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CENTRO DE HUMANIDADES
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA
DOUTORADO EM SOCIOLOGIA
E “AUTO-IMAGEM”
FORTALEZA –CE
2006
1
FORTALEZA –CE
Março de 2006
2
____________________________________________________________
Prof. Dr. Gilmar de Carvalho
Agradecimentos
Aos professores Jacob Carlos Lima, Moacir Palmeira e Domingos Abreu, que em
diferentes momentos leram e comentaram o que viria a ser essa tese.
Aos colegas que leram e comentaram as sucessivas versões deste texto: Ângela
Julita, Iara Araújo, Roseane Nicolau, Maria Meirice e Lindomar Coelho. As sugestões
de vocês fizeram deste um trabalho muito melhor.
A minha turma de doutorado. Meninas, vocês foram e são como uma canção de
Paulinho da Viola: tranqüila, honesta e elegante. O companheirismo de vocês foi a
mais rica experiência deste período de minha formação.
Ao “pessoal lá de casa”. Vocês foram ótimos nesse tempo todo. Perdoaram minhas
omissões e me cobraram quando necessário. O afeto de vocês está em cada página
deste texto.
A Vancarder Brito Sousa. Porque eu não teria conseguido sem você. Seu apoio nos
momentos finais da escrita foi decisivo, sua presença percorre esse trabalho, e tem
tornado minha vida muito mais feliz.
À Nádia, Lenildo, Ângela, Violeta, Sandra Rocha e Meirice. A amizade de vocês fez
estes anos muito mais leves.
5
À minha amiga Evanira, que um dia impediu que a agência dos Correios fechasse
antes que eu postasse minha inscrição de seleção ao doutorado. Essa tese não
existira sem aquele seu gesto. Minha gratidão por todos os auxílios e meu enorme
carinho por você, César e toda a família.
Fernando Pessoa
7
SUMÁRIO
Introdução ................................................................................................................11
Considerações finais.............................................................................................206
Referências bibliográficas.....................................................................................212
Anexos.....................................................................................................................223
Anexo 1- Mapa de Fortaleza- Rádios visitas/pesquisadas.......................................224
Anexo 2 (a) – Informativo CEPOCA – Outubro de 1990..........................................225
Anexo 2 (b) – Informativo CEPOCA – Fevereiro de 1991........................................227
Anexo 3 – Quadro de diferenciação das radiocom frente as rádios
comerciais................................................................................................................229
Anexo 4 – Quadro de matérias publicadas pelo “Boletim Abraço no Ar” e pelo “jornal
Abraço no Ar” entre 1997-1999................................................................................231
Anexo 5 –“Código de ética das rádios comunitárias”...............................................235
Anexo 6 – “Crônica de Itamar”.................................................................................237
9
RESUMO
ABSTRACT
The present work evaluates the struggle found within the field of community radios in
relation to the meaning of what a “community radio” is. Beginning with the category
“self-image”, considered as a relational construct, the process of community radios’
image built-up is discussed considering its relationship to several segments and
social concerns. The research is directed mainly towards the community radios’
universe in the city of Fortaleza, Ceara, and aims at understanding the struggle
environment considering a long course approach extending from the founding
movement of community radios that took place in 1980 in the city to present day
bringing it closer to the development path of the mass media in Brazil.
INTRODUÇÃO
1
“A Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática, encarregada de debater este
assunto [o texto da lei de radiodifusão] tinha em 1996, 51 membros, 40 dos quais eram
concessionários de rádio e televisão” (COELHO NETO, 2002, p. 29).
2
Como antes de 1998 não havia legislação específica para radiodifusão comunitária qualquer
atividade deste tipo era considerada crime federal, passível de punição aos seus infratores.
3
A dissertação intitulada “Memória e Dádiva em uma rádio comunitária” foi defendida em agosto de
2000 junto ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal da Paraíba.
13
4
Fala presente em um dos textos do jornal “ABRAÇO no Ar”, de novembro de 1997. O jornal era o
informativo da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária, entidade a qual a Arcos-CEPOCA
era então filiada.
14
Penso que este conflito resulta de uma complexa trama. Como já mencionei,
a histórica concentração dos meios de comunicação no Brasil e o delicado problema
da democratização destes é um dos fios dessa malha, cenário onde se desenvolve
uma série de outros elementos, como a relação da comunicação comunitária com o
mercado, representado pelas rádios comerciais e seu modelo de fazer rádio; a
relação com o Estado e seus mecanismos de controle; e ainda a relação com os
ouvintes, que passam a ser disputados com as tradicionais rádios comerciais.
5
Essa questão parece revelar uma das faces da estrutura de comunicação do Brasil e das atuais
transformações que estão em curso.
6
“Dial” é o dispositivo presente nos aparelhos de rádio (os rádio receptores), cuja função é sintonizar
uma determinada freqüência.
15
Grande parte destas questões passa pela construção da imagem das rádios
comunitárias. Os investimentos na elaboração de uma definição, o que implica a
aceitação de distinções e singularidades das rádios comunitárias frente às rádios
comerciais, cujos parâmetros não são consensuais, são parte importante da
dinâmica do conflito.
e tem papel importante nos processos de publicização das rádios e de seu trabalho
junto lugares onde se localizam.
7
Na medida em que seu significado é usado em uma arena de disputa de poder. Segundo Bobbio
(2004, p.954), “o conceito de política, entendida como forma ou atividade ou práxis humana, está
estreitamente ligado ao de poder”.
18
Foi a leitura de uma matéria jornalística8 que me revelou pela primeira vez a
existência das radiocom. Aspectos sobre esse tipo de comunicação e o seu
significado social me foram pela primeira vez apresentados lá. Pouco tempo depois
tomei as radiocom como objeto de pesquisa (MATOS, 2000), como já mencionei.
Participações em encontros de rádios comunitárias, pesquisa de campo sobre as
rádios comunitárias de Fortaleza-Ce (MATOS, 2000) e leituras diversas me
permitiram entender melhor este universo, indicando inclusive a atual direção de
meu interesse, a questão do conflito. Essa perspectiva relacional pressupõe que o
cruzamento entre estes diferentes agentes e elementos permitiriam perceber como
se processa a disputa e sobre o que ela opera. Para dar conta deste intento um
variado circuito de fontes foi percorrido.
8
A matéria intitulada “Escândalo no ar”, de Nivaldo Manzano, publicada pela Revista “Caros Amigos”
(ano 1, número 2, em maio de 1997), discorria sobre várias experiências de radiofonia comunitária
existentes no Brasil.
9
Cujo endereço é radiolivre@e-grupos.com.br.
19
10
Algumas emissoras operam pelo sistema de alto-falantes ou caixinhas, tendo uma audiência
restrita aos bairros ou ruas onde se localizam. Estas rádios irradiam seu som através de alto-falantes
dispostos em algum ponto do bairro, ou através de caixas de som atadas aos postes de iluminação
ou casas ao longo das vias de um bairro.
11
Através da audição do rádio, na faixa de freqüência modulada, identifiquei 19 emissoras não
outorgadas no ar. Entretanto considero que esse número possa ser bem maior. Dado que o método
de audição é bastante parcial, pois, dependendo da área da cidade onde é feita revela um conjunto
de rádios mas pode omitir outras tantas. Isto porque a captação se dá apartir do sinal da emissora em
relação à localização da escuta. A audição foi feita no Benfica, bairro próximo ao Centro da cidade.
20
12
FM é a modalidade de serviço de radiodifusão que opera na faixa de 87,8 MHz a 108 MHz, com
freqüência modulada.
13
Realizado em Belo Horizonte - MG, de 02 a 06 de setembro de 2003.
21
CAPÍTULO I
Como afirma Ortiz (1995, p.153): “entre nós é o Estado militar quem
promove o capitalismo em seu estado avançado”. O que terá repercussão na
constituição e consolidação de um mercado de bens simbólicos, que se desenvolve,
sobretudo, nos anos 1970 e 1980. Assim, comenta ainda Ortiz (1995, p.121):
14
Que começa a ser desenhado a partir do esforço de centralização política e cultural vivido nos anos
1930 -1940, com o Estado Novo, e que continua a se desenvolver nos anos 1960 e 1970 com o
regime militar.
15
O que não vai significar o fim da concentração da propriedade dos meios de comunicação. Como
afirma Castells (1999, p. 426), referindo-se a TV: “embora a audiência tenha sido segmentada e
diversificada, a televisão tornou-se mais comercializada do que nunca e cada vez mais oligopolizada”.
24
16
No Brasil o período fordista de acumulação coincidiu com a modernização produtiva vivida a partir
do nacional-desenvolvimentismo e da política de substituição de importações, estendo-se com
nuances variadas até a década de 1970 e 1980 com os governos militares.
25
Doimo (1995, p. 136), citando Della Cava, afirma que a comunicação popular
nasce “com o desenvolvimento do ‘movimento popular’ (...) para referir-se a toda
sorte de iniciativas comunicacionais à base de tecnologias rudimentares (...) são
iniciativas voltadas ao incremento de grupos de base, como cartilhas, boletins,
folhetos, convocatórias, audiovídeo, alto-falantes na praça, dramatizações etc”18.
Todavia, considerando o acúmulo de experiências nessa área e, como parte do
momento de valorização de idéias como comunidade, e valores como a
solidariedade, a comunicação passa a ter um outro espaço: ela se “autonomiza”. O
17
Grifos meus.
18
Grifos meus.
27
que significa que ela própria se constitui como um direito, que deve ser
assegurado19.
19
O surgimento de emissoras comunitárias e a demanda por liberdade para existirem se situam
nesse ambiente.
