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TEORIA CRÍTICA
DOSSIÊ
INTRODUÇÃO
Ricardo Terra*
Luiz Repa**
Não é exagero dizer que a pesquisa sobre nuidade dessa tradição nos tempos atuais.
a tradição de pensamento conhecida pelo nome Perdia-se de vista igualmente o que susten-
de “Teoria Crítica” passa por um momento de tava a verdadeira unidade dessa tradição no inte-
forte renovação no cenário acadêmico brasileiro rior de sua evidente multiplicidade teórica e dis-
e internacional. Entre os fatores principais que ciplinar: a constante busca de atualizar o diag-
propiciaram essa renovação, do qual o presente nóstico de época segundo as exigências de apre-
dossiê pretende ser um exemplo, consta certa- ender os potenciais emancipatórios inscritos na
mente o fato de ter ocorrido uma desmistificação realidade das sociedades capitalistas contempo-
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em relação aos potenciais e aos obstáculos para tir da questão sobre o significado da ideia de “eman-
a emancipação, seja para a própria concepção de cipação”. Também aqui, sobretudo aqui, apresen-
emancipação, sem que, com isso, a própria uni- ta-se o momento em que a conceitualização dessa
dade dessa tradição se enfraqueça. Ao contrário, forma de teoria por parte de Horkheimer passa
sua atualização constante, que frequentemente por um distanciamento em relação a Marx. Pois
se realiza por meio de críticas severas entre os em Marx e no marxismo em geral, a emancipa-
seus representantes, é a condição mesma da sua ção significou, na maioria das vezes, a configu-
unidade e da sua continuidade. O presente dossiê ração de uma sociedade do trabalho, que toma-
ilustra esse ânimo próprio da Teoria Crítica de va como central a crítica ao “trabalho abstrato”,
uma dupla forma: primeiro, por apresentar, em próprio da lógica de reprodução do capital. Já
seu conjunto, aquela diversidade de diagnósti- Horkheimer e, com ele, Adorno principiam uma
cos; segundo, pelo fato de os colaboradores bus- forte crítica ao potencial emancipatório da cate-
carem também renovar os potenciais teóricos dos goria de trabalho, cuja lógica é, então, aproxi-
autores analisados para os problemas da socie- mada à daquela da razão instrumental, concei-
dade contemporânea. to-chave com que ambos os pensadores buscam
Cabe mencionar ainda um terceiro aspecto entender a realidade das sociedades capitalistas
em que as colaborações se deixam animar pelas dos anos quarenta. Porém, segundo o autor, so-
exigências determinantes da Teoria Crítica. Seus mente a partir de Habermas se conseguiu abrir
autores participam diretamente ou são colabora- novos sentidos para o conceito de emancipação,
dores frequentes do Núcleo Direito e Democracia livrando-se do modelo produtivista. Com isso,
do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento também a oposição entre “reforma e revolução”
(NDD/CEBRAP), o qual, há uma década, tem rea- deixa de ser, em princípio, um dilema para o
lizado pesquisas teóricas e empíricas sobre as ten- pensamento de esquerda, uma vez que ambos
dências jurídicas, políticas e sociais contemporâ- os polos refletiam a mesma equação de identifi-
neas, em um ambiente interdisciplinar que reú- car “emancipação” e “sociedade do trabalho”.
ne pesquisadores de filosofia, direito, ciência Se o artigo de Rúrion Melo oferece uma
política e sociologia. Tendo como referência ini- ampla visão da Teoria Crítica a partir de uma
cial a obra de Habermas sobre direito e demo- questão nuclear como essa sobre os sentidos da
cracia, mas contando com uma grande emancipação, o texto de Luciano Gatti, que ana-
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sistema e mundo da vida, elas se dirigem a re- sível abordar outros teóricos importantes dessa tra-
sultados bastante distintos. Enquanto a teoria dição, como Franz Neumann, Friedrich Pollock, Otto
social de Honneth caminha para uma espécie de Kirchheimer, Iris Young, Seyla Benhabib, Klaus
monismo normativo, centrado no conceito de Günther, assim como variar os enfoques e os pro-
reconhecimento, Fraser pretende atenuar o blemas tratados em cada um dos autores aqui anali-
dualismo habermasiano, insistindo na sados. Porém, como dissemos de início, o dossiê
interligação entre sistema e mundo da vida como pretende refletir algo essencial para a ideia de Teo-
fonte de injustiça, mas também na especificidade ria Crítica: sua preocupação com o presente, com
dessas esferas para a produção de diversas ou- as potencialidades de uma sociedade emancipada e
tras formas de subordinação social. justa, com os obstáculos para a efetivação dessas
É preciso sublinhar, finalmente, que o pre- potencialidades, sem querem criar, para isso, uma
sente dossiê não pretende, de modo algum, esgo- escola.
tar nem mesmo fornecer uma visão de conjunto
a mais ampla possível da Teoria Crítica. Seria pos-
(Recebido para publicação em 30 de junho de 2011)
(Aceito em 15 de julho de 2011)
CADERNO CRH, Salvador, v. 24, n. 62, p. 245-248, Maio/Ago. 2011
Ricardo Terra - Doutor em Filosofia. Professor titular da Universidade de São Paulo. Coordenador o Núcleo
Direito e Democracia do CEBRAP, desenvolvendo pesquisa sobre filosofia política e teoria crítica. Co-organi-
zou “Direito e Democracia. Um guia de leitura de Habermas”. São Paulo: Malheiros Editores, 2008; “Recht
und Frieden in der Philosophie Kants”. Berlin: Walterde Gruyter, 2008. Publicou Kant & o direito. 1. ed. Rio
de Janeiro: Zahar, 2004.
Luiz Repa - Doutor em Filosofia. Professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Paraná.
Integra o Núcleo de Pesquisa Direito e Democracia do CEBRAP, desenvolvendo pesquisas na área de filosofia
política e teoria crítica. Suas mais recentes publicações são: Hegel, Habermas e a modernidade. Dois Pontos:
Curitiba, v. 7, p. 151-162, 2010; A transformação da filosofia em Jürgen Habermas: os papéis de reconstru-
ção, interpretação e crítica. São Paulo: Esfera Pública, 2008; Reconhecimento da diferença na teoria crítica.
In: Amarildo Luiz. (Org.). Cultura, diferença e educação. Porto Alegre: Sulina, 2010.
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