eram estranhados... E nom
ao que he de outra Lei , e se volveo seerdes aaro de tornarmos bi, nem nos
Christão, pague sessenta soldos ao Al sas justiças, nem nossos sojeitos per
caide. Sempre os nossos Monarchas outra guisa. Carta d'ElRei D. Af
forão zelosos de que fossem trata fonso IV. para D. Jorge Bispo de
dos com respeito os que do Judais Coimbra no de 1352. E era frase
mo, Mahometismo, ou Gentelis por aquelles tempos: Tornabo me ad
mo se havião convertido á Religião vos, em algumas Cartas d'ElRei
Catholica. No Cod. Alfonsino L. D. Afonso III. depois do Unde ali
V. Tit. 81. se trata: Da penna, que ter non faciatis , sin autem. E nas
averá o que chamar Tornadiço ao que d'ElRei D. Diniz, e seus Succes
foi Infiel, e sse tornou Christão. Por sores: Unde al nom façades, senom
huma Lei de Filippe II. de 16o I se a vós me tornaria eu per ende.
manda que ninguem chame Chris TORNAR MAÁO. Defender-se
tão novo, ou Confesso, ou Marrano, com mão armada, ferir, espancar.
ou judeo , nem outro nome algum Antre os graves maleficios , assy be
afrontoso , por escrito , ou de pa tornar maão , e desobedecer aa nossa
lavra, em Juizo, ou fóra delle, a Justiça. — Por grande mal ouverom
pessoa alguma, que descendente se os Sabedores antigos , se alguum re
ja dos convertidos á nossa Santa Fé siste, e torna maão aa justiça, que
Catholica , nem aos que de novo rendo-o prender, ou despois que he
se converterem a ella, nem aos seus preso, em qualquer tempo. Cod. Alf.
descendentes: e fazendo-se o con Tit. 63. § 3. e 6.
trario: os Fidalgos, ou Cavalleiros TORNESES, Tornezes, e Tu
pagaráõ 4o cruzados em dinheiro, ronenses. Dizem, que ElRei D. Pe
e serão prezos trinta dias sobre sua dro I. fizera lavrar os Torneses. Era
homenagem, por cada vez que as de prata esta moeda, e tinha de hu
sim chamarem a alguem; e os que ma parte a cabeça do Rei com bar
de menos condição forem , serão ba comprida, e a letra: Petrus Rex
prezos na cadêa pública pelos mes Portngaliae, & Algarbii, da outra o
mos trinta dias, e pagaráó 2 o cru Escudo do Reino, e na orla: Deus
zados em dinheiro; a metade para adjuva me. Valião então 13 reis;
os cativos, e a metade para quem mas hoje, pelo valor da prata, va
os accusar. Mas sobre tudo se at lerião 4o reis. Tambem fez lavrar
tenda a Lei de 25 de Maio de 1773. Meios Torneses, com os mesmos cu
nhos
TO - TO sº;
nhos, e metade do preço. ElRei castigo. V. Tormenta. Et nullus sit .
D. Fernando fez cunhar Torneses de ausus, qui vobis facial malum, nec
3 soldos, chamados Petites, isto he, forciam , neque tortum. Carta d El
pequenos. Sobre a origem do no -Rei D. Afonso III. para os da Vil
me Torneses he que não concordão la de Moz de 1253. Quanto deman
os nossos Escritores. Eu me incli dar, tanto dubry, e petti áquel, que
no aos que dizem, ser corrupção padecer o torto CCC. maravidis. Doc.
de Turonenses, moeda de que tanta das Salzedas de 1 273. V. Vozeiro.
menção ha nos antigos Canones. TORRELHAS. Hum dos jógos,
Ella se dizia Denarius Turonensis por que antigamente se usárão, e que
se lavrar com diverso cunho, peso, hoje se ignorão. No Cod. Alf. L. V.
e valor na Cidade de Tours , em Tit. 41. § II. se manda, que nin
França. E que muito pela semelhan guem jogue dinheiros secos, nem mo
ça do feitio fossem os nossos cha lhados a torrelhas , nem a dados fe
mados Tornezes: e isto em hum tem meas , nem a vaca , nem a jaldeta »
po, em que tanto se idolatravão as nem a butir, nem aa porca, nem a ou
vozes , fábricas , e costumes da tro jogo, que se ora chama curre-cur
quelle Reino ?. Quem adoptava a re, nem a outro jogo nenhuum , de
voz Petite: porque desprezaria o Tu qualquer nome que seja chamado.
ronense? Mas a verdade he, que os TORVA. O mesmo que Torvo.
Portuguezes já muito antes de D. Doc. de 14o9.
Pedro I. tinhão conhecimento, e uso TORVAMENTO. Inquietação,
dos Turonenses. Na Cathedral da desassocego. Doc. de Tarouca do
Guarda se acha o Inventario, que Sec. XIV.
de todos os seus dinheiros, e mo TORVAR. Inquietar, pertur
veis fez D. Fr. João Martins, Bis bar , causar desassocegos, e fadi
po daquella Cidade, no de 13o I, gas. E prometto a Deos, nom moles
e nelle se nomêão com frequencia: tar, nem torvar daqui avante os ditos
Turonenses Brancos: Turonenses Ne Clerigos, meus Irmãos , e Companhia.
gros: Turonenses grossos: e Turonen Doc. de Reciam de 1 438. Não me
ses miudos. Não se me esconde, que tórvo, não me indigno , não me
este Prelado era de Valhadolid, on agasto, nem perco a igualdade, so
de poderia grassar esta moeda, e cego , e repouso de animo. He do
não correr em Portugal; porém se Azinheiro. •

em Portugal não corria, a que fim TORVO. Impedimento , estor


elle a conservava ? as esmolas , e vo, embaraço. Prazo da Cam. de
obras pias, as fábricas, e os mes Coimbra de 1468. -

mos suffragios, e anniversarios que TOSTÃO. Moeda de ouro , e


alli mandava fazer , com este di prata, e que propriamente se devia
nheiro se havião de pagar: e então chamar Testão da palavra Franceza
diremos, que os Portuguezes se pa antiga Teste, ou Teston, nome de
gavão de hum dinheiro por elles certas moedas daquella Nação, nas
inteiramente ignorado, e que en quaes se vião as Cabeças dos Reis,
tre elles não corria ? que as mandavão cunhar, e que ti
TORTO. Injúria, damno, ava nhão o mesmo valor dos nossos Tos
ría , lesão , injustiça , aggravo, toens. Assim de ouro, como de pra
Tom. II. Ccc ta
386 TO
ta os mandou lavrar pela primeira se corruptamente Toura no mesmo
vez ElRei D. Manoel : os de ouro significado.
com o valor de 12oo réis, os de TOURINHAS. Cedulas, fitas,
prata com valor de 1oo réis, e da ou listões de pergaminho, em que
mesma sorte os meios Tostoens; pos estavão escriptos os Mandamentos
to que a Cabeça do Principe em ne da Lei, ou parte do Pentateuco, e
nhum delles se veja cunhada. De que propriamente erão as Phylacte
pois de algumas leves mudanças con rias, que os Saduceos, e Fariseos
tinúa entre nós esta moeda. trazião, como coroas na cabeça, e
TOSTE. adv. Logo, e sem de pendentes diante dos olhos, ou ata
mora, com muita diligencia, apres das nos pulsos, como braceletes;
sadamente. Com as quaes bem tostè entendendo materialmente o Precei
se póde fazer. Carta d'ElRei D. Fer to de Deos, que lhes mandava tra
nando de 1 376. Doc. de Moncor zer sempre a Lei diante dos olhos,
VO. e nos dedos das mãos, isto he, que
TOSTEMENTE. O mesmo que os seus pensamentos, e obras sem
Tostè. pre a ella se conformassem. Igual
TOSTO. O mesmo que Tostè. mente se chamavão Tourrinhas, os
TOUGA. Assim chamárão os an Livrinhos quadrados, de illumina
tigos ao que nós hoje, mudado o ção , e preciosamente cubertos, e
g em c dizemos Touca. Vem da voz nos quaes algum, ou alguns Capi
Persia Taquia, barrete, ou carapu tulos dos cinco Livros de Moysés
ça, que se traz na cabeça. Hoje he se achavão exarados. Nas mesmas
ornato da cabeça, proprio das Re occasioens, que das Touras, usavão
ligiosas, e das viuvas graves, e ho das Tourinbar, por mais vaidosas,
nestas. V. Valancina. e portateis alguns Judeos. V. Toura.
TOURA. No Livro dos Foraes TOUSAÇOM. V. Tauraçom.
de Béja se lê, que os Judeos cos TOUSAR. V. Tausar.
tumão jurar pela sua Toura, e que TRAAER. Entregar alguma cou
por Toura entendem o Pentateuco, sa, ou pessoa por traição, falsida
que são os cinco Livros de Moysés, de, e aleivosía, ser traidor. Cá se
ou da Lei. Quando os nossos Mo o fezesse cabiria em caso de treiçom,
narchas entravão nas Villas, ou Ci como aquelle que traae Castello de
dades , era costume virem os da seu Senhor. Cod. Alf. L. I. Tit. 62.
Nação Hebréa espera-los fóra das § 3.
portas com estes Livros encostados TRABOLHAR Trabalhar, oc
ao peito; como jurando-lhes fideli cupar-se , entreter-se em alguma
dade pela sua Lei. Quando a Rai cousa. Se trabalhassem de fazer, o
nha D. Leonor, já viuva, entrou que por sua negligencia elles vivendo
em Santarém , diz a Chron. d'El nom cumprirão.
Rei D. João I. Part I. C. 31: que TRABUQUETE.I. Pequeno tra
a vierão receber as mulheres daquel buco, com que se atiravão pedras,
la Villa, e os Judeos com as Tou e metralhas. E dahi até º Racio, on
rar. Da palavra alatinada Thora. e. de costumava estar o Trabuquete. Pra
que significa a Lei, que se contém zo da Cam. de Coimbra de 1489.
nos cinco Livro de Moysés: se dis TRABUQUETE. II. Supposta
que
TR • TR 387
que de Trabuchetum , ou Trebuche para não haver fraude, hem enga
tum, que era Catapultae species, seu no , havião de ter os Cainbadores o
machina grandior ad projiciendos la seu Regimento escripto em huma ta
pides, Óº concutiendos urbium obsessa boa alta, pregada na mesma arca
rum muros, se podesse dizer Trabu do Cainbo. Este parece ser o Tra
auete em Portuguez; parece mais buquete, que antes de 1 489 costu
natural dizermos, que Trabuquete mava estar no rocio de Coimbra, e não
(e para com os Francezes Trabu a Maquina, ou pequeno Trabuco, cu
quet) se tomava por Caibo, Cainbo, jo assento seria mais proprio sobre
ou Caimbo, que era a Balança Real, OS II1UTOS. .
onde se trocava toda a qualidade TRADIÇOM. Entrega, acção
de moedas com alguma rebaixa no de entregar alguma cousa.
seu justo peso; pois na infima La TRAGIMENTOS. Nas Cortes
tinidade: Trabucare monetam, era, de Santarém de 1 331 se diz, que El
De justo ejus pondere detrahere; Tra Rei D. Afonso IV. publicou muitos
buchatio, Detratio de legitimo ponde agravamentos , e máos tragimentos,
re; e Trabucus, ou Trabuchetus, Mo que corregéo. Parece, que do verbo
metalis statera. E com efeito no Cod. antigo Trager se disse Tragimentos;
Alf ( que se acabou de escrever no sendo certo que os Procuradores
de 1446) L. IV. Tit. 3. se manda, dos Povos levavão ás Cortes todas
que ninguem possa vender, com as maldades, e desordens, que pre
prar , ou escaibar ouro , ou prata, cisavão de correcção, e emenda. E
salvo no Caibo d'ElRei. Havia en estes erão os máos tragimentos, ou
tão dous Caibos, hum em Lisboa, as maldades, trazidas, e dadas em
outro no Porto, com balanças, af apontamentos, ou Capitulos, a que
finadores, apuradores, e outros Of. ElRei deo providencia a beneficio
ficiaes da casa, para não haver en de seus vassallos. Tambem se po
gano, e arrecadarem os estabeleci dia dizer, que Tragimentos vem de
dos rendimentos para a Coroa, ou Tragedia ; persuadidos já então os
para quem ella tivesse feito mercê pouco instruidos, de que era essen
delles por algum tempo. Depois cial á Tragedia, o rematar sempre
disto ElRei D. Affonso V. no de com cousas tristes, funestas, in
1 47o, e 1471 fez particulares Re faustas, e desgraçadas: e daqui veio
gimentos para estes Cainbos , os o dizermos Tragico successo, qual
quaes se achão no seu Livro Verme quer acontecimento funesto, e des
lho N. 8. e Io. Por elles se mani graçado. E neste sentido Tragimen
festa, que havia já Caibos, Cainbos, tos máos apellaria sobre feitos, obras,
ou Cambios nas principaes Cidades e acçoens indignas, perniciosas, e fit
do Reino, onde com algum inte nestas ao bom governo da Monarchia.
resse se trocavão moedas grossas de TRALHADO. Traslado, cópia,
ouro, e prata, do Reino, ou Es exemplar , transumpto. E mostrou
trangeiras, por cruzados, e outras hum tralhado. Doc. das Salzedas de
131o. •

moedas miudas, que entre nós cor


rião. Nestes Cambios era permitti
- + TRAMA. Chaga, ingua , nas
do comprar todo o ouro, e prata cida, postema, inchaço, doença de
amoedado, e em arriel, e pasta. E peste, mal endemico, geral, e con
Ccc ii ta
!

388 TR
.tagioso. Este era o seu antigo si TRASTEMPAR. Prescrever,
gnificado, segundo Lopes, Chron. passar além do tempo. Entende apro
d'ElRei D. João I. P.I. c. 149 e 15o: var, que o traftempo daquella terra,
hoje se toma pela traça º engano, 4ue tratempára em cinquianos. Carta
falacia, artificio, tramoia, maqui d'ElRei D. Diniz de 1284. Doc. de
nação, intriga, e tambem pelo fio Tarouca.
da lançadeira, com que se tapa, e TRASTEMPO. Prescripção,
tece a ordidura. tempo já decurso, e passado. V.
TRAPASSADO. O que já pas Trastempar. *-* •

sou , tempo decurso , preterito, TRAUSSAÇAO, e Traussaçom.


e que já não torna a vir. Doc. das Assim se disserão as Comedorías,
Bent. do Porto de 1 396. Casamentos, fantares, & c., que nos
TRASFEGAR , e Tresfegar. Mosteiros se pagavão aos Naturaes
Commerciar. Daqui Trafego, com delles, quando não erão dados em
mercio, trato, communicação , e propria especie, mas sim taxados a
commutação dos generos, e merca dinheiro, o que muitas vezes se fa
dorias. Em razão dos Privilegios da zia para evitar exhorbitancias dos
Cidade do Porto (diz hum Doc. da mesmos Naturaes, ou Herdeiros dos
sua Camera de 1436) corrião as gen Fundadores, ou Padroeiros. Pelos
res a ella, onde trafegavão com suas Doc. de Vairão sabemos, que no de
mercadorias a muitar partes do mun I334 - se deo sentença contra cer
do; trafegando por mar, e por terra tos Escudeiros, que pedindo á Ab
de humas partes em outras. Trefegar badessa as suas traussacoins, e dando
suas vidas, se acha em outro Doc. lhas de Escudeiros, e não de Infan
da mesma Camera de 1439 , isto foens, como elles pertendião, ti
he, commerciar, e fazer valer as nhão feito tomadías de jugadas, e di
suas fazendas, que são os esteios, reitos no Couto do Mosteiro. No
e arrimo da vida dos homens. de 1336 Gonçalo Anez, e seu filho
TRASMUDAR.Transferir, tras Diogo Gonçalves recebêrão 4 livras,
passar, mudar para outrem. Abre e Alvaro Gonçalves 4o soldos, que
nuncio a todo o direito, e auçom, e o se lhes devião da sua traussação, co
ponho todo, e trasmudo em vós. Doc. mo Naturaes do Mosteiro. E finalmen
de Pendorada dos Sec. XIII., e XIV. te no de 1366 João Anez, em nome
TRASORDINÁRIO. A. Ex de sua mulher D. Margarida de Sou
traordinario, fóra do commum, e sa, e sua filha D. Beatriz de Villa
ordinario. E nom os compelerem a mon Real, recebeo a traussaçom da Co
*ariar, assi ordinarias, como trasor medoria, que tinhão no mesmo Mos
dinariar teiro. V. Tausaçom, e Tausar. Em
-

- TRASPOR, Sumir-se, desappa outros Doc. se diz Treusassom, e no


recer, por causa de algum cerro, mesmo sentido de mezada, taxa,
collina, mato, arvoredo, &c., que ou quantia certa de dinheiro, em lu
encobre o objecto, que pertende gar das Comeduras, ou Comedorías.
mos vêr, ou descobrir. V. nestas palavras, e Natural, e
… Eis que traspoem, eis que assoma... Herdeiros. º
Fui-me traspondo, e perdendo. TRAUTO.Tracto de terra, hu
*- - Sá de Miranda. bom espaço de caminho. *** ////Z
TR < TR 389
hum boo feixe de palha trigá, quanto Tambem se chamou antigamente
hum homem possa levar hum trauto. Trebelho, o brinco, jogo, desenfa
Era, ao que parece, o Trauto, es do. V. Trebelhar. II. Em humas Cons
paço que huma bêsta podia correr tit. Mrs. do Arcebispado de Lisboa
de galope , e por huma vez , que de 14o 3 no Cap. da Guarda das Fes
erão 125 passos, ou hum estadio.tas se diz, que nom dançassem, nem
TRAVECIA. V. Travessia. bailassem, nem trebelhassem nos Dias
TRAVESSA. Certo tributo, que &antos, e logo mais abaixo, Nem
se pagava em Bragança, que pare cantos, nem danças, nem trebelhosfe
ee ser o que em outras partes se zessem deshonestos. V. Cod. Alf. L.
dizia Passagem. Peros , e travessas II. Tit. 75, § 1. •

de todas aquellas couras, que vender TREBOLAS. V. Embolhas.


sem em essa Villa. Doc, de Bragan TREBOLHAS, V. Embolhas.
ga de 1444. TREBOLIAS. V. Embolhas.
TRAVESSIA. V. Soão. TREMEDAL, Campo ensopado
TRAUSAR. Taxar, pôr certo, em aguas, apaúlado, a que chama
e determinado preço a qualquer cou mos lameiro. E d'i a hum porto, que
sa. Trausamos aos Infançoens, que ou está em hum lameiro, quer tremedal.
vessem por suas Comeduras cada huum Tombo de Castro de Avelans de
}? em cada huum anno XXX. XXX. sol I5 o I. * * - -

dos ... Escudeiros, que nam hajam bem . TREMISSE. A terça parte de
de Senhor, que sejam lidimos, X, rol hum soldo. Vem do Latino Tremis
dor... Escudeiros guisados, vassalor sis. Na II. Part. da Monarch. Lusit.
delRei, ou que ajam bem de Senhor, L. VII. c. 8, diz Fr. Bernardo de Bri
XX, soldos... Outorgarom os ditor to, que tinha em seu poder a céle
Fidalgos o dito trauso. Doc. da Uni bre Doação, que D. Theodo,
versidade de 1 366. V. Tausar. Conde de Coimbra, fez a Lorvão
TRAUSO. Taxa. V. Trausar. no de 77o, que alli se transcreve,
TRAZER panno de alguem. Ser e nella se faz menção de Tremisses,
seu criado, moço, pagem, ou apa trez dos quaes fazião hum soldo.
niguado, que delle recebe manten Do valor do Tremisse não duvida
ga, e vestido, e he da sua familia. mos; mas deixamos á conta de Bri
Cod. Alf. Tit. 59. § 19. to o credito da Doação, que accu
TRAZIDA. A acção de trazer sa, e da qual em Lorvão não se
alguma cousa. Pagavão os Direitos descobre ainda o vestígio mais le
da Trazida, e da Levada. Era pois ve da sua, existencia. V. Livra. -
a Trazida hum Direito, que se pa TREPÉES. Trempe, instrumen
gava do que á Praça de Lamego se to, ou traste de cosinha bem conhe
trazia. Doc. de Lamego do Sec. XV. cido. E humas greelbas, e huas tre
TREBELHAR.I. O mesmo que péés, e dous morteiras
de Pendorada de 1359.de pedra. Doc.
Trabalhar. -

TREBELHAR II. Jogar, brin TREMUDAR. O mesmo que


car, divertir-se. Ant. Trasmudar. Doc. de Vairão de 1435.
TREBELHOS. As peças do jo TRESO. De más entranhas, ma
go de xadrez, ou de outro qualquer licioso. Ant. • - . .

jogo, como damas, tábulas, &c. TRESPASSADO. Transferido,


tTaS
390 TR TR"
trasladado, mudado de hum para mos, e dilàçoens ao Prior; per tal mº.
outro lugar. Sabemos, que somos tres neira, que a Cidade nom recebeo jus
passados da morte
Universidade aa vida. Doc. da tiça, nem restituiçam. Doc. da Cam.
de 129o. •

de Coimbra de 1459.
TRESPASSAMENTO. Que TRIGAR. Apressar. E assi tri
brantamento da Lei, inobservancia, gou suas jornadas, que em mui poucor
transgressão. dias chegou a Thomar. Pina, Chron.
TRESPASSAR. Transgredir, d'ElRei D. Affonso V. c. 4. -
não observar, não cumprir. TRIGO Mourisco. Assim cha
TRESPORTALECER. Desap mavão antigamente ao trigo, de que
parecer, ausentar-se, não ser mais hoje commummente usamos, e que
visto, como aquelle, que possa além nada tinha de equivoco com o tri
de huma portella. Tresportaleceo, e go tremez , e menos com o trigo
nom foi ende mais visto. mouro. Trinta alqueires de trigo mou
TREU. Certo panno que se fa risco, e outros trinta alqueires de tri
bricava na Comarca do Porto, e so go galego, ou tremes. Doc. de S. Pe
bre cuja largura, que devia ser de dro de Coimbra de 1 352. •

hum palmo, e dous dedos, manda TRIGOSAMENTE. Sem demo


vigiar ElRei no de 1377. Servia só, ra, com grande pressa, e ligeire
como hoje, para vélas das embarca za. E querendo o Concelho sua maá
çoens daquelle tempo. He compridoi posse contrariar, trigosamente aceptou
ro , mandar comprar gram soma de Carta de Escomunbom, Doc. de Coim
panos de treu pera a armaçom de nos bra de 1459. |- •

sas galéés. Doc. da Cam. do Porto. TRIGOSO. Apressado, ligeiro,


veloz. Ant. • • •

TREUSASSOM. O mesmo que


Traussação. No de 135 1 Gonçalo TRILHOADA. Acha-se na Or
Martins, Escudeiro, deo, e doou denação L. I. Tit. 18. § 5., e no Cod.
por su'alma ao Mosteiro de Morei Manuel. da Ediç. de 1565 Tit. 15. §
ra tudo o que tinha, e de direito 4. E os outros lavradores, que lavra
devia d'aver no dito Mosteiro, Tam rem com trilhoada , ou singel , & c.
bem comeduras , come treusassoens, Aqui se faz distincção de lavrado
come pousadéa, come testamento, come res grandes , e pequenos: os pri
padroado... A qual Doaçom eu pro meiros deixando perder as palhas
metto, a nom hir contra ela... aber são multados em 4oo réis: os se
tamente, nem ascondidamente. Doc. de gundos só em 2oo réis: aquelles la
Moreira. -

vravão com muitas juntas de bois


TREVUDADO. Tributado, ou o que se entende pela charrua, ou
tributario, sujeito a pagar tributo. mais arados do que hum: estes pe
Doc. de Vairão de 1 289. lo contrario , ou lavravão com hu
* TREVUDO. Tributo. V. Em ma só junta, ou jugo que aqui se
truvircada. •
diz singel, ou usavão de bêstas pa
TRIBUNO. Almoxarife. V. Tem ra a lavoura; e como estas são ain
preiros. •

da hoje, e erão então, as que ser


TRIGANÇA. Pressa, calor, ex vião no trilho dos paens, se disse
pediente prompto, e executivo. Nom trilhoada, quando no lavrar das ter
deu a ello grande trigança; dando ter ras se empregavão. No Cod. Alf. L.
I.
TR. TR 39r
I. Tit. 5. § 3o. se põe pena de 2oo car. Passar, vencer, exceder, ser
réis aos primeiros, e de Ioo réis aos mais attendivel o seu juramento em
segundos. Juizo , e fóra delle. No Foral de
TRINTENA. A trigessima par Linhares da Serra da Estrella con
te de alguma cousa. Era o foro, ou cede ElRei D. Afonso Henriques:
tributo, que ordinariamente se pa que os Cavalleiros daquella terra
va nas Portagens dos rios. Doc. de passem por Infançoens em toda a
Thomar.
parte, e que In Judicio, & in ju
- TRISTEGA. I. Edificio de trez ramento trouciant super illos cum duos
andares, ou mais bem a parte su juratores. E que os Peoens de Li
Perior do tal edificio. V. Du Cange nhares Stent, ó trouciant super il
V. Tristega. los Cavaleiros Villanos de totar aliar
TRISTEGA. II. Eirado, miran terras injudicio, Óº injuramento cam
te, ou o que hoje dizemos aguas duos juratores. L. dos Foraes Velhos.
furtadas. In recurtione S. Petri intus Em outros Foraes daquelles tempos
Colimbria... ipsam domum cum sua se diz Troucant ; em outros Trou
4uintana, Óº cum sua tristega. — Ip xiant. No de Aguiar da Beira de .
sam domum, ó sua tristega. Doc. da 1258 diz ElRei D. Affonso III.: Et
Universidade de 1 158, e 1 181. dono vobis foro : quod stet Cavaleiro
TROLHO. He nas ribeiras do de Aquilari pro Infanciom de totas alias
Lima huma medida, ou maquía, terras, sive injuramento, quomodo in
que leva meio Çalamim: 16 destes judicio. Et passent super illos cam
Trolhos fazem hum alqueire. E nem duos juratorer. Doc. da T. do T.
os moleiros , na fórma de Foraes L.I. das Doaç. d'ElRei D. Afonsº
antigos, devem levar mais do que III. a f 33. y.
hum Trolho por cada alqueire, que TROUFER. O mesmo que Trou
vem a ser hum de 16. 7/6/". "
TROM. Trovão. E tambem cha TROUSAR. Taxar. Daqui Trou
márão assim os nossos Maiores o sado. a. Taxado. a. E dardes nove sol
tiro, ou estrondo da peça de arti dos delRei D. Fernando , ou d'outra
lharia, que de alguma sorte o imita. moeda , assi como for trousada que
TROMBAS. Parece ser o que valha. Doc. de Bostello de 15 12.
nós hoje dizemos Insignias, scep TROUVER. Usar, trazer. Sse
tros, ou maças, que nas Cathedraes, trauverem armas, ou forem em peleias.
e Collegiadas mais insignes se tem Carta d'ElRei D. Affonso IV. para
conservado. Me façam dizer huma D. Jorge Bispo de Coimbra de 1352.
Missa calada... E os juizes, e Moor TROUXEL. V. Troxel,
domos , e Confrades de Santa Maria TROUXELO. V. Troxel,
dessam bertolameu, quando sayrem da TROUXIAR. V. Trouciar.
preegaçam , vam com seus cirios , e TROXEL, Trouxel, Trouxelo,
trombas aa dita Igreja, e que hy di e Trosel. Fardo, ballote, carga. No
gam a dicta Misa, e sayam sobre mim. Foral de Constantim de Panoyas,
Dec. da Universidade de 1397. pelo Senhor Conde D. Henrique,
TROSEL. V. Troxel. •
e a Infante D. Thereza, no de io96
TROUÇAR. V. Trouciar. se diz Trouxela. No de Meijom frio
TROUCIAR, Trouxiar, e Trou de 1 153 por ElRei D. Afonso I.,
SC
392 TR
se lê Troxel. No de Melgaço pelo
mesmo Rei no de 1 171 se determi
na: Si quis mercator cum traparia ve
merit: totum trouxel, si voluerit, ven V.
dat , Óº non retalu , nisi in propria
feria. L. dos For. Velhos. Acordou V. Letra numeral dos Romanos;
a Camera do Porto , no de 14o2, tinha valor de 5 : como til, valia
que se fizesse Bolça, como antiga 5 dooo.
mente havia, para utilidade com V. Na Musica dos antigos que
mum dos Mercadores; pagando ca ria dizer Velificare, isto he, metter
da tonelada singella, que se carregar, todas as vélas ao canto , soltar a
X livras, e cada trouxel de pano, que VOZ.
entrar na merma Cidade XX. livras. V. Mudado em B., e pelo con
Doc. da Camera do Porto. trario, he frequentissimo em os nos
TRUFAR. Gracejar. E tambem sos mais antigos Documentos.
fazer escarneo, e zombaria. Ant. V. Por F., e algumas vezes se
TRUSQUIAR. Rapar, tosquiar acha F por V. Vide L. F.
á tesoura. Ainda no Sec XVI. dura V. Dobrado, quando era longo,
va entre nós o antigo costume de assim nos monosilabos , como no
tosquiarem a cabeça aos homens, e meio das Dicçoens, foi muito usa
mulheres, assim que morrião, e an do desde o Sec. XIII. até o XVI.
tes de serem amortalhados: e aos V. Escrito com o L. numeral: v.
homens igualmente tosquiavão as g. 2. ou L. Vid. L. A. •

barbas: de sorte que serão synoni V. Escrito com cinco xizes se vê


mos Trusquiar, e morrer. Adoeceo a em huma Carta de Partilhas de 1 145
huma 4.° feira... ao Domingo se con em S. Christovão de Coimbra, em
ferrou, e tomou o Santo Sacramento... que assignou deste modo o Acoli
e 42." feira se trufquiou, isto he, to Fernando, que a escreveo :
morreo. Doc. de 152 I. Fxxrnxndwxxxxs nxxxxtxxxxxit
TUDO. Tido, ou havido. O di acolitus. V. L. A.
to foiz tudo Conselho com a dita Em Ú. Adv. Onde. • •

queriçom com homeès boos, per sen U. O mesmo que Ut. Para que,
tença julgou & c. ou de tal sorte que. Ita u, de vdie
-

TUMASO. O mesmo que Plu die sit de mostro dominio abrasa.


272 (220. -

VACARIS. Nos Foraes d'El


do TUDOS.
Porto de Todos.
1398. Doc. das Bent.
• * *
Rei D. Manoel he de grande uso
esta palavra. No de S. Fins de Pai
TYUFADO. O mesmo que Mil va de 15 13 ha hum Titulo, que diz
lenario, ou que presidia a mil Ca assim: Vacaris, que são coiros de bois,
valeiros. Esta companhia, ou Re e vacar. E depois: E outro tanto da
gimento de mil homens se chama carga dos coiros vacaris. Doc das
no Cod. Wisig., Tyuphadía, e no Fue Salzedas.
ro fuzgo, Tyufa. Os Tyufados erão VAGA. I. Posto á vaga, parece
do número dos que podião julgar as ser , o que he destinado para en
causas, assim como os Duques, Con cher a praça, ou lugar, que vagou,
des, Vicarios, Assertores da paz & c. e cumprir as obrigaçoens, que a se
** .
IIIC
VA
VA 393
melhante posto estão annexas. Se tença na Propriedade deste Padroa
alguuns homeens d'armas, que nom som do na Legacia em 25 de Agosto de
J'assallos, nem postos dá Vaga, nem 1787, não sendo em tempo algum
apurados por nosso mandado, fogirom esta Igreja do Padroado # P.
da Armada de Cepta & c. Cod. Alf. Tomb. impresso da Meza Abbacial de
L. V. Tit. 83. § 6. |
Paço de Sousa de 1593 a f. 12, e 13
VAGA: II. O mesmo que Vaga entre os Doc. da Un. -

gom. Que o dito Abbade , e Conven VAGAÇOM. Vacatura, falta. E


to ... possam apresentar á dita Igre isto por morte, ausencia, ou qual
ja huma vaga Abbade, e o dito foão quer outro modo, que fisica, mo
Homem, e seos Irmãos herdeiros, ou ral, ou judicialmente vague o Pra
ira. . . E que o dito João Homem aja zo, Beneficio, &c. Aa vagaçom de
logo esta primeira vaga, e o dito Mos cada hua das outras pessoas. Doc. de
teiro a outra depois ella, e dahi em Vairão de 1435.
diante pera todo sempre. Doc. de VAGEYROS. Pedaços de terra
1455, que he do Padroado de San calva , e desaproveitada , em que
tiago de Carvalhaes em terra de nunca se tinha plantado, ou em que
Alafoens. Esta Igreja era in solidum as plantas tinhão morrido, raleiras,
de Pedro Moniz Buchicho, Caval mortorios de huma vinha, ou ou
leiro de Alafoens, e de sua mulher tra qualquer fazenda. E os vageyros,
Maria Cides , que fizerão Doação que jazem nas vinhas chantardelos
de metade della ao Mosteiro de Pa todos. Doc. da Graça de Coimbra
ço de Sousa. Depois impugnando de 1 285. -

esta Doação Martim Peres Buchi VAGADA. O mesmo que Vega


cho, filho dos Doadores, se ajus da. Por ser a dita Igreja de nossa col
tou finalmente com o Mosteiro a 7 laçom esta vagada; provemos da dita
de Julho de 1228, que apresentas Egreja & c.
sem juntamente com o Mosteiro el VALANCINA. Panno fino de
le, e seus descendentes Buchichos. láa, que se fabricava no Reino de
E nesta conformidade foi apresen Valença em Hespanha. Mandamos
tado naquella Igreja hum João Ro a Marinh’Anner V, covados de valan
drigues no de 1 356 ; concorrendo cina , e huma touga, e humas capa
com o Mosteiro, como Padroeiros tas. Doc. de Lamego de 1 313. Tam
que erão, Rodrigo Peres,João Fer bem se nomêa Valencina em outros
nandes, e Garcia Peres, descenden Documentos.
tes por linha direita de D. Sancha, VALDEVEIS. Valdevez, terra,
e de Egas Martins Cavalleiro , fi e lugar assim chamado. Doc. das
|lhos do dito Martim Peres. De Salzedas de 1 3oo. Valdevez, junto
ois sendo Padroeiros parciaes des ao rio Lima he bem conhecido, já
ta Igreja João Homem , Escu desde o anno de 1 125, em que a
deiro, e morador em Trancoso, e Rainha D. Thereza doou á Sé de
seus irmãos, se fez no de 1455 hum Tuy o Mosteiro de S. Cosme, e Da
novo contrato (se he verdadeiro) mião, com todas as herdades , e
pelo qual se ajustou huma alterna Igrejas do seu Couto, que hoje di
tiva entre o dito João Homem, e o zemos Azere. Quod est in valle de vez,
Mosteiro, que hoje alcançou Sen nomine Azar. Doc. de Braga. Porém
Tom. II. Ddd n'ou-

>
394 VA VÁ
n'outros Documentos,ainda mais an causa injuriar a mulher honesta, leve
tigos se lê valle de vico,ouvalle de vice. sinco açoutes por cima da camisa. E o
. VALEDEIRA. Valiosa, firme, homem que deostar algum homem gra
e sem cousa, que dúvida faça. Em ve, e de bem, ou mulher bonrada X.
sa revora valedeira. Doc. de Vairão varancadas recipiat.
de 1 292. VARAVIDI, Varavidim. iz. V.
VALEGO. O mesmo que Vele Maravidim.
gado, preso, unido, aferrado. Odres VAREJAR. Tomar conta das fa
pegados, e valegos: acha-se em hum zendas, cousas prohibidas, ou con
Doc. de Moncorvo de 1407. E pa trabandos, que cada hum tem em
rece quer dizer: odres novos, e que sua casa, tomando-as a rol, ou me
ainda estão com o pez, e sem ser dindo-as para pagar os direitos,
virem. Em hum Doc. da Cam, do sem poder sonegar alguma cousa
Porto de 1436 se usa metaforica Tambem algum tempo se costumá
mente de Velegado, por apegado; rão Varejar, ou dar Varejo ás casas
pois diz: Se os d'outra gisa trilhas dos Ecclesiasticos, para lhes apre
sem, logo se parteriam a outras par henderem as mulheres prohibidas,
tes; porque não hão heranças, que os e que retinhão por mancebas, ou
em ella tenhão velegados. Em outros concubinas. Daqui Varejado, o que
da mesma Cam. de 1439 se usa de tem, ou deve ter Varejo em sua ca
Relegados, no mesmo sentido, do sa. Daqui mesmo se disse: Darva
Latino Religatus. Não tem em ella rejo a alguem, socrestallo, perdel
heranças, que os tenhão relegados, e lo, destruillo. E mesmo he de pre
de ligeiro se vão, quando lhes praz. sumir, que esta palavra Vereador,
De sorte que Valego, Velegado, e seria antigamente Varejador; pois
Relegado são synonimos de atado, ainda hoje os Vereadores, como Ze
preso, unido, aferrado. ladores das conveniencias do povo,
VALENSA. Fortaleza , poder, se intromettem em tudo o que he
authoridade, força. Do Latino Va conveniente ao bem da Républica,
leo. Vobis dabo juvemen , auxilium, e intendem sobre as coimas, que
valensam, & defentionem. se devem levar. No de 1469 fez
VALHER. Valer, Doc. das Bent. ElRei varejar os pannos da Cidade do
do Porto de 1 292. Porto por vara, e covado; mas que
VALLA. Valha, terceira pessoa se não entrasse nas casas dos mer
do presente do verbo Valler. Doc. cadores ; excepto constando , que
do Sec. XIII., e XIV. elles sonegavão alguns Direitos
VARA. O mesmo que madeira, Reaes. Doc. da Cam, do Porto. »
ou varas para arcaría. He frequen VAREJO. Dar varejo, dar bus
tissimo nos Prazos de Grijó, Vil ca, fazer vereação, procurar, des
lella, e outros. E assi hiráõ catar cubrir as cousas de contrabando, e
vara, e telha com bois, e outros quaes prohibidas. No de 1488 se deter
Quer carretos. minou, que a Regra dos Varejor,
VARANCADAS. Golpes de va e desvairo da receita senão entenda nar
ra, vangaladas. No Foral da Atou pannos, que tem o segundo selle. Ar
guia por ElRei D. Afonso Henri tigos das Sizas, Cap. 25. Varejo de
ques se diz: A mulher torpe, que sem artilharia, descarga. Barros. *

VAR
VA
VA 395
VARGA, I. Certa armadilha pa tro de si toda a cabeça do anoja
ra caçar peixes. V. Arrinhos. De Bar do, representando huma figura, que
gus, que na baixa Latinidade signi mettia espanto , e horror, a que
ficou Truncus arboris, vel ramus, he chamárão Carantonha; pois no Cod.
bem de presumir se disse Varga, Manuel. da Ediç. de 1565 se não fal
no sentido de Ramata. V. Abarga. la já em Vaso , e só diz : Ninhãa
VARGA. II. O mesmo que var pessoa de qualquer qualidade, e condi
zea, ou veiga, terra plana, e que ção que seja , nom traga, nem tome
na força do Inverno , pela maior por ninhua outra pessoa ninhum vesti
parte ao menos, se cobre de agua. do de burel, nem almafégua, nem ca
Na Beira alta ainda hoje dizem Var pelo de ninhum outro dóó preto &rc.
gem no mesmo sentido. Fazemos Pra E eis-aqui o Capello occupando o lu
zo dua nossa varga em Roosendi, a gar do Vaso. V. Carantulas. Na mor
4ual se deve lavrar de la boca de fos de te d'ElRei D. João I. todo o Rei
Sousa, ateer o esteiro de Cibram. Doc. no foi coberto de vaso, e burel. Pi
da Graça de Coimbra de 129o. na, Chron. d'ElRei D. Duarte c.
VARLETE. Moço da Câmera, 1. — ElRei tomou doo de preto, e hos
vem do Francez Valet. E se for bees Ifantes tomaram burel, segundo sem
teiro, ou barlete, ou homem de pee, pre atee aqui se custumou. Ib. c. 2.
ou page, cortar-lhe-ham a orelha di E na Chron. d'ElRei D. João II.
reita. Cod. Alf. L. I. Tit. 51. § 62. diz o mesmo A. , que pela morte
Os Marceneiros, Escultores, e Car d'ElRei D. Affonso V. todo o Rei
pinteiros segurão as madeiras ao no tomou burel, e vaso c. 1. E na
banco com o barrilete, a que alguns Chron. do mesmo Rei D. Affonso
chamão o seu moço, pois os ajuda V. c. 2o7 lamentando a desconsola
no seu oficio: a sua origem parece ção da Princeza D. Izabel pela des
ser a mesma de Varlete. astrada morte de seu marido, o In
VASO na cabeça. Pela Ordena fante D. Affonso, diz que havendo
ção, ou Lei de 17 de Outubro de ella entrado nestes Reinos esposa
1499 se prohibe geralmente o lu da, cuberta d'ouro, e de preciosa pe
to, ou dó de burel; mandando-se draria, em cima de ricas facas, e tro
que nunca se podesse mais trazer toens, sahíra logo delles cuberta de
por qualquer pessoa, que fosse, e vaso, e almafega , em cima de aze
de qualquer modo que seja: prohi malas, escondida de todos.
bindo tambem ás mulheres de qual VASSALLO. Não nos empe
quer qualidade que fossem , o tra nhando com demasia º sobre a ori
zer Vaso na cabeça; debaixo de gra em desta palavra, que antigamen
ves penas aos transgressores, e aos te foi Titulo de honra , reservada
Ministros, que não os castigando, só aos Domesticos do Principe, aos
o consentissem. V. as Ordenaç. L. V. Fidalgos da sua Corte, e Reino, e
Tit. I o 2 na antiga, e Tit. 1oo em a ainda aos Ministros, e Assessores
nova, e a Pragmatica de 24 de Maio dos seus Tribunaes, e hoje he sy
de 1749 Cap. 17. E que se entendia nonima de subdito , que reconhece
por Vaso?. Parece que nada mais algum Soberano por seu Chéfe, e
era, que hum grande Capello, o qual ao qual obedece, ama, serve, e res
como Vaso cobria, ou incluia den peita em tudo o que he conforme
Ddd ii á.
396 VA VA
áLei de Deos, e do Paiz: diremos sallos senão os Fidalgos. E finalmen
só que na infima Latinidade se dis te ElRei D.João II., requerido em
se Vassus , o soldado forte, e ge Cortes, que fizesse certo número
neroso. Daqui nasceo chamarem-se de Vassallos, homens Fidalgos, e
JVassallos os homens d'armas , em de nobre creação, em quem coubes
que consiste a fortaleza toda dos se a antiga honra, que os distin
Reinos, e Monarchias. Em Portu guia, ordenou, que houvesse 4dooº
gal se limitou este nome aos que Vassallos com as qualidades da No
servião com lanças a pé, e aos Ca breza apontadas, os quaes se inti
valleiros, que usavão de lanças d'ar tularião Vassallos d'ElRei, como sem
<mas, e se chamavão Lanceiros: e es pre se usára , e não poderião ser
tes principalmente se intitulavão Passallos de algum outro Senhor,
JVassallos. De todos estes , assim ou Rico-homem. Destes , 2 doooo
Lanças, como Cavalleiros, escolhião erão armados a cavallo, aos quaes
os Reis, Infantes, e Ricos-homens, os Reis, além dos antigos Privile
aquelles que lhes parecião de mais gios, havião de dar 2 à 5oo réis de
valor , e confiança, para os acom Contia: estes de cavallo se chama
panharem nas guerras , em guarda vão Lanças d'homens d'armas. Os ou
de suas Pessoas, e Bandeiras; con tros 2 booo erão Piqueiros de pé, ar
signando-lhes, quando os aceitavão mados, a quem se não dava Contia,
por Vassallos , quantias, e tenças e só logravão dos Privilegios. As
bastantes a sustentar o luzimento sim huns , como os outros tinhão
daquelle posto. Até o tempo d'El obrigação de estarem sempre pres
Rei D. Pedro I. não costumava ser tes com armas, e cavallos. No tem
Passallo, senão o filho , neto, ou po d'ElRei D. João III. parece se
bisneto de Fidalgo de linhagem. extinguio esta Milicia dos Vassallos.
Desde ElRei D. Fernando até El VASSALLOS das Lanças.V. Vas
Rei D. Manoel se ampliou o Titu rallo. Estes vivendo em terras fu
lo de Vassallos aos acontiados, e se gadeiras , e não tendo Sobre-Alva
veio limitar aos Lanceiros; de sor rás, Serviços, ou Linhagens, só erão
te, que neste tempo se incluião em escusos das fugadas em trinta al
o número de Vassallos os Oficiaes queires de trigo, segundo o Assen
mecanicos, e lavradores , que se to de 7 de Dezembro de 1 487. V.
admittírão a este Titulo com varios Cod. Manuel. L. II. Tit. 16. § 19.
Privilegios, e erão parte da Mili UCHÃO. V. Eichão.
cia, que estava efectivamente alis UCRATE, e Ocrate. A Villa,
tada no Reino: chamavão-se a es e Priorado célebre do Crato , no
tes, como antigamente, Cavalleiros Alem-Téjo, entre Niza, e Porta
Pevens. V. Cavalleiro. legre. Prescindindo, se sobre as rui
ElRei D. Afonso V. por neces nas da Cidade de Cataleucas, Catra
sitar de muita gente para as guer leucar, Cataleucos, ou Castraleucas,
ras de Africa , e Castella, e para se fundou a Villa do Crato; elle he
remunerar com honras os serviços, certo, que antes de 1 232, em que
admittio a Vassallor muitos mecani ElRei D. Sancho II. doou este lu
cos, a pezar dos Nobres, que lhe gar á Ordem do Hospital, para o
requerêrão não admittisse por Vas povoar, e fortalecer, elle tinha ou
TTO
VE VE 397
tro nome, que já hoje se não póde sas, que erão defesas pelas nossas .
lêr na Doação original, que se acha Leis, e que não podião trazer se
na Torre do T. Gav. VI. Maç. un. N. não certas pessoas, erão as pelles
22 ; pois diz o Rei , que lhes faz delicadas, e preciosas, como Mar
Mercê de illo loco... cui de novo no tas, Zebelinas Órc, de varias côres,
men imponitur Ucrate, ut faciatis ihi que de Hungría, Esclavonia, e ou
populationem, & fortelezam : & as tras partes se trazião, e que na in
signo vobis hos terminos &". Feita a fima Latinidade forão conhecidas
Carta em Coimbra XI. Kal. Apri com os nomes de Varium, Vairus,
lis E."M." CC"2XX", e depois dos }Yarus, Vayrus, Vayus, Veyrus & c.,
Confirmantes, e Testemunhas se lê: como se póde vêr em Ducange V.
Magister Vincencius, Electus Egitañ, Pares. Servião estas pelles de for
Cancellarius Curie. E logo no mes rar, e guarnecer vestidos, capotes,
mo anno , e a 6 de Dezembro os carapuças, barretes, &c. E a este
mesmos Donatarios lhe derão Fo forro , e guarnição se chamava pe
ral, em que lemos: Ego D. Melen na. Nom traga sobre si pena de veei
dus Gundisalvi, Prior de Portugal de ros, nem de grizés, nem de hermi
la Ordem do Espital , una cum Con nhos. Cod. Alf. L. V. Tit. 43. § 2.
ventu nostro, volumus populare o Cra Erão pois defesos, não só os Veei
to. E no corpo deste Foral se no ros , ditos assim da variedade das
mêa Ocrate. Maç. X. dos For. Ve côres, mas tambem os grisés, que
lhos. erão de côr pardacenta, e os armi
VÉDOR. O mesmo que antiga nhos, que erão inteiramente bran
mente Dapifer, e hoje Mórdomo cos. Na Armería tambem se chamá
Mór. Assim consta de huma Carta rão Veiros, huma risca colubrada ,
d'ElRei D. João III. Doc. de Ma lançada em faxa, e dando depois a
ceiradão. No de 1 1 3 1 se intitula D. huma parte, e á outra as côres, que
Ermigio Villicus Curiae , em hum declara o Brasão. Vid. Nobiliarch.
Doc. de Pend. Portug, Cap.27. f.229. Hoje se escre
VEDRO. A. I.Velho, velha, an ve Veiro, e Veiros no mesmo sentido.
tigo. Paço Vedro, Ponte Vedra & c. VEGA. O mesmo que Vegada.
isto he, antigo, do Latino Vetus. VEGADA. Vez. Rogamos ao Ca
De vedro, desde os tempos antigos. bidoo de Lamego, que váa em Procis
De tempo de vedro, desde longo tem são duas vezes no anno, desde a dita
po, e que já excede a memoria dos See á nossa Irmida de Santo Estevão:
homens. De lo comaro a suso, per ú á huma vegada , em no dia da Fer
a parede foi fundada de tempo de ve ta de Santo Estevão: e a outra vez
dro. Doc. de Pend. de 1285, e 1 3oc. por a Invenção do dito Santo. Doa
VEDRO. OS. II. Vallo, tapú ção, e Contrato do Bispo D. Du
me, comoro, com que se tapão, e rando com o seu Cabido. Doc. de
cercão os campos, e searas, v. g. Lamego de 1361. Aº huma vegada,
O vedro da lavoura. Vem do Latino huma vez. Em huma Sentença da
Zeto ; porque estes reparos impe Guarda de 1 399 se diz: Por estes
dem, prohibem, e embaração, que presentes escritos amoeste a 1.° e 2,"
os gados as destruão. e 3.° vegadas todos aquelles, &c.
VEEIROS. Entre as mais cou VELEGADO. V. Valego.
VE
398 VE VE
VELICE. Velhice. Doc. da Carn. no genero femenino. Eu dita veiº
de Coimbra de 1324. dedor mandei fazer esta Carta.
VELLO, e Velo, Vella, e Ve VENDIÇOM.Venda de qualquer
la. Velho, e velha. Doc. das Bent. cousa. Doc. de 1 322.
do Porto de 1 3o5. VENDIMA , e Vendimha, as,
VENARIOS. V. Barrarios. Cêsto vendimo, ou que serve para
VENATURAS. Veaçoens, toda a vendima, o qual em algumas par
a caça do monte, caçadas. Ex ve tes se chama Cibana. Em hum In
naturas non detis racionem. Doc. de ventario do Sec. XV. se lê: Trinta
Maceiradão. e sinco ovelhas : 29 cabras , e duas
VENDA. Laudemio, que se pa tinhalhas, e 4 talhadores, e dez seu
ava da fazenda aforada , que se dellas, e huma eixada , e duas fou
vendia. No de 1 2 5 1 D. Pedro Gon cer, e rete vendimbas. •