20
Sobre a centralidade da comunicação na atualidade Castells (2002, p. 418) afirma, por exemplo,
que “o padrão comportamental mundial predominante parece ser que, nas sociedades urbanas, o
consumo de mídia é a segunda maior categoria de atividades depois do trabalho e, certamente a
atividade predominante nas casas”.
28
21
Criando inclusive um nicho discursivo onde essa dupla valorização é associada à democratização
das comunicações.
22
Em junho de 1999 houve o lançamento no Congresso Nacional da “Frente Parlamentar em Defesa
da Radiodifusão Comunitária”, com adesão de mais de 100 parlamentares. Como afirma o Jornal
“ABRAÇO no Ar”, nº 12 de julho de 1999, “um dos objetivos da Frente é fazer com que as rádios
comunitárias contem com um grupo de deputados compromissados com a atividade e possam
denunciar no Congresso ou nas instâncias jurídicas as agressões às rádios”.
31
situa num plano análogo àquele que constrói a imagem da civilização: a crença na
superioridade de um dos grupos23.
23
Já no “Processo Civilizador” (1994a), a própria noção de civilização é tratada em termos da auto-
imagem, sendo possível verificar as dissonâncias em torno de idéias e noções como “kultur” e
“civilização”. Lido como a “imagem de si” feita pelo Ocidente, o termo civilização reflete a percepção
das relações sociais e das posições nestas de indivíduos e grupos.
32
Ainda que no caso das radiocom a auto-imagem não possa ser tomada nos
mesmos termos de uma relação de vizinhança, como acontece em “Winston Parva”,
a construção de uma determinada imagem das rádios e de seu movimento se torna
fundamental na disputa de poder, de legitimação e de território que as rádios
enfrentam.
Essa imagem é elaborada não apenas pelas radiocom, mas também pelas
diversas instâncias que com elas se relacionam: rádios comerciais, entidades
representativas dessas emissoras, em nível local e nacional, órgãos de governo e
meios de comunicação de massa. A formulação da auto-imagem, bem como sua
aceitação ou negação, ocorre de modo relacional, e opera um jogo de forças onde a
prevalência de uma percepção positiva ou negativa sobre as radiocom traz
conseqüências para o seu reconhecimento social, o que acontece antes e depois da
aprovação da Lei 9.612.
24
Já em 1997, mesmo antes da promulgação da Lei 9612, a ABERT lançou campanha nacional, em
diversas mídias, inclusive o rádio, afirmando o perigo das “emissoras piratas” (MATOS, 2000).
34
De acordo com essa interpretação, parece ser instigante pensar sobre que o
afirma N. Elias (1994) em A “sociedade dos indivíduos” sobre o desenvolvimento
histórico das palavras. Para ele a mudança de significado destas diz muito sobre a
direção que toma o desenvolvimento das figurações sociais, bem como das relações
sociais que nelas têm lugar. Nesse sentido, a prevalência do termo “comunitária” no
tratamento das experiências de comunicação alternativa, sobre outros como
“popular” e “livre”, que passa a ocorrer no início dos anos 1990 (COSTA JR, 1999;
LOPES, 2005), sugere uma reorientação das idéias norteadoras dos movimentos
sociais que alimentaram tais experiências e dos discursos sobre as emissoras. Mas,
qual o rumo dessa nova orientação?
36
Desde Tönnies (1995) a leitura das relações sociais constrói uma dupla
tipificação. De um lado teríamos as relações organizadas em torno daquilo que o
autor define como comunidade, e de outro as relações próprias de um universo
definido como a sociedade. Na primeira as relações seriam pessoais, marcadas
pelos contatos face-a-face e pelos laços afetivos que fazem seus participantes
manterem-se nela. Na segunda os homens fundariam uma união com base em
finalidades objetivas que podem ser melhor alcançadas em grupo. Em Tönnies, o
fundamento de tal distinção é psicológico e orientado por dois tipos de vontade: a
vontade orgânica [Wesenwille] e a vontade reflexiva [kürwille].
Talvez por isso, Tönnies tenha sido revisitado (WOLF; PRAHL, 1995) em um
momento histórico em que se percebe, nos movimentos realizados pela
globalização, uma conjuntura favorável à valorização da comunidade e do local, fato
que reflete a desconfiança no projeto iluminista, nas grandes narrativas e em uma
forma de socialização que produziria o homem “blasé” (SIMMEL, 1979), protegido
dos contatos face-a-face e dos compromissos de uma interação mais intensa e por
isso mais apto à indiferença. Neste sentido, “vemos (...) porque Tönnies considera a
37
comunidade o lugar em que a moral é vivida de forma mais efetiva, dominada que é
pela busca de um valor ético que se identifica com a unidade viva que forma a
comunidade”. (FREUND, 1980, p. 213).
25
Em Habermas a sociedade civil aparece, durante o período que analisa, como oposta à ordem
estatal e se organiza a partir da então emergente classe burguesa.
26
Para quem as informações são dados necessários à organização dos negócios mas ainda não são
um negócio em si.
41
cruzamento destes espaços. A visibilidade que acabam por produzir nas áreas onde
se instalam, onde a menção aos nomes das ruas, aos pontos comerciais, às praças
e às atividades de seus moradores produz o reconhecimento do lugar e de sua vida
social27, oferece uma primeira experiência de espaço público às localidades, sejam
elas bairros periféricos de grandes cidades, ou cidadezinhas do interior, que nunca
interessaram comercialmente aos grandes grupos de comunicação. Num movimento
análogo ao processo de construção do espaço público vivido no início da
modernidade, as rádios comunitárias dinamizam e tematizam a vida local.
Ao tomar a cultura popular como objeto, Hall (2003) adverte para a dinâmica
nela existente, marcada pelo “duplo movimento de conter e resistir, que
inevitavelmente se situa no seu interior” (2003, p. 247). Conter e resistir, capitular e
incorporar fazem parte da reprodução cultural. Por isso,
27
No processo de pesquisa de campo, durante a audição de uma emissora comunitária localizada em
um bairro onde morei por muitos anos, percebi, surpresa e comovida, a importância da publicação,
através da rádio, da vida cotidiana do bairro. A menção aos mercados onde se compra diariamente,
os eventos que reúnem seus moradores, a vida cultural das escolas, os recados que os moradores se
enviam durante os programas, tudo isso compõe um mapa da vida social do lugar. Eles atribuem
valor simbólico positivo à vida comum, tornam o que era antes imperceptível, a dinâmica cotidiana do
lugar, em elemento para ser ouvido, discutido e reconhecido, o que vai além das funções de
simplesmente informar ou entreter através de uma programação musical. Naquele momento da
audição, moradora que fui, senti uma emoção estranha, a de ter sido parte daquele universo que a
rádio irradiava.
44
Essa idealização, que deveria ser realizada no cotidiano das radiocom com a
construção de uma perspectiva alternativa à produção massiva, também toma parte
no processo de composição da auto-imagem dessas emissoras e no processo de
sua legitimação. Oliveira (2002, p.14) registra que
45
título expressa a avaliação feita sobre a música veiculada sem, entretanto, impedir
que ela vá ao ar. Como afirma um dos diretores da rádio sobre a programação:
28
Nas entrevistas com as rádios comunitárias a expressão apareceu por várias vezes, usada por
seus integrantes para qualificar rádios sob as quais pesa a desconfiança de não serem radiocom.
48
29
Artigos da Lei referentes à prática de proselitismo político ou religioso.
49
O peso do consumo e as questões capilares que ele levanta não podem ser
vistos de um ponto de vista normativo (o que devem ouvir, o que devem discutir, o
que devem focar como democrático). Eles estão presentes na prática das radiocom
e na relação que eles estabelecem entre seus ouvintes e, principalmente, no
discurso de construção da auto-imagem, como será demonstrado ao longo do texto.
CAPÍTULO II
Em outra frente, Mcluhan (1969) faz uma leitura positiva dos meios de
comunicação contemporâneos, reconhecendo-os como extensões do homem e de
seus sentidos. Como expansão de nossa audição o rádio condensa várias
possibilidades, rompendo os limites impostos pelos contatos face-a-face. Todavia,
Mcluham reconhece que estas potencialidades, que envolvem os aspectos da
sonoridade sobre a psique humana, podem ser usadas para fins políticos totalitários
ou para a realização de possibilidades democratizantes e pluralistas. A ressonância
própria do rádio pode oferecer diferentes apropriações. A este respeito afirma:
53
30
A respeito destas características, afirma: “Como a TV aceitou o encargo da cadeia central derivado
de nossa organização industrial centralizada, o rádio passou a ter liberdades de diversificação,
prestando serviços locais e regionais que antes não conhecera, mesmo nos primeiros tempos dos
amadores de rádio-galena” (MACLUHAN, 1969, p. 344).
54
31
Movimento análogo ocorre nos anos 1970 com a introdução do radio em freqüência modulada, FM,
variação técnica que irá popularizar a montagem de estações de rádio, já que mais barata que a
tecnologia empregada em amplitude modulada, AM. Sobre isto afirma Tavares (1999 p. 281): “A partir
de 1970 as emissoras de FM passaram a predominar nos meios radiofônicos do país; foi uma
verdadeira revolução. Nova programação, nova linguagem e nova maneira de fazer rádio”.
55
O regime, cujo viés autoritário e ditatorial se inspira no uso que fizeram dos
meios de comunicação o nazismo e o fascismo, tomará o rádio como veículo de
propaganda política. A “Hora do Brasil”, programa radiofônico de transmissão
obrigatória em cadeia nacional e até hoje levado ao ar, data deste momento político.
A esse respeito, afirma Capelato (1998, p.77):
32
A Argentina de Perón também fez uso extensivo do rádio. Mantendo a liberdade de expressão
como preceito constitucional, o que Vargas não fez, monta uma estrutura paralela de comunicação,
capaz de saturar os ouvintes com a propaganda de governo (CAPELATO, 1998).
