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PREFÁCIO
Santo Inácio termina o seu retiro com um exercício que ele chama «contemplação para
excitar ao amor» (contemplatio ad amorem). O seu pensamento é, então, que um bom retiro
deve estabelecer as almas na vida de amor e que aí devem permanecer.
Propomo-nos simplesmente nesta série de meditações ajudar as almas a viver desta vida
de amor. É um mês de meditações ad amorem ou, se se quiser, um retiro ad amorem. Não temos
a ridícula pretensão de substituir os Exercícios de Santo Inácio, queremos apenas ajudar
algumas almas a conservar os frutos destes Exercícios e mesmo a multiplicá-los.
Foi com o propósito de fazer isto que o pensamos. Depois de Santo Inácio, o Sagrado
Coração de Jesus manifestou-se a nós. Revelou-se a Santa Margarida Maria, inspirou S. João
Eudes. Pede mais instantemente do que antes a vida de amor. É portanto justo ajudar nisto as
almas.
Nós recordamos nestas meditações os motivos do amor, dos quais os principais são o
desejo e a ordem divina e os benefícios de Deus.
Descrevemos as diversas formas do amor: a gratidão, a benevolência, a compaixão, a
união e o abandono.
Explicamos os meios para adquirir e desenvolver o fervor do amor: é a parte mais
prática das nossas meditações.
Finalmente expomos os efeitos do verdadeiro amor para ajudar as almas a reconhecer se
elas estão no bom caminho.
Oferecemos este modesto trabalho ao Sagrado Coração de Jesus. Escrevemo-lo para
ajudar ao seu reino. Confiamo-lo a Nossa Senhora do Sagrado Coração, a Rainha do belo amor
para que ela se digne abençoá-lo e fecundá-lo.
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
PRIMEIRA MEDITAÇÃO
74. (Deus visitou-nos) para que, libertos dos nossos inimigos, O sirvamos sem
temor.
75. Na santidade e na justiça, sob os seus olhos, todos os dias da nossa vida.
76. E tu, menino, serás o profeta do Altíssimo: caminharás diante do Senhor,
para lhe preparar os caminhos.
77. Para ensinar a ciência da salvação ao seu povo, para a remissão dos seus
pecados.
78. Pela misericórdia do coração do nosso Deus que veio do céu para nos visitar
na sua bondade.
79. Para iluminar os que jaziam nas trevas e na sombra da morte: para dirigir os
nossos passos nos caminhos da paz.
Sumário. – Três caminhos conduzem a Deus: o temor, a esperança e o amor.
II. Meditação
2. Meditação
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Mas na primeira, o motivo do temor é o que actua mais frequentemente e que faz
uma mais forte impressão. Na segunda, é o motivo da esperança, na terceira, o da
caridade.
Ninguém é mestre, pelo menos no princípio, para escolher a sua própria via. Há
almas que Nosso Senhor conduz pelo temor, outras que atrai a si pela esperança, outras
que prende a si pelo amor.
As almas levadas por esta via são muito tocadas pelo rigor dos juízos divinos,
dos suplícios do inferno, e por todas as verdades terríveis da religião. Deus serve-se do
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
temor para deter o ímpeto das paixões, para contrabalançar a atracção sedutora dos
objectos sensíveis, para prevenir a alma contra as ocasiões e os perigos que encontra e
para lhe servir de freio quando é pressionada por violentas tentações.
Mas acontece muitas vezes que as almas movidas pelo temor o levam para lá dos
limites que Deus lhes marcou, e se fixam nesta via, e não gostam de ler ou de meditar
senão nos temas que a ele conduzem. Há um inconveniente. Nosso Senhor não pode
então elevar estas almas ao seu amor como quereria.
O temor é mais próprio para afastar do mal do que para levar ao bem. Pelo
menos, se leva a praticar o bem, é unicamente aquele que é de obrigação estrita e
rigorosa. O temor comprime o coração, nem vê o que de amável a virtude tem, não leva
à generosidade. Pode conduzir uma alma à salvação, mas não à santidade.
O temor não suaviza o jugo divino, mas deixa sentir todo o seu peso. A alma que
se deixa dominar pelo temor do serviço divino não toma senão o que lhe parece de
estrita obrigação e nele se arrasta penosamente. Não encontra nele nem doçura, nem
consolação, nem encorajamento. A alegria do Espírito Santo é-lhe desconhecida, é
triste, desgostosa e inquieta, e muitas vezes tentada a tudo abandonar.
O Salvador. – Quis acentuar isto na parábola dos talentos. Falei de um servo que
recebeu um talento e que, por temor em prestar contas, enterra o seu talento com medo
de o perder. Só tem no coração o temor, um temor servil e não faz frutificar o talento do
seu senhor: timens abii et abscondi talentum tuum in terra. Assim, no seu regresso, o
senhor recebe severamente o seu servo inútil, retoma o seu talento e manda-o lançar nas
trevas exteriores onde há choro e o ranger de dentes: serve male et pigre... toliite itaque
ab eo talentum... et /14 inutilem servum ejicite in tenebras exteriores: ibi erit fletus et
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
stridor dentium. Eis aonde o temor pode conduzir, quando é dominado pelo amor-
próprio.
Esta alma está também sujeita a retirar glória do que faz para além do necessário
para ganhar o céu; a apoiar-se mais sobre as suas boas obras do que sobre os méritos de
Nosso Senhor; a presumir que, depois de tudo o que fez e sofreu, a recompensa lhe está
garantida.
Sem dúvida que em tudo isto não há nada que interesse essencialmente a
caridade; ela fica na realidade enfraquecida, a sua pureza sofre com isso, e há muita
imperfeição em ocupar-se assim muito mais com o seu próprio interesse do que com o
de Deus.
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
vos purificardes, voltando-vos mais para o lado do amor e dando ao seu motivo toda a
preponderância que merece. /15
Como é mais elevada e mais pura a via do amor! Coloca Deus no seu lugar e faz
d’ Ele verdadeiramente o mestre, o centro e o ideal de tudo; e faz das criaturas como
uma corte atenta e diligente, toda dedicada ao senhor que ama e do qual tudo recebe. O
temor e a esperança mais não devem ser do que auxiliares; a caridade é que é a rainha e
a mestra da vida interior, e foi para vos ajudar a viver desta vida de amor que vim
oferecer-vos uma fonte nova de amor manifestando o meu Coração à bem-aventurada
Margarida Maria.
Afectos e resoluções
Ó meu bom Mestre, estou confuso por vos ver servido tão mal até ao presente, e
sempre por motivos tão imperfeitos. Vinde, enchei o meu coração com o vosso amor,
para que não pense mais noutra coisa que não seja em vos servir por amor. A vossa
beleza infinita, as vossas bondades incessantes a isso me convidam e me pressionam.
Tomai o meu coração e nunca mais o deixeis ser ingrato.
Ramalhete espiritual
- Ut sine timorem serviamus illi, in sanctitate et justitia coram ipso (Lc 1).
- Charitas diffusa est in cordibus nostris per Spiritum Sanctum qui datus est nobis (Rom 5).
- Non enim accepistis spiritum servitutis iterum in timore, sed accepistis spiritum adoptionis
filiorum in quo clamamus: Abba, Pater (Rom 8).
- (Jesus veio) para que nós o sirvamos sem temor na santidade e na justiça, sob
os seus olhos (Lc 1).
- A caridade foi derramada nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi
dado (Rom 5).
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
SEGUNDA MEDITAÇÃO
14. Vos amici mei estis, si feceritis quae ego praecipio vobis.
15. Jam non dico vos servos: quia servus nescit quid faciat dominus ejus. Vos autem dixi amicos:
quia omnia quaecumque audivi a Patre meo, nota feci vobis.
16. Non vos me elegistis: sed ego elegi vos, et posui vos ut eatis, et fructum afferatis; et fructus
vester maneat: ut quodcumque Patrem petieritis in nomine meo det vobis.
14. Vós sois meus amigos, se fizerdes o que vos mando.
15. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor.
Chamo-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que aprendi de meu Pai.
16. Não fostes vós que me escolhestes. Fui Eu que vos escolhi, para que vades e
deis frutos e os vossos frutos permaneçam; e tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome,
Ele vos dará.
Sumário. – O amor tira ao temor e à esperança o que se lhe mistura de amor-
próprio.
A via de amor é a mais simples porque reduz tudo a um único motivo no qual os
outros estão eminentemente compreendidos.
É a via mais doce. Ela agarra-nos pelo coração e o nosso coração é feito para
amar.
II. Meditação
2. Meditação.
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
O amor não conhece habitualmente outro temor senão o temor filiar, isto é, o
medo de desagradar a um Pai bem-amado. Sendo filho do amor, este temor é de uma
atenção e delicadeza totalmente diferentes do medo da justiça divina e dos seus castigos.
Leva a evitar as mínimas faltas, as mais pequenas imperfeições voluntárias. Em vez de
comprimir e de gelar o coração, alarga-o e aquece-o. Não causa nenhuma perturbação,
nenhum alarme; e mesmo quando escapa alguma falta, reconduz docemente a alma ao
seu Deus através de um arrependimento tranquilo e sincero. Procura acalmar-se e
reparar abundantemente da mágoa que se lhe pôde causar. De resto, não se inquieta
nem perde a confiança.
O amor tira também à esperança o que ela tem de demasiado pessoal. Aquele
que ama não sabe outra coisa senão contar com Deus, nem fazer boas obras
principalmente com o objectivo de acumular méritos; e por este nobre desinteresse,
merece incomparavelmente mais. Esquecendo tudo o que fez por Deus, não pensa
noutra coisa senão em fazer ainda mais. Não se apoia sobre si mesmo; visa a
recompensa celeste menos sob o título de recompensa do que como uma garantia de
amar o seu Deus com todas as suas forças e de ser por Ele amado durante a eternidade.
Sem excluir a esperança, que lhe é natural, considera a felicidade mais do lado do bom
agrado do seu Deus e da sua glória que lhe pertence do que do lado do seu próprio
interesse. E quando o amor está no seu ponto mais elevado de perfeição, estaria disposto
a sacrificar a sua felicidade própria à vontade divina, se exigisse dele este sacrifício.
Coloca a sua felicidade no cumprimento desta vontade.
O Salvador – O coração dos Santos atingiu mesmo sobre a terra este grau de
pureza. É a disposição dos bem-aventurados no céu. É preciso, portanto, que o amor
seja purificado a este grau neste mundo, ou no outro pelas penas do purgatório. Há,
portanto, que deliberar sobre esta escolha? E quando a via do amor não tivesse outra
vantagem senão a de nos isentar do purgatório ou de lhe abreviar consideravelmente a
duração, poderíeis hesitar em abraçá-la?
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Servir o seu Deus por amor é a via mais simples, porque ela reduz tudo a um
único motivo dominante, onde todos os outros estão eminentemente compreendidos. Se
amais a Deus, temê-lo-eis com o temor que lhe é mais /18 útil. Se O amais, esperais nas
suas promessas com a confiança mais firme, e tendes a certeza da sua execução, tanto
quanto isso é possível na terra. Se O amais, já não tendes necessidade de pensar na
aquisição de cada virtude em particular; o exercício do amor encerra-as a todas e fá-las
praticar pelo seu motivo, de um modo mais elevado e mais perfeito do que se as
exerciteis cada uma pelo motivo que lhe é próprio.
O amor só tem um método, o de seguir o impulso da graça, que nos leva a amar.
Só tem uma prática, que é de amar em todo o tempo, em todo o lugar, em toda a
situação. Só tem um acto ao qual todos os outros se reportam; um motivo, amar porque
ama; um fim, amar por amar.
Que há de mais simples? Mas há algum meio de perfeição que esta simplicidade
não abrace? Há algum que não empregue excelentemente, e de que não retire mais
proveito, a não ser que a alma se ficasse neste meio considerado em si mesmo?
Servir o seu Deus por amor é também a via mais doce. Ela agarra-vos pelo
coração e o vosso coração é feito para amar. Conduz docemente, mas muito eficazmente
a vossa vontade para o que Deus deseja. O amor coloca o coração perfeitamente á
vontade, o que nenhum outro sentimento poderia fazer. O medo constrange; a esperança
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
não está totalmente isenta de um certo regresso à inquietude; o amor não conhece nem
os tormentos do medo, nem os alarmes da esperança reduzida a si mesma.
É também a via mais fácil. Certamente, se há uma disposição que nos possa
facilitar a prática da virtude, é, sem contradição, o amor, que, pela sua natureza, é nobre
e generoso, ao qual nada custa, desde que se trate de agradar ao objecto amado, e que
está pronto para tudo sofrer antes que de lhe desagradar.
Se o amor terrestre mesmo, aquele que tem a sua fonte na natureza ou que
inspira a paixão, torna o homem capaz dos maiores esforços em favor de um pai ou de
um esposo, que não há-de então esperar-se do amor sobrenatural, que tem por objecto
um ser infinitamente amável, acendido no vosso coração pelo vosso Deus mesmo, e que
é fortificado por todo o poder da graça? Nós fazemos de boa vontade aquilo de que
gostamos. O amor fecha os olhos às dificuldades; triunfa sobre os obstáculos; lança-se
através dos perigos; sacrifica os seus interesses; torna capaz de tudo e crê que tudo lhe é
possível.
O esposo do Cântico vo-lo diz: Nada pára o amor, nem os rios, nem as torrentes;
e, se for necessário dar tudo o que se tem pelo objecto amado, considera tudo isso como
nada (Cant. 8).
Margarida Maria dizia também, perante os sacrifícios a fazer: «Que temes tu, ó
minha alma? Tu levas o Coração de Jesus e o seu amor; é o tesouro, a força, a alegria do
céu e da terra».
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
amor teria menos poder sobre vós do que o de uma vil criatura? Teria menos atractivos?
Mereci menos a vossa afeição? Encontram menos satisfação em agradar-me? E, se for
necessário considerar o vosso próprio interesse, podeis esperar a vossa felicidade de um
outro amor que não do meu? Dai-me, portanto, o vosso amor. Tenho sede de ser amado
e é por isso que vim manifestar o meu Coração./20
Afectos e resoluções
Ó meu bom Mestre, porque não Vos amei mais cedo! Eis o meu coração,
entrego-vo-lo e vos deixo como seu senhor. Tomai-o, dilatai-o, enchei-o com o vosso
amor. Encorajado e fortificado pelo vosso amor, corri na via dos vossos mandamentos.
Recordar-me-ei muitas vezes dos vossos benefícios para alimentar no meu coração o
fogo sagrado da vossa caridade.
Ramalhete espiritual
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
TERCEIRA MEDITAÇÃO
42. O Senhor disse então: Quem é, pensais, o administrador fiel e prudente, que
o senhor colocou à frente da sua família, para que dê a cada um no seu tempo a sua
medida de trigo?
43. Feliz o servo que o senhor encontrar vigilante quando voltar.
44. Em verdade vos digo que o colocará à frente de tudo o que possui...
49. Vim trazer fogo à terra, e que é que eu quero senão que se acenda?
50. Devo ser baptizado com um baptismo: sinto-me ansioso até que isso
aconteça!
Sumário. – Este fogo, que Jesus veio trazer à terra, é o amor divino. Veio viver e
sofrer entre nós para que todos O amemos e para que amemos o seu Pai. É o objecto da
sua missão.
Vamos contra os seus desígnios, somos seus inimigos, se não amamos e se não
O fazemos amar.
Nas este fogo não se ateará, ou, pelo menos, não se manterá e não crescerá nos
nossos corações, se o não alimentarmos, se o não aumentarmos com a nossa cooperação
assídua.
II. Meditação
2. Meditação
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
O discípulo. – Ó meu bom Mestre, aqui está o meu coração, eu vo-lo entrego e
vo-lo-deixo para que sejais o seu mestre. Purificai-o, preparai-o para receber o vosso
santo amor. Acendei nele este fogo que desejais ver nele arder. /22
Reflexões. – Sim, foi verdadeiramente para acender este fogo do amor divino
que Nosso Senhor veio à terra. Este era o fim da Santíssima Trindade na criação, era
também o seu objectivo na redenção. Deus quer ter filhos que O amem. Quer encontrar
corações que O amem, corações que se dêem a Ele. Foi por isso que Nosso Senhor se
fez homem, que passou pelos diversos estados da sua vida mortal. Todas as suas
palavras, todas as suas acções, todos os seus sofrimentos tinham este objectivo, ensinar-
nos pelas suas lições e pelos seus exemplos a amar o seu Pai, obter-nos, merecer-nos e
comunicar-nos Ele mesmo esta graça do amor divino. Foi por isso ainda que Ele veio
fazer um último esforço manifestando-nos o seu Coração, que é a fonte e o lugar do seu
amor.
Esta graça do amor é o maior dos benefícios: supõe e contém todos os outros.
Sou verdadeiramente o sol de amor e venho com os meus raios às trevas deste
mundo para aí trazer a luz e o calor. Se até ao presente não participastes ainda neste
benefício, se a vossa alma não está ainda abrasada deste fogo sagrado, não é a mim, mas
a vós que o deveis imputar.
Não quero outra coisa, a não ser que este fogo se acenda no coração dos homens.
Como Deus, não quero outra coisa, porque a minha glória e a vossa felicidade, que são
os dois fins das minhas obras, estão ligadas ao reino deste amor nos vossos corações e
dele dependem como efeitos da sua causa. Como homem, também não tenho outro
desejo, porque este é o único objecto da minha missão, e ela é perfeitamente cumprida,
se chego a acender em todos os corações o fogo de que ardem os habitantes do céu e
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
que eles colhem no seio mesmo da divindade, porque o céu é verdadeiramente a região
deste fogo.
Mas, se aqui está o fim e o desejo de Nosso Senhor, se Ele não quer nem pode
querer outra coisa senão abrasar os vossos corações com este fogo divino, devereis vós
mesmos desejar e querer outra coisa? /23
Não sereis seus inimigos se vos opuserdes ao seu mais ardente desejo e ao
grande desígnio que o chamou à terra? Não sereis os vossos próprios inimigos se não
abrirdes os vossos corações a esta chama sagrada, que é a fonte única da vossa santidade
e da vossa felicidade?
Este fogo que Nosso Senhor veio trazer e que Ele quer acender, não se há-de
acender no vosso coração, ou, pelo menos, nele não se há-de manter nem crescer, se vós
mesmos não quiserdes que nele se acenda, se o não sustentardes, se, pela vossa
cooperação, não alimentardes o seu ardor.
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Não sois bem culpados de ter deixado enfraquecer esta divina caridade pela
negligência e pela lassidão, por uma multidão inumerável de faltas veniais, cujo hábito
vos expunha a perder a graça inteiramente e talvez sem retorno?
Não tendes ainda de vos censurar não terdes feito uso ou de terdes usado mal
tantos meios de santificação, tantas graças interiores e exteriores, cujo objectivo era
fazer crescer em vós o fogo da caridade? Recordai os milhares de circunstâncias da
vossa vida em que Nosso Senhor pôs à vossa disposição um acrescimento de graça de
que não aproveitastes: tantas comunhões, santas missas, orações /24, leituras, exortações;
tantas luzes e impressões interiores; tantas lições dadas pelos acontecimentos
providenciais!
O Salvador. – Que é que eu pude fazer que o não tenha feito? Quantas vezes vos
quis ajudar e não o quisestes!
Afectos e resoluções
Ó meu divino Jesus, aqui está o meu coração, eu vo-lo entrego e deixo que sejais
o seu mestre. Purificai-o, iluminai-o e preparai-o para receber o santo amor. É vosso
desejo, é também o meu. Não quero procurar as doçuras e as consolações por si
mesmas; mas gostava de retirar desta meditação uma vontade decidida de consagrar ao
amor de Deus todos os instantes da minha vida, de pôr em acção todos os meios para a
aumentar em mim e não ter outro objectivo dos meus pensamentos, dos meus desejos,
das minhas acções, dos meus sofrimentos.
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Ramalhete espiritual
- Ignem veni mittere in terram et quid volo nisi ut accendatur (Lc 12).
- Ignis autem in altari semper ardebit (Lev 6).
. Qui non diligit manet in morte (1Jo 3).
- Vim trazer fogo à terra e que quero senão que ele se acenda (Lc 12).
- O fogo do altar deverá arder sempre (Lev 6).
- Quem não me ama permanece na morte (1Jo 3). /25
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
QUARTA MEDITAÇÃO
O PRECEITO DO AMOR
34. Pharisaei autem audientes quod silentium imposuisset sadducaeis, convenerunt in unum.
35. Et interrogavit eum unus ex eis legis doctor, tentans eum.
36. Magister, quod est mandatum magnum in lege?
37. Ait illi Jesus: Diliges Dominum Deum tuum ex toto corde tuo, et in tota anima tua, et in tota
mente tua.
38. Hoc est maximum et primum mandatum.
34. Os Fariseus, sabendo que Ele tinha reduzido ao silêncio os Saduceus
reuniram-se.
35. Um deles, um doutor da lei, interrogou Nosso Senhor para o tentar.
36. Mestre, qual é o maior mandamento da lei?
37. Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda
a tua alma e com todo o teu espírito.
38. Aqui está o maior e o primeiro mandamento.
Sumário. – O pecado tornou este preceito necessário para que nós amemos o
nosso Criador e o nosso Pai.
Ele é o nosso Senhor, o nosso criador infinito e todo poderoso. No entanto, não
pede somente de nós o temor, mas também o amor.
Ele é o nosso Deus, o nosso soberano bem. Recebemos d’ Ele tudo na ordem da
natureza, temos tudo a esperar d’ Ele na ordem da graça e da glória: é portanto um dever
tão justo como doce este de o amarmos.
Como é vantajoso e premente este amor que eleva o nosso coração até Deus e
que assegura a nossa salvação!
II. Meditação
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
2. Meditação
Reflexões. – Vós não devíeis ter necessidade deste preceito. Esta inclinação
estava no fundo do vosso ser. Amar a Deus, era o grito da natureza ela mesma depois da
criação. Que necessidade havia de vos ameaçar com o inferno, se não amásseis o vosso
Deus, como se não o amar não fosse uma pena demasiado grande e mesmo a maior de
todas!
Sim, mas pelo pecado a vossa natureza afastou-se do seu próprio fim. É hoje,
infelizmente, uma natureza degradada e desencaminhada, e este mandamento e estas
ameaças tornaram-se necessárias. E o que representa o cúmulo à vossa humilhação, é
que, apesar deste preceito absoluto e das ameaças terríveis, ainda não sabeis amar,
tendes tanta dificuldade em amar e amais tão fracamente a Deus, enquanto o vosso
coração se agarra com furor a tantos objectos estranhos a Deus. Humilhai-vos e haveis
de meditar com fruto o preceito que Deus vos deu.