çalves, Bispo de Viseu, e o seu Ca VENDIMENTO. O mesmo que


bido, derão Foral aos moradores do vendiçom. Esta he aCarta de vendimento.
seu Couto da mesma Cidade, e nel VENTES. Vendo , consideran
le permittem, que possão vender as do, reflectindo. Nós Priol, e Con
suas propriedades, mas a quem lhes vento ventes a vontade do dito N.,
pague o seu laudemio: Et qui dent damos nosso consentimento ao dito Es
nobis mostram vendam. Doc. de Vi cambo. -

seu. E se alguum caseiro quiser ven VENTUIRA. Felicidade, ven


der , que nós ajamos a venda. Doc. tura, dita.
de S. Tiago de Coimbra de 1356. VENTUIRA, adv. Se por aca
VENDAVAL. Vento, que so so. Se pola ventuira corresponde ao
pra do mar, e da parte do Sul. Vem Latino Si fortè.
do Francez vent d'aval. Nas confron VENDUDO. A.Vendido, vendi
tações das terras, e propriedades se da. Doc. de 1 33o.
usou com frequencia desta palavra, VERDADES. Este nome se deo,
para denotar a parte do Sul. como por antonomasia, aos bens,
VENDEDOIRO. O banco, lo e herdades das Igrejas; porque to
ja, praça, ou qualquer outro lugar, das erão, ou devião ser adquiridas
em que públicamente se vende. Item: com os mais verdadeiros, e legiti
partiram huuma adega: e acaeceo ao mos Titulos. No Conc. de Coyan
dito Moesteiro o seu quinhom dela con ça Cap. 9. se diz: Tricenium non in
tra fundo, e do vendedoiro, e d'alpen cludat Ecclesiasticas veritates ; sed
derada. Doc. de Tarouca de 1364. unaqueque Ecclesia, sicut Canones pre
Vendedoiro aqui se toma pela janel cipiunt, Óº sicut Lex Gotica mandat,
la, estancia, ou alpendre, em que omni tempore suas veritates recuperet,
o vinho se costuma vender aquar &º possideat. Quer dizer: que con
tilhado junto da adega. Assim como tra os bens Ecclesiasticos não va
hoje dizemos Estendedoiro, aquelle lha a Prescripção dos 3o annos.
sitio, ou lugar em que alguma cou VERDADURAS. V. Esverdados.
sa se entende: da mesma sorte dis- - VERDIZELLOS. Se ponha na di
serão Vendedoiro, onde alguma cou ta Capella huma Cruz, huum tribo, e
sa se vendia. huns verdizellos. Doc. da Graça de
VENDEDOR. Tambem se acha Coim, do Sec.XIV. Serão galhetas?.
VE
VE + VE 399
VEREA. Vereda, estrada, ca que duas , ou trez juntas de bois
minho, carreira. Como parte com a costumão voltar, ou lavrar em hum
verea velha. Foral da Ervedosa, jun dia. E mesmo são synonimos em al
to a Bragança, por ElRei D. Di gumas terras vessar, e lavrar, a que
niz, no de 1 288. Doc. de Bragança. corresponde vertere terram. Tam
VEREADO. A. Administrado, bem de Bassus, ou Vessus, que si
ou administrada com rectidão, e jus gnificava o Vassallo , se poderia
tiça, e utilidade pública. Quando fe chamar Verrada, por ser esta a por
zemos as Cortes prostumeiras , pera ção de terra que podia manter, e
acordar, como a nossa terra fosse ve sustentar hum Vassallo, ou não po
reada. Doc. de Coimbra de 1 352. der ser Vassallo aquelle Peom, que
VEREDE. Multidão copiosa de não tivesse ao menos huma vessa
arvores de fructo, a que chamamos da, ou geira de terra. Nas Inquiri
Pomar. Vem do Latino Viridarium, ções Reaes se acha com frequencia
que na infima Latinidade se disse: esta palavra, que até hoje perma
Ziridiarium , Verdegarium , Viridi Il CCC.
gar=um, Virgerium, Verdearius, Ver VESSADOIRO. Lavrança, di
degarius, Verdigarius, Veredegarius, reito de lavrar. Pro omnibus heredi
e Verdugarius. No de 943 deo, ou tatibus , quae solent esse de vessadoi
doou o Sacerdote Adulfo a D. An ro de ipso casali. Doc. da Univ. de
sur, e a sua mulher D. Ejeuva, a 127o. •

sua Igreja de S. João de Losim, VESTA. Bêsta, cavalgadura. A


nas margens do Tamega, a qualha mha cama vá comigo ao dito Moestei
via fundado In casale , quos fuit de ro, onde me mando soterrar, e a vês
Patre meo Prudenzo, quos edificavi de ta , que a levar, que serbba no dito
verede. Doc. de Arouca. Moesteiro por mha alma.
VERMEM. Bichinho, cousa vil. VESTIAIRO. O que tem a seu
4.
Doc. de Tarouca do Sec. XIV. cuidado, e inspecção as roupas, e
df
VERRÁ, Virá, futuro do verbo vestidos de alguma Corporação, ou
{ Pir. Doc. de 1 3o7. Familia. Vestiairo do Mosteiro das
VESADELLA. Vessada, servi Salzedas, Doc. daquelle Mosteiro
ço que se dava no lavrar, e semear de 1287.
os campos. E serviços do Couto , a VESTIDO de alguem. O seu mo
saber, vesadella, regadella, e malha ço , ou criado. Não se estende a
della. — Item : pagaredes mays dos Lei (d'ElRei D. Diniz) aos leigos,
ditos dous Casaaes , em que morarder, que morão, ou morarem com esses
segadella , e vesadella, e malhadella. Clerigos , que som seos vestidos, e
Doc. da Univ. de 1438, 1464, e calçados, e seos governados, e que es
1538. ses Clerigos receberom em suas casas
VESSADA. Campo, lameiro, sem engano por seos. Cod. Alf. L.
prado, que se lavra, e cultiva, e V. Tit. 1o9. § 3.
. " cuja grandeza corresponde a huma VESTIMENTA. Não era o que
eira de terra. Parece que de Ver hoje dizemos Casula, ou Planeta,
ao se disse Vessada; pois davão, e (que então se chamava Manto) erão
ainda hoje na Provincia do Minho, sim todos os paramentos, com que
e Beira alta dão este nome á terra, hum Sacerdote se revestia r">
Q<r

4oo VI " . • VI

lebrar, e que em Latim se dizem mou, Que os Fidalgos comão as viam


J’estimenta. E assim a Vestimenta per das por seos dinheiros. Daqui Viati
feita, comprida, e acabada constava co, que alguns querem se dirive do
de amicto, alva, cingulo, manipo verbo antigo Viare, caminhar; sen
lo, estola, planeta. No Inventario do mais natural a sua etymologia
de Casteloens do Sec. XIV. se diz: de Vivere; extendendo-se o Viati
Primeiramente achou huma vestimen co, não só ao dinheiro, mas tam
za com hum manto de fustão , e com bem ao farnel, que dão alentos, e
vida ao caminhante. • •

cinta, e com manipulo, e com todo reo


ornamento, e bua estola, e hum cales VICENÇO. Vicente, nome de
de chumbo, & c. V. Patina, e Manto, homem. No Lugar que chamam S.
VIA. Pret. do verbo Venio. Eu Picenço, freiguesia de S. Martinho de
via, eu vinha. Alvaredo. Doc. de Tarouca de 1323.
VIA, e Vina. Vinha. E vos em VICENTE-S.) Moeda d’ouro,
plazamos a dita terra, pera que nella que fez lavrar ElRei D. Manoel,
ponhaes via. e seu filho D. João III. valia I doooo
- VIANDA. Hoje se toma esta pa réis: tinha de huma parte a Imagem
lavra abusivamente, por manjar, e de S. Vicente com huma náo em a
comida de animaes immundos; mas mão esquerda, e hum ramo de pal
o seu verdadeiro significado se es ma na direita com a letra Zelator
tende a todo o mantimento, com que Fidei usque ad mortem : da outra o
os homens sustentão a vida. Os Fran Escudo Real com a legenda joan.
cezes não entendem pelo seu Vian III. Rex Portugal. & Algarb. Havia
de, senão a comida de carnes. Di tambem meios S. Vicentes com os
riva-se esta palavra de Vivanda, ou mesmos cunhos, e o valor de 5oo
Pivenda, que na baixa Latinidade réis, que ainda corrião no de 1561.
significava todo o alimento, de que VIDA.Sustento, comida, refeição.
a nossa vida está pendente. Nos Ca Pagava-se o Direito da Vida ao Rei,
pitulares de Carlos Magno de 8o3 aos Senhorios das terras , ou seus
se diz: Nullus audeat in nocte nego Mórdomos, e Feitores,segundo o es
tiari; excepto vivanda, &"fodro, quod tipulado nos aforamentos, e contra
iter agentibus necessaria sint. No Fo tos, que com os respectivos colonos
ral, que ElRei D. Affonso III. deo se fazião. Davão a ElRei tres vidas,
ás Aldêas do Territorio de Bragança e a galinha do açor, — E quando ma
no de 1 253 se diz: Ricus homo non lhar a messe , denlhe huma teiga de
debet accipere vitam in suis Aldeis. Et messe , ou vida pera quatro homens;
quando fecerit transitum per cami qual ante quizer o jugeiro. E se lhe
num, debet comedere de suis denariis, der vida, devem-lhe a darpam segun
neque debet eis aliquid accipere con do, e boroa, e leite, e falhôas, quan
tra voluntatem suam. Doc. de Bra to avonde quatro homeens, huma vez
gança. Era o mesmo Vita, que Vi no dia. Esta Vida, ainda que ordi
ctus , por se não poder sustentar nariamente se dava em cousas de
aquella sem este. Ainda no de 1398 comer já guisadas, como caldo,
se tomava Vianda em grave, e ho carne, leite, filhós, &c.; algumas
nesto sentido; pois ElRei D. João vezes se pagava a dinheiro, ou em
I, nas Cortes de Coimbra determi cousas comestiveis, mas não guisa
das,
VI VI 461
das. Segundo os Doc. de Grijó, d andavão em romaria o caminho de
J'ida d'ElRei, era hum alqueire de S. Tiago de Galliza: e a via se dis
trigo, outro de milho, outro de ce se Vieira. Tambem ha hum peixi
vada, e duas gallinhas, que se da nho, que se chama Vieira, e he co
vão ao seu Mórdomo. Em outros mo ameijoa maior, de cujas conchi
erão 6 soldos : em outros pão co nhas se ornão os Romeiros. E daqui
zido, &c. V. Almeitiga, Vianda, e poderia nascer esta voz. Assignar
}'inda do mez. — Evidas tres vezes porém o tempo fixo deste costume,
no ano , convem a saber, por Natal não será facil, nem talvez possivel.
pam, vium, e carne: e per Mayo pam, Segundo a Tradição da Igreja de
e vium, e huum frango, ou dous: e ou Oviedo, e outras, que cantavão em
tra terça pam , e leite, e verças, e hum Hymno da Festa do Apostolo
ovos. E da outra freguesia de Vouva S. Tiago:
do dam por Vida no tempo da carne, Cunctis mare cernentibus,
antre quatro homens, huua calaça de Natus Regis submergitur;
carne , e do pam , e da borua : e no Sed á profundo ducitur,
tempo dos frangos, huum frango, ou Totus plenus conchilibus.
dous : e no tempo de mel, de mel, e a origem das Vieiras , ou conchas
de, leite, e dos hovos. Doc. de Santo dos Romeiros, se atribue ao decam
Thyrso de 1279. tado Prodigio, que vio todo o po
- VIDA de sempre. A vida eterna, vo de Bouças, nos desposorios de
e que não morre, nem falece. Ajun Cayo Carpo, natural da Maya, e
tão fruto pera a vida de sempre. Claudia Loba, natural de Gaya. Nis
VIDAR , e Vidrar. Plantar vi to concordão os nossos mais anti
nha, lançar mergulhas. Virdes á vi gos Escritores; e ainda Fr. Luiz dos
nha hum dia a cavar, e outro a rre Anjos no seu fardim de Portugal,
dar, e a vidar. -
da Ediç. de 1625 a f 6. se lembra do
VIDRAR. V. Vidar. *
Theatro dos Letreiros antigos, no qual
VIEIRA. Conchinha, concha de a f. 98 se lia o seguinte Epitafio, pa
marisco. Então se começárão as con ra inteira confirmação desta verda
chas a chamar Vieiras, quando co de, achado na terra da Maya, que
meçárão a ser o distinctivo dos que naquelle tempo se chamava Palancia:
CAYUS CAR PUS, AUGUSTI LIBERTUS,
PAL LANTIANUS , ADJUTOR CLAUD II
ATHENE DO RI, PRAEFECTUS ANNONAE,
FECIT SIBI, ET CLAUDIAE LUPAE CALENSI,
CONJUGI PIISSIMAE, TITO CLAUDIO QUI
RINO, ANTONIO, ET LIBERIO CLAUDIO
ROMANO VERNAE, ET LIBERTIS, LIBER
TABUSQUE, POSTERIS QUE E ORUM.
. Ainda que o dito Theatro não lo- Epitafio se esculpio, não exista já
gre os maiores creditos para com hoje, delle se não poderia tirar com
os Eruditos, e a Campa em que o certeza outra cousa mais, que hum
Tom. II. Eee II12
4O2. VI VI
marido, e sua mulher daquelles no que se pagava á Coroa, que era o
mes, e naturaes daquellas terras; Terço do ouro, prata, e cobre, que
mas não que figurassem no piedoso nas minas do Reino se tiravão. El
successo, e que baptizado no mes Rei D. Diniz, com sua mulher a
mo dia dos seus desposorios, ficas Rainha D. Izabel, dando Foral á sua
sem evangelizando naquelle Paiz. nova Villa de Villa Real, a quem
E quem nos poderá certificar, que faz Cabeça de toda a Terra de Pa
sobre este Epitafio senão ordisse, e noyas, e para a qual transfere to
tramasse toda a novella das Viei da a Jurisdicção de Constantim, e
ras?., Em quanto ao Hymno, não Villa Nova ; concedendo as maio
temos averiguado ainda, se o seu res liberdades, e franquezas aos seus
Compositor floreceo antes, que os habitadores; e reservando para si
homens começassem a mentir , e os Padroados das Igrejas, assim das
principalmente em cousas, que apre que estavão edificadas, como das que
hendião singulares, e mui honrosas se havião de edificar na Villa, e seu
á sua pátria. O mesmo Breviario Ro Couto: declara, que pelos Direitº
mano esteve cheio, e talvez ainda Reaes da Villa lhe dará o Concelho an
não estará perfeitamente limpo de nualmente I doooo maravidís velhos da
erros historicos, ou de facto: e se moeda velha, usada em Portugal. E
ria irreformavel hum Breviario par por todos os Direitos da Terra de Pa
ticular?.. -

noyas, que elle dá ao Concelho, e to


Como quer que seja, os Barro do o Foro Real (salvo a terça, ou viei
sos, Barradas, Calças, Calvos, ro de prata, ou de ouro, ou de cobre)
Rochas, Saraivas, Sequeiras, e ou lhe daria 3 d) 5oo livras da moeda usa
tras muitas, e mui honradas Fami da de Portugal. Doc. de Villa Real
lias se prezão de trazer nos seus de 24 de Fevereiro de 1283. As mi
Escudos as Conchas, ou Vieiras; af nas, e vieiros de ouro, prata, co
firmando huns, que descendem da bre, estanho, tintas, e quaesquer
quelles Apostolos da Maya , e di pedras preciosas, são proprios da
zendo outros, que as tomárão, por Coroa: nenhuma posse, ainda que
se acharem os seus Chéfes na bata immemorial, se póde alegar em con
lha de Ourique, conseguida por in trario: e nem ainda as mesmas Doa
tercessão, e no dia de S. Tiago. çoens Reaes, menos que expressa,
Particularmente os Vieiras, e Pimen e especialmente fação menção das
teis blasonão de Descendentes de taes minas, ou vieiros. Cod. Manuel.
Cayo Carpo: os primeiros trazen L. V. Tit. 96. Neste Foral declara
do por armas seis Vieiras d’ouro, em ElRei, que se elle, ou seus Succes
duas pallas realçadas de preto, e por sores houverem de fazer Alcacer em
Timbre dous bordaens de Santiago: os Villa Real, devem pôr alli Alcai
segundos (cujo Solar he a Torre de de, que o guarde; mas que não te
Nomaes no Reino de Galliza, d'on nha inspecção alguma sobre os fui
de passárão a Portugal nos princi zes, e fustiças, Vozes, Cainias óre
pios desta Monarchia) tem por Ar Os Prelados que o confirmão, são:
mas sinco Vieirar de prata em campo D. joão Martins, Eleito de Braga º
verde, e dizem são as mais antigas. D. Vicente, Bispo do Porto, D. Hew
VIEIRO. Foro Real, Pensão, rique de Coimbra, D. Fr.jpão da Guarº
+ da 2
VI VI 4O3
da; D. Egas de Viseu, D. João de La Mórdomo menor d'ElRei, huma vez
mego , D. Domingos de Lisboa, D. em cada mez, que erão doze comi
Pedro d'Evora, D. Fr. Domingos de das no anno, ou fossem em propria
Silves. especie, ou guisadas, ou em dinhei
VIIR. Vir. Doc. de 128o. ro. Assim consta de hum Doc. de
VILIAR. Desprezar, afrontar, Grijó do tempo d'ElRei D. Diniz.
tratar de vileza, ter em pouco, des VINDIÇO. Que vem de fóra da
estimar. Consta da Sentença de 1496 terra. Nem vogado d’alhures, ou vin
que a Villa de Val de Prados, em dico nom será ousado de usar do Of
terra de Bragança, devia ter forca ficio da vogaria contra os davandatos
picota, e tronco, por ser Villa sobre poderosos. Cod. Alf. L. II. Tit. 1.
si, sem por isto viliarem, e deshon Art. 23. •

rarem a Villa
Bragança. . .de Brangança.
. Doc. de

VINDITA. V. O mizio. II.
VINER. Vir, tornar. Do Lati
VILLA-GÁA. O mesmo que Vil no Venire. E as Partes sobreditas nun
lá-Chãa. •
ca seerem tbeudas de vimer a outra de
VILLICO. O que presidia , e manda per neuma destas razoens. Doc.
governava em huma Villa, ou ter de Aguiar da Beira de 1289.
ra pequena, e na qual arrecadava a VINGAR quinhentos soldos.
Real Fazenda, e administrava Jus Ainda se não decidio a origem des
tiça. O Fuero juzgo quasi sempre ta expressão frequentada entre nós
traduz o Villico por Meirinho, e sem em o Sec. XIII. Dizem alguns, que
pre diverso do Preposito, que diz ser só os Fidalgos de Linhagem podião
o Senhor da Terra. requerer a satisfação de alguma in
VILTA. Injúria, sem razão, af júria, sendo condemnado o agres
fronta, vituperio, tratamento vil, sor em 5oo soldos; não podendo o
e com desprezo. Dessy, recebião del que não era de Linhagem requerer
les, e dos seos muitas viltar, e sem mais que 3oo em pena , e satisfa
rrazoens ; cá lhys desonrravam suas ção da sua injúria. Persuadírão-se
molheres, e filhas. Cort. do Porto de outros, que este modo de fallar en
I 372. tão começou, quando os Fidalgos,
VILTANÇA.Vileza, opprobrio, Vassallos d'ElRei D. Bermudo, se
confusão. Perder podem os Cavallei livrárão do tributo, que pagavão aos
ros per sua culpa honra de Cavalla Mouros por conta das 5o donzellas
ria, que he a maior viltança, que po Nobres, quando na batalha de Cla
dem receber. Cod. Alf. L. I. Tit. 63. vijo os derrotárão. Mas estando já
29. •

hoje fóra de questão, que tal ba


VINCOS. Brincos", ornato mu talha não houve, segundo os mais
lheril. Se alguma mulher levar vin judiciosos criticos de Hespanha :
cos nas orelhas, mando, que lhos nom pareceria nascer a frase Fidalgo, que
fome nenhuum, nem lhos embargue. vingue 5oo soldos do Acostamento,
Cod. Alf. L.V. Tit. 47. § 5. que os taes Fidalgos recebião do
VINDA do mez, ou mais bem seu Rei em cada hum anno. Porém
}'ida do mez. Este era hum Direito attendendo nós, que no Fuero fuz
Real, e consistia em se dar de co go, L. VIII. Tit. 4. l. 1 6., fallando
mer pelos colonos, ou caseiros ao se da Composição , que deve dar
Eee ii Q
4O4 VI VI
o dono do animal, que por incuria VINHO podado. Vinho de vi
sua matou algum homem, se diz: <nhas ; por quanto na Provincia do
Si matar ome ondrado, peche el Señor Minho, e principalmente naquelle
por omecío quinientos soldos: e por ome tempo, se não podava o que era de
hibre, que aya vynte anos peche 3oo embarrado, a que hoje chamão Uvei
soldos : e no Cod. Wisig. L. VI. Tit. ras, isto he, arvores casadas com
5. l. 14. se determina, que morren videiras. Doos almudes de vinho po
do o A. de huma Causa crime, a dado. Doc. das Bent, do Porto de
quem o Juiz não quiz dar audien 15o7.
cia , pague o mesmo Juiz á Par VINTANEIRO. A. Campo, ter
te metade do homicidio , isto he, ra, ou monte, que só de vinte em
25 o soldos : fica-nos lugar a dizer vinte annos se lavra; lavrando-se ou
mos abertamente, que Fidalgo que tros de dous em dous annos, de qua
vingava 5oo soldos, era hum homem tro em quatro, ou de déz em déz.
Honrado, cuja morte se pagava não Daqui se disse Terra vintaneira, a
menos, que com 5oo soldos. Verda que era muito fraca, difficultosa de
de he, que antigamente houve em aproveitar, montanhosa, inculta,
Portugal Cavalleiros, que vingavão bravía.
Ioo soldos ; mas estes erão os da VINTANEIROS, ou Vintenei
rimeira Nobreza, como se disse ros do mar, ou das gallés. No tem
. Cavalleiro. Vid. Omizio II. po que se abrírão as nossas Con
VINHA. Acha-se em alguns Doc., quistas se formou huma Vintena da
fallando-se de vinha: Hum, ou dous, Marinha, que consistia no arrola
ou tres, ou mais milheiros de vinha, mento, ou lista dos mancebos ca
isto he, hum, ou mais milheiros de azes de tomar as armas, e servi
cepas, de que a vinha consta; pois rem a bordo. Destes, quando erão
em hum se declara: Que tinha IV. precisos, se tomavão de cada vin
milheiros de vinha em huma parte, e te, hum, depois de postos em ala.
AMe D. (15oo) cepas em outra. E daqui lhes veio o nome de Vin
VINHAR.Vinhal, terreno cheio, taneiros da Marinha, dº mar, ou das
ou plantado de vinhas. gallés. +

VINHO de cutello. He o que VINTE. ES. Vindo, chegado,


cada hum colhe da sua propria la passado , completo, acabado. Lhe
vra. Por hum Alvará Régio de 1629 esperou atá tal dia, e vinte o dito dia.
se mandão evitar as fraudes , que — E lhe espaçarom maes o termo de
na Cidade do Porto se fazião sobre XV dias, os quaes XV dias vintes,
a venda do vinho de cutello. Doc. da desserom, que a taal cousa nom erom
Camera do Porto. •

teudos.___
VINHO mole. Vinho mosto, o VINTÉM. Moeda de prata, que
que ainda não ferveo no tonel. Quatro principiou no tempo d'ElRei D. Af
almudes de vinho mole, e hum cesto fonso V.: tem de huma parte hum
boom de tinta. Doc. das Bent. do Por A que quer dizer Affonso : sobre
to de 15 o7. elle huma Coroa, e a letra Adjuto
VINHO de pé. O mesmo que rium mostrum in nomine Domini : da
Pinho podado , á diferença do que outra o Escudo Real com o nome
era de emforcado. -
do Rei na orla. Valia 29 réis de co
bre,
VI VI 495
bre, e daqui nasceo o chamar-se Vin la maior parte erão pessoas, não só
tém. Continuou esta moeda ainda da primeira Nobreza , mais ainda
com alguma variedade na fórma, e chegados ao Throno, a fim de que
na figura. ElRei D.João IV. lavrou na Corte fossem os seus Protecto
tambem meios vintens , que valião res, e advogassem sempre a seu fa
1O réis, e Cinquinhos de prata, que vor, procurando em tudo, que fos
valião 5 réis. Esta moeda já hoje sem melhorados, e bem servidos nas
está desusada, e se toma pelo va suas causas, e requerimentos. Em
lor intrinseco da prata. tempo d'ElRei D. Afonso III. os
VINTES. I. Vindouros, futuros, seus grandes validos D. João de
successores. Mandarvm, que o Priol, Aboim, D. Esteve-Annes, e D. João
e Convento do dito Moesteiro de Grijó, Moniz forão admittidos pelos Con
que no dito tempo ouvessem, e vintes celhos d'Evora, Béja, e outros a se
que depouis veessem, ouvessem a roua rem seus Visinhos, e gozarem de
parte da tal herdade. de todos os seus Privilegios; como
VINTES.II.Vindo. Sabendo, que o se vê por muitas Escrituras da Tor
Moordomo era vintes á Cidade lhe foe re do Tombo. No de 12 1 1 o Con
fazer queixume. celho de Meijom-frio (Mansionis
VIO. Vinho. Doc. de 13o8. frigidae) vendeo a Afonso Pires, e
VIRA. Pedaço de couro, que co a sua mulher huma herdade em Vil
bria a palma da mão, e segurava la Marim, que constava de casas,
no dedo polegar, a qual trazião os forno , vinhas, e hortas: (a qual
Bésteiros para se não molestarem herdade tinha comprado o mesmo
quando armavão as bêstas. E os Bees Concelho a D. Rodrigo Mendes,
teiros tragam á audiencia vira na maião, o qual a houve de Miguel Picon,
ou cinto cingido, segundo antiiguamen que a perdeo por haver dado alei
te sempre foi de custume. Cod. Alf. vosamente a morte a Garcia Paes,
I. I. Tit. 44, § 1. •
Mórdomo do dito D.Rodrigo) e jun
VIRGEU. Jardim, vergel, ou tamente o fazem seu Fisinho, para
mais bem pomar de fruteiras. Me que os ajudasse, e defendesse de quem
teu em posse perportas... e rama das os inquietasse. Doc. de Tarouca. A
larangeiras do dicto virgeu. Doc. de D. Abril doou todo o Concelho de
S. Pedro de Coimbra de 1 374. — Numão huma grande herdade entre
Murar o virgeu, que está apres do Cedavi, Muxagata, e Longrova: Us
pombal. — Chantar o virgeu de boas faciatis ibi moratam, ó pousatam. E
chantas. Doc. de S. Christovão de mesmo o fazem seu Visinho pro adº
Coimbra de 1339. jutorio, & defensione, quam nobis fa»
VISINHANÇA. Direito Real, citis, ó promittitis facere. Foi isto
que se paga em terra de Chaves. no de 1238. E no de 1 242 lhe fez
V. Paga dos fogos. o mesmo Concelho Doação do Cam
VISINHO. Chamárão-se Visi po da Touça, que alli se chama Grau
nhos antigamente em Portugal os ja da Touça: a qual vindo á Coroa,
que erão admittidos a terem bens, ElRei D. Diniz a deo ao Mostei
e herdades no termo de algumas ro de Tarouca pela terça parte da
Villas, Concelhos , ou Cidades, Villa de Aveiro : anda hoje empra
que de novo se povoavão. Estes pe zada por 36o alqueires de trigo "º
OS
4o6 VI VI
los quaes se pagão 36 dooo réis. nharem com Pinhel nenhuns. Poderosos.
Ibidem. A D. João Martins deo o Andando já com esta demanda, se
Concelho de Penamacor huma lar guio-se a guerra com Castella, e foi
ga herdade entre a sua Villa, e a creado Gonçalo Vasques Coutinho
de Sortelha, e a da Covilhãa; a Marichal, e Fronteiro na Comarca da
ual herdade manda ElRei D. Af Beira, por Carta d'ElRei, para que
# III. no de 1 267 conservar em o colhessem no alto, e no baixo, tirar
paz a seu genro D. Pedro Annes, Alcaides, e pór Alcaides, & c. E por
1.º marido da sua filha natural D. esta occasião chegando a Pinhel fez
Orraca Affonso. Doc. de # o que muito quiz, sem que alguem
Não consentia nestas Cartas, e com medo ousasse de se lhe oppôr.
Doaçoens de Visinhança o Conce Depois da guerra correo a causa, e
lho de Pinhel. No de 1372 lhes poderão os de Pinhel lançar de si
confirma ElRei D. Fernando todos tão máo Visinho. Doc. de Pinhel.
os Privilegios, Graças, Mercês, e ElRei D. Pedro I. não permittio,
Liberdades, que desde a sua popu que houvesse na sua Corte Pessoa
lação os Reis lhes concedêrão , e alguma obrigada, ou visinha dos Con
confirmárão, e particularmente o de celhos, para que não succedesse que
que sempre estiverão em posse, a o seu valimento , ou respeito pre
saber: Que Cavalleiros, nem Donas, judicasse á rectidão da Justiça. E
nem Fidalgos , nem Ordens, nem ou note-se que estes Visinhos tambem
tras Pessoas Poderosas podessem com se chamavão Naturaes dos ditos Lu
prar , ganhar, ou adquirir algumas gares, Villas, ou Cidades: o que
herdades, ou possessoens nesta Villa, he preciso notar para os não con
e seu termo; pois se alguma vez suc fundir com a verdadeira Pátria do
cedeo, que elles as ganhassem, o Con seu nascimento.
celho por sentenças os venceo; de gui VISITAÇÃO. V. Colheita.
sa, que sempre os ditos Privilegios es VISO. Portella, cume, collina,
Riverão em seu vigor. Este mesmo Pri lugar eminente, donde se descobre
vilegio lhes confirmou ElRei D. muita terra, ou grande parte della.
João I. achando-se em Almeida a 6 V. Rodeira.
de Junho de 1386, mandando aos VISTORES. Louvados, védo
Tabelliaens, que não fação Cartas res, apegadores, que vão vêr as
das taes vendas, sob pena de nul terras, e quaesquer propriedades,
lidade, e perda de seus Oficios. E frutos, ou bens móveis, ou de
no de 1405 se proferio na maior Al raiz, para averiguar a verdade, ou
çada sentença a favor deste Conce se decidir a dúvida, ou contenda.
lho, e contra Gonçalo Vasques Cou Ele do Sec. XIV.
tinho, que foi condemnado nas cus VIVENDA. I. Modo de vida,
tas. Havia este Fidalgo comprado subsistencia, ou preciso para viver.
humas casas clandestinamente jun E antre os foros, que pagam, e o que
to ao muro de Pinhel: e para isto lhys assi filham, nom podem haver vi
extorquio huma Carta de Visinhança venda. Doc. da Cam. Secular de La
de alguns do dito Concelho, que mego de 1 358.
de mão commua lhas demolio, com VIVENDA. II. Conducta, vi
o fundamento sólido, de não visi da , comportamento. Devemos mui
f9
VI VO 4o7
ro trabalhar , que nosso povoo faça que havião concorrido com dinhei
vivenda, que seja muito a serviço de ros, já pelos que havião mandado
Deos, e a sua prol; assy que quando cousas comestiveis, e que excitavão
lhe pedirem graça pera acrescentamen grandemente á gula, como tambem
ro dos beens temporaaes, e prol de suas pelos que se achavão convidados a
| almas, a possam del gaançar. Cod. estes rijos sacrificios de Cómo, e Ba
Alf. L. V. Tit. 41. § 1. cho : manda, e ordena, sob pena
VIZINO.Visinho. Doc. de 13o 1.
de açoutes, e degredo para os lu
UNDE al nom façades. He fór gares de Africa, que nenhuma pes
mula dos nossos Instrumentos Reaes soa de qualquer condição que seja,
desde os principios da Monarchia possa convidar para o jantar, ou cêa
até o Sec. XV., quer dizer: E por dos noivos (e o mesmo dos Baptir
tanto, ou á vista do que, vós não fa mos) pessoa alguma fóra do 4.º gráo
dos ditos noivos: e ainda estes pa
çaes cousa alguma contra o que nes
rentes, e debaixo das mesmas pe
Carta, Sentença, ou Alvará vos he
mandado fazer ; mas antes a cum nas, não poderáó dar cousa alguma
prí, e guardai inteiramente, e co para a dita voda , nem dinheiros,
, fno nelle se contém.
-• nem cousas de comer, o que se cha
UNIÃO, ou Onião. oens. Ajun mava Fogaça. V Cod. Manuel L. V.
tamento , conventiculo , assuada, Tit. 45. E como na Comarca d’en
revolta , levantamento, revolução tre Douro e Minho se continuasse
de mão commua. Os reprendeo de este pessimo costume, segunda vez
suas uniooens, e allevantamentos, com foi rigorosamente prohibido pelo
que faziam doesta aa Raynha, e a el Alvará de 27 de Janeiro de 1554 no
le. Chron. d'ElRei D. Affonso V. c. qual se manda, que na dita Comarca
a 6. – E elles seguros da parte da se devasse annualmente dos que não
JRaynha pele onião , que alevantárão observão á risca a sobredita Ordena
contra ella. Chron. d'ElRei D. João ção, que se acha em a Nova, L. V.
I. P.I. c.26. Tit. 9o. Doc. da Cam. do Porto.
UNTRE. Entre, no meio de ou VODIVO. V. Bodivo. .
tras cousas, ou pessoas, ou luga VODOS. V. Bodivo. Na Orden.
res. Damus vobis alia bauça untre d'ElRei D. Manoel da Ediç. de 15 14.
Sancti Mamete, & Pousada. Vem do L. V. Tit. 28. $ 8. permittem-se os
Latino Inter. Podos por devoção de alguns San
VODA de Fogaça, ou dinheiro. tos; com tanto que se não coma
Informado ElRei D. Manoel, que dentro das Capellas, ou Igrejas.
nas Comarcas da Beira, Traz dos VOENGA. Chamar-se á Voenga,
Montes, entre Douro e Minho, e he rescindir o contrato da venda,
Riba-Coa se fazião excessivos gas ou escambo de alguns bens de raiz,
tos nos banquetes dos Casamentos, com o fundamento, de que são de
e Baptismos (que hoje dizemos Ba herança de Pai a filhos, a qual se
ptisador) e nos quaes, depois de lar chamava Avoenga. Nem se poderent
gas comezainas , e borracheiras, chamar a Voenga, nem a menos pre
havia mortes, ferimentos, desho fa. Doc. de Pendorada de 1313.
nestidades, e outras innumeraveis VOGADO. Procurador, advoga
desordens, commertidas, já pelos do, e que tem, e faz a voz do seu
CQIlS*
4o8 VO VO
constituinte. P. Aprestamado, e Avon VOMIL. O mesmo que Gomil,
doramente. ou Gumil. Vem do Latino Vomo;
VOGAR. Fazer Officio de Advo porque os gomis, sendo antigamen
gado, patrocinar, defender, pro te de gargalo mui estreito, pare
curar. Doc. de Pend. de 13 17. cião estar vomitando a agua para
VOGARIA. Oficio de Advoga as mãos, e como ás lufadas. It: bum
do. E como alguns com as suas más vomil quebrado. Inventario dos mó
artes, mais de huma vez, deitão a veis, que se achárão por morte do
perder os seus clientes, se disse Venéravel D. Fr. Salvado, Bispo de
tambem por estes, que usavão de Lamego no de 135o. Tambem an
Máa Vogaria. Em hum Doc. de Pen tigamente se disserão Vomitaria, ou
dorada de 1 324 se diz: Sem preito, Vomitoria, os Adros das Igrejas, e
e sen Vogaria tuda, isto he, sem de as entradas dos Theatros ; porque
manda, e sem obrigação de consul a grande multidão de povo, que dá
tar Letrados , que advogassem na quellas sahia pela estreiteza das
causa. No de 1 315 fizerão os da Vil portas, buscando as ruas, e que nes
la de Moz tirar hum Instrumento
tes entrava, procurando os seus lu
sobre o Aggravo, que padecião, por gares , e camarotes, tinhão seme
causa de certas Demarcaçoens entre lhança de agua, que sahe como aos
o seu Concelho, e o de Memcorvo, empuxoens; alludindo sem dúvida
e requerêrão ao seu Procurador, ou áquillo do Poeta:
Advogado , que tomasse aquelle Manè salutantum totis vomit edi
Feito por aquelle logar, e segun bus undam.
do a intenção com que ElRei o VONTADES, ou Voontades. As
mandava sem máá Vogaria , e sem sim chamavão aos móveis, trastes,
máá pontaria, e que tudo cumpris e alfaias de casa , que cada hum
se , assim como ElRei mandava. compra, ou manda fazer sem mais
Doc. de Moz.
,
régra, ou direcção, que o seu pare
VOLTA. Briga, discordia, fe cer, gosto, e vontade. No de 12 1 1
rimento , desasocego , turbação, doárão ao Mosteiro de Pendorada
assuada , tumulto, desordem. Ha huma quinta em Nodar , cum suas :
ver bi volta, e eixeco, e peleja: e el searas, & suas voluntates. Doc. de
le querendo partir esto, & c. Doc. de Pend. Sete, ou oyto porcos, e cubas,
Santo Thyrso de 134o. e arcas, e outras voontades, que era
VOLTEIRO. Homem revolto mantimento da casa. Doc. de Tarou
so, suscitador de discordias, bri ca de 1326. No Capitulo Geral,
gas, e contendas. Salvo se esse pre que no Convento de Santa Maria
zo for traedor , ou aleivoso, ou vol de Thomar celebrárão os Templa
teiro publico, e ameudi, ou matador, rios no de 1231, emprazárão elles
ou chagador de chagas perigosas: e ex a Maria Pires Fratrissae mostrae ( a
ter taaer vaam ao Castello. Cortes de
qual era viuva de Estevão Pires,
Santarém de 1325. Daqui Terra avol Confrade do Templo) a quinta do Pi
ta, terra desinquieta, cheia de la nheiro, para a sua vida, sustenta
droens, malfeitore
e s. Ou a terra
andar avolta, que se temam de filha
ção, e mantença; com condição,
que ella por sua morte a deixasse
rem os meus dinheiros. Cap. Espec. livre, e desembargadamente á Or
de Santarém.
dem,
VO VO 4O9
}

dem, juntamente com a sua quin rapina, que as nossas Leis, ainda
"; ta de Puços, cum voontades, Óº va a bom tempo atalhárão ; para que

sis; declarando, que isto fazem Per os Pobres de Jesu Christo, e da Ca


outorgamentum Mayoris Nostri Ma vallaria pobre, se não arrogassem o
gistri de ultra mar , qui tales Em Senhorio de toda a Monarchia Lu
plazamentos mandavit , secundum dis sitana. Doc. de Thomar. V. Fami
positionem , Óº arbitrium Magistri, liares.
&º Fratrum Portugalensium, faciendos. VOSQUO. Comvosco : corres
E tal foi o artificio com que os responde ao Vobiscum dos Latinos.
#
Templarios, e outras Corporaçoens E taes, Senhor, estavam aló vosquo,
- Religiosas daquelle tempo, ajun que tinham na terra a maior parte de
tárão tantas , e tão grossas rique sas lanças. Cort. de Coimb, de 1385.
zas. A fama , e opinião de Santi VOZ. I. O mesmo que Caritel.
dade , que a gente simples, e de VOZ. II. V. Seenda. •

pouco saber, nelles aprehendia: e VOZ. III. Alguns se persuadí


por outra parte a consciencia ré de rão, que quando nas Doaçoens an
muitos crimes, que continuamente tigas dos nossos Monarchas se acha
os atormentava, lhes persuadia, que v.g.: Hoc totum cauto, atque ab om
podião remir as suas culpas com a ni jure Regali absolvo, videlicet, Vo
Piedade das suas esmolas, nem sem ce, Calumpnia, Homicidio, Rauso,
pre as mais sizudas, e prudentes; & c. aquelle Voce he o mesmo que
pois as mais das vezes despojavão Appellação; e que era o mesmo que
os seus herdeiros forçados, e paren dizer, que ficavão devolutas aos res
tes pobres, para deixar ricos, e opu pectivos Donatarios as Appella
lentos, os que pela sua Profissão, çoens dos criminosos dos taes Cou
e Instituto devião remir a sua po tos, para dellas conhecerem na ul
breza com o trabalho das suas mãos, tima instancia. Porém devião adver
e suor do seu rosto. Abrião-se, pois, tir, que em muitas daquellas Doa
estas Portas Religiosas a todos os çoens se diz Voce Karriteli, que na
que tinhão que deixar por sua mor palavra Karritello se póde vêr. E
te: recebião-nos por seus Familia mesmo seria cousa inaudita, que os
res, Commensaes, ou Terceiros, ou fos nossos Augustissimos Reis se qui
sem livres , ou casados: renuncia zessem despojar de hum Direito in
vão desde logo o Dominio Directo separavel da Soberania, e canoni
nos Prelados, e Superiores dos Con zado pelo Ecclesiastés c. 5. Y. 7. e 8.
ventos, ou Mosteiros, que lhes da Na Doação do Couto ao Mosteiro
vão alguma peça de fazenda com de Villella diz a Rainha D. There
o titulo de sustentação, da qual, e za no de 1 128: Do, & dono quan
da que por sua morte deixavão, se tum ego abeo intus istos terminos ab in
constituião huns meros Colonos, e tegro... Sic ereditates, comodo ho
Inquilinos , pagando annualmente mines , comodo & Voce Regalia, ut
sua reconhecença. Por falecimento & c. Doc. da Serra do Porto. Por
destes Familiares tudo se devolvia, esta Voz Real bem claramente se
e ficava no Convento, ou Mostei collige, que fazendo-se Mercê ao
ro , que ordinariamente lhes offe dito Mosteiro daquellas Vozes, Mul
recia sepultura. E tal era a Piedosa tas, ou Coimas, que d'antes se pa
- Tom. II. ga
4 IO VO VO

gavão á Real Coroa, não se pro ra levasse : e isto , assi das pessoas
hibio o appellar para ella naquelles particulares, como aos Concelhos, a
casos, em que o recurso, ou appel que foi jad posto ; com tanto , que o
lação cabia. Não negamos com tu tal custume seja por tempo immemo
do, que n'alguns Foraes antigos se rial. Doc. da T. do T.
prohibio aos vassallos, ou colonos VOZElRO. O que tem as vo
o recurso ao Soberano; mas isto era zes, e vezes do seu constituinte»
abuso, ou ramo do Systema feudal, como he o Procurador, Solicitador,
que, ou não teve uso, ou desde lo Advogado. No Foral de Thomar de
go se abolio. 1 174 traduzido em Portuguez nos
VOZ. IV. Commissão, poder, principios do Sec. XIV. se lê: Se
faculdade para representar a pessoa alguum Vozei o se composer com o
do constituinte, tomar a sua voz, Moordomo, que lhy dê ende algua cou
e fazer as suas vezes. E isto he o sa, se provado for per enquisa , que
que se entende pelas palavras con tal be ; couponha, segundo a quantida
vencionaes , e tão frequentes nos de da Coomba , que demandar : e re
Doc. antigos. v. g. : Qui vocem ves non ouver, que peyte, em o corpo seia
tram pulsaverit : Cui vocem vestram atormentado; e non seia ouvido, salvo
dederitis, órc. se der fiador" nas maãos da fustiça.
VOZ. V. Fallando-se em Prazos Defendemos a todos aqueles, que fa
he o mesmo que Pessoa, ou Pessoas, zen Vozeiros falsos, e non han torto
Fida, ou Vidas. V. g.: E as vozes, (por taes certamente toda a terra he
gue depos vos veerem , e vos soce perduda.) Doc. de Thomar. Isto mes
derem , nos deam , e paguem tantº, mo se determina no Foral de Ou
có"c. rem de 1 18o por estas palavras: Si
VOZ.VI. Commissão, mandato, quis Vozarius se cum Maiordomo com
procuração. Acha-se em Documen posuerit, causa inde aliquid habendi;
tos innumeraveis desde o principio si probatus est, quod talis est per en
deste Reino. Porém algumas vezes quisam : secumdum quantitatem Ca
se toma pela Sentença , Julgado, lumpnie , quam objecerit, in corpore
ou Acordão, que o Juiz pronuncía puniatur, si non babuerit quodpectet;
a favor de huma das partes. E a quem
dº non audiatur, nisi prius dederie
for dada a voz , cem maravidiz lhe fideifusorem in manibus de justitiis.
preitem ; e este nosso feito permanesca Prohibenius enim omnes bujusmodi, qui
em sa fortalheza pera sempre. Doc. faciunt Vozarios falsos , ó: non ha
de Lamego de 1298. bent tortum (per tales enim omnis ter
VOZ, e Coima. VII. Nos Pare ra perdita est.) L. dos For. Velhos.
céres de Qaragoça se diz, que ul Não negamos, que se póde enten
timamente se achára por Escrituras der por Vozeiro, o que se queixa,
authenticas, que por Voz, e Coima grita , créla, ou chama dqui d'El
se entendem estes Direitos, a sa Rei, dando vozes contra alguem ;
ber: Mordomado, e Portagem, e Ta como se disse V. Caritel. E tambem
folaria, pelos quaes se ha, e deve le se dirião Vozeiros , as mesmas vo
var todo o Direito , e Trebuto, que zes, ou accusaçoens falsas, e ma
se pelo dito nome Voz , e Coima em lignas, que tanto se oppõe á tran
qualquer lugar, e em qualquer manei quilidade pública, que com razão se
dis
UQ. X 4II
disse, que por ellas se perdia toda cebeo em sua uyuvidade. Doc. do Sal
a terra. . . vador de Coimbra de 148o.
UQUER. Onde quer que. Doc.
das Bent. do Porto de 12 95.
USADAMAR. Appellido, ou al
cunho, que houve em Portugal, que X.
se dizia em Latim Usus maris; co
mo se vê na Chron. de S. Domin, por XLetra numeral, sempre valeo
Sousa. P. II. L. VII. c. 7. f. 169. Y. déz: e com huma linha atravessada
col. 1. valia 1od)ooo.
USAGEM. V. Custumagem. Ho X. Com hum til, ou plica entre
je se diz Usual o tributo, que se as pontas, e outras figuras, que se
costuma pagar das cousas comes pódem vêr V. Algarismo, tinha va
f1VC1S.
lor de 4o. (*)
USAVEL. Usual, cousa, que se X. Ligado com L., e fazendo re
usa. Doc. de 1 359. presentação de hum R., valia 4o.
USURPAR a braçados. Furtar Vid. L. R. & V. Algarismo.
desbragadamente, roubar sem al X. Na antiga Musica denotava
ma, nem consciencia.
mego do Sec. XV. Doc. de La Expectare

; fazendo pausa, ou es
pera no Canto.
UXI. Onde-se. He frequente no X. Por A: XX. por E: XXX.jpor
Sec. XIII., e XIV. Uxi ajuntavão as I.: e X. por O. Vid. L. A.
hostes, isto he, onde se ajuntavão X. Por S., ou Sc, muitas vezes
as milicias, ou gente de guerra. se acha em as nossas Escrituras, v.
VYUVIDADE. Viuvez, estado g. Xexus por Sexus , Xire por óci
de viuva. Boas obras , que delle re re, Xancio por Sancio, Xantificar por
Fff 11 San

