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De novo a esperança

Luís Antonio Groppo

Quando escrevi meu último texto, já tinha em parte entrado em um clima de derrota, desejando mais
entender o que está acontecendo e denunciar a manipulação, pelas mídias sociais, das opiniões e
sentimentos das pessoas. Disse que ia escrever a seguir sobre o voto das classes médias no capitão,
provavelmente movido a certo rancor.

Mas duas coisas me fizeram mudar de ideia. Primeiro, as pesquisas eleitorais indicam que há ainda
alguma esperança de reversão do resultado – há algo mais do apenas lembrar do ditado de que a luta
só termina quando soa o gongo, ou o derrotado desaba. Segundo, Pablo Ortellado, em post no Face,
disse que não é o caso de brigar com os eleitores “comuns” que dizem votar no capitão, que é
preciso entender os significados disso, compreender quais demandas, expectativas e angústias o
militar reformado, de algum modo, conseguiu atrair.

Sobre o primeiro ponto: há chance de reverter o quadro, ainda mais se vingar a prática e a imagem
de uma Frente Ampla – da esquerda ao centro político – pela democracia, pela república e até pela
civilização. Acredito que isso ainda não é apelo pequeno.

As falas do clã do capitão só têm dado razão a uma Frente como essa, que calhou ter o Haddad
como candidato. Estas falas ameaçam as instituições do país, inclusive aquelas que têm estado
pouco atentas à preservação da democracia, como o Supremo Tribunal Federal. Elas ameaçam
fisicamente os opositores e já fazem esvair ainda mais a democracia como estado de cultura em
nosso país: ainda há democracia em um país em que as pessoas têm medo de exibir publicamente
suas opiniões políticas? As falas do clã incitam o clima de medo e o projetam para um suposto
governo do capitão. Ora, a política baseada no medo – medo que antecipa ou acompanha a violência
– é a principal base da política fascista.

Em relação aos eleitores do militar reformado, é difícil dialogar com todos, talvez com a maioria.
Por exemplo, os que adotam o discurso de que aqueles que são contra – ou mesmo fazem críticas
pontuais – ao capitão são “comunistas” (cabendo no rótulo, de autênticos esquerdistas radicais até a
Globo e Folha de São Paulo). As grandes mídias e a imprensa parecem tremer nas bases também,
acossadas pela política do medo. Afinal, o capitão deu sua virada com base na manipulação e no
exército de robôs operando nas redes sociais – ainda que as grandes mídias foram importantes para
criar o mito do PT como quadrilha, favorecendo indiretamente ao capitão.

Mas em relação ao discurso do “comunismo”, balaio de gatos de argumentação muito raivosa e


pouco racional, o que mais se revela são os espectros mal enterrados (ou não enterrados) de
violência da história do nosso país – segundo a imagem de Vladimir Safacle no belo texto “Um dia,
essa luta iria ocorrer”). Espectros como o bandeirismo, o escravismo e a tortura operada pelas
ditaduras. Espectros que se apossam de vários corpos, em especial na elite e na alta classe média.
Difícil argumentar contra esse discurso, pois ele não quer ouvir nada que dele discorde. Não é aqui
a nossa luta atual – não agora.

Há, sim, os eleitores “comuns” que declaram voto no capitão que é preciso ouvir, tentar entender,
quiçá argumentar e ajudar a repensar a posição. Esse voto revela várias coisas. Uma delas é o limite
e a fragilidade das políticas sociais e redistributivas dos governos Lula e Dilma, que se quase
acabaram com a miséria e reduziram muito a pobreza em nosso país, tiveram seus resultados em
parte relevante regredidos com a crise econômica – ainda durante o governo Dilma. Outra, é a
violência contra a pessoa e a propriedade, que continuou durante os governos petistas e continua
com altos índices, atingindo também as pessoas das classes médias baixas e populares. Para essas, a
defesa das políticas sociais dos governos petistas têm efeitos limitados. Por outro lado, a imagem do
governo de “mão forte”, da aplicação de penas mais severas e até da liberação da compra de armas
têm sido – infelizmente – bem-sucedida.

Há também, mas disto eu já comentei em meu último texto, os eleitores das classes populares que
têm valores conservadores arraigados – como o preconceito contra a população LGBTT –
manipulados via redes sociais.

Para esses eleitores “comuns”, penso que não se trata, agora, para reverter as eleições, de fazer
principalmente a defesa do PT, nem mesmo a defesa cega do legado social dos governos
Lula/Dilma, mas, antes, de promover a imagem de uma Frente ampla democrática que luta para
deter o avanço fascista e o risco de um desmoronamento do tecido social. Aliás, esse
desmoronamento poderia nos levar a uma guerra civil, talvez. Os índices de violência no Brasil são
mostras da potência deste risco latente.

Dialogar com indecisos, com aqueles que declaram que vão votar em branco ou nulo, ou os que
pretendem não comparecer às eleições, é importante também. Aos anteriores, e mais ainda a esses,
vale a pena conversar respeitosamente e não apenas falar, mas também ouvir. Vale, enfim, defender
o legado republicano, civilizacional e humano (inclusive presente nas religiões seguidas no Brasil)
que está sendo ameaçado. Legado do qual muitos estão abrindo mal em troca de uma suposta
segurança da mão forte, convencidos por uma prática política tipicamente fascista, a política do
medo.

De novo a esperança não deixa de lembrar o que Lula disse quando ganhou sua primeira eleição
presidencial: “A esperança venceu o medo”. Tratava-se de um medo irreal que, no final da
campanha, tentou-se imputar à figura de Lula e ao PT. Mas o medo a vencer agora ainda é mais
perigoso, espalhado e enraizado. Tão forte que, caso consigamos reverter o quadro e vencer o 2 o
turno, não será a primeira vitória necessária. Outras lutas virão, contra a contestação do resultado.
Depois, para o eleito assumir. Ainda, para o presidente conseguir governar.

Uma luta por vez, a esperança contra o medo, em especial o medo que o fascismo têm colocado
dentro de nós mesmos.

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