Observai primeiro o que Ele disse, que é o primeiro e o maior dos preceitos. É o
primeiro: não há e não pode haver nada antes dele; está necessariamente à cabeça de
todos os outros. É o maior pela majestade do seu objecto, trata-se de Deus; pela nobreza
do sentimento que comanda, trata-se do amor; pela extensão da sua matéria,
compreende tudo e tudo a ele se refere; pelo seu fim, que é a glória de Deus e a
felicidade da criatura; pelo rigor da sua obrigação, de que nada pode dispensar-se, em
nenhum tempo, em nenhum lugar, em nenhuma circunstância; pela pena que arrasta
consigo a sua infracção, a infelicidade do homem que o viola.
O Salvador. – Sim, é um preceito rigoroso, mas foi o meu amor por vós que mo
ditou.
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
É o teu Senhor e o teu Deus que deves amar. É o Senhor por excelência, o
Senhor único, ao qual este nome pertence de uma maneira incomunicável; é o Senhor
diante do qual os outros senhores e mestres tremem e reconhecem que mais não são do
que nada, que recebem d’ Ele a sua autoridade, e que não devem usar dela senão em seu
nome, segundo as suas intenções e para a sua glória. É o Ser supremo, o único /27
grande, o único perfeito, o único existente pela necessidade da sua natureza, o único
infinitamente amável em si mesmo e por si mesmo.
Ele quer isso tão ardentemente como se isso fosse necessário à sua felicidade.
Abaixa-se até ti pedindo-te o teu amor para te elevar até si e te consumar na sua
unidade. Que inefável condescendência! Que incomparável favor!
Ele não aceita o teu temor, se ele não te conduz ao amor; não se sente lisonjeado
com a tua homenagem, se não é o amor que a dita.
Preveniu-te, e não pede o teu amor senão depois de te ter dado testemunhos
incompreensíveis do seu.
Amarás o Senhor teu Deus. Mas o teu Deus, é o teu soberano bem, o teu único
bem. Fez-se para o possuíres, dá-se a ti. É para ti, se O amas, e na proporção em que O
ames.
Teu Deus: na ordem da natureza, criou-te, fez-te tudo o que tu és. Conserva-te
em cada instante. A sua mão poderosa que te tirou do nada impede que nele não caias de
novo pelo teu próprio peso. Recebes d’ Ele todos os bens de que gozas; não podes
esperar senão d’ Ele todos aqueles que esperas; são menos os frutos da tua indústria do
que da liberalidade e das atenções da providência divina. Mas que é tudo isso em
comparação com o valor do teu Deus? O universo há-de passar e o teu Deus te restará;
se tu possuis o teu Deus, tu és mais rico do que se dispusesses da natureza inteira.
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Ele quer ser ainda o teu Deus na ordem da glória. Destinou-te à eterna posse de
si mesmo e à partilha da sua própria felicidade. Elevará a tua inteligência à capacidade
de O veres face a face; alargará o teu coração para que possas nele receber as torrentes
de um deleite puro e infinito. /28
O Salvador. – Aqui está Aquele que tendo-te amado desde toda a eternidade e
querendo amar-te ainda durante a eternidade te ordena que o ames no curto espaço desta
vida, para conseguires vê-lo, amá-lo e possuí-lo para sempre. Vais então descobrir que
este mandamento não é doce nem fácil? Não vim ainda manifestar-te o meu Coração
para te tornar o preceito do amor mais fácil e mais atraente?
Considera ainda como este preceito é vantajoso e premente. Este amor eleva e
enobrece a alma. O teu coração aperfeiçoa-se exercitando-se neste grande objecto onde
descobre sem cessar belezas deslumbrantes. Que nobres pensamentos o espírito humano
vai colher na divindade! Que rectidão e que sabedoria o homem adquire ao aplicar-se a
julgar as coisas segundo Deus! Como deve ser puro e santo o coração que ama aquele
que é a pureza e a santidade por essência! Que paz, que alegria se encontra no amor!
Que contraste com a alma que se demora no amor das criaturas terrestres e grosseiras!
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Finalmente o céu está aberto apenas à caridade pura. Quando mais estiveres
afastada na morte, tanto mais longa será a tua purificação nas chamas do purgatório.
Que loucura não trabalhar para se subtrair a estas longas e terríveis penas!
Afectos e resoluções
Vós sois o meu Deus, meu tesouro e meu tudo. Amastes-me por primeiro e
ordenais que vos ame para que eu encontre /29 neste amor a minha salvação e a minha
felicidade. Este mandamento tem a sua fonte no vosso amor por mim. É tão doce quanto
justo. A lei que me impõe fará a minha felicidade nesta vida e na outra. Quero observá-
lo em cada uma das minhas acções.
Ramalhete espiritual
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
QUINTA MEDITAÇÃO
OS BENEFÍCIOS DE DEUS
16. Sic enim Deus dilexit mundum ut filium suum unigenitum daret: ut omnis qui credit in eum,
non pereat, sed habeat vitam aeternam.
17. Non enim misit Deus Filium suum in mundum, ut judicet mundum, sed ut salvetur mundus
per ipsum.
18. Qui credit in eum non judicatur: qui autem non credit, jam judicatus est: quia non credit in
nomine unigeniti Filii Dei.
16. Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho único, para que
todo o que n’ Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
17. Na verdade Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo,
mas para que ele seja salvo.
18. Quem acredita n’ Ele não será julgado; mas quem não acredita n’ Ele já está
condenado, porque não crê no nome do Filho único de Deus.
Sumário. Se há um meio capaz de fazer nascer, alimentar e aumentar em nós o
amor de Deus, é sem contradição a meditação nos seus benefícios.
Fomos com eles investidos; são imensos, contínuos e sem número do lado da
natureza: Deus é o nosso Criador, o nosso Pai, a nossa Providência.
II. Meditação
2. Meditação
O discípulo. – Falai-me, ó meu Salvador, dos benefícios que devo ao vosso Pai
celeste que é também o meu. Sei que vivi na ingratidão, mas gostava de compreender
22
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
melhor ainda para me corrigir. Despertai o meu amor que é demasiado fraco e indolente.
/31
Reflexões. – A vossa mais doce ocupação deveria ser evocar sem cessar a
recordação dos benefícios do vosso Pai celeste, meditá-los, aprofundá-los.
É uma matéria inesgotável, nela não há nada que não seja cheio de consolação e
de enternecedor para o coração, está ao vosso alcance e não exige uma grande
contenção do espírito. A intenção do vosso Pai celeste é que penseis nisso mais
frequentemente do que em nenhuma outra coisa e que os não percais jamais de vista.
Assinalou-a em centenas de lugares da Sagrada Escritura. Muitas vezes censurou Israel
de esquecer o seu Criador e o seu Deus (Dt 32; Is 51, etc.). Convida-vos a guardar esta
recordação; ordena-vos que o recordeis para a sua glória e para o vosso benefício; ligou-
lhe graças infinitas.
Seria demasiado dar cada dia uma meia hora, um quarto de hora pelo menos para
meditar nos inefáveis benefícios do vosso Deus, prestar-lhe acções de graças, excitar em
vós os sentimentos que a sua bondade merece? Não seria este o melhor emprego do
tempo do que dais cada dia a exercícios de piedade muitas vezes bem vazios? Ó como
vos encontraríeis bem com esta prática e como o amor de Deus tomaria o melhor
crescimento na vossa alma!
23
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Ele, como o observais no Evangelho: «Meu Deus e vosso Deus; meu Pai e vosso Pai»
(Jo 20, 17).
Sem dúvida vós deveis tudo dar e dar-vos a vós mesmos ao vosso Pai celeste,
que vos deu o seu Filho único, mas o que é o dom de tudo o que vos pertence e o dom
de vós mesmos? O que é o amor mais generoso de que uma criatura seja capaz para
reconhecer dignamente o derradeiro esforço do amor de Deus? Já vos deveis a Ele a
muitos títulos; que podereis acrescentar para este, que ultrapasse infinitamente todos os
outros?
E em que circunstâncias vos deu o seu Filho? Deu-vos quando éreis seus
inimigos, dignos da sua eterna desgraça e da sua maldição. Apenas o seu amor o
solicitou em vosso favor. S. Paulo nota-o: «O que revela, diz, a caridade de Deus a
25
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
nosso respeito, é que quando nós éramos ainda pecadores, Jesus Cristo morreu por nós»
(Rom 5). E porque é que vos deu o seu Filho? Para vos colocar de novo o mais à frente
do que nunca nas suas boas graças; para vos restabelecer com vantagem nos direitos
donde havíeis decaído; para não mais vos ver senão no seu Filho único, objecto da sua
complacência; para estender até vós o amor infinito que tem por Ele.
O Salvador. – E como é que o meu Pai vos deu o seu Filho? Sacrificando-O por
vós! Imolando-O à sua justiça em vosso lugar; descarregando todo o peso da sua
vingança sobre este Filho bem-amado, a fim de vos fazer misericórdia, a vós seus
inimigos. Aqui está precisamente o triunfo do amor divino! /34
Doravante, em vista deste Filho único, tornado vosso resgate e vosso irmão, o
meu Pai derrama sobre vós com profusão todas as graças necessárias à vossa
santificação. Estas graças perseguem-vos por toda a parte e o meu Pai não se cansa.
Esperou-vos depois das vossas faltas; perdoou-vos todas as vezes que regressastes para
Ele. Ele mesmo vos estende a mão e vos procura quando caístes. Abriu-vos uma fonte
infinita de misericórdia permitindo que o meu Coração seja penetrado pela lança.
Enriqueceu-vos com os meus sofrimentos e as minhas expiações. Como é que não
havíeis de O amar?
Afectos e resoluções
Ramalhete espiritual
- Sic Deus dilexit mundum ut Filium suum unigenitum daret (Jo 3).
- Ipse prior dilexit nos et misit Filium suum propitiationem pro peccatis nostris (1Jo 4).
- Qui etiam proprio Filio suo non pepercit sed pro nobis tradidit illum, quomodo non etiam cum
illo omnia nobis donavit (Rom 8).
- Deus amou de tal modo o homem que lhe deu o seu único Filho (Jo 3).
- Amou-nos primeiro e enviou o seu Filho como vítima pelos nossos pecados
(1Jo 4).
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
- Se não poupou o seu próprio Filho e entregou-o por todos nós, como não nos
teria dado tudo com Ele (Rom 8).
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
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SEXTA MEDITAÇÃO
1. In principio erat Verbum, et verbum erat apud Deum, et Deus erat Verbum.
2. Hoc erat in principio apud Deum.
3. Omnia per ipsum facta sunt, et sine ipso factum est nihil, quod factum est.
4. In ipso vita erat, et vita erat lux hominum.
5. Et lux in tenebris lucet, et tenebrae eam non comprehenderunt.
6. Fuit homo missus a Deo, cui nomen erat Joannes.
7. Hic venit in testimonium ut testimonium perhiberet de lumine, ut omnes crederent per illum.
8. Non erat lux, sed ut testimonium perhiberet de lumine.
9. Erat lux vera, quae illuminat omnem hominem venientem in hunc mundum.
10. In mundo erat, et mundus per ipsum factus est, et mundus eum non cognovit.
11. In propria venit, et sui eum non receperunt.
12. Quotquot autem receperunt eum, dedit eis potestatem filios Dei fieri, his qui credunt in
nomine ejus.
13. Qui non ex sanguinibus, neque ex voluntate viri, sed ex Deo nati sunt.
14. Et Verbum caro factum est et habitavit in nobis: et vidimus gloriam ejus quasi unigeniti a
Patre, plenum gratiae et veritatis.
1. No princípio era o Verbo; e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
2. Estava no princípio com Deus.
3. Todas as coisas foram feitas por Ele; e nada do que foi feito, não o foi sem
Ele.
4. N’ Ele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.
5. E a luz brilhou nas trevas e as trevas não a compreenderam.
6. Houve um homem enviado por Deus, que se chamava João.
7. Ele veio servir de testemunha, para dar testemunho da luz, para que todos
cressem por meio dele.
8. Ele mesmo não era a luz, mas tinha vindo para dar testemunho da luz.
9.Aquele era a luz verdadeira, que ilumina todo o homem que vem a este mundo.
28
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
10. Estava no mundo, e o mundo tinha sido feito por Ele; e o mundo não /36 O
conheceu.
11. Veio para o que era seu, e os seus não O receberam.
12. Mas deu o poder de se tornarem filhos de Deus a todos os que O receberam;
àqueles que crêem no seu nome.
13. Os quais não nasceram dos sangues, nem da vontade da carne, nem da
vontade do homem, mas de Deus.
14. E o Verbo fez-se carne e habitou entre nós; e nós vimos a sua glória, como
Filho único do Pai, sendo cheio de graça e de verdade.
Sumário. – Deus é amor: Deus charitas est. O Verbo sendo Deus é todo amor.
Fazendo-se homem, concentra todo o seu amor num coração humano. O mistério da
Incarnação é, portanto, o mistério do amor divino tornado sensível e palpável.
II. Meditação
2. Meditação
O discípulo. – Bom Mestre, eis-me aqui aos vossos pés, falai, tenho sede de vos
amar; dizei-me todo o amor que tendes testemunhado no mistério da Incarnação.
29
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Quando disse ao meu Pai: Ecce venio, dois amores fundiam-se em mim: o amor
pelo meu Pai e o amor pelos homens que aceitava como irmãos. Estes dois amores estão
reunidos no meu Coração. Amo os homens pela glória do meu Pai e pela sua própria
felicidade. Quero que reconheçam o amor que lhes testemunhei tornando-me seu irmão,
habitando entre eles.
Jesus é sempre o Emanuel, porque está sempre no meio dos homens seus irmãos:
Deliciae meae esse cum filius hominum. Tem no meio deles uma dupla vida: a vida
humilde e escondida dos tabernáculos e a sua vida misteriosa nas almas.
Sem que o seu corpo glorificado deixe os esplendores do céu onde faz a
felicidade dos eleitos, a sua humanidade não está menos, de uma maneira misteriosa e
incompreensível, na Igreja militante, porque é indivisível e indecomponível. Isto ajuda a
30
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
A sua presença tem, no entanto, graus diferentes. Aqueles que têm a vida da sua
graça vivem da sua vida, porque a graça lhes vem por Ele. No padre, está presente mais
intimamente ainda. A unção sacerdotal liga-o ao padre por um laço de amor, e sofre
quando em lugar do amor /38 que tem direito de encontrar, não recolhe senão indiferença
e tibieza. Sofre mais vivamente ainda quando o padre ao qual se ligou por amor se dá ao
seu inimigo que personifica o ódio da sua pessoa sagrada. É por isso sobretudo que Ele
quer padres que O amem muito para O compensarem dos sofrimentos que lhe causam
os maus. É feliz por fruir do coração de um padre que O ama. Reserva aos padres que O
amam tesouros de ternura. O seu Pai também os ama com um amor de preferência,
porque partilham o seu amor por Ele. Alegra-se por vê-lo amado. Pedi, portanto, a Deus
que multiplique os bons padres para a consolação do seu divino Filho.
Este amor do padre por mim deve crescer até que não mais encontre nele a
mínima resistência aos meus desejos, até que o seu coração se consuma por mim. Então
ele mesmo me enche de amor por ele, já não posso recusar-lhe nada e elevo-o a um alto
grau de união comigo.
Quereria uma falange de padres de elite, animados deste ardente amor para que
Eu possa unir-me muito particularmente a eles e me compensar do que me fazem sofrer
os maus.
Afectos e resoluções
Senhor Jesus, esta união que pedis e que é tão desejável para nós depende ao
mesmo tempo da vossa graça e da nossa boa vontade. A vossa graça não falta, mas a
nossa boa vontade é muito fraca. Fortificai-a, ajudai-a, para que pratiquemos todas as
acções na vossa presença e por vosso amor. A vossa graça concluirá a união que a nossa
boa vontade tiver preparado.
31
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Ramalhete espiritual
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
SÉTIMA MEDITAÇÃO
11. Ego sum pastor bonus. Bonus pastor animam suam dat pro ovibus suis.
12. Mercenarius autem et qui non est pastor, cujus non sunt oves propriae, videt lupum
venientem, et dimittit oves et fugit: et lupus rapit et dispergit oves.
13. Mercenarius autem fugit, quia mercenarius est, et non pertinet ad eum de ovibus.
14. Ego sum pastor bonus: et cognosco meas et agnoscunt me meae.
15. Sicut novit me Pater, et ego agnosco Patrem: et animam meam pono pro ovibus meis.
11. Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas suas ovelhas.
12. O mercenário e aquele que não é o próprio pastor das ovelhas, vendo vir o
lobo, abandona as ovelhas e foge; e o lobo ataca e dispersa as ovelhas.
13. O mercenário foge, porque é mercenário e as ovelhas não lhe pertencem.
14. Eu sou o bom pastor: conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas
conhecem-me.
15. Como o meu Pai me conhece, Eu conheço o meu Pai e dou a vida pelas
minhas ovelhas.
Sumário. – A Paixão é a obra-prima do amor do Coração de Jesus. Como Nosso
Senhor nos disse, ninguém pode mostrar mais amor do que quem dá a sua vida pelos
seus amigos!
Foi o amor de Nosso Senhor por nós que inspirou toda a sua Paixão. A sua
agonia é particularmente a Paixão do seu Coração. O seu amor manifesta-se aí muito
especialmente.
Mas o seu amor conduziu-o através de todos os seus sofrimentos até morrer com
alegria por nós.
33
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
II. Meditação
2. Meditação /40
Reflexões. – É bem verdade que depois de nos ter amado durante toda a sua vida,
Nosso Senhor manifestou o seu amor mais sensivelmente ainda na sua Paixão, como
no-lo diz S. João: Cum dilexisset suos, in finem dilexit eos (Jo 13). A Paixão é a obra
capital do seu amor. Tinha-a anunciado pelos profetas. Queria vir sofrer por nós, porque
nos amava. No salmos, dizia ao seu Pai: «Já não vos quereis contentar com vítimas
antigas pelo pecado, eu venho oferecer-me em seu lugar» (Sl 39).
Noutros lugares Isaías recorda-nos ainda que Nosso Senhor se oferecia ao seu
Pai como vítima de expiação, porque lhe queria bem e por amor por nós: Oblatus est
quia ipse voluit (Is 53).
Era a Paixão que o profeta Habacuc tinha em vista quando exclamava: «Senhor,
ouvi falar da vossa obra, da vossa obra por excelência e fui tomado de pasmo: Domine,
audivi auditionem tuam et timui (Hab 3).
34
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
S. Paulo não deixa de estar num êxtase de amor ao contemplar este admirável
mistério. Recorda aos Romanos1, aos Coríntios2, aos Efésios3, como Nosso Senhor dá a
sua vida por amor por nós, para expiar os nossos pecados. Descreve aos Colossenses
Nosso Senhor tomando sobre Ele o título da nossa dívida e pregando-o consigo na cruz:
Delens quod adversus nos erat chirographum decreti, affigens illud cruci (c. 2).
S. Pedro exclama: «Cristo morreu por nós, o justo pelos culpados!» (1Pd 3, 18).
E S. João, ao recordar-nos o motivo da Paixão, diz-nos: «Ele amou-nos e lavou os
nossos pecados no seu sangue: Dilexit nos et lavit nos a peccatis nostris in sanguine
suo» (Ap 1, 5)./41
COLÓQUIO
Vós deveis, portanto, tentar penetrar nas profundezas deste abismo de caridade e
excitar-vos ao amor do meu Coração vendo quanto vos amei.
Sou verdadeiramente, nos mistérios da minha Paixão, um livro escrito por dentro
e por fora (Ap 5), e o que está assim escrito, é o meu amor. Os chicotes, os espinhos, os
pregos escreveram-no em caracteres de sangue na minha carne divina, mas não vos
contenteis em ler e em admirar esta escritura divina do exterior, penetrai até ao meu
Coração e vereis uma maravilha ainda maior, é o amor mesmo, o amor inesgotável que
por nada conta tudo o que sofre e que se dá sem nunca se cansar.
1
Rom 5, 8.
2
1Cor 15.
35
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
virem ou se não o virem senão de um modo superficial, pouco proveito hão-de retirar
destes grandes mistérios dos meus sofrimentos e darão pouca glória a Deus.
A minha Paixão tira todo o seu valor, todo o seu mérito não tanto dos meus
sofrimentos exteriores como do meu Coração, do meu amor que inspirava o meu
sacrifício.
E como me tinha empenhado para com o meu Pai a sofrer tudo por vós, era o
voto do meu amor que cumpria em todas as circunstâncias da minha Paixão.
No céu, era no espírito de amor que se tinha oferecido ao seu Pai. Na Agonia, é
no seu Coração que aceita a sua Paixão por amor de nós. É a esta suprema generosidade
e a esta ternura extrema do seu Coração que S. Paulo se reporta quando diz que Nosso
Senhor tomou a cruz com alegria: Proposito sibi gaudio sustinuit crucem, confusione
contempta (Heb 12).
3
Ef 2.
36
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
que me pagarão com ingratidão. E era isto que então me era mais doloroso. Foi
necessária toda a imensidão do meu amor para me dar a força de aceitar e de beber este
cálice de amargura.
Não via nestes ultrajes senão a expiação do nosso orgulho. As suas humilhações
resgatavam-nos e salvavam-nos, era por isso que as amava.
Amava a minha coroa de espinhos, os meus cravos e a minha cruz, que pagavam
o resgate de todos os vossos pensamentos e de todas as vossas acções culpáveis.
Ah! Bem que me custava ver a minha Mãe tão acabrunhada de dores. Também
muito me custava ser abandonado por meu Pai e como que amaldiçoado por Ele. Mas
era por vós, pela vossa salvação. Tinha sede de terminar o meu /43 sacrifício e tinha sede
do vosso amor.
Não me recuseis este amor de reconhecimento, este amor recíproco. Que mais
poderia Eu ter feito para ganhar os vossos corações?
Quis pela abertura do meu lado confiar-vos o segredo da minha Paixão e revelar-
vos a sua fonte. Foi o meu amor por vós, foi o meu Coração que me conduziu ao
Calvário. Não me recuseis o vosso amor.
Resoluções
Seria bem insensato e bem ingrato, ó meu bom Mestre, e vos recusasse o meu
coração depois que vos destes inteiramente por mim como vítima de expiação e de
amor. Tomai o meu coração, abrasai-o e fixai-o no vosso amor. Sou fraco e inconstante,
mas desejo amar-vos e prometo-vos pensar todos os dias na vossa Paixão para reanimar
o meu amor.
37
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Ramalhete espiritual
- Dilexit nos et lavit nos a peccatis nostris in sanguine suo (Ap 1, 5).
- Commendat autem caritatem suam Deus in nobis quoniam cum adhuc peccatores essemus
Christus pro nobis mortuus est (Rom 5, 8).
- Baptismo habeo baptizari et quomodo coarctor usquedum perficiatur (Lc 12, 50).
- Amou-nos e purificou-nos dos nossos pecados no seu sangue (Ap 5).