56
Ainda que pouco a pouco o caráter comercial se imponha e com ele a necessidade
de maior liberdade (ORTIZ, 1995) se afirme. Segundo Capelato (1998, p. 76):
33
O grupo era formado pelo jornal “A noite” e pelas revistas “Carioca”, “A Noite Ilustrada”, “Vamos
Ver” e pela “Editora S.A Rio”, todos pertencentes ao norte-americano Percival Farquha (CALABRE,
1999).
57
34
Isto a partir de 1941.
58
ainda que direcionado para uma proposta evangelizadora. Segundo Cogo (1998), ao
relacionar os universos da comunicação e da cultura, a educação tornou-se ponto de
partida para a explicitação do conceito de “comunicação popular”.
No período que vai dos anos 1970 aos anos 1980 é possível enxergar uma
sutil mudança na orientação da perspectiva educacional-organizativa. Segundo
Doimo (1995, p. 130),
Este processo que percebo como sendo de autonomização, ainda que neste estágio
embrionário, será tratado a seguir.
Desde os anos 1950 esse movimento esboça suas primeiras ações. O termo
“rádio pirata”, muito usado hoje no Brasil para classificar rádios não autorizadas,
aparece junto com um movimento de contestação do monopólio estatal no rádio na
Inglaterra. Já é famosa a história dos barcos que transmitiam do oceano emissões
radiofônicas, burlando o controle do Estado e registrando audiência. A associação
entre os barcos e a idéia de “contrabando de emissões radiofônica” criou a imagem
e o termo “rádio pirata”. Entretanto, o tipo de programação e o patrocínio para tais
iniciativas indicavam interesses comerciais. Segundo Oliveira (2002, p.75) “até o
surgimento das rádios piratas inglesas, a utilização ilegal do rádio representa uma
bandeira política, mas na Inglaterra essa utilização ganhou um caráter comercial”.
No início era apenas uma minoria: o pessoal das rádios livres era um
bando de loucos, um pouco de D. Quixote atacando o grande
monopólio. Era espantoso. (...) Rapidamente o fenômeno ganhou
uma força incrível, produzindo um impacto sobre a grande mídia,
como se esse ato de ilegalidade tivesse criado uma rachadura no
63
Mas o que marca essa diferença e como e quando essa demarcação nasce?
A literatura que constrói uma arqueologia das rádios comunitárias e de seu
movimento não é consensual quanto às datas, eventos e atores sociais do
movimento que a gesta, bem como aos diferentes sentidos do que seja uma
65
2.3.1 As “radiadoras”
Ainda que a grande maioria dessas emissoras não fosse usada para fins
políticos, a partir de determinado momento seu formato é apropriado para um uso
politizado da comunicação.
36
Cidades como Canindé e Quixeramobim, entre outras, também tiveram radiadoras. Já nos anos
1990 o Diário do Nordeste (27/06/90) publica a matéria “Seu Adolfo faz meio século de atividade com
os alto-falantes”, sobre os cinqüenta anos da radiadora de Quixadá.
37
Conheci esta experiência como moradora da cidade durante parte de minha infância e
adolescência nos anos 1980.
66
38
Para um panorama mais completo desse movimento ver Oliveira (2002), Matos (2000) e Cogo
(1998).
39
Meliani (2000), Peruzzo (1999), Oliveira, (2002).
67
Cada vez mais, a partir desse período, as rádios populares e as rádios livres
passam a ser denominadas de rádios comunitárias. As diferenças entre ambas são
incluídas e, de certa forma dirimidas, nesta nova denominação. A nova nomeação se
liga a todo um processo de organização das emissoras de baixa potência que
objetiva o reconhecimento legal destas emissoras40.
41
Entrevista concedida à autora durante a realização da pesquisa “Memória e Dádiva em uma Rádio
Comunitária”, em 1998.
42
Para sobreviver muitas rádios veiculam publicidade sob a denominação de apoios culturais e para
atingir comunidades maiores que 1kilômetro usam transmissores de potência maior que a
estabelecida pela Lei.
71
das emissoras comunitárias e dos outros, representados por rádios comerciais e por
outras emissoras comunitárias ganha maior importância nesse período.
43
Ver Peruzzo (1998), Nunes (2000), Fuser (2002).
74
44
ABRAÇO no Ar, nº 12, junho de 1999.
75
45
Texto do Relatório Final do Grupo de Trabalho de Radiodifusão Comunitária, 2003.
46
Idem
47
Idem
76
48
Texto do Relatório Final do Grupo de Trabalho de Radiodifusão Comunitária, 2003.
77
O relatório faz ainda severas críticas ao texto da lei 9.642/98, afirmando que:
“existem na lei (...) contradições insanáveis entre as finalidades atribuídas à
Radiodifusão Comunitária e as condições estabelecidas pela própria legislação para
a execução do serviço e que mudanças nestas tornam-se imprescindíveis”49. Os
pontos críticos da regulação, os acréscimos e mudanças são detalhados no relatório.
49
Texto do Relatório Final do Grupo de Trabalho de Radiodifusão Comunitária, 2003.
50
Para uma visão mais detalhada do processo de outorga ver Lopes (2005).
51
Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas.
78
Assim grande parte dos processos emperra nesse procedimento, que funciona como
um gargalo impedindo a passagem dos processos52.
Entretanto, caso exista mais de uma candidatura para a mesma área, abre-
se o processo de concorrência, onde, ou as candidatas efetuam uma associação
entre si, ou, em caso de não entendimento, é escolhida a entidade com o maior
número de manifestações de apoio. A aferição é feita através da documentação
entregue no início do processo de outorga quando pessoas físicas e jurídicas
52
Levantamento realizado pelo autor, a partir da análise dos processos de outorga entre 1998 e
2004, revela que grande parte dos processos ficam parados pela falta de publicação dos avisos de
habilitação pelo Ministério das Comunicações.
53
As manifestações são coletadas através de abaixo-assinado, tanto para pessoas físicas quanto
para pessoas jurídicas (entidades), que através do instrumento demonstram tanto interesse no canal
quanto acreditarem na credibilidade do proponente. O documento se apresenta como uma primeira
mostra da legitimidade da futura emissora em sua localidade.
79
54
Em função da demora por parte do Congresso Nacional na aprovação das concessões, foi
instituída a Licença Provisória, mecanismo que libera para o funcionamento as rádios que aguardam
a posição do Congresso (LOPES, 2005).
80
55
Texto do Projeto “‘Rádios Comunitárias’ na Periferia de Fortaleza”, elaborado pelo CEPOCA (sd.)
56
Entrevista concedida à autora em 19/07/2004.
81
57
A recepção favorável que as emissoras tem dos jornais locais em seus primeiros anos de vida (e
que será analisada adiante), talvez se beneficie dessa conjuntura, particularmente do ambiente criado
pela campanha da fraternidade.
82
Romero, situada no Parque Santa Maria, a Rádio Santo Dias, criada depois e
situada no Conjunto Palmeiras, entre outras. O CEPOCA e o SIRASME irão unir
forças no processo de implantação de emissoras comunitárias. Sobre a parceria se
afirma:
58
Texto do Projeto “‘Rádios Comunitárias’ na Periferia de Fortaleza”, enviado pelo CEPOCA para
CABEMO, uma instituição internacional de financiamento.
59
Circular Nº 2/89 do CEPOCA de 31 de janeiro de 1989.
83
- Colocar o povo para falar por ele mesmo, para que ele possa
conhecer melhor sua realidade, organizando-se com o objetivo de
promover ações que possam resolver seus problemas.
60
Projeto “‘Rádios Comunitárias’ na Periferia de Fortaleza”, enviado pelo CEPOCA para CABEMO,
uma instituição internacional de financiamento. A relação do CEPOCA com o Grupo da “Rádio do
Povo” de São Miguel Paulista também é mencionada no texto, o que revela o nível de organização e
mobilização das rádios já naquele momento.
61
Idem.
84
62
Projeto “‘Rádios Comunitárias’ na Periferia de Fortaleza”.
63
Idem
85
64
Cópia integral dos dois primeiros números do boletim anexo 2.
86
65
O tom desse artigo é bastante característico da cobertura que tem as radiadoras nesse primeiro
momento. Aspectos positivos como as diferentes possibilidades da comunicação comunitária são
lembrados, em oposição às dificuldades de realização dessas mesmas possibilidades nos veículos de
massa. Tom completamente diverso passa a ser empregado quando a fase das radiadoras é
superada, passando as comunitárias a operarem em freqüência modulada.
87
66
Um texto publicado no “site” do “Centro de Mídia independente” em 2003
(www.midiaindependente.org/es/2003/08/260539.shtml), intitulado “Irregularidades na Abraço RS”
afirma que “dirigentes da Abraço RS tem utilizado a entidade só, e somente só, para proveito próprio”.
O texto assinado por dois membros do Fórum Nacional pela Democratização das Comunicações é
um exemplo desse processo de desgaste que sofre o movimento.
67
Entrevista concedida à autora em 02/05/2003
88
68
Entrevista concedida à autora em 02/05/2003.
89
Esse processo se relaciona com o que Bernardo Sorj (2001) chama, a partir
de Habermas, de “juridificação” da sociedade, movimento que se encontra em
processo de crescimento na sociedade brasileira. A juridificação é definida como
uma tendência de adensamento do direito coletivo, de institucionalização do conflito
de classes, da legislação trabalhista e de regulação do conflito social. Nele a
resolução das disputas é transferida para o interior do Estado, mais precisamente
para o campo jurídico.