(*) Nem sempre, que o X, tenha alguma risca, ou variedade do X ordinario (Tab. 2.
n. 7.) se ha de julgar cégamente como nota numeral de 4o ; mas tão sómente aquelle em
que se verificar nexo, ou ligatura de X, e L. Em huma Carta de Venda do antigo Mos
teiro de Villella de 1231 se acha o X, na fórma, que se vê Tab. 2. n. 7. f. 13., não me
nos que seis vezes: Pro precio quod de te accepimus XII, morabitinos... Sit maledictus, é
eXcomunicatus... Facta Carta in Castello de Ajuilar, XXIIII, dies Maii, in E. M. CC. 2X.
PIIII: Regnante ReX Sancio. Brachãr Archiepiscopo Dão Silvester. No L. Baio de Grijo a
. 76. se acha huma Doação feita pela Rainha D. Thereza E. M. C. 2X., e o X. he o da
Tab. 2. n. 7. f. 14. No Archivo de S. Simão da Junqueira se achão huma Doação, e hº=
ma Carta de Venda, ambas datadas deste modo E. M. CC. 2XX. Regnabat Rex S. E o X.
he o da f. 15., e 16. ih. No de Moreira se acha huma Carta de Venda datada desta fór
ma E. C. XXIIII, post milessima; tendo o X, a f. 17.ib. Dous Instrumentos de venda em
Caramos tem as seguintes da as : o I. E. M. CC. 2XP. Regnante S. Portug. Archiepºis S.
mense Maii. O II. E. M. CC. XVI. In Portugalia Rex Sancius, in Sede Brachara Stepha
} nus Archiepºis, mense 3ulii: ali se acha o X com a f. 18. ib. E de tudo se mostra, que
| nem qualquer variação do X. he sinal de valer 40 , pois dos exemplos allegados , e ou
1,
tros muitos que ailegar podiamos, se vê que o X. não vale, nem póde valer 46, menos
que allada a X, e L. Daqui se vê, que tão sómente vale 1o o X na fórma; que se acha
Tab. 2. n. 7.. até a f. 23., é tambem Tab. 1, n. 5., e outras semelhantes. E finalmente se
notc que só á falta de particular letra na Impressão , he que se introduzio o escrever
se X. por Ao; sendo esta figura propria de 1óbooo, e não do Digramma numeral de X.,
e L. E o Doc. que Brandão adduzio no L. VIII, da III. Parte na Monarch. Lusit. C. 26.
f. 5o. Y. col. 1. não prova coisa alguma ; pois no seu Original está deste modo : Anno
%girur 4h Incarnaione Dhi Mº Gº XLº VII º Christianissimus Portugalensium Rex, & c. Como
se vê hoje em S. Vicente de Fora; sendo a nota de 4o o X, que se acha Tab. 2. n.1.f.41.
412 X X
Santificar, Xantus por Sanctus, Xe no de 87o, a qual se conserva no
leradus por Sceleratus , Xi por Si, Mosteiro de Pendorada, antes das
ou Se ( que era mui frequente no palavras In Nomine Domininostrije
tempo d'ElRei D. Diniz) Ximeno su Christi, se vê o Monogramma,
por Simão, e outros. com o XPS. bem claros, Tab, 5. n. 1.
X. Triplicado valia trinta; e as Alli mesmo se guarda a Doação,
sim os nomes numeraes, que consta que Fromosindo Romariguiz fez a
vão de trinta se escrevião com trez seus filhos no de 1o62, na qual se não
XXX, pondo o resto do nome por vê In Nomine & c., nem outra Invo
extenso , v. g. XXXgessimo, XXX cação alguma de Christo, de Deos,
tairo &c. por Trintagessimo, trinta ou da Trindade; mas antes das pa
rio, & c. Deixo a S. Francisco de La lavras Fromorindo Romariguizi Pla
mego cinco libras pera hum XXXta citum , vel Cartula facio vobis filiis
rio. Doc. de Tarouca de 1 335. meis, & c., se acha a figura da Tab.
XP. por CHR. he frequentissimo 5. n. 2.
em os nossos antigos, quando es Na grande Doação , que o Rei
crevião Xpina por Christina , Xpo D. Garcia fez a D. Affonso Rami
vão por Christovão, Xpãos por Chris res no de Io7o, que igualmente se
tãos, Sanxpão por Sacristão, e par acha naquelle Mosteiro, e princi
ticularmente Xpo, ou Xps por Chris pia Sub Trino Imperio, & Omnipoten
to, ou Christus. Ou a ignorancia, ti Deo auxilio. Ego Garsia , Gratia
ou espirito de singularidade, e pa Dei Rex & c., se vê o sinal da Tab
recer erudito , forão os Authores 5. n. 3.
deste abuso. A verdade he, que os Em o Mosteiro de Arouca vemos
Gregos escrevem Christus em bre a Doação, que D. Cresconio, Bis
ve deste modo XP, porém a pri po de Coimbra, fez áquella Casa,
meira letra não he o X. de que usão e á de S. João de Pendorada, repar
os Latinos, he sim o seu Chi, ou tindo entre ambas a grossa heran
C. aspirado, que responde ao nos ça, que ficou por morte de seu ir
so Ch, e o P. he o seu Rho, que mão Gavino Froilaz no de Ioy4, co
vale pelo nosso R. Devemos pois meça: In Nomine Sanctae, & Indivi
lêr Christo , Christina , Christão, dua Trinitatis , Patris , & Filii,
& c., reconhecendo que o X, e o ó Spiritus Sancti ; precedendo-lhe
P. são Letras Gregas, e não Latinas. Christus , na fórma que se vê Tab.
Desde o nono até os fins do Sec. 5. n. 4.
XII. era frequente escrever a pala No de 1 1 33 doou o Infante D.
vra Christus com variedade de mo Afonso Henriques ao seu grande
nogrammas no rosto, e á cabeceira Privado D. João Viegas , todos os
das Escrituras, assim dos particu bens que forão de Aires Mendes,
lares, como dos Soberanos, e antes e Pedro Paes, o Carafe, naturaes de
de todas as outras palavras. Dare Viseu, e que aleivosamente se ha
mos alguns exemplos originaes des vião rebellado, entrando com os ini
te piedoso costume. migos do Infante na Villa de Cêa :
Na Doação, que Castimíro, e sua razão porque forão desnaturalisados.
mulher Asarilli fizerão ao Mosteiro A Carta está em Pendorada, come
de Santo André de Sozello no an ça: Sub Xpi Nomine, ó ejus miseri
CU?"
XA Y 413
cordia. Hec est Carta , quam jussi confunde a cada passo com o I., ou
Jacere. Ego Djius Yldefonsi , filius J. dando-lhe a mesma pronuncia,
Henrici, ó Tharagiae Reginae, filia v. g. Yldefonsus por Ildefonsus, Yoan
Gloriosissimi Yldefonsi Rex, Placuit me por Joanne, Kºpania por Ispania,
& e. o sinal, que lhe precede, he o C OUltrOS 1Íln UÍT1CraVC 1S.
da Tab. 5. n. 5. •

Y. No Grego primitivo, donde


No de 1 159 Fernando Godiniz he originaria, tinha mui diferente
doou ao Mosteiro da Castanheira, figura ; pois nesta Letra de Pitha
no Bispado de Astorga, huma her goras se designava a sorte dos bons,
dade, que tinha em Villar d Ossos, e dos máos: estes pelo caminho lar
junto a Vinhaes, em Terra de Bra go, espaçoso, e alegre da perdi
gança , antes de In Dei Nomine. ção, se vinhão a precipitar em fim
Amen. se escreveo o Monogramma nos mais horriveis despenhadeiros:
da Tab. 5. n. 6. aquelles pelo contrario, fazendo-se
Quando D. Afonso IX., Rei de violencia para subirem cada vez
Leão, tomou debaixo da sua Protec mais, e mais pelo caminho aspero,
ção o Mosteiro , Monges, e cou e escabroso da virtude, vinhão ul
sas de S. João de Tarouca no de timamente a conseguir o digno pre
1 189 (como se vê pela Carta, que mio dos seus merecimentos: a sua
alli se conserva , e que principia fórma se vê Tab. 2. n. 7. f. 24.
In Dei Nomine) foi o Monogramma, Y. Achando-se algumas vezes no
como se póde vêr Tab. 5. n. 7. meio dos Monogrammas dos Reis,
Alguma cousa difere o que alli Principes, ou Preludos, vale o mes
mesmo se vê na Doação, que o mes mo Ka, ou Ita: e he abbreviatura,
mo Rei fez ao Mosteiro de Tarou que denota ratificação, ou confirma
ca da espaçosa herdade de Luzelos ção de alguma Escritura, como diz
em Riba Côa, que então pertencia Mahill. Diplom. L. II. c. 1o. n. 13.
ao Reino de Leão , no de 1 191; Y. Ahi, nesse lugar. Correspon
pois he como se acha Tab, 5. n. 8. de ao Latino Ibi. V. Ey.
Seria infinito, se houvera de pro YAGO. O mesmo que Tiago,
seguir. Veja-se o que fica dito V. Jacobo, Jacome, ou Diogo. Doc.
Alpha. de Lamego do Sec. XV.
XARA. V. Cirita. YLMOFARIZ.V. Almafariz. It :
XICO. A. Seco, seca. Rio xico, Hum Klmofariz com sa mão — Rema
rio seco. tado por 56 soldos. Inventario do Es
XIRA. V. Cirita. polio, que se achou por morte do
XORCA. V. Axorca. Veneravel D. Fr. Salvado , Bispo
de Lamego, feito no 1.° de Abril
de 1 35o.
YOLANTE. Violante. Nome de
Y. mulher. Procuração de D. Isabel, e
D. Maria, filhas do Infante D. Afon
Y. Letra numeral dos Antigos, so, e D. Yolante sa molher. Doc. da
valia 15 o , ou 159 ; com hum til Guarda de 1298. Este Infante era
valia 15 o booo. filho legitimo d'ElRei D. Afonso
Y. Em os nossos Documentos se III. : D.Violante era filha do In
fan
414 YR ZA
fante D. Manoel, e neta d'ElRei achão em huma das muitas Inscri
D. Fernando III. de Castella. pçoens Romanas de Outeiro Sousão,
YRIAN. Esquadrão, ou Exerci ou fusão (hoje Outeiro João ) jun
to; segundo o Bispo Pinheiro Part. I. to a Chaves, que copiárão Argo
apud Blut. E diz que esta palavra te, e Barros na sua Geografia: diz
he dos antigos Portuguezes; e que ella (segundo o mesmo Barros) A
della se originára o nome de Yria terra seja leve a Condeça, filha de Au
\ Flavia, hoje a Villa do Padrão, jun lo Bobalo , que aqui jaz de idade de
to a Compostella. Os fundamentos, 35 annos. Donde se manifesta que
que teria para assim o julgar , eu cada huma das ditas figuras valia X
os não sei; mas a sua grande eru ZÁADONA. Senhora, mulher
dição não basta, para que a sua sim livre, forra, ingenua. Se quizer ser
ples palavra nos convença. Zaadona Christiana, que a baptizem,
YXECO. Molestia, contradic e lhe dem de vestir, e lhe fação bem.
ção, trabalho, dúvida, contenda. Esta he huma das verbas do Tes
Quem storvo, ou yxeco quiser dar a tamento de D. Chamôa Gomes de
meos testamenteiros, perca todo aquel 1258, fallando da sua Moura Elvi
lo, que lhis eu mando. Doc. da Guar ra Vasques. Doc. da Salzeda.
da de 1 298. V. Enxeco. ZAGA. V. Azaga.
ZARELO. Parece ser synonimo
de bragal. No Foral de Barqueiros,
junto a Meijom-frio de 1223 se diz,
Z. que entre as mais Direituras paga
rião unum zarelum de VI, cubitir. L.
Z. Na Arithmetica dos Antigos dos For. Velhos. V. Bragal.
valia 2 dooo, e sendo plicado va ZARRA. Almotolía, jarra. Com
lia 2 doooo. d)ooo, que são duas mil prarom-se duas zarras pera o azeite.
vezes mil. Doc. de Grijó.
Z. Por C. he mui frequente no ZAVALCHEN. Assim chama
Sec. X., e XI., v. g. Dozet, fidu vão os Mouros ao Magistrado, que
zia , inzendium , fudizer, Pontifi decidia as suas causas, e fazia dar
zes, por Docet, fiducia, Óºc. á execução as suas sentenças, e
Z. Por T., quando a este se de só elle podia authenticar com o seu
via seguir vogal, se acha pelo mes sinal qualquer Instrumento. Vem de
mo tempo v. g. Laurenzia, perfilia Zaval, que corresponde ao Latino
zione , desperazione, por Laurentia, Dominus, e Archen, judiciorum, por
&ºc. ser entre elles Dominus judiciorum.
Z. Por X, tambem algumas ve Acha-se nos Doc. de Hespanha.
zes se encontra v. g. Zenia, por Xe ZAVALMEDINA , Zahalmedi
nia, Zenodochium, por Xenodochium, na , Zalmedina , Cahalmedina , e
e outros. Tambem se acha o X, por Salmedina. São frequentes estes Vo
Z. v. g. Axaga, por Azaga. Algu cabulos nos Doc. de Hespanha até
mas extravagantes figuras do Z. se o Sec. XIII. Era o Zavalmedina o
achão Tab. 2. n. 8. per tot. até a f 9. Pretor da Cidade, a quem perten
E na f. 1o., temos trez ZZZ, ori cia, por Commissão do Principe,
zontalmente aspados, os quaes se ou do Rico-homem, todo o gover
I1O
ZE ZE 4I 5
no politico , e civíl da respectiva se trata de castigar os que falsamen
Cidade, e sentencear a final os fei te levantavão o crime de Concubina
tos civeis dos seus moradores. E to, ou Mancebía ; lançando em ros
por isso o seu Titulo se dizia em to ao seu visinho, "que era Zegula
Latim Vice-Dominus Civitatis. de fulana: ou á sua visinha, que Ze
ZEBRA. V. Zevro. goniava com fulano: o que não pro
ZEBRAL. No Foral de Cêa de vando por Inquirição de testemu
1 136 se manda, que o Carniceiro dé nhas, erão condemnados a pagar á
dous lombos de porco, e do boi, ou va Camera 3o soldos, e desterrados do
ca huma pedra zebral. L. dos For. Lugar, como se forão homicidas do
Velhos. Eu me persuado, que por corpo, assim como o tinhão sido da
esta Pedra zebral se entende o pe honra, e fama. Mas que etymologia
so de huma arroba, que particular daremos nós a Zegonia?... Diremos,
mente servia para se pesar no açou que vem de Agota, que era na baixa
gue a carne de vaca; pois não jui Latinidade o mesmo que Synagoga,
go os Portuguezes daquelle tempo ou lugar, em que o Povo se ajunta
tão anatomicos, que procurassem a va?. Diremos que vem de Zech, ou
Pedra, que se gera no boi, ou va Zechum, que significou a sociedade,
ca, á qual chamão ovos de vaca, e ou do Verbo Zechare, que era fre
he Pedra Bazar, ou Pá-zahar, a quentar a companhia de alguem?..
que se atribuem grandes virtudes E que cousa mais propria dos tor
contra venenos , e algumas outras pes amantes, que procurar a socie
enfermidades. dade reciproca para metter em uso
ZEBRARIO. Cousa de boi, ou a desordem das suas paixoens?...
de vaca, novilho , ou vitella. De Além disto, os nossos Maiores mu
2evro, ou Zevra se disse Zebrario. davão com frequencia o S. em Z., e
No Sec. XI. se doárão ao Mosteiro porque não lerião aqui Segonia, isto
de Paço de Sousa certos bens, que he (fallando honestamente) se di
ficavão nas raizes do Monte Ordi verte, se alegra, se desenfada?..
}
nes, discurrente rivulo Zebrario, is Sabemos que Agonia he trabalho,
to he, ao longo de Rio de Vacas. combate, luta, dor, pena, afficção,
Doc. de Paço de Sousa. tristeza: mas se lhe tiramos o A.,
ZEBRO, V. Zevro. que he privativo, porque não dire
ZEGONIAR. No Foral das Es mos que Gonia he prazer, regosijo,
tremaduras dado por ElRei D. Af descanso, entretenimento, gosto,
fonso Henriques, e regulado pelo consolação, alivio?... Embora; mas
que seu Bisavô, ElRei D. Fernan que significação daremos nós a Zegu
do, o Magno, tinha dado á Villa da lo?... Poderiamos avançar, que do
Pesqueira, e outras, se diz: Si bo Latino Sagulo, o pequeno sayo de
mo, aut mulier dixerit ad suum vici burel, ou panno grosso, de que os
num, vel adsuam vicinam, Zegulo de agaes, ou pastores usavão, e os
foam, aut Zegonia com foam, Óº non moços de servir, se disse Zegulo, o
potuerit outorgar cum Inquisitione;pe que servia deshonestamente a mu
ctet XXX. sol. ad Palacium, ó exeat lher alheia, o amasio , concubi
homeziam. L. dos For. Velhos. Ne nario, mancebo, criado torpe, las
nhuma dúvida póde haver, que aqui civo , e deshonesto. Com tudo eu
TC
* *

416 ZE ZE
reconheço, que não passa de tenta gado ao seu maior auge, jazem as
tiva o meu pensamento. Leis, dormem os Magistrados, e os
Mas quanto seria para desejar, que linguarazes cada vez se fazem mais
nós tornassemos a vêr as rigorosas orgulhosos, e insolentes; chegando
penas contra as más linguas, que co a pôr a sua boca no Ceo da honesti
mo chammas do Inferno, assim abra dade mais pura, e fazendo talvez ca
são as honras, e famas dos seus visi hir no vicio algumas almas fracas, a
nhos, sem que os aggressores mal quem a boa fama havia conservado
vados experimentem já mais a espa largo tempo na virtude. No Cod. Af.
da da Lei !.. Em todas as Naçoens L. I. Tit. 62. § 1.3. se diz : Haverá
foi abominavel, e punida a desen mais o Alcaide-Mór todalas coimas, que
freada lingua, que não perdoa áre os homeens da Alquaidaría poserem aar
putação honesta do seu proximo. molheres, que som useiras de braadar: e
Nos Paizes Baixos, Alemanha, Fran he de pena, por cada vez que a assy pose
ça , e outras partes, havia antiga rem, tres libras da moeda antiga. Ó
mente duas grandes pedras na casa tempos! ó costumes?... E ainda os
do Senado, que a mulher convencida infamadores perversos continuaráõ
de ter chamado a outra Puta, ou ou sem pena as desordens da sua ma
tra palavra deshonesta, era obrigada licia ?..
a levar ás costas de freguezia em fre ZEGULO. V. Zegoniar.
guezia, sem mais vestidos, que a ca ZEVRARIO. O mesmo que Ze
misa, e rodeada de grande multidão brario. Nas Demarcaçoens do grande
de gente. E a esta vergonhosa pena Couto do Mosteiro de Crestuma,
chamavão Lapides catenatos ferre, a que se extendia á margem direita, e
qual igualmente se applicava aos esquerda do Rio Douro, no de 922,
adulteros, porém com circunstancias se faz menção na Terra de Sousa do
ainda mais vergonhosas. Em Portu Monte Zevrario, isto he, Monte de
gal se castigou antigamente o crime vacas. L. Preto de Coimbra a f. 39.
da lingua com todo o rigor, como se ZEVRO. A. Boi, ou vaca, novi
disse V. Fodidincul, Hervoeira, e Va lho, ou vitella. No Foral de Lisboa
rancadas. Na Casa da Camera da Vil de 1 179 se lê: Dent de foro de vaca I.
la de Sanceriz, junto a Bragança, se denarium, Óº de zevro unum denarium.
vê ainda hoje hum freyo, com que se De coriis boum , vel zevrarum , vel
castigavão as mulheres bravas de cervorum dent medium morabitinum.
condição, e maldizentes, e mesmo L. dos Foraes Velhos.
todas as pessoas, cujo crime proce ZORAME. Assim chamão os
dia de palavras: elle tem lingua pa Mouros aos seus capotes, ou ca
ra a boca, argola para o queixo de pas brancas. Vem de Solhame, que
baixo, cambas, que lanção sobre o he o seu proprio nºme em Arabigo.
nariz, tudo de ferro: tem igualmen Quicumque acceperit alicui capam ,
te cabeçada com sobretésta para a zurame, pellem, aut aliquam vestem,
cabeça , com fivela que fecha para pectet ipsum duplum. Lei de D. Af
traz, e redeas com passador. Hoje fonso VI. na Monarch. Lus. T.IV. Es
porém que a maledicencia tem che crit. 27. V. Cerome.
Fim do Tomo II.
SUP
\,

A.

SUPPLEMENTO,
ADDICÇOENS, E CORRECGOENS
A O Iº, E II.º TO M O

DO E LUCI DARIO
D A S

PALAVRAS, TERMOS, E FRASES,


OUE EM PORTUGAL ANTIGAMENTE SE USÁRÃO, E
que hoje regularmente se ignorão.

A.
ADUR. O mesmo que Adur. A ue nem sempre com o nome de Aba
dur se poderá manter huum Rec engos. No de 114I doou a Pendorada
tor. D. da Univ. de 1438. Dordia Ramires metade de seus bens ,
AAGUADOIRO. O mesmo que Au e hum Mouro dos da sua criação , e
gadeiro. De nove feixes , ou aaguadoi ao seu Abbade uma mula insellata, et
ros de linho , hum no tendal. D. da infrenata , et una pellicea de corpore
Univ. de 14oC. meo, investita in tiraces. Ali mesmo
AAZADOR. Se dizia no genero mas se acha hum Doc, de 131I, pelo qual se
culino, e femenino aquelle , ou aquel faz huma Doaç. a D. Pere-Anes, per ra
la, que fomenta, ordena, dá occasião, zom tam solamente de sa pessoa, e nom
ou motivo para se fazer alguma cousa. per razom do abadengo, nem d'Abbade
E a Communa nom recebesse por ello pre de Sam fohane. E aqui bem claramen
juizo, quando nom fosse aazador, nem te se destinguem os dous respeitos, de
consentidor de a dita Lei ser quebram Confessor, e de Abbade daquelle Mos
rada. Cod. Alf. L. XI. T. 75. S. 4, e teiro; declarando-se que a nenhum del
T. 114.S.2. les a tal Doaç. se extendia. Entre os
ABADENGO. II. Legado pio, es mais legados, que João Affonso Barba
mola , agradecimento, ou reconhecen dão, homem bom , e morador na Villa
ca, que se dava em vida, ou deixava de Veiros , deixa no seu Testam. de
por morte ao Confessor, Padre Espiri 1432 , se acha este : Ao Prioll, meu
tual, ou Director, que antigamente se abade, dº abadengo des reis. D. da Gra
chamava Abbade. Differia do Abbada ça de Coimbra.
gio; pois este se dava, ou mais bem se Julgárão-se obrigados os nossos Ma
extorquia, só pela razão de Abbade iores a recompensar o trabalho, que os
de huma particular Igreja , ou Mos Confessores tinhão, e o tempo que gas
teiro. Até os fins do Sec. XV. ha Doc. tavão em purificar as suas consciencias:
sem numero das retribuiçoens, ou lega a pobreza, pouco fausto, e menos lu
dos, que aos ditos Abbades , ou Con xo, que então caracterizavão os Mi
fessores se derão, ou deixárão , ainda nistros da reconciliação, fazião ver com
A olhos
2 AB AB
ºlhos de piedade semelhante Disciplina, 14oo se diz: E 4; seja o dito tempº
que no Direito Natural, e Divino se freeguês da dita Eigreja de S. Pedro,
apoyava. V. Decimas. Com o tempo se e em ella vaa ouvir as Orar, e Mis
introduzio o abuso, fazendo-se obriga sas come freeguês áás festas principa
{ão o que principiára piedade. Come aes do anno, convem a saber: por dia
çou-se a chamar Manefesto, Meefesto, de Natal, e Pascoa, e de Pentecoste, e
e Menefèrto, a Confissão Sacramental, que da dita Eigreja receba os Ecclesi
e Manefestar, Meefestar, e Menefès articos Sacramentos. Em outro final
tar, o que hoje dizemos Confessar, e mente de 141o se contem: E outro s.sy,
ouvir de Confissão. O'ra estes Manefès ue os dictos veessem á dicta Eigreja de
tos forão depois seguidos de certas ga { Pedro, como fregueeses, e recebessem
jes, ou emolumentos, não tanto livres, os Sacramentos tres festas em cada hum
quanto obrigatorios. Daqui veio, que (277770.

não obstante no Conc. Lateran. de 1215. Por huma Bulla Pontificia do Sec. XIV.
se não impor obrigação rigorosa mais que na Cathedral da Guarda se conser
que de huma Confissão annual; entre va, nos consta, que sendo mui poucos
nós se ficou conservando, como de pre os Confessores para reconciliar todos os
ceito, a dita Confissão nas tres, ou qua Fieis no dia de Paschoa, em que devião
tro Festas principaes do anno , e na receber a Sagrada Communhão da mão
qual achavão os Confessores huma não do seu proprio Sacerdote ; se facultou
insignificante parte da sua subsistencia: para aquella Diocese o Commungar por
e isto ao mesmo tempo que a obriga toda a Quaresma , e satisfazer assim ao
ção da Missa nos Domingos, e Festas Can. Omnis utriusque sextir. Que ra
deguarda se não escrupulizava; pois de zão haveria logo para ainda assim se
muitos Doc., consta, que só de quinze propugnar como *# a Confis
em quinze dias, ou de tres em tres se são tres, ou quatro vezes no anno ? Não
manas devião os Parochos fazella dizer digo que fosse interesse temporal nos
em algums Póvos das suas Freguezias. Ecclesiasticos: persuado-me com tudo,
Por huma sua Provisão de 1297 au que sendo os emolumentos do Manefès
toriza D. Vasco, Bispo de Lamego , o to parte da sua Congrua, elles pugna
Contrato entre o Reitor de S. Martinho vão pelos Usos da sua Igreja. Augmen
da Espiunca , e o Mosteiro de Pendo tando-se porém com o tempo, e á som
rada, convem a saber: Que o dito An bra da paz, o grosso dos Dizimos , e
dré fohaner en sa vida diga , ou faça reconhecendo-se que os Dons de Deos,
dizer Missa no dito lugar de Cornhas de que de graça se recebêrão , de graça
tres em tres Domingos, e que lhys déhy mesmo se devião repartir ; desaparece
o manefèrto, e a Comuniom ; salvo áás rão os salarios, e pagar das Confis
festas principaes , em que os ditor bo soens, que talvez fóra deste Reino ain
meens devem hir aa dita Eygreia a ou da de todo se não abolírão : verdade
vir as Mirras, e a manefestar, e a co he, que só pelo titulo do trabalho , e
mungar. D. de Pend. E no de 1223 o não por administrar os Sacramentos »
Vigario Geral de D. Rodrigo, Bispo da se recebem. Entre nós com tudo parece
mesma Cidade , mandou dar posse da serem réstos do antigo costume, assim
dita Igreja a João Martins, que confir as Reconhecenças, como tambem os 4
mára em Vigario perpetuo, com trinta folares, que na Quaresma, ou na Pas
/ivrar, e tres moyos de pam e de vinho choa se praticão. E deste modo se pro
meados, e no que ouver, e aver poder curou exterminar ainda as mais leves
de seus menefèrtor. Ibidem. V. Clerigo sombras de Symonía; substituindo es
PT. Em hum Doc. da Collegiada de S. tes agradecimentos livres, que hoje se
Pedro de Coimbra de 1391. lêmos o se usão , os benérses , que pelas Confis
guinte: E pagardes mais a dizema de soens antiguamente se cobravão. Neste
guado, e linho, e legumes, e aves , e sentido se deve entender o que se diz
receberder os Sacrameutos quatro fer V. Confissoens, e V. Clerigo VI.
*as do anno em S. Pedro. Em outro de ABÃIXAR á Fé. Humilhar, abater,
{T2 -
AB AC ;
tratar com desprezo, e mesmo com indifº e Azequia. Em D. de S. Christovão de
ferença a Religião de JESU Christo, im Coimbra de 1456 se diz: Cem reis bran
pugnalla, mostrando com palavras, ou cos que lhe emprestei pera huma acequa.
acçoens que se nega, insulta, ou desa ACERTAMENTO. Verdade, certe
prova. Se alguns Clerigos quiserem abai za, exclusão de toda a falsidade, enga
xar a Fee dos Christãos, e disserem no, ou mentira. Se o podes reis saber per
mal della : estes devem ser penados por acertamento. Cod. Alf. L. I. Tit. 71. c.
ElRey, Cod. Alf. L. I. T. 15. S. 42. 2o. S. I3.
ABARITA?M. Entre as horríveis ACERTAR-SE. Succeder achar-se,
maldiçoens, de que os Antigos fizerão vir, estar. Enviou logo ao Princepe An
uso, tinha lugar distincto a de ser al tam de Faria, que a esse tempo hy se
guem tragado vivo pela terra , e sepul acertou. Chon. de D. Af. V. c. 1o2.
tado nos Infernos, como forão Datán, ACHAADA. Planície , escampado,
e Abirón. Em dous Doc. da Univ. de ou terra baixa, e plana. Poderião morar
I392 se acha ser abaritám no sentido até cem pessoas em tres Povoracoens, as
de ser semelhante na desgraça áquelles { eram na achaada da serra. Chr.
dous infelices: no I. se diz: Seja con o C. D. Pedro.
Justro, e abaritám, e no 2.: Aja a mal ACHACER. O mesmo que Acaecer.
di com de Deos, e a nossa, que nonca lhi O qual casal ma achaceu de meu padre.
canse, e seja confuso, e abaritám. D. de Bostello de 13o4.
ABOCAR. Tomar a boca de huma ACONOCIMENTO. Reconhecimen
rua, praça, enseada , porta, embocar, to, reconhecença do Emphiteuta para
entrar por ella, e tambem desembocar, com o Direito Senhorio. Ajamos ende
vir ter, ou dar em algum determinado huum capom cada ano de aconocimento.
sitio. Abocando huma rua larga. - Tan D. de Bostello de 1307.
to que abocasse as portas. -- Vinhão as ACONTHIOSO. O que deve ter de
principaes ruas abocar naquella ponte. terminada contía de bens para poder go
He de Barros. zar de algum Privilegio, ou servir al
A BOLAR. II. Dizia-se da móssa, ou gum Oficio, Cargo, ou Ministerio. Que
contusão , que hum corpo solido faz vos dem fiadores aconthiosos, e abona
n'outro, deixando-o amassado, pisado, dos. Cod. Alf. L. II. Tit. 77. § 4.
torcido, desfigurado. Ainda vulgarmen ACORRO. V. Accorrimento. Não
te se diz : Tem a cabeça n’hum bolo, do devem os Cavalleiros empenhar o cava
que nella recebeo graves contusoens, lo , e as armas por grande coita que
e pancadas. •
houvessem, ainda que nenhum outro a
; Rompe, córta, desfaz, abóla, e talha. corro nom podes sem haver. Cod. Alf. L.
Cam. Cant. 3. Est. 51. I. T. 63. S. 28.
AGAAGADOR. O que açacalava , ACTA. Os Autos de huma causa, ou
| polía, dava córte, e afiava todo o ge letigio, tudo o que de parte a parte se
nero de ferramentas, e armas. fobam tem escrito, dito, e ajuntado. Que lhi
Lourenço a caagador, Afonso Esteves dava acta, e todo o feito, e o proces
cuiteleiro, moradores na Cidade do Por so por apostolos. D. do Salvador de Co
lo. D. da Univ. de I425. imbra de 1315. S. Acordão, resolução,
ACEITAMENTO. Rêto, duello, assento, postura. Deste acordo de Lis
desafio. No Cod. Alf. L. IV. Tit. 58. §. boa perou muito ao Conde , e em rece
* 3. se determina, que nenhuns não sejão bendo a acta da Cidade, non pôde difri
presos por querellas, nem denunciaço mular ho desprazer. Chr. de D. Af. V.
ens, nem enformaçoens, que delles fos C. 2O.

sem dadas, posto que em ellas disses ÁõUTAR-SE. Por-se em termos de


sem , que o fezerom sobre vinditas, e mais trabalho, aficção, angustia, e
revenditas, e aceitamentos, e seguram pouca esperança de remedio. E estando
fa britada ; salvo re se ouvesse hife sobre o cerco, acuitou-se a enfermida
rida laida, ou membro tolheito. de do Conde. Chr. do C. D. Pedro. c. 4o.
E ACEQUA. O mesmo que Acequia, ADEMEA. Nem erra terra de cam
A ii po
4 AD AF
quella medida. V. Adival. •

po raso, e descoberto, que todos os


annos se lavra , e afruta : nem monte ADTA. adv. Até hum certo, e de
maninho, terra inculta, ou bravía, que terminado tempo, ou lugar. Qui venir
poucas vezes se rompe , e seméa : era perillo triigal adia illa agra de Mona
sim huma terra frutifera, e rendosa en cos. D. de Refoios de Lima do Sec. XII.
tre o monte, e o campo, não só capaz ADVOGARI’A. Ministerio, ou ofi
de dar pão , grãos, e hortaliças, mas cio de Advogado, que mais de huma
tambem de produzir vinhas, olivaes, vêz servia para esconder a verdade, pro
pomares, e outros arvoredos. A quarta telar as causas, e extorquir com trapa
parte de todolos fructor, e cousas, que ças, e enredos hnma sentença cheia de
Deus hy der, tambem da adêmea, come injustiça, com detrimento da parte #
do campo: e do que arromperdes na char posta, e que não soube , ou não pôde
meca , o quinto. D. da Univ. de 1345. contrastar a mentira. Em hum D. de
Em outro de 1429. Ibid. se lê: A quar Pend. de 1391 diz hum devedor, que se
ta parte de todo o pam , e linho , que não deve defender, per aliud dominium,
Ihes Deus der nas ditas terras , assy nec per advocaríam, nec perforum, seu
do campo , como adêmea. Em outro de consuetudinem terrae, nec per romarí
S. João de Almedina do Sec. XIII. se am, nec per hostem, nec per frotam, nec
diz: Quantum habeo in Villa-pauca, tam per Cruzatam, nec perferiam, nec per
in campo, quâm in adména. Sirva isto fèrias, nec per aliam rem, quae sit. W.
de correcção ao que se disse V. Adéma, }Yogaría.
e Adménar. A FAZIMENTO Communicação, ou
ADERENGAR. Tratar, conferir, to commercio torpe, e deshonesto. No Cod.
mar assento, ou acôrdo. Eu dito Tabel Alf. L. V. Tit. 15. S. I. se manda, que
/iam vi, e ouvi que foseem todos tras a nenhum Oficial de Justiça jaça , nem
obra da See, e aderençariam de sa prol. aja mááo afazimento em feito de forni
Cod. Alf. L. IV. Tit. 5. S. 2. Luis de zio crm nenhuma mulher, que bi ande
Sousa usa de aderencar, por terçar por em preito, nem casada, nem viuva, nem
alguem , ampara-lo, protege-lo. virgem, nem outra nenhua, de qualquer
ADIANTADO. OS. — i)iferião os guira que seja, tambem Fidalga, como
Adiantados dos Alçadas , ou Ministros villão. E o que o contrario fizer; sendo
informantês , em serem aquelles fixos, Clerigo, perca o Patrimonio, e seja in
e permanentes em alguma Provincia , fame, e desterrado pera sempre fóra do
ou Comarca, e estes não terem territo Reino; e se for leigo , castrem-no por
rio, nem jurisdicção mais, que em cer ende.
tos casos, e terras, assim e da forma, AFINCAR. Importunar, insistir, a
que o Soberano temporariamente lhes teimar , combater denodada, e vigoro
ordenava. O poder dos Adiantados era samente, com grande força, e coragem.
o mesmo que havião tido os Meirinhos Se a noite tão azinha não viera, que or
Mores, de que não ha noticia depois partio por força, e deicharão os Morgº
de 146O. de os afincar.—Easierão afincados dº
ADIVAES. Ainda hoje na Beira bai Moros, que hum não podia dar fee dº
xa se chamão Adivaes as cordas de car ue outro fazia. D. da Cam. de Tavira
ro, ou de travar, e mesmo quaesquer o Sec. XIV. Daqui Afincamento, Afin
outras cordas grossas, e compridas. Por cadamente, Afinco &c. que humas ve
estas se medião algumas vezes as terras, zes escrevião sem n, e outras com fdo
e se dizia que tinhão tantos, ou quan brado V. Aficar, e Ahinco. •

tos Adivaes. Porém isto era huma me AFFOGAGOENS. Pensoens varias,


dida incerta, devendo então ser como e miudas, qué os Emphyteutas, ou Cº:
hoje são, humas cordas mais, e outras lonos pagavão pelo Fogo, ou jus hab/
menos compridas. Se com tudo o Adi tandi. Por todos direitos, e direitura"?
val regular, e de lei, que hoje he de e afogaçoens, e penção do dito casal,
12 braças, ou 12o palmos, então se usa oito /#! de moeda antiga. D. de Muyº
Ya, ficará sem duvida a quantidade da de 1395. AGA
AG AL 5
AGASALHAR-SE. com huma mu ALCAVALLAS. Na Chr... do C.D.
lher. Casar-se com ella, viver na sua Pedro de Menezes usa Zurara repetidas
companhia , e dentro da mesma casa. vezes desta palavra. Trouxerom-nas (as
AquelleMouro requeria a meude aaquel taes embarcaçoens) pera a Cidade car
le Capitão, que lhe desse alguma mulher, regadas dº alcavallas , e de trigo, e de
com que se podesse agasalhar. Chr. do uvas. L. I. c. 7o. Tomárão a fusta na
C. D. Duarte. c. 87. •

qual achárão muitas alcavallas , e fi


AGILHADA. Medida agraria , e os , e amendoas. Ib. c. 72. Parece ser
particular do Campo de Coimbra: tinha fruto de Africa, que corresponde ás nos
18 palmos de comprido , ou seis cova sas alfarrobas.
dos. No qual chaão dezia, que aviam de ALCOBAGA, Nas Côrtes de Santa
longo vinte e oito agilhadas, de seis co rem de 1427 árt. 48. reconhece o Senhor
vados cad’ huma agilhada: dº anxo tre Rei D. João I, que o Mosteiro de Alco
ze das ditas agilhadas. D. de S. Thia baça he seu, e que fará delle o que qui
go de Coimbra de 1432. Hoje dizemos zer. Cod. Alf. L. II. Tit. 7. Daqui se vê
Aguilhada. V. Artil. que não estava muito assombrado com
AGUARDADOIRO: Conveniente, a façanhosa Carta de S. Bernardo, ou
justo, e digno de se guardar. ElRei fa mais bem que ainda não tinha sido fin
rá guardar em esto o que querque per gida, ou interpolada. V. Alcobaxa, onde
Direitocommum for aguardadoiro. Cod. se emende Restaurador dos Templos, di
Alf. L. II. Tit. I. art. 12. zendo-se dos Tempor.
AGUIAMENTO. Perspicacia, pe ALCOCEIFA. Sitio, bairro, ou ca
netração aquilina, direcção, previden sa, em que vivem as meretrizes. V. Alcou
cia, cautela. Deve de ser o aguiamento ce. In recutione S. Petri intur Colimbriae,
do Almirante, e seu avisamento em tal juxta ipsam alcoceifa. D. da Univ. de
maneira, que cada huum ### , que 1158.
#EALDAR. Nas Côrtes de Coim
com elle forem, saiba o que ha de fazer
ao tempo de mester. Cod. Alf. L.I.T.54. bra de 1472 determinou o Senhor D. Af
AGUSO. Abaixo, para baixo, D. de fonso V. o como se devia alealdar, e o
Pend. de 13co. V. jussaã. Regimento que se devia ter no alealda
AINAFROL. No porto de Ainafrol mento das mercadurias. L. Verm, do dito
se achava ElRei D. Affonso V. em Sep Sr. n. 17. V-Alealdamento.
tembro de 1477, aprontando-se para ALFAGEME. — Este nome se deu
vir por mar a Lisboa. Azur. Chr. c. 2o2. antigamente aos barbeiros; porque afia
e 2O3. V. Aira-fral. vão, e alimpavão as espadas. Porém Lo
AJUDOURO, e Ajudadouro. Protec pez na Chr. de D. João I. c. 56. usa des
ção, auxilio, soccoro. Nom se pode fa ta palavra no sentido de alfange, ou es
zer boa obra sem ajudouro daqueste Se pada curta. Estavão by outros de caval
nhor, cuja virtude ao verdadeiro reque lo com senhas lanças, e dardos brancos
redor nunqua se nega. Chr. do C.D. nas mãos, e alfagemes em ellar, pera
Duarte. c. 1. irem em sua companhia , cavaleirando
ALAFEM. A boa fe , com efeito, (acompanhando em tom de cavalleiros)
semduvida, certamente. Tambem se es o Alferez, e pozerão-lhe a bandeira na
creveo A-la-fé. Alafem não ha de ser ex funda, que levava na cella. #
na gente tão ligeira de vencer, como mór diz, que Alfagém he o mesmo que Cirur
cuidava-mor. Chr, do C. D. Duarte. c.47. 13.O.

ALCAGARIAS.—O mesmo que Ta 8 ALFERES Moor d'ElRei. Antes que


marías, ou Pelames, lugar, ou fabrica, os Mouros entrassem em Hespanha se
onde se curte, e prepara toda a qualida chamava Preposito o que os Romanos ti
de de pelles, e couramas. V. Palame. nhão dito Signifer, (porque levava a
Emplazamos huuns pelames, ou alcaça principal bandeira, # a do Senhor
rías, que avemos na dita Villa (de Co do Exercito) que quer dizer tanto como
imbra) na rua, que chamam da ponte. Adiantado sobre as outras companhas
D. de S. Pedro da dita Cidade de 13o7. da hoste : elle julgava e decidía a final
OS
6 AL AL
os grandes feitos, que acontecião noExer teiros de S. Martinho de Sande, de Vil
cito. Depois que os Christaãos percal larinho, do Souto, do Crasto, de Muya,
garom (recuperarão Hespanha) chama e em algumas Igrejas, lhes deixa varios
rom a este Oficio Alfères, e assy ha ho legados para satisfação; instituindo sua
je nome. Cod. Alf. L. I. Tit. 56. S. I. e mulher por herdeira no terço, e no quin
2. V. Alferes Mór. to, e em todos os seus bens moveis, e
ALFONSINS. V. Livra. immoveis, in quibus hacredem possum
ALFOZ. — Em muitos dos nossos instituere. D. de S. Tyrso de 1284. No
Doc. he o mesmo que lugar cham, ou Cod. Mannel. se diz: Almafegua.V. Va
terra chaã. V. nestas palavras, e Pugal. fo na cabeça.
ALGARISMO. — No Mosteiro de ALMARGIA. Bérta almargía, a que
Santo Thyrso se acha hum Alvará do Se anda pastando pelo almargem. Qualquer
nhor Rei D. Afonso V. de 4 de Agos que trouxer bestas almargías na dita
to de 1449, cuja data se escreve deste coutada, & c. L. Vermelho de D. Affon
modo: IXX9. E daqui se vê o pouco co so V. n. 42.
nhecimento, que ainda então havia em ALMAS. Pessoas, ou vidas de hum
Portugal do Algarismo. Prazo. Port mortem animarum vertra
ALJUBA. Vestidura Mourisca talar, rum revertaturad Monasterium. D. da
com mangas, que hoje dizemos faque Graça de Coimbra de 1278.
* a, por corrupção de Aljubeta. D. de ALMAZEM , e Armazem. Tomou
Pombeiro de 1399. V. Aljamas. se antigamente , não por todas as ar
ALIOS. Alhos. Dous moyos de cen mas em geral, assim ofensivas, como
teyo, e quatro carneiros: e se nom ouve defensivas, mas sim, e tão somente pe
rem os carneiros, quatro freámas, 1. las setas, dardos, quadrellos, pelouros,
alulude de manteiga, e 1. reste dº alios e tudo aquillo que se levava nas cartu
D. de Pend. de 1278. xeiras, carcazes, bolsas, aljavas, ou
ALLACIR. V. Aílacir. Muitos se hião patronas, e com que de longe se vare
para as herdades, e quintas , onde ti java o inimigo. V. Tarecena. Achárão
nhão suas caras , em que estavão no (na Tarecena de Targa em Africa) bom
tempo do seu allacir, isto he, no tempo bardas, polvora, falitre, ancoras, lan
da colheita dos seus frutos. Chr, do C. gar, coiraçar, capaceter, e outras mui
D. Pedro L. I. c. 13. tar ferramentar , e alniazem, que re
ALMA'FFEGA. Burel branco, e gros colherão. Chr. d'ElRei D. João II. c. 41.
seiro de que os nossos Maiores fazião Foi isto no de 149o. Aquella maldita
o seu dó. Ord. L. V. Tit. CXII. S. I. Não gente trazia mortal peçonha em suas
só os parentes, e amigos do finado ves armas de ferir, especialmen e no alma
tião delle por todo o tempo que durava zem. Chr. do C, D. Pedro L.I. c. 79.
o lucto; mas ainda outros quaesquer que ALMENARAS. Fogos artificiaes, e
o querião vestir por honra do defunto, convencionados, com que desde os mu
o podião fazer. Acabado o tempo da ros , torres, ou atalayas se dava rebate
tristeza os Testamenteiros lhes recom de inimigos, ou se fasião outros avisos
pensavão a fineza com hum vestido de aos que estavão distantes. O seu nume
Valencina, ou outro panno alegre, e ro, duração, qualidade, repetição &c.
festival. Mando que nqueller, que por servião de annunciar o que se passava
mim posserem almáfegã, que lhe-lo to Estes erão os Telegrafos, de que os nos
lham com rete rete alas (almas) de Va sos Maiores fizerão uso, e de que são
lencina, ou de viado. Test. de Gonçalo resto, ou perfeição os nossos Fachos. Lo
Peixoto, Senhor, da Quinta de Macieira es, Azurara , Pina, e outros.
de Sarnas, de 1569. Doc. de Pend. ALMEIZAR, e Almezar. Em hum
ALMARFAGA. O mesmo que Al D. de S. Thiago de Coimbra de 148o se
máfega. Dent eis almarfaga, si eam diz: Huum almeizar mourisco, listra
vestire voluerint. Assim consta do Test.
do de branco, e pollas bordas de verme
de Rodrigo Gonçalves, Cavalleiro, que lho, e nos cabos ambos, de cada cabo
havendo feito grandes roubos nos Mos huum palmo de branco-Huum alme=gr
azul.
AL AL 7
azul. Parece ser panno, que servia na posta, pela nossa teiga do Celleiro. Dº
mesa, cobrindo-a , e ornaado-a ; pois de Pend. de 1419. — Tres quarteiros fei
nenhum fundamento ha para suspeitar tor de pam segunda com maañposta, per
mos, que fosse vestido, ou camisa mou a nossa teiga da cortiça. Ib. An de 142o.
risca, que os Agarenos erão obrigados Quando se pagão os cabedais de pam,
a trazer, quando em Portugal não an e de vinho, oyto alqueires de pam segun
davão com o vestido proprio dos Mou da terçado , huum alqueire abraçado,
ros, e se dizia Almexía. e outro nom. Ib. An. de I477.
ALMUINHA. — Não se deve tomar ALQUEIRE sem braço posto, e sem
esta palavra tão estreitamente por hortaboa. Assim dizião o alqueire, que era
ta , ou pomar, que se não extendesse acugulado. Pedites de rattone, quam fo
algumas vezes a significar tambem hum lebant dare de cibaria, dent medietatem
predio urbano, ou campo tapado sobre per quartario de sexdecim ####
2