- Deus manifesta o seu amor por nós quando Cristo morre pelos nossos pecados
(Rom 5).
- Devo ser baptizado com um baptismo (de sangue) e ardo de desejo que isso
aconteça (Lc 12)./44
38
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
OITAVA MEDITAÇÃO
Foi por amor por nós que Nosso Senhor quis reproduzir sobre os nossos altares o
sacrifício do Calvário.
É por nosso amor que nos autoriza a participar no sacrifício comendo a sua carne
e bebendo o seu sangue na santa Comunhão.
É ainda por nosso amor que permanece nos nossos tabernáculos para ser o
companheiro e o consolador do nosso exílio, o nosso confidente, o nosso amigo e o
nosso benfeitor infatigável.
39
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
II. Meditação
2. Meditação
I. O sacrifício do altar
Quis permanecer connosco. Quis dar-nos, tanto quanto era possível, o belo
privilégio que tinha Adão de conversar com Deus. Já não podemos comunicar
directamente com o nosso Pai celeste, a nossa natureza enfraquecida não podia suportá-
lo sem morrer. Era preciso um intermediário entre o Filho culpado e o pai
misericordioso, Nosso Senhor fez-se este intermediário pela sua natureza humana.
Interveio como redentor e como resgate, permanece como sacerdote e vítima, como
alimento, como amigo, como defensor.
COLÓQUIO
40
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Deus, vítima de propiciação pelos nossos pecados e de impetração por todas as graças
de que tendes necessidade. Adoro o meu Pai em vosso nome, dou-lhe graças por vós,
intercedo por vós e ofereço os sofrimentos da minha Paixão pelos vossos pecados.
Estou lá com o meu Coração. O meu corpo é impassível sob o véu das santas
espécies, mas a minha alma não é insensível. Estou lá vivente, com a minha vida divina
e com a minha vida humana. Sem perder as alegrias da visão beatífica, experimento
sentimentos muito diversos. À mesma hora, muitos padres celebram o santo sacrifício
da missa. Estou presente nas mãos de cada um deles. Com alguns experimento no meu
Coração grandes consolações. Com outros sofre grandes mágoas. / 46 Nas mãos dos
padres sacrílegos, recebo indignos ultrajes. Quis expor-me a isto pondo-me à vossa
disposição como vítima dos vossos sacrifícios. É um profundo mistério de amor.
Reflexões. – Não somente Nosso Senhor se oferece como vítima, mas dá-se a
nós na santa Comunhão. Nos participamos na vítima do altar. Comemos o seu corpo e
bebemos o seu sangue. Ele é o nosso pão da vida.
Sem deixar o céu, onde goza na glória da posse do seu Pai, está presente e
totalmente presente em cada pão eucarístico. O seu corpo está lá impassível, a alteração
das santas espécies não pode atingi-lo. Mas a sua alma não está inerte, não está
desprovida de sensibilidade. Faz as suas delícias de estar com os filhos dos homens.
Apraz-se de ser o seu Emanuel. Depois de ter cumprido a redenção, teria podido não
viver outra vida senão a sua vida de glória no céu. Mas o seu amor pelos homens é tão
grande, tão terno e tão apaixonado que quis permanecer com eles e dar-se a eles, ao
mesmo tempo que se regozija no seu Pai.
O Salvador. – No céu, vivo para glorificar o meu Pai e fazer a alegria dos santos.
Na Eucaristia, permaneço na alegria do meu Pai, mas vivo também para os meus irmãos
que estão na via da provação, intercedo por eles e comunico-me às suas almas. Quero
viver, permanecer, habitar no meio dos homens, dou-me a eles em alimento, venho
pedir-lhes para conversarem comigo como com o melhor dos seus amigos, mas
infelizmente, afectam não me compreenderem. Fecham-me o seu coração. Encontram a
41
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
afeição por mim indigna de um homem que se respeite. Esquecem que se me pus neste
estado humilhante, é porque amo, é porque cometo todas as loucuras do amor por
aqueles mesmos que me desconhecem e que são ingratos.
Estou lá sobre cada altar como se não estivesse em mais parte nenhuma. Estou
em cada comungante como se ele estivesse sozinho no mundo para me receber. Estou
em milhares de almas que me recebem no mesmo instante e estou em cada uma delas
como se não vivesse senão para ela. Vivo em cada um destes milhares de comungantes
como se houvesse mil Jesus experimentando impressões de alegria, de consolação ou de
pena segundo o modo como sou recebido. Mas sempre sou beneficente, bom, paciente,
pronto para perdoar ao pecador que se arrepende e a cumular de graças a alma de boa
vontade. /47
Não somente Nosso Senhor vem sobre o altar para se imolar e se dar em
alimento àqueles que comungam no sacrifício, mas quis permanecer habitualmente
connosco nos tabernáculos. Está lá como nosso rei, mas sobretudo como um benfeitor,
um irmão e um amigo. O tabernáculo é o seu trono de graças e de misericórdia. É
também como o gabinete de um amigo e de um consolador.
42
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
AFECTOS E RESOLUÇÕES
RAMALHETE ESPIRITUAL
43
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
- Faço as minhas delícias em habitar com os filhos dos homens (Prov. 8).
- Eu sou o pão vivo descido do céu (Jo 6).
- Não vos deixarei órfãos, virei a vós (Jo 14).
44
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
NONA MEDITAÇÃO
19. Cum ergo sero esset die illa, una sabbatorum, et fores essent clausae, ubi erant discipuli
congregati propter metum judaeorum; venit Jesus et stetit in medio, et dixit eis: Pax vobis.
20. Et cum hoc dixisset, ostendit eis manus et latus. Gavisi sunt ergo discipuli, viso Domino.
21. Dixit ergo eis iterum: Pax vobis. Sicut misit me Pater, et ego mitto vos.
22. Haec cum dixisset, insuflavit, et dixit eis: Accipite Spiritum sanctum.
23. Quorum remiseritis peccata, remittuntur eis et quorum retinueritis, retenta sunt.
19. Na tarde do mesmo dia, que era o primeiro dia da semana, as portas da casa
onde os discípulos estavam reunidos com medo dos Judeus estando fechadas, Jesus veio
e encontrou-se no meio deles e disse-lhes: A paz esteja convosco.
20. E depois de ter dito estas palavras, mostrou-lhes as suas mãos e o seu lado.
Os discípulos tiveram então uma grande alegria por verem o Senhor.
21. Então disse-lhes uma segunda vez: A paz esteja convosco! Como o meu Pai
me enviou, Eu vos envio (para a salvação dos homens).
22. Tendo dito estas palavras, soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito
Santo.
23. Os pecados serão perdoados àqueles aos quais perdoardes, e serão retidos
àqueles aos quais os retiverdes.
Sumário. – Os sacramentos são o dom do Coração de Jesus. Ao permitir que o
seu Coração fosse aberto e que dele saísse sangue e água, quis mostrar-nos que o seu
coração é a fonte dos sacramentos simbolizados por este sangue e esta água.
Que dons preciosos nós temos seja nos sacramentos que nos dão a vida
espiritual, seja naqueles que a desenvolvem!
II. Meditação
45
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
2. Meditação. /50
A Igreja e os seus tesouros estavam simbolizados pela água e pelo sangue que
saíram do lado de Jesus no Calvário. Fora assim que Eva, figura da Igreja, saíra do lado
de Adão. A água e o sangue representavam o Baptismo e a Eucaristia, que são os
principais entre os sacramentos.
Foi naqueles dias em que todos os abismos do seu amor estavam abertos que
organizou o reino de Deus com as sete fontes de graça que dão a vida espiritual ou que a
desenvolvem. E vêde como este dons respondem às necessidades das vossas almas: o
Baptismo faz-vos filhos de Deus e introduz-vos na vida sobrnatural; a Confirmação
fortifica-vos para o combate; a Eucaristia nutre a vossa alma com o alimento mais
fortificante e mais suave; a Penitência restitui-vos a vida quando a perdestes, ela cura-
vos de todas as vossas faltas; a Extrema-Unção vem acabar de saldar as vossas dívidas
no momento em que ides prestar as vossas contas ao juízo supremo; o Casamento
abençoa as famílias e provê à propagação da vida humana; a Ordem, finalmente, dá-vos
pastores, como outros Jesus que vos guiam na vida e que são os instrumentos das graças
divinas.
46
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
II. Que dons preciosos sobretudo são os sacramentos que dão a vida
espiritual!
Por este sacramento, a graça habitual é-vos restituída se tínheis perdido e graças
sacramentais são-lhe acrescentadas. Todos os vossos pecados vos são perdoados. A
pena eterna que vos era devida é-vos perdoada, as expiações temporais a sofrer são
diminuídas. Todas as vossas boas obras apagadas pelos vossos pecados revivem. Deus
47
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
dizia ao seu povo pelo profeta Joel: «Fazei penitência e restituir-vos-ei os frutos dos
anos que vos fizeram perder o gafanhoto, o verme, a alforra e a lagarta» (Joel 2, 25). -
Os vossos méritos esquecidos também reviverão com todos os direitos que vos dão âs
recompensas celestes: Impietas impii non nocebit ei, in quacumque die conversus fuerit
(Ez 33).
A Extrema-Unção apaga no fim da vossa vida os pecados que podem estar nas
vossas almas, enfraquece as deploráveis influências da concupiscência, coloca as vossas
almas na paz e muitas vezes também alivia os vossos sofrimentos.
48
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
O Salvador. – Que mais podia fazer para vos mostrar a minha solicitude
incessante? Não vêdes como estou convosco todos os dias, como um amigo dedicado
está junto dos seus amigos?
AFECTOS E RESOLUÇÕES
Obrigado ainda, ó meu bom Mestre, encontro a marca da vossa infinita bondade
na instituição dos sacramentos. Provestes a todas as necessidades da nossa vida
espiritual. Como somos ingratos por não vos agradecermos melhor! Como somos
insensatos por deles não nos aproveitarmos melhor.
RAMALHETE ESPIRITUAL
49
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
DÉCIMA MEDITAÇÃO
29. Jesus autem respondit ei: Quia primum omnium mandatum est: Audi, Israël, Dominus Deus
tuus, Deus unus est.
30. Et diliges Dominum Deum tuum ex toto corde tuo, et ex tota anima tua, et ex tota mente tua,
et ex tota virtute tua...
32. Et ait illi scriba: Bene Magister, in veritate dixisti, quia unus est Deus, et non est alius
praeter eum.
33. Et ut diligatur ex toto corde, et ex toto intellectu, et ex tota anima, et ex tota fortitudine...
34. Jesus autem videns quod sapienter respondisset, dixit illi: Non es longe a regno Dei.
29. Jesus respondeu: É este o primeiro mandamento: Escuta, Israel, o teu Deus é
o único Deus.
30. E tu amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, e com toda a tua
alma, e com todo o teu espírito e com todas as tuas forças.
32. E o escriba disse-lhe: Está bem, Mestre, vos dissestes a verdade, que não há
senão um Deus e que não pode haver outro.
33. E que é preciso amá-lo com todo o seu coração, e com toda a sua
inteligência, e com toda a sua alma, e com todas as suas forças...
34. Jesus, vendo que ele tinha respondido sabiamente, disse-lhe: Tu não estás
longe do reino de Deus.
50
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
II. Meditação
2. Meditação.
O discípulo. – Sinto, ó meu bom Mestre, que não vos amei até aqui como devia.
Não meditei o suficiente sobre o preceito do /55 amor e sua extensão, iluminai-me,
ajudai-me, a fim de que eu compreenda como vos devo amar e que vos ame como devo.
O Salvador. – Sim, o mandamento de meu Pai pede tudo isto e ainda mais. Não
somente tu deves amar o teu Deus, mas deves desejar ardentemente que todos os
homens o conheçam, o amem, o adorem, lhe obedeçam. Deves afligir-te até ao fundo do
51
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
coração à vista dos crimes que inundam o universo. O teu zelo, como o de David, te
secará, te fará cair num santo desfalecimento a respeito dos pecadores que abandonam a
lei de Deus.
Reflexões. – Amarás a Deus com todo o coração. Pode Deus ser amado de outro
modo que não de todo o coração? É muito, um coração finito para amar uma beleza
infinita? Se o amas menos que de todo o teu coração, pode estar Ele contente?
Infelizmente, mesmo amando-O com toda a capacidade deste pobre coração, não o
amarás senão muito abaixo do que merece. /56
Não amarias Deus com todo o teu coração se usasses reserva com Ele, se
estivesses resolvido a não ultrapassar certos limites nos testemunhos do teu amor; se
recusasses com obstinação o sacrifício de certas coisas que Ele te pede; se fizesses um
plano de devoção no qual estivesses resolvido a parar, mesmo que a graça quisesse
levar-te mais longe.
52
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Reflexões. – Amarás a Deus com toda a tua alma e com todo o teu espírito. De
quem recebes tu o teu espírito? De Deus unicamente. Pudeste cultivá-lo; mas não
pudeste dá-lo a ti mesmo. Mas porque é que Deus to deu? Foi para que tu o exerças à
tua vontade sobre tal objecto que te agradar, seja bom, seja indiferente, seja mau? Isto
não pode ser. Mas quais são os bons objectos sobre os quais Deus quer que tu o
exerças? Ele mesmo sem dúvida antes de mais nada, e depois os objectos criados,
considerados sob a relação que têm contigo; porque não têm bondade senão sob esta
relação, e se tu os consideras em si mesmos, se deles te ocupas de outro modo que não
seja em vista de Deus, deixam de ser a teu respeito bons e úteis objectos de
conhecimento; de nada servem a não ser para satisfazer uma vã e perigosa curiosidade.
53
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Amarás a Deus com toda a tua força. Isto quer dizer, em primeiro lugar, que
devendo amar a Deus com toda a força que te dá a graça actual e esta graça aumentando
sempre pelo exercício do amor, deves também de dia para dia amar a Deus sempre
mais.
Isto quer dizer ainda que deves consagrar a Deus todos os teus projectos, todos
os teus desígnios, todas as tuas acções, não tendo outra intenção senão a de lhe agradar;
cumprir por amor todos os teus deveres; empregar os teus talentos, os teus bens, o teu
crédito para o fazer amar; ter um zelo ardente pela sua glória e procurá-la com todo o
teu poder, tanto quanto a graça para aí te incline, o teu estado o autorize e sábios
conselhos te regulem e te dirijam.
O discípulo. – Como estava longe, ó meu Deus, de vos amar como devia!
É preciso finalmente que sofras com resignação e paciência, com uma submissão
tranquila, uma perfeita conformidade de vontade, até mesmo com uma alegria espiritual,
as provações que agradar a Deus enviar-te, quer elas venham da natureza ou dos
homens, quer venham do demónio ou da Providência, que quer purificar o teu espírito e
o teu coração.
AFECTOS E RESOLUÇÕES
Ah! Meu Deus, ainda não vos amei verdadeiramente; ainda não me censurei a
mim mesmo não vos amar como devo; nunca me examinei seriamente sobre a
observação do primeiro e do maior dos preceitos. Que eu comece enfim e que continue
até ao último suspiro!
RAMALHETE ESPIRITUAL
- Qui non diligit non novit Deum, quoniam Deus charitas est (1Jo 4).
54
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
55
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
7. Si manseritis in me, et verba mea in vobis manserint, quodcumque volueritis, petetis et fiet
vobis.
8. In hoc clarificatus est Pater meus, ut fructum plurimum afferatis, et efficiamini mei discipuli.
9. Sicut dilexit me Pater, et ego dilexi vos; manete in dilectione mea.
10. Si praecepta mea servaveritis, manebitis in dilectione mea, sicut et ego Patris mei praecepta
servavi, et maneo in ejus dilectione.
7. Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedi
o que quiserdes e isso ser-vos-á concedido.
8. Nisto o meu Pai é glorificado, se produzirdes muitos frutos e se fordes meus
discípulos.
9. Como o meu Pai me amou, eu vos amo; permanecei no meu amor.
10. Se observardes os meus preceitos, permanecereis no meu amor; como Eu
observei os preceitos de meu Pai e permaneço no seu amor.
Encontrarei neste amor uma doce segurança para a minha perseverança final.
II. Meditação
2. Meditação
56
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Eis os efeitos que há-de produzir em vós a santa caridade em relação a estas três
coisas; não tudo de uma vez, mas pouco a pouco, conforme o vosso amor for maior e a
vossa correspondência mais fiel.
Se amais sinceramente a Nosso Senhor, não formareis nenhum projecto que não
tenda directa ou indirectamente ao seu reino e à sua glória. Não fareis nenhuma acção
que possa desagradar-lhe; pelo contrário, procurareis não fazer nenhuma que não tenha
por objecto senão agradar-lhe. Pode o amor divino estar em vós, se não for senhor de
tudo, se não regular e governar tudo, se tudo não partir dele como do seu princípio e a
ele não regressar como o seu fim?
O Salvador. – não posso de facto ter por um amor sincero o simples hábito da
caridade, que não é senão uma disposição a amar. A criança tem-na pelo baptismo e não
ama por isso. Aguardo o exercício desta caridade. Se a não exercerdes, não amais; se a
exerceis pouco, amais pouco. Quando começais a exercê-la muitas vezes, desejando
57
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
sempre exercê-la mais, e não estando nunca contentes neste ponto, amais muito; e se
continuais, havereis de amar sempre mais.
Donde vêm tantas revoltas interiores, tantas lamentações dos ricos como dos
pobres, dos grandes como dos pequenos, dos que têm saúde como dos doentes, a
respeito dos acidentes da vida, dos sofrimentos, dos embaraços ou dos revezes aos quais
cada condição está exposta? De onde vem que os seus desejos estão quase sempre em
contradição com o que eles experimentam e estão ordinariamente descontentes com o
seu estado presente? Isso vem da falta de amor. Se amassem Nosso Senhor, bendi-lo-
iam por aquilo que são e por aquilo que lhes acontece; e a sua vontade, sempre
submetida à sua, não seria jamais contrariada. Produziu o amor este efeito em vós?
Examinai-vos e vêde onde estais.
58
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
julgais delas ter necessidade, e que se retiram tão depressa quando quereríeis ainda as
reter; finalmente para os diversos estados e as vicissitudes que compõem a vida
espiritual.
Depois o amor não vos permite nem perturbação nem inquietude quanto ao
futuro; interdita-vos uma vã curiosidade; prescreve-vos uma humilde e firme confiança.
59
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
excepto a vossa própria vontade; e quando este amor é um pouco ardente, embora
possamos absolutamente sempre perdê-lo por própria culpa, temos um horror mesmo
em pensar que alguma vez queiramos nisso consentir. Podemos também dizer com
confiança como S. Paulo: «Quem me separará do amor de Cristo?» (Rom 8, 38).
AFECTOS E RESOLUÇÕES
Senhor, quando é que vos hei-de amar bastante para estar autorizado a falar
assim com tanta verdade quanta confiança? Fortificai o vosso amor no meu coração. Do
meu lado, serei mais fiel a pensar em vós e nos vossos mistérios várias vezes por dia,
segundo a minha regra de vida. /63
RAMALHETE ESPIRITUAL
- Si manseritis in me et verba mea in vobis manserint, quodcumque volueritis petetis et fiet vobis
(Jo 15).
- Quis nos separabit a charitate Christi? (Rom 8).
- Certus sum quia nulla creatura poterit nos separare a charitate Dei quae est in Christo Jesu
(Rom 8).
- Se permanecerdes em mim e guardardes as minhas palavras, pedi o que
quiserdes, e ser-vos-á dado (Jo 15).
- Quem vos separará do amor de Cristo? (Rom 8).
- Estou certo que nenhuma criatura poderá separar-nos do amor de Deus em
Cristo (Rom 8)./64
60
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
13. Pilatus autem cum audisset hos sermones adduxit foras Jesum; et sedit pro tribunali in loco
qui dicitur Lithostrotos, hebraice autem Gabbatha.
14. Erat autem Parasceve Paschae, hora quasi sexta, et dixit Judaeis: Ecce rex vester.
15. Illi autem clamanbant: Tolle, tolle, crucifige eum. Dixit eis Pilatus: Regem vestrum
crucifigam? Responderunt pontifices: Non habemus regem nisi Caesarem.
16. Tunc ergo tradidit eis illum ut crucifigeretur. Susceperunt autem Jesum et eduxerunt.
17. Et bajulans sibi crucem, exivit in eum qui dicitur Calvariae locum, hebraice autem Golgotha.
18. Ubi crucifixerunt eum, et cum eo alios duos, hinc et hinc, medium autem Jesum.
13. Pilatos tendo ouvido estas palavras conduziu Jesus para fora e sentou-se para
o julgamento no lugar chamado Lithostrotos, em hebraico Gabbatha.
14. Era a véspera da Páscoa, pela hora sexta. Disse aos Judeus: Eis o vosso rei.
15. Estes gritavam: Condenai-o, crucificai-o. Pilatos disse-lhes: Hei-de crucificar
o vosso rei? Os Sumos Sacerdotes responderam: Não temos outro rei senão César.
16. Então entregou-os para ser crucificado. Pegaram nele e levaram-no.
17. E Ele levou a sua cruz até ao lugar chamado Calvário, em hebraico
Gólgotha.
18. Lá o Crucificaram e os outros dois ao seu lado, mas Jesus ao meio.
Sumário. – Pode alguém dizer que ama verdadeiramente Nosso Senhor se não
sofre por vê-lo sofrer, mesmo desde a infância?
II. Meditação
2. Meditação
61
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
O discípulo. Ó Jesus, ó Maria, que sofrestes tanto por mim, fazei que eu chore
convosco; fazei que eu sinta vivamente no meu coração a margura das dores que
partiram os vossos.
Que contraste com a sua vida do céu! Que mudança! Que abaixamento! Que
humilhação! Alguns dias depois, dava as primeiras gotas do seu sangue sob o cutelo da
circuncisão, e pensava já em todo o sangue que derramaria gota a gota.
Com a idade de doze anos, para cumprir um ministério indicado pelo seu Pai,
teve de partilhar todas as inquietações e dores de sua mãe e de seu pai adoptivo, que o
procuravam chorando amargamente. O seu coração sangrava por vê-los tão desolados.
O Salvador. Sim, tal foi a minha infância, e tantos sofrimentos e tantas lágrimas
eram por vós. Ficareis insensíveis? Como poderíeis dizer que me amais, se não chorais
por me verdes chorar? /66
62
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Mas o meu Pai enviou um anjo representar-me a sua glória a reparar e as almas
de boa vontade a salvar. E aceitei definitivamente o cálice por amor por meu Pai e por
vós. O vosso coração vai ainda ficar frio e indiferente? Não tereis compaixão de mim,
que vos amei até este ponto? /67
63
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Os chicotes rasgavam o seu corpo até esgotarem as suas forças. O seu pudor era
ofendido para reparar as nossas imodéstias.
Como Isaac levava o madeiro do seu sacrifício, mas era para ser aí realmente
sacrificado.
