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Ruanda, Burundi e Congo, têm sido manchete nos jornais e telejornais 1. Mas o que
aprofundarmos esta questão com uma visão crítica, veremos que a raiz do problema
não é tão simplista, existem vários aspectos que confluem para dar origem as estes
conflitos que vão além do problema étnico, quebrando com a explicação mecanicista
promotoras do massacre mútuo, o rádio foi usado por ambas as partes para
Apesar do discurso da FPR que diz que não existem BaHutu, BaTutsi e BaTwa,
mas sim ruandeses, se um Hutu entra para a FPR, mesmo assim, ele não
Adentremos agora nos cinco aspectos que, para nós, foram importantes para a
A região dos Grandes Lagos foi primeiramente povoada pelos pigmeus BaTwa,
região por BaHutu, sofreram a dominação Tutsi, que firmou-se como a classe
dominante, já que possuía em suas mãos as artes da guerra (MELO, 1999, p.79).
população, formavam uma elite detentora dos rebanhos e terras. Os BaHutu , 90%
importantes para essa elite. Além disso, os BaTutsi possuíam maior estatura que os
elite a partir da criação de uma ideologia racista. Segundo Vizentini (2003, p.111), o
conflito entre Hutus e Tutsis “foi mostrado pela mídia como uma decorrência do
que havia entre as etnias, já que a elite não mais cumpria a sua parte na relação de
humano. Os belgas criaram uma ideologia racista onde se afirmava que os BaTutsi,
eram negros “mais evoluídos”, ou seja, tinham uma ascendência branca, já que
eram altos e vinham da região da Etiópia. Assim a maioria Hutu foi extremamente
Burundi. Assim:
Independência em Ruanda e Burundi (ambos em1962), não eram algo que estava
dos belgas acordou; devemos visualizar estes conflitos como fruto da apropriação
do século XIX, isto fez com que se criassem unidades territoriais que separavam
Ruanda, Burundi, Uganda e Congo Belga. Mas a questão da fronteira nesta região é
complexa, não houve, por exemplo, choques por causa de disputas fronteiriças, os
conflitos só ocorrem quando uma das etnias é expulsa do seu país e volta mais
5 Os BaHutu, no processo de Independência, costumavam cortar com facões pedaços das pernas de
BaTutsi, eram um modo cruel e simbólico de exigir a igualdade.
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tarde com um grupo de guerrilheiros prontos para lutar, como no caso da Frente
Burundi, a fronteira não é uma causa direta do conflito, mas indiretamente ajudou na
sua difusão. A migração causava uma pressão nas fronteiras, e os refugiados muitas
vezes se armavam para voltar a Ruanda e Burundi, ajudando sua respectiva etnia.
até os dias atuais”. Desse modo, os conflitos entre BaHutu e BaTutsi aconteceram
estes conflitos estão ligados a questão político-social, que justamente tem um valor
étnico. Em outras palavras, uma etnia era formada pela elite e a outra pela
por isso causam conflitos entre os Estados ou dentro deles”. Se analisarmos melhor,
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veremos que toda fronteira é artificial, ou seja, uma construção histórica, seja na
Chaliand (1982, p.34) também coloca a distorção das economias – com “[...]
sendo que o conjunto do sistema é regido pela desigualdade das trocas entre países
no campo político.
uma rede militar no Congo para explorar minerais estratégicos como o coltan
do território congolês. Cabe lembrar que existe uma população Tutsi no Congo,
Lagos, era muito próxima ao dirigente Hutu burundinês Leonard Nyangoma e até
pouco tempo ela era a principal abastecedora de armas aos rebeldes ruandeses
BaHutu. Hoje em dia, por causa do dinheiro, Azazi trabalha para a FPR Tutsi, que se
[...]a região, nos últimos anos, tem sido palco de disputa entre EUA e
França pelas reservas minerais dos dois países [Ruanda e Burundi]. A
França passou a denunciar a presença norte-americana em Ruanda e
Uganda desde 1995. Além de financiar o exército ruandense, as empresas
mineradoras norte-americanas contratam mercenários para treinar os
soldados tutsi. De olho nas reservas de zinco, cobre e diamantes, os EUA
despejam material bélico na região[...] Enquanto a França apóia os hutus,
os tutsis assinam contratos cedendo o direito de exploração mineral às
emrpesas mineradoras dos EUA. O Exército tutsi garante às mesmas uma
força permanente de intervenção na defesa dos seus interesses. Prova
disso foi a participação dos tutsis no golpe de Estado no Congo. Os tutsis,
apoiados pelos norte-americanos derrubaram um governo apoiado pela
França. (MELO, 1999, p.87)
Chaliand (1982, p.28) faz uma síntese que engloba o caso de Ruanda e
Burundi:
doentes do mundo são africanos. A cada ano nascem 600.000 crianças soropositivo,
90% são africanas. A falta de higiene, informação, juntamente com a avareza das
humanos a morte em prol do lucro. A cólera e o ebola são outras doenças que
Samuel Huntington, preferem creditar aos conflitos atuais no mundo - entre eles os
Mas esta visão é típica daqueles que preferem ver a realidade fragmentada,
entre pobres e ricos, na Nova Ordem Mundial, são inexpressivos perto dos “choques
civilizacionais” é algo tão errôneo como dizer que a França ajudava o regime do
BaHutu, mas como vimos o que mais pesa é a exploração “cultural” dos minérios
congoleses. Outra prova da falácia desta teoria é a situação dos BaTutsi , refugiados
em Uganda, que após a vitória da FPR, retornaram aos milhares para Ruanda: com
no Burundi.
uma síntese que supere as fissuras criadas entre BaHutu e BaTutsi. O colonialismo
utilizando-se da divisão étnica para melhor pilhar as riquezas da região. Mas não
afastar-se das visões que ditam ser a história da África, somente a História do que
aspecto mais relevante quanto à origem dos conflitos. Importância cabal tem o
que o discurso étnico, é o modo como BaHutu e BaTutsi se utilizam para disputar o
como o coltan, surgindo uma nova configuração na região6: uma rede intrincada de
que lucra não só com a exploração de minério, mas também com o comércio de
étnicos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DÖPCKE, Wolfgang. A vida longa das linhas retas: cinco mitos sobre as
fronteiras na África Negra. Revista Brasileira de Política Internacional, Ano
42, nº1, p. 78-108, 1999.