69
Entrevista concedida a autora em 02/05/2003.
91
70
Entrevista concedida à autora em 17/01/2005.
71
Entrevista concedida á autora em 02/05/03.
92
72
Intervenção realizada pela policia federal em que os equipamentos da radio são lacrados,
impedidos assim de funcionar.
93
73
Audição feita no bairro do Benfica, próximo ao centro da cidade.
94
Freq. Emissora
87,5 Eco Musical FM
87 87,7 Israel FM
87,8 Manchete Gospel
87,9 Rádio Interativa
87,9 Assoc. Cultural do Conj. José Walter
87,9 Assoc. Cultural da Água Fria
87,9 Associação Cultural Santa Edwirges
87,9 Assoc. Cultural dos Amigos do Bairro da Pedra
87,9 Assoc. Comunitária dos moradores do João XVIII
87,9 Assoc. Crescer e Flores
88 88,9 Jangadeiro FM
89 89,3 Adiante FM
89,9 Somzoom Sat FM
90 90,3 Liberdade FM
91 91,5 Pentecostal FM
92 92,1 Educativa Parreão
92,9 Tropical FM
93 93,5 Círculo FM
93,9 Verdes Mares
94 Nenhuma rádio localizada nessa freqüência
95 94,7 Jovem Pan
96 96,9 Dom Bosco FM
96,5 Apostólica FM
96,9 Caminho Santo FM
97,7 Portugal FM
97 97,7 Costa do Sol
97,3 Gospel FM
98 Nenhuma rádio localizada nessa freqüência
99 99,1 Rádio Cidade FM
99,9 Record FM
99,5 Rádio Espaço Cultural
99,9 Rádio Gospel (Rede Aleluia)
100 100,9 FM 100
100,2 Rádio Cálice
101 100,1 Estação 101
101,7 Casa Blanca FM
102 102,9 Canção Nova
102,3 A Rádio Rock
103 103,9 Tempo FM
104 104,3 Rádio Esperança
104,7 Paupina FM
105 105,3 Muriá FM
105,7 Atlântico Sul
106 106,7 Calypso FM
106,3 Plenitude FM
107 107,9 Universitária FM
108 Nenhuma rádio localizada nessa freqüência
Legenda:
A afirmação do direito referida pelo autor, vai tornar-se cada vez mais
complexa com a entrada em cena de novos interessados na exploração da
radiodifusão comunitária.
74
“Rádio: um sistema de transmissão e recepção de mensagens sonoras”. Artigo de Thiago Pires
Galleta, membro do coletivo da Rádio Muda. O texto captado na Internet na lista de discussão “rádios
livres e comunitárias” não estava datado. Disponível em radiolivre@grupos.com.br Acesso em: 7 de
jan. de 2003.
96
O segundo momento compreende o período entre 1964 até o início dos anos
1990, com a reorganização do sistema de telefonia e a “radical transformação do
setor de telecomunicações” (2003). Datam daí a criação da Radiobrás e do Sistema
Telebrás, com a expansão da telefonia e a crescimento da televisão através do
sistema de rede nacional. Sobre esse período, afirma Sorj (2003, p.77):
75
Vide a participação da “Associação das Rádios Comunitárias Católicas” no processo de
mobilização política para a aprovação da Lei 9612/98.
97
O terceiro momento pode ser localizado a partir dos anos 1990, com a crise
do Sistema Telebrás e as privatizações na área.
76
Desde 1995 as concessões de radiodifusão passam a seguir as regras da Lei de Licitações (Lei
8.666/93).
99
77
Naquele período as concessões eram válidas por apenas três anos, embora fossem renováveis. A
liberação de uma nova outorga ou a renovação da já existente era atribuição do presidente da
república, o que dava enorme poder de negociação política.
100
79
Entrevista concedida a autora em 17/01/2005.
102
80
http: www.abert.org.br.
103
81
“Uma frente contra as rádios comunitárias”, texto de Vinício A. de Lima publicado no “site”
Observatório da Imprensa em 13/12/2005. Disponível em: http://observatório.último
segundo.ig.com.br/artigos Acesso em: 14 dez. 2005.
82
“Frente lançada hoje quer novas regras para radiodifusão”. Agência Câmara, 7/12/2005.
83
http: www.abert.org.br.
104
ser encaminhada. Como será visto adiante, a ABERT e ACERT ganham muita
visibilidade nos jornais locais quando invocam o controle das radiocom.
84
http: www.abert.org.br.
85
http: www.acert.org.br.
105
86
Relatório da Pesquisa disponível em http//www.fndc.org.br.
106
Assim, seis redes privadas (Rede Globo, Rede SBT, Rede Record, Rede
Bandeirantes, Rede TV! e Rede CNT) dominam o segmento de tv, vinculado a 372
outros veículos, entre rádios e jornais. A comparação entre as redes privadas e as
redes públicas explicita a concentração da propriedade. As redes públicas,
segmentadas e grupos independentes somam um total de 135 veículos, com 35
emissoras de TV e 102 outros veículos. Já as redes privadas somam 668 veículos,
com 296 emissoras de tv que se soma aos 372 outros veículos já mencionados.
Grande parte dos principais grupos regionais de mídia é afiliada da Rede Globo, que
está presente em todos os estados.
87
Os anúncios foram publicados no mesmo período, durante o mês de maio de 2005.
107
Figura 2: Anúncio publicado no caderno Vida e Arte do jornal O Povo no dia 21 de maio de
200588.
88
Durante algum tempo a rádio Dom Bosco FM funcionou como emissora comunitária, sendo
inclusive filiada a Arcos-CEPOCA, conseguindo posteriormente a concessão de rádio educativa.
108
Figura 4: Anúncio publicado no caderno Vida e Arte do jornal O Povo no dia 25 de maio de
2005.
Figura 6: Panfleto religioso usado também pra a divulgação da Rádio Plenitude 106,3, “24h
de louvores no ar”, ligada a Igreja Pentecostal Jesus é a Aliança.
CAPÍTULO III
COMUNITÁRIA
89
Os títulos desses periódicos, aqui analisados, não esgotam a produção sobre a temática e fazem
parte de um elenco que, embora incompleto, representa uma significativa parte das análises sobre o
tema.
90
Os dois jornais fazem parte de grupos empresariais na área de comunicação. O Diário do Nordeste
foi fundado em 1980 e integra o grupo Verdes Mares de Comunicação, formado também pela
retransmissora de tv Verdes Mares, afiliada da Rede Globo de Televisão no Estado, e as rádios:
Verdes Mares AM e FM 93. O jornal O Povo foi fundado em 1927 e é parte integrante do grupo O
Povo de Comunicação, formado ainda pelas rádios: AM do Povo, Calypso FM e Rádio Mix FM. A
posição destes jornais como parte de grupos econômicos da área de comunicação não é
desconsiderada aqui, na medida em que seus interesses são contrários aos das radiocom.
113
3.1 A Diferença
Aqui você fica sabendo que pode e deve fazer rádio diferente. Fica
sabendo que a emissora em que você atua deve frisar isto na
programação e alertar a comunidade servida pela rádio. Todo o
tempo, toda hora: atenção povo do Brasil, gente daqui e dacolá, você
está sintonizado numa rádio comunitária, aqui é diferente de uma
comercial. Diferente como? Ôxe?! O quadro abaixo [ver anexo 3]
mostra as nossas principais diferenças:
91
O autor é militante do movimento de rádios comunitárias, tendo sido membro da primeira diretoria
da ABRAÇO. É também dos autores da cartilha “Radiodifusão Comunitária: reforma agrária no ar”. A
cartilha ensina a montar rádios e tvs comunitárias e está disponível na Internet em:
hhttp;//www.pt.org.br//radiodif.htm
114
forma encontrada pelo autor para marcar um “novo modelo” de fazer rádio, diferente
do que tradicionalmente tem sido feito no Brasil em matéria de radiodifusão. Assim,
além de um mecanismo de distinção política, o guia pode ser lido também como uma
tentativa de constituição de um modelo, de uma forma de fazer rádio que se afirme
como comunitária.
comerciais. A própria escolha dos tópicos evidencia uma nova pauta para o rádio,
proposta pelas radiocom, como a questão da participação e da relação de parceria
com os movimentos sociais. A “participação” sugerida pelo autor trabalha com a
idéia de que a rádio comunitária é a “voz do povo”, ao mesmo tempo em que aponta
como falsa a participação oferecida pelas rádios comerciais que se apresentam
como “porta-vozes da população”.
92
A ABRAÇO é filiada ao Fórum Nacional pela Democratização das Comunicações.
117
Tão logo viu a reportagem Glauco passou a temer pela sua rádio.
Tanto é assim que perguntou se ‘algo vai acontecer’ .O Dentel,
através do senhor Brígido Silveira, disse que toda rádio tem de ter
um projeto: ’As finalidades e planos técnicos tem de ser avaliados e
posteriormente, se for o caso, aprovados’.
93
É importante considerar como hipótese explicativa dessa visibilidade o lugar social e o trânsito junto
à imprensa escrita e aos meios de comunicação que as pessoas envolvidas na criação das primeiras
radiocom tinham.
121
Nesse momento as rádios são serviços móveis que se deslocam por alguns
bairros da cidade, a matéria explica seu funcionamento: “Bruno afirmou que a Rádio
Comunitária funciona numa Kombi cedida pela Superintendência Municipal de Obras
e Viação (SUMOV), conhecida também como Unidade Móvel. ‘O sistema é simples,
são alto-falantes e um microfone. O mais importante são as propostas levantadas
pelos moradores”. Embora a matéria faça referência a precariedade técnica, destaca
como dado mais importante o sentido participativo da experiência. Ganham relevo
no texto dois elementos muito presentes na leitura positiva das radiadoras nesse
primeiro momento: a participação e os vínculos estreitos entre moradores e rádio.