Não havia uma palavra, um passo, um pormenor deste drama que não ferisse
todos os seus sentimentos no mais profundo do seu coração. A justiça, a verdade, a
doçura, a piedade, a modéstia, o reconhecimento, o respeito, tudo o que Ele ama era
desprezado. Toda a sua alma era partida enquanto o seu corpo era rasgado pelos
chicotes e furado pelos cravos.
64
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
AFECTOS E RESOLUÇÕES
Oh! Sim, meu bom Mestre, tenho sido muito ingrato e muito duro. Em vez de
compadecer com os vossos crueis sofrimentos, tenho-vos ofendido tantas vezes. Feri o
vosso coração. Perdoai-me. Colocai no meu coração um verdadeiro amor de compaixão
por vós, para que não peque mais e para vos consolar, tanto quanto isso esteja em mim.
RAMALHETE ESPIRITUAL
65
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
66
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
II. Meditação
2. Meditação.
O discípulo. – Falai, Senhor, o vosso humilde servo escuta. Dizei-me como vos
hei-de amar como mereceis, com desinteresse.
I. Nosso Senhor deseja que O amemos por Ele mesmo e não por nós
Muitos amam Nosso Senhor em vista das suas graças, dos seus benefícios.
Amam-no porque a piedade tem muitas vezes, sobretudo para os iniciantes, doçuras e
consolações; e quando chega a aridez, perdem a coragem.
Outros amam Nosso Senhor e servem-no em vista das bênçãos temporais que daí
lhe advirão. Também, desde que uma provação chega, um revês da fortuna, uma
doença, a perda de um familiar, arrefecem e às vezes recusam Nosso Senhor.
Estas almas rezam, mas sobretudo para obter benefícios. Mal sabem louvar,
amar, agradecer. A segunda parte do Pater toca-as, mas a primeira deixa-as frias. Atêm-
se mais ao pão quotidiano do que ao reino de Deus mesmo.
O Salvador. – Com os meus amigos, não conto. Sou tão feliz por ser amado por
um coração que não tem outra paixão senão a de me amar, de tal modo que esqueço
67
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Reflexões. – Não o sabem bastante por sua culpa. A sua missão não é a de fazer
amar Jesus? Como fazê-lo amar sem fazer conhecer as razões que temos de o amarmos?
Estas razões, expomo-las bem aos outros, mas friamente e sem nos preocuparmos
bastante de as saborearmos nós mesmos. Ou então concedemos a Jesus um amor de
razão, ou mesmo de vontade, no qual o coração não tem nenhuma parte, como se fosse
possível a alguém amar sem dar o próprio coração. Muitos permanecem assim, embora
com boas intenções, frios servos, quando Jesus queria ver neles amigos. Porque se Jesus
quer encontrar amigos em todos os seus discípulos, foi particularmente aos seus
apóstolos e aos seus padres que disse: «Já não sois meus servos, mas amigos». As
relações íntimas e diárias do Salvador com os seus padres, particularmente no santo
altar, exigem esta amizade. O padre representa Jesus e continua a sua missão, deve
haver entre eles esta comunhão de intenções e de sentimentos que é o próprio da
amizade.
68
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
A intimidade de Jesus com os seus apóstolos era o sinal da amizade. Quer ter a
mesma amizade com os seus padres. Mas muitos não o compreendem inteiramente.
Com estes é bem obrigado a contar para lhes dar as suas graças, porque contam
com Ele. Não falamos aqui dos maus padres que fazem a desolação do divino Coração,
mas dos servos exactos, /72 capazes de uma certa dedicação, mas cujo ministério
permanece pouco frutuoso porque lhe falta a vida do coração.
Recordai-vos das promessas que fez a Margarida Maria para os padres dedicados
ao seu Coração: «O seu ministério será fecundo, tocarão os corações mais endurecidos».
Porque é que estas promessas não obtiveram até agora uma mais larga realização? É
porque os padres não dão bastante o seu coração a Nosso Senhor. O dom do coração é a
devoção que Ele pediu a Margarida Maria e que pede ainda. «A ingratidão dos homens,
dizia, é-me mais sensível do que o que sofri na minha paixão; se eles me retribuíssem
algum amor, consideraria pouco tudo o que sofri por eles, e quereria, se isso fosse
possível, sofrer ainda mais. – Tu ao menos, dá-me esta alegria de suprir à sua ingratidão
tanto quanto possas ser capaz. Noutra vez dizia-lhe: «Derrama lágrimas sobre a
insensibilidade destes corações que tinha escolhido para os consagrar ao meu amor». E
ainda: «Venho no coração que te dei, a fim de que pelo seu ardor, tu repares as injúrias
69
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
que recebi destes corações tíbios». - «O teu coração é um altar onde o fogo do meu
amor deve arder continuamente».
O Salvador. – É esta vida de amor que espero dos meus amigos e sobretudo dos
meus padres e é a condição das minhas grandes graças.
AFECTOS E RESOLUÇÕES
Senhor respondo-vos com Margarida Maria: «Que tendes feito para ganhar o
coração dos homens? Ah! Como é bom o bem-amado /73 da minha alma, porque é que
não o posso amar tanto como desejo? Ó Coração divino, quero arder nos vossos fogos e
viver da vossa vida. Já não quero viver senão de vós, por vós e para vós.
RAMALHETE ESPIRITUAL
- Jam non dicam vos servos, vos autem dixi amicos (Jo 15, 15).
- Charitas non quaerit quae sua sunt (1Cor 13).
- Pro omnibus mortuus est Christus, ut qui vivunt jam non sibi vivant sed ei qui pro ipsis moruus
est et resurrexit (2Cor 5, 15).
- Já não vos chamo servos, mas amigos (Jo 15, 15).
- O amor é desinteressado (1Cor 13).
- Cristo morreu por todos, a fim de que os que vivem não vivam para si mesmos
mas para aquele que por morreu por eles e que ressuscitou (2Cor 5, 15). /74
70
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
20. Non pro eis rogo tantum, sed et pro eis qui credituri sunt per verbum eorum in me.
21. Ut omnes unum sint, sicut tu Pater in me, et ego in te, ut et ipsi in nobis unum sint: Ut credat
mundus quia tu me misisti.
22. Et ego claritatem quam dedisti mihi, dedit eis: ut sint unum sicut et nos unum sumus.
23. Ego in eis et tu in me: ut sint consummati in unum: et cognoscat mundus quia me misisti et
dilexisti eos, sicut et me dilexisti...
26. Et notum feci eis nomen tuum, et notum faciam: ut dilectio, qua dilexisti me in ipsis sit, et ego
in ipsis.
20. Não rezo somente por eles, mas também por todos aqueles que pela sua
palavra acreditarão em mim.
21. Para que todos sejam um, como vós, meu Pai, sois em mim e eu em vós, que
eles sejam em nós; a fim de que o mundo creia que vós me enviastes.
22. Eu dei-lhes a glória que me destes: que eles sejam um como nós.
23. Eu neles e vós em mim: que eles sejam consumados na unidade; e que o
mundo saiba que me enviastes e que os amastes, como me amastes a mim...
26. Dei-lhes a conhecer o vosso nome e dá-lo-ei a conhecer: para que o amor
com que me amastes esteja neles e eu neles.
Sumário. – A afeição por Nosso Senhor deve ser uma afeição profunda e que
encha o coração.
Aquele que ama Nosso Senhor põe a sua felicidade a pensar n’ Ele e a procurar
os meios para lhe provar a sinceridade dos sentimentos do seu coração.
Este hábito de pensar em Nosso Senhor e de lhe oferecer as suas acções coloca
as almas no estado de fervor e transforma todas as suas acções em actos de caridade.
II. Meditação
71
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
2. Meditação. /75
O discípulo. – Como é que vos hei-de testemunhar o meu amor, ó bom Mestre?
Vós sois todo amável, o meu coração pertence-vos, dizei-me o que devo fazer para que
o meu amor vos seja agradável.
O primeiro efeito da afeição verdadeira é tornar leves todos os fardos. Por mais
pesada que seja a cruz a levar, quem ama Nosso Senhor é feliz, levando-a, por lhe dar
um sinal do seu amor. Pensa nos seus sofrimentos, une-lhe o seus, e este traço de
semelhança que tem com Jesus coloca a alegria no seu coração.
Se nestes momentos o seu coração permanece frio, sofre por causa deste estado e
diz com abandono ao Salvador que bem gostaria de encontrar no seu coração alguma
afeição para lhe oferecer.
72
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
reanimar a coragem; pedimos perdão a Jesus com simplicidade pela pequena frouxidão
e oferecemos-lhe com alegria a obediência que vem remi-la.
Os homens simples são aqueles que melhor escutam o seu coração nos curtos
instantes em que reanimam o seu ardor no trabalho através de uma invocação afectuosa.
Não lhes custa dizer-me com todo o seu coração: «Jesus, como eu vos amo», ou ainda:
«Ó Jesus como eu quereria amar-vos!» Eu respondo muitas vezes a estas invocações e a
estas atenções delicadas com toques de graça que dilatam o coração e o tornam mais
ardente. Gosto muito destas efusões cheias de simplicidade.
73
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Uma vida assim cheia pelo pensamento habitual daquele a quem damos o nosso
coração não é somente uma oração contínua, é um acto de amor contínuo. «Sine
intermissione orate» disse o apóstolo. Eis o meio de rezar sem interrupção.
Aquele que ama Nosso Senhor continua a amá-lo durante o seu sono, porque
enquanto dorme o seu coração vela. Não pôde entregar-se ao sono /77 sem experimentar
a necessidade de dizer a Nosso Senhor que O ama e sem lhe oferecer o seu repouso,
destinado a reparar as forças que dedicou ao seu amor. Como a esposa do Cântico,
procura Nosso Senhor mesmo durante a noite: In lectulo meo quaesivi quem diligit
anima mea.
O Salvador. – Sim, aqueles que vivem assim deram-me realmente o seu coração.
Deram-me todas as suas afeições e todos os seus batimentos. Ama-se muito quando se
pensa pouco ou nada no objecto do próprio amor? Não temais, esta maneira de me amar
não tem nada que fadigue. Não exige que se façam raciocínios incessantes, nem que se
mantenha o espírito numa tensão penosa. O coração nunca se cansa de pensar naquele
que ama. É o principal efeito do amor o de encher de tal modo o coração que ele sente
incessantemente a necessidade de se unir ao objecto do seu amor.
74
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
O Salvador. – Sim, estou presente no coração daquele que age assim. Faço dele
um tabernáculo. Estou lá com o meu amor e muitas vezes falo a este coração pelas
doces inspirações da minha graça; e este coração dilatado pelo amor avança com alegria
no caminho do dever e do sacrifício: Viam mandatorum tuorum cucurri, cum dilatasti
cor meum.
AFECTOS E RESOLUÇÕES
75
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
RAMALHETE ESPIRITUAL
76
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
O abandono amoroso e confiante é o que agrada a Nosso Senhor. Era assim que
Ele se dava ao seu Pai e mesmo a Maria e a José.
II. Meditação
2. Meditação.
77
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Nosso Senhor não se limitou a resignar-se à vontade do seu Pai, quis o que o seu
Pai queria e qui-lo com alegria. Disse com alegria o Surgite, eamus: Levantai-vos,
vamos.Tomou a cruz com alegria: - Cum gaudio sustinuit crucem. – No Egipto, em
Nazaré, não se resignou simplesmente à vontade da sua Mãe ou à de S. José, quis
sempre o que eles queriam; fez mais, quis o que eles desejavam.
Vêde como estais longe ainda de o amar como Ele quer ser amado. Ele deixa aos
seus amantes uma vontade, a de estarem unidos a Ele, mas não pode deixar-lhes a
escolha na forma desta união, eles devem deixar-se conduzir.
78
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
O abandono amante, eis o que lhe agrada, o que faz estremecer o seu Coração e lhe dá
as mais doces alegrias.
Fazei o mesmo, dai-vos a mim para serdes conduzidos quer pela minha graça e
pela minha providência, quer por aqueles que me representam junto de vós.
O seu amor será assim por vós o meio de suportar facilmente todas as provações
por onde podereis passar. Aliviar-vos-á, e mesmo transformará em alegria tudo o que
sem Ele seria pena ou amargura.
79
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Somos pregados na cruz com Ele, quando unimos à sua crucifixão as situações
penosas e dolorosas onde lhe agrada colocar os seus amigos. Agonizamos com Ele
sobre a cruz, quando unimos às suas penas as angústias /82 de uma situação na qual quer
que estejamos.
É preciso aceitar as provações sejam elas quais forem. Não é necessário que elas
se assemelhem fisicamente às suas. Quem quer que seja que O ame passa por
provações. Estas provações, sofremo-las com Ele unindo-nos aos sofrimentos da sua
Paixão. A união de amor identifica de algum modo estes sofrimentos com os seus, que
importa que estas dores não sejam materialmente idênticas às suas! São-lhe sempre
semelhantes, quando são amorosamente aceites e oferecidas em união com as suas.
Aceitação e abandono, são as duas condições desta vida de união que é animada
por um generoso amor para com Nosso Senhor.
O Salvador. – Estas eram as minhas disposições habituais para com o meu Pai.
Pude experimentar um momento de tristeza na agonia para vos encorajar nas vossas
tentações, mas voltei prontamente ao espírito de abandono: «Meu Pai, que a vossa
vontade seja feita e não a minha!»
Não eram também estas as disposições dos meus apóstolos? O livro dos Actos
diz-nos que Pedro e João se iam embora felizes depois do interrogatório do Sinédrio
onde tinham sido humilhados pelo nome de Cristo. – Ibant gaudentes a conspectu
concilii, quoniam digni habiti sunt pro nomine Jesu contumeliam pati! (Act 5). É que
eles amavam-me verdadeiramente. Também S. Paulo superabundava de alegria nas
provações. – Superabundo gaudio in omni tribulatione (2Cor 7).
Mas esta união comigo pede o recolhimento habitual, a recordação constante das
minhas bondades e do meu amor e uma doce intimidade habitual comigo.
80
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
AFECTOS E RESOLUÇÕES
RAMALHETE ESPIRITUAL
- Meus cibus est ut faciam voluntatem ejus qui misit me (Jo 4, 34).
- Et qui misit me mecum est et non reliquit me solum, quia quae placita sunt ei facio semper (Jo
8, 29).
- Quicumque fecerit voluntatem Patris mei qui in coelis est, ipse meus frater, et soror et mater
est (Mt 12, 50).
- O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou (Jo 4).
- Aquele que me enviou está comigo e não me deixou só porque cumpri sempre
o que é do seu agrado (Jo 8).
- Quem faz a vontade do meu Pai que está nos céus, esse é o meu irmão e a
minha irmã e a minha mãe (Mt 12)./84
81
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
82
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
II. Meditação
2. Meditação. /85
Então lembra-se da sua felicidade passada. Quando possuía Deus, recebia com
abundância as comunicações do amor divino. Via Deus nas criaturas mesmas, que a
ajudavam a unir-se a Deus. Os sentidos estavam calmos e submetidos. Ela saciava-se do
amor.
Que lhe resta a fazer? Levantar-se e regressar ao seu pai, que lhe perdoará e lhe
fará servir de novo o festim abundante do amor.
83
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
A amizade não se contenta com uma semi-generosidade, ela quer tudo ou nada.
Quem é que quereria ir assiduamente a casa de uma pessoa que só tem procedimentos
ofensivos? Jesus ama aqueles pelos quais é amado: dilientes me diligo (Prov 8). É
assíduo junto daqueles que são assíduos a agradar-lhe, a servi-lo delicadamente, a
evitar-lhe qualquer mágoa e toda a tristeza.
84
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
85
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
os mistérios que se medita ou os temas nos quais se detém. É sempre uma impressão de
amor.
Nos começos, é muitas vezes uma impressão de dor profunda, excitada por uma
recordação dos pecados passados. A violência da dor é medida pela violência do amor.
Ela culmina a purificação da alma.
Uma outra dor vem do desejo de obter uma graça, de adquirir uma virtude pela
qual se suspira.
Mais tarde a dor da alma provem da vista da cruz e dos sofrimentos de Nosso
Senhr.
Todas estas dores são purificadoras e estão unidas a uma alegria íntima que reina
no fundo do coração.
AFECTOS E RESOLUÇÕES
Meu Deus, como tenho sido insensato até agora! Como tenho exercitado a vossa
paciência! Estáveis à porta do meu coração com os vossos dons e eu não vos abria.
Mantinha o meu coração ocupado pelas criaturas e não podíeis lá entrar. Perdoai-me,
Senhor, perdoai-me. Tenho um coração bem duro, bem fraco e bem inconstante.
Corrigi-o, mudai-o, tomai dele posse.
86
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
RAMALHETE ESPIRITUAL
- Surgam et ibo ad patrem, et dicam ei: Pater, peccavi in caelum et coram te (Lc 15).
- Vidit illum pater et misericordia motus est, et accurens cecidit super collum ejus et osculatus
est eum (Lc 15).
- Levantar-me-ei e irei ter com meu pai e dir-lhe-ei: Meu pai, pequei contra o
céu e contra vós (Lc 15).
- O seu pai viu-o aproximar-se e foi tocado de compaixão e lançou-se ao seu
pescoço e abraçou-o (Lc 15). /89
87
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
16. Ego rogabo Patrem, et alium Paraclitum dabit vobis, ut maneat vobiscum in aeternum.
17. Spiritum veritatis, quem mundus non potest accipere, quia non videt eum nec scit eum. Vos
autem cognoscetis eum; quia apud vos manebit et in vobis erit.
18. Non relinquam vos orphanos: Veniam ad vos.
16. Pedirei ao Pai, e Ele dar-vos-á um outro Consolador para que permaneça
convosco eternamente.
17. O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem
o conhece. Mas vós, vós conhecê-lo-eis, porque permanecerá convosco eternamente.
18. Não vos deixarei órfãos: virei a vós.
Sumário. – O Espírito Santo, que é o espírito de Verdade e de amor habita em
vós. O seu reino está dentro de vós.
Mas vós, vós o conheceis e tendes por Ele uma docilidade filial.
II. Meditação
2. Meditação.
Reflexões. – É bem claro que para viver a vida de amor é preciso ter o hábito de
voltar-se para Deus, de viver na presença de Deus, de viver unido a Deus, e
especialmente de mergulhar nesta fonte de amor que é a vida do Espírito Santo em nós.
O acto de adoração pelo qual o cristão começa a sua meditação da manhã deve
ser para nós renovado frequentemente. Pode fazer-se por um simples acto de fé e de
88
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
vontade, ou por um raciocínio piedoso, ou ainda pela imaginação que nos representa o
trono da Santíssima Trindade, o reino de Nosso Senhor ou algum dos seus mistérios.
Mas é preciso que se faça.
A vida de amor não é senão uma forma de vida interior. Ora, a vida /90 interior
consiste numa doce e amorosa presença de Deus. A alma interior está habitualmente
numa suave, simples e humilde direcção para Deus nas suas obras. Procura não agir
senão sob a influência e o impulso interior de Deus e pela sua ordem. Tem sempre como
intenção provar a Deus o seu amor. Espero tudo d’Ele, reconduz tudo a Ele; vê Deus em
todas as criaturas e todas as criaturas em Deus.
Está num doce repouso entre os braços do seu bem-amado. A sua ocupação é
olhá-lo no seu interior, escutar serenamente a sua voz, ser fiel às suas santas inspirações.
Nas suas relações com o próximo, tudo é amor divino, paz, zelo,
condescendência e humildade. Ela mostra-se com um humor igual e com uma conduta
uniforme.
A recolecção pode ser o fruto de uma graça especial e poderosa, que atrai todas
as potências da alma; mas o mais das vezes resulta de um estado de fidelidade habitual à
graça divina. Compreende-se que neste caso a alma é facilmente impressionada por
Deus, porque Deus é o objecto para o qual ela tende habitualmente e no qual estão
concentradas todas as suas afeições.
Com uma vontade firme, é preciso um certo trabalho, uma certa habilidade, para
deter as divagações da imaginação, dar-lhe alimento e nutrir as afeições do coração.
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
O mundo, que não se recolhe, não pode nem conhecer nem compreender o
espírito de amor.
Não tomam os meios necessários, que são: começar bem, tornando a si mesmas
a presença de Deus tão viva e tão sensível quanto possível; entrar nos sentimentos de
humildade que convêm a um pecador em presença da santidade do seu Deus; dispor-se a
receber as graças deste Deus pelo desprendimento de si mesmo e das criaturas.
90
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Em resumo, estas almas não saem do mundo, deste mundo que Nosso Senhor
não ama e do qual disse: «Não sou do mundo. – O mundo não conhece o Espírito
Santo».
É preciso, portanto, agir com generosidade e com energia contra estas más
disposições. Repitamo-lo ainda: Nosso Senhor não pode prestar-se a partilhar um
coração com as criaturas, é indigno d’Ele. Ele quer todo o nosso coração e não nos
permite amar as criaturas senão n’Ele e segundo a sua lei.
O Salvador. – Meu filho, dá-me o teu coração. Dá-mo todo inteiro. Dá-mo por
uma vida regrada, com momentos de recolecção pelos quais tu te hás-de preparar para a
vida de união e de amor à qual quero elevar-te, se tu fores fiel.
Deixai-vos, pois, conduzir por este espírito de amor. É preciso que Ele se torne a
alma e a vida das vossas acções.
Os bens que Ele vos promete e que vos há-de ocasionar são inumeráveis: a
felicidade sobrenatural, mesmo no meio das contradições; uma vida pura, o ódio ao
mínimo pecado; uma grande confiança quanto à vossa salvação; obras cheias de graças
e de méritos diante do Senhor; uma grande força para empreender e executar o que
Deus pede de vós.
Para vos consolidar neste espírito e de nele progredir, fugi de tudo o que seja
dissipador: as sociedades barulhentas e a agitação do mundo. Fugi de tudo o que
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
amolece a alma e de tudo o que deleite os sentidos: fazei algumas mortificações. Tende
em tudo uma regra bem determinada. Confiai a vossa alma a um director bem unido a
Deus.
Mas ainda não é tudo: tende muitas vezes diante dos olhos Jesus e Maria; fazei
actos frequentes de amor, de humildade, de oferenda de vós mesmos, de submissão e de
abandono nas mãos de Nosso Senhor. Deixai-vos bem conduzir pelos movimentos
interiores da graça. Agi mais frequentemente pelo motivo de amor do que por qualquer
outro. Alimentai-vos da Sagrada Escritura.
Sêde submissos, dóceis, dispostos nas mãos de Deus. Ide ter com Nosso Senhor
mais ainda pela vontade do que pelo espírito. Os actos adiantar-vos-ão mais do que as
especulações do entendimento.