si, e não longe do povoado, que natu .fine % posito, et tabula. Foral de
ral, ou artificialmente se rega, e que Coimbra de I I I I. pelo Senhor Conde D
não só he apto para dar frutas, e hor Henrique, segundo se acha no Archivo
taliças, mas tambem linho, milho, e daquella Cathedral, e sem os grandes
toda a casta de frutos. Em hum D. de S. erros da Copia de Brandão na Mon. Lur
Christovão de Coimbra de 1317. se diz: P. III. Escrit. II. f. 387.
E devedes a almoynha em cada huum an ALQUIAR. Alquilar, alugar, dar de
no bem lavrar, e fruytevigar, e ster renda qualquer cousa movel, semoven
car, e chantar de bomas arvores hu mes te, ou immovel. Adubassem as ditas ca
ter fezer, e devedes a nír dar em cada sas, e as alquiassem, e os dinheiros do
huum desres dez annos vinte e tres li alquier, &c. D. de S. Christovão de Co
bras de dinheiros Portuguezes, e a de imbra de 138o.
zima do fruyto, que Deus em ela der.— ALQUIER. Aluguel. V. Alquiar.
E que estando medindo seu milho na dita ALROTAR. Hoje se toma por insul
almoinha, e tendo já apartado a dizi tar, ou escarnecer de alguem; por ja
ma do dito milho, a qual extima a hu étar-se, e presumir de si, assoalhando
um moyo, D. de S. Thiago da mesma Ci com vanglória as suas obras, virtudes,
dade de 1349. E finalmente, entre os Doc. e talentos: antigamente significou tam
da Collegiada sobredita de S. Christo bem, dar grandes vozes de piedade, e
vão se acha hum Escambo, que ella fez compaixão, pedindo esmola com clamo
com os Frades Menores de certas terrar res, e alaridos, ou ainda cantando ao
nas almuinhas além da ponte , ex vo som de varios instrumentos. Mandamos,
luntate, et mandato D. T., Colimbri que assim homens, como molheres, que
ensis Elečii. An. de 124o. Estavão estas andarem alrotando, e pedindo, nom usam
Almuinhas nas margens do Mondego, do dº outro mester, rejão catados (pre
para onde os ditos Padres mudárão o seu sos) pelas justiças de cada hum lugar.
Convento, que primeiro tiverão em S. Cod. Alf. L. IV. Tit. 81.S. 9. Deste mo
Antonio dos Olivaes. do he que as nossas Leis se armárão sem
ALQUEIRE de mão posta. Este era pre contra os ociosos, e vagabundos,
o alqueire medido entre o acugulado que inimigos do trabalho se propoem
(que se dizia Alqueire sem braço posto, viver á custa alhea, ensaiando-se talvêz
e sem taboa) e o arrasado que se cha na escola do pedir, para depois fazerem
mava Abraçado; porque com o braço, maioresd*# na arte de furtar.
ou rasão se aplanava. Mas quando tão Nas Cortes d'Evora determinou El
sómente se lhe punha a mão, nem raso Rei D. João I. , a requerimento dos Pó
ficava, nem acugulado. V. Alqueire de vos, que aquelles que não tem oficio,
braço curvado. Tres quarteiros de orgio nem vivem com Senhores, e se presume
abraçados , et atceigados, et ipsos ne vivem de mal fazer , sejão presos até
tos dent nobir panem mampostum , et que tomem oficio, ou amo, e não que
ateigadu. D. de Arnoia de 1267.—Tres rendo continuar esta vida, sejão publi
quarteiros de pam segunda com maaom camente açoutados. Ib. Tit. 34, § 1.
8 AL AN
ALVIDRADORES. Assim forão cha dos Bérteiros do Conto (isto he, do nu4
mados, e tambem l'aliadores, Avalia mero, que em cada Cidade, Terra, Vil
dores, ou Estimadores os que hoje di la, ou Concelho havia de haver) e tam
zemos Louvados do Concelho. A estes bem os Galioter, ou homens do mar. Os
nada pertence de Direito, mas sim, e tão primeiros não devião ser Lavradores,
sómente o que he de feito; á diferença mas sómente Céeiros de mesteres, que
dos Juizes Alvidros (Arbitros) que co erão oficiaes mecanicos, e casados. Os
nhecem assim do feito, como do Direi segundos devião ser tirados das Vinte
to. As avaliaçoens, ou estimaçoens dos nas do mar, que erão companhas de 2o
A/vidradores se chamárão Alvidramen homens, cujo capataz se chamava Vin
tor: a acção de avaliar Alvidrar: O seu taneiro, por governar sobre 2o: destes
juizo, arbitrio, e parecer Alvídro. Cod. se devião tirar os que servião nas Reaes
Alf. L. III. Tit. II4. Dos juizes Alvi Armadas. Não havendo Mesteiraaer, se
dros se trata no Tit. I 13. tb. Dos Alvi podião fazer Bérteiros do numero os que
dradores ainda na Ord. L. III. Tit. 12. não tinhão mester, sendo mancebos, e
ALVIDROSO. A. Arbitrario, a jui capazes ; com tanto que tenhão casas
zo de Varão prudente. Ainda que aja per mantheudas, com suas molheres, e man
que correga, e pague as custas, de-lhe cebas theudar, e nom sejam lavradores.
de mais huma pena alvidrosa, qual vir Os Bérteiros do Conto devião ter béstas
que merece. Cod. Alf. L.V. Tit. 3o.$ 11. fortes, e que se não armassem se não com
AMERCEAMENTO. Commutação folga, e com pollé, para com ellas arma
da pena corporal. V. Amerecar-se. Ha rem maior bésta, e mais folguadamen
verá mais (o Marichal) todos os amer te. Tinhão estes Bérteiros seus Privile
ceamentos da horte, a saber, todo aquel gios, e Isençoens; mas para lhes serem
/o que Nós per via de graça, e mercee guardados, devião elles manter em suas
mandar-mos pagara alguum per mal que casas certo numero de aguias, e dar as
haja feito, perdoando-lhe a pena, que mãos dellas aunualmente ao Almoxarife
principalmente merecia. Cod. Alf. L. I. d'ElRei, ou ás suas Justiças no mez de
Tit. 53. S. 3. Maio, ou pelo S. João. Cod. Alf. L. I.
AMO. OS. — Antigameute chamavão Tit. 68. per tot. E note-se a lembrança
os Fidalgos seus Amos áquelles, que lhes das aguias domesticas, a beneficio da
tinhão criado os filhos. Cod. Alf. L. III. lavoura; pois consumião, e extermina
Tit. 117. § 2. vão as aves daninhas, os ratos, e inse
AMOORAR, e Amorar. — Retirar, étos, que tanto ditrimento causão aos
apartar, encobrir, sonegar. Nem devedes frutos, e searas. Introduzido depois o
amoorar, nem frutar nenhua coussa do uso das espingardas, e clavinas, esque
que ouver nos herdamentos , atá que o cerão-se as aguias, e forão obrigados os
nosso Prioste nom parta com vosco. D. póvos a presentar nas respectivas Cama
de S. Pedro de Coimbra do Sec. XIV. ras hum certo numero de cabeças de par
Escondem, e amoram os bens movees de daes, ou ratos; mas tambem esta dili
guisa, que renam pode em elles fazer gencia se acha quasi abandonada, resga
execuçam. Cod. Alf. L. III. Tit. Io6.S. tando-se com huma pequena multa ne
I. V. Amorado, e Amorar. gligencia tão fatal para a conservação,
AMORETE. Certo panno. O meu co e augmento daquellas producçoens, que
rame dº amor ete, e o meu forame do mar tem o lugar primeiro nos usos da vida,
vila Fernando, conlaço de D. Durdia. e riquezas do Estado. V. Couteiro, Man
Doc. de Pend. de 1294. gra, Sacarías, e Sesmariar.
AMURUJAR. Cobrir d'agua, limar ANDADORI’A, ou Andoria. Minis
o predio , o campo. Agua do rio pera terio, ou serviço de Andador, a quem
amurujar seus campos.D. da Vniv. de pertencia a leva, e guarda dos presos.
1465. V. Andador.
ANADARI’A. — Cargo, oficio, ou ANDAIEM. Casa de hum só andar.
Ministerio do Anadel Môr. Da sua ins Fazemos Prazo de huma andaiem deste
pecção era o alistamento, e apuração Mosteiro (de Pedroso) e que a *#
ef •
AN AN 9
desper vossas pessoas, e non per outras. Instrumentos se deu tambem o nome de
D. da Univ. de 1423. Privilegio, ou Placito. Siva isto de cor
ANDAR em Paço. Estar, ou andar na recção ao que se disse. V. Annicio. No
Sala livre, que antigamente se chamava de Io78, reivindicou Vistrario, Bispo de
Casa da adova, # nella andavão Lugo, para a sua Igreja varias herda
os presos por culpas leves com grilhº des, que os Condes Vela Ovekiz, e Ro
ens, ou algemas, á diferença dos que drigo Ovekiz lhe tinhão usurpado: foi
tinhão grandes crimes, que eráo postos isto em Juizo contradictorio ; e depois
nas enxovias, e ligados a cepos, ou ca de hum largo exame dos respectivos Ti
dêas de ferro. Perõ se o preso quiser pa tulos, os Condes reconhecérão a Justi
afo , ou andar em ferros pela casa da ça do Bispo, e a confirmárão, e promet
prirom, que antigamente se chamou, an terão estar pela Sentença d'ElRei D.
dar em paaço, sem jazer aprisoado na Affonso VI., a qual principia: Dubium
cada, &c. — Se o preso for aconthiado quidem non est &c.; e a sua Epigrafe
em Cavallo, ou Vassallo, ou Mestre de he: Privilegium, seu Placitum Annun
Náao de Castello d'avante... e quiser ciacionis. { Sagr. Tom. 4o. f. 417.
paafo , que se agora chama, casa da ANRRIQUES, Moeda de Castella,
adova, sem jazer mais aprisoado na de que veio muita a Portugal: ao prin
cadéa , e o seu feito for tão leve, &c. cipio erão de receber: depois os falsifi
Cod, Alf. L. I. T. 33. in pr. e T. #### cárão , e por isso derão occasião a se
ANNO máo. Foi este anno o de fazer particular Regimento no de 1471
1124. Da terrivel fome, e peste que nel sobre os seus quilates, e modo com que
le se experimentou em Portugal, do in havião de entrar na arca do Cainbo, L.
calculavel numero de # , que }Yer. do Sr. D. Afonso V. n. Io. Em o
estinguio, e do excessivo preço a que n. 12. se declara, que os Primeiros Henr
chegarão os generos da primeira neces riques forão mandados correr neste Rei
sidade, tratão os nossos Historiadores, no a 34o reis: e os segundos erão de tão
e Chronicoens. Este calamitoso anno baixa liga, que, segundo o seu valor in
chamado máo por antonomasia, servio trinseco, nem 2oo réis devião valer.
de época a muitos Documentos. Em hu ANUGAR. Renunciar todo e qual
ma Carta de Venda de Pend. de 1 125 se quer Direito, que alguem tenha, ou pos
lê: Irta Carta fuit facta uno anno post sa ter. Martim Pirez, Cavalleiro de Lo
annum malum. brígos, deu a Maria Pirez sua mulher,
ANNOS. O Agnus Dei da Missa. huma herdade em Villa Marím por com
Huum Livro Santal de oficiar as Mis pra do seu corpo. E ella por esta Doa
ras, com Glorias, e Kirior, e annos.D. ção diz: Anuiço a vós, Martim Pirez
de S. Pedro de Coimbra de 1414. meu marido, a Carta de meyedade, que
ANNUNCIÃO. Até o Sec. XIV. se entre mim e vós á, que nunca possa va
achão entre nós muitos Instrumentos de ler a nenhum tempo em jhoyzo, nem fó
Annuncião, Annunciação, Nucião, 4 ra de jhoyzo. E outro ri, anufo ás Car
nição, Óºc, que não parecem ser cada tas, que eu ei do casal da Torre... E
# delles huma simples Noticia; mas eu Martim Pirez fobredito, outro ria
antes hum Reconhecimento solemne da muço essa Carta de meyedade. D. de
Justiça, e Direito, que assiste á Parte Arnoia de 1287.V. Nucion.
opposta, e Aceitação da Sentença pro ANORMOLO. A. O que tem irre
ferida : ou mais bem Renunciação au gularidade, exhorbíta, e discrépa da
zhentica de toda , e qualquer acção, natureza, e qualidades das outras cou
que o vencido podesse ter na cousa d' sas; o que não segue a regra commum,
antes litigiosa, e agora judicial, ou determinada, e certa: quasi fine rega
amigavelmente decidida, perante o Se la, seu a regula deflectens. Hoje dize
nhor da terra, e os Homens-boms; exa mos Anomalo, e Anomalía. Cod. Alf.
minados os Titulos , Noticias, Testa L. III. Tit. 56.
mentos &c, que as Partes adduzião abe ANO'VEAS. Nove vezes outro tan
neficio da causa. V. Verdade. A estes to. Nas Cortes de Santarem mandou El
B Rei
IO AN AP
Rei D. Affonso IV. ue do I.º furto se de Coimbra de 14oI. V. Divído.
possão livrar por Anóveas os que forem APOIMENTO. Posição , acção de
Zirinhos , ou naturaes do lugar , cujo por alguma cousa, postura. E porque se
Foral lhes conceda este Privilegio : E elo nom aviamos, o apoimento do reelo do
que aquelle que houver de ser anoveado, ditto Abbade outorgamos. D. de Bostel
o seja por este modo: Que o levem ao lo de 13o8.
pee da forca com o baraço na garganta, APORTALECER. O mesmo que
e com as maños atadas de traz, e ali Portalecer. Ainda elles bem nom porta
pague, e entregue todalas nóveas, e o leciam, quando os Mouros endereçarom
dobro ao Senhor da cousa, e a Setena ao a eller. Chr. do C. D. Pedro L. II. c. 28.
Senhorío; e se o assi logo nom fezer, en APORTELLADO. Oficial do Con
forquem-no. Estas Anóveas erão para El celho, e da Justiça abaixo do Juiz. No
Rei. E para isto milhor reer guarda de 1314. mandou com graves penas El
do , e se nom fazer by outro engano, Rei D. Diniz, que nenhum contrato se
nem escondimento: Temi ElRei por bem, fizesse, e firmasse por juramento, ou á
que estas nóveas nom sejam rendadas boa fé; por quanto os que a ella falta
daqui em diante, e que as ajam de veer, vão erão infames, e não podião ser Con
e tirar os seus Almiuxarifes. Cod. Alf. selheiros dº algum Rei, nem de nenhuum
L. IV. Tit. 65. V. Nóvea. outro Commum, nem podiam ser juizes,
ANTREPOIMENTO. Interposição, nem Aportellados, nem podiam aver ne
tempo ; ou cousa que se mette de pre nhuma honra, nem algum Officio de jus
meio. Continuadamente teverom guerra, tiça. E assim manda que se cumpra. Cod.
sem nenhum antrepoimento de paz. Chr. Alf. L. IV. Tit. 6. N. 1. e no L. V. Tit.
do C de D. Pedro de Meneses. L. I. c.76. 13. (qnehe : Do que casa escondidamen
APARTAMENTO.—Cêrca, muro, te com mulher virgem , ou viuva, que
fortaleza, torres, castellos, e quaesquer está em poder de seu Pai, ou Mái, Avô,
outras obras de fortificação, e architec ou Tutor sem sua vontade ) se poem a
tura militar. Ardendo esta Cidade ( de Lei de D. Affonso IV. que no § 2. orde
Lisboa) a fogº de sua gram tribulaçam, na, que os que assim casam fiquem en
na forfa da sua maior quentura (que famados pera sempre , de guisa, que
era aficamento de # cerco, e ro nom possam aver honra, nem reer apor
frença de muita fame) o apagou Deos; tellados nos lugares hu_viverem, e a
porque seu apartamento nam prestava çoutem-nos per toda a Villa , onde esto
coura alguma que fazer podes reis con acontecer, e ponham-nos fóra della pe
tra o poderío d'ElRei de Castella. Lopes ra sempre. E se forem Fidalgor, sejam
Chr. P.I. c. 151. defamador, e nom aportellados pera tem
APARTAR dos bens, ou da herança. pre, e deitados fóra da terra. Em Doc.
Esta era huma frase Testamentaria, que de Lugo de 1295, e 1312. se toma Apor
entre nós se acha até os fins do Sec. XV. tellado no mesmo sentido. Hesp. Sagr.
Por ella declarava o Testador ser a sua Tom. 41. f. 387.
ultima vontade, que os seus parentes, e APOSTO. Ornado, limpo, aceiado,
adherentes (não sendo herdeiros força grave, decente. E deitalo no mais apºs
dos) não tivessem a mais leve parte nos lo leito, que poderem haver. Cod. Alf.
bens que deixava, e contra o que no seu L. I. Tit. 63. S. 2o. V. Aportado.
Testamento expressamente dizia. Huns ARADOIRO.— Assim se chamou o
os apartavão v. g. com hum arratel de li arado. Duas enxadas, dous aradoiros.
nho, ou de laã; outros com hum puca D. de Pend. de 1326.
ro de agua, outros com hum soldo,&c. ARAL. —Unum medium de uno aral,
Porém o commum era despedillos com cum sua casa, ó cum vinea, Óº cum
sinco soldos a cada hum. V. Avendar. E sua aqua. D. de Paço de Sousa de 1116.
que apartava todolos seus parentes, e ARCA. V. Mamôa.
parentar, que avia, que a seus bens ARCA da Piedade. A caixa , ou co
quissessem entrar, com cynco cynco sol fre onde se recolhia o dinheiro aplicado
dos a cada huum. D. de S. Christovão para a redempção dos captivos. L.V."# •


AR. AR I I

de D. Afonso V. n. 38. que com polvora se disparão. Porém mui


ARDEGO. — Tambem se tomou no to antes que a polvora se inventasse, ou
sentido de arduo, pesado, difficultoso, ao menos fosse usada na Europa, ehamá
intrincado. Por alguums ardegos nego rão os Portuguezes Artelharias a toda
cios nom podia correger as condiçoens do a casta de armas ofenssivas, e defenssi
dito Emprazamento. D. de S. João de vas, engenhos, maquinas, artificios, e
Almedina de Coimbra de 146o. petrechos, de que no campo da batalha,
ARENZO.—Em hum Doc. de Ovie desmantelamento dos muros, assedio,
do do Sec. XII. (ap. Hesp. Sagr. Tom. e escalada das Praças, ou ainda no con
38.) se lê: Centum arenzadas de vineis, ficto naval regularmente se usava: o se
e já no Sec. XI. se achão estas arenzadas. tem efeitos, e producçoens da arte lhes
Persuado-me era cada huma o que hoje rendeu o nome de Artelharias. No Re
em Galliza se diz Azumbra, que he a gimento da guerra, que se atribue a El
nossa canada. E esta com o nome de A Rei D. Diniz se lê: Fazermollo occupar,
renzo se pagaría de cada carga de vi e afortelezar com gentes dº armas, e ar
nho , que entrasse em Folgosinho. telharias por tal guisa, que nom lhe pos
ARGAANS. Alforges, trouxas, ta sa reer dado soccorro. Cod. Alf. L.I.T.
leigas, mochilas Levavam suas viam 51. S. 35. e no S. 37. se chamão Artifi
das entrouxadas em argaans, e em ta cios estas Arte/harias. No mesmo Cod.
leguas, e nom queriam levar outras L. IV. Tit. 63. entre as cousas que são
bestas.. E por que sua vianda levavam defesas aos Christãos levar a terra de
assi como dito be, chamarom-a sempre Mouros, são Artelharias, a raber, en
depois taleigar. Cod. Alf. L.I.T.65.$.5. genhos, bombardas, escallas, e outras
ARGENTARI’A. Vêas d’ouro, e pra quaesquer couras necerrarias , ou pro
ta, e qualquer outro metal, que cada veitoras pera feito de guerra.
hum podia cavar; pagando de entrada No Acta Sanctorum (Tom. 1. de A
a ElRei 8 scropulos d’ouro (cada hum bril f. 159. ) se diz, que Artilharia se
dos quaes valia huma corôa d'ouro) e tomava antigamente por toda a munição
em cada hum anno 7 scropulos d’ouro, de guerra, em que tinha o lugar primeiro
e dos outros metaes 14 onças, e duas a Balista que em França se chamava ao
dizimas de todo o metal que purificar, principio Arcatirer, quari arcus trac
sendo cavado em terra d'ElRei; sendo tilis, por ser conduzida sobre rodas: e
porém a terra de algum particular, hu que chamando-se depois Arctirerie por
ma dizima a ElRei, e outra ao dono da euphonía se disse finalmente Artellerie.
terra. Cod. Alf. L. II. Tit. 24. S. 26. De Trabucor, e Arietes usárão os Ro
ARRACEF. Recife, ou arrecífe. In manos : com aquelles arrojavão grandes
Aquilone haereditas de Maria Godiniz, pedras á força de nervos, e os que os
cº illud arracef— Ab Africa parte manejavão, borneavão, e assestavão se
per illum arracef. D. da Univ. de 1164. dizião Libratores: com estes arruinavão
º e II 66. os muros, torres, e portas, repetindo
ARRANCOAR , ou Arrencoar-se. golpes de cabeçudas traves... Daquella
Queixar-se, agravar-se. Fará direito a Nação belicosa he tambem a Catapulta,
aquelles, que se ende arrancoarem. Cod. com qne se disparavão não só pedras,
Alf. L. II. Tit. I. art. 2. mas tambem lanças de fogo, dardos,
ARRE'DA. O mesmo que Avendo. garrochas, setas, quadréllos &c. No ar
Cinco cinco soldos por arréda de todolos senal doSerralho de Constantinopola, en
meus beens. D. de S. Pedro de Coimbra tre algumas armas antigas, e do tempo
de 1337. medio, se vê ainda huma Catapulta, e
ARTELHARIA. Hoje damos o no Mr. de Laporte no Viajante Universal
me de Artilharia a toda a qualidade de Carta 13. presume que talvês não have
peças, morteiros, obuzes, canhoens, rá outra agora em todo o mundo.
colubrinas bastardas, e legitimas, falco Das Catapultas nascêrão as Bombar
notes, pedreiros, savres &c, que descan das, não só para despedirem armas de
são, ou são conduzidas en carretas, e arremesso, mas particularmente para ba
B ii tCF
I 2. AR. AR.
ter, e desmantelar as muralhas, e quaes No de 1368. já havia quatro grandes Ca
outras obras, que exteriormente defen nhoens na Fortaleza de Harefieu (V. Ai
dião os lugares defensaveis. Do Grego rafral) porto de França. Chegou final
Bombos (o estrondo) e do Latino Ardeo, mente o anno de 138o, em que Cons
dizem alguns nascéra o nome de Bombar tantino Anclitzen , natural de Fribur
da , pelo grande estampído, e abrasa go, fundio Canhoens de bronze, acom
mento de materias inflammaveis. Em Di modados á polvora , e bala, e poz tu
namarca, e outras partes do Norte, he do o que hoje dizemos Artilharia em
antiquissima a Bombarda , como Olao hum respeitavel gráo de perfeição. Vid.
Maggo faz ver com diversas figuras : e Duc. V. Bombarda, Canóner, e Trumba.
não falta quem diga, que ali teve o nas Todas as tres partes do mundo então
cimento; afirmando outros que foi na conhecidas se aproveitárão destas armas.
Lombardía, e que por isso os Hespa Na batalha de Aljubarrôta foi pela pri
nhoes lhe chamárão Lombarda. Tambem meira vez que os Portuguezes virão Ca
se chamou Barilisco, e Passavolante. nhoens, que os Hespanhoes, para seu
O Chronicón Travesino descreve a Bom dano , ali fizerão conduzir : os nossos
barda deste modo: He hum instrumen Maiores lhe chamárão Trons por ono
to, ou fistula de ferro fortissima, com matopeia, pois imittavão no fragôr, e
hum largo bocal, em que se poem as pe estampido o mesmo trovão, e ainda ho
dras redondas, que se pertendem dispa je dizemos Troneiras as aberturas do
rar : a parte posterior he dous tantos muro por onde entrão as bocas dos Ca
mais comprida, que a anterior, e nella nhoens. Porém o uso dos Troms, ou Ca
se lanfa hum p3, negro, composto de ra mhoens não embaraçou, que ainda por
litre, enxofre & e. Houve Bombardas muito tempo se não ficasse usando das
de prodigiosa grandeza. Foesardo (vol. Bombardas. Na Chr. d'ElRei D. Affon
2 e 193) faz menção de huma, que ti .ro V, c. 14o. diz Rui de Pina: Foi a
nha 50 pés de comprido: de dia se ouvia Pilla de Alcacere pellos Mouros com
na distancia de 5 legoar o seu tiro, e de bombardar, e trons , e outras armas ,
noite dez : quando disparava parecia e com huma irosa perfia muitas vezes
que todos os demonios do Inferno ali se combatida. E logo conta, que os Mou
achavão: tal era o espanto que mettia. ros fizerão trazer huma Bombarda gros
A sua figura, imittando o troço da ca sa, das que no tempo do Palanque ficá
na ôca , e sem miolo, confundio algu rão aos Christãos em Tangere,a qual lan
mas vezes o nome de Bombarda com o çava pedras de 4 quintaes de peso, que
de Canhão, a que os Ingleses chamárão logo foi armada, e enserada (assesta
Guna. A bala do Canhão desde logo foi da ) e fez alguns tiros , mas sem o de
de pedra, e algums fundirão os Túrcos zejado efeito. E na Chr. do C. D. Pedro
no tempo de Amurhates I. ( que mor de Meneses L. I. c. 76. diz Zurara, que
reu no de 1389 ) de calibre de 44 arro os Mouros quizerão derribar o muro de
bas, e 33o arrateis de polvora. E deste Ceuta á força de pedras, lançadas por
tempo parece ser a monstruosa Bombar duas bombardas mui grossar ; mas o
da , ou Canhão que ainda se conserva no Conde mandou logo que dous engenhor
Castello da Cidade de Pinhel. Rapida atirassem para onde as bombardas esta
mente se foi aprefeiçoando esta maquina vão. E o Mestre dos engenhos do Cou
tão funesta para a vida dos mortaes. Em de, como homem ensinado naquelle Off
França se usava já de polvora no de cio esguardou bem o geito por onde as
1338: os Ingleses atiravão já com balas pedras começárão de fazer tiro, e man
de ferro no de 1346. No de 1354 o gran dou que o avisassem do tempo em que se
de Chimico Fr. Bertoldo Suvarte (que os Mouros aparelhavão pera tirar. E
huns dizem ser Religioso de S. Francis quando elles quizerão pôr fogo á bom
co, outros Monje de S. Bento) se não barda , o dito Mestre enderençou assi
descobrio , he sem duvida que aperfei seu artificio, que ao tempo que a bom
çoou grandemente a polvora, da qual barda estava para desfechar , fez car
Já no de 136o se usava nas Bombardas. regar o engenho de mais pedra, edar
CD foi
AR. AS I$
dar no meio da bombarda, que foi fei contraria. L. Verm. de D. Aff. V. n. 6.
ta em muitos pedaços, com morte do ASSERTOR da paz. No Cod. Wissig.
Artilheiro, e de três outros, que o aju se disse Pacis Assertor, o destinado pe
davão. Tal foi a origem, e progressos lo Principe, como Juiz Arbitro para ter
da nossa Artilharia. minar, compor, e decidir as lites, e con
ARTILHARIAS. Este nome se deu, tendas. No Fuero fuzgo se traduzio =
não só a tudo o que erão armas, e petre Mandadero da paz. Porém quando se
chos de guerra, e á carriagem em que el acha simplesmente Assertór, não signi
les se conduzião; mas tambem a todos fíca Juiz, mas tão somente Procurador,
os trastes moveis, e utensís, que se a que algum dos litigantes constitúe para
chavão dentro de huma casa, e que erão comparecer em Juizo em seu nome, e o
efeitos da arte, precisão, ou gosto do dito Fuero traduz Personero, porque re
seu habitador, como quadros, espelhos, presenta a pessoa do seu constituinte.
colheres, pratos, facas, roupas, tape Hoje se toma Assertor por aquelle,
garias, louças &c, a que os nossos Maio que afirma, propugna, ou defende algu
res deráo tambem algum tempo o no ma cousa, v. g. a concordia, a liberda
Ine de Montade.r. de, a paz, &c. •

ARTILHEIRO. Na Baixa Latinida ASSESSEGAMENTO.Quietação, so


de se disse Arterius o Sagitario, ou bem cego, tranquilidade, descanço. Do ver
instruido na arte de atirar sétas: que mui bo Assessegar. O guerrear, nom embar
to logo se acommodasse depois o mes gante que haja em si maneira de destru
mo nome ao que era versado, e instrui ar, e matar; peró com todo esto quando
do na Pirotenica, e principalmente no he feita (a guerra ) como deve, aduz
manejo das Artilherias ? Em huma Car despois paz, de que vem asses regamen
ta de Sesnando, Bispo do Padrão, ou to, e fulgura (folgança, folguedo ) e
Santiago, de 914 se diz: Per ubi divi amizade. Cod. Alf. L.I. Tit. 51. in princ.
dent cum artillero, terras ruptas , Óº ASSONJO. Catadupa, ou despenha
inruptas, cum arborer, bausas, Óº fel deiro de hum rio, que com horrivel es
garias. Ducange V. Felgaria. E de que trondo se precepita; ajoujando , e atur
obuzes, morteiros , peças, ou bombas dindo aos que residem, ou chegão ás
seria este artilheiro no Sec. X? Era pois suas visinhanças. Alli onde se despenha,
daquellas maquinas, artificios, ou en se chama o Assonjo, por o grande raido,
enhos, que naquele tempo se usavão. e estrondo, qne a agoa faz ; caindo de
avia por tanto artilheiros , muito an lugar tam estreito, e tam alto, que da
tes que a nossa artilheria se praticasse. hi ao pego são desas reis braças. Duar
ASEGOO.Chão, terrado, assento. O te Nun. do Lião na Descrip. do Reino de
pé de huma nogueira com seu afeçoo. D. Port., que acabou de escrever no de
de S. João de Eyriz de 1558. V. Sersega, 1599 ; tratando do rio Guadiana, e da
- ASMAR. O mesmo que Osmar. E famosa catadupa, que ele forma entre
bem asmo, que mi devem ainda a tornar as Villas de Serpa, e Mertola. c. 13.
mais da gança da terra. D. de Pend. Cahe pois o rio em hum pégo, que te
de 1289. rá Ioo passos de largo, e 85 braças de
ASSADO de porco. Pedaço de lom altura; correndo pouco antes por dous
bo de porco, a que ainda hoje chamão canaes tão estreitos, que cada hum não
as radura. Huum assado de porquo á Ey tem mais que hum só passo de largo; e
greja do Escamaroni, assi como pagam ajuntando-se logo passão por baixo de
os outros carreiror. D. de Pend. de 1481, huma ponte de pedra nativa, que a na
e 1485. Não se declarando de que he o tureza formou, e pela qual se passa de
assado, entende-se por magusto de cas huma á outra parte. •

tanhas. V. Assado. ASTROSIAS. Superstiçoens, advi


# ASSENTAMENTO. Lugar, em que nhas, e qualquer jogo da sorte, ou da
alguem se assenta, assento. O bamquo fortuna, em que o vulgo se persuadia
do assentamento (dos Embaixadores) influirem os astros, e tambem as más ma
em rua Capela reponha da outra parte nhas, inclinaçoens, e costumes. 17°03'0.

V. As
14 AT AV
troso. Castiguem os moços de todalas duzia de boas linguainças de porco bo
rapazías, astrosías, e royndades. D. as , e recebondas, pagaas ao avençal.
de Santo Tyrso de 14oo. * •
D. da Univ. de 1443.
ATAREGA. — Os Hespanhoes dis AVENDAR. O mesmo que Apartar
serão Ataraçanas o que hoje dizemos dos bens, ou da herança. Em hum D.
Tercenas, e os nossos Antigos Tarace de S. Christovão de Coimbra de 138o se
nas, e Terecenas, que erão os Arsena lê: Faço minha Testamenteira , e her
es, onde se fabricavão as frotas, e se deira minha mulher, e avendo dos meur
guardavão os materiaes de que ellas pre beens aquelles , que se chamão meus fi
cisavão, e todo o armamento, com que lhos, e meus parentes, e minhas paren
elas se guarnecião. Daqui parece natu tas, com cynco cynco soldos, que lhe ley
ral se dissesse, e tomasse Atareça pelo . :co por avendo delles.
carcaz, em que as setas se guardavão, AVENDO. Separação, apartamento,
ou por qualquer patrona, ou bolsa, em acção de pôr fóra, alongar, e excluir.
que diversas muniçoens se recolhião. Vid. da herança, desherdação. V. Avendar.
Blut. V. Taracemã, e Du Cange V. Ata AVER alguma mulher de virgindade.
raçane. Era pois Atareça synonimo de Deshonestar-se com ella, corrompella ,
Alinazem, e o Testador no Doc. V. A estando ainda virgem. Sendo querellado
tarefa não so deixa as suas espadas, e per alguma molher dº %"|
homem, que
a ouvesse de virgindade per afaaguo,
lança, e todas as mais armas defensivas,
mas tambem as que costumavão andar nas enduzimento, ou dadivas que lhe desse..
cartuxeiras daquelle tempo.V.Almazem. seja prezo, e trazido ao lugar, onde
ATENDA. Dilação, espera, morató se diz a dita virgindade seer corrompi
ria. Nom desse atenda, nem espaço por da , &c. Cod. Alf. L. V. Tit. 9. S. 2- e
coura, que lhe em nome d'ElRei ouves Tit. 1o. S. I.
se de reer paga. Cod. Alf. L.II. T.43.S.I. AVINDOR. — He verdade que nas
ATONDO.—He synonimo de Apres Cortes d'Evora, terminadas em Vianna
tamo. Em huma Doaç. de certa herdade, dº apar d’Alvito, os Povos requererão
que Gavíno Froilaz fez a sua mulher, se vindores, ou Atlyndeiros; porém El
lhe sobreviver, e estiver á obediencia do Rei D. João II. lhos não concedeo; per
Abbade Exemeno, se diz: Exceptis illa mittindo só que quem quizesse fosse A
mea creatione, quos ingenuo pro reme vindor. Depóis disto ElRei D. Manoel
dio anime me e, Óº meas ibitiones, cum pela sua Orden. e Regimento de 2o de
suor atondos, Óº mea stramenta. Excep Janeiro de 1519, instituío os Concerta
túa pois os seus escravos Mouros (que dores das demandas, que deveria haver
chama Creação) e as suas bêstas de car em cada huma das Cidades, Villas, e
ga ( que então se dizião Ibicoens ) com Povos, assim como nos Tribunaes, e
os seus Atondor, ou Aprestamor, e as Casas da Supplicação, e do Civel. O seu
suas roupas, e peças de cama. A primei Oficio era compor as partes para evi
ra vista se representa que Atondos diz res tar, ou concluir sem delonga as ruino
peito a Ibiciones; mas a verdade he, que sas demandas, e arredar outros grandes
a preposição cum faz aqui as vezes da males, que não cessão de oprimir os re
voltosos, desafeiçoados, e discordes.
conjuncção et, e o suos se escreveo por
meos, segundo o bom Latim daquelle Porém estes Avyndeiros, ou Concerta
tempo. D. de Pend. de 1688. V. Apres dores, ou não chegárão a estar em uso;
tamo, Laudomaner, e Prestamo. ou não durárão muito tempo: e hoje só
ATRENADO. Tres vezes em dobro. no L. Velho, ou 2. da Supplicação a f.
Mandamos que opaguem atrenado, a sa 56 temos a Copia deste Regimento, don
de muitos o copiárão. •

ber , frer vezer quanto montar em esse


danipuo, que assy fezerem. Cod. Alf. Mas já #o fiagello das demandas
L. V. Tit. 45. S. 14. parece ser huma consequencia fatal das
AVENGAL. Cellareiro, o que tem nossas culpas, e as desordenadas pai
inspecção sobre os mantimentos de hu xoens não sofririão convir no seu exter
ma Communidade. V. Ovençal. E huma minio total: quanto seria para desejar»
que
AV AZ 15 |
• •

que prudentes, e caridosos Avindores as IV. Tit. 37., e 38. pertot, . -

suprimissem no seu nascimento, ou que AVONDANGAS. Diligencias, cau


ao menos nos Tribunaes ellas se não tellas, requisitos para alguma cousa se
eternizassem ? Que dourados seculos , fazer com justiça, e razão. Efeitas to
quando os Homens boms decidião ver dalas avondanças , que entom os dem
balmente, e sem appellação, nem agra a quem os correga &c. Cod. Alf. L. IV.
vo os litígios, e discordias dos seus Con Tit. 8I. S. 28.
cidadãos!. Que felices, que ditosas gen AZERVADA. Palissada, reparo fei
tes as que ainda hoje ignorão o processo to de ramas, troncos, e páos, estacada.
infinito de tantos apices, e rimulas fo Ainda hoje se diz Azevre, hum paraven
renses, em que a verdade se confunde, to, ou biombo feito de ramos para res
e talvêz a cousa demandada não iguala, guardar as eiras. Andaram pela espersu
nem com muito, a importancia das des ra do mato, e alli quizerão fazer huma
pezas!. Quantos Monarchas Portugue azervada, em que pensavão de se sal
zes, e verdadeiramente Pais de seus Vas var; mar os Mouror recreciam cada véz
sallos , providenciárão á expedição muito mais , e cada bum entendeo em
prompta do Foro, para que as Armas, guarecer por sua parte. Chr. do C. D.
O Comercio, Agricultura, e as mesmas Pedro L.I. c. 44.
Artes não sofressem por falta de tanta AZEVA'M. O mesmo que Azeúma.
gente, que consome sem remedio a vi Aa Cruzada x. ff, e 1. capelo de fer, e 1.
da , o tempo, e a fazenda , arrastada lanca, e I. azevám. D. de Pend. do Sec.
pelos Auditorios, e atulhando as portas XIV. Azavam. V. Foramon.stãos.
duras dos Ministros, e quaesquer outros AZEUMA. O mesmo que azagaia,
Oficiaes de Justiça!. Mas o cabo dos lança curta, e arrojadiça. Manda ElRei
males viria a ser, quando os Procurado que os Monteiros pousados da matta Re
res, e Letrados ( pagando-se unicamen al de Botom sejam escusos de pagar Ju
te pela tarifa da sua avareza) longe de gada, se teverem caaens, e azeúmas, e
serem Avindores , abreviando dias tão vozinas, e não tomarem (de renda) her
máos aos seus Clientes, elles os enredas dades alheias conluiosamente. Cod. Alf.
sem cada vez mais, e mais ; fazendo L. II. Tit. 29. S. 25.
rangearía de roubos, em quanto aquel AZINTAL. Occidental , que está,
es miseraveis morrem de famintos!. Ve ou fica da parte do Occidente. Mando
ja o Senhor Deos, e julgue. Ele inspire deitar meu corpo foo coberto dº ante a
aos seus Ungidos o caminho facil de hu porta do azintal da Eygreja de S. Pe
ma Justiça menos dispendiosa, e sem dro de Coimbra. D. desta Collegiada de
delongas. V. Pontaría. I 2.2 I.

AVYNDEIROS. V. Avindor. "AzoREIRAs, e A……i… No


AVOENGA. — ElRei D. Affonso II. Doc. de Oviedo do Sec. VIII, IX, e X.
pôz Lei para que se não vendesse , ou ap. Hesp. Sagr. Tom. 37. se tomão cons
empenhasse fazenda de raiz, que viesse tantemente no sentido de matos, mou
tas, ou devezas, destinadas principal
por Avoenga, se não a Irmão, ou ao pa
mente para lenhas. Em Portugal tiverão
rente mais chegado. Mas isto, por ser
contra o Direito commum, nunca se a mesma significação até o Sec. XIII. V.
usou. ElRei D. Affonso IV. reduzio a Azoreira
escrito a Lei da Avoenga, que até o seu B.
tempo se praticou, e D. Affonso V, man
dou que se guardasse: Por ella pode to
do o homem , ou mulher demandar a B ACHALER. ES. Beneficiado de hu
herança, que foi da sua Avoenga, dando ma Cathedral. V. Assirio. E facam en
tanto por tanto; mas devem ser de re tom vyr os Priores da Villa (Cidade)
vora comprida, isto he, elle de 14 an e Raçoeiros, e bachaleres dizer as Ho
nos, e ella de 12 completos: além dis ras, e as Missas, que som theudos. —
so devem-na demandar dentro do anno, Item: mando, que na quel dia, em que for
e dia, que ella se vendeo. Cod. Alf. L. soterrado aa vespera venham os #(27"6'4'
16 BA TBE
leres dizer Vespera, e Matinas de nove BEILHOOS. Castanhas assadas, é
# D. de S. Pedro de Coimbra de limpas já de toda a casca. Ainda hoje na
I364 Beira # se dizem Bilhós.
Em Xofèens
#CHAREL. ES. O mesmo que Ba som doze cabaneiras, e de todas seis du
chaler. It. mando tres libras pera cera zear de beilhoos, e década huma huum
pera a arca de Santa Maria da See dos capam. — Em Freiximil de cada huum
bachareles. Ib. V. Bacharel. hua fogaça, e quatro duzeas de bei
BALSA'M. Estandate, bandeira, pen lhoor. D. da Univ. de 15o8.
dão. Levava hum balsám preto com a BEM-VISTA. A'bem-vista, por vis
aste sobre o hombro, cujas pontas biam toria, exame , revista. Aº bemvirta, e
pelo chão arrastando. Chr. d'ElRei D. determinação daqueller, a que destofor
Duarte. c. 5. V. Balsa. dado poder. Cod. Alf. L. IV.T.81. S. 2
BANDOUNAS. Redenhos dos intes BESTEIROS da Camara — Nas Cor
tinos , partes inuteis dos animaes, que tes de Coimbra de 1472, que se vierão
ficão no lugar onde elles se matão , e acabar em Evora no de 73, se fez a Or
alimpão. Hoje se diz Bandoubas. Por denança dos moradores que ElRei ha
Quanto no arraial cortão carnes, e mor via de trazer. Entre os mais se nomeão
rem bértas, e as bandounas das carner, estes: Item. De Moços de monte, e bus
e o fedor das béstas trazem sempre gran cantes — 2o. Item. De Bésteiros da Ca
de avorricimento, e nojo. &c. Cod. Alf. mara -- 12. Tinhão estes Bésteiros obri
L. I. Tit. 51. S. 39. gação de guardarem a camara, ou quar
BARATA. Troca, premutação, con to, onde ElRei estava, ou dormia. L.
trato, escambo. V. Barato. Vender, ou Perm. dº ElRei D. Afonso V. n. 31.
empenorar, ou outra barata fazer. D. BESTEIROS do Conto — Disserão
da Univ. de 127o. se assim por serem do numero. V. Ana
BARBEITO —Tambem se tomou pe daría. No Cod. Alf. L. I. Tit. 69. se acha
lo circuito, divisão, termo, ou baliza , a lista dos que devia haver em todo o
que inclue todas as peças que são per Reino, que deitavão a huns 4Q)484.
tença de huma fazenda, ou casal. Pro BESTEIROS do Monte. — Chama
omnibus haereditatibus, quae solent esse rão-se assim os que andavão pelos mon
de barbeito de ipso casali. D. da Univ. tes, e descampados caçando á bésta.
de 127o. Qualquer que agasalhar bésteiro de
BARREGUEIRO. O que tem bar monte em sua casa (dentro das coutadas)
regão, a quem dá vestido, e mantimen e for conhecido, pague 3oo. réis. L.
to. Dos Clerigos, Frades, e Freires bar Verm. d'ElRei D. Aff. V. n. 41.
regueiros, e das f*** penas com que BESTEIROS pousados. O mesmo
as suas complices devião ser punidas, tra que aposentados. Cod. Alf. L. II. Tit.29.
ta o Cod. Alf. L. II. Tit. 22. Dos barre S• BEZERRO Avelheiro. Tal era o que
22 •

gueiros casados (contra os quaes, e suas


concubinas se fizerão rigorosas Leis já não estava sojeito ao jugo , mas que já
desde o tempo d'ElRei D. Diniz) V. não mamava, novilho. Ainda hoje se
L. V. Tit. 2o. E dos Clerigos barraguei diz Abelhudo, o que não descansa, apre
ros. V. Meemfertar, e Barregão, sado , e não tem socêgo. E que outra
BEESTEIRO de láa. O cardador, cousa he o bezerro, ou novilho?. Cor
o que prepara a lãa para ser fiada. Ne re, brinca, salta, mósca, urra, e segun
nhum Judeo podia entrar em casa de mu do o Poeta, pede jam spargit arenam.
lher Christãa sob graves penas; excepto Mando aa dicta Igreja por mingoas, fa
se fosse Fisico, ou Celorgião, ou Al lhas, mal-dizimado hum bezerro ave
faiate, ou Alváne, ou Dubadores de lheiro. D. da Univ. de 1447.
roupa velha (remendoens) e Tecelaaens, BLANCA, e Branca. Moeda infima
e Beesteiros de lão... e d'outros algu de Castella que correu em Portugal em
ums Oficios, que se nom possam fazer, tempo d'ElRei D. Duarte, e depois: va
se nom pºr espaço dº alguum tempo. Cod. lia meio real branco, ou tres ceitís. O
Alf. L. II. Tit. 67. S. I. mesmo era Blanca que maravid de Car
tella.
BO BR. 17
tella. Cod. Alf. L. IV. Tit. 2o. S. 1. lo Porteiro da maça: e nas Igrejas Ru
BLOIDA. Excremento, ou lixo hu raes diriamos ser o Juiz da Igreja, que
mano. V. Lixo em boca. Em Meomaens com vara, e opa vai diante fazendo ca
do Julgado de Aregos se achou pelas minho, e apartando a gente. Tambem
Inq. R. que pagavão a ElRei homicidi se disserão Budeis, ou Bedeis os que em
um, vel raufum , vel bloidam in ore, Latim chamárão Apparitores, e em Fran
vel furtum, fi eum fecerint. cez Bedeaux, que hoje dizemos Serven
BOROA Scarolada. Era o pão de pa ter, Misteres, ou Andadores , que es
Ínço, que propriamente se dizia boroa. tão promptos a fazer o que se lhes de
Usavão delle os menos abastados, e os tCTIT11pla.

mais pobres, que acostumados ás suas Porém nada disto erão os Budeis, que
codeas, lhe não fazião má cara. Os Se entre nós havia no Sec. XIII. Em huma
nhoríos porém, como mais delicados, Sentença de 129o se lê: Intorrogatus:
admittião só o miolo deste pão, despi Si Budelles, et Parrochiani presenta
do já da rija, e amargosa côdea. D' bant tamquam Parrochiani , vel tam
entrada hua leitôa, huma boroa scaro quam Haeredes? Respondit : Se mercire.
lada, e cabaça de boo vinho. D. de Paço Milites , Budeller, et Parrochiani bus
de Sousa de 1417 cabant Clericum , et veniebant cum eo
BRACELLOENS. Armadura , com ad Sanóiam Crucem. D. da Univ. Não
que se guarnecião os braços. Huuns coi erão logo os Budeir, propriamente fal
acoees , e canelleirar, e huuns bracello lando, nem os Fidalgos, ou Grandes da
ens , e huum morrequill, e hua ocha, terra, nem simplesmente os freguezes
e huma sextuma, e mais dous terços de da Parochia: erão sim os Herdeiros, ou
Huum tendilhom, com seus garnimentos. Naturaes , a quem pertencia o serem
D. de Bostello de 1418. Defensores dos # , e Testamentor da
BRAGAL.—O bragal constava de 8 Igreja , em que ordinariamente tinhão
varas pela medida antiga; mas pela noseus Casamentos, ou raçoens. V. Casa
mento, e Defensor. Em outra Sentença
va erão 7 varas. Dous bragaais, em que
montam XIV. varas per nova. D. de Pa de 1217.ib. se faz menção de fo㺠Pe
ço de Sousa de 1419. dro Budel, Prelado de Santa Maria de
BRAGEL. O mesmo que Bragal. E Lamas, junto ao rio Vouga: mas quem
hum bragel, e meo, que som X. varas, nos dirá, se Budel aqui he agnome da
e mea. Ih.., e no mesmo anno. uelle Abbade, ou se he o mesmo que
BRANCO. V. Preto. }#: , e Natural daquella Igreja ? -
BRENSEDA. Multidão de brenhas, BUFAM. ens. V. Refiam.
silvados, matagaes, brejos, paúis. An
dárão quanto poderão, mas a grande ar C.
pereza da terra, e a brenseda da noite * * •
( 1. e que naquella noite passárão) não
consentio , que chegarrem, se não par C
ABDEL, LES. He o que hoje dize
te do dia parsado. Chr. do Conde D. mos Almirante. Quando antigamente os
Pedro L. I. c. 37. { Reis, e os Imperadores fazião guerra
BUDEL. Não duvidamos, que os por mar, e armavão náos poinham Cab
Bedeir das Univertidades herdassem o delles sobre ellas, a que chamam em es
nome dos antigos Budeis das Igrejas; te tempo Almirante, o qual he assy cha
mas parece que os seus ministerios, se mado, porque elle he, e deve seer Cabdel,
não em tudo, em huma grande parte se ou guiador de todos aquelles que vaam em
diferençavão. Em hum Regulamento de galles, ou navios por fazerem guerra
D. Toribio Arcepispo de Lima, que se sobre mar, e bam tam grande poder em
acha no Tom. IV, dos Conc. de Hesp. p. na frota, como se ElRei bi presente fos
667, se diz: In antecessum ibit bedel se. A estes Cabdeis punha ElRei hum
lus, post hunc sacrista cum thuribulo, anel na mão direita , em sinal da hon
et post eum acoluthi cum candelabrir. ra, que lhe fazia; e huma espada núa na
Aqui bem claramente se toma Bedel pe mesma mão, em sinal do poder *#*
- C
18 CA | CA
lhe dava: e na esquerda huma bandeira unças, e foragens. V. Capdal. No de
com as armas de Portugal, para sinal do 12o7 doou ElRei D. Sancho I. a D. Mar
seu Almirantado. Devia ser descenden tinho Sanches, e a sua Irmãa D. Urraca
te por linha direita de Mice Manuel Pe Sanches (os quaes houvera de D. Maria
çanha (outros Doc. dizem Pacanho) pri Aires) as herdades de Villa Nova das
meiro Almirante nestes Reinos, e só fal Infantes, e de Golaens de juro, e her
tando desta se podia fazer de outra. dade. Elles as venderão ao Mosteiro de
Cod. Alf. L. I. Tit. 54. Santo Thyrso: o Irmão no de 1226 por
CABEGA da mata. O que morava, 3d)oco maravidís: e a Irmãa no de 1242
e tinha o seu Casal, ou vivenda dentro por 2d)5Comaravidís; incluidas tambem
de alguma mata, ou lugar coutado, e as Igrejas , do que tudo teria ella , e
defeso. Este podia trazer os seus porcos possuiría em sua vida solummodo cabe
na tal coutada nos mezes de Outubro, dal panis, et vini, e o Mosteiro pos
Novembro, e Dezembro. L. Verm. d'El suiría direóiurar omner. D. do mesmo
Rei D. Aff. V. n. 39. Mosteiro. Em outro de S. João de Al
CABEGAL. O que tinha obrigação medina de 1236 apparece Decima capi
de responder ao Direito Senhorío por talium : o mesmo se lê em outro de S.
todos os direitos, e foros do Casal, que Pedro de 13o3, ambos na Cidade de Co
andava repartido por muitos, ou alguns, imbra. Dedes a nós por pam, e por vinho
dos quaes cobrava a respectiva porção. % moyos, e freer pela teyga de
F. Casal encabeçado. No de 1265 fez artim Gonçalvez : e o Cabedal reer
assar ElRei D. Affonso III. huma ce terzo de centeo, e d'orgo, e as duas
# Carta para o seu Tabalião, e Por {" de mylo, feitos em celeyro. D. das
teiro do Julgado de Viseu; ordenando ent, do Porto de 1329. Nos Doc. de
lhes, que tomassem para a Coroa todas Pend. do Sec. XV. se achão com frequen
as herdades foreiras, ou Regalenguei cia Cabedal, e Cabedaes neste mesmo
ras, que achassem terem vendido, da sentido, v. g. Quando se pagam os cabe
do, ou deixado por testamento os ho daes do pam, e do vinho. — Dardes ao
mens do dito Julgado a taes pessoas, Moesteiro de cabedal tres moyos, e tres
que não pagassem direitamente os fo quarteiros de segunda feitor, e tres ta
ros, e direitos dessas herdades , e as ligas de trigo. —Ao tempo que se pa
fizessem tornar ás Cabeças dos caraes, gam os cabedaes de pam, e vinho, XI.
e não permittissem mais, que isto se fi alqueires de pam terçado, e de vinho
zesse: e que os compradores tornassem nove almuder.
a receber o seu dinheiro, que por ellas CABEDELEIRO. O que tinha rece
derão, e não mais; e se o não quizes bido, e estava devendo bens, fructos,
sem receber, lhas tomassem, e dessem dinheiro , ou cabedaes alheios. Mandou
a povoar a taes homens, que lhe pagas ElRei D.Diniz que se algum devesse pão,
sem bem os seus foros. E depois de ou vinho, azeite, ou dinheiro de empresti
tras cousas, manda que os Irmãos da mo, ou cabedal, se tal devedor, ou ca
quelles, que tem os seus casaes povoa bedeleiro nom pagar a divida, ou cabe
dos, não tenhão quinhão nelles, ri non dal ao tempo que prometeo de pagar, e
dederint Cabeçalen, qui serviat totum por isso for chamado a Juizo, e andar
casale. D. da T. do f{ com burla , ou inlizamento, esconden
CABECEIRA. Primeiro motor, Che do os seus bens; seja preso até que pa
fe, Capitão, a quem os outros seguem. gue. ElRei D. Afonso V. estendeo esta
Povo, e gente meuda, que sem cabecei Lei ainda mais contra os Burlooens, e
rar mom teriam forçar. Chron. de D. Inlizadores, que vendem, ou empenhão
Aff.V. c. 1o. Fazer cabeceira em alguem, a mesma cousa a mais de hum, não che
ôr nelle a sua confiança. gando para satisfazer a todos : manda
CABEDAL. AES. O grosso dos Dizi que sejão presos, e paguem da cadêa to
mos, foros, ou pensoens, v. g. pão, vi das as perdas, e danos, e dali partão lo
nho, azeite &c. ficando o nome de Di go para o degrêdo. Cod. Alf. L.IV.T.89.
reituras para tudo o mais que erão mi CABIDUAL , e Cabidoal. "#"
C/Z/7f
CA f CA 19
cabidual, estrada larga, caminho de car CALUMPNIA. — No fim do S. se
ro, principal, corrente. Qualquer que acha: (e isto em attenção ao Infante,
achado for dentro da dita coutada, fó filho do Rei de Leão, contratado para
ra dos caminhos cabiduaes com beesta , casar com a Rainha D. Thereza , a
e almazem : queremos que perca a dita qual elles tinhão criado desde menina).
beesta, com todalas cousas que assy com Lea-se: (e isto em attenção ao Infante
ella trouverem, e a ella pertencerem ; D. Fernando , filho de D. Affonso IX,
salvo se trouver virotes cabeçudos, e Rei de Leão, e da Santa Rainha D. The
nam outro almazem; com tanto que o lu reza, a qual elles tinhão criado desde
gar nom seja coutado de coelhor; f%"| menina: et pro Infante, filio Regis Le
se suppoem , que só por desenfado leva gionis , et Reginae Domnae Tarasiae,
va a dita beesta. L. Verm. do Senhor quam ab infantia nutrivirtis, segundo
D. Affonso V. n. 39. o D. Orig. que em Viseu se guarda) de
CABO, adv. O mesmo que Cabe. A clara o Rei &c.
outra cuba que sya cabe della. D. de CALLANDAIRO. V. Kalendario.
Santo Thyrso de 1415. CAMARA Garrada, ou sarrada. —
CAGOARIA. Parece ser todo, e qual V. Porta carrada. •

quer marisco vil, e de pouco preço, que CAMARA da Cama do estado. O


no mar, na praia, ou no rio se tomava. quarto , onde estava a cama, em que
E daqui vem o nome de Cação em sen ElRei dormia, que tambem se disse sim
tido torpe, e nada honroso. Paguem di plesmente Camara do estado. L. Verm.
zimta de todo o percado, e mesmo da ca de D. Afonso V. n. 14.
foaria. D. de S. Pedro de Coimbra de CAMARANCHAO. Obra avançada
133 I. de fortificação antiga, que tambem di
CADEA do monte. Assim chamárão zião Cubelo. Hum (daquelles tiros) der
os homens rusticos do campo, ou mon rubou tres ameas de hum camaranchão..
tanheses, os quaes guardavão os presos, e ós Mouros pareceo que já tinhão seu
quando estes acompanhavão a correi feito concertado, pois assi acertarom
ção 2 ou alçadas, que antigamente fazião aquelle cubelo. Chron. do C. D. Duarte
os Reis, ou seus Inviados. E o Carcerei de Meneses. c. 56.
ro de Corregedor ba de dar huma cadêa CAMISA Mourisca. Veste Sacerdo
de maonte. Cod. Alf. L. I. Tit. 32. S. 1. tal, a que chamamos Alva. Huuma ca
CAENDAS. Assim chamavão á Com misa Mourisca lavrada nos peitos, que
memoração, que por algum defunéto, tem botoes nos peitos. D. de S. Thiago
ou defunctos se fazia no primeiro dia de de Coimbra de 148o. Ainda hoje usão as
cada mez, ao qual os Romanos derão o Mouras de camisas mui largas, e com
nome de Kalendar, e os nossos Maio pridas.
res algumas vezes disserão Queendar. CAMPEIRO. O chamador de huma
Em cada huum anno XI, soldos pera as Irmandade, ou Confraria, que tambem
Caendar, e tres libras pera os Domin se diz Campainha. Todo o Confrade, que
gos por minha alma. D. de S. Pedro de se finar, dê os fapatos ao Campeiro,
Coimbra de 1348. , ou lhe dê hum soldo. — E o Campeiro
CAIMBO,
quete II: ou Caibo. I. V. Trabu chame os Confrades, D. da Univ. de 129o.