Até 1996 as rádios aparecem na imprensa com uma cobertura que aborda
estes temas, como é possível ver no quadro abaixo:
94
A fala expressa claramente uma representação corrente fundada nos interesses do mercado contra
a amplificação das rádios comunitárias.
95
Existência já é fato, embora não tenha reconhecimento de direito.
127
Regulamentar para limitar passa a ser uma questão de ordem para a ABERT
e ACERT, o que se expressa no tom das matérias a partir de então.
potencial das emissoras comunitárias. Além disso, ganha enorme destaque as ações
de fechamento e lacre de emissoras, como mostra o quadro abaixo:
96
Entrevista concedida à autora em 17/01/2005.
133
97
Em uma matéria da Revista “Força Aérea” sobre o GEIV- Grupo Especial de Inspeção de Vôo,
órgão da Força Aérea Brasileira dedicado a garantir as condições de segurança dos vôos em território
brasileiro, afirma-se o seguinte: “os equipamentos utilizados no SMA (Serviços Aeronáuticos) são
construídos com transmissores de baixa potência e de receptores de alta sensibilidade. Assim, as
interferências podem ser causadas por diversos fatores: emissoras de rádios (regulamentadas ou
não), na faixa de VHF, moduladas em FM, que não seguem padrões exigidos pelas normas técnicas;
ruídos industriais, ocasionados por soldas; emissões ilícitas, na faixa de freqüência do SMA,
efetuadas por organizações clandestinas, constituídas com a finalidade de ouvir mensagens
veiculadas e até mesmo transmitir em freqüência do SMA” (p. 51, Grifos meus).
134
98
A seguir apresento a dinâmica de uma dessas listas.
99
Tive acesso e analisei três números do boletim “No ar ABRAÇO”, de 1997, dois números do
“ABRAÇO no Ar”, de 1998, e sete de 1999.
135
100
Levantamento realizado por Lopes (2005, p. 77) mostra que, “entre 1998 e 1999, 2.543 processos
aguardavam a publicação dos Avisos de Habilitação pelo MiniCom, um dos primeiros procedimentos
do processo de outorga”.
101
Para uma visão mais completa das questões de interesse do jornal apresento, no anexo 4, as
matérias publicadas em cada exemplar analisado.
102
I Congresso Nacional de Rádios Livres e Comunitárias, ocorrido em setembro de 1997.
136
104
Durante algum tempo a ABRAÇO gerenciou um consórcio denominado “Consórcio Nacional
ABRAÇO/BANCORBRÁS”, para viabilizar a compra de equipamentos pelas emissoras comunitárias.
105
“Cresce a venda de transmissores”. Matéria de Daniel de Castro publicada no jornal “Folha de
São Paulo” em 26/06/00
146
publicados no jornal com os títulos: “Tenha sua própria rádio comunitária106. Agora é
legal” e “Monte já sua rádio comunitária. Agora com o apoio da Lei”:
106
Outras empresas que também anunciaram nas páginas do jornal foram “a APEL”, “a
TELETRONIX”, a “DB-NET”, a “TELEKOM” e “Victor do Brasil LTDA”.
147
107
O Juiz, atualmente aposentado, é autor do livro “Rádios Comunitárias”, que analisa o fenômeno
das emissoras comunitárias sob a perspectiva do direito de informar e ser informado. O juiz também
como assessor na elaboração do projeto de Lei que municipaliza as concessões de radiocom na
cidade de São Paulo, recentemente sancionada pelo prefeito José Serra.
149
Além dos interesses distintos dos diversos agentes, o que constitui a atual
legislação de radiocom no Brasil é o reconhecimento da existência de uma prática e
a necessidade de seu controle. As práticas e as fronteiras desse espaço social só
podem ser compreendidas de modo relacional, no jogo de força e do interesse de
diferenças esferas: O Estado, as rádios comerciais e as radiocom.
108
Na verdade a Internet tem se mostrado um campo fecundo de informações sobre os mais diversos
temas, polêmicos ou não. Vários pesquisadores têm se dedicado a discutir aspectos metodológicos
da pesquisa nesse meio. Assim, Em um texto intitulado “Antropologia e Internet. – Pesquisa e Campo
no meio virtual” (AMARAL, 2002) a antropóloga Rita Amaral discute a Internet como um campo para a
pesquisa antropológica. A autora trata da necessidade de debate sobre o “campo virtual e oferece um
guia dos primeiros passos e possibilidades a quem se aventura no uso do computador, para além das
funções de uma máquina de escrever sofisticada ou de uma calculadora e bem mais o de um ativo
assistente de pesquisa, capaz de solucionar alguns dos problemas práticos durante as várias fases
de uma pesquisa...” (p. 3). O argumento é o de que “os computadores podem transformar, em alguns
sentidos, o modo pelo qual a pesquisa qualitativa vem sendo feita e, até mesmo, sugerir novas
pesquisas sobre o próprio uso da Internet como fonte de dados ou como espaços de relacionamento
entre grupos” (p. 2).
152
109
Talvez por isso uma boa imagem para entender e classificar as formas de compreensão das
rádios e de seu papel parece ser a do caleidoscópio.
110
Nem sempre o que chega a lista como opinião, informação ou informe se refere ao rádio, como
referido antes.
153
111
Como campo de discussão, a lista, com mais de 35 participantes no período acompanhado,
parece não corresponder às expectativas do mantenedor do grupo. Tanto que em 22 de maio ele
circula e-mail com aviso de sua desativação. A motivação? A fuga de seu propósito.
112
Como todo recorte de pesquisa, a seleção se efetuou também e principalmente em função dos
interesses do trabalho de investigação: compreender o conflito em torno da definição do que seja
uma rádio comunitária e as diferentes percepções sobre esta definição.
154
rádios sem autorização agem em defesa da democratização e que sem elas tudo
ficaria como está, sendo a ação das rádios uma transgressão necessária. Além
disso, a autora da matéria reforçaria a visão conservadora da Policia Federal e o seu
modo de ação na repressão às rádios.
114
Um dos “e-mails” da lista informa a criação de um grupo de trabalho, no novo governo, para
agilizar os pedidos de concessão, calculados a época em torno de 4.400 processos. O grupo
trabalhou em 2003 e criou uma série de procedimentos para análise dos pedidos de radiodifusão
comunitária, que foram sugeridos para incorporação junto ao MiniCom.
156
que existem rádios diferentes em um mesmo campo, o das radiocom, e afirma que é
preciso reconhecer também formas diferentes de exploração do serviço de
radiodifusão comunitária, nem sempre efetuadas a serviço das comunidades onde
estão sediadas as radiocom.
Na polêmica, outro membro se diz feliz pelo debate causado pelo uso do
termo “rádios do mal” e defende a posição da jornalista. A leitura feita do episódio e
que a põe em suspeita (ela estaria aliada a grupos contrários as radiocom) seria
equivocada. O uso do termo seria assim “uma forma de separar o joio do trigo”. Há
também o reconhecimento da pluralidade de posições e da tensão entre elas
presentes no movimento das radiocom. Os “grupos de esquerda”, ao negar esse
fato, agiriam de modo ingênuo, ao reconhecer uma coesão e pureza do movimento
que seriam inexistentes.
• Os nomes rejeitados têm postas sob suspeita suas intenções para com
o movimento das radiocom, mais interessados que estariam em “crachás” e
“empregos”.
115
Boletim Número 11, de 10/01/2003.
116
A desaprovação de alguns nomes se relaciona diretamente ao vínculo destes com a ABRAÇO.
158
117
Entrevista concedida à autora em 17/01/2005.
159
CAPÍTULO 4
Durante a pesquisa visitei ainda a Rádio Interativa FM, uma das oito
emissoras outorgadas em Fortaleza. A Rádio funciona no bairro do Novo Mondubim
e mesmo depois da concessão não tinha programação. No estúdio simples, mas
bem equipado, um computador mantinha a freqüência ocupada. O grupo a frente da
emissora era um grupo religioso, inclusive com ligações com a “TV Comunitária”,
164
canal disponível para assinantes da tv a cabo na cidade e que também leva ao uma
programação de cunho religioso118.
Além dessas emissoras, trabalho ainda com a Rádio Favela FM, emissora
situada em Belo Horizonte, Minas Gerais. Durante o ano de 2003 visitei a emissora e
realizei uma entrevista com um seus diretores.119
Embora hoje funcione com licença de emissora educativa, essa rádio passou
grande parte de sua história como emissora clandestina aos olhos do Estado e se
converteu, ao longo de sua trajetória, em uma referência para as rádios comunitárias
em todo o Brasil. Em 2001 foi tema do filme “Uma onda no Ar”, do cineasta Helvécio
Ratton, chamando a atenção para a questão das rádiocom e a democratização das
comunicações. O filme narra a trajetória da emissora desde as primeiras
transmissões no horário da “Voz do Brasil”, até o reconhecimento internacional, bem
como toda a violência e perseguição sofrida por seus membros em função da
manutenção da emissora no ar.
118
Nesta rádio não houve autorização para que eu gravasse entrevista.
119
A visita a Rádio Favela e entrevista à Misael foram feitas em 04/09/2003, por mim e Catarina de
Oliveira também pesquisadora da temática das rádios comunitárias.
165
Para chegar à rádio sobe-se um morro, onde fica o Aglomerado. Até uma
certa altura a área se configura como um bairro de classe média, mas conforme se
sobe o aspecto muda: casebres e infra-estrutura precária se alongam até o topo.
120
A visita e entrevista à Misael foi feita em 23/09/2003, por mim e Catarina Oliveira, também
pesquisadora da temática das rádios comunitárias.