Que o bom agrado divino seja toda a vossa regra, toda a vossa vida, toda a vossa
preocupação: Domine, quid me vis facere? Senhor, que quereis que eu faça? /93
AFECTOS E RESOLUÇÕES
Meu bom Mestre, quero doravante tomar-vos por meu único mestre e meu único
amigo. Consagro-vos o meu pensamento, o meu coração, as minhas afeições, a minha
vontade. Aceitai esta oferenda. Tomai-me ao vosso serviço. Não permitais que me
separe de vós.
RAMALHETE ESPIRITUAL
- Rogabo Patrem et alium Paraclitum dabit vobis ut maneat vobiscum in aeternum (Jo 14).
- Apud vos manebit et in vobis erit (Jo 14).
- Quicumque Spiritu Dei aguntur, ii sunt filii Dei (Rom).
92
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
- Pedirei ao meu Pai e Ele vos dará um outro Consolador que permanecerá
convosco para sempre (Jo 14).
- Permanecerá convosco e estará em vós (Jo 14).
- Os que são conduzidos pelo Espírito de Deus, esses são os filhos de Deus
(Rom. )./94
93
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
SOBRE A ORAÇÃO
27. Omnia mihi tradita sunt a Patre meo. Et nemo novit Filium nisi Pater: neque Patrem quis
novit, nisi Filius et cui voluerit Filius revelare.
28. Venite ad me omnes qui laboratis et onerati estis, et ego reficiam vos.
29. Tollite jugum meum super vos et discite a me, quia mitis sum et humilis corde: et invenietis
requiem animabus vestris.
30. Jugum enim meum suave est et onus neum leve.
27. Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho senão o Pai; e
ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aqueles a quem o Filho o quiser revelar.
28. Vinde a mim vós todos que andais sobrecarregados e eu vos aliviarei.
29. Tomai o meu jugo, e aprendei de mim que sou doce e humilde de coração e
encontrareis repouso para as vossas almas.
30. Porque o meu jugo é doce e a minha carga leve.
Sumário. – Nosso Senhor é o nosso mediador para a vida interior como para a
salvação. É a Ele que é preciso ir para o conhecer e conhecer o seu Pai.
Mas o fervor é um dom de Deus que é preciso desejar ardentemente e pedir com
perseverança.
II. Meditação
2. Meditação.
94
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
O discípulo. – Senhor, vós sois o meu Deus e o meu tudo, vós sois o caminho, a
verdade e a vida. Vós sois a luz que ilumina todas as almas. Ensinai-me as regras da
vida interior. Que hei-de fazer para aprender a amar-vos? /95
Reflexões. – Seria em vão que alguém vos pedisse para fazerdes actos e
demonstrações de amor, se vos não ensinasse primeiro como fortalecer o amor no vosso
coração. A acção como a palavra deriva do coração. São as disposições do coração que
é preciso cultivar primeiro. A vida interior precede a acção. O fogo da caridade deve ser
acendido e alimentado no coração para que os actos da vida sejam cumpridos no espírito
de caridade, senão a alma recai bem depressa na vida natural: Aruit cor meum quia
oblitus sum comedere panem meum (Ps 101).
Quem O conhece e quem O ama conhece e ama o seu Pai. Não se vai ao seu Pai
senão por Ele. O livro por excelência no qual devem ler as almas consagradas ao seu
Coração, é, portanto, o seu Coração sagrado mesmo. Deve ser o centro único ao qual
reportarão não somente todos os seus actos exteriores, mas também as suas virtudes, os
seus pensamentos, as suas afeições, as preocupações dos seus corações.
Ele deve ser o seu único modelo. Meditando sobre as virtudes de pobreza, de
castidade e de obediência, reportaremos este estudo ao sagrado Coração. Havemos de
meditar o modo como praticou estas virtudes. O hábito de estudar o Sagrado Coração
como modelo, há-de ajudar a amá-lo mais.
95
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Acrescentai a isto considerações sobre os benefícios que Nosso Senhor não cessa
de espalhar pelos sacramentos. Avançareis no seu amor à medida em que conhecerdes
melhor os seus títulos ao vosso reconhecimento.
Enfim qualquer virtude que estudeis, procurai sempre o seu modelo na vida de
Nosso Senhor. Por estes meios, chegareis sem esforço a passar a vossa vida para o seu
Coração, porque Ele será o único objecto das vossas preocupações, dos vossos
pensamentos, das vossas recordações, das vossas afeições. Esta união com Ele há-de
resumir as outras regras de vida interior: a presença de Deus, o espírito de fé, a pureza
de intenção.
96
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Como é que o desejo de amar Nosso Senhor não O tocaria, Ele que deseja tanto
ser amado? Ele mantém-se à porta dos corações e bate: Ecce sto ad ostium et pulso (Ap
3, 20). Pede que se lhe abra este coração ao qual está pegado tanto: Aperi mihi, soror
mea, quia caput meum plenum est rore (Cat. 5, 2). Ele espera, com a cabeleira cheia do
orvalho da graça, que lhe dêem acesso a este coração que o seu amor cobiça. Mas não
/97 pode entrar à força numa alma. Ele apela, sugerindo doces inspirações. Se a alma fica
indiferente, se não presta atenção às suas solicitações, se não deseja recebê-lo, que pode
fazer? No entanto, deseja com um grande desejo entrar nos corações. Encontra a sua
felicidade em comunicar-se, em dar graças. Desde que uma alma O deseje, está pronta a
saciá-la: Si quis sitit, veniat ad me et bibat (Jo 7, 37).
Aqueles que amam com generosidade sofrem mesmo por não terem muitas
ocasiões de lhe testemunhar o seu amor.A sua regra quotidiana parece-lhes leve, não lhe
97
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
sentem o peso e quereriam ter mais para lhe oferecer. Os seus directores deverão mesmo
muitas vezes moderar o seu ardor e recordar-lhes que serão mais agradáveis a Nosso
Senhor obedecendo do que encarregando-se de lhe oferecerem o que se lhes proíbe.
Quando uma alma é assim trabalhada pelo amor do Sagrado Coração, é preciso
velar bem para não deixar arrefecer este ardor. É preciso alimentá-la, é preciso dar-lhe
um alimento que a mantenha tanto quanto possível no mesmo grau. É preciso dar-lhe
uma dupla regra, uma para a acção, outra para a vida interior. Para a acção, é o cudado
delicado de oferecer todos os seus actos a Nosso Senhor e desempenhar-se com
perfeição de tudo o que é pedido com o fim de lhe ser agradável. Para a vida interior, é
preciso manter a sua alma unida a Nosso Senhor e sempre pronta a receber as suas
comunicações. É preciso especialmente cumprir os exercícios de piedade /98 com todo o
recolhimento, modéstia e atenção de que se seja capaz. O santo Ofício, a santa Missa
bem preparada e bem celebrada são fontes muito especiais de fervor.
AFECTOS E RESOLUÇÕES
RAMALHETE ESPIRITUAL
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
99
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
1. Dicebat autem et parabolam ad illos, quoniam oportet sempre orare et non deficere.
2. Dicens: Judex quidam erat in quadam civitate, qui Deum non timebat et hominem non
reverebatur.
3.Vidua autem quaedam erat in civitate illa, et veniebat ad eum dicens: Vindica me de
adversario meo.
4. Et nolebat per multum tempus. Post haec autem dixit intra se: Etsi Deum non timeo nec
hominem revereor.
5. Tamen quia molesta est mihi haec vidua, vindicabo illam ne in novissimo veniens sugillet me.
6. Ait autem Dominus: Audite quid judex iniquitatis dicit.
7. Deus autem non faciet vindictam electorum suorum clamantium ad se die ac nocte? Et
patientiam habebit in illis?
1. Jesus dizia-lhes também esta parábola para lhes mostrar que é preciso rezar
sempre e sem cessar.
2. Disse-lhes: Havia um juiz numa cidade que não temia a Deus nem respeitava
os homens.
3. Mas uma viúva da cidade veio ter com ele e disse-lhe: Faz-me justiça contra o
meu adversário.
4. Ele resistiu durante muito tempo. Mas depois disse para consigo: Embora não
tema a Deus e não respeite os homens.
5. No entanto como ela não me deixa, vou-lhe fazer justiça, não vá ela no fim
insultar-me.
6. Nosso Senhor acrescentou: Escutai o que disse um juiz iníquo.
7. E Deus não tomaria a defesa dos seus eleitos que clamam por Ele dia e noite!
E deixá-los-ia gritar!
Sumário. – As orações jaculatórias são muito importantes; elas formam com a
oração os fundamentos da vida interior.
100
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
II. Meditação
2. Meditação.
Reflexões. – Nosso Senhor deseja que os seus amigos se habituem a pensar nele
sem esforço, para chegar a esta união permanente que O faz viver nos corações e que
faz viver os corações n’ Ele. Toda a vida interior deve ser regulada em vista d’Ele, deve
ser referida a Ele.
Para contrair este hábito, basta amar um pouco Nosso Senhor, sentir por Ele uma
afeição real. O seu nome vem facilmente aos lábios daqueles cujos corações Ele enche.
O Salvador. – Sim, é natural aos corações amantes dizer: «Jesus, eu vos amo. –
Meu Deus, arrependo-me de vos ter ofendido». Mas cada um pode seguir, no que diz
respeito às orações jaculatórias, as inspirações do seu coração e os impulsos da graça. O
que eu peço, é que se pense habitualmente em mim e que se adquira o hábito das
invocações feitas do fundo do coração.
101
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
de amor por vós! – Ó Jesus, dai-me a graça de vos amar todos os dias cada vez mais». É
que aquele que ama verdadeiramente a Nosso Senhor não pode jamais cansar-se de lhe
declarar o seu amor. É para ele uma necessidade tão imperiosa, que /101 sofre por não
poder dizer este amor como o desejaria. Mas é preciso esperar que se sinta em si este
ardente amor para se entregar à prática destas orações? Não, esta prática mesma,
contraída primeiro com o único desejo de amar a Nosso Senhor conduz rapidamente a
amá-lo, porque estes dardos o atingem, tocam-no e Ele responde-lhes com graças.
Como é que não responderia com graças de amor àqueles que lhe pedem a graça de o
amarem; pedem-lhes o que Ele mais deseja conceder-lhes. Ele outra coisa não deseja
tanto como ser amado. Faz-se mendigo para obter a afeição de um coração.
A lamentação de uma alma que geme por não O amar como quereria toca tão
profundamente o seu Coração e inclina-O para ela.
Estas disposições fazem apelo aos dons da graça. Têm também a vantagem de
manter a alma em união com Nosso Senhor. É esta união de corações com o seu que Ele
tanto deseja obter. É para consegui-lo que quer espalhar o reino do seu Coração.
Mas este género de orações não se aplica somente aos dardos ardentes do amor.
Com elas pedimos a Nosso Senhor o seu socorro nas provações, pedimos a sua graça
para suportar os sofrimentos. Um «Fiat voluntas tua!» escapado de um coração
angustiado pelo sofrimento é uma oração de enorme preço aos seus olhos e aos do seu
Pai. Quando o santo homem Job conheceu todas as infelicidades que o atingiam,
exclamou: «Meu Deus, o que vós me tínheis dado, vós o retomastes, que o vosso santo
nome seja bendito!» Uma provação muito penosa, recebida assim com uma oração saída
do coração vale mais para a alma do que todos os tesouros da terra.
Era a prática de todos os santos. Não demoravam a invocá-lo, com medo que Ele
mesmo não tardasse a socorrer-lhes. Este preciso hábito é essencial a todos os que
querem viver num comércio cheio de afeição com Ele.
102
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
venceu uma tentação ou triunfou de uma dificuldade, se teve algum sucesso numa
empreendimento da ordem temporal ou espiritual, deixará passar esta ocasião de
testemunhar o seu reconhecimento? /102
Queria, portanto, que este hábito das orações jaculatórias estivesse tão
profundamente enraizado naqueles que estão consagrados ao meu amor, que os seus
lábios cheguem a balbuciar como brotando de si mesmos alguma palavra afectuosa por
mim. Este seria o meio por excelência de pôr em prática o voto do salmista: Meditatio
cordis mei in conspectu tuo semper: Os sentimentos do meu coração estão sempre
diante dos vossos olhos.
Quando na oração da manhã a alma está árida, quando não podemos, por uma
razão ou por outra, seguir o tema proposto, um excelente meio de retirar algum fruto
deste exercício, é ainda a oração jaculatória. Muitas vezes uma alma que ficou fria e
seca durante uma grande parte da oração, reanima-se de repente através de uma oração
jaculatória na qual diz a sua mágoa por se sentir tão fria.
103
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
AFECTOS E RESOLUÇÕES
Sim, meu bom Mestre, fizestes tudo para ganhar os nossos corações e é ainda
para atingir este fim que ensinastes as orações jaculatórias. Bem o dizieis na parábola da
pobre viúva que faz apelo ao seu juiz: como seremos nós mais bem escutados por vós
do que pelos poderosos da terra, seja que reclamemos pelo vosso socorro, seja que vos
declaremos o nosso amor e o nosso reconhecimento!
RAMALHETE ESPIRITUAL
104
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
VIGÉSIMA MEDITAÇÃO
FÉ E CONFIANÇA
25. Dicebant ergo ei: Tu quis es? Dixit eis Jesus: Principium, qui et loquor vobis.
26. Multa habeo de vobis loqui, et judicare, sed qui me misit verax est: et ego, quae audivi ab eo,
haec loquor in mundo.
27. Et non cognoverunt quia Patrem ejus dicebat Deum.
28. Dixit ergo eis Jesus: Cum exaltaveritis Filium hominis, tunc cognoscetis quia ego sum, et a
meipso facio nihil, sed sicut docuit me Pater, haec loquor.
29. Et qui misit me, mecum est, et non reliquit me solum: quia ego, quae placita sunt ei, facio
semper.
25. Diziam-lhe: Quem sois vós? Jesus disse-lhes: Eu que vos falo, sou o
Princípio.
26. Tenho muito para vos dizer e julgar a vosso respeito; e aquele que me enviou
é verídico: e eu, o que d’ Ele ouvi, digo-o ao mundo.
27. E eles não compreenderam que falava de Deus seu Pai.
28. Jesus disse-lhes ainda: Quando tiverdes elevado da terra o Filho do homem,
compreendereis quem Eu sou e que não faço nada por mim mesmo, mas faço como o
meu Pai me ensinou.
29. E aquele que me enviou está comigo, e não me deixou só: porque faço
sempre o que lhe é agradável.
Sumário. – A vida de amor é uma vida de fé naquele que nós amamos. Não é
preciso procurar os desígnios de Deus, mas é preciso deixar-nos conduzir pelos
caminhos árduos aonde Ele nos pode levar.
A vida de amor exclui também os olhares inquietos sobre nós mesmos e sobre os
nossos progressos. Isso seria uma ocasião de amor-próprio.
Pede ainda para irmos até Deus com confiança, mesmo através das tentações e
dos abandonos.
105
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
II. Meditação
2. Meditação.
Reflexões. – Se quereis empenhar-vos nesta via, há três regras a seguir para vos
não perderdes.
A primeira é ir ter com Nosso Senhor com fé na sua conduta e na direcção que
Ele dá à vossa vida. Se O amais, deveis-lhe este respeito de não julgardes a conduta que
Ele tem a vosso respeito. Não deveis pedir-lhe contas do modo como vos trata. Deveis à
sua infinita sabedoria estar persuadido de que Ele não se engana nas suas medidas para
assegurar a sua glória e a vossa santificação. Deveis também à sua infinita bondade
acreditar que mesmo os seus rigores, se os exerce, vos são necessários e têm por fim o
vosso verdadeiro bem.
Quando vos dais a Ele, que lhe apresentais? Males para curar, males que
conheceis muito imperfeitamente e dos quais ignorais a causa profunda; males que
acarinhais ao menos no seu princípio e dos quais temeis ser libertados. Não devem tais
doentes serem levados para a sua cura a um médico cuja ciência, cuja sabedoria, cuja
bondade não têm limites? Devem ficar surpreendidos que descubra neles males que
escapavam ao seu conhecimento, que sonde em profundidade, que lhes aplique o ferro e
o fogo, que empreenda extripá-los até à raiz? O que é que pode conseguir-se sem os
fazer sofrer muito?
O Salvador. – Quando o meu Pai ordenou a Abraão que lhe imolasse Isaac, o
filho da promessa, do qual devia um dia sair o Messias, se Abraão tivesse raciocinado
106
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
sobre esta ordem aparentemente tão estranha, não teria cumprido este grande sacrifício,
que lhe valeu promessas e bênçãos especiais. Ter-se-ia tornado indigno deste belo título
de Pai dos crentes. Em toda a minha vida, dei-vos o mesmo exemplo, cumpri com
confiança a vontade de meu Pai.
Nosso Senhor não falta nunca à necessidade de sossegar uma alma tanto quanto
isso seja necessário para a suster e a fazer caminhar. Se não o faz directamente, é porque
quer reportar-se àquele que faz o seu lugar.
Nos inícios da vida interior, estas dificuldades não se dão. A doce paz que se
saboreia e que é habitual, não deixa nenhum lugar para duvidar que se esteja bem
perante Deus. Mas quando Nosso Senhor se ausenta por longo tempo, quando as
securas, as tentações, as desolações interiores sobrevêm, começamos então a temer não
estarmos no bom caminho, examinamo-nos com inquietude, receamos entrar na senda
obscura e estreita da fé e do puro amor. É perigoso então julgarmo-nos, vista a
disposição em que estamos, nestes momentos de perturbação, de escutar antes a
imaginação, o amor-próprio e o demónio, do que a razão, o director e Deus mesmo.
O Salvador. – Sim, segui-me, sem olhar para trás, sem vos considerardes
demasiado a vós mesmos. Segui-me com fé e com confiança. Esta regra será a vossa
paz e a vossa segurança. Segui a minha vontade como eu seguia a de meu Pai.
107
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
III. A via do amor pede ainda que se vá ter com Deus com confiança,
mesmo nas tentações e nos abandonos
Há-de custar-vos muito, sobretudo nas primeiras vezes, fazer este esforço. Se
cederdes, o demónio terá o que quer, tomará o domínio sobre a vossa vontade e sereis
reduzidos a ceder-lhe sempre, ou então será necessário vir para o aterrorizar.
E que fazer igualmente, quando o tentador vos coloca na mente que o vosso guia
vos perde? Reduplicar a confiança nele, e tomar, se for necessário, esta grande
resolução: «Ora bem, que ele me perca, desde que eu obedeça». Esta tomada de atitude
parece extrema, mas não há outra para triunfar sobre o demónio; e é a esta extremidade
que Deus quer levar uma alma religiosa que se entregou ao amor. Então verifica-se esta
máxima que o Evangelho refere: Quem perder a sua alma por mim há-de encontrá-la.
108
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
AFECTOS E RESOLUÇÕES
Sim, meu Salvador, quero ser todo para vós como mo pedis. A quem hei-de ir?
Só vós sois todo amável e verdadeiramente bom. Seguir-vos-ei cegamente, se for
preciso. Consinto, se tal é o vosso bom agrado, em perder terra, a já não saber nem o
que sou, nem o que serei, desde que chegue, por este sacrifício, à pureza do vosso amor.
RAMALHETE ESPIRITUAL
109
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
SOBRE A DIRECÇÃO
II. Meditação
2. Meditação.
O discípulo. – Ó meu bom Mestre, já não estais lá para me guiar, como estáveis
com os vossos apóstolos, a quem iremos? Quem nos há-de dizer a vossa vontade, o
vosso desejo? Quem nos há-de traçar a via que temos de seguir?
Reflexões. – A alma que se deu a Nosso Senhor já não deve dispor de si mesma
em nada. Cabe a Ele regular tudo, governar tudo, quer exterior quer interiormente. Não
quereria formar um /109 projecto, empreender seja o que for, nada mudar por si mesma
na sua maneira de viver, sem consultar Nosso Senhor e sem se assegurar, tanto quanto
isso seja possível, acerca da sua vontade. É que ela sabe que não é preciso mais do que
um passo, muitas vezes de pequena consequência em si mesmo, para perturbar a ordem
110
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
dos desígnios de Deus sobre ela, nos quais tudo se mantém e se segue. Uma mudança de
residência, uma viagem, uma pessoa recebida em casa ou recusada; uma ligação
formada ou rompida contra as intenções divinas, não é preciso mais nada para fazer sair
a alma do plano da Providência, com as mais deploráveis consequências para a sua
perfeição e às vezes para a sua salvação.
Por mais forte razão é preciso que a alma dependa da graça para o seu interior, e
que deixe a Nosso Senhor toda a liberdade de a tratar como julgar a propósito. Não é a
vós que toca a vossa santificação, disso não entendeis nada, é Nosso Senhor quem vos
santifica. Por isso, distingui cuidadosamente o que depende unicamente d’Ele e o que
depende tambem de vós. O que depende d’Ele, é o vosso estado de oração, as
consolações, as securas, as tentações, as diversas provações interiores. Em tudo isto, é
preciso deixá-lo agir, estar contentes com o estado em que vos colocou, não desejar o
seu fim, se é penoso, nem a sua continuação, se é doce.
111
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Guardai-vos bem de fazer por vós mesmos uma escolha tão importante e
delicada, vós não sois capazes disso. Estaríeis muito expostos a enganar-vos e
mereceríeis de facto enganar-vos. Nosso Senhor fez por vós esta escolha desde toda a
eternidade; e se deixais agir a sua Providência, ela conduzirá as coisas de maneira a
cairdes nas mãos do homem que vos destinou; um instinto secreto vos dirá que é ele, e
os efeitos não tardarão a convencer-vos disso.
O ponto capital é considerar este homem com um espírito de fé, como se fosse
Nosso Senhor mesmo, e estar intimamente persuadidos de que, se o considerarmos
assim e se nos comportarmos em consequência, Deus nunca parmitirá que nos aconteça
nenhum dos inconvenientes sem número aos quais está sujeita a direcção, tanto da parte
dos homens como da parte do demónio, que atravessa com toda a sua força a obra
divina.
Depois disto, as três coisas que a direcção absolutamente pede de vós são a
abertura do coração, a confiança e a obediência. Não é preciso esconder nada ao vosso
guia daquilo que lhe pode servir para vos conhecer bem e vos conduzir seguramente.
Enquanto não puder estar seguro da vossa exactidão a este respeito, da vossa candura e
da vossa sinceridade, está inquieto, duvida, não sabe que partido tomar, não pode
decidir e vos aconselhar como convém.
A vossa própria tranquilidade exige que tenhais uma perfeita confiança nele, que
não vos permitais raciocinar sobre as suas decisões. /111 Escutai-o, não vos
112
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
arrependereis. Fili, sine consilio nihil facias, et post factum non paenitebis: Meu filho,
não faças nada sem conselho e não vos arrependereis (Ecci. 32). Ele pode enganar-se,
mas não deveis presumir que ele se engane; e se isso lhe acontecer, não será em coisas
de consequência, ou o seu erro não há-de durar, ou finalmente Deus não há-de permitir
que vos prejudique.