CANBASES. @# cotas, ou sayas


CAIMBO.II. Commutação, escambo, de malha , guarnecidas com laminas dº
troca. Cod. Alf. L. II. Tit. 1. art. 26.
aço, a que chamavão folhas. Esta arma
CALAMENTO da verdade. Obrep dura defendia os guerreiros desde os
ção, ou subtileza, com que se consegue hombros até o meio dos quartos. Ajam
algum Beneficio, Graça, ou Mercê, suas armas pera guardarem a Villa, a
occultando a verdade, a qual se mani saber, senhos canbases , e senhor baci
festada fosse, não he de crer se conse netes. Cod. Alf. L. I. Tit. 3o. S. 2. V.
guisse. Letras guançadas por calamen Bacinete. +

zo da verdade
Univ. de 146o.nom- devem valer. D. da

CANTADORIAS. V. Chantadorías.
* *
*• •
***

… Ipsam haereditatem, rcilicet, cantadu
C ii rías
2O CA – CA
rías in vinear, in pereiras, figeiras, pos. Daqui se disse Careáva, ou Car
maceeiras ; mogeiras , castineirus. D. cova , o fosso, valla, ou cova, nomes
de Santo Thyrso de 1233. •
frequentes nas Inq Reaes, e outros Do
CANTEIRO. V. Gallinha de cantei cumentos. Em hum de Lugo de 1263 se
ro. Quando se não pagava a gallinha, pa diz: Debent tbi facere carcovas adre
gava-se esta Direitura, ou foragem a di movendas aquas nocivas baereditatibus.
nheiro. Vinte soldos de canteiro, e xx. }'. Carcóva.
de linho. D de Paço de Sousa de 1419. CARDEO. A. De côr rouxa.V. Cober
CANTICO grão. Os XV. Psalmos tal.
Graduaes, que pela razão sabida se dis CARISTIOSO. De grande falta, pe
serão Canticum graduum. Santo Rei era nuria, carestía. Os annor foram muito
David, e pedia que o livrasse das lin caristiosos D. da Univ. de 1441.
guas mordazes , como se escreve ao I. CAATA dº Alforría. V. Carta de in
Psalmo do Cantico gráo Chron. do C. genuidade. Ainda que a Lei do Reino
D. Duarte de Meneses. c. 1. prohibia forrar servo Mouro, a não vir
CAPEIRETE. Pequena capa. Este o resgate de fóra do Reino: ElRei D.
meu tabardo,e o capeirete. D. de S.Thia Affonso V. em Septembro de 1473 con
go de Coimbra de 1278. cedeo, que qualquer possa forrar o seu
CAPELLA. Todas as alfaias, orna escravo por Testamento, ou Condicillo,
mentos, livros, peças, que se costumão com tanto que o escravo assim forro
empregar na # dos Divinos Of não sahia do Reino. L. Verm. n. 27.
ficios, e tremendo Sacrificio do Altar. CARTA de Camera. — Alvará , ou
V. Reporte. _ licença Real. No ultimo de Dezembro de
- CAPELLAO dos Judeos. O Ministro 15o2 determinou S. Senhoria (ElRei D.
que servia nos Sacrificios Legaes, e ce Manoel) que, exceptuando as Senhoras
remonias Judaicas. Em Portugal os hou Rainha , e Infantas, todos os outros
Ve em quanto durarão as Communar, ou Grandes de seus Reinos, quando pesso
Judiarías, que os devião ter, e conser almente se acharem na Côrte , possão
var ; pagando-lhes o convencionado es ser citados pelo Escrivão do Desembar
tipendio, Cod. Alf. L. II. Tit. 81. S. 19.
gador, que conhecer do feito, sem que
CARACTER. Em os nossos mais an para isso seja precisa Carta de Camera,
tigos Doc. se achão devisoens de terri e que este era o estillo antigo; sendo só
torios, e termos, feitas por marcos, ou necessaria quando efectivamente se a
nativos, ou levantados, nos quaes se chão fóra da Côrte. L. das Posses na Ca
abrião algumas letras, sinaes, ou cru fa da Supplicação.
zes, a que chamavão Caraºteres. V. De CARTA direita. Aquella, pela qual
curia II., e Mamôa. Na Divisão das ren se manda fazer direito, e justiça. Cod.
das entre o Bispo, e Cabido de Lugo no Alf. L. II. Tit. 81. S. 8. e 9.
de 1 12o se chama Caracter a demarca CARTA de maldizer... Qualquer es
ção das Igrejas, ou terras ali nomeadas. critura, que contem o crime, injuria,
v. g. Adjicio vobis Ecclesiam de Puti ou infamia de alguem (ou se ache em pu
milos, hereditates quorum et familias blico, ou na mão de algum particular,
cum carastére, quos vobis mei decesso com o nome do Autor, ou sem elle;
res contulerunt, — Villis S. Laurentii e nisto se diferenção estas Cartas dos
cam hereditatibus, et familia, et ca Libellos famosos.) Por esta Carta, ou
raºer. — Eccleriam S. Joannis de Pen Escritura nenhum Magistrado pode pro
na cum sao cara fére super omnes homi ceder a prisão, sem as mais condiçoens
mes ad illam concurrentes. V. Hesp. que a Lei requer. Nenhuma pessoa nem
Sagr. Tom, XLI. f. 296. seja presa por carta de maldizer, nem
CARCABEAR. Fazer, abrir fossos, pºr libellos famosos, nem por quere
vallas, ou cavas, não só para defender har, nem denuncieçovens, que della rejãº
os Arraiaes, Praças, ou Castellos; mas dadas por persºas, a 2" os feitor mais
tambem para divertir as aguas, que não perteencem, salvº sendo della querella
destrúão as searas, ou alaguem escam do com juramento, e testemunhar nº
771&ºg
CA CE 2 I

meadar. Cod. Alf. L. V. Tit. 58, § 1. miseravelPovo fazia contribuir em pri


CARTA de Relinquimento , ou de meiro lugar aquelles, que com os bens
Relinquiçom. O mesmo que instrumento da Real Coroa se havião excessivamen
de Desistencia, ou Renuncia (que tam te enrequecido,
bem se disse Carta de Abrenunciação.) Tambem se deu o nome de Cavalaria
D. do Salvador de Coimbra de 1448. a huma propriedade de casas, que por
CATHEDRATICO.V. Cathedradê consentimento livre de todos os herdei
go. Segundo hum Doc. do Arch. da Mi ros ficavão impartiveis, como se fossem
tra Bracar. de 1537., o Cashedratico , Morgado , ou Vinculo. Nas quaes ca
que cada Igreja devia pagar,erão 8co reis. fas ( porque eram tam pequenar, que
CAVALARIA. Assim foi chamada com seus proveitos as nao podiam par
antigamente a Companhia de nobres ho tir) que por modo de Cavalaria quiri
mens, que forão ordenados para defen am, que ficassem todas com o diéio fo
der as ferras, e por isso lhe pozerão no ham André, e seus socessores. D. do
me Milicia, que quer dizer: Companhia Salvador de Coimbra de 1463.
de homens duros, fortes, e escolhidos CAVALLEIRO de espora dourada.
para sofrer grandes medos, e trabalhos, Assim se dizião os que supposto não ti
e lazeiras pelo bem commum: e se disse vessem Nobreza herdada, e mesmo fos
Milícia de mil; porque de mil homens sem dº antes peoens chegárão a ter a
escolhião hum para Cavalleiro. Ao prin conthia, e cavallo de servir, e o mos
cipio prevaleceo a rebustez á nobreza, travão ao tempo da Eyra, ou Dorna (i.
e assim escolherão sem diferença de e. no tempo da colheita do pão, ou do
nobres, e plebeos; mas como estés não vinho ). Cod. Alf. L. II. Tit. 45. S. 3.
fossem dominados sempre da honra, e Gozava esta Cavallaria de varios Privi
vergonha, forão depois tirados de boa legios, hum dos quaes era não pagar
linhagem, e se chamárão Filhos dº algo, jugada. Não só em Pinturas antigas se
que segundo a linguagem de Hespanha tem visto, mas ainda dentro das sepul
tanto quer dizer, como Filhos de bem. E turas se tem achado esporas douradas,
tambem os chamárão Gentís, de gentile e que sem duvida fazião a distinção des
za, que # nobreza , e bondade; tes Cavalleiros, que se menos nobres,
porque os Gentír forom homeens nobres, não erão com tudo menos ricos, e aceia
e boos, e viverom mais honradamente, dos.
que as outras gentes. Cod Alf. L.I, T. CAUDILHAMENTO. Oficio, Dig
nidade, ou distinção de hum Chefe Mi
63. S. 2. 4 e 6. V. Algo II. e Cavaleiro.
CAVALARIA, ou Caballaria.V. Ca litar, que he a primeira Personagem da
vallaria III. Nas Inquir. Reaes se a tropa, ou esquadra. Em a maño seestra
chou , particularmente no Bispado de bum estendarte das nossas armas , em
Viseu, hum avultado numero de Cava signal de seu caudilhamento. Cod. Alf.
# larias d’El Rei. De huma, que trazia a L. I. Tit. 54, § 4.
Ordem do Hospital em Villar Secco de CEEIRO. OS de mesteres. V. Ana
Senhorim, não dava a ElRei o Moyo da daría. .
Cavalaria, nem os outros fóros. Era isto CEGUIDAM. Tambem se disse Ce
no 1258; porém no de 1265 mandou El uidade, trévas, escuridade, que rou
Rei D. Affonso III. que os Cavalleiros, { dos olhos os objectos. Foi assi o
que tivessem algumas herdades de Cavaar cuberto de ceguidam chuivosa, que
laria naquelle Bispado desde o tempo a noite mostrou sma grande trirteza az
de seu Pai, e Avô, serviant eas de co tes das horas pertencentes. Chr. de D.
lečia , et de cahalo, et de jugata, si João I. P. I. c. 164.
cut vilani, et Ordines similiter; pa CEVEIRA. A toda a especie de grão
gando-lhe todos os seus fóros, e direi frumentaceo se deu na Baixa Latinidade
tos, que á Real Coroa pertencião. V. o nome de Cibaria , ou Civaria, que
Caberal. He bem de crer, que as preci os nossos Maiores disserão Ceveira, no
soens do Erario farião tomar tão justa, me que ainda hoje, e no mesmo sentido
e santa providencia, que aliviando o se usa na Beira alta. V. Alqueire sem bra
{'0
22, CH -
CH
ço posto. No de 985 doou Munio Gon ravidí: e Chavadigo 1 carneiro, e bu
calves ao Mosteiro de Lorvão a sua Vil ma fogaça , que logo pagou. Em ºutro
la de Santa Comba d'Am, que partia de de 14í8: D'entrada 1 leitoa, e 1 horoa
hum lado com o rio Crinis (Crís) e escarolada : e 1 carneiro, e fogafa de
com o Mosteiro de S. Jorge, e do outro Chevadigo: e 1 maravidí de revora. E
com a Villa de Texedi (Treixedo) usque no mesmo anno: Edardes Chavadgºs,
in rivulo Adon, cum ajacentiis ruir, e revoras cada uum por sri : e dº entra
JZillares cum suas Ecclesias... cubus da cada uum por si ssembas marraas
cum civaria, et cubas cum bibere, com pera o Ifante. — D'entrada 1 leitem,
todos os seus moveis, e semoventes. Pe e huma cabaça de vinho: e dour Chava
la Doaç. do Senhor Conde D. Henrique, digos. Em outro finalmente de 1419: E
que deu Lorvão á Sé de Coimbra no de dardes Chavadigo, a saber, I carnei
IIo9, he que possúe esta grande Doa ro, e huma fogaça. V. Soeiras, com as
ção de Santa Comba aquella Cathedral, quaes tinha estreito parentesco o Cha
em cujo Archivo se conserva. vadégo.
CHAADA. Planicie, campo raso, es CHAVE. Ainda hoje não he desco
planada. Hum monte alto, e fragoso, que nhecida na medição das terras esta Pa
tem em cima huma chaada. Chron. do C. lavra, que antigamente, e sempre». Se
D. Pedro de Meneses L. II. c. 9. tomou por hum cotovelo, ponta º ou
CHAAO. Estar chaão, ao serviço de recanto, que o terreno faz para algum
alguem, servilo com lisura, simplicida dos lados. E tem hua chave , que vay
de, lhaneza, verdade, singeleza, não pera cyma contra a estrada. D. de Bos
indo , nem maquinando contra os seus tello de 1482.
interesses, ou pessoa. Por elle não estar CHENTADOS , e Chantados. O
chaão a seu rerviço, o mandou matar. mesmo que plantaçoens.V. Cantadorías,
Chr. d'ElRei D. Aff. V. c. 2o4. e Chusura. E fazerdes vinha atá cin
CHANTA. Estaca,ou vergontèa, que, co annos, e boos chentados, e bemfeito
se metia na terra para criar raizes, e dar rías. D. do Paço de Sousa de 1418.
fruto. Lavrar o dito olival, e amotar, CHORECER. O que em boa hora,
esmoutar, estercar de dous em dous an ha de vir, ou chegar. A tee o faneiro do
nos , e chantar chantas de oliveira, on anno, que à de chorecer. D. da Univ. de
de comprir. — Vinha que fosse de booa I274.
chanta.Doc, de 1436,e 1461.V.Chantar. CHOS. O mesmo que Chus. D. de
CHANTO. OS. Alarídos, prantos, Pend. de 1297.
intercortados com soluços, gemidos, e CHOUVIR. Fechar, encerrar, tapar.
vivas lagrimas, demonstraçoens tudo da Vem do Latino Claudo. Portar abrindo,
maior tristeza. Muitos dias durárão os e chouvindo. D. da Univ. de 14o1.
Mouros chorando aquella grande perda; CHUSURA. Clausura, tapúme, res
em tanto que não havia lugar, em que uardo de huma fazenda; prescindindo
se cada dia não fizessem novos chantor. # ser muro, vallado, sebe, ou estaca
— E no chanto, que os companheiros por da. Façades boas casas, e alpenderes,
elle fazião, foi conhecido seu grande va e boos chantados dº arvores, e almuia,
Ior. Chron. do C. D. Pedro L. II. c. 2. e tapardes de tal chusura, que vós nom
e 38. • •

recebades y dano. D. da Univ. de 136o.


CHAVADEGO , e Chavadígo. Hé CIFRAS numeraes. —Díz o A. da Pa
voz frequentissima nos Prazos de Paço de leografia Hespanhola, impressa em Ma
Sousa desde o Sec. XIV. até o XVI: era drid no anno de 1758, a f. Ioz. ser per
o mesmo que luvas, agradecimento, ou suasão de alguns, que as Cifras nume
molhadura do conchavo, e ajuste, que raes Arabicas se usavão já em tempo de
º entre o Mosteiro, e os novos Emfiteutas Boecio, que morreo no de 524; e que
se fazia: constava de hum carneiro, e havendo-as inventado os Indios, e tra
huma fogaça, ou pão grande de trigo. zido os Arabes a Hespanha, daqui as
Em hum de 1417 se diz: Deu dentra levára a França Gilberto, Monge Flo
da I marco de prata : e por revora 1 ma riacense, que pelos annos de »? Q
* OIlº
CI CL 23
Pontifice Silvestre II. Com efeito no D. Colonha, o que foi inventado, ou trazi
que nos offerece (Lam.12.) se acha o I. do a Portugal da Cidade de Colonia;
muito bem figurado; o 2 está com a ca bem assim como hoje dizemos Balança
beça para baixo; o 3. he hum z minus Romana, Palmo, ou Pé Parisiense &c.
culo Gotico; o 5. está igualmente vol COMENDADOR.—Feitor, ou Pro
tado para baixo; o 7. he hum 4. deita curador de hum Mosteiro de Religio
do para a esquerda; a o nada difere da sas, ou qualquer outra Corporação, cu
que usamos. Depois deste tempo se a jos bens, e rendas lhes estão commeti
chão todas as Númeraes, mas com figu dos para o melhoramento, e cobrança.
ras bem diferentes das que hoje nos ser Em hum Doc. da Univ. de 1216. se lê :
vimos. V. Algarismo. Ego Domna Vermes Abbas (Abbadessa)
CIRVILHEIRA. Barreta, gualteira, de Lorbano, simul cum Sororibus ejus
e propriamente carapuça de rebuço, quedem Monasterii, et cum Fratre Alfonsi,
cubria o pescoço, e parte dos hombros.Comendatore ejusdem Monarterii .....
Trazia sómente vertida huuma cóta de Frey AlfonsoConmendator. Dos Commen
malba, e em ryma huma jornee de velu dadores, e Commendas das Ordens Mi
do cremesim , e na cabeça huma cirvi litares tratão largamente os nossos Es
/heira. Chr. de D. Aff. V. c. 121. criptores.
- CI TAR por palha. V. Palha. COMMUUNS. Este nome se deu ás
CLAROM. Clarim, trombeta de som Mourarías , em que vivião os Mouros
agudo, e claro. Tres trombetas, e hum segundo as suas proprias Leis, gover
clarom, que na gale andavão. Chr. do nados pelos seus respectivos Alcaides,
C, D. Duarte. c. 12o. e apartados inteiramente (assim como
CLAUSTRO. Assim disserão huma os Judeos nas suas judiarías) da viven
#
tapada defendida, e separada com pa da , e familiaridade dos Christãos nas
redes, ou outros quaesquer tapúmes. Ha terras grandes, e notaveis. A cada huma
vendo o Mosteiro de Pedroso feito huma dessas Mourarias chamavão Commuum,
grande tapada em Parámos, tomando, ou Comuna. Cod. Alf. L. II. Tit. 99.S. 4.
e incluindo nella terras do Concelho : e Tit. Io3. S. I. e Tit. 117. ### SC

os Conegos de Grijó a fizerão accusar a chamou Commum hum Concelho, ou


ElRei pelos homens de Silvade, e os Julgado. V. Comuna.
Monges para a conservarem gastárão COMO quer. Posto que, ainda que,
; 3oo. maravidis velhos. No largo Proces sem embargo, não obstante. Dizendo
so se chama Claustro, Claustrum, quod que ofere aquelle, que o ameaçou, como
dicitur de Paranor, cum ruir terminir. quer que o não vio. Cod Alf. L. IV. Tit.
Quod, inquam, Claustrum , et termi 1 Io. S. I. Tambem se dizia com quanto,
nos ejusdém possidemus per nos, et per no mesmo sentido.
interpositas personas a viginti annis COMPLANAR. Inteirar, repôr, sa-º
cirra... Diºus Prior venit super dičium tisfazer, encher inteiramente. Complane
Abbatem , cum esset iu praedióio Claus em sulco de lo só, i. e., enteire em terra
rro, cum militibur, rcutiferis, et aliis sua, que esteja mistica, e como dizem,
hominibus cum armir. D. de Pedroso de a rêgo com a do outro visinho.
1266. •

COMPLENTE. Agua complente, ma


COIMEIRO. A. —Tambem se disse ré cheia. Os nossos navios começarom de
da pessoa, terreno, sitio, ou casal, cu sahir como a agua foi complente , com
jo uso he defeso, e sojeito a coimas.V. suas contenenças muy contrariar do que
Lurcar. os Mouros ficavão; pois estes ficavão la
CO’LO. Ao cólo, ao hombro, ás cos mentando o abrasamento de Larache, e
tas, á cabeça.V. Colonha. Peró que os os Portuguezes hião bailando de alegria,
querião levar em suas bestas aas vezes, por terem saqueado, e reduzido a cin
ou em seus homens ao cólo, nom lho que zas huma Villa tão formosa, e rica. Chr.
rem consentir. Cod. Alf. L. III. Tit. 95.
S. 13. - •
do C. D. Pedro L. I. c. 58.
COMPRA do corpo. — A compra do
COLONHA. — Disserão
* * *
Marco de corpo era diferente das árrar. Nº
I238.
24 CO CO
1258. D. Gonçalo Garcia Alferes d'El Dume, Meinedo, Lamego, e Guarda.
Rei (e depois Conde) contratado para Estes tres ultimos , e o de Britonia se
casar com D. Alionor, filha d'ElRei D. erigirão no dito Concilio de 569, cujas
Affonso III., ajustou com seu Sogro o Actas, ainda que interpoladas, não são
quanto devería dar á sua Esposa, a sa inteiramente despresiveis, e principal
ber: Pro compra corporis sui metade de mente no que dizem foi determinado pe
todos os seus herdamentos, com todos los Padres, que se juntárão em Synodo
os seus direitos, e pertenças. E por Ar na dita Cidade de Lugo, só a fim de ere
rar, rex Quintanas, et reixaginta ca girem novos Bispados, e dividirem ter
salia, ficut est consuetudo inter Dori ritorios, e Igrejas, que lhes devião per
4m , et Minium. E entregues as ditas tencer. Esta primeira Divisão certa, e
Arras, diéia medietas debet reverti ao indubitavel , que em Hespanha se fez
mesmo D. Gonçalo. Mas succedendo ca (pois as de Wamba, e Constantino não
so, que a Igreja os mande separar (pois merecem fé alguma) foi confirmada no
erão parentes, e ainda não tinhão a dis Conc. II. de Braga de 572. E não houve
Pensa ) ou por qualquer modo se sepa Concilio algum Lucense II.; pois o que
rem: a dita D. Leonor teria só 2d)coo se chamou assim he hum Fragmento do
libras da moeda antiga por compra do seu que se determinou no Concilio de Lugo,
corpo, e em quanto lhas não pagasse, ainda que interpolado. Em hum Frag
retería a dita metade dos herdamentos mento do mesmo Concilio de Lugo diz
de seu marido. D. da T. do T No Tes Nitigio, qne fizera confirmar os Conda
tamentº da Condeça D.Violante de 131o dor, e limites da sua Igreja no Conc. II.
se diz: Cinco mil librar, que me meu ma Brach., e na prezença do Rei Miro, e
rido (o Conde D. Martim Gil) a ba dar de todos os Bispos de Galliza, tam ex
pºr arrar, e por compra de meu corpo. BracharensiConcilio, quam ex Lucensi
D. de Santo Thyrso. Ecclesia. Em outro Doc. de Lugo, e do
CONCILIO. Nem sempre o Concilio, mesmo tempo se diz, que esta Confirma
ou Synodo se tomou por, Ajuntamento, ção se fizera na presença do dito Rei, e
ou Assemblea de Bispos, celebrando de todos os Bispos da Província de Gal
Concilio, e tratando das cousas da Fé, liza, tam ex Bracharenri Cautione, quam
e dos costumes, ou de outras de gran etiam ex Lucensis Ecclesiae dominatio
de interesse para as Igrejas, como são ne. E eisaqui temos a Caução, e Domi
os limites, e divisoens dellas, para des nação synonimos de Concilio, no sentido
te modo se evitarem discordias, e de de Diocese, ou Territorio separado. V.
mandas; mas tambem algumas vezes se Hesp. Sagr. Tom, XL. f. 252 , e 348.
disse por: Districto, Jurisdicção, Bispa ONDADO. II. Julgado, Districto,
do , ou Territorio, como se vê pelo Ti Concelho, ou Jurisdicção, em que hum
tulo da Carta , que S. Martinho Bispo Conde, Rico-homem, Infanção, ou Mi
de Dume, e Arcebispo de Braga, escre nistro, que o Rei punha, e tirava a seu
veo a Nitigio Metropolitano de Lugo, arbitrio, governava o Civil, e Militar.
remetendo-lhe a Collecção dos Canones, No Conc. chamado de Lugo de 569, e
e a todo o Concilio da Igreja de Lugo. En no II. Brac. de 572, se faz menção dos
tre nós, e desde o príncipio da Monar XI. Condados, em que todo o territorio
chia, se tem conservado o nome de Con de Lugo se dividia, os quaes permane
cilio no de Concelho que he hum Ter cêrão até o Sec. XII. A imitação dos de
ritorio, ou Jurisdicção separada, como Lugo fingio a esquentada fantasia de
sempre forão os Bispados. No Concilio Lousada, e outros, não menos que XII.
chamado o rº de Lugo, e no qual esta Condados entre Douro, e Minho, de cu
Igreja se erigío, em Metropolitana, se ja impugnação nos dispensa a grandeza
repartio a Provincia de Galliza em Sy da mentira. Quando outra cousa se não
modo Bracarense, e Synodo Lucense; fi declarava, se entendia por Condado todo
cando aquelle com os Sufraganeos de o governo, e administração do indica
Ourense, Astroga, Iria, Tuy, e Brito do territorio. V. Mandamento, e Rega
nia; e este com os de Coimbra, Viseu, lengo.
g ---- }
CON
CO CO 2;
* CONDECILHO.V. Conderar, e Con fosse, e ainda mesmo ás mulheres, e aos
dessilho. Segundo o Cod. Alf. L. IV. Tit. meninos, com tanto que fossem Chris
I.S.3. Não significa guarda, nem deposi tãos: doutrina que o Trid. Serr, 14 de
to; mas unicamente, segurança, ou cau Paenit. can. Io, anatematizou, como fal
gão. Que os depositos, e guardar, e sa, contraria á verdade do Evangelho,
condecilhos, e recebimentos, feitos per e á instituição mesmo do Sacramento da
a moeda antiga & c. Penitencia; e doutrina, que os Portugue
CONDITARIA. Condictaría, e Con zes nunca já mais adoptárão no sentido
duitaría. O mesmo que Conduéiaría. Do em que os herejes o fizerão. Distinguin
1º. modo se escreve em hum D. de 1445; do entre peccados publicos, e occultos,
do 2º. em hum de 1248; e do 3º. em dous não ignoravão os nossos Maiores, que
de Pend., hum de 1189, e outro de 1211; por aquelles, principalmente sendo dos
fazendo-se nelles menção da Obediencia mais graves, se impunhão penitencias
da Conduitaria, que era a Oficina, ou publicas , de que só os Bispos ordina
Despensa, onde se repartia aos Indivi riamente absolvião; porém no perigo,
duos de huma Communidade a porção ou artigo da morte tambem o fimples
diaria de carne, ou peixe. Sacerdote, e na falta deste qualquer Dia
CONFESSADOR. Confessor, o que cono podia econciliar os penitentes com
reconcilía com Deos os penitentes, me a Igreja, recebendo a sua Exomologese,
diante a Confissão Sacramental. A Mar e o testemunho do seu arrependimento,
tim Annes, meu Conferrador, huum meo e verdadeira conversão (bem assim co
maravidi. D. de Bostello de 14or. mo ainda hoje , e por autoridade do
CONFESSAR. Tambem entre nós Bispo pode o Diacono absolver hum ex
grassou o costume de confessarem os comungado, e restituillo a Communi
seus peccados a pessoas leigas, os que cação dos Fieis) e que este, e não ou
se achavão em perigo de morte, e não trô era o espirito dos Padres, e dos Con
tinhão Sacerdote, que sacramentalmen cilios, que permittião ao Diacono a ab
te os absolvesse. E isto principalmente solvição dos Penitentes. Igualmente sa
na occasião de entrar em alguma bata bião, que as muitas Constituiçoens Dio
lha mui perigosa. No de 1459 sahio da cesanas, que até o Sec. XV. positiva
Villa de Alcacer em Africa o Capitão D. mente concedião , ou talvez aconselha
Duarte de Meneses (que no anno seguin vão, ao que estava em perigo de mor
te foi feito Conde de Viana de Caminha) te, e não tinha Sacerdote, se confessas
com 45 de cavallo, e alguns espingardei se a qualquer leigo, et etiam mulieri,
ros, para correrem a terra de Canhete; além de não involverem preceito algum,
mas não tardou muito tempo que se vis se não entendião da Confissão Sacramen
sem rodeados por mais de 15oo Mou tal, de que só Sacerdotes são os Minis
ros. Então, a pezar do esforço que se tros; mas sim, e tão sómente de huma
notava em D. Duarte , nom havia tal, Confissão de dezejo , humildade, ver
::
por ardido que fosse, a que nom pare gonha, e arrependimento, que teste
cesse que stava mais perto da morte , munhando á Igreja a sincera dor do que
que da vida, apartando-se huns com os a fazia, o dispunha a consiguir por es
outror, huns a confessar , e outros a tes actos maior graça do Senhor , de
emmendar (encommendar) as almas, e quem só podia alcançar o desejado per
fazendas aaquelles que se acertassem de dão. E este he o sentir de muitos, e gra
ficar vivor. Chr. do mesmo Cond. c.68. vissimos Theologos, e Canonistas res
Mas ninguem se persuada , que os pondendo ao Cap. Qui vult, de Paenit.
*
Portuguezes seguião a doutrina erronea, 'dist. 6., e ao Cap. Quem paenitet. ih.
:
que adoptárão os Flagellantes, e Lutera dist. 1., tirado do Liv. de vera, et fak
nos, os quaes disserão que as Chaves da sa Paenitentia, atribuido a Santo Agos
Igreja, ou o Poder de absolver dos pec tinho, que diz: Tanta itaque vis confrº
cados, não só foi commetido por J.C. ao sionis est, ut si deest Sacerdos, confi
Papa, aos Bispos, e aos Sacerdotes ; teatur proximo. Sepe enim contingit,
mas ainda a qualquer, que Sacerdote não quodpaenitens non#" confiteri …"
/Z
26 CO CO
Sacerdote, quem desideranti nec locus, Legislação fazer Confissão, e cumprir
nec tempus ofert. Et s'i ille cui confite Confissoens: a 1.º quando se confessava
bitur, potestatem solvezdi non habet; fit dizia, ou afirmava na presença do Juiz,
tamen dignus venia ex desiderio Sacer que se tinha recebido algum dinheiro :
dotis, qui socio confiteturturpitudinem a 2.º quando satisfazia o herdeiro, ou
criminis. Mundati enim runt leprosi, testamenteiro o que o defunto, ou ausen
dum irent oftendere ora Sacerdotibur, te, por escrito, ou de palavra havia con
antequam ad eos pervenirent, Unde pa fessado dever V. Confisorens cumprir.
tet Deum ad correspicere, dum ex ne Mandou ElRei D. Affonso IV, que vis
cessitate probibeturad Sacerdotes per to succeder com frequencia fazerem os
7)tº/1/1"6", meesteirosos (para acharem quem lhes
Em Inglaterra durou esta Confissão de empreste alguma cousa de que muito ne
dezejo , ou incoada , e principalmente cessitão) muitas vezes confisroens do que
entre os navegantes, e guerreiros (quan nom he, e renunciam os direitos, que
do a tormenta , ou #### erigosa os ajudam contra aquellar confissoens,
lhes mostrava de perto o fim da vida) que fazem º se alguem conferrar que re
até os principios do Sec. XV. Em Por Febeo alguum emprestido, e ataa ferren
tugal chegou até os fins do mesmo Se ta dias queira dizer, que o nom rece
culo. Depois deste tempo se julgou mais beo, posto que o confessasse, que o por
racionavel, e prudente abster-se desta sa dizer, e que seja a ello recebudo
Confissão; pois nenhum preceito a man Cod. Alf. L. IV. Tit. 55. S. I.
dava, e que pelo erro, e abuso dos he CONFISSOENS — DAR. Ouvir de
reges; e perigos mesmo a que induzía, Confissão, absolver os peccadores verda
sería facil o passar de util a perniciosa. deiramente arrependidos. Entre os mais
E hoje sem duvida peccaría mortalmen Privilegios, concedeo Inn. III. aos da
te (menos que a ignorancia o escusas Ordem do Hospital, que se alguuns pre
se) todo aquelle que se confessasse, ain lados (Abbades, e quaesquer outros
da mesmo no artigo da morte, a quem Parochos) nom quiserem maliciosamen
não fosse Sacerdote; não só pelo perigo te dar Confissoens , e Comunham aor
da infamia, a que se expunha, mas tam seus fregueses , que os freires do Spi
bem pela occasião que dava, de se jul tal os possam per seus Sacerdotes asol
gar que elle seria Lutherano, ou Jaco ver (em outro Doc. meemfestar ) dos
ino. V. Martene De Antia. Eccler. ri peccados ascondudos, e dar-lhes o Cor
rib. Tom. I. L. I. c. 6. art. 4 n. 7. Nata po Santo de Deos, e aduzelos roterrar
His Alex. Hirt. Eccl. Tom. III. ad Sec. III. «as far Igrejas com t , e proceçom. D.
Dirrert. 4. Morino De Penit. L. VIII. de Léça.
c. 24. E por todos Bened. XIV. De Syn. CONFISSOENS Episcopaes Aquel
Dioc. L. VII. c. 16., além de outros mui las, que se fazião aos Bispos; ou fossem
tos, que fallão da Confissão feita ao dos peccados, a que pela sua gravida
Leigo. de se impunhão penitencias publicas; ou
CONFESSORA. — Não só ás Santas daquelles , que por Direito commum,
Martires, mas tambem ás Monjas, e Re ou particular a elles erão reservados. Em
ligiosas se deu o nome de Confessoras; e huma Composição que o Prior do Hos
isto pela mesma razão, com que o Mon pital fez com o Bispo d'Evora, e seu
ge foi chamado Conferror. V. Confessor. Cabido sobre as Igrejas do Crato, Mou
VºEm alguns Doc. do Mosteiro de Ce ra, Serpa, Portalegre no de 1248. pelo
te do Sec. XI. e XII. são chamadas Con que respeitava á jurisdicção, e Direi
ferrorar as Monjas. Em hum de ro77 tor Episcopaes: depois de convirem,
se lê: Pro victu, et vertimentum Fra que o dito Bispo, e seus Successores se
*rum, Monacorum, Diacomorum, Cle rião recebidos nas Igrejas que a Ordem
ricorum, Conferrorum, Conferrarum , tinha nas ditas terras, nomine sua Ec
#………….
T3.
D. da Graça de Coim clesiae, e que lhe darião a Procuração hu
ma só vez no anno, e hindo elle em pes
CONFISSOENS. Erãofrases da nossa soa , e receberem delle .…………… C
CO CO 27
Ecclesiarum, & Altarium, & ordina rearia. V. Com frero.
tiones Clericorum, Óº alia Ecclesiasti CONSSE'RO. O mesmo que Conrea
ca Jacramenta : continúão: Et concedi
rio. Conego do Mosteiro de S. Jorge da
mus, ut Episcopus audiat Confessiones par de Coimbra, Consséro que se dizia:
Episcopales, causas matrimoniales, Óº da Oveença da Consseería do dito Moes -
a rurarum, Óº concubinatus, apostatas *eiro. D. da Univ. de 1346.
reconciliet, sacrilegos puniat, Clericos CONSISTORIO Cancellado. No Rei
vententes de Ordinibus examinet, orna nado do Senhor Rei D. Affonso III. se
menta Ecclesiae videat, & Clericos do praticou o Consistorio cancellado, que
cear qualiter debeant divina Oficia ce constava do mesmo Rei , Presidente; e
/ebrare, & panitentias injungere, & de hum Gram Kanceller , Refrendario
fuum Oficium exequi. D. da T. do T. dos sellos da Puridade; e de hum Conde
V. Confessar. Palatino. Assim consta de muitas Doa
CONGEITO. OS. — Mostras, sina çoens, Graças, e Sentenças, passadas em
es, palavras, interjeiçoens, ou movimen Consistorio cancellado diffinitivamente,
tos do corpo , que mostrão, ou dão a com acordo, e voto, v. g. do seu Gram
entender no exterior as inclinaçoens, ou Kanceller Estevam Eannes , que fazia
afectos d'alma. Hora fosse por sentir as vezes de Primicerio, e de D. Fr. Af
della algum congeito, ou por elle de si fonso Pires Farinha, que fazia o Oficio
mesmo quererfallar. Chr. do C. D. Du de Conde Palatino, e Secundicerio. Am
arte c. 15. Com esse segundo razoado se bos estes assistião ao Rei no despacho
teve ElRei: ... segundo pareceo aaquel da Justiça; porém ao da Graça, e Mer
/es, qne alli eram, per algums congei cê assistia só com o Principe o Gram
tor de fóra. Chr. do Conde D. Pedro. Kanceller, por ser este o maior Minis
L.I. c. 5. tro, e Refrendario dos sellos da Purida
COMPRIDA. Comprimento, nu de, e Escrivão della. Ainda foi Gram
mero, conta certa , e determinada. Se Kanceller D. João da Silveira, primeiro
os Wintaneiros cada huum per si nom Baram de Alvito, em tempo do Senhor
poder fazer comprida de vinte homeens D. João II., em que se achão alguns ves
conhecidos. Cod. Alf. L. I. Tit. 69. S. 9. tigios do antigo Consistorio cancellado;
CONSAGRAMENTO. Juramento mas não com as formalidades, que se pra
feito pela Hostia consagrada, que se ti ticou no Reinado do Conde de Bolonha.
nha recebido. V. Consagrar. O celebre Conde de Castello Melhor D.
CONSAGRAR. Jurar pela Hostia, ou Luiz de Vasconcellos e Sousa foi o ulti
Corpo do Senhor, que se tem commun mo Escrivão da Puridade. Doc. da T.
* do T. V. Puridade.
gado. O Infante D. Pedro, e o Conde dº
Abrantes, consagrárão ambos de mor CONSOLAR. Aconcelhar, influir
rer hum quando o outro morresse. E pa com o seu conselho. Gil Martins de Co
ra confirmação deste proposito (ou des reixas, Cavalleiro, deixa por seu Tes
proposito) o Infante mandou "É cha tam. de 1288 quinhentos maravidís por
mar o Doutor Alvaro Affonso, Clerigo almas daquelles (diz) que eu matei, e
de Missa, pedindo-lhe lhes desse a Sa mandei matar, e fiz matar, e consolei
grada Eucharistia. Fez o Doutor os seus a matar, e ajudei a matar, pera can
protestos para que a não recebessem 3
tar Missas de sobre Altar. E manda
mas em fim commungárão com sinaes hum homem em romaría a Rocamador
de muita devoção , e arrependimento. a França: costume ordinario por aquel
E sobre a Communhão tornárão a firmar les tempos dos que tinhão sido homici
solemnemente seus prometimentos. E das, D. Graça de Coimbra.
com efeito ambos morrerão na desgra CONTENTAMENTO. Indiferen
çada batalha da Alfarrobeira, segundo ça, desprezo , vilipendio. Do Latino
o consagramento, que ambos por isso ti Contemno. Muitos do nosso Senhorío per
nham feito. Chr. d'ElRei D. Affonso V. contentamento, ou per #### J'º

c. II2, e 12O. leixam jazer nas Sentenças dº escumu


CONSEERIA. O mesmo que Con nhom Cod. Alf. L. V. Tit. 27. § 3.
D ii Tam
* 28 CO •
CO
Tambem se tomou pela satisfação da percadores pescavão no rio do Tejo com
injuria, ou malfeitoría. E se nom trou bogueiros, e lavadas, em as quaes tra
ver estrumento de contentamento da par zião copeer , que he outra rede de tra
te querelosa &c. 1, e que testifique, co *has muito miudas, que anda como saco
mo ella se acha contente, e satisfeita. em meio das ditas redes. Carta d'El
od. Alf. L. I. Tit. 4. S. 6. Rei Sobre as redes com que matão a cri
CONTEENGAS. Trastes, moveis, ança dos saves no Tejo. L. Vermelho.
utensilios de pouco preço, mas idis N. 18.
pensaveis para os usos domesticos, e sem COPEGAR. Cahir, tropeçar, cegar
os quaes muito mal se podería servir, se do amor, deixar-se colher, ou pescar
e governar huma familia. Todo u lio, e na rede do affecto , ou paixão. Ainda
a láá, e o fiado, e ferramentar, e escu hoje dizemos Copejar a balea, o atum,
delas, e todalas outras cousas meudas, e outros grandes peixes, quando se pes
ue som conteenças de casa. D. de S. cão, ou segurão com a fisga, ou harpeo.
Thiago de Coimbra de 1278. O juizo do homem á cerca da tal terra
CONTENENTE. Instante, que não (a sua Patria ) ou pessoas, recontando
admitte alguma mediação de tempo. E feos feitos , sempre copega. Chr. d'El
logo em esse contenente. D. de S. Pedro Rei D. João I. P.I. c. 1.
de Coimbra de 1409. Em Latim diria CORDO-OS. Cordato, discreto, mo
mos In continenti. derado, sizudo, prudente. Daqui Cor
CONTRAIRO. Contradicção , ou dura, sizo, descernimento, juizo &c,
cousa alguma, que se opponha ao que se Pooem Meirinhos nom cordor, nem tem
estipulou no ajuste. Em paz, e em salvo, perados, mas temerosos (temiveis) que
e sem outro contrairo. D. de S. Pedro de fazem eixecuçoens nas Igrejas assy
Coimbra de I2O8. -

como querem. Cod. Alf. L. II. Tit. I.


CONVENGA, e Convenção. Acção 3 rt. 2 I.

que se poem , ou pode pôr em Juizo. CORNARI’A. No Foral de Coimbra.


Win do Latino Convenire , trazer al de I III. se diz : Hominer de Bolon dent
guem perante o Juiz. E achamos perdi nobis quartam partem, et non cornaría.
D. da Cathed. de Coimbra. Antigamente
reito, que ha by tres convencooens, em
que não cabe reconvenção, a raber, con só o gado vacúm se empregava no ser
venença de esbulho; guarda, e conduri viço de lavrar as terras: de cada junta,
lho; e de feito crime. Cod. Alf. L. lII. ou jugo se pagava hum tanto de ceveira
Tit. 29. S. 4. ao Príncipe, ou Direito Senhorio do ter
CONVENENTE. ES. Contrahente, reno: a este fôro, ou tributo se deu o
estipulante, o que faz contrato, ou con nome de Cornaría , por serem cornige
venção com alguem. V. Malada, e Moe ros os animaes, em cuja contemplação
/ba. - •

elle se impunha. Ducange V. Cornagium.


COOMHA. V. Calumpnia. Por co Em Portugal prevaleceó o nome déju
omba, se acontecia, havia ElRei daver gada ao de Cornaría , que era proprio
huuma taça dauga de huuma fonte, % á suscitar ideas de indecencia, e menos
está a par da Igreja de Villa Nova (das gravidade:
Infantês, que he em terra de Sá, Riba CORNU. — Deu-se este nome, como
de Visella) que chamam fonte d'Onega, por antonomasia ao tinteiro, por ser o
e hum carneiro. Distre, que avia por 'córno a materia de que ordinariamente
Coomba, quando contecia que huum bo se fazião antigamente as escrivaninhas.
mem matasse outro, ou se caesse darvor, E quando se dizia v. g. que se tomou pos
ou de hérta, e morresse... Que esto ou se de alguma cousa cum cornu , et al
vira rempré chamar Coomha. D. de San vende, era o mesmo que dizer , se to
to Thirso de 1379. mou com Alvará Carta, ou Decreto es
COPE'. Rede de tralhas, ou malhas crito, e firmado do proprio punho, si
muito miudas, que extinguem o peixe , nete, ou chancella do Imperante , ou
que se vai criado : e como nocivas ao Governador da terra, ou como vulgar
bem publico, forão prohibidas. Algums mente dizemos, por tinta, º pºp")V.
CO CO 29
Alvende. A 9 de Fevereiro de 87o Flo severassem na Vida Santa, os quaes por
-marico, cum conjugea mea Gundila Sce nenhum principio poderião alienar o que
/*mondo , et uxore mea Astragundia, or esta Escritura tão liberalmente se
dotarão a Igreja, e Mosteiro, que em hes concedia. Nella declarão os Fun
honra de muitos Santos Martires, Vir dadores, que presimus (a dita Villa de
"gens, e Confessores, S. Miguel Archan negrellos) cum cornam, et albende Ad
Jo, e S. Salvador, e suas Áeliquias, ti fonsus Principem, et Comite Lucidu Vi
nlião fundado na sua Villa dé Negrel marani; isto he, que tornárão posse del
los, junto a Guimaraens, nas raizes de la por Carta , ou Alvará d'ElRei D.
Monte-cavallo , e não longe do rio A Affonso III, o Magno, Rei de Leão, a
"ve , territorio Bracharenses , Urbium # o Conde Lucio, ou Lucido, que em
Portugalensis (territorio de Braga, Ci Suimaraens imperava, e tinha o gover
dade de Portugal) por conselho, e man nos pôz o Cumpra-re, e fez dar á sua di
dado do Bispo D. Gomado, que no vida execução. Acha-se este notavel Doc.
mesmo dia a sagrou com o titulo de S. no L. de D. Mumma- domna a f 55 , e
Miguel; assignando juntamente os Fun se pode ver em a Nova Hist. de Malta
dadores o Cemiterio, ou Corporal,# pelo incansavel, e exactissimo Senhor Jo
ra sepultar os corpos dos Fieis (na for sé Anastasio de Figueiredo, (a quem os
ma dos Sagrados Canones ) e os Dex diversos ramos da nossa Litteratura de
*ros, ou Passaes pro toleradura fratrum; veráó sempre os novos augmentos, com
e dando liberdade, ou fazendo forros que, particularmente da Torre do Tom
toda a criação, ou escravos, que na dita bo, os soube enriquecer, e de cuja li
Villa tinhão, e fazendo Doação irrevo beral condescendeucia para comigo vie
# gavel de varias péças, livros, ( e entre rão a este Elucidario repetidas luzes,
| elles Ordinum, Comitus , et Pasio S. que ingenuamente confesso ter delle re
Christoforis) casas, e edificios aos Cle cebido.) P.I.S. 159. da Edif. de 18oo.
#
rigos, Frades, ou Monges, que ali per
( *) COR

( ). Por este Doc seria facil persuadir-se alguem que Flomarico se achava atualmente
casado com deas mºlheres legitimas: huma sem as solemnidades, prescriptas na Lei, chama
da Gondilo, o" Cundila Scclemondo, e aqui dita Conjugea, que os Latinos disserão Conjux,
é algumas vezes se tomou R# Concubin , , e a outra solemnemente recebida, e com a Ben
ção Sacerdottl, segundo o itual do Paiz, por nome Astragundia, que com toda a pro
priedade se diz. Usor: nome que entre os Romanos competia só às que erão pomposa
mente conduzidas à casa de seus maridos, e antes de entrar nella enfeitavão a porta com
firas de láa, e a ungião com hum certo oleo; persuadindo-se que deste modo se rouba
vão a qualquer desgraça, ou maleficio : unde uxores dict e sunt, quasi unxores Asim o di
zem Servio, e Plino, e particularmente o mostra aos olhos a bella Estampa de Jacob
Lauro no seu Splendor Urbis antique, tratando dos Casamentos dos Romanos.
Mas esta Bigamia simultânea por nenhum # se pode sus entar entre as pessoas
de que faltamos; não cabendo em a Disciplina das grejas de Hespanha, e Portugal seme
* •

1hante abominação, e já nos fins do Sec. X. He verdade, que Roma, Gentílica (não re
conhecendo antes por legitimos os filhos, que não erão procreados de hum honesto Ma
trimonio entre legitimas pessoas) quando já corrompidos os costumes, admittio os Concu
binaros com aquellas, com quem se não podião facilmente celebrar as nupcias po Dote,
} e formalidades da Lei (excluindo sempre da successão os filhos naturaes, que delles pro
cedessem) não permírio já mais duas mulheres legitimas a hum só homem. Estas Contu
binas pois nada tinhão de commºm com as Ancillas, Pélas, ou Amigas torpes : ella erão
verdadeiras Eposas, que se tomavão para remedio da incontinencia, procriação dos fi
Ihos, e com inião índissoluvel: differião com tudo das mulheres legitimas; em não par
ticiparem dos direitos, privilegios, e honras de seus maridos. Mas ainda assim a Reli
gião Christ㺠procurou desde logo extinguir tão grosseirº abuso, fazendo que º Grande
*Sacramento do Matrimonio em tudo, e em todos fosse honrado, e as Leis do Imperio
ssárão a favorecer os filhos das Concubinas, ue os Pais recebessem por suas legitimas
mºlheres, Cod. Th. cit. de Naturalih. Liber. Novell. 18, e 89. Ducange. V. Dos. E para di
zer tudo n’huma palavra: devia a Concubina ser unica , e o homem solteiro.
Destas Concubinas pois, ou Conjugeas menos solemnes, he que os amigos Canones,

}
3o CO CO
COROGA, Corossa, e Oroça — Em não. Da Coroca, capa vil, rustica, em
muitas Const. antigas, como nas do Por- fim de juncos, ou palha, passou o nome
to de 1585. Tit. 16. Const. 2. se deter- a esta vilissima, e paliada simonia.
mina: Que se não ponham os beneficios CORONHO. O mesmo que Colonho.
em corossa; declarando-se logo isto, e E ajudar á vinha d'Oniga, e aos coro
condenando-se, como verdadeira simo- nhos da feira da Caresma...D. de Pend. de
nia paliada. Daqui Beneficios encorossa- 1481.
dor, em corossa, em corofa, ou em oro- CORREGEDOIRO. A. Digno, e me
ga, aquelles em que a simonía se occul- recedor de ser correcto, e emendado.
ta , cobre , e esconde com mil pretex- Corregua o Sobre-juiz a Sentença, se
tos, contratos, e enredos, que as Leis corregedoira for. C. Alf. L. III. Tit. 71.
Divinas, e humanas detestão, e abomi- § 31.