167
Olha, nós contamos a real, o filme chega muito perto da real. A única
coisa que não é real é o tratamento que a polícia dá ali no filme, que
é ficção purinha, que é a visão do diretor do filme. Porque não se
pode, com o dinheiro público, mostrar o que o público paga para ser
feito, a covardia que é feita com o dinheiro nosso, contra nós
mesmos. Então mostrou aquela coisa de carinho, de dá um tapa só
na cara, entendeu? Se fosse assim a gente tinha resistido mais do
que Zumbi, mais quinhentos anos a gente resistiria. Eu tenho o corpo
todo marcado. Eu assinei um total de sete às oito processo por causa
dessa rádio.
121
Entrevista concedida à autora em 23/09/2003.
168
“resistência e disposição que os pretos daqui têm e que os outros ainda não
tiveram”.
Aqui não tem tenente, não tem major, nem comandante, todo mundo
aqui é soldado. Todo mundo aqui pega no batente, aqui os
delegados ajoelhou para nós, os major, os comandantes, os padres,
os pastor, uma porção de gente que jogou pedra na gente ajoelhou.
É sinal que a nossa resistência é o que há. Eu resumo em duas
palavras nós tivemos paciência e resistência, agora quem quiser que
vença igual a gente, quem tiver disposição, com nós mesmos, nós
temos disposição para o mau e para o bem, tanta faz pela frente e
pela costas, eu não faço curva.
Não precisa proibir rádio nenhuma (...) A não ser aquelas que estão
dando interferência, que estão atrapalhando, então, essas aí devem
ser proibidas mesmo, porque quem está fazendo a coisa direito tem
o direito de fazer direito, agora quem quer atrapalhar não tem o
direito, na minha opinião. Ai tem que ter um impedimento nessas
rádios que estão atrapalhando, mas concessão não vale porra
nenhum.
Embora não opere com os limites impostos por uma outorga de radiocom -
o que diminui consideravelmente a potência e as possibilidades de sustentação
financeira da emissora - a posição da Rádio Favela é característica deste momento
da radiodifusão comunitária, marcada pela concorrência não apenas entre rádios
comerciais e rádios comunitárias, mas principalmente entre as próprias radiocom. Os
170
Para a conceição chegar até aqui veio uma porrada de cara, pessoas
enchendo o saco, esse pessoal acadêmico lá para o lado do asfalto
que sabe uma porrada de teoria, mas prática eles não sabem porra
nenhuma de prática. Ai eles que mexeram com as papeladas. Eu fui
sabatinado três vezes lá em Brasília pelo Ministro, e fui no Ministério
das Comunicações, e tal. Mas toda vida, desde o primeiro dia que a
Rádio Favela foi para o ar, eu tive a consciência que a Rádio Favela
não gerava harmônico em rádio nenhuma, ou seja, a Rádio Favela
não confrontava com rádio nenhuma. Então, eles arrumaram um
argumento e tentaram provar por “a” mais “b” que a gente dava
abatimento em outros canais de rádio, da qual não foi verdade. E não
comprovado isso, eles tiveram que entregar a ‘conceição’ para a
gente, entendeu?
Misael percebe a Rádio Favela como construtora de uma nova imagem das
rádios comunitárias. A passagem da página de crime à de cultura guarda esse
significado. No tratamento das outras emissoras, o termo pirataria aparece para
explicitar a “moda” de emissoras não-outorgadas e os agentes dessa nova mania:
entre eles, pastores de igrejas.
Nossos ideais (...) era defender com unhas e dentes o povo do morro
onde ele estivesse, e levantar a voz para aqueles que nunca tiveram,
independente se ele tivesse na frente ou atrás dos muros. É nós
mesmo, preto para preto. Então, o papo nosso continua, a gente é de
favela para favela, e contra qualquer um que quer ofender. Então, os
caras acham que a gente tem que ter uma linha, uma linha “light”,
para ficar fazendo política partidária, defendendo partido “a”, “b” e “c”.
A Rádio Favela é apartidária, nós discutimos com qualquer partido,
independente da sigla e dos ideais. A gente deixa todo mundo falar,
igual religião. Aqui todo mundo participa, mas infelizmente uma
religião vai lá e monta a rádio, outro não pode falar, ai uma facção
monta a rádio não pode falar, ‘ah! você não pode’, que a Rádio
173
Favela faz uma linha diferente, todo mundo aqui fala, a única pessoa
que até hoje não teve espaço aqui foi um grupo de surdo-mudo,
porque na rádio não tem jeito deles fazer. As prostituta teve
participação, as lésbicas, os bichas tem um programa só de viado,
tem um programa e tal, sapatão tem um programa deles. (...) Mas
infelizmente quem mexe com rádio comunitária, as rádios tem dono,
e a Rádio Favela não tem.
(...) E os caras quer ter [poder], você vai nesses encontros de rádio,
te dá dó, deu estar desde o inicio, eu ter colocado a semente lá,
regado a planta, ver ela nascer. Ai eu vou, fico olhando aquela
discussão, todo mundo aqui da rádio vai, dá dó você ver aquela briga
lá. Todo mundo brigando por umas migalhas, para quê?
122
Como afirma Misael: Nós fazemos comercial para Prefeitura Municipal, do Governo do Estado e
de vez em quando o Governo Federal, eles mandam porque a rádio tem audiência, e tem que ser
com a nossa linguagem...
123
Expressão usada por Catarina Oliveira em entrevista concedida a autora para expressar um dos
significados sociais e culturais das radiocom.
176
124
As crônicas foram apresentadas no quadro “A crônica de Itamar”, que vai ao ar pela Rádio Favela.
125
O próprio autor das crônicas as apresentou a mim e Catarina Oliveira. Havia um enorme orgulho
de sua posição de cronista e da oportunidade que Misael e a rádio haviam aberto para sua mudança
de vida. Depois de problemas familiares que lhe colocaram em uma situação de dificuldade a posição
de radialista o afirmava como alguém.
177
De modo geral, a imagem que a Rádio Favela constrói para si, se apresenta
a partir da perspectiva de distinção. O pioneirismo e sucesso da experiência a
colocam em uma posição de estabelecimento. É a partir dela que a visão sobre as
outras emissoras se constrói, e ela é, como discuti anteriormente, marcada por muita
tensão.
126
A íntegra da crônica se encontra no anexo 6.
178
Isto permitia conhecer o bairro e aspectos de sua vida que talvez de carro não
pudessem ser observadas. Além disto, o contato com os moradores desde o coletivo
facilitava o processo de localização das emissoras, ao mesmo tempo em que
possibilitava saber um pouco de suas relações com a rádio. Se ninguém a conhecia
restavam dúvidas sobre sua penetração junto aos moradores, se logo alguém dizia
conhecer ficava, evidente a visibilidade da rádio no bairro. No caso da Rádio
Comunidade a primeira pessoa perguntada sobre a emissora logo me informou
como chegar lá.
A rádio tem uma singularidade. Num tempo em que quase todos os serviços
de som já foram transformados em emissoras de freqüência modulada, a Cabo
Comunidade não é uma FM, pois não tem sua transmissão efetuada através do
rádio. É uma emissora que funciona através do sistema de cabo, ou de caixas de
som, que são atadas aos postes ao longo bairro. Quando a rádio iniciou suas
atividades, elas eram oito, durante a pesquisa elas já somavam mais de quarenta
caixas, “com 80% do bairro coberto”. A Emissora funciona das sete da manhã às
sete da noite, com uma parada de meio dia até as 14 horas, já que como assinala
Isaac, um de seus diretores127, “nós nos preocupamos com o descanso dos nossos
ouvintes, ai nós [re]começamos às duas horas da tarde, e vai de duas às sete”.
128
Entrevista concedida à autora em 23/09/2003.
180
129
Entrevista concedida à autora em 23/09/2003.
181
proposta e tô até hoje. Já faz um ano que eu comecei com um programa católico, da
crisma e tô até hoje”.
Por ser uma “emissora a cabo” a rádio não enfrenta uma situação
desconfortável em relação a Anatel e Polícia Federal. Como afirma Ana Lúcia: “No
caso da Rádio Comunidade, a gente não tem esse receio porque somos a cabo, a
gente não é, entre aspas, uma rádio pirata, que tem mais de 25Watts, a gente não
tem isso”.
O mesmo não acontece com outras rádios que funcionam sem outorga, ou
mesmo com liminares. Em função da fiscalização algumas rádios mantêm um duplo
sistema de transmissão. É o caso da rádio Aero FM, que funciona apenas parte do
tempo em freqüência modulada, o restante do tempo pelo sistema de cabo. Como
afirma Ana Lúcia, uma ouvinte desta emissora:
182
130
Que teria um custo orçado em dez mil reais, preço elevadíssimo para os padrões da Associação e
da própria emissora.
183
Então, (...) quando ela veio para cá, nós abrimos o leque. Aí vamos
chamar de leque, porque muitas rádios chamam de plural, porque a
Igreja Católica, a Igreja Assembléia de Deus, a Igreja Batista, a Igreja
Universal, ai veio o programa brega, veio o programa de esporte,
veio o programa de forró, veio o programa de rock. E pronto, quando
nós começamos a trabalhar com isso nós percebemos que
começamos a conquistar a comunidade.
De boca, de boca mesmo. Por exemplo, o carro bateu ali, ora meu
irmão é ligeirinho, fulano diz, ‘olha fulano bateu o carro’. Ou então
184
alguém liga, ‘olha está acontecendo isso aqui, aqui. Nós íamos até
criar o ‘moto olympi’, seria uma moto mesmo, e quando tivesse um
negócio desses nós íamos está em cima do fato. Mas aí não houve
possibilidade devido as condições financeira,, mas não morre, essas
idéias não morrem.