Como Nosso Senhor e com o seu concurso, são os patores das vossas almas. As
ovelhas conhecem a voz do pastor, seguem-no com confiança: Et oves illum sequuntur,
quia sciunt vocem ejus (Jo 10). Nosso Senhor fez deles o sal da terra e a luz do mundo.
Têm autoridade para vos conduzir, segui-os: Omnia quaecumque dixerint vobis, servate
et facite (Mt 23). É para vós o caminho da paz e da segurança. Declinais assim toda a
responsabilidade diante de Deus. Podereis dizer-lhe no juízo: «Mestre, escutei o vosso
representante, cumpri a vossa vontade cumprindo a sua, tenho direito ao meu salário».
O Salvador. – Ide, portanto, com confiança. Com o Espírito Santo agindo dentro
e a obediência dirigindo de fora, avançareis seguramente na via do amor. Ultrapassareis
todas as dificuldades. – Vir obediens, loquetur victorias: O homem obediente cantará
vitória (Prov. 21). Sereis conduzidos como pela mão, e não vos perdereis. – Qui agunt
omnia cum consilio, reguntur sapientia: Aqueles que tomam conselho para agir são
conduzidos pela sabedoria (Prov. 13), evitareis a censura que a Escritura dirige muitas
vezes aos presunçosos. – Ne innitaris prudentiae tuae: Não vos confieis na vossa
própria prudência (Prov. 3). Esses são insensatos e caem na perigo, enquanto os
prudentes e os humildes lhe escapam. – Sapiens timet et declinet a malo; stultus transilit
et confidit: O sábio teme e escapa do mal; o insensato é presunçoso e cai (Prov. 14)./112
113
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
AFECTOS E RESOLUÇÕES
Ó meu bom Mestre, até ao presente estive muitas vezes no número dos
imprudentes e dos insensatos. Daí vieram as minhas quedas frequentes. Perdoai-me e
doravante conduzi-me pela voz dos vossos ministros. Sou fraco e cego, tomai-me pela
mão e guiai-me.
RAMALHETE ESPIRITUAL
- Qui vos audit me audit, et qui vos spernit me spernit (Lc 16).
- Surge et ingredere civitatem et ibi dicetur tibi (a sacerdote) quid te oporteat facere (Act 9).
- Fili, sine consilio nihil facias et post factum non paenibetis (Ecc. 32).
- Quem vos escuta escuta-me, e quem vos despreza despreza-me (Lc 16).
- Levanta-te, vai à cidade, e ser-te-á dito (pelo sacerdote) o que tens de fazer
(Act 9).
- Meu Filho, não faças nada sem conselho e nada terás a lamentar do que terás
feito (Ecli. 33). /113
114
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
5. Ego sum vitis, vos palmites: qui manet in me et ego in eo, hic fert fructum multum, quia sine
me nihil potestis facere...
8. In hoc clarificatus est Pater meus, ut fructum plurimum afferatis, et efficiamini mei discipuli.
9. Sicut dilexit me Pater, et ego dilexi vos. Manete in dilectione mea.
10. Si praecepta mea servaveritis, manebitis in dilectione mea, sicut et ego Patris mei praecepta
servavi, et maneo in ejus dilectione.
11. Haec locutus sum vobis ut gaudium meum in vobis sit, et gaudium vestrum impleatur.
5. Eu sou a videira e vós os ramos. Quem permanece em mim e Eu nele, esse dá
muitos frutos, porque sem mim nada podeis fazer...
8. A glória de meu Pai é que tenhais muitos frutos e que vos torneis meus
discípulos.
9. Como o Pai me amou, Eu vos amo. Permanecei no meu amor.
10. Se guardardes os meus preceitos, permanecereis no meu amor; como guardei
os preceitos de meu Pai e permaneço no seu amor.
11. Disse-vos isto para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja
completa.
Sumário. – Para amar a Deus de todo o nosso coração, é preciso dar-nos a Ele,
entregar-nos à sua graça e à sua Providência.
Ele é, com efeito, a fonte do amor, dá-o na medida em que nos damos a Ele.
Mas é preciso ser generosos e fiéis para não nos retomarmos depois de nos
termos dado.
II. Meditação
2. Meditação.
115
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
O discípulo. – Desejo, ó meu bom Mestre, dar-me inteiramente /114 a Vós. Até ao
presente dei-me com reserva e muitas vezes retomei-me. Iluminai-me, ajudai-me,
arrebatai a minha vontade.
Esta doação é um grande acto de amor, por vós mesmos sois disso incapazes e é
preciso uma graça especial para o produzir realmente. Deus não a recusa a quem a pedir
e deseja realmente obtê-la.
Muito poucas pessoas mesmo piedosas têm este desejo real e eficaz. Querem
dar-se e reter-se, ser para Deus e para si mesmas, seguir a graça e não renunciar
inteiramente à natureza.
No entanto, antes de ter feito a Deus esta doação de si, plena, inteira,
irrevogável, não é possível entrar-se no exercício do amor a não ser por curtos
intervalos, e não com esta continuidade que da vida do cristão faz uma vida toda de
amor.
O Salvador. – Mas então a que é que aspirais sobre a terra, se não aspirais a esta
vida de amor? Não é a uma tal vida que sois chamados no céu? É esta vida que deve
fazer a vossa beatitude e não quereríeis começá-la aqui em baixo? Oh! Não deveis sair
desta meditação sem vos terdes dado a mim tão perfeitamente quanto vos seja possível e
sem que o devais desejar tanto para a vossa felicidade como para a glória divina.
116
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
A razão principal pela qual é preciso dar-vos a Deus, é que Ele é a fonte do
amor. O amor brota d’ Ele. Dá-o à medida que nos damos a Ele. É Ele quem inspira as
suas práticas, que fornece as suas ocasiões, e que, pela graça actual, faz produzir os seus
actos. Coloca-nos ao alcance de santificar por amor todos os nossos pensamentos, todos
os nossos desejos, todas as nossas acções, porque em tudo isso não podemos nada sem
Ele /115 . É necessário que a graça nos previna, que seja ela a primeira a agir, que nos
ajude a cooperar, que produza connosco, e mais do que nós, a nossa cooperação.
Para tudo isto, é preciso que Deus disponha a seu gosto do nosso coração; que
este coração lhe pertença, por conseguinte, e que Ele seja o senhor da nossa liberdade
por uma doação sem reservas da nossa parte. De outro modo nós incomodá-lo-emos,
contrariá-lo-emos, colocaremos obstáculos à execução dos seus desígnios sobre nós; Ele
quererá uma coisa e nós não a quereremos. Não foi isto que nos aconteceu até agora e
que tem sido a única causa dos nossos pecados, das nossas imperfeições, do nosso
pouco progresso na via do amor? O que é que temos oposto à acção divina? A nossa
própria vontade. E porque é que a temos oposto? Porque a não tínhamos dado como
convinha. Pusemos restrições, excepções; o nosso empenhamento foi só até um certo
ponto, além do qual pretendemos ser livres. Permitimos a Nosso Senhor cortar os ramos
do nosso ego, e tínhamo-nos reservado o tronco e as raízes. E aqui está o que O deteve
na obra da nossa santificação.
O Salvador. – Sim, eu quero ter tudo, a fim de operar livremente em vós. Tenho
o meu plano todo traçado, executá-lo-ei, se nada se lhe opuser da vossa parte; e nada se
lhe há-de opor, se tiver a vossa vontade à minha disposição, se não vos pertencerdes em
nada, mas absolutamente a mim. Não há nada mais manifesto, nem mais certo.
É preciso sem dúvida ser generosos para nos darmos assim; mas não é necessária
menos coragem e fidelidade para não mais nos retomarmos.
É fácil dar em geral, é mais uma promessa do que um dom; mas quando é
necessário descer ao concreto, e se despojar realmente de cada coisa à medida que Deus
a pede, é então que custa e que sentimos toda a dificuldade do sacrifício. A natureza
117
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
quereria voltar sobre o que demos, tem saudades; e se não pode guardar tudo, procura
pelo menos reter uma parte. Não é uma tarefa pequena perseverar na oração apesar das
securas, das tentações, das desolações, do abandono aparente de Deus; continuar a
servi-lo com exactidão, rejeitar todo o adoçamento da parte das criaturas, praticar sem
interrupção a mortificação exterior e interior: a dos sentidos, pelas privações e pelas
macerações; a da imaginação, regulando-a e prendendo-a; a das paixões, lutando contra
elas e recusando-lhes /116 o que elas desejam; a do espírito, suspendendo todo o
raciocínio que a graça interdiz, sofrendo pacientemente a fadiga e o embrutecimento; a
da vontade, contrariando-a nas suas inclinações e nas suas aversões, considerando bom
que os outros a contrariem e não lhe permitindo nunca prevenir a vontade de Deus,
resistir-lhe, nem dela sair; acrescentar continuamente sacrifícios sobre sacrifícios,
embora Deus pareça não lhes prestar nenhuma atenção e que persiga o nosso amor-
próprio até nos seus últimos redutos. É preciso coragem para não se deter, para não
recuar e recusar a Deus em pormenor o que se lhe deu em grosso.
Tenho o consentimento desta alma e não suporto que ela o retire, sejam quais
forem os esforços que ela pareça fazer para isso.
Tal é esta tirania do amor, que é simultaneamente rigoroso e doce. Pede muito e
sem prazo, mas quem se lhe entregou conhece todo o seu encanto. Sabe como estas
exigências e estes rigores são ultrapassados pela alegria íntima e profunda que sente o
coração amante e que é o antegozo das alegrias do céu.
Procurai esta paz divina do amor que ultrapassa todo o sentimento. Que ela
guarde os vossos corações e as vossas inteligências (Fil 4, 7).
118
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
AFECTOS E RESOLUÇÕES
Domine, da mihi hanc aquam: Senhor, com a pobre samaritana peço-vos desta
água, colhida na fonte do vosso Coração, da água da generosidade. Porque o dom de
mim mesmo é uma graça gratuita, peço-vos esta graça. Sei que pedis de mim uma
preparação e uma correspondência corajosa. Tomo essa resoluão. Deixarei as criaturas,
procurar-vos-ei sempre e em tudo. Não vos oculteis, Senhor, às minhas procuras.
Tomai-me no vosso seguimento e não me deixeis mais. /117
RAMALHETE ESPIRITUAL
119
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
6. Dicit ei Jesus: Eo sum via, et veritas, et vita. Nemo venit ad Patrem nisi per me.
7. Si cognovissetis me, et Patrem meum utique cognovissetis: et amodo cognoscetis eum et
vidistis eum.
8. Dicit ei Philippus: Domine, ostende nobis Patrem et sufficit nobis.
9. Dicit ei Jesus: Tanto tempore vobiscum sum: et non cognovistis me? Philippe, qui videt me,
videt et Patrem. Quomodo tu dicis: Ostende nobis Patrem?
10. Non creditis quia ego in Patre et Pater in me est? Verba quae ego loquor vobis, a me ipso
non loquor. Pater autem in me manens, ipse facit opera.
6. Jesus disse: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai
senão por mim.
7. Se me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai: e agora vós O
conhecereis e já O vistes.
8. Disse-lhe Filipe: Mestre, mostra-nos o vosso Pai e isso nos basta.
9. Jesus respondeu: Há tanto tempo que estou convosco, e não me conheceis?
Filipe, quem me vê, vê o meu Pai. Porque me dizes: Mostrai-nos o Pai?
10. Não crêdes que estou no meu Pai e que o meu Pai está em mim? As palavras
que vos digo não são minhas. O meu Pai permanece em mim, é ele que faz as minhas
obras.
Sumário. – Devemos amar Nosso Senhor, porque é Ele que o seu Pai apresenta
aos nossos afectos. E se nós O amamos, devemos oferecer-nos por amor como Ele se
ofereceu ao seu Pai.
II. Meditação
120
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
2. Meditação
Reflexões. - «Quem me conhece, conhece o meu Pai, disse Nosso Senhor. Quem
me ama, ama o meu Pai e é amado por Ele». Não podemos amar um sem amar o outro.
Mas é em Nosso Senhor particularmente que o seu Pai quer ser amado, porque foi por
Ele, o seu Filho, que Ele se manifestou. Nosso Senhor explicou isto aos seus discípulos,
como S. João nos refere: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida, dizia-lhes. Ninguém
vem ao Pai senão por mim. Se me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai». Estas
palavras aplicam-se tanto ao amor do seu Pai como ao conhecimento que d’Ele pode
ter-se, porque o conhecimento tem por fim o amor e a ele conduz.
Quando Nosso Senhor se compara a uma vinha e o seu Pai a um agricultor, não
diz somente que o seu Pai rejeitará aquele que não dá fruto, mas acrescenta: «Quem não
dá fruto em mim, meu Pai rejeitá-lo-á. – Omnem palmitem in me non ferentem fructum
tollet eum».
121
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
quer ser amado e glorificado pelos homens. Eu é que sou o Mediador, Eu é que sou
Pontífice e como a ponte lançada entre Deus e os homens. É assim que quem me ama
ama o meu Pai e é amado por Ele. /120
Reflexões. – Não só Nosso Senhor amou o seu Pai, mas também se ofereceu a
Ele voluntária e livremente para cumprir a sua vontade por amor. Disse-o muitas vezes
nos termos mais formais e nomeadamente a respeito da sua paixão e da sua morte: «Dou
a minha vida, permito que ma tomem. – Ego pono animam meam et iterum sumo eam;
nemo tolet eam a me; sed ego pono eam a meipso et potestatem habeo ponendi eam et
potestatem habeo iterum sumendi eam». Era de um modo totalmente livre e por amor
que Ele obedecia e oferecia a sua vida.
Os homens não podem como Ele oferecer-se como redentores, como vítimas ou
como reparadores. Isto não convém senão a Ele. Mas esta oferenda voluntária de si
mesmo foi o amor que a inspirou. Os homens podem reproduzir alguma coisa da sua
oblação oferecendo-se a Ele por amor. Podem por esta oferenda consagrar-se a Ele, eles
mesmos e tudo o que fazem, e estendem assim o amor que Lhe votaram a todas as suas
acções, mesmo as mais pequenas. Quem se dá assim a Nosso Senhor por puro amor e
quem se dá sincera e generosamente, está seguro de ter as preferências do seu Coração.
Prometeu-o nas palavras que nós acabámos de recordar: «Quem me ama, o meu Pai e
Eu o amaremos e Eu me manifestarei a ele. – Qui autem diligit me, diligetur a Patre
meo et ego diligam eum et manifestabo ei meipsum». Manifesta-se pelos dons da graça
trazendo consigo o Espírito Santo.
122
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
e que acrescenta alguma coisa ainda, é de se oferecer a Nosso Senhor por amor
dedicando a sua vida a amá-lo e a fazê-lo amar. Imita-se assim o que pode ser imitado
na oblação de Nosso Senhor.
O Salvador. – Sim, nada amo tanto como ser amado. Faço-me mendigo para
conseguir que os homens me dêem os seus corações. Uma oblação generosa, completa e
totalmente desinteressada dá portanto à minha sede de amor toda a satisfação que pede.
123
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
todas as ofensas, por todos os ultrajes que os maus me fazem. É mesmo a única
reparação que está ao alcance dos homens, porque a reparação estrita à justiça não é
possível senão por mim. A reparação abordável ao homem é uma consolação fornecida
ao meu Coração por um acréscimo de amor e de generoso sacrifício. Nada pode, melhor
que esta oblação que peço, atingir este fim.
AFECTOS E RESOLUÇÕES
RAMALHETE ESPIRITUAL
124
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
- Se alguém me ama, meu Pai amá-lo-á e nós viremos a ele e faremos nele a
nossa morada (Jo 14)./123
125
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
II. Meditação
2. Meditação.
O discípulo. – Falai, ó meu bom Mestre; que devo fazer para vos contentar, para
vos agradar, para vos provar o meu amor em cada instante da minha vida?
126
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Quando não se encontra outra coisa senão este cuidado na vida de uma alma,
esta alma é perfeita, mesmo que ela tenha tomado o cuidado de controlar a perfeição do
que faz.
127
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Começai, por exemplo, por oferecer bem as horas de estudo, as horas de trabalho
regular da manhã e as da tarde. A pequena oração que precede as horas de trabalho
servirá para fixar a vossa atenção e recordar-vos a vossa resolução. Estas horas de
trabalho serão oferecidas ao Sagrado Coração em espírito de amor. Oferecer-vos-eis a
vós mesmos com o vosso coração. Estes actos de uma longa duração serão, portanto,
actos contínuos de amor. No fim de cada um destes exercícios, um curto instante será
consagrado a pedir perdão ao Sagrado Coração pelas negligências nestas ocupações.
128
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Não vos perturbeis na ocasião das vossas imperfeições, mas sede bem fiéis a
pedir perdão ao Sagrado Coração pelas vossas negligências /126 sempre que delas vos
apercebeis.
Além disso, será bom colocar de tempos a tempos no meio das vossas acções
uma curta oração jaculatória inspirada pelo coração. Direis, por exemplo: «Jesus, eu
amo-vos!» Ou ainda: «Ó Jesus, quereria amar-vos!» David, que tinha uma coração
amantíssimo, não dizia: «Bendirei o meu Deus em todo o tempo e o seu louvor estará
sempre nos meus lábios: Benedicam Dominum in omni tempore, semper laus ejus in ore
meo» (Sl 33).
129
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
a oferenda da manhã será renovada várias vezes ao dia por um dito rápido, num instante
de recolhimento antes das acções principais.
O vosso exame particular incidirá cada dia primeiro sobre a observação destes
meios de união com Nosso Senhor.
Deixareis o vosso coração expandir de tempos a tempos o seu afecto para com
Nosso Senhor sob a forma de orações jaculatórias.
Foi isso aliás que pedi à minha serva Margarida Maria e aqueles que o
negligenciassem não poderiam pretender à honra de serem verdadeiramente
consagrados ao meu Coração e de viver realmente a vida de amor e de reparação.
AFECTOS E RESOLUÇÕES
Sim, meu bom Mestre, quero pensar muitas vezes em vós, quero viver para vós.
Ofereço-vos toda a minha vida, todas as minhas acções, todos os meus sofrimentos, por
vosso amor e por reconhecimento para com o vosso divino /127 Coração. Renovarei
fielmente esta oferenda antes das principais acções do meu dia.
RAMALHETE ESPIRITUAL
- Benedicam Dominum in omni tempore; semper laus ejus in ore meo (Ps 33).
- Ego dormio, sed cor meum vigilat (Cant. 5).
- Oculi mei semper ad Dominum (Ps 24).
- Cor mundum crea in me, Deus, et spiritum rectum innova in visceribus meis (Ps 50).
- Bendigo o Senhor em todo o tempo, o seu louvor está sempre na minha boca
(Sl 33).
- Durmo, mas o meu coração vela (Cant 5).
- Tenho sempre o meu Deus diante dos olhos (Ls 24).
- Senhor, dai-me um coração puro e renovai a rectidão das intenções do meu
coração (Ls 50)./ 128
130
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Mas como é que os há-de fazer? Que se mantenha muito atento e recolhido para
fazer estes actos sob a inspiração do bom Mestre que nos disse: Sem mim, nada podeis
fazer.
II. Meditação
131
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
2. Meditação.
O discípulo. – Bom Mestre, que hei-de fazer para vos amar muito, para vos amar
sempre mais, para fazer crescer em mim todos os dias o hábito de vos amar? /129
Lestes que Sto. Agostinho, nas suas inquietações, consolava-se com este
pensamento: «Meu Deus, a minha consciência me responde que eu vos amo». Que
vantagem, que doçura, que fonte de paz encontrareis neste testemunho da vossa alma!
Mas para isso, é preciso sentir que este amor está vivo no vosso coração, e não se sente
que ele está vivo senão pelos actos que produz.
Se, pelo contrário, estes actos são raros, se estão apenas nos lábios e se não são
acompanhados por uma certa emoção, isso é uma prova de que o amor é fraco e frouxo
nas vossas almas; e teríeis então ocasião de crer que ele está morto, se passásseis tempo
considerável sem praticar nenhum acto.
132
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Reflexões. – É certo que o cristão não deve somente conservar este hábito do
amor do seu Deus, mas que deve aumentá-lo em si mesmo, embora não possa
determinar exactamente a medida deste crescimento.
É certo que um hábito não se conserva senão pelos seus actos, e a /130 única regra
pela qual se possa julgar se ele se enfraquece, é quando os seus actos se tornam raros.
Pode presumir-se que está totalmente extinto, quando desde muito tempo não se produz
nenhum dos seus actos. Isso acontece quer a respeito dos bons hábitos quer dos maus,
quer dos sobrenaturais quer dos naturais.
É certo também que todo o hábito não se desenvolve nem se fortifica senão na
proporção da frequência dos actos. Donde segue que o cristão é obrigado a fazer muitas
vezes actos de amor de Deus. E como vós não podeis determinar exactamente o número
de actos que são necessários para cada ano, para cada mês, para cada dia, tomai como
regra agir de modo que Deus esteja contente.
Reflexões. – Para fazer estes actos de amor tão frequentemente quanto Nosso
Senhor o deseja, aqui está o meio que haveis de tomar. Deixar-lhe-eis regular estes
actos. Aliás, não poderíeis fazê-los utilmente sem Ele. Ele vo-lo disse: «Sem mim, nada
podeis fazer, na ordem da graça: Sine me nihil potestis facere».
133
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
pelo menos esta firme resolução: renovai-a sempre que dela vos afastardes; e quando
vos aperceberdes que falhastes, fazei a vós mesmos uma reprovação viva e sincera.
Não esqueçais que a vossa natureza corrompida pelo pecado repugna com todas
as suas forças ao amor do seu Deus. Pensai que haveis aumentado esta corrupção com
as vossas faltas pessoais e que a vossa natureza se tornou ainda menos disposta à vida
sobrenatural.
O Salvador. – Começai e vereis depressa os felizes efeitos deste meio que vos
recomendei: estai unidos a mim como o ramo ao cepo da vinha. Estai habitualmente
atentos à minha graça, ela vos há-de sugerir frequentes actos de amor. A vossa generosa
determinação ganhará o meu coração e apressar-me-ei a ajudar-vos. Encontrareis
depressa tanto gosto e doçura nestes actos que vós mesmos haveis de ter o ardente
desejo de os multiplicar mais. Tornar-se-ão cada dia nos vossos corações mais
fervorosos e mais íntimos. Mudar-se-ão verdadeiramente em hábito. Fá-los-eis como
sem reflectir e quase sem disso vos aperceberdes. Como o observava um santo Doutor,
acabarão por ser tão fáceis, tão naturais, tão contínuos como a respiração.
