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Disciplina: Ciência Política 1
Docente: Professa dra Marcela Pessoa:
Discente: Marcos Carvalho Pacheco
Se se chegasse a conclusão de que todos os governos são equivalentes, e que a única diferença
entre eles consiste no caráter e na conduta dos governantes, a maioria das disputas políticas
terminaria, e todo o zelo por uma constituição em detrimento de outra seria considerado
simples fanatismo e loucura. (p.108)
Tão grande é a força das leis e de determinadas formas de governo, e tão pouco dependentes
dos humores e dos temperamentos dos homens, que se pode, as vezes deduzir delas
consequências quase tão certas e gerais quanto àquelas das ciências matemáticas. (p.109)
O príncipe eleito precisa ser ou um estrangeiro ou um nativo, o primeiro ignorará o povo que irá
governar, desconfiará de seus novos súditos e será ao mesmo tempo objeto de sua
desconfiança. [...] Por sua vez um nativo levará para o trono todas as suas animosidades e
amizades privadas, e sua ascensão despertará inevitavelmente sentimento de inveja naqueles
que anteriormente o consideravam como igual. [...]
Pode-se portanto afirmar como um axioma universal na política: Que um príncipe hereditário,
uma nobreza sem vassalos e um povo que vota em seus representantes formam as melhores
MONARQUIA, ARISTOCRACIA e DEMOCRACIA. (P.112)
Ao defender um governo moderado Hume prescreve a necessidade de se criar leis sábias que
regulamente a administração:
Da Origem do governo:
O homem, nascido numa família, é forçado em viver em sociedade, por necessidade, por
inclinação natural e por hábito. A mesma criatura em sua evolução subsequente, se empenha
em estabelecer a sociedade política, para poder administrar a justiça, sem a qual não pode haver
paz entre os homens, nem segurança, nem relações recíprocas. [...]
Todos os homens são sensíveis à necessidade de justiça para se manter a paz e a ordem; e todos
os homens são sensíveis à necessidade de paz e de ordem para a manutenção da sociedade.
Ainda assim, apesar dessa necessidade forte e evidente, tamanha é a fragilidade da
perseverança em nossa natureza que parece impossível manter os homens na trilha da justiça,
de forma fiel e constante. Algumas circunstâncias extraordinárias podem ocorrer nas quais um
homem considere que seus interesses são mais favorecidos pela fraude ou pela pilhagem do
que prejudicados pela ofensa feita à união social por uma injustiça que cometa. Mas muito mais
frequentemente o homem é distraído de seus interesses principais, mais importantes, porém
mais remotos, pela sedução de tentações imediatas, ainda que, muitas vezes, totalmente
insignificantes. Essa grande fraqueza é incurável na natureza humana.
Os homens devem, portanto, procurar um paliativo para o que não podem curar. Precisam
estipular certos cargos, cujos titulares se chamarão magistrados, com a função específica de
proferir sentenças imparciais, punir os transgressores, reparar a fraude e a violência e obrigar
os homens, mesmo contra a sua vontade, a respeitar os seus próprios interesses reais e
permanentes. Em uma palavra “a OBEDIÊNCIA é um novo dever que deve ser inventado para
apoiar aquele da JUSTIÇA, e os laços da equidade devem ser corroborados pelos da submissão.
(p. 135-36)
Em todos os governos, existe uma perpétua luta intestina, aberta ou secreta entre a
AUTORIDADE e a LIBERDADE, e nenhuma das duas pode prevalecer de maneira absoluta nesse
conflito. Um grande sacrifício da liberdade deve, necessariamente, ser feito em todos os
governos, e, contudo, também a autoridade, que limita a liberdade, não deve tornar-se jamais,
em qualquer constituição, completa e incontrolável. [...] (p,139)
O governo que, na linguagem comum, recebe a designação de livre é aquele que permite uma
divisão do poder entre vários membros, cuja autoridade unificada não é menor, ou é
frequentemente maior de que a de qualquer monarca; mas esses membros, no curso normal da
administração, devem agir de acordo com as leis gerais e sempre idênticas que são previamente
conhecidas por todos os membros do governo e por todos os súditos. Nesse sentido é forçoso
reconhecer que a liberdade constitui a base da perfeição da sociedade civil. Mas, ainda assim, a
autoridade é essencial para a sua própria existência. (p. 139-40)
Da independência do parlamento:
O poder da coroa sempre reside numa única pessoa, seja rei ou ministro; e, como essa pessoa
pode ter um grau maior ou menor de ambição, capacidade, coragem, popularidade ou fortuna,
o mesmo poder que é demasiado numa determinada mão pode ser muito pouco em outra. Em
repúblicas puras, onde a autoridade é distribuída entre várias assembleias e senados, os freios
e controles constitucionais funcionam de maneira amais uniforme, já que é lícito supor que os
membros dessas numerosas assembleias apresentam sempre capacidades e virtudes mais ou
menos idênticas, só merecendo ser levados em conta o seu número, a sua riqueza ou a sua
autoridade. Mas uma Monarquia limitada não admite tal estabilidade; nem é possível atribuir à
coroa um grau de poder tão específico que seja capaz de estabelecer adequadamente, em
quaisquer mãos, um equilíbrio sólido com as outras partes da constituição. Essa é uma
desvantagem inevitável, entre as muitas vantagens proporcionadas por essa forma de governo.