131
E já durante a pesquisa de mestrado quando pesquisei a Rádio Mandacaru.
185
A rádio funciona na casa de seu diretor, num pequeno estúdio. Uma placa
de identificação na fachada é a única comunicação fornecida sobre a presença ali de
uma emissora. A porta da casa, localizada no primeiro andar, fica sempre fechada e
durante o período em que estive lá nenhuma pessoa esteve na rádio. Todos os
contatos com os ouvintes foram telefônicos e referiam-se a solicitações musicais e
um contato mais pessoal com o comunicador.
não deixa de ser positivo. Às vezes eles dizem que são os mais
comunitários e às vezes não é. Na rádio são ‘cabra’ bem ditador.
O bom disso tudo é que nós não somos assalariados, não temos
salários, trabalhamos voluntariamente, sem ganhar nada. Aqui é
mais pra ganhar experiência para uma rádio maior e, a rádio
comunitária hoje é uma idéia bem legal, se toda capital, se toda
cidade pudesse ter uma rádio comunitária era muito legal pra todo
mundo até mesmo pelo período de informação, pelo período de
chegar e trabalhar, fazer aquele trabalho pra comunidade, rádio
comunitária é bem legal (grifos meus).
133
Modelo que se aproxima do mecenato e não da publicidade.
191
não havia sido apenas aquela rádio que havia sido fechada. Segundo ele, teria
ocorrido uma reunião entre Anatel, ACERT e Polícia Federal que havia deflagrado a
operação de lacre de radiocom134. Para ele, elas não gostam de rádios comunitárias
e o problema é que as radiocom são muito desunidas.
Eu despertei para a rádio porque eu fui convidado por essa rádio [QC
FM] para participar de um programa através de um professor, o
professor Cosme, ele disse depois do debate “(...) porque a gente
não monta uma rádio no Antônio Bezerra, você que é envolvido na
política e tudo?”, eu disse: professor, sabe que é interessante, eu
gostei mesmo de ter participado do debate nessa rádio aqui do
Quintino Cunha, e ele disse “por que a gente não abre uma aqui no
Antônio Bezerra não é ?(...)”. Eu disse: “vamos buscar os caminhos”.
O primeiro passo foi ter uma entidade, aí fundamos a associação de
jovens do Antônio Bezerra, compramos o equipamento da QC, o meu
avô ajudou.
Rádio, a Associação edita o “Jornal Antônio Bezerra”, que funciona como veículo de
divulgação das atividades do bairro, entre elas a própria emissora. A compra dos
equipamentos é viabilizada com o auxilio financeiro do avô de seu diretor, que
naquela época era vereador de Fortaleza136, e com promoções para a arrecadação
de recursos. A emissora é colocada no ar simultaneamente ao ingresso do pedido
de outorga. Livres para a escolha da freqüência, inicialmente a emissora ocupa a
freqüência 103,1:
Eu perguntei: Elder você não interesse em, por acaso você nunca
pensou em vender os seus equipamentos? Ele disse “rapaz eu tô é
querendo vender porque eu estou com uma conta aqui de 1500,00
reais e o negócio aqui está meio desorganizado, estou com outro
trabalho e os meninos aqui não estão tomando conta direito da rádio,
tô querendo é botar para frente”. Aí foi quando adquirimos, fechamos
o negócio, na época fechamos o negócio em 3000,00 reais, e
compramos os equipamentos.
136
O próprio diretor foi candidato a vereador nas últimas eleições (2004) pelo Partido da Social
Democracia Brasileira, o PSDB.
194
seu filho que está jogando futebol, isso passa a cativar, daí eu vi a
importância da rádio. Por mais que tenha a televisão, mas tendo uma
rádio alternativa onde elas possam ter voz e vez, co certeza elas vão
apoiar a nossa rádio e vão ser participantes ativos da nossa
programação.
Outras atividades que não apenas a cobertura dos jogos de futebol do bairro
provam a ligação rádio/comunidade. Um evento em especial, um show de rock, mais
ligado ao público jovem, é lembrado como evidência da importância da rádio como
canal comunitário. Os eventos e a participação da população afirmam o apoio da
comunidade a emissora. Como afirma o diretor da emissora:
Seg a sexta-feira
06h Som da Terra
07h Forrozão do Glaydson Silva
09h Comando 103
17h Recordações com o Rei
19h Sombras do Passado
Sábado
06hRaiz de David
08h Forrozando
10h Sertanejo
12h Bregão do Marcos Sam
14h Revivendo a Jovem Guarda
16h Raggae Life
16h Consciência Ecológica
20h Dance Mania
Domingo
07hTempo de Restituição (programa da Igreja do Evangelho
Quadrangular)
08h Despertando para Cristo
10h Bregão do Marcos Sam
197
E o detalhe é que eu descobri que tem juiz que não considera isso
crime não, um dos quatro juízes desses casos não considera isso
crime, ele manda devolver o equipamento. (...) Aqui em Fortaleza, eu
não sei o nome do juiz, mas ele manda devolver os equipamentos,
ele manda devolver a fiança, e deixa você à vontade. Eu descobri
isso ontem porque houve esse problema. A constituição garante que
nós temos liberdade de expressão.
Nessa posição a rádio marca sua diferença das demais, tanto comerciais
como comunitárias, vistas por Misael como genéricas, ou as vezes, piratas.
rádio comercial não, ela visa o lucro. Ela quer saber quanto é
que vai dá no final do mês o caixa dela. Ela não está preocupada
com o bairro Ellery, com o Pirambu, com a Boa Vista. Se tá na lama
se está na seca, se o seu Joaquim tem o que comer ou que não tem.
Já nós não, a nossa rádio, a diferença da rádio comunitária em si, é
essa, que não visamos o lucro, mas visamos a alegria do nosso
ouvinte. Ele pode até não está ouvindo, não importa, mas o
importante para nós é que ele amanheça o dia e tenha o que comer.
Eu me emociono pelo seguinte, porque nós nos preocupamos com
isso. Nós não estamos preocupados aqui em dizer, ‘puxa vida hoje,
s. Joaquim não tem o que comer, eu não tenho a nada com isso’
não, assim vamos brigar hoje, vamos brigar com fulano dos anzóis,
que está fazendo assim, assim daquela rua. Se for para deixar a
nossa comunidade feliz nós vamos brigar (grifos meus)
Então, nós nos preocupamos com isso que o nosso futuro ouvinte,
chegue amanhã, e nós tenhamos a certeza que ele está bem. Essa é
a diferença da rádio comunidade, levar entretenimento sim, mas
levar também serviço, utilidade pública.
entidades sim podem ter espaço para isso. Em fortaleza nós temos
114 bairros se eu não me engano, já pensou cada bairro com a sua
rádio comunitária? Já que tem uma definição na Lei de que só pode
ter 1km de raio, então com certeza poderia ter mais de cem rádios
comunitárias em Fortaleza hoje, só que, nós, só temos oito. Agora
tem que eliminar as piratas. Eu classifico como rádio pirata aquelas
que não tem entidade, não tem pessoas na sua direção, não tem
diretoria organizada, não existe uma organização com definição de
programação, com documentação de entidade, com serviços
públicos, com prestação de utilidade pública, com nada disso, com
equipamentos sem homologação do Ministério, essas são as rádios
piratas, são as feitas nos próprios quintais, que só funcionam no
sábado e no domingo ou à noite quando não tem a fiscalização, aí eu
classifico. E aí vem a nossa rádio como rádio comunitária que segue
uma programação eclética, sem distinção de raça, de cor, de gênero,
com participação de todo mundo, com a programação que vai do
forró ao “funk”, como entidade organizada e com credibilidade dentro
da comunidade onde está instalada, com pessoas idôneas
compondo a sua diretoria, com locutores que não são profissionais,
mas que sabem o que dizem sem estar promovendo político.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma canção138 de um grupo de rock brasileiro dos anos 1980 foi talvez a
primeira manifestação que ganhou dimensão massiva sobre o fenômeno das rádios
não-regulamentadas no país. A canção utilizava positivamente a expressão “rádio
pirata”, hoje uma expressão usada como valor depreciativo por grupos contrários às
emissoras comunitárias, para falar da necessidade da “pirataria nas ondas do rádio”.
É muito provável que a inspiração para esta canção tenha vindo dos
movimentos de rádios livres existentes na Europa e no Brasil. A bandeira desses
movimentos, como foi visto, era a ruptura com a exclusividade de uso de canais de
comunicação pelo Estado, como acontecia na Europa, ou explorados
exclusivamente pelo Estado e comercialmente, como acontecia no Brasil.
138
“Rádio Pirata”, de autoria de Paulo Ricardo e Luiz Schiavor, interpretada pelo Grupo “RPM”.
207
legalização, as rádios comunitárias podem existir como idéia, mas não como
efetividade.
139
“Rádio Pirata”.
212
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PF irá apreender material de rádios piratas: maior preocupação da ACERT é a veiculação
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Rádios Comunitárias temem repressão: superintendente da PF garante que apreenderá
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221
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Abert denuncia de emissoras por todo o país. Diário do Nordeste, Fortaleza, 28 nov. 1998
Agência de telecomunicações preocupa setor da radiodifusão. Diário do Nordeste,
Fortaleza, 05 dez. 1998.
Anatel continua fiscalização sobre rádios piratas: somente nas duas últimas semanas. 21
emissoras clandestinas forma fechadas no CE. Diário do Nordeste, Fortaleza, 10 out.
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3.373 emissoras de rádio FM serão criadas no país. O Povo, Fortaleza, 28 mar. 1999.