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Nada podeis por vós mesmos, tal como o ramo da vinha não pode dar frutos se
não receber a seiva do tronco. Mas se estiverdes agarrados a mim, se permanecerdes em
mim e eu em vós, a seiva do meu Coração descerá ao vosso, e sereis animados do meu
espírito, e vivereis facilmente a vida de amor. Praticareis os seus actos habitualmente.
Eu vo-los hei-de sugerir, Eu vos hei-de guiar. Viverei em vós e vós em mim. Deixai-me,
portanto, a condução do vosso coração. Deixai-me fazer em vós o que Eu quiser.
Deixai-me cumprir os meus desígnios sem lhes colocar nenhum obstáculo./132
AFECTOS E RESOLUÇÕES
RAMALHETE ESPIRITUAL
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
As nossas acções devem ser oferecidas a Nosso Senhor com amor desde a
manhã e muitas vezes ao longo do dia.
II. Meditação
2. Meditação.
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Nunca seria demais a recomendação deste conselho: Fazei bem o que fazeis.
Mas seria necessário tomar cuidado em não confundir esta perfeição que é da ordem
puramente natural, com a perfeição recomendada pelo Evangelho. Pode correr-se o
perigo de pensar-se perfeito porque se obedeceu pontualmente, porque se respeitou a
castidade. Naturalmente que estas são virtudes, mas podem não ter mais valor que as
dos filósofos ou dos mercenários.
A prática tão necessária do exame particular pode mesmo deixar uma alma nesta
confusão, se for mal entendida.
Neste caso, perde-se de vista a intenção que deve inspirar todas as acções para
lhes dar um valor aos olhos de Deus. Alguém recitou talvez de manhã de uma maneira
mais ou menos distraída uma fórmula geral da oferenda do dia. Considera-se isso
suficiente e repousa nesta oferenda. Esta alma dormita verdadeiramente. Com
dificuldade foi acordada do seu adormecimento habitual para pronunciar esta fórmula.
Isso foi feito sem coração, sem pensar no que se dizia; depois começa-se o dia muito
naturalmente. Seja qual for o cuidado que se ponha depois nas acções realizadas em
vistas puramente humanas, não pode pretender-se ter feito um acto de caridade; não
pode pretender-se ter-se dado ao Sagrado Coração um sinal de amor. Ao cuidado
puramente humano com o qual se cumprem as próprias acções, é preciso acrescentar a
intenção de agradar a Nosso Senhor, o desejo de lhe dar, por este cuidado mesmo com o
qual os próprios deveres são cumpridos, uma garantia de amor. Nestas condições, não
somente a atenção posta no trabalho é sobrenaturalizada, mas todo o acto se torna um
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
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acto de caridade, um acto de puro amor. Nosso Senhor pede, portanto, que nos
habituemos a renovar frequentemente durante o dia os actos de oferenda.
Tal é a direcção a dar aos vossos exames particulares. Devem ser um reflexo da
direcção geral dada à vossa vida. Amar o Coração sagrado de Jesus, provar-lhe o
próprio amor por tudo o que se faz, tal deve ser a constante preocupação de quem se
consagrou a este divino coração. Quando alguém O ama verdadeiramente, esta
preocupação é tão grande, que não se pode cair numa negligência sem que o coração
imediatamente a censure. Deve então pedir-se perdão imediatamente, reconhecendo
neste sinal que não se ama ainda Nosso Senhor como se deveria, depois continua-se
sem perturbação a própria vida de oblação. Nós dizemos a vida de oblação: porque o
carácter próprio da vida de amor, é oferecer ao bem-amado do seu coração tudo o que se
faz, e de o oferecer muito prática e seriamente.
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
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III. Meio de obter esta união pela prática das oferendas, das
resoluções e dos exames
A vossa resolução principal de cada dia será, na oração como no exame, oferecer
ao menos as vossas principais acções em espírito de amor. Nosso Senhor não vos pede
uma contenção fatigante, mas a boa vontade, com uma simplicidade de criança. A
oração que precede e que segue os exercícios na vida de comunidade será uma ocasião
muito frequente de elevar o vosso coração para Deus. A oblação das vossas acções
comportará sempre o desejo de as fazer bem. Na hora dos exames, e por vezes depois
destas acções principais, haveis de pedir perdão ao Sagrado Coração por tê-lo servido
com pouco amor.
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
O Salvador. – Todos estes actos são fáceis, não exigem senão um pouco de boa
vontade. Os que os observam generosamente, com o seu coração, com o desejo sincero
de darem ao meu Coração provas de amor, receberão graças preciosas. Agradar-me-á
aquecer os seus corações. Aí está o mínimo das provas de amor que o meu Coração está
no direito de esperar das almas que se dedicaram e consagraram a Ele. Que significaria
de facto esta consagração? Seria uma palavra vã se, depois de me terem prometido toda
a sua vida e todas as suas obras, me esquecessem inteiramente, se não me dessem
praticamente o que me prometeram, por actos sérios de oblação e fazendo tudo por meu
amor./137
AFECTOS E RESOLUÇÕES
Bom Mestre, eu quero doravante ser fiel à consagração que vos fiz
completamente de mim mesmo. Quero dar-vos na realidade todas as minhas acções
renovando com amor a minha oblação antes das minhas acções principais, e cumprindo
estas acções de modo que elas possam agradar-vos e consolar-vos da minha indiferença
passada.
RAMALHETE ESPIRITUAL
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
12. Dixit ergo Jesus: Homo quidam nobilis abiit in regionem longinquam accipere sibi regnum, et
reverti.
13. Vocatis autem decem suis servis, dedit eis decem mnas, et ait ad illos: Negotiamini dum venio.
14. Cives autem ejus oderunt eum, et miserunt legationem post illum, dicentes: Nolumus hunc
regnare super nos.
15 Et factum est ut rediret accepto regno: et jussit vocari servos, quibus dedit pecuniam, ut scire
quantum quisque negotiatus esset.
16. Venit autem primus dicens: Domine, mna tua decem mnas acquisivit.
17. Et ait illi: Euge, bone serve, quia in modico fuisti fidelis, eris potestatem habens super decem
civitates.
12. Jesus disse: Havia um homem nobre que partiu para um país muito distante
para aí tomar posse de um reino e voltar.
13. E tando chamado dez dos seus servos, deu-lhes dez moedas de prata e disse-
lhes: Fazei render este dinheito até que eu volte.
14. Mas os habitantes do seu país que o odiavam, enviaram-lhe uma embaixada
para fazer esta declaraão: Não queremos que este seja o nosso rei.
15. Estando então de regresso depois de ter tomado posse do seu reino, mandou
que lhe apresentassem os servos aos quais tinha dado o seu dinheiro para saber quanto
cada um deles tinha ganhado.
16. Chegando o primeiro, disse-lhe: Senhor, o vosso dinheito produziu outros dez.
17. Ele respondeu-lhe: Muito bem, bom servo; porque fostes fiel nestas pequenas
coisas, tereis o governo de dez cidades.
Sumário. – O amor ardente gera um ódio profundo, por aquilo que é um obstáculo
à posse do objecto amado. Por aqui podemos julgar se amamos Nosso Senhor. Temos
um ódio implacável pela nossa natureza corrompida, pela nossa vontade própria, por
tudo aquilo que nos conduziu ao pecado?
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Nós havemos, portanto, de testemunhar o nosso amor a Nosso Senhor sendo fiéis
nas pequenas coisas.
II. Meditação
2. Meditação.
I. O amor por Deus supõe o ódio a tudo o que dele nos afasta
Reflexões. – O amor ardente gera um ódio profundo por tudo o que lhe resiste,
tudo o que constitui obstáculo à posse do que se ama. Mais o amor é apaixonado, mais o
ódio é vivo e ardente. Isto há-de servir-vos para apreciardes o grau do vosso amor por
Nosso Senhor. Sentis um ódio implacável contra a vossa natureza corrompida, contra a
vossa vontade própria? Se sim, amai-lo apaixonadamente; se não, amais outra coisa que
não Ele. Neste momento não amais talvez o pecado, mas amais coisas que a ele
conduzem ou que dele derivam. Jesus disse isso no santo Evangelho: «Quem ama a sua
alma, a sua vida mortal, perde-a e ofende-me; quem a odeia salva-se e prova-me o seu
amor: Qui odit animam suam in hoc mundo, in vitam aeternam custodit eam». Não há
nada de pequeno quando se trata do pecado e daquilo que a ele conduz. Não esqueçais
que o pecado é uma rebelião, um desprezo do vosso Deus, uma ingratidão imperdoável.
O non serviam realiza-se nas pequenas coisas como nas grandes. As pequenas faltas são
também actos de rebelião: «O homo, tu quis es, qui respondeas Deo?». Quem sois vós
para ousardes opor-vos a Deus? (Rom 9, 20). Deus não quer tanto filhos inúteis e
negligentes, como filhos infiéis: «Non enim concupiscit multitudinem filiorum
infidelium et inutilium» (Ecli 15, 22). Portanto, será possível servir-se ao mesmo tempo
a própria natureza corrompida e Deus? «Cui assimilastis me et adequastis, dicit
sanctus?» (Is 40, 25). O filho honra o seu pai e o servo o seu senhor. Podeis, portanto,
ferir a honra do vosso Deus por faltas ou negligências? «Si ergo Pater ego sum, ubi est
honor meus?» (Mal 1, 6).
142
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Reflexões. – Quanto mais se ama, mais alguém se sente ofendido pelas ofensas
dos seus amigos. Não deveria, porém, esquecer-se que o amor é delicado. O que num
estranho nem se repara, fere num amante e fere tanto mais quanto mais se tiver por este
amante um amor mais terno.
O que David exprime no salmo 54, di-lo em nome de Nosso Senhor: «Se um
inimigo me ofendesse, sofreria com paciência, mas tu, meu amigo, meu companheiro,
meu comensal!»
Nosso Senhor tinha a louvar o anjo da Igreja de Éfeso muitas obras e muitas
virtudes, no entanto mandava-o censurar pelo seu apóstolo ter deixado decair o seu
primeiro fervor e ameaçava-o com a morte eterna, se reincidisse.
Louvava também as obras do bispo de Laodiceia, mas como ele não era fervoroso
e negligenciava as pequenas coisas, Nosso Senhor declarava-lhe pelo seu apóstolo, que
provocava os seus vómitos. «Scio opera tua... sed quia tepidus es, incipio evomere te ex
ore meo».
Dei a fidelidade e a diligência no meu serviço como o sinal do amor que têm por
mim: «Aquele que me ama guarda a minha palavra, disse; aquele que não me ama não
guarda os meus mandamentos. Qui non diligit me, sermones meos non servat» (Jo 14,
23).
143
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
«Aquele que teme a Deus, era dito na antiga lei, não negligencia nada. Qui timet
Deum nihil negligit» (Ecli. 7, 19). Isto permanece verdadeiro. Mas o amor será menos
forte e menos firme que o temor? Já não seria então um verdadeiro amor.
Reflexões. – A mínima atenção delicada vinda de uma pessoa cara dá mais prazer
do que os dons de pessoas indiferentes. Entre amigos, as atenções como as ofensas vão
direitas ao coração. É o que exprime esta palavra do esposo no Cântico dos Cânticos:
«Vós haveis ferido o meu coração, ó minha esposa e minha irmã, havei-lo ferido apenas
por um olhar dos vossos olhos ou pelos cabelos que caem sobre os vossos ombros»
(Cant. 4, 9).
Estas atenções delicadas vão tão longe e são tão frequentes no mundo entre
pessoas que se dedicam a uma afeição natural: não é uma vergonha para os amigos de
Nosso Senhor, serem ultrapassados em generosidade pelas pessoas do mundo?
O Salvador. – Sim, não é uma confusão para mim ser menos amado do que as
criaturas? Aprendei, portanto, a não desdenhar as pequenas coisas. Não há nada que seja
pequeno no amor. As vossas atenções delicadas tocam o meu coração, alegram-no e
preparam graças de eleição.
AFECTOS E RESOLUÇÕES
144
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
RAMALHETE ESPIRITUAL
- Euge, serve bone et fidelis, quia super pauca fuisti fidelis, super multa te constituam, intra in
gaudium Domini tui (Mt 25, 21).
- Vinde, bom e fiel servo, porque fostes fiel nas pequenas coisas, confiar-vos-ei
grandes; entrai na alegria do /142 Senhor (Mt 25).
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
5. Ego sum vitis, vos palmites: qui manet in me et ego in eo, hic fert fructum multum: quia sine
me nihil potestis facere.
6. Si quis in me non manserit, mittetur foras sicut palmes, et arescet, et colligent eum, et in
ignem mittent et ardet.
7. Si manseritis in me, et verba mea in vobis manserint, quodcumque volueritis petetis et fiet
vobis.
8. In hoc clarificatus est Pater meus, ut fructum plurimum afferatis et efficiamini mei discipuli.
5. Eu sou a vinha e vós os sarmentos: quem permanece em mim e eu nele, esse
dá muitos frutos; porque sem mim nada podeis fazer.
6. Se alguém não permanece em mim, será lançado fora como um sarmento;
secará, será recolhido, lançado ao fogo e queimará.
Se, ao contrário, recusarmos o nosso coração a Nosso Senhor, se não lho dermos
desde o princípio da nossa vida religiosa, entristecemo-lo e desconhecemos o nosso
verdadeiro fim.
II. Meditação
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
2. Meditação.
O discípulo. – Eu sei, ó meu bom Mestre, que vós pedis os nossos corações e
que tendes sede do nosso amor. Desejo compreendê-lo melhor ainda/144 e responder ao
vosso desejo, ajudai-me, iluminai o meu espírito, aquecei o meu coração. Falai, Senhor,
que o vosso servo escuta.
Reflexões. – O amor que Nosso Senhor pede não dispensa das outras virtudes.
Deve, ao contrário, levá-las à perfeição. Os que O amam verdadeiramente observam
com rigor a pobreza, a castidade e a obediência, se são religiosos. Não procuram aqui
lasso adoçamento. Seguem com uma admirável fidelidade o que a sua regra lhes
prescreve.
As virtudes de que Jesus mesmo nos deu o exemplo não tomaram n’Ele o lugar
do amor pelo seu Pai, mas foram praticadas com amor. O amor fazia delas outros tantos
actos de caridade perfeita. Todos estes actos eram inspirados, sustentados e vivificados
pelo seu amor pelo seu Pai. É isto que nós podemos e devemos imitar.
O Salvador. – Não tomei apenas uma inteligência criada para apreciar o que
devia ao meu Pai, mas também um coração vivente e amante, um coração sensível e
bom para amar o meu Pai servindo-o e expiando as vossas ofensas. Dei a minha vida,
não com a amarga resignação de uma vítima, mas com o amor mais terno, com a
afeição mais profunda. Este grande amor merece bem um pouco de correspondência.
Esta correspondência, haveríeis de ma dar se viésseis até mim como uma vítima vem ao
seu carrasco? Se aceitais a imolação quotidiana dos votos como uma pura condenação?
Não, é pela caridade que podeis e deveis tornar o vosso holocausto perfeito e agradável
ao meu Coração.
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
lhe a sua vontade e empenham a sua liberdade pelo voto de obediência. Consagram-lhe
a sua carne pelo voto de castidade. Descansam sobre Ele do cuidado de prover aos
cuidados da sua vida pelo voto de pobreza. O fim que se propõem, é do o possuírem. Os
que lhe dão com tudo isso as afeições do seu coração, os que não consideram os três
votos como suficientes enquanto não lhe votaram o seu amor, estes têm sempre maiores
facilidades para praticarem na perfeição as virtudes do seu estado, /145 porque, ao dom
do seu coração, Jesus responde com graças de eleição.
Um religioso cuidadoso da sua perfeição não deve portanto dizer a si mesmo que
os três votos que fez tomam o lugar do amor. Não deve considerar-se como
irrepreensível agindo sem amor.
Não há almas cristãs que raciocinem assim de propósito, mas não as há que
actuem de facto como se pensassem assim? Leram que o temor é o princípio da
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
sabedoria e ficam aí. Esquecem que o amor de Deus é o fim mesmo do homem. Ser
chamado ao céu, é ser chamado a amar a Deus para sempre. Não está escrito em parte
nenhuma que seja necessário negligenciar este amor sobre a terra e reservá-lo para o
céu. O apóstolo S. Paulo amaldiçoa aqueles que não amam: Si quis non amat Dominum
nostrum Jesum Christum sit anathema (1Cor 16). Amar a Deus desde esta vida, é gozar
antecipadamente o céu.
As almas simples compreendem-no facilmente. Não lhes vem à mente que seja
necessário esperar a perfeição antes de serem admitidas a amar o Salvador. Não
consideram estranho nem perigoso ajudarem-se do amor para com a sua santa
humanidade, dos impulsos afectuosos do coração para servirem a Deus com mais
generosidade. Compreendem logo que querer ser santo, é querer amar a Deus e unir-se
a Ele. Dizem no seu coração: Mihi adhaerere Deo bonum est: A minha felicidade é
unir-me a Deus. Para as almas generosas, a união pelo amor faz-se sem esforço.
O Salvador. – Vir a mim com amor, não é omitir a fé, mas torná-la viva, porque
a fé não opera senão pela caridade. Também não é vir a mim com os trejeitos de uma
pieguice sem consistência; porque vir amorosamente a mim, o grande sacrificado, é ir
ao modelo de todos os sacrifícios; é vir colher no meu Coração e nos tesouros do meu
amor uma força a toda a prova, um sustento nos sofrimentos e nas cruzes.
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
dura um fogo de palha e que não produzem nada de durável. O sinal pelo qual se
reconhece um sentimento do coração, são as obras que inspira: Operibus credite (Jo 10,
38). Não basta alguém dizer que me ama, é preciso fazer o que Eu digo e fazê-lo de bom
coração. Tal deve ser o carácter dos fiéis e dos religiosos consagrados ao meu coração.
/147
AFECTOS E RESOLUÇÕES
RAMALHETE ESPIRITUAL
.-Filioli, non diligamus verbo neque lingua, sed opere et veritate (1Jo 3).
- Fides per dilectionem operatur (Gal 5).
- Si quis diligit me sermonem meum servabit (Jo 14, 23).
- Meus filhos, não amemos somente em palavras, mas em obras e em verdade (1Jo
3).
- A fé age pela caridade (Gal 5).
- Se alguém me ama, guardará as minhas palavras (Jo 14, 23). /148
150
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Meditemos nos meios de facilitar esta união. Estes meios são: viver
habitualmente numa doce intimidade com Jesus, - pensar n’Ele constantemente como se
151
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
pensa num pai, num amigo, num esposo, - /149 é também recorrer habitualmente a Maria
que quer ajudar a estabelecer este reino de amor.
II. Meditação
2. Meditação.
Os eleitos no céu glorificam a Deus Pai amando Nosso Senhor. Amar Nosso
Senhor, gozar amorosamente a sua posse, é a felicidade reservada aos seus santos. Os
que o amam desde a vida de provação, têm já um antegozo do céu. É mais doce servi-lo
por amor do que servi-lo friamente e por temor. Ele também gosta mais de ver amigos
do que servos. – Fazer reinar o seu Coração, é dar ao seu Coração esta satisfação de ter
amigos. Os padres de boa vontade que tiverem a generosidade de consagrar a sua vida a
amá-lo deverão dispensar as suas forças a conquistar-lhe este amor nas almas. O reino
do seu Coração deve ser um reino de amor, é, portanto, no e pelo amor que se há-de
estabelecer. Poderia estabelecê-lo por si mesmo no coração dos fiéis. Mas quis sempre
associar amorosamente às suas obras de graça, amigos cuja cooperação pediu. Para se
comunicar assim a muitas almas generosas quer servir-se dos padres consagrados e
zeladores fervorosos que sejam propagadores do seu reino de amor. Como fundou a sua
Igreja pelo ministério dos seus apóstolos e o sangue dos primeiros mártires, quer fundar
o reino do seu Coração, pelo ministério de novos apóstolos bastante generosos, para não
lhe pouparem o seu coração e a sua vida.
152
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
II. A união com Nosso Senhor é o meio de alimentar o amor por Jesus
Para alimentar nos seus corações o fogo sagrado do amor, os padres consagrados
ao Sagrado Coração devem viver na união com Ele. A sua maneira de lhe dar os seus
corações deve ser de viverem habitualmente numa doce intimidade com Ele. Esta
comunicação coração a coração deve reproduzir o comércio íntimo no qual Jesus vivia
com Maria e José. /150 Basta ao seu amor que a massa dos fiéis lhe vote a afeição que
uma criança amorosa dá ao seu pai. Aos seus padres, pede, ou antes oferece mais, quer
que o amem com uma maior ternura, que venham a Ele com o abandono de um amigo
que vai ao seu amigo, de um irmão que ama o seu irmão. Este abandono cheio de
simplicidade atraí-lo-á a eles e fará que Ele se lhes comunique com ternura.
Não se tem muitas vezes uma semelhante aplicação pelas coisas da ordem
natural? Um sábio persegue a ideia que o preocupa mesmo no meio do barulho; um
poeta contempla o seu sonho favorito mesmo no meio das situações mais absorventes.
Um amigo pensa no seu amigo ausente, um filho no seu pai, uma esposa no seu esposo.
Para os amigos do seu Coração, Jesus quer ser o pai, o amigo, o esposo. As diversas
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
circunstâncias da sua vida mortal são quadros que devem contemplar como o poeta
contempla os seus sonhos. Mas esta contemplação deve fazer-se com o coração mais do
que com a imaginação.
O Salvador. – Há alguma coisa de mais fácil do que vir a mim por estes meios
tão simples? O objecto sendo sobrenatural, o acto será sobrenaturalizado. Por estes
meios, será possível passar facilmente a própria vida na do meu coração. Os meus
padres devem empregar estes meios e fazer todos os esforços para serem os amigos do
meu Coração. A minha graça ajudá-los-á, o meu Pai e Eu habitaremos /151 neles para
lhes comunicarmos a graça do nosso Espírito.
Minha Mãe tem pressa de ver triunfar o meu amor. As suas preces apelam a
efusão. Ela envolverá de uma ternura muito especial os que quiserem trabalhar na
realização desta grande obra, tão cara ao seu coração. Os padres consagrados ao meu
Coração terão portanto nela uma Mãe particularmente terna e protectora à qual o meu
Coração de Filho não saberia recusar nada. É por ela que é preciso vir a mim, nas
dificuldades, é a ela que é preciso recorrer. Por ela alcançar-se-ão as graças de
contemplação que tornam fácil a união comigo.
AFECTOS E RESOLUÇÕES
Quero aplicar-me, Senhor, a viver nesta intimidade convosco que vós mesmo me
ofereceis. Que sejais o objecto contínuo das afeições do meu coração. Quero pensar em
vós habitualmente e afectuosamente. Irei a vós por Maria.
RAMALHETE ESPIRITUAL
- Si quis diligit me, sermonem meum servabit et Pater meus diligit eum et ad eum veniemus et
mansionem apud eum faciemus (Jo 14, 23).