(p.146)
Do Contrato Original:
É óbvio que nenhum pacto ou acordo de submissão geral foi celebrado, pois isto estaria muito
além da compreensão de selvagens. Cada situação em que se estabeleceu a autoridade d e um
líder deve ter sido especial, originando-se das exigências de circunstâncias particulares. [...] Mas
se aqueles que defendem essa tese passassem seu olhar pelo mundo, nada encontrariam que
aproximasse minimamente de suas ideias, ou que pudesse justificar seu sistema filosófico tão
refinado. Ao contrário, encontramos em toda parte, príncipes que consideram seus súditos
como propriedade e afirmam seu direito independente à soberania. Fundado na conquista ou
na sucessão. Em toda parte encontramos também súditos que reconhecem esse direito de seu
príncipe, considerando que já nasceram submetidos à obrigação de obediência a seus pais.
Essas relações são sempre concebidas de forma independentes. [...] (p.665-66)
[...] A obediência e a submissão se tornam uma coisa tão costumeira que os homens, em sua
grande maioria, jamais procuram investigar as suas origens ou causas, tal como ocorre em
relação à lei da gravidade, ao atrito ou a leis mais universais da natureza. [...] Na maioria dos
países, se lá fôssemos proclamar que as relações políticas se baseiam inteiramente no
consentimento voluntário ou numa promessa recíproca, logo o magistrado nos mandariam
prender como sediosos, por enfraquecer os laços de obediência; [...] É estranho que um ato de
espírito, que supostamente foi realizado por todo o indivíduo, desde que ele passou a fazer uso
da razão, pois sem ela não teria autoridade alguma; que tal ato, dizia eu, seja a tal ponto
ignorado por todos que, em toda a superfície da terra, mal restem dele quaisquer vestígios ou
lembranças. (p.667)
Quase todos os governos que existem hoje ou dos quais existem registros na história se
fundamentaram na usurpação ou na conquista, ou em ambas, sem pretensão alguma de
consentimento legítimo ou de uma submissão deliberada do povo. (p.668)
Se todos os homens tivessem um respeito inflexível pela justiça, que os levasse a se absterem
completamente da propriedade alheia, eles teriam ficado para sempre num estado de liberdade
absoluta, sem se sujeitar a qualquer magistrado ou instituição política. [...] (p.672)
É necessário introduzir inovações em todas as instituições humanas, e são felizes aqueles casos
em que o gênio esclarecido da época as orienta no sentido da razão, da liberdade e da justiça.
Mas a nenhum indivíduo é lícito realizar inovações violentas: Estas são perigosas mesmo quando
são feitas pelo legislativo; pode sempre se esperar delas mais mal do que bem. E se é certo que
a história oferece exemplos do contrário, ainda assim estes não podem ser considerados
precedentes válidos, pois não passam de uma prova de que, na ciência política, existem poucas
regras que não admitem exceções ou que passam eventualmente ser modificadas com o acaso.
As inovações violentas do reinado de Henrique VIII, foram introduzidas por um monarca
despótico, sustentada por uma aparência de autoridade legislativa; as do reinado de Charles I
foram provocadas pelo partidarismo e pelo fanatismo; e tanto estas como aquelas tiveram bons
resultados. Mas durante um longo período , mesmo as primeiras foram fonte de diversas
desordens e peigos adicionais; e se as regras de fidelidade forem extraídas das segundas, a
sociedade humana se tornará palco da mais completa anarquia, e todo governo chegará em
pouco tempo ao fim. (p.676)