1o Fórum de Radiodifusão do Sertão Central. Diário do Nordeste, Fortaleza, 12 abri. 1999.
FHC pede instalação de 70 rádios comunitárias. O Povo, Fortaleza, 28 jul.
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Uso de rádio comunitário divide opiniões em evento. O Povo, Fortaleza, 14 ago. 1999
ACERT reforça fiscalização contra rádios piratas. Diário do Nordeste, Fortaleza, 28 out.
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ACERT quer o fim das rádios piratas no Estado. Diário do Nordeste, Fortaleza, 30 out.
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Rádios oficiais sofrem interferência de piratas. Diário do Nordeste, Fortaleza, 21 fev. 2000
Polícia Federal inicia caça as rádios piratas. Diário do Nordeste, Fortaleza, 29 fev. 2000
Duas ‘rádios piratas’ são fechadas pela Polícia Federal . Diário do Nordeste, Fortaleza, 02
mar. 2000.
Procuradoria investe contra rádios pirata. Diário do Nordeste, Fortaleza, 28 mar. 2000
Federal e Anatel fecham rádios-piratas no interior. Diário do Nordeste, Fortaleza, 21 abr.
2000.
Orçamento e as rádios piratas nos debates da AL [Assembléia Legislativa]. Diário do
Nordeste, Fortaleza, 21 out. 2000.
Advogado de rádios diz que Anatel evita perícia. O Povo, Fortaleza, 04 dez. 2000.
Relatório sigiloso alerta sobre risco. O Povo, Fortaleza, 04 dez. 2000.
Perigo no ar: interferências de rádios podem provocar acidente aéreo. O Povo, Fortaleza,
04 dez. 2000.
PF fecha rádio ‘pirata’ em Fortaleza. Diário do Nordeste, Fortaleza, 08 dez. 2001.
Justiça proíbe liminares para rádios ilegais. Diário do Nordeste, Fortaleza, 28 set. 2001.
Operação conjunta com a Anatel: PF fecha rádio ‘pirata’ no Centro. Diário do Nordeste,
Fortaleza, 02 fev. 2002.
Ceará ganha mais rádios comunitárias do Senado. O Povo, Fortaleza, 05 mai. 2002.
Só na vontade. O Povo, Fortaleza, 20 jun. 2003.
222
ANEXOS
224
Anexo 1
Mapa de Fortaleza - Rádios visitadas/pesquisadas
225
Anexo 2 (a)
Anexo 2 (b)
Informativo CEPOCA – Fevereiro de 1991
228
229
Anexo 3
Anexo 4
Jornal/Data/Número Matéria
No Ar ABRAÇO - Resoluções do 1º Congresso da ABRAÇO
Novembro 1997. Número 4
No Ar ABRAÇO - Conjuntura
Novembro 1997. Número 4
No Ar ABRAÇO - Editorial
Novembro 1997. Número 4
No Ar ABRAÇO - Diretoria Executiva da ABRAÇO reformulada no 1º Congresso
Novembro 1997. Número 4
No Ar ABRAÇO - Estatuto da ABRAÇO
Novembro 1997. Número 4
No Ar ABRAÇO - Ações políticas da ABRAÇO para o próximo período
Novembro 1997. Número 4
No Ar ABRAÇO - Curso de formação e capacitação
Novembro 1997. Número 4
ABRAÇO no Ar - Julho “Sonhar mais um sonho impossível, lutar quando é fácil ceder”
1998. Número 6
ABRAÇO no Ar - Julho “Todos no Congresso da ABRAÇO”
1998. Número 6
ABRAÇO no Ar - Julho “No Brasil, lutar pela democratização é um ato de coragem
1998. Número 6
ABRAÇO no Ar - Julho “Lei das rádios comunitárias ... o começo ou o fim”
1998. Número 6
ABRAÇO no Ar - Julho “ É da reflexão que nasce a luz”
1998. Número 6
ABRAÇO no Ar - Julho A resistência da rádio Cantagalo – PR”
1998. Número 6
ABRAÇO no Ar – Agosto “Alô, Alô Teresina. Aquele ABRAÇO”
1998. Número 7
ABRAÇO no Ar – Agosto Em formação
1998. Número 7
ABRAÇO no Ar – Agosto Os ladrões entram pelas portas dos fundos
1998. Número 7
ABRAÇO no Ar – Agosto A seca, a comunicação e a solidariedade
1998. Número 7
ABRAÇO no Ar – Agosto I Congresso de São Paulo- ABRAÇO SP
1998. Número 7
ABRAÇO no Ar – Agosto Caça as bruxas em Santa Catarina
1998. Número 7
ABRAÇO no Ar – Agosto “Voltamos à luta: Ministério das Comunicações baixa regulamentação
1998. Número 7 das rádios comunitárias de forma arbitrária, passando por cima do
legislativo”
ABRAÇO no Ar – Agosto Não a censura, Não ao silêncio
1998. Número 7
ABRAÇO no Ar – Agosto Maranhão: Democracia na comunicação e reggae na veia do
1998. Número 7 movimento
ABRAÇO no Ar – Agosto FNDC: um breve histórico do Fórum Nacional pela Democratização
1998. Número 7 das Comunicações
ABRAÇO no Ar – Agosto MD x computador
1998. Número 7
ABRAÇO no Ar – Agosto ABRAÇO na WEB
1998. Número 7
ABRAÇO no Ar – março O céu é o limite
232
1999 Número 8
ABRAÇO no Ar – março Horóscopo poético
1999 Número 8
ABRAÇO no Ar – março Revolução em curso
1999 Número 8
ABRAÇO no Ar – março Consórcio Nacional ABRAÇO- BancorBras: a oportunidade que
1999 Número 8 faltava para a aquisição de equipamentos de rádio comunitária
ABRAÇO no Ar – março Frente parlamentar pela democratização da comunicação
1999 Número 8
ABRAÇO no Ar – março III Congresso Nacional de Rádios Comunitárias
1999 Número 8
ABRAÇO no Ar – março Informe da Secretária de Comunicação
1999 Número 8
ABRAÇO no Ar – março Ousar, transmitir, resistir: I Congresso da Apraço
1999 Número 8
ABRAÇO no Ar – março Congresso da Apraço
1999 Número 8
ABRAÇO no Ar – março Mídia brasileira: a defesa autoritária da globalização
1999 Número 8
ABRAÇO no Ar – março As mascaras da informação
1999 Número 8
ABRAÇO no Ar – março Agora o mandado de segurança é ‘contra o Ministério. Por que
1999 Número 8 questionar juridicamente o decreto regulamentador das atividades da
radiodifusão comunitária
ABRAÇO no Ar – março ABRAÇO- MG na internet
1999 Número 8
ABRAÇO no Ar – março Terrorismo no interior da Paraíba: fiscais da Anatel e Polícia federal,
1999 Número 8 sob mandado judicial, lacram, apreendem equipamentos e prendem
radialista.
ABRAÇO no Ar – março Criminosos são eles
1999 Número 8
ABRAÇO no Ar – abril A vida além da dívida
1999 Número 9
ABRAÇO no Ar – abril MST e a reforma agrária no ar
1999 Número 9
ABRAÇO no Ar – abril ABRAÇO Goiás
1999 Número 9
ABRAÇO no Ar – abril Vitória em dois Estados: RS e PB asseguram funcionamento das
1999 Número 9 rádios comunitárias
ABRAÇO no Ar – abril Horóscopo poético
1999 Número 9
ABRAÇO no Ar – abril ABRAÇO Bahia: Rearticulação das rádios baianas.
1999 Número 9
ABRAÇO no Ar – abril ABRAÇO e CESE se reúnem em Salvador
1999 Número 9
ABRAÇO no Ar – abril Capacitação para comunicadoras comunitárias
1999 Número 9
ABRAÇO no Ar – abril Técnicas de radiojornalismo: manual de radialista que cobre
1999 Número 9 educação
ABRAÇO no Ar – maio Impulsionando a democracia
1999 Número 10
ABRAÇO no Ar – maio Depois de um ano e dois meses apenas vinte nove habilitadas
1999 Número 10
ABRAÇO no Ar – maio Relatório da Reunião da Agraço e da ABRAÇO: I Encontro Mercosul
1999 Número 10 de Rádios Comunitárias e III Congresso Brasileiro de TV e Rádios
Comunitárias da ABRAÇO
ABRAÇO no Ar – maio Coluna Fique Ligado: Freios e contrapesos; “checks and balance”;
1999 Número 10 Frente Parlamentar possui grupo de apoio; ABRAÇO no FNDC e
FIEC; quem é o sindicato
233
Anexo 5
2. A ABRAÇO situa-se no campo dos movimentos populares, sendo seus associados comprometidos
com os interesses e lutas destes setores sociais, marcadamente contra toda e qualquer forma de
exclusão, discriminação ou preconceito, seja de gênero, raça, religião ou cultura, seja de condição
social ou econômica, ou de opção sexual.
10. As entidades e emissoras de radiodifusão comunitária têm o compromisso de manter uma grade
de programação variada, onde esteja garantido o debate das idéias, e o acesso das entidades,
movimentos e pessoas da comunidade, para apresentarem reivindicações, sugestões, denúncias de
violações de direitos e posicionamentos.
13. As entidades e emissoras de radiodifusão comunitária têm o compromisso de defesa dos direitos
da cidadania, divulgando as garantias constitucionais e legais, como o Código de Defesa do
Consumidor, a Consolidação das Leis do Trabalho, o Estatuto da Criança e do Adolescente, etc.,
inclusive através da realização de campanhas denunciando suas violações.
Anexo 6
“Crônica de Itamar”
Fonte: Arquivo Rádio Favela (não foi possível localizar o ano do texto)