CO

Padres, e Concílios, citados por Graciano in C. Isqui, dist. 34. se devem entender, quan
do admittem ao Baptismo, e, a Communhão esta qualidade de Concubinarios, e Concubi
nas; pois Coucubinº bie e º inteligiºur, que cessantibus legalibus instrumentis, unita est, et con
jugali afectu adscicitar. Hane Conjugen facit afectus, Concípipam lex nominat. Era pois pro
hibido ao Christão por todas as Leis da Igreja, e do Estado, não só o ter maior número de
mulheres, mas nem duas simultaneamente podia ter . huma só lhe era permittida; e esta
ou havia de ser Uxor na forma acima dita, ou em falta desta, huma só Concubina, e co
mo por Indulgencia, lhe não era estranhada. Este he o sentir dos melhores_Theologos, e
Canonistas, adoptado mesmo por hum Binghamo nas suas Orig. Ecclesiast. Tom. IV. L. 11.
c. 5. S. Tom.seVII.
11. a&-isto L. m16., que
oppoe 5. tempo de Santo Agostinho na Africa, e no de S.
c. 11.jáS. no
Nem
Leão Magno em França, e logo depois na Hespanha, se fosse introduzindo hum pessimo
costume de se tomarem Concubinas ? não a moda dos Christãos, mas sim dos Gentios; por
que estas verdadeiramente er㺠Péllas, ou Ancillas, que supposto se associassem ao leito
por algum tempo, ficava na liberdade destes Contrahentes libertinos dissolver este via- .
culo de maldade quando muitº lhes aprazía. Estes chamados Matrimonios protesta Santo
Agostinho diante de Deos; e dos seus Anjos, que nunca forão, nem são, nem hão de
se licitos na Sociedade Christáa; pois os que se ajuntão com semelhantes Concubinas fa
zem dos membros de Christo membros da meretriz. Não era logo conforme ás Leis do
Imperio, e menos da Igreja, o uso das Concubinas neste sentido, por mais que a desordem
dos apetites assim o julgasse.
o
Eu sei que nesta Regiã Occidental poderia o máo exemplo dos Sarracenos fazer

alguma impressão nas almas fracas, e corrompidas. Estabelecendo Mafoma, que todos
os homens devem casar i, tres qualidades de Matrimonio , autorizadas pela sua Reli
gião , e Leis Civís reconhecem os Mahometanos. Entre elles pode-se casar com huma
mulher, ou com quatro º cºm º formulas da Lei ; e esta , ou estas são legitimas: ou
compralía como escravº * * destas podem tomar quantas quizerem : ou finalmente to
malta de aluguel, e a certo Preçº, Pºr tantos annos, ou anno, meses, dias, noites,
ainda por menos tempo : E quem nos pode assegurar , que Flomarico não
horas , ou ste numero : e que Gondila, se não para o leito , ficasse ainda lo
grandoálgum
fosse a horaº detitulo que teve de Consorte? E quem sabe se a fundação do Mos
ao menos
feito seria a Penitencia, que º Bispo lhes impoz por seu peccado, depois de os ter san
tificado pela absolvição Sacramental? E que sería , se sendo antes Mouros, se houves
Flomarico a Astragundia para sua unica Con
sem santificado pelº Baptismo, reservando
sorte, e chamando Conj"gº" º que algum tempo gozou impunemente na sua companhia
os fóros de casada? - - • • •

Mas nada dísto nos ºº nvence de que este homem tivesse ao mesmo tempo por suas
• • • • •

a duas mulheres : e que est as lhe fossem permittidas: elle era Christão, e por consi
• • •

guinte só o Matrimººººº? huma podia ser valioso. De outra sorte , nem o Bispo
aceitaría para Deos o Donativo de huma Igreja, fundada por huns peccadores actuaes,
• as suas letras, e virtudes (que de Bispo do Porto, com algum a inspec
eçãopublic os, nem
spado de Braga, que tinha por seu Prelado o Arcebi».spo de Lugo,
*>
no Arcebi •

o ele
várão depois a ser junfº" Bispo de Coimbra, donde foi morrer como Santo no Mos
reirº de "C'estuma) lhe permitirião ver a sangue frio, o que os Sagrados Canones tão
positivamente censuravaº. A_ - - - • *
A verdade he , que o bom Flomarico não tinha duas mulheres ao mesmo tempo :
• • • •

depois de ficar viuvo de Astragundia, com quem primeiramente vivêra casado, recebeo
CO CR. 3I
COTRIM. — Valía cinco ceitís. Cen do Hospital tinha hum Couto, marcado
to e quarenta reis cotrás , desta moeda por Padroens, de que não fazião foro a
corrente de cinco ceptís ho cotrim. D. ElRei, e as crianças (do dito Couto )
de Pombeiro de 1482. forão feitas do tempo de D. Afonso,
COUDEL das pioadas. Este nome se avoo deste Rei. Tambem se tomou por
deu principalmente ao Almocadém, por toda a criação de gados, ou frutos. V.
ser o Capitão, guia, e conductor da gen Tempreiros M. e XI.
te de pé nas expediçoens, que lhe erão CRERIAS. A Clerezia, assim secu
comettidas. Dos Coudees se fazião os Al lar, como ####
prescindindo de te
mocadens. Do boom piam se fazia o bo rem Ordens Sacras, ou só estarem ini
om Almocadem, e do boom Almocadem o ciados, ou com Menores. E me digam
boom Almoguavare de cavallo, e daquel as orar dos mortos toda/lar Crerías da
le o boom Adayl. Cod. Alf. L. I. Tit. 66.Cidade, e Moesteiros. D. de S. Thiago
CRIANGA. AS. — Principio, insti de Coimbra de 1415.
tuição, origem, nascimento , erecção. CROYO. Claudio, nome proprio de
Nas #4 R. de 1288. se achou na fregue homem. D. de 13c8. nas Inq. R.
zia de S. Payo do Carvalhal que a Ordem CRUZADA. No principio do anno
de

por sua legitima mulher em segundas nupcias a Gundila , com quem actualmente vivia
ao tempo, que se exarou a presente Escritura , da qual se tirão as provas , que assim
o persuadem. E primeiramente está fora de questão, que na Baixa Latinidade se tomou
sempre Conjugea por Conjux: e Conjux em todo o tempo foi synonimo de Uxor; porque
se este nome nasceo ab ungendo, como fica dito; igualmente a Conjux se disse assim de
Conjugo-as , quási ad unum, idemque jugum alligtta, tomada a metafora do jogo, que
une os bois: além disto a mulher casada se pintava, e esculpía entre os Romanos com
hum jugo, ao pescoço, como bem sabem os que ao menos de longe saudárão as Anti
guidades de Roma. Isto supposto não se toma aqui Gundila por Ancilla, ou Pellex, e nem
ainda por Concubina, ou mulher de inferior ordem; mas sim por huma *# verda
deira , legitima, e solemnemente recebida , que succedeo a Astragundia já defunta. Da
mesma Doação se evidencia, e a mesma razão está mostrando, que mediou largo tem
po entre a determinação, e consulta de se fundar huma Igreja, ou Mosteiro, e a sua
ultima perfeição, e complemento, quando foi sagrada por D. Gomado, que não só ins
pirou o projecto da fundação, mas talvez benzeo a primeira pedra; pois não só dizem:
Sacravinius eam cum ipsos dominos Gomadus episcopus; mas tambem deixavão dito, que a
edificárão per Sanctificationem Gomatos. No espaço logo, que deccorreo entre o principio
e a conclusão da Obra, viuvando o Fundador, he que tomou a Gundila por segunda mulher.
E nem se me opponha, que das Firmas da Escritura claramente se vê, que ambas
estas Consortes estavão vivas; pois a roborárão cum manibus nostris. Fromaricus, et Gondi
lo Scelemondo , et Astragundia : e se esta já estivera sepultada, não figurara aqui como
viva. Porém nisto não ha outro misterio, que ter ella roborado com sua mão propria na
particular minuta, ou primeira, Doação , que precedeo á fabrica do Mosteiro, a qual
cedula, ou Carta só agora se deu em publica forma, ampliada com o nome da segun
% da Consorte, e com a solemnidade de 12 testemunhas: Notum die , quod erit 1 1 1º. Ilus
Februarii. E D. CCC. VIII. V. Firma III, Nodum, e Noticias. No Tom. XLI. da Hesp.
Sagr. f. 11. se vê hum exemplo decisivo, de que tambem os que já erão falecidos se
achão algumas vezes como prezentes, ou confirmando nas Escrituras. Em hum Testa
mento , que fez o Abbade de Samos, inventariando nelle todos os bens , que havia
adqnirido para aquelle Mosteiro desde o anno de 11oo, até 6 de Abril, de 1 124; em
quê o fez, se achão confirmando D. Pedro II. Bispo de Lugo , e D. Pedro III_Bispo
da mesma Cidade: o que parece dá a entender, que no de 1124 ainda era vivo. D. Pe
dro II. (que havia renunciado a Mitra no Concilio de Palencia de 1 113) sendo certo
que havia falecido no de 112o. Escreveo-se pois a sua firma, não porque vivesse no de
1124, senão porque confirmou alguma daquelas accquisiçoens quando vivia. E pela mes
ma razão se acha confirmando neste Relatorio D. Afonso VI., que sem controversia fal
leceo no de 11c9. Fica logo manifesto, se de todo me não engano, que Astragundia pri
meira mulher de Flomaríco, já era falecida quando esta Escritura de Dote foi exarada;
: mas como por força havia de ser contemplada na da Fuudação, que havia precedido,
aqui se reproduzio o seu nome, como se fôra existente ainda, assim, e na fórma, que
então se praticava , e depois mais de huma vez se praticou.
32 CR CU
de 1436, estando ElRei D. Duarte em Es CUSTODIO. Assim disserão o Pro
tremoz veio ele por Delegado do Papa visor de huma Diocese. Pela qual razam
Eugenio, D. Gomes, Portuguez, que en }fiz jurar aos Santor Evangelhos em mã
tão era D. Abbade em Florença, e de aos do Arcebispo de Braga, o Custodio,
pois foi Prior de Santa Cruz de Coimbra, e o Dayom &c. Cod. Alf. L. II. Tit. 65.
o qual trouxe a ElRei a Bulla da Cruza • 22 , C. 23.
da contra os Infieis, como no Concilio *&#e "… r… º
de Ferrara o Conde de Ourém requere que se funda no Direito, razão, e con
ra, e a tinha conseguido. Chr. d'ElRei sentimento geral do Povo, ou Nação.
D. Duarte c. 13. E os costumes desta qualidade se chamão
CRUZADOS. Moedas bem conheci Custumes louvados. Cod. Alf. L. II. Tit.
1. art. 4o. e Tit. II. art. 1o. •

das em Portugal. Já os havia em tempo


d'ElRei D. João I., correndo o anno de
1397, e talvez erão já mais antigos. Cod. D.
Alf. L.IV. Tit. 1.S. 45. Tomada Cons
tantinopola por Mafamede no de 1453,
publicou Calixto III, huma Cruzada pá D AR LUGAR aos bens. Fazer ces
ra osbtar a tanto mal: o Senhor Rei D. são delles na mão do Juiz, para serem re
Affonso V, promptamente a recebeo, partidos, ou rateados pelos acrédores;
promettendo hir naquella guerra com ficando com tudo tantos ao devedor, com
12 d)OoO homens por hum anno, e á sua que razoadamente se possa manter, se
custa. E tendo já feito grandes prepara undo o seu estado, e condição, de mo
tivos, desvaneceo-se a empresa, que se # que não morra de fome. Cod. Alf. L.
converteo para a Africa, mas igualmente III. Tit. 121. per tot.
sem efeito. E logo no de 1451 veio a DECEDURAS. Parece que assim fo
este Reino por Delegado do Papa hum rão diros os partos, que decem do ven
Bispo de Silves, Portuguez, homem de tre materno. Aja minha molher pela mi
bom saber:, e grande autoridade, que nha meiadade huma taça de hum marco
trouxe a ElRei a Cruzada contra os Tur de prata , que lhy prometi por decedu
cos, com grandes Indulgencias, e per ras. D. de Bostello de 1344. Ainda hoje
doens. Mas como os mais Principes se se achão maridos tão amantes de suas
não aprontassem, passou a tomar em consortes, que lhes dão varias prendas,
Africa Alcacer-Ceguer com 25 QCCO e vestidos por cada parto, com que aug
combatentes em 22o velas. Entre os mais mentão, e alegrão a sua familia.
preparos, que o Senhor D. Affonso ti DEFENSORES.— Este nome se deu
nha feito, era a grande copia de moe aos Militares valerosos que defendião
da de cruzador de ouro }, , lavra a Nação, e a Patria. Com tres Estados
dos com toda a perfeição, em cujo peso, quiz Deos, que se mantivesse o mundo,
e não preço mandou acrescentar dous a saber: o dos Ministros do Senhor, que
grãos sobre todos os Ducados da Chris pois rogão pelo povo, forão ditor Orado
tandade, para que em toda a parte cor res: o dos que lavrão a terra, per que
ressem sem alguma duvida ; porque no os homens hão de viver, e re manteem,
.reu tempo, e no de feu Pai, não rela e por isso se chamárão Manteedores: e
vrou de ouro outra moeda, se não Ercu o terceiro he dos Defensores, quaes são
dor de ouro baixo, que fóra do Reino re os Cavalleiros honrador , fortes , e po
tomavão com grande quebra , e muito derosos pera defenderem a terra , e
pejo. Chr de D. Aff. V. c. 135, e 138. acrescentalla. Cod. Alf. L. I. Tit. 63.in
CURUGEIRA. Pardieiro, povoação pr. Esta divisão natural dos individuos,
vil, sitio penhascoso, e só proprio para que compoem huma bem ordenada Mo
criar corujas. E tudo isto fez (o Avô de narchia, quando não estivera afiançada
D. João Rei de Castella, que morreo de nos Sagrados Codices do Velho, e No
peste no cérco de Gibaltar, sem a poder vo Testamento, bastava que os nossos
render) por cobrar huma curugeira de ##### Soberanos a tomassem
Pouco valor. Chr, de D.João I. P.I. c. 15o. dos Reis mais antigos do Egypto, em
cujo
DE DE 33
cujo Governo Monarchico tinha o lugar Minha terra, e grande mingua de fur
primeiro a Instituição do Culto Religio tiça, e gram delongamento, e dano dor
so. Ali compunhão, os Sacerdotes a pri que os preitos ham. Cod. Alf. L. III. T.
meira Classe do Estado, estavão úni 74. S. 2. •

dos á Pessoa do Soberano, erão os seus DEMOSTRAR. Baldear, mudar a


Conselheiros, os Inspectores da moeda, carga para outra parte, descarregar. Le
dos pesos, das medidas, e tinhão a Su vando arri o bragantim arrombado até
perintendencia das rendas publicas, e Mançor, em cuja cala demostrarão de
dos impostos. A segunda Classe se com noite a carrega, e estancarom sua fus
unha dos Guerreiros, de quem erão ta. Chr. do C.D. Pedro de Menezes.
inseparaveis as honras Militares, que DESAFIAR. Despir, desnudar, tirar
nobremente os distinguião. A terceira fi a alguem o seu fato, ou ropa. E o que
nalmente, constava de Lavradores, e gen he mais pior, desafiam-nos Clerigos, e
tes do campo, que pela sua indirimível esbulham-nor dos seus averer. Cod. Alf.
necessidade, nunca erão arrancados da L. II. art. 6. e 17. Talvez que neste mes
Lavoura, nem ainda para a Milicia.V. mo sentido se disse antigamente Desfiar.
* Sesmaria. DESAPOSSADO. A. Abatido, fal
DEGOLADOR. Não podião os Ju to, desfallecido, e sem vigor. E estava
deos matar alguma rêz, ou ave daquel tam fraco, e tam desapossado do corpo,
las, que a Lei de Moisés lhes permittia e do entendimento, que nom sabia o que
comer ; mas isto só podia fazer o dego fazia , nem o que $# , nem er fazia
/ador, que devia haver em cada lugar, mençom no ditº Codicillo, que el jazia
onde Judeos houvesse , posto por el com reu riro. D. de S. Christovão de Co
les, Qu mandado pôr pelo Soberano. A imbra de 1364.
sua obrigação, era, fazer logo saber ao DESBARATAR. Destribuir, fazer
Colhedor, e Escrivao dº ElRei as carnes, em sortes, repartir com grande econo
que degolara, para este receber 4, di mia, igualdade, e acerto. Cod. Alf. L.
nheiros de cada arratel. Cod. Alf. L. II. IV. Tit. 91, que he : De como se ham de
Tit. 74. S. 7, e 8. " •

guardar, e desbaratar os beens dos hor



DEITADA do leito. Acção de o dis foons, as ri movir, como de raiz.
por, e ornar, segundo o modo, lugar, DESCANGAR. Ainda hoje, e prin
tempo, roupas, e atavíos, que conve cipalmente na Provincia do Minho, se
nhão á pessoa, que nelle deve dormir, conservão alguns vestigios do antigo
ou descansar. Pertence ao CamareiroMór costume de serem as casas, ainda hon
tudo o que he da Camara Real, e espe radas, e distinctas, cobertas de colmo,
cialmente naquellas couras, que convém ou giestas, e não de telha; pois no Tom
4 deitada , e levantada do leito. Cod. bo do Aro de Lamego de 1346 se acha,
Alf. L. I. Tit. 56. que alguns lugares de Mageja erão obri
DEITAR para mal. Entregar-se a gados a huns tantos feixes de giéstas ne
deshonestidades, seguir huma vida tor graes para se cobrirem as casas, que El
pe, licenciosa , e immodesta. E estes Rei tinha no Castello daquella Cidade.
dinheiros, que mando a minhas criadas, Sobre o colmo, ou giesta punhão huma
mom lhes dem atáque vejam, que som certa jangada de páos atravessados, par
raer, que possam com eller fazer sa que os ventos as não deixassem expostas
prol, e sse virem que querem ser maas, á inclemencia dos temporaes. Era pois
e deitarem pera mal, nom lhes dem na Cangar a casa, por-lhe este reparo :
da. D. de S. Pedro de Coimbra de 1341. Descangala, tirar-lho : e Canga, o tal
DELONGAMENTO. Delonga, de artificio, que sobre ella se punha. Que
mora, dilação perniciosa, e culpavel, lhis filhava as veerças das cousar, e que
lhis mandava segar os payes , e que lhir
com detrimento grave das partes, e of
fensa da Justiça , que manda dar com descangava as caras das cangar, { ro
prontidão o seu a seu dono. E esto re bre ellas jaziam; e que mom podia bo
melha a Mim mui desaguisado, cá em mem guarecer no herdamento. D. de
se fazer assi seria mui gram dapno da Pend, de 13o8. E DES
34 DE DE
DESCOMPENSAR. Dispensar. Der DESFROLADO. V. Desfralado.
compensase-mos com elle , pera com Hum Teisto coberto de prata, a logares
prar alguum pam de renda para o dito de frolado. D. de Santo Thyrso de 1438.
Moesteiro. D. de Santo Thyrso de 15o8 Tinha pois este Paxoeiro, ou Livro, em
Tambem se tomou por descontar em que estavão escritas as Paixoens dos qua
hun D. de S. Pedro de Coimbra de 1437. tro Evangelistas, a pasta guarnecida de
DESCOMUNALMENTE. Contra prata, porém já em partes resaltada, e
todo o Direito, e o que commummente sem aquella fior, e graça, que primei
se pratíca. Cod. Alf. L. II. Tit. 1.art. 32. ro tivera. Tambem forão de grande uso
DESCUMUNALLEZA. Acção, que entre os delicados do seculo os capatos
exhorbitando do commum, e regular, defrolados, isto he, lavrados de varias
se torna em confusão, e desordem. E es formas, e figuras na flor do couro. Este
*o por aazo de se a gente nom espalhar calçado foi prohibido. Nom traga cal
em descumunalleza. Cod. Alf. L. I. Tit. fadura desfrolada, nem pintada, nem
5 I. S. 36. riscada de traz. Cod. Alf. L. V. Tit.43.
DESCRER. Não crer, desacreditar, S. 2. Esflorado se disse o calçado, quan
não cativar o entendimento em obsequio do a flor do cabedal ficava para dentro, e
da Fé, arrenegar, romper em blasfemias o carnaz para fóra. Segundo o Regimen
contra Deos, e seus Santos, Daqui Des to de 148o. devião os Gapateiros dar o
creudo, ou Descrido, o infiel, arrenega par de capatos brancos esflorados, e rar
do, blasfemo, o que nega os Augustos, pados de pedra pomez, por 24 reis,..
e adorandos Misterios da Religião, que e fapatos brancos de frol com sola, e
professamos. No de 1315. mandou El vira, ou sem vira, por 22 réis. L. Verm.
Rei D.Diniz, que quem quer que descreer do Senhor D. Affonso V. Nº 51.
de Deos, e de sua Madre, ou os doestar, DESPEITAR. Injuriar , afrontar ,
que lhes tirem as lingoas pelos perco tratar alguem com desprezo, deshonra,
ços, e que os queimem. ElRei D. Affon e vilipendio. Tendo-as (as mulheres que
so V. estabeleceo, que todo aquelle que não são barregans) em prisoens perlon
sanhudamente renegar de Deos , ou de gadas, despeitando-as, e defamando-as
Santa Maria : se for Fidalgo, Cavallei ... e as que honestamente vivessem nom
ro, ou Vassallo, pague por cada véz mil fossem despeitadas , e defamadas ...
reis pera a arca da piedade (dos cati prendendo , e soltando, e despeitando
vos): e se for piam, dem-lhe vinte a muitas mulheres... seja preso, e da ca
çouter no Pelourinho, e em quantoo assi déa pague aa dita mulher mil reis po
açoutarem, metam-lhe pela lingoa hu la injuria, que recebeo em arri reer pre
ma agulha de albardeiro, a qual tenha sa, e def/amada. Cod. Alf. L. V. T.121.
assi na lingoa atad que os açouter rejam DESPEITAMENTO, e Despeito.
acabador. E aquel que arrenegar de al Desprezo, afronta, injuria, e tambem
guum outro Santo, se for Fidalgo & e. se tomou por ira, paixão, má vontade,
pague 5oo, reis: e se for piam, ande dº renntencia, pesar.
arredor da Igreja com huma filva ao DESPERICIMENTO. Destruição ,
pescoço cinco restas feiras, a saber, em ruina, perda. V. Desperescer. Em gram
cada huma resta feira huma vez, em dapmo dos ditos Moesteiros, e Igrejas,
quanto esteverem aa Missa do dia, re e em gram despericimento dos beens del
gundo agora recustuma de fazer. Cod. les: Cod, Alff, #5 art.37.
Álf. L. IV. Tit. 99. —Tempo he jaa de DESPORTO. Retiro, solidão, pou
tomardes vingança destes descreudor. ca, frequencia de gentes. Per outro ca
Chr. do C. D. Pedro L. I. c. 19. minho , em que por seu desporto todos
DESEMALHEAR. Recobrar, ou rei os principaaes juntamente comiam, e fol
vindicar o que andava alienado. Dese gavam. Chr, de D. Affonso V, c. 1o3.
malheando henr.D. da Univ. de 15o4. DESPOSICOOM. Exposição, inter
- DESENPEGO. Descarga, alivio, de pretação, e clareza de algum texto, ou
sembaraço. Desempeço de fas almas. D. passagem dificultosa, e escura, ou me
de Bostello de 1306. nos clara. Dous volumes de desposiçooens
dos
DE DI 35
dos Evangelhos. D. de Santo Thyrso de servaria para si o Fundador a Oblação
1438. da vela, de que agora dispoem o que
# ESTYNGUYR. Extinguir, falecer, no Padroado lhe havia succedido.
acabar. Se a legitima sobcesam dos Reis DIVEDO, Devido, e Devudo. O mes
destes Reinos por algum caso se destyn mo que Devído, isto he, razão de pa
guysse. Chr. de D. #### V. c. 14. rentesco, mais, ou menos chegado. Sen
DINHEIROS Alfonsís. V. Alfonsis. do seu divedo muito chegado. Chr. do C.
Quatorze libras de dinboiros Portugue D. Duarte c. 13.—Confirando o boom, e
zes Alfonsís da moeda antiga, como vem # devudo, que tinhão com o mui
a saber, a libra de xx soldos, e o roldo obre, e Poderoso Princepe D. João Rei
de nove dinheiros, ou de doze dinheiros de Portugal e do Algarve & c. D. de
velhos por soldo : a Barbuda por dous 1387. — Aparto, e arredo todollos do
soldos, e quatro dinheiros: fó%. por meu divido com cinquo soldos , como
quatorze dinheiros: e Pilharte por sete manda a Ordinaçom do Reino, que nom
dinheiros velhos , ou verdadeiro valor possam mais aver, e erdar. — Se al
da dita moeda antiga, em ouro, ou pra guem veer do meu divido , que queira
ta, como sobía de valer no tempo anti herdar meus beens, que o aparto com
go por comunal stimaçom, e nom a rin cinquo soldos, assi como be huro, e cur
co livrar por huma, nem sinco soldos tume de Portugal, de todo-los meus beens
por huum, como ElRei manda em sua movees , e de raiz. Doc. de Bostello de
Ley, e Ordenhaçom. D. do Mosteiro de 1399 , e 1348. V. Apartar dos bens, e
Muya de 1394. vendar.
DINHEIROS secos, e dinheiros mo DIZIMA. Havia Dizima Ecclesiasti
lhados. Os 1.ºs erão os que se jogavão ca, e Dizima secular: a 1.° se pagava
em moeda corrente: os 2.ºs os que se jo á Igreja , a 2.° ao Senhorío. E eisaqui
gavão em cousas comestiveis, a descon a origem dos Oitavos, ou terras Oita
tar a dinheiro. Mandou que nenhuum nom veiras, nas quaes os Colonos, pagas as
jugasse dinheiros secos , nem molhados duas respectivas Dizimas, de dez fica
a torrelhas, nem a dados femear, nem vão com oito; e a isto propriamente cha
a vaca , nem a jaldeta, nem a butir, mamos fugada. No de 1262, os Hospi
nem aa porca, nem a outro jogo, que se talarios (hoje Maltezes) derão o 1º Fo
ora chama curre curre, nem a outro jo ral aos Povoadores de Tolosa, conceden
go nenhuum, de qualquer nome que re do-lhes, entre outras terras, huma sua
ja chamado, porto que esse jogo nom aja herdade, que na ribeira do Soor lhes fi
nome. Cod. Alf. L. V. Tit. 41. S. I 1. cou por seu sermo , quando sermárão
DIOSO. Antigo , velho, de muitos com o Concelho do Crato ; com foro
dias. Muito dioso. D. de 1438. a nós duas dizimas: huma ser de pão,
DIREITO de povoar, e hermar. V. e de vinho, e de linho per razom da
Hermar. quella herdade, e a outra á eygleia de
DIREITO da véla. No antigo Regis todas as cousas que ouverem, assi como
*ro de Leça se faz menção de huma # rl a Santa ###### no 2º Foral, que
da no tit. de Moura morta n. 5. pela com bastante diferença do I.", lhes de
ual Vicente Gonçalves deixou á Ordem rão no de 1281. dizem: E dedes a nós
} Spital o direito que avia no Souto da de todo o froyto, que Deos der, a dezi
Rainha com seu terreo, eo dereito da vé ma spiritual, e 5% alqueire de #
la da Igreja, &c. Que Direito este fos por fogaça, e hum capom por Sam Mi
se não he cousa averiguada. Não se po guel, cada huum daquelles, que y for
dendo entender aqui a véla por vigia, des herdados, isto he, que ali tem her
guarda, ou sentinela; parece alludir ao dades, e terras de lavoura D. da T. do
ereum, tocha, cirio, ou véla, que an T. No de 127o Pedreannes, Reporteiro
#" se oferecia no Sacrificio da Mór dº ElRei, e sua mulher Sancha An
issa por aquelles, que não erão es nes, derão , e aforarão a sua herdade
cravos. V. Cereo. He pois bem de pre de Montouto (ou Amontouto, que hoje
sumir, que na fundação desta Igreja re diriamos Montálto) a todos os seus Po
C.
E ii VO3
36 DI DO
voadores presentes, e futuros, os quaes d'ElRei D. João I. P.I. c. 49. No Cod.
lhes pagarião dizima de pão, vinho, Alf. L. IV. Tit. 2. S. 13. e Tit. 3. § 2.
linho, azeite, legumes, e das frutas se diz, que antes d'ElRei D. Duarte va
que venderem, mas não dos gados, col lia o marco de prata chãa de 6oo até
meas, e almonhas; salvo que dem dizi 64o. réis: a Dobra cruzada de 13o até
7/l/Z (2/2 {ja. E os mesmos Povoadores 14o: a Dobra valedía, e a Coroa velha
devião fazer foraes em vinhas, que os de Ioo até 11o. O dito Rei mandou que
avondem (isto he, suficiente numero de o marco de prata valesse 7oo réis bran
vinhas, de que devião pagar foro) com cor: a Coroa velha dº ouro, e Dobra va
obrigação de avingar essa herdade (re ledia, e Dobra debanda 12o réir: a Do
duzila a cultura. V. Deviginar, Eiveger, bra cruzada 15o , e o Florim de Ara
Eyviguar) dentro d'anno, e dia; e o gam 7o. réis. V. Prazída. •

Saleeiro por dous annos, e dous dias DORMIR. Tambem se tomou dor
( quer dizer que farião a Igreja , ou mir por passar a noite em vigilia 5 por
Oratorio, em que o seu Parocho, ou que supposto o que velava não dormia
Capellão rezasse as Horas como então se era com tudo a noite o tempo, que mais
costumava, e a que tambem chamavão naturalmente se tomava para dormir. E se
Psalterio. V. Missa de Psalterio). E o Confrade enfermar, vaão dormir com
concluem com a multa de onze pretos, elle dous , ou tres Confrades, até que
e mil libras em ouro aos transgressores. faça termo. — E o Confrade, que nom
D. do Cartorio dos Bachareis (Benefi for dormir com o Confrade, {{# huma
ciados ) da Sé dº Evora, dado em Ins mea livra de cera. Doc. da Univ. de
trum. de 1375. 1290, e 1348.
DIZIMOS capitaes. V. Cabedal. DUE’O. OS. Duelo, combate de duas
DOBRADO de cera. Rôlo, ou pavío pessoas, pactado por autoridade pro
de cera, que tambem se disse candéa. A pria, e designado o tempo, e lugar. Es
sua figura lhe deu o nome de dobrado. tes duellos, tão indignos de gente illu
Mando que me obradem dous annos ca minada, e ao mesmo tempo contrarios
da Domingo com sete paaens dº huum ás Leis Divinas, e humanas, passárão
alqueire de trigo, e duas meyas de vi sem castigo por entre os antigos Portu
nbo, e huum # dobrado de cera. D. guezes, e principalmente sendo Milita
do Salvador de Coimbra de 1377. res os que singularmente, e por hum de
DOBRAL de coyro. Rôlo de perga sagravo particular, e mal entendido,
minho, bolsa, ou carteira de couro. E tão barbaramente pelejavão : abomina
acharám hi huum dobral de coyro, em ção esta, que talvez algumas gentes não
que eu tenho pagas de quanto eu devya. vejão ainda com horror; mas que entre
D. da Univ. de 1386. os filhos da Igreja Santa até com a pri
DOMICÍLIO. Tudo o que pertencia vação de sepultura Ecclesiastica se cas
á casa , e vivenda de hum lavrador, v. tiga. Na Carta d'Armas, que ElRei D.
g, familia, trastes, instrumentos de la Manoel fez passar a Fr. André do Ama
voura, animaes de tiro, rebanhos, cria ral, do seu Conselho, Chanceller Mór,
çoens &c. O qual casal avees de morar, Embaixador de Rodes , e Commenda
e povoar per vós de foguo, e loguo, com dor de Vera Cruz de Portel &c. (por ser
todo vosso domicilio. — %% o dito descendente por linha direita de Domin
carall corporalmente, com todo o vosso gos Joannes, fundador da Capella, e
àomicilio. D. de Sanuo Thyrso de 1485 , Morgado de Oliveira do Hospital, on
e de Pend. de 1496. de está sepultado) se diz, que com el
DONAS. O mesmo que Doas. D. das las podería entrar em todos os feitos, e
Salzedas do Sec. XIV. lugares de honra, como batalhas, cam
DO3RA. — Quando o Mestre de Avís pos, dueos, retos, excaramuças, dera
foi acclamado Defensor do Reino consta fios, e exercitar com ellas todos os ou
va cada dobra de cem libras. Prometteo tros autos licitos de guerra, e de paz,
lhe a Cidade (de Lisboa) cem mil libras e trazellas em seus firmaer, aneis, fi
em ferviço, que erão mil dobras. Chr. metes, e devizas, ou polas em suas ca
S3S »
EI EM 37
sas, e edificios, ou deixalas em sua se Eu nom quero emmentar, nem especi
pultura. D. da T. do T. de 1515. ficar os feitos de cada hum destes no"
bres homens. Chr. do C.D. Duarte c. 59.
E. EMNEIXAMENTO. Anexação, ou
mais bem obrigação perpétua. Estor
mento de pura doaçom, e de emneixa
E IXERQUEIRA, ou Enxerqueira. mento. — Emmeixamento de Noversa
Mulher que anda pelos Povos venden-, rio. D. da Univ. de 1392.
do carne, que sobejou no açougue, ou EMNEIXAR. Anexar, perpétuamen
a de salmoura, que já não he fresca. V. te unir. Em neixamos pera sempre ao
Enxerqua. Os Almotacees, quando nom dito Moesteiro em Noversario. Ib.
reverem carniceiros, e paateiras, e re EMSEJAS. Vem do Latino Insidiae.
gateiras, e eixerqueiras, e mostardei Matar por em rejas , o mesmo que á
rar, e almocreves, que ajam de servir traição , e com aleivosía , á falsa fé,
o Concelho, requeirão aos Vereadores, com perfidia, não de cara a cara, mas
que lhos dem. Cod. Alf. L. I. Tit. 28. antes quando mais descuidado se acha
ELLO de linho. Era meia mão, ou va o que foi morto. Confessa ElRei D.
seis estrigas de linho. Há ho Convento Fernando, que os pleitos, e demandas
pagará catro éllos de linho. D. de Bos arrastão o Povo, o empobrecem, e ti
tello de 15 12. rão das occupaçoens uteis, e proveito
EMAVESAR , ou Emavessar. Dar sas, e além disto, por azo destes plei
com alguem do avesso , desorientallo, tor, e demandas levantam antre si máás
transtornar os seus projectos, perdel tençooens, per que recrecem mortes, e
lo, distrahillo com engano, destruillo, omizíos, e se matam assi em voltas ,
derrotallo. E verei se poderemos ema como em pelejas, como per em rejas, e
vessar estes infieis. Chr. do C, D. Pe per outras muitas guisas de maldade,
dro L.I. c. 23. E de feito combatessem e enguano. Cod. # L. III. Tit. 64, § 2.
rijamente por emavessar os da Cidade MXERCAR, ou Exercar. Vender
em desvairados lugares , isto he, fin carne de salmoura, ou chacina. V. Ei
gindo que querião entrar por huma par acerqueira. Todo judeo, que matar car
2 te, sendo sua tenção entrar por outra. me pera seu comer, ou pera vender,, ou
} Chr. d'ElRei D. João I P.I. c. 139. pera emxercar, e for do seu comer, & c.
EMBROLAMENTO. OS. Qualquei Cod. Alf. L. II. Tit. 74. S. 7.
bordado de ouro, prata, ou seda. Tam ENGARRAR. Fazer hum Processo
bem se disse Broflado, do Verbo Bros concluso, nada mais escrever nelle, di
lar. No Cod. Alf. L. I. Tit. 27. § 1o zer, ou apensar. Os procuradores das
se determina, não se ponha vereação ditar partes enfarrarom, e o dito Vi
em sellas, e freos, e fapatos e frola gario ouve o feito por encarrado. D.
dos, ou de pontas, e em tapetes, e em de S. Christ. de Coimbra de 1352.
brolamentor, e vidros. ENCOMENDAMENTO, — Incum
EMCAMPAGOM. Renúncia do Pra bencia, oficio, ministerio, occupação.
zo, feita pelo emfiteuta nas mãos do Qualquer encomendamento, que lhe for
Senhorio. D. de S. Christovão de Coim dito dos Mayores. D. da Univ. de 129o,
bra de 1467. que são os Estatutos de huma Confra
EMMENTA, ou Ementa. — Livro ria, e quer dizer que o Confrade cum
da Ementa, aquelle, em que se escre pra tudo o * os da Mesa lhe orde
vião em summa, e só as forças das Car narem, que faça.
tas Régias, Doaçoens, Graças, Mer ENGUEYRA , e Engeira. Serviço,
cês, para que facilmente se podessem ue o Emfiteuta, ou Colono prestavão ao
comprehender , e andarem sempre na ### Senhorio. V. Angueiras. E por
lembrança. Cod. Alf. L. I. Tit. 1o. § 1. geira, e engeira quatorze omens d'ei
EMMENTAR. Dizer em summa, xada na nossa Granja de Villa boa. —
recapitular, trazer á memoria as acções Dous homeens d'engeira de réga, e ma
todas boas , ou más de algum sujeito. /ha. — E engueira na vindima da dita
quin
38 EN EN
quintaan, Doc. de Santo Thyrso de xugarom as dictas vacas. D. de S. Tia
I495, 148o, e 1485. go de Coimbra de 1377.
ENTRAR a alguem. Ficar por seu ENXUNDIA de porco. He o que ho
fiador. Intravit ipsi pro ipsis denariis. je dizemos unto de porco. Alguns an
D. da Univ. de 127o. nos antes do de 1279 fizera There
ENTREGUE, adj. Inteiro, ou intei za Rodrigues o seu Testamento, que
ra, sem quebras, diminuição, ou fa se acha por Instrumento do mesmo an
lhas... E dar-des luytosa entregue , e no na Graca de Coimbra. Nelle deixa
colheita d'ElRey, D de Pend de 1312. aos Frades # da Cidade do Por
ENTREGUEMENTE, e Entréga to huma carga de vinho, metade de
mente. O mesmo que Entregadamente. hum porco, & quatuor exundias de
Necebi em dinheiros contados entregue porco , e hum sesteiro de trigo em re
mente, e outorgo-me por mui bem pa gueifas : e aos Padres de S. Francisco
gº. D. de Santo Thyrso de 1323. Opo outro tanto; preter um uni, quod none
nho, e traslado todo entregamente nos dent é7y, & mando eis dare butírum
ditor Abbade, e Convento. D. da Univ. Erão logo synonimos o unto , e a enº
de 1315. acundia. E daqui se manifesta que os
ENTREMENTE. Em quanto, en Frades Menores, quando em Portugal
tre tanto, pelo tempo que. Doze libras se estabelecêrão , não só se abstinhão
da moeda antiga , ou tres libras por com muita frequencia da carne , mas
cada huma desta moeda, que ora éor ainda do unto, que hoje mesmo, e sem
re, dez soldos por real, entremente el pre, teve o maior uso naquella Cida
la correr. D. do Salvador de Coimbra de: não que elles adoptassem com isto
de 1390. as erradas Maximas de Fr. Elias, pro
ENTUNAS. O mesmo que Bandou pugnador acerrimo da abstinencia per
mar. Os velhos leoens levam os filhos pétua de carnes na Religião Serafica;
aas entunas das animalias, por lhes fa mas tão sómente por zelo de imitarem
zerem perder o temor. Chr, do C.D. Pe a rigorosa Penitencia, que fez distinguir
dro. L. II. c. 7. na Igreja o seu adorado Patriarcha.
ENVESTIDOYRO. Parece que as ERMAR. V. Hermar.
sim chamárão á camisa, por servir co ERVA. Como por excelencia entre
mo de forro aos demais vestidos. V. as hervas venenosas se deo este nome
Envertir. A Beatriz García a almoce á cicuta, porque com ella se ervavãº
la nova, e tres envestidoyros. D. de Pend. as setas , é outras quaesquer armas of
de 1289. fensivas, e defensivas, para que o seu
ENVEZAMENTO. Transtorno, des tiro, ou golpe fosse mortal. Daqui a fra
ordem , avesso, contradicção. A qual se tirar com erva, atirar, ou ferir com
cousa era muito seu deserviço, e gran arma, ou pelouro envenenado com ci
de envezamento do que começado tinhão. cuta. Acrescentando mais, que os Mou
Lopes. P.I. c. 85. ros se trabalhavam de buscar erva, pe
ENXAVEGUA. Pésca de solhas, e ra tirarem com ella. Chr. do C.D. Pe
outro peixe miudo, que nos rios , e dro, L.I. c. 71.
praias se fazia com redes, a que cha ESCADA'M, ENS. Esquadrão, tur
mavão enxavegos. Mandamos, # po ma, fileira, gente posta em ala, e que
nhaaes mar ditar vintenar todolor ho hoje dizemos procissão. Item: mando,
reens do mar, e do rio, e todolos ou que no dito dia (da sua sepultura) le
tror... que andarem na enxavegua, e vem dous alqueires de farinha amassa
aa sardinheira. Cod. Alf. L. I. Tit. 7o. dos , e dous cantaros de vinho, e dour
S . ENXUGAR.
2-
Ordenhar, mungir, ti ercadaaens da Eygreja comigo, D. de
S. Pedro de Coimbra de 1364. Ainda no
rar o leite. Ou de alguns gados , re na Sec. XIV. mantinhão as Igrejas hum
dita herdade esteverem , e dormirem, avultado número de pobres, e inváli
parirem, e enxugarem. — Que tevera dos,
levar
que desde a Primitiva costumárão
para os thesouros do Ceo * li
by o curral, e que parirom hy, e en
C
ES ES 39
beralidades dos ricos, e depois a quar dro L.I. c. 81._unicamente se diz, que
ta parte dos Dizimos, de que talvez ho elle mudára os Reaes brancos em outra
je se lamentem despojados. Estes fre moeda mais baixa, a que chamárão Es
quentavão os nossos Templos, onde padins, que só podia ser de cobre, a
rogavão a Deos pelos que abrírão as fon valer menos, que hum Real branco de
-tes da sua subsistencia, ou parte della, cinco, ou seis ceitís.
e não faltavão nos actos, e funcçoens ESPIGA do monte. O mais alto, e
de piedade, e muito principalmente nos empinado delle; alludindo á espiga do
enterros; que por isso ainda hoje em pão, que antigamente entre nós se co
algumas partes vão escoltadas as tum nhecia, o qual occupa o mais alto, fim,
-bas com largas provisões de boca, pa ou remate da cana. Hoje dizemos espi
"ra os que gemem aferrolhados na po gão. Perilla spina de illo mons. D. da
breza. Isto se manifesta da Verba do Un. de II4I.
Testam., * adduzimos, em que o Tes ESQUENGA. Dita, sorte, andança,
tador manda ir com o seu cadaver dous fortuna. Tambem se acha Escança no
alqueires de farinha amassados (cozi mesmo sentido. Tambem se usou Er
dos) e dous cantaros de vinho, sem dú quencar, e Esquentado, por ser afor
:
vida para serem distribuidos aos pobres, tunado, feliz, ditoso. Dos quaes os que
… que estavão addidos áquella Igreja, os erão a cavallo tiverão boa esquença,
#
quaes o devião acompanhar, assim co porque se poderão afastar por aquella
Jmo os Ecclesiasticos, em duas alas. V. vez da morte. Chr. do C. D. Duarte.
Scala, e Missa dos pobres. c. 13.
ESCOL. A flor, o mais precioso, no ESTADA. Cavalhariça, estrebaria,
bre, e escolhido de alguma cousa. Em lugar destinado para estancia dos caval
este mesmo lugar foi já desbaratado los. E todo o ou "ro tempo os terem (os
> o escol d'ElRei morro Senhor. — Estes cavallos) na estada de dia, e de noite.
som tais, que desbaratarom jaa o ex Cod. Alf. L. I. Tit. 71. cap. 9. in princ.
col (a flor { exercito) d'ElRei de Cas ESTANG. Dizia-se boa, ou ma es
tella. Chr. do C. D. Pedro L. II. c. 9. tança, pela boa, ou ma reputação que
ESCOMUNHOM. Assim o Arrabí alguma obra, acção, ou discurço ren
Mór, como os seus Ouvidores não po dia ao seu autor. E por ende som mais
dião por nenhuns feitos pôr pena de ex theudos de fazer bem, e guardar-se de
comunhão aos Judeos , salvo naquel erro, e de maa estança. Cod. Alf. L. I.
les casos, em que os seus direitos a man Tit. 63. S. 7.
dam poer. Cod. Alf. L II. Tit. 81. § ESTA'OS. V. Estado. Nas Cort. de
25. Esta pena entre os Hebreos não ti Lisboa de 1o. de Dezembro de 1439. se
nha mais efeito , que privar o exco concedeo a esta Cidade, que não hou
mungado do trato familiar, e civíl dos vesse nella Aposentadoria, e que se fi
que seguião a mesma Lei, e excluillo, zessem Estados, e casas, em que ElRei,
como immundo, de entrar na Sinago e a sua Corte podessem alojar. Depois se
ga, em quanto não era relevado; e ab concedeo o mesmo a Evora, e a Santa
solvido : o que entre os daquella Na rem, e a outras terras. Por este grande
ção se reputava pela cousa mais infame, beneficio quiz o Povo de Lisboa erigir
e vergonhosa. huma Estatua ao Infante D. Pedro sobre
ESFEMENGA. Attenção, desvélo, a porta dos Estáos, que ele mandou lo
reflexão, cuidado. Vy, e ly, e pergran go fazer. E perguntando-lhe em que for
de esfemença esguardei huum tralhado. ma queria que se lhe fizesse, o Infante
D. de Santo Thyrso de 1312, que he triste, e carregado lhes respondeo, que
o Testam, do Conde de Barcellos D.Mar se ali estivesse a sua lmagem, viria tem
tim Gil de Sousa. po, em que os mesmos Lisbonenses a
ESPADINS. V. Espadim, e furto. dirribarião, e com pedras lhe quebra
Não parece de todo certo que ElRei rião os olhos. Chr, de D. Aff. V. c. 49.
D. Affonso V. lavrasse Espadins de ou Estavão no Resío estes Estáos de Lis
ro, e prata; pois na Chr, do C.D. Pe boa, onde pousárão depois os E## O
4O ES EX
dores. Ih. c. 131. No de 1487. mandou EXPROVADO. A. Purificado, refi
ElRei D. João II. que o dinheiro, e im nado, sem fezes, fiel, puro, legitimo.
osiçoens, que para os Estáos de Setu E elles, Senhor, entendem, que tão expro
#" se tinhão aplicado, se gastassem nos vados som em vosso serviço, como a pra
dispendiosos canos , que conduzem á ta, que o ourives mete no fogo, por ver
Villa copiosas aguas desde a serra de se he fina. Cod. Alf. L. II. Tit. 74. S. 32.
Palmella, e nº outras obras publicas, co EXTIMO. V. Estymo.
mo forão as duas Praças, huma do Sa EYVIGUAR, e Eyvigar. Romper de
pal, e outra do Paço do trigo. E com novo , e pela primeira vez os montes
isto soltou á Corte, que o acompanha virgens , e incultos, e fazellos rendo
sos, e fructiferos. V. Deviginar, e Ei
va, aposentadoría por toda a Villa , da
qual antes, como Lisboa , estava isen veger. E nom damos a vós poder de ven
ta. Chr. dº ElRei D. João II. c. 25. der, nem doar, nem em outro lugar es
ESTATUADO. A. Collocado, pos tranyar, mais chantedes, e eyviguedes,
to, assente, que está, fica, jaz. A zenha e façades bi quanto bem puderdes. — E
de Paradella, que he estatuada no Cou se arromperdes em monte virgem dés en
to, D. da Univ. de 145o. de a quarta parte do pam, e do vinho.
ESTYMO, e Extimo. Estimação, ou D. de Arnoia de 1284, 1292, 1295. —
F"# do que poderia render Chantedes , e eyviguedes, e que façades
uma terra inculta, e deixada em pou hy algo, assi de vinhas, come de ulvei
sío, se fôra aproveitada; ou do que se 7"/Z.f. { da Graça de Coimbra de 1283,
poderá colher de huma seara, que ain e 1289.—E do que arromperdes na char
da está em pé, e exposta ás contingen neca (este era o Eyviguar) o quinto. D.
cias do tempo. Que vaam extimar as da Univ. de 1345.
terrar, que nom lavraron, e que o ex EYXARVIAS. Joias, pedras precio
tímo, que hi for achado em boa verda sas, louçainhas. Leixo as mbas eyxar
de , que o pague aa diéia Egreja de vias pera a Cruz de S. Pedro de Cety. D.
Santiago de Coimbra. D. della de 1377. da Graça de Coimbra do Sec. XIII.
— Tragam sempre as terras lavradas,
e semeadas has folhas , como suas vizi
nhar, e paguarem ho estimo do vazio. F.
D. do Salvador da mesmaCidade de 1531
ESTORCER. Conseguir , alcançar F ACANE".EES. Cavalgadura, maior
por força, ou com importunos rogos, que faca, ou cavallo pequeno, e menor
extorquir. Vem do Latino Extorqueo. E que cavallo de marca. Hoje dizemos A
se o accusado chama o preito per ante o canéa , ou Hacanea: he propria de Se
juiz da terra: em tal que por esse ca nhoras, e gente delicada, que attendem
jom possam levar, e estorcer delle al menos á necessidade, que ao fausto,
uma cousa os davanditos poderosos , pompa, e regalo. Nom andem de muas,
{ Cod. Alf. L. II. Tit. 1. art. 23. nem facaneer, nem em sendeiros; renomz
ESTRECER. Estreitar, diminuir, quem quizer andar de bértas de sella,
rebater, apoucar, reduzir a menos. A ande { cavallo, ... ou em potro de dous
saudade nom se estrece. Sá de Miranda annor acima, que seja de boa levada.Cod.
Eclog. VIII. Alf. L. V. Tit. 119. S. 21. Esta Lei do
ESTREMAGA. O mesmo que Estre Senhor D. João I. tinha por fim multi
mança. D. de 139o. plicar os cavallos de boa raça, que po
ESTREME. Monte, parte, quinhão. dessem servir na tropa. ElRei D. Afon
Epaguem de foro vinte alqueires de tri so V, concedeo mulas a varias pessoas,
gº, bom , e recebondo % J'ºtt "J'f7'e/71&º a quem d'antes erão prohibidas. E fi
delles ditos emprazadores pela medida # liberdade sem limites, que nas
nova. D. da Univ. de 1509 — E defoga Côrtes de Thomar se concedeo, para que
ça do seu estreme sete alqueires de tri cada qual usasse das cavalgaduras, que
go limpo á joeira. D. do Salvador de quizesse, atirava sem duvida a destruir
Coimbra de 1448. a Cavallaria Portugueza ; consumindo
OS
EA . FE 41.
os sendeiros, e bestagem de pouco pres sa indigna, o levar porcos á Igreja.
timo o que deveria manter cavallos ge FAZENDA. Peleja, duello, procedi
nerosos para a guerra. mento, e tambem aquillo que se faz,