- Vivo ego, jam non ego, vivit vero in me Christus (Gal 11, 20).
- Si quis non amat Dominum nostrum Jesum Christum, anathema sit (1Cor 16).
- Se alguém me ama, guardará os meus mandmentos, o meu Pai amá-lo-á, e
viremos a ele e faremos nele a nossa morada.
- Vivo, não porém eu, mas é Cristo quem vive em mim (Gal 2).
- Se alguém não ama Nosso Senhor Jesus Cristo, que seja anátema (1Cor 16)./152
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
TRIGÉSIMA MEDITAÇÃO
25. In illo tempore respondens Jesus dixit: Confiteor tibi, Pater, Domine coeli et terrae, quia
abscondisti haec a sapientibus et revelasti ea parvulis.
26. Ita, Pater: quoniam sic fuit placitum ante te.
27. Omnia mihi tradita sunt a Patre meo: Et nemo novit Filium, nisi Pater: neque Patrem quis
novit, nisi Filius, et cui voluerit Filius revelare.
28. Venite ad me, omnis qui laboratis, et onerati estis, et ego reficiam vos.
29. Tollite jugum meum super vos, et discite a me, quia mitis sum et humilis corde: et invenietis
requiem animabus vestris.
30. Jugum enim meum suave est, et onus meum leve.
25. Então Jesus disse estas palavras: Bendigo-vos, Pai, senhor do céu e da terra,
porque escondestes estas coisas aos sábios e aos prudentes, e as revelastes aos
pequenos.
26. Sim, Pai, porque é do vosso agrado.
27. Todas as coisas me foram dadas por meu Pai, e ninguém conhece o Filho
senão o Pai, como ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o
queira revelar.
28. Vinde a mim vós todos que andais cansados, e sobrecarregados, e Eu vos
aliviarei.
29. Tomai o meu jugo sobre vós, e aprendei de mim que sou manso e humilde de
coração; e encontrareis repouso nas vossas almas.
30. Porque o meu jugo é doce, e o meu fardo leve.
Sumário. - A paz da alma não se encontra senão na união com Deus. Sobre a
terra, esta união faz-se pela conformidade à sua santa vontade. Esta vontade é
conhecida, são os mandamentos de Deus para os fiéis, os conselhos e os deveres
especiais para as almas consagradas.
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
II. Meditação
2. Meditação.
O discípulo. – Bom Mestre, prometestes-nos a vossa paz, que hei-de fazer para a
adquirir?
Sobre a terra, a alma será tanto mais próxima desta quietude quanto mais perto
de Nosso Senhor estiver. A quietude sobre a terra não poderia ser completa, porque a
alma, por mais alto que se eleve no amor de Deus, pode sempre cair. A segurança só se
encontra no Céu. Entretanto a alma humana sente de tal modo a necessidade de paz e de
repouso que procura obtê-la por todos os meios. Sobre a terra, só pode existir uma paz
relativa, e esta não merece o nome de paz senão na medida em que é um
encaminhamento para a paz celeste, uma caminhada para o fim do homem que é a posse
de Deus em Nosso Senhor e por Ele.
O Salvador. – Vinde, pois, a mim, vivei em união comigo, vós que desejais esta
paz suave que ultrapassa todo o sentimento. Vinde; entrando nos corações, encho de paz
e de alegria.
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P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Reflexões. – Como é que se possui Deus e a paz que resulta da sua amizade?
Pela conformidade a sua santa vontade. Jesus di-lo no Evangelho: «não são aqueles que
dizem: ‘Senhor, Senhor’, que entrarão no céu, mas aqueles que fazem a vontade de meu
Pai».
A graça ajuda as almas a fazer esta vontade santa. Corresponder à graça que leva
as almas a fazerem a vontade de Deus é, portanto, o grande meio de chegar á paz da
alma.
157
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
O Salvador. – Este amor por mim dá uma grande força para o cumprimento da
vontade divina. É já por si mesmo o cumprimento do primeiro mandamento: Amareis o
vosso Deus. Mas há mais, obedecemos facilmente àquele que amamos. Obedecem-me
facilmente quando me amam, quando me seguem e quando me imitam. É o meio mais
fácil para chegar a esta conformidade à vontade divina que dá a paz da alma, a
confiança e uma antegozo do céu.
AFECTOS E RESOLUÇÕES
Não hei-de procurar a paz da alma noutro lugar que não no amor de Jesus. O seu
Coração é o lugar do meu repouso. Se o amo, tudo é bom para mim, a alegria ou o
sofrimento, a honra ou o desprezo.
Alimentarei este amor de Jesus no meu coração pela sua recordação frequente e
pela meditação habitual dos mistérios da sua vida mortal, da sua paixão e da sua vida
eucarística.
158
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
RAMALHETE ESPIRITUAL
- Tolllite jugum meum super vos et invenietis requiem animabus vestris (Mt 11, 28).
- Non in commotione Dominus (1Rs 19, 1).
- Pacem relinquo vobis, pacem meam do vobis (Jo 14, 27).
- Et pax Dei quae exsuperat omnem sensum, custodiat corda vestra et intelligentias vestras in
Christo Jesu (Fil 4, 7).
- Tomai sobre vós o meu jugo e encontrareis o repouso das vossas almas (Mt
11).
- Deus não se encontra na confusão (1Rs 19,1).
- Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz (Jo 14).
-Que a paz divina que ultrapassa todo o sentimento guarde os vossos corações e
as vossas inteligências em Cristo Jesus (Fil 4)./156
159
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
20. Dixit autem illis: Vos autem quem me esse dicitis? Respondens Simon Petrus dixit: Christum
Dei.
22. Dicens: quia oportet Filium hominis multa pati, et reprobari a senioribus et principibus
sacerdotum et scribis, et occidi et tertia die resurgere.
23. Dicebat autem ad omnes: si quis vult post me venire, abneget semetipsum et tollat crucem
suam quotidie et sequatur me.
20. Jesus disse-lhes: E vós, quem dizeis que Eu sou? Simão Pedro respondeu: o
Cristo de Deus.
22. Porque é preciso que o Filho do homem passe por grandes sofrimentos, que
seja rejeitado pelos anciãos, os príncipes dos sacerdotes e os escribas, que seja morto e
que ressuscite ao tereiro dia.
23. Depois dizia a todos: Se alguém quiser ser meu discípulo, renuncie a si
mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-me.
Sumário. – Há homens que se dão e que se dedicam até à morte por motivos e
por sentimentos puramente humanos, porque não o haveríamos de fazer por amor do
Salvador?
Os que levam a cruz por amor encontram a cruz suave. A contemplação de Jesus
subindo penosamente o calvário dá coragem aos que fraquejam.
160
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
II. Meditação
2. Meditação.
O discípulo. – Bom Mestre, quero seguir-vos; que devo fazer? Falai, eu farei
tudo por vosso amor. /157
161
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Reflexões. – As provas de amor que Jesus deu na sua dolorosa paixão são um
motivo bem suficiente de o amarmos. Os homens não hesitam em dar a sua afeição a
um dos seus irmãos que lhes tenha prestado algum serviço. E Ele esgotou todos os
sacrifícios que um homem pode fazer. Podendo pela união da sua humanidade à sua
divindade gozar das maiores delícias e operar a salvação dos homens sem sofrer,
voluntariamente sacrificou as alegrias do céu para abraçar uma vida de provações e de
sofrimentos, terminada com uma morte ignominiosa. Só no céu é que havemos de
compreender a extensão do sacrifício que Ele abraçou. Compreenderemos toda a
162
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
profundidade do seu amor. Não são estes motivos suficientes para excitar nos homens
que Ele tanto amou o desejo de lhe oferecerem o seu coração em retorno? Não é
suficiente esta luz para estarmos seguros de não caminharmos nas trevas? Seriam
necessários tantos raciocínios para o amarmos, se meditássemos nestas coisas com o
nosso coração? Ele fez isto para a glória de seu Pai, fê-lo também pelos seus irmãos,
porque os ama, porque queria provar-lhes o seu amor e forçar de algum modo a porta
dos seus corações.
É o único meio de caminhar no meu seguimento, porque a minha vida, essa foi e
será sempre uma vida de amor.
AFECTOS E RESOLUÇÕES
Senhor, agarro-me ao vosso amor, ao vosso Coração para não mais dele me
afastar. As renúncias, os trabalhos, as fadigas, os sofrimentos não me custarão na
medida em que os abraçar por vosso amor. Serei feliz por poder sofrer alguma coisa por
vós.
RAMALHETE ESPIRITUAL
163
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
- Caminhai nas vias da caridade, como Cristo nos amou e se entregou por nós (Ef
5, 2).
- Nas tribulações superamos a falta de coragem pelo amor de Cristo (Rom 8,
37)./160
164
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
DA FORÇA NO AMOR
6. Pone me ut signaculum super cor tuum, ut signaculum super brachium tuum: quia fortis est ut
mors dilectio, dura sicut infernus aemulatio: lampades ejus, lampades ignis atque flammarum.
7. Aquae multae non potuerunt extinguere charitatem, nec flumina obruent illam: si dederit
homo omnem substantiam domus suae pro dilectione, quasi nihil despiciet eam.
6. Coloca-me como um selo sobre o teu coração e como um selo sobre o teu
braço: porque o amor é forte como a morte e a inveja é tenaz como o inferno: as suas
lâmpadas são lâmpadas de fogo e de chamas.
7. Águas caudalosas não puderam extinguir o amor, e os rios não o destruíram:
se um homem desse toda a sua fortuna pelo amor, consideraria isso como nada.
Sumário. – O amor verdadeiro deve ser generoso e invencível. Deve mostrar-se
forte na observância da lei. – Deve permanecer forte nas provações. – Deve ser forte e
corajoso na acção e nas ocupações da vida quotidiana.
II. Meditação
2. Meditação.
165
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Amar Nosso Senhor, é preferi-lo a tudo, colocá-lo acima de tudo /161 Não é da
natureza do amor preferir a tudo o mais o objecto ao qual dedicamos as nossas
afeições? Não podemos dizer sem cessar a Nosso Senhor, que o amamos, mas podemos
sempre dar-lhe provas do seu amor em todos os actos da vida orientando-os e
regulando-os para Ele e para o seu Pai celeste. Tratando-se de escolher entre uma coisa
proibida e uma coisa permitida, aquele que ama Nosso Senhor não tem mesmo
necessidade de deliberar: o que é proibido ofende a Nosso Senhor, e um amante não
pode ofender de propósito deliberado o seu bem-amado.
A luta contra as paixões, luta incessante, corajosa, heróica mesmo se for preciso,
será a primeira prova de amor, e esta prova será permanente, porque sempre aquele que
ama há-de encontrar no seu coração um socorro poderoso para suster a sua vontade e a
dirigir na via dos mandamentos.
O Salvador. – Sim, a coragem com a qual se observa, por meu amor, os meus
preceitos e os da minha Igreja, é uma medida certa do amor que me dedicaram. A força
na obediência é o primeiro fruto do meu amor.
Reflexões. – É sobretudo quando é preciso sofrer que se revela toda a força que a
alma colhe no amor do divino Coração de Jesus. – Charitas patiens est. – Esta paciência
a suportar tudo o que fere a natureza, encontramo-la sempre quando amamos.
166
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
fornalha poderosa que nem as vagas nem as torrentes hão-de extinguir. Quem ama dá
tudo e sofre tudo pelo objecto amado e conta isso como se nada fosse»/162
Se quisermos dar-nos conta do grau de amor que temos por Nosso Senhor, basta
considerarmos o modo como suportamos as provações. – Charitas omnia suffert, omnia
sustinet. – A paciência e a força no sofrimento são, portanto, sinais infalíveis de
caridade, quando esta paciência e esta força estão baseadas no amor que se dedicou a
Nosso Senhor. Os que O amam extremamente não são apenas pacientes e fortes, são
alegres por terem em tal ou tal sofrimento uma ocasião de lhe provarem o seu amor. O
amor pela cruz é o mais precioso de todos os frutos produzidos pelo seu amor.
O Salvador. – Foi o amor pelo meu Pai e por todos vós que me susteve em todas
as minhas tribulações e sofrimentos. Foi o ardente amor dos apóstolos e dos mártires
para comigo que os encorajou e os fortificou nas humilhações e nas provações.
«Voltavam alegres dos interrogatórios, diz o livro dos Actos, porque tinham tido a graça
de sofrer por amor do meu nome: Ibant gaudentes a conspectu concilii, quoniam digni
habiti sunt pro nomine Jesu contumeliam pati».
167
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
amor a Nosso Senhor, mas são felizes por o poderem provar através das suas obras
exteriores. Não se lamentam pela parte que lhes é entregue pelos seus superiores,
porque sabem que a vontade divina é que façam o que lhes é ordenado, e não o que mais
lhes poderia agradar /163 à sua imaginação. A pronta e alegre obediência é, portanto, para
eles um meio de proporcionar a Nosso Senhor que O amam, porque sabem bem que esta
obediência mesma é a prova de amor que Ele lhes pede. Vão, portanto, à acção e vão
com zelo. Consagram à obra que lhes é pedida todo o cuidado de que são capazes. São
felizes por pensarem que Nosso Senhor os olha, que segue com atenção benevolente
tudo o que fazem para lhe agradar, e este sentimento, ao reavivar o ardor do seu
coração, dá-lhes novas forças.
AFECTOS E RESOLUÇÕES
O meu amor por vós deve testemunhar-se através de uma dedicação incansável e
de uma coragem invencível ao vosso serviço. Mesmo as provações não me devem
desencorajar. É como pai que me castigais e me corrigis e devo abraçar a vossa mão que
me bate para o meu maior bem. Oferecer-vos-ei fielmente todas as minhas acções e as
minhas penas em espírito de amor e de dedicação./164
168
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
RAMALHETE ESPIRITUAL
169
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
DA PERSEVERANÇA NO AMOR
35. Quis ergo nos separabit a charitate Christi? Tribulatio? An angustia? An fames? An
nuditas? An periculum? An persecutio? An gladius?
36. (Sicut scriptum est: quia propter te mortificamur tota die: aestimasti sumus sicut oves
occisionis).
37. Sed in omnibus superamus propter eum qui dilexit nos.
38. Certus sum enim quia neque mors, neque vita, neque angeli, neque principatus, neque
virtutes, neque instantia, neque futura, neque fortitudo.
39. Neque altitudo, neque profundum, neque creatura alia poterit nos separare a charitate Dei
quae est in Cristo Jesu Domino nostro.
35. Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação? A angústia? A fome? A
nudez? O perigo? A perseguição? A espada?
36. (Como está escrito: Nós estamos expostos à morte por vós todos os dias,
somos vítimas de imolação).
37. Mas seremos vitoriosos sobre tudo isso por aquele que nos amou.
38. Estou seguro de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os
principados, nem as virtudes, nem o presente, nem o futuro, nem a força.
39. Nem as alturas, nem as profundidades, nem nenhuma criatura poderá
separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus nosso Senhor.
Sumário . – A força que dá o amor não é passageira, é perseverante como ele
mesmo.
II. Meditação
2. Meditação.
170
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
O discípulo. – Eu vos amo, ó meu bom Mestre, mas o meu amor é ainda fraco.
Queria que fosse mais firme e mais constante, fortalecei-o e tornai-o perseverante e
inabalável.
Renunciar a amá-lo quando alguém lhe deu uma vez o seu coração seria uma
verdadeira apostasia. Porque é que seria substituído este amor, se alguém o expulsasse
do seu coração? Omni tempore diligit qui amicus est: O verdadeiro amigo ama com
perseverança (Prov. 17). Não deveria corar quem se comportasse com Nosso Senhor
como estes homens de coração mutável e móvel, que passam sem razão de uma afeição
a outra e vão assim de ídolos para ídolos, como as crianças vão de um jogo para outro?
O salvador. – Quem não vê que há nos caprichos pelos quais alguém se afasta de
mim uma grave injúria feita ao meu Coração? Não tenho porventura o direito de me
sentir ultrajado, quando se comportam para comigo com esta ligeireza inqualificável?
Porque é que o mais das vezes não têm perseverança? Porque lhes falta a coragem.
171
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Não há outro termo para qualificar o acto do soldado que abandona o seu posto
em presença do perigo. Comportam-se como um soldado de parada, bom quando muito
para se envaidecer de manobras sem perigo nas quais é admirado. Quando assim se
comportam para comigo, há mais do que cobardia. Há um ultraje ao qual sou muito
sensível. O amor é delicado, é preciso não o esquecer. Se as mais pequenas coisas
ferem a sua delicadeza, que dizer das infidelidades vergonhosas e ultrajantes inspiradas
pela cobardia? Peço, pois, acima de tudo, a perseverança. /167 Quem não sabe perseverar
no meu amor não me ama, seja o que for que diga para se enganar a si mesmo.
Todas as desculpas que possa alegar-se não são senão derrotas do amor-próprio.
Para uma alma consagrada ao Sagrado Coração, amá-lo é agarrar-se a Ele tão
profundamente, tão intimamente, tão fortemente, que esteja pronta a com tudo arrostar
ante que consentir dele se separar.
172
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
O Salvador. – Sem dúvida os actos heróicos são raramente pedidos, mas quem
quer viver em graça comigo deve, de necessidade de preceito, suportar muitas lutas.
Deve perseverar nestas lutas com uma grande coragem. Esta coragem, esta perseverança
são necessárias a todos os cristãos. Porque é que haveria de hesitar-se em fazer por meu
amor o que é preciso fazer-se por necessidade de salvação? Aqueles que se ajudam do
amor encontram forças desconhecidas aos outros, porque obtêm um socorro
sobreabundante da minha graça, sempre pronta a expandir-se nos corações que me
amam. O amor dá tanta força como o temor e dá uma força doce, cheia de confiança na
bondade daquele ao qual nos demos para o amarmos.
173
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
salutar inspirou aos santos penitentes, mas que o façam por meu amor, para me
provarem a sinceridade da sua oblação e da sua doação.
AFECTOS E RESOLUÇÕES
RAMALHETE ESPIRITUAL
174
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
ÍNDICE
PREFÁCIO ........................................................................................ 1
PRIMEIRA MEDITAÇÃO................................................................................ 2
II. Meditação.............................................................................................. 2
Afectos e resoluções........................................................................... 6
Ramalhete espiritual........................................................................... 6
SEGUNDA MEDITAÇÃO................................................................................ 7
II. Meditação.............................................................................................. 7
Afectos e resoluções......................................................................... 11
Ramalhete espiritual......................................................................... 11
II. Meditação............................................................................................ 12
175
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Afectos e resoluções......................................................................... 15
Ramalhete espiritual......................................................................... 16
QUARTA MEDITAÇÃO................................................................................ 17
II. Meditação............................................................................................ 17
Afectos e resoluções......................................................................... 21
Ramalhete espiritual......................................................................... 21
OS BENEFÍCIOS DE DEUS....................................................................... 22
II. Meditação............................................................................................ 22
III. Deus deu-nos o seu próprio Filho para nos salvar ........................... 25
Afectos e resoluções......................................................................... 26
Ramalhete espiritual......................................................................... 26
176
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
II. Meditação............................................................................................ 29
Afectos e resoluções......................................................................... 31
Ramalhete espiritual......................................................................... 32
SÉTIMA MEDITAÇÃO.................................................................................. 33
II. Meditação............................................................................................ 34
COLÓQUIO .................................................................................... 35
Resoluções ....................................................................................... 37
Ramalhete espiritual......................................................................... 38
II. Meditação............................................................................................ 40
I. O sacrifício do altar........................................................................... 40
177
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
COLÓQUIO .................................................................................... 40
RAMALHETE ESPIRITUAL.......................................................... 43
NONA MEDITAÇÃO..................................................................................... 45
II. Meditação............................................................................................ 45
II. Que dons preciosos sobretudo são os sacramentos que dão a vida
espiritual! ........................................................................................................ 47
RAMALHETE ESPIRITUAL.......................................................... 49
DÉCIMA MEDITAÇÃO................................................................................. 50
II. Meditação............................................................................................ 51
178
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
RAMALHETE ESPIRITUAL.......................................................... 54
II. Meditação............................................................................................ 56
III. A alma amante está numa doce segurança quanto à sua perseverança
final................................................................................................................. 59
RAMALHETE ESPIRITUAL.......................................................... 60
II. Meditação............................................................................................ 61
RAMALHETE ESPIRITUAL.......................................................... 65
II. Meditação............................................................................................ 67
179
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
I. Nosso Senhor deseja que O amemos por Ele mesmo e não por nós ... 67
RAMALHETE ESPIRITUAL.......................................................... 70
II. Meditação............................................................................................ 71
I. A afeição por Nosso Senhor deve ser profunda e encher o coração ....... 72
RAMALHETE ESPIRITUAL.......................................................... 76
II. Meditação............................................................................................ 77
180
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
RAMALHETE ESPIRITUAL.......................................................... 81
II. Meditação............................................................................................ 83
RAMALHETE ESPIRITUAL.......................................................... 87
II. Meditação............................................................................................ 88
RAMALHETE ESPIRITUAL.......................................................... 92
SOBRE A ORAÇÃO................................................................................... 94
II. Meditação............................................................................................ 94
181
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
RAMALHETE ESPIRITUAL.......................................................... 98
FÉ E CONFIANÇA................................................................................... 105
II. A vida de amor exclui os olhares inquietos sobre nós mesmos e sobre
os nossos progressos...................................................................................... 107
182
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
III. A via do amor pede ainda que se vá ter com Deus com confiança,
mesmo nas tentações e nos abandonos........................................................... 108
II. Deus estabeleceu os seus ministros para a condução das almas .......... 111
II. Deus é a fonte do amor, dá-o àqueles que se dão a Ele................... 117
III. É preciso ser generosos e fiéis para não nos retomarmos .............. 117
183
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
II. Devemos oferecer-nos a Nosso Senhor por amor como Ele se ofereceu
ao seu Pai ...................................................................................................... 122
184
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
II. O cristão está obrigado a desenvolver este hábito por actos frequentes
...................................................................................................................... 133
III. Que meios é preciso tomar para praticar estes actos...................... 133
III. Meio de obter esta união pela prática das oferendas, das resoluções e
dos exames .................................................................................................... 139
I. O amor por Deus supõe o ódio a tudo o que dele nos afasta ............ 142
185
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
I. A alma que ama Jesus é feliz aqui em baixo e agrada a Jesus .......... 152
II. A união com Nosso Senhor é o meio de alimentar o amor por Jesus
...................................................................................................................... 153
186
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
II. Sobre a terra é possível possuir-se a paz da alma pela união à vontade
de Deus ......................................................................................................... 157
III. A Paixão de Jesus é um outro motivo de lhe dar o nosso amor...... 162
187
P. DEHON - VIDA DE AMOR
Tradução: P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
III. O amor deve ser forte nas ocupações da vida quotidiana............... 167
ÍNDICE.......................................................................................... 175
188