FALLAR com o Confessor. Confes tem feito, ou está para se fazer em qual
sar-lhe as suas culpas, reconciliar-se com quer negocio , ou empresa. O Mestre
Deos por meio do Sacramento da Peni foi a elle, e contou-lhe toda sua fazen
tencia. Fallou ante menhaam com seu da, e quanto lhe aviéra com o povo da
Confessor aquellas culpas, de que sentio Cidade. — Partio-re d'ante ele assaz
sua consciencia gravada, e tomou o San cuidadoro de sua fazenda. Lopes, P.I.
*o Sacramento. Chr. d'ElRei D. Duar C. 25.
te. C. 2. FAZIMENTO. Amizade , ou con
FAMILIA Régia. Assim se chamá versação torpe, e deshonesta: o mesmo
rão os Servos Fiscaes, que pertencião Que Afazimento. Em quanto o Conde
ao Rei, o qual muitas vezes os dava, foão Fernandes (Andeiro) fosse vivo,
e doava ás Igrejas, ou Mosteiros, a não havia de cessar do fazimento, que
quem unicamente devião servir. V. Fa com ella avia. Lopes, P.I. c. 3.
milia. No de 1231 confirmou ElRei D. FEDEGOSO. A. Cousa ascorosa, de
Fernando III, á Igreja de Lugo os Pri máo cheiro, immunda, que molesta o
vilegios, que seus Antepassados lhe ha olfato, e corrompe o ar. Nom consinti
vião concedido, e diz: Quicumque ex róm, que se lancem bestas, nem caaens,
Regia familia nostra ad habitandum in nem outras couras fujar, e fedegosas na
ea (na dita Cidade) venerint, nulli Do Cidade, ou Villa. Cod. Alf. L. I. Tit.
mino , vel Patrono obsequium cujus li 28. S 16. - |

het servitutir coacti exhibeant , miri FEITIO. Toda a bemfeitoría, com


tantum Episcopo suo, ejusque Vicario; que o Emfiteuta, ou Colono augmenta
sicut in antiquis Monimentis, a Prede va huma herdade, ou fazenda. Et sivos
cessoribus meis editis in nomine hujus volueritis vendere vestrum feitío, ven
Sedis, continetur. Hesp. Sagr. T, XLI. datis antea nobis, & c. D. de S. Chris
f. 363. tovão de Coimbra de 129o. Pelo mes
FARROPO. Posto que ainda hoje em mo tempo emprazou aquella Collegia
algumas Terras se diga Farroupo, o por da hum assento de casas com sua quin
co grande, e castrado; parece que an ta em Bruscos, para ali se fazer hum
tigamente se chamou Farropo, o car casal, com obrigação de romper, e pre
neiro, que tinha as mesmas condiçoens. parar dictos locos, Óº dictum casale in
"Em hum Testam. da Un. de 1463 se istis primir quatuor annis. E este fºi
diz: Levem por oferenda á Missa can tío, ou bemfeitorías he que o caseiro
tada dous alqueires de pam amarrado, podia vender.
e hum farropo , e huua quarta de vi FEMENGA. O mesmo que Effemen
nho... Sinco Crelegos cantem por mim fa. Hy esta noite contra o Castello, e
. sinco Missas, e levem por oferenda ou sentí com femença que lugar he , e a
tros dous alqueires de pam amarrado, # que se by aloja. Chr. do C. D.
e hum farropo, e huma quarta de vi edro, L.I. c. 25. A Rainha por femen
nho á Missa cantada. No de 1468 cum fa (reparando com attenção) nos do
prio.João Alves este Testam, com a maior Mestre, vendo-os arri todos armados,
exacção, como consta do Instrumento, não lhe aprouve em seu coração. Lopes,
que alli se guarda, sem falar nos dous P.I. c. 1o.
farropos , mas só em dour carneiros, FERRAZAS. O mesmo que Ferra
que lhe custárão 8o réis. Chega-se a is duras. E paga-las ferrazas pela Granja
to o costume nunca interrompido de se dePaaços, do Testamento que bam dy da
rem carneiros, e não porcos os que nes ver. D. de Pend. de 1339.
tas Oferendas se levavão aos adros dos FESTA d'Aparicio. Dia de Reis, ou
nossos Templos, sem que haja Doc. al da Epiphanía, em que os Magos achá
gum, que do contrario nos informe ; rão no Presepio o Menino Deos, guia
reputando-se, ao que parece, por cou dos F#
Estrella; em que J. C. "}">
* ** 2O
42 FI FO
dão foi declarado Filho verdadeiro do (de trazer ouro, ou cousa dourada, ou
Pai Eterno ; em que finalmente a con de latão amarello) se nom entenda em
versão milagrosa da agua em vinho nas freos muares, e em aneer, e em contas
Bodas de Caná o fez apparecer, e de de rezar, e em firmaaes pequenor, que
clarar por Homem Deos. Outro syman qualquer pessoa podia trazer. Cod. Alf.
darom guardar o dia da Festa d'Apari L. V. Tit. 43. § 1.
cio. Cod_ Alf. L. III. Tit. 36. § 1. FOGUEIRA. — No Foral de Taváres
FFIAA. — Almofía, ou alguidar, de 1514, regulado pelas Inq. d'ElRei
# em Latim se dizia fala, e levava D. Affonso III., e IV., declara ElRei
uas canadas. E hum dozaau de man D. Manoel, que os quatro alqueires da
teiga - s. meia fialã. D. de Paço de Sousa medida velha, que pagavão as Foguei
de 1419. Se pois o Dozão, ou canada ras daquelle Concelho, se reduzão a hum
era meia fialã: a fiaã inteira deveria le da medida nova, e corrente; de forte
var duas canadas. que os 64 alqueires piqueninos, que era
FICAR. Segurar, fincar, pôr, v. g. o moio antigo, se reduzão a 16, que he
as mãos, os pés, os joelhos sobre al o moio corrente. V. Moio. Igualmente
guma cousa. Ficassem os geolhos em declara que o Puçal de vinho tem d'an
*erra, isto he, ajoelhassem. D. de São % 8 almudes. V. Pugal: que as
Christovão de Coimbra de 1379. arrans são de 4o arrateis , ou I2O
FIDALGUIA. V. Algo. II., e Cava réis por cada huma. V. Marraã: que
laria. A honra da Fidalguia foi dada o Gorazil se pagará pela quantidade
aos Fidalgos primeiramente entre os ou costumada, ou 35 réis por cada hum.
tros homens , por filharem carrego , e V. Corazil: que a Geira se pagará a
fervirem em defensom da terra d'hu som Io réis V. Geira: e que o Mólho de
naturaes, ou em que vivem , e devem linho são 17 estrigas maçadas, e espa
a todo o tempo estar prester, e aper deladas. V. Atado, e Manipolo.
cebidos pera esto. Cod. Alf. L. IV. Tit. FOR. Uso , fórma , estillo , fôro,
26. § 8. costume. Letera antiga, e rrabuda, a
FILLADA. AS.Tomadía, apprehen for d'antiga. D. da Graça de Coimbra
são , terra que se toma ao Concelho. de 1335.
Vem de Filhar , tomar, appossar-se, FORAL. AES. Lugar estabelecido,
lançar mão, conquistar. Com os caraer, para nelle se fazerem as Audiencias, e
e entradas, e filiadas. D. de Santo Juntas de hum Concelho. No Carvalho
Thyrso de 13oo. Tambem se disse Fi de sete pedras, foral onde se fazem as
lha, e Filhada. Audiencias do julgado de Penafiell, D.
FINGIDIGAMENTE. Ficticiamen de Bostello de 1431 , 145 I , e 1486.
te, com fingimento, dólo, fraude, ap Tambem se disserão Foraes as proprie
parencia. Cod. Alf. L. II. Tit. 29. § 46. dades, casas, terras, campos, ou vi
e 47. Fingidifo, adj. no mesmo senti nhas, que pagavão fôro. V. Dizima.
do Ib. Tit. 1. art. 24. FORAMONTAOS. Deo-se este no
FIRMA. AS. —Testemunha, e toda me aos Emfiteutas, Colonos, ou Casei
aquella pessoa que dá valor, e firmeza ros, que pº??? ao Direito Senhorio
a hum Instrumento de Escritura com o F# o foro de Mon
como parte da
seu nome, subscripção, ou sêllo. Acha
taría, ou foro do monte, a que tambem
se em Doc. de Portugal, e Hespanha. chamárão Condado do monte, que nem
sempre constava de tantas, ou quantas
FIRMAL. Relicario de pé largo, com
figura de Custodia, ou Porta-paz, emcabeças, ou peças de caça; consistindo
que se guardão Reliquias, que mere algumas vezes tão sómente na obriga
cem os nossos cultos, segundo a sua ção de correrem os montes com armas,
qualidade. Huum firmal pequeno com e caens na companhia do mesmo Senho
sinco pedras, que parecem relicairo. D. rio, ou seu Mórdomo. Nas Inq. d'El
de Santo Thyrso de 1438. Tambem se Rei D. Afonso III. se achou na fregue
tomou por sêllo, com que as cartas, zia de S. Miguel da Queiraá, que o Lu
ou papeis se firmão. V. Duéo. E esto gar de Noumam, ou Loumam fôra #
Q
FO FO 43
do por ElRei D. Affonso Henriques no marido tever, # ella, e aquelle, com
de 1134 (sendo ainda Infante) a Pela que se for, ambos moiram por ende. E
gio Vozoiz, per suam Cartam ad fo se a levarem perforça, e ella sinaaer
rum de Montaría. E depois nas Inq. certos fezer, que per força a levam,
d'ElRei D. Diniz de 129o, se achou que moira aquelle, que a levar, e nom
que alli moravão huns 12 homens, cu ella. E 4% esto se entenda tambem dor
jos Casaes erão coutados, por tal que Filhos d'algo, como nas outras gentes.
/hy fossem ao monte com senhos savu Ib. L. V. Tit. 12. § 1.
gos , e com senhas azavamr. Em Ven FORO cabaneiro, Este pagavão os
fora se achou, que o Casal de Covelo homens, ou mulheres de # , que
era foreiro a ElRei, & d'focariis d'fo vivião *#
si, e sem familia. V. Ca
ramontas de Gamardos , e que a her baneros. Consistia em hum capão, ou
dade da Prazía era toda foraria Re gallinha, dez ovos, e hum alqueire de
gir d'foro de foramontaõs. Em Vousel trigo. Pagavão cada anno huum foro
/a a maior parte da herdade de Paços # por S. Miguel de Septembro
era foreira a ElRei de cabalaria, & de .f. huum capam , e dez ovos, e huum
foramontanis. E para encurtar leitura: alqueire de boom trigo pola velha, lim-.
na Aldêa de Pindello de Alafoens tinha o aa jueira. D. de S. Pedro de Coim
a Ordem do Hospital hum Casal d’ter {', de 1432. — Ese fezerem cabaneiros
*amento de Monio dias foramontano. V. no dicto casal, que cada huum caba
Condado, Montaría, e Azeúma. Com neiro désse , e pagasse a elles dicto
o rodar dos annos chegárão a ser Po Priol, e Convento em cada huum anno
voaçoens alguns daqueles Casaes, que huum boom capom recebondo, e dez ovos,
pagavão foro do monte, e o nome de e huum alqueire de trigo limpo aa juei
Foramondãos, Foramontãos, e Fermon ra. D. da Un. de 1392.
toens, que hoje mesmo conservão, dão FOTO. Estar , ou por-se em foto,
testemunho do fôro, que antigamente ficar boiante, livre de baixos, ou ca
pagavão. chopos, poder navegar com bastante al
FORNAZINHO. Nascido do concu tura de agua, e sem risco de encalhar,
bito illegal, e torpe, bastardo, illegi a nado, fluctuante. Por que o mar he
timo, e que não he favorecido pelas alli todo per alto, em tal guisa, que a
Leis em quanto ás honras, e herança, gallé podia bem dar escala em terra,
em abominação do peccado de seus Pais. e estar em foto. Chr. do C. D. Pedro,
E se tal Guete nom ouverem, nom ca L. I. c. 57. _ *
saróm com ellas nenhuums judeos : e FRANGAO de souto. O que já não
casando, se ouverem algums filhos, re he pinto, nem precisa defender-se de
rom fornezinhos. Cod. Alf. L. II. Tit. baixo das azas da gallinha; mas antes
72. in princ, V: Guete. procura o seu sustento pelos soutos, e
FORNIZIO. Concubinato, adulterio, campos, e longe da mái: taes são os
mancebía , vida torpe , e deshonesta. ue ainda não são gallos, mas já se
> No Cod. Alf. L. II. Tit. 7. art. 21, ha # por cristas , e esporoens.
: vendo-se dito, que as mancebas, assim Nas Inq. R. de 129o se achou no Jul
dos Ecclesiasticos, como dos casados, gado de Sever, que hum Casal do Hos
e solteiros não fossem obrigadas por Jus pital pagava fôro na fórma do costume,
tiça a restituirem o que furtárão aos seus a saber, de cada huum (dos moradores)
amantes, se conclue: E esto se faz por PT. VI. sr. (soldos) de vida do Mor
bem communal da terra , e por se re domo, e frangão de souto, com dez dez
refrearem os fornizios a todolos dos ovos, e voz, e códmha, e portagem, e
seus Regnos, em caro de barregaams. caldo , e vam áá entorvircada , e em
ElRei # Diniz estabeleceo por Lei, anuduva , e os outros fóror , que som
ue toda a mulher, que daqui em dian acustumeador.
#e pera fazer fornizio, ou adulterio, FRANQUIDO. A. OS. Herdamento,
se for com alguem per seu grado de ca ou terra aberta, rota, franqueada, re
ra de seu marido, 6 d’alhur, hu a seu duzida a cultura, e que pelo trabalho,
F ii in
44 FR. FU
industria, e arte de esteril, que d'an bem se tomou por vara, madeira, has
tes era, se tornou rendosa, e afruita tea, ou páo. Havemos-lhe de dar que
da. Devedes a dar de raçom, como dam vista, e huma espada, e cavallo, e ar
os de Soucide da terra, que nombe fran mas de fuste (como as béstas) e de fer
uída. E se por ventura os herdamentos zo, segundo o custume da terra. Ib. L.
% dito casal forem franquídos em al I. Tit. 65. § 6. V. Forte , que parece
gum tempo, dardes a nós a quinta par mais certo ser synonimo de Fuste.
ze. D. da Un. de 1364. Em outro de
13C6 se diz Ffrranquídos. G.
FRUTAR. Desfructar, recolher, ou
apanhar alguns fructos. V. Amoorar.
FUSTE. Cano, canhão, ou pedaço GARDA — He bem de presumir,
de palha, que alguns Magistrados en que destruida a Idanha pelos Sarrace
tregavão aos Porteiros do seu Audito nos, não faltarião os seus Bispos Tituº
rio, para com elle fazerem algumas ci lares, posto que ainda ignoremos o lu
taçoens, execuçoens, darem posses, &c. # da sua residencia. Na larga Doação
chamado por isso Sinal do juiz. V. Si e 897, em que ElRei D. Affonso III.,
gillar. Em huma Lei do Sr. D. Affon e sua mulher D. Ximena restituem, e
so II. se diz: Se o nosso Porteiro, quer confirmão a Santa Maria de Lugo tudo
com letras, quer com fuste, quer per o que seus Antecessores lhe tinhão con
si, for fazer eixecuçom contra alguem; cedido, entre os mais Bispos confirma
se aquello, sobre que faz a eixecuçom, Toniando da Idanha. Hesp. Sagr.T.XL.
foi já julgado em a nossa Corte, sobre f. 384.
ertº nom receba nenhuma cauçom. Cod. # ha dúvida que no L. dos For.
Pelhos da leitura nova a f. 38. col. 2. se
Alf. L. IV. Tit. 63. § 1. e L. III. Tit.
vê raspada a Era do Foral de Penama
92, § 1. Este furte, ou palha devia dar
côr pelo falsificador Lousada, que es
o Corregedor da Corte, ao que por ella
creveo á margem de proprio punho:
quizesse citar até certo termo, e quan
Ha de ser Era de 1227, que correspon
tia. Ib. L. I. Tit. 19. § 1., e Tit. 72. §
12. Havendo ElRei D. Affonso III. da de ao anno de 1 189. Mas a verdade he,
do licença no de 1257 para que o Con que no mesmo L. da leitura antiga af.
celho d'Evora podesse dar ao seu Var 7. col. I. bem claramente se lê: Facta
sallo D. João Pires de Avoím, e a sua fuit haec Carta, apud Colimbriam, mem
mulheç D. Marinha Affonso, e a seus se Marcio, Eº Mº CC.º X.º VII,º que
filhos huma mui dilatada herdade (na he o anno do Senhor 12o9. Reforme
qual existia já o Mosteiro do Marme se por tanto o que se disse V. Garda
lal) logo no de 1258 lha demarcou o a f II., e 14.
Concelho, e o tomou por seu Visinho; GALINEIRO. Havia Mordomos Ga
e no de 1259 lhe concedeo o mesmo Rei lineiros, a quem privativamente perten
todo o Direito temporal, e espiritual, cia a cobrança do fôro das gallinhas em
que naquelle vasto territorio lhe per propria espécie, as quaes se pagavão á
tencia, ou podesse pertencer a Elle, ou Coroa. E este he o verdadeiro sentido
seus Successores: e a 15 de Outubro de da palavra Gallinarius , que se acha
126r lha mandou coutar com toda a for em os nossos mais antigos Doc. V. Su
malidade por Pedro Moniz, seu Portei bricio. Nas Inq. R. de 1258 se achou
ro, permandatum, & auctoritatem, que Gonçalo Gulias foy mayordomo Ga
é… cum carta, Óº cum fuste Nobilissimi lineiro, e uno seu neto trivudou-se cº
Domini Regis Alfonsi Regis Portug. in no Espital, e des ali nom fez foro. E nas
sex milia solidorum. No mesmo mez, de 129o se achou na freguezia de S. ju
e anno lhe concedeo o Soberano licen lião de Badím, que da herdade de Fer
ga para na mesma herdade fazer Castel reiros costumavão dar a galina, e a voz,
lo, e Fortaleza, á qual no de 127o deo e a coomha, e a borona, e a vida aº
Foral o mesmo D. João, pondo-lhe o Moordomo. É na de S. Pedro de Vaadi
nome de Portel, D. da T. do T. Tam se devassou o Casal de Pinbom verdº»
que
GH HU 45
que se escusava per nem migalha, e da HENRIQUES. V. Anriques.
vida, e galhinha, e dado ao Castello. HONRAS. — Por huma Carta d'El
GATA Máquina de guerra, que con Rei D. Diniz de 129o se faz certo, que
sistia n’hum artificio de madeira, trave a sua Corte tinha julgado, que em to
jado com grossos madeiros, e conduzi dos aquelles Lugares, e Herdamentos,
##
do sobre pequenas, mas reforçadas ro em que a ElRei fazião foro de pão, ou
das, com o qual se chegavão os gasta de vinho, ou de carne, ou de pescado,
dores aos muros, e torres, e as podião ou lhe davão renda de dinheiros , ou a
picar a seu salvo. Lopes, Chr. P.I. c. vida, ou a pedida, ou a boroa ao Moor
25. Nas Inq. R. de 129o, se achou em domo, ou fazem fogueira, ou vam em a
Sesmir, freguezia de S. Pedro de Gos carreira , ou be pourra de Ricome, ou
teinz, que os do Espital tinhão por fô de Moordomo, ou presso, ou vam á Ra
ro de hirem ao Castello de Santestevain mada, ou á Entorviscada, ou dão di
fazer a gata. nheiros por ella , ou lhe devião a dar
GHURGO. Jorge, nome de homem. outras direituras per razão da herda
V. Quebrada IV. de, se não criasse algum Fidalgo; e que
GOVERNANGÁ. Tambem se tomou dalí por diante não fosse onrrado por
por mantimento, ração, e tudo o que razão da criança, nem deixasse de en
vem debaixo do nome de sustento, ou trar ahi o Mórdomo. Igualmente decla
muniçoens de boca. Vem de Governar, ra, e manda, que nenhum Lugar seja
manter, sustentar, &c. V. Governado, honrado por se criar nelle filho de Bar
e o Cod. Philip. L. II. Tit. 58, § 1. que ragaã per razom da criança; nem dei
usa de governado por alimentado, as xasse por isso de entrar nelle o Mórdo
sistido, e municiado com o necessario mo. D. da T. do T.
para a vida, e mantença. A nenhua pes HUGUICIO. Gomes Eannes na Chr.
soa se dê governança, renom huma vez do C. D. Duarte c. 15. diz, que he huma
no dia. Chr. do C. D. Duarte. c. 57. Proposição ironica, contraria ao verda
GRACIR. O mesmo que Gratir. Et deiro entendimento de quem a profere,
eu lhys gracirei , e gualardoarey. D. levantando hum pouco a voz. Segundo
da T. do T. de 1273. esta diffinição nada mais he Huguício
GRANSOLLA. Gralhada, susurro, que a figura de Interrogação de que fre
quentemente usão os Oradores Sagrados,
fallatorio, murmurinho confuso de gen
te que de noite vigía, ou já vai dese profanos, que fallando em Latim, tem
pertando do sono. Mandarom o mais por familiares os termos Huccine, Sic
pequeno bragantim a filhar a guarda, tine, & c. v. g. Huccine tandem omnia
e quando foram dentro (da bahia) acha reciderunt ?... Siccine separat amara
rão granrolla, polo qual nom ou raram mors?... Pois esta he a recompensa de
{ de sahir fóra. Chr. do C. D. Pedro L. tão agigantados beneficios?..
I. c. 58.
GUISADO. Posses, modo, maneira I.
para fazer alguma cousa. Peréce o di
#eito das parter, por nom terem ligei
ramente guisado, como façam as ditas I NDUCIAS. Tempo certo, e determí
despesas. Cod. Alf. L. III. Tit. 77. § 1. nado para deliberar sobre fazer, ou deixar
de fazer alguma cousa, espaço que se
H. concede ao devedor para pagar sem tanto
detrimento. Das trégoas entre os inimi
H ABENENCIA. Concerto , com gos em campo, a que os Latinos dis
posição, ajuste. He mais Hespanhol, serão Inducie, se chamárão tambem In
que Portuguez. ducias, a suspensão do letigio por al
HAVER alguma moça da virginda m tempo, a qual se não concede ao
de. Corromper, violar alguma donzel Author. *# Alf. L. III. Tit. 2o. § 4.
la, ou seja por força, ou por sua livre INVENCIONADO. Disposto, e pre
vontade. Cod. Alf. L. III. Tit. 15, § I. parado com arte, primor, e galantaria;
{Q
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tomada a invenção em contrario senti minosos. Ha d'aver (o Meirinho das
do do que hoje se toma; pois chama Cadêas) dos homeens, que mandam de
mos Invencioneiro, ao que he cheio de golar, ou enforcar, ou morrer per Jur
invençoens fanaticas, singularidades ex tiça de Monte moor, huma carceragem
quisitas, e extravagantes alvitres, que por cada huum, que assy for justifa
enjoão a sociedade, e mostrão o pouco do Cod. Alf. L.I, Tit. I2. § 2.
siso do seu Author. Veo a estes Reinos
bem acompanhado, e logo pera a mesma L.
Cruzada invencionado com muita gen
*ileza. Chr, de D. Aff.V. c. 138.
JOB a job. De job a job, # popa á LADA Ferida laida, a que he pro
proa. A galé era toda atripulada de job pria a causar lesão , deformidade, ou
a job, que lhe nom ficava remo manço, tolhimento no que a recebeo. Vem do
aute trazia remeiros sobejos. Chr. do Latino Laedo. Nø por taaes que
C. D. Duarte. c. 119. rellas nom seja preso ; salvo se logo
JOIGADIGO. Julgado, ou Conce mostrar feridas abertas, e sangoentas,
lho, que tem Foral proprio, e Justiça e laidas, ou membro tolheito. — Salvo se
com poder ordinario. ë. o juiz logo mostrar feridas abertas, e sangoen
de cada uno joigadigo, e o Abade da tas , ou laidamento no corpo ; cá em
Egregia. Inq. R. de 1258. *aaes casos, e cada huum delles pren
JORRO. Páo de jorro, o que carre deróm aquel, de que assi for querella
ga hum carro, a que chamavão Zor do com juramento , e testemunhar no
ro, ou forrão, e servia para arrastar meadas. Cod. Alf. L. IV. Tit. 58, § 7.
cousas de grande peso. Ainda hoje di e 12. V Aceitamento.
zemos Zorreiro (de Zorro) o sujeito, LANCADIGO. OS. Déstro, manho
bêsta, carro, navio, &c., que se mo so, dobrado, astuto, capaz de impôr,
ve de vagar, e como arrastando. Quem e enganar. Lançárão-lhe amigos delle
cortar madeira nas ditas matas, por lançadiços, avisando-o manhosamente,
cada huum paao de jorro pague 4ooréis. { o aviam de prender. Chr. de D. Aff.
L. Vermelho de D. Aff. V. N. 38. Tam . c. 91.
bem podemos dizer, que Páo de jorro LANGAR varas. Nom seja nenhuum
he madeiro grosso, e corpulento, que tam ousãdo , que por buscar ouro, ou
já se não leva ao hombro, ou em carga, prata , ou outro aver , lance varas,
e só de zorros, e tombando-o se póde nem faça circo, nem veja em espelho,
conduzir. ou em outras parter. E qualquer que o
ISTORIAL. Historiador, Chronista, fèzer seja prezo ataa nossa Mercee,
Escritor de successos Ecclesiasticos, ou e açoutado pubricamente polla Villa,
Civís, militares, ou politicos. Como bonde esto acontecer. Cod. Alf. L. V.
disse aquelle grande Istorial Romano, Tit. 42. S. I , e 4. Entre as innumera
a que #### Tito Livio. Chr. do C. veis superstiçoens, que algum tempo se
D. Pedro. L. I. c. 16. vírão em Portugal, como lançar ro
JURGIO, ou Jurgo. Jorge, nome de das , lançar sortes, lançar agua por
homem: he frequente nas Inq. R. jueira, lançar cal ás por as de casa,
JUSTIGA de Monte-mór. A que man e outras (de que ainda Lisboa não
dava, que algum criminoso fosse preci estava isenta a 14 de Agosto de 1485;
pitado de hum rochedo, ou despenha segundo o Assento do Senado, que traz
deiro. O chamar-se de Monte-mór, po Silva nas Mem. d'ElRei D. João I. T.
deria ser porque naquella Villa, sobran IV.) foi sem dúvida a de lançar va
ceira ao Mondego , tivesse principio ras para descobrir os preciosos metaes.
entre nós este genero de supplicio, don E com efeito se tiveramos averiguado,
de passou a Santarém, e outras terras ue estas varas erão de aveleira, po
deste Reino: ou se diria de Monte-mór, eriamos avançar, que dellas procedeo a
alludindo ao Monte Moria, junto a Je famosa Vara Divinatoria , que tanto
rusalém , onde erão justiçados os cri ruido fez em toda a Europa, e que por
II131S
LI MA 47
mais de 2oo annos se conheceo neste Provincias, ou Comarcas, postos pelo
Reino, antes que fosse vista na Fran Soberano, tinhão seus Maiorinor Mo
ça, onde o Barão de Bello-Sol, e sua res, que immediatamente lhes erão su
mulher M. ma de Berteró, a levárão des jeitos. Até o anno de IIo2 se achão en
de Hungria no de 1636; segundo o P. tre nós muitos Doc. originaes, que no
Le Brun na Hist. Crit. das Pract, su meão a D. Affonso VI. Rei de Leão, co
perst., Vara porém que mereceo a cen mo Principe, e Senhor absoluto da ter
sura, e o desprezo dos mais eruditos, e ra de Portugal ; porém desde aquelle
cordatos; a pezar de muitos , e bons anno fallão do Conde D. Henrique co
Ingenhos, que pertendêrão mostrar, mo Soberano independente dos Portugue
que nada havia de supersticioso na di zes, dizendo só que D. Affonso era Rei
ta Vara, e que o descobrir as aguas, e de Toledo. Em Setembro de 1 Io9 se lê
metaes era efeito da innocente Natu em Doc. de Pend, que Egas Garcia era?
reza, que não da reprovada Magia. Com Maiorinus maior de Egas Gorendiz,
tudo a reflexionada experiencia fez vêr, qui erat, dominator, Óº princeps terrae
que quando o Demonio não fosse o A. jllius, Óº tenehat ipsa terra de Sancto
de taes descubertas, elas não podião Salvatore , Óº de Tendaler, cum alia
# de pellotícas, e tramoias de char multa in suo aprestamo, de manu de il
lataens, e embusteiros. V. Feijó Theatr. lo Comite Domno Enrrico,
Crit. T. III. Disc. 5., e o Diccion. de MARCHA, ou Marca. São muitos
Trevoux. V. Verge , e outros. Porém a os Doc. do principio da nota Monar
nossa Legislação antiga favorece a opi chia, que nos informão de Marchas,
nião dos que não excluem o pacto dia ou Marcar de ouro, e prata. A D. Al
bolico no uso destas varas , pois a in donça, filha da Santa Rainha D. There
clue no Tit. dos Feiticeiros. za, deixa seu Avô, o Rei D.Sancho I.
LIGOMA. Tudo o que vinha debai no seu Testam. X, morab, & CL. mar
xo do nome de legumes, ou de hortali chas argenti, quod est in Alcobatia. De
ças de grãos, como favas, feijoens, her Marcas de prata V. Mozmodíz. De Mar
vilhas, &c. Que vós façades inde fo chas d’ouro, além de outros Doc, te-.
rum de pam, & de vino, Óº de ligoma, mos as Epist. de Innoc. III., que fazem
&º de llióó o quarto: e se arromperdes menção das duas Marchas d’ouro, que
desse herdamento, dade inde a rresta ElRei D. Afonso Henriques acrescen
parte do que deos y der. D. da T. do T. tou ás 4 onças do mesmo metal, que
de 1285. promettêra em feudo á Sé Apostolica.
LIVRADIGA. AS. V. Libradiga, e Por aquellas 4 onças decursas desde 1179
Livrada. até o I.º anno do Pontificado de Innoc. III.
LLIOO. O linho do Paiz ; prescin (que forão 19 annos) pagou ElRei D.
dindo de ser Gallego , Mourisco , ou Sancho I. ao Cardeal Rainero 5o4 ma
Canemo. V. Ligoma, e Conteenças. ravidiz, que são 126 por cada onça.
Em quanto ás Marchar consta das mes
M. mas Epist. que cada huma valia 6o ma
ravidiz, que erão 5o Bizanciar, ou Au
reos (que nós hoje dizemos Cruzados,
M AGAROCA. Milho de maçaroca, mas que naquelle tempo era cada hum
milho grósso. V. Milhom. No tempo de 123 réis, ou ainda menos, e 6o del
d'ElRei D. João II., e no descubrimen les fazião hum marco d’ouro.) E com
to de Guiné, dizem alguns descubrírão isto concorda o Recibo, que se acha na
os Portuguezes o Milho grorro de maça Monarch. Lusit. P. III. L. 1o. e. 11. p.
roca, donde o trouxerão a Portugal; e 189., no qual se dá por averiguado, que
que se principiou a cultivar nos campos 56 Marchas d’ouro importavão 3d)36o
de Coimbra , donde passou a todo o maravidiz. Se pois os Aureos valessem
Reino. cada hum 4oo réis, sería a Marcha de
MAIORINO. — Tambem os Gover 2oQ); mas valendo só 123 réis, sería
madores, Potestades, ou Principes das de ód)15o réis. E por tudo nos persua

48, . MI MO
dimos, que a Marcha d’ouro (e propor te modo se engrossava cada vez mais,
cionalmente a da prata ) era menos que e mais o Real Erario para bem da Co
o Marco d’ouro em huma 6." parte; pois roa, e da Nação.
se 5o Aureos fazião 6Q) 15o réis : 6o Chegava-se a isto o Direito Magesta
farião 7d038o réis da nossa moeda. V. tico de quebrar a sua moeda (isto he,
Aureo. fundilla de novo ; augmentandô-lhe o
- MILHORIA. adv. E mais, ainda mais valor, e diminuindo-lhe o peso) de que
alguma cousa. E cada tres ferraduras os nossos Religiosissimos Soberanos mui
d'asnar pesarám meio arratel, e milho tas vezes usárão ; não repugnando já
ría, Reg. de 148o no L. Verm. de D. mais os seus vassallos senão ao exces
Aff.V. N. 51. -
so, e frequencia do augmento, e tal
MOGA chamorra. A que anda tos vez para que a moeda se não alterasse
quiada, e não traz o cabello comprido, pagárão á Real Coroa huma certa con
Qu atado. Taes erão as de Lisboa pelos tribuição, a que chamavão Monetagio.
fins do Sec. XIII., e as que actualmente ElRei D. Sancho I, quebrou a de seu
em os nossos dias seguem as revoluçoens Pai, fazendo Maravidis novos. V. Ma
das modas em a mesma Corte. Manda ravidil. D. Affonso II., e D. Sancho II.
vão de Sevilha a seus amigos, que lhes arece fizerão o mesmo; pois no de 1255
levassem das moças chamorras, que erão ez ElRei D. Affonso III, passar huma
boas servidoras. Lopes, Chr. P.I. c. Carta a D. Martinho Nunes , Mestre
139. V. Chamorro. do Templo nos tres Reinos, dizendo
MOEDA. — Com a Soberania, e in lhe : que tendo precisão de quebrar a
dependencia da Monarchia Lusitana se sua moeda (monetam meam frangere)
estabelecêrão as fabricas da sua particu assim como seus Antecessores o costu
lar moeda. De todos os nossos Monar márão fazer; a maior parte do Clero,
chas a temos visto, e daquelles precio e Povo. destes Reinos li. supplicárão,
sos metaes, que havendo # d que lhes fizesse conservar em seu peso
Hespanha tantas Naçoens antes dos Ro a mesma, e costumada moeda por aquel
manos, ainda depois dos Sarracenos se les sete annos, e que cada hum lhe pa
não esgotárão nesta Região Occidental. garia huma certa quantia de dinheiro,
Delles abundão os nossos montes, e val pela conservação da mesma moeda. O
les, e as douradas arêas, que bordão as que por Elle concedido, e sendo-lhe já
nossas ribeiras são abonados fiadores paga a maior parte do dito dinheiro:
desta verdade.Cultivárão os nossos Maio muitos Prelados , Clerigos , e Leigos
res vieiros de tanto preço com utilida vierão a Elle, e lhe disserão, que a di
de grande da Religião, e do Estado: ta solução pro conservatione ipsius mo:
hoje razoens politicas buscárão além nete, cedia em grande prejuizo de Deos,
dos mares, e ao travez de mil descon do Povo, e de todo o Reino, e delle
tos, maior copia de riquezas. Então a mesmo Senhor Rei ; supplicando-lhe
frugalidade , e a parcimonia, que feli que nunca mais levantasse, nem fizes
citavão os Portuguezes , sendo huma se, ou permittisse levantar-se , ou le
grande parte, não era todo o fundo var-se cousa alguma dos homens do
dos seus thesouros: a cultura do Terre Reino de Portugal; á excepção daquil
no , que subministrava tudo o necessa lo, que os seus Predecessores costumá
rio para a vida, desterrando a occiosi rão sempre receber infractione monetº.
dade, e o ruinoso luxo, nao permittia E que Elle, por conservação da Justi
que a nossa moeda vagasse livremente ça, e do bom costume do Reino, as
por toda a Europa, por tudo o mun sim lho concedêra, e jurára nas mãos
do : as nossas Leis estavão irreconcilia do Bispo d'Evora D. Martinho, tocan
veis com quem sacava ouro para fóra do os Santos Evangelhos; prometten
do Reino: algumas Concordatas com a do de assim o cumprir, e de nunca mais
Sé Apostolica nos informão do quanto vender, nem fazer vender a moeda des
era defeso levar o nosso dinheiro, ain te Reino, nem levantaria, ou permitti
da mesmo para a Corte de Roma. Des
-'
ria que se levantasse pro eádem , misè
quod
MO MO 49
quod in fractione, ó pro fractione mo soa, &. E havendo declarado que esta
netae oferri Predecessoribus meis, vel, paga a devia receber em todas as partes
per eosdem erigi consuevit. Ao que tu do Reino, e de todas as pessoas delle;
do se obrigou, e obrigava geral, e es eximindo unicamente o Arcebispo, e o
pecialmente, e a todos os seus Successo Gram-Commendador do # e treS

res na Coroa, debaixo de juramento, familiares de cada hum, e todos os Bis


e com as imprecaçoens costumadas. Da pos, e os Mestres do Templo, e de
da em Santarém a 18 de Março do dito Aviz, e o Prior do Hospital, com dous
anno. D. da T. do T. da respectiva familia; estabelece: Que
Assim ficaráo as cousas, até que no poderia fazer extrahir a dita Colheita
mez de Abril de 1261 fez o mesmo Mo por hum anno sómente, e que passados
narcha passar a Carta de Lei ruper fa quatro annos lhe seria licito fazer ou
cto monetae (que se acha no L.I. das tro augmento na moeda, e nenhum ou
suas Doaç. f. 52. V.) nella diz em sum tro em toda a sua vida.
ma: Que principiando ele a fazer a sua Com efeito, não passárao 4 annos,
moeda nova (pro ut michi de jure, Óº mas já tinhão passado 8, quando no
consuetudine licere credebain ) os Pre 1.º de Abril de 127o, o mesmo Sr. Rei
lados , Baroens, Religiosos, e Povo, fez acrescentar a sua moeda, assim co
sentindo-se gravados, e dizendo que eu mo tinha posto com os tres Estados nas
nec de jure, nec de consuetudine hoc ditas Cortes de Coimbra; segundo a Car
facere poteram , mec debebam ; humil ta adduzida V. Maravidi.
demente me supplicárão, que convocas Do Senhor Rei D. Diniz só nos cons
se Cortes, para nellas se definir, o que ta, que fez os Fortes de prata com va
nisto se devia guardar. E juntas em Coim lor de 40 réis, sem que alterasse a moe
bra, e depois de muitas altercaçoens: de da corrente; porém D. Afonso IV. fez
commum, e voluntario consentimento, novos Dinheiros Alfonsinº, mandando
e tendo em vista a utilidade, e augmen valesse cada hum 12 dos antigos, no que
to da Coroa, do Reino, e de seus Suc ganhou muito; porque vinha a lucrar
cessores, e de todos os seus vassallos, em cada marco de prata 4 libras, e 4
e mesmo para remover toda, e qualquer soldos. D. Pedro I. não só lavrou Tor
dúvida, que para o diante possa renas nezes grandes, e pequenos, mas tam
cer: de conselho de toda a sua Curia, bem Alfonsins, e estes com muita liga,
e de sua mulher, a Rainha D. Beatriz, porém com o mesmo valor, que tinhão
e da Infanta D. Branca: Taliter decla os de seu Pai.
ro, ordino, statuo, & firmiter conce ElRei D. Fernando havendo-se em
do por esta Carta para sempre valio penhado na guerra contra Castella sem
sa: Que a moeda velha seja reduzida ao o cabedal preciso, arruinou muitos dos
seu antigo valor, e fique para sempre seus vassallos com o demasiado augmen
naquelle melhor estado, e valor que al to, que deo ás moedas antigas, e lavran
guma hora teve. E a moeda nova (que do outras muito baixas, e ligadas, co
então se lavrava) valha, e dure para mo Dinheiros de hum só real, Gentir,
sempre com a mesma moeda velha; com Barbudar, Graves , Pilartes , Fortes,
condição porém, que dez dinheiros da meios Fortes , Tornezes petites, & e.
nova em todas as compras, e vendas, e com grande preço, e pouco peso. Quei
mais usos politicos, e civís, valerião xou-se amargamente o Povo deste ex
desasseis dinheiros de veteribur dena cesso, e logo o Monarcha ouvio os seus
riis. Além disto: o que tivesse valor clamores, mas não tanto que de todo
de 1o libras da dita moeda velha devia cessassem as queixas, o que em fim se
dar a ElRei meia libra: o que chegas conseguio, quando elle determinou, que
se a 2o libras, devia dar huma : che a Barbuda baixasse a 2 soldos, e 4 di
ando a IOO daria duas, chegando a mil nheiros, que vem a ser 4 réis dos nos
5** dar tres, e nada mais, ainda que sos: o Grave a 14 dinheiros, que são
muitas mais tivesse ; e o marido, e a 2 réis, e 2 ceitís: o Pilarte a 7 dinhei
mulher se contarião por huma só pes ros, que he hum real, e hum ceitil: e
} OS


5o MO MO.
os Dinheiros, que de novo lavrára, a com que quebrou, e desfez todo o po
huma Mealha , que he meio ceitil. der de seus adversarios. Lembrando-se,
O Senhor D.João I., sendo ainda De-º que havendo nascido em Roma a moe
fensor do Reino, e vendo-se na mais ur- da chamada Libra (por ter o peso
gente precisão de resistir a todo o poder de 12 onças) e que os Romanos, pe
de Castella, e ainda mesmo aos inimigos las grandes urgencias da Républica, a
de casa, não só recebeo o grande serviço lavrarão depois com o peso de duas on
de mil Dobras que Lisboa lhe apron- Ças, e finalmente de huma , mas sem
tou , e 287 marcos de prata em cru- pre com o valor de 12 onças: fundio de
zes, e calices, e outras peças que a Sé, novo as antigas libras Portuguezas, di
e as vinte Igrejas, que então havia na minuindo-lhe cada vez mais e mais ope
Cidade, lhe emprestarão (não fallando so, e conservando-lhe sempre o valor
no ouro, e prata que por todo o Rei- de 36 réis. O mesmo fez nos Reaes de
no se ajuntou ): igualmente fez, que os prata : principiou pelos de lei de 9 di
pouco metaes valessem por muitos. Des- nheiros, depois fez outros de 6, logo
de logo fez lançar copiosa liga de es- outros de 5 , havendo feito antes gran
tanho nos Graves, Barbudas, e Pilar- de cópia delles de lei de hum só dinhei
tes, que por isto, e então conseguírão ro; ficando sempre o Real de prata na
o nome de moeda branca. Porém a que- mesma valia, e ganhando o mais. (*)
bra das libras foi a principal maquina E sem falarmos agora nos Escudos de
|- + + - Off

(*) Se houvessemos de jurar nas palavras do Mestre, sem averiguarmos a verdade nas
suas fontes; ou a chusma popular fosse bastante para dicidir em factos de Historia , e
mui antigos : seriamos precisados a sobscrever ao prejuizo , de que ElRei D. João I.
fabricára Dinheiro de solt na occasião do cêrco de Lisboa. José Soares da Silva nas
A4em. d'ElRei D. João I. L. I. c. 38. S 262, foi o primeiro que nos disse haver disto
memoria, sem nos dizer onde a achara. D. Francisco de Menezes, Conde da Ericeira,
e que por si mesmo se recommenda , escrevendo quatro annos depois que, se publicá
rão as taes Menorias (ap. Hist. Geneal. da C. R. Port. Tom. IV. f. 419. ) diz haver
Author verdadeiro (sem dúvida o mesmo Silva ) que assim o dixia. A estes seguírão ou
tros sem mais exame, e a credulidade do vulgo se pôz da sua parte. Examinemos com
tudo se he sustentavel semelhante facto, e admissivel em os Annaes da nossa Monar
chia. Todo o mundº sabe, que não tendo a moeda do Paiz outro valor , senão o que
a Authoridade pública, lhe confere , e assigna; sendo da sua privativa inspecção de
terminar a materia , de que ella deve ser fabricada, a sua fórma , figura, qüilates,
peso: occasioens houve, ha, e póde haver, em que a moeda não seja de puro ouro,
prata, ou cobre , e nem ainda de outros inferiores, e vilissimos metaes; mas sim de
páo , barro , louça , panno , pergaminho; couro, cascas de arvores, ossos, conchas,
zimbos , sedas , plumas , algodão, papelão, papel, &c. como seria facil mostrar pela
Historia Geral, antiga, e moderna das Naçoens. Mas ainda assim dizemos, que nunca
ElRei D. João I., nem ainda quando ElRei de Castella cercou rigorosamente Lisboa,
fez, ou permittio que se fizesse Dinheiro de solt. E eis-aqui os fundamentos por onde as
sim o julgamos, prontos a sobscrever a quem adduzir outros melhores , e que deci
dão pela, real existencia do tal Dinheiro. I. He hum dos impossiveis moraes, que nem
no Senado de Lisboa, nem na Torre do Tombo, appareça (como de feito não apparece )
ainda, o mais leve Documento de semelhante Dinheiro; não sendo de presumir", e me
nos de crer, fosse adoptado no uso Civíl , e corresse no Povo sem Decreto, ou Alvará
de quem tinha o Governo, a Regencia, e a Defensão de todo o Reino. II. Fernão Lopes,
e outros, que tão miudamente escrevêrão do cerco de Lisboa, pintando ao vivo as cala
midades da Cidade, não exagérão a falta de dinheiro, mas antes nos informão da penu
ria dos generos da primeira necessidade, que com elle se havião de comprar; havendo
nos dito as providencias, que se tomárão para que o dinheiro não faltasse. Ora aquelle
Chronista fiel, e diligente, supposto que não seja synchrono , he supar, e não só teve
a mão os Monumentos coevos, sobre que escreveo a vida daquelle Monarcha; mas ainda
se podia muito bem informar com os que figuráráo naquelle tempo de calamidade , e
apertura; pois no de 1454 já pelos seus annos o aposentou ElRei D. Afonso V. de Guar
da Mór da Torre do Tombo: temos logo que o seu silencio, nesta parte não he augmen
to puramente negativo; mas antes positivamente nos informa, que tal Dinheiro nunca
MO MO 51
• *>

euro mui baixo, que fez cunhar ElRei de ouro , mais subido do que antes se
D. Duarte, assim como Reaes brancos usava na moeda. Nos sete Reinados se
(2o dos quaes fazião huma Libra an guintes se lavrárão diversas moedas de
liga das que se pagavão a 7oo Livri ouro, prata, e cobre, subindo sempre
nbar) ElRei D. Affonso V. por tres ve o valor dos metaes. Os Reaes de cobre
zes mandou fabricar estes Reaes, sem d'ElRei D. Manoel corrêrão pouco,
pre com o mesmo valor, e menos peso, porque as cousas que d'antes valião hum
até que nas Cortes d'Evora de 1473, Ceitil, se levantárão logo ao valor de
para satisfazer ao clamor da Nação, es hum Real. O mesmo succedeo aos Meios
tabeleceo o modo como estes Reaes se Tostoens d'ElRei D. João III., que se
devião pagar a respeito do seu peso. davão pelo que antes custava hum Vin
Tambem lavrou as Dobras de Banda tem. Lavrou tambem este Monarcha
com diferentes valores, e os Cruzados grande cópia de Ceitis, Reaes, e outras
G ii II1OC

houve no cérco de Lisboa. III. As Obras dos primeiros dous AA, que deste Dinheiro fi
2eráo menção, forão publicadas em 1734, e 1738, havendo # muito mais de tres
Seculos depois daquelle cerco, que foi no de 1384; e além disso não susten áo a razão
do seu dito com algum Documento, que passe de hum rumor, ou tradição vulgar, e in
subsistente: o que não basta para afiançar hum facto afim raro, e notavel, e tão alheio
do que em taes apertos se tinha praticado neste Reino. IV. Não se compadece com a or
dem das coisas, que o Dinheiro de sola, se algum dia corresse, de tal sorte se extinguis
se , que absolutamente não ficasse huma só medalha, que fizesse número em os nossos:
Muséos, onde se achão as mais raras, e extravagantes dós nossos Monarchas. E nem a ré
plica de que foi mandado recolher para ser pago em metal, póde ser de algum peso ;
pois repetidas vezes foi a moeda Portugueza mandada recolher, para ser apagada, e de
novo fundida, sob pena de perdimento; e não obstante isso, nós temos boa cópia del
las, não só estampadas, mas ainda em propria especie, e realmente as mesmas. E nem
o ser este Dinheiro de sola, materia branda, e sujeita a huma facil corrupção, pôde ser
a cansa de inteiramente se extinguir ; pois em nossos dias temos visto solts, que appare
cêrão na terra humida das sepulturas, onde havião sido postas muitos annos antes do de
1384, as quaes náo tinhão perdido a figura, e consistencia. Além disto, os pergaminhos,
e membranas são incomparavelmente mais débeis, e corruptiveis, e nós temos visto não
poucos de 800, e 9oo, e alguns de mil annos sem corrupção alguma, e que bem conser
vados prometem a duração de muitos Seculos. E que digo eu pergaminhos?... Não
temos nós Papeis de farrapos, ou de chife do tempo d'ElRei D. Diniz?... Não foi logo
a corrupção, mas sim a não existencia, quem roubou inteiramente este Dinheiro á nossa
vista. V. Havendo fundido a famatica epidemía do Dinheiro de sola por entre Grandes, e
pequenos, não faltárão Visionarios, que disserão o tinhão visto com seus olhos, e tocado
com suas mãos: allegárão outros com certos Caixoens, Cofres, e Casas mui distincras,
em que actualmente ( dizião ) se guardavão avultadas porçoens daquelle Dinheiro. Com
tudo hum sério, critico, e diligente exame fez ver, que os primeiros não tiverão mais
luzes que huma esquentada fantasia, a qual lhes pintou o que na realidade não era: e os
segundos (que sempre nos propunhão testemunhas mortas, e de longe ) quando não fos
sem mentirosos, confessárão de plano, que forão seduzidos, e enganados; deixando-nos
na certeza, de não existir huma só moeda de sola em tantos lugares, que della se dizião
fornidos, e abastados. VI, finalmente. Por huma sua Lei de 1426 manda ElRei D. João
I. que nenhum seja tão ousado, que engeite moeda alguma crunhada do seu crunho, a
não se mostrar com evidencia, que ella he feita de ferro, arame, latão, ou, de outro
desvairado metal, de que se não costuma fazer moeda nestes Reinos; sob pena de prisão,
e açoutes aos peoens, e de degredo aos de maior condição. Cod. Alf. L. IV. Tit. 69, § 1.
X. Peltre. Daqui se manifesta a repugnancia , que muitos tinhão em receber as moedas de
ouro, prata, e cobre, que por Authoridade Real se fabricarão , pela sua muita liga,
uco peso, e grande valor; não obstante serem dos metaes, de que ellas sempre neste
# se lavrarão. Igualmente se vê, que exceptuando o Rei unicamente as que fossem
de outros desvairados metaes; com muito mais razão exceptuaria a que no seu tempo fos
se feita de sola, que, dizem, tinha como as de metal, as Armas, e Cunhos, que in
dicão a Magestade, e Soberania. E o Real silencio nesta parte, quem não vê ser huma
prova decisiva, de que nunca em Portugal correo, ou se lavrou Dinheiro de sola, nem
ainda no cérco de Lisboa ? . . V. Moeda de couro, e Apartamento.
52 MO MO
moedas de cobre de pouco peso, pela fal Sebasfão, as despezas da infeliz jorna
ta que havia dellas, causada pelos Es nada, e o resgate dos Fidalgos obrigá
trangeiros, que como mercadoría da ga rão o Cardeal Rei a fazer subir a moe
nancia, as levavão para fóra do Reino. da , e dar ao marco de ouro o valor de
Quando Filippe II. entrou em Portugal 4cd)oco, e ao de prata o de 4d)ooo réis
achou valendo 5oo réis os Cruzados, (estando o 1. a 3od)ooo, e o 2.° a 2 d)6co
que principiárão com valor de 4ooréis: desde o anno de 1563, e a este preço
elle os subio a 515, e fez moeda de ou correo no tempo dos Filippes, e prin
ro de 4 Cruzados , que valia 2d)cóo cipio do Reinado do Sr. D. João IV.)
réis. porém no de 1642 se mandou, que o
ElRei D. João IV, para defender o marco de ouro de 22 quilates valesse
Reino fez recolher esta moeda, e lavrar 42d)24o, a 66o por oitava. E finalmen
outra do mesmo peso, mas com valor te a Lei de 4 de Agosto de 1688 man
de 3d)ooo réis, e meias de Id)5CO réis, da levantar o ouro, e a prata a 2o por
e quartos de 75o réis; valendo então o cento, a saber: a 8° de ouro de 22 qui
Inarco d’ouro de 22 quilates a 3Qd)OoO lates a Id)5oo réis; a onça a 12})OOo
réis. ElRei D. Affonso VI. fez subir es réis, e o marco a 96@oco réis. E para
tes quartos a Id)ooo réis, e D. Pedro com os Ourives seria o ouro de 2o qui
II. a IQ)2oo réis, ainda que pelo * lates, e 2 grãos, e valeria a 8.° a Id)4oo
não cheguem bem a Id) réis. Tambem réis; a onça a 11@zoo réis, e o marco
fez subir a 5oo réis os Cruzados de pra a 89@6oo réis. E que o marco de pra
:a, que D. João IV, havia feito com ta de 11 dinheiros valería a 6çòocoréis;
valor de 4oo réis, e logo depois os le a onça a 75o réis, e a 8°, e grãos a ex
vantou a 6co réis. E como ainda assim te respeito. Porém a prata dos Ouri
os levassem para fóra do Reino, fez ou ver sería de lei de dez dinheiros, e 6
tros Cruzados mais diminutos no peso, grãos, e se pagaria o marco de peças
os quaes igualmente desapparecêrão por a 5d)6oo réis ; as onças , oitavas, e
haver subido em toda a parte o valor grãos respectivamente. E este he o pre
da prata. E para supprir esta falta he ço porque hoje se pagão estes metaes,
que o Senhor D. João V. fez os Cruza se tem , e não excedem os ditos quila
dos novos de ouro, com o valor de 4oo tes. V: Hist. Geneal da C. R. Portug
réis, e estimação de 48o réis. . . . . Tom. IV, a f 99. usque infin.
De tudo o que em summa fica dito E de tudo se conclue, que nas ur
se manifesta, que sempre os nossos Mo gencias graves da Fazenda Real, além
narchas quebrárão a sua moeda, quan de outros recursos economicos, que os
do o bem da Nação, e do Estado assim nossos Fidelissimos Soberanos adoptárão
lho sugería. Isto mesmo se manifesta (alguns dos quaes apontou Mattheur
do augmento gradual, com que foi su Pisano no L. da Guerra de Ceuta) não
bindo o valor do ouro, e da prata desde foi dos menos eficazes o augmento da
os principios da Monarchia até o pre moeda. E nem á balança do Comercio
sente. A ser certo (segundo Mariz) lhes pôz tanto medo, que por isso dei
ue 6o Maravidiz de D. Sancho I. fa xassem de dar mais valor ao ouro, e á
zião hum marco de ouro, e que cada prata, e ainda ao mesmo cobre, e fa
huma destas moedas (como alguem se zerem uso da correspondente liga ; na
persuadio) não valia mais que Io8 réis; certeza de que as Naçoens todas, com
diziamos que valia o marco de ouro quem os Portuguezes commerciavão, erão
6})48o réis, e o da prata ainda menos as primeiras em augmentar o valor do
que 4oo réis. O que nos consta he, que seu dinheiro, diminuindo-lhe ao mesmo
no tempo de D. Pedro I. correo o mar tempo o seu valor intrinseco. Hoje mes
co de ouro a 73038o réis, e o da pratamo correndo o ouro Portuguez em toda
a pouco mais de 5co réis. V. Dobra. a parte, ainda mesmo com ganancia, e
Depois deste tempo sempre estes me sendo a este fim levado com ambição a
taes forão subindo com passo mais, ou todas as quatro partes do mundo; não
menos vagaroso. A perda d'ElRei D. vemos que em Portugal corra moeda al
gu
MO - MO 53
guma estrangeira, sem dúvida por não escolhão a seu arbitrio huma Villa das
chegar ao valor da Portugueza.No de1471 que tinhão, na qual sómente tomassem
se prohibírão neste Reino os Anriques de o direito do Montado, e não em as ou
Castella.V. Anriques. No de 1547 igual tras, e que não fosse mais do que El
mente forão # sob graves pe Rei manda tomar nas suas Villas, a sa
nas as Dobrar, Meias Dobras, e Quar ber: De rebanho de vaccas, huma vac
fos dos Xarifes de Marrocos, e de Sus; ca, e do rebanho de ovelhas 4 carnei
permittindo, que podessem ser levadas á ros ; porém nada dos porcos , egoas,
casa da moeda de Lisboa, ou do Porto, ou outros gador. E que não tirassem
onde serião recebidas pelo seu justo Portagem das couras, e dos homens,
fº: em que erão muito diminutas. Pe que passassem pelos seus Lugares, se
a mesma razão se prohibírão geralmen não em aquelles , nos quaes lhes fosse
te as moedas feitas fóra do Reino no concedido por Doaçoens Reaes, sob pena
Alvará de 13 de Janeiro de 1564; e pe de quem o contrario fizesse, pagar 5co
lo de 9 de # do mesmo anno se roldos, alem das custas, e despezar,
/

prohibem as Patacas de Alemanha fal áquelle, que se lhe disso queixasse. D.


sificadas, que d'antes corrião a 3oo réis; da T. do T.
concedendo-se unicamente o leva-las ás MOSTEIROS isentos. Já na palavra
casas da moeda. Agora mesmo em os Abbade Magnate se tratou destas Iren
nossos dias se adoptou fóra de Portugal foens. Acrescentaremos agora que as Le
o saudavel conselho de se lavrar a mi tras, ou Bullas Pontificias, que tomão
lhoens moeda baixa de cobre, e com debaixo da Protecção da Igreja Roma
muita liga (por ser este o dinheiro mais na algum Mosteiro, Milicia, ou Fa
preciso no diario consumo dos Grandes, milia Religiosa, por si mesmas não in
e pequenos) augmentando-se ao mesmo volvem Isenção da Jurisdicção do Bis
tempo com moderação o valor dos pre po Diocesano: he preciso que expres
ciosos metaes. E que inconveniente se samente se diga, que as Pessoas, Igre
seguiria de fazermos nós o que praticão jas, e Lugares da Ordem ficão imme
os nossos visinhos, e praticárão sempre diatas # Apostolica, sem reconhece
os nossos Monarchas?. Quem não sabe rem outro Bispo, ou Ordinario , que
que o Ceitil de D. João I. valendo a sex não seja o Romano Pontifice; derrogan
ta parte de hum Real, pesa hoje mais do a tudo pela Clausula Non obstanti
que a nossa moeda de tres réis? ... He bus, Óre. -

logo manifesto, que o nosso mesmo co Com efeito já desde o Sec. XII. foi
bre subio ao menos 18 tantos mais, que bem recebida entre os Canonistas a dis
não valia nos principios do Sec. XV., e tincção entre Lei Diocesana, e Lei da
ue os Chéfes desta Monarchia nas gran jurisdicção: por esta se entendia tudo
} precisoens do Estado se não esque aquilo, em que o poder, e jurisdicção
cêrão já mais da quebra, ou augmento dos Bispos, como inherente á sua Or
da moeda. V. Osmar. dem, e Dignidade Episcopal, tinha fi
MQLHO de linho. V. Fogueira rup. cado, e persistido inviolavel sobre os
MONTADO. V. Mantafico. No de Mosteiros, Militares, ou Monges isen
1261 dirigio ElRei D. Afonso III. hu tar, ou sobre as suas cousas: por aquel
ma Carta Magistro Militie Templi, la se tomava tudo aquillo, em que os
vel Commendatori, tenenti locum Ma mesmos Mosteiros, e Corporaçoens se
giftri, e aos mais Commendadores da propunhão isentos, principalmente quan
mesma Ordem em Portugal, em que lhes to á administração particular das suas
dá parte , como tivera Conselho com cousas, e Pessoas, eleiçoens, castigos,
os da sua Corte sobre o Montado, que &c. Porém já desde o mesmo Sec. suc
recebião nos termos das Villas, e Ter cedeo, que algumas vezes se unírão as
ras da Ordem sem moderação alguma, Irençoens destas duas Leis, e daqui nas
e com damno, e perda de seus vassal cêrãos os Prelados Nullius Diocerir,
los. Portanto lhes manda, que elles por exercitarem a furisdicção Episco
(e os mais. Religiosos do seu Reino) pal, ainda externa, no Clero, e rº
C
MO "
de certos territorios, ou separados das de repente sobre alguma collina, ou em»
outras Dioceses , ou insertos nellas, minencia, tomada a metáfora do Sol,
além da que lhe pertence sobre todos que vem apparecendo, e subindo sobre
os seus subditos, e pessoas, que lhes o orizonte. Meteram-se os Mouros per
são subordinadas. detraz de hum cabeço, e vieram nar
Esta Isenção se adquire por algum cer onde os nossos estavão. Chr. do C.
dos tres principios: Origem, Privile D. Pedro L.I. c. 39. Em se tornando pe
gio, e Prescripção immemorial. A Ori ra os seus, veo nacer ácerca dos cou
gem (que então se dá, quando certas trairos. Chr, do C. D. Duarte c. II3- -
Cidades, Lugares, Povoaçoens, terras NEICIIDADE. Falta de conhecimen
incultas, ou occupadas dos Infiéis se tos, e noticias, insciencia, ignorancia;
restaurão, ou povôão pelos mesmos Re impericia do que pertence aos deve
ligiosos, ou Pessoas, que ali instituem, res de cada hum. Ainda que os juizer,
ou restabelecem o Divino Culto) quasi e Alvazís de graça, ou persa neiciida
sempre coincide com o Privilegio Apos de ponham o dia de aparecer 4, parter>
tolico; pois em attenção a semelhantes além
L. III.dosTit.
trinta dias, &c. Cod. Alf
71, $29. •

serviços he que os Successores de São


Pedro concedem estas Irençoens. Em
Hespanha, e Portugal teve lugar distin O @ *
-
cto a Bulla de Urbano II. de io95, que
concedia aos Reis, Proceres, e Magna
tes desmembrar dos antigos Bispados, Oica. — Porção de terra lavra
e submetter a Mosteiros, e Ordens to día, rota, e capaz de dar fruto, cer
das as Igrejas, que recobrassem do po cada de sebes, ou vallados, e que no
der dos Sarracenos , juntamente com a espaço de hum dia se podia , cavar,
ercepção dos Dizimos, e Primicias. lavrar, gradar, e semear. Na baixa La
m huma palavra : todas as Igrejas, tinidade se disse Holca, Olca ; Olqua,
Villas, e possessoens, que os Mostei Ochia , Olcha , Olchia , Orchia, Or
ros, e Ordens entre nós conseguírão; cha , Osca , Oska, Hochia, e Ouchia
ou lhes provierão por Doaçoens Reaes; (vozes todas rusticas, e derivadas do
ou de Particulares de terras já feitas, e Latino Occo, ar, gradar, destorroar, se
cultivadas; ou forão por ellas de novo mear, cubrir de terra , reduzir a cul
povoadas 2, rotas, conquistadas, e de tura.)
fendidas. Nestas conseguírão as maiores ONESTIDADE, e Honestidade. Gra
Regalías, mas isto por particular Doa vidade, decencia, moderação, modes
ção, e Privilegio, que só a Real Co tia, Nom 4 by onestidade , posto que
roa póde conceder, e com as limitaçoens seja grande, que nom seja tocada de
que bem lhe agradºr, doçura de louvor. Ch. do C. D. Duar
MULHARIGO. OS. Fraco, delica te c. I. Mas elle com mostranca de mui
do, tímido, covarde, inconstante, sem ta onestidade se escurou. Chr. de D.
valor, e sem coragem. O'Companha pu Aff. V. c. 4 Pedindo-lhe com palavrar
silanima de corafoens mulharigos , e em que avya muita razam , e onesti
afeminados », dizei-me, porque chora dade. Ib. c. 8. Se escurou com muitar
des?. Chr. do C. D. Pedro, c. 12. rezooens, em que nom falecia servico
MUSGO. Musculo, parte fibrosa, e de Deos , honestidade, e muita justi
carnuda do corpo humano, e de que fa. Ib. c. 49. Daqui Varoens honestos,
pendem os seus movimentos vitaes.Tam honesto comportamento, & c. º |

bem se diz dos viventes irracionaes. V.


Posto. • - -

P.
N.
PACO. No de 127o se ajustou, que
NASCER, e Nacer. Vir nascer, ap quando os Bispos d'Evora fossem vi
parecer, sahir, apresentar-se quasi de sitar as Igrejas de Portel, entre as mais
COUl"
PA PA 55
cousas, que pela Procuração deverião ella, é comegava de lhe falar passa
receber, sería unum pacum mediocrem. mente. Lopes, Chr, P.I. c. 1o. : " …
V. Terças Pontificaes. Mas que Paco PASSAREIRO. Caçador de perdizes.
meão, e arresoado entre o maior, e o Fezeram-se despois monteiros , e bo
mais pequeno seria este?. Sería talvez meens da adiça, e moedeiros, e valla
huma mesa frugal, fantar, ou Apo dores , e passareiros. Cod. Alf. L. I. * * #

sentadoría sem ostentação, e grandeza, Tit. 69. § 2. -- ; ;


qual convinha a gente Ecclesiastica ; PE'-TERRA. Moeda d’ouro d'ElRei
chamando-se aindº hoje em França Pa D. Fernando com o valor de 6 libras,
cage o pasto, ou sustento?. Com tudo que sendo de 36 réis, vinha a valer
216 réis. • •

eu me persuado, que o Paco era carnei


ro grande, e de boa raça, dos que se PILARTE, — Moeda de prata d'El
criavão nas ribeiras do Guadiana, e prin Rei D. Fernando, que valia 13 réis, e
cipalmente no territorio de Béja , que 2 ceitís. Tinhão no anverso hum arre
antigamente se chamou Paca, e donde messão, ou mais bem huma bandeira
o Paco tornou o nome; bem assim co por baixo da letra F. que nos mostra
mo hoje chamamos Canarior, e Peruír o nome do Rei sobre o qual se vê a
as aves, que das Canarias, e do Perú Real Coroa. Lavrou-se em memoria dos
nos vierão, e Olandar, Ostendar , Se pagens que trazião as Celadas, ou Bar
goviar, &c. aos pannos, e lençarías, budar dos soldados estrangeiros, que o
que são particulares daquellas terras. Nas vierão auxiliar na guerra, aos quaes em
ludias de Hespanha se servem os mora Francez chamavão Pilarter. O mesmo
dores de huma especie de carneiros gran Rei abaixou depois o valor do Pilarte
des, a que chamão Pacos, para condu a 7 Dinheiror, ou Ceitis.
zirem as barras de prata (que vem fi PORTUGUEZ, V. Preto. º
nalmente ter á Habana) por serem os PRACEIRAMENTE. Públicamente,
caminhos, e serranías impraticaveis pa á vista de todos, e como na praça. Por
ra qualquer qualidade de bêstas. E el grande peccado he contado toda ingra
le he bem certo que os Hespanhoes le tidooem praeeiramente cometida contra
várão ao Novo Mundo a linguagem, que aquelle, de que ha recebido algum be
ouvírão no Antigo. E se daqui levariáo neficio. Cod. Alf. L. IV. Tit. 64. impr.
tambem aquella especie de alentados PRETO. OS. V. Dinheiro, e Real,
carneiros ?. onde se faz menção de Reaes pretos,

PALHA. V. Sigillar, e Faste. Não e brancos, que parece forão asssim cha
só se usou da cana, troço, fragmento, mados, já desde os principios da nos
ou pedaço de palha nas citaçoens, e au sa Monarchia; pois segundo alguns Doc.
tos de posse de alguns bens de raiz (don da T. do T. no de 129o, e 1291 se ar
de na baixa Latinidade se disse Absti rendárão certos devassos para a Coroa
).
pulare, dimittir os bens de que se ha por tantas, ou quantas libras de bran
via tomado posse por huma palha : e cos, de XL. pretos a libra, que a se
nós dizemos ainda Estipular, dar, pe rem os brancos de 6 ceitís cada hum,
dir, ajustar, prometter, aceitar alguma e fazerem Io pretos hum real, diremos
cousa com toda a solemnidade, que a que a libra era de 4 réis, ou 4o dinheiros;
Lei prescreve) mas tambem nas Doa pois em outros arrendamentos se diz:
çoens se praticou metter-se a palha na libras de pretos brancos (isto he, de
mão do Donatario, o que se dizia Ad 1o pretos cada branco) de XL. dinhei
fatomare. E algumas vezes se cosia na ros a libra. Igualmente se arrendárão
mesma Carta de Doação huma limitada outros por hum anno, a XL. libras de
parte do mesmo symbolo ; chamando Portuguezes velhos. E se a libra era com
se estes Instrumentos Adfatimae Epis efeito de 4 réis; 4o libras farião 16o
role. réis, que parece tanto valião cada hum
PASSAMENTE. Mansamente , em daquelles F#. E daqui pode
voz baixa , com brandura, de vagar, a mos ajuizar sobre a antiguidade desta
passo. Estava estance de giolhos ante moeda, que não he tão moderna, co
1\]O
56 - Q_ R.
mo se disse V. Portuguez; pois já os e róldas retraçou-se pera filhar algum
havia velhos no tempo d'ElRei D. Di repouso. Chr. do C. D. Pedro c.37.
IllZ. REVOSO. A. Indignado, raivoso,
cheio de ira , e furor. Muito revosa
{ } •
dos movimentos, e alvoroços de Lisboa.
Chr. d'ElRei D. Aff. V. c. 36.
UARTEIROENS. Nas Inq. R. de
1288 se achou na freguezia de San
ta Maria de Freande, Julgado do Baiám, S.
que o Hospital tinha ali oito casaes,
pagando ende os quarteiroens, que som SEDA Tribunal, em que o Juiz se
dezoito dinheiros de cada casal; decla
assenta nas funcçoens que são proprias
rando-se, que onde entrava o Mordo do seu ministerio. Ante que } Jº
mo a receber os ditos quarteiroens, en levantasse da réda, em que fazia Au
trava tambem pela Voz, e pela Cooima. diencia. C. Alf. L. III. Tit. 81. in princ.
D. da T. do T. Tambem se acha quar Vem do Latino Sedes,
teirão nas de 1311, pelo qual se enten SUBLIMEÃO. Eminente , grande,
dião os mesmos 18 dinheiros. sublime como por excellencia. Tal foi
- QUEBRAR a moeda.V. Moeda. Tam o Evangelista S. João, que, a respeito
bem se dizia Apagar a moeda, quando dos outros Apostolos, foi mais honra
de novo se fundia, ou fabricava. do , querido, e estimado pelo Divino
Mestre. Em huma Inscripção de 15 Io,
R. que se acha na Capella do Casainho,
junto á Villa de Infías, se diz: São foão
sublimeão foi filho da Virgem Maria.
AT. os fins do Sec. XVI. ha innu
meraveis Doc. em que se escreveo o R
singello, quando devia ser dobrado; T.
notando-se porém que o escrevião mui
to mais encorpado que o r ordinario,
• TALENTo d'ouro. Em os Doc. de

ou talvez usavão do seu R grande, v.


Hepanha, e Portugal até os fins do Sec.
g. fero, tera, baRo, por ferro, terra,
XII. se faz menção com frequencia do
barro. Talento d’ouro, que o infractor da Es
REIGADO. O mesmo que Arreiga critura deveria pagar ao que fielmente
do. Guardem bem as Cidades, e Villas a cumprisse, e talvez outro tanto ao Se
com os homens jurados, naturaes , ou nhor da terra. Quasi todas as Naçoers
moradores, e reigados na terra. Cod. antigas tiverão o seu Talento d’ouro, .
Alf. L. I. Tit. 3o. in princ. e prata; já como peso, já como moe
REFRESCAMENTO. Refresco, re da, ou mais bem número de moedas,
frescada , refrigerio, acepipe, mimo, de que elle constava.. E prescindindo
sobremesa. Que nenhum seja tão ousa agora de Talentos grandes , e pequenos,
do , que tome bitalhas... nem cousas regularmente falando, o Talento dou
quaesquer que venham pera refresca ro constava de 6o Minas, e cada Mina
mento da hoste ; sob pena de lhe cor de Ioo Drachmas, que sendo em hu
tarem a cabeça. Cod. Alf. L. I. Tit. 51. mas partes maiores, e menores em ou
REDEIRO. Especie de rede, ou ar tras, por força devião alterar o valor
S 43°
das Minas, e por conseguinte do Ta
madilha. Quem quer que armar redei lento. A Drachma valia 3 soldos e meio
ros nas ditas matar, pague mil reis, de Torneses. Temos logo, que o Talen
e seja prezo. L. Verm. d'ElRei D. Aff. to d’ouro se compunha de 6o Minas,
V. N. 42. e 6])ooo Drachmas, e 21 d) soldos Tor
RETRAGAR-SE. Agasalhar-se, dis meses, ou de França, que antigamente
pôr-se ,, agéitar-se para fazer alguma ainda valião alguma cousa menos, que
cousa. Depois que proveo suas véllas, o Real Portuguez de 6 ceitís. Du Can
ge .
/

<_ TA" TE 57.


ge V. Talentum nos oferece Doc, que Ouinta , ou Quarta, ou talvez me
mostrão ser o Talento em França já de nos, segundo as Partes se contratavão.
Ioo, já de 5o libras : e mesmo que Na Composição, de que se faliou V.
algumas vezes se tomou o Talento já Confissoens Episcopaes, se obrigão os
por Livra, já por Marcha. Na Senten do Hospital a pagar ao Bispo D. Mar
ça de que se falou V. Annicio, se diz tinho, e seu Cabido, em as Igrejas ali
que quem contra ella for pagará duo nomeadas, a Quinta parte de todos os
Jibera, bina auri talenta, onde pare Dizimos , e Mortuorios , excepto ar
ce que os dous Talentos he declaração mas, e cavallos. E que se algum Frei
das duas libras. Daqui se vê que, pe re morrer dentro do anno da sua rece
la nossa moeda , houve Talento de pção; de tudo o que deixar terá o Bis
3Q6CO, e de Id)8co, e tambem de 36 po a Quinta parte; mas passado o an
réis. Se porém foi do valor da Marcha, no , só no que deixar á Igreja a pode
que em Portugal se usou, e que hoje, rá ter. Em quanto porém aos que en
pelo valor do ouro, vale IIQ)Coo, tere trarem na Ordem gravemente enfermos,
mos averiguado o preço que davão ao determinão, que se daquella doença mor
nosso Talento. V. Marcha, Imperador, rerem, de omnibus que Ordini, ve/Ec
Pario, Senhores, e Verdade. clesiae reliquerint, promittimigº partem
TERGAS Pontificaes. — Com efeito solvere memoratam ; mas se convales
a Divisão quadripartita das rendas Ec cerem, de tudo o que á Ordem deixa
clesiasticas não entrando em Hespanha rem, nada terá o Bispo. Este porém in
antes da invasão dos Sarracenos, igual Ecclesia, Clero, Cºp pulo jurisdictio.
mente foi desconhecida, quando já ex nem Episcopalem libere exequatur; fi
pulsos os sequazes torpes de Mafoma. cando as pessoas dos Freires assim Cle
Conquistada Lugo por ElRei D. Affon rigos, como Leigos, isentas da sua ju
so, o Catholico, no de 74o, e dando risdicção com todos os seus bens, e cou
lhe logo por Bispo a Odoario, este no sas. D. da T. do T. de 1248.
de 743 deo a huns seus familiares a ter - No de 127o, e no mez de Janeiro, o
ra de Villamarce, onde no mesmo an mesmo D. Martinho, e o seu Cabido
no se dedicou huma Igreja a Santa Com pedírão ao Papa Alexandre IV, lhes con
ba. E havendo dito os Fundadores por firmasse a Concordia, que elles tinhão
sua devoção : Quidquid bir terminis feito com D. João de Avoím, e sua mu
continetur in decimir, &º primitiis ad lher, sobre as sete Igrejas, que eles co
ipsam Ecclesiam S. Columbae servireper mo Padroeiros, e com authoridade do
petualiter jubemus; acrescentárão, que mesmo Bispo, e Cabido havião edifica
desta Igreja se pagaria á Sé de Lugo do no territorio de Portel. De todas el
Censum Canonicalem per singulis annis. las pro Pontificali tercia, assim dos Di
E no de 835 manda ElRei D. Affon zimos, e Mortuorios , como dos ani
so, o Carto, que os Clerigos, e Mon maes, a saber, vacas, egoas, ovelhas,
ges da Diocese de Braga paguem á di porcos, cabras, assim machos, como
fa Sé as Terças , que mandão os Sa femeas, lhes pagarião a Quinta parte.
grados Canones. V. Presuria I. Depois E por morte delles Fundadores, os que
deste tempo continuárão os Bispos, e lhes succedessem lhes pagarião pela di
as suas Cathedraes a receber a Terça ta Terça a Quarta parte do pão, vi
parte de todas as rendas Ecclesiasticas nho , e linho, e dos ditos animaes, e
dos seus Bispados ; ficando no seu ar Mortuorios, e nada mais. E pelo cha
bitrio , e do seu Cabido fazerem sobre mado Cathedratico, e Procuração, quan
isto aquellas Composiçoens, e Transac do elle Bispo, e seus Successores huma
çoens, que bem lhes parecesse: o que só vez no anno fossem visitar as ditas
muitas vezes fizerão, e principalmente Igrejas, lhe darião cem soldos usualir
com as Ordens Militares, e quando os monetae, vel duos aureos, Óº unum pa
serviços dos Fundadores das Igrejas me cum mediocrem, & decem gallinas, Óº
recião huma contemplação distincta. En sex alqueires de bona farina , Óº de
tão se reduzia a Teria Canonical, a cem alqueires de ordeo, Óº duos alniu
H des
58 TE TE
des de vino per mensuram Elborensem, 0f' #71!//"0f : e % ár vezes as dava por
sem mais cousa alguma. Que a Apresen soldada aos Cavalleiros. Mas os Procu
tação seria sempre delles Padroeiros, e radores Régios disserão, que isto se fa
que estes retivessem para si, e seus suc zia só naquellas Igrejas, nas quaes desde
cessores, sem algum encargo, ou des a fundação dellas isto expressamente he
peza, medietatem omnium bonorum, Óº feito, e com consentimento dos Prelados:
obventionum, que possunt eis dem Eccle e que nas mais erão contentes se guardas
siis obvenire; exceptuando os Anniver se o Direito commum. Cod. Alf. L. II.
sarios, Mortuorios, Primicias, e Obla Tit. I. V. Castellatico. No Foral de Al
çoens, que entrarem pelas portas da meida de 15 ro diz o Senhor Rei D. Ma
Igreja, &c. E a isto se movêrão; já por noel: Avemos d'aver o terço do dizimo
que aquellas terras tinhão sido de no das Igrejas da dicta Villa, e termo:
vo conquistadas aos Mouros; já porque do qual terço se apartará hum terço
as ditas terras, em que as taes Igrejas se pera a fabrica da %Daqui se vê
fundirão, forão pelos Padroeiros redu que esta Terça em nada prejudicava á
zidas a cultura, estando d'antes desap Terça Episcopal, que pelas divisoens
proveitadas; já finalmente porque nel antigas, e como em subsidio , e reco
las tinhão feito exhorbitantes gastos, nhecimento da Dignidade, e Jurisdicção
de sorte, que nellas tinhão consumido Episcopal, se pagou inteiramente aos
huma grande, ou a maior parte da sua Bispos, quando alguma Convenção le
substancia, e riqueza. D. da T. do T. gal a não reduzio a Quarta, ou Quin
Na Composição que os Templarios ta; pois a Terça, que algumas Igrejas
fizerão com D. Estevão Soares , e seu pagavão á Coroa para defensão da Pá
Cabido no de1237 sobre os Direitos Epis tria , era unicamente a que á Fabrica
copaes, que a Igreja Bracharense rece pertencia.
bia nas do Mogadouro, e Pennas-Royas, TESTEMUNHO falso em juiso. Em
se contentou o Arcebispo com huma só varios Foraes impozerão os nossos Re
Procuração, ou Aposentadoría, e Co ligiosissimos Soberanos graves penas aos
lheita em cada hum anno, Óº Tertiam réos deste delicto, pelo qual a sua ter
commutavit in Quintam, para que es ra se perdia, e se arruinava pelos mais
ta Quinta parte de todos os Dizimos baixos alicerces a tranquilidade pública;
de ambas as sobreditas Igrejas se lhe chamando sobre os Povos as íras do
pagassem em paz, e sem contenda. Doc. Ceo pelo desprezo louco, que se fazia
de Thomar. De outra Composição ain do Nome Santo de Deos. O Seuhor Rei .
da mais favoravel para a Ordem do Tem D. Diniz mandou por huma Lei , que
plo, que esta fez com D. Egas , Bispo tanto o que desse o testemunho falso,
de Lamego no de 1254, das Terças das como o que com rogos, ou peitas o fi
Igrejas de Langroiva, e Mêda, V. Tem zesse dar , morressem morte natural,
preiros no anno de 1253. decepando-lhes primeiro as mãos, e os
Não obstante a grande diferença entre pés, e arrancando-lhes hum olho. E por
as Terças, que forão dadas ás Igrejas Pa que esta Lei se não executava com tan
rochiaes para a sua fabrica; e as Terças to rigor: ElRei D. Afonso V, mandou,
Episcopaes, ou dos Bispados, que os que a testemunha falsa seja açourada pú
Canones , e a Disciplina de Hespanha blicamente, e lhe cortem a lingua na
concedêrão aos Bispos para manutenção, praça junto ao pelourinho (que pois
e honra da sua Dignidade, e outras des peccou com a lingua, na lingua tam
pesas, que lhes são indispensaveis: no bem deve ser castigada) e além disso
no art. 9. dos 4o, que se concordárão pague da cadêa todas as perdas, e da
entre o Clero de Portugal, e ElRei D. nos, de que foi causa. Cod. Alf. L. V.
Diniz, se queixavão os Ecclesiasticos: Tit. 37. A Legislação seguinte, mode
Que ElRei tomava as Tercas das Igre rando as penas, não fez que os filhos
jas, que forão dadas pera as obras das de Belial deixassem de multiplicar as
mesmas Igrejas, e as mesmas Terças culpas. Nas Const. de Lisboa de 1583
dos Bispados, pera fazer, e refazer se achará entre as Extravag. 2. s do Car
deal
TR TR. 59
deal Rei, a 4.° do Tit.8, pela qual man della já mais sahirem nos ditos 3o dias,
da como Legado a latere , estender a nem fallarem com pessoa alguma, fóra
todas as Parochias da sua Diocese , a do que era preciso para a celebração
Confraria do Santissimo Nome de Deos, da Nha e precisoens indispensaveis á
que só em algumas estava instituida, e vida; gastando todo o mais tempo em
cujo fim era exterminar, e extinguir os rogar a Deos pelo defunto: na mesma
Juramentos vãos, falsos, e injustos: e Igreja, ou seu recinto comião, e dor
-isto por lhe constar da muita emenda mião, mas sempre na solidão, e no si
que tinha havido nos que muitas pes lencio, apartados inteiramente dos cui
<roas indevidamente fazião. Hoje ape dados, e negocios da terra. E para is
nas ha memoria desta Confraria , que to escolhião sempre Ecclesiasticos de
, talvez em nenhum tempo sería mais ne approvados, e honestos costumes.
cessaria. Nos principios do Sec. XVI. se repu
A TRAZER-SE bem. Acear-se, com tou lícito, e ainda meritorio, sahir algu
pôr-se, enfeitar-se. Todo seu cuidado não ma vez desta clausura, sendo para hu
era, salvo trazer-se bem asy, e aos seus, ma obra de piedade; mas sempre com
e deshi cavalgar a monte, e caça, não sobrepeliz, e sem entrar em outra par
entendendo damor de nenhuma molher. te alguma. E porque não era decente
Chr. d'ElRei D. João I. P.I. c. 35. comer, e dormir na Casa do Senhor, se
- TREBELHOS. — Assim foi dim… determinou, que não havendo casa de
do o foro, direitura, ou certa pensão, putada para isto; poderião então ir á
4ue pagavão os que vendião vinho aquar sua para este fim, e de outra sorte não:
tilhado, ou por miudo, que ordinaria e que para evitar confusoens, e distra
mente estava , ou era conduzido em himentos, se não podessem encerrar pa
odres. V. Terbolias. Tambem se disse ra hum Trintario mais que até dous
rão Trekelhor, os vasos pequenos. Clerigos, os quaes poderião ser ajuda
#
TRINCHEIRAS. Os queixos, em dos de outros, ainda que não estivessem
que estão os dentes, que trinchão as no dito encerramento. Assim consta das
viandas, e defendem o rosto. O Ercu Constit. mais antigas deste Reino. Ve
deiro virou a ponta do cutello sobre o jão-se particularmente as de Lisboa de
rosto, e deu-lhe huma mui grande fe 1588, e ainda as de 1614 L. IV. Tit.
rida por cima das trincheiras. Chr. do 16. § 6., as do Porto de 1585 Tit. 18
C. D. Pedro de Menezes. L. 2. c. 9. : Const. Io n. 3, 4, e 5, as da Guarda de
; TRINTARO , e Trintairo. Trinta 1614, de Lamego de 1639, e de Viseu
rio, que algumas vezes se tomava pe de 1661. Mando que me digam hum
las Exequias, que se fazião no dia tri trintaro farrado na Igreja de S. Fa
gessimo, contado desde aquelle, em gundo, e que rayam cada dia sobre mim
que alguem faleceo da presente vida; alli onde eu jouver. — Aos Frades de
tomando-se ordinariamente pelo nume S. Domingos huma vaqua por huum trin
ro de trinta Missas , ditas successiva tairo aberto, que disserom pollo dicto
mente , e sem interrupção pela alma funto. Doc. da Un. de 1463, e 1468.
de algum defunto. Havia Trintario aber Em alguns Doc. se declara, que o Trin
ro, e Trintario farrado, ou enfarra tairo garrado , erão as 3o Missas de
do: naquelie não havia mais formalida Santo Amador, que já hoje não estão
2 de, que celebrar todos os 3o dias pela CITl llSO•
alma do finado ; rematando o Sacrifi
cio com hum Responso, Cruz, e agua \ Q

benta sobre a sua sepultura, se estava


no cemeterio, ou adro da Igreja, em VEIza Toda, e qualquer hortali
que o dito Trintario se cumpria: neste #, e principalmente toda a variedade
porém era bem notavela Disciplina que e couves, que ainda hoje nas Provin
então se praticava. O Sacerdote, pois, cias se chamão verças. No de 12co Pe
ou Sacerdotes, que deste Trintario se in dro Gonçalves, e sua mulher D. Godi
cumbião, encerravão-se na Igreja, sem Ila *# aos Templarios de Thomar
• ll 2
6o VE VE
a sua Aldêa , em que moravão, com dade, terra, campo, vinha, e qualquer
suas arvores, pomar, e horta, da qual outra cousa movel, immovel, ou semo
D. Godina sería sempre sustentada , e vente pertencia, e era sem dúvida de
assistida de hortaliças, fructas, cebo alguma Pessoa, Igreja, Casal, Mostei
las, porros, e de tudo o que ella pro ro, Hermida, &c. No de Io5o, e rei
duzisse: Et domna Godina sit semper nando D. Fernando, e a Rainha D. San
contenuda da veiza, & de poma, Óº cha , Fr. Fagildo, em nome, e como
porro, Óº de quantum ibi steterit; fi Procurador do Mosteiro de Guima
cando tudo livre aos Freires por sua rães, accusava de hum homicidio a Suei
morte. E das outras herdades, casas, ro Exemeniz, e o queria prender, por
vinhas, móveis, e quanto ella tivesse ue se fez Senhor dos homens da Villa
lhes dá a terça parte , com tanto que e Mata-má (hoje freguezia de Santa
elles a defendão, segundo poderem, de Maria de Mata-má) porém o dito Suei
quem lhe fizer mal ; ficando ella por ro se defendia dizendo, que a tal Villa
sua vassalla, e elles por seus Senhores. erat sua veritas , e já o fôra de seus
E Pedro Gonçalves dá, com o seu cor Avós. E Fr. Fagildo afirmava , quia
po , a Deos , e aos Frades de Tho erat veritar de Casa de Vimaraner,
mar metade de quanto tinha , e huns Ajuntárão-se pois todos m jugueiros,
moinhos, e a sua parte do souto, e cu na presença de Gomizo Eitaz, qui il
torga a terça parte, que sua mulher ha la terra imperabat sub imperio ipsius
via doado ; com condição, que desde Rex, & ipsa Regina, e tambem Pedro
aquelle dia os Frades cuidassem de tu Abbade, e Pedro Preposito do dito Mos
do , e tambem de huma escrava, que teiro, e outros muitos homens bons, e
e servia muito mal; deixando no seu dizião os Senhores (Monges, e Cleri
arbitrio delles o darem-lhe outra me gos) de Guimaraens, que aquella Villa
lhor, e venderem aquella Moura, pa erat sua veritas, sicut &"est, e o di
ra não perderem o seu preço : Et ex to Sueiro dizia que não. Foi então re
isto die pensade vos de totum, & de querido o Juiz da terra, que julgasse
irta mulier, quomodo acabedes de illa a final. Mandou logo o dito Juiz, que
bene, Óº illa de vos. Et si vos vide Fr. Fagildo, e mais outros quatro ju
ritis pro bene, mittite mihi meliorem rassem, como aquella Villa erat veri
servientem , vel pensate quomodo non *ar de Vimaraner. Assim o fizerão, ju
perdatir istam mauram, quia non vult rando nas mãos do Tiafado Pelagio Mi
facere nichil, D. da T. do T. E taes tit. Aº vista do que Sueiro Exameniz
erão os Confrades, ou Terceiros de Tho abrio mão da tal Villa, e fez pactum,
mar, por quem tantas riquezas, e fa simul & placitum aos Frades, e Frei
zendas vierão á posse dos Templarios. ras, que habitavão in Cimiterio Vima
V. Familiares. ranes, que nunca já mais os demanda
VERDADE. Por ter a verdade hum, ria por aquella Villa por qualquer ra
principio sem falencia, e conformidade zão, côr, ou pretexto, som pro bom
do juizo com a natureza das cousas, que cidio, nom pro rauso, non pro arvole
se nos representão, excluindo toda a ga, nem por Escrituras anteriores, ou
falsidade, e mentira formal; chamárão posteriores, nem por si, nem pelo Rei,
os nossos Maiores Verdade, como por nem pelo Conde, non per nulla supo
antonomasia , huma fazenda, ou qual sita mala, nem por alguma voz, nem
quer outra cousa, sobre que se litiga por seus filhos, ou netos, nem por suas
va, e contendia, quando por hum, ou filhas, ou genros; mas que sempre se
mais principios incontestaveis a cousa ría pacificamente aºM…# ; sob
pertencia a hum dos litigantes. Acha pena de que quem fizer o contrario, pa
se com frequencia , antes do Sec. XII. gará tudo em dobro á Casa de Vima
esta expressão: Que est veritas de N: ranes, e hum talento de ouro, & ad Re
quae est veritas de # Ecclesia , de gir, vel Comite, que illa terra imperave
ipso carali, de ipso Monasterio, de ip rit, aliud tantum. Assim consta de huma
Ja Heremita, &c., quando alguma her Xarte Agnitio entre os Dec. *# -
VI VI 61
VILLA. Em todos os nossos Doc. nico. Vid. Gonçalez ad cap. Ex litte
que decorrem até os fins do Sec. XII. ris. 3. de probat. ibi: In villis, id est,
se tomou Villa, não por huma Povoa prediis rusticis: Villa enim predium
ção grande, numerosa, superior a hu rusticum denotat. V. Aldêa, Granja,
ma Aldêa, e que tivesse Juiz, Senado, e Herdade , onde mais largamente se
e Pellourinho, com os mais distinctivosmostrou o que os Antigos Portuguezes
de Jurisdicção Civíl , e Criminal; mas entendião por Villa, e Villas, de que
sim por huma pequena herdade, Casal, tão larga menção se faz em as nossas
ou Granja, constante de algumas peças Escrituras. No de 915 confirma o Rei
de terra, com sua casa rústica , e de D. Ordonho II. á Sé de Lugo as Ci
abegoaría para recolher os frutos , e dades, e Dioceses de Braga, e Ouren
criar os gados , e outros animaes do se , e juntamente lhe faz Doação do
mesticos. Calep. V. Villa a define: Do Mosteiro de S. Christovão, quod eft
mus in agro, agri colendi, e fructuum constructum in hereditate mostra a Diio
condendorum , aut etiam habitationis Hermegio Episcopo in territorio Tudeu
causa constituta. E chamou-se Villa, si, loco vocato#### ripa Limiae,
á vebendo, quasi vehilla, em razão dos & Nobis sub tuitione, Óº dominio ab
renóvos, e producçoens do campo, que ipso Episcopo est traditum jure haere
# #
ara ella fazia conduzir o caseiro, e del ditarium. Hoc ergo Monasterium...
#
} se exportavão quando se vendião. Var condonamus per suis terminis antiquis,
| ro de # rust. L. I. c. 2. Dividia-se a cum omni súa hereditate, Ó"familia,
} Villa, segundo Columella, em urbana, IVillas, & Ecclesias, cum Villa vide
# rustica , e frutuaria : a 1.° constava licet, & Ecclesia númeupata Winea in
de huma casa mais elegante, grave, e litore maris , & alias Villas territo
aceada, em que o Senhor da Villa hia rio Bracharensi , 6º Ecclesiás , que
por algum tempo, ou mesmo de assis sunt inter Cauto , & Limia , id est,
tencia residia: a 2.º pouco, ou nada ti Crespellus, 9º Vulturinar; item etiam
nha de polida, destinada só para habi & Villam Manzaneta per suis termi
tação do colono, e sua familia, cons mir: fimiliter &9" in Turonio Behevivere
tava tambem de curraes , encerradou dietam ; etiam & Parata in ripa de
ros, palhaes, córtes, e cubertos para Minor, cum suos Villarinos. Confirmão
os animaes , e apeiros da lavoura : a os Bispos Recaredo de Lugo, e Naus
3.º finalmente era o que hoje dizemos to , Sabaríco, Froarengo, Asuri, Ge
Adega, ou Celleiro. E todas estas 3 par nadio , e Fruminio sem dizerem don
tes estamos nós vendo em qualquer Quin de erão Bispos. Hesp. Sagr. T, XL.
ta, ou herdade, ainda de bem pouca : 396. Desde os fins do Seculo XII.
extensão, e rendimento; havendo outras, até os do Seculo XV. se acha algu
que apenas tem huma choupana, ou casa mas vezes Villa synonimo de Cidade.
terrea para habitação do caseiro, e que V. g. Villa de Bragança, Villa de La
pela sua pequenhez disserão Villula mego, de Coimbra, de Garda, &c. V.
os nossos Maiores. Estaço nas Antig. Bemquerença. Desde o tempo d'ElRei
c. 2. n. 22. fallando de humas Escritu D. Affonso III. se começou a chamar
ras antigas diz : A palavra Villa não Yilla hum Lugar grande, ou Cabeça
significa a povoação, que hoje chama cle Concelho, na qual se decidião as
mos Villa, mas sim Quinta, ou cousa Causas na primeira instancia, e isto he
semelhante. Nesta mesma accepção a to o que hoje em Portugal dizemos Villa.
ma o Direito Civíl ex l. Plenum.12.f. V. Viliar.
de usu, & habitatione, & ibi Glossa VILLULA. AS. Prédio rústico, e de
verbo in Villa ibi: Villa , id est, do limitado torrão, herdade pequena, in
muncula , quae gratia fructuum repo significante Casal. Algumas vezes se
mendorum parata est , Óº appellatur chamão estas Villulas com o nome de
# rurticum praedium. O mesmo se vê do J'illares, ou Villarinhos em os nossos
Evangelho de S. Matth. 22.5., e no Documentos até os fins do Sec. XVI. V.
de S. Luc. 14. 18. e do Direito Cano Milla.
VI
62 VI VI
- VISITA, Certa pensão, que antiga ou mais vezes no anno ao Direito Se
mente se impunha em alguns Prazos, nhorio. E nos fareis visita huma vez
e consistia em algum presente, ou mi no anno com o que tiverdes. Prazo de
mo de cousas comestiveis, que o emfi 1479. Em outros se obrigão a fazer es
teuta, caseiro, ou colono fazia huma, ta Visita duas vezes no anno.

Fim do Supplemente.
E R R A T A S.
Error. Emendas. Error. Emendar.
Pag. Pag.
I asado usado 163 Heurique Henrique
# 6 estão então I83 de 1199 de 12 o 9
Io O2,6 may Ozêzar, 186 privado privados
11 voluterit Toluerit 218 BINDRAR PINDRAR.
12 dingo digno Ib. Pastará Bastará
13 1 1 93 I I 97. 22o Ovença avença
Ib. Inngnes Insigner 221 alguma hera alguma hora
2 o estas não erão estas erão 23; Pma oftura ma Portura
24 supesticioso, V. O. supersticioso, feiticei- 243 Potestados Potentados
A TO, Ib. ajustaremos ajuntaremos
27 Ott tinm • Oll llll/71 244 PRINDIPE PRINCIPE
28 plaucit placuit 248 governão-se governando-se
32 Polagii Pelagii 249 Posoança Possança. I.
34 sonbudo sanhudo 2;o o Qaer ou Qaer
42 dividindo dividido a 54 6: canadas 8. canadas
, o ant /11/f 2; 6 que o que he o
51 Monemas AMonemur 27, V. Bebora V. Rebora
5; IGUARDAR IGUALDAR. 28; oito moaos oito matos
64 artigo antigo 286 traia tTOC2
68 com antigos com os antigos 29o enfonia eufonia
74 destruirão destruião 294 Rompimento terra Rompimento de terra
Ib. precerão precederão 3o; com freguencia com frequencia
7; de 1473 de 1 5" ; 3 o4 roboral roborar
76 os que os quaes 3o; tersas tCTr33
78 occometter aCCOIThettCf 3o3 Softegar Sortegar
8; donam donum 3o9 alqueia vão alquiavaõ
87 larvara lavrara 3 2 1 cx aqttore tx equore
. 88 respondea responder 347 apercadas apertadas
9 o flecte pectét 3; 2 Concilium confilium
2 ; 2; , ou 36 2; , 35 , ou 36. 3 54 2X 2X"
I I ; tê de 3;; no III. Mestre no II. Mestre
1 16 aqui a que Ih, confirmado . confirmando
Ilº. Nomini Nominº 366 tivesse lido tivesse sido
129 ouvira ouvir a 37 o Na de 1 25o No de 12;o
Ib. Carra Carta 4o4 1oo foldos Idioco. soldor:
, 13; regularmentes regularmente

Algumas outras Erratas do I. Tomo. Erratas do Supplemento.


Errof. Emen lar. Errof. Emendar.
Pag. Pag.
182 vestiduras verteduras 6 que nguelles que aquelles
24 ; 1223 • 1323 ••• 7 e ornaado-a e ornando-a
2; ; fuerunt Militer fecerunt Milites 1 ; Foramonstaõs Foramontaõr
237 Soborna Sorbona 29 com deas com duas
3oz Sec. III. Sec. XIII. • 3 I Fuudação Fundação
3 13 Couto de cima Couto debaixo 32 no de 1451 no de 1457
3 17 Maranda Miranda ;; de dinborios de dinheiros.
422 o S que princ. Em Maio, lca-se depois do que *

princ. Finalmente. Os mais erros de pontor , virgulas , e arsentos


373 Conto Couto emendará o Leitor benigno.
376 Lamgo Lamego
4os Orinal Original
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